O que é realidade- Resenha

April 29, 2019 | Author: Geraldo Natanael | Category: Reality, Sociology, Logos, Ciência, Knowledge
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UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR  Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Departamento de Filosofia Metodologia Científica

O que é realidade Geraldo Natanael de Lima

Salvador, 16 de março de 2003.

O que é realidade.

1- Introdução. O autor de O que é realidade, João-Francisco Duarte Jr., utilizou o livro  A Construção Social da Realidade, de Peter L. Berger e Thomas Luckmann como inspiração

 para a construção do seu texto. O livro de Duarte faz parte da Coleção Primeiros Passos que é uma enciclopédia crítica, foi escrito em 1953, tem 7 capítulos, 103 páginas, já está na 10ª edição e foi publicado em São Paulo pela editora brasiliense. Meu compromisso com a ética e uma falta de método tem privado a assinatura dos textos que venho publicando neste Site, pois não me sinto “proprietário” da redação. O sentimento que sempre tive era que realizara um “resumo” das obras pesquisadas e meu trabalho era o de organizar e citar na bibliografia os “verdadeiros autores”. Espero que esta resenha me “liberte” e me justifique. A partir desta “autorização” comece a ter uma

verdadeira identidade, que possa pesquisar e realizar uma redação que expresse o meu  pensar. Que a análise do dito por diversos autores resulte em um trabalho intelectual  produzido onde possa me identificar e a letra seja Eu.

2- Cai na real.  Neste primeiro capítulo o autor cita W.Luijpen que relata que cada sujeito tem seu  ponto de vista, sua visão de mundo e isto faz com que cada pessoa tenha seu mundo. Logo, vivemos em diferentes mundos dentro de um único mundo físico. Utilizamos no Brasil uma gíria, “cai na real”, que significa “entre na realidade”. Eu também questiono

este termo, porém acrescentaria se realidade não estaria vinculada a normalidade, a institucionalização no normal, o que é aceito pela nossa sociedade? 1 

As diferentes realidades expressadas por diferentes pontos de vista como na  psicanálise, na arte, na filosofia e na ciência refletem o que cada profissional percebe de si e do mundo. As obras produzidas por cada segmento da sociedade é a representação da sua visão do que é a realidade. Esta diversidade da consciência reflexiva do ser humano constrói e modifica a cada momento a realidade do nosso planeta. “O homem é o

construtor do mundo, o edificador da realidade” (Duarte, 2002:12).  Na nossa atualidade temos a percepção de que tudo que é científico é o que é verdade. Tudo que possa ser testado e repetido de forma científica tem o respeito e é inquestionável pela sociedade. Duarte afirma que esta é uma crença perigosa, pois dá a ciência um status de possuir o poder supremo de decidir acerca da realidade do mundo. Porém a visão de um rio de um cientista certamente é diferente da visão deste mesmo rio de um pescador, de um morador ribeirinho ou de um industrial.

3-  No início era a palavra.

Heidegger escreveu que “ Na palavra, na linguagem, é que são primeiramente as coisas”. Por outro lado, na Bíblia está escrito que “No início era o Verbo, e o Verbo

estava com Deus, e o Verbo era Deus” (Evangelho Segundo João, 1.1). Seguindo os  passos de Duarte no seu livro, ele sustenta que o homem é quem constrói a realidade  baseada na linguagem, que é um sistema simbólico que ordena, dá significação e representa as coisas. Os animais irracionais têm instinto e estão presos ao aqui, agora e ao seu meio ambiente através dos seus órgãos sensitivos. O homem pode pensar sobre si e sobre o mundo, sobre o tempo, pode falar e exprimir seus sentimentos, o homem tem pulsão. A transcendência humana é a sua capacidade de se desprender do aqui e agora em que

estão presos os outros animais. Pulsão é um termo psicanalítico, sendo que Lacan pôde afirmar que “é toda a diferença para com o instinto” (1985:51) onde o homem se

distingue dos outros animais por ter a linguagem. O homem devido a sua falta constituinte, tem a necessidade de inventar de construir um mundo onde possa validar a sua existência. Nas palavras do autor:  As coisas e os animais são, enquanto o homem existe. Existência é  justamente a vida (biológica) mais o seu sentido. Sentido que advém da linguagem, instauradora do humano, que advém da palavra, criadora da consciência reflexiva e do mundo. “No princípio era a Palavra” (João, 1.1), diz o texto bíblico. Pela palavra se faz o mundo. Somente com a palavra surge isto a que chamamos mundo. (Duarte, 2002:20).

Ainda segundo Duarte, o mundo é um conceito humano caracterizado por tudo que tem nome, ou seja, todas as coisas que podem ser ditas e pensadas através das palavras que as representam no nosso mundo simbólico. Se existe alguma coisa que não sabemos o que significa, esta coisa está ausente do nosso mundo. E conforme um dos grandes filósofos contemporâneos Ludwing Wittgenstein, este afirmou que “os limites de minha linguagem denotam os limites do meu mundo” (Ibidem;27) e que “o que não se pode  falar, deve-se calar ” (Wittgenstein,1999:9). Logo, a nossa realidade é o que podemos

representar e organizar através da linguagem.

4- A edificação da realidade. O mundo apresenta muitas realidades de acordo com a relatividade social. O conhecimento de uma classe social ou de uma nação significa um diferencial econômico e de poder dominante em relação às outras. O conhecimento é distribuído dentro da sociedade e é necessário que saibamos como estão distribuídos para que possamos sobreviver. “...a realidade não é simplesmente construída, mas socialmente edificada. A construção da realidade é um processo fundamentalmente  social: são comunidades humanas que produzem o conhecimento de que necessitam, distribuem-no entre os seus membros e, assim, edificam a  sua realidade.” (Ibidem; 36)



Duarte afirma que o trabalho é distribuído de acordo com o grau de especialização e a quantidade de conhecimentos que possuem cada indivíduo. No mundo capitalista a remuneração do trabalhador também é proporcional ao grau de conhecimento que cada empregado possui.

Para que haja uma manutenção do “status” social o homem criou alguns

mecanismos de convívio social como a tipificação e as instituições. A tipificação é a classificação e o enquadramento do indivíduo em tipos, padronizando comportamentos e relacionamentos o que possibilita uma estabilidade da realidade da sociedade. O somatório das tipificações forma a estrutura social e a estabilidade possibilitam a movimentação dos indivíduos no dia-a-dia sem afetar a ordem do grupo. A institucionalização é o estabelecimento de papéis tipificados que podem ser  ocupados por qualquer pessoa contanto que preencha determinados requisitos como o grau de conhecimento e ser executados de uma maneira padronizada. Estas funções são desempenhadas através da divisão de tarefas que são normatizadas e transmitidas por  diversas gerações. As crianças já nascem com a maioria das instituições já formadas e consolidadas e acreditam que estas sempre existiram. A sociedade ensina os papéis desempenhados pelos adultos na instituição e as crianças se iniciam como aprendizes de suas tarefas tipificadas. As instituições têm sempre uma origem histórica e foram criadas para atender  alguma necessidade específica, porém os seus conceitos são consolidados e legitimados com o decorrer do tempo e parece para as novas gerações, que não foi uma criação humana e adquire um estatuto de coisas naturais. “A institucionalização sobre a qual se

edifica a realidade, possui em si um controle social: ao ser percebida como algo dado, estabelecido, evita que os indivíduos procurem alterá-la”. (Ibidem; 43). A realidade conceitual procura legitimar a realidade social dos universos simbólicos, elaborando uma teoria sobre as teorias. Duarte afirma que: 4 

“...os universos simbólicos, ou mecanismos conceituais de integração e explicação da realidade, pertencem a um desses quatros tipos: mitológicos, teológicos, filosóficos ou científicos”. (Ibidem; 52).

O homem que criou as instituições passa a ser condicionado por elas. É o homem se tornando produto, criatura da sua própria criação. Os filósofos, cientistas, psicanalistas  procuram desligar-se desta realidade normatizada desta concepção cotidiana, e buscam  pensar as verdadeiras causas das problemáticas humanas. Procuram ter uma nova visão e separar-se da dialética histórica em que estão inseridos na sociedade institucionalizada. A diversidade cultural em que foram transformadas as nações devido ao advento das comunicações, da globalização possibilitou maior tolerância entre os grupos sociais.

Bibliografia: GENEBRA, Bíblia de Estudo, Sociedade Bíblica do Brasil , Editora Cultura Cristã, SP.1999. JAPIASSÚ, Hilton e Danilo Marcondes,  Dicionário Básico de Filosofia , Jorge Zahar, RJ.1996. JÚNIOR, João – Francisco Duarte, O que é realidade, Editora Brasiliense, SP. 1984. LACAN, Jacques, Os quatros conceitos fundamentais da psicanálise , Jorge Zahar, RJ, 1985. WITTGENSTEIN, Ludwig, Os Pensadores-Investigações Filosóficas , Editora Nova Cultural, SP.-1999.

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