os estilos históricos segundo yves bruand em arquitetura contemporânea no brasil

March 14, 2019 | Author: Ana Paula Gurgel | Category: Art Nouveau, Rio De Janeiro, São Paulo, Italy, Gothic Architecture
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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Tecnologia Departamento de Arquitetura e Urbanismo Curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: História da Arquitetura de Urbanismo 02

Resumo: Os estilos históricos segundo Yves Bruand em “Arquitetura contemporânea no Brasil”

Rebeca Grilo de Sousa

 Natal, julho de 2010. 2010.

SUMÁRIO

Os estilos históricos segundo Yves Bruand em “A arquitetura contemporânea no Brasil"--------------------------------------------------------------------------------------------- 3 Conclusão---------------------------------------------------------------------------------------- 14 Anexos ------------------------------------------------------------------------------------------- 15

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OS ESTILOS HISTÓRICOS SEGUNDO YVES BRUAND EM “ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL” Bruand inicia o capítulo “Estilos Históricos” 1 fazendo menção ao panorama da arquitetura brasileira na época limítrofe a 1900. Atribui a ela a falta de originalidade, o constante mimetismo de referenciais antigos e dos novos referenciais recém trazidos da Europa e que esta falta de originalidade foi se agravando com o passar dos primeiros anos do século XX quando as cidades cariocas e paulistas começaram a importar, sem nenhuma ressalva, as tipologias típicas de edificações européias destituindo-as de suas funções e conjunturas autênticas 2. Deste modo, Rio de Janeiro, São Paulo e outras cidades imprimiram em si imitações livres de estilos históricos e mesclas entre eles, o autor descreve: “o ecletismo que dominou então plenamente as construções particulares, em menor grau, os edifícios públicos era por sua própria natureza um fato  profundamente negativo” (p.33, 1º §). Por isso o autor restringe o estudo inicialmente a estas correntes ecléticas de caráter histórico que mais tarde levaram à criação de outras manifestações.

1. Os estilos classicizantes O autor explica que no Brasil é costume denominar como “Neoclássico” as edificações que possuem elementos procedentes da Antiguidade Greco-romana, mas que de fato há na verdade um ecletismo entre os estilos da Renascença italiana até o Segundo Império francês, incluindo neste apanhado o classicismo, o barroco e o neoclássico propriamente dito. Esclarece também que mesmo não havendo “unidade  profunda” nestas obras, há similaridade entre elas, mas que “diferenças regionais colocam em oposição principalmente os dois grandes centros, Rio de Janeiro, a capital federal, e São Paulo, a metrópole rival” (p. 33, 2º§).

1.1. A escola carioca

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BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil . São Paulo: Perspectiva, 1991. Exemplos: os chalés suíços que cumprem a função de proteger o habitante do clima temperado de seus invernos rigorosos com seus telhados inclinados e estrutura de madeira e os palácios italianos que têm em sua plástica, a impressão da conjuntura histórica, filosófica e artística do meio em que foi produzido tornando-s autênticos. 2

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É por meio de Grandjean de Montigny 3 que o Rio de Janeiro começa a conhecer  o verdadeiro neoclássico. Montigny fundou a Escola de Belas Artes do Rio e semeou  pela cidade o “neoclassicismo puro”, como na Academia de Belas Artes (figura 1). Contudo a sua influência se manteve primordialmente nas camadas mais altas da sociedade da época. Bruand descreve o centro da capital carioca com casas que ainda mantiveram seu aspecto português durante o século XIX e que, em contrapartida, os  prédios oficiais e os palácios e casarões da classe dominante “adotaram o vocabulário arquitetônico importado pelos franceses” (3º§); anos depois os pedreiros e construtores  portugueses acabaram por adotar o estilo e as novas técnicas construtivas. Mas o prestigio francês foi além. Francisco Pereira Passos, o então prefeito da capital carioca, enamorou-se das grandes mudanças que Haussmann havia feito na capital francesa e tal influência culminou na criação da atual Avenida Rio Branco e mais tarde no concurso de fachadas para a nova avenida (dentre outras medidas como a  política de higienização da cidade). No campo da arquitetura, o estilo do Segundo Império Francês se manifestou inconscientemente em algumas residências (que se acreditavam ser do Luis XVI, Luis XV ou Luís XVI), e também em alguns prédios  públicos como no atual prédio da Escola e o Museu Nacional de Belas Artes, de Adolpho Morales de los Rios 4 (figura 2), o Teatro Municipal de Francisco de Oliveira Passos (figura3) que remete à Ópera de Charles Garnier (figura 4), por conta do seu  prestígio na época. O estilo Napoleão III decai no inicio do século XX, quando outros estilos, ainda franceses, são resgatados: Luis XIV, Luis XV e Luis XVI. Segundo Bruand estas categorias atribuem em escala crescente a quantidade de decoração e se as fachadas são mais planas ou com leves saliências. O grande expoente deste estilo foi Heitor de Mello, que apesar de ter o ecletismo arraigado em sua mentalidade assim como eram os outros arquitetos, havia uma preponderância do estilo classicizante, e mais, mesmo fazendo uso de vários estilos como Renascença, Francisco I, neogrego, Adams entre outros, para a função que o edifício fosse cumprir havia um estilo a ser utilizado nele. Algumas obras de Heitor de Mello: Assembléia Legislativa do Rio, Palácio da Justiça em Niterói, Prefeitura do Rio de Janeiro, sede do Derby Clube e a sede do Jockey Clube (figura5), 3

Arquiteto francês que veio ao Brasil junto à Missão Francesa de 1816, por convite de D.João VI. Edificação que Bruand descreve como atarracada, sem equilíbrio de proporções, pesada e desprovida de harmonia se comparada com o Louvre, prédio em que foi baseada. 4

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que Bruand comenta sobre a sua decoração carregada e que por este fato foi classificada como Luis XVI, mas que em sua essência se aproxima do estilo do Segundo Império. Bruand mais uma vez menciona como se atribuía a distinção entre os estilos Luis XIV, Luis XV e Luis XVI: “devia-se, antes de tudo, a algumas características genéricas: o coroamento do edifício com mansardas para o primeiro, corpos avançados ligeiramente salientes e decoração mais ou menos rococó para o segundo, fachadas retilíneas em planta e retangulares em elevação, tetos planos mascarados por   balaustradas para o último (...)” (p.37, 1§). O autor também mostra a diferenciação entre o Luis XVI e o neoclássico (neogrego), considerado mais austero, sem decorações em relevo (entre outras características) utilizadas por Heitor de Mello nos prédios da Assembléia Legislativa e do Palácio da Justiça, bem em como em dois outros projetos de prédios oficiais – Palácio do Congresso Nacional e Palácio do Senado – que não foram construídos. Bruand demarca a morte prematura de Heitor de Mello como o início do declínio dos estilos classicizantes, Mello chegou a produzir oitenta e três  projetos dos quais apenas catorze não foram realizados (figura 6 e 7): “ele possuía um indiscutível conhecimento da arquitetura do passado (...), misturava estilos (...), e dava um toque particular a cada um dos seus edifícios” (p.37, 2º§). Seus sucessores –  Arquimedes Memória e F.Cuchet não conseguiram manter o seu estilo harmonioso, estes tendiam ao crescente estilo neocolonial que estava em voga desde a Exposição do Centenário da Independência no Brasil. A arquitetura carioca sofre uma nova influência francesa após a Primeira Guerra Mundial. Uma nova leva de arquitetos franceses aporta no Rio, aqueles formados na Escola de Belas Artes de Paris ganharam destaque como André Gire que projetou o Hotel (e cassino) Copacabana Palace (figura 8 e 9) e a estação Barão de Mauá, os arquitetos Sajous e Rendu, e o arquiteto Alfred Agache, responsável pelo plano urbanístico do Rio. Bruand diz que apesar destes não se enquadrarem no grupo do eclético classicizante, eles ainda conservaram certos princípios do classicismo, mas tentando, ainda que timidamente, explorar as capacidades dos novos materiais como o concreto armado e das influências de Auguste Perret 5. A arquitetura formal até então conhecida estava entrando em desuso em favor das novas técnicas, estilos e materiais que supriam necessidade de crescimento rápido da cidade, os edifícios de grande porte 5

Auguste Perret, arquiteto francês precursor no uso do concreto armado e consultor do projeto do edifício da Faap (fonte: -acessado em:03/07/10).

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“com formas cúbicas ou de paralelepípedo, sem molduras ou ornamentos” (p.38, 1º§) se multiplicaram pela cidade, fossem eles privados ou públicos como os do Ministério da Guerra(figura 10) e Ministério do Trabalho. O autor diz que o ecletismo não entrou em desuso com a eclosão do movimento “moderno”, e sim que esse tinha sido posto de lado na capital federal pouco antes da revolução de 30, quando Lúcio Costa iniciou a reforma da Escola de Belas Artes.

1.2. O caso de São Paulo A capital paulista recebeu as mesmas influências que o Rio de Janeiro de modo tardio e sutil, o estilo classicizante foi expressivo no inicio do século, mas até os limiares de 1880 – 64 anos depois da chegada da missão francesa no Rio – é que a cidade começou a perder seu aspecto de “burgo colonial”, com a construção do “Grand Hotel” de Puttkamer e do monumento comemorativo à Independência (hoje atual Museu Paulista – ver figuras 11,12 e 13) de Bezzi e Pucci. A esta última obra Bruand determina o início da era Italiana em São Paulo, que segundo ele teve impacto comparável ao que a influência francesa teve no Rio de Janeiro. Mas ao contrário da então capital federal que recebeu apenas acadêmicos para criar novas edificações e pensamentos, a capital paulista também recebeu mão de obra  braçal de origem italiana e dentre estes imigrantes se encontravam artesãos e pedreiros que, junto aos arquitetos italianos e aos outros imigrantes que cresceram com o comércio como os Matarazzo e os Crespi tinham a intenção de recriar o ambiente que amenizasse a nostalgia de sua pátria. Bruand lembra que não houve qualquer tipo de imposição, os paulistas não apresentaram nenhuma resistência ao Italianismo, que até chegou a se fazer presente no Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX. Houve também influências germânicas neste período, mansões foram construídas nos novos  bairros da cidade a norte e oeste, dentre elas a mansão Elias Chaves 6 (figura 14). As novas tecnologias permitiram a construção de edifícios feitos de ferro e concreto em locais pouco prováveis como no vale do Anhangabaú (p.39, 1º§) onde, em meio a edificações que “mostram o baixo nível a que tinha chegado a arquitetura” (p.39, 2º§), surge o prédio da Associação Comercial do arquiteto ituano Ramos de Azevedo. 6

“As obras do palacete Elias Chaves foram bem representativas dos avanços tecnológicos de sua época, em São Paulo. Incorporavam as soluções e elementos construtivos, equivalentes aos da Europa naquele tempo. Com esse estágio de desenvolvimento, já era possível aos profissionais de São Paulo incorporar os aperfeiçoamentos tecnológicos originários da Europa, praticamente nas mesmas décadas em que surgiam no outro continente.” – fonte: SIVIERO, Breno.< http://blog.brenosiviero.com.br/?cat=8&paged=2> - acessado em 03/07/10

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Azevedo foi um grande expoente da arquitetura paulista, além de sua formação como engenheiro arquiteto na Universidade de Gand 7, foi professor da Escola Politécnica (que ele mesmo projetou – ver figura 15) e empresário, criando uma empresa de materiais de construção e reorganizando e criando o Liceu de Artes e Ofícios, onde treinou profissionais de vários tipos e empregou colaboradores estrangeiros como Domiziano Rossi, Claudio Rossi, Felisberto Ranzini e Adolfo Borione. Bruand descreve a mudança no estilo de Azevedo conforme a influência de seus colegas, se inicialmente prédios como o da Caixa Econômica tinham algum caráter  neoclássico, as suas obras seguintes ganharam contornos da arquitetura italiana dos séculos XVI e XVII como o Teatro Municipal (figura 16), o prédio da Companhia Docas de Santos, contudo, seguindo programas de necessidades modernos beneficiado  pelo bônus das novas tecnologias. Apesar de sua firma ter contas de prédios públicos, multifamiliares ou institucionais, também havia em seu repertório as grandes residências, mas Bruand explica que a especulação imobiliária e a avidez do paulista em reformar suas casas acabaram por eliminar qualquer registro desta atividade. Tal fato era comum a outros arquitetos, salvo Giovanni B. Bianchi, que projetou algumas mansões na Avenida Paulista. Bianchi teve dois períodos de trabalho em São Paulo, no primeiro (entre 1912 e 1927) o arquiteto foi contratado pelos aristocratas italianos para construir mansões ladeadas por imensos jardins, ocupando todo um quarteirão, como as mansões dos Conde Attilio Matarazzo, da Condessa Marina Crespi 8 (figura 17); em uma de suas mansões Bruand destaca os elementos neoclássicos no exterior e a miscelânea de elementos na parte interna com elementos dos cânones clássicos, dos renascentistas e do art noveau.

Assim como os arquitetos Giulio Micheli e Giuseppe Chiappori, Bianchi

foi contratado para recriar o clima da pátria italiana para seus clientes. Bruand destaca o ecletismo desordenado na habitação familiar “a fantasia andava à solta e o exótico, o inesperado, o bizarro, tornaram-se moda” (p. 41, 2º§). Conclui que o ecletismo classicizante em São Paulo foi singular tanto pelo toque

Situada na Bélgica Como não foi encontrada nenhuma imagem destas edificações, a autora inseriu nos anexos uma outra encomenda da Condessa ao arquiteto. 7 8

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italiano como pela variedade de estilos que circulavam tanto entre diferentes escolas italianas nas variâncias de suas regiões.

1.3. Os outros centros brasileiros: Salvador e Belo Horizonte As capitais mineira e baiana, assim como em outras regiões do país, fizeram uso de um estilo neoclássico ou neo-renascentista até as proximidades de 1940. Segundo Bruand, estas capitais refletem o que aconteceu em quase todo o resto do país, mas estas duas especialmente possuem singularidades na concepção e história de seus edifícios oficiais e públicos. A capital soteropolitana contém em seu centro uma grande quantidade de edificações do século XVIII de arquitetura religiosa e civil, ao que Bruand atribui o encanto de cidade colonial (figura 18) pela unidade do seu conjunto no uso do mesmo estilo, encanto este que foi deturpado pelas autoridades locais que permitiram que se fizessem alterações neste meio. À destruição da Prefeitura e a reformas que desfigurou o Palácio dos Governadores (figuras 19 e 20) o autor remete a ojeriza que havia sobre a arquitetura colonial considerada “indigna de abrigar os poderes locais” (p.42, 2º§). O forte sentimento de querer se mostrar como cidade que não parou no tempo acabou por  render Salvador ao “pseudoclassicismo” que foi expressivo e duradouro, ainda que já considerado ultrapassado em outros locais. A capital mineira também sofreu influências deste sentimento de evolução desmedida, mas neste caso Bruand cita o surgimento de unidade, de ritmo nos edifícios construídos; resultados do traçado regular da cidade somado à aparência e disposição hierárquica dos prédios públicos 9 (figuras 21, 22 e 23) e a certa harmonia das casas. As fachadas das casas eram acadêmicas, estreitas, ornadas em excesso; “a fantasia teve livre curso, erguendo varandas leves com pequenas colunas e cobertura de ferro, freqüentemente decoradas com motivos art noveau(...)”(p. 42, 3º§ - ver figuras 24, 25 e 26). A preferência pelo academicismo classicizante entre os horizontinos não foi abalado pelos novos materiais, o estilo tinha uso literalmente superficial, não importando a técnica empregada em sua construção. A esta predileção Bruand atribui a atitude intelectual, a preocupação em manter uma tradição (ainda que esta seja recente), e o desejo de mimetizar os estilos nobres europeus.

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O autor faz menção à Praça da Liberdade, ilustrada nos anexos.

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2. Os estilos medievais e pitorescos Assim como a arquitetura civil buscou no passado referências que refletissem as tendências e necessidades psicológicas da época, a arquitetura religiosa também ia beber  no passado referenciais que remetessem a sua época de maior glória: estavam nos modelos romanos e góticos. Deste modo indubitavelmente todas as igrejas construídas no inicio do século XX fizeram uso da linguagem medieval. “Parece que os arquitetos e construtores rivalizavam-se numa incrível competição de feiúra” (p.42, 4º§), Bruand  justifica este fato mencionando a falta de bom gosto e de conhecimentos arqueológicos dos responsáveis, como este campo de atuação era pouco estudado, a maioria das soluções criadas pelos arquitetos eram adaptações. Mas isso era mais catastrófico ainda se feito por construtores e mestres de obra sem nenhum talento natural, que faziam miscigenações eventuais entre elementos romanos, góticos e renascentistas, mais tenebrosas que as feitas por arquitetos com estilos clássicos. O material empregado era outro problema, não havia pedras de qualidade para a construção e o uso massivo de cimento cinza para revestir apenas agravava a monstruosidade da igreja. Um arquiteto de grande expressão neste setor na época era o alemão Max Hehl. Dentre as suas obras, se destacam a Igreja da Consolação (figura27), uma nova igreja  paroquial em Santos e a nova Catedral de São Paulo, é comum a estas três a tentativa de se cumprir um programa que abrigue: uma planta de basílica com cúpula, com disposição tradicional do coro (na capela mor), sem naves, nem capelas laterais. Os estilos eram escolhidos de acordo com a importância da igreja e o impacto do estilo, a da Consolação recebeu exterior neo-romano, a de Santos um estilo gótico misturado a uma cúpula semelhante a da Igreja Santa Maria Del Fiori, e a de São Paulo ganhou um estilo puramente gótico, nórdico. Há outro exemplar de gótico alemão em São Paulo: a Basílica de São Bento, projeto de Richard Berndl trazido por um abade. Em São Paulo havia uma preferência pelo neo-romano em detrimento do neogótico e Bruand atribui a isso a forte presença italiana que tinha aversão a este último estilo. Já no Rio de Janeiro a influência francesa acabou por fazer com que a preferência dos arquitetos fosse o neo-gótico como na Igreja das Carmelitas Descalças de Raphael Galvão. Este estilo também se fez presente em edificações religiosas que não tinham culto como hospitais (figura 28) e colégios. O uso do estilo medieval também se fez 9

 presente em edificios públicos e residenciais; Victor Dubugras 10 no início de sua carreira empregou o estilo em escolas, prisões no interior de São Paulo e até fez residências como a mansão Uchôa na capital. Lúcio Costa também se embrenhou pelo uso da inspiração medieval e pitoresca, considerado por Bruand como “um pecado de sua juventude”. Ainda segundo o autor o “gosto mórbido pela fantasia” se manifestou nas ruas do Rio e de São Paulo, e nem mesmo o art noveau conseguiu subverter esta mentalidade.

3. O Art Noveau  Na Europa o movimento de  Art Noveau se originou num contexto de ânsia por  renovação na arte ( em todos os seus campos) por meio de várias que fizessem com que ela fosse fruto da sua época, rompendo com o passado eclético, criando e resgatando motivos decorativos que se desvinculam totalmente de sua origem seja ela gótica ou  barroca, intentando sanar as aflições e questões originadas com o advento da indústria. Mas quando chegou ao Brasil viu-se o art noveau despido de suas reais funções  já que o país possuía uma indústria incipiente, importava praticamente tudo do Velho Mundo. Logo, não havia problemática a ser resolvida e este movimento restringiu-se em ser “a última moda em matéria de decoração” (p.44, 4º§). Os motivos que levaram a adoção do estilo, segundo Bruand, são muito semelhantes aos que fizeram do ecletismo um sucesso, se tratava de mais um movimento europeu, excêntrico, e só pelo fato de ser  europeu já se tornava um fator de apreciação pela aristocracia rural e pela burguesia. Deste modo, a aplicação do estilo massivamente em São Paulo era inevitável, já que os produtores de café do estado tinham constante contato com a Europa, fosse por  viagens ou por revistas, onde encontraram profissionais oriundos dos países onde o movimento ganhou força. Além disso, a capital era a única do país que se encontrava mais próxima de uma realidade industrial, ainda que não totalmente concretizada. Contudo, vale salientar a existência das múltiplas ramificações do modern style11 , A obra de Dubugras é mencionada também nos contextos da Art Noveau e no estilo Neocolonial. 11 Recebeu vários nomes conforme o local onde se inseria: Art Nouveau (na Bélgica e França), Modern Style (na Inglaterra), Sezession (na Áustria), Jugendstil (na Alemanha), Floreale (na Itália), e Modernismo (em Espanha). Fonte: < http://pt.wikilingue.com/es/Modernismo_%28arte%29> - acessado em: 03/07/10. 10

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ramificações estas de origem regional, o que conferiu a São Paulo, a oportunidade de conhecer várias vertentes deste movimento, já que recebeu arquitetos de locais diferentes. Um representante das influências da Sezession vienense é o arquiteto sueco Karl Eakman, construiu vários prédios memoráveis como a Escola Álvares Penteado, o Teatro São José 12 (figura 29), a Maternidade São Paulo e algumas residências da família Álvares Penteado (Vila Penteado e Vila Antonieta). A sobriedade nas suas fachadas tinha forte influência do austríaco Otto Wagner, com paredes lisas, com estreitas  janelas, o uso predominante de linhas retas com estratégicos empregos de arcos e curvas, motivos florais. Mas Eakman não se restringia ao uso externo da Sezession, Bruand cita seu tratamento nos interiores de suas casas como seus melhores resultados onde ele impôs sua marca pessoal (p.45, 5º§) e a seguir um trecho que descreve  brevemente a sua melhor obra de interiores – a Vila Penteado: “Eakman, portanto, estava certamente a par das realizações européias e das modificações de gosto ocorridas nas grandes capitais. Sabia inspirar-se nelas, mas não era um imitador servil (...)”(p.46, 2º§), nas suas obras fez referencias às produções de Victor Horta e Van de Velde, imprimiu sua originalidade pelo uso decorativo da madeira nos ambientes internos, tal qual Horta fazia com o uso do ferro. A Vila Penteado foi o divisor de águas em São Paulo, anos depois outros bairros passaram a apresentar residências que traziam em si as impressões do  Art Noveau em maior ou menor grau. O francês Victor Dubugras foi outro expoente no movimento da  Art Noveau no Brasil. Inicialmente adepto dos estilos medievais, Dubugras mostrou-se próximo ao novo estilo quando projetou a Casa Uchôa onde fez uso de remanescentes do ecletismo e dos outros estilos dos quais era adepto, mas interiormente fez uso de novas disposições de cômodos e ornamentação. Seu repertório de ornamentação, traçado e  planta inicialmente ainda remetiam às suas antigas preferências góticas, com o passar do tempo estes aspectos se modificaram culminando com a estação de Mayrink (figura 30),  primeiro prédio no Brasil feito inteiramente de concreto armado, rico em preocupações funcionais, formais e decorativas que remetem à art noveau. Mas a grande cultura que Dubugras possuía tanto arqueológica como tecnicamente o levaram além da art noveau.

Na realidade Eakman construiu o novo Teatro São José, já que o outro havia sido destruído em 1898. 12

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O art noveau não se desenvolveu no Rio de Janeiro tanto quanto foi em São Paulo. Segundo Lúcio Costa: “um dos arquitetos mais significativos desse movimento foi Silva Costa, que construiu varias casas na Praia de Copacabana; contudo (...) desapareceram sem deixar vestígios” (apud Bruand, p.50, 3º§). Apesar disto há a  presença das obras do italiano Virzi na cidade, ele mesclava o modern style com as reminiscências históricas, como a casa construída para o “Elixir de Nogueira” (figura 31) e a casa na Rua Praia do Russel, que Bruand compara as obras de Gaudí por conta do partido medieval que ambos usaram. O modern style não se restringiu as duas principais capitais do país, em Salvador  e em Belo Horizonte são encontrados alguns “traços esparsos” (figura 24 a 26), como na escadaria metálica do Palácio da Liberdade na capital mineira. Mas a cidade fora do eixo Rio-São Paulo mais atingida pelo art noveau é Belém, capital do Pará; o ciclo da  borracha impulsionou o crescimento da região na primeira década do século. As suas edificações (figuras 32 e 33) refletem o grande acúmulo de riqueza, sejam elas  particulares ou comerciais, dotadas de elementos do modern style. Bruand enquadra a arquitetura da capital paraense na época como “uma extraordinária miscelânea de estilos do passado”, onde o art noveau aparece apenas sutilmente, não se sedimentando como um movimento original.

4. O estilo neocolonial  Neste ultimo tópico do capitulo do livro, o autor louva a iniciativa da criação de um movimento que prima pela identidade brasileira, uma “tomada de consciência (...) das possibilidades de seu país e de sua originalidade” (p.52, 2º§), despindo-se de todas as influências estilísticas européias. Ironicamente este movimento foi encabeçado por dois estrangeiros – Victor  Dubugras, francês e por Ricardo Severo – português. Mas Bruand revela que estes dois têm uma estreita relação com o país, sendo Ricardo Severo importante entusiasta do resgate/ reformulação do “estilo colonial brasileiro”, era o regresso a uma tradição que não fora totalmente deixada no passado, tratava-se de uma fonte da essência luso brasileira.

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Severo construiu para si e para alguns clientes belas residências situadas na capital e no litoral de São Paulo, no Guarujá. Estas residências tinham em si elementos da arquitetura civil portuguesa dos séculos XVII e XVIII, como varandas sustentadas  por colunas toscanas, telhados planos com grandes beirais, muxarabis, azulejos recobrindo as paredes das varandas. Edificações simples na planta e na distribuição de volumes. Já para Dubugras o neocolonialismo era chamado de “arquitetura tradicional  brasileira”, a preocupação inicial com o uso dos materiais mais tarde se converteu para a  preocupação formal, dicotomia constante na obra dele. O movimento obteve sucesso na exposição internacional de 1922, apreciado não apenas pelos nativos, mas também por estrangeiros pelo seu caráter exótico. O governo apoiou o movimento exigindo que em certos concursos o estilo fosse adotado. Contudo, o triunfo não se ateve as construções públicas, a arquitetura residencial também teve sua expressividade resgatada, mas ironicamente o neocolonialismo vinha dos Estados Unidos – “missão espanhola” – trazida por Edgar Viana. A única obra remanescente desta época é o atual Museu Histórico Nacional de autoria de Memória e Cuchet(figura 34). Finalizo este resumo com uma citação desconcertante de Bruand sobre o todo o  panorama feito no capitulo estudado: “durante este período são raros os arquitetos  brasileiros que chamem a atenção e mais, aqueles que gozavam de maior renome (Ramos de Azevedo em São Paulo e Heitor de Mello no Rio, por exemplo) se mostraram os mais fiéis defensores das tradições européias e menos originais.” (p.59, 1º§).

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CONCLUSÃO

Através da leitura deste capítulo pude mais uma vez perceber as lacunas de originalidade que existiram na arquitetura brasileira entre os séculos XIX e XX. Bruand tem faz um estudo extremamente crítico e detalhado sobre as principais obras de cada movimento arquitetônico que se manifestou no Brasil e de seus autores, sempre fazendo uso do contexto histórico para justificar e explicar o desenvolver de cada um deles o que facilita muito para qualquer estudante ou aficionado a memorizar e relacioná-los. Antes da leitura me senti atraída pelo tópico dos estilos medievais e pitorescos, após ela me senti um pouco frustrada porque achei o conteúdo textual e de imagens insuficiente. Em contrapartida me surpreendi com a releitura do tópico sobre Belo Horizonte e Salvador, que me impulsionou a fazer uma pesquisa mais detalhada sobre as diferenças entre o neoclassicismo nas duas cidades. Para a realização deste resumo foi uma grande dificuldade encontrar algumas imagens como das edificações do Virzi, algumas do Heitor de Mello e do Raphael Galvão. Assim como foi também uma dificuldade a compreensão de certas situações citadas pelo autor que me levaram para pesquisas paralelas para poder esclarecê-las e quando julguei alguma curiosidade interessante, coloquei nas notas de rodapé.

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ANEXOS

Figura 1 - Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro - fonte:(http://www.rioquepassou.com.br/2008/08/28/antiga-escola-debelas-artes/) - acessado em 03/07/10

Figura 2 - Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro - fonte: (http://historiadordoimpossivel.blogspot.com/2008_01_21_archive.html) - acessado em: 03/07/10

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Figura 3 - Teatro Municipal do Rio de Janeiro - fonte: (http://www.simplesmenteg7.com/100-anos-de-esplendor/) - acessado em: 03/07/10

Figura 4 - Ópera de Paris - fonte: (http://impressionist1877.tripod.com/cassatt.htm) - acessado em: 03/07/10

Figura 5 - Sede do Jockey Clube do Rio de Janeiro - fonte: (http://www.rioquepassou.com.br/2004/12/02/sede-do-jockey-avrio-branco/) - acessado em: 03/07/10

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Figura 6 - Secretaria Geral do Estado de Niterói - fonte: (http://www.crea-rj.org.br/heitordemello/Desenhos/43a.htm) acessado em: 03/07/10

Figura 7 - Biblioteca Pública de Niterói - fonte: (http://www.crea-rj.org.br/heitordemello/Desenhos/16a.htm) - acessado em: 03/04/07

Figura 8 - Vista de um salão do Hotel Copacabana Palace - fonte: (http://www.copacabanapalace.com.br/web/orio_pt/copacabana_palace_phot. jsp) - acessado em: 03/07/10

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Figura 9 - Vista de uma suíte do Hotel Copacabana Palace - fonte: (http://www.copacabanapalace.com.br/web/orio_pt/copacabana_palace_phot. jsp) - acessado em: 03/07/10

Figura 10 - Antigo prédio do Ministério da Guerra no Rio de Janeiro - fonte: (http://oglobo.globo.com/blogs/arquivos_upload/2009/01/213_302-duquedecaxias2-vale.jpg) - acessado em: 03/07/10

Figura 11 - Monumento comemorativo da Independência - fonte: (http://blog.brenosiviero.com.br/?cat=8&paged=2) acessado em:03/07/10

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Figura 12 – Construção do museu do Ipiranga no Parque da Independência - fonte: (http://www.mp.usp.br/historia.html) acessado em: 03/07/10

Figura 13 – Parque da Independência - fonte: (http://www.mp.usp.br/historia.html) - acessado em: 03/07/10

Figura 14 - Palacete Elias Chaves - fonte: (http://blog.brenosiviero.com.br/wp-content/uploads/2009/05/campos-eliseos2.jpg) - acessado em: 03/07/10

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Figura 15 - Planta baixa dos edifícios dos laboratórios gerais da Escola Politécnica - fonte: (http://www.poli.usp.br/Organizacao/Historia/Historico/imagens/pg079_n.jpg) - acessado em: 03/07/10

Figura 16 - Teatro Municipal de São Paulo - fonte: (http://www.atarde.com.br/arquivos/2008/05/31432.jpg) - acessado em:03/07/10

Figura 17 - Creche Marina Crespi - fonte: (http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/10.119/3473) - acessado em: 03/07/10

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Figura 18 - Imagem do centro histórico de Salvador - fonte: (http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=329455) acessado em: 03/07/10

Figura 19 - Palácio dos Governadores após reforma - fonte: (http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?p=9276880) acessado em:03/07/10

Figura 20 - Palácio dos Governadores (atual Palácio Rio Branco) em Salvador - fonte: (http://www.samuelcelestino.com.br/fotos/editor/Image/palacio_rio-branco.jpg) - acessado em:03/07/10

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Figura 21 - Praça da Liberdade em Belo Horizonte - fonte: (http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=269417) acessado em: 03/07/10

Figura 22 - Palácio da Liberdade em Belo Horizonte - fonte: (http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=269417) acessado em: 03/07/10

Figura 23 - Prédio oficial em torno da Praça da Liberdade em Belo Horizonte - fonte: (http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=269417) - acessado em: 03/07/10

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Figura 24 - Mansão no centro histórico de Belo Horizonte - fonte: (http://www.skyscrapercity.com/showthread.php? t=269417) - acessado em: 03/07/10

Figura 25 - Vista lateral de mansão no centro histórico de Belo Horizonte - fonte: (http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=269417) - acessado em: 03/07/10

Figura 26 - Detalhe da varanda de mansão no centro histórico de Belo Horizonte - fonte: (http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=269417) - acessado em: 03/07/10

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Figura 27 - Igreja da Consolação em São Paulo - fonte: (http://www.obore.com.br/aconteceIntegra.asp?cd=280) - acessado em:03/07/10

Figura 28 - Hospital Santa Casa em São Paulo - fonte: (http://www.santacasasp.org.br/hospitalcentral.html) - acessado em: 03/07/10

Figura 29 - Novo Teatro São José em São Paulo - fonte: (http://virtualiaomanifesto.blogspot.com/2008/06/os-teatros-da-sopaulo-dos-bares-do-caf.html) - acessado em:03/07/10

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Figura 30 – Representação da Estação de Mayrink - fonte: (http://www.vitruvio.com.br/revistas/read/arquitextos/10.109/44) - acessado em:03/07/10

Figura 31 - Detalhe da fachada da casa "Elixir Nogueira" - fonte:(http://www.rioquepassou.com.br/2004/11/06/elixirnogueira-vista-da-fachada-principal/) - acessado em:03/07/10

Figura 32 - Theatro da Paz em Belém do Pará - fonte:(http://saladeestarzen.spaces.live.com/default.aspx?  _c11_BlogPart_pagedir=Next&_c11_BlogPart_handle=cns!D1BD1ABE4DA2BDDA! 2417&_c11_BlogPart_BlogPart=blogview&_c=BlogPart&sa=821205883) - acessado em: 03/07/10

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Figura 33 - Foto da área interna do Theatro da Paz em Belém - fonte: (http://toquedemotivacao.arteblog.com.br/r7508/Belem-Para/) - acessado em:03/07/10

Figura 34 - Palácio da s Grandes Indústrias - fonte:(http://www.museuhistoriconacional.com.br/mh-h-440.htm) - acessado em:03/07/10

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