Percepção Ambiental Sob o Aspecto de Segurança: Método de Avaliação Da Percepção A Partir Da Experiência Do Usuário No Ambiente Da Tragédia Na Boate Kiss.

December 11, 2022 | Author: Anonymous | Category: N/A
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE ARTES E LETRAS CURSO DE DESENHO INDUSTRIAL - BACHARELADO

Maike Adriel Dos Santos

PERCEPÇÃO AMBIENTAL PERCEPÇÃO AMB IENTAL SOB O ASPECTO DE S SEGURANÇA: EGURANÇA: MÉTODO MÉTOD O DE AVALIAÇÃO AVAL IAÇÃO DA PERCEPÇÃO PERCEPÇÃO A PARTIR PA RTIR DA DA EXPERIÊNC EXPER IÊNCIA IA DO USUÁRIO NO AMBIENTE A MBIENTE DA TRA TRAGÉDIA GÉDIA NA BOATE KISS.

Santa Maria, RS 2017

 

 

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Maike Ma ike Adriel Adri el Dos Santos Santos

PERCEPÇÃO PERCE PÇÃO AMB AMBIENTAL IENTAL SOB O ASPECTO DE S SEGURANÇA: EGURANÇA: MÉTODO MÉTO DO DE AVAL AVALIAÇÃO IAÇÃO DA PERCEPÇÃO A P PARTIR ARTIR DA EXPERIÊN EXPERIÊNCIA CIA DO USUÁRIO NO NO AMB AMBIENTE IENTE DA TRAGÉDIA NA B BOATE OATE KISS.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Desenho Industrial  –  Bacharelado, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para aprovação na disciplina de Trabalho Traba lho de Conclusão de Curso II .

Orientador: Profº Drº Sergio Antonio Brondani 

Santa Maria, RS 2017

 

 

3 Maike Ma ike Adriel Adri el Dos Santos Santos

PERCEPÇÃO AMB PERCEPÇÃO AMBIENTAL IENTAL SOB O ASPECTO DE S SEGURANÇA: EGURANÇA: MÉTODO MÉTO DO DE AVAL AVALIAÇÃ IAÇÃO O DA PERCEPÇÃO A PARTIR DA EXPERIÊNCIA EXPERIÊNCIA DO USUÁRIO NO NO AMB AMBIENTE IENTE DA TRAGÉDIA NA B BOATE OATE KISS.

Trabalho de Conclusão de curso apresentado ao Curso de Desenho Industrial, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção de título de Desenhista Industrial. 

 Aprr ov  Ap ovado ado em 18 de Dezembr Dezem bro od de e 2017:

 _________________________  ______________ _____________________ __________ Sergi Se rgio o Antonio Ant onio Brondani, Bro ndani, Dr (UF (UFSM SM)) (presidente Orientador)

 ________________________  __________ _________________________ ___________  Ana  An a Lú Lúci ci a Oderi Oder i ch (UFSM) 

 ________________________  __________ _________________________ ___________ Cássio F. Lemos (UF (UFSM) SM)

Santa Maria, RS 2017

 

 

4  AGRADECIMENTOS  AGRA DECIMENTOS Para a construção e finalização deste trabalho, inúmeras pessoas se envolveram com muita dedicação, compreensão e paciência. Ficam registrados aqui meus agradecimentos a todas as pessoas que contribuíram de alguma forma para que esta pesquisa se concretizass concretizasse, e, especialmente: - Ao meu Orientador Sergio Antonio Brondani, para mim, mais que um professor orientador, um ser humano incrível que me incentivou e me ajudou sempre com a sua simplicidade paciência e carisma. Grato por tudo! - Agradeço a cada sobrevivente da Tragédia da Boate Kiss que gentilmente disponibilizaram seu tempo para ajudar e agregar sentido neste estudo.

- Agradeço a minha família família pelo apoio que sempre tive. - A minha namorada Brenda M. Sequeira da Silva. - Aos meus amigos que se foram e aos que estão aqui comigo lutando sempre por justiça, assim como seus familiares. - Ao curso de Desenho Industrial- UFSM que sempre esteve junto comigo apoiando e dando todo suporte possível quando eu precisei nos momentos mais difíceis da minha vida, momentos que passei na Tragédia da Boate Kiss. - Agradeço imensamente a Gianne Jornada Storgatto, Gilberto Luiz Storgatto, Marina Jornada Storgatto Gabriela Jornada Storgatto e o Bruno Jornada Storgatto. Família esta que acreditou em meu potencial, no qual sou grato de coração.

 

 

5 RESUMO PERCEPÇÃO AMB PERCEPÇÃO AMBIENTAL IENTAL SOB O ASPECTO DE S SEGURANÇA: EGURANÇA: MÉTODO MÉTO DO DE AVAL AVALIAÇÃO IAÇÃO DA PERCEPÇÃO A P PARTIR ARTIR DA EXPERIÊN EXPERIÊNCIA CIA DO USUÁRIO NO NO AMBIENTE DA TRAGÉDIA NA B BOA OA KISS. K ISS.

AUTOR: Maike Adriel Dos Santos ORIENTADOR: Sergio Antonio Brondani A pesquisa apresenta um método de avaliação da percepção que será utilizado por parte dos usuários que frequentaram o ambiente no dia da tragédia. Seu principal objetivo é avaliar a eficiência da sinalização de emergência e segurança, considerando as recomendações das normas nacionais vigentes. Em relação ao proposto, a pesquisa é classificada como exploratória, tendo no seu processo a utilização de Mapas Mentais como ferramenta para a busca de informações/elementos que irão auxiliar nas análises e interpretações futuras. As inúmeras variáveis consideradas no estudo proporcionaram a criação de um protocolo básico que serviu de roteiro para as entrevistas e representações, considerado premissa para validação do processo.

Palavras chave: Boate Kiss. Percepção Ambiental. Ambiental. Mapa Mental.

 

 

6  ABSTRACT  AB STRACT ENVIRONMENTAL PERCEPTION UNDER THE SECURITY APPEARANCE: METHOD OF PERCEPTION EVALUATION FROM THE US EXPERIENCE IN THE ENVIRONMENT OF THE TRAGEDY IN THE NIGHTCLUB KISS.

AUTHOR: Maike Adriel Dos Santos ORIENTER: Sergio Antonio Brondani The research presents a method of evaluating the perception that will be used by the users who attended the environment on the day of the tragedy. Its main objective is to evaluate the efficiency of the emergency and safety signaling, taking into account the recommendations of the current national regulations. In relation to the proposed, the research is classified as exploratory, having in its process the use of Mental Maps as a tool for the search of information / elements that will help in the analysis and future interpretations. The many variables considered in the study provided the creation of a basic protocol that served as a script for interviews and representations, considered a premise for validation of the process.

Keywords: Nightclub Kiss. Environmental Perception. Mental Map.

 

 

7 LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Dimensões das placas de sinalização ............. ...................... ....................... ................... .......28  Tabela 2 – Sinalização de equipamentos  .................................................... 29  Tabela 3 – Sinalização de orientação e salvamento ................. ............................ ..................... ..........31  Tabela 4 – Sinalização complementar: indicação i ndicação continuada de rota de fuga .............................................................................. 31  Tabela 5 – Sinalização complementar: indicação de obstáculo .............. ..................... .......32  Tabela 6 – Classificação das edificações quanto à sua ocupação ........... ................. ......33  Tabela 7 – Orientações dadas para o dimensionamento das saídas ........... ............. .. 35  Tabela 8 – Classificação das edificações e áreas de risco quanto à ocupação ....................................................................... 39 

 

 

8 LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Memorial em homenagem às vítimas da tragédia da Boate The Station ............ ....................... ....................... ....................... .................... .........15  Figura 2 – Boate República de Cromagnón........... ...................... ....................... ....................... .................. .......15  Figura 3 – Incêndio em hotel de Dubai, ocorrido na noite de réveillon ...........16  Figura 4 – Planta baixa edifício da Boate Kiss, escala 1:50 ............ ....................... ............... .... 45  Figura 5 – Materialização da planta baixa da Boate Kiss ....... .................. ...................... ............. .. 46  Figura 6 – Aplicação do “teste piloto” com um dos  sobreviventes da tragédia ........ ................... ...................... ...................... ...................... ..................... .......... 47  Figura 7 – Sinalização indicativa de saída de emergência .......... ..................... ................... ........48  Figura 8 – Aplicação da entrevista com um dos atores pesquisados ........... ............. .. 50  Figura 9 – Aplicação  Aplicação da entrevista entrevista com o participante pesquis pesquisado ado “A” ..........  .. ........ 52  Figura 10 – Mapa Mental do participante pesquisado “A”  ..........  ....................... .................... ....... 53  entrevista com a participante pesquis pesquisada ada “B” ........ 54  Figura 11 – Aplicação  Aplicação da entrevista

Figura 12 – Mapa Mental da participante pesquisada “B”  ..........  ....................... .................... ....... 55  Figura 13 – Aplicação  Aplicação da entrevista  ......... 56  entrevista com o participante pesquis pesquisado ado “C” ....... Figura 14 – Mapa Mental do participante pesquisado “C”  ................  .............................. .............. 57  Figura 15 – Aplicação  Aplicação da entrevista entrevista com a participante pesquis pesquisada ada “D” .......  ......... 58  Figura 16 – Mapa Mental da participante pesquisada “D”  ................  .............................. .............. 59  Figura 17 – Aplicação  Aplicação da entrevista entrevista com o participante pesquis pesquisado ado “E” ........ 60  Figura 18 – Mapa Mental do participante pesquisado “E”  ..........  ....................... .................... ....... 61  Figura 19 – Aplicação  Aplicação da entrevista entrevista com a participante pesquis pesquisada ada “F”.........63  Figura 20 – Mapa Mental da participante pesquisada “F”  ........................... ............ .................. ..... 64  Figura 21 – Aplicação  Aplicação da entrevista entrevista com a participante pesquis pesquisada ada “G” ........ 65  Figura 22 – Mapa Mental da participante pesquisada “G”  .....................  .............................. ......... 66  Figura 23 – Aplicação  Aplicação da entrevista entrevista com a participante pesquis pesquisada ada “G” ........ 68  Figura 24 – Aplicação  Aplicação da entrevista entrevista com a participante pesquis pesquisada ada “H” .......  ......... 69  Figura 25 – Mapa Mental da participante pesquisada “H”  ................  .............................. .............. 70  Figura 26 – Aplicação  Aplicação da entrevista entrevista com o participante pesquis pesquisado ado “I” .......... 72  Figura 27 – Mapa Mental do participante pesquisado “I” .......................... ........... .................... ....... 73  Figura 28 – Aplicação  Aplicação da entrevista entrevista com a participante pesquis pesquisada ada “J” ......... 75  Figura 29 – Mapa Mental da participante pesquisada “J”  ......................  ............................... ......... 76  Figura 30 – Aplicação  Aplicação da entrevista entrevista com a participante pesquis pesquisada ada “k” ......... 78 

 

 

9 Figura 31 – Mapa Mental da participante pesquisada “K”  ..........  ....................... .................... ....... 79  Figura 32 – Sinalização indicativa de saída que foi avistada no ambiente da tragédia .......... ..................... ...................... ...................... ............... .... 81  Figura 33 – Modelos de sinalizações indicativas de saída ...... ................. ...................... ............. 82  Figura 34 – Relação de percentuais de cuidados à saúde dos atores pesquisados .......... ..................... ...................... ...................... ................. ......83  Figura 35 – Sinalização indicativa de saída derretida pelo calor no interior da Boate Kiss ............. ........................ ....................... ..................... .........84  Figura 36 – Um dos sanitários da casa noturna onde se acumulou mais vítimas.......... ..................... ....................... ....................... .................. .......85  Figura 37 – Palco. Ambiente interno onde o incêndio se iniciou na Boate Kiss ........... ...................... ...................... ...................... ...................... ................... ........86  Figura 38 – Iluminação no piso indicando saídas de emergência ....... .................. ...........87  Figura 39 – Autores da pesquisa no interior do edifício da Boate Kiss pós-tragédia ................................ ........................................... ............. .. 90 

 

 

10 SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11  1.2 OBJETIVOS ........................................................................................................ 13  1.3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 13  1.3.1 Histórico das tragédia tragédiass  .................................................................................. 13  2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA  ............................................................................ 17  2.1 PERCEPÇÕES DO ESPAÇO ............................................................................. 17  2.2 CARACTERÍSTICAS DAS ATIVIDADES MENTAIS E SUAS DEFINIÇÕES DE REPRESENTAÇÕES ............................... .......................................... ...................... ................... ........ 19  2.2.1 As re repr presen esentaç tações ões  ......................................................................................... 19  2.3 MAPAS MENTAIS ............................................................................................... 20  2.4 CRONOLOGIAS REFERENTE À LEGISLAÇÃO E A SEGURANÇA DOS AMBIENTES ....................................................................... 23  2.4.1 As  Asso soci ciaçõ açõ es Int In t ern ernaci acion onais ais  .......................................................................... 23  ............. ............ 23  2.4.1.1 IAFSS - The international association for fire safety science ......................... 2.4.1.2 NFPA - National fire protection association ............. .......................... .......................... ......................... ............ 24  2.4.1.3 SFPE - Society of fire protection engineers ........................... ............ .......................... ......................... ............ 24  2.4.1.4 FPA - Fire protection association .................................................................. 25 

2.4.2. A Legi L egisl slação ação de ssegu egura ranç nça a cont co ntra ra in incên cêndi dio o do do B Bras rasilil  ..........  ....................... .................... ....... 25  2.4.2.1 Nível federal .................................................................................................. 27 

............. .......................... .......................... .......................... ......................... ............ 36  2.4.2.2 Nível estadual e municipal  .......................... 2.4.2.2

“Lei kiss”

federal ............................................................................................ 40 

3. MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO  ............................................................................ 42  3.1 O AMBIENTE E A OPORTUNIDADE DA AÇÃO PROPOSTA ........... ...................... ................. ......43  3.2 DESCRIÇÃO DAS ETAPAS DO MODELO APRESENTADO –  COLETA DE DADOS .......................................................................................... 44  3.3 MODELO APRESENTADO E SUAS APLICAÇÕES ........... ...................... ....................... ..................... .........49  4. RELATOS E DIAGNÓSTICO DOS RESULTADOS DAS ENTREVISTAS  ...........50  5. COMPI COMPILA LAÇÃO ÇÃO DOS DADOS APRESENTADOS ................................................ 80  6. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 83  6.1. SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS .......... ..................... ....................... ....................... .................. .......89  REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 91 

 

 

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1. INTRODUÇÃO

Dia 27 de janeiro de 2013  –  Santa Maria, “a fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta.”. Palavras que repercutiram

do poeta e escritor gaúcho Fabrício Carpinejar ao trágico fato ocorrido na Boate Kiss, a segunda maior tragédia no Brasil em número de vítimas em um incêndio. Santa Maria naquela manhã de domingo não acordou. No centro da cidade, Rua dos Andradas, 1925, é organizada na Boate Kiss por estudantes dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária, Zootecnia, Tecnologia de Alimentos, Tecnologia em Agronegócio e Pedagogia da Universidade Federal de Santa Maria, a festa intitulada “Agromerados”, no qual se aguardava para

aquela noite aproximadamente aproximadamente mil pessoas. Bem antes ddas as 23h, horário inicial de funcionamento do estabelecimento, a fila para a entrada já se formava dobrando a Rua dos Andradas, sendo a maioria usuários universitários da faixa etária entre 18 e 30 anos. No evento “Agromerados” havia duas atrações em destaque: as bandas “Pimentas e seus comparsas”, e como atração principal, “Gurizada Fandangueira”.

Em torno de 3h da manhã, o vocalista desta banda, Marcelo Jesus Dos Santos, no refrão de umas das músicas tocadas, acende um artefato de pirotecnia. O Teto logo foi consumido pelas chamas, no qual se espalharam rapidamente. Um segurança tenta apagar o fogo, sem sucesso, pois o extintor de incêndio apresentava problemas. Com a casa superlotada, a animação universitária se transforma em pânico, terror, desespero e, em meio à confusão e falta de ar, a luta por sobrevivência. As chamas tomavam conta da boate, a espuma que revestia o teto pingava queimando quem estava na frente do palco onde a banda Gurizada Fandangueira se apresentava ao passo que, quem estava mais ao fundo longe do palco, sem visão dos fatos, demorou a perceber o que acontecia. Enfim, quando todos estão cientes  já era tarde para uma reação efetiva de evacuação. Com a queima da espuma de revestimento causada pelo artefato, se iniciou uma reação química liberando monóxido de carbono e cianeto, substâncias altamente tóxicas. A formação de uma fumaça densa e negra engole por inteiro a boate, com o incêndio propagado as luzes do espaço se apagam, aumentando mais ainda a

 

 

12 dificuldade de enxergar algo à frente. Todos de alguma forma tinham que chegar à saída. Mil e quinhentas pessoas, enclau enclausuradas suradas em meio à fumaça ardente e quente onde também se impregnou nas vias aéreas de cada um. Para piorar, a escuridão prevalece e somando aos tantos obstáculos e dificuldades para tentar sair vivo, o estabelecimento não tinha o espaço adequado para evacuação em casos de emergência. A tragédia da Boate Kiss vitimou 242 pessoas, deixando ao menos outras 680, marcados pela catástrofe deixando suas saúdes físicas e psíquicas abaladas. As dimensões da casa noturna eram de 650 metros quadrados, entretanto o projeto interno foi muito questionado pelas autoridades após o ocorrido, pois não cumpria normas técnicas básicas de segurança contra incêndios, como capacidade de lotação e número suficiente de saídas de emergência. Além de a boate parecer um labirinto, foram colocadas inadequadamente barras na parte externa na calçada para controle de filas e na parte interna da boate. Estas barras só contribuíram negativamente o aumento do número de mortes, servindo como obstáculo para o usuário. Com várias obstruções à saída, aumentava cada vez mais o número de vítimas fatais. Segundo os laudos da necropsia entregues à polícia pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP), todas as mortes ocorridas dentro da boate Kiss durante o incêndio foram causadas por asfixia provocada pela inalação dos gases tóxicos cianeto e monóxido de carbono. O CO2 reduz a capacidade de transporte de oxigênio, a fumaça danifica as vias aéreas (áreas nasais, faringe e pulmão) e provoca tosse. A sensação de falta de ar faz com que a respiração fique mais rápida aumentando a concentração de CO2 e de outros gases tóxicos nos pulmões. O cérebro, então, passa a sofrer com a falta de oxigênio, o que causa tontura e sonolência. Em até três minutos a pessoa desmaia e poucos minutos depois, a morte cerebral causa parada cardíaca. As condições de conforto e segurança no uso dos ambientes projetados, especialmente onde ocorrem aglomerações de pessoas, normalmente são condicionados à observação de leis e normas que tratam do assunto. Este fato pode ser hoje verificado na maioria dos países, resultados de acontecimentos como é o caso da Boate Kiss e que servem de exemplo para evitar futuros acidentes semelhantes. Diante desta constatação, podemos nos perguntar: porque então continua a acontecer este tipo de acidente? A bem dizer, se causa espanto que

 

 

13 tragédias como da Boate Kiss tenha uma singularidade de tantas vezes repercutidas pelo mundo, algumas com datas anteriores e outras posteriores a data da tragédia. tr agédia. 1.2 OBJETIVOS Assim, diante do exposto, este trabalho propõe avaliar as condições de percepção da sinalização de segurança em ambientes edificados. Será feita uma abordagem de estudo de caso especificame especificamente nte no caso da tragédia da Boate Kiss  –  Santa Maria. Seu principal objetivo é avaliar a eficiência da sinalização de emergência e segurança, considerando as recomendações das normas nacionais vigentes. 1.3 JUSTIFICAT JUSTIFICATIVA IVA Pesquisar nos fatos e acontecimentos reais de uma tragédia como é o caso da Boate Kiss nos remete a alguns entendimentos de situações similares que já aconteceram em outras partes do mundo. A compreensão dos procedimentos e conseqüências dos fatos acontecidos foram premissas para controle de algumas variáveis do estudo. Aprender com os erros talvez seja uma maneira de educar e por conseqüência responsabilizar os defensores da prerrogativa de licenças/liberações do funcionamento dos estabelecimentos estabelecimentos.. Diante da contextualização que passamos a relatar, não é difícil concluir e afirmar sobre o despreparo e falta de conduta ética dos responsáveis do cumprimento das leis de prevenção e segurança. Assim sendo, destacamos afirmação na citação: “Cada vez mais na área de análises de ambientes tem seu enfoque na

análise das necessidades ou dos comportamentos dos usuários do espaço. A importância do ambiente como fator que pode facilitar ou impedir determinada atividade ou comportamento traduza-se pela abordagem do espaço como recurso” (CREMONINI, 1998, p.9). 

1. 1.3. 3.1 1 Histórico Histór ico das Tragédias

Para melhor entendimento da proposta a ser pesquisada, é importante a contextualização contextualizaç ão de uma linha do tempo de tragédias similares:

 

 

14 Nos anos 1940, como fala Silveira (2014), devido a um acidente com um palito de fósforo, 207 pessoas morreram no Rhythm Club, Natchez  (EUA), em 1942 o fogo iniciado em uma palmeira, no qual fazia parte da decoração da Boate Coconut Grove, Boston (EUA), espalhou-se causando a morte de 492 pessoas,

devido à superlotação do local e ao mau funcionamento das portas de emergência. Em 1971, novamente um palito de fósforo e o material altamente inflamável empregado na construção consumiram em pouco tempo a boate Cinq-sept, St. Laurent du Pont, (França), matando 143 pessoas, a maioria adolescentes. Em 1977, chamas no Beverly hills Supper Club, Southdate (EUA), mataram 165 pessoas. Em 1990, incêndio ocorrido na Boate Happy Land, Nova York (EUA), tirou a vida de 87 pessoas, em 1996, fogo no Ozone Disco Club, Quezon City (Flipinas), provocou a morte de 160 pessoas, a maioria estudantes. Em 2003, incêndio na Discoteca de Luoyang, Luoyang (China), deixou um saldo de 309 mortos, em 2009, propagação do fogo no Lam Horse Club, Pern (Rússia), provocou o óbito de 154 pessoas. No entanto, dos casos de incêndio em boates mais recentes, um maior destaque se deu para dois eventos: The Station, West Warwick (EUA) Figura 1, em 2003, e da República de Cromagnón, Buenos Aires (Argentina) Figura 2, 2004. Nas duas tragédias, o fogo se iniciou a partir de artefatos de pirotecnia durante apresentações de bandas, bem como na Boate Kiss.

 

 

15 Figura 1 – Memorial em homenagem às vítimas da tragédia da Boate The Station

Fonte: site The House of Hair.

Figura 2 – Boate República de Cromagnón

Fonte: site Minuto Uno.

 

 

16 As tragédias decorrentes após o início do fogo têm seu desenvolvimento em sucessivas falhas nas condições e instalações de segurança. De alguma maneira, todos estavam a observar algumas normativas de segurança, principalment principalmentee no que se refere às rotas de fuga. Conclui-se então que isto não foi suficiente para evitar mortes. A importância de se planejar/projetar e implantar todos os elementos que proporcionam conforto e segurança aos usuários dos ambientes pode ser facilmente constatado no acidente do dia 31 dezembro 2015, em um hotel de Dubai, nos Emirados Árabes, bem como mostra a figura 3 a seguir: Figura 3 – Incêndio em hotel de Dubai, ocorrido na noite de réveillon

Fonte: site G1.globo.com.

O fato é que o fogo teve início no 20º andar do edifício com 63 andares, resultando num saldo de 14 pessoas com ferimentos leves, decorrentes da operação para evacuação do prédio, não foi constatada nenhuma tragédia com perda de vidas

 

 

17 humanas. Verifica-se então a necessidade de projetar considerando todos os aspectos perceptivos do ser humano, indo além dos padrões normativos. Atualmente as pesquisas que estão comprometidas com a usabilidade se tornam expoentes nas referências projetuais. Pesquisadores internacionais já estão algum tempo debatendo a importância do tema, colocando-o ate mesmo como prérequisito de pesquisas pesquisas aplicadas. Neste sent sentido ido salientamos a importância de oobter bter relatos dos sobreviventes da tragédia, condição esta que torna a pesquisa significativa para os avanços nas metodologias utilizadas em avaliações ambientais. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA De acordo com Cremonini (1998, p.9), “basicamente, as pessoas e os objetos

estão relacionados através de uma separação pelo espaço e regras de organização, sendo estas, antes um fa to mental do que um fato físico”. Diante disso, entende-se que a percepção é a capacidade do corpo humano de obter, construir e compreender elementos, assimilando estas informações por meio de sentidos. Afirma Bigoni (2012, p. 6), que:   A percepção do mundo nos é dado através de nossos sentidos: tato, audição, olfato, paladar e principalmente a visão. Alguns especialistas colocam que 80% de nossos estímulos sensoriais são principalmente visuais. Podemos dizer que nosso mecanismo de visão é um “decodificador”

das informações trazidas pela luz. A sensação de bem-estar no espaço está intimamente relacionada com sua percepção, aspecto também diretamente influenciado pela iluminação.

2.1 PERCEPÇÕES DO ESPAÇO Visando grupos de diversos ramos de conhecimento, seguindo objetivos em comum, a percepção tem um diálogo entre diferentes autores, pertinente de acordo com as áreas de atividade dos mesmos, respectivamente. Com isso, apontam-se diferentes concepções: “O termo ‘percepção’ vem do latim percipere: compreender, dar-se conta.

Ainda que as pessoas vejam o mundo de uma maneira mais ou menos igual o estruturam e o avaliam de forma muito diferente” (GIBSON, 1968). Já Cremonini (1998, p.9) diz que “a percepção é o mecanismo mais importante que relaciona o

 

 

18 homem ao seu meio ambiente. O homem percebe seu espaço através de suas experiências com o meio, estas que são armazenadas na memória como informação”. Rio e Oliveira (1999, p.4), falam que “embora essas percepções sejam

subjetivas para cada indivíduo, admite-se que existam recorrências comuns, seja em relação às percepções e imagens, sejam em relação às condutas possíveis. ’’.

Conforme Wapner e Werner (1952), “a maioria das teorias perceptivas dá ênfase a um aspecto interativo, argumentando a relação entre o sensório, o cognitivo e o conotativo de modo que as propriedades perspectivas de um objeto estão em função da maneira através da qual os estímulos que vêm do objeto afetam o estado do organismo”. Rio, Duarte e Rheingantz (2002, p. 205), nos lembram que “nossos processos perceptivos abrem possibilidades para entendermos onde nos

encontramos, permitindo referências para que nos situemos espacial e socialmente e nos levando a adotar determinado comportamento.”. “Entendemos a percepção como um processo mental de interação do

indivíduo com o meio ambiente que se dá através de mecanismos perceptivos propriamente ditos e, principalmente cognitivos” (RIO, 1999, p. 3). Seguindo nesta linha de raciocínio, Piaget fala que “a cognição é estática, muda lentamente , num

processo de dentro para fora, pela assimilação ou acomodação às coisas do mundo”. (PIAGET, 1948, apud CREMONINI, 1998, p.16) Sobre o termo “espaço”, afirma-se que:

“Espaço” é um termo abstrato para um conjunto complexo de ideias.

Pessoas de diferentes culturas divergem na forma de separar seu mundo, de atribuir valores às suas partes e de medi-las. As maneiras de dividir o espaço variam enormemente em complexidade e sofisticação, assim como as técnicas de avaliação de tamanho e distância. Contudo existem certas semelhanças culturais comuns, e elas repousam basicamente no fato de que o homem é a medida de todas as coisas. Em outras palavras, os princípios fundamentais da organização espacial baseiam-se nos resultados da experiência íntima do homem com seu corpo e com outras pessoas, organizando o espaço a fim de conformá-lo as suas necessidades biológicas e relações sociais. (TUAN, 1980 apud BRONDANI, 1998, p.30)

Como podemos ver nas compilações das obras, então, é importante o reconhecimento dos lugares onde estamos sendo a percepção em espaços físicos essencial para projetar ambientes. Da mesma forma é nítido que o estudo da percepção e seus processos mentais relacionados são importantes para entendermos de forma clara a troca de relações entre usuário e o meio onde se está

 

 

19 inserido, no qual temos a possibilidade de intervir e firmar mudanças que possam ser transformadoras por meio da percepção ambiental. 2.2 CARACTERÍSTICAS DAS ATIVIDADES MENTAIS E SUAS DEFINIÇÕES DE REPRESENTAÇÕES Para que se possa entender de que maneira os Mapas Mentais podem nos conduzir para elementos bases referentes à percepção do meio pelas pessoas e no que o ambiente afeta seu comportamento, compreende-se que há necessidade de uma

breve

verificação

sobre

formação

das

atividades

mentais.

Como Cremonini (1998, p. 33) nos fala, “uma das características das atividades mentais é que estas constroem representações. As representações são essencialmente interpretações que consistem em atribuir um significado de conjunto aos elementos resultantes da análise perceptiva. ”. Pode -se dizer também que as atividades mentais estão inclusas nas atividades cognitivas, no qual estão à frente do tratamento das informações sensoriais, ambientais e de cunho linguístico. (RICHARD,1990). Complementam-se outras definições às atividades mentais: Podem ser definidas primeiramente pela natureza das informações a partir das quais trabalham e pela natureza das informações ou decisões que produzem. As informações de onde elas partem são o resultado dos tratamentos sensoriais: identificação dos objetos e de sua posição, dos movimentos, das mudanças e de sua sucessão, que são a base da percepção dos eventos e, pode-se acrescentar, identificação dos significados proposicionais. As produções das atividades mentais são de duas espécies: umas têm um resultado comportamental direto: são as decisões de ação, que convém distinguir bem da programação dos gestos e dos movimentos. Outras não têm resultados externos: permanecem internas ao sistema cognitivo, o qual enriquecem sob forma de informações memorizadas. (RICHARD 1990, apud CREMONINI, 1998, p.34) 

2.2.1. As representações “A construção das representações mentais é uma atividade mental definida

pela natureza dos tratamentos que elas operam.”  (RICHARD 1990, apud BRONDANI, 1998, p.58). Nos quais outros pesquisadores como caracterizam como tratamento modular e não modular:

 

 

20 Os tratamentos modulares são tratamentos especializados que tem acesso somente a uma parte da informação disponível no sistema: são, desse modo, autônomos e impermeáveis ao que se passa em outras partes do sistema. As atividades mentais são feitas de tratamentos não modulares, pois elas integram informações de natureza muito diversa: informações sobre a situação, conhecimentos relacionais e procedurais, informações sobre a tarefa. Elas são, de fato, muito sensíveis aos efeitos do contexto: não só o contexto perceptivo e linguístico, mas também o contexto semântico e igualmente o contexto da situação e da tarefa. (FODOR apud RICHARD, 1990)

O modo de expressar a nossa percepção, no qual Richard (1990) denomina, é a “representação”, sendo construções circunstanciais feitas num contexto

particular e com fins específicos. Vale esclarecer algumas diferenciações de distinção entre “representação” e “conhecimento”, onde este último está relacionado

às construções estáveis, permanentes e não inteiramente dependentes da tarefa de realizar. Da mesma forma das representações, conhecimentos também são construções, entretanto, são construções fixas de modo que estabelece independência à tarefa feita, mantendo-se sob a mesma forma, caso não ocorra modificações. São várias as expressões utilizadas para explicar os termos, estas diferenciações são usadas em comum acordo entre alguns pesquisadores da área, bem como alguns autores preferem um único termo para representações, sendo: representações tipos (chamadas conhecimento) e representações ocorrentes (chamadas representações), ou estruturas permanentes e circunstanciais. (RICHARD, 1990) Diante de uma estrutura cognitiva, ainda sob raciocínio de Richard (1990 apud Cremonini, 1998, p.36): A diferença entre conhecimento e representações é que os conhecimentos têm necessidade de serem ativados para serem eficientes, enquanto que as representações são imediatamente eficientes. Isto porque as representações constituem o conteúdo da memória operacional, a saber, as informações gravadas na memória de trabalho e as informações ativas da memória de longo termo.

2.3 MAPAS MENTAIS

Num sentido mais amplo, mapas no nosso cotidiano têm uma participação bastante forte. Como instrumento de orientação, informação e ou localização o mapa como instrumento auxiliou o homem, tanto em atividades profissionais como em

 

 

21 outras esferas sócio-culturais implementado em inúmeras áreas de trabalho. De algum jeito ou outro, frequentemente ou não tão frenquente, recorremos ao mapa como um meio físico para expressarmos espacialmente a representação de uma ideia, um objeto, cidades, país, etc. Esta representação do que nos circunda para um suporte, como por exemplo, o papel, é uma forma de linguagem do ser humano mais antigo que a própria escrita. O homem pré-histórico por sua incapacidade intelectual não foi capaz de deixar registrado de seu cotidiano por meio da escrita, entretanto, o fizeram de expressões gráficas produzindo mapas que serviriam como modo de comunicação ajudando na orientação nas redondezas (RIO, 1999). “Caçadores esquimós, por exemplo, navegavam nas costas da Groenlândia auxiliados por bastões de madeira, cujos entalhes forneciam as informações necessárias” . (WILDBUR, 1989, apud PINHEIRO, 2013, p. 47) “O mapa, surge então, como uma forma de expressão e comunicação entre

homens. Este sistema de comunicação exigiu, desde o início, e, consequentemente, uma “leitura” dos significantes expressos” (DEL RIO, 1999, p. 187). Assim, os mapas

ultrapassam as barreiras limitantes da percepção do homem, dando novas oportunidades para compreender o espaço físico. Com a intenção de analisar informações e elementos que ajudarão na compreensão da interação e comportamento do usuário com o espaço, se usará no presente trabalho, por meio de ferramenta, a aplicação de Mapas Mentais para contribuir na obtenção de dados no que diz respeito à percepção do indivíduo para o meio. Cremonini (1998, p.14) r essalta essalta que “para entendermos como o homem se relaciona com o meio, através do seu comportamento, é preciso que antes saibamos como ele percebe este espaço através de imagens.”:   A aplicação dos mapas mentais é caracterizada pela obtenção de informações gráficas e verbais, onde o pesquisador solicita a usuários de um determinado ambiente que desenhe este espaço, associando estes dados aos obtidos através de uma entrevista ou conversa informal. As informações coletadas passam por um processo interpretativo de avaliação e análise feito pelo pesquisador, procurando compreender as interações do homem com seu meio através da percepção do seu meio ambiente físico de trabalho. (CREMONINI, 1998, p.14)

Para compreendermos os Mapas Mentais, Richard (1990), fala que precisamos entender como o indivíduo passa da representação de um trajeto

 

 

22 conhecido à representação espacial, ou seja, de um trajeto descrito verbalmente, para representações em que elementos são apresentados não somente por suas posições, mas também por suas posições absolutas e suas distâncias. O autor Byrne (1979, apud Cremonini, 1998, p. 60), defende um pensamento similar, que “existem dois tipos de representações espaciais: representações em forma de rede

na qual são conservadas as relações topográficas, mas não as distâncias e representações do tipo euclidiano, que conservam estas últimas relações.” 

Na sua obra  A Representação do Espaço na Criança,  Piaget e Inhelder (1993, apud  Montoito; Leivas, 2012, p. 25), explicam como acontece a mudança na percepção do espaço em relações topológicas, estas “vêm em primeiro lugar, seguidas das relações projetivas e euclidianas e esta sequência admite coordenações entre ações cada vez em grau maior de complexidade”. Eles ainda

concluem que: Relações topológicas são as primeiras construídas pela criança e dizem respeito às características dos objetos em si mesmos, revelando suas relações de vizinhança (perto ou longe do observador, objetos perto ou longe uns dos outros), separação (distinguir elementos uns dos outros e partes do todo), envolvimento (perceber, numa sequência linear ou cíclica, um elemento entre outros, e saber reproduzir esta sequência, bem como perceber as relações de “dentro” e “fora” para figuras planas e formas

tridimensionais), continuidade (perceber que uma linha ou superfície é ou não interrompida) e ordem, a qual se divide em duas partes: a ordem perceptiva e a ordem representativa. (PIAGET; INHELDER 1993, apud MONTOITO; LEIVAS, 2012, p. 27)  

Souza (2010, apud  Montoito; Leivas, 2012, p. 30), nos explica que a partir da “construção informal do conceito de medida gera a compreensão da ideia de distância, da qual surge, por sua vez, as relações euclidianas”, o autor ainda completa dizendo que “nesta fase, adquirem -se os conceitos através da noção dos

objetos no espaço, projeta-se o espaço no plano, visualiza- se a ideia do objeto.”  Mapas Mentais, por definição da autora Cremonini (1998), são imagens mentais em que o indivíduo deduz do seu meio ffísico, ísico, afetando seu comportamento. São transformações psicológicas as quais levam os indivíduos a lembrar do seu meio ambiente espacial e que são produzidas por suas preferências mais significativas, sejam elas afetivas e/ou simbólicas. Dessa forma, podemos entender que os esboços dos mapas criados nada mais são que representações físicas dos mapas mentais. O indivíduo por meio de imagens mentais percebe o seu ambiente

 

 

23 físico, tais imagens são buscadas da memória de experiências pregressas como desenhos ou esboços, difundidas pelos canais sensoriais por meio da percepção, tornando-se que se denomina por mapas mentais. Com isso, pode- se considerar como uma ferramenta eficaz à busca de dados que auxiliem no entendimento do espaço físico pelo homem. 2.4 CRONOLOGIAS REFERENTE À LEGISLAÇÃO E A SEGURANÇA DOS AMBIENTES Com o domínio do fogo em tempos pré-históricos, por consequência e obrigação também veio o cuidado na manipulação do fogo nos seus diversos afazeres do cotidiano, podemos dizer que a idealização de prevenção e combate a incêndios têm seus primeiros passos. O fogo controlado nos foi útil em nossa evolução, em contraposição fora deste domínio tem força uma arrasadora, podendo deixar exemplos de destruição da pré-história aos tempos de hoje com perdas materiais ou em casos mais graves, ceifando vidas humanas. Entende-se que para o homem, para sua própria proteção à vida, foi implementado muitas tecnologias para combate ao fogo bem como artefatos, desenvolvimentos de técnicas e leis, sendo esta última de prioridade máxima. Todavia, como a própria evolução nos retrata, o ser humano aprende com os erros cometidos. Como mostrado nos capítulos iniciais, por causa desses erros, infelizmente vidas foram perdidas em inúmeros eventos trágicos e, a partir deles se iniciou a preocupação na criação da legislação e ou até mesmo reformulação da mesma. 2. 2.4. 4.1 1 Associações Associ ações Internacionais 2.4.1.1 IAFSS - The International Association for Fire Safety Science

A The International Association for Fire Safety Science (IAFSS) foi fundada com o objetivo principal de incentivar a pesquisa sobre a ciência de prevenir e mitigar os efeitos adversos dos incêndios e de fornecer um fórum para a apresentação dos resultados dessa pesquisa. “Ela procura cooperação com outras organizações com aplicações ou envolvidas com a ciência que é fundamental para

 

 

24 seus interesses em incêndio. Visa promover altos padrões e normas estimulando cientistas a questão de problemas de fogo, a fim de reduzir as perdas humanas e materiais.” (SEITO et al., 2008) Desde a sua reunião inaugural, a IAFSS cresceu para mais de quatrocentos membros. Os membros atuais vêm da Austrália, Áustria, Bélgica, Brasil, Canadá, China, Dinamarca, Alemanha, Finlândia, França, Holanda, Hong Kong, Índia, Irlanda, Itália, Japão, Coréia, Luxemburgo, Países Baixos, Nova Zelândia, Noruega, Rússia, Espanha, Suécia, Suíça, Taiwan, Reino Unido e Estados Unidos da América. 2.4.1.2 NFPA - National Fire Protection Association

A NFPA foi criada em 1896, dedicada minimização de perdas devido eliminação de mortes, feridos, propriedades e perdas econômicas devido a incêndio e riscos relacionados. A associação fornece de mais de 300 códigos e padrões de consenso, pesquisa, treinamento, educação, divulgação e advocacia, totalizando mais de 60 mil pessoas ao redor do mundo. Conforme SEITO et al. ( 2008, p. 5): • Código de segurança a vida. • Código nacional de instalações elétricas NFPA 70.

Mais de duzentas normas em Segurança Contra incêndio (SCI) foram produzidas pela NFPA, que é uma referência internacional. 2.4.1.3 SFPE - Society of Fire Protection Engineers

A Sociedade de Engenheiros de Proteção contra Incêndio (SFPE) foi criada em 1950 e incorporada como uma organização independente em 1971. “Tem como objetivo o desenvolvimento da ciência e a prática na engenharia de segurança contra incêndio e nos campos do conhecimento próximos, para manter altos padrões éticos entre seus membros e para alavancar a educação em engenharia de proteção a incêndios.” (SEITO et al., 2008, p. 5)

 

 

25

2.4.1.4 FPA - Fire Protection Association

A Associação de Proteção contra Incêndio (FPA) é a organização nacional de segurança contra incêndios do Reino Unido, esta trabalha para identificar e chamar a atenção para os perigos do incêndio e os meios pelos quais o seu potencial de perda é reduzido ao mínimo. SEITO et al. (2008, p. 6), no livro A Segurança Contra Incêndio no Brasil, nos fala dos objetivos desta associação, tais como: • Proteção das pessoas, propriedade e meio ambiente por meio de técnicas

avançadas de proteção a incêndio. • Colaborar com os membros, seguradores, governo local e central, corpos de

bombeiros e outros. • Ajudar a focar a atenção tanto nacional como internacionalmente nessas

questões. • Influenciar nas decisões feitas por consumidores e negociantes. • Coletar,

analisar e publicar estatísticas estatísticas,, identificar tendências e promover pesquisa. • Publicar guias, recomendações e códigos de treinamento. • Disseminar aconselhamentos aconselhamentos.. 

2. 2.4. 4.2. 2. A Legisl Legislação ação de segurança contra cont ra incêndi incêndio o do Brasil Br asil

Por ter poucos acontecimentos de grandes incêndios na realidade brasileira a preocupação com técnicas, treinamentos às pessoas qualificadas, desenvolvimentos de tecnologias e leis de prevenção e combate a incêndios, bem como pela ausência significativa do número de vítimas, restringia-se apenas ao Corpo de Bombeiros qualquer contraponto envolvendo incêndios. Os primeiros passos à construção da legislação do Brasil se iniciaram a partir dos anos 1970, visto que, até o início desta década legislações estaduais ou federais não tinha sido elaboradas. “A regulamentação relativa ao tema era esparsa, contida nos Códigos de Obras dos municípios, sem qualquer incorporação do aprendizado dos incêndios ocorridos no exterior” MARTINS  (2016 apud SEITO et al., 2008, p. 22).

 

 

26 Uma atenção especial e mais detalhada da sociedade brasileira em relação à segurança contra incêndios tem início após duas tragédias de grandes proporções acontecidas em São Paulo na década de 1970, o incêndio do Edifício Andraus em 1972 e o Edifício Joelma em 1974. Entretanto, o maior incêndio em relação a perdas de vidas, em nosso País, foi no Gran Circus Norte-Americano, em 17 de dezembro de 1961, Niterói/RJ. Gran Circus Norte-Americano era anunciado como o maior e mais completo circo da América Latina, coberto por uma lona l ona nova de náilon. Contudo, a notícia era falsa o circo tinha uma lona de tecido de algodão revestido por um material inflamável, a parafina. Esta tragédia deixou no mínimo 250 mortos (70% eram crianças), e mais de 400 feridos. (JÚNIOR, ( JÚNIOR, 2013) Percebe-se, até então, que o Brasil não tirou nenhum aprendizado com estes exemplos de grandes incêndios ocorridos no passado do país, muito menos com incêndios fora do território brasileiro, como por exemplo, “antes que ocorressem incêndios com grande perda de vidas nos Estados Unidos da América (EUA), a segurança contra incêndio, ou suas técnicas, eram difundidas com ênfase na proteção ao patrimônio.” (GIL et al., 2008, p. 20) Aqui no Brasil, a partir de grandes tragédias, de tamanhos inimagináveis, para um país prematuramente prevencionista, buscou-se estudar e elaborar como itens de segurança pudessem ser adaptados para pessoas sem treinamentos. Percebeu-se a inaptidão dos poderes tanto municipal quanto estadual para lidar com situações de risco, tanto pelo despreparo do Corpo de Bombeiros quanto pelas consequências de grandes falhas nas legislações. É nesse momento que se tem o início da criação de Comissões, Decretos, Normas e aperfeiçoamento de todos os sistemas existentes atualmente, unificando toda a linguagem de incêndio para todas as regiões do País, sendo o Estado de São Paulo sempre um pioneiro nessa área. (GOMES, 2014, p. 25)

 

 

27

2.4.2.1 Nível Federal

A nível federal, a ABNT é o Fórum Nacional de Normalização fundada em 28 de setembro de 1940. Entidade privada e sem fins lucrativos, a ABNT é responsável pela elaboração das Normas Brasileiras (ABNT NBR), cujo conteúdo é de responsabilidade dos Comitês Brasileiros (ABNT/CB), Organismos de Normalização Setorial (ABNT/ONS) e Comissões de Estudo Especiais (ABNT/CEE), são elaboradas por Comissões de Estudos, formadas por representantes dos setores envolvidos, delas fazendo parte produtores, consumidores, universidades e laboratórios. Relativo às questões de incêndio especificamente delimitou-se a pesquisa na análise da NBR 13434/ 2004 (ABNT, 2004)  –  Sinalização de Segurança contra Incêndio e Pânico: Parte 1  –  Princípios de Projeto; Parte 2  –  Símbolos e suas formas, dimensões e cores. No sentido de entendimento das citadas normas, são apresentadas algumas definições de sinalização que irão auxiliar para melhor  justificar a contextualização contextualização das observa observações ções e abordag abordagens: ens:   Sinalização de segurança: Sinalização que fornece uma mensagem de



segurança, obtida por uma combinação de cor e forma geométrica, à qual é atribuída uma mensagem específica de segurança pela adição de um símbolo gráfico executado com cor de contraste.   Sinalização de equipamentos: Sinalização que visa indicar a



localização e os tipos de equipamentos de combate a incêndio e alarme disponíveis no local.   Sinalização de orientação e salvamento: Sinalização que vvisa isa indica indicarr



as rotas de saída e as ações necessárias para o seu acesso e uso adequado.

 

 

28 Tabela 1 – Dimensões das placas de sinalização

Fonte: ABNT- NBR 13434-2, anexo, tabela 1, p. 3.

Conforme se verifica na Tabela 1, a sinalização do ambiente pesquisado está enquadrada como forma de sinalização quadrada e retangular. Esta forma é utilizada para implantar símbolos de orientação, socorro, emergência e identificação de equipamentos utilizados no combate a incêndio e alarme. A cor de segurança (verde: utilizada para símbolos de orientação e socorro; vermelha: utilizada para símbolos de proibição e identificação de equipamentos de combate a incêndio e alarme, Tabela 2 e 3), deve cobrir no mínimo 50% da área do símbolo, exceto no símbolo de proibição, onde este valor deve ser no mínimo de 35%. 35% .

 

 

29 Tabela 2 – Sinalização de equipamentos

(continua)

 

 

30 (continuação)

 

 

31

(conclusão)

Fonte: ABNT- NBR 13434-2, Anexo, p. 13.

Tabela 3 – Sinalização de orientação or ientação e salvamento

Fonte: ABNT- NBR 13434-2, Anexo, p. 10.

Além da sinalização de orientação e salvamento, a referida norma também apresenta a padronização de formas, dimensões e cores da sinalização complementar. Esta sinalização é utilizada para indicação continuada de rotas de fuga, indicação de obstáculos e indicação das condições de uso de portas cortafogo. Tabela 4 – Sinalização complementar: indicação continuada de rota de fuga

Fonte: ABNT- NBR 13434-2, Anexo, p. 11.

 

 

32

Tabela 5 – Sinalização complementar: indicação de obstáculo

Fonte: ABNT- NBR 13434-2, Anexo, p. 13.

Visando facilitar a determinação de medidas, apresenta-se a classificação e definição de imóveis conforme a NBR 9077. É a norma que trata de Saídas de Emergência em Edifícios, podemos ressaltar que esta Norma ganha um maior destaque na importância da área de prevenção de incêndios, base para Leis Complementares citadas anteriormente, como também para todas as Legislações brasileiras de Prevenção Contra Incêndio. O objetivo desta Norma, (ABNT, 2001) é fixar as condições exigíveis que as edificações devem possuir:   A fim de que sua pop população ulação possa abandoná-las, em caso de incên incêndio, dio,



completamente protegida em sua integridade física;   Para permitir o fácil acesso de aux auxílio ílio ext externo erno (bombeiros) para o combate



ao fogo e a retirada r etirada da população. Serão apresentados a seguir apenas itens de definições adotadas pertinentes à pesquisa, como:   Alçapão de alívio de fumaça (AAF) oouu alçapão de tirage tiragem: m: Abertura horizontal localizada na parte mais elevada da cobertura de uma



edificação ou de parte desta, que, em caso de incêndio, pode ser aberta manual ou automaticamente, para deixar a fumaça escapar.   Duto de entrada ddee ar (DE): Espaço no interio interiorr da edi edificação, ficação, qque ue cond conduz uz



ar puro, coletado ao nível inferior desta, às escadas, antecâmaras ou acessos, exclusivamente, mantendo-os, com isso, devidamente ventilados e livres de fumaça em caso de incêndio.   Duto de saída saída de ar (DS): Espaço vertical no interior da edificação, que



permite a saída, em qualquer pavimento, de gases e fumaça para o ar livre, acima da cobertura da edificação.

 

 

33   Local de saída úúnica: nica: Local em um pavimento da edificaç edificação, ão, on onde de a saída



é possível apenas em um sentido.   Saída de emergência, emergência, rota de saí saída da ou saída: Caminho ccontínuo, ontínuo,



devidamente protegido, proporcionado por portas, corredores, halls, passagens externas, balcões, vestíbulos, escadas, rampas ou outros dispositivos de saída ou combinações destes, a ser percorrido pelo usuário, em caso de um incêndio, de qualquer ponto da edificação até atingir a via pública ou espaço aberto, protegido do incêndio, em comunicação com o logradouro.   Unidade de passagem: Largura mínima para a passa passagem gem de uma fila de



pessoas, fixada em 0,55 m.   Nota: Capacidade Capacidade de uma unidade de pass passagem agem é o número de pes pessoas soas



que passa por esta unidade em 1 min. m in. A Norma apresenta as Classificações das Edificações, classificadas quanto a Ocupação, quanto à altura e dimensões em plantas e características construtivas. Por causa de as tabelas de classificação em função de Classe de Ocupação são extensas, optou-se por colocar somente partes das mesmas nesta pesquisa. Tabela 6 – Classificação das edificações quanto à sua ocupação

Fonte: NBR 9077/2001, Anexo, Tabela 1, p.25.

 

 

34 Quanto aos componentes de saída de emergência, prioritários a este trabalho, a Norma nos diz que a saída de emergência compreende o seguinte:   Acessos ou rotas rotas de saídas horizontais, iisto sto é, acess acessos os às escadas escadas,,



quando houver, e respectivas portas ou ao espaço livre exterior, nas edificações térreas;   Escadas ou rampas;



  Descarga.



Em relação ao dimensionamento das saídas de emergência, Tabela 7, fala-se a largura das saídas deve ser dimensionada em função do número de pessoas que por elas deva transitar, observados os seguintes critérios:   Os acessos acessos são dimensionados em ffunção unção dos pavimentos que servirem à



população;   As escadas, rampas e descarg descargas as são dimensi dimensionadas onadas em função do pavimento de maior população, o qual determina as a s larguras mínimas para



os lanços correspondentes aos demais pavimentos, considerando-se o sentido da saída. As larguras mínimas das saídas no qual devem ser adotadas, em qualquer caso, são as seguintes:   1,10 m, correspondendo a duas unidades de pass passagem agem e 55 cm, para as



ocupações em geral, ressalvadas o disposto a seguir;   2,20 m, para permitir a passag passagem em de macas, camas, e out outros, ros, nas ocupações do grupo H, divisão H-3.



 

 

35 Tabela 7 – Orientações dadas para o dimensionamento das saídas

Fonte: NBR 9077/2001, Anexo, Tabela 5, p.29.

A NBR 9077/2001 ressalta que é de suma importância as exigências especiais para subsolos e prédios sem janelas. As construções subterrâneas e as edificações sem janelas, além das demais exigências desta Norma que lhes forem aplicáveis, considerando que, em áreas sem acesso direto ao exterior e sem janelas para permitir ventilação e auxílio de bombeiros, qualquer incêndio ou fumaça tende a provocar pânico, devem para permitir a saída conveniente de seus usuários: a) Ser dotadas de iluminação de emergência, exceto no caso de ocupações A-1 e nos pavimentos destinados exclusivamente a caixas d’água, casas de máquin as e assemelhados;

b) Quando com população superior a 100 pessoas, ser dotadas de chuveiros automáticos (ver NBR 10897); c) Quando com população superior a 100 pessoas e tendo conteúdo combustível ou acabamentos combustíveis, ter sistema automático de saídas de fumaça e gases quentes (ver NBR 8132), além dos chuveiros automáticos (ver NBR 10897);

 

 

36 d) Ter sempre duas saídas saídas,, no mínimo, o mais afastad afastadoo possível uma da outra, se servir de local de trabalho ou houver acesso de público; e) Quando com acesso de públic públicoo ou população superior a 50 pessoas, ter ao menos uma das saídas direta ao exterior, sem passagem pela descarga térrea, no caso de subsolo. 2.4.2.2 Nível Estadual e Municipal

Em Santa Maria- RS, na data 21 de Janeiro de 1991 foi sancionada pela Prefeitura Municipal a Lei Municipal nº 3.301/91 intitulada de Normas de Prevenção e Proteção contra Incêndio. Onde fica claro a responsabilidade da Prefeitura do município, “através do 4º Grupamento de Incêndio (4º GI), estudar, analisar, exigir e fiscalizar todo o Sistema de Prevenção e Proteção Contra Incêndio, conforme o estabelecido nestas normas.” (LEI MUNICIPAL, MUNICIPAL,1991, 1991, p.4) Ressalta ainda que Prefeitura Municipal de Santa Maria (1991), a qualquer momento tem a segurança de determinar vistorias no intuito de fiscalizar as instalações preventivas contra incêndio. Textualmente, visando facilitar a determinação de medidas, apresenta a classificação e definição de imóveis conforme a NBR 9077 – Saídas de Emergências de Edifícios. Desde sua publicação,  já era desafiador torná-la uma lei efic eficaz. az. Pelo Estado do Rio Grande do Sul citam-se as Normas Técnicas de Prevenção Contra Incêndios, que são resultantes da unificação do decreto nº 37.380, de 37.380,  de 29 de abril de 1997, e decreto Nº 38.273, de nove de março de 1998. Esta unificação, da mesma maneira que é contemplada na legislação municipal, também remete a Associação Brasileira de Normas Técnicas  –  ABNT e suas respectivas Normas Regulamentadoras – NRs, como: 1. As saídas de emergênc emergência ia são obrigatórias nas edificações previstas na NBR 9077, da ABNT, e deverão obedecer às regras ali previstas, sendo que, nos locais de reunião de público com capacidade superior a duzentas pessoas, as portas deverão ser dotadas de barra antipânico, conforme a NBR 11.785, da ABNT.

 

 

37 2. Art. 12 - A iluminação de emergência deverá ser instalada nas edificações previstas na NBR 9.077 e NBR 10.898, ambas da ABNT, e deverão obedecer às normas técnicas ali previstas. 3. A sinalização de segurança contra incêndio e pânico deverá ser instalada nas edificações previstas nas NBRs 9.077, 12.434, 13.435 e 13.437, todas da ABNT, e deverá obedecer às normas técnicas ali descritas. 4. Nos locais de reunião de público, be bem m como nos casos previstos na NBR 13.523 da ABNT, deverá existir uma central de GLP, sendo executadas conforme a referida Norma. Em decorrência da tragédia da Boate Kiss, houve um clamor popular em nível nacional, no sentido de que as autoridades políticas pudessem promover alterações na legislação, aumentando a segurança contra incêndio nos ambientes. O Estado do Rio Grande do Sul apresenta então uma legislação estabelecendo normas sobre Segurança, Prevenção e Proteção contra Incêndios nas edificações e áreas de risco de incêndio: Lei Complementar n° 14.376 (ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, 2013), de 26 de dezembro de 2013, intitulada também como “Lei Kiss”. A lei em vigor recebeu tal nome em consequência ao trágico incêndio que ocorreu na parte interior da Boate Kiss, no município de Santa Maria- RS, mencionado no primeiro capítulo desta pesquisa pesquisa..

Esta Lei complementar já passou por algumas atualizações, no decorrer do tempo ela sofreu algumas alterações pela Lei Complementar n.º 14.555 (ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, 2013), de 02 de julho de 2014; Lei Complementar n.º 14.690, de 16 de março de 2015 (ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, 2015). E por último, a Lei Complementar nº 14.376 está atualizada até a Lei Complementar n.º 14.924, de 22 de setembro de 2016. (ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, 2016)

Na atual lei foram estudadas mudanças perante as leis antecedent antecedentes, es, ficando algumas classificações, como também teve acréscimo de outras. Onde relata a lei, conforme Art. 1°:

 

 

38

Ficam estabelecidas, através desta Lei Complementar, para as edificações e áreas de risco de incêndio no Estado do Rio Grande do Sul, as normas sobre Segurança, Prevenção e Proteção contra Incêndio, competências, atribuições, fiscalizações e sanções administrativas decorrentes do seu descumprimento. (RIO GRANDE DO SUL, 2013, p. 1)

E, no Art. 2.º, são estabelecidos os objetivos desta Lei Complementar: I - preservar e proteger a vida dos ocupantes das edificações e áreas de risco, em caso de incêndio; II - estabelecer um conjunto de medidas eficientes de prevenção contra incêndio; III - dificultar a propagação do incêndio, preservando a vida, reduzindo danos ao meio ambiente e ao patrimônio; IV - proporcionar meios de controle e extinção do incêndio; V - dar condições de acesso para as operações do Corpo de Bombeiros Militar do;  CBMRS Estado Rio Grande do Sul 



VI - proporcionar a continuidade dos serviços nas edificações e áreas de risco de incêndio; VII - definir as responsabilidades e competências de legislar em âmbito estadual, respeitando as dos demais entes federados; VIII - estabelecer as responsabilidades dos órgãos competentes pelo licenciamento, prevenção e fiscalização contra incêndios e sinistros deles decorrentes; IX - definir as vistorias, os licenciamentos e as fiscalizações às edificações e áreas de risco de incêndio; X - determinar as sanções nos casos de descumprimento desta Lei Complementar. (RIO GRANDE DO SUL, 2013, p.1)

A lei vigente Rio Grande do Sul (2016, p. 2), diz no seu Art. 4.° que: As edificações e áreas de risco de incêndio deverão possuir Alvará de Prevenção e Proteção Contra Incêndio  – APPCI  –, expedido pelo Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul – CBMRS.

Continuando o texto, o parágrafo fala: Excluem-se das exigências desta Lei Complementar: I - edificações de uso residencial exclusivamente unifamiliares;

 

 

39 II - residências exclusivamente unifamiliares localizadas em edificação com ocupação mista de até 2 (dois) pavimentos, desde que as ocupações possuam acessos independentes;

As edificações e áreas de risco de incêndio serão classificadas considerando as seguintes características, conforme critérios constantes nas tabelas t abelas instituídas no Decreto n.º 51.803, de 10 de setembro de 2014: No Art. 28 da legislação estabelece a classificação das edificações e áreas de risco de incêndio em que são consideradas a partir de características como:   Altura;



  Área total construída;



  Ocupação e uso;



  Capacidade de lotação;



  Grau de risco de incêndio.



Abaixo, Tabela 8, mostra a classificação das edificações e áreas de risco quanto à ocupação no Grupo F-6  – Clube Social e diversão, onde especificamente determina, entre outras edificações, Boates, a exemplo da Boate Kiss. Tabela 8 – Classificação das edificações e áreas de risco quanto à ocupação

Fonte: Lei Complementar nº 14.376 Anexo, Tabela 1, p.29.

 

 

40 Dando seguimento a partes importantes para esta pesquisa, no Art. 36, Capítulo IX das medidas de segurança contra incêndio, fica determinado que: As edificações e as áreas de risco de incêndio serão dotadas das seguintes medidas de segurança, que serão fiscalizadas pelo CBMRS: I - restrição ao surgimento e propagação de incêndio; II - resistência ao fogo dos elementos de construção; III - controle de materiais de acabamento; IV - detecção e alarme; V - saídas de emergência, sinalização, iluminação e escape; VI - separação entre edificações e acesso para as operações de socorro; VII - equipamentos de controle e extinção do fogo; VIII - proteção estrutural em situações de incêndio e sinistro; IX - administração da segurança contra incêndio e sinistro; X - extinção de incêndio; XI - controle de fumaça e gases; XII - controle de explosão.

Apresentado o contexto de normativas legais pertinentes a temática da pesquisa, podemos constatar a responsabilidade dos profissionais projetistas em observar os condicionantes de projetos no que se refere à segurança dos ambientes construídos. 2.4.2.2

“Lei Kiss”

Federal 

No início do ano de 2017, dia 30 de março, o Presidente da República sanciona a lei nº 13.425/2017  em razão do incêndio da tragédia da Boate Kiss. A legislação federal estabelece várias regras para fins de prevenção contra incêndio e desastres em estabelecimentos comerciais, edificações e áreas de reunião de público. A lei também deixar claro diretrizes à competência dos órgãos e suas obrigações específicas de fiscalizações, expedições de alvarás, bem como os profissionais que exercem o trabalho na área de proteção contra incêndio. A legislação federal traçando estas regras gerais permite o estabelecimento de regras pertinentes a cada estado e em cada município do país.

 

 

41 Os estabelecimentos e edificações abrangidos por esta lei recentemente sancionada que devem se adequar na legislação vigente está escrito no parágrafo 1º do Art. 2º, bem como citamos abaixo: Art. 2o  O planejamento urbano a cargo dos Municípios deverá observar normas especiais de prevenção e combate a incêndio e a desastres para locais de grande concentração e circulação de pessoas, editadas pelo poder público municipal, respeitada a legislação estadual pertinente ao tema. § 1o  As normas especiais previstas no caput deste artigo abrangem estabelecimentos, edificações de comércio e serviços e áreas de reunião de público, cobertos ou descobertos, cercados ou não, com ocupação simultânea potencial igual ou superior a cem pessoas. (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2017)

Ou seja, estas espécies de estabelecimentos que possam potencialmente ter até 100 pessoas, devem observar tais diretrizes. Entretanto no inciso 2º no parágrafo 2º do Art. 2º, é determinada uma exceção. Os estabelecimentos não atingindo o número de 100 pessoas ainda sim são obrigados a manter ou se adequar as novas regras de proteção contra incêndio § 2o  Mesmo que a ocupação simultânea potencial seja inferior a cem pessoas, as normas especiais previstas no caput deste artigo serão estendidas aos estabelecimentos, edificações de comércio e serviços e áreas de reunião de público: II - que, pela sua destinação: a) sejam ocupados predominantemente por idosos, crianças ou pessoas com dificuldade de locomoção; ou b) contenham em seu interior grande quantidade de material de alta inflamabilidade.

É importante notar que esta lei federal se preocupa com as graduações no qual se envolvem no âmbito da área de prevenção e proteção contra incêndios, Engenharia e Arquitetura, exigindo o que o Art. 8º Nos fala: Os cursos de graduação em Engenharia e Arquitetura em funcionamento no País, em universidades e organizações de ensino públicas e privadas, bem

 

 

42 como os cursos de tecnologia e de ensino médio correlatos, incluirão nas disciplinas ministradas conteúdo relativo à prevenção e ao combate a incêndio e a desastres.

Para que se adaptem à legislação recém publicada, exige-se que os cursos tenham ministrado conteúdos de combate à prevenção contra incêndios, bem como o autor citado abaixo segue a mesma linha de pensamento em relação à preocupação e prioridade das graduações se reformularem formando profissionais mais bem preparados e atualizados à lei em questão: A prevenção e proteção das pessoas é algo que deveria estar no topo dos ensinamentos de qualquer currículo de cursos relacionados a esta área. As edificações também devem estar neste patamar de importância visto que são elas que influenciarão diretamente na assistência das pessoas no segurança contra incêndio. (PALMA, 2016, p.22)

Entende-se que é de uma importância maior que profissionais da aérea tenham plena consciência de conhecer as novas normas para aplicarem nas edificações já existentes, como também nas edificações que estão sendo projetadas. E para isso, precisa-se de conhecimento na área de prevenção e proteção contra incêndios, as leis estarem em constante evolução, dando mais segurança e confiança aos usuários de ambientes citados ao longo da pesquisa. Assim, prevenindo acontecimentos de novas tragédias, como exemplo a mais recente no país, a tragédia da Boate Kiss. 3. MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO

Em relação ao proposto, a pesquisa é classificada como estudo de caso, tendo no seu processo a utilização de Mapas Mentais como ferramenta para a busca de informações/elementos que irão auxiliar nas análises e interpretações futuras. A utilização de um método, segundo Gil (2008) tem por objetivo proporcionar ao investigador os meios técnicos para garantir a objetividade e a precisão no estudo dos fatos sociais. Mais especificamente visam fornecer a orientação necessária à

 

 

43 realização da pesquisa social, sobretudo no referente à obtenção, processamento e validação dos dados pertinentes à problemática que está sendo investigada. Podem ser identificados vários métodos desta natureza nas ciências sociais. Nem sempre um método é adotado rigorosamente ou exclusivamente numa investigação. Com frequência, dois ou mais métodos são combinados, isto porque nem sempre um único é suficiente para orientar todos os procedimentos a serem desenvolvidos ao longo da investigação. O método utilizado neste estudo é o experimental, que consiste segundo Gil (2008), essencialmente em submeter os elementos de estudo à influência de certas variáveis, em condições controladas e conhecidas pelo investigador, para observar os resultados que a variável produz. Por sua contribuição nos conhecimentos obtidos nos últimos três séculos, pode ser considerado como o método, por excelência, o das ciências naturais. Em relação ao objetivo proposto, a pesquisa é classificada como exploratória, onde a principal finalidade é o aprimoramento de ideias. Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, possibilitando a consideração dos mais variados aspectos relativo ao fato estudado. No caso específico desta pesquisa, serão aplicadas entrevistas com pessoas que estavam no interior da Boate Kiss no dia da tragédia. Assim sendo, possibilitará sua análise segundo critérios de um estudo de caso, favorecendo o esclarecimento para melhor compreensão do “problema” e descrevendo os resultados para a

análise, mais na condição de hipótese do que de conclusões. (GIL, 2002) 3.1 O AMBIENTE E A OPORTUNIDADE DA AÇÃO PROPOSTA

Diante da tragédia e na condição de aluno do curso de Desenho Industrial da UFSM, não restou outra condição senão explorar os fatos para de alguma forma poder contribuir para a diminuição das possibilidades de outras tragédias. Neste contexto foi utilizada uma metodologia já estruturada por Brondani (2006) e aplicada com profissional da neurociência e acadêmicos que sobreviveram à tragédia da Boate Kiss.

 

 

44 3.2 DESCRIÇÃO DAS ETAPAS DO MODELO APRESENTADO - COLETA DE DADOS A preparação para a coleta de dados foi desenvolvida em três etapas: a) Primeira etapa: busca por informações e documentação local  – Com o apoio da Polícia Civil do RS, tivemos acesso aos projetos arquitetônicos que constavam da documentação do inquérito policial. Junto aos órgãos da administração pública do município, foram coletados as normas e regulamentos de prevenção de incêndio. Demais documentos e bibliografias foram acessados em sites e bibliotecas. b) Segunda etapa: junto à marcenaria do curso de Desenho Industrial da UFSM, foi então materializada a planta baixa da Boate Kiss numa escala de 1:50. Caracterizou-se como uma maquete de planta esquemática, produzida com o corte de chapa de MDF 6 mm, definindo os acessos, ambientes e paredes divisórias. Esta proposta visa facilitar o registro do percurso do pesquisado quando da sua saída do interior do ambiente da boate. A montagem e preparação do teste consistem inicialmente em posicionar sobre uma mesa uma placa de poliestireno. Esta, então, será a superfície para colocação do papel onde está graficada a planta baixa. Sobre este, é posicionada a maquete esquemática, coincidente com a planta baixa. Depois de estabilizada, estará pronta para a graficação do percurso.

 

 

45 Figura 4 – Planta baixa edifício da Boate Kiss, escala 1:50

Fonte: Cássio F. Lemos.

 

 

46 Figura 5 – Materialização da planta baixa da Boate Kiss

Fonte: produção própria do autor.

c) Terceira etapa: elaboração dos Mapas Mentais (MMs)  – foi aplicado o “teste piloto” com um dos sobreviventes da tragédia. Este foi informado de

que não haveria tempo cronometrado para a realização da tarefa, usaria o tempo que julgasse necessário. Disponibilizando de lápis, caneta e borracha, foi então traçado o percurso, denominado de MM. Inicialmente é dada explicação sobre a maquete, identificando os ambientes e os acessos, fazendo com que o pesquisado se situe no local, como no dia da tragédia. O pesquisador acompanha durante todo o tempo do desenvolvimento da pesquisa, identificando e assinalando o início e o término do percurso.

 

 

47 Figura 6 –  Aplicação Aplicação do “teste piloto” piloto” com um dos sobreviv sobreviventes entes da tragédia 

Fonte: produção própria do autor.

Na busca por mais informações, antes da representação dos MMs, foi aplicada uma entrevista com o pesquisado, no sentido de auxiliar nas futuras análises da percepção. Modelo de entrevista proposto: 1) Nome: 2) Sexo: ( ) M ( ) F 3) Idade quando do dia da tragédia: 4) Já havia frequentado a boate antes da tragédia: (

) Sim (

) Não

Quantas vezes: Tempo para explicar a implantação da maquete esquemática; Com lápis e caneta, traçar o percurso de saída que você lembra ter feito no local durante o incêndio. 5. Lembra de algum algumaa sinalização indic indicativa ativa de saí saída da de emergênc emergência ia que auxiliou na sua saída: ( )Sim ( )Não

 

 

48 Figura 7 – Sinalização indicativa de saída de emergência

Fonte: produção própria do autor.

6. Onde morav moravaa quando do dia da tragéd tragédia: ia: ( ) Casa ( ) Apartamento. 7. No local em qque ue você morav morava, a, existia alguma sinalizaçã sinalizaçãoo indicativa de saída de emergência: ( ) Sim ( ) Não (em caso afirmativo, apresentar propostas de sinalização sugeridas para a escolha do ator pesquisado): 8. Onde mora hoje: ( ) Casa ( ) Apartamento. 9. No local em que você mora, existe alg alguma uma sinalização indicativa de saída de emergência: ( ) Sim ( ) Não (em caso afirmativo, apresentar propostas de sinalização sugeridas para a escolha do ator pesquisado): 10. Esteve internado em função do incêndio da Boate Kiss: ( ) Sim ( )Não 11. Esteve internado no hospital sob ventilação mecânica: ( ) Sim ( ) Não 12. Fez queimadura de pele: ( ) Sim ( ) Não 13. Fez ou faz tratamento psiquiátrico e/ou psicológico: ( ) Sim ( ) Não 14. Faz uso de algum tipo de medicação: ( ) Sim ( ) Não Legenda utilizada para demarcações no traçado da rota de fuga: Letra “I”: início do percurso; Letra “F”: final do percurso;

Linha Contínua (______): percurso livre;

 

 

49 Linha Tracejada (- - - - - -): percurso congestionado. No desenvolvimento da pesquisa, a cada novo ator pesquisado, será retirada a maquete esquemática e substituído o papel com o MM. Todos os registros gráficos serão identificados individualmente e arquivados para as análises. Está previsto trabalhar com um número mínimo de vinte atores. Para uma análise estatística, este número é aceito para avaliar uma pesquisa exploratória. Os resultados obtidos poderão direcionar para outras pesquisas, tendo em vista a caracterização de algumas variáveis. 3.3 MODELO APRESENTADO E SUAS APLICAÇÕES A aplicação do modelo proposto ocorreu-se entre os anos 2016 e 2017 com sobreviventes que se voluntariaram à participação desta pesquisa, todos estavam no interior da Boate Kiss. A partir do convite do pesquisador se solicitou aos voluntários que deslocassem até o Prédio 40, Centro de Artes e Letras, na U Universidade niversidade Federal de Santa Maria onde ocorreram todas as entrevistas. Em uma sala reservada para que se preservasse a integridade de cada um, bem como a segurança e legitimidade dos dados, deu-se partida às à s conversações com cada ator convidado. Inicialmente explicou-se o intuito da pesquisa, suas perspectivas de metas e objetivos a serem alcançados. Posteriormente leu-se o Termo de Consentimento esclarecendo algumas questões tais como a segurança da privacidade dos dados pessoas de cada ator pesquisado, sem ocorrência de d e nenhum tipo prejuízo, tal como o voluntário poderia optar por não continuar a entrevista e ou futuramente futuramente requerer a solicitação da retirada de seu depoimento e seus dados da pesquisa. Para que o sobrevivente pesquisado ficasse ficasse mais a vontade em contar seu depoimento da noite da tragédia não se delimitou nenhum limite de período de tempo, ficando com total liberdade de conversar tranquilamente sobre os fatos ocorridos. Esclareceu-se também que no decorrer da entrevista o pesquisador registraria com uma máquina fotográfica o andamento da conversa e a realização física do Mapa Mental. Depois destes esclarecimentos iniciais o entrevistador começa a aplicação de uma série de perguntas na entrevista com o pesquisado, como já mencionado no

 

 

50 capítulo anterior, explicando como funcionaria a graficação na maquete esquemática. Figura 8 – Aplicação da entrevista com um dos atores pesquisados

Fonte: produção própria do autor.

Diante disto, em paralelo com as perguntas da entrevista o ator pesquisado começa a desenhar na maquete esquemática da Boate Kiss relatando o ponto inicial, local onde estava quando viu e ou percebeu indícios de perigo real e ou o fogo no interior da boate. A partir daí o sujeito pesquisa pesquisado do traça seu ppercurso ercurso até o ponto final chegando à parte externa da Boate ou mesmo até onde se recorda de ter consciência. Ainda, Pergunta-se para o entrevistado se em algum momento de seu trajeto, do ponto inicial ao final, se ele se lembra de alguma sinalização que indicasse saída de emergência em que auxiliou na sua saída da casa noturna. 4. RELATOS E DIAGNÓSTICO DOS RESULTADOS DAS ENTREVISTAS

À coleta proposta, foi frisada aos atores pesquisados a suma importância que todos representam com suas participações na pesquisa, onde cada um colaborou

 

 

51 com informações extremamente valiosas não somente para este trabalho, mas também uma contribuição positiva para reflexões futuras à nossa sociedade de medidas em prol à vida. Foi-se fornecido como material à confecção dos Mapas Mentais aos voluntários de lápis, borracha e caneta. Para uma graficação tranquila dos atores deixou-se claro que não precisaria a preocupação de estar bem feito o trajeto do desenho na maquete, não existindo desenho feio ou bonito, tal como desenho certo ou errado. Somente foi pedido de cada participante, a partir de suas lembranças da noite da tragédia, representasse em forma de desenho trajeto no interior da casa noturna. A identificação de cada sujeito pesquisado e seu Mapa Mental produzido se fez através de letras do alfabeto para manter-se em anonimato. A mesma letra corresponde tanto à ordem de entrevista, como também o Mapa Mental do entrevistado, por exemplo: Ator pesquisado “A”, Mapa Mental “A”.  Todos os participantes pesquisados são adultos maiores de idade. A seguir o apanhado de dados coletados em cada entrevista realizada: Ator “A” 

O Ator pesquisado do sexo masculino, com 31 anos de idade na época da tragédia, já havia frequentado a casa noturna cinco ou seis vezes, aproximadamente. O sujeito relata que teve dificuldades de chegar à parte externa da boate. Quando percebeu a situação inicial de fogo, como mostra no seu Mapa Mental na figura abaixo, graficado com a letra “I”, logo tentou se retirar, entretanto chegando ao segundo ponto acabou caindo devido à confusão já disseminada. Não conseguindo respirar foi perdendo seus sentidos no terceiro ponto do trajeto, pensou que iria entrar em óbito, pois outras pessoas o pisotearam.

 

 

52 Figura 9 – Aplicação da entrevista com o participante pesquisado “A” 

Fonte: produção própria do autor.

Conta ainda que tomou forças erguendo-se do chão da boate com o auxílio dos guarda-corpos, usou a camisa em seu rosto para facilitar a respiração, tateou pela parede até a porta de saída. Por aproximadamente 20 segundos forçou a porta, tentando abri-la para sair. No quarto ponto de seu trajeto a sua frente avistou uma luz em meio à neblina de fumaça, esta o ajudou a guiar-se à parte externa. Saindo da Boate ficou cerca de 15 minutos na frente da casa noturna, posteriormente não tendo mais consciência de nada, foi ajudado por um casal que o levaram ao hospital. O ator “A” estimou um intervalo tempo de 5 a 8 minutos para completar seu trajeto do início ao fim.

 

 

53 Figura 10 – Mapa Mental do participante pesquisado “A” 

Fonte: produção própria do autor.  

  Esteve internado em função do incêndio da Boate Kiss;





  Esteve internado no hospital sob ventilação mecânica;   Fez queimadura de pele;



  Não fez ou faz tratamento psiquiátrico e/ou psicológico;



  Fez uso de algum tipo de medicação;



  Não se llembra embra ssee hhavia avia alguma sinalização indicativa de ssaída. aída.



 Ator  At or

“B” 

A entrevistada do sexo feminino, 36 anos de idade na época, estava no banheiro feminino ao fundo da Boate Kiss, em seu ponto inicial de trajeto dentro da casa. Detalha que todas as luzes do banheiro estavam ligadas. Já tinha frequentado a boate antes da tragédia pelo menos duas vezes. Após 30 segundos, já no

 

 

54 segundo ponto do trajeto, uma funcionária da casa informou para sair por causa do incêndio. No terceiro ponto de sua caminhada, sabendo sobre o perigo, comenta com a funcionária de ir avisar os amigos da situação, mas a funcionária avisa que todos já haviam saído. Neste momento do trajeto, saindo do banheiro a participante da pesquisa percebe que a casa noturna esta em completa escuridão, perde o sapato, com dificuldades para respirar mesmo assim continua, escutou barulho de cadeira caindo e madeira queimando. Figura 11 – Aplicação da entrevista com a participante pesquisada “B” 

Fonte: produção própria do autor.  

Chegando ao quarto ponto, como mostra seu Mapa Mental a seguir, a entrevistada “B” desmaia. Sentiu que caiu em cima de alguém, com o rosto no chão. Neste momento achou que iria morrer levando em conta a gravidade da situação. Presume que só saiu do interior da boate quando o Corpo de Bombeiros chegou.

 

 

55 Figura 12 – Mapa Mental da participante pesquisada “B”  

Fonte: produção própria do autor.  

  Esteve internada em função do incêndio da Boate Kiss;



  Esteve internada no hospital sob ventilação mecânica;



  Fez queimadura de pele;



  Fez ou faz tratamento psiquiátrico e/ou psicológico;



  Fez uso de algum tipo de medicação;



  Não se llembra embra ssee hhavia avia alguma sinalização indicativa de ssaída. aída.



Ator “C” 

O participante “C” de sexo masculino, com a idade de 20 anos no ano da

tragédia, já havia frequentado a Boate Kiss pelo menos cinco vezes antes do ocorrido. No ponto inicial de seu trajeto, ele e seu amigo viram o tumulto, contudo não deram muita importância à situação e nesta hora o amigo que estava junto com

 

 

56 o ator “C” foi ao encontro de outro amigo, retornando assim para que os três

saíssem juntos do interior da boate. Figura 13 – Aplicação da entrevista com o participante pesquisado “C” 

Fonte: produção própria do autor.  

Na altura do ponto dois, como mostra a Figura 14, perceberam que as luzes se apagaram, muita fumaça, impossível de evitar inalação. No ponto três O Ator “C”

caiu sobre as cadeiras onde estavam nas mesas fixas, vários batiam e o pisoteavam, seus olhos ardiam. Ele deduz que, por ter caído esta primeira vez, a própria queda o ajudou a ter sobrevivido, pois assim conseguira respirar tendo forças para levantar e seguir o trajeto. Chegando ao ponto quatro novamente cai ao chão. Muita gente forçando a saída. Mas sabia que a saída era em linha reta. No último ponto da sua caminhada, à parte externa da boate, vai ao chão outra vez com pessoas caindo e passando umas por cima das outras. A aglomeração era tanta que ficou preso no chão. Cansado ainda tentou sair fazendo muita força, todavia não obteve sucesso e no mesmo lugar ficou até que um casal ajudou-o, puxando-o e, finalmente, conseguindo tirá-lo arrastado de dentro da boate.

 

 

57

Figura 14 – Mapa Mental do participante pesquisado “C” 

Fonte: produção própria do autor.  

  Esteve internado em função do incêndio da Boate Kiss;



  Esteve internado no hospital sob ventilação mecânica;



  Fez queimadura de pele;



  Fez tratamento psiquiátrico e/ou psicológico;



  Não faz uso de algum tipo de medicação;



  Sabia que tinha sina sinalização lização indicat indicativa iva de saída po porr ter es estado tado ant antes es no local.



Entretanto na hora da tragédia não viu nenhuma sinalização.  Ator  At or

“D” 

Com 18 anos de idade na data da tragédia, havia frequentado aproximadamente três ou quatro vezes a casa noturna, a participante pesquisada é do sexo feminino.

 

 

58 Da cidade de Uruguaiana, cursando na época Processos Químicos na Universidade Federal de Santa Maria, ela estava com mais cinco amigas na boate comemorando o aniversário de uma destas amigas. S obreviveram a participante “D” e outra amiga. Figura 15 – Aplicação da entrevista com a participante pesquisada “D” 

Fonte: produção própria do autor.  

No seu ponto inicial, ela estava com mais outra amiga no banheiro localizado na parte da frente do interior da boate, se dando conta do tumulto apenas no ponto dois onde pensou que a correria poderia ser de fogo ou de briga. Neste momento cogita em sair da boate. No ponto três, como mostra o Mapa Mental na Figura 16, foi o ponto em que demorou a sair. A participante relata que já saiu com queimaduras nas mãos e nas costas, deduz que todo trajeto teria feito com rapidez, mas pela gravidade das queimaduras, acha que realmente demorou até estar fora da Boate Kiss. Na parte exterior, já na rua, relata que respirou e sentiu que queimava internamente, quando deu alguns passos e caiu. Lembra da calçada e das ambulâncias no local. Nesta

 

 

59 parte entende-se, então, que o edifício da boate já estava com fogo na hora que a pesquisada “D” ainda estava no banheiro. Figura 16 – Mapa Mental da participante pesquisada “D”  

Fonte: produção própria do autor.  

Finalizando seu relato, ela nos conta que ficou deitada num estacionamento de um mercado em frente da boate e que foi levada de carro para o hospital por outra pessoa. Fala também que não escutou de ninguém que a boate estivesse pegando fogo e se recorda que havia luz no banheiro onde estava no ponto inicial. Ela ainda diz que se lembra de pouca coisa, por isso acredita que apagou muito de sua memória.   Esteve internada em função do incêndio da Boate Kiss;



  Esteve internada no hospital sob ventilação mecânica;



  Fez queimadura de pele;



  Fez ou faz tratamento psiquiátrico e/ou psicológico;



 

 

60   Fez uso de algum tipo de medicação;



  Sabia que tinha ssinalização inalização indic indicativa ativa de saída na nnoite oite da festa, ma mass não tem



certeza de qual era.

Ator “E” 

Com 21 anos de idade o pesquisado, sexo masculino, havia frequentado a

boate anteriormente à tragédia, em torno de 10 vezes. Em seu relato daquela noite trágica nos conta que, no ponto um de seu trajeto o pesquisado estava de costas para o palco, lugar onde iniciou o fogo dentro da boate a partir do acendimento de um artefato pirotécnico por um dos integrantes da banda que tocava naquela noite. Figura 17 – Aplicação da entrevista com o participante pesquisado “E” 

Fonte: produção própria do autor.

Seu amigo o avisa da situação que se constrói visualizando que o ponto inicial do fogo se mantém ainda num lugar só. Ao verificarem se todos os amigos estavam ali juntos iniciaram a caminhada até a parte externa da boate. Bem como nos conta saíram entre três amigos conforme o fluxo das pessoas sem maiores

 

 

61 problemas deduzindo que não demoraram muito, em torno de dois minutos, aproximadamente. No ponto dois, Figura 18, ficou no lado externo da casa noturna ajudando o Corpo de Bombeiros no qual permitiram que civis auxiliassem no resgate de quem ainda estava na parte interna. Tendo a permissão de retornar para dentro da boate, o Ator “E” ao ponto três vis ualiza alguém com sinal de vida. Fala que estava com muita água e vidro quebrado no chão do local, tropeçou algumas vezes. Viu pertences de outras vítimas como celulares e calçados. Avistou a mangueira do Corpo de Bombeiros e outras pessoas para serem resgatadas. Já rastejando e tateando, sem conseguir enxergar muito bem, por ter treinamento do grupo de escoteiros conseguiu de uma melhor maneira respirar e puxar os que estavam no chão e ou vindo em sua direção.

Figura 18 – Mapa Mental do participante pesquisado “E” 

Fonte: produção própria do autor.  

 

 

62

Na altura do ponto quatro saiu rastejando e já não se sentia bem fisicamente em função de sua respiração afetada. Parou de prestar ajuda quando o Corpo de Bombeiros avisara que não tinha mais possibilidade de quem estava na parte interna da Boate Kiss estar com vida. Este sobrevivente voluntário à pesquisa salienta que era perceptível que o Corpo de Bombeiros tinha consciência da dificuldade que foi o contexto do resgate à tragédia, entretanto não tinha noção mensurável do quão grave era à situação. Ainda salienta que, pessoalmente, acha que faltou planejamento na construção e estruturação do ambiente interno da danceteria, onde as reformas feitas pelos donos prejudicaram à prevenção de segurança.   Não esteve internado em ffunção unção do inc incêndio êndio da Bo Boate ate Kiss;



  Não esteve internado no hospital sob ventilação mecânica;



  Não fez queimadura de pele;   Sim fez ou faz tratamento psiquiátrico e/ou psicológico;





  Não Fez uso de algum tipo de medicação;



  Não se recorda de alguma sinaliz sinalização ação indica indicativa tiva de saída na noite da festa.



 Ator  At or

“F” 

A participante que nos conta este depoimento é do sexo feminino e no ano da tragédia tinha 18 anos de idade, nunca havia frequentado a boate. Partindo do ponto um ela relata que estava com mais cinco pessoas e que enxergando a pista um da boate, logo viram outras pessoas correndo, bem como também um clarão. Pensou que pudesse ser briga, mas alguém disse então que era fogo. Logo tudo escureceu por causa de queda de energia elétrica e não demorou a começar arder seus olhos por causa da fumaça que tomava conta da boate. Sabendo do risco que a situação poderia se agravar, a pessoa que avisou sobre o incêndio pegou-a pela mão para tentarem sair em meio a inúmeros empurrões. No ponto dois do caminho todas as pessoas que, ao mesmo tempo, tentavam sair pela única abertura de entrada e saída que existia, devido à aglomeração todos não conseguiam ir à frente. Ao ponto três nos conta que não conseguia mais respirar. Suas pernas já estavam sem forças, mas ainda sim continuou tentando

 

 

63 sair, pois avistou uma luz. A pesquisada fala que era um automóvel do lado de fora iluminando para o lado de dentro da boate. Em meio à confusão, fumaça, alta temperatura e excesso de pessoas em pânico tentando sair, a sobrevivente sobrevivente recebe ajuda de outra menina para guiá-la até a saída onde ajudaram-na puxando-a para fora do ambiente. Nesta situação de terror infelizmente acabou sendo empurrada batendo a cabeça no automóvel que ajudara iluminar em direção a parte interna do estabelecimento. Já na parte externa na rua a sobrevivente nos fala que ficou procurando seus outros amigos que estavam com ela anteriormente por mais ou menos uma hora. Seu corpo já não aguentando mais desmaia e toma consciência já sob cuidados médicos em um dos hospitais de Santa Maria. Figura 19 – Aplicação  Aplicação da entrevista entrevista com a participante pesquis pesquisada ada “F” 

Fonte: produção própria do autor.

Muito nervosa, com os lábios trêmulos e bastante emocionada em nos contar sua história daquela noite fatídica, diz que na sua última posição, ponto três de seu trajeto, sentiu que iria morrer, perdeu totalmente as forças. Como tinha memorizado a entrada, pensou como deveria sair e realmente sentiu a gravidade da situação

 

 

64 quando viu alguns corpos deitados na rua onde estes mesmo corpos não eram levados para os hospitais da cidade, pois já se encontravam em óbito. A autora deste depoimento termina dizendo que não sai mais a noite, a não ser em ambientes que sejam abertos. Figura 20 – Mapa Mental da participante pesquisada “F”  

Fonte: produção própria do autor.

  Esteve internado em função do incêndio da Boate Kiss;



  Esteve internado no hospital sob ventilação mecânica;



  Não fez queimadura de pele;



  Não fez ou faz tratamento psiquiátrico e/ou psicológico;



  Fez uso de algum tipo de medicação;



  Não se recorda de alguma sina sinalização lização in indicativa dicativa de saída na noite da fest festa. a.



 

 

65  Ator  At or

“G” 

A participante que nos conta este relato, sexo feminino, acadêmica de Educação Física na Universidade Federal de Santa Maria, tinha 19 anos de idade no ano de 2013, quando ocorreu o incêndio, estando pela primeira vez dentro do edifício. Figura 21 – Aplicação da entrevista com a participante pesquisada “G” 

Fonte: produção própria do autor.

Iniciando no ponto um, ela nos diz que em um momento sentiu cheiro de fumaça, mas pensou que pudesse ser dos equipamentos de ventilação, pois próximo a ela tinha dois ventiladores de teto. Pensou em ir para a pista dois, contudo, antes foi à pista um buscar uma amiga. Já na pista um, no ponto dois, Figura 22, observou que o incêndio já havia iniciado e uma pessoa desconhecida, pelo que podemos interpretar já estava antes ciente do início do incêndio, segurou na mão da entrevistada e de sua amiga conduzindo-as em direção a saída. Ela lembra que tentaram sair, entretanto não se recorda como saíram.

 

 

66 Figura 22 – Mapa Mental da participante pesquisada “G” 

Fonte: produção própria do autor.

Conforme tentam sair foi obstruída no ponto três por um banco, recorda que a porta estava fechada e os seguranças do estabelecimento impedindo os usuários saírem. Depois que se rompeu o impedimento de chegar à parte externa e após a queda ao chão, conseguiu levantar e, finalmente, sair de dentro da boate no ponto quatro. Passado a dificuldade para estar fora da boate, a sobrevivente pesquisada foi para o outro lado da rua, em frente de um supermercado local, ela acredita que foi uma das primeiras pessoas a sair da casa noturna. Ela entrou com mais oito amigos e descreve que apenas fala sobre o assunto quando necessário, pois nunca teve a real noção da gravidade da tragédia, haja vista que ainda é algo muito forte de se lembrar. A realidade grave da situação foi ainda mais perceptível quando outra pessoa começou vomitar fuligem próxima a autora desde depoimento. No desespero e preocupada com o risco de vida que seus amigos corriam porque ainda estavam

 

 

67 dentro da boate, ela ainda tentou entrar novamente para procurá-los, mas sem sucesso, porque foi impedida de entrar pela pessoa que a salvou. Este tipo de reação dos sobreviventes que conseguiram sair sem maiores ferimentos e quiseram entrar para salvar seus amigos no qual não tiveram a mesma possibilidade de evacuação rápida, foi muito comum na noite da tragédia. Inúmeros civis, bem como já vimos em relatos de outros atores pesquisados acima, forçaram a entrada ajudando no salvamento e a retirada de outras pessoas. Muitos perderam heroicamente a vida por esta escolha de salvar seus amigos, isto nos ilustra bem a gravidade em que tudo se encontrava, onde o pavor e desespero eram os principais agentes no enredo da tragédia. Tentando acalmá-las do que estavam vivenciando a pessoa que salvou esta participante entrevistada e sua amiga, leva as duas meninas para outra rua próxima a casa noturna, um pouco mais para cima da aglomeração que já se montara em frente da boate. Neste momento reencontra mais um de seus amigos que estavam com ela, partindo da participante que nos conta, resolvem voltar à frente da Boa Kiss, pois mais amigos ainda estavam desaparecidos, o que eles não esperavam era pelo bloqueio da rua que foi feito pelas autoridades não podendo mais retornar pelo caminho que passara antes.

 

 

68 Figura 23 – Aplicação da entrevista com a participante pesquisada “G” 

Fonte: produção própria do autor.

A sobrevivente pesquisada não satisfeita e preocupada com seus amigos faz a volta na quadra da boate conseguindo passar o bloqueio estabelecido e reencontrando uma das amigas do grupo, mas não sabiam do restante de seus amigos. Pensaram, então, em ir procurar nos hospitais da cidade na busca de informações do paradeiro de seus amigos perdidos. Apenas mais um amigo encontraram em um dos hospitais de Santa Maria, os demais ainda estavam desaparecidos. Finalizando sua busca, um tempo depois teve a triste notícia que quatro amigos do grupo que estavam com ela dentro da boate faleceram. Sua amiga que saíram juntas, posteriormente, foi induzida ao coma por causa de seu agravamento de risco à saúde. Outro amigo dela felizmente conseguiu se salvar. A sobrevivente relatou seu depoimento com relativa emoção. A percepção da autora deste depoimento era que a boate estava superlotada.   Não esteve internado em ffunção unção do inc incêndio êndio da Bo Boate ate Kiss;



  Não esteve internado no hospital sob ventilação mecânica;



 

 

69   Não fez queimadura de pele;



  Fez ou faz tratamento psiquiátrico e/ou psicológico;



  Fez uso de algum tipo de medicação;



  Não se recorda de alguma sinaliz sinalização ação indica indicativa tiva de saída na noite da festa.



Ator “H” 

A entrevistada nesse depoimento é do sexo feminino, com idade de 23 anos na época da tragédia, já tinha frequentado a Boate Kiss pelo menos quatro vezes. Fazia parte da turma organizadora do curso de Agronomia da UFSM, havia ido à boate numa quinta-feira anterior à tragédia para divulgar a festa do dia 27, no sábado. Figura 24 – Aplicação da entrevista com a participante pesquisada “H” 

Fonte: produção própria do autor.

 

 

70 Iniciando seu relato fala que quando estava no ponto um, como podemos ver na Figura 25, localizava-se na frente do palco sendo testemunh testemunhaa do acionamento do artefato pirotécnico que propagou o fogo na boate. Como era uma cena muito assustadora decidiu sair com sua colega em direção a porta de saída da casa noturna. No caminho dois, encontrou mais três colegas de turma e avisou o que acabara de ver, mas os colegas não deram muita importância. No ponto três sentiu dificuldade para se deslocar à saída, tanto por causa do tumulto, quanto pela dificuldade para respirar. Ao ponto quatro caiu ainda consciente, mas conseguiu sozinha levantar e sair. Sua colega saiu junto. Figura 25 – Mapa Mental da participante pesquisada “H” 

Fonte: produção própria do autor.

A sobrevivente comenta que levou em torno de um minuto do ponto um ao ponto quatro de seu percurso. Entre o ponto três e o ponto quatro há falta de energia elétrica. Considera-se umas das primeiras a sair da Boate Kiss. Fala-nos que não

 

 

71 chegou a ver os seguranças barrarem a saída, que tem consciência de que caiu porque houve tumulto das pessoas lá confinadas, não justificando a fumaça como motiva da queda.   Não esteve internado em função do incêndio da Boate Kiss;



  Não esteve internado no hospital sob ventilação mecânica;   Não fez queimadura de pele;





  Fez ou faz tratamento psiquiátrico e/ou psicológico;



  Fez uso de algum tipo de medicação;



  Não se lembra de sinalização indicativa de saída na noite da festa, apenas de



muita fumaça. Ator “I”

O autor desse relato nos nos descreve seu trajet trajetoo a partir do ponto um. Chegou à boate entorno de 1 hora da manhã e que ficou neste ponto conversando com as outras pessoas que ali estavam. Como aquela noite a casa noturna estava muito cheia preferiu ficar neste local. Iniciado o momento do incêndio em outro local da boate, sem estar ciente do que havia ocorrido alguma briga ou se era fogo, vendo outras pessoas indo em direção à única saída, resolveu seguir o fluxo. O sobrevivente sabia onde era a direção da saída, pois já tinha frequentado mais de 50 vezes a boate. Do sexo masculino, tinha 27 anos de idade e é graduado em Administração.

 

 

72 Figura 26 – Aplicação da entrevista com o participante pesquisado “I” 

Fonte: produção própria do autor.  

Por causa do montante de gente tentando fugir daquela situação apavorante, nosso entrevistado entrevistado conta que ccaiu aiu por causa da fumaç fumaçaa e por cima dele caiu outras pessoas. Por este fato não foi pisoteado e, como a fumaça era muito densa e escura, desmaiou. Quando acordou no chão, sentiu muito calor e a luz estava apagada, acredita que ficou por volta de 20 minutos inconsciente, quando voltou a si rastejou até sair. Conseguiu ver outras pessoas entrando e retirando os demais, percebendo que poderia ser ajudado, caído ergueu suas mãos até alguém resgatálo para fora da boate. Até o ponto dois rastej rastejou. ou. Ao ponto três foi ppuxado uxado para fora. Alguns entrevistados nos afirmam que a contaminação das vias aéreas pela fumaça provocava vômitos nas pessoas. Com este sobrevivente que nos conta sua

 

 

73 história não foi diferente, como tinha respirado a fumaça com fuligem na sua saída deram água para assim vomitar. O ator “I” fala que saiu mais pela intuição,  pois não tinha ideia do que estava

acontecendo, porque do ponto inicial, como podemos visualizar na Figura 27, onde se encontrava, não tinha possibilidade de ver o que estava acontecendo no ponto onde se iniciou o incêndio na Boate Kiss, no palco da pista um. Figura 27 – Mapa Mental do participante pesquisado “I” 

Fonte: produção própria do autor.

Não se lembra de qualquer sinalização de segurança no decorrer de seu trajeto, observou que tinha muitas pessoas indo na direção errada, por exemplo, para os sanitários da parte da frente do ambiente, onde as autoridades encontraram uma quantidade enorme de vítimas fatais. Também não se lembra dos corrimãos da

 

 

74 entrada da casa, entretanto, se recorda de ter passado pelo corrimão que tinha na parte interna. Hoje em dia faz acompanhamento médico a cada seis meses para ele ser comunicado caso haja qualquer anormalidade em sua saúde. O autor do relato teve queimadura leve externa na perna e, queimadura interna, nas vias respiratórias. Ficou 12 dias internado no hospital, cinco dias em coma. Ele ainda salienta que não estava tão debilitado, contudo a demora à saída da boate foi decisiva para ter tantas complicações na sua saúde posteriormente.   Esteve internado em função do incêndio da Boate Kiss;



  Esteve internado no hospital sob ventilação mecânica;



  Fez queimadura de pele;



  Não fez ou faz tratamento psiquiátrico e/ou psicológico;



  Fez uso de algum tipo de medicação;   Não se recorda de alguma ssinalização inalização indi indicativa cativa de saída na noite da fest festa. a.





Sugere que havia uma luz verde indicando a saída sobre as portas.  Ator  At or

“J” 

Sexo feminino, com 19 anos de idade quando ocorreu a tragédia da Boate Kiss, a participante deste relato começa seu depoimento dizendo que nunca havia entrado na casa noturna antes daquela noite e desde já fala que a superlotação foi algo que dificultou sua saída. Inicialmente ficou no ponto um entre as duas pistas, visto que a pista um estava muito cheia e na pista dois não estava de seu agrado. Momentos se passaram e ela avista uma movimentação da equipe de seguranças e de pessoas indo para o lado do palco principal, não deram muita importância e assim continuaram aproveitando a festa. Percorreu então ate o ponto dois porque viu alguém com um extintor. E no ar já sentia o cheiro de fumaça.

 

 

75 Figura 28 – Aplicação  Aplicação da entrevista entrevista com a participante pesquis pesquisada ada “J” 

Fonte: produção própria do autor.

Após perceber que algo errado estava acontecendo foi caminhando até o ponto três, Figura 29, não conseguindo seguir adiante porque tinha muita gente tentando sair ao mesmo tempo. Foi então que as luzes se apagaram, as pessoas começaram a gritar e a se debaterem, umas puxando as outras. Em meio a esta confusão, então, a sobrevivente conta que caiu por causa de um esbarrão e prejudicada pela fumaça teve dificuldades para respirar. r espirar.

 

 

76 Figura 29 – Mapa Mental da participante pesquisada “J”  

Fonte: produção própria do autor.  

Até o ponto quatro a sobrevivente foi rastejando, não se recorda se foi pisoteada, mas posteriormente a noite da tragédia percebeu que estava com inúmeros hematomas. Em conversa ela faz uma observação em que do ponto dois ao ponto quatro, na sua percepção, levou muito tempo para cumprir o trajeto, mas pelo que analisou sua psicóloga, este intervalo de trajeto durara de dois a três minutos. É importante salientar esta observação, pois a percepção da sobrevivente, bem como cita a literatura estudada nesta pesquisa sobre a percepção do espaço, mostra situações em que a autora do relato possa compreender e se localizar, assim criando referências para que ela se situe espacialmente, logo, tendo que adotar certo comportamento.

 

 

77 Sua amiga que estava junto, conhecendo a casa, foi quem a levou para a saída. Em seu trajeto não se lembra de sinalização indicativa de saída de emergência, assim como não se lembra de nenhum corrimão nem de algum tipo de elemento bloqueando a saída. A amiga também sobreviveu. Durante seu trajeto não desmaiou, entrou na boate por volta da meia noite e recorda mais uma vez que a casa estava lotada. A sobrevivente comenta que saiu da frente da Boate Kiss antes que o Corpo de Bombeiros chegasse, mas lembra de ver a imprensa chegar antes mesmo do resgate. Pela situação ser tão impactante emocional e fisicamente não conseguia reagir a tudo que estava acontecendo. Finaliza dizendo que ficou paralisada com aqueles momentos terríveis no qual passou. Hoje em dia não frequenta mais boates.   Esteve internado em função do incêndio da Boate Kiss;



  Não esteve internado no hospital sob ventilação mecânica;



  Não fez queimadura de pele;   Fez ou faz tratamento psiquiátrico e/ou psicológico;





  Fez uso de algum tipo de medicação;



  Não se recorda de alguma ssinalização inalização indi indicativa cativa de saída na noite da fest festa. a.



Sugere que a placa de número dois fosse mais interessante para perceber.  Ator  At or

“K”

A sobrevivente que descreve esse relato é do sexo feminino, com idade de 35 anos em 2013. Havia frequentado a boate outras duas vezes além da noite da tragédia. Frequentava a casa ppor or lazer e naqu naquela ela noite ffoi oi acompanhada de uma amiga. Sentiu cheiro de fumaça e viu o fogo, mas não foi avisada. No ponto um início da sua posição, começou a caminhar, todavia como muitas pessoas estavam tentando sair ao mesmo tempo, logo o congestionamento se estabeleceu. Chegando ao ponto dois trancou a respiração para poder aguentar e ficar consciente. No ponto três diz que seguranças da boate barraram a saída. Entre o ponto dois e o ponto três descreve que a fumaça já ttomava omava conta ddaa boate. Chegando ao ponto quatro ccai ai sobre um corrimão junto ao meio fio da rua.

 

 

78 Figura 30 – Aplicação  Aplicação da entrevista entrevista com a participante pesquis pesquisada ada “k” 

Fonte: produção própria do autor.  

A autora deste relato nos conta que antes do início do fogo a amiga que a acompanhava foi ao banheiro, não a vendo mais. Após a noite da tragédia ficou sabendo que sua amiga faleceu. A sobrevivente fala que em nenhum momento de seu trajeto perdeu seus sentidos, ficando sempre consciente mesmo machucada, ela não se recorda de avistar nenhuma sinalização indicativa de saída durante o trajeto percorrido. Só sabia que tinha sinalização por causa das outras duas idas na boate. Termina dizendo que é impossível mensurar o tempo de percurso, mas calcula que conseguiu sair em torno de 10 minutos, aproximadament aproximadamente. e.

 

 

79 Figura 31 – Mapa Mental da participante pesquisada “K”  

Fonte: produção própria do autor.

  Não esteve internado em ffunção unção do inc incêndio êndio da Bo Boate ate Kiss;



  Não esteve internado no hospital sob ventilação mecânica;



  Não fez queimadura de pele;



  Fez ou faz tratamento psiquiátrico e/ou psicológico;



  Não fez de uso de algum tipo de medicação;



  Não se recorda de alguma ssinalização inalização indi indicativa cativa de saída na noite da fest festa. a.



Mas como havia frequentado outras duas vezes a boate sabia que tinha sinalização no ambiente.

 

 

80

5. COMPILAÇÃO DOS DADOS APRESENTADOS

Foram entrevistados 11 atores sobreviventes da tragédia na Boate Kiss, com faixa etária entre 18 e 36 anos na época, onde todos estavam no interior do ambiente da casa noturna com suas respectivas percepções do início do incêndio. Destes, quatro atores são do sexo masculino e sete do sexo feminino. Do total de atores entrevistados, no quesito referente quantas vezes já tinham frequentado a boate, obteve-se as seguintes informações:   Três atores nunca tinham antes frequentado a casa;



  Dois atores frequentaram a cas casaa not noturna urna até três vezes;



  Dois atores frequentaram a ccasa asa noturna até quatro vezes;



  Dois atores atores freq frequentaram uentaram a cas casaa noturn noturnaa de cinco a seis vezes;   Um ator ator freq frequentou uentou a ccasa asa nnoturna oturna mais ddee 10 vezes;





  Um ator ator freq frequentou uentou a ccasa asa noturna mais ddee 5500 vvezes. ezes.



No quesito referente à percepção das sinalizações indicativa de saída, ficou assim registrado:   73% não se lembram de nenhuma sinalização;



  27% lembram de alguma sinalização.



Do total de atores que se lembram de alguma sinalização do local no dia da tragédia, quando sugerido alternativas de escolha para a indicação de qual tipo foi observado, todos (três atores) apontaram para a tipologia padrão da norma técnica.

 

 

81 Figura 32 – Sinalização indicativa de saída que foi avistada no ambiente da tragédia

Fonte: produção própria do autor.  

Quando anteriormente justificado a dificuldade de controle de algumas variáveis, sem dúvidas que a sinalização se destaca por estar a muito tempo já disseminada em muitas instalações do nosso cotidiano. A condição de muitos atores entrevistados habitar, trabalhar e estudar em imóveis comerciais, institucionais ou multifamiliares com as instalações de sinalização já adequadas à norma técnica, favorece a indicação da opção sugerida.   73% (8) moravam em apa apartamentos. rtamentos. É impor importante tante ssalientar alientar que des deste te 

percentual apenas 18% (2) informaram que em suas habitações havia a sinalização indicativa de saída. O restante dos moradores dos apartamentos entrevistados 55% (6) informaram que em suas habitações não havia nenhuma sinalização indicativa de saída. Os demais atores entrevistados 27% (3) moravam em residências unifamiliares.

Constatado o fato de que havia muitos moradores em apartamentos sem sinalização, obteve-se a informação que neste percentual haviam jovens acadêmicos moradores da “Casa do Estudante” do Campus da UFSM - Santa

 

 

82 Maria. Percebe-se assim o quanto foi negligenciada a segurança, colocando em risco muitas outras pessoas. Das opções sugeridas para a escolha da placa de sinalização instalada, a Figura 33 resume o resultado r esultado que ficou assim representado: Figura 33 – Modelos de sinalizações indicativas de saída

Fonte: produção própria do autor.  

É importante registrar que do total 100% (11) atores entrevistados, 82% (9) informaram que habitavam (residiam) onde não havia nenhuma sinalização indicativa. Apesar deste contexto, um percentual significativo 60% 60%   indicou a sinalização de acordo com o modelo normativo. Isso não elimina o condicionamento da memória de longo prazo para o indivíduo que frequenta ambientes equipados com a sinalização preventiva. Tratando com os resultados das entrevistas, identificamos algumas relações dos percentuais de sobreviventes que necessitaram/necessitam de cuidados no atendimento à sua saúde, estruturado abaixo como mostra a Figura 33, com a condição observada pelos atores participantes da pesquisa. Legenda:   S – SIM   N – NÃO





 

 

83 Figura 34 – Relação de percentuais de cuidados à saúde dos atores pesquisados ATORES Esteve internado em função do incêndio da Boate Kiss Esteve internado no hospital sob ventilação mecânica Fez queimadura de pele Fez ou faz tratamento psiquiátrico e/ou psicológico Faz uso de algum tipo de medicação

A

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Fonte: produção própria do autor.  

6. CONCLUSÃO

Levando-se em conta a bibliografia estudada em conjunto ao estudo de campo elaborado com os sobreviventes entrevistados, se consegue atribuir respostas construtivas ao problema pesquisado. Em relação à eficiência da sinalização de segurança contra incêndio e pânico, pode-se afirmar com base nas entrevistas realizadas com os atores sobreviventes da tragédia, que esta foi insuficiente na sua efetivação. Quando se fala na situação de propagação de fumaça, no caso ambiente da Boate Kiss, como podemos ver os atores tiveram severas dificuldades para encontrar a saída, pois a própria fumaça

 

 

84 bloqueou totalmente a visibilidade da sinalização que indicavam a saída, não tendo eficiência na sua função de auxiliar para a rota de fuga. Abaixo na Figura 35, uma ilustração de como ficou o estado deteriorante das sinalizações indicativas de saída.

Figura 35  – Sinalização indicativa de saída derretida pelo calor no interior da Boate Kiss

Fonte: Cássio F. Lemos. 

Com a aplicação da metodologia proposta e utilizando-se dos Mapas Mentais e das entrevistas estruturadas como ferramentas de análises, se observou a partir dos relatos do grupo de atores pesquisados que não se teve real eficiência da sinalização de emergência. É notável a incoerência da utilização das sinalizações indicativas de saídas, fatores como superlotação do espaço interno, ambiente mal projetado, falta de visibilidade das sinalizações ajudou dar ainda mais base para que se perceba a precariedade na aplicação destas sinalizações. Levando-se em conta o contexto trágico daquela noite do dia 27 de janeiro de 2013, os depoimentos dos atores participantes da pesquisa com o que se resultou na morte de 242 usuários do espaço, as normas nacionais vigentes não se mostraram capaz de fornecer auxílio

 

 

85 aos indivíduos usuários da casa no noturna turna naquela noite. Na figura 36, onde mostra um dos sanitários da Boate em que se encontrava o maior número de vítimas fatais. Podemos ter uma noção de como a situação na hora da tragédia foi totalmente desesperadora na busca de referencial em meio a fumaça para encontrar a saída do estabelecimento. Figura 36 – Um dos sanitários da casa noturna onde se acumulou mais vítimas

Fonte: Cássio F. Lemos. 

Assim, vale reforçar uma atenção maior para uma revisão minuciosa na construção das leis no que se refere à segurança contra incêndio. Devem ser considerados estudos e pesquisas que trabalhem na temática da percepção do

 

 

86 indivíduo em ambientes edificados, levando-se em consideração a sua experiência. Alguns autores citados chamam a atenção da relevância de ser mais bem observado o meio no qual participamos, porque somos capazes de elaborar mentalmente processos perceptivos que possam nos auxiliar e fundamentar na criação de novos projetos ambientais. Figura 37 – Palco. Ambiente interno onde o incêndio se iniciou na Boate Kiss

Fonte: Cássio F. Lemos.

No início do ano de 2017 foi sancionada com alguns vetos pela Presidência da República, a “Lei Kiss Federal”. Isso foi resultado do apelo da população em decorrência da tragédia que impôs a realização de uma revisão da lei vigente no sentido de propor adequações. Considerando a contextualização dos fatos, esta nova lei pode-se considerar tímida no aspecto de solução. Se comparados com outros países de diferentes culturas e com melhor desenvolvimento social e econômico, nossa legislação de Prevenção e Proteção contra Incêndio tem muito ainda para ser desenvolvida. Como exemplo podemos citar a regulamentação japonesa que prevê iluminação indicativa de saída ao nível

 

 

87 do piso, permitindo a visibilidade por qualquer usuário em qualquer ponto de sua localização. Torna assim o fluxo de saída das pessoas mais ordenado e eficiente. Esta condição exemplificada tem o mesmo significado ao das instalações e posicionamento no piso das aeronaves de grande porte para o transporte coletivo de passageiros, conforme mostrado na Figura 38. Figura 38 – Iluminação no piso indicando saídas de emergência

Fonte: site Hangar 22 consultoria em aviação.  

No que se refere à utilização de Mapas Mentais como ferramenta do método utilizado na investigação de busca das informações necessárias para melhor esclarecer os acontecimentos, podemos afirmar ser esta uma proposta confiável e adequada para as análises apresentadas no que se refere à percepção dos usuários e o ambiente. A estruturação das etapas e a aplicação do modelo de entrevista

 

 

88 adotado para com os sobreviventes foram de extrema importância para o significado lógico das conclusões da pesquisa. Cabe salientar um fato relevante em que um número considerável de atores entrevistados residiam residiam em apartament apartamentos, os, ou seja, deveriam estar regidos segundo as normas de segurança, onde há a obrigatoriedade de serem observados ambientes adequados. Entretanto, fomos informados de que essas edificações não estavam obedecendo obedecendo às leis e normas téc técnicas. nicas. Este fato ev evidencia idencia uma condição de negligência por parte dos órgãos fiscalizadores, condição também observada na Boate Kiss. É oportuno neste espaço esclarecer algumas condições que ainda são negligenciadas pelas leis criadas no que se referem à segurança dos ambientes, mais especificamente, a falta de percepção das consequências da fumaça. Para os municípios elaborarem suas leis de Prevenção e Proteção Contra Incêndio, como de regra geral, formam comissões compostas por arquitetos, engenheiros, construtores, políticos, ensino superior e Corpo de Bombeiros. Se estruturam e apresentam a nova lei baseada nos objetivos, definições, condições gerais e específicas considerando as descrições e os dados de dimensionamento de acordo com as NBRs  –  Normas Brasileiras apresentadas na ABNT  –  Associação Brasileira de Normas Técnicas. Em Santa Maria isso não foi diferente e verifica-se que todo esse processo não foi suficiente para evitar a tragédia da Boate Kiss. Para exemplificação do fato, citamos a fumaça tóxica desprendida da queima dos materiais de revestimento revestimento do int interior erior da casa. Já se consta constatou tou que essa foi a causa maior dos 242 mortos. Ambientes sem aberturas de janelas que possam auxiliar na ventilação para a retirada da fumaça, sem dúvidas aumenta muito o risco dessas tragédias. Todo esse relato tem mais sentido ainda quando se observa na ABNT a seguinte redação: “3.3 Alçapão de alívio de fumaça (AAF) ou alçapão de tiragem

Abertura horizontal localizada na parte mais elevada da cobertura de uma edificação ou de parte desta, que, em caso de incêndio, pode ser aberta manual ou automaticamente, para deixar a fumaça escapar.” (ASSOCIAÇÃO BRASILIERA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 9077, 2001, p.2)

.

 

 

89 Sem muito esforço de interpretação percebe-se que se esta condição estivesse presente na Boate Kiss, certamente não teríamos uma tragédia na proporção do ocorrido. Então as perguntas que ficam: Porque isso não é observado? Até quando? 6.1. SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS Até os dias atuais e por muito mais tempo teremos sempre vivo nas nossas memórias os fatos e acontecimentos da tragédia. Além das 242 vítimas fatais, temos ainda mais de 600 feridos que até hoje estão em tratamento de saúde, sejam físicos ou psicológicos. Eu, autor dessa monografia, também sou sobrevivente e assim como os onze (11) ( 11) atores pesquisados, tenho sequelas daquela trágica noite. Considerada como a segunda maior tragédia do Brasil, ultrapassou as fronteiras e se destacou em todo o mundo. A perplexidade dos fatos que culminaram com o evento, proporciona até hoje debates na sociedade em geral no sentido de prevenir outras tragédias similares. Ainda hoje, decorridos quase cinco anos da tragédia, percebe-se com muita evidência a dificuldade dos sobreviventes em lidar com o fato. Relembrar daqueles trágicos momentos é difícil e incompreensível para muitos. Considerando os fatores estatísticos para as análises, inicialmente prevíamos entrevistas com um número de vinte (20) sobreviventes da tragédia no sentido de apresentar confiabilidade nas probabilidades. Esta condição não foi possível devido à dificuldade de se obter a espontaneidade dos entrevistados, razão pela qual que após quatro (04) anos de pesquisa, apenas onze (11) sobreviventes se encorajaram a participar e contribuir para os resultados apresentados. Por esse motivo, utilizamos por adequação o termo “amostra estatística”.  

Para futuras pesquisas que envolvam sobreviventes de tragédias em que o abalo psicológico é muito evidenciado, deve-se prever um período de tempo prolongado, muito além do previsível, para a obtenção das informações necessárias necessárias.. Em nossa pesquisa especificamente, o tempo inicialmente previsto teve um acréscimo de quatro (04) vezes. Talvez uma condição que possa auxiliar neste quesito é a dos pesquisadores irem até os atores pesquisados e não do contrário.

 

 

90 Diante desta consideração, cabe ressaltar o cuidado em ter um local totalmente isolado, para que os atores não sofram influências variadas de fatores externos durante a entrevista, sejam eles de ordem pessoal, material ou sensitivos. Deve-se prever antes de tudo, uma condição totalmente favorável para a liberdade de expressão e sem qualquer tipo de constrangimento por parte dos entrevistados. Podemos afirmar que estes foram os momentos mais difíceis e impressionantes, marcados por pura emoção e sensibilidade de todos os envolvidos, pesquisadores e pesquisados. Por certo são momentos que ficarão eternizados em nossas memórias. Apesar de dolorido, temos a convicção de ter atingido plenamente nossos objetivos deixando aqui nosso registro: VALEU A PENA. Figura 39 – Autores da pesquisa no interior do edifício da Boate Kiss pós-tragédia

Fonte: Cássio F. Lemos.

 

 

91 REFERÊNCIAS

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92 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Lei Municipal n. 3301/91, de 22 janeiro de 1991. Disposições sobre normas de prevenção e proteção contra incêndio. Prefeitura Municipal Munici pal de Santa Maria Maria, Santa Maria, RS, 7 dez. 2017. Disponível em:< http://ww http://www.santamaria.rs. w.santamaria.rs.gov.br/docs/ gov.br/docs/2010/ArqSec43. 2010/ArqSec43.pdf>. pdf>. Acesso em: 7 dez. 2017. RIO, V. D; OLIVEIRA. D. L. Pe Percepção rcepção Ambi Ambiental ental Percepção Percepção Brasil Brasileira eira. São Paulo: Studio Mobel, 1999. SEITO, A. I. e tal.  A segu s eguran rança ça ccon ontr tra a inc i ncêdi êdio o no B Bras ras i l . São Paulo : Projeto Editora, 2008. PALMA, J. C. F.  A imp i mpor ortân tânci cia a do PPCI par para a a so soci ciedad edade: e:  Avaliação baseada na percepção dos profissionais, usuários das edificações e idealizador da Lei Kiss. 2016. 81 f. Monografia (Título em Engenharia Civil)-Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2016. PINHEIRO, J. Q. Mapas cognitivos do mundo: Representaçõ Representações es mentais distorcidas. Geograficidade : revista eletrônica do Grupo de Pesquisa Geografia Humanista Cultural, Natal, v.3, n. posarq/geograficidade/revist Especial, 2013. Disponível em:
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