O Futuro da Arquitetura desde 1889

April 23, 2017 | Author: Andréa Guimarães | Category: N/A
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O Futuro da Arquitetura desde 1889. (Jean Louis Cohen)...

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O futuro da arquitetura desde 1889 – Uma história mundial – Jean-Louis Cohen

2013 capa dura com sobrecapa 20,5 x 27 cm 528 pp, 594 ils. tradução Donaldson M. Garschagen revisão técnica Sylvia Ficher texto de orelha João Masao Kamita R$ 199,00

Eventos de lançamento no Brasil [2013] O autor virá ao país em outubro para lançar o livro no Rio de Janeiro e em São Paulo (datas a cofirmar), e também dará uma palestra como convidado da x Bienal de Arquitetura.

A obra do aclamado crítico francês Jean-Louis Cohen é um marco para a historiografia da arquitetura. Trata-se de uma novíssima e alentada história mundial, compreendendo desde o final do século xix até os dias de hoje, fartamente ilustrada. Com a precisão e versatilidade do historiador da cultura, Cohen aborda tanto projetos e edifícios construídos quanto a produção teórica, num texto fluente e nada tendencioso em relação à arquitetura moderna – elogiado por autores de outros livros de referência, como Kenneth Frampton, Adrian Forty e Hans Ibelings. O autor trata com igual rigor as arquiteturas predominantes e as muitas proposições alternativas – seja explorando os meandros pouco comentados da arquitetura no período das guerras mundiais, esmiuçando a influência de Le Corbusier ao redor do globo, debruçando-se com atenção sobre regiões pouco abordadas (África, Ásia, América Latina) ou expondo o movimento da arquitetura em direção a suas fronteiras na obra recente de Gehry, Koolhaas, Nouvel e Herzog & de Meuron.

jean-louis cohen é um dos mais renomados historiadores da arquitetura e do urbanismo do século xx. Nascido em Paris, em 1949, lecionou na Universidade Paris viii e ocupa a cátedra Sheldon H. Solow na Universidade de Nova York. Escritor articulado e cura­dor de diversas exposições – responsável pela criação do museu e centro de pesquisas Cité de l’Architecture –, Cohen recebeu, entre outras distinções, a Chevalier de l’Ordre des Arts & Lettres, pelo Ministério da Cultura da França. Os numerosos artigos e livros que publicou – como os importantes The Lost Vanguard: Russian Modernist Architecture 1922-1932 (2007), Architecture en Uniforme: Projeter et construire pour la Seconde Guerre Mondiale (2011) e Le Corbusier: An Atlas of Modern Landscapes (2013) – abordam quase todos os aspectos das transformações causadas pela modernização na paisagem urbana. Seus estudos têm especial foco na vanguarda russa, na obra de Le Corbusier e nos diferentes modelos de internacionalização – desde a situação colonial no Marrocos e na Argélia até a circulação mundial de for­mas e conceitos arquitetônicos.

Leia a apresentação à edição brasileira, texto de orelha escrito pelo professor da puc-RioJoão Masao Kamita: Escrever a história da arquitetura do século xx no século xxi tem vantagens que Jean-Louis Cohen soube aproveitar. A mais óbvia é a mais importante: a distância histórica. O que se lê nestas páginas não é um discurso apaixonado e partidário, nem tampouco contes­tador e recalcado. Cohen adota o ponto de vista rigoroso do his­toriador da cultura, buscando flagrar o modo como a arquitetura se transforma em meio às mudanças radicais da modernidade. Por isso, não se pretendeu escrever a história do modernismo arquite­tônico – isso seria dar um caráter de hegemonia a seus princípios ideológicos e temporais no século, consubstanciados na ideia do novo como fator de progressão histórica. A narrativa historiográfica se estrutura aqui a partir de eixos de simultaneidade, no qual as formas predominantes (estão aí o justo destaque aos mestres Mies, Gropius, Aalto, Wright e Kahn) não são homogêneas nem muito menos inevitáveis. Em paralelo, cor­rem inúmeras proposições alternativas, que Cohen trata com igual cuidado. Para citar um caso exemplar: Le Corbusier é, sem dúvida, um grande centro de força, mas seu protagonismo se mede tanto pela maneira que pensou a arquitetura perante os desafios da modernidade e as várias respostas poéticas que formulou, quanto pela in-

fluência que provocou em arquitetos de diferentes nações – isto é, como tal presença foi assimilada, processada, deglutida e eventualmente transformada. É assim que, particularmente, o caso da moderna arquitetura brasileira é exposto: um exemplo de recepção produtiva. Para Cohen, a arquitetura é igualmente a história dos fatos e a histó­ria dos debates intelectuais. Por isso, analisa não só as obras construí­das, mas também os projetos não realizados, as formas de divulgação para o grande público e os documentos teóricos produzidos. Em O futuro da arquitetura desde 1889, os “fatos de transição” – em geral tidos meramente como ocorrências preparatórias aos grandes eventos e tratados de forma rápida na historiografia da arquitetura moderna – recebem especial atenção. Momentos de revelação surgem: a importância de Auguste Perret é fundamen­ tada, o perfil de Robert Mallet-Stevens adquire clareza e até mesmo a exposição art déco de 1925 é descrita com isenção, dando a ver o trânsito entre alguns designers e os arquitetos radicais. Outro tradicional ponto cego, a arquitetura no período das guerras mun­diais – normalmente sinônimo de “paralisia cultural” – é visto pelo autor como um momento de aceleração da modernização, em que a produção da arquitetura não se interrompe, mas se

desloca para o aparato da guerra (hangares, indústrias, alojamentos, fortalezas etc.). Cohen não deixa de apontar, inclusive, o processo pelo qual os avanços tecnológicos da guerra são aplicados, logo após o término do conflito, em outras esferas da produção industrial, sobretudo a habitação e as obras de infraestrutura. Ao longo do século xx, o “futuro da arquitetura” foi pensado de modo variado por correntes distintas, independentemente de sua coloração ideológica. Todavia, o século que alimentou esperanças no progresso, no socialismo, na tecnologia e na nova cidade, tam­bém produziu catástrofes inéditas – veja-se a incomparável morta­lidade nas grandes guerras. O texto de Cohen assinala claramente as diferentes expectativas de futuro: uma é projetiva, esperançosa nas novas formas estéticas e sociais do mundo, exemplarmente demonstrada por Corbusier e pela Bauhaus; a outra, de descon­fiada confiança e ceticismo, é explicitada nas extravagantes e corrosivas imagens do Archigram e de Constant, fundadas na ima­ginação técnica e lúdica. Depois de expor a crise do moderno, acossado pelo pós-moder­nismo, o livro se detém nos novos centros que promovem uma autêntica renovação intelectual da arquitetura no período de 1960 a 1980, quando a he-

gemonia se torna americana. Para o autor, os limites da definição de uma arquitetura dominante no século xx se veem na obra de Frank Gehry, Peter Eisenman e Rem Koolhaas, que retomam as bases da arquitetura moderna para criticá-la e assim formular novos paradigmas de projeto. Ao final de sua narrativa, Cohen aponta os desafios do novo milênio nesse mundo de alta tecnologia, sim, mas onde o futuro não passa de uma pálida imagem passada. O fim do colonialismo, do socialismo, do domínio do estado-nação e a fatal crise do urba­nismo impuseram uma nova cartografia na qual os arquitetos agora atuam em escala multinacional e em parceria com grandes corpo­ rações globais nessa realidade aberta e pluralista da contempora­neidade. Não sem uma leve melancolia, a narrativa do século xx na arquitetura termina com o reconhecimento do abandono exacer­bado do compromisso dela com a sociedade, compromisso esse que teria gerado os projetos da modernidade. Afinal, pode um pre­sente existir sem um horizonte de futuro? joão masao kamita

O que disseram sobre o livro

“Nesta releitura de uma trajetória messiânica, Cohen assume o papel do historiador materialista que, como já havia mostrado em outros trabalhos, consegue passar ao largo dos relatos tendenciosos da arquitetura moderna aos quais temos sido submetidos. […] Trata-se de um texto excepcional, erudito, no qual o conhecimento aparece de maneira leve porém muito detalhada, evocando para o leitor toda a pungência e vitalidade dos vários movimentos criativos, por mais bre­ves que tenham sido.” kenneth frampton, autor de História crítica da arquitetura moderna “O futuro da arquitetura desde 1889 é a melhor e mais completa histó­ria da arquitetura moderna que surgiu nesta geração. Apesar de não divergir fundamentalmente da narrativa que nos é familiar, o olhar de Cohen vai muito além dos parâmetros comuns do cânone moderno.” the new york review of books “Escrever a história é, em boa parte, um processo de petrificação do passado, seguido de uma erosão contínua. […] O valor do livro de Cohen reside na tentativa bem-sucedida de cessar tal erosão, ofe­recendo pistas para possíveis leituras, tanto pelos caminhos mais percorridos quanto pelos menos trilhados. […] Para estudantes de arquitetura e história, oferece uma introdução rica e densa aos des­taques da arquitetura moderna; para arquitetos e especialistas, essa parte mais conhecida serve de base para a maior contribuição do livro à historiografia da arquitetura do século xx: uma expansão do ponto de vista da história da arquitetura.” hans ibelings

“Em suma, merece ser considerada a grande referência no assunto a partir de agora.” the guardian “Este é um livro fantástico. […] Os historiadores anteriores sempre tiveram uma motivação maior: de um jeito ou de outro, queriam fazer propaganda para a arquitetura moderna, ou criticá-la, ou mesmo encaixá-la numa genealogia; acho que Jean-Louis está fazendo algo um pouco diferente aqui. Ele tentou se afastar dessa tendência, ado­tando uma postura mais plural. Este livro é uma história da arquite­tura do século XX, não apenas uma história da aquitetura moderna.” adrian forty, organizador de Arquitetura moderna brasileira “Outras histórias da arquitetura poderão complementar esta, mas difi­cilmente a substituirão.” form mag “Será que realmente precisávamos de mais uma história da arquitetura moderna? Evidentemente, Jean-Louis Cohen responde afirmativamente a essa questão. [...] Em meio à tensão que vivemos no mundo hoje, torna-se cada vez mais necessário compreender de onde viemos e para onde estamos indo, esquadrinhando as infinitas variáveis de um passado cuja interpretação monolítica carecia de credibilidade e, mais ainda, de utilidade.” roberto segre “Uma excelente gramática do modernismo, com os insights e digressões que tornam o livro interessante tanto para conhecedores quanto para iniciantes.” financial times

Leia um dos capítulos de

O futuro da arquitetura desde 1889: Uma história mundial.

Le Corbusier reinventado e interpretado

Ao escrever ao editor Karl Krämer em 1961, agradecendo o envio andar, originalmente abrigava lojas e serviços. O terraço na coberdas atas da reunião final dos CIAM realizada em Otterlo dois anos tura, do qual se descortina a paisagem da Provença, tem uma pista antes, Le Corbusier se diz “feliz” com que “cada geração ocupe de corrida e um jardim de infância e reproduz o convés dos transaseu lugar no devido tempo”. Porém, ao enviar uma cópia da carta a tlânticos celebrados em seu livro Por uma arquitetura. ≥ 2 Walter Gropius, Jakob Bakema e outros colegas, rabisca nela uma Le Corbusier dimensionou os elementos da Unité utilizando caricatura de um jovem brandindo a bandeira da “verdade” e piso- o Modulor, sistema de proporções que havia elaborado em 1945 teando as “bobagens” que teriam resultado dos “trinta anos de tra- tendo por base uma combinação da seção áurea com a altura de balho” da velha geração de “chatos”. 414 E comenta: “Montam sobre uma pessoa “média”: inicialmente 1,75 metro, e depois 1,83 metro. os [nossos] ombros, mas não dizem obrigado”. ≥ 1 No entanto, a gra- Para tanto, apoiava-se nas pesquisas do esteta Matila Ghyka e da tidão da geração do Team X para com ele ficou evidente nos seus matemática Elisa Maillard, que o apresentara à série de Fibonacci, projetos, bem menos críticos à obra de Le Corbusier do que ele pró- em que cada número é a soma dos dois anteriores. Em contraste prio seria no pós-guerra. De fato, ninguém iria se mostrar menos com esse procedimento essencialmente intelectual, as superfícies “corbusiano” do que Le Corbusier, sobretudo quando surpreendeu rugosas e as marcas deixadas no concreto pelas fôrmas de madeira seus mais firmes admiradores com as soluções totalmente inespe- e pelas camadas superpostas dos sucessivos lançamentos – devido a uma construção demorada e sujeita a restrições orçamentárias – radas da capela de Ronchamp ou das Maisons Jaoul. levaram Le Corbusier a proclamar a beleza do concreto “bruto”. Apesar do malogro de seus planos para bairros inteiros de unités no A Unité d’Habitation sul de Marselha, em Estrasburgo e em Meaux, o que o impediu de A Unité d’Habitation de Marselha (1946-52) 411 foi a culminação das padronizar os seus princípios gerais, ele conseguiu construir outras pesquisas iniciadas em 1922 com os immeubles-villas. Já em 1942, quatro – em Nantes (1948-55), Berlim Ocidental (1955-58), Brieyno livro La Maison des hommes [A casa dos homens], Le Corbusier -en-Forêt (1955-60) e Firminy (1964-67). havia formulado claramente o princípio da “unidade de habitação de tamanho padrão” – ou “cidade-jardim vertical”, conforme um Palácios e casas de seus paradoxos prediletos. O ministro da Reconstrução e Urbanismo, Raoul Dautry, aceitou a sua adoção em um edifício cujos A solução adotada no Museu Nacional de Arte Ocidental, no Parque apartamentos seriam alugados para acomodar temporariamente Ueno, em Tóquio (1957-59), é outro resultado de suas pesquisas, desabrigados da guerra. Apoiada em robustos pilotis no interior dos estas empreendidas para o Mundaneum e que prosseguiram no quais passam as tubulações de água e esgotos, a Unité foi pensada começo da década de 1930 com o Museu do Crescimento Ilimitado. como um “garrafeiro” de concreto armado, no qual são encaixados O edifício no Japão, cujas vedações são de blocos de concreto nos os seus 337 apartamentos. Estes vão, transversalmente, de fachada quais os agregados foram deixados aparentes, tem planta quadrada a fachada e têm sala de pé-direito duplo; o acesso a eles é feito a elevada sobre pilotis. No interior, a espiral de galerias desenvolve cada três andares por “ruas no ar”, das quais a principal, no sétimo uma promenade architecturale contínua que permite a descoberta

411  Unité d’Habitation, corte, Le Corbusier, Marselha, França, 1946-52

412  Maisons Jaoul, Le Corbusier, Neuilly-sur-Seine, França, 1951-55

progressiva do espaço. Nos museus de Le Corbusier em Ahmedabad (1951-57) e Chandigarh (1964-68), na Índia, são exploradas versões diferentes do mesmo tema, presente também no Museu do Século XX (1965), em Nanterre, projeto encomendado pelo ministro da Cultura, André Malraux, que não chegou a ser construído. Le Corbusier já havia utilizado abóbadas de concreto e paredes de brita em sua Petite Maison de Week-end [Pequena Casa de Fim de Semana, 1934-35], em La Celle-Saint Cloud. Nas casas de André e Michel Jaoul (1951-55), 412 em Neuilly-sur-Seine, retomou o mesmo motivo, mas com abóbadas de tijolos aparentes. Nessas residências, feitas de tijolos, concreto e madeira compensada sem revestimento, ele abandonou os interiores espartanos de suas brancas e gélidas casas da década de 1920, para oferecer ambientes confortáveis, de cores vivas e providos de lareiras. Os nichos com prateleiras embutidos nas paredes e as janelas que se abrem para a paisagem e proporcionam abundante iluminação fazem delas “volumes habitáveis cheios de recursos”, nada tendo a ver com uma “máquina de morar”, na famosa expressão que ele próprio cunhara. Em 1955, o jovem arquiteto britânico James Stirling declara que as Maisons Jaoul tinham feito de Le Corbusier “o mais regionalista dos arquitetos”. ≥ 3 Mas foi longe de Paris, na Índia, que ele deu continuidade a essa linha de pesquisa, na residência de Manorama Sarabhai (1951-55), matriarca de uma das mais poderosas dinastias jainistas de Ahmedabad. Concebida como uma série de paredes portantes dispostas em paralelo, a casa também tem cobertura de abóbadas, desta feita apoiadas em vigas de concreto e dispostas perpendicularmente às paredes. O não executado projeto Roq et Rob (1950), em Roquebrune-Cap-Martin, no sul da França – destinado a ser implantado em uma encosta sobre a cidade –, é mais uma aplicação do princípio das Maisons Jaoul. Recordando estudos feitos anteriormente na Argélia, tinha por fundamento a repetição em série de células abobadadas.

413  Capela de Notre-Dame-du-Haut, Le Corbusier, Ronchamp, França, 1951-55

414  Caricatura na cópia de uma carta a Karl Krämer, Le Corbusier, 1961

415  Pavilhão Philips, Le Corbusier com Iannis Xenakis, Bruxelas, Bélgica, 1957-58

A surpresa de Ronchamp

protendidos, ancorados em nervuras de concreto em V invertido, suporta os painéis de concreto pré-fabricados que formam as vedações de dupla curvatura. O pavilhão abrigava o Poème electronique, um inovador espetáculo multimídia, com música de Edgard Varèse e constituído por projeções que alternavam motivos coloridos e abstratos com imagens de fenômenos naturais, criações populares e assustadoras visões tecnológicas. ≥ 5

e Maxwell Fry, bem como a Pierre Jeanneret, primo e ex-associado de Le Corbusier, por ele recrutado para representá-lo e administrar os canteiros de obras. Nos bairros residenciais, as casas de tijolos foram dispostas em fileiras e ordenadas segundo uma hierarquia implacável, desde as luxuosas residências dos ministros até as modestas, mas funcionais, moradias térreas dos funcionários de baixo escalão. ≥ 6 O Capitólio agrupa as principais edificações da capital segundo uma composição refinada que evita toda e qualquer simetria, mas joga com eixos a fim de criar relações sutis entre os prédios, apesar das grandes distâncias que os separam. Tal composição decorre da aplicação de traçados de proporção harmônica e de elementos retirados dos jardins mogóis que Le Corbusier visitara no norte da Índia. Muitos detalhes construtivos vieram de suas observações da arquitetura tradicional e do dia a dia da Índia. A Suprema Corte acolhe sob um grandioso pórtico as principais instituições jurídicas, suas circulações sombreadas criando uma impressiva promenade architecturale. Em frente, uma ampla esplanada a separa da Assembleia Legislativa (1955-64), 416 cujo salão principal é iluminado por um hiperboloide de revolução. Essa forma foi inspirada nas torres de resfriamento de uma central elétrica em Ahmedabad e, talvez, na forma piramidal das chambres du tué, um tipo de enorme chaminé para defumação característico da região do seu nativo Jura, que causara forte impressão no jovem Jeanneret. Entre o salão e as fachadas, rampas de circulação ascendem por um espaço sombrio, através de uma floresta de colunas. À distância, estende-se a barra horizontal do Secretariado, onde ficam os gabinetes dos ministros. Previsto para dominar o conjunto, o Palácio do Governador nunca foi construído, mesmo depois de destinado a um Museu do Conhecimento. O Monumento da Mão Aberta, carregado de sentidos simbólicos, só foi erigido bem depois da morte de Le Corbusier. ≥ 7

Em contraste com essas obras, todas resultantes de um longo processo de maturação, a Capela de Notre-Dame-du-Haut em Ronchamp, 413 nos Vosges, construída no local da igreja destruída em 1944, foi um choque tanto para seus admiradores quanto para seus detratores. A surpreendente forma escultórica associa a lógica estrutural das asas de avião com uma metáfora orgânica – a cobertura evoca uma carapaça de caranguejo, um daqueles “objetos de reação poética” tão caros a Le Corbusier. E reúne também uma profusão de lembranças: as gárgulas do Palácio de Topkapi, em Constantinopla [hoje Istambul], que ele vira em 1911; o Serapeum da Villa Adriana; e a parede com alvéolos da pequena mesquita de Sidi Brahim, em El Atteuf, que descobrira no M’zab em 1931. Os peregrinos que sobem a colina de Bourlémont em direção a Notre-Dame-du-Haut, como fez o jovem Jeanneret ao subir até a Acrópole em 1911, dão primeiro com a fachada leste da capela, onde se encontra o altar ao ar livre, e logo com a nave agradável e simples, banhada pelas luzes coloridas que penetram pelas aberturas que perfuram a espessa parede sul. Essa “capela de leal concreto, moldado talvez com temeridade, mas certamente com coragem”,  ≥ 4 conforme a descrição que fez em 1955 para o arcebispo de Besançon, integra quatro decênios de experiências, ao mesmo tempo que as transcende com um gesto inesperado. O Pavilhão Philips 415 na Feira Mundial de Bruxelas de 1958 – cuja estrutura foi projetada por Iannis Xenakis, engenheiro e compositor grego então trabalhando no escritório de Le Corbusier – tomou uma direção inteiramente diferente. A geometria dos paraboloides hiperbólicos das superfícies do pavilhão foi determinada pelas progressões harmônicas de uma peça de Xenakis, Metastasis (1954). Sobre uma planta em forma de estômago, um sistema de cabos

Aventuras indianas Nos últimos quinze anos de sua vida, Le Corbusier viajou duas vezes por ano à Índia para acompanhar a execução do maior empreendimento de sua carreira. O governo de Jawaharlal Nehru – que lançara um programa de criação de novas cidades, como Bhubaneswar, projetada pelo imigrante alemão Otto Königsberger – havia confiado a Corbusier seu único plano diretor que seria realizado. Para Chandigarh, a capital do novo Estado do Punjab descrita por Nehru como “uma cidade nova, símbolo da independência da Índia, liberta das tradições do passado”, Le Corbusier refez um plano anterior, elaborado pelo americano Albert Mayer em colaboração com o polonês Matthew (Maciej) Nowicki e tendo Clarence Stein como consultor. Le Corbusier transformou os bairros residenciais concebidos pela equipe de Mayer – que rejeitou por considerá-los “falsos modernos” – em “setores” de 400 metros por 1 200 metros. De grande importância, ele aplicou o princípio das “sete vias”, que havia concebido por ocasião de um plano para Bogotá, para diferenciar o traçado de caminhos de pedestres, ruas e avenidas, ajustando cada um desses tipos a usos e velocidades específicos. A encomenda que recebera limitava-se ao desenho urbano de conjunto e ao projeto das edificações do Capitólio, o centro político-administrativo da cidade. As áreas comerciais, a universidade e os bairros residenciais foram entregues aos britânicos Jane Drew

417  Hospital no bairro de Cannaregio, projeto, Le Corbusier, Veneza, Itália, 1962-65 418  Sede da Associação dos Produtores de Fios Têxteis, Le Corbusier, Ahmedabad, Índia, 1951-54 416  Assembleia Legislativa, Le Corbusier, Chandigarh, Índia, 1955-64

419 ►  Convento de Sainte-Marie-de-la-Tourette, Le Corbusier, Eveux-sur-l’Arbresle, França, 1953-60

Invenção e introspecção Tendo visitado mosteiros no Val d’Ema, na Itália, e no Monte Athos, na Grécia, em sua juventude, Le Corbusier havia declarado que a vida monástica era “heroica”. Quarenta anos depois, o sucesso em Ronchamp lhe valeu uma encomenda dos dominicanos para conceber “um lugar de meditação, de estudo e de oração para os frades predicantes”, que viria a ser o Convento de Sainte-Marie-de-la-Tourette (1953-60), 419 em Eveux-sur-l’Arbresle, perto de Lyon. Invertendo a figura do claustro do mosteiro cisterciense de Le Thoronet, ele dispôs os deambulatórios em cruz no pátio central, configurado pelos quatro corpos principais do edifício: a grande caixa da igreja e, nos outros três lados, os blocos de celas dos frades. Entre eles, as áreas coletivas incluem o refeitório e a biblioteca abertos para o declive do terreno. A luz é matéria-prima do convento, tanto quanto o concreto. Canalizada por poços de iluminação, ela é vertida sobre o altar da igreja como feixes de raios coloridos. Recortada pelas vidrarias dos deambulatórios – que Le Corbusier descreveu como “ondulatórios”, porque o espacejamento das barras verticais dos caixilhos varia ritmicamente seguindo o dimensionamento do Modulor –, ela modela hora a hora a percepção dos volumes do claustro. ≥ 8 Tendo redescoberto as virtudes da “planta livre” que concebera na década de 1920 ao desenhar a Villa Shodhan (1951-56) e a sede da Associação dos Produtores de Fios Têxteis (1951-54), 418 em Ahmedabad, Le Corbusier aproveitou a encomenda do Carpenter Center, da Universidade de Harvard (1958-64), para retomar o tema da promenade architecturale. Confrontado por críticos que se referiam a ele como “o bruto do concreto armado”, fez questão de que sua única obra nos Estados Unidos tivesse um acabamento “de extrema elegância e apuro”, tal como a sede da Unesco em Paris (1953-58), de Marcel Breuer, Pier Luigi Nervi e Bernard Zehrfuss. Convidado a projetar um hospital no bairro

de Cannaregio (1962-65), 417 em Veneza, retomou a análise que havia feito da cidade em 1935, segundo a qual “Veneza tem uma mecânica impecável, um conjunto de ferramentas sábio e correto, um produto preciso das verdadeiras dimensões humanas”. ≥ 9 Respeitando a “fisiologia” da cidade, concebeu uma trama ramificada e com múltiplos níveis especializados, acessíveis por embarcações, que reinterpreta a sua rede de calli (vielas), fondamente (cais) e campielli (pracinhas). Falecido em 1965, os esforços para executar a obra findaram por ser abandonados. ≥ 10

Maneirismos corbusianos Conforme a situação, Le Corbusier sabia como se renovar por completo ou reelaborar soluções de trabalhos anteriores e, quaisquer que fossem, os tipos, temas e texturas que inventava inevitavelmente recebiam grande atenção, findando por frutificar e se disseminar. Como a Unité d’Habitation de Marselha, que, embora enfaticamente criticada por Lewis Mumford e Frank Lloyd Wright, serviu de modelo para um sem número de edificações, nas quais sua escala foi em geral modificada, porém sem nunca alcançar sua complexidade. Os arquitetos do Great London Council estudaram a Unité em profundidade e os blocos de apartamentos que realizaram em Roehampton (1959) pretendiam ser reduções de sua tipologia.  ≥ 11 A enorme barra erigida pela equipe de Andrei Meerson à rua Begovaia, em Moscou (1965-78), é uma das muitas variantes, neste caso com dimensões muito dilatadas; diversos edifícios de Hansaviertel, em Berlim, também derivam dela. Seu princípio básico foi adotado até no edifício do departamento de arquitetura da Universidade Técnica de Berlim, na Ernst-Reuter-Platz (1965-67), projetado por Bernhard Hermkes. A realização da sede da Unesco em Paris coube a Breuer, Nervi e Zehrfuss, para consternação de Le Corbusier, que pensava que a encomenda seria sua. No entanto,

420  Conjunto habitacional Park Hill, Lewis Womersley, Sheffield, Reino Unido, 1953-61

muitas de suas fórmulas foram adotadas – como o pilotis, a planta livre e o concreto aparente –, às quais Breuer deu uma interpretação bem mais leve no edifício principal com planta em Y, contrastando com a marquise em balanço, as cascas e as paredes pregueadas de folhas de concreto de Nervi. Em alguns exemplos, uma espécie de combinação da Unité com os redentes da Cidade de Três Milhões de Habitantes iria gerar ruas elevadas estendendo-se de edifício a edifício. Este é o caso do conjunto habitacional Park Hill (1953-61), 420 em Sheffield, de Lewis Womersley, e do primeiro núcleo do bairro de Le Mirail (1962-72), em Toulouse, de Georges Candilis, Alexis Josic e Shadrach Woods. Tais variações, por mais distanciadas que fossem do modelo original, reforçavam o fato de que Le Corbusier era o principal inspirador dos densos complexos habitacionais em altura. Incontestavelmente, seu projeto Roq et Rob serviu de inspiração para a Siedlung Halen (1955-61), 421 em Berna, do Atelier 5. O conjunto, constituído por fileiras de habitações dispostas de forma escalonada em uma colina, ao redor de uma pequena praça, teve considerável repercussão por toda a Europa. ≥ 12 Na Riviera, as aldeias turísticas erigidas em Cap Camarat (1963-65), pelo Atelier de Montrouge, e em Gassin (1967-70), pelo Atelier d’Urbanisme et d’Architecture, seguiram a mesma linha de pesquisa, replicando as mediterrâneas abóbadas de berço corbusianas. Uma segunda modalidade de disseminação de sua arquitetura se deu com a adoção de suas soluções características por inumeráveis arquitetos que as deslocaram, combinaram e deformaram, tal como os arquitetos maneiristas haviam feito com as composições de Filippo Brunelleschi e Leon Battista Alberti no começo do século XVI. Inflados ou afinados, os pilotis receberam um sem-fim de variações, enquanto o brise-soleil – que Le Corbusier desenvolvera dialogando com os arquitetos brasileiros – se tornou uma espécie de clichê nos prédios do hemisfério sul. Os típicos elementos

421  Siedlung Halen, Atelier 5, Berna, Suíça, 1955-61

422  Laboratórios da faculdade de engenharia da Universidade de Leicester, James Stirling e James Gowan, Leicester, Reino Unido, 1959-63

423  Universidade Simon Fraser, Arthur Erickson, Burnaby, Canadá, 1963-65 425 ►  Hunstanton Secondary School, Alison e Peter Smithson, Norfolk, Reino Unido, 1949-54

da cobertura do Secretariado de Chandigarh foram retomados por Josep Lluís Sert na Fondation Maeght (1958-71), 424 em Saint-Paul de Vence, e as formas esculturais de La Tourette e de Ronchamp inspiraram uma infinidade de projetos em todo o mundo.

O brutalismo anglo-americano A terceira modalidade do “corbusianismo” tardio se manifestou independente de qualquer referência à espacialidade dos modelos originais, sendo um fenômeno literalmente superficial, ou seja, concernente sobretudo às superfícies. As texturas rugosas da Unité d’Habitation e de La Tourette, a primeira marcada pelas veias da madeira das fôrmas e pelas juntas do concreto, e a segunda revelando de propósito o granulado grosseiro dos acabamentos, se tornaram um dos emblemas da modernidade após a Segunda Guerra Mundial. O novo brutalismo britânico, cuja origem semântica é um tanto confusa – não se sabe se vem de concreto “bruto” ou de Brutus, o apelido de Peter Smithson em princípios da década de 1950 –, explorou o uso de materiais industriais e a ausência de acabamentos, deixando à vista os sinais das fôrmas e do lançamento do concreto e, por vezes, recorrendo também à combinação de componentes discrepantes.  ≥ 13 A primeira obra que pode ser classificada como neobrutalista é a Hunstanton Secondary School (1949-54), 425 perto de Norfolk, de Alison e Peter Smithson, que teve como ponto de partida o Minerals and Metals Research Building [Centro de Pesquisas de Minerais e Metais], de Mies van der Rohe, em Chicago. A anatomia das edificações da escola – os perfis de aço da estrutura, as vedações de tijolos e de vidro e as treliças do teto – está exposta e serve de pano de fundo para um diálogo entre elementos como lavatórios e radiadores, cujas tubulações também foram deixadas aparentes. Amigo dos Smithson, o crítico Reyner Banham viu no enfoque deles as premissas de uma “outra arquitetura”, um eco do 424  Fondation Maeght, Josep Lluís Sert, Saint-Paul de Vence, França, 1958-71

428 ►  Congresso Nacional, Oscar Niemeyer, Brasília, Brasil, 1960

426  Plano piloto, Lucio Costa, Brasília, Brasil, 1956

art autre proposto em 1952 pelo crítico francês Michel Tapié. ≥ 14 Na mesma perspectiva de combinar fontes vernaculares e uma estética da técnica, as residências de James Stirling e James Gowan, em Ham Common (1955-59), e a ampliação da Cambridge School of Architecture (1957-59), feita por Colin St. John Wilson, retomam a dialética corbusiana do tijolo e do concreto, alterando o equilíbrio de materiais alcançado nas Maisons Jaoul. Os projetos de Stirling para os campi universitários ingleses no começo da década de 1960 continuam a refletir o conhecimento da obra de Le Corbusier, mas revelam igualmente uma redescoberta do construtivismo russo. O edifício de laboratórios da faculdade de engenharia da Universidade de Leicester (1959-63) 422 pode ser interpretado como uma paródia da Bauhaus de Dessau, com cada um de seus volumes ajustado à sua destinação específica. Contudo, o uso que é feito do vidro indica um nível de complexidade inteiramente diferente. As janelas comuns da torre de escritórios servem de contraponto para as faixas de janelas que iluminam os laboratórios e para o extraordinário teto de vidro das oficinas, o qual evoca os ritmos das casas operárias geminadas nas proximidades. Os guarda-corpos e dutos de ventilação atualizam o fetichismo de transatlânticos naquele que Banham considerou o primeiro edifício inglês de “classe internacional” depois de muito tempo.  ≥ 15 Projetada pouco depois, a Cambridge History Faculty (1964-67) é estática apenas em sua aparência. As salas de aula foram distribuídas em duas alas perpendiculares revestidas de tijolos, no cruzamento das quais está localizada a biblioteca, o verdadeiro centro da instituição, coberta por painéis duplos de vidro que deixam aparente as tubulações hidráulicas. As áreas de reuniões e de estudo individual estão associadas em uma dialética visual que reforça a oposição entre transparência e opacidade. ≥ 16 Nos Estados Unidos, Paul Rudolph explorou as texturas rugosas do concreto, obtidas pelo jogo dos diversos métodos desenvolvidos

427  Superquadras, Lucio Costa, Brasília, Brasil, 1960

por Auguste Perret e seus contemporâneos desde princípios do século.  ≥ 17 Mais ao norte, o arquiteto canadense Arthur Erickson empregou o concreto em obras em escala urbana, como o campus da Universidade Simon Fraser (1963-65), 423 em Burnaby, ou contando com elementos simbólicos, como o Museum of Anthropology de Vancouver (1971-74), que dialoga com os totens dos indígenas da região. ≥ 18

A epopeia de Brasília Na década de 1950, o maior empreendimento a incorporar muitas das ideias de Le Corbusier foi, incontestavelmente, a nova capital do Brasil, Brasília, cuja construção teve início em 1956. Nela, seus conceitos foram aplicados em todas as escalas. Eleito em 1955, o presidente Juscelino Kubitschek reviveu a intenção desenvolvida no século XIX de criação de uma “nova Lisboa”, uma capital no coração do país. Selecionado ao cabo de um expedito concurso público, o “plano piloto” 426 de Lucio Costa é uma versão distorcida da Ville Radieuse, de Le Corbusier, cujos elementos, condensados ou estirados conforme o caso, foram rearranjados em uma figura de base que lembra um pássaro. As suas asas consistem em um Eixo Residencial de 13 quilômetros de extensão, cortado por um Eixo Monumental de 6 quilômetros que conduz à “cabeça” da ave em forma de triângulo equilátero, onde se concentram os poderes legislativo, executivo e judiciário do país. Esses edifícios foram concebidos por Oscar Niemeyer e, apesar do efeito retórico do alongamento de alguns deles, marcam uma inflexão em direção a uma produção mais racionalista na sua carreira, em um momento em que ele faz uma relativa autocrítica. Lamentando a excessiva “originalidade” de suas obras anteriores, o arquiteto declara que estava pesquisando uma maior simplicidade, na busca das formas “belas, inesperadas e harmoniosas”

possibilitadas pela tecnologia moderna.  ≥  19 Ao centro do plano compreende quatro “superquadras”, separadas por curtas ruas piloto, seu eixo principal leva à dupla vertical do Congresso Nacio- comerciais. 427 As superquadras são conjuntos residenciais connal, que domina o diálogo entre as cúpulas de curvaturas inversas cebidos por Lucio Costa no espírito da unidade de vizinhança, conda Câmara dos Deputados e do Senado, 428 ambas pousadas sobre ceito difundido no país por Josep Lluís Sert e Paul Lester no projeto uma longa plataforma que parece surgir do nada ao termo de uma que realizaram para a Cidade dos Motores (1942-47). Os prédios leve declividade do terreno, um planalto que domina uma vasta pai- de apartamentos têm seis andares sobre pilotis, altura que corressagem tendo um lago artificial como linha do horizonte. Conecta- ponde, segundo Costa, aos imóveis da Paris de Haussmann, porém dos ao Congresso visualmente, o Palácio do Planalto e, à sua direita, sem as ruas no ar de seu arquétipo corbusiano. Flutuando sobre o o Supremo Tribunal Federal se correspondem com seus pórticos terreno arborizado reservado aos pedestres e agrupados aos pares, de delgados membros de concreto, nos quais Niemeyer colaborou suas fachadas posteriores estão voltadas uma para a outra, repetindo com seus elementos vazados a temática do Parque Guinle, no com o engenheiro Joaquim Cardozo. Dos dois lados do Eixo Monumental se sucedem as barras dos Rio de Janeiro. Na periferia dos setores, as fileiras de casas gemiministérios. Deles, o Palácio do Itamaraty, abrigando o Ministério nadas parecem ter transportado as Siedlungen de Frankfurt para das Relações Exteriores, recebeu tratamento especial. Implantado a paisagem tropical. Um sistema hierarquizado de vias reservadas perpendicularmente em relação aos demais, sua edificação maior – aos automóveis irriga e interliga os setores dessa cidade fundada notável por seus brises dourados e pivotantes – serve de pano de sobre o transporte individual. A nova capital brasileira é inaugurada em 21 de abril de 1960, fundo para um bloco de escritórios e salas de recepção rodeado por um imponente pórtico de concreto. Niemeyer também dese- graças a um canteiro de obras que funcionava 24 horas por dia e nhou a Catedral (1959-70), um feixe de dezesseis arcos de concreto onde trabalhavam 60 mil operários. Muitos deles iriam permanecer sustentando uma caixilharia de vidro, cuja força se faz sentir assim na cidade, razão pela qual se desenvolveu ao redor do plano piloto que se acessa o edifício por uma rampa subterrânea que se abre um cordão de “cidades-satélites”, como Taguatinga, Núcleo Banem um salão de planta circular. Prosseguindo em sua pesquisa deirante, Sobradinho, Planaltina e Paranoá. Com o tempo, o que de formas específicas para cada programa, Niemeyer projetou a deveria ser uma cidade completa e autônoma se tornou o centro dupla linha sinuosa da Universidade de Brasília (1962-71), cujas administrativo e bairro privilegiado de uma grande e espraiada aglosalas serpenteiam ao longo de uma sequência de pátios. De 1964 meração urbana. A população de Brasília continua profundamente a 1985, quando o Brasil estava sob uma ditadura militar, o arqui- arraigada à cidade, refutando as previsões pessimistas de seus teto deu continuidade a obras previamente aprovadas e perdeu a mais aguerridos detratores. ≥ 20 encomenda do aeroporto da cidade. Passado aquele período, foi confiado a ele um grande número de projetos, que adentrou pelo século XXI. Fora da área governamental, cada “setor” – termo usado em Brasília em vez de “zona” – residencial de 12 mil habitantes

Sumário

Introdução O campo ampliado da arquitetura 10 - Dois limiares no tempo 13 - Um carrossel de hegemonias 14 - A continuidade dos tipos 15 - Historiadores versus arquitetos: inclusão ou exclusão

01

02

03

04

05

06

O domínio do aço

Em busca da forma moderna

Descobertas americanas

O desafio das metrópoles

18 - Estilo, uma questão de verdade 19 - A proeminência da École des Beaux-Arts 23 - Os programas da modernização 23 - Os vetores da internacionalização

28 - P  or uma “arte nova”, de Paris a Viena e Berlim 31 - A  Grã-Bretanha após o Arts and Crafts 34 - O  art nouveau e o eixo Paris-Nancy 36 - D  o floreale italiano ao modern russo 36 - R  enascença e exuberância catalã

Inovação residencial e expressão tectônica

56 - Chicago em preto e branco 57 - As invenções de Sullivan 60 - Wright e a arquitetura das pradarias 63 - Wright e a Europa 67 - O arranha-céu migra para Nova York

70 - Uma explosão urbana 71 - A caixa de ferramentas dos planejadores 71 - Cidade, praça e monumento 76 - O idílio da cidade-jardim 77 - O zoneamento: das colônias às metrópoles europeias

Nova produção, nova estética

07

08

09

10

11

12

À procura de uma linguagem: do classicismo ao cubismo

A Primeira Guerra e seus efeitos colaterais

O expressionismo na Alemanha de Weimar e nos Países Baixos

O retorno à ordem e o maquinismo em Paris

Dadá, De Stijl e Mies van der Rohe: da subversão ao elementarismo

Novidades no ensino de arquitetura

42 - A centralidade da Grã-Bretanha 43 - A reforma da habitação 43 - Pela uniformidade da paisagem urbana 46 - O advento do concreto armado 53 - Concreto e nacionalismo

90 - Classicismos anglo-americanos 92 - Nostalgia alemã 93 - Loos e a tentação da “cultura ocidental” 99 - Berlage e a questão das proporções 100 - Cubismos e cubistas

102 - U  ma tríplice mobilização 103 - A  difusão do taylorismo 103 - C  omemorar e reconstruir 108 - A  recomposição no pós-guerra 108 - O  s novos arquitetos, entre a ciência e a propaganda

13

14

15

16

17

18

Arquitetura e revolução na Rússia

A arquitetura da reforma social

Futurismo e racionalismo na Itália fascista

176 - M  odernizando a cidade 180 - A  Viena vermelha 181 - A  nova Frankfurt 185 - O  s conjuntos habitacionais de Taut em Berlim 186 - S  ubúrbios franceses 186 - E  cos além-mar 189 - E  quipando as periferias

Uma variedade de academicismos e tradicionalismos

Modernidades norte-americanas

162 - O choque da revolução 165 - Uma profissão renovada 166 - Condensadores sociais 171 - Polêmicas e rivalidades 171 - O concurso do Palácio dos Sovietes

Relacionamentos e espetáculos da internacionalização

110 - O Arbeitsrat für Kunst 111 - Dinamismo na arquitetura 117 - O expressionismo hanseático 118 - Michel de Klerk e a Escola de Amsterdã

190 - O cenário das revistas 191 - Cidades-modelo e exposições em escala real 194 - A arquitetura moderna ganha os museus 195 - Os Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (ciam) 198 - Redes de influência e narrativas históricas

124 - Formas puristas e composições urbanas 127 - Le Corbusier e a casa moderna 128 - Grandes receptáculos em Paris e Genebra 128 - Perret e o “abrigo soberano” 129 - Art déco em Paris 132 - Mallet-Stevens ou o modernismo elegante 132 - Modernismos franceses

82 - O modelo da aeg em Berlim 83 - A fábrica como inspiração 85 - A Deutscher Werkbund 88 - A mecanização futurista

200 - Um segundo futurismo 200 - Muzio e o Novecento 204 - O fascismo e o racionalismo 207 - As geometrias de Terragni 208 - Uma “mediterraneidade” ambígua 209 - Novos territórios

138 - A explosão dadá 138 - As formas novas do De Stijl 142 - Os projetos de Van Doesburg 143 - Oud e Rietveld, do mobiliário à casa 148 - Os projetos teóricos de Mies van der Rohe

212 - Classicismo literal 214 - Classicismo moderno 216 - Persistência do tradicionalismo e autocrítica do modernismo 217 - Oportunismo sem fronteiras 217 - Uma coexistência por vezes pacífica

152 - A Beaux-Arts e as alternativas 153 - A Bauhaus de Weimar 156 - A Bauhaus em Dessau e Berlim 156 - O Vkhutemas em Moscou 161 - Escolas inovadoras pelo mundo

224 - Frank Lloyd Wright, o retorno 231 - Los Angeles, terreno fértil 232 - A retomada do arranha-céu 236 - Produtos industriais: entre a fábrica e o mercado 238 - A reforma habitacional do New Deal e a imigração europeia

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Funcionalismos e estéticas mecanicistas

As linguagens modernas conquistam o mundo

Experiências coloniais e novos nacionalismos

Arquiteturas de uma guerra total

A crise fatal do movimento moderno e as alternativas

240 - O taylorismo e a arquitetura 241 - Da ergonomia para as dimensões padronizadas 242 - O funcionalismo poético de Chareau e Nelson 243 - O funcionalismo dinâmico na França e nos Estados Unidos

250 - A  derrubada da relutância britânica 255 - M  odernismos na Europa Setentrional 258 - O  moderno como marca nacional tcheca 260 - O  s modernos na Hungria e na Polônia 261 - P  ersonagens dos Balcãs 262 - A  modernização ibérica 264 - A  s pesquisas japonesas 265 - A  s curvas brasileiras

272 - Da arabização para a modernização no norte da África 275 - Iniciativas no Oriente e na África 275 - Cidades italianas no entorno do Mediterrâneo 277 - A modernização da Turquia e do Irã 279 - O pluralismo chinês 283 - Hegemonia do modernismo na Palestina

286 - O front e a retaguarda 287 - Escalas extremas 288 - A defesa contra ataques aéreos 291 - Técnicas construtivas e destrutivas 291 - Mobilidade e flexibilidade 292 - A arquitetura da ocupação militar 292 - Imaginando o mundo do pós-guerra 294 - Convertendo para a paz 294 - Memória e monumentos

Tabula rasa ou horror vacui: reconstrução e renascimento

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Le Corbusier reinventado e interpretado

As formas da hegemonia norte-americana

Repressão e difusão do discurso moderno

Rumo a novas utopias

Após 1968: uma arquitetura para a cidade

322 - A Unité d’Habitation 322 - Palácios e casas 324 - A surpresa de Ronchamp 325 - Aventuras indianas 326 - Invenção e introspecção 326 - Maneirismos corbusianos 330 - O brutalismo anglo-americano 334 - A epopeia de Brasília

338 - A  segunda era do arranha-céu 342 - M  ies, o americano 345 - O  último retorno de Wright 346 - P  esquisas na Costa Oeste 349 - G  ropius e Breuer: a assimilação da Bauhaus 351 - O  lirismo de Saarinen e a ansiedade de Johnson 352 - A  solidão de Louis Kahn 353 - D  a experimentação ao comércio

358 - Sete Irmãs em Moscou 360 - Exportação do realismo socialista 360 - A crítica de Khruchtchóv 361 - O prestígio de Aalto 366 - Novas energias japonesas 367 - Latino-americanismos 373 - Arquipélagos de invenção

Entre o elitismo e o populismo: a arquitetura alternativa

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A temporada pós-moderna

Do regionalismo ao internacionalismo crítico

O otimismo neofuturista do high-tech

As fronteiras da arquitetura

Pontos de fuga

424 - S  carpa ou a redescoberta do ofício 426 - O  rigor poético de Siza 427 - E  sforço coletivo no Ticino 431 - M  oneo e as terras ibéricas 432 - A  Europa como campo de experimentação 433 - P  esquisas no sul da Ásia 433 - P  ersonalidades latino-americanas 434 - U  m internacionalismo crítico

438 - O Pompidou estabelece um cânone 439 - A composição segundo Richard Rogers 439 - A experimentação segundo Renzo Piano 441 - A estrutura segundo Norman Foster 445 - Arquitetos e engenheiros 446 - Novas geometrias

450 - Gehry, ou a sedução da arte 454 - Koolhaas, ou o realismo fantástico 455 - Nouvel, ou o mistério redescoberto 457 - Herzog & de Meuron, ou o princípio da coleção 459 - Desconstrutivistas e racionalistas 463 - Fragmentação e poesia no Japão

469 - Geografias estratégicas 469 - Materiais reinventados 471 - Edifícios sustentáveis 472 - A cidade renascida, porém ameaçada 472 - A paisagem como horizonte 473 - Mídias hipermodernas 474 - Expectativas sociais persistentes

412 - Entre a nostalgia e o lúdico 413 - O “fim das proibições” 414 - Metáforas de uma urbanidade reencontrada 417 - O pós-modernismo chega aos Estados Unidos 418 - O front incerto do pós-modernismo 422 - A cidade, composição ou colagem?

378 - Itália: a continuidade crítica 381 - Independentes, porém juntos 385 - A tecnologia entre a ética e os ícones 386 - Cidades flutuantes da indeterminação 388 - O metabolismo no Japão 388 - As megaestruturas e a agitação global 389 - A tecnologia e seu duplo

298 - Um pós-guerra americano 299 - Reconstituição literal ou modernização radical? 301 - A “unidade de vizinhança” como modelo 302 - Os tradicionalistas em ação 302 - Em busca de um modelo britânico 303 - Debates alemães 309 - Um triunfo moderno?

394 - Pesquisa e tecnocracia 395 - A crítica de Venturi 396 - Cinzentos e Brancos 401 - Do funcionalismo ao advocacy planning

310 - O Festival da Grã-Bretanha 312 - Neorrealismo italiano 314 - O planeta Brasil 318 - Habitação e inovação no norte da África 319 - Os CIAM em tumulto 320 - O fim dos CIAM

404 - 1968, annus mirabilis 404 - A periferia em primeiro plano 405 - A forma da cidade 408 - Os usuários no comando

476 - Notas 492 - Bibliografia 505 - Índice 526 - Agradecimentos e créditos das imagens

cosac naify assessoria de imprensa joão perassolo [email protected] 11 3218 1468 divulgação universitária rafael falasco [email protected] 11 3823 6562

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