PORTUGUÊS

February 24, 2019 | Author: Erick Douglas | Category: Romanticism, Renaissance, Languages, Arts (General), Ciência
Share Embed Donate


Short Description

Português para enem...

Description

W

W

W

.

G

U

I

A

D

O

E

S

T

U

D

A

N

T

E

 VESTIB  VES TIBU UL AR AR+ +ENEM 

.

C

O

M

.

B

R

2017

 AU LA S SO BR E OS TE MA S QU E MA IS CA EM NA S PR OV AS

português

Fundada em 1950

VICTOR CIVITA (1907-1990)

ROBERTO CIVITA

(1936-2013)

Conselho Editorial: Victor Civita Neto (Presidente), Thomaz Souto Côrrea (Vice-Presidente), Alecsandra Zapparoli, Eurípedes Alcântara, Giancarlo Civita e José Roberto Guzzo Presidente do Grupo Abril: Walter Longo Diretor de Operações: Fábio Petrossi Gallo DiretorComercial: Rogério Gabriel Comprido Diretor de Planejamento, Controle e Operações: Edilson Soares  Andrea Abelleira Diretora de Serviços de Marketing: Andrea Diretor de Tecnologia: Tecnologia: Carlos Sangiorgio Diretor de Vendas para Audiência: Dimas Mietto Diretora de Conteúdo: Alecsandra Zapparolli

Diretor Editorial - Estilo de Vida: Sérgio Gwercman Diretor de Redação: Fabio Volpe Diretor de Arte: Fábio Bosquê Editores: Ana Prado, Fábio Akio Sasaki, Lisandra Matias, Paulo Montoia Repórter: Ana Repórter: Ana Lourenço Analista de Informações Gerenciais: Simone Chaves de Toledo Analista de Informações Gerenciais Jr.: Maria Fernanda Teperdgian Designers: Dânue Falcão, Vitor Inoue Estagiários: Guilherme Eler, Paula Lepinski, Sophia Kraenkel Atendimento ao Leitor:  Carolina Garofalo, Sandra Hadich, Sonia Santos, Walkiria Giorgino CTI Eduardo Blanco (Supervisor) PRODUTO DIGITAL Gerente de Negócios Digitais: Marianne Nishihata Gerentes de Produto: Pedro Moreno e Renata Gomes de Aguiar Analistas de Produto: Elaine Cristina dos Santos e Leonam Bernardo Designers: Danilo Braga, Juliana Moreira, Simone Yamamoto Animação:  Felipe Thiroux Estagiário: Daniel  Daniel Ito Desenvolvimento: Anderson Renato Poli, Cah Felix, Denis V Russo, Eduardo Borges Ferreira, Elton Prado.Estagiário: Vinicius Arruda COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Consultoria e textos:  João Jonas Veiga Sobral e Vicente Castro Pereira Edição: Yuri Vasconcelos Pesquisa: Thaís Matos Pinheiro Arte: 45 Jujubas (capa) e Tereza Bettinardi (ilustrações) Revisão: José Vicente Bernardo

www.guiadoestudante.com.br GE PORTUGUÊS 2017 ed.7 (ISBN �����������������) é uma publicação da Editora Abril. Distribuída em todo o país pela Dinap S.A. Distribuidora Nacional de Publicações, São Paulo.

IMPRESSA NA GRÁFICA ABRIL Av. Otaviano Alves de Lima, 4400, CEP 02909-900 – Freguesia do Ó – São Paulo – SP

APRESENTAÇÃO

Um plano para os seus estudos Este GUIA DO ESTUDANTE PORTUGUÊS oferece uma ajuda e tanto para as provas, mas é claro que um único guia não abrange toda a preparação necessária para o Enem e os demais vestibulares.

É por isso que o GUIA DO ESTUDANTE tem uma série de publicações

que, juntas, fornecem um material completo para um ótimo plano de estudos. O roteiro a seguir é uma sugestão de como você pode tirar melhor proveito de nossos guias, seguindo uma trilha segura para o sucesso nas provas.



Decida o que vai prestar 

O primeiro passo para todo vestibulando é escolher com clareza

a carreira e a universidade onde pretende estudar. Conhecendo o grau de dificuldade do processo seletivo e as matérias que têm peso maior na hora da prova, fica bem mais fácil planejar os seus estudos para obter bons resultados. COMO O GE GE PODE  PODE AJUDAR VOCÊ  O GE PROFISSÕES traz todos os cursos superiores existentes no Brasil, explica em detalhes as características de mais de 260 carreiras e ainda indica as instituições instituições que oferecem os cursos de melhor qualidade, de acordo com o ranking de estrelas do GUIA DO ESTUDANTE e com a avaliação oficial do MEC. 

CAPA: 45 JUJUBAS

CALENDÁRIO GE GE 2016  2016  Veja  Veja quando são lançadas as nossas publicações MÊS

PUBLICAÇÃO

Janeiro



Revise as matérias-chave

Fevereiro

GE HISTÓRIA

Março

GE ATUALIDADES 1

Para começar os estudos, nada melhor do que revisar os pontos mais importantes das principais matérias do Ensino Médio. Você

Abril

pode repassar todas as matérias ou focar apenas em algumas delas. Além de rever os conteúdos, é fundamental fazer muito exercício para praticar.

Maio Junho

 COMO O GE GE PODE  PODE AJUDAR VOCÊ  Além do GE PORTUGUÊS, que você  já tem em em mãos, produzimos produzimos um guia para cada cada matéria matéria do Ensino Ensino Médio: GE HISTÓRIA , Geografia , Redação, Matemática, Biologia, Química e Física. Todos reúnem os temas que mais caem nas provas, trazem muitas questões de vestibulares para fazer e têm uma linguagem fácil de entender, permitindo que você estude sozinho.

�  Mantenha-se atualizado O passo final é reforçar os estudos sobre atualidades, pois as provas exigem alunos cada vez mais antenados com os principais fatos que ocorrem no Brasil e no mundo. Além disso, é preciso conhecer em detalhes o seu processo seletivo – o Enem, por exemplo, é bem diferente dos demais vestibulares.

GE GEOGRAFIA GE QUÍMICA GE PORTUGUÊS GE BIOLOGIA GE ENEM GE FUVEST

Julho

GE REDAÇÃO

Agosto

GE ATUALIDADES 2 GE MATEMÁTICA GE FÍSICA GE PROFISSÕES

Setembro Outubro Novembro Dezembro

Os guias ficam um ano nas bancas – com exceção do ATUALIDADES, que é semestral. Você  Você pode comprá-los comprá-los também nas lojas on-line das livrarias Saraiva Saraiva e Cultura.

 COMO O GE GE PODE  PODE AJUDAR VOCÊ  O GE Enem e o GE Fuvest são verda-

deiros “manuais de instrução”, que mantêm você atualizado sobre todos os segredos dos dois maiores vestibulares do país. Com duas edições no ano, o GE ATUALIDADES traz fatos do noticiário que podem cair nas próximas provas – e com explicações claras, para quem não tem o costume de ler jornais nem revistas.

FALE COM A GENTE:

Av. das Nações Unidas, 7221, 18º andar, andar, CEP 05425-902, São Paulo/SP, ou email para: [email protected]

GE PORTUGUÊS ����

5

CARTA AO LEITOR

� EM CADA ��

APROVADOS NA USP USARAM

SELO DE QUALIDADE GUIA DO ESTUDANTE

Universos paralelos

A

nos atrás, uma proposta de redação do Enem trazia o seguinte excerto, retirado de um site da internet: “Existem inúmeros universos coexistindo com o nosso, neste exato instante, e todos bem perto de nós. (...) Eles guardam surpresas incríveis e inimagináveis! Viajamos instantaneamente aos mais remotos pontos da Terra (...); ficamos sabendo os segredos mais ocultos de vidas humanas e da natureza; (...) conhecemos civilizações desaparecidas e outras que nunca foram vistas por olhos humanos. (...)” Ele se referia às infinitas possibilidades de conhecimento que a leitura nos proporciona. E você sabe sabe que, quanto mais lemos, mais conseguimos compreender o mundo. E, como uma coisa leva à outra e vice-versa, quanto mais conseguimos decifrar a realidade, melhor é nossa competência leitora – habilidade não só necessária para estar no mundo como também para enfrentar qualquer vestibular – principalmente a prova de português. Nesse sentido, este GUIA DO ESTUDANTE PORTUGUÊS VESTIBULAR + ENEM 2017 se propõe a auxiliá-lo na leitura e na interpretação de textos literários e não literários e no reconhecimento das relações estabelecidas entre textos de diferentes gêneros, como reportagens, tirinhas, canções

e até imagens. Tudo isso permeado pela apresentação de alguns dos principais conteúdos gramaticais, exatamente da maneira como caem nas provas. Além de ajudar no vestibular, esperamos que esta edição seja um estímulo para você se aprofundar na busca do sentido das obras aqui comentadas e de outras para que possa conhecer e descobrir muitos universos. Boa sorte e um abraço,  Lisandra Matias, Matias, editora – [email protected] 6

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

O selo de qualidade acima é resultado de uma pesquisa realizada com 351 estudantes aprovados em três dos principais cursos da Universidade de São Paulo no vestibular 2015. São eles: DIREITO, DA FACULDADE DO LARGO SÃO FRANCISCO � � ENGENHARIA, DA ESCOLA POLITÉCNICA � e � MEDICINA, DA FACULDADE DE MEDICINA DA USP �



8 em cada 10 entrevistados na pesqu isa usara m algum algum conteúd conteúdo o do GUIA DO ESTUDANTE durante sua preparação para o vestibular

  Entre

os que utilizaram versões impressas do GUIA DO ESTUDANTE: 88% dis 88%  dis seram que os guias guias ajudaram na preparação. 97%  recomendaram os guias para outros estudantes.

TESTADO E APROVADO APROVADO � A pesquisa quantitativa por meio de entrevista pessoal foi realizada nos dias 11 e 12 de fevereiro de 2015, nos campi de matrícula dos cursos de Direito, Medicina e Engenharia da Universidade de São Paulo (USP).

Universo total de estudantes aprovados nesses cursos: 1.725 alunos. � Amostra utilizada na pesquisa: 351 entrevistados. � Margem de erro amostral: 4,7 pontos percentuais. �

SUMÁRIO

�� � r �  � o  S �� 

LITERATURA LITERATURA DO REALISMO/NATURALISMO REALISMO/NATURALISMO

Português VESTIBULAR + ENEM 2017

62 64 66 72

ÍNDICE REMISSIVO

8

74

Diferenças de classe em foco O filme Que Horas Ela Volta? expõe a tensa e frágil relação entre patrões e empregadas domésticas no país Interpretando Como identificar a ironia em um texto Realismo Em oposição à subjetividade e às idealizações, Machado de Assis e Eça de Queirós fazem um retrato crítico do seu tempo Naturalismo Impulsionado Naturalismo Impulsionado pelo progresso das ciências, os autores se centram nas descrições minuciosas e nos relatos quase científicos Como cai na prova + Resumo Questões comentadas e síntese do capítulo

Lista, em ordem alfabética, dos assuntos abordados neste guia COMO USAR

9

LITERATURA DO PRÉ �MODERNISMO

Veja como a publicação está organizada para achar o que procura 76 LINHA DO TEMPO

10

As principais escolas literárias, do século XII ao XX

78 80 84

LITERATURA LITERATURA MEDIEVAL E RENASCENTISTA

12 14 16 18 22 28

O aborto em discussão Crescimento dos casos de microcefalia no país, ligados ao zika vírus, recoloca a polêmica questão no centro do debate Interpretando Conheça as principais funções da linguagem Trovadorismo Os primeiros registros literários em língua portuguesa Humanismo Gil Vicente e a crítica social do fim da Idade Média Classicismo A valorização do homem e da razão na obra de Camões Como cai na prova + Resumo Questões comentadas e síntese do capítulo

86 88

Quando a cor incomoda Manifestações de racismo na internet e fora dela mostram que a discriminação discriminação racial ainda é uma realidade Interpretando Os tipos de texto: narração, descrição e dissertação Pré-Modernismo Na passagem do século XIX para o XX, o debate sobre os problemas do país faz surgir um nacionalismo crítico Parnasianismo Construções sofisticadas e vocabulário rebuscado demonstram a busca pela forma perfeita do verso Simbolismo A crítica à aproximação da arte com a industrialização propõe uma poesia que provoque sensações e sentimentos Como cai na prova + Resumo Questões comentadas e síntese do capítulo

LITERATURA DO MODERNISMO � PROSA

90

LITERATURA COLONIAL

30 32 34 36 40 42

Conflito de ideias A polarização política gera clima de intolerância e divide opiniões no Brasil Interpretando Metáfora, antítese e outras figuras de linguagem Quinhentismo Relatos de viajantes, como a Carta de Caminha, e textos de evangelização inauguram a literatura produzida no Brasil Barroco As contradições entre razão e fé marcam a obra dos principais nomes do período, como Gregório de Matos e Padre Vieira Arcadismo Ideais libertários do Iluminismo inspiram uma produção poética que ressalta a natureza e a simplicidade Como cai na prova + Resumo Questões comentadas e síntese do capítulo

LITERATURA DO ROMANTISMO

44 46 48 54 56 60

Ameaça ao primeiro herói nacional Projeto que prevê mudança na demarcação de terras põe em alerta lideranças indígenas Interpretando Aprenda a reconhecer a intertextualidade, as relações entre os textos Romantismo – 1ª geração O Indianismo e a exaltação exaltação dos elementos nacionais nas obras de José de Alencar e Gonçalves Dias Romantismo – 2ª geração O pessimismo, a melancolia e o sofrimento marcam a produção dos autores ultrarromânticos Romantismo – 3ª geração O engajamento social e a linguagem grandiloquente de Castro Alves, o poeta dos escravos Como cai na prova + Resumo Questões comentadas e síntese do capítulo

O drama dos refugiados A refugiados A Europa torna-se o destino de milhares de pessoas que deixam sua terra natal fugindo de conflitos e perseguições perseguições 92 Interpretando Os caminhos da argumentação e da persuasão 94 Modernismo – 1ª fase A ruptura com a tradição e a afirmação de uma literatura autêntica brasileira marcam as 100 Modernismo – 2ª fase A discussão de questões sociais marcam obras dos autores do período, como Jorge Amado e Graciliano Ramos 104 Modernismo – 3ª fase A experimentação estética de Guimarães Rosa e o intimismo e a sondagem interior de Clarice Lispector 112 Como cai na prova + Resumo Questões comentadas e síntese do capítulo

LITERATURA LITERATURA DO MODERNISMO � POESIA

114 A crise chega ao divã A situação econômica e política do país tem contribuído para o aumento dos casos de depressão e ansiedade 116 Interpretando Os mecanismos de coesão e coerência 118 Modernismo em Portugal Fernando Pessoa e seus heterônimos 120 Modernismo no Brasil A obra poética de alguns dos autores modernistas mais expressivos, como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto 130 Como cai na prova + Resumo Questões comentadas e síntese do capítulo RAIO�X

132 As características dos enunciados que costumam cair nas provas do Enem e em outros processos seletivos SIMULADO

134 40 questões extraídas do Enem e dos principais vestibulares do país GE PORTUGUÊS ���� 7

ÍNDICE REMISSIVO

Lista de temas

Função poética ......................15, 110 Função referencial.................14, referencial.................14, 79 Funções da linguagem li nguagem .......... 14, 14, 15

Relação, por ordem alfabética, dos assuntos tratados neste guia: Literatura

 A

C

D

E

F

8

Gramática

Interpretação

Adjetivos .....................19, 41, 80, 83, 94, 103, 125 Advérbios ..........50, 67, 86, 118, 122 Alberto de Oliveira .................... ......................84 ..84 Aliteração..............................86, ..............................86, 125 Alphonsus de Guimaraens.........86 Guimaraens.........86 Aluísio Azevedo ........................ ...........................72 ...72 Álvares de Azevedo .............. .....................54 .......54 Almeida Garrett................... Garrett............................27 .........27 Ambiguidade .......................111, .......................111, 120 Anáfora ..................... ................................ .....................22 ..........22 Antítese...................... ......................24, 24, 32, 46, 86 Anúncio publicitário .............25, .............25, 71 Argumentação ............... ...................41, 41, 92, 93 Ariano Suassuna .......................... ..........................21 21 Artigo ...................... .................................14, ...........14, 70, 71 Aspas ........................................65, 83 Augusto dos Anjos .......................86 Carlos Drummond de Andrade ................. ................... 126, 127, 129 Casimiro de Abreu .................... ....................123 123 Castro Alves............................. ..................................56 .....56 Cecília Meireles .................124, .................124, 125 Clarice Lispector .........19, 104, 106 Coesão e coerência .......93, 116, 117 Comparação................. .........................48, ........48, 104 Concordância verbal ...................52 ...................52 Concretismo ..................... ...............................128 ..........128 Conjunções ......... ......... 15, 55, 82, 92, 111 Cruz e Sousa .................... ...............................125 ...........125 Crase...................... .................................. ....................... ............... 17

G

Hipérbole ...........15, 32, 67, 110, 116 História em quadrinhos ........17, 51 Humor .................................17, 33, 51

I

Ideologia....................... .................................. ................. ...... 18 Imagens (leitura de) ...... 19, 19, 23, 39, 53, 57, 83, 85, 87, 95, 105, 107 Intencionalidade............. Intencionalidade............... 16, 18, 86 Intertextualidade ....23, 33, 46, 47, 50, 99, 107, 129 Ironia ...20, 46, 51, 64, 65, 67, 78, 82

J

João Cabral de Melo Neto ...............103, 128, 129 Jorge Amado ...............................100 José de Alencar .........48, 49, 52, 97 José de Anchieta ................ ..........................35 ..........35 José Paulo Paes ............................ ............................ 51

L

Lima Barreto.............. ......................... ................... ........81 81 Linguagem coloquial .....18, 53, 78, 96, 100, 106, 107, 108, 120, 121 Linguagem formal ................57, ................57, 121 Luís Vaz de Camões .......22, 24, 26

M

Eça de Queirós .......................67, 70 Enumeração .......................47, 92, 126 Estereótipos..................... ................................104 ...........104 Euclides da Cunha ................80, ................80, 81 Eufemismo ........................18, 55, 69 Fernando Pessoa .................118, 119 Figuras de linguagem ...........32, ...........32, 33 Formação de palavras pa lavras..........108, 109 Função apelativa ..........15, 3377, 92, 129 Função emotiva ..........................15, 92

Gênero dramático...................... .......................... 21 Gil Vicente............... Vicente.......................... ................18, .....18, 20 Gonçalves Dias.............................50 .............................50 Graciliano Ramos ..............102, ..............102, 103 Gregório de Matos.......................38 .......................38 Guimarães Rosa .........108, 109, 110

H

Décio Pignatari ...................... ..........................128 ....128 Derivação imprópria ................. ...................72 ..72 Descrição....34, 68, 70, 78, 79, 82, 84 Diminutivo ....................... .................................. .............46 ..46 Discurso, tipos de ...........67, 70, 78, 79, 108, 110, 125 Dissertação............... Dissertação.......................... .....................79 ..........79

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

Onomatopeia ...................... ..............................109 ........109 Orações coordenadas................ .................. 83, 100, 124 Orações subordinadas adjetiva adje tivass.......................... ..................................... ...............68, ....68, 78 Osman Lins .....................................21 Oswald de Andrade ..35, 98, 99, 121

Machado de Assis ....66, 67, 68, 69, 83 Manifestos ...................... 98, 99, 120 Manuel Antônio de Almeida ....53, 58 Manuel Bandeira ....55, 85, 122, 123 Marcadores temporais e espaciais .....................68, 79, 84, 119 Mário de Andrade ........94, 96, 120 Metáfora .....17, 32, 35, 36, 47, 64, 65, 69, 78, 101, 104, 111, 118, 119, 124, 129 Metalinguagem ...............16, 23, 46, 84, 118, 128, 129 Metonímia .........69, 78, 111, 117, 127 Mia Couto............... Couto........................... ......................111 ..........111 Monteiro Lobato ................... ................... 82, 95 Murilo Mendes ............................ ............................51 51

N

Narração ..........................78, 79, 110 Neologismo ............ .................110, .....110, 120, 128

O

Olavo Bilac ....................... ..............................23, .......23, 81 Onde/aonde ....................... ..................................56 ...........56

P

Padre Antônio Vieira ..................36 Paradoxo .....................22, 32, 33, 82 Paráfrase..................... ................................ ...................47 ........47 Paralelismo .............. .............. 36, 37, 69, 122 Paródia ..................46, 47, 51, 96, 99 Pepetela .........................................49 Pero Vaz de Caminha ..................34 Persuasão..........................38, 40, 92,  93 Personificação (veja Prosopopeia) Pleonasmo...................... ................................. ............... 110 Polissemia Polissemia ...................... ............................. ....... 19, 19, 129 Pontuação ......96, 122, 123, 126, 127 Porque (grafias) .................... .................... 58, 59 Progressão textual .................... 93, 95 Pronomes demonstrativos ............54 Pronome indefinido ....................24 ....................24 Pronomes pessoais....26, pessoais....26, 37, 53, 56, 58 58 Pronomes possessivos ..24, 25, 50, 54, 67, 122, 123 Pronome relativo ......................36, 58 Prosopopeia ....32, 55, 56, 102, 104, 107, 117, 126, 127, 129

Q

Que, partícula ......................... ............................. ....128 128



Raimundo Correia.......................84 .......................84 Raul Pompeia........... Pompeia...................... ................... ........ 101 Regência verbal......................52, ......................52, 53 Relações lógicas ...........................38 ...........................38 Resenha.............. Resenha......................... ...................... .................55 ......55 Romance regionalista .................52

S

Se, funções do ..........84, 85, 86, 125 Sentido conotativo e denotativo ..................................17, 104 Sinestesia............................ ..............................118, ..118, 125 Sonoridade ................. ....................85, ...85, 123, 125 Substantivo .............................19, .............................19, 70

T

Texto Texto científico ............................57 ............................57 Tipos textuais .......... 48, 54, 54, 78, 79 Tomás Tomás Antônio Gonzaga ........... ........... 40

V

Variação linguística....................46, 51, 101, 103, 121 Verbo.............. 17, 48, 59, 68, 78, 79, 80, 81, 82, 84, 103, 104, 105, 122, 124 Vinicius de Moraes ..............25, 124 Vocativo Vocativo ...................... ................................. ................... ........ 17

COMO USAR

Entenda a organização deste guia

 Veja como estão estruturadas as seções seções de cada capítulo para encontrar encontrar a informação que você procura CAPÍTULOS Os sete capítulos deste guia estão organizados com base nos movimentos literários, mas integram conteúdos (de acordo com a seguinte legenda) de:

TEMAS Na abertura de cada capítulo encontra-se a relação dos principais assuntos tratados. No entanto, essa lista não esgota todos os temas lá abordados. Não deixe de consultar o índice remissivo para conferir todo o conteúdo da edição.

Literatura Gramática Interpretação de texto

INTERPRETANDO Nesta seção, você encontra a análise de um texto não literário sob o enfoque de uma ferramenta específica de interpretação de texto.

CONEXÕES TEXTOS LITERÁRIOS

Textos literários são relacionados a outras linguagens, como obras de arte, canções, textos não literários, anúncios publicitários, charges e quadrinhos.

As obras mais representativas dos principais autores de cada período são analisadas em seus aspectos literários, gramaticais e de interpretação de texto.

DIÁLOGO ENTRE OBRAS

ESCOLAS LITERÁRIAS

Uma análise comparativa entre textos literários de diferentes autores de um mesmo (ou de outro) movimento.

Aqui, você conhece as principais características das escolas literárias que fazem parte de cada capítulo. Note que determinados capítulos trazem mais de uma escola.

PARA IR ALÉM

SAIBA MAIS O QUE ISSO TEM A VER COM... Indicação de conteúdo interdisciplinar de língua portuguesa e de outra disciplina.

Amplie seus conhecimentos sobre um assunto que foi abordado na análise do texto (em geral, um conteúdo de gramática ou de interpretação).

Recomendação Recomendação de um filme, site, HQ ou vídeo relacionado ao conteúdo estudado, para você ampliar seus horizontes

COMO CAI NA PROVA No final de cada capítulo, exercícios resolvidos para você reforçar o que aprendeu e ver como os conteúdos são pedidos nas provas.

RESUMO Uma seleção dos principais assuntos tratados no capítulo.

GE PORTUGUÊS ����

9

6

ARCADISMO 1768-1836

Os ideais libertários do Iluminismo impulsionam uma produção poética que valoriza a harmonia do homem com a natureza e o resgate de elementos da Antiguidade clássica | Veja o

4 1

QUINHENTISMO 1500-1601

TROVADORISMO 1189-1418

2

HUMANISMO

Na época do descobrimento do Brasil, a literatura compreende a produção informativa dos cronistas e os textos catequéticos dos missionários missionários jesuítas | Veja o

1418-1527 Cantigas líricas e satíricas são as primeiras manifestações poéticas em língua portuguesa, impregnadas dos valores da Idade Média

Do teocentrismo medieval ao antropocentrismo renascentista, um rico período marcado por autos e farsas moralizantes

| Veja o capítulo Literatura Medieval | Veja o capítulo e Renascentista Literatura Medieval na pág. 16 e Renascentista na pág. 18

3

CLASSICISMO 1527-1580

capítulo Literatura Colonial na pág. 34

A valorização da cultura grecoc romana trazz nova fase de racionalismo.. O grande nome é o poeta Camões

capítulo Literatura Colonial na pág. 40 5

BARROCO 1601-1768

No contexto da Contrarreforma Católica, as ideias antagônicas, os paradoxos e as antíteses presentes nas a obras o s do movimento to revelam ve a tentativa ntat va do o homem em de conciliar e fé c c r rrazão a

���

7

ROMANTISMO 1836-1881

| Veja o capítulo ap Literatura e ur Colonial o on na pág.. 36

| Veja o capítulo t Literatura Medieval e Renascentista st na pág. 22

Subjetividade, sentimentalismo e liberdade formal são elementos centrais da literatura ligada à ascensão burguesa

| Veja o capítulo Literatura do Romantismo na pág. 48

3 2 1

  8  9    1  1

4

Nota: A partir do Quinhentismo, as datas de início e fim dos movimentos se referem ao Brasil. Antes disso, indicam o início e o fim dos períodos em Portugal.

  1  8   1 4

  0  0   1  5

  2  7   1  5

Linha do tempo 10 GE GE PORTUGUÊS  PORTUGUÊS ����

  8  0   1  5

9

10

NATURALISMO 1881-1922

8

REALISMO 1881-1922

O mundo em desencanto substitui a idealização romântica pela crença na visão racional e materialista | Veja o capítulo Literatura do Realismo/Naturalismo na pág. 66

11

PARNASIANISMO

SIMBOLISMO

1882-1922

1893-1922

A produção literária, impulsionada pelo avanço da ciência, põe o escritor como observador imparcial diante dos personagens | Veja o capítulo Literatura do Realismo/ Naturalismo na pág. 72

A exaltação da objetividade e a busca pela forma perfeita, numa reação aos excessos de forma e conteúdo do Romantismo | Veja o capítulo Literatura do Pré-Modernismo na pág. 84

13

14

MODERNISMO � �� FASE

���

MODERNISMO � �� FASE

1922-1930

1902-1922 O nacionalismo crítico e o olhar sobre os problemas sociais do Brasil unem obras de características diversas | Veja o capítulo Literatura do Pré-Modernismo na pág. 80

���

15

MODERNISMO � �� FASE

1930-1945

12

PR�MODERNISMO

A poética espiritualizada e centrada no poder da sugestão e da transcendência reage aos avanços da tecnologia | Veja o capítulo Literatura do Pré-Modernismo na pág. 86

A partir de 1945 A geração de 30 busca expor as múltiplas faces que compõem o painel da população brasileira, numa literatura engajada e regionalista | Veja os capítulos Literatura do Modernismo – Prosa e Literatura do Modernismo – Poesia nas págs. 100 e 122

Uma arte não sentimental e não realista, que exige a participação ativa do leitor, promove uma revolução na literatura e nas artes plásticas | Veja os capítulos Literatura do Modernismo – Prosa e Literatura do Modernismo – Poesia nas págs. 94 e 120

Três grandes nomes da literatura brasileira têm destaque: Guimarães Rosa, Clarice Lispector e João Cabral de Melo Neto. | Veja os capítulos Literatura do Modernismo – Prosa e Literatura do Modernismo – Poesia nas págs. 104 e 128 12 11

10 9 5

7

6

  0  1   1 6

 6  8   1  7

  3 6   1  8

8

  3   0  2   8  1   8  8  2   8  9    1   1   1  8   1  9 

13

14

15

  2  2   3  0  4  5   1  9    1  9    1  9 

DA CANTIGA DA GUARVAIA �SÉC. XII� , , O PRIMEI PRIMEIRO RO REGIST REGISTRO RO DE UMA CANTIGA CANTIGA EM LÍNGUA LÍNGUA GALAICO�PORTUGUESA, ÀS OBRAS MODERNISTAS �SÉC. XX� , , UM PAINEL AINEL DOS DOS OITO OITO SÉCUL SÉCULOS OS DAS ESCOLAS LITERÁRIAS BRASILEIRA E PORTUGUESA. VEJA EM CADA UM DOS MOVIMENTOS AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS, OS CONTEXTOS HISTÓRICO E CULTURAL, OS TRECHOS COMENTADOS DAS OBRAS MAIS IMPORTANTES E OS ESCRITORES DE MAIOR DESTAQUE.

��� PAULO JARES ��� WAGNER BERBER ��� DIVULGAÇÃO

GE PORTUGUÊS ���� 11

1

LITERATURA MEDIEVAL E RENASCENTISTA CONTEÚDO DESTE CAPÍTULO

 Interpretando:

funções da linguagem .................. .................................... .................................... .................. �� ..................................................... ................................... ................................... .............................. ............ ��   Trovadorismo ................................... ..................................................... .................................... ................................... ................................18 ...............18  Humanismo ................................... ................................................... .................................... ................................... ...................................22 ..................22  Classicismo ................................. p rova + Resumo ................................... ..................................................... ....................................28 ..................28  Como cai na prova

O aborto em discussão O aumento de casos de fetos com microcefalia, anomalia suspeita de vinculação com o zika vírus, traz à tona o debate sobre a interrupção da gravidez gravidez no país

N

o início de 2016, a disseminação do zika vírus e sua associação com o crescimento de casos de recém-nascidos com microcefalia – má-formação congênita em que a cabeça do bebê é menor do que o padrão, com possíveis danos neurológicos – reacenderam o debate so bre o aborto aborto no país. país. De acordo acordo com com a legisla legislação ção nacional, a interrupção da gravidez é crime, sendo permitida apenas em três casos extremos: resultado de estupro, quando traz risco de vida para a mãe ou se o feto sofrer de anencefalia, condição rara caracterizada pela ausência parcial do cérebro. Organizações humanitárias e grupos feministas passaram a defender que gestantes que contraíram o vírus tenham o direito de decidir se desejam ou não interromper legalmente a gestação. Um dos argumentos é que a proibição do aborto penaliza, sobretudo, as mulheres mais pobres, que se submetem a práticas clandestinas e sem a supervisão médica adequada, colocando em risco a própria vida – pois aquelas que têm melhores condições financeiras podem recorrer a uma clínica particular, com procedimentos mais seguros. A discussão sobre o aborto é sempre muito polêmica. Esbarra, sobretudo, em princípios morais e religiosos e enfrenta forte resistência de alas mais conservadoras da sociedade. Vai nessa linha a aprovação, em outubro de 2015, pela Comissão de GE PORTUGUÊS  PORTUGUÊS ���� 12 GE

Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei 5096/13, de autoria do presidente da Câmara, o deputado evangélico Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O projeto determina penas específicas para quem induzir ou orientar gestantes ao aborto. Conhecido como PL do aborto, também dificulta o aborto legal ao incluir a exigência de exame de corpo de delito para atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS) em casos de estupro – hoje, basta a palavra da mulher. Repudiada por grupos em defesa dos direitos das mulheres, a proposta ainda precisa ser aprovada no plenário da Câmara e do Senado para virar lei. As questões relativas à moralidade e aos juízos de valor foram amplamente exploradas por Gil Vicente, o principal nome do Humanismo, um dos movimentos literários tratados neste Inferno capítulo. Em sua obra Auto da Barca do Inferno (1517), os mortos chegam a um porto onde ocorre o julgamento

NO GRUPO DE RISCO

de suas ações e atitudes durante a vida. Há

 Jovem grávida, em janeiro de 2016, moradora da periferia de Recife (PE). Pernambuco é considerado o epicentro dos casos de microcefalia associada ao zika vírus no Brasil

uma defesa clara da

moral cristã, baseada na recompensa das

virtudes e na punição dos pecados.

FELIPE DANA/AP PHOTO

GE PORTUGUÊS ����

13

MEDIEVAL E RENASCENTISTA INTERPRETANDO

Para cada intenção uma função

O

Conheça as texto abaixo é um artigo publicado no site da revista Carta Capital, Capital, em 17/2/2016. principais  A autora, presidente da ONG Católicas funções da pelo Direito de Decidir, expõe seu ponto de linguagem que  vista sobre o aborto ab orto no contexto do aumento estão ligadas aos dos casos de microcefalia no país, relacionados objetivos de cada à infecção por zika vírus. autor ao produzir Em seus argumentos, ela destaca a diferença entre o que o papa, chefe máximo da Igreja Catósua mensagem

métodos contraceptivos como um “mal menor” para combater a disseminação do zika vírus. No desenvolvimento do texto estão presentes as funções da linguagem, linguagem, que dizem respeito às intenções do autor ao produzir cada mensagem. Há construções objetivas e neutras, que são exemplos da função referencial. Ao mesmo tempo, procura-se influenciar o comportamento do leitor, o que é característico da função apelica, prega (solidariedade, compaixão e misericór- lativa ou conativa. Também podemos observar dia) e o posicionamento dos setores tradicionais exemplos das funções emotiva, poética e fática. da hierarquia católica brasileira, contrários ao  Vale  Vale notar que os textos não apresentam uma aborto. Embora o papa Francisco condene a única função da linguagem. Há sempre uma interrupção da gravidez, ele chegou a defender função que predomina, mas ela não é exclusiva.

Se não por direito, ao menos por compaixão Por Maria José Rosado

LOCUÇÃO PREPOSITIVA  É o conjunto de duas ou mais palavras que têm o valor de uma preposição. Estabelece relação opositiva e encaminha o texto para as posturas pos turas distintastomadas pelo papa e pela hierarquia católica. JUÍZO DE VALOR E ADVÉRBIO O advérbio de negação (sem) confere ao texto uma visão subjetiva e uma crítica à atitude do bispado, o que leva o leitor a tomar partido pela posição do papa e da articulista. PERGUNTA RETÓRICA E FUNÇÃO APELATIVA   As pergu pergunta ntass induz induzem em o interlocutor (o leitor) a dar a resposta esperada pelo emissor (o autor). Pretende-se fazê-lo aderir ao que foi proposto.

 Diante da grave situação de saúde deflagrada no País pela disseminação do zika vírus e a sua vinculação com o aumento dos casos de microcefalia, as declarações públicas da hierarquia católica têm revelado, uma vez mais, o caráter misógino da instituição.  Estamos  Estamos no  ano do jubileu. O  papa Francisco  declara um tempo de misericórdia na Igreja. Não  é misericórdia o que tem demonstrado a hierarquia católica no Brasil. Sua palavra tem sido im        piedosa,  piedosa, sem qualquer qualquer comiseração comiseração pela morte  física, psíquica e emocional emocional de muitas muitas mulher mulheres. es. Uma mulher grávida contaminada pelo zika  vírus pode gestar uma criança com micromicro cefalia ou outras possibilidades de má-formação.  Será justo obrigar essa mulher a levar sua gravidez adiante? Isso é ser cristão? Será que temos o direito de decidir pela vida de outras pes       soas dessa maneira?  A ciência não consegue diagnosticar a microcefalia nos primeiros meses da gestação. Esse é o angustiante drama que tem apavorado as mulheres brasileiras grávidas.  No âmbito jurídico, jurídico, pelo benefício da dúvida, o  réu não pode ser condenado até que se prove sua culpa. Também no campo teológico, o chamado Probabilismo, parte da mais antiga tradição doutrinária do acervo cristão, afirma que onde há dúvida deve haver liberdade.

 14

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

 ARTIGO Os artigos definidos (o, a, os, as) são utilizados para designar seres e objetos específicos. Já os artigos indefinidos (um, uma, uns, umas) são empregados para indicar elementos genéricos. Repare que não é clara a identificação em “um tempo”. Por outro lado, há clareza de identificação em “o ano do jubileu” e “O papa”. FUNÇÃO REFERENCIAL Predomina em textos em que se exige neutralidade e objetividade. Nessa passagem, há informação, sem juízo de valor, sobre as consequências de uma gravidez em que a mãe esteja contaminada pelo zika vírus.

DEFINIÇÃO Novo exemplo de função referencial aparece na explicação do conceito de culpabilidade.

 Frente  Frente a uma decisão decisão ética ética difícil, difícil, é correto correto que cada pessoa recorra à própria consciência para tomar sua decisão. Esse é o respeito à liberdade. A condenação ao aborto na Igreja Católica não é uma questão de dogma, mas sim de disciplina moral. Como pode a Igreja não compreender que o aborto, por seus aspectos morais, éticos e religiosos deve ser tratado na esfera privada de cada pessoa, e nunca como diretriz para imposições sociais? Como é possível que os bispos não percebam que a proibição do aborto é seletiva e injusta socialmente, porque recai sobre as mulheres pobres e negras que vivem na periferia, sem as condições de saúde básicas, as mais sujeitas à epidemia do zika vírus?  Se é impossível impossível à Igreja Igreja reconhecer reconhecer que é direito das mulheres o controle sobre sua capacidade de  gerar novos seres humanos, humanos, seja, seja, ao menos, capaz capaz de compaixão, virtude tão cara ao Cristianismo.  Reunidos em recente discussão sobre o grave  problema que assola o Brasil, outros líderes religiosos demonstraram respeito às mulheres e compreensão por seu sofrimento. Se não chegam a apoiar a ampliação da legislação relativa ao aborto, propõem o debate com a sociedade e têm a humildade de declarar a questão em aberto, reconhecendo que são as mulheres as que devem ser ouvidas pelas igrejas, como disse o Presidente da Aliança dos Batistas no Brasil, Joel Zeferino, ao afirmar: “Precisamos colocar a voz das mulheres nessa discussão,  percebe?” .  Em excelente artigo publicado nestes dias, uma  premiada jornalista brasileira, Eliane Brum, dá uma impressionante lição de lucidez. Faria bem a muitos bispos ler seu texto, em sua inte gralidade. A certa certa altura, diz ela: “Escutar é justamente debater. Aqueles que não querem debater aborto no Brasil precisam assumir que não se importam com a prisão e a morte de mulheres jovens e pobres, a maioria delas negras,  já que estes estes são os fatos. fatos. Precisa Precisam m assumi assumirr tamtambém que não se importam que o acesso ao aborto reproduza a desigualdade racial e social do Brasil, ao tornar-se acessível e seguro para quem pode  pagar,  pagar, e crimin criminali alizad zadoo e mortífer mortíferoo para para quem não  pode.  pode. Quem se se importa importa debate debate os fatos. fatos. E escut escuta aa  posição  posição do outro, outro, mesmo mesmo que seja muito muito diferen diferente te da sua. Viver é mover-se”.  Seu convit convitee é para para que nos coloqu coloquemo emoss na pele do outro. Das outras, neste caso. Serão os bispos capazes disso? Será a Igreja Católica capaz de assumir verdadeiramente a sua missão evangelizadora que impõe ser o próprio espelho de seu anúncio?

© TEREZA BETTINARDI

CONJUNÇÃO COORDENADA  ADVERSATIVA   ADVERSA TIVA   A conju conjunção nção “ma “mas” s” associada ao advérbio  de afirmação “sim” confere ao conjunto valor adversativo. Se o “mas” estivesse associado a “também”, a ideia seria de adição



 



FUNÇÃO APELATIVA  Há um apelo a um valor (compaixão) que a Igreja não pode negar conforme suas próprias determinações. Essa exigência de posicionamento é típica da função apelativa. FUNÇÕES EMOTIVA E APELATIVA  Na função emotiva, o uso da primeir primeiraa pessoa do plural (precisamos) tem a intenção de estabelecer uma relação de cumplicidade com o leitor. Ao mesmo tempo, solicita-se uma adesão ao que foi pronunciado, característica da função apelativa. FUNÇÃO FÁTICA  No final de sua fala, a pessoa citada (Joel Zeferino) emprega um termo (“percebe?”) que visa manter o canal de comunicação aberto para prolongar a conversa. HIPÉRBOLE É a figura de linguagem que dá a ideia de aumento e exagero. “Lição de lucidez”  já seria seria bem enf enfátic ático. o.  A inclusã inclusão o do adje adjetiv tivo o “impressionante” confere ainda mais dramaticidade à expressão. FUNÇÃO POÉTICA   As expre expressões ssões empr emprega egadas das em sentido figurado (“mover-se” como mudar de opinião, de ponto de vista; e “na pele do outro”, como no lugar do outro) são típicas da linguagem poética.

SAIBA MAIS

 AS SEIS FUNÇ FUNÇÕES ÕES BÁSIC BÁSICAS AS DA LINGUAGEM Função referencial ou denotativa Transmite dados e informações de modo neutro e objetivo. É a linguagem típica dos textos jornalísticos, do discurso científico, dos contratos e relatórios. O uso do verbo costuma ser feito na terceira pessoa do singular. Função expressiva ou emotiva Manifesta uma expressão subjetiva, uma emoção ou ponto de vista. As interjeições e as reticências são sinais reveladores da função emotiva, assim como o uso da primeira pessoa. Ex: Nós te amamos! Função apelativa ou conativa Busca interferir no comportamento do leitor, convencê-lo de algo ou lhe dar ordens ou conselhos. Presente em manuais, livros didáticos e de autoajuda e textos publicitários. É comum o uso dos verbos no imperativo. Ex: Não perca esta promoção! Função poética Elabora a mensagem de modo criativo e explora a linguagem figurada. Está presente na poesia, em provérbios e em mensagens publicitárias. Função fática Inicia, prolonga ou encerra um contato. É aplicada em situações em que o mais importante não é a comunicação, mas sim o desejo de contato entre o emissor e o receptor. Predomina nos momentos iniciais e finais de qualquer mensagem ou conversa. Ex: sim, claro, sem dúvida. Função metalinguística Metalinguagem ocorre quando o emissor explica um código usando o próprio código. Por exemplo, uma poesia cujo tema e assunto seja poesia ou poeta. As gramáticas e os dicionários são exemplos de metalinguagem, pois são palavras explicando palavras. Ex: Oração é uma sentença com sentido completo organizada em torno de um verbo (para explicar a oração usamos uma oração). GE PORTUGUÊS ����

15

MEDIEVAL E RENASCENTISTA TROVADORISMO

Primeiras linhas

Novela de cavalaria

Cantigas e novelas de cavalaria são as principais produções literárias do Trovadorismo (1189-1418)

T

rovadorismo é o período que reúne os primeiros registros poéticos da língua portuguesa. Estende-se do século XII

ao XV e corresponde à Idade Média. As principais produções literárias desse movimento são as cantigas, muito vinculadas à música, e as novelas de cavalaria.

Cantigas de amor   As cantigas de amor eram poemas musicados, musicados, escritos em português arcaico, sobre o sofrimento amoroso de um eu lírico masculino por uma mulher idealizada e inacessível, à qual ele  jurava  jurava servir. servir.

INTENCIONALIDADE O eu lírico deseja louvar a dama (senhora). Os substantivos abstratos “formosura” e “bondade” são empregados na descrição idealizada para ressaltar a perfeição da mulher amada.

Cantiga D. Dinis

Quer’eu em maneira de proençal  fazer agora agora hum cantar cantar d’amor e querrei muit’loar mia senhor, a que prez nem fremosura non fal, nen bondade, e mais vos direi en: tanto a fez Deus comprida de bem que mais que todas las do mundo val. (...)

O QUE ISSO TEM  A VER COM A HISTÓRIA HISTÓRIA  A Idade Média se estende de 476 a 1453. São características características do período a descentralização do poder, a formação de feudos autossuficientes, a produção agropastoril, as relações de dependência pessoal (vassalagem) e o grande poder da Igreja Católica. Para saber mais, veja o GUIA DO ESTUDANTE HISTÓRIA.



      



TEOCENTRISMO  A referência feita feita a Deus reflete a visão de mundo medieval, marcada pelo teocentrismo e pela forte influência cultural exercida pela Igreja Católica.

 A prosa prosa ficcion ficcional al do Trovad Trovadoris orismo mo é represen represen-tada pelas novelas de cavalaria, longas narrativas que apresentam os feitos de bravos cavaleiros.  A Demanda do Santo Santo Graal Graal, pertencente ao ciclo bretão ou arturiano, narra as aventuras dos Cavaleiros da Távola Redonda, a serviço do rei  Artur,  Artur, em busca do cálice sagrado. sagrado.

 A Demanda do Santo Graal  Graal   Aquele dia, hora de prima, rezada rezada a missa, fez  Lancelote cavaleiro seu filho Galaaz, assim como como era costume. E sabei que quantos lá estavam agradavam-se de sua aparência; (...) naquele tempo não se podia achar em todo o reino de Lo  gres donzel tão formoso e tão bem feito; porque em tudo era tal que não se podia achar nada em que o censurasse, exceto que era meigo demais em seu modo de ser. MEGALE, Heitor (org.). A (org.). A Demanda do Santo Graal Graal.. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. 

 A ORDENAÇÃO DO CAVALEIRO CAVALEIRO Neste trecho, Lancelote é convocado a participar da sagração de seu filho Galaaz como cavaleiro. Note que a cerimônia está ligada aos ritos religiosos: ela ocorre após a celebração da missa, em conformidade com a visão teocêntrica medieval. O jovem Galaaz apresenta as virtudes idealizadas para um cavaleiro medieval. Suas qualidades são ressaltadas e idealizadas.

METALINGUAGEM O eu lírico (sujeito que expressa os sentimentos do autor) compõe um poema que trata do fazer poético (deseja fazer uma cantiga de amor conforme os modelos convencionais da Provença, região do sul da França onde surgiram os primeiros poemas desse tipo). Trata-se de um texto metalinguístico, pois utiliza o código de comunicação (a língua) como assunto ou explicação para o próprio código. É o que fazem os dicionários. O procedimento também é comum em textos literários, quando o autor se volta para as formas de construção do texto.

VOCABULÁRIO

proençal: provençal hum: um loar: louvar prez: qualidades fal: falta comprida: repleta val: vale GE PORTUGUÊS  PORTUGUÊS ���� 16 GE

���

CONEXÕES

DIÁLOGO ENTRE OBRAS

CANÇÃO

IDEALIZAÇÃO E AMOR CORTÊS  A obra Tristão e Isolda tem origem na tradição oral popular. Entre as muitas versões existentes, destaca-se O Romance de Tristão e Isolda (1900), escrito por Joseph Bédier. Trata-se de um relato, bem ao gosto da Idade Média, do amor impossível, cheio de misticismo e aventura. O desenlace trágico da história de amor – um triângulo amoroso entre o rei Marcos, seu sobrinho Tristão e a princesa Isolda – caracteriza bem o período: a morte como solução existencial para o problema dos jovens. Em meio às desventuras amorosas toma-se contato com o universo dos cavaleiros medievais e com a cultura trovadoresca.

CANTIGAS

Queixa Caetano Veloso

Um amor assim delicado Você pega e despreza  Não devia ter despertado  Ajoelha e não não reza



Nesta música de Caetano Veloso, há várias referências às cantigas medievais: a coita de amor (sofrimento), a presença da figura divina, a idealização da amada e a vassalagem amorosa (submissão).

 Dessa coisa que mete medo  VOCATIVOS  VOCA TIVOS  Pela sua sua grandeza grandeza Enfatizam a  Não sou o único culpado superioridade  Disso eu tenho a certeza da mulher em (...) relação ao sujeito Você pensa que eu tenho tudo poético (“princesa”, “senhora”), a  E vazio me deixa deixa força e o perigo do  Mas Deus Deus não quer amor (“surpresa”, que eu fique mudo “serpente”), mas  E eu te grito esta esta queixa também o afeto  Princesa  Surpresa Você me arrasou Serpente





 Nem  Nem sente sente que me envenen envenenou ou  Senhora e agora agora  Me diga aonde eu vou  Amiga  Me diga

HERÓI MEDIEVAL O trecho mostra o ideal de amor cortês e a idealização na caracterização caracteriz ação do herói medieval na figura de um jovem e valoroso cavaleiro.

METÁFORA   A mulher amada é chamada de “serpente”. Trata-se de uma metáfora que, aqui, faz contraposiç contraposição ão à sacralização da amada, uma vez que confere a ela características sedutoras.

mais-que-perfeito (conduzira) aponta para uma ação anterior à de Tristão.

HQ

���

��� © TEREZA BETTINARDI ��� © ���� KING FEATURES SYNDICATE/IPRESS

Joseph Bédier

TEXTO III  (...)        – Criança, que sabes da arte dos instrumentos?  Se os mercadores da terra de Loonnois ensinam também a seus filhos tocar harpa, levanta-te, TEMPOS VERBAIS toma desta harpa e mostra-nos tua arte. O pretérito perfeito do indicativo (pegou Tristão  pegou   o instrumento e tão lindamente e cantou) marca duas cantou  que os barões se enterneceram. O Rei ações de Tristão. O  Marcos, admirado, escutava  o jovem harpista pretérito imperfeito vindo de Loonnois, para onde outrora Rivalen (escutava) mostra conduzira Braneaflor. o andamento da (...) narrativa. E o pretérito

e a cumplicidade (“amiga”).

 A tirinha dialoga com com a visão idealizada da da mulher, tal tal como concebida pelos trovadores medievais. A palavra pedestal, usada com sentido denotativo (significado próprio e dicionarizado), provoca o efeito de humor: trata-se realmente de uma construção elevada. Geralmente, nesse contexto, a palavra é empregada em sentido conota conotativo tivo (que diz respeito ao uso figurado), designando a elevação de uma pessoa ou situação a uma posição de superioridade.

O Romance de Tristão e Isolda

TEXTO IV  (...) – Não – disse Tristão –, a muralha de ar já está rompida e não é aqui o pomar maravilhoso. Mas, CRASE        Neste trecho um dia, amiga, iremos juntos à terra afortunada, ocorre o encontro de onde ninguém volta. Lá existe um castelo de da preposição “a” mármore branco; em cada uma de suas mil jane(solicitada pelo las brilha um círio aceso; em cada uma delas toca verbo “ir” ) com um trovador, cantando uma melodia sem fim; o o artigo definido sol ali brilha, entretanto, ninguém sente falta da “a” que antecede o substantivo feminino       sua luz. Lá é a Terra Feliz dos Vivos! “terra”. Note que há (...)

o artigo “a”, pois o adjetivo “afortunada “afortunada”” especifica o substantivo “terra”.

Tristão e Isolda – Lenda Medieval Celta de Amor. Amor. 3ª edição. Ed. Martin Claret.

IDEALIZAÇÃO DO CAVALEIRO O texto recria o universo idealizado que circunda a figura do cavaleiro medieval. GE PORTUGUÊS ����

17

MEDIEVAL E RENASCENTISTA HUMANISMO

Literatura de transição Entre o final da Idade Média e o início do Renascimento, o Humanismo (1418-1527) coloca o homem como o responsável por seu destino

O

Humanismo situa-se numa fase de transição entre a decadência dos valores feudais e o surgimento do Renascimento. Uma das principais obras do período, a peça Auto da  Barca do Inferno Inferno foi representada pela primeira vez em 1517. Ela integra a famosa trilogia das Barca do  barcas, composta também de Auto da Barca  Purgató  Purgatório rio (1518) e Auto da Barca Barca da Glória Glória (1519). A ação do Auto da Barca do Inferno se passa em um porto, situado em um mundo alémtúmulo, no qual estão ancoradas duas barcas: a primeira, comandada pelo Diabo, tem como destino o inferno; a segunda, capitaneada pelo Anjo, seguirá para o paraíso. Nota-se uma visão de mundo cristã, baseada na crença de vida após a morte e na recompensa das virtudes e punições dos pecados. Nessa peça, Gil Vicente (1465-1536?) critica os setores da sociedade de seu tempo: diversos representantes das classes classes sociais são castigados porque cometeram práticas condenáveis pela moral moral cristã. Apenas dois segmentos são enviados ao paraíso: um bobo (o parvo Joane), cuja loucura o isenta de responsabilidade pelos seus atos, e um grupo de cavaleiros cruzados, que morreram em defesa da fé de Cristo. Cris to. A própria Igreja, como instituição, não é poupada: um Frade é castigado pelo afastamento da vida espiritual. espiritua l. No entanto, essa crítica atinge apenas o comportamento do clero e não questiona os princípios da religião cristã, defendidos pelo autor. autor. Gil Vicente Considerado o fundador do teatro português, suas peças foram produzidas durante a passagem da Idade Média para a Moderna. Apresenta aspectos conservadores (como a defesa da moral cristã) e inovadores (como a crítica à sociedade). O teatro vicentino é dividido em farsas (peças de caráter cômico e crítico sobre questões sociais) e autos (peças geralmente de cunho religioso).

18

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

IDEOLOGIA 

Todo texto veicula determinada ideologia, isto é, um conjunto de ideias, valores e crenças característicos característic os de u m período ou de um determinado autor.. No caso de Gil Vicente, é possível reconhecer autor uma defesa de valores morais típicos do cristianismo, como a celebração das virtudes e a condenação dos vícios. INTENCIONALIDADE

O BOBO

Note a intenção de Gil Vicente de formar um painel representativo dos diferentes grupos da sociedade portuguesa, para apontar modos de correção dos costumes, de acordo com a moral cristã.

O parvo (tolo) Joane tem como objetivo provocar o riso, inserindo um elemento cômico em uma peça que trata da trágica realidade da morte e da corrupção da sociedade portuguesa. A inocência e a simplicidade de Joane são encaradas como virtudes que o tornarão merecedor do paraíso. Note que o personagem é apresentado como desatento e desinformado: dirige-se ao Diabo sem medo e o interroga continuamente.  A loucura do bobo permite permite que ele aponte sem receio de censura os problemas da sociedade portuguesa.

     

 Auto da  Barca do Inferno –

O Parvo Gil Vicente

“Joane. Hou daquesta!  Diabo. Quem é?  Joane. Eu Eu sô.  É esta a naviarra naviarra vossa?  Diabo. De quem?  Joane. Dos tolos.  Diabo. Vossa. Vossa.  Entra! (...)

LINGUAGEM COLOQUIAL

 Diabo. De que morreste? morreste?  Joane. De quê?  Samicas de caganeira.  Diabo. De quê?  Joane. De caga merdeira! merdeira!  Má rabugem rabugem que te dê! (...)



 Joane. Aguardai, Aguardai, aguardai, aguardai, houlá!  E onde havemos nós d’ir ter?  Diabo. Ao porto de Lúcifer.”  Lúcifer.” 

      

Ateliê Editorial

EUFEMISMO

O Diabo, em vez de dizer “inferno”, afirma que a barca tem como destino o “porto de Lúcifer” e, assim, ameniza o caráter terrível do ponto de chegada. Trata-se Trat a-se do uso de eufemismo: figura de linguagem que estabelece palavra ou expressão mais agradável para suavizar ou minimizar o peso de outra palavra ou expressão mais grosseira. Outro exemplo de eufemismo: O nobre deputado é responsável pelo desvio de verbas públicas. (A expressão em destaque é um eufemismo que substitui a expressão “roubo de dinheiro público”, considerada mais direta e ofensiva).

 Os diálogos do  Auto da Barca do Inferno estão repletos de expressões populares e elementos característicos característic os da linguagem coloquial do período. Repare na espontaneidade da fala do parvo Joane, que assinala a origem popular da personagem: a pouca instrução e a loucura fazem com que o Bobo possa falar tudo o que lhe vem à cabeça (até mesmo que morreu de “samicas de caganeira caganeira”). ”).

DIÁLOGO ENTRE OBRAS

CONEXÕES

A REPRESENTAÇÃO DO BOBO

PINTURA

A escritora Clarice Lispector, em uma de suas crônicas, também tratou da figura do bobo. Algumas características gerais desse personagem lembram o parvo Joane, o bobo que alcança o pa raíso no  Auto da Barca do Inferno , de Gil Vicente. Vicente. Lispector utiliza a ironia para tratar da condição do bobo: ao contrário do que muitos pensam, ela é vantajosa, pois os ditos espertos desprezam a simplicidade dos bobos, que, na verdade, enxergam detalhes da vida que passam despercebidos despercebidos da maioria. Da mesma forma, o parvo de Gil Vicente aponta as mazelas sociais dos personagens que comparecem à frente das barcas. O destino que Lispector reserva aos bobos também é o paraíso. O próprio Cristo, por agir de modo diferente da maioria, acabou crucificado. Perceba o tratamento irreverente que a autora confere à temática religiosa.

 Das Vantagens Vantagens de Ser Bobo Bobo Clarice Lispector

“O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo.  (...) O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples  pessoas humanas. O bobo bob o ganha utilidade e sabedoria para viver. (...) Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz. (...)” 

SUBSTANTIVOS E ADJETIVOS

 Veja que a palavra “bobo” é empregada como substantivo e designa um ser humano aparentemente desatento e estúpido. Em outros contextos, a palavra “bobo” pode ser utilizada como adjetivo para caracterizar uma pessoa ou situação tola e ingênua (por exemplo: “Conheci um homem bobo”).

 A cena representa representa uma das imagens imagens (texto não verbal) verbal) mais recorrentes da arte medieval: as danças macabras, que mostram um desfile no reino dos mortos, com esqueletos e pessoas recém-falecidas. O Auto da Barca do Inferno é um texto verbal que apresenta uma estrutura sequencial que remete às danças macabras: os personagens se alternam no palco, diante das duas barcas, numa espécie de dança. Em ambos os casos, a lição, no contexto da religiosidade medieval, medieval, é uma só: o destino de todos, sem distinção de classe social, é o mesmo. A morte aparece como elemento responsável por igualar todas as pessoas.

SAIU NA IMPRENSA

RUMO ÀS TREVAS Luiz Fernando Vianna

(...)

Diante disso, o que oferecem os parlamentares liderados por Eduardo Cunha? O Estatuto da Família, margi-

nalizando os homossexuais; nenhuma discussão sobre aborto; a revisão do Estatuto do Desarmamento, para

que mais gente tenha armas e dê tiros tir os por aí; a redução da maioridade penal, para aumentar prisões e ódios.

É claro que esses políticos representam representam o que muitos  A Descoberta do Mundo Mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

brasileiros pensam. Mas quem pensa diferente tem

direito a dizer em voz alta que esses projetos significam POLISSEMIA 

Uma mesma palavra pode apresentar múltiplos sentidos conforme o contexto em que é em pregada. “Bobo” também pode designar, como ocorria na Idade Média, a profissão dos bufões (fanfarrões), que entretinham as cortes com demonstrações de comportamentos pouco convencionais.

BERNT NOTKE/IGREJA DE SÃO NICOLAU

um recuo às trevas. (...) Folha de S.Paulo, 27/4/2015

Neste trecho de artigo, o autor sugere que parte dos parlamentares representa uma parcela da sociedade brasileira brasileir a reticente às mudanças e ganhos sociais e arraigada arraigad a a valores ultrapassados e arcaicos. Desta forma, ele ironiza que caminhamos não para o futuro, mas para o passado. Segundo ele, pelas propostas cada vez mais retrógr retrógradas, adas, estamos perto de chegar à “Idade das Trevas”. GE PORTUGUÊS ����

19

MEDIEVAL E RENASCENTISTA HUMANISMO

 ALEGORIA 

No teatro vicentino, elementos concret concretos os podem, muitas vezes, representar ideias abstratas, geralmente relacionadas a virtudes ou defeitos humanos. Esse recurso recebe o nome de alegoria. Na cena do Frade, o tordião (canção festiva) e a dama (amante do padre) representam, alegoricamente, alegoricament e, o apego aos prazeres mundanos e a luxúria, que corrompiam o clero. IRONIA

 Vários  Vá rios setores setores da sociedade são apresentados de modo irônico. Por trás de todo o luxo e erudição que o Frade deseja transparecer transparecer,, escondem-se um homem hipócrita e as mazelas da instituição religiosa. Por trás da figura aparentemente inofensiva e desatenta do Parvo (veja na pág. 18), está um indivíduo capaz de reconhecer reconhec er os problemas sociais de seu tempo e zombar deles.

 Auto da  Barca do Inferno –

O Frade

 Auto da  Barca do Inferno –

Os Cavaleiros

Gil Vicente

Gil Vicente

“Diabo. Que é isso, padre? Que vai lá?  Frade.  Frade. Deo gratias! Som cortesão.  Diabo. Sabês também o tordião? tordião?  Frade.  Frade. Por que não? não? Como ora ora sei!  Diabo. Pois, Pois, entrai! Eu Eu tangerei e faremos um serão.  Essa dama é ela vossa?  Frade.  Frade. Por minha a tenho tenho eu, e sempre a tive de meu.  Diabo. Fezeste Fezeste bem, que é fermosa!  E não vos punham lá grosa grosa no vosso convento santo?  Frade.  Frade. E eles fazem outro outro tanto!  Diabo. Que cousa tão preciosa!  Entrai, padre padre reverendo! reverendo!  Frade.  Frade. Pera Pera onde levais gente?  Diabo. Pera Pera aquele fogo ardente ardente que não temestes vivendo.  Frade.  Frade. Juro a Deus que não t’entendo! t’entendo!  E est’hábito não me val?  Diabo. Gentil padre padre mundanal, a Berzabu vos encomendo!” 

“Diabo. Entrai cá! Que cousa é essa?  Eu não posso entender entender isto! Cavaleiro. Quem morre por Jesu Cristo não vai em tal barca como essa! (...)

      

      



 VISÃO DE MUNDO MUNDO

Durante a Idade Média, predominara uma visão de mundo teocêntrica, centrada centrada no poder de Deus e na perfeição da Igreja. Na época de Gil Vicente, a realidade  já estava estava muda mudando: ndo: os hábito hábitoss religioso religiososs não são mais mais garantiaa para a conquista do paraíso; são as atitudes garanti virtuosas que valem. É isso que o Diabo mostra ao Frade ao convidá-lo a entrar na barca: apesar de pertencer à Igreja, a vida mundana pode levar à condenação de qualquer um. Ainda que a moral defendida pelo autor reflita uma concepção de mundo religiosa, a crítica social revela a transformação da mentalidade no período.

      

      

 Anjo. Ó cavaleiros de Deus, Deus, a vós estou esperando, que morrestes pelejando  por Cristo, Senhor Senhor dos céus!  Sois livres de todo mal, mártires da Madre Igreja, que quem morre em tal peleja merece paz eternal.”  Teatro BERARDINELLI, BERARDINELLI, Cleonice (org.). Antologia do Teatro de Gil Vicente. 3.ed. Rio de Janeiro/ Brasília: Nova Fronteira/ INL, 1984. CAVALEIROS MEDIEVAIS

No período medieval, a relação política e social entre cavaleiros e senhores feudais originou o código de cavalaria. A defesa das terras era garantida por cavaleiros que juravam servir ao seu senhor com lealdade (vassalagem). No plano cultural, a relação dos cavaleiros com os senhores feudais levou ao aparecimento, durante o Trovadorismo, do código do amor cortês, no qual um poeta (trovador) expressava seus sentimentos por uma dama da corte (considerada perfeita e superior). MORAL CRISTÃ

O Auto da Barca Barca do Infern Inferno o defende uma moral cristã. O comportamento dos cruzados, que morreram em defesa do cristianismo, é visto como virtuoso. A fala do  Anjo,, destac  Anjo destacando ando as quali qualidade dadess heroi heroicas cas dos dos soldad soldados, os, tem como objetivo estimular o comportamento virtuoso do público e a adesão à religião cristã. A recompensa pelo sofrimento terreno, para o autor, é a conquista do paraíso.

PARA IR ALÉM Barca do Infer Inferno no em quadrinhos, Na versão do Auto da Barca da Editora Peirópolis, os tipos sociais descritos nas figuras do Fidalgo, do Frade e do Parvo, entre outros, aparecem em traços modernos. O humor e o sarcasmo próprios de Gil Vicente dão o tom à história. GE PORTUGUÊS  PORTUGUÊS ���� 20 GE

DIÁLOGO ENTRE OBRAS O JULGAMENTO FINAL

PERSONAGENS ALEGÓRICAS

O  Auto da Compadecida , peça escrita em 1955 por Ariano Suassuna e ambientada no Nordeste do Brasil, apresenta traços muito semelhantes aos dos autos de Gil Vicente. No fim da peça, as principais personagens participam de um julgamento após a morte. Estão presentes o Encourado (demônio caracterizado com trajes nordestinos), que levará os condenados condenados para o inferno, e a Compadecida (Nossa Senhora), que conduzirá os bem-aventurados bem-aventurados para o paraíso. Assim como no Auto da Barca do Inferno Inferno , o padre e o bispo – representantes da Igreja – são condenados. O Encourado aponta uma série de atitudes reprováveis que contradizem os preceitos cristãos. Nas duas obras, questões características da sociedade do período são apresentadas de modo a enfatizar as virtudes e os vícios humanos.

A peça teatral Lisbela e o Prisioneiro (1964), Prisioneiro (1964), de Osman Lins, é uma comédia com diversas referências à cultura nordestina brasileira. O par romântico da história é formado pela ingênua e sonhadora Lisbela Lis bela e pelo malandro Leléu. No trecho abaixo, observa-se um diálogo do casal, em que ficam evidentes as virtudes da moça e os vícios do rapaz. Assim como no teatro de Gil Vicente, notam-se diferentes diferentes comportamentos humanos retratados no perfil dos personagens centrais. Por isso, podem ser denominados personagens alegóricos.

 Lisbela e o Prisioneiro Osman Lins

(...)

GÊNERO DRAMÁTICO

 Auto da Compadecida  Ariano Suassuna

“(...)  Manuel – Então, Então, acuse o padre. padre.  Padre – De mim ele não tem nada o que dizer!  Encourado  Encourado – É o que que você você pensa, pensa, minha minha safra safra hoje está garantida. Tudo o que eu disse do bispo pode se aplicar ao padre. Simonia, no enterro do cachorro, velhacaria, política mundana, arrogância com os pequenos, subserviência subserviênci a com os grandes.”  “(...)  A Compadecida – Na verdade, verdade, João tem toda rara zão. Falei assim por falar, falar, mas que São José era um santo, não é nenhuma novidade.  Encourado – A senhora está falando muito e vê-se  perfeitamente sua proteção com c om esses nojentos, mas nada pode dizer ainda em favor da mulher do padeiro.  A Compadecida Compadecida – Já Já aleguei sua condição de mulher, escravizada pelo marido e sem grande possibilidade de se libertar. Que posso alegar ainda em seu favor?  Padeir  Padeiroo – A pre prece ce que que fiz por ela antes antes de de morr morrer er.. O mais ofendido pelos atos que ela praticava era eu e, no entanto, rezei por ela. Isso deve ter algum valor.  A Compadecida – E tem. Alego Alego isso em favor dos dois.”   Agir, 2005.

© TEREZA BETTINARDI

 A estrutura característica característica desse gênero é marcada pela indicação das falas e pelo caráter coloquial, apropriado à encenação teatral.

LISBELA 

Noiva oficial de Dr. Noêmio, representa a inocência e a pureza.

      

 Lisbela:: Não! Leléu, você  Lisbela você não pode ir? 

 Leléu: Pude. Pude. Estou com dois cavalos cavalos aí fora. Mas era grosseria eu ir com a senhora.  Lisbela:  Lisbela: Não precisa precisa continuar continuar me chamando chamando de senhora.  Leléu: Pra Pra mim mim é o que que a senhora senhora há de ser sempre. sempre. Chamar “você” é um exagero, não mereço tanto.  Dr.  Dr. Noêmio: Por Por que você não foi embora, embora, rapaz? rapaz?  Por que voltou? voltou?  Leléu: Por Por causa de Dona Lisbela, Lisbela, Doutor. Doutor. Pra ficar perto do chão onde ela pisa.  Lisbela:: Você podia ouvir minhas pisadas junto  Lisbela de você a vida toda. Por que não me levou?  Leléu: Porque a senhora não merece a incerteza da minha vida. Não tenho eira nem beira, que trono lhe podia oferecer? (...)

      

      

Planeta, 2003 LELÉU

Esse protagonista revela-se complexo, pois apresenta diferentes identidades. Ex-circense, é mulherengo e volúvel.

PARA IR ALÉM O filme Lisbela e o Prisioneiro, de Guel Arraes, lançado em 2003, a partir da adaptação da peça de teatro de Osman Lins, é uma divertida comédia romântica. A atriz Débora Falabella e o ator Selton Mello interpretam o casal protagonista da trama, ambientada no interior de Pernambuco. Destaque para a trilha sonora, que traz Lisbela, de Los Hermanos, e Você Não Me Ensinou a Te Esquecer , hit  dos  dos anos 70 de Fernando Mendes, interpretada por Caetano Veloso. GE PORTUGUÊS ���� 21

MEDIEVAL E RENASCENTISTA CLASSICISMO

Em busca da forma perfeita O Classicismo Classicism o (1527-1580), (1527-1580), estética literária do Renascimento, resgata os ideais de beleza da Antiguidade Clássica e valoriza a razão

O

Classicismo é a estética literária do Renascimento. Nos textos, estão presentes os mesmos ideais que regiam as demais composições artísticas: o respeito à proporção, proporção, a busca de perfeição formal, a retomada da cultura da Antiguidade clássica, a imitação de modelos de composição greco-latinos (conforme os padrões de representação mimética – imitativa e recriadora – da realidade), o desejo de objetividade e a valorização do ser humano. Em Portugal, a atmosfera científica e racional que impulsionava as grandes navegações se une aos novos ares do Renascimento: quando o poeta Sá de Miranda retorna da Itália, em 1526, traz para a literatura portuguesa as novidades desen volvidas por Petrarca (como o soneto italiano e o verso decassílabo, de dez sílabas poéticas). Camões lírico Luís Vaz de Camões (1525?-1580) é o principal nome do Classicismo português. Sua mais importante obra é o poema épico Os Lusíadas veja na pág. 26 ), mas também é extensa sua ( veja produção lírica (gênero em que o poeta expõe suas emoções). Seus poemas revelam o uso das novas formas poéticas – os sonetos (poemas de forma fixa, divididos em duas estrofes de quatro  versos  versos e duas estrofes estrofes de três versos) versos) compostos compostos na medida nova (com versos decassílabos, de dez sílabas poéticas). Os temas mais frequentes da lírica camoniana são o sofrimento amoroso e o desconcerto do mundo.



O QUE ISSO TEM A VER COM A HISTÓRIA O Renascimento é o movimento intelectual intelectual e artístico que ocorreu entre o século XIV e o XVI na Europa. Representa a nova visão de mundo da sociedade que se forma após o grande desenvolvimento comercial comercial e urbano iniciado no fim da Idade Média. Elementos centrais do Renascimento são o antropocentrismo antropocentrismo (valorização do homem) e o racionalismo. racionalismo. Para saber mais, veja o GUIA DO ESTUDANTE HISTÓRIA.

GE PORTUGUÊS  PORTUGUÊS ���� 22 GE

���

 ANÁFORA  O poeta recorre à anáfora (repetição de uma ou mais palavras no princípio de duas ou mais frases) para estruturar o poema: amor aparece só no primeiro verso, mas ressurge nas repetições do verbo ser. O recurso mostra a impossibilidade de definir o amor sob um único ponto de vista. PARADOXO O poema se constrói em torno de elementos opostos presentes na caracterização de uma mesma realidade.  Assim, o conflito conflito entre os contrários não é resolvido, e o sentimento amoroso é marcado por uma tensão existencial. EQUILÍBRIO Um elemento de equilíbrio está presente: trata-se da estrutura simétrica e regular do poema. A frase interrogativa final procura integrar as oposições não resolvidas. O efeito criado pela aparente falta de lógica nas definições (paradoxo) resulta em harmonia, já que o próprio sofrimento amoroso é complexo e surpreendente.

 Amor É Fogo Fogo Que Arde Sem Se Ver Luís Vaz de Camões

 Amor é fogo que que arde sem se ver;  É ferida que dói e não se sente;  É um contentamento descontente;  É dor que desatina sem doer;  É um não querer querer mais que bem querer;  É solitário andar por entre entre a gente;  É nunca contentar-se contentar-se de contente;  É cuidar que se ganha em se perder;

      

 É querer estar preso por vontade;  É servir a quem vence, vence, o vencedor;  É ter com quem nos nos mata lealdade.  Mas como causar pode seu favor  Nos corações corações humanos amizade, amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor?

      

 Sonetos de Camões, Ateliê Editorial 

UNIVERSALIDADE O soneto apresenta as contradi contradições ções características do sentimento amoroso. Nota-se uma série de afirmações que procuram abarcar os diferentes aspectos da experiência amorosa. O poeta, no período renascentista, renascentist a, transforma-se em um homem capaz de representar os homens de seu entorno e de seu tempo, por meio da abordagem de temas universais.

CONEXÕES

DIÁLOGO ENTRE OBRAS

PINTURA

A RETOMADA DOS VALORES CLÁSSICOS O Parnasianismo, movimento literário que ocorre na virada do século XIX para o XX, retoma mais uma vez os valores poéticos clássicos e defende uma concepção artística preocupada, sobretudo, com a forma dos textos. Olavo Bilac (1865-1918), o maior nome do movimento no Brasil, compôs o poema abaixo, que revela a busca do artista pela perfeição formal.

OFÍCIO DE POETA  ���

 A tela Amor tela Amor Sagrado e Amor Profano, Profano, de Ticiano, representa as duas concepções de amor que se opunham no período renascentista: à esquerda há o amor sagrado, representado com pureza, recato e comedimento; e à direita há o amor profano, marcado pela paixão, sensualidade e luxúria. Eros, o deus do amor, brinca na fonte junto às duas imagens complementares. A caracterização dessa duplicidade está ligada a uma visão de mundo que privilegia a universalidade. Em todas as épocas e lugares, a ambiguidade entre amor sensual e amor espiritualizado estaria presente e seria reconhecida pelos diferentes públicos.

CANÇÃO

 Monte Castelo Castelo Renato Russo

 Ainda que eu falasse  A língua dos homens  E falasse a língua dos anjos, anjos,  Sem amor eu nada seria.  É só o amor! É só o amor Que conhece o que é verdade. O amor é bom, não quer o mal,  Não sente inveja inveja ou se envaidece.

Do mesmo modo com que o ourives trabalha com o ouro, de maneira a criar joias perfeitas, também o poeta opera com a palavra à procura da forma ideal. A inveja que o eu lírico sente dos artistas que esculpem as pedras o conduz a uma reflexão sobre a escrita poética.

IMITAÇÃO Tem início um processo de imitação: os artistas clássicos, que não se preocupavam com a originalidade, procuravam seguir os grandes modelos de composição. Também a pena do poeta buscará, de modo meticuloso, as palavras raras e as construções sofisticadas para construir os versos.

 Estou acordado e todos dormem. Todos dormem. Todos dormem.  Agora vejo em parte,  Mas então veremos veremos face a face.  É só o amor, amor, é só o amor (...)

Olavo Bilac

(...)  Invejo o ourives ourives quando escrevo: escrevo:  Imito o amor Com que ele, em ouro, o alto alto-relevo -relevo  Faz de uma flor. flor.

      

 Imito-o. E, E, pois, nem de Carrar Carraraa  A pedra firo: O alvo cristal, a pedra rara, rara, O ônix prefiro.

      

 Por isso, isso, corre, por servir-me,  Sobre o papel papel  A pena, como em prata prata firme Corre o cinzel. (...)  Antologia Poética, L&PM Editores 

PERFEIÇÃO FORMAL RETOMADA   A intertextualidade também está presente na retomada de um texto bíblico do apóstolo Paulo acerca do amor.

INTERTEXTUALIDADE

O amor é o fogo que arde sem se ver (...)

 Profissão de Fé  Fé 

 A canção estabelece um  diálogo intencional com o soneto camoniano com o objetivo de mostrar que as contradições do amor estão presentes em qualquer época e lugar lugar.. Constata-se a ideia de universalidade: Camões não tomou o sentimento amoroso para si, mas para toda a humanidade.

��� © TEREZA BETTINARDI ���  TICIANO/MUSEU GALLERIA BORGHESE

 A preocupação excessiva excessiva com a forma, em detrimento do conteúdo, faz lembrar a reportagem sobre os jovens que exageram na musculação em busca de um corpo perfeito.

METALINGUAGEM  Assim como vimos em Literatura Literatura Medieval, Medieval, na página 16, aqui novamente ocorre um exemplo da metalinguagem. O poema trata do fazer poético e descreve o processo de composição dos poemas.

GE PORTUGUÊS ����

23

MEDIEVAL E RENASCENTISTA CLASSICISMO

CONTRADIÇÕES Neste soneto, o poeta constata que o mundo é repleto de contradições. contradiç ões. Espantado, percebe que os desejos e temperamentos oscilam com o passar do tempo. Conforme o pensamento do filósofo grego Heráclito, retoma a visão antiga de que nada permanece igual no decorrer da existência.

MUDANÇAS  Assim como as estações do ano se sucedem (e a neve se converte em verdor), a vida humana também passa por metamorfoses (o canto alegre é convertido em triste choro).

 Mudam-se os Tempos, Tempos,  Mudam-se as Vontades Vontades Luís Vaz de Camões       

 Mudam-se  Mudam-se os tempos, mudam-se mudam-se as vontades,  Muda-se o ser ser, muda-se a confiança; confiança; Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades.

 ANTÍTESE Note a figura de linguagem que contrapõe ideias contrárias – formada pelo par de opostos mal e bem. Ela é empregada para reforçar a visão de mundo contraditória do poeta.

Continuamente Continuamente vemos novidades,  Diferentes em tudo da esperança; esperança;  Do mal ficam ficam as mágoas mágoas na lembrança, lembrança,  E do bem, se algum houve , as saudades. saudades.

PRONOMES

      

O tempo cobre o chão de verde manto, Que já coberto foi de neve fria,  E em mim converte converte em choro o doce canto.  E, afora afora este mudar-se mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto, Que não se muda já como soía.



 Sonetos de Camões Camões, Ateliê Editorial 

DESCONCERTO DO MUNDO

Os pronomes indefinidos “algum” e “outra”” acentuam os “outra sentimentos de incerteza e distanciamento diante das mudanças do mundo. Já no trecho do Episódios de Inês de Castro (veja na pág. 26 ), ), o uso dos pronomes possessivos “sua” e “tua” revela intimidade e proximidade.

Uma das temáticas da lírica camoniana são as mudanças que ocorrem no mundo. As constantes modificações acontecem acontecem em um ritmo impossível de ser acompanhado e conduzem ao sofrimento.

 AMOR PLATÔNIC PLATÔNICO O

Transforma-Se Transforma-Se o Amador na Cousa Amada Luís Vaz de Camões

Transforma-se o amador na cousa amada,  Por virtude do muito imaginar; imaginar;  Não tenho logo mais que desejar, desejar,  Pois em mim tenho a parte parte desejada.



IDEALIZAÇÃO

���

Uma visão espiritualizada do amor é superior aos desejos físicos e carnais. Por meio do amor puro e idealizado, o sujeito é capaz de alcançar a plenitude do mundo das ideias.

 Se nela está minha alma transformada, transformada, Que mais deseja o corpo de alcançar?  Em si somente somente pode descansar, descansar,  Pois consigo tal alma está liada.  Mas esta linda e pura pura semideia, Que, como o acidente em seu sujeito,  Assim co’ a alma minha se conforma,  Está no pensamento pensamento como ideia;  E o vivo e puro puro amor de que sou sou feito, Como matéria simples busca a forma.  Sonetos de Camões Camões, Ateliê Editorial

24

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

O eu lírico constrói o soneto partindo de uma tese inicial, de origem platônica: quando aquele que ama se identifica totalmente com o ser amado, alcança a completude. A identidade do sujeito poético vai sendo transformada pela observação idealizada da mulher, considerada perfeita e sublime.

PERFEIÇÃO 

Note o caráter divino e puro da mulher, com uma perfeição característic característica a do mundo elevado das ideias. O poema reflete a teoria do neoplatonismo amoroso e retrata o processo de purificação da alma por meio do amor.

DIÁLOGO ENTRE OBRAS

CONEXÕES

A REINVENÇÃO DO SONETO

CANÇÃO

O poeta brasileiro Vinicius de Moraes (1913-1980), no século XX, recuperou a forma clássica do soneto italiano (com duas estrofes de quatro versos e duas estrofes de três versos) para tratar do sentimento amoroso. Após a revolução estética promovida pelo Modernismo, a partir de 1922, a retomada de uma forma poética tradicional não contradiz as tentativas de renovação. Abolidas as regras que obrigavam o poeta a compor conforme modelos preestabelecidos, é possível o uso das convenções apenas no momento em que elas são de fato pertinentes.

 Apen  Apenas as Mais Mais uma uma de Amor  Amor   AMOR PLATÔNIC PLATÔNICO O O tema do amor idealizado e não correspondido,, presente correspondido no poema TransformaSe o Amador na Cousa  Amada, permanece vivo

nas canções populares atuais. Aqui o eu lírico (aquele que expressa os sentimentos do autor) prefere ocultar o intenso amor que sente.

ENCANTAMENTO O eu lírico deseja aproveitar ao máximo cada momento e mostra-se dedicado ao seu amor. Para aquele que ama, as qualidades do ser amado são intensificadas, fazendo com que o encantamento seja cada vez maior maior..

Lulu Santos

 Eu gosto tanto tanto de você Que até prefiro esconder  Deixo assim ficar  Subentendido Como uma ideia que existe na cabeça  E não não tem a meno menorr obrig obrigaçã açãoo de acontece acontecerr (...)  ABSTRAÇÃO  ABSTRA ÇÃO Repare no caráter ideal do sentimento amoroso, que se conserva como uma experiência abstrata e não precisa se realizar concretament concretamente. e.

Soneto de Fidelidade  Vinicius de Moraes Moraes

 De tudo ao meu amor serei atento  Antes, e com com tal zelo, zelo, e sempre, sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto  Dele se encante mais meu pensamento

       

Quero vivê-lo em cada vão momento  E em seu louvor louvor hei de espal espalha harr meu canto  E rir meu riso e derramar meu pranto  Ao seu pesar pesar ou seu contentamento contentamento





 

 E assim, quando quando mais tarde tarde me procure procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama  Eu possa me me dizer do amor amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama  Mas que seja infinito enquanto enquanto dure. Janeiro:  Antologia Poética Poética. Rio de Janeiro: Editora do Autor, Autor, 1960. p. 96. 

UNIVERSALIDADE  Além da forma (soneto), a presença de de Camões na obra de Vinicius também se dá pela temática: a universalização do sentimento amoroso. Mas, ao contrário de Camões, o amor em Vinicius é concreto e efêmero (não mais eterno e espiritualizado).

��� ©

TEREZA BETTINARDI ��� REPRODUÇÃO

PRONOMES

ANÚNCIO PUBLICITÁRIO

 A subjetividade é reforçada pelo emprego de pronomes pertencentes à primeira pessoa do singular. O poeta utiliza o pronome possessivo meu ao lado de substantivos relacionados ao universo de sua intimidade.

EFEMERIDADE



Considerando a rápida passagem do tempo e a fugacidade dos momentos felizes, o poeta deseja desfrutar intensamente os prazeres amorosos.

BREVIDADE Nota-se nos versos de  Vinicius a questão da brevidade da vida, tema frequente nos textos do Renascimento.

���

O anúncio acima, além de mostrar alguns estereótipos relacionados aos universos masculino e feminino, lembra outro a fim de convencer o público a adotar um cachorro: o de que esse animal é o melhor amigo do homem. A preocupação masculina com o futebol é ressaltada: durante a partida, o cachorro distrai a mulher; o interesse feminino por histórias românticas também é destacado: o cachorro distrai o homem durante a novela. E a função apelativa da linguagem aparece por meio do uso de um verbo no imperativo: “descubra por que um cão é a melhor companhia para um casal”. GE PORTUGUÊS ����

25

MEDIEVAL E RENASCENTISTA CLASSICISMO

Camões épico

Luís de Camões compôs a epopeia Os Lusíadas, publicada em 1572. Esse poema épico segue os modelos literários da Antiguidade clássica

(como a  Ilíada e a Odisseia, epopeias gregas

 AMOR PROIBIDO Um dos episódios mais famosos da história de Portugal, retratado por Camões em Os Lusíadas, é a história de Inês de Castro, amante do príncipe dom Pedro, assassinada por causa do amor proibido e coroada rainha depois de morta.

atribuídas a Homero, e Eneida, epopeia latina de Virgílio). A obra, dividida em dez cantos, narra os principais acontecimentos da história de

Portugal e os grandes feitos lusitanos, com base no relato da viagem vi agem de Vasco da Gama às Índias. Ao mesmo tempo que exalta os descobrimentos marítimos, Camões faz uma crítica pessimista à ambição descontrolada dos conquistadores portu portugueses. gueses. O autor funde elementos épicos

Os Lusíadas Luís Vaz de Camões       

CANTO III – Episódios de Inês de Castro

Universalidade

(...) amor, com força crua Tu só, tu , puro amor, Que os corações humanos tanto obriga,  Deste causa à molesta molesta morte sua, Como se fora pérfida inimiga.  Se dizem, fero fero Amor, Amor, que a sede tua  Nem com lágrimas tristes se mitiga, mitiga,  É porque queres, queres, áspero áspero e tirano, tirano, Tuas aras banhar em sangue humano.

Perfeição formal 

CANTO IV – Episódio O Velho do Restelo

e líricos e sintetiza as principais marcas do

Renascimento português: o humanismo, o racionalismo e as expedições ultramarinas.

Em Os Lusíadas, a tendência à universalidade está ligada à valorização das potencialidades humanas, a qual é concretizada, no caso dos portugueses, pelo grande projeto das navegações. O desbravamento desbravamento de novas terras e o poderio do Inês, posta em sossego, sossego, império lusitano refletem a grandeza racional  Estavas, linda Inês, e empreendedora do ser humano. (...)  O poema também representa a busca estética pela configuração da obra perfeita. A preocupação com a forma é uma característica dos

movimentos artísticos de inspiração clássica. Nesse sentido, Os Lusíadas estabelece diálogo com o poema de Olavo Bilac, Profissão  Profissão de Fé , que exemplifica a obsessão clássica pela exploração das capacidades humanas que podem conduzir à perfeição da obra de arte.



O QUE ISSO TEM A VER COM A HISTÓRIA Entre os séculos XV e XVI, países europeus, como Portugal, empreendem grandes navegações em busca de riquezas além-mar. além-mar. A expansão marítima resulta em importante revolução comercial, no enriquecimento das burguesias nacionais e na formação de vastos impérios coloniais. Para saber mais, veja o GUIA DO ESTUDANTE HISTÓRIA.

Ó glória de mandar! Ó vã cobiça  Desta vaidade, vaidade, a quem quem chamamos chamamos Fama! Ó fraudulento gosto, que se atiça C’uma aura popular, que honra se chama! (...)       

CANTO X 

 Não  Não mais mais,, Musa Musa,, não não mais, mais, que a lir liraa tenh tenhoo destemperada destemperada e a voz enrouquecida, e não do canto, mas de ver que venho cantar a gente surda e endurecida. O favor com que mais se acende o engenho não no dá a pátria, não, que está metida no gosto da cobiça e na rudeza duma austera, apagada e vil tristeza. (...) Editora Ática

PESSIMISMO  A epopeia camoniana camoniana não apenas exalta os os grandes feitos dos conquista conquistadores dores portugueses: o sujeito poético expressa à Musa que fará menção a aspectos negativos dos empreendimen empreendimentos tos marítimos portugueses. Em tom pessimista, o poema alerta que o sonho de grandeza de Portugal corre o risco de ser prejudicado pela cobiça e pela ambição. 26

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����



PRONOME PESSOAL O episódio de Inês de Castro é repleto de lirismo e possibilita reflexões sobre o sentimento amoroso, ao qual se dirige o sujeito poético. Note o emprego do pronome pessoal tu para invocar o Amor, abordagem que indica proximidade e informalidade em relação a um sentimento familiar aos seres humanos.

CARACTERIZAÇÃO DO AMOR  Ao mesmo tempo que é marcado pela pureza, o amor, com  força cruel, submete os corações. coraçõ es. A intensidade do sentimento é incontrolável: incontroláv el: feroz, áspero e tirano. E muitas vezes conduz a desfechos tristes e sangrentos. 

OLHAR CRÍTICO Portugal aproximava-se do ápice de uma crise cultural e econômica, profetizadaa pelo Velho profetizad do Restelo, que denuncia a ambição desmedida dos conquist conquistadores adores portugueses. A crítica à nação lusitana está presente em toda a literatura portuguesa – José Saramago, no século XX, em obras como  A Jangada de Pedra, dá continuidade à tradição de questionamento da realidade do país. Os versos camonianos refletem, ainda, a visão de que o mundo está sempre em transformação transformaç ão – assim, a vaidade dos lusitanos poderia se converter em crise e fracasso.

SAIU NA IMPRENSA

DIÁLOGO ENTRE OBRAS

SIM, ELE PODE

DESENCANTO E OLHAR NACIONALISTA Em Viagens na Minha Terra  (1846), do autor português Almeida Garrett, uma viagem de Lisboa a Santarém, em 1823, é permeada por digressões, além al ém de contar a história sentimental de Carlos e Joaninha. A obra trava um diálogo convergente e divergente com o poema épico de Camões, Os Lusíadas . O ufanismo de Camões se opõe ao desencanto de Garrett, mas apresenta total sintonia com a profética fala pessimista de O Velho do Restelo  ( veja na página ao lado). lado). Ambas as obras, cada uma a seu modo, apresentam um olhar nacionalista. O autor, com seu humor ácido, também inspira Machado de Assis na criação de Memórias Póstumas de Brás Cubas . O processo de construção metalinguístico de Garrett é uma referência fundamental na prosa machadiana.

 João Pereira Coutinho Coutinho

Hoje é dia de Super Terça nos Estados Unidos e só

existe uma pergunta: como explicar o sucesso de Donald Trump? São infinitos os artigos que repetem a pergunta como se Trump fosse uma nova epidemia (...) Li muitos desses artigos. Parei, por motivos óbvios:  já não aguentava tanto riso. riso. (...) Mas o único artigo com pés e cabeça foi escrito por Daniel Drezner no The Washington Post : se Trump vencer a indicação republicana, a culpa é dos cientistas

políticos. A culpa, no fundo, é de pessoas como eu e da “ciência” que eu pratico. Maldito seja Daniel Drezner! E não é que ele tem razão? Diz Drezner que, nos últimos anos, os “cientistas”

desenvolveram uma teoria que consideravam infalível: nas eleições presidenciais, vence quem tem o apoio do partido. Foi a confiança na “ciência” que levou o Partido Republicano a desprezar a ameaça Trump. Aliás, os outros candidatos conservadores se alinharam na mesma falácia: nos debates, gastaram munições uns

Viagens na Minha Terra  Almeida Garrett

(...)  Desde que entendo, que leio, que admiro Os Lusíadas, enterneço-me, choro, ensoberbeço-me com a maior obra de engenho que apareceu no mundo, desde a Divina Comédia até ao Fausto.

contra os outros – e esqueceram-se esqueceram-se de Trump, imperial e ileso. Agora é tarde, Inês é Morta. (...) Folha de S.Paulo, 1/3/2016 

Neste artigo, o cientista político e escritor português João Pereira Coutinho escreve sobre o inesperado bom desempenho do pré-candidato republicano Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Ele faz referência à personagem Inês de Castro, de Os Lusíadas. Para reforçar seu texto irônico, o autor lança mão de um dito popular português que ganhou fama por sugerir que não adianta reclamar depois dos fatos consumados: “ Agora, Inês é morta”. O provérbio faz alusão à lenda de que depois de morta, Inês de Castro foi coroada rainha por dom Pedro. Encontramos no Brasil provérbio semelhante: “Não adianta chorar o leite derramado”.

PARA IR ALÉM O cartunista Fido Nesti imprimou cores fortes e traços marcantes na sua adaptação de Os Lusíadas para HQ, da Editora Peirópolis. Nela, Camões, que também é um personagem, conduz a narrativa. São retratados quatro episódios da grandiosa epopeia:  Inês de Castro, Gigante Adamastor , O Velho do Restelo e a Ilha dos Amores. É possível ver as primeiras páginas da publicação no site da editora (use a busca para localizar): www.editorapeiropolis.com.br.

GLÓRIA VERSUS DESILUSÃO Enquanto em Os Lusíadas são contadas as glórias de Portugal, em Viagens na Minha Terra não há armas, barões nem musas, e Garrett mostra a desilusão diante de um país que não é fiel às tradições, ao espiritual, porque sucumbiu ao materialismo e à ambição (representada pela personagem Carlos).

(...)  Mas essas crenças são para os que se fizeram  grandes  grandes com elas. A um pobre homem o que lhe  fica para para crer? crer? Eu, apesar dos críticos ainda creio no nosso Camões; sempre cri.  E contudo, desde a idade da inocência em que tanto me divertiam aquelas batalhas, aquelas aventuras, aquelas histórias de amores, aquelas cenas todas, tão naturais, tão bem pintadas – até esta fatal idade da experiência, idade prosaica em que as mais belas criações do espírito parecem macaquices diante das realidades do mundo, e os nobres movimentos do coração quimeras de entusiastas, até esta idade de saudades do passado e esperanças no futuro, mas sem gozos no  presente, em que o amor da pátria (também isto será fantasmagoria?) e o sentimento íntimo do belo me dão na leitura dos Lusíadas outro deleite diverso, mas não inferio inferiorr ao que noutro tempo me deram – eu senti sempre aquele grande defeito do nosso grande poema; e nunca pude, por mais que buscasse, achar-lhe, justificação não digo – nem sequer desculpa. Porto: Anagrama, 1984.

GE PORTUGUÊS ����

27

COMO CAI NA PROVA

1. (UNIFESP 2010) Leia o texto de Gil Vicente. DIABO – Essa dama, é ela vossa?  FRADE – Por minha a tenho eu e sempre a tive de meu. DIABO – Fizeste bem, que é fermosa! e não vos punham lá grosa nesse convento santo?  FRADE – E eles fazem outro tanto! DIABO – Que cousa tão preciosa! No trecho da peça de Gil Vicente, fica evidente uma a) visão bastante crítica dos hábitos da sociedade da época. Está clara a censura à hipocrisia do religioso, que se aparta daquilo que prega. b) concepção de sociedade decadente, mas que ainda guarda alguns valores essenciais, como é o caso da relação entre o frade e o catolicismo. c) postura de repúdio à imoralidade da mulher que se põe a tentar o frade, que a ridiculariza em função de sua fé católica inabalável. d) visão moralista da sociedade. Para ele, os valores deveriam ser resgatados e a presença do frade é um indicativo de apego à fé cristã. e) crítica ao frade religioso que o ptou em vida por ter uma mulher, contrariando a fé cristã, o que, como ele afirma, não acontecia com os outros frades do convento.

RESOLUÇÃO  Auto da da Barc Barca a do do Infer Inferno no realiza, no contexto do Humanismo português, O Auto uma crítica às instituições sociais e religiosas. No fragmento, nota-se uma sátira à hipocrisia religiosa por meio da caracterização do Frade, um personagem materialista e mulherengo, pouco praticante dos valores cristãos. As características da personagem podem ser identificadas por meio das falas dele – como a referência feita à companhia feminina ou a sugestão dos outros pecados cometidos pelos religiosos do convento. Resposta: A

2. (ENEM 2014) O exercício da crônica Escrever crônica é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um cronista; não a prosa de um f iccionista, na qual este é levado meio a tapas pelas personagens e situações que, azar dele, criou porque quis. Com um prosador do cotidiano, a coisa fia mais fino. Senta-se ele diante de uma máquina, olha através da janela e busca fundo em sua ima ginação um assunto qualquer, qualquer, de preferência preferência colhido no noticiário matutino, ou da véspera, em que, com suas artimanhas peculiares, possa injetar um sangue novo. Se nada houver, resta-lhe o recurso de olhar em torno e esperar que, através de um processo associativo, surja-lhe de repente a crônica, provinda dos fatos e feitos de sua vida emocionalmente despertados pela concentração. Ou então, em última instância, recorrer ao assunto da falta de assunto, já bastante gasto, mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o inesperado. MORAES, V. Para Viver um Grande Amor: Crônicas e Poemas. Poemas. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

Predomina nesse texto a função da linguagem que se constitui a) nas diferenças entre o cronista e o ficcionista. b) nos elementos que servem de inspiração ao cronista. 28

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

c) nos assuntos que podem ser tratados em uma crônica. d) no papel da vida do cronista no processo de escrita da crônica. e) nas dificuldades de se escrever uma crônica por meio de uma crônica.

RESOLUÇÃO Predomina a função metalinguística, uma vez que o autor constrói uma crônica para tratar da composição desse gênero textual, enfatizando as dificuldades envolvidas no processo de escrita. Ao resolver questões sobre as funções da linguagem, é importante identificar o elemento da comunicação priorizado: no caso, a ênfase recai sobre o próprio código (a crônica), o que permite associar o texto ao recurso da metalinguagem. Resposta: E

3. (ENEM 2015) Embalagens usadas e resíduos devem ser descartados adequadamente Todos os meses são recolhidas das rodovias brasi leiras centenas de milhares de toneladas de lixo. Só nos 22,9 mil quilômetros das rodovias  paulistas são 41,5 mil toneladas. O hábito de descartar embalagens,  garrafas, papéis e bitucas de cigarro pelas rodovias persiste e tem aumentado nos últimos anos. O problema é que o lixo acumulado na rodovia, além de prejudicar o meio ambiente, pode impedir o escoamento da água, contribuir para as enchentes, provocar incêndios, atrapalhar o trânsito e até causar acidentes. Além dos perigos que o lixo representa para os motoristas, o material descartado poderia ser devolvido para a cadeia produtiva. Ou seja, o papel que está sobrando nas rodovias  poderia ter melhor destino. Isso também vale para os p lásticos inservíveis, que poderiam se transformar em sacos de lixo, baldes, cabides e até acessórios para os carros. Disponível em: www.girodasestradas.com.br. Acesso em: 31 jul. 2012.

Os gêneros textuais correspondem a certos padrões de composição de texto, determinados pelo contexto em que são produzidos, pelo público a que eles se destinam, por sua finalidade. Pela leitura do texto apresentado, reconhece-se que sua função é a) apresentar dados estatísticos sobre a reciclagem no país. b) alertar sobre os riscos da falta de sustentabilidade do mercado de recicláveis. c) divulgar a quantidade de produtos reciclados retirados das rodovias brasileiras. d) revelar os altos índices de acidentes nas rodovias brasileiras poluídas nos últimos anos. e) conscientizar sobre a necessidade de preservação ambiental e de segurança nas rodovias.

RESOLUÇÃO O texto trata da quantidade de lixo descartado nas rodovias e chama atenção para o perigo de acidentes e para os danos causados ao meio ambiente. Ao tratar dos objetivos de composição dos textos, é fundamental ressaltar os principais argumentos e informações apresentados pelo autor para reconhecer corretamente a finalidade com que foram produzidos. No caso do texto em questão, nota-se que todos os recursos informativos e argumentativos têm como função garantir garantir a conscientização conscientização dos leitores a respeito do problema do lixo. Resposta: E

RESUMO

Liter Lit eratu atura ra Me ie ieva va e Rena Renasc scent entist ista a

(ENEM 2015)  Azeite de oliva oliva e leo de de linhaça linhaça:: uma dupla imbat ve Rico em gorduras do bem, ela combate a obesidade, dá um chega pra lá no diabete e ainda livra o coração de entraves Ninguém precisa esquentar a cabeça caso não seja possível usar os dois óleos juntinhos, no mesmo dia. Individualmente, o duo também bate um bolão. Segundo um estudo recente do grupo EurOlive, formado por instituições de cinco países europeus, os polifenóis do azeite de oliva ajudam a frear a oxidação do colesterol LDL, considerado peri goso. Quando isso ocorre, reduz-se o risco de placas de gordura na parede dos vasos, a temida aterosclerose – doença por trás de encrencas como o infarto. MANARINI, T. Saúde É Vital. n. 347, fev. 2012 (adaptado).

Para divulgar divulgar conhecimen conhecimento to de natureza cient fica para um p blico não especializado, Manarini recorre à associação entre vocabulário formal e vocabulário informal. informal. Altera-se o grau de formalidade do segmento no texto, sem alterar o sentido da informação, com a substituição de

“ma nda embora o diabete” dia bete”.. a) “dá um chega pra lá no diabete” por “manda cabeça”.. b) “esquentar a cabeça” por “quebrar a cabeça” show”. c) “bate um bolão” por “é um show”. d) “juntinhos” por po r “misturadinhos”. “misturadinhos”. e) “por trás das encrencas” por “causadora de problemas”. RESOLUÇÃO A única alteração alteração que emprega a linguagem ormal, sem utilizar marcas coloquiais ou alterar o sentido original da expressão popular, “causadora de problemas” . A alternativa exemplifica uma troca possível entre uma construção construç ão coloquial e outra formal. Resposta: E

. (UNICAMP 2010) Propaganda do dicionário Aurélio

Trovadorismo, Humanismo e Classicismo são os principais mo vimentos literários que se desenvolveram no Ocidente durante a Idade Média (476 a 1453) e o Renascimento Renascime nto (séculos XIV ao XVI). TROVADORISMO  Período

que se inicia no século XII e se

estende até o XV e reúne os primeiros registros poéticos da íngua portuguesa.

• Cantiga Há duas temáticas básicas: a lírica e a satírica. Cantigas líricas Tratam do sofrimento resultante de amores impossíveis. Dividem-se nas cantigas de amor e de amigo. Cantigas satíricas Expressam críticas a personalidades e autoridades. Contemplam as de escárnio e as de maldizer. • Prosa O principal gênero em prosa do período é a novela de cavalaria (uma longa narrativa protagonizada por heróis que se caracterizam por virtudes nobres e guerreiras).

HUMANISMO Período de transição entre a decadência dos valores feudais da Idade Média e o surgimento do Renascimento. representantee do período, em língua lí ngua • Gil Vicente É o maior representant portuguesa, autor de  Auto da Barca do Inferno, publicado em 1517. Na obra, obra, os personagens personagens estabel estabelecem ecem di logos com o An o e o Diabo, dentro de uma visão de mundo cristã. cristã.

CLASSICISMO  Período literário que se desenvolve na Renascença, nos séculos XV e XVI. Tem influência do pensamento humaista e da valorização do antropocentrismo (o homem como o centro do universo) e do racionalismo (valorização da razão). Tanto nas composições líricas como nas epopeias há um resgate das formas e temas que vigoraram na Antiguidade clássica. GRAMÁTICA E INTERPRETAÇÃO um a carga • Funções da linguagem Em toda comunicação, há uma de intencionalidade, que se relaciona às funções poética (ex: poesia), emotiva (cartas e artigos), referencial (textos jornalísticos e científicos) e apelativa (conselho, anúncio publicitário).

Foto: Reprodução/Unicamp

Nessa propaganda do dicionário Aurélio, a expressão “bom pra burro” é polissêmica, e remete a uma representação de dicionário. Explique como o uso da expressão “bom pra burro” produz humor nes nessa sa prop propaga agan n a.

RESOLUÇÃO Típica questão sobre polissemia. O humor é provocado pela duplicidade de sentido da expressão “bom pra burro” , que pode ser associada tanto a um produto de boa qualidade quanto ao direcionamento para pessoas pouco informadas (reforçando a expressão popular “pai dos burros” ). ).

• Sentidos denotativo e conotativo O primeiro diz respeito ao significado literal, dicionarizado (Chegou uma nova fera no  zoológi  zoo lógico; co; fera fera = anim animal al), enquanto o segundo se refere à linguagem figurada (Meu pai ficou uma fera comigo; fera = bravo). • Substantivo É a palavra com que se denominam as coisas: ônibus, alegria, Brasil. Em relação ao sentido, há substantivos que ganham outro significado quando se altera o número (singular ou plural; ex: água e águas) e o gênero (masculino ou feminino; feminino; ex: a capital capital e o capital . • Polissemia Uma mesma palavra pode apresentar múltiplos sentidos. Ex: pena (parte do corpo das aves; dó; e pena judicial).

GE PORTUGUÊS ����

29

2

LITERATURA COLONIAL CONTEÚDO DESTE CAPÍTULO

� Interpretando: figuras de linguagem.............................. linguagem............................................... .......................... ......... ��

.................................................... ................................... ................................... .............................. ............ �� � Quinhentismo .................................. ..................................................... ................................... ................................... ................................... ........................36 ......36 � Barroco .................................... ................................................... ................................... ................................... ................................... .....................40 ...40 � Arcadismo .................................. p rova + Resumo ................................... ..................................................... ....................................42 ..................42 � Como cai na prova

Conflito de ideias O clima de intolerância que permeia a polarização política vivida pelo país nos últimos tempos revela nossa incapacidade de dialogar com o diferente

O

processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff  (PT)  (PT) dividiu o país. De um lado, os contrários ao afastamento da mandatária, rotulados pelos opositores de “petralhas”, uma corruptela de petistas e Irmãos Metralha, referência aos larápios personagens da Disney. Do outro, os apoiadores do impeachment, transformados em “coxinhas”, adjetivo com múltiplos significados (mauricinho, playboy, arrumadinho,  bem-na  bem-nasc scid ido o e malcri malcriado ado etc.) etc.) usad usado o para para desi design gnar ar a parcela mais privilegiada da sociedade.  A dicotomia criada pela polarização política nos últimos tempos, apontam sociólogos e cientistas políticos, é um sinal da falta de maturidade de nossa democracia, incapaz de lidar com dissensos e, a partir deles, produzir consensos utilizando-se de uma argumentação ética e consistente. Ao recusarem o diálogo, as pessoas se fecham ao embate de ideias e passam a se guiar por um pensamento perigoso, algo como “se você não pensa igual a mim, é meu inimigo”. inimigo” . Uma consequência direta desse sectarismo é o fortalecimento do discurso do ódio. O ânimo belicoso do brasileiro contaminou não apenas as ruas, mas os almoços de família, os consultórios médicos e os locais de trabalho. No Rio Grande do Sul, uma pediatra recusou-se a atender uma criança porque a mãe dela era ligada 30

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

ao partido da presidente. Em São Paulo um menino de 8 anos foi hostilizado na escola por usar uma camiseta vermelha com a bandeira da Suíça. O Fla-Flu político em que o Brasil se transformou desde a reeleição da presidente Dilma Rousseff  também  também invadiu as redes sociais. Posts eivados de xingamentos, preconceito e todo tipo de acusação inundaram a web, revelando de forma cristalina a profundidade da cisão estabelecida em nosso país.  A oposição oposição de ideias ideias e a existênc existência ia de conflitos conflitos dualistas são também fortes características do Barroco (1601-1768), (1601-1768), movimento artístico a rtístico influenciado pelo final do Renascimento (e a ideia de que o homem é o centro do Universo) e o início da Contrarreforma (reação católica à expansão protestante, que recoloca deus como o centro do mundo). A tensão entre elementos contrários (sagrado e profano, fé e razão, vida espiritual e  vida  vida materi material) al) e os diledile- A FAVOR E CONTRA mas dos artistas do pe- Deputados se manifestam ríodo refletem-se num durante a sessão que discurso conturbado, antecedeu a votação do com o uso frequente de processo de impeachment figuras de linguagem, da presidente Dilma sobretudo de antíteses Rousseff, na Câmara, em 17 de abril de 2016 e paradoxos.

UESLEI MARCELINO/REUTERS MARCELINO/REUTERS

GE PORTUGUÊS ����

31

2

COLONIAL INTERPRETANDO

Quando o texto cria imagens

D

 As figuras figuras de de e autoria da jornalista Marina Novaes, o linguagem estão artigo abaixo foi publicado em setembro relacionadas às de 2015 no site do jornal El jornal El País País Brasil Brasil.. A diversas formas  jornalist  jornalistaa aproveit aproveitaa o momento momento políti político co conturconturde empregar  bado  bado e polariza polarizado do para analisar analisar de forma forma bem-hu bem-hu-expressões em morada e crítica as relações sociais em e m tempos de sentido simbólico novidades cibernéticas e de dicotomias políticas. O texto aborda como as relações amorosas são afetadas por questões ideológicas e partidárias e  brinca com com o humor e com o jogo de de oposição oposição e de atração que ocorre em situações como essas. Para justificar sua tese de que sempre tentamos modificar a pessoa amada de acordo com nossos

interesses e convicções (“Quem nunca tentou mudar a pessoa amada que atire o primeiro título de eleitor”), eleitor”) , a autora explora de modo intenso o recurso das figuras de linguagem  – os diferentes modos de empregar uma expressão para além do seu sentido denotativo (dicionarizado) de modo a provocar efeitos diversos.  A metáfora metáfora,, a antítese, antítese, o paradox paradoxo, o, a personifipersonificação, entre outras figuras, têm a capacidade de produzir imagens que apontam para uma linguagem simbólica, indireta, surpreendente ou simplesmente enfática. Ao se utilizar desses recursos, o autor enriquece seu texto e seus argumentos.

O amor nos tempos de  polarização política Definitivamente não vivemos uma época boa para os opostos se atraírem. Mas atire o primeiro título eleitoral quem nunca tentou mudar a pessoa amada PARADOXO E IRONIA 

Marina Novaes

No paradoxo ocorrem duas ideias opostas relativas a um mesmo referente. Ao chamar um aplicativo de “menu humano”, a autora junta as noções de cibernético e humano. Há também evidentemente ironia nessa denominação.

 Superado  Superado o luto pelo fim de um relacionamenrelacionamento amoroso que durou dez anos (cujos motivos do término não cabe aqui abordar, pois intimidade com o leitor tem limite), decidi testar o Tinder, encorajada por amigos preocupados com o grau de seriedade da minha relação com o Netflix. Primeiro choque: em poucos minutos nesse menu        humano  me deparo com vários colegas de pro fissão e, sem jeito, quero sumir ( já era era o meu anoanoHIPÉRBATO nimato!). Em tempos de passaralhos e crise na Hipérbato ou inversão se mídia, parece ter mais jornalistas no Tinder que caracteriza caracteriz a pela ordem em muitas redações por aí. Segunda surpresa: as indireta dos elementos  pessoas agora agora se importam com política – ao ponna frase. Na sequência to de isso virar nota de corte na hora da paquera. direta seria “No começo, achei que era eu quem Como se já não estivesse suficientemente difícil...        tinha mudado.”  No começo, achei que quem tinha mudado era eu. Afinal, há uma década (jovem), ( jovem), imporHIPÉRBOLE E tava mais se o pretendente usava crocs crocs ( fuééém! METONÍMIA          Reprovado!)  Reprovado!) do que saber em quem ele tinha voNote que é um exagero tado nas últimas eleições. Mas não, não foi só eu estabelecer o uso de quem revi as minhas prioridades. O Brasil muum calçado como fator decisivo para uma escolha dou. E agora não basta apenas sair bem na foto: amorosa – daí a hipérbole. é preciso sair bem na foto E não ser coxinha – ou O calçado estabelece uma não ser petralha (a inclinação política fica a gosrelação de causa e efeito: to do freguês). quem o usa é uma pessoa de mau gosto – o que caracteriza a metonímia. 32

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����



PERSONIFICAÇÃO  A passagem passagem sugere sugere que a autora mantém “relação séria” com o Netflix, um dos maiores serviços de  streaming  streamin g de vídeos do mundo, como se ele fosse um ser humano. Dessa  forma atribui a um serviço características humanas.

METÁFORA   A autora afirma que as preferências políticas vão se tornar critério de seleção na hora da paquera. Ela cria a imagem da “nota de corte” empregada em  exames vestibulares como exemplo de critério de seleção.

METONÍMIA 





Brasil é tomado como um todo para representar seus habitantes. Exemplo clássico de metonímia.

 ANTÍTESE E METÁFORA  METÁFORA  Explora-se a oposição entre simpatizantes da direita e da esquerda metaforizados metaforizad os como “coxinhas” e “petralhas”.

Qual não foi o meu espanto ao ver ditados da Clarice Lispector – como o simpático “amar os outros é a única salvação individual que conheço” – dividindo o espaço da descrição pessoal com frases bem menos receptivas como “você que votou na Dilma: FOOOORA!!!” ou “reaças, nem  gastem seu tempo comigo”. Definitivamente não vivemos uma época boa para os opostos se atraírem. Ou melhor, os opostos podem até se atrair, mas considerando as demonstrações de agressividade da nossa era de polarização, eles correm o risco de protagonizar uma versão politizada do  Romeu & Julieta (e a gente sabe como isso acabou, não?). A torcer por um final mais feliz.  De olho olho nesse nicho, crescem os rumores rumores de que empreendedores do amor   estariam desenvolvendo o PoliTinder: um app para unir pretendentes com as mesmas inclinações ideológico-partidárias e, assim, quem sabe diminuir as chances de uma desilusão amorosa mais mais adiante ( já que a desilusão política ninguém pode garantir que não vá ocorrer). Os mais românticos dirão que tudo não passa de um exagero. Convenhamos, no calor da  paixão, esses detalhes tão pequenos de nós dois  pouco importam. Apaixonados, Apaixonados, nos iludimos na esperança de convencer o outro a trocar de lado até a próxima votação. votaç ão. “Mas, amor, amor, esse Governo Gove rno adotou a mesma política econômica que a gente adotaria. Até nomearam o Joaquim Levy!”,  falaria o nosso Romeu da oposição. “Até “Até a Kátia  Abreu virou ministra” ministra” – ele não não desiste. “Nem me         venha com esse golpe pra cima de mim! Ou vai dormir no sofá!”, rebateria nossa Julieta governista, enfática.         Quem nunca tentou mudar a pessoa amada que atire o primeiro título de eleitor. Marina Novaes é jornalista no El País Brasil Brasil. Não tem nenhum livro publicado, mas é gente fina.

SEMÂNTICA E HUMOR  As palavras extraídas extraídas do jargão político político e econômico econômico associadas à história de Romeu e Julieta criam efeito de humor e estabelecem relação imediata com a proposta da autora (relações amorosas afetadas por questões ideológicas).

INTERTEXTUALIDADE INTERTEXTU ALIDADE E HUMOR  A frase cria um efeito efeito de humor intertextual com o ditado “Quem nunca pecou que atire a primeira pedra”. Pecar é substituído por “tentar mudar a pessoa amada”. E pedra, por título de eleitor. © TEREZA BETTINARDI

PARADOXO  A frase estabelece estabelece relação paradoxal, parado xal, uma vez que a salvação individual não reside no amor próprio, pelo contrário, depende do amor ao outro.

PARADOXO



Novo paradoxo na relação entre as palavras empreendedor (que remete ao mundo empresarial) e amor (que diz respeito ao universo das emoções e dos sentimentos).

CONOTAÇÃO E INTERTEXTUALIDADE 

 A palavra palavra “calor “calor”” foi empregada em sentido conotativo (figurado) para indicar intensidade. Ela estabelece relação de humor com o trecho da famosa canção de Roberto Carlos (Detalhes).

SAIBA MAIS

 AS PRINCIPAIS PRINCIPAIS FIGURAS DE LINGUAGEM Metáfora: consiste na aproximação de objetos pertencentes a universos diferentes, mas que apreé fogo que  que sentam características comuns. Ex: Amor éfogo arde sem se ver . Metonímia: estabelece uma relação entre elementos pertencentes a um mesmo universo, de modo que a parte substitui o todo. Ex: Tenho oito bocas  para alimentar. Ironia: emprego de uma expressão com o objetivo de dizer o contrário. Ex: Como você está linda! linda! (quando, na verdade, está horrível). Paradoxo: ocorre quando há duas ideias contraditórias relativas a um mesmo referente. Ex: Dormindo acordado , sonhei com você.  Antítese:  Antítese: opõe, numa mesma frase, duas palavras ou ideias de sentidos opostos, mas sem haver contradição. Ex: Estou acordado e acordado  e todos dormem todos dormem.. Eufemismo: estabelece expressão mais agradável para suavizar o sentido. Ex: O réu faltou réu faltou com a verdade no verdade no tribunal (mentiu). Hipérbole: diz respeito aos exageros e à intensifi de lágrimas cação das ideias. Ex: Ela chorou um mar  de antes de dormir . Sinestesia: consiste no cruzamento de alguns dos  é tão doce  (associação cinco sentidos. Ex: Seu olhar  é de visão e paladar). Prosopopeia:  é a atribuição de características humanas a seres inanimados ou a animais. floresta assustou os viajantes. Ex: O sussurro da floresta assustou GE PORTUGUÊS ����

33

2

COLONIAL

QUINHENTISMO

O admirável mundo novo Relatos de viajantes e autos de catequização compõem a literatura do Quinhentismo (1500-1601) (1500-1601)

A

s manifestações literárias sobre o Brasil têm início em 1500, com a carta redigida por Pero Vaz de Caminha ao rei português dom Manuel I, logo após os primeiros contatos dos portugueses com os índios da Bahia e com a natureza exuberante do território desconhecido.  A literatura literatura em língua língua portuguesa portuguesa dos dos viajantes viajantes compreende a produção informativa dos cronistas, que descreviam as riquezas riqu ezas naturais e os habitantes do Novo Mundo, e os textos dos missionários jesuítas, voltados para a conversão e a catequese dos povos indígenas.

Relatos de viajantes O documento considerado “certidão de nascimento do país”, a carta de Pero Vaz de Caminha (1500), conserva o primeiro testemunho sobre o encontro entre índios e portugueses. O relato procura ser objetivo, mas os comentários sobre os costumes indígenas e a apreciação das riquezas naturais revelam a admiração e as emoções do autor da carta. O escrivão português deixa transparecer,

além disso, uma visão de mundo cristã, crente na existência do paraíso terrestre e na necessidade de conversão dos povos nativos. Dessa forma, sob a aparência de imparcialidade, Cami nha insere seu ponto de vista sobre os fatos

observados.

CORRESPONDÊNCIA   As figuras do enunciador (autor) e do enunciatário (a quem se dirige a carta) ficam explícitas no gênero correspondência.  A intenção da mensagem é revelada no início: informar sobre as terras descobertas. Note a estrutura convencional, com vocativo indicando o destinatário (“Senhor”), o corpo do texto (com as notícias sobre o Brasil), a despedida e a assinatura do autor.

Carta a El Rei D. Manuel  Pero Vaz de Caminha

 Senhor:  Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa  Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que ora nesta navegação se achou, não deixarei também de dar disso minha conta a Vossa Alteza (...)

 A feição feição deles deles é serem serem pard pardos, os, maneir maneiraa de aver avermemelhados, de bons rostos e bons narizes, bem-feitos.  Andam  Andam nus, nus, sem nenhuma nenhuma cobertur cobertura. a. Nem Nem estiestimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência inocê ncia como em mostrar o rosto.  Ambos  Ambos trazia traziam m os beiços beiços de baixo fura furados dos e metimetidos neles seus ossos brancos e verdadeiros, de com primento  primento duma duma mão trave travessa, ssa, da grossur grossuraa dum  fuso de algodão algodão,, agudo agudoss na na ponta ponta como um furador furador.. (...)  Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é  graciosa que, querendo-a aproveitar, aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem.  Poré  Porém m o melh melhor or fruto fruto,, que que nela nela se se pode pode fazer fazer,, me me paparece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. (...)  E nesta maneir maneira, a, Senhor, Senhor, dou aqui a Vossa Vossa Alteza Alteza do que nesta vossa terra vi. E, se algum pouco me alonguei, Ela me perdoe, que o desejo que tinha, de Vos tudo dizer, dizer, mo fez assim pôr pelo miúdo. (...)  Beijo as mãos de Vossa Vossa Alteza.  Deste Porto Seguro, Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro primeiro dia de maio de 1500.

DESCRIÇÃO 



       

Textos de evangelização José de Anchieta destacou-se na literatura quinhentista por suas poesias e autos evangelizadores cujo foco era impor a moral religiosa católica aos costumes dos indígenas. O padre também elaborou poemas que apenas revelavam sua necessidade de expressão, como um poeta pagão. Os poemas mais conhecidos de José de Anchieta são Do Santíssimo Santíssimo Sacramento Sacramento e A Santa Santa Inês. Inês.

34

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

TEXTO INFORMATIVO  Após a recome recomendação ndação sobre o destino dos índios, índios, Caminha Caminha conclui a carta explicitando a intenção informativa do texto: a extensão do relato está ligada à necessidade de prestar contas detalhadas e minuciosas ao rei.

O autor faz uma descrição física dos nativos, destacando as diferenças entre eles e os portugueses. A descrição não é pejorativa, como se vê no emprego dos adjetivos “bons”, usado para caracterizar os substantivos “rostos” e “narizes”,, e “bem-feitos”. “narizes”

SALVAÇÃO Em seguida, Caminha descreve fisicamente a paisagem brasileira. No entanto, o destaque da carta recai sobre os habitantes nativos: o autor mostra-se preocupado com a salvação das almas indígenas por meio da conversão ao cristianismo.

 A Santa Inês



Os poemas didáticos de  Anchieta, como A como A Santa Inês,, têm finalidade Inês catequética e são inspirados nas trovas e redondilhas melodiosas medievais. Eles se assemelham a parábolas bíblicas escritas em versos.

José de Anchieta

Cordeirinha linda, Como folga o povo,  Porque  Porque vossa vinda  Lhe dá lume novo!  novo!  Cordeirinha santa,  De Jesus Jesus querida, Vossa santa vida O Diabo espanta.



 Nossa culpa culpa escura escura  Fugirá  Fugirá depressa, depressa,  Pois vossa cabeça Vem com luz tão pura.

VOCABULÁRIO

folga: se alegra lume: luz © TEREZA BETTINARDI

O MODERNISMO E A REFLEXÃO SOBRE O BRASIL

CULPA E PERDÃO

Virginal cabeça,  Pela fé cortada, Com vossa chegada  Já ninguém ninguém pereça; pereça;

Também padeirinha  Sois do vosso Povo, Povo,  pois com vossa vinda, vinda,  Lhe dais trigo novo.

DIFUSÃO DA FÉ

 A noção de culpa e de perdão imposta ao índio revela a intervenção portuguesa, uma vez que a ideia de pecado e de necessidade de purificação não fazia parte dos valores indígenas. O tema dessa intervenção será retomado pelos modernistas de forma crítica e paródica como no poema Erro de Português,, de Oswald Português de Andrade.

Vossa formosura  Honra  Honra é do povo, povo,  Porque  Porque vossa vinda  Lhe dá lume novo. novo.

Vós sois cordeirinha  De Jesus Jesus Formoso; Formoso;  Mas o vosso vosso Esposo  já vos fez Rainha. Rainha.

DIÁLOGO ENTRE OBRAS

O texto trata, com simplicidade, do confronto entre o bem e o mal: a chegada de Santa Inês espanta o diabo e, graças a ela, o povo revigora sua fé. O poema funciona como instrumento evangelizador.

 Por isso vos vos canta Com prazer o povo,  Porque  Porque vossa vinda  Lhe dá lume novo. novo.

Vinde mui depressa  Ajudar o povo, povo,  Pois com vossa vossa vinda  Lhe dais lume novo. novo.

CATEQUESE



PARALELISMO E MUSICALIDADE  A repetição do verso verso “Lhe dá lume novo” e a retomada em “Lhe dais trigo novo” reforça o processo catequético e confere musicalidade ao texto. A linguagem clara contribui para que as ideias sejam facilmente assimiladas.  A musicalidade e a linguagem simples envolvem o interlocutor e o sensibiliza para a mensagem religiosa.

METÁFORA  “Chuva” e “sol” são elementos metafóric metafóricos. os. Os tempos difíceis iniciados a partir do contato entre índios e europeus são comparados comparad os ao ambiente cinzento de um dia de chuva. Se os indígenas estivessem em vantagem em relação ao poderio português, a situação poderia ser diferente e, tal como uma manhã de sol, eles teriam subjugado os invasores.

Os autores modernistas lançaram um olhar aguçado sobre a realidade nacional. O poema Erro de Português tem um título ambíguo que, em vez de designar um desvio à norma culta da língua, se refere aos problemas da colonização. Oswald de Andrade questiona a intervenção europeia na cultura indígena. Além de aspectos formais inovadores – o verso livre (não metrificado), a ausência de pontuação e o efeito de humor –, o autor estabelece uma contraposição entre o português, que veste o índio com seus valores repressivos, e o índio, que poderia ter despido o português desses mesmos valores.

 Erro de Português Português Oswald de Andrade

Quando o português chegou  Debaixo de uma uma bruta chuva Vestiu o índio Que pena!          Fosse uma manhã de sol O índio tinha despido O português

PARA IR ALÉM O filme Caramuru – A Invenção do Brasil (2001), de Guel Arraes, conta a história do pintor português Diogo Álvares, que, após um naufrágio, chega ao Brasil. A exuberância da paisagem e os adornos dos nativos que ele encontra correspondem à descrição feita pelo escrivão Pero Vaz de Caminha em sua carta. Diogo apaixona-se pela índia Paraguaçu, com quem vive um triângulo amoroso formado por sua irmã, a índia Moema. O filme, que tem no elenco Selton Mello, Camila Pitanga e Deborah Secco, é baseado no poema épico Caramuru, do árcade Santa Rita Durão. GE PORTUGUÊS ����

35

2

COLONIAL BARROCO

Entre o céu e o inferno  Autores  Autores do do Barroco Barroco (1601 (1601--1768) 1768) vivem vivem o dilema de conciliar razão e fé

A

rte de contrastes, a literatura do período  barroc  barroco o utiliza utiliza a lingua linguagem gem de manei maneira ra re busc  buscada ada,, empre empregan gando do figur figuras as de lingu linguag agem em (como as antíteses e os paradoxos) que reforçam os conflitos interiores vividos pelo homem no período da Contrarreforma Católica na Europa. O sagrado e o profano, o espiritual e o material, materi al, o céu e a terra são alguns dos elementos opostos presentes nas letras barrocas. Padre Antônio Vieira  A oratória oratória de Padre Padre Vieira (1608-1697), (1608-1697), sacersacerdote jesuíta que alcançou enorme prestígio como pregador, pregador, é um bom exemplo do conceptismo  barroco. Essa corrente literária do século XVII emprega construções sintáticas elaboradas e imagens ilustrativas para veicular um conjunto de pensamentos complexos de acordo com princípios lógicos rigorosos. No Sermão No Sermão de Santo Santo Antônio Antônio aos Peixes Peixes,, pregado pelo sacerdote português aos cidadãos do Maranhão em 1654, fica evidente o combate à corrupção da sociedade. Em vários momentos de sua fala, ele utiliza o recurso da paráfrase para construir sua argumentação. argumentação.  A pregaç pregação ão religiosa religiosa de Vieira Vieira envolve envolve estratéestratégias argumentativas para persuadir o auditório a aderir a determinados comportamentos e

crenças. Na prosa doutrinária do religioso, os argumentos são sempre dirigidos aos fiéis e  visam à conversão daqueles que apresentam

condutas consideradas viciosas. Os argumentos fazem uso da sabedoria bíblica, bem como de imagens e descrições que facilitam a visualização e a assimilação dos conceitos abstratos, com o objetivo de reforçar o ponto de vista defendido pelo sacerdote.

EPISÓDIO BÍBLICO

Sermão de Santo Antônio aos Peixes Padre Antônio Vieira

Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os  pregador  pregadores, es, sois o sal sal da terra: terra: e chama-lhes chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nos sa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os  pregador  pregadores es não pregam pregam a verda verdadeir deira a doutrina; doutrina; ou ou  porque  porque a terra terra se não deixa salgar e os ouvintes, ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. (...) Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou  porque  porque a terra terra se não deixa salgar salgar,, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites.  Não é tudo isto verda verdade? de? Ainda Ainda mal! (...)  Muitas vezes vos tenho pregado nesta igreja, e noutras, noutras, de manhã e de tarde, de dia e de noite, sempre com doutrina muito clara, muito sólida, muito verdadeira, e a que mais necessária e im portante é a esta terra para emenda e reforma dos vícios que a corrompem. (...)          Isto  Isto suposto suposto,, quero quero hoje, hoje, à imitaçã imitaçãoo de Santo Santo AnAntónio, voltar-me da terra ao mar, e já que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes. O mar está tão perto que bem me ouvirão. Os demais podem deixar o sermão, pois não é para eles. Maria, quer dizer, Domina maris: «Senhora do mar»; e posto que o assunto seja tão desusado, espero que me não  falte  falte com com a costu costumad mada a gra graça. ça. Ave Maria. Maria.  Enfim,  Enfim, que havemos havemos de pregar pregar hoje aos peixes? peixes?  Nunca  Nunca pior auditór auditório. io. Ao menos menos têm os peixes peixes duas duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e não falam. Uma só cousa pudera desconsolar ao pregador, que é serem gente os peixes que se não há-de converter. (...)



O QUE ISSO TEM A VER COM A HISTÓRIA  A Contrarreforma Contrarreforma foi um um movimento movimento de afirmação do catolicismo que tinha por objetivo recuperar o espaço político-religioso político-religioso perdido para os protestantes, após a Reforma Luterana (1517). O papa Paulo III convoca, em 1545, o Concílio de Trento, que condena o protestantismo e reafirma os princípios católicos.  A Contrarreforma Contrarreforma não consegue consegue acabar com com o protestantismo, protestantismo, apenas freia sua expansão. Um de seus maiores êxitos é a disseminação da fé católica pelas colônias europeias – inclusive o Brasil. Para saber mais, veja o GUIA DO ESTUDANTE HISTÓRIA. HISTÓRIA.



36

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

 A abertura dos sermões sermões parte sempre de um episódio bíblico. Aqui, ele recorre à metáfora criada por Cristo segundo a qual os cristãos devem funcionar de modo análogo à ação do sal na terra, ou seja, combater a corrupção.

METÁFORA 

 A prosa de Vieira Vieira combina figuras figuras de pensamento pensamento e de construção para atacar as vaidades humanas. O pregador alude à figura de Santo Antônio, que, reza a lenda, teria pregado para um auditório de peixes. Durante o sermão, os peixes funcionam como metáfora dos homens, aos quais se associam por causa de comportamentos semelhantes. A metáfora é a figura de linguagem que aproxima elementos pertencent pertencentes es a universos distintos, em razão da existência de características característic as semelhantes.

PARALELISMO



Recursos como o paralelismo (veja no Saiba mais ao lado) e a anáfora (veja na pág. 22) são usados para justificar a pouca eficácia da retórica sacra. CONFLITO



Uma característica do Barroco é a tensão entre os valores cristãos e os prazeres materiais. Neste sermão, a realidade terrena – representada pelo comportamento religiosamente questionável dos maranhenses da época – se contrapõe à realidade espiritual – simbolizada pelo ideal religioso defendido pelo jesuíta.



PRONOME RELATIVO

 A estrutura sintática sintática dos sermões de Vieira emprega inúmeras relações entre elementos previamente referidos.  Aqui, o pronome pronome relativo “que” retoma o referente “os peixes”, que fora introduzido introduzid o no período anterior. Essas ligações servem para articular os elementos dos textos, encadeando-oss em uma encadeando-o unidade de sentido que permite ao leitor seguir a progressão dos argumentos.

SAIBA MAIS

PARALELISMO  Ah moradores moradores do Maranhão, Maranhão, quanto eu vos  pudera agora dizer neste caso! Abri, abri estas entranhas; vede, vede este coração. coração. Mas ah sim, que me não lembrava! Eu não vos prego a vós,  prego aos peixes. (...)  Antes, porém, que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também agora as vossas repreensões. (...) Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os Tapuias se comem uns aos outros? Muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os Brancos. (...) Morreu algum deles, vereis logo tantos sobre o miserável a despedaçá- lo e comê-lo. Comem-no  os herdeiros, comem-no  os testamenteiros, comem-no  os legatários, comem- no os acredores; comem-no  os oficiais dos órfãos e os dos defuntos e ausentes; come- o o médico, que come- o o sangrador o curou ou ajudou a morrer; come-o que lhe tirou o sangue; come- a a mesma mulher, que de má vontade lhe dá para a mortalha o lençol mais velho da casa; come- o o que lhe abre a cova, o que lhe tange os sinos, e os que, cantando, o levam a enterrar; enfim, ainda o pobre defunto o         não comeu a terra, e já o tem comido toda a terra.  Já se os homens se comeram comeram somente depois de mortos, parece que era menos horror e menos matéria de sentimento. Mas para que conheçais a que chega a vossa crueldade, considerai, peixes, que também os homens se comem vivos assim como vós. (...)



FUNÇÃO APELATIVA  O pregador se dirige diretamente ao auditório. Por meio do uso da função apelativa da linguagem (veja na pág. 15), a argumentação de  Vieira procura procura persuadir o público a aderir aos valores cristãos. Note o uso de verbos no imperativo.

PRONOMES PESSOAIS



No fim do sermão, Vieira abandona a metáfor metáfora a que aproxima homens e peixes. Do mar, o sacerdote passa a terra para tratar da realidade brasileira. brasileir a. A ambição, a mesquinhez, a cobiça e o egoísmo dos homens brancos são apontados pelo sacerdote por meio de exemplos ligados à morte de um cidadão qualquer.. Pronomes qualquer oblíquos são usados para se referir ao indivíduo morto, articulando os diferentes exemplos a um mesmo referente e garantindo a unidade da argumentação.

Construções em paralelo são aquelas que apresentam a repetição intencional de uma estrutura estr utura gramatical em um texto, com o objetivo de explicitar a relação existente entre duas informações. Essas construções servem serve m para articular ideias e expressões similares, de um modo claro e simétrico. Há diversas possibilidades de construir estruturas paralelísticas, como você pode ver a seguir: Repare que as formas verbais são sempre semelhantes e que os termos são muito parecidos:

 feriado e por estar   nevando. • Não fomos à escola por ser  feriado estar  nevando. (preposição + verbo no infinitivo) só porque era feriado, • Não fomos à escola não só porque era feriado, mas também porque nevava . (explicação + verbo no pretérito imperfeito) • A superfície superfície do planeta é coberta coberta em parte por terra e em  parte por água. (note que as estruturas são idênticas, mudando apenas o substantivo final) • É necessário que você venha à festa e traga um presente. (verbos no subjuntivo) cachorro  problemático • Era um cachorro proble mático , ou seja, agressivo e agressivo  e incontrolável . (adjetivos)  Veja  Veja um exemplo em que não há paralelismo e, em seguida, a correção segundo a gramática tradicional: Eu te amo.  amo. Você é linda.(Na primeira frase foi usado • Eu te Você é linda.(Na um pronome pessoal da 2ª pessoa do singular [te]; na segunda frase foi usado um pronome pessoal associado à 3ª pessoa do singular [você]. Para haver paralelismo seria preciso se referir à mesma pessoa.) • A gramática prescreve: prescreve: Eu a amo. Você é linda.

Obras Escolhidas. Lisboa: Sá da Costa, 1952/ 1953.

PARCIALIDADE Os sermões de Vieira têm um tom inflamado, e as frases exclamativas, que procuram impactar o público, revelam o estilo exaltado do pregador que fala no púlpito. Essas características explicitam a parcialidade do orador, defensor da moral cristã e contrário às práticas de vida que não levam em consideração os ensinamentos religiosos. Repare no tom irônico com que Vieira aborda a realidade terrena e os interesses materiais que estão por trás das ações humanas. © TEREZA BETTINARDI

GE PORTUGUÊS ����

37

2

COLONIAL BARROCO

Gregório de Matos No período Barroco, o poeta baiano Gregório de Matos (1636?-1695) compôs uma série de

poemas que refletiam as tensões espirituais do homem da época (dividido entre o pecado pecado e a salvação, o humano e o divino). Na Bahia do século XVII, Gregório ficou conhecido como “Boca do Inferno”, por satirizar em seus textos aspectos da sociedade política brasileira. O autor é um dos expoentes do cultismo,

corrente estética do Barroco que utiliza uma linguagem rebuscada, com relações de sentido sofisticadas, figuras de linguagem abundantes e sintaxe requintada. No poema  A Cristo N. S. Crucificado, o eu lírico (que expressa os sentimentos do autor) se concentra no conflito

entre matéria e espírito, dialogando com Deus a respeito das possibilidades de perdão. Uma característica do soneto barroco é a

estruturação lógica baseada em tese, antítese e síntese. Num primeiro momento, é colocada uma ideia a ser discutida e relativizada – no caso do poema  A Cristo N. N. S. Crucificado, o inevitá vel julgamento da alma do eu lírico por Deus após a morte. A problematização é basea da em oposições semânticas como “pecar” e “amor” e “fim” e “infinito”. Em seguida há uma síntese: a conclusão de que o amor divino é maior que o pecado do eu lírico lhe dá esperança da salvação.

 ARREPENDIMENTO

 A Cris Cristo to N. S. Crucifi Crucificad cado, o,  Estand  Estandoo o Poeta oeta na na Últi Última ma  Hora  Hora de Sua Vida Vida Gregório de Matos

 Meu Deus, Deus, que estais pendente de um madeiro,  Em cuja lei protesto protesto de viver, viver,  Em cuja santa lei hei de morrer, morrer,  Animoso, constante, constante, firme e inteiro: inteiro:  Neste lance, lance, por ser o derradeiro, derradeiro,  Pois vejo a minha vida anoitecer;  É, meu Jesus, Jesus, a hora hora de se ver  A bra brandu ndura ra de um um Pai, Pai, manso Cordeiro.  Mui  Mui gra grand ndee é o voss vossoo amor amor e o meu delito delito;;  Porém pode pode ter fim todo o pecar, pecar,  E não o vosso amor que que é infinito.  Esta razão me obriga a confiar, confiar, Que, por mais que pequei, neste conflito  Espero em vosso vosso amor de me salvar. salvar. www.dominiopublico.gov.br 

PERSUASÃO  Assim como os homens do Maranhão, Maranhão, cujos vícios são apontados pelo sermão de Vieira, Gregório de Matos admite ser pecador, pecador, e não esconde a sua culpa. No entanto, nota-se um sofisticado jogo de persuasão: ele afirma ter direito ao perdão de Deus. Para o sujeito poético, somente assim fará com que Deus adquira o estatuto de piedade e onipotência que lhe são conferidos. Como o pecado é uma característic característica a humana, o perdão das faltas é obrigação divina. O amor e a salvação são alcançados pelo autor, em troca da glorificação e do exercício das virtudes divinas.



Nas duas primeiras estrofes, o poeta expressa arrependimento e crença no amor infinito de Cristo, para manifestar, no final, a certeza da obtenção do perdão.

IRONIA   A imagem do Cordeiro Cordeiro inocente é evocada pelo eu lírico suplicante. Note a ironia usada para manipular o Criador Criador.. Mais do que um pedido, há uma imposição que obriga Deus a perdoar o  pecador. Vieira lança mão do mesmo recurso para persuadir seus ouvintes. 



SILOGISMO O soneto encobre uma formulação silogística – dedução formal em que há duas premissas a partir das quais, por inferência, se chega a uma conclusão (veja no Saiba mais abaixo). Ela pode ser expressa assim: o amor de Cristo é infinito; o meu pecado, por maior que seja, é finito, e menor que o amor de Jesus. Logo, por maior que seja o meu pecado, eu espero salvarme. O jogo de ideias e conceitos, conduzindo à formulação de um raciocínio complexo, é uma característica típica do Barroco.

SAIBA MAIS

RELAÇÕES LÓGICAS As frases podem ser articuladas por mecanismos lógicos, como a pressuposição, a dedução e a indução. Pressuposição  Uma informação pressuposta permanece como circunstância ou fato considerado como antecedente necessário a outro: Pedro parou de trabalhar na firma do pai (informação pressuposta pressupos ta para que a sentença faça sentido: Pedro trabalhava na firma do pai).

Dedução  O raciocínio dedutivo consiste em uma inferência que parte de dados gerais para tratar de dados

38

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

particulares: Meu pai avisou que estava chovendo. Eu saí de casa e, ao sentir pingos finos molhando a minha roupa, constatei que ele tinha razão. Indução Parte de um caso particular para chegar a uma afirmação geral: Saí de casa e comecei a sentir pingos finos molhando a minha roupa. Concluí, então, que começava a chover. Voltei para buscar o guarda-chuva.

SAIU NA IMPRENSA

CULPAS E REGRAS

CONEXÕES PINTURA

Contardo Calligaris

(...) No movimento gay entre os anos 1960 e os 1980, a estratégia de “coming out” (de se revelar ou se desmascarar) não era tanto uma provocação contra uma sociedade repressora quanto uma declaração pública para acabar com a culpa interna. Sem a culpa interna e a vergonha que ela produz, o poder de uma lei repressora é mínimo – ele acaba valendo apenas como um exercício de força, sem autoridade simbólica. A culpa, em suma, não é o efeito de nossas transgressões da regra social. Ao contrário, a regra social aproveita a culpa para poder se impor. Ou seja, a culpa interna é uma condição, não um efeito, da repressão. Em outras palavras ainda, minha culpa e minha vergonha servem para instituir e sustentar a regra que parece (mas só parece) motivá-las. Como em “O Processo”, de Kafka: primeiro sinta-se culpado, logo lhe diremos de quê. Há os casos em que a culpa interna e a repressão que ela permite são necessárias para o convívio social – por exemplo, para que a gente não se mate em cada esquina. Mas, em geral, o que acontece é que nossa neurose média nos leva a oferecer nossa culpa como um sacrifício aos deuses da cidade, como se nós estivéssemos sempre pedindo: “Me reprimam, por favor”. (...)

���

Folha de S.Paulo, 28/1/2016 

Nesta crônica, o leitor é levado a refletir sobre o sentimento de culpa na sociedade atual. O colunista sugere que a culpa interna e a vergonha são os agentes mais eficazes para o cumprimento das regras sociais.  A questão da culpa aparece aparece tanto no poema de Gregório de Matos como no sermão de Padre Vieira. No poema de Gregório de Matos, a culpa seria expiada pelo perdão divino. No sermão de Padre Vieira, os vícios seriam redimidos por meio da adesão ao cristianismo.  A questão religiosa é evocada evocada para justificar justificar a presença dos sentimento de culpa. Em toda a argumentação há um conflito: de um lado, a ideia de culpa teria sido reforçada pela moral repressora da Igreja – este é o aspecto moralizante dos sermão de Vieira; do outro, a religião também pode proporcionar o perdão – este é o aspecto piedoso presente no poema de Matos. Já no Arcadismo (veja a pág. 40), a busca por uma existência simples, voltada para o prazer ( carpe diem) e livre de preocupações atenuou o sentimento de culpa. A preocupação com a felicidade conduziu a uma estética baseada na exaltação dos prazeres terrenos.

��� CARAVAGGIO/MUSEU DO PRADO ��� FRANCISCO GOYA/MUSEU DO PRADO

���

Enquanto os poetas barrocos dispunham de figuras de linguagem (antíteses e paradoxos) para imprimir os contrastes típicos do período, pintores como o italiano Caravaggio, autor de David Vencedor de Golias  (no alto), trabalharam os mesmos conflitos com base na dualidade claro/escuro e na dramaticidade das imagens. No período neoclássico ou árcade, as contradições e os excessos do Barroco são substituídos pelos ideais de harmonia, suavidade e equilíbrio. Como na pintura Cristo Crucificado  (acima), do espanhol Francisco Goya, que explora a temática religiosa, recorrente no Barroco, mas com outra abordagem. Note as linhas serenas e harmoniosas de um corpo limpo, sem sangue, que transmitem a sensação de que a morte é dor, não agonia. Os traços fortes e as abundantes sombras do Barroco dão lugar a um dramatismo sutil, sem emoções exageradas.

GE PORTUGUÊS ����

39

2

COLONIAL ARCADISMO

A inspiração da natureza

 

No Arcadismo (1768-1836), (1768-1836), a produção poética privilegia a simplicidade e a vida no campo

O

movimento árcade também pode ser chamado de “neoclassicista”, pois retoma elementos da tradição greco-latina. A  busca de equilíbrio e de simplicidade formal (por oposição ao rebuscamento barroco) caracteriza os textos que, no período iluminista ,  valorizavam a razão e o aproveitamento dos prazeres terrenos. No Brasil, essa mesma mentalidade, aliada a acontecimentos como a independência dos Estados Unidos, motiva jovens estudantes e poetas de Vila Rica (atual Ouro Preto, em Minas Gerais) a promover uma nova estética na produção poética, ao mesmo tempo que qu e organizam a Inconfidência Mineira, a fim de libertar o Brasil do domínio português. Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), poeta que adotou as convenções pastoris e bucólicas do  Arcadismo,  Arcadismo, compôs um longo poema dedicado dedicado à amada Marília, no qual exalta a vida campestre e constrói uma argumentação que convida, de acordo com a ideia do carpe diem (viver diem (viver o dia intensamente), a aproveitar os momentos breves e efêmeros da vida.



O QUE ISSO TEM A VER COM A HISTÓRIA Iluminismo é a corrente de pensamento dominante na Europa, no século XVIII (conhecido como “século das luzes”), e defende o predomínio da razão e da ciência sobre a fé, representando a visão de mundo da burguesia. Os ideais iluministas foram reunidos na Enciclopédia, organizada pelos filósofos Diderot e D’Alembert. Para saber mais, veja o GUIA DO ESTUDANTE HISTÓRIA.

INSTANTES PASSAGEIROS  A experimentação experimentação dos prazeres materiais não é vista sob o signo do pecado e não causa arrependimento.  A existência é formada por instantes passageiros, e o tempo deve ser aproveitado para desfrutar a felicidade terrena (atualiza-se a expressão clássica do carpe diem). 40

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

Liras Tomás Antônio Gonzaga

 Lira I   Eu, Marília, Marília, não sou algum vaqueiro, vaqueiro, que viva de guardar alheio gado, de tosco trato, de expressões grosseiro, dos frios gelos e dos sóis queimado. Tenho próprio casal e nele assisto; dá-me vinho, legume, fruta, azeite; das brancas ovelhinhas tiro o leite, e mais as finas lãs, de que me visto. Graças, Marília bela. Graças à minha Estrela!  Eu vi o meu semblante numa numa fonte: dos anos inda não está cortado; os Pastores que habitam este monte respeitam o poder do meu cajado. Com tal destreza toco a sanfoninha, que inveja até me tem o próprio Alceste: ao som dela concerto a voz celeste nem canto letra, que não seja minha. (...)

 Lira XIII  Ornemos nossas testas com as flores.  E façamos de feno um brando brando leito,  Prendamo Prendamo-nos, nos, Marília, Marília, em laço laço estreit estreito, o, Gozemos do prazer de sãos Amores.

 Sobre as nossas cabeças, cabeças,  Sem que o possam possam deter, deter, o tempo corre; corre;  E para para nós o tempo, tempo, que se passa, passa, Também, Marília, morre Com os anos, Marília, o gosto falta,  E se entorpece o corpo já cansado; triste o velho cordeiro está deitado, e o leve filho sempre alegre salta.  A mesma formosura formosura (...)  Ah! Não, Não, minha Marília, Marília,  Aproveite-se  Aproveite-se o tempo, tempo, antes que faça O estrago de roubar ao corpo as forças  E ao semblante semblante a graça. graça. www.dominiopublico.gov.br 

PERSUASÃO O uso de uma linguagem simples, sem construções sintáticas sofisticadas, chama atenção para os ideais de simplicidade defendidos pelo movimento movimento.. O processo persuasivo acontece sob a forma de um convite – e não necessariamente de um convencimen convencimento to direto e explícito.



SIMPLICIDADE Os versos revelam a condição superior do eu lírico (que expressa os sentimentos do autor), que não cuida de gado alheio, tem casa própria e possui bens. Esses versos são típicos do convencionali convencionalismo smo e do artificialismo árcades, em defesa de uma vida pastoril e de uma paisagem europeia (acentuada por elementos como “azeite” e “vinho”), distante da realidade da cidade de Vila Rica. Apesar da descrição de aspectos da vida burguesa, o ideal exaltado se refere a uma vida simples, ligada ao desprezo pelos bens materiais.

 VALORIZAÇÃO  VALORIZAÇÃO DA NATUREZA  Dirceu propõe a sua amada uma ida ingênua ao campo. O tema da fuga da cidade atualiza a expressão clássica fugere urbem. A natureza passa  a ser vista como o lugar ideal e privilegiado para os idílios amorosos e  para uma vida amena. PRAZERES TERRENOS  A simplicidade e a pureza pureza do comportamento inocente dos pastores são reforçadas pela amenização do discurso erótico, disfarçado em imagens bucólicas e descrições de travessuras travessur as infantis. No entanto, por detrás da suposta pureza e contemplação,, há o contemplação desejo de concreti concretização zação dos prazeres do corpo.

CONEXÕES

SAIBA MAIS

CANÇÃO

 ADJETIVOS  AD JETIVOS

 ARGUMENTAÇÃO  ARGUMENT AÇÃO  Ainda que o tempo os separe por dois séculos, ambos os apaixonados vivem situações parecidas: desejam conquistar a amada. Para isso, usam técnicas argumentativas similares. Gonzaga quer mostrar à sua musa seus dotes (fazenda, gado). Já o eu lírico de Pelados em Santos conta com sua Brasília amarela e alguns presentes no processo de sedução burguesa.

 VALORES BURGUESES BURGUESES  A canção apresenta valores da burguesia: o conquistador tenta se passar por um integrante dessa classe, mas termos populares (oxente) revelam sua condição: trata-se de um sujeito pertencente às camadas populares.

DISTINÇÃO O tênis Reebok e a calça Fiorucci, produtos importados do Paraguai, davam a distinção necessária ao rapaz, assim como os produtos “importados” (azeite e vinho), produzidos na fazenda de Dirceu, em Liras.

 ADJETIVO  ADJETIV O Reebok é o adjetivo que acompanha o substantivo tênis, que está subentendido. Neste caso, podemos dizer que Reebok é um adjetivo substantivado (veja outros usos do adjetivo no Saiba mais ao lado).

© TEREZA BETTINARDI

 Pelados  Pelados em Santos

O adjetivo – que acompanha o substantivo, indicando qualidade – pode desempenhar várias funções nas sentenças, conforme o contexto em que está inserido.

Mamonas Assassinas

 Mina,  Seus cabelo é “da “da hora”,  Seu corpo é um violão, violão,  Meu docinho de coco, Tá me deixando louco.  Minha Brasília Brasília amarela Tá de portas abertas,  Pra mode mode a gente se amar, amar,  Pelados em Santos.  Pois você minha minha “Pitxula”,  Me deixa legalzão, legalzão,  Não me sinto sozinho, Você é meu chuchuzinho!  Music is very good! (Oxente (Oxente ai, ai, ai!)

      

 Mas comigo ela não quer se casar, casar,  Na Brasília Brasília amarela com roda gaúcha,  Ela não quer entrar entrar..

 Adjetivos indicando característica ou qualidade • A conferência internacional reuniu representantes de  países pobres e de países ricos. (neste caso, pobres e ricos são adjetivos )  Adjetivos utilizados como substantivo substantivo • Robin Hood roubava o dinheiro dos  ricos e entregava aos pobres. (as palavras destacadas funcionam como substantivos)  Adjetivos usados como advérbio Os adjetivos podem acompanhar acompanhar um verbo e indicar as circunstâncias circunstâncias da ação garoto tímido e baixo. (aqui, tímido e baixo • João era um garoto são adjetivos que se referem ao substantivo garoto)  João era era um garoto garoto tímido e falava baixo. (tímido é adjeti• João vo, mas baixo torna-se um advérbio ligado à ação de falar)  Alteração de sentido em razão da colocação (antes ou depois do substantivo) • João será, provavelmente, um homem grande. (= alto) • João  João será, será, prova provavel velmen mente, te, um grande  grande homem homem. (= virtuoso)

 É feijão com jabá  Desgraçada num num quer compartilhar  Mas ela é lindia  Muitcho mais do que lindia Very, very beautiful Você me deixa doidião Oh, yes! Oh, nos!  Meu docinho de coco (...)  Pro Paraguai Paraguai ela não quis viajar, viajar,  Reebo ebok k e uma calça Fiorucci, Comprei um Re  Ela não quer usar. usar.

      

 Eu não sei o que faço  Pra essa mulé eu conquistchar  Por que ela ela é lindia (...) MESMA PROPOSTA  Da mesma forma que no poema árcade Marília de Dirceu, um sujeito apaixonado convida uma jovem para ir a um local afastado da cidade, propondo diversões inocentes que ocultam as reais intenções de aproveitar os prazeres sensuais da vida.

GE PORTUGUÊS ����

41

2

COMO CAI NA PROVA

1. (UFRJ 2011 – ADAPTADA)

b) cont contrapos raposição ição ao itor itora a , na conc concepção epção a a pe os caiç caiçaras, aras, que

SONETO Moraliza o poeta nos ocidentes do so a inconstância dos bens do mundo] Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria.

identificam o sertão com a presença dos pinheiros. c) analogia à paisagem predominante no Centro-Oeste brasileiro, tal como foi encontrada pelos bandeirantes no século XVII. d) metáfora da cidade-metrópole, referindo-se à aridez do concreto e das construções. e) generalização do ambiente rural, independentemente das características de sua vegetação.

RESOLUÇÃO A palavra “sertão” é uma metáfora para interior do Brasil, usada em contraponto à cidade ou à metrópole, caracterizada pela aridez do concreto e das construções. Ao mencionar o material de que é feito o violão, o poeta não alude à vegetação típica do sertão, mas sim à simplicidade do povo do interior que usa os recursos de que dispõe para desenvolver uma cultura popular representativa do meio a que

Porém se acaba o Sol, por que nascia?  e formosa a Luz é, por que não dura?  Como a beleza assim se transfigura?  Como o gosto da pena assim se fia?  Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza.

pertence (“meu violão/ Feito de pinheiro pinhei ro da mata selvagem/ Que enfeita a paisagem lá do meu sertão”). Resposta: E

Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza  A firmeza somente n a inconstância.

3.

MATOS, Gregório. bras completas de Gregório de Matos. Matos. Salvador: Janaína, 1969, 7 volumes.

To o soneto soneto apresenta apresenta a estruturação estruturação:: tese, ant tese e síntese. Com base nessa informação, faça o seguinte: a) Explique de que maneira a síntese do soneto de Gregório de Matos vincula-se ao projeto estético do Barroco. b) Descreva como a relação entre os sentimentos de “alegria” e “tristeza” ganha novo sentido no desenrolar do soneto.

RESOLUÇÃO a) A síntese do soneto (“A firmeza somente na inconstância”) inconstância”) relaciona-se ao projeto estético do Barroco pela problematização de uma questão central: conciliar conciliar o inconciliável, ou se a, aproximar concepções antag nicas como, como, por exemplo, exemplo, tristeza/alegria tristeza/alegria e luz/sombra, o que caracteriza o típico conflito barroco. b) A concepção mais comum de que a alegria é inviabilizada por contínuas tristezas é reconstruída, ou seja, alegria e tristeza podem coexistir (“E na alegria a legria sinta-se tristeza”).

UNICAMP (2012 ADAPTADA) Há notícias que são de interesse público e há notícias que são de interesse do público. Se a celebridade "x" está saindo com o ator "y", is so não tem nenhum interesse interes se público. Mas, dependendo dep endendo de quem seam "x "x"" e "y" "y",, e eno enorm rmee int intere eresse sse o p ic ico o (. (... ..)) (Fernando Barros e Silva, O jo rnalista e o assassino. Folha de São Paulo (versão on line), 18/04/2011. Acessado em 20/12/2011.)

 A palavra público é empregada no texto ora como substantivo, ora como adjetivo. Exemplifique cada um desses empregos e apresente o critério que você utilizou para fazer a distinção.

RESOLUÇÃO Em “Há notícias que são de interesse público (...)”, (...)”, a palavra público tem função de adjetivo, uma vez que qualifica o substantivo interesse. Já em “(...) há notícias que são de interesse do público”, público”, a palavra público aparece como substantivo e nomeia povo, grupo e pessoas.

4.

(IFBA 2016)

2. (FUVEST 2013 ADAPTADA) São Paulo gigante, torrão adorado Estou abraçado com meu violão Feito Fei to e pin eir eiro o a mat mata a se vag vagem em Que en eita a paisagem paisagem lá do do meu sertão Tonico e Tinoco, São Paulo Gigante.

Nos versos da canção dos paulistas Tonico e Tinoco, o termo “sertão” deve ser compreendido como a) descritivo da paisagem e da vegetação típicas do sertão existente na Região Nordeste do país. 42

GE PORTUGUÊS ����

 Analise a imagem acima acima e identifique a figura de linguagem linguagem em evidência no título da manchete. a) Metáfora. b) Hipérbole. c) Hipérbato. d) Metonímia. e) Pleonasmo.

RESUMO

RESOLUÇÃO Na capa do jornal foi usado o nome da localidade (Rio de Janeiro) para se referir aos profissionais do estado ou da cidade. Ou seja, não é o Rio de Janeiro quem investiga, mas sim os profissionais que lá moram. O uso de um termo (localidade) para tratar do sentido de outro (pessoas que lá moram) é característico da figura de linguagem metonímia. Resposta: D

5. (UERJ 2016 ADAPTADA) TERRORISMO LÓGICO

O terrorismo é duplamente obscurantista: primeiro no atentado, de pois nas reações que desencadeia. Said e Chérif Kouachi Kouachi eram descendentes de imigrantes. Said e Chérif Kouachi são suspeitos do ataque ao  jornal Charlie Hebdo , na França. Se não houvesse imigrantes na França, não teria havido ataque ao Charlie Hebdo. Said e Chérif Kouachi,  suspeitos do ataque ataque ao jornal Charlie Hebdo , eram filhos de argelinos. argelinos.  Zinedine Zidane é filho de argelinos. Zinedine Zidane é terrorista. Said e Chérif Kouachi, suspeitos do ataque ao jornal Charlie Hebdo , eram filhos de argelinos. Said e Chérif Kouachi sabiam jogar futebol. Muçulmanos são uma minoria na França. Membros de uma minoria são suspeitos do ataque terrorista. Olha aí no que dá defender minoria... A esquerda francesa defende minorias. Membros de uma minoria são suspeitos  pelo ataque terrorista. terrorista. A esquerda francesa é culpada culpada pelo ataque terrorista. A extrema ex trema direita francesa demoniza os imigrantes. O ataque terrorista fortalece a extrema direita francesa. A e xtrema direita francesa está por trás do ataque terrorista. Marine Le Pen é a líder da extrema direita francesa. “Le Pen” é “O Caneta”, se tomarmos o artigo em francês e o substantivo em inglês. Eis aí uma demonstração de apoio da extrema direita francesa à liberdade de expressão (...). (...). Numa democracia, é desejável que as pessoas sejam livres para se expressar. Algumas dessas expressões podem ofender indivíduos ou grupos. Numa democracia, é desejável que indivíduos ou grupos sejam ofendidos. Os terroristas que atacaram o jornal Charlie Hebdo  usavam gorros pretos. “Black blocs” usam gorros pretos. “Black blocs” são terroristas. Todo abacate é verde. O Incrível Hulk é verde. O Incrível Hulk é um abacate.

Literatura Colonial QUINHENTISMO (1500-1601)  Período que abrange as primeiras manifestações literárias produzidas no Brasil, à época de seu descobrimento. Inclui a literatura de informação – os relatos dos viajantes europeus, como a carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei dom Manuel – e os textos dos missionários  jesuítas, como como os do padre José de Anchieta, Anchieta, para para a evangelização dos indígenas. BARROCO (1601-1768)  A literatura usa a linguagem de maneira rebuscada, empregando figuras de linguagem (como a antítese e os paradoxos) que reforçam os conflitos morais (o sagrado versus o profano, por exemplo) vividos pelo homem da época. O poeta Gregório de Matos e o padre Antônio Vieira são os dois grandes nomes do período.  ARCADISMO (1768-1836)  Os poetas buscam a harmonia

com a natureza e exaltam as belezas do campo. Alguns criam pseudônimos, assumindo personalidade de antigos pastores gregos. Destacam-se Tomás Antônio Gonzaga, com as Liras de Marília de Dirceu, e Claudio Manuel da Costa, que tiveram participação na Inconfidência Mineira.

GRAMÁTICA E INTERPRETAÇÃO • Figuras de linguagem É o uso de determinadas palavras ou expressões com sentido diferente do usual com o objetivo de enfatizar uma ideia. As principais são a metáfora (Ex:  Aquele ator é um gato ), que aproxima elementos que têm características semelhantes; e a metonímia (Ex: Eu li Machado de  Assis), que, no caso, substitui o autor pela obra. • Paralelismo São construções que apresentam a mesma estrutura. Exemplo de mesma estrutura gramatical é: Eu a amo, pois você é linda (os pronomes “a” e “você” referem-se à mesma pessoa, a 3ª do singular).

 Antonio Prata. Adaptado de Folha de São Paulo , 11/01/2015.

• Relações lógicas As frases podem ser articuladas por  Antonio Prat a constr uiu uma sér ie de var iações do argumento t ípico do método dedutivo, conhecido como “silogismo” e normalmente organizado na forma de três sentenças em sequência.  A organização do silogismo sintet iza a estrutura do próprio méto do dedutivo, que se encontra melhor apresentada em:

a) premissa geral – premissa particular – conclusão b) premissa particular – premissa geral – conclusão c) premissa geral – segunda premissa geral – conclusão particular d) premissa particular – segunda premissa particular – conclusão geral RESOLUÇÃO Uma das relações lógicas possíveis é a dedução. Seu método parte sempre do aspecto geral para um aspecto particular. No silogismo, esse caminho se realiza da premissa geral para a premissa particular e leva a uma conclusão. No entanto, a confusão reside no fato de que a simples associação de dois aspectos incomuns entre pessoas ou situações não procede.

mecanismos lógicos: Pressuposição Circunstância ou fato considerado como antecedente necessário a outro. Ideia implícita É aquilo que se imagina ter em mente, porém não está expresso. Dedução Parte de dados gerais para tratar de dados particulares. Indução Parte de um caso particular para chegar a uma afirmação geral.

• Adjetivos O adjetivo pode desempenhar várias funções nas sentenças, segundo o contexto em que ele el e está inserido, tais como: indicar característica característica ou qualidade do substantivo, ser empregado como substantivo ou advérbio e alterar o sentido do substantivo em razão de sua colocação (antes ou depois do substantivo).

Resposta: A GE PORTUGUÊS ����

43

3

LITERATURA DO ROMANTISMO CONTEÚDO DESTE CAPÍTULO

� Interpretando:

intertextualidade............................................... .............................................................. ............... ��  ............................................. ................................... ................................... ........................ ...... �� � 1ª geração romântica ........................... .......................................... ................................... ................................... ...........................54 .........54 � 2ª geração romântica ........................ .................................................. ................................... ....................................56 ..................56 � 3ª geração romântica ................................. p rova + Resumo ................................... ..................................................... ....................................60 ..................60 � Como cai na prova

Ameaça ao primeiro primeiro herói nacional Proposta de emenda à Constituição em tramitação no Congresso Nacional Nacional pode dificultar a demarcação de novas terras para os índios brasileiros

A

causa indígena recebeu um duro golpe em outubro de 2015. No dia 28 daquele mês, uma comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou por 21 votos a zero a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que altera as regras para a demarcação de terras indígenas. A aprovação ocorreu em meio a fortes protestos de lideranças indígenas e foi considerada uma vitória da bancada ruralista, que defende os interesses dos proprietários de terra e do agronegócio. Pela proposta – que ainda precisa ser aprovada em dois turnos pelo plenário da Câmara e do Senado Federal para virar lei –, a decisão final sobre a demarcação de terras indígenas seria transferida do Executivo para o Legislativo. Além disso, o texto aprovado na comissão da Câmara proíbe a ampliação de terras indígenas já demarcadas e aumenta os casos em que pode haver indenização dos proprietários dessas terras. “É um retrocesso para a árdua história de conquista dos nossos direitos”, declarou na ocasião o índio Lindomar Terena, Terena, um dos coordenados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Lideranças indígenas presentes ao evento denunciaram que ela representa um duro ataque aos seus direitos. Além de protestar contra a tramitação da proposta, os índios brasileiros também mostram 44

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

insatisfação com o ritmo lento de demarcação de terras. Durante o primeiro governo Dilma Rousseff  (2010-2014),   (2010-2014), apenas dez áreas foram homologadas, contra 84 nos oito anos de governo Lula (2002-2010) e 145 nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002). Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Brasil conta hoje com 588 terras indígenas. Boa parte dos 896 mil índios brasileiros vivem em áreas demarcadas, que, segundo especialistas, são um dos principais fatores para o aumento da população indígena nas últimas décadas. Apesar do aumento demográfico, a população indígena atual ainda representa uma pequena fração dos estimados 3 milhões de indivíduos que viviam no país em 1500, ano em que os portugueses chegaram ao Brasil. Durante o período do Romantismo no Brasil (1836-1881), (1836-1881), a figura do índio foi elemento central. Em busca da exaltação dos valores nacionais, autores como MOMENTO DE LUTA Gonçalves Dias e José Durante a primeira edição de Alencar encontram dos Jogos Mundiais para nos povos indígenas a Povos Indígenas, em Palmas figura correspondente correspondente (TO), em outubro de 2015, ao cavaleiro medieval índios protestam contra a europeu, o herói ide- PEC 215, considerada por eles um “retrocesso” alizado.

UESLEI MARCELINO/REUTERS MARCELINO/REUTERS

GE PORTUGUÊS ����

45

3

ROMANTISMO INTERPRETANDO

Conversa afiada Um texto pode dialogar com outro ao apropriar-se de sua estrutura ou ideias. Perceber essas relações é fundamental para compreender o seu sentido

A

lém do Nacionalismo (e do Indianismo,

no caso do Brasil), a subjetividade e a expressão dos sentimentos são outras fortes características do Romantismo. Os autores desse período funcionavam como conselheiros amo-

rosos, e suas obras serviam como apoio para que leitores tomassem decisões sentimentais baseadas nas aventuras vividas pelas heroínas românticas. Muitas histórias do Romantismo brasileiro eram releituras de outros enlaces amorosos

 vividos por personagens clássicos da literatura

PARÓDIA  O título parodia a famosa canção Carolina, de Chico Buarque ( “O tempo

universal, o que configura, de alguma forma, um processo de diálogo entre textos. O artigo abaixo, do escritor e jornalista Xico Sá, publicado em dezembro de 2015 no site brasileiro do jornal El jornal El País País,, trabalha tanto com a temática do Romantismo, ao oferecer conselhos amorosos a uma leitora, como com a própria intertextualidade. O colunista usa alusões e citações para tratar das desventuras amorosas da moça e mostra que elas também estão contadas nas obras literárias e nas canções populares, sobretudo de Chico Buarque.

      

O que só Carolina não viu

Xico Sá

Carolina sabia que o seu amor estava por um  fio, mas Carolina nem em pesadelo imaginava que Ele se refere ao desejo o fim seria agora, nas cinzas desse 2015 que teima da destinatária da carta em não desfolhar de vez o calendário. Carol não de não perceber que sua sabia que os barracos natalinos são fatais – muita história amorosa acabou.  gente sai para para comprar a ceia e não acerta mais o IRONIA  caminho de volta. Foi o caso. Há ironia no uso do Carolina não havia lido as frias estatísticas sobre advérbio “só”: todo o aumento do número de divórcios na virada de ano. mundo percebeu Carolina não viu e nem leu nos olhos do moço os sio fim do romance, exceto Carolina, moça nais de fraqueza e desistência. Todo homem anuncia, sonhadora como as nas entrelinhas dos vacilos, o apocalipse. Carolina heroínas românticas. não viu que ele andava frio na cama, acreditou nas desculpas não solicitadas do cansaço, do stress no  VARIAÇÃO LINGUÍSTICA LINGUÍSTICA emprego, da carga pesada do trabalho e os dias. O colunista alude a O amor estava por um fio... um prato típico da Carolina sempre escreveu a este cronista e consulcozinha asiática (rolinho primavera) primaver a) e o relaciona tor sentimental em momentos delicados. Desde o seu a histórias amorosas que,        primeiro  primeiro rolinho primavera amoroso , ainda ainda em na expressão popular,  2000. Ela completa co mpletara ra seus se us 15, 15 , pelo pel o que me lembro. lembro. são chamadas de “rolo”. Carolina sabe pouca coisa a essa altura. Uma IRONIA  delas é que seu batismo, como o de milhares de  A ironia está na na moças parecidas, pode ter sido inspirado na canção descaracterização descaracteriz ação da homônima do Chico. Carolina até transa política, relação como algo sério mas não agora. Carolina, para se ter ideia do alhe(ao ser chamado de “rolinho”) e na ilusão de amento do mundo, nem comentou sobre o cerco promessa amorosa com  fascista  fascista ao ao xará xará nesse tempo da indelica indelicadeza. deza. Nada “primavera” (conhecida disse sobre o assunto. como a estação do amor). “Onde queres Leblon, sou Pernambuco”, provoDIMINUTIVO quei Carolina, recifense que hoje habita a cidade O diminutivo “rolinho” de São Paulo. torna a relação menos  Mulher de 30 anos, C. C. confessa confessa que nunca viu viu o séria ainda do que “rolo”. amor vingar de fato. Contesto. O amor não precisa É muito comum o uso ser eterno. Tento ativar a memória da moça, bloquedo diminutivo com  passou na janela/ só ). Carolina não viu” ).

sentido pejorativo pejorativo.. 46

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����





FUNÇÃO POÉTICA E ALUSÃO O autor se refere à passagem do tempo de forma figurada. Estabelece uma relação entre mudar a folha do calendário e mudar de fato o tempo ou, até mesmo, sua história amorosa.

METALINGUAGEM  Ao se colocar como como um conselheiro sentimental e fazer referência a esse tipo de procedimento, o autor estabelece uma relação metalinguí metalinguística stica (pois é usado o próprio código – a linguagem – como o assunto que está  sendo tratado).





INTERTEXTUALIDADE E POLÍTICA  O autor faz referência ao fato de Chico Buarque ter sido hostilizado por simpatizantes simpatizant es da direita por ter sua imagem associada à esquerda. “Tempo da delicadeza” é um verso da música Todo Sentimento, do cantor.  ANTÍTESE Referência à canção O Quereres, de Caetano  Veloso, que mostra uma relação antitética (um bairro rico, Leblon, versus uma região pobre, Pernambuco).

ada a essa altura. Relembro para ela os namoros e rolos que deixaram algumas algumas marcas – as cartas enviadas a este conselheiro são provas. Nada, porém, conforta a moça neste fiapo de infeliz ano velho. Carolina namorava havia quase dois anos. O tipo de namoro que demorou para incendiar as horas e que ainda não havia chegado naquele estágio de “todos los fuegos, el fuego”. Que vacilão esse cara, oito anos a mais do que ela. Que vacilão, meu Deus, tudo lindamente planejado por ela, incluindo o Réveillon na praia de Carneiros, litoral sul pernambucano. O cara simplesmente desapareceu, como na lenda do homem que sai para comprar cigarros. O king size sem filtro do abandono. Sem deixar  pelo menos um bilhete na porta, como no samba do Arnesto. Um fumegante chá de sumiço.  Sim, está vivíssimo. Não Não foi vítima de nenhuma violência urbana. Carolina, cujos olhos guardam tanta dor, viu apenas os passos do desalmado nas redes sociais. Em uma daquelas festas de confraternização de amigos. Sorriso cínico abraçando a chefe do seu departamento na firma.  Sim, haviam brigado. Desentendimento de rotina, aquelas rusgas tão comuns no final do ano dos casais. Carolina não sabia é que ele seria tão menino ao ponto de cair fora. Tempo de homens vacilões, tento de novo confortá-la. Não lhe merece etc. Palavras de consolação ao vento.

INTERTEXTUALIDADE E LITERATURA   A desilusão de Carolina é associada aos dramas  típicos das heroínas românticas. Não faltam menções à literatur literatura: a: Mulher de Trinta Anos , de Balzac, Feliz Ano Velho , de Marcelo Rubens Paiva, e Todos os Fogos o Fogo, de Julio Cortázar. 



© TEREZA BETTINARDI

Sair para comprar cigarros (e não voltar) é uma metáfora para abandono. O autor cita um tipo de cigarro que se vendia antigamente, sem filtro e mais forte – como a dor de quem é abandonado. A fluidez da fumaça (fumegante chá), que rapidamente se esvai, reforça a ideia de sumiço e de abandono.

CITAÇÃO E METÁFORA  Mais uma citação a Chico Buarque. Desta vez, a canção Folhetim. Note as metáforas “tenta mudar de personagem”  e  e “vire essa página”  para  para que ela busque uma nova vida ou um novo amor amor.. Outra canção do compositor também é citada (Mil Perdões), no último parágr parágrafo. afo.

Folhetim

 Ah, Carolin Carolina, a, tenta tenta mudar mudar de personag personagem em entre entre as mulheres das canções de Chico. Aconselho. Que tal  fazer como aquela aquela fêmea madura madura e bem-resolv bem-resolvida, ida, a que diz mais ou menos assim: “...E já não vales nada, és página virada descartada do meu folhetim”. Vira essa página, Carolina. Sei que não é fácil, mas o que posso dizer a essa altura? Como toda mulher revoltada, Carolina, pega o primeiro que encontrar pela frente, aquele homem que bebe na calçada da tua esquina. Quem dera fosse assim tão simples, não é, minha amada leitora? Ah, mata esse infeliz-das-costas-ocas, a  punhaladas, nem que dê primeira página, cenas de sangue num bar da Vila Madalena. Pelo menos agora ela riu da minha proposta maluca. Rimos. Vida, teu nome é tragicomédia.  Ah, Carolina, escuta o Chico, o Roberto Roberto das antigas, o Leonard Cohen, a tua estimada Cat Power, Waldick. Vanusa... Enche a cara com um brega...  E fica o mantra mantra:: quando quando a vida dói/ drinque drinque caubói”. caubói”.  Mil perdões, Carolina, realmente não é uma missão fácil de aconselhamento. Fica o meu afeto e conte sempre com o ombro do cronista. Mais sorte no amor em 2016. Beijos.

METÁFORA 



INTERTEXTUALIDADE E CANÇÕES POPULARES





Mais referências a canções populares: Samba do Arnesto, em que o anfitrião some sem avisar, e Ronda (“cenas de sangue num bar”), sobre uma apaixonada que ronda a cidade em busca de seu amado.

ENUMERAÇÃO E DOR DE COTOVELO O autor enumera diversos cantores populares que tratam das dores de amor, como a de Carolina, conhecidas popularmente por “dor de cotovelo” cotovelo”..

SAIBA MAIS

RELAÇÕES ENTRE TEXTOS A intertextualidade é o diálogo estabelecido entre um ou mais textos . Ela ocorre toda vez que um texto se apropria de outro, no nível da composição da frase ou da ideia (veja (veja exemplos no texto de Xico Sá ). Nesse caso, um autor deseja, conscientemente, referir-se referir-se a outro texto, escrito em outro momento, por outro autor (ou até por ele mesmo). Geralmente, os textos fontes (retomados) são aqueles de referência, considerados fundamentais em uma determinada cultura. Daí a importância de ter um bom repertório cultural, para reconhecer e identificar uma relação intertextual. A intertextualidade pode ocorrer afirmando as mesmas ideias da obra citada ou

contestando-as. contestando-as. Há duas formas básicas: a paráfrase paráfrase e a paródia. Paráfrase: É

dizer com outras palavras o que já foi

dito. Na paráfrase, o texto é reescrito, porém a ideia é confirmada pela nova transcrição. Paródia: Ao alterar o sentido do texto original, a paródia faz uma transposição transposição de contexto contexto e, frequentemente, provoca um efeito de humor (veja ( veja exemplos nas páginas 51, 96 e 99). 99).  Atenção:  Atenção: não confunda intertextualidade com a citação pela simples citação (Isso ( Isso me lembra um samba antigo: “Tristeza não tem fim/Felicidade sim” ). ). Neste

exemplo, não há apropriação da frase ou da ideia, apenas uma referência isolada. GE PORTUGUÊS ����

47

3

ROMANTISMO

PRIMEIRA GERAÇÃO

Sob o domínio da emoção  A valorização do indivíduo e da subjetividade no Romantismo (1836-1881)

O

Romantismo está diretamente relacionado à consolidação do mundo burguês. Com a ascensão da burguesia, as regras de composição clássicas são substituídas pela liberdade formal; a justa medida equilibrada cede espaço aos exageros dos sentimentos; a objetividade é posta de lado em favor da sub jetividade  jetivida de romântica. romântica . O individualismo individua lismo e o sentimentalismo são elementos centrais desse movimento literário.

Primeira geração romântica: prosa José de Alencar (1829-1877) é o principal representante da primeira vertente do Romantismo brasileiro, também chamada de Indianismo. A preocupação central dos autores desse período é a definição da identidade nacional brasileira, tempos após a proclamação da independência (1822). Nesse contexto, a valorização da figura indígena (considerada o herói nacional) e a exaltação dos elementos típicos da cultura local (e tam bém da natureza natureza brasileira) brasileira) são recorrentes recorrentes nos textos literários. O QUE ISSO TEM A VER COM A HISTÓRIA  A Revolução Industrial, Industrial, ocorrida ocorrida na Inglaterra Inglaterra na segunda metade do século XVIII, e a Revolução Francesa, em 1789, significaram a ascensão da burguesia e a decadência do Antigo Regime (caracterizado (caracterizado pelo poder concentrado nas mãos do rei e pelo mercantilismo). Essas duas revoluções contribuíram, respectivamente, para a consolidação do capitalismo e para o fim do absolutismo. Para saber mais, veja o GUIA DO ESTUDANTE HISTÓRIA. HISTÓRIA.



Escrito em prosa poética, o romance indianista Iracema (1865) traça uma espécie de mito de fundação da identidade brasileira brasileira ao mostrar a história de amor entre o colonizador Martim e a índia dos lábios de mel.

 Iracema José de Alencar

 Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.  Iracema,  Iracema, a virgem dos lábios de mel, mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.  Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando,  alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as  primeiras águas. Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta.  Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto.  Iracema  Iracema saiu do banho; o aljôfar d’água ainda a roreja , como à doce man gaba man gaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa , empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta  com o sabiá da mata, pousado no galho  próximo,  próximo, o canto agreste. agreste.  A graciosa graciosa ará, ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras remexe o uru de palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de que matiza o algodão.  Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se.

 TIPOS TEXTUAIS O fragmento articula dois tipos textuais básicos: o narrativo e o descritivo. Para configurar a personagem principal (Iracema) (Iracema) em relação ao espaço (a paisagem brasileira), brasileir a), integram-se aspectos de ordem física às ações da protagon protagonista, ista, de maneira a combinar elementos estáticos e dinâmicos. 48

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����









HERÓI NACIONAL Iracema representa o herói brasileiro por excelência. O início do romance apresenta uma índia nascida no Brasil e integrada com o meio natural e os elementos tropicais. A cor local e a natureza brasileira são valorizadas pelo narrador narrador.. COMPARAÇÃO Os traços próprios da personagem são descritos por meio de comparações com elementos da natureza, a fim de explicitar a identificação de Iracema com a terra brasileira. As relações de compar comparação ação aproximam elementos com característi características cas semelhantes, por meio de estruturas comparativas (“como”,, “tal como”). (“como” Note, também, a construção idealizada da personagem, feita por meio da exaltação de atributos físicos, com base em elementos naturais. TEMPOS VERBAIS Em textos narrativos, geralmente há o emprego de verbos no pretérit pretérito o imperfeito (“corria”, “campeava” etc.) ao fazer descrições e relatar ações habituais no passado. No momento específico que dá início à narrativ narrativaa emprega-se o pretérito perfeito, usado para indicar ações concluídas em um momento passado (“Iracema saiu do banho”). A partir de então, desenrola-se uma cena trazida para perto do leitor por meio do emprego de verbos no presente do indicativo (“roreja”, “repousa” etc.).

DIÁLOGO ENTRE OBRAS OLHAR NACIONALISTA Em Mayombe (1980), o escritor angolano Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, conhecido como Pepetela, cria um painel do país no início dos anos 1970, período da guerra de independência dessa ex-colônia portuguesa. No centro da narrativa está o comandante Sem Medo, líder guerrilheiro do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que se refugia na floresta Mayombe. Ao longo da trama percebem-se os desafios enfrentados pelos revolucionários para a libertação do país e para a implantação do socialismo, em meio a rivalidades de tribos e casos de racismo e de corrupção entre aqueles que lutavam pela independência.

CAPÍTULO 2

 Diante dela e todo a contemplá-la está um  guerreiro  guerreiro estranho, estranho, se é guerreiro guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo.  Foi rápido, como o olhar, olhar, o gesto de Iracema. Iracema.  A flecha embebida no arco partiu. Gotas de san gue borbulham na face do desconhecido.  De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da espada; mas logo sorriu. (...) CAPÍTULO 22

(...)  A cabana do velho guerreiro estava junto das  formosas cascatas, onde salta o peixe no meio dos borbotões de espuma. As águas ali são frescas e macias, como a brisa do mar, que passa entre as palmas dos coqueiros, nas horas da calma. c alma.  Batuireté estava sentado sobre uma das lapas da cascata; o sol ardente caía sobre sua cabeça, nua de cabelos e cheia de rugas como o jenipapo  Assim dorme o jaburu na borda borda do lago.  —Poti é chegado à cabana do grande Maran guab, pai de Jatobá, e trouxe seu irmão branco  para ver o maior guerreiro guerreiro das nações. nações.  O velho soabriu as pesadas pálpebras, e passou do neto ao estrangeiro estrangeiro um olhar baço. Depois o peito arquejou e os lábios murmuraram:  — Tupã quis que estes olhos vissem antes de se apagarem, o gavião branco junto da narceja.  O abaetê derrubou a fronte aos peitos, e não  falou mais, nem mais se moveu.  Poti e Martim julgaram que ele dormia e se afastaram com respeito para não perturbar o re pouso de quem tanto obrara obrara na longa vida.  (...)

DESSACRALIZAÇÃO DO HERÓI Podemos associar Mayombe ao movimento romântico devido ao caráter nacionalista e por narrar uma epopeia de guerra em meio a tribos e colonizadores. Mas, diferent diferentemente emente dos românticos, não se encontra em Mayombe heróis idealizados, ao contrário, vê-se na obra a dessacralização do herói (veja também Identidade Nacional e inovação na linguagem, na pág. 111).

       

Ática, 2009

 VISÃO CRÍTICA  Mayombe  também não apresenta visão idealizada do conquistador e critica de forma clara o colonialismo e a exploração dos povos.

 Mayombe

       

Pepetela

(...) - Vocês ganham vinte escudos por dia para abaterem as árvores a machado, marcharem, marcharem, carregarem pesos. O motorista ganha cinqüenta escudos por dia, por trabalhar com a serra. Mas quantas árvores abate por dia vossa equipa? Umas trinta. E quanto ganha o patrão por cada árvore? Um dinheirão. O que é que o patrão faz para ganhar esse dinheiro? Nada, nada. Mas é ele que ganha. E o machado com que vocês trabalham nem sequer é dele. É vosso, que o compram na cantina por setenta escudos. E a catana é dele? Não, vocês compram-na por cinqüenta escudos. Quer dizer, nem os instrumentos com que vocês trabalham pertencem ao patrão. Vocês são obrigados a comprá-los, são descontados do vosso salário no fim do mês. As árvores são do patrão? Não. São vossas, são nossas,  porque estão na terra angolana. Os machados e as catanas são do patrão? Não, são vossos. O suor do trabalho é do patrão? Não, é vosso, pois são vocês que trabalham. Então, como é que ele  ganha muitos contos por dia e a vocês dá vinte escudos? Com que direito?  Isso é exploração colonialista. O que trabalha está a arranjar riqueza para o estrangeiro, que não trabalha.

       

O patrão tem a força do lado dele, tem o exército, a polícia, a administração. É com essa força que ele vos obriga a trabalhar, para ele enriquecer.(...)

       

METÁFORA E CRÍTICA  Martim é o “gavião branco”, branco”, ave de rapina que representa o colonizador, o predador que vai devorar a “narceja”, ave menor e frágil, metáfora para Iracema e para os índios. Alencar sugere, na fala do chefe Batuireté, que o encontro entre o colonizador português com os índios não trouxe bons resultados para estes. © TEREZA BETTINARDI

FIGURA DO COLONIZADOR Pode-se perceber alguma conexão com a fala de Batuireté, de Iracema, que se opunha à aproximação entre o homem branco e os índios, porque temia que estes fossem explorados ou devorados pelo “gavião branco” (o colonizador). GE PORTUGUÊS ����

49

3

ROMANTISMO

PRIMEIRA GERAÇÃO

Primeira geração romântica: poesia Gonçalves Dias (1823-1864) é o principal nome da poesia na primeira fase do Romantismo.

 A identifi identificação cação do índio como um herói herói nacional nacional idealizado e a exuberância exuberância da natureza brasileira também são frequentes em seus poemas. Além disso, pode-se observar o forte teor sentimentalista típico em poetas românticos que retratam quadros dolorosos de amor e de sofrimento. Na poesia de Gonçalves Dias nota-se a retomada do estilo tradicional desenvolvido pelos poetas medievais e clássicos, sobretudo a musicalidade, o ritmo e a escrita equilibrada e quilibrada com formas rígidas, pouco usuais na poesia romântica. Entre as suas obras estão  Primeiros Cantos, Os Timbiras e Últimos Cantos (com destaque para o poema  I-Juca Pirama ).

Publicado em Primeiros Cantos (1847), este é um dos mais célebres poemas da literatura brasileira e também um dos mais parodiados ( veja ao lado). Tipicamente romântico, um eu lírico (aquele que expressa os sentimentos do autor), distante da pátria brasileira, evoca com saudosismo os aspectos genuínos do Brasil.

 VALORIZAÇÃO  VALORIZAÇÃO DO BRASIL

Canção do Exílio

Note a presença de uma valorização idealizada da terra natal: o autor está no exílio (o afastamento espacial é um traço romântico). Distante da pátria, todas as lembranças da natureza brasileira são supervalorizadas.

Gonçalves Dias

 Minha terra terra tem palmeiras, palmeiras, Onde canta o Sabiá;  As aves, que que aqui gorjeiam,  Não gorjeiam como lá.  Nosso céu tem mais estrelas,

 Nossas várzeas têm mais flores,

 Nossos bosques têm mais vida,



 Nossa vida mais amores.

Por meio de uma relação intertextual, os versos de exaltação à pátria reaparecem na letra do Hino Nacional , de Osório Duque Estrada.

 Em cismar, cismar, sozinho, à noite, noite,  Mais prazer prazer encontro encontro eu lá;  Minha terra terra tem palmeiras, palmeiras, Onde canta o Sabiá.  Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá ;  Em cismar, cismar, sozinho, à noite, noite,  Mais prazer eu encontro lá ;  Minha terra terra tem palmeiras, palmeiras, Onde canta o Sabiá.

       

       

 Não permita Deus que que eu morra, morra,  Sem que eu volte para lá;  Sem que disfrute os primores Que não encontro por cá;  Sem qu'inda aviste as palmeiras, palmeiras, Onde canta o Sabiá.  ADVÉRBIOS

���

50

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

O exílio, no qual o poeta se sente incompleto, é indicado pelo marcador “aqui”. A terra natal distante é designada pelo marcador “lá”. A separação entre o autor e a pátria assinala o desejo do “eu” romântico de conectar-se de novo com o mundo natural de seu país de origem. Repare ainda no emprego do advérbio de intensidade “mais” para demarcar a superioridade da natureza brasileira. Trata-se de uma concepção idealizada dos elementos naturais da terra natal, segundo a visão romântica.

INTERTEXTUALIDADE



PRONOMES POSSESSIV POSSESSIVOS OS  Ajudam a estabelecer relações relações com a pátria: com “minha terra”, o autor explicita a ligação com seu país.  A repetição das flexões flexões do pronome “nosso” amplia a relação de posse: a natureza brasileira é tratada como patrimônio coletivo do povo.

DIÁLOGO ENTRE OBRAS

CONEXÕES

ROMANTISMO E MODERNISMO

QUADRINHOS

Entre as diversas releituras do poema de Gonçalves Dias estão as dos poetas modernistas Murilo Mendes e José Paulo Paes.

Canção do exílio

       

Murilo Mendes

 Minha terra tem macieiras da Califórnia onde cantam gaturamos de de Veneza. Veneza.         Os poetas da minha terra são pretos que vivem em torres de ametista,

���

       

os sargentos do exército são monistas, cubistas, os filósofos são polacos vendendo prestações.  A gente não pode pode dormir com os oradores e os pernilongos. Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.  Eu morro morro sufocado em terra estrangeira.  Nossas flores flores são mais mais bonitas nossas frutas mais gostosas mas custam cem mil réis a dúzia.  Ai quem me me dera chupar uma carambo carambola la de verdade e ouvir um sabiá com certidão de idade! PARÓDIA  É estabelecida, intencionalmente, uma relação intertextual com o poema original. Trata-se de uma paródia: a estrutura é mantida, mas o conteúdo e a intencionalidadee são alterados. Há um efeito de humor intencionalidad e uma reflexão crítica sobre a realidade brasileira. brasileira.

 VARIANTE LINGUÍSTICA  LINGUÍSTICA  E IRONIA   A variante linguística linguística popular “sururu” foi empregada no lugar de confusão para caracterizar caracteriz ar nossa nacionalidade. A ironia reside no contraste da citação. Gioconda, representativa da pintura clássica, imortalizada como “Mona Lisa”, símbolo de bom gosto e de refinament refinamento, o, presencia a confusão. IRONIA E SÍMBOLO NACIONAL  A referência irônica irônica é à nossa falta de autenticidade, ao reivindicar reivindic ar frutas e pássaros nacionais e legítimos.

 José Paulo Paulo Paes Paes lá? ah! sabiá…  papá… maná… sofá… sinhá… cá? bah! © TEREZA BETTINARDI

��� MAURICIO DE SOUSA EDITORA LTDA

O efeito de humor, no fim da tira, não gera um riso alegre, apesar da presença de ironia. O índio mais novo pergunta a Papa-Capim como os adultos da tribo designariam um conjunto de árvores cortadas. Papa-Capim associa a cena a uma palavra em português (“progresso”). (“progresso”). A intenção do quadrinista é conscientizar o leitor dos problemas ambientais.  Ao mesmo tempo, a visão que se tem dos dos indígenas ainda está associada ao Romantismo: eles são representados como amigos da natureza, em oposição aos abusos cometidos pelo homem branco.

CANÇÃO

 Índios Renato Russo

INTERTEXTUALIDADE Os versos não exaltam a pátria e elogiam elementos que, ironicamente, não são encontrados aqui.

Canção do exílio facilitada

O personagem Papa-Capim é o membro da Turma da Mônica que representa os povos indígenas. Na tira acima, ele e um amigo conversam enquanto caminham pela floresta. Papa-Capim apresenta dados sobre a cultura indígena – em um reflexo da prática de transmissão de conhecimentos por meio da oralidade.  Assim como como em Iracema, os elementos ligados ao universo dos índios mantêm relação com a natureza local: Papa-Capim ensina os vocábulos usados para designar elementos como “Lua” (Jaci) e “cobra” (m’boi).

PARÓDIA Nesta outra paródia, encontramos um resumo bem-humorado, bem no estilo modernista, das ideias centrais do poema original. O “lá? ah!” representa o Brasil idealizado com seus símbolos nacionais e de afeto (sabiá, sinhá etc.) que se contrapõe ao incômodo de viver em terra distante (“cá? bah”).

Quem me dera ao menos uma vez  Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem Conseguiu me convencer que era prova de amizade  Se alguém levasse embora embora até o que eu não tinha.  [...]  Que o mais simples  fosse visto como o mais importante  Mas nos nos deram espelhos  E vimos um mundo doente.  [...] 

COLONIZAÇÃO Na canção Índios, de Renato Russo, estão presentes alguns aspectos característicos da relação estabelecida entre os colonizado colonizadores res europeus e as tribos indígenas que habitavam a costa do Brasil. A ambição desmedida dos portugueses é convertida em uma crítica às diversas formas de interesse e oportunismo que, muitas vezes, caracterizam caracteriz am as relações humanas. GE PORTUGUÊS ����

51

3

ROMANTISMO

PRIMEIRA GERAÇÃO

Romance regionalista  Autor emblemático do Romantismo brasileiro, José de Alencar produziu sua obra de

acordo com um projeto: o de adaptar a forma do romance europeu à realidade brasileira. Para alcançar esse objetivo, Alencar privilegiou temas e cenários nacionais, em um mapeamento completo do Brasil nas páginas da ficção. Uma das maiores contribuições desse autor foi tentar definir a identidade coletiva do país por meio da representação de elementos considerados tipicamente brasileiros, ligados à fauna, à flora e às tradições populares de diferentes regiões. O romance Til ilustra bem as intenções literárias de Alencar. Considerado exemplo de obra regionalista, o livro registra costumes e modos de vida característicos de uma localidade do Brasil afastada dos grandes centros urbanos.

HEROÍNA ROMÂNTICA   A protagonista protagonista Berta é a típica heroína romântica, idealizada. Ela representa o polo da bondade e da pureza no romance.

JÃO FERA  O personagem, também conhecido como Bugre, é um temido capanga. Encarna a imagem de um sujeito aparentemente grotesco e feroz, por um lado, e do valente protetor da heroína, por outro.

REGÊNCIA VERBAL O verbo escapar é transitivo indireto (exige a preposição a ou o complemento de algo ).  Veja mais mais no Saiba mais ao lado.

INTERLOCUÇÃO O narrador utiliza o pronome de segunda pessoa (tu) para se dirigir à noite de São João, evocada e personificada como uma tradição genuinamente brasileir brasileira. a.

 A história de Til  (1872)  (1872) se passa em uma fazenda do interior paulista. A protagonista Berta, também chamada de Til, encarna a heroína virtuosa e capaz de interagir com os elementos naturais. A obra valoriza a natureza e o eterno conflito entre o bem e o mal.

REGIONALISMO

Til  José de Alencar

Capítulo IV 

Cerca de uma légua abaixo da confluência do  Atibaia com o Piracicaba, e à margem deste último rio, estava situada a fazenda das Palmas.  Ficava no seio de uma bela floresta floresta virgem, virgem, porporventura a mais vasta e frondosa, das que então contava a província de São Paulo, e foram convertidas a ferro e fogo em campos de cultura. (...)  Daí partiam pelo caminho d’água as expedições expedições que os arrojados paulistas levavam às regiões desconhecidas do Cuiabá, descortinando o deserto, e rasgando as entranhas da terra virgem, para arrancar-lhe as fezes, que o mundo chama ouro (...) Capítulo XII 

 De Berta, que direi? Com todos brincava; a toto dos queria bem, e sabia repartir-se de modo que dava a cada um seu quinhão de agrado. Em roda  ferviam os ciúmes ciú mes de muitos que qu e a ansiavam só  para si, e penavam-se pen avam-se de vê-la desejada e querida de tantos. Mas como um sorriso ela trocava tais zelos em extremos de dedicação, e o pleito já não era de quem mais recebesse carinho, e sim de quem mais daria em sacrifício. (...)

       

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

INFORMAÇÕES HISTÓRICAS 

O autor, ao retratar os costumes e a tradição do interior paulista, recupera a figura dos bandeirantes, vistos neste trecho como desbravadores desbravador es do território nacional, em busca de ouro.

CONCORDÂNCIA VERBAL

 A forma verbal respirava aparece no singular devido ao emprego da conjunção alternativa ou no sujeito da oração (referindo-se ou à goela do tigre ou à língua da Capítulo XV  cascavel). Esse verbo          Era medonha a catadura de Jão Fera quando deveria estar no plural se o conectivo fosse a voltou-se.  A fauce hiante do tigre, sedento de sangue,  conjunção aditiva e, que faria referência aos dois ou a língua bífida da cascavel, cascav el, a silvar, não resnúcleos do sujeito (A  pirava  pirav a a sanha e ferocida ferocidade de que despre desprendia-s ndia-see goela faminta do tigre daquela fisionomia intumescida pela fúria. e a língua fendida da  Berta, ao primeiro relance, sentiu-se transida cascavel não respiravam de horror; e o impulso foi precipitar-se, fugir, es- a sanha e ferocidade).

capar a essa visão que a espavoria. Reagiu, po-

       

rém, a altivez de sua alma e a fé que a inspirava. Capítulo XVI 

 No terreiro das Palmas arde a grande grande fogueira.  É noite de São João.  Noite das sortes consoladoras, dos folguedos ao relento, dos brincados misteriosos. (...)  Noite, enfim, dos mastros enramados, dos fo gos de artifício, dos logros e estripulias. Outrora, na infância deste século, já caquético, tu eras festa de amor e da gulodice, o enlevo dos namorados, dos comilões e dos meninos, que arremedavam uns e outros.

       

L&PM, 2012 52



Os escritores românticos valorizam a natureza local e exploram as imagens ligadas à nacionalidade. José de Alencar combina a descrição de paisagens naturais com a apresentação de informações históricas sobre a região.

COSTUMES POPULARES  Além de descrever a fauna e a flora brasileiras, brasileiras,  ou dar informações históricas, o projeto ficcional de Alencar inclui a descrição de antigas festas e costumes populares. O objetivo é valorizar e preservar o passado nacional.

DIÁLOGO ENTRE OBRAS

CONEXÕES

A ARTE E OS COSTUMES POPULARES O retrato das tradições populares, com o objetivo de valorizar e preservar a memória da cultura nacional, está presente em várias obras literárias e pictóricas brasileiras. No romance Memórias de um Antônio de Almeida Sargento de Milícias , de Manuel Antônio (veja mais na pág. 58 ), o narrador descreve um antigo costume religioso do Rio de Janeiro, desaparecido ao longo do século XIX. Em um episódio do livro, as personagens se reúnem em festejos populares ligados ao culto do Espírito Santo.

IMAGEM

COSTUMES ANTIGOS

 Domingo do Espírito Espírito Santo

 Era esse dia domingo do Espírito Santo. Santo. Como todos sabem, a festa do Espírito Santo é uma das  festas prediletas do povo fluminense. Hoje mesmo que se vão perdendo certos hábitos, uns bons, outros maus, ainda essa festa é motivo de grande agitação; longe porém está o que agora se passa daquilo que se passava nos tempos a que temos  feito remonta remontarr os leitor leitores. es. (...) (...) O primeir primeiroo anúncio anúncio da festa eram as Folias. Aquele que escreve estas  Memórias ainda em sua infância infância teve ocasião de ver as Folias, porém foi já no seu último grau de decadência, e tanto que só as crianças como ele davam-lhe atenção e achavam nelas prazer (...)

 Assim como ocorre ocorre no romance Til , o narrador de Memórias de um Sargento de Milícias se refere a uma tradição do passado,  já modificada ou perdida perdida no momento em que a história é contada. 

O narrador faz referência a si próprio empregando um pronome de 3ª pessoa, com o objetivo de aumentar o distanciamento em relação aos fatos narrados (antes, ele havia chamado a si próprio de “Aquele que escreve estas Memórias”).

O fogo no Campo

 À hora hora determinada determinada vieram vieram os dois, dois, padrinho e afilhado, buscar d. Maria e sua família, segundo haviam tratado: era pouco depois da ave-maria, e já se encontrava pelas ruas grande multidão de  famílias,  famílias, de ranchos ranchos de pessoas pessoas que se dirigiam dirigiam uns  para o Campo e outros para a Lapa, onde, como é sabido, também se festejava o Divino. Leonardo caminhava parecendo completamente alheio ao que se passava em roda dele (...) Chegaram enfim mais depressa do que supusera o barbeiro, porque o Leonardo parecia naquela noite ter asas nos pés , tão rapidamente caminhara e obrigara o padrinho a caminhar com ele.

       

Penguin Companhia das Letras, 2013

PRONOME PESSOAL



DADOS HISTÓRICOS E ESPACIAIS

 Assim como ocorre ocorre em Til , há aqui a mescla de marcadores espaciais ligados a lugares reais (neste caso, do Rio de Janeiro) e informações histórico-culturais relacionadas a festas populares.

 A fotografia fotografia traz a alegria e o colorido colorido típico das festas juninas tradicionais em todo o país. As pessoas aparecem vestidas com roupas típicas do interior. Balões sobrevoam o local en feitado de bandeirolas coloridas. Essa festa típica é uma releitura popular das danças tradicionais da corte e mostram os festejos religiosos e os costumes de gente simples. A literatura romântica foi fecunda em retratar essas festas e o seu caráter nacional.

SAIBA MAIS REGÊNCIA VERBAL  Verbos transitivos transitivos são aqueles que necessitam necessitam de comcomplemento. Os chamados verbos transitivos indiretos são acompanhados ou regidos por preposições, que antecedem os complementos. Em alguns casos, empregam-se também verbos transitivos diretos preposicionados. Observe alguns verbos empregados por José de Alencar e as preposições que os regem: Brincar (com (com)) – Berta com todos brincava. Querer (a (a alguém) alguém) – Berta a todos queria bem. Dar (a alguém) alguém) – Berta a cada um dava seu quinhão de agrado. Desprender-se (de algo) – A ferocidade desprendia-se daquela fisionomia. Escapar (a oude algo) – O impulso foi escapar a essa visão.

LINGUAGEM INFORMAL

O tom coloquial é uma característic característica a do romance Memórias de um Sargento de Milícias. Para aproximar o texto do universo do leitor, o narrador faz uso de expressões populares ou idiomáticas, como asas nos pés, que expressam a velocidade com que o protagonista protagonist a Leonardo corria. DIVULGAÇÃO

Exemplos de outros verbos que necessitam de complementos: gostar (de), confiar (em), aconselhar (a), agradecer (a), ajudar (a), simpatizar (com), aspirar (a) – com o sentido de desejar, assistir (a) – com o sentido de ver, agradar agradar (a), preferir (alguma coisa a outra), obedecer (a), consistir (em). GE PORTUGUÊS ����

53

3

ROMANTISMO

SEGUNDA GERAÇÃO

Sofrimentos e exageros Ao se sentirem incompreendidos pela sociedade, os escritores ultrarromânticos se isolam e evocam imagens ligadas à morte

TIPOS TEXTUAIS

 Noite na Taverna Taverna Álvares de Azevedo

Quando dei acordo de mim estava num lugar escuro: as estrelas passavam seus raios brancos entre as vidraças de um templo. As luzes de quatro círios batiam num caixão entreaberto. Abri-o: lvares de Azevedo (1831-1852) é o princi- era o de uma moça. Aquele branco da mortalha, pal nome nome da segunda geração romântica as grinaldas da morte na fronte dela, naquela tez  brasileira,  brasileira, também chamada de ultrarro- lívida e embaçada, o vidrento dos olhos mal apertamântica. Decepcionados Decepcionados com o mundo, os poetas dos... Era uma defunta! ... e aqueles traços todos me dessa geração, após o conhecimento dos pra- lembraram uma ideia perdida... – Era o anjo do cezeres físicos, sentem-se incompreendidos pela mitério? Cerrei as portas da igreja, que, ignoro por sociedade e optam pelo isolamento i solamento na própria que, eu achara abertas. Tomei o cadáver nos meus subjetividade. Textos melancólicos, nos quais braços para fora do caixão. Pesava como chumbo. (...) Nunca ouvistes falar da catalepsia? É um o sofrimento evoca imagens ligadas à noite e à  pesadelo delo horrível aquele que gira ao acordado que morte, abrem espaço para o fantasioso e o ma-  pesa  Noite na n a Taverna cabro. A obra , representativa emparedam num sepulcro; sonho gelado em que da prosa de ficção gótica, apresenta os relatos sentem se os membros tolhidos, e as faces banhadas mórbidos de um grupo de boêmios bêbados. de lágrimas alheias sem poder revelar a vida! (...)



Á

www.dominiopublico.gov.br

TRAÇOS MACABROS

Em uma atmosfera de pesadelo, o narrador Solfieri encontra um espaço de contornos pouco definidos. Aos poucos, a luz das estrelas revela um ambiente fúnebre. Uma jovem está adormecida em um templo (espaço que remete ao ideal de pureza virginal), após uma crise de catalepsia. Os elementos descritos conferem traços macabros à cena. A moça revive após ser violada por Solfieri, o qual, até aquele momento, julgava se relacionar com um cadáver – a necrofilia era exaltada pelos ultrarromânticos. O tema da relação sexual com o suposto cadáver constitui o centro da narrativa.



O narrador tenta manter o suspense da história. Combinadas, a descrição e a narração promovem a visualização da cena e criam expectativa sobre ela. O texto é fruto da memória do autor; verbos no passado auxiliam a recuper recuperação ação das lembranças. A junção desses elementos acentua a morbidez da narrativa, em linha com a atmosfera soturna, típica da segunda geração romântica. PRONOME POSSESSIV POSSESSIVO O

Observe o uso enfático do pronome possessivo “meus”, uma vez que  sua utilização seria desnecessária (pois o mesmo entendimento se teria com “tomei o cadáver nos braços”,  já indicando a ação da primeira pessoa, o “eu”). PRONOME DEMONSTRATIVO

O pronome demonstrativo “aquele” é empregado pelo narrador para retomar o termo “pesadelo” ( veja no Saiba mais abaixo ).

SAIBA MAIS

USO DOS PRONOMES DEMONSTRATIVOS Em relação ao espaço: este (próximo este (próximo de quem fala: Este livro que li é muito bom); bom ); esse (próximo esse  (próximo de quem recebe a mensagem: Esse livro que você leu é bom); ); aquele bom (longe de ambos:  Aquele livro que não lemos deve ser bom). bom ). Quanto ao tempo: este (presente este (presente e futuro: Nesta semana, vou viajar ); esse ); esse (passa (passado próximo: Nessa semana, viajei para Santos); Santos); aquele (passado aquele (passado remoto: Naquela  semana, viajei para o Rio). Rio). • Esse(s), essa(s), isso(s) também isso(s)  também retomam referentes anteriormente apresentados no texto: O deputado foi acusado de corrupção. Esse político nunca me enganou. • Este(s), esta(s), isto(s) também antecipam e anunciam um termo que será apresentado viajar,, verifique verifique isto: a quantidade de malas que irá carregar . posteriormente:  Antes de viajar 54

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

SAIU NA IMPRENSA

DIÁLOGO ENTRE OBRAS

 A DOR REVOLUCIONÁRIA  REVOLUCIONÁRIA 

A MORTE A morte foi um tema privilegiado pelos poetas da segunda geração romântica, muitas vezes tratada de maneira exagerada e sentimental. Representava uma forma extrema de evasão do mundo ou da realidade com a qual o sujeito estava em conflito. Como tema

Dois clássicos apontam a singularidade do Romantismo e verificam a extensão da mudança proposta por seus defensores Rosane Pavam

O inglês Dante Gabriel Rossetti (...) era um romântico como outro ilustre conterrâneo, o também pintor e poeta William Blake. Estes dois não queriam nem saber dos iluministas que decretaram a morte do espírito. Contra a razão, os românticos professavam a expressão subjetiva. Queriam viver o agora, a imanência das coisas, não sua transcendência. Contra as cidades onde  as indústrias da miséria operavam, idealizavam idealizavam a vida no campo, lá onde as máquinas do capitalismo ainda não haviam chegado, transformando os homens em mercadorias. Julgavam urgente experimentar a vida em liberdade, exaltar o lugar de nascimento, a língua falada pelos seus. Entendiam não haver uma verdade universal, ela pertencia a cada um.  E em que esses desejos ardentes pela unicidade e pela mudança de um estado de coisas nos sugerem semelhança? O desencanto romântico parece  não abandonar o presente. Nestes tempos em que os privilégios sociais se afunilam, a destruição do meio ambiente é contínua, a fome cresce e o extermínio dos desfavorecidos caminha ao ritmo de uma atordoante naturalidade, a tentação de pensar como Rossetti ou Blake parece irresistível. Pior que isso, as armas com que lutar contra esse estado de coisas se assemelham, próximas do isolamento. Quanto mais desiludidos nos  tornamos, mais românticos arriscamos ser. Dois livros lançados ao mercado editorial brasileiro nas últimas semanas, contudo, contudo, alertam para o anacronismo de estender o romantismo ao infinito presente. O primeiro deles, As Raízes Raízes do Romantismo (Três Estrelas, 256 págs., R$ 49,90), tem por autor Isaiah Berlin. Nascido na Letônia e emigrado em 1921 da Rússia à Inglaterra após a revolução soviética, o filósofo estudara o Romantismo por toda a vida. Aos 89 anos, em 1997, ensaiava escrever um grande volume sobre esse entendimento, mas morreria antes de iniciar a empreitada. (...) Carta Capital, 27/6/2015

Este texto é um trecho de uma resenha sobre livros.  A resenha é um gênero discursivo que que combina a apresentação das características essenciais de uma dada obra (filme, livro, peça de teatro etc.) com comentários e avaliações críticas sobre sua qualidade. As obras remontam um tema caro aos poetas românticos, sobretudo ao discutir o repúdio ao racionalismo, a idealização, o desencantamento do mundo e o desejo de isolamento. © TEREZA BETTINARDI

ESCAPISMO O texto faz menção ao “escapismo “escapismo”; ”; característica característi ca típica da segunda fase do Romantismo, na qual se tenta fugir da realidade concreta em busca do mundo de sonhos e de idealizações.

literário, contudo, é tratada de modos diversos, conforme os autores e as épocas. Manuel Bandeira, poeta brasileiro do século XX, falou da finitude da existência em diversos textos. Neste, ele mostra um sujeito poético conformado e sereno com o fim da vida, à espera da chegada da morte.

Consoada Manuel Bandeira

No século XIX, os românticos se sentiam deslocados em meio ao comportamento tradicional e materialista que predominava. O texto chama atenção para isso e mostra que o “desencanto romântico” e a desilusão são marcas típicas daqueles que possuem “espírito romântico”.

Dois adjetivos opostos ( “caro “caroável” ável” é carinhosa) possibilitam uma reflexão sobre o caráter da morte: o fim da existência pode vir de modo cruel ou afável. Repare no uso da conjunção alternativa “ou”, que estabelece uma relação de alternância entre duas ideias.

Quando a Indesejada das  gentes chegar (Não sei se dura ou caroável),  talvez eu tenha medo. Talvez sorria, ou diga: – Alô, iniludível! O meu dia foi bom, pode a noite descer. (A noite com os seus sortilégios.)  Encontrará  Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,  A mesa posta,  RESIGNAÇÃO Com cada coisa em seu lugar. O título faz

       

ULTRARROMANTISMO E ATEMPORAL ATEMPORALIDADE IDADE

 ADJETIVOS E  ADJETIVOS CONJUNÇÃO

EUFEMISMO  A expressão sugere a tristeza tristeza com que o ser humano geralmente lida com a morte e a perspectiva do fim da vida. Trata-se de um eufemismo que ameniza a dureza da palavra “morte”, comumente utilizada.

referência a uma refeição breve, tomada em dias de jejum. No fim do poema, a morte encontra o sujeito com a vida em ordem, pronto para partir (a mesa posta retoma a ideia da refeição).

PROSOPOPEIA  Por meio da figura de linguagem também conhecida como personificação, o autor atribui traços humanos à morte, tratando-a como uma entidade concreta e animada.

GE PORTUGUÊS ����

55

3

ROMANTISMO

TERCEIRA GERAÇÃO

Engajamento e olhar crítico Os autores da terceira geração romântica, como Castro Alves,  voltam-se para as questões sociais

O

poeta baiano Castro Alves (1847-1871) pertence à terceira geração poética do Romantismo brasileiro, caracterizada pelo engajamento em relação a questões sociais. O inconformismo do autor com a escravidão fez com que ele se filiasse ao movimento abolicionista. A fim de chamar atenção para os problemas e as injustiças da pátria, Castro Alves denuncia o sofrimento dos africanos trazidos para o Brasil de modo forçado. O poema Vozes d’África é considerado um dos textos fundadores, na segunda metade do século XIX, da presença definitiva da figura do negro na literatura brasileira. A realidade degradante dos escravos retrata uma sociedade problemática, muito distante da representação idealizada dos poetas nacionalistas da primeira geração romântica. O uso de uma linguagem linguage m grandiloquente, carregada de hipérboles (ênfases expressivas, exageradas) rende a alguns autores da terceira geração, como Castro Alves, o adjetivo de “condoreiro”, por almejar voos tão altos quanto os do condor.



O QUE ISSO TEM A VER COM A HISTÓRIA No Brasil, a utilização da mão de obra escrava teve início com a produção de açúcar, nos engenhos, atravessou todo o período colonial e foi oficialmente extinta apenas em 1888, já no fim do Império, com a assinatura da Lei Áurea. Inicialmente, foram escravizados os indígenas; depois, os africanos, que logo se tornaram majoritários. Para saber mais, veja o GUIA DO ESTUDANTE HISTÓRIA.

Vozes d’África



Castro Alves

 Deus  Deus!! ó Deus Deus!! onde onde está estáss que que não não resp respon onde des? s?  Em que que mund mundo, o, em qu’es qu’estr trel elaa t tuu t ’ ’escondes e  scondes  Embuçado nos céus?  Há dois mil anos anos te mandei meu grito, grito, Que embalde desde então corre o infinito... Onde estás, Senhor Deus?... (...)





 Foi depois depois do dilúvio... um viadante,  Negro,  Negro, sombrio, pálido, pálido, arquejante, (...)  E eu disse ao peregrino peregrino fulminado: “Cam... serás meu esposo bem-amado...”  (...)  Hoje em meu meu sangue a América América se nutre nutre Condor que transformara-se em abutre,  Ave  Ave da escravidão,(...) escravidão,(...)       

 Há dois mil anos anos eu soluço um grito... escuta o brado meu lá no infinito,  Meu Deus! Senhor, Senhor, meu Deus!!... PRESENTE HISTÓRICO  A conjugação conjugação verbal no presente presente – “eu soluço” – indica que os sofrimentos permanecem no tempo atual. Repare que há ironia no apelo dirigido a Deus, na medida em que o Criador parece não se compadecer dos sofrimentos da África.

PROSOPOPEIA  O poeta, por meio da personificação, atribui características humanas (voz e sentimento) ao continente africano, que “fala” em 1ª pessoa. PRONOMES PESSOAIS Note a correspondên correspondência cia entre os pronomes reto (tu) e oblíquo (te). Veja no Saiba mais abaixo. ONDE E AONDE “Onde” é empregado com verbos que não indicam movimento (como “estar”), enquanto “aonde” é empregado com verbos que indicam movimento (como “ir”).

CASTIGO MÍTICO O caráter de ancestralidadee da África ancestralidad sugere que o sofrimento do povo africano não é recente. Reza a lenda que  a África fora vítima de uma maldição lançada sobre Cam, filho de Noé.  A escravidão dos negros negros africanos remontaria a esse castigo. 

CONDOREIRISMO  A visão visão aguç aguçada ada da ave ave simboliza a ideia de que os poetas viam o mundo de modo mais perspicaz. Cabia ao artista guiar a sociedade rumo a dias melhores (os ideais abolicionistas ilustram a preocupação social do poeta condoreiro).

SAIBA MAIS

PRONOMES PESSOAIS RETOS E OBLÍQUOS: OBLÍQUOS: USO DE ACORDO COM A NORMA CULTA  • Os pronomes pessoais retos (eu, tu, ele/ela, nós, vós, eles/elas) correspondem ao sujeito e são seguidos de verbo: Esta torta é para eu comer. • Os pronomes pessoais oblíquos (átonos: me, te, se/o/a/ lhe, nos, vos, v os, se/os/as/lhes; tônicos: mim/comigo, ti/ contigo, si/consigo, conosco, convosco, si/consigo)

correspondem ao objeto (complemento) e podem vir depois da preposição ( geralmente geralmente encerram a frase): Esta torta é para mim.

• A preposição entre também pede o emprego do oblíquo tônico (quanto às duas primeiras pessoas do singular): Não há nada entre mim e ti .

56

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

• Deve haver correspondência entre os pronomes retos e oblíquos: Ela está ficando louca: eu não a aguento mais! Tu estás ficando louca: Eu não te aguento mais!

• É preciso saber o tipo de complemento (objeto direto direto ou indireto) que cada verbo exige para que se possa usar corretamente o pronome oblíquo:  (amar e visitar, visitar, Ele não a ama mais. Alguém os visitou?  (amar por exemplo, são verbos transitivos diretos e pedem objeto direto – o, a, os, as) Obedeceu- lhe apesar de não concordar com ele. (obedecer é verbo transitivo indireto e pede objeto indireto – lhe, lhes)

CONEXÕES TEXTO CIENTÍFICO

 A permanência do racismo racismo na sociedade brasileira brasileira Erika Ferraz Teixeira / Josué de Campos / Marlene Márcia Goelzer

 Neste artigo pretende-se discorrer sobre o racismo no Brasil e como esse preconceito está imbricado na nossa sociedade. (...)  Embora o racismo ainda não seja um assunto discutido abertamente entre os brasileiros,  percebe-se que o preconceito preconceito sobre sobre os negros e os seus descendentes encontra-se na história recente do Brasil, principalmente nos três séculos de escravidão, escravidão, e pelas escassas políticas de inserção desses sujeitos na sociedade, especialmente após a Abolição da Escravatura em 13 de maio de 1888.  Desde o século XVI, quando os negros oriundos das várias partes da África começaram a desembarcar na América portuguesa de forma forçada  para trabalhar nas lavouras de cana-de-açúcar e nas minas de ouro, começou um longo período de usurpação da sua liberdade, gerando graves consequências para para o seu status social. Vale destacar que alguns negros e mestiços trabalhavam nos centros urbanos (...). Apesar desses escravos não estarem nas fazendas ou nas minas e desem penharem outras atividades, eles não estavam isentos do estigma de serem escravos e dificilmente conseguiam ascender socialmente (...) Outra pesquisa, realizada em 2013, destacou: O negro é duplamente discriminado no Brasil,  por sua situação situação socioeconômica e por sua cor cor de  pele. “Tais “Tais discriminações combinadas podem explicar a maior prevalência de homicídios de negros vis-à-vis o resto da população”. (...)  Depreende-se  Depreende-se que a questão do preconceito preconceito de cor continua latente na sociedade brasileira. Carneiro (2003, p.5) afirmou que: “o Brasil sempre  procurou  procurou sustentar sustentar a imagem de um um país cordial, cordial, caracterizado pela presença de um povo pacífico, sem preconceito de raça e religião [...]”. E a autora completou que “Sempre interessou ao homem branco a preservação do mito de que o Brasil é um  paraíso  paraíso racial, racial, como forma de absorver absorver as tensões tensões sociais e mascarar os mecanismos de exploração e de subordinação do outro, do diferente [...]” http://www.seduc.mt.gov.br/Paginas/A-perman%C3%  AAncia-do-racismo-na-sociedade-brasileira.aspx  AAncia-do-racismo-na-sociedade-br asileira.aspx ��� DEBRET/REPRODUÇÃO DEBRET/REPRODUÇÃO ��� © TEREZA BETTINARDI

PINTURA ESTILO FORMAL O texto foi publicado em um site acadêmico e apresenta linguagem formal e objetiva.  A argumen argumentaçã tação o se desenvolve em torno de um tema polêmico (o preconceito étnico) e  procura analisar as suas consequências e mostrar a situação atual da questão.

PRECONCEITO Dados históricos  são apresentados para fundamentar as origens do problema em realidades que remontam aos versos de Castro Alves. O tráfico de escravos marca o início do preconceit preconceito o em relação aos negros.  Apesar da abolição da escravatura, os autores destacam a permanência de comportamentos discriminatórios.

���

 A escravidão foi abordada abordada literariamente literariamente pelos poetas brasileiros da terceira geração romântica, como Castro  Alves. A realidade dos escravos escravos africanos também foi tema de pinturas, como Le Diner , do artista francês Debret (1768-1848), que esteve no Brasil no século XIX. Seus quadros retratam retratam as relações cotidianas entre senhores e escravos, tanto na vida privada das casas quanto no universo público das ruas, e a tensão presente na concepção de superioridade dos brancos em relação aos negros. Repare, na cena, na maneira como a mulher dá o alimento à criança negra, tratando-a como se fosse um animal doméstico.

MARGINALIZAÇÃO  A cultura africana contribuiu para a formação da identidade brasileira. brasileir a. No entanto, ainda que alguns afirmem que vivemos em uma democracia racial, os autores questionam e defendem a tese de que a  marginalização de negros e de afrodescendentes ainda impera no Brasil atual.

���

GE PORTUGUÊS ����

57

3

ROMANTISMO

TERCEIRA GERAÇÃO

 Manuel Antônio de Almeida Almeida O escritor Manuel Antônio de Almeida (18301861) publica Memória publica Memóriass de um Sargento de Milícias em lícias em folhetim, entre 1852 e 1853. Apesar de se situar em pleno Romantismo, Romantismo, essa obra foge completamente ao ideário literário de sua época e assinala uma transição transiç ão para o Realismo. Se há traços românticos no romance, eles estão no tom irônico e satírico que assume o narrador. Os personagens utilizam a linguagem coloquial e vivem situações típicas do cotidiano da cidade do Rio de Janeiro do século XIX.

COSTUMES

No decorrer do romance, são descritos diversos costumes comuns no Rio de Janeiro da época de dom João VI, como festas populares e modos de viver que se modificar modificaram am com o passar do anos. Muitas vezes, nota-se certo saudosismo nos comentári comentários os do narrador.

POR QUE

Há diferentes grafias para “porque”. Neste caso, a utilização de por que expressa dúvida (veja no Saiba mais da pág. ao lado).

JEITINHO BRASILEIRO

Os personagens de Memórias de um Sargento de Milícias  estão sempre tentando se dar bem na vida, mesmo que, para isso, precisem recorrer a meios pouco lícitos ou convencion convencionais. ais. É o mundo brasileiro dos arranjos e do jeitinho.

58

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

Neste romance, surge, pela primeira vez na literatura nacional, a figura do malandro, com episódios repletos de humor e aventura.

ORDEM E DESORDEM

O romance oscila entre dois polos: a conduta oficial do major Vidigal e as malandragens cometidas pelo povo – e principalmente pelos Leonardos. Para o crítico  Antonio  Anto nio Can Candido dido,, é com como o se o Rio de Janeiro do tempo do rei estivesse Manuel Antônio de Almeida dividido entre o mundo da (...) Voltemos a saber o que foi feito do Leonardo, a  ordem e o da desordem.

 Memórias de um Sargento de Milícias

quem deixamos na ocasião em que fora arrancado  pelo Vidigal dos braços do amor e da folia. O Vidigal tinha-o posto diante de si, ao lado de um granadeiro, e marchava poucos passos atrás. (...) Quem estivesse muito atento havia de notar que algumas vezes o Leonardo parecia, ainda que muito ligeiramente, apressar o passo, que outras vezes o retardava, que seu olhar e sua cabeça voltavam-se de vez em quando, quase imperceptivelmente, para a esquerda ou para a direita. O Vidigal, a quem nada disto escapava, achava em todas estas ocasiões  pretextos  pretextos para para dar sinais de si; tossia, tossia, pisava pisava mais mais         forte,  forte, arrasta arrastava va no chão o chapéu-d chapéu-de-s e-sol ol que sempre sempre trazia na mão, como quem queria dizer ao Leonardo, respondendo aos seus pensamentos íntimos: – Cuidado! eu aqui estou. – E o Leonardo entendia tudo aquilo às mil maravilhas (...) Entretanto nem por isso abandonava a sua ideia: queria fugir. (...) O pobre rapaz (...) suava mais do que no dia em que fez a primeira declaração declaração de amor a Luisinha.  Só havia na sua sua vida um trans transee a que assemelhava assemelhava,, aquele em que então se achava, era o que se havia  passado, quando criança, naquele meio segundo que levara a percorrer o espaço nas asas do treseu  pai. mendo pontapé que lhe dera seu pai.  Repentinamente uma circunstância veio fa       vorecê-lo. Não sabemos  por que  causa ouviu-se um grande alarido na rua: gritos, assovios e carreiras. O Leonardo teve uma espécie de vertigem:  zuniram-lhe os ouvidos, escureceram-se- lhe os  o s olhos, e… dando um encontrão no granadeiro que estava perto dele, desatou a correr. O Vidigal deu        um salto, e estendeu o braço para o agarrar; mas apenas roçou-lhe com a ponta dos dedos pelas costas. O rapaz tinha calculado bem: o Vidigal distraiu-se com o ruído que se fizera na rua, e aproveitou a ocasião. O Vidigal e os granadeiros soltaram-se imediatamente em seu alcance: o Leonardo embarafustou pelo primeiro corredor que achou aberto; os seus perseguidores entraram incontinenti atrás dele, e subiram em tropel o primeiro lance da escada. (...)

PRONOMES RELATIVOS



Eles são usados para substituir um referente, no processo de conexão de sentenças, para encadear os aconteciment acontecimentos. os. Ex.: Leonardo apressava o passo, que ora desacelerava; desacelerav a; neste caso, “que” se refere a “o passo”. PRONOME DEMONSTRATIVO



“Aquilo” é utilizado para “Aquilo” retomar o poder exercido pelo Major Vidigal numa situação de imposição da autoridade (assinala que Leonardo compreendia as atitudes de poder e comando do Major).  A FIGURA DO MALANDRO MALANDRO





Leonardo Pataca e seu filho são típicos malandros brasileiros. No romance, transgridem com frequência as normas sociais de conduta. O romance não tem intenção moralizante e os malandros nem sempre sentem culpa por seus atos. PRONOME PESSOAL

Nos exemplos ao lado, o pronome pessoal oblíquo “lhe” funciona como pronome possessivo (zuniram os seus ouvidos, escureceram-se escureceram -se os seus olhos etc.). Já em “que lhe dera seu pai”, ele é objeto indireto indireto (designando o pontapé que o pai dera em Leonardinho).

SAIU NA IMPRENSA

MULTA PARA QUEM ESTACIONAR EM  VAGA DE DEFICIENTE AUMENTA AUMENTA MAIS QUE 100%

CONEXÕES CANÇÃO

 Rapaz folgado folgado Noel Rosa

A multa para o motorista que estaciona em vaga de idoso ou de pessoas com deficiência física vai mais que dobrar. É para ver se inibe aquelas desculpas esfarrapadas  já conhecidas. conhecidas. Se o motorista motorista não respeita por consciconsciência, cidadania e educação, agora vai ter que pensar que isso vai pesar mais no bolso e também resultar em mais pontos na habilitação. (...) Seu Valdir, que mora em Belém, ouve toda hora aquela desculpa esfarrapada: “Ah é só um minutinho”... “O velho jeitinho brasileiro, a pessoa estaciona e fala: ‘não, eu vou aqui rapidinho, um minutinho’, embora exista a legislação, embora exista a lei, mas assim, a população não respeita”. (...) A partir de agora, o desrespeito às vagas de deficiente físico e idosos é infração grave com cinco pontos na carteira de habilitação. E também a multa que era de R$ 53,20 passa para R$ 127,69. (...) Site G1, 5/1/2016 

 A malandragem, uma das principais principais características características do protagonista protagonist a de Memórias de um Sargento de Milícias, ainda faz parte do estereótipo do povo brasileiro.  A reportagem mostra mostra que muitos motoristas insistem insistem em infringir a lei que garante vagas vagas de estacionamento para idosos e pessoas com deficiência. Essa prática ilegal, de parar o carro nessas vagas especiais, é reveladora do que chamamos de “jeitinho brasileiro” brasileiro” – o hábito de burlar regras sem se sentir culpado. Esse comportamento,, que era visível na sociedade carioca comportamento retratada retrat ada por Manuel Antônio de Almeida, infelizmente ainda é bastante comum no Brasil de hoje.

SAIBA MAIS

EMPREGO DE PORQUE, POR QUE, POR QUÊ E PORQUÊ Há diferentes grafias para “porque” conforme o sentido: • Porque: É empregado para indicar causa ou explicação: Não fui à escola ontem porque estava doente. • Por que: Serve, em geral, para expressar dúvida e é

empregado em frases interrogativas diretas ou indiretas: Por que você não foi à escola ontem?  • Porquê: Funciona como substantivo e se refere ao motivo pelo qual determinado fato ocorre: Eu gostaria de  saber o porquê de tanto choro. • Por quê: É usado como indicativo de dúvida no fim de sentenças interrogativas: Você não foi à escola por quê? 

 Deixa de arrastar o teu tamanco

 Pois tamanco tamanco nunca  foi sandália  E tira do pescoço o lenço branco Compra sapato e gravata  Joga fora esta navalha que te atrapalha Com chapéu do lado deste rata  Da polícia quero quero que escapes  Fazendo  Fazendo um samba-canção samba-canção  Já te dei papel e lápis lápis  Arranja  Arranja um amor amor e um violão  Malandro  Malandro é palavra palavra derrotista Que só serve pra tirar Todo o valor do sambista  Proponho ao povo civilizado  Não te chamar chamar de malandro malandro  E sim de rapaz rapaz folgado  A figura do malandro malandro foi bastante trabalhada na música popular brasileira brasileir a (MPB), principalmente nas décadas de 1920 e 1930. Esta canção de Noel Rosa promove interessante diálogo com Memórias de um Sargento de Milícias em relação à integração do malandro ao universo da ordem social. No romance, essa integração ocorre com o casamento de Leonardinho e a sua nomeação para sargento; na canção, com a adesão do personagem ao universo musical.

IMPERATIVO  AFIRMATIVO  A canção propõe um conselho a um possível  interlocutor para que  ele abandone a vida de malandro. O emprego do imperativo afirmativo na segunda pessoa do  singular reforça esse caráter de conselho e de diálogo presente  na canção.

 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA  LINGUÍSTICA   A expressão “deste rata” e a forma verbal no imperativo (arranja) configuram elementos da variante popular.  Isso dá ao conselho um tom coloquial, como se viesse de uma pessoa querida que quer cuidar do amigo. 



MUDANÇA NA  INTERLOCUÇÃO O eu lírico deixa de falar com seu primeiro interlocutor – o suposto malandro – e passa a dialogar com o povo civilizado (inserido na ordem) para que aceite o novo rótulo social (rapaz folgado) do ex-malandro.

PARA IR ALÉM Alguns vídeos disponíveis no YouTube – como o do programa Iluminuras, da TV Justiça, com o quadro Obras Raras – são bem didáticos para para explicar a obra Memórias de um Sargento de Milícias . Digite Obra Rara e o nome do livro para localizá-lo. GE PORTUGUÊS ����

59

3

COMO CAI NA PROVA

1.

(PUC- SP 2016) Mem Me m ria riass e um Sar Sarge gent nto o e Mi ci cias as cronologicamente  cronologicamente faz parte da literatura romântica brasileira; no entanto, torna-se uma obra atí pica em relação ao momento em que foi escrita. Das alternativas abaixo, indique a que não valida essa afirmação porque a) seu enredo é marcado por intenso e trágico sofrimento amoroso cujo desfecho concretiza um final feliz, com a união conjugal e ascensão social dos personagens. b) sua linguagem é marcada pela oralidade e coloquialidade, em tom de crônica jornalística, ilustrando a prática de que se deve escrever como se fala. ) obra caracterizada pela ausência do tom açucarado e idealizador da literatura romântica, visto que as relações sentimentais não se dão nem pela grandeza no so rimento, nem pela redenção pela dor. dor. d) a caracterização dos personagens ou fere a descrição sempre idealizada do perfil feminino ou configura traços de um herói pelo avesso mais marcado por defeitos que por virtudes.

a) o modo como a democracia d emocracia surge no Brasil por interferência do Imperra or Impe or.. b) a maneira despótica como os republicanos trataram os símbolos nacionais. c) a postura inconsequente que sempre caracterizou os governantes do Brasil. d) a forma astuciosa como ocorreram os movimentos políticos no Brasil.

RESOLUÇÃO Além da ironia, o texto se vale também da intertextualidade. Ela ocorre quando um enunciado recupera outro, criando um novo texto. No caso do poema, José Paulo Paes recupera a cantiga infantil infantil VamosPassear na F or ores esta ta En Enqu quan an o S u Lo o Não V   . Seu lobo lobo,, no cas caso, o, é om Pe ro. Durante todo o poema, o autor narra ironicamente a adoção da repú blica no Brasil, fazendo uma crítica aos movimentos políticos do país. Resposta: D

3. (FUVEST 2015)

RESOLUÇÃO Em Memórias de um Sargento de Milícias, Milícias, não há “intenso e trágico sentimento amoroso”. amoroso”. Como explicado na alternativa C, o livro se afasta da idealização romântica. O personagem principal da obra, Leonardo, é o primeiro anti-herói da literatura, o famoso malandro. Por isso, apesar e ter si si o escrita escrita no Romant Romantismo, ismo, ela tamb tamb m apresenta apresenta traç traços os do ReRealismo, antecedendo a escola posterior. Resposta:

a) De acordo com o contexto, o que explica o modo de falar das

2. (UNICAMP 2016) Cem anos depois Vamos passear na floresta Enquanto D. Pedro não vem. D. Pedro é um rei filósofo Que não faz mal a ninguém. Vamos sair a cava Vamos cava o, Pacíficos, desarmados:  A ordem ordem acima de tudo, tudo, Como convém a um soldado. Vamos fazer a República, Sem barulho, sem litígio, Sem nenhuma guilhotina, Sem qualquer barrete frígio. Vamos, com farda de gala, Proc amar os tempos tempos novos, Mas cautelosos, urtivos, Para Par a não aco acorr ar o povo povo.. José Paulo Paes, O Melhor Poeta da Minha Rua, em Fernando Paixão (sel. e org.), ara gostar de ler  São Paulo: Ática, 2008

O tom irônico do poema em relação à história do Brasil põe em evidência 60

GE PORTUGUÊS ����

personagens representadas pelas duas traças? b) Mantendo o contexto em que se dá o diálogo, reescreva as duas alas do primeiro quadrinho, empregando o português usual e gramaticalmente correto.

RESOLUÇÃO a) Na última tira, o rato atribui a nova linguagem das traças, cheia de pronomes oblíquos (como ( como o “vos” e o “me”) e conjugações na segunda pessoa, duas marcações de norma culta, ao fato de estarem roendo a Bíblia,, que é toda escrita dessa maneira. A comicidade se dá pelo emBíblia prego dessa linguagem de forma equivocada e em conversas usuais. b) Reescrevendo-se as falas e respeitando a norma culta, elas ficariam da seguinte maneira: – Como foi o seu dia? – Queria que tivesse sido melhor.

4. (INSPER 2015)  2015: o ano em que chegamos ao futu ro Futuro não Quem assistiu assistiu a tri ogia De Vo ta Para o Futuro  não esquece. E como  poderia? No segundo segundo ilme, o protagonista Marty McFly viaja viaja no tempo, deixando 1985 para ir a 2015. Entre as tantas situações apresentadas no futuro hipotético, as mais marcantes são o skate voador e o tênis autoajustável usados pelo personagem. E a Nike confirmou: esse ano o calçado vai ser lançado. Em evento realizado em Long Beach, Califór Califór-nia, nos EUA, o designer e diretor de inovação da empresa norte-ame-

RESUMO

ricana Tinker Hatfield prometeu que o produto chega ao mercado com os Power Laces (os cadarços que se arrumam sozinho).

Literatura do Romantismo

http://www.jornaljr.com.br/2015/01/19/2015-o-ano-em-que-chegamos-ao-futuro/

ROMANTISMO (1836-1881) O movimento surge no contexto da ascensão da burguesia. Valores como o individualismo, o

No texto acima, há uma construção sintática em desacordo com a prescrição da norma culta. Assinale a alternativa na qual esse deslize está corretamente identificado. identificado.

sentimentalismo, a subjetividade e a liberdade formal são

seus elementos centrais. • Primeira geração Em geração  Em busca da exaltação dos valores

a) No título, a preposição “em”, “em”, que antecede o pronome relativo “que”, está incorreta, pois está associada ao verbo “chegar”, que é regido pela preposição “a”. b) No primeiro período, faltou o acento indicador de crase, uma vez que o verbo “assistir”, no sentido de “ver”, exige preposição “a” c) No primeiro período, há um erro associado ao emprego do verbo “esquecer”, que é pronominal e deve ser acompanhado pela preposição “de” parágrafo, ocorre uma falha d) No quarto período do primeiro parágrafo, associada ao emprego da voz passiva, já que o verbo “usar” rejeita essa construção. e) No último parágrafo, há uma falha na correlação verbal, pois o verbo “chegar”, ao se relacionar à ideia de “prometer”, não pode ficar no presente. RESOLUÇÃO O verbo assistir pode ser tanto transitivo direto quanto transitivo indireto. Quando ele significa dar assistência, é transitivo direito e não pede preposição. Já quando seu significado é o mesmo de ver, ele é transitivo indireto indireto e por isso rege a preposição “a”. “a”. Por isso, a forma correta que deveria ter sido utilizada no texto é “assistiu à trilogia”. trilogia”. Na primeira alternativa, a preposição “a” regida pelo verbo chegar está presente no “ao futuro”; o “em que” é uma marcação temporal. Na terceira terceira alternativa, a regra está correta, porém o esquecer utilizado no texto não é pronominal, por isso não pede preposição. A quarta alternativa está incorreta, incorreta, pois o verbo usar pode ser empregado na voz passiva. E, na última, o emprego do presente do indicativo está relacionada a um futuro iminente pontual, situação na qual esse tempo verbal pode ser utilizado.

nacionais, escritores como José de Alencar ( Iracema) Iracema) e Gonçalves Dias (Canção (Canção do Exílio) Exílio ) veem nos índios os legítimos heróis das narrativas. Alencar também é autor de romances regionalistas, como Til. Til.

• Segunda geração O sentimento amoroso se exacerba, como na poesia de Álvares de Azevedo (Noite (Noite na Taverna), Taverna ), o principal nome do Ultrarromantismo. • Terceira geração Caracteriza-se pelo engajamento social. Nos poemas de Castro Alves, a linguagem grandiloquente, grandiloquente, carregada de hipérboles (exageros), é posta a favor de sua luta contra a escravidão. • Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, diferencia-se da estética da época por seu tom satírico e por introduzir a figura do malandro. GRAMÁTICA E INTERPRETAÇÃO I NTERPRETAÇÃO Trata-se do diálogo entre dois textos • Intertextualidade Trata-se – acontece quando um autor deseja referir-se a outro texto, produzido em outro momento. Uma das maneiras de se estabelecer uma relação intertextual entre dois escritos é por meio da paródia. • Regência verbal Determinados verbos são acompanhados por complementos com funções específicas. Ex.: gostar (de), confiar (em), aconselhar (a), simpatizar (com), ajudar (a).

• Pronomes demonstrativos No contexto em que estão

Resposta: B

associados a espaço, este é próximo de quem fala (este

livro que li é muito bom); esse é esse é próximo de quem recebe a mensagem (esse (esse livro  livro que você leu é muit muito o bom); e aquele

5. (FGV 2016 ADAPTADA)

 As ideias de especialização e progresso, inseparáveis da ciência, são inválidas para as letras e as artes, o que não quer dizer, evidentemente, que a literatura, a pintura e a música não mudem nem evoluam. Mas, diferentemente do que se diz sobre a química e a alquimia, nelas não  se pode dizer que aqu ela abole e supera esta. (...) Mario V. Llosa, Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

Identifique o referente de cada um dos seguintes pronomes: “nelas”, “aquela”, “esta”.

RESOLUÇÃO Os referentes dos pronomes demonstrativos pedidos são os seguintes: Nelas – Literatura, pintura e música (o conjunto dito no período anterior). Aquela – Química (palavra mais distante na frase). Esta – Alquimia (a palavra mais próxima).

é longe de ambos (aquele livro que não lemos deve ser

muito bom).

• Pronomes pessoais retos e oblíquos Os pronomes pessoais retos correspondem ao sujeito da oração e são seguidos de verbo. Ex.: É para eu fazer o jantar?  Os jantar?  Os pronomes pessoais oblíquos correspondem ao objeto da oração e podem suceder preposições. Ex.: Esta comida é para mim? 

• Porque A palavra apresenta diferentes grafias, cada uma delas com um significado diferente: porque (causa ou explicação), por que (dúvida), porquê (substantivo) e por quê (no fim de sentença).

GE PORTUGUÊS ����

61

4

LITERATURA DO REALISMO/NATURALISMO CONTEÚDO DESTE CAPÍTULO

 Interpretando: ironia ................................... .................................................... ................................... ................................. ............... ��

..................................................... ................................... ................................... ................................... ..................... ... ��   Realismo .................................... ..................................................... .................................... ................................... ................................72 ...............72  Naturalismo...................................  Como cai na

prova + Resumo................................... ..................................................... ....................................74 ..................74

Diferenças Diferenças de classe em foco O filme Que Horas Ela Volta? retrata a exploração da mão de obra doméstica no país, uma categoria até pouco tempo desprovida de direitos trabalhistas

E

strelado por Regina Casé, o drama Que  Horas Ela Volta? foi um dos longas brasileiros mais comentados de 2015. A história é centrada em Val, uma pernambucana que trabalha como empregada doméstica para uma família de classe média alta de São Paulo. Considerada “quase da família”, ela cuida do filho do casal como se fosse a própria mãe, dorme no quartinho dos fundos e aceita com resignação sua condição de submissão. Essa dinâmica familiar é quebrada quando Jéssica, filha de Val que ficara em Recife, chega inesperadamente para fazer o vestibular em São Paulo. Inquieta e questionadora, a jovem, interpretada pela atriz Camila Márdila, passa a colocar em xeque regras tácitas que orientam a relação entre Val e seus patrões, revelando a artificialidade de uma estrutura alicerçada na separação de classes e na relação de dominação. O filme, dirigido pela cineasta Anna Muylaert, foi assistido por cerca de 454 mil pessoas no país – e outro meio milhão no exterior. Eleito o melhor filme de 2015 pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), chegou a ser indicado pelo Ministério da Cultura para representar o Brasil na disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro na edição 2016, mas acabou não sendo indicado ao prêmio.

62

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

 Além  Além de retrat retratar ar uma realida realidade de comum comum no país – a das empregadas domésticas, trabalhadoras consideradas por muitos de segunda classe e que até pouco tempo não tinham direitos assegurados pela legislação –, o filme toca numa ferida mais profunda. Ele escancara uma realidade que nem todos querem enxergar, a de um Brasil dividido entre ricos e pobres, brancos e negros e uma elite que desfruta de privilégios em oposição a uma massa popular que sobrevive como pode.  A situação dos empregados domésticos no Brasil e a noção de agregado – criado, aquele que  vive numa casa como pessoa pessoa da família família – lembra lembra  Memórias as Póstum Póstumas as de Brás Brás Cubas Cubas, passagens de Memóri de Machado de Assis, obra que inaugura o Realismo no país, em 1881. O autor chama atenção para a classe de serviçais, serviçai s, que não eram escravos nem donos de escravos, que viviam sujeitos aos favores e à exploração da classe senhoril. As diferenças entre as classes sociais QUASE DA FAMÍLIA  brasileir  brasileiras as constituem constituem A atriz Regina Casé, em um tema caro ao Re- cena do filme Que Horas alismo, cujos textos Ela Volta? Ela interpreta a servem, muitas vezes, empregada Val, que mora como instrumentos de na casa dos patrões e tem denúncia das desigual- a rotina alterada com a chegada da filha Jéssica dades sociais. �



GLOBO FILMES

GE PORTUGUÊS ����

63

4

REALISMO/NATURALISMO INTERPRETANDO

A subversão do sentido  A ironi ironiaa é a figur figuraa de linguagem que afirma o contrário do que parece dizer. Ela também pode se mostrar de modo mais sutil, no contexto, como no exemplo abaixo

A

lém das críticas sociais, outra das caracte- o pensamento do autor para concluir que ele só rísticas mais atraentes e refinadas de Ma- poderia “estar brincando”. O texto causou tamachado de Assis – um dos principais nomes nha polêmica – várias pessoas acreditaram na do Realismo e da literatura brasileira e mundial – seriedade de suas colocações e se posicionaram é sua ironia, que, embora chegue ao humor em contrários ou favoráveis a elas – o que levou o certas situações, tem geralmente uma sutileza autor a publicar na semana seguinte uma outra que só a faz perceptível a leitores de sensibi- crônica (  Abaixo para esclarecer esclarecer que seu  Abaixo a ironia ironia ) para lidade já treinada. Ela se associa àquilo que é artigo tinha, propositadamente, propositadamente, caráter irônico classificado como o seu grande poder de “ana- e caricaturesco. “Uma sátira é uma caricatura. lista da alma humana”. Escolhemos certos traços traç os de uma obra e produO artigo abaixo, do escritor Antonio Prata, zimos outra, exagerando tais características (...) publicado no jornal Folha havia carregado carregado o bastante bastante nas tintas  Folha de S.Paulo S.Paulo, em 3 de no-  Achei que havia  vembro de 2013, 2013, é um exemplo exemplo típico desse tipo retrógradas para que a sátira ficasse evidente”, de ironia. Para percebê-la era preciso conhecer disse Antonio Prata.

IRONIA E ALUSÃO

O cronista se refere a uma antiga crônica sua para desqualificar como pensava em seus tempos de juventude ( era jovem e ignorante ) e buscar adesão para sua suposta mudança ideológica. “



IRONIA E METÁFORA 

Segundo Prata, com a maturidade, passa-se a pensar mais com a razão (sinapses, associadas ao cérebro) do que com a emoção (sístoles, relacionadas ao coração coração). ). Ele ironiza adultos que pensam como jovens

IRONIA E GÍRIA 

Segundo o autor autor,, negros beneficiados pelas cotas nas universidades dominaram toda a sociedade e jogaram para escanteio os brancos, deixando-os desempregados e sem acesso ao Ensino Superior – o que, obviamente, não coaduna com a realidade. Repare o uso da gíria “boquinha” (algo fácil de se obter) para se referir às cotas.

Guinada à Direita

 ARGUMENTO DE  ARGUMENTO  AUTORIDADE  AUTORIDAD E

 Antonio Prata       

 Há uma década, escrevi um texto em que me definia como “meio intelectual, meio de esquerda . Não me arrependo. Era jovem e ignorante, vivia ainda enclausurado na primeira parte da célebre frase atribuída a Clemenceau, a Shaw e a Churchill, mas na verdade cunhada pelo próprio  Senhor: “Um homem que não seja s eja socialista s ocialista aos  20 anos não tem coração; um homem que permaneça socialista aos 40 não tem cabeça”. Agora que me aproximo dos 40, os cabelos rareiam e arejam-se as ideias, percebo que é chegado o mo       mento de trocar as sístoles pelas sinapses. ” 

Como todos sabem, vivemos num totalitarismo de esquerda. A rubra súcia domina o

 governo, as universidades, universidad es, a mídia, a cúpula da CBF e a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, na Câmara. O pensamento que se queira libertário não pode ser outra coisa, portanto, senão reacionário. E quem há de negar que é  preciso reagir? Quando terroristas, gays, índios, í ndios, quilombolas, vândalos, maconheiros e aborteiros tentam levar a nação para o abismo, ou os cidadãos de bem se unem, como na saudosa Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que nos no s salvou do comunismo e nos garantiu 20 anos de paz, ou nos preparemos para a barbárie.  Se é que a barbárie já não começou... Veja as        cotas, por exemplo. Após anos dessa boquinha descolada pelos negros nas universidades, o que aconteceu? O branco encontra-se escanteado.  Para todo lado que se olhe, da direção das empreemp re-

 64

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����



O autor afirma que uma frase célebre foi, na verdade, cunhada por ninguém menos que Deus, com o objetivo de reforçar seus argumentos. Veja que o tom da frase nada tem de sagrado. IRONIA E SARCASMO





O cronista diz que vivemos num regime totalitário (chefiado por um líder que se mantém no poder usando a força), o que, evidentemente, evidentement e, não é verdade. O sarcasmo também aparece na expressão “como todos sabem” – pois se não é realidade, ninguém poderia saber. IRONIA E VOCABULÁRIO

 A seleção de vocábulos vocábulos (maconheiros, aborteiros e, nas últimas linhas do texto, crioléu, bichas) revela o tom crítico e irônico do autor. Ele busca criar um personagem acentuadamente preconceituoso  justamente  justamen te para para dar o tom irônico de seu texto e, assim, criticar os conservadores.

sas aos volantes dos SUVs, das mesas do Fasano à primeira classe dos aviões, o que encontramos?  Negros  Negros ricos e despreparados despreparados caçoando da meritocracia que reinava por estes costados desde a chegada de Cabral.  Antes que me acusem de racista, digo que que meu  problema não é com os negros, negros, mas com os privilégios das “minorias” . Vejam os índios, por exemplo. Não fosse por eles, seríamos uma potência agrícola. O Centro-Oeste produziria soja suficiente para a China fazer tofus do tamanho da Groenlândia, encheríamos nossos cofres e financiaríamos inúmeros estádios padrão Fifa, mas, como você sabe, esses ágrafos, ágrafos, apoiados pelo  poderosíssimo lobby dos antropólogos, antropólogos, transformaram toda nossa área cultivável numa enorme taba. Lá estão, agora, improdutivos e nus, catando piolho e tomando 51. Contra o poder desmesurado dado a negros, índios, gays e mulheres (as feias, inclusive), sem  falar nos ex-pobres, ex-pobres, que agora possuem dinheiro dinheiro  para avacalhar, avacalhar, com sua ignorância, ignorância, a cultura cultura rereconhecidamente letrada de nossas elites, nós, da direita, temos uma arma: o humor. A esquerda, contudo, sabe do poder libertário de uma piada de preto, de gorda, de baiano, por isso tenta nos calar com o cabresto do politicamente correto. correto. Só não jogo a toalha e mudo de vez pro Texas  por acreditar que neste espaço, pelo menos, eu ainda  posso lutar contra contra esses absurdos. absurdos.  Peço perdão aos antigos leitores, desde já, se minha nova persona não lhes agradar, mas no  pé que as coisas estão é preciso não apenas ser reacionário, mas sê-lo de modo grosseiro, raivoso e         estridente. Do contrário, seguiremos dominados  pelo crioléu, pelas bichas, pelas feministas rançosas e por velhos intelectuais da USP, USP, essa gentalha que, finalmente compreendi, é a culpada          por sermos um dos países mais desiguais, mais injustos e violentos sobre a Terra. Me aguardem.

INDICADORES DA IRONIA  O uso desses adjetivos também revelam a ironia. Pois um defensor “sério” dessas ideias dificilmente conclamaria, de forma tão explícita, as pessoas a terem posicionamentos grosseiros, raivosos e estridentes.

IRONIA E IDEIA CONTRÁRIA  O autor culpa feministas e intelectuais por serem responsáveis pela desigualdade social vigente no país, dominado por negros, índios, ex-pobres etc. Obviamente, o autor deseja com esse manifesto sinalizar exatamente o contrário do que afirma. © TEREZA BETTINARDI

IRONIA E ASPAS



Sabe-se que a população majoritária do Brasil é composta de pretos e pardos. Considerar que eles pertencem a uma minoria privilegiada, obviamente, caracteriz caracteriza a ironia, acentuada pelo emprego das aspas.

IRONIA E ESPAÇO GEOGRÁFICO



O autor sugere que toda área cultivável no Brasil é ocupada por grupos indígenas ociosos, a quem chama de ágrafos (que não se expressam por sinais gráficos; veja o prefixo “a”, que indica negação). Argumento falso, é claro, já que o Brasil é uma potência agrícola e os índios foram praticamente dizimados.

REFERÊNCIA 





O cronista considera uma mudança para o Texas, estado norteamericano caracteriz caracterizado ado por comportamento conservador.

METÁFORA “Pé que as coisas estão” significa situação. Cinco linhas acima, “jogar a toalha” é metáfora para desistir.

SAIBA MAIS

OS CAMINHOS DA IRONIA  A ironia nega aquilo que foi afirmado, propondo o oposto do que na realidade se pensa ou se escreve. Um exemplo bem simples seria:  Ana adora a sua sogra! sogra! (quando, na verdade, Ana a detesta). No texto em que predomina a ironia, o leitor deve abandonar o plano referencial concreto e real para entrar em um outro plano de sentido , que subverte o primeiro. Há, no en tanto, ironias mais finas , em que o discurso não trabalha nesse plano tão óbvio de contraste. Ocorre nas relações intertextuais, intertextuais, nas referências, referências, ou ainda nas escolhas de palavras, como você pode conferir no texto ao lado. A ironia está presente em textos diversos . Para se observar a ironia é preciso prestar bastante atenção na construção do discurso – a intenção do texto, o tipo de palavra escolhida, o humor etc. – e no reper tório cultural e social que aparece ao longo do texto. O contexto é fundamental para a compreensão da ironia. GE PORTUGUÊS ����

65

4

REALISMO/NATURALISMO REALISMO

A vida como ela é No Realismo (1881-1922), as idealizações dão lugar à observação objetiva e rigorosa da sociedade

E

m contraste com o Romantismo, os escritores realistas concebem a realidade segundo uma visão objetiva e materialista. Defendem a produção de obras que retratem o real de modo documental, sem distorção distor ção nem idealização, e muitas vezes com uma linguagem próxima do rigor científico. Em geral, os textos servem como instrumentos de denúncia das

desigualdades sociais. A burguesia é criticada por transformar as relações sociais e os próprios indivíduos em simples mercadorias. Ocorrem também ataques ao clero e à Igreja Católica. O movimento se desenvolve durante a segunda fase da Revolução Industrial (a partir de 1870), e o capitalismo torna-se um dos alvos centrais das obras literárias do período. Os personagens ganham personalidades mais complexas, se

comparadas aos personagens românticos. Em um mundo marcado por divisões econômicas, as fronteiras entre o social e o psicológico muitas  vezes remetem ao jogo realista de “aparência  versus essência”.  Machado de Assis O maior ficcionista de sua época e um dos grandes escritores da literatura mundial, Machado de Assis (1839-1908) tornou-se famoso pelos contos e romances que publicou. Sua

produção realista é marcada pela consciência das contradições de um Brasil dividido entre o desejo de modernização (segundo modelos capitalistas da burguesia liberal europeia) e a manutenção das estruturas conservadoras de poder (o sistema patriarcal e escravocrata que ainda vigorava no país). O olhar crítico e aguçado do Machado ficcionista explorará ao máximo essas oposições, desmascarando-as aos olhos do leitor. Para além das questões brasileiras, Machado de Assis utiliza a matéria histórica nacional para tratar de problemas e sentimentos comuns a todos os seres humanos, em qualquer parte do mundo.

Publicado em 1881, Memórias Póstumas de Brás Cubas é um romance revolucionário em vários aspectos.  A quebra do enredo enredo convencional, a estratégica estratégica utilização de um narrador-defunto que se anuncia autor da obra e a negação de toda e qualquer redenção de personagens em toda a narrativa tornam esse romance a maior ruptura realista feita no Brasil.

 Memórias Póstumas Póstumas de Brás Cubas Machado de Assis

CAPÍTULO 1: ÓBITO DO AUTOR  (TRECHO INICIAL)

NARRADOR-DEFUNTO

 Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um de funto autor autor,, para para quem quem a campa foi outro outro berço; berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. (...)

CAPÍTULO 75: COMIGO  Podendo  Podendo acontecer acontecer que algum dos meus leitores leitores tenha pulado o capítulo anterior, observo que é  preciso lê-lo lê-lo para para entender o que eu disse comigo, comigo, logo depois que Dona Plácida saiu da sala. O que eu disse foi isto: – Assim, pois, o sacristão da Sé, um dia, ajudando à missa, viu entrar a dama, que devia ser sua colaboradora na vida de Dona Plácida. Viu-a outros dias, durante semanas inteiras, gostou, disse-lhe alguma graça, pisou-lhe o pé, ao acender os altares, nos dias de festa. Ela gostou dele, acercaram-se, acercaram-se, amaram-se. Dessa conjuncção de luxúrias vadias brotou Dona Plácida. E de crer         que Dona Plácida não falasse ainda quando nasceu, mas se falasse podia dizer aos autores aut ores de seus dias: – Aqui estou. Para que me chamastes? E o sacristão e a sacristã naturalmente naturalmente lhe responde        riam: – Chamamos-te para queimar os dedos nos tachos, os olhos na costura, comer mal, ou não co DOMÉSTICA E AGREGADA 



Dona Plácida foi abandonada pela filha – também bastarda bastard a – e sustentou a mãe, até que esta morresse. Após ouvir a história da agregada, a ironia e o rancor saltam aos olhos de Brás Cubas: Dona Plácida serve de álibi para que ele e Virgília concretizem o amor adúltero. Os amores dos dois são conjunções de luxúrias vazias, origem de Dona Plácida, cujo destino é viver trabalhando, adoecendo adoecendo e se curando, até que morra decrépita. 66

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

Brás Cubas narra, depois de morrer, as lembranças da vida. O lugar do qual o narrador fala é estratégico: morto, sua voz alcança maior distanciamento em relação aos fatos e aos seres humanos.  ANTI-HERÓI ROMANESCO ROMANESCO

 Ao contrário dos heróis românticos idealizados, Brás Cubas é um indivíduo repleto de defeitos, egoísmos e ambiguidades. O romance moderno, gênero representativo do mundo burguês, privilegia protagonistas protagonist as que não são modelos exemplares de conduta nem apresentam uma trajetória comum, com todos os problemas humanos. Nesse sentido, ele se aproxima do personagem Leonardo, de Memórias de um Sargento de Milícias. Milícias.

DIÁLOGO ENTRE OBRAS

mer, andar de um lado para outro, na faina, adoecendo e sarando, com o fim de tornar a adoecer e sarar outra vez, triste agora, logo desesperada, amanhã resignada, mas sempre com as mãos no tacho e os olhos na costura, até acabar um dia na lama ou no hospital; foi para isso que te chamamos, num momento de simpatia. CAPÍTULO 160: DAS NEGATIVAS  Entre  Entre a morte do Quincas Quincas Borba e a minha, mediram os sucessos narrados na primeira parte do livro. O principal deles foi a invenção do emplasto  Brás  Brás Cubas, Cubas, que que morreu morreu comigo, comigo, por causa da moléstia que apanhei. Divino emplasto, tu me darias o primeiro lugar entre os homens, acima da ciência e da riqueza, porque eras a genuína e direta inspiração do Céu. O caso determinou o contrário; e aí vos ficais eternamente hipocondríacos.  Este último capítulo é todo de negativas. negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de D. Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas cousas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará imaginará mal;  porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: – Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o         legado da nossa miséria. Record, 1998 PRONOME POSSESSIV POSSESSIVO O O uso do pronome possessivo “nossa” tem o efeito de criar cumplicidade e ironia: a miséria não seria só de Brás Cubas, mas de toda a humanidade.

© TEREZA BETTINARDI

FRUSTRAÇÃO O projeto do emplasto Brás Cubas, medicamento revolucionário por meio do qual o narradorpersonagem sonhava alcançar a glória pessoal, acabou por levar indiretamente seu idealizador à morte.

 ADVÉRBIO





O título do capítulo, Das negativas, repercute na série de frases declarativas negativass presentes no negativa texto, nas quais o advérbio não acentua o caráter de negatividade e frustração do narrador-protagonista.

IRONIA  Brás Cubas se refere ironicamente ironicament e às sucessivas ações fracassadas de sua vida, resultantes da fraqueza e da leviandade.  A ironia ironia é o recu recurso rso text textual ual frequentemente frequentement e usado pelo autor para tratar das questões humanas.



PESSIMISMO O desiludido narrador apresenta uma perspectiva pessimista da existência. Ele declara não haver deixado descendentes em vida e, portanto, não tem a quem transmitir o legado da existência humana (ironicamente constituído de misérias).

CIÚME E ADULTÉRIO A traição é tema recorrente nos romances realistas. Após trair o marido, a sonhadora Luisa, de O Primo Basílio , é acometida acometida pela culpa, que a leva à morte. Em Memórias Póstumas de Brás Cubas , o narrador é o amante do triângulo amoroso, completado por Virgília e seu marido. Ao contrário de Luisa, Virgília é prática, tipicamente realista, e mantém um caso sem dramas com Brás Cubas. Nas duas obras, o adultério é incontestável. Já em Dom Casmurro , como a narração é em primeira pessoa, não há como dizer que Capitu traiu Bentinho. O suposto adultério pode ter sido invenção do ciumento narrador. Dúvida parecida paira no livro modernista São Bernardo , de de Graci Graciliano liano Ramos. A infidelidade de Madalena seria uma fantasia do narrador, seu marido, Paulo Honório?

O Primo Basílio Eça de Queirós “Sentia então como um alívio doloroso, em ver o fim do seu longo martírio! Havia meses que ele durava. E pensando em tudo o que tinha feito e que tinha sofrido, as infâmias em que chafurdara e as humilhações a que descera, vinha-lhe um tédio de si mesma, um nojo imenso da vida. Parecia-lhe que a tinham sujado e espezinhado; que nela nem         havia orgulho intacto, nem sentimento limpo; que tudo em si, no seu corpo e na sua alma, estava en xovalhado  xovalhado,, como como um trapo trapo que que foi pisado por uma multidão, sobre a lama. Não valia a pena lutar por uma vida tão vil. O convento seria já uma purificação, a morte uma purificação maior... – E onde estava ele, o homem que a desgraçara? Em Paris, retorcendo a guia dos bigodes, chalaceando, governando os seus cavalos, dormindo com outras!  E ela morreria morreria ali, estupidamente! estupidamente! E quando quando lhe escrevera a pedir-lhe que a salvasse, nem uma  palavra  palavra de de resposta; resposta; nem a julga julgara ra digna digna do meio tostão da estampilha! (...) Oh, que estúpida estúpid a que é a vida! Ainda bem que a deixava!”  Editora Ática, São Paulo, 1998 HIPÉRBOLE E DISCURSO INDIRETO LIVRE Por meio do discurso indireto livre, o narrador recupera os pensamentos de Luisa: a personagem, em seu sofrimento, exagera a percepção da realidade e carrega suas reflexões de contornos trágicos. A imagem da alma humilhada e pisada é construída de modo hiperbólico.  A hipérbole é a figura figura dos exageros e da intensificação intensificação das ideias. Ela funciona também como um advérbio, um recurso de intensificação. GE PORTUGUÊS ����

67

4

REALISMO/NATURALISMO REALISMO

Os capítulos iniciais de  Dom Casmurro (1899) mostram o estilo solitário de vida do narrador Bentinho. A obra guarda um dos mais célebres enigmas da literatura brasileira: a incerteza sobre a traição de Capitu. Destaca-se o jogo complexo narrativo e a desconfiança nas palavras de Bentinho – tornadas duvidosas pela parcialidade do narrador-personagem, envolvido nos fatos.

PARA IR ALÉM Na minissérie Capitu, exibida pela TV Globo em 2009 e dirigida por Luiz Fernando Carvalho, a adaptação combina elementos da ópera, do teatro e da cultura pop, o que resulta em figurinos, cenários e trilha sonora originais. Disponível em DVD e, alguns capítulos, pela internet. Veja mais em capitu.globo.com

 Dom Casmurro Machado de Assis

MARCADORES ESPACIAIS E TEMPORAIS O ponto de partida da narração é a compra da residência atual, reformada para tornar-se igual à casa onde ele vivera na infância. A passagem do tempo é representada pela alteração do espaço físico, recurso estilístico importante na composição da narrativa.

COMPARAÇÕES O narrador faz duas comparações: entre os tempos passado e presente (mostrando que, para lidar com a passagem dos anos, quis reconstrui reconstruirr a casa em que vivia na infância) e entre as vidas no interior da residência e no mundo exterior (uma, pacata; outra, ruidosa).

PERSONAGENS COMPLEXOS O desejo do narrador é articular o início e o fim da existência.  A construção construção da da casa busca conectar épocas diferentes. No entanto, a aparente recuperação da infância por meio da casa não foi bem-sucedida: a essência da juventude não pode ser recuperada. Na estética realista, os personagens são mais complexos do que os do período romântico. 68

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

CAPÍTULO 2: DO LIVRO Vivo só, com um criado. A casa em que moro é  própri  própria; a; fi-la construir de propósito, propósito, levado de um desejo tão particular que me vexa imprimi-lo, mas vá lá. Um dia, há bastantes anos, lembroume reproduzir no Engenho Novo a casa em que         me criei na antiga Rua de Matacavalos, dandolhe o mesmo aspecto e economia daquela outra, que desapareceu. Construtor e pintor entenderam bem as indicações que lhes fiz: é o mesmo prédio assobradado, três janelas de frente, varanda ao  fundo, as mesmas alcovas e salas. Na principal destas, a pintura do teto e das paredes é mais ou menos igual, umas grinaldas de flores miúdas e grandes pássaros que as tomam nos bicos, de espaço a espaço. Nos quatro cantos do teto as  figuras  figuras das estações, e ao centro das paredes os medalhões de César, Augusto, Nero e Massinissa, com os nomes por baixo...  Não  Não alcanç alcançoo a razão razão de tais personagens. Quando fomos para a casa de  Mataca  Matacaval valos, os, já ela estava estava assim decor decorada ada;; vinha do decênio anterior. Naturalmente era gosto do tempo meter sabor clássico e figuras antigas em  pintur  pinturas as america americanas nas.. O mais mais é também análo análogo go e  parecid  parecido. o. Tenho chacarin chacarinha, ha, flores, flores, legume legume,, uma casuarina, um poço e lavadouro. (...) Enfim, agora,         como outrora, há aqui o mesmo contraste da vida interior, que é pacata, com c om a exterior, que é ruidosa. O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que          fui. Em Em tudo, tudo, se o rosto rosto é igual, igual, a fisionom fisionomia ia é difediferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito externo, como se diz nas autópsias; o interno não aguenta tinta. Uma certidão que me desse vinte anos de idade poderia enganar os estranhos, como todos os documentos falsos, mas não a



PRESENTE E PRETÉRITO



O autor usa no início verbos no presente, que destacam as condições de vida do narrador. Em seguida, os fatos são narrados no pretérito, a fim de evocar as lembranças do narrador.



DESCRIÇÃO O método descritivo é usado com frequência pelos realistas: para representar a realidade, detalham os traços constitutivos de espaços e pessoas. Mas não se trata mais de descrições idealizadas, como no período romântico: a realidade é retratada de modo objetivo e fiel.

ORAÇÃO SUBORDINADA  ADJETIVA   ADJETIVA  

O pronome relativo “que” é empregado para construir orações subordinadas adjetivas explicativass (responsáveis explicativa por acrescentar uma informação complement complementar ar sobre os referentes – no caso, a vida interior e a vida exterior à casa de Bentinho). Mais acima, a construção “em que” foi empregada para construir orações subordinadas adjetivas restritivas restritiv as (responsáveis por especificar que, entre todas as casas existentes, o narrador se refere à própria residência).

CONEXÕES CANÇÃO PARALELISMO

Capitu

mim. Os amigos que me restam são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos cam pos-santo  pos-santos. s. Quanto Quanto às amigas, amigas, algumas algumas datam datam de quinze anos, outras de menos, e quase todas creem na mocidade. Duas ou três fariam crer nela aos outros, mas a língua que falam obriga muita vez a conc onsultar os dicionários, e tal frequência é cansativa.  Entretanto  Entretanto,, vida diferente não quer dizer vida  pior;  pior; é outr outra coisa. coisa. A certos certos respe respeito itos, s, aquela aquela vida vida antiga aparece-me despida de muitos encantos que lhe achei; mas é também exato que perdeu muito espinho que a fez molesta (...) (. ..) Quis variar, e lembrou-me escrever um livro.



O narrador usa um eufemismo para fazer referência à morte dos amigos (“foram estudar a geologia dos campossantos”).



L&PM editores, 1997 © TEREZA BETTINARDI

SENTIDO DA EXISTÊNCIA

 Para tentar atribuir sentido à existência, o narrador opta por escrever uma obra autobiográfica e retomar passagens da própria vida.

CAPÍTULO 32: OLHOS DE RESSACA

Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”.  Eu não sabia o que era oblíqua, oblíqua, mas dissimulad dissimuladaa sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira; eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra ideia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que...  Retór  Retórica ica dos namor namorado ados, s, dá-me dá-me uma compar comparação ação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da  praia,  praia, nos nos dias de ressa ressaca. ca. Para Para não não ser arrasta arrastado, do, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros; mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. t ragar-me.

EUFEMISMO

METÁFORA 

 A bela bela e eston estontea teante nte metáfora dos “olhos de ressaca”, presente no título deste capítulo, ressalta o poder sedutor de Capitu, que traga Bentinho como  areia movediça.

 A repetição repetição intencional intencional Luiz Tatit de uma estrutura gramatical mostra os  De um lado vem vem você  diferentes aspectos da personalidade de Capitu e com seu jeitinho revela sua complexida complexidade. de.  Hábil, hábil, hábil O autor a traz para a  E pronto! contemporaneidade e  Me  Me conq conqui uist staa com com seu seu dom dom sugere um site que se liga ao seu poder,  De outro esse seu site indicando quanto ela  petulante permanece atual.

WWW ponto poderosa  ponto com

 É esse o seu modo modo de ser ambíguo sábio, sábio  E todo encanto Canto, canto  Raposa e sereia sereia  Da terra terra e do mar  Na tela e no no ar Você é virtualmente amada amante Você real é ainda mais tocante  Não há quem não se encante Um método de agir que é tão astuto Com jeitinho alcança tudo, tudo, tudo  É só se entregar entregar,, é não resistir, é capitular Capitu  A ressaca dos mares  A sereia do sul sul Captando os olhares  Nosso totem tabu  A mulher em milhares Capitu (...)



DÚVIDA

O principal elemento que enriquece a leitura de Dom Casmurro é a ambiguidade de Capitu. Não se sabe se ela é culpada ou inocente.



AMBIGUIDADE

 A refer referência ência à inform informátic ática a segue por meio da ambiguidade. Capitu é caracterizada como amante virtual (em oposição à realidade concreta), sugestão ao adultério não comprovado.

COMPLEXIDADE FEMININA

Há referência aos “olhos de ressaca” de Capitu, capazes de tragar os corações vulneráveis. Seus traços representam a complexidade complexida de feminina e a tornam universal.

METONÍMIA 



Os olhos dão também a ideia metonímica (a parte substituindo o todo) do que Capitu vai representar para o narrador: o poder avassalador que ela terá sobre ele.

 A canção canção Capitu retoma os principais traços da protagonista de Dom Casmurro. O narrador Bento Santiago rompe o casamento após suspeitar de uma possível traição da mulher com o amigo Escobar. Como a narrativa é construída em primeira pessoa, o leitor não tem certeza sobre o adultério. Com base na intriga romanesca, Luiz Tatit compôs esta canção sobre Capitu. GE PORTUGUÊS ����

69

4

REALISMO/NATURALISMO REALISMO

Eça de Queirós Um dos marcos do movimento realista em

Portugal é a publicação, em 1874, do primeiro conto ligado à nova estética escrito em língua por Singularidades es de uma Rapariga Rapariga Loura Loura, tuguesa: Singularidad de Eça de Queirós (1845-1900). O autor, um u m dos principais nomes da literatura de Portugal, fixa importantes referências estéticas para o período. O romance A romance A Cidade Cidade e as Serras Serras,, uma de suas principais obras, trata da onda de cientificismo e modernização que influenciou a cultura europeia na segunda metade do século XIX. No caso específico de Portugal, havia uma expectativa de equiparação do país em relação ao desen volvimento tecnológico observado nas demais nações do continente europeu. Eça de Queirós, por meio dos projetos ino vadores do protagonista, Jacinto (defensor da civilização), e das intervenções do narrador-personagem, José Fernandes (oriundo do campo), explicita o contraste entre o progresso urbano ur bano e a tradição rural.  As Cidades e as Serras  apresenta

também

traços do romance de tese, aquele que, por meio da história narrada, defende uma ideia. Neste caso, a narrativa concretiza as oposições entre campo e cidade, simplicidade e tecnologia.

Neste último livro de Eça de Queirós (1901), publicado um ano após sua morte, a temática do campo versus cidade é o cerne da história. O autor mostra a futilidade reinante na cidade e satiriza as ideias positivistas que predominavam na época.

 A Cidade e as Serras Serras

 ARTIGO

Eça de Queirós

 Eu murmur murmurei, ei, das profund profundidad idades es do meu assomassombrado ser: – Eis a civilização!  Jacint  Jacintoo empur empurrou rou uma porta, porta, pene penetr tramo amoss numa numa nave cheia de majestade e sombra, onde reconheci a biblioteca por tropeçar numa pilha monstruosa de livros novos. O meu amigo roçou de leve o dedo na  parede;  parede; e uma uma coroa coroa de lumes lumes elétric elétricos, os, reful refulgin gindo do entre os lavores do teto, alumiou as estantes monumentais, todas de ébano. (...)  Ele erguera uma tapeçaria – entramos entramos no seu  gabinete de trabalho, trabalho, que me me inquietou. [...] Sedas verdes envolviam as luzes elétricas, dispersas em lâmpadas tão baixas que lembravam estrelas caídas por cima das mesas, acabando de arrefecer e morrer (...) E entre aqueles verdes reluzia, por sobre peanhas e pedestais, toda uma mecânica suntuosa, suntuo sa, aparelhos, lâminas, rodas, tubos, en grenag  gre nagens ens,, hastes hastes,, frieza friezas, s, rigi rigidez dez de metai metais... s...

(...) – E acumulaste civilização, Jacinto! Santo Deus...  Está  Está tre tremen mendo, do, o 202! 202!  Ele espalh espalhou ou em torno torno um olhar olhar onde onde já já não faiscava a antiga vivacidade: – Sim, há confortos... Mas falta muito! A humanidade ainda está mal apetrechada, Zé Fernandes...  E a vida conserva conserva resist resistênci ências. as.  Subitam  Subitament ente, e, a um canto, canto, repicou repicou a campainh campainha a do telefone. (...) Jacinto acudiu, com a face no telefone: – Vê aí o telégrafo!... Ao pé do divã. Uma tira de         papel  papel que deve estar estar a correr correr.. – E, com efeito, duma redoma de vidro posta numa coluna, e contendo um aparelho esperto e diligente, escorria para o tapete como uma tênia, (...)

  ANSIEDAD  ANSI EDADE E E CONSU CONSUMISM MISMO O Jacinto encarna a ansiedade do indivíduo moderno, sedento de velocidade e simultaneidade. Ao mesmo tempo que fala ao telefone, pede a Jacinto que verifique a chegada de uma nova mensagem no telégr telégrafo. afo. Na prosperidade prosperid ade material e nas posses de Jacinto, nota-se o apego ao consumismo, estimulado pelo capitali capitalismo smo burguês e industrial. ���

70

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����



O artigo “a” define civilização: trata-se desta civilização, e não de outra. Veja outros significados que os artigos podem exprimir no Saiba mais da página ao lado.

DESCRIÇÃO



O procedimento descritivo, muito empregado pelos realistas, é usado para evidenciar a ânsia de modernidade de Jacinto (represent (representativa ativa de boa parte da elite portuguesa da época). Por meio da apresentação da casa do protagonista, Eça realiza uma sátira dos costumes burgueses.

SUBSTANTIVOS  Após enumer enumerar ar uma uma série série de componentes dos aparelhos (designados por  substantivosconcretos), o narrador explicita, por meio de substantivos abstratos (“frieza” e “rigidez”), o caráter impessoal e artificial das máquinas. Em todo o romance, ocorre a decepção de Jacinto com o “mundo moderno”.

DISCURSO DIRETO  As exclama exclamaçõe çõess de Zé Fernandes, reproduzi reproduzidas das por meio de discurso direto, visam a quebrar o longo trecho descritivo e inserem no texto aspectos ligados ao dinamismo e à ação. O leitor tem a impressão de ver os personagensconversando no gabinete de Jacinto.

Neste outro trecho do mesmo livro, Zé Fernandes, preocupado, consulta consulta seu fiel criado Grilo sobre o desânimo de Jacinto. Ele diz que o patrão (Jacinto) sofria de “fartura”. Esse fastio vai desencadear no personagem mudança de rumo e de ares. Trocará o tédio da cidade por uma vida nova no campo.

Uma noite no meu quarto, descalçando as botas, consultei o Grilo: – Jacinto anda tão murcho, tão corcunda... Que será, Grilo? O venerando preto declarou com uma certeza imensa: – Sua Excelência sofre de fartura.  Era fartura! O meu Príncipe sentia abafadamente a fartura de Paris; e na Cidade, na simbólica Cidade, fora de cuja vida culta e forte (como ele outrora gritava, iluminado) o homem do século XIX nunca poderia saborear plenamente a “delícia de viver”, ele não encontrava agora  forma de vida, espiritual ou social, que o interessasse (...) Pobre Jacinto! Um jornal velho (...) não enfastiaria mais o solitário, que só possuísse na sua solidão esse alimento intelectual, do que o  parisianismo enfastiava o meu doce camarada! camarada!  Se eu nesse verão capciosamente o arrastava arrastava a um café-concerto (...), o meu bom Jacinto, colado pesadamente à cadeira, com um maravilhoso ramo de orquídeas na casaca, as finas mãos abatidas sobre o castão da bengala, conservava toda a noite uma gravidade tão estafada, que eu, com padecido, me erguia, o libertava, gozando a sua  pressa em abalar, abalar, a sua fuga de ave solta... (...)  Não se ocupara ocupara mais das suas sociedades e com panhias, nem dos telefones de Constantinopla, Constantinopla, nem das religiões esotéricas, nem do bazar espiritualista, cujas cartas fechadas se amontoavam sobre a mesa de ébano, de onde o Grilo as varria tristemente como o lixo de uma vida finda. Também lentamente se despegava de todas as suas convivências. As páginas da agenda cor-de-rosa murcha andavam desafogadas e brancas. E se ainda cediam a um passeio de mail-coach, ou a um convite para algum castelo amigos dos arredores de Paris, era tão arrastadamente, com um esforço saturado (...)  Jazer,  Jazer, jazer em casa, na segurança das portas bem cerradas e bem fendidas contra toda a intrusão do mundo, seria uma doçura para o meu  Príncipe se o seu próprio 202, com todo aquele tremendo recheio de Civilização, não lhe desse uma sensação dolorosa de abafamento, de atulhamento! (...) Nobel, 2009

��� ©

TEREZA BETTINARDI ��� REPRODUÇÃO

CONEXÕES ANÚNCIO PUBLICITÁRIO

NARRADOR EXCÊNTRICO Zé Fernandes não é somente um típico narrador. É um observador da trajetór trajetória ia do protagonista. O tédio proporcionado proporcionad o pela “fartura” aborrecera o “Príncipe”– nome carinhoso e irônico usado para designar o mimado Jacinto.

 ARTIGO ENF  ARTIGO ENFÁT ÁTICO ICO O artigo definido (o, a) empregado em conjunto com o pronome possessivo assume valor semântico de ênfase, uma vez que a particularidade expressa pelo possessivo dispensaria o artigo. Seu emprego, porém, torna  mais clara a ideia de que o protagonista é descrito aos olhos do narrador.





PERSONAGEM ENFASTIADA  Eça descreve Jacinto como um típico burguês enfastiado com a vida social. O autor busca caracterizar no personagem um arquétipo da elite portugues portuguesa, a, a qual criticava.

PONTUAÇÃO O ponto de exclamação enfatiza o retrato de tédio que o narrador busca fazer de Jacinto. Dessa forma, ele ironiza o que o protagonista outrora chamava de civilização.

���

Os contrastes entre o progresso urbano e o sossego do campo, apontados em A Cidade e as Serras Serras, mantêm-se nos dias de hoje. No romance, a mudança de Jacinto, da agitada Paris para o agrário Portugal, mostra, primeiramente, a superioridade da vida rural e, no fim da obra, uma síntese dos dois ambientes. O anúncio acima é um exemplo de como a sociedade moderna também tem buscado unir o melhor dos dois: a praticidade das cidades e a tranquili tranquilidade dade do campo. Essa tendência é expressa na multiplicação de condomínios condomín ios residenciais, cuja publicidade emprega termos bucólicos, como “natureza” e “área verde”. Delineia-se a promessa de viver num espaço ao mesmo tempo verde e urbano, atraente para quem acredita ser possível ter a calmaria de um refúgio rural sem perder o conforto da cidade.

SAIBA MAIS

O ARTIGO É a palavra que costuma preceder o substantivo, indicando-lhe o gênero (masculino ou feminino) e o número (singular ou plural). Pode ser definido (o, a, os, as) ou indefinido (um, uma, uns, umas). Do ponto de vista da semântica, os artigos podem expressar diversos significados, como: • Adjetivo: Fernanda Montenegro é a atriz! (= excelente) • Ideia de aproximação: Sharon Stone tem uns 50 anos. anos. (= aproximadamente) • Ênfase: Estou com uma fome! (= muito intensa) • Generalização: O  homem é um animal racional...

(= todos os homens) • Indicação de posse: Roberto Roberto Carlos rapou a cabeça novamente. (= dele) GE PORTUGUÊS ����

71

4

REALISMO/NATURALISMO NATURALISMO

Relatos quase científicos Os autores do Naturalismo (1881-1922) (1881-1922) se colocam como c omo observadores imparciais diante de seu objeto de estudo – os personagens

C

onsiderada por muitos especialistas a radicalização do Realismo, a estética naturalista se estabelece na Europa e no Brasil na segunda metade do século XIX, impulsionada por uma série de avanços científicos, principalmente nos campos da biologia e da sociologia.  Além de observarem a realidade, os autores naturalistas procuram explicar os acontecimentos com base em teorias científicas. O romance se converte numa espécie de laboratório, no qual temas considerados polêmicos pela sociedade do período são expostos sem idealização nem contornos atenuantes. A influência do meio sobre o indivíduo (determinismo) e a evolução dos seres vivos (darwinismo)  são algumas das ideias incorporadas por escritores para explicar o comportamento dos personagens (e, desse modo, interpretar a própria realidade). No Brasil, Aluísio Azevedo (1857-1913) (1857-1913) retratou o modo de vida das classes populares e também o comportamento animalesco que pode estar por trás das aparências de civilidade. 

Publicado em 1890, O Cortiço traça o perfil da sociedade brasileira no fim do século XIX. Pela janela, um narrador assiste à formação de um cortiço ao lado de seu sobrado. O autor registra a ascensão de uma classe social que não medirá esforços para enriquecer e atingir o poder político. Portugueses, negros e mulatos experimentam a pobreza e a desigualdade social em leituras animalizadas do ser humano.

O Cortiço  Aluísio Azevedo

Uma bela noite, porém, o Miranda, que era  homem de sangue esperto e orçava então pelos        seus trinta e cinco anos, sentiu-se em insuportável estado de lubricidade. Era tarde já e não havia em casa alguma criada que lhe pudesse  valer. Lembrou-se da mulher mul her,, mas repeliu logo l ogo esta        ideia com escrupulosa repugnância. Continuava a odiá-la. Entretanto este mesmo fato de obrigaobriga ção em que ele se colocou de não servir-se dela, a        responsabilidade de desprezá-la, desprezá-la, como que ainda mais lhe assanhava o desejo da carne, fazendo da esposa infiel um fruto proibido. Afinal, coisa singular, lar, posto que moralmente moralmente nada diminuísse a sua repugnância pela perjura, perjura, foi ter ao quarto dela. (...) Ah! ela contava como certo que o esposo, desde que não teve coragem de separar-se de casa, havia, mais cedo ou mais tarde, de procurá-la de novo. Conhecia-lhe o temperamento, forte para desejar e fraco para resistir ao desejo.



O QUE ISSO TEM A VER COM A BIOLOGIA

O inglês Charles Darwin desenvolveu a teoria da evolução das espécies pela seleção natural. Segundo a teoria, os indivíduos nascem com pequenas diferenças, e algumas delas facilitam facilitam sua sobrevivência. sobrevivência. Elas são transmitidas aos descendentes, e o meio ambiente funcionaria como filtro para selecionar os organismos mais adaptados. Para saber mais, veja o GUIA DO ESTUDANTE BIOLOGIA.

COISIFICAÇÃO Com o objetivo de criticar os valores civilizatórios burgueses e a descaracterização da “humanidade” do homem, alguns personagens se tornam coisas ou objetos. O texto deixa transparecer o papel da criadagem nesse processo de coisificação do ser humano.

 A escolha da forma verbal verbal “orçava” “orçava” revela o caráter caráter ambicioso de Miranda, que resumia tudo a dinheiro e a benefício próprio. A seleção vocabular é um procedimento essencial para a construção de u m texto.

 APARÊNCIA VERSUS VERSUS ESSÊNCIA 

SEXUALIDADE Há uma visão não espiritualizada dos afetos humanos. O retrato da sexualidade aflorada, muitas vezes por meio de hipérboles e adjetivos, é tipicamente naturalista.

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

O adjetivo “bela” é empregado como um pronome indefinido (“uma noite qualquer”).  A escolha da palavra “bela” cria uma anteposição à noção de grotesco presente na relação do casal, na qual não há nenhuma indicação de amor e de belo.

 VOCABULÁRIO  VOCABUL ÁRIO

 Após verificar a traição traição de Estela, Miranda Miranda toma providências. No entanto, tais medidas só se estendem à vida privada. Na vida pública, man tinham a aparência de casal unido. Interesses financeiros e reputação social estão em jogo. Lobo Neves, marido de Virgília, toma uma atitude semelhante à de Miranda; no entanto, quando percebe que o adultério da mulher pode prejudicar sua vida pública, afasta os amantes.

72

DERIVAÇÃO IMPRÓPRIA 

PARA IR ALÉM O Cortiço foi adaptado para os quadrinhos pela Editora Ática, por Rodrigo Rosa e Ivan Jaf, que fizeram intensa pesquisa para reconstituir reconstituir a paisagem carioca com seus cortiços no século XIX. Essa versão traz uma nova linguagem, sem deixar de lado o humor e a acidez da crítica social presentes na obra original.

SAIU NA IMPRENSA

Consumado o delito, o honrado negociante sentiu-se tolhido de vergonha e arrependimento. Não teve ânimo de dar palavra, e retirou-se tristonho e murcho para o seu quarto de desquitado. Oh! como lhe doía agora o que acabava de praticar na cegueira da sua sensualidade. (...) NATURALISMO  No dia seguinte, seguinte, os dois viram-se viram-se e evitaram-se evitaram-se  A descri descrição ção físi física ca ligad ligada a ao em silêncio, como se nada de extraordinário extraordinário hou- corpo é muito explorada pelos naturalistas para vera entre eles acontecido na véspera. representar represent ar os aspectos (...) instintivos e naturais do  Mas,  Mas, daí a um mês, mês, o pobre homem, acometido acometido ser humano. As descrições de um novo acesso de luxúria, voltou ao quarto apelam para o grotesco e da mulher mul her.. o animalesco. O homem, que passa a ser objeto de (...) investigação ão científica, é  Miranda  Miranda nunca a tiver tivera, a, nem nem nunca a vira, vira, assim investigaç descrito com precisão e tão violenta no prazer. Estranhou-a. Afigurou-se-lhe detalhamento. estar nos braços de uma amante apaixonada: descobriu nela o capitoso encanto com que nos embebedam as cortesãs amestradas na ciência do  gozo venéreo. venéreo. Descobriu-lhe no cheiro cheiro da pele e no DINAMISMO  A repetição da forma cheiro dos cabelos perfumes que nunca lhe sentira; verbal “gozou” notou-lhe outro hálito, outro som nos gemidos e nos reforça o caráter de suspiros. E gozou-a, gozou-a loucamente, com delí-  dinamismo conferido rio, com verdadeir verdadeira a satisfação de animal no cio. à narrativa e insere o leitor ao momento de  E ela também, ela também gozou, estimulada delírio vivido pelos  por aquela circunstância circunstância picante do ressentimento ressentimento personagens. que os desunia; gozou a desonestidade daquele ato que a ambos acanalhava aos olhos um do outro; estorceu-se toda, rangendo os dentes, grunhindo , grunhindo ,   ANIM  ANIMALIZ ALIZAÇÃ AÇÃO O O desejo ligado ao debaixo daquele seu inimigo odiado, achando-o cio é frequente na também agora, agora, como homem, melhor que nunca, literatura naturalista.        sufocando-o nos seus braços nus, metendo-lhe pela Os personagens boca a língua úmida e em brasa. sofrem um processo de L&PM editores, 1998.

DESEJO Estela é movida pelo desejo físico (evidenciado pelas descrições naturalistas), ao contrário de Virgília, de Memórias Póstumas de Brás Cubas (motivada pelo desejo de alcançar status, aspecto assinalado com a ironia machadiana voltada para para as relações sociais), e de Luisa, de O Primo Basílio (que deseja viver uma aventura romântica). romântica). © TEREZA BETTINARDI

animalização conhecido animalização por zoomorfismo.

MACACOS TÊM AVERSÃO À INJUSTIÇA  Fernando Reinach

(...) Em 2003, Frans de Waal publicou um experimento clássico. Colocou dois macacos em jaulas vizinhas e os treinou para que devolvessem pedras colocadas no interior da gaiola. Para cada pedra entregue eles recebiam uma fatia de pepino (...) Mas algo espantoso acontecia quando um dos macacos era recompensado

com uma uva em vez de uma fatia de pepino. (...) o outro, que podia observar o pagamento superior recebido

pelo vizinho (a uva) se revoltava. Parava de entregar a pedra ou atirava o pepino no cientista. (...) Recentemente, um novo tipo de comportamento foi detectado, mas agora somente em chimpanzés e crianças

humanas. É a chamada aversão secundária à injustiça. Nesses experimentos, foi demonstrado que em certas situações o chimpanzé ao qual é oferecido o pagamento

mais valioso (uva) se recusa a receber o pagamento, a não ser que seu par receba o mesmo pagamento ou um semelhante. (...) Nada mal para um macaco, algo muito difícil de observar entre seres humanos adultos, mas quase automático entre crianças de até 4 anos. (...) Talvez devêssemos investigar melhor nosso lado animal. Será que encontraremos outras características

hereditárias, hoje inibidas pela educação, capazes de nos tornar animais melhores? O Estado de S. Paulo, 18/10/2014

Este artigo, redigido por um biólogo, relata pesquisas sobre o senso de justiça entre os macacos. O texto realiza uma característica inversa à executada pelos autores naturalistas. Estes usavam a zoomorfização, ou seja, por trás da aparente civilidade, mostravam o comportamento animalesco e os aspectos instintivos inerentes às ações dos personagens. Já os estudos apontam para o caminho contrário. Humanizam os animais e revelam que muitas das características geralmente atribuídas a humanos, como a capacidade de se incomodar com injustiças ou de solidarizar-se com o próximo, não são exclusividade da nossa espécie. GE PORTUGUÊS ����

73

4

COMO CAI NA PROVA

1. (FUVEST 2016 ADAPTADA) Texto para a questão. - Pois, Grilo, agora realmente realmente bem podemos dizer que o sr. D. Jacinto está firme. O Grilo arredou os óculos para a testa, e levantando para o ar os cinco dedos em curva como pétalas de uma tulipa: - Sua Excelência brotou! Profundo sempre e digno preto! Sim! Aquele ressequido galho da Cidade, plantado na Serra, pegara, chupara o húmus do torrão herdado, criara seiva, afundara raízes, engrossara de tronco, atirara ramos, rebentara em flores, forte, sereno, ditoso, benéfico, nobre, dando frutos, derramando sombra. E abrigados pela  grande árvore, e por ela nutridos, cem cem casais* casais* em redor o bendiziam. bendiziam. Eça de Queirós , A Cidade e as Serras

*casal: pequena propriedade rústica; pequeno povoado. Tal Tal como se encontra caracterizado no excerto, o destino alcançado pelo personagem Jacinto contrasta de modo mais completo com a maneira pela qual culmina a trajetória de vida do personagem a) Leonardo (filho), de Memórias de um Sargento de Milícias. Milícias . b) Jão Fera, de Til. c) Brás Cubas, de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Cubas. d) Jerônimo, de O de O Cortiço. Cortiço. e) Pedro Bala, de Capitães da Areia.

RESOLUÇÃO Jacinto, aristocrata e membro da elite, e lite, contrasta com Brás Cubas, uma vez que este fracassou em todos os projetos em que se envolveu, enquanto Jacinto rejuvenesce indo para Tormes. As classes sociais, a origem de cada um deles e as circunstâncias não permitem confundir esses personagens, mas há pontos de contato que podem levar à confusão. Em relação às outras alternativas: a) ainda que Leonardo, personagem simples de gente do povo, tenha se casado com Luisinha e se tornado sargento de milícias, sua trajetória não mostra nenhum mérito seu, uma vez que foi ajudado em todas as circunstâncias de sua vida, enquanto Jacinto ajudava aos necessitados. Sobre b e e) Jão Fera, bugre e capataz, e Pedro Bala, garoto delinquente e depois líder grevista, não se assemelham ao nobre e aristocrata Jacinto. No que diz respeito à d) a trajetória de Jerônimo incluiu um processo de degradação, o que não o faz semelhante a Jacinto, que não passa por esses percalços e tampouco é influenciado pelo meio como Jerônimo. Resposta: C

2. (ENEM 2015) Primeiro surgiu o homem nu de cabeça baixa. Deus veio num raio. Então apareceram os bichos que comiam os homens. E se fez o fogo, as especiarias, a roupa, a espada e o dever. Em seguida se criou a filosofia, que explicava como não fazer o que não devia ser feito. Então  surgiram os número s racionais racio nais e a História, His tória, organizando os eventos  sem senti do. A fome f ome desde sempre, d as coisas coisa s e das da s pess oas. Foram inventados o calmante e o estimulante. E alguém apagou a luz. E cada um se vira como pode, arrancando as cascas das feridas que alcança. BONASSI, F. 15 cenas do descobrimento de Brasis. In: MORICONI, Í. (Org.). Os Cem Melhores Contos do Século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

 A narrativ a enxuta e dinâmic a de Fernando Bo nassi configur a um painel evolutivo da história da humanidade. Nele, a projeção do 74

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

olhar contemporâneo manifesta uma percepção que a) recorre à tradição bíblica como fonte de inspiração para a humanidade. b) desconstrói o discurso da filosofia a fim de questionar o conceito de dever. c) resgata a metodologia da história para denunciar as atitudes irracionais. d) transita entre o humor e a ironia para celebrar o caos da vida v ida cotidiana. e) satiriza a matemática e a medicina para desmistificar o saber científico.

RESOLUÇÃO O autor do texto constrói uma visão da história tomada pelo humor e pela ironia. Essa figura de linguagem consiste em dizer o oposto do que se quer expressar, mas pode se manifestar de outras formas também. Aqui, ela se expressa por meio da visão ácida dos aspectos negativos negativos da vida e da história, que são narrados de forma leve e bem-humorada. Resposta: D

3. (UNESP 2016 ADAPTADA)  A questão toma por base o “Soneto LXVII” (“Considera a vantagem que os brutos fazem aos homens e m obedecer a Deus”), de Dom Francisco Manuel de Melo (1608-1666). Quando vejo, Senhor, que às alimárias 1 Da terra, da água, do ar, – peixe, ave, bruto –, Não lhe esquece jamais o alto estatuto Das leis que lhes pusestes ordinárias; E logo vejo quantas artes 2 várias O homem racional, próvido 3 e astuto, Põe em obrar, ingrato e resoluto, Obras que a vossas leis são tão contrárias: Ou me esquece quem sois ou quem eu era; Pois do que me mandais tanto me esqueço, Como se a vós e a mi não conhecera. Com razão logo por favor vos peço Que, pois homem tal sou, me façais fera, A ver se assi melhor vos obedeço. A Tuba de Calíope, 1988.

1 alimária: animal irracional. 2 arte: astúcia, ardil. 3 próvido: providente, que se previne, previdente, precavido No primeiro verso, a que classe de palavras pertence o termo “que” e qual sua função na frase? No quarto verso, a que classe de palavras pertence o termo “que” e qual sua função na frase?

RESOLUÇÃO A partícula “que” admite diversas funções. No primeiro verso, ela assume função de conjunção integrante, uma vez que introduz uma oração subordinada substantiva objetiva direta. No quarto verso, a partícula “que” é um pronome relativo, que introduz uma oração adjetiva restritiva, recuperando a expressão exp ressão antecedente “o alto estatuto das da s leis”. leis”. Funciona sintaticamente como objeto direto do verbo pôr.

RESUMO

(ENEM 2014)

Literatura Literatur a do Realismo Naturalis Naturalismo mo século XIX, em oposição à REALISMO (1881-1922) No im do século sub etividade romântica, romântica, os escritores realistas realistas concebem a realidade segundo uma visão materialista e objetiva. A observação atenta de paisagens, pessoas e fenômenos é feita com precisão rigorosa. Em lugar de heróis, os personagens são

pessoas comuns, cheias de problemas e limitações, limi tações, geralmente vivendo em ambientes urbanos.

• Principais autores Em Portugal, destacam-se Eça de Queirós ( A Cidade e as Serras) e Antero de Quental. No Brasil, Machado de Assis torna-se precursor do novo movimento Mem rias P stumas e Br s Cu as, em 1881.

 A publicidade, de uma forma geral, alia elementos verbais e imagéticos na constituição de seus textos. Nessa peça publicitária, cujo tema é a sustentabilidade, o autor procura convencer o leitor a

a) assumir uma atitude reflexiva diante dos fenômenos naturais. b) evitar o consumo excessivo de produtos reutilizáveis. c) aderir à onda sustentável, evitando o consumo excessivo. abraçar ar a campanha, campanha, desenvolven desenvolvendo do pro etos susten sustentt veis. d) abraç consumir umir produt produtos os de modo respon responss vel e ecol ecol gico gico.. e) cons RESOLUÇÃO É papel de um texto publicitário convencer alguém de algo. No caso desta peça publicitária, ela solicita não só a adesão do leitor para a campanha “garanta sua sacola retornável”, retornável”, mas também o invoca a ter ações sustentáveis. Em relação às alternativas incorretas, vale destacar destacar que a intenção de um texto publicitário é modificar o comportamento do leitor e não apenas sugerir a ele reflexão (a). As ideias contidas nas outras alternativas também aparecem, mas não é o que prevalece. Perceba que os elementos verbais e não verbais solicitam o uso específico da sacola retornável Resposta: D

5. (FUVEST 2012 ADAPTADA)

NATURALISMO (1881-1922) O surgimento do Naturalismo, assim como do próprio Realismo, está condicionado ao amplo desenvolvimento científico ocorrido na segunda metade do século XIX. A primeira obra naturalista brasileira é O Mulato (1881), de Aluísio Azevedo, autor também de O Cortiço. retratam cenas e personagens personagens • Características Os escr tores retratam com rigor quase científico. São enfatizados os aspectos mais primitivos do ser humano, muitas vezes comparado aos animais.

GRAMÁTICA E INTERPRETAÇÃO I NTERPRETAÇÃO • Ironia Uma das iguras de linguagem mais requentes nos textos literários, a ironia consiste no uso de palavra ou frase de sentido diverso ou oposto ao a o que deveria ser empregado, ressaltando, dessa forma, a verdadeira intenção do autor. • Oração subordinada adjetiva Esse tipo de oração apresenta informações sobre um referente. Pode ser de dois tipos: subordinada adjetiva adjetiva que especifica es pecifica os os Restritiva É a oração subordinada componentes de um conjunto ( “As mães preferiam aquelas que aceitavam as ordens...”  ordens...” , ou seja, de todas as babás, as mães preferiam as que tinham tal atitude). Expl Ex pl ca catt va É aquela que, introduzida pelo pronome relativo, insere uma informação complementar ( “S aos 34 anos anos tir tirou ou ). férias, após descobrir o sindicato, do qual hoje é presidente.” ).

“(...)) Também temos um sistema de jurisdição constitucional, No trecho “(... talvez único no mundo, com um rol enorme de agentes e instituições dotadas da prerrogativa ou de competência para trazer questões ao Su  a presença de artigo antes do primeiro  premo. (...) Veja, 15/06/2011”  15/06/ 2011”  a

substantivo e a sua ausência antes do segundo fazem que o sentido de cada um desses substantivos seja, respectivamente, a) figurado e próprio. b) abstrato e concreto. cnico co e co comum mum.. c) específico e genérico. d) t cni e) ato e estrito. RESOLUÇÃO O artigo definido é determinante de objetos ou seres específicos. Na sua ausência, o substantivo é mencionado de forma genérica. Como a função primordial do artigo é a de determinar ou de inderterminar o substantivo ao qual se refere, as outras opções estão descartadas.

• Artigo Além de indicar o gênero (o, um – masculino; a, uma – feminino) e o número (a – singular; as – plural),

também expressa diferentes significados, como a ideia de aproximação (ex.: o un verso tem uns 14 bilhões de anos ) e de ênfase (ex.: es ou com com um sono!).

• Partícula “que” Pode ocupar diferentes classes gramaticais, como pronome relativo ( Apressava o passo, que ora esacee erav esac erava a), advérbio de intensidade ( Que ma an ro!), inter eiç inter eição ão Quê! Seu marido oi preso?  , substantivo E e tem um quê malandro) e preposição (usada para ligar o verbo ter, com sentido de “dever”, a um verbo auxiliar. Ex.: Ele teve que fugir ), ), entre outras.

Resposta: C GE PORTUGUÊS ����

75

5

LITERATURA DO PRÉ�MODERNISMO CONTEÚDO DESTE CAPÍTULO

 Interpretando: tipos de texto ............................... ................................................. .................................... ..................... ... ��

Pré-Modernismo ................................. ................................................... ................................... ................................... ........................... ......... ��  Pré-Modernismo ................................................... ................................... ................................... ..............................84 ............84  Parnasianismo................................. ................................................... .................................... ................................... ...................................86 ..................86  Simbolismo .................................  Como cai na

prova + Resumo................................... ..................................................... ....................................88 ..................88

Quando a cor incomoda Comentários preconceituosos preconceituosos na internet e agressões no mundo real colocam em xeque a ideia corrente de que o Brasil é uma democracia racial

#

SomosTodosTaisAraujo.” Foi com essa hashtag que amigos saíram em defesa da atriz Taís Araújo após ela ter sido vítima de ataques racistas na internet. “Te pago com  banana”  banana” e “Me empresta empresta seu cabelo aí para eu lavar a louça” foram alguns dos comentários preconceituosos postados no Facebook da atriz em novembro de 2015. “Eu não vou apagar nenhum desses comentários. comentários. Faço questão que todos sintam o mesmo que eu senti: a vergonha de ainda ter gente covarde e pequena neste país, além do sentimento de pena dessa gente tão pobre de espírito”, escreveu a atriz em resposta às ofensas.  A jornalista Maria Júlia Coutinho também foi alvo de comentários racistas por causa da cor de sua pele. As agressões foram postadas na  Jornal Nacional em julho página do Facebook do Jornal de 2015, pouco tempo depois de Maju, como é conhecida, estrear como garota do tempo do telejornal. O Ministério Público de São Paulo investigou o caso e identificou quatro grupos suspeitos de postar as ameaças. Em março de 2016, a Polícia do Rio de Janeiro prendeu um homem suspeito de integrar uma quadrilha responsável pelos ataques racistas contra a atriz Taís Araújo e a jornalista Maju. Ele poderá responder pelos crimes de injúria racial, racismo e associação criminosa.



76

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

 Ataques  Ataques racista racistass na internet internet e no mundo mundo real real têm sido cada vez mais comuns no país, colocando em xeque a ideia de que o Brasil é uma democracia racial. A lista de famosos agredidos é extensa e inclui, entre outros, o cantor Thiaguinho (impedido de entrar no próprio carro pelo manobrista de um restaurante) e o ator Vinícius Romão (preso por engano sob acusação de assaltar uma mulher).  A obra obra Negrinha (1920), de Monteiro Lobato, produzida durante o período do Pré-Modernismo, trata exatamente exatamente da questão do racismo e do preconceito social, ainda hoje existentes no Brasil. Lobato situa a história em um momento em que a escravidão já havia sido abolida por lei – mas não na prática. O Pré-Modernismo, que surge no início do século XX, é contemporâneo de duas outras escolas literárias aqui abordadas, o Parnasianismo e o Simbolismo. A produção literária desse período apresenta-se ENCARANDO DE FRENTE de forma diversa. Em Taís Araújo, na peça teatral comum, tem o olhar O Topo da Montanha , Montanha , em 2015. questionador para a Vítima de manifestações realidade brasileira, racistas na internet, a atriz no período após a denunciou os criminosos Proclamação da Re- à polícia e rebateu publicamente os ataques pública, em 1889.

JORGE BISPO

GE PORTUGUÊS ����

77

5

PR�MODERNISMO INTERPRETANDO

Qual é a sua forma?  A narração, a dissertação e a descrição são os principais tipos de textos. Cada modelo está ligado à intenção e ao conteúdo que se quer transmitir

O

site de notícias  Pragmatismo Político trouxe, em 8/11/2015, uma nota sobre a polêmica enfrentada pela atriz Taís  Araújo, que havia sido, na ocasião, vítima de racismo nas redes sociais. A reportagem é um  bom exemplo exemplo de texto narrativo e descritivo ( veja mais na pág. ao lado ). veja o quadro Saiba mais na lado ). Para narrar narrar e descrever os fatos e narrar as situações relacionados ao caso da atriz, o autor do texto reconstrói a sucessão de acontecimentos e o ponto de vista das pessoas envolvidas. Note que esse tipo de texto se assemelha bastante com o que ocorre com todos nós, no dia a dia:

a narração e a descrição de situações vividas, presenciadas ou sabidas. O texto dessa reportagem se caracteriza, ainda, pela linguagem coloquial e pelo uso de discurso direto (os diálogos, entre aspas, que reproduzem diretamente a fala das personagens). Observe também que os marcadores temporais e o uso de diferentes tempos verbais são fundamentais na construção do sentido do texto, pois eles pontuam a sequência dos fatos e mostram a articulação das ações. Além, disso, há ocorrência de recurso típico de texto dissertativo, como a apresentação de opinião por meio do discurso direto.

Vítima de racismo, Taís Araújo é ironizada  por ‘colega’ ‘colega’ da Globo Globo

DESCRIÇÃO OBJETIVA   Visa reforçar as características reais        do ser ou do objeto descrito ou caracterizad caracterizado o sem juízo de valor do  Luana Piovani, branca de olhos verdes, faz  narrador. Os adjetivos METÁFORA E METONÍMIA  comparação infeliz para amenizar racismo soempregados ou as cenas  A frase é uma espécie tendem a ser frido por Taís Taís Araújo – que foi chamada de “ne- descritas de metáfora para reais e objetivos. gra escrota”, “macaca” e questionada se j á teria sinalizar que o lugar dela não é o palco (e sim a  voltado “para a senzala”. Em desabafo, Taís faNARRAÇÃO, ESPAÇO senzala). Também é uma lou sobre a importância de enfrentar os racistas E PERSONAGEM metonímia, pois indica e que já j á encaminhou denúncia à Polícia Federal Federal Em um relato ou uma relação de causa e narrativa ocorre de efeito (senzala seria o a identificação da Taís Araújo foi vítima de racismo nas redes  personagem, do espaço lugar onde deveriam        sociais no início do mês. “Quando vai voltar e da trama para que o estar os negros).  para a senzala?”  , “negra “negra escrota”, “cabelo “cabelo de leitor seja inserido na        história relatada. esfregão” e “pensava que o Facebook era para DESCRIÇÃO SUBJETIVA   Adjetivos expressam expressam humanos e não para macacos” foram alguns dos ORAÇÃO SUBORDINADA estado de ânimo comentários publicados para ofender a atriz glo ADJETIVA  ADJETIV A ou juízo de valor e bal. Luana Piovani, que também atua na mesma  O período iniciado com o acentuam o modo emissora, emissora, tentou relativizar relativizar as agressões sofridas pronome relativo “que” é como se deseja retrat retratar ar ‘colega’ de trabalho. trabalho. uma oração subordinada uma determinada  pela ‘colega’ personagem ou situação.  Irônica, Piovani relatou relatou já ter passado por coi- adjetiva cuja função é caracterizar um Juízos de valores podem sa pior na web. “O preconceito que a Taís Araújo da oração apresentar preconceitos, sofreu foi o quê, exatamente? exatamente? Alguém pode escla- substantivo principal (Luana Piovani). como na descrição recer? Sacanearam ela na internet? Foi isso? Porde Taís Araújo. que eu sou blaster sacaneada e xingada na net e PRETÉRITO PERFEITO        nunca saíram em defesa. Até porque nem ligo, né, É o tempo verbal DISCURSO DIRETO E escolhido para a narração LINGUAGEM COLOQUIAL  gente… Será que foi isso? Agradeço a quem resdas ações vividas pela É comum o emprego da  ponder”, disse ela no no Facebook. Facebook. linguagem coloquial para Taís Araújo, por sua vez, usou o Facebook para  personagem, uma vez que indica um fato reproduzir a fala fiel da  fazer  fazer um um desab desabafo afo e agr agradece adecerr o apoio apoio que que rece recebeu beu.. ocorrido e encerrado. personagem. Repare  Sua public publicaçã açãoo foi coment comentad ada a mais mais de 40 mil vezes vezes.. Também foi usado em no uso de gírias, como  Sua “foi até a Delegacia” e “Não vou me intimidar, tampouco abaixar a “sacanearam”, “blaster” e “né, gente...”. cabeça. Sigo o que sei fazer de melhor: trabalhar. “prestou depoimento”. IRONIA  O uso de aspas para “colega” indica ironia, a figura de linguagem que afirma o contrário do que quer dizer.

 78

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

 Se a minha imagem ou a imagem da minha fafa mília te incomoda, o problema é exclusivamente seu!”, escreveu na mensagem. Taís disse que todos os comentários foram re gistrados e que seriam enviados à Polícia Federal. Segundo a atriz, o ataque ocorreu no momento em que ela estava no palco do Teatro Faap, em  São Paulo, Paulo, encenando O Topo Topo da Montanha, Montanha, texto em que Martin Luther King fala sobre afeto, tolerância e igualdade.  A atriz finalizou o texto com uma mensagem de incentivo. “Não se cale, mostre que você não tem vergonha de ser o que é e continue incomodando os covardes. Só assim vamos construir um  Brasil mais civilizado.”  civilizado.”   Em entrevista ao programa programa Altas Horas, Horas, da Globo, exibido já na madrugada deste domingo (8), Taís ressaltou ser vítima de racismo constantemente e ressaltou que o negro brasileiro passa  por isso todos os dias. dias. “[  Já vivera ] muitos [momentos de preconceipreconceito] durante a vida. Acho que o negro brasileiro  passa por isso diariamente”, disse ela. “Eu passo  por isso até hoje. hoje. Qualquer coisa que eu fizer fizer e não não  gostarem,  gostarem, vão falar ‘olha aquela neguinha metida, aquela neguinha…’. É dessa maneira que vão abordar”, completou.

MARCADORES TEMPORAIS



DISCURSO DIRETO E ARGUMENTAÇÃO Narrativas não dispensam opiniões, elementos típicos de  textos dissertativos. Normalmente, isso aparece no discurso direto e indireto livre ou na voz do narrador.  Aqui, a defesa do combate ao preconceito aparece na mensagem que Taís Araújo escreveu. 

PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO Sinaliza uma ação no passado, anterior a outro fato ocorrido no passado. Note que o exemplo alude a um fato anterior ao narrado na reportagem.

 Investigação

 A atriz foi até a Delegacia de Repressão Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), no Rio de Janeiro, e prestou depoimento. De acordo com a Polícia Civil, um inquérito foi instaurado, as investigações estão em andamento e os autores estão sendo identificados e serão intimados para depor.

Inserem o leitor no tempo (“madrugada deste domingo”) e, às vezes, também no espaço (São Paulo, Rio de Janeiro).

NARRAÇÃO E VERBOS 

 A sequência de diferentes tempos verbais garante a progressão e a articulação das ações.

© TEREZA BETTINARDI

 AS PRINCIPAIS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS CARACTERÍSTICAS DOS TIPOS TEXTUAIS • Narração: Apresenta os seguintes elementos: per-

sonagens, tempo (momento ou duração no qual os fatos se desenrolam), espaço (lugar onde a história acontece) e narrador (voz que conta os fatos ocorridos). Os textos têm, muitas vezes, um percurso que parte de uma situação inicial de equilíbrio que é abalada por um problema. O desfecho só é alcançado depois que o conflito, intensificado até atingir um

clímax, é resolvido. resolvido. Alguns aspectos de um texto narrativo: • Linguagem coloquial: confere mais vivacidade e proximidade na interlocução com o leitor. • Articulação: pronomes, verbos e conectivos são empregados para garantir o encadeamento das ações. • Locuções e modos verbais e marcadores temporais: garantem a sequência das ações e a unidade

Crime

O racismo é crime no Brasil e, por lei, quem  praticar,  praticar, induzir ou incitar a discriminação ou  preconceito de raça, cor, cor, etnia, religião ou procedência nacional pode ser condenado a reclusão de um a três anos, além de pagar multa.  Denúncias de racismo podem ser feitas pelo  156, opção 7,7, ou em telefones específicos definidos em cada localidade.  A presidente Dilma Rousse ff   anunciou em abril o lançamento de um site chamado Humaniza Redes. A ideia, segundo o governo, é que o  portal seja um espaço espaço para para denúncias denúncias de violação de direitos humanos na internet (como racismo,  pedofilia, intolerância religiosa etc.) e utilizar a  página para a promoção de conteúdos para uso seguro da rede.

SAIBA MAIS

progressiva. 

FUNÇÃO REFERENCIAL Predomina em textos em que se exige neutralidade e objetividade, como textos jornalísticos, informativos e dissertativos. Nesta passagem, informa sobre a lei que prevê o crime de racismo. Em geral, o verbo é utilizado na terceira pessoa do singular (“é” e “pode”).

• Descrição: É usada para caracterizar ações, pensamen-

tos e traços físicos de seres e ambientes. Tem como objetivo fazer com que o leitor visualize os elementos apresentados. É frequente o emprego de adjetivos. • Dissertação: Tem o objetivo de defender uma tese

(ponto de vista) sobre um determinado tema. Partindo da apresentação do assunto, o autor procura convencer o leitor a aderir à ideia defendida ( veja nas págs.92 e 93).  Atenção:  Atenção: Não confunda gêneros e tipos de texto. Não

há uma lista completa e fechada de gêneros textuais, pois novos gêneros vão sendo criados de acordo com as necessidades de comunicação. Exemplos de gêneros textuais: bilhete, notícia, poema, romance, receita etc. GE PORTUGUÊS ����

79

5

PRÉ�MODERNISMO PRÉ MODERNISMO �

Brasil redescoberto No Pré-Modernismo (1902-1922), os autores lançam seu olhar para os problemas do país e tentam revelar sua verdadeira identidade

T

 A discussão dos problemas problemas nacionais parte, no Pré-Modernismo, da falta de melhorias no cenário social e econômico após a Proclamação da República (1889). No fim do século XIX, a Guerra de Canudos serve de matéria-prima para Euclides da Cunha escrever Os Sertões, em 1902. TEORIAS CIENTÍFICAS  Ao descrever os grupos grupos sociais brasileiros, o autor ainda está imbuído das teorias científicas – darwinismo e determinism determinismo o – do século XIX.

radicionalmente, denomina-se “pré-

modernista” a literatura produzida no Brasil nos primeiros anos do século XX. Os Sertões À primeira vista, o olhar crítico sobre os probleproble - Euclides da Cunha mas sociais do país funciona como eixo comum capaz de unir obras muito diversas. Alguns crí-  De sorte que o mestiço – traço de união entre as ticos consideram que os autores desse período raças, breve breve existência individual em que se com- O MESTIÇO tenham sido precursores das inovações estéticas  primem esforços seculares – é quase sempre um Para exaltar o homem apresentadas pelos escritores modernistas com desequilibrado. desequilibrado. (...) E o mestiço – mulato, mame- sertanejo, Euclides da a Semana de Arte Moderna de 1922. Outros, luco ou cafuzo – menos que um intermediário, é Cunha constrói uma observando limitações nas obras do período um decaído, sem a energia física dos ascendentes argumentação que os demais pré-modernista, preferem relacioná-las ao mo- selvagens, sem a altitude intelectual dos ances- desvaloriza grupos miscigenados vimento realista/naturalista. trais superiores. que compõem a Um dos principais nomes do Pré-Modernismo (...) sociedade brasileir brasileira. a.  brasileiro é o escritor escri tor e jornalista fluminense O fator étnico preeminente transmitindo-lhes as tenEuclides da Cunha. Sua obra-prima, Os Sertões, dências civilizadoras civilizadoras não lhes impôs a civilização.  PRESENTE HISTÓRICO qualidades ades do destaca fundamentalm fundamentalmente ente a mestiç mestiçagem agem  As qualid é considerada o marco do movimento. O livro  Este fato destaca sertanejo são descritas situa-se na fronteira entre história e literatura e dos sertões da do litoral. São formações distintas, no presente do indicativo, nasce de uma viagem feita pelo autor a Canudos, senão pelos elementos, pelas condições do meio. O o chamado presente como correspondente do jornal O Estado de S. contraste entre ambas ressalta ao paralelo mais histórico, para dar a permanência. ia.  Paulo. Outro  Paulo. Outro autor igualmente importante é o simples. O sertanejo tomando em larga escala, do ideia de permanênc mulato carioca Lima Barreto (1881-1922). Dono selvagem, a intimidade com o meio físico, que ao Já para ressaltar a força sertanejo foi usado o de um estilo de escrever inovador, ele retrata invés de deprimir enrija o seu organismo potente, do pretérito perfeito na forma em Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915) reflete, na índole e nos costumes, das outras raças negativa (não lhe impôs) o cotidiano da população marginalizada dos  formadoras apenas aqueles atributos mais ajus- para descaracterizar o subúrbios cariocas. táveis à sua fase social incipiente. i ncipiente. papel da civilização.  É um retrógado; retrógado; não é um degenerado. degenerado. (...)  ASPECTOS FÍSICOS FÍSICOS O discurso científico O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o  O QUE ISSO TEM A VER COM A HISTÓRIA Sob liderança do pregador Antonio Conselheiro, raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos faz uso frequente de objetivas. milhares de pessoas juntaram-se no Arraial de do litoral.  A sua aparência, entretanto, ao pri-  descrições Os aspectos físicos Canudos, no sertão da Bahia, em 1896. Conselheiro meiro lance de vista revela o contrário. Falta-lhe  que caracterizam os convocava convocava os fiéis a combater a República e fazia duras críticas à Igreja Católica, além de se recusar a pagar impostos. Em 1897, o povoado foi destruído por tropas federais, deixando milhares de mortos. Para saber mais, veja o GUIA DO ESTUDANTE HISTÓRIA. HISTÓRIA.

PARA IR ALÉM A principal obra de Euclides da Cunha foi adaptada para uma versão em  graphic novel da editora Desiderata. O texto é de Carlos Ferreira e as ilustrações, de Rodrigo Rosa. O trabalho é mais centrado na terceira parte da obra original: A luta. Para recontar a história da Guerra de Canudos, os autores recorreram ao diário pessoal de Euclides da Cunha, entre outras fontes históricas. 80

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

a plástica impecável, o desempeno, a estrutura

corretíssima das organizações atléticas. É desgra Hércules-Quasím cules-Quasímodo, odo, cioso, desengonçado, torto. Hér reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação de membros de-

      

sarticulados. Agrava-o a postura normalmente

abatida, num manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. Lacerda, 2005 FORÇA E FRAQUEZA  Para estabelecer a relação paradoxal entre força e fraqueza, o autor evoca a imagem de dois personagens representativos representativ os da mitologia e da literatur literatura: a: o herói grego Hércules (forte e sublime) e o corcunda de Notre Dame (fraco e grotesco).

sertanejos nordestinos parecem se opor à ideia de força, defendida pelo autor. Nesse sentido, os aspectos físicos seriam antagonist antagonistas. as.

 ADJETIVOS  ADJETI VOS Os adjetivos que descrevem o sertanejo não são positivos. Ainda assim, não se opõem à resistênci resistênciaa interior (a principal forma de força) defendida pelo autor no decorrer do texto.

DIÁLOGO ENTRE TEXTOS

DIÁLOGO ENTRE OBRAS

DOIS OLHARES SOBRE CANUDOS

EM FOCO, OS MARGINALIZADOS

O conflito de Canudos ganhou espaço no jornal O Estado de S. Paulo com visões bem díspares. O poeta parnasiano Olavo Bilac, em sua crônica Vossa Insolência , publicada em 9/10/1897, reproduz o discurso oficial do governo brasileiro, para quem os seguidores do beato eram fanáticos religiosos dispostos a destruir a ordem nacional instaurada pelo governo republicano. Para o poeta, a morte de Conselheiro e de todos os insurgentes é o símbolo da integridade pública reconquistada. Euclides da Cunha, que cobriu o conflito como correspondente do mesmo jornal, opõe-se a Bilac e chama atenção para o desequilíbrio injusto entre o poder de fogo do governo e o dos seguidores de Antônio Conselheiro. No final de Os Sertões , o autor autor compreen compreende de que a Guerra de Canudos não fora um conflito entre a monarquia e a República, como as elites defendiam, mas uma dolorosa, sangrenta e injusta guerra civil.

Os Sertões e Sertões e Triste Fim de Policarpo Quaresma revelam a realidade do país: personagens marginalizados, os sertanejos e a população dos subúrbios cariocas, respectivamente. respectivamente. Outro ponto de contato é a revisão da posição política de Policarpo, que passa de ufanista a crítico do governo. Também Euclides reexamina suas visões. Ele vai a Canudos a fim de registrar a insurgência monarquista e acaba retratando a má sorte dos sertanejos, esquecidos pelo governo republicano.

Vossa Insolência Olavo Bilac

 Enfim, arrasada arrasada a cidadela maldita! Enfim, dominado o antro negro, cavado no centro do adusto sertão, onde o Profeta das longas barbas sujas concentrava sua força diabólica, feita de fé e de patifaria, alimentada pela superstição e pela rapinagem! Cinco horas da madrugada, hoje.  Num sobressalto, sobressalto, acordo, ouvindo um clamor de clarins e um rufo acelerado de caixas de guerra. Corro à janela, que defronta o palácio do governo. Uma escura massa de gente, na escuridão da antemanhã, está agrupada na rua. Calam-se os clarins e as caixas de guerra. Há um curto silêncio e, logo, dos instrumentos de metal, estropam, e dos tambores que esfalfam rufando, como corações atacados de hipercinesia, rompe, alto e vibrante, o Hino Nacional.

Os Sertões Euclides da Cunha

Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo.  Expugnado  Expugnado palmo a palmo, palmo, na precisão precisão integral integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens  feitos e uma criança, criança, na frente frente dos quais rugiam rugiam raivosamente cinco mil soldados.

Triste Fim de  Policarpo  Policarpo Quaresma Lima Barreto

REQUERIMENTO Repare na estrutura rígida do texto de Quaresma, adequada ao caráter oficial do gênero requerimento.

IV – Desastrosas consequências de um requerimento (trecho incial)

“Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a língua língua portuguesa portuguesa HERANÇA ROMÂNTICA  é emprestada ao Brasil; (...); sabendo, além, que,  A língua é considerada considerada dentro do nosso país, os autores e os escritores (...) expressão do espírito do não se entendem no tocante à correção gramatical, povo, como faziam os (...) vem pedir que o Congresso Nacional decrete o românticos. A primeira        fase do Modernismo tupi-guarani como língua oficial e nacional do povo retoma essa discussão. brasileiro. O suplicante, deixando de parte os argumentos históricos que militam em favor de sua ideia, NACIONALISMO  pede vênia para para lembr lembrar ar que a língua língua é a mais alta O requerimento em favor manifestação da inteligência de um povo, é a sua da adoção do tupi sintetiza criação mais viva e original; e, portanto, a emana defesa ufanista dos        valores pátrios. Quaresma cipação política do país requer como complemendefende a independência to e consequência a sua emancipação idiomática. em relação a referênci referências as  Demais  Demais,, Senhor Senhores es Congr Congressi essista stas, s, o tupi-g tupi-guar uarani ani,, estrangeiras e evita língua originalíssima, aglutinante, é a única capaz produtos e costumes de traduzir as nossas belezas, de pôr-nos em relação desvinculados das raízes com a nossa natureza e adaptar-se perfeitamente brasileiras. aos nossos órgãos vocais e cerebrais (...).  Segur  Seguroo de que a sabedo sabedoria ria dos legisla legislador dores es sabeFUTURO        Quaresma, num rá encontrar meios para realizar semelhante mediconvincente recurso  pesarã rão o o da e cônscio de que a Câmara e o Senado  pesa retórico, usa o futuro do seu alcance e utilidade presente do indicativo indicativo,,  P.  P. e E. deferimento. deferimento.”  ”  que indica fato certo, a fim de persuadir seus interlocutores.

Nobel, 2010

GE PORTUGUÊS ���� 81

5

PRÉ�MODERNISMO PRÉ MODERNISMO �

MISCIGENAÇÃO

 Monteiro Lobato

Monteiro Lobato (1882-1948) é geralmente conhecido como autor de livros infantojuvenis,  Negrinha sobretudo aqueles que contam as aventuras dos Monteiro Lobato moradores do Sítio do Pica-Pau Amarelo. No entanto, o escritor também produziu obras para  Negrinha era uma pobre pobre órfã de sete anos. Preo público adulto e, no período pré-modernista, ta? Não; fusca, mulatinha escura , de cabelos alguns de seus contos tornaram-se famosos por ruços e olhos assustados. retratar temas relacionados com as camadas mais  Nascera  Nascera na senzala, de mãe escrava, escrava, e seus pobres da sociedade. É o caso, por exemplo, da  primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros denúncia dos problemas de saúde de moradores da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. do interior, como o personagem Jeca Tatu. Outro  Sempre escondida, que a patroa não gostava de retrato das desigualdades sociais pode ser veri- crianças. ficado no conto  Negrinha  Negrinha, publicado em 1920,  Excelente  Excelente senhora, senhora, a patroa. patroa. Gorda, Gorda, rica, dona em que fica explícita a condenação do racismo do mundo, amimada dos padres, com lugar certo e dos preconceitos ainda existentes no Brasil. na igreja e camarote de luxo reservado no céu. (...) Ótima, a dona Inácia. Recentemente, Recentemente, Monteiro Lobato tem sido alvo de polêmicas devido a alguns trechos de sua

obra, em particular relativos à personagem Tia  Sítio do Pica-Pau Pica-Pau Amarelo Amarelo. Algumas Nastácia, do Sítio colocações da personagem Emília têm sido consideradas racistas, e os textos do escritor passaram a ser criticados. Vale considerar o contexto em que o escritor viveu e produziu sua obra,

na primeira metade do século XX. Apesar de a escravidão ter sido abolida em 1888, permanece uma forte mentalidade escravocrata na sociedade.

IGUALDADE Monteiro Lobato condena aqui a discriminação racial e afirma a igualdade das crianças, espantadas diante do brinquedo, independentemente da cor da pele.

PRETÉRITO MAISQUE-PERFEITO O dia em que Negrinha brincou com a boneca  já está está muit muito o distan distante. te.  As forma formass verbai verbaiss empregadas para indicar um tempo anterior aos fatos narrados estão no pretérito mais-queperfeito. 82

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

 Mas não não admitia choro choro de criança. (...)  Assim cresceu Negrinha (...) Batiam-lhe Batiam-lhe sem pre, por ação ação ou omissão. omissão. A mesma coisa, o mesmo ato, a mesma palavra provocava ora risadas, ora castigos. (...) Certo dezembro vieram passar as férias com  Santa Inácia duas sobrinhas suas, pequenotas, lindas meninas louras, ricas, nascidas e criadas em ninho de plumas. (...)  Era de êxtase o olhar de Negrinha. Negrinha. Nunca vira vira uma boneca e nem sequer sabia o nome desse brinquedo. Mas compreendeu que era uma criança artificial. (...) Varia a pele, a condição, mas a alma da criança é a mesma – na princesinha e na mendiga. E para ambas é a boneca o supremo enlevo. enlevo. (...)  Negrinha,  Negrinha, coisa humana , percebeu nesse dia da boneca que tinha uma alma. Divina eclosão!  Surpresa maravilhosa maravilhosa do mundo que trazia em si e que desabrochava, afinal, como fulgurante flor de luz. Sentiu-se elevada à altura de ente humano. Cessara de ser coisa – e doravante ser-lhe-ia impossível viver a vida de coisa. Se não era coisa!  Se sentia! Se vibrava! vibrava!  Assim foi — e essa essa consciência a matou. matou. Terminadas as férias, partiram as meninas levando consigo a boneca, e a casa voltou ao ramerrão habitual. Só não voltou a si Negrinha.  Sentia-se outra, outra, inteiramente inteiramente transformada. transformada.  Dona Inácia, pensativa, já a não atazanava tanto, e na cozinha uma criada nova, boa de coração, amenizava-lhe a vida.(...)  Brincara  Brincara ao sol, no jardim. Brincara!... Brincara!... Acalentara, dias seguidos, a linda boneca loura, tão boa, tão quieta, a dizer “mamã”, a cerrar os olhos         para dormir. dormir. Vivera Vivera realizando realizando sonhos da imagiimaginação. Desabrochara-se de alma. Contos Completos. São Paulo: Biblioteca Azul, 2014.

 A personag personagem em é nomea nomeada da por conta da cor da pele, e o narrador enfatiza a violência por trás do processo de miscigenação étnica no Brasil, fruto das interações entre brancos,  negros e índios. 

ESCRAVIDÃO  A escravidão fora fora abolida em 1888, mas ecos desse sistema permanecem nas desigualdades sociais. O autor demonstra isso ao retratar o preconceito em relação a Negrinha.



IRONIA  Um texto por vezes afirma o contrário do que parece dizer. Ao qualificar dona Inácia como “ ótima ótima” , após descrever sua crueldade, o narrador denuncia as hipocrisias sociais.



DESCRIÇÃO O autor usa diferentes adjetivos para contrastar a aparência física e o comportamento das personagens, chamando atenção para as diferentes condições sociais.

PARADOXO E IRONIA  



Lobato, ao juntar o substantivo “coisa” ao adjetivo “humana”, cria um paradoxo irônico. Porém, o desfaz ao dar a condição humana a Negrinha.

CONJUNÇÃO ADITIVA  O conectivo “ e”  articula   articula ideias e informações (veja o Saiba mais ao lado)

DIÁLOGO ENTRE OBRAS

CONEXÕES

PRECONCEITO RACIAL NA LITERATURA BRASILEIRA Brás Cubas, narrador-personagem do romance Mede Machad Machado o de de Assis Assis mórias Póstumas de Brás Cubas , de (veja mais na pág. 66 ), ao relatar lembranças da infância, oferece um retrato cruel e irônico do tratamento tratamen to conferido aos negros escravizados no Brasil. No início do livro, Brás Cubas conta como, antes da abolição da escravatura, ele maltratava os empregados de casa, incluindo um garoto negro chamado Prudêncio, tratado como cavalinho pelo pequeno patrão. Mais adiante, no romance, Prudêncio, já adulto, reproduz as relações hierárquicas injustas entre senhor e escravo e scravo ao castigar fisicamente um homem negro.

PINTURA

 A obra obra Palmatória, do francês Jean Baptiste Debret, que esteve no Brasil entre 1816 e 1831, mostra escravos escravos em um ambiente de trabal trabalho ho fora das senzalas. Observe que entre eles há um que está sendo disciplinado com base em castigo físico, com o uso da palmatória. Era comum a existência de relações hostis entre brancos, senhores de escravos, e negros, tanto no ambiente familiar, como na passagem de Memórias Póstumas de Brás Cubas, quanto no profissional, conforme retrata a pintura.

 Memórias Póstumas Póstumas de Brás Cubas Machado de Assis

Capítulo XI – O menino é pai do homem Cresci; e nisso é que a família não interveio; cresci naturalmente, como crescem as magnólias e os gatos. Talvez os gatos são menos matreiros, e, com certeza, as magnólias são menos inquietas do que eu era na minha infância. Um poeta dizia que o menino é pai do homem. Se isso é verdade, vejamos alguns lineamentos do menino.  Desde os cinco anos merecera merecera eu a alcunha de “menino-diabo”; e verdadeiramente verdadeiramente não era ouou tra coisa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher de doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce “por  pirraça”;  pirraça”; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia – algumas vezes gemendo –, mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um “ai, nhonhô!”, ao que eu retorquia: retorquia: “Cala a boca, besta!”  Editora Moderna, 2012.

DEBRET/REPRODUÇÃO

 ADJETIVAÇÃO  ADJETIV AÇÃO O narrador-personagem descreve a si próprio e emprega adjetivos para destacar suas próprias características quando era criança. Os defeitos são vistos como qualidades, o que evidencia o caráter duvidoso de Brás Cubas.

DISCRIMINAÇÃO



Brás Cubas reproduz a hierarquia entre senhor e escravo ao submeter Prudêncio aos seus caprichos. Negrinha também é explorada pelos desmandos dos senhores brancos.

 ASPAS 

São usadas para marcar a diferença entre a voz do narrador e a fala das personagens. Prudêncio é retratado como alguém que não tem direito de expressão; já a fala de Brás Cubas revela a tirania do protagonista.

SAIBA MAIS ORAÇÕES COORDENADAS Algumas orações, apesar de independentes sintaticamente, apresentam relações de sentido, evidenciadas pelas conjunções que as articulam. Trata-se das orações coordenadas, classificadas em cinco tipos:  Aditivas:  Aditivas: Adicionam ideias e informações. Ex.: A criança criança nascera na senzala e fora criada pela dona da casa .  Adversativas: Estabelecem oposição entre ideias e informações. Ex.: Dona Inácia aparentava bondade, mas não admitia choro de criança .  Alternativas:  Alternativas: Apresentam alternância de ideias e informações. Ex.: A mesma palavra ora provocava risadas, ora provocava castigos. Explicativas: Apresentam uma explicação para um fato. Ex.:  A menina se escondia porque a patroa não  gostava de crianças. Conclusivas: Explicitam a conclusão de um raciocínio. Ex.: Dona Inácia era preconceituosa, portanto não  gostava da menina . GE PORTUGUÊS ����

83

5

PR�MODERNISMO PARNASIANISMO

A arte pela arte

Os poemas abaixo têm características marcantes do Parnasianismo, como a objetividade, questões estéticas e o uso de vocabulário rebuscado.

Os poetas do Parnasianismo (1882-1922) comparam seus poemas a  joias e trabalham trabalham minuciosamente minuciosamente as palavras e as frases para atingir o belo e a forma perfeita  As Pombas Pombas

“SE” COMO REALCE O uso de “vai-se...”, além de permitir a obtenção do verso decassílabo (12 sílabas) e evitar a cacofonia (“vai a ...”), tem a função apenas de um reforço de expressão.

Raimundo Correia

N

o Brasil, a poesia parnasiana (durante um período contemporânea do Pré-Modernismo)representou dernismo)representou uma oposição à sentimentalidade romântica. A racionalidade e o tratamento objetivo dos temas tinham bases clássicas e buscavam alcançar a perfeição formal. O ideal estético é a principal questão para os parnasianos: os autores não demonstram

preocupação com os problemas sociais e valorizam o princípio da “arte pela arte” (segundo o qual a poesia é válida pela beleza expressa). O soneto e a métrica regular são privilegiados. São frequentes as alusões a temas mitológicos clássicos e a informações eruditas. A linguagem lingu agem rebuscada e a adoção de um vocabulário pouco usual exigem a atenção do leitor. Olavo Bilac é o maior nome do Parnasianismo no Brasil Brasi l ( veja veja mais sobre o autor na pág. 23 ). 23 ). Forma a “tríade parnasiana” ao lado de Alberto de Oliveira e Raimundo Correia.

Vai-se a primeira pomba despertada ... Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas  De pombas vão-se dos pombais, apenas  Raia sanguínea e fresca fresca a madrugada ...  E à tarde, quando quando a rígida nortada  Sopra,  Sopra, aos pombais de novo novo elas , serenas, serenas,  Ruflando as asas, sacudindo as penas, Voltam todas em bando e em revoada... Também dos corações onde abotoam, Os sonhos, um por um, céleres voam, Como voam as pombas dos pombais;  No azul azul da adolescê adolescência ncia as asas soltam,  Fog  Fogem em...... Mas aos aos pomb pombai aiss as pomb pombas as volt voltam am,,  E eles aos corações corações não voltam mais...



 VERBOS





       



O poema realiza um procedimento de análise da obra de arte: para compreender o todo (no caso, a obra de arte chinesa), o autor se concentra na observação dos detalhes constitutivos das partes do objeto.

84

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

DIFERENÇA  Uma diferença é estabelecida: enquanto as pombas retornam à tarde aos pombais, os sonhos  juvenis  juven is não não são são retoma retomados dos e, geralmente, não voltam aos corações humanos.

 Melhores  Melhores Poemas, Poemas, Global Editora, 2001

MARCADOR TEMPORAL

METALINGUAGEM

DESCRIÇÃO DE DETALHES

COMPARAÇÃO O poema estabelece uma comparação comparaçã o entre o voo das pombas e o percurso dos sonhos humanos.

O trecho remete à manhã (quando as pombas partem) e se refere aos sonhos da juventude.

 A metalinguag metalinguagem em é um recurso frequente em poesias que falam de procedimentos artísticos. No Parnasianismo, é comum uma obra de arte tratar de outra e dos mecanismos do fazer poético. Aqui, o eu lírico exalta o detalhismo perfeccionista do inspirado artesão.

Note a refinada construção sintática: o sujeito “elas” (relativo às pombas) ligase aos verbos seguintes (tanto os que estão no gerúndio, indicando ação em curso, quanto o que está no presente do indicativo,, sugerindo uma indicativo ação habitual).

PERFEIÇÃO FORMAL

Vaso Chinês  Alberto de Oliveira

 Estranho mimo aquele aquele vaso! Vi-o, Vi-o, Casualmente, uma vez, de um perfumado Contador sobre o mármore luzidio,  Entre  Entre um leque leque e o começo começo de um um borda bordado. do.  Fino artista chinês, chinês, enamorado, enamorado,  Nele pusera o coração doentio  Em rubras rubras flores de um sutil sutil lavrado, lavrado,  Na tinta ardente, ardente, de um calor sombrio. sombrio.

O eu lírico descreve o momento de contemplaç contemplação ão de um refinado vaso chinês.  A perfeiç perfeição ão das das peças peças decorativas inspira a perfeição formal  que se procur procura a alcançar nos poemas.

PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO

       



 Mas, talvez por contraste contraste à desventura, desventura, Quem o sabe?... de um velho mandarim Também lá estava a singular figura.

       

O poeta diz que viu (pretérito perfeito) o vaso, no qual o artista antes já tinha colocado o “coração doentio”. “Pusera” é uma ação anterior a “vi”, portanto, pretérito maisque-perfeito. SENSIBILIDADE

Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a,  Sentia um não sei quê com aquele chim  De olhos cortados à feição de amêndoa. amêndoa.  Melhores Poemas Poemas,, Global Editora, 2007



O eu lírico mostra como o artista chinês conseguiu estimular a sensibilidade do espectador da obra de arte.

CONEXÕES

DIÁLOGO ENTRE OBRAS

ESCULTURA

SÁTIRA À FORMA O poema Os Sapos , de Manuel Bandeira, foi lido por Ronald de Carvalho na noite de 14 de fevereiro, no segundo dia da Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo. Trata-se de uma feroz sátira aos versos formais e retrógrados das estéticas literárias atreladas ao passado – entre elas o parnasianismo.

SUPERIORIDADE  A referência ao suposto ar de superioridade parnasiano aparece como escárnio.

TRADIÇÃO

O século XVI testemunhou inúmeras modificações no modo de ver o mundo. O teocentrismo medieval cedeu lugar à visão antropocêntrica, e o ser hu mano passou a ser valorizado. A perfeição formal, buscada pelos poetas da estética clássica – tanto no Classicismo quanto no Parnasianismo –, constituía também o ideal dos demais artistas do Renascimento. Michelangelo, um dos grandes mestres renascentistas, introduz profundas mudanças artísticas ao valorizar a figura humana. Uma de suas principais obras, Davi , é uma gigantesca escultura que retrata o herói bíblico antes da batalha com Golias. Essa luta, da qual Davi se saiu vitorioso, era considerada impossível de ser vencida – a escultura, exaltando a força do herói, revela a confiança depositada nos poderes humanos.

 A alusão aos títulos de nobreza e ao parentesco é uma crítica ao tradicionalismo das estéticas literárias do passado.

 Enfunan  Enfunando do os os papos papos,,  Saem da penum penumbr bra, a,  Aos  Aos pulos pulos,, os sapos. sapos.  A luz luz os deslumb deslumbra ra..  Em ronco ronco que que aterra aterra,,  Berra  Berra o saposapo-boi: boi: – “Meu pai foi à guerra!”  – “Não foi!” – “Foi!” – “Não foi!”.

       

 Parna  Pa rnasian siano o aguad aguado, o,

FORMALISMO

 Diz:  Diz: – “Meu “Meu cancione cancioneir iroo  É bem bem marte martelado lado..

 A crítica ao formalismo parnasiano é reforçada ao classificá-lo como “aguado”, sujeito desagradável e chato.

Vede como primo  Em comer comer os os hiatos hiatos!! Que arte! E nunca rimo Os termos cognatos. O meu verso é bom  Frume  Frumento nto sem joio. joio.  Faço  Faço rimas rimas com com Consoantes de apoio.

PRINCIPAIS PRINCIPAIS FUNÇÕES DO “SE”

MICHELANGELO/ACADEMIA DE BELAS ARTES DE FLORENÇA

Manuel Bandeira

O sapo-tanoeiro,

SAIBA MAIS A palavra “se” desempenha diversas funções em português: • Pronome reflexivo: Indica que o sujeito pratica a ação sobre si mesmo:  A pomba se machucou. machucou. • Conjunção subordinativa condicional:  Para construir orações subordinadas adverbiais condicionais: Se as pombas voarem, poderão partir dos pombais. • Conjunção subordinativa integrante:  Introduz orações subordinadas substantivas: substantivas: Preciso ver se as pombas voaram. • Construção de sujeito indeterminado: Precisa-se de um novo pombal. • Construção de voz passiva: Compôs-se um novo  poema parnasiano  (= Um novo poema parnasiano foi composto).

Os Sapos



BUSCA DA PERFEIÇÃO Nova provocação é feita ao ridicularizar o gosto parnasiano pelo poema perfeito.

(...) Clame a saparia  Em críticas críticas céticas: céticas:  Não  Não há mais poesia, poesia,  Mas há artes artes poéticas poéticas... ...”

SONORIDADE  A sonoridade sonoridade para para imitar imitar o coaxar dos sapos é puro deboche. O eu lírico compara a classe dos poetas aos sapos.

Urra o sapo-boi: – “Meu pai foi rei!”– “Foi!” – “  Não foi! ”  ” –   – “  F  Foi!  oi! ”  ” –   – “  Não foi! ”  ”.  (...)

       

Carnaval. Poesia Completa e Prosa . Rio de Janeiro: Aguilar, 1974, p.158 (fragmento).

GE PORTUGUÊS ����

85

5

PR�MODERNISMO SIMBOLISMO

A exploração dos sentidos

 A liberação sensorial e a exploração das emoções emoções são duas características marcantes da literatur literatura a simbolista. Repare nos poemas abaixo a preponderância de emoções e sentimentos intensos sobre a racionalidade.

No Simbolismo (1893-1922), (1893-1922), a produção poética evoca sentimentos e sensações por meio da sugestão

A

estética simbolista (durante um período contemporânea do Pré-Modernismo) se opõe aos avanços da industrialização e do progresso tecnológico próprios do século XIX. É comum que os textos simbolistas manifestem uma visão decadente sobre a realidade,  bem como uma oposição ao comportamento comportame nto racional. O Simbolismo valoriza os sentidos,

as sugestões evocadas pelas palavras, a musicalidade e o ritmo dos poemas. O misticismo, a subjetividade e a sinestesia (combinação de sensações) são aspectos altamente explorados e xplorados pelos poetas do movimento. João da Cruz e Sousa (1861-1898), autor aut or de Broquéis e Missal (1893), é um dos principais nomes veja mais na pág. 125 ). 125 ). Na produdo período ( veja ção poética também destacam-se Alphonsus Alphonsus de Guimaraens (1870-1921), que escreveuCâmara escreveu Câmara  Ardente (1899),  Ardente (1899), e Augusto dos Anjos (1884-1914).

 ALITERAÇÃO Repare na aliteração (repetição de consoantes). Os sons sibilantes (representados pelos fonemas /s/ e /z/), sugerem um movimento sutil e sinuoso.

 A dança da psique Augusto dos Anjos

 A dança dos encéfalos acesos ace sos Começa. A carne é fogo. A alma arde. A espaços  As cabeças, as mãos, mão s, os pés e os braços Tombam, cedendo à ação de ignotos pesos!



 É então que a vaga dos instintos ins tintos presos – Mãe de esterilidades e cansaços –  Atira os pensamentos mais devassos devass os Contra os ossos cranianos indefesos.  Subitamente a cerebral coreia  Para. O cosmos sintético da Ideia  Surge. Emoções extraordinárias sinto...

CONSTRUÇÕES ATÍPICAS



 Arranco do meu crânio as nebulosas. n ebulosas.  E acho um feixe de forças prodigiosas p rodigiosas  Sustentando dois monstros: mons tros: a alma e o instinto!

       

Este último foi um poeta inclassificável. Sua

poesia flertou com as estéticas diversas de seu tempo – há em seus poemas influências parnasianas (na forma), naturalistas (na linguagem e na ambientação), simbolistas (na temática) e pré-modernas (na ousadia linguística).

INTENCIONALIDADE  A intenção do texto é descrever um instante específico durante o qual o eu lírico experimenta várias sensações intensas.

Obra Completa, Nova Aguilar, 1994

O autor usa um vocabulário inusitado e construções sintáticas não convencionais para expressar emoções. Note o emprego da ordem inversa: o objeto “emoções extraordinárias”” precede extraordinárias o verbo “sinto”, em uma construção com sujeito oculto (“eu”).

IRRACIONALIDADE

 As impre impressões ssões do sujeit sujeito o poétic poético o são valo valoriz rizadas. adas. A alma alma e o instinto, elementos não racionais, predominam sobre a razão, ao final do poema.

SONHOS

PRONOME REFLEXIVO  A palavra palavra “se” explicit explicita a uma ação reflexiva, ou seja, a ação verbal recai sobre o sujeito.

 ANTÍTESES O uso das antíteses “queria subir” e “queria descer” assinala a inconstância inconstânci a dos desejos de Ismália e a inquietaç inquietação ão que a arrebata ao contemplar a lua.

 As questõ questões es oníric oníricas as (relativas ao sonho) são privilegiadas, privilegia das, em detrimento da razão e da objetividade.

 Ismália

Alphonsus de Guimaraens

Quando Ismália enlouqueceu,  Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. mar.

       

PAPEL DA LUA



 No sonho em que q ue se perdeu,  Banhou-se  Banhou- se toda em luar... Queria subir ao céu, Queria descer ao mar...

 ADVÉRBIO DE LUGAR LUGAR

       

MUSICALIDADE  A torre simboliza simboliza a concentração do sujeito na própria interioridade.  A musicalidade, traço do período, está presente no canto de Ismália. 86

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

 E, no desvario seu,  Na torre pôs-se pôs-s e a cantar...  Estava  perto do céu,  Estava longe do mar... (...)

       

Cosac Naify, 2006

 A lua é um símbo símbolo lo frequentemente frequentement e associado ao universo feminino. A loucura de Ismália subverte a percepção da realidade e ela imagina ver dois astros distintos (e não apenas o reflexo da lua no mar).



Os advérbios de lugar “perto” e “longe” revelam a ambiguidade do estado em que Ismália se encontrava. Os extremos do céu e do mar reforçam a antítese e acentuam a agitação interior da personagem.

CONEXÕES CANÇÃO

PINTURA

 Bandalhismo João Bosco e Aldir Blanc

 Meu coração coração tem butiquins imundos,  Antros de ronda, vinte vinte e um, purrinha, purrinha, Onde trêmulas mãos de vagabundo  Batucam samba-enredo samba-enredo na caixinha.  Perdigoto,  Perdigoto, cascata, cascata, tosse, escarro , um choro soluçante que não para,  piada suja, bofetão bofetão na cara cara e essa vontade de soltar um barro... Como os pobres otários da Central  já vomitei sem lenço lenço e sonrisal o P.F. de rabada com agrião...  Mais amarelo amarelo do que arroz de forno, voltei pro lar, e em plena dor de corno quebrei o vídeo da televisão.

 A parceria de João João Bosco com Aldir Aldir Blanc rendeu inúmeros clássicos à música popular brasileira.  A canção Bandalhismo é um exemplo do vigor da dupla. A intertextualidade com o decadentismo (visão decadente sobre a realidade) e com a poética de  Augusto dos Anjos se dá nos planos formal (emprego (emprego do soneto), temático (exploração da melancolia) e linguístico (uso de expressões que fogem do lirismo). O poeta pré-moderno não costumava ousar na forma, mantendo o padrão clássico vigente no fim do século XIX, mas inovou com v ersos repletos de termos escatológicos e de atmosfera sombria.

ESCATOLOGIA 

Expressões que escapam ao ambiente lírico (escarro, vomitei) surgem em abundância e conferem à canção atmosfera decrépita.

HUMOR CORROSIVO

 A imagem construída com “quebrei o vídeo da televisão” aponta para a sátira ao apego ao mundo onírico ou  distante da realidade.

���

O Simbolismo tratou das diversas sensações experimentadas pelo ser humano. Em grau extremo, as emoções de Ismália, personag personagem em de Alphonsus de Guimaraens, conduzem conduzem ao suicídio. No poema, a união da figura feminina com as águas do mar simboliza o reencontro do sujeito com a natureza. A integração do ser humano com a realidade objetiva, com base na exaltação dos sentimentos, foi abordada por inúmeros artistas plásticos do século XIX. Na tela acima, o pintor inglês John Everett Millais retrata a morte de Ofélia para exprimir essa integração. O suicídio da personagem de Hamlet , de William Shakespeare, Shakespeare, serviu de inspiração para a articulação entre realidade subjetiva e realidade objetiva. Ao decompor-se, o cadáver de Ofélia entra novamente em harmonia com o mundo natural e restaura a unidade entre sujeito e mundo.

���

��� JOHN EVERETT MILLAIS/TATE ��� © TEREZA BETTINARDI

GE PORTUGUÊS ����

87

5

COMO CAI NA PROVA

1. (UNIFESP 2015) “É preciso ler esse livro singular sem a obsessão de enquadrá-lo en quadrá-lo em um determinado gênero literário, o que implicaria em prejuízo paralisante.  Ao contrário, contrário, a abertura abertura a mais mais de uma perspectiva perspectiva é o modo modo próprio próprio de enfrentá-lo. A descrição minuciosa da terra, do homem e da luta situa-o no nível da cultura científica e histórica. Seu autor fez geografia humana e sociologia como um espírito atilado poderia fazê-las no começo do século, em nosso meio intelectual, então avesso à observação demorada e à pesquisa pura. Situando a obra na evolução do pensamento brasileiro, diz lucidamente o crítico Antonio Candido: “Livro posto entre a literatura e a sociologia naturalista, esta obra assinala um fim e um começo: o fim do imperialismo literário, o começo da análise científica aplicada aos aspectos mais importantes da sociedade brasileira (no caso, as contradições contidas na diferença de cultura entre as regiões litorâneas e o interior).”   Alfredo Bosi. História Concisa da Literatura Brasileira , 1994. Adaptado.

O excerto trata da obra a) Capitães da Areia, de Jorge Amado. b) O Cortiço, de Aluísio de Azevedo. c) Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. d) Vidas Secas, de Graciliano Ramos. e) Os Sertões, de Euclides da Cunha.

RESOLUÇÃO O clássico livro brasileiro com sua divisão tripartite entre a terra, o homem e a luta, e que trouxe registros jornalísticos minuciosos para o jornal O Estado de S. Paulo é o célebre Os Sertões, de Euclides da Cunha. Justamente por ser uma obra de não ficção, baseada em uma investigação jornalística, o livro apresenta caráter sociológico, que, mesclado a uma obra literária, gerou esse texto singular e incapaz de ser classificado em um gênero. Por fim, Euclides se valeu do pensamento científico para analisar Canudos, o sertão e o sertanejo. Ainda que haja presença de textos jornalísticos em Capitães da Areia, não é possível afirmar que ocorra mistura de gêneros. Os demais livros não apresentam essa possibilidade. Resposta: E

2. (UNICAMP 2016) Quanto ao conto Negrinha, de Monteiro Lobato, é correto afirmar que: a) O narrador adere à perspectiva de dona Inácia, fazendo com que o leitor enxergue a história guiado pela ótica dessa personagem e se torne cúmplice dos valores éticos apresentados no conto. b) O modo como o narrador caracteriza o contexto histórico no conto permite concluir que Negrinha é escrava de dona Inácia e, portanto, está fadada a uma vida de humilhações. c) A maneira como o narrador comenta as características atribuídas às personagens contrasta com as falas e as ações realizadas por elas, o que caracteriza caracteriza um modo irônico de aprese ntação. d) O narrador apresenta as falas e pensamentos das personagens de modo objetivo; assim, o leitor fica dispensado de elaborar um  juízo crítico crítico sobre as relações de poder entre as personagens.

RESOLUÇÃO A ironia é a figura de linguagem que consiste em dizer o contrário do que se quer dar a entender. Esse recurso é muito utilizado por Mon88

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

teiro Lobato no conto Negrinha . Ele classifica dona Inácia como excelente senhora, por e xemplo, ironizando justamente seu caráter racista e sua maldade, que são apresentados ao longo da história. Em outra passagem, após descrever as atrocidades que a patroa faz com Negrinha, ele a caracteriza como virtuosa dama. Resposta: C

3.

(ENEM 2014) Tarefa Morder o fruto amargo e não cuspir  Mas avisar aos outros quanto é amargo Cumprir o trato injusto e não falhar  Mas avisar aos outros quanto é injusto Sofrer o esquema falso e não ceder  Mas avisar aos outros quanto é falso Dizer também que são coisas mutáveis... E quando em muitos a não pulsar  – do amargo e injusto e falso por mudar – então confiar à gente exausta o plano de um mundo novo e muito mais humano. CAMPOS, G. Tarefa. Tarefa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.

Na organização do poema, os empregos da conjunção “mas” articulam, para além de sua função sintática, a) a ligação entre verbos semanticamente semelhantes. b) a oposição entre ações aparentemente inconciliáveis. c) a introdução do argumento mais forte de uma sequência. d) o reforço da causa aprese ntada no enunciado introdutório. e) a intensidade dos problemas sociais presentes no mundo.

RESOLUÇÃO A alternativa C é a correta, pois a conjunção “mas”, “mas”, neste caso, introduz o argumento mais forte na sequencia de três proposições. Quanto às alternativas incorretas: a) a função da conjunção “mas” no texto é adversativa, sendo assim ela não liga ideias semelhantes; b) por ser adversativa, ela faz a ligação entre ideias contrárias, mas que não são, necessariamente, inconciliáveis. Assim, as duas primeiras alternativas implicam a aceitação da situação negativa, enquanto a terceira propõe uma ação contrária ao que aceitou. A alternativa D está incorreta, pois não há enunciado introdutório no poema. E, por fim, o erro da alternativa E está no fato da conjunção não exprimir intensidade. Resposta: C

4.

(UERJ 2016)  A EDUCAÇÃO PEL A SEDA Vestidos muito justos são vulgares. Revelar formas é vulgar. Toda revelação é de uma vulgaridade abominável. Os conceitos a vestiram como uma segunda pele, e pode-se adivinhar a norma que lhe rege a vida ao primeiro olhar. Rosa Amanda Strausz. Mínimo Múltiplo Comum: Contos. Contos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990.

O conto contrasta dois tipos de texto em sua estrutura. Enquanto o segundo parágrafo se configura como narrativo, o primeiro parágrafo se aproxima da seguinte tipologia:

RESUMO

a) injuntivo b) descritivo c) dramático d) argumentativo RESOLUÇÃO Enquanto o modo nar rativo se estrutura na enunciação de fatos (trazendo personagem, ações e temporalidade típicos das histórias), o modo argumentativo se pauta no encadeamento de ideias. Na primeira parte do texto, a autora dispõe essas ideias de forma a construir um argumento final, o de que toda revelação é v ulgar. ulgar. Resposta: D

5. (ENEM 2015) Carta ao Tom 74

Rua Nascimento Silva, cento e sete Você ensinando pra Elizete  As canções de canção do amor demais demai s Lembra que tempo feliz   Ah, que saudade, Ipanema era só felicidade Era como se o amor doesse em paz  Nossa famosa garota nem sabia  A que ponto a cidade turvaria Esse Rio de amor que se perdeu Mesmo a tristeza da gente era mais bela E além disso se via da janela Um cantinho de céu e o Redentor  É, meu amigo, só resta uma certeza, É preciso acabar com essa tristeza É preciso inventar de novo o amor  MORAES, V.; TOQUINHO. Bossa Nova, Sua História, Sua Gente . São Paulo: Universal; Philips,1975 (fragmento).

O trecho da canção de Toquinho e Vinícius de Moraes apresenta marcas do gênero textual carta, possibilitando que o eu poético e o interlocutor

a) compartilhem uma visão realista sobre o amor em sintonia com o meio urbano. b) troquem notícias em tom nostálgico sobre as mudanças ocorridas na cidade. c) façam confidências, uma vez que não se encontram mais no Rio de Janeiro. pragmaticamente sobre os destinos do amor e da vida d) tratem pragmaticamente citadina. e) aceitem as transformações ocorridas em pontos turísticos específicos. RESOLUÇÃO Na letra da canção, os autores recordam tempos passados e expressam a saudade dos momentos em que viviam num Rio diferente e prazeroso. Em tom nostálgico, sugerem a Tom Jobim que a única coisa que resta a fazer é acabar com a tristeza e reinventar o amor.

Literatura Literatura do Pré-Modernismo PRÉ-MODERNISMO (1902-1922) Situa-se em um momento histórico de transição do regime monárquico ao republicano. Muitas obras debatem os problemas do país e alimentam um sentimento nacionalista. Destacam-se personagens e situações afastadas da realidade das classes sociais economicamente privilegiadas, como Os Sertões (1902), Sertões (1902), marco do movimento, de Euclides da Cunha, e Triste Fim de Policarpo Quaresma

(1915), de Lima Ba rreto. • Monteiro Lobato Mais conhecido por seus livros dirigidos a crianças e jovens, o autor também escreveu para o público adulto. Alguns de seus contos pré-modernistas retratam temas relacionados às camadas mais pobres da sociedade.

PARNASIANISMO (1882-1922) Os poetas parnasianos trabaPARNASIANISMO lham o verso e o poema em busca da perfeição estética. Para atingir a harmonia das formas, usam construções gramaticais gramaticais sofisticadas e herméticas e vocabulário rebuscado. Objetos raros e preciosos, como vasos, estátuas e joias, compõem a temática. Olavo Bilac é considerado o maior poeta parnasiano do Brasil. Ao lado de Alberto de Oliveira e Raimundo Correia, formam a “tríade parnasiana”. SIMBOLISMO (1893-1922) Ao escolherem um vocabulário com múltiplas possibilidades semânticas, os poetas simbolistas buscam a transcendência. transcendência. As construções poéticas conferem ritmo e musicalidade e evocam sentimentos e emoções por meio da sugestão. Destacam-se Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens.

GRAMÁTICA E INTERPRETAÇÃO I NTERPRETAÇÃO • Tipos de texto Os principais tipos textuais são: Narração Presente em diversos gêneros literários, apresenta os seguintes elementos: personagens, tempo, espaço e narrador. Descrição É usada para caracterizar ações, pensamentos e traços físicos de seres e ambientes presentes nos textos – fazendo com que o leitor visualize os elementos apresentados. Dissertação Tem o objetivo de defender uma tese (ponto de vista) sobre certo tema. Partindo da apresentação do assunto, o autor procura convencer o leitor a aderir à ideia defendida. • Orações coordenadas Podem ser assindéticas (aquelas que não possuem conectivos, sendo ligadas por vírgulas) ou sindéticas (que possuem uma conjunção coordenativa fazendo a ligação entre elas). As conjuções coordenativas estabelecem estabelecem relações de adição (e), oposição (mas), explicação (porque), conclusão (portanto) e alternância (ou). • Funções do “se” A palavra “se” pode desempenhar diversas funções nas frases, como pronome reflexivo (vestiu-se ( vestiu-se);); con junção  junção subordin subordinativ ativaa condici condicional onal (Se (Se ela for embora, eu vou também); também); índice de indeterminação do sujeito ( Precisa-se de ajudante); ajudante); e partícula apassivadora (Fez-se (Fez-se uma grande festa festa). ).

Resposta: B GE PORTUGUÊS ����

89

6

LITERATURA LITERA TURA DO MODERNISMO

�  PROSA

CONTEÚDO DESTE CAPÍTULO

 Interpretando:

argumentação e persuasão ................................... ............................................ ......... �� .................................................. ................................... .................................... ..................... ... ��  Modernismo 1ª fase................................. ............................................. ................................... ................................... .........................100 .......100  Modernismo 2ª fase ........................... ............................................. ................................... ................................... .........................104 .......104  Modernismo 3ª fase ........................... p rova + Resumo ................................... ..................................................... ..................................112 ................112  Como cai na prova

O drama dos refugiados Fugindo Fugindo de guerras e perseguições, milhares de migrantes  buscam abrigo em países da da Europa e colocam o continente no centro de uma grave crise humanitária

P

elo menos 170 mil refugiados chegaram à uma postura mais receptiva, outros países, como Europa nos três primeiros meses de 2016, Hungria, Áustria e Eslovênia, defenderam menúmero oito vezes maior que o do mesmo didas drásticas, que vão da prisão à deportação período do ano anterior. A maioria deles – por dos migrantes. Para conter a chegada deles, volta de 150 mil pessoas – desembarcou na Grécia, alguns governos passaram a construir cercas vindo da Turquia, depois de cruzar o Mar Egeu nas fronteiras para proteger seus territórios. em embarcações precárias e, geralmente, superUma consequência direta dessa situação foi lotadas. Os demais aportaram em localidades da o aumento da xenofobia em vários países do costa da Itália e da Espanha. Esse contingente continente. Partidos Partidos nacionalistas e de extrema soma-se ao mais de 1 milhão de migrantes que direita alardeiam que a chegada de milhares de ingressaram no continente europeu em 2015, na imigrantes terá impactos negativos sobre o mermaior movimentação humana na região desde o cado de trabalho, por exemplo. Além disso, o fato fim da Segunda Guerra Mundial. de a maioria deles ser mulçumana gera receio. A maior parte dos refugiados vem de nações É possível traçar um paralelo entre o drama da África e do Oriente Médio, principalmente da dos refugiados que buscam abrigo na Europa e a Síria, que há cinco anos enfrenta uma guerra civil. dura realidade dos retirantes nordestinos retraDesesperados, eles tentam escapar de conflitos tada em Vidas Secas (1938), de Graciliano Ramos, internos, perseguições e violações dos direitos um dos principais nomes da prosa da segunda humanos em seus países de origem e buscam fase do Modernismo melhores condições de vida. Nem sempre são  brasileiro.  brasileiro. Em ambos  bem- sucedidos. sucedidos. Em 2015, 2015, cerca de de 3,8 3,8 mil desdes- os casos, são pessoas LONGA TRAVESSIA locados morreram ou desapareceram durante as que fogem da miséria Iraquianos deixam seu travessias do Mediterrâneo. No primeiro trimes- e das condições adver- país, em agosto de 2014. tre deste ano, já foram contabilizadas 620 baixas. sas de sobrevivência A presença do grupo O fluxo incessante em direção à Europa impôs de sua terra natal e extremista Estado Islâmico desafios aos governos da região, que reagiram de partem para outros na região levou mais de forma distinta ao problema. Enquanto Alemanha locais buscando refa- 1 milhão de pessoas a buscar e Suécia, os destinos mais procurados, adotaram zer suas vidas. abrigo em outras nações 90

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

AHMAD AL�RUBAYE/AFP PHOTO

GE PORTUGUÊS ����

91

6

MODERNISMO

� PROSA INTERPRETANDO

Argumentação eficaz Todo texto opinativo apresenta estratégias para convencer o leitor a aderir a determinado ponto de vista

E

ste artigo, publicado no site do Instituto de Reintegração do Refugiado – Brasil (Adus), em 6 de setembro de 2015, é um exemplo de texto argumentativo, que tem o objetivo de persuadir o leitor a favor de um determinado ponto de vista. No caso, o instituto promove a inserção dos refugiados no Brasil e defende que toda a sociedade deve ser responsável por essa acolhida. Para defender sua opinião (tese), os autores expõem seus argumentos até chegarem a uma conclusão ( acompanhe acompanhe no texto abaixo ).

OPINIÃO Mesmo antes de caracterizar os refugiados e expor seus dramas, os autores já mostram sua opinião: há uma crítica ao fechamento das fronteiras de alguns países da Europa, cujos resultados são “trágicas histórias”.

ENUMERAÇÃO  A enumeração enumeração das das motivações que levam um indivíduo a se tornar refugiado também é um elemento persuasivo, pois dificilmente alguém se oporia a tantos motivos

TESE E ÊNFASE Os autores explicitam claramente sua tese (usando a expressão “a mensagem é clara”): a responsabilidade pelo acolhimento dos refugiados é de todos (responsabilidade compartilhada).

 VOCABULÁRIO  VOCABULÁRIO E PERSUASÃO O verbo “gerar” tem forte poder persuasivo. O texto sugere que há situações muito adversas que acabam propiciando o surgimento de pessoas que vivem em situação de risco. 92

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

 As funções funç ões apelativa e emotiva da linguagem conferem ao texto certo apelo sentimental, cumprindo o propósito de emocionar o leitor e aproximá-lo do drama vivido pelos refugiados. A escolha de determinadas palavras e construções e a utilização de dados estatísticos, que reforçam os argumentos, também têm caráter persuasivo.  Vale  Vale notar notar que as conjunções conjunções são explor exploradas adas como elemento de coesão e de argumentação, conduzindo o leitor a uma leitura que se ajuste aos argumentos defendidos pela autora.

 Para  Para os refugiados, as dificuldades não acabam após a travessia de fronteiras fronteiras (...)  Nas últimas últimas semanas, semanas, as trágica trágicass histórias histórias narnarradas por meio de fotografias mostram mostram os resultados de políticas de fechamento de fronteiras postas em prática por alguns países da Europa para  pessoas  pessoas que chegam chegam dos mais diversos diversos lugar lugares es do mundo em busca de segurança e asilo. São pessoas que tiveram que abandonar abandonar suas casas em seu  país de origem origem por enfre enfrentar ntarem em a dor do do conflito conflito e as graves violações de direitos humanos, ou a perseguição por motivos de raça, religião, opinião         política,  polític a, orientação sexual, sexual, nacionalidade nacionalidade ou associação a determinado grupo social.  A foto de Aylan, Aylan, criança síria afogada na costa da Turquia, choca. E ela é também um chamado  para a defesa dos direitos dos refugiados. Sentimos muito pelas inúmeras mortes, registradas e não registradas, nesse contexto. Esperamos que essa imagem e o sentimento que ela provoca tenham reflexos na política europeia, e também no restante do mundo. A mensagem é clara: há uma        responsabilidade compartilhada em relação à  política de migração migração diante de tamanha tamanha crise humanitária, que obriga milhões de pessoas a deixarem seus países pelo temor e terror que vivenciam.  Segundo a ONU, ONU, o número de refugiados, refugiados, hoje, é o maior da história, comparável ao contexto do  pós-Segunda Guerra Mundial.  Mas a crise não é de agora. O número de refugiados no mundo vem crescendo há alguns anos, e apesar do atual         peso da Síria como um país que gera  refugiados significativamente, ela é apenas um deles.  A própria própria diversidade diversidade de mais mais de 80 nacionalidanacionalida-



INTRODUÇÃO  Apresenta as questões centrais, que serão desenvolvidas ao longo do texto: quem são os refugiados, por que deixam seus locais de origem e problemas que enfrentam ao chegar a  outros países.

IMAGEM E FUNÇÃO APELATIVA   A menção à famosa foto do garoto sírio que morreu afogado na costa da Turquia  busca comover o leitor e persuadi-lo a tomar posição a  favor dos refugiados – características da função apelativa.

FUNÇÃO EMOTIVA  Expressa uma emoção ou ponto de vista. O uso da primeira pessoa do plural cria cumplicidade em relação à questão tratada.

CONJUNÇÃO  A conjunção conjunção coorden coordenada ada  adversativa “mas” foi empregada como valor de ressalva e estabelece oposição. Busca reforçar que a crise não é recente e que não basta simplesmente receber os refugiados.

des representadas na população de refugiados no  Brasil sustenta este este fato. De acordo acordo com o Conare Conare (Comitê Nacional para Refugiados), as maiores comunidades de refugiados no Brasil são: síria (24,7%), angolana (17,6%), colombiana (13%) e congolesa (10%).  A particular particular postura postura do Brasil Brasil ao facilitar facilitar a emissão de vistos para os sírios depois de uma resolução adotada pelo Ministério da Justiça em  2013 tem peso peso positivo positivo e marca marca uma das maiores maiores receptividades das Américas neste contexto. Mas, além de abrir suas portas, se faz importante que o país implemente uma política de acolhimento e atenção às necessidades específicas dos refugiados,  pautada  pautada pela reinteg reintegra ração. ção. É preciso preciso garantir garantir que que estas pessoas explorem ou continuem a explorar seus potenciais como seres humanos, enriquecendo a cultura local e contribuindo para o desenvolvimento nacional. Experiências em nossa história revelam que isolar, excluir e ignorar minorias apenas presta um desserviço à população, fomenta intolerâncias, preconceitos, discriminação e violência, minando mesmo a segurança segurança pública. Ao atravessar as fronteiras, as dificuldades não acabam  para  para essas pessoas pessoas que buscam salvar salvar suas vidas, vidas, nem se encerram seus sofrimentos e lutas. (...) (.. .)  Se, por um lado, os Estados e a comunidade internacional têm um papel crucial para o fim dos conflitos e para a proteção das populações de refugiados, por outro, é preciso reconhecer que a  própria  própria sociedade civil tem tido grande grande importância na busca de soluções para a crise humanitária e na garantia dos direitos humanos. Apesar das infelizes declarações xenófobas, são alentadoras as notícias de milhares de islandeses oferecendo suas casas e de alemães usando aplicativos e tecnologias para receber refugiados na Europa.  Essas iniciativas iniciativas mandam recados aos governos. governos.  No Brasil, Brasil, organizações organizações da sociedade sociedade civil como o Adus buscam ajudar o Estado a dar uma res posta às necessidades dessas pessoas que aqui chegam para salvar suas vidas. Nos últimos dias, muitas pessoas e instituições entraram em contato com o Adus para ajudar e para entender a questão na Europa e como isso repercute aqui no  Agradecemos cemos enormemente enormemente àqueles que  Brasil.  Brasil. Agrade de alguma forma dedicam seu tempo, atenção e recursos financeiros para que possamos continuar nosso trabalho. Estendemos aqui aqui nosso conconvite para que esse apoio seja constante , em prol de um mundo mais humano e justo . Texto: Equipe do Programa de Advocacy do Adus – Instituto de Reintegração do Refugiado © TEREZA BETTINARDI

DADOS ESTATÍSTICOS



Contribuem para o efeito persuasivo e argumentativo do texto, uma vez que conferem ao argumento rigor científico.

 ARGUMENTOS  ARGUMENT OS



 Aqui os autores apresentam seus argumentos: a criação de políticas de acolhimento.

CONTRA-ARGUMENTO



Os autores se antecipam ao possível argumento de que uma saída seria isolar, excluir ou ignorar as minorias. PROGRESSÃO TEXTUAL



 A cada argumento, os autores retomam a tese inicial, criando um encadeamento lógico.  Alternam-se informações novas e exemplos que ilustram sua tese.  ADJETIVO  ADJE TIVO PERSUASIVO PERSUASIVO



O substantivo “declarações” “declaraç ões” associado ao adjetivo “infelizes” tem função enfática e leva o leitor a não se opor à ideia de que declarações xenófobas são infelizes. CONCLUSÃO



Os autores reafirmam sua ideia inicial e justificam a existência do próprio instituto. COESÃO E PROGRESSÃO







 A sequência das expressões em destaque reforça a conclusão. Os autores agradecem as contribuições, contribuiçõ es, estendem o convite e reforçam o caráter humano da medida. Tudo isso garante a coesão do texto e reforça a progressão das ideias.

SAIBA MAIS

COMO UM TEXTO ARGUMENTATIVO É CONSTRUÍDO CONSTRUÍDO Todo texto que manifesta uma opinião ou defende um ponto de vista parte da apresentação da ideia que será discutida (tese). As linhas iniciais dos textos argumentativos costumam trazer uma introdução ao assunto, na qual se explicita também o posicionamento do sujeito enunciador. • Persuasão: É o processo de levar o interlocutor (aquele com quem se fala) a aderir à ideia e à ação propostas pelo enunciador (aquele que articula e envia uma mensagem). • Argumentos:  São todos os elementos – afirmações, comparações, exemplos – apresentados

para reforçar a tese do autor. • Contra-argumentos: O texto argumentativo pode prever algumas reações contrárias ao ponto de vista defendido e, na tentativa de reforçar a ideia em questão, rebate antecipadamente esses possíveis argumentos. • Conclusões: Ainda que diversas questões polêmicas não cheguem a uma conclusão categórica, todo texto argumentativo tem um acabamento final. O fechamento de um texto deve ser coerente com as ideias apresentadas nos parágrafos anteriores e deve reforçar o ponto de vista defendido. As últimas linhas recuperam a tese inicial e, a

partir dos argumentos apresentados, reafirmam a proposta central. GE PORTUGUÊS ����

93

6

MODERNISMO

� PROSA PRIMEIRA FASE

Inovação e ruptura Na primeira fase do Modernismo (1922-1930), (1922-1930), uma nova estética reafirma a identidade nacional

N

a primeira metade do século XX, no contexto dos avanços tecnológicos e da I Guerra Mundial, a arte moderna instaura uma série de rupturas com os fundamentos artísticos defendidos pelos movimentos anteriores, criando uma atmosfera de radicalidade. Revoltados com a arte acadêmica e tradicional, os modernistas desejam libertar-se dos antigos modelos de composição. Movimentos de  vanguarda, como como o Surrealismo Surrealismo (que explorou explorou muito o sonho e a criação de novas realidades), o Cubismo (que trabalhou com formas geométricas de modo pouco usual), o Expressionismo (que  valorizou a percepção do sujeito sobre o objeto), o Dadaísmo (que rompeu com os limites do sentido) e o Futurismo (que exaltou o progresso e a inovação), legitimaram o tratamento de realidades fragmentárias, incompletas e irracionais. Os valores defendidos pelos modernistas estão associados ao histórico de destruição e caos pro vocados pela guerra guerra e exploram o inconsciente inconsciente humano, à luz das modernas teorias psicanalíticas, criadas por Sigmund Freud.  Semana de Arte Moderna O marco do Modernismo brasileiro é, convencionalmente, a Semana de Arte Art e Moderna, ocorrida em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo. No No decorrer de toda a década de 1910, porém, os artistas brasileiros já propunham mudanças nos padrões estéticos e expunham criações que desafiavam o gosto tradicional. Um dos eventos mais conturbados desse período foi a exposição de obras da pintora Anita Malfatti ( veja veja na pág. ao lado ), lado ), que provocou severas reações da crítica conservadora – a exemplo do artigo  Paranoia  Paranoia ou Mistificação?, Mistificação?, publicado pelo pré-modernista Monteiro Lo bato (1882-1948). (1882-1948).

No processo de ruptura com a arte acadêmica e tradicional, os artistas do Modernismo, como o escritor e poeta Mário de Andrade, compuseram inúmeros manifestos e textos críticos, nos quais apresentavam propostas estéticas inovadoras e inauguravam correntes artísticas de vanguarda.      

 Prefácio  Prefácio Interessantíssimo Interessantíssimo  Leitor:  Está fundado o Desvairismo. Desvairismo.  Este prefácio, prefácio, apesar de interessante, interessante, inútil.  Alguns dados. Nem todos. Sem conclusões.  Para  Par a quem me aceita são inúteis ambos. Os curiosos terão o prazer em descobrir minhas conclusões, confrontando obra e dados. Para quem me rejeita trabalho perdido explicar o que, antes de ler, ler, já não aceitou.   Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem  pensar tudo que meu inconsciente me grita. PenPenso depois: não só para corrigir, como para justificar o que escrevi. Daí a razão deste Prefácio  Interessantíssimo.  Interessantíssimo.  Aliás muito difícil nesta prosa saber onde termina a blague, onde principia a seriedade. Nem eu sei. (...)  Não sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contacto com o futurismo. Oswald de Andrade, chamando-me de futurista, errou. A culpa é minha. Sabia da existência do artigo e deixei que saísse. Tal foi o escândalo, que desejei a morte do mundo. Era vaidoso. Quis sair da obscuridade. (...) Um pouco de teoria?  Acredito  Acredito que o lirismo, nascido no subconsciente, acrisolado num pensamento claro ou confuso, cria frases que são versos inteiros, sem  prejuízo de medir tantas sílabas, sílabas, com acentuação determinada. inspiração é fugaz, fugaz, violenta. violenta. Qualquer Qualquer em         A inspiração  pecilho a perturba perturba e mesmo emudece. emudece. (...)

COMPOSIÇÃO ESPONTÂNEA  Para o autor, autor, a racionalidade é um obstáculo à expressão poética genuína. Este prefácio se legitima por abrir espaço para as reflexões racionais após a composição espontânea dos poemas. GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����



Mário de Andrade

RODRIGUES, A. Medina (et al). Antologia da  Literatura  Literatura Brasileira: Brasileira: Textos Comentados. Comentados. São Paulo: Marco, 1979. vol. 2, p. 28-32

94

 ADJETIVO  ADJETIV O SUPERLATIVO SUPERLATIVO O prefácio de Pauliceia Desvairad a (1922) explicita seu processo composicional. O adjetivo usado no grau superlativo objetiva intensificar o interesse sobre o texto.

SINTAXE FRAGMENTADA  As frases nominais (curtas e sem verbos) são típicas da dicção autor. A síntese e a  do autor. concisão estão presentes na sintaxe fragmentada e direta de Andrade.

LEITOR PARTICIPATIVO 

O autor se dirige diretamente ao público e estimula a curiosidade do leitor, que auxiliará no processo de atribuição de sentido à obra.

HUMOR E SERIEDADE 



O inacabamento e a perda de contornos rigidamente definidos entre o humor e a seriedade são traços da arte moderna.

FUTURISMO  Apesar da semelhança dos poemas de Mário de  Andrade com os textos textos futuristas (verificável na adoção do verso livre, no apelo à tecnologia nas metrópoles), o autor inicialmente não se considera filiado a uma corrente específica. 

PSICANÁLISE  As teorias psicanalíticas fundamentaram as criações da arte moderna. A noção de inconsciente permitiu a defesa de princípios como a escrita automática (praticada pelos surrealistas) e a afirmação da liberdade composicional.

CONEXÕES ARTIGO

PINTURA

 Paranoia  Paranoia ou mistificação?  mistificação?  Monteiro Lobato

 Há duas espécies de artistas. Uma com posta dos que veem as coisas e em consequência fazem arte pura, guardados os eternos ritmos da vida, e adotados, para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres. (...)  A outra espécie é formada dos que veem anormalmente a natureza e a interpretam à luz das teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. (...)  Embora se deem como novos, como precursores de uma arte a vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu como a  paranoia e a mistificação. (...)  Sejamos sinceros: futurismo, futurismo, cubismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti não passam de outros ramos da arte caricatural. É a extensão da caricatura a regiões onde não havia até agora penetrado. Caricatura da cor, caricatura da forma – mas caricatura que não visa, como a verdadeira, ressaltar uma ideia, mas sim si m desnortear, desnortear, aparvalhar, atordoar a ingenuidade do espectador. (...)  A pintura da sra. Malfatti não é futurista, de modo que estas palavras não se lhe endereçam em linha reta; mas como agregou à sua exposição uma cubice, queremos crer que tende para isso como para um ideal supremo. supremo. (...) http://www http://www.pitoresco .pitoresco.com.br/brasil/anita/lobato.html .com.br/brasil/anita/lobato.html

Neste artigo, Monteiro Lobato faz uma ácida crítica ao trabalho da pintora Anita Malfatti e ao dos modernistas em geral.

DOIS GRUPOS



O autor divide os artistas em dois grupos. Um formado pelos acadêmicos, fiéis aos modelos clássicos de composição, e o outro pelos modernistas. Ele os desqualifica, usando os adjetivos “efêmeras”, “estrábica” e “rebeldes”. ���

 ARTE DEGENERADA  DEGENERADA  



O texto liga a arte moderna a um suposto processo de decadência dos valores ocidentais. Lobato qualifica as produções como “arte degenerada”, fruto de perturbações mentais. PROGRESSÃO TEXTUAL

No quadro Caipira Picando Fumo, de 1893, Almeida Júnior retrata a simplicidade de um homem do campo. Todo o contexto reflete a realidade singela da pessoa, desde suas roupas até a casa de pau a pique.  A desolação do local e a passividade passividade do homem lembram Jeca Tatu, caipira imortalizado por Monteiro Lobato. Ao contrário de  Abaporu (abaixo), esta pintura está de acordo com os padrões acadêmicos de arte defendidos por Lobato.

 A cada argument argumento, o, Lobato Lobato retoma a tese inicial. Note os mecanismos de progressão textual, ligados à alternância entre informações novas e antigas.



 ANITA MALFA MALFATTI TTI

Lobato volta-se ao alvo de seu texto: os quadros de Malfatti. O autor se coloca como exceção diante da receptividade com que parte dos críticos acolheu a pintura da artista. Para além das críticas à exposição de Malfatti, ele tomou o fato concreto como pretexto para vociferar contra os ideais estéticos do Modernismo.

��� JOSÉ FERRAZ DE ALMEIDA JÚNIOR/PINA COTECA DO ESTADO DE SÃO PAULO ��� TARSILA DO AMARAL/MALBA

���

Em Abaporu, de 1928, Tarsila do Amaral usa cores associadas ao Brasil e subverte as proporç proporções ões convencionais. Uma figura humana é representada com os membros em tamanho deformado – algo impensável para as estéticas clássicas. No Modernismo, temas ligados ao país (como a natureza tropical) recebem um olhar crítico – não são mais idealizados, como no contexto romântico. romântico. O pé gigante que toca o chão busca provocar uma reflexão sobre a ordem aparente do mundo real. GE PORTUGUÊS ����

95

6

MODERNISMO

� PROSA PRIMEIRA FASE

 Mário de Andrade  A arte moderna valoriza as diferenças e as especificidades do mundo, em detrimento da harmonia e do reconhecimento familiar da

arte acadêmica. Em literatura, a produção modernista da primeira fase (1922-1930) (1922-1930) também prioriza elementos capazes de chocar o público e promover certo estranhamento diante de uma nova realidade, questionando e rompendo com a identificação do público diante da obra. Passa a predominar uma preocupação com os processos artísticos de composição das obras, e não importa mais a representação fiel da realidade. Os escritores da primeira fase estavam preocupados em descobrir a identidade do país e do  brasileiro. A reflexão crítica sobre a realidade  brasileira é uma das preocupações preocupações centrais do escritor Mário de Andrade (1893-1945). (1893-1945).

Macunaíma (1928) incorpor incorpora a elementos folclóricos para traçar um perfil do brasileiro, criando o “herói sem nenhum caráter”. O personagem pertence ao rol de malandros nacionais, como Leonardinho, de Memórias de um Sargento de Milícias, e Brás Cubas, de Memórias Póstumas de Brás Cubas.      

PARÓDIA 

 Macunaíma Mário de Andrade

 No fundo fundo do mato-virgem mato-virgem nasceu Ma Macunaíma, cunaíma, herói da nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança  feia. Essa criança é que chamaram de          Macunaíma.  Macunaíma.  Já na meninice fez coisas de sarapantar sarapantar.. De  primeiro passou mais de seis anos não falando.         Si o incitavam a falar exclamava: – Ai que preguiça!... e não dizia mais nada.  Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de  paxiúba, espiando o trabalho trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape  já velhinho e Jiguê na força do homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém. E também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam  gritos gozados por causa dos guaiamuns diz que habitando a água-doce por lá. No mucambo si alguns cunhatã se aproximava dele pra fazer  festinha, Macunaíma Macunaíma punha a mão nas graças graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos guspia na cara. Porém respeitava os velhos e frequentava com aplicação a murua a poracê o torê o bacorocô a cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo. Belo Horizonte/Rio de Janeiro: Janeiro: Garnier, 2004.

PARA IR ALÉM A editora Peirópolis lançou, em 2016, uma adaptação de Macunaíma para HQ. O “herói sem nenhum caráter” aparece nos traços de cores fortes da dupla mineira Angelo Abu e Dan X, que preservou a irreverência da obra original. Além da história principal, a edição traz os bastidores da elaboração da HQ – também numa divertida história em quadrinhos – usando a linguagem adotada no livro de Mário de Andrade.

96

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

CRIANÇA FEIA  O adjetivo usado para caracterizar Macunaíma é essencial para a configuração da personagem: era uma criança “feia”, por oposição aos retratos idealizados dos românticos.

ORALIDADE E LINGUAGEM COLOQUIAL Note a oralidade da escrita. A palavra “se” é grafada com o som da fala “si” do português brasileiro. A referência à linguagem oral é típica da primeira fase modernista.

O início da obra faz uma paródia de textos indianistas (como Iracema, de José de  Alencar). O nascimento nascimento de Macunaíma ocorre na mata, no contato com  elementos naturais. Em todo o texto, porém, não há a idealização positiva do herói.

JEITINHO BRASILEIRO



No bordão de Macunaíma, bocejando de preguiça, ocorre uma inversão dos valores habitualmente considerados positivos. Macunaíma é um herói preguiçoso e malandro, representante típico do “jeitinho” brasileiro. Ele não gosta de trabalhar e não cultiva valores heroicos nem guerreiros, assim como Brás Cubas e Leonardinho.

LIBIDO 



Desde pequeno, Macunaíma tinha a sexualidade aflorada. Ao perturbar as índias no rio ou assediar as mulheres na tribo, o garoto já revelava a licenciosidade que o caracteriz caracterizaria aria durante a vida.

PONTUAÇÃO O autor trabalha com os elementos da cultura indígena, subvertendo as regras convencionais de escrita. Repare na ausência de pontuação, quando são enumeradas as danças típicas praticadas pelos índios.

DIÁLOGO ENTRE OBRAS

CONEXÕES

HERÓI E ANTI�HERÓI Macunaíma  resulta do anseio da primeira fase modernista pela criação de uma identidade nacional. O epíteto “herói sem nenhum caráter” designa a ausência de um caráter brasileiro definido, pois este ainda estaria em formação. Macunaíma simboliza aspectos relevantes da história do Brasil, como a miscigenação. A identidade nacional também preocupou os românticos. Contudo, para eles a expressão máxima do nacionac ionalismo estava na figura do índio anterior à colonização. Peri, personagem de O Guarani , de de José José de de Alencar Alencar (1829-1877), reúne as características desejáveis ao melhor europeu: católico, forte, destemido e honrado. Contrariando o ideal romântico do herói nacional, Macunaíma, assim como Leonardinho e Brás Cubas, são covardes e não têm grandes aspirações na vida.

CANÇÃO

O Guarani José de Alencar

 Homem-aranha  Homem-aranha Jorge Vercilo

PERSONAGEM

O super-herói enfrenta problemas cotidianos e torna-se vulnerável à rotina diária.

RECUSA DO TRABALHO

 De repente, entre o dossel de verdura verdura que cobria esta cena, ouviu-se um grito vibrante e uma palavra de língua estranha: — Iara!  É um vocábulo guarani: guarani: significa a senhora. senhora. (...)  De pé, fortemente apoiado sobre a base estreita que formava a rocha, um selvagem (...) metia o ombro a uma lasca de pedra que se desencravara do seu alvéolo e ia rolar pela encosta. O índio fazia um esforço supremo para suster o  peso da laje prestes a esmagá-lo; e com o braço estendido de encontro a um galho de árvore mantinha por uma tensão violenta dos músculos o equilíbrio do corpo.  A árvore árvore tremi tremia; a; por mome momentos ntos pare parecia cia que pedr pedraa e homem se enrolavam numa mesma volta, e preci pitavam  pitavam sobre sobre a menina menina sentada sentada na aba aba da da colina colina.. (...). Uma larga esteira que descia da eminência até o lugar onde Cecília estivera recostada, mostrava a linha que descrevera a pedra na passagem, arrancando a relva e ferindo o chão. (...) O fidalgo não sabia o que mais admirar, admirar, se a força e heroísmo com que ele salvara sua filha, se o milagre de agilidade com que se livrara livrara a si próprio da morte. (...) — Como te chamas? — Peri, filho de Ararê, primeiro de sua tribo.

 Assim como Macunaíma, o anti-herói da canção se nega a desempenhar o papel heroico e privilegia a relação amorosa.  VISÃO CRÍTICA 

Nota-se um olhar questionador acerca da sociedade, em um processo de reflexão sobre a realidade já desenvolvido pelos autores modernistas.  A violência combatida pelo herói é equiparada à corrupção que ocorre no plano político.

 Eu adoro andar andar no abismo  Numa noite viril viril de perseguição saltando entre os edifícios vi você  Em poder de um um fugitivo Que cercado pela polícia, te fez refém lá nos precipícios  Foi paixão paixão à primeira primeira vista me joguei de onde o céu arranha te salvando com a minha teia  Prazer  Prazer,, me chamam de Homem-Ar Homem-Aranha anha  Seu herói 

      

 Hoje o herói herói aguenta o peso das compras do mês  No telhado, telhado, ajeitando a antena da tevê  Acordado  Acordado a noite inteira inteira pra ninar ninar bebê       

Chega de bandido pra prender, de bala perdida pra deter  Eu tenho uma ideia: ideia: Você na minha teia Chega de assalto pra impedir,  Seja em Brasília Brasília ou aqui  Eu tive a grande grande ideia: Você na minha teia  Hoje eu estou estou nas suas mãos  Nessa sua ingênua ingênua sedução que me pegou na veia  Eu tô na tua teia

      

http://www.vagalume.com.br/jorge-vercilo/ homem-aranha-letra-sem-erros. html#ixzz3aDwM4cKw Nesta canção, de Jorge Vercilo, Vercilo, aparece também a figura de um anti-herói: um personagem cujo comportamento não serve como exemplo ou modelo de conduta. Surge um super-herói problemático, problemático, às voltas com os problemas do nosso tempo.

Editora Ática, 2010 © TEREZA BETTINARDI

GE PORTUGUÊS ����

97

6

MODERNISMO

� PROSA PRIMEIRA FASE

Oswald de Andrade Em países colonizados por outras nações, como é o caso do Brasil, os escritores modernistas rompem com a tradição e propõem uma afirmação da identidade nacional, bem como a libertação definitiva da herança dos colonizadores. Trata-se da defesa de uma literatura autêntica e pessoal, visando à afirmação da nacionalidade de modo crítico, sem a idealização característica dos românticos. Oswald de  Andrade (1890-1954) (1890-1954) viaja para a Europa e, ao retornar, traz consigo o repertório das vanguardas artísticas do continente. Ao lado de outros intelectuais, participa da Semana de 22. No  Manifesto  Manifesto da Poesia Poesia Pau-Bra Pau-Brasil sil,, mostra o desejo de que a cultura brasileira seja exportada, assim como ocorreu com a árvore pau-brasil, e passe a influenciar a própria cultura europeia. No  Manifesto Antropófago Antropófago,, lançado em 1928, propõe que o Brasil “devore” “devore” a cultura estrangeira.

Publicado em 1924 no Correio da Manhã, Oswald de  Andrade defende, em tom tom paródico paródico e festivo, festivo, uma poesia que não siga modelos ou regras preestabelecidos de composição.      

 Manifesto da  Poesia Pau-Brasil  Pau-Brasil  Oswald de Andrade

 A poesia existe nos fatos. Os casebres de aça frão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos. O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério.  A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança. (...)  A poesia Pau-Brasil, Pau-Brasil, ágil e cândida. Como Como uma criança. (...) Contra o gabinetismo, a prática culta da vida. (...)  A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.  Não há luta na terra de vocações acadêmicas.  Há só fardas. fardas. Os futuristas e os outros. outros. Uma única luta – a luta pelo caminho. Dividamos: poesia de importação. E a Poesia Pau-Brasil, de exportação. (...)  Bárbaros, crédulos, crédulos, pitorescos e meigos. LeitoLeito res de jornais. Pau-Brasil. A floresta e a escola. O  Museu Nacional. Nacional. A cozinha, o minério e a dança. dança.  A vegetação. Pau-Brasil. Pau-Brasil.

SAIBA MAIS MANIFESTOS

���

98

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

O gênero manifesto é caracterizado pela linguagem direta e exaltada, em caráter provocador, com que se defende um tema. Na primeira geração do Modernismo brasileiro, os manifestos de Oswald de Andrade explicitam os objetivos principais do movimento. A crítica e o humor aparecem combinados, a exemplo dos manifestos vanguardistas europeus, em textos que mesclam a linguagem artística e o registro popular, com a finalidade de difundir as ideias para o grande público. Outra característica é o uso de conclamações, com o emprego de vocativos e de verbos no imperativo, como na famosa frase do Manifesto Comunista (1848), de Karl Marx e Friedrich Engels: “Proletários de todo o mundo, uni-vos.”

O conceito de antropofagia (ingestão de carne humana), associado à cultura indígena e, portanto, ligado ao passado pré-colonial do Brasil, é usado por Oswald de  Andrade em em referência referência à estética estética do Modernismo. Modernismo.

CONEXÕES PERSONAGENS MOVIMENTO  ANTROPÓFAGO  ANTROPÓFAGO

 Manifesto Antropóf Antropófago ago



Oswald de Andrade

 Só a Antropofagia Antropofagia nos une. Socialmente. EcoEco nomicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos.  De todas todas as religiões religiões.. De todos todos os os tratados tratados de paz. paz. Tupi, or not tupi that is the question. Contra Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.  Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago. antropófago. (...)  Nunca fomos catequizados. catequizados. Fizemos Fizemos foi CarnaCarnaval. O índio vestido de senador do Império. Fin gindo de Pitt. Ou Ou figurando figurando nas nas óperas óperas de Alencar Alencar cheio de bons sentimentos portugueses.  Já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a lín gua surrealista. A idade de ouro. ouro. [...]  Contra as sublimações antagônicas. Trazidas nas caravelas. caravelas. Contra a verdade dos povos missionários, de finida pela sagacidade de um antropófago, o Visconde de Cairu: – É mentira muitas vezes repetida. (...)  Se Deus é a consciênda do Universo Incriado, Guaraci é a mãe dos viventes. Jaci é a mãe dos vegetais. (...) O objetivo criado reage com os Anjos da Queda.  Depois Moisés Moisés divaga. divaga. Que Que temos temos nós com isso? isso?  Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o  Brasil tinha descoberto a felicidade. Contra Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria, afilhado de Catarina de Médicis e genro de D.  Antônio de Mariz. Mariz. (...) Contra Contra Anchieta cantando as onze mil virgens do céu, na terra de Iracema, – o patriarca João  Ramalho fundador de São Paulo. Paulo.

      

 Revista de Antropofagia Antropofagia , Ano 1, nº 1, maio 1928 INTERTEXTUALIDADE

 A oposiç oposição ão à cultu cultura ra tra trazida zida pelo peloss europeu europeuss retoma retoma a figura da índia Iracema e estabelece um diálogo intertextual com o romance indianista de José de Alencar.

��� ©

TEREZA BETTINARDI ��� REPRODUÇÃO ��� © TURMA DO PERERÊ/ZIRALDO



O manifesto defende o nacionalismo e propõe a deglutição canibal dos elementos culturais estrangeiros, estrangeiro s, para que estes possam, depois, ser recriados artisticamente no país, dando origem a manifestações tipicamente brasileir brasileiras. as. PARÓDIA 

O autor parodia o verso de Shakespeare (“To be or not to be, that’s the question”) e “deglute” o repertório estrangeiro adaptando-o adaptando -o à cultura nacional. A paródia é uma forma de se estabelecer intertextualidade. intertextua lidade. Ao mudar o sentido do texto original, costuma provocar um efeito de humor. 

���

IDENTIDADE NACIONAL

Nosso passado colonial é atacado pela sátira mordaz; por outro lado, os elementos da cultura indígena ressurgem como parâmetros parâmetr os definidores da nacionalidade e da identidade cultural. JOGO TEMPORAL





Dois fatos passados relacionam-se entre si – o período anterior (assinalado por “tinha descoberto”) e o posterior à descoberta do Brasil. O passado mais antigo é valorizado, em detrimento dos tempos coloniais.

 A FIGURA DO ÍNDIO

Oswald se opõe à representação romântica e idealizada dos indígenas, no molde dos cavaleiros europeus e impregnada de elementos estrangeiros. Note a referência a Peri, protagonista de O Guarani , de José de Alencar.

���

Os elementos brasileiros foram representados de maneiras diferentes pelas histórias em quadrinhos, no decorrer do século XX. Após a II Guerra Mundial, os estúdios de Walt Disney desenvolveram uma visão estereotipada do brasileiro, brasileiro, encarnada pelo malandro Zé Carioca (no alto), um papagaio brasileiro, brasileiro, amante dos prazeres e da vida fácil. Já o brasileiro Ziraldo Ziraldo utilizou personagens e temas do folclore nacional para criar A Turma do Pererê (acima), encabeçada pela figura do saci e de um índio (representativos da cultura brasileira). Oswald de Andrade era favorável à representação crítica da realidade brasileira por autores nacionais. GE PORTUGUÊS ����

99

6

MODERNISMO

� PROSA SEGUNDA FASE

Um novo olhar para o país Questões sociais e políticas denunciam os problemas nacionais na segunda fase do Modernismo (1930-1945) (1930-1945)

O

s romances regionalistas da segunda

fase do Modernismo brasileiro procuram apresentar faces do Brasil que não costumavam figurar no conjunto dos romances  brasileiros tradicionais – estes últimos marcamarcados, geralmente, por uma ambientação urbana.  Afastando-se dos grandes centros da Região

Sudeste do país, os autores regionalistas priorizam o tratamento de realidades diversas e se  voltam para os problemas sociais do país.

 Jorge Amado Um dos escritores brasileiros mais populares, Jorge Amado (1912-2001) retratou o cotidiano da população baiana – os marinheiros, as mães de santo, os menores abandonados das ruas de Salvador. O romance Capitães da Areia (1937) narra as aventuras de um grupo de garotos marginalizados, moradores de um velho trapiche e estigmatizados por sua condição social. A representação de tipos comuns e o heroísmo presente em episódios simples do dia a dia são marcas da literatura regionalista do Modernismo brasileiro.

Publicado em 1937, Capitães da Areia retrata o cotidiano de um grupo de meninos de rua, mostrando suas ações violentas, mas, também, as aspirações e os pensamentos ingênuos comuns a qualquer criança.

PEDRO BALA 

Capitães da Areia Jorge Amado

Quando o levaram para aquela sala  Pe  Pedro dro  Bala calculava o que o esperava. Não veio

nenhum guarda. Vieram dois soldados de polícia, um investigador, o diretor do reformatório.  Fechar  Fecharam am a sala. sala. O investigador investigador disse disse numa numa voz voz risonha: – Agora os jornalistas já foram, moleque. Tu agora vai dizer o que sabe queira ou não queira. O diretor do reformatório riu: – Ora, se diz... O investigador perguntou: – Onde é que vocês dormem?  Pedro Bala o olhou com ódio: ódio: – Se tá pensando que eu vou dizer... – Se vai... – Pode esperar deitado. Virou as costas. O investigador fez um sinal  para os soldados. soldados. Pedro Pedro Bala sentiu duas chicotadas de uma vez. E o pé do investigador na sua cara. Rolou no chão, xingando. – Ainda não vai dizer? – perguntou o diretor do reformatório. – Isso é só o começo. – Não – foi tudo o que Pedro Bala disse.  Agora davam-lhe davam-lhe de todos os lados. Chibatadas, socos e pontapés. O diretor do reformatório levantou-se, sentou-lhe o pé, Pedro  Bala caiu caiu do outro outro lado da sala. sala. Nem Nem se levantou. levantou. Os soldados vibraram os chicotes. Ele via João Grande, Professor, Volta Seca, Sem-Pernas, o Gato. Todos dependiam dele. A segurança de todos dependia da coragem dele. Ele era o chefe, não podia trair. Lembrou-se da cena da tarde. Conseguira dar fuga aos outros, apesar de estar  preso  preso também. também. O orgulho encheu seu peito. peito. Não  falaria, fugiria do reformatório, reformatório, libertaria Dora. Dora.  E se vingaria.. vingaria.... Se vingaria vingaria... ...        Grita de dor. Mas não sai uma palavra dos seus lábios. Vai te fazendo noite para ele. Agora  já não sente dores, dores, já não sente sente nada. nada. No No entanto, entanto, os soldados ainda o surram, o investigador o soqueia. Mas ele não sente mais nada.

 LEALDADE Pedro Bala aguenta as pancadas e não revela o local onde vive o grupo porque sabe que é o líder do bando e deve manter lealdade a ele. GE PORTUGUÊS  PORTUGUÊS ���� 100 GE

Líder dos Capitães da  Areia, ele possui uma cicatriz de navalha no rosto, fruto da luta em que venceu o antigo  chefe do bando. Seu pai era estivador e liderara uma greve no porto, onde foi assassinado.

LINGUAGEM COLOQUIAL



Os diálogos literários do Modernismo regionalista regionalist a tentam reproduzir a comunicação informal e, por meio da linguagem, reforçam as caracterizações dos membros de certos grupos sociais (veja no Saiba mais da pág. ao lado).

CONFLITOS



O conflito entre grupos oprimidos e autoridades é frequente na literatur literatura a regionalista. Em Vidas Secas, por exemplo, esse aspecto surge na oposição entre Fabiano e o Soldado Amarelo.

INJUSTIÇA E CRÍTICA SOCIAL  A mando mando do do diret diretor or do reformatório e do investigadorr de polícia, investigado Pedro Bala é espancado. O autor descreve nesta cena uma relação de abuso. Um menor preso e torturado  por aqueles que devem manter a ordem moral, a educação e a justiça. 

ORAÇÕES COORDENADAS  ASSINDÉTICAS Note como a sequência de períodos simples e orações coordenadas assindéticas (que não possuem conectivos, sendo ligadas por vírgulas) confere agilidade ao texto.

DIÁLOGO ENTRE OBRAS

– Desmaiou – diz o investigador. – Deixe ele por minha conta – explica o diretor do reformatório. – Eu levo ele pro reformatório, lá ele abre a boca. Garanto. E eu dou o aviso a vocês. (...) O bedel Ranulfo (...) o levou à presença do diretor. diretor. Pedro Bala sentia o corpo todo doer das pancadas do dia anterior. Mas Mas ia satisfeito,  porque  porque nada nada tinha tinha dito, dito, porque porque não não revela revelara ra o lugar onde os Capitães da Areia viviam.  Lembram-s  Lembram-see da canção canção que os presos presos cantava cantavam m na madrugada que nascia. Dizia que a liberdade é o bem maior do mundo. Que nas ruas havia sol e luz e nas células havia uma eterna escuridão  porque  porque ali ali a liberd liberdade ade era era desconhecida. desconhecida. (...) Companhia das Letras, 2009.

SAIBA MAIS  VARIAÇÃO  VARIAÇÃO LINGUÍSTICA  A língua não é uniforme ou homogênea. Ela apresenta apresenta variações condicionadas por diferentes fatores, como: • Variaç  Variação ão histórica histórica:: ocorre ao longo do tempo e pode ser verificada por meio da comparação entre textos de diferentes épocas ou pelo contato entre pessoas de diferentes gerações (por exemplo, o pronome você, correspondente à antiga forma de tratamento vossa mercê).  Variação o geogr geográfica áfica ou regional regional::  relacionada às pala• Variaçã vras e construções específicas dos diferentes territórios em que uma mesma língua é falada (por exemplo, o vegetal mandioca é conhecido como aipim ou macaxeira, conforme a região do Brasil).  Variação o sociocultur sociocultural: al: influenciada por fatores como • Variaçã idade, sexo, profissão ou nível de escolaridade do falante (como as gírias de determinados grupos ou os jargões empregados por profissionais de diferentes áreas). • Variação  Variação individual: individual: presente na adequação realizada por um mesmo falante, de acordo com o grau de formalidade da situação em que se encontra (contextos formais exigem o uso da norma padrão da língua, enquanto contextos informais permitem a adoção de um estilo mais coloquial). © TEREZA BETTINARDI

DA INOCÊNCIA À MATURIDADE O Ateneu (1888) relata a vida de um pré-adolescente em um internato para garotos. Esta obra de Raul Pompeia e Capitães da Areia , de Jorge Jorge Amado, retraretratam meninos que são vítimas da exposição precoce à vida adulta, embora em contextos e classes sociais diferentes. Sérgio, estudante de classe média alta, descobre o mundo no colégio interno; o menor Pedro Bala, nas ruas de Salvador.

ESPELHO O colégio interno espelha o mundo exterior e a incerteza diante do desconhecido.

O Ateneu Raul Pompeia       

“Vais encontrar o mundo, disse-me meu “Vais  pai, à porta do Ateneu. Coragem Coragem para a luta. luta.”  ”  METÁFORA   Bastante experimentei experimentei depois a verdade verdade deste O narrador utiliza aviso, que me despia, num gesto, das ilusões diversas imagens de criança educada exoticamente na estufa de metafóricas (figura de        linguagem que aproxima carinho que é o regímen do amor doméstico; objetos pertencentes diferente do que se encontra fora, tão diferente, a universos diferentes, que parece o poema dos cuidados maternos um que apresentam artifício sentimental, com a vantagem única características de fazer mais sensível a criatura à impressão semelhantes) para fazer referência ao aconchego rude do primeiro ensinamento, têmpera brusca da vida doméstica.       da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso. Lembramo-nos, entretanto, com MEMÓRIA  saudade hipócrita dos felizes tempos; como se a Depois dessas idas e mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, não vindas temporais, o narrador adulto centra-se nos houvesse perseguido outrora, outrora, e não viesse de no pretérito imperfeito longe a enfiada das decepções que nos ultrajam. e no presente para (...) repassar,, na memória, repassar  Eu tinha onze onze anos. os maus bocados de (...) sua estada no colégio.        Esse efeito só é possível Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha graças à intersecção mãe beijou-me a testa, molhando-me de entre tempo cronológico lágrimas os cabelos e eu parti. e psicológico psicológico..

 Ateliê, 1999. 1999.

PRIMEIRA PESSOA   Ainda que o livro possua vários vários aspectos naturalistas, naturalistas, como a descrição rica em detalhes e quase científica do colégio, a obra afasta-se do modelo clássico do movimento, já que o foco em primeira pessoa subverte os preceitos naturalistas de isenção e distanciamento.

PARA IR ALÉM O filme Capitães da Areia (2011) é dirigido por Cecília Amado, neta de Jorge Amado. Ela buscou o mesmo olhar crítico do livro. O elenco é todo formado por não atores, a fim de se criar uma Bahia verossímil e atual. GE PORTUGUÊS ���� 101

6

MODERNISMO

� PROSA SEGUNDA FASE

Graciliano Ramos  A obra do autor alagoano apresenta cenários cenários e personagens pertencentes à Região Nordeste do Brasil. Em Vidas Secas (1938), Secas (1938), por exemplo, Graciliano Ramos (1892-1953) narra a trajetória de uma família de retirantes que procura sobreviver às condições adversas impostas pelo meio natural, como a seca e a caatinga, e pela realidade social, como o latifúndio e o drama dos retirantes. Como o título do livro indica, a seca que assola o sertão nordestino é responsável por enfraquecer as perspectivas de vida e submeter a existência humana à escassez de recursos, à fome e à miséria. Segundo críticos literários, a primeira fase modernista se concentrou na “revolução na literatura”, ao defender a liberdade de composição e o verso livre; já a segunda fase, voltada para o regionalismo e para a denúncia de pro blemas sociais, teria incorporado “a literatura na revolução”.



O QUE ISSO TEM A VER COM A GEOGRAFIA

 A caatinga é um bioma exclusivamente exclusivamente brasileiro. brasileiro.  Apesar do clima semiárido, possui “ilhas “ilhas de umidade”, umidade”, de solo extremamente fértil. A vegetação é adaptada ao clima seco e à pouca quantidade de água. Além da caatinga, os outros biomas brasileiros são a Amazônia, o cerrado, a Mata Atlântica, o pampa e o Pantanal. Para saber mais, veja o GUIA DO ESTUDANTE GEOGRAFIA.

Em Vidas Secas, o drama da família de retirantes obrigada a se mudar constantemente por causa da seca é narrado em um estilo com economia de adjetivos, característico de Graciliano Ramos. Dessa forma, o autor consegue transmitir a seus leitores a aridez do ambiente.

 ANTAGONISTA   ANTAGON ISTA 

Vidas Secas   Entrava dia e saía dia. As noites cobriam a terra de chofre. A tampa anilada baixava, escurecia, quebrada apenas pelas vermelhidões do poente  Miudinhos, perdidos no deserto queimado , os fugitivos agarraram-se, somaram as suas desgraças e os seus pavores. O coração de  Fabiano  Fabiano bateu junto do coração coração de Sinhá Vitória, Vitória, um abraço cansado aproximou os farrapos que os cobriam. Resistiram à fraqueza, afastaram-se envergonhados, sem ânimo de afrontar de novo a luz dura, receosos de perder a esperança que os        alentava.  Iam-se amodorr amodorrando ando e foram despertados  por Baleia, que trazia nos dentes um preá.  Levantaram-se  Levantar am-se todos gritando. O menino mais velho esfregou as pálpebras, afastando  pedaços de sonho. Sinhá Vitória beijava o  focinho de Baleia, e como o focinho estava ensanguentado, lambia o sangue e tirava         proveito  provei to do beijo.  Aquilo era caça bem mesquinha, mas adiaria a morte do grupo. E Fabiano queria viver. Olhou o céu com resolução. A nuvem tinha crescido, agora cobria o morro inteiro. Fabiano pisou com segurança, esquecendo as rachaduras que lhe estragavam os dedos e os calcanhares.



FRAQUEZAS E CONFLITOS

PARA IR ALÉM Em 2008, o romance  Vidas Secas, de Graciliano Ramos, completou 70 anos do seu lançamento e ganhou uma edição especial da Editora Record. A famosa obra que narra a seca do sertão nordestino e a peregrinação do protagonista Fabiano e sua família foi relançada com seu texto integral, acrescida de fotografias produzidas especialmente para o livro, por Evandro Teixeira. O fotógrafo refez os caminhos percorridos pelos personagens e pelo próprio Graciliano Ramos no Nordeste. GE PORTUGUÊS  PORTUGUÊS ���� 102 GE



O espaço desempenha um papel fundamental na configuração do romance. O sertão é apresentado como o antagonista central, na medida em que dele provém o sofrimento dos personagens.



PERSONAGENS

Graciliano Ramos

Os personagens não são descritos de modo idealizado.  A força e a resistência resistência advêm da superação dos obstáculos, mas as fraquezas e os conflitos são apresentados de modo cru e direto.

PROSOPOPEIA   A prosopopeia, figura figura de linguagem que realiza realiza a personificação de animais e seres inanimados, é empregada para atribuir gestos e emoções à cachorra Baleia. Por outro lado, a família de retirantes apresenta comportamentos que se aproximam da animalização. O mesmo pode ser observado em O Cortiço, de Aluísio  Azevedo (veja na pág. 72). Já em Iracema, de José de  Alencar (veja na pág. 48), a prosopopeia tem a função de idealizar a índia.

Refletem uma situação social que os escritores regionalistas procuraram explicitar: o sentimento de desamparo dos segmentos marginalizados marginaliza dos da sociedade (no caso, a família de retirantes capitaneada por Fabiano).



DESUMANIZAÇÃO O solo árido e o rio seco não oferecem possibilidades de sustento nem de sobrevivência, fazendo com que a família sinta fome e sede em meio ao cenário de natureza morta. A dureza da vida vai aos poucos realizando um processo de desumanização dos personagens.

DIÁLOGO ENTRE OBRAS

 Fabiano  Fabiano tomou a cuia, desceu a ladeira, ladeira, encaminhou-se ao rio seco, achou no bebedouro dos animais um pouco de lama. Cavou a areia com as unhas, esperou que a água marejasse e, debruçando-se no chão, bebeu muito. Saciado, caiu de papo para cima, olhando as estrelas, que vinham nascendo. (...) O poente cobria-se de cirros – e uma alegria doida enchia o coração de Fabiano. Pensou na família, sentiu fome. Caminhando, movia-se como uma coisa, para bem dizer não se diferençava muito da bolandeira de seu Tomás. Agora, deitado, apertava a barriga e batia os dentes. Que fim teria levado a bolandeira de seu Tomás? Olhou o céu de novo. Os cirros acumulavamse, a lua surgiu, grande e branca. Certamente ia chover. Seu Tomás fugira também, com a seca, a bolandeira estava parada. E ele, Fabiano, era como a bolandeira. Não sabia por quê, mas era. Uma, duas, três, havia mais de cinco estrelas est relas no céu. A lua estava cercada de um halo cor de leite. Ia chover.  Bem.  Bem. A catinga catinga ressuscitaria , a semente semente do gado voltaria ao curral, ele, Fabiano, seria  o vaqueiro daquela fazenda morta. Chocalhos de badalos de ossos animariam   a solidão. Os meninos, gordos, vermelhos, brincariam   no chiqueiro das cabras,  Sinhá  Sinhá Vitór Vitória ia vestiria saias de ramagens vistosas.  As vacas povoaria povoariam m o curral. curral. E a catinga catinga ficaria ficaria toda verde. (...)  Lembr  Lembrou-se ou-se dos filho filhos, s, da mulher mulher e da da cachor cachorra ra,, que estavam lá em cima, debaixo de um juazeiro, com sede. Lembrou-se do preá morto. Encheu a cuia, ergueu-se, afastou-se, lento, para não derramar a água salobra. Subiu a ladeira. (...)  Baleia  Baleia agitav agitava a o rabo, rabo, olhand olhandoo as as brasa brasas. s. E como como não podia ocupar-se daquelas coisas, esperava com  paciênc  paciência ia a hor hora a de de masti mastigar gar os ossos. ossos.  Depois iria dormir. dormir. Record, 1979.

© TEREZA BETTINARDI

OS RETIRANTES Na peça Morte e Vida Severina , João Cabral de Melo Melo Neto (1920-1999), da terceira fase modernista (veja mais na pág. 128), apresenta a trajetória de Severino, obrigado a migrar para a cidade para fugir da seca. A dor do personagem o aproxima dos retirantes retratados por Graciliano Ramos, em Vidas Secas , e por Cândido Portinari, no quadro Retirantes (veja na pág. 107). Por outro lado, a vida dos nordestinos que tentam escapar da miséria sem sair do sertão faz parte da temática de Os Sertões , de Euclides da Cunha (veja na pág. 80 ).

 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA  LINGUÍSTICA   A bolandeira e a forma popular de tratamento “seu” (em vez de “senhor”) são recursos linguísticos que procuram trazer, para o universo do romance, aspectos da fala popular do sertão ( veja no Saiba mais da pág. 101)



CÓDIGO NÃO VERBAL  Apesar de de analfabeto analfabeto,, o sertanejo Fabiano consegue compreender o código não verbal dos elementos naturais.



FUTURO DO PRETÉRITO Fabiano dá início a uma idealização do espaço sertanejo, imaginando o fim da seca. Note o emprego de verbos no futuro do pretérito para indicar as esperanças e os sonhos de Fabiano.

FUGA PARA A CIDADE



No entanto, a realidade é outra, e a seca permanece. A única alternativa para a família de retirantes nordestinos será a fuga imediata para a cidade.

 Morte e Vida Severina João Cabral de Melo Neto

– O meu nome é Severino, como não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar  Severino de Maria Maria como há muitos Severinos com mães chamadas Maria,  fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias.  Mais isso ainda diz pouco: há muitos na freguesia,  por causa de um coronel que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor desta sesmaria. (...)  E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte de fome um pouco por dia (...)  Mas,  Mas, para que me conheçam melhor Vossas Senhorias e melhor possam seguir a história de minha vida,  passo a ser o Severino que em vossa presença emigra.  Alfaguar  Alfaguara, a, 2007 2007..

HOMEM COMUM O protagonist protagonista a se apresenta em primeira pessoa. O nome popular indica uma história semelhante à de outros que vivem na miséria e em condições precárias.

CONFLITOS SOCIAIS



Os conflitos sociais são explicitados por meio da menção das relações de poder.

 ADJETIVO  ADJETIV O





Em toda a peça, o vocábulo “severino” passa por mudanças de classe gramatical: de substantivo para adjetivo.

DETERMINISMO  A morte severina é resultado do meio onde se vive.

TEMAS



 A fuga dos retir retirantes, antes, a fome e a miséria montam um retrato não idealizado da vida no Nordeste do país e são temáticas comuns da segunda fase modernista.

GE PORTUGUÊS ����

103

6

MODERNISMO

� PROSA TERCEIRA FASE

A Geração de 45 Na terceira fase do Modernismo (a partir de 1945), autores de diferentes perfis exploram uma nova linguagem

A

terceira fase do Modernismo, também chamada de Geração de 45 ou Pós-Modernismo, é marcada pela profundidade reflexiva. Enquanto a segunda se preocupava com o homem coletivo, o Pós-Modernismo Pós-Modernismo explorou o “eu” individual, mas sem perder de vista as questões sociais. Sobressaem o intimismo e a sondagem interior de Clarice Lispector e o regionalismo universalista e a consciência estética (experimentalismo) de Guimarães Rosa.

Clarice Lispector  Escritora e jornalista, Clarice Lispector (19201977) é autora de  Perto do Coração Cor ação Selvagem (1943), Laços (1943), Laços de Família Família (1960) e A e A Hora Hora da EstreEstrela (1977), la (1977), entre outras obras. Um elemento fundamental em seus textos é o tempo psicológico, em que o narrador segue o fluxo do pensamento e o monólogo interior das personagens, que conduzem o leitor às profundezas do ser. O enredo tem importância secundária, num universo dominado pelas personagens femininas, sofridas e afetadas pela epifania – uma revelação, a tomada de consciência de algo nunca antes percebido, percebi do, que pode mudar a vida da personagem para sempre. EPIFANIA  Uma situação cotidiana e comum provoca uma transformação na percepção de mundo da personagem. A imagem do cego faz com que Ana reavalie o mundo sob outras perspectivas. MONÓLOGO INTERIOR Na literatura modernista, a voz do narrador e o pensamento da personagem por vezes se confundem. O discurso indireto livre é empregado para mergulhar na interioridade da personagem. DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO Diferentemente Diferentemen te do início do conto, aqui o substantivo árvores é empregado em sentido denotativo (literal).

Neste conto de Laços de Família, a personagem Ana, uma dona de casa carioca, tem uma revelação durante um trajeto de bonde. Voltando das compras, ela observa um homem cego parado em um ponto e, cheia de piedade, reflete sobre a própria vida.

 Amor  Clarice Lispector

Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde.  Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou-se então no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfação. Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. (...) A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos  poucos pagando. pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha ti nha na mão, não outras, mas essas apenas.  E cresciam árvores. Crescia sua rápida conversa com o cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, (...) O bonde se arrastava, em seguida estacava. es tacava. Até  Humaitá  Humaitá tinha tinha tempo tempo de de descansar descansar.. Foi Foi então então que que olhou para o homem parado no ponto. (...)  Era um cego. (...) O bonde se sacudia nos trilhos e o cego mascando goma ficara atrás para sempre. Mas o mal estava feito. (...)  E como uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor. (...) A piedade a sufocava, Ana respirava respirava pesadamente. (...) (.. .) O que chamava de crise viera afinal. E sua marca era o prazer prazer intenso com que olhava agora as coisas, sofrendo espantada. (...) Um cego mascando chicles        mergulhara o mundo em escura sofreguidão.  Só então percebeu que há muito  passara do seu ponto de descida. (...)  Andando um pouco mais ao longo de uma sebe, sebe, atravessou os portões do Jardim Botânico. (...)  Ao seu redor havia ruídos serenos, cheiro de        árvores , pequenas surpresas surpresas entre entre os cipós. (...)  A moral moral do Jardim Jardim era outra. outra. Agora Agora que o cego a guiara até ele, estremecia nos primeiros passos de um mundo faiscante, sombrio, onde vitóriasrégias boiavam monstruosas. (...) Um cego me levou ao pior de mim mesma, pensou espantada. (...) Rocco, 2013.

104

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

ESTEREÓTIPOS  A personagem personagem Ana é apresentada como uma dona de casa tradicional.  Ao longo longo do conto conto,, ela passa a ter uma visão mais aprofundada de si mesma e da vida. Clarice Lispector levará o leitor a questionar a condição feminina no Brasil, na  agitada década de 60. COMPARAÇÃO E METÁFORA   A compara comparação ção associa elementos com características semelhantes. O trabalho de Ana é comparado ao de  um lavrador. Na metáfora, a associação é implícita.  Árvoress designam designam a vida vida   Árvore doméstica construída por Ana. 

PRETÉRITO IMPERFEITO  As formas verbais repetitivas repetitiv as servem para ressaltar a rotina cotidiana da protagonista e mostram como a vida parecia ser simples e previsível.

PROSOPOPEIA   Atribuição de  Atribuição características ou atitudes  humanas a objetos ou seres inanimados. Nesse caso, o sentimento de piedade, que Ana sente pelo homem cego, é capaz de sufocar a protagonista. 

PRETÉRITO MAISQUE-PERFEITO Essa forma verbal é utilizada para indicar ações anteriores a outras ações no passado (neste caso, para informar que  Ana já havia passado do do ponto quando percebeu onde estava).

CONEXÕES ENSAIO HISTÓRICO

IMAGENS

“A entrada em massa de mulheres casadas – ou seja, em grande parte mães – no mercado de trabalho e a sensacional expansão da educação superior formaram o pano de fundo, pelo menos nos países ocidentais típicos, para o impressionante reflorescimento dos movimentos feministas a partir da década de 1960. Na verdade, os movimentos de mulheres são inexplicáveis sem esses acontecimentos. (...)  Na verdade, as mulheres como um grupo tornavam-se agora uma força política importante, como não eram antes.”  HOBSBAWN, Eric. Era  Era dos dos Extre Extremos mos - O Brev Brevee Século Século XX . São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

O inglês Eric Hobsbawn (1917-2012), um dos maiores historiadores do século XX, analisa as mudanças sociais, econômicas e políticas que marcaram esse século. Entre as décadas de 1960 e 1970, como ele afirma, o movimento feminista questionava o estereótipo feminino e propunha igualdade de direitos entre homens e mulheres, por exemplo, em relação ao mercado de trabalho.  Apesar de de viver em uma época época de profund profundas as transformações do papel da mulher na sociedade, a personagem Ana, do conto Amor , ainda é uma típica dona de casa tradicional. Clarice Lispector chama atenção para o fato de que, por trás da imagem aparentemente simples e caseira da protagonista, existe uma ânsia por liberdade e um processo de descoberta da complexidade interior. Depois dos acontecimentos narrados, Ana é levada a rever a sua vida.

���

 A primeira primeira imagem, extraída extraída de de um anúncio publicitário publicitário da década de 1960, representa a mulher segundo padrões tradicionais de comportamento da época.  A personagem personagem Ana vivia dessa dessa maneira, maneira, voltada apenas apenas para as atividades domésticas e para a família. Já a segunda imagem retrata o movimento feminista, conforme também descrito no texto de Eric Hobsbawn.

FILME

SAIBA MAIS  A SEMÂNTICA DOS TEMPOS TEMPOS VERBAIS Os verbos podem ser empregados em determinados tempos cujos significados nem sempre correspondem aos indicados pela nomenclatura oficial. Destacamos alguns usos do pretérito no conto. Veja mais alguns exemplos com outro tempo verbal: • Presente do indicativo: além do momento pontual ( Ana senta no banco), ele também pode expressar: • Hábito: Repete-se periodicamente ( Ana  Ana cozinha diariamente). • Presente histórico: Confere destaque a um fato  já concluído (D. João inaugura o Jardim Botânico). • Futuro próximo: Indica um fato que ocorrerá em parque). breve ( Amanhã Ana volta ao parque ��� MARTY LEDERHANDLER/AP PHOTO ��� DIVULGAÇÃO

���

O filme As Horas (2002), do diretor Stephen Daldry, mostra a vida de três mulheres em momentos diferentes do século XX. Baseado no romance homônimo de Michael Cunningham, apresenta a escritora inglesa Virginia Woolf, cujo estilo, marcado pela introspecção e por monólogos interiores, é muitas vezes comparado ao de Clarice Lispector. Uma das personagens, vivida por Nicole Kidman, é uma dona de casa que, a partir de um a situação cotidiana, tem uma revelação que transforma sua vida. GE PORTUGUÊS ����

105

6

MODERNISMO

� PROSA TERCEIRA FASE

Em seu último romance, a autora cria um narrador fictício que relata o cotidiano, os sonhos e os conflitos da jovem nordestina Macabéa.

SARCASMO

 A Hora Hora da Estrela Estrela Clarice Lispector

 Esqueci  Esqueci de dizer dizer que era realmente realmente de se espanespantar que para corpo quase murcho de Macabéa tão vasto fosse o seu sopro de vida quase ilimitado e tão rico como o de uma donzela grávida, engravidada por si mesma, por partenogênese: tinha so       nhos esquizoides nos quais apareciam gigantescos animais antediluvianos como se ela tivesse vivido em épocas as mais remotas desta terra sangrenta.  Foi então então (explosão) (explosão) que se desmanchou de re pente o namoro entre Olímpico e Macabéa. Macabéa. Namoro talvez esquisito, mas pelo menos parente de algum amor pálido. Ele avisou-lhe que encontrara outra moça e que esta era Glória. (Explosão)  Macabéa bem viu o que aconteceu com Olímpico e Glória: os olhos de ambos se haviam beijado.  Diante da cara um pouco inexpressiva demais de Macabéa, ele até que quis lhe dizer alguma LINGUAGEM COLOQUIAL  gentileza suavizante suavizante na hora do adeus para para semO namorado de Macabéa a humilha, embora  pre. (...) seja nordestino e        – Você, Macabéa, é um cabelo na sopa. Não dá marginalizado como vontade de comer. Me desculpe se eu lhe ofendi, ela. Ao usar o pronome mas sou sincero. Você está ofendida? pessoal oblíquo “ me me”  – Não, não, não! Ah, por favor quero ir embora! no início da frase e o pronome oblíquo  Por favor favor me diga logo logo adeus! “lhe” como objeto (...) direto (ao contrário  Macabéa,  Macabéa, esqueci de dizer, dizer, tinha uma infelicido que prega a norma dade: era sensual. Como é que num corpo cariagramatical), Olímpico do como o dela cabia tanta lascívia, sem que ela se revela usuário da norma popular da soubesse que tinha? Mistério. Havia, no começo língua, confirmada pela do namoro, pedido a Olímpico um retratinho 3x4 oralidade na expressão onde ele saiu rindo para mostrar o canino de ouro “cabelo na sopa”. e ela ficava tão excitada que rezava três pai-nossos e umas ave-marias para se acalmar.  Na hora hora em que Olímpico lhe dera dera o fora, a rereação dela (explosão) veio de repente inesperada: inesperada: mais nem menos a rir. rir. Ria por não ter DIÁLOGO COM O LEITOR  pôs-se sem mais O narrador não perde a se lembrado de chorar. sua personagem de vista (...) em momento algum,  Depois  Depois que Olímpic Olímpicoo a desped despediu, iu, já que ela não até o fim da narrativa, era uma pessoa triste, procurou continuar como se quando finalmente ela nada tivesse perdido. (Ela não sentiu desespero, etc. terá sua epifania, recurso        comum a narrativas etc.) Também que é que ela podia fazer? Pois ela era psicológicas. O diálogo crônica. E mesmo tristeza também era coisa de rico, com o leitor, em diversos era para para quem podia, para quem não tinha o que famomentos, faz do  zer.  zer . Tris Tristez teza a era era luxo. luxo. narrador um personagem, ESCOLHA LEXICAL

Para descrever a esquisitice de Macabéa, o narrador utiliza-se de substantivos e adjetivos sem nenhum brilho, ao melhor estilo do realismo-naturalismo no século XIX, recorrendo a uma associação de termos científicos e psicológicos, os quais definem a personagem como uma “coisa”, um bicho estranho, tudo, menos gente.

que questiona inclusive seu estilo de narrar. 106

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

Rocco, 2006



O narrador Rodrigo S.M. é sarcástico ao zombar de sua personagem central, Macabéa, ressaltando suas qualidades antiheroicas: corpo magricela e sonhos esquisitos. O paradoxo estabelecido entre o corpo murcho e o sopro de vida vasto reforça o tom irônico.

NOMES GLAMOUROS GLAMOUROSOS OS



Repare no nome do ex-namorado de Macabéa e no de sua nova namorada. Eles se contrapõem à simplicidade do nome da protagoni protagonista. sta.

���

CONEXÕES CANÇÃO

PINTURA INTERTEXTUALIDADE

Gente Humilde

 A canção apresent apresenta a uma personagem sofrida e humilde, assim como Macabéa. O autor, no entanto, demonstra respeito pela gente do subúrbio, ao contrário do narrador de A Hora da Estrela, que ridiculariza sua personagem. Ambos diferem do tom dramático da pintura.

Chico Buarque de Holanda, Garoto e Vinicius de Moraes

Tem certos dias  Em que que eu penso em minha minha gente gente  E sinto assim Todo Todo o meu peito se apertar  Porque  Porque parece Que acontece de repente Como um desejo de eu viver  Sem me notar  Igual a tudo Quando eu passo no subúrbio  Eu muito bem Vindo de trem de algum lugar  E aí me dá Como uma inveja dessa gente Que vai em frente  Sem nem ter com quem contar

LINGUAGEM COLOQUIAL 

Termos e expressões comuns à linguagem oral (“me dá”) aproximam a canção do contexto social do morador do subúrbio (veja Vari  Variação ação linguística , na pág. 101). ���

 São casas simples Com cadeiras na calçada  E na fachada  Escrito em cima que é um lar  Pela varanda varanda  Flores tristes tristes e baldias Como a alegria Que não tem onde encostar  E aí me dá uma tristeza tristeza (...)  De eu não ter como como lutar  E eu que não creio creio  Peço a Deus Deus por minha gente  É gente humilde Que vontade de chorar

PROSOPOPEIA 



 A personificação das flores, em sua tristeza, demonstra que não há lugar para alegria num espaço tão pobre e sem perspectivas.

DENÚNCIA  

 A descrição física do ambiente confere ao texto caráter denunciador contra o abandono dessas pessoas pelo governo, bem como a marginalização que sofrem.

SENTIMENTO DE IMPOTÊNCIA  Diante da constatação de que não tem condições de socorrer essas pessoas, o eu lírico apela para a religiosidade e “entrega” “entreg a” os suburbanos a Deus, apesar de ser ateu, criando um paradoxo. parado xo. O sentimento de impotência também está presente em Macabéa e no quadro de Portinari. ��� © TEREZA BETTINARDI ��� CANDIDO PORTINARI/MASP

Retirantes  (1944), de Candido Portinari, aborda o sofrimento dos migrantes nordestinos assolados pela miséria da seca e da fome. A caracterização dos retirantes retirant es apresenta grupos formados por indivíduos esqueléticos, roupas humildes e rostos sofridos, com poucos bens materiais e isolados na agreste paisagem do sertão nordestino. Eles são retratados esquálidos, assim como a personagem de  A Hora da Estrela (o que explicaria a “sensualidade estranha” dela). Ambos, impotentes, abandonados à própria sorte, veem na migração a única solução para escapar do destino prenunciado, o que se pode verificar na trouxa no ombro do homem e na cabeça da mulher. A figura fantasmagórica fantasmagóric a do bebê dá um tom fúnebre à cena, bem como os urubus esperando pelo alimento que ainda está em pé, insistindo em não morrer. A presença de indivíduos velhos e novos acentua o fato de que a seca atinge diferentes gerações e permanece como uma questão não resolvida. A denúncia contra o abandono do nordestino também foi retratada por Graciliano Ramos, em Vidas Secas, e, anteriormente, por Euclides da Cunha, em Os Sertões, durante o Pré-Modernismo, quando o escritor considerou o sertanejo “antes de tudo um forte”.

GE PORTUGUÊS ����

107

6

MODERNISMO

� PROSA TERCEIRA FASE

Guimarães Rosa Escritor e diplomata, João Guimarães Rosa (1908-1967) (1908-1967) é um dos maiores nomes da literatura brasileira de todos os tempos. Criou um estilo particular, particular, unindo termos típicos do sertão nordestino, palavras praticamente em desuso e neologismos, explorando a narrativa em toda a sua extensão linguística. Retratou o sertão de forma universalizante, revelando os costumes e cenários sertanejos em seus mistérios. Suas principais obras são os livros de contos Sagarana (1946) e Primeiras Estórias (1962), além do romance Grande Sertão: Veredas  (1956).

FORMAÇÃO DE PALAVRAS Em português, as palavras também podem ser formadas pelo acréscimo de um sufixo após o radical. É o que acontece em palavras como pitangueira, criaçãozinha e mandona.

ESPAÇO SERTANEJO Guimarães Rosa recria, em sua obra, o espaço simples e humilde do sertão, com personagens e situações característicos característic os do universo de vaqueiros e  jagunços. Para Para reforçar reforçar a caracterização, a linguagem e os costumes do espaço sertanejo são igualmente valorizados.

DISCURSO INDIRETO O leitor fica sabendo, por meio do narrador, o que o homem cego teria dito a Augusto Matraga. Quando ocorre a mediação do narrador e o relato do que foi dito pelas personagens, temos discurso indireto.

Sagarana marca uma revolução na literatura brasileira,

pelo emprego criativo de neologismos e tratamento de temas e uso da linguagem característicos do sertão.

 A Hora Hora e Vez Vez de  Augusto Matraga Matraga Guimarães Rosa

 Mas  Mas aí Nhô aí Nhô Au  calou, com o peito cheio; to-  Augus gusto to calou, mou um ar de acanhamento; suspirou e perguntou: − Mais galinha, um pedaço, amigo? LINGUAGEM INFORMAL − ‘Tou feito.  Ao incorporar incorporar a oralidade − E você, seu barra? ao texto, o autor registra  - Agradecido...(...) ‘Tou cheio até à tampa! expressões comument comumentee  Enquanto isso, isso, seu Joãozinho Joãozinho Bem-Bem, Bem-Bem, de ca- usadas pelos habitantes  beça entornada, não tirava os olhos de cima de do sertão.  Nhô Augusto. E Nhô Augusto, depois de servir a PROTAGONISTA X cachaça, bebeu também, dois goles, e pediu uma  ANTAGON  ANTAGONISTA  ISTA  das papo-amarelo , para ver: O conto trata da − Não faz conta de balas, amigo? Isto é arma rivalidade entre Matraga, que no passado fora um que cursa longe... homem mau, e Joãozinho −  Pode gastar as óito. Experimenta naquele Bem-Bem, líder de um         pássaro ali, na pitangueira.. na pitangueira.... bando de jagunços. A        − Deixa a criaçãozinha criaçãozinha de  de Deus. Vou ver só se narrativa apresenta um protagonista complexo e corto o galho... Se errar, vocês não reparem, porque faz tempo que eu não puxo dedo em gatilho... ambíguo, dividido entre o bem e o mal, em uma  Fez fogo. fogo. luta de vida ou morte. − Mão mandona , mano mano velho velho.. Errou Errou o primeir primeiro, o,  mas acertou um em dois... Ferrugem em bom ferro! DISCURSO DIRETO  Mas,  Mas, nesse tento, tento, Nhô Nhô Augusto Augusto tornou tornou a fazer fazer o Os diálogos, marcados  pelo-sin  pelo-sinal al e entrou entrou num desânimo desânimo,, que o não larlar- com travessões, reproduzem diretamente  gou mais. mais. Conti Continuou nuou,, porém porém,, a cuidar cuidar bem bem dos dos seus a fala dos personagens. hóspedes, e como o pessoal se acomodara ali mes-  Aqui, a voz do narrador        mo, nas redes, ao relento, com uma fogueira acesa cede espaço à conversa no meio do terreiro, ele só foi dormir tarde da noite, informal dos jagunços, em uma estrutura de quando não houve mais nenhum para contar histódiscurso direto. rias de conflitos, assaltos e duelos de exterminação. Cedinho na manhã seguinte, o grupo se despediu. (...)  Nhô Augusto não tirou os olhos, até que desa parecessem. E depois se esparramou em si, penDISCURSO sando forte. Aqueles, sim, que estavam no bom,  INDIRETO LIVRE  porque não tinham de pensar em coisa nenhuma O monólogo interior de salvação de alma, e podiam andar no mundo, de Augusto Matraga é de cabeça-em-pé... (...) inserido à narrativa, Uma tarde, cruzou, (...), com um bode amarelo de maneira a mesclar o pensamento da e preto, preso por uma corda e puxando, na ponta personagem e a própria da corda, um cego, esguio e meio maluco. (...)         E explicou: explicou: tinha um menino-gui menino-guia, a, mas esse-um voz do narrador. havia mais de um mês que escapulira; e teria roubado também o bode, se o bode não tivesse berrado e ele não investisse investi sse de porrete. Agora, era aquele bicho de duas cores quem escolhia o caminho...  Sagarana. Nova Fronteira, 2015.

108

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

REDENÇÃO O personagem principal deseja sacrificar-se para tentar alcançar a salvação. Isso só poderia ser feito por meio da fé, do esforço e de um conjunto de virtudes que o tornam semelhante a um herói mítico.

Este outro conto de Sagarana também é uma parábola, e os animais aparecem com características humanas. Aqui temos a história de Tiãozinho, guia do carro de bois, e a dos animais, que, juntas, formam uma crítica aos desmandos e à injustiça.

SAIBA MAIS

FORMAÇÃO DE PALAVRAS

Conversa de Bois Guimarães Rosa       

— Que foi? Que há, boi Buscapé? — É o boi Capitão! É o boi Capitão! Que é que está dizendo o boi Capitão? —  Mhú! Hmoung! ... ... Boi...  Bezerro-de-homem...  Bezerro-de-homem... Mas, eu sou o boi Capitão!  Moung!... Não há nenhum boi Capitão... Mas, todos os bois... Não há bezerro-de-homem!... Todos... Tudo... Tudo é enorme... Eu sou enorme!...  Sou grande e forte... Mais do que seu Agenor  Soronho!... Posso vingar meu pai... Meu pai era bom. Ele está morto dentro do carro... Seu Agenor Soronho é o diabo grande... Bate em todos os meninos do mundo... Mas eu sou enorme...  Hmou! Hung!... Mas, não há Tiãozinho! Sou aquele-que-tem-um-anel-branco-ao-redor-das-ventas!... Não, não, sou o bezerro-de-homem!  Sou maior do que todos os bois e homens juntos. — Mû-ûh... Mû-ûh!... Sim, sou forte... Somos  fortes... Não há bois... Tudo... Todos... A noite é enorme... Não há bois-de-carro... Não há mais nenhum boi Namorado... — Boi Brabagato, boi  Brabagato! Escuta o que os outros bois estão falando. Estão doidos?!... — Bhuh!... Não me chamem, não sou mais... Não existe boi Brabagato! Tudo é forte. Grande e forte... Escuro, enorme e brilhante... Escuro-brilhante... Posso mais do que seu Agenor Soronho!...

      

REDENÇÃO E MANIQUEÍSMO



 A fala dos bois revela revela que eles são expressão de uma força maior, uma unidade cósmica, que junta homens e animais. Os bois vingam a humilhação imposta ao menino e a eles mesmos e reinstauram a justiça.  Aqui se mostra a luta do bem contra mal de forma bem marcada e maniqueísta. Já em  A Hora e Vez de Augusto Matraga, o bem e o mal se misturam num só personagem.

Guimarães Rosa explora, de modo criativo, o sistema linguístico do português. Em diversos momentos, o autor cria novos termos (os chamados neologismos) a partir de processos de formação de palavras previstos na língua. Em outros casos, Rosa emprega palavras  já existentes, formadas pela união de radicais ou pelo acréscimo de prefixos (morfemas colocados antes dos radicais) e sufixos (colocados após o radical). Conheça os principais processos de formação de palavras em língua portuguesa: • Derivação – consiste no acréscimo de prefixos e sufixos ao radical: • Derivação prefixal: acrescenta-se prefixal: acrescenta-se um prefixo antes do radical (pré-escola, anti-herói, imoral). • Derivação sufixal: acrescenta-se sufixal:  acrescenta-se um sufixo após o radical (pitangueira, mandona, ferreiro). • Derivação parassintética: acrescentam-se parassintética: acrescentam-se simultaneamente taneamente um prefixo e um sufixo ao radical (desalmado, engaiolar, emudecer). • Composição – consiste na união de dois vocábulos ou radicais: • Composição por justaposição: as justaposição:  as palavras ou radicais são colocados lado a lado e não ocorre perda fonética (unha-de-gato, passatempo, couve-flor). • Composição por aglutinação: durante aglutinação:  durante a fusão dos vocábulos ou radicais, ocorre perda fonética (aguardente, pernalta, planalto).

 VEREDICTO E PERSONIFICAÇÃO PERSONIFICAÇÃO No diálogo, os bois falam sobre o homem que os maltrata. Vale comparar com o poema Um Boi Vê os Homens, de Drummond (veja na pág.126). Ambos, de alguma forma, veem no homem a fragilidade e a crueldade juntas.

ONOMATOPEIA  O uso das onomatopeias restauram a noção de que os bois são animais e servem para marcar seus resmungos e incômodos.

© TEREZA BETTINARDI

GE PORTUGUÊS ����

109

6

MODERNISMO

� PROSA TERCEIRA FASE

 A obra obra destaca-se destaca-se pela pela linguagem linguagem e pela origin originalidade alidade de estilo presentes no relato do ex-jagunço Riobaldo, que relembra sua vida.

REINVENÇÃO DA LINGUAGEM Com onomatopeias, associações incomuns de prefixos, inversões e neologismos, o autor cria uma atmosfera mágica. O idioma constrói-se sem compromisso com a gramática normativa, apenas com o sentido que se quer transmitir: o do sobressalto do personagem.

Grande Sertão: Veredas Guimarães Rosa

 Mesmo  Mesmo estranhei, estranhei, quando quando fui notando notando que o tiroteio da rua tinha pousado termo; achei que fazia um certo minuto que o fogo teria sopitado. Cessaram, sim. Mas gritavam, vuvu vavava de conversa ruim, uns para os outros, de ronda-roda. Haviam de ter desautorizado toda munição? Olhando, desentendi. Atirar eu pudesse? Acho que quis gritar, e esperei para depoismente, mais tarde. Mesmo o que vi: aquele mexinflol. (...) Conheci o que estava para ser: que os dele e os meus tinham cruzado grande e doido desafio, NEOLOGISMO conforme para cumprir se arrumavam, uns e O recurso de criar novas outros, nas duas pontas da rua, debaixo de forpalavras explora as ma; e a frio desembainhavam. O que vendo, vi possibilidades do sistema gritar, linguístico e promove a  Diadorim – movimentos dele. Querer mil gritar,        renovação do léxico. e não pude, desmim de mim-mesmo, me tonteava, numas ânsias. E tinha o inferno daquela rua, DISCURSO DIRETO  para encurralar encurralar comprido... Tiraram Tiraram minha voz. Esse recurso narrativ narrativo o (...) Boca se encheu de cuspes. Babei... Mas eles expressa a inquietaç inquietação ão vinham, se avinham, num pé-de-vento, no desareflexiva do protagonista, o jagunço Riobaldo, na doro, bramavam, se investiram... Ao que – fechou busca de respostas para o fim e se fizeram. E eu arrevessei, na ânsia por as perguntas que ele se um livramento... Quando quis rezar – e só um faz a vida toda: o diabo  pensamento, como raio raio e raio, raio, que em mim. mim. Que o existe? O que é o bem? senhor sabe? Qual: ... o Diabo na rua, no meio do O que é o mal? O que é,        realmente, o amor? redemunho... redemunho... O senhor soubesse... Diadorim – eu queria versegurar versegurar com os olhos... Escutei o medo claro nos meus dentes... O Hermógenes: desumaFUNÇÃO POÉTICA   A descrição descrição poética poética que no, dronho – nos cabelões da barba... Diadorim expressa o lirismo de  foi nele... (...) Riobaldo é reforçada pela rima interna sangrar/ matar.. Esse recurso matar foi muito utilizado no Romantismo. Em Iracema, José de Alencar descreve a bela índia de forma platônica, por meio de linguagem poética e ornamentada.

       



SENTIDOS O narrador se utiliza principalmentee de principalment sensações para construir o ambiente de terror durante a batalha, a ponto de o personagem perder os sentidos e desmaiar. Boca cheia de cuspes, dentes batendo e olhos turvos ajudam a transmitir a tensão de Riobaldo, de forma angustiante.

      

 E assim eu eu estava vendo! (...) (...) Assim, Assim, ah – mirei e vi – o claro claramente: aí Diadorim cravar c ravar

e sangrar o Hermógenes... Ah, cravou – no vão – e ressurtiu o alto esguicho de sangue: porfiou para bem matar! (...)         Diadori  Diadorim m tinha tinha morrido morrido – mil-vezes-mente –  para  para sempr sempree de mim; mim; e eu sabia sabia,, e não queria queria sabe saberr, meus olhos marejaram. marejaram. Nova Fronteira, 2005

HIPÉRBOLE O numeral mil ganha também a função de hipérbole (figura de linguagem da intensificação das ideias), acrescido do sufixo mente, que transforma a expressão (neologismo) num advérbio: o narrador expressa de modo exagerado a dor pela perda do amigo.

GE PORTUGUÊS  PORTUGUÊS ���� 110 GE



NARRAÇÃO E DINAMISMO Traço da narrativa do autor, a cena vai sendo descrita num crescente angustiante: os grupos rivais param de atirar, desafiamse, puxam as facas e arremetem uns contra os outros. A descrição é cinematográfica, construída pelas palavras.





PLEONASMO É o recurso linguístico que dá ênfase a uma ideia, estado ou sentimento etc. “Claro claramente” reitera o espanto do personagem, mal acreditando na cena que via, após o redemoinho passar. HOMOSSEXUALIDADE O autor toca na questão da homossexualidade, pois Riobaldo demonstra amor sensual pelo amigo Diadorim, sem saber que este era, na verdade, uma mulher.

DIÁLOGO ENTRE OBRAS

CONEXÕES

IDENTIDADE NACIONAL E INOVAÇÃO NA LINGUAGEM

CANÇÃO

Os escritores brasileiros do período modernista são referências fundamentais para os autores africanos de língua portuguesa. O Brasil (assim como Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné Bissau), após a independência de Portugal, foi palco de um processo cultural de definição da identidade nacional, iniciado no Romantismo e aprofundado criticamente no Modernismo. O escritor moçambicano Mia Couto (1955-) é leitor e admirador de Guimarães Rosa: os neologismos, a transcriação do espaço regional e a valorização dos saberes populares são marcas presentes na produção do autor moçambicano.

Terra Sonâmbula Mia Couto

 Naquele  Naquele lugar lugar, a guerra guerra tinha morto a estrada. estrada.  Pelos  Pelos caminhos só as hienas se arrastavam arrastavam,, focinhando entre cinzas e poeiras. A paisagem se mestiçara de tristezas nunca vistas, em cores que se  pegavam  pegavam à boca. Eram cores cores sujas, tão sujas que tinham perdido toda a leveza, esquecidas da ousadia de levantar asas pelo azul. Aqui, o céu se tornara impossível. E os viventes se acostumaram ao chão, em resignada aprendizagem da morte.  A estrada que agora se abre a nossos olhos não se entrecruza com outra nenhuma. Está mais deitada que os séculos, suportando sozinha toda a distância. Pelas bermas apodrecem carros incendiados, restos de pilhagens. Na savana em volta, apenas os embondeiros contemplam o mundo a desflorir. Um velho e um miúdo vão seguindo pela es       trada. Andam bambolentos como se caminhar  fosse seu único serviço desde que nasceram. Vão Vão  para lá de nenhuma parte, dando dando o vindo por não ido, à espera do adiante. Fogem da guerra, dessa  guerra que contaminara contaminara toda a sua terra. terra. Vão Vão na ilusão de, mais além, haver um refúgio tranquilo.

CONJUNÇÃO Para manter a métrica dos versos, a conjunção subordinativa “que” foi suprimida da oração subordinada substantiva.  A oração oração coo coorde rdenada nada adversativa, à frente, cria um paradoxo, expressando a contradição no desejo do eu.  AMBIGUIDADE O poeta cria uma atmosfera religiosa ao retratar a morte da amada como um “encantamento”. Paradoxalmente, revelase desencantado quando vê o corpo de mulher (e não de homem). O jogo de palavras “A deus” cria ambiguidade: a alma da amada foi entregue a “Deus”, deixando ao amado um triste “adeus”.

 Romance de de Riobaldo e Diadorim  Antonio Nóbrega Nóbrega

Quando eu vi aqueles olhos, Verdes como nenhum pasto, Cortantes palhas de cana,  De lembrá-los lembrá-los não me me gasto.  Desejei não fossem embora,  E deles nunca me afasto. afasto. (...)       

 Na noite-grande noite-grande-fatal, -fatal, O meu amor encantou-se.  Desnudo corpo inteiro inteiro  Desencantado mostrou-se. mostrou-se.  E o que era era um segredo, segredo,  Sem mais nada nada revelou-se. revelou-se.

 Sob as roupas roupas de jagunço, jagunço, Corpo de mulher eu via.  A deus, já dada, sem vida,        METÁFORA E METONÍMIA  O vau da minha alegria.  Vau  Va u é um trecho de rio  Diadorim, diadorim... diadorim... raso. Metaforicamente,  Minha incontida incontida sangria representa quanto a alegria do eu lírico foi rasa, desembocando numa sangria sem fim – metonímia para substituir tristeza. Cria-se, assim, um paradoxo. Ao usar essa construção para fechar a música, o poeta sugere que a tristeza era o fim esperado do amor de Riobaldo.

 Apesar de a letra ser uma homenagem homenagem a um romance romance modernista, há forte presença da segunda geração romântica, na figura erotizada da amada morta, o que era comum em obras como Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo.

Lisboa: Caminho, 1992.

MARCAS DO PASSADO No início do romance, o narrador descreve os vestígios da devastação e da violência deixados pelas guerras anticolonial (1965-1975) e civil (1976-1992). Para explicitar a história do país, Mia Couto cria protagonistas pertencentes a duas gerações diversas: um idoso, representante da ancestralidade valorizada na África, e um menino (miúdo, em Portugal e Moçambique), símbolo do futuro e da nova geração. © TEREZA BETTINARDI

GE PORTUGUÊS ����

111

6

COMO CAI NA PROVA

1. (FUVEST 2016)

2. (UNICAMP 2016)

Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança vingan ça contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga be xiga de negro em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o lazareto*, Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O la zareto é que os matava. matava. Mas as macumbas macumbas pediam pediam que que ele levasse a be xiga da cidade, cidade, levasse para os ricos latifundiários latifundiários do sertão. sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as f ilhas e pais de  santo cantam: cantam: Ele Ele é mesmo mesmo nosso pai e é quem pode nos ajudar... ajudar... Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no  seu cântico cântico de despedida: despedida: Ora, adeus, ó meus meus filhinhos, Qu’eu vou e tortorno a vortá... E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. Juazeiro. A bexiga foi com ele.

 “(…) E, páginas adiante, o padre se por tou ainda mais excelentemente, porque era mesmo uma brava criatura. Tanto assim, que, na despedida, insistiu: – Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um dia de capina com sol quente, que às vezes custa muito a passar, mas sempre passa. E você ainda pode ter muito pedaço bom de ale gria… Cada um tem sua hora e a sua vez: você há de ter a sua.”

 Jorge Amado, Capitães da Areia

*lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças. Considere as seguintes afirmações referentes ao texto de Jorge  Amado: I. Do ponto de vista do excerto, considerado no contexto da obra a que pertence, a religião de origem africana comporta um aspecto de resistência cultural e política. II. Fica pressuposta no texto a ideia de que, na época em que se passa a história nele narrada, o Brasil ainda conservava formas de privação de direitos e de exclusão social advindas do período colonial. III. Os contrastes de natureza social, cultural e regional que o texto registra permitem concluir corretamente que o Brasil pass ou por processos de modernização descompassados descompassados e desiguais.

 João Guimarães Rosa, A Hora e Vez de Augusto Matraga, em S agarana. agarana. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001, p. 380.

“(…) Então, Augusto Matraga fechou um pouco os olhos, com sorri so intenso nos lábios lambuzados de sangue, sangue , e de seu se u rosto subia um  sério contentamento. Daí, mais, olhou, procurando João Lomba, e dis se, agora sussurrando, sumido: – Põe a bê nção na minha filha, seja lá onde for que ela esteja… E, Dionóra… Fala com a Dionóra que está tudo em ordem! Depois morreu.” Idem, p. 413.

a) O segundo excerto, de certo modo, confirma os ditos do padre apresentados no primeiro. Contudo, “a hora e a vez” do protagonista não são asseguradas, segundo a narrativa, pela reza e pelo trabalho. O que lhe garantiu ter “a sua hora e a sua vez”? b) “A hora e a vez” de Nhô Augusto relacionam-se aos encontros que ele tem com outro personagem, Joãozinho Bem-Bem, em dois momentos da narrativa. Em cada um desses momentos, Nhô Augusto precisa realizar uma escolha. Indique quais são essas escolhas que importam para o processo de transformação do personagem protagonista.

RESOLUÇÃO a) O que garante ao protagonista “a sua hora e a sua vez” não é o seguimento dos conselhos dados pelo padre, mas o fato de se livrar de

Está correto o que se af irma em a) I, somente. b) II, somente. c) I e II, somente. d) II e III, somente. e) I, II e III.

sua índole violenta e se colocar em defesa dos oprimidos, renunciando as seus próprios interesses pessoais. b) Na primeira vez em que os dois personagens citados se encontram, ocorre uma grande empatia entre eles, e Augusto conquista a admiração de Joãozinho Bem-Bem e o respeito de seu bando. Joãozinho se oferece para vingá-lo de dois de seus inimigos, mas Nhô Augusto recusa a oferta. Já no segundo encontro, Nhô Augusto mais uma vez recusa o convite para integrar o grupo de Joãozinho e, diante da violência praticada pelo grupo, se põe ao lado dos desprotegidos e em nome da  justiça. Assim, ambas as passagens servem para o desenvolvimento desenvolvimento de Matraga, culminando em sua redenção.

RESOLUÇÃO Todos os itens estão corretos. O primeiro acerta ao sublinhar o caráter

3. (ENEM 2015)

de resistência da religião africana, perseguida pelas classes sociais mais altas e pela polícia, por ser associada a práticas rebeldes dos escravos. Até hoje as religiões de matriz africana sofrem preconceito na sociedade brasileira. Em Capitães da Areia , essa luta pela liberdade religiosa também está exposta. O segundo item também pode ser ligado à perseguição religiosa, prática herdada do colonialismo, além das relações profundamente desiguais entre negros e brancos, pobres e ricos. Por fim, o terceiro item ressalta o caráter desigual da modernização, expressa no texto na falta de acesso à saúde pública de qualidade para os pobres. Resposta: E GE PORTUGUÊS  PORTUGUÊS ���� 112 GE

Exmº Sr. Governador: Trago a V. Exa. um resumo dos trab alhos reali zados pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928. [...]  ADMINISTR AÇÃO Relativamente à quantia orçada, os telegramas custaram pouco. De ordinário vai para eles dinheiro considerável. Não há vereda aberta pelos matutos que prefeitura do interior não ponha no arame. Proclamando que a coisa foi feita por ela; comunicam-se as datas históricas ao Governo do Estado, que não precisa disso; todos os aconteci-

RESUMO

mentos políticos são badalados. Porque se derrubou a Bastilha – um telegrama; porque se deitou pedra na rua – um telegrama; porque o deputado F. esticou a canela – um telegrama. Palmeira dos Índios, 10 de janeiro de 1929. GRACILlANO RAMOS RAMOS, G. Viventes das Alagoas. Alagoas . São Paulo: Martins Fontes, 1962.

O relatório traz a assinatura de Graciliano Ramos, na época, prefeito de Palmeira dos Índios, e é destinado ao governo do estado de Alagoas. De natureza oficial, o texto chama a atenção por contrariar a norma prevista para esse gênero, pois o autor

a) emprega sinais de pontuação em excesso. b) recorre a termos e expressões em desuso no português. c) apresenta-se na primeira pessoa do singular, para conotar intimidade com o destinatário. demonstrar d) privilegia o uso de termos técnicos, para demonstrar conhecimento conhecimento especializado. e) expressa-se em linguagem mais subjetiva, com forte carga emocional. RESOLUÇÃO A variação linguística é o emprego da língua de formas diferentes de acordo com seu contexto histórico, geográfico, social e cultural. O que confere tom jocoso ao texto é o fato de Graciliano Ramos ter empregado uma variante subjetiva e emocional da língua quando a ocasião (um documento oficial da prefeitura para o governador do estado) pedia a norma culta. Um relatório desse tipo, em geral, tem como marca linguística a objetividade. Além disso, o autor também utiliza a ironia para fazer uma crítica à burocracia excessiva do ser viço público. Resposta: E

4. (UNICAMP 2016 ADAPTADA) O poema abaixo é de autoria de Manoel de Barros e foi publicado no Livro Sobre Nada, de 1996. “A ciência pode classificar e nomear todos os órgãos de um sabiá mas não pode medir seus encantos. A ciência não pode calcular quantos cavalos de força existem nos encantos de um sabiá. Quem acumula muita informação perde o condão de adivinhar: divinare. Os sabiás divinam”. Manoel de Barros. Livro Sobre Nada. Nada. Rio de Janeiro: Record, 1996. p. 53.

Considerando que o poeta joga com os sentidos do verbo “adivinhar” e da sua raiz latina divinare, justifique o neologismo usado no último verso. RESOLUÇÃO O neologismo ocorre quando há criação de palavras novas, por meio da união de dois vocábulos ou radicais ou do acréscimo de prefixos e sufixos. No poema, Manoel de Barros cria o neologismo “divinam” a partir do verbo “adivinhar” e da palavra divinare, divinare, sua raiz latina. Por ser muito parecida com o substantivo “divino”, a nova palavra assume também esse significado, conferindo ao sabiá uma sa bedoria divina.

Literatura Literatura do Modernismo – Prosa MODERNISMO – 1ª FASE A Semana de Arte Moderna (1922) assinala o início do movimento. Ao criticarem a arte clássica, acadêmica e tradicional, os modernistas defendem uma libertação dos modelos rígidos de composição. Outra característica do movimento é a prioridade a elementos capazes de chocar o público, promovendo certo estranhamento, e a defesa de um novo nacionalismo, crítico e definidor dos costumes brasileiros. Entre os maiores nomes do período destacam-se Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Sérgio Milliet, Graça Aranha, Ronald de Carvalho e Menotti del P icchia. de  A MODERNISMO – 2ª FASE O marco inicial é a publicação de A Bagaceira (1928), Bagaceira (1928), de José Américo de Almeida. No contexto da Revolução de 1930 e do entreguerras, os autores voltam-se para o conteúdo social e político, engajando-se na denúncia de aspectos da realidade social, e expõem as múltiplas faces da população brasileira. Os expoentes dessa fase são Graciliano Ramos (Vidas (Vidas Secas) Secas) e Jorge Amado (Capitães (Capitães da Areia). Areia).

MODERNISMO – 3ª FASE Também chamada de Geração de 45, esta fase é responsável por um intenso período de experimentação estética, com ênfase no fazer artístico e nas questões ligadas ao processo de criação das obras de arte. Guimarães Rosa (Grande (Grande Sertão: Veredas) Veredas) e Clarice Lispector ( A ( A Hora da Estrela) Estrela) estão entre os principais nomes do período. GRAMÁTICA E INTERPRETAÇÃO I NTERPRETAÇÃO • Argumentação Os principais elementos de um texto argumentativo são: tese (apresentação da ideia a ser discutida); argumentos (elementos que permitem a defesa do ponto de vista); contra-argumentos (defesa antecipada de possíveis reações contrárias) e conclusão (considerações finais). • Variação linguística O modo como uma língua é falada varia de acordo com diversos fatores, entre eles a região ou o país dos falantes, o grupo social ao qual pertencem e o grau de formalidade da situação. Ela também sofre mudanças no decorrer do tempo, de acordo com as transformações sofridas pela própria sociedade. • Tempos verbais  Os verbos podem ser empregados em determinados tempos cujos significados nem sempre correspondem ao nome: Presente do indicativo: pode indicar passado histórico (Dilma telefona a Obama) e até futuro (Amanhã eu lhe l he telefono). Futuro do presente: pode expressar o presente (Estaremos, hoje, prontos para viajar?). • Neologismo É a criação de novas palavras ou expressões numa língua. O recurso foi muito utilizado por Guimarães Rosa (ex.: descriado – criado ao desamparo, desnutrido; e fraternura – ternura de irmãos).

GE PORTUGUÊS ����

113

7

LITERATURA DO MODERNISMO

�  POESIA

CONTEÚDO DESTE CAPÍTULO

 Interpretando: coesão

e coerência ..................... ....................................... .................................... .................... ���  Portugal.......................................... ................................... .................................. ................ ���  Modernismo em Portugal......................... .................................................. ................................... ............................... ............. ���  Modernismo no Brasil ................................. ...................................... ................................... ............................... ............. ���  Como cai na prova + Resumo .....................

A crise chega ao divã Insegurança gerada pela retração econômica e o medo do desemprego fazem crescer o uso de antidepressivos antidepressivos e a procura por atendimento psicológico

A

conjugação entre recessão econômica e o conturbado cenário político lançou o Brasil em uma das mais graves crises de sua história. Segundo analistas, o Produto Interno Bruto (PIB), indicador que mede as riquezas geradas no país, deverá cair algo em torno de 3,8% ao fim deste ano, repetindo a taxa de 2015. O desaquecimento da economia faz com que lojas sejam fechadas, fábricas dispensem funcionários e o desemprego aumente. Quem ainda mantém um posto de trabalho convive com a pressão por bons resultados e o fantasma da demissão.  Além de atingir atingir em cheio cheio o bolso bolso da populaç população, ão, esse cenário asfixiante e de perspectivas nada promissoras também está mexendo com a cabeça e o equilíbrio emocional de muita gente. Vem crescendo o número de pessoas que buscam ajuda em consultórios psiquiátricos e clínicas psicológicas para tratar sintomas como angústia, ansiedade e depressão. A maioria reclama de dificuldade para dormir, dormir, irritabilidade, apatia, cansaço e falta de concentração, e aponta o medo de perder o emprego e de não ter dinheiro para pagar as contas como a causa das da s preocupações. O quadro de incertezas também está provocando forte aumento no uso de medicamentos tarja preta, como antidepressivos, ansiolíticos e antipsicóticos, que são vendidos exclusivamente exclusivamente com apresentação de receita médica. 114

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

Levantamento feito pela Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo mostrou que o número de usuários que recorrem às farmácias da prefeitura paulistana atrás de remédios tarja preta passou de 592 mil em 2010 para 874 mil pacientes em 2014 – um aumento de 47%. Os antidepressivos, an tidepressivos, de acordo com o estudo, foram as drogas mais receitadas no período.  A temática temática da angústia angústia e das incertez incertezas as quanto quanto ao rumo a ser seguido diante de crises políticas e sociais faz remissão à obra Claro Enigma (1951), de Carlos Drummond de Andrade, poeta que passou pelo movimento modernista em quase toda sua extensão. No contexto do final da Segunda Guerra Mundial, a obra de Drummond mostra o poeta perplexo, inconformado e sem esperança, apenas com a certeza de que um grande vazio espera o homem. O poema Cantiga de Enganar mostra isso: O mundo não vale o mundo, / meu bem. / Eu plantei um pé-de-sono, / brotaram DORES DA ALMA  vinte roseiras. roseiras. / Se me me Em meio à crise econômica cortei nelas todas / e e política que atinge o se todas se tingiram Brasil, cresce o número / de um vago sangue de pessoas que procuram  jorrado / ao capricho ajuda para tratar de dos espinhos, / não foi problemas como ansiedade e depressão culpa de ninguém.

TODOR TSVETKOV/ISTOCK

GE PORTUGUÊS ����

115

7

MODERNISMO

� POESIA INTERPRETANDO

Compreensão imediata Os mecanismos de coesão e coerência permitem que uma sequência de frases e de palavras se torne um texto e tenha sentido

E

sta reportagem, publicada no jornal Todo texto apresenta uma intencionalidade, efeit os da mas o efeito desejado só é alcançado se as ideias O Globo, Globo, em 7/2/2016, sobre os efeitos recessão e da crise política na vida coti- estiverem devidamente organizadas – de maneidiana da população, apresenta dados e análises ra coerente – e se as palavras e frases estiverem que atestam como fatores sociais e econômicos  bem articula articuladas das – de modo modo coeso. coeso. Ao longo longo desta desta são capazes de provocar angústia, insônia e reportagem, podemos perceber diversos recursos depressão e levar as pessoas a procurar ajuda que possibilitam o processo de articulação das de especialistas em psicologia e psiquiatria. palavras e das frases no texto ( coesão coesão ), assim  A cobertura cobertura dada pela reportagem reportagem revela que como a sequência de ideias, de modo a promover emprego go as relações afetivas e de trabalho são pautadas a continuidade de sentido ( coerência coerência ). O empre pelas oscilações na situação econômica do país e de palavras e de expressões com função remissiva, provocam casos agudos de patologias psíquicas o uso de figuras de linguagem e de conectivos que que só podem ser tratadas por medicamento promovem a articulação textual favorecem a comque, ironicamente, custam caro. preensão do que se propõe comunicar no texto.

COESÃO E RETOMADA  O texto anuncia o assunto (crise econômica), que só é revelado na retomada do tema, na frase seguinte. A anunciação e a retomada garantem a unidade coesiva e a progressão textual. COESÃO POR SUBSTITUIÇÃO  A expressão é retomada retomada nas linhas seguintes com “trabalhadores” e “executivos” e reforça a abrangência da crise econômica. COESÃO E SÍNTESE “Situação atual” funciona como termo resumitivo. Indica a crise econômica e a angústia provocada por ela.  A COESÃO POR CONTIGUIDADE O termo “antidepressivo”, “antide pressivo”, palavra mais específica, designadora de medicamento,, alude à medicamento palavra “remédio”, termo genérico que o retoma por contiguid contiguidade. ade.

 Economia fraca fraca aumenta sintomas de depressão Recessão leva a alta nos casos de insônia e estresse, dizem médicos Por William Helal Filho       

Um assunto se tornou predominante nos consultórios psiquiátricos de uma clínica particular na

 Zona Sul e no programa programa de atendimento atendimento gratuito gratuito da área de saúde mental da Santa Casa da Misericórdia, no Centro. A crise econômica foi parar no        divã, levada por profissionais profissionais de diferentes diferentes per fis. São trabalhadores temendo perder o emprego ou já dispensados e executivos atormentados por ter de demitir centenas de pessoas na recessão.        — Há uma angústia com a situação atual e a  falta de uma perspectiva de melhora na economia.  Principalmente entre aqueles com predisposição, aparecem sintomas claros de depressão. Insônia, estresse e angústia são comuns nesses pacientes — descreve a psiquiatra Analice Giglioti, diretora do  Espaço Clif. — Aumentou Aumentou muito também a procura procura        antidepressivos mas  por  ,  os médicos devem ter toda cautela ao receitar esses remédios.  Na clínica em Botafogo, cada consulta com um  psiquiatra custa a partir de R$ 490. Entre os pacientes afetados pela crise, executivos são maioria.  Este também também é o perfil mais comum entre as pessopessoas atendidas nas unidades de medicina preventiva da Med-Rio Check-Up. Segundo uma pesquisa da empresa com dados de seus pacientes, de 2014 a

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

HIPÉRBOLE É a figura de linguagem que exprime exagero.  A escolha pelo numeral numeral “centena” no lugar do pronome indefinido  “muito/muitas”, por exemplo, define melhor a noção de multidão. 

COESÃO E PROGRESSÃO  A enumeração (“insônia, estresse e angústia”) mostra uma progressão e reforça o impacto da crise na vida das pessoas.

COERÊNCIA   A reportagem informa  o preço alto das consultas psiquiátricas. Em seguida, de forma coerente, retoma a ideia de que os executivos são, na maioria das vezes, os que mais procuraram por esse serviço. ser viço.  2015, aumentaram de 8% para p ara 11% os casos de

 116

COESÃO POR INFERÊNCIA   A reportagem cita uma unidade de tratamento particular e outra pública. Com isso, reforça o caráter coesivo do texto, pois mostra que o problema afeta cidadãos de todas as classes sociais.

depressão, de 21% para 25% os quadros de insônia, de 20% para 32% os relatos de ansiedade e de 55%  para 70% os registros de estresse. — O Brasil está fazendo mal à saúde dos brasileiros. O ambiente hoje é rico em emoções negativas, como tristeza e medo.  Isto abre portas para  problemas como gastrite, úlcera, hipertensão e até até mesmo um acidente vascular cerebral (AVC) ou um infarto — comenta o médico Gilberto Ururahy, diretor da Med-Rio e autor do livro Emoções e saúde junto

METONÍMIA E PERSONIFICAÇÃO Há metonímia no emprego de um termo para significar outro (Brasil tomado como um todo para se referir à situação econômica). E personificação, ao atribuir vida a um ser inanimado (no caso, o país faz mal – pratica uma ação – aos brasileiros).

com o psiquiatra Eric Albert. Ali-

mentação equilibrada e exercícios regulares são ótimas formas de evitar esses males. Sedentarismo só agrava os problemas causados pelo estresse.

COESÃO POR REMISSÃO O pronome demonstrativo “isto” retoma a ideia anterior (faz remissão a um elemento próximo). Refere-se às emoções negativas, como tristeza e medo.

‘Não durmo sem medicamento’ 

 Diferentes estudos associam crises como aquelas que abateram a Europa e os EUA a partir de 2008 a elevações de casos de depressão emocional e até de suicídios. O uso de antidepressivos também pode apresentar curva ascendente. No Brasil, segundo dados compilados pela Associação da Indústria  Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), (Interfarma), o consumo de antidepressivos e tranquilizantes subiu 14% de novembro de 2014 a outubro de 2015, quando superou 1,5 bilhão de doses. Vendidos sob apresentação de receita médica, esses remédios são caros e, portanto, fora do alcance da maior parte da população. Da mesma  forma, consultas psiquiátricas representam um custo que pessoas com renda menor nem sempre conseguem arcar. Na Santa Casa de Misericórdia,  porém, um serviço serviço de de atendimento atendimento gratuito recebe  pacientes de baixa ba ixa renda. Também lá, a inflação



COESÃO POR REITERAÇÃO  A força discursiva discursiva e coesiva está na repetição da ideia de aumento dos transtornos (depressão, insônia, ansiedade e estresse), mencionados anteriormente, e do uso de medicamentos, como antidepressivos e tranquilizantes.

e o desemprego se tornaram o tópico principal

das consultas. — A angústia gerada pela possibilidade de não  pagar o aluguel ou mesmo mesmo de não não comprar comprar comida comida  para a família família é gatilho gatilho para a depressão depressão — explica explica a psiquiatra Fátima Vasconcelos, da Santa Casa. — Alguns pacientes abandonam o tratamento por  falta de dinheiro até para as passagens de ônibus. ônibus.  É muito triste.  Já a advogada X., que pediu para não ser identificada, vive o impacto da crise na classe média. Casada com um engenheiro que está sem salário há mais de um ano, ela desenvolveu insônia e

depressão, mas abandonou as consultas com sua  psiquiatra por não ter como pagar: — Tenho rezado muito para me acalmar. Mas não consigo dormir sem medicamento.

© TEREZA BETTINARDI

COESÃO INTERNA E PARAGRAFAÇÃO 

 A alusão ao sofrimento de camadas menos favorecidas da sociedade e da classe média reforça a ideia já apresentada no início do texto de que a depressão atinge classes distintas.

SAIBA MAIS

 A IMPORTÂNCIA IMPORTÂNCIA DA COERÊNCIA COERÊNCIA E OS ELEMENTOS COESIVOS Um bom texto é aquele em que o leitor é conduzido à compreensão imediata. Para isso, ele deve ser coerente (apresentar nexo entre as ideias e sequências lógicas entre os termos e as frases) e coeso (interligar de modo claro esses elementos). A organização de um texto está atrelada à disposição dos termos nos períodos, à escolha do vocabulário, às substituições e às referências feitas, à conexão estabelecida entre os termos e à sequência lógica e progressiva. A coesão se dá por referência (normalmente com o uso de pronomes e conectivos) conectivos) e por sequência (em geral, marcadores temporais e verbos garantem essa continuidade continuidade lógica). Confira alguns elementos coesivos (e veja os exemplos no texto ao lado ): Por remissão: os pronomes estabelecem relações remissivas sem que se faça repetição de termos. Por substituição: um elemento substitui o outro sem prejuízo de sentido. Para isso, empregam-se sinônimos, por exemplo. Por repetição ou reiteração: confere sentido de ênfase e garante a unidade textual. Por contiguidade: estabelece unidade discursiva por apresentar elementos de um mesmo campo semântico. GE PORTUGUÊS ����

117

7

MODERNISMO

� POESIA MODERNISMO EM PORTUGAL

O poeta dos heterônimos Fernando Fernando Pessoa é o principal nome do Modernismo português

O

Modernismo português tem início oficialmente em 1915, com a publicação do primeiro número da revista Orpheu. O poeta Fernando Pessoa (1888-1935) integrava o grupo de escritores envolvidos no lançamento do periódico. Pessoa tornou-se um grande nome da literatura portuguesa do século XX por haver criado inúmeras teorias estéticas e diversos heterônimos (personalidades artísticas com estilo próprio) para assinar suas obras. As principais criações heteronímicas são Alberto Caeiro, um sábio homem do campo; Ricardo Reis, um amante da poesia clássica; e Álvaro de Campos, um engenheiro que trata dos avanços tecnológicos do início do século XX. Existem textos assinados pelo próprio Fernando Pessoa (trata-se da poesia ortônima), como é o caso da obra Mensagem (1934).

 ADVÉRBIO DE MODO Este advérbio reforça a intensidade do processo ficcional, capaz de transformar em objeto estético um elemento do mundo real. SENTIMENTO ESTÉTICO O poeta não expressa os sentimentos tal como percebidos individualmente, individualmen te, mas explora a sensibilidade por meio das palavras e cria um novo sentimento, de natureza estética. OBRA DE ARTE No jogo das palavras, o processo racional de composição trabalha com as emoções e cria uma obra de arte.

 Autopsicografia  Autopsicografia Fernando Pessoa O poeta é um fingidor.  Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor         A dor que deveras deveras sente.  E os que leem o que escreve, escreve,  Na dor lida lida sentem bem,  Não as duas que ele teve, teve,  Mas só a que eles não têm.  E assim nas calhas de roda roda        Gira, a entreter a razão,  Esse comboio de corda corda Que se chama coração. METALINGUAGEM O poema reflete sobre o fazer poético, criando mundos e realidades concebidos artisticamente.

O Guardador de Rebanhos Alberto Caeiro  IX   Sou um guardador guardador de rebanhos O rebanho é os meus pensamentos  E os meus pensamentos pensamentos são todos todos sensações.  Penso com os olhos e com os os ouvidos  E com as mãos mãos e os pés  E com o nariz nariz e a boca.  Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la cheirá-la  E comer um fruto é saber-lhe saber-lhe o sentido. sentido.  Por isso quando quando num dia de calor  Me sinto triste de gozá-lo gozá-lo tanto.  E me deito ao comprido na erva,  E fecho os olhos quentes, quentes,  Sinto todo o meu corpo deitado na realidade, SINESTESIA   Sei a verdade verdade e sou feliz. feliz.

É a figura de linguagem que mistura vários tipos de sensação em uma imagem – neste caso, a experiência tátil é associada ao órgão da visão. 118

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

O Eu Profundo e os Outros Eus, Nova Fronteira, 2006

HOMEM DO CAMPO  Alberto Caeiro é considerado considerado o mestre de todas as outras vozes poéticas de Pessoa. É o homem do campo que se aproxima da visão de mundo pagã e apresenta um pensamento lúcido, simples e sábio.





METÁFORA  O eu lírico considera que seus pensamentos, transitando livremente, são como animais de um rebanho. O universo campestre está presente até mesmo na criação das imagens poéticas. SENSAÇÕES  Alberto Caeiro não não é adepto de uma visão de mundo racionalizante. Para ele, o importante é o conhecimento do mundo por meio dos sentidos. FILOSOFIA DE VIDA   A exemplificação é um um dos principais recursos argumentativos empregados para concretizar uma ideia. Caeiro comprova sua filosofia de vida com a experiência de um dia ensolarado no campo.

METÁFORA 

Quando, Lídia Ricardo Reis

Quando, Lídia, vier o nosso outono Com o inverno que há nele, reservemos Um pensamento, não para a futura  Primavera , que é de outrem, outrem,  Nem para para o estio, estio, de quem somos somos mortos,  Senão para para o que fica do que passa O amarelo atual que as folhas vivem  E as torna diferentes



 As estações do ano apresentam-se metaforizadas metaforiz adas nas fases da vida do eu lírico.  A compreensão tranquila tranquila da vida é representada pela forma como o eu lírico compreende as etapas e fases que devem ser cumpridas como se apresentam.

Ricardo Reis era adepto do estoicismo, doutrina que propõe viver de acordo com a lei racional da natureza. Nos últimos versos, o comportamento sereno do eu lírico considera, sem juízo de valor, que cada momento da vida é diferente do outro.

 ALEGORIA E METAFÍSICA 

 A presença da cruz na porta é a representação da morte de Alves e do assombro do eu lírico diante da finitude da vida, tema metafísico por excelência.

Cruz na Porta da Tabacaria! Álvaro de Campos

Cruz  na  na porta da

tabacaria! Quem morreu? O próprio Alves? Dou  Ao diabo o bem-estar que trazia. trazia.  Desde ontem a cidade mudou.

MARCADORES TEMPORAIS



 Ele era era o dono da tabacaria. tabacaria. Um ponto de referência de quem sou  Eu passava passava ali de noite e de dia.  Desde ontem a cidade mudou.  Meu coração coração tem pouca alegria,  E isto diz que é morte morte aquilo aquilo onde onde estou. estou.  Horror  Horror fechado da tabacaria! tabacaria!  Desde ontem a cidade mudou.  Mas ao ao menos a ele alguém o via, via,  Ele era era fixo, eu, o que vou,  Se morrer, morrer, não falto, falto, e ninguém diria. diria.  Desde ontem a cidade mudou. Quando Fui Outro, Objetiva, 2006 © TEREZA BETTINARDI

CANÇÃO

Casa no Campo Zé Rodrix e Tavito

 Eu quero quero uma casa no campo Onde eu possa compor muitos rocks rurais  E tenha somente somente a certeza  Dos amigos do do peito e nada mais mais  Eu quero quero uma casa no campo Onde eu possa ficar no tamanho da paz   E tenha somente somente a certeza  Dos limites do corpo e nada mais (...)

ESTOICISMO

Quem era? Ora, era quem eu via. Todos os dias o via. Estou  Agora sem essa monotonia. monotonia.  Desde ontem a cidade mudou.

CONEXÕES

 A repetição reforça reforça a ideia de transformaç transformação ão na vida do eu lírico. É como se “desde ontem” houvesse a descoberta da temporalidade temporalid ade da vida e da sua insignificância nos centros urbanos.

SOLIDÃO E MODERNISMO



O tema da solidão é típico em Álvaro de Campos, que disseca a vida anônima nas grandes cidades.  A constatação de que ele também morrerá e não seria sequer notado o angustia e revela sua condição solitária.

 Eu quero quero o silêncio silêncio das das línguas línguas cansa cansadas das  Eu quero quero a esperança esperança de óculos  Meu filho filho de cuca legal legal  Eu quero quero plantar e colher com a mão mão  A pimenta e o sal  Eu quero quero uma casa no campo  Do tamanho ideal, pau a pique pique e sapé  Onde eu possa plantar meus amigos  Meus discos e livros  E nada mais mais  A canção acima retoma retoma a visão idealizada idealizada de que a vida vida no meio rural pode trazer mais felicidade que a vida no meio urbano. Assim como na poesia de Caeiro, no romance A Cidade e as Serras Serras ou nos poemas árcades, nota-se uma oposição implícita entre cidade e campo, com valorização da vida junto à natureza.

PARA IR ALÉM O Vento Lá Fora (2014) é um documentário sobre

a poesia de Fernando Pessoa, dirigido por Marcio Debellian. A cantora Maria Bethânia e a professora Cleonice Berardinelli, da Academia Brasileira de Letras (ABL), leem os versos do poeta. Elas apresentam a obra de Pessoa e destacam diversos aspectos, como os heterônimos. Manuscritos e imagens raras completam o filme. GE PORTUGUÊS ����

119

7

MODERNISMO

� POESIA MODERNISMO NO BRASIL

A poesia brasileira no século XX De Mário e Oswald de Andrade a João Cabral de Melo Neto, alguns dos nomes mais expressivos da produção poética do país no período

N

a primeira fase do Modernismo, o caráter revolucionário do movimento, assim como ocorre na prosa ( veja veja pág. 94 ), propõe uma renovação artística na poesia capaz de modificar os valores tradicionais da própria sociedade. Exemplo disso é a obra poética de Mário e Oswald de Andrade. Já Manuel Bandeira, Carlos Drummond de  Andrade e Vinicius de Moraes passaram pelo movimento modernista em quase toda sua extensão, com trajetórias bastante singulares. s ingulares. Para efeitos didáticos, muitas vezes os dois últimos são associados à segunda fase do movimento.  A partir de 1945, na terceira fase, a poesia tem maior apuro do verso, da palavra e do ritmo, contrariando o anarquismo inicial. Têm expressão João Cabral de Melo Neto e, na fase concretista, Décio Pignatari e os irmãos Haroldo e Augusto de Campos.

 Mário e Oswald de Andrade Andrade O poema Ode ao Burguês, de Mário de Andrade, apresenta os ideais da primeira geração g eração modernista e critica a vida materialista e limitada do mundo burguês. Mário de Andrade escreve de acordo com o programa estético estétic o do movimento, que reflete criticamente sobre o Brasil, com o objetivo de subverter a ordem vigente. No plano sonoro, o título do poema é pronunciado como “ódio ao burguês” e a burguesia (sobretudo a paulistana) torna-se o grupo social representativo dos costumes, da falta de preocupação com o país e da ostentação de bens materiais. O poema Vício na Fala, de Oswald de Andrade, questiona a norma culta e urbana como a única  variedade linguística aceitável. De acordo com os ideais modernistas de valorização dos saberes e da cultura popular, Oswald exalta a coloquialidade e a linguagem informal. O autor mostra as equivalências e a eficácia comunicativa da língua falada por grande parte dos brasileiros: as formas padronizadas (exemplificadas em

palavras como milho, melhor,  pior, telha e telhado ) são equiparadas às variantes populares ( mio mio, mió, pió, teia, teiado ) e, de modo crítico, o autor ressalta o fato de que o povo brasileiro brasilei ro é o  verdadeiro  verdadeiro responsá responsável vel pela construção construção do país. GE PORTUGUÊS  PORTUGUÊS ���� 120 GE

 AMBIGUIDADE

Ode ao Burguês Mário de Andrade

 Eu insulto o burguês! burguês! O burguês-níquel, o burguês-burguês!  A digestão bem-feita bem-feita de São Paulo! Paulo! O homem-curva! o homem-nádegas! O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, é sempre um cauteloso pouco a pouco!       

 Eu insulto as aristocracias aristocracias cautelosas Os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros! que vivem dentro de muros sem pulos; e gemem sangues de alguns mil-réis fracos  para dizerem dizerem que as filhas filhas da senhora senhora  falam o francês francês e tocam os “ Printemps” com as unhas!  Eu insulto o burguês-funesto! burguês-funesto! O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!  Fora  Fora os que algarismam os os amanhãs! Olha a vida dos nossos setembros!  Fará  Fará Sol? Choverá? Choverá? Arlequinal!

      

 Mas à chuva dos rosais o êxtase fará sempre Sol! (...) Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico! Ódio fundamento, sem perdão!  Fora!  Fora! Fu! Fora Fora o bom burgês!...  Pauliceia Desvairada, Desvairada, Edusp, 2003

CRÍTICA À BURGUESIA  O comedimento aristocrático, os títulos de n obreza e a imitação dos valores civilizatórios europeus são os principais elementos burgueses combatidos pelos ideais artísticos modernistas.

CONTRAPOSIÇÃO  Vale observar observar como este poema se contrapõe contrapõe às Liras de Tomás Antônio Gonzaga (e à canção Pelados em Santos; veja nas págs. 40 e 41), em que há uma defesa dos valores e bens burgueses para conquistar a mulher amada.

NOVOS VALORES  A intenção do poeta poeta é romper com os costumes costumes tradicionais e instaurar novos valores, menos exatos e equilibrados.

 A sonoridade presente no título provoca  ambiguidade: ode é um poema dedicado a explorar um tema  específico; no entanto, a expressão sugere também a leitura “ódio ao burguês” e enfatiza a crítica à burguesia.

NEOLOGISMO O poeta cria novos substantivos compostos: “burguês-níquel” explicita a relação entre a burguesia e o dinheiro; “burguês-burguês” reforça, por meio da repetição, os defeitos da burguesia.

MANIFESTO  A recorrência de frases frases exclamativas confere ao poema um caráter  de manifesto, isto é, de oposição a uma realidade estabelecida e de defesa de valores revolucionários.

LINGUAGEM COLOQUIAL  A valorização da linguagem coloquial é uma das marcas do Modernismo. O tom de combate e zombaria se vale de expressões populares de repúdio para combater os ideais  e valores da burguesia.

FALA POPULAR  A expressão, satirizada pelo poeta, revela originalmente uma concepção linguística normativa e prescritiva. Este poema, ao contrário contrário,, valoriza a fala popular e a linguagem coloquial.

CONEXÕES

Vício na Fala Oswald de Andrade

 Para  Para dizere dizerem m milho milho dizem dizem mio  Para  Para melhor dizem dizem mió  Para  Para pior pió  VARIAÇÃO LI LINGUÍSTICA  NGUÍSTICA   Para  Para telha dizem teia O humor e o poema que  Para  Para telhado dizem dizem teiado desconstrói a forma fixa ajudam a definir a estética oswaldiana. No fim do poema, mostrase como a variação linguística não impede a comunicação nem a transformação da realidade.

      

 E vão fazendo telhados 

ORALIDADE O autor se vale da oralidade do brasileiro comum para expor um retrato da realidade linguística nacional e, assim, legitimá-la.

CANÇÕES

 Burguesia Cazuza  A burguesia fede  A burguesia quer ficar rica  Enquanto houver houver burguesia  Não vai vai haver poesia  A burguesia não tem charme charme nem é discreta discreta Com suas perucas de cabelos de boneca  A burguesia quer ser sócia do Country  A burguesia quer ir a New New York York fazer compras (...) http://letras.mus.br/cazuza/43858/ 

NORMA-PADRÃO O início do poema mostra a norma gramatical sobre a colocação dos pronomes oblíquos (após o verbo, quando este vem no imperativo).

LINGUAGEM COLOQUIAL No dia a dia, em linguagem coloquial, em situações informais, colocamos o pronome antes do verbo no imperativo. O projeto modernista de Oswald incluía a valorização dos saberes populares nacionais.

 Pronominais Oswald de Andrade       

 Dê-me um cigarro cigarro  Diz a gramática gramática  Do professor e do aluno  E do mulato sabido  Mas  Mas o bom bom negr negroo e o bom bom bran branco co  Da Nação Nação Brasilei Brasileira ra  Dizem todos os dias dias  Deixa disso camarad camaradaa

 A canção, de modo semelhante ao poema de de Mário de  Andrade, faz uma crítica crítica explícita ao comportamento comportamento e aos valores da burguesia brasileira. Cazuza aponta os defeitos da sociedade burguesa e, assim como faziam os artistas do Modernismo, estabelece uma oposição entre os costumes tradicionais e a possibilidade do fazer poético. poético. A busca pelo dinheiro, a futilidade e o materialismo são, segundo o compositor compositor,, alguns dos principais defeitos dessa classe social.

Cuitelinho  Renato Teixeira Teixeira

      

 Me dá um um cigarro cigarro 

RELAÇÕES DESIGUAIS O poema registra as relações desiguais que existem e se afirmam por meio de imposição cultural.

SAIBA MAIS

LINGUAGEM COLOQUIAL COLOQUIAL Quando nos comunicamos com alguém no dia a dia, nosso principal objetivo é ser compreendido. Por isso, é preciso adequar o estilo (formal ou informal) à situação de comunicação. Todo Todo falante deve ter à disposição recursos formais para empregar em situações que exigem a norma culta, que é a forma escrita por excelência, padronizada pela gramática tradicional, mas também deve saber utilizar o estilo coloquial em ocasiões de menor formalidade. A linguagem coloquial caracteriza-se pelo uso de gírias, expressões idiomáticas e marcas da oralidade (expressões típicas da fala), entre outros.

Cheguei na beira do porto Onde as onda se espaia  As garça garça dá meia volta volta  E senta na beira da praia  E o cuitelinho não não gosta Que o botão de rosa caia, ai, ai (...)  A tua saudade saudade corta Como aço de naváia O coração fica aflito  Bate uma, a outra faia  E os óio se enche d´água Que até a vista se atrapáia, atrapáia, ai... http://letras.mus.br/renato-teixeira/298332/ 

Na letra de Cuitelinho, que tem origem em uma canção folclórica do Pantanal mato-grossense, nota-se o emprego e a valorização da variante popular da língua.  A presença de traços traços de oralidade (coloquialidade (coloquialidade e ausência de concordância) se assemelha às palavras e expressões utilizadas por Oswald de Andrade. GE PORTUGUÊS ����

121

7

MODERNISMO

� POESIA MODERNISMO NO BRASIL

 Manuel Bandeira Bandeira Poeta pioneiro do movimento modernista,

LEMBRANÇAS

Manuel Bandeira (1886-1968) (1886-1968) renovou as formas composicionais ao tratar de temas ligados, sobretudo, à passagem do tempo e às relações entre  vida e morte. morte. Tubercu Tuberculoso loso,, a sombra sombra da doença doença o acompanhou por toda a vida e deixou marcas em sua produção. O lirismo de Bandeira deu origem a alguns dos mais belos poemas em português, como os reunidos na obra Libert obra Libertinage inagem m (1930).

O poema remete ao contexto temporal das populares festas  juninas, responsáveis por despertar as lembranças do eu lírico.

 Profundamente Manuel Bandeira

Quando ontem adormeci       

 Na noite de São João João  Havia alegria alegria e rumor PONTUAÇÃO         Estrondos de bombas luzes de Bengala  A ausência de pontuação Vozes, cantigas e risos pretende explicitar o  Ao pé das das fogueiras fogueiras acesas fluxo de memórias do sujeito poético, ligadas à atmosfera de festa da noite passada (veja Saiba mais na pág ao lado).

 No meio da noite despertei  Não ouvi mais mais vozes nem risos  Apenas balões balões        PREDICADO  Passavam,  Passavam, errantes errantes

 VERBO-NOMINAL  A passagem dos balões é assinalada por um predicado verbonominal, que associa uma ação (“passavam”) a um predicativo do sujeito (“errantes”).

PASSADO E PRESENTE  As palavras dessa estrofe estrofe aparecem no fim do poema, mas com uma diferença: o verbo “estar” no passado (“ estavam estavam dormindo” ) remete à ideia de lembrança e, no presente (“ estão estão dormindo” ), ), à de morte.

INFÂNCIA  Na segunda parte do poema, o eu lírico trata de uma festa junina mais antiga, da sua infância.

 Silenciosamente  Apenas de vez em quando O ruído de um bonde Cortava o silêncio Como um túnel Onde estavam os que há pouco  Dançavam Cantavam  E riam  Ao pé das das fogueiras fogueiras acesas?       

– Estavam todos dormindo  Estavam todos deitados

 Dormindo  Profundamente.  Profundamente. ***

      

Quando eu tinha seis anos

 Não pude ver o fim da festa de São João João  Porque  Porque adormeci

PARALELISMO

 Hoje não ouço mais as vozes vozes daquele tempo  Minha avó avó  Meu avô avô Totônio Rodrigues Tomásia        PRONOMES  Rosa POSSESSIVOS Onde estão todos eles?

 As duas partes do poema começam com o advérbio “ quando quando” . Esse paralelismo objetiva relacionar as diferentes épocas da vida do sujeito.

PARA IR ALÉM O curta O Habitante de Pasárgada, Pasárgada, documentário sobre o poeta Manuel Bandeira, dirigido pelo escritor Fernando Sabino e por David Neves, está disponível no YouTube. Inspirado no poema Vou-me Embora pra Pasárgada, Pasárgada, mostra cenas do poeta no seu cotidiano. GE PORTUGUÊS  PORTUGUÊS ���� 122 GE

O eu lírico recorda, com saudade, os membros da família. Ao contrário das pessoas desconhecidas da festa do dia anterior (fato que assinala a solidão do eu lírico), os entes queridos são acompanhados por pronomes possessivos ou evocados afetivamente com nomes próprios.

– Estão todos dormindo  ADVÉRBIO DE MODO E DE INTENSIDADE  Estão todos deitados No fim da primeira parte

 Dormindo  Profundamente.  Profundamente.



do poema, o advérbio “profundamente” indica o modo de dormir das pessoas; no fim do texto, tem o sentido intensificado por estar ligado ao final da existência.

CONTRA AS CONVENÇÕES

 Poética  Poética Manuel Bandeira

 Estou farto do lirismo comedido comedido  Do lirismo bem-comportado bem-comportado  Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente  protocolo e manifestações manifestações de apreço ao Sr. diretor.  Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.  Abaixo os puristas puristas (...) Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbedos O lirismo difícil e pungente dos bêbedos O lirismo dos clowns de Shakespeare – Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.  Antologia Poética, Nova Fronteira, 2001.

SAIBA MAIS PONTUAÇÃO: A VÍRGULA  A pontuação é um recurso importante para reconhecer as intenções do autor do texto. Além de demarcar pausas na leitura e separar elementos de uma sequência, a vírgula tem outras funções: • Vocativo Quando a vírgula é usada após um vocativo (que expressa a quem o enunciador se dirige), indica um chamado: Mãe , só tem uma! uma! (por exemplo, na situação que o filho diz à mãe que só resta uma bolacha no pote). Sem a vírgula, teríamos: Mãe  só tem uma (a palavra mãe é o sujeito da sentença). • Acréscimo de informação  Ex.: O homem, que estava ouvindo a conversa do casal  , resolveu resolveu intrometerintrometer-se. se. Aqui, o trecho entre vírgulas é uma sentença informativa, que explica algo a respeito do termo O homem, da sentença principal. Sem o uso das vírgulas, o sentido se alteraria. Ex.: O homem que estava ouvindo a conversa do casal resolveu intrometer-se. Neste caso, o pronome relativo que exerce um papel restritivo, selecionando, de um conjunto possível de homens, aquele homem específico que ouvia a conversa do casal. • Indicação de circunstâncias A vírgula é usada para isolar advérbios ou expressões adverbiais de tempo, espaço, modo etc. Ex.: No inverno rigoroso do sul  , usamos roupas de lã. © TEREZA BETTINARDI



O autor se opõe ao comedimento do gosto burguês e das convenções poéticas tradicionais.

LIBERDADE FORMAL



O eu lírico condena o desejo de precisão e perfeição dos poetas parnasianos, que se preocupavam demais com o requinte do vocabulário.

REVOLUÇÃO ESTÉTICA   A arte moderna e a literatura literatur a modernista  exaltam a loucura e a sensibilidade.

INTERTEXTUALIDADE O poema dialoga com Ode ao Burguês, de Mário de Andrade ( veja na pág. 120), ao retrat retratar ar com ironia e rebeldia os valores burgueses de correção e ordem.

PONTUAÇÃO O eu lírico enumera as lembranças da infância, mas obedece ao uso de pontuação, empregando as vírgulas segundo a convenção escrita (por oposição ao poema de Bandeira).

SONORIDADE  A sonoridade do poema, representada pelas rimas, cria a impressão do fluir das lembranças e do movimento delicado do sujeito pelos caminhos da memória.

DIÁLOGO ENTRE OBRAS MEMÓRIA E LEMBRANÇAS A fuga no tempo e o retorno ao passado foram temas cultivados pelos poetas românticos da segunda geração (veja mais na pág. 54). 54). É o caso, por exemplo, de Casimiro de Abreu (1839-1860), que compôs poemas nos quais os tempos de infância foram valorizados como épocas de inocência e despreocupação. Em conformidade com a idealização e o sentimentalismo típicos do Romantismo, a saudade percorre o texto de Casimiro de modo muito mais explícito do que nas recordações de infância

registradas por Manuel Bandeira.

 Meus Oito Oito Anos Casimiro de Abreu

INFÂNCIA 

Oh! que saudades que tenho  Da aurora aurora da minha vida,  Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores,  Naquelas tardes tardes fagueiras  À sombra sombra das bananeiras, bananeiras,  Debaixo dos laranjais! laranjais! (...) Oh! dias da minha infância! Oh! meu céu de primavera! Que doce a vida não era  Nessa risonha manhã!  Em vez vez das mágoas de agora, agora,  Eu tinha nessas delícias delícias  De minha mãe as carícias  E beijos de minhã irmã!       

 Livre filho das montanhas,  Eu ia bem satisfeito, satisfeito,  Da camisa aberta o peito, peito, – Pés descalços, braços nus – Correndo Correndo pelas campinas  À roda das cachoeiras, cachoeiras,  Atrás  Atrás das asas ligeiras  Das borboletas azuis! azuis! (...) Oh! que saudades que tenho  Da aurora aurora da minha vida (...)

 A passagem definitiva do tempo é comum em textos que veiculam o discurso da saudade. Os fatos passados só podem ser vividos e recuperados por meio da memória.



PRONOMES POSSESSIVOS Os pronomes possessivos permitem ao autor apropriar-se não apenas de pessoas e objetos (acentuando a sua afetividade), mas dos fatos que narra e dos elementos naturais.

 As Primaveras, Primaveras, Martins Fontes, 1972.

GE PORTUGUÊS ���� 123

7

MODERNISMO

� POESIA MODERNISMO NO BRASIL

Vinicius de Moraes  Vinicius de Moraes (1913-1980) (1913-1980) foi poeta e compositor de canções. Em alguns momentos,  Vinic  Vinicius ius recupe recuperou rou a forma forma clássic clássicaa do soneto soneto;; em outras ocasiões, deu vazão aos sentimentos em  versos livres. livres. Na Na segunda segunda metade do século XX, participou de movimentos, como a bossa nova, que revolucionaram a música popular brasileira. Cecília Meireles  A poesia de Cecília Meireles (1901-1964), delicada e musical, tratou das mais diversas situações da existência humana, passageira e marcada por intensos momentos líricos. As  viagens realizadas, o contato com a natureza, a percepção sensível de detalhes do cotidiano e a compreensão das emoções humanas tornam Cecília Meireles uma das principais representantes da vertente espiritualista da segunda fase do Modernismo brasileiro. No extenso poema  Romanceir  Romanceiroo da da Inconfidênc Inconfidência ia, a artista se debruça sobre acontecimentos da história do Brasil.

ROSA DEVASTADORA   A tragédia de Hiroshima, Hiroshima, ocorrida no Japão durante a II Guerra Mundial, inspirou este poema. A imagem do cogumelo atômico que destruiu milhares de vidas é associada à figura de uma rosa devastadora.

 A Rosa de  Hiroshima

      

 Vinicius de Moraes Moraes

 Pensem nas crianças  Mudas telepáticas  Pensem nas meninas Cegas inexatas  Pensem nas mulheres  Rotas alteradas  VERBOS NO IMPERA IMPERATIVO TIVO  Pensem nas feridas Os verbos “pensem” Como rosas cálidas e “não se esqueçam”         Mas oh não se esqueçam  convocam os leitores do  Da rosa da rosa METÁFORA  poema (e os ouvintes da  Da rosa de Hiroshima  A metáfora da da rosa, música) à compaixão e à comumente associada  A rosa hereditária reflexão pelas vítimas da a situações de lirismo  A rosa radioativa bomba atômica. amoroso, é explorada em  Estúpida e inválida outro campo: o sujeito  A rosa com cirrose poético faz alusão  A antirrosa atômica à nuvem radioativ radioativa. a. (...)

EROTISMO SOMBRIO Neste poema, de inspiração surrealista, as formas da mulher são descritas por elementos distantes da idealização física, como se materializassem os sentidos aguçados e aterradores do eu lírico.

LEITURA SENSORIAL O erotismo transpira pelo vocabulário – herdeiro do Simbolismo – e conduz o leitor a uma dupla leitura sensorial.

 APROXIMAÇÃO DA MORTE  A experiência amorosa se aproxima da morte, não por idealização, como em tempos românticos, mas por volúpia e temporária perda da razão. razão .

ORAÇÕES COORDENADAS SINDÉTICAS Repare como as orações coordenadas sindéticas (que possuem a conjunção “e”) conferem maior dinâmica e agilidade ao poema. 124

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

 A Mulher na Noite Noite

      

 Vinicius de Moraes Moraes

(...) Eu estava imóvel – tu caminhavas  para mim como um pinheiro erguido  E de repente, não sei, me vi acorrentado no descampado, no meio de insetos         E as formigas me passeavam pelo corpo úmido.  Do teu corpo balouçante saíam cobras que se eriçavam sobre o meu peito  E muito ao longe me parecia parecia ouvir ouvir uivos de lobas. (...)        Uma angústia de morte começou a se apossar do meu ser  As formigas iam e vinham, os insetos  procriava  procriavam m e zumbia zumbiam m do meu deses desespero pero  E eu comecei a sufocar sob a rês que me lambia.  Nesse momento as cobras apertaram o meu pescoço         E a chuva despejou sobre mim torrentes amargas.  Eu me levantei e comecei a chegar, me parecia vir de longe         E não havia mais vida na minha frente.  Poesia Completa e Prosa Prosa , Nova Aguilar, 2004.

SONORIDADE É um elemento essencial neste poema. O ritmo acompanha a progressão rumo à revolta dos inconfidentes mineiros.  As rimas rimas tornam tornam a leitur leituraa fluida e auxiliam o seguimento da ação.  APROXIMAÇÃO  As ações sugerem a conspiração conspir ação que se arma.  A vigilância cria suspense suspense e aproxima o leitor dos personagens históricos. DETALHES Os detalhes espaciais e cotidianos são enfatizados em uma versão paralela à objetividadee do relato. objetividad SONS E IMAGENS  A poesia explora sons e imagens. Trata-se de um recurso frequente na corrente espiritualista da segunda fase modernista. HISTÓRIA Elementos históricos, como a derrama, o imposto que provocou a Inconfidência Mineira, estabelecem a ligação entre literatura e história.

DIÁLOGO ENTRE OBRAS

 Romanceiro  Romanceiro da Inconfidência Cecília Meireles       

 Através  Através de grossas grossas portas, sentem-se luzes acesas, – e há indagações minuciosas dentro das casas fronteiras:        olhos colados aos vidros, mulheres e homens à espreita, caras disformes de insônia,       vigiando as ações alheias.  Pelas gretas gretas das janelas,  pelas frestas das das esteiras, esteiras, agudas setas atiram a inveja e a maledicência.  Palavras  Palavras conjeturada conjeturadass oscilam no ar de surpresas, como peludas aranhas na gosma das teias densas, rápidas e envenenadas, engenhosas, sorrateiras. (...)

      

 Atrás  Atrás de portas fechadas, fechadas, à luz de velas acesas, uns sugerem, uns recusam, uns ouvem, uns aconselham.       

 Se a derrama derrama for lançada, lançada, há levante, com certeza. Corre-se por essas ruas?  Corta-se alguma cabeça?  Do cimo de alguma alguma escada,  profere-se alguma arenga?        Que bandeira se desdobra? PARTÍCULA “SE”  A expectativa sobre as Com que figura ou legenda? ações (indicadas por (...)

POETAS ÁRCADES  A retomada de de fatos históricoss do século histórico s éculo XVIII permite relacionar este poema à produção dos poetas árcades.

verbos acompanh acompanhados ados pelo “se” apassivador) conduz ao clímax da narrativa.

DISCURSO DIRETO O discurso direto é empregado para conferir maior concretude ao texto, de modo a favorecer a visualização das cenas.

      

 E diz o Poeta Poeta ao Vigário, Vigário, com dramática prudência: “Tenha meus dedos cortados        antes que tal verso escrevam”   LIBERDADE,  LIBERDADE, AINDA AINDA QUE TARDE, ouve-se em redor da mesa.  E a bandeira bandeira já está viva, viva, e sobe, na noite imensa. Editora Letras e Artes, 1965.

© TEREZA BETTINARDI

POEMAS SONOROS A sonoridade da poesia de Cecília Meireles permite o diálogo com a produção dos poetas simbolistas do fim do século XIX, como Cruz e Sousa (1861-1898). As inovações propostas pelo Simbolismo (como a exploração dos elementos sensoriais e a sondagem de aspectos oníricos e fantásticos) exerceram grande influência sobre as diversas correntes do Modernismo.

 Abelhas Cruz e Sousa 

      

Gotas de luz e perfume,         Leves, tênues, delicadas, delicadas,  Acesas no doce lume  De purpúreas purpúreas alvoradas. alvoradas. (...)   Nas doudejantes doudejantes abelhas Que dentre flores volitam  E do sol entre entre as centelhas  Resplen  Resplendem dem,, fulge fulgem, m, palp palpitam itam..  Zumbem  Zumbem,, fervem fervem nas colmeias colmeias  E rumorejam rumorejam no enxame enxame  Pelas flóridas flóridas aleias Onde um prado se derrame.  (...) Com as suas asitas finas,  De etérea de fluida gaze. gaze.  Ah! quanto são adoráveis adoráveis Os favos que elas fabricam! Com que graças inefáveis  Se geram, geram, se multiplicam. multiplicam. (...)  E nas ondas murmurosas murmurosas  Dos peregrinos peregrinos adejos Vão dar ao lábio das rosas O mel doirado dos beijos.

RIMA  Promove a fluidez do poema e contribui para as sugestões evocadas pelo eu lírico.  ALITERAÇÃO  A figura de linguagem linguagem que consiste na repetição intencional de consoantes (/l/) é responsável por intensificar o fluxo do voo das abelhas. IMAGENS  A intenção do sujeito sujeito poético é descrever as impressões causadas pelo movimento rápido das abelhas entre as flores. As imagens percebidas pelo sujeito poético em instantes líricos, carregados de elementos sensoriais e de musicalidade, são o ponto de partida de grande parte da poesia simbolista.

O Livro Derradeiro, 1961.

SINESTESIA  É a figura de linguagem que aproxima sensações diferentes. Neste verso, a luz (elemento visual) é aproximada do perfume (elemento olfativo).  ADJETIVOS  ADJETIVOS  A necessidade de registrar registrar as impressões do sujeito poético conduz à abundância de adjetivos para designar, com precisão, as percepções individuais.

GE PORTUGUÊS ����

125

7

MODERNISMO

� POESIA MODERNISMO NO BRASIL

Carlos Drummond de Andrade O poeta Carlos Drummond de Andrade (19021987) é um dos grandes nomes da literatura  brasileira. Os principais temas de sua vasta produção poética envolvem reflexões sobre o fazer literário, o papel desempenhado pelo poeta em sociedade, a infância e a família, as emoções e injustiças humanas, o conflito entre indivíduo e mundo. Lança seu primeiro livro,  Alguma Poesia, Poesia, em 1930. O estilo dos poemas, coloquiais, breves e irônicos, é influenciado pelos primeiros modernistas. No início da década de 1940, Drummond escreve poesias de fundo social, com um olhar crítico sobre o período entre a I e a II Guerras Mundiais, o que dá o tom do livro Sentimento livro Sentimento do Mundo Mundo,, de 1940. A partir dos anos 1950 (com a obra Claro Enigma ),  volta a registrar o vazio da vida humana e o absurdo do mundo.

SENTIMENTO E REFLEXÃO Em Claro Enigma, Drummond resgata a relação entre sentir e pensar proposta no Poema de Sete Faces (veja ao lado). Mas, aqui, o espaço da reflexão é bem maior. O poeta busca compreender o sentimento e reconhecer seus caminhos. Constata que não podemos fugir da condenação imposta pelo amor.

ENUMERAÇÃO Na busca incessante por amor,, o homem se sujeita amor a amar em condições adversas: o inóspito, o áspero, um vaso sem flor etc. A enumeração contribui para reforçar a busca fatigante por um amor incapaz de retribuição.

PONTUAÇÃO  As enumerações são intercaladas por vírgulas com o acréscimo da conjunção coordenada aditiva “e”. Após a vírgula, a leitura recebe uma segunda pausa, o que sugere um obstáculo a mais para transpor nessa busca.

IRONIA E EXPRESSÃO POPULAR O poema propõe observar os homens a partir do olhar contemplativo do boi.  A expressão popular “olhar bovino” sugere “olhar burro, estúpido”. No entanto, são os homens vistos sob o olhar do boi que parecem estúpidos, com sua imensa incapacidade de observar e compreender o essencial.

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

Carlos Drummond de Andrade

Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar? amar e esquecer, amar e malamar, malamar, amar, amar, desamar, d esamar, amar? sempre, e até de olhos vidrados, amar? Que pode, pergunto, o ser amoroso, sozinho, em rotação universal, senão rodar também, e amar? amar o que o amar traz à praia, o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha, é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?       

 Amar solenemente solenemente as palmas palmas do deserto, deserto, o que é entrega ou adoração expectante , e amar o inóspito, o áspero, um vaso sem flor, um chão de ferro , e o peito inerte, e a rua vista em sonho ,        e uma ave de rapina.  Este o nosso destino: destino: amor sem conta, conta, distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma completa ingratidão, e na concha vazia do amor a procura medrosa,  paciente, de mais e mais amor. amor.  Amar  Amar a nossa nossa falta falta mesma mesma de amor amor,, e na secur secura a nossa nossa amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

Um Boi Vê os Homens Carlos Drummond de Andrade

Tão delicados (mais que um arbusto) e correm e correm de um para o outro lado, sempre esquecidos de alguma coisa. Certamente, falta-lhes não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves, até sinistros. Coitados, dir-se-ia que não escutam nem o canto do ar nem os segredos do feno, como também parecem não enxergar enxergar o que é visível e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes e no rasto da tristeza chegam à crueldade. (...) Claro Enigma, Companhia das Letras, 2012

126

 Amar 

      

PROSOPOPEIA  Também chamada de personificação, esta figura de linguagem é usada para conferir ao boi, animal irracional, capacidade de reflexão. Percebe-se, no olhar do boi, uma piedade em relação à angústia humana de ser e de estar no mundo.

CONEXÕES

 Poema de Sete Faces Faces CANÇÃO

Carlos Drummond de Andrade       

Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

 As casas espiam espiam os homens que correm atrás de mulheres.  A tarde talvez fosse azul, azul, não houvesse tantos desejos.

PROSOPOPEIA 



PONTUAÇÃO

      

O bonde passa cheio de pernas:

 pernas brancas pretas amarelas. amarelas.

 Para  Para que tanta tanta perna, perna, meu Deus, Deus,  pergunta meu meu coração. coração.  Porém  Porém meus olhos não perguntam nada.







 Mundo mundo mundo vasto mundo, mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução.  Mundo mundo mundo vasto mundo, mundo, mais vasto é meu coração.  Eu não devia devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo.  Alguma Poesia, Poesia, Record, 2001

CONTRADIÇÕES Num diálogo invertido com o texto bíblico da  Anunciação, o anjo profetiza profetiza ao enunciador uma vida conflituosa. A imagem do artista desajustado reflete as contradições contradiç ões entre o sujeito poético e a sociedade.

METONÍMIA  Outra figura de linguagem é utilizada para reforçar o caráter de sensualidade do poema: as pernas (que representam as pessoas) chamam a atenção do eu lírico.

 A ausência de pontuação serve para intensificar o fluxo dos elementos enumerados.

PERSONIFICAÇÃO  A observação de detalhes detalhes do cotidiano dá origem a novas personificações (prosopopeia): o coração do eu lírico faz perguntas (a imagem do coração também é representativa da totalidade da pessoa), ao contrário dos olhos.

O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucos, raros amigos o homem atrás dos óculos e do bigode.  Meu Deus, Deus, por que me me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco.

Esta figura de linguagem, também chamada de personificação, personific ação, é usada para conferir às casas (objetos inanimados) a capacidade de ver (característica (caracter ística humana).

GRANDEZA DO MUNDO O conflito entre a pequenez do indivíduo e a grandeza do poder divino reforça a oposição entre sujeito e mundo, recorrente nos poemas de Drummond que tratam do papel do poeta na sociedade.

 Até o Fim Chico Buarque

Quando eu nasci veio um anjo safado O chato dum querubim  E decretou que eu estava predestinado  A ser errado errado assim  Já de saída a minha estrada estrada entortou  Mas vou vou até o fim  Inda  Inda garoto deixei de ir à escola escola Cassaram meu boletim  Não sou ladrão, ladrão, eu não sou sou bom de bola  Nem posso posso ouvir clarim Um bom futuro é o que jamais me esperou  Mas vou vou até o fim  Eu bem que tenho tenho ensa ensaiado iado um progr progresso esso Virei cantor de festim  Mamãe  Mamãe contou que eu faço faço um bruto sucesso  Em Quixeramobim Quixeramobim  Não sei como como o maracatu maracatu começou  Mas vou vou até o fim (...)  Não tem cigarro acabou acabou minha renda renda  Deu praga praga no meu meu capim  Minha  Minha mulhe mulherr fug fugiu iu com o dono dono da venda venda O que será de mim ?  Eu já nem lembr lembroo pro pronde nde mesmo mesmo que vou  Mas  Mas vou vou até o fim fim Como já disse era um anjo safado O chato dum querubim Que decretou que eu estava predestinado  A ser todo ruim  Já de saída a minha estrada estrada entortou  Mas vou vou até o fim Nesta canção, Chico Buarque retoma a imagem do sujeito gauche – desajustado e deslocado socialmente –, proposta por Drummond no Poema de Sete Faces. O sujeito poético é um indivíduo problemático e nada exemplar,, cuja vida foi marcada sucessivamente exemplar por fracassos e decepções. Uma vez mais, o conflito entre personagem e o mundo serve de tema para a construção de obras de arte, nas quais aparecem concretizadas concretiz adas situações de derrota e persistência.

GE PORTUGUÊS ����

127

7

MODERNISMO

� POESIA MODERNISMO NO BRASIL

METALINGUAGEM

 João Cabral de Melo Melo Neto Em razão de seu estilo estil o meticuloso, João Cabral de Melo Neto (1920–1999) recebeu a denominação de “engenheiro das palavras”. Sua expressão poética norteou-se pelo raciocínio rigoroso, buscando o universo dos objetos, paisagens e fatos sociais, numa constatação objetiva da realidade, em vez do sentimentalismo do “eu”, o que levou l evou a crítica a considerar sua poesia “antilírica”. Entre as principais obras estão Pedr estão  Pedra a do Sono, Sono, teatral  Morte  A Educação Educação pela Pedr Pedra a e a peça teatral Mor te e Vida Severina (1955). Severina (1955).

Tecendo a Manhã João Cabral de Melo Neto       

Um galo sozinho não tece a manhã: ele precisará sempre de outros galos.         De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro: de um outro galo que apanhe o grito que um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo Concretismo  para  para que a manhã, manhã, desde uma teia tênue, tênue, O Concretismo surge em São Paulo, em 1956, se vá tecendo, entre todos os galos. com a Exposição de Arte Concreta. Consiste em um movimento que explora o grafismo e  E se encorpando encorpando em tela, tela, entre todos , as formas visuais da escrita, constituindo uma se erguendo tenda, onde entrem todos , ruptura radical com o lirismo. O experimen- se entretendendo para todos , no toldo talismo e a eliminação dos traços sintáticos (a manhã) que plana livre de armação.  buscavam  buscavam expandir expandir os sentidos da poesia, in-  A manhã, manhã, toldo de um tecido tecido tão aéreo aéreo corporando o signo visual como elemento de que, tecido, se eleva por si: luz balão. significação, multiplicando as possibilidades de  A Educação pela pela Pedra Pedra, Alfaguara, 2008. sentidos. Destacam-se Décio Pignatari e os irmãos Haroldo e Augusto de Campos. ENGENHARIA GRAMATICAL E RUPTURA 

Os dois primeiros versos apresentam estrutura sintática tradicional: sujeito, verbo e complemento; já os cinco seguintes quebram essa convenção, e as orações são interrompidas e retomadas nos versos seguintes, inclusive com alguns termos apenas subentendidos.

DESMONTAGEM

O poema explora a palavra, de forma fria e crítica, longe do lirismo tradicional – assim como faz João Cabral em Tecendo a Manhã. O autor parte do famoso slogan Beba Coca-Cola, o qual é desmontado e remontado várias vezes, para que nele seja encontrado o significado que o poeta vê por trás da propaganda do refrigerante.

128

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

COCA-COLA Décio Pignatari

 BEBA  BEBA COCA COCA COL COLA A  BABE  BABE COLA COLA  BEBA COCA  BABE COLA CACO CACO CACO COLA   CLOACA

O verso dialoga com o ditado popular “uma andorinha sozinha não faz verão”. verão”. A poesia é comparada a uma teia (ou tecido), que vai sendo costurada pelos fios poéticos (galos), como um verdadeiro tricô e crochê.

LEITURA

Pode se dar em diferentes sentidos, como cola (vício), caco (sem qualidade), babe (alienação do consumidor). Assim, o produto não deveria, pela leitura do poeta, ser ingerido pela boca, mas lançado à cloaca (fossa, esgoto).



PRONOME RELATIVO “QUE”

Cada termo omitido aparece na oração seguinte, diretamente ou retomado pelo pronome relativo que, introdutor das orações subordinadas adjetivas, que garantem a coesão do texto. 

NEOLOGISMO

Os termos destacados demonstram o processo pelo qual a manhã nasce: entre (preposição), entrem (verbo) e o neologismo entretendendo (soma de ambos), associados a todos, simbolizam o entrelaçamento dos fios, formando o tecido (manhã).

INTERTEXTUALIDADE O poema dialoga com Procura da Poesia

DIÁLOGO ENTRE OBRAS

Catar Feijão

O FAZER POÉTICO O poema de Drummond trata dos procedimentos ligados ao fazer poético. Assim como João Cabral, o autor orienta seus leitores (alunos) a não se preocuparem com fatores externos ao escrever, como se o poema fosse um “manual prático de poesia”. Nos dois poemas, a preocupação com a importância da linguagem para a construção da poesia é a mesma; as palavras, assim como o próprio verso, têm seu objetivo próprio, não precisam de elementos externos nem do estado emocional do poeta.

João Cabral de Melo Neto

(ao lado), evidenciando uma preocupação com a seleção rigorosa das palavras para o ato de escrever.

 1. Catar feijão se limita com escrever:  joga-se os grãos grãos na água do alguidar        METALINGUAGEM e as palavras na folha O poeta compara de papel; metaforicamente o ato e depois, joga-se fora de escrever ao de catar (escolher) os feijões o que boiar. (palavras) antes de Certo, toda palavra prepará-los, prepar á-los, para que boiará no papel, o cozido (poesia) não água congelada, por contenha impurezas, chumbo seu verbo: que alterariam seu sabor sabor..  pois  pois par para a catar catar esse esse feij feijão ão,, soprar nele, METÁFORA         e jogar fora o leve e oco,  As palavras leves são  palha e eco. eco. secas como a palha: devem ser sopradas; as que boiarem sobre a água (folha de papel) são ocas e sem expressividade, devem ser lançadas fora; as que afundarem são pesadas, têm significação profunda, portanto, darão vida à poesia, sem artificialismos. Essa metáfora metáfor a expressa bem a “dureza” poética de João Cabral, afastada do sentimentalismo.

 Proc  Procur ura a da Poesi oesia a Carlos Drummond de Andrade

FUNÇÃO APELATIVA   Verbos no imperativo  Verbos lembram os preceitos e recomendações dos antigos tratados de poética e reforçam o caráter de texto instrucional.

(...)  Penetra  Pen etra surdamente no reino

das palavras.  Lá estão os poemas que esperam esperam  2. ser escritos.  Estão paralisados, paralisados, mas mas não Ora, nesse catar feijão entra um risco: há desespero, o de que entre os grãos há calma e frescura frescura na superfície  pesados  pesados entre entre intacta. PROSOPOPEIA  um grão qualquer, pedra  Ei-los sós sós e mudos, em estado  A personificação dos poemas confere a eles ou indigesto, de dicionário.        status de seres vivos, Convive com teus poemas, antes um grão imastigável, de ideia reforçada pela de escrevê-los esc revê-los.. quebrar dente. retomada por meio de Certo não, quando ao T em paciência se obscuros. Calma, pronomes relativos, se te provocam. catar palavras: o que conota que nem todos os poemas estão a pedra dá à frase seu  Espera  Espera que cada um se realize realize e consume consume prontos para ser escritos;  grão  grão mais mais vivo: vivo: com seu poder de palavra a poesia seria um s er er,, obstrui a leitura fluviante, e seu poder de silêncio. com vontade própria.  flutual,  flutual, (...) açula a atenção, isca-a       Chega mais perto e contempla as palavras. POLISSEMIA  como o risco. Cada uma tem mil faces secretas sob a face O sujeito poético faz neutra referência à polissemia  Poesias Completas Completas, e te pergunta, sem interesse pela resposta, das palavras e à multiplicidade de José Olympio, 1986.  pobre ou terrível, terrível, que lhe deres: deres: significações conforme o Trouxeste a chave? contexto de emprego. (...) TEXTO INSTRUCIONAL

 A preferência por uma organização sintática extremamente didática, em forma de explicativas (uso constante de “:”), convida ao processo da elaboração poética, como se o poeta fosse realmente um professor conduzindo seus alunos à investigação do objeto, no caso, a própria poesia, o que torna o texto, também, instrucional.

© TEREZA BETTINARDI

 A Rosa Rosa do Povo Povo, Record, 2001.

GE PORTUGUÊS ����

129

7

COMO CAI NA PROVA

1. (UFAL 2014 ADAPTADA)

2. (FUVEST 2015)

Onde nasci, morri Onde morri, existo E das peles que visto muitas há que não vi.

Como sabemos, o efeito de um livro sobre nós, mesmo no que se refere à simples informação, depende de muita coisa além do valor que ele possa ter. Depende do momento da vida em que o lemos, do grau do nosso conhecimento, da finalidade que temos pela frente. Para quem  pouco leu e pouco sabe, um compêndio de ginásio pode ser a fonte reveladora. Para quem sabe muito, um livro importante não passa de chuva no molhado. Além disso, há as afinidades profundas, que nos fazem afinar com certo autor (e portanto aproveitá-lo ao máximo) e não com outro, independente da valia de ambos.

Sem mim como sem ti  posso durar. Desisto de tudo quanto é misto e que odiei ou senti.

CANDIDO, Antonio. Dez livros para entender o Brasil. Teoria e debate. Ed. 45, 01/07/2000.

Nem Fausto nem Mefisto, à deusa que se ri deste nosso oaristo, eis-me a dizer: assisto além, nenhum, aqui mas não sou eu, nem isto.  ANDRADE,  ANDRADE, Carlos Drummond Drummond de. Sonetil Sonetilho ho do Falso Falso Fernan Fernando do Pessoa. Pessoa.In Claro Enigma. ed. 10. Rio de Janeiro: Record, 2001.

O poema acima integra o livro Claro Enigma, de 1951, obra em que Carlos Drummond de Andrade opera uma mudança de direção em relação à sua tr ajetória poética anterior, mais ligada ao engajamento social, como se evidencia num livro como  A Rosa do Povo. Diante disso, é correto afirmar que o autor:

a) Elabora uma rede intertextual com a obra de Fernando Pessoa, poeta representante da segunda geração romântica brasileira, ao fazer referência à “falsidade” da poesia, evidente no último verso. b) Nega a estética do Modernismo, movimento a que se pode associar Drummond, ao fazer uso do soneto, uma forma poética fixa, muito comum em movimentos como o Barroco, Arcadismo e Romantismo. c) Representa a dificuldade do homem moderno em se estabelecer enquanto uma unidade e o consequente estado de depressão que esse fato acarreta, evidenciado nos dois p rimeiros versos. d) Dialoga, por meio de versos como “E das peles que visto/ muitas há que não vi”, vi”, com a heteronímia de Fernando Pessoa, fenômeno pelo qual o poeta português se multiplicava em outros poetas, cada um com personalidade diversa da dos outros. e) Oferece uma visão poética das dificuldades de entendimento entre variantes da língua portuguesa, uma vez que Drummond é brasileiro e Fernando Pessoa, português.

RESOLUÇÃO O poeta se multiplica, como podemos observar nos primeiros versos do texto ( “E das pele s que visto...”) visto...”) e ao longo do poema. E o diálogo com Dizem que finjo ou minto , de Fernando Pessoa é explícito: Dizem que finjo ou minto/ Tudo que e screvo. Não./ Eu simplesmente sinto/ Com a imaginação./ Não uso o coração. Quanto às alternativas incorretas: incorretas: a) Fernando Pessoa não é representante da segunda geração romântica; b) o Romantismo era marcado pela liberdade formal, não sendo comum o uso de sonetos; c) os primeiros versos não trazem traços de depressão, como afirmado na questão; e e) o poema não discute as diferentes variantes linguísticas e não explora o tema em nenhum momento. Resposta: D 130

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

Constitui recurso estilístico do texto I. a combinação da variedade culta da língua escrita, que nele é predominante, com expressões mais comuns na língua oral; II. a repetição de estruturas sintáticas, associada ao emprego de vocabulário corrente, com feição didática; III. o emprego dominante do jargão científico, associado à exploração intensiva da intertextualidade. Está correto apenas o que se indica em a) I. b) II. c) I e II. d) III. e) I e III.

RESOLUÇÃO [I] Verdadeiro. Tanto o registro culto (por exemplo, “um compêndio de  ginásio”   ginásio” ) quanto o informal ( “não passa de chuva n o molhado”  molhado” ) estão presentes no trecho, apesar do predomínio do primeiro; [II] Verdadeiro. O paralelismo sintático (repetição de uma estrutura gramatical), de sentido didático, está presente em “Para quem (prepo sição + pronome pronome relativo) relativo) pouco leu (verbo (verbo + advérbio) e pouco pouco sabe, um compêndio de ginásio pode ser a fonte reveladora. Para quem (preposição + pronome relativo) sabe muito (verbo + advérbio), um livro importante não passa de chuva no molhado.”  [III] Falso. Não há ocorrência de vocabulário científico ou presença intensiva de referências a textos exteriores ao escrito. Resposta: C

3. (UFES 2016)  As f rases a seguir compõem um fragmen to de te xto de d e Sírio Possenti� e estão fora da ordem em que aparecem no texto original. Considerando as noções de coesão e coerência tex tual, organize-as de forma que o texto daí restante produza sentido.

- A trama é a seguinte: um repórter desempregado aceita empre go novo, responder à correspondência correspondên cia das leitoras de uma revista fefe minina. Um tal Pedro Redgrave, no entanto, estab elece com ele uma corres pondência mais sólida. Car tas e respostas se sucedem. “Corações solitários” é um dos bons contos de Rubem Fonseca.  Até que um dia o repórter descobre descobre que Pedro Redgrave é de fato seu chefe. As razões pelas quais lhe escreve são ambíguas, e nisso reside o interesse principal do conto. Leiam. É ótimo.

RESUMO

Literatura Literatura do Modernismo – Poesia  Assina com nome nom e feminino, feminino , para permitir p ermitir a necessária confiança e dar credibilidade ao trabalho. Recebe cartas de todos os tipos – quer dizer, de pouquíssimos tipos, são as mesmas coisas de sempre – e dá respostas estereotipadas sobre como cuidar de filhos, de filhas, de maridos, de amantes, da saúde etc. POSSENTI, SÍRIO. Gramáticos Solidários. In: ______. Mal comportadas línguas . Curitiba: Criar, 2000. p. 75. POSSENTI,

¹ 

RESOLUÇÃO A coesão é o mecanismo que articula os elementos linguísticos (palavras e frases) no texto. A coerência permite a organização das ideias no texto, de modo que ele faça sentido. Para resolver essa questão, você precisaria fazer diferentes tentativas de ordenar as informações. A ordem dos parágrafos seria a seguinte: terceiro, primeiro, quinto, segundo e quarto.

4. (ITA 2013 ADAPTADA) Edison não conseguia se concentrar de jeito nenhum. Tinha sempre dois ou três empregos e passava o dia indo de um para outro. Adorava trocar mensagens, e se acostumou a escrever recados curtos e constantes, às vezes para mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Apesar de ser um cara mais inteligente do que a média, sofria quando preci sava ler um livro inteiro. (...) Se identificou? Claro, quem não tem esses  problem as? Passar Pass ar horas ho ras no twitte r ou no celular, celu lar, corre r de um lado lad o  para o o utro e ter pouco tempo disp onível para tantas coisas qu e você tem que fazer são dramas que todo mundo enfrenta. Mas esse não é um mal do nosso tempo. O rapaz da história aí em cima era ninguém menos que Thomas Edison, o inventor da lâmpada. A década era a de 1870 e o aparelho que ele usava para mandar e receber mensagens , um telégrafo. O relato (...) conta que quando Edison finalmente percebeu que seu problema era falta de concentração, parou tudo. Se fechou em seu escritório e se focou em um problema de cada vez. A partir daí, produziu e patenteou mais de 2 mil invenções. (...) Gisela Blanco. Superinteressante , julho/2012

O emprego da vírgula no trecho, “A década era a de 1870 e o aparelho que ele usava para mandar e receber mensagens, um telégrafo”, é semelhante em:

a) Para quem busca uma diversão na tarde de domingo, este filme é o mais recomendado. b) Ainda que não sejam os de menor custo, os alimentos orgânicos são os mais indicados pelos nutricionistas. c) O professor de desenho prefere os alunos criativos e o de lógica, os ousados na teoria. d) Os testes de QI (Quociente de Inteligência), atualmente, são desacreditados por diversas correntes teóricas da Psicologia. e) Pôr circuitos eletrônicos em envoltórios é uma prática comum, conhecida como encapsulamento. RESOLUÇÃO

MODERNISMO EM PORTUGAL Tem

início em 1915, com o

lançamento da revista Orpheu. O grande nome do movimento é o poeta Fernando Pessoa, criador de di versos heterônimos.

MODERNISMO NO BRASIL A adoção da forma livre de construção dos versos e a reflexão crítica sobre a realidade brasileira marcam as obras dos modernistas da primeira geração, como Mário de Andrade e Oswald de Andrade. • Poetas singulares  Três nomes passaram pelo movimento em quase toda a sua e xtensão: Manuel Bandeira, cujos poemas abordam aspectos ligados à existência humana; Carlos Drummond de Andrade, que fez reflexões metalinguísticas da realidade estilhaçada do século XX; e V inicius de Moraes, autor de sonetos sobre a temática amorosa. Além deles, vale destacar os seguintes poetas modernistas: • Cecília Meireles A autora de Romanceiro da Inconfidência destaca-se pelo fazer poético lírico e musical. • João Cabral de Melo Neto  A racionalidade pode ser entrevista na meticulosidade dos detalhes com que constrói seus poemas.

GRAMÁTICA E INTERPRETAÇÃO • Coesão e coerência Coesão é a articulação das palavras e frases que formam o texto, enquanto coerência é a articulação das ideias no texto, de modo a promover a continuidade do sentido. • Linguagem coloquial Usada no dia a dia, caracteriza-se pelo uso de gírias, expressões idiomáticas (sequências de palavras que não fazem sentido quando entendidas em seu significado literal) e marcas de oralidade (usos da língua comuns em conversas cotidianas, como a abreviação de verbos). • Língua culta padrão Usada em ocasiões formais e em textos escritos, caracteriza-se pela correção gramatical. emp regada para demarcar • Pontuação A vírgula, além de ser empregada pausas na leitura ou para separar elementos de uma sequência, pode alterar o sentido de um texto.

• Ambiguidade É quando uma sentença permite mais de um sentido. Pode ser intencional, para criar um efeito de humor ou ironia. Ex.: O rapaz bateu no homem com a bengala  (o homem que tinha a bengala ou a b engala como objeto para atacar o homem).

Na frase “A década era a de 1870 e o aparelho que ele usava para

mandar e receber mensagens, um telégrafo”, telégrafo”, a vírgula é utilizada para indicar a elipse (supressão) do verbo – no caso o verbo “era”. “era”. O mesmo acontece em “O professor de desenho prefere os alunos criativos e o de lógica, os ousados na teoria”, com a supressão do ve rbo “prefere”. “prefere”.

• Metalinguagem É a função da linguagem que usa o código (a língua) como assunto ou explicação para o próprio código. Em Tecendo Tecendo a Manhã, João Cabral compara a poesia a uma teia.

Resposta: C GE PORTUGUÊS ����

131

RAIO X DECIFRE OS ENUNCIADOS E VEJA AS CARACTERÍSTICAS TÍPICAS DAS QUESTÕES QUE CAEM NAS N AS PROVAS

PEFGV DIREITO ����

DICAS PARA A RESOLUÇÃO

Exam ne a seg Exam segu u nte mensagem publicitária [2] de uma empresa do ramo de construção civil:

A Veja o desenho: ele mostra um viaduto projeta

o com leveza – as curvas e as colunas vazadas in icam o cui a o na e a or oraação o pr prooje jeto to..

Olhe novamente para o anúncio e observe a sobreposição de imagens, formando uma unidade. possível notar que há uma fotografia do projeto (que representa a realidade) junto com o seu desenho. Isso revela que o projeto  foi concluído com eficácia eficácia e da forma como foi foi anteriormente planejado. A fusão das imagens também pode ser entendida como um sonho realizado, como algo que se concretizou.  Agora preste  Agora preste atenção atenção no s ogan a campan campan a, registr reg istraa o em etr etraa manusc manuscrita rita na parte o e senho, representando representando o pro eto, e em letra letra tipo  gráfica  gr áfica sobr sobree a fotog fotogra rafia, fia, refo reforça rçando ndo a ideia da realidade que “saiu do papel”. Assim, a frase e a imagem se completam na ideia de mostrar a eficiência da empresa de construção civil. B A segunda parte da questão é dedicada à aná

Valor Setorial, junho de 2015.

a) Tanto a frase quanto a imagem que compõem essa propaganda estão divididas, visualmente, em duas partes 3 . Explique resumidamente a relação a relação de sentido 1 que existe entre imagem e frase, em cada uma das duas partes. b) Identifique algum recurso expressivo, expressivo, sintático ou semântico, presente na frase do anúncio.  É comum o Enem e os demais vestibulares pedirem em suas provas pelo menos uma questão que envolva a leitura de imagem (fotografia, ilustração, charge, tirinha etc.) e a relação de sentido que ela estabelece com o texto que a acompanha.  Aqui temos um anúncio publicitário, publicitário, que funde funde numa mesma mesma imagem um desenho desenho e uma fotografia. 3 Note que a própria questão chama a atenção para as “duas partes” do anúncio (as

duas imagens e os dois tipos de letra). 132

GE PORTUGUÊS ����

lise da rase. Observe que o ogo de imagem  proposto entre a fotografia fotografia e o desenho ganha contornos linguísticos também. A repetição das  pa avr avras as “pape ” e “proj “projeto” eto” rev revee am ao mesmo tempo polissemia (muitos sentidos) e mudança morfossintática (as palavras desempenham  funções diferentes em cada parte da frase). frase).  Na primeira oração, oração, “papel” desempenha a

 função de sujeito e indica trab trabalho. alho. Na segunda oração, papel relaciona-se com a palavra proje to e desempenha a função de adjunto adverbial.

Com a palavra projeto, ocorre o mesmo. Na  primeira oração, o sentido sen tido é de sonho. son ho. É im  portante perceber que ela aparece no nal, ocal destinado aos termos acessórios, como o adjunto adverbial. Já na segunda oração,  projeto foi empregado no sentido de plano ou  planejamento e logo após um verbo verbo transitivo transitivo direto (tirar) o que nos faz perceber que sua  função é a de objeto objet o direto.

INSPER ����

DICAS PARA A RESOLUÇÃO

Observe que a tirinha utiliza a terceira estrofe do poema de Drummond. As sete faces do título correspondem às sete estrofes, cada uma delas mostrando uma face diferente do poeta.  A questão pede a análise análise de três afirmações afirmações distintas para, depois, assinalar uma entre cinco alternativas. Portanto, é preciso avaliar cada uma um a das das a rm rmaç açõe ões. s.

Poema e Sete Faces Quan o nasci Quan nasci um anjo tor torto to desses que vive na sombra disse: Vai, Carlos! Ser gauche 1 na vida.

Meu Deu Meu Deus, s, por por qu que e me me a an ona onast ste e  se sabias sabias que que eu não não era Deus  se sabias sabias que que eu era era rac raco. o.

 As casas casas espiam espiam os os homens homens Que correm atrás de mulheres.  A tarde tarde talvez talvez fosse fosse azul  azul  Não houvesse tantos desejos.

Mundo mundo vasto mundo,  se eu me me chamasse chamasse Raimund Raimundo o  seria uma rima, rima, não não seria uma solução solução.. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração.

O bonde passa cheio de pernas: Pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus,  pergunta  pergu nta meu cora coraçç o. Porém meus olhos não perguntam nada. O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucos, raros amigos o homem atrás dos óculos e do bigode.

Eu n o ev evia ia te iz izer  er  mas essa ua mass esse ma esse con con aq aque ue otam ot am a ge gente nte co como movi vi o co como mo o ia o. Carlos Drummond de Andrade

(1) A palavra francesa (pronuncia-se “gôche”) era

uma gíria usada por jovens da classe média ur bana para rotular indivíduos tidos como arredios,

esquisitos, inadaptados.

 A respeito respeito do do jogo jogo intertextual [1] estabelecido entre a tirinha e o poema, considere estas est as a irm irmaçõ ações: es: I. Os três t rês primeiros quadrinhos ilustram o conteúdo expresso nos versos da segunda estrofe 2  do poema de Drummond. II. Como a tirinha faz uma citação do poema, é possível caracterizá-la como pertencente ao mesmo gênero do texto de Drummond. III. O silêncio da personagem, presente presente no último quadrinho da tira, ilustra o conteúdo expresso na última estrofe do poema. Está(ão) correta(s): a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e II. d) Apenas III. e) Apenas I e III.

 A questão sinaliza para a relação intertextual – ou seja – como um texto pode dialogar com outro. No caso, uma tirinha e um poema. Quando há relação entre textos, devemos ficar atentos, por exemplo, se há apropriação da ideia e/ou da forma e se há alteração do sentido (muitas vezes com vistas ao humor).

 I A primeira é correta, pois, de ato, os três  primeiros quadrinhos, quadrinhos, apesar de repetir repetirem em a terceira terceir a estro e do poema, ilustram ilustram os versos a segunda estrofe. As ações do rato, por meio e um processo de personificação, representam os atos dos homens (Que correm atrás e mulheres.)  II) A segu segunda nda afirm afirmação ação é inco incorret rreta, a, pois tr trata-se ata-se e dois gêneros textuais distintos – tirinha e  poema – con con orme o próprio próprio enuncia enunciado do havia havia in ormad ormado. o. E não é pelo ato de um gênero gênero textual azer citação a outro outro que eles eles passam a pertencer pertencer ao mesmo mesmo g ner nero. o.

 III) A terceira te rceira afirmação pede inter interpretação pretação da imagem (último quadrinho) e do texto (última estrofe). Para isso, é preciso analisar toda a tirinha. A imagem do rato, ainda no segundo e terceiro quadrinhos, revela que a intenção dele era a de bisbilhotar as mulheres  fazendo uso de sua posição privilegiada. A comparação do olhar do rato e das sensações que esse olhar sugere se opõe ao conteúdo da terceir terceira a estro e tanta perna, meu Deus,  pergunta meu coração/Por coração/Porém ém meus olhos não perguntam nada) que sugere incômodo e/ou angústia. No último quadrinho, o silêncio do rato com o olho machucado não revela comoção, mas sim o efeito da possí  vel agressão das mulheres que se sentiram incomodadas com os seus olhares. Dessa  forma, não não ilustra ilustra a comoção comoção assinalada assinalada no último verso da canção. Portanto, a terceira a rma rmação ção ta també mbém m é als alsa. a. Como a única única a rmaç rmação ão correta correta é a I, I, a alterna alterna tiva correta a A.

Note que, apesar da terceira estrofe do poema ter sido utilizada na tirinha, a afirmação se refere à segunda estrofe. GE PORTUGUÊS ����

133

SIMULADO QUESTÕES SELECIONADAS ENTRE OS MAIORES VESTIBULARES DO PAÍS COM RESPOSTAS COMENTADAS COMENTADAS

1. (UFSM 2015)

2. (Mackenzie 2015)

Fonte: BECK, A. Armandinho Dois. Dois. Florianopolis, 2014, p. 18. (adaptado)

Os bebês nascem com instintos que os ajudam a sintonizar rapidamente rapidamente os ritmos a fala e a gramática. São muito sensíveis à direção do olhar de outra pessoa, que  s ajuda a decifrar frases incompreensíveis, incompreensíveis, como “olha aquele cachorro cachorro engraça o”.. Os e ês murm o” murmuram uram e a uci uciam, am, açõ ações es que torn tornam am as cor as voc vocais ais mai maiss a na as as.. E es ta tam m ém vi vira ram m a ca eç eçaa in inst stin inti tiva vame ment ntee po porr ca caus usaa e um ar aruu o e se extasiam com a voz da mãe ou do pai. O elo afetivo é muito impor tante para o seu desenvolvimento intuitivo e emocional. Embora a linguagem ainda não esteja conectada no seu cérebro, o bebê tem várias artimanhas genéticas que he permitem aprender desde o dia de seu nascimento.  John McCrone

Texto 2 Por que comemos com o garfo?

É predominante no texto a função: a) metalinguística, uma vez que, ao falar do desenvolvimento da linguagem

Norbert Elias, sociólogo alemão que viveu entre 1897 e 1990, analisa, a partir de manuais manuais de boas maneiras maneiras produzidos produzidos entre entre a Idade Idade Média e o in in io da era mo er erna na,, as mu an ança çass op oper eraa as no âm it itoo o us usoo o ga garr o, ut uten enss o qu quee su surg rg u no m a I a e M ia ia,, co com m o o je jeti tivo vo e ret retir irar ar a im iment entos os a tra trave vessa ssa co comum mum.. Pau ati tina name ment nte, e, oi in intr troo uz uzii o com omoo ut uten enss o e us usoo n v ua. De n o, o us usoo do garfo para se levar levar o alimento boca era considerado considerado um sinal sinal exagerado exagerado de refinamento e seriamente reprimido. Na análise de Elias (1994, p. 133), “o garfo nada mais mais é que a corporifica corporificação ção de um padrão padrão especí co de emoções emoções e um nível especí co de nojo”. nojo”. Esse processo nos mostra como ocorriam as relações entre as  pessoas na Idade I dade Média. Segundo o sociólogo alemão, “as pessoas pes soas que comiam  juntas na maneira costumeira na Idade Média, pegando a carne com os dedos na mesma travessa, bebendo vinho no mesmo cálice, tomando a sopa na mesma travessa ou prato fundo – essas pessoas tinham entre si relações diferentes das que hoje vivemos. E isto envolve não só o nível da consciência, clara e racional,  po s sua v a emoc ona revest a-se tam m e erente estrutura estrutur a e car ter 

nos bebês, o autor trata com destaque do código linguístico e seus recursos. b) emotiva, já que o autor do texto e sua subjetividade em relação ao que narra são estaca os por meio e e ementos inguíst inguísticos. icos. re erenc erencia ia , pois a inten intenção ção princ principa ipa o texto é in orma ormarr o eito eitorr e um um assu assunto nto quee é tr qu trat ataa o e mo o o et etiv ivoo pe o se seuu au auto torr. tica, porque estão presentes no texto, ao longo de seu desenvolvimento, marcas de interação com o leitor, como perguntas retóricas. ) poética, pois mais do que informar sobre algo o autor procurou pe rsuadir o leitor pelo modo com que elaborou a mensagem, caracterizada pela linguagem figurada.

Texto 1

ELIAS, 1994, p. 82.

Considere as afirmativas: I – Pelo princípio da invariabilidade do advérbio, justifica-se a palavra “meio” não estar concordando com o adjetivo “nervosa” no 1o quadro da tirinha. II – O humor humor da tirinha decorren decorrente te do sentido sentido atribuído atribuído pelo menino menino à

expressão “reeducação alimentar”, ao compreendê-la como aprendizado do modo de comer em vez de modificação de hábitos no consumo de alimentos. III – O uso naturalizado do garfo na sociedade contemporânea, contemporânea, como denota o Texto 1, pode ser considerado um indício da individualidade que começou a se configurar na estrutura social no fim da Idade Média, em análise no Texto 2. Esta( o) correta Esta( correta(s) (s) )  apenas . b) apenas II. c) apenas I e III. d) apenas II e III. e) I, II e III.

134

GE PORTUGUÊS ����

3. (Insper 2014) A vestibulanda e a ‘dor que desatina sem doer doer de Camões Numa pr Numa prov ovaa o ve vest stii u ar a Un Univ iver ersi si a e a Ba ia ia,, oi ex exig igii a os ca cann i at atos os a interpretação destes versos de Camões:  Amor é fogo que arde sem s em se ver, é ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. Uma vestibulanda de 16 anos interpretou-os assim:  Ah! Camões,  se vivesses ho e em dia, tomavass uns antipi tomava antipirr ticos, uns quantos quantos ana gésicos e Prozac para a epressão. Compravas um computador, consultavas a Internet e descobririas que as dores que sentias, esses calores que te abrasavam, essas mudanças de humor repentinas,

esses desatinos sem nexo, não eram feridas de amor, mas somente falta de sexo.  A menina baiana ganhou nota 10. Comentário: Comentário: foi a primeira vez que, ao longo de mais de 500 anos, alguém desconfiou que o problema de Camões era falta de mulher. E o caso, se verdadeiro (há versões de que teria acontecido em Portugal),  serve para livrar a cara dos vestibulandos, só lembrados pelas suas provas lamentáveis, que invariavelmente se tornam motivos de chacota. E também da Bahia.  Afinal, nem tudo tudo lá é trio elétrico elétrico e gente pulando pulando na rua, nos 365 dias dias do ano. http://jornalggn.com.br/noticia/a-vestibulanda-e-a-dor-que-desat http://jornalggn.com.br/noticia/a-vestibulanda-e-a-dor-que-desatina-sem-doer-de-camoe ina-sem-doer-de-camoes.s.

Confrontando-se os versos de Camões e a suposta interpretação da vestibulanda, é correto afirmar que a) ao dialogar com o poema de Camões, a garota a nalisa o mesmo tema por uma

perspectiva puramente racional do amor. b) diferentemente do poema camoniano, nos versos da garota não se identifica a tentativa de harmonizar conceitos opostos. c) ao trazer a temática camoniana para o contexto das tecnologias digitais, o texto da garota reverencia o sentimento amoroso. d) para a garota, no mundo contemporâneo, o sofrimento amoroso encontra conforto na Medicina e nas mídias sociais. e) na releitura proposta pela garota, ao contrário dos versos de Camões, não se buscam explicações para compreender o amor.

5. (Unicamp 2013)  – (...) Quando o Bugre sai da furna, é mau sinal: vem ao faro do sangue como a onça. Não foi debalde que lhe deram o nome que tem. E f az garbo disso! – Então você cuida que ele anda atrás de alguém? – Sou capaz de apostar. É uma coisa que toda a gente sabe. Onde se encontra Jão Fera, ou houve morte ou não tarda. Estremeceu Inhá com um ligeiro arrepio, e volvendo em torno a vista inquieta, aproximou-se aproximou-se do companheiro para falar-lhe em voz submissa: – Mas eu tenho-o encontrado tantas vezes, aqui perto, quando vou à casa de  Zana, e não apareceu apareceu nenhuma desgraça. desgraça. – É que anda farejando, ou senão deram-lhe no rasto e estão-lhe na cola. – Coitado! Se o prendem! – Ora qual. Dançará um bocadinho na corda! – Você não tem pena? – De um malvado, Inhá! – Pois eu tenho!  ALENCAR, José de. Til, emObra em Obra Completa , Completa , vol. III. Rio de Janeiro: Aguilar, 1958, p. 825.

O trecho do romance Til  transcrito  transcrito acima evidencia a ambivalência que caracteriza a personagem Jão Fera ao longo de toda a narrativa. a) Explicite quais são as duas faces dessa ambivalência. b) Exemplifique cada face dessa ambivalência com um episódio do romance.

(FAAP 2013 – adaptada) Textos para as questões 6 e 7 Texto 1 Um minhocão para os ciclistas

4. (Unifor 2014)

 As bicicletas bicicletas estão em alta na capital inglesa. Literalmente. Literalmente. Bastou a empresa

 A leitura não é uma atividade meramente meramente visual. O acesso à informação visual, visual, isto é, à informação percebida, captada pelos olhos, é obviamente necessário mas não suficiente. Como sugere Smith (1989), podemos, por exemplo, estar enxergando perfeitamente um texto e, ainda assim, não conseguirmos lê-lo por estar escrito em uma língua que não conhecemos. Esse conhecimento da língua é imprescindível e já devemos possuí-lo antes de nos empenharmos na leitura do texto. Ele faz parte do conhecimento que possuímos estocado na memória, ao qual damos o nome de conhecimento prévio ou informação não visual.  Além do conhec conheciment imentoo da língua, língua, outros outros tipos de informa informação ção não não visual visual são igualigualmente importantes na leitura. Por exemplo, o conhecimento sobre o assunto de que trata o texto. É possível que um leitor não consiga ler um texto que, embora escrito numa língua que ele domina, trate de assunto sobre o qual ele não tem informações. Também nesse caso diríamos que lhe falta informação não visual adequada. Na verdade, a informação não visual que utilizamos na leitura compreende tanto o conhecimento da língua e do assunto sobre o texto, text o, como também todo e qualquer outro conhecimento que possuímos e que compõe a nossa teoria de mundo. FULGÊNCIO, FULGÊNCIO, Lúcia; LIBERATO, LIBERATO, Yara. Como Facilitar a Leitura. Leitura. São Paulo: Contexto, 2006.

A afirmativa que não faz parte da argumentação em defesa da principal ideia no texto é: a) Informações não visuais são importantes para que se possa realizar a leitura

de um texto. b) Necessário se faz o conhecimento sobre o assunto para realizar a leitura de um texto. c) Conhecimento sobre a língua é necessário para que se possa desenvolver a leitura de um texto. d) Conhecimento de mundo é importante no momento de se realizar a leitura de um texto. e) Informação visual é determinante no processo de leitura de um texto.

municipal de transportes anunciar um crescimento de 100% no número de

ciclistas entre 2000 e 2010 para o prefeito, Boris Johnson, flertar com a ideia de construir ciclovias suspensas. suspensas. O projeto foi proposto pelos paisagistas Oli Clark e Sam Martin como uma maneira de aumentar a segurança dos ciclistas sem  sacrificar os motoristas, que costumam perder espaço quando faixas de rolagem  são convertidas em ciclofaixas. O plano é aproveitar os viadutos pelos quais  passam trens metropolitanos e construir, paralela aos trilhos, uma estrutura tubular envidraçada exclusiva para quem pedala. Batizada provisoriamente

de SkyCycle (ciclovia do céu), a rede terá a vantagem de integrar as principais estações de trem e metrô, além de ligar o centro à periferia. Camilo Vannucchi – Revista Época , Época , nov/2012, pág. 38.

 As ciclovias ciclovias suspensas suspensas são uma resposta aos perigos perigos do trânsito. trânsito. Sua Sua audaciosa audaciosa  simplicidade  simplicidade impressionou impressionou o prefeito Boris Boris Johnson.  Jornal The Times (22/09/12), Times (22/09/12), apud Revista Época , Época , nov/2012, pág. 38.

Texto 2 Ciclistas versus pedestres

Quem mais desobedece às regras de trânsito é o pedestre. Este insiste em andar na ciclovia. Já tive dois acidentes de bicicleta na ciclovia. Em ambos fui atropelado pelo pedestre, mas somente eu me machuquei. Estou cansado de ver pessoas atravessando fora da faixa, no sinal vermelho e em locais proibidos.  José Carlos Lacombe Scarpa – Rio de Janeiro – RJ. In: “Caixa Postal”,Revista Postal”,Revista Época 5/11/12, Época 5/11/12, pág. 14.

6. Na primeira linha do Texto I, há uma afirmação: “As bicicletas estão em alta”. Essa expressão “estão em alta”, nesse contexto, significa que: a) a moda agora é andar de bicicleta. b) o custo das bicicletas se elevou. c) a população aderiu ao uso da bicicleta. d) as bicicletas terão vias elevadas. e) a bicicleta é, hoje, o melhor meio de transporte. GE PORTUGUÊS ����

135

SIMULADO

7. Na car car a envi enviada ada à revi revista sta Época , na expressão : “Quem mais desobedece desobedece às regras de trânsito”, o verbo desobedecer é: a transitivo ireto

carrancudo. Não me tratou mal nem bem. Não sei o que vai acontecer; Deus queira ue isto passe. Muita cautela, por ora, muita cautela.”

Capítu o CVIII Capítu CVIII Que se não entende

ntrans ntra ns t vo c  pronominal d bitransitivo e) transitivo indireto

8. (Fuvest 2014) No texto, empregam-se, de modo mais m ais evidente, dois recursos de intertextu alidade: um, o próprio autor o torna explícito; o outro encontra-se em um dos trechos citados abaixo. Indique-o.

Eis aí o drama, eis aí a ponta da orelha trágica de Shakespeare. Esse retalhinho de papel, garatujado em partes, machucado das mãos, era um documento de análise, que eu não farei neste capítulo, nem no outro, nem talvez em todo o resto do livro. Poderia eu tirar ao leitor o gosto de notar por si mesmo a frieza, a  perspicácia e o ânimo dessas poucas linhas traçadas à pressa; pre ssa; e por trás delas d elas a tempestade de outro cérebro, a raiva dissimulada, o desespero que se constrange e medita, porque tem de resolver-se na lama, ou no sangue, ou nas lágrimas?  ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Cubas .

10

Ao com coment entar ar o i ete e Vi Virgí rgí ia, o nar narra ra or se va e, pri princi ncipa pa men mente, te, o seguinte recurso retórico:

a Hipérbato: transposição ou inversão da ordem natural das palavras de uma

quilíbrio Folha de S.Paulo. 21/5/2013

a) “Você é um horror!” b) “E você, bêbado.” c “Ilusão sua: amanhã, de ressaca, vai olhar no espelho e ver o alcoólatra mac ist istaa e sem sempre. pre.”” “Vai repetir o porre até até per er os amigos, amigos, o empreg emprego, o, a amí ia e o autorrespe autorrespeito.” ito.” e  “P  “Perco erco a pia pia a, mas não perc percoo a erro erroaa a!”

9. (ESPM 2015) (...) era o Leonardo Pataca. Chamavam assim a uma rotunda e gordíssima personagem de cabelos brancos e carão avermelhado, que era o decano da corporação, o mais antigo dos meirinhos( ¹ ¹ )  que viviam nesse tempo. tem po. (...) Fora Leonardo algibebe( ² ² )  em Lisboa, sua pátria; p átria; aborreceu-se porém poré m do negócio, e viera ao Brasil.  Aqui chegando, não se sabe s abe por proteção de d e quem, alcançou o emprego empre go de que o vemos empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos remotos.

oração, para efeito estilístico. b) Hipérbole: ênfase expressiva resultante do exagero da significação linguística. linguística. c) Preterição: figura pela qual se finge não querer falar de coisas sobre as quais se está, todavia, falando. ) Sinédoque: figura que consiste em tomar a parte pelo todo, o todo pela parte; o gênero pela espécie, a espécie pelo gênero; o singular pelo plural, o plural pelo singular etc. e) Eufemismo: palavra, locução ou acepção mais agradável, empregada em lugar de outra menos agradável ou grosseira.

11

Os seg seguin uintes tes asp aspect ectos os com compos positi itivos vos con consi si er eraa os pe o nar narra ra or o excerto: concentração e economia de meios expressivos, orientação realista analítica, previsão do papel do leitor na construção do sentido do texto, uprindo o que, neste, é implícito ou lacunar, podem também caracterizar, principalmente, a obra a) Via Viagens gens na inh inhaa T rra , de Almeida Garrett. lícias ias , de Manuel Antônio de d e Almeida. b) Memórias de um Sargento de M líc c) Til  , de José de Alencar. Secas , de Graciliano Ramos. d) Vidas Secas , e Capitães da Areia , de Jorge Amado.

(Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antonio de Almeida)

me r n o = uncionário a justiça. a g e e = vendedor de roupas baratas; mascate.

12  (Enem 2013)

No trecho acima, podem ser detectados d etectados elementos característicos que fazem com que a obra em questão se afaste dos padrões românticos. Assinale o item que NÃO seria responsável por esse afastamento: a) descrição física não idealizada da personagem. b) uso de apelido incorporado ao nome. c) passado não digno de um herói tradicional. d) cargo conseguido não por conquistas, mas por privilégios. e  ser o mais antigo dos meirinhos que viviam nesse tempo.

(Fuvest 2015) Te Textos xtos para para as questões questões 10 e 1 . URY, C. Disponível em: http://tirasnacionais.blogspot.com. Acesso em: 13 nov. 2011.

Capítulo CVII Bilhete “Não houve nada, mas ele suspeita alguma cousa; está muito sério e não fala; agora saiu. Sorriu uma vez somente, para Nhonhô, depois de o fitar muito t empo, 136

GE PORTUGUÊS ����

A tirinha denota a postura assumida por seu produtor frente ao uso social a tecnologia para fins de interação e de informação. Tal posicionamento é expresso, de forma argumentativa, por meio de uma atitude

a) crítica, expressa pelas ironias. b) resignada, expressa pelas enumerações enumerações.. c  indignada, expressa pelos discursos diretos. ) agressiva, expressa pe a contra-argumentação. contra-argumentação. e  alienada, expressa pela negação da realidade.

Em seu conjunto, a descrição do coronel sugere uma figura que a  exibe um temperamento tímido e fechado. b manifesta desprezo por tudo à sua volta. c em emon onst stra ra um umii a e em tu o o qu quee az azia ia..

 revela nos gestos e comportamento segurança e poder. e) inspira certo receio aos habitantes da cidade.

13. (Enem 2014)

15. (Enem 2012)

A História, mais ou menos

Negócio seguinte. Três reis magrinhos ouviram um plá de que tinha nascido um Guri. Viram o cometa no Oriente e tal e se flagraram que o Guri tinha pintado por lá. Os profetas, que não eram de dar cascata, já tinham dicado o troço: em Belém, da Judeia, vai nascer o Salvador, e tá falado. Os três magrinhos se mandaram. Mas deram o maior fora. Em vez de irem direto para Belém, como mandava o catálogo, reso re so ve vera ram m ar um umaa inc incer erta ta no ve ve o Hero Hero es es,, em Je Jerus rusaa ém ém.. Pra Pra quê quê!! C eg egar aram am á e oca a erta e entr entregar egaram am to a a tram trama. a. Perg Pergunta untaram ram:: On e está está o rei rei que que acaba de nascer? Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo . Quer dizer,  pegou mal. Muito mal. O velho Herodes, que era um oligão, ficou grilado. Que rei era aquele? Ele é que era o dono da praça. Mas comeu em boca e disse: Joia. Onde é que esse guri vai se apresentar? Em que canal? Quem é o empresário? Tem baixo elétrico? Quero saber tudo. Os magrinhos disseram que iam flagar o Guri e na volta dicavam tudo para o coroa. VERISSIMO, L. F. O Nariz e Outras Crônicas. Crônicas. São Paulo: Ática, 1994.

Na crônica de Verissimo, a estratégia para gerar o efeito de humor decorre do(a) a  linguagem rebuscada utilizada pelo narrador no tratamento do assunto. ) inserção e perguntas iretas acerca o aconteciment acontecimentoo narra o. c  caracterização dos lugares onde se passa a história. empreg regoo e ter termos mos í ico icoss e orma orma esconte escontextu xtuaa iza a. ) emp e  contraste entre o tema abordado e a linguagem utilizada.

O texto é uma propaganda de um adoçante que tem o seguinte mote: “mude sua embalagem”. A estratégia que o autor utiliza para o convencimento do eitor aseia aseia-se -se no empre emprego go e recur recursos sos expres expressivos sivos,, ver ver ais e não ver ais, com v sta stass a arizar zar a or orma ma ísica o pos possív sívee c ien iente te o pro uto anu anunci nciaa o, aco aconse nse a ri icu ari

lhando-o a uma busca de mudanças estéticas. b) enfatizar a tendência da sociedade contemporânea de buscar hábitos alimen-

14. (Unesp 2015 – adaptada) A questão toma por base uma passagem de um romance de Autran Dourado (1926-2012). A gente Honório Cota

Quando o coronel João Capistrano Honório Cota mandou erguer o sobrado, tinha  pouco mais de trinta anos. Mas já era homem sério de velho, velho, reservado, reservado, cumpricumpridor. Cuidava Cuidava muito dos tra es, da sua aparência medida. medida. O aquetão de casimira casimira ing esa esa,, o co ete e in o atr atrave avessa ssa o pe a gro grossa ssa cor corren rente te e our ouroo o re ógi ógio; o; a calça é que era como a de todos na cidade e brim, a não ser em certas ocasiões (batizado, morte, casamento casamento – então era parelho mesmo, por igual), mas sempre muito bem passada, o vinco perfeito. Dava gosto ver: O passo vagaroso de quem não tem pressa – o mundo podia esperar por ele, o  peito magro estufado, os gestos lentos, a voz pausada e grave, descia a rua da Igreja cumprimentando cerimoniosamente, nobremente, os que por ele passavam ou os que chegavam na janela muitas vezes só para vê-lo passar. Desde longe a gente adivinhava ele vindo: alto, magro, descarnado, como uma ave pernalta de grande porte. Sendo assim tão descomunal, podia ser desajeitado: não era, dava sempre a impressão de uma grande e ponderada figura. Não ogava as pernas para os a os nem nem as trazi traziaa a ertas, estic esticavaava-as as eito me isse os passos passos,, que ran o os oe os em re retto. Quan Qu an o mo mont ntaa o, in o pa para ra a su suaa Fa Faze zenn a a Pe ra Me Meni nina na,, no ca cava va o ra ranc ncoo ajaezado de couro trabalhado e prata, aí então sim era a grande, imponente figura, que enchia as vistas. Parecia um daqueles cavaleiros antigos, antigos, fugidos do  Amadis de Gaula ou do Palmeirim, Palmeirim, quando iam para a guerra armados cavaleiros. cavaleiros. Ópera dos Mortos 1970. Mortos  1970.

tares saudáveis, reforçando tal postura. c) criticar o consumo excessivo de produtos industrializados industrializados por parte da população, propondo a redução desse consumo. d) associar o vocábulo “açúcar” à imagem do corpo fora de forma, sugerindo a substituição desse produto pelo adoçante. e relacionar a imagem do saco de açúcar a um corpo humano que não desenvolve tividades físicas, incentivando a prática esportiva.

1

 (Enem 2012)  Abatidos pelo fadinho fadinho harmonioso harmonioso e nostálgico dos dos desterrados, desterrados, iam todos, até até mesmo os brasileiros, se concentrando e caindo em tristeza; mas, de repente, o cavaquinho de Porfiro, acompanhado pelo violão do Firmo, romperam vibrantemente com um chorado baiano. Nada mais que os primeiros acordes da música crioula  para que o sangue de toda aquela gente despertasse despertasse logo, como se alguém alguém lhe ustigasse o corpo com urtigas bravas. E seguiram-se outras notas, e outras, cada vez mais ardentes e mais delirantes. Já não eram dois instrumentos q ue soavam, eram lúbricos gemidos e suspiros soltos em torrente, a correrem serpenteando, omo cobras numa floresta incendiada; eram ais convulsos, chorados e m frenesi e amor: música eita e eijos e so uços gostosos; carícia e era, carícia e oer, azen az en o es esta ta ar e go gozo zo..  AZEVEDO, A.O A. O Cortiço. Cortiço. São Paulo: Ática, 1983 (fragmento).

Cortiço (1890) de Aluísio Azevedo, as personagens são observa No romance O Cortiço (1890) das como elementos coletivos caracterizados por condicionantes de origem social, sexo e etnia. Na passagem transcrita, o confronto entre brasileiros e portugueses revela prevalência do elemento brasileiro, pois GE PORTUGUÊS ����

137

SIMULADO

a)  a) destaca o nome de personagens brasileiras e omite o de personagens portuguesas. b) exalta a força do cenário natural brasileiro e considera o do português inexpressivo. c) mostra c) mostra o poder envolvente da música brasileira, que cala o fado português. d) destaca o sentimentalismo brasileiro, brasileiro, contrário à tristeza dos portugueses. e) atribui e) atribui aos brasileiros brasileiros uma habilidade maior com instrumentos musicais.

17.

 (Mackenzie 2015) Seres humanos dividem o mundo entre “nós” e “eles”. Criadas por razões religiosas, étnicas, preferências sexuais, futebolísticas ou de outra natureza, as tensões e suspeições intergrupais são as grandes responsáveis  pela violência no mundo. O preconceito que resulta dessas divisões não é consciente, está arraigado nas profundezas do passado evolutivo, na tendência universal de formarmos coalizões que nos ajudem a enfrentar os desafios que a vida impõe. Experimentos conduzidos nos últimos 30 anos mostram que nos reunimos em  grupos, mesmo em torno de objetivos fúteis: o fã-clube de uma cantora, um time ou um piloto de corrida. E que, ao nos incluirmos em tais agrupamentos, passamos a acreditar que nossos companheiros são mais inteligentes, espertos, generosos e dotados de valores morais superiores aos dos membros de outros grupos.  As pesquisas hoje estão dirigidas dir igidas para as razões que nos levam a enxergar enxer gar o mundo sob essa perspectiva do “nós” e “eles”. Que fatores em nosso passado evolutivo forjaram a extrema facilidade com que formamos coalizões e reagimos de forma preconceituosa contra os estranhos a elas?  Para muitos psicólogos, o ódio dirigido a “eles” tem origem na generosidade manifestada em relação a “nós” mesmos. (...) Como consequência, esperamos encontrar acolhimento e solidariedade quando estamos entre “nós”, porque somos mais amigáveis, altruístas e pacíficos do que os de fora. Valores morais dessa magnitude nos autorizam a agir com violência contra inimigos que julgamos não possuí-los, em caso de disputas por territórios,  prestígio social, empregos ou acesso a bens materiais. (...) Embora o preconceito esteja alojado em áreas arcaicas do sistema nervoso central, sua expressão não é inevitável. Nosso córtex cerebral já evoluiu o suficiente  para reprimi-lo, reprimi-lo, de modo a abandonarmos abandonarmos a bestialidade do passado passado e adotarmos condutas racionais centradas na tolerância e na aceitação da diversidade humana.  Adaptado de Drauzio Varella.

Considere os tópicos seguintes. I. Uso de argumentos de autoridade em citações apresentadas por meio de discurso direto. II. Raciocínio que contrapõe dados científicos à necessidade de reflexão s obre o comportamento humano em sociedade. III. Introdução de tema principal feita de forma genérica e contundente. Assinale a alternativa que indica corretamente os tópicos que apresentam recursos empregados na construção do texto. a) Tópicos I e II. b) Tópicos II e III. c) Tópicos I e III. d) Tópicos d) Tópicos I, II e III. e) Nenhum e) Nenhum dos tópicos apresenta recurso empregado no texto.

18. (PUC SP 2015 – adaptada) Liberdade para mentir Marion Strecker  Seu método de produção favorece erros, tanto bem quanto mal intencionados, como mostra o exemplo dos verbetes sobre os jornalistas da Globo. Embora seus 138

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

acertos sejam inúmeros, seus erros são cometidos em escala muito mais ampla do que nas enciclopédias tradicionais, como a Britannica, que é escrita por profissionais remunerados, entre eles experts, acadêmicos e até laureados com o prêmio Nobel.  A fé na “sabedoria das multidões” é outro valor supremo da Wikipédia. Mas a “sabedoria das multidões” pode resultar no desprezo pela voz do indivíduo, inclusive do especialista. E o anonimato pode liberar o lado mais obscuro da natureza humana, como lembra o intelectual Jaron Lanier, que cunhou a ex pressão “maoísmo digital”. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/m http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marionstrecker/2014/08/1505571-liberdade-para-mentir arionstrecker/2014/08/1505571-liberdade-para-mentir.shtml. .shtml.  Acesso em: 10 out.2014.

Nesses parágrafos, os elementos de conexão entre ideias relacionam, de acordo com a ordem em que aparecem no texto, sentido de a) concessão, a) concessão, confrontação, contraste e conformidade. b) refutação, b) refutação, congruência, concessão e adição. c) adição, c) adição, comparação, contraste e integração. integração. d) contradição, d) contradição, equivalência, oposição e comparação. comparação. e) concessão, e) concessão, explicação, oposição e conformidade.

19. (ITA 2013) O poema abaixo traz a seguinte característica da escola literária em que se insere:

Violões que Choram... Cruz e Sousa  Ah! plangentes violões dormentes, mornos,  soluços ao luar, choros ao vento... Tristes perfis, os mais vagos contornos, bocas murmurejantes de lamento. Noites de além, remotas, que eu recordo, noites de solidão, noites remotas que nos azuis da Fantasia bordo, vou constelando de visões ignotas. Sutis palpitações à luz da lua, anseio dos momentos mais saudosos, quando lá choram na deserta rua as cordas vivas dos violões chorosos. a) tendência a) tendência à morbidez. b) lirismo b) lirismo sentimental e intimista. c) precisão c) precisão vocabular e economia verbal. d) depuração d) depuração formal e destaque para a sensualidade feminina. e) registro e) registro da realidade através da percepção sensorial do poeta.

20. (Fuvest 2014) Entrevistado por Clarice Lispector, para a pergunta “Como você encara o problema da maturidade?”, Tom Jobim deu a seguinte resposta: “Tem um verso do Drummond que diz: ‘A madureza, esta horrível prenda...’ Não sei, Clarice, a gente fica mais capaz, mas também mais exigente”. Nota: O verso citado por Tom Jobim é o início do poema “A ingaia ciência”, de Carlos Drummond de Andrade, e sua versão correta é: “A madureza, essa terrível prenda”. a) Aponte dois recursos expressivos empregados pelo poeta na expressão

“terrível prenda”. b) Reescreva a resposta de Tom Jobim, eliminando as marcas de coloquialidade que ela apresenta e fazendo as alterações necessárias.

21. (UFRGS 2015 – adaptada)

23. (Fuvest 2015)

...)  ass m que me identifico, viajante procurando em vão reconstituir o exotismo com o auxí io e ragmentos e e estroços. Então, insi iosamente, a i usã usãoo come começa ça a tece tecerr suas arm armaa i as. Gost Gostari ariaa e ter viv vivii o no temp tempoo as verdadeiras viagens, quando um espetáculo ainda não estragado, contaminado e maldito se oferecia em todo o seu esplendor. Uma vez encetado, o jogo de conjecturas não tem mais fim: quando se deveria visitar a ndia, em que época o estudo dos selvagens brasileiros poderia levar a conhecê-los na forma menos alterada? Teria sido melhor chegar ao Rio no sé culo XVIII? Cada década paratrás  permite salvar um costume, costume, ganhar ganhar uma festa, partilhar partilhar uma uma crença crença suplementar. suplementar. Mas conheço bem demais os textos do passado para não saber que, me privando de um século, renuncio a perguntas dignas de enriquecer minha reflexão. E eis, diante de mim, o círculo intransponível: quanto menos as culturas tinham condições de se comunicar entre si, menos também os emissários respectivos eram era m ca capa paze zess e pe perc rcee er a ri riqu quez ezaa e o si sign gnii ca o a iv ivers ersii a e. No na as contas,, sou prisi contas prisioneiro oneiro e uma a ternat ternativa: iva: ora viaja viajante nte antigo antigo,, con con ronta o com um prodigioso espetáculo do qual quase tudo lhe lhe escapava ainda pior, pior, inspirava troça tro ça ou de desp sprez rezoo , or oraa v a an ante te mo ern erno, o, co corre rrenn o at atrr s os ves vestt g os e uma realidade desaparecida. Nessas duas situações, sou perdedor, pois eu, que me lamento diante das sombras, talvez seja impermeável ao verdadeiro espetáculo que está tomando forma neste instante, mas (...) observação meu grau de humanidade ainda carece da sensibilidade necessária. Dentro de alguma centena de anos, neste mesmo lugar, outro viajante pranteará o desaparecimento do que eu poderia ter visto e que me escapou.

Examine a figura

Os versos de Carlos Drummond de Andrade A ndrade que mais adequadamente traduzem a principal mensagem da figura acima são: a) Stop.

 A vida parou ou foi o automóvel? 

 Adaptado de: LÉVI-STRAUSS, LÉVI-STRAUSS, C. TristesTrópicos. São Paulo: Cia. das Letras, 1996. p. 38-44.

b) As casas espiam os homens Consi ere as segui seguintes ntes suges sugestões tões e mu ança na pontua pontuação ção o texto. I Acrés Acréscimo cimo e vírgu a ogo após o ass m Inserç Ins erção ão e vír vírgu gu a ime iat iatame amente nte apó apóss tr s III Substi Substituiçã tuiçãoo dos trav travess ess es por par ntese nteses. s.

que corr correm em atr atrás ás e mu eres eres..  A tarde talvez fosse azul, não ouvesse tantos ese os. c) Um silvo breve. Atenção, siga.

Quais preservariam a correção das frases em que ocorrem? a) Apenas a)  Apenas I. b) Apenas b)  Apenas II. c) Apenas c)  Apenas III. d) Apenas I e II. e  I, II e III.

Dois silvos breves: Pare. Um silvo breve à noite: Acenda a lanterna. Um silvo longo: Diminua a marcha. Um silvo longo e breve: Motoristas a postos. (A este sinal todos os motoristas tomam lugar nos  seus veículos para movimentá-los imediatamente .)

22

 proibido passear sentimentos ternos tern os ou eses esesper peraa os nesse museu do pardo indiferente

 (Unicamp 2015)

Os guardas vêm nos seus calcanhares. Sem-Pernas sabe que eles gostarão de o  pegar, que a captura de um dos Capitães da Areia é uma bela façanha para um  guarda. Essa será a sua vingança. Não deixará que o peguem. (...) Apanhara na  polícia, um homem ria quando o surravam. Para Para ele é este homem que corre em  sua perseguição (...). Vêm em e m seus calcanhares, mas não o levarão. Pensam que ele vai parar junto ao grande elevador. Mas Sem-Pernas não para. (...) Sem-Pernas  se rebenta na montanha como um trapezista de circo que não tivesse alcançado alcançado o outro trapézio.  AMADO, Jorge.  AMADO,  Jorge. Capitães da Areia. 19ª ed., São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 242-243.

a) Lev Levan an o em co conta nta o trec trec o em que questã stãoo e a o ra com comoo um to o, qua qua é a image imagem m os soc socia ia men mente te exc uí os e quem quem Sem Sem-Per -Pernas nas é repre represent sentativ ativoo no no trec trec o? b) “Apanhara na polícia, um homem ria quando o surravam”. Diante dessa lembrança recorrente, evocada durante sua perseguição pelos policiais, qual é o sentido da simbólica vingança de Sem-Pernas?

e) Sim, meu coração é muito pequeno.

Só agora vejo que nele não cabem os homens. Os homens estão cá fora, estão na rua.

24. (FGV – Economia 2014) Observe os períodos: . omo o dólar ocupa lugar central do sistema monetário global, todos os países

evem se prepa preparar rar para o m o perío o e juros internac internacionais ionais próxi próximos mos e  zero que vigora es e 2009. . saudáv saudável el que o governo brasilei brasileiro ro comece a se mostrar mostrar disposto disposto a reverter, reverter,  ainda que tardiamente, algumas das ações... a) Explique que sentido estabelecem nos períodos os termosComo a) Explique termos Como e  e ainda que. que. b) Reescreva os períodos, substituindo os termos Como Como e  e ainda que por que por outros de sentido equivalente. GE PORTUGUÊS ����

139

SIMULADO

25. (ITA 2015)

28. (Unicamp 2014 – adaptada)

O título do livro A livro A Hora da Estrela Estrela , , de Clarice Lispector, Lispector, diz respeito respeito ao seguinte momento do romance: ímpico. o. a O espertar amoroso e Maca éa no namoro com O ímpic b) A descoberta de Macabéa de que Olímpico a traía com Glória. c A obtenção por Macabéa de um bom emprego como datilógrafa. d) A previsão do grande futuro de Macabéa, feita pela cartomante. e) A morte de Macabéa, atropelada por um carro de luxo.

 A sobrevivência sobrevivência dos meios meios de comunicação tradicionais demanda foco foco absoluto na qualidade de seu conteúdo. A internet é um fenômeno de desintermediação. E que uturo aguar am os meios e comuni comunicação cação,, assim como os parti os

 políticos e os sindicatos, sindicatos, num mundo mundo desintermediado? desintermediado? Só nos resta resta uma saída: saída:  produzir informação de alta qualidade técnica e ética. Ou fazemos f azemos jornalismo de verdade, fiel à verdade dos fatos, verdadeiramente fiscalizador dos poderes  públicos e com excelência na prestação de serviços, ou seremos descartados  por um consumidor cada ca da vez mais fascinado fascina do pelo aparente autocontrole da

26. (PUC-RS 2013) Revista de maior circulação no mundo, a Time mostrou como ficaram tênues os limites entre a ciência e a ficção. Em reportagem de capa, intitulada “Jovem  para sempre”, sempre”, não não descarta nas entrelinhas a chance de que um dia, quem sabe,  se escu ra não a cura as oenças, mas a cura a morte. Menos suti mente, estimu a a esperança e que ta vez o ser umano aos 300 anos. A revista ancora o sonho em moscas e minhocas que, tratadas c egar aos em laboratórios, passaram a viver muitas vezes mais. A suspeita é de que, em algum lugar, seria possível desmontar  um  um relógio que determina o aparecimento de rugas, seios caídos, pernas flácidas, queda de cabelo.

informação na plataforma virtual. FRANCO, Carlos Alberto d.,. Democracia ema emanda nda rna rnalism lismoo Ind Indepe epende ndente nte.. O Estado de S. Paulo , São Paulo,14/10/2013, Paulo, 14/10/2013, p. A2.

Os processos de formação de palavras envolvidos no vocábulo “desinterme iação”” não ocorrem iação ocorrem simu tanea taneamente mente.. Ten Ten o isso em mente, mente, escre escreva va como ocorre oco rre a orm ormaçã açãoo a pa avr avraa “ esi esinte nterme rme iaç iação ão”. ”.

29. (Enem 2014)

 Ao tentar ten tar  separar  fantasias   fantasias e bom senso, a reportagem estabelece como

hipótese realista que, a partir das descobertas médicas das próximas três décadas, a expectativa de vida suba para 120 anos. Seria a continuação do impacto  provocado pelo pelo inglês inglês Alexander Alexander Fleming, Fleming, que descobriu descobriu o primeiro antibiótico antibiótico.. Traduzindo: as crianças de hoje se lembrariam de seus pais – ou seja, nós – como u ovens porque não completaram 80 anos. Assim como achamos que nossos tatarav tataravós ós morriam morriam ce o porque nãocomp etavam 60 ano noss e i a e. Os nov novos os mi mitos tos nut nutri ri os pe a tec tecno no og ogia ia re orç orçam am o a sur o ra rasi si eir eiro. o. Dez Dezena enass e mi ares e cria crianças nças que não comp etam parc parcos os 12 mese mesess e vi a morr morrem em anualmente, porque simplesmente não têm comida ou bebem água contaminada. Aprendiz iz do Futuro. São Paulo: Ática: 2004. (fragmento) DIMENSTEIN, Gilberto. Expectativa de vida. In: _____ . Aprend

Considerando o emprego de algumas formas verbais no texto 2, é correto afirmar que a) “descarta” e “descubra” expressam fatos possíveis num futuro próximo. b) “possa chegar” pode ser substituído por “chegasse”, sem prejuízo para o sentido e para a coerência da frase. c as ações expressas por “desmontar” e “separar” não têm agente determinado no ex ex o. d “morreram” está no pretérito, mas se refere a um fato possível de acontecer no uturo. e) “completaram” e “completavam” traduzem fatos passados repetidos, que se prolongam até o presente.

27. (FGV Economia 2014) Identifique e explique o tipo d e discurso presente nos trechos transcritos. a) – Neste momento, Tupã não é contigo! replicou o chefe. O Pajé riu; e seu riso sinistro reboou pelo espaço como o regougo da ariranha. – Ouve seu trovão e treme em teu seio, guerreiro, como a terra em sua profundeza. Araquém, proferindo essa palavra terrível, avançou até o meio da cabana; ali ergueu a gran gr an e pe pe ra e ca ca co couu o pé co com m or orça ça no c ão ão;; sú sú it ito, o, a ri riuu-se se a ter terra ra.. José e A encar encar,, racema b) Rubião interrompeu as reflexões para ler ainda a notícia. Que era bem escrita, era. Trechos havia que releu com muita satisfação. O diabo do homem parecia haver assistido à cena. Que narração! Que viveza de estilo! Alguns pontos estavam acrescentados – confusão de memória – mas o acréscimo não ficava mal. Machado de Assis, Quincas Borba. 140

GE PORTUGUÊS ����

Jornal Zero Hora  2 mar. 2006.

Na criação o texto, texto, o c argista Iotti Iotti usa criativamente um intertexto: intertexto: os traços traços reconstroem uma cena e uernica uernica , , pa ne e Pa o P casso que retrata os horrores e a destruição provocados pelo bombardeio a uma pequena cidade a Espanha. Na charge, publicada no período de carnaval, recebe destaque a figura do carro, elemento introduzido por Iotti no intertexto. Além dessa figura, a linguagem verbal contribui para estabelecer um diálogo entre a obra e Picasso e a charge, ao explorar ) uma referência ao contexto, “trânsito “trânsito no feriadão” feriadão”,, esclarecendo-se o referente tanto do texto de Iotti quanto da obra de Picasso. b uma referência ao tempo presente, com o emprego da forma verbal “é”, evii enc ev nciian o-se a atu tuaa i a e o te tem ma a or a o ta tant ntoo pe o pint ntoor espa pann o quanto qua nto pe o c arg argis ista ta ra rasi si eir eiro. o. pejorativo, ivo, “trânsi “trânsito”, to”, re orçan o-se a imagem negativa e mun o c um termo pejorat caótico presente tanto em Guernica quanto na charge. ) uma referência temporal, “sempre”, referindo-se à permanência de tragédias retratadas tanto em Guernica quanto na charge. e) uma expressão polissêmica, “quadro dramático”, remetendo-se tanto à obra pictórica quanto ao contexto do trânsito brasileiro.

30. (Unifesp 2016) Uma análise mais atenta do livro mostra que ele foi construído a partir da combinação de uma infinidade de textos preexistentes, elaborados pela tradição oral ou escrita, popular ou erudita, europeia ou brasileira. A originalidade estrutural deriva, deste modo, do fato de o livro não se basear na mímesis, isto é, na dependência constante que a arte estabelece entre o mundo objetivo e a ficção; mas em ligar-se quase sempre a outros mundos imaginários, a sistemas fechados de sinais, já regidos  por significação autônoma. Esse processo, parasitário na aparência, é no entanto curiosamente inventivo; pois, em vez de recortar com neutralidade nos entrechos originais as partes de que necessita para reagrupá-las, intactas, numa ordem nova, atua quase sempre sobre cada fragmento, alterando-o em profundidade. MELLO E SOUZA, Gilda de. O Tupi e o Alaúde , Alaúde , 1979. Adaptado.

Tal comentário aplica-se ao livro a) A Cidade e as Serras, Serras, de  de Eça de Queirós. b) Macunaíma , Macunaíma , de Mário de Andrade. Andrade. Milícias , de Manuel Antônio Antônio de Almeida. c) Memórias de um Sargento de Milícias , d) Memórias Póstumas de Brás Cubas , Cubas , de Machado de Assis. e) Iracema , Iracema , de José de Alencar. Alencar.

31. (Enem 2011)

em parceria com a ONG Rede Povos da Floresta, possibilitou possibilitou o acesso à web, mesmo em ambiente inóspito. e) a apropriação da nova tecnologia de forma gradual, evidente quando os

guaranis incorporaram a novidade tecnológica ao seu estilo de vida com a possibilidade de acesso à internet.

32. (Insper 2014) Há pleonasmos e pleonasmos. Uns têm a força expressiva que os torna em figuras de linguagem, outros não passam de redundâncias, apêndices desnecessários ao discurso. Estes costumam causar enfado no leitor, que os sente como “obviedades”. Thaís Nicoleti, http://educacao.uol.com.br/dicas-portugues/descobrir-o-desconhecido com.br/dicas-portugues/descobrir-o-desconhecido.jhtm. .jhtm.

Assinale a alternativa que apresenta um exemplo de pleonasmo cuja força expressiva cria um efeito estilístico. a) “Há um consenso geral de que o problema da bioenergia no Brasil se resume

à logística” (Folha (Folha de S.Paulo , S.Paulo , 06/07/2007) b) “Qual o impacto distributivo de tudo isso? É um ótimo tema para encarar de

frente” (O (O Estado de S. Paulo , Paulo , 13/04/2014) (Walcyr Carrasco) c) “A não ser que tenha certeza absoluta, fuja do presente prático.” (Walcyr d) “Sorriu para Holanda um sorriso ainda marcado de pavor.” (Viana Moog) e) “Prefeitura doa terrenos para atrair investimentos e criar novos empregos”

Palavra indígena

A história da tribo Sapucaí, que traduziu para o idioma guarani os artefatos da era da computação que ganharam importância em sua vida, como mouse (que eles chamam de angojhá) e Windows (oventã). Quando a internet chegou àquela comunidade, que abriga em torno de 400  guaranis,  guaranis, há quatro anos, anos, por meio de um projeto projeto do Comitê para para DemocratizaDemocratização da Informática (CDI), em parceria com a ONG Rede Povos da Floresta e com antena cedida pela Star One (da Embratel), Potty e sua aldeia logo vislumbraram as possibilidades de comunicação que a web traz. Ele conta que usam a rede, por enquanto, somente para preparação e envio de documentos, mas perceberam que ela pode ajudar na preservação pres ervação da cultura indígena. A apropriação da rede se deu de forma gradual, mas os guaranis já incorporaram a novidade tecnológica ao seu estilo de vida. A importância da internet e da com putação para eles eles está está express expressaa num caso de rara rara incorporaç incorporação: ão: a do vocabulári vocabulário. o. – Um dia, o cacique da aldeia Sapucaí me ligou. “A gente não está querendo chamar computador de ‘computador’. Sugeri a eles que criassem uma palavra em guarani. E criaram aiú irú rive, “caixa pra acumular a língua”. Nós, brancos, usamos mouse, Windows e outros termos, que eles começaram a adaptar para o idioma deles, como angojhá (rato) e oventã (janela) – conta Rodrigo Baggio, diretor do CDI. Disponível em: HTTP://www.revistalingua.uol.com.br. Acesso em: 22 jul. 2010.

O uso das novas tecnologias de informação e comunicação fez surgir uma série de novos termos que foram acolhidos na sociedade brasileira em sua forma original, como: mouse, Windows, download, site, homepage, entre outros. O texto trata da adaptação de termos da informática à língua indígena como uma reação da tribo Sapucaí, o que q ue revela a) a possibilidade que o índio Potty vislumbrou em relação à comunicação que

a web pode trazer a seu povo e à facilidade no envio de documentos e na conversação em tempo real. b) o uso da internet para preparação preparação e envio de documentos, bem como a contribuição para as atividades relacionadas aos trabalhos da cultura indígena. c) a preservação da identidade, demonstrada pela conservação do idioma,

mesmo com a utilização de novas tecnologias características da cultura de outros grupos sociais. d) adesão ao projeto do Comitê para Democratização da Informática (CDI), que,

33. (Uerj 2013 – adaptada) Entretanto, quantas dores, quantas angústias! Vivo aqui só, isto é, sem relações intelectuais de qualquer ordem. Cercam-me dois ou três bacharéis idiotas e um médico mezinheiro, repletos de orgulho de suas cartas que sabe Deus como tiraram. (...) Entretanto, se eu amanhã lhes fosse falar neste livro – que espanto! que sarcasmo! que crítica desanimadora não fariam. Depois que se foi o doutor Graciliano, excepcionalmente simples e esquecido de sua carta apergaminhada, nada digo das minhas leituras, não falo das minhas lucubrações intelectuais a ninguém, e minha mulher, quando me demoro escrevendo pela noite afora,

 grita-me do quarto: quarto: – Vem dormir, Isaías! Deixa esse relatório para amanhã!  De forma que não tenho por onde aferir se as minhas Recordações preenRecordações preenchem o fim a que as destino; se a minha inabilidade literária está prejudicando completamente o seu pensamento. Que tortura! E não é só isso: envergonho-me  por esta ou aquela passagem em que me acho, em que me dispo em frente de desconhecidos, como uma mulher pública... Sofro assim de tantos modos, por causa desta obra, que julgo que esse mal-estar, com que às vezes acordo, vem dela , unicamente dela. Quero abandoná-la; mas não posso absolutamente. De

manhã, ao almoço, na coletoria, na botica, jantando, banhando-me, só penso nela.  À noite, quando todos em casa se vão recolhendo, insensivelmente aproximo-me da mesa e escrevo furiosamente. Estou no sexto capítulo e ainda não me preocupei em fazê-la pública, anunciar e arranjar um bom recebimento dos detentores da opinião nacional. Que ela tenha a sorte que merecer, mas que possa também,  amanhã ou daqui a séculos, despertar despe rtar um escritor mais hábil  que a refaça e que diga o que não pude nem soube dizer. (...) Imagino como um escritor hábil não saberia dizer o que eu senti lá dentro. Eu que sofri e pensei não o sei narrar. Já por duas vezes, tentei escrever; mas, relendo a página, achei-a incolor, comum, e, sobretudo, pouco expressiva do que eu de fato tinha sentido. LIMA BARRETO Recordações do Escrivão Isaías Caminha. Caminha . São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2010.

Na descrição de sua situação e de seus sentimentos, o narrador utiliza diversos recursos coesivos, dentre eles o da adição. GE PORTUGUÊS ����

141

SIMULADO

O fragmento do texto que exemplifica o recurso da adição está em: a  repletos de orgulho de suas cartas que sabe Deus como tiraram. b me dispo em frente de desconhecidos, como uma mulher pública... c So ro ass assim im e ta tanto ntoss mo os, por cau causa sa est estaa o ra ra,, que que ju go que ess essee ma -

7. (Fuvest 2016) Um restaurante, cujo nome foi substituído por Y, divulgou, no ano de 2015, s s e u ntes a n nc os:

estar, com que às vezes acordo, vem dela d Que ela tenha a sorte que merecer, mas que possa também, am anhã ou daqui

a séculos, despertar um escritor mais hábil

4. (ESPM 2015)

 A 10 anos, nosso Chef cria ra você 2 saborosas opções de entradas, 3 pratos e 2 sobremesas]

Assinale a opção Assinale opção não aceit aceitaa pelas pelas normas normas de c ncord ncordância ância v rbal: a) Pesquisa aponta que 92,7% dos brasileiros querem a redução da maioridade

penal. b) Pesquisa aponta que 92,7% da população quer a redução da maioridade penal. c Mesma pesquisa pesquisa mostra que 49,7% se apresentam apresentam contrários contrários à união união civi e

pessoas e mesmo sexo. d) A maioria (54,2%) se revelou também contra a aprovação de uma lei permitindo o casamento de pessoas do mesmo sexo. e) ONU: um terço dos alimentos produzidos no mundo são desperdiçados

nualmente. [ Criações diárias do nosso Chef pra você 2 opções de entradas, pratos e sobremesas]

(FAMERP 2015 – adaptada) Leia o poema de Fernando Pessoa para responder as questões 35 e 36

Na redação do anúncio II, evitou-se um erro gramatical que aparece no anúncio I. De que erro se trata? trata? Exp ique. Ten o em vi vist staa o ca cará ráte terr pu ic icit itári árioo os tex texto tos, s, co com m qu quee na i a e oi us usaa a, em am os os anúncios, a orma “pra”, em ugar e “para”?

Autopsicografia O poet poetaa é um ngi or or.. Finge tão tão comp etamente Que c ega a ngi ngirr que é or  A dor que deveras sente. E os que leem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda G ra, a entreter entreter a razão, razão, Esse comboio de corda Que se chama o coração.

8. (UFRGS 2015) Leia abaixo o soneto de Gregório de Matos Guerra, e Poesia, de Carlos Drum mond de Andrade.

bra poética  1984.

5

Deduz-se, da leitura da primeira estrofe, que “o poeta” a que se refere o poema a) livra-se por completo de sua dor ao compor o poema. b) sente dor, mas, ainda assim, não se exime de compor o poema. c) sente dores falsas, que o motivam a compor um poema. d) transforma sua dor sentida em outra, simulada, diferente da original. e) expressa sem artifícios sua dor, o que fica caracterizado na palavra “deveras”.

6

Se for considerada a temática predominante nas obras de Fernando Pessoaa (e e-mes Pesso e-mesmo, mo, ortôni ortônimo) mo) e nas o ras e seus eterô eterônimos nimos mais con e ci os os,, é co corr rret etoo a rm rmar ar que o poe poema ma “Aut Autop opsi sico cogr graa a” po e ser ser at atri ri uí o a a) Bern  Bernar ar o Soares Soares.. b) Alberto Caeiro. c) Fernando Pessoa, ele-mesmo, ortônimo. d) Ricardo Reis. e) Álvaro de Campos.

142

GE PORTUGUÊS ����

A certa personagem desvanecida Um soneto começo em vosso gabo: Contemos esta regra por pr me ra;  Já lá vão duas, e esta é a terceira,  Já este quartetin o está no ca o, Na quinta torce agora a porca o rabo;  A sexta vá também d’esta maneira: Na sétima entro já com grã canseira, E saio dos quartetos muito brabo.  Agora nos tercetos que qu e direi: Direi que vós, Senhor, a mim me honrais Gabando-vos a vós, e eu fico um rei. N esta vida um soneto já ditei; Se d sta agor agoraa escapo escapo,, nunca nunca ma ma s: Louvadoo se a Deus, que o acabei. Louvad acabei.

Poesia Gastei uma hora pensando em um verso que a pena não quer escrever. o entanto ele está cá dentro nqu eto eto,, v vo vo.. Ele es estt c en entr troo e não quer sair. Mas a poesia deste momento inunda minha vida inteira.

Consi ere as seg Consi seguin uintes tes a rma rmaçõe çõess so re os ois tex textos tos.. Os ois poe poemas, mas, em ora re ita itam m so re o aze azerr poé poétic tico, o, enc encaram aram-no -no e modo diverso. II – A criação poética, para Gregório de Matos Guerra, é árdua, árdua, mesmo com a ajuda do rei e com a inspiração divina. III – A criação poética, para Drummond, é árdua, por ser um ato interno que requer persistência, pois nem sempre a inspiração gera um poema.

Lembrei meu pai, sua palavra sempre azeda: agora, somos um povo de mendigos, nem temos onde cair vivos. Era como se ainda escutasse: – Mas você, meu filho, não se meta a mudar os destinos.  Afinal, eu contrariava suas mandanças. Fossem os naparamas, fosse o filho filho de Farida: eu não estava a deixar o tempo quieto. Talvez, quem sabe, cumprisse o que sempre fora: sonhador de lembranças, inventor de ver dades. Um sonâmbulo  passeando entre o fogo. Um sonâmbulo so nâmbulo como a terra em que nascera. Ou como aquelas fogueiras por entre as quais eu abria caminho no areal.

Quais estão corretas? a) Apenas a) Apenas I. b) Apenas b) Apenas II. c) Apenas I e III. d) Apenas d) Apenas II e III. e) I, e) I, II e III

39.

(Enem 2013)

COUTO, Mia. Terra Sonâmbula. São Paulo: Companhia de Bolso, 2015, p. 104.

Texto I

 A característica da oralidade radiofônica, então, seria aquela que propõe o diálogo com o ouvinte: a simplicidade, no sentido da escolha lexical; a concisão e coerência, que se traduzem em um texto curto, em linguagem coloquial e com organização direta; e o ritmo, marcado pelo locutor, que deve ser o mais natural (do diálogo). É esta organização que vai “reger” a veiculação da mensagem, seja ela interpretada ou de improviso, com objetivo de dar melodia à transmissão oral, dar emoção, personalidade ao relato do fato. Velho, A. P. M. A Linguagem do Rádio Multimídia. www.bocc.ubi.pt  www.bocc.ubi.pt 

Texto II

 A dois passos do paraíso  A Rádio Atividade leva até vocês Mais um programa da séria série “Dedique uma canção a quem você ama”  Eu tenho aqui em minhas mãos uma carta Uma carta d uma uma ouvinte que nos escreve E assina com o singelo pseudônimo de “Mariposa Apaixonada de Guadalupe”  Ela nos conta que no dia que seria o dia mais feliz de sua vida  Arlindo Orlando, seu noivo Um caminhoneiro conhecido da pequena e Pacata cidade de Miracema do Norte Fugiu, desapareceu, escafedeu-se Oh! Arlindo Orlando volte Onde quer que você se encontre Volte para o seio de sua amada Ela espera ver aquele caminhão voltando De faróis baixos e para-choque duro… �  � 

Na passagem citada, a personagem Kindzu recorda os ensinamentos de seu pai diante do estado desolador em que se encontrava sua terra, assolada pela guerra, e reflete sobre a coerência de suas ações em relação a tais ensinamentos. Levando em consideração o contexto da narrativa do romance de Mia Couto, é correto afirmar que: a) A a) A demanda realizada por Kindzu e que é relat ada em seus cadernos funciona como uma forma de fuga para a personagem Muidinga, que se aliena da realidade da guerra pela leitura dos cadernos, indicando de modo inequívoco a função social da literatura. b) A narrativa contida nos cadernos de Kindzu, lida por Muidinga e Tuahir, representa o universo onírico e se contrapõe à realidade objetiva das duas personagens, razão pela qual ambas as narrativas apa recem no livro de modo intercalado, sem, necessariamente, haver uma interseção entre elas. c) Segundo a personagem Kindzu, a sua terra, sonâmbula como ele, seria um lugar da sobreposição entre sonho e realidade, tal como ocorre na narrativa que registra em seus cadernos, em que é impossível o estabelecimento de uma delimitação entre o onírico e o real. d) O sonho, sugerido pelo termo “sonâmbulo”, contrapõe-se à realidade da guerra, sugerida pela palavra “fogo”; terra sonâmbula seria, pois, um lugar em que os limites entre realidade e sonho aparecem bem delimitados e no qual as personagens estão condenadas definitivamente à miséria da guerra.

RESPOSTAS 1. Todas as afirmativas estão corretas: Blitz. http://letras.terra.com.br (fragmento).

I. Um erro muito comum é concordar a palavra meio com o sujeito ou adjetivo da frase, mesmo quando essa palavra desempenha função de advérbio de

Em relação ao Texto I, que analisa a linguagem do rádio, o Texto II apresenta, em uma letra de canção, a) estilo a) estilo simples e marcado pela interloculação com o receptor, típico da comunicação radiofônica. b) lirismo b) lirismo na abordagem do problema, o que o afasta de uma possível situação real de comunicação radiofônica. c) marcação rítmica dos versos, o que evidencia o fato de o texto pertencer a uma modalidade de comunicação diferente da radiofônica. d) direcionamento do texto a um ouvinte específico divergindo da finalidade de comunicação do rádio, que é atingir as massas. e) objetividade e) objetividade na linguagem caracterizada pela ocorrência rara de adjetivos, de modo a diminuir as marcas de subjetividade do locutor.

40. (Unicamp 2016) Leia o seguinte trecho da obra Terra Sonâmbula , Sonâmbula , de Mia Couto, extraído do  Sexto Caderno de Kindzu , Kindzu , subintitulado O regresso a Matimati .

intensidade. Costuma-se dizer, de modo incorreto: ela está meia nervosa. Mas, como a assertiva I diz, os advérbios não se flexionam e por isso ele será usado  somente no masculino e singular. II. O humor da tirinha se baseia no caráter ambíguo que admite a expressão “reeducação alimentar”, em que Armandinho entende a educação como aprendizado  primário, por se tratar de algo da vivência dele. O menino não entende o que é uma reeducação alimentar, daí a confusão. III: O próprio texto II comenta o processo de naturalização do garfo e o seu reflexo na organização das relações sociais. Resposta: E 

2. A principal intenção do texto é informar seu leitor sobre um determinado tema, no caso, a aquisição da linguagem por um bebê. A função textual que  predomina no texto é a referencial, caracterizada pela transmissão de dados, ideias e informações de modo neutro e objetivo. Resposta: C GE PORTUGUÊS ����

143

SIMULADO

3. Os temas mais recorrentes nos poemas de Camões são o desconcerto do mundo e o sofrimento amoroso. Nesse poema, o sofrimento e o desconcerto se materializam por meio dos paradoxos, que aproximam elementos contrários de forma a criar uma tensão existencial. Os versos da menina não se utilizam desse recurso justamente por tentarem resolver essa questão. Eles se apresentam como  solução e, portanto, não se utilizam de paradoxos.

moralmente, resultando no primeiro malandro da literatura brasileira, são algumas das características realistas assumidas no texto. A alternativa E é a única que não representa afastamento dos padrões românticos. Resposta: E 

Resposta: B

10. A ironia, as entrelinhas e o dito pelo não dito são característicos do

4. O texto começa afirmando que a leitura não é uma atividade apenas visual.

narrador-personagem Brás Cubas. Ao perguntar se ele poderia tirar do leitor o gosto de notar as características do bilhete de Virgília, ele utiliza a própria  pergunta pra tirar do leitor esse gosto e lançar sobre esse leitor a sua análise do bilhete. Portanto, ele se vale da preterição, por conta do fingimento de se recusar a falar de coisas das quais já está falando.

Lançada essa tese, ele vai desenvolver os argumentos para persuadir e convencer o leitor a respeito dela. No processo de persuasão, o autor do texto leva o leitor a aderir sua ideia e tomá-la como verdadeira, e geralmente ele é b em-sucedido por meio do uso de afirmações, com parações e exemplos. Nesse caso, a alternativa E representa a visão que o autor busca desconstruir em sua argumentação.

Resposta: C 

Resposta: E 

11. Os aspectos compositivos citados pela questão es tão presentes também

5. a) Jão Fera é uma personagem ambivalente, pois não pode ser classificada

em Vidas Secas , de Graciliano Ramos. Memórias Póstumas de Brás Cubas  é uma obra do Realismo, enquanto Vidas Secas pertence ao romance regionalista de 1930, da segunda fase do Modernismo, e se caracteriza como neorrealista. Também em Vidas Secas se encontram a concisão de meios expressivos e as falas direcionadas  sempre ao leitor, que acompanha e dá sen tido à jornada de Fabiano.

 puramente como vilão ou herói. he rói. b) Essa ambivalência do personagem pode ser exemplificada de várias maneiras. Jão Fera é matador profissional. Se em uma passagem do romance chega a despedaçar um inimigo com as próprias mãos, em outra salva Berta do ataque de um bando de queixadas. Em algumas passagens do romance, as duas faces de Jão Fera se manifestam ao mesmo tempo, evidenciando o profundo sofrimento do personagem com seu destino. Outro exemplo é seu estranho conceito de honra: mesmo sendo matador profissional, nunca ataca sua vítima à traição, pelas costas, sempre pela frente, para que ela tenha a possibilidade de se defender. Essa atitude, por outro lado, revela a secreta esperança de ser morto e pôr um fim a sua vida infeliz.

Resposta: D

12. A ironia é uma figura de linguagem que consiste no emprego de uma expressão com o objetivo de dizer o contr ário. Isso acontece nos quadrinhos pela afirmação de uma máxima no conteúdo dos retângulos e sua imediata negação na fala dos personagens. Essa negação, no contexto empregado pelo autor, é altamente crítica à postura assumida por algumas pessoas no “mundo conectado”. Resposta: A

expre ssão “estão em alta”, segundo o texto, te xto, significa que as bicicletas 6.  A expressão 13. O texto de Verissimo é uma narração e, por isso, ele tem liberdade de terão vias elevadas. Esse é o sentido genuíno, ou denotativo, que acontece quando uma palavra é empregada com seu significado próprio e dicionarizado. Caso a expressão “estão em alta” tivesse sido utilizada apenas em sentido figurado, ou conotativo, o significado seria o de “estar na moda”. Resposta: D

ousar no estilo da escrita. Nesse caso, o autor retoma a história do nascimento de Jesus Cristo, contada pela Bíblia no Novo Testamento com linguagem formal e rebuscada, de uma maneira completamente oposta. Ele se utiliza da linguagem informal, popular, cheia de gírias e maneirismos para tratar de um tema “sagrado”,  gerando o efeito de hu mor pelo contraste ent re forma e conteúdo. Resposta: E 

7. Vale lembrar que predicação verbal diz respeito à ligação entre sujeito e verbo, e verbo e complementos. De acordo com essa ligação, os verbos podem  ser transitivos, tr ansitivos, intransitivos ou de ligação. Nesta questão, o verbo é transitivo indireto, uma vez que admite um objeto indireto (desobedecer a alguma coisa ou a alguém). Resposta: E 

ticas físicas de pessoas e lugares. Por meio da descrição de roupas, ações, lugares, é possível depreender muitas informações sobre um personagem. Nesse excerto, todo o detalhamento do coronel, a princípio não tão relevante, como seu modo de andar e suas vestimentas, servem para revelar características psicológicas psicológicas e com portamentai  portamentais, s, como como poder e segurança segurança,, e traçar traçar um perfil completo completo do do personag personagem. em.

8. O outro recurso de intertextualidade presente no texto é a fala do último

Resposta: D

quadrinho: “perco a piada, mas não perco a ferroada”. Ela recria o ditado popular “perco o amigo, mas não perco piada”. Ocorre a intertextualidade (referência a um outro texto) por meio de uma paródia, que também é responsável pelo humor da tira.

15. Os anúncios publicitários, em geral, se utilizam da função apelativa da

Resposta: E 

9. O romance de Manuel Antonio de Almeida é uma obra de transição. Foi escrito durante o Romantismo no Brasil, mas sua narrativa traz elementos que  pertencem ao Realismo. A não idealização dos personagens, tanto física quanto 144

14. A descrição não é meramente um texto que se presta a relatar caracterís-

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

linguagem, que fala diretamente com o interlocutor sempre empregando um verbo de ação no imperativo, como “mude”. Por meio da fala dirigida ao leitor e da associação desse leitor à embalagem cheia e disforme do açúcar, o anúncio busca provocá-lo a uma reflexão para fazê-lo mudar de ideia – querer mudar de embalagem (corpo) e, assim, mudar de produto (do açúcar para o adoçante). Resposta: D

16. Um dos elementos mais marcantes da literatura do Naturalismo é o 22. a) Nesse romance pertencente à segunda fase do Modernismo, Jorge determinismo, a influência do meio sobre o indivíduo. Em O Cortiço , são retratados o comportamento e o modo de viver da classe popular. Nesse contexto, a música  popular desperta mo vimento e sensações envolventes, beirando o animalesco (como “cobras numa floresta incendiada”), o sentimento contrário ao “fadinho nostálgico dos desterrados”. Desse modo, é estabelecida uma oposição entre os comportamentos característicos de portugueses e brasileiros, povos ligados pelo  processo de colonização. Resposta: C 

17. São características de textos dissertativos a discussão de um assunto e a defesa de uma tese. Na introdução, o tema t ema é apresentado. No desenvolvimento, são colocados os argumentos e, na conclusão, costuma-se chegar a uma solução para o assunto problematizado. Para compor seu raciocínio, o autor apresenta dados científicos, que embasam e possibilitam a reflexão sobre o que é apresentado. O uso de argumento de autoridade é importante para validar o que está sendo discutido, e pode aparecer em forma de discurso direto ou indireto – este último é o utilizado  por Drauzi Drauzioo Varell Varellaa no no excer excerto. to. A concl conclusã usãoo reforça reforçade modo modo coerente coerente os argument argumentos os apresentados e, por meio de fundamentação científica, condena o preconceito. Resposta: B

18. A conjunção “embora” desempenha função de concessão por ligar a oração “seus erros são cometidos em escala muito mais ampla” à outra, “seus acertos sejam inúmeros”, estabelecendo justamente a condição de concessão entre elas. Já a palavra “como” é utilizada para exemplificar a oração anterior. A conjunção adversativa “mas” indica uma ideia de oposição em relação à afirmação anterior. Por fim, o segundo “como” ressaltado no texto tem sentido diferente do  primeiro. Ao resgatar uma fala, ele atua como conformidade. Resposta: E 

19. A escola literária em que o poema se insere é o Simbolismo. As características dessa escola predominantes nesse poema são: a valorização dos sentidos e a sinestesia, figura de linguagem que co mbina várias sensações. Resposta: E 

20. a) Alguns recursos empregados na expressão: 1 – O oximoro (figura de linguagem que coloca numa mesma frase duas expressões contrárias) que associa prenda, considerada uma coisa boa, ao adjetivo terrível. 2 – Metáfora: a natureza como uma prenda.  3 – Inversão, uma vez que o usual é colocar o substantivo à frente do adjetivo. b) Para passá-lo à norma culta, pode-se reescrevê-lo da seguinte maneira: Há um verso de Drummond que afirma: “A madureza, essa terrível prenda”. Não sei, Clarice: ficamos mais capazes, mas também mais exigentes. e stabelecida uma oposição entre os comportamentos ca21. 21. I – Desse modo, é estabelecida

 Amado retrata os socialmen socialmente te excluídos excluídos como pessoas pessoas vítimas das mazelas mazelas sociais e da desigualdade. Eles são apresentados do ponto de vista deles mesmos, com foco nas relações entre eles e seus sentimentos, sem uma visão externa ou elitista. b) A “vingança” de Sem-Pernas, que, para não ser pego pelos policiais, atira-se do alto do morro, representaria não apenas uma resposta à sociedade, da injustiça  social de que ele fora fora sempre sempre vítima, vítima, mas também a explicitaç explicitação ão de que a agressão agressão e a violência praticadas pelo Estado, r epresentada pela ação dos policiais, ganha um contorno de sadismo paradoxal. Isso porque, quando seria de se esperar que a  polícia, e por extensão o Estado, representasse proteção proteção aos cidadãos, sobretudo sobretudo a crianças e jovens, encontra-se, na cena descrita, um policial que surra covardemente uma criança deficiente, enquanto outro policial ri. Além disso, a opção de Sem-Pernas pela morte resgata sua individualidade e dignidade na massa de excluídos e marginais, na medida em que lhe confere um aspecto heroico.

23. O cartum de Quino traz homens completamente indiferentes uns aos outros, que não se olham, e, provavelmente, que não se reconhecem como iguais, embora se enquadrem num mesmo modelo. A placa que traz o coração cortado  sugere que o amor amor e a sensibili sensibilidade dade – sentim sentimentos entos ligados à figura figura do coração coração – estão estão  proibidos por por ali. Os versos do poema que mais fielmente traduzem a mensagem do cartum são os da alternativa D. O uso da palavra “proibido”, o significado da  placa, a própria coibição dos sentimentos e a indiferença presentes nos versos estão também no cartum. Resposta: D

24. a) A palavra “como” desempenha a função de conjunção subordinativa causal por indicar a causa da oração principal. Já a expressão “ainda que” tem  sentido de locução locução conjuntiva conjuntiva subordin subordinativa ativa concessiva, concessiva, uma uma vez vez que ela introduz introduz uma oração que, sem negar a principal, principal, exprime sentido oposto a ela. b) Para reescrever esses períodos, o estudante pode substituir as palavras em negrito por qualquer conjunção ou locução conjuntiva que estabeleça o mesmo  sentido que elas. Na primeira frase, ele deve optar por conjunções conjunções com efeito de causa (porque, dado que, visto que, entre outras). Já na segunda, ele escolhe as adversativas, que podem ser: apesar de, mesmo que, embora. I. Dado que o dólar ocupa lugar central no sistema monetário global, todos os  países devem se preparar para para o fim do período período de juros juros internacionais internacionais próximos de zero que vigora desde 2009. II. É saudável que o governo brasileiro comece a se mostrar disposto a reverter, mesmo que tardiamente, algumas das ações...

25. A obra de Clarice Lispector se encaixa na terceira fase do Modernismo e dá espaço a personagens femininas sofridas. Em A Hora da Estrela , essa personagem é Macabéa, jovem nordestina sonhadora. Sua maior ambição é se tornar uma estrela. Ao ser atropelada por um carro de luxo, Macabéa realiza metaforicamente seu desejo de ser estrela através de duas significações da palavra: a  primeira diz respeito ao eufemismo da morte, enquanto a segunda diz respeito à notoriedade por causa do acidente.

racterísticos de portugueses e brasileiros, povos ligados pelo processo de colonização. II – Não se pode colocar uma vírgula após o trás pois a expressão “cada década  para trás” desempenha a função de sujeito da frase e não não se pode pode separar sujeito sujeito de predicado. III – Tanto o trave ssão quanto os parênteses podem ser usados para isolar frases intercaladas de caráter explicativo, como é o caso do texto.

Resposta: E 

Resposta: C 

Resposta: D

26. É comum o uso de um tempo verbal no lugar de outro para, muitas vezes, tornar a comunicação mais leve e próxima da realidade da fala. Nesse caso, foi usado o pretérito perfeito, mas ele se refere a um evento ocorrido no futuro.

GE PORTUGUÊS ����

145

SIMULADO

27.

34.  As regras regras de de concordânci concordânciaa estabelecem estabelecem que, quando quando o sujeito sujeito da oração é

b) No trecho extraído de Quincas Borba , ocorre oco rre discurso indireto livre. Esse

um numeral fracionário, o verbo deve concordar com o inteiro que inicia a fração. No caso do exemplo, o inteiro é um, por isso o verbo deveria ter sido grafado no  singular,  singular, ficando da seguinte maneira: um terço dos alimentos produzidos no mundo é desperdiçado anualmente. Atenção, o que costuma confundir bastante é a concordância de frações e a de porcentagem, mas elas não são iguais. Com  porcentagens, se há substantivo após o numeral, o verbo concordará com o substantivo. Por exemplo: 92,7% da população quer a redução da maioridade penal.

 a) O tipo de discurso usado nesse trecho em Iracema é o discurso direto.  As falas são transcritas literalmente literalmente e atribuídas atribuídas ao falante, falante, sem a intermediação do narrador. O uso do travessão e de verbos declaratórios que introduzem as falas, como replicar e proferir, são marcas desse tipo de discurso. tipo é caracterizado pela incorporação de palavras ou falas dos personagens ao discurso do narrador, comumente adaptadas e alteradas. A ausência de verbos de declaração e de elementos que introduzam a fala literalmente ajuda a identificar o discurso indireto livre.

Resposta: E 

28. A formação desse vocábulo se dá por prefixação e sufixação (inter + 35. A dor à qual o poeta se refere no verso “Que chega a fingir que é dor/ mediar + ção). Posteriormente, acontece o acréscimo do prefixo “des” ao vocábulo intermediação, intermediação, formando a palavra desintermediação.

 A dor que deveras sente” sente” não é a sua dor sentida, individual e personalizada. personalizada. É um simulacro da dor; é a dor fingida. Há uma oposição entre a dor sentida e a fingida – esta última seria uma racionalização da dor sentida.

29. A polissemia acontece quando uma palavra ou expressão tem mais de

Resposta: D

um sentido literal e precisa ser entendida dentro de um contexto. Na charge apresentada pela questão, o contexto possibilita dois sentidos para a expressão “quadro dramático”: um se refere à pintura de Picasso, que retrata o caos posterior a uma destruição, o outro se refere à situação de trânsito.

 poesia. O fazer poético e a recriação artística artística da realidade são temas presentes presentes nos poemas do próprio Fernando Pessoa.

Resposta: E 

Resposta: C 

36. Autopsicografia é metalinguístico por falar da poesia por meio da própria

30. A única obra que se encaixa nessas características é Macunaíma , de 37. a) O erro que aparece no anúncio I é a utilização da preposição “a” (a 10 Mário de Andrade. O livro faz parte da primeira fase modernista, e a influência das vanguardas europeias é visível em várias técnicas inovadoras de linguagem, como a aproximação com a oralidade. Há inúmeras referências ao folclore do  país em uma narrativa narrativa de caráter mítico, mítico, que procura fazer um retrato retrato do povo brasileiro. A narrativa também se caracteriza pela fragmentação, e os acontecimentos não seguem as convenções lógicas. Por exemplo, é necessário aceitar o fato de o protagonista morrer duas vezes ou, então, que Macunaíma, em uma fuga, possa estar em Manaus e, algumas linhas depois, aparecer na Argentina. Resposta: B

31. Entender a função e os impactos das tecnologias da comunicação e da informação é uma competência exigida no Enem e também em outros vestibulares.  A questão questão trata trata das mudanças mudanças causadas causadas pela pela incorporaç incorporação ão da da Internet Internet ao ao cotidiano cotidiano de tribos indígenas brasileiras. No texto, há menção ao fato de usarem a rede para ajudar na preservação de sua cultura. Mesmo adaptando termos da informática à sua língua indígena, a tribo Sapucaí mantém a sua identidade. Resposta: C 

32. Viana Moog utiliza um complemento que retoma de forma redundante o radical do verbo (sorrir um sorriso), chamado “objeto direto interno”. Esse emprego não é um pleonasmo vicioso como nos outros exemplos, mas um recurso estilístico,  pois foi usado intencionalmen intencionalmente te pelo autor para para provocar um efeito efeito poético. poético.

146

anos) no lugar do verbo haver (“há dez anos”). b) A forma “pra”, característica da linguagem coloquial e informal, exprime

 proximidade a quem se dirige. Desta maneira, pretende estabelecer uma relação relação de intimidade entre o chef e o cliente do restaurante.

38. O modo de encarar a dificuldade do fazer poético é diferente em ambos. Gregório de Matos é um poeta barroco, cujos poemas refletem r efletem as tensões espirituais do homem de sua época, dividido entre o pecado e a salvação. Já Carlos Drummond de Andrade, que passou pelo movimento modernista em quase toda a sua exten são, opõe o sujeito sujeito e o mundo, mundo, refletindo refletindo a pequenez do homem homem – e do poeta. E observa o fazer poético como um ato interno de resistência, uma vez que a poesia não é só inspiração, mas um trabalho duro de composição de palavras e de versos. Resposta: C 

39. O texto I caracteriza a linguagem radiofônica, enquanto o texto II é uma canção que representa um programa de rádio, ou seja, um exemplo do que é explicado no texto I. Em relação ao texto I, o texto II apresenta estilo simples, com linguagem coloquial, como se estivesse “conversando” com o ouvinte. Uma das características da comunicação radiofônica é, justamente, estabelecer um diálogo com o ouvinte. Resposta: A.

Resposta: D

40. Terra Sonâmbula, de Mia Couto, narra duas histórias paralelas. A primeira

33. A coesão garante a articulação clara e organizada entre as diferentes  partes e elementos de um texto. O uso de conjunções ajuda a manter os períodos coesos. No trecho “Que ela tenha a sorte que merecer, mas que possa também, amanhã ou daqui a séculos, despertar um escritor mais hábil”, o emprego da conjunção “mas” em paralelo com o termo “também” configura a relação de adição.

enfoca o velho Tuahir e o menino Muidinga fugindo da guerra civil de Moçambique. Em seu percurso, eles encontram o diário de um homem morto, Kindzu, vítima do conflito. A partir daí também é contada, em flashback, a história de Kindzu. Ele havia abandonado sua aldeia para se tornar um guerreiro e lutar contra as injustiças dos fazedores da guerra. Durante sua trajetória, ele entra em contato com uma realidade que se mistura ao mágico e ao absurdo.

Resposta: D

Resposta: C.

GE PORTUGUÊS GE  PORTUGUÊS ����

View more...

Comments

Copyright ©2017 KUPDF Inc.
SUPPORT KUPDF