Os Maias Espaco

August 15, 2017 | Author: urbanmaking | Category: Philosophical Science, Science, Science (General)
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Este é um trabalho acerca da categoria narrativa espaço, especificamente, na obra d'Os Maias. O espaço é divisível e...

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Eça de Queirós

Os Maias O Espaço • Físico • Social • Psicológico

«Entravam então no peristilo do Hotel Central – e nesse momento um coupé da Companhia, chegando a largo trote do lado da Rua do Arsenal, veio estacar à porta. …E no silêncio a voz de Craft murmurou: - Très chic.»

Disciplina de Português Maio de 2009

Os Maias – O Espaço

Índice Introdução ...................................................................................................... 2 Espaço Físico ............................................................................................... 2 • Santa Olávia ............................................................................................................. 2 • Paços de Celas ...................................................................................................... 2 • O Ramalhete ............................................................................................................ 3 • Outros Espaços ..................................................................................................... 3

Espaço Social .............................................................................................. 4 • Ambientes ................................................................................................................. 4 • Figurantes (personagens-tipo) ..................................................................... 4

Espaço Psicológico................................................................................... 5 Conclusão ...................................................................................................... 5 Bibliografia .................................................................................................... 6

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Os Maias – O Espaço

Introdução O espaço é uma das classes narrativas, à qual lhe é atribuída uma função crucial no enredo d’Os Maias. O autor dá-lhe especial ênfase ao debater-se principalmente pela descrição pormenorizada e muito completa de todo o tipo de espaços, desde os móveis de uma certa divisão, com a sua devida simbologia, até ao comportamento de uma personagem-tipo inserida no seu meio social. Deste modo, é possível dividir o espaço em três tipos: espaço físico, social e psicológico. O espaço físico não é mais do que o conjunto de locais onde a acção se desenrola e onde os personagens se inserem, o palco desta história. O espaço social, que desempenha talvez a função mais importante, inclui os ambientes e todo um grupo de figurantes/personagens que os acompanham. Representa o paradigma sócio-religioso português, cumprindo um papel eminentemente crítico desta rede social. Por último, tem-se o espaço psicológico, formado pelas variações constantes de consciência das personagens, manifestando-se nos momentos de maior densidade dramática.

Espaço Físico O espaço físico exterior acompanha o percurso da personagem central, Carlos, e é motivo para a representação de atributos inerentes ao espaço social. Por outro lado, os espaços interiores estão de acordo com o estilo realista de Eça: a interacção do homem e o ambiente que o rodeia. Os espaços geográficos mais relevantes são Coimbra, Lisboa e Santa Olávia e ligam-se às vivências da personagem central, Carlos, em diferentes fases da sua vida.

• Santa Olávia Situada à beira do Douro, no lugar de Resende, é o lugar de eleição de Afonso da Maia. Santa Olávia simboliza a fertilidade da terra onde abunda a água, tendo dado a Carlos a educação e o vigor físico inglês que o caracterizam. Um espaço rural e sadio que se opõe à cidade, e associa-se à regeneração dos dois varões da família. É o símbolo da vitalidade que contraria Lisboa “a cidade inflamada”, absorvendo o mal que esta faz, servindo de asilo quando algo de mau se dá. A seguinte citação caracteriza bem a quinta: “(…) que o [Afonso] prendera mais a Santa Olávia fora a sua grande riqueza de águas vivas, nascentes, repuxos, tranquilo espelhar de águas paradas, fresco murmuro de águas regantes… E a esta viva tonificação de água atribuía ele o ter vindo assim, desde o começo do século, sem uma dor e sem uma doença, mantendo a rica tradição de saúde da sua família, duro, resistente aos desgostos e anos – que passavam por ele, tão em vão, como passavam em vão, pelos seus robles de Santa Olávia, anos e vendavais.” (Cap. I)

• Paços de Celas Presente de Afonso para o neto, este espaço assiste à passagem da adolescência para a maturidade de Carlos. É a sua residência enquanto ele estuda na universidade, em Coimbra e a sua primeira manifestação de arte, com a toda a decoração da nova casa a seu encargo. Conhece aqui o seu primeiro amor, Hermengarda. Os Paços são palco de festas e soirées que tem com os restantes estudantes, incluindo João da Ega (ele próprio encarregou-se de dar o nome à casa), onde se põe ocorrente das últimas tendências culturais, principalmente estrangeiras, e até de ideias revolucionárias: 2

Os Maias – O Espaço “(…) Ao princípio este esplendor tornou Carlos venerado dos fidalgotes, mas suspeito aos democratas; quando se soube, porém, que o dono destes confortos lia Proudhon, Augusto Comte, Herbert Spencer, e considerava também o país uma choldra ignóbil — os mais rígidos revolucionários começaram a vir aos Paços de Celas tão familiarmente como ao quarto do Trovão, o poeta boémio, o duro socialista, que tinha apenas por mobília uma enxerga e uma Bíblia.” (Cap. IV)

• O Ramalhete Lisboa é o centro da vida social, política, económica e cultural, fazendo desta casa um lugar privilegiado. Localizado no, até então, bairro chique de Benfica, o Ramalhete é a referência e a habitação primordial da família Maia em Lisboa. É nesta casa que se dão os acontecimentos (rusgas policiais) que levam Afonso da Maia ao exílio, que regressa para continuar a educar Pedro. Contudo, o ramalhete cai na degradação novamente, palco da morte de Maria Runas e suicídio de Pedro. Requalificado por Carlos, vindo de Coimbra, determina novamente o Ramalhete como domicílio da família. É então empreendida uma exótica redecoração que rejuvenesce o interior de toda a mansão, espelho da apurada estética de Carlos causada pela vanguardista educação inglesa ensinada em Santa Olávia. “(…) inesperadamente, Carlos apareceu em Lisboa com um arquitecto-decorador de Londres e (…) entregou-lhe as quatro paredes do ramalhete, para ele ali criar, exercendo a seu gosto, um interior confortável de luxo inteligente e sóbrio” (Cap. I) “(…) Defronte era o bilhar, forrado de um couro moderno trazido por Jones Bule, onde (…) esvoaçavam cegonhas prateadas. E, ao lado, achava-se o fumoir, a sala mais cómoda: as otomanas tinham a fofa vastidão de leitos; e o aconchego quente, e um pouco sombrio dos estofos escarlates e pretos era alegrado pelas cores cantantes das faianças holandesas.” (Cap. I)

Parecendo símbolo de uma ruptura com o passado trágico, o Ramalhete representará, em seguida, uma descida sem retorno dos dois varões, em direcção ao destino fatídico da morte de Afonso, em virtude do desgosto causado pela relação incestuosa entre os seus netos.

• Outros Espaços

Estrangeiro

Sintra A Vila Balzac A Toca (Olivais) Olivais)

Recurso para evasão de problemas. Europa como origem do progresso e das ideias. Um paraíso natural como extensão lisboeta. Reflecte a sensualidade de Ega. Espaço carregado de simbolismo. Consumação de relações proibidas.

Preconiza a dualidade Consultório de espírito: homem do de Carlos mundo e ao mesmo tempo da ciência Casa de Revela a personalidade Maria da irmã de Carlos Eduarda Ponto de encontro. Crítica à hipocrisia da Eventos sociedade de aparênSociais (transição para o cias. Visibilidade da espaço social) degradação moral e da ignorância.

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Os Maias – O Espaço

Espaço Social Esta época de grandes convulsões sociais e científicas – a Regeneração, e o meio social lisboeta aparecem-nos retratados ao longo desta obra, através de ambientes e cenários onde “representam” determinadas personagens que carecem de caracterização pessoal, para melhor representarem os seus papéis de personagens-tipo, ou seja, de afigurarem os bons e os maus hábitos, as qualidades e os defeitos, as mentalidades retrógradas ou progressistas de certo grupo social, profissional ou cultural. Ao longo do romance surgem momentos de pausa onde uns ou outros destes figurantes se reúnem, manifestando não a sua individualidade, mas aqueles tiques, deformações e limitações que caracterizam as qualidades e suas classes sociais. Constituem, então, o espaço social os figurantes (personagens-tipo e os locais de convívio.

• Ambientes O Jantar no Hotel Central O contacto de Carlos com a sociedade de elite, a crítica literária e a literatura, a situação financeira do país e a mentalidade limitada e retrógrada. As corridas de cavalos O desejo de imitar o que se faz no estrangeiro e o provincianismo do acontecimento. O jantar em casa do Conde de Gouvarinho Permite, através da falas das personagens, observar a degradação dos valores sociais, o atraso intelectual do país, a mediocridade mental de algumas figuras da alta burguesia e da aristocracia e a superficialidade das opiniões de Sousa Neto, o representante da administração pública. O episódio na redacção do jornal A Tarde. A parcialidade do jornalismo da época e a influência política adjacente. O sarau literário do Teatro da Trindade A superficialidade dos temas de conversa, a insensibilidade artística e a iliteracia estética, a ignorância dos dirigentes, a oratória vazia dos políticos e os excessos do Ultra-Romantismo.

• Figurantes (personagens-tipo) As Educação Pedro ou Eusébio, correspondem eles próprios a um tipo de educação que absorveram enquanto crianças – a educação portuguesa tradicionalista, altamente católica, caracterizada por um afecto incondicional materno, passividade em relação à vida, uma vida condenada a uma tristeza crónica (que provocou suicídio), etc. Por exemplo, Pedro encontrava refúgio no colo das empregadas, ao mesmo tempo que o padre lhe ensinava os inimigos da alma, ou Eusebiozinho sendo dominado pelas figuras femininas de mamã e titi enquanto se isolava a ler um livro, vítima da sua fobia social. Por outro lado, tem-se Carlos, resultado de uma educação à inglesa que o avô, desde logo, instaurou de modo a não perpetuar aquilo que havia acontecido ao filho. Deste modo, Carlos afigura-se de boa constituição física, produto de banhos de água fria, uma dieta rigorosa, podendo «correr livremente, pular, cair, subir às árvores». Tudo isto gera uma vida adulta ociosa que viola as leis morais ao praticar incesto. 4

Os Maias – O Espaço

Na seguinte tabela apresentamapresentam-se outras figuras: PERSONAGEM Alencar Ega Conde de Gouvarinho Condensa de Gouvarinho Guimarães Neves e Palma Cavalão Steinbroken Cruges Jacob Cohen Craft

PAPEL NA OBRA E REPRESENTATIVIDADE REPRESENTATIVIDADE SOCIAL SOCIAL Defensor do Romantismo, opositor do naturalismo, bondoso e idealista. Adjuvante da relação Pedro/Maria. Oposto de Alencar, defensor do naturalismo e da ciência literária. Adjuvante da relação Carlos/Maria Ministro do Reino, político incompetente, descuidado em relação à relação extraconjugal da mulher. Provocante, adultério nas camadas mais abastadas. Democrata e simpatizante do comunismo, portador da catastrófica carta. Directores dos jornais corruptos – símbolos de jornalismo parcial e político. Entusiasta de Inglaterra e das ideias estrangeiras. Um homem moralmente são e artisticamente avançado. Judeu banqueiro, representante da alta finança. Inglês culto, rico, boémio, coleccionador de antiguidades, senhorio da casa onde se consuma o incesto.

Espaço Psicológico A representação do espaço psicológico, vai-se acentuando ao longo da obra, à medida que a intriga se complica e aproxima-se do desenlace. É este o espaço mais íntimo das personagens, dado que está relacionado com o estado de espírito das personagens, representa as emoções sentimentos, visões pessoais, sonhos e reflexões. Manifesta-se principalmente em momentos de maior densidade dramática. É sobretudo sobre Carlos que o narrador se debruça para dar origem a este espaço. Este espaço é-nos claramente transmitido pelo narrador, o qual muito frequentemente se coloca na mente e visão das personagens, descrevendo o exterior, quer as pessoas ou os espaços, mediante o estado de espírito da personagem. Bons exemplos são aqueles em que as personagens estão apaixonadas, nomeadamente Carlos e Pedro que parecem ver as suas amadas como se fossem divindades, caracterizando, de forma cega, obstruída pelo amor, formas físicas espectacular e idilicamente.

Conclusão De todos estes espaços, notoriamente, o que toma mais importância é o espaço social porque, para além da sua interacção com as personagens, tem uma função muito mais implícita, cuja função é a da sátira e da crítica social, que confere a Os Maias um estatuto semelhante a uma crónica de costumes. O espaço físico não é fictício, seguindo os parâmetros realistas, o que acompanha o percurso da personagem principal, Carlos e é motivo para a representação de atributos inerentes ao espaço social. Os interiores estão também de acordo com o saber naturalista – a interacção entre o homem e o ambiente que o rodeia. Por fim, o espaço psicológico confere à história uma caracterização muito mais rica do espaço, já que não se fica pela descrição real da “cena”, expandindo-se para o que o instável íntimo psicológico percepciona. Ainda assim, a presença deste espaço implica, como é óbvio, subjectividade, cuja presença põe os preceitos naturalista, uma vez mais em causa. 5

Os Maias – O Espaço

Bibliografia • • • • •

ARRUDA, Lígia (1998). Os Maias de Eça de Queirós. 2.a edição, S. João do Estoril: Edições Bonanza. PINTO, Elisa; BAPTISTA, Vera; FONSECA, Paula. Plural – 11º ano. 1.a edia ção, 4 reimpressão, Lisboa: Lisboa Editora. http://pt.wikipedia.org/wiki/os_maias http://pt.wikipedia.org/wiki/e%C3a_de_queir%O6s http://pt.wikipedia.org/wiki/naturalismo_e_realismo

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