O Sagrado Selvagem - Roger Bastide.pdf

May 14, 2018 | Author: Sergio Riveiro Gomes | Category: Greek Mythology, Émile Durkheim, Sociology, God, State (Polity)
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O Sagrado Selvagem (Le sacré sauvage) Roger Bastide Payot, Paris, 1975.

Tradução de Rita Amaral http://.agua!orte.co"/a#tropo$ogia/sacre.ht" acesso %&'%'%%5

É verdade *ue +ietsche proc$a"ou a "orte dos deuses- e#treta#to oucau$t proc$a"a a "orte do ho"e" (o *ue é $gico , o ho"e" #0o se co#stitui#do e#*ua#to ho"e" se#0o por sua re$a0o co" os deuses). 2 verdade ta"3é" *ue o cristia#is"o, e o 4s$0o e" certa "edida, e#trara" e" crise. 2 verdade, e#!i", *ue os soci$ogos #os "arte$a" os ouvidos, h a$gu"as décadas, co" seus processos de 6secu$aria0o6 (se" se dar co#ta, #o e#ta#to, de *ue s !ae" reto"ar reto"ar u3 u3ert ert 8pe#cer 8pe#cer e seus processo processoss de di!ere#ci di!ere#cia0o a0o socia$: socia$: o re$igioso te#de a se puri!icar de toda co#ta"i#a0o co" a*ui$o *ue #0o é e$e ). Mas a "orte dos deuses i#stitudos e#tra#ha o desapareci"e#to da eperi;#cia i#stitui#te do 8agrado < procura de #ovas !or"as !or"as o#de se e#car#ar= > crise das orga#ia?es orga#ia?es re$igiosas re$igiosas #0o prové" de u"a #0o'ade*ua0o, crue$"e#te se#tida, e#tre as eig;#cias da eperi;#cia re$igiosa re$igiosa pessoa$ e os *uadros i#stitucio# i#stitucio#ais ais #os *uais se *uis "o$d'$a visa#do, "uitas "uitas vees, retirar'$he retirar'$he sua pot;#cia pot;#cia ep$osiva, co#siderada co#siderada co"o perigosa perigosa para a orde" socia$= socia$= @#!i", @#!i", #0o se assiste hoAe a u"a #ova 3usca apaio#ada apaio#ada do sagrado e#tre os Aove#s ' co"o se #ossos co#te"por#eos, aps u" $o#go perodo de dese#vo$vi"e#to do ates"o, ou ape#as de a3a#do#o < i#di!ere#a, se desse" #ova"e#te co#ta da eist;#cia, #e$es, de u" vaio espiritua$ espiritua$ a pree#cher, e co#statasse", co#statasse", a partir desse se#ti"e#to se#ti"e#to de vaio, *ue u"a  perso#a$idade *ue #0o se e#raiasse e" a$gu" tipo de e#tusias"o sagrado seria, e" de!i# de!i#it itiv ivo, o, ape#a ape#ass u"a u"a perso perso#a$ #a$id idade ade castr castrad adaa dist distoo *u *uee co#st co#stit itui ui u"a u"a di"e di"e#s0 #s0oo a#tropo$gica u#iversa$ e co#sta#te para todo ho"e" vivo: a di"e#s0o re$igiosa= Este sagrado, poré", *ue se v; #ova"e#te aparecer, #a cu$tura e #a sociedade de hoAe, se *uer u" sagrado se$vage". se$vage". @$e procura, por vees, seus "ode$os, #os tra#ses co$etivos co$etivos das  popu$a?es ditas pri"itivas, #os cu$tos de possess0o *ue o ci#e"a, a te$evis0o e o teatro #egro popu$ariara". +0o, certa"e#te, para copi'$as, A *ue por de!i#i0o u" sagrado se$vage" é cria0o pura e #0o repeti0o ' e$e se situa #o do"#io da i"agi#a0o, i"agi#a0o, #0o #o da "e" "e"ria ria ' "as "as para para etr etrai air, r, a3sor a3sorver ver "es"o "es"o isto isto *ue # #ss po pode de"o "oss cha" cha"ar ar de u"a u"a  pedagogia da se$vageria. >#dré Cide, ca#sado de #ossa civi$ia0o "ec#ica, arti!icia$, racio#a$, racio#a$, pedia A, h a$gu#s a$gu#s a#os, e" suas preces, u"a #ova i#vas0o i#vas0o dos Br3aros, *ue destrusse #osso "u#do e $he desse u"a cha#ce de a$teridade- estes 3r3aros #0o viera". @#t0o, os Aove#s os recriara" ' "as se i#spira#do "es"o #os cu$tos etticos, vio$e#tos e sa#gre#tos co"o se de!i#ia" aos o$hos de a$gu#s historiadores. A*ui est0o os dois pi$ares desta co#!er;#cia: o sagrado se$vage" das sociedades tradicio#ais e o sagrado se$vage" de #ossa civi$ia0o ocide#ta$. Dois pi$ares *ue #os per"itir0o co$ocar, co$ocar, #0o propria"e#te propria"e#te o pro3$e"a das re$a?es e#tre a #aturea e a cu$tura, #e" a*ue$e *ue $he é vii#ho, as re$a?es e#tre a psica#$ise e a socio$ogia, "as a*ue$e ' pura"e#te socio$gico ' da do"estica0o do sagrado- as sociedades tradicio#ais se 6dedica"6, co"o te#tare"os de"o#strar, a passar do sagrado se$vage" ao sagrado do"esticado ' #ossa

sociedade, ao co#trrio, a desagregar, o sagrado do"esticado para !aer 3rotar, ou 3aiar, o sagrado se$vage" e" toda a sua !Eria. DurFhei", po#do a orige" da re$igi0o #os estados de e!ervesc;#cia co$etiva, é e" parte respo#sve$ pe$o erro *ue se co"ete de!i#i#do os tra#ses pri"itivos co"o pura e!ervesc;#cia. Gas 3asta re$er 6 As formas elementares da vida religiosa6 para perce3er *ue os ee"p$os *ue e$e d e" !avor de sua tese se vo$ta" co#tra e$e, por*ue o tra#se s aparece e" certos i#divduos, e$e co"ea e ter"i#a e" hora !ia, e$e se dese#ro$a segu#do u" ce#rio dado de a#te"0o e *ue #0o "uda de u"a ceri"H#ia para outra- e$e s !a represe#tar #a terra o *ue se passou outrora #o "u#do do so#ho- *ua#do h orgia, o *ue é raro, a orgia, e$a "es"a, o3edece a regras estritas. Poré", "ais *ue DurFhei", certa"e#te s0o os ep$oradores, os viaAa#tes e os "issio#rios os respo#sveis por esta i"age" de se$vageria #o e#co#tro ettico dos ho"e#s e dos deuses ' so3retudo *ua#do estes viaAa#tes era" "édicos ou ai#da "ais: psi*uiatras, por*ue e$es chegara" de u" "u#do 6outro6 co" seus preco#ceitos de ocide#tais, *ue desco#!ia" da $i#guage" do corpo ' co" seu cristia#is"o "ais ou "e#os "a#i*uesta, *ue os i"pe$e a ide#ti!icar os deuses e os de"H#ios e a ver, co#se*ue#te"e#te, #os cu$tos de possess0o, u" !e#H"e#o a#$ogo vio$;#cia #0o é se$vageria, e ta$ve o erro de certas descri?es prove#ha da co#!us0o e#tre estes dois co#ceitos. Gas o tra#se se$vage" eiste ai#da assi" por*ue é preciso passar por e$e para *ue se possa, e" seguida, do"estic'$o. @iste", co" e!eito, dois casos a co#siderar para e#trar #u"a co#!raria de possudos. Ju seAa, a$gué" é u"a pessoa #or"a$, "as *ue é cha"ada, devido ao seu perte#ci"e#to a u" c$0 ou !a"$ia deter"i#ada, a se tor#ar u"a sacerdotisa- #esse caso é preciso pri"eiro 6*ue3rar6 seu eu para tor#'$a acessve$ ao tra#se. 4sso se co#segue co" u" 3a#ho de !o$has, *uer dier, droga'se a ca#didata e se i#cute" #e$a re!$eos co#dicio#ados,  per"iti#do'$he cair e" tra#se < audi0o de a$gu#s $eit"otivs "usicais, o te"po *ue dure o e!eito destas drogas. 8e se trata de u"a pessoa *ue A te#ha aprese#tado pertur3a?es  psicticas ou psicosso"ticas, a pri"eira crise é de #aturea pura"e#te !isio$gica : e$a é co#siderada pe$o co$etividade co"o o sig#o de u" cha"ado divi#o- a pessoa é dita e#t0o  Austa"e#te possuda por u" deus 6se$vage"6, e o ritua$ da i#icia0o, ao *ua$ e$a ser su3"etida i"ediata"e#te depois, co#siste, segu#do a epress0o 3e" sig#i!icativa dos a!ro' a"erica#os, e" 63atiar6 o deus se$vage" ' o *ue *uer dier, socio$ogica"e#te !a$a#do, do"estic'$o. O *ue de!i#ir, porta#to, as sociedades tradicio#ais por re$a0o < #ossa sociedade ocide#ta$, #0o ser ta#to a #0o'eist;#cia do sagrado se$vage", *ua#to o es!oro para su3"et;'$o a u" co#tro$e da co$etividade desde *ue se !aa perce3er- a #ecessidade deste co#tro$e respo#de a todo u" co#Au#to de ra?es *ue s0o de orde" socia$ ta#to *ua#to re$igiosa. A  pri"eira ra0o, é *ue este sagrado se$vage" #0o é i#terpretado co"o u"a crise de $oucura, "as co"o u" cha"ado divi#o. Jra, é i#Eti$ i#sistir so3re esse po#to 3e" co#hecido : todo ritua$ é co"e"ora0o de u" "ito. 2 o "ito *ue o !u#da, *ue o estrutura e *ue o ep$ica. Mo"o di Na# der Leeu- 6 A vida primitiva é uma vida representativa. Agir de modo primitivo, é reexecutar o ato original ...Enquanto o homem moderno pensa que  pode se arvorar, mais ou menos, em criador criando o mundo, o homem primitivo, ele, sabe que não pode senão repetir 6. > i#icia0o te" Austa"e#te por "ote "a#ipu$ar a te#d;#cia ao

tra#se do ca#didato para 6co#struir6 #o seu corpo u" certo #E"ero de gestos estereotipados, *ue s0o ditados pe$os "itos e *ue aparecer0o cada ve *ue este i#divduo !or 6"o#tado6 por seu deus. 8er "uito $o#go i#sistir so3re o co#Au#to de se*;#cias *ue v0o co#dicio#ar esta !utura represe#ta0o de pape$. Diga"os ape#as *ue os sacerdotes *ue dirige" a i#icia0o s0o se#sveis aos perigos *ue a"eaa" o e*ui$3rio psico$gico do i#divduo e *ue te"e", "uito "ais do *ue se suspeita, a apari0o de crises se$vage#s i#co#tro$veis. Desse "odo, desde o 3a#ho de !o$ha, se as p$a#tas do tipo a$uci#ge#o se reve$are" "uito !ortes para a co#stitui0o de u"a deter"i#ada pessoa, e$es $he te"pera" $ogo o e!eito pe$o recurso !rica#os e a possess0o pe$os espritos dos #dios. > vio$;#cia s aparece #a segu#da e se e$a #0o aparece se#0o #a segu#da é *ue as

represe#ta?es *ue o 3rasi$eiro se !a do #egro e do #dio rege" ai#da i#co#scie#te"e#te o dese#ro$ar do tra#se. J 3rasi$eiro, e!etiva"e#te, co#sidera o #egro co"o !u#da"e#ta$"e#te  3o"- e$e co#ce3eu, #o te"po da escravid0o, u"a ideo$ogia do #egro da "es"a #aturea da*ue$a *ue deu, #os @stados I#idos, a i"age" do Pai Qo"s- e$e Aogou #o es*ueci"e#to co$etivo o #egro "u$ato ou re3e$de para s guardar o #egro su3"isso, respeitoso, a"a#do seu se#hor e se devota#do a e$e, co"o u" ve$ho c0o, "uitas vees surrado, se"pre co#te#te. > possess0o por espritos a!rica#os re!$ete a persist;#cia desse esteretipo. J #dio, ao co#trrio, #0o aceitou a escravid0o (pe$o "e#os di'se, por *ue houve u"a escravid0o #dia e das "ais i"porta#tes- "as #0o é o *ue rea$"e#te se passou *ue #os i#teressa: s0o as idéias *ue se !a disso), e$e $utou co#tra o 3ra#co- !oi ve#cido, se" dEvida, "as guardou toda sua a$tive de ho"e" $ivre- e é esta a$tive de ho"e" $ivre, guerreiro, va$oroso, *ue o tra#se por espritos #dios re!$ete: a vio$;#cia #0o é porta#to, o po#to de partida, epress0o da se$vageria, "as epress0o de u" esteretipo ét#ico- ape#as, a se$vageria vai uti$iar o esteretipo para "e$hor !$uir. Mo"o #o so#ho, ta$ co"o reud o a#a$isa, as pu$s?es do 6a*ui6 (ou do 6eu6) se dis!ara" para poder passar i"pu#e"e#te pe$a ce#sura, #a "acu"3a o tra#se se$vage" repri"ido se autoria da 3ar3rie do #dio para epri"ir, co#tra a cu$tura  3ra#ca, u"a co#tra'cu$tura e" !or"a0o ou u"a a#ti'sociedade. @ te" "ais. @#tre os deuses a!rica#os *ue desce" #a "acu"3a, u" to"a i"port#cia co#siderve$: @u. Eu é u"a divi#dade (ou *uase divi#dade) yoru3a- "as e#tre os yoru3a da K!rica co"o #os ca#do"3$és do #ordeste do Brasi$, @u é a#tes de tudo portador dos pedidos dos ho"e#s aos deuses ta#to co"o o portador do discurso dos deuses aos ho"e#s. 2 u"a divi#dade i#ter"ediria, "e#sageiro divi#o e #0o se pode de!i#'$o "e$hor *ue co"para#do'o a GercErio da "ito$ogia grega. @, por*ue #0o h tra#se de @u, se @u te" vo#tade ( o *ue  pode aco#tecer, se 3e" *ue a coisa "e parea "uito rara) de possuir u"a pessoa, e$e #0o  pode !a;'$o se#0o por divi#dade i#terposta, por Jgu" , *ue é seu ir"0o, e #0o direta"e#te. Gas @u aprese#ta ta"3é" u" outro carter, co"o ta"3é" GercErio cria#a: e$e é 6tricFster6- e$e adora pregar peas #os hu"a#os, é vi#gativo, e$e pu#e secreta"e#te *ue" #0o $he re#de ho"e#age". Qe"'se, porta#to, "edo de$e. 80o esses dois traos *ue !ae" co" *ue #o si#cretis"o cat$ico'a!rica#o @u seAa rthur Ra"os estudou as pri"eiras "acu"3as até hoAe, o $ugar destes tra#ses de"o#acos se tor#ou "ais e "ais  prepo#dera#te- toda ceri"H#ia co"porta pe$o "e#os & partes: o ape$o aos @us, o ape$o aos  pretos'Ne$hos, o cha"ado aos espritos a"er#dios. Porta#to duas se*;#cias de tra#ses vio$e#tos para u"a ape#as de tra#se doce. uer dier *ue o dec$#io *ue pode"os aco"pa#har #a evo$u0o e tra#s!or"a?es das re$igi?es a!rica#as #o Brasi$ é o dec$#io *ue vai do sagrado do"esticado para u" sagrado "ais e "ais se$vage". Por *u; = 2 a*ui *ue outros !atores i#terv;" e *ue #s deve"os Au#tar o e#!ra*ueci"e#to do co#tro$e re$igioso,  pe$a $e#ta perda dos "itos origi#ais e a "istura de re$igi?es, o e#!ra*ueci"e#to do co#tro$e da sociedade g$o3a$ pe$a se*;#cia de pro!u#das "uda#as desta sociedade co" a passage" de u"a sociedade rura$ e pré'i#dustria$ a u"a sociedade ur3a#a e i#dustria$iada. A a3o$i0o do tra3a$ho servi$ #0o !oi precedida por u"a educa0o prévia da $i3erdade para escravos- estes re!$ura" de p$a#ta?es #as cidades o#de se chocava", #o "ercado de

tra3a$ho, seAa co" "u$atos $i3ertos *ue A ocupava" o estrato do pe*ue#o artesa#ato, seAa co" os "igra#tes europeus, *ue !or#ecera" os pri"eiros e$e"e#tos do #ovo pro$etariado i#dustria$. Qa"3é", se !ier"os ece0o das "u$heres *ue pudera" e#co#trar tra3a$ho #a do"esticidade, os #egros se e#co#trara" "argi#a$iados #a sociedade de c$asses e" !or"a0o. Gargi#a$iados pro!issio#a$"e#te, por*ue !ora" !i#a$"e#te Aogados #as ocupa?es "ais duras e "e#os pagas, e" particu$ar a co#stru0o, ou #o se"i'dese"prego (ou su3'e"prego)- "argi#a$iados eco$ogica"e#te, por*ue e$es !ora" viver #os 6su3Er3ios6 (!ave$as do Rio de Oa#eiro, case3res e por?es E"idos de 80o Pau$o)- "argi#a$iados e#!i" socia$"e#te por*ue "uitos e#tre e$es #0o e#co#trara" outra so$u0o para so3reviver *ue os  pe*ue#os !urtos, o proe#etis"o de 3aia categoria, a vaga3u#dage" co" seu aco"pa#ha"e#to, a "e#dic#cia e, #as horas de gra#de a!$i0o, a 3e3edeira. +este estado de a#o"ia, as co#!rarias re$igiosas a!ro'a"erica#as pudera" $hes servir de po#to de segura#a "as, #e$as, e#treta#to, e$es devia" !orosa"e#te i#troduir suas a#siedades e suas !rustra?es, o *ue devia deter"i#ar, !i#a$"e#te, a ep$os0o desses cu$tos e#*ua#to i#stitucio#a$ia0o do sagrado. A situa0o "e$horou depois. @ a esta "e$hora correspo#de a passage" da "acu"3a a u"a #ova !or"a re$igiosa: o espiritis"o de I"3a#da. @u A co#tei e" outro $ugar esta histria. Gas a situa0o #0o "e$horou, e#treta#to, ao po#to de !aer desaparecer i#teira"e#te o su3'  pro$etariado dos su3Er3ios, o capita$is"o 3rasi$eiro #ecessita#do para ser co#corre#cia$, de u"a reserva per"a#e#te de su3'e"pregados. >o co#trrio, esta "e$hora s podia !aer #ascer, #este su3'pro$etariado, #ovas aspira?es, i"possveis de rea$iar ' o so#ho de u"a vida "e$hor, *ue per"a#ecia utpica. 4sso s !aia, co#se*ue#te"e#te, "u$tip$icar as !rustra?es, as te#s?es psico$gicas, as revo$tas a3ortadas. > "acu"3a co#ti#uou, porta#to, a eistir ao $ado do @spiritis"o de I"3a#da, e e#*ua#to este E$ti"o te#dia a epri"ir va$ores de u"a pe*ue#a c$asse "édia e" !or"a0o, a "acu"3a regressava, para$e$a e si"u$ta#ea"e#te, da re$igi0o para a "agia #egra, do sagrado do"esticado ao sagrado e#$ou*uecido, ou ao sagrado're3e$i0o. >o sagrado e#$ou*uecido pri"eiro por*ue, *ua#do as te#s?es s0o "uito !ortes e a sociedade #0o pode $hes !or#ecer u"a sada, e$as #0o pode" e#co#trar outras so$u?es se#0o a ep$os0o se$vage" *ue etravasa a e#ergia #u"a 3reve crise de *uase $oucura. J tra#se re$igioso o!erece, assi", pe#as, as Aove#s gera?es *uere"  per"a#ecer #o !ervor do i#stitui#te se" ir até a co#stitui0o de #ovos i#stitudos, *ue o crista$iaria" $ogo e o "i#era$iaria" e" #ovas i#stitui?es, de idéias siste"atiadas, gestos estereotipados, de !esta regu$ada e i#cessa#te"e#te reco"eada. @is por*ue o sagrado de hoAe se *uer u" sagrado se$vage" co#tra o 8agrado do"esticado das 4greAas. Ta$ é o pri"eiro "ovi"e#to *ue co#du, a partir das i#stitui?es re$igiosas histricas, até a se$vageria do tra#se i#stitui#te. Gas h, para$e$a"e#te u" segu#do "ovi"e#to *ue deve"os seguir, agora, *ue #os !ar igua$"e#te 6des"a#char6 a #ecessidade de u" #ovo sagrado: é o "ovi"e#to de #aturea "ais socio$gica, *ue resu$ta da a#o"ia socia$ a *ua$, "a$grado todos os es!oros dos gover#os, apesar de todas as i deo$ogias po$ticas *ue se o!erecera" aos Aove#s #o "ercado de idéias, #s #0o chega"os a produir ' por*ue a so$u0o dos pro3$e"as da a#o"ia s pode ser e#co#trada #u" a$é" de idéias, a "e#os 3e"

e#te#dido *ue o po$tico, o *ue é !re*e#te hoAe, seAa s u"a si"p$es "scara *ue dissi"u$e o 3aio do rosto co3erto de u" "essia#is"o se" #o"e- ape#as #a "edida e" *ue seAa assi", #s e#co#tra"os até #a po$tica o !ervor do 8agrado i#stitui#te. 6> i"agi#a0o #o  poder6, gritava'se e" "aio de 19T, e #0o: 6a ra0o #o poder6. > i"agi#a0o, *uer dier, o !ervor i#stitui#te. @ #0o a ra0o, ou seAa, #ovos siste"as de $eis co"o re"édio < a#o"iarecusa de todo i#stitudo. 8i"p$es varia0o, v;'se, so3re o te"a desta co#!er;#cia e *ue u" estrutura$is"o do tipo Lévi'8trauss poderia !aci$"e#te i#serir #u" "es"o grupo de tra#s!or"a?es, *ue eu cha"aria a*ue$e de 6se$vageria6.

Ns #0o te"os *ue re!aer u" *uadro da a#o"ia, ta#tas vees aprese#tado, "as *ue su3$i#har ape#as os !atores *ue pudera" agir so3re os i#divduos para i"pe$i'$os < #ovas !or"as de tra#se. , pri"eira"e#te, a passage" da co"u#idade, co" seus caracteres "ais igua$itrios, sua so$idariedade "ais #ti"a, a ho"oge#eidade re$ativa de suas cre#as e seus va$ores, < sociedade *ue diste#de as $iga?es, apro!u#da os vaios, a so$id0o dos ho"e#s,  perdidos #a "assa i#di!ere#te. > !a"$ia #uc$ear, *ue aAudou dura#te "uito te"po o ho"e" a $evar "ais !aci$"e#te este !ardo de iso$a"e#to, so!re u"a crise, o#de a co#corr;#cia e#tre os seos su3stitui sua co"p$e"e#taridade, #0o ta#to (co"o se repetiu) por*ue os Aove#s se revo$tara" co#tra seus "ais ve$hos, "as a#tes por*ue e$es se se#tia" a3a#do#ados por seus  pais. , e" seguida, a ruptura do "u#do "ec#ico, arti!icia$, de "*ui#as e casas de co#creto ar"ado e do "u#do vivo- as rvores "es"o s0o do"esticadas #as gra#des ag$o"era?es, a evas0o das !érias co" seu !$uo "assivo de "achos tra#spira#tes e !;"eas #ervosas, ter"i#a #os ce#rios orga#iados, #as !estas p$a#eAadas, o casa"e#to do ho"e" co" o céu, a gua, as p$a#tas, os pssaros #0o é "ais possve$- é preciso se co#te#tar co" re$a?es !rgeis, #o #ve$ dos "o"e#tos, e" *ua$*uer hote$ de passage", dito de ca"pa#ha. @#!i", co"o Ga Ue3er de"o#strou, toda #ossa cu$tura é u"a cu$tura da ra0o, da ci;#cia, do progresso *ue #0o deia #e#hu" do"#io de #ossa vida !ora de seu ca"po, #e#hu"a gratuidade possve$: ora as regras da ra0o, se s0o i"perativas, postu$a" a ades0o prévia do esprito *ue se su3"ete a u" certo #E"eros de va$ores *ue as Austi!ica" a #ossos o$hos- e estes va$ores pode" ser co#testados se a regra *ue se etrai de$es #0o o pode" ser. Gas se e$as (as regras) s0o co#testadas, a $ei socia$ #0o aparece "ais, e#t0o, se#0o co"o u" i#stru"e#to de opress0o, co"o u" co#stra#gi"e#to ar3itrrio, ou, se se pre!ere: co"o a E$ti"a a"eaa de castra0o dos !i$hos por a*ue$es *ue det;" o poder, e" #o"e do Pai. N0o é i"pu#e"e#te *ue o despertar do sagrado se$vage" !oi historica"e#te precedido pe$o triu#!o da !i$oso!ia do a3surdo, *ue s !aia traduir, #u"a $i#guage" s3ia, estes traos da a#o"ia *ue aca3o de e#u"erar- a so$id0o do ho"e" *ue vai !a;'$o 3uscar u"a 6a$teridade6 #ova, capa de saciar u"a sede *ue e$e #0o pode eti#guir ' a ruptura co" a #aturea viva, *ue vai despertar #o !u#do de seu ser a #osta$gia de u"a eperi;#cia cs"ica ' o triu#!o da Ra0o, *ue s pode !orAar #ovas cadeias, seAa" e$as douradas, o#de vai aprisio#ar sua Aove" $i3erdade, ape#as #ascida co" a crise da ado$esc;#cia. A revo$ta co#tra o i#stitudo socia$ !a parte, desse "odo, dos "es"os !e#H"e#os co$etivos *ue a revo$ta co#tra o i#stitudo re$igioso- é *ue é preciso criar u" socia$ i# statu nascendi, co"o é preciso, se"pre, criar u"a re$igi0o a partir da eperi;#cia i#stitui#te do sagrado, vivida #o i#terior do tra#se origi#a$. +estes dois casos, é o "es"o recurso ao 6se$vage"6 e#te#dido co"o o 6a#ti'do"esticado6. Gas pode haver "uitos tipos de tra#se e assi" #0o retor#a"os, por u" outro ca"i#ho, ao "es"o sagrado se$vage" *ue a*ue$e o#de #s

se"pre chega"os, segui#do a histria das igreAas= Pessoa$"e#te, acredito #isso. @" todos os casos, as duas 3uscas se !u#de" se"pre, por*ue o 8agrado se$vage" dos re$igiosos u$trapassa o eotis"o dos so#hos do i"agi#rio ou epress?es corporais dese#cadeados para se tor#ar u" co"3ate po$tico ' por*ue de seu $ado socia$ vivido i#  statu nascendi  #as diversas eperi;#cias co"u#itrias *ue se "u$tip$ica" e" #ossos dias, tra#sce#de rpido o retor#o < gra#de !a"$ia ca"po#esa, < eco#o"ia de auto'su3sist;#cia, ou < pro"iscuidade seua$, para 3uscar, a$é", u" !u#da"e#to espiritua$ *ue e#rae, e$e ta"3é", < sua, ve o sagrado i#stitui#te. 6+e" Gar #e" Oesus6, proc$a"ava" e$es. J s$oga# é sig#i!icativo dessa $iga0o, ou desta co#!us0o de do"#ios.

É preciso analisar este sagrado selvagem tal como ele se maniesta !o"e# 2 curioso #otar *ue e$e 3usca "uitas vees, para i#stituir'se, os "ode$os das sociedades arcaicas. Por ee"p$o #os cu$tos de possess0o, o#de #0o se sa3e por *ue" se é possudo, A *ue o deus i"agi#ado *ue se agita e" seu ser #0o te" #o"e. Js haitia#os *ue trouera" o Nodu a Paris vira" 3e" os espectadores parisie#ses, dura#te o curso de suas ceri"H#ias, to"ados  por 6sa$tos6 se$vage#s *ue os !aia" cair #o ch0o. 8a3e'se a i"port#cia to"ada pe$as drogas #a Auve#tude de hoAe, co"o e$as estava" #a 3ase de certas i#icia?es re$igiosas- o  po#to de partida é o "es"o #os dois casos- trata'se de esti$haar a perso#a$idade a#tiga, a*ue$a *ue !oi "ode$ada pe$a sociedade, "as #os rituais de i#icia0o dedica'se, $ogo aps, a criar, co#strui#do'$he todo u" co#Au#to de re!$eos coorde#ados, u"a #ova perso#a$idade *ue su3stituir a a#tiga cada ve *ue a cha"ado dos ta"3ores sagrados, o cava$o dos deuses cair e" crise- é isto *ue #os cha"a"os a do"estica0o do tra#se. Js Aove#s de hoAe, *ue *uere" per"a#ecer #o se$vage" origi#a$, #0o procura", #atura$"e#te, o desdo3ra"e#to da  perso#a$idade ' ai#da *ue se e#co#tre traos de$e, #Ao deia sua cicatri i#de$éve$ #o corpo ete#uado do co"3ate... Js i#ovadores de hoAe, sociais co"o re$igiosos, se d0o co#ta dessa #ecessidade- e$es deve" e$a3orar, a partir de suas eperi;#cias'pi$oto, outros "odos de viver ou de adorar e" co#Au#to: as !estas co$etivas se arre!ece" e" $iturgias repetidas- o !asci#a#te do sagrado se tradu e" p$a#os de utopias, e" re!or"as de 4greAas ou e" co#tra'igreAas $uci!eria#as. Gas #0o v; *ue #este es!oro para passar do i#stitui#te a #ovos i#stitudos, para su3stituir os i#stitudos a#tigos, *ue !a$ira", a i"agi#a0o é o3rigada a apoiar'se #a "e"ria co$etiva. >  psico$ogia o de"ostrou: a i"agi#a0o criadora se apia se"pre, #esses processos i#ovadores, so3re o "ateria$ *ue $he !or#ece a i"agi#a0o reprodutiva. J sagrado se$vage" #0o é, de!i#itiva"e#te, se#0o o sagrado di!uso, *ue #0o pode se precisar, a #0o ser pe$a uti$ia0o de !or"as arcaicas sig#i!icativas. @is por*ue o sagrado se$vage", *ue acredita i#ve#tar #ovos deuses, é "ais !re*e#te"e#te o "o"e#to da ressurrei0o (para e"pregar a epress0o de a$3achs) de a#tigos deuses *ue se acreditava "ortos. A !i$oso!ia dos hippies A deu $ugar, so3retudo #os @stados I#idos, a artigos ou $ivros i#teressa#tes. Jra, perce3e'se, $e#do'os, *ue esta !i$oso!ia é ape#as u" bric-à-brac de ve$has re$igi?es, orie#tais e crist0s, $eituras "a$ digeridas ou apree#didas #a te$i#ha da te$evis0o. Ceorges Ba$a#dier e"pregou a epress0o 6"ercado de pu$gas6 *ue d 3e" a i"press0o destes i#stitudos recuperados "ais *ue i#ve#tados. Js deuses so#hados s0o ape#as "E"ias das a#tigas divi#dades, das *uais se dese#ro$a a 3a#dage" para ver se e$as #0o pode" servir outra ve ... @#treta#to, a$é" dessas re$igi?es *ue !a$hara", ou dessas  propostas de$i3eradas de vo$tar a !or"as es*uecidas por #ossa civi$ia0o ocide#ta$, os cu$tos de possess0o a!rica#os ou as igreAas pri"itivas do cristia#is"o #asce#te, co" seus

caris"as ep$osivos, o do" das $#guas, o do" de pro!ecia ' estes cu$tos e estas igreAas  pri"itivas crist0s co#sideradas co" e!eito por a*ue$es *ue as aceita" co"o co*uetéis "o$otov capaes de i#ce#diar #ossa civi$ia0o co#de#ada, #0o pode" e#co#trar, ao "e#os #u"a pe*ue#a e$ite, u" sagrado se$vage" pura"e#te i#stitui#te, deseAado co"o ta$, *ue #0o cria #e#hu" i#stitudo, *ue escapa para se"pre
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