POESIA NO MODERNISMO: Uma análise dos poemas “O relógio”, de João Cabral de Melo Neto, e “Paisagem n. 3”, de Mário de Andrade

November 17, 2018 | Author: Phillip Felix | Category: Time, Modernism, Poetry, Rhythm, City
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POESIA NO MODERNISMO: Uma análise dos poemas “O relógio”, de João Cabral de Melo Neto, e “Paisagem n. 3”, de Mário de A...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS – UFMG FACULDADE DE LETRAS

PHILLIP FÉLIX DE OLIVEIRA SOUZA

POESIA NO MODERNISMO: Uma anális !"s #"mas $O %l&'i"() ! *"+" Ca,%al ! Ml"  N-")  $Paisa'm $Paisa'm n. /() ! Má%i" Má%i" ! An! An!%a! %a!

0ELO HORIZONTE 1234

Introdução

Este trabalho visa analisar os poemas “O relógio”, de João Cabral de Melo Neto, e “Paisagem nº 3”, de Mrio de !ndrade, atrav"s da #ompara$ão entre eles e de %&estionamentos #omo, por e'emplo, se os poemas dialogam entre si, se se #ontrap(em, se são #omplementares, dentre o&tros m"todos) ! es#olha por analisar dois poemas de a&tores di*erentes *oi *eita para %&e se possa ter &ma visão mais ampla do %&e *oi o movimento modernista, mostrando di*erentes pontos de vistas, + %&e o poeta tamb"m " &m observador flaneur-) Desenvolvimento

O poema “O relógio” " dividido em . se$(es #ompostas de / %&adras) 0e& #onte1do *a2 re*ern#ia ao *ato o& *ator-, talve2, mais importante do modernismo e &m dos ass&ntos mais debatidos4 o tempo) Entretanto, o poema não apenas *ala do tempo #omo medida, mas #omo limita$ão do homem e, tamb"m, *a2 re*ern#ias a todo momento ao movimento da vida moderna, #omo ela " din5mi#a) E'istem “#ai'as de vidro” %&e #er#am, rodeiam e en#&rralam o homem) O poeta #ompara o relógio a +a&las e gaiolas, as %&ais dão ideia de prisão, priva$ão da liberdade) 6sto ", o homem " es#ravo do tempo esse #on#eito + est bem *i'ado na #<&ra brasileira e, por %&e não, na m&ndial-) Esse aspe#to " interessante4 a &tili2a$ão da grada$ão, mais espe#i*i#amente o anti#l7ma' do maior para o menor-) 6ni#ia8se o poema pela +a&la maior-, depois pela gaiola at" #hegar no relógio de p&lso menor-, o& se+a, atrav"s dessa *ig&ra de ling&agem d8se a ideia de dimin&i$ão do tempo) !inda na primeira se$ão o poeta *a2 &m +ogo #om as palavras “pssaro” e “pssara” %&e remetem tamb"m ao verbo “passar” no *&t&ro do presente da ter#eira pessoa “pssara”-) ! polissemia da palavra palpitar %&e pode dar ideia de renovar, agitar, #omover, ter pressentimento o& dar palpites- " bem e'plorada) 9 tamb"m &ma #one'ão entre os termos “palpitar” e “saltar” %&e +&ntos remetem ao #ora$ão, %&e, por s&a ve2, simboli2a a vida, esta %&e voa “alada”- #om o tempo) O poeta en#erra a se$ão *alando sobre o *ato de se passar desaper#ebido pela vida, por isso m&itos #antam, para #hamar aten$ão, para ir de en#ontro a e*emeridade da vida) Na seg&nda se$ão o poeta vai m&dando o *o#o e e'plora mais o “*lane&rismo”) Nessa

ele + #ome$a a des#rever as pessoas, os transe&ntes, atrav"s do 2oomor*ismo, da animali2a$ão) 9omens são pssaros) !ssim #omo o pssaro preso na gaiola, o homem est limitado a repeti$ão, ele não pode o& não %&er desviar o m7nimo se%&er do se& trabalho) Nesse momento per#ebe8se a #r7ti#a ao novo modelo e#on:mi#o, o %&al dei'a, seg&ndo o poeta, a vida monótona e hori2ontal, isto ", linear, sem novidades, sem gra$a) ;&ando se #hega na ter#eira se$ão, #ome$amos a per#eber o movimento %&e poeta est #riando) No in7#io do poema est do lado de *ora do sistema, est nas r&as, ele " o flanêur. Em seg&ida ele parte para o interior do sistema4 dentro da ind1stria) Entretanto, o *o#o do poeta a#aba por ser barrado, h &ma limita$ão) !ntes, ele est *ora observando as pessoas na #idade, em seg&ida, entra na ind1stria e des#reve a lab&ta e %&ando %&er ir interiori2ar8se mais não tem #omo, então, ele espe#&la4 “%&em sabe, o tempo” " o %&e move a m%&ina) Nesse ponto, o poeta #hama nossa aten$ão4 podemos, atrav"s, da poesia, saber o interior de &ma pessoa, mas não temos #omo saber o interior de &ma m%&ina) O&tra *erramenta %&e o poeta &tili2a " a antropomor*i2a$ão da m%&ina “mão de m%&ina”-) Na %&arta e 1ltima se$ão do poema, o #ora$ão h&mano " #omparado a &ma m%&ina, %&e *&n#iona mesmo depois %&e a m%&ina da ind1stria para) Por"m, se desgasta at" a 1ltima “gota”, at" a 1ltimo res%&7#io de *or$a, sem ter #ompai'ão de si mesmo) ! ling&agem &tili2ada " bastante apro'imada da oralidade, as pont&a$(es, *rases o %&e #a&sa &m e*eito r7tmi#o espe#ial ao poema, e esse ritmo “reali2a &ma opera$ão #ontrria a dos relógios e #alendrios ?@A, p) B?-) O peota &tili2a8se de &ma ling&agem ritmada para #riti#ar algo %&e ele observa4 Estamos l&tando, ao vivermos assim, #onta nós mesmos) Pois, inda seg&ndo Pa2, o “tempo não est *ora de nós, nem " algo %&e passa a *rente de nossos olhos #omo os ponteiros do relógio4 nós somos o tempo, e não são os anos mas nós %&e passamos)” O relógio " algo %&e o homem moderno #rio& talve2 n&ma tentativa de #ontrolar o tempo, por"m o tiro sai& pela #&latra4 o tempo nos #ontrola) !t" os dias de ho+e para vermos %&anto atemporais *oram os modernistas- o tempo es#ravi2a, todos re#lamam da *alta de tempo) O seg&ndo poema, “Paisagem n) 3”, de Maria de !ndrade, " #omposto por trs estro*es4 &ma oitava, &m ter#eto e &ma d"#ima) Em ve2 de *a2er &ma abordagem predominantemente temporal, o e& l7ri#o + #ome$a a *alar do espa$o a s&a volta) Podemos per#eber a di*eren$a de posi#ionamento de ambos poemas at" pela *orma %&e #ada se apresenta4 em “O relógio”, assim #omo o tempo " todo metri*i#ado, o poema tamb"m tem se$(es de ig&al tamanho, versos de ig&al tamanho, não h m&dan$a na *orma, assim #omo não h #omo m&dar o tempo + o “Paisagem n) 3”, tem versos livres, estro*es totalmente d7spares

em tamanho e m"tri#a) No poema de !ndrade, o e& l7ri#o + a dar sinais de s&a lo#ali2a$ão na primeira estro*e ao se %&estionar se o %&e via era o& não #h&va) Em seg&ida, o poeta di2 nomes, #omo “Dosmos” e “!ro&#he”, %&e den&n#iam a #idade %&e ele est des#revendo, %&al se+a 0ão Pa&lo) ! garoa " personi*i#ado pelo poeta4 ela " triste, amb7g&a  sorri tristemente e tamb"m engana, por &m instante, o poeta %&e ainda não sabe o %&e v , tem dedos) Entretanto, o olho do poeta não " %&al%&er tipo de olho, ele en'erga al"m) Por"m vem a Fo&#&ra o&tra personi*i#a$ão- e #hama a aten$ão do poeta, %&e tamb"m se e'p(e ao di2er se& primeiro nome4 Mrio) Este #on#orda #om %&e lhe " pedido, #olo#a s&a ms#ara de volta, isto ", ele, #omo todos %&e estão na #idade, andam sem pensar) O e& l7ri#o #ome$a &ma des#ri$ão do lo#al, mas assim %&e apresenta se& lado s&b+etivo, vem a Fo&#&ra o lembra %&e não " pr&dente sair da posi$ão em %&e se en#ontra) Geve8se #ontin&ar, não pensar, não #riti#ar) Mas " e'atamente isso o %&e o poeta *a24 ao di2er %&e não se pode pensar, + est #riti#ando) No entanto, pode8se ler, tamb"m, da seg&inte *orma4 o poeta estava saindo de se& papel #omo observador, mas veio a Fo&#&ra e lhe aviso& para não *a28lo) Os dois 1ltimos versos da primeira estro*e são os mais intrigantes, pois destoam totalmente dos o&tros, poss&em &ma #arga de abstratividade m&ito maior %&e os o&tros versos) H a parte %&e mais revela, o&, ao #ontrrio, %&e dei'a mais emblemti#a a s&b+etividade do e& l7ri#o) !pesar dessa #on*&são %&e pode ser gerada por essa passagem, no *inal do poema o poeta harmoni2a t&do) Portanto, o poeta in#ia #om a tese, apenas des#revendo o lo#al e v %&e não tem l&gar pra ele *a2er #ompras, não h li%&ida$ão re*ern#ia ao #ons&mismo-, mas, de repente, se depara #om s&a s&b+etividade, %&e " a ant7tese  por%&e olhar pra *ora se posso olhar pra dentroI Em seg&ida seg&e8se a 1ltima estro*e, %&e vem #om a s7ntese4 ele #ontin&a des#revendo *ala do #hão da #idade %&e " de  petit pavé -, no entanto, nos dois 1ltimos versos ele #ria a harmonia entre os di*erentes) !trav"s das palavras “#h&vis#o” e “aris#o” ele liga, pelo som, sol e #h&va, mostrando %&e eles podem #oe'istir) Conclusão

Podemos per#eber %&e ambos poemas &tili2am &ma ling&agem di*eren#iada da norma pregada #omo “padrão”) No “O relógio” podemos per#eber, atrav"s do estilo #olo%&ial, do oralismo, o ritmo %&e isso provo#a na leit&ra do poema, pois o ritmo " #ara#ter7sti#a das

l7ng&as nat&rais) No poema “Paisagem n) 3”, temos a presen$a de palavras estrangeiras, o&tra #ara#ter7sti#a das l7ng&as nat&rais4 elas podem *a2er empr"stimos ling&7sti#os entre elas) Em ambos poemas, per#ebe8se o %&anto o movimento " importante nesse movimento art7sti#o) !trav"s dos dois poemas temos &ma leit&ra do rasil modernista, &ma leit&ra espa$otemporal4 os poetas &tili2am ritmo ligado ao tempo- e imagem #riada pelo poema ligada ao espa$o-) !mbos veem, tamb"m, &m grande problema no ritmo #riado por essa modernidade, &m ritmo #riti#ado em ambos4 em Neto, somos prisioneiros, !ndrade, somos meros re*le'os no #hão molhado) João Cabral de Melo Neto e Mrio de !ndrade #on#ordam ao #riti#ar esse sistema %&e oprime a so#iedade, %&e nos oprime %&ando tentarmos ser e não tão somente e'istir, ser apenas mais &m n1mero na estat7sti#a, por tomar totalmente nosso tempo, por não podermos sair do ritmo do sistema prod&tivo8#ons&mista) ! própria *erramente &tili2ada para se #riti#ar " a mais ade%&ada4 a poesia, pois “a *rase po"ti#a " tempo vivo, #on#reto  " ritmo, tempo original, perpet&amente se #riando) Cont7n&o renas#er e tornar a morrer e renas#er de novo” P!=, >?@A p) @>-) ! #idade, apesar de movimentada, " monótona, não m&da, e %&e vai #ontra essa monotonia " #onsiderado lo&#o) E era essa tal monotonia %&e o modernismo imp&gnava, pois “KoL modernismo, no rasil, *oi &ma r&pt&ra, *oi &m abandono de prin#7pios e de t"#ni#as #onse%&entes, *oi &ma revolta #ontra o %&e era a 6ntelign#ia na#ional” !NG!GE, >?A, p) A3/-) O modernismo era &m movimento, ainda seg&ndo Mrio de !ndrade, destr&idor) Gestr&7a at" eles mesmos, os poetas, pois para negar o passado, deveriam ter #in#ia %&e eles, por serem a novidade, seriam, e *oram, #riti#ados pelos passadistas) Gever7amos tamb"m observar a realidade a nossa volta, tentar renovar, sair da monotonia) O homem deveria dei'ar de ser &m basba%&e, %&e devido a “in*l&n#ia do espet#&lo %&e se o*ere#e a ele, 
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