Os Mitos Do Dinheiro - Gabriel Torres

October 30, 2017 | Author: Thiago Bernardes | Category: Wealth, Money, Self Help, Thought, Books
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OS MITOS DO DINHEIRO

Gabriel Torres 2015 ©2015, Gabriel Torres. Todos os direitos reservados. Permitimos que você distribua este livro de forma gratuita a seus amigos, desde que o texto permaneça inalterado e que os créditos de autoria também permaneçam inalterados. O autor não se responsabiliza pelo o uso das informações contidas neste livro nem por decisões que porventura sejam tomadas após a sua leitura.

Agradecimentos Gostaria de agradecer aos amigos que leram as primeiras versões deste livro e me ajudaram a “aparar as arestas” do que eu escrevi: Carla Luiza, Cássio Lima, Juliano Moreira e Rafael Coelho. Agradeço também a Marcos Patriani Antonio, leitor que espontaneamente fez a revisão de português do livro.

Introdução Meu nome é Gabriel Torres e sou milionário desde os 34 anos de idade. Meu patrimônio foi acumulado a partir “do zero”; não recebi nada dos meus pais ou através de qualquer tipo de herança, nem tampouco através de casamento. Começo este livro de maneira provocadora, e você pode até pensar que o único propósito do que escrevi acima é que eu estou querendo me gabar, me mostrar, e que eu sou um baita de um “metido”. Longe disso. Começo este livro com esta afirmação para que você saiba, desde já, que eu já era milionário antes de escrevê-lo. Vários autores best-seller no campo das finanças pessoais como Robert Kiyosaki1 e Gustavo Cerbasi2, que ensinam através de suas obras a “como podemos ficar ricos”, não eram milionários antes de publicarem seus primeiros livros, tendo ficado milionários com a publicação dos livros que os tornaram famosos. Este fato só aumenta a desconfiança que algumas pessoas têm em relação aos livros de autoajuda, criando críticas negativas, especialmente vindas da parcela mais intelectualizada da nossa sociedade, de que livros de autoajuda só ajudam o autor a ganhar dinheiro. E esses são apenas dois autores que tiveram a humildade de compartilhar suas trajetórias em suas próprias obras; infelizmente a maioria dos autores no campo das finanças pessoais possivelmente não atingiu a sua própria independência financeira ou chegou ao seu primeiro milhão (isso não significa que os livros escritos por tais autores são ruins, pelo contrário: os livros tanto do Robert Kiyosaki quanto do Gustavo Cerbasi e de vários outros autores são excelentes e foi através deles que eu me interessei pelo tema e pude colocar minha vida pessoal “nos eixos” e ultrapassando, finalmente, a minha meta inicial de ter patrimônio superior a um milhão de reais). Escrevi este livro somente depois de ter atingido a meta de ser milionário, para que você entenda que a minha motivação para publicar este livro foi o conceito do dar de volta, ou seja, ajudar pessoas que estão hoje em uma posição na qual 1 2

Ver KIYOSAKI, Robert. Empreendedor rico. Tradução de: Before you quit your job. Rio de Janeiro, Campus, 2005. Ver CERBASI, Gustavo. Cartas a um jovem investidor. Rio de Janeiro, Campus, 2008.

eu já estive um dia, a de não ter a menor ideia do que fazer quando o assunto é dinheiro, metendo os pés pelas mãos, criando dívidas, “vivendo de aparências”, seguindo conselhos totalmente “furados” de pessoas que não têm a menor educação financeira (e isso inclui o gerente do seu banco) e tendo ainda muito preconceito quando o assunto é dinheiro (infelizmente uma parcela significativa da população ainda acha que ter dinheiro é pecado e se alguém tem dinheiro é porque o ganhou de forma ilícita). Inicialmente, eu pretendia publicar este livro em formato tradicional. Depois de muita reflexão, resolvi publicá-lo de forma gratuita, em formato eletrônico. Dessa forma, não fica qualquer dúvida que minha intenção é ajudar. Para cada capítulo do livro, eu gravei um vídeo. Tanto os capítulos do livro quanto os vídeos podem ser vistos em http://www.terremoto.com.br, clicando no link “Os mitos do dinheiro”. Os vídeos não substituem a leitura dos capítulos; apenas reforçam alguns conceitos, afinal, aprendemos melhor quando temos um material audio-visual em conjunto. Você pode estar se perguntando o porquê de mais um livro sobre finanças pessoais no mercado. Este livro, porém, tem como diferencial o fato de ter sido escrito por alguém que já atingiu sua independência financeira, e, por conta disso, traz um ponto de vista diferente dos demais. A ideia deste livro é passar o meu modo particular de pensar e agir em relação ao tema “dinheiro”, focando em seu lado “psicológico”. Pois não adianta ter somente o conhecimento técnico (para este, há vários livros e cursos no mercado): se você não mudar seu modo de pensar e agir, você não ficará rico. Lembre-se: não é possível obter resultados diferentes agindo sempre da mesma maneira... Esse conhecimento foi obtido tanto com as experiências pessoais na minha jornada rumo à minha independência financeira quanto pela leitura de muitos livros: eu já li mais de 140 livros sobre o tema “dinheiro”, de acordo com a minha contagem mais recente (a maioria deles catalogada em meu blog http://www.terremoto.com.br).

Eu sei que muito do que você lerá baterá de frente com o que você atualmente pensa sobre o tema. Se isso ocorrer, excelente. Significa que estamos no caminho certo, pois a ideia é você questionar tudo aquilo que sabe, de forma que um novo conhecimento “entre” em sua mente. Nesses momentos, recomendo que você respire fundo, releia o trecho que você está tendo resistência em aceitar, até o novo conceito ser absorvido. Não tenha pressa. Este é um livro para ser lido e relido até que os conceitos que apresento – que talvez hoje sejam alienígenas – passem a ser “normais” para você também. Tenha em mente que a maioria das pessoas não é rica. Portanto, é muito pouco provável que o que a maioria das pessoas fala ou pensa sobre dinheiro seja “correto”! Não tenho a pretenção de fazer com que todos que leiam este livro se tornem milionários; dou-me por satisfeito se você encontrar pelo menos um pensamento que seja a semente para você mudar sua vida para melhor. Boa leitura! Gabriel Torres Austrália, julho de 2015.

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Capítulo 1 Por que não ficamos ricos? Com tantos livros de autoajuda publicados sobre finanças pessoais, por que tantas pessoas ainda têm problemas financeiros? Infelizmente colocar em prática o que os mais diversos livros, cursos e palestras pregam é muito mais difícil do que parece. Até porque, se fosse tão fácil, todos os milhões de consumidores de tais produtos seriam todos milionários. E, infelizmente, esta dificuldade acaba propagando, em alguns círculos, que produtos de autoajuda só ajudam os autores a encherem suas contas bancárias. Esta dificuldade de ficar rico, no entanto, não está na falta de eficácia dos livros, cursos e palestras sobre o tema, mas sim no maior vilão de todos: você mesmo. Vejamos o porquê.

O conceito de sucesso não é o mesmo para todos Se você perguntar para diferentes pessoas o que é, para elas, ter sucesso na vida, você obterá respostas completamente diferentes. Para um acadêmico, sucesso pode ser fazer um doutorado no exterior, conseguir uma bolsa de pesquisas e ter trabalhos publicados. Para um músico, sucesso pode ser ter seu trabalho gravado e distribuído em nível nacional ou internacional, ter músicas sendo executadas nas rádios e fazer shows com “casa cheia”. Para um escritor, possivelmente sucesso é figurar na lista de livros mais vendidos e ser mencionado por pessoas famosas. Para um ator ou uma atriz, sucesso pode ser estar na TV em uma novela ou no teatro ou cinema contracenando com atores consagrados e ser reconhecido(a) na rua. Para um cientista e para um(a) professor(a), sucesso pode ser receber um prêmio importante. Para um arquiteto pode ser ter a oportunidade de projetar uma obra importante. Para um empresário possivelmente sucesso é criar uma empresa do “zero” e alcançar algum marco importante, como ter seu produto sendo vendido em todos os estados brasileiros ou mesmo no exterior. Em todos os exemplos dados, acredito que todos vão concordar que ser convidado para dar entrevistas a jornais, rádio e http://www.terremoto.com.br

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TV também faz parte da lista de itens que uma pessoa poderia considerar como parâmetro para mensurar se ela tem sucesso ou não. O que é sucesso para você? Faça uma pausa na leitura aqui para refletir. Sério, dê uma parada, largue o livro, vá beber um copo d’água e reflita por alguns instantes. Por mais incrível que pareça, a noção de sucesso e a noção de ter dinheiro não andam de mãos dadas. Uma coisa não depende da outra. De fato, muitas pessoas sequer citarão dinheiro na lista de itens que consideram obrigatórios para dizer que obteve sucesso – e quando o fazem, não especificam um valor, dizem apenas “muito dinheiro”, o que dá no mesmo, pois uma frase completamente em aberto como esta não permite que você mensure se você alcançou ou não este patamar (o que é “muito dinheiro” para uma pessoa pode ser meros “trocados” para outra). É por isso que vemos muitas pessoas com sucesso, mas sem dinheiro. Muitas pessoas pensam que a partir do momento em que elas obtiverem sucesso, automaticamente elas ficarão ricas. Isto está muito longe de ser verdade. Para piorar a situação, muitas pessoas que obtêm sucesso passam a gastar como se fossem ricas, justamente por acreditarem nisso, o que só as colocam ainda mais no buraco. Para ter dinheiro é necessário colocar o assunto na sua lista de prioridades, na sua lista do que é ter sucesso, na sua lista de metas. E trabalhar arduamente para que esta meta seja concretizada. Eu não sou diferente de você e por anos caí nesta armadilha. Aos 22 anos era o autor de livros de informática mais vendido no Brasil, figurando em todas as listas de livros mais vendidos, escrevia para o jornal de maior circulação do estado do Rio de Janeiro, era constantemente citado na mídia e convidado a dar entrevistas. Tinha sucesso. Ou melhor, achava que tinha. Ao mesmo tempo, achava que estava ganhando muito dinheiro. Mas no final das contas, com o sucesso que eu achava que eu tinha e com o dinheiro que eu achava que era muito, eu vivia apertado de grana e constantemente no vermelho. Após anos nessa situação eu resolvi que era hora de dar um basta e colocar a casa em ordem. Sete anos depois

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dessa decisão, eu era milionário, e este livro é baseado nessa minha aventura (de sucesso!). Outro problema relacionado a sucesso é que muitas pessoas colocam na sua lista do que é necessário para ser considerado bem-sucedido o diabo do “reconhecimento”. O reconhecimento é uma busca incessante de todos os seres humanos. O problema é que ser reconhecido não depende de nós: depende de outra pessoa te dar. Se você ralar para caramba e outras pessoas não te derem o reconhecimento que você está esperando, você ficará se sentindo um fracassado. Ou seja, você pode ter sucesso, ter dinheiro, mas não coloque reconhecimento na lista de itens que você considera importante para se sentir bem-sucedido. Se ele vir, excelente, mas não baseie sua noção de sucesso a ele.

O conceito do que é ser rico não é o mesmo para todos Mesmo que você decida mudar seu conceito de sucesso ou suas metas de vida para incluir dinheiro, há outro problema. A noção de dinheiro não é a mesma para todo mundo. Por exemplo, em uma família de classe baixa onde um dos membros consegue subir na vida para ser classe média, ele é visto como o rico da família, mesmo que tenha um esforço danado para pagar suas contas e não tenha qualquer reserva financeira – sem contar que, em algumas famílias, os membros “pobres” acham que os membros “ricos” têm a obrigação de darem dinheiro para eles (o problema aqui não é dar dinheiro para parentes, mas a noção da “obrigação”). Entre amigos e vizinhos, aquele que tem o carro mais caro possivelmente será visto como o “rico” do grupo, mesmo que ele esteja com um financiamento enterrado até o último fio de cabelo e secretamente mal tenha dinheiro para encher o tanque do possante. Certa vez a socialite e herdeira carioca Vera Loyola disse “Milionário é quem tem pelo menos US$ 100 milhões. Patrimônio de US$ 1 milhão é coisa de classe média.”1 Esta declaração foi mal vista por aqueles que não entendem que a noção

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Revista Época, 16/06/2003

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de riqueza varia de acordo com a pessoa e que, em vez de criticarem ou rebaterem o que ela disse, não pararam para pensar se talvez ela não estaria certa, no sentido de que seria muito bom que todos os membros da classe média tivessem um patrimônio líquido de US$ 1 milhão. Ou não? O próprio conceito do que é ser milionário varia, como vemos na declaração da Vera Loyola. A definição mais popular é de que milionário é qualquer um que tenha patrimônio menos dívidas superior a um milhão de reais. O problema aqui é saber o que é patrimônio e o que não é. Por exemplo, a Receita Federal e muitas pessoas consideram carro um patrimônio, enquanto eu discordo (você nunca consegue vendê-lo pelo valor que você acha que ele vale, não tem liquidez e gera muitas despesas), e carros devem ser removidos dessa conta. Na realidade, sou favorável à definição usada pelo autor Thomas Stanley (autor de “O Milionário Mora ao Lado”, “A Mente Milionária” e “Stop Acting Rich”): milionário é aquela pessoa que tem pelo menos US$ 1 milhão em ativos de alta liquidez, como ações, fundos de investimento, dinheiro, metais preciosos, etc., descontando todas as dívidas que a pessoa possa porventura possuir. Não entra nesta conta moradia própria, imóveis de aluguel (pois não possuem liquidez), negócios, carros, etc. Outras definições existem, mas acredito esta ser a mais apropriada. Aqui vale esclarecer algo muito importante. Ser milionário e ter independência financeira são duas coisas distintas. Independência financeira é quando você tem receitas suficientes oriundas de investimentos que pagam todas as suas despesas mensais, significando que se você quisesse parar de trabalhar, você poderia. Essa sua receita passiva pagaria todas as suas despesas ad eternum (é claro que você terá de ter compensar a inflação e no planejamento de longo prazo incluir aumento de despesas no futuro como, por exemplo, aumento no valor do plano de saúde com o avanço da nossa idade). Portanto não é preciso ser milionário para ter independência financeira. Se suas despesas totais mensais são, por exemplo, R$ 5.000, você terá independência financeira quando tiver rendimentos passivos (rendimentos vindos de investimentos) de pelo menos R$ 5.000 por mês. E não é preciso ser milionário

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para isso. Da mesma forma, se você é milionário e tem rendimentos gerados de forma passiva de, digamos, R$ 20.000, mas gasta R$ 30.000 todo mês, você ainda não tem independência financeira, mesmo sendo milionário. Você de repente pode estar pensando que é “impossível” gastar R$ 30.000 por mês. Mais uma vez, isso é questão de adaptação à sua realidade. Alguém que gasta R$ 2.000 por mês e tem salário nesta mesma faixa – e, portanto, na luta eterna para fazer sobrar algum dinheiro todos os meses – pode simplesmente achar ridículo como alguém com um salário de, digamos, R$ 20.000 gastar R$ 30.000 por mês e pensar “ah, se eu ganhasse R$ 20.000 por mês eu continuaria gastando a mesma coisa e sobrariam R$ 18.000 todos os meses”. Acontece que quanto mais você ganha, mais você gasta. A não ser que você seja altamente disciplinado, a tendência será ver mais dinheiro e, com isso, criar mais despesas.

O conceito do que é e ser pobre não é o mesmo para todos Assim como o conceito do que é ser rico não é o mesmo para todo mundo, o mesmo ocorre para o conceito de “pobre”. Note que estamos falando aqui de pobre e não de miseráveis – o conceito de miséria é o mesmo em qualquer lugar do mundo (passando verdadeiras necessidades tais como fome e falta de saneamento básico). Um jogador de futebol de origem humilde (do qual não recordo o nome), após anos morando na Europa disse à imprensa brasileira que não entendia como alguém no Brasil conseguia viver com menos de R$ 10 mil por mês. Esta declaração não foi bem recebida pela imprensa, especialmente porque os jornalistas que o entrevistaram recebem bem menos do que isso. Mais uma vez, em vez de rebater e criticar a declaração do jogador, muita gente não parou para pensar se o que ele estava falando não fazia sentido. Uma pessoa de classe baixa que ascendeu à classe média pode agora não se considerar mais pobre (e em sua família ser considerado o “rico”, como vimos anteriormente), ao passo que essa mesma pessoa pode ser considerada “pobre” por pessoas na classe média alta ou classe alta. Dando um exemplo mais extremo, um herdeiro do tipo “playboy”, cuja única ocupação na vida é torrar o dinheiro http://www.terremoto.com.br

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dos seus pais com frivolidades, com certeza considera pobre qualquer pessoa que não consegue “acompanhar” seus padrões de gastos – e o irônico é que muitos milionários não ousarão a gastar dinheiro dessa forma (o truque para juntar dinheiro não é apenas ganhar mais, mas gastar menos). Esse tipo de “playboy” é o que acaba na miséria depois que os pais falecem, caso não tenha tido qualquer tipo de treinamento em como comandar os negócios da família.

Falta de “ganância” Como o conceito de sucesso e riqueza não é o mesmo para todos, vemos muitas pessoas que atingiram uma determinada meta ou sonho simplesmente ficarem paralisadas naquele patamar. Por exemplo, alguém de origem humilde e que “virou” classe média pode pensar que chegou aonde queria chegar e que “já está bom”. Não há nada de errado nisso, desde que a pessoa não esteja vivendo cheia de dívidas e privações que a impedem de ter e fazer tudo aquilo que realmente quer. Aqui vale um minuto de reflexão para ver se este não é o seu caso. Lembrando é claro que usei ganância entre aspas de propósito, pois estou falando aqui de ter mais do que você tem com o intuito de poder ter recursos para você ter e fazer tudo aquilo que você gosta e deseja, ganhando dinheiro de maneira ética e legal. Não estou aqui falando da ganância “ruim”, o famoso “tudo pelo dinheiro”, que inclui mentir, roubar e passar a perna nos outros. Isso não deve ser feito nunca. Estamos falando de ambição.

Inventar desculpas e não assumir responsabilidades Algumas pessoas vivem dando desculpas: “se não fosse por causa disso”, “se não fosse por causa daquilo”, etc. Algumas desculpas parecem em um primeiro momento até plausíveis (“meus pais morreram em um desastre e fiquei desorientado”), mas podem ser, elas mesmas, uma desculpa para a pessoa não tomar as rédeas da sua vida e fazer o que precisa ser feito para atingir os seus objetivos financeiros.

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Se você reparar o discurso de qualquer pessoa bem-sucedida financeiramente, quando ela fala de seus fracassos, você verá que raramente ela dará alguma desculpa do tipo “se não fosse pelo governo”, “se não fosse pelo câmbio”, “se não fossem os impostos”, etc. Pelo contrário, em geral você verá que ela falará dos fracassos com certo orgulho, pois aprendeu alguma lição que a tornou bemsucedida em empreendimentos futuros ou, melhor ainda, descobriu uma maneira de contornar o fracasso. Sem falar que não há nada mais chato do que gente que vive se queixando de tudo e de todos. Eu mesmo tive vários fracassos em minha vida, mas estes eu jamais coloquei “a culpa” em ninguém a não ser em mim mesmo. E eu não tenho o menor pudor de compartilhá-los com qualquer pessoa que queira ouvi-los. De fato, eu considero que escutar os fracassos de pessoas bem-sucedidas seja uma grande maneira de aprender com o erro dos outros. Muita gente foca somente nos sucessos de pessoas bem-sucedidas, mas é nos fracassos que aprendemos mais. Portanto, fica a dica: ao encontrar uma pessoa que você considera bem-sucedida, puxe o assunto com algo do tipo “quais foram os maiores erros que você já cometeu e o que você fez para superá-los?”. Vamos ver alguns exemplos pessoais para solidificar a ideia. Eu poderia ter inventado a desculpa “se o shopping tivesse feito algo para atrair mais gente eu não teria fechado a minha loja” para o meu primeiro empreendimento quando adulto, uma loja de informática que não deu certo pelo baixo volume de vendas. O erro foi obviamente meu, de não ter analisado antes de alugar a loja que, apesar da excelente localização (bairro nobre do Rio de Janeiro, em frente a um ponto de ônibus e altíssima circulação de pessoas na rua), a loja não tinha quase nenhum volume de pessoas passando em frente (pois estava no terceiro andar de uma galeria). Neste mesmo caso, eu poderia ter inventado a desculpa “se meu sócio fosse mais ativo em captar clientes”, mas a sociedade era 50%-50%, portanto a responsabilidade de qualquer coisa era tanto minha quanto dele. E mesmo que não fosse, a culpa continuaria sendo minha, pois afinal eu é que o escolhi para sócio. Eu poderia ter escolhido outra pessoa com um perfil diferente.

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Mais uma que eu poderia ter inventado: “se não fosse a concorrência das lojas do centro da cidade”. Mais uma vez, não inventei essa desculpa justamente porque sabia que eu é que resolvi abrir a loja em um bairro nobre, onde as despesas fixas eram quatro vezes maiores e, com isso, nossos preços tinham de ser mais elevados. Eu poderia ter inventado desculpas do tipo “se meu ex-editor não tivesse me roubado” para não alcançar as minhas metas financeiras. Este é um excelente exemplo, pois, apesar de ter sido roubado pela primeira editora que publicava meus livros2 e, na época, depender dos royalties para a minha sobrevivência, eu consegui atingir minhas metas financeiras mesmo assim. Em vez de ficar paralisado pela descoberta e pela impossibilidade de atingir minhas metas pelos caminhos anteriormente planejados, eu simplesmente levantei, sacudi a poeira e redesenhei minhas metas com novos caminhos e ideias. Mas se você prestar atenção no discurso de pessoas malsucedidas financeiramente você provavelmente ouvirá um monte de desculpas – e aqui vale à pena entender que o comportamento de inventar desculpas (e não o conteúdo da desculpa) e não assumir responsabilidades é que possivelmente foi o responsável pelo fracasso delas. Portanto, desculpas não servem para nada. Elas só servem para paralisar quem as inventou (as pessoas malsucedidas) e para haver uma justificativa para não atingir suas metas. Ou como o Brunão, um dos meus melhores amigos, diz ao ouvir uma desculpa: “me engana que eu gosto”. Se você estiver se dando conta de que você tem alguma desculpa na ponta da língua do porquê que você não tem sucesso financeiro, é importante parar para pensar se este é um padrão de comportamento que você costuma usar,

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Autores ganham dinheiro através de royalties, isto é, uma pequena comissão sobre cada livro vendido. A editora recebeu o dinheiro dos livros vendidos, mas não pagou a minha parte, embolsando os meus royalties. Após a editora ser acionada na justiça, os donos pegaram o dinheiro e fugiram, em uma cena típica de filme. O valor atualizado da dívida em 2013 era de R$ 4 milhões. Em http://www.vitimasaxcel.com.br há a história completa deste caso.

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especialmente quando você está prestes a completar alguma meta e as coisas não andam da maneira esperada e você desiste, em vez de buscar uma solução.

Imediatismo Infelizmente é característica do ser humano ser imediatista, isto é, querer ter algo agora. Só que não existe fórmula mágica para ter sucesso; é preciso trabalhar arduamente para obtê-lo. É preciso ter paciência e perseverança. O problema do imediatismo fica claro quando o assunto é consumo. Em vez de economizar para realizar uma compra à vista no futuro, grande parte das pessoas – se não a maioria – prefere se endividar e ter aquele produto ou serviço agora. Além de você acabar pagando bem mais do que o valor do produto, você ainda fica com prestações que deverão ser pagas mensalmente, gerando um impacto em seu orçamento mensal. Em casos extremos, o consumo imediato pode estar atrelado ainda à incapacidade da pessoa em arcar com os custos de manutenção do produto adquirido. Ter um carro é o melhor exemplo. Muitos jovens adultos caem na tentação de ter um carro, fazem as contas e veem que as parcelas cabem no orçamento, mas esquecem-se de computar os gastos com seguro, gasolina, oficina, pedágio, estacionamento, etc. (acho que todo mundo conhece alguém que tem carro e que vive reclamando do “absurdo” que é pagar pedágio e estacionamento). Portanto, além de pagar mais pelo mesmo produto e do impacto em seu orçamento mensal, você ainda terá menos dinheiro disponível (isto é, se sobrar algum) para poder economizar e investir. Se você puder “segurar” o máximo possível suas compras e juntar dinheiro para comprar aquilo que você precisa à vista (e, em muitos casos, descontos são oferecidos), você não só economizará como também terá dinheiro para investir mensalmente, colocando-o no caminho da independência financeira. Aliás, é muito comum no meio do caminho você descobrir que nem mesmo precisava

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daquele produto ou serviço que você tanto queria e que parecia tão indispensável!

Falta de planejamento e metas A não ser que você acerte na loteria ou receba uma herança de um tio-avô que você nem conhecia, você não ficará rico da noite para o dia. É necessário sentar, planejar e traçar metas para o seu sucesso financeiro. Muita gente pensa que determinadas pessoas nasceram viradas para a lua, que são sortudas, e que tudo o que tocam vira ouro. Aprenda uma coisa de uma vez por todas: sorte e sucesso só vêm antes de trabalho no dicionário. Muitas pessoas tendem a achar que pessoas ficam famosas e ricas da noite para o dia. Este conceito é reforçado pelos canais de comunicação, onde fica parecendo que uma determinada pessoa – um músico ou um jogador de futebol, que são os casos mais comuns – ficou rica da noite para o dia depois de ter sido “descoberta” (por um agente, por uma gravadora ou por um grande clube, por exemplo). O que as pessoas se esquecem é que provavelmente essas pessoas “sortudas” estavam treinando anos a fio em sua profissão, no anonimato, e possivelmente tinham planos de serem ricas e de terem sucesso (em muitos casos esses planos não eram estruturados, mas eles estavam lá). Em entrevistas, muitas vezes por puro tabu, o entrevistador não faz perguntas sobre os planos e metas que os “sortudos” tinham quando eram ilustres desconhecidos. E mesmo quando perguntas deste tipo surgem, os “sortudos” em geral apresentam uma falsa humildade, ou por tabu ou para não ferirem o sentimento de alguém. Portanto, se você quer ser rico ou ao menos “sair do buraco”, é preciso sentar, encarar a realidade e traçar um plano. Muita gente pensa ainda que fazer um planejamento significa viver aprisionado dentro de um plano, e que não é possível sair nem um pouco desse plano, e muitas usam esta desculpa para não traçarem metas. O planejamento serve para você ter um guia de como ganhar e como gastar seu dinheiro de forma a ter dinheiro para investir e, com isso, criar uma reserva financeira. Este planejamento

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deve ser feito propiciando o estilo de vida que você quer levar nesta jornada; o objetivo não é “aprisioná-lo” nem tampouco privá-lo dos prazeres da vida.

Falta de perseverança A verdade é que ser rico não é para todos, pois nem todo mundo tem as condições necessárias para tal. Essas condições, no entanto, podem ser aprendidas e treinadas, portanto qualquer um pode ser rico se realmente entrar “no espírito” da coisa. Uma dessas condições necessárias é a perseverança, ou seja, o ânimo de continuar seguindo em frente com um plano por realmente acreditar nele mesmo diante de obstáculos e mesmo quando ao analisar resultados eles parecerem pífios comparados com os resultados pretendidos. É o famoso “acreditar em si mesmo quando ninguém mais acreditava”. O melhor exemplo para você entender onde você terá de ter muita perseverança (e paciência) está no acúmulo de dinheiro. A maneira mais “fácil” de juntar um patrimônio de alta liquidez é investir um pouco todos os meses, de forma constante. Esses investimentos geram juros sobre juros (juros compostos), que fazem a mágica de multiplicar seu dinheiro de forma exponencial, sem trabalho extra da sua parte. Se você já leu outros livros sobre educação financeira já deve ter lido algo parecido zilhões de vezes. Mas infelizmente a maioria das pessoas não tem o conhecimento para entender o que “exponencial” realmente significa. Uma curva exponencial é baixa em seu início, até chegar a um determinado ponto onde ela começa a subir de forma vertiginosa. Veja o gráfico da Figura 1.1 para visualizar uma curva deste tipo.

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R$ 2.000.000,00 R$ 1.800.000,00 R$ 1.600.000,00 R$ 1.400.000,00 R$ 1.200.000,00 R$ 1.000.000,00 R$ 800.000,00 R$ 600.000,00 R$ 400.000,00 R$ 200.000,00 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Ano 7 Ano 8 Ano 9 Ano 10 Ano 11 Ano 12 Ano 13 Ano 14 Ano 15 Ano 16 Ano 17 Ano 18 Ano 19 Ano 20 Ano 21 Ano 22 Ano 23 Ano 24 Ano 25 Ano 26 Ano 27 Ano 28 Ano 29 Ano 30

R$ 0,00

Figura 1.1: curva exponencial Esta curva mostra o que acontece se você investir R$ 500 por mês, todos os meses, por 30 anos, em um investimento que gere 1% ao mês. Ao final de 30 anos você terá acumulado um patrimônio de mais de R$ 1,7 milhão! Imagine o quanto você acumulará se investir mais por mês! Mas é aqui que a porca torce o rabo. A curva é linda, uma exponencial, mas seres humanos tendem a pensar de forma linear. Se esta curva fosse linear, isto significaria que os ganhos seriam sempre constantes – por exemplo, ao final do décimo ano você teria acumulado exatamente 1/3 do valor que teria acumulado ao final de trinta anos. Só que esta curva não é linear e sim uma exponencial! Isso significa que após dez anos o seu patrimônio será bem menor do que 1/3 do valor que você terá acumulado após 30 anos. Com isso, o cidadão médio que pensa de forma linear acha que ele já deveria ter em seus investimentos um valor proporcional à meta final após um determinado tempo investindo. Por exemplo, após cinco anos investindo da maneira descrita, você poderia pensar que deveria ter em seus investimentos o montante aproximado de R$ 290.000 (R$ 1,7 milhão dividido por seis, isto é, 30 anos divididos por 5 anos). Só que nos seus investimentos você terá cerca de R$ 41.000

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após cinco anos, o que é bem menos do que você estava pensando que teria, por estar pensando de maneira linear. Muita gente se frustrará no meio do caminho achando que seus investimentos estão andando de forma muito “lenta”, e muita gente ao achar isso acaba desistindo no meio do caminho do plano de ter o patrimônio proposto (R$ 1,7 milhão ao final de 30 anos, no nosso exemplo), achando que é muito “lento” e requer muito “sacrifício”. Não ter a determinação (a perseverança de continuar seguindo o plano religiosamente) e o pensamento linear são possivelmente os dois maiores motivos pelos quais pessoas comuns não conseguem juntar um patrimônio considerável, ou seja, ficarem ricas. Só tome cuidado para não confundir perseverança com teimosia. Perseverança é insistir em algo que você tem certeza (pelo menos naquele momento) de que dará certo – muitas vezes indo contra a maré de pessoas céticas e negativistas, que insistem em te dizer que aquilo nunca dará certo –, por ter meios de medir se você está indo pelo caminho correto. Em nosso exemplo você pode facilmente fazer uma simulação para ver se o valor presente em seus investimentos a qualquer momento corresponde aos valores esperados (você só não pode fazer a conta “errada” do pensamento linear!). Já teimosia é ficar insistindo em algo que está dando errado, de forma irracional. Se você fez algo de uma determinada maneira e deu errado e aí você insiste em tentar fazer com que dê certo fazendo tudo da mesma forma. Isso, além de teimosia, é pura burrice – se deu errado fazendo de uma determinada maneira, na próxima tentativa vai dar errado de novo se você continuar fazendo da mesma maneira. Em geral este tipo de comportamento está associado a pessoas que não conseguem visualizar e assumir erros. Como já expliquei, erros são os nossos maiores professores, desde que você identifique o erro e o analise para ver o que poderia ser feito de forma diferente, é claro.

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Insistir em maus negócios Ao identificar e assumir erros você estará cortando prejuízos. Por exemplo, o cidadão que compra um imóvel para moradia própria com um esforço danado e descobre algo de errado no imóvel ou na vizinhança pouco tempo depois – por exemplo, o aparecimento de uma favela nas proximidades, o anúncio da construção de uma rodovia beirando a propriedade ou a abertura de uma casa de shows ruidosa, o que certamente derrubará o preço do imóvel em um piscar de olhos. Em vez de se dar conta que talvez seja a hora de sair dali o mais rápido possível, muita gente neste tipo de situação não faz nada, afinal o pensamento de ter de se “livrar” do imóvel que comprou com tanta dificuldade e até mesmo ter prejuízo financeiro na transação são doloridos demais. Só que os anos passam e agora que ele decidiu finalmente dar um basta, descobriu que o imóvel não vale nem metade do quanto ele pagou, pois o problema se agravou. Portanto, a melhor coisa que você pode fazer ao se dar conta de que fez um mau negócio é sair dele o mais rápido possível, mesmo que isso signifique perder dinheiro: é melhor perder um pouco do que perder tudo! O problema é que muita gente vê “erros” como algo ruim, o que não é verdade. Errar é humano. Só aprendemos com os nossos erros. Como estou explicando, o negócio é assumir o erro e corrigi-lo. O problema é quando você não acha que errou (problema sério de ego) ou quando você fica cometendo os mesmos erros o tempo todo (a teimosia). Infelizmente há muita gente que acha que não comete erros e critica aqueles que os cometem. Esse tipo de gente dificilmente será bemsucedido na vida. Reflita para ver se este é o seu caso. Se for, é hora de mudar. Aqui vale um lembrete importante. Milionários também fazem maus negócios e comentem erros – aos montes. A diferença é que na média eles acertam mais do que erram. Se você está disposto a ganhar dinheiro tem de entender que você algumas vezes fará maus negócios. Assuma o erro, corte o mau negócio o mais rápido possível, sacuda a poeira e parta para outra. E aproveite para refletir onde você errou: não vá cair no mesmo erro!

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Investir naquilo que não entende A maneira mais fácil para você perder dinheiro é investir naquilo em que você não entende, ouvindo a “orientação” de pessoas que tampouco entendem sobre investimentos, tais como amigos, primos, cunhados e seu gerente de banco (tirando raríssimas exceções, o gerente de banco é um vendedor de produtos de banco que tem que cumprir uma meta de vendas; o nome correto da posição dele no banco deveria ser “gerente de vendas” e, de seus assessores, “vendedores”). O caso é ainda pior se o investimento necessitar de um grau de conhecimento e preparo muito acima da média, tais como negócio próprio, gado e ações. Um exemplo muito comum é o camarada abrir um negócio próprio sem o menor preparo – por exemplo, não tendo a menor noção dos impostos (“ah, isso aí é o contador que vê”), sem qualquer tipo de planejamento ou análise de viabilidade e com a ilusão de que poderá tirar uma fortuna do negócio próprio em um ano ou menos (um negócio só é considerado “maduro” após cinco anos e mesmo assim não é garantia de que você poderá fazer distribuições de lucro altas ou que ficará rico). E o pior: tudo isso com a grana “contada” (vá por mim: se você “chutou” que precisará de “x” para montar seu negócio, multiplique pelo menos por três). Para abrir um negócio próprio você tem de ter certeza de que você não vai precisar da grana investida para o seu sustento e terá outras fontes de sustento durante o período de maturação. Aí o camarada perde uma grana federal e fica espalhando que “ter negócio próprio é furada”, “o governo isso ou aquilo” ou que “investir em ações é arriscado e você invariavelmente vai perder dinheiro”. Qualquer investimento é um mau negócio se você não tem a menor ideia de no que está investindo. Portanto, a melhor coisa a fazer é fazer o seu “dever de casa”, estudar (lendo livros, fazendo cursos, conversando com especialistas, participando de fóruns na Internet) e ter um plano de ação.

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Não querer mudar hábitos Se você está lendo este livro assumo que você queira mudar algo em sua vida. Para ficar rico (ou pelo menos sair “do buraco”) você precisará mudar hábitos. Como disse, não é possível obter resultados diferentes se você continuar fazendo tudo sempre da mesma maneira. Tem gente que lê livros sobre educação financeira como se estivesse assistindo a uma novela. Após o término, a vida continua como sempre foi. Mudar é dolorido. O desconhecido sempre nos dá medo, apreensão e ansiedade. “E se não der certo” é o pensamento mais comum. Olha, para ter sucesso financeiro você precisará mudar seus hábitos. Por exemplo, você precisará passar a anotar todos os seus gastos, analisá-los e mudá-los. Muita gente rebate de cara dizendo “mas eu não quero parar de consumir da maneira que eu consumo” (por exemplo, comer em restaurantes caros todo fim de semana). A verdade é simples. Ou você muda ou você continuará onde está – ou piorará sua situação financeira. Se você quiser ter sucesso financeiro você terá de mudar. Eu sei que isso não é fácil no início, mas o resultado compensa – e muito!

Preguiça Eu acho que nem preciso explicar muito este tema – ele é autoexplicativo! Muita gente lê livros, entende perfeitamente o que é preciso fazer e mudar, mas... não fazem nada a respeito! Ou então até traçam algumas metas e planos de ação, mas demoram um tempo enorme para executarem cada passo. Associado a este fenômeno temos outro parecido, que é o da intelectualização. Especialmente entre os intelectuais e acadêmicos há uma tendência a querer “entender tudo”, muitas vezes gerando paralisia na hora de colocar o conhecimento em prática. Pessoas com este perfil acabam estudando educação financeira como se fosse outro estudo qualquer, se bobear elas poderiam até dar palestras, cursos e escrever teses sobre o tema. Mas quando paramos para ver suas vidas pessoais, elas não mudaram absolutamente nada e continuam tão no “buraco” quanto antes de começarem a estudar o assunto.

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Portanto, em vez de querer intelectualizar ou “entender tudo sobre o tema”, simplesmente coloque tudo aquilo que você já aprendeu em prática, mesmo que ainda esteja engatinhando nas leituras. Não é preciso ler “tudo” já publicado sobre o tema. Inclusive muitos milionários sequer leram qualquer livro sobre educação financeira! Tradução: “mexa o seu traseiro”!

Acha que só vale para os outros Algumas pessoas leem sobre o assunto, estudam casos de sucesso, ficam fascinadas pelo tema e acham que tudo é válido – para os outros! Olha, qualquer pessoa que queira realmente ter sucesso financeiro, terá. Isso não é nenhum chavão de autoajuda, é fato. Só que o custo, para muitos, é muito alto: eu ter que mudar meus hábitos? Nem morto! Se você é fascinado pelo tema, já leu vários livros e ainda continua achando tudo muito bonito e bacana, mas que só vale para os outros, você tem um problema de autoestima que precisa ser visto. Você pode ser bem-sucedido! Basta parar de pensar assim! O único inimigo que você tem é você mesmo. Enquanto você achar que não “merece” ter sucesso, você não o terá!

Condição interna incompatível com a nova realidade Você já deve ter escutado o caso do ganhador da loteria que ficou milionário da noite para o dia, mas que perdeu tudo em questão de poucos meses ou anos. Normalmente são pessoas de origem humilde e que não estão preparadas para lidarem com um montante tão alto. Se coloque no lugar dele: o maior valor que o camarada já viu na frente dele foi, sei lá, R$ 1.000, e de repente ele tem uma conta bancária com R$ 9 milhões. O cara endoidece, acha que vai durar para sempre, sai torrando a grana, comprando imóveis e carros, presenteando todos aqueles primos de quarto grau que aparecem do nada. Rapidamente não só a grana se foi, mas também o camarada fica sem como pagar os custos de se ter tudo aquilo que ele comprou (impostos, custos de manutenção, etc.).

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Porém, por “debaixo dos panos”, outra coisa mais cruel normalmente acontece. Como o camarada não estava preparado para ter um patrimônio tão alto, ele trabalhou para que a quantidade de dinheiro que ele tinha ficasse em um patamar em que ele fosse capaz de lidar, isto é, de se sentir confortável. Você deve estar pensando que isto é pura loucura, alguém trabalhar contra si próprio. É claro que essa manobra é feita de forma inconsciente (e, por isso, difícil de acreditar que uma pessoa possa destruir seu patrimônio “de propósito”). Portanto, você tem de se preparar para ficar rico ou, melhor dizendo, para lidar com valores acima do que você está acostumado. Do contrário você manipulará a sua realidade de maneira inconsciente para voltar ao seu padrão antigo. Voltando ao exemplo da Vera Loyola, você pode escolher entre rebater aquela afirmação dela como a maioria das pessoas ou então juntar-se ao time dela e achar que US$ 1 milhão é “normal”. A escolha é sua; a minha eu acho que está bem clara. Se você não se preparar, você até conseguirá juntar um bom patrimônio, mas em pouco tempo o perderá – e possivelmente ficará arrumando tudo quanto é desculpa para “explicar” o que aconteceu. Acredite, se isso ocorrer só haverá um único culpado: você mesmo.

Busca do “reconhecimento” Ah, a incessante busca pelo “reconhecimento”... Infelizmente a maioria das pessoas vai listar “ser reconhecida” na lista de dez coisas mais importantes para ser considerada bem-sucedida. Só tem um problema: o reconhecimento é algo que não depende de você, mas sim de outra pessoa. Mesmo que você faça tudo “como manda o figurino”, ainda assim não há qualquer garantia que você será “reconhecido”. O problema é que as pessoas tendem a enfiar os pés pelas mãos quando se sentem frustradas por não estarem sendo “reconhecidas”. É nesses momentos de frustração que várias coisas negativas acontecem. A mais comum são gastos com roupas de marca e carros importados. Afinal de contas, esse deve ser o segredo do sucesso do ator “x”, que é muito famoso e veste a roupa “a” e tem um carro “b”. Estou dando exemplo de roupa e carro porque, mas aquele fogão de R$ http://www.terremoto.com.br

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8.000 também entra aqui. Ou seja, qualquer tipo de gasto que, se analisado friamente por uma pessoa de fora, não faça o menor sentido. Nada contra vestir roupas de grife, ter carro esporte alemão ou comprar um fogão de R$ 8.000. O problema todo é o motivo por trás da escolha e, o mais importante a saber: você tem como pagar a conta? O gasto é compatível com os seus ganhos e com o seu patrimônio? Um excelente exemplo é o caso do jogador de futebol Ronaldo, que tinha uma Ferrari e várias pessoas o criticavam. Mas perto de seu patrimônio pessoal, a Ferrari representava menos do que um carro popular 1.0 representava para um cidadão classe média. Ou seja, aquele Gol 1.0 que o camarada que estava criticando o Ronaldinho tinha na garagem tinha um impacto em seu orçamento muito maior do que a Ferrari tinha para o Ronaldo... Acredite, não é o carro de luxo ou a roupa de marca que fará você ser reconhecido ou famoso. Essa ideia é reforçada pelas marcas, que justamente usam dessa frustração tão comum como força de vendas. Aliás, poucos se dão conta que o ator “x” provavelmente ganhou de graça ou foi pago pela marca “a” e “b” para desfilar por aí com seus produtos... E que possivelmente os ricos compram produtos deste tipo depois que se tornaram ricos, e não antes (e a verdade é que a maioria das pessoas que ficaram milionárias “do zero” através de trabalho e investimentos raramente compram produtos de luxo mesmo depois de ricas3). E sabemos de pessoas que consomem marcas “a” ou “b” para tentarem se aproximar de pessoas “ricas”, sabe-se lá por qual motivo. Para quem está observando de fora, chega a ser cômico, especialmente quando sabemos que pessoas ricas em sua maioria rapidamente detectam quem está se aproximando por puro interesse. Você poderá torrar a grana que não tem, ficar endividado até o último fio de cabelo, e mesmo assim continuar sendo um Zé Ninguém. Ou então achar que está “abafando”, quando na verdade está fazendo burrice financeira atrás de burrice financeira. Em troca de que? De gente “babando o seu ovo” só porque você veste 3

Ver STANLEY, Thomas J. Stop acting rich: and start living like a real millionaire. Hoboken: John Wiley & Sons, 2009. 274 p. ISBN 978-0470482551.

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a marca “a” ou dirige o carro “b”? É esse o tipo de pessoa que você quer ao seu redor? Lembre-se: pessoas devem gostar de você pelo o que você é, e não pelo o que você tem. Pois em momentos difíceis as pessoas do primeiro grupo estarão ao seu lado, já as do segundo sumirão do mapa. Outro sintoma comum de pessoas frustradas com a falta de “reconhecimento” é elas começarem a falar mal de outra pessoa só porque ela é famosa e bemsucedida, normalmente no mesmo campo de trabalho em que você se encontra. Exemplo é que não falta “ah, fulano é vendido”, “sicrano só ganhou aquela promoção porque é primo em segundo grau do diretor”, “beltraninha só conseguiu aquele papel porque dormiu com o diretor”, e por aí vai. O que você ganha criticando negativamente outras pessoas? Absolutamente nada. Pelo contrário. A tendência de pessoas ao seu redor é de se afastarem de você. Afinal, se você está falando mal de outras pessoas, possivelmente em breve você estará falando mal delas também. Se você não gosta de alguém, pare para pensar sobre porque você não gosta dela. Na maioria das vezes não há razão concreta alguma, a não ser inveja e a frustração de a outra pessoa ser “reconhecida” e você, não. É novamente o exemplo do jogador Ronaldo. Qual é o propósito de criticá-lo? Ele ficou rico honestamente, se ele quer ter uma Ferrari o problema é dele. As pessoas em vez de ficarem inspiradas no exemplo dele, pessoa de origem humilde que ficou milionária através de trabalho honesto, resolvem criticá-lo. E lembrando que os críticos, diferentemente do Ronaldo e da sua Ferrari, não tem nem “bala na agulha” para manter aquele Gol 1.0 branco que está na garagem. Mas em resumo: risque “ser reconhecido” da sua lista imediatamente! Em geral esse item é o “gatilho” que faz seu plano “desandar”.

Não sonhar Sonhar é bom, uma delícia. Eu adoro sonhar. E porque não sonhar alto? Quanto mais você assumir os desejos de consumo que você tem, mas próximo da realidade esses desejos estarão. É claro que é preciso fazer mais coisas do que simplesmente sonhar, como estamos discutindo neste livro.

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Infelizmente há pessoas que têm dificuldade de verbalizar seus sonhos: têm vergonha ou dificuldade de terem sonhos, em alguns casos achando que de alguma forma não merecem aquilo ou que nunca vão conseguir ter aquilo. Note que sonhos não necessariamente precisam ser itens de luxo e/ou extremamente caros. Por exemplo, para uma pessoa, uma casa simples com uma hortinha e um cachorro é tudo o que ela sempre sonhou. Não tenha medo de sonhar. Se não sonharmos não teremos um motivo para viver. Mas tome cuidado com as pessoas que criticam o sonho alheio. Este tipo de gente você deve manter distância. Verbalizar sonhos é muitas vezes difícil e ter uma pessoa castradora por perto é tudo o que não queremos. Compartilhe somente com alguém que entenda o poder dos sonhos. Voltaremos a falar disso mais adiante, em “Relacionamentos tóxicos”. Para dar um exemplo pessoal, anos atrás verbalizei para algumas pessoas que quando fosse rico eu iria ter um Porsche. As duas respostas mais comuns foram “como você pensa em ter um Porsche quando tem tanta gente passando fome no Brasil” e “você é maluco de colocar um carro desses nas estradas brasileiras”. Em relação à primeira resposta, eu comprar um carro caro não torna outras pessoas pobres (a não ser, é claro, que o dinheiro usado fosse ilícito, roubado da verba da merenda escolar, o que definitivamente não é o caso). Quanto à segunda resposta, é um bom exemplo de uma pessoa que arruma uma desculpa para não ter algo luxuoso, para não sonhar algo. Ou então tem dificuldade para usufruir daquilo que tem. Possivelmente se esta pessoa fosse rica, ou ela compraria um carro velho para andar por aí ou então até mesmo compraria o Porsche, mas o deixaria em casa com uma capa protetora em cima e andaria por aí de carro velho. Então qual é o sentido de sonhar, de juntar dinheiro para comprar algo que você sempre quis ter? Em tempo: eu tive um Porsche no período em que morei nos Estados Unidos (que comprei zero à vista). Mas não o teria no Brasil, mais por conta dos custos de

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manutenção e medo com minha segurança pessoal do que com a questão de não ter permissão interna para usufrui-lo.

Delírio Há pessoas que realmente acham que suas situações financeiras são muito melhores do que elas realmente são. No popular, elas “viajam” e/ou “se acham”. Eu mesmo já fui assim e, portanto, conheço este problema profundamente. Em geral esse problema é gerado pela pessoa nunca ter sentado e contabilizado todas as suas receitas e despesas na ponta do lápis. O que acontece: a pessoa cria fantasias a respeito do quanto ganha e do quanto consome mensalmente. O vilão aqui é um camarada chamado “mais ou menos”. Você pergunta quanto essa pessoa ganha e ela diz “mais ou menos x”. Quanto ela gasta mensalmente? “Mais ou menos y”. Esta falta de precisão é que acaba gerando o delírio. Não é nada raro ver que um camarada que ganha “mais ou menos R$ 5.000” e que gasta mensalmente “mais ou menos R$ 4.000” na realidade ganha R$ 4.000 por mês e gasta R$ 5.000 por mês. Em geral as pessoas tendem a inflar o quanto ganham e diminuírem o quanto gastam. Como você pode ver neste exemplo, esta pessoa acha que ganha mais do que gasta, enquanto na realidade ela está no vermelho todos os meses. Esta falta de conexão com a realidade tem apenas uma única origem: não sentar e anotar todas as suas despesas e receitas, com precisão de centavos. Muita gente dá a desculpa de “não quero me tornar escravo de um orçamento” para não sentar e fazer isso, mas a verdade é que elas no fundo sabem que estão mentindo para si mesmas e não querem encarar de frente a verdadeira realidade em que se encontram. Todas as suas despesas, por menores que sejam, têm de ser anotadas. Portanto, se você quiser realmente ganhar dinheiro e sair “do buraco”, você terá de fazer isso, parando com essa coisa de “mais ou menos”.

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Gastar mais do que ganha A receita para ficar pobre é gastar mais do que você ganha. Parece óbvio, mas para a maioria das pessoas é difícil gastar menos do que se ganha. Sinceramente espero que este livro ajude-o a expandir sua visão para ganhar mais dinheiro e a controlar melhor suas finanças para gastar menos, investindo a diferença.

Relacionamentos tóxicos Por fim, um dos motivos mais comuns que explica o porquê das pessoas não serem bem-sucedidas financeiramente está em relacionamentos tóxicos. Aqui pode ser um relacionamento de par, um relacionamento familiar ou um relacionamento entre amigos. Por exemplo, você pode estar lendo e colocando em prática várias ideias apresentadas neste e em outros livros, mas seu par continua gastando, comprando supérfluos e estourando o orçamento. Um par precisa, como a minha ex-esposa diz, “ser uma dupla”, isto é, um ajudando o outro, um incentivando o outro. As duas pessoas precisam estar no mesmo time e terem os mesmos objetivos e se comprometerem igualmente para atingirem um objetivo comum. Se você quer colocar a “casa em ordem” mas seu par não para de gastar e não tem o menor controle financeiro, simplesmente nada que você fizer para remediar a situação dará certo. Vocês têm de sentar, conversar e se entender. Também há o caso de você está querendo “ir para frente” na vida mas sente que a outra pessoa vive te puxando para baixo. O primeiro passo é sentar e abrir o jogo com a pessoa. Isso deve ser feito com um exemplo concreto de um diálogo que tenha acontecido e com bastante tato. Algo como “sabe, fulano, eu fico triste porque sempre que eu falo de coisas que eu quero fazer, de metas que eu quero atingir, você dá uma resposta sarcástica. Por exemplo, na semana passada, quando eu disse que queria juntar dinheiro para fazer um cruzeiro no Caribe e você disse ‘tá com mania de rico, é?’ Isso não ajuda. Você pode, por favor, me incentivar em vez de fazer um comentário deste tipo?”

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É claro que o exemplo dado foi bastante simples e de fácil remediação. Há casos muito mais complicados onde uma pessoa abusa verbalmente (ou até mesmo fisicamente) de outra, onde uma solução é muito mais complexa. Se a pessoa continuar com o mesmo comportamento negativo mesmo após você conversar com ela várias vezes, é hora de você repensar a forma de relacionamento. Com amigos e família é fácil simplesmente “fechar a boca” caso você queira preservar a relação. Em casos extremos, é relativamente fácil se afastar de um amigo que vive te botando para baixo. Já com no caso de uma relação de par ou familiar abusiva, fora do normal, o que você pode fazer é convidá-los para fazer psicoterapia em grupo. Com uma resposta negativa a este convite, é muito complicado se afastar caso você dependa da outra parte financeiramente. É possível que você tenha de fazer uma meta para ter seu próprio dinheiro e espaço para conseguir sair da situação e andar com a sua vida na direção em que você achar melhor para você. Mesmo que a outra parte não queira fazer terapia, nestes casos extremos acredito que seja muito importante que você procure um psicoterapeuta para ajudá-lo(a) a sair dessa situação.

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Capítulo 2 Mitos sobre dinheiro Resumo este livro em uma única frase: tudo o que você pensa sobre dinheiro está errado! E o pior, os meios de comunicação e as pessoas – incluindo seus amigos e familiares – só ajudam a propagar a ignorância financeira. Isso ocorre porque todos nós temos algumas ideias pré-concebidas sobre dinheiro, que são comumente propagadas através de conselhos completamente “furados”, “dicas” que possivelmente não estão corretas, comentários aparentemente inofensivos e “ditos” que acabamos passando adiante. Pense: se todos os “conselhos” e “dicas” a respeito do dinheiro que ouvimos fossem verdade, todos nós seríamos podres de rico, não é verdade? Para ilustrar de outra forma, pense no seguinte: de acordo com os dados de 2010 publicados pelo IBGE1, apenas 0,34% da população tem ganhos acima de trinta salários mínimos por mês. Infelizmente o IBGE não apresenta dados para faixas de salário maiores do que esta nem tampouco publica dados referentes a patrimônio, e a Receita Federal, possivelmente por motivos de sigilo, não publica qualquer tipo de estatística, portanto não temos informações oficiais de quantos ricos ou milionários existem no Brasil. Um estudo feito pela consultoria CapGemini sobre a distribuição de riqueza no mundo2 estima que existiam no Brasil 161.000 pessoas com patrimônio superior a US$ 1 milhão em 2014 (ou seja, 0,08% da população3 do nosso país – repito, 0,08% da população) – este estudo exclui a residência principal da pessoa. A não ser que seus amigos, familiares e conhecidos estejam dentro desses 0,08% da população brasileira, qualquer “conselho” ou “informação” a respeito de dinheiro vindo deles é, possivelmente, falsa (e isso inclui muito possivelmente as informações dadas pelo gerente do seu banco, um título bonito para vendedor). 1

ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Trabalho_e_Rendimento/pdf/tab_rendimento.pdf. World Wealth Report, disponível em https://www.worldwealthreport.com/. Acessado em: 05 de julho de 2015. 3 Baseando-se em uma população de 204.481.188 habitantes, de acordo com a projeção do IBGE em 05 de julho de 2015 em http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/. 2

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Mas qual é o problema em escutar informações erradas a respeito de dinheiro? Cientistas gastam anos e bilhões de dólares tentando decifrar a complexidade da mente humana, mas deixa eu ser o primeiro a te dar esta notícia bombástica: a mente humana é extremamente simples, idiota até. A sua mente acredita naquilo que você ouve e pensa. Logo, um comentário aparentemente “inocente”, uma “dica” ou “conselho” que você acredite ser verdade acaba “programando” a sua mente a acreditar que aquilo é realmente verdade. Por conta deste fenômeno, você tem de executar duas tarefas simples, mas potentes, para aumentar a sua saúde financeira. Primeiro, você precisa criar uma espécie de “ouvido seletivo” contra esse tipo de comentário infeliz. Após a leitura deste livro será fácil identificar pessoas que estão falando besteira das pessoas que realmente têm algo interessante ou importante a passar. Em segundo lugar, e mais importante, você terá de se “desprogramar”, ou seja, limpar toda e qualquer crença que você tenha hoje a respeito do dinheiro, das mais corriqueiras às mais absurdas. A seguir faço uma lista das crenças ou “ditos” mais comuns sobre dinheiro e porque elas não passam de pura balela. Leia-as com atenção e reflita sobre os meus comentários. Após terminar a leitura e refletir sobre os “ditos” desta lista, sente e faça uma lista de crenças similares que você tenha ou “ditos” que você já tenha ouvido alguém falar. Feche os olhos e tome um tempo em um local calmo para lembrar de mensagens sobre dinheiro que você ouviu de seus pais ou familiares e adicione-as à lista. Em seguida, faça uma análise dessas mensagens tal como eu fiz com as frases apresentadas e veja se elas são mensagens positivas ou negativas em relação ao dinheiro. Com isso você se dará conta de que as mensagens negativas que você carrega dentro de si sobre dinheiro não passam de crenças, mitos. É possível que essas mensagens sejam um dos inúmeros componentes que estejam limitando você a alcançar o seu sucesso financeiro. Vamos às frases.

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“Dinheiro não traz felicidade” Essa é clássica e acho que todo mundo já escutou. Lendo ao pé da letra, ela está corretíssima. Dinheiro realmente não traz felicidade. Felicidade é algo dentro de você, enquanto que dinheiro é algo fora de você. Se você estiver infeliz, não tiver amigos, não tiver um(a) companheiro(a), todo o dinheiro do mundo não será o suficiente para deixá-lo feliz. Você pode torrar toda a grana no shopping e de quebra comprar um carro novo para combinar com a cor de uma das suas novas roupas. Você pode até se sentir “feliz” pelo consumo, mas esta “felicidade” será passageira; tão logo o efeito “shopping” tenha passado você voltará a se sentir infeliz (e possivelmente demandará uma nova dose da “pílula da felicidade”: ir ao shopping novamente – falaremos mais sobre isto no próximo capítulo). O problema é usar esta frase como desculpa para continuar na mediocridade, desculpa para ficar na frente da TV vendo Faustão como se fosse um zumbi em vez de sentar e fazer algo de concreto para melhorar sua situação financeira, seja sair das dívidas, diminuir as despesas ou aumentar os rendimentos. Em outras palavras, usar “eu não preciso de dinheiro para ser feliz” como desculpa para não melhorar ou corrigir a sua vida financeira. Na verdade, muitas pessoas não acreditam ser capazes de melhorar sua realidade financeira. Sendo assim, simplesmente é mais fácil e cômodo jogar a poeira embaixo do tapete e não pensar no real problema. Então usam a frase “dinheiro não traz felicidade” como uma maneira de confirmar sua crença de que não há nada a fazer. É um problema de preguiça, falta de autoconfiança e comodismo. Agora, experimente tentar ser feliz cheio de dívidas, ainda mais se você tiver uma esposa (ou marido) e/ou filhos. Acho difícil. Se dinheiro não traz felicidade, a falta de dinheiro com certeza traz problemas. A minha resposta para quem me diz que dinheiro não traz felicidade? Então dême o seu e seja feliz!

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“O dinheiro é a raiz de todo o mal” Esta frase é uma interpretação errada da Bíblia, de propósito. Em vários momentos da História, a Bíblia é interpretada de forma incorreta para atender aos interesses do pregador. Possivelmente esta frase foi pregada desta forma inicialmente na Idade Média, quando suseranos começaram a permitir que seus vassalos vendessem seus excedentes de produção. Em pouco tempo, os vassalos começaram a ter dinheiro suficiente para comprar terras, ameaçando o domínio econômico da Igreja – que era poderosíssima por possuir vastas propriedades. Por conta disso, a Igreja começou a pregar esta frase, para que os vassalos acreditassem que ter dinheiro é ruim e doassem o seu dinheiro à Igreja. Atualmente isto não é muito diferente do que ocorre com inúmeras congregações ditas “cristãs” cujo único propósito é colocar o dinheiro suado de trabalhadores nos bolsos de seus representantes. A frase correta e original como consta na Bíblia é a seguinte: “O amor ao dinheiro é a raiz de toda sorte de coisas prejudiciais” (Timóteo 6:10). Quanta diferença! A frase que consta na Bíblia não poderia estar mais correta; ela fala do “amor ao dinheiro”, ou seja, ganhar dinheiro pelo simples prazer do dinheiro (ganância), sem qualquer meta ou objetivo de desfrutar o dinheiro acumulado. E veja que a frase original diz “coisas prejudiciais” e não “todo o mal”, o que gera um sentido bem mais brando e específico a quem tem “amor ao dinheiro”. E pense em quantas coisas boas você poderia fazer por outras pessoas se você não tivesse que se preocupar com as contas. Um pouco de dinheiro a mais poderia ser usado para ajudar aquela instituição de caridade ou iniciar um projeto em que você acredita. E é comum você ver que pessoas realmente ricas doam parte de sua renda para entidades em que confiam e acreditam. Agora me diz como isso pode ser considerado mal.

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“É mais fácil um camelo entrar pelo buraco da agulha do que um rico entrar no reino de Deus” Essa é mais uma que vem da Bíblia e é uma frase usada fora de contexto e, por isso, perde completamente o sentido. Usada assim, solta, parece que a Bíblia prega que quem é rico não vai para o céu, o que acredito não ser o caso. O trecho da Bíblia onde esta frase está inserida (Mateus 19:24 e repetida em Lucas 18:25 e Marcos 10:25) conta a história de um jovem rico que se aproximou de Jesus e perguntou-lhe como conseguir a vida eterna. Em vez de reproduzir aqui este trecho da Bíblia, eu resolvi modernizar esta história para facilitar a compreensão: Jesus saiu da Galileia e foi dar um rolé por outras bandas da Judéia, lá do outro lado do rio Jordão. Uma legião de fãs o seguiu (afinal, Jesus Cristo foi o primeiro pop-star do mundo), ele curou toda a galera e começou a responder perguntas do povo. Um jovem rico que estava no meio do povo perguntou: – Meu bom, como é que eu ganho a vida eterna? – Peralá, meu bom, não. O único bom é Deus. Mas se quiser a vida eterna basta seguir os mandamentos. – Que mandamentos? – Aquela coisa básica: não vai sair matando gente por aí, não vai trair sua mulher, não vai roubar, não vai mentir, vai honrar seu pai e sua mãe e vai amar o próximo como você ama a si mesmo. – Ah, mas isso aí é moleza, eu já faço desde pequeno. O que mais preciso fazer? – Olha, se quiser ser perfeito, vende tudo o que você tem e dá aos pobres, aí você terá um tesouro nos céus. Então? Larga tudo e junte-se à minha galera. Quando o jovem escutou isso ele foi embora, triste, porque ele era rico. Então Jesus virou para seus discípulos e disse:

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– Para falar a verdade, é dureza para um rico entrar para o reino dos céus. Na verdade é mais fácil uma corda4 passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus. – Jesus, mas aí quem é que se salva? – perguntaram os discípulos. – Olha, para o homem isso é impossível, mas para Deus tudo é possível. Aí Pedro, que até então estava só prestando atenção, pergunta, preocupado: – Mas Jesus, a gente largou tudo para te seguir, não vai ter nadinha para a gente no céu? – Não se preocupe, meu amigo. – Disse Jesus – Quando a hora chegar, cada um de vocês vai receber um trono, cada um para julgar uma das tribos de Israel. E todos que largaram patrimônio e familiares receberão tudo de volta multiplicado por cem e a vida eterna, não importando a ordem com que vocês se juntaram a mim, todos receberão os mesmos privilégios. Ficou mais claro para você o significado da frase? Em resumo, Jesus convidou o jovem rico a segui-lo, mas que para isso ele deveria doar tudo aos pobres e, com isso, testando para ver o que era mais importante ao jovem: a riqueza ou a vida eterna. Como ele preferiu ficar com seus bens em vez de doar aos pobres, Jesus diz que ele não vai para o céu, que era mais fácil uma corda (ou “camelo”, como consta na tradução errada da Bíblia) passar por um buraco da agulha do que um rico, com esta mentalidade (e aqui está a importância da interpretação), entrar para o reino dos céus. Em outras palavras: melhor fazer algo de útil com o dinheiro acumulado (neste caso, doá-lo) do que levá-lo consigo para o caixão. Aqui, tal como a frase que analisamos anteriormente, a Bíblia está falando especificamente do amor ao dinheiro (ganância sem propósito) e não do acúmulo de dinheiro para fazer algo de útil, em particular ajudar aos outros. Tanto que Jesus promete aos seus apóstolos, que largaram tudo para trás ao segui-lo, dar de 4

“Camelo” em Mateus 19:24, Lucas 18:25 e Marcos 10:25 é uma das diversas traduções erradas presentes na Bíblia. Tudo leva a crer que o termo original era “corda”. Mas neste caso específico o uso da tradução errada não faz o trecho perder o sentido, pois ambos expressam o mesmo sentido: algo impossível de ser feito. Outra versão diz que o “buraco da agulha” não seria um buraco de uma agulha literalmente falando, mas sim o nome de um portal para entrar em Jerusalém, mas esta versão não se sustenta devido à palavra usada em grego.

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volta tudo multiplicado por cem no céu. Portanto, os bons serão ricos no céu. Será que eles seriam expulsos do céu por serem ricos? Assim como a frase anterior, esta frase tem sido usada propositadamente fora de contexto por determinadas congregações para convencer pessoas que ser rico é ruim e que ricos não vão para o céu. O que não quer dizer que você tem que ser miserável para ser aceito por Deus. Na verdade, grande parte dos milionários age em benefício dos mais necessitados através de doações a instituições e criação de fundações em benefício a alguma causa nobre (e, em muitas vezes, no mais completo anonimato). E é bem provável que estes milionários façam bem mais pelos outros do que a maioria da população classe média que só pensa em consumir para se sentir incluída em uma classe social a qual não pertence. Agora me diz quem merece ir para o céu? (Obviamente aqueles que ficaram ricos roubando dinheiro dos necessitados não só merecem ir ao inferno como merecem fazer estágio antes em uma cadeia superlotada.)

“Dinheiro é sujo” Realmente é. Pesquisadores do Instituto de Pesquisas Biomédicas Gonzaga da Universidade Gama Filho (RJ) descobriram que em uma nota de um real há cerca de 250 microrganismos por centímetro quadrado e desses 42% são bactérias do tipo estafilococo5, que podem provocar doenças. Isso só comprova o que nossas mães sempre disseram: que temos de lavar as mãos antes de comer e após manusearmos dinheiro, e que pessoas que manuseiam dinheiro não podem servir alimentos, pois afinal não sabemos por onde o dinheiro andou. Veja que estamos falando aqui do papel-moeda e não do conceito de dinheiro. Daí o conceito de dinheiro ser “sujo” é um grande equívoco, desde que seja ganho honestamente, é claro. A sensação de se efetuar um trabalho bem-feito e ser remunerado por ele é excelente!

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http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/medicina-e-saude/dinheiro-na-mao-risco-de-infeccao/.

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Isso parece frase daquele seu primo invejoso que não faz nada o dia todo e quando vê que você está bem de vida arranja um jeito de criticar você. Se você ganhou seu dinheiro honestamente ele é seu por direito, então ignore às más línguas que você estará melhor.

“A quantidade de dinheiro no mundo é limitada” Todo conceito de algo que existe em abundância ser limitado é criado para incitar medo nas pessoas. Para fazer uma analogia, é como dizer que o amor é limitado. Em algumas famílias os filhos podem acabar acreditando nisso, gerando ciúmes entre os irmãos, que acreditam que se a mãe (ou o pai) der mais atenção (e, consequentemente, amor) para outro irmão, não sobrará nada para ele. E como você sabe, amor de mãe e de pai é ilimitado. No caso do dinheiro, este tipo de pensamento foi amplamente explorado pelos defensores do comunismo, que procuravam justificativas “plausíveis” para este sistema: se a quantidade de dinheiro no mundo é limitada, precisamos distribuir o dinheiro dos ricos entre toda a população para que todos possam ter dinheiro. Só que apesar dos regimes comunistas defenderem esta ideia em teoria – para convencer a população de que o comunismo seria a melhor alternativa para o país –, na prática a história foi completamente diferente: eles tornaram toda a população pobre e pegaram todas as riquezas do país para si. O que fez com que o sentimento de que a riqueza é limitada crescesse ainda mais entre a população de tais países e observadores internacionais. Este pensamento é uma falácia. Se a riqueza do mundo fosse limitada, o mundo inteiro estaria hoje passando fome, pois nos últimos cem anos a população mundial quadruplicou e o número de ricos aumentou. Se a riqueza do mundo fosse limitada, países completamente destruídos na Segunda Guerra Mundial em particular o Japão e a Alemanha seriam hoje países em desenvolvimento e não as potências que são. Ainda há pobreza no mundo? Com certeza, mas esta não é fruto da falta de riqueza no mundo, mas de outros fatores, como a ganância de ditadores que limitam o desenvolvimento de seu povo literalmente na base da porrada e de http://www.terremoto.com.br

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governos que estimulam a multiplicação da pobreza em progressão geométrica pela falta de controle de natalidade e de benefícios financeiros casos os pobres tenham cada vez mais filhos. Felizmente há países que estão se destacando em erradicar a pobreza, como falaremos daqui a pouco. Se a quantidade de riqueza no mundo fosse limitada, cada vez que alguém se tornasse rico (aqui estou falando daqueles que se tornam ricos honestamente, veja bem), alguém teria que imediatamente se tornar pobre. Mas é justamente o contrário que ocorre. Quando alguém fica rico ele só estimula a economia. Ele consumirá mais, o que ajudará direta e indiretamente outras pessoas. Se ele for empresário, criará mais empregos. Mesmo que ele tenha todo seu dinheiro em investimentos financeiros, estes investimentos estarão ajudando a economia na outra ponta, pois a cada título comprado o investidor está emprestando dinheiro ou ao governo ou às empresas, que estarão usando esses novos recursos para expandir a economia. Se não houver pessoas com dinheiro não haverá como a economia expandir. Apenas enfatizando que estou falando daqueles que ficam ricos honestamente. Os que ficam ricos de maneira desonesta podem, com certeza, fazer com que pessoas fiquem mais pobres – por exemplo, se um camarada rouba o dinheiro da merenda escolar. Voltaremos a falar desses seres abomináveis em instantes. Hoje vivemos na era da informação. Faz-se dinheiro com o conhecimento (mas isso está longe de dizer que o trabalho “pesado” não é necessário; a “semente” do dinheiro é uma ideia, que existe somente na cabeça de quem a teve, mas colocar esta ideia em prática são outros quinhentos – invariavelmente demandará trabalho, esforço e dedicação). E este conceito é possivelmente o mais importante que você saiba caso queira realmente ganhar dinheiro. Se a riqueza do mundo fosse limitada, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial teria de ficar estável em um mesmo patamar, mas não é isso o que vemos.

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“Só existem ricos porque existem pobres” e “Os ricos tornam-se ricos às custas dos pobres” Historicamente, essas afirmações são, infelizmente, corretas. Mas não precisam continuar sendo. O problema é usar essas afirmações como desculpa para justificar os problemas do Brasil e não contribuir para que o país mude, e justificar a sua opção de permanecer no mesmo lugar e não melhorar sua saúde financeira. Na minha opinião, o grande problema do Brasil são os próprios brasileiros, e não fatores externos. Nós não precisamos da ajuda dos imperialistas para destruir o país; nós já fazemos isso muito bem sozinhos. Basta ver o “Petrolão” e centenas de outros escândalos que não vem de agora. Quando você pensa em um país no Oriente Médio, árabe, com monarquia absolutista (ou seja, a palavra do rei está acima das leis – no popular: ditadura), no que você pensa? Pense novamente. Você já ouviu falar no Qatar? De acordo com o FMI6, em 2014 ele era o país com a maior Paridade do Poder de Compra (PPC) per capita7 do mundo: Int$8 143.427. Luxemburgo, o segundo lugar, teve um PPC per capita de Int$ 92.049, seguido por Singapura (Int$ 82.762). O PPC per capita do Qatar é duas vezes e meia maior que o da Suíça (Int$ 58.087) e bateu com folga o dos EUA (Int$ 54.597). Outros países árabes estão seguindo o mesmo modelo e subindo ano após ano na escala, com destaque para os Emirados Árabes Unidos e sua estrela internacional Dubai (PPC per capita em 2014: Int$ 64.479 – valor similar ao da Suécia, um país governado por uma monarquia socialista). A título de comparação, o PPC per capita do Brasil em 2014 foi de Int$ 16.096, ficando na posição 74 da lista. Esses dados nos mostram algumas coisas interessantes que muita gente não para para refletir. Primeiro, não é necessariamente a forma de governo (monarquia, democracia, comunismo, socialismo, etc.) que determina a riqueza do povo, mas como aqueles que estão no comando resolvem distribuir a riqueza da nação. 6

http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_GDP_(PPP)_per_capita, acessado em 05 de julho de 2010. A Paridade do Poder de Compra leva em consideração a diferença de preços de produtos em diversos países, sendo um indicador mais justo. 8 Int$ é uma moeda hipotética que indica o poder de compra em dólares americanos nos EUA de uma determinada cesta de produtos e serviços em um determinado ano. 7

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Alguns podem fazer como os países árabes citados, onde os sheiks progressistas sentem prazer em tornar toda a população rica. Em outros, como nos antigos países do bloco Soviético, os governantes podem decidir ficar com todas as riquezas do país para si e não darem nada ao povo. Em segundo lugar, os cinco países atualmente mais ricos do mundo de acordo com a metodologia empregada acima – Qatar, Luxemburgo, Singapura, Brunei e Kwait – possivelmente não estão em nenhuma lista de países considerados “exploradores” ou “imperialistas”. Portanto, a riqueza ou pobreza de uma nação depende, em parte, dos governantes locais e de suas políticas fiscais e de distribuição de riqueza. A “culpa” da existência de países miseráveis não é do dinheiro em si, mas de uma meia dúzia de seres humanos que carregam consigo a “ganância ruim”, o “tudo pelo dinheiro” sem qualquer escrúpulo, o “que se dane o povo, eu quero é o meu”. Em muitos países em desenvolvimento, a problemática é puramente local, e não um “fator externo”. Um excelente exemplo é a China. Até mesmo a mídia Norte-Americana cai de pau em empresas conterrâneas por estarem “explorando os pobres trabalhadores chineses”, pois eles ganham menos de US$ 1 por hora de trabalho (em 2015 o salário mínimo nos EUA variava entre US$ 7,25 e US$ 9,00 por hora, dependendo do estado9) para fabricarem produtos que são vendidos por centenas de dólares nos EUA. Agora, pense comigo: quem é que está realmente explorando os trabalhadores chineses? As empresas americanas, que estão jogando o jogo dentro das regras, ou o governo chinês, que permite um salário mínimo tão baixo e não impõe qualquer tipo de lei trabalhista? É possível refletir sobre o exemplo acima sob outro ângulo: o governo chinês, se sentindo pressionado pelo governo americano, mantém inalterado o sistema atual, caso contrário as empresas americanas procurarão a mão de obra de outro

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http://jobsearch.about.com/od/increase/fl/minimum-wage-rates-2015.htm

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país. A decisão de se submeter ao poderio econômico americano e suas consequências continua sendo da própria China. Em tempo. Em julho de 2015 o salário mínimo no Brasil estava por volta de US$ 1,27 por hora10. A quantidade de impostos que pagamos (mas que não vemos, pois todos estão embutidos nos preços dos produtos e serviços) é comparável à da Suécia, mas o sueco médio tem três vezes mais grana do que o brasileiro médio, além de ter escolas e hospitais de alta qualidade de graça, infraestrutura, segurança pública... Então, quem está explorando quem? Como disse, no Brasil está muito claro que não é uma nação externa qualquer que explora o Brasil: o Brasil vem sendo explorado desde a sua colonização pelos próprios brasileiros. Um exemplo real para exemplificar o assunto: uma dentista faz prova para uma instituição pública e é aprovada. O salário é razoável para alguém que está começando a carreira, mas é preciso dedicar 40 horas semanais, o que significa que ela não terá tempo para se dedicar ao seu consultório particular. Logo na primeira semana, ela descobre que os dentistas de lá fazem uma espécie de rodízio entre eles. Desta forma, não precisam cumprir as 40 horas, pois o esquema de revezamento garante que sempre há alguém de plantão. Então, a dentista pensou: problema resolvido! Terei meu salário integral aqui e de quebra terei alguns dias da semana para trabalhar no meu consultório particular. Agora pense no cidadão de baixa renda que depende de tal instituição para tratar dos dentes. Em vez de ter cinco dentistas disponíveis para atendimento todos os dias da semana, apenas dois profissionais estão disponíveis, fazendo com que o número de pessoas atendidas por dia seja reduzido drasticamente. No final das contas, é o que acontece: brasileiro explorando brasileiro. E o pior: achando que está “fazendo certo”. Infelizmente, há muita gente que ainda vê “teorias da conspiração” onde elas não existem. Fantasias deste tipo são fáceis de detectar, pois em geral começam com uma generalização do tipo “os americanos”, “os ingleses”, “os franceses”, etc.

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Ao câmbio oficial de 03 de julho de 2015 (R$ 3,14) e a um salário mínimo bruto de R$ 788,00 e jornada de trabalho de 44 horas semanais permitidas por lei e 4,5 semanas em um mês.

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Um exemplo curioso que escutei outro dia de um acadêmico: “Os ingleses instalaram estradas de ferro com bitolas diferentes no Brasil de propósito, só de sacanagem”. A frase já começa errada porque coloca todos os ingleses em um mesmo saco, como se todos os ingleses contratados para instalar estradas de ferro no Brasil se conhecessem e estivessem trabalhando com um plano secreto de sacanear o Brasil. Engraçado é que esse mesmo tipo de gente depois fica “p” da vida quando viaja para a Inglaterra e escuta algo como “fazer política no Brasil é fácil: basta botar um trio elétrico na rua e roubar enquanto o pessoal está sambando”. Aí eu pergunto: foi sacanagem dos ingleses ou do governo brasileiro que contratou empresas sem o menor planejamento e sem estipular qualquer norma técnica para que as ferrovias fossem compatíveis? Quem gerou o problema, os ingleses ou os próprios brasileiros? Em outras palavras: você contrataria um pedreiro para abrir uma porta em sua casa sem indicar exatamente o local da instalação, as dimensões da porta e o modelo da porta a ser instalada? O pior é que eu conheci um camarada que fez isso. Acabou com uma porta que só dava para passar um anão. A culpa foi do pedreiro ou do dono da casa?

“Como você pode pensar em ter x quando há milhões de pessoas passando fome?” Vai parecer cruel o que eu vou dizer mas não há explicação melhor: o que uma coisa tem a ver com a outra? O fato de eu querer ter uma Ferrari ou um milhão de reais não faz com que as demais pessoas fiquem pobres – a não ser, mais uma vez, que o caminho para se obter o dinheiro tenha sido ilícito, onde, obviamente, este pensamento poderá está correto. Este tipo de mentalidade vem normalmente de pessoas que realmente acreditam que o dinheiro no mundo é limitado e que ricos só ficam ricos se outra pessoa ficar pobre. Curiosamente, a razão pela qual o jogador Ronaldo vendeu a sua Ferrari foi justamente porque estava cansado de ouvir as pessoas falando a frase acima. Infelizmente ele mesmo não aguentou a pressão – lembrando sempre que os seus

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críticos sequer tinham como sustentar um carro “mil” (ver capítulo anterior). Como se pessoas ricas tivessem a “obrigação” de dar seu suado dinheiro aos pobres. Será que não está na hora dos menos favorecidos se mexerem para fazer algo em vez de ficarem esperando aparecer alguém (o governo ou uma pessoa rica) que lhes dê dinheiro a troco de nada? O fato de existirem pessoas que têm menos do que eu não é nenhum impedimento para eu querer ter mais do que eu tenho. Gostaria de esclarecer aqui que o ato de doar é uma das coisas mais prazerosas que existem e eu prego o “dar de volta à comunidade” após você atingir a sua meta financeira principal – mas por prazer e não por “obrigação” (é o meu caso com a publicação gratuita deste livro, por exemplo). O importante, em minha opinião, é não dar o peixe, mas ensinar a pescar e, por isso, não necessariamente o “dar de volta” precisa ser de forma financeira. Muitos milionários doam tempo para causas em que acreditam, em muitos casos servindo de mentor a jovens menos favorecidos, mas poucos sabem disso porque eles não querem publicidade em cima (se aparecer na mídia que o milionário “x” está dando “y”, acredite, no dia seguinte vai ter fila na porta da casa do sujeito de gente pedindo “ajuda”). Um exemplo bastante famoso é o do Instituto Ayrton Senna, que muita gente só foi saber de sua existência após a morte do piloto. Eu mesmo, depois que atingi a minha meta financeira de ser milionário, faço doações anuais de uma bolsa de estudos integral para um estudante de origem humilde (selecionado através de um concurso anual) poder estudar em uma escola particular de alta qualidade. Eu não quero nem preciso de divulgação porque eu já passei daquela fase da “busca do reconhecimento” que comentei no capítulo anterior.

“Se ficou rico é porque roubou” Essa coisa de que quem fica rico no Brasil só pode ter sido de forma ilícita ainda é uma constante, infelizmente. Muita gente não entende que aquilo que aparece na mídia é a exceção. O ser humano é danado para generalizar e daí, se aparece um trambiqueiro na TV que ficou rico, então todo rico deve ser trambiqueiro, certo?

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Acredite, há inúmeros milionários no Brasil que ficaram ricos de maneira lícita. Mas a maioria não quer publicidade. Com o clima de insegurança pública não é bom negócio aparecer. Se bandidos matam gente que eles acham que são ricos a troco de nada, imagina o que eles farão se pegarem um camarada que eles têm certeza de que é rico. Além disso, há a história das pessoas frustradas criticarem aqueles que atingiram aquilo que elas não conseguiram, como explicado no capítulo anterior. Uma vez, ao comentar sobre uma entrevista que eu assisti do empresário (e milionário) Alexandre Accioly com uma pessoa que o conhecia pessoalmente, ela ficou falando cobras e lagartos do camarada. Eu pedi licença e fui ao banheiro. Afinal, não dá para aturar pessoas negativistas que não têm onde cair mortas falando mal das pessoas que ficaram milionárias honestamente, por pura inveja e frustração.

“Só ganha dinheiro quem tem dinheiro” Como já mencionei, nós estamos vivendo a era da informação. Com isso, ganha-se dinheiro atualmente não com trabalho braçal, mas sim com informação, isto é, conhecimento (muito embora uma boa dose de suor ainda seja necessária, é claro). Isso é tanto verdade que vemos pessoas com dinheiro investindo em negócios sobre o qual elas não entendem “quebrando a cara” e perdendo todo o investimento. Portanto, mais importante do que ter dinheiro para investir, é ter conhecimento sobre como investir, contato com pessoas chave que te ajudarão, etc.

“Investimento é para ricos” Claro que não! Qualquer um, com o conhecimento adequado, pode investir. Existem investimentos que não demandam de grandes quantias (há fundos de investimento que permitem investimentos a partir de apenas R$ 1) e há outros que você pode fazer apenas com seu conhecimento e suor, e usando a ajuda de pessoas chave para atingir os seus objetivos.

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Capítulo 3 Mitos sobre consumo Na esmagadora maioria das vezes quando alguém vive no “vermelho”, o problema não está em quanto a pessoa ganha, mas sim no quanto a pessoa gasta. Se você quiser ter sucesso financeiro, você terá de mudar seus hábitos de consumo – pelo menos na fase inicial de colocar as finanças “em ordem”. Todos nós acreditamos em coisas que não necessariamente são verdades. Como vimos no capítulo anterior, desde pequenos escutamos “mentiras” a respeito de dinheiro que consideramos como sendo “verdades”, e raramente paramos para questionar essas crenças. Com o consumo não é diferente. Escutamos desde pequeno coisas de nossos pais, amigos, colegas, mídia, filmes, etc. que moldam nossos hábitos de consumo. Está na hora de você parar para analisar seus hábitos de consumo e verificar se não é o momento de fazer algumas mudanças. O grande problema é que a maioria das pessoas compra o que não precisa, com o dinheiro que não tem para agradar ou impressionar alguém que ela não gosta. Leia esta frase mais uma vez, pois ela é muito importante.

Para que comprar? Tendo morado seis anos nos Estados Unidos1, o paraíso do consumo, posso dizer com conhecimento de causa o que ocorre em situações extremas. Bastava passear no bairro onde eu morava a pé aos domingos, quando as pessoas deixavam as portas das garagens abertas, para ver que o cidadão não conseguiria estacionar nem um patinete em uma garagem que em teoria caberiam três carros. É barato! Um dia talvez a gente precise! Bota no cartão!

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Apenas para contextualizar, morei nos EUA de 2007 a 2013, tendo me mudado em seguida para a Austália, onde moro no momento da publicação deste livro (2015), mas penso em adotar uma vida nômade em seguida. Falarei mais sobre isso em momento mais oportuno.

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A garagem típica americana é atulhada de bagulhos que a pessoa não se lembra porque comprou e que nunca vai usar. E possivelmente está pagando até hoje. Aliás, fazer uma faxina e se livrar de coisas que você nunca vai usar é muito saudável! Nunca na história da humanidade tivemos tantos produtos disponíveis. Mas será que realmente precisamos de tantas “coisas” para sermos felizes?

Imediatismo e compras de impulso Como já estudamos, o imediatismo é um dos principais motivos das pessoas não ficarem ricas. Em geral, temos um desejo de consumo e queremos saciá-lo o quanto antes. Só que nessa de querer consumir imediatamente, duas coisas podem acontecer: geralmente acabamos entrando em algum tipo de financiamento, se não temos o dinheiro para a compra, ou então nos desviamos de nossas metas financeiras de longo prazo, usando dinheiro de nossa reserva financeira que estava separado para o futuro. Como você pode ver, mesmo que você tenha dinheiro para saciar um súbito desejo de consumo você poderá estar fazendo um mal negócio. Como havíamos mostrado no gráfico da Figura 1.1, tempo é fator primordial para investimentos financeiros funcionarem como o planejado. Quanto mais tempo o dinheiro ficar investido, maior é o poder dos juros compostos. Vamos supor que hoje você tenha acordado com o desejo de comprar aquele fogão de R$ 8.000. Você tem os R$ 8.000. Mas será que vale a pena torrar essa grana em um fogão? Se você deixar esses R$ 8.000 investidos durante 10 anos em um investimento que renda 1% ao mês, você terá R$ 26.400 ao final desse período. Após 20 anos esses mesmos R$ 8.000 teriam virado R$ 87.140. E após 30 anos, R$ 287.597. Veja como os valores aumentam exponencialmente. Para um cálculo mais preciso teríamos de descontar a inflação do período, mas nosso objetivo aqui é só alertá-lo para o que você está perdendo em nome do imediatismo.

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Você pode estar pensando “ah, mas 30 anos é muito tempo! Eu nem sei se estarei vivo até lá! Eu não quero esperar 30 anos para poder ter meu fogão de R$ 8.000!”. Claro, claro. Nem oito, nem oitenta. A minha ideia é você reduzir ao máximo esses consumos “mirabolantes” durante um período crítico de tempo e, após passado um período em que você colocou as suas finanças “em ordem” e outro período que você acumulou de uma boa reserva financeira, você poderá fazer, de vez em quando e dentro do seu orçamento, uma aquisição deste tipo (pela minha experiência, após você passar por essas duas fases é possível que você sequer sinta mais vontade de comprar um fogão de R$ 8.000). Se você não tem dinheiro, a coisa se complica ainda mais, pois você possivelmente pagará o preço de dois fogões para ter um, sem contar no aperto que você sentirá em seu orçamento enquanto durar o financiamento. E com um detalhe: se você está ferrado de grana, para que diabos você quer um fogão de R$ 8.000? Infelizmente a maioria das pessoas cai nesta grande armadilha que é o consumo de algo que, convenhamos, ela não precisa “de verdade”. Normalmente isto ocorre quando estamos querendo substituir algo que está faltando em nossas vidas. Por exemplo, se estamos infelizes ou frustrados, achamos que este problema emocional desaparecerá depois de comprar aquele produto caro que “sempre” sonhamos (“sempre” significando “desde cinco minutos atrás quando vi na loja”). É claro que na maioria das vezes fazemos isso sem pensar, sem saber o que realmente está acontecendo dentro da gente. A melhor maneira de não cairmos nesta armadilha é obviamente não comprarmos nada. Mas e se realmente estamos precisando de algo relativamente caro, como saber se a compra é verdadeira ou não? Há algumas dicas: 1. Pesquisar preços em mais de três lojas; 2. Pesquisar o máximo possível sobre o produto, incluindo opiniões de quem já tem ou já teve o produto (há vários sites deste tipo);

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3. Verificar se não há um similar mais barato; 4. Verificar se não é melhor comprar um semi-novo (possivelmente de alguém que comprou e agora não está conseguindo pagar as prestações – a desgraça de um é a oportunidade de outro); 5. Ao sair para pesquisar e olhar o produto, deixar o talão de cheques e todos os cartões (débito, crédito, etc) em casa; 6. Responder à pergunta “para que eu quero isso”. Esta é a pergunta mais importante. Imagine que você é funcionário de uma empresa e tem que justificar ao seu chefe uma compra. É a mesma coisa; 7. Aguardar pelo menos uma semana para ver se o desejo da compra “passa”. A não ser, é claro, que a compra seja realmente essencial, como uma geladeira, fogão ou máquina de lavar que se desintegraram de tão velhos que estavam. Aqui vale uma explicação mais detalhada do item seis. Seja honesto consigo mesmo. Ninguém vai ficar sabendo. Se no fundo, no fundo, o motivo é “para impressionar meus amigos”, esqueça. Você está pensando em comprar algo pelo motivo errado, por mais que você realmente queira o produto. Se a resposta for “porque eu preciso”, você terá de analisar se você está realmente sendo honesto consigo mesmo. No caso do fogão de R$ 8.000, você estaria mentindo para você mesmo, pois você falhou em ser honesto consigo mesmo no item três, “verificar se não há um similar mais barato” – é óbvio que existem fogões bem mais baratos. Apesar de pregar essas ideias, eu mesmo já falhei nesse “dever de casa” várias vezes. Por exemplo, quando eu comprei uma BMW 528 usada (quando ainda morava no Brasil), eu falhei miseravelmente nos itens dois e três. Só depois de ter comprado é que eu descobri que a manutenção era um problema crônico daquele modelo, e que a manutenção no Brasil era extorsiva (demorei para me tocar que poderia comprar peças nos EUA e, mesmo com a entrega no Brasil mais os impostos devidos, seria muito mais barato). Se tivesse pesquisado sobre isso antes, teria economizado uma grana absurda. Também falhei ao não levar um mecânico para analisar o carro; confiei no papo do vendedor e acabei comprando http://www.terremoto.com.br

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um carro que só dava problemas. Ainda no item dois, falhei em verificar que é um carro quase impossível de revender no Brasil. No item três, é óbvio que existem similares mais baratos. Pelo mesmo preço eu poderia ter comprado um bom carro zero. E por que diabos ter uma BMW? Neste caso específico foi porque eu queria me dar algo de presente por ter atingido uma das minhas metas financeiras. Até hoje me arrependo, pois esse carro só meu deu dor de cabeça e se eu tivesse comprado um carro nacional e investido a diferença eu teria mais dinheiro hoje. E a bem da verdade, dado o meu estilo de vida, nem mesmo carro eu precisava ter!

Figura 3.1: essa era a minha BMW 528 1997 que tive entre 2005 e 2007 e que só me deu dor de cabeça; não recomendo ter carro importado de luxo no Brasil

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Marcas Por falar em BMW, no mundo contemporâneo a maioria das pessoas encara marcas como a personalização de seu estilo de vida. A marca passa a ser mais importante do que o produto em si, e as marcas exploram isso ao máximo. Basta ver os anúncios da televisão. Se você usar o desodorante “x” as mulheres vão te atacar na rua. Se você dirigir o carro “y” você poderá visitar as praias mais bonitas do Brasil. Se você vestir a roupa “z” você será visto como uma pessoa que tem dinheiro. Se você beber “n” você será visto como uma pessoa requintada. E por aí vai. É muito fácil cair nesta armadilha como um “pato”. Basta lembrar da sua adolescência: se todo mundo no colégio tinha um produto “x”, você também queria ter o produto “x” para não ficar “de fora”. O pior é que nós crescemos e continuamos levando este tipo de comportamento adiante. Com um detalhe: só tende a piorar. Esse comportamento de manada explica as bolhas especulativas, manias e modismos (falarei sobre este assunto no próximo capítulo). O problema é quando passamos a consumir marcas para nos sentirmos “importantes” ou para que outras pessoas nos vejam de uma forma que fantasiamos. Quando isso ocorre, estamos metendo os pés pelas mãos, pois estamos consumindo marcas pelos motivos errados, para tentar resolver nossas frustrações e buscar o diabo do “reconhecimento”. Como se você fosse passar a ser famoso só porque você usa a mesma marca que uma pessoa famosa usa. E o pior, é justamente isso que acaba ocorrendo no dia a dia. É claro que não vamos andar por aí com a camisa furada ou fedorentos, por outro lado, só ter no armário Calvin Klein ou Donna Karan quando você está vivendo apertado de grana é demais. Realmente há marcas que são melhores do que outras, mas será que você não vai encontrar produtos com qualidade similar de outras marcas ou até mesmo de marcas “desconhecidas”? Se você pesquisar com certeza vai encontrar. É claro que não estou falando para você fazer a “economia porca” de comprar uma falsificação chinesa via Paraguai, pois você estará fazendo besteira por dois http://www.terremoto.com.br

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motivos: primeiro estará contribuindo para a existência do mercado de produtos falsificados (lembrando sempre não é só fabricar ou vender produtos falsificados que é crime2, mas a compra de mercadorias falsificadas também é crime3); segundo você gastará dinheiro em uma imitação de qualidade inferior. Ou seja, você estará comprando por causa da marca e não por causa da qualidade – mais uma vez, fazendo uma compra pelo motivo errado. Para provar o meu ponto, uma vez a Revista de Domingo do Jornal do Brasil (RJ) fez um “teste cego” com azeites de oliva. Um teste cego é aquele em que o produto é oferecido ao panelista sem que ele saiba qual é a marca que ele está degustando. O resultado foi surpreendente. O vencedor foi um azeite de marca própria de supermercado, que ganhou contra marcas famosas. Logo, essa coisa de comprar azeite extra virgem importado porque “é melhor” é pura balela. A revista mensal norte-americana Consumer Reports é outra que faz este tipo de teste com frequência, normalmente com resultados inacreditáveis: descobriram, por exemplo, que determinados vinhos de menos de US$ 10 que não tinham a menor diferença de gosto para vinhos caros4. Portanto, essa coisa de marca é pura questão de percepção. E o mais engraçado é que em mercados distintos as mesmas marcas podem ser vistas de maneiras completamente diferentes. No Brasil, por exemplo, quem sai por aí vestindo marcas como Nike e Adidas está “arrasando”. Nos EUA possivelmente seria visto como “pobretão”, pois normalmente só quem não tem dinheiro para comprar roupa “tradicional” é que veste roupas esportivas no dia a dia. É preciso explicar que esta diferença de mercado se dá por conta da absurda diferença de preço que há dos produtos dessa marca no Brasil em relação ao preço praticado nos EUA.

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Art. 184 do Código Penal Art. 180 do Código Penal 4 CONSUMER REPORTS. Chardonnays for less than $10. Consumer Reports, Yonkers, jul. 2010. Disponível em . Acessado em: 24 jul. 2015. 3

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Um tênis Adidas de US$ 130 chega ao Brasil por R$ 9995 (lembrando que, para um americano nos EUA, US$ 130 tem o mesmo valor “psicológico” e poder de compra similar a R$ 130 no Brasil). A diferença entre produtos mais caros é ainda maior. Fica comprovado que, no final das contas, o que a pessoa está procurando é o “status” que uma determinada marca pode dar: no Brasil, como produtos “de marca” são abusivamente caros, quem tem passa a ideia de que “tem dinheiro”. Aqui vale um pensamento importante. Os custos de importação brasileiros, que são exorbitantes, não explicam a enorme diferença entre os preços praticados no Brasil e fora do Brasil. A explicação mais plausível é que as marcas cobram alto porque as pessoas pagam. É justamente uma exploração comercial da mentalidade brasileira de ter produtos de determinadas marcas “para se mostrar”. Inclusive, um executivo da Mercedes-Benz falou isso com todas as letras: “Quem define o preço é o mercado e não o custo. E não há motivo para baixar os preços se o consumidor paga o que cobramos”6. O executivo foi imediatamente demitido depois dessa sua declaração. Em tempo: desde que eu vi aluguel de iPhone para pessoas “tirarem onda” na “night”78, eu não duvido de mais nada. O quanto antes você conseguir se libertar do mito da marca, melhor. Se um dia você tiver a oportunidade se encontrar comigo pessoalmente, você vai achar que tudo o que eu estou pregando é “da boca para fora”, pois afinal de contas no meu guarda-roupas você vai encontrar basicamente Calvin Klein, Tommy Hilfiger, Guess, GAP, etc. O que pouca gente sabe é que eu só compro roupa em lojas de ponta de estoque (“outlet”). E daí que a roupa que eu estou comprando é da coleção do ano passado? Como se eu (ou qualquer pessoa 5

Pesquisado em 08 de julho de 2015, com o câmbio a R$ 3,14. Ver http://www.adidas.com/us/springblade-drive2.0-shoes/D69793.html e http://www.adidas.com.br/tenis-springblade-drive-masculino/S85400.html 6 http://www.lunaticoos.com/2012/08/entenda-por-que-o-brasil-possui-os.html 7 https://br.noticias.yahoo.com/blogs/vi-na-internet/aluguel-de-iphone-para-ostentacao-na-balada-rende-ate182843423.html 8 “Balada”, se você é de São Paulo e outras regiões que usam esta expressão.

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normal) conseguisse dizer qual é a diferença. Certa vez eu dei US$ 10 à minha exesposa para ir ao outlet comprar uma calça Jeans. Ela voltou com US$ 5 de troco! Se você um dia tiver a oportunidade de ir aos EUA a passeio, não deixe de visitar uma loja da cadeia TJ Maxx (eles têm mais de 800 lojas nos EUA) nem aos milhares de outlets existentes. Apesar de atualmente eu ter como comprar todos esses produtos “de marca” pelo preço “de tabela”, ao lembrar dos anos no vermelho e do esforço para economizar e juntar meu patrimônio, eu simplesmente não consigo mais entrar em uma loja e pagar o preço de tabela se eu sei que consigo comprar mais barato em uma ponta de estoque! Passou a ser questão de hábito, que eu sinceramente espero que você o cultive também. É realmente impressionante: depois que você muda seus hábitos, fica difícil voltar a ter hábitos “ruins”. Essa coisa de se libertar do mito da marca tem seus momentos cômicos. Quando minha ex-esposa chegava do supermercado às vezes tinha a impressão de que estava na ilha do Lost9, pois todas as latas e pacotes pareciam ser da Iniciativa Dharma10, já que ela comprava praticamente tudo da marca própria do Wal-Mart (mesma qualidade de produtos “de marca” e custam bem menos). Ou quando ela foi em uma festa e uma amiga elogiou a roupa dela e perguntou onde ela comprou; você precisava ver a cara de decepção e nojo da fulana quando ela disse “Wal-Mart”. Ou seja, se a mulher não tivesse perguntado, ela nunca saberia que a minha ex-esposa estava vestindo um casaco de US$ 10 do Wal-Mart, e continuaria pensando que era de uma marca “chique”. Um amigo, que compartilha o que discuto ao longo do livro, certa vez fez algo muito engraçado. Em uma festa de amigo oculto11, ele tirou uma mulher que era ligada a essa coisa de marca. Ele comprou uma lembrancinha de uma marca “famosa”, mas colocou o presente em uma caixa da loja C&A. Diz ele que a cara

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Seriado de TV veiculado de 2004 a 2010 sobre um grupo de pessoas que sobreviveu a um desastre aéreo em uma misteriosa ilha. 10 Todos os produtos na ilha são dessa “marca”. 11 “Amigo secreto”, se você não for carioca.

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dela de frustração e tristeza ao receber a caixa, mas de alívio e risadas ao abrir, foram impagáveis. Mas obviamente ela não deve ter entendido o recado.

Por que não comprar usado? Uma excelente maneira de economizar é comprar produtos usados. Se você pesquisar direitinho poderá fazer excelentes negócios. Que diga o meu amigo que comprou a minha máquina de lavar eletrônica Brastemp e meu fogão Brastemp de seis bocas quando eu me desfiz de todos os meus móveis e eletrodomésticos antes de me mudar para os EUA. Além de pagar quase a metade do preço em relação aos mesmos produtos novos na loja, eles estavam praticamente novos (na época eu me enquadrava no estereótipo do homem solteiro vivendo sozinho, ou seja, devo ter usado o fogão só umas duas vezes, e mesmo assim para fritar ovo ou esquentar aquela pizza de sábado). O mesmo aconteceu com os desconhecidos que compraram os meus outros móveis e eletrodomésticos. Dá trabalho encontrar produtos usados em boa condição? Com certeza, ainda mais porque você terá de pagar alguém para carregar o trambolho para você (a não ser que você tenha uma caminhonete ou amigo que tenha uma e possa te ajudar), mas, sinceramente, vale a pena, especialmente se você estiver realmente precisando comprar algo (por exemplo, sua geladeira é velha e quebrou e você verificou que vale mais a pena comprar uma nova do que consertar) e está precisando economizar. Citei compras grandes, mas você pode economizar em compras “pequenas” também. Eu já fui um ávido colecionador de filmes e CDs, e a maioria eu comprava em lojas de CDs usados ou em liquidação! Toda a vez em que eu visitava uma nova cidade eu procurava por lojas deste tipo (afinal cada loja tem um estoque completamente diferente da outra). Atualmente estou reduzindo a quantidade de itens físicos que eu tenho para uma maior mobilidade e levar uma vida mais minimalista (para que acumulamos tanta coisa?), e, dessa forma, atualmente só compro livros, músicas e filmes no formato eletrônico.

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Compras para agradar os outros Acho que deixei bastante claro nas entrelinhas que qualquer compra, independentemente de valor, deve ser feita para agradar única e exclusivamente você (ou a não ser em casos de presentes, é claro, onde o objetivo é agradar ao outro). Mas há gente que realmente compra coisas para impressionar os outros ou, então, para não se sentirem “inferiores” ou não “ficarem para trás”. Pode parecer piada, mas isso realmente acontece: um grande amigo meu começou a perceber que no trabalho dele toda a vez em que ele trocava de carro um colega dele também trocava de carro. E o pior: com o mesmo modelo e cor do dele! Os americanos até têm uma expressão para este tipo de hábito, “keeping up with the Joneses” (algo como “acompanhando as compras dos vizinhos”). Se você perceber que você compra coisas para se sentir “melhor do que os outros” ou para “não ficar para trás”, corte este hábito imediatamente! Do contrário você vai se estrepar financeiramente a troco de passar uma imagem. Para quê? Para que essa necessidade de se passar uma “imagem”? As pessoas têm de gostar de você pelo o que você é, e não pelo o que você tem. É o caso do camarada que se endivida até o último fio de cabelo para comprar um “carrão” só porque pensa que com um “carrão” ele vai conseguir “pegar mulher” (leitoras: me desculpem, não estou querendo ser machista, apenas retrato o modo de pensar de alguns homens, do qual não compartilho). Além do motivo estar totalmente equivocado, garanto que a qualidade das mulheres que vão se sentir atraídas pelo camarada só por causa do carro que ele tem vai ser “uma beleza”. Infelizmente muitas vezes na vida nós invertemos a prioridade das coisas. É hora de corrigirmos isso.

Milionários não são perdulários A visão mais comum entre as pessoas é que milionários podem comprar o que quiserem, por qualquer preço. Só que esta é uma visão fantasiosa. Só porque a pessoa tem dinheiro para comprar uma Ferrari, não significa que ela sentirá a necessidade de comprar uma!

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Um dos pesquisadores mais conhecidos sobre o comportamento de milionários é Thomas Stanley, que publicou alguns livros sobre o assunto, em particular “O Milionário Mora ao Lado” e “Stop Acting Rich”. Ele entrevistou milhares de milionários norte-americanos e descobriu que apenas as pessoas que querem passar a imagem de bem-sucedidas e que não são milionárias é que normalmente gastam dinheiro com itens de luxo. Por outro lado, existem os milionários que ele chama de “milionários purpurina”, que são aqueles que realmente esbanjam e ganham a atenção da mídia, mas eles são a minoria e normalmente são pessoas públicas, como atletas e artistas, e que muitas vezes precisam dessa atenção da mídia para suas carreiras. E isso faz todo o sentido. Se uma pessoa fica gastando todo seu dinheiro com itens supérfluos, ela nunca vai conseguir acumular patrimônio. Logo que eu me mudei para os Estados Unidos, em 2007, meu primeiro carro foi um Honda CR-V, que é um carrinho bem classe média por lá. Eu fui a uma festa, e uma colega de trabalho me apresentou a um amigo dela, explicou quem eu era, o sucesso que eu tinha profissionalmente no Brasil e tudo mais. O cara vira e me solta a pérola: “mas se você é tão bem sucedido, por que você dirige um Honda? Eu esperaria que você tivesse pelo menos um Porsche!” Eu respondi que eu era bem sucedido financeiramente justamente porque eu não tinha um Porsche (eu só fui comprar o meu em 2009). Obviamente o cara não entendeu a minha resposta. Curiosamente esse camarada foi apresentado a mim como sendo uma pessoa “bem de vida”. Depois entendi que na realidade ele era um americano típico com alto salário que torrava tudo o que tinha e que não tinha, e que o referencial dele para medir se uma pessoa tinha ou não dinheiro era o carro que ela dirigia. E no referencial da minha colega, uma pessoa ter alto salário é equivalente a “estar bem de vida”. Como estamos discutindo, esses dois parâmetros podem estar completamente equivocados (a pessoa pode ter um carrão e estar toda endividada, e pode ganhar horrores e ainda assim gastar mais do que ganha).

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Figura 3.2: esse foi o meu primeiro carro nos EUA, um Honda CR-V Toda a vez que eu vou ao Brasil eu me espanto com a quantidade de pessoas visivelmente pobres que têm smartphones de última geração. Já vi algumas declarações de milionários dizendo que eles mesmos não gastariam dinheiro com itens que pessoas que não são milionárias gastam. Uma vez, eu fui em um jantar para jornalistas brasileiros durante uma feira nos Estados Unidos, na época em que morava lá. Devia ter umas 15 pessoas à mesa. De repente, começou um papo sobre smartphones e cada um ficou mostrando o seu celular, cada um mais incrementado (e caro) do que o outro. Eu fiquei quieto e, admito, com certa vergonha de mostrar o meu celular “de pobre” e que me atendia muito bem (“de cartão”, ver Figura 3.3; eu gastava apenas US$ 100 por ano com ele, ou seja, gastava menos por ano em comparação com o que os demais colegas estavam gastando por mês).

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Figura 3.3: acredite, este foi o meu celular durante seis anos (2007 a 2013) É até difícil colocar em palavras o que eu estava pensando no momento, mas vou tentar explicar. Para quem mora fora do Brasil, ter um smartphone de última geração é algo trivial. As pessoas não puxam do bolso para ficar mostrando aos outros, pois é algo todo mundo pode ter. Há um lado na cultura brasileira, possivelmente porque no Brasil bens de consumo são geralmente muito mais caros do que no exterior, que é a necessidade de mostrar aos outros que você tem ou pode ter algo que a maioria da população não tem condições de ter. Como se ter algo te colocasse em um seleto grupo de pessoas “melhores” do que as outras. Morando fora, pude aprender como isso é completamente irrelevante e um tipo de pensamento totalmente idiota. O grande tipo de preconceito que existe no Brasil é o dos que “têm” contra os que “não têm”. Por outro lado, tenho que admitir que eu era justamente assim quando mais jovem. Achava que pessoas bem sucedidas “como eu” tinham que, por exemplo, ter um carro zero importado e usar roupas da marca “x”. Não importava se eu estava todo endividado. Se eu tivesse continuado nesse caminho, eu não teria acumulado o patrimônio que acumulei, e continuaria a viver uma vida bastante apertada.

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Por outro lado, a partir do momento que “caiu a ficha” e comecei a fazer modificações radicais em meus hábitos de consumo, passando a operar com planilhas de gastos e orçamentos, acabei me disciplinando de tal forma que hoje é difícil inclusive eu gastar dinheiro com roupas, por exemplo. Eu tenho que esperar a sola do tênis descolar para eu me tocar que eu tenho que visitar o outlet. O que mudou foi que minhas prioridades passaram a ser outras, e coisas que eu achava que eu tinha que ter “quando fosse rico” passaram a ser completamente irrelevantes. Hoje em dia, quando eu vejo algo e acho “que coisa legal”, eu não compro, volto para casa (ou saio da frente do computador) e me pergunto se realmente preciso daquilo, se vou ter espaço para aquilo e como vai ser se eu me mudar para outro país (recentemente foi um sistema de áudio de home theater). Em geral, a resposta é negativa e acabo não comprando. Ainda mais atualmente (2015), que estou no movimento de aprender a viver com menos coisas materiais em minha vida, não mais. É um grande desafio. Isso não significa, de modo algum, que você tenha de ser um sovina, um Tio Patinhas, e andar com calça furada e ficar contando centavos. A questão toda é a importância e o motivo do que é consumido. Inclusive acho importante você se dar “presentes” ou “sonhos de consumo” quando você atinge metas que você estabeleceu para si próprio. Mas, curiosamente, eles não precisam ser caros; o importante é que eles tenham relevância para você. Como eu comentei no primeiro capítulo, eu cheguei a ter um Porsche nos EUA, que comprei à vista. Antes que você pense que isso é algo do outro mundo, era o modelo de entrada (Boxster), que comprei zero mas em uma promoção de queima de estoque antigo, então saiu por US$ 50.000. Como o dólar na época por volta de R$ 2,00, era mais barato que um Honda Civic no Brasil. Sem contar que custos de IPVA, seguro e manutenção do Porsche eram possivelmente mais baratos que os de um Gol no Brasil (IPVA por volta de US$ 500/ano nos primeiros anos e seguro por volta de US$ 500 por semestre nos primeiros anos; cada revisão ficava por volta de US$ 175). Coloco esses valores não para você ficar com raiva do Brasil e querer pegar o primeiro avião para fora, mas para reforçar a ideia http://www.terremoto.com.br

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de que possivelmente um cidadão classe média no Brasil está mais ferrado com um Gol branco do que eu com o meu Porsche nos EUA (eu hoje realmente não teria um Porsche no Brasil, mais por causa de toda a questão de segurança pessoal).

Figura 3.4: meu Porsche, que tive entre 2009 e 201312 Ou seja, o problema é o cidadão “colocar a carroça na frente dos burros” e gastar além das suas condições. O meu sonho de consumo particular é ter uma Ferrari ou uma Lamborghini. Apesar de eu ter dinheiro para ter uma, quando eu paro para pensar o quanto 12

As fotos que que adicionei a este capítulo foram apenas para ilustrar as histórias e tornar meus testemunhos mais “palpáveis”; em momento algum a minha intenção foi de “me mostrar”. Espero que você goste das fotos.

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esse dinheiro (e os custos associados com seguro e manutenção) poderia estar rendendo e bancando viagens que eu quero fazer, eu desisto da ideia! Obviamente, tudo isso que estou discutindo nesta seção tem a ver com quais são as prioridades e valores de cada um, e certamente variam de pessoa para pessoa. Mas no geral, o self-made man (ou woman) que realmente tem grana (e não apenas tem a aparência de ter grana) não esbanja dinheiro, pois sabe o quanto ele teve que “ralar” para obtê-lo, conforme comprovado nas pesquisas do Dr. Stanley. Portanto, se você acha que a maioria dos milionários sai por aí gastando dinheiro com qualquer besteira que vê pela frente, sinto desapontá-lo!

A aparência de ser rico Isso foi dito ao longo deste capítulo, mas coloco em um tópico separado para reforçar a sua importância. Não necessariamente alguém que “parece” ser rico o é de fato. De repente é apenas uma pessoa que caiu em todas as armadilhas do consumo e propaganda que discutimos neste capítulo. Sempre nos é ensinado a não julgar as pessoas pelas aparências. E no contexto da educação financeira, isso vale particularmente para as pessoas que parecem ser bem sucedidas. Pode ser que elas estejam vivendo de aparência, e que estejam endividadas e vivendo “com a corda no pescoço”. Digo isso porque é uma tendência natural querermos ter ídolos, identificarmos pessoas para nos espelhar. E talvez aquele seu amigo que parece estar cheio da grana na verdade pode estar, no frigir dos ovos, pior que você. Algumas perguntas que você deve se fazer são: essa pessoa realmente tem dinheiro ou está vivendo de aparências? Ela tem dinheiro porque ganha um alto salário hoje ou porque acumulou patrimônio? Se ela perder o emprego ou a fonte de renda dela, o que acontecerá? O dinheiro dela foi conseguido de maneira lícita ou ilícita?

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Ainda mais no Brasil de hoje, onde a segurança pessoal talvez seja a questão mais importante para todos os cidadãos, é muito raro um milionário de verdade ficar esbanjando e chamando a atenção. Se a pessoa passar nesses critérios, eu dou a maior força para você andar mais com ela e aprender o que ela tiver a te passar sobre dinheiro e negócios. Inclusive, acredito que, para todos os planos da nossa vida, a gente deva se relacionar com pessoas que pensem como a gente, e que tenham atingido objetivos que a gente almeja. Se você quer parar de gastar com supérfluos, é bom diminuir a frequência que você vai ao shopping com aquela sua amiga que só pensa em gastar dinheiro. Se você quer melhorar a sua vida financeira, é melhor diminuir a frequência com que você sai com aquele seu amigo que só sabe reclamar de dinheiro. E se você quer ter sucesso profissional e financeiro, procure relacionar-se com pessoas realmente bem sucedidas! Porém, tenha certeza de mudar sua mentalidade e ser uma pessoa positiva, que não vive se lamentando, que tem algo a acrescentar e que não quer se aproximar de pessoas só para “se aproveitar”. Do contrário você pode acabar na ponta oposta: a do grupo que as pessoas bem sucedidas evita se relacionar!

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Capítulo 4 Mitos sobre investimentos É possível que muita coisa que você tenha ouvido falar, inclusive muita coisa que você “sabe” sobre investimentos esteja errada. Vamos ver os equívocos mais

comuns. Diversificação Praticamente todos os livros sobre finanças pessoais falam que você deve diversificar seus investimentos a fim de reduzir seu risco. A maioria desses livros usa o chavão “não coloque todos os seus ovos em uma única cesta”, que é uma tradução literal de uma expressão comum em inglês. A diversificação é um mito que precisamos quebrar. Vamos começar pelo óbvio: se você está com dificuldades de economizar todos os meses, como você pode pensar em diversificar? E, mesmo que você esteja juntando dinheiro todos os meses, se o montante é baixo, é impossível diversificar seus investimentos! A diversificação é importante? É... para quem tem dinheiro! Portanto, se você ainda estiver precisando colocar “a casa em ordem” ou então está começando a investir, esqueça essa coisa de diversificar! Na minha opinião, o importante é focar, isto é, concentrar seus investimentos em um único veículo (por exemplo, em um único fundo de renda fixa) até você ter um montante que o possibilite a diversificar. Este foi o caminho que eu fiz. Primeiro, coloquei as minhas finanças em ordem, passando a controlar todos os meus gastos em uma planilha e mudando meus hábitos de consumo para passar a gastar menos do que eu ganhava. O segundo passo foi começar a colocar dinheiro todos os meses em um fundo de renda fixa. Desta maneira, toda vez que o montante presente no fundo passava a ter um valor que me permitisse migrar para um fundo “melhor”, eu o fazia. Até que o valor acumulado finalmente me permitiu diversificar. http://www.terremoto.com.br

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Essa questão de “fundo melhor” é importante explorar um pouco mais, pois é uma dica importante. Se você reparar, há fundos de renda fixa que rendem mais do que outros. Como isso é possível se eles investem nos mesmos papéis (títulos do governo)? A diferença se dá por conta da taxa de administração, que diminui na medida em que o investimento inicial aumenta. Por exemplo, um fundo de renda fixa que tenha um investimento inicial de R$ 50.000 normalmente tem uma taxa de administração menor que um fundo que tenha um investimento inicial de R$ 10.000 e, com isso, oferece uma rentabilidade um pouco melhor, mesmo ambos investindo nos mesmos papéis. O que eu fiz no meu início foi exatamente isso. Eu não lembro exatamente quais eram os patamares do meu banco na época, mas se não me falha a memória era algo como R$ 1.000, R$ 10.000, R$ 20.000 e R$ 50.000. Assim, iniciei no fundo de renda fixa de R$ 1.000, quando juntei R$ 10.000 neste fundo, migrei para o fundo com investimento mínimo de R$ 10.000 e fui assim sucessivamente, até eu ter um valor que me permitisse “diversificar” (mais adiante explico melhor o que eu fiz). Quem está apto a diversificar? Idealmente somente investidores qualificados devem “obrigatoriamente” diversificar. O título de “investidor qualificado” é regulamentado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários, o órgão que regula o mercado financeiro no Brasil) em sua instrução 409 artigo 109, que basicamente diz que a pessoa tem dinheiro e conhecimento suficientes para ter acesso a investimentos de maior risco, destinados somente a investidores qualificados. Esta qualificação é feita de acordo com o montante que a pessoa tenha em aplicações financeiras, além de uma carta que a pessoa tem de assinar atestando ter conhecimentos suficientes sobre a operação do mercado de capitais (esta carta só precisa ser assinada quando você resolver fazer uma aplicação financeira em um investimento reservado a investidores qualificados). Em julho de 2015 este valor era de R$ 300.000,00, mas a CVM pode ajustar este valor no futuro. Verifique o valor atual em http://www.bmfbovespa.com.br/rendafixa/pdf/Invest_Qualificado.pdf. A minha recomendação, portanto, é você esperar para atingir este montante para pensar em diversificação. É claro que esta é uma recomendação extremamente

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conservadora; a verdade é que com um terço deste valor você já conseguirá diversificar. No meu caso, o que eu fiz foi o seguinte. Fiz o cálculo da média das minhas despesas mensais dos últimos doze meses e mantive em renda fixa o equivalente a pelo menos seis meses de despesas (sempre atualizando mensalmente o valor mínimo que eu deveria ter aplicado, já que o valor das despesas vai aumentando com o tempo, por causa da inflação). Desta forma, eu tinha uma reserva com liquidez imediata para qualquer eventualidade. A partir daí eu fui colocando1 dinheiro em um fundo multimercado “para a minha aposentadoria”, ou seja, eu não iria tocá-lo “nunca”, e isso era uma condição importante, para que o poder dos juros compostos entrasse em ação. Os fundos multimercados têm oscilações, porém no longo prazo tendem a render mais do que fundos de renda fixa. No meu caso, e para exemplificar o poder dos juros compostos, eu investi R$ 87.500 através de várias aplicações menores ao longo de 2002 no fundo Verde FIC FIM2. Em 31/12/2014 esse valor tinha se transformado em cerca de R$ 774.000, um rendimento de 784% em doze anos. O segundo problema, e este é mais grave, em minha opinião, é que a maioria das pessoas interpreta o que é “diversificar” de maneira equivocada. A verdadeira diversificação só é obtida quando você investe em mercados diferentes. Se você, por exemplo, investir metade do seu dinheiro na ação “a” e a outra metade na ação “b”, você pode pensar que está diversificando – afinal, se a ação “a” cair, você está “protegido” pela a ação “b”. Só que este pensamento é furado, pois você está investindo no mesmo mercado – neste caso, o acionário. Se houver uma crise na bolsa, não vai importar se você tem ações de uma empresa ou de 1

Fundos deste tipo normalmente têm um investimento inicial mínimo maior que os fundos de renda fixa, portanto possivelmente você terá como meta juntar em um fundo de renda fixa seis meses de despesas mais o valor do investimento inicial mínimo do fundo multimercado escolhido para dar início à esta estratégia. Enquanto isso você terá tempo suficiente para decidir em qual fundo investir. 2 O fundo Verde FIC FIM não está mais aberto a novas aplicações e inclusive no momento ele está compulsoriamente devolvendo dinheiro dos investidores de forma a diminuir o tamanho do fundo. É considerado o melhor fundo multimercado do Brasil. Ver http://www.verdeasset.com.br. A partir do momento de fechamento deste fundo, tive de obrigatoriamente investir em outros. Mais uma vez, apresento valores reais não para “tirar onda” ou “me mostrar”, mas para dar um exemplo do poder dos juros compostos e como é possível “chegar lá”, com paciência, investindo em bons fundos.

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dez empresas, todas cairão. Ao investir parte em ações e parte em renda fixa, você estará mais protegido, em parte, pois você estará investindo em dois “mercados” diferentes. Só que em uma análise mais profunda você verá que isso não acontece, pois você terá todo o seu dinheiro em um único mercado, o de capitais. Se houver uma crise ainda mais grave envolvendo todo o sistema financeiro, todo o seu dinheiro poderá estar em risco. É claro que hoje vivemos em um país muito mais estável e (com os dedos cruzados) longe de presidentes com planos financeiros “milagrosos” envolvendo confisco do dinheiro do povo e, portanto, uma crise dessa magnitude é menos provável (mas não impossível) de acontecer. A verdadeira diversificação só acontece quando você realmente tem investimentos em vários mercados diferentes, como bolsa, renda fixa, imóveis, negócios, metais preciosos, gado, etc. Assim se houver um problema mais sério em um mercado, pelo menos parte do seu dinheiro estará protegida em outro. Aqui fica claro porque eu ter falado em ser um investidor qualificado para obter a verdadeira diversificação: você vai precisar de muito dinheiro para cobrir “todos” os mercados. É óbvio que para a pessoa “comum” esta verdadeira diversificação é quase impossível. Afinal, não é todo mundo que quer investir em negócios ou ter dinheiro “empatado” em imóveis. Mais importante do que ter uma fórmula mágica, o importante é você achar a distribuição que te coloque no caminho dos seus objetivos financeiros e que te dê tranquilidade, segurança e confiança. Enquanto uma pessoa não investiria “nem morta” em imóveis, outras pregam que você “tem que” ter algo investido em imóveis. Como disse, qual diversificação você fará dependerá de você. No seu caminho para se tornar um investidor qualificado você formará as suas próprias opiniões sobre investimentos e certamente quando o momento chegar saberá qual rumo tomar. Apenas para reforçar, por enquanto preocupe-se somente em colocar a casa em ordem e, em seguida, em juntar dinheiro. Deixe essa coisa de diversificação para quando você tiver dinheiro suficiente.

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“X” é o melhor investimento No lugar de “x” já ouvi de tudo, ações, imóveis, gado, ouro, dólar, etc. Essa coisa de “melhor investimento” não existe. Investimento é um plano de longo prazo com um objetivo determinado. Para uma pessoa o melhor investimento vai ser um, para outra, é possível que seja outro. Eu, por exemplo, ganhei a maior parte do meu dinheiro através de livros e negócios próprios (e investindo o excedente em fundos multimercados). Então isso significa que todo mundo que escrever livros e montar negócios vai ganhar dinheiro e vai ficar milionário? Claro que não! Portanto, o que serve para mim não necessariamente serve para você! Da mesma forma, algumas pessoas têm completa aversão à bolsa de valores, enquanto que outras chamam de “burras” todas as pessoas que não investem em ações! Qual das duas está certa? Se você perguntar a dez milionários como eles ficaram ricos, possivelmente você escutará dez respostas diferentes. Cada um falará que o “melhor” investimento é aquele com que ele ficou rico. O importante é estudar e investir naquilo que você entende e se sente confortável em investir. Do que adianta investir em algo que te disseram que vai render mais, mas que faz você perder o seu sono pensando se seu dinheiro está seguro ou não?

Qual é o investimento que está rendendo mais? Vira e mexe escuto algo desse tipo: “você que entende desse negócio de investimento, qual é o investimento que está rendendo mais?” Esta é uma pergunta impossível de ser respondida, e por mais que você tente explicar certas pessoas realmente não entendem que investimentos devem seguir uma lógica de longo prazo, uma meta financeira. Faltam inúmeros dados na pergunta do cidadão acima, especialmente valor, objetivo, prazo e tolerância ao risco. E mesmo que existisse uma resposta, ela seria válida somente naquela ocasião, pois

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um investimento que está rendendo muito hoje não necessariamente terá a mesma rentabilidade amanhã.

Se todo mundo está investindo em “x”, então é bom negócio Provavelmente não, por vários motivos. Para começar, o que você entende de “x”? Se “x”, por exemplo, é “ações da empresa X”, o que você entende sobre o mercado de ações? Vá primeiro fazer um curso, ler livros, para então analisar se faz ou não sentido este investimento. Como já disse no primeiro capítulo, investir naquilo em que você não entende é receita certa para perder dinheiro. Eu utilizei o termo “empresa X” de propósito. Muitas pessoas entraram na onda de investir em ações das empresas X de Eike Batista, sem se darem conta de que eram investimentos especulativos em empresas sem qualquer histórico de funcionamento e, portanto, recomendados apenas a investidores qualificados e, mesmo assim, para apenas uma pequena parcela do capital disponível. E depois que a bomba estourou, milhares de pequenos investidores perderam o capital investido. Eu concordo que o Eike Batista seja responsabilizado por promover suas empresas com empolgação exagerada e não ter divulgado notícias relevantes negativas, e de não haver nenhuma norma para permitir o acesso a ações de empresas desse tipo apenas a investidores qualificados. Mas há de se convir que o pequeno investidor não tinha de estar colocando todo seu dinheiro em um investimento altamente especulativo. O problema é que muitos querem ficar ricos rapidamente com um investimento milagroso, e esta mentalidade é um chamariz para golpes, como voltaremos a falar. As ações das empresas X são um bom exemplo de modismo, e modismos devem ser evitados. Voltaremos a este assunto daqui a pouco. Segundo, se o investimento “x” está tão popular a ponto de leigos estarem ouvindo falar, então possivelmente estamos diante de uma bolha especulativa, que é quando há um clima de euforia a respeito de um determinado investimento que faz com seu preço suba vertiginosamente em um curto período de tempo. É possível ganhar dinheiro com bolhas especulativas, se você sair dela antes de ela estourar. Do contrário você acabará com um “mico” nas mãos.

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Investidores “profissionais” normalmente têm como lema que, quando pessoas “comuns” estão eufóricas a respeito de um determinado tipo de investimento, então é hora de sair porque a bolha vai estourar. Joseph Kennedy (rico investidor norte-americano, pai dos irmão Kennedy e primeiro presidente da SEC, Securities Exchange Commision, órgão equivalente à CVM nos EUA) saiu do mercado de ações pouco antes da quebra da Bolsa de Nova Iorque em 1929 quando sentou para engraxar os sapatos e o engraxate deu “dicas” de “ações quentes” a ele. O pensamento dele, que mostrou ser correto, é que “se até o engraxate está investindo em ações, então está na hora de sair!”3. Bernard Baruch, especulador norte-americano, descreveu o clima antes da quebra da bolsa da seguinte forma: “Motoristas de táxi me diziam o que comprar. O engraxate me dava um resumo das notícias financeiras do dia enquanto ele polia meus sapatos. Um velho mendigo que regularmente fazia ‘ponto’ na rua em frente ao meu escritório estava agora me dando dicas e, eu suponho, usava o dinheiro que eu e outros davam a ele no mercado. Minha cozinheira tinha uma conta em uma corretora de valores e acompanhava atentamente as cotações da bolsa.”4 Mais ou menos recentemente presenciamos duas grandes bolhas especulativas nos EUA com efeitos devastadores, a primeira foi a especulação com ações de empresas “ponto com”, empresas sem qualquer ativo físico vendo o preço das suas ações subir loucamente em um curto período de tempo. Muita gente ficou milionária em um curto período de tempo, mas houve inúmeras pessoas que perderam tudo e mais um pouco quando as ações começaram a cair e elas se recusaram a vender suas ações achando que o preço “voltaria”. O problema foi ainda mais sério porque muita gente nos EUA estava pegando dinheiro emprestado (dando a casa própria como garantia, refinanciando a casa própria ou simplesmente usando o limite de saque do cartão de crédito) para investir nessas ações. Quando as ações viraram pó, além de perderem tudo o que tinham, ainda 3

DUNCLIFFE, William J. The Life and Times of Joseph P. Kennedy. New York: Macfadden-Bartell, 1965. ROTHCHILD, John. When the shoeshine boys talk stocks it was a great sell signal in 1929. So what are the shoeshine boys talking about now?. New York: Fortune Magazine, 15 abr. 1996. Disponível em . Acesso em: 12 jul. 2010. 4

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tinham uma dívida enorme com o banco. É normalmente o que acontece quando pessoas ficam com “olho grande” e dão um passo maior do que a perna. A segunda foi a bolha do mercado imobiliário nos EUA. O preço das casas estava subindo tanto e tão rapidamente que pessoas estavam assumindo empréstimos imobiliários que elas sabiam não conseguiriam pagar. A ideia era a seguinte. Ela comprava uma casa financiada, pagava algumas poucas prestações, e dali a poucos meses ela revendia a casa. Como os preços estavam subindo loucamente, ela conseguia revender a casa por um valor maior do que ela pagou, conseguia quitar o financiamento, cobrir todos os custos e ainda sair com um lucro. Em um determinado momento, os preços pararam de subir. Milhares de pessoas nos EUA tiveram que decretar falência, pois não só não conseguiam pagar as prestações como a dívida com o banco era em valor muito superior ao novo valor do imóvel, após a queda dos preços. No Brasil não é muito diferente: de tempos em tempos aparecem algumas manias, alguém aparece com uma ideia e, pouco tempo depois, um bando de “imitões”. É possível ganhar dinheiro com essas manias? Possivelmente se você estiver na primeira “leva” de pessoas. Se você for um dos “retardatários” e entrar no mercado quando ele já estiver saturado, possivelmente perderá tempo e dinheiro. Um bom exemplo é o das “vans” (chamadas de “peruas” em São Paulo e algumas outras cidades). Logo após a abertura do mercado de importação em 1992 começaram a aparecer as “vans” no Brasil – até então o veículo mais próximo de uma “van” que tínhamos era a Kombi –, especialmente as da sul-coreana Kia, como a Besta e a Topiq. Alguém teve a ideia de pegar uma “van” dessas e começar a fazer “lotações”, transportando pessoas entre localidades malatendidas pelo sistema de transporte público existente. Dali a pouco “todo mundo” estava com a mesma ideia e as grandes cidades, notadamente Rio de Janeiro e São Paulo, ficaram infestadas dessas “vans” fazendo serviço de transporte (ilegal, a propósito). Com essa infestação, começaram protestos tanto contra e quanto a favor do serviço, que finalmente acabou sendo regulamentado. Não há dúvida que se você tentar entrar hoje no mercado de “vans”,

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possivelmente não vai ganhar dinheiro da mesma maneira que os primeiros, especialmente agora que o mercado é regulamentado e há forte concorrência, inclusive com relatos da existência de “máfias” que assassinam concorrentes5. Muita gente que abandonou a febre das vans acabou convertendo a sua van em carrocinha de cachorro quente. Sabe-se lá quem foi o primeiro a ter essa ideia, mas tudo o que sabemos é que em pouco tempo você podia ver uma “van” transformada em carrocinha de cachorro quente em cada esquina. Mais uma vez, quem você acha que ganhou mais, o camarada que teve a primeira carrocinha ou o camarada que copiou a ideia e entrou no mercado para competir com 200 outras, depois que o mercado já estava saturado? A cada verão aparecem novos modismos. Iogurte congelado (“frozen yogurt”, que já saturou e deu prejuízo aos retardatários), paletas mexicanas, o movimento de comidas “gourmet” e “food trucks”6 (que aposto saturarão muito em breve) são apenas alguns exemplos mais recentes. Para ter sucesso com um negócio, você tem de ter um negócio completamente diferente dos demais, um negócio que se reinventa de acordo com as mudanças de hábito dos consumidores e/ou um negócio com um diferencial grande o suficiente que permita que sua empresa sobreviva mesmo quando há muita concorrência ou após o término do modismo. Lembre-se: em negócios, você não ficará rico se fizer tudo exatamente como os demais fazem. Ou do contrário todos os empresários seriam milionários. E não custa lembrar que, no Brasil, metade das empresas fecham com quatro anos de atividade7. Por isso acho incrível como há pessoas que compram franquias “da moda” de empresas que estão há menos de dois anos no mercado!

5

AGÊNCIA ESTADO. Homem que testemunhou contra máfia das vans é morto. São Paulo: Agência Estado, 24 dez. 2008. Disponível em . Acesso em: 12 jul. 2015. 6 Aparentemente é mais “chique” chamar “caminhão de comida” de “food truck” (bem como “hot dog” em vez de “cachorro quente”), e mais curioso ainda como, no Brasil, dão “glamour” a algo que em outros países é simplesmente “comida de povão”. 7 SEBRAE SP. Doze anos de monitoramento da sobrevivência e mortalidade de empresas. São Paulo: SEBRAE SP, 2010. Disponível em

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Poupança é o pior investimento Por preguiça e/ou desconhecimento, muita gente ainda investe na tradicional caderneta de poupança. Só há um problema: a poupança é o pior investimento existente. Fundos de renda fixa rendem mais, oferecem o mesmo grau de “segurança”, podem ser investidos em valores baixos (há fundos que permitem aplicações de R$ 100 ou até menos) e são tão fáceis quanto a poupança para a aplicação e resgate. Além disso, há uma enorme vantagem em relação à poupança, a de oferecerem rentabilidade diária: na poupança se você não sacar na “data de aniversário” da aplicação você não ganhará os juros do período. A única desvantagem que vejo em fundos de renda fixa é que se você sacar a aplicação em menos de um mês sua rentabilidade será prejudicada, já que haverá a incidência do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Alguns leitores poderiam citar a incidência de imposto de renda sobre os rendimentos como uma desvantagem, mas este imposto é automaticamente retido na aplicação e mesmo com ele o investimento rende mais do que a poupança. Algumas pessoas ainda ficam ressabiadas em investir em fundos de renda fixa, com medo de “não dar certo” ou “perder dinheiro”, e que a poupança seria um bom investimento por ser “certo”. Brasileiro tem mesmo memória curta e esquece-se que o presidente Collor confiscou os investimentos da “protegida” caderneta de poupança em março de 1990. Portanto, essa coisa de “investimento 100% seguro” não existe.

Rentabilidade muito acima do mercado em investimento “secreto”? CORRA, É GOLPE! Querer ficar rico muito rapidamente, através de investimentos que rendam acima da média de mercado, é chamariz para golpistas. O tipo de golpe mais comum chama-se Ponzi8, onde a rentabilidade dos “investidores” antigos é paga com o

. Acesso em: 12-jul-2015. 8 Usa-se o nome “Ponzi” para pirâmides financeiras que sejam golpes relacionados a investimentos financeiros. O nome é em “homenagem” a Carlo Ponzi, golpista italiano que tornou o esquema famoso. Adivinha para qual país ele fugiu?

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dinheiro que entrou de novos “investidores”. O esquema se sustenta enquanto existirem novos “patos” a caírem no golpe. A partir do momento que faltam “clientes”, a pirâmide desmorona e você perde todo o seu dinheiro. As características básicas desse tipo de golpe são: 1. Normalmente vêm indicados por alguém “de confiança”; 2. Prometem rendimentos acima do mercado “sem risco”; 3. Apresentam testemunhos de “clientes” que estão ganhando muito dinheiro com o “investimento”; 4. São divulgados como sendo “secretos” ou exclusivos a um pequeno grupo; 5. O golpista em geral faz questão que você faça apenas um pequeno investimento inicial, e depois que você recebe seus primeiros rendimentos (que são pagos com o mesmo dinheiro que você entregou aos golpistas), te convence a investir mais dinheiro; 6. Quando os rendimentos começam a falhar, o golpista tem sempre uma desculpa plausível. Pelo menos dois grandes esquemas Ponzi foram aplicados no Brasil por empresas aparentemente “legítimas”, o das Fazendas Reunidas Boi Gordo (FRBG) e o da Avestruz Master9. Vários outros esquemas de pirâmide financeira ficaram famosos no Brasil, mas normalmente só os grandes golpes aparecem na grande mídia. Escutou um papo que se encaixa nos itens acima? CORRA E AVISE À POLÍCIA!

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Ver http://www.vinciapogeo.com.br/blog-apogeo/economia-e-mercado/esquemas-ponzi-ii-outros-casos/

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Capítulo 5 Considerações sobre estilo de vida Melhorar sua saúde financeira e atingir sua independência financeira devem ser um veículo em sua vida, e nunca o destino final. O objetivo final é ser feliz. E que ele seja atingido com o estilo de vida que você quer para você e para sua família. Qualquer pessoa que responda “ter dinheiro” ou “ter (preencha aqui com um objeto de consumo qualquer)” à pergunta “o que você mais quer na vida” está com seu objetivo de vida trocado e precisa repensá-lo: possivelmente ela terá uma vida infeliz. Histórias de milionários infelizes e com histórias familiares das mais esquisitas possíveis (filhos de milionários que foram criados desconexos dos pais, filhos que matam os pais por causa de dinheiro, brigas entre familiares por causa do dinheiro da família, etc), é que não faltam1. Porém, histórias de desconhecidos que viveram infelizes, que só pensavam em ganhar dinheiro e que nunca enriqueceram são muito mais comuns, porém nunca chegam à mídia nem viram filme (afinal, qual é a graça de uma história sobre um cara que era pobre, ralou para caramba para ficar rico, nunca chegou nem perto, morreu pobre e seus filhos guardam ressentimento até hoje por terem tido um pai ausente?). Ter muito dinheiro e ser infeliz é ruim, da mesma forma que ser feliz e não ter dinheiro para viver a vida como você gostaria de viver também é ruim. A maior parte das pessoas que vive apertada de grana e frequentemente no vermelho vive angustiada, “na corda bamba”. Não vivem como gostariam de estar vivendo. Não estão usufruindo tudo o que a vida tem a oferecer. Em vez de viver, estão meramente sobrevivendo. Muitas vezes as pessoas estão vivendo “no piloto automático”, sem se perguntarem por que estão vivendo daquela forma, ou então estão fazendo tudo

1

Assista ao filme “Foxcatcher” para uma história verídica que exemplifica isso bem.

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o que “os outros” disseram para elas o que era “certo” de se fazer. E tomando decisões financeiras e de estilo de vida que talvez não sejam as melhores. Especialmente nos grandes centros urbanos, há pessoas que têm passado a se preocupar com a melhoria da qualidade de vida, em vez de simplesmente “ter coisas”. Por exemplo, passar mais tempo com os filhos é muito mais importante do que enchê-los de presentes e ser um pai ou uma mãe ausente, e felizmente muita gente está acordando para isso. Entretanto, mesmo com tanta discussão sobre melhoria da qualidade de vida, ainda vejo muita coisa desconexa sendo feita, inclusive por aqueles que enchem a boca para falar de “qualidade de vida”. Em tempo: este livro é apenas um apanhado de ideias e opiniões pessoais, e você pode discordar delas à vontade. Não existe “certo” ou “errado” para os tópicos deste capítulo, pois só você sabe qual é o estilo de vida em que você quer viver. No entanto, faça uma reflexão para ver se há ajustes que podem ser feitos em sua vida para melhorá-la.

O que é qualidade de vida? Talvez você já conheça a história que reproduzo a seguir2. Mesmo que você já a conheça, vale relembrá-la, pois resume com primor os conceitos básicos deste capítulo. Um executivo americano de férias estava em um pier de um pequeno vilarejo de pesca, no sul do México, e viu um barco pequeno com um jovem pescador mexicano atracar no cais. Dentro do barco, havia vários grandes atuns. Curtindo o clima do sol do início da tarde, o americano elogiou o mexicano pela qualidade do peixe. – Quanto tempo você demorou pra pescar esses peixes? – perguntou o americano.

2

Ela circula na internet há algum tempo e, até onde eu pude apurar, foi originalmente publicada no livro The 4Hour Workweek, de Timothy Ferriss.

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– Ah, só algumas horas. – respondeu o mexicano. – Por que você não fica mais tempo no mar e pesca mais peixes? – o executivo perguntou. O mexicano responde: “com esses peixes eu tenho mais do que suficiente pra sustentar as necessidades da minha família”. O americano ficou sério. “Mas o que você faz com o resto do seu tempo?” – Eu durmo tarde, brinco com os meus filhos, assisto jogo de futebol e faço a siesta com a minha mulher. Às vezes, à tarde, eu gosto de ir ao vilarejo ver meus amigos, tocar violão, cantar… O americano interrompeu sem paciência: “olha, eu tenho um MBA de Harvard e eu posso te ajudar a ter mais lucro. Você pode começar a pescar por mais horas todo dia. Assim, você vende os peixes extras que pescar. Com o dinheiro extra, você compra um barco maior. Com a renda que o barco maior te trouxer, você pode comprar um segundo barco, um terceiro barco e por aí vai, até ter uma frota inteira de barcos de pesca.” Orgulhoso do raciocínio, ele elaborou um plano que iria trazer mais lucro ainda, “eventualmente, você vende seu peixe diretamente pra processadores ou até abrir a sua própria fábrica de conservas. Você pode controlar o produto, o processo e a distribuição. Você poderia largar esse vilarejo e se mudar pra Cidade do México ou talvez até Los Angeles, Nova Iorque, onde você poderia expandir ainda mais seu negócio.” Isso tudo era novidade para o pescador mexicano. Ele então perguntou “quanto tempo duraria isso tudo?” Depois de um cálculo rápido, o executivo respondeu “provavelmente de 15 a 20 anos, talvez menos se você trabalhar muito”. – E depois disso, senhor? – perguntou o mexicano. Ele respondeu com uma resposta: “aí vem a melhor parte! Quando chegar a hora, você vende a sua empresa e fica muito rico. Você terá milhões de dólares.” http://www.terremoto.com.br

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– Milhões? Jura? E o que eu faria com isso tudo? O executivo gabou-se: “aí você poderia se aposentar com todo o dinheiro que você fez. Poderia se mudar para um simples vilarejo de pesca, onde você dormiria tarde, brincaria com seus netos, assistiria jogos de futebol e faria a siesta com a sua mulher. Você poderia ir para o vilarejo à noite pra tocar violão e cantar com seus amigos.”

Ser, ter e fazer É muito importante que você aprenda diferenciar “ser”, “ter” e “fazer”. Muita gente por aí mistura as bolas. “Ser” é tudo aquilo que você é, do ponto de vista genético apenas. Por exemplo, eu sou alto, branco, tenho olhos pretos, sou calvo, etc. “Ter” é tudo aquilo que, como o nome diz, eu tenho. Eu tenho um carro, eu tenho uma casa, eu tenho um computador, etc. “Fazer” é tudo aquilo que eu faço e também tudo aquilo que não cai nas outras duas opções. Por exemplo, todo o lado profissional entra aqui. A frase “eu sou um escritor” na realidade entra aqui, pois “ser escritor” é o que eu faço, mas não é o que eu sou. Quando confundimos essas classificações, encontramos problemas em nossa vida, especialmente quando somos acometidos de algum tipo de adversidade. Você possivelmente conhece alguém que tem um carro e vive preocupado com ele. Não estaciona na rua com medo de ter o carro arranhado, evita ir a determinados lugars com medo de ter o carro roubado, e/ou deixa o carro na garagem coberto com uma capa e quase não usa o mesmo. Eu conheço um camarada assim. Ele comprou um carro zero mas ficava com tanto medo de estragar o carro que ele acabou comprando um segundo carro, um Escort 1989 caindo aos pedaços, para rodar por aí. O carro zero vive trancado na garagem. Além da pessoa não usufruir o que tem, vive em função daquele objeto. No caso do meu camarada, ele não é o dono do carro: o carro que é dono dele! http://www.terremoto.com.br

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Portanto, há uma clara confusão aí no “ter”. Ter algo só se for para usufrui-lo. Se um carro zero vai te trazer tanta preocupação, é melhor ajustar suas expectativas e simplesmente não comprar um carro, ou então comprar um carro mais simples (só não compre um Escort caindo aos pedaços!) que faça você se sentir seguro em usá-lo. No caso do meu conhecido, ele não pediu a minha opinião e o dinheiro é dele (uma coisa que você aprenderá rapidinho após ler este livro é que, é perda de tempo tentar explicar esse tipo de coisa para quem não quer ouvir; voltaremos a este assunto no próximo capítulo). Outra confusão comum é entre “ser” e “fazer”, especialmente no lado profissional. Nós todos falamos “eu sou isso”, “eu sou aquilo”, mas que na realidade estamos falando do que fazemos, não do que realmente somos. Por exemplo, quando alguém diz “eu sou engenheiro da Petrobras”, ele está falando sobre o que ele faz, e não o que ele é (ele não nasceu engenheiro da Petrobras e, portanto, “engenheiro da Petrobras” não é o que ele é de verdade, mas sim uma função que ele exerce). Desde que você entenda a diferença, não há problema algum. Problemas começam quando você realmente acha que é aquilo que você faz. Se esta pessoa, por outro lado, realmente achar que ele é engenheiro da Petrobras, ele estará em maus lençóis se ele for demitido por algum motivo (até porque possivelmente a maioria dos funcionários da Petrobras pensa que não há como ser demitido). Você já deve ter ouvido casos de pessoas que continuam “indo ao trabalho” mesmo depois de demitidas ou de pessoas que se suicidam após uma demissão. Pois é, elas eram o trabalho, e sem o trabalho as coisas passam a não fazer mais sentido. Portanto, é importante que você entenda que aquilo que você faz não é aquilo que você é. Se você conseguir entender e mudar a sua forma de pensar a este respeito, não ficará “engessado” e passará a sentir uma maior liberdade e facilidade caso precise trocar de emprego, de profissão, de país, de relacionamento etc. E também poderá fazer e experimentar, sem medo de ser criticado (principalmente por você mesmo), tudo aquilo que você gosta e que tem vontade de fazer.

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Eu sou um defensor fervoroso da ideia que todos devem fazer tudo aquilo que gostam e têm vontade de fazer. O cara “é” general do Exército, mas gosta de orquídeas e quer fazer um curso sobre o tema? Qual é o problema? No meu caso pessoal tem muita gente que não entende como eu consigo ser tão multifacetado e ter tantos interesses: escrever livros e artigos sobre informática, ser mestre 4º dan em Taekwondo, ser D.J., ter formação em medicina oriental (e já ter trabalhado com isso por um breve período), ter formação em Análise Transacional (uma das escolas de psicologia), gostar de ler livros sobre finanças, já ter vivido de consertar computadores, já ter sido professor, já ter tido como hobby aquário de água salgada, ter iniciado um mestrado em economia, já ter experimentado vários esportes radicais (e ter vomitado em absolutamente todos eles), etc., etc., etc. Inclusive aposto que se você for meu amigo e me conhecer pessoalmente terá um ou dois itens dessa lista que você nem sabia! A questão toda é que eu sei que tudo isso é o que eu faço e não o que eu sou e, por isso, sei que não preciso de qualquer tipo de rótulo; eu vivo sob uma filosofia de fazer tudo o que eu gosto e que dá vontade de fazer. Me lembro de uma reuniãozinha onde estavam os colegas de escola, quando disse que estava estudando acupuntura, e um colega disse “ué, mas para que você está estudando isso? Não tem nada a ver com informática!” Deu vontade de responder, “para não ficar uma pessoa limitada como você!” Mas fui político e disse que era porque eu gostava. O colega não entendeu, achou estranho. Curiosamente nunca mais o vi depois desse dia. Não sei se é só coincidência. Não ter a necessidade de viver sob um rótulo... Veja se você não está precisando de um pouco disso na sua vida... Isso vale também para comportamento. Por exemplo, pessoas normalmente falam “eu sou tímido”, “eu sou extrovertido”, “eu sou burro”, “eu sou inteligente”, etc. Na realidade isso tudo não é o que você é, mas sim o seu comportamento, isto é, aquilo que você faz – rótulos que criamos para nós mesmos e para outras pessoas nos identificar com mais facilidade. E se você realmente quiser, você pode mudar. Até mesmo se você acha que “é burro” e “não leva jeito para essas coisas de finanças”, acredite, você não é isso, você está http://www.terremoto.com.br

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apenas desempenhando um papel, tal qual um ator em um filme ou peça de teatro interpreta um personagem. Ninguém nasce sabendo sobre finanças; certamente este assunto pode ser aprendido com relativa facilidade. Basta querer. Idem para qualquer outra área do conhecimento existente. A grande pergunta então: você gosta do personagem que você está interpretando? Será que não é hora de mudar de personagem?3 Em relação a dinheiro, que é o tema central do livro, é importante entendermos que tudo aquilo que temos pode ser temporário e não permanente. Com isso em mente, se a vida nos passar uma rasteira, conseguimos nos levantar, nos ajustar à nova realidade e caminhar novamente em pouco tempo. Aqueles que ficam “engessados”, presos no passado e a rótulos, não conseguem se levantar. E todos nós tomamos pelo menos uma grande rasteira na vida. Basta lembrar que uma pessoa bem sucedida terá vários fracassos em seu currículo, enquanto que uma pessoa fracassada normalmente terá apenas um único fracasso, pois ela se paralisa4. Qual dos três é mais importante? Ser, ter ou fazer? Sem sombra de dúvidas, o importante é ser. Existir. Viver. Mas a nossa sociedade, turbinada pelas campanhas publicitárias, faz todos nós acreditarmos que o mais importante é ter. A maioria cai nessa armadilha. “Tenho que ter um carro”, “tenho que ter uma casa própria”, “tenho que ter o smartphone de última geração”, “tenho que ter ________”, tenho que ter, ter, ter.

O “efeito manada” O ser humano tende a ter comportamento de manada. Todos nós queremos sentir que pertencemos a um grupo e, com isso, copiamos os hábitos desse grupo. Basta lembrar nossa época de escola: sempre havia algum modismo, como

3

Sei que não é fácil. Se quiser realmente investir em si próprio, procure Análise Transacional, por usar uma abordagem didática e prática, onde o terapeuta ensina ao cliente o ferramental necessário para que ele possa, sozinho, lidar com situações do dia a dia e objetivos de curto e longo prazos, e você verá retorno já no curto prazo. 4 Ver tópico “Inventar desculpas e não assumir responsabilidades” no Capítulo 1.

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um determinado brinquedo ou marca de roupa, e que todos da sala queriam ter para se sentirem incluídos. Mesmo depois de adultos continuamos com este comportamento, conforme discutimos no Capítulo 3. Compramos determinados produtos para “não ficarmos de fora”. Além de objetos de consumo, o efeito manada também se aplica a estilo de vida. Vamos aprendendo o que “temos” de ter para nos sentirmos felizes, realizados ou “in” dentro de um grupo. E acabamos tomando decisões de estilo de vida baseadas nas expectativas de outros. E, muitas vezes, quando pensamos estar tomando decisões “próprias”, uma análise mais aprofunada indica que podemos estar “contaminados” pelo efeito manada, achando que estamos tomando decisões autônomas quando na verdade estamos apenas repetindo o comportamento que outros esperam da gente. Na real, somos um bando de “macacos de imitação”. Temos de ter um carro... Temos de ter uma casa própria... Se temos filhos, temos de ter uma babá... Temos de ter uma empregada doméstica...5 E por aí vai. Aí acaba você vivendo igual à maioria: ferrado de grana para poder bancar um estilo de vida que talvez você nem tenha se questionado se era o que você realmente queria. Vivendo, ou melhor, sobrevivendo no piloto automático, girando a rodinha de hamster em que você vive... Roda, roda, roda e não sai do lugar... Como falei logo no primeiro capítulo, você não conseguirá obter resultados diferentes fazendo a mesma coisa, nem tampouco melhorará sua vida financeira – e o seu estilo de vida – fazendo aquilo o que todo todo mundo faz. Sei, por experiência própria, que se afastar da manada é difícil, mas é necessário caso você queira obter sucesso na vida. A pressão contra é enorme (“por que

5

Estes dois últimos itens, inclusive, são reflexos da nossa cultura escravagista de sempre termos um serviçal a disposição. Fora do Brasil, uma babá ou doméstica “full time” só é comum de se ver em famílias podres de ricas. Mesmo os afluentes não se dão esse luxo.

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você não compra um carro?”, “poxa, você ainda vive de aluguel?”, “por que você não compra um iPhone?” etc.), mas isso não necessariamente significa que você tenha de se afastar de seus amigos ou de pessoas médias; você terá apenas que aprender a ter “ouvido de mercador” (isto é, ignorar o que as pessoas dizem), não deixar se contaminar com o pensamento “furado” da maioria das pessoas e seguir adiante com a sua vida no caminho que você realmente quer percorrer. Como disse no início deste capítulo, você não precisa concordar com o que eu vou relatar a partir do próximo tópico até o final deste capítulo, mas peço que você pare para pensar se não há ajustes que podem ser feitos para melhorar tanto a sua saúde financeira quanto o seu estilo de vida com base nos temas apresentados.

Carro: um mal necessário? O sonho de consumo de muita gente é ter um carro, e frequentemente escuto de amigos classe média que eles “precisam” ter um carro. A explicação mais usada é “e se acontece alguma coisa e preciso me locomover”? Também escuto muito “e como eu vou ao trabalho”? Além disso, há uma pressão social, a de que você precisa ter um carro para mostrar “status” aos outros, para mostrar que você está “bem de vida”, para “se mostrar” e para “pegar mulher”6. Tudo uma grande bobagem! É recomendado que você não tenha mais do que 10% do seu patrimônio em um carro. Se você não tem patrimônio, ter um carro é suicídio financeiro, pelo menos no Brasil. Pois, além do carro, você tem de gastar dinheiro com combustível, seguro, IPVA, multas, estacionamento, pedágio, manutenção, lavagem etc. Sem contar que muitas pessoas compram carro financiado e acabam no final pagando dois carros (ainda tem isso!). Muita gente faz as contas e vê que a prestação cabe no orçamento, mas se esquece de todos esses custos extras!

6

Mais uma vez, apenas reproduzo o modo de pensar de alguns homens, do qual não compartilho, pois quero que mulheres saiam comigo porque gostam da minha presença, e não a do meu carro.

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Vários estudos já foram feitos mostrando que sai mais barato pegar táxi todos os dias do que ter um carro “popular”789. A diferença para carros mais caros é ainda mais absurda. Especialmente se você ainda estiver no início de sua caminhada rumo à sua independência financeira, todo esse gasto que você teria com o carro você pode investir, juntar, e preparar o seu “pé de meia”. Quanto antes você começar a juntar dinheiro, mas cedo o efeito dos juros compostos entra em ação. Depois que você acumular mais patrimônio, aí sim você pode ter o seu carro, desde que ele não ultrapasse 10% do seu patrimônio. O que você acha melhor, fazer um sacrifício de usar transporte público e táxi por, digamos, cinco anos, e ter uma saúde financeira vigorosa que te sustentará pelo resto da sua vida depois disso, ou ter um carro agora e viver sempre “na corda bamba”? Infelizmente a maioria das pessoas escolhe a segunda opção, pelo efeito do imediatismo que já discutimos no primeiro capítulo. Mas tem gente que torce o nariz quando fala-se em pegar transporte público. Afinal, isso é coisa “de pobre”. Sinceramente, isso é mentalidade típica de país subdesenvolvido, onde uns querem mostrar que “têm” e fazem questão de não se misturar com aqueles que “não têm”. Como disse anteriormente no livro, no Brasil o maior preconceito é justamente este, o econômico. Sinceramente, para que eu vou contribuir com o engarrafamento, poluir o ar, me estressar e perder mais tempo se posso pegar um trem ou ônibus? Além de ser mais saudável andar. É justamente uma decisão de estilo de vida. “Ah, mas nos Estados Unidos, um país de primeiro mundo, todo mundo tem carro!”10 Meu amigo, lá, além do país ser planejado para todo mundo ter carro, 7

CALDAS, Cadu. Saiba quanto custa o seu carro e se não é melhor andar de táxi. Zero Hora, Porto Alegre, 21 fev. 2015. Disponível em Acesso em: 23 jul. 2015. 8 TREVIZAN, Karina. Custo de táxi para ir ao trabalho pode compensar o do carro próprio em SP. G1, São Paulo, 27 dez. 2014. Disponível em . Acesso em: 23 jul. 2015. 9 YAZBEK, Priscila. Carro ou táxi: o que vale mais a pena em 5 regiões. Exame, São Paulo, 23 out. 2013. Disponível em . Acesso em: 23 jul. 2015. 10 Com exceção de Nova Iorque.

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um carro custa a metade do preço de um carro no Brasil, o salário médio das pessoas é muito mais alto, o IPVA é muito inferior, o custo de manutenção é ridiculamente mais baixo, o valor do seguro é muito baixo, quase não existem pedágios nem estacionamentos pagos, os juros que um americano paga por ano você paga por mês e por aí vai11. É por isso que nos EUA é fácil ver pessoas com dois ou três carros em casa. Você não pode comparar a realidade de outro país com a do Brasil, nem tampouco querer ter o estilo de vida que você teria em outro país morando no Brasil! E se você quiser viajar? Alugue um carro. Sai bem mais barato. Claro que estou falando isso tudo apenas para provocá-lo a pensar no assunto. Faça essa reflexão: um carro, em seu momento de vida atual, é realmente necessário? Você conseguiria alterar o seu estilo de vida para não precisar mais de carro até você colocar suas finanças em ordem? Eu falo tudo isso, mas já caí na besteira de ter carro quando não precisava. Foi a história da BMW que eu mencionei no Capítulo 3, pois no final das contas eu só usava o carro aos fins de semana, já que durante a semana tudo o que eu tinha que fazer em minha rotina eu ia a pé, de ônibus ou de metrô. A BMW gerou um baita custo que hoje, olhando para trás, vejo que foi completamente desnecessário. Poderia viver tranquilamente pegando táxi aos fins de semana. Mas na época eu não via dessa forma, é claro... Mas e se você realmente precisa de um carro para ir e vir do trabalho? É o nosso próximo tópico.

Morar longe do trabalho Tempo é o nosso ativo mais precioso. Nós vivemos apenas uma determinada quantidade de tempo, e um tempo disperdiçado é um tempo não vivido. Por pensar dessa forma, tenho muita dificuldade de entender o que leva um indivíduo gastar duas horas para ir e duas horas para voltar do trabalho, todos os 11

Eu escrevi em detalhes sobre o custo do ter aquele meu Honda CR-V nos EUA: http://www.terremoto.com.br/ocusto-de-se-ter-carro-nos-eua/.

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dias. Essas horas são completamente desperdiçadas. São horas que não voltam. São horas a menos com seus filhos. São horas a menos que você não estuda. São horas a menos que você não ganha dinheiro. Entendo que realmente possa haver casos em que essa situação seja inevitável, como o vendedor ou representante que passa o dia “na rua” visitando clientes. Ou pessoas que estão ainda recém-contratadas e não sabem se o emprego vai “vingar”. Mas sendo evitável, não vejo porque levar esse estilo de vida. Há pessoas que, em busca de uma melhor qualidade de vida, se mudam para um condomínio fechado que fica a duas horas do trabalho e perdem quatro horas, todos os dias, no trânsito. Isso é realmente uma melhoria da qualidade de vida ou o chavão “qualidade de vida” foi usado da boca para fora, apenas para justificar essa mudança? Para justificar os mitos “tenho que ter um carro” e “tenho que ter uma casa própria” e viver na corrida dos ratos12? Para ilustrar este ponto, vou pegar emprestada a história do meu amigo Alberto, que compartilha a mesma visão de estilo de vida que a minha. Quando ele se mudou do Rio de Janeiro para São Paulo para trabalhar em uma multinacional localizada na Av. Engenheiro Luis Carlos Berrini, procurou e encontrou um apartamento muito próximo ao trabalho, a apenas duas quadras de distância, de modo que ele ia e voltava do trabalho a pé, e ainda podia ir almoçar em casa, se quisesse. Ele começou a perceber que a maioria dos colegas dele (todos na mesma faixa de salário que ele) moravam muito longe, e que gastavam justamente as duas horas para vir e duas horas para voltar do trabalho, todos os dias. Quando ele questionou os colegas sobre o porquê de eles não morarem perto do trabalho, as respostas eram sempre variações de “aqui perto não tem nada bom” (o que não era verdade, já que o apartamento do meu amigo era de alto padrão em primeira 12

Expressão, popularizada no Brasil através dos livros do Robert Kiyosaki, que expressa bem a pessoa correr atrás de um objetivo, mas não sair do lugar, tal como um rato correndo dentro de uma rodinha. É também aplicada para designar as pessoas da classe média que fazem exatamente aquilo que é esperado delas, como ter carro (financiado), casa própria (financiada), morar em um subúrbio (no caso dos EUA), ter filhos, viver dentro de uma rotina etc. Ou seja, fazer tudo igual aos outros na esperança de obter sucesso. Mas, como já discutimos, não é possível obter sucesso fazendo tudo igual aos outros.

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locação). Na realidade, o verdadeiro significado da resposta era o seguinte: “eu nunca procurei, mas como o bairro aqui do lado não tem ‘renome’, não vai me dar o mesmo status de dizer que eu moro em Alphaville”. É justamente este tipo de mentalidade que faz o sujeito ficar rodando a rodinha de hamster em que ele vive. Será que morar perto do trabalho e ter mais tempo com a família não é mais importante do que morar longe só para dizer que você mora em um local “chique” para impressionar os outros? Chega o fim de semana e a área onde você mora fica deserta? Não tem problema, pega a família e vá passear, fazer pequenas viagens com o dinheiro que você economizou! Outra coisa curiosa, também percebida e narrada pelo mesmo amigo no trabalho dele: ele notou que havia colegas que moravam muito próximos uns dos outros, mas não davam carona (os colegas poderiam combinar um revezamento, por exemplo, uma semana um dirige o seu próprio carro, na outra o outro dirige seu próprio carro, assim divide-se de forma justa os custos de combustível e o uso do carro). Quando ele questionou os colegas, a resposta foi algo como “ué, o fulano tem o carro dele, ele não precisa de carona”. O que mostra o nível de egoísmo de algumas pessoas. Mas poderíamos interpretar como “eu tenho a necessidade de mostrar a todos na empresa o carro que eu tenho, assim todos podem ver como sou bem-sucedido; carona é ‘coisa de pobre’”. A consequência é a que todos moradores dos grandes centros urbanos conhecem: excesso de carros na rua, com apenas uma pessoa dentro de cada carro, causando mais congestionamento e poluição. A propósito, nos dias de chuva muito forte e inesperada, como ele ia a pé e morava apenas a duas quadras do trabalho, ele pedia carona a colegas e a resposta mais comum era “não dá, não vou por aquele caminho... Mas por que você não veio de carro?”. Inacreditável.

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O mito da casa própria No mundo inteiro é perpetuado o mito de que “temos” de ter uma casa própria, que é melhor pagar um financiamento do que pagar um aluguel, pois o dinheiro do aluguel não volta, etc. Fora do Brasil, o mito da casa própria é visivelmente perpetuado pela a indústria hipotecária. Nos EUA, bancos, cooperativas de crédito e financeiras frequentemente vendem a ideia de que ter uma casa própria financiada é o “sonho americano”13. Na Austrália, vi a propaganda de uma empresa de financiamento que dizia: “todo casal jovem precisa ter uma casa própria”. Já no Brasil, o mito da casa própria é uma herança dos nossos tempos de hiperinflação, onde imóveis eram uma das poucas formas de não ver seu dinheiro virar pó. E as recentes bolhas especulativas, inclusive no Brasil, ajudam a perpetuar a ideia de que imóveis são um excelente investimento porque o preço deles só sobe. O problema é quando a pessoa, só porque “tem que ter” uma casa própria, acaba comprando uma casa na Casa do Chapéu (porque os preços dos imóveis perto do trabalho estão muito altos), e gasta as tais duas horas para vir e ir, mais os custos relativos ao carro... Veja como uma coisa está ligada a outra... Ou então até compram um imóvel perto do trabalho, mas mudam de emprego para outro distante... Eu já tive casa própria financiada, eu já tive casa própria quitada e já morei de aluguel. Para mim, ao levar em conta o estilo de vida que eu quero, a última opção é a melhor, pois me dá a liberdade para eu me mudar com maior agilidade quando quiser. Financeiramente, com exceção de períodos de bolhas especulativas como os vividos recentemente no Brasil devido à expansão de crédito durante o primeiro governo Dilma (2010-2014), pode ser mais vantajoso alugar do que comprar. 13

De acordo com a Wikipédia em inglês, em uma tradução livre: “O sonho americano é o ethos nacional dos Estados Unidos, um conjunto de ideais em que liberdade inclui oportunidade para prosperidade e sucesso, e uma mobilidade social ascendente para a família e filhos, atingida através de trabalho árduo em uma sociedade com poucas barreiras”. O próprio sonho americano, verdadeiro nos EUA pós-guerra, é atualmente um mito.

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A matemática está explicada melhor no primeiro livro do Mauro Halfeld14, mas o macete é descobrir o percentual que o aluguel vale em relação ao valor do imóvel. São poucos imóveis que são listados para venda e aluguel ao mesmo tempo, mas uma pesquisa no mesmo prédio ou bairro pode te dar pelo menos uma ideia. Por exemplo, se um apartamento vale R$ 1 milhão e o aluguel pedido é de R$ 3.500 por mês, o percentual é de 0,35% (R$ 3.500/R$ 1 milhão). Isso significa que, não levando-se em consideração a valorização do imóvel, é um investimento que rende 0,35% para o proprietário. Se eu tenho R$ 1 milhão e invisto em renda fixa hoje (julho de 2015), tenho um rendimento seguro e certo de cerca de 0,8%, ou seja, R$ 8.000 por mês. Isso dá e sobra para pagar o aluguel, então é mais jogo alugar do que comprar, já que a diferença é reinvestida e meu patrimônio só aumenta. Este exemplo foi dado com renda fixa, mas, como falei no capítulo anterior, eu particulamente invisto em fundos multimercado que rendem mais do que isso, portanto investir o dinheiro e alugar, para mim, faz mais sentido. Mesmo que você não tenha uma reserva financeira, você acumulará mais patrimônio no longo prazo se alugar e investir religiosamente todos os meses do que se comprar um imóvel financiado a taxas de juros tupiniquins de pelo menos 1% ao mês (obviamente se você tiver acesso a um financiamento a taxas de juros abaixo disso, a história muda) mais correção monetária (que é algo que não existe em países desenvolvidos). Você pode fazer a seguinte simulação: supondo que você esteja pensando em comprar um imóvel financiado, veja quanto seria o aluguel de um imóvel financiado e veja quanto seria a prestação. Com quase toda a certeza a prestação será mais cara do que o aluguel. Se você colocar em um fundo de renda fixa o montante que você ia dar de entrada e, mensalmente, a diferença entre o aluguel e o valor que seria o da prestação, você estará bem melhor (só não se esqueça de

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HALFELD, Mauro. Investimentos: como administrar melhor seu dinheiro. 3ª Ed. São Paulo: Fundamento, 2007.

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aumentar anualmente o valor da parcela que você investirá para compensar a inflação). Mas entendo que muitas pessoas tenham dificuldade de justamente investir parte da renda mensal em um fundo de renda fixa todos os meses e seguir o plano que apresentei no capítulo anterior, e que precisam de uma prestação para se forçar a poupar. Aqui trago apenas algumas ideias diferentes das habituais que costumamos ouvir no dia a dia. Obviamente essas contas são rudimentares pois não levam em conta a valorização do imóvel nem a inflação, mas são um exercício para mostrar que, financeiramente, comprar um imóvel não é necessariamente melhor do que alugar. Outra coisa que para mim pesa contra a venda de imóvel é que existe uma diferença entre o quanto você acha que vale e o quando receberá na venda, todas as taxas, impostos e comissões que pagará na venda, além de ser um investimento sem liquidez e com muita burocracia para se desfazer. No caso do imóvel financiado, há outro problema mais complicado: você deve pagar os juros antes do principal. O que isso significa: nos primeiros anos do financiamento, as parcelas são para basicamente pagar os juros, portanto o seu saldo devedor diminui muito pouco. Se você decidir vender o imóvel muito antes do término do financiamento, verá que o montante que você já gastou baixou muito pouco o saldo devedor, restando ainda um valor considerável a ser pago ao banco. Além disso, como comentado, as parcelas são reajustadas anualmente de acordo com a inflação, e normalmente os salários não são ajustados dessa forma ou pelo mesmo índice, e você fica com uma bomba-relógio nas mãos. Só para um exemplo real, no primeiro imóvel que eu tive, que eu comprei na planta financiado, as prestações no primeiro ano eram de cerca de R$ 830 e, cinco anos depois, já eram de mais de R$ 2.000 (essa diferença se deu por duas causas, uma cláusula que aumentava o valor após a entrega do imóvel e a correção monetária).

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Há uma grande excessão a toda essa explicação, que é quando o seu saldo do FGTS for alto suficiente para comprar um imóvel. Aí o caso muda completamente de figura, pois o seu dinheiro fica preso no FGTS rendendo juros ridículos de 3% ao ano. No caso de uso do FGTS para dar entrada em imóvel financiado, você terá de fazer cálculos para ver se vale a pena. A sua maior preocupação deverá ser o aumento do valor das prestações ao longo dos anos, como dito no parágrafo anterior. Mas há fatores que realmente pesam a favor de se comprar imóvel em vez de alugar: você achou o imóvel dos seus sonhos e pretende morar nele por várias décadas; você quer parte do seu patrimônio imobilizado propositalmente para deixar de herança a seus filhos e não quer que eles saiam torrando seu dinheiro caso deixe em ativos de maior liquidez; o efeito de psicológio de “ter” onde morar; entre outros. Note que tais fatores são mais psicológicos do que necessariamente matemáticos. Poderíamos continuar discutindo por muito mais páginas essa dinâmica comprar versus alugar; independentemente da sua opinião sobre o tema, meu objetivo aqui foi apenas levá-lo a questionar se realmente comprar é melhor do que alugar, o que não necessariamente é verdade, mas é assumido como verdade absoluta pela maioria da população.

Babá para os filhos Não poderia deixar de comentar a questão de ter babá para os filhos. Conheço mulheres que não trabalham e, mesmo assim têm babá “full time”. Ou então, por conta de todos os aspectos que estamos discutindo, o casal não tem tempo para ficar com as crianças durante a semana, e tem babá. Em dois tempos, dependendo do nível da babá, as crianças estão falando “pobrema”, “iorgute”, “os pedar da bicicreta” e afins. Esse mesmo casal que não tem tempo para ficar com os filhos durante a semana, acaba usando os serviços da babá também durante o fim de semana, leva a babá para o restaurante e até para viagens.

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Você teve crianças para que elas sejam seus filhos ou filhos da babá?

Casa de praia, barco e outros “passivões”15 Tem um livro do Robert Kiyosaki onde ele fala que uma das diferenças entre a classe média e os ricos é que enquanto a classe média quer “ter”, os ricos querem “usufruir”. Acredito que isso resuma muito bem toda a discussão sobre estilo de vida que eu estou propondo. O que é mais importante: dizer para todo que você tem alguma coisa, ou usufruir de verdade de um estilo de vida? Por exemplo, tem gente que tem casa de praia, título de clube e barco só para mostrar aos outros. Ela tem as coisas pelos motivos errados. Se você tem para usufruir e realmente desfruta de seus momentos de lazer com a família, a história é outra. Uma reflexão que eu proponho é, em vez de gastar dinheiro com esses “passivões”, investir o dinheiro que você gastaria com eles e tirar férias anuais (ou mesmo semestrais) inesquecíveis com a família. Uma das grandes vantagens de se ter dinheiro investido é que você pode gastá-lo de maneiras diferentes, e não fica preso a ter que assumir compromissos com mensalidades, gastos com manutenção, dores de cabeça diversas, a obrigação de “ter de usar” uma propriedade etc. Com isso, seu dinheiro rende mais. Sai muito mais barato (e dá muito menos trabalho) alugar um barco com marinheiro quando quiser passear de barco do que comprar um barco! Se você ainda estiver tentando colocar suas finanças em ordem, esse tipo de supérfluo deve ser cortado imediatamente. Não deixe de se levar por essa história

15

Tradução para caso você não tenha lido nenhum livro do Robert Kiyosaki: ele chama de “passivo” qualquer coisa que tire dinheiro do seu bolso, mesmo quando é consenso que aquilo é um “bem”. Por exemplo, para a Receita Federal, carros e barcos são “bens”, porque têm valor de mercado, mas para Kiyosaki eles são “passivos”, porque tiram dinheiro do seu bolso. Você não pode contar com o valor desses “bens” porque o verdadeiro valor você só descobrirá quando tentar vendê-los (quase sempre é muito inferior ao quanto você achava que valia). A propósito, “passivão” era o apelido que um amigo deu para a minha BMW.

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de ter coisas para mostrar aos outros, para se sentir melhor que os outros ou para “não ficar de fora”. Isso é tudo bobagem.

Trabalhar com aquilo que gosta Eu acredito que todo mundo deveria, pelo menos idealmente, trabalhar com aquilo que gosta. Muita gente contra-argumenta dizendo que isso não é possível, que aquilo que gosta não dá dinheiro (desculpa preferida dos meus amigos “artistas”), etc. É preciso tomar cuidado para ver se isso realmente procede ou se não passa de pura desculpa. Se você realmente gosta de algo e realmente quer ganhar dinheiro com aquilo, você vai achar um meio de ganhar dinheiro com o que você gosta, acredite. O problema é se você não acreditar. Se você não acreditar que você é capaz de ganhar dinheiro fazendo aquilo que gosta, então já era. Não há nada que eu possa falar para você que vá te ajudar a mudar de ideia. E seja sincero consigo mesmo. Já vi muita gente falando “da boca para fora” que acredita, mas que no fundo no fundo não acredita. E é este pensamento escondido que acaba “minando” a sua mente, tal como um vírus, tornando impossível a execução de qualquer plano para ganhar dinheiro com aquilo que você gosta. Se você hoje não trabalha com aquilo que gosta, então é hora de fazer um plano para mudar isso e pensar sobre esta possibilidade. Note que não estou falando de fazer um radicalismo de largar tudo para trás e mergulhar de cabeça no incerto tendo dívidas. Isso pode até dar certo para alguns, mas acredito que a melhor coisa a se fazer é rascunhar em um papel como seria isso. Com esse planejamento você verá se a sua ideia é viável ou é pura “viagem”. O problema é que a maioria das pessoas se nivela por baixo. Por exemplo, eu tenho uma amiga que o sonho dela é viver de pintar quadros. Quando pergunto sobre o porquê de ela não ganhar dinheiro com isso, ela dá duas respostas. A primeira é a clássica “nenhum dos meus amigos que pintam quadros ganha dinheiro com isso”. Ora, só porque todo mundo que você conhece não ganha

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dinheiro com uma coisa isso não significa que você não será aquele que ganhará. Eu conheço vários artistas que ganham rios de dinheiro com suas obras. A segunda resposta é “eu não quero pintar quadro decorativo, eu quero fazer arte”. Há uma tendência entre os artistas de que arte não pode ser vendida, que o “verdadeiro artista” faz arte pela arte, sem a intenção de lucrar com ela. Olha, se você não tiver sua independência financeira ainda, sinto lhe informar que você não pode se dar a esse luxo! E, cá entre nós, se pinturas não são peça de decoração, o que elas são então? Neste caso específico, ela teria de ver se as peças que ela pinta são vendáveis ou não. Uma consultoria com um agente (“marchand”) pode ajudar ainda a artista a ver o que vende e o que não vende, e ainda se há melhorias a serem feitas em sua técnica, o que poderia ser resolvido com cursos ou aulas particulares. É preciso muita humildade nessa hora (muitos artistas que eu conheço têm dificuldade em aceitar sugestões e críticas construtivas, pois afinal eles acreditam que a “sua arte” é objeto de sua expressão única e, com isso, impossível de ser criticada; pensam, equivocadamente, que se alguém não gosta da sua arte o problema é com a pessoa que não gostou e não com a sua peça). Muitos artistas precisam fazer “peças vendáveis” (ou “comerciais”, como eles preferem chamar, em um tom de desaprovação) para poder sustentar suas peças “sem intenção de lucro”, por assim dizer. Não há nada de errado nisso. Ou você poderá fazer um planejamento em ter um emprego digamos, mais tradicional, para sustentar a sua vocação como artista. Mais uma vez, nada de errado com isso. O problema é você querer ser artista “pela arte” e não querer, em uma sociedade capitalista, fazer o menor esforço para ganhar dinheiro e pagar suas contas – e depois reclamar que está com dificuldades financeiras e que não tem dinheiro. A opção é sua, meu chapa. Eu tenho um amigo que fez diferente. Ele é músico, roqueiro e faz o que gosta... à noite! Ele fez faculdade de algo que ele também gosta e durante o dia ele tem um emprego normal!

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Mas tem gente que prefere ir pelo caminho oposto. Algo que me deixa de cabelo em pé16 é o diabo da cultura do “concurso público”. Veja bem, eu não tenho nada contra concurso público se for para algo que você realmente goste de fazer ou tenha aptidão, o que me deixa inquieto é ver gente conversando em fazer concurso público “para qualquer coisa” só para “ter o meu certo no fim do mês”. A minha discussão, como sempre, é sobre os motivos. Não só a pessoa viverá frustrada para o resto da vida, trabalhando em algo de que não gosta, como todos nós enquanto sociedade perdemos, pois teremos um servidor público possivelmente desmotivado, que está ali só para “bater ponto” e não para realmente contribuir com a melhoria da nossa sociedade. Relembrando que pagamos impostos suecos para um serviço público angolano.

A maior vantagem da independência financeira A maior vantagem de se atingir a independência financeira é você poder selecionar o que realmente quer fazer, e não precisa “engolir sapos”, como um chefe “mala” ou trabalhar com aquilo que não gosta. Em português bem claro, você pode mandar a maioria das coisas que você não gosta para aquele lugar. Assim, se você hoje não trabalha com aquilo que gosta “porque não dá dinheiro”, anime-se! Você tem um excelente motivo para trabalhar com afinco para obter sua independência financeira e viver da forma que sempre quis, fazendo aquilo que realmente te dá prazer e explorando a sua verdadeira vocação.

Saúde, alimentação e atividades físicas Para ganhar mais dinheiro, o macete é trabalhar de forma mais inteligente, e não necessariamente mais horas. Afinal, do que adianta se matar de trabalhar para juntar dinheiro se isto for “detonar” a sua saúde e você ficar sem tempo para curtir momentos com a sua família? Aliás, abrindo um parênteses já que estamos no assunto: muitos pensam que os filhos entenderão, quando mais velhos, que a ausência dos pais foi em nome de uma causa maior, a de dar maior conforto e dinheiro para a família. Porém, além 16

Obviamente é só força de expressão, já que eu sou careca.

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de geralmente os filhos criarem um ressentimento por terem tido pais ausentes, você deixará de curtir seus filhos em uma idade que não volta, e depois se lamentará. É possível que você esteja lendo este livro para justamente descobrir qual é o “pulo do gato” para conseguir ganhar dinheiro de forma mais inteligente, mas, infelizmente, isso é algo que você terá de descobrir sozinho, pois é algo muito pessoal. É questão similar a de onde investir seu dinheiro, que expliquei no capítulo anterior; não há uma regra que valha para todas as pessoas, pois as afinidades, conhecimentos, aptidões, experiências, redes de relacionamentos, etc. variam de pessoa para pessoa. Da mesma forma, você deve cuidar da sua alimentação, aquela coisa que já sabemos: maneirar no sal, no açúcar, nas frituras, na carne vermelha e no álcool, e exagerar nas frutas, verduras e legumes17. E aumentar o seu nível de atividade física, caso você leve uma vida sedentária. Mesmo caminhadas leves aos finais de semana já são muito melhores do que não fazer absolutamente nenhum tipo de exercício físico. E não fumar ou usar drogras. Além de detonarem com a sua saúde, é jogar dinheiro no lixo.

Estilos de vida alternativos Você pode trabalhar com uma meta de, ao atingir a sua independência financeira, adotar um estilo de vida completamente diferente, como no caso da estorinha do início deste capítulo. Pode também ocorrer de, ao atingir a sua independência financeira, você verificar que ela só é válida se você mantiver exatamente o mesmo estilo de vida que você tem naquele momento e, para adotar o estilo de vida que você realmente quer,

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Se você precisa de uma força neste departamento, recomendo o documentário “Fat, Sick & Nearly Dead” (http://www.imdb.com/title/tt1227378/). Tem no Netflix.

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terá de aumentar seus rendimentos passivos, como se fosse uma independência finaneira dentro da independência financeira. Porém, muitas vezes não é necessário atingir sua independência financeira para mudar de estilo de vida. Você pode chegar à conclusão, como muitos que moram nos grandes centros estão chegando, que se mudar para uma cidade menor pode ser melhor. Muita gente fica preocupada com mudanças desse tipo, pois normalmente significa conseguir um novo emprego com um salário possivelmente inferior. A maioria das pessoas vê só o valor do salário e não pensa nas despesas nem na relação custo/benefício do estilo de vida. O salário pode ser menor, mas se as despesas também forem menores, é possível que no final das contas você esteja, de fato recebendo mais (e conseguindo juntar mais para atingir a sua independência financeira). E se você tiver mais tempo para a família, e as distâncias forem menores, o estilo de vida que você levará será possivelmente superior. Dando um passo além, se você consegue trabalhar remotamente via internet, o local físico onde você está é irrelevante. Você pode estar em um grande centro, pode estar em uma cidade pequena, ou pode estar em outro país. Existe até um termo para quem trabalha remotamente e se muda com frequência: nômade digital. Mas ainda tem muita gente que não se toca que poderia estar tendo um estilo de vida melhor, e prefere continuar vivendo como sempre viveu. Mas você precisará aprender a lidar com a pressão contra, críticas e incompreensão dos amigos e família em relação a mudanças no estilo de vida. Este é o assunto do próximo capítulo.

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Capítulo 6 Desafios A jornada para a independência financeira obviamente tem os seus percalços; ela não é uma linha reta. As maiores dificuldades no início são as que você já deve estar se imaginando: mudar hábitos de consumo, passar a controlar receitas e despesas em planilhas, passar a fazer orçamento, respeitar o orçamento, tomar decisões difíceis a respeito de estilo de vida etc. Mas, sinceramente, essas são apenas dificuldades iniciais; depois que você cria esses hábitos, eles passam a estar em seu “piloto automático” e é até difícil voltar aos seus antigos hábitos. Imprevistos acontecem, é claro. Mas você não deve se preocupar muito antecipadamente com eles, ou do contrário você se paralisará e não seguirá adiante. Tem muita gente que foca demais no “e se acontecer isso”, “e se acontecer aquilo” e acaba não fazendo nada; continuam no mesmo local. O Robert Kiyosaki até brinca dizendo que é uma doença chamada analysis paralisis (paralisia por excesso de análise). Siga em frente e, se ocorrer um imprevisto, você lida com ele na hora em que ele aparecer. Quando um imprevisto acontecer, não fique achando que é o fim do mundo. Lembre-se: para todo problema, há uma solução; se não há solução, então não é um problema! É claro que algumas rasteiras da vida podem atrasar os seus planos em alguns anos (demissão inesperada, divórcio, golpes, falecimentos e problemas de saúde, por exemplo), mas não é o fim do mundo levar alguns anos a mais para atingir seus objetivos. O importante é não abandoná-los, mesmo que você precise de meses ou anos para “colocar a cabeça de volta no lugar” e retomar seus planos. Pela minha experiência, porém, as maiores dificuldades que você terá serão em relação às outras pessoas. A seguir eu relato quais foram e ainda são os meus maiores desafios desde que iniciei os meus estudos sobre finanças pessoais, na

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ordem em que eles apareceram. Acredito que você passará por situações similares.

Querer converter todo mundo Os dois primeiros livros que eu li sobre o tema foram “Pai Rico, Pai Pobre”, de Robert Kioysaki, e “Investimentos: como administrar melhor o seu dinheiro”, de Mauro Halfeld. Eu tive reações físicas durante a leitura, como ânsia de vômito e ficar batendo com a minha cabeça na parede ao lado do sofá (não é força de expressão, isso realmente aconteceu). Reações físicas fortes desse jeito indicam que algo está mudando dentro da gente, e estava me sentindo frustado e angustiado por me dar conta de estar fazendo tudo errado em relação às minhas finanças. A partir daí, não parei mais, comecei a devorar todos os livros sobre o assunto que encontrava pela frente (até hoje já li mais de 140 livros sobre o tema, a maioria catalogada em http://www.terremoto.com.br) e mudei minha saúde financeira radicalmente com a adoção de planilhas, controle de gastos, criação de ativos etc. Enfim, estava altamente empolgado. Juntamente com a minha empolgação, veio a minha vontade de pregar, de converter os amigos. Todos nós temos pelo menos um amigo muito inteligente e profissionalmente capaz, mas que vive reclamando que está com dificuldades financeiras, e certamente depois de você ler este livro você sentirá a vontade de “ensiná-lo” o que deve ser feito. O problema é que ele provavelmente não pediu a sua ajuda. Cada pessoa tem um timing diferente, e de repente o seu amigo não está preparado a ouvir o que você tem a dizer. Sem contar que tem gente que é assim: gosta de ficar reclamando, mas não faz nada para mudar a situação (afinal, se a situação melhorar, ela não poderá mais reclamar ou se fazer de vítima).

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Você tenta ajudar a pessoa, a pessoa não muda, e você se sente frustrado e ressentido. Você passa a falar mal da pessoa para os outros e, em um caso extremo, até mesmo rompe sua relação com ela. Existe uma ferramenta da Análise Transacional chamada triângulo dramático ou triângulo de Karpman que explica muito bem esse tipo de comportamento. Há três papéis no triângulo: salvador, perseguidor e vítima. Você, que está querendo ajudar, é o “salvador”, e o seu amigo, que está com dificuldades financeiras, é a “vítima”. Se ambos aceitam seus papéis, não há problema algum (pelo menos nesse caso em particular, mas pode levar a uma relação de dependência entre salvador e vítima; por exemplo, o salvador tendo que resolver todos os problemas da vítima). Porém, como a vítima recusa o seu papel como salvador, você muda de papel e passa a ser o perseguidor (criticando, falando mal da pessoa e guardando ressentimento). Todo salvador é um perseguidor em potencial. Para evitar esta dinâmica e conflitos com os seus amigos, o meu conselho é simples: não seja um “salvador”. Isso significa: 1. Não tente converter seus amigos para a sua nova “religião”. Se eles precisarem de conselho ou ajuda, que peçam diretamente de forma clara; 2. Se eles pedirem ajuda, apenas indique o caminho das pedras, como livros a serem lidos e vídeos serem assistidos; não dê o peixe: ensine a pescar. Afinal, o caminho para a independência financeira é muito pessoal e o caminho para um pode não ser o mesmo caminho para outro. Não existe uma fórmula que sirva para todos. É claro que o que digo acima aplica-se somente a amigos sem qualquer conhecimento sobre o tema; uma vez que seus amigos também estiverem no caminho da independência financeira, não só é saudável como aconselhável trocar ideias e informações, desde que feito em um ambiente protegido, isto é, privado e sem a presença de pessoas que não tenham conhecimento do tema. Esta precaução é para evitar “opiniões” (muito provavelmente “furadas”) de pessoas ao redor e não ficar expondo números da sua vida financeira a pessoas que você não tenha intimidade (lembre-se o que discutimos no primeiro capítulo: a noção de dinheiro é diferente para cada pessoa, então um valor trivial para você http://www.terremoto.com.br

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pode ser uma quantia enorme para outra pessoa), o que pode criar problemas para você no futuro.

Querer ter um mentor É natural querermos ter ídolos para nos espelharmos. No caso da educação financeira, acho que todos nós queremos um mentor que nos ajude a atingir a nossa independência financeira. Só que achar um mentor “de verdade”, um emprendedor milionário que queira colocar você debaixo da asa dele e te ensinar tudo o que ele sabe é quase impossível. E dessa necessidade de “tenho que ter um mentor” você pode entrar em maus lençóis. Em minha vida, até o momento, existiram duas pessoas que eu via como meus mentores, mas depois eu descobri que eram verdadeiros picaretas. A primeira pessoa foi o meu primeiro editor. Eu publiquei o meu primeiro livro em 1996, aos 22 anos de idade, e o camarada passava uma imagem de um empreendedor rico e bem-sucedido. Mas, assim que comecei a ler livros de educação financeira (o que ocorreu a partir de 2001, para que você consiga colocar a história em contexto), aprendi que ele era na verdade o maior “falastrão”: gastava todo o dinheiro da editora – incluindo o que me era devido – para sustentar o seu estilo de vida de luxo e aparências, e comprava tudo financiado. A segunda pessoa foi um sócio americano que eu tive. Ele contava a história que ele tinha ficado milionário na época da bolha das empresas ponto com, e que era um mega empreendedor que investia em sites, e me convidou para ir morar nos EUA para a gente tocar um site de tecnologia similar ao que eu tenho no Brasil, só que em inglês. O combinado foi que a empresa seria 50%-50%. Ao chegar lá, a ideia de 50%-50% dele era bem diferente da minha. Funcionava da seguinte forma: o dinheiro entrava na empresa, e era dividido 50%-50%. Aí, dos meus 50%,

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eu pagava todas as despesas da empresa. Reclamei, e a resposta dele foi “é assim que eu faço negócios, não gostou, volta para o Brasil”. Ao poucos, na medida em que fui ganhando mais confiança e intimidade com outras pessoas que também estavam envolvidas com ele, fui vendo que ninguém que trabalhava com ele, à exceção da filha dele, gostava dele, porque achava ele um arrogante babaca que só pensava em dinheiro e que não tratava as pessoas bem. Além disso, fui vendo que ele mentia, exagerava ou falava de uma forma que ficava parecendo que ele era o responsável exclusivo pelo sucesso de outros negócios que ele tinha e de outras pessoas envolvidas com ele. Aqui vale também uma discussão interessante. Como eu tenho um espírito agregador, onde gosto de colocar pessoas que tenham afinidade em contato para que elas sejam amigas, eu esperava o mesmo dele. E este foi um motivo secundário pelo o qual eu me associei a ele: achei que aprenderia os segredos de grandes negócios e me envolveria com empreendedores de sucesso. Depois fui descobrir, de outras pessoas que trabalhavam com ele, que a ordem era explícita: ninguém poderia deixar que eu conversasse com os sócios dele em outros negócios. O motivo que ele dava é que éramos “concorrentes” e não gostávamos uns dos outros. Na realidade, a teoria que eu tenho é que ele não queria que nos juntássemos e nos revoltássemos contra ele, pois todos estávamos no mesmo barco, amarrados a ele com algum tipo de parceria “caracu”1. Ele é um excelente exemplo de pessoa que estava no lugar certo no momento certo e ficou rica, e que pensa que é mais inteligente do que as demais pessoas só porque tem muito dinheiro. Se ele tinha uma ideia, por pior que fosse, era impossível fazê-lo mudar de opinião. A ideia dele de sentar à mesa para discutir um assunto era as demais pessoas aceitarem a opinião dele e fazerem o que ele estava mandando, sem qualquer discussão. Quem o contrariasse estava na rua.

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Ele entrando com a cara e o parceiro entrando com o...

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Mesmo esta história de ele ter ficado multimilionário na época da bolha da Internet eu já cheguei à conclusão de que é exagero dele. Ele sempre se gaba, mas diz não poder falar o valor por causa da cláusula de confidencialidade. Mas depois que eu peguei mais intimidade com uma pessoa que trabalhava com ele, ela me disse que ele recebeu US$ 1 milhão pela venda do site. Não que isso seja pouco dinheiro, mas ele sempre dizia “milhões”. O problema para mim é que o meu visto de trabalho nos EUA estava vinculado à empresa dele, e para continuar no país eu teria de continuar aturando essa figura. E chegou um ponto, junto com outras questões pessoais, que eu decidi sair dos EUA. Menos de um mês depois que eu saí dos EUA (2013), a filha dele, que tinha a mesma idade que eu e que tocava o dia a dia dos negócios dele, faleceu (a família nunca divulgou a causa), e um ano depois, o marido dela (portanto, genro dele) também faleceu (igualmente jovem). Nesse meio tempo, todas as demais pessoas que tinham negócios com ele foram uma a uma saindo fora. Até hoje eu fico impressionado com essa história, que só reforça algo que eu acredito: não adianta nada você ter dinheiro, ser um babaca e ninguém gostar de você. Mas sou grato a ele, pois se não fosse por ele, eu não teria morado nos EUA, que era um desejo muito forte dada a minha história familiar (minha mãe foi criada nos EUA). Além disso, mesmo não sendo da maneira esperada, eu aprendi muito com ele – em particular como não tratar as pessoas e maneiras de como não tocar negócios. Obviamente há muito mais detalhes e exemplos de comportamento deste meu “mentor” e da minha história de vida nos EUA (afinal, foram seis anos)2, mas já dá para ter um bom panorama dessa minha experiência para a discussão do tópico “mentores”.

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Se tiver interesse, eu gravei um podcast onde conto um pouco mais: http://www.clubedohardware.com.br/artigos/radio-cdh-programa-041/3070.

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A propósito: você pode pensar que ter me mudado para os EUA me ajudou a acumular dinheiro, porém não foi o caso. Pelo contrário, teria mais dinheiro hoje se tivesse ficado no Brasil, porém o que ganhei em experiência compensou. Minha opinião hoje é que, se você estudar o tema com afinco, você não precisa de um mentor. O seu maior mentor tem de ser você mesmo. Se você realmente precisar de suporte, monte ou participe de um grupo, mesmo que seja virtual. O Robert Kiyosaki escreveu várias vezes que ele recomenda que você encontre um mentor e, portanto, muitos leitores ficaram com isso na cabeça. Mas você tem que colocar em perspectiva que o Kiyosaki tem uma empresa que licencia o nome dele para uso de empresas que oferecem serviço de coaching3. Sejamos francos: ele está recomendando algo para tentar ganhar dinheiro em cima! Só que essas empresas de coaching são uma piada. Além de não terem qualquer vínculo com o Kiyosaki (licenciam apenas o nome), o serviço que elas prestam é completamente irrelevante. Se você ler livros e estudar por conta própria, você saberá mais que os tais “mentores” que eles oferecem. Sem contar que os tais mentores não atingiram a independência financeira deles; eles estão ali apenas para repetir o que já foi falado nos livros. Eu tenho uma amiga que comprou o pacote de coaching de uma dessas empresas. A grande recomendação deles foi que ela tinha de ter um mentor. Pensei que ela tinha pago justamente para eles serem os mentores dela... Portanto, a não ser que aconteça naturalmente de você conhecer um empresário que espontaneamente te ofereça para você ser “o aprendiz”, pare de perder tempo procurando um mentor. Você vai acabar ou nas mãos de um picareta ou gastando dinheiro com serviços inúteis. Preciso esclarecer que não acho coaching irrelevante. Se você está tendo dificuldades após ler os livros e está precisando de alguém para analisar a sua situação e te ajudar de forma personalizada, pode ser o caminho. Apenas procure um profissional competente, com referências no mercado. 3

Um serviço de consultoria privado e personalizado, como se fosse um mentor de aluguel.

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O problema é que na Internet está cheio de pessoas que leram dois livros do Kiyosaki e acham que já sabem tudo e saem criando sites de coaching e consultoria na Internet como se fossem “os” experts. A maioria dos “especialistas” sequer atingiu a independência financeira. Você teria aulas de natação com um professor que nunca nadou até o outro lado da piscina? Enquanto escrevia este capítulo, coincidentemente recebi um email de um amigo virtual dizendo o seguinte: “impressionante como esse negócio de coaching tá ‘modinha’... A gente tem visto umas coisas absurdas. Teve um cara que a gente entrou em contato querendo trocar figurinhas, o cara era super gente boa e tudo mais... A gente foi ver o site do cara e ele vende um curso de como ser empreendedor digital (detalhe, ele mora com os pais). Quer dizer, o cara não consegue nem se manter com as próprias pernas, mora na casa dos pais, tem um site, comentou que não está conseguindo nada como freelancer e pediu dicas, e quer vender um curso de como se tornar um empreendedor. A banana tá comendo o macaco mesmo...”. Só mais uma história recente que aconteceu comigo para ilustrar ainda mais o problema. Eu estava pesquisando sobre os estilos de vida “nômade digital” e “viajante perpétuo”4 aqui na Austrália e caí em um vídeo bacana de um cara daqui de Sydney falando sobre o assunto. Pesquisei pelo nome dele, encontrei o blog dele e então entrei em contato, pensando “cara maneiro, quero ser amigo dele”. Só que o camarada era o maior trambiqueiro! Eu falei para ele que já tinha alcançado a minha independência financeira e que queria trocar algumas experiências com ele, só que, além do malandro não viver aquele estilo de vida, tentou me vender o serviço de coaching dele. Eu fiquei muito “p” e mandei ele para aquele lugar. Eu vivo esse estilo de vida, tenho muito mais dinheiro do que ele, entro em contato para trocar figurinhas, e aí vem o cara tentando me vender como eu poderia atingir a minha independência financeira e viver o estilo de

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Estilo de vida que pretendo viver pelo menos por um tempo; consiste em viver viajando, não se fixando de maneira permanente em um local e trabalhando via Internet. Eu vou postar mais sobre esse assunto em http://www.terremoto.com.br.

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vida... que eu já vivo!? Enfim, só para vocês entenderem que há picaretas em todos os lugares do mundo. Aliás, há muita gente que acha que vai fazer algo “meia boca” na Internet ou comprar um kit milagroso “durma pobre e acorde rico” e vai ficar rica do dia para a noite... Há, no entanto, um curso que eu recomendo que pode te ajudar se você estiver tendo a necessidade de ter um mentor. Chama-se Empretec e é ministrado pelo SEBRAE.

Aturar gente falando besteira Temos a tendência de intervir quando vemos pessoas falam algo “errado” a respeito de algum assunto que temos o conhecimento. Por exemplo, quando alguém fala algo como “poxa, queria ter sido um homem das cavernas para ter visto os dinossauros”, muito possivelmente você ou alguém vai prontamente responder que os dinossauros já estavam extintos quando o ser humano surgiu. Em relação ao tema dinheiro, porém, o caso é mais complicado. Pois não estamos lidando com fatos, mas com mitos, crenças e opiniões, e como muito provavelmente você hoje tem uma visão sobre o assunto diferente da maioria das pessoas, não adianta contra-argumentar. Normalmente é perda de tempo, pois é muito difícil você conseguir convencer uma pessoa a mudar aquilo que ela acredita. Mais ou menos como perguntar a um vascaíno porque ele não vira flamenguista5. Com isso, normalmente você terá de se segurar quando ouvir alguém dizendo algo que você classifica como “ih, falou besteira”. Especialmente se você sabe, por experiência própria, que é pura balela. Dois exemplos: certa vez escutei de um amigo algo como “eu não conheço nenhuma pessoa que tenha ficado rica que não tenha imóvel próprio”; de uma amiga, “todo empreendedor que eu conheço virou empreendedor porque não 5

Eu não acompanho futebol e não tenho time. O exemplo foi completamente aleatório e o melhor que eu pude pensar. Substitua por outra analogia qualquer que faça mais sentido para você.

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conseguiu um emprego”. Nessas horas faço uma rápida análise da relação custo/benefício da situação para decidir se vale a pena ou não a discussão. Normalmente, eu deixo a pessoa falar a abobrinha dela. Você, porém, deverá ser forte o suficiente para não deixar o pensamento “errado” de outras pessoas “contaminar” a sua maneira de pensar. E, sinceramente, tem horas que dá nos nervos mesmo. Eu, se tenho a oportunidade, pergunto onde é o banheiro e dou um jeito de cortar a conversa. Eu particularmente recomendo que você busque formar um grupo de amigos para poder conversar abertamente sobre dinheiro e ter um contraponto às pessoas “normais”. Hoje, com a Internet, é possível encontrar pessoas de todos os lugares do mundo para trocar ideias. Eu mesmo tenho muitos amigos que conheci pela Internet, acabei conhecendo pessoalmente e que hoje são grandes amigos.

Força contra A força contra à gente seguir o nosso caminho da independência está em todo o lugar. Além das pessoas ao nosso redor repetindo os mitos que discutimos ao longo do livro, qualquer lugar que a gente olhe encontraremos convites para acreditar nos mitos do dinheiro e viver na corrida dos ratos: propagandas, programas de TV, filmes, seriados, redes sociais etc. É necessário ter muita força de vontade para ignorar todos esses convites. Eu quando estava no início da minha jornada tomei uma decisão radical: parei de assistir TV. Descobri que as notícias, quando são realmente importantes, chegam através de outras fontes, como amigos. A minha vida ficou muito mais leve, pois percebi que os noticiários de TV são muito pessimistas, e esse pessimismo acaba nos contaminando. Sabemos que notícias negativas “vendem”, mas fica até parecendo teoria conspiratória os noticiários mostrarem tragédias em outros países muito pobres, quase que dizendo “tá vendo, o Brasil tá uma meleca, mas vocês não estão ferrados que nem esses pobres coitados”. http://www.terremoto.com.br

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Atualmente o maior desafio são as redes sociais, onde o pessimismo e a raiva são multiplicados por 1.000 ou mais, sendo pior que os noticiários de TV6. Redes sociais são ferramentas excepcionais, mas aparentemente são usadas apenas para as pessoas reclamarem de qualquer coisa, não importa o que, e ficarem repetindo notícias falsas e incitando o ódio. Pior são as pessoas comentando a partir do que ela entendeu apenas lendo a manchete de uma notícia, sem terem visto ou lido a notícia completa. Quando chegou ao cúmulo de eu postar coisas bacanas na minha timeline e virem pessoas criticando o que eu estava postando, eu surtei. Por acaso eu vou na casa dos outros e falo mal do anfitrião? É assim que supostos amigos devem se comportar? Apaguei todos os meus amigos do Facebook7 e comecei do zero, só deixando aqueles que fazem comentários bacanas e postam coisas positivas e relevantes. Chega de negatividade! Por mim, eu nem teria Facebook, mas preciso de uma conta para gerenciar as páginas dos meus negócios e também, convenhamos, é uma forma rápida de compartilhar fotos das minhas viagens com a minha família e amigos. Portanto, cuidado com as fontes de pensamento negativo.

Inveja, críticas gratuitas e os “haters”8 Existem dois tipos de críticas, as construtivas e as destrutivas. As críticas construtivas são sempre bem-vindas. Já as destrutivas não servem para absolutamente, a não ser incitarem o ódio. Muitas vezes a diferença entre as duas é apenas a maneira com que são escritas ou faladas. Por exemplo, compare: “encontrei um erro no 2º parágrafo da página 35 do seu relatório, onde está escrito (...)” com “seu relatório está uma porcaria,

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Para uma excelente discussão sobre o assunto, assista ao seguinte vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=rE3j_RHkqJc. Ele é em inglês, mas há legendas em português. 7 Você deve estar se perguntando por que eu não simplesmente parei de seguir as pessoas “chatas”. O problema é que essa configuração não as impede de publicar comentários negativos naquilo que eu posto. 8 Expressão que indica pessoas que “odeiam” uma determinada pessoa ou coisa e expressam esse ódio publicamente.

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está cheio de erros”. Qual das duas nos ajuda e qual delas não serve para absolutamente nada? Esteja preparado: mais cedo ou mais tarde você encontrará alguém que não gostará de você “a troco de nada”, e você terá de aprender a lidar com isso. Algumas vão até “te perseguir” na Internet. Tais pessoas são invejosas do seu dinheiro, estilo de vida, talento, aparência, opiniões, preferência política, cargo, formação e por aí vai. Mas sei que é difícil lidar com a situação de ter uma pessoa que te odeia sem você não ter feito absolutamente nada para ela. Mas é a vida. O macete é ignorar, não dar corda. Sei que é difícil, especialmente quando os comentários vierem pela Internet, onde é rápido e fácil responder. Lembre-se: quando inventaram o revólver, o número de “machos” no mundo multiplicou por 10. E quando surgiu a Internet, o número de “machos” no mundo multiplicou por 1.000. Na maiora das vezes essas pessoas que ficam falando bobagem na Internet não têm coragem de falar as mesmas bobagens na nossa cara. São um bando de covardes, que se sentem à vontade em publicar besteiras por estarem protegidas em suas casas. Se você responde às críticas, você morde a isca e se nivela por baixo e só alimenta a negatividade. Ao responder, o crítico ganha estímulo para te atacar ainda mais. É besteira acionar judicialmente uma pessoa por causa de um comentário maldoso (a não ser, é claro, que o comentário seja algo realmente grave). Consultei advogados diferentes e a opinião é unânime: processar todo mundo é mexer em um vespeiro; se antes esse pessoal não tinha motivos para te odiar, agora eles têm. Eu cheguei a pensar em colocar aqui alguns casos reais que aconteceram comigo, mas depois pensei que seria dar espaço para esse tipo de gente e estaria focando em aspectos negativos, que foi algo que eu justamente critiquei no tópico anterior.

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Enfim, deixe os “haters” te odiarem, enquanto isso você fica em casa contando seus dólares.

Solidão O caminho para a independência financeira pode ser solitário, pois é um caminho completamente pessoal. O caminho de uma pessoa não necessariamente é igual ao caminho de outra pessoa. Mesmo em se tratando de um casal que compartilha do mesmo modo de pensar, ver a vida e está estudando o tema juntos, cada um pode ter um timing diferente. Muitas vezes você poderá se sentir frustrado, achar que todos os seus amigos são “cegos” ou “burros” e não ter mais paciência com alguns deles. Se isso acontecer, parabéns: sua reação é completamente normal e mostra que você está mudando seu modo de pensar, e talvez seja a hora de fazer novas amizades que tenham mais a ver com o seu novo modo de pensar e estilo de vida. Como falei no tópico sobre mentores, ao sentir essa necessidade, tente fazer parte de um grupo ou fazer novas amizades, mesmo que sejam virtuais. Assim você terá uma válvula de escape e não se sentirá tão sozinho, se achando o “último dos moicanos”.

Cônjuge não compartilhando o mesmo modo de pensar O título é autoexplicativo. Se o seu cônjuge não compartilhar do mesmo modo de pensar e não estiver disposto a fazer mudanças no estilo de vida do casal, você terá muita dificuldade em sua jornada rumo à independência financeira. Vocês terão de conversar muito a respeito. Vejo quatro soluções. Vocês continuarem a viver como sempre viveram e ficarem no mesmo lugar financeiramente falando; você conseguir “converter” o seu cônjuge; vocês encontrarem uma solução intermediária; ou a separação.

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As pessoas não entenderão o seu estilo de vida Viver e pensar de forma diferente da maioria faz com que a grande massa que vive na corrida dos ratos não compreenda o seu estilo de vida e hábitos de consumo. Quando estava no início da minha jornada, uma amiga não entendia porque eu dizia que não tinha dinheiro para fazer determinadas atividades, mas chegava em casa com uma sacola com vinte CDs. A dificuldade dela era entender que eu tinha um orçamento com a categoria “entretenimento”, e as tais atividades propostas custavam mais do que o valor alocado, mas os CDs não (que eu comprei em uma loja de CDs usados e custaram o equivalente a talvez cinco CDs novos, mas ela viu a quantidade e pensou que eu tivesse pago preço “de tabela” neles). No Brasil, até por ser uma pessoa relativamente conhecida na área de informática, é relativamente fácil explicar para as pessoas o que eu faço e como eu ganho dinheiro. No exterior, porém, é muito mais complicado, pois, acredite ou não, os brasileiros são muito mais ligados em tecnologia do que os gringos, muito possivelmente por conta de toda a problemática de no Brasil não ser fácil nem barato ter podutos tecnológicos, então todo mundo quer “ter”, enquanto que no exterior qualquer um pode ter, então não existe essa “necessidade” de “ter”. Há também outras diferenças culturais curiosas. No Brasil, por conta dos inúmeros anos de crise que tivemos, é muito mais fácil encontrar empreendedores, em particular microempreendedores, do que no exterior. Se não há emprego, o brasileiro “se vira”, faz qualquer coisa para ganhar dinheiro, o que é pouco comum fora do Brasil. Pelo menos nos países desenvolvidos, as pessoas só sabem o que é “emprego”. Qualquer coisa diferente de “emprego” elas não entendem. Há também outras diferenças culturais curiosas. Por exemplo, se digo que eu sou empreendedor ou empresário, a primeira pergunta é “qual é o nome da sua empresa?”. Eles perguntam isso porque querem saber se já ouviram falar, pois quando você fala que é empreendedor, eles imaginam algo grande. É engraçado, porque no Brasil a primeira pergunta http://www.terremoto.com.br

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seria “em qual área?”, pois logo imaginamos que pode ser uma micro ou pequena empresa. Se falo que trabalho com informática, a primeira pergunta é “em qual empresa você trabalha?”. E eu só pensando, “qual diferença isso faz?”, mas aparentemente as pessoas que vivem na corrida dos ratos querem saber o pedigree da sua empresa, para saberem se vão andar contigo e apresentá-lo aos amigos delas ou não. Se você trabalha, digamos, na IBM, você passava a ser apresentado como “fulano, que trabalha na IBM”. Uma confusão danada entre ser e fazer, conforme discutimos no capítulo anterior. Sim, as pessoas por lá são, no geral, muito interesseiras (obviamente há excessões). Nos EUA chegava a ser chato, porque se eu falava que trabalhava com informática, as pessoas sempre perguntavam se eu trabalhava na IDG (fábrica de caça-níqueis com sede na cidade onde eu morava). Uma visão realmente muito limitada. No Brasil, se alguém diz que trabalha com informática, a pergunta mais comum é “fazendo o que exatamente?” ou “em qual área?”. E, sinceramente, quando conheço alguém novo quero saber se essa pessoa é bacana, e não em qual empresa ela trabalha. Se digo “tenho um site na Internet”, a pessoa nem espera eu terminar de explicar, já pergunta algo como “e quanto você cobraria para fazer o meu site?”. E por aí vai. Atualmente, digo que sou “semiaposentado”. Aparentemente as pessoas entendem melhor, ficam curiosas e fazem perguntas mais inteligentes a respeito, o que gera um papo muito mais agradável. Obviamente o seu caso será diferente do meu, mas situações de pessoas não entenderem seu modo de pensar e seu estilo de vida ocorrerão, pode acreditar. A propósito, o tipo e personagem mais comum é o “palpiteiro”, aquele que fica dando pitacos do tipo “por que você não faz isso?”, “por que você não mora no bairro x?”, “porque você não compra x?” etc. São justamente os convites para te manter na corrida dos ratos. No começo é até engraçado, mas depois de um tempo torna-se cansativo.

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Conto essas histórias para você ver como as pessoas normalmente têm a tendência de encaixar uma nova informação no mapa de referências que elas têm, em vez de ampliarem seus mapas de referência: tentam enfiar um pino quadrado dentro de um buraco redondo. O macete, aparentemente, é dar um pino redondo para elas, isto é, falar de uma maneira que elas entendam. Mesmo que não seja exatamente “verdade”.

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