Pe. Stanislavs Ladusãns - Significado e Ampliação Da Gnosiologia Pluridimensional (Revista Brasileira de Filosofia, V. 36, n. 147, p. 264-268, Jul.-set., 1987)

March 12, 2017 | Author: Matheus Vidotti Catcórnio Monteiro | Category: N/A
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SIGNIFICADO E AMPLIAÇÃO DA GNOSIOWGIA PLURIDIMENSIONAL Pe. Stanislavs Ladusãns, S.J. (Da CONPEFIL

e

do IBF)

A questão filosófica sobre o valor cognoscitivo da ciência humana cons­

titui hoje uma exigência fundamental da cultura, não só do ponto de vista teórico, mas, também, sob o aspecto prático. A atual problemática econô­ mica, política, social e jurídica, educacional, da construção da personalidade, estética, moral, religiosa e teológica implicam, de uma ou de outra maneira, o problema sobre o valor real do conhecimento humano. A polêmica hodierna sobre a libertação o evidencia claramente. A explicitação e a ordenaçã"o orgânica desta vasta problemática, bem como a sua solução organizada sistematicamente constituem a gnosiologia

ou a teoria do

conhecimento. Esta

disciplina,

fundamental na filosofia e na vida prática, deve

considerar, para sua integridade, todos os dados inegáveis referentes ao conhecimento da verdade e todos os aspectos essenciais da questão gnosio­ lógica. Fazendo isso, o gnosiólogo deixa de ser tendencioso ou inidimensio­ nal. Ele supera deste modo o gnosiologismo ideológico e eleva-se às alturas de uma visão filosófica aberta da mencionada questão complexa, que trata ordenadamente sobre o valor real e sobre os limites da ciência humana integral. Questionan.do assim, com abertura e ordem lógica, bem como respon­ dendo filosoficamente com sinceridade e objetividade, resulta a gnosiolo­ gia, que denominamos pluridimensional, em oposição ao filosofar ideológi­ co, unilateral ou unidimensional, estreito e ·fechado, que exalta apenas este ou aquele aspecto

do nosso conhecimento, mutilando-o ou, também,

destruindo-o radicalmente.

A esta

gnosiologia arbitrária - gnosiologia

unidimensional - opomos a gnosiologia pluridimensional, que considera os fundamentos fenomenológico-crítiéos e a variedade de aspectos do conheci­ mento da verdade, estruturando o realismo, que valoriza altamente o poder crítico natural.

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Daí, precisamente, resulta a necessidade de ligar a gnosiologia pluridi­ mensional crítica à gilosiologia pluridimensional fenomenológica. Esta fen.omenologia constata a existência do nosso conhecimento como

um

dado natural inegável, indicando neste dado, com atitude de

sinceridade e neutralidade, tais ou tais elementos constitutivos do conheci­ mento da verdade. A fenomelogia do conhecimento descreve

analitica­

mente a evidência de modo ordenado estes elementos. Analisando a expe­ riência interna, ela orienta o gnosiólogo no processo crítico, preservando-o dos exclusivismos e dogmatismos infundados. A história da gnosiologia manifesta que várias falhas graves na reflexão crítica sobre o conhecimento humano resultaram exatamente por causa do lamentável descuido

feno­

menológico. A�sini, por exemplo, as gnosiologias de R. Descartes (Discur­ so sobre o Método) e de E. Kant (Crítica da Razão Pura) têm ocasiões graves

no ponto da sincera consulta dos dados da fenomenologia do

conhecimento, tão recomendada recentemente, de um ou de outro modo, por Edmundo Hu sserl (1859-1938) e por outros fer.omenólogos, ligando-se assim a S. Tomás de Aquino e a Aristóteles. Baseado na fenomenologia da relação do sujeito e do objeto, o nosso filosofar gnosiológico chega a evitar os apriorismos inconsistentes, as nega­ ções arbitrárias. O gnosiólogo vê assim o que se dá com evidência inegável,

distinguindo-os e�ementos duvidosos e ilegítimos. Procedendo assim, o

gnosiólogo instaura a verdadeira "aurora'' do filosofar, chegando a adquirir em virtude da mencionada análise fenomenológica, sincera e universal, um saber crítico equilibrado, realista, consistente e integrado em relação ao va­ lor cognoscitivo e aos limites da ciência humana. Em virtude disso, ele fica livre, por um lado, do puro subjetivismo

e,

por outro, do: puro objeti­

vismo, isto é, a fenomenologia do conhecimento, consubstanciada na justa conciliação da subjetividade e da objetividade, preserva o gnosiólogo daque­ les dois extremos, .que prejudicam, com seus preconceitos e apriorismos dogmáticos, o equilíbrio neutral na interpretação noética do dado natural do conhecimento humano. Em nosso conhecimento não há objetividade sem subjetividade, nem subjetividade sem objetividade. O nosso conhecimento diz não só o que atingimos, mas também o modo pelo qual conhecemos, que

é subjetivo,

isto é, proporcionado à nossa maneira - maneira humana - de ser. :B justamente este equilíbrio hermenêutico, promovido pela fenomenologia do conhecimento, que supera a antinomia do intelectualismo exagerado e do anti-intelectualismo subjetivista, ressaltando que a subjetividade no conhecimento não significa o subjetivismo relativista.

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Como, por um lado, a fenomenologia do conhecimento humano não é suficientemente respeitada e interpretada genuinamente pelo intelectua­ lismo excessivo e por várias modalidades do idealismo, que não admitem a dependência da inteligência da experiência multiforme e ignoram as exigên­ cias da pessoa humana concreta, considera globalmente na perspectiva da integração de valores e do seu finalismo dinâmico, assim, também, por outro lado, a fenomenologia do conhecimento não se salva no questiona­ mento radical e tendencioso do anti-intelectualismo e nas concepções positivistas, neo-positivistas da linguagem e outras semelhantes, que estão mutilando o nosso conhecimento da verdade. Tendo em consideração todos os dados e aspectos inegáveis da nossa atividade cognoscitiva, bem como as válidas contribuições históricas, resul­ ta uma gnosiologia aberta e integral gnosiologia pluridimensional - que dá uma resposta filosófica honesta ao problema crítico do conhecimento, problema complexo e perene do espírito humano. Esta gnosiologia tem hoje, como já foi dito e agora enfatizamos, uma importância especial, não só do ponto de vista da fundamentação da filoso­ fia, das ciências matemático-experimentais

e históricas, mas, também, do

ponto de vista prático da fundamentação e orientação do nosso agir, do nos­ so avaliar, do ter, do produzir técnico e do amar. Relacionando-se em profundidade com o real na sua totalidade, a gnosiologia pluridimensional contribui primordialmente para a solução da questão filosófica global. Esta gnosiologia é um tratado filosófico que fundamenta fenomenoló­ gica e criticamente a ciência humana consciente. Existe, porém, um conheci­ mento humano inconsciente e o seu manifestar-se no homem. É a parapsico­ logia que ocupa-se da fenomenologia deste ·conhecimento. Como, porém, toda aquela fenomenologia exige uma investigação filosófica, que trate sistematicamente, do ponto de vista gnosiológico, sobre uma série de fatos do nosso subconsciente, deveria surgir um filosofar ordenado, que atenda esta dimensão especial do conhecimento, isto é, uma reflexão gnosiológico­ parapsicológica, concentrada sobre os fundamentos noéticos da explicação Jos fatos paranormais. Infelizmente, tal reflexão gnosiológica humanizan­ te, sobre a mencionada dimensão do conhecimento, não está constituí.da sistematicamente até agora, faltando também os tratados filosóficos orde­ nados sobre os fundamentos metafísicos da parapsicologia e sobre os fundamentos éticos da parapsicologia. Ter..do em vista o fato alarmánte da existência e da propagação do espiritismo no Brasil, o qual interpreta erroneamente os fenômenos pa­ rapsicológicos, é urgente a extensão da gnosiologia pluridimensional à

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dilucidação competente daqueles fatos, adaptada às exigências locais, que proporcione a verdadeira explicação noética dos fenômenos, como a tele

­

patia, a clarividência, a retrocognição, a precognição etc., bem como es­ clarece, em profundidade, aqueles perigos, que são inerentes às forças do inconsciente dos dotados para psicologicamente. A visão gnosiológica exige, pois, uma ampliação sistemática n ov a, não só do ponto de vista noético, mas, também, sob o aspecto metafísico e ético. Este filosofar orgânico e importante, não feito ainda, impõe novas tarefas de análise e de síntese.

O Brasil, invadido pelo espiritismo de uma

maneira alarmante, é chamado a cumprir sistematicamente estas tarefas árduas, tendo em vista grandes benefícios da libertação, que são garanti­ dos inequivocamente pela promoção da parapsicologia científica e do seu diálogo aberto com a filosofia, na perspectiva do saneamento da vida e da cultura. Como ciência rigorosa, a parapsicologia é recente. Ela foi iniciada metodicamente com a criação de um laboratório científico em 1934 pelo Dr. Joseph Rhine e sua esposa, Dra. Louisa Rhine, na Universidade Duke, em Durham, Carolina do Norte, U.S.A. Em seguida, muitas universidades, dentro e fora de U.S.A., abriram suas portas à nova ciência, dedicando-se às pesquisas sobre as manifestações do psiquismo humano, à margem da psicologia normal e da patalogis. .

A investigação humanista no campo destes fenômenos deve abrir-se ao diálogo com a filosofia, para que a parapsicologia se mantenha

no

seu lugar próprio, que têm as ciências experimentais partic u lar es, e não exorbite, como ciência, fora das suas

competências legítimas.

O diál ogo

do parapsicólogo com o filósofo cristão é benéfico também sob o ponto de vista teológico, pois o parapsicólogo, inteirando-se melhor das exigên­ cias da fé cristã' em relação à reta razão filosófica, fica capacitado racional­ mente melhor para evitar os desvios religiosos, parecidos, de algum modo, aos desvios e aos perigos de desvios, denunci ados recentemente por duas instruções da Congregação Romana para a Doutrina da Fé.

O mencionado diá logo é benéfico também para a teologia, pois consis­ te num serviço científico de mediação da filosofia entre a ciência da fé e as conquistas da parapsicologia. Em que consiste este s e rviço? Ele consiste, antes de tudo, no exercício transdisciplinar da reflexão filosófica sobre as atuais

contribuições multiformes da parapsicologia, a fim de discernir

entre o que vale cientificamente

e

o que não vale assim no campo pa­

psicológico, ressaltando os dados evidentes de valor permanente perante a razã'o humana e, por isso, também perante a Revelação de Deus. Recor-

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rendo a este serviço filosófico auxiliar, a teologia pode ponderar melhor as contribuições experimentais, oferecidas pela parapsicologia, na perspectiva da utilização e da atualização humanista da síntese cristã, para desenvolver melhor o diálogo organicamente

com o mundo contemporâneo. Incorporando assim

os elementos

válidos oferecidos, a

teologia enrique-se,

atualiza-se, sem diminuir- se e adquire uma segurança e rapidez maiores em eliminar criticamente toda e qualquer ideologia não só no campo parapsi­ cológico, mas também no campo vital e cultural, aplicando o método da inculturação. Este saneamento da vida e da cultura, em vários níveis - al­ tamente benéfico e urgente hoje no Brasil - põe, de uma maneira segura e concreta, numa harmonia científica a verdadeira ciência parapsicológica, a filosofia e a religião cristã.

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