Os Cinco Minutos Do Espírito Santo - Víctor Manuel Fernández

September 14, 2017 | Author: Jaster IV | Category: Holy Spirit, Love, Prayer, Saint, God
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Os Cinco Minutos Do Espírito Santo - Víctor Manuel Fernández...

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VÍCTOR MANUEL FERNÁNDEZ

OS CINCO MINUTOS DO ESPÍRITO SANTO UM CAMINHO ESPIRITUAL DE VIDA E DE PAZ

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ÍNDICE

APRESENTAÇÃO JANEIRO FEVEREIRO MARÇO ABRIL MAIO JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO

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APRESENTAÇÃO

Cinco minutos diários dedicados ao Espírito Santo podem ser um verdadeiro bálsamo que vai restaurando profundamente nossa vida. Nestas meditações e orações, o autor recolhe muitos anos de trajetória na comunicação espiritual. Tanto em seus numerosos livros como em seus programas radiofônicos e em sua experiência de acompanhamento pastoral, buscou ajudar as pessoas a viverem melhor. Ainda que se expresse de um modo fácil e acessível, podem-se perceber nesta obra a solidez e a profundidade de sua investigação teológica sobre o Espírito Santo, a graça e a espiritualidade. O livro oferece ao leitor a possibilidade de percorrer ao longo do ano um sublime caminho espiritual, para que sua vida se encha do gozo, da luz e da liberdade do Espírito Santo.

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JANEIRO

1º de janeiro Nestas páginas você vai encontrar cada dia alguma meditação ou oração dedicada ao Espírito Santo. Proponho-lhe que, depois de ler, permaneça uns minutos na presença do Senhor para que ele trabalhe em seu interior. Assim, dia após dia, você poderá procurar abrir o coração ao doce hóspede da alma. Se a cada dia você procurar lhe dar um lugar em sua vida, você dará sua pequena colaboração ao Espírito Santo para que sua vida se vá transformando. Assim, em suas obscuridades, entrará a luz, em seu frio vai se acender um pouco mais o fogo, e renascerá a alegria. Sugiro-lhe que faça agora mesmo um breve momento de oração para oferecer ao Espírito Santo este ano que começa, de maneira que cada dia esteja iluminado por sua santíssima presença.

2 de janeiro Costuma-se representar o Espírito Santo como uma língua de fogo. De fato, no dia de Pentecostes, desceu sobre os Apóstolos dessa maneira: “Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo, que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo” (At 2,3-4). Por que o fogo? Porque quando o Espírito Santo se apresenta de um modo especial, as pessoas não permanecem como eram. Produz-se uma mudança. Ninguém pode ficar indiferente se aparece uma chama de fogo sobre sua cabeça, se ali onde fazia frio e escuridão repentinamente existem calor e luz. Tudo muda. O Espírito Santo nos permite ver as coisas de outra maneira e nos ilumina o caminho para que não tenhamos medo. Ele derrama calor, para que não permaneçamos encurralados, apertando as mãos e refugiando-nos em um lugar fechado. Por isso sua presença nos enche de confiança e de animação. Então, é bom invocar o Espírito Santo para que inunde de cor e de vida nossa existência: Venha, fogo santo, luz celestial, porque às vezes me dominam as trevas e tenho frio por 5

dentro. Venha, Espírito, porque todo o meu ser necessita de você, porque sozinho nada posso, porque às vezes se apaga minha esperança. Venha, Espírito de amor, venha.

3 de janeiro Na Palavra de Deus, o Espírito Santo apresenta-se a nós como um forte ruído, que potentemente ressoa, que surpreende, que causa admiração: Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados (At 2,1-2). Por que esse ruído estremecedor, por que esse vento barulhento, esse inesperado trovão que desloca os que o escutam? Porque o Espírito Santo é como um grito de amor que volta para despertar os que estão adormecidos, desenganados, apáticos. A esses que perderam o entusiasmo na vida e são como uma vela que se apaga, o Espírito Santo, em algum momento, ressoa-lhes no coração e grita-lhes: “Despertem, saiam, vivam!”. Quando parece que já não podemos escutar nada interessante, nada que nos anime, nada que nos estimule, o Espírito Santo aparece como um grito na alma: “Não se sinta sozinho, estou aqui, vamos!” Porque Santo Agostinho, depois de sua conversão, dizia: “Senhor, você clamou e venceu minha surdez”. Peçamos ao Espírito que nos desperte e nos devolva a vontade de caminhar, de avançar, de lutar; que nos conceda o santo entusiasmo dos que se deixam conduzir por ele.

4 de janeiro O Espírito Santo quer nos proporcionar um mundo melhor. Porém, o que mais parece é que nos esquecemos de buscá-lo, que nosso coração fechado não lhe abre espaço, que não nos decidimos a colocar-nos de joelhos e invocá-lo com fé, com ansiedade. Ele já tomou a iniciativa de nos procurar. Agora é necessário que lhe permitamos atuar. Proponho-lhe que abra o coração a ele e lhe diga com ternura: Venha, Espírito Santo, venha, pai dos pobres, venha, vento divino, venha. Venha, como chuva desejada, regar o que está seco em nossas vidas, venha. Venha fortalecer o que está fraco, 6

curar o que está enfermo, venha. Venha romper minhas correntes, venha iluminar minhas trevas, venha. Venha porque necessito de você, porque todo o meu ser reclama sua presença. Espírito Santo, doce hóspede da alma, venha, venha, Senhor.

5 de janeiro O Espírito Santo é o que pode transformar nossos corações com seu sopro, com seu fogo, com seu poder e sua luz. Com sua força, podemos mudar pouco a pouco nossas atitudes, chegando a ser pessoas renovadas. Sempre é possível mudar com o auxílio do Espírito. Se não mudamos, não é porque ele não pode, mas porque nos respeita delicadamente. Não nos obriga nem nos invade. Não atua onde nós não lhe permitimos. Respeita nossas decisões e também nossa fragilidade. Mas se deixamos que o Espírito atue em nós, se o invocamos, se lhe permitimos que nos impulsione, então a vida se enche de atos de amor a Deus e aos irmãos e, assim, nós nos convertemos em seres espirituais, ou seja, conduzidos pela força do Espírito Santo. O Espírito Santo nos vai renovando e, desse modo, já não amarguramos o coração com rancores, com ciúmes, com invejas. Já não estamos imobilizados pela indiferença e pelo egoísmo e já não somos escravos dos vícios e dos maus apegos. Ao contrário, enchemonos de esperança, de fortaleza, de alegria no meio das dificuldades, e nos sentimos verdadeiramente livres, “novas criaturas” (2Cor 5,17). A Bíblia nos fala belamente dos frutos que o Espírito produz quando o deixamos atuar e os resume nos seguintes: amor, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio de si mesmo (cf. Gl 5,22-23). Não lhe ponhamos obstáculos, para que ele possa produzir esses frutos em nossa vida.

6 de janeiro Nesta solenidade da Epifania do Senhor, celebramos que Jesus se manifestou a nossas vidas, que o pudemos conhecer. Celebramos que Jesus quer se fazer conhecer por todos os seres humanos para enchê-los com sua luz. Mas toda a formosura de Jesus é obra do Espírito Santo. Por isso, não podemos conhecer Jesus e admirá-lo senão nos deixamos iluminar e transformar pelo Espírito Santo. O Espírito encheu o coração humano de Jesus desde sua concepção e conhece todos os segredos do coração do Senhor. Peçamos ao Espírito Santo que nos ajude a conhecer profundamente Jesus para amálo com todo o nosso ser. Roguemos-lhe que nos faça cada vez mais parecidos com Jesus 7

em nossa forma de viver e de agir.

7 de janeiro Repitamos esta oração várias vezes, lentamente, até que sintamos como o Espírito Santo toca, com seu amor, nosso interior: Ó chama de amor viva que ternamente fere o mais profundo centro de minha alma, você que não é esquiva acabe já se você quiser, rompa a tela deste doce encontro! (São João da Cruz)

8 de janeiro Venha, Espírito Santo, entre em minha mente, nessa loucura de meus pensamentos que me perturbam. Pacifique este interior inquieto. Ajude-me a dominar e tranquilizar meus pensamentos para que reine em mim a sua paz. Venha, Espírito Santo, para dominar minha mente com sua santíssima serenidade. Harmonize este mundo de minha mente e leve para longe todo pensamento que provoque angústias ou nervosismo, tristezas ou inquietudes inúteis. Venha, Espírito Santo, tome essas imagens enlouquecidas que dão voltas dentro de mim, para que possa refletir serenamente, orar bem e progredir sem preocupações que nada ajudam. Venha, Espírito Santo, e encha-me de pensamentos belos, que me ajudem a viver. Amém.

9 de janeiro Às vezes estamos desfrutando de algo belo, mas sem perceber aparece no coração um temor difuso que ofusca a alegria. Temor de perder o que temos? Temor de estragar tudo? Temor de que algo se acabe? Ou será simplesmente que experimentamos o sabor 8

amargo de nossos limites, a recordação oculta de que tudo termina, de que está chegando o desgaste, a velhice, a enfermidade? Só o Espírito Santo tem poder para nos libertar dessas obscuridades da alma. São as coisas que não nos deixam livres para desfrutar a existência, para amar com alegria, para trabalhar com entusiasmo. Existe uma tristeza sutil que é contrária ao Espírito Santo. Por isso diz a carta aos Efésios: Não contristeis o Espírito Santo (Ef 4,30). O antigo escrito do Pastor de Hermas advertia que a tristeza expulsa o Espírito Santo. De maneira que, quando nos fechamos em nossas maquinações mentais e fomentamos as recordações negativas, quando ruminamos as faltas de amor dos outros ou aquilo que a vida não nos está dando, então começamos a ocupar com tudo isso o espaço que deveria ser preenchido pelo Espírito Santo. Desse modo vamos expulsando-o de nossa vida.

10 de janeiro Não é sem razão que lhe digam que estamos em uma época difícil, que hoje não é fácil viver, que muitas vezes o desânimo nos ataca, que nos custa querer-nos bem, comunicar-nos e ajudar-nos uns aos outros, que cada um pensa demasiadamente em si mesmo, que não reconhecemos facilmente o amor de Deus em nossa própria vida. Além disso, existem velhos rancores e feridas que demoram a cicatrizar, frequentemente nos sentimos insatisfeitos e, outras vezes, não sabemos para que trabalhamos tanto, para que estamos nos esforçando, para que vivemos na realidade. Ou talvez no fundo nos sintamos sozinhos, solitários, com uma oculta tristeza. Ninguém pode negar que algumas dessas coisas se aninham em seu coração. Às vezes nada nos sai bem, a vida nos golpeia de maneira rija, mas o pior que nos pode acontecer é se, além do mais, perdemos a esperança, a fé, a unidade com os seres queridos, a vontade de lutar. Para solucionar esse profundo problema, para viver com coragem e com fortaleza, existe algo de que necessitamos, algo que nos falta. Em definitivo, falta-nos espírito. Falta à nossa existência o fogo, a luz, a vitalidade, a fortaleza, o estímulo, a paz do Espírito Santo. E, no fundo, temos todo o ser sedento dele, de sua presença, de seu rio de vida. Por isso, recebamos uma boa notícia: O Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza (Rm 8,26). Ele vem. Quando você o invoca, ele se aproxima da sua vida, para lhe oferecer água viva, paz, consolo, esperança. Ele vem, sempre vem.

11 de janeiro Venha, Espírito Santo, venha curar este mundo de minhas emoções. 9

Veja essa dor que às vezes me corrói a alma e cure-a. Às vezes sofro pelo amor que não me é dado, pelas desilusões, pelas agressões alheias, porque às vezes não me compreendem, porque não pude me comunicar bem com alguém, porque não me agradecem ou não levam em consideração meus esforços. Não deixe que esses sentimentos me dominem e me tirem a alegria. Venha, Espírito Santo, toque essas necessidades insatisfeitas com seu amor, para que eu não dependa tanto do afeto dos outros. Ensine-me a fruir de sua ternura divina, Espírito de amor, para que meu coração seja mais livre. Não deixe que me torne escravo de minhas sensações e sentimentos que me aborrecem. Ensine-me a desfrutar seu amor em cada momento, para que a alegria ilumine meu rosto. Amém.

12 de janeiro Façamos memória. Olhemos o que pôde fazer o Espírito Santo em outra época, talvez muito mais difícil que a nossa. Depois da morte de Jesus Cristo, mesmo tendo ele ressuscitado, os Apóstolos não viam com clareza, não entendiam bem o que estava acontecendo. Parecia que a fé cristã não tinha futuro. Mas ao menos deixavam que Maria os reunisse para orar (cf. At 1,14). Então, chegou o dia de Pentecostes, e ficaram cheios do Espírito Santo (cf. At 2,1-4). A partir desse dia, acabaram-se os receios, as tristezas, os queixumes, e começou a reinar o entusiasmo, a alegria. Saíram cheios de fogo, desejosos de levar Cristo aos outros e de mudar o mundo. Era a época do Império Romano, quando reinavam a injustiça, os abusos, o egoísmo; não se permitia aos cristãos viver livremente a sua fé, perseguiam-se com crueldade os inocentes, muitos morriam de fome enquanto outros se entregavam ao desenfreio total. Não obstante, nesse mundo, os cristãos que levavam em seu coração o impulso do Espírito Santo puderam resistir às tentações da decadência pagã e chegaram a mudar esse mundo em ruínas. Por acaso teria o Espírito Santo perdido esse poder?

13 de janeiro Venha, Espírito Santo, e penetre em todo o meu corpo. Agradeço-lhe o dom da vida, o dom de cada um dos órgãos de meu corpo, que é uma obra do amor divino. Venha, Espírito Santo, e passe por todo o meu corpo. Acaricie com seu carinho este corpo cansado e derrame nele a serenidade e a paz. Penetre com seu sopro em cada parte fraca ou enferma. Restaure, cure, liberte 10

cada um de meus órgãos. Passe por meu sangue, por minha pele, por meus ossos. Venha, Espírito Santo, e aplaque toda tensão com seu amor que tudo penetra. Cure-me, Senhor. Amém.

14 de janeiro Na Bíblia dá-se ao Espírito Santo o nome de Paráclito (Jo 14,26). Este nome já nos indica algo, porque significa chamado junto a. Isto é, o que eu invoco para que esteja comigo. São distintos os sentidos que posso dar a essa presença. Por exemplo, pode significar que o invoco para que me defenda dos que me acusam ou me perseguem, particularmente me defenda do poder do mal. Mas também se pode entender que o Espírito está do meu lado para me dar consolo no meio das angústias, temores e insatisfações. Na realidade, não podemos limitar o sentido desse nome, antes temos de reunir nessa expressão tudo o que incluímos quando chamamos alguém para que esteja conosco. O Paráclito é aquele que se faz presente ali onde ninguém nos pode acompanhar, nesta dimensão mais íntima do nosso ser onde, sem ele, sempre estamos desamparados, angustiados em uma solidão profunda que ninguém pode preencher. Ele é ajuda, força, consolo, defesa, alento. Só é preciso que lhe digamos com ansiedade: Venha, Espírito Santo; venha, Paráclito.

15 de janeiro Nossa oração deve ser comunitária. Ninguém deveria procurar o Espírito Santo pensando somente nos seus problemas. Porque Jesus nos quer unidos como irmãos. Por isso, pensemos hoje em todos os que se sentem sozinhos e abandonados. Não nos esqueçamos hoje dos que estão desempregados, dos que são desprezados por sua pobreza, dos que estão esquecidos por todos em uma cama de hospital. Então clamemos: venha, Espírito Santo!, pedindo-lhe que encha, com seu consolo e com seu amor, esses corações lacerados que se sentem sozinhos e ignorados. Mas também invoquemos o Espírito Santo para que entre bem profundo em nosso coração e em todos os que podem dar uma ajuda aos abandonados, aos excluídos do mundo do prazer e do consumo (cf. 1Jo 3,17-24). Peçamos-lhe que cure nosso egoísmo e nos faça descobrir que podemos nos encaminhar para os outros.

16 de janeiro Alguns se confundem com a palavra espiritual e creem que alguém é mais espiritual se vive afastado das coisas deste mundo, se come pouco, se não desfruta a vida, se tem pouco convívio com os outros. 11

Mas, na Palavra de Deus, espiritual é outra coisa. Uma pessoa espiritual é alguém que se deixa transformar pelo Espírito Santo e então se converte em um amigo de Deus e faz as coisas com amor. Espiritual é também aquele que sabe desfrutar do que Deus lhe presenteia e descobre Deus no meio das coisas lindas, procurando vivê-las como a Deus agrada. Diz a Bíblia que Deus nos dá abundantemente todas as coisas para delas fruirmos (1Tm 6,17). Por exemplo, quando celebramos o aniversário de um filho ou de um amigo, e nos alegramos que esteja vivo; e com o pouco que temos fazemos uma linda festa para que se sinta feliz pelo menos um pouco, isso é o mais espiritual que pode haver. A pessoa espiritual sabe compartilhar e busca a felicidade dos outros. Não se afasta dos outros, mas sabe descobrir Jesus neles. Existem pessoas que pensam ser espirituais, mas na realidade estão cheias de rancores e de orgulho, ou não são capazes de fazer feliz a ninguém. Então, na realidade, estão distantes de Deus, porque nosso amor ao Deus invisível se manifesta no trato com os irmãos visíveis: Aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê (1Jo 4,20). Por isso São Paulo chamava carnais os que viviam na inveja e na discórdia (1Cor 3,3).

17 de janeiro Venha, Espírito Santo, e passe por minha memória. Minha memória é um presente seu, que me serve para recordar seu amor e seus benefícios. Tome essa memória para que não me inquietem as más recordações. Queime com seu fogo toda angústia que venha das lembranças do meu passado. Purifique todas elas para que não me machuquem, nem me torturem. Venha, Espírito Santo, e ilumine todo o meu passado. Tire de meu interior toda recordação que alimente minha tristeza ou meus desalentos, e alimente as recordações boas, essas que me impulsionam a seguir em frente e me devolvem a alegria. Venha, Espírito Santo. Amém.

18 de janeiro Nós, cristãos, cremos que toda esta maravilha da amizade com Deus, da presença do Espírito Santo, é algo que nos supera de tal maneira que de nenhum modo podemos merecê-lo. Se nunca podemos merecer ou comprar a amizade sincera de um ser humano, porque a amizade só pode ser um presente que se dá gratuita e livremente, com muito maior razão é impossível que possamos merecer ou comprar a amizade divina. E quando estamos em pecado e nosso coração se move com o desejo de buscar essa amizade, é porque a graça de Deus já está tocando o coração, já o está atraindo. É sempre ele quem tem a iniciativa, é sempre ele quem ama primeiro. Não obstante, uma vez que o Espírito Santo nos presenteia sua amizade (a graça 12

santificante), uma vez que ele começa a habitar em nós como amigo, ao mesmo tempo começa a produzir uma obra de renovação em nossa vida. Isto é, toma-nos tão a sério, que quer que nós também participemos em nosso próprio crescimento, que nos entreguemos por inteiro, com todas as nossas energias, a um caminho de amadurecimento. E para isso nos capacita. Mas nossos méritos são, em primeiro lugar, de Cristo, que se entregou por nós, e nunca querem dizer que estamos merecendo a amizade de Deus. Essa amizade será sempre um presente totalmente gratuito de sua ternura infinita, uma iniciativa de amor e uma obra gratuita do Espírito Santo.

19 de janeiro Deixemos que o Espírito Santo continue se derramando cada vez mais em nossa vida. Supliquemos a ele, invoquemo-lo com insistência, deixemos que nos inunde como a água, que irrigue nosso ser como água viva, purificadora, e que faça renascer tudo o que está seco. Deixemos que nos penetre como o vento e que arraste tudo o que está de mais em nossas vidas; que nos impulsione adiante como o vento impetuoso e nos arranque de nossas falsas seguranças. Deixemos que seja o fogo santo que queime tudo o que nos causa dano, que dissipe nossas trevas, que nos encha de calor. Deixemos que nos devolva a vida, que nos faça recuperar nossa mais autêntica alegria. Porque a alegria sente-se quando voltamos a sentir-nos vivos, quando valorizamos o sangue que corre pelas veias e o amor que se move no coração, quando experimentamos que viver vale a pena. O Espírito Santo pode nos encher dessa vida nova também hoje: Quando vier o Paráclito, o Espírito da verdade, ele vos ensinará toda a verdade… mas a vossa tristeza se há de transformar em alegria (Jo 16,13.20).

20 de janeiro Venha, Espírito Santo, e ajude-me a perdoar. Porque às vezes recordo o dano que me causaram, e isso alimenta meus rancores e minhas angústias. Ajude-me a compreender essas pessoas que me magoaram, ensine-me a concederlhes alguma desculpa para que possa perdoá-los. Venha, Espírito Santo, e derrame dentro de mim o desejo de perdoar e a graça do perdão, porque sozinho não posso nada. Ajude-me a descobrir que é melhor ficar livre desses rancores e amarras, e dê-me sua graça para libertar-me verdadeiramente. Derrame sua paz em todas as minhas relações com outras pessoas, para que reine o amor e nunca o rancor. Amém.

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21 de janeiro Quem é o Espírito Santo? Estamos diante do Mistério de um amor infinito. Se lemos a Bíblia, ali Deus nos fala permanentemente de seu amor para com cada um de nós, visto que cada um de nós é obra de suas mãos, criatura amada: és precioso a meus olhos porque eu te aprecio e te amo (Is 43,4). E nos fala de um eterno amor (Jr 31,3), de maneira que, mesmo quando ninguém esperasse nosso nascimento, ele desde sempre nos imaginou para dar-nos a vida. E se os outros esperavam uma criança de outro sexo, de outra tonalidade de pele, com outro rosto, ele nos esperava tal qual somos, porque ele é o Artista maravilhoso que nos fez, e ele ama a obra de seu amor. Minha existência e a sua têm uma só explicação, que Deus nos ama: Mesmo que ela [tua mãe] o esquecesse, eu não te esqueceria nunca… Eis que estás gravada na palma de minhas mãos (Is 49,15-16). O Senhor teu Deus está no meio de ti como herói salvador! Ele anda em transportes de alegria por causa de ti, e ele te renova seu amor. Ele exulta de alegria a teu respeito (Sf 3,17). O mesmo Deus é um Mistério de amor. Porque ele não é um ser isolado, mas três Pessoas que são um só e único Deus. Esse é um Mistério profundíssimo que não podemos compreender nesta vida. Mas nos fazemos uma pergunta. Se as três Pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, nos amam com um mesmo amor divino, por que se chama especialmente Amor ao Espírito Santo? Porque o Espírito Santo procede, como se fosse um fruto perfeito, do amor que têm o Pai e o Filho. Isto é, o amor que têm o Pai Deus e seu Filho termina em uma inclinação, em um movimento de amor que os une como uma chama infinita de amor, e essa chama é a Pessoa do Espírito Santo. Ele é o amor que une o Pai e o Filho, e o presente de amor que eles dois derramam em nossos corações.

22 de janeiro Venha, Espírito Santo, e ajude-me a olhar para mim mesmo com carinho e paciência. Ensine-me a descobrir todo o bem que você semeou em mim, e ajude-me a reconhecer que em mim também existe beleza, porque sou obra de um Pai divino que me ama e me deu seu Espírito. Você sabe que às vezes me doem as recordações de erros que cometi. Ajude-me a olhar para mim como Jesus me olha, para que possa compreender-me e perdoar a mim mesmo. Venha, Espírito Santo, derrame em mim toda a sua força, para que possa começar de novo e não me despreze a mim mesmo. 14

Não permita que me dominem os remorsos, porque seu amor sempre me permite começar de novo. Venha, Espírito Santo. Amém.

23 de janeiro Um dos aspectos mais fortes de nossa existência é o desejo de viver intensamente. Isso é o que leva muitos jovens a pegar um carro e conduzi-lo a toda velocidade, ou a procurar drogas excitantes, ou a entregar-se a relações sexuais cada vez mais desenfreadas etc. É melhor que não nos enganemos com essas falsas fontes de vida. Cultivemos o mais precioso e o mais nobre que temos, a vida interior. Se não o fazemos, buscaremos cada vez mais essas falsas experiências que nos enganam, e cada vez nos sentiremos mais mortos por dentro. Alguns vivem confusos, crendo que se entregar ao Espírito Santo é perigoso, como se ele pudesse lhes tirar o entusiasmo por viver. Nada mais contrário à realidade. Porque o Espírito Santo é vida, vida pura, vida plena, vida divinamente intensa, vida total. E se algo neste mundo tem vida é porque ali está o Espírito Santo derramando uma gota de sua vida infinita. Leiamos como o diz a Bíblia: O Espírito é que vivifica (Jo 6,63). A letra mata, mas o Espírito vivifica (2Cor 3,6).

24 de janeiro No mais íntimo de nosso ser, na raiz de nossa existência, só o Espírito Santo pode fazer-nos sentir vivos. Só ele pode fazer que deixemos de sobreviver ou de suportar a vida, e que realmente vivamos, que experimentemos em todo o nosso ser os efeitos da gloriosa ressurreição de Jesus, algo dessa deslumbrante intensidade da vida divina. A Palavra de Deus tem uma promessa de vida, não só de vida eterna, mas de vitalidade nesta terra, de maneira que se pouco a pouco deixamos que o Espírito Santo invada nosso ser, iremos experimentando que cada vez estamos mais vivos. Vejamos o que nos assegura a Palavra de Deus e creiamos nestas promessas: Como a palmeira, florescerão os justos, que se elevarão como o cedro do Líbano… na velhice darão frutos, continuarão cheios de seiva e verdejantes (Sl 91[92],13.15). Bendito o homem que deposita a sua confiança no Senhor, e cuja esperança é o Senhor. Assemelha-se à árvore plantada perto da água… Se vier o calor ela não temerá, e sua folhagem continuará verdejante; não a inquieta a seca de um ano, pois ela continua a 15

produzir frutos (Jr 17,7-8). Notemos que essa promessa de vida inclui também a fruição de dar frutos, de ser úteis, de produzir algo para o bem dos outros; porque ninguém se sente vivo se não se sente também fecundo: no serviço, na paternidade espiritual, na arte, no trabalho etc. Peçamos ao Espírito Santo essa gratificante e agradável fecundidade.

25 de janeiro Hoje a Igreja celebra a festa da conversão de São Paulo. Essa conversão maravilhosa certamente foi obra do Espírito Santo, porque sem ele um coração fechado não se pode abrir. Além do mais, o Espírito Santo impulsionou São Paulo a pregar o Evangelho com grande entusiasmo. A pregação do Evangelho está a serviço de um mundo novo. Quando essa pregação é entusiasta, convicta, valente, confiante, então o poder de Jesus Cristo se manifesta de maneiras variadas, transformando a vida das pessoas e da sociedade. Se existe um modelo do que significa uma pregação com poder, esse é São Paulo. Sua fervorosa missão apostólica é um modelo do entusiasmo que o Espírito Santo derrama. Vale a pena ler a descrição que ele mesmo faz em 2Cor 11,26. O livro de Atos recolhe as tradições que se haviam difundido sobre os prodígios um tanto raros que Jesus fazia através de Paulo (At 19,11-12). E conclui: Foi assim que o poder do Senhor fez crescer a palavra e a tornou sempre mais eficaz (At 19,20). Recordando São Paulo, peçamos ao Espírito Santo que nos ajude para que possamos converter-nos mais profundamente e também para que não desgastemos inutilmente nossas energias e vivamos com esse entusiasmo que São Paulo experimentou.

26 de janeiro Venha, Espírito Santo, e entre em meu lar. Hoje quero entregar-lhe todos os meus seres queridos para que faça em cada um deles sua obra maravilhosa. Abro-lhe as portas de minha família. Entre e derrame amor para que saibamos viver juntos, para que aprendamos a valorizar-nos, a respeitar-nos, para que saibamos dialogar. Proteja minha casa de todo mal com sua presença santa e não permita que ali reinem a tristeza, o ódio ou os medos. Derrame segurança, confiança, serenidade e alegria, para que todos os que entrem em minha casa experimentem como é bom viver em sua presença. Venha, Espírito Santo. Amém.

27 de janeiro 16

Penetre minhas entranhas com seu amor, Espírito Santo, para que sinta que os outros são minha própria carne, para que doa em mim a dor deles e me alegre com as suas alegrias. Ilumine meus olhos, Espírito Santo, para que possa reconhecer Jesus presente em cada um deles. Para que os ajude a levar suas cargas. Derrame em meu interior, Espírito Santo, uma grande disponibilidade, para que seja capaz de dar sem medida, para que aprenda a compartilhar o que tenho, buscando a felicidade dos outros. Ensine-me a aceitar com ternura e serenidade que me tomem o tempo. Mostre-me a grandeza dos que dão com alegria. Ajude-me a descobrir a beleza do manancial que sempre dá; a beleza do cântaro, que existe para saciar a sede dos outros. Ajude-me a reconhecer a imensa dignidade de todas as pessoas, que têm direito a ser parte de minha vida. Dê-me um amor generoso e humilde, disposto a compartilhar com os outros minha própria vida, meus talentos, meus bens. Possa eu entregar-me sem resistência diante de suas exigências, amando os outros com seu amor e olhando-os com seu olhar. Venha, Espírito Santo. Amém.

28 de janeiro Venha, Espírito Santo. Hoje quero lhe entregar meu futuro, até o último dia de minha vida. Quero caminhar iluminado por sua divina luz, para saber para onde vou, para não desgastar energias em coisas que não valem a pena. Não quero ficar excessivamente preocupado em relação ao futuro. E, por isso, prefiro entregá-lo em sua presença e deixar-me levar por seu impulso. Espírito Santo, cure minha ansiedade, para que aceite que cada coisa chegue a seu tempo e no seu devido momento. E cure meus medos, para que possa confiar em seu auxílio e me deixe ser guiado sempre por você. Você, que sabe o que mais me convém, oriente-me e conduza-me cada dia, e proteja-me de todo o mal. Venha, Espírito Santo, e tome meu futuro. Amém.

29 de janeiro Na encíclica Dominum et Vivificantem (nº 57), João Paulo II convida a invocar o Espírito que dá a vida, para poder enfrentar os sinais e as tentações de morte que existem no mundo atual. 17

Existem variadas maneiras de escolher a morte: os excessos, a vingança, a melancolia, o fechamento, evadir-se com a televisão, com Internet e muitas formas mais. Seria bom eu perguntar a mim mesmo que formas de morte foram se enfiando em minha vida, que escravidões foram me afogando e não permitem que me sinta realmente alegre, feliz, vivo. Em um momento de oração, rogo ao Espírito que entre nesses setores escuros e doentios de minha existência, entrego-lhe esses lugares do meu ser e de minha vida cotidiana, e procuro libertar-me para sempre desses falsos deuses que não me oferecem a vida, mas que a consomem em mim inutilmente.

30 de janeiro Venha, Espírito Santo. Hoje quero entregar-lhe tudo, para viver com plena liberdade interior, sem me agarrar a nada, sem apegos que me escravizem. Muitas vezes me deixo escravizar por tantas coisas e não sou capaz de renunciar a elas. Assim me encho de tristezas e de insatisfações. Venha, Espírito Santo, toque meu coração e dê-me um santo desapego, para que não perca a paz quando não chego a conseguir algo, e para que não me angustie quando algo se acaba. Quero caminhar leve, sem tanto peso em meus ombros. Quero respirar livre, sem continuar amarrado a tantas coisas e pessoas. Tire-me esses apegos, Espírito de liberdade, para que possa caminhar alegre e sereno. Amém.

31 de janeiro Espírito Santo, você é Deus, abismo infinito de beleza onde se saciará toda a minha sede de amor. Olhe meu interior, onde às vezes habitam egoísmos, impaciências, rejeições. Conceda-me o dom da paciência. Quero viver o mandamento do amor que Jesus deixou para mim, mas às vezes brotam maus sentimentos que se apoderam de mim. Às vezes causo danos com minhas palavras, com minhas ações, ou com minha falta de amabilidade. Ajude-me, Espírito Santo, para que possa olhar para os outros com seus pacientes olhos. Quero reconhecer seu amor para com todos os seres humanos, também para essas pessoas que eu não posso amar com paciência e compaixão. Todos são importantes para o coração amante de Jesus, todos são sagrados e valiosos. Ninguém nasceu por acaso, mas sim nasceu porque é um projeto eterno de seu 18

amor. Livre-me de condenar e de ser preconceituoso em relação aos outros. Gostaria de imaginar seus sofrimentos, suas angústias, essas fraquezas que lhes custa superar. Ajude-me a encontrar sempre alguma desculpa para perdoá-los e para não os olhar mais com maus olhos. Derrame em mim toda a paciência de que necessito. Venha, Espírito Santo. Amém.

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FEVEREIRO

1º de fevereiro Venha, Espírito Santo, quero deixar que seu suave sopro me acaricie. Às vezes não me sinto digno de descansar um momento, de fruir sua presença, de aliviar meus cansaços em seu amor que restaura. Mas você não espera que eu seja perfeito para me amar. Simplesmente me ama. Por isso quero deixá-lo entrar, Espírito Santo, para desfrutar por um momento de sua santa presença e, simplesmente, deixar-me permanecer em sua presença. Em você existe paz infinita. Em sua presença tudo se pacifica, aplaca-se, aquieta-se. Todo o meu nervosismo e minhas tensões vão se curando, e percebo que não vale a pena alimentar o ódio, a tristeza, as vaidades que me fazem sofrer. Venha, Espírito Santo, e trabalhe silenciosamente em meu interior com sua graça. Cure meu interior dilacerado por tantas desilusões, inquietudes e fracassos, por tantos sonhos perdidos. Venha curar este mundo inquieto que carrego dentro de mim e conceda-me o descanso e a serenidade de que necessito. Você sabe também que às vezes falhei em relação a você, rejeitei você, desviei-me de você. Mas bafeje-me e ficarei limpo, purifique-me e ficarei mais branco que a neve (Sl 50[51],9). Passe por meu interior como água de vida, que limpa, renova, vivifica. Venha, Espírito Santo. Amém.

2 de fevereiro Quem se empenha a encontrar sua fortaleza no exterior vai se esvaziando cada vez mais por dentro e vai criando uma horrorosa debilidade interior. Isso o fará experimentar cada vez mais o medo e o desespero porque tudo se acaba para ele. Ao mesmo tempo, vai crescendo uma tremenda rejeição por tudo o que seja limite ou doloroso. Por isso, na realidade, sofre muito mais pelo medo da doença do que sofreria com a própria enfermidade. Mas o homem cheio do Espírito, que se deixa conduzir através da existência com o impulso de vida do Espírito Santo, está cada vez mais vivo e, assim, perde todo temor ao desgaste e à passagem do tempo. Cada vez mais experimenta uma segurança maior, vive cada dia mais a paz e gozo no Espírito Santo (Rm 14,17). 20

Por isso, aquele que foi crescendo com o poder do Espírito Santo, quando tiver 40 anos, não aceitará jamais voltar aos 15 ou aos 20, porque não deseja voltar à insegurança, aos temores, à fragilidade interior, à instabilidade afetiva dos anos da juventude. Prefere a firme vitalidade que lhe foi dando o Espírito Santo com o passar dos anos e na velhice darão frutos, continuarão cheios de seiva e verdejantes (Sl 91[92],15). Cada dia que passa é crescimento, é adquirir uma nova riqueza que o faz feliz. Por isso, já não lhe causam temor a passagem do tempo e o desgaste. Ao contrário, o tempo que passa vai lhe deixando um tesouro, e sabe que cada desafio o fará crescer mais ainda em uma vida que nunca se acaba.

3 de fevereiro Venha, Espírito Santo. Hoje quero pedir-lhe que me ajude a comunicar-me com os outros. Ensine-me a dizer a palavra justa, a olhar para os outros como eles precisam ser olhados, a ter o gesto oportuno. Todo o meu ser está feito para a comunicação. Por isso peço-lhe para que me liberte de todas as travas que não me permitem comunicar-me bem com os outros. Com sua água divina, regue todas as coisas boas que você pôs em minha vida, para que possa fazer o bem. Ensine-me a escutar, para descobrir o que os outros esperam de mim, e para que em mim encontrem generosidade e acolhida. Mostre-me a beleza de abrir o coração e a própria vida para encontrar-me com os outros, e ajude-me a descobrir a beleza do diálogo. Dê-me a alegria de dar e receber. Venha, Espírito Santo. Amém.

4 de fevereiro É necessário convencer-se: o Espírito Santo é plenitude vital, força, gozo. Não existe nada mais vivo, mais real, mais cheio de energia. Necessito convencer-me de que ele ama minha vida, de que me deseja transbordante de vitalidade e de que ele pode realmente consegui-lo se lhe permito de coração aberto. Se não estou convencido disso, minha vida espiritual, minha fé, meu cristianismo serão só uma espécie de verniz. Por fora parecerei cristão, mas por dentro estarei buscando a vida em outras coisas e nunca a alcançarei verdadeiramente. Dentro de nossos desejos de vida, está a necessidade de experimentar que não estamos sozinhos, que temos com quem compartilhar nossa capacidade de amar. Mas não nos enganemos. Por mais que estejamos rodeados de muita gente, existe um lugar do coração, no centro de nossa intimidade, onde não chega nenhuma companhia. Ali sempre nos sentimos sozinhos, se não nos deixamos penetrar pelo fogo de amor que é o Espírito Santo. 21

5 de fevereiro Venha, Espírito Santo, porque às vezes não entendo que sentido têm as coisas que me acontecem, e outras vezes não compreendo para que estou vivendo. Ilumine cada momento com sua presença, para que possa descobrir o que é que você quer me ensinar, para que saiba valorizar cada momento e possa viver com vontade. Espírito Santo, encha de claridade tudo o que hoje me cumpra viver, cada uma de minhas experiências, para que possa reconhecer a importância de cada coisa e me entregue de coração em cada instante. Não deixe que haja momentos vazios, escuros, sem sentido. Não deixe que minha vida se vá escapando sem vivê-la a fundo. Faça-se presente em cada momento desta jornada, para que sinta que vale a pena estar neste mundo. Venha, Espírito Santo. Amém.

6 de fevereiro Os que deram seu sangue por Cristo mostram até que ponto o Espírito Santo pode nos fortalecer. Às vezes pensamos que nunca seremos capazes de suportar certas coisas, mas esquecemos que o Espírito Santo pode fortalecer-nos de uma forma maravilhosa. Isso se vê claramente nos mártires. Hoje a Igreja celebra São Paulo Miki e outros 25 mártires, em sua maioria japoneses, que deram a vida por Cristo no dia 5 de fevereiro de 1597. São os primeiros mártires da época moderna. Até esse momento, a Igreja venerava, sobretudo, os mártires dos primeiros séculos, e pensava que o martírio recordasse esses mártires de um passado distante. Mas quando os cristãos se empenharam decididamente na evangelização da Ásia, e apaixonaram-se por implantar a Igreja no Japão e em outros países distantes, então o martírio voltou a aparecer em abundância como semente de novas comunidades. Em 1597 dão a vida 9 missionários jesuítas e franciscanos, junto com 17 leigos (um catequista, um médico, um soldado, três meninos do coral etc.). Morreram crucificados nos arredores de Nagasaki só por pretenderem viver publicamente sua fé. Os mártires que hoje celebramos, em sua maioria missionários ou pregadores, mostram-nos até que ponto podemos nos entregar à missão evangelizadora. Morreram dignamente, uns cantando, outros sorrindo, outros invocando Jesus e Maria, ou exortando as testemunhas do massacre a serem fiéis ao Evangelho. Por outra parte, a multidão de crentes que presenciava o ato animava-os dizendo-lhes que logo estariam no paraíso. Nas Atas dos Santos, narra-se que Antônio, um dos leigos crucificados, pôs-se a cantar um salmo “que havia aprendido na catequese de Nagasaki”. Peçamos ao Espírito Santo que nos torne capazes de nos entregar até o fim, cantando e orando. 22

7 de fevereiro Venha, Espírito Santo, dê-me um coração simples que seja capaz de o dar todo, mas deixando a você a glória e a honra. Cure este desgaste que sofri por ter pretendido agradar a todos. Liberte-me da ansiedade que me angustia, por querer conseguir a aprovação de todos. Quero aceitar Jesus como Senhor de todo o meu futuro e de todos os meus planos. Venha, Espírito Santo. Que tudo aconteça como lhe parecer melhor. Mostre-me interiormente que eu não sou um deus e que não posso construir o futuro só com minha mente pequena e limitada, com minhas pobres e fracas forças. Ajude-me a ver a beleza que é depender de você, deixando cada coisa em suas mãos. Em você serei forte, Espírito Santo. Você é Deus. Você vai me proteger e em você tudo estará seguro e feliz. Mesmo que não se cumpram meus projetos, você vai me ajudar a conseguir o que os outros necessitam de mim. Venha, Espírito Santo. Não deixe que me encha de ansiedade por trás de projetos obsessivos, porque nada deste mundo vale tanto, nada é absoluto. Quero trabalhar sob sua luz, sabendo que você compreende meus erros, que eu não sou um ser divino e que sempre posso começar de novo sem ansiedades. Porque você tem confiança em mim. Venha, Espírito Santo. Amém.

8 de fevereiro Para viver bem, é sumamente importante que peçamos a luz do Espírito Santo e enfrentemos com coragem e sinceridade nossos medos, mesmo que precisamente nos cause terror encontrar-nos com nossos próprios medos. Porque quando uma pessoa esconde seus temores, ou pretende apagá-los só fazendo força, mas sem os olhar de frente, pode chegar a esquecer o que lhe causava medo, mas esse temor não se apaga. Converte-se em um medo etéreo, difuso, presente a cada momento, que se deposita em qualquer coisa; e assim já não sabe bem do que tem medo, e começa a sentir temor por qualquer coisa, a perder a alegria de viver sem saber bem por qual razão. Daí que seja muito saudável colocar-nos em oração, invocar com desejos o Espírito Santo e dizer-lhe, em voz alta, do que é que temos medo, reconhecê-lo sem rodeios. Depois, procurar ir despertando pouco a pouco a confiança na ação do Espírito, oferecendo-lhe cada área de nossa vida, pedindo-lhe que ele se apodere de todos os setores de nossa existência com seu poder infinito. 23

Imaginemos como o Espírito Santo, com sua luz, seu poder e seu fogo, vai dando firmeza a essas partes frágeis que quisemos sustentar só com nossas pobres forças humanas.

9 de fevereiro Venha, Espírito Santo. Hoje lhe peço que cure meu medo do insucesso. Quero confiar em você, sabendo que todas as minhas tarefas, de alguma maneira, terminam bem se deixo que você as abençoe e as ilumine. Abençoe com seu infinito poder todos os meus trabalhos e tarefas. Dê-me clareza, habilidade, sabedoria, para fazer as coisas bem feitas, com toda a minha atenção, minhas capacidades e minha criatividade. Não deixe, Espírito Santo, que me descuide de meus trabalhos, que me deixe levar pelo comodismo ou pelo desânimo. Tome-me para que possa ver o que tenho de fazer em cada momento e me torne capaz com seu poder. Quero trabalhar firme e certo com sua graça. Sei que com sua ajuda tudo terminará bem e que, se eu cometer algum erro, também disso você tirará algum bem para minha vida. Venha, Espírito Santo. Amém.

10 de fevereiro Eu lhe dou graças, Espírito Santo, porque você inspirou a Palavra de Deus. Porque essa Palavra ilumina meu caminho e me dá vida. Porque nessa Palavra você está me dizendo o que mais necessito. Derrame-se em mim, Espírito Santo, para que eu possa compreendê-la e me deixe transformar por ela. Quero ser uma testemunha que anuncie a Palavra com segurança e convicção, com amor e alegria. Por isso, Espírito Santo, dê-me sua graça para que possa orar com essa Palavra, para que se faça carne em minha vida. Assim poderei anunciá-la 24

com minhas palavras e meus gestos, com todo o meu ser. Você que é o mestre interior, toque os corações de todos os que a escutem, para que encontrem nela a resposta para suas inquietações, para que se enamorem do Evangelho e o vivam cada dia. Venha, Espírito Santo. Amém.

11 de fevereiro Espírito Santo, eu sei que você é maior e mais belo que todos os meus sentimentos e emoções, que não posso abarcá-lo com minha sensibilidade ferida. Você não é como eu o sinto às vezes, porque você é incapaz de me causar dano, de me absorver ou de me dominar à força. Você é uma infinita delicadeza. Espírito Santo, às vezes experimento minha pequenez diante de tanta grandeza e fujo de você como se você pudesse me acarretar dano. Perdoe essas maluquices de meu pequeno coração. Esqueço que seu poder é o que me faz forte, que me dá a vida e me sustenta, e que tudo vem de seu amor divino. Dê-me a graça de deixá-lo atuar, para que possa fruir suas delícias, para que possa cantar de gozo em sua presença. Venha, Espírito Santo. Amém.

12 de fevereiro Pode suceder que, no decorrer de uma oração, descubramos que a causa de nossos medos é certa má experiência que tivemos e que sempre está reaparecendo em nossas recordações. Então, teremos de nos deter cada dia para pedir ao Espírito Santo que cure essa recordação, que derrame seu poder, que nos conceda uma firme confiança para que essa ferida sare e cicatrize. Algo que pode nos ajudar é atrever-nos a reviver com a imaginação a cena em que tivemos uma forte dor e fazer presente Cristo nesse momento abraçando-nos, resgatando-nos, libertando-nos desse problema, arrancando-nos desse lugar. E se não conhecemos a raiz profunda, a causa de nossos temores, peçamos ao Espírito Santo que ele se apodere do nosso grito interior que não sabe exprimir-se, que ele se expresse de um modo libertador. Porque o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza, porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis (Rm 8,26). 25

13 de fevereiro Os irmãos do Oriente desenvolveram uma profunda devoção ao Espírito Santo e nos deixaram formosas orações. Oremos com uma delas: Venha, Espírito Santo, venha, luz verdadeira. Venha, mistério escondido. Venha, realidade inexplicável. Venha, felicidade sem fim. Venha, esperança infalível dos que serão salvos. Venha, você que desperta os que dormem. Venha, vida eterna. Venha, tesouro sem nome. Venha, pessoa inconcebível. Venha, luz sem ocaso. Venha, ressurreição dos mortos. Venha, ó poderoso, você que sempre faz e refaz tudo e tudo transforma só com o seu poder. Venha, ó invisível, sutil. Venha, você que permanece imóvel e, não obstante, em cada instante se move inteiro e vem a nós que estamos nos infernos, você que está acima dos céus. Venha, ó nome predileto e repetido por toda parte, do qual nos é absolutamente impossível expressar seu ser ou conhecer sua natureza. Venha, gozo eterno. Venha, coroa incorruptível. Venha, cinturão cristalino, adornado de joias. Venha, púrpura real, verdadeiramente soberana. Venha, você que desejou e deseja minha alma miserável. Venha, você o Só no só, porque você já vê, eu estou só. Venha, você que chegou a ser seu mesmo desejo em mim, você que me fez desejálo, você absolutamente inacessível. Venha, meu sopro e minha vida. Venha, consolação de meu pobre coração. Venha, minha alegria, minha glória e minha delícia para sempre. (Simeão, o Novo Teólogo)

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14 de fevereiro Espírito Santo, eu não quero desperdiçar seus dons, não quero deixar de aproveitar os impulsos de sua graça. Tenho à minha disposição a vida nova da Ressurreição e o poder de seus impulsos. Não gostaria de me desgastar em lamentos e queixas. Você me sustenta, você me dá vida, com você posso correr sem me fatigar. Mas às vezes desgastam-me minha desconfiança, minha tristeza, minha melancolia, meus medos, meus fracassos, as contradições que encontro, minhas insatisfações. Ajude-me a renunciar a tudo isso, Espírito de vida, para que você desdobre em mim toda a sua glória. Pulse comigo, Senhor, viva comigo, respire comigo, encha-me de fervor e de entusiasmo. Coloque em meu coração o anseio por ser fecundo para você, de ser útil. Dê-me o sonho de produzir algo bom para este mundo, o desejo de deixá-lo melhor do que como o encontrei. Cure toda preguiça, toda indiferença, todo desânimo, para que não ofenda você com pecados de omissão. Possa eu levantar-me cada manhã com intensos desejos de fazer o bem aos outros. Ajude-me a descobrir melhor meus talentos, para gastar bem minhas energias. Deus, poderoso e forte, que tudo você sustenta, olhe minha debilidade e penetre todo o meu ser com esse poder que não tem limites. Venha, Espírito Santo, fortaleça cada fibra de meu corpo e do meu interior. Assim eu sei que nada poderá me derrubar, porque nenhum poder humano, nenhuma doença e nenhuma dificuldade podem ser mais fortes que seu amor. Venha, Espírito Santo, infunda seu dinamismo em minhas ações, inunde de vitalidade todo o meu ser. Tome-me, Senhor, mais uma vez, para derramar seu poder e sua luz no mundo. Venha, Espírito Santo. Amém.

15 de fevereiro Quando nos perguntamos por qual razão esta Pessoa divina se chama Espírito, poderíamos responder, “porque não é material”. Mas essa resposta é muito pobre. Na Bíblia esse nome significa muito mais. No Antigo Testamento, a palavra espírito (ruah) é um som que imita o ruído da respiração agitada. O sentido principal é o de ar. Mas é preciso dizer “ar em movimento” 27

porque o hebraico não conhece a ideia de ar parado ou quieto, mas movendo-se ou movendo. Indica uma vitalidade dinâmica que depende de Deus (cf. Sl 32[33],6; 103[104],29-30) e está ausente nos ídolos (cf. Jr 10,14). O espírito tem uma grande mobilidade: é comunicado, entra, sai, renova, impulsiona, abandona (cf. Nm 11,24-29). Esse aspecto dinâmico é uma característica inseparável da noção de espírito. De fato, o Antigo Testamento relaciona-o particularmente com a atividade profética, que orienta adiante, para a frente, para o futuro. No Antigo Testamento traduzido para o grego, a palavra espírito tem também esse sentido dinâmico. A raiz do termo expressa “um movimento de ar carregado de energia”. No livro da Sabedoria, descreve-se o espírito como ágil, que atravessa e penetra, espelho da atividade de Deus, que se desdobra vigorosamente etc. (cf. Sb 7,22.24.26; 8,1). Segundo os escritos de São Paulo, o Espírito mobiliza, dá forças e derrama dons em relação ao agir, para enriquecer a vida da Igreja (cf. Rm 8,14-15.24-27; 1Cor 12,1-11; 2Cor 3,6.17-18; Gl 4,6-7; 5,22-25). E essa concepção dinâmica expressa-se também no convite: “não extingais o Espírito” (cf. 1Ts 5,19). Nos Atos dos Apóstolos, o derramamento e a ação do Espírito produzem um permanente e fervoroso dinamismo (cf. At 1,8;2,2.41; 4,29-31; 8,39-40; 10,44-46; 13,4; 19,6; 20,22-23). É bom pedir ao Espírito Santo que nos encha desse dinamismo de vida.

16 de fevereiro Sabemos que em toda a Escritura a palavra espírito fala de dinamismo. E se o Espírito Santo tem esse nome é porque ele derrama vida em movimento, impulsiona para a frente, não nos deixa estanques ou imóveis. Ele sopra, move, arrasta, liberta de toda acomodação e de toda imobilidade. Por isso mesmo também no Novo Testamento ele é associado com o simbolismo do vento: diz-se que assim como o vento sopra onde quer, assim é aquele que nasce do Espírito (cf. Jo 3,8). Cristo ressuscitado sopra quando derrama o Espírito nos discípulos (cf. Jo 20,22) e os impulsiona para uma missão. Por isso não é por acaso que se associe o derramamento do Espírito em Pentecostes, tirandoos do fechamento, com uma rajada de vento impetuoso (cf. At 2,2). O mesmo impulso do Espírito Santo nos conduz a buscar sempre mais. Em sua carta sobre o Terceiro Milênio, o papa João Paulo II atribui, particularmente ao Espírito, a construção do Reino de Deus “no decorrer da história”, preparando sua “plena manifestação” e “fazendo germinar dentro da vivência humana as sementes da salvação definitiva” (Tertio Millennio Adveniente [TMA], nº 45b). Por isso não só esperamos chegar ao céu, mas desejamos viver nesta vida algo do céu. Não podemos ignorar que o Novo Testamento não fala só do Reino que já chegou com Cristo, ou do Reino celestial que virá na Parusia, mas também do Reino que vai crescendo (cf. Mc 4,26-28; Mt 13,31-33; Ef 2,22; 4,15-16; Cl 2,19). E, se vai crescendo, esperamos que o Espírito Santo nos ajude a ir criando um mundo cada vez 28

melhor.

17 de fevereiro Venha, Espírito Santo, e olhe todos os medos que guardo dentro de mim. Rogo-lhe que cure todo temor, para que possa caminhar confiante em sua presença. Veja esta criatura que lhe suplica, não me abandone, fortaleza minha. Você é como um escudo protetor e, se sua força me circunda, não tenho nada a temer. Cubra-me com o seu poder e não permita que algum violento me cause dano, não deixe que algum espírito dominador queira apossar-se de minha vida. Afaste de mim todos os que queiram de mim se aproveitar. Você me protegerá dos invejosos e dos que não se alegram com meus sucessos e alegrias. Você me protegerá dos perigos imprevistos. Deposito em você toda a minha confiança. Eu aceito Jesus como Senhor de minha vida, todo o meu ser lhe pertence. Por isso confio em sua proteção, Espírito Santo, e deposito diante de você todos os meus temores. Venha, Espírito Santo. Amém. Quero lutar e caminhar, mas cheio de paz e de confiança.

18 de fevereiro A esperança tem a ver com o amor de desejo, com esse interesse profundo que alimenta a atividade cotidiana do homem a caminho. Aquele que crê que desta história nada se pode esperar só pode desejar que tudo acabe e, por isso mesmo, não tem vontade de nada. É certo que, quando descobrimos que as coisas não são eternas, se desperta em nós o desejo de uma vida que vá mais além, a esperança no Reino celestial. Mas a esperança é muito mais que o sabor amargo que sentimos quando captamos a insuficiência e a contingência das coisas terrenas. Com a esperança, esse gosto inquietante converte-se em desejo eficiente, em ilusão, em caminho. Esperamos que tudo possa chegar a ser melhor também nesta terra. A passagem do tempo é vida que cresce, porque está presente o Espírito, assegurando, com sua presença, uma permanente e inesgotável vitalidade. Nós, cristãos, nunca poderemos entender a passagem dos anos como um processo degradante que cada vez mais se afasta dos tempos dourados. Não podemos pensar que antes tudo era bom e que foi perdendo cada vez mais seu poder originário por um inevitável desgaste. Se assim fosse, não haveria esperança. A presença do Espírito é uma primícia do triunfo definitivo, faz-nos sentir que com 29

pequenas coisas vamos preparando algo melhor. Por isso, o Espírito impede as visões pessimistas. Ele sempre nos lança para diante.

19 de fevereiro Espírito Santo, quero viver em sua paz, gozar de seu amor cada dia e entregar-me à vida com entusiasmo. Mas você sabe que guardo dentro de mim rancores e ressentimento que procurei ocultar. Hoje lhe peço a graça de libertar-me, Espírito Santo. Derrame em mim um profundo desejo de perdoar, de viver em paz com todos e de compreender profundamente as agressões e desprezos de algumas pessoas. Ajude-me a descobrir seus sofrimentos e debilidades para poder olhá-los com ternura e não os julgar pelo que me fazem. Conceda-me a graça de compreender e bendizer os que me ofendem, perseguem e desprezam, louvando você por eles, que são seus. Derrame em mim um espírito de profunda tolerância. Venha, Espírito Santo. Amém.

20 de fevereiro Venha, Espírito de amor. Todo o meu ser tem sido criado para amar, mas muitas vezes escolho o egoísmo. Eu sei que tudo o que você me dá é para que eu compartilhe. Você quer me encher de coisas belas para que eu seja como um cântaro que sacia a sede dos outros. Você me escolheu para que comunique um pouco de felicidade aos irmãos. Mas custa-me compartilhar minhas coisas e dar meu tempo aos irmãos. Abra meu coração egoísta, Espírito de amor, para que possa desfrutar entregando-me aos outros. Não deixe que me prive dessa alegria de um coração generoso. Não deixe que eu me detenha encerrado sozinho em minhas próprias preocupações e ajude-me a descobrir Jesus em cada irmão. Venha, Espírito Santo. Amém.

21 de fevereiro Dou-lhe graças, Espírito Santo, porque tenho uma missão a cumprir neste mundo. Sei que pelo simples fato de eu existir nesta terra já estou cumprindo um plano seu, um projeto que não consigo descobrir, mas que você conhece bem. Minha simples existência é um sinal de seu amor e de sua vontade. Mas você quis que também as coisas que eu faço tenham a cada dia um valor 30

profundo, em toda a sua simplicidade e pequenez. Eu não sou capaz de fazer tudo, mas o que posso fazer cada dia é o que você quis que eu presenteasse a esta vida. Você, que conhece o porquê e para que de cada coisa, ajude-me a vê-lo, Espírito Santo. Ensine-me a valorizar-me, ajude-me a apreciar a missão que você me deu neste mundo, para que me alegre por estar aqui, entregue ao serviço de Jesus. Agradeço pelas pessoas que encontro cada dia, pelo bem que posso fazer e pela alegria de compartilhar. Bendiga ao Senhor, minha alma, e nunca esqueça seus benefícios! Amém.

22 de fevereiro Depois de invocar a presença do Espírito, procuro imaginar esse fogo infinito de amor que se converte em vento impetuoso. Talvez me provoque temor tanto dinamismo. Então peço ao Espírito que destrua esse medo que me paralisa. Todos buscamos ter algumas seguranças e nos agarramos a esses costumes que nos fazem sentir seguros. Desse modo renunciamos à mudança, à esperança, ao futuro. O Espírito quer nos desinstalar porque nos quer vivos, não mortos em vida. Por isso, em sua presença, façome as perguntas seguintes: Não será que o Espírito esteja querendo mudar algo em minha vida e eu estou resistindo? Não será que renunciei a ter novos amigos, a iniciar coisas novas, a mudar alguma coisa, porque tenho medo de me desinstalar, de perder minha comodidade, porque me agarro a meus próprios planos com unhas e dentes e não estou disponível para a novidade do Espírito? Sinto que o estilo de vida que estou vivendo me permite levantar-me cada dia como se fosse uma nova aventura no Espírito? Ou levanto-me simplesmente para sobreviver, para cumprir, para suportar a existência? Digo ao Espírito Santo que quero viver de outra maneira e peço-lhe sua força para o conseguir.

23 de fevereiro Venha, Espírito Santo. Porque eu fui criado para encontrar a felicidade, a verdadeira paz, o gozo mais profundo, mas tudo isso só se encontra em você. As coisas deste mundo dão-me alguma felicidade, mas no fim sempre me deixam vazio e necessitado. Por isso peço-lhe, Espírito Santo, que me dê a graça de abrir-lhe meu interior e de amar você com todo o meu ser, para alcançar a fruição do que vale a pena. Quero comprazer-me de sua amizade, de seu carinho, de seu abraço e amor, de seu fogo santo. Não permita que me absorvam as coisas do mundo e toque-me 31

com a carícia suave e feliz de sua ternura. Venha, Espírito Santo, para que possa entrar no coração de Jesus, para que sinta o chamado do Pai Deus que sempre me espera. Venha, Espírito Santo. Amém.

24 de fevereiro Podemos dizer ao Espírito Santo, com todo o coração, estas palavras do Salmo: Sois o meu Senhor, fora de vós não há felicidade para mim… Senhor, vós sois a minha parte de herança e meu cálice; vós tendes nas mãos o meu destino. O cordel mediu para mim um lote aprazível, muito me agrada a minha herança… Por isso o meu coração se alegra e minha alma exulta, até meu corpo descansará seguro… Vós me ensinareis o caminho da vida, há abundância de alegria junto de vós e delícias eternas à vossa direita (Sl 15[16],2.5-6.9.11).

25 de fevereiro Aquele que se torna amigo do Espírito Santo não o teme na solidão, porque o Espírito Santo lhe vai dando uma força emotiva, uma firmeza afetiva que lhe permite ter relações saudáveis, não possessivas, nem absorventes. Isso vai lhe proporcionando o apreço de muitos e amizades mais belas e satisfatórias, sem angústias doentias. Com razão diz a Bíblia: Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo (Mt 6,33). O amor enche-nos o coração quando não nos tornamos obsessivos por alcançá-lo. O importante é permitir que o Espírito Santo nos presenteie o amor como ele quer e não tanto como nós o imaginamos. Muitas vezes não somos felizes porque nos esforçamos por alcançar uma forma de felicidade, porque nos empenhamos por viver a felicidade de uma determinada maneira. Mas existem muitas formas de ser felizes. É preciso aceitar o que nos toque e vivê-lo com vontade. Se deixamos que o Espírito Santo nos faça viver o amor como a ele parece, então não existirá a solidão em nossas vidas. Ele é capaz de saciar nossa sede de amor e de carinho.

26 de fevereiro Sem o Espírito Santo, Deus fica longe do mundo, 32

Cristo pertence ao passado, o Evangelho são palavras mortas, a Igreja, uma organização a mais, a autoridade, uma tirania, a missão, pura propaganda, o culto, uma simples recordação, o atuar cristão, uma moral de escravos. Com o Espírito Santo, Deus pulsa em um mundo que se eleva, e geme na infância do Reino, Cristo ressuscitou e vive hoje, o Evangelho é potência de vida, a Igreja, comunhão trinitária, a autoridade, serviço libertador, a missão, permanente Pentecostes, o culto, celebração e antecipação do Reino, o agir humano, realidade divina. (Conselho Mundial das Igrejas, Uppsala 1968)

27 de fevereiro O Espírito Santo é Deus. Por isso podemos dirigir-nos a ele com estas belas palavras dos salmos: Como é preciosa a vossa bondade, ó Deus! À sombra de vossas asas se refugiam os filhos dos homens. Eles se saciam da abundância de vossa casa, e lhes dais de beber das torrentes de vossas delícias (Sl 35[36],8-9). Ó Deus, vós sois o meu Deus, com ardor vos procuro. Minha alma está sedenta de vós, e minha carne por vós anseia como a terra árida e sequiosa, sem água… vossa graça me é mais preciosa do que a vida, meus lábios entoarão vossos louvores. Assim vos bendirei em toda a minha vida, com minhas mãos erguidas vosso nome adorarei. Minha alma saciada como de fino manjar, com exultante alegria meus lábios vos louvarão… exulto de alegria, à sombra de vossas asas. Minha alma está unida a vós, sustenta-me a vossa destra (Sl 62[63],2-9). Junto de vós, Senhor, me refugio. Não seja eu confundido para sempre; por vossa justiça, livrai-me (Sl 30[31],2). É bom louvar ao Senhor e cantar salmos ao vosso nome, ó Altíssimo, proclamar de manhã a vossa misericórdia e, durante a noite, a vossa fidelidade (Sl 91[92],2-3). 33

28 de fevereiro O ser humano tem também a capacidade de fazer coisas, de prolongar-se em uma obra, e também ali pode se derramar o Espírito Santo para que o vivamos de outra maneira. O Espírito, que infunde dinamismo, também influi em nossas atividades, em nosso trabalho, em tudo o que fazemos, não só para que possamos fazê-lo bem, e sim para que essas atividades enriqueçam nossa vida, para que não sejam um peso ou uma simples obrigação. Isto é, o Espírito Santo pode fazer que essas atividades tenham um sentido, um “para que” profundo que nos permita fazê-las com interesse, com certo gosto, e que nos sintamos fecundos nessa atividade. Podemos fazer algo por necessidade, ou “porque sim”, mas também podemos fazê-lo como uma oferenda de amor ao Senhor, ou como um ato de amor aos irmãos, à Igreja, à sociedade, ou podemos oferecê-lo ao Senhor por nossa santificação ou pedindo-lhe algo que desejamos alcançar, ou unindo-nos com ternura à paixão de Cristo etc. Isso permite que não só nos sintamos bem quando descansamos, mas também quando trabalhamos.

29 de fevereiro Cada vez que na oração nos dirigimos a Jesus, é o Espírito Santo quem, com sua graça preveniente, nos atrai para o caminho da oração. E já que ele nos ensina a orar recordando-nos Cristo, como não nos dirigir também a ele orando? Por isso, a Igreja nos convida a implorar todos os dias ao Espírito Santo, especialmente ao começar e terminar qualquer ação importante… O Espírito Santo, cuja unção impregna todo o nosso ser, é o Mestre interior da oração cristã (Catecismo da Igreja Católica, 2670.2672). Por tudo isso, se não sabemos orar, o melhor é pedir ao Espírito Santo que nos ensine, que nos estimule, que nos impulsione e nos encha de desejos de orar. Ele pode colocar em nossa boca o que temos de dizer e, às vezes, nem mesmo são necessárias as palavras. Muitas vezes o Espírito Santo nos move a expressar-nos com o pranto, com uma melodia, com um lamento, com um suspiro. Deixemos que seja ele quem nos ensine a orar.

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MARÇO

1º de março Existe um trabalho no qual o Espírito Santo atua de uma forma especialíssima: é a tarefa evangelizadora. Quando alguém procura levar a outros a mensagem de Cristo, em uma visita de casa em casa, em uma tarefa na paróquia, na oficina etc., ali o Espírito Santo quer se fazer presente com sua luz e seu poder para implantar o Evangelho, para que Cristo habite nos corações. Por isso, aquele que dedica parte de sua vida, ou todas as suas energias, a anunciar o Evangelho experimenta de um modo especial a vitalidade, a profundidade, o fogo que o Espírito Santo pode nos proporcionar. Mas é preciso deixar a cômoda praia e atirar-se “mar adentro” (cf. Lc 5,1-11), vencendo os medos (cf. Mc 4,35-41) e com o olhar em Cristo (cf. Mt 14,22-23). Assim se prova a alegria de dizer aos outros que achamos o Messias (Jo 1,41-45).

2 de março A ação do Espírito Santo caracteriza-se pela alegria, pelo entusiasmo. É a alegria dos discípulos de Emaús que sentiram “arder seu coração” junto de Cristo e por isso saíram a comunicá-lo: O Senhor ressuscitou verdadeiramente! (Lc 24,34). Todo o livro de Atos mostra com abundantes exemplos o que é essa poderosa evangelização “no Espírito Santo”. Vale a pena lê-lo e deixar-nos contagiar por esse entusiasmo evangelizador. Ali vemos como os evangelizadores estavam cheios dos dons do Espírito para poder chegar aos outros. Porque, para a obra evangelizadora, e para qualquer outra tarefa, o Espírito derrama admiravelmente abundantes dons que nos enriquecem para prestar um bom serviço aos irmãos: são os carismas (cf. 1Cor 12). Existem muitos e distintos carismas em cada um de nós, e todos temos o direito e o dever de exercer nossos carismas, quaisquer que sejam. Mas o discernimento dos pastores permite descobrir se o carisma é autêntico e se o está exercendo de maneira sadia (cf. Gl 2,2). É bom pedir ao Espírito Santo que nos faça descobrir os nossos próprios carismas, tudo o que ele nos proporcionou para servir aos outros. Porque seria uma pena não 35

aproveitar essa riqueza.

3 de março Repitamos docemente esta oração, que se utiliza na liturgia oriental para invocar o Espírito Santo: Rei celeste, Espírito consolador, Espírito de verdade, que está presente em todas as partes e tudo enche. Tesouro de todo bem e fonte de vida, venha. Habite em nós, purifique-nos e salve-nos, você que é bom. Amém. (Liturgia bizantina)

4 de março Espírito Santo, que é a fonte inesgotável de tudo o que existe, hoje quero lhe dar graças. Agradeço antes de tudo a vida, o fascinante mistério de existir. Porque respiro, me movo, corre sangue por meu corpo, meu coração pulsa. Existe vida em mim. Muito agradecido. Agradeço porque através de minha pele e de meus sentidos posso entrar em contato com o mundo, porque posso perceber os seres que você criou ao meu derredor. Porque o ar roça minha pele, sinto o calor e o frio, percebo o contato com as coisas que toco. Agradeço porque meu pequeno mundo está repleto de pequenas maravilhas que não chego a descobrir. Você me rodeia e me envolve com sua Luz. Agradeço, Espírito Santo. Amém.

5 de março Para que o Espírito Santo possa fazer maravilhas em nossa vida, é necessário que estejamos verdadeiramente abertos à sua ação. Mas o que significa estar abertos à ação 36

do Espírito Santo? Significa deixar que nos mude os planos, que nos leve para onde queira e, sobretudo, significa desejá-lo, buscá-lo cada vez mais, não ficar nunca conformados, não crer que já o conhecemos suficientemente. Não se deve pensar que já não pode haver novidades em nossa relação com ele, que já provamos tudo. Verdadeiramente não é assim. Ele é sempre novo, sempre deslumbrante, sempre surpreendente. Nunca podemos dizer que já sabemos encontrar-nos com ele, porque ele supera infinitamente todas as nossas experiências. É ele sempre muito mais rico e cheio de formosura do que nós podemos chegar a imaginar. Por isso cada dia estamos mendigando seu amor e sua presença. Ele está nos indicando um novo caminho para nos encontrarmos com ele. E através das novas experiências da vida, também das crises, eles nos vai abrindo os caminhos para descobrir algo que nunca havíamos experimentado. Ele está sempre insinuando no coração um novo convite ao amor. Vale a pena escutá-lo.

6 de março Recordo os momentos em que não desfruto algo que tenho em minhas mãos porque estou acelerado, pensando em outras coisas, e imagino como seria um dia de minha vida se eu me detivesse a viver plenamente cada momento. Peço ao Espírito Santo que me liberte de minha ansiedade e detenho-me a viver este momento, como se fosse o último de minha vida, sabendo que é tão importante como o que possa fazer depois. Ponho-me a fazer uma tarefa com todo o meu ser, oferecendo-a ao Senhor. Peço ao Espírito Santo que me estimule a evangelizar, que me tire o medo e a vergonha e peço-lhe, e rogo-lhe que se manifeste com poder através de mim, que me proporcione valentia para reconhecer minha fé, para falar de Cristo aos outros, para expressar a alegria de tê-lo encontrado. E imagino para mim alguma situação na qual poderei fazê-lo. Faço uma lista dos carismas que posso descobrir em minha pessoa, todas as capacidades que o Espírito colocou em mim para brindar algo aos outros. Dou graças ao Espírito Santo, que semeou em mim esses carismas, e procuro ver como poderia exercêlos melhor para o bem dos outros. É importante incluir aqui todo tipo de carismas, mesmo os que parecem mais insignificantes: a capacidade de dar alegria com um simples sorriso, a capacidade de tocar um instrumento musical, de desenhar etc. Então, tomo a decisão de exercer esses carismas hoje mesmo, para glória do Espírito Santo que a mim os presenteou.

7 de março Quando imaginamos o Espírito Santo como vento, deixamos espaço à fantasia. 37

O vento incha as velas e empurra a barca; brinca com as areias do deserto derrubando e remodelando as dunas; encrespa e faz reboar as ondas; transporta nuvens e pólen; ruge, assobia, cala-se… deixemo-nos conduzir ou arrebatar com o Espírito como por um vento. (L. Alonso Schökel) Às vezes queremos permanecer demasiadamente acomodados e por isso preferimos que o Espírito não se meta demasiado em nossa vida; queremos que tudo fique onde está e que não haja sobressaltos. Mas isso é escolher a morte. Melhor deixarmos que o Espírito Santo nos leve para onde ele queira, e a vida terá muito mais sabor. Deixemo-nos levar pelo vento do Espírito, e tudo será muito mais interessante que nos opor e nos defender.

8 de março Se dou um repasse nas diferentes tarefas que realizo, ou nas coisas que faço e vivo durante a semana, posso descobrir que alguns desses momentos estão cheios de espírito. Que significa isso? Ter espírito não é simplesmente fazer algo com vontade e com gosto; o importante é que possamos viver com profundidade, com um sentido. Por exemplo: uma doença não agrada a ninguém, mas pode ser vivida sem sentido, ou se pode viver com profundidade. Por isso é bom deter-se de quando em quando para descobrir se na própria vida existem algumas coisas que não têm espírito, porque as faço só por obrigação, porque não encontro sentido nelas, porque me parecem que não valem a pena e, sobretudo, porque as faço sem amor. Então, será necessário pedir ao Espírito Santo que se torne presente ali para derramar sua luz. Porque quando o deixamos entrar, ele se faz presente e todas as coisas têm sentido. Assim, a vida deixa de ser um conjunto de coisas que toleramos e começamos a vivê-la.

9 de março Santo Isidoro é um dos Padres da Igreja que a enriqueceram nos primeiros séculos do cristianismo. Ele nos deixou uma bela oração, que podemos repetir para alimentar a confiança do Espírito Santo e comprometer-nos na construção de um mundo mais justo: Aqui estamos, Senhor, Espírito Santo. Aqui estamos em sua presença. Venha e fique conosco. Digne-se infundir-se no mais íntimo de nossos corações. Ensine-nos em que temos de nos ocupar, para onde temos de dirigir nossos 38

esforços. Faça-nos saber o que temos que realizar para que com sua ajuda possamos agradar-lhe em tudo. Seja você só quem inspire e leve a feliz termo nossas decisões. Só você, com Deus Pai e seu Filho, possui o nome glorioso. Não permita que sejamos perturbadores da justiça. Você que ama a equidade em sumo grau. Que a ignorância não nos arraste para o mal, nem nos desvie o aplauso, nem nos corrompa o interesse pelo lucro, ou a preferência de pessoas. Preferivelmente, una-nos a você de modo eficaz pelo dom de sua graça. Sejamos nós um em você e nada nos separe da verdade. E, por nos encontrarmos reunidos em seu nome, possamos manter em tudo a justiça, guiados pelo amor, para que aqui e agora não nos separemos em nada de você… (Santo Isidoro)

10 de março Podemos dizer que, na revelação das riquezas de Cristo, existe uma plenitude infinitamente maior que os conceitos e esquemas de todos os teólogos e que a consciência cristã de qualquer época; todavia o Espírito tem a função de administrar e desdobrar cada vez mais essa plenitude do Ressuscitado. Neste sentido, a Igreja está chamada a acolher as novidades com as quais o Espírito a impulsiona para um futuro mais rico. Mas para isso deve assumir uma atitude de pobreza receptiva, mais que uma atitude de ostentação, por mais que se saiba administradora de um depósito recebido de Cristo. O que contam os Evangelhos não abrange tudo o que disse ao homem o Mistério insondável do Verbo encarnado, visto que ele se revelou com milhares de gestos e de palavras que não puderam ser recolhidos por escrito (cf. Jo 21,25), ainda que no Evangelho se diga o essencial. Além do mais, há coisas não ditas por Cristo, porque os discípulos não as podiam suportar (Jo 16,12-13), mas que se expressaram plenamente no acontecimento da Páscoa, mais que nas palavras. É o Espírito quem, tomando da plenitude deste mistério, ainda não captada por nós, causa maravilha constantemente à Igreja. Sempre nos sentimos limitados diante do Mistério inesgotável de Jesus ressuscitado. E o Espírito Santo nos conduz dentro desse Mistério do Ressuscitado que sempre nos supera. Por isso, sempre podemos dizer chega. E não é necessário que nos afastemos de Cristo para procurar novidades ou riquezas desconhecidas, visto que nunca chegaremos a esgotar a interminável riqueza do Senhor Jesus ressuscitado.

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11 de março É maravilhoso pensar que o coração humano do Senhor Jesus está cheio, repleto da luz, do fogo, da água do Espírito Santo. E desse Coração sagrado, aberto pela lança, brota para nós o manancial sublime do Espírito. Se lermos o Evangelho de João, ali nos encontramos com Cristo prometendo saciar nossa sede com a água do Espírito que brota do seu ser (cf. Jo 7,37-39). E, depois, na cruz vemos que é o lado ferido do Senhor a fonte da água viva (cf. Jo 19,34). Mas, por sua vez, o Espírito que brota desse Coração envolve-nos e nos faz entrar no mistério de amor desse Coração que arde. São Boaventura o exprimia com intensa beleza: Seu coração foi ferido, Senhor, para que tivéssemos uma entrada livre… E foi ferido também para que por essa chaga visível pudéssemos ver a ferida invisível do amor. Porque quem arde de amor, de amor está ferido… Abracemo-nos a nosso amado… Roguemos-lhe que acenda nosso coração e o ate com os doces liames de seu amor, e que se digne feri-lo com seus dardos ardentes… Isso é algo misterioso e secretíssimo, que só pode conhecer quem o recebe; e ninguém o recebe senão aquele que o deseja, e ninguém o deseja se não o inflama em sua intimidade o Espírito Santo. (Vida Mística 4,5-6; Itin. 7,2)

12 de março No movimento de atração que o Espírito Santo realiza, ele vai reformando nosso ser enfermo e nos vai fazendo cada vez mais parecidos com Jesus; vai conseguindo que nossa forma de pensar, de atuar, de reagir, de olhar, seja cada vez mais parecida com a de Jesus até que possamos dizer: já não sou eu; é Cristo que vive em mim (Gl 2,20). E se isso assim é, o Espírito vai despertando em meu coração a fascinação que Jesus tinha pelo Pai Deus, seu amor e sua admiração pelo Pai. Por isso, o Espírito nos faz clamar Pai junto com Jesus (cf. Gl 4,6; Rm 8,15). O Espírito Santo, que é inseparável do Pai e do Filho, e que tudo recebe deles, está sempre pendente dos dois como um infinito enamorado; por isso não nos faz deter-nos sem sua Pessoa, mas deseja imperiosamente nos levar a Jesus e ao Pai.

13 de março Falta Espírito à sua família? Falta Espírito ao seu lugar de trabalho? Falta Espírito ao seu bairro? Então você está chamado a realizar duas coisas: em primeiro lugar, a invocar 40

insistentemente o Espírito Santo para que se faça presente ali, em cada pessoa e em cada tarefa, de maneira que voltem a reinar o diálogo, o entusiasmo, a paz e a alegria. Mas não basta orar, porque o Espírito Santo não quer que sejamos passivos. É necessário que lhe ofereçamos alguma cooperação de nossa parte, porque ele nos presenteou com muitas capacidades que podemos utilizar para mudar as coisas: nossa imaginação, nossas intenções, os gestos que podemos realizar, as palavras que podemos dizer. O Espírito Santo quer que você seja seu instrumento para que, como dizia São Francisco de Assis, ali onde houver ódio ponha você o amor, onde houver ofensa coloque o perdão, onde houver tristeza ponha a alegria, e onde houver trevas ponha sua luz divina.

14 de março Venha, Espírito Santo, para que eu aprenda a viver com liberdade interior. Ajude-me a desprender-me de meus planos quando a vida os modifique. Toque meu coração para que confie em sua proteção amorosa. Você será meu poderoso salvador no meio de toda dificuldade. Derrame em mim sua vida, intensa e harmoniosa, para que não me oponha ao cansaço, ao desgaste, às mudanças, e para que não busque falsas seguranças. Ensine-me a aceitar com serenidade e fortaleza os limites variados de cada dia e as coisas imprevistas. Liberte-me de toda resistência interior contra a realidade. Ajude-me a confiar, Espírito Santo, sabendo que também dos males você pode tirar algo bom. Ensine-me a vencer meu mau humor, irritação e tensões, para enfrentar com calma e segurança interior tudo o que me suceder. Destrua toda desconfiança para que eu possa descansar em sua presença, entregar-me em seus braços, sem pretender escapar de seu olhar de amor. Viva comigo, Senhor, enfrente comigo os desafios e as dificuldades que agora tenho de resolver. Porque com você tudo acabará bem. Venha, Espírito Santo. Amém.

15 de março Eu me pergunto se em minha oração pessoal estão realmente incorporadas as três Pessoas da Trindade, se invoco o Espírito e deixo-me levar por ele para Jesus e para o Pai. Posso fazê-lo assim: imaginar Cristo e deter-me a contemplar a chaga de seu coração. 41

Reconhecer o amor imenso que se expressa nessa chaga: amou-me e se entregou por mim (cf. Gl 2,20). Assim, peço-lhe que deste coração aberto derrame em minha vida o fogo do Espírito Santo. Imagino o Espírito que brota para mim e penetra em mim, desde o coração de Jesus Cristo. Depois, pouco a pouco, entrego ao Espírito Santo todas as áreas do meu ser: meus pensamentos, meu corpo, minha imaginação, meus desejos, meus planos etc. Peço que derrame sua luz e seu fogo purificador em todos os detalhes de minha existência e que me faça mais parecido com Jesus em minhas reações, palavras, atitudes etc. Depois lhe peço a graça de entrar com confiança no coração de Cristo para que ali se curem todas as minhas feridas, sacie-se minha necessidade de amor, encham-se de luz e de vida todas as coisas boas que possa haver em mim e se queimem todas as sementes do mal. Sentindo-me profundamente unido a Jesus, digo a oração que Ele nos ensinou, o Painosso, procurando exprimi-la com os mesmos sentimentos que tem Jesus para com o Pai e deixando que o Espírito clame em mim “Pai!”.

16 de março O Espírito Santo quer se fazer presente em todos os momentos de nossa vida, não só nos instantes de ventura e bem-estar, mas também quando as coisas não vão bem, quando nos sentimos inquietos, inseguros, tristes ou perturbados pelos problemas que temos com os outros ou pelas coisas que não nos agradam nas atitudes alheias. Porque na vida de todos os dias também existem obscuridade e vazio; nem todos os momentos e nem todas as experiências são luminosos e felizes. Quando vemos no mundo tantas insignificâncias humanas, interesses egoístas, falsidades, falta de compreensão e invejas, torna-se muito difícil reconhecer ali uma presença de Deus que seja alimento e luz. Muitas vezes temos essa sensação de que tudo é falso, superficial, pura aparência, engano e vaidade. Mas teremos de recordar que Deus criou este universo, que o Espírito Santo está em toda parte, que ele age no meio da debilidade dos seres humanos, que nos chamou a viver como irmãos, e não a nos desprezarmos; que temos uma missão a cumprir para o bem dos outros em lugar de fugir do convívio humano. Podemos nos convencer disso para não nos isolar do mundo. Mas, ao mesmo tempo, tudo isso que nos deixa sensação de vazio nos convida a buscar algo mais profundo, a tratar de não cair na superficialidade. Temos de estar no mundo sem ser do mundo e colocar no mundo o amor, a entrega, a fidelidade e a honestidade que não encontramos. Isso não significa deixar-nos levar pela negatividade; porque se vivemos olhando o mal, vamos nos converter em seres impacientes, incapazes de compreender e, então, nem mesmo daremos qualquer contribuição boa para a sociedade. Para isso necessitamos invocar o Espírito Santo, de maneira que não nos deixemos levar pela negatividade e 42

sempre atuemos de maneira positiva.

17 de março Proponho a você que faça um pequeno instante de profunda oração para que procure reconhecer o Espírito Santo em seu interior e assim descubra que a solidão não existe, porque ele está com você. É importante que você procure fazer um profundo silêncio, que se sinta na serenidade de um lugar tranquilo, respire fundo várias vezes e deixe de lado toda recordação, todo raciocínio, toda inquietação. Importa que você dedique um instante só para o Espírito Santo, porque ele é Deus, e é o sentido último da sua vida. Procure reconhecer no silêncio que ele o ama, que ele está fazendo você existir com seu poder e o sustenta, pessoa que ele valoriza. Sinta por um instante que sua presença infinita e terna é realmente o mais importante. E deixe-se estar assim por um momento, permitindo que tudo repouse em sua presença.

18 de março Regozijo-me em você, infinito e glorioso Espírito. Você, que penetra no mais íntimo do meu ser, cure as raízes de minha tristeza profunda. Chegue até o fundo de meus males para que possa recuperar a verdadeira alegria. Isso espero de seu amor, meu Senhor poderoso. Não deixe que me entregue nos braços doentios da melancolia, não permita que beba o veneno dos lamentos, das queixas, do desalento. Não valem a pena. Dê-me um olhar positivo e otimista. Convença-me, com um toque de sua graça, que a entrega generosa é o melhor caminho. Faça-me provar o júbilo de Jesus ressuscitado. Dê-me o poder de sua graça para que todo o meu ser seja um testemunho da alegria cristã. Entrego-me novamente a você, Espírito Santo, para servir a Jesus nos irmãos. Quero estar bem disposto para o que você queira e como você queira, para enfrentar qualquer desafio e iniciar novas etapas. Venha, Espírito Santo. Amém.

19 de março Hoje a Igreja celebra o que o Espírito Santo fez em São José, porque toda a beleza 43

dos santos é obra do Espírito Santo. São José mostra-nos como o Espírito Santo pode transformar a simplicidade de nossa existência cotidiana e fazer algo grande no meio do oculto e do pequeno. No texto de Lc 2,39-51, a família de Jesus aparece como uma família piedosa. Depois de terem observado tudo segundo a lei do Senhor (Lc 2,39), diz também que iam todos os anos a Jerusalém para a festa da Páscoa (v. 41). Eles são um símbolo dos pobres de Javé, esse resto fiel que Deus usa como instrumento para fazer chegar a salvação ao seu povo. José é a figura masculina, reflexo da paternidade de Deus, inseparável do sinal feminino e materno de Maria. Por isso, a Virgem Maria não se entenderia adequadamente sem José. Celebrar São José é sumamente importante para perceber até que ponto Jesus quis compartilhar nossas vidas. Ele não quis viver entre nós como um estranho, isolado da vida, do povo. Preferiu ter uma família, depender como toda criança e adolescente de um homem que lhe serviu de pai e submeter-se a ele. Desse modo também se integrava em uma família maior e em um povo. É interessante notar que o Jesus adolescente podia ir e vir entre a caravana de seu povoado um dia todo (cf. Lc 2,44). Nada de isolamento dos outros. Era mais um, o filho do carpinteiro (Mt 13,55). Peçamos ao Espírito Santo que nos ensine a viver com profundidade a simplicidade da vida de todos os dias, como São José a viveu.

20 de março Espírito Santo, tome meus olhos. Meus olhos tentados pela curiosidade. Meus olhos que julgam e condenam, que controlam, que invejam. Incapazes de contemplar a verdade sem medo. Tome meus olhos e converta-os em admiração, ternura, desculpa, compaixão. Coloque neles o olhar de Cristo. Espírito, tome meus ouvidos, que só escutam o que lhes convém, ou que se estonteiam escutando todos os ruídos do mundo. Meus ouvidos fechados ao irmão, incapazes de escutar a Palavra que convida à mudança. Tome meus ouvidos e converta-os, para que sejam acolhedores e escutem com amor o irmão; cheios de sensibilidade, de abertura, atentos à voz do bom Pastor, sensíveis ao sussurro amável de Cristo. Espírito Santo, tome minha boca, usada muitas vezes para censurar, ironizar, criticar, mentir, para se queixar, para murmurar. Tome-a, Espírito, e a converta em um lugar de canção, de ânimo, de perdão. Faça-a capaz de dizer a palavra justa, o conselho certo, as palavras fecundas de amor sincero, as palavras que Cristo diria. E abra-a em um hino de louvor ao Ressuscitado.

21 de março 44

Espírito Santo, tome minhas mãos, que buscam possuir, dominar, que se fecham egoisticamente, que se agarram aos ídolos. Tome-as, Espírito, e converta-as em carícia, serviço, cura. Estendidas em oferenda, abertas para dar, elevadas para adorar, como as mãos de Cristo. Espírito, tome minhas pernas, às vezes paralisadas, outras vezes a caminho para o mal, subindo para o poder e a glória vã, dando voltas e voltas, incapazes de ir em frente. Converta essas pernas em valentia, em marcha decidida, em caminho para o outro, em busca, como as pernas de Cristo. Espírito, tome meu coração, que se deixa enganar e apanhar por tantos afetos tortuosos, que se asfixia entre tantos desejos que o deixam vazio e ansioso, que se endurece para que não lhe tirem nada, que se enche de critérios mundanos, que se torna negativo, duro, calculador. Tome-o, Espírito Santo, e converta-o em ternura, em compaixão, em liberdade. Faça-o faminto de Cristo, sequioso por seu amor e capaz de amar como ele ao pequenino, ao mais simples, ao mais pobre.

22 de março O Espírito Santo é o amor que une ao Pai e ao Filho, e por isso é o que realiza também a unidade entre nós. Ele é quem derrama o amor em nossos corações (cf. Rm 5,5) para que possamos amar de verdade, construir pontes sobre os rios que nos separam, destruir as barreiras que nos dividem. É importante entender a relação tão íntima que existe entre o Espírito Santo e cada ato de amor que nós fazemos. Quando estou amando um irmão, estou fazendo uma experiência da Pessoa do Espírito, estou possuindo-o e fruindo de um modo particular esse Amor que é o termo infinito dessa inclinação de amor que existe entre o Pai Deus e seu Filho. É difícil entendê-lo, mas é maravilhoso procurar vivê-lo, reconhecer a projeção infinita que tem um só ato de amor sincero.

23 de março O Espírito Santo não só habita na intimidade de cada ser humano. Ele habita na Igreja inteira. O amor é o vínculo perfeito da unidade do corpo místico e é o dinamismo do amor o que cria esses laços misteriosos que fazem de um conjunto de indivíduos um só corpo místico. A obra do Espírito no coração dos homens, através do dom do amor, possui um dinamismo eclesial, comunitário, popular. Por isso a Escritura coloca em estreita relação o Espírito com o corpo místico fecundado por ele (cf. 1Cor 12,13) ou com a Igreja-esposa (cf. Ap 22,17). No entanto, além do mais, a Escritura relaciona explicitamente o Espírito com a “comunhão” fraterna (cf. 2Cor 13,13) e com a unidade (cf. Fl 2,1; 1Cor 12,3; Ef 4,3-4). 45

O Espírito, modelo exemplar de nosso amor, é o termo do amor de duas Pessoas, é a inclinação na qual culmina o amor do Pai e do Filho. Por isso, o dinamismo do amor no coração do homem, necessariamente, move a buscar a comunhão com os outros. Porém se nós resistimos ao encontro com os outros e nos isolamos em nossos próprios interesses, terminaremos expulsando o Espírito Santo de nossas vidas e ficaremos terrivelmente solitários por dentro.

24 de março O Espírito Santo também nos ajuda a descobrir que não somos deuses, que não somos o centro do mundo, que não vale a pena viver cuidando da imagem e alimentando o orgulho. A verdade é que somos muito pequenos e passageiros, e que não vale a pena gastar energias correndo atrás da vaidade ou da aparência. Nosso valor está em sermos amados por Deus, não na opinião dos outros. Por isso os sábios são humildes, os que se deixam encher pelo Espírito Santo são simples e não se atribuem demasiada importância: os verdadeiros santos são humildes. Porque o Espírito Santo não pode trabalhar nos corações dominados pelo orgulho. Tão cheios de si mesmos estão, que ali não existe espaço para o Espírito Santo; tão ocupados estão em cuidar de sua imagem, que não têm tempo para se abrir à ação divina. Mas a humildade que o Espírito Santo infunde não é a tristeza das pessoas que desprezam a si mesmas. É a simplicidade de quem se libertou do orgulho e, então, sofre muito menos. Não tem de se preocupar tanto com o que dele digam os outros, e isso se traduz em uma agradável paz, em uma sensação interior de grata liberdade.

25 de março Hoje celebramos a anunciação do anjo a Maria. Isso significa que estamos celebrando o momento em que o Filho de Deus se fez homem no ventre da Virgem santa. Porém isso é obra do Espírito Santo (cf. Lc 1,35). Por isso, hoje festejamos essa ação maravilhosa do Espírito Santo que foi formando Jesus dentro de Maria. A encarnação do Filho de Deus deveria levar-nos a uma terna gratidão e a um profundo louvor ao Espírito Santo por essa obra tão preciosa. É bom recordar que toda a beleza de Jesus, de seu olhar, de suas palavras e de suas ações, foi obra do Espírito Santo que o formou admiravelmente. Por isso, nós podemos pedir ao Espírito Santo que nos forme de novo no seio de Maria, para nascer a uma vida melhor, transformados, embelezados e libertados de tudo o que arruína nossa existência. Dessa maneira, ele nos fará nascer de novo. Mais parecidos com Jesus.

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26 de março Venha, Espírito Santo, entre em meu pequeno coração para que possa reconhecer a grandeza do Pai Deus e não dê tanta importância à minha imagem. Concedame uma grande simplicidade, para que reconheça claramente que eu não sou, nem posso ser, o centro do universo. Então, os outros não têm a obrigação de estar pendentes de mim, girando ao meu derredor. Prefiro girar ao redor de Deus Pai, para adorá-lo, e ao redor dos outros, para servi-los. Dê-me a graça de ser mais simples para viver feliz cada momento sem estar pendente de mim mesmo e do olhar alheio. Tome, Espírito Santo, todo o meu orgulho e vaidades, e queime tudo isso com seu fogo divino. Dê-me a simplicidade dos santos, a alegria humilde de Francisco de Assis, a generosidade desinteressada de Teresa de Calcutá. Venha, Espírito Santo, e conceda-me essa profunda sabedoria da simplicidade interior. Amém.

27 de março Seria bom que estivéssemos mais atentos a tudo o que o Espírito Santo semeia no mundo, em toda parte, mesmo naqueles que não têm fé. O Senhor convida-nos a um diálogo com o mundo e nos propõe também descobrir os sinais de esperança que existem ao nosso derredor. Nem tudo está perdido, porque o Espírito Santo atua sempre e em toda parte; e, mesmo apesar da rejeição dos homens, ele consegue penetrar com raios de luz sutis no meio das piores trevas. Então, a atitude do homem do Espírito não é a de assinalar permanentemente o corrupto, mas também a de descobrir e animar os sinais de esperança. Queira Deus que cada um de nós possa dar um passo maravilhoso: sair da tristeza, da queixa amarga, do rancor e procurar descobrir o que o Espírito Santo semeou em seus amigos, em seus vizinhos, em seu lugar de trabalho, em sua comunidade. E dedicar-se a fomentar, a animar esses sinais de esperança. Quanto bem fazem essas pessoas que são capazes de descobrir e de estimular as coisas boas que existem ao seu derredor! Mais que lutar por destruir as sombras, entreguem-se todos a alimentar a luz. E através deles o Espírito Santo se derrame como línguas de fogo.

28 de março Venha, Espírito Santo, e toque meu interior com sua divina luz para que eu possa descobrir que nem tudo é treva, porque existe você, formosura infinita. Não posso ver você com os olhos de meu corpo, mas sua graça me permite reconhecê-lo com o olhar 47

do coração. Você é maravilhoso, Espírito de vida. Quero adorá-lo com todo o meu coração pela multiplicidade de suas maravilhas, porque tudo o que existe de belo e de bom neste mundo é obra sua. Adoro-o, porque em você existem beleza e amor sem limites. Bendito seja você. Glória a você, que está em todos os lugares e em cada coisa, que tudo você supera acima do tempo e do espaço, e tudo você penetra com seu poder invisível. Louvo-o porque por toda parte se reflete sua beleza, porque você é um abismo ilimitado de graça e de esplendor. Mas você vive, sobretudo, nos corações simples que sabem amar. Venha, Espírito Santo. Amém.

29 de março Uma vez mais quero chegar diante de você, Espírito Santo. Aqui estou, pequeno, pouco significante, mas importante porque você me ama. Fraco, mas firme na esperança. Preocupado pelo sofrimento de muitos irmãos, mas me oferecendo para acompanhá-los em seu caminho. Imerso em um mundo competitivo, mas disposto à comunhão e ao perdão. Comovido pela perda de valores, mas anunciando uma mensagem que muda os corações. Aqui estou invocando-o, Espírito Santo. Sopre, para que se desdobrem as velas de minha barca e me atreva a remar mar adentro. Venha, Espírito Santo. Amém.

30 de março Mais uma vez procuro contemplar com um olhar positivo o povo que se move ao redor de mim, para descobrir os carismas que existem em meus companheiros, familiares, amigos. É necessário repetir frequentemente este exercício, para que o olhar não se nos torne demasiado negativo. Dou graças ao Espírito Santo devido a cada um desses carismas que ele derrama nos irmãos e pergunto-me como posso ajudá-los para que esses carismas deem melhores frutos para o bem de todos. É belo dedicar-me a regar as sementes boas que existem nos outros e ser como o jardineiro do Espírito Santo. Eu me detenho a pedir ao Espírito Santo que me liberte do egoísmo e me ajude a fazer um ato de amor sincero e generoso para com alguma pessoa. Procuro pensar em alguém que não me desperta simpatia à flor da pele e proponho-me presentear-lhe um 48

momento de felicidade, algo que o faça sentir-se bem. Recordo que nessa experiência de amor terei um encontro íntimo e profundo com um amor que me impulsiona para o infinito, com o Espírito Santo. Vale a pena tentar.

31 de março O Espírito Santo é o termo, o fruto do amor entre o Pai e o Filho, e por isso é o grande presente que nos concedem o Pai e o Filho, derramando-o em nossos corações. O Espírito que o Pai e o Filho nos proporcionam é também o princípio de nossa santificação. Por isso São Boaventura considera que o Espírito Santo é a Pessoa que se relaciona mais diretamente conosco e, de algum modo, é o “mais imediato” a nós, o mais íntimo (I Sent., 18,5, ad 3). Ele é quem, pouco a pouco, pode nos fazer verdadeiramente santos. Por isso a Escritura fala do Espírito da graça (Hb 10,29), ou de ação santificadora do Espírito (2Ts 2,13; 1Pd 1,2). Ele é quem nos vai convertendo em novas criaturas e vai reformando pouco a pouco os aspectos doentios de nossa limitada existência. O que você gostaria que o Espírito Santo mudasse em sua vida? Que tipo de santidade você gostaria de alcançar?

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ABRIL

1º de abril O Espírito Santo é meu santificador, que se aproxima de mim, no mais íntimo, para derramar sua santidade. Mas o mais íntimo é o coração. Na realidade, a palavra coração está muito desgastada, confundida com um romantismo barato. Quando dizemos essa palavra, pensamos nos sentimentos, mas o coração é muito mais que as emoções e os afetos superficiais, é coisa séria. A que se refere a Palavra de Deus quando fala do coração? Não esqueçamos que é o próprio Deus quem nos prometeu: Eu vos darei um coração novo (Ez 36,26). O coração são essas intenções mais escondidas, as decisões ocultas que não compartilhamos com ninguém, os verdadeiros projetos que nos mobilizam, o que na realidade andamos procurando quando dizemos coisas, quando tomamos decisões. Ali quer entrar o Espírito Santo para nos transformar. Ali quer derramar-se para que todas as nossas decisões profundas sejam boas e sadias. Mas só pode entrar pouco a pouco, na medida em que lho permitamos realmente. Porque às vezes o invocamos da boca para fora, mas existe uma parte de nós onde no fundo não queremos que toquem algumas coisas; cremos que ali estamos melhor sozinhos. É falso. Ali também dele necessitamos para sermos realmente felizes.

2 de abril Existem pessoas que aparentemente são cristãs; oram, vão à missa, falam muito bem do Senhor, mas em seu coração, na verdade secreta de seu interior, na realidade não buscam a Deus e, ao mesmo tempo em que rezam, podem estar planejando destruir alguém, ou maquinando a maneira de dominar os outros, ou alimentando ódios, ou pensando só em seu próprio bem. É ali, nessas intenções escondidas, onde quer entrar o Espírito Santo; isso é precisamente o que mais lhe interessa, porque tudo o mais pode ser casca, aparência, mentira; porque muitas vezes a imundície do coração se disfarça de boas obras e de belas palavras: Satanás transfigura-se em anjo de luz (2Cor 11,14). Já diziam os Provérbios que guarda teu coração acima de todas as outras coisas (Pr 4,23). E por isso mesmo afirmava São Paulo que posso entregar meu corpo às chamas, ou repartir meus bens, ou fazer maravilhas, mas que tudo isso de nada serve se não 50

existe amor no coração (cf. 1Cor 13,1-3). Nada vale se minha intenção mais profunda não é o amor ao irmão. Peça ao Espírito Santo que destrua todas as intenções distorcidas de seu interior e que encha você de sua presença, para que, então, possa você fazer tudo por amor. Isso dará um sentido precioso a tudo o que você fizer.

3 de abril Pergunto-me se verdadeiramente estou permitindo que o Espírito Santo me leve por um caminho de santificação, se realmente aceitei que a santidade também é para mim e se pude descobrir o tipo de santo que o Espírito Santo quer fazer de mim. Porque ele não destrói minha personalidade, só quer aperfeiçoá-la e libertá-la de suas escuridões. Não quer que eu seja como São Francisco se isso não é o que me vai fazer feliz. Ele ama minha felicidade e dará a mim a santidade que me permita ser plenamente feliz, libertado de minhas tristezas, medos, amarguras e insatisfações. Mas para isso necessita chegar ao fundo, ao coração, e conseguir que minhas intenções mais profundas sejam claras, generosas, sadias e libertadoras. Por isso faço-me intimamente as seguintes perguntas, pedindo a luz do Espírito: Para que me levantei esta manhã: para sobreviver, para cumprir, para alcançar prazeres, para obter sucesso ou fama, para ser bem visto, para demonstrar quem sou, ou para a glória de Deus e a felicidade dos outros? Quais são as segundas intenções ou as intenções ocultas, não tão santas, que costumam mover-me a dizer certas coisas, a tomar certas decisões, a fazer algumas coisas? Como mudaria minha vida se as verdadeiras intenções de meu coração fossem sempre buscar a glória de Deus e o bem dos outros?

4 de abril Eu adoro você, Trindade Santíssima, Pai, Filho e Espírito Santo. Adoro você embora minha mente não possa entender seu mistério de amor. Adoro você e o bendigo, Deus meu, e desejo entrar nessa maravilhosa intimidade de Três Pessoas. Glória, glória, glória. Toda a adoração de meu coração se eleva a você, meu Deus. Glória ao Pai, glória ao Filho, glória ao Espírito Santo, agora e por toda a eternidade. Venha, Espírito Santo. Rogo-lhe que eleve meu coração para adorar a Deus Pai, para descobrir com gratidão que ele é o Pai de Jesus, mas que também é meu Pai. Peço-lhe que me sustenha, Espírito Santo, para que eu permaneça em seus braços paternais e me deixe amar por ele, repousando em sua santa presença. Amém.

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5 de abril Venha, Espírito Santo. Sem você não existe vida que valha a pena. Por isso, desde minhas dúvidas, temores, cansaços e debilidades quero invocá-lo. Venha, Espírito Santo, para regar o que está seco, venha fortalecer o que está fraco, venha curar o que está enfermo. Transforme-me, restaure-me, renove-me com sua ação íntima e fecunda. Desde minha pequenez me transforme em mendigo confiante em seu auxílio. Suplico-lhe que venha curar-me do egoísmo, do comodismo, do individualismo. Liberte-me das escravidões que esfriam meu entusiasmo missionário, para que possa evangelizar com alegria e coragem inesgotável. Amém.

6 de abril A liberdade é um sonho e um projeto, é algo que deve ser conquistado, alcançado pouco a pouco com a graça do Espírito Santo. Diz São Paulo que onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade (2Cor 3,17). Santo Tomás de Aquino explicava-o assim: Quanto mais uma pessoa tem a caridade tanto mais tem a liberdade, porque onde está o Espírito do Senhor está a liberdade. Quem tem a perfeita caridade tem em grau eminente a liberdade (In II Corint., 3,17; Lect. 3). Que significa isso? Nós não temos de comprar a amizade divina com nosso bom comportamento (cf. Gl 2,21; 5,4). Porque essa amizade é infinitamente maior que nossas forças. É um presente. Além do mais, no fundo, embora não cometamos nenhum pecado, não podemos nos libertar do egocentrismo do coração com nossas próprias forças (cf. 1Cor 4,4-5). Portanto não é tão importante o esforço por cumprir coisas como o deixar-se levar pelo Espírito Santo. Se ele nos leva com sua graça, o coração se reforma e se nos torna espontâneo fazer obras de amor; já não fazemos as coisas boas por obrigação, ou para nos sentirmos importantes, mas porque surgem de modo espontâneo do coração transformado pelo Espírito. É belo poder amar assim, livremente, sob um impulso do Espírito Santo.

7 de abril Minha liberdade sem o Espírito Santo é pura aparência, porque ele é a liberdade plena. Onde está ele presente existe vida, e se ele se retira tudo desaparece. Mas, além 52

disso, quanto mais está ele presente com sua graça, com seu impulso, com seu amor, mais livre sou eu. Porque ele é pura liberdade. Se não deixo que ele me impulsione, então me deixo impulsionar por meus desejos, minhas insatisfações, minha necessidade de possuir e, assim, cada vez necessito de mais coisas para me sentir bem, e nada me contenta. Por isso, em lugar de ser livre, torno-me um triste escravo de meus impulsos naturais e converto-me em uma ventoinha descontrolada que se move para onde a leva o vento. Termino perdendo minha liberdade. Quem pode dizer que tem um coração livre se está infectado e afogado pelos rancores, pelas tristezas, pelos desejos egoístas, pelo orgulho e nunca se sente satisfeito, e vai perdendo a alegria nesse sofrimento da insatisfação? Melhor é que busquemos a liberdade do Espírito.

8 de abril Para alcançar a verdadeira liberdade, tenho de ser completamente sincero diante do Senhor, reconhecer que estou atado a diversas escravidões, desmascará-las com toda a clareza e reconhecer também que ainda não estou disposto a abandonar esses venenos. Só devo começar pedindo ao Espírito Santo a graça de desejar a verdadeira liberdade interior. Assim, pouco a pouco irá surgindo o desejo profundo e sincero de abandonar essas escravidões. Então o Espírito poderá fazer-me livre, para que recupere a alegria, o dinamismo, a paz. Embora eu ainda não saiba como e, embora tenha medo da novidade, o Espírito Santo vai se encarregar de me fazer alcançar os melhores momentos de minha vida. Porque só quem tem a liberdade do Espírito pode ser autenticamente feliz.

9 de abril Espírito Santo, creio em você, espero em você, amo você. Só você merece a adoração do coração humano e só diante de você devo prostrar-me. Só você é o Senhor, glorioso, com uma formosura que nem mesmo se pode imaginar. Por isso, Senhor, não permita que eu adore qualquer coisa como se fosse um deus, porque nenhum ser e nada deste mundo vale tanto. Reconheço você como dono, Senhor de minha vida. Não permita que perca a serenidade e a alegria por coisas que não valem tanto. Só me abandonando a você poderei curar minhas angústias, sabendo que nada deste mundo é absoluto. Senhor meu, dê-me um coração humilde e livre, que não esteja atado às vaidades, reconhecimentos, aplausos. Dême um coração simples que seja capaz de lhe dar tudo, mas deixando-lhe a glória e a honra. Dê-me esse desprendimento, Espírito Santo, liberte-me do orgulho, para que possa trabalhar procurando sua glória. Venha, Espírito Santo, para que possa proclamar Jesus como único Senhor e 53

dono de todas as minhas coisas, de tudo o que eu vivo, de tudo o que sou e de todo o meu futuro. Venha, Espírito Santo. Amém.

10 de abril Espírito Santo, dou-lhe graças por seu chamado de amor, porque me permite colaborar com sua obra e me dá forças para servi-lo. Aceito a missão que me confiou para estender o Reino de Jesus. Quero olhar o mundo com os olhos de Jesus, com a luz do Evangelho. Ajude-me, Espírito Santo, a reconhecer os desafios do mundo de hoje, para que possa oferecer minha humilde contribuição. Em um mundo que está perdendo muitos valores preciosos, ensine-me a comunicar o estilo de vida de seu Evangelho. Em um mundo onde muitos buscam você, mas por caminhos equivocados, ajudeme a mostrar a beleza de sua Palavra com todas as suas exigências. Em um mundo onde muitos irmãos sofrem injustamente a miséria e são excluídos da vida social, transforme-me em um instrumento de solidariedade e de justiça. Em um mundo onde crescem o individualismo, a competição e as divisões, converta-me em um instrumento de diálogo, de unidade e de paz. Venha, Espírito Santo. Amém.

11 de abril O Espírito Santo é amor e por isso semeia a unidade, motiva a fraternidade, impulsiona o encontro e o diálogo. Mas, para aprender a dialogar, é necessário exercitar os dons que o Espírito Santo nos proporciona. Nunca perdemos o tempo se nos detemos a dialogar com alguém, por mais superficial que nos pareça. Sempre nos ajudará a não nos encerrar em nossas próprias ideias e interesses, exigirá de nós abrir a mente e o coração. Dialogar com os outros é uma grande ajuda para nosso crescimento espiritual, para nos manter psicologicamente sadios, para não fugirmos da realidade que nos supera. Os que vivemos neste mundo estamos chamados a encontrar Deus no encontro com os outros. Porque Deus fala e oferece seu amor também no meio do povo ao qual ele mesmo nos envia. O Espírito Santo outorga permanentemente luzes e impulsos no meio de uma conversação; a presença de Cristo ressuscitado é tão real no meio de um encontro fraterno como nos momentos de silêncio e de quietude. Peçamos ao Espírito Santo que ele nos ensine a arte de dialogar.

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12 de abril Peço a luz ao Espírito Santo para descobrir quais são minhas profundas escravidões, que coisas me fazem sofrer inutilmente, que coisas me tiram a alegria de viver, de onde vêm as tristezas, os rancores, as insatisfações que carrego dentro de mim. Procuro enfrentar com clareza essas escravidões diante do olhar de Cristo e tomo consciência de meus planos: quero realmente libertar-me dessas escravidões, ou no fundo prefiro continuar assim? Peço ao Espírito Santo a graça de descobrir que ele é a verdadeira liberdade e detenho-me a pedir com insistência o desejo de me libertar e de recuperar o ar, o entusiasmo por viver, a vontade de crescer e de amar, a alegria de ser amigo de Jesus. Imagino como seria minha vida cotidiana, meu trabalho, meu encontro com os outros, se deixasse que o Espírito Santo me desse a verdadeira liberdade. Procuro sair da oração disposto a viver assim em cada momento.

13 de abril Venha, Espírito Santo. Rogo-lhe que me ensine a orar, que me ajude a destruir as falsas imagens que tenho de você. Quero mudar todos os costumes e estruturas que já não me sirvam para encontrar-me com você. Que todo o meu ser entre em sua presença, possa adorá-lo com tudo o que sou e lhe permita entrar em todas as dimensões de meu ser: em minha mente, em minha imaginação, em meus afetos, em meu corpo. Entre também em minha vida cotidiana, para que o reconheça no meio de meus trabalhos, minhas relações, meus projetos, meus limites, minhas angústias, minhas alegrias, meus sonhos. Desperte em meu coração o desejo por você, alimente com seu fogo as ansiedades que tenho por você, a fome que tenho do seu amor, o anseio por sua amizade e por sua presença. Atraia-me, Espírito Santo, para o amor sem limites, para esse abismo de vida que é você. Leve-me com você até os cumes da vida mística, para que conheça tudo o que você é capaz de me fazer provar. Dê-me audácia e valentia para me atrever a essa aventura, para que possa penetrar tudo. Quero entrar em sua amizade com toda a minha sinceridade, para que você banhe com sua luz tudo o que eu vivo. Toque meu interior, meu Deus, para que viva de você, para que saiba verdadeiramente que em você está a fonte da vida. Venha, Espírito Santo. Amém.

14 de abril 55

Podemos imaginar o Espírito Santo como se fosse água que se derrama, que inunda, que penetra. Jesus prometeu derramar torrentes de água viva, e diz o Evangelho que se referia ao Espírito Santo (cf. Jo 7,37-39). Na Bíblia a água não aparece só com a função de limpar ou purificar, mas, sobretudo, com a missão de dar vida, de regar o que está seco para que as sementes possam brotar, crescer as folhas verdes, produzir frutos em abundância: Ao longo da corrente, em cada uma de suas margens, crescerão árvores frutíferas de toda espécie, e sua folhagem não murchará, e não cessarão jamais de dar frutos: todos os meses frutos novos, porque essas águas vêm do santuário (Ez 47,12). Os profetas o haviam anunciado: Uma fonte sairá do templo do Senhor (Jl 4,18; Zc 14,8). Derramarei água sobre o solo sequioso, eu a farei correr sobre a terra árida (Is 44,3). Vós tirareis com alegria água das fontes da salvação (Is 12,3). A água prometida é o Espírito Santo, que brota para nós das costas de Jesus ressuscitado. É água para regar esta terra ressequida e gretada de nossa vida, para que possamos dar fruto abundante, para que nos alegremos na colheita.

15 de abril Venha, Espírito Santo, como rio de fogo, venha como um torvelinho de luz. Venha derramar-se como um manancial de vida transbordante. Você transforma meu interior em uma pradaria verde e tranquila onde habita a paz. Espírito Santo, venha, como um impulso de vento que renova. Porque você é força jovem, estímulo saudável de vitalidade. Deixe-me entrar em seu abismo luminoso, e dançar de alegria, e nadar entre multidão chispante de estrelas. Acaricie-me com seu sopro cálido que é amor. 56

Venha, Espírito Santo, Espírito, liberdade. Venha, não se detenha, venha…

16 de abril Nós somos templos do Espírito Santo. Por isso São Paulo censurava com preocupação: Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? (1Cor 3,16). Muitas vezes nos sentimos indignos porque dentro de nós habitam muitas coisas obscuras: rancores, más intenções, recordações dolorosas, egoísmos etc. Então, de alguma maneira, desprezamo-nos a nós mesmos. Não obstante a Palavra de Deus convida-nos a reconhecer nossa dignidade, porque o mesmo Espírito Santo quer habitar em nós. Na realidade, ele já vive em nós, mas quer penetrar mais e mais até transformar e iluminar o mais escondido rincão de nossa vida. Isso às vezes nos dá um pouco de medo, porque não queremos ser invadidos. Contudo nada mau pode fazer-nos o Espírito de vida. Ao contrário, onde ele entra são abundantes a paz, a alegria, a liberdade. É belo descobrir que ele mesmo, o infinito, o belíssimo, o poderoso, a pura luz, quer habitar cada vez mais dentro de mim. Eu sou pequeno, sou pobre, sou limitado, mas o Espírito divino deseja habitar em mim. Agradeço-lhe, Senhor!

17 de abril Hoje quero contemplá-lo, Espírito Santo, junto com o Pai e o Filho, nessa Trindade Santíssima. Dê-me sua graça para reconhecer sua formosura, esse mistério profundo de Deus. Porque você vive junto do Pai e do Filho em uma infinita comunicação de amor. Assim descubro que Deus é comunidade e que cada um de nós foi criado segundo esse modelo divino. Por isso, Senhor, quando o contemplo, reconheço que não posso viver sozinho, que no mais profundo de meu ser está o chamado a viver com outros, em unidade e amor. Posso ver uma vez mais que ninguém vive com dignidade se foge dos outros, ou se é excluído da vida social. E assim, meu Deus, contemplo seu mistério de amor e de unidade que pode curar as divisões, os egoísmos e o individualismo. Tome-me como instrumento de seu amor infinito, Espírito Santo, para que possa evangelizar semeando comunhão fraterna, justiça e solidariedade. Amém.

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18 de abril Ao Espírito Santo se costuma representá-lo como uma pomba: Vi o Espírito descer do céu em forma de uma pomba e repousar sobre ele (Jo 1,32). Por que uma pomba? Poderíamos pensar em sua suavidade, na brancura, na delicadeza. Também poderíamos dizer simplesmente que vem do céu, da presença de Deus. Mas, na realidade, a primeira vez que aparece uma pomba na Bíblia é para anunciar o fim do dilúvio (cf. Gn 8,11), para trazer a alegria da libertação e da vida nova. O Espírito Santo só traz boas notícias. É enviado pelo Pai como mensageiro de paz e de esperança. Por isso, ao pousar sobre Jesus, está dizendo: Esta é a boa notícia, aqui está o Salvador; este é o que vem para libertar, para curar, para devolver a paz e a justiça. Quando o Espírito Santo esvoaça e se coloca em nosso interior, faz-nos experimentar o consolo e a esperança, faz-nos levantar os olhos, ilumina-nos o olhar, permite-nos descobrir que no meio de tantas misérias existe algo sobrenatural que pode mudar as coisas. É a pomba que traz notícias de esperança.

19 de abril Quando entre nós nos unimos com um amor sincero e generoso, estamos refletindo o Mistério do Espírito Santo, que é o Amor que une o Pai e o Filho. Recordemos que, quando nos queremos bem entre nós, estamos fazendo uma profunda experiência do que é o Espírito Santo. O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rm 5,5). Mas isso se realiza quando nos amamos verdadeiramente, respeitando a diversidade, aceitando que os outros sejam diferentes. Compartilhamos com eles toda nossa vida, mas não exigimos que sejam todos iguais. Essa unidade na diversidade é um reflexo do Espírito Santo, porque ele une ao Pai e ao Filho, que são Pessoas distintas, mas que compartilham tudo o que são em um amor infinito. Quando vivemos unidos no amor, respeitando-nos e valorizando-nos, estamos refletindo esse Mistério infinito das três Pessoas divinas.

20 de abril Temos de dizer que as três Pessoas da Trindade habitam em nós porque estão permanentemente dando-nos a vida. Assim vivem em nós como o Criador em sua 58

criatura amada. Mas, quando estamos na graça de Deus, essa presença é muito mais maravilhosa, porque habitam em nós como Amigos, e todo o bem que possamos fazer nos vai aproximando cada vez mais de uma intimidade amorosa com Deus, de um conhecimento profundo, da vida eterna. Além do mais, quando estamos na graça de Deus, podemos dizer que de um modo especial habita em nós o Espírito Santo, que é o “doce hóspede da alma”. Porque quando estamos transformados pela graça, o Pai e o Filho estão derramando em nossa intimidade o Espírito Santo, que experimentamos na vivência do amor. Por exemplo, cada vez que confessamos nossos pecados e recebemos a Eucaristia, o mais importante que se derrama em nós junto com a graça é o amor e, assim, movidos pela graça, podemos fazer atos de amor cada vez mais belos. Esse amor está particularmente unido ao Espírito Santo e é um reflexo de que ele é puro amor. Por isso podemos dizer que o Espírito Santo habita em nós de um modo especial e que nos Sacramentos o recebemos de uma forma particular.

21 de abril Venha, Espírito Santo, venha, Senhor glorioso, com uma formosura que nem mesmo se pode imaginar. Não permita que eu adore qualquer coisa da terra. Não deixe que me encha de ansiedade por coisas deste mundo, porque nenhum ser deste mundo vale tanto, nada é absoluto. Espírito Santo, cure minha ansiedade com seu olhar. Você é harmonia pura. Em você não existem aborrecimento nem ansiedade. Você é vida intensa e plena, mas ao mesmo tempo você é uma imensa serenidade. Por isso, se você invadisse minha vida, minha ansiedade se curaria por completo. Liberte-me, Espírito Santo, de todas as amarras interiores que me levam à inquietação interior, ao ativismo doentio e à desordem. Deus de paz, harmonize meus pensamentos e minhas energias. Ordene minha vida para que possa viver melhor em sua presença. Cure a ansiedade que me molesta, por querer conseguir a aprovação de todos. Derrame em mim sua graça para que possa trabalhar intensamente, mas sem ansiedades e nervosismo. Venha, Espírito Santo. Amém.

22 de abril Espírito Santo, todo o meu ser está feito para o encontro com os irmãos. Você pôs dentro de mim o chamado a caminhar com os outros. Por isso estou aqui, em sua presença, para lhe pedir que alimente meu sentido comunitário. Quero aprender a trabalhar com os outros. 59

Quero evangelizar em união com toda a Igreja que caminha. Ensine-me, Espírito Santo, a buscar caminhos de diálogo e de unidade com os outros cristãos que lutam pelo seu Reino. Que nossa santidade seja comprometida e comunitária e não busquemos salvarnos sozinhos. Nem mesmo permita que nos encerremos em pequenos grupos que se sentem superiores. Toque nossos corações e nosso olhar para que aprendamos a nos abrir para todos, para que possamos chegar a todos. E dê-nos a sensibilidade do amor para adaptar-nos ao que eles vivem, às suas inquietações e necessidades. Assim caminharemos com eles para estender juntos o Reino de Deus. Venha, Espírito Santo. Amém.

23 de abril Alguns dizem que o Espírito Santo é somente uma energia. Mas nós cremos que a Bíblia não diz isso, mas que é uma Pessoa. Na Bíblia, Espírito é o impulso de Deus que intervém no mundo e particularmente no homem. Nesse sentido, aplica-se à atividade das três Pessoas da Trindade que atuam unidas. Mas existem textos onde a expressão Espírito se refere a alguém, indica uma Pessoa distinta do Pai e do Filho. Assim o vemos, por exemplo, no Evangelho de João. Ali se lhe dá também o nome de Paráclito, e se o chama de o outro Paráclito, para distingui-lo de Cristo, e se lhe atribui a missão de nos recordar o que Cristo ensinou. Diz-se, por outra parte, que o Pai o envia. É mencionado com o pronome aquele, que não é utilizado para se referir só a uma energia ou a um impulso impessoal, mas para falar de uma Pessoa (cf. Jo 14,26; 16,7-15). Também poderíamos mencionar 1Cor 12,11, onde se lhe atribui um poder de decisão pessoal: reparte os dons como lhe agrada. Finalmente, mencionemos Gl 4,6, onde se diz que o Espírito clama “Pai”, o que insiste que se distingue do Pai. Não obstante, embora sendo uma Pessoa distinta, o Espírito não permite que nos detenhamos nele, porque sempre nos orienta para Cristo e para o Pai. O que ele nos comunica é o que recebe de Cristo (cf. Jo 16,14-15) e o que nos recorda com os ensinamentos de Cristo. Mas, além disso, ele nos faz clamar: “Pai” (cf. Gl 4,6; Rm 8,15). Ele, com a sedução sublime de sua graça, faz com que nos enamoremos de Cristo e que nos deixemos atrair por Deus Pai. Peçamos ao Pai Deus que derrame em nós esse magnífico presente do Espírito Santo, porque sua Palavra o prometeu: Se vós, pois, sendo maus sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso 60

Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem (Lc 11,13).

24 de abril Quiséramos viver com mais profundidade, ser pessoas mais espirituais, realmente transformadas pelo Espírito Santo. Mas não vemos grandes mudanças em nossa vida. Se nos olharmos a nós mesmos com sinceridade, poderemos descobrir que em nosso interior não está a profundidade que desejamos. Ali também existem limites e incoerências. Possivelmente encontremos muito egoísmo ali dentro, e o que chamamos “amor ao próximo” talvez seja só uma necessidade de satisfações afetivas, talvez seja só uma forma de egoísmo, de estar encerrados em nossas próprias necessidades e buscar os outros só para que nos façam sentir bem. Por isso parece que esse amor se acaba quando os outros contrariam nossos projetos, quando não nos dão razão, não nos elogiam ou não dizem o que nos interessa ouvir. Então a incoerência e o vazio também estão dentro de nós mesmos. Por isso, quando buscamos a solidão e nos encontramos com nós mesmos, às vezes só estamos perscrutando no vazio. Porque nossa interioridade só tem vida e beleza se ali está presente o Espírito Santo e se nos deixamos mudar por ele. Sem essa luz do Espírito Santo, terminamos confundindo Deus com nossos pensamentos, com nossa confusão mental, com nossos sentimentos tão mutáveis. E Deus é muito mais que tudo isso, graças a Deus é muito mais. Se queremos ser verdadeiramente profundos, busquemos o Espírito Santo.

25 de abril Aqui estou, Espírito Santo, disposto a oferecer-lhe parte de meu tempo. Escutei seu chamado ao serviço e estou procurando seguir Jesus nesta missão que você me confia. Necessito de sua companhia E da força de sua graça. Dê-me um profundo gosto por minhas tarefas, um intenso fervor e uma profunda alegria. Não confio em minhas forças nem em minhas capacidades, e sim em sua constante ajuda. Mas lhe ofereço tudo o que sou, todas as minhas capacidades e talentos, minha imaginação e minha criatividade, 61

minha inteligência e minhas energias, minha emotividade e minha capacidade de amar. Quero que tudo esteja a serviço de sua glória, para que o bem e a verdade possam triunfar nesta terra. Venha, Espírito Santo. Amém.

26 de abril A profundidade está em Deus, que é a perfeição acabada de todo ideal humano. O Espírito Santo é Deus, e ele tem a capacidade de tocar tudo com sua luz. Por isso pode nos fazer capazes de reconhecê-lo também nos outros. Se nos outros só vemos miséria, porque temos os olhos feridos, o Espírito Santo pode manifestar-se e fazer-nos descobrir muitas coisas preciosas que existem nos irmãos. Com o Espírito Santo, além disso, podemos libertar-nos pouco a pouco da superficialidade e da incoerência e tornar-nos compreensivos, generosos, amáveis, sinceros, disponíveis. Sua Palavra nos ensina que Aquele que diz que está na luz , e odeia seu irmão, jaz nas trevas (1Jo 2,9) e que Quem não ama permanece na morte (1Jo 3,14). Então, estamos descobrindo o mais importante: se alguém quer sair da superficialidade e ser profundo, seu caminho é o amor aos irmãos. Se eu não me encontro com os outros, se não os amo, se não busco sua felicidade, então nunca alcançarei a profundidade e me enganarei a mim mesmo com falsos misticismos. Em troca, se sou capaz de sair da queixa, da crítica inútil, do egoísmo e dou o salto do amor para encontrar-me com os outros assim como são, então se dissipam as trevas e posso ver com clareza. Só assim posso alcançar a verdadeira profundidade espiritual. Um ato de amor é o mais profundo e nobre sentimento que pode viver um ser humano. O Espírito Santo pode derramar esse amor em nossos corações e fazê-lo crescer.

27 de abril Junto com a Pessoa do Espírito Santo está a esperança. Porque onde está presente o Espírito Santo sempre existe um futuro possível, sempre renascem os sonhos, sempre se nos abre algum caminho. O Espírito é como uma força que nos lança para adiante, que não nos deixa viver só do passado nem permite que nos ancoremos no que já temos conseguido. Ele impulsiona, mas faz com que nós caminhemos; não nos arrasta como bonecos, mas nos leva a tomar decisões, a usar nossos talentos, a organizar-nos, a trabalhar juntos por um futuro melhor, a buscar a justiça e a solidariedade: 62

O Espírito constrói o Reino de Deus no curso da história… animando os homens em seu coração e fazendo germinar dentro da vivência humana as sementes da salvação definitiva. (João Paulo II, TMA, nº 45) E embora não possamos conseguir agora tudo o que desejaríamos, sabemos que o Senhor prepara para seus amigos uma felicidade que não tem fim, ali onde transbordaremos de alegria em sua presença gloriosa (cf. Ap 21,1-5). Para essa Cidade celestial que não podemos nem mesmo imaginar, nos quer levar o Espírito Santo, e ele nos faz caminhar com segurança para essa feliz plenitude: A esperança não engana. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rm 5,5).

28 de abril Um deficiente pode ser feliz sem uma mão. Sêlo-á se aceitar que isso que lhe falta é só uma parte, porque a vida é muito mais que isso. Se pensar bem, reconhecerá que, senão lhe faltasse isso, lhe faltaria outra coisa, porque nunca podemos ter tudo. Porque nossa vida será sempre algo limitado, mas nem por isso deixa de ser bela, a seu modo. Que isso não escape a você. Isso não significa deixar de ter objetivos, não procurar alcançar coisas novas ou deixar de se propor algo mais. Porque isso também é parte da felicidade. Mas sempre que uma pessoa ame e valorize mais o que tem, e não tanto o que não tem. Porque se alguém ama muito o que não tem, e pouco o que já tem, estará sempre tristemente insatisfeito, com uma espécie de vazio no coração. O Espírito Santo quer abrir-nos os olhos para que aprendamos a viver nossa vida assim como é, com seus valores e seus limites, sem estar invejando a vida alheia e comparando-nos com os outros. Cada um tem de fazer seu próprio caminho e percorrê-lo com todo o coração, porque tem de viver sua vida, não a vida dos outros. Às vezes é preciso deter-se para olhar a própria vida sob a luz do Espírito Santo, até que possamos reconhecer que também nossa vida é bela, com todas as suas imperfeições, carências e limites. Deixemos que o Espírito Santo nos ajude a aceitar-nos a nós mesmos e a aceitar a vida, para empreender a viagem de cada dia com um coração aberto.

29 de abril Hoje contemplamos o que fez o Espírito na vida de Santa Catarina de Sena. Por uma 63

parte, nela vemos realizada a sabedoria dos simples, porque Catarina era uma mulher analfabeta, sem formação, que chegou a explicar mistérios profundos da vida espiritual e foi capaz de tirar de seus erros muitos pretensos sábios de sua época. A ação do Espírito em quem se deixa ensinar por ele produz a mais elevada sabedoria e infunde, nos aparentemente fracos, um ímpeto incompreensível. A humilde e inculta Catarina era capaz de se dirigir ao Papa dando-lhe conselhos e censurar de frente as fraquezas dos bispos. Além do mais, o homem ou a mulher onde atua o Espírito, que se deixa levar na existência pelo impulso de vida do Espírito Santo, perde o temor ao desgaste que possa ocasionar-lhe sua missão; já não tem medo da passagem do tempo, da perda de energias, e cada vez experimenta uma segurança maior, prova paz e gozo no Espírito Santo (Rm 14,17). Pela firme vitalidade que lhes foi dando o Espírito com o passar dos anos, na velhice eles darão frutos, continuarão cheios de seiva e verdejantes (Sl 91[92],15). A vida de Deus em nós nos faz experimentar, quando uma parte de nós se vai desgastando, que existe outro nível de vida que vai crescendo: Dá forças ao homem acabrunhado, redobra o vigor do fraco (Is 40,29). É bom que hoje peçamos ao Espírito Santo que derrame em nós essa sabedoria dos humildes e essa fortaleza dos santos que se deixam conduzir por ele.

30 de abril Venha, Espírito Santo. Ilumine-me para que eu saiba dizer as mais bem ditas palavras, essas que possam fazer bem aos outros. Tome-me, Espírito Santo, para que através de meus gestos se expresse o amor de Jesus e os outros possam crescer na amizade que você lhes oferece. Dê-me flexibilidade e abertura, para que me adapte com simplicidade às necessidades dos outros. Dê-me um ouvido atento, para escutar o que você me disser através deles. Fecunde e reaviva os carismas que derramou em minha vida para cumprir minha missão no mundo. Guie-me, Espírito Santo. Não deixe que confunda o caminho. Ensine-me a discernir, para que não me desgaste cuidando da aparência e procurando fama. Não deixe que ponha meu apoio em falsas seguranças que me afastem de você. Toque meu interior, Espírito Santo, para que viva de você, para que me deixe levar por você onde você quiser, como quiser, quando quiser. Para que meu caminho me oriente sempre para você, para que sempre esteja com você, para que saiba verdadeiramente que só em você está a fonte da vida. Graças lhe dou, Espírito Santo, porque posso participar na construção do Reino de Deus e, assim, posso crescer em seu amor. Amém. 64

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MAIO

1º de maio O Espírito Santo é o silencioso artista do mundo. Nós que queremos viver em sua presença não podemos ignorar sua obra. Temos de contemplar o que o Espírito Santo semeia em nossa família, em nosso bairro, no mundo, em todas as partes, mesmo naquelas que não têm fé. Que contribuímos com nosso pessimismo? Melhor contribuirmos com ideias e ações positivas, sabendo que nada é inútil. Mas se permanentemente estamos olhando e dando ênfase ao negativo, chega um momento em que nossos olhos se fecham e somos incapazes de valorizar as coisas boas que Deus faz. O Espírito Santo nos convida também a descobrir os sinais de esperança que existem ao nosso derredor. Nem tudo está podre, porque o Espírito Santo atua sempre e em todas as partes. Mesmo apesar da rejeição dos homens, ele sempre as empreende para provocar algo bom onde tudo parece perdido. Uma pessoa cheia do Espírito ajuda os outros a descobrir e alentar os sinais de esperança. De fato, isso é o que fez João Paulo II em sua carta sobre o Terceiro Milênio: É necessário que se estimem e aprofundem os sinais de esperança… apesar das sombras que frequentemente os escondem aos nossos olhos (TMA, nº 46). Queira Deus que cada um de nós possa reconhecer o que o Espírito Santo semeou em seus amigos, em seus vizinhos, em seu lugar de trabalho, em sua comunidade; e seja capaz de fomentar esses sinais de esperança com palavras de ânimo e de estímulo. Podemos fazer muito bem se somos capazes de descobrir e de estimular as coisas boas que existem ao nosso derredor. Ninguém nos pediu que gastemos a vida olhando as sombras, e sim que nos empenhemos por alimentar a luz.

2 de maio O fogo do Espírito Santo pode queimar e curar as más recordações que às vezes nos atormentam. Vejamos alguns exemplos: Podem ser momentos de solidão ou de abandono na infância, ter sido insultado, ignorado ou desprezado; pode ser falta de carinho dos pais, desprezos e ciúmes dos irmãos ou companheiros, momentos de vergonha, experiências sexuais más, ter sido 66

rejeitado por alguém que eu amava, sofrimentos por não ter coisas que os outros tinham, acidentes, mortes de seres queridos, sustos, enfermidades dolorosas, prolongadas ou repetidas, fracassos etc. Agora façamos uma pequena oração para curar nossas recordações doentias: Venha, Espírito Santo, aqui estou, com todo o meu passado dentro de mim, para pedirlhe a paz. Olhe, Senhor, que as coisas que vivi estão me machucando por dentro. Olhe essas angústias e dores que aparecem por causa desse passado que não me deixa ser feliz. Venha, Espírito Santo, invadir todo o meu passado para transfigurá-lo e renoválo.Passe por todo o meu ser iluminando, curando e libertando. Toque todas as minhas recordações e cure toda a dor e a inquietação que produzem em minha existência. Passe, Espírito de Amor, e cure-me por todos os momentos tristes e dolorosos, por aqueles dias em que não me senti amado, ou fui desprezado, maltratado, machucado, utilizado, caluniado, esquecido, ignorado. Cuide de minhas recordações. Passe com seu amor e restaure tudo o que se danificou em meu coração. Cure meu interior e meu corpo por todas as más experiências que vivi. Deixe só sua imensa paz e sua ternura. Como se fosse uma chaga que se fecha e desaparece, assim se cure todo o meu ser dessas recordações. E aquilo que me fez sofrer já não existe. Passe, Espírito Santo, alivie, cicatrize, restaure. Amém.

3 de maio Espírito Santo, quero deixar em sua presença os frutos do meu trabalho. Dê-me um coração humilde e livre, que não esteja amarrado às vaidades, reconhecimentos e aplausos. Dê-me um coração simples que seja capaz de lhe dar tudo, mas deixando a Jesus a glória e a honra. Derrame em mim sua graça para que possa viver desprendido dos frutos de meus esforços, para que em meu trabalho busque sua glória, sem me tornar obsessivo por determinados resultados. Dê-me esse desprendimento, Espírito Santo, liberte-me do orgulho, para que possa trabalhar intensamente, mas com a santa paz e a imensa felicidade de um coração desprendido. Também lhe rogo que cure todo sabor amargo, todo ressentimento e tudo o que tive de egoísmo ou de vaidade em meu trabalho. Ajude-me, Senhor, para que da próxima vez possa vivê-lo com mais generosidade, simplicidade e alegria. 67

Permita-me descansar um momento em sua presença. Amém.

4 de maio Em Mc 3,22-30 fala-se de um pecado contra o Espírito Santo. A que se refere? Esta blasfêmia contra o Espírito Santo é a atitude de quem se fecha à ação do Espírito apresentando desculpas; é ver os sinais que Deus nos proporciona para que creiamos, mas fazer calar Deus com desculpas blasfemas com a intenção de não mudar os próprios planos. Evidentemente, quando o coração se fecha dessa maneira, o Espírito Santo não pode atuar. Esse pecado contra o Espírito Santo refere-se então ao coração fechado que recusa a Palavra de Deus, rechaça os sinais de seu amor e, de maneira definitiva, recusa o perdão de Deus. Por isso não pode ser perdoado enquanto perseverar nessa atitude, visto que Deus não age contra as decisões da liberdade humana. A nossa é uma liberdade doentia e fraca, mas que nos permite fazer uma história, cair e voltar a levantar-nos. Também nos permite dizer que se continuamos seguindo o caminho de Deus não é porque ele nos tenha obrigado. A iniciativa sempre é dele, e ele nos dá sua graça para que possamos responder-lhe; mas existe uma resposta que deve brotar de nossa livre aceitação. O Espírito Santo é infinitamente respeitoso. Mas não vale a pena fechar as portas e escolher a morte. Escolhamos seu amor e sua vida, também hoje.

5 de maio Venha, Espírito Santo. Quero dizer-lhe que tive muitos ideais e muitos sonhos, mas com o passar do tempo se foram apoderando de mim muitas coisas que me tornaram doentio por dentro: rancores, egoísmos, nervosismo, ciúmes, invejas, tristezas, ambições, cansaços ou desilusões. Tudo isso, pouco a pouco, me foi tirando a alegria de sonhar, de amar, de servir. Agora, em lugar de lutar por um mundo melhor, o que busco é ficar tranquilo, que não me incomodem, desfrutar a vida. Sei que isso também é bom, mas me magoa ter esfriado meus sonhos mais belos. Por isso peço-lhe que venha, Espírito Santo. Venha devolver-me a vontade de fazer o bem, de mudar alguma coisa neste mundo; renove em mim o sonho de uma vida fraterna e solidária, a alegria de servir e de trabalhar com os outros. Venha, Espírito Santo, para que deixe de sobreviver e volte a viver. Venha, para que possa recuperar a alegria e o desejo de lutar por grandes ideais. Venha, Espírito Santo. Amém. 68

6 de maio Para iniciarmos na vida cristã, temos um tesouro de três Sacramentos: o Batismo, a Confirmação e a Eucaristia. Através desses três sacramentos, o Espírito Santo nos introduz em um precioso caminho de fé, de esperança e de amor. Nos países mais cristianizados, quase todos foram batizados. Uma grande maioria recebeu a Comunhão, ao menos uma vez. Mas são menos os que receberam a Confirmação. Será que não é muito importante? É claro que o é. Imaginemos uma criança que é boa, feliz, mas que sempre continua sendo criança. Não será melhor que se anime a enfrentar os desafios da vida, que deixe de ser criança e que vá crescendo como jovem e como adulto, para que seja cada vez mais parecida com Jesus? O Espírito Santo quer que vivamos com a confiança de uma criança, mas não que tenhamos uma vida infantil. Ele espera que sejamos espiritualmente adultos, mais além dos anos que tenhamos. Por isso, mesmo que já o recebemos no Batismo, derrama-se de um modo novo na Confirmação. Então, é um Sacramento necessário para o desenvolvimento cristão. Se quando o recebemos não estávamos bem preparados, procuremos renová-lo interiormente, invocando o Espírito Santo que nos marcou como um selo espiritual.

7 de maio Já os Apóstolos de Jesus costumavam impor as mãos aos que haviam sido batizados para que recebessem de um modo especial o Espírito Santo (cf. At 8,15-17). A Confirmação é o Sacramento que necessitamos não simplesmente para nos salvar, mas para alcançar a plenitude da graça do Batismo: Aos batizados o Sacramento da Confirmação os une mais intimamente à Igreja, e os enriquece com uma fortaleza especial do Espírito Santo. Desta forma se comprometem muito mais, como autênticas testemunhas de Cristo, a estender e defender a fé com suas palavras e suas obras. (Lumen Gentium, nº 11) Mas isso não significa que só um adulto ou uma pessoa madura possam recebê-lo, mas que é precisamente o presente da Confirmação o que nos leva à maturidade espiritual (Catecismo da Igreja Católica, nº 1308). Demos graças ao Espírito Santo, porque ele se derramou em nós nesse belo Sacramento.

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8 de maio Quando pedimos ao Espírito Santo que cure nossas recordações, não temos de pensar só no que nos fizeram os outros. Às vezes sofremos mais pelo que fizemos nós mesmos. Os remorsos são recordações dolorosas de erros que cometemos; erros que nos levam a desprezar-nos a nós mesmos e, assim, nos fazem sentir indignos de viver. Se não os curamos, os remorsos não desaparecerão com o correr do tempo. Podemos dissimular-nos com a atividade ou as distrações; mas, assim que tenhamos um momento de solidão ou de silêncio, voltarão a nos torturar. E, se escapamos da solidão, aparecerão igualmente, no meio de uma conversação ou de um passatempo, impedindo-nos de desfrutar o que estamos vivendo. Ou aparecerão no meio do trabalho e vão nos fazer sentir que o que fazemos não vale a pena, porque já não é possível modificar o passado. Esses sentimentos tiram a alegria, o entusiasmo, a iniciativa. São como uma mancha que parece arruinar tudo. Mas não se pode voltar atrás para apagar o que passou. O melhor é pedir ao Espírito Santo que nos ajude a reconciliar-nos conosco, que nos dê seu amor para compreender-nos e perdoar-nos a nós mesmos com ternura. Porque de nada nos serve odiar-nos e desprezar-nos. Deus não quer isso. Só quer que entreguemos nosso passado e caminhemos adiante com alegria e com vontade. Às vezes é necessário pedir durante um tempo ao Espírito Santo a graça de nos perdoar a nós mesmos, porque só ele pode tocar e curar nossas angústias mais profundas e ele nos vai libertando pouco a pouco, à medida que lhe abrimos nosso coração.

9 de maio Espírito Santo, venho buscar sua ajuda, em um momento difícil. As dificuldades e as desilusões apagaram meu fervor e a alegria de minha entrega. Por isso apresento-lhe minhas canseiras, minhas angústias e toda má recordação. Quero unir minha dor a Jesus em sua paixão, para ressuscitar com ele em gozo e esperança. Meu Deus. Em você há infinita alegria. Alegria que transborda e se derrama luminosa em toda criatura. O mundo inteiro é um canto de gozo que brota de seu excesso de amor. Mostre-me, Senhor, a beleza e a bondade das coisas pequenas, ali onde habita um remédio para minhas tristezas. Dou-lhe graças pela água, pela luz, pelo calor, pela voz de meus amigos, pelas mãos, pelo céu, pelo sangue que corre intensamente e me mantém vivo, pelo ar e cada simples alegria cotidiana. Dou-lhe graças porque de alguma maneira sempre posso fazer alguma coisa boa por este mundo. 70

Ajude-me a viver o gozo da generosidade, a alegria de fazer feliz o outro, o sonho de fazer o bem. Dê-me o dom da magnanimidade para buscar sempre algo mais na vida. Desperte em meu interior, Espírito Santo, um intenso amor a Deus Pai, para que busque sua glória com o coração ardendo, para que goze de sua amizade e repouse em seus braços cada noite. Mostre-me as maravilhas de seu amor, para que você seja meu lugar de delícias, meu tesouro, meu banquete feliz. Venha, Espírito Santo. Amém.

10 de maio O Espírito Santo leva-nos a adorar Deus Pai, e ofende-o que adoremos as coisas do mundo. Mas, sobretudo, ofende-o que estejamos demasiado pendentes de nós mesmos, como se nós fôssemos deuses. Para não sofrer tanto, e para que meus erros e quedas não me paralisem, tenho de reconhecer algo: que eu não sou Deus. Para isso, o melhor é adorar a Deus, o único que merece ser adorado. Eu não posso pretender a adoração dos outros, nem pretender adorar a mim mesmo. Só ele é o Absoluto, sem manchas nem imperfeições. Todos os seres criados deste mundo somos limitados, e é inevitável que cometamos erros. E, mesmo que não os cometamos, é impossível que todos estejam conformados com nossa forma de ser e de atuar. Existem muitas coisas que não sabemos e não podemos medir todas as consequências de todos os nossos atos e palavras. Ignoramos tudo o que existe no coração dos outros, não podemos inteirar-nos de tudo, e nem mesmo conhecemos bem a nós mesmos. Nossa forma de ser necessariamente tem limites. Portanto reconheçamos que não somos deuses, nem podemos ser. Nossas capacidades são tremendamente limitadas. É preciso aceitar isso com serenidade e realismo e destruir o falso ideal de ser absolutamente perfeitos. É bom deter-nos algumas vezes a pedir ao Espírito Santo essa simplicidade que nos ajuda a aceitar nossos limites com serenidade. Só assim podemos tratar de melhorar, mas sem obsessões nem nos entristecer demasiado por nossas fraquezas. Os erros podem nos dar a grande sabedoria da humildade, a bela virtude da misericórdia, a serena paciência com os erros alheios, a capacidade de depender de Deus com simplicidade etc. Assim temos de nos amar como somos: como seres limitados chamados a um permanente crescimento. Somos uma mistura, uma combinação de coisas boas, de amores e de novas possibilidades de mudança. Temos de aceitar e amar essa combinação que nos projeta para um futuro melhor.

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11 de maio O Espírito Santo fez uma obra maravilhosa nos seres humanos. Temos muitos e belíssimos exemplos. São os seres humanos que deixaram que o Espírito os transformasse. Então ele os fez parecidos com Jesus, pôs em suas vidas algo da formosura do Salvador, foi lapidando-os como se faz com uma pedra preciosa, e agora são para nós como um presente de amor. São os santos. Eles foram seres humanos de carne e osso como nós; cheios de fraquezas e de defeitos, como nós. Mas também, como nós, tinham dentro de si coisas belas que o Senhor lhes havia presenteado. Quando eles se deixaram transformar pelo Espírito Santo, ele foi purificando todo o mal e negativo, e regou com a água de sua graça todas as boas sementes que levavam dentro de si. Por isso foram santos. O mesmo pode fazer em nossas vidas. Mas nada mudará se confiarmos só em nossas forças e capacidades. Poderemos mudar por fora, mas por dentro não haverá mudanças profundas sem o fogo do Espírito Santo.

12 de maio O Espírito Santo lança-me para o futuro e convida-me a crescer. Mas, na realidade, o que mais lhe interessa é que eu viva a vida com toda a minha vontade, que me entregue agora ao que me cumpre viver. O desejo de ser melhores é importante, mas não tem de nos levar a ficar sempre pendentes do futuro. Isso enche-nos de ansiedade e faz com que o presente se torne insuportável. Tenho de optar em primeiro lugar pelo presente, porque é o que Deus está me proporcionando, e por isso tenho direito a vivê-lo o melhor que posso. É Deus quem me dá a vida, e isso me outorga todo o direito a viver feliz neste mundo. Mas, além de meus erros, eu sou amado por ele, que não pode rechaçar sua própria obra. Então, hoje é um dia valioso e estou chamado a vivê-lo. O passado já aconteceu. Não posso apagá-lo mas já terminou. E esse passado não tem direito de arruinar minha vida presente que Deus está me oferecendo generosamente. Tenho de viver hoje de tal maneira que possa sentir que minha existência vale a pena. E isso é deixar-me levar pelo Espírito Santo, sabendo que sou amado e entregando-me ao seu amor e ao seu projeto, dando o melhor de mim e desfrutando o que posso viver neste dia. Agora mesmo me deixo levar pelo Espírito Santo e entrego-me a viver esta jornada com paz, confiança, dignidade e criatividade.

13 de maio 72

Venha, Espírito Santo, olhe todas essas emoções que às vezes me revoltam em meu interior. Olhe meu nervosismo, meus ímpetos de ira, minhas reações de agressividade, todas as vezes que fico indignado e ressentido pelas coisas que me dizem, ou pelos erros e pelas imperfeições dos outros. Venha como chuva mansa refrescar meu interior, para que não me queime e adoeça por causa dessas tensões. Venha como brisa leve que acaricia e devolva a serenidade, venha como música suave que me relaxa por dentro, venha como amor e ternura que me ajuda a compreender os outros. Para que quero essas tensões e ressentimentos? Ajudeme a usar minhas energias para coisas boas, porque não quero desgastar-me em lamentos e angústias sem sentido. Venha, Espírito de harmonia e de serenidade. Venha, para que eu sempre escolha o amor, o diálogo e a amizade. Venha para que eu saiba reagir com amor, para que possa vencer o mal com o bem. Porque o amor é sempre o melhor caminho. Venha, Espírito Santo. Amém.

14 de maio O Espírito Santo atua como quer e muitas vezes nos surpreende com essa liberdade divina. Hoje, que celebramos o apóstolo São Matias, podemos descobri-lo especialmente. Porque a eleição de São Matias se realizou lançando sortes (cf. At 1,23-26). Esse procedimento serviu para conhecer a decisão de Deus. Por isso, na oração os Apóstolos dizem: Mostra-nos qual destes dois escolheste (v. 24). A eleição de Matias era uma questão do amor de Deus, que ultrapassa todos os critérios humanos. Se eles descobriram a vontade de Deus lançando sortes, não esperemos que o Espírito Santo nos ilumine sempre de uma maneira maravilhosa, porque ele nos falará de milhares de maneiras simples e nos ajudará a descobrir o que ele quer de formas muito comuns e pouco chamativas. Não só Matias foi escolhido com ternura. Cada um de nós foi escolhido para viver em amizade com Jesus, e é chamado a cumprir uma missão que dê muitos frutos de amor, até dar a vida em resposta a essa eleição. É belo sentir-se agraciado, ter sido escolhido gratuitamente, sem que se tenha merecido ou comprado com alguma coisa, sem que possa adquiri-lo, exigi-lo ou esperá-lo por algum título ou obra pessoal. O Espírito Santo vem muitas vezes à nossa vida para que cumpramos determinadas missões, não porque sejamos perfeitos, ou porque o mereçamos, mas por um amor gratuito e livre. Ele atua onde quer e como quer. Deixemo-nos conduzir por ele.

15 de maio 73

Na história da Igreja, temos um tesouro de milhares de santos diversos que refletiram, cada um do seu jeito, a beleza de Jesus. Eles se deixaram tocar pelo Espírito Santo, e ele fez maravilhas em suas vidas. São Francisco de Assis refletiu a pobreza e a alegria do Senhor, Santa Rita mostrounos a fortaleza e a entrega de Cristo, São Caetano mostrou-nos sua predileção pelos pobres e sua preocupação com os que sofrem. Por isso, quando nos colocamos a rezar diante da imagem de um santo, São José, por exemplo, nessa imagem simples de José, o Espírito Santo nos faz descobrir um reflexo da imensa ternura de Jesus, nos faz sentir a carícia de seu amor que nos diz: “Eu estou ao seu lado, eu não o abandono, eu o amo”. Mas cada um teria de se perguntar agora: e eu? Que está querendo fazer de mim o Espírito Santo? Nenhum de nós tem de repetir o que foi Santa Rosa, nem São Francisco, nem a beata Teresa de Calcutá. Cada um chega a ser santo de um modo particular, porque Deus o fez distinto, e o Espírito Santo quer colocar em sua vida um reflexo de Jesus que não havia colocado nos outros. Entreguemo-nos ao Espírito Santo para que ele faça sua obra: Eu vos exorto, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus: é este o vosso culto espiritual (Rm 12,1).

16 de maio Hoje deixo em sua presença, Espírito Santo, todos os meus entes queridos. Porque só estão seguros se você se apodera de suas vidas. Penetre neles com sua força, cure-os de toda enfermidade e de toda fraqueza. Cure também tudo o que esteja ferido em seu interior, toda má recordação, toda angústia, todo mau sentimento. Você conhece suas perturbações interiores e só você pode libertá-los de seus males mais profundos. Abençoe meus entes queridos, Espírito Santo. Concedalhes sucesso no que empreendam. Ilumine-os para que acertem em suas decisões e conceda-lhes que se cumpram seus sonhos mais preciosos. Mostre-lhes o caminho para alcançar sua felicidade. Derrame neles sua paz, sua alegria, seu amor. Encha-os de esperança, de luz, de consolo. E transforme-os cada dia, Espírito de vida, para que possam amadurecer e crescer, para que sejam cada vez mais belos por dentro. Corrija seus defeitos e seus vícios e mostre-lhes a formosura das virtudes. Derrame neles seu amor para que se pareçam cada vez mais com Jesus e sigam seus passos. Encha-os de você, Espírito Santo. Fortaleça-os, liberte-os, inunde-os. Amém. 74

17 de maio A súplica alivia-nos por dentro, porque quando pedimos ajuda ao Espírito Santo sentimos que a carga que estamos carregando já não é tão pesada. Certamente ele nos ajudará de alguma maneira para que encontremos uma saída e, sobretudo, para que saibamos como enfrentar essa dificuldade. O Espírito Santo é como um mestre interior, como um médico da alma, como um especialista em massagens interiores que sabe colocar as coisas em seu lugar. Assim, as dificuldades não debilitam você, não o derrubam, não o machucam tanto, porque ele derrama uma força, um perfume, um bálsamo que alivia você no meio dos problemas. Por isso, nada melhor que pedir ajuda ao Espírito Santo. A própria Bíblia nos diz que temos de suplicar e pedir ajuda: Depõe no Senhor os teus cuidados, porque ele será teu sustentáculo (Sl 54[55],23). Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias, apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, a súplica (Fl 4,6). Alguém entre vós está triste? Reze (Tg 5,13). A súplica é descarregar as inquietudes no Senhor, sabendo que ele se ocupa de nós quando lho permitimos realmente (cf. 1Pd 5,7). Detenhamo-nos um momento a pedir ajuda ao Espírito Santo, a suplicar-lhe por aquelas coisas que nos preocupam neste momento de nossa vida.

18 de maio O Espírito Santo é um manancial generoso, uma fonte transbordante que sempre dá. E, por isso, sempre nos convida a dar com generosidade. Às vezes não percebemos a verdade daquilo que dizia São Francisco de Assis: “É dando que se recebe”. Se damos com generosidade, em lugar de nos despojar, enriquecemo-nos, em lugar de nos esvaziar, vamo-nos enchendo com uma riqueza superior, que não se vê com os olhos do corpo. Quem o diz com clareza é a Palavra de Deus: É maior felicidade dar que receber (At 20,35). Acreditamos nesse ensinamento da Bíblia. Isso sucede quando aprendemos a dar com um coração generoso e sincero, verdadeiramente desapegados do que damos. O coração se enche de força quando a pessoa dá sem tristeza nem constrangimento. Deus ama o que dá com alegria (2Cor 9,7). É muito belo se converter em um instrumento do Espírito Santo, para que através de nós ele possa dar, e dar, e dar. Dar sem esperar recompensa, dar sem exigir agradecimentos nem reconhecimentos, dar pelo simples prazer de dar. Dar sem medida, e sem tristeza.

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19 de maio Proponho-lhe que faça esta oração, que é parte de uma antiga oração da Igreja, que se reza em todo o mundo no domingo de Pentecostes: Venha, Espírito Santo, e envie do céu um raio de sua luz. Venha, Pai dos pobres, venha para dar-nos seus dons, venha para dar-nos sua luz. Consolador, cheio de bondade, doce hóspede da alma. Penetre com sua santa luz no mais íntimo do coração de seus fiéis. Sem sua ajuda divina não existe nada no homem, nada que seja inocente. Lave nossas manchas, regue nossa aridez, cure nossas feridas. (Fragmentos da Sequência de Pentecostes)

20 de maio Agora o convido a meditar parte por parte, durante vários dias, alguns trechos da bela Sequência de Pentecostes, que começa dizendo: Venha, Espírito Santo, e envie do céu um raio de sua luz. Quando lhe pedimos que envie sua luz do céu, isso não significa que ele está lá em cima, distante de nós que estamos aqui embaixo. Sempre imaginamos o Espírito Santo chegando lá de cima e levantamos nossas mãos para o alto para invocá-lo. Mas na realidade ele já está em nós, mais próximo do que ninguém. O que falta é que nos transforme com essa presença. Todavia, nós olhamos para o céu, como se fosse descer dali. Isso na realidade é um símbolo que nos recorda que ele nos supera, que está acima de tudo, que é Deus. Assim como o céu está acima de nós e não podemos abrangê-lo, isso vale com maior razão para o Espírito Santo, que é Deus. Nós não podemos pretender que já o conhecemos, que o 76

podemos dominar, que o podemos aprisionar e mantê-lo sob nosso domínio. Ainda que ele habite em nós, ao mesmo tempo nos supera, infinitamente nos transcende. Se não podemos abranger o céu infinito, menos podemos abrangê-lo. Por isso olhamos para o alto, invocando-o, e por isso pedimos que envie do céu um raio de sua luz.

21 de maio Venha, Pai dos pobres. Ao Espírito Santo chamamos Pai dos pobres, porque só ele pode atuar em um coração humilde e simples, nos que têm alma de pobres. Isso não significa que tenhamos de nos desprezar ou nos sentir inúteis. Só significa que reconheçamos verdadeiramente que necessitamos dele, que sem ele não podemos nada, que nossa fragilidade necessita de sua força. Com ele estamos seguros, cheios de confiança e de ímpeto. Mas ao que tem um coração pobre não lhe ocorreria orgulhar-se por isso, porque sabe bem que tudo ele deve ao auxílio do Espírito Santo. Ele mostra sua glória em nós quando verdadeiramente reconhecemos nossa pequenez e nossas carências, quando não nos agarramos a nossas riquezas, sucessos e capacidades, quando descobrimos que não temos nada em que nos apoiar, porque tudo é frágil e passageiro. Os pobres não se sentem entristecidos por compreender que são pequenos. Ao contrário, vivem a alegria de depender do Espírito Santo. Libertados da vaidade e da autossuficiência, estão realmente abertos à força do Espírito e sentem-se bem em sua presença salvadora.

22 de maio Consolador cheio de bondade, doce hóspede da alma. É bom repetir muitas vezes essas palavras, lentamente, para que sejam como gotas de paz que acalmam nossas perturbações. Porque essas palavras nos ajudam a deixar de resistir ao amor do Espírito Santo, visto que não há nada a temer. Em lugar de trazer-nos dificuldades e preocupações, ele vem para nos consolar, vem para nos ajudar a enfrentar tudo o que nos dá medo, vem para nos dar calma no meio das tormentas, vem para dizer-nos que sempre é possível começar de novo. Em lugar de ser alguém que necessite nos causar dano, ele só pode desejar nosso bem porque é amor puro, amor sem mistura de ódios ou rancores. Ele simplesmente está cheio de bondade. E em lugar de ser uma força que vem para perturbar nosso interior ou que vem fazernos sentir a amargura de nossa pequenez, ele vem para repousar em nós com uma imensa doçura. Custa-nos reconhecê-lo, porque nós prestamos muita atenção aos 77

sentimentos negativos que estão sempre dando voltas em nosso interior, mas ele é o doce hóspede da alma. Se pudéssemos descobri-lo, saberíamos que não existe nada mais suave que sua presença.

23 de maio Sem sua ajuda divina não existe nada no homem, nada que seja inocente. Essas palavras parecem um tanto negativas, mas o que dizem é completamente certo. Sem a ação do Espírito Santo nada existe de inocente em nossas vidas. É verdade que sem o Espírito Santo podemos construir uma casa, ou ganhar dinheiro, ou prestar um bom exame; também podemos fazer coisas que na aparência são virtuosas, como economizar dinheiro, ou evitar as drogas etc. Mas nada disso é na verdade santo e belo sem a ação do Espírito Santo. Porque sem ele na realidade estamos sempre procurando nosso interesse sem nos preocupar sinceramente com o bem dos outros. Sem ele nem mesmo nos interessa verdadeiramente a glória de Deus. Nós poderíamos dizer que existem pessoas que não são cristãs, ou que são ateias, mas que verdadeiramente dão a vida pelos outros. É possível; mas se isso verdadeiramente é sincero e generoso, é porque neles está atuando o Espírito Santo. Muitas vezes ele está nos convidando a fazer o bem, mas seu impulso não obtém resultados porque nós o ignoramos ou resistimos a ele. Mas se em algum momento o deixamos agir, brota em nós um sentimento verdadeiro de bondade, ou uma decisão realmente generosa, temos de lhe render graças. Porque isso seria impossível sem seu estímulo, sem seu convite, sem sua graça que nos eleva.

24 de maio Lave nossas manchas. Imaginemos um vale cheio de lixo e sujeira, atravessado por um pequeno rio que desce dos montes, onde ninguém se atreve a colocar seus pés nus por temor de se sujar. Mas logo o rio começa a crescer e sua corrente é cada vez maior. O rio aumentado, com sua força, arrasta toda a sujeira e limpa completamente o vale. No dia seguinte, tudo está calmo, e correm águas limpas, que servem para beber e para se banhar. Imaginemos todas as manchas e sujeiras de nosso interior. Pensemos não só em nossos pecados, mas nas inclinações que deixaram esses pecados; pensemos também nas tristezas e perturbações interiores que ficaram por nossas más ações. E roguemos ao Espírito Santo que passe como um rio caudaloso, que lave, que limpe tudo, que carregue consigo toda sujeira e nos deixe limpos, brancos, reluzentes, verdadeiramente libertados.

25 de maio Regue nossa aridez. 78

O Espírito Santo é também como uma chuva, água que penetra na terra seca. Somos terra que crepita e que chora, seca e gretada. Mas, quando chove a graça, nosso deserto reverdece e se enche de flores, transborda de vida. Nós concedemos à nossa vida tantas coisas deste mundo, desgastamos nossas energias em tantas maluquices que nos deixaram secos por dentro, sem vida, sem amor, sem beleza. Invoquemos o Espírito Santo para que se derrame como chuva fecunda, para que faça brotar as boas sementes que ele mesmo pôs em nós. Ele o prometeu: Derramarei água sobre o solo sequioso, eu a farei correr sobre a terra árida (Is 44,3). Peçamos-lhe que regue, que refresque, que renove com suas gotas divinas, que nos devolva a vitalidade e a energia, que ressuscite nossos sonhos e nossa esperança. Assim se cumprirá a promessa do profeta Oseias: Serei para Israel como o orvalho. Ele florescerá como o lírio, e lançará raízes como o álamo. Seus galhos estender-se-ão ao longe, sua opulência igualará à da oliveira. E seu perfume será como o odor do Líbano. Os de Efraim virão sentar-se à sua sombra. Cultivarão o trigo. Crescerão como a vinha (Os 14,5-7).

26 de maio Cure nossas feridas. Quantas feridas levamos dentro de nós! Grandes ou pequenas, antigas ou recentes, essas feridas estão ali dentro, pelas recordações dolorosas, pelas experiências traumáticas do nosso passado, por nossos fracassos, por nossos erros, pelo amor que nos negaram, pelo que não pudemos ser. Talvez nossa mente não tenha dado importância a essas coisas, mas nossa afetividade continua sofrendo devido a essas feridas. O Espírito Santo pode entrar em nosso interior e é capaz de curar essas feridas. Mostremos-lhe o que nos dói, digamos-lhe o que sentimos e imaginemos que se derrama como bálsamo que cura e cicatriza, que passa como carícia suave que fecha as feridas com cuidado e com ternura. Ele está lhe dizendo: Sou eu, sou eu quem vos consola (Is 51,12). Mesmo que as montanhas oscilassem e as colinas se abalassem, jamais meu amor o abandonará (Is 54,10). Sou eu que apascentarei minhas ovelhas… a [ovelha] ferida eu a curarei; a doente, eu a restabelecerei (Ez 34,15.16). 79

27 de maio Venha, Espírito Santo. Liberte-me, para que não alimente a impaciência e o desprezo para com outras pessoas. Tome meu olhar para que possa ver os outros como Jesus, com imensa paciência. Contemplo Jesus tão compreensivo com os pecadores, tão paciente e compassivo com as debilidades de seus discípulos, tão próximo de todos. Quero aprender de Jesus, paciente e humilde, para encontrar descanso e alívio em minhas impaciências. Bendigo a todas as pessoas que me incomodam, que me desagradam, que me cansam, que me perturbam, que me interrompem. Bendigo-as para que sejam cada dia mais belas e santas, para que reflitam seu amor e sua formosura. Passe sua mão por suas feridas para que sejam felizes. Venha, Espírito Santo, à minha vida, penetre em meu interior, acaricie-me com sua divina calma. Cure as feridas de minha intimidade que me levam a rechaçar os outros. Cure a raiz de minha intolerância, de minhas más reações, e conceda-me o dom da paciência. Amém.

28 de maio O Espírito Santo derrama em nós o fogo do amor, para que amar não seja uma obrigação, mas uma necessidade, um gosto, uma escolha verdadeiramente livre. Quando deixamos que o Espírito Santo nos impulsione ao amor, então já não somos escravos de milhares de coisas que precisamos cumprir. Somos livres, porque brotam espontaneamente em nós as obras que agradam ao Senhor. Quando o Espírito nos transformou, a liberdade cristã é converter-se em escravos dos outros (cf. Gl 5,13), porque o Espírito Santo nos liberta de nós mesmos para tornar-nos um com o irmão e ganhá-lo para Cristo: Embora livre de sujeição, eu me fiz servo de todos (1Cor 9,19). E assim, em vez de perdê-la, ganhamos a mais preciosa liberdade, a libertação que o amor produz. Porque um coração generoso é um coração libertado do pior dos males: a indiferença.

29 de maio Venha, Espírito Santo, limpe meu interior de todo resíduo de ressentimento e de más recordações. Conceda-me recordar o passado com serenidade, sem rancores nem tristezas, sem angústias nem temores. Minha segurança está em seu amor e em sua força que me abrasa. 80

Não permita que me enfraqueça e me desgaste com faltas de perdão e desgostos. Arranque de meu interior todo desejo de vingança. Mostre-me, Espírito Santo, que a vingança acaba recaindo sobre minha própria vida e matando minha alegria e minha paz. Ajude-me a declarar livres essas pessoas que de alguma maneira me fizeram sofrer. Que eu não necessite fazê-los sofrer para sentir-me bem. Derrame em meu interior sua compaixão, coloque em meus olhos seu olhar compassivo, para que possa recordá-los sem rancor e sem angústia. Liberte-me, meu Deus, para que possa respirar feliz e caminhar sem ataduras interiores. Mostre-me que existe mais felicidade em dar que em receber, e que sempre é melhor vencer o mal com o bem. Venha, Espírito Santo. Amém.

30 de maio Para aprender a liberdade do Espírito Santo é preciso deixar-se iluminar pela Palavra de Deus. O Espírito Santo é quem inspirou a Palavra de Deus. Por isso, ele pode nos iluminar para compreender essa Palavra. Não só para que alcancemos uma compreensão intelectual dela, mas para que lhe abramos o coração e nos deixemos mover por sua exortação à conversão. Porque seu Espírito não toca os corações com sua graça; o único fato de escutar a Palavra ou de a ler não chega a produzir nenhuma mudança em nossa vida. Mas se invocamos o Espírito e nos deixamos inundar por ele antes de ler a Palavra, seremos capazes de ser sinceros diante dela, aceitaremos ficar a descoberto e, assim, essa Palavra falará concretamente à própria vida, vai nos fazer ver claro o caminho, e o Espírito nos dará força para segui-lo. Esse é o segredo das verdadeiras mudanças.

31 de maio Alguns, já desde criancinhas, abriram seu coração à graça do Espírito Santo. Mas outros resistiram muito tempo. Vejamos o exemplo do apaixonado e mundano Santo Agostinho. Ele mesmo nos conta como gastou muitos anos de sua vida escravizado em muitos pecados: Ardia no desejo de saciar meus baixos apetites, e me converti em uma selva de amores obscuros. Eu me excedi em tudo… Concedi à luxúria todo poder sobre minha vida e com todas as minhas forças me entreguei a ela (Confissões 2,1-2).

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Mas, apesar de ter conhecido de perto os vícios e todo tipo de prazeres, quando abriu o coração ao amor de Deus, lamentou-se por ter gastado suas energias nessas vaidades, lamentou-se por não ter encontrado antes o cativante amor divino: Quão tarde te amei, beleza tão antiga e tão nova! (Confissões 10,27). Muitos de nós não tivemos nunca uma vida muito desenfreada, ou não experimentamos uma maravilhosa libertação como Agostinho. Mas todos estamos chamados a uma vida melhor, mais santa, mais saudável (cf. Fl 3,12-14). Invoquemos o Espírito Santo para poder consegui-lo, Ele é capaz de transformar tudo se lhe abrimos espaço em nossa existência.

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JUNHO

1º de junho Quando algum problema o angustia, você precisa se deter a contá-lo ao Espírito Santo. Ninguém lhe pede que enfrente suas dificuldades sozinho. Você tem consigo o Espírito. Mas não lhe conte só o que acontece a você, e sim o que você sente em seu interior por causa desse problema. Porque às vezes o pior não são as coisas que nos acontecem, mas o que nos fazem sentir por dentro. Se você discutiu com um filho ou com um amigo, talvez não sofra tanto pela discussão, mas porque essa discussão faz com que você sinta que todos o abandonam, que ninguém é fiel, ou que você é desagradável e por isso ninguém o ama. Talvez isso desperte seu temor de ficar sozinho e abandonado. As coisas que nos acontecem despertam todos os nossos monstros interiores. Por isso, é necessário que você conte tudo ao Espírito Santo, tudo isso que dá voltas no seu interior. Porque ele pode ajudá-lo a resolver seu problema, mas, sobretudo, pode curá-lo interiormente, para que você não se sinta tão fraco, para que não se sinta tão sozinho, para que possa tirar o melhor de seu ser e vá em frente. É melhor que derrame tudo em sua presença sem lhe ocultar nada, e que você deixe que ele o console. Porque o Espírito Santo é o verdadeiro “Consolador”.

2 de junho Espírito Santo, uma vez mais lhe peço a graça de me libertar, Senhor. Derrame em mim um profundo desejo de perdoar, de viver em paz com todos e de compreender profundamente as agressões e desprezos de algumas pessoas. Ajude-me a descobrir seus sofrimentos e debilidades mais profundas para poder olhar para elas com ternura e não as julgar pelo que me fizeram. Limpe meu interior, Espírito Santo, de todo resto de ressentimento e de más recordações. Minha segurança está em seu amor e em sua força que me abrasa. Não permita que me enfraqueça com falta de perdão. Arranque de meu interior todo desejo de lhes causar dano e de pagar-lhes com a mesma moeda. É possível reagir com o perdão e elevar-se acima dos ressentimentos. Eleve-me, Espírito Santo, para que eu não necessite fazê-los sofrer de alguma maneira para me sentir bem. Derrame em meu interior sua compaixão, para que possa recordá-los sem rancor 83

e sem angústia. São filhos de Deus, Jesus os salvou com seu sangue, são meus irmãos, estão chamados à vida eterna, e você, Espírito Santo, vive neles. Dê-me a graça de perdoá-los sinceramente. Liberte-me, Espírito Santo, para que possa respirar feliz e caminhar pela vida sem amarras interiores. Amém.

3 de junho Com o Espírito Santo, derramam-se em nós seus dons mais preciosos, que nos fazem mais dóceis para seguir seus impulsos, para ser menos escravos do que nos causa dano e deixar-nos impelir para as coisas boas e belas. Os sete dons são: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus (cf. Is 11,1-2). Se você já recebeu a Confirmação seria bom que renovasse a graça desse sacramento. E, se não o recebeu, seria bom que você pensasse nisso. O rito é muito simples. Consiste em uma unção com azeite perfumado (Crisma) feita pelo bispo na fronte, dizendo as seguintes palavras: Recebe por este sinal o dom do Espírito Santo. Essa unção é impressa como um selo permanente no interior da pessoa, e por isso só se recebe uma vez. Mas, uma vez recebido, podemos invocar o Espírito Santo, pedir perdão por nossos pecados, alimentar-nos com a leitura da Bíblia e com a Eucaristia, para que essa graça da Confirmação reviva e cresça cada dia mais, para que o Espírito Santo possa reformar plenamente nossas vidas.

4 de junho Quando algo termina em nossas vidas, o Espírito Santo quer aproveitar para fazer nascer algo novo, para nos ajudar a iniciar uma nova etapa. Se nos equivocamos, se fracassamos, se fomos humilhados, isso não é a morte. Nem mesmo é o fim do mundo. Só é o fim de um mundo. Mas com o poder e com o amor de Deus podemos criar outra vida nova; outro mundo pode nascer. No meio de uma humilhação, Deus convida-nos a amar a vida, a assumir novos desafios. Mas não se trata de nos conformar com coisas insignificantes. Mesmo que nos tenhamos equivocado, temos direito de iniciar coisas grandes, que valham a pena. Por que não? Talvez a humilhação que sofremos seja uma purificação que nos prepare para algo mais belo. Não se deve deixar de confiar nas possibilidades que Deus semeou dentro de nós; é preciso atrever-se a ir mais além, a ir mais longe, a buscar algo mais. Quando apequenamos nossa vida, atrofiamos nossas capacidades, e não é isso o que quer fazer em nós o Espírito Santo. Nunca será preciso deixar-nos morrer, porque cremos em um Deus da vida, que não nos quer meio mortos. Nenhuma humilhação tem o direito de arrasar esta vida que Deus ama. Ao contrário, das cinzas o Espírito Santo pode fazer surgir maravilhas, se nós 84

aceitarmos o desafio.

5 de junho Jesus foi batizado, e o Espírito Santo desceu sobre ele como uma pomba (cf. Lc 3,2122). Mas não foi batizado porque necessitava da graça divina, visto que Jesus sempre teve uma santidade perfeita. O Espírito que desce sobre ele não está indicando que Jesus não possuía o Espírito antes do Batismo, mas que Jesus o recebe de um modo novo, em relação à missão que tem de começar. O Espírito que Jesus já possuía agora se manifesta capacitando-o para ir pregar e fazer presente no meio dos homens o Reino de Deus. Nesse sentido entendem-se as diversas “vindas do Espírito Santo” na Escritura. Quando os Apóstolos receberam o Espírito Santo em Pentecostes (cf. At 2,1-11), isso não significa que antes não o tivessem, mas que o recebiam para sair a evangelizar o mundo, capacitando-os para cumprir uma missão. O mesmo vale para o Batismo de Jesus, que desde sua concepção já estava cheio do Espírito Santo. Efetivamente, tendo recebido uma vez mais o Espírito Santo, e depois de quarenta dias de preparação no deserto, Jesus dirige-separa a Galileia a proclamar a boa notícia, porque completou-se o tempo (Mc 1,15). Assim nesse relato do Batismo de Jesus aparece o cumprimento de Is 1,11; 64,1. Poderíamos perguntar-nos se cada vez que temos de começar uma nova missão, ou uma tarefa delicada, detemo-nos com a fé para invocar o auxílio do Espírito Santo. Porque cada vez que recebemos uma nova missão ou começamos algo novo na vida, necessitamos da força do Espírito Santo para poder fazê-lo bem.

6 de junho O que é que não me agrada no meu ser? Que parte de minha vida sinto que está desorientada ou fora de lugar? O que procuro ocultar aos olhos dos outros? O que me custa reconhecer do meu próprio ser, isso que nem mesmo me agrada recordar? O primeiro passo é invocar o Espírito Santo para poder vê-lo, e tratar de reconhecêlo, olhá-lo de frente. Depois, pouco a pouco, aceitá-lo como parte de sua vida e conversar com o Espírito Santo sobre isso. Se conversando com ele realmente você pode dizer-lhe que queria libertar-se disso, então já começou o caminho de libertação. Só é necessário que você continue pedindo ao Espírito Santo cada dia que comece a procurar dar pequenos passos para mudar. Trata-se de exercitar o que seria virtude oposta a isso que lhe desagrada. Não desanime se você volta a cair, se para cada passo que dá adiante você dá um para trás. Isso sucederá até que você se convença de que é melhor viver de uma forma nova e estar acomodado a essa nova vida. Para motivá-lo a dar esses passos, é bom que você se pergunte com sinceridade: o quero fazer crescer em mim? Para onde quero ir? Que estilo 85

de vida quero alcançar? Mas também é indispensável que você peça luz ao Espírito Santo, para que ele o ajude a reconhecer o que você precisa ser. Ninguém sabe melhor que ele o que cada um de nós tem de chegar a ser, essa identidade única, irrepetível, que ninguém pode copiar. Por isso, é muito saudável se deter em pedir a ele a luz para ver quem é você na realidade e quem deve chegar a ser: Para vós, Senhor, elevo a minha alma. Meu Deus, em vós confio: não seja eu decepcionado… Senhor, mostrai-me os vossos caminhos e ensinai-me as vossas veredas. Dirigi-me na vossa verdade, e ensinai-me, porque sois o Deus da minha salvação (Sl 24[25],1-2.4-5).

7 de junho A Bíblia diz: Dá e recebe, e justifica a tua alma (Eclo 14,16). O amor verdadeiro não é só dar, não é só fazer coisas para os outros. É também receber dos outros e aprender deles com humildade. Não basta derramar-me no outro, fazer-me fecundo nele. Também tenho de me dispor a receber algo dele, a reconhecer o imenso valor do irmão. Quando o apóstolo São Paulo fala do corpo místico e da importância dos dons de todos, ali a atitude negativa que se descreve não é a de não querer dar e, sim, precisamente a de não querer receber dos outros, a de não saber fruir o presente do irmão: O olho não pode dizer à mão: “Eu não preciso de ti”… se um membro é tratado com carinho, todos os outros se congratulam com ele (1Cor 12,21.26). A capacidade de beber do cântaro do irmão é fonte de um gáudio especialíssimo. Acaso pode haver verdadeiro amor em um casal se um dos dois se encerra em seus esquemas, se se sente salvo em suas seguranças e já não é capaz de aprender com o outro? Ama de verdade alguém que já não é capaz de se admirar com o outro, ou de escutá-lo com interesse, ou que sente que já não necessita dele? O amor que o Espírito Santo derrama é uma capacidade de dar e também de receber, porque nos faz reconhecer que não somos deuses e que necessitamos dos outros.

8 de junho O Espírito Santo não permite que vivamos uma fé individualista, porque ele nos enxerta em um corpo místico, o corpo de Cristo que é a Igreja, e nos concede dons para edificar esse corpo maravilhoso onde todos somos importantes e onde necessitamos uns dos outros (cf. 1Cor 12). Enquanto os critérios deste mundo nos convidam a pensar em nós mesmos, a nos 86

acomodar o melhor possível, a não entender os outros, a consumir, a comprar, a não participar, o Espírito Santo quer impulsionar-nos sempre para a unidade. Seu impulso divino busca que todas as coisas e todas as pessoas vão se harmonizando em uma maravilhosa unidade. É o Amor que une pessoas. Por isso, neste ano, somos chamados a integrar-nos um pouco mais na Igreja, a gostar dela um pouco mais, a buscar novas maneiras de nos sentir parte dela. Já sabemos que isso não significa que tenhamos de ser iguais em tudo. O Espírito Santo semeia dons diferentes por toda parte e do jeito que ele quer. Por isso, onde ele age existe variedade, riqueza, novidade. Mas esses diferentes carismas que ele derrama não nos enfrentam nem nos dividem, mas complementam-se, harmonizam-se, enriquecem uns aos outros e levam-nos a valorizar-nos, a reconhecer-nos, a estimular-nos uns aos outros. Seria bom que frequentemente pedíssemos a luz do Espírito Santo para poder descobrir os carismas, as capacidades que ele semeou em cada um de nós, para enriquecer a Igreja e o mundo com esses dons. Assim podemos experimentar a alegria de ser fecundos, de proporcionar algo mais belo a este mundo, de fazer feliz o outro, de ajudá-lo a crescer. O que o Espírito Santo lhe deu para que você ajude os outros a ser melhores e mais felizes?

9 de junho Espírito Santo, você é alegria que transborda, que se derrama luminosa em cada criatura. O mundo inteiro é um canto de gozo que surge como cascatas de vida de seu excesso de amor. Toque meu interior com sua graça, Espírito Santo, para que possa participar dessa felicidade. Mostre-me a beleza e a bondade das coisas pequenas. Dou-lhe graças, Espírito de vida, pela água, a luz, o calor, as sensações da pele, a voz de meus amigos, as mãos, o céu, o sangue que corre intensamente e me mantém vivo. Ensine-me a buscar sempre algo mais na vida. Porque enquanto existe vida existe esperança. Todos os dias nascem crianças, todos os dias pode aparecer um santo, um sábio, um herói, e o amor nos surpreende em qualquer esquina. Desperte em meu interior, Senhor amado, um intenso amor a você, para que o busque com o coração ardente, para que goze de sua amizade e repouse em sua presença cada noite com um sorriso nos lábios. Mostre-me as maravilhas de seu amor, Espírito Santo, para que seja meu lugar de delícias, meu tesouro, meu banquete feliz. Regozijo-me em você, infinito e glorioso. Ajude-me a experimentar a alegria de Jesus ressuscitado. Dê-me o poder de sua graça para que todo o meu ser seja um testemunho de seu gáudio. Amém.

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10 de junho João Batista anunciava que o Messias ia batizar no Espírito Santo e no fogo, purificando tudo o que não serve (cf. Lc 3,16-17). O Batismo que o Messias traz será uma verdadeira purificação, porque derrama o Espírito Santo como fogo. O Messias cumpre aquele anúncio do profeta Ezequiel: Derramarei… águas puras, que vos purificarão de todas as vossas imundícies e de todas as vossas abominações. Eu vos darei um coração novo… Dentro de vós colocarei meu espírito fazendo com que obedeçais meus preceitos (Ez 36,25-27). Isso significa que a manifestação do poder do Messias se realiza, sobretudo, nos corações. E essa obra interior do Messias faz que os homens possam cumprir verdadeiramente a vontade de Deus. Porque uma pregação atraente não é suficiente; é necessária a ação secreta da graça de Deus no interior da pessoa. Pensemos um momento do que gostaríamos de ser purificados e peçamo-lo ao Espírito Santo, que é fogo purificador.

11 de junho A vaidade e o orgulho são causa de muitas tristezas e afastam a alegria do Espírito Santo. Por isso, quando vemos que o orgulho quer se apoderar de nosso interior, é bom que nos detenhamos e perguntemos com sinceridade: “É tão importante que me louvem ou me critiquem? Acaso sou eu o centro do universo?” E se estou sofrendo com o orgulho ferido porque me humilharam, posso perguntarme: “Acaso não vai passar também esta humilhação ou este fracasso como passaram tantas outras coisas? Não é verdade que tudo passa?” E posso repetir: “Tudo passa. E isto também passará. O vento vai levá-lo e logo não terá importância”. Então posso entregar-me plenamente a uma tarefa com liberdade interior, não pelas carícias que isso possa acarretar ao meu orgulho. Posso fazer algo bom, mas não por orgulho, e sim porque reconheço a dignidade que Deus me dá e não quero desperdiçar os dons que o Deus de amor me deu para benefício de meus irmãos. Faço-o porque desejo corresponder a esse amor, e por isso sou capaz de nutrir ilusões com algo novo para o bem dos outros. Além do mais, se buscamos a aprovação alheia, quando não recebemos dos outros o reconhecimento que esperamos, começamos a senti-los como competidores. Ruminamos nosso rancor na solidão, incapazes de viver em fraternidade. Ou procuramos cada vez mais chamar a atenção para que não nos ignorem e terminamos molestando-nos e arrastando-nos diante deles, reclamando que tenham consideração por nós. É melhor pedir todos os dias ao Espírito Santo que nos liberte do orgulho e da vaidade, que não servem para nada. Não vale a pena dar importância aos 88

reconhecimentos alheios. Leva-os o vento, e não deixam nada.

12 de junho Espírito Santo, fonte inesgotável de tudo o que existe, hoje quero dar-lhe graças. Agradeço antes de tudo a vida, porque respiro, me movo, sinto coisas, meu corpo funciona, meu coração pulsa. Existe vida em mim. Agradeço porque através de minha pele e de meus sentidos posso tomar contato com os seres que você criou. Porque o ar roça minha pele, sinto o calor e o frio, percebo o contato com as coisas que toco. Agradeço porque meu pequeno mundo está repleto de pequenas maravilhas que não chego a descobrir. Agradeço-lhe porque seu amor me chega a cada dia. Você me rodeia e me envolve com sua luz. Agradeço-lhe porque você está comigo em tudo o que me acontece, para que possa aprender algo de cada coisa que me aconteça. Agradeço-lhe porque você quer transformar todo o meu ser com sua vida divina. Agradeço-lhe porque cada dia é uma novidade, porque sempre existem novos sinais de seu amor, porque você sempre me convida para algo mais e sempre me chama a voltar a começar. Eu lhe agradeço, Espírito Santo! Amém.

13 de junho Hoje a Igreja celebra Santo Antônio de Pádua, um dos santos mais queridos em todo o mundo. Detenhamo-nos a contemplar brevemente sua figura, porque os santos são como uma pedra preciosa que o Espírito Santo burilou, e é bom deter-se a admirar o que faz o Espírito Santo naqueles que o deixam atuar. O popular Santo Antônio de Pádua, muito conhecido como um poderoso intercessor, era, sobretudo, um insigne e valente pregador. A lenda conta que, em uma cidade onde não quiseram escutar sua pregação, saciou sua incontida necessidade de anunciar o Evangelho pregando aos peixes. Trata-se de um símbolo para expressar uma missão que toma por inteiro o coração e toda a vida de um ser humano. Levou não somente o hábito, mas também a vida pobre e desapegada de São Francisco de Assis. Devido aos inúmeros frutos de conversão de sua pregação, acompanhada por frequentes e numerosos prodígios, foi canonizado só onze meses depois de sua morte e venerado com um grande fervor popular. Antônio, como fiel discípulo de Francisco de Assis, foi muitas vezes instrumento de paz e de reconciliação com sua pregação apaixonada. Não obstante, esse anúncio de paz não significava consentir no pecado e na mediocridade. Antônio era muito severo com os pecados de injustiça dos ricos e poderosos. Seus sermões em Pádua são muito 89

valorizados por seu forte conteúdo social, que mostram que, para Antônio, a paz era inseparável da justiça e da solidariedade. Peçamos ao Espírito Santo que, assim como fez coisas tão belas na vida de Santo Antônio, também as faça na vida de cada um de nós.

14 de junho Venha, Espírito Santo, para me conceder sua vida sempre nova. Encha-me do maravilhar-se de uma criança para admirar o mundo e a vida. Que não me acostume à vida, que me deixe ser surpreendido cada manhã. Porque por trás de cada coisa está seu amor, meu Deus. Ajude-me a reconhecer que a rotina não existe, porque tudo é novo a cada dia, porque sempre existe algo que está começando. Em cada momento algo precioso está nascendo, e a vida volta a brotar por todas as partes. Quero aceitar os novos desafios que você me apresenta, Espírito Santo. Que possa olhar sempre o horizonte curtindo esperança e entusiasmo. Tome toda a minha vida, Espírito Santo, e encha-a da eterna novidade de seu amor. Que este dia não passe em vão, e eu possa descobrir a mensagem que hoje você tem para a minha vida. Venha, Espírito Santo. Amém.

15 de junho O Espírito Santo está sempre esperando que o reconheçamos, no mais íntimo do nosso ser. E nós estamos sempre dentro dele, submersos nele que nos envolve. Ele nos sustenta e leva-nos dentro de si permanentemente. Ele está enchendo todo espaço, todo tempo e todo lugar, e nunca podemos estar fora dele ou escondidos de sua presença permanente: Para onde irei longe de vosso Espírito? Para onde fugir apartado de vosso olhar? Se subir até os céus, ali estareis; se descerá à região dos mortos, lá vos encontrareis também. Se tomar as asas da aurora, se me fixar nos confins do mar, é ainda vossa mão que lá me levará, e vossa destra que me sustentará (Sl 138[139],7-10). No entanto, uma pessoa pode reconhecer com sua mente que o Espírito Santo está presente, que Deus está ali, mas seu coração não consegue comunicar-se com esse Deus porque dele tem medo, ou o recusa, ou por algum motivo deseja fugir dele. 90

Então, temos de falar ao Espírito Santo a respeito desse temor e pedir-lhe que o cure, para que possamos nos arrojar com todo o nosso ser, cheios de confiança e gratidão, desejosos e necessitados, no seu infinito amor.

16 de junho O Espírito Santo dá às nossas lutas uma finalidade profunda. Por amor ao irmão, sabemos que o melhor com que podemos lhe presentear é Jesus; e por amor a Jesus, não podemos deixar de falar do Espírito Santo. Se um dia resolvêssemos todos os nossos problemas, mas não tivéssemos o Espírito, continuaríamos sendo infelizes. Mas isso é impossível, porque nunca poderemos resolver todos os nossos problemas sem ele. Porque sem ele começam a reinar o egoísmo, o ódio, o orgulho, os vícios, a tristeza. E então nada pode nos dar esperança. Por isso, o Espírito sempre quer nos levar a Jesus, sempre nos abre o ouvido para escutar sua Palavra e sempre nos impulsiona a evangelizar, a levar a Jesus os outros. Tudo isso se une na missão que têm os leigos no mundo. Eles necessitam invocar permanentemente o Espírito Santo para encher o mundo da presença de Cristo. Para que os lares, os lugares de trabalho, os bairros, as associações e todos os ambientes inundemse de esperança, de dinamismo, da vida maravilhosa que Jesus nos propôs. Mas por que o Espírito Santo não muda o mundo? Por acaso não pode? É claro que pode, mas não quer fazê-lo sem nossa cooperação. Quer mudar as coisas através de nós. E se não muda é porque muitos de nós não somos instrumentos dóceis. Como está sua docilidade em relação ao Espírito Santo?

17 de junho O Espírito Santo atua por toda parte e deixa esteiras de luz na vida do povo. Ele não faz distinção de pessoas. Não lhe interessa se são negros ou brancos, inteligentes ou menos inteligentes, famosos ou ignorados, fortes ou fracos. Só lhe interessa que são seres humanos, e em todos realiza sua obra. Por isso, não pensemos que o Espírito Santo está somente em alguns seres especiais, nos grandes sábios, em pessoas que sabem expressar o que falam de uma forma muito agradável, ou naqueles que estudaram muito e sabem muitas coisas. O Espírito Santo atua em uma dona de casa, em um catequista, em um trabalhador. Atua tanto em um missionário como em um monge, tanto em uma criança como em um idoso. Em todos consegue deixar algo bom e o faz de milhares de maneiras diferentes. Por isso não podemos aprisioná-lo e não podemos dizer de que forma ele atua. Ele atua como quer, quando quer e onde quer, e produz atos de bondade, de generosidade e de entrega em todos os corações. Ele pode derramar algo belo também em um grande pecador, mas além de suas misérias e de suas fragilidades. 91

É bom abrir os olhos e ampliar nossa mente, para que não sejamos negativos e possamos reconhecer todas as pequenas e grandes coisas que o Espírito Santo faz por todos os lugares.

18 de junho Quando lemos a Bíblia, descobrimos algo muito belo: que Jesus e as pessoas santas se deixavam arrastar pelo Espírito Santo. Por exemplo, Lucas conta-nos que, depois de seu Batismo, Cheio do Espírito Santo, voltou Jesus do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto (Lc 4,1). Também se nos conta que, depois que Filipe converteu o eunuco e o batizou, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe dos olhares do eunuco que, cheio de alegria, continuou seu caminho (At 8,39). De imediato, Filipe se encontrou anunciando o Evangelho em outros povos. Aquele que se deixa levar dessa maneira já não tem obsessão pelo que fará amanhã, porque sabe que o Espírito o vai levar aonde for necessário, e isso certamente será o melhor. Que bom quando um ser humano é capaz de se deixar impulsionar com essa liberdade e com essa confiança! Tomara que seja capaz de aceitar essa experiência, para que conheça a liberdade do Espírito Santo.

19 de junho O Evangelho de João nos diz algo muito interessante sobre o Espírito Santo: O vento sopra onde quer: ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito (Jo 3,8). Quando deixamos o Espírito Santo atuar, experimentamos algo em nossa vida, mas não o podemos explicar nem o podemos controlar. Não é possível prever tudo o que ele pode fazer em nós, nem o podemos calcular ou contabilizar. Foge a todos os nossos registros, sempre nos surpreende. Porque ele pode atuar no meio de uma alegria ou de uma tristeza; pode nos proporcionar uma grande emoção, mas também pode fazer uma obra preciosa no meio de nossa aridez; pode nos levar a lugares que nunca imagináramos, mas também pode fazer maravilhas no meio da rotina e da normalidade. Ele atua com total liberdade, e nós não podemos colocar-lhe condições nem exigir que o faça de uma forma ou de outra. Permitamos-lhe que faça o que quiser, porque seguramente isso será o melhor para nós.

20 de junho Nunca terei verdadeira conversão se eu não permitir que o Espírito Santo entre no mais secreto das intenções que me movem. Se não permitir que me faça ver a falsidade 92

dessas intenções e não deixar que as mude em mim. Mas se o fizer, então sim começarei a viver de outra maneira, serei uma nova criatura, estarei realmente convertido. O coração novo que o Senhor quer infundir em mim é um coração com intenções sadias, que verdadeiramente ande procurando o amor, o serviço, a glória de Deus e não só meu próprio bem ou a glória humana. Não vale a pena procurar esconder tudo o que levo dentro de mim. Se não sou serviçal ou não sou generoso, não me convém aparentar o que não sou e viver na mentira. É muito melhor reconhecer meu egoísmo e pedir ao Espírito Santo com insistência que mude meu coração. Quando vivemos procurando aparentar o que não somos, chega um momento em que já não sabemos quem realmente somos, e assim é impossível mudar e crescer. Não existe nada melhor que olhar para si mesmo com uma sinceridade serena. É possível mudar pouco a pouco se mostramos nossa verdade ao Espírito Santo e começamos a dar pequenos passos avante cada dia.

21 de junho A Palavra de Deus convida-nos a fazer uma aliança de amor com o Senhor, e o Espírito Santo inspira-nos permanentemente para que recordemos essa aliança, ou para que a renovemos. Essa aliança é também uma participação nossa na Páscoa de Cristo, tanto em sua morte (cf. Gl 2,19-20; 6,17) quanto em sua ressurreição (cf. Ef 2,5-6; 1Cor 15,14). O Espírito Santo nos une a Cristo gloriosamente ressuscitado e ao mesmo tempo nos associa ao mistério de sua cruz vivificadora. Sendo assim possuídos, pela ação do Espírito, se reproduz em nossa história concreta o mesmo mistério da Páscoa de Jesus. Toda a nossa vida repete de alguma maneira a morte e a ressurreição do Senhor. As relações humanas, o trabalho, a doença e todas as dimensões da vida humana refletem o mistério da morte e da ressurreição do Senhor. Pela graça do Espírito, essas dimensões participam da vida e da fecundidade de Jesus Cristo. Por isso, nunca haverá momentos de pura morte. Sempre brilhará de alguma maneira o mistério da ressurreição, porque ele sempre nos estará oferecendo sua vida. A vida humana faz-se incompreensível sem esta Aliança que Deus selou com nossa pequena existência na Páscoa de Jesus. Sem essa Aliança, renovada pela ação do Espírito, só restaria de nossa existência uma multidão de fragmentos sem sentido.

22 de junho Uma pessoa espiritual, cheia do Espírito, sabe compartilhar e procura a felicidade dos outros. Não se afasta dos outros, mas sabe descobrir Jesus neles. Existem pessoas que acreditam ser espirituais, mas na realidade estão cheias de rancor e de orgulho, ou não são capazes de fazer feliz a ninguém. Então, na realidade, estão longe de Deus, porque 93

nosso amor ao Deus invisível manifesta-se no tratamento com os irmãos visíveis: Aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê (1Jo 4,20). Por isso São Paulo chamava carnais os que viviam na inveja e na discórdia (1Cor 3,3). Enquanto os critérios deste mundo nos convidam a pensar em nós mesmos, a nos acomodar o melhor possível, a não procurar entender os outros, a consumir, a comprar, a não participar, o Espírito Santo quer nos impulsionar sempre para a unidade, para a participação, para o encontro. Seu impulso divino busca que todas as coisas e todas as pessoas vão se harmonizando em maravilhosa unidade. Ele é Amor que une pessoas. Por isso, neste ano, somos chamados a integrar-nos um pouco mais na Igreja, a querer-lhe bem um pouco mais, a buscar novas maneiras de nos sentir parte dela.

23 de junho Quando Jesus se encontrou com a mulher samaritana, junto do poço de Samaria (cf. Jo 4), fez-lhe descobrir que para adorar a Deus não importam tanto os lugares, mas sim deixar-se motivar pelo Espírito Santo. O importante é o encontro com Deus que se realiza no coração pelo impulso do Espírito divino. Ela devia se encontrar com o Deus vivo que vinha salvá-la e saciar sua sede mais profunda. Por isso Jesus disse-lhe que é preciso adorar a Deus “em Espírito e em verdade”. Adorá-lo “em Espírito” não se refere a uma adoração simplesmente interior, sem sinais externos, mas a uma adoração que brota de um coração dócil ao Espírito Santo, esse Espírito que nos impulsiona a clamar “Pai” (cf. Rm 8,15). Adorar a Deus em verdade significa adorar o verdadeiro Deus, que é o Pai amante e misericordioso que nos revelou Jesus Cristo. Peçamos a Jesus que derrame em nós a água viva de seu Espírito Santo, para que aprendamos a adorar. Senhor, fale ao meu coração, sente-se junto de meu poço e seduza-me com sua Palavra. Derrame em mim a vida do Espírito Santo. Porque tenho sede de você, Senhor, e só sua água viva pode saciar o intenso anseio que tenho em meu interior. Dê-me a beber de você, para que nunca mais tenha sede.

24 de junho Hoje celebramos o nascimento de João Batista. No Evangelho de São Lucas, podemos ver como o Espírito Santo atuou em São João Batista. Ele o foi preparando progressivamente para sua missão. Seu fortalecimento vai se manifestar na coragem de sua pregação, que o levou à morte. E sua vida no deserto mostra como toda a sua existência esteve sempre completamente orientada para Deus. João quis ser sempre só de Deus, e o deserto era o símbolo dessa consagração. Alguém que foi consagrado já no 94

seio de sua mãe pela ação do Espírito (cf. Lc 1,15; Lc 1,41) não podia resistir ao desejo de se entregar por inteiro. Do deserto sai João Batista; ali havia vivido sua total entrega a Deus, e ali o Espírito Santo o foi preparando. O deserto na Bíblia é o lugar do encontro com o Espírito, porque não existem outras coisas que possam distrair ou encantar o homem, e então ali pode se escutar a voz do Senhor que fala ao coração. De fato, o profeta Oseias apresenta o deserto como o lugar da sedução divina, onde Deus leva seu povo para encontrar-se com ele a sós e assim cativar-lhe o coração (cf. Os 2,16). No deserto João havia estado atento ao Espírito Santo, havia se alimentado e enriquecido no encontro com ele, havia bebido palavras de sabedoria. Por isso, ao sair do deserto podia comunicar o que havia recebido, o anúncio da salvação. João deixou o deserto e entregou a vida preparando o caminho para Jesus. Isso só é possível por ação do Espírito. Por isso, na realidade, somente a ação da graça pode curar nosso ceticismo e nosso desânimo doentio, entrando no profundo de nossas motivações e de nossas energias, para que possamos cumprir a missão que nos confiou até deixar a vida nessa entrega. Daí que seja necessário invocar cada dia a ação do Espírito para que nos fortaleça interiormente, para que nos proporcione uma vez mais a energia, o arrojo, a alegria inesgotável de cumprir o que Deus em seu amor nos recomendou.

25 de junho O Espírito Santo convida-nos permanentemente à conversão. Porque a conversão não é só uma grande mudança que aconteceu alguma vez no passado, quando decidimos seguir Jesus Cristo. A conversão é coisa de todos os dias. Nossa mentalidade e nosso coração devem ser mudados de modo permanente. Quando nos descuidamos, mete-se em nosso interior algum critério equivocado, ou voltamos a optar pelo egoísmo, ou perdemos um pouco da alegria ou da generosidade que tínhamos. Então, é preciso voltar a nos converter, é preciso voltar a escutar o Evangelho e deixar-nos interpelar pelo Espírito. A conversão também é uma espécie de abrandamento ou de descongelamento. Porque, quando nos descuidamos, o coração endurece e torna-se frio. Quando não curamos em tempo as más experiências que temos a cada dia, nossos rancores, tristezas, sentimentos de culpa e desilusões endurecem o coração como uma pedra, ou o esfriam e o transformam em uma pedra de gelo, dura e fria pela dor ou pelo medo. Optamos uma vez mais pela comodidade e pelo isolamento; os outros deixam de ser nossos irmãos e se transformam em inimigos ou competidores. Então é preciso rogar ao Espírito Santo que venha como fogo ardente para abrandar novamente o coração endurecido, para derreter esse gelo e convertê-lo em um regato alegre, feliz e compassivo. Talvez neste preciso momento você tenha de se converter, renunciar a um mau sentimento que o está esfriando e rogar ao Espírito Santo que volte 95

a abrandar seu coração.

26 de junho Onde não deixo estar presente o Espírito Santo, sinto-me eu o criador das emoções e das realidades. Então fabrico para mim um mundo pessoal onde o Espírito Santo não pode entrar, como se fosse um setor só meu, onde acredito que sou livre. Mas não percebo que, se o afasto de algo, ali acabarão entrando a fraqueza, a morte e o fracasso, porque só do Espírito vem a vida. Essa falsa liberdade não é senão uma escravidão que me arrasta para a morte. O que vivo fora de sua presença de amor pouco a pouco vai se convertendo em fonte de dor, ansiedade, desgaste e cada vez proporciona menos a felicidade de antes. Mas eu me empenho em tirar o jugo e me revolvo no chão, e sucede-me como ao depravado que acaba usando as mulheres como se fossem animais para recuperar o prazer que já não consegue sentir. Em troca, se eu vou construindo minha felicidade com o Espírito Santo, se lhe permito que guie minha liberdade e me cure de minhas escravidões, cada vez sou mais livre, cada vez posso ser mais dono de minha vida, sem que me dominem as tristezas ocultas, as angústias sem sentido, o nervosismo, o cansaço, as necessidades obsessivas etc.

27 de junho Se alguma vez conseguimos permanecer calados e serenos, deixando que o Espírito Santo nos faça experimentar seu amor, estaremos vivendo uma preciosa experiência mística. Quando abandonamos nossas resistências e nos deixamos tomar pelo Espírito, ele toca um centro amoroso onde o ser humano só pode depender, porque é uma criatura; e o mais íntimo de sua realidade é a dependência, é receber o ser e a vida, é beber de Deus. Vejamos como alguns místicos exprimem essa dependência quando chegam a um alto grau de desenvolvimento: Ó quão ditosa é esta alma que sente sempre Deus descansando e repousando em seu seio!… Deus está ali comumente como se descansasse em um abraço com a esposa, na substância de sua alma, e ela o sente muito bem e o frui habitualmente… Ele a absorve profundamente no Espírito Santo, enamorando-a com primor e delicadeza divina. (São João da Cruz) Deus toma a vontade, mas me parece que toma também o entendimento, porque não discorre, mas está ocupado só gozando de Deus como quem está olhando, e vê tanto que não sabe para onde olhar.

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(Santa Teresa de Ávila) Chega-se a transcender e ultrapassar não só este mundo sensível, mas também a si mesmo… É necessário que se deixem todas as operações intelectuais, e que a ponta do afeto se translade toda para Deus e tudo se transforme em Deus. E esta é a experiência mística e secretíssima, que ninguém a conhece senão quem a recebe, e ninguém a deseja senão quem a deseja, e ninguém a deseja se o Espírito Santo não o inflama até a medula. (São Boaventura)

28 de junho No capítulo 8 do livro dos Provérbios, fala-se da sabedoria celestial, e ali se dizem coisas muito belas que podemos aplicar ao Espírito Santo. Diz, por exemplo, que quando Deus criou o universo, ele estava ali: Junto a ele estava eu como artífice, brincando todo o tempo diante dele, brincando sobre o globo de sua terra; achando as minhas delícias junto aos filhos dos homens (Pr 8,30-31). Porque o Espírito Santo é amor que procede do Pai, e se pode dizer que onde existe amor existe jogo, existe alegria, existe gozo, existe uma relação que dá felicidade, que nunca aborrece, que nunca cansa, que não tem lugar para a tristeza e a monotonia. Mas o Espírito Santo joga pelo orbe da terra e se entretém conosco. Porque ele foi enviado ao mundo e gosta de se encontrar conosco, derramando bondade, semeando esperança, despertando coisas belas. O Espírito Santo é um artista feliz que, no meio de nossas misérias, realiza a arte de criar coisas preciosas. Assim ele vive uma espécie de jogo sublime. Por isso, também nós podemos deixar que o Espírito nos ensine esse jogo santo, a arte de fazer nascer coisas belas onde parece que não existe nada bom, onde aparentemente não existe beleza nem graça. Joguemos com ele.

29 de junho Hoje a Igreja celebra São Pedro e São Paulo, escolhidos pelo Espírito Santo para estender a Igreja nos primeiros tempos. Toda a obra deles foi feita pelo impulso do Espírito Santo, que guia a sua Igreja. Pedro e Paulo juntos recordam-nos o chamado a comunicar aos irmãos a fé que temos recebido, sabendo que o mundo necessita desse anúncio. Cremos que a fé pode fazer nascer um mundo novo. De fato, Pedro e Paulo, com sua missão, ajudaram a 97

mudar a sociedade pagã daquela época. Eles nos ensinam a alimentar uma esperança comunitária, porque não esperamos só para nós, mas para o mundo e a história onde estamos inseridos. Na realidade essa é a dinâmica própria do amor, pelo qual se faz particularmente presente na história o dinamismo do Espírito Santo, que nos arroja para o insuspeitado. Estamos chamados a viver a alegria de cooperar com a novidade do Espírito. Mas é preciso deixar a cômoda praia e atirar-se “mar adentro” (Lc 5,1-11), vencendo os medos (cf. Mc 4,35-41) com o olhar posto em Cristo (cf. Mt 14,22-33). É a alegria de dizer aos outros que achamos o Messias (Jo 1,41.45). Quando deixamos que o Espírito Santo – que brota do coração do Ressuscitado – nos impulsione nesta tarefa, seguramente experimentamos as maravilhas que ele pode fazer nos corações e nos admiramos vendo o que pode conseguir sua graça. Isso é o que viveu intensamente São Paulo, que pregava o Evangelho não somente por palavra, mas também com poder, com o Espírito Santo e com plena convicção (1Ts 1,5). Também São Pedro falava desse precioso Evangelho pregado no Espírito Santo (1Pd 1,12). Peçamos ao Espírito Santo que nos encha dessa mesma força para mudar o mundo.

30 de junho Venha, Espírito Santo, e ajude-me a reconhecer Jesus ressuscitado no meio de meus cansaços, de minhas preocupações, no meio das angústias do povo. Porque ele sempre permanece. Ajude-me a reconhecê-lo glorioso, cheio de vida, repleto de força, revestido de luz celestial. Com um toque de sua graça, desperte meu coração para que o louve, para que me encha de admiração diante de seu rosto precioso. Derrame em meu interior desejos de buscar Jesus, para que o amando, encontre-o em cada coisa. Faça com que me deslumbre com sua luz esplêndida para que não me dominem as obscuridades do mundo. Abra minha vida inteira, Espírito Santo, para que Jesus possa tomá-la com o poder de sua ressurreição. Renove minha existência com um pouco dessa vida plena de Jesus ressuscitado, para que eu também possa viver como um ressuscitado. Amém.

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JULHO

1º de julho Em Jo 3,14-21 nos é dito que basta olhar para Jesus para ser salvos, assim como Moisés levantava a serpente no deserto para que com um simples olhar se alcançasse a libertação. Olhá-lo, tirar os olhos por um instante de nosso emaranhado de cansaços, ressentimentos, orgulhos, sofrimentos, insatisfações. Olhá-lo, levantando os olhos mais para além de nossa miséria, sabendo que existe algo mais, que existe a luz sobrenatural que quer banhar e transformar as trevas em que estamos submersos. Só levantar os olhos, para descobrir que nem tudo é negro e escuro, que existe a verdade. Mas nossos olhos não se levantam por seu próprio poder. É muita a força do pecado que nos foi machucando e enfraquecendo, para pensar que com nosso próprio esforço podemos erguer os olhos. E, além disso, é tão grande a luz do amor de Deus que os olhos do coração humano não podem percebê-la se esse coração não é elevado. Só nos cura e nos eleva a graça do Espírito Santo. Por isso, no meio da escuridão, podemos reconhecer o secreto impulso do Espírito Santo que nos convida a clamar: Senhor, ajude-me, para que possa levantar meus olhos e o veja. Nós podemos preferir a escuridão no lugar da luz, quando queremos ser os únicos senhores de nossa vida, quando confiamos absolutamente em nossa própria claridade. Quando cremos conhecer sozinhos, sem a ajuda de ninguém, o caminho que nos convém para ser felizes. Então sentimos que não necessitamos de um salvador, e nem mesmo queremos levantar os olhos para vê-lo. Por isso não podemos ser libertados pela força curadora de seu imenso amor. Invoquemos o Espírito Santo, que é o único que pode nos fazer levantar os olhos para que possamos ser salvos.

2 de julho O Espírito Santo nos faz encontrar nas coisas deste mundo mais do que nós buscamos nelas. É completamente normal que nos agradem as coisas da terra, que nos atraiam as 99

coisas deste mundo, porque Deus as criou para que as desfrutemos (1Tm 6,17). Se não fosse assim, morreríamos de angústia e não poderíamos suportar esta vida. A atração das coisas é um sinal maravilhoso, e a variedade deste mundo, repleto de coisas agradáveis, é um reflexo da inesgotável formosura de Deus. O atrativo que sentimos pelo prazer que nos proporcionam as coisas desta terra nos diz que existem a vida e a esperança, que vale a pena ter nascido, que existe a beleza e que existe o bem; em definitivo, que existe Deus. O problema é que às vezes nos confundimos, e isso é causa de muitas tristezas. Porque as coisas são simplesmente criaturas de Deus que refletem um pouquinho de sua beleza; mas ele é infinitamente mais que elas e infinitamente melhor que as coisas. No entanto, as coisas nos enganam, e às vezes nos confundimos crendo que são eternas, e chegamos a adorá-las como se fossem nosso Deus. O problema na realidade não são as coisas deste mundo, e sim nossa debilidade, nossa pequenez, nossa obscuridade que nos cega. Nós esquecemos que nas criaturas temos de descobrir o Senhor infinitamente belo que se reflete nelas. Esquecemos que fomos criados para ele, e não para as coisas que são obras de suas mãos e só manifestam uma gota de sua beleza. Peçamos ao Espírito Santo que nos ajude a transcender as coisas, que possamos nos deter nelas com alegria, mas encontrando nelas o Criador, como o fazia São Francisco de Assis, cheio de alegria.

3 de julho É maravilhoso deter-se a admirar como se faz presente a vida do Espírito nas relações humanas. Porque todo gesto de amor humano é um pálido reflexo desse amor infinito que une o Pai e o Filho. Toda experiência de amor sincero é uma chispa do Espírito Santo que se coloca neste mundo. Por isso, para eu imaginar como é o Espírito Santo, devo imaginar um momento, uma experiência de amor humano generoso, sincero, feliz. Isso mesmo, infinitamente maior, mais precioso, é o Espírito Santo. Por isso posso deter-me a admirar os luminosos reflexos do Espírito Santo em um casal que se ama, em um abraço de reencontro, em um gesto de serviço humilde e generoso, em um sorriso que busca tornar feliz o outro.

4 de julho Fechemos os olhos por um instante e dediquemos um momento de nosso tempo só ao Espírito Santo. Digamos-lhe que o nosso tempo é só para ele e nada mais que para ele, porque ele o merece mais que ninguém. Se dedicamos tanto tempo às coisas deste mundo, é justo que 100

haja um tempo exclusivamente para ele. Porque não? Com os olhos fechados, sem pressa, sem ansiedades, sem nervosismo, procuremos reconhecer sua presença de amor. Deixemos que se vão aplacando todas as resistências e temores, até que ele possa se apoderar serenamente de nosso interior. Não se trata de fazer esforços, mas de o deixar atuar. Ele sabe como fazê-lo, só é preciso deixar de colocar-lhe obstáculos. Não se deve exigir dele nada. Só é preciso permitir por um instante que ele faça o que queira, mesmo que nós não entendamos, mesmo que nós não possamos descobrir nem reconhecer o que fez ele em nosso interior. Sem dúvida só ele pode fazer coisas boas em nossa intimidade escondida. Por isso vale a pena deixá-lo atuar no silêncio.

5 de julho Proponho-lhe que se ponha em oração e dialogue com o Espírito Santo a respeito da missão de sua vida e, para ajudá-lo, faço-lhe algumas perguntas: Que está você procurando na vida? Pelo que você gostaria que o recordassem depois de sua morte? Que lhe interessa deixar atrás de si algo de sua passagem por esta Terra? E mais além de tudo isso: parece-lhe que você está fazendo de sua vida o que Deus pensou e sonhou ao criar você? Não se trata de torturar-se ou de se encher de escrúpulos, porque todos cumprimos nossa missão de maneira imperfeita e limitada. Mas o importante é que sua vida tenha um sentido, um objetivo profundo, uma finalidade, uma opção. É certo que no fundo o importante é que sua vida dê glória a Deus. Mas cada um de nós dá glória a Deus vivendo com paixão uma missão neste mundo. Você descobriu qual é sua missão? Não interessa se é pequena ou grande, oculta ou notável. É sua missão, a que ninguém mais pode cumprir. Se você não a vê com clareza, é importante que procure descobri-la na oração, pedindo ao Espírito Santo que o ilumine. Mas, além disso, é importante que você lhe peça que o impulsione para essa missão, mesmo que não a veja com muita clareza; que a cumpra, mesmo que não a entenda de todo. Então, ainda no meio de suas dúvidas e dos momentos difíceis, tudo o que você viver o levará a cumprir essa missão que o Espírito Santo pensou para sua vida.

6 de julho Venha, Espírito Santo. Você que é como um vento divino, dê-me a graça de superar toda a timidez e toda a covardia diante da vida. Encha-me de arrojo, de seu impulso, de sua valentia, de seu santo estímulo. Ajude-me a viver com coragem as horas deste dia, com uma esperança sempre renovada, aberto ao mistério de cada jornada. Porque quando você conseguir entrar em um coração, não o deixe adormecido, 101

quieto, inativo. Sempre você nos move para a vida, para a luta, para ir em frente com confiança, para buscar um novo encanto e para correr atrás de um sonho que valha a pena. Tire-me da apatia para que não me encerre em meus problemas. Derrame-se em mim com todo o seu ímpeto e entusiasmo. Você sabe que às vezes prefiro manter-me ancorado em minhas comodidades e que tenho medo dos desafios. Queime com seu fogo toda covardia e todo cansaço. Lance-me para a aventura de cada dia. Venha, Espírito Santo. Amém.

7 de julho Quando deixamos que o Espírito Santo nos impulsione na tarefa evangelizadora, seguramente experimentaremos as maravilhas que ele pode fazer nos corações e nos admiraremos vendo o que pode conseguir sua graça. Isso é o que viveu São Paulo, que pregava o Evangelho não somente por palavra, mas também com poder, com o Espírito Santo e com plena convicção (1Ts 1,5). Temos uma descrição do que é uma pregação com o poder do Espírito Santo em uma oração que os Apóstolos perseguidos fizeram, pedindo a graça de pregar dessa maneira. Evidentemente, a maior característica dessa pregação é a intrepidez, acompanhada por sinais que o Espírito Santo concede como quer: Mal acabavam de rezar, tremeu o lugar onde estavam reunidos. E todos ficaram cheios do Espírito Santo e anunciaram com intrepidez a Palavra de Deus (At 4,29-31). O Espírito Santo ilumina nossos olhos, para que não olhemos tanto para nossa fraqueza e, sim, para o precioso ideal que ele nos apresenta. Assim, descobrimos que vale a pena entregar-lhe tudo, e ele nos fortalece para que o façamos.

8 de julho Nossa pior fraqueza é não poder aceitar nossa pequenez, esquecer que somos só uma pequena parte do universo sem limites, um a mais nesta humanidade imensa. O coração revolta-se, porque sua fraqueza o leva a pretender ser o centro de tudo. É importante que percebamos que se trata de uma pretensão absurda. Não somos nem seremos o centro da realidade. Nós morreremos e o mundo continuará funcionando e avançando. Mas nossa grande debilidade nos leva a nos enganar e a sentir que realmente o mundo gira ao nosso derredor. Por isso não entendemos por que os outros não estejam pendentes de nós, que não nos escutem, que não nos tenham em consideração, que nos ignorem ou nos esqueçam. Na realidade isso é o mais natural. Os outros não têm por que girar ao nosso derredor. 102

Peçamos ao Espírito Santo que destrua esse terrível engano, que nos ajude a abrir os olhos para descobrir a grandeza do universo, para ampliar nossos horizontes, para romper esse cárcere doentio do próprio eu, para reconhecer que nós giramos ao redor de Deus, porque ele é o verdadeiro centro. Então nos libertaremos de muitos sofrimentos inúteis.

9 de julho Muitas vezes sofremos pela agressividade que levamos dentro de nós. Algumas pessoas reagem mal, com agressões ou ironia; outras se calam, mas se isolam ressentidas. Existem muitas tensões interiores que nos levam a sentir-nos mal com as outras pessoas. Às vezes existem coisas que nos incomodam e não sabemos bem o porquê; outras vezes sentimos rejeição por coisas que não são tão importantes. É necessário levar calma e harmonia a esse mundo interior, para que não gastemos tanta energia inutilmente. O Espírito Santo pode sarar nosso interior para que nos libertemos de muitas tensões desnecessárias, para que renunciemos à guerra com os outros, para que deixemos de resistir diante das coisas que nos irritam e aprendamos a aceitá-las como parte da vida. Se deixamos que o Espírito Santo nos serene em um momento de oração, podemos dizer não à violência interior e optar sinceramente pela paz do coração. Isso não significa que não lutemos ou que não discutamos quando é necessário. Só significa que aprendemos a fazê-lo sem perder a calma interior. Com a graça do Espírito Santo, podemos consegui-lo porque ele é o doce mestre interior.

10 de julho O Espírito Santo realiza a obra de nos tirar fora de nós mesmos, porque nossa fragilidade nos leva a encerrar-nos em nossas próprias necessidades e interesses, e custanos muitíssimo abrir verdadeiramente o coração a Deus e aos outros. Sem o Espírito Santo não podemos sair desse egocentrismo, mas ele realiza a maravilhosa obra de inclinar-nos para os outros. Vejamos como o expressam vários sábios: Em qualquer caso o homem tem de levar à realização este empreendimento: sair de si mesmo… O coração possui-se verdadeiramente a si mesmo enquanto se esquece de si mesmo no atuar, enquanto sai e, perdendo-se, possui-se verdadeiramente. (K. Rahner) Andar em Jesus Cristo parece-me a mim que é sair de si mesmo… Estou persuadido de que o segredo da paz e da ventura está em esquecer-se de si mesmo, em esvaziar-se 103

inteiramente de si… até o ponto de não sentir as próprias misérias físicas nem morais. (Beata Isabel da Trindade) O ser humano está mais em si quando mais está nos outros. Só chega a si mesmo quando sai de si mesmo. (J. Ratzinger) A essência do amor realiza-se o mais profundamente no dom de si mesmo que a pessoa amante faz à pessoa amada… É como uma lei de êxtase: sair de si mesmo para achar no outro um crescimento do próprio ser. (K.Wojtila)

11 de julho O Espírito Santo nos faz sábios. Mas o homem sábio não espera que se realizem todas as condições adequadas para se sentir bem, para viver em profundidade, mas sabe viver com profundidade em qualquer situação. Aquele que achou a profundidade pela obra do Espírito vive essa profundidade em qualquer circunstância: O lavrador, o artesão, o ferreiro, o marceneiro… cada um se mostra sábio em sua tarefa. Sem eles não se construiria cidade alguma nem se poderia habitar nem circular por ela… Eles asseguram a criação eterna, o objeto de sua oração são os trabalhos de seu ofício (Eclo 38,26-39). Mas isso implica a capacidade de viver em plenitude cada instante, sem nos evadir para o passado nem para o futuro, como nos ensina a sabedoria da Bíblia: Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã. O dia de amanhã terá as suas preocupações próprias (Mt 6,34). Quando consigo fazer algo, mesmo que seja pequeno, com meu trabalho generoso, tenho de sentir que o poder do Espírito se prolonga através de mim, e assim brota espontaneamente um canto alegre e agradecido.

12 de julho Às vezes temos de rever nossa maneira de amar. Sempre se deve recordar que o encontro de amor é uma inclinação para o outro, não só para o ajudar, mas também para valorizá-lo, para deixar-me enriquecer por ele. 104

O amor que o Espírito Santo derrama faz com que eu considere o outro como uma só coisa comigo. Por isso posso preocupar-me com seus problemas, mas também posso alegrar-me com suas alegrias. Isso se mostra especialmente quando sou capaz de festejar cordialmente os sucessos do outro, sem ter inveja. O diálogo é uma experiência de amor, fruto da ação do Espírito Santo, na qual queremos compartilhar com o outro o que temos para dar, mas também, com o mesmo amor, somos capazes de prestar-lhe toda a atenção e dar importância ao que diga a outra pessoa. Assim, somos capazes de nos alegrar com as coisas boas que nos conte. O Espírito Santo produz esse belo dinamismo de “dar e receber o que não se pode comprar nem vender, e sim só presentear livremente e reciprocamente” (João Paulo II, Carta às famílias, nº 11a). É semear, mas é também colher com júbilo.

13 de julho Muitas vezes nos agredimos a nós mesmos por erros que cometemos no passado. Pode acontecer que se trate de algo muito antigo, mas que não deixa de retornar à memória de vez em quando e nos leva a dar-nos uma pancada na cabeça dizendo coisas como estas: “Por quê? Como pôde você fazer isso? Por que não o evitou? Não valia a pena! Como ocorreu a você dizer essa asneira?” Talvez saibamos que na realidade não somos culpados pelo que fizemos, porque na verdade tínhamos uma intenção boa, não tínhamos má intenção; mas igualmente nos culpamos e nos agredimos por não tê-lo evitado. O remorso é algo doentio; é uma rejeição de nossos erros que nos limita, paralisa-nos, enche-nos de angústias e encerra-nos em nosso orgulho ferido. Não ajuda para uma verdadeira mudança, porque, para poder mudar de verdade, é necessário aceitar a si mesmo tal qual se é. Em troca, o verdadeiro arrependimento nos faz levantar os olhos para Deus para reconhecer seu amor que nos espera, que perdoa “setenta vezes sete”, que nos quer vivos e felizes, que nos concede sempre uma nova oportunidade. Por isso, o arrependimento, em lugar de nos enfraquecer, fortalece-nos para começar de novo; em lugar de nos paralisar, lança-nos para a frente. Peçamos ao Espírito Santo que nos proporcione sua graça poderosa para que saibamos perdoar-nos a nós mesmos, para que não permaneçamos ancorados no passado, para que recuperemos a dignidade e andemos decididos para a frente, rodeados por seu amor que nos sustenta.

14 de julho O Espírito Santo está como que inclinado para Jesus, pendente de sua beleza, como um eterno enamorado infinitamente cativado por Jesus. Por isso, quando ele nos 105

transforma por dentro, sempre nos conduz de alguma forma a Jesus e nos ilumina para que descubramos Jesus nos outros. Talvez você ainda tenha em seu coração um desejo de fraternidade, uma inquietação por um mundo de irmãos. Mas às vezes a relação com os outros se torna difícil. Você procurou descobrir verdadeiramente nos outros o rosto de Jesus? Por exemplo, se você vê alguém que está mal, que está sempre irritado, que trata os outros de má forma, não procurou você imaginar que ele atua assim pelos grandes sofrimentos que leva em seu interior, pelas desilusões que lhe amarguraram a alma, porque sua infância foi desastrosa, porque se sente um inútil ou um fracassado? Então você poderia imaginar Jesus sofrendo em seu interior, sofrendo com ele. Recorde que Jesus na cruz compartilhou nossa dor e experimentou tudo o que nós sofremos. Ninguém está mais próximo da pessoa que sofre do que Jesus. Por isso, para aprender a amar e a ter paciência, será bom que você peça ao Espírito Santo que o ajude a descobrir Jesus nos outros, e que o tente. Isso pode produzir uma mudança maravilhosa em sua relação com os outros; porque eles irão sentir que você os está olhando de outra maneira, irão sentir-se respeitados assim como são e reconhecerão algo divino através do seu olhar. Vale a pena.

15 de julho Quando uma pessoa foi tocada pelo Espírito Santo, pode viver algumas experiências gratuitas, sem estar pendente de uma outra pessoa. É a capacidade de admirar-se e de se alegrar pelo outro, mas sem estar pensando que é algo meu, e sem estar buscando possuí-lo para mim. Em todo caso, alegro-me por poder desfrutar algo com os outros, como algo nosso, não como algo meu. Amo a Deus porque é um bem, não porque é meu e, mesmo quando o percebo como bom para mim, na realidade o mesmo impulso do amor leva-me a buscá-lo como um bem para nós. Esta renúncia a ser o único, produzida pelo Espírito Santo, é uma forma de comprovar que realmente saí-mos de nós mesmos. Nesta renúncia a ser o único, a recompensa não é mais que o mesmo amor que ama por amar, em uma generosa ampliação do eu. Neste sentido deve-se entender a exortação de São Paulo a que Ninguém busque o seu interesse, mas o do próximo (1Cor 10,24), no mesmo contexto em que sustenta: Se a comida serve de ocasião de queda a meu irmão, jamais comerei carne (1Cor 8,13). Esta expressão – Que ninguém busque seu próprio interesse – aparece igualmente em Fl 2,4 onde o modelo que se apresenta imediatamente é o de Cristo que aniquilou-se a si mesmo (Fl 2,7). Peçamos ao Espírito Santo que nos ensine a fazer o bem gratuitamente, não pensando tanto em nós mesmos, mas nas necessidades dos irmãos.

16 de julho 106

Cada ser humano tem problemas de amor, por diversos motivos: porque crê que na vida não recebeu o amor que necessitava, ou porque descobre sua incapacidade de amar a sério os outros, seu egoísmo. No fundo está encerrado em seu coração, olhando seus problemas e imperfeições. É necessário que refreie esses pensamentos inúteis, que saia de si mesmo e se detenha a contemplar o amor de Deus. Ele sim é amor, amor puro, sincero, infinito, amor sem limites. Ele é amor. Isso é importante. Se me parece que o amor nesta vida não existe, tenho de pensar que existe sim, porque Deus é amor e é maravilhoso que assim seja. Se uma pessoa está preocupada com sua imagem perante os outros, por seus erros, suas incoerências; se lhe doem suas humilhações públicas ou o que os outros digam de sua pessoa; ou se sofre porque percebe suas imperfeições, é melhor que não perca o tempo olhando-se a si mesma. O importante é que existe ele, o perfeito, o Santo. É melhor deter-se a contemplá-lo. Isso é o importante, que ele existe e ele é o Santo. Peçamos ao Espírito Santo que nos tire de nós mesmos para adorar a Deus, porque assim encontraremos a mais agradável libertação.

17 de julho Devo fazer-me umas perguntas para saber se estou deixando o Espírito Santo atuar: aceito o chamado do Espírito para construir o Reino de Deus ao meu derredor, ofereço minhas mãos e minha criatividade para melhorar algo, para semear mudanças positivas, para fazer nascer a justiça, a solidariedade, a fraternidade? Com meu entusiasmo perante os meus desafios, minha alegria e minha vontade de lutar, desperto a esperança ao meu derredor? Ou só fomento a queixa amarga, o desânimo, a tristeza? Estou aberto ao futuro, ao novo, vivendo cada dia com a juventude da alma, confiando plenamente no impulso do espírito? Ou vivo de recordações e pretendendo controlar tudo, com o coração envelhecido? Vale a pena viver sem o maravilhoso impulso do Espírito? Detenho-me um momento para invocá-lo.

18 de julho Jesus promete a seus discípulos que, quando chegar à presença do Pai, enviará o Paráclito, o Espírito Santo: O Paráclito que vos enviarei da parte do Pai… ele dará testemunho de mim (Jo 15,26). Que significado tem esse testemunho? O Espírito Santo dá testemunho de Cristo em nosso interior, porque os discípulos devem suportar a perseguição, a rejeição do mundo e, para manter-se firmes na prova, necessitam da fortaleza que só o Espírito Santo pode dar. O Espírito faz presente o amor de Jesus e a recordação de suas palavras no coração dos discípulos, quando todo mundo 107

está proclamando uma mensagem diferente. Quando a fé for posta à prova, o Espírito Santo defenderá Cristo, lutará a seu favor dentro do nosso próprio coração, para que nos agarremos ao seu amor e não nos deixemos seduzir pelos atrativos do mundo que querem ocupar o primeiro lugar em nossos desejos e em nossos planos. No entanto, mais que pensar que o Espírito Santo dá argumentos em favor de Cristo, é preciso pensar na vida sobrenatural que ele comunica aos crentes, vida que é paz e alegria, fortaleza e intrepidez; e essa vida é Cristo mesmo, ressuscitado, vivendo no crente. Com essa vida interior, o crente pode se atrever a dar testemunho de Cristo no meio do mundo adverso, sem se envergonhar por sua fé em Jesus: Também vós dareis testemunho de mim (Jo 15,27).

19 de julho Quando uma pessoa recebe o Espírito Santo como fonte do próprio bem, a pessoa se torna um instrumento para comunicar esse bem aos outros. São Boaventura ensina que, se alguém deixa de dar, deixa também de receber; por isso, a melhor maneira de conservar os bens espirituais é comunicando-os, compartilhando-os. O Espírito Santo não pode atuar em uma pessoa que se opõe a dar e a compartilhar. Se os anjos superiores se contivessem e não quisessem comunicar-se com os inferiores, fechariam para si mesmos o caminho da influência divina. Se você nega aos outros o bem que recebe de Deus, você não é digno da vida eterna. (São Boaventura) Também dizia São Boaventura: Quer que a piedade da mãe Igreja desça até você? Então encha o cântaro do vizinho. Quando encho o cântaro do irmão, meu cântaro se mantém cheio. É o milagre do amor que o Espírito Santo pode produzir em nossas vidas.

20 de julho Para entrar na presença do Espírito Santo, é preciso ter ansiedade, é preciso sentir necessidade dele, de sua luz, de seu amor, de sua glória, de sua paz. Urge pressentir que toda a maravilha do universo é uma fagulha que desperta esses anseios interiores de Deus. Dizia Santo Agostinho:

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Que é o universo inteiro ou a imensidade do mar, ou o exército dos anjos? Eu tenho sede do Criador, tenho fome e sede dele! No fundo, é necessário reconhecer um desejo que já está dentro de nós; esse desejo que o Espírito Santo colocou em nosso interior, mas que deixamos escondido debaixo de milhares de preocupações e angústias. Depois de sua conversão, Agostinho reconhecia que, por trás de todas as suas ansiedades, estava aquele desejo oculto de Deus: Ardia em desejos de amor… queria ser amado… Tinha fome intensa desse alimento que na realidade era você, meu Deus. Por isso Agostinho nos ensina que a chave para o encontro com Deus é reconhecer esse desejo, despertá-lo, alimentá-lo e fazê-lo crescer até que se faça mais forte que qualquer outra necessidade: Enamore-se de Deus, arda por ele! Anseie por aquele que supera todos os prazeres. Porque o Espírito Santo não age em nós sem algum consentimento de nossa parte, e esse consentimento brota do desejo. Peçamos ao Espírito Santo que ele mesmo desperte nosso desejo.

21 de julho Venha, Espírito Santo, e ensine-me a amá-lo como você me ama. Você sabe que eu sou parte da beleza deste mundo, como cada nota é parte de uma bela canção, e é necessária tal qual as outras. Por isso, ainda que ninguém me tivesse esperado quando nasci, você sim me esperava, você estava desejando meu nascimento. Por isso sua Palavra me diz: “Amo-te com eterno amor” (Jr 31,3). Quero me deixar olhar com seus olhos de amor, quero reconhecer seu olhar de ternura, e descobrir que, mesmo que os outros olhem meus defeitos, seu olhar me contempla amando-me. Sua palavra me diz: “Mesmo que ela [sua mãe] o esquecesse, eu não te esqueceria nunca” (Is 49,15). Se às vezes eu sinto que valho pouco, que não sirvo, que não sou digno de amor, não obstante sua Palavra me diz outra coisa: “És precioso aos meus olhos, porque eu te aprecio e te amo” (Is 43,4). Toque meu interior ferido, Espírito Santo, para que possa descobrir que esse amor tão grande também é para mim. Venha, Espírito Santo. Amém.

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22 de julho O Espírito Santo não faz sua obra maravilhosa somente nas pessoas que são dóceis desde criancinhas, ou que toda sua vida mostraram um comportamento normal. Ele também nos surpreende fazendo maravilhas nos grandes pecadores. Por isso é bom que hoje recordemos Maria Madalena, a grande pecadora convertida. Maria Madalena foi a primeira a encontrar o sepulcro vazio e a ver o Senhor ressuscitado. Foi testemunha privilegiada de Cristo vivo. Assim como Jesus se encontrou a sós com a samaritana (cf. Jo 4), quando ressuscitou quis se encontrar a sós com Maria Madalena. A vida cristã é um encontro permanente com o Senhor ressuscitado. Ele visita com sua luz a pobre existência de qualquer ser humano, esteja onde estiver, não importa onde, para que ninguém possa dizer que não é levado em consideração, que foi esquecido por Jesus. Maria Madalena, que tinha sido desprezada por seus muitos pecados, deve ser testemunha de sua ressurreição, deve transmiti-la aos outros, aos apóstolos. Aquela mulher apaixonada, cativada, embelezada pelo mestre aprenderá a fruir esta nova forma de encontro que Jesus lhe oferece e entregar-se-á completamente a ele; segundo uma antiga tradução, Maria Madalena, cansada do mundo que a havia escravizado, foi para o deserto a fim de viver só para o Ressuscitado. Se não é verdade, é um belo símbolo do poder do amor verdadeiro que o Espírito Santo derrama em nossas vidas. Peçamos ao Espírito Santo que transforme nossas vidas como fez com Maria Madalena. Talvez não tenhamos os mesmos pecados que ela teve, mas seguramente teremos outros, e o Espírito Santo quer transformar tudo.

23 de julho Venha, Espírito Santo. Eu sei que, se os seres humanos podem compreender os outros, em você existe uma capacidade de compreensão muito maior, infinita. Ninguém pode compreender-me como você, que sempre me convida a voltar a começar. Mas eu me castigo a mim mesmo por dentro, e me desprezo pelo erros que cometi. Não me perdoei de verdade. Por isso, Espírito Santo, peço-lhe que coloque dentro de mim seu amor imenso, esse amor que me sustenta e me dá a vida, para que possa amar-me a mim mesmo como você me ama. Ensine-me a respeitar-me como você me respeita. Derrame sua graça para que possa compreender-me pelas fraquezas que tive, para que contemple com ternura meus erros e possa perdoar a mim mesmo. Dê-me paciência e carinho para que não me condene a mim mesmo e para que aceite seu perdão que me cura e me renova. Eu sou digno de existir porque você me ama infinitamente. Eu tenho um lugar nesta terra e tenho direito de viver e de sonhar mesmo que eu seja imperfeito. Tenho esse direito porque você me ama e me sustenta. 110

Venha, Espírito Santo, para que possa nascer de novo, com toda dignidade, quero começar outra vez com alegria e entusiasmo. Aceite todo o meu passado como parte de minha vida. Declaro-me imperfeito, mas chamado a crescer. Eu me equivoquei e posso me equivocar. Mas reconheço diante de você que seu amor não se deixa vencer por minhas quedas e erros, e que você sempre volta a me dar uma oportunidade. Agradeço-lhe, Espírito Santo, por seu imenso amor, porque você não abandona a obra de suas mãos. Amém.

24 de julho Como o Espírito Santo transforma nosso comportamento? Ele o faz com a ajuda de nossa cooperação, porque ele quer que também sejamos ativos em nosso crescimento. O desenvolvimento das virtudes requer algumas renúncias. Por exemplo, para aprendermos a ser pacientes, às vezes temos de renunciar a dizer algumas coisas, ou a queixar-nos, ou a maltratar os outros; para sermos humildes às vezes precisamos renunciar a falar de nós mesmos; para sermos generosos temos de renunciar a alguns bens. Cada vez que dizemos não a algo inconveniente (um amor proibido, uma experiência perigosa, alguma coisa indevida), fica-nos um vazio, uma espécie de buraco interior que reclama. Mas com que se enche esse vazio para que se transforme em algo positivo? Na realidade, o simples fato de renunciar a algo que não é bom já deveria fazer-nos sentir nobres e serenos com nossa consciência. Mas isso pode ser só orgulho, uma necessidade de aparecer, o desejo de se sentir importante, ou uma forma de se cuidar para evitar problemas. Então, isso não faz senão deixar-nos na superficialidade. O único que enche o vazio é o amor. Renunciar quando é necessário, mas por amor, realmente por amor. Então sim é que uma renúncia nos deixa uma sensação de ter aprofundado na vida. Nenhuma virtude vale a pena se não está impregnada de amor. Por isso uma pessoa austera e sacrificada, sem amor, não é mais que um egoísta ou um vaidoso. Contemplase a si mesmo e agrada-lhe sentir-se mais perfeito que outros. Isso não é profundidade, porque a pessoa permanece no nível superficial da vaidade. Mas só o Espírito Santo pode nos dar o amor que não temos e, por isso, antes de qualquer esforço, é necessário invocá-lo e pedir-lhe insistentemente que derrame a força do amor em nosso interior.

25 de julho Entrar na presença do Espírito Santo é conseguir que por um momento ele seja o único importante. Isso produz um deleite diferente e superior a qualquer outro prazer, um gáudio do qual nos privamos muitos crentes. O tempo de oração pode ser um tempo vazio e superficial, pode se converter em um 111

momento em que pensamos em nossos problemas, planejamos coisas, imaginamos como resolver alguma dificuldade de nossa vida. Buscamos a nós mesmos. Mas ali não nos encontramos com o Senhor. Isso ainda não é entrar na presença do Espírito Santo. Isso é falar consigo mesmo, porque ali Deus não ocupa o centro de nossa atenção, e nem sequer é uma presença que nos interesse, ele é frequentemente uma decoração do nosso tempo de reflexão em que nos ocupamos com nossa própria vida, analisamos, resolvemos, sonhamos e terminamos rezando um pai-nosso para crer que alimentamos nossa dimensão espiritual. Por isso é tão importante invocar o Espírito Santo antes de nos colocar a orar, e pedir que ele nos faça reconhecer o olhar de Jesus cheio de amor, seus braços que nos esperam, e que nos ajude a escutar a ele mais que a nossa própria mente. O Espírito Santo é aquele que nos move a orar de verdade. Por isso, não deveríamos começar nenhuma oração sem invocá-lo.

26 de julho Nós queremos que este mundo mude. Mas, ao mesmo tempo, sabemos que o caminho nunca concede a perfeição da meta. Por isso, podemos aceitar serenamente que esta vida não termine por nos dar tudo e nos tornamos capazes de desfrutar as pequenas coisas que se consigam mesmo que não estejam acabadas por completo. Assim o vive especialmente o pobre, que deste modo se liberta do mais terrível peso: a autoexigência angustiante de conseguir nesta terra o ideal impossível de uma felicidade perfeita ou de uma época insuperável. Pela esperança, a Igreja considera-se “a verdadeira juventude do mundo”, visto que “possui o que faz a força e o encanto da juventude: a faculdade de se alegrar com o que começa, de se entregar gratuitamente, de se renovar, de partir de novo para novas conquistas” (Mensagem aos jovens do Vaticano II). O Espírito Santo nos impulsiona, mas faz com que caminhemos para um futuro melhor; não nos arrasta como bonecos, mas nos motiva a tomar decisões, a empregar os próprios talentos, a organizar-nos, a trabalhar juntos por um futuro melhor, a buscar a justiça e a solidariedade. Mas sabendo que a perfeição só estará no céu, onde estarão todas as coisas boas que tenhamos conseguido, e muito mais que isso. Por esse motivo, o Espírito Santo sempre suscita a esperança na vida eterna e recorda-nos que não estamos feitos só para esta Terra.

27 de julho A oração é um diálogo; mas para poder orar é indispensável que eu descubra que estou com alguém que me conhece, que me ouve, que capta tudo o que sinto e tudo o que digo, e o entende perfeitamente. Por isso tenho de recordar que o Espírito Santo não é uma energia que me cura ou 112

que me faz bem. É muito mais que isso, porque é alguém capaz de conhecer e de amar perfeitamente. Ele me chama por meu nome, reconhece-me, porque ele é Deus e tem uma inteligência infinita, uma capacidade de captar tudo de maneira perfeita, sem que nada possa escapar de sua atenção. Por isso não existe coisa que eu lhe possa ocultar, nem sentimentos, nem planos que sejam secretos para ele, como diz o Salmo: Senhor, vós me perscrutais e me conheceis… A palavra ainda não me chegou à língua, e já, Senhor, a conheceis toda… Se eu dissesse: “Pelo menos as trevas me ocultarão e a noite, como se fora luz, me há de envolver”. As próprias trevas não são escuras para vós, a noite vos é transparente como o dia (Sl 138[139],1.4.11-12). Não podemos pedir ao Espírito Santo que não nos conheça, que não penetre nossos pensamentos, não podemos afastá-lo para que ele ignore algo, não podemos esconder-lhe nem mesmo aquilo que nós escondemos permanentemente de nós mesmos. Por isso, quando vamos contar-lhe algo, ele sabe perfeitamente de que estamos falando, não devemos ter medo de que não nos entenda, nem temos de nos esforçar para encontrar as palavras justas quando queremos lhe explicar algo. Basta que o digamos, porque ele o conhece melhor que nós.

28 de julho Uma das maneiras mais frequentes de expulsar o Espírito Santo é quando fomentamos a nostalgia pelo tempo que vai passando, pela vida que nos escapa das mãos, pela juventude que não se detém, ou já passou, e não volta mais. Vamo-nos desgastando e existem coisas que já não poderemos viver. Dói-nos sentir que desperdiçamos muitas oportunidades para ser felizes, e tememos que o tempo continue passando e choramos o que não soubemos viver. Esquecemos que existe uma forma de viver que faz com que a passagem do tempo não seja ir se destruindo e perdendo vitalidade. Existe uma forma de viver que faz com que a passagem do tempo seja um enriquecimento cada vez maior, um caminho para uma vida cada vez mais plena, um itinerário para uma juventude cada vez mais cheia de vitalidade interior. Para uma árvore, para um vinho, para uma pérola preciosa, a passagem do tempo não é um dramático desgaste ou um enfraquecimento; ao contrário, é um amadurecimento que os vai melhorando, enriquecendo, fortalecendo. O mesmo acontece com o espírito humano. Dizia São Paulo: Ainda que exteriormente se desconjunte nosso homem exterior, nosso interior renova-se de dia para dia (2Cor 4,16).

29 de julho Detenho-me um momento só para respirar. Simplesmente existo, e repito. Presto 113

atenção só à respiração, ao ar que entra em mim e que sai de mim. E me deixo assim ficar, abandono-me. Com doçura, afasto todos os pensamentos, recordações e imagens que venham aparecendo, e volto a concentrar-me com serenidade só na respiração. Detenho-me só a fruir a minha existência, que é um presente cujo valor não tem preço. Assim, abandonando-me, vou deixando nascer um sentimento positivo de gratidão e de verdadeira paz. Ao fim das contas, mais para além de tudo, vale a pena existir. É melhor que não existir. Este presente é maravilhoso. Graças, graças. Deixo que o Espírito Santo continue fazendo crescer esse sentimento de doce gratidão.

30 de julho Venha, Espírito Santo. Hoje é mais um dia, mas quero vivê-lo como se fosse o último, como se fosse o único. Não quero desperdiçar este dom maravilhoso de um dia de vida, não quero deixar de aproveitar este presente de amor. Dê-me a graça de passar um bom dia, suportando com paciência as dificuldades, as limitações, as contrariedades, e desfrutando de maneira plena cada experiência agradável, reconhecendo a nobreza de cada ser humano e descobrindo sua presença em cada instante. Venha, Espírito Santo, para que não me angustiem demasiado os problemas, as dores, as situações imprevistas. Ajude-me a aprender algo bom de tudo isso. Dê-me a capacidade de adaptar-me docemente a tudo, para continuar caminhando com calma e esperança. Venha, Espírito Santo, e conceda-me um bom dia. Amém.

31 de julho É belo percorrer a vida dos santos para perceber o que pode fazer o Espírito Santo na vida de um ser humano, para ver como o Espírito Santo pode mudar completamente a vida de uma pessoa e levá-la ao mais elevado grau. Hoje recordamos o que o Espírito Santo fez em Santo Inácio de Loyola. Depois de uma batalha, defendendo a cidade de Pamplona, o valente Inácio ficou ferido. Ali o Espírito Santo aproveitou para fazer das suas. Durante o tempo de repouso, Inácio dedicou-se à leitura, e esse providencial acontecimento fez com que lesse a vida de Cristo e algumas vidas de santos, com o que se acendeu nele a chama da entrega apaixonada ao Senhor. No altar da Virgem de Montserrat, deixou sua espada e começou uma peregrinação vestido de mendigo. Em pouco tempo, alcançou uma grande profundidade espiritual que expressou em seus Exercícios espirituais. Depois de uma adequada preparação, foi ordenado sacerdote e formou um pequeno 114

grupo com fortes inquietudes evangelizadoras. Dali surgiu depois sua fecunda Companhia de Jesus. Suas obras e as da sua Companhia são incontáveis. Por ocasião da morte de Inácio, em 1556, a Companhia havia chegado à Índia e ao Japão, com um entusiasmo inquebrantável e criatividade evangelizadora. Certamente a tarefa evangelizadora da Igreja lhe deve muitíssimo. Passou os últimos anos de sua vida desfrutando altíssimas experiências místicas, carregadas de notável ternura e de gozo místico que aparecem refletidas em seu diário íntimo. Para Inácio, Deus devia ser o princípio e o fundamento de tudo. Por isso o mais importante na vida cristã consiste em aceitar com amor que a própria vida tenha sido criada para amar, adorar e servir a Deus. Aceitando isso com sinceridade, então sim é realmente possível deixar tudo e entregar-lhe tudo até o fim, sem reservas. De fato a vida de Inácio esteve consagrada a buscar a maior glória de Deus, e todas as suas obras eram realizadas com essa finalidade. Peçamos ao Espírito Santo que a nossa vida não transcorra na mediocridade, que nos transforme até o fundo e nos leve a viver em profundidade, entregando tudo. Não podemos fazê-lo sozinhos; mas o Espírito Santo pode fazê-lo, se cooperarmos com ele.

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AGOSTO

1º de agosto Venha, Espírito Santo! Disseram-me que sou como um diamante bruto, uma pedra preciosa que está chamada a resplandecer com toda a sua beleza. Mas para oferecer todo o meu brilho necessito ser talhado, burilado, polido, trabalhado. Venha, Espírito Santo. Venha talhar este diamante que você criou, venha tirar de mim todo o belo com que você mesmo me presenteou. De meu coração pequeno, tire os melhores atos de amor; de meus lábios, tire os melhores sorrisos e as melhores palavras; dos meus olhos, tire os olhares mais belos, compreensivos e pacientes; de minhas mãos, tire as melhores ações, as melhores carícias, os gestos mais belos. Venha, Espírito Santo, e realize sua obra em minha vida. Amém.

2 de agosto Quando perdemos o medo do Espírito Santo e sabemos confiar nele, então verdadeiramente podemos descansar em sua presença, pois nosso vazio interior vai se enchendo com o único que verdadeiramente o cura: o amor. Esse buraco vazio que temos dentro de nós, essa profunda solidão doentia que às vezes reclama nossa atenção como um nó na garganta, só se enche com amor: deixando-nos amar pelo Espírito Santo e procurando amar os outros a cada dia. Não nos saciamos alimentando as desculpas, mas alimentando os motivos para nos deixar amar e para amar generosamente. Mas, se optamos por viver de maneira superficial, pensando só em nossa comodidade e buscando permanentemente distrações enganosas, a vida mesma nos golpeará para que reajamos. As coisas que nos aconteçam, as renúncias que tenhamos de realizar, irão nos obrigar a enfrentar esse vazio interior que temos. A dor profunda de uma perda qualquer nos levará a perguntar-nos pelo sentido da nossa vida. Não é que Deus nos castigue para que aprendamos. É a vida mesma que está cheia de perdas, porque tudo passa, tudo se acaba e, quando perdemos uma segurança que nos permita agarrar-nos a qualquer coisa, então não nos resta mais que nos perguntar para que é que vivemos. Se estamos sofrendo, peçamos ao Espírito Santo que nos ajude a 116

aprender algo desse sofrimento, que entendamos a mensagem que temos de aprender deste problema. Então, nosso sofrimento servirá para alguma coisa.

3 de agosto Venha, Espírito Santo. Você derrama luz para compreender as coisas, ensine-me a reconhecer as mensagens da minha vida. Às vezes, quando olho para trás, vejo os momentos negros e tristes de minha própria história; brotam recordações que me fazem sofrer. Ajude-me a olhar minha história com outros olhos, para que possa reconhecer sua presença nesses momentos, e, assim, descubra o que você quis me ensinar através desses acontecimentos. Venha, Espírito Santo, para que eu veja que tudo tem algum sentido, alguma luz, algum motivo. Venha, para que recorde com prazer os momentos belos, grandes e pequenos, para que possa descobrir que, apesar de tudo, valeu a pena ter vivido. Não permita que as nuvens me impeçam de ver o sol que também brilhou ao longo de toda a minha existência. Ilumine meus olhos, Espírito Santo, para que possa reconhecê-lo, e saiba dar-lhe graças com sinceridade por minha vida eterna. Amém.

4 de agosto Às vezes nos sentimos de pouco valor, não nos valorizamos, e queremos fazer-nos grandes só com nossas próprias forças. Mas o importante é buscar a luz do Espírito Santo para descobrir o que ele quer fazer em nossas vidas, e depois cooperar com nossa oração e nossa entrega para que ele nos possa fazer crescer. A fim de nos conscientizarmos disso, é importante contemplar a vida do santo que hoje celebramos. O Cura d’Ars – São João Maria Vianney – é um reflexo de Jesus como bom pastor de seu povo. Ele sentia admiração pelos sacerdotes que exerciam com heroísmo seu ministério em uma época de perseguição, e quis ser padre. Depois de muitos problemas, conseguiu ingressar no seminário aos vinte anos e, apesar de suas dificuldades intelectuais, finalmente recebeu a ordenação. Pouco valorizado, designaramno para pároco de um pequeno (250 habitantes) e pobre povoado. Era o povoado de Ars, onde viveu até sua morte. Entregou-se inteiramente a renovar a vida desse povo. De noite estudava e se preparava. De dia visitava os lares e ajudava os pobres. Pouco a pouco o povo foi tomando consciência de que estava albergando um grande santo, e os corações foram se abrandando. Sua pregação simples, clara, mas ardente e profunda ao mesmo tempo, atraía pessoas 117

de toda a Europa que acorriam a Ars para escutá-lo e consultá-lo. Calcula-se que o buscavam umas 300 pessoas por dia, pelo que dedicava umas 16 horas diárias para atender confissões. Tinha um dom de conselho muito particular e estava dotado de notáveis carismas que lhe permitiam descobrir os males dos corações para dirigir-lhes a exortação mais adequada. Com sua palavra e seu exemplo, reformou em pouco tempo os costumes de seu povo. Mas recordemos que o santo Cura d’Ars teve problemas quando estava se formando, porque lhe era muito custoso prestar bons exames, e os outros o faziam sentir-se de pouco valor. Não obstante, foi um grande sacerdote, e grandes personagens da época iam à sua paróquia para escutar sua sabedoria. Isso aconteceu porque ele se deixou levar e transformar pelo Espírito Santo, que sempre faz maravilhas.

5 de agosto Quando procuramos perdoar-nos e aceitar-nos a nós mesmos, é bom procurar expressá-lo com sinais. Esses sinais devem manifestar o amor e o carinho para conosco e, ao mesmo tempo, nos ajudam a experimentar de diversas maneiras o amor do Espírito Santo. Uma forma de expressá-lo é evitando todos os maus tratos, como os insultos a uma pessoa, o descuido excessivo da própria aparência, as agressões ao próprio corpo com excesso de alimentos, álcool, dormir em excesso etc. Porque isso não é ser uma pessoa espiritual. Existe outra maneira mais positiva de ajudar-nos: concedendo-nos pequenos prazeres sem sentir culpa, porque diz a Bíblia que Deus criou todas as coisas para delas fruirmos (1Tm 6,17). Por exemplo, pode ser a tentativa de comer lentamente, desfrutando mais o alimento. Pode ser proporcionar-se um passeio agradável, sem pensar no que se tem de fazer depois. Pode ser uma saída com os amigos vivida como um presente do amor de Deus e agradecida na oração. Também podemos expressá-lo com massagens, melhorando a habitação onde vivemos, detendo-nos a contemplar algo que fizemos bem etc. Não é suficiente que nos perdoemos a nós mesmos na oração se depois não seguimos um caminho para querer-nos a nós mesmos na vida cotidiana. Porque o Espírito Santo, que é amor invisível, quer fazer-nos experimentar seu amor também em nosso corpo; mas para isso necessita dos outros e também necessita de nós.

6 de agosto Venha, Espírito Santo, aplaque tudo o que dá voltas dentro de mim e ensine-me a deter-me. Não deixe que eu viva as coisas superficialmente, com essa pressa que me causa danos, com essa inquietação que me permite desfrutar o que você me concede. 118

Olhe essa febre interior que às vezes me atormenta. Acalme, serene, aplaque essa correria maluca que existe dentro de mim. Venha, Espírito Santo. Ensine-me a valorizar o mistério de cada coisa e de cada ser humano, para que lhes dedique o tempo e a atenção que merecem, para que possa aprender a mensagem profunda de tudo que me cumpra viver. Venha, Espírito Santo, para derramar sua suave calma em todo o meu ser. Amém.

7 de agosto Hoje a Igreja celebra São Caetano. É um santo muito popular porque muitos se aproximam para lhe pedir ajuda. Mas é importante que vejamos também como foi sua santidade para poder dar graças ao Espírito Santo por sua obra santificadora. Depois de se criar na nobreza, fez-se sacerdote e foi distinguido com honras eclesiásticas. Mas ele preferiu dedicar-se aos doentes de um hospital em Vicenza, de tal maneira que muitos nobres da cidade sentiram-se atraídos e se aproximaram também como voluntários no hospital. Em seguida se transferiu para Veneza, onde gastou sua fortuna para reparar um hospital e ajudar os pobres. Após isso fundou uma congregação que devia se caracterizar por um total desprendimento e por não possuir renda alguma, vivendo no dia a dia do que a providência de Deus lhes concedesse. Seu sonho era que os seus sacerdotes vivessem como os primeiros cristãos. Um dos seus lemas era “Não o amor sentimental, mas o amor ativo”. No Evangelho existe uma promessa para as pessoas desapegadas: ao que se entrega a Deus pelo Reino não lhe faltará nada, não terá de se preocupar por seu futuro (cf. Lc 12,27-30), porque estará protegido e terá o auxílio de seu Pai. No pequeno grupo dos primeiros companheiros de São Caetano, podemos ver realizado este mistério de pobreza e desprendimento que o Evangelho propõe, mas que não se trata de uma ascese fria e perfeccionista. É antes uma resposta de amor a Jesus pobre e a um modo de se unir mais perfeitamente aos pobres, amados com predileção. Mas também podemos reconhecer neles a consolação e a alegria dos que, em sua pobreza, sabem que são protegidos pelo amor do Pai. Por isso podemos descobrir que o Espírito Santo gosta de criar comunidades santas, e não só indivíduos santos. Pensemos quão belo seria se o Espírito Santo pudesse santificar nossa família, nosso grupo de amigos e nosso bairro assim como santificou a comunidade de São Caetano.

8 de agosto Hoje a Igreja celebra São Domingos. Em sua vida podemos reconhecer como o Espírito Santo nos surpreende e às vezes nos leva a fazer coisas que não se entendem muito, mas que são necessárias para o Reino de Deus. 119

Esse Reino já está presente no mundo e está se desenvolvendo de maneira misteriosa. Vai crescendo aqui e ali, de diversos modos. Como a semente pequena, que pode chegar a se transformar em uma grande árvore (cf. Mt 13,31-32). Como o punhado de fermento que fermenta uma grande massa (cf. Mt 13,33). E cresce no meio do joio (cf. Mt 13,2430), também enquanto dormimos, sem que o percebamos (cf. Mc 4,26-29). Por isso pode nos surpreender graciosamente e mostrar como nossa cooperação com a graça sempre produz frutos no mundo. Mas é necessário cooperar com esse poder divino, procurando estar disponíveis, libertados dos controles, esquemas e seguranças para nos deixar conduzir onde o Espírito Santo queira e para anunciar o Evangelho sem tardança. Essa urgência é a que vemos impressa em São Domingos. Ele, dois anos depois de fundar sua congregação, formada só por 16 pessoas, enviou os dominicanos para Paris, Bolonha, Roma e Espanha. Nesses lugares deviam fundar conventos, estudar e pregar. Ninguém entendia essa dispersão de poucas pessoas, com o risco de que a obra dominicana se acabasse em pouco tempo. Mas o argumento de Domingos era o seguinte: “Amontoando o trigo, estraga-se; esparramado, frutifica”. Essa opção arriscada de Domingos, que podia acabar em pouco tempo com sua recentemente nascida congregação, explicava-se por uma convicção profunda: já não bastava fundar mosteiros, centros contemplativos onde os monges viviam seguros e tranquilos. Agora se tratava de anunciar o Evangelho por todos os lugares, e vivendo na insegurança dos caminhos, pobres e confiantes na providência. Ele confiou no Espírito Santo, que o fazia ver essa necessidade, embora muitos não pudessem compreendê-lo. O mundo necessitava de profetas, e o ideal de Domingos era viver pregando o Evangelho como os Apóstolos. Nele e em seus companheiros, o Espírito Santo havia derramado o carisma da pregação, e então não tinha sentido permanecer quietos em uns poucos conventos. A Palavra de Deus era neles como um fogo que não se podia conter (cf. Jr 20,9). Peçamos ao Espírito Santo que consigamos experimentar esta bela paixão.

9 de agosto Venha, Espírito Santo. Derrame em meu interior uma profunda fé, para que possa reconhecê-lo. Dê-me a graça de aceitar que verdadeiramente você está aqui comigo neste momento. Quero estar em sua presença, sabendo com certeza que você não me abandona. Não posso confiar em minha mente tão pequena, porque sua presença santa é muito maior do que eu poderia pensar ou entender. Nem mesmo posso confiar em minha sensibilidade, porque sua presença supera tudo o que eu poderia sentir, e seu amor é muito mais que o que pode perceber meu coração. Por isso rogo-lhe que você faça crescer minha fé, visto que só com o olhar da fé posso descobri-lo e fruir sua presença. Venha, Espírito Santo. Amém. 120

10 de agosto Os que se deixam levar pelo Espírito Santo pouco a pouco vão se enchendo de força e intrepidez. Deixam de ser covardes e medíocres, e se tornam capazes de dar a vida. Isso é o que hoje contemplamos recordando o mártir São Lourenço. Jesus nos ensinou que quem ama a sua vida irá perdê-la (Jo 12,25). Assim o viveu São Lourenço, quando se entregou ao martírio com inteireza e completa disponibilidade. Conta a lenda que, quando o colocaram em uma grelha ardente, depois de um pouco pediu que o virassem para não demorar a entrega total como tanto desejava. Não obstante, às vezes não se trata de procurar alguma missão extraordinária que nos faça sentir-nos heróis ou mártires, nem consiste em esperar que nos chegue alguma ocasião de sofrer algo grande que possamos oferecer ao Senhor. Normalmente se trata de aceitar de modo livre a missão que nos cabe cumprir e aceitar todas as enfermidades, cansaços cotidianos e desconfortos que acompanham essa missão. Jesus disse: Onde eu estiver, estará ali também meu servo (Jo 12,26). Lourenço é um dos que seguiu Jesus também em uma morte violenta. Não se deixou contagiar pela sociedade corrupta de sua época, mas quando estava sendo assado vivo poderia ter se sentido fracassado. Não obstante, entregou-se confiantemente, sabendo que Deus sempre torna fecunda nossa entrega. No testemunho deste mártir, que reflete a entrega de Jesus na cruz, nossos sofrimentos pelo Senhor nos parecem pequenos, e então deixamos de nos queixar tanto pelo que nos acontece. Assim nos é apresentada com clareza a exortação da carta aos Hebreus: Considerai, pois, atentamente, aquele que sofreu tantas contrariedades dos pecadores, e não vos deixeis abater pelo desânimo. Ainda não tendes resistido até o sangue, na luta contra o pecado (Hb 12,3-4). O Espírito Santo é quem nos dá essa resistência, porque sozinhos nada podemos. Peçamos-lhe que derrame essa segurança e essa fortaleza em nossas vidas.

11 de agosto Em alguns santos podemos reconhecer de uma forma especial a beleza e a alegria que o Espírito Santo pode derramar quando somos dóceis à sua ação em nossos corações. Hoje recordemos Santa Clara, a companheira de São Francisco de Assis. Ela pôde dizer a Jesus como São Pedro: Eis que deixamos tudo para te seguir (Mt 19,27). Cativada pela entrega radical e feliz de São Francisco de Assis, Clara decide audazmente seguir seus passos. Naquela época era muito difícil para uma mulher tomar esse tipo de decisão. De fato, quando Clara deixou seu palácio, foi perseguida por seus familiares. Na pequena igreja de Santa Maria dos Anjos (a Porciúncula) consagrou-se a Deus; Francisco cortou-lhe as tranças e aceitou seu compromisso aos dezoito anos. 121

Depois seu testemunho entusiasmou sua irmã Inês e dezesseis jovens mais com as quais formou uma comunidade. Alternavam a oração com o cuidado dos enfermos pobres. Uma das normas dessa comunidade era viver só das esmolas; portanto, uma parte do dia se dedicava a pedir esmola para comer. Para os que nos entregamos a Deus pela metade, temendo que ele queira tomar tudo, suspeitando que Deus queira nos mutilar ou nos tirar algo sem nossa permissão, o testemunho de Clara nos demonstra a alegria de quem se deixa levar pelo Espírito Santo para viver tudo com Jesus. Clara sabia que uma vida que se constrói sem o Espírito Santo está destinada à tristeza, ao vazio e à morte, e que o que se constrói com ele está seguro e terá bom fim. Sem máscaras, sem seguranças falsas, mas apoiando-se só no inquebrantável amor divino. Esta mulher conjugava em sua comunidade contemplativa os ideais de pobreza, serviço aos pobres e vida fraterna. O sonho comunitário do pobre de Assis realizava-se de uma maneira muito bela neste grupo de mulheres pobres, em íntima comunhão com Francisco e seus seguidores. Nestes seres capazes de viver uma luminosa comunhão fraterna, descobrimos até que ponto o desprendimento dos seres queridos e dos afetos, quando é sadio e verdadeiro, não faz senão multiplicar os laços do amor. Por isso o crente não tem medo da solidão, porque o Espírito Santo lhe vai outorgando uma firmeza afetiva que lhe permite manter relações sadias, não possessivas nem absorventes, e isso lhe vai ganhando amizades mais belas e satisfatórias, sem angústias doentias. Peçamos ao Espírito Santo que nos ensine esse modo de amar.

12 de agosto Junto com o perdão a uma pessoa, é necessário reconhecer que Deus não faz monstros e, portanto, nosso ser está cheio de coisas boas e de belas possibilidades. Na história de cada ser humano, existem obras boas, intenções positivas, coisas belas que Deus mesmo provocou com os impulsos do Espírito Santo. É necessário reconhecer essas coisas. Não para orgulhar-nos, mas para reconhecer a obra do Espírito e descobrir as valiosas possibilidades que existem em nossa vida. Isto é necessário para poder olhar da mesma forma para os outros, com olhos positivos. É bom, então, repassar o próprio passado para recordar essas coisas que nos fazem sorrir, essas ações importantes que brotaram de nós, essas coisas positivas que conseguimos fazer ou dizer, esses momentos que nos fazem sentir que valeu a pena nascer. É precioso ver como o Espírito Santo foi atuando na própria vida, deixando sua mensagem pouco a pouco, no meio das tristezas, dos fracassos, dos erros e das dificuldades. O Espírito Santo é o grande artista, que também das coisas más pode tirar algo bom, algo que só com o passar do tempo pode se chegar a descobrir.

13 de agosto 122

Venha, Espírito Santo, para que eu possa encontrar sabedoria no meio dos meus limites, moléstias e cansaços. Porque o sol que se põe é tão belo quando eu estou sadio como quando eu estou doente. Ajude-me a valorizar as belezas das coisas, mais além dos meus estados de ânimo, ajude-me a desfrutar do que você me concede no meio de meus problemas. Porque minha vida não são só as dificuldades, minha vida é tudo o que possa experimentar, e cada dia tem sua secreta formosura. Venha, Espírito Santo, e ensine-me a viver, porque muitas vezes só posso olhar o que me preocupa, o que me falta, o que me desagrada, como se não existisse para mais que isso. E o mundo continua sendo tão belo, e a vida continua sendo esse milagre tão precioso! Venha, Espírito Santo, para que nenhum dia se perca inutilmente na negatividade e nos lamentos. Venha mudar minha forma de viver, para que possa reconhecer a parte boa de cada dia. Amém.

14 de agosto O Evangelho ensina-nos a amar como Jesus amou e nos pede que amemos até o extremo. Porém é impossível conseguir isso com nossas próprias forças. Nossos sentimentos e nossas necessidades nos levam a estar sempre pendentes de nós mesmos, pensando em nossos próprios interesses. Só o Espírito Santo pode tirar-nos fora de nós mesmos, para dar a vida pelos irmãos se for necessário. Só o Espírito Santo pode nos dar essa capacidade tão bela. Assim o vemos no martírio de São Maximiliano Kolbe que hoje celebramos. No campo de concentração de Auschwitz não só morreram muitos irmãos judeus. Também foram sacrificados pelos nazistas alguns cristãos, entre eles o sacerdote Maximiliano Kolbe. Ele evangelizava com todos os meios possíveis, incluindo as publicações e a rádio, e sonhava em produzir filmes cristãos. Também esteve evangelizando cinco anos no Japão. Depois, regressando para a Polônia, os nazistas destruíram sua impressora e o levaram preso para o campo de concentração. Com seu exemplo e sua palavra, consolava cada dia os outros presos, ajudava-os a rezar, apaziguava os ânimos alterados. Sua vida pôde terminar dessa maneira, porque toda a sua existência foi uma entrega generosa, gota a gota, e o preparou para pensar nos outros até entregar a vida. Seu testemunho mais eloquente e singular foi a oferenda de sua vida no lugar de outro prisioneiro. Quando levavam para morrer o sargento Gajowniczk, Maximiliano escutou que tinha cinco filhos e se ofereceu para morrer no lugar dele. Então submeteram-no a morrer de fome junto com outros nove presos. Maximiliano foi acompanhando cada um a morrer em paz. Finalmente, morreu também ele. Aquele sargento assistiu, anos depois, à beatificação daquele que lhe havia salvado a 123

vida. Ao longo da história, encontramos poucos testemunhos de amor fraterno tão belos e generosos como o de Maximiliano. Este é sem dúvida o aspecto do Evangelho que ele refletiu mais clara e luminosamente: Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos (Jo 15,13). O que vos mando é que vos ameis uns aos outros” (Jo 15,17). Esse fruto de amor fraterno que o Espírito Santo quer realizar em nós se produziu com abundância na entrega total de Maximiliano. Seria bom pedir insistentemente ao Espírito Santo que cure nossos egoísmos e comodismos para que sejamos capazes de amar desse modo tão luminoso.

15 de agosto Onde mais se ilustrou o Espírito Santo foi na Mãe de Jesus, na Mãe de todos, Maria. Ela é a mais bela, a mais preciosa, a que brilha no céu como um sinal de esperança. Porque ela, uma pobre e simples mulher, ignorada e até desprezada (cf. Mc 6,2-3), tinha toda a esperança colocada no Senhor. Já quando foi concebida, o Espírito Santo entrou em seu coração. Ela nunca escapou do Espírito Santo, mas se confiou de um modo total ao seu poder sublime. Por isso teve a glória de ser a mãe do Salvador e, apesar de ser uma das mulheres mais simples da terra, triunfou com o poder de Deus. Agora resplandece, vestida de sol, coroada de estrelas, imensamente feliz por compartilhar a glória de Jesus ressuscitado. Por isso mesmo, quando nos detemos diante de uma imagem de Maria, ou quando vamos visitá-la em uma igreja, embora estejamos cheios de cargas pesadas, sentimos um alívio. Olhando-a e contando-lhe nossas coisas, experimentamos que ela se faz presente ao nosso lado, nos toma em seus braços e nos diz no silêncio: “Não tenha medo. Eu compreendo você, porque eu também sofri muito. Mas tudo acabará bem, e eu estarei ao seu lado para que você possa enfrentar tudo”. Através da Mãe de todos, o Espírito Santo nos consola.

16 de agosto Quando fomos transformados pela graça santificante, os impulsos do Espírito nos ajudam a tirar o melhor de nós mesmos, o melhor desse novo ser que produziu a graça em nós. Uma vez renovados pela graça santificante, os permanentes impulsos do Espírito estimulam-nos a realizar obras mais perfeitas, para crescer cada vez mais no dinamismo do amor. Porque em nosso ser transformado já existe uma vida nova que nos capacita para essas obras sobrenaturais que podem chegar ao heroísmo e ao martírio. Este 124

crescimento da vida da graça santificante, que é antes de tudo um caminho de amor, não tem limites. Atrevamo-nos a esse crescimento permanente que quer produzir em nós o Espírito Santo. Assim o expressava Santo Tomás de Aquino: A caridade, em razão de sua natureza, não tem termo de aumento, já que é uma participação da infinita caridade, que é o Espírito Santo… Nem mesmo por parte do sujeito se lhe pode prefixar um termo, porque ao crescer a caridade, sempre mais cresce a capacidade para um aumento superior… Este aumento persegue um fim, mas esse fim não está nesta vida, mas na futura (ST II-II, 24,7).

17 de agosto Venha, Espírito Santo, você é a fonte da vida e da alegria. De você brota toda a atividade do universo, porque você é vitalidade e dinamismo puro. Quando você consegue entrar em um coração, esse coração se enche de vida e de gáudio. Você é capaz de gritar e dançar de alegria (Sf 3,17). Mas às vezes perco a consciência das coisas importantes. E assim como perco consciência do ar que respiro, ou da luz que ilumina todas as coisas, ou do espaço infinito que me rodeia, assim também perco a consciência de sua presença e de seu amor. Dê-me sua luz, Espírito Santo, para que volte a descobri-lo. Que sua graça desperte uma vez mais a doce alegria de sua amizade. Quero caminhar submerso em seu amor, sustentado em sua graça. Meu coração é pobre e se fecha. Mas eu sei que seu amor poderoso pode derrubar os muros de minha indiferença e, pouco a pouco, você o conseguirá. Aqui estou, como pequena criatura, frágil e limitada. Mas sei que com seu amor sou forte, e que sua vida pode penetrar minha pequenez. Com você se abrem sempre novos caminhos e a existência se renova. Venha, Espírito Santo, e triunfe com seu amor em minha vida. Amém.

18 de agosto A Bíblia fala-nos de um carisma do Espírito Santo que nem sempre entendemos bem. É uma espécie de oração em línguas. De que se trata? São Paulo explica que se trata de uma forma de expressão que serve só para se comunicar com Deus, não para comunicar-se com os outros, que não podem compreendê-la (cf. 1Cor 14,2). Mas, além disso, a mesma pessoa que usa essa forma de se expressar não pode compreender com sua mente o que dizem suas palavras (cf. 1Cor 14,14). Todavia, essa oração produz frutos, edifica realmente a pessoa (cf. 1Cor 14,4) e, em seu espírito, é uma verdadeira oração, mesmo que a mente não compreenda (cf. Cor 125

14,14). Que significa isso? Que às vezes, quando nos entregamos à oração, o Espírito Santo pode presentear uma experiência de profunda comunicação com Deus e de libertação interior, porque nos permite expressar o que existe no profundo do coração sem ter de usar palavras compreensíveis, sem precisar armar frases ou buscar palavras adequadas. De fato, é o que acontece quando suspiramos, quando choramos, quando gememos etc. Alguma vez é necessária esta libertação das coisas mais profundas do coração na presença de Deus. Como se consegue? Em primeiro lugar, pedindo ao Espírito Santo que nos ajude a expressar com gemidos em nosso interior (cf. Rm 8,15); mas também procurando expressar o que existe dentro de nós com uma melodia, com uma sílaba repetida, com um gemido audível, com uma oração que pouco a pouco vai perdendo a letra e se vai transformando em um sussurro, deixando que uma melodia espontânea brote sem esforço, com espontaneidade, sem a controlar demasiado. Mas, sobretudo, carregando esses movimentos de nossa voz com aquelas coisas suaves ou dolorosas que guardamos dentro de nós, que necessitamos expressar e nunca conseguimos manifestar de todo na presença de Deus. É certamente uma experiência que nos ajuda a afrouxar nosso interior carregado e nos permite relativizar por um momento a importância das coisas que nos atribulam, nos atordoam, nos angustiam. Peçamos ao Espírito Santo que nos conceda essa experiência libertadora.

19 de agosto Venha, Espírito Santo, e ensine-me a escutar a música da vida. Toque meus ouvidos espirituais para que aprenda a fruir essa canção que você vai criando com cada coisa que me é preciso viver. Ajude-me a apreciar todos os sons, e também os silêncios, porque também o que me parece desagradável pode se converter em parte dessa bela canção. Venha, Espírito Santo, ilumine minha vida, para que não me feche a chorar o que me falta e o que perdi. Não deixe que feche meu coração às coisas novas que você quer fazer nascer em mim, venha para que me atreva a tomar esse novo caminho que você me propõe, quando os outros caminhos se perderam. Ensine-me a escutar com o coração, para que reconheça que, quando uma nota se apaga, começa a soar uma nota distinta, começa a vibrar outra corda e a vida continua. Venha, Espírito Santo. Amém.

20 de agosto Às vezes sucede que algumas coisas belas começam a morrer, e sofremos pela saudade, mas não somos capazes de renová-las para que possam renascer. O Espírito 126

Santo é o que sempre nos move a renovar as coisas, a derramar vida onde tudo está morrendo. Ele pode dar um novo impulso ao que se enfraqueceu, mas para isso precisamos aceitar que o faça como ele queira e que se mude o que tenha de ser mudado. Algo disso descobrimos no que o Espírito Santo fez através de São Bernardo, a quem hoje recordamos. Aos 20 anos ingressou em uma ordem contemplativa que tinha poucas vocações e começava a se extinguir. Mas aos 25 anos Bernardo foi com um grupo de companheiros para fundar o Mosteiro de Claraval. A vida cristã era ali tão intensa e fervorosa, pelo atrativo estímulo de Bernardo, que em seu mosteiro chegaram a viver 500 monges, e ali se fundaram numerosos mosteiros. Saía a pregar com uma força inesgotável e sempre voltava rodeado de um grupo de pessoas convertidas que queriam se entregar a Cristo. Também participava ativamente de tudo o que pudesse afetar a Igreja, porque nada que tivesse a ver com Deus lhe podia ser alheio. É considerado o maior apóstolo do século XII. Assim, sua ordem contemplativa, que estava desaparecendo, voltou a viver. Em Bernardo descobre-se o que é um grande homem nas mãos do Espírito Santo, como se eleva, como se enche e se fortalece uma vida na qual o Espírito Santo pode entrar sem dificuldades e assumir o controle. Quando se renuncia a ser o centro, o dominador, aquele que tudo controla, e se outorga ao Espírito o domínio sobre a própria vida, então brota uma fecundidade sobre-humana. Quando alguém se liberta do olhar alheio e renuncia a viver para o reconhecimento dos outros, adquire a verdadeira liberdade interior. Ninguém é mais livre e mais fecundo do que quem permite ao Espírito Santo tocar e curar sua liberdade.

21 de agosto Venha, Espírito Santo. Quero estar um momento com você, e desejo que este momento seja consagrado só a você. Venha tocar meu olhar interior para que possa contemplar sua glória divina, que não tem limites. Dou-lhe graças porque pude conhecê-lo, porque você derramou em mim a fé, e posso invocá-lo com profunda confiança. Dou-lhe graças porque com você tudo se me torna mais fácil, e quando o invoco permaneço em paz. Agradeçolhe por sua amizade, e porque posso dialogar com você sobre as inquietações de minha vida. Eu o adoro nesta proximidade, porque nunca você está distante; sempre está iluminando o mais íntimo do meu ser. Agradeço-lhe, Espírito Santo, porque quando caminho você está comigo, quando trabalho está comigo, quando sonho está comigo, quando sofro está comigo, quando me alegro está você ali comigo. E quando não posso mais, também você está comigo. Amém.

22 de agosto 127

É certo que o principal é deixar-se levar pelo Espírito Santo, cheios de confiança. Mas sempre temos de recordar que ele nos quer vivos, e por isso não quer que anulemos nossa criatividade e nosso empenho. Nem mesmo a oração deveria ser algo puramente passivo. Porque orar não é somente deixar-se estar na presença de Deus. Se queremos dar a Deus o melhor, e queremos que nosso ser inteiro se encontre com ele, então teremos de estar aí, com todo o nosso ser e as nossas capacidades em sua presença, não adormecidos nem sonolentos. Se nos relaxamos demasiadamente, a mente se enche de imagens que nos desviam a atenção para outras coisas. Essas imagens às vezes nos enchem de tristezas ou de más recordações. Então, quando termina a oração, nos encontramos carregados de más sensações. Deixar-se levar pelo Espírito Santo não é estar perdidos em uma espécie de nebulosa. Trata-se mais de uma altíssima e amável atenção. É um atento recolhimento onde a pessoa busca concentrar em Deus todo o seu ser. O ideal é que se trate de um momento de vida vivido em plenitude, com todas as capacidades da pessoa oferecendo-se ativamente a Deus. Por isso convém, antes de ir orar, lavar o rosto e os braços com água fresca para despertar bem. Talvez seja também necessário dar alguns pulos, flexionar as pernas, mover um pouco os braços, fazer massagens no rosto, respirar fundo várias vezes, caminhar alguns minutos etc. Assim o corpo e a mente se dispõem para estar despertos e serenos ao mesmo tempo, para estar vivos diante de Deus. É verdade que a iniciativa neste encontro sempre é do Espírito Santo. Ele deve ser o protagonista para que haja verdadeira oração. Mas ao mesmo tempo nos convida a responder-lhe com todo o nosso ser.

23 de agosto No meio de tudo o que vivemos existe um encanto secreto, um mistério divino escondido que poucas vezes conseguimos perceber. Em cada coisa e em cada experiência existe uma luz cativante que não se descobre a um simples olhar. Para reconhecer essa maravilha que nos rodeia e nos envolve, temos de deixar-nos tomar e iluminar pelo Espírito Santo. Ele pode mudar completamente nosso modo de olhar o mundo. Mas, se ele não nos ilumina, só vemos o áspero e o cinzento das coisas. Com o Espírito Santo, também a enfermidade pode chegar a ser uma preciosa experiência cheia de intensidade espiritual; também um fracasso pode deixar um ensinamento profundo; e até as quedas podem se transformar em um trampolim para elevar-nos ao mais alto. Com a luz do Espírito, uma folha que cai é uma mensagem de amor, e o entardecer é um mestre de sabedoria. Deixemo-nos encantar os olhos pelo Espírito Santo. 128

24 de agosto O amor que me faz sábio e profundo é o que me faz capaz de passar de meu mundo para o mundo do outro, da paixão por me sentir bem para a paixão pelo serviço, dos enganos espirituais para a disponibilidade. Uma pessoa que se deixa levar pelo Espírito Santo está sempre disponível, deixa que os outros lhe mudem os planos, sabe renunciar aos seus próprios projetos. Porque o Espírito Santo, se o deixamos atuar, nos liberta o coração de tantas coisas para que estejamos dispostos verdadeiramente. O ser humano sábio e profundo está libertado de estruturas, esquemas e agendas. Em lugar de pensar e lamentar-se por dentro dizendo: “Esta pessoa está me incomodando”, aprendeu a dizer para si: “Esta pessoa precisa de mim”. Olhemos para Jesus. Ele ia caminhando com um rumo claro e com um projeto importante. Parecia que não valia a pena que se detivesse em coisas pequenas. Por isso, quando um cego gritava ao lado do caminho, os discípulos procuravam fazê-lo calar-se, para que não interrompesse o Mestre. Mas o Mestre reagiu como todo homem sábio e profundo. Deteve-se. Ele tinha seus projetos. Mas se deteve diante da sacralidade de um ser humano e lhe perguntou: Que queres que te faça? (Lc 18,41). Acaso Jesus não tinha coisas a fazer? Certamente que sim. Mas não estava amarrado a uma agenda nem a um horário intocável quando se apresentava um ser humano com uma necessidade. Ele mesmo disse: O Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir (Mt 20,28). Hoje há pessoas que estão tão preocupadas com a ginástica, o tempo de relaxamento, as leituras espirituais e tantas outras receitas para sentir-se bem, que já não lhes sobra tempo para se deterem diante de ninguém. Isso não é verdadeiramente uma pessoa cheia do Espírito Santo, mas um escravo de suas necessidades psicológicas.

25 de agosto Venha, Espírito Santo. Quisera deslumbrar-me com seu amor e sua beleza, e deixar você entrar. Mas você quis que eu o descobrisse lentamente, para não invadir minha vida sem minha permissão. Quisera abrir-lhe meu interior para viver sua amizade. Eu sei que isso me faria feliz, porque “vossa graça me é mais preciosa que a vida” (Sl 62[63],4). Porém custa-me muito atrever-me a viver um amor tão grande, tão forte, tão total. Não me atrevo. Pouco a pouco quisera descobrir que não existe nada a temer, que seu amor me deixa livre, que seu amor é ar fresco que não asfixia. Ajude-me a descobri-lo, Espírito Santo. Às vezes sinto-me tão inseguro, tão frágil, vejo que não existe nada firme nesta vida.

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Sinto-me como um pequeno verme fraco que pode se destruir com qualquer coisa. Mas sua Palavra me diz: “Nada de medo, pobre vermezinho… Sou eu quem venho em teu auxílio” (Is 41,14). Você é minha segurança, um poder infinito que me defende. Com você tudo termina bem. Confiar em você é meu maior poder. “Ó vós, que sois a minha força, a vós, meu Deus, cantarei salmos porque sois minha defesa. Ó meu Deus, vós sois todo bondade para mim” (Sl 58[59],18). Venha, Espírito Santo. Amém.

26 de agosto O Espírito Santo nos ama e nos valoriza, e por isso seu desejo é que nós sejamos cada vez mais belos. Ele espera que aceitemos sua graça para converter-nos em seres mais completos, não reduzidos a uma área da vida, a um tipo de experiências, a uma mentalidade determinada, a determinadas capacidades. Ele quer levar-nos a horizontes mais amplos, até chegar a uma grande abertura do coração. Ele quer desenvolver em nossa vida todas as virtudes e dons, para que vivamos cada vez melhor o Evangelho. Em nós existem muitas coisas boas, que ele espera fazer crescer. Mas, sobretudo, quer levar-nos a imitar cada vez mais Jesus, para que reajamos como ele reagia e vivamos como ele vivia. O Espírito Santo quer que tenhamos a generosidade de Jesus, a paciência de Jesus, a entrega de Jesus. Evidentemente, cada um de nós imitará Jesus a seu modo, e todos de diferentes maneiras, porque o Espírito Santo é imensamente criativo e pode fazer milhões de obras de arte, mas todas diferentes. Deixemos que ele, como um artesão, cheio de amor, faça esse trabalho em nossa vida.

27 de agosto Espírito Santo, força de minha vida, volto hoje a render-lhe graças. Agradeço-lhe porque você me colocou neste universo para que eu abra o meu caminho, para que eu aprenda a amar, para que eu descubra sua amizade dia após dia. Agradeço-lhe porque você está comigo em tudo o que me acontece e me ajuda a aprender algo de cada coisa que me suceda. Agradeço-lhe porque quer transformar todo o meu ser com sua vida divina. Agradeço-lhe porque cada dia você é uma novidade, porque sempre existem novos sinais de seu amor, porque sempre me convida a algo mais. Quando lhe abro minha mente e meu coração posso receber maravilhas de sua ternura. E sempre você me chama a voltar a começar. 130

Agradeço-lhe, Espírito Santo. Amém.

28 de agosto Hoje recordamos Santo Agostinho, e sua conversão é um estímulo para que invoquemos o Espírito Santo e, com sua graça, tratemos de mudar o que é preciso mudar em nossas vidas. A vaidade leva-nos a pensar que somos o centro do universo e que a vida não pode nos privar de nenhum prazer. Essa mesma vaidade nos leva a pretender ter Deus a nosso serviço, faz-nos incapazes de entregar a vida e, finalmente, faz-nos provar o sabor amargo da própria miséria e do próprio vazio. Algo disso sucedeu a Agostinho. E quando Agostinho estava encaminhado para a conversão, essas velhas experiências continuavam mostrando sua falsa atração e sugeriam-lhe que era impossível viver sem elas: O que me retinha eram bagatelas de bagatelas, vaidades de vaidades, antigas amigas minhas que me sacudiam a veste carnal, dizendo-me: “É verdade que nos vai deixar? Desde este momento você se privará de nós por toda a eternidade? Nunca mais lhe será lícito isto e aquilo?” E assim, quantas coisas não me sugeriam, Senhor! Sentiame ainda amarrado a elas e lançava gemidos cheios de miséria: Quando, quando acabarei por decidir-me? Vou deixar sempre para amanhã? (Confissões VIII,11-12). Apesar disso, em Agostinho triunfou o poder do Espírito Santo. Assim pôde descobrir que não era a debilidade humana a que podia triunfar, e sim o amor que o Espírito derrama nessa fragilidade. Sua conversão foi uma experiência maravilhosa que mudou por completo sua existência. E mais podemos ouvir este homem que provou tudo, lamentando-se por ter desgastado sua vida passada nos vícios e vaidades mundanas. Escutamo-lo queixando-se por não se ter entregado antes: Tarde te amei, beleza tão antiga e tão nova! Tarde te amei (Confissões X, 27). É certo que os condicionamentos que com frequência nos dominam impedem a graça de manifestar-me plenamente em todas as dimensões de nossa existência. Mas o testemunho de Agostinho nos mostra a eficácia da graça do Espírito Santo. Essa mesma eficácia pode realizar-se com maior plenitude em nossas vidas se a deixamos atuar, e lhe oferecemos nossa pequena cooperação.

29 de agosto Hoje celebramos o martírio de São João Batista, e isso nos permite descobrir algo muito importante: os que se deixam levar pelo Espírito Santo são fiéis a suas convicções até a morte. Mas os que recusam as inspirações do Espírito Santo acabam destruindo o bom que existe no mundo. O texto de Mc 6,17-29 se detém a narrar a morte de João Batista, onde se mostra que 131

o poder da aparência social e da vaidade é tão forte que pode transtornar as melhores intenções. Porque Herodes admirava João, protegia-o, consultava-o e escutava-o, mas não podia se negar a entregar a cabeça de João para não se sentir mal diante dos convivas (Mc 6,26). Até esse momento, Herodes respeitava João. Todavia, a palavra do profeta não havia conseguido chegar ao coração, onde se tomam as decisões mais profundas. Ali tinham mais poder as habilidades de uma mulher, que o levou a assassinar João. Essa história não deixa de ser uma profunda exortação para que reconheçamos nosso próprio coração, o que realmente nos move, mais além da aparência, mais além dos sentimentos e emoções superficiais, mais além das palavras. Faz-nos ver as resistências que há no mundo perante o Espírito Santo, que nos convida a modificar as coisas estabelecidas e a mudar um estilo de vida. Porque o ser humano normalmente prefere deixar as coisas como estão e evita lançar-se ao que ainda não sabe controlar. Por isso, tem medo do Espírito Santo e prefere eliminá-lo de sua vida. Isso nos convida também a que nos perguntemos de modo permanente se nosso desejo de ter tudo sob controle não nos está encerrando o coração aos novos caminhos do Espírito Santo. João Batista entregava-se cheio de confiança, porque estava cheio do Espírito, e sabia que sua morte injusta não era o final da história. Do amor brota essa certeza. Esse amor cheio de esperança é infundido pelo Espírito Santo em nossos corações (Rm 5,5).

30 de agosto Venha, Espírito Santo. Seu amor me contém e me eleva. Porém muitas vezes as preocupações da vida me puxam para baixo, como se não tivesse seu amor. E algumas vezes me deixo levar pela angústia quando os problemas não são tão grandes. Dê-me um coração mais agradecido para que possa viver com mais otimismo, sem deixar que se me amargure a alma pelas coisas que me acontecem. Porque sempre, no meio dos problemas, existem muitos presentes de seu amor. Ajude-me a descobri-los, Espírito que sustenta minha vida. Venha, Espírito Santo, uma vez mais quero deixar diante de você tudo o que me preocupa e confiar em sua ajuda. Entrego-lhe minha saúde, meu lar, minhas tarefas, meus projetos. Quero que você se faça presente em todos os momentos, que me proteja e que leve tudo a um bom porto. E lhe agradeço, Espírito de amor, por tudo o que você me deu. Pelo ar, pelas pessoas que me ajudam e me animam, pelo coração que pulsa, o sangue, a pele, as sensações agradáveis e tantas coisas simples que enchem cada dia de minha vida. Agradeço-lhe, Espírito Santo. Amém.

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31 de agosto A pessoa cheia do Espírito Santo é verdadeiramente generosa e, por isso, reage com generosidade cada vez que alguém dela necessita. Não tem de estar motivando-se ou preparando-se para poder fazer uma boa obra. Vem-lhe do coração. Quando temos uma amizade mais ou menos profunda com alguém, sempre teremos de dar algo. E às vezes, quando estamos buscando um pouco de tranquilidade, aproximase alguém que necessita de nossa ajuda. Mas se temos um falso ideal de felicidade, viveremos sentindo os outros como ladrões que nos roubam nosso tempo e nossas coisas, escaparemos deles, ou simplesmente os suportaremos com uma cota de nervosismo dissimulado. Mas alguém ressentido ou egoísta, que busque Deus para se libertar dos males dos outros, não seria um verdadeiro místico. Seria só um terrível ególatra ou um enfermo que usa Deus para dissimular sua incapacidade de amar. Se alguma vez amamos verdadeiramente alguém, sabemos que o amor vale a pena; se algum dia fomos verdadeiramente generosos, sabemos que isso nos faz felizes. Um coração generoso vive melhor. Mas como o amor não se fabrica nem se inventa com as capacidades humanas, é preciso pedi-lo como um presente sublime do Espírito Santo. “Venha, Espírito Santo, e ensine-me a amar.”

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SETEMBRO

1º de setembro Venha, Espírito Santo, como carícia que acalma. Muitas coisas se revoltam dentro de mim a cada dia, coisas que me incomodam, que me inquietam, que ficam ressentindo dentro de mim. Às vezes meu interior se perturba com coisas que não são tão importantes e me encho inutilmente de uma inquietação que me machuca. Venha, Espírito Santo, e acaricie-me por dentro. Passe por esses sentimentos que se revoltam e acalme-os com sua santa carícia. Passe por meu corpo cheio de tensões e serene-o com sua carícia suave. Passe por minha pele que resiste a tantas coisas e a apazigue com sua carícia eterna. Passe por meu coração que se transtorna e aquiete-o com sua carícia tênue. Passe por meus pensamentos que se alvoroçam e tranquilize-os com sua delicada carícia. Passe por meus afetos que me queimam e os apazigue com sua suave carícia. Venha, Espírito Santo, acaricie lentamente todo o meu ser e, com essa carícia divina, pacifique, sossegue, aplaque, suavize. Venha, Espírito Santo. Amém.

2 de setembro O Espírito Santo não espera que nos tornemos obsessivos na busca da perfeição. Por isso diz a Bíblia: Não sejas justo excessivamente, nem sábio além da medida. Por que te arruinarias a ti mesmo? (Ecl 7,16). Não há razão para ser perfeito em tudo, nem fazer tudo bem feito, nem fazer tudo agora. Abandone esse falso ideal. Porque você está chamado a ser feliz no que você faz, não a destruir-se fazendo coisas. A base de toda mudança está em aceitar-se serenamente a si mesmo. Isso permite calma interior para descobrir os pequenos passos que podemos dar sem nos destruir. Não convém dar lugar às censuras interiores que terminam bloqueando todo possível crescimento. Você não pode pensar que se não mudar esse 134

defeito, não serve para nada. Essa mudança pode ser importante, mas enquanto você não a consegue existem muitas coisas belas que você pode fazer. Nem mesmo é certo que você nunca vai mudar. A mudança chegará no momento justo. Mas se você se despreza e se censura não se prepara para a receber. Viver culpando-se não ajuda em nada, não nos estimula nem nos ajuda a mudar. O Espírito Santo não quer sentimentos de culpa, mas bons desejos. Por isso é tão importante olhar-se a si mesmo com o amor compassivo e paciente do Senhor, perdoarse e libertar-se desses ideais de perfeição que provocam permanentes sentimentos de culpa e de inferioridade. Peçamos ao Espírito Santo que destrua esses sentimentos inúteis.

3 de setembro O futuro vez ou outra desperta-nos muita insegurança. Não sabemos o que será de nós no dia de amanhã, e às vezes nos imaginamos encerrados em um asilo, em um lugar escuro e desagradável. Ou pensamos na possibilidade de adoecer gravemente, que os outros não cuidem de nós e terminaremos abandonados. Esses e outros pensamentos às vezes têm um futuro de tristeza e de inquietação. Mas temos de crer na Palavra de Deus, onde ele amavelmente nos diz não te deixarei nem desampararei (Hb 13,5) e nos recorda que nada nos poderá apartar do amor que Deus nos testemunha (Rm 8,39). Se cremos nessas promessas, podemos saber com segurança que o Espírito Santo estará verdadeiramente conosco, em toda circunstância. Por isso, não importa tanto como será nosso futuro nem o que nos acontecerá. É mais importante sentir-nos seguros sabendo que não estaremos sozinhos. Disso podemos ter certeza.

4 de setembro Recordemos que a melhor maneira de preparar-nos para o futuro é viver bem o presente. Não saberemos amar no futuro se hoje não amamos a estas pessoas concretas, nestas circunstâncias que nos cumpre viver. Não seremos pessoas alegres amanhã senão procurarmos encontrar, hoje, nem que seja um cisquinho de alegria neste momento que nos toca viver. Não saberemos desfrutar amanhã se hoje ao menos não fazemos o possível para gozar as pequenas coisas. Que o futuro não nos encontre vazios. Para isso, é preciso que nos detenhamos a invocar o Espírito Santo, pedindo-lhe que venha derramar coisas boas na vida que estamos vivendo agora. Dessa maneira, se agora aprendermos a viver um pouco melhor, isso nos fará fortes e nos irá preparar para viver um futuro mais belo e cheio de coisas boas. Com o Espírito Santo, podemos preparar o futuro, vivendo com vontade este dia.

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5 de setembro Existe uma forma de alcançar uma imensa paz: consagrar-se ao Espírito Santo e aceitar que faça o que quiser, que nos leve para onde quiser, que disponha de nossa vida como lhe parecer. Na realidade, isso será o melhor para nós. Isto não significa que o Espírito Santo nos enviará sofrimentos. De maneira alguma. Mas, se ele permite que nos sucedam coisas próprias da vida, ele fará com que isso seja para nosso bem. Procuremos rezar com o coração esta oração do Cardeal Mercier: Espírito Santo, Alma de minha alma, eu o adoro. Ilumine-me, guie-me, fortaleça-me, console-me, inspire-me o que devo fazer. Peço-lhe que disponha de mim, porque prometo obedecer-lhe e aceitar tudo o que permita me suceder. Só me faça conhecer sua vontade. Amém.

6 de setembro Às vezes realizamos nossas tarefas por obrigação, porque não temos outra saída, porque não encontramos algo melhor. Então simplesmente toleramos o que nos cumpre realizar. Outras vezes comparamos nossas tarefas com as que realizam outras pessoas, e então nos parece que o que fazemos tem pouco valor. Isso nos causa dano, porque converte nossa atividade em um tempo vazio, sem Espírito; um tempo que esperamos que passe, que suportamos. É como se esse tempo não nos servisse para nada, e simplesmente desejamos que se acabe para poder fazer algo que valha a pena. Mas não deixemos que esse tempo passe em vão. Já que devemos fazer uma tarefa, façamo-la de boa vontade, oferecendo-a a Deus, encontrando nisso alguma beleza. Se não o conseguimos, peçamos ao Espírito Santo que se faça presente no meio desse trabalho e nos ajude a vivê-lo como um serviço. Existem milhares de maneiras de servir a Deus e aos outros. Esse trabalho também é um serviço, e o Espírito Santo pode nos ajudar a que nos sintamos agradecidos porque podemos prestar esse serviço, porque podemos fazer algo com nosso corpo e com nossas capacidades. Clamemos ao Espírito Santo para que nos presenteie com essa alegria de servir em nossas humildes tarefas. 136

7 de setembro É bom deixar entrar o Espírito Santo em toda a nossa vida. Não só para que nos ajude a descobrir o que devemos fazer ou dizer, mas também para que nos faça ver qual é a melhor maneira de o fazer ou de o dizer, qual é o estilo e a modalidade que mais nos convém imprimir em nossos atos. Podemos pedir com as palavras do Cardeal Verdier: Espírito Santo, Amor do Pai e do Filho. Inspire-me sempre o que deva pensar; o que deva dizer, e como tenha de o dizer; o que deva calar; o que deva escrever; o que deva fazer; e como tenha de o fazer. Para obter sua glória, o bem dos outros e minha própria santificação. Amém.

8 de setembro Em Jo 14,21-26 lemos preciosas promessas que nos falam da intimidade de Deus nos nossos corações. Os que amam a Deus se transformam em verdadeiros templos da presença do Pai e de Jesus. Só essa presença de amor faz possível cumprir verdadeiramente os mandamentos, viver o que o Senhor nos pede. Mas depois aparece alguém mais, fazendo-se presente na intimidade dos crentes: o Pai enviará o Espírito Santo. Ele é o que ensinará tudo aos discípulos para que possam compreender os ensinamentos de Jesus. Na realidade o Espírito Santo não ensinará coisas que Jesus não tenha dito, mas recordará e fará compreender em profundidade as palavras de Jesus. Jesus sabe que os discípulos não podem compreender todas as suas palavras, mas lhes promete que, quando chegar o Espírito Santo, ele os fará alcançar a verdade completa (cf. Jo 16,13). Na realidade este texto diz “os conduzirá à Verdade completa”. E como no Evangelho de João a Verdade é o próprio Jesus, isso significa que o Espírito Santo nos conduz dentro do mistério de Jesus para que possamos compreendêlo plenamente. Não significa então que o Espírito Santo nos dá algo que Jesus não nos pode dar, ou que nos ensine coisas que Jesus não nos ensinou. Na realidade o que ele faz é nos recordar os ensinamentos de Jesus e nos introduzir dentro do mistério de Jesus para que possamos compreender melhor suas palavras e amá-lo mais. 137

O Espírito Santo leva-nos a Jesus, mais nos aproxima dele, faz-nos entrar nele. E em cada momento de nossa vida ele nos recorda as palavras de Jesus para que iluminem nossa existência e nos permitam seguir o bom caminho. Por isso Jesus diz que o Espírito Santo não falará por si mesmo (Jo 16,13). Em tudo o que Espírito Santo faz está dando glória a Jesus, já que o que ele comunica é o que recebe de Jesus (v. 14), assim como Jesus compartilha tudo com o Pai amado (v. 15).

9 de setembro Espírito Santo, você é Deus. Hoje venho pedir-lhe perdão pelas vezes que o ofendi. Confio em sua misericórdia sem limites, em sua compaixão que nunca se acaba, e lhe peço que me perdoe por minhas quedas. Porque não fui mais generoso, porque nem sempre me entreguei com alegria, porque me deixei levar pela negatividade ou pela tristeza, porque em meu interior alimentei algum desprezo e rejeição para com outras pessoas. Perdoe-me e purifique-me, Espírito Santo. Também lhe peço perdão pelas vezes que não me deixei inspirar por você, que não me deixei levar, que resisti aos seus convites, que preferi continuar acomodado em minha mediocridade e fechei meus ouvidos aos seus chamados. Peço-lhe perdão, sabendo que me dará a graça para voltar a começar, para continuar tentando as mudanças que você me propõe em meu interior. Agradeço, Espírito Santo, porque você nunca deixa de confiar em mim. Amém.

10 de setembro Quando alguém se detém a pensar em sua infelicidade, em seus fracassos, nas coisas que sonhou e não conseguiu, em suas insatisfações, pergunto: para que gastar o tempo e as energias em tais pensamentos? Deve-se invocar o Espírito Santo para poder adorar ao Pai Deus. O importante é que ele existe e é infinitamente feliz. Ele é pura felicidade, sem limites nem confins. Existe a felicidade perfeita, que é ele. Eu posso receber gotículas dessa felicidade e estou chamado a uma felicidade imensa. Mas o mais importante é que ele é feliz, imensa e maravilhosamente feliz, que nele existe um gozo ilimitado. Só uma pessoa curada e libertada pelo Espírito Santo é capaz de se sentir bem com a felicidade de outro, sem ficar pensando no que não tem. Por isso, só o Espírito Santo pode nos ensinar a adorar. A adoração é extasiar-me na beleza e na felicidade de Deus, de tal maneira que possa desapegar-me de mim mesmo por um instante. Só importa ele, só Deus. Peçamos ao Espírito Santo que nos ensine a arte da adoração.

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11 de setembro Jesus queria fazer ver a seus discípulos que não deviam se entristecer por sua partida, porque na realidade essa partida era um bem para eles: Convém a vós que eu vá (Jo 16,7). Porque é necessário que Jesus seja glorificado, que passe pela cruz para nos libertar do pecado e ressuscite chegando glorioso à presença do Pai, para poder nos enviar assim o Espírito Santo: Se eu não for, o Paráclito não virá a vós (Jo 16,7). E a presença interior do Espírito Santo é uma riqueza e um tesouro que os discípulos não podiam nem mesmo imaginar; porque é o Espírito quem derrama a graça divina nos corações e faz presente a vida de Jesus no íntimo dos crentes. Mas o quarto Evangelho descreve a obra do Espírito Santo de um modo estranho; diz que o Espírito Santo convence os crentes do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16,8). Em definitivo, isso significa que o Espírito revela claramente o erro do mundo que não dá a Cristo seu lugar e que se move com falsos valores que não são sua mensagem de amor. E toda a miséria que o mundo procura ocultar e disfarçar vem à luz em todo seu negror graças à ação do Espírito em nossos corações. Assim, o Espírito Santo evita que nos deixemos enganar. O Espírito faz ver o pecado de incredulidade do mundo e, assim, mostra como o caminho que o mundo oferece é cegueira, escuridão, falta de sentido. Faz ver a justiça, porque mostra que a verdadeira justiça, a de Deus, está ao lado de Cristo, e não ao lado das mentiras do mundo; e faz ver também uma sentença, porque Deus já sentenciou os poderes do mal, já os condenou, embora aparentemente eles ganhem todas, embora pareçam vitoriosos. Deixemo-nos convencer pelo Espírito Santo, porque ele tem a verdade que nos liberta da mentira.

12 de setembro Venha, Espírito Santo, venha curar minha maneira de reagir. Para que diante das agressões eu reaja com amor. Para que diante das irrisões eu reaja com compreensão. Para que diante das preocupações eu reaja com a súplica. Para que diante dos imprevistos eu reaja com criatividade. Para que diante dos fracassos eu reaja com a esperança. Para que diante dos erros 139

eu reaja com constância. Para que diante das desilusões eu reaja com confiança. Para que diante dos problemas eu reaja com paz. Para que diante dos desafios eu reaja com coragem. Para que diante de seu amor eu reaja com alegria. Venha, Espírito Santo. Amém.

13 de setembro Poderíamos dizer que entrar na presença do Espírito Santo não é tanto um esforço por estar atentos com a clareza da mente, mas antes deixar-nos inundar por ele pouco a pouco. Mas na realidade ele está sempre nos inundando, mesmo que estejamos distraídos, adormecidos ou ocupados em um trabalho exigente. Também quando passamos um momento de oração distraídos, só pensando em nossos projetos, ele está esperando que o reconheçamos, no mais profundo de nossa intimidade. Por isso alguns dizem que na realidade não se trata de que ele entre em nós, mas de nós entrarmos nele, de penetrarmos nós em sua presença, de habitar em seu amor e em sua luz que sempre nos superam. Porém nós estamos sempre dentro do Espírito divino, submersos nele que nos envolve, nos sustenta e nos leva dentro de si permanentemente. Ele está enchendo todo espaço, todo tempo e todo lugar, e nunca podemos estar fora dele ou escondidos de sua presença permanente. Para onde irei, longe do vosso Espírito? Para onde fugir, apartado do vosso olhar? Se subir até os céus, ali estareis; se descer à região dos mortos, lá vos encontrareis também. Se tomar as asas da aurora, se me fixar nos confins do mar, é ainda vossa mão que lá me levará, e vossa destra que me sustentará (Sl 138[139],7-10). Entrar em sua presença é, sobretudo, arrojar-nos, cheios de confiança e gratidão, desejosos e necessitados, em seus braços de amor. É penetrar ali onde sempre estamos, mas entrar com toda a força de nosso desejo.

14 de setembro A alegria é um tema típico do Evangelho de Lucas, desde a anunciação até a Páscoa, passando por uma espécie de caravana de gente alegre, entre os quais se destaca Maria, 140

que exulta de alegria, em Deus meu salvador (Lc 1,47). Em Lc 10,21-24 é Jesus quem se enche de alegria; não uma alegria mundana, ou uma euforia psicológica, mas a alegria que procede do Espírito Santo. Por isso nossos corações tristes necessitam invocar cada dia o Espírito Santo. Ele é um verdadeiro manancial de alegria, que pode converter em gozo nossas amarguras mais profundas. Mas o motivo da alegria de Jesus é muito particular: Jesus se alegrava contemplando como os pequenos e simples recebiam a Boa Notícia e captavam os mistérios mais profundos do amor de Deus. E Jesus sente júbilo porque é seu Pai amado quem manifesta aos simples essas coisas profundas que permanecem ocultas para os sábios deste mundo. O Pai presenteia-nos com a força do Espírito Santo, que nos enche de alegria também quando nos sentimos pobres, pequenos e limitados. É uma alegria que o mundo não pode dar. É a alegria celestial que derrama o Espírito divino.

15 de setembro Venha, Espírito Santo, carícia libertadora, venha. Venha passar por todo o meu ser, venha. Venha, Espírito Santo, venha tocá-lo todo com esse toque divino que cura. Venha, Espírito Santo, para que toda a minha vida tome contato com seu brilho, com seu cálido orvalho, com seu ar fresco. Venha, Espírito Santo, entre, penetre. Dou-lhe permissão para invadir tudo, para você escorrer como água feliz por todos os recantos do meu interior. Venha, para que este dia seja um pedaço de céu na aridez do meu deserto. Venha, não me abandone, venha. Amém.

16 de setembro O Espírito Santo pode nos ensinar a desfrutar as coisas lindas da vida, mas na presença de Deus. Ele nos ensina a fruir, encontrando o Senhor também nos prazeres cotidianos. Por exemplo: se uma pessoa aprende a desfrutar a ducha, se é capaz de se deter a 141

desfrutar o roçar da água quente, deixando que seu corpo se alivie com a água, e se detém sem pressa a gozar esse contato. Então, pode começar a imaginar Deus como água viva, água que cura, água que alivia. Deus como fonte de vida, manancial infinito. Se estiver escutando música que aprecia, porque não pode se deter um minuto a desfrutá-la? E enquanto a escuta, pode pouco a pouco deixar que o ritmo e a harmonia vão tomando todo o seu ser. E assim começa a imaginar Deus como uma música infinita, que a envolve e a faz bailar pelo universo. Se estiver diante de uma paisagem, pode se deter um momento, sem pressa. Existe gente que passa diante das paisagens como se estivesse olhando fotos e não se detém mesmo que sejam uns minutos, desfrutando-as. Ou ignora as flores, ou uma árvore, ou o céu. Em troca, detendo-se nessas coisas, pouco a pouco, alguém pode começar a contemplar Deus como beleza infinita. Podemos tentar. Alguma vez que estejamos desfrutando algo, invoquemos o Espírito Santo para podermos nos elevar no meio desse prazer. Não se trata de renunciar ao prazer, mas de lhe dar um sentido de infinito.

17 de setembro Em Jo 20,19-23 vemos que, apesar da ressurreição, os discípulos se fecharam, cheios de medo. Porque ainda deviam receber a força do Espírito Santo que os impulsionasse à missão, libertando-os do temor e da covardia. Não significa que o Espírito Santo não estivesse presente de nenhuma maneira, já que, segundo o Evangelho de João, Jesus derrama o Espírito quando morre na cruz. Mas Jesus ia produzindo pouco a pouco uma efusão cada vez mais plena e libertadora em seus discípulos que finalmente os faria viver a explosão evangelizadora da Igreja nascente em Pentecostes. O Espírito Santo nos tira do encerramento, do isolamento, e nos impulsiona para fora. Por isso temos de nos convencer de que o Espírito Santo nos quer fazer viver uma espiritualidade na ação. Não temos de pensar que só precisamos de espiritualidade quando nos encerramos para orar, porque quando estamos evangelizando, ou quando estamos prestando um serviço sob o impulso do Espírito Santo, isso também é espiritualidade. E isto vale, sobretudo, para os leigos, que estão chamados a impregnar o mundo com a presença do Espírito. Todo o bem que Jesus produz em nossas vidas realiza-se pela ação íntima e profunda do Espírito Santo que ele envia. Toda consolação, toda luz interior, toda graça, todo carisma e todo impulso de amor nos chegam pela ação interior do Espírito Santo. E com esse poder é possível mudar o mundo. Por isso, se queremos libertar e embelezar nossas vidas, e o mundo todo, temos de pedir a Jesus ressuscitado que derrame em nós um pouco mais do poder do Espírito Santo que enche sua humanidade gloriosa.

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18 de setembro A imaginação pode nos perturbar muito na oração porque nos leva a toda parte e nos distrai. Mas não se deve lutar contra ela, porque é pior. É melhor afastar docemente as imagens interiores e deixá-las passar, voltando suavemente à presença do Senhor. Mas também podemos pedir ao Espírito Santo que cure e ordene nossa imaginação para que nos ajude a orar. A imaginação é algo bom e precioso se a entregamos ao Espírito Santo. Então, podemos imaginar as mãos de Jesus que acariciam, ou seus braços que sustentam, ou seus olhos que olham com serena ternura, ou simplesmente seu rosto, sua figura que nos convida a um abraço, ou a descansar ao seu lado. Estas são boas maneiras de nos introduzir em sua presença. Nesse encontro, é possível que imaginemos que ele abre seu peito e derrama em nós esse manancial de fogo que é o Espírito Santo. Assim, o Espírito Santo pode ajudar-nos com sua luz, para que aprendamos a utilizar nossa imaginação com habilidade e criatividade, de maneira que seja nossa aliada na oração, e não nossa inimiga.

19 de setembro É certo que o Espírito Santo atua de modo permanente em nossas vidas e faz maravilhas. Mas normalmente não as faz da maneira como nós o esperamos ou o imaginamos. Por isso nos parece que ele está em silêncio, que se cala, que não intervém. No entanto, ele sempre está preparando algo novo, e por isso podemos ter esperanças. Vejamos como o expressava Romano Guardini em sua oração: Espírito Santo, que nos foi enviado, e permanece próximo de nós, mesmo que os espaços ressoem vazios como se você estivesse distante. Em suas mãos perduram os séculos e todas as coisas serão em você cumpridas, enquanto você reina no mistério do silêncio. Assim o cremos, e esperamos o mundo que tem de vir. Ensine-nos a esperar na esperança. Conceda-nos participar desse mundo que virá, para que a presença de sua glória seja verdadeira em nós. Amém.

20 de setembro 143

Hoje celebramos os grandes mártires coreanos. Uma vez mais nos deteremos para adorar o Espírito Santo, que pode nos transformar com seu poder e seu amor, até nos fazer capazes de coisas que parecem impossíveis para as forças humanas. É sua força a que triunfa em nossa debilidade. No século XVIII, formou-se a primeira comunidade cristã na Coreia, formada inteiramente por leigos evangelizadores que chegaram da China e do Japão. A partir daí sucederam-se várias perseguições até os fins do século XIX, nas quais morreram cerca de 10.000 cristãos. Mais de 100 foram canonizados, a maioria leigos. Mas já que o martírio é como uma chuva fecunda que desperta ainda mais a fé, existem hoje cerca de 2.000.000 de cristãos na Coreia. Nenhum dos esforços desses cristãos foi em vão. Eles o sabiam. A intensa vida cristã que infundiram os primeiros cristãos da Coreia produziu seu fruto e foi coroada no martírio. Esses martírios estavam precedidos de horríveis torturas, e a intrepidez que eles receberam do Espírito Santo é certamente sobrenatural. Não se envergonharam de Cristo (cf. Lc 9,26) nem preferiram salvar sua vida (cf. Lc 9,24). Não se trata de exagerar a importância da dor, ou de buscar o martírio, que é um dom de Deus mais que uma decisão humana. Deus não se compraz em nos ver sofrer, e sim no amor que se expressa na entrega generosa. Trata-se, melhor, de aceitar a missão que devemos cumprir na vida, aceitando as faltas de comodidade que a acompanham; e tratase também de dar testemunho de nossa fé, embora nos traga problemas. Assim poderemos dizer com São Paulo: Na verdade, julgo como perda todas as coisas, em comparação com este bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo e estar com ele (Fl 3,8-9). Façamos um instante de oração, para pedir ao Espírito Santo que nos torne capazes de coisas grandes, que penetre com seu poder nossa fragilidade.

21 de setembro Hoje é a festa de São Mateus. A mudança que ele viveu em sua vida nos faz ver até que ponto o Espírito Santo pode modificar nossos planos e levar-nos para onde não imaginamos. Mateus era um cobrador de impostos, alguém tão enamorado do dinheiro que era capaz de aceitar qualquer trabalho, mesmo que tivesse de explorar seu próprio povo para enriquecer. Certamente os pobres pescadores da Galileia terão sentido uma forte rejeição para com este explorador que estava a serviço do poder estrangeiro. Por isto, na conversão de Mateus, manifesta-se o que pode chegar a fazer o Espírito Santo em um coração humano, a maravilhosa libertação que pode se produzir quando alguém se deixa tocar e seduzir por seu fogo. Porque aquele escravo das seguranças econômicas, ao escutar o segue-me de Jesus, abandonou a mesa de cobrador de 144

impostos e o seguiu (cf. Mt 9,9). Mateus era um desses pecadores que Jesus queria converter, e por isso se aproximava dele e o convidava a segui-lo. O Evangelho de São Mateus se põe a narrar a proximidade de Jesus com os pecadores, sua compaixão e seu amor, porque essa atitude de Jesus foi a que ele mesmo reconheceu em seus olhos e em sua voz quando Jesus passou por sua mesa de cobrador de impostos e simplesmente lhe disse segue-me. Só o Espírito Santo nos faz capazes de escutar esse chamado e de segui-lo até o fim.

22 de setembro Venha, Espírito Santo, e ensine-me a esperar. Porque as coisas que desejo não chegam rapidamente, ensine-me a esperar. Porque não posso pretender que os outros mudem de um dia para outro, ensineme a esperar. Porque eu mesmo vou mudando muito lentamente, ensine-me a esperar. Porque a vida tem suas estações e tudo chega a seu tempo, ensine-me a esperar. Para que aceite que não estou no céu e sim na terra, ensine-me a esperar. Para que eu não exija deste dia o que não me pode dar, ensine-me a esperar. Para que reconheça que o mundo não pode estar a meu serviço, ensine-me a esperar. Venha, Espírito Santo, e ensine-me a aceitar que muitas coisas demorem a ser feitas, para que valorize o que a vida me propõe agora, ainda que seja pequeno, ainda que pareça pouco. Venha, Espírito Santo, ensine-me a esperar. Amém.

23 de setembro Nosso coração humano está permanentemente inclinado ao egoísmo. É impossível que só com suas próprias forças consiga dar o passo para uma verdadeira generosidade. Às vezes sentimos que seria belo entregar a vida no serviço, com um amor verdadeiramente preocupado pelos outros, capaz de dar tudo. Mas ao mesmo tempo sentimos que não somos capazes, que de imediato nos preocupamos com nossas coisas, e os outros ficam para outro momento. Muitas vezes nos enganamos acreditando que amamos, mas na realidade buscamos as pessoas que podem nos fazer sentir bem. Isso não é mais que outra forma de buscar-se a si mesmo e de manter os outros a serviço das próprias necessidades. Já que é impossível mudar isso com nossas forças, não nos resta mais que pedir cada dia ao Espírito Santo que nos conceda um coração generoso. Não obstante, podemos cooperar com o Espírito Santo, visto que ele não nos muda sem nossa cooperação. Ele deve derramar primeiro seu amor e sua graça, mas esse amor 145

não produz frutos, não cresce, não acaba por mudar nosso comportamento, sem alguma cooperação de nossa parte. Além de suplicar, nós podemos cooperar de diversas maneiras. Por exemplo, procurando motivar-nos, para que se despertem mais inquietudes em nosso coração e descubramos que é belo ser generosos. Então, podemos ler coisas que nos motivem à generosidade, podemos escutar canções que nos ajudem a alimentar esse desejo, e evitar tudo o que alimente nosso egoísmo. Outra maneira de cooperar com o Espírito Santo é fazer algumas tentativas, mesmo que sejam pequenas, de dedicar tempo aos outros, de renunciar a algo pela felicidade de outro. Essa cooperação nossa, como resposta à graça do Espírito Santo, permitirá que um dia consigamos tomar uma decisão firme e clara de nos dar aos outros, de nos dar generosamente, de estar atentos às necessidades dos outros para ajudá-los a ser felizes. Essa decisão sincera será uma mudança preciosa em nossas vidas.

24 de setembro Não podemos esquecer que Jesus nos deixou um precioso presente que nos ajuda a tomar consciência de que ele aqui está: sua presença na Eucaristia. O Espírito Santo é que converte o pão em Jesus. Por isso, na Missa, o sacerdote invoca o Espírito Santo para que desça sobre os dons do altar. Então podemos pedir ao Espírito Santo que nos ilumine, para reconhecer a presença de Jesus na Eucaristia e para que possamos encontrar-nos com ele. Quando nos colocamos a orar diante do sacrário, ou quando o contemplamos em uma adoração eucarística, podemos reconhecer Jesus presente diante de nós, disposto a entabular um diálogo próximo, íntimo, sincero. E embora possamos encontrar Jesus em toda parte, sua presença na Eucaristia é a mais perfeita de todas. Por isso, se desejamos estar em sua presença, não existe nada melhor que invocar o Espírito Santo e colocar-nos diante da Eucaristia, olhá-lo, deixar-nos olhar por ele, falarlhe de nossas coisas, escutar sua delicada voz. Esse momento pode nos encher de força e de paz, porque da Eucaristia brota a vida do Espírito Santo; ali se derrama o Espírito para nós.

25 de setembro Venha, Espírito Santo, para limpar minhas misérias. Não quero que minhas fraquezas e pecados me tirem a alegria, a força, a energia, o empenho de minha entrega. Não quero que meus erros me detenham e me enfraqueçam. Porque nem mesmo você, Espírito, o quer. Mas você precisa que eu reconheça meus pecados e não os oculte, para assim poder me curar. Você espera que eu olhe com clareza meus erros, sem desculpas. 146

Não lhe agrada que me paralisem os escrúpulos e a culpa, mas você espera que eu reconheça diante de você minhas quedas, para poder libertar-me. Venha, Espírito Santo, não posso ocultar-lhe nada. Tudo está claro e patente diante de seu olhar que tudo vê, que me penetra por completo. Tudo você sabe, e não tem sentido que eu procure escapar envergonhado. Seu amor me espera com infinita ternura para queimar tudo nesse fogo abrasador. Limpe-me uma vez mais, Espírito Santo, porque quero fazer de minha vida uma oferenda cada dia mais bela. Amém.

26 de setembro Às vezes nossa vida está tão submergida na mediocridade, no egoísmo e no comodismo, que só um terremoto poderia nos despertar e nos mudar. Por isso o Espírito Santo pode permitir algum terremoto para que nos decidamos a viver de maneira séria. Esse é o sentido de alguns textos bíblicos que parecem aterrorizantes, mas que na realidade nos querem dizer que, se não aceitamos a vida nova do Espírito e nos agarramos a seguranças deste mundo, chegará um momento em que essas seguranças vão cair destruídas. Mas a Palavra de Deus na realidade quer nos consolar, porque nos diz que isso não será nossa ruína, mas nossa libertação. Porque quando caírem todas essas seguranças poderemos estar desapegados de tudo diante do Espírito Santo, e aceitaremos seu convite para viver de outra maneira: Será uma época de tal desolação, como jamais houve igual desde que as nações existem até aquele momento. Então entre os filhos do teu povo serão salvos todos aqueles que se acharem inscritos (Dn 12,1). Quando começarem a acontecer essas coisas, reanimai-vos e levantai as vossas cabeças, porque se aproxima a vossa libertação (Lc 21,28). Por isso narram os Atos dos Apóstolos que subitamente sentiu-se um terremoto tão grande que até se abalaram os fundamentos do cárcere. Abriram-se logo todas as portas e soltaram-se as algemas de todos (At 16,26). Deixemos que suceda algum terremoto em nossas vidas, para que o Espírito Santo possa abrir nossas portas e romper nossas cadeias.

27 de setembro 147

Hoje recordamos o generoso São Vicente de Paulo, e assim podemos descobrir de que maneira o Espírito Santo atua quando existem irmãos sofrendo necessidades. Depois de ser ordenado sacerdote aos 19 anos, foi aprisionado pelos turcos, que o levaram para Tunis e o venderam como escravo a um velho médico. Deste médico ele aprendeu vários métodos medicinais que depois empregou. Ao morrer o médico, apoderou-se dele um homem que ele converteu, e juntos viajaram para Roma. Depois voltou para Paris e deixou para sempre as aventuras para se dedicar plenamente aos pobres, enfermos e condenados à escravidão. Assim vivia aquele conselho bíblico: Lembrai-vos dos encarcerados, como se vós mesmos estivésseis presos com eles. E dos maltratados, como se habitásseis no mesmo corpo com eles (Hb 13,3). Fundou uma congregação para a pregação nas populações rurais e uma congregação feminina para atender os enfermos e assistir os pobres em seus domicílios. Promoveu a fundação de hospitais para crianças, asilos para idosos e organizou a ajuda às populações mais pobres. Tinha o grande objetivo de erradicar a mendicidade e conseguiu convocar toda a sociedade francesa para cumpri-lo. Sua paixão pelos pobres conseguiu motivar até os mais frios e indiferentes. Essa mudança só é possível pela ação do Espírito Santo, porque só ele nos tira do comodismo egoísta para que saibamos olhar para os outros com verdadeiro amor. O Espírito Santo coloca em nós o olhar de Jesus que é capaz de compadecer-se cordialmente ao ver os que sofrem sem ter quem os auxilie. Por isso, quando alguém está padecendo, sem poder resolver suas necessidades mais urgentes, não é porque Deus não deseje libertá-lo, mas porque algum dos instrumentos humanos que poderiam ajudá-lo não se deixa tocar pelo Espírito Santo, não se deixa mobilizar por seu amor. Os que se deixam levar pelo Espírito Santo, não só são generosos, mas são criativos, inquietos para encontrar a forma de fazer felizes os outros. Em São Vicente de Paulo, podemos reconhecer um instrumento fiel e criativo, que se entregou com entusiasmo a buscar os meios para auxiliar os enfermos e os pobres, e o Espírito Santo manifestou seu poder e seu amor através da misericórdia e da entrega laboriosa de Vicente.

28 de setembro Quando alguém está sereno e pacificado por dentro, é capaz de perceber a harmonia que existe no universo; mas se está inquieto e perturbado, tudo o que vê e escuta lhe parece fora de lugar. De fato, quando uma pessoa está em harmonia por dentro, quando vai ao campo é capaz de aprazer-se percebendo a harmonia que existe entre todos os sons que se escutam ao entardecer. Os diversos pássaros, as vacas, o ruído do pasto e das ramagens que se movem, algumas vozes, e até os rumores da estrada que se ouvem distantes. Tudo produz uma 148

preciosa harmonia. Mas a pessoa que não está pacificada por dentro sente-se incomodada por esses ruídos. Gostaria de um silêncio absoluto, ou desejaria ouvir só alguns desses sons, e não outros. Quer que o mundo se adapte às suas pretensões. E não encontra calma. Por isso, temos de descobrir que o mais importante não é que o mundo mude, mas que mudemos nós. Peçamos ao Espírito que harmonize nosso interior, para que assim possamos estar em harmonia com a vida.

29 de setembro Recordemos que onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade (2Cor 3,17). Nós cremos que somos livres quando estamos sozinhos, quando ninguém nos incomoda, quando podemos fazer o que queremos, quando nos deixamos levar por nossas inclinações naturais. Uma pessoa que se entrega ao álcool ou à droga se engana acreditando que é mais livre que os que não o fazem. Mas os outros podem ver como essa pessoa cada vez mais está limitada, cada vez mais está dependente do álcool e da droga, cada vez é menos livre para escolher outras coisas, até que se lhe torna impossível viver sem o vício. Quem pode ser tão ingênuo a ponto de chamar isso de liberdade? A liberdade é um dom que Deus nos dá para que continuemos fazendo um caminho positivo na vida, um caminho que nos leve à felicidade. Nesse caminho o Espírito Santo nos vai curando e nos vai libertando das coisas que nos escravizam, e assim cada vez somos mais livres: nada se nos torna indispensável, nada nos faz absoluto, somos realmente livres para escolher porque nada nos domina. Essa é a liberdade do Espírito. Mas na realidade, quando São Paulo nos fala da liberdade do Espírito Santo, quer dizer que não nos sentimos obrigados a ser bons e santos, mas que o fazemos porque estamos inclinados a isso desde o mais profundo de nossa liberdade; vivemos bem porque assim o escolhemos com toda liberdade. Ninguém poderá nos dizer que estamos obrigados a amar a Deus. O amor é livre ou não é amor, porque é impossível obrigar alguém a amar. Essa é a maravilhosa liberdade do Espírito Santo.

30 de setembro Nós buscamos o Espírito Santo, não somente para viver bem, mas também para nos santificar, para chegar ao mais elevado da vida espiritual. Ofereçamonos ao Espírito Santo, façamos uma profunda consagração de nossas vidas, para que ele nos transforme completamente. Expressemos esse desejo com as palavras de Don Vandeur: Espírito Santo, Amor unitivo do Pai e do Filho, fogo sagrado que Jesus Cristo, nosso Senhor, trouxe para a Terra, 149

para nos queimar todos na chama do amor eterno. Adoro-o, bendigo-o, e aspiro com toda a alma dar-lhe glória. Com este fim, faço-lhe esta oferenda com todo o meu ser, corpo e alma, espírito, coração, vontade, forças físicas e espirituais. Dou-me a você e me entrego tão plenamente como for possível à sua graça, às ações divinas e misericordiosas desse amor que é você, na unidade do Pai e do Filho. Chama ardente e infinita da Santíssima Trindade, deposite em meu interior a centelha de seu amor, para que a encha até transbordar de você. Para que, transformado em caridade, viva pela ação de seu fogo, possa, com meu sacrifício, irradiar luz e calor a todos os que se aproximem de mim. Amém.

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OUTUBRO

1º de outubro Hoje recordamos Santa Teresinha de Lisieux. Nela podemos reconhecer a generosa ternura que o Espírito Santo pode infundir em nossa vida. Ela viveu e cresceu com uma bela consciência de ser imensamente amada por Jesus Cristo. Por isso desde menina ansiava consagrar-se a Deus na clausura; então se fez carmelita. Mas seu amor a Jesus não era só um desejo de viver tranquila, abrasada pelo Senhor. Porque o Espírito Santo lhe fez ver com clareza que quem ama Jesus se identifica com seu desejo, começa a desejar o que Jesus deseja. Portanto, sua paixão era ser um instrumento de Jesus para fazer o bem. Teresinha não sentia uma grande atração pela tranquilidade do céu. Interessava-lhe muito mais que no céu poderia estar mais próxima de Jesus para que sua oração fosse mais eficaz e pudesse interceder por nós com mais força. Isso se expressava em sua promessa de que depois de sua morte faria cair uma chuva de rosas. Mas o que mais se destaca em sua vida é a infância espiritual. Não se trata de um infantilismo frágil ou romântico, mas de uma atitude valente e grandiosa: renunciar à miserável tentação de acreditar que sejamos deuses todo-poderosos, de sentir-nos o centro do universo ou de pensar que somos mais que os outros. Fazer-se como crianças é confiar sem reservas no amor de Deus, e assim não necessitar mais dominar os outros, aproveitar-se deles ou procurar com desespero seus elogios e reconhecimentos. Teresinha viveu a fundo esta atitude graças à obra transformadora do Espírito Santo. O Evangelho convida-nos a recuperar a atitude de humilde confiança que caracteriza as crianças; o Reino de Deus deve ser recebido com essa confiança, própria de quem sabe que sozinho não pode nada. Assim como uma criança que, nos momentos de temor, reclama sinceramente a presença de seu pai, o coração tocado pelo Espírito Santo renunciou à sua autonomia, sabe que necessita de seu poder, que sem ele não tem força nem segurança, que nele está a única verdadeira fortaleza.

2 de outubro Nós somos fracos e levamos dentro de nós muitas inclinações que nos arrastam para a mentira, para o egoísmo, para buscar só o prazer e a comodidade, para procurar nosso próprio bem mesmo que isso possa prejudicar a outros ou encerrar-nos em nossas 151

necessidades egoístas. E nós não podemos dominar esses instintos senão nos deixarmos sustentar e fortalecer pelo Espírito Santo. Mas muitas vezes nos enganamos. Acreditamos que nos dominamos, porque dominamos a ansiedade de comer, ou porque não enganamos o cônjuge; mas talvez não saibamos dominar outras coisas: a vaidade, a tristeza ou o egoísmo, por exemplo. Cada um tem suas próprias fraquezas, e o pior que nos pode acontecer é que as ocultemos para nos enganar e enganar os outros, porque desse modo não poderemos crescer. São Paulo recomenda-nos insistentemente: Digo, pois, deixai-vos conduzir pelo Espírito e não satisfareis os apetites da carne. Porque os desejos da carne se opõem aos do Espírito, e estes aos da carne… Se vivemos pelo Espírito, andemos também de acordo com o Espírito (Gl 5,16-17.25). Não deixemos que nossas inclinações mais egoístas nos dominem e nos enfraqueçam. Melhor entregarmos ao Espírito Santo o domínio dessas inclinações, e escolhamos o que o Espírito nos propõe.

3 de outubro Espírito Santo, existem aspectos de minha vida que não estão curados, existem partes de meu ser que não estão bem. Existem setores de minha existência onde não deixei você entrar. Por isso minhas alegrias sempre têm máculas. Por isso sempre estão dando voltas as sombras da tristeza e da confusão. Venha, Espírito Santo. Hoje eu gostaria de lhe mostrar tudo, sem pretender lhe ocultar nada. Quisera que dialogássemos sobre as sombras que levo dentro de mim. Venha, Espírito Santo, porque quero descobrir diante de seu olhar minhas mais profundas rebeldias, essas coisas que não aceito da vida. Quero tirar fora, com total sinceridade, essas reclamações e protestos que não me atrevo a expressar, mas que sempre me rodeiam em meu interior revolto. Apague meus descontentamentos, aplaque minhas queixas mais escondidas, serene todo esse mundo inquieto que levo dentro de mim, cure todo rancor, toda má recordação, toda desilusão. Nada de tudo isso vale a pena. São interferências no caminho da felicidade. Por isso, venha, Espírito Santo, venha você que pode libertar-me, venha.

4 de outubro Digamos mais uma vez que os santos são um louvor ao Espírito Santo, porque ninguém pode ser santo sem a graça do Espírito. Ele, com sua graça, faz-nos parecidos com Jesus. Isso está muito claro em São Francisco de Assis, a quem recordamos hoje. O pobrezinho ou poverello de Assis é um dos santos que melhor refletem a pobreza, a 152

alegria e o amor fraterno de Jesus. Mas a formosura de seu coração poder-se-ia expressar sinteticamente como abertura. Tudo o que existe era objeto de seu amor, de sua admiração ou de sua compaixão fraterna, e por isso ele cantava a Deus pela “irmã lua”, pelo “irmão fogo”, pela “irmã erva”. Assim vemos como o Espírito Santo não nos encerra em nós mesmos, mas nos coloca em comunhão fraterna com a realidade. Seu coração pacificado não resistia nem se enchia de tensões diante das contrariedades da vida ou da natureza, mas reagia com um espírito de feliz aceitação. Isso o convertia em um modelo de permanente alegria. Seu olhar de amor cativava e exortava a viver de outra maneira. Não necessitava insistir nem pressionar os outros para obter uma resposta generosa. Servia com simplicidade o banquete do Evangelho que atrai por si mesmo, por sua própria formosura. Movido pelo Espírito Santo, Francisco saía permanentemente de si mesmo para adorar, para reconhecer a beleza das coisas, para servir com humildade a quem dele necessitasse, para perdoar a quem o ofendia. Sua pequena existência, por estar completamente apoiado no “Altíssimo e bom Senhor”, era uma inestimável combinação de ternura e de vigor. Sua mensagem e a beleza de seu testemunho provocavam conversão e reconciliação fraterna por onde passava. O beijo que deu a um leproso reflete sua capacidade de olhar os outros com o olhar de Deus. E o Espírito Santo o identificou tanto com Cristo, que lhe presenteou com as chagas que recebeu nas mãos, no maravilhoso encontro com Jesus que ele viveu no monte Alvernia. É belo deixar-se transformar pelo Espírito Santo dessa maneira, porque quanto mais nos parecemos com Jesus, mais alegria podemos experimentar na vida. Invoquemos o Espírito Santo para que possamos viver essa transformação.

5 de outubro Venha, Espírito Santo, devolva-me o sorriso. Os anos foram me tirando a alegria interior, o gosto por me encontrar com as pessoas, o entusiasmo diante das coisas novas. Necessito que volte a brotar espontaneamente o sorriso. Esse sorriso sincero, não fingido, que exprime o prazer de viver e de conviver. Esse sorriso que manifesta a esperança interior, verdadeira, real. Venha, Espírito Santo, para que volte a nascer meu sorriso. Esse sorriso dos que creem na vida e no amor. O sorriso dos que se deixam querer por Deus, porque sabem que esse amor é sadio, é bom, é autêntico e feliz; porque sabem que esse amor nunca nos falta, nunca nos abandona. Venha, Espírito Santo, e neste preciso momento aplaque minha negatividade, cure minha tristeza, ajude-me a relativizar tudo o que me inquieta. Mostre-me que a vida vale a pena, que é possível começar algo belo. Para que, neste preciso momento, possa presentear a você um sorriso. Amém. 153

6 de outubro Um dos símbolos do Espírito Santo é a unção com azeite. No Antigo Testamento, os reis eram ungidos, para que soubessem governar e para que tivessem a força necessária para poder cumprir sua missão. Acreditava-se que, junto com o azeite que se derramava, descia o Espírito divino (cf. 1Sm 9; Sl 2,6). Também os sacerdotes eram ungidos em sua consagração (cf. Ex 28,41; 29,7) e às vezes os profetas (cf. 1Rs 19,15-16). Jesus mesmo, quando inicia sua missão pública, aplica a essa missão o anúncio de Isaías: O espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu, e enviou-me para anunciar a Boa-Nova aos pobres (Lc 4,18). Essa unção não significa só que somos escolhidos, mas que somos capacitados para cumprir a missão que Deus nos dá nesta vida. Por isso, também no Batismo e na Confirmação nós somos ungidos. Essa unção com azeite é um símbolo dessa consagração que nos capacita, porque na antiguidade se empregava o azeite para friccionar os atletas e fortalecê-los de maneira que pudessem correr e chegar à meta com sucesso. Mas, para cumprir outras funções, como o governo, o sacerdócio ou a profecia, não basta a força, mas também a sabedoria. Por isso, tal unção com o azeite passou a simbolizar também o Espírito Santo que se derrama para nos dar essa sabedoria. Aos cristãos que receberam o Espírito Santo se lhes diz: Quanto a vós, a unção que dele recebestes permanece em vós. E não tendes necessidade de que alguém vos ensine (1Jo 2,27). Imaginemos o Espírito Santo que se derrama sobre nós como um azeite perfumado, e demos-lhe graças pela força e pela sabedoria que ele nos concede muitas vezes, quando mais disso necessitamos.

7 de outubro Espírito Santo, fonte da paz verdadeira, venha. Pacifique meus medos. Venha, Espírito Santo. Pacifique minhas ansiedades. Venha, Espírito Santo. Pacifique minhas obsessões. 154

Venha, Espírito Santo. Pacifique meus remorsos. Venha, Espírito Santo. Pacifique minhas más recordações. Venha, Espírito Santo. Pacifique minhas insatisfações. Venha, Espírito Santo. Pacifique meus rancores. Venha, Espírito Santo. Pacifique minhas tristezas. Venha, Espírito Santo. Pacifique meu nervosismo. Venha, Espírito Santo. Pacifique toda a minha vida. Venha, Espírito Santo. Amém.

8 de outubro Dentro de nós existe muita energia que desperdiçamos no medo, na tristeza, na inveja e em tantas outras sensações inúteis. Mas essa energia despertada por tantas más sensações pode ser utilizada positivamente, porque o Espírito Santo pode saná-la e convertê-la em algo positivo, se aceitamos dar o passo que ele nos propõe. O medo do futuro, por exemplo, deve converter-se em um desafio, que nos estimule a preparar-nos com entusiasmo para o enfrentar. É preciso ver como essa energia do medo se converte em esperança e decisão. A tristeza pode converter-se em uma atitude de profunda reflexão que nos permita descobrir os grandes valores da vida, em lugar de buscar entretenimentos que só nos distraem. A energia que se desperta na inveja também pode se converter em algo positivo: na capacidade de se deixar mobilizar por essa pessoa que invejamos e começar a tomar essa pessoa como um estímulo para tirar o melhor de nós mesmos, mas do nosso jeito e com nossa própria missão, sem pretender copiar o que o outro faz. Deixemos entrar o Espírito Santo nessa energia interior que estamos utilizando mal, para que ele nos ensine a usá-la bem, para convertê-la em uma força positiva de vida e de crescimento.

9 de outubro Quando fomos formados no seio de nossa mãe, o Espírito Santo colocou em nós muitas capacidades, que nem sequer imaginamos. A maioria das pessoas morre sem ter 155

desenvolvido uma mínima parte de todas essas capacidades que o Espírito Santo lhe concedeu. Porque são como sementes de coisas boas que necessitam de nossa decisão e nossa cooperação para se desenvolver. É uma pena que tantas coisas belas fiquem atrofiadas e escondidas, porque serviriam para melhorar o mundo ao nosso derredor. Invoquemos o Espírito Santo, para que possamos explorar todo esse potencial de vida, de luz e de bem que levamos dentro de cada um de nós; para que não nos depreciemos a nós mesmos nem pensemos que temos pouco para dar. Não vamos ser mais fortes se guardarmos em nós tudo isso. É bem o contrário, porque as coisas mais belas que levamos dentro de nós só se desenvolvem se as exercitamos e as compartilhamos. Então seremos mais fracos e mais pobres se as deixarmos escondidas e não as ofereçamos ao mundo. Demos graças ao Espírito Santo, que nos encheu de riqueza interior, e peçamos-lhe que nos fecunde com sua graça para que desenvolvamos tudo o que pôs em nós.

10 de outubro O Espírito Santo nos faz nascer e nos faz renascer. Fez-nos nascer no Batismo, mas isso é só um germe, uma semente que se tem de desenvolver permanentemente. O Espírito Santo é quem realiza esse permanente renascimento. Jesus disse a Nicodemos: Em verdade, em verdade vos digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus”… Não te maravilhes de que eu te tenha dito: Necessário vos é nascer de novo (Jo 3,5.7). Mas descobrimos que esse nascimento tem de ser permanente porque em Jo 3,18 e em 1Jo 3,9; 5,18 advertimos que ali se fala dos que renasceram de um modo pleno, e já não pecam, porque nasceram perfeitamente de Deus. Portanto, o Espírito Santo nos fez renascer no Batismo, mas quer fazer-nos renascer cada dia até que sejamos plenamente renovados e transformados. Vivamos cada dia dessa maneira, como uma nova oportunidade para nascer de novo, para continuar renascendo para uma vida mais bela e melhor. Invoquemos o Espírito Santo para que nos faça renascer cada dia mais, porque só com seu poder é possível morrer cada dia para o homem velho e deixar nascer o homem novo. Não podemos nos contentar com a vida recebida no Batismo, que é como um germe, mas permitir seu desenvolvimento até alcançar uma plenitude de vida tal, que o pecado já não possa ter poder algum sobre a própria existência.

11 de outubro 156

Como sempre o apaixonado Santo Agostinho expressa de uma maneira maravilhosa o desejo de Deus, e também o desejo do Espírito Santo. Usemos suas palavras para elevar o coração ao Espírito Santo: Venha, doce Consolador dos que estão desolados, refúgio nos perigos e protetor na miséria. Venha, você que lava nossas manchas e cura nossas chagas. Venha, força do fraco, apoio daquele que cai. Venha, doutor dos humildes e vencedor dos orgulhosos. Venha, pai dos órfãos, esperança dos pobres, tesouro dos que sofrem a indigência. Venha, estrela dos navegantes, porto seguro dos náufragos. Venha, força dos viventes e saúde dos moribundos. Venha, Espírito Santo, tenha piedade de mim. Faça-me simples, dócil e fiel. Compadeça-se de minha fragilidade com tanta bondade que minha pequenez se encontre diante da multidão de suas misericórdias. Venha, Espírito Santo. Amém.

12 de outubro O Espírito Santo limpa, purifica, destrói todo o manchado e leva consigo nossa sujeira. Por isso é água que lava, vento que arrasa e fogo que queima: Quando o Senhor tiver lavado a imundície das filhas de Sião, e apagado de Jerusalém as manchas de sangue pelo sopro do direito e pelo vento devastador (Is 4,4). Quando nos sentimos sujos por dentro, por nossas infelicidades, egoísmos ou más ações, invoquemos o Espírito Santo para que queime tudo isso com seu fogo e o destrua para sempre: é como o fogo do fundidor, como a lixívia dos lavadeiros (cf. Ml 3,2). Já no Batismo nos banhou e volta a fazê-lo cada vez que voltamos para ele sinceramente arrependidos: Salvou-nos com o banho do novo nascimento e a renovação pelo Espírito Santo (Tt 3,5). Vejamos como o exprimia São Leão Magno: Um povo que se consagra ao céu nasce aqui de semente fecunda; gera o Espírito Santo fecundando a água. Submerja-se pecador para se limpar na sagrada corrente. Velho o receberá a água, mas o despedirá novo. Muitas vezes, quando caminhamos e trabalhamos em um dia de calor de verão, aprazamo-nos ao nos sentir limpos depois de um bom banho. Muito mais bela é a 157

limpeza que o Espírito Santo realiza se lhe permitimos que passe por nós com sua água purificadora.

13 de outubro A água é um símbolo central no quarto Evangelho e representa a ação do Espírito em nós, que vem cumprir as promessas proféticas de uma água purificadora e vivificadora (cf. Ez 36,25.27; 47,1-12; Zc 13,1; Is 12,3). A identificação da água com o Espírito é evidente em Jo 7,37-39. Em Jo 19,28-35 o lado transpassado de Cristo se manifesta como a fonte da água viva do Espírito. No derramamento do Espírito, cumpre-se a missão de Cristo que veio trazer vida em abundância (cf. Jo 10,10). A água do Espírito, fazendo-se presente em nós pelo Cristo ressuscitado, nos faz participar da vida da Trindade (cf. Jo 16,13-15; 14,19). Assim sua iniciativa de amor nos faz fecundos (cf. Jo 15,16), comunicando aos outros a vida do Ressuscitado. Desse modo participamos de sua glória (cf. Jo 17,22). No Filho de Deus feito carne habita a plenitude da graça do Espírito Santo e dessa plenitude recebemos nós (cf. Jo 1,14.16.17). Evidentemente, o eixo unificador de todos os símbolos do Evangelho de João para falar do Espírito Santo é a “vida”. Trata-se da vida nova que reside na humanidade glorificada de Jesus Cristo e que transborda para os que se aproximam dele. Unidos a ele, os crentes participam de sua fecundidade, derramando a beleza de sua vida no mundo. Jesus Cristo, como fonte aberta do Espírito Santo, é manancial de vida, pão da vida, oferece vida em abundância.

14 de outubro O mundo está cheio de cores que lhe dão uma beleza tão rica e variada para que nos alegremos e nos aprazemos. Mas algumas pessoas, por uma deficiência física, só podem ver em branco e preto. Outros podem ver em cores, mas não sabem valorizá-lo. Isso também pode nos suceder no nível espiritual. O mundo está cheio de coisas belas, de uma variedade imensa de coisas boas. Mas às vezes estamos tão limitados espiritualmente que nos parece que tudo é cinzento. As árvores não nos deixam ver o bosque. Um problema não nos deixa ver tudo o que está bem em nossa vida, um temor obscurece toda a nossa esperança. Peçamos ao Espírito Santo que nos liberte dessa enfermidade, para que possamos desfrutar e gozar com essa imensa variedade de coisas belas que existem no mundo.

15 de outubro A magnanimidade é uma bela virtude, que nos leva a desejar coisas grandes, a gastar 158

nossa vida para lhe presentear com algo grande neste mundo. Porque ser humildes não quer dizer que escondamos nossas capacidades ou que enterremos nossos talentos. O Espírito Santo não se apraz com nossa destruição nem espera que renunciemos aos nossos sonhos. Ao contrário, ele nos lança para a aventura de viver grandes coisas. Isto está claro na vida de Santa Teresa de Ávila, que hoje recordamos. Ela desde pequena sonhava em fazer coisas grandes por Cristo. Mas nessa época, faz quinhentos anos, as mulheres não podiam se destacar na sociedade nem na Igreja. Sentia-se ela muito estimulada à leitura das vidas dos santos e dos livros de cavalaria. Por isso um dia, sendo ainda menina, quis fugir com seu irmão com o desejo de dar a vida por Cristo nas terras pagãs. Em 1535 entrou para o convento da Encarnação em Ávila. Mas pode-se dizer que só vinte anos depois ocorreu sua grande conversão, a ação mais poderosa do Espírito Santo. Em pouco tempo sentiu o chamado de Deus a reformar a vida dos conventos carmelitas, devolvendo-lhes seu espírito de austeridade e fervor evangélico, onde não deveria faltar a alegria. A esta reforma uniu-se São João da Cruz. Ambos sofreram irrisão e perseguições, mas nada podia frear esta mulher decidida e segura. À sua íntima atividade uniu uma altíssima experiência mística que ficou estampada em seus escritos espirituais, pelos quais a Igreja a declarou doutora. Fundou muitos conventos reformados, o que lhe significou numerosas viagens que deterioraram sua saúde. Por causa dessas viagens, chamavam-na depreciativamente “mulher inquieta e andarilha”. Mas, apesar das perseguições que suportou da parte das mesmas autoridades da Igreja, expirou dizendo: “Morro filha da Igreja”. Porque o Espírito Santo que nos convida a viver coisas grandes leva-nos também a vivê-las em humildade e em fraternidade, nunca na vaidade e na divisão. Teresa é um belo estímulo que nos convida a nos deixar levar pelo Espírito Santo sem covardia nem mesquinharia, sabendo que, unidos ao Senhor, e mais além do que nós possamos ser, nossa vida dará muito fruto.

16 de outubro Espírito Santo, você é o amor. E eu, que sou uma pequena criatura, levo em mim uma imensa capacidade de ternura e de encontro. Não obstante, ainda não aprendi o que é o verdadeiro amor. Meu coração é fraco e necessitado. Muitas vezes desejo um abraço afetuoso, anseio por uma amizade boa e profunda, e meu interior necessita de experiências de amor que me façam sentir vivo. Procurando amor, muitas vezes me engano e peço aos seres humanos o que não me podem dar. Por isso lhe rogo, Espírito Santo: ajude-me a valorizar o amor e a amizade que você me oferece, ensine-me a ver que em sua presença está todo o amor que necessito, e infinitamente mais. Que seu amor é transbordante e cheio de ternura, 159

que seu amor é forte mas intimamente próximo, que seu amor é a resposta verdadeira para meu coração necessitado. Venha, Espírito Santo, passe por meu interior sedento e cure minhas insatisfações mais profundas. Acalme minha sede com sua água de vida. Amém.

17 de outubro Dar a vida por Jesus não é uma coisa de pessoas tristes, amarguradas ou resignadas. É um gozo que não se pode imaginar, porque só o entende aquele que é tocado pelo Espírito Santo e chamado à entrega total. Hoje recordamos Inácio de Antioquia e, nele, descobrimos de que maneira nos fortalece o Espírito Santo. Porque ele não só dá força, mas também nos dá alegria e paixão. Santo Inácio foi assassinado por sua fé no ano 107. Quando era levado pelos soldados, chamava-lhes a atenção ver seu rosto sereno e alegre. Inácio explicou o que sentia, em uma de suas cartas: “Há dentro de mim um manancial que clama e grita ‘Venha ao Pai!’”. A atração dessa fonte definitiva de vida e de plenitude que é o Pai amado compensava infinitamente qualquer sacrifício, justificava qualquer renúncia e merecia uma entrega definitiva. O Espírito Santo é quem coloca em nossos corações essa doce atração. Vale a pena recordar algumas frases das preciosas cartas de Inácio, onde se manifesta seu apaixonado e inquebrantável amor: “Deixem-me que seja pasto para as feras, pelas quais poderei alcançar o Senhor. Sou trigo de Deus, e quero ser moído por esses dentes, para converter-me em um limpo pão de Cristo”. É admirável esse misterioso poder da graça, que desdobra toda a sua beleza nos que não opõem resistência à sua ação. A deslumbrante liberdade de Santo Inácio de Antioquia, capaz de entregar-se feliz e extasiado, convida-nos a relativizar nossos sofrimentos e a desterrar tanta tristeza inútil, tantos tormentos desnecessários, tantas queixas infecundas. Nós não podemos buscar o martírio, porque é um presente; mas podemos pedir ao Espírito Santo que nos ajude a viver essa entrega total, vivendo com alegria e profunda fé no meio dos sofrimentos e preocupações que nos cumpra viver a cada dia, para dar a vida gota a gota.

18 de outubro Venha, Espírito Santo, porque ainda levo alguns sonhos dentro de mim, alguns projetos escondidos, alguns desejos interiores. São essas inquietações que me mantêm vivo e desperto. Venha, Senhor para que não se apaguem esses sonhos, e para que nasçam outros projetos novos, mais belos ainda. Porque dentro de mim está sempre clamando esse chamado a crescer que você colocou em meu coração. E eu sei que, se não 160

crescer, me debilito, pois a água estancada vai se perder. Por isso, venha, Espírito Santo, não permita que me detenha, que me encerre, que me limite. Estou chamado a fazer muito mais e quero ir mais além. Inunde-me com esse estímulo divino de sua graça, para que progrida decidido até novos horizontes. Com sinceridade, com muita paz, sem obsessões, mas também com um incontido entusiasmo. Venha, Senhor da vida, venha. Amém.

19 de outubro Quando sentimos que nossa vida é algo medíocre, às vezes nos vem o desejo de fazer algo grande, notável, extraordinário. E invejamos as pessoas que se destacam. Mas como não nos sentimos capazes de mudar completamente de vida ou de dar grandes passos, então optamos por ficar acomodados em nossa mediocridade. Não obstante, o Espírito Santo geralmente não quer nenhuma das duas coisas, porque sabe que nós mudamos dando pequenos passos, chegamos pouco a pouco às coisas grandes através de mudanças pequenas que vão somando-se e nos vão modificando lentamente. Não é tudo ou nada. É pouco a pouco. Nós, seres humanos, temos a tendência permanente a nos enclausurar no que já temos conseguido e ficarmos acomodados na normalidade em que vivemos. Por isso, mesmo um pequeno passo sempre é na realidade algo imenso. Poderíamos dizer que o Espírito Santo exulta de alegria infinita cada vez que nós damos um pequeno passo: cada vez que nos decidimos a pedir perdão por nossos pecados, cada vez que damos uma esmola, cada vez que visitamos alguém que necessita de nós, cada vez que entramos em uma igreja só dois minutinhos para dizer algo ao Senhor. Tudo isso que para nós nos parece demasiado simples ou que não vale muito tem, sim, um grande valor. Não será tudo o que se pode fazer, mas neste momento é tudo, porque é o que posso fazer. Deixemos que o Espírito Santo nos impulsione a dar esses pequenos passos e não resistamos pensando que são pequenos e inúteis.

20 de outubro Dirijamo-nos ao Espírito Santo com as palavras do Veni Creator, um hino que a Igreja rezou durante vários séculos. Unamo-nos espiritualmente aos irmãos de todo o mundo com estas belas palavras: Venha, Espírito Santo, Criador, visite os corações dos seus. Encha de imenso amor estes peitos que você criou. 161

Espírito paráclito de Deus, altíssimo dom celestial, fonte de vida, fogo, caridade e unção espiritual, venha com seus sete dons. Dedo da mão do Pai. Você, promessa do Pai, que enche nossa boca de sabedoria. Acenda sua luz em nossos sentidos, infunda amor em nossos corações e com sua potência poderosa fortaleça nossa fragilidade. Rechace o inimigo que nos domina e dê-nos a paz verdadeira, para que com seu auxílio divino evitemos todo mal. Faça-nos conhecer o Pai eterno e Jesus Cristo, nosso Senhor. E que em você, Espírito Santo, possamos crer sempre. Seja a glória ao Pai, e ao Filho que ressuscitou dentre os mortos, e a você, Paráclito, pelos séculos, dos séculos. Amém.

21 de outubro A liberdade que nos dá o Espírito Santo nos permite aceitar que a felicidade se realize de maneiras muito diversas. O Espírito nos faz descobrir que não existe só um modo de ser felizes, mas muitos. Nós nos agarramos a uma forma de ser felizes, porque acreditamos que é a única. Imaginamos que só podemos ser felizes quando não temos nenhum problema, nenhuma enfermidade, nenhum desafio. Mas isso é mais um engano que nos amarra e nos limita. É necessário entregar-se ao Espírito Santo e aceitar que ele nos proporcione a felicidade, seja como for. Porque um modo de felicidade não é a felicidade, é só um modo. E o Espírito Santo quer fazer-me conhecer muitas maneiras de felicidade. É feliz quem, no meio de um problema, é capaz de se unir a outro que tem o mesmo problema para encontrar juntos uma saída. É feliz quem tem uma enfermidade, é capaz de descobrir o amor do Senhor e descansar em sua presença no meio dessa enfermidade. É feliz quem é capaz de adiar seus desejos e não pretende vivê-lo todo agora. É feliz 162

quem não pode viajar para a Europa, mas pode passar uma tarde ensolarada na margem de um pequeno riacho. Peçamos ao Espírito Santo que nos proporcione essa capacidade de adaptação que nos permite aceitar a forma de felicidade que é possível hoje, sem nos angustiar com o que agora não é possível.

22 de outubro O Espírito Santo é mestre das coisas pequenas. Frequentemente não somos felizes porque não sabemos valorizar esse ensinamento. Muitas vezes não desfrutamos certas coisas porque nos parecem pequenas. Outras vezes não fazemos algumas boas ações porque nos parecem insignificantes. Como conclusão, permanecemos sem nada entre as mãos. Trata-se de uma tentação que nos convém dominar. Este pequeno momento vale a pena, porque é a simples felicidade que o Senhor me está proporcionando agora. Se eu o aceito, e o desfruto com simplicidade, isto tonifica minha alma, me ajuda a sentir-me vivo e me prepara para outras alegrias mais intensas. Esta pequena ação vale a pena, dar este sorriso vale a pena, dar esta saudação amável vale a pena, oferecer essa pequena ajuda vale a pena. Porque é o que o Espírito Santo me está inspirando e, então, isso não tem medida, não é pequeno. A medida e o valor desse ato são dados porque é uma resposta às inspirações do Espírito Santo, porque é um ato de amor. Então vale a pena.

23 de outubro Às vezes o Espírito Santo não pode me presentar com sua vida e sua paz, e não pode operar em minha existência, porque eu estou entusiasmado por algo e quero consegui-lo por um caminho equivocado. É certo que necessitamos de amor, todos dele necessitamos. E se alguém diz que não necessita de amor está mentindo, está enganando a si mesmo, cauterizou-se para não sofrer. No fundo de seu coração, existe uma criança necessitada que está gritando de frio e de abandono. Mas nunca conseguiremos o verdadeiro amor que necessitamos vendendo-nos aos outros, procurando fazer tudo o que esperam de nós para que nos queiram bem, violentando-nos por dentro e procurando ser o que não somos. Se nós renunciamos a sermos nós mesmos, eles não amarão nosso ser real; amarão só essa máscara, essa aparência que fabricamos. Não sejamos injustos conosco e com Deus. Sejamos o que temos de ser, nosso verdadeiro ser, aquele que Deus criou. É certo que teremos de nos cultivar, mas sem deixar de sermos nós mesmos. 163

Por isso, é melhor deixar-nos amar pelo Espírito Santo. Qualquer amor verdadeiro não é mais que um reflexo do Espírito, que é amor sem limites. É um amor que me quer como sou e que só espera que seja eu mesmo. Quando me toca por dentro para me embelezar, ele o faz respeitando essa identidade que ele ama. Peçamos-lhe então que destrua nossa máscara e faça resplandecer nossa realidade mais bela.

24 de outubro Venha, Espírito Santo, para me ensinar a gostar de mim como você de mim gosta. Você sabe que às vezes tenho obsessão por meu corpo, angustio-me quando descubro a passagem dos anos na minha pele, quando percebo que o aspecto físico se vai desgastando sem cessar, quando reconheço que minha beleza é limitada e que alguns detalhes do meu corpo não me agradam. Venha, Espírito Santo, e me ensine a amar este corpo que você criou. Ajude-me a tratá-lo com carinho e delicadeza, porque é obra de seu poder amoroso. Não permita que tenha obsessão pela beleza e pela saúde, para que possa amar este corpo tal qual ele é, e reconheça que tem um lugar no universo, porque sou uma criatura sua. Passe por meu corpo, Espírito Santo, cure-o, restaure-o, serene-o. Cure todas as enfermidades que se provocaram por falta de amor, por exigir demasiado dele, por tratá-lo mal, por ter-me enchido de tensões, por todas as angústias que lhe causaram dano. Venha, Espírito Santo, passe delicadamente por todo o meu corpo e encha-o de vida. Amém.

25 de outubro Diz o Evangelho que Jesus estava cheio do Espírito Santo, porque o Pai Deus lhe concede o Espírito sem medida (Jo 3,34). Sem medida, e isso significa que Jesus está repleto do fogo, da luz e do poder do Espírito Santo. Todo o seu ser transborda de vida, de amor e de beleza, porque ele possui o Espírito sem medida. Imaginemos Jesus feliz por essa presença plena e transbordante do Espírito em seu coração, imaginemos quanta liberdade, quanta alegria, quanta força havia nele quando pregava, quando fazia milagres, quando caminhava para toda parte derramando amor. E peçamos-lhe que abra seu coração, para que dessa plenitude também nós possamos receber cada dia mais o Espírito Santo. Porque dele necessitamos para viver melhor.

26 de outubro O Espírito Santo ama minha felicidade. É um erro tremendo crer que só podemos oferecer-lhe nossos sofrimentos, como se a ele não interessasse que desfrutemos desta 164

vida. É certo que ele pode ajudar-nos quando estamos passando por momentos difíceis. Mas também espera que o reconheçamos no meio de nossas alegrias e prazeres. Algumas pessoas, quando estão vivendo um bom momento, não sabem desfrutá-lo, porque pensam que isso não interessa a Deus. Sentem que não são dignos de desfrutá-lo ou que só valem o sacrifício e o trabalho. Esquecem que Deus nos ama, e nos ama com generosidade e com ternura. É como qualquer amigo que nos quer bem a sério e que se alegra quando as coisas nos correm bem e podemos ser felizes. Por isso, quando estamos passando um bom momento, desfrutemo-lo e demos graças ao Espírito Santo. Se não somos egoístas e somos capazes de compartilhar com os outros, o Espírito Santo desfruta conosco.

27 de outubro É muito sadio descobrir que minha vida é um presente, que não tenho de comprá-la nem fabricá-la. Seria uma tarefa demasiado grande procurar produzir minha própria vida, tratar de merecê-la. Além do mais isso é impossível, porque a vida só pode ser criada pelo Senhor todo-poderoso. Muitas pessoas adoecem e se enchem de nervosismo e tensões porque creem que devem fazer milhares de coisas para sentir que estão merecendo a vida. Esse é um engano tremendo. A vida é puro dom, só é preciso recebê-la. Por isso é bom ajudar-se com a imaginação, para procurar reconhecer que em nosso interior existe uma fonte da vida, que não somos nós, é o Espírito Santo. Assim, pouco a pouco, vamos procurando sentir que somos gerados, produzidos por ele, como se fosse uma turbina que produz corrente elétrica sem parar. Imaginemos que somos como uma flor e, dentro de nós, está essa raiz que nos faz florescer com sua seiva. É o Espírito que dá vida. Somos um dom, puro dom, puro presente. Vivamo-lo com permanente gratidão.

28 de outubro Muitos, movidos pelo Espírito Santo, deram a vida por grandes ideais. Alguns deram a vida por Cristo. Mas se é possível entregar até o sangue suportando tormentos terríveis, então é possível entregar muito menos por Cristo e pelos outros. Realmente é possível suportar com paciência, e até com a alegria do amor, as contradições e angústias de cada dia. É possível tolerar com serenidade que nos critiquem, nos rejeitem, nos esqueçam. Por que não? Se outros podem ser assassinados por ser fiéis à sua opção, e se entregam decididos, por que eu não posso receber zombarias, contradições e rejeições como as sofreu Jesus? Por que eu terei de estar livre de todo sofrimento, limite ou angústia? Quem sou eu para pretender que não se peça nada de mim? 165

Nenhum de nós é o centro do universo nem tem direito a exigir que o mundo esteja ao seu serviço ou que sua vida esteja livre de toda dificuldade. Certamente, isso é o que os enganos da sociedade de consumo proporcionam, mas não vale a pena viver de enganos. Invocando o Espírito Santo para que nos faça mais firmes por dentro, podemos conseguir que as contrariedades da existência e as moléstias da vida em sociedade não nos derrubem nem nos tirem a ventura de ser cristãos.

29 de outubro Venha, Espírito Santo; venha, Deus de amor. Porque o amor é o que mais necessito. Porque sem amor sou como uma planta seca, sem raízes. Porque o amor é vida, é força e é calor. Porque sem amor o coração morre de frio. Venha, Espírito de amor. Porque o amor do mundo sempre é imperfeito. Porque é seu amor o que mais necessito. Porque seu amor é real, é verdadeiro, é sincero. Venha, Espírito de amor. Porque todo o meu ser está feito para o amor. Porque o amor dá um sentido a tudo mais. Porque sem amor, nada poderá fazer-me feliz. Venha, Amor infinito. Porque todos os demais amores são imperfeitos e dão-me sede do seu. Venha, Espírito Santo. Amém.

30 de outubro O Espírito Santo presenteia-nos sua paz. Mas a paz deve ser buscada de novo a cada dia, porque permanentemente existem coisas que voltam a nos perturbar: o orgulho ferido por uma palavra que nos disseram, o temor de que aconteça algo desagradável, uma coisa que não nos saiu bem, a dor de ter dito algo que não devíamos dizer, o desejo 166

de algo que não podemos conseguir etc. Tudo isso nos vai tirando a paz. Por isso, não se deve deixar passar vários dias sem voltar a rogar ao Espírito Santo que nos pacifique por dentro com sua carícia de amor. Também para isso se pode utilizar a imaginação: Tomo consciência das coisas que me estão perturbando por dentro e imagino cada uma como uma gota que cai e se funde em um regato que a arrasta. Até que sinto dentro de meu coração um doce vazio. Não ficaram perturbações, e agora esse buraco se encha de calor, de força, de vida, de fogo que consuma todo o resto de preocupação: é o fogo do Espírito Santo que tudo invade.

31 de outubro No século IX, o piedoso Rábano Mauro escreveu esta oração ao Espírito Santo. É bom reconhecer que, mesmo que tenham se passado séculos, podemos continuar utilizando essas mesmas palavras, porque expressam a sede do coração humano: Venha, Espírito de Deus Criador, e visite o lar de seus fiéis. Faça de seu peito um templo de graça com o dom de sua presença santa. Você, o amor que consola os filhos Como eterno presente do Pai, Caridade, fonte viva de graça, chama eterna de amor verdadeiro. Que sua luz ilumine os olhos e seu amor se derrame na alma. Seja mão vencedora em nossas lutas, e caminho que nos guie os passos. Que seus filhos triunfem sobre o mal e que reine a paz em suas vidas. Fortaleça a fé do crente que nasceu para a vida divina. Demos glória para sempre a Deus Pai e a Jesus triunfador da morte, e ao Espírito, vida da alma, louvor e honra para sempre. Amém.

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NOVEMBRO

1º de novembro A celebração de hoje é um canto ao Espírito Santo. Porque celebrar todos os santos é motivo de alegria e de consolação. Neles se manifesta o triunfo da graça, a eficácia da ação do Espírito Santo, porque quando Deus coroa os méritos dos santos está coroando seus próprios dons (Santo Agostinho). O conjunto dos santos nos faz ver algo precioso: que o Espírito Santo nos renova, nos transforma, mas respeita a identidade de cada um e ama a variedade. Por isso todos os santos são diferentes e cada um foi santo à sua maneira. Reconhecendo a imensa variedade de santos, com temperamentos, opções e histórias tão variadas, podemos reconhecer como a ação de graças é sempre pessoal, respeita a identidade de cada um e não condiciona sua liberdade. Também cada um de nós, com suas peculiaridades, mas curado e libertado, poderá integrar essa maravilhosa comunidade celestial e integrar-se no feliz louvor que não tem fim. Hoje recordamos também as milhares de pessoas que não foram canonizadas em uma declaração oficial da Igreja, mas que certamente alcançaram a santidade de maneiras pouco notáveis. Entregaram-se com amor na simplicidade do cotidiano. Outras talvez tenham vivido a santidade no meio de muitos condicionamentos ou também no meio da loucura. Elas, no céu, brilham libertadas de seus limites e angústias, e sua beleza é um louvor ao Espírito Santo que se iluminou embelezando suas vidas.

2 de novembro Glória a você, Espírito Santo, meu Deus infinito e belo. Senhor deslumbrante vestido de imensa luz. Esta pequena criatura quer adorá-lo e reconhecer sua grandeza. Prostro-me diante de você, Senhor, e lhe peço que toque meu coração, que abra meus lábios e presenteie-me com o dom de saber adorá-lo. Não permita, meu Deus, que me encerre em minhas preocupações e nos meus penares, não deixe que minha boca se encha só de lamentações. Ajude-me a sair de mim mesmo para louvá-lo, você que é digno de todo louvor, meu Deus e meu Senhor amado. Santo é você, bendito seja, louvado e glorificado seja por sua formosura, por sua 168

força, por sua bondade, por sua imensa paz. A você seja a glória para sempre. Senhor, quero entregar-me à vida, porque também hoje estaremos juntos. Você estará comigo, Espírito Santo, e com sua amizade eu posso enfrentar tudo o que suceda. Poderei ver, em tudo o que me aconteça, uma oportunidade, um sonho, um desafio. Escuto seu convite para a vida e quero dizer-lhe que sim, Espírito Santo. Embora tenha vivido muitos dias cinzentos, cheios de fracasso, hoje quero procurá-lo uma vez mais; para que tudo o que me suceda possa ser transformado por sua amizade. Venha, Espírito Santo. Amém.

3 de novembro Venha, Espírito Santo. Seu olhar luminoso tudo penetra, com paciência e imensa compaixão. Minhas infidelidades não destroem seu amor, que sempre volta a buscar-me, para que minha vida espiritual possa crescer feliz em sua presença. Quisera que todas as minhas ações lhe agradem, que minha vida já não se separe de seu santo projeto para mim, que tudo o que faço reflita sua luz, sua alegria e seu amor. Mas você conhece minha fragilidade. Por isso rogo-lhe uma vez mais que me toque com seu poder divino. Sem seu auxílio, nada posso. Venha, Espírito Santo. Não deixe que me dominem as más inclinações. Triunfe em mim, Espírito Santo. Triunfe com a generosidade, com a alegria, com a pureza, com o perdão. Triunfe com a bondade, com a paz, com o serviço. Triunfe com a esperança, o fervor, os bons desejos. Venha, Espírito Santo, para que não me voltem a arrastar os velhos costumes, para que não me dominem outra vez as más inclinações, os rancores, a melancolia. Venha, Espírito Santo, para que tudo em mim seja luminoso. Amém.

4 de novembro Os dons do Espírito Santo estão tomados do texto de Isaías 11,2, onde fala do Messias e diz que sobre ele repousará o Espírito do Senhor, Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de prudência e de coragem, Espírito de ciência e de temor do Senhor. Como no versículo 3 repete-se o temor, algumas traduções colocam “piedade” e assim temos os famosos sete dons. São os dons que estiveram em plenitude em Jesus, porque ele tinha o Espírito sem medida (Jo 3,34). E são os dons que o Espírito Santo derrama também em cada um de nós para nos impulsionar a viver de maneira diferente. Com esses dons, o Espírito Santo sustenta-nos e estimula-nos para que possamos praticar com mais agilidade as virtudes cristãs e para que cheguemos à plenitude de sua santidade. 169

Peçamos ao Espírito Santo que desenvolva cada vez mais esses dons em nossa vida, de maneira que possamos parecer-nos cada vez mais com Jesus, para que se nos faça espontâneo atuar como Jesus atuava. Nos próximos dias, refletiremos sobre cada um desses dons.

5 de novembro O primeiro dom do Espírito Santo é a sabedoria. Mas temos de esclarecer que, quando a Bíblia fala de sabedoria, não quer dizer os conhecimentos ou a instrução intelectual. Os livros sapienciais nos falam muito desta sabedoria, que é, sobretudo, a arte de viver, de saber conduzir-se na vida. Porque existem pessoas que sabem muitas coisas, mas lhes falta o mais importante: não sabem viver. Os grandes sábios cristãos destacaram que a maior sabedoria tem a ver com o amor, que nos faz saborear as coisas celestiais. É um conhecimento gostoso, cheio de sabor espiritual. Peçamos ao Espírito Santo que nos proporcione essa sabedoria que vem do alto.

6 de novembro O segundo dom do Espírito Santo é o entendimento, que ilumina a inteligência. É a capacidade de captar algo das verdades mais profundas da fé, a habilidade para entender o sentido mais profundo da Palavra de Deus. Mas não é um dom dos estudiosos, porque o Espírito Santo pode derramar este dom de maneira preciosa em uma pessoa que nem mesmo saiba ler e que não tenha recebido nenhuma instrução. Essa pessoa, embora não saiba explicar com clareza o que sabe, pode possuir uma grande intuição espiritual que lhe permite entender as coisas mais elevadas e mais sublimes da fé cristã. Quando alguém procura estudar, aprofundar sua fé, ou compreender a Bíblia, tem de invocar o Espírito Santo para que derrame este dom com maior intensidade; porque nossa mente, sem a luz do Espírito Santo, nada pode compreender dos mistérios da fé.

7 de novembro O terceiro dom do Espírito Santo é o conselho, que nos permite orientar os outros e ajudá-los a descobrir qual é a vontade de Deus para suas vidas. Não se refere tanto a coisas práticas, mas às questões maiores, que têm a ver como sentido da vida. Isso nos mostra que o Espírito Santo não se derrama em nós só para fazer crescer nossa intimidade, mas também para o serviço dos outros. Porque ninguém cresce verdadeiramente na vida espiritual se não se entrega com generosidade aos irmãos. À pessoa profundamente espiritual interessa muito ajudar os outros a crescer e a caminhar pelo bom caminho. Mas tenhamos presente que este dom do conselho não se refere a qualquer conselho, 170

mas às coisas mais profundas da vida. É antes de tudo a capacidade de motivar os outros para serem fiéis a Deus no caminho de sua existência.

8 de novembro O quarto dom do Espírito Santo é a fortaleza; mas não se trata da fortaleza (da coragem) normal que nos permite suportar as dificuldades cotidianas. Este dom nos permite ser capazes de uma coragem superior, que nos faz capazes de dar a vida pelo Senhor, se isso fosse necessário. É a fortaleza que nos faz superar com constância coisas que, em situações normais, parecer-nos-iam impossíveis. Deixar-se matar por Cristo parece algo impossível, porque contradiz o instinto de sobrevivência, que nos leva a fugir dos perigos. Não obstante, se Deus nos pedisse isso, certamente o Espírito Santo iria nos dar a força para poder suportá-lo, e então seria realmente possível. Os mártires puderam entregar seu sangue porque os sustentava este dom maravilhoso do Espírito. Mas este mesmo dom nos sustenta quando temos de suportar coisas especialmente difíceis, quando não se trata de dar a vida, mas sim de renunciar a alguma parte importante da vida. Sem esta coragem tudo é demasiado difícil; mas com esta fortaleza qualquer coisa se pode enfrentar. Peçamos ao Espírito Santo que nos revista com este dom poderoso.

9 de novembro O dom da ciência distingue-se do dom do entendimento. Porque o entendimento tem a ver com as coisas celestiais, e o dom de ciência está mais relacionado com as coisas deste mundo. Significa que podemos olhar este mundo com olhos espirituais, com um olhar transformado pelo Espírito Santo. Então, podemos descobrir a beleza mais perfeita que o Espírito Santo derramou nas coisas. Dessa maneira, não nos apegamos às coisas deste mundo nem nos deixamos escravizar por elas, porque todas elas não conduzem a Deus. Com este dom, São Francisco de Assis podia alegrar-se em cada criatura sem perder por isso sua entrega total a Deus. Tratemos de exercitar este dom, procurando contemplar este mundo com outro olhar, renunciando à possessividade, às obsessões, e deixando que as criaturas nos falem de Deus.

10 de novembro O dom da piedade aperfeiçoa o amor fraterno e nos permite reconhecer o próximo como imagem de Deus. Dessa maneira, quando ajudamos os outros, não o fazemos só por compaixão, mas porque nos magoam sua miséria e seus problemas. Ajudamolos porque reconhecemos a imensa nobreza que eles têm. São imagem de Deus! Não pode 171

acontecer que vivam mal, que estejam sofrendo, que não tenham o necessário para viver! Peçamos ao Espírito Santo que derrame ainda mais este dom em nossos corações, para que possamos valorizar desta maneira os outros. Assim, ninguém será um inimigo, um competidor ou um mal. Todos nos parecerão realmente sagrados, porque contemplaremos neles a imagem santa de Deus. O Espírito Santo derrama este dom para que possamos viver a fundo nossa relação com os outros.

11 de novembro O último dom do Espírito Santo é o santo temor de Deus. Mas este dom não tem nada a ver com o medo. Porque, na realidade, no amor não há temor. Antes, o perfeito amor lança fora o temor (1Jo 4,18). O santo temor de Deus é a capacidade de reconhecer que Deus sempre é infinitamente maior, que nos ultrapassa por todas as partes, que nunca o podemos abranger. O amor permite-nos descobrir Deus muito próximo e cheio de ternura, mas o santo temor nos permite reconhecer que nosso amor nunca pode esgotar Deus nem possuí-lo completamente, visto que ele é o infinito e inabrangível, que está acima de tudo. Este dom nos permite recordar que nunca deixamos de ser suas criaturas e nos ajuda a ser muito cuidadosos para não ofender a Deus, para não desagradar-lhe com nossa conduta, porque ele é o Santo.

12 de novembro Venha, Espírito Santo, cheio da formosura de seus dons, glorioso e luminoso, com toda a riqueza que você derrama por onde passa. Venha, Espírito de sabedoria, e me dê o gosto pelas coisas santas e nobres. Venha, Espírito de entendimento, para que possa compreender os mistérios de sua Palavra. Venha, Espírito de conselho, para que possa orientar meus irmãos. Venha, Espírito de fortaleza, para que possa enfrentar tudo. Venha, Espírito de ciência, para que chegue à profundidade das coisas deste mundo. Venha, Espírito de piedade, para que reconheça o valor sagrado de cada ser humano. Venha, Espírito do santo temor, para que procure cuidadosamente não ofendê-lo jamais. Venha, Espírito Santo, com seus preciosos sete dons. Amém.

13 de novembro 172

Não existe nada melhor para nós que confiar no Espírito Santo; mas de maneira verdadeira, não da boca para fora. A verdadeira confiança é uma fonte de liberdade, de força e de entusiasmo. Não é algo que nos deixe quietos, passivos. Exatamente o contrário. Confiar em alguém que nos ama dá-nos uma grande segurança para enfrentar as coisas com calma e com eficácia. Quanto mais nos confiamos ao Espírito Santo, mais nos sentimos seguros, protegidos. É bom desfrutar desse sentimento de proteção e, assim, caminhar pelo mundo e enfrentar a vida. Porque a proteção do Espírito Santo é também uma orientação, um guia que nos conduz pelo caminho, um braço que nos apoia e suavemente nos impulsiona para que avancemos. Nós buscamos, ocupamo-nos, procuramos discernir, mas não estamos sozinhos, somos guiados por um conselheiro seguro. Agradeço a você, Espírito Santo.

14 de novembro Quando nos descuidamos, começamos a fabricar alguma máscara para evitar as mudanças mais profundas ou porque não nos atrevemos a sermos nós mesmos. Quais são as possíveis máscaras que temos de entregar ao Espírito Santo para que ele as destrua? Pode ser a máscara da força, que nós criamos para esconder nossa fragilidade, em lugar de procurar fortalecer-nos por dentro com o poder do Espírito. Essa máscara nos leva a mostrar-nos agressivos, rebeldes, autoritários, ambiciosos; mas, na realidade, dessa maneira só estamos ocultando nossos medos e inseguranças, que continuam nos causando dano por dentro. Outra máscara pode ser a da bondade, porque gostamos que digam que somos bons e humildes, não toleramos que pensem que somos egoístas ou orgulhosos. Então, para aparentar bondade, nunca dizemos não, sempre fazemos o que os outros nos pedem, nunca discutimos. Mas, no fundo do coração, sofremos uma grande violência, porque tudo isso não é autêntico. Em troca, o Espírito Santo fortalece-nos para que nos atrevamos a ser respeitosos e amáveis, mas autênticos e sinceros, sem pretender dar mais do que podemos nem esconder nossas verdadeiras convicções. Outra máscara muito comum é a da serenidade, como se fôssemos pessoas imperturbáveis, que não nos incomodamos nem nos enraivecemos com nada. Mas isso prossegue por dentro, e essa ira reprimida acaba queimando-nos por dentro e nos molestando. O Espírito Santo nos ensina a expressar o que sentimos, sem agredir os outros nem nos queixar permanentemente, mas sem a vergonha de manifestar o que levamos dentro de nós.

15 de novembro O Papa João XXIII iniciou uma maravilhosa reforma da Igreja. Embora o tenham 173

elegido papa quando já tinha uma idade avançada, graças a ele a Igreja começou uma grande renovação. Mas ele dizia que o autor dessa obra era o Espírito Santo, que queria transformar sua Igreja. As primeiras noites depois de ser eleito, não podia dormir pensando em sua tremenda responsabilidade. Então se perguntou: Quem guia a Igreja, eu ou o Espírito Santo? E respondeu a si mesmo: O Espírito Santo, é claro. Então pôde dormir tranquilo. Utilizemos suas palavras para invocar o Espírito Santo e façamo-lo com a mesma confiança que ele tinha: Espírito Santo, venha aperfeiçoar a obra que Jesus começou em mim. Que chegue logo o tempo de uma vida cheia de seu Espírito. Derrote toda presunção natural que você encontre em mim. Quero ser simples, cheio do amor de Deus, e constantemente generoso. Que nenhuma força humana me impeça de honrar minha vocação cristã. Que nenhum interesse, por meu descuido, vá contra a justiça. Que nenhum egoísmo diminua em mim os espaços infinitos de seu amor. Que tudo seja grande em mim. Também oculto à verdade e a prontidão no meu dever até a morte. Que a efusão do Espírito de amor venha sobre mim, sobre a Igreja, e sobre o mundo inteiro. Amém.

16 de novembro Hoje muitas pessoas buscam a felicidade no relaxamento ou na meditação, mas sem amar verdadeiramente os irmãos. Então às vezes se sentem bem, mas estão se enganando, porque estão atrofiando o chamado ao encontro que existe no profundo de seu ser. As relações humanas abertas e generosas são indispensáveis para uma vida sadia. Mas a incapacidade de conviver nos alucina em um mundo de fantasia que nós mesmos criamos, um mundo onde não existe lugar para os que são diferentes e onde só existe 174

nosso próprio eu. Fazendo algumas práticas e tomando algumas medicinas e produtos, sentimo-nos um pouco aliviados, mas isso só chega à superfície da alma, não chega à profundidade da pessoa, que continua enferma por dentro. Desse fechamento pode nos libertar o Espírito Santo, que sempre busca tirar-nos fora de nós mesmos, que não tolera que nos enganemos em um mundo interior falso e doentio. Peçamos-lhe com fé e confiança que nos liberte de todo egoísmo com a força de seu amor. Roguemos-lhe que derrame em nossas vidas a força curadora do amor. Porque quando conseguimos amar os outros, isso indica que o profundo do coração começa a curar-se e a libertar-se verdadeiramente.

17 de novembro Venha, Espírito Santo, para que me apaixonem os verdadeiros valores da vida e não me deixe enganar pelos falsos atrativos. Venha, para que reconheça que um ato de amor vale ouro e que um ato de puro egoísmo não é mais que palha e lixo. Venha, para que veja a luz cada vez que recorde Jesus e reconheça as obscuridades dos falsos modelos, que só promovem o prazer vazio e egoísta. Venha, para que recorde que vale a pena entregar-se generosamente e que não vale a pena encerrar-se na melancolia e na vaidade. Venha, para que não esqueça que minha vida não termina nesta terra e que estou chamado a um Reino celestial, onde a felicidade não terá fim. Venha, Espírito Santo, para que gaste minhas energias em coisas boas, e não as desgaste nos falsos valores. Amém.

18 de novembro Conta o Evangelho que Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto (Lc 4,1). No deserto Deus fala ao coração. Porque no deserto não existe nada interessante, nada que possa distrair-nos e nos entontecer. Só areia movida pelo vento. Por isso, chega um momento em que nos sentimos sozinhos, despidos diante de Deus, e então lhe abrimos verdadeiramente o coração. O Espírito Santo quer nos levar para o deserto. Se lermos o livro do profeta Oseias, ali vemos um enamorado que procura por todos os meios seduzir a amada, mas tudo é inútil. Finalmente encontra um modo: a atrairei, a conduzirei ao deserto e lhe falarei ao coração (Os 2,16). Evidentemente, isso não significa que tenhamos de fazer uma viagem para procurar Deus em um deserto. Trata-se de fazer deserto em nosso interior. É preciso despojar-nos de tudo, entender que não vale a pena agarrar-se a nada, que todos os falsos remédios e segredos de felicidade não servem para nada. Só nos distraem. São fantasias e desculpas. Temos de entrar em oração, deixar tudo de lado, deixar que tudo caia. Fazer deserto é 175

então encontrar-nos face a face com Deus Pai, para conversar com ele às claras, sem ocultar nada, sem nos agarrar a nada. Só assim poderemos descobrir e aceitar que ele é o único que vale a pena, que só ele pode ocupar o centro de nossa existência. Podemos viver esse deserto no meio da cidade, dentro das preocupações de um dia de trabalho, em qualquer circunstância. Porque, em qualquer coisa que façamos, podemos nos esvaziar, desarmar-nos, libertar-nos de falsas seguranças e ficar pobres, com humildade entregues e espiritualmente prostrados diante de Deus. O Espírito Santo quer nos fazer viver esse deserto agora mesmo. Aceitemos este divino convite que pode mudar nossas vidas.

19 de novembro Venha, Espírito Santo, tire-me do encerramento em que me enclausurei e abra minha vida aos outros. Derrube as paredes de meu pequeno eu. Conceda-me, Espírito Santo, o dom da disponibilidade. Faça-me disponível para servir. Faça-me disponível para escutar. Faça-me disponível para compartilhar. Faça-me disponível para ajudar. Faça-me disponível para acompanhar. Faça-me disponível para consolar. Faça-me disponível para animar. Faça-me disponível para celebrar. Venha, Espírito Santo, abra meu coração fechado, para que não esteja sempre pensando só em minhas necessidades e projetos, para que aprenda a caminhar com os outros, como um verdadeiro irmão de todos. Venha, Espírito Santo. Amém.

20 de novembro É certo que o Espírito Santo quer fazer grandes coisas em nossas vidas. Mas o que importa não é a notoriedade, a fama ou os sucessos notáveis. Coisas grandes significa que façamos o que Deus espera de nossas vidas, mesmo que ninguém descubra o valor que têm essas coisas. O importante é cada um seja o que deve ser, que ocupe o lugar que deve ocupar no universo. Isso é grande. Vejamos como o dizia Martin Luther King: Se você não pode ser um pinheiro sobre um monte, seja uma erva, mas seja a melhor erva pequena à margem de um riacho. Se você não pode ser uma árvore, seja um arbusto. 176

Se não pode ser uma rodovia, seja um caminho. Se não pode ser o sol, seja uma estrela. Seja sempre o melhor disso que você é. Procure descobrir o projeto que você está chamado a realizar e dedique-se com paixão a cumpri-lo na vida. O Espírito Santo pode ajudar-nos a descobrir isso que devemos ser, e pode nos dar a força e a criatividade para que o consigamos da melhor maneira possível.

21 de novembro Venha, Espírito de fraternidade, porque o Pai Deus quer seus filhos unidos como irmãos. Venha, Espírito de unidade. Porque você detesta a divisão e a inimizade. Venha, Espírito de irmandade, porque facilmente nos deixamos levar pelos rancores, as invejas, o egoísmo. Venha, Espírito de caridade, porque seu amor nos motiva a construir pontes, a estender laços, a estreitar as mãos. Venha, Espírito de amor sincero, para que não morram meus sonhos de um mundo de irmãos, de uma civilização do amor, de uma terra unida. Venha, Espírito Santo. Amém.

22 de novembro O Espírito Santo é o artista interior, aquele que pode nos fazer belos por dentro. Isso é muito importante, sobretudo hoje, que temos uma ideia tão equivocada da beleza. Sentimos que as pessoas valem pela aparência física. E a sociedade de consumo nos inunda permanentemente com produtos que podemos comprar para melhorar a aparência exterior. Dessa maneira, os que querem vender-nos roupa, cosméticos e tratamentos chegam a convencer-nos que as pessoas só valem pelo seu atrativo corporal. Mas ninguém está inteiramente contente com sua aparência, e a maioria das pessoas tem algum temor de se tornar feia, velha, de perder o atrativo físico, de ser desprezada por seu aspecto. Quantos sofrimentos inúteis! 177

Mas sabemos que tudo isso é mentira. Porque o mais atraente e fascinante é a beleza interior das pessoas, suas virtudes, suas atitudes, sua dignidade, sua entrega. O Espírito Santo não nos fará mais altos ou mais rosados, porque na realidade para ele todos somos belos de uma forma diferente, embora isso não responda ao gosto da sociedade. O que ele quer fazer é nos dar essa beleza interior que o mundo não nos pode dar e que ninguém nos poderá vender. Deixemos que ele faça sua obra em nós para que alcancemos essa suprema formosura.

23 de novembro Venha, Espírito Santo, para despertar minha vida interior. Venha para elevar meu coração em gratidão. Todo o universo é um louvor gozoso para o Pai Deus. Adoram-no os pássaros cantando, adoram-no os riachos correndo entre os montes, adoram-no o sol e a lua iluminando. Ajude-me, Espírito Santo, a compartilhar essa alegria de todo o universo. Ensine-me a viver com a simplicidade e o gozo que têm suas criaturas mais simples. Quero alegrar-me com a cor das pedras, com a forma das nuvens, com a simplicidade da erva e das flores. Espírito Santo, cheio de vida puríssima, vitalidade sempre nova. Você quis derramar vida no universo, e por isso existe a multiplicidade variada de todas as criaturas. Também eu sou uma chama de vida que você quis acender com seu poder sem limites. Agradeço-lhe, Senhor, pelo milagre de minha vida, porque você me tirou do nada. Porque eu poderia não existir, e não obstante aqui estou eu, sustentado por seu infinito poder. Conceda-me, Senhor, que possa valorizar e gozar esta vida que você me dá, que aprenda a desfrutar com alegria e gratidão. Espírito Santo, que hoje possa alegrar-me contemplando cada coisa, reconhecendo a formosura que você pôs em todos os seres. Encha-me da alegria cósmica que invade todas as coisas, você que é o sublime Espírito que tudo enche. Amém.

24 de novembro O Espírito Santo não consente a mediocridade; sempre quer nos levar a algo mais. O martírio é uma amostra do que pode chegar a provocar o Espírito Santo. Por isso a Igreja nos propõe recordar os mártires de diversas regiões da terra, para reconhecer a ação do Espírito Santo e para estimular nossa entrega. Hoje recordamos os 117 mártires do Vietnã. Esses mártires são pessoas de diversas condições e estados de vida: bispos, sacerdotes, catequistas, pais de família, profissionais, pescadores. Assim vemos que, em 178

qualquer situação que vivamos, é possível entregar tudo. Cada um de nós, na tarefa que lhe toque realizar, pode deixar-se tomar pelo Espírito Santo e dar a vida nessa generosa tarefa. Um desses mártires, chamado Paulo, dizia com firmeza, no meio dos tormentos espantosos que o faziam sofrer: Estou cheio de gozo e de alegria. Não estou sozinho, Cristo está comigo. Apesar das cruéis perseguições, que procuravam amedrontar as populações para que não se fizessem cristãs, hoje a Igreja no Vietnã já conta com uns seis milhões de fiéis cristãos. Por isso, nenhuma circunstância adversa deveria nos fazer pensar que não vale a pena entregar-se, que nada pode ser melhor, que nossa entrega é inútil. Nenhuma luta, levada com amor, será infecunda, para além do que nós cheguemos a ver com nossos olhos. Por isso, quando nos parece que sofremos inutilmente, invoquemos o Espírito Santo e deixemos que ele abençoe essa dor. Dessa maneira, nosso sofrimento dará frutos preciosos. Os mártires estimulam-nos a entregar a vida a cada dia. É possível, se nos deixamos impulsionar e fortalecer pelo Espírito Santo.

25 de novembro Venha, Espírito Santo, Espírito de esperança. Quando me parecer que tudo está perdido, venha, Espírito de esperança. Quando eu creia que todos são egoístas e interesseiros, venha, Espírito de esperança. Quando sinta que não vale a pena começar de novo, venha, Espírito de esperança. Quando pensar que já não poderei mudar, venha, Espírito de esperança. Quando crer que já nada belo se pode esperar da vida, venha, Espírito de esperança. Quando me parecer que a civilização do amor não é mais que uma utopia, venha, Espírito de esperança. Quando sentir que eu já não posso fazer nada pela paz e pela justiça, venha, Espírito de esperança. Quando me cansar de lutar, venha, Espírito de esperança.

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26 de novembro O Espírito Santo é um bom conselheiro. Por isso podemos dizer-lhe com o Salmo: Bendigo o Senhor porque me deu conselho, porque mesmo de noite o coração me exorta (Sl 15[16],7). O Evangelho elogia o justo Simeão porque o Espírito estava nele (Lc 2,25). Se estamos atentos, o Espírito Santo nos faz escutar seu conselho no profundo do coração e nos orienta pelo caminho correto: Fortalece em ti um coração prudente, pois nada tem mais valor para ti… Mas em todas as coisas ora ao Altíssimo, para que ele dirija teus passos na verdade (Eclo 37,17.19). Cada vez que temos de tomar alguma decisão e estamos confusos, o melhor é deternos para pedir ao Espírito Santo que nos esclareça as ideias, ajude-nos a ver melhor, mostre-nos de alguma maneira o que é que na realidade nos convém. É certo que devemos informar-nos, consultar, refletir; mas o primeiro deverá ser invocá-lo, crendo verdadeiramente que é o melhor conselheiro. Quando o invocamos de verdade, podemos estar atentos às respostas que surgem no íntimo do coração e ali encontraremos luz.

27 de novembro Venha, Espírito Santo, e ensine-me a seguir seus impulsos de amor. Ensine-me a procurar cada dia reagir melhor. Você conhece minha debilidade e sabe quanto me custa mudar minha maneira de viver; sabe como me arrastam muitas vezes o egoísmo, o orgulho, o comodismo ou a tristeza. Mas ensine-me a procurar outra maneira de encarar a vida. Porque sei que bastam essas pequenas tentativas, para ir mudando pouco a pouco minha existência. Venha, Espírito Santo, toque minha inteligência, minha imaginação, minhas capacidades, meus gestos, minha sensibilidade. Toque tudo com sua graça, para que me decida a cooperar com você e assim aprenda a viver melhor. Não quero me conformar com o pedir-lhe uma nova vida. Sei que tenho de entregar algo de mim para alcançá-lo. Ajude-me, Senhor. Venha, Espírito Santo. Amém.

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28 de novembro O Espírito Santo não se dá bem com o pessimismo. Porque a ele só interessa o que possa ajudar-nos a ir em frente, não o que nos enclausure, nos detenha, nos paralise. As pessoas movidas pelo Espírito Santo não se deixam vencer nem amedrontar pelos fracassos. Nem mesmo baixam os braços quando escutam opiniões melancólicas, negativas e pessimistas. Seguem em frente, buscando novos caminhos. Mas não são teimosos que, quando fracassam, querem a todo custo continuar tentando da mesma maneira, sem mudar nada. As pessoas verdadeiramente tocadas pela luz do Espírito Santo, quando encontram um obstáculo pela frente, se põem a buscar novas maneiras de o superar, consultam, investigam, aceitam as mudanças que seja preciso fazer, tentam aprender o que não sabem. Dessa maneira se desenvolveram alguns gênios. Por exemplo, Einstein; consideravamno um louco sonhador, que inventava ideias fantasiosas; mas finalmente, com astúcia e criatividade, conseguiu fazer ver que sua teoria era séria. Edson, seu mestre, considerava-o de mente curta. A primeira vez que Elvis Presley apresentou-se para experimentar sua voz, os especialistas em canto disseram-lhe que se dedicasse a ser motorista de caminhão. A excelente atriz argentina Norma Aleandro foi desprezada pela pessoa que ela admirava como grande artista. Todavia, eles sabiam que tinham algo para oferecer, aceitaram mudar muitas coisas e modificar seus projetos para ir crescendo pouco a pouco, para aprender a chegar aos outros e, dessa maneira, concederam ao mundo algo que vale a pena. Deixemos que o Espírito Santo nos ensine a ir em frente, sem nos desgastar inutilmente no pessimismo e nas lamentações.

29 de novembro Por um momento, peçamos ao Espírito Santo que nos impulsione ao louvor e oremos com estes preciosos Salmos: Meu coração está firme, ó Deus. Meu coração está firme; vou cantar e salmodiar… Entre os povos, Senhor, vos louvarei, salmodiarei a vós entre as nações, porque acima do céu se eleva a vossa misericórdia (Sl 107[108],2.4-5). Ó meu Deus, meu rei, eu vos glorificarei, e bendirei o vosso nome pelos séculos dos séculos. Dia a dia vos bendirei, e louvarei o vosso nome eternamente. Grande é o Senhor e sumamente louvável, insondável é a sua grandeza (Sl 144[145],1-3). Enquanto viver, cantarei a glória do Senhor, salmodiarei ao meu Deus enquanto eu existir. Possam minhas palavras lhe ser agradáveis! Minha única alegria se encontra no Senhor (Sl 103[104],33-34). 181

Bendize, ó minha alma, o Senhor, e jamais te esqueças de todos os seus benefícios (Sl 102[103],2).

30 de novembro O Espírito Santo é vida que derrama vida. Às vezes cremos que ele só nos leva a entrar em nosso interior e a afastar-nos do mundo. Mas é o contrário, porque o Espírito Santo enche todo o universo, e ele espera que saibamos unir-nos a todas as criaturas e a desfrutar do mundo. No universo existe muita alegria, porque a alegria existe quando um ser é o que deve ser, o que Deus quer que ele seja. As estrelas, que ocupam seu lugar no céu e brilham belamente, cumprem a vontade divina, e por isso nelas existe alegria; uma planta que cresce cumpre a vontade de Deus, e nela existe alegria; um pássaro que fabrica seu ninho segue seu instinto, e nele existe muita alegria. Todo o universo é como uma canção de gozo. Peçamos ao Espírito Santo, que está em todas as coisas, que nos ajude a descobri-lo assim, e encontremos nossa própria alegria.

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DEZEMBRO

1º de dezembro Espírito Santo, você é vida, você é necessário para mim como o ar que respiro. Dou-lhe graças pelo dom da vida, porque é maravilhoso existir. Permita-me respirar com você, Senhor. Adoro-o Espírito Santo, porque assim como o ar me rodeia e penetra em mim, assim também estou rodeado por você, você me envolve com sua presença, cheio de vida na plenitude e de alegria, você me penetra com sua graça e me transforma com sua presença. Glória a você, Senhor, Espírito de vida! Junto com o ar que sai de meus pulmões, leve tudo o que não me faz feliz, atire para fora de mim toda impureza, expulse todas as minhas angústias e tristezas, todos os meus rancores e más recordações, todo egoísmo e má intenção. Leve tudo, meu Deus, e deixe-me só sua graça, sua vida. Fique você invadindo todo o meu ser e reinando em mim com seu gáudio no meio de minhas trevas. Amém.

2 de dezembro Venha, Espírito Santo, para que possa reconhecer que minha vida vale a pena, que eu não existo por acaso e por fatalidade. Venha e faça-se presente no preciso instante em que eu fui concebido. Sopre com seu poder e encha de vida esse instante. Toque-me e derrame todo seu poder no seio de minha mãe. Penetre com sua bênção no momento em que comecei a existir, encha-me de vida e ensine-me a amar minha vida como você a ama. Venha, Espírito Santo, e ajude-me a descobrir que eu não existo por acaso; existo porque fui querido, fui amado e chamado à vida por seu amor. No momento de minha concepção, lá estava você, presente com todo o seu poder. Agradeço-lhe. Venha, Espírito Santo, e abençoe minha vida com seu olhar, ajude-me a sentir a fortaleza de sua presença. Amém.

3 de dezembro O Espírito Santo chama-nos, a cada um de nós, a levar o Evangelho aos outros. Mas nossa fraqueza sempre nos leva a colocar desculpas e a continuar no comodismo. Por 183

isso é bom que hoje recordemos São Francisco Xavier, para descobrir até que ponto o Espírito Santo nos pode tirar do comodismo. Francisco Xavier foi um dos sete primeiros integrantes da comunidade de Santo Inácio de Loyola que depois se chamaria Companhia de Jesus. Viajou para Veneza com a intenção de embarcar para chegar à Terra Santa. Ali se dedicou a servir aos enfermos no hospital de incuráveis, onde transmitia o amor e a consolação de Deus com uma deslumbrante piedade. Não pôde viajar para Jerusalém devido à guerra de Veneza com os turcos. Mas realizou seu incontido desejo de evangelizar, oferecendo-se ao papa para evangelizar na Ásia. O papa o nomeou seu legado para todo o Extremo Oriente. Embarcou e na viagem não perdeu tempo. Converteu toda a tripulação. Chegado à Índia, começou uma travessia marcada por permanentes gestos de heroísmo, de arrojo sem medida e de sacrificada intrepidez. Cruzou rios caudalosos, desertos e pântanos, milhares de quilômetros descalço e agoniado pela fome e pela sede. Pregava sem descanso, convencia os indígenas e os batizava. Deixou comunidades cristãs, que ainda hoje existem, no Ceilão, Malaca e nas Ilhas Molucas. Chegou ao Japão e ali introduziu a fé. Quando saiu do Japão, havia lá dois mil cristãos, que posteriormente foram perseguidos e vários morreram mártires. Francisco Xavier agonizou rezando pelos indígenas e rogando a seus companheiros que não abandonassem as missões. Calcula-se que ao longo de sua tarefa missionária converteu umas trinta mil pessoas. Deixemo-nos mobilizar por seu exemplo e peçamos ao Espírito Santo que cure nossas comodidades e covardias e nos mova a levar o Evangelho com fervor incansável.

4 de dezembro O Espírito Santo derrama alegria. Várias vezes a Bíblia fala da alegria do Espírito Santo (1Ts 1,6; Rm 14,17) e nos convida muitas vezes a viver alegres. É vontade do Senhor que não vivamos tristes. Não entregues tua alma à tristeza, não atormentes a ti mesmo em teus pensamentos. A alegria do coração é a vida do homem, e um inesgotável tesouro de santidade. A alegria do homem torna mais longa a sua vida (Eclo 30,22-23). São Paulo insistia: Alegrai-vos sempre no Senhor! (Fl 4,4). Alegrar-se no Senhor é viver a fé com gozo, reconhecendo o Senhor ressuscitado em cada momento. Nossa existência cristã deveria ser uma festa permanente, no meio de nossos problemas, porque em Cristo achamos o verdadeiro sentido da vida, o caminho que nos leva ao bom fim, a verdade que nos ilumina acima de todas as mentiras da Terra, a vida mais intensa. É a alegria que enchia o coração de André quando encontrou Jesus e saiu a gritar: Achamos o Messias! (Jo 1,41). É a alegria dos discípulos de Emaús, que sentiram arder 184

seu coração junto de Jesus e correram a comunicar aos outros (cf. Lc 24,34). É a alegria de quem encontra um tesouro e descobre que vale a pena trocá-lo por tudo o mais (cf. Mt 13,44). Peçamos ao Espírito Santo que cure toda tristeza e nos faça conhecer essa doce alegria.

5 de dezembro O Espírito Santo ensina-nos a ter carinho por toda criatura de Deus e cura as crueldades e a indiferença de nosso coração. Quando nós sabemos tomar contato com a natureza, isso nos contagia da alegria das criaturas. Mas quando nos encerramos em milhares de pensamentos de nossa mente e deixamos de contemplar o universo imenso e variado, o interior se nos enche de angústias e de perturbações. Não é bom isolar-se do mundo. É muito saudável deter-se a olhar os detalhes preciosos dos animais, a escutar o ruído da água que corre, a perceber as cores e movimentos do céu, a aspirar o perfume das flores, a sentir o contato dos pés com a terra, ou a abraçar o tronco de uma árvore. Se o fazemos um instante, sem pensar em nada, sem deixar que a mente nos sobrecarregue com pensamentos inúteis, poderemos compartilhar a alegria que Deus colocou no universo. Assim sucedia a São Francisco de Assis, que era feliz compartilhando a vida com o vento, a lua, o fogo, as aves do céu. Peçamos ao Espírito Santo que nos conceda um pouco dessa felicidade cheia de ternura.

6 de dezembro É certo que dentro de nós mesmos existem coisas obscuras, vivem rancores, tristezas, desilusões, cansaços, egoísmos, vaidades, inclinações negativas que querem arrastar-nos. Existe uma atração da concupiscência que nunca nos abandona de todo nesta vida. Não obstante, essa não é a única verdade. Porque dentro de nós também está o Espírito Santo com seus impulsos, e ele é mais forte que as outras inclinações inconscientes que nos atraem. Se não fosse assim, seríamos monstros, seria impossível a vida em sociedade, e a humanidade teria desaparecido há muito tempo. Por isso, se queremos ser agradecidos ao Espírito Santo, temos de nos deter para reconhecer, valorizar e agradecer as inclinações boas que levamos dentro de nós. Assim, será possível que permitamos a essa parte boa, que levamos dentro de nós, que cure a parte negativa. Que esses brotos de alegria, que temos no coração, tornem-se fortes e acariciem a tristeza que nos ameaça e a debilitem, e a curem. Com o Espírito Santo, podemos conseguir que essa parte ruim que exige amor se deixe amar por essa outra parte que dentro de nós é capaz de dar amor. 185

Porque o Espírito Santo também nos quer amar e curar-nos através de nós mesmos; isto é, através dessas coisas boas que ele mesmo suscita em nossa intimidade e que nós podemos aceitar e desenvolver.

7 de dezembro Venha, Espírito Santo, amigo, porque com você posso compartilhar minhas coisas mais íntimas, todas as minhas inquietações mais secretas. Venha, amigo da alma, porque com você posso falar sobre essas coisas que não me atrevo a dizer a ninguém mais. Venha, amigo discreto, porque sei que não divulgará nenhum segredo meu, e tudo o que lhe digo ficará entre nós. Venha, amigo fiel, porque não existem momentos vazios, onde sua presença não esteja, porque você está sempre presente. Venha, amigo generoso, porque sempre você tem algo para me oferecer. Venha, amigo compassivo, porque você é quem melhor compreende minhas debilidades. Venha, amigo sincero, porque não deixa de me dizer o que mais necessito escutar, embora às vezes me incomode. Venha, Espírito Santo. Amém.

8 de dezembro É o mesmo Espírito Santo o que nos leva a venerar Maria. De fato, conta o Evangelho que Isabel, cheia do Espírito Santo, sentiu-se indigna de estar diante de Maria e lhe disse: Bendita és tu entre todas as mulheres… Quem sou eu para que a mãe de meu Senhor venha me visitar? (Lc 1,41-43). Muitas vezes se a chama de Esposa do Espírito Santo, porque ele se derramou em Maria desde o primeiro instante de sua existência, fecundou-a misteriosamente para que gerasse Jesus. Além do mais, ela quis estar com os Apóstolos para ajudá-los a esperar o Pentecostes, e toda a sua existência foi uma delicada e madura docilidade aos impulsos do Espírito de amor. Digamos-lhe com amor em nosso coração: “Maria, acompanhe-me. Ajude-me, mãe, para que possa abrir meu coração ao Espírito Santo: ensine-me a invocá-lo, a desejá-lo, a esperá-lo, para que também em minha vida, em minha família e em meu bairro haja um novo Pentecostes”.

9 de dezembro Venha, Espírito Santo, quero crer que existe muito mais que o que meus olhos 186

veem, muito mais que o que escuto pela rua, muito mais que o que me sugerem meus sentimentos tão variados. Quero crer nesse mundo celestial que habita no meio de nós. Quero crer que mais além da dor está seu consolo, que mais além de meus fracassos existe uma permanente esperança, que mais além das quedas está você chamando-me, convidando-me, esperando-me. Venha, Espírito Santo, para que possa ver isso que é invisível aos olhos, para que mais além da aparência dos outros eu possa reconhecer que são imagens da Trindade, que são sagrados, que são infinitamente amados por você. Venha, Espírito Santo, para que em cada dificuldade eu saiba ver uma nova oportunidade, para que possa reconhecer o mistério de seus projetos divinos, que superam todos os nossos projetos humanos. Venha, Espírito Santo, derrame sua luz sobrenatural para que possa viver em outro nível cada vez mais alto e mais profundo. Amém.

10 de dezembro Respiro profundamente, como se o ar fosse um sopro do Espírito que vem proporcionar-me nova vida. Expulso o ar viciado, tiro-o todo para fora até que não fique nada, para que com esse ar se afastem de mim todas as impurezas interiores, a tristeza, o cansaço, as tensões, as más recordações. Esvazio-me. Depois aspiro de novo com profundidade, recebendo a vida nova do Espírito e o frescor que me alivia. Pouco a pouco vou fazendo silêncio em meu interior, deixando que se apague todo o nervosismo, que se acalmem os pensamentos. Permito que cada parte de meu corpo relaxe e se recline serenamente. Assim, habitado por um profundo silêncio, deixo que o Espírito Santo me diga palavras novas, isso que necessito escutar neste momento de minha vida.

11 de dezembro Espírito Santo, que trabalha secretamente em nossos corações e nos impulsiona com delicadeza ao amor, ajude-me a descobrir as coisas belas que você faz nos outros. Ajude-me a estar mais atento às coisas positivas que você realiza nos irmãos, para que não me detenha tanto a lamentar os defeitos alheios, para que não creia que tudo é demasiado escuro. Abra meus olhos e ilumine-me com sua presença, para olhar para os outros com bondade e louvá-lo por tudo o que você faz neles. Adoro-o, Espírito Santo, porque sempre descubro algo de você na beleza de sua 187

obra, no que você realiza no mundo, nos sacramentos, nas virtudes, nos dons, nos carismas e nas inspirações que vêm de você. Adoro-o pelos momentos de amor sincero que você me fez viver, tocando-me por dentro. Louvado seja você, Espírito sublime. Adoro-o com todo o coração. Amém.

12 de dezembro O Espírito Santo é uma eterna novidade. Quando não encontramos variedade e novidades na vida, o problema não é a vida, mas nossa incapacidade de descobrir as coisas. A vida é inesgotável, o mundo está cheio de uma riqueza inabarcável, existem milhões de coisas que poderiam captar nosso interesse. O problema é que às vezes estamos enclausurados em umas poucas coisas e, quando nos aborrecemos com elas, somos incapazes de ampliar nossa mente para valorizar outras coisas. De fato, às vezes nós cristãos nos aborrecemos com Jesus ou com o Evangelho, porque acreditamos que já conhecemos tudo, que nada nos pode surpreender. Mas a Jesus, jamais poderemos terminar de conhecê-lo, nunca poderemos dizer que ele já não tem nada para nos oferecer. E ninguém pode ser tão vaidoso que possa pensar que o Evangelho já não lhe pode ensinar nada. Porque a Palavra de Deus é viva e sempre pode produzir novos frutos. Por isso, se nos tornamos incapazes de reconhecer as infinitas novidades da vida, melhor será aproximarmo-nos humildemente do Espírito Santo e peçamos-lhe que cure nossa cegueira e nos devolva a capacidade de nos surpreender.

13 de dezembro Sabemos que o Espírito Santo derrama seus carismas por todos os lugares. São Paulo fala-nos de alguns carismas em 1Cor 12,8-11. Mas esses não são os únicos. Existem milhares diferentes. Sem dúvida, em sua vida também existem vários desses carismas. Um carisma é uma capacidade que o Espírito Santo bendiz e utiliza para que você faça o bem aos outros. Não existe só o carisma de fazer milagres; também há o carisma de fazer uma boa comida para que os outros dela desfrutem. Isso é um presente do Espírito Santo. Não existe só o carisma de governar; também existe o carisma da simpatia, ou a capacidade de dizer palavras que aliviam os outros. Não existe só o carisma de ensinar; também existe o carisma de cantar, de desenhar, de arrumar uma casa, de saber investir dinheiro. Todos temos capacidades que o Espírito Santo quer utilizar para que nos ajudemos uns aos outros a viver melhor. Descubramo-los, valorizemo-los e aproveitemo-los. Porque é belo sentir-se útil, sobretudo quando se aceita ser um instrumento do Espírito 188

Santo.

14 de dezembro Os místicos recordam-nos que o Espírito Santo quer nos fazer experimentar a fundo as maravilhas do amor de Deus. Ele quer levar-nos às experiências espirituais mais preciosas e mais profundas; mas para isso é preciso crescer, deixando-se levar pelo Espírito sempre mais para o alto. Hoje recordamos o místico São João da Cruz. Foi carmelita, amigo de Santa Teresa de Ávila, que o considerava um santo. Ela o convidou a cooperar na reforma de sua ordem. Sofreu a desconfiança e o ressentimento de seus próprios irmãos diante da reforma que ele apoiava. Acusando-o de louco por suas experiências e ensinamentos espirituais, mantiveram-no prisioneiro durante nove meses em condições desumanas. Sabiam que João era o principal modelo e inspirador entre os homens da reforma que se propunha e pensavam que calá-lo era obter o triunfo. Mas nessa situação, onde não faltaram torturas, João teve sublimes experiências espirituais e compôs boa parte do Cântico Espiritual. Finalmente, conseguiu fugir pela janela da cela e se refugiou em um convento das carmelitas. Em seus últimos anos, viveu as mais profundas experiências místicas, marcadas pela experiência do nada do mundo, do nada de si mesmo e da união profunda com o todo de Deus, que tudo o supera. Esse doutor da Igreja deixou-nos, em seus escritos, os testemunhos mais preciosos das alturas da vida mística. Em seu Cântico Espiritual, ensinava que Deus é sempre um mistério e que também é um mistério nossa relação com ele, esse inabrangível e único caminho que Deus faz com cada um de nós, os inexplicáveis trajetos que ele realiza em nossa história pessoal. Existe por trás de cada experiência deste mundo uma imensidade admirável que não se acaba nunca de descobrir e se chama um não sei o quê, porque não se sabe descrever. Por isso, um dos grandes passos em nosso caminho espiritual é o que se produz quando tomamos verdadeira consciência do que não sabemos de Deus e de seus desígnios; isso que ninguém pode nos dizer. Ignorância que nos faz sábios porque nos torna mais receptivos e disponíveis. João pediu para viver só e retirado os últimos anos de sua vida, e morreu em Úbeda, com o crucifixo na mão, repetindo como Jesus: “Em suas mãos, Senhor, entrego meu espírito”. Seu testemunho nos estimula a não nos conformar com pouca coisa no caminho de nossa amizade com Deus e nos move a desejar os cumes da vida mística. Convida-nos a aceitar que o Espírito Santo nos eleve ao mais elevado.

15 de dezembro Venha, Espírito Santo. Você é chama de fogo que se eleva sempre mais alto, que sobe vigorosa até os 189

céus. Venha, não me deixe prostrado na fria miséria, na medíocre chatice. Venha para elevar-me sempre mais, para que me entregue nas pequenezas de cada dia com um sentido cada vez mais sublime. Venha, Espírito Santo. Você é orvalho suave e constante, que vai penetrando lentamente, mas que pouco a pouco vai chegando ao mais profundo, ao mais secreto, ao mais escondido, a cada rincão de meu ser. Venha e transforme tudo, banhe, limpe e fecunde com sua água de vida toda a minha existência, sem deixar nada fora de sua ação santificadora. Venha, Espírito Santo. Você é vento que impulsiona, que arrasta com suavidade, mas com firmeza, que lança para o futuro desconhecido. Venha e não permita que me frustre, ancorado nas coisas de sempre, incapaz de avançar, temeroso diante de toda novidade, encerrado em minha comodidade. Dou-lhe permissão, arranque-me de meu mundo pequeno e leve-me para onde você quiser. Venha, Espírito Santo, para que eu aprenda a viver uma vez mais. Amém.

16 de dezembro Às vezes parece fácil falar de amor aos inimigos, até que alguém nos critique, tire-nos a fama, fique com coisas nossas, roube-nos ou trate-nos com agressividade. Então sentimos algo que nos morde por dentro, e toda a ternura desaparece. Amar os inimigos não é algo natural, mas algo superior, que só é possível se deixamos que o Espírito Santo nos mude a vida. Existem testemunhos muito belos de pessoas que foram capazes de passar por alto as ofensas e continuar amando apesar de tudo. O modelo mais perfeito é Jesus. Mas hoje quisera recordar-lhe o exemplo de Martin Luther King, esse grande defensor dos direitos dos negros nos Estados Unidos. Quando alguns amigos seus queriam defender-se utilizando a violência, ele lhes pedia que reagissem com amor e venceram o mal com o bem. Aos seus inimigos, que finalmente o assassinaram, escrevia estas palavras admiráveis: Faça o que queira, e continuaremos amando-o… Metanos no cárcere, e ainda o amaremos; atire bombas em nossas casas, e ainda o amaremos; aterrorize nossos filhos, e ainda o amaremos. Envie em plena noite seus bandoleiros às nossas comunidades, para que nos batam e nos deixem meio mortos, e ainda o amaremos… Esse amor é uma obra preciosa do Espírito Santo que faz maravilhas admiráveis. Por isso nem tudo está perdido.

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17 de dezembro Venha, Espírito Santo, porque quando chove, anseio pelo sol; quando faz calor, desejo o ar fresco; quando estou sozinho, estranho os amigos; quando estou com eles, desejaria o sossego da solidão. Nunca estou de todo conformado com a vida. Venha curar esta pobre criatura insatisfeita, que não sabe se adaptar, que não sabe valorizar o bom de cada coisa, a beleza de cada momento. Venha para dar-me um coração aberto e otimista, capaz de receber o que você lhe concede, quando você o conceder e como você queira concedê-lo. Hoje mesmo, Espírito Santo, ensine-me a valorizar o bem deste dia assim como é, sem exigir outra coisa. Ensine-me a me entregar nestas circunstâncias que me toca viver e mostre-me que também disto que me está sucedendo posso aprender algo, posso tirar algo bom. Venha, Espírito Santo. Amém.

18 de dezembro O Pai Deus e seu Filho Jesus vivem em nós e nos santificam, mas o fazem presenteando-nos com o Espírito Santo. Por isso, podemos dizer que o Espírito Santo é o que toca nosso interior, o que faz a obra mais íntima, o que derrama o amor em nossas fibras interiores. É certo que o Espírito Santo sempre nos une a Jesus e ao Pai Deus; mas é ele quem nos transforma intimamente para que sejamos parecidos com Jesus e nos tornemos cada vez mais agradáveis ao Pai. Os Santos Padres da Igreja utilizavam alguns exemplos para destacar essa obra tão íntima do Espírito Santo. Chamavam-no, por exemplo, o dedo de Deus, porque ele toma contato com nosso coração e o cura, liberta-o, purifica-o. Também diziam que é como a ponta de um raio. Porque o Pai Deus é como a fonte oculta de energia que habita no céu, o Filho é o relâmpago que o manifesta com sua luz, e o Espírito Santo é como a ponta desse raio que queima a Terra. Também diziam que as três Pessoas da Trindade são como a água que sacia a nossa sede. Porém o Pai é o manancial desejado de onde brota a água, o Filho são os jorros de água que o manifestam e nos alegram, e o Espírito Santo é a água que nós bebemos e nos refresca.

19 de dezembro Para mudar o mundo, é necessário que demos o testemunho de uma vida exemplar, que sejamos modelo de entrega, de responsabilidade, de generosidade, de honestidade, de alegria. Mas também algumas vezes é necessário falar de Jesus. Com respeito, com 191

delicadeza, com humildade, mas também com convicção, amor e entusiasmo, falar dele. Normalmente não são necessárias muitas palavras. Existem formas simples de falar dele e de reconhecer nossa fé. Por exemplo, tendo uma imagem sua na entrada de nossa casa, ou levando um rosário no pescoço, ou abençoando a mesa. São pequenos testemunhos que fazem presente Jesus no mundo. O Espírito Santo não nos fará completamente perfeitos nesta vida, mas nos ajudará a tirar o melhor de nós mesmos, para que Jesus se reflita em nossa forma de viver. Esse testemunho, se for autêntico, termina contagiando e mudando as coisas. Não mudaremos o mundo inteiro, mas, se nos deixamos levar pelo Espírito Santo, algo mudará em nosso pequeno mundo, e isso em definitivo será bom para todos.

20 de dezembro Espírito Santo, venha. Às vezes imagino você delicado como uma pomba, brando como um sopro de pura suavidade, sereno e discreto como uma carícia. E isso é verdade. Mas não quero esquecer que você também é o Deus Todo-poderoso, junto com o Pai e o Filho, cheio de poder ilimitado, capaz de criar tudo e de destruir tudo em um instante. Deus altíssimo, onipotente e glorioso. Por isso invoco seu poder divino e lhe peço que se faça presente em mim com todo o seu poder. Venha, Espírito divino, para destruir todo mal em meu ser, para aniquilar todo sentimento de ódio e de vingança, todo egoísmo e toda vaidade absurda. Venha para reduzir a cinzas meu orgulho que me leva a sentir-me diferente, superior, escolhido, especial. Venha para que reconheça minha tremenda pequenez e minha obscura fragilidade, de maneira que nunca mais pretenda confiar em minha grandeza e, sim, que me atire confiante na sua vontade e na sua força. Venha, Todo-poderoso, para que nunca mais opte pela mentira, pela aparência ou pela indiferença. Venha para que, de uma vez por todas, decida-me a lutar e a morrer só pelo bem, pela verdade e pela beleza. Venha, Espírito Santo. Amém.

21 de dezembro Neste dia, em alguns países, começa o verão e, em outros países, começa o inverno. Essas mudanças no clima recordam-nos as etapas da nossa vida e nos ajudam a ver como o Espírito Santo pode atuar em todas as situações. Ele atua na primavera, fazendo brotar as flores que alegram a paisagem e despertam a esperança. Junto com esse brotar, suscita o amor dos casais, novos encontros cheios de ternura e de desejo. 192

Atua também no verão, quando as plantas desenvolvem toda a sua folhagem, quando as pessoas desfrutam da natureza, sentem brotar o suor e experimentam a vida em seus corpos. Mas atua também no outono, quando tudo convida à reflexão, quando as folhas que caem nos recordam que muitas coisas acabam, que algumas coisas cumpriram seu ciclo e que é preciso deixá-las cair. E também atua no inverno, quando o frio às vezes incomoda, quando não podemos fazer tudo o que queremos, quando parece que as árvores estão mortas. Não obstante, está se gestando nova vida, e muitas plantas frutíferas necessitam do frio para poder produzir frutos mais saborosos. Ali se preparam muitas coisas boas e belas. O mesmo faz o Espírito Santo em nossas vidas, nas diversas etapas que nos cumpre viver. Quando se faça presente o inverno, podemos ter a certeza de que o Espírito Santo está preparando alguma primavera e, talvez, seja necessário podar algumas coisas, para que outros ramos novos possam brotar com mais força.

22 de dezembro Venha, Espírito Santo, inspire-me, porque quero louvá-lo. Abra meu coração e eleve-o em sua presença, para que o adore com sinceridade e alegria. Você é Deus, infinito, sem limites, sem confins. Adoro você. Você é simples, único, sem mistura de escuridão, nem manchas, nem mentiras. Adoro você. Você está em toda parte, penetrando tudo, enchendo tudo com sua presença. Adoro você. Você é beleza pura e banha com sua luz tudo o que toca. Adoro você. Você é amor, amor sem egoísmo algum, amor desinteressado, livre. Adoro você. Venha, Espírito Santo, para que eu possa adorá-lo a cada dia, para que não me olhe permanentemente a mim mesmo e seja capaz de reconhecer sua claridade belíssima, sua perfeição incomparável, seu esplendor, sua graça, sua maravilha, seu encanto eterno. Venha, Espírito Santo. Amém.

23 de dezembro O Espírito Santo não se deleita quando nos escondemos das dificuldades, quando queremos ignorar os problemas, quando escapamos dos desafios que a vida permanentemente nos apresenta. Ao contrário, o Espírito Santo é vento que estimula. Ele nos convida sempre a enfrentar as dificuldades, nunca a escapar delas. Porque cada dificuldade que eu tenha de enfrentar será sempre uma nova possibilidade para crescer. 193

Em cada problema que resolvo, aprendo algo novo; depois de cada experiência difícil que atravesso, fica sempre algo mais de sabedoria no coração. Nenhuma dificuldade é vã, nenhum sofrimento é inútil. Sempre, depois de uma tormenta da vida, saímos renovados. Liberta-se algo novo que, sem essa tormenta, não teríamos descoberto. Existem muitas coisas belas em nosso interior que temos de exercitar para que se desenvolvam, e cada novo desafio da vida é essa oportunidade para desenvolvê-las. Por isso o Espírito Santo sempre nos move a enfrentar as coisas e nunca a nos retrair delas como cães medrosos. Deixemo-nos levar.

24 de dezembro O Espírito Santo gerou Jesus no seio de Maria. Diz o Evangelho que ela concebeu por virtude do Espírito Santo (Mt 1,18). Da mesma maneira, o Espírito Santo pode fazer nascer Jesus em nosso interior, para que Jesus alegre nosso coração. Mas não basta dizer isso, que hoje se repete muito. Porque o Natal não é uma celebração puramente íntima, não é um encontro entre meu coração e Jesus, como se não existisse nada mais. O Espírito Santo quer fazer renascer Jesus em toda a minha existência: em meu trabalho, em meus projetos, em minhas relações, em minha família. E o mais importante é que Jesus nasça entre nós, para nos ajudar a criar um mundo melhor, de fraternidade e justiça. Porque a ele não agradamos só por nossos doces sentimentos, mas pela nossa docilidade cheia de amor que nos leva a comunicar aos outros o que recebemos. O Espírito Santo sempre procura criar vida comunitária, e uma vida comunitária cada vez mais generosa e exemplar. Por isso a ele não basta fazer nascer Jesus na comunidade de cada um, mas na vida compartilhada de cada família, de cada grupo, de cada comunidade.

25 de dezembro Venha, Espírito Santo, encha meu coração e minha boca de louvores, para adorar com o coro dos anjos a Jesus recém-nascido. Ensine-me a contemplá-lo com os olhos simples dos pastores, a lhe apresentar oferendas de amor como os Magos. Toque minha mente e meu coração para que possa admirar-me feliz diante de Deus encarnado, o que me amou tanto até fazer-se criança, para me salvar desde a pequenez humana. Glória a Deus nas alturas e paz na Terra! Ensine-me a orar, Espírito Santo, para que possa adorar meu Salvador e cantar à sua simplicidade divina. E atue dentro de mim, Espírito Santo, para que Jesus possa nascer também em 194

minha vida, para que possa nascer em minha casa, para que ilumine tudo com sua presença. Que neste Natal possam renascer muitas coisas boas em mim. Renove tudo com sua graça, Espírito de santidade. Tome toda a minha existência. Amém.

26 de dezembro A água apaga o fogo, mas o vento o aviva. Por que o Espírito Santo se associa com o fogo, a água e o vento ao mesmo tempo? O Espírito Santo é fogo espiritual, porque, quando lho permitimos, ele queima nossos males e os reduz a cinzas. Destrói o pecado, o egoísmo, a vaidade, a tristeza. Mas depois vem como vento, arrastando essa sujeira e cinzas que restam ainda na alma. E finalmente se derrama como chuva, que termina por limpar toda impureza. Às vezes é água que cai suavemente; outras vezes é uma torrente cheia de ímpeto e de furor, que arrasa o mal com toda a sua potência de santidade. Nós às vezes exigimos do Espírito Santo que venha à nossa vida de determinada maneira. Quiséramos que caísse sempre como chuva mansa, ou poderíamos preferir sempre o calor do fogo, ou desejaríamos uma brisa suave. Mas ele vem sempre de diverso modo, vem como a ele lhe parece. Na realidade, vem como mais dele necessitamos, embora às vezes não possamos compreendê-lo, embora nos resulte incômodo. Mas é melhor deixá-lo atuar como ele queira, já que ele sabe melhor que ninguém o que realmente nos falta para continuar crescendo.

27 de dezembro O Espírito Santo vive extasiado com o Pai Deus e com seu Filho Jesus. Por isso ele sempre nos move a adorar o Pai e a viver em amizade com Jesus. Sua glória está em que nós busquemos a amizade de Jesus cada vez mais. Hoje a Igreja nos convida a recordar o evangelista São João, visto como o discípulo amado (Jo 20,3-8). Que pôde falar de Jesus com grande profundidade porque havia vivido muito próximo os momentos mais importantes do Mestre. Reclinava sua cabeça sobre o peito dele e lhe perguntava suas dúvidas, e esteve ao pé da cruz quando todos haviam fugido. Por isso é o modelo do discípulo fiel até as últimas consequências, com uma fidelidade que brota de um amor invencível. Essa mesma amizade o Espírito Santo quer produzir em nossas vidas. João é testemunha privilegiada da ressurreição do Senhor, porque não só foi o primeiro discípulo que viu o sepulcro vazio, mas que, ao vê-lo, interpretou a Palavra de Deus (cf. Jo 20,9) e acreditou na ressurreição de Jesus. Assim nos ensina como os acontecimentos que aparentemente não dizem nada, se são iluminados pela Palavra de 195

Deus, podem comunicar-nos as mensagens mais profundas. Tudo o que nos acontece pode ensinar-nos algo grande se aprendemos a iluminá-lo com a Palavra do Senhor que o esclarece e o explica. A Igreja primitiva, sobretudo a comunidade de João, valorizava especialmente seus ensinamentos, porque estavam fundados em sua experiência particular junto a Jesus, como “o discípulo ao qual Jesus amava” de um modo especial, o que o acompanhou em todo momento. Também nós podemos aprender muitas coisas reclinados no peito de Jesus. Mas para isso necessitamos que o Espírito Santo nos liberte de muitas amarras do coração que nos afastam do Senhor. Peçamos-lhe que nos encha com seu fogo, para que queime tudo o que não nos deixa viver essa bela amizade.

28 de dezembro Quando está terminando um ano, é hora de avaliar como o vivemos, e também é o momento de nos preparar para começar uma nova etapa de nossas vidas. É hora de reavaliar como estão nossos grandes ideais e perguntar-nos como poderíamos vivê-los melhor. Mas, quando nos preparamos para começar uma nova etapa, é indispensável deternos para apresentar ao Espírito Santo nossos projetos e nossos sonhos, e também para lhe pedir que nos ilumine para ver se isso realmente nos convém. O Espírito Santo sempre busca fazer-nos crescer, fazer-nos avançar um pouco mais. Por isso ele mesmo nos inspira para que comecemos novas etapas, para que não nos detenhamos encerrados no passado, para que tiremos o melhor de nós e saibamos voltar a começar, uma vez mais. Ele se derrama de um modo especial quando está por começar algo novo. Deixemos que, nestes últimos dias do ano, o Espírito Santo nos inspire sonhos bons, projetos generosos, perspectivas cheias de esperança e de entusiasmo.

29 de dezembro Venha, Espírito Santo, e ajude-me a colocar em sua presença tudo o que me preocupa, tudo o que me inquieta, tudo o que perturba a minha paz. Você sabe quais são minhas preocupações mais profundas, mas hoje quero contálas, porque é melhor compartilhá-las com você que pretender enfrentá-las com minhas poucas forças humanas. Escute-me, Senhor, porque clamo a você com toda a minha alma, a você levanto meus braços e lhe rogo que me auxilie. Quero dizer-lhe tudo o que às vezes me preocupa: minha saúde, meu trabalho, meus entes queridos, minhas necessidades e tudo o que me perturba e me inquieta. 196

Tome tudo isso e ocupe-se também você de mim. Venha, Espírito Santo, porque assim não me sentirei sozinho com o peso da vida e poderei caminhar e progredir com vontade. Venha para que possa experimentar sua doçura, seu gáudio, sua força. Dê-me a graça de ver que, mesmo que tudo passe, o que nunca se acaba é seu amor, e com esse amor posso enfrentar tudo. Amém.

30 de dezembro O Espírito Santo é luz. Isso significa muitas coisas: A luz do sol faz possível a vida. Se o sol se apagasse, a vida desapareceria desta Terra. Por isso, a luz também simboliza a vida, e o Espírito Santo é uma fonte permanente de vida. Habitando no mais íntimo de cada coisa, ele a faz existir com seu poder. Mas de um modo especial, o Espírito Santo é vida para nossa intimidade, porque ele é amor, e sem amor não existe vida que tenha importância. A luz também é necessária para caminhar, para ver o caminho, para saber para onde vamos. Se alguma vez fizemos a experiência de caminhar no escuro, perdidos e desorientados, sabemos o que significa a luz. E quando aparece uma pequena claridade que nos oriente, gostamos dela e a agradecemos. O Espírito Santo é luz. Ele nos faz descobrir por onde precisamos caminhar e para onde temos de ir. Quando o invocamos com sinceridade, ele nos ilumina para tomar as decisões concretas. A luz também nos permite ver as coisas, descobrir suas cores, sua beleza. Quando deixamos que o Espírito Santo ilumine cada coisa, podemos ver sua formosura e desfrutá-la muito mais. Demos graças ao Espírito Santo porque ele derrama sua luz em nossa vida.

31 de dezembro Ao terminar o ano, é bom deixá-lo todo na presença de Deus, dizer-lhe que queremos que todo o bem que vivemos seja para sua glória e pedir ao Espírito Santo que purifique tudo o que não foi santo, belo e bom. Em um ano, o Espírito Santo fez muitas coisas em nossa vida, trabalhou secretamente em nosso interior e nos ensinou segredos de sabedoria. De nossas angústias, fracassos, erros e sofrimentos, também tirou coisas boas, embora nós não cheguemos a descobrilas. Demos graças ao doce hóspede da alma, por sua presença discreta e constante, por sua terna paciência conosco e, sobretudo, por seu infinito amor, que pode dar sentido a tudo o que temos vivido. E para poder começar amanhã um ano melhor, invoquemo-lo com toda a alma: “Venha, Espírito Santo!”.

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© 2004 by Editorial Claretiana (Buenos Aires) ISBN: 978-950-512-513-5 Em língua portuguesa: © 2012 by Editora Ave-Maria. All rights reserved. Rua Martim Francisco, 636 – 01226-000 – São Paulo, SP – Brasil Tel.: (11) 3823-1060 • Fax: (11) 3660-7959 Televendas: 0800 7730 456 [email protected][email protected] www.avemaria.com.br ISBN: 978-85-276-1359-0 Título original: Los cinco minutos del Espíritu Santo Tradução: José Joaquim Sobral Capa: Rui Cardoso Joazeiro Edição digital: julho 2012 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Angélica Ilacqua CRB-8/7057 Fernández, Víctor Manuel Os cinco minutos do Espírito Santo: um caminho espiritual de vida e de paz / Víctor Manuel Fernández; tradução de José Joaquim Sobral. – São Paulo: Editora Ave-Maria, 2012. 600kb; ePub Título original: Los cinco minutos del Espíritu Santo ISBN: 978-85-276-1359-0 1. Espírito Santo 2. Orações I. Título II. Sobral, José Joaquim 12-0073

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Índices para catálogo sistemático: 1. Espírito Santo 2. Orações

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Diretor Geral: Marcos Antônio Mendes, CMF Diretor Editorial: Luís Erlin Gomes Gordo, CMF Gerente Editorial: J. Augusto Nascimento Editor Assistente: Valdeci Toledo Preparação e Revisão: Ligia Pezzuto e Danielle Mendes Sales Diagramação: Ponto Inicial Design Gráfico e Editorial Produção Gráfica: Carlos Eduardo P. de Sousa

A Editora Ave-Maria faz parte do Grupo de Editors Claretianos (Claret Publishing Group). Bangalore • Barcelona • Buenos Aires • Chennai • Macau • Madri • Manila • São Paulo

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Orações de adoração diante do Santíssimo Sacramento Equipe editorial Ave-Maria 9788527615372 88 páginas

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