Pratt (2013) Utopias Linguísticas

June 10, 2019 | Author: Eduardo Espíndola | Category: Linguistics, Sociology, Communication, Cognition, Psicologia e ciência cognitiva
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Resumo texto da Pratt...

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PRATT, M. L. Utopias Linguísticas. Trad. André do Nascimento e Joana Plaza Pinto. Trab. Trab. Ling. Lin g. Aplic., num. 5, !ol. ., "ampinas, #ul.$dez. %&', p. (')*(5+ 0. Introdução•



 artigo trata criticamente do conceito de /comunidade linguística0 em di1erentes a2ordagens dos estudos da linguagem, propondo uma mudan3a de a2ordagem  para os estudos da linguagem, de1ende o 1im das utopias linguísticas e o recon4ecimento urgente de uma linguística do contato. A autora inicia seu teto comentando da cerim6nia de inaugura37o da 8st9tua da Li2erdade, na :ual integrantes da Associa37o pelo ;u1r9gio das Mul4eres da "idade de No!a linguística da comunidade?, uma >dimens7o ut=pica compartil4ada por 2oa parte da linguística moderna, incluindo o :ue @s !ezes é c4amado de suas !ertentes /críticas0?. ('+Pratt cita o tra2al4o de enedict Anderson &+B'-, :ue diz :ue comunidades 4umanas eistem como entidades imaginadas. Anderson tam2ém discorre so2re a comunidade imaginada moderna >8stado* na37o?, propondo ' aspectos :ue a caracterizamC o Limitada por 1ronteiras 1initas, em2ora 1leí!eisD ;o2eranaD o o pro1unda nda camara camaradag dagem em 4orizo 4orizonta ntal?, l?, >1raternidade? a generi1ica37o do termo tam2ém é rele!ante-.

a na37o*comunidade é corpori1icada metonimicamente na pessoa 1inita, so2erana e 1raterna do cidad7o*soldado. ('+•

Anderson argumenta :ue o principal instrumento :ue possi2ilitou os pro#etos  2urgueses  2urgueses de constru37o da na37o 1oi o capitalismo editorial, criando redes elitistas in!isí!eis :ue constituíam a si mesmas e @:uelas$es a :uem domina!am na3Ees.

Anderson n7o ressalta esse ponto, mas as trFs características :ue menciona G limita37o, so2erania e comunidade G tornam claro :ue o >estilo de imaginar? das na3Ees modernas é 1ortemente ut=pico. Higo isso tanto no sentido estrito de :ue s7o imaginadas como il4as, como entidades sociais discretas e so2eranas, como no sentido mais geral de :ue a !ers7o !ers7o imagin imaginada ada é uma ideali idealiza za37o 37o,, corpo corpori1 ri1ica icando ndo !alore !aloress como como 1rater 1raternid nidade ade,, iguald igualdade ade ou li2erd li2erdad ade, e, :ue as socied sociedade adess pro1es pro1essam sam,, mas, mas, como como ressal ressalta! ta!am am as su1ragistas, 1al4aram completamente em realizar. ((%•

Argumenta a autora ent7o :ue o prot=tipo da na37o moderna est9 im2uído no comunidad dadee de fala fala, a :ual o2#e o2#eto to de estu estudo do imag imagin inad adoo da ling linguí uíst stic ica, a, a comuni  pressupEe os os ide9rios de 1raternidade 1raternidade limitada, so2erana so2erana e 4orizontal.

Muitas$os críticas$os tFm ressaltado a 1orma como nossa linguística moderna da língua, do c=digo e da competFncia postula um mundo social uni1icado e 4omogFneo no :ual a língua eiste como um patrim6nio compartil4ado G mais precisamente, como um dispositi!o para imaginar comunidade. ((%•

A autora d9 o eemplo do diagrama de ;aussure para ilustrar o prot=tipo construído de língua como /1ala 1ace*a*1ace de indi!íduos 1alantes nati!os adultos em situa3Ees monolíngues0.

8ssa é a situa37o em :ue os dados s7o sentidos como >mais puros?, na :ual !ocF  pode !er mais claramente os 1undamentos de como a língua 1unciona, com a mínima distor37o, in1elicidade ou *>ruído?. ((%*((&•



Pratt de1ende uma teoria linguística com outros interesses e outras situa3Ees de 1ala, como em uma sala c4eia de pessoas em :ue cada uma 1alasse duas línguas e compreendesse uma terceira Isitua3Ees de transidioma. A autora critica a teoria 4omogenei1icante de "4omsK e suas no3Ees de ram9tica Uni!ersal e 1alante ideal. Hiz :ue >8m2ora o 1alante ideal se#a uma a2stra37o, isso ele- n7o pode em princípio ser caracterizado ou mesmo conce2ido em um estilo socialmente neutro. ...- A distncia entre langue e  parole, competFncia e desempen4o, é a distncia entre a 4omogeneidade da comunidade imaginada e a realidade 1raturada da eperiFncia linguística nas sociedades estrati1icadas modernas. ((&-

2. “Comunidade” em discurso •

A1irma Pratt :ue até a pragm9tica e teorias do discurso muitas !ezes estudam a língua com 2ase na no37o de comunidade imaginada, com os mesmos preceitos de >camaradagem pro1unda e 4orizontal?.

Hesordens como os 2arcos c4eios de su1ragistas- s7o :uase automaticamente !istas como 1al4as ou desarran#os :ue n7o de!em ser le!ados em considera37o dentro do sistema. Modelos en!ol!endo #ogos e #ogadas s7o 1re:uentemente usados para descre!er  a intera37o e preser!am o sentido de op3Ees 1initas, a presen3a de 1ronteiras, regras compartil4adas entre #ogadores iguais. Apesar de :uais:uer di1eren3as sociais :ue  possam estar em 1uncionamento, é suposto :ue todas$os as$os participantes est7o enga#adas$os no mesmo #ogo e :ue o #ogo é o mesmo para todas$os as$os #ogadoras$es. ((•



 No #ogo discursi!o, somente é considerado a:uilo :ue é tido como >legítimo?, >autFntico?, isto é, !isto em posi37o de autoridade em um >grupo?. eralmente, as di1erentes posi3Ees e 4ierar:uias sociais- eistentes entre os participantes de uma intera37o !er2al s7o desconsideradas. Para criticar a2ordagens descriti!as de língua :ue pressupEem uma comunidade de 1ala 4omogFnea, a autora usa o eemplo de uma intera37o em sala de aula :ue 1oca somente nos interesses e re1leEes do pro1essor, e desconsidera os inOmeros :uestionamentos :ue podem ser 1eitos dessas situa3EesC >ual é o signi1icado social do minimalismo das respostas em compara37o com as :uestEesQ "omo o aluno est9 se apropriando da língua da$o pro1essora$or e se distanciando delaQ



"omo seu discurso é generi1icadoQ "omo ele est9 se posicionando na ordem social 2aseada no /alunar0Q? (('A autora cita um tra2al4o de Aaron "icourel &+B- no :ual uma mul4er  epressa ceticismo ao se su2meter ao tratamento ginecol=gico proposto pelo médico.  linguista !F tal comportamento como anormal, pois >normalmente, a  paciente seguiria os o2#eti!os tacitamente acordados da con!ersa37o su2meter* se a uma entre!ista ou eame médico-, e acreditaria nos atos de 1ala epressos o diagn=stico e a a37o o1erecida pelo médico-? (((-. u se#a, a autoridade médica é tida como dada e a discordncia da paciente 1rente ao diagn=stico é considerada uma anomalia. A considera37o linguística recai sempre so2re a:uele colocado discursi!amente em posi37o de poder  superior  aos outros participantes da intera37o.

A di1iculdade entre a paciente e o médico é caracterizada como um con1lito entre as >cren3as? da mul4er e o >con4ecimento 1actual? do médico. A mul4er é !ista como continuamente incapaz ou sem !ontade de >re!isar suas cren3as? @ luz da in1orma37o :ue l4e é dada pelo médico, uma recalcitrncia é atri2uída a certas >preocupa3Ees carregadas de emo3Ees? :ue ela tem a respeito da :ualidade ou con1ian3a no cuidado médico, e a certas >eperiFncias? :ue ela so1reu. Por conseguinte, dois !oca2ul9rios n7o intercam2i9!eis constroem a an9liseC o médico tem conhecimento na 1orma de  fatos e informaçãoD a paciente tem crenças ancoradas na emoção e na experiência. (((- Ina situa37o descrita, o médico é um >4omem? e a paciente, uma >mul4er?. "oincidFnciaQ  3. “Comunidade” como maco

a linguística da comunidade tem sido tam2ém um pro#eto androcFntrico, relutante em a2ordar as di1erencia3Ees linguísticas segundo modelos de gFnero. o sistema normal? e >a comunica37o direta?. ...- "omo imaginada pela gram9tica 1ormal e sistFmica, parece 1re:uentemente ser uma 1raternidade de acadFmicos ou  2urocratas, ou tal!ez de m9:uinas 1alantes 1alando o discurso !erdadeiro*1also da ciFncia ou a língua da racionalidade administrati!a. ((!. Comunidade"subutopia



Pratt passa a discorrer so2re as ideologias linguísticas da ;ociolinguística com suas no3Ees de estilo$registro. Por mais :ue tal a2ordagem tente contornar a 4omogeneiza37o$normaliza37o da gram9tica 1ormal e da an9lise do discurso, seus conceitos con!encionais ainda operam com um ideal uni1icante de comunidade linguística.

8stilos, registros e !ariedades s7o tipicamente tratados n7o como lin4as :ue di!idem a comunidade, mas como propriedade compartil4ada, um repert=rio comunal :ue  pertence a todas$os e :ue todas$os 2uscam usar de 1ormas apropriadas e ordenadamente. A:ui, no!amente, recon4ece*se o impulso para uni1icar e 4armonizar o mundo social, o mesmo impulso em 1uncionamento nos eemplos da an9lise do discurso discutidos anteriormente. (()•

"ita o tra2al4o de La2o! &+B- e seu conceito de linguagem da mul4eres? 2uscam criar uma >linguística de su2comunidades?.

"onsiderados como pr9tica crítica G como linguística crítica no sentido dado por Roger  oler e seus coautores VL8R et al, &+)+- G os tra2al4os desse tipo podem ser  etraordinariamente empoderadores. He 1ato, desa1iam a 1or3a normati!a da gram9tica  padr7o, insistindo na 4eterogeneidade, na eistFncia e legitimidade de estilos de !ida outros :ue n7o a:ueles dos grupos dominantes. Hesse modo, participam diretamente, como 1az o tra2al4o de muitas$os linguistas pes:uisando so2re linguagem de grupos marginais ou estigmatizados, so2re a emancipa37o social e política desses grupos.  :ue a a2ordagem da >su2comunidade? n7o 1az, porém, é !er a$o dominada$o e a$o dominante nas suas rela3Ees umas$uns com as$os outras$os G essa é a limita37o imposta  por imagina3Ees de comunidade. A linguística da comunidade tende a interpretar  di!isEes sociais um pouco como a linguística do século Wlinguística crítica? VL8R et al, &+)+-, o pro#eto é produzir con4ecimento crítico so2re os 1uncionamentos da domina37o e da desumaniza37o, de um lado, e das  pr9ticas igualit9rias e de mel4oria de !ida, de outro. (5'a utopia tem um lugar nesses pro#etos críticos. Ao mesmo tempo, gostar*se*ia de e!itar, no caso de uma linguística do contato, um impulso ut=pico de mostrar alegremente toda a 4umanidade em contato tolerante e 4armonioso atra!és de todas as lin4as de di1eren3a, ou um impulso dist=pico de lamentar um mundo 4omogeneizado pela mídia ocidental ou dirigido somente por mal*entendidos ou m9s inten3Ees. (5'*(5(•

A autora sinaliza :ue muitas pessoas #9 est7o desen!ol!endo esse tipo de tra2al4o >4ipotético?, e traz alguns eemplos dessa >linguística do contato?C Ié not9!el, nos eemplos trazidos por Pratt, o interesse em pr9ticas  situadas de contato linguístico, ao in!és de pr9ticas generalizantes de usos de recursos linguísticos

 No caso da escrita, uma linguística do contato se interessar9 pelas condi3Ees em :ue a literatura é ensinada, por :uem, atra!és de :uais institui3Ees, :uais tetos, e em :ual língua. (5(o mundo de ninguém ser9 considerado linguística ou su2#eti!amente 4omogFneo, nem mesmo o da classe dominante. uando !isto como um lugar de reprodu37o social e luta, a língua n7o pode ser imaginada como uni1icada. (55uma linguística do contato tomaria por certo o muito de2atido desli(e dos signi*icantes , e 1icaria muito mais preocupada, como estudiosas$os de línguas de contato s7o, com as dimenses impro$isadas da construção do signi*icado  (55, gri1os meusHe igual signi1icado para uma linguística do contato é o 1en6meno imensamente espal4ado do 2ilinguismo, menos como um atri2uto de um$a 1alante do :ue como uma zona para ela2orar os signi1icados sociais e encenar as di1eren3as sociais. (55Para uma linguística do contato, é de grande interesse :ue pessoas possam geralmente entender muito mais !ariedades de discurso ou mesmo de línguas do :ue elas podem  produzir ou entendF*las mel4or do :ue elas podem produzi*las. (5"omo se estuda a !aria2ilidade interna da recep37o, o 1ato, por eemplo, de :ue mul4eres e 4omens aprendem a escutar di1erentemente, com mul4eres altamente treinadas a segundas inten3Ees, a ol4ar para su2tetos emocionais :ue di!ulgariam a necessidade n7o dita a ser satis1eita, o dese#o a ser preenc4idoQ (5Um 1en6meno relacionado é a emergFncia atual das culturas acadFmicas e liter9rias transnacionais :ue podem :uase instantaneamente trazer arcía M9r:uez, ou o p=s* modernismo, ou a linguística da escrita, @s 2ocas das pessoas em todo o planeta. Tais culturas deram origem a elites acadFmicas e liter9rias glo2ais, :ue, para retornar aos termos de enedict Anderson, pro!a!elmente precisam ser imaginadas em um estilo  2em di1erente da 1raternidade so2erana e 4orizontal da comunidade. (5- Ipor mais :ue esse 1en6meno n7o é >4omogFneo?, 49 de se considerar o processo de 4omogeneiza37o$commodi1ica37o acadFmica a partir de teorias europeias$estadunidenses, geralmente escritas em língua inglesa e di1undidas escalarmente para todo o mundo acadFmico •

A autora traz eemplos de tetos$1ilmes :ue de!em ser pensados a partir de no3Ees n7o 4omogeneizantes de língua e cultura, e concluiC

Mesmo :ue dignit9rios nacionais se #untem em torno de suas est9tuas e 1alem atra!és das ondas em línguas nacionais para imaginar 1raternidades nacionais, tetos est7o aparecendo em seu pr=prio meio, o :ue de!e con1undi*los. ...- Tais no!as 1ormas, no!os desa1ios para o entendimento linguístico, cultural e crítico, !7o continuar a aparecer e a con!ocar nossas capacidades como linguística e crítica. Tais desa1ios somente podem ser ignorados ou misti1icados por uma linguística da comunidade, cu#a !is7o de linguagem est9 ancorada numa !is7o normati!a de um mundo social uni1icado e 4omogFneo. \ di1ícil a2andonar o enorme con1orto mental dessa !is7o. Mas !ale a  pena desistir, na esperan3a de gan4ar uma linguística e uma crítica cu#o enga#amento com o mundo social n7o se#a restrito @ utopia. (5)-

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