O Plantão de Psicólogos No Instituto Sedes Sapientiae - Uma Proposta de Atendimento Aberto À Comunidade

September 21, 2022 | Author: Anonymous | Category: N/A
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O Plantão de Psicólogos no Instituto  Sedes Sapientiae: uma proposta de atendimento aberto à comunidade Raquel Wrona Rosenthal

No final da década de 70, parte do grupo de profissionais que antes se reunia como “Grupo de Psicologia Humanista”, decide constituir no Instituto Sedes Sapientiae , o Centro de Desenvolvimento da Pessoa, CDP. Estimulado pelo entusiasmo de Rachel Lea Rosenberg, o CDPdedesenvolvia de sobre estudosa teóricos, grupos supervisãoprogramas e reflexão prática clínica, promov promovia ia workshops  abertos  abertos ao público, ciclos de encontros de profissionais paulistas e também encontros nacionais, constituindo-se em importante referência para os interessados em discutir e aprofundar o conhecimento da ACP, Abordagem Centrada na Pessoa. Sempre atenta ao potencial transformador da  ACP  A CP,, consid considerando erando tanto a dimens dimensão ão indi individual vidual quanto a social / comunitária, Dra. Rosenberg propõe a criação de um serviço de Plantão de Psicólogos, inspirado nas experiências das walk-in clinics , surgidas nos Estados  31

 

Plantão Psicológico: novos horizontes

Unidos para prestar atendimento imediato à comunidade.. Até então o Serviço de Aconselhamento comunidade Psicológico, no Instituto de Psicologia da USP, sob sua coordenação, já vinha oferecendo o que chamava 1

  ROGERS, Carl Ramson. As condi-  ções necessárias e  suficientes para a  mudança terapêu-  tica da personali-  dade . In: WOOD, John Keith et alii (Org.s). Abordagem  centrada na pessoa , Vitória: Fundação Ceciliano Abel de Almeida / Universidade Federal do Espírito Santo, 1995, p. 157-179.

“plantão”, e que caso,aosem uma disponibilidade maisconsistia, atenciosanaquele de recepção clientes que procuravam inscrição para atendimento regular em aconselhamento psicológico. Daí surgiram as primeiras reflexões sobre as potencialidades de um serviço de “Plantão Psicológico”: o poder transformador da escuta atenciosa, não diretiva, centrada no cliente, confiante na tendência ao desenvolvimento das potencialidades inerentes à pessoa (tendência atualizante), e na possibilidade dessa tendência ser estimulada, mesmo através de um únicopossa encontro com o profissional, desde que este último oferecer sua presença inteira, através de sua própria congruência, capacidade de empatia e aceitação incondicional do 1 outro, atitudes pilares da ACP. É de Carl Rogers, o criador da Abordagem Centrada na Pessoa, a ponderação: “Se atendermos à complexidade da vida humana com  olhar justo, temos que reconhecer que é altamente 

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  ROGERS, Carl Ramson. Psicotera-  pia e consulta psico-  lógica . 1ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1987 (Coleção Psicologia e Pedagogia), p. 207-208.

improvável que possamos reorganizar a estrutura da  vida de um indivíduo indivíduo. . Se pudermos r econhecer reconhecer este limite  e nos abstivermos de desempenhar o papel de Deus,  poderemos oferecer um tipo muito precioso de ajuda, de  esclarecimento, esclar ecimento, mesmo num curto espaço de tempo. Podemos   permi  pe rmiti tirr ao cl clien iente te que ex expr prima ima se seus us pr probl oblema emass e  sentimentos de forma livre, e deixá-lo com o reconhecimento das questões que enfrenta.”  2

Muitas pessoas, em determinada circunstância de suas vidas, diferenciada, poderiam se beneficiar encontrar uma essa interlocução que lhes ao propiciasse oportunidade também de escutar a si mesmos,  32

 

O Plantão de Psicólogos no Instituto Sedes Sapientiae

identificando e reconhecendo seus próprios sentimentos e possibilidades de auto direção, no momento em que enfrentam a dificuldade, sem que necessariamente tenham que se submeter a atendimento sistemático, prolongado, psicoterapias. como tradicionalmente oferecem as Coube a mim a coordenação e supervisão do Plantão de Psicólogos do CDP, oferecido pela primeira  vez em ago agosto sto de 198 1980, 0, com comoo um dos cha chamad mados os “cursos de expansão”do Instituto Sedes Sapientiae . O curso tinha duração semestral, e prestava, através de seus alunos, atendimento psicológico aberto à população. O Instituto Sedes Sapientiae  ou  ou Sedes , como hoje oimportante chamamos, fundado em São Paulo em 1975, é ume centro de prestação de serviços, ensino pesquisa ligados às áreas da Psicologia P sicologia e da Educação, tendo como compromisso “assumir sua parcela de responsabilidade na  transformação qualitativa da realidade social, estimulando todos os valores que acelerem o processo histórico no sentido de justiça social, democracia, respeito aos direitos da pessoa  humana”.3 3

Feliz associação de ideais, nosso Plantão tinha lugar certo para acontecer!

 INSTITUTO SEDES  SAPIENTIAE : Carta de Princípios, s/d (mineo.).

 As ati ativid vidade adess ini inicia ciaram ram-se -se pe pela la se sele leção ção dos plantonistas.. Os critérios adotados pediam que fossem plantonistas psicólogos, psicólog os, que conhecessem conhecesse m os fundamentos fundamento s da ACP, ACP, que tivessem experiência mínima de um ano em atendimento clínico e estivessem especialmente sensibilizados pela natureza do serviço proposto. com um grupo de dozeo horário plantonistas eContávamos uma supervisora e estabelecemos das 20 às 22 horas, às segundas e quintas-feiras  33

 

Plantão Psicológico: novos horizontes

para os atendimentos e nossas reuniões. Dedicamos aproximadamente um mês e meio ao planejamento e à divulgação do novo serviço, período em que pudemos compartilhar nossas no ssas expectativas e fantasias, fantasias, aplacando nossa ansiedade, ausência de Não bibliografia bibliografi específica sobreacentuada plantãopela psicológico. haviaa qualquer menção, nas diversas bibliotecas especializadas que consultamos, às walk-in clinics   das quais Rachel Rosenberg nos falara. Sabíamos que a possibilidade de psicoterapias de curta duração vinha sendo considerada por autores que adotavam diferentes abordagens, como por 4 exemplo, os trabalhos de Bellak e Small,  de orientação 4

  BELLAK, Leopold & SMALL, Leonard. Psicoterapia de  Emergência e Psico-  terapia Breve . Porto Alegre: Artes Médicas, 1980.

psicanalítica. AsdePsicoterapias Breves vinham tendo, desde a década 70, grande implemento e pesquisa, mas nada de sistemático havia sobre outras experiências de curta duração ou mesmo de sessões únicas de atendimento. Dra. Rosenberg, ao refletir sobre variações no tempo de atendimento, apontava o caráter preventivo de uma intervenção no momento oportuno: “A duração prevista para um atendimento possivelmente eficaz em terapia tem sofrido modificações de várias espécies. Comprovações empíricas de resultados satisfatórios justificam o uso de atendimentos com um número pré-determinado ou máximo de horas. Cria-se uma metodologia específica para este tipo de atendimento em linhas teóricas  variadas [...], o atendimento de curta duração se insere como aplicação natural, bem sucedida e cada vez mais utilizada. Mesmo no caso de problemas graves ou dificuldades antigas, conclui-se que o princípio de tudoou-nada ou seja, terapia profunda e–prolongada ou nenhuma– assistência psicoterápica não tem real  val  v alid idaa de de.. E sp spee c ia ialm lmee n te e m po ponn to toss c rí rítt ic icoo s do

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O Plantão de Psicólogos no Instituto Sedes Sapientiae

desenvolvimento ou da vivência, uma intervenção adequada tem, além de efeitos terapêuticos,5 caráter preventivo de conflitos maiores posteriores”. 5

 Alguns alunos supunham que, devido ao caráter imediato do atendimento, certamente receberíamos muitos clientes em crise emocional aguda e insistiam na necessidade de contarmos com um psiquiatra plantonista. Precisamos esclarecer que nossa proposta não era criar um serviço para emergências psiquiátricas e sim oferecer escuta imediata, recebendo a pessoa no momento da dificuldade, sem que necessariamente a intensidade dessa dificuldade tivesse atingido um ponto crítico que representasse ameaça iminente à sua integridade ou àcomo de outros; nãoa era de stinadorecente destinado ao suicida em potencial, sugeria divulgação do CVV, Centro de Valorização da Vida, cuja equipe de plantonistas era constituída por leigos em psicologia e prestavaa atendimento prestav a tendimento inicial por telefone. Por precaução,, tratamos de pesquisar e organizar uma relação de ção instituições e serviços particulares par ticulares de psiquiatria, caso  viéssemos a necessitar necessitar.. 6  A preocupação de Madre Cristina  era de que o novo serviço não viesse aumentar as já enormes filas de espera psicoterapia naquelados clínica, tão solicitada devidopara à tradicional qualidade serviços prestados.. Insistíamos em esclarecer que a intenção não prestados era fazer triagem, embora pudéssemos, eventualmente, realizar encaminhamentos. encaminhamentos. O Plantão Psicológico não foi concebido como uma alternativa “tampão” para acabar com filas de espera em serviços de assistência psicoterapêutica, já que não pretende substituir a psicoterapia. Não acreditamos que uma única sessão seja capaz de resolver sérios problemas emocionais ou pro-

 

ROSENBERG,

Rachel Lea. Terapia para Agora. In: ROGERS, Carl Ramson &  ROSENBERG, Rachel Lea. A Pessoa como  Centro . São Paulo: E.P.U., 1977, p. 52.

6

  Madre Cristina, nascida Célia Sodré Dória, cônega de Santo Agostinho, educadora, psicóloga e fundadora do Instituto Sedes  Sapientiae , personalidade inesquecível para a Psicologia e para a História brasileiras.

mover personalidade. Somente resultados mais tardereconstrutivos é que viemos da a descobrir as possibilidades terapêuticas do plantão.  35

 

Plantão Psicológico: novos horizontes

Fizemos várias reuniões em torno de aspectos éticos das formas de divulgação: tratava-se de uma nova proposta e aberta à comunidade em geral. Como divulgá-la, transmitindo sua originalidade e 7

 um destes cartazes encontra-se digitalizado no CD-ROM anexo ao livro.

acessibilidade, sem7, que banalizá-la? Optamos pela impressão de cartazes foram afixados em diversas escolas, igrejas, hospitais, bibliotecas públicas e faculdades com o destaque: “Psicólogos de Plantão” e o texto: “Somos um grupo de psicólogos prontos para ouvir, trocar  idéias, esclarecer dúvidas. Enfim, estar com você no momento em que sentir que um psicólogo pode ajudar.” 

Seguia-se o nomenodaCRP psicóloga responsável seu número de inscrição CRP, , o endereço e ndereço e horáriose do atendimento. Os plantonistas visitaram as salas de aula do Sedes  onde se desenvolviam outros cursos, para anunciar o atendimento e esclarecer dúvidas a respeito. Os primeiros a nos procurar foram justamente alguns alunos desses cursos, uns motivados por questões pessoais, outros, pelo interesse profissional em conhecer melhor Plantão. num programa da TV  Houve umao divulgação Cultura, uma reportagem extensa que entrevistou plantonistas e supervisora, e que, infelizmente, só foi ao ar às vésperas da interrupção do serviço devido às férias. Este fator diminuiu o impacto de sua repercussão,, pois os clientes que nos procuraram em seguicussão da à edição do programa da TV não puderam ser atendidos. O jornal Folha de São Paulo publicou reportagem do jornalistadestacando Paulo Sérgio sobre o Plantão Psicológico, suaScarpa utilidade pública. Interessante assinalar que a seção onde se inseriu a matéria  36 

 

O Plantão de Psicólogos no Instituto Sedes Sapientiae

intitulava-se “A Folha e as respostas da sociedade à crise”(07/11/81). Outras menções ao serviço já ha viam sido feitas por esse mesmo jornal, em edição de 16/01/81 e em seu caderno “Folhetim”, cuja edição, em 20/09/81,8.era dedicada ao tema “Desemprego Insegurança” Hoje, passados 19 anos, podemose reconhecer, com tristeza, a atualidade desses temas. O primeiro grupo de doze plantonistas trabalhou de agosto a dezembro de 1980, dividido em sub-grupos de seis que se alternavam entre atendimento e supervisão: enquanto metade prestava plantão às segundas-feiras, a outra parte reunia-se para supervisão; super visão; às quintas-feiras, invertiam-se as funções. A super supervisão visão

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 Estas matérias se encontram digitalizadas no CD-ROM anexo ao livro.

também ao plantonista durante o transcorrer deera umacessível atendimento, caso precisasse dela. A duração de uma sessão de atendimento poderia variar de uma a duas horas, dependendo de haver ou não outros clientes à espera. Dispúnhamos de sete salas, sendo seis destinadas ao atendimento e uma para as reuniões de supervisão. Madre Cristina, confiante na importância da iniciativa, ofereceu-se para recepcionar recepcionar os clientes. clientes. Assim, quem Psicológico, mesmo noites procurava mais friasodoPlantão inverno, encontrava-a logonasà entrada do Sedes , sentada atrás de uma pequena mesa, apoiada num travesseiro para respaldar suas costas, que tão vigorosamente suportaram, com coragem e dignidade, as pressões da luta por justiça social em nosso país. Cabia a ela indicar ao cliente o andar e a sala de atendimento, o que fazia com calor e firmeza, já despertando nele uma disposição receptiva ao encontro com o profissional. semestre de dos 1981ex-alunos, foi feita entunova seleçãoNo de primeiro plantonistas e alguns siasmados que estavam, se re-inscreveram.  37

 

Plantão Psicológico: novos horizontes

Novamente, para o terceiro curso, no segundo semestre de 1981, tivemos re-inscrições. Em 1982 não foi renovada a proposta. A supervisora, preparando-se para sua terceira gravidez, embevecida que estavaàs pelo novo,enquanto decidiu-se pela dedicação mais intensa suas filhas, se afastava do Sedes , levando muito para refletir a respeito de seus plantões e suas “plantinhas”. Mais tarde, é convidada a oferecer Plantão Psicológico aos funcionários do mesmo instituto, atividade que desen volveuu até deze  volve dezembro mbro de 97. Esse conv convite ite ates atesta ta o reconhecimento da importância da proposta e a repercussão que o Plantão Psicológico alcançou dentro daquela instituição instituição..  Traa t a r e m  Tr s a q u i dPsicológico e ap apre ress e n t aaberto r c o m ào cofoi desenvolvido o oPlantão munidade.

OS CLIENTES Nos três semestres do Plantão de Psicólogos, realizamos 145 atendimentos, sendo 28 retornos.  Tínham  Tín hamos os est estabe abelec lecido ido trê trêss ret retorn ornos os com comoo pos possib sibili ilidad dadee máxima para cada cliente no mesmo semestre. Entendíamos que, cas o nos procurasse com maior freqüência, isto indicaria a conveniência dedeencaminhá-lo psicoterapia. Tínhamos uma relação instituições queà prestavam prestav am atendimento gratuito g ratuito,, como era nosso caso, e também uma relação de psicoterapeutas dispostos a trabalhar por honorários simbólicos. simbólicos. Das 117 pessoas que nos procuraram, 52% eram mulheres e 48% homens. Predominaram os solteiros; o nível de escolaridade dos clientes variou de semialfabetizados a curso superior completo; 17% eram profissionais profission ais liberais (advogado, economista, psicólogo, psicólog o, fisioterapeuta), e o restante compostocomerciante, por outras ocupações (escriturário, comerciário, motorista, vendedor, feirante, office-boy, técnicos em  38

 

O Plantão de Psicólogos no Instituto Sedes Sapientiae

serviços div diversos). ersos). Procurou-nos também uma pessoa que declarou como ocupação, ser “pedinte”. Meses depois, a plantonista que o atendeu o encontraria num dos ônibus urbanos, recolhendo esmolas entre os passageiros.  Após cada atendim atendimento ento,, era solicit solicitado ado ao cliente que depositasse numa urna ur na um comentário escrito, escrito, sem necessidade de se identificar. Dos 68 depoimentos recolhidos, destacamos alguns, para ilustrar a repercussão imediata ao encontro: “Eu nunca havia participado de uma entrevista com   psicólogos. Fiquei até com receio pois não sabia como iria iniciar a conversa. Entretanto, foi mais fácil do que  imaginava. O ‘à vontade’ com que a psicóloga conduziu  o bate-papo propiciou-me externar praticamente tudo o que vinha me inquietando, chegando mesmo a tirar  conclusões ou elucidar dúvidas com o simples desabafo de  minhas preocupações. Senti-me pois tão satisfeita como se tivesse recebido um presente de Natal ”. “Não acho que o atendimento recebido tenha resolvido o meu problema, mas tenho plena convicção de que abriu-  me algumas portas, deu-me algumas luzes e fez-me refletir. Creio que agora estou mais apto a resolvê-lo e muito otimista por saber que posso”. “Acho que existem muitas pessoas que deveriam fazer  esta ‘pré-análise’ antes de se definir pelo terapeuta”. “Não fez minha cabeça”.

“Como ter eFsentir podemos sentar sem e conversar  com umaé bom pessoa. alar deque nossos problemas pensar  que vamos ser censurados”.  39

 

Plantão Psicológico: novos horizontes “Achei ótima a idéia desse Plantão. Psicólogos ouvindo  pessoa  pes soass em cas casos os de em emergên ergência cia ‘e ‘emoc mocion ional’ al’.. Deve con contin tinuar  uar  e se expandir em vários locais e ser divulgado e ‘ensinado’, dado como curso nas escolas de Psicologia”. “Acho essa iniciativa muito válida e isso, acredito eu, vem a ressaltar ainda mais o papel, ainda que às vezes  reprimido do psicólogo na sociedade. Acredito Acred ito que mesmo sendo um só encontro, estes 50 ou 60 minutos que sejam, nossas 23 horas restantes e dias posteriores serão melhores”.

De maneira geral, os comentários aludiam à importância de ser ouvido ouvido,, faziam referências ao alívio pelo desabafo, sugeriam que o atendimento ser pago, apontavam a necessidade de maiordeveria divulgação do serviço e a ampliação dos horários de atendimento e alguns revelaram frustração da expectativa de que pudessem receber atendimento prolongado.

OS PLANTONISTAS Os plantonistas se referiam com freqüência à sua experiência como estagiários durante o tempo da faculdade, declarando o quanto “sofreram” ao se desligar do cliente poraocasião curso de graduação. Agora, questãodadoconclusão vínculo, do a separação do cliente, a ansiedade em função desse único encontro encontro,, a imprevisibilidade quanto a outra oportunidade (sessão seguinte) para eventual “reparação” de sua atuação, tudo era discutido sistematicamente nas supervisões. Suponho que uma das conseqüências dessas dificuldades dos alunos foi o número de encaminhamentos realizados e a quantidade de intervenções de natureza diretiva, com tendência a oferecer respostas e sugestões sugquestão estões.. diz respeito à superação do Outra estereótipo de que uma relação de ajuda psicológica 40

 

O Plantão de Psicólogos no Instituto Sedes Sapientiae

deva se estender no tempo, de que profundidade e intensidade sejam diretamente proporcionais à duração do atendimento. A possibilidade de que uma inter venção de natureza breve pudesse ser suficiente para olimitação cliente não claramente percebida pelos que alunos, que era podemos atribuir à formação receberam nos cursos de Psicologia, onde a habilitação do psicólogo estava mais voltada para a atividade clínica da psicoterapia ou do psicodiagnóstico através de testes.  Também em relação às inter intervenções venções diretivas observamos, muitas vezes, que o sentimento de impotência do plantonista diante de clientes de menor poder aquisitivo, levou-os a adotar atitudes paternalistas e, de certa o cliente; houve casos emforma, que o desvalorizantes aluno procuravapara encontrar soluções imediatas, dar conselhos e sugestões ou mesmo insistir em encaminhamentos muitas vezes não percebidos como necessários pelo próprio cliente. Liesel Lioret, psicóloga que pouco tempo depois iniciaria também como supervisora o atendimento psicológico do tipo plantão em postos de saúde através da Clínica das Faculdades São Marcos, fez a seguinte reflexão sobre sua experiência: “A questão dos valores do psicólogo é importante em  qualquer processo psicoterapêutico, mas quando se trata  de sua ‘vontade de ajudar’ pessoas com problemas de  subsistência, a visão que ele tem da ‘pobreza’ e de seu   próprio  próp rio luga lugarr na socie sociedade dade mode modela la seus obje objetivos tivos explí explícitos  citos  e implícitos e suas atitudes. O psicólogo tem a tendência  a se preocupar mais com o ‘como’ de sua atuação do que  com o ‘porquê”, ou seja, com as implicações pessoais e  ideológicas de suas intervenções. Por exemplo, não terá  aconsciência mesma postura se possa acredita quefator umadetomada de  individual ser um mudança, ou se acredita que somente uma mudança social e política   possa trazer  41

 

Plantão Psicológico: novos horizontes soluções para as situações individuais.[...] Ele deve, mais  do que nunca, estar atento às incongruências de seus  sentimentos com os pressupostos intelectuais: intelectuai s: até que ponto ele realmente confia nos recursos da pessoa para enfrentar  9 

suas dificuldades e modificar seu mundo?” 

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  Extraído de relatório pessoal não publicado (1982). Parágrafo aqui reproduzido sob permissão da autora.

O SERVIÇO E O CURSO Quanto à estruturação do serviço, que acompanhava o calendário dos cursos do Instituto Sedes  Sapientiae , percebemos que a proposta semestral, com constantes interrupções devido às férias, além de truncar o afluxo de clientes, tornava muito curto o período de preparação do plantonista, preparação que nos parece requerer bastante empenho, especialmente no que diz respeito às bases da Abordagem Centrada na Pessoa e aos conceituais valores pessoais do profissional. Isto pôde ser confirmado pelo número de reinscrições dos alunos para os semestres seguintes, evidenciando que não só reconheciam a relevância e efetividade do Plantão Psicológico, como também a consciência que tinham da necessidade de aperfeiçoamento. O tempo breve da relação com o cliente talvez torne mais perceptível, tanto para o supervisor como para o próprio aluno, o grau de consistência na adoção como para suana atuação. A ausênciadadeACP solidez nareferencial “atitude centrada pessoa” prejudicará a qualidade da relação de ajuda, gerando no plantonista comportamentos incongruentes e condutas diretiva diretivas. s.

 ALGUM  ALG UMAS AS CO CONS NSID IDER ERAÇ AÇÕE ÕESS SO SOBR BREE O PLA PLANT NTÃO ÃO Nossas próprias “descobertas” antecipam o que diria mais tarde o rabino e escritor Nilton Bonder: “A grandeé adescoberta século da para as Ciências  Humanas descobertadeste terapêutica escuta. Não há  melhor entendimento que alguém possa nos prestar do 42

 

O Plantão de Psicólogos no Instituto  Sedes Sapientiae que servir-nos de ouvido para as falas baixas e quase  imperceptíveis de nossa existência”  10. 10

Ouvir pode sugerir uma atitude passiva, mas não é. Ouvir implica ate nto,, estar presente. Presença inteira.acompanhar, Que quer estar dizeratento “presença inteira”?  Todos  T odos sabemo sabemoss o que signi significa fica pres presença ença “parci “parcial”. al”. Quantas vezes duvidamos que nosso interlocutor esteja realmente nos ouvindo? Mesmo que alguém, ao ser questionado “Você está ‘mesmo’ me ouvindo?” seja capaz de repetir literalmente aquilo que acaba de ouvir, a repetição soará vazia, oca de sentido, se sua presença estiver cindida. Ser capaz de repetir neste caso não significa ser bom ouvinte. É sutil, mas às vezes podemos

  BONDER, Nilton. Elul, O mês da escuta. Kol: Boletim In-  formativo da Comu-  nidade Judaica do  Brasil , Rio de Janeiro, Ano III, n. 7, agosto 1998, p. 1.

até perceber,– sem mesmo “densidade” ter consciência de que percebemos pela própria de olhar do outro, pelo tipo de brilho desse olhar – a denúncia da “parcialidade” da presença. Um olhar nosso ao olhar do interlocutor poderá revelá-la. A repetição, mesmo quando se torne uma reprodução re produção,, isto é, quando procure “re-produzir”, sintetizando o conteúdo daquilo que foi ouvido, eventualmente em outras palavras, torna-se oca, é apenas e simplesmente um eco. Eco, a ninfa da mitologia grega, greg a, evitava a companhia dos homens e dos deuses se importava com o Amor. Pã, apaixonado por elae não e irritado ir ritado com sua indiferença, fez que os pastores da região a despedaçassem, espalhando os despojos pelas campinas. Eco, dispersada por muitos lugares, limita-se a repetir os sons que se produzem por perto. Ouvir realmente, e não apenas “ecoar”, requer concentração do plantonista (terapeuta, ouvinte etc.). Não é possível ouvir estando disperso como Eco. E não estou me referindo a concentração apenas como capacidade de focalizar a atenção (noa cliente ou na fala do cliente), mas quero ressaltar concentração do terapeuta em si mesmo. 43

 

Plantão Psicológico: novos horizontes

Proponho refletirmos sobre “concentração” como “congruência”. Parece estranho? Congruência pode ser entendida como o alinhamento de várias esferas sobre um mesmo eixo. eixo. Psicologicamente falando, ter torno as dimensões do eixo, pensar, agir,significaria alinhadas em do mesmo tersentir “todose os centros num mesmo centro”. Congruência é portanto concentração, tomar dentro de si como único centro,, o mesmo eixo de alinhamento centro alinhamento.. É alinhamento interno, concentração, presença inteira.  A Ab Abor ordag dagem em Cen Centra trada da na Pess essoa oa,, enfa enfatitiza zand ndoo as qualidades da relação (aceitação incondicional, empatia e congruência) como fator mobilizador do crescimento (tendência atualizante) se confirma como perfeito referencial para “Plantão modalidad modalidade e de atendimento atendiment o queo vem abrirPsicológico”, também novas perspectivas de contribuição social para o psicólogo. Relembrando a expressão tão rica de sentidos do Prof. Miguel Mahfoud, podemos confirmar o Plantão Psicológico como presença que mobiliza.

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