Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo - Geyza Dalmásio Muniz

April 24, 2018 | Author: Geyza Dalmásio Muniz | Category: Cosmetics, Perfume, Science (General), Science, Science And Technology
Share Embed Donate


Short Description

Descripción: Monografia apresentada na conclusão do curso de Desenho Industrial - Habilitação em Programação Visual, na ...

Description

Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo Geyza Dalmásio Muniz

Monografia apresentada ao Curso de Desenho Industrial — Programação Visual do Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Desenho Industrial — Habilitação em Programação Visual. Orientador: Prof. Dr. Gilberto Kunz.

Vitória, agosto de 2008.

Comissão Examinadora

Geyza Dalmásio Muniz

________________________________

Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Prof. Dr. Gilberto Kunz Orientador

________________________________ Prof. Marlus Pires

________________________________ Prof Ms. Paulo Cezar Pinheiro Guedes

Aprovada em ____________ de 2008.

Monografia apresentada ao Curso de Desenho Industrial — Programação Visual do Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Desenho Industrial — Habilitação em Programação Visual. Orientador: Prof. Dr. Gilberto Kunz.

À minha querida avó Martha

Agradecimentos A Deus, pela força e coragem de seguir adiante em mais esta etapa de minha vida. A minha família e amigos, que me apoiaram e incentivaram a dedicar-me a este projeto, emprestando seus ouvidos nos momentos de angústia. A meu orientador e querido amigo Gilberto Kunz, que me incentivou e cobrou resultados nos momentos apropriados, não me deixando desanimar. Ao amigo Cézar Guedes, que co-orientou este trabalho e me ajudou fornecendo alguns materiais para pesquisa e seu precioso tempo. Ao amigo Marlus Pires, por me apoiar no desenvolvimento deste projeto, contribuir com algumas fontes para minha pesquisa e aceitar participar de minha qualificação. A professora Regina Rodrigues, que, mesmo sem tempo, conseguiu me ajudar com seus conhecimentos e suas habilidades na execução da parte pratica do trabalho. A Rogério Oliveira, designer que conheci através da internet e que muito me ajudou a desvendar este fascinante universo da embalagem de perfume. A Possatto Usinagem, especialmente a Ricardo Possatto, amigo que me ajudou na confecção dos mock-ups, dedicando seu tempo, seus equipamentos e me dando força.

A Magnum Cândido, que aceitou fazer a modelagem em 3D das embalagens, mesmo se preparando para mudar de estado, fazendo um trabalho com esmero e ótimo resultado. Aos integrantes do Atelier Tacto, que confeccionaram a embalagem de cerâmica pra mim e me ajudaram a encontrar soluções para os problemas que surgiram na produção da peça. A todas as pessoas que, de uma maneira ou de outra, contribuíram para a elaboração deste projeto, me dando apoio, estímulo para prosseguir e dividindo seus conhecimentos comigo.

Resumo Busca desvendar um pouco do fascínio que as embalagens provocam nas pessoas, fazendo com que estas decidam por um determinado produto dentre tantos disponíveis no mercado. Pretende responder, ao longo de seu desenvolvimento, as seguintes questões: como a embalagem pode interferir na relação do consumidor com o perfume de luxo? Em que medida a embalagem interfere na decisão de compra de perfumes de luxo? Apresenta uma proposta de embalagem de perfume de luxo feminino, inspirada na arte indígena e preocupada com a preservação do meio-ambiente, unindo o artesanal ao industrial, propondo inovação no setor através da utilização de novos materiais.

PalavrasPalavras-chave: design, embalagem, perfume, luxo, consumo, artesanal, arte indígena.

Sumário Introdução ............................................................ ................................................................. .............................. .................. ............. 11 11

Capítulo 1 — A Indústria de Cosméticos ........ .................. .................. ............... ....... ..... 14

O luxo no Brasil ..................................................................... 45 Democratização do luxo ..................................................... 46

Capítulo 3 — A Embalagem ......................... ................................... ............................ ....................... ............. 48 História da embalagem ....................................................... 49

Segmentação ......................................................................... 16 História da embalagem no Brasil ..................................... 52 Expansão ................................................................................ 16 Definição e classificação das embalagens .................... 53 Perfumes ................................................................................. 19 História .................................................................................... 19 Contribuição dos povos à perfumaria ............................. 20 O perfume e a moda ........................................................... 25 O perfume no Brasil ............................................................. 26

Funções da embalagem ..................................................... 56 Estratégia de marketing ...................................................... 57 Embalagens de perfume .................................................... 58 O processo de criação ........................................................ 58

Influências do perfume ....................................................... 29 Anatomia de um perfume .................................................. 30

Capítulo 4 — O Projeto da Embalagem de Perfume .... 61 Briefing .................................................................................... 62

Capítulo 2 — O Luxo e o Consumo ............. ........................... ................. .............. ....... .... 35 O consumo de bens de luxo ............................................. 36

Estudos de campo ............................................................... 64 Análise de perfumes femininos ......................................... 67 Geração de alternativas ...................................................... 68

O consumo e suas influências na atualidade ................ 40 Estudos de cor ...................................................................... 70 Definições do luxo ................................................................ 42 Estudos de tipografia ........................................................... 71

Definição de materiais ......................................................... 72 Mockups ................................................................................. 74 Resultado final ....................................................................... 76

Considerações Finais ....................................... ............................................. ...................... ............ ............ ......... 85

Referências ....................................................... ............................................................... ........................... ..................... ........... 88 88

Anexo ............................................................. .................................................................... ................................ ................ ............ ............. ......... 96

Apêndice .............................................................................. 10 107 7

Introdução | 11

Introdução | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Na era da globalização, em que a competitividade se acirra, onde os concorrentes possuem a mesma qualidade e a mesma tecnologia, elementos que tornem o produto diferente são cada vez mais valorizados.

a concorrência. No entanto, com o desenvolvimento da tecnologia, atingiu-se cada vez melhor qualidade e surgiu a necessidade de novos meios de diferenciação. É neste momento que se percebe o potencial da embalagem.

A subjetividade tem sido a peça chave para a diferenciação. Tocar no ponto certo do público-alvo é o que se busca ao trabalhar-se a estética das embalagens. Criar um vínculo afetivo, fazer com que o consumidor sinta que aquele produto foi feito exclusivamente para ele, tornouse o objetivo dos fabricantes, principalmente na área da cosmetologia.

Os fabricantes perceberam que deviam comunicar sim, mas de forma diferenciada com o seu público-alvo. Estudar seus hábitos, suas preferências para assim poder conquistá-los com o produto certo. O mercado passou, então, a ser mais personalizado. E a embalagem tem contribuído muito para isso.

Assim, a indústria de cosméticos, perfumaria e higiene pessoal tem buscado diferenciar cada vez mais as embalagens dos seus produtos. Embalagem não é mais sinônimo de proteção e armazenamento. Há muito tempo a embalagem ampliou seu leque de funcionalidades. Comunicar já tem sido uma função que a embalagem adotou desde a época da Revolução Industrial. Contemporaneamente, o objetivo é comunicar e transmitir os valores certos ao público específico. No início da industrialização, o que predominava era a produção em larga escala, em série, vários produtos iguais para alcançar o maior número de consumidores possível. Conseqüentemente, houve uma saturação do mercado e todos queriam vender seus produtos acumulados com a grande produção. A concorrência se baseava nos preços. Vendia mais quem tinha melhores ofertas. Passou-se a valorizar também a qualidade dos produtos. Quem tinha melhor qualidade e melhores preços ganhava 12 | Geyza Dalmásio Muniz

Atualmente, tem-se discutido muito as formas da embalagem proporcionar esta diferenciação. A indústria de cosméticos, perfumaria e higiene pessoal tem buscado desenvolver o mercado da embalagem de luxo. Por esta razão, a presente pesquisa pretende explorar este mercado onde as experiências são o que despertam a atenção do público-alvo deste segmento. As pessoas com maior poder aquisitivo pagam o que for necessário para obterem qualidade e novas experiências. O interesse em desenvolver este projeto de graduação na área de embalagem de cosméticos foi despertado a partir da atratividade e sensibilidade encontrada nas embalagens de perfume, especificamente. As emoções que as embalagens despertam são muito interessantes de serem estudadas, assim como a estética das mesmas. Desta maneira, esta pesquisa visa desvendar um pouco desse fascínio que as embalagens provocam nas pessoas, fazendo com que estas decidam por um determinado produto dentre tantos disponíveis no mercado. Para percorrer este caminho, pretendeu-se respon-

Introdução | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

der, ao longo de seu desenvolvimento, as seguintes questões: como a embalagem pode interferir na relação do consumidor com o perfume de luxo? Em que medida a embalagem interfere na decisão de compra de perfumes de luxo? Buscou-se desvendar as questões que envolvem o consumo de perfume de luxo, as novas funções da embalagem assim como aspectos subjetivos das consumidoras e os diferentes tipos de perfume. Para tanto, foram utilizados livros para um embasamento teórico mais profundo e pesquisas na Internet para maior abrangência do conhecimento. Realizaram-se visitas de campo em fábricas de cosméticos e lojas de perfumes, pesquisa na Internet em busca de informações sobre as consumidoras de perfume de luxo, uma vez que seria inviável, pelo tipo de público, ter contato direto com um número razoável de pessoas. Também se observou as consumidoras nos pontos de venda, além da troca de informações com profissionais da área de embalagem e perfumaria. Neste trabalho desenvolveu-se uma proposta de embalagem para um perfume de luxo destinado ao público feminino, com base em toda a pesquisa realizada sobre o público, o consumo, os elementos subjetivos envolvidos na compra e utilização de perfumes de luxo, as fragrâncias e a relação delas com a embalagem e seu público consumidor e ainda o processo de criação de embalagens. A fim de auxiliar no desenvolvimento do projeto de criação de embalagem para perfume, embalagens existentes no mercado foram analisadas e comparadas. 13 | Geyza Dalmásio Muniz

Quanto aos capítulos que compõem esta pesquisa, o capítulo A Indústria de Cosméticos, apresenta um panorama geral da indústria em questão até desembocar no ponto específico do trabalho que é a perfumaria, uma vez que este setor está inserido dentro da indústria de cosméticos. Já no capítulo O luxo e o Consumo, expõe-se as questões pertinentes a este mercado em expansão, como por exemplo, as motivações de compra de bens de luxo, além de direcionar este conceito que se mostra relativizado. O capítulo A Embalagem aborda a história da embalagem de um modo geral e no Brasil, sua definição, funções e como se desenvolve seu processo de criação, de modo a interar o leitor nesse universo tão complexo. No capítulo O Projeto da Embalagem de Perfume apresenta-se toda a trajetória do desenvolvimento da proposta elaborada para o perfume fictício Terra Brasilis, nome escolhido dentro do projeto. Acredita-se que esta pesquisa possa interessar a pessoas que queiram saber como o design pode interferir diretamente no sucesso de um produto de modo efetvo, assim como para aqueles que trabalham na área de embalagem e de perfumaria.

Capítulo 1

A Indústria de Cosméticos | 14

A Indústria de Cosméticos | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

A origem da palavra portuguesa “cosmético” é a palavra grega “ko·sme·ti·kós”, que significa “hábil em adornar”. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) define produtos de higiene pessoal, perfumes e cosméticos (HPPC) como: ... preparações constituídas por substâncias naturais ou sintéticas, de uso externo nas diversas partes do corpo humano, pele, sistema capilar, unhas, lábios, órgãos genitais externos, dentes e membranas mucosas da cavidade oral, com o objetivo exclusivo ou principal de limpá-los, perfumá-los, alterar sua aparência e ou corrigir odores corporais e ou protegê-los ou mantê-los em bom estado1.

Entretanto, mesmo sem uma definição e aparente “razão” para o uso dos cosméticos, desde o princípio das civilizações o homem já fazia uso dos mesmos. Há milhares de anos homens e mulheres já se preocupavam com a beleza. Foram encontrados em túmulos egípcios de aproximadamente 3.500 a.C. indícios do uso de pintura para os olhos e ungüentos aromáticos. Os egípcios pintavam os olhos para evitar a contemplação direta do deus Sol. Utilizavam para isso, gordura vegetal e animal, cera de abelhas, mel e leite no preparo de cremes para a pele.

1

Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/cidadao/cosmeticos/define.htm. Último acesso em 26 de agosto de 2007.

15 | Geyza Dalmásio Muniz

Na antiga Grécia, óleos para banho e outros produtos de embelezamento eram usados, mas muitas mulheres morriam envenenadas pelo chumbo contido nas máscaras faciais que utilizavam. Em Roma, fabricavam-se diversos produtos para realçar a beleza, como pós para tornar a pele mais alva, carvões para pintar olhos e sobrancelhas, carmim para as faces, produtos abrasivos para clarear os dentes, dentre outros. Os óleos consumidos eram produtos naturais, como os que se obtinham do azeite de oliva; os perfumes, usados tanto por mulheres como por homens, eram extraídos de flores ou especiarias, com resinas naturais empregadas como fixadores. Cosméticos para o rosto, tinturas para o cabelo, perfumes e sais de banho já eram utilizados na Europa medieval. A introdução dos perfumes na França é atribuída à Catarina de Médicis. Os orientais utilizavam largamente perfumes, assim como os povos indígenas da América e da África.

A Indústria de Cosméticos | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Segmentação A Anvisa (Associação Nacional de Vigilância Sanitária) classifica os produtos da indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPPC) de acordo com o nível de risco para os usuários. Os perfumes se enquadram na classificação de Risco de Nível 1, onde também se encontram loções pós-barba, xampus, escovas dentais entre outros. Neste nível estão os produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes que se caracterizam por possuírem propriedades básicas ou elementares, cuja comprovação não seja inicialmente necessária e não requeiram informações detalhadas quanto ao seu modo de usar e suas restrições de uso, por causa das características intrínsecas do produto (Capanema, Velasco, Palmeira Filho e Noguti, 2007). A indústria de HPPC é um segmento da indústria química cuja atividade básica é a manipulação de fórmulas e divide-se em três segmentos: 1. Higiene pessoal: pessoal: composto por sabonetes, produtos para higiene oral, desodorantes, absorventes higiênicos, produtos para barbear, fraldas descartáveis, talcos, produtos para higiene capilar etc. 2. Cosméticos: Cosméticos: produtos de coloração e tratamento de cabelos, fixadores e modeladores, maquiagem, protetores solares, cremes e loções para pele, depilatórios etc.

16 | Geyza Dalmásio Muniz

3. Perfumaria: Perfumaria: perfumes e extratos, águas de colônias, produtos pós-barba etc.

Já os produtos, estão divididos em: 1. 2. 3. 4.

Produtos para higiene Cosméticos Perfumaria Produtos para bebês

O foco deste trabalho encontra-se no segmento de perfumaria. No entanto, faz-se necessário uma contextualização da indústria de cosméticos, de um modo geral, para melhor entendimento do setor visado.

Expansão A produção e o uso de cosméticos intensificaram-se no século XX, sobretudo pelo aperfeiçoamento das embalagens e pela promoção publicitária desses produtos. Como os produtos cosméticos passaram a ser necessários para a higiene pessoal, não só para satisfazer a vaidade, os homens passaram a consumi-los, impulsionando a produção e gerando uma forte concorrência do setor. Entre as inovações da indústria de cosméticos destacam-se o tubo descartável, no final do século XIX, e os produtos químicos para ondulação dos cabelos, os xampus sem sabão, os laquês em aerossol, as tinturas

A Indústria de Cosméticos | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

de cabelo menos tóxicas, e a pasta de dentes com flúor, no século XX. No entanto, a vaidade feminina tem se intensificado cada vez mais desde os tempos mais remotos. Na contemporaneidade, a busca pela beleza tornou-se uma necessidade imposta pelos meios de comunicação, principalmente com a inserção da mulher no mercado de trabalho, nos anos 20, especificamente no Brasil. No cenário mundial, o mercado de cosméticos, perfumaria e higiene pessoal é dominado pelos países desenvolvidos. Este fato ocorre devido a existência de marcas fortes e mundialmente consolidadas e da capacidade nas áreas técnica e produtiva exibidas pelas multinacionais do ramo, que formam uma barreira econômica através de suas filiais espalhadas pelo mundo, impedindo a entrada de novos concorrentes2. A indústria de HPPC caracteriza-se pela presença de grandes empresas internacionais, com atuação global, diversificadas ou especializadas nos segmentos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, e pelas pequenas e médias empresas nacionais, em grande número, focadas na produção de cosméticos3. Uma característica peculiar desse setor é a constante necessidade de apresentar novidades. Para cumprir esse objetivo, muitos recursos são investidos anualmente em lançamentos e promoções de novos produtos. Entre os 2 Garcia e Furtado, 2002 apud Capanema, Velasco, Palmeira Filho e Noguti, 2007 3 Capanema, Velasco, Palmeira Filho e Noguti, 2007.

17 | Geyza Dalmásio Muniz

fatores relevantes para a competitividade das empresas, destaca-se a importância dos ativos comerciais, como marca, embalagens e canais de comercialização e distribuição4. Segundo Capanema, Velasco, Palmeira Filho e Noguti (2007), em relação à diversificação dos produtos, existe uma segmentação das empresas, no mercado consumidor, de acordo com faixa etária, gênero, raça e poder aquisitivo. Ainda seguindo os autores, o setor de HPPC mantém relações estreitas com outros setores de produção. Além de ser classificado como um dos segmentos da indústria química em razão da utilização e sintetização de ingredientes mantém ligação com a indústria farmacêutica para desenvolvimento e pesquisa de princípios ativos, além de fitoterápicos ou medicamentos originados de material botânico e de seus extratos. Também tem forte demanda de produtos da indústria de embalagens. Por se tratar de um setor muito segmentado, os principais componentes de custo das empresas variam de acordo com os produtos fabricados ou com a linha de produtos (higiene, perfumes etc.). Outro fator que representa uma parcela significativa dos custos são as embalagens, sejam elas de papelão, plástico ou vidro. Esse segmento é muito sensível à apresentação de seus produtos e, portanto, investe sempre em design e novos materiais para as embalagens.

4

Ibidem.

A Indústria de Cosméticos | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Segundo a Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos), a indústria brasileira de HPPC vem apresentando um crescimento significativo nos últimos anos, tendo passado de um faturamento de R$ 8,3 bilhões em 2001 para R$ 15,4 bilhões em 2005. De acordo com a Abihpec, Abihpec alguns fatores como os descritos abaixo poderiam explicar o acentuado crescimento desse setor nos últimos anos: 1. Participação crescente da mulher no mercado de trabalho; 2. Incorporação de novas tecnologias de produção pelas empresas com conseqüente aumento da produtividade. Com isso, os preços ao consumidor tiveram aumentos menores do que os índices de preços da economia em geral; 3. Lançamentos constantes de novos produtos que atendem cada vez mais às necessidades do mercado; 4. Aumento da expectativa de vida, o que traz a necessidade de conservar uma aparência mais jovem; 5. Aumento significativo do consumo de produtos cosméticos masculinos.

A distribuição dos produtos no país é feita, principalmente, por três meios: vendas diretas, rede de lojas franqueadas e canais tradicionais (supermercados e farmácias, entre outros). O Brasil ocupa a sexta posição entre os principais mercados consumidores nacionais. No entanto, o mercado brasileiro vem crescendo de maneira expressiva e está entre os mercados mais importantes do mundo. Empresas nacionais como Natura e O Boticário estão expandindo aos poucos sua atuação no exterior. A preocupação dessas empresas é desenvolver estratégias de fixação do produto (marcas e canais de comercialização e distribuição) fora do Brasil ao invés de exportar artigos com pouca diferenciação de mercado5. A Natura e O Boticário conseguiram consolidar suas marcas no mercado brasileiro, conquistando, assim, uma posição de destaque, estando até mesmo na liderança em alguns segmentos, mesmo sendo bem diferenciadas as estratégias adotadas por essas duas empresas. Enquanto a Natura optou pela venda direta como único canal de comercialização de seus produtos, O Boticário se destaca por comercializar seus produtos através de lojas exclusivas em sistema de franquia. Percebendo o importante papel da inovação dentro da indústria de HPPC elaborou-se o Manual de Oslo, que, em sua terceira edição, de 2005, alarga o conceito de inovação. Essa publicação da Organização para a

5

18 | Geyza Dalmásio Muniz

Capanema, Velasco, Palmeira Filho e Noguti, 2007.

A Indústria de Cosméticos | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que busca a padronização a nível global dos conceitos de inovação, inclui agora, além das inovações de produto e processo, as inovações organizacionais e de marketing. Na indústria de HPPC, o lançamento constante de novidades no mercado é fator crítico de sucesso. Essas inovações podem ser, de fato, novos produtos como advir de mudanças sutis em aspectos como uma nova cor, uma nova fragrância, uma nova funcionalidade ou uma nova embalagem. Sendo assim, segundo o Manual de Oslo, uma simples troca de embalagem que traga ao produto nova funcionalidade pode ser considerada inovação de produto. Ainda que um novo design de embalagem não confira a um produto novas funcionalidades ou utilidades, poder-se-ia caracterizar a mudança como uma inovação de marketing. A introdução de novos canais de venda, bem como novas técnicas de promoção, também são caracterizadas como inovações de marketing6.

Perfumes Perfume é uma sensação olfativa agradável, dificilmente descrita com precisão pelas palavras escritas ou ditas. É uma mistura de óleos essenciais aromáticos, álcool e água. As essências são originadas da natureza (flores, frutos, madeiras, especiarias e outros) e depois sintetizadas em laboratórios.

6

19 | Geyza Dalmásio Muniz

Ibidem.

Os óleos essenciais são obtidos através da destilação de plantas, flores e ervas, como a lavanda, rosas, jasmins, sândalos e frutas cítricas. Já os fixadores são compostos por âmbar, bálsamos, entre outros, o que lhes dão o poder de fixar a fragrância. A quantidade de álcool varia de acordo com o tipo de perfume que se deseja obter. Cada essência possui a sua particularidade e personalidade, em função da combinação dos diversos aromas. Possuem diferentes tempos de absorção, reação e evaporação, variando de acordo com cada tipo de pele e diversos fatores. Emoções, doenças, pílula anticoncepcional (e outras drogas), mudança hormonal, puberdade, gravidez e também a menstruação e a menopausa, influenciam o odor corporal e o perfume que se usa, bem como a preferência por certos aromas. Isso explica porque o mesmo perfume exala cheiros diferentes em diferentes pessoas.

História A palavra perfume vem do latim “per fumum”, que significa “através da fumaça”. Os mais antigos cheiros conhecidos são os da fumaça que exalava da queima de madeiras, especiarias, ervas e incensos, o que explica a origem do nome. O perfume originou-se a partir de 3.000 a.C., na civilização egípcia, povo o qual mais contribuiu para a perfumaria.

A Indústria de Cosméticos | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Através da fumaça, o homem primitivo tomou conhecimento dos perfumes que exalavam das florestas em chamas. Antes mesmo de dominar o fogo, o homem sentiu os cheiros que algumas árvores com troncos odoríficos, como o cedro e o pinheiro, soltavam no ar. Depois, quando o fogo foi dominado, o homem passou a queimar madeiras, folhas e resinas para sentir o aroma que lhe agradava e melhorar o cheiro dos alimentos, assim como durante as oferendas aos deuses. Inicialmente, o perfume era à base de ceras, gorduras, óleos vegetais e sabões misturados a ervas7. Todos os templos da Babilônia, Assíria, Egito, Roma e Grécia tinham seus perfumistas. Os mais antigos frascos de perfume conhecidos datam de 5000 a.C., eram fabricados na Mesopotâmia e no Egito com alabastro e pedra, materiais preferidos por não serem porosos8. No século I, com a descoberta do vidro pelos fenícios, os perfumes ganharam uma nova embalagem, reduzindo sua volatilidade e ganhando formas e cores. O uso de essências aromáticas aparece em relatos bíblicos desde o Velho Testamento. Em sinal de gratidão por ter sido salvo do Dilúvio, Noé teria queimado madeira de cedro e mirra, mesma substância oferecida de presente ao Menino Jesus pelos Reis Magos, além do incenso e do ouro, relato presente no Novo Testamento. No livro 7

Delas, A fascinante história do perfume. Disponível em http://www.alunosonline.com.br/barra/index.htm?url=http://delas.ig. com.br/materias/185001-185500/185289/185289_1.html. 8 Fonte: http://www.areliquia.com.br/Artigos%20Anteriores/64MPerfum.htm. Último acesso em 29 /11/2007.

20 | Geyza Dalmásio Muniz

Cântico dos Cânticos, atribuído ao rei Salomão (970-931 a.C), encontra-se a maior referência sobre a importância do perfume no antigo Oriente. Em alguns trechos, cada versículo revela o encantamento amoroso entre o rei Salomão e a jovem Sulamita, num texto perfumado, cheio de comparações entre um jardim e a intimidade dos dois amantes.

Contribuição dos povos à perfumaria No Egito Antigo, foram desenvolvidas diversas substâncias aromatizantes de uso religioso, para invocar os deuses, como incensos e óleos perfumados. Eles também queimavam ervas, que liberavam diversos aromas e passaram a compor banhos aromáticos, pomadas e perfumes pessoais dos egípcios. Como os egípcios acreditavam na eternidade, na reencarnação, utilizavam fragrâncias como mirra, musgo de carvalho, resina de pinho, entre outros ingredientes com propriedades antimicrobianas, no ritual de mumificação a fim de conservarem o corpo o máximo possível, obtendo resultados que são admirados até hoje. Também acreditavam que seus pedidos e orações chegariam mais rápido aos deuses se viajassem nas nuvens de fumaça aromática que subiam aos céus. O perfume tinha fundamental importância no campo da higiene pessoal. Um dos mais antigos complexos perfumados, o kyphi, costumava ser queimado para aliviar a ansiedade e alegrar os sonhos, curando a alma.

A Indústria de Cosméticos | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

A fórmula e os poderes terapêuticos do kyphi aparecem nas anotações do historiador grego Plutarco, datadas do início da era cristã9. Cleópatra (69 — 30 a.C) última rainha do Egito, costumava usar kyphi em pontos estratégicos do corpo, assim como henna nos cabelos e Kohl nas pálpebras. Conta-se que Cleópatra seduziu o general romano Marco Antonio atraindo-o para sua galeria cheia de velas perfumadas à base de óleos essenciais extraídos das flores de henna, açafrão, menta e zimbro. Os hindus também apresentavam a correlação entre perfume e espírito, assim como os egípcios. Também eram politeístas e sua principal deusa era Shiva, cuja identidade aromática era o jasmim. As estátuas dos deuses eram lavadas com perfumes de sândalo e almíscar. O uso dos aromas permeou as religiões e a cultura indianas. A Índia era o jardim do mundo, com vasta lista de aromas. Sândalo, patchuli, vetiver, nardo, benjoim, agarwood, jasmim e rosas eram encontrados com abundância e foram utilizados na medicina e nas religiões variadas ao longo dos séculos.

21 | Geyza Dalmásio Muniz

atléticos, na Síria. Os fenícios marcaram seu nome na perfumaria com a arte do vidro, que ganhou novo impulso quando os sírios desenvolveram a técnica de insuflação de vidro e os romanos inventaram o cachimbo de sopro. Os árabes foram responsáveis pela distribuição do conhecimento por suas viagens comerciais. Os comerciantes levavam aromas da Ásia para o Mediterrâneo e eram recebidos com festa por suas caravanas carregadas de perfumes e especiarias. No século IX, navegadores árabes chegaram à China e levaram ao seu cotidiano diversos aromas do leste asiático, como a flor de laranjeira, a cânfora e o almíscar. A perfumaria desempenhou importante papel no comércio do leste asiático, contribuindo com o estabelecimento das rotas das ilhas orientais, elo entre a China e o Mar Negro. Na mesopotâmia os perfumes eram essenciais na vida de um casal, apesar de também terem uso religioso. Os árabes celebravam o encontro amoroso com aromas. Também produziram uma literatura para perpetuar seus ensinamentos, como ”O Jardim Perfumado”, de Shaykh Nefzawi, obra editada em 188610.

As fragrâncias faziam parte do dia-a-dia na cultura islâmica, que incluía excelentes conceitos sobre higiene e cultivava os prazeres dos sentidos. O incenso, que não podia faltar nas comemorações, era encontrado em casas, palácios, e até nas tendas nos desertos. O perfume estava presente até mesmo em eventos públicos, como os jogos

Por volta do século X, a destilação dos óleos essenciais das rosas foi descoberta por Avicena, o mais famoso médico árabe, criando, assim, a Água de Rosas. A desti-

9

10

Ashcar, 2001.

Ibidem.

A Indústria de Cosméticos | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

lação tornou-se possível com o desenvolvimento do alambique.

res à categoria de arte, inspirando-se na cerimônia do chá, Cha-do (caminho do chá).

A cultura chinesa traz consigo uma grande valorização dos aromas. Para os chineses, havia uma tênue distinção entre drogas e remédios, perfumes e incensos — as substâncias que nutrem corpo e espírito. A cânfora, por exemplo, era apreciada como estimulante gástrico, transformada em calmante na forma de chá e, adicionada ao vinho, ganhava uso culinário11.

Ainda praticada atualmente, o koh-do consiste na associação de uma seqüência de bastões aromáticos a poemas. Ou seja, são criados versos perfumados por cada um dos participantes a partir das memórias olfativas a que cada um deles é remetido ao cheirar cada incenso.

Além dos cheiros, os chineses contribuíram para a perfumaria com o desenvolvimento da porcelana, que incrementou o comércio de óleos essenciais. O aperfeiçoamento da porcelana permitiu aos alquimistas chineses aquecer aromas a altas temperaturas, além de conseguirem extrair o álcool etílico do vinho, permitindo a produção regular de álcool a partir da Renascença.

Imagem retirada do livro de Renata Ashcar, Brasilessência, 2001

Na Grécia Antiga, os gregos trouxeram novas fragrâncias de suas expedições e usavam perfumes que tivessem características medicinais13.

O néroli, óleo extraído da flor de laranjeira, também foi criação do leste asiático. Este óleo tornou-se ingrediente chave das águas-de-colônia por seu luminoso acento floral. No leste asiático, o cheiro fazia parte de uma fórmula estética equacionada para garantir o equilíbrio dos ambientes, favorecendo os cinco sentidos.

Apreciadores de incensos e fórmulas aromáticas, os gregos acreditavam atrair a atenção dos deuses ao usá-los. Aplicavam perfumes nos mortos a fim de atrair bons presságios, usavam-no antes e após as refeições e até mesmo na comida.

Bons exemplos são os jardins da dinastia Ming (séculos XV a XVII) que jogavam com formas, texturas, cores e aromas de modo a enaltecer as quatro estações do ano.

Segundo a mitologia grega, os deuses do Olimpo emanavam aroma de ambrosia quando visitavam os mortais, um sinal de sua natureza divina. Em contrapartida,

Os japoneses criaram um ritual para a apreciação do incenso, o Koh-do (caminho do cheiro), elevando os odo11

22 | Geyza Dalmásio Muniz

Os japoneses também criaram uma linguagem escrita para os aromas. Nesse alfabeto datado do século XVIII, 54 ideogramas representavam combinações de cheiros e temas evocativos das estações. Os japoneses apreciavam de tal forma os prazeres do olfato que criaram hábitos e embalagens especiais para cultivá-los12.

Ashcar, 2001, p. 29.

12

Ashcar, 2001, p. 31. Fonte: http://www.americanas.com.br/cgibin/WebObjects/AcomHome.woa/wa/materia?mat=1818. Último. Acesso 29/11/2007.

13

A Indústria de Cosméticos | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

os simples mortais utilizavam perfumes para obter a clemência dos deuses. Por volta de 800 a.C, as cidades de Atenas e Corinto já exportavam óleos de flores e plantas maceradas — rosas, lírio, íris, sálvia, tomilho, manjerona, menta e anis. Desde essa época os aromas eram populares entre os gregos14. O primeiro tratado sobre cheiros foi escrito por Teofrasto, por volta de 330 a.C, no qual detalhou receitas de preparos aromáticos e perfumes, apontando prazos de validade e indicando usos terapêuticos. Outro grego, Galeno, contribuiu no século II com um tratado repleto de receitas, combinando mais de 150 plantas, partes de animais, minerais e pedras preciosas, permanecendo como referência até a Idade Média. Os romanos também contribuíram muito para a expansão da perfumaria. O intenso consumo de aromas — estimulado pela criação das rotas para Arábia, Índia e China — foi registrado por historiadores e poetas. Usavam vários aromáticos, como rosas, íris, narciso, açafrão e musgo de carvalho misturados aos importados: canela, cardomomo, noz-moscada, gengibre, aloé e nardo. Também exploraram as variadas propriedades medicinais e terapêuticas dos aromas15. No século I, cerca de 500 toneladas de mirra e 250 toneladas de olíbano chegavam a Roma por mar. Sob influência da Grécia e do oriente, os romanos logo ocuparam 14 15

23 | Geyza Dalmásio Muniz

Ashcar, 2001, p. 33. Ashcar, 2001, p. 34.

seu espaço no mundo da perfumaria, utilizando seus conhecimentos desta arte de todas as formas: em rituais religiosos, práticas funerárias, hábitos cotidianos da vida privada ou pública (até os teatros municipais eram borrifados com aromas)16. Nos banquetes romanos saciavam-se todos os sentidos, privilegiando-se o olfato. Além de comida e bebida, os convidados eram saudados com fragrâncias de flores, ungüentos perfumados e espirais de incenso. Na Roma Imperial, as perfumarias vendiam ungüentos em jarros cerâmicos e perfumes em frascos de vidro. Sedentos de recipientes mais sofisticados, os italianos desenvolveram o vidro em substituição à cerâmica, muito utilizada pelos gregos, tornando-se mestres na arte do vidro soprado. Um século após o nascimento de Cristo expandiu-se o comércio de essências perfumadas, iniciado pelos árabes. Estes levavam para os países do Ocidente noz moscada do Tibete, sândalo da Índia e cânfora da China. Os romanos destacaram estas essências desenvolvendo a arte dos banhos e massagens eróticas. No Oriente, os perfumes sempre tiveram uma forte relação com as práticas espirituais. Dessa forma, a história do perfume está ligada, inicialmente, a uma sensualidade primitiva; em seguida ao Divino e místico, sendo queimado no altar de todas as religiões e retorna ao profano como sedução e adorno, destinado à elite.

16

Ashcar, 2001, p. 35.

A Indústria de Cosméticos | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Na Idade Média, os árabes começaram a produzir perfumes para uso pessoal e medicinal. Os perfumes penetraram na Europa no século XII, através das Cruzadas (expedições militares cristãs nos séculos XII e XIII), período em que eram usados exclusivamente na higiene pessoal e nos banhos públicos, a fim de se evitar doenças. A perfumaria adormeceu no Ocidente com a queda de Roma durante a alta Idade Média (entre os séculos V e X), deixando vestígios apenas na medicina e farmácia praticadas nos mosteiros com ervas aromáticas. A igreja cristã condenou o uso de incensos, tidos como instrumento de idolatria, e de perfumes, considerados acessórios da luxúria. No entanto, como a cultura dos cheiros estava enraizada no modo de vida, gradualmente o cristianismo incorporou algumas antigas crenças olfativas, e no século VI o incenso passou a ter importante papel no ritual cristão17. Em 1320, os italianos aperfeiçoaram a destilação de álcool, surgindo logo depois a primeira destilaria em Modena. O invento permitiu a criação de spirituous water (esplêndidas águas ou águas espirituosas, como eram chamados os primeiros perfumes e as bebidas alcoólicas). A descoberta foi muito útil para propósitos terapêuticos e higiênicos, uma vez que muitas das substâncias eram usadas contra epidemias. Com o desenvolvimento científico, o extrato resinoso foi retirado, resultando no alecrim destilado. Desta forma, surgia em 1370, a precursora da água-de-colônia, inspi17

24 | Geyza Dalmásio Muniz

Ashcar, 2001, p. 40.

rada na rainha da Hungria: a Água da Rainha da Hungria, o primeiro perfume batizado e o primeiro preparado em base alcoólica. Em 1533, Catarina de Médici transferiu-se para a França para se casar com o rei Henrique III, levando consigo seu perfumista pessoal, Renato Bianco — conhecido como René Blanc — que fundou a primeira butique de perfumes de Paris, impulsionado a produção e a comercialização de produtos aromáticos. A partir do século XVII, o perfume tornou-se objeto de luxo na Europa, destinado somente à nobreza, uma vez que apenas reis, rainhas e membros da corte poderiam utilizá-los. Este período foi o auge das fragrâncias “animálicas”, ou seja, perfumes intensos que usavam civete e musk em sua composição. No Renascimento, a moda foi a utilização de perfumes doces, florais ou frutais18. No século XVIII, os perfumes foram reconhecidos por sua sensualidade, através da proliferação de novas fragrâncias e frascos. No aspecto religioso, os cristãos passaram a perfumar as cinzas na Quarta Feira de Cinzas19. Durante o desenvolvimento da Renascença, nos séculos XVII e XVIII, a perfumaria cresceu. A receptividade a novas idéias e a paixão por substâncias e aromas exóticos e

18

Fonte: http://www.alunosonline.com.br/barra/index.htm?url=http://www.hist oriadetudo.com/perfume.html. 19 Fonte: http://www.americanas.com.br/cgibin/WebObjects/AcomHome.woa/wa/materia?mat=1818. Último acesso 29/11/2007.

A Indústria de Cosméticos | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

intrigantes — o que se tornou símbolo de luxúria e prestígio — propiciaram a proliferação de perfume20. Na contemporaneidade, já no século XIX, com o progresso da química, permitindo a reprodução artificial de cheiros encontrados na natureza, o perfume ficou mais acessível à classe média. Surgiram, assim, as matérias-primas sintéticas. A cidade de Grasse, França, se transforma na capital mundial da perfumaria, por suas essências e matérias-primas.

O perfume e a moda Em 1911, Paul Poiret21 lançou com o nome de Rosine (nome de sua filha mais velha), o primeiro perfume totalmente concebido por um costureiro — fragrância, frasco, embalagem, publicidade, distribuição. Desta forma, atacou o monopólio francês, iniciativa de grande importância percebida nos dias de hoje. A partir de então, perfume e moda tornaram-se indissociáveis. Os maiores nomes da moda desenvolveram perfumes, transferindo todo o luxo e glamour de suas coleções para este artigo, o qual muitas vezes sustenta a moda. A moda e a perfumaria sofreram influências das transformações sociais e econômicas, refletidas em suas cria-

ções ao longo das décadas. Segundo Melo22, “obedientes aos padrões de comportamento vigentes, o perfume e a roupa juntos, configuram as noções de elegância ao longo do tempo e constituem a expressão dos gostos de cada época. O perfume faz parte da moda. Ambos envolvem todo um conceito, evidenciam um estilo de vida e estimula a fantasia”. A década de 1920 foi uma das mais criativas na perfumaria, pois as notas olfativas tentavam acompanhar a evolução da moda. Foi neste ano que nasceu Chanel nº 5, o primeiro perfume com materiais sintéticos. Conta-se que sua criação teria sido um erro do assistente do perfumista francês Ernest Beaux. Em vez de apenas 1% de aldeído undecilênico, a solução recebeu acidentalmente uma dose dez vezes maior. A fragrância resultante foi considerada extraordinária e deu início a um intenso uso dos aldeídicos na fabricação de perfumes. Outro mérito deste perfume foi reforçar a associação entre o uso do perfume e o jogo da sedução. A discussão ganhou destaque na década de 50, quando a atriz Marilyn Monroe declarou que usava apenas uma gotinha de Chanel nº 5 para dormir23. Influenciadas pelo sucesso de Chanel nº 5, a maioria das grandes maisons criam um departamento de perfumaria, desenvolvendo assim, paralelamente à alta-

22 20

Ashcar, 2001, p. 43. 21 Paul Poiret foi um estilista que revolucionou o vestuário e interviu nos diferentes campos estéticos de sua época (início do século XX).

25 | Geyza Dalmásio Muniz

Melo, Geraldo de. A cultura do perfume — Parte II. Disponível em http://www.uraonline.com.br/beleza/bel-07/cultura-do-perfume.html. 23 Fonte: http://www.areliquia.com.br/Artigos%20Anteriores/64MPerfum.htm.

A Indústria de Cosméticos | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

costura, atividades ligadas a produtos de luxo, em especial a do perfume de costureiro24. Na década de 1930, as notas orientais (misturas com baunilhas) tiveram destaque, ocorrendo o retorno de algumas fragrâncias clássicas. O perfume que ainda é considerado o mais caro da indústria francesa foi criado nesta década: Joy, de Jean Patou25. Seu preço deve-se à proporção utilizada de jasmim-de-Grasse e de rosa-daBulgária, além do muguet e ylang-ylang, e pelo frasco desenhado em cristal Baccarat26.

Em 1980 houve um incremento dos perfumes florais doces, surgindo os “florientales”. Iniciou-se a época do consumismo. A década de 1990 foi marcada por fragrâncias leves e frescas, com temas lembrando a água. Também há um retorno aos clássicos.

Depois da guerra, nos anos de 1940, a esperança em tempos melhores fez com que surgissem as notas verdes como para despertar o aroma agradável e a paz dos campos. Lançam-se também perfumes para mulheres sensuais.

Enfim, nos anos de 2000 percebe-se uma volta ao romantismo através do uso de florais e o aumento de lançamentos, com muita variedade para todos os gostos. Os perfumes do novo milênio parecem revelar os anseios da nova era com nomes sugestivos e personalidades distintas.

Nos anos de 1950, época do Rock´n´Roll, as fragrâncias tornam-se mais comportadas e a perfumaria americana iguala-se à francesa.

Quanto ao futuro, não há como prever, pois não há limites para a imaginação dos criadores.

A década de 1960 foi marcada por grandes mudanças de comportamento com fragrâncias que evocavam a liberdade. Na era Woodstock, há a predominância de notas florais e aldeídicas em quase todas as criações.

24

Baudot, 2002, p. 95. Estilista nascido em 1880 que destacou-se na alta-costura por sua simplicidade e preocupação com a funcionalidade sem perder a luxuosidade. 26 Fonte: http://www.ebyblos.com.br/b2c/infos.asp?page=9&id=27. Acessado em 24/11/07 25

26 | Geyza Dalmásio Muniz

Nos anos de 1970 a indústria da perfumaria explode e descobre-se a categoria dos orientais para mulheres provocantes.

O perfume no Brasil No Brasil, o perfume começou a ser utilizado com a vinda da corte portuguesa, em 1808. Os perfumes vinham de outros países, principalmente da Inglaterra, e somente após alguns anos a produção local de artigos de luxo foi permitida. O Brasil Imperial consumia perfumes em quantidades impressionantes. Registros da época mostram que em

A Indústria de Cosméticos | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

1867, durante o reinado de D.Pedro II, o Brasil encontrava-se entre os maiores importadores de perfumes franceses. Com a criação de uma taxa aduaneira para manufaturados importados, em 1844, a substituição de importações pelas instalações de fábricas no país foi impulsionada27. A imigração italiana contribuiu muito para a história da perfumaria, da cosmética e dos artigos de toalete no Brasil. Muitos italianos vinham para trabalharem nas lavouras de café, mas alguns partiam para outros ramos de trabalho, como a perfumaria. Durante a Primeira Guerra Mundial, as dificuldades de importação incentivaram o crescimento da economia brasileira e a produção local. Em 1920, mil estabelecimentos industriais foram registrados. Metade desses estabelecimentos surgiu a partir de 1915, também devido a política de incentivo à industrialização dos governos republicanos28. Durante as primeiras décadas do século XX, a casa Granado e outras similares produziram vários produtos de toalete, como águas-de-colônia, pó-de-arroz, dentifrícios, talcos, loções capilares e creme de barbear. Alguns se tornaram ícones de mercado, como a Água Inglesa, o Polvilho Antisséptico e o Sabonete de Glicerina, fabricados até hoje pela Granado. Produtos como o sabonete Gessy e Phebo e o Leite de Rosas, presentes 27

Melo, Geraldo de. A cultura do perfume — Parte I. Disponível em http://www.uraonline.com.br/beleza/bel-07/cultura-do-perfume.html. 28 Ashcar, 2001, p. 108.

27 | Geyza Dalmásio Muniz

no mercado atual, surgiram no início do século XX e marcaram a história da perfumaria brasileira. Após a Segunda Guerra Mundial, os “anos dourados”, como ficou conhecida a década de 50 pelo período próspero desfrutado pelo Brasil, o perfume já não era um luxo para poucas. A concorrência da época desencadeou uma variedade de produtos do setor de perfumaria, cosmética e higiene pessoal. As mulheres se inseriram definitivamente na vida profissional, política e social e passaram a consumir mais produtos pessoais. O público masculino também ganhou uma variedade de produtos para o cuidado pessoal. A empresa de cosméticos americana Avon se inseriu no Brasil em 1959, consagrando-se como a pioneira no país na comercialização de perfumaria e cosmética pelo canal de venda domiciliar. Além de revolucionar o setor específico, abriu oportunidades para a mulher que tinha o campo de trabalho limitado. Com isso, houve uma grande mudança do papel feminino nas comportadas famílias da classe média. A companhia enfrentou o preconceito ao trabalho feminino e dificuldades com a legislação vigente — não havia a figura da revendedora como categoria profissional. Na década de 80, a Avon se consagrou na maior empresa do setor29. O primeiro perfume de luxo brasileiro surgiu em 1965 na cidade de São Paulo: Rastro, criado por Aparício Basílio da Silva. A água-de-colônia seduzia pela fragrância de lavanda e pelo frasco todo em vidro, inclusive a tam29

Ashcar, 2001, p. 124.

A Indústria de Cosméticos | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

pa, feito à mão. Anos depois, Giovanna Kupter causou o mesmo impacto no universo infantil, lançando em 1975 a lavanda Giovanna Baby. Ambos partiram de grifes sofisticadas da moda (decoração e confecção infantil, respectivamente) e conquistaram uma requintada clientela. A Natura foi criada em 1969, ganhando o Brasil na década de 80. Seu posicionamento sempre foi a busca constante da realização de sonhos, na crença nas pessoas mais como seres humanos do que como consumidores, no bem-estar, na importância das relações. De 1969 a 1974, a Natura encontrava-se em seu primeiro ciclo, no qual lutou num mercado dominado por marcas estrangeiras, lançou o novo conceito de cosmética terapêutica com produtos baseados em princípios ativos naturais e atendimento personalizado. Venceu crises econômicas ocorridas nas décadas de 80 e 90 e manteve-se firme. Na década de 90 iniciou seu segundo ciclo, tornando-se mais ágil operacionalmente e alavancando a internacionalização da marca. Atualmente, em seu terceiro ciclo, prioriza a excelência das fórmulas e a comercialização dos produtos de acordo com as necessidades individuais. Mudou o logotipo e o slogan que interpreta sua razão de ser “Bem Estar Bem”, a relação harmoniosa do indivíduo consigo mesmo e com o mundo que o cerca. Também entrou na área de saúde com compostos e suplementos vitamínicos. Em 1976, surgiu a Água de Cheiro, criada por Elizabeth Pimenta, no bairro Savassi em Belo Horizonte. Era uma loja de perfumes naturais que tinha como diferencial as embalagens artesanais, exclusivos saquinhos de feltro na 28 | Geyza Dalmásio Muniz

cor vinho, o que chamou a atenção de representantes. O sistema de franquia surgiu naturalmente. Em meio a crise econômica dos anos 80, o mercado seletivo ao qual se destinava a perfumaria e a cosmética era inexpressível e o varejo era dominado por artigos populares de higiene pessoal, no qual o desodorante era o perfume mais difundido. Em 1979 surgia a primeira farmácia de manipulação com ares de butique: O Boticário. Miguel Krigsner, criador da empresa, começou a oferecer produtos prontos e deu certo. Seu lançamento foi a colônia Acqua Fresca que fez muito sucesso, levando o empresário a expandir o negócio através do sistema de franquias. Em 1980 surgia a L’acqua di Fiori, localizada em Belo Horizonte, Minas Gerais, fundada por Marlene e Leopoldo Mesquita. Esta também adotou o sistema de franquias. A Pierre Alexander foi fundada em 1981, em Porto Alegre, por Luís Felipe de Paola Osório, o qual adotou o sistema de venda direta. O carro-chefe da empresa foi o creme desodorante. A partir do Plano Real (1994) e da equivalência da moeda brasileira com o dólar americano (até 1998), foram lançados produtos capazes de concorrer com os internacionais. Com a desvalorização do real, a moeda nacional, o preço dos importados tornou-se muito elevado para a maior parte da população, que passou a consumir produ-

A Indústria de Cosméticos | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

tos nacionais de primeira linha como os de O Boticário e Natura30. Na década de 80, as mulheres, emancipadas, partiram em busca da feminilidade sem abrir mão de suas conquistas. O poder de sedução era enfatizado por suas fragrâncias preferidas, mais ricas e sensuais. Para conciliar os distintos papéis de mãe, esposa e executiva, predominaram três direções diferentes de perfumes: nostalgia romântica (florais doces), nostalgia clássica (chipres e cálidos) e nostalgia sensual (florais orientais)31. Na década de 90, a globalização proporcionou a expansão de fronteiras. Um perfume podia ser aceito por uma enorme multiplicidade de pessoas de diversas culturas. Se as chances de um conceito original eram reduzidas, por outro lado, ampliava-se a possibilidade de penetração em mercados bem variados32. No início do século XXI, a indústria brasileira de perfumaria e cosmética dedica-se à criação de produtos inovadores, utilizando todos os recursos tecnológicos disponíveis. Há dinamismo, liberdade criativa e experiência suficientes para grandes vôos. Com a colaboração de verdadeiros artistas capazes de integrar um conceito ao conteúdo de um perfume, é possível haver mudanças no perfil do mercado e grande crescimento33.

30

Ashcar, 2001, p. 139. Ibidem, p. 165. 32 Ibidem, p. 166. 33 Ibidem, p. 175. 31

29 | Geyza Dalmásio Muniz

Influências do perfume Atualmente, o perfume é capaz de revelar a personalidade das pessoas, bem como sua classe social, uma vez que um pequeno frasco pode atingir valores muito elevados. O perfume pode apresentar cheiros diversos quando aplicado em pessoas diferentes. Isso ocorre devido os odores corporais serem únicos e resultarem da alimentação, das características pessoais, dos lipídeos e ácidos graxos que a pele exala. A temperatura da pele interfere diretamente na vaporização do perfume, e conseqüentemente, no cheiro exalado34. Além de revelar a personalidade de uma pessoa, o perfume pode influenciar o estado de espírito de cada um. Ao penetrarem pelas narinas, os aromas encontram o sistema límbico (conhecido antigamente como cérebro das emoções), responsável pela memória, sentimentos e emoções. Quando uma mensagem aromática penetra neste sistema, provoca sensações de euforia, relaxamento, sedação ou estimulações neuroquímicas. Mesmo não estando mais associados a religiões ou rituais sagrados, o ato de enfeitar-se ainda é carregado de símbolos. Cada um procura, mesmo que inconsciente

34

A magia do cheiro. Disponível em http://www.alunosonline.com.br/barra/index.htm?url=http://delas.ig. com.br/materias/185001-185500/185289/185289_1.html. Acesso em: 21/10/2007.

A Indústria de Cosméticos | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

mente, através dos símbolos presentes nos produtos que usa, colocar sua personalidade em evidência e buscar a identificação com um grupo específico35. Ashcar36 afirma que o uso do perfume, conscientemente ou não, sempre esteve ligado à arte da sedução. Diz ainda que, essencial nesta tarefa, ele constitui um traço marcante de nosso caráter e desenha nossa imagem. De acordo com Ashcar37, a percepção do cheiro depende não só da sensação que ele evoca, mas também das emoções que resgata. Diretamente ligado à memória, o sentido do olfato possui o misterioso poder de capturar a essência exata das nossas experiências, ao mesmo tempo tão difíceis e tão fáceis de reviver, por meio de uma simples lembrança. Quando se está muito tenso e nervoso, um aroma de lavanda é capaz de relaxar e induzir ao sono, ajudando em casos de insônia. Quando se está apático, deprimido, infeliz, o aroma de bergamota ajuda na recuperação. Aromas de limão, vetiver e eucalipto melhoram a concentração, enquanto os de alecrim aliviam o cansaço38.

Anatomia de um perfume Segundo Ashcar39, a força de um perfume depende, basicamente, da concentração de fragrância e das matérias-primas utilizadas em sua concepção. Do ponto de vista técnico, um perfume consiste na mistura de várias substâncias, naturais ou químicas, dissolvidas em álcool. Ao pé da letra, a palavra perfume aplica-se somente o extrato, — o tipo de mistura que contém a mais alta proporção de fragrância concentrada e com o menor teor de álcool possível — as outras misturas quase sempre levam água. A concentração de fragrância é o fator determinante na nomenclatura dos tipos de “perfume”, do mais leve ao extrato. A concentração de uma fragrância pode ser classificada de acordo com a quantidade de óleos aromáticos diluídos em um solvente (mais comumente etanol e água). Os perfumes se dividem em cinco grupos40: Parfum (extrato de perfume): possui aroma intenso e a maior concentração de essências, entre 15%-35% de compostos aromáticos. Como são muito fortes, não são adequados ao clima tropical, sendo pouco comercializados. O fixador41 tem um poderoso efeito de fixação 39

Ashcar, 2001, p. 59. Os valores da quantidade de concentração de essências variam a cada fonte pesquisada. Para transcrever aqui, selecionou-se a que se apresentou mais adequada. 41 Fixador não é um elemento extra adicionado na fabricação de perfumes. A fixação do perfume, ou seja, que resiste por várias horas, se deve às notas de fundo (ou de base) que são constituídas por ingredientes mais densos e persistentes, proporcionando uma difusão mais lenta. 40

35

Allérès, 1999. Ashcar, 2001, p. 53. 37 Ibidem, p. 59. 38 DELAS. A fascinante história do perfume. Disponível em: http://delas.ig.com.br/materias/185001185500/185289/185289_1.html. Acesso em: 21/10/2007. 36

30 | Geyza Dalmásio Muniz

A Indústria de Cosméticos | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

podendo prolongar-se por até 24 horas. O exagero na aplicação pode provocar dores de cabeça e até mesmo intoxicação acompanhada por náusea. Eau de Parfum / Parfum de toilette (EDP): varia de 1018% de compostos aromáticos. Seu efeito de fixação chega a ultrapassar 12 horas. Eau de Toilette (água de toilette - EDT): são fragrâncias mais discretas, adequadas ao clima tropical. Compõem-se de 5-10% de concentração de essências. São comumente encontradas comercialmente. Sua fixação não passa de 8 horas. Eau de Cologne (água de colônia - EDC): bem suaves, são fragrâncias com baixa concentração de essências, variando entre 3-5%. A fixação dura no máximo até 5 horas. Splash: possuem no máximo 3% de concentração de fragrância. O termo Deo Colônia é apenas utilizado no Brasil e refere-se a fragrâncias com baixíssima concen-tração de essências e sua fixação dura entre 2 horas e 4 horas. A estrutura de um perfume é composta por três partes chamadas de notas. São elas: Notas de cabeça ou de saída: são as primeiras sensações que se tem ao passar o perfume. É o momento que determina se o perfume agrada ou não. Por isso, deve-se deixar passar um tempo após a aplicação para sentir o 31 | Geyza Dalmásio Muniz

perfume "se abrir" e reconhecer as outras essências. São extremamente voláteis e muito leves. Baseiam-se em limão, laranja, bergamota, lavanda, pinho, eucalipto e folha de chá dentre outras. Quando um perfume é muito fresco, suas notas são quase todas voláteis, por isso seus aromas duram menos tempo, por volta de 15 minutos. Notas de coração ou de corpo: são as do meio da composição para onde vão aromas mais equilibrados. Elas que dão a personalidade ao perfume. Expressam o tema principal da fragrância. São sentidas assim que o composto aromático seca na pele. São utilizadas essências menos voláteis e mais pesadas, como as de flores, folhas e especiarias, dentre elas o tomilho, o cravo, aldeídos, cominho, pimenta. As notas de coração ou de corpo são liberadas a partir do aquecimento da pele e duram em torno de 40 minutos. Notas de fundo ou de base: são aquelas da base da composição para onde vão os aromas mais fortes, consistentes, pesados. São os que têm maior poder de fixação (de duração), ou seja, depois de um bom tempo são eles que se evidenciam. Pouco voláteis, os ingredientes evaporam lentamente. São notas mais densas, como as de resina, de madeira e de origem animal, como por exemplo, o musk, o castor, o almíscar e o civet.. A união das notas forma os acordes que compõem as fragrâncias. As fragrâncias também são classificadas em famílias olfativas olfativas. tivas A classificação dessas famílias varia de acordo com os fabricantes e podem se subdividir em várias outras.

A Indústria de Cosméticos | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

As famílias femininas se diferem das masculinas. São elas42:

ções do ano. Divide-se em seis subcategorias: verde, frutal, fresco, floral, aldeídico e doce.

Famílias femininas

Floral verde Fragrâncias com acentuado e característico frescor verde em harmonia com a composição floral. São aromas leves e voláteis utilizados para puxar os aromas de baixo, das notas de corpo para a saída.

Floral — Verde, Frutal, Fresco, Floral, Aldeídico, Doce Oriental — Amadeirado, Especiado Chipre — Frutal, Animal, Amadeirado, Fresco, Verde Lavanda — Fresca, Almiscarada Famílias masculinas Fougère — Fresco, amadeirado, Ambarado Oriental — Especiado, Ambarado Chipre — Amandeirado, Couro, Conífero, Fresco, Cítrico Como a pesquisa está focada em fragrâncias femininas, serão descritas apenas as famílias femininas. Floral É nesta família que se reúne a maior concentração de perfumes femininos, com fragrâncias apreciadas em todo o mundo. Muitas delas apresentam acordes claramente reconhecíveis que lembram fragrâncias puramente florais. Outras trazem em sua composição impressões florais particulares de certas regiões ou locais em específicas esta42

A classificação das famílias olfativas foi retirada do livro Brasilessência, de Renata Ashcar, que selecionou referências clássicas, os tí-

tulos mais importantes dentro da categoria para abordar em seu livro.

32 | Geyza Dalmásio Muniz

Floral frutal Caracteriza-se por elementos frutais radiantes, alguns de caráter bem dominante. Os temas utilizados, combinados com os buquês florais, são variáveis — cassis, abacaxi, damasco, pêssego ou maçã, entre outros. Floral fresco Versão bem apreciada pelas brasileiras inclui todos os temas leves, suaves e primaveris — em geral impressões baseadas no jacinto, lírio-do-vale e flor de laranjeira. Pode apresentar toques refrescantes de bergamota ou outros componentes ativos. Engloba águas-de-colônia puras e leves, como as que combinam jasmim com acordes herbais frescos. Floral floral Os verdadeiramente florais, com predominância de flores em toda a estrutura do perfume. Rosa e jasmim são os temas favoritos, mas outras flores, como ilangue-ilangue, narciso, tuberosa, íris e cravo, também podem participar deste buquê.

A Indústria de Cosméticos | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Floral aldeídico Combina buquês florais realçados pela cuidadosa adição de aldeídos, que enfatizam seu corpo, sua personalidade. Floral doce Intensa e encorpada direção olfativa, também chamada de “floriental”. No final dos anos 70, surgiram novas variações do tema, partindo das nuances florais doces até os matizes com fortes direções orientais.

Oriental Notas orientais despertam associações com as legendárias fragrâncias de As Mil e Uma Noites, com seus aromáticos bálsamos e resinas, também evocam as preciosas especiarias indianas. Ricos e quentes, são tipicamente almiscarados ou especiados, traduzindo sempre volúpia e exotismo. Oriental ambarado Também chamada oriental doce, essa categoria é caracterizada por um toque sutil de frescor, contrastado com sua base de especiarias (como baunilha ou outros elementos doces), desenhando na imaginação uma exótica femme fatale. Oriental especiado Ingrediente inconfundíveis, como as especiarias culinárias — cravo, noz-moscada e canela, entre outras — definem a categoria dando o acento spicy (apimentado).

33 | Geyza Dalmásio Muniz

Eles são combinados com madeiras secas de facetas pronunciadamente doces ou mesmo com elementos animais. Podem aparecer acordes florais (jasmim, ilangue-ilangue) em altas porcentagens, além de materiais sintéticos que trazem a essas fragrâncias um persistente toque feminino.

Chipre É caracterizada pela presença de notas cítricas de bergamota em harmonia com um fundo de musgo de carvalho, patchuli ou outras madeiras nobres, originárias da região do mediterrâneo. O nome remete ao primeiro perfume com essa combinação olfativa, inspirado na legendária ilha grega homônima: o Chypre, lançado em 1917 por François Coty. O sucesso foi tanto que gerou uma nova família olfativa. Chipre frutal Caracterizado e realçado por acentos frutais, semelhantes ao aroma do pêssego, que personalizam a combinação, garantem a tenacidade da fragrância e dão caráter ao produto. Chipre animal Este grupo inclui a variedade de interpretações Chipre que, com o tempo, gerou novas evoluções no campo de perfumes femininos. Os componentes animais transmitem uma tenacidade ainda maior para a sua radiante feminilidade.

A Indústria de Cosméticos | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Chipre amadeirado A característica mais marcante dentro deste grupo é o forte acento de patchuli. A harmonia do patchuli com a rosa vem sendo incrementada com releituras criativas em diferentes combinações. Chipre fresco Aqui estão as mais fiéis e puras criações da família, bem próximas dos precursores remotos. Os modernos descendentes reafirmaram o nome Chipre graças à sua excelente aceitação de mercado e à riqueza de evoluções do tema. Chipre verde Encontram-se as composições com acentuados acordes verdes caracterizados por herbáceos ou suaves variações encontradas em interpretações de acordes florais.

Lavanda Nas classificações internacionais, esta é uma família olfativa particularmente masculina. No Brasil, porém, em razão de vários aspectos culturais peculiares, ela se posiciona como uma das preferências nacionais femininas, é apreciada por mulheres de todas as idades. Exala leveza, em comparação com as outras famílias olfativas, e tem no frescor a nota predominante. Sua estrutura é a base para dois temas distintos: o fresco, adequado ao nosso clima úmido e tropical; e o almiscarado, ligado à sensualidade da mulher brasileira. Lavanda é sinônimo de alfazema, nome que batiza vários frascos.

34 | Geyza Dalmásio Muniz

Lavanda fresca Caracterizada por seu frescor e leveza, sem compromisso com complexos aromáticos, representa uma nota de lavanda quase pura, que agrada de homens e mulheres. Lavanda almiscarada Dentro do mesmo conceito de água-de-colônia, com também extremamente difundido por todo o país. Sua personalidade encontra-se no contraste do frescor das notas de lavanda com as persistentes notas de fundo almiscaradas. Algumas famílias olfativas são mais usadas em perfumes femininos e outras em masculinos, no entanto, não existe uma regra. Atualmente, perfumes unissex têm se tornado comum. O primeiro exemplar foi o Le Sien, de Jean Patou, lançado em 1931. Desde 1994, quando Calvin Klein lançou o CK One, as fragrâncias de uso compartilhado (unissex) ainda são uma grande tendência de mercado. A explicação referese à oposição dos perfumes masculinos e femininos que era feita antigamente. Para elas, eram produzidas fragrâncias predominantemente florais e, para eles, as cítricas e amadeiradas. Com o tempo, os homens aderiram a fragrâncias mais suaves e adocicadas. Ao mesmo tempo, observou-se que boa parte da venda de perfumes masculinos era consumida por mulheres. Assim, percebendo-se essa tendência, passaram a criar os perfumes unissex.

Capítulo 2

O Luxo e o Consumo | 35

O Luxo e o Consumo | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

O mercado de luxo tem se desenvolvido e tomado proporções cada vez maiores, inclusive aqui no Brasil. O próprio governo brasileiro tem incentivado a expansão deste mercado através da exportação de produtos com maior valor agregado, destacando-se a Agência de Promoção das Exportações do Brasil (Apex Brasil), que organiza eventos no exterior e abre o mercado para as empresas brasileiras. O setor de cosméticos e perfumes brasileiros vendeu por volta de US$400 milhões em 200643. No entanto, no século XXI, a palavra “luxo” ganhou diversas conotações, tendo seu conceito relativizado. Agora, fala-se em diversos níveis de luxo, atingindo classes sociais mais populares. O que é luxo para uns, pode não ser para outros. A valorização ecológica, utilização do tempo escasso, tranqüilidade, segurança, lazer e educação são significados agregados ao “luxo” e se sobrepõem ao acúmulo de riquezas em vários países. Se para alguns luxo é ter condições financeiras para adquirir seu objeto de desejo, para outros pode ser a disponibilidade de tempo para desfrutar da vida em família, por exemplo.

43

36 | Geyza Dalmásio Muniz

Faggiani, 2006, p.14.

O consumo de bens de luxo O consumo envolve muito mais questões do que parece. Como explica Solomon: O consumo se constitui em um processo contínuo. Vai muito além da troca de valor monetário por uma mercadoria ou serviço. Envolve questões que influenciam o consumidor antes, durante e depois da compra, e também todo o processo de busca, escolha e tomada de decisão de compra de um produto, a experiência durante o consumo, o desempenho do produto após a compra e as conseqüências que essa compra traz. Quando se fala de consumo, se fala não só de objetos tangíveis, mas de experiências, idéias e características intangíveis (SOLOMON, 2002 apud AMUI, 2006, p. 7).

Conforme Carlos Ferreirinha, ex-presidente da Louis Vuitton44 no Brasil, os lojistas e prestadores de serviços não oferecem produtos, apenas experiências. Para Ferreirinha, “produtos suprem necessidades, experiências suprem desejos através da emoção”, conclui45. Atualmente, as pessoas de maior poder aquisitivo estão dispostas a gastarem pequenas fortunas para vivenciarem experiências únicas, proporcionadas pelos bens de luxo.

44 Louis Vuitton é uma das marcas do principal grupo de marcas de luxo, o LVMH (Varella, O império do Luxo, artigo do site da revista Veja). 45 Roberto Lopes, “Eles Entendem de Luxo”, revista Welcome Congonhas, setembro de 2007, p. 31.

O Luxo e o Consumo | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Os produtos de luxo46, aparentemente, sempre foram valorizados e procurados, mostrando sua constância e persistência de códigos de diferenciação social47. O uso de um determinado bem de luxo pode determinar o nível do consumidor na hierarquia social, na distinção de classes econômicas. Segundo Lipovetsky (2005), desde o Paleolítico que os homens mantinham algum tipo de luxo, seja pelos adornos, tatuagens ou prazer pelas festas. Os templos da Antigüidade são um exemplo disso, com suas grandiosidades físicas e decorativas. Há uma necessidade de beleza para satisfazer os sentidos. Sempre vivemos cercados de luxos de diferentes proporções. As pessoas estão em constante busca pela diferenciação, e para obtê-la, buscam o consumo de bens de alto padrão. Há um desejo em ser diferente, em estabelecer uma personalidade particular e individual, distante dos modelos convencionais48. Com a multiplicidade cultural resultante da globalização, o homem atual está em constante transformação de sua 46 Em um nível abaixo dos produtos de luxo encontram-se os produtos “upmarket” e/ou “premium”. Juntos, formam uma faixa de mercado chamada de “produtos de prestígio” ou “produtos de alto padrão”. A definição de “premium” é bem semelhante à de “luxo”. A diferença é que, os produtos de luxo são produzidos por empresas que atuam exclusivamente no final de um conjunto contínuo que abrange todos os tipos de produtos à disposição. Não são versões sofisticadas de produtos comuns, como normalmente ocorre com os produtos “premium”, que tanto podem ser produzidos por uma empresa que atua em diversas faixas de mercado, quanto por empresas voltadas ao luxo. (FAGGIANI, 2006). 47 Lipovetsky, 1989, apud Faggiani, 2006, p. 9. 48 Nietzsche, 2005, apud Faggiani, 2006, p. 12.

37 | Geyza Dalmásio Muniz

identidade, uma vez que vive em uma sociedade na qual se dissolve em suas referências culturais e sociais, gerando novas necessidades e valores a cada dia49. Os produtos do mundo contemporâneo estão imbuídos de significado e sendo assim, refletem nossa imagem como espelhos, fazendo-nos descobrir aspectos de nós mesmos, como coloca Diechter (1970). O consumo constitui um universo de significação capaz de modelar as práticas cotidianas. Nele, os indivíduos se reconhecem uns aos outros e constroem suas identidades, imagens trocadas e reconfirmadas pela interação social (ORTIZ, 1996, p. 170 apud FAGGIANI, 2006, p. 11).

Desta forma, tudo o que é consumido torna-se indicador de individualidade, identidade, gosto e estilo do consumidor50. Conforme Baudrillard (1981), é o código presente em cada objeto e em cada relação de consumo que classifica o indivíduo que o consome. A concorrência entre as classes e a luta pela distinção sustentam a efemeridade do consumo, fazendo com que os consumidores estejam sempre procurando inovações e deixando para trás o que não é mais novidade.

49 50

Silva, 2004 apud Faggiani, 2006, p. 10. Featherstone, 1996 apud Faggiani, 2006, p. 11.

O Luxo e o Consumo | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

O luxo não é ditado ou imposto pelas necessidades básicas, mas sim pela concepção de prazer, transformando sonhos em necessidade. Atualmente, no nosso mundo globalizado, onde a qualidade não é mais um diferencial dos produtos e serviços, mas um aspecto inseparável, se compete mais pelo apelo original e pela emoção e sentimentos que se desperta nos consumidores através de signos e símbolos (FAGGIANI, 200, p. 12).

Como afirma Silva (2004), a principal influência da nova identidade do homem atual é a indústria cultural51 que, através de símbolos e significados aliados à globalização, massifica e transforma produtos em mercadorias de fácil assimilação e aceitação, além de modelar os desejos e necessidades humanos52. De acordo com Faggiani (2006), a indústria cultural utiliza imagens, signos e símbolos evocativos de sonhos, anseios, ambições e fantasias que sugerem uma identidade ao consumidor. Os produtos de prestígio incitam a sofisticação individual e o status, funcionando como objetos de ascensão social e de pertencimento a um determinado grupo ou classe social. O simbólico é um componente determinante na escolha dos produtos de luxo e torna-se um diferencial, especialmente quando os produtos de luxo têm as mesmas funções, materiais, qualidades e preços. De acordo com Faggiani (2006), as estratégias para seduzir os compradores de produtos de luxo e premium são diferentes das utilizadas para o consumo de massa. O consumo de bens de prestígio apresenta características tangíveis do produto, como design, matéria-prima, durabilidade, conforto.

51

O que é produzido pelo sistema industrializado de produção cultural (TV, rádio, jornal, revistas, etc.) elaborado de forma a influenciar, aumentar o consumo, transformar hábitos, educar, informar, pretendendo-se ainda, em alguns casos ser capaz de atingir a sociedade como um todo (Neto, 1996). 52 Hall, 2002 apud Faggiani, 2006, p. 11.

38 | Geyza Dalmásio Muniz

Os significados atribuídos aos bens de luxo não são construídos apenas individualmente, mas também socialmente. Os indivíduos possuem motivações e interesses diferentes uns dos outros. Existem fatores psicológicos, sociais, culturais e ambientais que implicam nessa escolha53. Como define Twitchell (2000), o surgimento da sociedade de consumo apenas consolidou o desejo de consumir que já existia. Ele afirma que esse desejo encontrou uma oportunidade com a Revolução Industrial de se manifestar. Antes da Revolução Industrial, só não se consumia tanto porque as pessoas não tinham tanta escolha e tampouco essa diversidade de objetos para desejar. Assim, com o surgimento da sociedade de consumo, os bens passam a depender mais do seu significado social do que de sua utilidade funcional. O valor simbólico contido nos produtos tornou-se o principal combustível para sua compra e uso. Assim como a escolha por produtos ou marcas, o consumo é regido por códigos que 53

Faggiani, 2006, p. 13.

O Luxo e o Consumo | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

enfatizam a análise e a relação entre os objetos54. Conforme Da Matta, o valor simbólico se adiciona ao valor de uso e ao valor de troca, para permitir, tal como ocorre também nos sistemas tribais e tradicionais, a sua associação sensível, imagística, concreta, com qualidade e relações humanas que a sociedade define como preciosas e importantes. (DA MATTA 1984, apud AMUI, 2006, p. 11-12).

Segundo Veblen (1965), no passado o objetivo do consumo era exibir os produtos como sinal de diferenciação e status, e não usufruir a qualidade destes. Para Veblen, a riqueza em si possui significado social, ela deve ser exibida, e não simplesmente consumida ou possuída. Como afirmam Strehlau e Aranha (2002), os bens de luxo funcionam como forma de distinção e reconhecimento social. Para as classes mais favorecidas esses produtos são formas de diferenciação das outras classes. Através dos avanços contínuos no consumo, as classes inferiores desejam os modelos adquiridos pela classe superior, fazendo com que o luxo os distanciem ainda mais55. Assim, esses bens transformam-se em objetos de hierarquia social, gerando uma satisfação pela exibição de riqueza monetária. A pesquisa de Dubois e Duquesne (1993) identificou duas formas de acesso a bens de luxo: uma diz que a ostentação é o principal motivo para a aquisição desses 54 55

39 | Geyza Dalmásio Muniz

Faggiani, 2006, p. 13.. Allérès, 2000 apud Faggiani, 2006, p. 26.

bens, privilegiando aspectos tangíveis como design e qualidade (assemelhando-se com a teoria do consumo conspícuo de Veblen); e a outra afirma existir uma possibilidade de extensão de si mesmo e expressão de valores individuais ou de um grupo, onde a característica simbólica é destacada. Desta forma, como existem várias motivações para o consumo, existe um público variado para o consumo de bens de prestígio. Mudanças no mercado de luxo foram identificadas pela Risc International (2001)56 entre as décadas de 80, 90 e 2000. Conforme dados da empresa, nos anos 80 prevaleceu o hedonismo e a ostentação, ou seja, competição de status, marcados pela ascensão dos yuppies57. Já a década de 90 teria sido marcada menos pela ostentação e mais pela responsabilidade e ética, onde o luxo teria servido à arte de viver, saindo da competição social e indo para a satisfação pessoal58. Os anos 2000, por sua vez, teriam iniciado uma época de prazer, com os produtos de luxo servindo a uma erotização da vida diária59. Conclui-se, portanto, que os bens de luxo atendem a propósitos diferentes e a consumidores diversificados. A

56

Risc Internatonal é uma empresa de consultoria européia que estuda os principais mercados de luxo do mundo anualmente. 57 Homem jovem, bem-suedido profissionalmente (Ferreira, 1999). 58 Dubois, Laurent, 1996 apud Faggiani, 2006, p. 27. 59 Risc, 2001 apud Faggiani, 2006.

O Luxo e o Consumo | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

multiplicidade na oferta do luxo é o reflexo da diversidade da sociedade.

sensação de glória e satisfação (Manu apud Sousa, 2000 apud Faggiani, 2006, p. 29).

Assim, a real necessidade é a da diferenciação, e não do objeto em si. Conforme Faggiani (2006), o desejo pode ser visto como capricho da alma, ou seja, os produtos têm valor porque satisfazem vontades do espírito. Muitas pessoas se permitem adquirir produtos de luxo como forma de compensação do sofrimento com uma situação de vida indesejável.

Na atual sociedade, o grau de sucesso é medido pelo acúmulo de riquezas e pela disponibilidade de consumo de bens materiais. “(...) Comentando sobre a cultura do consumo, as pessoas gastam um dinheiro que não possuem, pra comprar coisas que não necessitam, para impressionar pessoas que não conhecem” (Penna, 1999 apud Faggiani, 2006, p. 29).

A fronteira entre desejo e necessidade é muito sutil. Para Faggiani (2006), apesar do mercado atual produzir falsas necessidades, o que para alguns consumidores possa ser falsa necessidade, para outros pode ser essencial.

O consumo e suas influências na atualidade

O ser humano precisa do supérfluo e desnecessário para viver, pois somente o essencial não o atende. Segundo Coelho (2000), “transferimos sonhos e expectativas para o objeto”. De acordo com Sousa60, “(...) na medida em que são preenchidas as necessidades básicas, as pessoas passam a procurar produtos que respondam a expectativas sociais e pessoais mais elevadas”. Desejamos produtos que preencham nossas necessidades emocionais porque quando eles vão além das necessidades mecânicas, utilitárias e funcionais, não apenas tornam-se necessários em nossas vidas, mas apresentam uma

O aumento da produção e da oferta de bens materiais, conseqüência da Revolução Industrial, colaborou com a formação de uma sociedade consumista61. A ideologia do consumo gera uma competição pelo acúmulo de riqueza entre os povos das sociedades industriais. O desejo de poder aliado ao desejo material descomedido gera um círculo vicioso, mais prestígio social e maior necessidade de poder62. Segundo Fromm (1982), consumir é um círculo vicioso porque, da mesma maneira que abranda a ansiedade, requer o aumento do consumo porque este logo que concretizado deixa de satisfazer.

61 60

40 | Geyza Dalmásio Muniz

Sousa 2000 apud Faggiani, 2006, p. 28-29

62

Penna, 1999 apud Faggiani, 2006, p. 17. Faggiani, 2006, p. 17.

O Luxo e o Consumo | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Fromm (1982) afirma que, possuir alguma coisa proporciona um sentido de identidade, onde objetos e pessoas se fundem e estas passam a ser o que possuem. O consumo como distinção, com o objetivo de obter prestígio e reconhecimento do poder, faz com que as classes superiores gastem de forma esbanjadora e ostensiva, exibindo suas riquezas e luxos. Veblen63 expôs essa idéia através de sua teoria do consumo conspícuo, conspícuo ou seja, o consumo como forma de demonstrar aos outros a capacidade de comprar determinados bens. Essa demonstração tem, ao mesmo tempo, um objetivo de imitação das classes superiores e de distinção das classes inferiores. Para Campbell (2001), os consumidores se esforçam para consumir produtos que os aproximem dos grupos almejados e se afastam dos considerados inferiores, classificando os indivíduos em seguidores e esnobes64. Seguidores são os consumidores que decidem por um bem ao ver que outros o consomem. Esnobes são aqueles que vão rejeitar um produto ou serviço justamente porque está sendo consumido por determinado indivíduo ou grupo. Conforme a definição de Rocha (2003), toda compra é social. Assim, nota-se que o consumo é um fator social com capacidade para gerar representações coletivas, emoções codificadas, sentimentos obrigatórios e pensamentos. Rocha afirma que os bens assumem um significado sentimental a partir de seu consumo.

63 64

41 | Geyza Dalmásio Muniz

Veblen, 1899 apud Faggiani e Amui, 2006. Campbell, 1987 apud Walther, 2002, p. 23.

A partir das visões citadas anteriormente sobre o consumo, conclui-se que o simbólico prevalece sobre a função utilitária do produto, principalmente nos bens de consumo de luxo. De acordo com Slater (2001) o consumo se tornou a maneira pela qual a sociedade passou a assimilar sua própria cultura. Baudrillard (1995) afirma que o consumo transformou-se na forma de comunicação da sociedade contemporânea. Os significados dos produtos se revelam na relação de uns com os outros, e não individualmente. Engel, Blackwell e Miniard (2000), afirmam que as decisões de consumo são conseqüência da união de certos fatores que interagem entre si de modo dinâmico, como fatores pessoais referentes a diferenças individuais, referentes a influências ambientais e referentes aos processos psicológicos dos consumidores. Kloter (2000) define os fatores culturais, sociais, pessoais e psicológicos como responsáveis pelo comportamento de compra, destacando os fatores culturais como os de maior e profunda influência. Assim, “a partir do momento que cultura e consumo são tratados conjuntamente, o consumo deixa de ser produzir, comprar e usar objetos para se tornar um sistema simbólico, por meio do qual a cultura manifesta seus princípios, categorias, idéias, valores, identidades e projetos” (Rocha, 2000 apud Faggiani, 2006, p. 23).

O Luxo e o Consumo | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

O sistema de signos e símbolos vinculados aos objetos nunca foi tão forte e representativo da ordem social como atualmente. Baudrillard65 afirma ser justamente isso que difere a sociedade atual das anteriores: “o mundo do consumo é um conjunto de signos e significados interligados e interdependentes e oferece uma maneira de socialização aos seus indivíduos”. A cultura tem grande influência no comportamento do consumidor, pois afeta os objetos, a estrutura de consumo, a tomada de decisão de cada pessoa e a comunicação numa sociedade66. A cultura permite que o consumidor se coloque no lugar do outro e enxergue a si mesmo da mesma forma que os outros. Isso acontece porque todos passaram pelo mesmo processo de civilização, com os mesmos símbolos e códigos67. As escolhas pessoais podem ser influenciadas ainda por quatro fatores psicológicos importantes: motivação, percepção, aprendizagem e crenças e atitudes. As necessidades levam as pessoas a agir por suas motivações, ou seja, fatores internos que impulsionam os indivíduos a tomar atitudes que satisfaçam suas necessidades. A percepção leva os indivíduos a selecionar, organizar e interpretar as informações. A aprendizagem gera mudanças no comportamento de uma pessoa em conseqüência das experiências vividas. Crença é um pensamento que se sustenta até o fim e atitude é a resistência de uma

pessoa às avaliações favoráveis ou não, à emoção e às tendências de ação em relação a algum bem ou idéia68. O consumidor também pode ser influenciado por fatores sociais como grupos de referência, família, papéis e posições sociais. Os grupos de referência influenciam direta ou indiretamente o comportamento do consumidor e ajudam a formar um autoconceito. O conceito formado de si mesmo faz com que este tome atitudes levando em consideração a visão das pessoas que toma referência, deixando-se influenciar para ser aceito no grupo. No entanto, a família é a organização de compra de produtos de consumo mais importantes da sociedade69.

Definições do luxo Etimologicamente, “luxo” deriva da palavra “luxus”, em latim, que significa “abundância, refinamento”. Tentou-se aproximar este conceito, erroneamente, de dois termos parecidos, de lux (luz), referindo-se ao brilho, esplendor, e luxuria (luxúria), relacionado com ostentação, prazer, vaidade70. Segundo Faggiani71, atualmente luxo está associado à extravagância, ao supérfluo, ao poder material, embora este conceito esteja se modificando. Anteriormente, o luxo foi associado ao acesso a mercadorias raras, como por exemplo, temperos que eram conse68

65

Baudrillard, 1981 apud Faggiani, 2006, p. 23. 66 Faggiani, 2006. 67 Solomon, 1983 apud Amui, 2006, p. 12.

42 | Geyza Dalmásio Muniz

Faggiani, 2006, p. 21. Ibdem. 70 Castarède, 2005 apud Faggiani, 2006, p. 32. 71 Faggiani, 2006, p. 32. 69

O Luxo e o Consumo | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

guidos apenas com as grandes navegações, vindos do Oriente e levados para as cortes européias. Depois da Revolução Industrial, os produtos que eram considerados bens de luxo tornaram-se comuns72. Segundo o sociólogo Domenico de Masi73, na sociedade industrial “os ricos exibiam a própria opulência, sobretudo para surpreender, intimidar e reforçar o poder que tinham e a insuperável distância que os separava da massa”. Para Lombard (1989), produtos de luxo são aqueles de qualidade superior, caros, raros, esteticamente bem elaborados, dotados de uma marca famosa e adquiridos por uma clientela especial.

Também se relaciona com o raro, com o exclusivo, por isso torna-se caro74. Outra palavra que está relacionada ao luxo é a tradição. Preservar o tradicional, manter as raízes, valorizar o passado são elementos importantes do luxo75. No entanto, atualmente o luxo assumiu outras conotações, principalmente nos países desenvolvidos. Está relacionado com a utilização do tempo escasso, a valorização de consciência e atitudes ecológicas, segurança, conforto, qualidade de vida, praticidade, compromisso social, entre outros. O indivíduo valoriza mais essas características do que as aparências e ao acúmulo de riquezas76.

Já para Vigneron e Johnson (2004), produtos de luxo são aqueles que, ao serem utilizados, aumentam a autoestima do consumidor, independente da sua utilidade funcional. De acordo com eles, esses produtos satisfazem as necessidades psicológicas e funcionais dos consumidores, mas são os benefícios psicológicos que representam o principal fator de diferenciação entre um produto de luxo e os outros.

Hoje em dia o luxo é relativo. Cada indivíduo o vê a seu modo. Para um sobrecarregado presidente de empresa, luxo é tempo. Para um agricultor, é a sociabilidade, que pode traduzir-se numa boa refeição em companhia dos amigos (Castarède, 2005: 33 apud Faggiani, 2006, p. 34).

O luxo se associa a um código, comportamento, comodidade, conforto, a valores éticos e estéticos, ao reconhecimento, ao prazer e à satisfação e requinte.

O luxo ainda pode ser classificado em vários níveis, cuja percepção influencia diretamente na escolha de um consumo77. Um produto pode ser mais ou menos luxuoso dependendo do contexto onde está inserido, e adquire conceitos muito particulares: o que para uma pessoa é 74

Castarède, 2005 apud Faggiani, 2006, p. 33. Faggiani, 2006, p. 33. 76 Ibidem. 77 Bearden, Etzel, 1982, apud Amui, 2006, p. 19. 75

72 73

43 | Geyza Dalmásio Muniz

Ibidem, p. 33. Domenico de Mais, 2000 apud Faggiani, 2006, p. 33.

O Luxo e o Consumo | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

considerado luxo, para outra pode ser considerado uma necessidade78. Como define Faggiani (2006), na globalização o luxo está associado a um sentimento de prazer da alma e não do espetáculo ou escândalo. Está mais ligado à individualidade e essência da escolha do que à evidência do valor ou da exclusividade. Inicialmente houve uma confusão entre “luxo, bens e riqueza” com o “excesso e ostentação” das mesmas, transformando o luxo em vilão. Entretanto, percebe-se que o luxo, atualmente, aproxima-se mais com o ser do que com o ter, aproxima-se cada vez mais da perfeição, da excelência, do primor, do conforto, do progresso e da realização de sonhos, emoção e desejo79.

Deste modo, nos últimos anos, o “luxo” transformou-se de “prestígio” (símbolo de status social) em “conquista” (símbolo de desenvolvimento e evolução pessoal e profissional). Ou seja, o que antes era visto como direito de berço, de linhagem, tradição, nobreza, hoje é visto como conquista, liderança, capacidade de realização80. Assim, percebe-se que os artigos de luxo possuem diversos níveis de valores e significados, alguns universais e inerentes, que variam de acordo com o tempo e a sociedade81. Faggiani (2006) afirma que o novo luxo será desmaterializado e se sustentará no desenvolvimento do indivíduo. O luxo do futuro se sustentará no desenvolvimento do indivíduo, fisicamente, moralmente e espiritualmente. O luxo será cada vez mais uma nova maneira de ser do que um objeto material, menos extravagante e mais autêntico. O novo luxo possibilitará ao ser humano redescobrir seu tempo livre, o lazer e a qualidade de vida, e será caracterizado pela inteligência e pelo bom gosto. O luxo deve se deparar novamente com sua verdadeira função que é da identidade (Faggiani, 2006, p. 43).

Segundo De Masi (2000), o luxo se afastará cada vez mais do excesso para se aproximar do que é necessário à vida. Voltaire (1978) considera o luxo como o aperfeiçoamento das “artes úteis”, que declarava o supérfluo como coisa altamente necessária. Ele afirma que o “luxo não é uma prerrogativa exclusiva do rico, cada homem pode valer-se dele segundo suas condições patrimoniais, a fim de embelezar a vida por meio dos vários estimulantes possíveis que lhe são franqueados”. O luxo continua sendo uma raridade. Mas o que é raro hoje pode não ser o que era ano passado (Faggiani, 2006, p. 34).

78 79

44 | Geyza Dalmásio Muniz

Vigneron e Johnson, 2004 apud Amui, 2006, p. 19. Ibidem.

80 81

Faggiani, 2006, p. 35. Ibidem, p. 36.

O Luxo e o Consumo | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

O luxo no Brasil O Brasil se encontra entre os dez maiores mercados de luxo do mundo. Perde apenas para os EUA, na América. O mercado movimentou em torno de US$2 bilhões no último ano82. Em 2003, o brasileiro consumiu US$ 150 milhões em perfumes importados de luxo, valor que não inclui compras em free-shops, diretamente no exterior ou no contrabando. Em 2004, houve um crescimento de 18% no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano anterior83. De acordo com Faggiani (2006), no Brasil o luxo ainda é associado ao excesso, esplendor,desperdício e ostentação, talvez por ser um país novo e emergente com relação aos EUA. O luxo ainda está relacionado ao antigo tipo de luxo exibicionista. No entanto, o luxo hoje pode ser o sonho ou aspiração de cada um, não precisa estar relacionado, necessariamente, a um produto ou serviço. Embora à primeira vista pareça que o Brasil não seja um lugar ideal para a venda de luxo, as pessoas adquirem produtos por impulso e se deixam levar pela emoção. O país apresentou um crescimento em torno de 35% nos últimos cinco anos no mercado de luxo84. Várias empresas do segmento estão investindo aqui no país. 82

Faggiani, 2006, p. 36. Alencastro, 2004. Gosto pelo luxo cresce no Brasil. Brasil Disponível em http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?IDmat=E7D0B2 15-CCCE-C96D-09594728A3D9D90E&mes=novembro2004. Último acesso em 1º de abril de 2008. 84 Faggiani, 2006, p. 39.

São Paulo, por exemplo, é a única cidade do mundo a ter quatro lojas da Montblanc. O estilista italiano Giorgio Armani também escolheu São Paulo para instalar a única loja na América Latina. Além destas, encontram-se em São Paulo grandes marcas como Armani, Cartier, Montblanc, Versace ou Louis Vuitton, entre outras. São inúmeras as razões que podem explicar o interesse de tantas marcas importantes pelo Brasil, dentre elas, destacam-se o crescimento constante da economia brasileira, a qual tornou-se no 9° maior PIB do mundo em 2004; a eliminação de restrições fiscais e burocráticas que limitam as viagens ao exterior; o sistema de crédito do país que facilita o acesso da classe média ao luxo através de pagamentos parcelados; o livre acesso de mulheres a produtos de moda e que satisfaçam a autoestima; a evolução do papel da mulher na sociedade, que hoje gera renda e consome bens de luxo, e ainda, a aceitação pelo homem dos cuidados com a aparência e com a moda85. Além disso, as exportações brasileiras têm crescido a cada ano, quase o dobro da expansão do comércio mundial, conforme a Organização Mundial do Comércio (OMC). Exportações por diversas empresas brasileiras têm apresentado ótimos resultados, como por exemplo, a empresa L’acqua di Fiori, fabricante de perfumes, que tem seus frascos exibidos nas vitrines de grifes dos Emirados Árabes como artigo de luxo, vendido a US$7086.

83

45 | Geyza Dalmásio Muniz

85 86

Ibidem. Ibidem, p. 40.

O Luxo e o Consumo | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Todo esse avanço tem relação com o design, uma vez que as transformações e diferenciação do mercado externo se devem, além do aspecto tecnológico, principalmente ao design que envolve desde a modernização de garrafas, frascos e rótulos à criação de marcas próprias mais fortes, ferramentas para desempatar a guerra do mercado mundial atual, o qual demanda cada vez mais incrementos para a agregação de valor aos produtos. O design instiga a emoção. Sendo o luxo, algo relativo, o design pode inventar novos luxos e nichos, ao gosto e alcance de cada um87. Apesar do design ter sido visto, há pouco tempo, como supérfluo e elitista, ele inclui significados aos bens de luxo, não apenas referentes ao mundo, mas também aos homens informando a singularidade do indivíduo que os usam. As associações simbólicas dos produtos podem ser utilizadas para enfatizar diferenças de estilo de vida, demarcando relações sociais88. De artigo de luxo, o design passa a ser assumido e adotado como estratégia de diferenciação e valorização para empresas em relação à concorrência, tornando-se fator de distinção para os próprios bens de luxo.

Democratização do luxo Segundo Allérès (2000), a indústria do luxo é composta por três tipos de setores: os acessíveis (luxo massificado), intermediários e os inacessíveis (alto luxo). O luxo inacessível diz respeito ao luxo extremo, da alta costura, dos palácios e iates, refere-se ao valor monetário. O consumidor deste tipo de luxo está cada vez mais exigente e a compra do produto em si já não basta. As pessoas não compram artigos de luxo apenas por seus altos preços, mas pelos outros valores que o produto carrega consigo, como tradição, funcionalidade, status, moda, design, entre outros. O mais importante é a pessoa saber valorizar o produto, dentro de um determinado estilo de vida. O luxo vai além da satisfação de uma mera necessidade e da demonstração de riqueza, reside na experiência emocional a que todos têm direito89. No luxo intermediário encontram-se objetos mais acessíveis, elegantes, de bom gosto e refinamento, como um vestido de festa da Chanel, por exemplo. O luxo acessível é caracterizado pelo uso de objetos e serviços que incorporam marcas de prestígio, produtos diferenciados do consumo comum. Um exemplo é o perfume Chanel nº5. Nesse segmento luxo é a “excelência no fazer”, no acabamento e na entrega de um bem90. De acordo com Lipovetsky (2005) o luxo humaniza. Demonstra que o ser humano não é regido apenas por

Vestido

de

Gabrielle

Chanel

87 88

46 | Geyza Dalmásio Muniz

Faggiani, 2006, p. 42. Ibidem, p. 13.

89 90

Ibidem, p. 44. Ibidem, p. 45.

O Luxo e o Consumo | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

necessidades básicas, que é mais complexo e precisa humanizar suas necessidades. Assim, o luxo torna-se produto essencial para toda a sociedade. O luxo para a classe média é o princípio de um novo aspecto do consumo, conhecido como “Masstige” ou “Masstígio”, termo elaborado a partir da combinação de “massa” e “prestígio”, ou seja, “prestígio para as massas”. Trata-se de artigos de prestígio focados para a classe média, com altos preços, porém não impossíveis91. Empresas de luxo conhecidas estão se dedicando a este novo tipo de consumo de luxo, lançando novos produtos a cada dia para clientes não tão ricos economicamente, como Armani Exchange, Chaps com Ralph Lauren e Mercedes com Classe A. Um exemplo recente é o lançamento das fragrâncias Rouge (feminina) e Noir (masculina) de Christian Lacroix pela Avon. De acordo com a empresa, a Avon está investindo no mercado de luxo com objetivo de democratizá-lo, visão que compar-tilha com Lacroix. Segundo Alberto Moreau, diretor executivo de Marketing da Avon Brasil, o luxo, atualmente, não está necessariamente relacionado ao alto custo de um produto e sim, a marca e seu valor. "Estamos dando mais um passo para reafirmar o compromisso da Avon em proporcionar alto conceito em design e qualidade. Quem antes não teria um vestido Lacroix agora pode desfrutar de todo o luxo e sofisticação do estilista, por meio de seus perfumes", explica92. Como o sucesso das fragrâncias foi

grande, a empresa já lança outra linha de perfume com a assinatura de Emanuel Ungaro, mantendo a idéia de levar para um público muito maior os encantos das marcas de luxo e alta-costura93. Para a classe média, em sua maioria, reduzir alguns tipos de despesa para investir no luxo garante a afirmação social que busca, além da sensação de afirmação da personalidade e de uma aproximação ao único e diferenciado94. Como afirma Faggiani (2006), a busca de status, através de marcas luxuosas, transforma-se num ritual diário de busca intensa em alcançar um novo estilo de vida. O importante não é ter (ser rico) e sim “parecer” ser. Desta forma, verifica-se que os três principais fatores que caracterizam o luxo atualmente são a individualização, a emocionalização e a democratização95.

93 91

Ibidem. 92 Roberta Ristori, disponível em http://arnaldorabelo.blogspot.com/2007/10/avon-avana-em-direo-aoluxo.html. Acesso em 1º de abril de 2008.

47 | Geyza Dalmásio Muniz

Coluna de Glória Kalil, disponível em http://chic.ig.com.br/materias/481001481500/481476/481476_1.html. Acesso em 1º de abril de 2008. 94 Faggiani, 2006, p. 46. 95 Ibdem.

Capítulo 3

A Embalagem | 48

A Embalagem | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

A embalagem desenvolveu-se juntamente com a humanidade ao longo da história. Esteve presente desde a necessidade inicial do homem de armazenar e transportar água e alimentos em algum recipiente até o início das atividades comerciais, que disseminaram o uso das embalagens. Atualmente, a embalagem tornou-se item fundamental da vida do ser humano, assim como das atividades de qualquer empresa. Encontra-se em todos os produtos, com diversas formas e funções, acompanhando a evolução das tecnologias, tornando-se mais eficiente, estratégica e atrativa. Conforme Moura e Banzato (2000), “vivemos num mundo de produtos embalados. Praticamente, todos os produtos vendidos são embalados, seja na forma final, seja nas fases intermediárias de fabricação e transporte."

História da Embalagem A embalagem surgiu com a necessidade do homem nômade em conter, proteger, transportar e armazenar seus alimentos. Para isso, utilizou recursos provenientes da natureza, como folhas, palhas, conchas, troncos ocos, couro, crânios e bexigas de animais. Estima-se que as primeiras embalagens conhecidas datem de 4.000 anos antes de Cristo. Em seguida, vieram os artigos em cestaria de diversos tipos de fibras trançadas, e depois os recipientes feitos de argila. 49 | Geyza Dalmásio Muniz

Posteriormente, utilizaram-se artefatos de cerâmica, tecidos, vidros e metais. As primeiras garrafas rústicas de vidro surgiram por volta de 3.000 a.C., sendo utilizadas para perfumes, óleos e cosméticos. São consideradas as primeiras embalagens feitas para o consumo. Com o desenvolvimento da técnica de sopro no ano 300 a.C., as garrafas passaram a ser confeccionadas com mais rapidez e em tamanhos variados. Neste mesmo período surgiram as primeiras tampas de argila ou chumbo, e a utilização da madeira como caixotes e barris, o que permitiu o transporte de líquidos. Aparentemente, a identificação do produto e do fabricante iniciou-se com o aumento do uso de recipientes de vidro, marcadas em muitas tampas de argila ou chumbo utilizadas. Os romanos desenvolveram o processo de fabricação de embalagens de vidro e introduziram muitas inovações nas embalagens no Ocidente. Entretanto, com a queda do Império Romano, as embalagens sofreram poucas modificações até durante a renascença, período em que surgiram algumas inovações como a fabricação do papel e a impressão. A fabricação de vidro se difundiu na Inglaterra durante o século XVII, e o vidro passou a substituir o couro e o barro. Até o final da Idade Média, as embalagens mais utilizadas eram:

A Embalagem | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Materiais

Tipo de embalagem

Couro

Sacolas, garrafas, couro amarrado Potes, jarras, vasos, tigelas, urnas Sacos, tecidos amarrados Barris, caixas, tonéis, baús Pequenos potes, jarras Potes, xícaras, tigelas Jarra, garrafas, xícaras, tigelas Cestos e esteiras

Barro Tecido Madeira Pedra Metais Vidro Fibras Vegetais ou lascas de madeira

As grandes navegações trouxeram a descoberta de novos lugares, estabelecendo novas rotas comerciais e novos mercados. Estava iniciada a globalização. Com o aumento das distâncias percorridas, a carência de embalagens mais resistentes e duradouras que conservassem os produtos por mais tempo aumentou. A necessidade de identificação dos produtos que atravessavam as fronteiras de seus países de origem também se intensificou. A identificação do produto e da embalagem difundiu-se com o aperfeiçoamento96 da técnica de impressão por

96 Segundo Moura e Banzato (2000), a primeira impressão sobre papel, a partir de blocos de madeira entalhada, ocorreu na China por volta de 868 d.C. A utilização dos blocos de madeira individuais para impressão de caracteres teria acontecido também na China, em 1041 d.C.

50 | Geyza Dalmásio Muniz

Johann Gutemberg, por volta de 1450, o que permitiu o uso dos rótulos de papel. Desta forma, a embalagem, assim como os rótulos, foi desenvolvida para atender as novas necessidades. Com o aumento da produção de embalagens de vidro e rótulos de papel, a indústria farmacêutica se desenvolveu. Talvez tenha sido a primeira indústria a usar embalagens mais extensivamente na venda de produtos de consumo. A Revolução Industrial e o aumento da necessidade de embalagens fizeram surgir formatos mais convenientes como a lata, o saco de papel e a caixa de papel/papelão. Nos 50 anos, subseqüentes à Revolução Industrial, metade do século XVIII, aconteceram mais inovações do que foi verificado desde o início da civilização. O aumento da produção e a diminuição dos custos ocasionados pelo rápido desenvolvimento de dispositivos mecânicos e refinamentos no motor a vapor resultaram na expansão dos mercados. Conseqüentemente, os fabricantes de embalagem desenvolveram equipamentos e acessórios para acompanhar o crescimento da produção de artigos de consumo: novos tipos de tampas surgiram, embalagens a vácuo foram comercializadas e equipamentos de fabricação de garrafas foram melhorados.

A Embalagem | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

O descobrimento da litografia, em 1798, possibilitou a reprodução de ilustrações e a impressão a cores no papel, tornando-se o meio mais avançado da época na decoração de embalagens metálicas. No final do século XIX e início do século XX, ocorreu uma mudança significativa na Inglaterra e nos Estados Unidos. Houve aumento no volume de produção com o contínuo aperfeiçoamento do sistema produtivo e constante aumento da concorrência, gerando uma superprodução. Os produtos não eram mais consumidos automaticamente, dando margem para o consumidor fazer uma seleção e tornar-se mais exigente. Assim, verificaram-se várias alterações no mercado e na embalagem. Muitas das inovações tiveram origem nos Estados Unidos. No contexto da busca pelo consumidor de melhor qualidade a preços baixos e da demanda dos trabalhadores por melhores salários e menor jornada de trabalho, foi desenvolvido o sistema de produção em massa, visando o aumento no consumo. Os consumidores buscavam primeiro a segurança, e depois a qualidade, tudo isso a preços baixos. A relação entre produto e consumidor propiciou o surgimento de uma legislação que controlasse o saneamento e a pureza dos produtos, além de suas condições de identificação e segurança. Também promoveu o uso da embalagem unitária e impulsionou a propaganda.

51 | Geyza Dalmásio Muniz

A propaganda aliada à identificação da embalagem permitiu ao consumidor selecionar melhor o produto. A embalagem unitária ganhou ênfase por proteger melhor o produto, atendendo às necessidades dos consumidores, e por reduzir os custos na distribuição em massa, atendendo aos anseios dos fabricantes. Quando os fabricantes perceberam as vantagens que a propaganda podia oferecer ao exaltar as qualidades do produto e criar uma imagem favorável a sua marca, a embalagem passou a ter uma nova função, a de levar a marca até o consumidor. Somente na década de 1930 é que o valor da embalagem como instrumento de marketing foi reconhecido. Ela passou a representar a marca, informar e atrair o consumidor para a compra. Assim, problemas de aparência visual como forma, cor e estética das embalagens receberam tratamento especial, tornando-as embalagens mais atrativas. Outro fator que contribuiu para o sucesso da embalagem foi a adoção do sistema de auto-serviço, primeiramente nas lojas de departamento e depois nos supermercados dos Estados Unidos, nas décadas de 1940 e 1950, em diferentes setores do varejo. Desta forma, a embalagem passou a substituir o balconista, agregando a função de informar e vender o produto. Assim, a embalagem passou a ser vista como estratégica para as empresas. Uma forma de instigar, atrair, seduzir

A Embalagem | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

os consumidores e fazê-los perceber as qualidades, os benefícios do produto e a imagem do fabricante. A partir da década de 1960, surgiram consumidores com maior poder aquisitivo e dispostos a pagar preços mais altos por embalagens melhores e mais convenientes. Com o advento de um novo perfil de consumidores, maior atenção foi dada ao aspecto visual das embalagens, com o intuito de atender a este público. É neste momento que começam a surgir as embalagens luxuosas e sedutoras.

História da embalagem no Brasil Antes do descobrimento do Brasil, os índios brasileiros confeccionavam artesanalmente cestas, samburás e balaios com fibras da vegetação local, em vários tamanhos e para diversas finalidades. Com a invasão holandesa, em 1637, alguns vidreiros acompanharam o príncipe Maurício de Nassau a fim de montarem uma oficina para oferecer copos, vidros planos e frascos à realeza. No entanto, o Brasil passou a desenvolver-se com a chegada da Corte Portuguesa ao país, em 1808. A partir de então, as atividades econômicas da metrópole foram transferidas para a colônia. Desta forma, Dom João VI abriu os portos às nações amigas e permitiu o funcionamento de fábricas e manufaturas no país. Merca52 | Geyza Dalmásio Muniz

dores de todo o mundo, principalmente da Inglaterra, se inseriram no mercado brasileiro, trazendo várias embalagens como caixas de vidro, cerâmica, garrafas variadas e barris de cerveja. Foi a partir do período Imperial, portanto, que o Brasil passou a produzir diversas manufaturas, como vidros, frascos e garrafas. Uma das primeiras fábricas de garrafas e garrafões do Brasil foi fundada em Salvador pelo português Ignácio Siqueira. O café torrado e moído foi um dos primeiros produtos produzidos no Brasil e comercializados pré-acondicionados. No início da produção brasileira, as embalagens tinham apenas a função de conter os produtos, como os barris. Os produtos perecíveis eram pesados no balcão e vendidos a granel. Durante o período de 1816 a 1831, eram utilizados latões de metal para o transporte de leite, pipas para a cachaça e caixas de madeira para mercadorias variadas. No auge das exportações de açúcar e café, entre 1846 e 1851, inicia-se uma nova indústria de embalagens: os sacos de juta são usados para o transporte de café e as caixas de madeira para o açúcar. A sacaria surgia nas fazendas, onde se aproveitavam as fibras nativas em teares artesanais. Logo se modificou com a importação de juta da Índia, sendo fabricada, posteriormente, de forma industrial.

A Embalagem | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Em 1861, a indústria vidreira cresceu no Rio de Janeiro e se espalhou por outras províncias, fabricando cálices, compoteiras, taças, frascos e garrafas de todos os tipos. Assim, iniciou-se a indústria das embalagens de vidro.

A criação do código de barras também é atribuída ao crescimento dos supermercados, pois esta invenção agilizou o pagamento dos produtos no caixa.

No início do século XX, os imigrantes italianos trouxeram para o Brasil latas de tomate siciliano, massas napolitanas, dentre outros artigos. A maioria das embalagens era produzida dentro das próprias empresas que se formavam no país. Elas compravam papel, madeira e latas de aço, além de imprimirem seu próprio rótulo.

Definição e Classificação das Embalagens

Com o desenvolvimento do comércio, principalmente dos supermercados, as embalagens passaram, além de conter e proteger o produto, a também vendê-los. A marca foi criada para identificar os fabricantes, atestando a qualidade e origem dos produtos. No entanto, nas prateleiras dos supermercados, servia também para diferenciar um produto do outro. Desta forma, a embalagem tornou-se o veículo da marca, a síntese do produto. Para o consumidor a embalagem é o produto, não há distinção. Com o aumento do número de supermercados que se instalaram nas grandes cidades, surgiram várias inovações na produção de embalagens. Devido a distância dos supermercados das fábricas, as embalagens deveriam permitir o transporte e garantir a estabilidade e estocagem dos produtos por longos períodos. Deste modo, a embalagem passou a acumular mais funções: conter, proteger, armazenar, vender e promover. 53 | Geyza Dalmásio Muniz

A definição do que seja embalagem pode ser de inúmeras maneiras de acordo com o ponto de vista. Pode ser o meio de apresentar o produto com o intuito de gerar vendas, sob o ponto de vista do profissional de marketing; um meio de proteger o produto durante a movimentação, estocagem e transporte, para alguém do setor de distribuição; ou ainda, um meio de satisfazer o desejo de consumo do produto, de acordo com o consumidor. No entanto, de uma maneira mais completa, Moura e Banzato (2000) definem: [...]é o conjunto de artes, ciências e técnicas utilizadas na preparação das mercadorias, com o objetivo de criar as melhores condições para seu transporte, armazenagem, distribuição, venda e consumo ou, alternativamente, um meio de assegurar a entrega de um produto numa condição razoável ao menor custo global. (MOURA e BANZATO, 2000, p. 11).

A Embalagem | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

De forma mais genérica, Moura e Banzato (2000) definem a embalagem como “elemento que protege o que vende além de vender o que protege”. Gurgel (2007) define o que é embalagem da seguinte maneira: As embalagens são invólucros, recipientes ou qualquer forma de acondicionamento removível, ou não, destinados a cobrir, empacotar, envasar, proteger, manter os produtos, ou facilitar sua comercialização (GURGEL, 2007, p. 1).

Para Mestriner (2002, p. 4), “a indústria de embalagens utiliza uma ampla gama de materiais, processos de equipamentos de produção, técnicas e sistemas de impressão e rotulagem em uma complexa cadeia produtiva”. Independentemente do ponto de vista adotado para se definir o que é uma embalagem, é consenso que se trata de um mundo complexo, que reúne vários setores, movimenta a economia mundial com cifras expressivas e desempenha papel determinante no sucesso de uma empresa, além de interferir nos hábitos, comportamentos e costumes de uma sociedade. De acordo com Moura e Banzato (2000), a embalagem pode ser classificada de várias maneiras, como é apresentado a seguir:

54 | Geyza Dalmásio Muniz

A Embalagem | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

FUNÇÕES

PRIMÁRIA É a embalagem que contém o produto, que está diretamente em contato com ele.

SECUNDÁRIA É o acondicionamento que protege a primária, o contenedor.

TERCIÁRIA Geralmente são as caixas de transporte que acondicionam as primárias e secundárias.

QUATERNÁRIA Envolve as terciárias e facilita a movimentação e o transporte.

QUINTO NÍVEL É a unidade conteinerizada ou as embalagens especiais para envio a longas distâncias.

FINALIDADE DE CONSUMO Embalagens que levam os produtos ao consumidor, as primárias ou secundárias. Tornam o produto atraente e vendável.

EXPOSITORA

Além de transportar visa expor o produto. Possui apelos de venda.

DISTRIBUIÇÃO FÍSICA É destinada a proteger o produto, suportando as condições físicas encontradas no processo de carga, transporte, descarga e entrega.

TRANSPORTE E

INDUSTRIAL OU

EXPORTAÇÃO

MOVIMENTAÇÃO

Protege o produto durante diversos modos de transporte, facilitando estas operações.

Protege o material durante a estocagem e a movimentação de um conjunto industrial, entre fábricas de uma mesma empresa ou entre fornecedor e clientes, como os paletes.

ARMAZENAGEM Tem a função de proteger o material dos agentes externos, físicos, químicos e parasitas vegetais ou animais.

MOVIMENTAÇÃO MANUAL Não adequada à operação com empilhadeira ou outro veículo industrial, cujo peso não exceda a 30kg.

MECÂNICA Possui quantidades grandes de volume a ser transportado, as movimentações são muitas e as distribuições ou alturas são grandes, ou o peso passa de 30kg, necessitando de movimentação mecânica. UTILIDADE

RETORNÁVEIS Retorna à origem geralmente para reutilização industrial.

55 | Geyza Dalmásio Muniz

NÃO RETORNÁVEIS / ONE WAY É utilizada em um único ciclo da sua distribuição. Pode ser aproveitada pelo destinatário.

A Embalagem | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

De acordo com a classificação acima, as embalagens projetadas aqui se classificam em primária (frasco de vidro), secundária (de cerâmica) e terciária (cartucho de papel cartão); embalagem de consumo; e não retornável, embora seja reciclável.

Funções da embalagem As primeiras funções da embalagem, como visto, foram conter, transportar e armazenar os alimentos. Com o avanço da civilização, novos costumes e comportamentos, a embalagem foi gradativamente incorporando novas funções. Conforme Moura e Banzato (2000), a embalagem pode exercer quatro funções: contenção, proteção, comunicação e utilidade. A contenção refere-se à habilidade da embalagem em conter as unidades, não permitindo vazamento ou escape do produto. A função de proteção permite a embalagem proteger seu conteúdo dos perigos ocasionados pela manipulação, movimentação, estocagem, transporte e condições atmosféricas. Deve proteger o produto de qualquer acaso, até o uso final, garantindo, assim, suas qualidades e características iniciais. Existe a proteção mecânica (choque, vibração, compressão, empilhamento) e físico-química (oxidação, temperatura, umidade, radiação solar). 56 | Geyza Dalmásio Muniz

A comunicação deve levar a informação ou as mensagens através da forma, dimensão, cor, gráficos, símbolos e impressões. A utilidade facilita a interação entre a embalagem e aquilo que entra em contato com ela. Características como abertura, fechamento e dosagem de seu conteúdo são alguns exemplos comuns. Já Mestriner (2002) apresenta várias funções como no quadro a seguir: Funções Primárias

Conter/Proteger Transportar Econômicas Componente do valor e do custo de produção Matérias-primas Tecnológicas Sistemas de acondicionamento Novos materiais Conservação de produtos Mercadológicas Chamar a atenção Transmitir informações Despertar desejo de compra Vencer a barreira do preço Conceituais Construir a marca do produto Formar conceito sobre o fabricante Agregar valor significativo ao produto Comunicação e MarkeMarke- Principal oportunidade de comunicating ção do produto Suporte de ações promocionais Sociocultural Expressão da cultura e do estágio de desenvolvimento de empresas e países Meio Ambiente Importante componente do lixo urbano Reciclagem/Tendência mundial Tabela retirada do livro Design de Embalagem: Curso Básico, de Fábio Mestriner, 2002, p. 4.

A Embalagem | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Para Gurgel (2007), a embalagem de um produto preenche algumas funções como: Tecnológicas Proteção mecânica, física e química.

212 Splash Feminino, Carolina Herrera

Mercadológica Importante função de comunicação do conceito mercadológico, relacionando-se com as atividades de vendas. Aspectos Logísticos Mudança da rota de transporte do produto, caso o trajeto cause avarias à mercadoria transportada, por exemplo, com redesenho do ponto de fragilidade da embalagem e/ou produto. Aspectos Econômicos e Funcionais Atenção ao custo e cumprimento das funções de contenção e transporte, além de novas utilidades após o consumo do produto, prolongando, assim, a vida útil da embalagem.

Délices Feminino, Cartier

Finalidade Adequação da embalagem às necessidades específicas de cada produto e à linha de produção. Proteção Dependendo da fragilidade do produto, é necessária proteção contra choques, quedas, variações climáticas, luz, umidade, entre outras. Omnia Amethyste, Bvlgari

57 | Geyza Dalmásio Muniz

Aparência/Conceito Alguns tipos de produtos exigem embalagens sofisticadas e caras, por representarem status e para despertarem o desejo do consumidor, como os cosméticos, perfumes e objetos funcionais de luxo. Diante das funções apresentadas anteriormente, o projeto elaborado nesta pesquisa preocupou-se com as funções de apresentação/conceito, marketing e proteção, uma vez que se faz necessário um recorte para que não se exceda os limites de um projeto de graduação.

Estratégia de Marketing No mercado atual onde a competitividade é acirrada, os produtos devem se destacar de seus concorrentes, papel muitas vezes destinado à embalagem, no qual tornase uma potente ferramenta de marketing. De acordo com Moura e Banzato (2000, p. 31), “na concorrência comercial, uma embalagem diferenciada se transforma, então, em uma das mais poderosas armas, pois um produto esteticamente apresentado impõe destaque e superioridade sobre os demais.” Para Mestriner (2002), o design de embalagem é um fator decisivo no cenário competitivo atual e também uma poderosa ferramenta de marketing. Para ele, “a importância do bom design está no fato de ele agregar valor cumulativo a cada uma das etapas do processo, resultando ao final em uma embalagem que eleva o trabalho de todos os envolvidos” (Mestriner, 2002, p. 31).

A Embalagem | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Conforme Mestriner (2005), existem quatro estratégias básicas para posicionar bem um produto: 1. Pode-se inovar e criar algo que não exista na categoria, diferenciando o produto e apelando para a curiosidade do consumidor;

Shalimar, Guerlain

2. Quando um produto compete em uma categoria com linguagem visual unificada, pode-se romper essa linguagem, destacando o produto dos demais; 3. Um novo padrão visual pode ser estabelecido em categorias que estejam defasadas ou cujo mercado ainda não tenha adotado a linguagem atual ou as novas tecnologias existentes;

4. Se o produto estiver fora da linguagem visual da categoria que se pretende inseri-lo, torna-se necessário adaptá-lo a essa linguagem.

Live Luxe, Jennifer Lopez

Nina, Nina Ricci

58 | Geyza Dalmásio Muniz

Embalagens de perfume Segundo Mestriner (2002, P. 32), “desenhar frascos de perfume é o sonho de todo designer de embalagem”. Tal desejo se dá por existir uma mística em torno da personalidade do produto. A criatividade encontra solo fértil no segmento da perfumaria, pois o apelo visual do produto é fundamental para atrair o consumidor e ajudar a concluir a venda. Em pesquisas realizadas na internet e em conversas com as vendedoras das perfumarias do Shopping Vi-

tória, constatou-se que a fragrância é o principal motivo da compra, mas a embalagem ajuda e influencia bastante. Em caso de dúvida entre duas fragrâncias, a embalagem torna-se fator decisivo. De acordo com Mestriner (2002, p.16) “a embalagem de perfume sempre foi um espaço para a vanguarda do desenho ampliar suas possibilidades artísticas e conceituais.” A linguagem visual da indústria de cosméticos e perfumaria do início do século XX trouxe para adornar seus produtos o repertório do estilo art nouveau, dando início à incorporação, de forma intencional, de um componente de moda, vinculando os produtos ao que acontecia no cenário artístico e cultural da época. As tampas dos perfumes também merecem atenção especial e são campo fértil para os designers. Conforme Mestriner (2005), “elas precisam ser sempre muito expressivas, pois compõem a personalidade do produto.” A indústria de perfumes se empenhou no desenvolvimento de tampas diferenciadas que atribuíssem personalidade ao produto, além de protegê-lo, desde o século XIX. Nesse período, a tampa já era um detalhe importante, trabalhada de forma quase independente do frasco.

O processo de criação O design compreende a atividade de desenhar para a indústria seguindo uma metodologia de projeto que considera a função a ser realizada pelo produto final, as

A Embalagem | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

características técnicas da matéria-prima e do sistema produtivo utilizado em sua confecção, as características e necessidades do mercado e do consumidor. Muitos fatores devem ser considerados no desenvolvimento de uma embalagem. Mestriner (2002) apresenta 10 pontos-chave a serem incluídos em um projeto de embalagem, baseando-se em sua experiência profissional. São eles: 1. Conhecer o produto É necessário conhecer bem o produto, suas características, composição, diferenciais de qualidade e principais atributos, incluindo seu processo de fabricação. Assim, a embalagem deverá expressar o produto de maneira condizente. 2. Conhecer o consumidor Saber quem compra e utiliza o produto é fundamental para estabelecer um processo de comunicação efetiva através da embalagem. Deve-se conhecer as características do consumidor, seus hábitos e atitudes referentes ao produto e a motivação que o leva a consumi-lo. Em grandes projetos é aconselhável que se contrate pesquisas especializadas em avaliar a relação do consumidor com o produto e determinar o perfil destes. 3. Conhecer o mercado O mercado onde se insere o produto tem características próprias, devendo ser estudado e analisado para que o design da embalagem não fuja do objetivo. 59 | Geyza Dalmásio Muniz

4. Conhecer a concorrência O produto precisa enfrentar a concorrência no pontode-venda, portanto, deve-se conhecer in loco as condições em que ocorrerá a competição.Deve-se estudar o ponto-de-venda, cada concorrente, analisar a linguagem visual da categoria e compreendê-la. 5. Conhecer tecnicamente a embalagem a ser dedesenhada A linha de produção e de embalamento, a estrutura dos materiais utilizados, as técnicas de impressão e decoração, o fechamento e a abertura devem ser conhecidos cuidadosamente para se evitar erros e prejuízos ao projeto. 6. Conhecer os objetivos mercadológicos Os objetivos de marketing no mix de comunicação e as diretrizes comerciais do projeto precisam ser conhecidos para se determinar os parâmetros norteadores do projeto e deverão ser atendidos pelo design final apresentado. 7. Ter uma estratégia para o design De posse de todas as informações enumeradas anteriormente, deve-se definir uma estratégia para o design. Conforme Mestriner (2002) “a função da estratégia na metodologia é fazer com que as premissas básicas do projeto sejam equacionadas e indiquem uma direção a ser seguida no processo de design para responder aos objetivos traçados.”

A Embalagem | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

8. Desenhar de forma consciente Necessita-se realizar o trabalho de forma consciente e metódica, com criatividade, porém sem fugir dos objetivos estratégicos do projeto. 9. Trabalhar integrado com a indústria Para o projeto ter sucesso, deve-se conhecer a indústria que vai produzir a embalagem. Segundo Mestriner (2002), é através das indústrias que novas tecnologias chegam aos designers. O trabalho em conjunto com a indústria possibilita solucionar os possíveis problemas das melhores maneiras possíveis. 10. Fazer a revisão final do projeto Quando a embalagem final chega ao mercado, o designer e o cliente devem fazer uma visita de campo. Apenas nos pontos-de-venda, em condições reais de competição, é que se torna possível avaliar o resultado final e propor eventuais melhorias ou ajustes, além de evitar pequenas falhas no futuro. Com base nos pontos-chave apresentados, Mestriner (2002) estabelece uma metodologia de cinco passos: Briefing, Estudo de Campo, Estratégia de Design, Desenho e Implantação. Moura e Banzato (2000) estabelecem cinco critérios a serem considerados no planejamento de uma embalagem: Função, Proteção, Aparência, Custo e Disponibilidade. Conforme os autores, alguns critérios predominam em cada caso específico. No caso dos cosméticos e perfumes, o critério predominante é o da aparência, 60 | Geyza Dalmásio Muniz

uma vez que a apresentação é de suma importância e determina a venda do produto, pois é a embalagem que traz a primeira imagem do produto ao mercado. Na tabela abaixo encontra-se o método de trabalho apresentado por Gurgel (2007). Método de Trabalho 1ª Etapa — Definição da proposta de trabalho Fase Tema Primeira Atendimento das necessidades dos consumidores Segunda Avaliação do custo da embalagem 2ª Etapa — Desenvolvimento tecnológico Fase Tema Terceira O desenvolvimento da embalagem Quarta O desenvolvimento dos desenhos finais da embalagem Quinta O sistema de informações do projeto da embalagem 3ª Etapa — Avaliação econômica do projeto Fase Tema Sexta A correção de rumos Sétima A viabilidade comercial da embalagem Oitava A revisão crítica Tabela retirada do livro Administração da Embalagem, de Floriano do Amaral Gurgel, 2007, p. 179.

Desta forma, conclui-se que, embora cada autor apresentado possua uma metodologia própria, todos investigam os fatores envolvidos no processo de desenvolvimento da embalagem, como aspectos funcionais, estéticos, mercadológicos e logísticos, atentando-se para os detalhes, com o intuito de projetar uma embalagem que atenda a todos os requisitos necessários.

Capítulo 4

O Projeto da Embalagem de Perfume | 61

O Projeto da Embalagem de Perfume | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Por se tratar do último trabalho a ser desenvolvido na universidade, decidiu-se por realizar, além da pesquisa teórica, um projeto prático de embalagem de perfume para exercício do que foi aprendido durante a vida acadêmica.

quem é o consumidor, quanto custa, quais os benefícios, onde será vendido, etc. Essas informações são obtidas do cliente, embora muitas vezes, este não possui todas as informações necessárias, cabendo ao designer complementá-las.

Como o curso de Design Gráfico é um curso prático, com muitos projetos desenvolvidos, com o devido embasamento teórico, evidentemente, nada mais natural do que criar um projeto para encerramento da graduação.

Como neste projeto não há um cliente real, coube a mim fazer todo o levantamento através de pesquisa de campo, por meio de livros e pela internet. Para conhecer um pouco mais sobre as possíveis consumidoras, por se tratar de um público de classe econômica mais elevada, uma vez que se trata do segmento de luxo, buscou-se informações nas comunidades sobre perfume do site de relacionamentos Orkut. A internet também foi utilizada para conseguir informações dos perfumes, como imagens, fragrâncias, notas, famílias olfativas, quantidade contida nos frascos, entre outras.

Optou-se por projetar um perfume pelo fato deste objeto permitir um trabalho mais estético, sem deixar de lado a parte funcional da embalagem, além do interesse pessoal sobre o assunto. Escolheu-se perfume feminino pela proximidade com o universo da mulher, uma vez que faço parte dele, e por ter uma maior possibilidade de criação, uma variedade de elementos mais ampla. Tomada esta decisão, umas das primeiras ações foi garimpar na internet tudo o que se referia à perfumes femininos, além de bibliografia sobre o assunto, embora muito escassa, principalmente no estado do Espírito Santo.

Briefing O briefing é o início de um projeto de design. Consiste no levantamento de todas as informações referentes ao projeto, como por exemplo, o que é o produto, 62 | Geyza Dalmásio Muniz

Observando-se os sites de venda de perfumes, percebeu-se que na maioria deles, todos os perfumes possuem uma descrição, um discurso publicitário, se assim pode-se dizer. Talvez isso se dê pelo fato de não ser possível sentir a fragrância pela internet, e tal discurso ajuda na escolha do perfume. Alguns sites ainda apresentavam a opinião das consumidoras, o que também colabora na tomada de decisão. No caso dos perfumes, esse discurso publicitário acaba tornando-se um briefing sintetizado e disfarçado, pois nele constam especificações sobre o produto, como as notas que compõem o perfume, a família olfativa, o público-alvo, assim como alguns aspectos subjetivos.

O Projeto da Embalagem de Perfume | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Para a definição do briefing do perfume cuja embalagem é projetada neste trabalho, fez-se um levantamento da descrição de todos os perfumes femininos com apelo sensual que foram encontrados na internet, tanto nacionais quanto importados. A sedução foi o tema escolhido por ser o que, em sua origem, todos os perfumes fazem, ou seja, seduzem, de acordo com Ashcar (2001). Realizado o levantamento, analisou-se cada um dos discursos de modo a observar o que mais se aproximava do idealizado, em busca de uma base para a composição do briefing do perfume em questão, e de diferenciação, para que não se tornasse igual a um já existente. No entanto, desde o início, almejava-se trabalhar com a feminilidade, com o brasileiro, a natureza, a mulher e a arte indígena. Seguindo estes preceitos, delimitou-se os objetivos e definiu-se o nome da fragrância: Terra Brasilis. Tal delimitação fez-se necessária porque, quando um projeto é aberto demais, torna-se mais difícil de desenvolvê-lo. Foi verificado se havia algum perfume com este nome através de pesquisa na internet, e como não foi encontrado, Terra Brasilis ficou sendo o nome da fragrância, sugerindo os conceitos de natureza e brasilidade de forma poética. Para definir algumas das possíveis notas presentes no perfume, a fim de materializar um pouco mais a aura da fragrância, levantou-se as notas mais recorrentes nos perfumes sensuais femininos que foram analisados, como relatado anteriormente. Assim, selecionaram-se as mais representativas para compor a fragrância, embora não se saiba o resultado de suas combinações, apenas 63 | Geyza Dalmásio Muniz

para sugerir uma possível composição, uma vez que o perfume em si não exista e foge aos objetivos desta pesquisa. Desta forma, o discurso do perfume Terra Brasilis foi definido como o seguinte: “Um perfume envolvente, com notas que remetem a feminilidade, sensualidade e garra da mulher brasileira. Toda a energia que vem da terra transformada numa sedutora fragrância. Floral oriental amadeirado. Possui notas de rosa branca, orquídea, jasmim, peônia vermelha, flor de laranjeira, baunilha, âmbar, sândalo, patchouli, vetiver, musk, flores e madeiras do oriente. Para mulheres de espírito livre, únicas, de personalidade marcante e que sabem o que querem da vida. A força da natureza ao seu alcance. Inspirada na primeira mulher brasileira, a indígena, que extrai da terra tudo o que há de melhor.”

Na tabela a seguir encontram-se outras informações acerca do produto que não aparecem no discurso.

O Projeto da Embalagem de Perfume | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Quantidade do produto PúblicoPúblico-alvo Diferencial Pontos venda

de

75 ml Mulheres brasileiras a partir de 20 anos, classe A e B Produto exclusivo que alia o artesanal industrial, valorizando a nacionalidade produto Principais perfumarias e sites de venda perfumes

da ao do de

Estudos de campo Na primeira etapa do trabalho, foram realizadas inúmeras pesquisas na internet, além de visitas a fábricas de cosméticos e lojas de perfumes. Dentro das pesquisas da internet, buscaram-se informações sobre perfumes, grifes e usuários nas comunidades do Orkut, Orkut uma vez que neste tipo de site há a exposição de informações pessoais espontâneas, além do Google, Google site de buscas. Através desta pesquisa, obteve-se uma relação de comunidades relacionadas à perfumes, nas quais haviam, não em todas, debates sobre alguns temas, como a questão da identidade olfativa. O debate desenvolveu-se a partir de uma crítica de um amigo ao outro sobre a quantidade de perfumes que este último usava. No entanto, a maioria das pessoas participantes concordaram que o interessante é ter vários perfumes pra se escolher o mais adequado a cada ocasião, como ao dia, à noite, trabalho, momentos especiais e até mesmo estado de espírito. Comprar e usar 64 | Geyza Dalmásio Muniz

perfumes é sinônimo de prazer para algumas (ou várias) pessoas. Elas sentem fascínio ao desvendarem novas fragrâncias. Quem critica os viciados em perfume diz que com vários não se possui uma “identidade perfumística” e acaba não sendo reconhecido pelo seu perfume. No entanto, outro diz que, como usa um perfume diferente para cada ocasião, os perfumes marcam ocasiões e pessoas diferentes. Umas o reconhecem por um tipo de perfume, e outras por outro. Em algumas comunidades havia enquetes sobre qual marca de perfume era a melhor, dentre as opções oferecidas, geralmente de empresas nacionais. Em pelo menos duas delas, O Boticário ganhava com boa margem, deixando em segundo lugar a Natura. Também foram encontradas discussões sobre a importância da embalagem do perfume. As mulheres, principalmente, acreditam que a embalagem é uma ótima arma de venda, pois algumas delas já compraram perfumes por causa da embalagem. Umas acabaram gostando da fragrância, outras não. Também foi dito que a embalagem torna-se fator de desempate na dúvida entre duas fragrâncias, além do preço. Através das comunidades do Orkut, Orkut chegou-se a sites de venda de perfumes onde obteve-se nomes, imagens e descrições de várias grifes de perfumes, contribuindo significativamente para a análise dos mesmos.

O Projeto da Embalagem de Perfume | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Na internet encontrou-se uma entrevista à Bárbara Kern, diretora de Marketing e Vendas da RR e Passion empresas que distribuem perfumes e cosméticos de várias marcas como Gucci, Dolce & Gabanna, entre outras. Nesta entrevista, Kernaponta os perfis dos consumidores de perfumes de luxo, principalmente as mulheres. Como a entrevista mostra-se bem proveitosa para o trabalho, ela encontra-se disponibilizada na íntegra em anexo. Quanto às visitas às lojas de perfume, visitou-se a Perfumagia, O Boticário e a L’acqua di Fiori, localizadas no Shopping Vitória. Em entrevista às vendedoras, confirmou-se o que foi dito pelos consumidores de perfume nas comunidades do Orkut, ou seja, a embalagem é um dos fatores decisivos na compra dos perfumes considerados Top de Linha. As vendedoras disseram que muita gente compra perfume por causa da embalagem, embora a qualidade do produto seja fundamental. Quando perguntada sobre a relação dos perfumes de luxo com personalidades da alta costura, a vendedora da Perfumagia afirmou existir esta proximidade. Além de nomes da alta costura, os perfumes também recebem os nomes de grandes joalherias ou grifes de outros segmentos, como Mont Blanc, empresa especializada em canetas de luxo. Os perfumes possuem uma história de origem e fabricação. Quanto mais tradicional o processo de produção, mais luxuoso se torna o produto. O Boticário, por 65 | Geyza Dalmásio Muniz

exemplo, lançou o perfume Lily Essence, inserindo-se no mercado de luxo democrático, produzido com a sofisticada técnica de enfleurage97, extraindo artesanalmente óleos essenciais. A exclusividade também é uma característica dos produtos de luxo, ou seja, poucos podem possuí-los, embora o conceito de luxo seja relativo, variando de acordo com o nível social e econômico. Outra característica de perfume de luxo é a espessura do vidro dos frascos, informação obtida em conversa por email com o designer de embalagem de O Boticário, Rogério Oliveira, responsável pelos designs de alguns perfumes, como os frascos da linha Sophie, do Styletto, do Connexion e da linha Nativa Spa. Quanto mais espesso e mais uniforme o fundo do frasco, por exemplo, mais premium se torna o produto. A qualidade do vidro também confere status de luxo ao perfume. Em uma fábrica de vidro, conforme Oliveira, existem 5 níveis de qualidade. Quanto mais alto o nível de qualidade, mais cristalino (e perto do cristal) ele fica. Segundo Oliveira, “um vidro que vai ser pintado, como o do Rouge [da Avon], não precisa ter toda esta qualidade, pois a pintura esconde a maioria dos defeitos”. Quando um perfume é lançado no mercado, o primeiro impacto causado no consumidor é o visual. Busca-se 97

Técnica que consiste na exposição de pétalas de flores por um determinado tempo a uma camada de gordura, até que essa fique saturada com o óleo da planta. O óleo exalado pelas plantas e absorvido pela gordura forma uma “pomada” que é lavada com álcool e filtrada, permitindo a extração do óleo essencial da gordura. Esse álcool é destilado para obter o óleo essencial das flores, chamado de absoluto, puro e totalmente natural.

O Projeto da Embalagem de Perfume | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

uma aceitação visual de seu público-alvo. Assim, a embalagem torna-se fundamental neste processo. Segundo a vendedora da L’Acqua di Fiori, as cores das embalagens relacionam-se com as fragrâncias. Tons de azul e verde são utilizados em fragrâncias relacionadas ao mistério. Os tons de vermelho, rosa e vinho são utilizados em perfumes doces. Já os tons amarelos estão relacionados com fragrâncias fortes e secas, utilizadas com freqüência em perfumes masculinos. As visitas às fábricas Adcos (ES) e Natura (SP), não foram muito proveitosas. A Adcos é uma empresa que trabalha com cosmética de tratamento e não com perfumaria. Esta visita se deu quando ainda não se havia definido qual ramo da indústria de cosméticos seguir. A visita na Adcos foi realizada junto de uma turma de pós-graduação em Cosmetologia do Salesiano. Durante a visita conheceu-se a estrutura física, o desenvolvimento de fórmulas, a produção, o envase, o armazenamento no depósito e a expedição. Como o objetivo pessoal da visita era o setor de embalagem, enquanto a turma de pós-graduação conversava com o responsável da elaboração das fórmulas, eu e mais dois colegas fomos para a sala de Marco Antônio, responsável pelo controle de qualidade e desenvolvimento de embalagens, sob sua orientação.

66 | Geyza Dalmásio Muniz

Marco Antônio mostrou o material que utiliza para projetar as embalagens, as mostras que armazena e as revistas que a empresa assina para mantê-lo bem informado. Também explicou como é o seu trabalho. O designer apenas projeta a embalagem principal e manda a planta para que uma agência de propaganda ou escritório de design, geralmente localizados em SP, façam o layout, a programação visual da embalagem. Quando o layout retorna em suas mãos, Marco Antônio verifica se tudo está dentro do padrão estabelecido pela empresa e das normas vigentes dos órgãos responsáveis pela fiscalização das informações presentes nos rótulos. Para descobrir se um material será adequado ou não ao produto que irá conter, o profissional trabalha em parceria com a equipe de desenvolvimento dos cosméticos e com os fornecedores. Como o desenvolvimento de uma embalagem exclusiva fica inviável para a empresa em termos financeiros, as embalagens são escolhidas dentro dos padrões existentes, apenas aperfeiçoando-as e personalizando-as para que tenham características da Adcos, de modo que não interfira tanto nos custos. Depois de apresentado o trabalho de Marco Antônio, seguiu-se a visita na parte de produção, onde se conheceu as máquinas que preparam o produto, além do setor de envase. Marco Antônio não pôde acompanhar esta etapa, mas se colocou à disposição para uma nova visita ou esclarecimentos de dúvidas.

O Projeto da Embalagem de Perfume | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Água di Cheiro

A visita à Natura não foi proveitosa porque, embora produza perfumes além de cosméticos - e recentemente produtos alimentares orgânicos — não permitiu a utilização das informações transmitidas pela guia da visita, por esta não ter autorização pra falar em nome da Natura. Também não se obteve contato com a equipe de desenvolvimento dos perfumes, embora tenha-se tentado. Durante a visita, apenas conheceu-se a estrutura física da fábrica, e observou-se o setor de embalamento dos produtos pra distribuição, de longe. Também buscou-se informações na internet que pudessem levar a um contato com profissionais da área da empresa O Boticário, para uma possível visita. No entanto, apenas encontrou-se o Rogério Oliveira no final da pesquisa, o que não diminui a importância do contato, mas impossibilitou uma possível visita à fábrica.

O Boticário

Agatha Ruiz de la Prada

67 | Geyza Dalmásio Muniz

A partir das informações obtidas nas pesquisas de campo, conclui-se que, para elaborar um projeto de embalagem, deve-se interagir com a equipe de desenvolvimento do produto em si, principalmente no caso dos perfumes, pois as fragrâncias interferem na personalidade do mesmo, assim como no aspecto visual e emocional que a embalagem proporcionará. Percebeu-se também que a parceria com os fornecedores de matéria-prima das embalagens é fundamental para a implantação do projeto, evitando prejuízos para ambas as partes.

Análise de perfumes femininos Elaborou-se uma pesquisa na internet abrangente, onde foram encontradas 135 marcas diferentes, sendo a maioria delas com vários perfumes femininos, totalizando 745 perfumes distintos. A partir de então, analisou-se cada um dos perfumes de modo a observar suas semelhanças, diferenças e aspectos mais atrativos. De uma forma geral, observou-se que as formas mais utilizadas são as retas, ovais, triangulares e orgânicas, curvilíneas. Os perfumes mais ousados são contidos em frascos com formas especiais, com metáforas visuais, como de corpos femininos, flores, corações, jóias... Formas representativas do universo feminino. As formas também dependem muito do público visado. As mais ousadas geralmente são para perfumes mais sedutores. Alguns são bem exuberantes. As tipografias são desenhadas para harmonizarem com o conjunto, transmitindo a personalidade do perfume. No entanto também é muito utilizado fontes com serifas e cursivas. Os cartuchos geralmente são retangulares, são poucas as empresas que dão uma atenção especial para eles, procurando inovar através de formas, materiais e fechamento. Os frascos apresentam o mínimo de informação possível, ficando a cargo das embalagens secundárias apresentá-las, como o nome, quantidade e classificação (eau de parfum, parfum, colônia, entre outras).

O Projeto da Embalagem de Perfume | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Primeiras alternativas

Apesar da maioria dos cartuchos apresentarem apenas elementos gráficos, como traços, linhas, manchas e cores, alguns apresentam desenhos ou imagens dos frascos ou da natureza, normalmente flores. O formato do vidro, as “lapidações” diferenciadas dão um ar de requinte maior. Os designers têm buscado explorar bem o vidro, suas faces multifacetadas. O formato e o material da tampa interfere muito na originalidade da embalagem primária. No Apêndice, encontram-se alguns dos perfumes cujas embalagens são mais interessantes, seja quanto à forma, tipografia, elementos gráficos, materiais ou sistemas de fechamento.

Geração de alternativas

Segunda alternativa

Seguindo este parâmetro de diferenciação da embalagem pela forma, buscou-se inspiração na arte indígena. Desde o princípio almejou-se trabalhar com formas que remetessem à mulher brasileira, inspirando-se na índia. Chegou-se a pensar em fazer do frasco um busto de índia estilizado, como nas imagens ao lado. No entanto, pensou-se que esta forma poderia ser vista como um certo tipo de “imitação” das embalagens de Jean Paul Galtier. Além disso, uma forma mais abstrata, faria com que todas as mulheres brasileiras pudessem se ver representadas pelo frasco, o que seria mais difícil se o frasco fosse o busto de uma índia. Desta forma, iniciou-se o desenvolvimento de formas mais abstratas.

De acordo com Mestriner (2005), a forma é o principal elemento de diferenciação na embalagem. Para ele, “produtos que têm muita personalidade e precisam expressá-la de maneira categórica devem colocar como ponto relevante de sua embalagem uma forma diferenciada”. Mestriner exemplifica essa situação com o caso da indústria de perfumes finos, afirmando que cada perfume é uma identidade complexa, individualizada, devido a sua personalidade aromática. O consumidor desses produtos, por sua vez, busca um perfume com o qual ele se identifica, a ponto de torná-lo o ‘seu’ cheiro. Tudo is-

68 | Geyza Dalmásio Muniz

so exige que o frasco do perfume seja único, personalizado ao extremo, pois ele é a expressão máxima de seu conteúdo. (Mestriner, 2005, p. 52)

Perfumes da marca Jean Paul Galtier

O Projeto da Embalagem de Perfume | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Outras alternativas

Algumas Inspirações

Partido adotado

Bonecas da tribo dos índios Carajás.

Arte indígena de diversas tribos. Cerâmica Marajoara.

69 | Geyza Dalmásio Muniz

Como se vê nas figuras ao lado, procurou-se utilizar formas arredondadas, com o intuito de representar o corpo feminino, de maneira mais sutil, mantendo uma relação com a arte indígena, que pode ser observada na semelhança com as bonecas carajás. No entanto, a presença da inspiração indígena se evidencia mais na embalagem de cerâmica, a qual assemelha-se a uma cabaça e apresenta um cordão que serve de fecha-

O Projeto da Embalagem de Perfume | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Frasco de vidro

mento da peça e de decoração. Para manter esta relação, ainda optou-se por fazer uma pintura característica da arte indígena na cor preta e em baixo relevo, lembrando as peças de cerâmica marajoara. O cordão foi finalizado com penas em cor clara e vermelhas, fazendo a ligação com a cor do frasco de vidro.

Na primeira, o desenho em preto é uma veste que envolve toda a caixa. Na segunda, o contorno cinza são frestas que permitem a visualização do conteúdo da caixa.

Chegou-se a esta forma da embalagem de cerâmica contornando a de vidro. Como a forma mostrou-se apropriada dentro dos objetivos propostos, apenas foi feito alguns ajustes na proporção.

Embora a forma seja o elemento diferenciador da embalagem mais importante, a cor torna-se o principal elemento da comunicação, pois provoca estímulo visual como nenhum outro.

Quanto à embalagem de papel cartão, optou-se por mantê-la no formato retangular, com algum diferencial, em papel Duplex Branco, de 350g/m² de gramatura, para suportar o peso das embalagens de cerâmica e de vidro.

As cores provocam reações e estímulos em seus receptores e podem ser associadas a idéias, lembranças e sensações.

Opções de cartucho Embalagem de cerâmica

Estudos de cor

De acordo com Farina (1986), “nas artes visuais, a cor não é apenas um elemento decorativo ou estético. É o fundamento da expressão.” Para Farina, a cor é uma linguagem individual que faz o homem reagir a ela subordinado às suas condições físicas e às suas influências culturais. Seu valor de expressividade a torna um elemento importante na transmissão de idéias. Sendo assim, buscou-se utilizar cores comuns à arte indígena. As mais usadas por eles são o preto e o vermelho normalmente extraídos do jenipapo e do urucum, respectivamente.

Embalagem de cerâmica com o cordão trabalhada no computador

70 | Geyza Dalmásio Muniz

Conforme Luciano Guimarães (2000, p. 118), o vermelho “[...] é a cor da maçã do Paraíso (fonte de pecado), do vinho e das vestimentas de Baco, de Dionísio, do

O Projeto da Embalagem de Perfume | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

amor carnal, da paixão, do coração, dos lábios, do erotismo, e da atração.”

Estudos de tipografia

Dentre as sensações cromáticas destacadas por Farina (1986) para a cor vermelha, estão:

Assim como a cor evoca sensações e associações a uma série de atributos, a tipologia também pode ser utilizada para agregar valor ao produto.

Associação material: rubi, cereja, guerra, perigo, vida, sol, fogo, chama, sangue, combate, lábios, mulher, conquista, etc.

A tipografia merece uma atenção especial, uma vez que também personifica o produto e consiste em elemento-chave da identidade do produto.

Associação afetiva: dinamismo, força, energia, furor, intensidade, paixão, vigor, calor, excitação, emoção, ação, etc.

Segundo Mestriner (2005),

O vermelho vem do latim vermiculus (verme, inseto - a cochonilha da qual se extrai uma substância escarlate, o carmim). Esta cor é chamada de carmesim e simboliza uma cor de aproximação, de encontro. Desta forma, utilizou-se o vermelho na coloração do frasco de vidro e em algumas penas do cordão que envolve a embalagem de cerâmica, fazendo assim, uma ligação da embalagem secundária com a primária. Foi definido que a embalagem de cerâmica seria na cor natural de terracota para aproximar-se da cerâmica indígena.

expressar essa personalidade com letras, enfatizando seu diferencial, é uma das principais tarefas do designer, pois existem muitos produtos que têm como elementos de comunicação apenas o logotipo e o fundo. (MESTRINER, 2005, p. 57).

Como o projeto baseou-se na arte indígena, no artesanato, buscou-se uma tipografia que fosse bem gestual, com imperfeições que deixassem o fazer manual bem aparente. A tipografia escolhida, Rage Italic, Italic apresenta a inclinação da caligrafia, ressaltando o movimento gestual e dando um certo requinte ao logotipo. No entanto, algumas imperfeições foram encontradas e corrigidas para manter um logotipo harmônico. Para os textos informacionais da caixa do perfume, utilizou-se o tipo HelveNueThin. elveNueThin Também houve preocupação com a tipografia utilizada na monografia, buscando uma que fosse leve, uma vez que o tema abordado é o perfume, mas que mantivesse

71 | Geyza Dalmásio Muniz

O Projeto da Embalagem de Perfume | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

a leitura confortável, sem perder a legibilidade. Desta forma, utilizou utilizou-se a Sans Ligth para o texto e a HelveN HelveNueThin para os títulos.

Com o vidro pode-se pode produzir embalagens de baixo custo, higiênicas, atraentes, resistentes ao tempo, cac lor, ácidos e álcalis.

Definição de materiais

O vidro é composto basicamente de areia, carbonato de sódio e calcário. A coloração do vidro é realizada pela adição de óxidos metálicos como ferro, cobre, mangamang nês e cromo. A cor vermelha, rubi, é adquirida com a adição de óxido de ouro ou selênio.

Conhecer os materiais a serem utilizados na embal embalagem é fundamental. Deve-se se fazer uma pesquisa d dos possíveis materiais a serem utilizados, para que seja selecionado o que m melhor atenda os objetivos do projeto, preservando a integridade do produto produto. Conforme Moura e Banzato (2000), o material determina as propriedades formais que a embalagem poderá aassumir, umir, ou seja, “cada material possui características construtivas próprias que são condicionad condicionadas por técnicas e tratamentos específicos” (Moura e Banzato, 2000, p.81). Vidro Durante a pesquisa na internet e o estudo de campo, constatou-se se que o vidro é o material mais apropriado para conter o perfume por não ser poroso, evitando aassim, a volatilidade do perfume. Os egípcios utilizavam a cerâmica para conter perfumes e produtos cosméticos, no entanto, com a descoberta do vidro pelos fenícios no século I, a cerâmica foi substituída pelo vidro. Seqüência resumida do processo de sopro

72 | Geyza Dalmásio Muniz

Existem vários tipos de vidros, resultantes de formulaformul ções diferentes, cada um com características próprias e adequados a diversas finalidades. A principal propriedade do vidro é a transparência. A falta de resistência ao choque térmico pode se melhomelh rada pela adição de tempera. Embora seja permeável à luz, este problema pode ser contornado pela coloração coloraçã do vidro. Dentre as outras propriedades do vidro estão: reciclabilidade, dureza, não absorvência, ótimo isolante elétrico, baixa condutividade térmica, recursos abundantes na natureza e durabilidade. Suas principais desvantagens são o peso e a fragilidade. As garrafas, as embalagens de cosméticos e outros rer cipientes de vidro são produzidos por um processo aua tomático que combina a prensagem (para a formação da boca do recipiente) e o sopro (para a formação for do interior do recipiente). O processo automático típico de fabricação de garrafas e frascos por sopro é o seguinte: despeja-se despeja um pouco

O Projeto da Embalagem de Perfume | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

de vidro fundido num molde estreito e invertido e se faz pressão com ar contra o fundo do molde, que corresponderá ao gargalo da garrafa. Depois é aplicado um defletor sobre a parte superior do molde. Uma injeção de ar que entra pela parte inferior, através do gargalo, produz parte da garrafa. A garrafa semipronta, chamada esboço, é transportada pelo gargalo; depois é virada e depositada em outro molde, onde recebe um sopro que lhe dá a forma definitiva. Em outro tipo de máquina, utilizada para recipientes de boca larga, o esboço é prensado dentro do molde com um êmbolo, antes deser soprado no molde definitivo. Os frascos pouco fundos, como os potes usados para cosméticos, são feitos por prensagem98. O vidro possui três importantes qualidades que o diferencia de outros materiais utilizados em embalagens: 100% Reciclável: O vidro é infinitamente reciclável. Um recipiente de vidro reciclado possui as mesmas qualidades de um fabricado com matérias-primas virgens, independentemente do número de vezes que o material for utilizado. Retornável: As embalagens como garrafas de refrigerantes e cervejas podem ser reaproveitadas diversas vezes, sem que haja problemas de deformação ou absorção

98

Fonte: http://www.sucatas.com/vidro.html. Acessado em 11 de junho de 2008.

73 | Geyza Dalmásio Muniz

de sabores quando forem lavadas em temperaturas elevadas ou com detergentes adequados. Reutilizável: Recipientes de vidro acabam sendo reutilizados de maneira diferente daquela em que foram produzidos. Podem ser utilizados para armazenar alimentos ou até como objetos de decoração, como no caso de alguns perfumes. Cerâmica Como a inspiração para o projeto foi a arte indígena, e pretendia-se alcançar a diferenciação por meio da inovação, foi decidido a utilização da cerâmica como uma segunda embalagem, a fim de agregar valor ao produto, associando-o à cerâmica marajoara, famosa por suas belíssimas peças, confeccionadas pelos índios da ilha de Marajó, cercada pelos rios Amazonas e Tocantins, e pelo Oceano Atlântico. Observando as demais artes dos indígenas, optou-se por utilizar um cordão de palha com acabamento de sementes e penas, sofisticando a peça, tornando-a um possível objeto de decoração, após o término do perfume. A cerâmica confere uma imagem artesanal, desejada neste projeto, uma vez que o artesanal é único, e exclusividade é considerada luxo nos dias atuais. .

O Projeto da Embalagem de Perfume | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Frasco inicial em argila

Papel Como o vidro e a cerâmica são materiais frágeis, fez-se necessário a adoção do cartucho de papel cartão. Além do mais, a caixinha do perfume facilitaria o transporte do produto, além de proporcionar uma mídia para informações pertinentes à venda do mesmo, como composição, código de barras, quantidade e nome do produto.

Mock-up99

O papel é ainda um dos mais econômicos e versáteis materiais de embalagem. É o mais amplamente usado devido ao seu baixo custo, baixo peso e facilidade de processamento.

O passo seguinte foi fazer o mock-up de resina. No entanto, como o molde de gesso apresentou algumas irregularidades conseqüentes de sua confecção, um novo molde foi produzido, corrigindo tais imperfeições, mas de resina de poliéster.

Conforme Gurgel (2007), o cartucho deve apresentar as seguintes características:

Molde de gesso do frasco

• • • • • • • •

Prestabilidade no corte e vinco; Elasticidade; Leveza; Resistência; Rigidez; Imprimibilidade; Solidez à luz; Inalterabilidade ante os produtos contidos.

Assim, o cartucho do perfume assume a função de proteção, informação e atratividade no ponto de venda.

Depois de definida a forma e feito os ajustes em proporções e simetria, desenvolveu-se o mok-up do frasco. Primeiramente, foi realizada a modelagem do frasco em argila. Depois, a partir do modelo de argila, confeccionouse o molde de gesso.

Para conseguir um mock-up do frasco oco de resina, foram utilizados os dois moldes, o positivo e o negativo. O positivo foi lixado para ter suas medidas reduzidas para que, quando este estivesse dentro do negativo, ficasse uma folga que seria a espessura do frasco, área onde se coloca a resina. Com a tampa do frasco, foi feito um modelo de argila, e em seguida o molde de gesso, como feito com o frasco. A embalagem de cerâmica também exigiu a confecção de molde de gesso, uma vez que sua produção direta, por ser uma peça oca, tornou-se inviável.

Materiais e os primeiros moldes 99

Modelo que reproduz de maneira fiel o futuro produto, mas que não funciona.

74 | Geyza Dalmásio Muniz

O Projeto da Embalagem de Perfume | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

A peça de argila foi feita no torno, inteiriça. A partir daí, retirou-se o excesso, deixando-a reta. No torno ela foi produzida toda circular, porque é a única forma possível de ser feita. Observando-se o frasco em resina, a peça de cerâmica foi retocada manualmente, de modo a obedecer a forma do frasco. Molde positivo de resina de poliéster

A seguir, o molde de gesso foi produzido. Após sua secagem, fez-se a peça oca, com barbutina. Como a barbutina disponível não era da cor escolhida, a peça recebeu banho de engobe para ficar com o tom mais comum da cerâmica indígena. O engobe também foi utilizado para pintar o desenho na cerâmica. O cordão que amarra a embalagem de cerâmica foi produzido com palha da costa trançada, miçangas de sementes e penas coloridas, predominando tom vermelho, para fazer ligação com a cor do frasco.

Molde negativo de resina de poliéster

Paralelamente à confecção dos mock-ups físicos, foram desenvolvidas as modelagens em 3D do frasco, da embalagem de cerâmica e do cartucho de papel cartão. Foram desenvolvidos os mock-ups físico e digital para garantir que ao menos um deles estivesse pronto a tempo de concluir a monografia.

Molde de gesso da tampa

75 | Geyza Dalmásio Muniz

Embora o mock-up físico do frasco não tenha ficado fiel ao projeto, mostrou as dimensões reais da peça,

proporcionando um melhor entendimento do projeto e permitindo ver possíveis modificações. Passos da confecção do mock-up de cerâmica:

O Projeto da Embalagem de Perfume | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Resultado final Após os estudos realizados sobre a perfumaria, o luxo, a embalagem e seu processo de criação e a arte indígena, chegou-se às formas definitivas. A seguir encontram-se as imagens do projeto final e os desenhos técnicos.

76 | Geyza Dalmásio Muniz

O Projeto da Embalagem de Perfume | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

78 | Geyza Dalmásio Muniz

O Projeto da Embalagem de Perfume | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

79 | Geyza Dalmásio Muniz

O Projeto da Embalagem de Perfume | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

80 | Geyza Dalmásio Muniz

O Projeto da Embalagem de Perfume | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

81 | Geyza Dalmásio Muniz

O Projeto da Embalagem de Perfume | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

82 | Geyza Dalmásio Muniz

O Projeto da Embalagem de Perfume | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

83 | Geyza Dalmásio Muniz

O Projeto da Embalagem de Perfume | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

84 | Geyza Dalmásio Muniz

Considerações Finais | 85

Considerações Finais | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Uma longa jornada foi percorrida até aqui. Muita pesquisa na internet, em livros, visitas de campo, conversas com profissionais de várias áreas, enfim, um trabalho árduo, porém gratificante, que serviu para um grande aprendizado. Este tema foi proposto justamente com este objetivo: aprender mais sobre uma área tão interessante e tão pouco abordada no curso de Desenho Industrial da Ufes, a embalagem. Um dos motivos é que a embalagem está mais inserida na área do design de produto do que do gráfico, embora ela seja uma interseção entre ambas. O universo da embalagem é bem amplo, o que me levou a fazer um grande recorte para que o trabalho não se tornasse tão extenso. No entanto, esse recorte garante a possibilidade de novas pesquisas na área, com outro enfoque, até mesmo dentro do setor de perfumaria. Uma possível parceria com a indústria, com uma empresa de perfumaria e cosmética engrandeceria muito o trabalho, no entanto as tentativas foram sem sucesso. Afinal, com a concorrência cada vez mais acirrada dos tempos atuais, as empresas tornam-se receosas em abrir suas portas para o aprendizado de profissionais e estudantes, que não estejam em seu quadro de funcionários. O tempo do projeto também é curto para se conseguir os contatos certos e a confiança de grandes empresas como Natura e O Boticário, por exemplo. Somando-se

86 | Geyza Dalmásio Muniz

ainda os problemas obtidos no decorrer do trabalho, o que tomaram boa parte do tempo da pesquisa. Entretanto, considero satisfatório o resultado obtido, dentro de um projeto de graduação. Muitas vezes meu orientador, Gilberto Kunz, me repreendia, dizendo não se tratar de uma dissertação ou tese. O assunto embalagem de perfume é tão fascinante que não dá vontade de parar de pesquisar, observar, analisar, desenvolver. Ainda mais em se tratando do universo feminino, tão rico, e do mercado de luxo, que permite um investimento maior no projeto. A inspiração indígena foi um desafio de aliar o que à primeira vista parece totalmente oposto ao luxo. No entanto, com a relativização deste conceito, percebe-se que é perfeitamente possível aliar o artesanal com o requinte. Afinal, exclusividade tem sido a palavra de ordem deste setor, e nada mais exclusivo do que uma peça artesanal, que uma nunca é exatamente igual à outra. Contudo, acredito que, como em qualquer projeto, sempre há o que melhorar. Porém, é necessário chegar a um ponto final para a conclusão do projeto. Pretendo desenvolver a proposta, e, se possível, comercializar a idéia com alguma empresa do setor de perfumaria e cosmético que tenha interesse em desenvolver produtos levando em consideração o significado cultural, social e ambiental do artesanato, para um público que busca a qualidade e a distinção.

Considerações Finais | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Já na parte final deste trabalho, tive conhecimento da empresa Amazon Green, do Pará, que trabalha com uma proposta bem semelhante, buscando a diferenciação através da inovação no uso de materiais e utilizando o artesanal através da mão-de-obra indígena e de recursos naturais da região, respeitando a natureza. Esta empresa foi divulgada em matéria na revista Pack, do mês de junho de 2008, nº 130, da editora Banas. Seus produtos estão sendo exportados para a França e a Itália. O principal material utilizado pela Amazon Green é a madeira, embora tenham alguns cremes em potes de cerâmica, além de intenção de expandir os tipos de materiais. Em relação às questões propostas no início deste trabalho (como a embalagem pode interferir na relação do consumidor com o perfume de luxo? Em que medida a embalagem interfere na decisão de compra de perfumes de luxo?), estas foram respondidas no desenvolver do texto. A embalagem, juntamente com a qualidade do produto, influencia a decisão de compra do consumidor, agregando valor e diferenciando-o do concorrente. O usuário do produto cria uma relação afetiva com o perfume proporcionada pelas lembranças ocasionadas por este e pela primazia da embalagem. É evidente que os perfumes são escolhidos por sua fragrância. No entanto, há pessoas que já escolheram um perfume por sua embalagem e algumas que na dúvida, 87 | Geyza Dalmásio Muniz

optaram pela embalagem mais bonita e atraente. Nos sites de venda de perfumes, a embalagem e o discurso publicitário do perfume possuem um peso ainda maior. Afinal, na internet, ainda não é possível sentir cheiro, pelo menos numa tecnologia acessível. Enfim, o conjunto de embalagens aqui propostas para o suposto perfume Terra Brasilis foi coerente com o objetivo estabelecido, destacando-se dos demais pela própria temática, pela inovação no uso dos materiais escolhidos (cerâmica, palha, sementes e pena), pela atratividade das formas e cores. Espero ter contribuído com um pouco mais de esclarecimento do universo da embalagem, da perfumaria e do mercado de luxo, e aberto caminhos para novas pesquisas.

Bibliografia | 88

Bibliografia | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Livros, monografias, teses e dissertações AMUI, Isabella. Comportamento do Consumidor de Cosméticos de Luxo: um Estudo Exploratório. Orientadora: Letícia Casotti. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2006.Dissertação (Mestrado em Administração). ASHCAR,Renata. Brasilessência: a cultura do perfume. São Paulo: Nova Cultural, 2001. BAUDOT, François. Moda do século. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2002. BAUDRILLARD, Jean. O sistema dos objetos. São Paulo: Perspectiva, 1973. BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 8. ed. - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. 311 p. BRAGA. João. História da moda: uma narartiva. São Paulo: Editora Anhembi Morumbi, 2004. Coordenação Kathia Castilho. BRINGHURST, Robert. Elementos do estilo tipográfico tipográfico — versão 3.0. São Paulo: Cosac Naify, 2005. Tradução André Stolarski. CAVALCANTI, Pedro e CHAGAS, Carmo. História da Embalagem no Brasil. São Paulo: ABRE, 2006. COELHO, Teixeira. O que e industria cultural. 14a ed. São Paulo: Brasiliense, 1991. 99p.

89 | Geyza Dalmásio Muniz

COLLARO, Antonio Celso. Projeto tipográfico: teoria e prática da diagramação. São Paulo: Summus, 2000. 4ª edição revis. e ampl. DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. 237 p. DOUGLAS, Mary; ISHERWOOD, Baron C. O mundo mundo dos bens: para uma antropologia do consumo. Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ, 2004. DURAND, José Carlos Garcia. Moda, Luxo e economia. São Paulo: Babel Cultural, 1988. FAGGIANI, Katia. O poder do design: da ostentação à emoção. Brasília: Thesaurus, 2006. FARINA, Modesto. Psicodinâmica das cores em comucomunicação. São Paulo: Edgard Blücher, 1982. 1ª edição. FEATHERSTONE, Mike. Cultura de consumo e póspósmodernismo. São Paulo: Studio Nobel, c1995. 223 p. GURGEL, Floriano do Amaral. Administração da embaembalagem. São Paulo: Thomson Learning, 2007. HALL, Stuart. A identidade cultural na póspós-modernidade. 10. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. 102 p. LIMA, Marco Antonio Magalhães. Introdução aos matemateriais e processos para designers. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2006.

Bibliografia | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: efêmero a moda e seu destino nas sociedades modernas. Trad. Maria Lucia Machado. São Paulo: Compahia das Letras, 1989. LUPTON, Ellen. Pensar com tipos: guia para designers, escritores, editores e estudantes. São Paulo: Cosac Naify, 2006. Trad. André Stolarski. MESTRINER, Fabio. Design de embalagem: embalagem: curso básibásico. São Paulo: Makron Books: Pearson Education do Brasil, 2001. MESTRINER, Fábio. Design de embalagem: embalagem: curso avançado. 2. ed. rev. e atual. - São Paulo: Prentice Hall, 2005. MOURA, Reinaldo A.; BANZATO, José Mauricio. EmbaEmbalagem, unitização & conteinerização. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: IMAM, 1997. MUNHOZ, Deborah; MAFRA, Nícia; BAGGIO,Antônio Eduardo. A evolução da embalagem: embalagem: informações para uma nova geração de consumidores conscientes. Belo Horizonte, 2007. PEDROSA, Israel. Da cor à cor inexistente. Rio De Janeiro: Léo Christiano Editorial, 2002. 8ª edição. OLIVEIRA, Ana Carolina Costa. Os esforços da comunicomunicação integrada integrada para constituir e fortalecer a imagem de uma organização do mercado de luxo perante seu púpúblicoblico-alvo: alvo: O caso Bacarat. Monografia de graduação,Universidade de São Paulo, Escola de Comunicação e Artes. SP, 2006. 90 | Geyza Dalmásio Muniz

ROCHA, Claudio. Projeto tipográfico: análise análise e produprodução de fontes digitais. São Paulo: Edições Rosari, 2002. ROCHA, Claudio. Tipografia comparada. São Paulo: Edições Rosari, 2004. ROCHA, Everardo P. Guimarães. A sociedade do sonho: comunicação, cultura e consumo. consumo 4. ed. Rio de Janeiro: Mauad, 2002. 232 p. ROCHA, Everaldo P. Guimarães. O que é etnocentrismo. 5. ed. - São Paulo: Brasiliense, 1988. 95 p. ROCHA, Paula Jung e MONTARDO, Sandra Portella. Netnografia: Netnografia: incursõesmetodológicas na cibercultura. cibercultura Revista da Associação Nacional dos Programas de PósGraduação em Comunicação, 2005. RODRIGUES, Antonielson Reis. Embalagens: comunicomunicação e processo de criação. Marília: 2005. Dissertação (Mestrado em Comunicação). SAHLINS, Marshall David. Cultura e razão prática. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. 231 p. WALTHER, Luciana Castello Da Costa Leme. Imagem, luxo e dilema: dilema: um estudo do comportamento de conconsumo das Patricinhas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2002. Dissertação (Mestrado em Administração).

Bibliografia | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

Revistas e artigos BARVOSA, Patrícia Regina Lobo; DIAS, Ricardo Guedes Carlos. A embalagem como diferencial competitivo nas organizações. Artigo. BRAGA, Adriana. Técnica etnográfica aplicada à comucomunicação online: online uma discussão metodológica.. UNIrevista, vol. 1, n° 3, julho 2006.

PRESAS, Patrícia Piana; PRESAS, Joaquin Fernandez. Embalagem: o meio, o canal e a mensagem. Trabalho apresentado no XXX Congresso Intercom, 2007. RIBEIRO DA SILVA, Alice Maria;et al. Embalagens para perfumaria e cosméticos: um experimento com foco no design cerâmico.Artigo RICCIARDI, Alex. Beleza Sustentável. Revista Pack, n130, p. 18-20, julho 2008.

CHINEM, marina Jugue; FLÓRIO, Marcelo. A sinergia do design de embalagem na comunicação publicitária. UNIrevista, vol. 1, n3, julho 2006.

SALGUEIRO, S. Embalagem bonitas e práticas. SuperHiper, p.48-52, mar. 1994.

COSMÉTICOS: Belos negócios. Revista Embanews, setembro, 2001.

SELAME, J. A embalagem do futuro. F&C Embalagem, p.66, abr. 1993.

ESTRADA, M. H. Design: o luxo do novo tempo. Revista Arc Design no. 39. 2004. p. 40-46.

SERAGINI, L. Embalagem, fruto do pensamento estraestratégico. Revista Abigraf, v.14, n.126, p. 64-6, nov./dez. 1989.

FERLAUTO, C. A mensagem multicultural das embalaembalagens. Revista Abigraf, n.169, p.44-6, mar./abr. 1997. GOMES, M.T.; NAIDITCH, S. Beleza é fundamental: fundamental: as empresas brasileiras estão acordando para o design. Exame, São Paulo, v.26, n.24, p.134-40, 22 nov. 1995. GOMES, João Filho. Gestalt do objeto:sistema de leitura visual da forma. São Paulo: Escrituras, 2000. LOPES, Roberto. Eles entendem de luxo. Welcome congonhas, n. 6, p. 31-39, setembro 2007. PALHARES, Wilson. O que é uma embalagem de luxo? EmbalagemMarca, maio de 2007. 91 | Geyza Dalmásio Muniz

Sites A LONGA história do perfume... Disponível em: Acesso em: 24 novembro 2007 ALVES, Nicia Monteiro. [24/04/04]. Disponível em: Acesso em: 29 novembro 2007

Bibliografia | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

A MAGIA do perfume. Disponível em: Acesso em: 25 novembro 2007 BELEZA começa na embalagem. [setembro/ 2003]. Disponível em: Último acesso em: em 03 dezembro 2007

EMBALAGENS diferenciadas: novas opções na área de cartuchos. Disponível em: Acesso em: 30 julho 2007

BELEZA. Disponível em: Acesso em: 25 setembro 2007

FAMÍLIAS olfativas. [02/05/07]. Disponível em: Acesso em: 15 novembro 2007

CAMARGO, Tânia. História do perfume. Disponível em: Acesso em: 24 novembro 2007

FATOS que você deveria saber sobre perfume. Disponível em: Acesso em: 29 novembro 2007

CLASSIFICAÇÃO dos perfumes. Disponível em: Acesso em: 25 novembro 2007 CLASSIFICAÇÃO dos perfumes. Disponível em: Acesso em: 29 novembro 2007 CURIOSIDADES. Disponível em: Acesso em: 25 novembro 2007 DELAS. A fascinante história do perfume. Disponível em: Acesso em: 21 outubro 2007

FRANCISCO. Perfume e sua classificação. [23/06/07]. Disponível em: Acesso em: 29 novembro 2007 HITÓRIA do perfume. Disponível em: Acesso em: 21 outubro 2007 HITÓRIA do perfume. Disponível em: Acessado em: 21 outubro 2007

Bibliografia | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

HITÓRIA do perfume. [30/10/06].Disponível em: Acesso em: 21 outubro 2007

O PERFUME e sua época. Disponível em: Acesso em: 24 novembro 2007

HITÓRIA do perfume. Disponível em: Acesso em: 25 novembro 2007

O PERFUME: uma história com milênios. Disponível em: Acesso em: 24 novembro 2007

INVESTIR em embalagem valoriza o produto. [08/06/03]. Disponível em: Último acesso em: 03 dezembro 2007

OS CINCO sentidos. Disponível em: Acesso em: 12 novembro 2007

MELO, Geraldo de.. A cultura do perfume: parte I. [18/01/07]. Disponível em: Acesso em: 15 novembro 2007 MELO, Geraldo de.. A cultura do perfume: parte II. [31/01/07]. Disponível em: Acesso em: 15 novembro 2007 NASRALLAH, Sandra. Astrologia: o perfume dos planeplanetas. Disponível em: Acesso em: 25 novembro 2007 OLFATO. Disponível em: olfativas Acesso em: 19 novembro 2007

93 | Geyza Dalmásio Muniz

PARDI, Célia. A magia do perfume. Disponível em: Acesso em: 29 novembro 2007 PERCÍLIA, Eliene. O que é perfume? Disponível em: Acesso em: 25 novembro 2007 PEREIRA, Paulo E. A embalagem e o consumidor. Disponível em: Acesso em: 29 novembro 2007 PERFUME. Disponível em: Acesso em: 29 novembro 2007 PERFUMES: escolha o seu cheiro. Disponível em: Acesso em: 1º dezembro 2007

Bibliografia | Projeto de embalagem de perfume feminino de luxo

PERFUMES. [24/04/06]. Disponível em: Acesso em: 15 novembro 2007

os/0,,EDG82965-8373-14,00O+QUE+VENDE+E+A+EMBALAGEM.html > Acesso em: 23 junho 2008

PERFUMES. Disponível em: Acesso em: 25 novembro 2007

VIEIRA, Maria da Penha. Para melhor compreender esesse grande sedutor. Disponível em: Acesso em: 29 novembro 2007

PERFUMES e bem-estar. Disponível em: Acesso em: 15 novembro 2007 PONCE, Tatiana. O especialista responde — Perfumaria. Perfumaria [Edição 199 - Out/07]. Disponível em: Acesso em: 1º dezembro 2007 PORTUGAL, Priscilla. O luxo está no ar. Disponível em: Acesso em: 11 novembro 2007 SEDUÇÃO das embalagens. Disponível em: VARELLA, Flávia. O império do luxo. [maio de 2005]. Disponível em: Acesso em: 11 novembro 2007 VASCONCELLOS, Patrícia. O que vende é a embalaembalagem. Disponível em:
View more...

Comments

Copyright ©2017 KUPDF Inc.
SUPPORT KUPDF