Paradigmas Da Missão Anglicana Na Amazônia
March 1, 2023 | Author: Anonymous | Category: N/A
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SAULO MAURÍCIO DE BARROS.
Paradigmas da Missão na Anglicana na Amazônia. Monografia apresentada para atender as exigências da disc discip ipli linna de Te Teol oloogia Pr Práátic tica: Fund Fundam amen ento toss e Metodologia, Prof. Dr. Geoval Jacinto da Silva, no curso de Pó Póss-G -Gra radu duaç ação ão em Ciê iênc ncia iass da Rel elig igiã iãoo da Universidade Metodista de São Paulo.
Universidade Metodista de São Paulo.
Belém – 2009.
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Conteúdo
1. Introdução.................................................................................................................................................02 2. Richard Holden (1860-1862)....................................................................................................................05 2.1. O Contexto social e político no período de Richard Holden...........................................05 2.2. A herança religiosa de Richard Holden...........................................................................08 2.3. Paradigmas missionários de Richard Holden..................................................................09 3. Arthur Miles Moss (1912-1945)...............................................................................................................11 2.1. O Contexto social e político no período de Arthur Moss................................................12 2.2. A herança religiosa de Arthur Moss................................................................................14 2.3. Paradigmas missionários de Arthur Moss.......................................................................16 4. Conclusão..................................................................................................................................................19 5. Bibliografia................................................................................................................................................21
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1. Introdução Sempre que nos envolvemos no trabalho árduo de pesquisar a história dos cristãos anglicanos na Amazônia 1, somos motivados pela certeza de que, além de estarmos lidando com uma interessante experiência de uma comunidade de fé, extrapolamos de forma clara o campo especificamente religioso. Fazendo isso somos confrontados com um aspecto da formação da nossa identidade cultural muitas vezes negligenciado ou marginalizado. Não podemos esquecer que os primeiros anglicanos chegaram aqui encarnados no “herege inglês” (SOUZA, 2006: 68). Dentro dessa compreensão, Gilberto Freire já nos advertia sobre a influência britânica na nossa formação cultural: “ A presença da cultura britânica no desenvolvimento do Brasil, no espaço, na paisagem, no conjunto da civilização do Brasil, é das que não podem – ou não devem? - ser ignoradas pelo brasileiro interessado na compreensão e na interpretação do Brasil”. Brasil” . (FREIRE, 2000: 46). Afirma Eduardo Hoornaert de forma muito mais explícita: “Efetivamente, o Brasil conseguiu desligar-se politicamente de Portugal mas ao mesmo tempo entrou de cheio no mundo colonial inglês, e – através deste – na internacionalização do colonialismo. Fomos uma colônia inglesa no século 19, sob os disfarces da língua portuguesa e da religião católica. E nunca fomos tão colonizados como naquele século” (HOONAERT, 1990: 129) A presença do inglês anglicano no Brasil se fez sentir muito cedo, na verdade desde o início do processo de colonização. colonização. Corsários, como Thoma Thomass Cavendish, cheg chegaram aram até nossos portos e com com suas pilhagens ajudaram a encher os cofres e a fortalecer a coroa britânica. Todavia, essa presença vai se intensificar com a fuga do rei português para o Brasil no começo do século XIX e ganhar uma nova dimensão no Norte após a abertura do rio Amazonas à navegação estrangeira2. Nesse período na Amazônia os ingleses passam a desempenh desempenhar ar um papel fundament fundamental al na economia economia,, dominand domi nandoo os acor acordos dos e as soc socieda iedades des come comercia rciais. is. Dese Desenvol nvolvera veram m ati ativida vidades des nos seto setores res de navegação, portos, energia, transporte público, telefonia, telegrafia, distribuição de água, rede de esgotos, principalmente principalmente em Belém e Manaus. Extensa é a relação dos empreendimentos empreendimentos ingleses na Amazô Ama zônia nia nessa nessa época época,, des desta taca camos mos a Por Portt of Pará, Pará, Par Paráá El Elect ectric ric Compan Company, y, Par Paráá Telep Telephon honee Company, Comp any, Amazon Amazon Rive Riverr Stea Steam m Navi Navigati gation on Comp Company any Ltd., Ltd., Amaz Amazon on Engi Engineeri neering ng Compa Company, ny, Manaus Harbour Ltd., Manaus Tramways & Light Company Ltd., Manaus Improvements Ltd., Manaus Market Company, Booth Line Company, Bank of London & South America Ltd. Dentro desse contexto não podemos deixar também de mencionar o papel desempenhado pelos 1
Pouca coisa foi preservada dos documentos da Igreja Anglicana na região Amazônica. O que
temos hoje foimas resultado de umcom laborioso trabalho de resgate realizado por pessoas bem intencionadas, nem sempre a devida capacitação. 2 O decreto autorizando a abertura do rio Amazonas à navegação estrangeira foi assinado pelo governo brasileiro em 1866.
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“barbadianos”. “barbadian os”. Como explica Maria Roseane Corrêa Pinto Lima: “O termo ‘barbadiano’ é uma categoria que não indica simplesmente uma orige ori gem m ou nac nacion ionali alidad dade, e, mas foi empreg empregada ada co como mo uma ide ident ntifi ificaç cação ão englobad engl obadora, ora, atri atribuíd buídaa aos negr negros os estrange estrangeiros iros,, não introduz introduzidos idos aqui como escravos, que vieram, desde o início do século XX, de diversas partes do Caribe...” (LIMA, 2006: 14). Os carib caribenh enhos os chegar chegaram am à reg regiã iãoo par paraa tra traba balha lharr nos nos inúme inúmeros ros em empre preend endim iment entos os bri britâ tânic nicos, os, atendendo ao apelo da propaganda da época com promessas de melhores condições de vida e trabalho no Brasil. Ainda hoje a segunda, a terceira e quarta geração de barbadianos frequentam a Catedral Anglicana Anglicana de Santa Maria3, em Belém – PA. Os imigrantes de língua inglesa serão os agentes e destinatários da missão anglicana no período abordado no nosso trabalho. Nossa monografia, devido as suas limitações trata apenas de dois moment mom entos os disti distint ntos os da histó história ria do angli anglica canis nismo mo nes nessa sa parte parte do plane planeta. ta. O prime primeiro iro per períod íodoo retratado é a segunda tentativa missionária anglicana em terras brasileiras4, a vinda do clérigo Richard Holden para o Pará, em 1860. O segundo período abarca o trabalho de capelania realizado pelo Rev. Arthur Miles Moss e a implantação definitiva da Igreja Anglicana na Amazônia, em 1912. Podemos afirmar que a cultura é uma construção dos seres humanos, uma teia de significados tecida por mãos com polegares opositores (GEERTZ, 2008:4). Dentro da cultura a religião possui uma função distintiva, Peter Berger diz que a religião é um “empreendimento humano pelo qual se estabelece um cosmos sagrado” (1985: 38). A religião atribuiu um significado mais elevado a sociedade e a vida cotidiana. Por outro lado, ainda nos valendo do Berger, sabemos que esse empreendimento ganha um grau de distinção em relação ao seu produtor. A sociedade, ou a religião, acaba se tronando uma realidade peculiar, independente do ser humano que a produziu. Nós, como latino-americanos latino-americanos e brasileiros somos o produto de diversas culturas culturas que se tramam para construir aquilo que Darci Ribeiro chama de “povo novo”. A obra colonial portuguesa no Brasil A comunidade criada por Arthur Miles Moss, consagrad consagrada a pelo bispo Edward Francis Every com o nome de Santa Maria, passou por muitos estágios de status canônicos, até ser consagrada Catedral da Diocese Anglicana da Amazônia em 15/10/06. 4 Aqui fazemos uma distinção entre duas etapas do anglicanismo no Brasil. Os anglicanos chegaram inicialmente inicialmente através do processo de imigração, com o apoio da Inglaterra a vinda da corte portuguesa para o Brasil no início do século XIX. E também, anos depois, com uma capelania para imigrantes japoneses estabelecida em 1923. O trabalho missionário anglicano 3
vai ser consolidado nomissionária sul do país em 1890, através Igreja dos Estados Unidos. A primeira experiência aconteceu com o da envio doEpiscopal Rev. William H. Cooper, pelos norte-americanos, norte-american os, em 1853, todavia, o navio no qual o missionário viajava sofreu um naufrágio e ele retornou aos Estados Unidos.
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teve como resultado “... um povo-nação, aqui plasmado principalmente pela mestiçagem, que se multiplica prodigiosamente como uma morena humanidade em flor, à espera do seu destino” (DARCY, 2006:62). Importante relembrarmos novamente a influência britânica na composição desse caleidoscópio cultural que somos. E, no caso da nossa monografia, atentar para os paradigmas missionários dos dois primeiros cl cléri érigos gos que atu atuara aram m na Ama Amazôn zônic ica, a, mai maiss pre preci cisam sament entee de Moss Moss pel pelaa consol consolida idaçã çãoo de uma comunidade de fé, nos ajudará a entender o universo religioso anglicano. Antes de continuarmos, temos que reconhecer que o próprio título da nossa monografia traz a necessidade de clarificação e delimitação de alguns elementos para a sua compreensão. Primeiro, entendemos que a missão da Igreja é determinada pelo contexto 5. Um documento elaborado pela MISSIO (the Mission Commission of the Anglican Communion) expressa esse entendimento de forma clara: “Toda missão é feita num determinado lugar – contexto. Por isso, mesmo havendo uma unidade fundamental nas boas novas, elas são modelada modeladass pela grande diversidade de lugares, de tempo e de culturas em que as vivemos, proclamamos e incorporamos” (MISSIO, 1999, 115). Segundo, devemos nos deter sobre o significado da palavra “paradigma”. David Jacobus Bosch nos diz que o termo não está isento de problemas e “trata-se de um conceito escorregad escorregadiço” iço” (BOSCH, 2002: 231). Para tentar resolver essa dificuldade ele utiliza a teoria de Thomas Kuhn que define o “paradigma” como “toda constelação de crenças, valores, técnicas, etc., compartilhada pelos membros de uma determinada comunidade” (BOSCH, 2002: 231). Então, para nós “paradigma” será considerado como o conjunto de crenças e valores que determinam a ação e o pensamento do ser humano. E finalmente, precisamos deixar explícito que no nosso trabalho nos referimos a “Amazônia Legal”, mesmo reconhecendo que essa denominação tenha um caráter mais político que geográfico 6. A Amazônia Legal envolve os estados do Pará, Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Tocantins, Amapá, Mato Grosso e Maranhão, correspondendo a 58,4% do território brasileiro. A presença anglicana se fez sentir principalmente no estado do Pará, mais precisamente na sua capital. Existe uma longa história, até hoje não devidamente contada, relacionada à cidade de Manaus, mas isso por si só seria tema de outra monografia7. Não é muito fácil definir o termo contexto, mas queremos usá-lo como os diferentes níveis da realidade aos quais determinadas ideias estão associada associadas. s. 6 Para reforçar o caráter político desta classificação cremos que basta lembrarmos que a ideia da “Amazônia Legal” surgiu com a extinta SUDAM em 1966. 7 Arthur Miles Moss, nós veremos isso adiante, realizou viagens a Manaus para atender a comunidade estrangeira de anglicanos lá residente. Em 1888, chegou à cidade de Manaus o missionário metodista Marcus Carver. Carver foi abandonado em seguida por seus apoiadores e realizou um trabalho independente, criando a Igreja Evangélica Amazonense. Apesar da 5
ausência de um caráter denominacional, desde o início as comunidades utilizavam a liturgia an angli glican cana a e sol solici icitar taram am,, sem su suces cesso, so, qu que e a Igr Igreja eja An Angli glican cana a ass assum umiss isse e os tra traba balho lhos. s. As atividades da missão foram encerradas em janeiro de 1944, sem nunca ter consegu conseguido ido o apoio formal dos anglicanos.
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2. Richard Holden (1860-1862). Pesquisar sobre Richard Holden e sua atividade missionária é relativamente fácil. Existe um significativo número de referências ao seu trabalho em obras sobre o protestantismo brasileiro e algum material produzido pelo próprio missionário, principalmente o seu diário onde narra o período em que atuou na região Amazônica. Nesse diário, Holden expressa de maneira límpida suas convicções e as estratégias usadas para alcançar seus objetivos evangelísticos. Richard Holden nasceu na Escócia (1828) e estudou teologia na Diocese Anglicana de Ohio, nos Estados Unidos da América, onde se apresentou para ser missionário no Brasil. Holden foi aceito pelo Conselho de Missões Episcopais dos Estados Unidos e pela Sociedade Bíblica Americana. Com certeza o desejo missionário pelo Brasil surgiu porque Holden já havia estado antes no país como comerciante em 1851, quando aprendeu a língua portuguesa. Holden levou a sério seu período de preparação, “estudou português e traduziu o Livro de Oração Comum e artigos religiosos escritos nos tempos de seminarista” (KICKHÖFEL, 1995: 33). A tradução do Livro de Oração Comum8 foi uma das heranças mais significativas que Richard Holden deixou para o anglicanismo brasileiro, sendo sua versão utilizada no início pelos missionários que fundaram a Igreja Episcopal Anglicana Anglicana do Brasil em 1890 (BARROS, 2004: 37). Holden vai desembarcar na Amazônia com os primeiros missionários protestantes, motivados pela grande expectativa que havia no exterior acerca da nova política que seria adota com relação à navegaçãoo no Amazonas. Os norte-americanos influe navegaçã influenciaram nciaram decisivam decisivamente ente a assinatura do tratado que abriria o “Mar Dulce”
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para os estrangeiros, inspirados em grande parte pela Doutrina do
Destino Manifesto10, acreditando poder estabelecer uma nova civilização na região. A seguir analisaremos a situação social e política na época da vinda de Holden para as terras brasileiras e também o pensamento que embasava sua atuação missionária. 2.1. O Contexto social e político no período de Richard Holden. A nação que Holden deixava ao embarcar no brigue Isabella no dia 19 de novembro de 1860 estava enfren enf renta tando ndo grande grandess mudan mudanças ças e se encon encontra trava va pol polit itic icame amente nte dividi dividida. da. As diverg divergênc ências ias de interesses entre os estados do Norte e do Sul dos Estados Unidos acabariam por levar a uma guerra sangrenta. Estas diferenças têm sua origem durante o processo de colonização. Na parte Norte do país país o capit capital alism ismoo enc encont ontrav rava-s a-see em fra franc ncaa con consol solida idaçã ção, o, o de dese senvo nvolv lvime imento nto ind indust ustria riall era acelerado, especialmente no setor têxtil, surgiram às primeiras manifestações operárias, cresceram O Livro de Oração Comum é o livro de liturgia utilizado pelas Igrejas Anglicanas. O LOC pass pa ssou ou po porr vári várias as revi revisõ sões es e po poss ssui ui ve vers rsõe õess dife difere rent ntes es,, nu num m proc proces esso so cont contin inuo uo de contextualização. contextualiz ação. Porém, ainda conserva a tradição originária da Reforma Inglesa. 8
Nome dado ao Amazonas pelo navegador espanhol Vicente Pinzón em 1500. Na segunda metade do século XIX se desenvolveu nos Estados Unidos a Doutrina do Destino Manif Ma nifest esto, o, qu que e faz fazia ia dos dos est estad adun unid idens enses es um novo novo povo povo ele eleito ito,, des destin tinad ado o a est estend ender er su sua a civilização por todo o mundo mundo.. 9 10
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as lutas pela emancipação feminina, as ideias progressistas começaram a adquirir força e levaram a formação de um novo partido político. Porém, para que esse estilo de vida prosperasse era preciso que a orientação econômica favorecesse o crescimento do mercado interno e o estabelecimento de barre barreira irass prote proteci cioni onista stas. s. Por outro outro lado, lado, no Sul, Sul, a vid vidaa econôm econômica ica conti continua nuava va basea baseada da na monocultura algodoeira, que representava na época mais da metade do valor das exportações americ ame ricana anas. s. A econo economi miaa sulist sulistaa enc encont ontrav rava-s a-see alic alicerç erçad adaa no libe liberal ralism ismoo eco econôm nômic ico, o, que possibilitava possibili tava às agro-exportações e na mão de obra escrava. As divergências de interesses entre as duas regiões e as flutuações políticas levaram a Carolina do Sul e mais dez outros estados escravistas a declarar que não mais faziam parte dos Estados Unidos da América, iniciando assim a chamada Guerra da Secessão (1861-1865). Pa Para ra algu alguns ns está está clar claroo que que co como mo “p “pan anoo de fu fund ndoo de to toda dass essa essass divergências estava a questão da escravidão. Para a burguesia do Norte in inte tere ress ssav avaa a ab abol oliç ição ão do trab trabal alho ho escr escrav avo, o, o qu quee repr repres esen enta tari riaa a ampliação do mercado consumidor interno. Em contrapartida, os Estados do Sul defendiam a escravidão, visto que todo o seu sistema econômico assentava na mão de obra escrava” (AQUINO, 1990: 192). Holden manifesta nas páginas do seu diário sua preocupação com os rumos das desavenças e sua posição pessoal contrária à escravidão (além de demonstrar influência da Doutrina do Destino Manifesto): “Sinto que a escravidão nos EUA agora está destinada a desaparecer. A honra de Deus parece requerer isso. Eu posso apenas olhar com temor e tremor, meu coração quase falhando de medo e apreensão diante das coisas que virão sobre o país. Ai! Que uma terra tão linda e promissora se seja assim sim de desg sgrraç açaada da.. Ai! Que Que um umaa na naçção que pa pare reccia esta star amadurecendo para os fins gloriosos de Deus, como um dos grandes depositários de sua verdade, possa ser desmembrada como envergonhada de sua própria força” (1990: 49-50). O país que Holden encontra, quando finalmente do brigue Isabella se pode avistar a cidade de Belém, na terça-feira, 17 de dezembro, é também uma nação que está vivendo um período de transição. As ideias abolicionistas estavam adquirindo relevância, levando por fim a abolição dos escravos em 1888. O pensamento pensamento republicano vai cada vez mais ocupando espaço até que em 15 de
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novembro de 1889 após um golpe, civis e militares se reuniram para proclamar o advento de uma república federativa. Estava próximo também de uma guerra, o maior conflito armado da América do Sul, envolvendo o Brasil, a Argentina e o Uruguai contra o Paraguai (1864-1870). Poderíamos dizer, sem exageros, que está ocorrendo nessa época uma redefinição do Brasil. Na realidade Amazônica é importante destacar um acontecimento ocorrido alguns anos antes da chegada de Richard Holden que deixou profundas marcas na região: a Cabanagem. A Cabanagem, nome derivado da habitação das pessoas simples, foi um movimento com massiva participação das classes populares e setores da elite no período de 1835 a 1840. Surgiu como uma reação contra o autoritarismo e desmando das autoridades civis e militares da Província nomeadas pelo governo da Regência (BEZERRA NETO, 2001: 82). Os cabanos lutavam contra o poder central numa tentativa de manter inalteradas as relações com Portugal. Esse movimento deixou profundas marcas no “imaginá “ima ginário rio dos paraense paraenses” s” (BE (BEZE ZERRA RRA NET NETO, O, 200 2001: 1: 73) 73),, se sendo ndo apo apont ntado ado co como mo um dos el eleme emento ntoss fu funda ndame menta ntais is da ident identid idade ade amazôn amazônida ida (PA (PANTO NTOJA, JA, MAUÉS, MAUÉS, 200 2008: 8: 60) 60).. Mui Muito toss ribeirinhos visitados por Holden, que adquiriu um barco para suas atividades, ainda estavam muito marcados pela revolta popular. Seria interessante também incluirmos algumas considerações sobre o ambiente religioso brasileiro no momento da chegada desses missionários pioneiros. Encontraram aqui uma Igreja Católica Romana fortemente centro-europeia, buscando implantar a todo custo um modelo tridentino. Uma Igreja Romana que, apesar de apregoar sua autonomia frente ao Estado, lutava ciosamente para manter seus privilégios privilégios previstos na Con Constituição stituição de 1824 e no regim regimee de padroado. Essa Igreja Católica Romana também tentava conter o catolicismo popular que tinham penetrado fortemente na cultura do povo brasileiro, principalmente na Amazônia. Como instrumentos de apoio a reforma tridentina foi enviado um grande número de missionários estrangeiros e ainda favorecidas novas venerações, como o Sagrado Coração de Jesus, São José Operário e expressões marianas mais recentes como Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. O pároco passara a ter o controle administrativo administrativo das institui instituições ções e manifest manifestações ações festivas através da estrutura paroquial, tendo como centro a igreja matriz e o oratório, seguindo a proposta europeia (MATA, 2001: 06). Esse catolicismo veio a ser o principal obstáculo ao trabalho protestante, personificado muitas vezes nas pessoas dos bispos romanos. Robert Nesbitt sofreu grande perseguição de D. Afonso Torres e, por sua vez, Holden encontrou em D. Antônio de Macedo Costa seu maior opositor. O protestantismo no seu início no Brasil recebeu forte apoio da maçonaria. Fato que aumentava a desconfiança das autoridades eclesiásticas que, como o Bispo de Belém, afirmavam que existia um complô maçônico e protestante para “derrubar a Igreja Católica Romana, como primeiro passo para a invasão da Amazônia pelos Estados Unidos” (KICKHÖFEL, 1995: 35). O clímax desse
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confronto aconteceu na denominada “Questão Religiosa” Religiosa” 11. Além Alé m disso disso,, é pre preci ciso so dizer dizer,, era qua quase se com compl plet etoo o des desco conhe nhecim ciment entoo sob sobre re os mov movime iment ntos os evangélicos e a própria Bíblia. Richard Holden manifestou muitas vezes nos seus escritos essa percepção e deixou registrada a admiração de alguns de seus interlocutores diante da descoberta de que os protestantes eram cristãos (HOLDEN, 1990: 47). Alguns chegavam a declarar que haviam aprendido que o protestantismo seria contrário a religião cristã, que negavam a virgindade de Maria, a ressurreição de Cristo e a Trindade. 2.2. A herança religiosa de Richard Holden. Não temos nenhuma dúvida de que as concepções religiosas de Richard Holden são resultado do denominado Segundo Grande Despertamento evangélico do século XIX nos EUA. Por meio de grandes gran des manifest manifestaçõe açõess de reav reavivam ivamento entos, s, da forma formação ção de diversas diversas socieda sociedades des missioná missionárias rias e bíblicas, inclusive da Sociedade Bíblica Americana (1816), da qual Holden será representante, “uma interpretação evangélica, pietista da fé cristã” (WALKER, 1980: 679) se espalhou atingindo todas as denominações. Embora, como afirma Williston Walker, na Igreja Episcopal dos Estados Unidos tenha havido poucas repercussões do reavivamento como tal, dentro dela tomou força os grupos de tendência mais evangélica (WALKER, 1980: 683). Esse clima religioso foi responsável pelo ressurgimento do interesse pelo campo missionári missionário, o, como afirma Stephen Neill: “A nova espiritualidade, em que participaram muitos cristãos, encontrou a sua expressão num sentido de responsabilidade, em relação ao testemunho de Cristo e ao serviço missionário” (NEIL, 2001: 333). Essa visão espiritual pietista é facilme facilmente nte detectada nos seus escritos, principalment principalmentee no seu diário. Ela se manifesta em alguns temas recorrentes, como a questão da conversão pessoal, da nova vida em Cristo, do pecado, do Inferno e da glória do porvir. Relatando o último serviço religioso que fez com os tripulantes do Isabella deixou registrado: “em seguida li para eles os dois últimos capítulos do Apocalipse. Como já lhes tinha feito muitas exposições do caminho da salvação (...) e já lhes tinha exposto a natureza do Inferno – agora nesta última ocasião em que me dirijo a eles procurei induzi-los à contemplação da glória vindoura” (HOLDEN, 1990: 14). 11
Essas rel Essas relaçõ ações es ten tencio ciona nada dass en entre tre Ig Igrej reja a Ro Roma mana na e a Maç Maçon onari aria a che chega gam m ao auge auge na denominada “Questão Religiosa”, que tem seu estopim num incidente ocorrido no Rio de Janeiro em março de 1872. Na Amazônia o assunto repercutiu com intensidade. Em 1874, o imperador D. Pedro II mandou prender o bispo católico romano do Pará, condenando-o a quatro anos de prisão e trabalhos forçados.
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Também Tam bém sua po posiç sição ão se revel revelaa diant diantee da aversã aversãoo a relig religião ião nat natura urall e aq aquil uiloo que consid considera era “liberalismo”. “liberali smo”. Num dado momento do diário dirige suas críticas a “um clérigo da nova teologia da Igreja Alta da Inglaterra” Inglaterra” 12 que esteve visitando a região poucas semanas antes de sua chegada para ver “árvores ver “árvores grandes” e que agradou muitos pelo “seu liberalismo, que estava bem pronto a salvar a todos pela larga porta da sinceridade e não os incomodou com qualquer ida à Igreja ou com qualquer pregação durante os domingos em que esteve com eles” (HOLDEN, 1990: 18). Ainda vale ressaltar seu posiciona posicionamento mento diante da Igreja Católica Romana. Muitas vezes polemizou com seu seuss ou ouvin vintes tes par paraa con conven vencê cê-lo -loss das das mui muita tass fa falsi lsidad dades es da “tradição romanista” e do “papismo”,, o qual considerava que “uma tola superstiç “papismo” superstição” ão” (HOLDEN, 1990: 26) e, mesmo, uma instituição marcada “com o sinal do Anticristo” (HOLDEN, 1990: 92). Ainda como sinal da sua orientação religiosa, nós devemos mencionar que entre os instrumentos utilizados por Holden para evangelização encontramos o famoso clássico do pietismo inglês The Pilgrim’s Progress (O Peregrino), de John Bunyan, amplamente distribuído por Holden, chegando a rivalizar com a Bíblia. Finalmente, o caminho tomado por Holden após as tentativas frustradas em Belém do Pará e Salvador, na Bahia, demonstra suas inclinações doutrinárias. doutrinárias. Ele deixa a Igreja Episcopal e aceita o convite do Dr. Robert Kalley para trabalhar como pastor da Igreja Congregacional Fluminense, em fevereiro de 1865, e, posteriormen posteriormente, te, passa a fazer parte do moviment movimentoo dos darbistas13. 2.3. Paradigmas missionários de Holden. Principalmente através das páginas do diário podemos discernir os paradigmas que inspiravam o trabalho missionário de Richard Holden. As anotações começam nos primeiros dias da viagem, a bordo do brigue Isabella. O diário, de maneira geral, encontra-se redigido de forma simples, relatando os trabalhos empreendidos, “impressões sobre os locais, pessoas, orações, os sentimentos que surgiam na sua caminhada” (BARROS, 2004: 34). Porém, em alguns trechos o autor se deixa envolver com uma prosa de caráter poético, principalmente ao descrever a vegetação local, ou se empolg emp olgaa com longa longass discu discuss ssões ões teol teológi ógica cas. s.
Ret Retira iramos mos,, en então tão,, do diári diárioo os el eleme emento ntoss que
consideramoss serem expressões dos paradigmas da missão de Holden. consideramo Holden deixa claro no seu diário que toda pessoa deve “nascer de novo” para obter a salvação. Ele Expressão usada no mundo anglicano como referência aos grupos mais ligados a tradição Católica da Igreja, também conhecidos como anglo-católicos. 13 Os darbistas fazem parte de um movimento iniciado por John Nelson Darby (1800-1882) que renunciou ao ministério ordenado na Igreja da Inglaterra em 1827 e se juntou a um grupo denominado Fraternidade (Brethren). Depois de uma divisão, Darby passou a liderar uma fraternid frat ernidade ade sepa separada rada com prop propostas ostas mais radi radicais cais.. Os darb darbista istass eram influ influencia enciados dos pelo calvinismo e pietismo e rejeitavam algumas afirmações de fé, aceitando apenas aquelas que consideravam compatíveis com o Novo Testamento. 12
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mesmo passou pela experiência de um novo nascimento após longo período de enfermidade. Num Domingo falou a um grupo pequeno de pessoas, expressando sua convicção de forma taxativa: “passei, umas duas horas, apontando-lhes a natureza do pecado, o contraste entre as obras da carne e do espírito espírito,, conforme encontramos em Gálatas, a necessidade necessidade de um novo nascimento, sua natureza, e de onde pode ser obtido” (HOLDEN, 1990: 107). Outra coisa nítida para Holden, que depois poderemos comparar com Arthur Miles Moss, é que sua pregação do Evangelho de Jesus Cristo está direcionado para todas as pessoas sem nenhuma distinção. “Apesar de no início do seu ministério Richard Holden ter escolhido uma audiência de fala inglesa para os ofícios religiosos, até por questão de domínio da língua, nunca deixou de se preocupar com cultos para os brasileiros. Em abril de 1861 resolveu publicar no jornal o anúncio de um of ofíc ício io em por portu tuguê guês, s, sen senti tindo ndo-se -se na condiç condição ão do ap apóst óstol oloo Paulo Paulo de abandonar os trabalhos com os judeus e partir para os gentios” (BARROS, 2004: 35). Manifestava Manifesta va uma grande confiança na ação da Palavra de Deus para transformar o espírito humano. Por isso, como agente da Sociedade Bíblica Americana, e depois como diretor da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, já no Rio de Janeiro (1865-1872), detinha uma dedicação profunda na venda e distribuição de Bíblias e literatura evangélica. Por onde passava ia deixando panfletos, livros, exemplares do Novo Testamento, Bíblias em diferentes versões. Na direção da SBBE “em 1866, ele contratou 11 colportores para trabalharem no Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Em 1871, aumentou para 15 o número de colportores, e a distribuição subiu para 7461 Escrituras” (GIRALDI, 2008: 41). Nessa perspectiva um fato é digno de ser mencionado, até por ser algo bastante pitoresco, pitoresco, logo no início de seu trabalho em Belém, Holden realizou uma farta distribuição de folhetos num banheiro público. Ele deixava os folhetos presos num cordão e contava com o apoio dos guardas do banheiro para ajudá-lo nessa tarefa (HOLDEN, 1990: 23). Marcado pelo pietismo e, provavelme provavelmente nte por influênc influência ia da Doutrina do Destino Manifesto, Richard Holden considerava sua missão como um trabalho contra a ignorância e o Mal. Expressou esse sentimento e compreensão em trechos diversos do seu diário, no dia 23 de maio de 1861 escreveu de forma clara: “Sinto-me confiante confiante de que Deus ainda tem boas coisas em depósito para o Pará e que a mesma ferocidade de Satanás é devido à sua vinda em grande ira por saber que tem apenas uma pequena temporada de sobra” (HOLDEN, 1990: 86-87).
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3. Arthur Mille Moss (1912-1945). Ao contrário do caso de Richard Holden, o material que temos em mãos sobre Arthur Miles Moss é bastante resumido. Algumas páginas datilografadas de relatórios, uma menção no livro do bispo Edward Francis Every, um brevíssimo testemunho dado pela atriz paraense Cléa Simões, num DVD comemorativo dos 50 anos do livro do sociólogo Vicente Salles, “O Negro no Pará”. Sabemos que existe alguma informação sobre ele num anuário da Igreja da Inglaterra publicado desde 1858, que 's Cleric Clerical al Direct Directory ory” (informação “Crockford's traz a biografia de clérigos ingleses, denominado “Crockford
verbal) 14, e também que no Natural History Museum, em Londres, está catalogada uma coleção de escritos, desenhos e fotografias produzidos por Moss enquanto entomologista, mas ainda não tivemos acesso a esse material15. Podemos dizer sobre Moss com certeza que ele nasceu em 1873, estudou no Trinity College, em Cambridge, foi ordenado diácono da Igreja da Inglaterra em 1895, presbítero em 1896, esteve em Lima no Peru como capelão entre 1907 e 1910, e veio residir no Brasil entre 1912 e 1945, falecendo antes da Páscoa de 1948. Arthur Moss é descrito pela atriz Cléa Simões como “um nobre” 16 e alguns dos seus vizinhos, ainda vivos, lembram-se dele saindo de casa com roupa de safári e uma rede de apanhar borboletas na mão. Era verdadeirame verdadeiramente nte apaixonado pela ordem de insetos chamada Lepidópte Lepidóptera, ra, borboletas e mariposas. Moss ainda possuía algum talento musical, por isso sempre se esforçou para realizar recitais na Paróquia de Santa Maria. Claro que temos que avaliar bem as memórias, mas existem fatos para fundamentá-las. Moss era um estudioso de insetos e plantas, chegou mesmo a publicar alguns livros sobre o assunto e um específico sobre orquídeas na Pará 17, era considerado pelas entidades científicas como um bom desenhista. Provavelmente é originário de uma região abastada na Inglaterra, Lake District, o que justificaria sua visão como “nobre” “nobre”,, embora não tenhamos conhecimento de que possuísse qualquer título de nobreza. Seus hábitos e temperamento deviam diferenciar bastante da população local. Condição que o colocava em consonância com a comunidade barbadiana que permaneceu durante muito tempo adotando os hábitos ingleses e considerando os brasileiros quase como bárbaros. “Os mais velhos consideravam-se súditos do vasto império britânico e, na maior parte das vezes, recusavam-se a falar outra língua, que não fosse o As informações sobre o “Crockford's Clerical Directory” Directory” nos foram fornecidas por Catherine Wakeling, funcionária da USPG (United Society for the Propagation of the Gospel), Londres, Inglaterra, em 15 de abril de 2004. 15 Encontramos essa referência no seguinte endereço na Internet: http://ww http://www.nhm.ac.u w.nhm.ac.uk/research-curat k/research-curation/collections ion/collections/collections-m /collections-managemen anagement/collectionst/collectionsnavigator/transform.jsp?rec=/ead-recs/nhm/uls-a353832.xml . Acesso em julho, j ulho, 2009. 14
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DVD “O Negro no Pará: Cinco Décadas Depois”, capítulo VI. Moss, Arthur Miles. Miles. Water-colour drawin drawings gs of Orchids from Para Brazil 1915. .
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inglês. Preocupavam-se muito com o vestuário, a etiqueta e os hábitos sociais que, por sua vez, contrastavam enormemente com os dos negros brasileiros” 18. brasileiros” Uma característica que podemos apontar na sua personalidade era sua dedicação a sua atividade como clérigo. clérigo. Nas cond condiçõe içõess prec precária áriass da époc época, a, Moss realiza realizava va diversas diversas viagens viagens,, entr entree elas elas percorria 4.397 quilômetros para atender pastoralmente os trabalhadores caribenhos da estrada de ferro Madeira-Mamoré, em Porto Velho, Rondônia. Precisamos ressaltar ainda que após dezoito anos como capelão no Brasil, Moss se aposentou, mas retornou a Belém e continuou suas atividades como “capelão honorário” até sua partida definitiva em 1945. 3.1. O Contexto social e político no período de Arthur Moss. Embora Arthur Moss tenha morado três anos na América Latina, mais precisamente em Lima no Peru, a sua terra de referência continuava sendo a Inglaterra que ainda estava vivendo o apogeu do imperialismo quando da sua chegada ao Brasil 19, embora outras forças já começassem a despontar no continente europeu. Essa ideologia colonizadora vai repercutir enormemente na mentalidade britânica, de tal maneira que o historiador Marc Ferro afirma “o que aproximava franceses, ingleses e outros colonizadores colonizadores era a convicç convicção ão de que encarnava encarnavam m a ciência e a técnica, e de que esse saber permitia às sociedades por eles subjugadas progredir” (FUSER, 2006: 14). Na verdade uma versão mais palatável da teoria aristotélica da submissão natural. Mais adiante veremos como isso teve sua ressonância na teologia da Igreja da Inglaterra. Todavia, ao retornar definitivamente ao seu país de origem, Moss vai encontrar uma nação completamente transformada, inclusive porque passará pela experiência de duas guerras mundiais. Seria bom lembrar as palavras do historiador Eric Hobsbawn de que na verdade o período entre 1914 e 1945 pode ser “visto como uma única ‘Guerra dos trinta anos’, interrompida apenas por uma pausa na década de 1920” (2007: 21). O império britânico estava em ruínas, seu sepultament sepultamentoo simbólico seria a independência da Índia em 1948. A nova ordem mundial após a Segunda Grande Guerra escancarava as portas para o novo império Ocidental, os Estados Unidos da América. Provavelmente, Moss sofreu uma grande dificuldade de se aculturar (novamente?) no país para o qual regressou20. O Brasil que Arthur Moss vai encontrar passou por profundas transformações e em muitos aspectos é completamente diferente daquele no qual viveu Richard Holden, cinquenta anos antes. No dia 15 Belém dos Imigrantes – história e memória. 19 Osvaldo Coggiola, professor de história da USP, diz num artigo que o apogeu do Império Britânico teria sido entre 1815-1914 (COGGIOLA, 2006: 98) 20 Pensa Pen samo moss na má máxim xima a de fil filós ósofo ofo gre grego go Her Herácl áclito ito de Éfe Éfeso so qu que e um homem homem não pode pode atravessar um rio duas vezes. 18
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de novembro de 1889 vai acontece acontecerr a queda da monarquia e a Proclamação de República no Brasil. Isso vai ter influênc influência ia direta na diversidade religiosa do país, pois juntamente com a implantação implantação da república vai ocorrer a separação oficial entre Igreja e Estado. O princípio da separação entre religião e Estado aparece na Constituição promulgada em 1891. Até então o Catolicismo Romano permanecia como religião oficial e gozava de diversos privilégios. É preciso dizer que essa relação entre os governos e a Igreja Católica Romana, apesar de definido constitucionalmente, nunca foi devidamente clarificado. Mas, esse ar de maior liberdade permitiu uma implantação sistemática do protestantismo no Brasil. Diferente do período de Holden, Moss encontra agora uma sociedade mais aberta para outras denominações cristãs. Isso vai ser sentido no clima dos artigos publicados pelos jornais “Folha do Norte” e “A Capital” quando da inauguração do primeiro templo anglicano na cidade de Belém. “A inauguração que ontem se fez, de um templo onde será cultuada a seita católico-anglicana, traduz perfeitamente os nobres sentimentos de religião que animam a laboriosa e simpática colônia inglesa, domiciliad domiciliadaa entre nós, atendendo-se ao esforço empregado pelos seus distintos membros, que tão depressa formaram realidade a nobilitante ideia” (1912: 1). O Brasil absorveu profundamente às transformações advindas da sociedade liberal e passa a desempenhar um papel significativo no contexto da economia industrial. O próprio advento da república “expressará a redenção da situação colonial e a consonante implantação de uma nova ordem de progresso” (DAOU, 2000: 17). Essas transformações são sentidas primeiramente nas cidades polos da Amazônia, Belém e Manaus, devido ao grande impulso econômico da exportação da bo borra rrach cha. a. Ne Nest stee perí períod odoo ocor ocorre reuu na regi região ão o que que mu muit itos os de deno nomi mina nam m a “Bel “Belle le Époq Époque ue Amazôn Amaz ônic ica” a”.. Na verd verdad adee todo todo esse esse dese desenv nvol olvi vime ment ntoo ec econ onôm ômic ico, o, co com m o proc proces esso so de industrialização e urbanização, vai abrir espaço para consolidação e avanço do protestantismo. Moss vai chegar a Belém justamente no momento do fim desse período áureo da borracha. Depois ele será testemunha da grande depressão na região. O bispo Edward Francis Every vai registrar essa situação no seu livro: “A depressão comercial no Norte do Brasil é pior do que em qualquer outra parte” (1933, 144). Essa situação vai agravar a vida das colônias britânicas, aqueles que não partiram encontram-se empobrecidos. empobrecidos. Ainda precisamos lembrar a Revolução de 1930, o movimento armado que pôs fim a República Velha. Arthur Moss, nas suas palavras sempre concisas faz uma breve referência, de forma negativa, ao movimento no Pará: “Revolução, como uma desordem contagiosa, se espalha da
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capital” (MOSS, 1930) 1930) 21. É importante ressaltar esse acontecimento porque “após a Revolução de 1930, diante de novas articulações políticas e eclesiásticas com o catolicismo, os protestantes se apressaram em contatar com o novo governo, liderado por Getúlio Vargas, reafirmando o princípio da liberdade religiosa e a separação do Estado e instituições religiosas” (SILVA: 01). Nesse período os protestantes conseguiram se articular e fundar a Federação de Igrejas Evangélicas do Brasil, e logo depois a Confederação Evangélica do Brasil, com o claro objetivo de preservar a liberdade religiosa frente ao catolicismo e de se fortalecerem no cenário religioso nacional. 3.2. A herança religiosa de Arthur Moss. Não temos dúvida que um evento que caracteriza bem a mentalidade do trabalho desenvolvido por Arth Ar thur ur Mi Mile less Mo Moss ss no Br Bras asil il é a famo famosa sa Co Conf nfer erên ênci ciaa Mu Mund ndia iall Mi Miss ssio ioná nári ria, a, re real aliz izad adaa em Edim Ed imbu burg rgo, o, em 19 1910 10.. A Co Conf nfer erên ênci ciaa de Ed Edim imbu burg rgoo é um ma marc rcoo de deci cisi sivo vo no mo movi vime ment ntoo ecumênico, representando um clímax de uma série de encontros que vinham acontecendo entre organiza orga nizações ções prot protesta estantes ntes.. Apes Apesar ar de sua impo importân rtância, cia, a Conferênc Conferência ia teve um efe efeito ito bast bastante ante negativo na evangelização evangelização protestante protestante na América Latina. O continente foi excluíd excluídoo da agenda sob a alegação de que não deveria ocorrer um trabalho protestante em regiões que já estivessem evangelizadas por outras denominações. Essa perspectiva foi defendida principalmente pelos britânicos, em oposição às intenções norteamericanas. Seria importante salientar que essa influência e polarização anglo-americana foram consideradas um aspecto negativo do evento (BENT, WERNER, 2005: 232). Arturo Piedra diz que esse posicionamento já vinha sendo definido antes da realização da Conferência: “Os bri britâ tânic nicos, os, par parti ticul cularm armen ente te os angli anglican canos os da ‘Alta ‘Alta Igreja Igreja’’ (High (High Church), tendiam a considerar de mau gosto qualquer nova presença do cristianismo protestante onde já havia influência de outra igreja cristã. É no notá táve vell co como mo esse essess an angl glic ican anos os,, já um an anoo an ante tess da Conf Confer erên ênci cia, a, condicionavam sua participação enquanto a América Latina não fizesse parte da agenda do evento” (2006: 115-116). Persistia na Grã-Bretanha onde Moss fez sua formação teológica uma mentalidade profundamente imperi imp erial alist ista, a, com comoo men menci ciona onamos mos anter anterio iorme rmente nte.. Ta Talve lvezz a fi figur guraa que me melho lhorr rep repres resent entee esse esse sentimentoo seja o Bispo Henry Hutchinson Montgomery sentiment Montgomery (1897-1915). Ele defendia a construção de um império cristão vinculado ao império britânico: “Estes são tempos muito bons e a gente sente
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“Revolution, as a contagious disorder spreads from the capital...”
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no ar o começo de um Cristianismo Imperial” 22 (O’CONNOR, 2000: 358). Na sua concepção a Igreja Anglicana, mais precisamente a Igreja da Inglaterra, deveria está voltada para os súditos britânicos e os missionários deveriam se sentir como funcionários do império. Para percebermos a influência desse pensamento devemos recordar que Montgomery tornou-se Secretário Geral da segunda maior organização missionária inglesa, na época chamada de SPG (Society for the Propagation of the Gospel in Foreign Parts). Todavia, ele não conseguiu concretizar seu ideal, “o sonho de construir uma ‘Grã-Bretanha’ Anglicana unificada que estava no coração das ambições de Montgomery dissipou-se em face dos conflitos sobre teologia, autoridade da igreja e identidade identidade religiosa” 23 (O’CONNOR, 2000: 359). religiosa” Na verdade, como temos tratado desde o início dessa monografia, a Comunhão Anglicana existe basicamente como resultado da expansão colonial inglesa. Segundo afirma Glauco Soares de Lima: “A Comunhão Anglicana se formou segundo o antigo princípio da ‘coroa ao lado da cruz’, significando que o poder imperial e o Estado deviam estar ao lado do poder espiritual, devendo este último, promover a aprovação e justificação da igreja para expansão econômica da mãe pátria” (2004: 17). E ainda hoje o anglicanismo luta com dificuldade para se livrar dessa concepção colonialista, testemunham isso as muitas conferências e textos escritos a esse respeito recentemente 24. Outro elemento necessário para entendimento do universo religioso do Revdo. Moss reside na compreensão daquilo que chamamos de “Comunhão Anglicana”. Essa comunhão de igrejas que partilham de um passado comum e uma mesma tradição é um acontecimento relativamente relativamente recente. Não faz muito tempo o relaciona relacionamento mento entre as Igrejas de tradição anglic anglicana ana era muito reduzido e a cooper coo peraçã açãoo mi missi ssioná onária ria qua quase se ine inexis xiste tente nte.. Se tomar tomarmos mos co com m mar marco co do es estab tabel eleci ecimen mento to da Comunhão Anglicana a realização da primeira Conferência de Lambeth, instância considerada fundamental para sua existência, a primeira só foi convocada pelo Arcebispo de Cantuária Charles Longley, em 1867. Então, para Moss não estava muito definida ainda essa relação entre as igrejas da Comunhão, na verdade até hoje algumas questões de jurisdição assombram a Comunhão, o que explicaria porque não encontramos nenhuma referência que ele tenha mantido alguma espécie de contato, ou demonstrado algum interesse em se relacionar, com os missionários norte-americanos “These are great times and one feels the stir of an Imperial Christianity”. “... the dream of constructing a unified Anglican ‘Greater Britain” that was at the heart of Montgomery’s ambitions dissipated in the face of conflicts over theology, church authority and religious identity”. 24 O próprio Glauco de Lima escreve seu texto citado nesta monografia como prefácio para um livro sobre o tema: Beyond Colonial Anglicanism – The Anglican Communion in the Twenty First Century, Cent ury, editado por T. Doug Douglas las e Kowk Pui-La Pui-Lan, n, Chu Church rch Pub Publish lishing ing Incorpo Incorporated rated,, New York, 2001. 22
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que que de dese senv nvol olvi viam am suas suas at ativ ivid idad ades es no sul sul do país país – co cons nsid ider erad ado, o, de desd sdee 1907 1907,, um Di Dist stri rito to Missionário da Igreja Episcopal dos Estados Unidos. As atividades de Moss e sua comunidade estavam vinculadas vinculadas diretamente a Igreja da Inglaterra. Poderíamos falar também sobre o ambiente religioso brasileiro na época, reforçar a importância da Proclamaçãoo da República, Proclamaçã República, o desligame desligamento nto constituciona constitucionall da Igreja Católica Romana com o Estado brasileiro, talvez até falarmos um pouco sobre a espiritualidade que estava sendo gestada na Amazônia, destacando a importância dos santos e santas na religiosidade popular, principalmente de Nossa Senhora de Nazaré Nazaré 25. Mas, na verdade não creio que isso tenha relevância no paradigma missionário de Arthur Moss, seu trabalho era direcionado para um público específico, que possuía uma cultura determinada, muitas vezes em oposição a cultura local, os imigrantes de língua inglesa. 3.3. Paradigmas missionários de Arthur Moss. O trabalho de Moss foi intenso, construiu o templo da atual Catedral de Santa Maria, em Belém, organizou a Junta Paroquial26, levantou fundos para o sustento do seu trabalho, teve grande preocupação com a música, adquiriu um órgão de tubos para a comunidade, promoveu visitas episcopais 27, atendeu os anglicanos dos estados do Amazonas, Pernambuco e Bahia, prestou seus serviços pastorais também na Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, valorizou as celebrações, que chegavam a contar na época com a presença de 80 pessoas nos ofícios noturnos, retornou para dar continuidade as suas atividades após sua aposentadoria. Tudo isso é muita coisa se levarmos em consideração as dificuldades próprias da época. Todavia, descobrir o pensamento de Moss através dos seus relatórios é uma tarefa complicada, temos que procurar entendê-lo mais por aquilo que não é dito, pois eles são bastante formais e descritivos, se prendem ao relato de viagens, reuniões, número de ofícios religiosos, quantidade de pessoas presentes as celebrações e a arrecadação da Paróquia. Em nenhum momento ele externa suass convic sua convicçõe çõess rel relig igios iosas as ou seu seuss sen senti time mento ntos, s, talve talvezz te tenha nha falad faladoo ma mais is al alto to o ci cient entist istaa de descrições precisas, inclusive nos traços do pincel, do que o homem religioso. Entretanto podemos apontar algumas coisas, a primeira delas é óbvia a partir das considerações feitas anteriormente sobre o contexto religioso de Moss, suas atividades não eram dirigidas para os brasileiros, mas sim especificamente para os imigrantes de língua inglesa já pertencentes ao anglicanismo, diferentemente de Richard Holden. Um trabalho que identificamos como capelania, uma prestação de atendimento religioso. Para sentirmos mais de perto essa perspectiva fazemos referência à preocupação de Moss apontada no seu relatório de 1915, onde registra a necessidade de Citada por Moss, no relatório de 1914, apenas para registrar que não houve celebração num determinado determinad o domingo devido a “procissão da festa de Nazaré” . 26 Nome utilizado pelos anglicanos para os seus Conselhos Paroquiais. 27 As visitas foram feitas pelo Edward Francis Every, bispo da Igreja da Inglaterra para as capelanias inglesas na América do Sul. 25
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criar uma escola de inglês element elementar ar para as crianças mais humildes da comunidade caribenha, pois muitas delas não conseguiam mais ler ou escrever em inglês. “Outra questão que eu gostaria de registrar é a evidente necessidade que existe aqui de aulas de inglês elementar para algumas das crianças mais humild hum ildes es da no nossa ssa com comuni unidad dadee carib caribenh enha. a. [.. [...] .] Mas, Mas, eu recen recentem temen ente te come comece ceii um umaa pequ pequen enaa esco escola la do domi mini nica call na ig igre reja ja com com oi oito to ou no nove ve crianças participando e descobri que várias delas não podem nem ler nem escrever” (MOSS, 1930) 1930) 28. Na continuidade da história da comunidade anglicana em Belém, vamos descobrir que só em 1957, após a chegada dos missionários norte-americanos enviados pela Diocese do Brasil Central, com sede no Rio de Janeiro, é que vai se estabelecer uma comunidade de brasileiros. Também Tam bém ob obser servam vamos os que Moss Moss agia agia como como mediad mediador or ent entre re a co comun munid idade ade e as aut autori oridad dades es britânic britânicas, as, com as quais quais semp sempre re mant manteve eve exce excelent lentes es rela relações ções.. Fazi Faziaa reivindi reivindicaçõ cações, es, levanta levantava va recursos, e, algumas vezes, ajudava as pessoas com a difícil burocracia das instâncias inglesas, até mesmo assinando formulários para passaporte (MOSS, 1930) 1930) 29. Um dos principais instrumentos utilizado por Moss era a visita feita a britânicos e americanos, dentro do contexto da época a maioria das pessoas visitadas ocupava cargos importantes nas companhias estrangeiras ou nos serviços consulares. consulares. Em visita a Manaus com o Bispo Every , em 1913, relatou: “Como no Pará, a maior parte do nosso tempo era dedicado a visitas a britânicos britânicos e americanos em suas várias casas e escritórios” (MOSS, 1930) 1930) 30. Talvez estivesse presente aqui a ideia de Montgomery que o clérigo anglicano deveria ser um funcionário do governo britânico. Outra coisa que podemos observar no trabalho de Moss é o seu cuidado com os elementos formais da religião. Característica que poderíamos apontar como distintiva dos clérigos da Igreja Alta da Inglaterra. Então, ele menciona em diversos relatórios relatórios os paramentos para o Altar que recebeu como doação, os novos Livros de Oração Comum e os novos hinários adquiridos na SPCK (Society for Promoting Christian Knowledge), o livro de Atas da Junta Paroquial guardado com todos os dados estatísticos, a decoração adequada da igreja para a celebração de Natal, a doação que recebeu para comprar novas vestes vestes litúrgicas litúrgicas,, a nova estante de lleitura eitura doada para o púlp púlpito. ito. Até hoje isso se tornou um estilo particular da comunidade cristã que se reúne na Catedral de Santa Maria em “One other matter I which to put on Record is the apparent need which exists here of elementary English schooling for the humble children of some our West Indian community. (…) But I have recently started a small Sunday school in church with some 8 or 9 children in attendance attendanc e and find that several of them can read nor write”. 29 “I have been busy signing applications for passports”. 30 “As in Pará, most of our time was spent in Visiting Britishers & Americans in their houses and offices”. 28
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Belém. Valeria a pena, mais uma vez destacar a dedicação e a aplicação de Arthur Moss ao seu trabalho, Every o chama de “devotado” (EVERY, 1933, 144). Sem dúvida nenhuma, o fato de ter retornado ao Brasil após sua aposentadoria e continuado a trabalhar como “capelão honorário” da comunidade é uma demonstração clara disso. Vemos nele um genuíno amor pastoral pelas pessoas que atendia com sua ação como capelão.
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4. Conclusão Quando pensamos naquilo que permaneceu dos paradigmas missiológicos que nortearam a atuação dos primeiros missionários anglicanos na Amazônia, temos que obrigatoriamente fazer referência ao trabalho de Arthur Miles Moss, pois foi ele que estabeleceu a primeira comunidade anglicana anglicana da região, depositaria de sua herança. Richard Holden deixou apenas uma história para ser contada que pode nos trazer inspiração quando nos debruçamos sobre ela, mas que na verdade ficou apenas co como mo um regi regist stro ro do pass passad ado. o. Co Como mo uma uma ci civi vili liza zaçã çãoo ex exti tint nta, a, de dela la fi fico couu ap apen enas as as pe peça çass arqueológicas para serem analisadas e admiradas pelos especialistas. Sendo a cultura, especificamente dentro dela a religião, um produto humano que extrapola o controle do seu produtor, a influência de Moss permanece na Catedral de Santa Maria, após 97 anos, e nas outras comunidades que surgiram a partir dela. Quando concluiu seu livro de relatórios como capelão no ano de 1930, Moss deixou registrado: “Eu posso somente expressar minha esperança que ele [o livro de relatórios] será mantido seguro na igreja para referências futuras” (MOSS, 1930) 1930) 31. Com certeza deixou muito mais do que pretendia. É bom ressaltarmos que os paradigmas de Moss estavam em consonância com preservação da identidade cultural britânica. Embora, obviamente, os paradigmas não permaneceram estáticos, no contexto em transformação eles sofreram redefinições. A língua usada durante os trinta e três anos que Moss esteve à frente da comunidade foi o inglês. Não existe nenhum indício que em algum momento se tenha usado o português para qualquer atividade religiosa ou social. Pelo contrário, vemos a preocupação de Moss com as crianças descendentes dos caribenhos que já não liam e nem escreviam na língua de Shakespeare, a literatura que ele distribuía vinha da SPCK, em Londres, e os Livros de Oração eram os mesmos da Church of England. Mas, atualmente, poucas pessoas ainda falam inglês na comunidade, e ninguém cogita em fazer qualquer atividade usando outro idioma que não seja o português. Mas, a mentalidade ainda está lá. Certa feita alguém sugeriu que a palavra “catedral” fosse escrita na placa da igreja com “th”. Ou, ainda, uma senhora reclamava que os novos reverendos não sabem falar inglês. O órgão de tubos, o qual Moss acompanhou várias das etapas de construção (MOSS, 1930) 1930) 32, foi destruído pelos cupins e substituído substituído por violões, guitarras elétricas, baixos e bateria, mas permanece a noção de que as músicas devem estar de acordo com a liturgia e que o rito da Comunhão é um momento de reverência r everência e introspecção. A Igreja Anglicana no Pará atualmente possui nove comunidades, sete na região metropolitana de Belém, mas muita gente na Catedral ainda tem dificuldade para aceitá-las como verdadeiramente “I can only express the hope that it Will be kept in the church safe for future reference”. “Havi “H aving ng see seen n the the org organ an at dif differ ferent ent per period iodss of it con constr struc uctio tion n in Messrs Messrs Ru Rushw shwort orth h & Dr Drea eape per’s r’s fact factor ory y & ha havi ving ng as assi sist sted ed in ta taki king ng it to piec piece e on Se Sept ptem embe berr 21 & ma made de all all arrangements for its shipment to Pará”. 31 32
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anglicanas por não estarem dentro dos moldes exigidos pela identidade religiosa britânica do passado. Caso complicado aconteceu com a chegada dos missionários norte-americanos, em 1955. Eles foram rejeitados por parte da comunidade “britânica”, ficaram sem acesso ao templo e tiveram que fazer celebrações nas suas próprias casas. Somente cinco anos depois a situação foi solucionada através de um entendimento entre o bispo brasileiro, então o Bispo Edmund Knox Sherril, e o bispo para as Capelanias Inglesas na América do Sul, Ciryl Tucker. Mas, diga-se de passagem, sem a concordância da comunidade britânica local. A Catedral oferece atividades diversas durante os dias úteis da semana, mas muitos não participam “porque estão acostumados acostumados a ir à igreja apenas no domingo para receber comunhão” (informação verbal) 33. Apesar dos eventos não serem exatamente uma novidade, já vêm ocorrendo em vários pastorados, o senso de capelania, apenas a prestação do serviço religioso, permanece muito forte, principalmente entre alguns descendentes de barbadianos. A tendência normal é que as redefinições de significado continuem a ocorrer, até mesmo por pressão da nova condição da região como diocese. Também porque as gerações estão passando, no dia 25 de agosto faleceu o último representante da primeira geração de caribenhos, Robert Skeete, originário da ilha de Santa Lúcia, com cem anos de idade. Mas, de qualquer forma, temos já observado que as redefinições se processam de forma lenta na Igreja Mãe e de maneira muito mais rápida nas novas congregações. Isso tem criado e continuará a criar uma tensão que deverá ser administrada de forma criativa pelas atuais lideranças. Cada vez mais vai se instaurando a compreensão do Conselho Consultivo Anglicano de 1990, que define a missão da Igreja como a missão do próprio Cristo, dentro de um contexto específico. Essa missão que é para todas as pessoas, está balizada por cinco marcas que são itens práticos da ação missionária: proclamar as boas novas do Reino de Deus; ensinar, batizar e nutrir os novos crentes; responder às necessidades humanas por meio do serviço; transformar as estruturas injustas da sociedade; defender a integridade da criação e manter e renovar a vida na terra. Mas, isso também sofrerá inevitavelmente inevitavelmente suas próprias redefinições dentro da realidade Amazônica. Amazônica.
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Afirmação feita por Gregory Sanches membro da Catedral de Santa Maria.
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