O Frevo e o seu processo de estilização

April 22, 2019 | Author: Andreza Daniele | Category: Folklore, Culture (General), Entertainment (General)
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1.

INTRODUÇÃO

O folclore brasileiro brasileiro,, segundo o Capítulo I da Carta do Folclore Brasileiro , é sinônimo de cultura popular brasileira, e representa a identidade social da comunidade através de suas criações culturais, coletivas ou individuais; é também uma parte essencial da cultura do Brasil em seu todo. Pernambuco é um estado que possui uma enorme riqueza cultural, reflexo da miscigenação étnico-cultural e por conseqüência disso origina um patrimônio extremamente diversificado. Um período importante para o estado é o festivo destacando o carnaval de rua que já virou tradição perante os nordestinos e brasileiros que se encantam com os desfiles de  bonecos gigantes, máscaras, fantasias e decorações tudo ao ritmo de diversos estilos musicais,  porem um que é destaque e bastante comum é o frevo. Um marco do folclore pernambucano. Inicialmente analisa-se a música e a dança carnavalesca própria e original do carnaval recifense: o frevo, abordando aspectos essenciais para a compreensão da origem desse estilo e logo após foca-se mais precisamente nas distinções entre ele no passado e no presente e como o processo de estilização e os meios de comunicação influenciaram durante a trajetória do frevo. 2.

FOLCLORE

 No dia 22 de agosto é comemorada uma das maiores expressões culturais populares, o folclore. O termo foi criado em 22 de agosto de 1846, em Londres, pelo pesquisador inglês WILLIAM THOMS. 'Folk', que significa povo, e 'Lore', saber formando assim 'Folk-Iore', sabedoria do povo. O Brasil é um país rico em diversidades, com uma cultura bastante característica e heterogênea, apresenta em cada região peculiaridades destacados em costumes, crenças e tradições específicas formando for mando um grande conjunto conjunto de culturas especiais. esp eciais. "Através do folclore o homem expressa as suas fantasias, os seus medos, os melhores e piores desejos, de justiça e de vingança, às vezes apenas como forma de escapar àquilo que ele não consegue c onsegue explicar´. (IBGE,  Dia Mundial do Folclore, 2011) O folclore traduz a identidade e cultura de um lugar que é transmitido pelas suas tradições expressões e costumes, como as lendas, os contos, os provérbios, as canções, as danças, o

artesanato, os

jogos, a

religiosidade,

as brincadeiras infantis, os

mitos, os 1

idiomas e dialetos característicos, as adivinhações, as festas e outras atividades culturais que nasceram e se desenvolveram com o povo servindo para compreender a história de um ,

determinado povo como ele atua e suas particularidades, de simples gestos coletivos ou individuais às grandes manifestações de caráter popular como exemplo: festejo, danças, música. Enfim, o folclore é o conjunto de criações, aceitos coletivamente, onde se valorizam as crenças, os comportamentos. ³O folclore vive da coletivização anônima do que se cria, conhece e reproduz, ainda que durante algum tempo os autores possam ser conhecidos.1 (BRANDÃO,1982, P. 34) .

O folclore brasileiro é rico em danças que representam as tradições e a cultura de uma determinada região. Estão ligadas aos aspectos religiosos, festas, lendas, fatos históricos, acontecimentos do cotidiano e brincadeiras. As danças folclóricas brasileiras caracterizam-se   pelas músicas animadas, com letras simples e populares, e figurinos e cenários representativos. As principais danças folclóricas são: samba de roda, maracatu, baião, catira, quadrilha e o frevo pernambucano, que é objeto central deste trabalho. 2.1

FOLCLORE

PERNAMBUCANO

Pernambuco lugar de belezas naturais e grande riqueza cultural que unido a criatividade de um povo perspicaz, enérgico e alegre resulta em uma cultura popular   pernambucana extremamente rica e diversificada. O folclore está no cotidiano do pernambucano. Nos festejos, folguedos e nos costumes do estado onde se preserva a tradição popular. Através das festas, religião e os costumes locais surgiram as mais variadas expressões populares, que quase sempre são associadas aos  principais ciclos festivos, são eles: Carnaval, São João e Natal, estes centralizam as maiores e mais numerosas convergências das festas e possuem data confirmada no calendário do  brasileiro. O Ciclo Carnavalesco é uma das principais festas populares e manifesta-se em  praticamente todo Estado. Destaque para Olinda e Recife (Boa Viagem e Centro), com vários tipos de músicas e danças, algumas delas são: Maracatu Leão Coroado, os Caboclinhos, os La

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Os provérbios que repetimos de vez em quando, os padrões das colchas de fiadeira ou das rendas de bilro, os modos artesanais de se fazer a pesca no mar, o sistema de rimas das modas do fandango paranaense, algumas marchas de rua e as longas e antigas ³embaixadas´ dos ternos de congos ti veram um dia seus criadores. Mas  justamente porque foram aceitas, coletivizadas, com o tempo a memória oral, que é o caminho por onde flui o saber do folclore, esqueceu autorias, modificou elementos de origens e retraduziu tudo como um conhecimento coletivo, popular.´ 2

Ursas, as Troças, o Zé Pereira, o Homem da Meia-Noite, o Galo da Madrugada, o Vassourinha, o Clube das Pás, o Bumba - meu - boi e em especial o Frevo. Já durante o período do mês de Junho, homenageia-se Santo Antônio, São João e São Pedro com ruas enfeitadas de bandeirolas, balões, fogueiras, fogos, nas festas há adivinhações, apreciam-se bandas de pífano, cantadores, bacamarteiros, violeiros, emboladores, quadrilhas, forró, ciranda, xote, xaxado, coco e baião entrando assim no Ciclo Junino onde há um certo destaque para as regiões de Caruaru (a capital do forró) Carpina, Paulista, Petrolina, Recife e Olinda. Em dezembro o foco é o Ciclo Natalino onde o principal representante é o pastoril. Observa-se também o pastoril profano, a queima da lapinha, o reisado, a cavalhada, o fandango. Outras manifestações folclóricas que não seguem os ciclos, mas merecem destaque são a gastronomia, o artesanato, a literatura, brincadeiras populares, lendas... O artesanato apresenta tipos humanos, objetos de grandes e variadas expressões através do uso da cerâmica, madeira, couro, tecidos, fios, fibras entre outras tipologias. O fazer artesanal é um dos grandes patrimônios, que se transforma com os costumes, histórias e cultura de cada região do Estado. A culinária reflete a cultura diversificada da região, com sua gastronomia e pratos típicos característicos, torna uma alimentação bastante saborosa e diferenciada. Alguns exemplos são: Pratos como a carne-de-sol com feijão-de-corda ou com macaxeira, o jabá com   jerimum (carne-seca com abóbora), o sarapatel com farinha d'água, ou a tapioca molhada (com leite de coco), buchada, dobradinha, mão-de-vaca, cozido, chambaril, peixada   pernambucana, cuscuz de milho ou de mandioca, inhame, batata doce, banana comprida, munguzá, canjica, pamonha, caldinhos, frutos do mar... A literatura apresenta grandes e renomeados nomes que fizeram diferença através do cordel um tipo de poema popular, originalmente oral, e depois impresso em folhetos rústicos ou outra qualidade de papel e também de escritores seguem a linha mais culta, mas sempre retratando a região. Algumas brincadeiras populares são simples e fáceis. Individuais ou coletivas, algumas podem ser fabricados em casa. São usados para compor o imaginário infantil, e faz   parte da expressão da infância e transmitidos também por gerações. São exemplos deles o  pião, a finca, a carrapeta ou pinhão, a pipa (ou papagaio), ioiô, bolinhas de gude, amarelinha,

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  passa anel bola, quei ada, br incadeira de roda... São a l uns si  ples exemplos das vastas  br incadeiras que fazem par te da cu ltura da região. As crendices, lendas, contos e os mitos pernambucanos também fazem par te das manifestações folcl r icas, cada um com sua par ticular idade, gênero e espec ialidade são depositados uma carga emoc ional muito for te do fator crença, que é fundamen tal para o   processo de sobrevivência dos mesmos represen tam uma sabedor ia humilde e a cur iosidade  popular. As lendas são narra tivas que enfeitam e caracter izam um lugar, acompanhadas de mistér ios, assombrações e medo, acompanham fa tos e acontecimentos comuns, ilustrada por  cenár ios exóticos e de cur ta extensão. Enf im a região pernambucana é rep leta de caracter ísticas e pecu liar idades própr ias cr iando ass im uma cultura representativa, que va lor iza ainda ma is o universo mítico e

lendár io local mostrando que essas expressões cu lturais devem ser admiradas e apreciadas  para manter ass im o caráter dos cos tumes regionais e conscientizar a popu lação a estimar os aspectos simbólicos locais que ref letem tanto a identidade do povo pernambucano.

2.2

FR EV

Em 9 de fevereiro de 2007 comemorou-se os Cem anos do Frevo, à impor t ncia do r itmo e a sua da ta de or igem. A pa lavra frevo foi pub licada pela pr imeira vez no dia 9 de fevereiro de 1907, no ex tinto ³Jorna l Pequeno´ vesper tino do R ecife que mantinha uma detalhada seção carnava lesca da época, ass inada pelo  jorna lista " swaldo Oliveira ". A nota, uma descober ta do pesqu isador Evandro R abe llo, citava um ensa io do clube Empa lhadores do Feitosa, do ba irro do Hi  pódromo, no R ecife. Uma das mús icas do reper tór io chamava-se ³O Frevo´. A palavra é uma expressão popu lar, or igina-se da linguagem s imples e vem de

"ferver " e as pessoas pronunc iavam "frever, por corrup tela, dando or igem a pa lavra frevo, que 4

  passou a designar: "Efervescência, agitação, confusão, rebuliço; apertão nas reuniões de grande massa popular no seu vai-e-vem em direções opostas como pelo Carnaval", de acordo com o Vocabulário Pernambucano de Pereira da Costa. A dança originou-se dos antigos desfiles de carnaval, como eram comuns conflitos entre blocos, alguns capoeiristas passaram a ir à frente dos seus blocos para intimidar blocos rivais, proteger seu estandarte e defender os músicos das multidões, dançando ao ritmo dos dobrados. Assim nascia da junção da capoeira com o ritmo do frevo, o

 P asso,

a dança do

frevo. Pode-se afirmar que o frevo é uma criação de compositores de música ligeira, feita   para o carnaval. Os músicos pensavam em dar ao povo mais animação nos folguedos. No decorrer do tempo, a música ganhou características próprias acompanhadas por um bailado inconfundível de passos soltos e acrobáticos. ³O frevo, palavra exótica, tudo que é de bom diz, exprime. É inigualável, sublime, termo raro, bom que dói... vale por um dicionário, traduz delírio, festança, tudo salta, tudo dança, tudo come, tudo rói...´ (jornal  A  P rovíncia, 1913).

Dança instrumental, marcha em tempo binário e andamento rapidíssimo. Assim o ensaísta Mário de Andrade sumariza o frevo em seu  Dicionário Musical Brasileiro (Editora Itatiaia, reedição, 1989) O frevo é uma dança e um ritmo secular, completou 100 anos em 2007, possuindo como referência a data oficializada na primeira vez que a palavra foi divulgada na imprensa em 09 de fevereiro de 1907 no Jornal Pequeno, como já foi dito, tendo como principal articulador Osvaldo Almeida em sua ³Coluna Carnaval´ e significava folia, multidão, 5

agitação, reboliço, efervescência. Uma vez que o estilo de dança faz parecer que abaixo dos  pés das pessoas exista uma superfície com água fervendo. Mas sua denominação veio muito depois do surgimento do ritmo já consolidado. O frevo já fazia parte do carnaval de rua do Recife como marcha carnavalesca desde o século XIX. Da fusão de vários ritmos como o maxixe, a quadrilha, a modinha, o dobrado, o tango, e polca-marcha, surge musicalmente o frevo e este surgimento está ligado ao repertorio das  bandas militares, por isso que inicialmente era chamado de ³marcha pernambucana´. Desta forma concluímos que assim como o maxixe, o frevo surgiu da interação entre a música e a dança. "O frevo fixou sua estrutura numa vertiginosa evolução da música das   bandas de rua, de inícios da década de 1880 até aos primeiros anos do século XX". (TINHORÃO, Jose Ramos. 1978 pg. 137). As primeiras bandas maciais em Pernambuco surgiram em meados do século XIX e tocavam dobrados, machas e polcas desfilando pelas ruas do centro de Recife. Como já foi mencionado, traziam à frente das bandas para defendê-las, para abrir caminho e intimidar os grupos rivais, capoeiristas fazendo piruetas no embalo das músicas. Estes se tornaram fiéis as bandas que acompanhavam o que serviu para dividir os capoeiristas em dois  partidos. E as rivalidades dos partidos de capoeiristas se manifestavam através dessas bandas. Os capoeiristas escolhiam uma banda de sua preferência e consideravam todas as outras como adversárias. E eles saiam à frente pulando, saltando, dando pernadas. Só que esses confrontos foram rigorosamente reprimidos pela polícia. Com a Abolição da Escravatura, em 1888, os ex escravos migraram dos engenhos para o centro das cidades, em busca de oportunidades e de uma vida nova. Com o advento da República, inicia-se um período de mudanças, uma nova ordem cultural na sociedade brasileira. De um lado a elite dominante, empenhada em controlar a massa popular, e de outro, uma população majoritariamente analfabeta, pessoas que são forçadas a mudar seus modos de vidas e valores. E assim o carnaval de recife é definido por  essas classes populares, ressaltando seu papel de movimento social de liberação. Quando foi proibido que os capoeiristas saíssem à frente das bandas maciais no carnaval, as agremiações carnavalescas populares os abrigaram. E os mesmos músicos que formavam as bandas maciais, também formavam as fanfarras das agremiações.   Nesse caso, os capoeiristas criaram coreografias ritmadas para dar suporte às manobras da capoeira, que por sua vez estavam sendo reprimidas, e dessa vez ao invés de 6

 proteger os músicos, protegiam os símbolos dos clubes carnavalescos como o estandarte por  exemplo. Depois de 1888, com o aumento da massa popular, esses clubes passaram a ter  maior destaque no cenário do carnaval de rua do Recife. Os Clubes Carnavalescos Pedestres representavam as classes populares, formados por  trabalhadores e os Clubes de Alegorias e Críticas das Sociedades Carnavalescas representavam a burguesia, a elite, as classes conservadoras, que mais tarde vem formar a classe média. Quando os grandes comerciantes deixaram de patrocinar os Clubes de Alegoria e Crítica e se recusaram a decorar a cidade, eles foram entrando em decadência. Também pelo fato do seu modelo de carnaval que visava o monopólio da festividade pela elite dominante, enquanto a população se mobilizava e organiza suas próprias formas de divertimento. E ao contrário do carnaval burguês que oscilavam a cada ano devido à crise econômica financeira dos seus patrocinadores, o carnaval popular ia conquistando as ruas e engolindo a cidade, reagindo a polícia extremamente violenta. ³Dessa forma, o frevo nasce dos conflitos sociais das ruas do Recife, ao longo do século XIX. Suas origens remetem as lutas e resistências. Os pernambucanos que reivindicavam a libertação dos escravos, a expulsão dos portugueses e a Proclamação da República, foram os mesmos atores sociais, que propiciaram o surgimento do FREVO.´ (www.claudialima.com.br)

 No intuito de restabelecer a ordem preestabelecida pela elite vigente, esse movimento  popular que posteriormente é denominado frevo é perseguido violentamente.   Nessa mesma época, durante o Império o carnaval é ³privatizado´ por clubes, que organizam bailes para divertimento exclusivo da elite, e então, o que era público passa a ser   pago, como acontecia nas festas fechadas de salões na Europa. O carnaval segue dessa forma um modelo de carnaval veneziano, o que acontece não só em Recife, mas também em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em 1856, os capoeiristas foram proibidos de brincar o carnaval pelo governo da  província de Pernambuco. Segundo José Ramos Tinhorão, autor do livro ³Pequena História da Música Popular  Brasileira´, a partir de 1880 a música de rua do recife deixou de ser fornecida apenas por   bandas militares, surgindo nesta década as fanfarras a serviço dos trabalhadores urbanos. Surgiram também os primeiros clubes de carnaval de Pernambuco, entre eles o Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas (1889) e o Clube Carnavalesco Misto Lenhadores (1897), 7

formados por trabalhadores. Então os capoeiristas disfarçadamente passaram a acompanhar a  banda dos clubes já que estavam sendo perseguidos pela polícia, modificaram seus golpes e trocaram suas antigas ar mas pela sombrinha. E da união da capoeira, de suas gingas e rasteiras, com o ritmo do frevo, nasce o  passo, a dança do frevo. Os golpes da luta viraram passos de dança e foram evoluindo junto com a música. Ou seja, a estilização dos passos foi resultado da perseguição infligida pela  polícia aos capoeiristas, que aos poucos sumiram das ruas dando lugar aos passistas.

Os passos nascem diversas vezes da improvisação e espontaneidade individual do  passista, o que permite ao dançarino criar, inventar os passos mais variados, dos simples aos mais malabarísticos, possíveis e imagináveis, executando verdadeiras acrobacias que desafiam as leis do equilíbrio. E como decorrer dos tempos, dessa improvisação, foram criados certos tipos e arquétipos de passos. Atualmente o frevo possui mais de 120 passos catalogados, entre eles a dobradiça, tesoura, locomotiva, ferrolho, parafuso, pontilhado, ponta de pé e calcanhar, saci-pererê, abanando, caindo nas molas, e pernada, este claramente identificável na capoeira. O frevo é um ritmo pernambucano, uma dança carnavalesca própria, original, nascida do povo. Surgido no Recife no final do Século XIX, é, sem sombra de dúvidas, uma das criações mais originais dos mestiços da baixa classe média urbana brasileira, na sua maioria instrumentistas de bandas militares tocadores de marchas e de dobrados, ou componentes de grupos especialistas em música de dança do fim do século XIX tocadores de polcas, tangos, quadrilhas e maxixes como disse Tinhorão: 8

³Na verdade, o frevo é um amálgama destes gêneros musicais. A marcha e a polca não tinham introdução, assim começou a ser estabelecida as diferenças do frevo: introdução sincopada, com quiálteras.´ (TINHORÃO, Jose Ramos. pg. 139) 3.

O PROCESSO DE ESTILIZAÇÃO E O FRE O

De acordo com o ³dicionário ilustrado ± Decôs in labor´, a palavra estilização se conceitua como ³processo artístico, que consiste em dar estilo, modificando-os segundo as regras da arte.´ Para entendermos melhor o processo de estilização do frevo vamos voltar às origens do frevo. O frevo nasceu espontaneamente no meio do povo, ou melhor, criada pelo próprio   povo. Não se sabe ao certo quem surgiu primeiro se o passo ao a música. Na verdade eles evoluíram juntos, um complementando o outro. O ensaísta Mário de Andrade sumariza o frevo em seu dicionário musical brasileiro como sendo uma ³Dança instrumental, marcha em tempo binário e andamento rapidíssimo.´ (Editora Ilaiaia, reedição, 1989).   No seu início o frevo trazia capoeiristas à frente do cortejo. Eram usadas gingas e rasteiras para abrir o caminho, dai teria nascido o passo, a dança do frevo. Os golpes das lutas viraram passos de dança e foram evoluindo juntamente com a música. E atualmente até as sobrinhas coloridas que são umas dos principais símbolos do carnaval, seria uma estilização

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dos guarda-chuvas utilizados anteriormente como armas para ataque e defesa dos capoeiristas. Com o tempo, esses guarda-chuvas pretos, grandes, rasgados e velhos, acompanharam a evolução da dança, estilizaram-se em uma sobrinha pequena, feita de diversos formatos, cores e texturas, cheias de adornos e enfeites para facilitar a dança e embelezar a coreografia. [...] Estilização: ato de modificar, suprimindo, substituindo e/ou acrescentando elementos para obter determinados efeitos estéticos ou estilísticos; dar estilo. (Koellreuter, 1983, pg. 7)

De acordo com Saldanha (2008), o gênero musical pernambucano já nasce como música cantada, sendo que o dobrado chamado Banha Cheirosa (compositor anônimo) é considerado o primeiro frevo-canção. Entretanto, o site Wikipédia afirma o oposto de Saldanha: antes da música cantada, surgira à instrumental. Outro processo de estilização ocorreu em 1930, quando surgiu a divisão do frevo em três tipos: Frevo de Rua seriam para os grupos instrumentais orquestrais; Frevo Canção, para os que eram cantados e Frevo de Bloco, para aqueles que executam antigas marchas 10

carnavalescas. As gravadoras tiveram um importante papel na divulgação do gênero. Foi o rádio que consolidou o gênero pernambucano. Entretanto, foi a victrola que propiciou um maior  conhecimento do frevo até o surgimento do rádio. As gravadoras instaladas no Rio de Janeiro,  RCA Victor , Odeon, Continental ,  Philips , Copacabana, entre outras , perceberam o grande

 potencial econômico do frevo e passaram a incluir , em seus catálogos, a música do carnaval  pernambucano. A gravadora  Rozemblit , por meio do Maestro   Nelson Ferreira, foi à maior  divulgadora do carnaval pernambucano (SALDANHA, 2008, p. 93). De acordo com Vianna (2007, p. 137), a música pernambucana e a nordestina, de uma maneira geral, cresceu e se consolidaram por razões regionais. Houve um mercado regional de discos, que, fazendo papel de grande divulgador, fez com que a música crescesse até um determinado ponto. Por  outro lado, o compositor Carlos Fernando foi o idealizador do projeto fonográfico Asas da América. Esta foi à primeira tentativa de modernização do frevo, pois divulgou o gênero nacionalmente por  meio dos grandes nomes da Música Popular Brasileira. Conseguiu também expandir o conhecimento do frevo, agregando importantes nomes do gênero de Recife com grandes nomes da música popular   brasileira, como Chico Buarque, Gilberto Gil , Caetano Veloso, entre outros (O frevo, 2008; TELES, 2002).

Durante todo seu desenvolvimento o frevo passou pelo processo de estilização, e não tem sido diferente nos dias atuais. O Frevo como os produtos que o folclore virou um comércio. Antes tido como divertimento, o frevo virou uma forma lucrativa de ganhar  dinheiro. A cultura popular tem sido vendida, em forma de artesanato, de roupas, de culinária e   porque não dizer que o divertimento também tem sido vendido. As cidades se enchem de turistas em busca de divertimento que lhe são oferecidos através das músicas e das danças e uma delas é o frevo.

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Hoje existe um lucro enorme por traz do divertimento que o frevo traz, são os CDs e DVDs, são os carnavais que rendem lucros tanto para os cantores e dançarinos, que fazem shows, e participam de festivais e competições, quanto para as redes hoteleiras, restaurantes. Enfim, do frevo surge um leque de meios para obtenção de lucros. O processo de estilização ajudou o frevo a se modernizar, a torna-se visualmente bonito e convidativo. O volume de Koogan/Houaiss assim define: ³Estilizar é simplificar uma figura dandolhe aspecto decorativo´ (Labor, 2000, p. 629).

O processo de estilização sofrido pelo frevo foi quem possibilitou todo esse reconhecimento que esse ritmo possui. Em 2007 o frevo fez 100 anos de história e não faltaram homenagens para esse ritmo que contagia multidões. 4.

CONCLUSÃO

O frevo, sem hesitar, atrai e empolga quem passa que acaba fazendo parte do folguedo e caindo no frevo. Por isso, é uma dança de multidão, de gente, do povo, onde todas as classes sociais se misturam num ritmo tipicamente popular, com uma identidade coreográfica específica e exuberante µO  P asso¶  unida a uma música instrumental consagrada que também 12

envolve admiráveis poemas populares os frevos-canção dos blocos que realçam toda exuberância, extravasamento e alegria daqueles que dançam, se divertem e participam desse contagiante ritmo, onde o berço é o Estado de Pernambuco, região de grandes belezas naturais e históricas aliada a uma riqueza cultural extremamente diversificada e marcante. Originário de elementos da capoeira, marcha e maxixe e características próprias unido a criatividade de um povo animado, agitado e autêntico o frevo se tornou, sem sombra de dúvidas, uma das danças e ritmo mais vivos, um folguedo carnavalesco e folclórico que vem desbravando os anos, acelerando os corações das gerações, ganhando cada vez mais reconhecimento e perpetuando-se no cenário musical. Por fim o frevo é contagiante na essência dos passistas ou da multidão, ele faz as  pessoas interagirem, dançarem através de passos entusiasmados e com uma estrutura rítmica de grande melodia e harmonia que ecoa alegria. Onde primeiramente surgiu o espírito, a essência acelerada e efervescente para depois a denominação µfrevo¶ e mais tarde a o ritmo ser  considerado um gênero musical importante e se consagrar em nossos carnavais. Mais  precisamente no dia 9 de fevereiro o frevo completa 104 anos desde a oficialização da data tornando-se assim um fenômeno único e típico da música popular brasileira. REFERÊNCIAS RIBEIRO, José, 1972. Brasil no Folclore. Rio de Janeiro. Aurora. TINHORÃO, Jose Ramos. Pequena história da música popular; da modinha à lambada, São Paulo, Art. Editora, 1991. FERNANDES, Florestan, 2003. O folclore em questão, 1ª edição, Martins Fontes. ESTUDOS HISTÓRICOS, Rio de Janeiro, vol. 3, n 5, 1990, p. 75-92. ALBUQUERQUE, Eudenise, 1977. A comunicação gestual. Rio de Janeiro, vol. 2 - série universitária, Rio. BRANDÃO, Carlos. 1982. O que é o folclore? São Paulo, Brasiliense. Coleção Primeiros Passos. REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES http://jornalmusical.com.br/textoDetalhe.asp?iidtexto=876&iqdesecao=1 http://www.suapesquisa.com/musicacultura/frevo.htm http://revistahost.uol.com.br/publisher/preview.php?edicao=0307&id_mat=92

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http://cliquemusic.uol.com.br/generos/ver/frevo http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/historia-do-carnaval/frevo-2.php 13

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