Prévia Apostila de Análise de Obras PAS2

July 13, 2022 | Author: Anonymous | Category: N/A
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Apostila de Análise de Obras do PAS 2  – 2017

 

 

Apostila de Análise de Obras do PAS 2  – 2017

 

 

Discurs o do d o Método - René René Descarte Descartes s Por Tiago Henrique

 Autt or  Au Penso, logo existo. Esta máxima foi retirada de uma das obras mais famosas de René Descartes, um dos pensadores mais influentes da história da humanidade, quando desenvolvia o seu método científico (O discurso do método). Este homem, considerado quase que unanimemente como o fundador da filosofia moderna e o pai da matemática moderna, nasceu na província de La Haye, a 300 quilômetros de Paris. Com menos de 2 anos de idade, a sua mãe, Jeanne Brochard, faleceu enquanto estava no terceiro parto. Por essa razão, ele foi criado pela avó. Seu pai, Joachim Descartes, nobre menor, advogado e juiz, possuidor de terras, do título de escudeiro e conselheiro do parlamento de Rennes na Bretanha, casou-se novamente. Ele começou a receber educação formal aos 8 anos, e de 1607 até 1612 teve a sua educação clássica, e continuou aos 13, quando de 1612 até 1615 teve a educação em matemática, ambas no colégio mais prestigiado da França à sua época, Colégio Jesuíta Royal Henry - Le Grand, onde se treinavam as melhores mentes da época. Entre esses dois momentos, para Descartes, houve um claro contraste: na sua educação em matemática, a valorização do experimento era bem maior no processo de aprendizagem, já na educação clássica não havia experimentação e mesmo assim tudo era considerado verdade sem qualquer exercício de questionamentos; e isso acabou fazendo com que ele colocasse em dúvida tudo que havia aprendido nos primeiros 5 anos da educação clássica, pois valorizava muito a verdade testada e questionada. Isso foi um particular marco nas suas ideias posteriores, já que ele tinha pouco mais de 16 anos quando colocou em dúvida tudo que havia aprendido até então. De toda forma, após ter concluído o curso de Direito na Universidade de Poitiers em 1616, decidiu não seguir a carreira  jurídica de seu pai, mas ir para a Holanda com o objetivo de melhor se educar e se alistar no exército, atitude que aborreceu seu pai, pois quando Descartes era pequeno, carinhosamente o chamava de “pequeno filósofo” e colocava nele grandes expectativas expectativas sucessórias da sua honra e profissão de jurista.  

Apesar de seu pai achar que ele iria se afastar dos estudos, para ele, a escola militar era uma complementação complementaç ão de sua educação. Na Holanda fez amizades com pessoas como o duque filósofo, doutor e físico Isaac Beeckman, e a ele dedicou o "Compendium Musicae", um pequeno tratado sobre música que faz parte do seu vasto portfólio. Também teve acesso às mais recentes pesquisas e descobertas matemáticas e físicas da época. Isso o influenciou a iniciar todo o seu trabalho o qual temos acesso hoje, como, por exemplo, a geometria analítica e o seu método de raciocinar corretamente.

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Em 1619, enquanto viajava pela Europa, diz-nos a tradição, que no dia 10 de novembro ele teve uma visão em sonho de um novo sistema matemático e científico. Assim, ainda em 1619, ele propôs a ideia de uma ciência unitária e universal, já que, para ele, a ciência devia ser baseada numa verdade irrefutável, e isso se tornou a base do método científico moderno. Ele tinha, de fato, uma enorme preocupação com a verdade, a ordem e a clareza das coisas, tanto que acreditava que havia sempre uma única verdade e que a filosofi filosofia a devia se pautar nela, e apenas nela. Em 1628, influenciado pelo cardeal De Bérulle, escreveu uma de suas grandes obras "Regras para a Direção do Espírito". Já em 1629, começou a trabalhar na obra de física "Tratado do Mundo", que nunca foi concluída, pois com a condenação de Galileu em 1633 pela igreja católica e a sua resistência às ideias de Copérnico, ele não quis publicar. Em 1643, o fato de as suas ideias romperem com a filosofia aristotélica adotada nas academias e provocarem a dúvida e racionalização de tudo, como, por exemplo, exigir sempre uma explicação científi científica ca para a natureza e não explicações morais, religiosas ou especulativas, fez com que a filosofia cartesiana fosse condenada pela Universidade de Utrecht (Holanda), mas, quando acusado de ateísmo, Descartes obteve a proteção do Príncipe de Orange e se livrou de um mesmo fim tal qual teve Galileu. Mais tarde, o embaixador francês levou uma cópia manuscrita do "Tratado das Paixões" para a rainha Cristina da Suécia. A convite, Descartes foi para Estocolmo em 1649, com o objetivo de instruir a rainha de 20 e poucos anos em matemática e filosofia. O horário da aula e o pesado inverno para um estrangeiro, entretanto, acabou matando Descartes, pois acordar e lecionar às cinco horas da manhã todos os dias não era algo com que ele estava acostumado. Naquele clima rigoroso, então, sua saúde se deteriorou em função de uma pneumonia, e em fevereir fevereiro o de 1650 ele morreu. Em 1667, depois de sua morte, a Igreja Católica Romana colocou suas obras no Índice de Livros Proibidos.

Obra Apesar de não ter sido a primeira obra escrita por René Descartes, O Discurso do método (1637) foi a primeira e principal obra publicada por ele. Certamente, os motivos que o levaram a desistir de publicar suas outras obras foi o receio de ir de encontro ao que era proibido pela igreja no seu tempo. Ele era um homem que tinha uma reputação, e mesmo não concordando com tudo, respeitava a igreja e sua autoridade. Isso o privou de publicar muitas coisas. Muitas delas, aliás, nunca tivemos acesso e, a menos que alguém ache perdido em algum lugar muito remoto, talvez nunca teremos. Ele escreveu esta obra, portanto, com muito cuidado para não acabar tendo o mesmo fim que Galileu, o que não significa, entretanto, que ele tenha apenas reproduzido aquilo que a igreja concordava ou mesmo ensinava nas escolas da época, que eram as ideias de acordo com a filosofia escolástica e a Apostila de Análise de Obras do PAS 2  – 2017

 

 

tradição religiosa, que era uma junção das ideias de Aristóteles com as interpretações da Bíblia; ao contrário, ele escreveu uma obra que marcou a sua época e dividiu a história em antes e depois de O Discurso do Método, e isso aconteceu exatamente por propor um novo jeito de se chegar ao conhecim conhecimento ento verdadeiro e seguro, que era usar o método m étodo da dúvida para se alcançar o conheci c onhecimento mento verdadeiro, isto é, tornar-se cético não para negar algo considerado como verdade, mas para confirmá-lo, ao menos com esta intenção. Para escrever sua obra, ele utilizou a língua francesa e o fez de forma que narrou a sua própria vida ao mesmo tempo em que transmitia as ideias do seu método. Ele poderia ter utilizado tanto a língua padrão científica da época, que era o latim, como a estrutura, que era escrever de forma abstrata e impessoal, mas rompeu com essas tradições de propósito, uma vez que tinha a intenção de divulgar o método que o ajudou a se libertar dos dogmas e conhecimentos falsos ou inseguros para o maior número de pessoas possíveis, para que elas mesmas soubessem como encontrar a verdade e não apenas consumir o que era ensinado como se fosse uma verdade incontestável; e escrever na língua francesa (idioma considerado popular da época) e fazer uma narrativa autobiográfica eram maneiras de se conseguir isso - e deu certo. Ele queria realmente que a razão, privilégio exclusivo do ser humano, fosse desfrutado por todos. Como está escrito no início do livro, Descartes não teve a intenção de ensinar as pessoas a encontrarem a verdade, isto é, a obra não era um manual de como achar a verdade, v erdade, tanto que o título não é o Tratado do Método, mas o Discurso do Método, pois ele queria apenas mostrar e narrar os caminhos que tomou e que foram capazes de fazer com que chegasse à verdade segura, de modo que, para ele, este era um método que não poderia falhar, já que colocava a razão acima dos sentidos, e estes por vezes enganam e iludem mesmo os bem intencionados. Além disso, ele acreditava que todos os humanos eram dotados de igual razão e o que faltava às pessoas era um método correto e seguro para que todos chegassem ao conhecimento seguro. Portanto, ele acreditava que um método seguro poderia libertar as pessoas das suas próprias prisões, ou, como disse na época medieval o pensador Nicolau de Custa, se libertar do seu microcosmo. Nesta obra também, um dos grandes objetivos de Descartes era provar a existência de Deus por meio da razão e da ciência. Para isso, ele recusava se utilizar de meios não seguros, e por isso utilizou o seu método. Ou seja, tratava-se de um método que ele utilizou para muitas áreas de sua vida. Ele começou a criá-lo ainda quando jovem, quando era insatisfeito com a educação da ciência oficial que recebeu. Ele colocava em dúvida e desejava a experimentação para obter a evidência e só então aceitar como verdade. Descartes foi um filósofo além do seu tempo, que marcou a sua época, principalmente por meio dessa obra. Assim, nesta obra, ele escreveu e desenvolveu o discurso sobre o seu método em seis partes. De forma resumida, vejamos:

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Na primeira parte ele nos conta sobre a sua educação: os assuntos pelos quais se interessou, as críticas que fez aos livros que leu e sobre a educação que recebeu; conta também sobre a parte da sua educação em que ele mesmo foi o protagonista, pois ao se graduar em Direito, foi viajar pela Europa a fim de estudar no grande livro que é o mundo e extrair, de dentro de si e das pessoas que ia conhecendo, o conhecimento. Nesta primeira parte ainda temos a afirmação dele de que não tinha a intenção de que todos usassem o seu método, mas apenas de narrar o seu esforço e o sucesso do mesmo na busca de um conhecimento seguro. Na segunda parte ele escreveu que um homem normal, que sabe pensar com seu senso comum sobre as coisas simples do mundo, está mais próximo de chegar num conhecimento verdadeiro e seguro do que todos os livros científicos com várias opiniões de pensadores ao longo dos séculos. Ele escreve isso mais ou menos como um desabafo, pois na sua infância aprendeu coisas que não haviam sido questionadass e foram simplesmente questionada simplesmente tidas como verdadeir v erdadeiras. as. Isto é, que somos como um edifício projetado por muitos arquitetos que desconhecemos e que nem sequer sabemos da confiabilidade dos seus conhecimentos aplicados em nós, e que podemos ser um edifício sem qualquer segurança. Então, assim como ele o fez, ele diz que se desde criança nós usássemos o nosso simples senso comum, o nosso conhecimento conheciment o e relacionamento relacionamento com o mundo poderia ser bem diferente e mais seguro. Em função disso, ele escreveu os preceitos mais importantes da obra. Ele cita os 4 princípios que acha serem necessários para servir de base para se chegar num conhecimento verdadeiro ou, ao menos, saber quando se trata de um conhecimento conhecimento falso. Vejamos: 1. A regra da evidência: nada é verdadeiro até ser reconhecido como tal, ou seja, evitar cuidadosamente cuidadosam ente a precipitação precipitação e agir com precaução; 2. A regra da anál análise: ise: os problemas problemas precisam ser analisados e re resolvidos solvidos siste sistematicamente, maticamente, ou seja, seja, dividir cada um dos problemas em problemas menores para melhor resolvê resolvê-los; -los; 3. A regra da síntese: as considerações devem partir do mais simples para o mais complexo, ou seja, subir degrau por degrau até chegar no ponto mais alto da escada e sair do obstáculo; e 4. A regra da análi análise se do conjunto ou intuição intuição geral: o processo deve deve ser revisto do começo ao fim para que nada importante seja omitido, ou seja, cuidar para que revisões sejam feitas e erros não permaneçam. Por meio destes preceitos podemos observar o quanto Descartes era desconfiado quanto a tudo aquilo que é tido como verdade, tudo que lhe foi ensinado durante toda a sua vida. Ele preferia rejeitar tudo inicialmente para depois confirmar de forma segura. Isso acontecia desde a sua infância, pois tudo lhe foi ensinado de forma não experimental, mas, agora, havia um método que lhe dava o caminho para duvidar de tudo. Não um ceticismo com a intenção de negativar tudo, mas um ceticismo intencionado a confirmar depois.

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Na terceira parte da obra ele postula algumas de suas máximas, pois, segundo ele, máximas são necessárias para alguém que deseja se libertar de falsos conhecimentos e para alguém que deseja reconstruir os seus juízos. Ele as dividi dividiu u em 4 partes. Vejamos:   Obedecer às às leis e aos costumes costumes de meu país, retend retendoo constante constantemente mente a religião religião eem m que Deus me



concedeu a graça de ser instruído desde a infância, e governando-me em tudo o mais (...); (.. .);   Ser o mais firme firme e o mais resol resoluto uto possível em minhas ações, e em nnão ão segui seguirr menos



constantemente do que se fossem muito seguras as opiniões mais duvidosas, sempre que eu me tivesse decidido a tanto;   Procurar Procura r sempre antes vencer a mim próprio do que à fortuna, e de antes modificar os meus



desejos do que a ordem do mundo; e, em geral, a de acostumar-me a crer que nada há que esteja inteiramente em nosso poder, exceto os nossos pensamentos (...)   Passar em revista revista as diversa diversass ocupações que os ho homens mens exercem nesta vida, para procura procurarr



escolher a melhor (...). Na quarta parte do seu s eu discurso, Descartes escreveu a sua frase mais famosa e o princípio de toda a sua filosofia: penso, logo existo. E ele escreveu isso, pois observou que para conseguir discernir entre o verdadeiro e o falso, ele deve rejeitar como falso absolutamente tudo o que se pode enxergar a menor dúvida, a fim de observar, após isso, se resta algo inteiramente indubitável na razão e que também os sentidos por vezes enganam, já que às vezes pensamos com os sentidos, o que faz com que tudo seja uma ilusão. Portanto, se tudo é falso, há necessidade de que alguém que pense seja alguma coisa, e se há alguém pensando em coisas que não são verdadeiras, isso significa que quem está pensando existe, ou seja, se pensamos racionalmente nós não estamos nos iludindo com coisas não verdadeiras, mas existindo. Assim, confirma-se a máxima de que para existir, basta pensar - Penso, logo existo. Após isso ele se considera uma substância cuja essência ou natureza consiste apenas no pensar, e que, para ser, não necessita de nenhum lugar e nem depende de qualquer coisa material, mas apenas da razão. E se não depende de coisa material, não depende do corpo, pois o que pensa é a alma. Isto é, contrariamente à filosofia escolástica, escolástica, para ele o corpo e a alma são duas coisas completamente distintas. distintas. Ainda nesta quarta parte, Descartes faz outra conclusão. Afirma que conhecer é uma perfeição maior do que duvidar. Escreve que mesmo o raciocinar, o pensar, foi colocado nele por algo superior Deus. E que assim como o mais perfeito não pode ser conseqüência do menos perfeito, a razão só foi colocada em nós por uma natureza mais perfeita do que a nossa, e que inclui todas as perfeições, quer dizer, Deus. Na quinta parte, Descartes utiliza de seu método para descrever corpos e vai dos inanimados até o do homem. Discorre sobre a possibilidade de que os homens, em seu início, eram desprovidos de almas, assim como os animais. Neste contexto, o coração dos homens era composto de fogos sem luz. Por fim, Descartes reitera a independência da alma em relação ao corpo.

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Na sexta parte Descartes finaliza finaliza fazendo uma síntese de seu caminho percorrido nas cinco partes anteriores. Discorre que no início de sua caminhada procurou encontrar em geral os princípios ou primeiras causas de tudo quanto existe, ou pode existir no mundo, sem nada considerar, para tal efeito, senão Deus só, que o criou, nem tirá-las de outra parte, exceto de certas sementes de verdades que existem naturalmente em nossas almas. Depois ele conta que examinou quais os primeiros e os mais ordinários ef eitos eitos que se podem deduzir dessas causas e, diz, “parece -me que, por aí, encontrei céus, astros, uma terra, e mesmo, sobre a terra, água, ar, fogo, minerais e algumas outras dessas coisas que são as mais comuns de todas e as mais simples, e por conseguinte as mais fáceis de conhecer.” E seguidamente diz que quando quis descer às que eram mais particulares, apresentaram-se tão diversas, que não acreditou que fosse possível ao espírito humano distinguir as formas ou espécies de corpos que existem sobre a terra, de uma infinidade de outras que poderiam nela existir, se fosse a vontade de Deus aí colocá-las, nem, por consequência, torná-las de nosso uso, a não ser que se vá ao encontro das causas pelos efeitos e que se recorda a muitas experiências particulares. particulares. Assim, Descartes finalizaria o seu Discurso do Método, obra que abriu caminho para muitas outras pesquisas e outras publicações de outros autores e mesmo do próprio René Descartes. Com esta obra, ele mudou conceitos filosóficos, colocando a subjetividade como conhecimento do mundo e distingui distinguindo ndo o corpo da alma, ambos sacramentados em tempos passados. Na verdade, sua intuição seria criar uma nova ciência, ciência esta com ênfase particular na experimentação. Desejava, sobretudo que estes estudos fossem usados em prol da humanidade, melhorando-a naquilo que fosse possível. Deu certo grande parte dos seus objetivos. Ainda hoje colhemos coisas plantadas por Descartes séculos atrás, tal a sua importância para a humanidade.

Contexto O contexto em que René Descartes viveu foi marcado por profundas mudanças nos contextos político, social e científico da época. O século XVII foi de crise em praticamente praticamente toda a Europa. Os estados nacionais tinham acabado de começar a sua formação, e portanto ainda brigavam entre si por terras e influência, influênci a, com destaque para França, Espanha, Holanda e Inglaterra. Isso não tem tanta influênci influência a sobre ele, mas grande parte da vida de Descartes se passou concomitante à Guerra dos 30 anos, entre católicos e protestantes no Império Alemão. Do ponto de vista cultural, Descartes viveu v iveu durante a predominân predominância cia do Barroco, cujo tom geral era pessimista. Outra característica cultural foi o fato de que não havia muito tempo que a impressão havia sido inventada, o que fez com que a cultura se disseminasse para além dos mosteiros e fosse de certa forma popularizado popularizado tanto para outros idiomas que não o latim como para outras culturas. Do ponto de vista filosófico, Descartes nasceu num período em que a ideia de modernidade, ainda em desenvolvimento, estava diretamente relacionada ao sentimento de mudança, através da valorização Apostila de Análise de Obras do PAS 2  – 2017

 

 

do indivíduo e a oposição à autoridade da fé. Ora, durante a Idade Média quase não houve questionamentos sobre as questões filosóficas feitas por leigos, já que a Igreja Católica tinha enorme influência sobre a sociedade e limitava a produção de conhecimento por aqueles que não pertenciam ao clero. Dessa maneira, a filosofia medieval era fortemente marcada pela religião, uma junção entre as ideias de Aristóteles e as interpretações da Bíblia. Contudo, as novas percepções trazidas com o desenvolvimento científico dos séculos XV e XVI, como os novos modelos astronômicos trazidos por Nicolau Copérnico e Galileu Galilei ,entre outros, que contestavam a visão religiosa medieval de que a Terra era o centro do Sistema Solar, motivaram uma nova forma de encarar o mundo. m undo. Dessa maneira, o pensamento cartesiano está fortemente baseado nesse novo modelo de se fazer ciência, a partir da busca do progresso da humanidade e conhecimento. Assim, René Descartes é considerado o primeiro filósofo moderno, e viveu num momento essencial para o desenvolvimento da humanidade.

Gênero e Estrutura A obra é escrita como uma narrativa autobiográfica. Duas técnicas narrativas são utilizadas: a representação e a narração. A primeira técnica diz respeito à condução do processo narrativo. Descartes leva o leitor a uma participação da experiência do eu-narrador; ele o faz acompanhar sua história passo a passo, mostrando suas indagações, receios, fatos significativos, proposições, enfim, sua vida. vid a. A segunda relaciona-se, principalmente, com o próprio fato de que há um reconhecimento do caráter narrativo do texto, uma consciência de que Descartes é um narrador que relata uma série de eventos a um leitor. O texto conjuga a narração e o discurso direto, a narrativa e a proposição, a dúvida e a elaboração da verdade.

Citações da Obra na Matriz Matriz de Objetos d de e Avaliação O ser humano como um ser que pergunta e quer saber: A obra de René Descartes (1596650), Discurso do método, apresenta em 1637, uma fundamentação para o método científico. O autor escreveu em língua francesa, numa época em que a língua das ciências era o Latim, a fim de tornar essa obra acessível a muitos leitores. O método seria

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indispensável para o sujeito deixar os caminhos do erro e da dúvida e descobrir com clareza e distinção a certeza da verdade intelectual. A partir da dúvida metódica, Descartes mostra que o sujeito do cognoscente é livre para analisar suas ideias, e pode, por meio de um conjunto de regras, livrar -se de tudo quanto seja duvidoso perante o pensamento, atingindo a certeza do conhecimento intelectual. Essa obra tem como subtítulo o próprio horizonte de sua proposta: “para bem conduzir a própria razão e procurar a verdade nas ciências”. 

A obra obra de Descartes foi fundamental para o debate acerca da natureza do conhecimento conhecimento e da razão, e o seu legado influenciou diversas gerações de pensadores. Para além do estabelecimento de um método, o pensamento de Descartes é um marco na construção do conhecimento moderno, especialmente a ciência moderna, pois propõe que o sujeito do pensamento, o cogito, é, antes de tudo, uma “coisa pensante”. Portanto, bem conduzir a razão é algo imprescindível para que o homem possa se tornar “senhor e dominador   da natureza”. De alguma forma, forma, este debate ecoa no sécul século o XVIII. O filósofo

alemão, Immanuel Kant, também preocupado com o uso da razão, escreveu, em 1784, o texto Resposta à pergunta: o que é o esclarecimento? esclarecimento?,, a partir do qual pensa e problemati problematiza za seu próprio tempo e apresentaa orientações para o uso da razão a fim de emancipar os seres humanos de uma condição de apresent minoridade. (Capítulo 3, segundo, terceiro, quarto e quinto parágrafos) Indivíduo, cultura e mudança social: Em seu Discurso do método, Descartes faz uso da língua francesa para divulgar suas ideias, de modo a se tornar acessível, pois anteriormente os textos científicos eram escritos em latim. Em que medida podemos reconhecer nesse fato uma manifestação a favor da mudança social? Propor a valorização da razão, em oposição à autoridade eclesiástica da época, pode ser entendido com um sentido favorável à mudança e à transformação social? social? (Página 9, terceiro parágrafo) Estruturas: Estruturas geométricas são obtidas ao se fazer a evolução de uma figura plana em torno de um eixo. Considerando que a palavra estrutura nomeia um conjunto de elementos interdependentes, na perspectiva cartesiana, para se conhecer uma estrutura é necessário buscar apreendê-la a partir dos elementos que a constituem. Assim, com base nesses elementos podemos elaborar conclusões abrangentes e ordenadas. Depois, enumerar cada conclusão, de modo que não ocorra omissão de elementos e haja coerência entre as partes e o todo, conforme enuncia Descartes em seu Discurso do método. (Página 19, segundo parágrafo) Ambiente e vida: Propõe-se, então, que se reconheça a importância e a dinamicidade da classificação dos seres vivos abordando, inclusive, inclusive, como se constrói um sistema de classificação, para que se entendam entendam critérios de sistematização. A obra de Rene Descartes, Discurso do método, sugere a aplicação de métodos

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adequados para análise e resolução de problemas, e contribui para julgar a pertinência de opções técnicas, sociais, éticas e políticas na tomada de decisões. (Página (Página 27, terceiro parágrafo) A formação do mundo ocidental contemporâneo: contemporâneo: Este objeto refere-se, nesta etapa, à compreensão da gênese do mundo contemporâneo, com ênfase na formação das nações americanas - em particular, da brasileira - no contexto de crise do antigo sistema colonial. Como também, ao processo de consolidação do sistema capitalista e às suas implicações (sociais, culturais, políticas e econômicas) nas sociedades mundiais, nos seus desdobramentos desdobrame ntos relativos à cidadania cidadania nas várias regiões do m mundo undo ocidental ocidental.. No campo do pensamento e das Ciências, vale destacar a construção de ideologias e paradigmas a partir do Iluminismo - e dos seus desdobramentos. Verifica-se a abrangência desse fenômeno, sobretudo quando se abordam os movimentos de emancipação na América Latina, em particular no Brasil. Há obras filosóficas que antecedem este processo e apontam aspectos relevantes desta formação do mundo ocidental contemporâneo, dentre as quais convém destacar o texto de Descartes, Discurso do método, e o de Kant, Resposta à pergunta: o que é o esclarecimento? (Página 30, segundo parágrafo) Número, grandeza e forma: Na primeira etapa, este objeto fez alusão a grandezas vetoriais, escrita tradicional de ritmo, exploração dos polígonos regulares, sequências, cartografia, balanceamento de equações e contribuições de culturas medievais, dentre outras. Nesta enfoca outros modelos e provoca novas questões, como: O que é a linguagem matemática? O que é a modelagem pela Matemática? É possível modelar qualquer problema com a Matemática? Todas as situações estudadas pelas ciências apresentam aspectos de linearidade? É possível modelar problemas não lineares com Matemática? Que outras formas de modelagem a humanidade desenvolveu? A obra de René Descartes (1596-1650), Discurso do método, traz o método como indispensável para o sujeito deixar os caminhos do erro e da dúvida e descobrir com clareza e distinção a certeza da verdade intelectual. A partir da dúvida metódica, Descartes mostra que o sujeito é livre para analisar cada um de seus conhecimentos, e pode, por meio de um conjunto de regras, livrar-se de tudo quanto seja duvidoso perante o pensamento, atingindo a certeza do conhecimento intelectual. Essa obra tem como subtítulo o próprio horizonte de sua proposta: “para bem conduzir a própria razão e procurar a verdade nas ciências”. Na perspectiva cartesiana, acreditava -se que teria sido

em linguagem matemática que Deus esculpira o Universo; logo, o caminho para se desvelar a realidade seria, justamente, a compreensão de sua estrutura matemática. Nesse sentido, Descartes, apresenta a exatidão da Matemática como critério para estabelecer a verdade, a partir das categorias de clareza e distinção. (Página 33, primeiro, segundo, terceiro e quarto parágrafos) Espaços: Textos filosóficos como Discurso do método, de Rene Descartes, e Resposta à pergunta: o que é o esclarecimento?, de Immanuel Kant, fundamentam categorias a partir da percepção e intuição da noção Apostila de Análise de Obras do PAS 2  – 2017

 

 

de espaço. Essas funda fundamentações mentações estão presentes nas teorias desenvol desenvolvidas vidas pelas ciências particulares. (Página 38, quinto parágrafo) Materiais: No século XVII, René Descartes, no Discurso do método, rompe com as perspectivas escolásticas e inaugura novas condições para a pesquisa científica ao enumerar procedimentos comuns para a resolução de problemas, por meio de uma racionalidade científica, fundamentada no método. A partir do cartesianismo, um conjunto de perspecti perspectivas vas desdobrou-se em distintas correntes filosóficas, numa espécie de tensão entre racionalismo e empirismo, tendo em comum a crença na razão enquanto faculdade humana potencialmente suficiente para produzir novos conhecimentos científicos. (Página 43, quinto e sexto parágrafos)

Questões Porém, logo em seguida, percebi que, ao mesmo

2. A dúvida metódica, conforme formulação de

tempo em que eu queria pensar que tudo era

Descartes, assegura ao sujeito liberdade para

falso, fazia-se necessário que eu, que pensava,

analisar suas ideias, livrando-o, por meio de um

fosse alguma coisa. E, ao notar que esta verdade

conjunto de regras, do que é duvidoso e

—  eu penso, logo existo — era tão sólida e tão

permitindo-lhe atingir a certeza do conhecimento

correta que as mais extravagantes suposições

intelectual.

dos céticos não seriam capazes de lhe causar abalo, julguei que podia considerá-la, sem

Subprograma 2013  –  Segunda Etapa, Caderno: GAUGUIN Página 7, questão 49

escrúpulo algum, o primeiro princípio da filosofia 3. Segundo Descartes, a cadeia de dúvidas só é

que eu procurava.

interrompida diante do próprio sujeito que duvida René Descartes. Discurso do método. In: Os pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 2000, p. 62.

Considerando a obra Discurso do Método, de

— se duvida, duv ida, pensa; se pensa, existe. Subprograma 2013  –  Segunda Etapa, Caderno: GAUGUIN Página 7, questão 50

René Descartes, e o fragmento de texto dela extraído, julgue os itens seguintes:

O Discurso do Método produziu uma revolução na filosofia e na ciência. A partir dessa obra,

1. No conceito de eu cartesiano, incluem-se o

Descartes buscou um conjunto de princípios que

pensamento e o corpo, uma vez que, na cadeia

pudessem ser conhecidos sem qualquer dúvida.

de dúvidas, a única certeza é que existe um ser

Para investigar tal possibilidade, procedeu à

pensante habitando um corpo.

análise por meio de um método próprio

Subprograma 2013  –  Segunda Etapa, Caderno: GAUGUIN

conhecido como “dúvida hiperbólica”, ou “dúvida

Página 7, questão 48

metafísica”, mais frequentemente referido como “ceticismo

metodológico”,

Apostila de Análise de Obras do PAS 2  – 2017

que

consiste

em

 

 

rejeitar qualquer ideia da qual se possa duvidar,

6. O método cartesiano, de caráter analítico, tem

para então, após análise, restabelecer ou

por característica não se interessar pelo processo

reconstruir essa ideia de modo a criar uma base

de síntese, que é um elemento do método

sólida para o conhecimento. conhecimento.

sintético.

Internet: (com adaptações).

Subprograma 2015 - Segunda Etapa, Caderno: Alice Página 8, questão 45

Considerando o texto acima e os múltiplos aspectos a ele ele relacionados, julgue os itens e assinale a opção correta no item 46, que é do

7. O ponto de partida do método analítico cartesiano (cogito) deve ser compreendido como

tipo C.

a- um raciocínio do tipo dedutivo, que deduz o pensar a partir da existência.

4.

Descartes

foi

um

dos

expoentes

do

empiria

b- um raciocínio do tipo indutivo sobre a relação

desnecessária desnecessári a para a obtenção de conheci conhecimento. mento.

experimentalmente comprovada entre o pensar e

Racionalismo,

que

considera

a

o existir. Subprograma 2015 - Segunda Etapa , Caderno: Alice Página 8, questão 43

c- uma percepção sintética, que identifica uma

5. O método cartesiano se fundamenta na dúvida

totalidade, em seres humanos, entre o pensar e o

hiperbólica, que consiste em duvidar de tudo o

existir.

que é possível duvidar. Tal dúvida não se aplica

d- uma prova da existência material do ser

à capacidade de seu próprio método de revelar

humano.

verdades. Subprograma 2015 - Segunda Etapa, Caderno: Alice Página Subprograma 2015 - Segunda Etapa, Caderno: Alice Página

8, questão 46

8, questão 44

Fontes: COTTINGHAN, J. Descartes: a filosofia da mente de Descartes . Tradução de Jesus de Paula Assis. São Paulo: Editora UNESP, 1999. Dicionário Descartes.

Tradução de Helena Martins. Rio de Janeiro: Zahar, 1995.

DESCARTES, R. Discurso do método; Meditações; Objeções e respostas; As paixões da alma; Cartas. Tradução de J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. 2. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979.  

https://educacao.uol.com.br/bi https://educacao. uol.com.br/biografias/rene-descart ografias/rene-descartes.htm es.htm - Acesso em 25/3/2017 http://www.ahistoria.com.br/biografia-rene-descartes/-- Acesso em 25/3/2017 http://www.ahistoria.com.br/biografia-rene-descartes/ http://filosofiageral.wikispaces.com/O+Discurso+do+M http://filosofiageral.wikispaces.co m/O+Discurso+do+M%C3%A9todo+%E2%80 %C3%A9todo+%E2%80%93+Descartes+%28r %93+Descartes+%28resen esen ha+tem%C3%A1tica%29?f=print - Acesso em 25/3/2017 Apostila de Análise de Obras do PAS 2  – 2017

 

 

http://www.gestaouniversitaria.com.br/art http://www.gestaouni versitaria.com.br/artigos/resenha-criti igos/resenha-critica-da-obra-di ca-da-obra-discurso-do-metod scurso-do-metodo-de-reneo-de-renedescartes - Acesso em 25/3/2017 http://www.passeiweb.com/estudos/livros/ http://www.passeiweb.co m/estudos/livros/discurso_do discurso_do_metodo _metodo - Acesso em 25/3/2017 https://cogitodescartes.wordpress.com/ https://cogitodescarte s.wordpress.com/contexto-histori contexto-historico/ co/ - Acesso em 25/3/2017 http://elprofedefilosofia.bl http://elprofedefi losofia.blogspot.com.br/2011/0 ogspot.com.br/2011/01/contexto-histori 1/contexto-historico-cultural-filo co-cultural-filosofico.html sofico.html - Acesso em 25/3/2017

Gabaritos Ga baritos e justif icativas: icativas: 1- E. Justificativa: Descartes se considera uma

necessidade de que alguém que pense seja

substância cuja essência ou natureza consiste

alguma coisa, e se há alguém pensando em

apenas no pensar, e que, para ser, não necessita

coisas que não são verdadeiras, isso significa

de nenhum lugar e nem depende de qualquer

que quem está pensando existe. Se pensa, então

coisa material, mas apenas da razão. E se não

existe.

depende de coisa material, não depende do corpo, pois o que pensa é a alma. Isto é,

4- E. Na verdade, sua intuição seria criar uma nova ciência, ciência esta com ênfase particular

contrariamente à filosofia escolástica, para ele o corpo e a alma são duas coisas completamente distintas. 2- C. Justificativa: Justificativa: Ele acredi acreditava tava que todos os os humanos eram dotados de igual razão e o que faltava às pessoas era um método correto e seguro

para

que

todos

chegassem

ao

na experimentação, isto é, na empiria. Sim, foi expoente do racionali racionalismo. smo. 5- C. Para conseguir discernir entre entre o verdadeiro e

o

falso,

o

hiperbolicamente,

sujeito isto

é,

deve

duvidar

exageradamente.

Entretanto, o método n é colocado em dúvida.

conhecimento seguro. Portanto, ele acreditava

6- E. Justificativa: Dentre os seus quatro

que um método seguro poderia libertar as

princípios, tem a regra da síntese, por meio da

pessoas das suas próprias prisões, ou, como

qual as considerações devem partir do mais

disse na época medieval o pensador Nicolau de

simples para o mais complexo, ou seja, subir

Custa, se libertar do seu microcosmo.

degrau por degrau até chegar no ponto mais alto

3- C. Justificativa: Para conseguir discernir entre

da escada e sair do obstáculo.

o verdadeiro e o falso, o sujeito deve rejeitar

7- C. Justificativa: Ele acreditava que todos os

como falso absolutamente tudo o que se pode

humanos eram dotados de igual razão e o que

enxergar a menor dúvida, a fim de observar, após

faltava às pessoas era um método correto e

isso, se resta algo inteiramente indubitável na

seguro

razão. Assim, se tudo se torna falso, há

conhecimento seguro.

para

Apostila de Análise de Obras do PAS 2  – 2017

que

todos

chegassem

ao

 

 

Para turbinar seu estudo e compreender c ompreender melhor melhor o contexto da época e da obra você pode assistir a filmes f ilmes e documentários. Segue abaixo os links de algumas sugestões:

  Descartes - Filme completo



https://documentariosvarios.wor https://documentar iosvarios.wordpress.com/201 dpress.com/2012/04/20/descar 2/04/20/descartes-filme-completo/ tes-filme-completo/   Sócrates, Platão, Aristóteles, Descartes e Rousseau - Videoaula Univesp



https://www.youtube.com/watch?v=b6dCnMwmB0A   Aula 17, filosofia - René Descartes - Tv Poliedro



https://www.youtube.com/watch?v=We3WMDmr8SY

Apostila de Análise de Obras do PAS 2  – 2017

 

 

Apostila de Análise de Obras do PAS 2  – 2017

 

 

Odeon - Ern Ernesto esto Naza Nazareth reth Por Juliana Galvão

 Autt or  Au Ernesto Nazareth nasceu em 20 de março de 1863 na então cidade dos pianos, o Rio de Janeiro. Cresceu durante um período de grandes mudanças e de instabilidade social e política, como a guerra do Paraguai. Quando criança sofreu uma queda que ocasionou problemas auditivos que lhe acompanharam por toda a vida. Autodidata, compôs sua primeira música (“Você bem sabe” , dedicada ao seu pai) aos 14 anos de idade. É considerado um dos compositores de maior importância para a cultura brasil brasileira. eira. Grande parte de sua obra, que é essencialmente instrumental, é voltada para o piano, apesar de muitas vezes retratar o ambiente dos choros, expressado tipicamente pelo violão, flauta e cavaquinho, que revelam a alma carioca. Em sua produção musical, encontramos tangos brasileiros, também denominado como choro (em torno de 90 peças), valsas (cerca de 40), polcas (cerca de 20), entre outras composições dos mais variados estilos. “Ele fazia música de dança, música para se dançar, só que, diferentemente de outros compositores, imprimiu imprimiu um estilo muito próprio”. - Cacá Machado

Obra Em 1908 começou a se apresentar na sala de espera do Cine Odeon, localizado no centro do Rio de Janeiro. Muitas pessoas frequentavam o Cine Odeon apenas para apreciar Ernesto Nazareth tocar. Dois anos depois compôs o tango “Odeon” em homenagem à empresa Zambelli &   Cia, proprietária do

cinema Odeon. A canção não foi um sucesso imediato, se tornando conhecida apenas depois de ter recebido a letra do poeta Vinícius de Moraes, em 1960, a pedido da cantora Nara Leão. Gyovana Carneiro, professora da escola de música e artes cênicas da UFG, afirmou em seu blog (Ludovica) que na ânsia de ser reconhecido como pianista, Nazareth não pôde perceber o quanto sua música era original e repleta de brasilidade. O fato de não ter ido estudar na Europa como outros compositores da época não o fizera menor, muito pelo contrário, foi bebendo na fonte da música urbana carioca que ele compôs tão originalmente. originalmente.

Contexto: Apostila de Análise de Obras do PAS 2  – 2017

 

 

No final da década de 1870 ainda não existia música que retratasse o nosso país de forma genuína, mas apenas uma música feita no Brasil com fortes influências da música europeia. Se Nazareth apresenta em sua peça elementos da música dita “popular” e ao mesmo tempo demonstra as influências que teve do estilo europeu, ou seja, da música “erudita” como então podemos classificar? Erudita ou

popular? Há inúmeras discussões a respeito dessa pergunta, mas para entendê-la é necessário compreender as preferências do compositor e o contexto da época em que viveu. Nazareth sempre se mostrou um excelente pianista e, de fato, o piano era sua "praia". Já em relação ao termo popular, devemos entendê-lo como “próprio do povo”, “feito para o povo”. Nazareth não era popular, no sentido mais amplo da palavra, como Chiquinha Gonzaga , entre outros. Ele era “reconhecido ou estimado do povo”. Grande parte das obras de Nazareth foram escritas para o piano, e o piano até então não era um

instrumento de fácil acesso para o povo. Acredita-se que por isso a obra de Nazareth foi escrita para as classes média e alta, pois poucos teriam à disposição dinheiro para adentrar em uma casa de música, comprar uma partitura, ter um piano em casa à disposição e ainda alguém com conhecimento necessário para ler e ensinar o pentagrama. A resposta mais plausível para o fato de Ernesto Nazareth ter sido feito mote de discussão foi certamente por transitar entre os espaços da elite e da periferia, configurando acesso ao erudito e o popular, trazendo em sua obra o inculto, o tradicional, juntamente com a sofisticação acadêmica, mas sem exageros. Assim, estava posto na Música de Ernesto Nazareth o potencial estético para a formação da consciência musical musical e a identidade naci nacional/nacional onal/nacionalista ista do povo para consi consigo. go. (CAR (CARVALHO, VALHO, Henri de , A obra de Ernesto Nazareth: Síntese da particularidade histórica e da música brasileiras, Projeto História nº 43. Dezembro de 2011 , página 93) Independente dessa discussão, Odeon figura no imaginário coletivo sendo um dos choros mais conhecidos do Brasil e do mundo, ao lado de Apanhei-te, cavaquinho e Brejeiro. [...] Não existiu uma relação direta entre Nazareth e o mundo dos livros, no sentido de que, como em outros compositores, a literatura poderia ser um campo de criação artística estimulante ou “inspiradora” para a criação musical. “Nazareth estava muito longe do interesse e do círculo literário. Aqui

acontece o contrário. Machado de Assis demonstrou um olhar muito perspicaz sobre a música do período. Como ninguém, captou e comentou, entre outras coisas, o processo histórico de formação dos gêneros da música popular urbana sob o signo da figura rítmica da síncopa (em algumas crônicas)”.O escritor também teria tocado no tema da singularidade musical brasileira em transitar pelos chamados espaços do “erudito” e do “popular”, ao dramatizar no conto “Um homem célebre” a angústia de um compositor de

sucesso popular que queria o reconhecimento do universo erudito. Cacá Apostila de Análise de Obras do PAS 2  – 2017

 

 

Machado observa que, do mesmo modo que Pestana, o personagem do conto, Nazareth viveu esse dilema como angústia pessoal e como realização musical em seus tangos. “Nesse sentido, foi a literatura que deu a chave interpretativa interpretati va de uma questão musical e histórica: a formação dos gêneros de música urbana e as questões musicais e estéticas envolvidas nisso”.

(JÚNIOR, Gonçalo , Entre os dois corações e mundo - Revista R evista Fapesp 2005).

Gênero e estrutura: Odeon sintetiza esse espírito da música de choro, pertencendo a uma série de quase cem tangos brasileiros, sendo uma obra prima no Gênero e uma das inúmeras peças de Nazareth em que melodia harmonia e ritmo se entrosam de maneira quase espontânea, com refinamento de expressão, como opina o musicólogo Aloysio de Alencar Pinto. Enquanto a mão esquerda executa a melodia engenhosa engenhosamente mente elaborada, a mão direita pontua os acordes. A característica melódica do baixo no choro é um fator de distinção deste gênero musical frente a outros. A peça é formada por 3 seções s eções diferentes (A,B,C) estruturadas estruturadas na forma rondó, que nessa peça se encontra como A,B,A,C,A,B,A. Essa forma é muito comum na música erudita européia. Osvaldo Lacerda, um grande compositor brasileiro, afirma que Nazareth teria feito o mesmo que o compositor Chopin fez com as danças populares da Polônia, elevando a um grande nível de arte. A música de Ernesto representa o choro e as influências europeias na música brasileira. Odeon apresenta influências influênci as da polca e também mistura elementos da cultura local, valorizando a cultura nacional. “E o tempo teima em provar que ele escolheu o caminho certo. Virou um homem célebre.” - Gonçalo

Júnior ( Revista Fapesp , Edição 117 - 2005)

Matriz de Objetos de d e Avaliação O ser humano como um ser que pergunta e quer saber: A Arte como um campo específico do saber ou saber fazer, sujeito às suas próprias regras e delimitações, delineia-se e cresce com a participação de sujeitos especializados, os artistas, assim reconhecidos. De certa forma, “saber”, em música, na tradição europeia, está fortemente ligado a saber/conhecer essas regras e delimitações, nomeá-las e saber aplicá-las. Conforme essa tradição, há duas dimensões bem bem delimitadas: a teoria e a práti prática. ca. (Página 6, segundo parágr parágrafo) afo) Indivíduo, cultura e mudança social:

Apostila de Análise de Obras do PAS 2  – 2017

 

 

Os contos de

Machado

de

Assis são

fontes importantes para

se

entender as

relações entre história e ficção e a descri descrição ção de uma sociedade marcada por desigualdad desigualdades es sociais e em plena

transformaçã transformação. o. A

música

como

profissão é,

para

muitos músicos,

compositores compositores e

intérpretes, uma possibilidade de mobilidade social que, em algumas situações, promove a mobilidade entre classes, como como foi o caso de Carlos Carlos Gomes, no século XIX, e Michael Michael Jackson, no séc século ulo XX. Machado dedica-se ao tema no conto Um homem célebre. A personagem central, o compositor Pestana, na sociedade carioca de final do século XIX, fazia sucesso com a música da “moda”, a polca. Na

representação individual de Pestana, fazer sucesso com polcas (música dançante) era muito ruim, pois o seu ideal de composição eram os “clássicos” europeus. Por certo, é possível encontrar aí relações conflituosas entre indivíduo, cultura e mudança social, sob a tensão entre a construção da identidade nacional versus a influência europeia. A polca, no Brasil do século XIX, apesar de identificada à cultura europeia, tinha certa proximidade de códigos, símbolos e representações com a música que era associada às classes populares, preferida da população pobre e marginalizada da capital federal de então. A música Odeon, de Ernesto Nazareth, é representativa do gênero choro e das influências europeias na música brasileira, e também possui proximidades de códigos com o maxixe, ou o que era chamado à época, tango brasileiro, o ritmo sincopado, dançante, que veio então, originar o que chamamos de choro brasileiro. O choro era entendido, antes de ser identificado como um gênero musical, como a forma de se tocar o repertório eur opeu, opeu, um jeito “chorado”. ( Página 12, primeiro e segundo parágrafos) A formação do mundo ocidental contemporâneo: contemporâneo: Ainda no século XIX, destaca-se o surgimento da música popular urbana, relacionado ao desenvolvimento dos centros urbanos. Odeon, de Ernesto Nazareth, traz influências da polca (Europa), mas também mistura elementos das tradições populares de negros e imigrantes que produzi produziam am música no Rio de Janeiro, como choro ou maxixe. (Página 31, segundo parágrafo) Materiais: A diversidade

de

timbres

relaciona-se

tanto

com

os

materiais

físicos

quanto

com a forma como esses são utilizados. Ao longo do tempo, materiais e o seu emprego nas fontes sonoras têm definido diferentes tipos de criação e interpretação musical, como podemos observar nas músicas de distintos tempos e espaços como Prelúdio e Fuga nº1 em Dó Maior BWV 846 do Livro 1 do Cravo Bem Temperado Temperado de J.S.Bach, a 5ª Si Sinfonia nfonia de Beethoven (Op.67), Odeon, Terceira Pessoa do do Plural, Santuário, Tribunal do Feicebuque. (Página 45, quinto parágrafo)

Apostila de Análise de Obras do PAS 2  – 2017

 

 

Questões: 1. Odeon, de Ernesto Nazareth, foi composta

3. Na música Odeon a melodia se encontra no

para a trilha sonora de telenovela de grande

baixo, sendo executada pela mão esquerda,

sucesso nos anos 1990.

enquanto a mão direita apenas complementa

Subprograma 2013  –  Segunda Etapa Caderno: GAUGUIN

com acordes.

Página 4, questão 24

Questão inédita - Tudo sobre o PAS UnB 2017

2. A música Odeon, de Ernesto Nazareth, traz

4. Música europeia ou originalmente brasileira?

influências orientais e mistura elementos das

Música “do povo” ou da “elite”? Discorra sobre

tradições indígenas.

as influências nas obras de Ernesto Nazareth.

Questão inédita - Tudo sobre o PAS UnB 2017

(Mínimo 5 linhas) Questão inédita - Tudo sobre o PAS UnB 2017

Fontes: http://ernestonazareth150anos.c http://ernestonazar eth150anos.com.br/Chapters/i om.br/Chapters/index/15 ndex/15 - Acesso em 15/3/2017 http://ludovica.opopular.com.br/bl http://ludovica.op opular.com.br/blogs/papo-musical ogs/papo-musical/papo-musical /papo-musical-1.862967/ernesto-1.862967/ernesto-nazareth-erudi nazareth-erudito-outo-oupopular-1.953929 - Acesso em 15/3/2017 http://www.cespe.unb.br/pas/arquivos/pa http://www.cespe.unb.br/p as/arquivos/pas_2017/Mat s_2017/Matriz%20de%20Obj riz%20de%20Objeto%20de%20Avali eto%20de%20Avalia%C3%A7%C3 a%C3%A7%C3 %A3o%20do%20PAS-%20Segunda%20Etapa.pdf-- Acesso em 15/3/2017 %A3o%20do%20PAS-%20Segunda%20Etapa.pdf http://revistapesquisa.fapesp.br/20 http://revistapesq uisa.fapesp.br/2005/11/01/entre-doi 05/11/01/entre-dois-coracoes-e-mun s-coracoes-e-mundos/ dos/ - Acesso em 15/3/2017 CARVALHO, Henri de , A obra de Ernesto Nazareth: Síntese da particulari particularidade dade histórica e da música brasileiras, Projeto História nº 43. Dezembro de 2011 NUNES, Alvimar Liberato, Raphael Rabello e Odeon de Ernesto Nazareth: Interpretação, arranjo e improvisação, Belo Horizonte, 2017 (http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bi (http://www.bibliotecadi gital.ufmg.br/dspace/bitstream/handl tstream/handle/1843/AAGS8SFP62/ e/1843/AAGS8SFP62/alvimar_li alvimar_liberato_nunes_ berato_nunes_ disserta__o_mestrado.pdf?sequence=1) disserta__o_mestrado.pdf?sequence=1)  - Acesso em 15/3/2017

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Gabaritos Ga baritos e justif icativas 1- E. Justificativa: A obra foi composta em

2- E. Justificativa: A obra não sofreu influências

homenagem

orientais ou indígenas, mas sim influências

aos

proprietários

da

empresa

Zambelli & Cia, empresa proprietária do cinema Odeon, onde Nazareth trabalhava.

européias e das tradições populares populares dos negros. 3- C. Justificativa: A mão esquerda executa a melodia enquanto a mão direita pontua acordes.

Escute a música na versão instrumental para piano. A leitura por si só não é suficiente para entender a obra. Preste bastante atenção na estrutura da música, já detalhada acima. Onde se inicia uma nova seção? Há retorno para alguma das seções? O que é repetição e o que é novo? Se preferir acompanhe a versão da cantora Nara Leão para tentar compreender as seções. Não deixe de escutar e comparar com a versão instrumental. instrumental.

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