O mito de Criação Japonês e a Amaterasu

June 11, 2019 | Author: cisicobain | Category: Shinto, Japan, Religion And Belief
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Trabalho apresentado na disciplina de Fenômenos culturais e religiosos. Unilasalle Canoas - 2010...

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O MITO DE CRIAÇÃO JAPONÊS E AMATERASU

CANOAS, 2010

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 No início... O mito criacional de uma cultura pode nos dizer muito sobre a visão de mundo deste povo e como se representavam representava m perante ele. No caso do mito japonês, a criação dos homens e do arquipélago em que vivem se inicia quando um casal divino volta seu olhar   para o que havia embaixo de sua morada divina. A tentativa da compreensão do mundo do divino é uma experiência comum a várias culturas, e fundamental na formação das   primeiras sociedades humanas. Partindo disto, procuro estabelecer pontos de contato entre o mito e a sociedade que o criou, bem como as formas em que esta representação ainda se faz presente nas práticas religiosas atuais.

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JAPÃO:

O SAGRADO NA SOCIEDADE

A religião natal do Japão, o xintoísmo, se organiza em torno do culto dos antepassados. O  shinto é o ³Caminho dos Deus´, e surgiu da articulação das palavras chinesas shen (espírito) e dao (caminho). Uma das chaves para que possamos possa mos entender a religiosidade japonesa é o conceito de kami.  Kami é normalmente traduzido tra duzido com ³deus, deusa´, mas de maneira mais ampla, deve ser encarado como ³espírito´ ± já que as almas dos antepassados também se tornam kamis. Como o xintoísmo é a evolução gradual de antigas crenças, ele se fundamenta no cerimonial e no ritual como formas de manter o contato com o sagrado. Além do xintoísmo, o Japão também possui um grande número de adeptos do   budismo. Só que, ao contrário do que muitos podem pensar, as duas crenças não se separam no dia-a-dia dos fiéis. Pelo contrário, é comum um japonês ter um casamento xintó e ser enterrado em um ritual budista. Isso se dá devido às características únicas dos japoneses japoneses em assimilar ass imilar as concepções que vem de fora. Já

chamado de laboratório de religioso, o Japão é conhecido pelo grande número

de seitas que se desenvolveu no país, principalmente após a Segunda Guerra Mundial.  No entanto, o objeto deste dest e trabalho se volta mais para o início da religiosidade japonesa, a criação e o mito de Amaterasu.

A sociedade e os kamis

Certa compreensão da formação da sociedade japonesa é essencial quando estudamos sua mitologia. Desde seus primórdios, organização social do país e organizou-se em torno de clãs ± semelhantes aos genos que existiam na Grécia ± que, em sua maioria, reproduziam uma estrutura patriarcal, embora possivelmente alguns fossem matriarcais.

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árvore que era considerada sagrada. Até mesmo pessoas vivas podiam ser consideradas kami ± um exemplo clássico disso, posteriormente, é a figura do imperador.

Além disso, a disseminação do budismo passou pela assimilação da figura do Budah como um kami, os iluminados são chamados japoneses de butsu ou bosatsu. Este é mais um exemplo que mostra a versatilidade religiosa do país, embora esta nem sempre ocorra de maneira espontânea ou gradual. Os clãs japoneses, conforme iam se fortificando militar e economicamente, impunham aos seus tributários as divindades que os tutelavam. Provavelmente a partir  do séc. IV a.C., o clã Yamato (talvez o mais adequado fosse dizer etnia Yamato) passou a dominar aos poucos sobre a maioria dos outros clãs da região de Honshu. Sendo assim, era importante que este clã fosse associado à uma entidade poderosa, às quais outras entidades estivessem submetidas. Aí no o começo da ligação do clã com Amaterasu.

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O MITO NA SOCIEDADE

Apesar da narrativa do mito ser relativamente curta, há nela detalhes preciosos   para o enriquecimento da narrativa social japonesa. As lacunas serão preenchidas conforme localizado em e m bibliografia auxiliar.

No princípio

A narrativa da criação do mundo está localizada no  Kojiki, o ³Registro de questões antigas´, uma crônica de base genealógica ± o mais antigo texto escrito em  japonês  japonês ± de autoria atribuída a Ono Yasumaro, Yas umaro, em 712. Apesar de este cortesão erudito ter-se baseado em outras fontes escritas mais antigas, estas infelizmente não chegaram até os dias atuais. Isto é fundamental porque não se trata de livro sagrado no sentido de revelação divina. Seu caráter é o de reafirmar o poder dos clãs poderosos,  principalmente os Yamato. Pela narrativa podemos ver que o primeiro filho do casal criador ± Izanagi e Izanami ± era uma criança monstro. O motivo disto fica claro no primeiro capítulo do  Kojiki. Quando aqui chegaram, foi a deusa Izanami quem tomou a iniciativa em pedir 

Izanagi em casamento. Os kamis mais velhos explicaram que quem pede em casamento é o homem e quando Izanagi fez a corte, filhos saudáveis nasceram. Uma forma polida de mostrar à sociedade que a cabeça da família é o homem. Outro ponto interessante é a menção à Yomi, a terra dos mortos. O destino da alma não é a chave das preocupações xintoístas, que normalmente se voltam para a   procriação, na promoção da fertilidade, na pureza espiritual e no bem-estar físico. Enquanto que o budismo se foca normalmente para a possibilidade de vida após a morte. O  shinto se torna assim a doutrina para a vida, ao passo que o budismo seria a doutrina da vida após a morte. Talvez isso se explique em parte pelo fato do Kojiki ter sido escrito durante o

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momento, os novos adeptos do budismo estavam entre a elite (que podia ler e escrever), enquanto o shinto ainda era predominante entre as classes subalternas. Outra interpretação possível da viagem de Izanagi a Yomi é compará-la com a ida de Orfeu ao Hades. Lá ele também tenta recuperar sua esposa, mas não confia na informação recebida por Hades de não olhar para trás enquanto deixava o rei dos mortos. Assim também Izanagi não obedeceu ao pedido da esposa para que não a olhasse: ela já havia ingerido a comida de Yomi e por isso não poderia retornar. A partir  daí Izanagi foge. Outra fonte complementa a fuga do deus criador: sua irada esposa ceifará lá de Yomi, mil vidas por dia placar sua ira; em resposta, ele disse que criaria mil e quinhentas a cada novo dia. Estabelece-se assim, do casal primordial, a relação de vida e morte. Seguindo ao mito, chegamos ao episódio da purificação de Izanagi. Aí nasce Amaterasu, deusa do sol, Tsukuyomi, a deusa da lua e Susano, o deus da tempestade. Amaterasu nasceu primeiro e por isso teria herdado o reino do céu; sua irmã, a lua, comandaria a terra; enquanto Susano reinaria sobre os oceanos. Curioso é que em algumas fontes há menção de Amaterasu ser uma deidade masculina em princípio e apenas com o Nihonshoki, escrito na época de uma imperatriz muito importante, a divindade teria assumido um caráter feminino. No entanto, não há evidência sólida a esse respeito. Ou mesmo, em um passado bem distante, os Yamato tivesse uma estrutura matriarcal que se perdeu, sobrevivendo apenas vestígios com a supremacia de Amaterasu. Dados os devidos paralelos, Amaterasu e seus atributos solares a aproximam   pouco de outras deusas solares. Suas prerrogativas a aproximam de Apolo (beleza, artes), mas ao mesmo mes mo tempo, ela possui também atributos semelhantes a deusas da terra, t erra,  pois ela também é a responsável pela fertilidade da terra e das colheitas. Amaterasu é uma divindade de características únicas, já que, na maioria, suas atribuições são mais comumente associadas ao elemento masculino. Afora esta dicotomia, sua principal função é atuar na reprodução da ordem or dem social   japonesa. A hierarquia celeste foi gradualmente reproduzindo o aumento do poder dos Yamato, e, conforme já dito anteriormente, legitimar a µdescendência divina¶ da família

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Amaterasu e suas tecelãs (que teciam os kimonos da deusa, se referindo à ordem terrena). Uma destas jovens se assustou tanto que se feriu mortalmente no tear. O recolhimento da Deusa reflete seu desespero com a desordem causada pelo irmão, bem como é o momento em que os raios do sol deixam de iluminar a vida humana. Pode ser  tanto uma referência ao fenômeno do eclipse, bem como às estações do ano. Quanto à Jimmu, este seria um neto de Amaterasu, a quem ela havia dado a missão de governar os homens. Antes, porém, ele devia se livrar do descendente de Susano, que também queria reinar sobre os homens. Este é outro momento onde   percebemos a lógica da ordem sobre a desordem (o descendente de Amaterasu que vence o de Susano), o que expressa um sentimento vigente na organização social  japonesa.

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MITOLOGIA HOJE

Em uma sociedade particular como a japonesa, os mitos estiveram vivos até muito recentemente. Somente com a derrota na Segunda Guerra Mundial é que o imperador apareceu perante o povo e negou sua origem divina ± gerando grande comoção entre as pessoas. Além disso, o mito da criação ajudou a propagar o forte caráter nacionalista que prevaleceu no Japão desde a segunda s egunda metade do séc. XIX. Ainda hoje, apesar de menos latente, impera no povo japonês grande apego à ordem, à obediência, além de um machismo conhecido e antigo que ainda prevalece. Chega a ser paradoxal que a sociedade pela qual Amaterasu preza e cuida, mantenha ainda diferenças de salários entre homens e mulheres. Somente recentemente é que as mulheres conseguiram readquirir o direito ao a o sacerdócio, perdido devido à influência do confucionismo que veio da China.  Não obstante, o caráter de iluminação da deusa prevalece, ao a o menos em como os  japoneses vêem as pessoas alegras, como ³clara, luminosa´. Assim, devemos considerar  a validade tanto do mito da criação como de Amaterasu como indicadores sociais relevantes do velho e do novo Japão, que se renova assim os raios da deusa se renovam ao sair da caverna da escuridão, escur idão, da caverna da desordem e da tristeza.

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REFERÊNCIAS

GAARDER, Jostein; HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry. O livro das religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. 315 p. ISBN 8571649944.

Klepsidra: revista virtual de história, São Paulo, SP, n. 4, 2000. Disponível em < http://www.klepsidra.net/klepsidra4/japao.html http://sachisachisachi.wordpress.com/2009/05/03/um-olhar-junguiano-sobre-amitologia-japonesa/ KOJIKI, cap. 1. Conforme traduzido tra duzido em: http://bungakuuu.blog http://bungakuuu.blogspot.com/2006 spot.com/2006/12/mitologia /12/mitologia -japonesa-traduo-do-kojiki.html -japonesa-traduo-do-kojiki.html

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