o Império Retórico

November 22, 2018 | Author: André Magnelli | Category: Rhetoric, Dialectic, Science, René Descartes, God
Share Embed Donate


Short Description

Tradução de capítulo de livro com título homônimo de Chaïm Perelman....

Description

1

O IMPÉRIO RETÓRICO Chaïm Perelman1

As relações entre a filosofia e a retórica são essenciais ara o !estino !esta "ltima# En$% En$%an anto to $%e $%e a retó retóri rica ca fa& fa& re' re'al alec ecer er cert certas as oin oiniõ iões es so(r so(ree o%tra o%trass oin oiniõ iões es concorrentes) a filosofia) $%e rimiti'amente incl%*a as ci+ncias artic%lares) est, em  (%sca !e 'er!a!es imessoais# Parm+ni!es) ao oor em se% c-le(re oema a 'ia !a 'er!a!e) .aranti!a ela !i'in!a!e) / 'ia !a oinião) $%e - a !os homens) ina%.%ra'a a comet+ncia entre filósofos e mestres !e retórica# A resosta !e 0ór.ias não se fe& eserar atra'-s !e %ma trila ar.%mentação) ele mostra $%e o ser não - $%e se -) seria inco.nosc*'el e $%e se al.%-m o conhecesse) seria incom%nic,'el !a* a imort2ncia !a retórica) !a t-cnica sicoló.ica $%e tra(alha so(re a 'onta!e !o a%!itório ara o(ter s%a a!esão# 3a mesma maneira) ao mostrar $%e) so(re to!o o(4eto) e5istem !ois !isc%rsos oostos) os dissoi logoi) logoi) Prot,.oras ne.a a e5ist+ncia !e %ma 'er!a!e "nica# 6%an!o to!o tema - o(4eto !e contro'-rsia) %ma 'e& $%e semre se o!e !efen!er o ró e o contra) - reciso o%tor.ar a reemin+ncia ao retórico) mestre !a oinião# Platão 7 ao contr,rio 7) na me!i!a em $%e cr+ na e5ist+ncia) em to!o ass%nto) !e %ma 'er!a!e $%e o filósofo !e'e (%scar so(re t%!o) reconhecer, %m ael %r.atório / !ial !ial-t -tic ica) a) $%e $%e - %ma %ma t-cn t-cnic icaa %tili %tili&a &a!a !a or or 8ócr 8ócrat ates es ara ara ref% ref%ta tarr as oin oiniõ iões es !o a!'ers,rio) na me!i!a em $%e se ossa 9r em e'i!+ncia s%a contra!ição# Tão lo.o se contra!i.am as oiniões não o!em ser a!miti!as sim%ltaneamente) e %ma !elas 7 elo menos 7 !e'e ser a(an!ona!a em nome !a 'er!a!e# É assim $%e 8ócrates reara o caminho ara a int%ição !a 'er!a!e# 6%an!o a erce(e) o filósofo o!er, se ser'ir !a t-cnica retórica ara com%nic,:la e fa&+:la ser a!miti!a elo a%!itório# A retórica !i.na !o filósofo - a $%e o!er, ers%a!ir aos rórios !e%ses) ois ela (%sca a a!esão a teses 'er!a!eiras) e não a simles oiniões# ; i(rairie Philosohi$%e G# Drin) 1H# Tra!%ção !e An!r- Ma.nelli (a revisar) 1 Tra!%ção !e= PERE>MA?) Chaïm# @>Emire Rh-tori$%e

 Platão) Fedro)) ;J# 2 Platão) Fedro

2

a %m !estes homens $%e) em l%.ar !e manter se%s coros or meio !a .in,stica e !e c%i!,:los com a me!icina) os a!%lam me!iante %ma co&inha a.ra!,'el) sem se  reoc%ar com as conse$%+ncias nefastas $%e res%ltarão !e s%a .%la# J A retórica $%e  (%sca a.ra!ar) $%e somente se reoc%a com as aar+ncias) $%e ma$%ia a reali!a!e or  meio !as @coresF) - a t-cnica !ema.ó.ica or e5cel+ncia) / $%al !e'em com(ater to!os os $%e se imortam com o tri%nfo !a 'er!a!e# O retórico) tal como o sofista) - o mestre !a oinião) conse$%entemente) !a aar+ncia ao asso $%e o $%e interessa ao filósofo e ao s,(io - o conhecimento !a 'er!a!e e !a r,tica !o (em conforme esta 'er!a!e# 8e) !e fato) a !ial-tica - "til ao filósofo e lhe ermite eliminar as oiniões err9neas) a  erceção !a 'er!a!e se far,) or-m) .raças /s int%ições a retórica ser'ir, ara com%nic,:las e fa&+:las a!mitir# ?este senti!o) ela est, claramente s%(or!ina!a / filosofia# As conceções !e Aristóteles serão mais mati&a!as# Ao searar niti!amente as !iscilinas r,ticas !as ci+ncias teóricas) Aristóteles insiste so(re o fato $%e não são os mesmos m-to!os) nem os mesmos meios !e ro'a) $%e se !e'e %tili&ar em to!os os !om*nios# Assinalamos a assa.em !a  Ética a Nicômaco) se.%n!o a $%al o $%e con'+m a %ma !emonstração matem,tica seria ri!*c%lo n%m !isc%rso e 'ice:'ersa# K 8e a int%ição - a .arantia !a 'er!a!e !os rinc*ios nas ci+ncias) o rec%rso / !eli(eração e / !isc%ssão - o $%e confere %ma racionali!a!e /s ati'i!a!es r,ticas) nas $%ais a !ecisão e a escolha ocorrem somente aós %ma refle5ão so(re os oss*'eis e os contin.entes# 0raças aos racioc*nios !ial-ticos e / retórica se o!er, infl%ir no 4%*&o e orient,:lo em !ireção a toma!as !e osição ra&o,'eis# Para Aristóteles) to!o a%!itório %m 4%i& $%e !e'e) no fim !as contas) ron%nciar:se so(re a s%eriori!a!e !e %ma o% o%tra !as teses em !is%ta L) $%an!o nenh%ma !elas se imõe !e maneira e'i!ente# É  recisamente or$%e o !om*nio !a ação - contin.ente e não o!e or issoN ser !iri.i!o  or 'er!a!es cient*ficas) $%e o ael !os racioc*nios !ial-ticos e !os !isc%rsos retóricos - ine'it,'el ara intro!%&ir al.%ma racionali!a!e no e5erc*cio !a 'onta!e in!i'i!%al e coleti'a#

3 Platão)

Górgias) L1#

4 Aristóteles) Ética

a Nicômaco) ># I) 1HK() ;J:;L#

5 Aristóteles) Retórica) II) 1JH1() :;1#

3

In!icamos) no ca*t%lo II) como Ram%s) ao atri(%ir / !ial-tica o est%!o !e to!a classe !e racioc*nios) tanto anal*ticos como !ial-ticos) re!%&i% a retórica / eloc%ção) /  (%sca !e formas !e e5ressão $%e são retira!as !o !isc%rso or!in,rio) ao est%!o !os ornamentos) !as fi.%ras !e estilo# Mas) 3escartes foi ain!a mais lon.e em s%a 'onta!e !e eliminar to!a retórica !e s%a filosofia#Q O ro4eto cartesiano !e %ma filosofia more geometrico) $%e foi reali&a!o aenas  or 8ino&a) era !e constr%ir %m sistema $%e) roce!en!o !e e'i!+ncia em e'i!+ncia) não !ei5aria l%.ar a $%al$%er oinião contro'ersa# Como 3escartes o !escre'e% no começo !e s%a edita!"o #rimeira= $uma %e& que a ra&"o ( me persuade de que n"o de%o menos cuidadosamente impedir)me em dar crédito *s coisas que n"o s"o inteiramente certas e indu+it(%eis, do que *s que nos parecem mani-estamente ser -alsas, o menor moti%o de d%ida que eu nelas encontrar +astar( para me le%ar a reeitar todas./ 0  A am(ição !e ela(orar %ma filosofia c%4as teses se4am to!as e'i!entes o% !emonstra!as !e maneira restrita tem como conse$%+ncia eliminar !ela to!a forma ar.%mentati'a) !e rechaçar a retórica como instr%mento !a filosofia# 6%ais são os ress%ostos !e tal filosofia Primeiro) a i!eia !e $%e 3e%s não somente - a fonte) mas tam(-m - a .arantia !e to!o o sa(er) ois $sem o conhecimento destas duas %erdades 1que h( um 2eus e que ele n"o pode me enganar3, n"o %eo como possa amais estar certo de coisa alguma/ # Com efeito) se% m-to!o consiste em !esco(rir @ um caminho que nos condu&ir( desta contempla!"o do %erdadeiro 2eus Bno qual todos os tesouros da ci4ncia e da sa+edoria est"o encerrados5, ao conhecimento das outras coisas do uni%erso/#H A ci+ncia est, totalmente aca(a!a= não h, na!a mais a !esco(rir# 6 S# 0o%tier# @>a r-sistance a% 'rai et le

ro(lme cart-sien !U%ne hilosohie sans rh-tori$%eF) Retorica et Varocco) c%ra !i C%itelli) Roma) 1HLL) # L:H# 3escartes) Me!itações) tra!%ção !e G# 0%ins(%r. e Vento Pra!o G"n%ir in= 8ão Pa%lo= A(ril C%lt%ral) 1HH) ## 7

8 3escartes) i(i!) #1#

9 3escartes) i(i!) #11L#

4

É reciso !esconfiar !e to!a iniciati'a h%mana) $%e só o!e con!%&ir ao erro) ois ela tem li!ar com a ima.inação e com os reconceitos# O ael cria!or !o homem na o(ra cient*fica - comletamente es$%eci!o# 8en!o as i!eias !i'inas comletamente racionais) elas não o!em ser senão !a nat%re&a matem,tica# 8ó elas se caracteri&am ela e'i!+ncia) o(ri.an!o to!o ser !e ra&ão a s%(meter:se a elas# Ao .enerali&ar) .raças / s%a ima.inação filosófica) os res%lta!os !a an,lise !o racioc*nio matem,tico) e5i.in!o) contra a oinião !e Aristóteles) $%e as mesmas e5i.+ncias !e ri.or $%e ti'eram +5ito na matem,tica se ali$%em em to!os os !om*nios) 3escartes - le'a!o / !"'i!a metó!ica no $%e se refere /s s%as oiniões= $No tocante a todas as opini6es que até ent"o acolhera em minha crédito, o melhor a -a&er seria dispor)me, de uma %e&  para sempre, a retirar)lhes essa con-ian!a, a -im de su+stitu7) las em seguida ou por outras melhores, ou ent"o pelas mesmas, depois de t4)las austado ao n7%el da ra&"o./ 89 O(ser'emos $%e) ',rios anos antes) >or! Vacon) teórico !as ci+ncias em*ricas) i.%almente re.ara a h%mil!a!e cristã aos cientistas) e!in!o:lhes ara ler atentamente o .ran!e li'ro !a ?at%re&a me!iante o $%al 3e%s se re'ela'a aos homens# O m-to!o in!%ti'o !e'ia tomar c%i!a!o ara $%e o homem não form%lasse nenh%ma tese $%e não ti'esse encontra!o no li'ro !a ?at%re&a) como se as e5eri+ncias ho%'essem si!o escritas claramente n%ma lin.%a.em !i'ina# 3eois !e ha'er o(ser'a!o o ano !e f%n!o teoló.ico !a conceção !a ci+ncia) tanto em Vacon como em 3escartes) !eois !e ha'er s%(linha!o o asecto ara!o5al e !ificilmente a!miss*'el !a ima.inação cartesiana 11) $%e $%isera $%e to!as as nossas oiniões esti'essem s%(meti!as ao mesmo crit-rio !a e'i!+ncia rório /s teses matem,ticas) aca(a:se or erce(er $%e mesmo 3escartes te'e $%e se fiar !as oiniões) ain!a $%e só fossem as oiniões !e s%a moral ro'isória# Com efeito) antes !e reconstr%ir %ma ci+ncia racional) ele não o!e rescin!ir !e %ma moral ro'isória) !e al.%mas m,5imas !as $%ais a rimeira era= $:+edecer *s leis e aos costumes de meu pa7s, retendo constantemente a religi"o em que 2eus me concedeu a gra!a de ser instru7do desde a in-;ncia, e go%ernando)me, em tudo o mais, segundo as opini6es mais moderadas e mais 10 3escartes) 2iscurso

do método) i(i!#) #JL#

11 3escartes# Correson!+ncia a cita H !o

ca*t%lo III) #1HH

5

distanciadas do eoren&en# ethodisches 2en?en) i(i!# #;1H:;J;# 3o mesmo a%tor Ein-@hrung in die operati%e Logi? ) 1HLL e Formale Logi? ) 1HQ# 14 Cf#

15 [arl#

R# Poer# A lógica da pesquisa cient7-ica# 8ão Pa%lo= C%ltri5\E3
View more...

Comments

Copyright ©2017 KUPDF Inc.
SUPPORT KUPDF