pescadô

November 28, 2018 | Author: shashasha2 | Category: Time, Life, Death, Nature
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adas sad...

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Bixaral, eu sou o Pescadô da pirocosa turma-17 e gostaria de contar uma historinha pra vocês. É sobre a trajetória de um rapaz chamado Felipe Yoody Naruki, desde o seu berço até os dias atuais, em que ele estuda no tão falado Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Peguem seus cafés e larguem do lápis, porque lá vem a história. Felipe nasceu em Campinas, no estado de São Paulo, porém passou a infância numa cidadezinha do interior de SP, Santa Rita do Passa Quatro. Tem um irmão mais velho e , mais recentemente, mais dois pequenos; é filho de pais divorciados e nunca tinha conhecido o pai de forma decente até os 15 anos. A família por parte de mãe possui uma pequena pastelaria em Santa Rita; a parte do pai era constituída por professores de língua japonesa e matemática do método Kumon. Até os 7 anos, viveu normalmente, assistia Cavaleiro dos Zodíacos, Power Rangers, Digimon, PoKéMoN, Dragon Ball etc; fazia Kumon , ia pra escola e brincava na rua, enquanto passava o ano letivo na casa dos avós maternos e as férias de inverno e de verão na dos paternos. A primeira vez que ele tinha ouvido sobre o ITA foi numa conversa do avô professor e da mãe dele, em que eles destacavam a inteligência do garoto e vislumbravam o futuro do mesmo; o ITA foi citado numa brincadeira da mãe em que ela disse: "Nossa, seu Naruki, já pensou se ele passasse no ITA?" A resposta do avô ecoa na cabeça do moleque até hoje: "Se ele quiser, ele consegue." Uma das brincadeiras favoritas dele na infância era com bonecos, em que ele e seu irmão pegavam daqueles livros infantis em que as páginas, quando abertas, fazem surgir uma casinha tipo um cenário da história; no livro dele, eram planetas que se abriam e ele utilizava o livro para fazer os bonecos viajarem pelo espaço. Tudo normal até então, mas a partir daí tudo começou a mudar. Sua mãe era bastante problemática e brigava muito com os pais. Isso chegou até o ponto em que expulsaram-na de casa. Infelizmente, ao sair, ela levou os dois filhos junto. A vida se tornou muito difícil, viviam na favela da cidade, a escola ficava a 40 mins da casa; e o moleque começou a trabalhar, lavando carros ,espalhando folhetos pelas ruas, foi garçom entre outras coisas. Além disso, fazia uns servicinhos extras, roubando pão da padaria e frango das assadeiras do açougue.Porém, mesmo com essa nova vida, Felipe continuava a passar as férias na casa dos avós paternos, onde podia desfrutar de uma vida mais aconchegante. Bixo, tu podes me perguntar por quais motivos o Felipe não passou a viver imediatamente com os avós , ao invés de viver naquela merda. A resposta que lhe dou é simples: naquela época, ele jamais abandonaria a mãe. Como ficou óbvio, chegou um momento que ele abandonou. Foi morar com os avós paternos aos 12, e brigou com a mãe aos 14, sendo que até hoje não fala com ela. A vida a partir daí se normalizou, apesar de a personalidade de favelado ter sido algo bastante difícil de mudar e de se lidar. Os avós deles tinha muito trabalho com ele: era mal-criado, sem educação e teimoso, falava muito palavrão, não sabia se comportar perto de pessoas normais. Quando ele tinha 14, a avó teve um aneurisma e foi embora para o Japão para tratamento, ficando, portanto, somente o avô para lidar com ele. O velho tentou de todas as formas fazer o imbecil estudar e se esforçar por vida melhor, mas o retardado não dava ouvidos e só queria saber de ir no clube e ficar de putaria com a namorada. Não foi por menos, depois de 2 anos que a avó tinha ido embora, o stress sobre o velho era tão grande que ele teve um AVC, ficou internado na UTI e faleceu. Foi a pior experiência que o filho da puta teve na vida, tanto que no leito do avô ele prometeu que mudaria, que não seria mais o mesmo, que daria o seu melhor não importando a situação. Ele prometeu se tornar um homem de verdade. Devido a morte do avô, o pai do garoto voltou do Japão para assumir a responsabilidade dos filhos. Mas não deu certo, pois, depois da morte do avô, Felipe realmente começou a repensar sobre a vida, a pensar nas consequências das coisas que fazia e que deixava de fazer, enfim, começou a se tornar responsável; por causa dessa nova personalidade, ele não aceitava as coisas que o pai fazia e com 16 anos saiu de casa. Nessa idade, tinha conseguido uma bolsa para fazer cursinho no Anglo da cidade, mas como agora morava sozinho, começou a trabalhar. Sua rotina se tornou em ir para o cursinho de manhã, trabalhar a tarde e ir para o 3° ano na escola pública à noite. Ganhava 450 reais de salário e pagava 150 de alguel, ou seja, sobra 300,tirando o dinheiro do ônibus sobrava 150 reais para se manter no mês, o que dá 5 reais por vida. Sim, a grana que ele tinha pra comer num dia era

equivalente à grande você usa pra comer um lanchinho no intervalo. Viveu dessa forma de fevereiro até setembro, quando sua tia e sua avó paterna, sabendo da sua situação e de seu esforço, começaram a ajudá-lo. Nessa época, nem passava pela cabeça dele o ITA, às vezes falava que queria ir pra lá só pra se sentir diferente das outras pessoas. Nesse ano, ele prestou UNICAMP, Unesp e ITA. Foi eliminado nas redações da UNICAMP e passou em engenharia civil em Ilha Solteira(por incrível que pareça, passou sem nem sequer saber pitágoras direito); no ITA foi destroçado. Sua tia e sua avó, percebendo as vitórias do moleque daquele ano, ofereram-lhe 1 ano de cursinho, para que ele pudesse tentar uma USP ou UNICAMP, de modo a dar uma segunda chance de estudos para ele. Perante a oferta, o moleque começou a deliberar sobre as possibilidades de carreira. Lembrou-se de seu avô, de sua infância, de seu desejo de viajar pelo espaço, assim como fazia o Goku nas suas brincadeiras. Assim foi aumentando a vontade de fazer Engenharia Aeroespacial. A decisão definitiva veio no vestibular do ITA. Depois de fritar durante a prova de química, um cara que estava sentado atrás dele começou a puxar conversa. "Ow, véi, cê tá bem? Parece que tá desesperado!" foram as primeiras palavras do cara. Depois disso ficaram conversando sobre o ITA e sobre o cursinho que o maluco tinha feito, o Poliedro. Por causa desse sangue-bom, o retardado decidiu ir para esse cursinho em São Paulo. Despreparado para uma turma ITA, começou com a classificação 389, sendo que o curso (São Paulo+SJC) tinha 450 alunos. Mal sabia pitágoras, seno, cosseno e a escrever. Suas redações nessa época dariam boas pérolas. Se fudeu o ano inteiro, estudou muito. Contando com as aulas, era uma média de 17 horas por dia. Contudo, embora o cursinho fosse a maior oportunidade da vida dele, o ano não foi uma merda. Nesse ano, o avô materno dele faleceu devido a um acidente de carro. O moleque, então, perdera mais um herói. Terminou o ano em 79 na classificação, passou no IME, mas não no ITA. Pediu outro ano de cursinho, mas não teve...tinham prometido apenas 1 ano de cursinho. Ele resolveu estudar por conta. Foi para a casa da avó materna em Santa Rita do Passa Quatro. Como o avô tinha falecido, a pequena pastelaria era administrada pela avó e por um tio. A proposta inicial deles era a de que o moleque fosse pra lá só para estudar, pois, apesar de não terem condições de pagar um cursinho, podiam sustentá-lo estudando por conta. Mas não foi o que aconteceu, o tio, que era o principal administrador, não trabalhava por causa de problemas com depressão. Assim, o rapaz teve que trabalhar. Até maio, não tinha conseguido estudar nada. Sua situação se agravava, ficava stressado,chorava todos os dias, chegou ao ponto de não sonhar mais em passar no ITA, tinha desistido. Queria estudar pra poder passar no IME novamente, mas,desta vez, na carreira ativa, que era muito mais fácil que a reserva e o ITA. Em junho, entrou em acordo com a avó e parou de trabalhar, embora a casa fosse passar por apertos. Houve dias que tinham apenas arroz e farofa para comer. A velha começou a adoecer por causa da situação, pois o negócio da família tinha se perdido, não tinham dinheiro para pagar as contas... Aí, bixo, você me pergunta: você não acha que o Felipe era um egoísta mimado por deixar essa situação acontecer e continuar estudando? Deixar a família passando fome, enquanto estudava cegamente para conseguir uma vaga num vestibular difícil como o do IME? Sim, ele concorda com você. Ele não é idiota e tinha noção da situação, mas o seguinte: com as contas feitas e as estimativas, ele achava que daria pra aguentar até o fim de outubro naquela situação, e a velha tinha concordado em fazer aquilo. Colocando numa balança o "se ferrar agora e passar no IME" e o "se fuder a vida inteira", passar no IME seria muito produtivo. Mas a vida dá duros golpes e nem sempre as coisas saem como pensamos que sairiam. A vida é algo dinâmico, que não funciona linearmente. Ele errou ao acreditar que era possível viver daquela forma extrema por muito tempo. Continuando a história... Chegou em outubro e nem tinha acabado de ver a teoria para o vestibular. Foi para o IME, passou da 1a fase, beleza. Mas ,na semana anterior a 2a fase, apareceu uma consequência de seus erros: a avó dele passou mal e teve de ser internada no hospital. Por isso , ele não conseguiu estudar nessa semana. Foi fazer a 2a fase com a avó internada. E Foi muito mal. Depois da internação da velha, o tio começou a manifestar reação, voltou a trabalhar e a cuidar da velha. Isso era no começo de novembro, o vestibular do ITA era na 2a semana de dezembro. Obviamente, ele já tinha decidido que aquele

seria seu último ano tentando ITA, pensava ele: "O ITA é um lugar pra pessoas que têm oportunidade de estudar e que realmente aproveitam essa oportunidade. É um lugar com pessoas dedicadas e com dinheiro." Mas ele também se lembrava do sonho de estar lá, de viajar pelo espaço, dos incentivos do avô professor, do "Se ele quiser, ele consegue". Não poderia desistir daquele jeito, tão facilmente, ele ainda tinha um mês e uma semana,embora precisasse terminar a matéria e tentar fazer algumas provas antigas. "Será possível?", deliberava. "É muito pouco tempo...nessa época, o pessoal já terminou a revisão e tá fazendo prova antiga." "É muita coisa..." Então, eis que no meio dessa psicose, as lembranças do avô professor começam a ter mais impacto. Broncas que o moleque levava como:" Você não é homem o suficiente pra assumir responsabilidades" e "Você é um bosta" faziam-no se lembrar constantemente da promessa de mudar. "Você tem um tiro, uma oportunidade, não é apenas uma chance de dar uma vida melhor pra sua família, é a chance de você provar a si mesmo que mudou, que não é mais aquele moleque ignorante e favelado, me mostre que você é um homem de verdade, vamo ver do que você é feito. Você aguenta? ou é só um bosta mesmo, que não vai até o fim. Esse é o seu limite? É só até aqui que você consegue chegar? Sua avó adoeceu por sua culpa! VAMO, PORRA!" O moleque deu o gás. Ele mal se lembra se dormiu nesse mês ou não, não viu os dias passarem. O dia começou às 7 da manhã do dia 5 de novembro, acabou no anoitecer do dia 10 de dezembro. Mas,no meio desse tempo,uma semana antes do prova do ITA, saiara o resultado do IME. Ele procurava desolado seu nome na lista de aprovados, mas não estava. Começou a pensar que tinha errado e mandaram uma lista errado, haveria erratas futuramente. Não houve. Dias depois saiu a relação dos candidatos não-aprovados, sua inscrição estava lá junto de suas notas: matematica 4.7,fisica 3.8, quimica 7.5, portugues 8.5 e ingles 6.1. Olhou a correção de sua prova, havia tirado 0.2, porque ele havia esquecido de colocar as unidades na questão da lente esférica. Pensava ele:"com certeza eu consigo passar, eles vão me dar esse 0.2, é só um erro de unidade". Pediu a recorreção, de certa forma, tranquilo, achando que o IME já estava garantido, só faltava corrigirem aquele abuso.Voltou aos estudos e conseguiu terminar a matéria e fazer as provas de 2012 e 2011. Nem pensava se acreditava em passar ou não no ITA, aquele não era o momento de pensar naquilo, aquela prova o separava de tudo aquilo que ele sempre quis ter, era como um cão que não larga o osso. Só pensava no quão importante era aquele momento, na vida que poderia dar para si e para sua família caso estivesse no ITA. Definitivamente, com essas ideias em mente, não havia como ter espaço pra incertezas. Veio a prova de física, a mais difícil que ele já fez. Passaram 2hrs e meia de prova, e o merda só tinha conseguido fazer 7 objetivas. Pensava:"Você tem 1hr e meia pra fazer as dissertativas e fazer mais 1 teste. Agora sim, você vai me provar do que é feito. Essa é a hora, VAI PORRA!" O viado conseguiu terminar as dissertativas em 1hr, deixando só uma em branco. Correu pros testes, tinha apenas 30 min. No final, chutou apenas 3 testes. Na prova de português, estava confuso. Não conseguia entender os enunciados, parecia que as questões tinham mais de uma alternativa. Fez a redação muito bem. Depois da prova, resolveu ver o gabarito dos testes, achava que haveria questões canceladas. Nenhuma foi, e ele tinha acertado apenas 8 testes. Foi uma porrada na cabeça, chorou muito. Mas o estado de frenesi não permitiu que enfraquecesse. Ele teria que recuperar com matematica e quimica. As provas de matematica e quimica foram faceis, a nota subiria, mas seria suficiente? Voltou pra Santa Rita, pegou suas coisas e mudou-se para ribeirao preto na casa de um amigo, onde recomeçaria a vida se não conseguisse passar, pois não queria morar com o tio por alguns motivos pertinentes. Trabalharia encadernando álbuns de casamento numa loja. Saira o resultado da recorreção do IME, não aceitaram. Outro duro golpe da vida, não poderia ser engenheiro por causa de 0,2 pontos. Nunca pense que você é especial, que te acoxambraram por causa de miséria, pois sim, a vida te cobrará pelas misérias. Demorou para engolir, chorou até o dia 29 de dezembro de 2012, quando saiu o resultado do ITA. O moleque havia passado. Felipe Yoody Naruki havia nascido de novo.

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