Os Lusíadas_ reflexao sobre a fama e a gloria

May 21, 2019 | Author: Joana Azevedo | Category: Poetry, Nature
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Os Lusíadas, de Luís de Camões

Plano das Reflexões do Poeta

Canto VI

Estrutura Externa As estrofes 95-99 pertencem à parte final do Canto VI (constituído por 99 estrofes no total). Todas as estrofes são constituídas por por oito versos (oitavas), de versos decassilábicos, decassilábicos, e esquema rimático abababcc.

Estrutura Interna No canto VI, Luís de Camões narra a viagem de Melinde a Calecut. As estrofes 95-99 pertencem, portanto, à Narração (em que Camões narra toda a viagem de Vasco da Gama até à Índia), especificamente, ao Plano do Poeta, que interrompe a Narração para reflectir sobre o verdadeiro valor da Fama e da Glória.

Contextualização do excerto Depois das festas de despedida, a armada lusitana parte de Melinde, para continuar a sua Viagem até à Índia, levando consigo um piloto melindano. Enquanto isso, Baco vai ao palácio de Neptuno para tentar colocar os deuses marinhos contra os portugueses, pois estes estão quase a atingir o seu império na Índia. Depois de recebido por Neptuno, Baco explica-lhe os motivos da sua presença. Ordenado por Neptuno, Tritão convoca todos os Deuses marinhos para o consílio. Quando reunidos, Baco discursa, apresentando de forma honesta e clara os motivos que o levaram a lá ir. A certa altura é interrompido pelas suas lágrimas, o que leva a que todos os outros deuses fiquem do seu lado. Eolo, a pedido de Neptuno, solta os ventos originando uma tempestade com o intuito de destruir os portugueses (Episódio da Tempestade).

Os portugueses estavam entretidos a contar histórias uns aos outros para não adormecerem. Quando dão conta da chegada da tempestade, a força dos ventos é tal, que não têm tempo de subir as velas, acabando estas por se romper, ficando os mastros quebrados igualmente. As areias do fundo do mar são revolvidas, as árvores arrancadas, e os montes caem. Na armada, a situação estava bastante caótica, as pessoas gritavam e, conseguiam avistar de perto a desgraça. Vasco da Gama sente-se perdido e pede ajuda à Divina Guarda Estrofes 81 e 82). 81 "Divina Guarda, angélica, celeste, Que os céus, o mar e terra senhoreias; Tu, que a todo Israel refúgio deste Por metade das águas Eritreias; Tu, que livraste Paulo e o defendeste Das Sirtes arenosas e ondas feias, E guardaste com os filhos o segundo Povoador do alagado e vácuo mundo; 82 "Se tenho novos modos perigosos

PEDIDO DE AJUDA DE VASCO DA GAMA À DIVINA GUARDA

Doutra Cila e Caríbdis já passados, Outras Sirtes e baixos arenosos, Outros Acroceráunios infamados, No fim de tantos casos trabalhosos, Por que somos de ti desamparados, Se este nosso trabalho não te ofende, Mas antes teu serviço só pretende? Apercebendo-se do perigo, Vénus manda as Ninfas amorosas acalmarem a fúria dos ventos. Quando a tempestade se acalmou, era já de manhã e o piloto avistava a costa de Calecute. O Canto VI termina com a oração de agradecimento de Vasco da Gama, e com uma reflexão do poeta sobre o verdadeiro valor da Glória e da Fama.

Reflexão sobre a Fama e a Glória (Canto VI – estrofes 95-99) Nesta reflexão, o poeta valoriza a honra e a glória alcançadas por mérito próprio, considerando que a nobreza não é um título que se herda. Camões introduz, desta forma, um novo conceito de

nobreza, em que a virtude e a honra são os únicos meios de aquisição da experiência e do conhecimento. Este novo conceito constitui um dos ideais do saber renascentista. 95

Por meio destes hórridos perigos, Destes trabalhos graves e temores, Alcançam os que são de fama amigos As honras imortais e graus maiores:

Recusa da nobreza

Não encostados sempre nos antigos

como tí tulo herdado

Troncos nobres de seus antecessores;

Não nos leitos dourados, entre os finos Animais de Moscóvia zebellinos ; Ao longo da sua reflexão, Luís de Camões enumera um conjunto de pontos que considera serem obstáculos à Fama e à Glória. São eles: 

Viver à sombra da glória dos antepassados , isto é, julgar-se nobre só porque os seus antepassados o eram. Segundo o poeta são necessários feitos dignos do título nobre. “Alcançam os que são de fama amigos / As honras imortais e graus maiores: / Não

encostados sempre nos antigos antigos / Troncos nobres de seus antecessores” antecessores”(estrofe 95)



Os luxos e os requintes supérfluos “Não nos leitos dourados, entre os finos / Animais de Moscóvia zebellinos”(estrofe 95) Moscóvia zebellinos”



Os man jares, os passeios e os requintes “Não cos manjares novos novos e esquisitos, esquisitos, / Não cos passeios moles e ouciosos, / Não cos vários

deleites e infinitos, / Que afeminam os peitos generosos, / Não com os nunca vencidos appetitos, / Que a Fortuna tem sempre tão mimosos” (estrofe 96)

Ao longo das estrofes 97 e 98, Luís de Camões enumera, ainda, os meios necessários para ating ir a g lória e a fama por mérito próprio, como por exemplo: 

O esforço “Mas com buscar, co seu forçoso braço, / As honras que ele chame próprias suas” (versos 1

e 2, estrofe 97) 

A disponibilidade para a guerra “ Vigiando e vestindo o forjado aço” (v.3, estrofe 97)



Coragem para enfrentar os perigos, para sacrificar o próprio corpo, e para sofrer pela perda de um companheiro “Sofrendo tempestades e ondas cruas, / Vencendo os torpes frios no regaço” (versos 4 e 5,

estrofe 97) “Pera o pelouro ardente que assovia / E leva a perna ou braço ao companheiro” (v.4,

estrofe 98) 

Desprezo das honras e do dinheiro “Destarte, o peito um calo honroso cria, / Desprezador das honras e dinheiro, / Das honras e dinheiro que a ventura / Forjou, e não virtude justa e dura. “ (versos 5-8, estrofe 98)

Posicionamento do poeta Segundo o Poeta, só aquele que enfrenta os obstáculos e os ultrapassa com sucesso, pode ser considerado nobre. Só desta forma, poderá superiorizar-se em relação aos restantes homens, e ser considerado herói dignamente. O estatuto nobre será adquirido ao ver os seus feitos reconhecidos pelos outros e, mesmo contra a sua vontade, ver-se-á distinguido dos restantes. “Este, onde tiver força o regimento / Direito, e não de affeitos ocupado, / Subirá (como deve) a

ilustre mando, / Contra vontade sua, e não rogando.” (versos 5 a 8, estrofe 99)

Marcas Ling uísticas 95

Por meio destes hórridos perigos, Destes trabalhos graves e temores, Alcançam os que são de fama amigos As honras imortais e graus maiores: Não encostados sempre nos antigos Troncos nobres de seus antecessores; Não nos leitos dourados, entre os finos Animais de Moscóvia zebellinos ; 96 Não cos manjares novos e esquisitos, Não cos passeios moles e ouciosos , Não cos vários deleites e infinitos,

Que afeminam os peitos generosos, Não com os nunca vencidos appetitos, Que a Fortuna tem sempre tão mimosos, Que não sofre a nenhum que o passo mude Pera algua obra heróica de virtude;

Construções negativas e repetição anafórica do advérbio de negação “Não”, como forma de

reprovação dos luxos, dos requintes supérfluos e da ideia de que a nobreza se herda, ou seja, o poeta diz não aos manjares, não aos passeios, não aos apetites, e não àqueles que julgam ser nobres só porque os seus antepassados o eram. 96

Não cos manjares novos e esquisitos, Não cos passeios moles e ouciosos , Não cos vários deleites e infinitos, Que afeminam os peitos generosos, Não com os nunca vencidos appetitos, Que a Fortuna tem sempre tão mimosos, Que não sofre a nenhum que o passo mude Pera algua obra heróica de virtude; Utilização de duplas adjectivações ou paralelismo sintáctico para enumerar os luxos que ele reprova, já que do seu ponto de vista, são obstáculos à fama e à glória.

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