O Evangelho Segundo João – H. E. Alexander

May 9, 2017 | Author: mCkPsi | Category: N/A
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H. E. A L E X A N D E R

0 EVANGELHO SEGUNDO JOÃO A revelação da PESSO A do Filho de Deus, de Sua D O U T R IN A e de Sua OBRA redentora, para que creiamos, e que, crendo, tenhamos a vida em Seu Nome.

Caderno de Cultura Bíblica N .° 5

H. E. ALEXANDER O autor dos Cadernos de Cultura Bíblica, Diretor da E'scola Bíblica de Genebra, Suiga

Pelos “Cadernos” o leitor apro­ veitará da riquíssima experiência do autor, adquirida em mais de 40 anos de ensino da Palavra de Deus. O objetivo é tornar o leitor “ . . .um obreiro.. . que m aneje bem a Palavra da Verdade”. 2 T im óteo 2 :1 5

Êste novo Caderno de Cultura Bíblica, aguardado por muitos, com­ pletará a série dos 4 Evangelhos. O alvo do Evangelho segundo João é, conduzir o leitor à fé, à salvação e à vida eterna pela revelação da divindade de Jesus Cristo. A men­ sagem poderia ser resumida neste ^ versículo: “E todos nós recebemos também da Sua plenitude e graça por graça.” '

J oão 1 :1 6

H. E. A L E X A N D E R

0 EVANGELHO SEGUNDO JOÃO ou A revelação da P E SS O A do Filho de Deus, de Sua D O U T R IN A e de Sua O B R A redentora, para que creiamos, e que, crendo, tenhamos a vida em Seu Nome.

. '

“ Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a Palavra da verdade.” •

2 Timóteo 2:15

Traduzido do francês

Caderno de Cultura Bíblica N.° 5

Publicações da Ação Bíblica editada pela

,

Casa Brasileira da Bíblia, Ltda. Rua Senador Feijó, 133 Caixa p. 2353 , SÃO PAULO Casa da Bíblia, Ltda. Av. de Roma,, 14-B Lisboa (Portugal Rua Pé da Cruz, 14 Faro (Portugal) La , Maison de la Bible Genève, 11 Rue de Rive Paris, 8 Rue du Val-de-Grâce

Direitos reservados

DO MESM O A U T O R Cadernos de Cultura Bíblica 1. , Introdução à leitura do Novo Testamento. 2. O >Evangelho segundo Mateus ou a grande rejeição. 3. O Evangelho segundo Marcos oü “o Filho do Homem que não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a Sua vida em resgate de muitos”. 4. O Evangelho segundo Lucas ou “ O Filho do Homem que veio buscar e salvar o que se havia perdido’’. 8. Introdução ao Velho Testamento. 9. Os Fundamentos da Fé que de uma vez para sempre foi confiada aos santos.

& Outras Obras “ O Jovem Cristão” ou “ Um bom soldado de Jesus Cristo” “ Onde está o Senhor, o Deus de Elias” ? “ Certezas. . . para vós uma pista segura”. . " Filhinhos, escrevo-vos”. Pequena meditação para cada dia do mês. Pentecostismo ou Cristianismo f

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FR E FÁ C IO

Recomendamos a todo o estudante do Caderno de Cultura Bíblica N.° 5, o estudo do Caderno N.° 1, Introdução à leitura do N ovo Tes­ tamento, bem como os Cadernos Nos. 2, 3 e 4, os Evangelhos segundo Mateus, Marcos e Lucas. Cada um dos quatro Evangelhos tem a sua mensagem respectiva, inspirada do alto. Quis Deus que a vida de Seu Filho nos fôsse revelada por êsses quadros tão diversos, mas que se completam admiràvelmente. Revelando a divindade de Jesus Cristo, composto quase que exclu­ sivamente de palavras ditas pela Sua bôca, o Evangelho segundo João é o mais solene de todos. É também, de qerto modo, o mais triste, pois êle evidencia o contraste existente entre o amor perfeito do Filho de Deus manifestado em carne para expiar o pecado do mundo, e a incre­ dulidade dos homens, seu endurecimento progressivo, a ingratidão e a auto-justiça que caracterizam o coração humano. Neste Evangelho encontram-se as palavras que definem o estado de espirito que convém a todo aquele que deseja estudar a Bíblia para nela encontrar o Salvador: " Respondeu-lhes Jesus: A Minha doutrina não ê Minha, mas dAquele que M e enviou. S e alguém quiser faser a vontade de Deus, há de saber se a doutrina é dÊle, ou se Eu falo por M im m esm o”, João 7:17. “Se vós permanecerdes na Minha Palavra, verdadeiramente sois M eus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, João 8:31,32.

C O N SE L H O S P A R A O V O SSO E ST U D O O método usado nos Cadernos de Cultura Bíblica mantém o estu­ dante no próprio terreno da Palavra divina, descobrindo-lhe o que a Bíblia diz da Bíblia. O estudante deve possuir uma Bíblia com referências. Cada tra ­ dução da Bíblia tem as suas qualidades, e consultá-las-á sempre com proveito aquêle que as estudar. Os textos bíblicos indicados nos Cadernos, de Cultura Bíblica devem ser lidos cuidadosamente e meditados. Seu alvo é conduzir o estudante a um estudo pessoal da Palavra de Deus. O autor tomou

O Evangelho segundo João

i a tarefa de indicar tôdas as passagens de outros livros da Bíblia possam iluminar o texto sagrado do Evangelho' segundo João, as trinas que exprime, as questões que levanta. É por isso que, para :gurar ao estudante todo o benefício espiritual de seu estudo, a leii dessas referências é indispensável. Êsse sistema de referências é prio do autor dos Cadernos de Cultura Bíblica. A s margens são para apontar outras referências e notas relacioas com o assunto estudado; assim, o estudante conseguirá, pouco ouco, form ar o seu próprio sistema de referências. O mesmo se :ende com as páginas em branco. Tendo como tema um livro da Bíblia, os Cadernos de Cultura lica contêm notas dando testemunho do conjunto das Escrituras re o assunto tratado, assim como a sua aplicação prática.

Abreviaturas f

Cp. = Caderno de Cultura Bíblica C . C. B . == Comparai- com Lit. = Tradução literal

O EV A N G ELH O SEG UNDO JOÃO 1.

1.

IN T R O D U Ç Ã O

A Revelação Divina

“Então lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escri­ turas” , Lucas 24:45. É de propósito que êsse ato do Senhor para com Seus discípulos está mencionado no fim do Evangelho segundo L u cas; porque, sem esta experiência, como poderíamos entregarmo-nos com proveito à leitura do Evangelho segundo João, que revela, desde a primeira página, a Palavra encarnada como sendo inseparável da Palavra escrita ? Somente Jesus Cristo podia e pode ainda abrir o espírito privado de luz dos discípulos”, néscios e tardos de coração para crerem ” , Lucas 24:25. e assim abrir-lhes as Escrituras — o que significa literalmente “ tirar um véu”, e permitir, dêsse modo, ver o que está ,atrás, numa palavra: dar revelação! , . No tem plo de Jerusalém , teria sido impossíível ra sg ar o véu de alto a baixo, Mateus 27:51, em prim eiro lugar por causa de sua altura, depois por causa de sua espessura; e, em terceiro lugar, ninguém se atreveria-a fazê-lo dada a sua importância e significado solene. Somente a mão de Deus pôde rasgá-lo, quando a expiação de nossos pecados foi cumprida por nosso Salvador. Do mesmo modo, ninguém pode rasgar o véu que encobre o próprio entendimento. N in­ guém pode abrir o nosso espírito ou a nossa compreensão das coisas espirituais a não ser Deus, Êle próprio. E isso se opera unicamente pelo novo nascim ento e'd o m do espírito de revelação, João 3:1— 13; E fésios 1 :17. T ô d a a ciência hum ana é estudada pelos m eios hum anos de que dispõe o hom em ; o resultado depende de seu trabalho, e ca­ pacidade. MAS O E ST U D O D A S S A N T A S E SC R IT U R A S É U M A CIÊNCIA DIVIN A.; O H O M EM SE CH EG A ÀS COI­ SAS E S P IR IT U A IS Q U E S ó P O D E M SER D IS C E R N ID A S E S P IR IT U A L M E N T E . L er 1 Corintios 2: 7— 15.

O Evangelho segundo João

O prim eiro e tam bém um dos m aiores erros do hom em consis­ te em chegar-se à B íblia còm os próprios m eios de estudo, sem a a ju d a d A quele que é o único a d a r'rev e laçã o . É-lhe então im ­ possível atin g ir o u tro resu ltad o senão, com o o sabem os, o da crí­ tica bíblica que conduz à gran d e apostasia da fé. M as o P ai celestial “ q u is”, Lucas 10:21, revelar essas coisas aos “ p equeninos”, aos que com preendem sua v erdadeira posição diante dÊle e recebem as g raças que lhes são oferecidas p a ra com ­ preen d er a P alav ra de D eus. P a ra todo aquêle que preenche essas condições, a B íblia se abre como um a m ina de tesouros inexgotáves, de “ riquezas incom preensíveis”, E fésios 3:8, cujo p ró ­ p rio c a ráter prova sua origem . “ Compreender as Escrituras” é, portan to , uma ciência que se adquire por um dom da graça de Deus. É indispensável ao crente com preender, que entra num domínio espiritual, onde imperam as leis espirituais próprias aos documentos da revelação; que nêle penetra, sabendo que seus recursos próprios são insuficientes, mas infinitos aqueles que lhe são oferecidos pelo Senhor. Percebendo êsses dois fatos, êle descobrirá uma m aravilha após outra; a cada revelação su­ cederá outra revelação; uma verdade o conduzirá a outra, como um dia ao dia seguinte. Aquêle que quer estudar a Bíblia com proveito deve saber que tem à frente um Livro que é a expressão exata do infinito: os pensamen­ tos de Deus para com os homens, um texto Cujas palavras originais foram inspiradas aos escritores sacros, 2 Tim óteo 3:15, 16; 1 Corintios 2:13. jfc

>K

*

U m a com preensão ju sta dos q u atro E vangelhos depende, fo r­ çosam ente, do discernim ento do ca ráter especial de cada um dêles. É preciso considerar de que modo se com pletam e com preender, em seguida, a relação ín tim a e desejada existente en tre êles e tu d o o que foi an terio rm en te inspirado aos autores da B íb lia : as E sc ritu ra s S agradas do V elho T estam ento. A êsse respeito, um a só declaração do N ovo T estam e n to é su fic ie n te : “ H avendo D eus antigamente falado muitas vêzes, e de m uitas maneiras aos pais, pelos profetas, nestes últim os dias a n ós falou pelo F ilh o”, lit: “ Como Filho". Hebreus 1:1,2 D eus fa­ lou an tig am ente a nossos pais pelos profetas, e acentua que o fêz " m u ita s v êzes”, lit; “ em tem pos div erso s” e de “ m uitas m anei­ r a s ” . A d aptou Seu m odo de falar aos hom ens à dispensação n a qual viviam . Seu m odo de revelar-Se nunca é uniform e, n u n ca é

A revelação divina

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m onótono, m as sim infinitam ente variado. T odavia é sem pre Êle a m esm a fonte divina, a m esm a inspiração, a m esm a sabedoria, em ­ b o ra a revelação que dá de Si m esm o seja progressiva. À porta de entrada da Bíblia, encontram-se, portanto, estas três p alav ras: "D eus tem falado”. Êle pede ao homem que o reconheça. A Bíblia é a Palavra de Deus. O incrédulo nela quer penetrar para dizer o que pensa dela, para julgá-la; dêste modo inverte a ordem •estabelecida por Deus, já que é a Bíblia que o deve julgar dizendolhe o que Deus pensa dêle. H á uma lei na base de tôda a ciência divina, uma lei que é ne­ cessário afirm ar hoje, tanto mais que os homens estão cumprindo pre­ sentemente o que foi predito da apostasia da fé e que recusam crer n a in spiração divina das S agradas E scritu ra s, 2 Tim óteo 4:3,4. E s ta lei diz respeito ta n to á inspiração to ta l das Sagradas' E sc ri­ tu ra s qu an to à encarnação, D eus m anifestado em carne, à expia-ção pelo sangue, à ressurreição corporal do Senhor Jesus, à Sua p resen ça atu al na glória, à Sua v o lta próxim a à te rra com o Juiz e Rei, p ara selar êsses aneis dum a m esm a corrente de m anifes­ tações divinas. E sta lei, pela qual a fé honra a D eus e D eus h o n ra a fé, resum e-se n as palavras s e g u in te s : “ Para D eus tudo é p ossível”, Marcos 10:27; cp. Lucas 1:37; 18:27. O u D eus não existe de m odo algum , como o pretende o ateu, apesar das mil provas contrárias, ou Deus existe, e, por conseguinte, Êle falou e tôdas as coisas L he são possíveis. É necessário afirm ar -estas leis elementares da verdade em nossos tempos de

“D epois disto partiu Jesus para a outra banda do mar da Ga­ liléia, também chamado de Tiberiíades. E seguia-o uma grande multidão, porque via os sinais que operava sôbre os enfermos. Subiu, pois, Jesus ao .monte, e sentou-Se ali com Seus discípulos. Ora, estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus”, v. 1— 4. U m a gran d e m ultidão' segue-O , sem distinguir, porém , as pró­ prias necessidades espirituais. O s m ilagres m essiânicos de Jesus tin h am por escopo cum prir as E scritu ras, M ateus; 5:17; 11:4,5; Isaias 29:17— 24; 35:1— 10; 41:17— 20; 43:1— 13; 61:1— 3, mas êles não haviam produzido a convicção de pecado necessária para criar o desejo de receber a graça salvadora do Filho de Deus. É preciso que o coração aceite a verdade, que a consciência seja desperta, para ■que um a obra verdadeira de salvação possa ser operada num co­ ração, João 16:13; E fésios 1:13. O pecado endurece o coração, adorm ece e cega a con sciên cia; som ente a verdade aceita abre o ser, perm itindo-lhe receber a graça de D eus. “ Ora, estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus”, v. 4. Qu.e deslocam ento! Q ue decaim ento! . . . A festa, esta lem brança sa­ g rad a, estav a próxim a, e o C ordeiro estava ali, m enosprezado, re­ jeitado. Como no Cap. 5:1, esta festa do Senhor, L evítico 2 3 :5, tinha-se to rn ad o apenas um a “ festa dos ju d e u s” ! (30)

Os galileus eram desprezados pelos judeus da Judéia, Marcos

14:70; Lucas 13:1,2; 22:59; 23:6; João 1:46; 7:41,52; Atos 2:7.. E é principalmente entre êles que Jesus opera Suas obras de graça.

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O Evangelho segundo João

2.

O sinal da multiplicalção dos pães, v. 5-13 v

Ler Mateus 14:13-21; Marcos 6:30-44; Lucas 9 :10-17

E s ta n arração com pleta a dos três dem ais E vangelhos. E la realça o Senhor, Suas palavras e atos, m as silencia certos aspectos da situação que M ateus, M arcos e Lucas poem em evidência. N ão re la ta : o hom icídio de João B a tis ta ; a volta dos apóstolos de sua m issão em favor da casa de Isra e l; o apêlo feito por seu M estre p a ra que venham à p a rte ; Sua p artid a num b arco ; o pedido dos doze que desejam vê-lO despedir a m ultidão que O segue. O Se­ n h o r só preenche a cena e opera em graça p ara com a m ultidão su­ perficial que, sob a influência de seus condutores, O rejeita. Se­ gue-O , m as só por curiosidade e interêsse. ( 31) O que ocorre u ltra p a ssa m uito a com preensão e a capacidade dos doze que, não obstante, foram escolhidos por Jesus após um a noite de oração, Lucas 6:12— 16. M as Jesus perm ite essa situ a ­ ção a fim de p ro v ar não sòm ente que, “ a carne de nada se rv e ” , m esm o n um apóstolo, v. 63, m as ainda que tôda a g raça vem dÊle e que p ara Êle, sòm ente p ara Êle, tôdas as coisas são possíveis. T odavia, o S enhor cham a a Filipe p ara prová-lo, v. 5,6. F ô ra a êste discípulo, cheio de zêlo p ara traz er-L h e alm as, 1 :45; 12:22, que o Senhor rev elara Sua onisciência, 1 :47— 50; e tam bém aqui, “ Êle sabia o que ia fa z e r”, 6:6. M as Filipe não tinha ainda m u ita com preensão esp iritu al; no Cap. 14:9, Jesu s assim censura-o: “ H á ta n to tem po que E u estou convosco, e ainda não Me conheces, F ilip e? “ Aqui, o Senhor põe-no à prova fazendo-lhe um a p erg u n ­ ta, v. 5, e Filipe, em lu g ar de lem brar-se da onipotência do divi­ no M estre, entrega-se a um cálculo, um a estim ação difícil, v. 7. Ao cabo de tudo, apenas pode propor meios hum anos, m uito in ­ feriores às necessidades que se m anifestam . Êle devia ap ren d er que só D eus pode ser suficiente. O discípulo não conhece a ple­ n itu d e dos recursos de D èus, enquanto não com preende e não con­ fessa a p ró p ria insuficiência. C om parai Lucas 5:5,6 e João 21:5,6. (31) O contraste entre as narrações de Marcos e de João realça a beleza da última. Enquanto Marcos é inspirado a mostrar os discípulos cercando seu Mestre, a sua incompreensão e incredulidade e a paciência de Jesus para com êlês, o desígnio de João é magnificar o Filho operando em graça, anunciando a verdade e preenchendo a cena tôda com Sua glória divina. Enquanto os três primeiros evangelistas fazem ouvir por duas vêzes a voz do céu que diz: “Tu és o Meti Filho amado; em Ti Me comprazo”, João coloca seus leitores em face de Sua Pessoa divina. Obriga-os a ouvi-lO e a Lhe ab,rir o coração, ou, quando não, a fechar-lhO!

A multiplicação dos pães

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E m seguida é A ndré, irm ão de Sim ão P edro, 1 :40,42, qu e tra z a Jesu s “ um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos” , v. 9. A resp o sta de F ilipe apenas indica possibilidades hum anas in ex isten tes —■ duzentos denários que não possui — m as a res­ p o sta de A n d ré m enciona o que é disponível. P o r m uito insufi­ cientes que sejam os cinco pães e os dois peixinhos do rapaz, tr a ­ zendo-os ao Senhor, êle os en tre g a À quele que tu d o pode, que sabe tira r do n ad a a abundância, cham ar o que não é, como se fôsse, e criar, quer dizer fazer algo, sem n ad a te r em m ãos, pois é preciso que D eus receba p o r isso tôda a glória. E de fato, o S en h o r teve tô d a a glória n ésta cena adm irável. Com o sem pre, glorificou-Se n a escolha das coisas fracas e desprezíveis 1 Corín­ tios 1 :27,28. V am os tra z e r ao S enhor aquilo que tem os, por m uito insufi­ ciente que nos pareça. Êle olha p ara o coração e opera o m ila­ gre. Ê le tem tô d a a glória, e nós tôda a a le g r ia .. . P o r falar nos duzentos d en á rio s. . . há m uitos que nisso tropeçam , e m an­ dam em bora a m u ltidão porque, no fundo do coração, tem em fa ­ zer esta despeza — a questão m aterial sendo o seu prim eiro e ú ltim o pen sam en to ! E ignoram os recursos de Jesu s C risto, com o ig n o ram a vida e o poder da fé. 1 N ad a se conta dos dem ais discípulos; m as os três prim eiros E van gelh o s m encionam sua a titu d e : incredulidade, fa lta de coração e de com paixão p a ra com a m ultidão. O nde está P ed ro ? T em os o d ireito de fazer esta p erg u n ta ! E João, o discípulo am ado? Ê ste q uadro é v erdadeiram ente próprio a inspirar-nos os únicos sen tim en to s que sem pre deveríam os te r: no que nos diz respeito, desconfiança e h u m ilhação; e, no que concerne ao S en h o r: con­ fiança ab so lu ta e am or perfeito. M as êsse “ sin al” que Jesu s dá à m ultidão da Galiléia era p re­ visto pelas E sc ritu ra s p a ra p ro v ar S ua m isericórdia operante e sem reserv a a favor dos “ in d ig en tes” de Seu povo, Salmo 132:15. À co rren te de Seu am or não pode ser esgotada nem desviada pela in credulidade dos condutores cegos de I s r a e l: fye d erram a a p le­ n itu d e de Seu am or sôbre essa m ultidão esfom eada. Com eça p o r " d a r g ra ç a s” , fato que a narração v o lta a m encionar, v. 11,23 pois o espírito de louvor enchia-O , Mateus 11:25, Lucas 10:21; João 11:41; M ateus 15:36; Marcos 8:6,7; Mateus 26:26,27; Marcos 14; 22,23; Lucas 22:17,19; 24:30, Salmo 132. Q uando tu d o está acabado, quando todos estão “ saciad o s” , Je su s dá .ordem aos discípulos para recolherem os pedaços que sobram a fim de que nada se perca. E p a ra que cada um dos doze apren d a a lição, cada um v o lta a tra z e r sua cesta cheia do pão que sobrava. ' J ] í1 H 11 1

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3.

O Evangelho segundo João

A s conseqüências do quarto sinal: a multidão quer levar Jesus à fôrça para fazê-lO rei, v. 14-15.

“ Vendo, pois, aqueles homens o sinal que Jesus operava, di­ ziam : “Ê ste é verdadeiramente o Profeta que havia de vir ao mun­ do. Percebendo, pois, Jesus que estavam prestes a vir e levá-10 à fôrça para O fazerem rei, tornou a retirar-Se para o monte, Êle sozinho”, v. 14,15. ' U m pensam ento apodera-se da m ultidão, superficialm ente im ­ pressio n ada pelo milag-re da m ultiplicação dos p ã e s : o de levar à fôrça Jesu s “ p a ra O fazerem R e i” . Jesus esquiva-Se. M as por m uito cego que seja o povo no sentido divino do m inistério do S enhor, seu gesto m o stra o conhecim ento das E scritu ra s. P o r êsse q u arto sinal, o povo com preendeu que Jesu s é “ V erdadeiram ente o Profeta que havia de ver", cp. 7:40; D euteronôm io 18:15. É verdade que os Salm os e os profetas anunciam a vinda do M essias, Seu reino e m orada de onde, à hora escolhida por D eus, exercerá os efeitos benditos de Sua onipotência sôbre o m undo. M as o povo ignorava que nenhum homem podia “ F azê-lO R e i” , pois Êle é Rei por direito divino, D eu s m esm o O ungiu Rei, Sal­ mo 2:4—9. Êle “ nasceu Rei do§ ju d e u s” , M ateus 2:2. O povo não tin h a com preendido que as condições necessárias à m anifestação de Seu reino ainda não existiam . O Rei ali esta­ va, m as desprezado e rejeitado. Jerusalém , sede de Sua realeza, estav a em m ãos das nações pagãs, com o ainda se acha p re sen te­ m ente, Lucas 21:24; Zacarias 12:2,3. Q uando chegar o dia esco­ lhido p o r D eus, não serão, tam pouco os hom ens que hão de fazê-10 Rei, m as Êle é Q uem lhes im porá Seu reino de ju stiç a e de paz, de verdade e de bondade, Apocalipse 12; Salmo 75 e 85: 10— 14. “ F aze r Jesus R e i” , frase que ouvim os freqüentem ente ■em nossos dias, revela m u ita igonrância — tan to no que diz respei­ to ao S enhor com o no que concerne aos desígnios de D eus p ara com os hom ens. A s pessoas que viram o m ilagre, além de adiantarem -se à ho ra de D eus queriam ainda p ô r Jesu s sôbre Seu trono sem se terem arrependido e sem terem confessado o seu pecado. O utrossim, o san g u e-ex p iató rio não fôra v-ertido. Do -mesmo -modo que a salvação e a santificação do crente, Seu glorioso reino vindouro, que é a conseqüência de Seu triu n fo sôbre o inim igo na cruz, se baseia na obra expiatória do F ilho de D eus. O C ordeiro que foi

A tempestade acalmada

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im o la d o ... é Êle que está sôbre o trono, Isaías 45:23; A tos 2:36; 17:30; Apocalipse 5:5y-14; 6:1, 14— 17. ' E m nosSos dias, do m esm o m odo, é gran d e a confusão re in a n ­ te em tô rn o dêsse tem a glorioso: seja quando espiritualizam as de­ clarações dos profetas, negando assim o sentido literal da segunda -vinda de Jesu s C risto, seja quando pretendem que são os próprios hom ens e a cristan d ad e que in tro d u zirão êste reino de p a z . . . co­ mo se fôsse possível ao reino dos céus em anar do reino das tr e v a s ! D esde a época de C onstantino, não faltaratn hom ens que, por suas p ró p rias mãos, quisessem im por aos seus sem elhantes um cristianism o fo rm alista e superficial. E s tá aí a h istó ria para p ro ­ v ar que êsses esforços, em com pleta contradição com o plano de D eus, deram com o resu ltad o a confusão e as p erseg u içõ es; e, além disso, p ro d u ziram tôda a sorte de im itações do cristianism o bíbli­ co o qual, todavia, subsiste em sua sim plicidade, com suas aflições, seu opróbrio e a continuidade dos sofrim entos e dò poder q u e ca­ racterizam seu comêço. , E n tre ta n to , fugindo ao desejo da m ultidão, o S enhor conde­ nou de an tem ão o sinédrio que O acusou peran te P ilato s de que­ re r fazer-Se Rei, Lucas 23:3; João 18:33— 34.

4.

O sinal da tempestade acalmada, v. 16-21. I*er Mateus 14:22-34; Márcos 6:45-52

Jesu s co n strange os discípulos a subirem a um barco e passar an tes dÊle p ara o o u tro lado do m ar, enq u an to despede a m ulti­ dão ; depois retira-S e sozinho ao m onte p ara orar à parte, M ateus 14:22,23. E n tre ta n to , os discípulos estão am eaçados pela tem pes­ tade, d u ra n te a noite. Ê ste sinal é u m a ilustração da dispensação presente. D esde a ascensãço, Jesu s C risto está sentado à d ireita da M a­ jestad e divina, como Sum o Sacerdote, E fésios 1:17— 21; Hebreus 1 :3, orando, não pelo m undo, m as pelos Seus que fielm ente O se­ guem tendo co n tra si, no seio da escuridão presente, a contínua am eaça dos v entos e das vagas. A presença do S enhor na glória não g a ra n te apenas a salvação e a p erseverança dos Seus, m as in s­ pira-lhes tam bém o serviço e o testem unho, João 14:22; 17:6— 26. Ê les rem avam com esforço na tem pestade, havia m uito tem po, q u ando “ viram Jesus que vinha andando sôbre o mar e aproxi­ mando-Se do barco: E ficaram atemorizados. M as Jesus lhes

114

O Evangelho segundo João

disse: Sou E u; não tem ais!” v. 19,20. E ra o fim de suas angús­ tias e perigos.' Êle chegara com o S enhor dos elem entos, com o Se­ n h o r dos S e u s .. . e “ L ogo o barco chegou à terra para onde iam ”, v . 21. A ssim se rá ; a vinda do S enhor p ara os Seus é sua espe­ ra n ça incorruptível, e nessa espera êles consagram a vida ao ser­ viço do D eus vivo e verdadeiro, em meio aos ventos co n trário s, 1 Tessalonicenses 1 :9 ,10.

5. A s conseqüências do quinto sinal: as perguntas da multidão, v. 22-31. O s m ovim entos da m ultidão, tais como se acham consignados nos v. 22 a 24, m o stram que era levada não sòm ente pela curiosi­ dade, v. 1,2, pela superficialidade, v. 14,15, m as tam bém pela in­ credulidade. a)

A primeira pergunta

T endo encontrado ao Senhor, “ Perguntaram-Lhe: Rabi, quan­ do chegaste aqui?” v. 25, porque não acharam explicação de Sua presen ça em ta l lugar. T in h am sido testem u n h as de Seu p o d er m ilagroso quando m ultiplicara o pão saído de Suas m ã o s. . . Mas A quêle que age dêste m odo, cujo poder u ltra p a ssa todo o entendi­ m ento hum ano, que podia an d ar sôbre as águas, não podia a n d a r d a r com liberdade? M uito m ais, Êle já tin h a revelado ser o O nipre­ sente, 1 :48 e 3:13, a Q uem tu d o é possível! A m ultidão estav a m ais in trig ad a a respeito do m odo pelo qual o Senhor tin h a che­ gad o ali do que pela Sua Pessoa. E s ta v a m ais preocupada com u m a v an tagem m aterial do que em conhecê-10 e receber a vida etern a. 1 M as, com o sem pre, Sua presença obriga tudo o que é p ró p rio ao coração do hom em a m anifestar-se, 2:23— 25. Ê ste capítulo, que revela de m odo todo especial a P alav ra encarnada vinda en­ tre os hom ens, desnuda o que m ais fundo está em seu ser. Je s u s n ão n ecessitava de que se L he dissesse o q u er que fôsse a re s­ peito da m ultidão. “ Em verdade, em verdade vos digo que Me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque com estes do pão e vos saciastes’% v. 26. ‘ ' A curiosidade do povo provocada por Seus m ilagres era acom ­ p an h a d a dum espírito interesseiro e profano, que p u n h a o que é

A s perguntas da multidão

115

p assag eiro no lu g ar do que é eterno. O hom em é sem pre assim . É in sen sato n eg a r o poder de Jesus C risto ou as inestim áveis beneficiências de S ua m issão ; R ebaixam -nO , porém , ao grau de sim ­ ples ben feito r do qual se tem v an tag e n s m ateriais. Ignora-se v o lu n tàriam en te Sua d iv in d a d e 'e não se faz alusão ao pecado e su a s conseqüências p ara o hom em [! (32) “ T rab alh ai, n ão pela com ida que perece, m as pela com ida que perm anece p a ra a vida eterna, a qual o F ilho do H om em vos d a­ r á ; pois neste, D eus, o P ai, im prim iu o Seu sêlo ”, v. 27. E ssa g en te sabia que seu p rofeta d issera: “ O vós, todos os q u e tendes sêde, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, com prai e com ei; sim , vinde e com prai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. (Por que g astais o dinheiro naquilo que não é p ão? e o p ro d u to de vosso trab alh o naquilo que não pode sa­ tisfazer? O uvi-M e aten tam en te, e com ei o que é bom, e a vossa a lm a se deleite com a g o r d u r a .. . D eixe o ím pio o seu cam inho, e o hom em m aligno os seus pensam entos, e se converta ao S enhor, q u e Se com padecerá d êle; torne para o nosso D eus, porque g ra n ­ dioso é em p e rd o a r” , Isa ía s 5 5 :1 ,2 ,7 . M as êles não queriam con­ fe ssa r sua m alignidade nem to m ar o seu lu g a r entre os iníquos a q u em fala o profeta. V b)

A segunda p e rg u n ta

,

“ P erg u n taram -L h e, p o is: Q ue havem os de fazer, para p ra ti­ carm o s as o b ras de D eus? Jesu s lhes resp o n d eu : A obra de D eus 4 e s t a : Q ue creiais nA quele que Ê le e n v io u ", v. 28, 29. Ê ste é o êrro secular do hom em , desde Caim até à consum ação d o s te m p o s :- Querer fazer algo para ser salvo! Êle sabe que há um Deus, sabe que deve pôr-se em ordem mais dia menos dia com Êle, - mas não quer confessar-se pecador culpado, sem merecimento e sem (32) Eis o princípio daquilo que se chama o Evangelho Social. Êle corres­ ponde, numa certa medida à curiosidade superficial da multidão, e mantém os ho­ mens em seu estado de pecado e aviltamento perante Deus. Êle acalma a consciên­ cia, mas deixa o coração vazio, nega o verdadeiro alvo da vinda de Jesus Cristo ao mundo; salvar os pecadores pelo Seu sangue expiatório e Sua ressurreição dentre os mortosi em vista da justificação- e da transformação de todo o homem que crê. Os que pregam êste Evangelho transtornam a ordem de Deus. Quando ■o Evangelho de Sua graça é pregado com fidelidade e poder e que os homens crêem e obedecem, o Espírito Santo transforma as vidas, Deus responde às preces e concede tôdas as bênçãos que seguem a aceitação da salvação. Os cegos condutores de cegos deverão dar contas da sua falsificação da mensagem de Deus.

116

O E van gelh o segundo João

esperança perante Deus. Enquanto o homem trabalhar para adquirir os favores de Deus, a graça de Deus será inoperante. Os esforços do homem para obter a salvação tornam nula e vã a obra redentora de Cristo. , ' O do utor da lei de Lucas 10:25, cletivera-se ali; ao contrário, o carcereiro de F ilipos com preendera o cam inho da salvação!: " . . . saltou dentro da prisão e, todo trêmulo, se prostrou antes Silas, e, tirandd-os para fora, disse: Senhores, que me é necessário fazer para me salvar? Responderam êles: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tu a c a s a .. . e alegrou-se m uito com tôda a sua casa, por te r crido em D eu s.” Atos, 16:30— 31,34. A obra de C risto é in teiram en ­ te suficiente e p erfeita; nada, absolu tam ente nada m ais pode ser suficiente p ara a ju stiç a de D eus e as necessidades do hom em . “ O ra, nós sabem os que tudo o que a lei diz, aos que estão de­ baixo da lei o diz, para que se cale tôda a bôca e todo o m undo fique su jeito ao juízo de D e u s; p orquanto pelas obras da lei ne­ nhum hom em será justificado diante d Ê le; pois o que vem. pela lei é o claro conhecim ento do pecado. M as agora, sem lei, tem -se m anifestado a ju stiç a de D eus, que é atesta d a pela lei e pelos p ro ­ fetas, isto é, a ju stiç a de D eus pela fé em Jesus C risto p ara to ­ dos os que crêem ” , Romanos 3:19—22. c)

A terceira e quarta perguntas

“ Que fazes Tu, pois, como sinal, para que o vejamos e Te creiamos? Que operas Tu? N ossos pais comeram o maná nç> deserto, como está escrito: Do céu deu-lhes pão a com er”, v. 30,31. A su a incredulidade e falta de reconhecim ento não podem ser m aiores. O sinal que o Senhor acabava de m o strar m ultiplicando os cinco pães, e os dois peixes não era apenas uma. resposta às suas necessidades, m as ainda um a dem onstração de Sua com paixão, com o no-lo dizem as o u tras n arraç õ es: C om parai M ateus 14:14 e Marcos 6:34. E ag o ra confessam não te r crido p ara serem salvos, e pedem um m ilagre! (33) A P alav ra de D eus adverte fielm ente do perigo de b asear a fé sôbre o u tra coisa que não a rocha da revelação d iv in a : as E s ­ critu ra s S agradas que revelam o S alvador divino e Sua obra re ­ dentora, perfeita e plenam ente suficiente. É certo que a vinda do Messiçis- devia tra z e r o livram ento do jugo odiado dos rom anos e asse g u rar aos judeus outros favores m ateriais, e essa esperança

____ ___ ______

'

(33) A procura do que é milagroso não sòmente provém dum espírito que nunca está satisfeito, mas ainda expõe aquêle que a ela se entrega aos espíritos' sedutores que vieram ao mundo, 1 João 4:1 e João 5:14; pág. 93. ’

O Pão da vida

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in spirava a a titu d e da m ultidão e até m esm o a dos discípulos. Cp. L ucas 24:21; A to s 1 :6. M as a convicção de pecado que leva ao arrependim ento p a­ rece to talm en te b anida de seus pensam entos. O m esm o perigo existe h o je: os hom ens fo rjam um “ C risto ” que responde à sua vaidade e que de m odo algum incom oda seu estado de pecado e de falência p eran te D eus. O apóstolo P au lo adverte os crentes dêsse perig o sem pre â tu a l: “ P orque, se alguém vem vos preg ar outro Jesus diferente do que nós temos pregado, ou se recebeis outro espírito que antes não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes. de boa m ente o su p o rta is!”, 2 C oríntios 11:4. O s resu ltad o s dêsse estado de espírito acham -se descritos no fim do m esm o capítulo, v. 60— 66. Os ap ó statas de todos os tem ­ pos tropeçam n a P e sso a divina do F ilho de D eus ta l com o O re ­ velam as E scrituras; e a Palavra escrita e a Palavra encarnada são um todo. Deixem-se avisar os cristãos! É tanto mais necessário ainda pelo fato de haver m uito tem po que êsse “ m istério de ini­ q ü id ad e” age na cristandade p ara chegar à m anifestação do “ filho da p erd ição ” , lede 2 Tessalonicenses 2:1— 12; 2 Tim óteo 2:16— 19; 3:1— 9; 4:1— 5.

6.

A revelação do Pão da vida, e suas conseqüências, v. 32-59. (1)

Jesus, o Pão do céu, v. 32-40.

“ Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: rião foi M oisés que vos deu o pão do céu; mas Meu Pai vos dá o verdadeiro Pão do céu. Porque o Pão de D eus é Aquêle que desce do céu e dá vida ao m undo”, v. 32, 33. Cegos ao ponto de não distin g u ir o poder m ilagroso do S enhor n a m ultiplicação do p ã o ! Cegos ao ponto de não com preender que o Salmo 132 tiv era êsse cum prim ento! O s judeus agora com ­ param esta dem onstração viva do poder do F ilho de D eus com aquilo que dizem as E sc ritu ra s do m aná, Ê xodo 16:1— 36, m as em d etrim en to do. m ilagre que acaba de ser f e ito ! Jesu s lhes d issera que M oisés havia escrito a Seu respeito, 5:45— 47, e agora, diante da prova indiscutível de Seu poder, êles n ão têm com preensão de Seus ca m in h o s; seus corações não se abrem p ara resp o n der à Sua graça. A aberração dêles é tão g ra n ­ de que pensam que M oisés desculpa a sua incredulidade: gabam -se

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O Evangelho segundo João

comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o Seu sangue, não tendes vida em vós mesmos", v. 53. A quêle que não quer aceitar com adoração e louvor que a P alav ra ten h a sido féita carne em Belém , não pode tam poucoaceitar que no G ólgota a expiação de seus pecados ten h a sido feita pela carne e o sangue precioso do F ilho de Deus. A obra red en ­ to ra de Jesu s C risto é um todo inseparàvelm ente tecido no con­ junto do texto sagrado das Escrituras. , Os m urm úrios e as contendas de então se perpetuam nas n e­ gações de hoje —• essas negações de incrédulos que, em plena cristan d ad e, negam êsses dois grandes fatos fundám entais da fé : “ que de um a vez p ara sem pre foi confiada aos sa n to s” . . . Porém , co m o o faziam naquele tem po, os inim igos do Senhor, êles cum prem in v o lu n tàriam en te as E scritu ra s, 2 Pedro 2:1. H á m ais ajnda nessas p a la v ra s : “ Quem come a minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia. Porque a Minha carne é verdadeira comida, e o Meu sangue é verdadeira bebida”, v. 54 55. Q uem se chega a C risto pela fé aceita-O como sendo o P ã o do céu que lhe dá a vida, e esta vida, inseparável da m orte do S u b stitu to , dá-Se um a vez p a ra sem pre àquele que crê. M as o cristão assim regenerado e resgatado, alim enta-se em seguida d a P esso a de C risto glorificado pela P alav ra que no-10 revela. Assim como o hom em pecador alim enta-se do que pertence aos filhos de A d ã o : ideologias, literatu ras, arte, costum es e modo de viver, de­ senvolvendo-se p o rtan to à sem elhança do que é decaído e e stra ­ nho a D eus, Efésios 2:1,2, assim tam bém aquêle que crê no F ilh o alim enta-se dÊIe, de Sua P alav ra e do que L he diz respeito, Colossenses 3:1— 4,16; 1 Pedro 1:22—2:3. O crescim ento da vida divina dada pelo novo nascim ento, 3:1— 21, é assegurado pelo ali­ m ento divino da P a la v ra ; e o poder dessa vida etern a assegura a ressu rreição no últim o dia. homem capaz de assimilar a Palavra de Deus, Salmos 1; 34:3, 4; Jeremias^ 15:16; 1 Pedro 2:2, 3; Apocalipse 10:9, 10.

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O Evangelho segundo João

“ Quem come a Minha carne bebe o Meu sangue permanece «em Mim e Eu nêle", v. 56. J á no capítulo 1 :38, 39, o Senhor convidara os que O seguiam a. v er onde m orava, sem m ais precisão. A gora, A quêle “ que não te m onde reclinar a cabeça” , Lucas 9:58, revela um segrêdo ben­ d ito : alim entar-se de Sua P essoa conduz a essa vida de com unhão c o m o P ai e o F ilho m encionada por 1 João 1 :3, 4. Os que a co­ nhecem provam , de fato, “ a perfeita ale g ria ” ! É assim que Jesu s p re p a ra Seus discípulos p ara aquilo que revelará no capítulo 15; m as a com unhão com D eus não existe separada do gran d e fato" «da expiação na cruz. . Qual não é o poder da Palavra do Senhor que expõe tais verda­ des, sim, os oráculos de Deus, na sinagoga, em Cafarnaum! v. 59. H avem os de ad m irar que essa cidade, onde Êle fizera tan to s m ila­ g res, Lucas 4:23,31—41, tendo recusado tal ensino, ten h a sido a lv o de juízo? (*) .

7.

O efeito das palavras do Senhor em Seus discípulos, v. 60-71. 1.

Vários discípulos se afastam, v. 60—66.

O s v. 60—66 m ostram as conseqüências dêsse trágico m ovi­ m e n to de apostasia já assinalado. E d esta vez, atin g iu “muitos dos Seus discípulos. . . Que disseram : Duro é êsse discurso; quem o pode ouvir”, v. 60. E sta palavra “ d u ro ” encontra-se em A tos 9:5: “ D u ra coisa ■é p ara ti recalcitrar co n tra o a g u ilh ão ” ; m as Saulo não se endu­ receu. E n d u re cer o coração p ara não aceitar que a verdade pene­ tre em si, eis o que fazem os que rejeitam as palavras do F ilho de D eus, nos dias atuais como antigam ente. D eixem os hom ens de resistir-L h e enquanto é tem po ainda, antes de serem selados p a r a sem pre nas trevas com a m arca fatal do A nticristo, sob o ju ízo de tam anho pecado! L er Hebreus 10:26— 31. O fim do capítulo é o apogeu dessa revelação da divindade de Jesu s e de Sua o b ra redentora. D iante dela, os hom ens dão p ro v a do que são : não querem v ir a Êle para terem a vida, 5:40. .N ã o querem receber Sua lu z; preferem as trevas, .1:5; 3:19; Ma­ te u s 6:23. ' i (*)

Ver C. C. B. N.° 2, O Evangelho segundo Mateus, nota 5, página 18.

O Pão da vida

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A té aqui o S enhor dirigira-Se à m ultidão que sofria p ro g res­ sivam ente a influência nefasta dos chefes de I s r a e l; m as agora, com o conhece o que está no coração de todo o hom em , vira-Se p ara os Seus. “ Mas, sabendo Jesus em Si mesmo que disso murmuravam os Seus discípulos, disse-lhes: Isto vos escandaliza? Que seria, então, se vísseis subir o Filho do Homem para onde primeiro e s ta v a ? ..." v. 61,62. Se o anúncio de Sua m orte expiatória e do alim ento de Si M esm o, que Êle oferece a todos os crentes, escandalizou-os, que será do anúncio de Sua ascensão? E ssas verdades poderosas p er­ tu rb aram -n o s profundam ente. M as p a ra tira r a possibilidade de q u alq u er desculpa de sua incredulidade diante do que Êle acaba de dizer de Sua carne e de Seu sangue, Êle a c re s c e n ta : “ O Espírito é o que vivifica; as palavras que eu vos tenho dito são espíritoe são vida", v. 63. E m re sp o sta aos seus pensam entos ocultos que Êle expõe em plena luz, precisa ainda Seu ensino e com pleta o conjuntoda revelação do alvo divino de Sua vinda. A encarnação tem p or escopo a expiação, já o vim os, m as a expiação necessita de S ua ressu rreição e ascensão na glória. E d esta vez, com o no cap. 3:13, é com o F ilh o do H om em que Êle fala da consum ação deSua obra red en to ra a favor dos hom ens, sim , diante dessa m ul­ tid ão ag itad a pela opinião dos hom ens, ligada por tem or aos seus chefes. N ão é o que Êle falara a N atan ael e depois a N icodem os?' 1:51; 3:13. N ão é o que foi dado às E pístolas revelar-nos dum S alvador divino glorificado, sentado à d ireita da M ajestade divina?" Hebreus 8 :1 ,2 ; Efésios 1:17— 20; 4:8— 12. A fé reconhece o poder esp iritu al e a n atu re za divina dessas p alav ras; e a fé no que disse Jesu s é, no coração de todos os que crêem,' um poder de vida, de salvação e de santificação. (37) “ Mas há entre vós alguns que não crêem. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quem eram os que não criam, e quem era o que O havia de entregar. E continuou: Por isso vos disse que nin­ guém pode vir a Mim, se pelo Pai lhe não fôr concedido”, v. 64, 65. (37) É suficiente confrontar a afirmação do v. 63 com os v. 55 e 56' para que caia um dos argumentos dos que crêem nas transubstanciação. Outra palavra própria para dissipar tôda a dúvida a êsse respeito é a do Senhor: “Fazei isto em memória de Mim” ; se o pão fôsse realmente corpo e o vinho realmente sangue, não mais seria necessário celebrar essa ceia~ em memória do Senhor, pois que uma coisa presente não precisa ser relem­ brada como deve sê-lo, quando ausente.

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O Evangelho segundo João

E ssas palavras são p articu larm en te solenes. Os hom ens p are­ cem esquecer-se de que A quêle que fala aqui, é o M esm o ontem , hoje e eternam ente. N osso Senhor, nosso D eus, 20:28, está ali, na •encruzilhada dos caminhos de cada um e de todos. Sua Pessoa põe em relêvo tôdas as capacidades insuspeitas de dúvidas ,todos os focos de revolta, tôdas as fontes secretas de orgulho, como aqui o faz com Seus discípulos. Sua glória envergonha as ambições, a vaidade dos pensamentos próprios e interesseiros de nossos corações. Sua Palavra, como espada de dois gumes, descobre e denuncia os pensamentos que julgamos sábios e os juízos que nos atrevemos a form ular a Seu respeito. “ Por causa disso muitos dos Seus discípulos se afastaram, e não andavam mais com Ê le”, v. 66. Êle viera p ara conquistar a consciência, dos hom ens e traz erlhes a paz. V iera p ara invadir por Sua graça o coração, ofere­ cendo o perdão e a vida divina a fim de ser um S alvador perfeito e to talm en te suficiente para o p resen te e para o futuro. C ontudo, m esm o Seus discípulos se revoltam contra Suas palavras dem a­ siadam ente “ d u ra s” para seus corações de p e d ra ; deixam de segui10 e afastam -se dÊIe. E o seguim ento da n arração m o stra que, ■com exceção do pequeno rebanho que O seguiu com tim idez até ao fim, os outros g ritara m to d o s: “ Seja crucificado!” A palavra de Simeão cumpre-se: “Êle é pôsto para queda e para levantaryento de muitos em Israel, e para ser alvo cie contradição’1, Lucas 2 :34. Assim também é nos dias de h o je ; possamos nós, com­ preendê-lo! A apostasia da fé é uma realidade ainda que seja tam ­ bém um mistério de iniqüidade, 2 T essalonicenses 2:7. Os hom ens •desprendem -se da verdade divina, negam o sangue que os resg a­ to u ; e ei-los p rontos p ara receberem “ o o u tro ”, 5:43. E, diante •dêsse forte derrocam ento, quantos discípulos seguem -nO de longe, não querendo identificar-se a um tal Salvador. Como D em as, êles O abandonam , “ tendo am ado o m undo p re se n te ” , 2 Tim óteo 4:10. 2.

O efeito das palavras do Senhor sôbre as doze, v. 67— 71.

Com a m esm a dignidade, a m esm a doçura, porém com a m esm a fidelidade e a itiesm a firm eza com respeito à verdade, “pergunta Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos?” v. 67. R etirar-se? P a ra onde? P a ra o nada dêste, m undo, p ara o vazio da sinagoga, para as cisternas rô tas das festas dos judeus, sem D eus, sem esperança?

Os efeitos de Suas palavras

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“ Respondeu-Lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? T u tens as palavras da vida eterna. E nós já cremos e bem sabe­ m os que Tu és o Santo de D e u s”, v. 68, 69. • O que lem os em Mateus 16:13—20 não foi dito n esta ocasião. A o b ra de D eus cum pria-se nos doze, m encionados aqui pela p ri­ m eira vez n este E vangelho, m as de m odo lento por causa do estad o que lhes era peculiar e que é descrito em Marcos 16:14 e Lucas 24:25. A paciência do S enhor er,a sem lim ites. Êle sabia a que tin h am sido destinados pelo P ai quando os cham ara no princípio. L er 1:39,42,43; Lucas 22:30. Os doze sabiam agora que Êle era o M essias, o S an to de D eus. Ê ste títu lo é em pregado duas vêzes por João, aqui e em su a E p ísto la 1 João 2:20. T ra ta -se de Sua divindade reconhecida pelos discípulos e tam bém pelos dem ônios, Marcos 1 :24; Lucas 4:34,41. D e fato, “ os dem ônios crêem e tre m e m ” , Tiago 2:19, m as os hom ens, tornados cegos pela opinião que têm de si mesm o, sob g. influência do espírito de ê r r o .. . negam , disputam , m u rm u ­ ram e . . afastam -se do F ilho de D eus. E ssa é um a das lições dêste capítulo que o E sp ríto Santo quis ensinar-lhes com o tam bém a nós, v. 41, 52, 61, 66. . Jesus termina pronunciando uma das mais terríveis palavras ditas p or Ê le : “ Respondeu-lhes Jesus: Não vos e,scolhi a vós os doze? Contudo um de vós é demônio. Referia-se a Judas, Filho de Simão Iscariotes porque era êle o que O havia de trair, sendo um dos doze”, v .( 70, 71 (38). E is com o êste E vangelho segundo João brilha com luz divina nas trev as p resen tes em que os hom ens desprendem -se da fé, pren ­ dem -se a fábulas e negam , em plena cristandade, o S alvador que os resgatou. É p or isso que, na últim a E pístola do N ovo T e s ta ­ m ento, o E sp írito S anto adverte-nos' nestes tê rm o s : “ A m ados, en q u an to eu em pregava tôda a diligência p ara escrever-vos acêrca da salvação que nos é com um , vi-m e obrigado a vos escrever, exor­ tando-vos a p elejar pela fé que de um a vez para sem pre foi con­ fiada aos santos. P orque se introduziram furtivam ente certos hom ens, que já desde h á m uito estavam destinados p ara êste juízo, hom ens ím pios que convertem em dissolução a g raça de nosso D eus, e negam ao nosso único S oberano e Senhor, Jesu s C risto ” . Judas 3,4. (38) Judas, um dos doze, chamado ao mesmo tempo que os outros, tornou-se “traidor” sabendo-o e querendo-o, Lucas 6:16, ver nota 17, C. C. B. n.° 4, pág. 58. Ler João 12:4-8; cp. Mateus 26:8-16 e João 13:21-30.

SE X T A SEÇÃO Textos bíblicos e anotações

SÉTIM A SEÇÃO Capítulo 7

Jesus, fonte das águas vivas O capítulo 7 divide-se em duas seções principais: 1) Jesu s na G aliléia, dirigindo-Se secretam ente p ara Jerusalém, v. 1— 13. 2) Je su s ensinando no tem plo de Jeru sa lém : a) Sua d o u trin a divina d escobre a ignorância e a arrogância dos judeus, v. 14—24. b) SusE' d o u trin a divina excita a ironia dos hab itan tes de Jerusalém e des­ p e rta a fé da m ultidão, v. 25— 36. c) Sua do u trin a apela parâ aquele que crê, e as conseqüências dêsse apêlo, v. 37— 52.

1.

Jesus na Galiléia, dirigindo-Se secretamente para Jerusalém, v. 1-13.

“ Depois disso andava Jesus pela Galiléia; pois não queria andar pela Judéia, porque os judeus procuravam m atá-lQ ”, v. 1. O Senhor, dependente do P ai em tôdas as coisas, 5:19,20; 6:38; 8:29, recusa satisfazer o desejo dos Seus e v o ltar p ara a Ju d éia. P erc o rre a G aliléia onde ainda se achavam algum as alm as suscetíveis de responder ao apêlo de D eus. L er Lucas 2:35; A tos 10:38. O s hom ens não determ inam os Seus m o v im e n to s; não podem a d ia n ta r de u m a hora o gran d e sacrifício expiatório pelo pecado dos hom ens, a lv o .d e Sua vinda a êste m undo, 12:23— 28. É Êle que n ão q u er ir p a ra a Judéia. N ão quer ceder à pressão do vínculo n a tu ra l que O une aos Seus. N ão quer, nem que seja apenas p o r tim in stan te, nem por quem quer que seja, fu g ir da dependência d a vo n tad e de Seu Pai. “Aquêle que Me enviou está comigo, não M e tem deixado só ; porque faço sem pre o que é do Seu a g ra d o ” , 8:29. 1 Êle acaba de ser rejeitado por diversos discípulos Seus que O abandonaram . E i-10 vo lu n tàriam en te afastado, longe dos olha­

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res e do espírito profano dum m undo que se deixa levar peios seus chefes, para o caminho da crucificação. P a ra nós, do ponto de vista espiritual, Sua atitu d e é um ensino precioso. No que diz respeito às dispensaçÕes, um. S alvador re ­ jeitado, crucificado, ressuscitado e g lorificado é, de fato, invisível aos olhos dos que O crucificaram , m as Sua presença por d en tro do véu é revelàda aos que O seguem no cam inho estreito da re je i­ ção. D epedentes de S ua vontade bendita, conhecem tam bém o opróbrio que é seu privilégio, e Seu apêlo para testem unharem em circunstâncias idênticas de incom preensão e adversidade. A êles é dirigida a m aravilhosa prom essa dos v. 37, 38. Suas vidas estão escondidas com C risto em D eus, e C risto, que é sua vida, m ani­ festa-Se por êles fazendo co rrer fora dêles êsses rios de água viva no m undo. T a l é, em poucas palavras, a m ensagem do capítulo 7. “ Ora, estava próxima a festa dos judeus chamada dos tabernáculos. Disseram -Lhe então, Seus irmãos: Retira-Te daqui e vai para a Judéia, para que também os T eus discípulos vejam as obras que fazes. Porque ninguém faz coisa alguma em oculto, qyando procura ser conhecido. Já que fazes estas coisas, mani­ festa-Te ao mundo. Pois nem Seus irmãos criam nÊle. D isselhes, então, Jesus: Ainda não é chegado o Meu tem po; mas o vosso tempo está sempre presente. O mundo não vos pode odiar; mas êle Me odeia a Mim, porquanto dêle testifico que as suas obras são más. Subi vós à fe sta ; Eu não subo agora a esta festa, porque ainda não se cumpriu o Meu tempo. E, havendo-lhes dito isso, ficou na Galiléia”, v. 2— 9. Os acontecimentos relatados no capítulo 6 se desenrolaram ao aproximar-se a Páscoa. No capítulo 7, é a festa dos Tabernáculos, tran sfo rm ad a tam bém em “ festa dos ju d e u s” . Q uando D eus estabelecera essa festa, Ver Levítico 2 3 :34— 43, ela devia prefig u ra r o tem po em que, após os juízos da grande tribulação terem cum prido sua obra, Isra el seria aju n tad o no país da prom essa a fim de receber os benefícios do D eus de Israel, o Q ual p erm a­ nece fiel às Suas prom essas. S erá então a restauração de tôdas as coisas, quando D eus espalhará Seu E sp írito sôbre tôda carne, Mateus 17:11; A tos 3:21; Colossenses 1:20, no que concerne Seu povo e as prom essas feitas à te rra san ta por M oisés e os pro­ fetas. , Desta feita, são Seus irmãos . que O insultam. Estava escrito : “Tenho-M e tornado como um estranho para com M eus irmãos, e um desconhecido para com os -filhos de Minha mãe. Pois o sêlo da Tua

Jesus na Galiléia

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casa M e devorou, e as afrontas dos que Te afrontam cairam sôbre M im ”, Salm o 6 9 :9 ,10. Como a sua linguagem os denuncia e que advertência ela é para nós: “ Ninguém faz coisa alguma em oculto, quando procura ser conhecido. J á que fazes estas coisas, m anifesta-Te ao m undo!” Quão humano é êsse desejo do coração de ser conhecido, de ser visto, de ser n o ta d o ... L ede Mateus 6:1— 18; Lucas 12:1—3; Filipenses 2: 3,21. Q ue abism o se fo rm a v a - entre Êle e Sua fam ília! Marcos 3:21. N ão apenas a carne p a ra n ad a serve, como ainda n ad a com preende, IWfàteus 12:46— 50. Como p ara o Senhor, é p ara os discípulos de todos os tem p o s: quando os seus m o stram incom ­ preensão, aprendem m elhor a conhecer a com unhão com o P ai celestial. A resp o sta de Jesu s condena-os, v. 6— 9, m as sem convencêlos. Continuam no mesmo caminho, na sua piedade vã, sem vida nem verdade. “O mundo não vos pode odiar; mas êle M e odeia a M im , porquanto dêle testifico que as suas obras são más”, v. 7. Os que se desviam do cam inho estreito, os que se esquivam à rejeição e se deleitam com os louvores dos hom ens, em lu g ar de am ar a obediência 'a D eus, sem pre ignorarão a oposição do m undo que ap reciará a sua “ relig ião ”, participando m esm o de suas festivida­ des! É sem pre seu “ tem p o ” , sua “ h o ra ” , Lucas 22:63,; 1 João 3:1,2. N ão sofrerão ódio algúm , 15:18— 16:4, crítica algum a do m u n d o ; não serão desprezados nem rejeitados. M as é depois, na eternidade, que o fatal engano m anifestará todo o seu pêso, quando será tard e dem ais! “ Pois que aproveita ao hom em ^ga­ n h ar o m undo inteiro, e perder-se, ou prejúdicar-se a si m esm o? P o rq u e quem se envergonhar de M im das M inhas palavras, dêle Se en v erg o n h ará o F ilho do H om em quando vier na Sua glória, e na do P ai e dos santos a n jo s” , Lucas 9:25,26. Se ò S enhor nos deixa a liderdade de escolher o nosso cam inho, não nos deixa dúvida algum a a respeito das tem íveis conseqüên­ cias de nossa escolha, quando com parecerm os perante Êle para d ar contas À quele que sabe tudo o que está no hom em , 2:25, e que conhece tam bém o valor do serviço que executam os para Êle, 1 Coríntios 3:10— 15; 2 Coríntios 5:10. Tendo-lhes falado dêsse modo, para nossa instrução, Jesus deixaos irem à festa, enquanto permanece algum tempo na Galiléia. Quando resolve subir a. Jerusalém, evita a publicidade e para lá Se dirige, "como em secreto”, v. 10. “ Todavia ninguém falava dÊIe abertamente por mêdo dos jur deus”, v. 13. 5

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T em er ao hom em até ao ponto de não falar livrem ente de J e su s! dÊIe, o F ilho m uito am ado do P ai! Êle, o S alvador do m undo, o A m igo dos pecadores que Se entregava por ê le s . . . por nós! N ão falar dÊIe por causa do opróbrio! Calar-se, silenciar a Sua vinda, p reten d er agir assim por reserva ou m esm o por res­ peito, quando, para dizer tôda a verdade, é por tem or aos ho­ m ens . .. Q ue aviltam ento, que falta de le a ld a d e ! O que não se colherá por isso! L er Marcos 8:38. Os v. 10— 13 fazem re ssa lta r que Êle era não sòm ente a pedra an g u lar rejeitad a pelos edificadores, Mateus 1 :22, 44, m as ainda, ap esar do que diziam os hom ens, o centro de tudo, objeto de suas preocupações involuntárias, causa de suas disputas. Ao m esm o tem po esforçavam -se por não falar dÊIe! N osso Senhor passou p o r isso tu d o : in trig a i, abandono, indiferença glacial, oposição v iolenta e tam bém os conluios de silêncio. Lede Hebreus 12: 1 - 5 . (39)

2.

Jesus em Jerusalém, ensinando no Templo, v. 14-39.

a)

Sua doutrina divina descobre a ignorância dos judeus e excita sua arrogância, v. 14—24.

“ Estando, pois, a festa já em meio, subiu Jesus ao templo, e com eçou a ensinar”, v. 14. No capítulo precedente, Êle tin h a dito à m ultidão: KEstá escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto todo aquêle que do Pai ouviu e aprendeu vem a M im ", v. 45. E is o F ilho de D eus que ensina no tem plo que Seu P ai des­ tin a ra a ser o lugar de Sua salvação, antes que os hom ens O abandonassem em seus corações, usando Seu Nom e em vão. M as nenhum com preende o testem unho de Jesus. João não diz nada das deputaçÕes que Seus inim igos L he enviaram com a esperança vã de L he arm ar um a cilada; v er Marcos 11:27— 12:34. ('*) A qui o Senhor faz o que ninguém m ais pode fazer. O E vangelo segundo Lucas m ostra-O , com unicando aos Seus discípulos a chave única das E scritu ra s, ou seja Êle M esm o, 24:26,2 7 ,4 4 ,4 5 ; aqui Êle ensina a verdade tal como se acha revelada nÊle, essa verdade da qual Êle é a E ncarnação e o Inspirador. (39) O clero e a multidão assemelhavam-se em dois pontos: temiam-se mutuamente e desejavam livrar~se de Jesus, Mateus 21:26,46; Marcos 11:32: Lucas 20:6. (*) Cp. C. C. B. N.° 3. O Evangelho segundo Marcos, páginas 104-108.

E m Jerusalém , ensinando no tem,pio

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N esses capítulos 7 e 8, antes de deixar êsse m undo, o S enhor acaba de assentar o fundamento de Sua doutrina. Deixa após Si o edifício dêsse ensino „que m inistrou com tan to cuidado aos Seus ouvintes incrédulos, Romanos 15:4; 1 Coríntios 10:6,11; 15:1— 3. T am bém an tes de “ p assar dêste m undo p ara o P a i” , 13:1, ensina aos discípulos tudo de que ficarão herdeiros por Sua m orte, capí­ tulos 13 a 16. E m Sua fidelidade, não deixa ninguém en treg u e aos caprichos do espírito h u m a n o ; não deixa su b sistir dúvida algu­ ma, nenhum véu sôbre as palavras de verdade e de graça que saem de Sua bôca. A ssim com o M oisés, em seu últim o livro re ­ vela as P alav ras de D eus à nova geração de Israel, o F ilho de D eus estabelece com firm eza a dou trin a de Sua graça, de Sua di­ vindade e de Sua obra red en to ra que deve servir -,de base a Seu povo da nova aliança. D epois de prêso, in terro g aram -n O em p ri­ m eiro lu g ar sôbre a Sua doutrina, 18:19. M as ap esar da solenidade da hora e do ca ráter único de Seu ensino, êsses hom ens que sem pre aprendiam “ sem nunca poderem cheg-ar ao conhecim ento da v erd ad e”, 2 Tim óteo 3:7, adm iram -se e dizem : “ Como sabe Ê ste letras, sem ter estudado?" v. 15. Que profanação !. . . Que lo u c u ra !. . . Q ue b lasfê m ia!. . . Êle, a P alav ra eterna, a V erdade m esm a, o A u to r e o In sp ira d o r das E scritu ras, p recisaria estu d ar e aprender dos rabinos o que quer que seja? E Seus inim igos, m edindo-O pela própria m edida, com ­ parando-O a si próprios, provam um a c o isa : ' falta de inteligência, cóm o o diz o apóstolo P aulo em 2 Coríntios 10:12. O m esm o aconteceu depois de P e n te c o ste s ; em face do poder so b ren atu ral do E sp írito de D eus nas sim ples, m as poderosas tes­ tem u n h as da Ig re ja prim itiva, os chefes do povo e os anciãos ,de Israel estavam tão surpreendidos quão indignados. Não podiam ad m itir que hom ens do povo sem instrução fôssem revestidos de tal au toridade, Atos 4:13. O hom em irregenerado não adm ite que D eus não necessite dêle e de seu saber, em pregando in stru m en to s que L he dão tôda a glória e dem onstram que Seu poder é dom de Sua g raça soberana. Confessa assim a incapacidade de erguerse acim a de seu próprio nível até à R ocha que m uito alta está p ara êle, Salmo 6 1 :3. A dm ite só o que com preende, reieita tudo o que não pode alcançar, tudo o que p e rtu rb a seu sossego e empana o seu prestígio. M as o Senhor, longe de Se deter ao ouvir êsses discursos vãos, estabelece um a vez para sem pre o que é o critério da verdade e da in teg rid ad e intelectual, m oral e espiritual. 1 ' “ Respondeu-lhes Jesus: A Minha doutrina não é Minha, mas dAquele que Me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade de

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Deus, há de saber se a doutrina é dÊIe ou se Eu falo por Mim mesmo. Quem fala por si mesmo busca a sua própria glória; mas O que busca a glória dAquele que O enviou, Ê sse é verdadeiro, e não há nÊle injustiça”, v. 16— 18. Êste te x to : "S e alguém quiser fazer a vontade de Deus, há de saber se a doutrina é dÊIe, ou se E u falo fo r M im m esm o" é a chave do Evangelho segundo João e o liame moral que o une aos três outros. Jesus expõe a doutrina do Pai que também é a Sua. A palavra “ dou­ trin a ” encontra-se três vêzes neste Evangelho: 7:16,17 è 18:19, quando Caifás interroga-0 a 'êsse respeito, fato mencionado apenas por João. A obediência à vontade d e ,D eus ê uma necessidade; ê nessa condição que Seu discípulo conhecerá Sua doutrina, -e é para êsse ponto que 0 diabo, naqueles tem pos com o nos dias de hoje, dirige sem pre seu ódio. (40) A sinceridade do homem não o preserva do êrro e não o justifica perante Deus. É preciso mais, como o disse Jesus a Nicodemos: “ Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que seja manifesto que suas obras são feitas em D e u s” , 3:21. P a ra sair da confusão e do êrro, pede-se ao hom em que venha para a luz, que obedeça à verdade, que procure a glória de D eus com coração ab so lu ta­ m ente íntegro. . N os v. 19—24, o Senhor fala dum apêgo à lei, .intelectual e estéril, que não im pede p ràticam ente a lei seja violada e as E scri­ tu ra s contraditas, Romanos 10:2,3. M as D eus pede ao hom em que "a verdade seja no íntimo'", Salmo 51:6, e isso só é possível quando aceitam os a verdade tal como é em C risto e em tudo fazem os Sua vontade. O s ju d eu s vangloriavam -se de M oisés, aplicavam a lei aos ou­ tros, desonrando D eus e violando a lei. A êsse estado chega o ho­ mem, quando abandona D eus e S ua P alavra, guiando-se por tradições ou p or interpretações particulares das E scritu ra s, ou seguindo os erros do próprio coração em seu am or ao m undo e ao pecado, querendo todavia salvar as aparências. T en d o elim inado de seu cam inho a bênção original do des­ canço p ara os hom ens e os anim ais, faziam dêsse descanço um a lei im placável e inconseqüente, pondo o hom em a serviço do sá ­ bado ao invés de ser tal dia a serviço do povo, Marcos .2 :2 7 ,28. (40) Cinco vêzes nos outros Evangelhos, está dito que o povo “se admirou” de Sua doutrina, Mateus 7:28; 22:33; Marcos 1:22,27; 11.18; Lucas 4:32. Diante do esplendor divino de tal ensino, os homens pasmavam. D i­ ziam: “ Que é isto? Uma nova doutrina! “ Marcos 1:27. “O homem natu­ ral não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para êle são loucura”, 1 Coríntios 2:14.

Em Jerusalém, ensinando no templo

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D izia-lh es a lei: “ Não m a ta rá s” e êles a violavam procurando m a ta r a Jesu s ; e por cúm ulo im putavam a Jesus o dem ônio que o s inspirava! v. 20. cp. 8:40. O peravam a circuncisão no dia de sáb ad o ; Jesus, to rn a ra um hom em inteiram ente são no dia de sá­ bado, v. 23. P referiam v er êsse iníeliz sofrer ainda a ser alvo •de tal libertação. Como os escribas e fariseus, êles deixavam o que a lei prescreve de m ais im p o rta n te : “a justiça, a m isericórdia, a fid elid ad e”, Mateus 2 3 :23. A sua inconseqüência e sua hipocri­ sia iam de par. É por isso que Jesus term in a por estas p alav ras “não julgueis pela aparência, mas julgai segundo o reto ju ízo”, v . 24. (« ) A lei cum p rira o seu m inistério tem porário, Gálatas 3:^3, 24. D e m o n stra ra o fracasso do hom em e ab rira o cam inho, deixando o cam po livre ao F ilho de D eus que é “ o fim da lei para ju stiç a de todo aquêle que c rê ” Romanos 10:4. M as como poderiam com ­ p reen d er isso sem confessar seu m alogro? b)

Sua doutrina divina excita a ironia dos habitantes de Jerusalém e desperta a fé da multidão, v. 25— 36. \

“ Diziam então alguns dos de Jerusalém : Não é Aquêle a Quem procuram matar? E eis que Êle está falando abertamente, e nada Lhe dizem. Será que as autoridades realmente O tenham reconhe­ cido como o Cristo? Entretanto sabemos donde Ê ste é; mas quan­ do vier o Cristo, ninguém saberá donde Êle seja”, v. 25—27. E m b o ra falando dessa m aneira a respeito do clero, êsses poucos h ab itan tes d e 'Je ru sa lé m não provam , de m odo nenhum ,1'terem m o­ dificado seu coração para com J e su s; e só isso é im portante. As suas palav ras irônicas a respeito dos chefes, que conheciam até dem ais, são acom panhadas de m uita ignorância de Suas E sc ritu ­ ras que dizem ^claram ente donde vem o M essias, v. 27; Isaías 7:14; M iquéias 5 :2. ' ■ ' 1 ! A sua atitu d e prova que a unidade do sistem a judaico era apenas ex terio r e escondia anim osidades, rivalidades e profundas dissensÕes, cujos indícios vem os em m uitas passagens do Novo T estam en to . M as os chefes do povo agarravam -se a êsse sistem a de engano, que em breve desm oronaria, to rn ad o pó sob o juízo de D eus. Q ue advertência para os que querem a todo o custo m an ter um a unidade de fachada que esconde m ales inúm eros, cp. (41) O fato de Jesus voltar, no v. 23, ao sinal do cap. 5:1-9 mostra até que ponto o que fôra feito então tinha impressionado a multidão. Sim, Deus tinha falado por êsse sinal, e os judeus não quiseram ceder.

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M ateus 23:1— 36; 2 Tim óteo 3:1— 5. O Senhor dá-lhes a re sp o sta de que n e c e ssita m : v. 28, 29. 1 1 S ete vê zes nesse capítulo está m encionado o desejo dos judeus, de apoderar-se de Jesu s e m atá-lO , m as nem um a só vez seu vil d esejo pôde realizar-se, 7 :1, 19, 20, 25, 30, 3 2 ,44. Sua hora ainda não chegara. T odavia, em meio ao deslize de tôda a nação, levada por che­ fes culpados, longe de C risto que viera para revelar o insondável amor de D eus p ara o m undo, “m uitos da multidão creram nÊ le”, v . 31. Q ue suavidade p ara Seu coração, que fa rtu ra de alegria p ara o S alvador do m undo, que antegôzo da m esse que a g raça divina ia p ro d u zir como fruto de Sua m orte! 4:28— 36; 12:24. M as Seus inim igos exasperam -se com isso, êles que não ti­ n ham nem consciência diante de D eus nem am or pelos hom ens. “ Mandaram oficiais para o prenderem”, v. 32, de novo em v ã o . .. É então que Jesu s lhes revela um novo aspecto da verdade, e anu ncia-lhes: “Ainda um pouco de tem po estou convosco, e depois vou para Aquêle que Me enviou; V ós Me buscareis, e não Me acháreis; e onde Eu estou, vós não podeis vir", v. 33, 34. O Senhor fala-lhes com essa autoridade que sem pre os p er­ tu rb av a. Bem sabia quàis seriam as conseqüências incalculáveis de Sua m orte e ressurreição. M as êles, Seu.s inim igos, já tinhamfeito a sua escolha, e agora não podiam dissim ular o m au e s tá r que re su lta fatalm ente dum a consciência culpada. U m pensam en­ to — d esta vez ju sto — os a to rm e n ta : “ Irá porventura para os judeus dispersos entre os gregos e ensinará os gregos?" v. 35. Sim, Sua d ou trin a ia ser anunciada às nações, m as não desde já, cp. 12:20—24. E assim , “ os últim os serão prim eiros, e os prim eiros serão ú ltim o s” , Mateus 20:16. M as a p u reza e o poder de S u a d o u trin a iam conduzir a um a nova revelação. c)

Sua doutrina apela para o que cr ê ; as conseqüências dêsse apêlo, v. 37— 52. ' .

“ Ora, no últim o dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-Se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sêde, venha a Mim, e beba. Quem crê em Mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva. Ora, isto Êle disse a respeito do Espírito que haviam de receber os que nÊIe cressem ; pois o Espírito ainda nãofôra dado, porque Jesus ainda mão tinha sido glorificad o/’, v. 37— 39. ... As, disposições que concernem ao últim o, ao grande dia d a festa, são p rescritas d etalhadam ente em Númerqs 29:32— 34; Le-

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v íd e o 2 3 :34— 3è. E ra um a santa convocação prefigurando, com o já o vim os, a restitu ição nacional de tôdas as coisas p ara Israel, q u an d o D eus lhe concederá, na segunda vinda de Seu F ilho, a ch u v a serô d ia; e a rein teg ração de Isra el será um a bênção m un­ dial, Zacarias 14:16— 19. D eus espalhará então Seu E sp írito sôbre tô d a a carne, Joel 2:23, 28— 31, cp. A tos 2:16—21. M as por causa d a rejeição do Rei, a m anifestação do reino foi retard ad a, enquanto D eus visita as nações p ara delas fazer sair um povo consagrado a Seu Nom e, Atos 15:14. É em relação a êsse dia de g raça que o S enhor anuncia neste ca p ítu lo o u tro fato que depende de Sua m orte e ressurreição, um a verdade perten cente à dispensação presente, um ántegôzo do que h á de v i r : o poder e a plenitude de Seu E sp írito a fluir da vida daq u eles que crêem nÊ le e O seguem na fé e na obediência do am or. "S e alguém tem s ê d e . . . ” linguagem característica das experiên­ cias de Israel no deserto e que os judeus deveriam- ter reconhecido. . . 4‘venha a M im e beba. . . ” Haviam êles esquecido a rocha ferida donde saíra um a água abu n d an te e suficiente para todo o povo? Êxodo 17:3— 7; 1 Coríntios 10:4,5. R econhecer que tem os essa sêde, é reconhecer a nossa indig ência diante do S en h o r; e os hom ens não gostam de confessála! Seus pro fetas tinham falado dela, Isaías 4 4 . : 3 55 :1, 2. T a m ­ bém o salm ista, Salmò 4 2 :2 ,3 ; 63:1. Mas, com o o diz Jeremias, o povo com eteu dois pecados: “ A Mim. M e deixaram , o m anan­ cial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rôtas, que não re tê m as á g u a s ”, 2:13. " Quem crê em M im , como diz a Escritura, do seu interior cor­ rerão rios de água viva”, v. 38. E is o fato novo, essa onda de vida divina fluindo fora da vida dos que crêem e a Êle se entregam . Jesu s resum e dêsse m odo tu d o o que a E sc ritu ra diz a respeito. F az essa prom essa m ara­ vilhosa àqueles que ia salvar após a Sua m orte e que O serviriam n a te rra en quanto estivesse ria glória. "Ora, isto Êle disse a respeito do ,Espírito que haviam de receber Of que nÉle cressem; pois o Espírito ainda não fôra dado, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado”, v. 39. No texto sagrado, as diversas menções duma só verdade comple­ tam-se e equilibram-se com exatidão divina. Sob a antiga ord en v o Espírito Santo não tinha vindo ainda para m orar no coração do homem. Êle manifestava-Se, visitava os homens, empregava Seus servos, mas Sua permanência constante nos corações é uma, parte vital da obra d a salvação m anifestada d u ran te o dia da graça. N à ocasião de

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P en tecostes, Êle veio, prom essa do P ai, p ara cu m p rir essa o b ra m arav ilhosa da qual o Senhor dera advertência aos Seus discí­ pulos nos capítulos 14— 16. A qui, Êle com pleta o ensino esp iritu al que é a tra m a dêste E vangelho e m o stra que êsse grande dom doP ai depende da en tra d a na glória do S enhor Je su s; L er 16:5— 15; Salmo 68:19; A tos 1:4, 8; E fésios 4:8. O cristão está escondido com C risto em D eus, C olossenses 3:1— 3. C risto é suâ vida, sendo isto por meio dessa píesen ça b en d ita do E sp írito S anto em seu coração, Efésios 3:16,17. M as a vida do cristão é cham ada a d erram ar essa plenitude sôbre a te rra sêca que o c irc u n d a ; é abençoado para a b e n ç o a r; está cheio de Sua vida p ara com unicá-la aos outros. • E m face do endurecim ento dos judeus, o Senhor ilum ina nos­ sas vistas sôbre a vida nova que se abre por graça p ara todos os que crêem. T ra ta -se da experiência p rática dos fatos enunciados no cap. 1:12, 14, 16. Os que receberam o direito de to rn ar-se filhos, de D eus recebem de Sua plenitude graça sôbre g ra ç a ; não p a ra de.las deleitar-se, m as p ara trazê-las aos outros. A ssim o S enhor é glorificado na te rra p o r Seu E sp írito que cum pre essa obra. b en d ita nos Seus, em com unhão com Seu m inistério presente n a glória.

3.

O efeito do apêlo de Jesus, v. 40-52.

T al revelação com ove os espíritos já endurecidos. Q u an d o os hom ens tratam , de modo leviano a P alav ra de D eus, disso re ­ su lta sem pre confusão, divisões e um juízo de cegueira. A qui a confusão é com pleta. E ntão, como em nossos dias, o abandono da fé e o desviar da verdade en tre g ara os hom ens aos ventos das do u trin as hum anas com seus enganos,,, astúcias e seduções, E fé­ sios 4:14. Os hom ens gostam de sepa-rar o que D eus u n iu : C risto e as E sc ritu ra s ; e u n ir —■“ u n ião ” m uito ilusória! — o que Deu= s e p a r o u a opinião dêles e a revelação. D eus quis que tivessem os êsse quadro dum a com pleta p er­ tu rb ação p ara estig m atizar as conseqüências da rejeição do ensino d ; Seu Filho. Ê ste quadro tem , em nossos dias, seu paralelo ex a to : o estado da cristandade que rejeitou a revelação divina para su­ b stitu ir-lh e tôda a gam a dos erros e das invenções da apostasia e da trádição.. , ^ Todavia, dois; fatos m ostram que, por tão fraca qúe fôsse su a reação, ainda havia corações sensíveis à verdade, mas só a té certo ponto. .

Em Jerusalém, ensinando no templo

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Os oficiais, que os inim igos do S alvador tinham enviado p ara p rendé-lO , voltam , m as sem o P risioneiro. V encidos, convencidos p o r Suas palavras, êles declaram : “ Nunca homem algum falou assim como êste H om em !” v. 32, 46. No v. 15, o clero se in dignara d e Seu conhecim ento das E s c r itu ra s ; aqui os in stru m en to s do clero d ão testem u n h o do poder único de Seu ensino*, a glória e m ajes­ tad e do S enhor m anifestavam -S e em Suas p a la v ra s ; e o estado v erdadeiro do coração do clero descobria-se pela sua atitude, Ma­ te u s 7:29; Lucas 4:22. H u m ilhados e exasperados, querendo iludir os oficiais, m as confessan d o in v oluntariam ente sua vileza e o desprezo que tinham p elo povo que haviam conduzido n este cam inho fatal da rejeição do M essias: “ Replicaram-lhes, pois, os fariseus: Fôstes vós tam ­ bém enganados ? Creu nêle porventura alguma das autoridades, ou alguém dentre os fariseus? Mas esta multidão, que não sabe a lei, é maldita", v. 47—49. P erdem , p o rtan to tô d a a presença de •espírito e in su ltam os servos. E, no que diz respeito às suas vítim as, ao povo cego, tratam -n o de “ m aldito, que não sabe a le i” ! ■Que quadro dos efeitos dum a religião hum ana, orgulhosa, hipó­ crita , sem m isericórdia, “ in cen tiv ad a” pelo diabo, em face do poder do testem u n h o da P alav ra de D eus! O m undo, no decorrer de sua longa história, conheceu êsses «efeitos m anifestados de diferentes m o d o s! • “ Nicodem os, um dêles, que antes fôra ter com Jesus, pergun­ tou-lhes: A nossa lei, porventura, condena um homem sem pri­ meiro ouvi-lo e ter conhecimento do que êle faz? Responderamlh e êles: É s tu também da Galiléia? Examina, e verás que da ■Galiléia não surge profeta”, v. 50— 52. A seu 'desprezo pelo povo, segue-se um a dem onstração de ig n o rân cia das E scritu ra s que julgavam conhecer! N ão podendo resp o n d er à intervenção ' ju sta, ■porém tím ida, de N icodem os, um de seus chefes, 3:1, 10, afirm am -lhe que p rofeta algum vem da Ga­ liléia. E ra um êrro, e as E scritu ra s podiam ensinar-lhes que dois p ro fetas tin h am surgido da G aliléia: lonas, 2 Reis 14:25, cp- Jo ­ sué 19:13, e Oséias, 1:1, cp. 1 Crônicas 5:6. A m bos haviam tido um a m ensagem especialm ente solene p ara condenar a vileza e a -desobediência de Israel. O s capítulos 5 a 8 do E vangelho segundo João são dos m ais im portantes dêste livro; estabelecem a divindade absoluta e eterna de Jesus Cristo. São também dos mais tristes da Bíblia. O Filho de D eus obriga tudo o que está oculto no coração do hom em a m ani­ festar-se. A declaração do cap. 2:25 é seguida da revelação da­

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O Evangelho segundo João

quilo que o coração do hom em esconde: tudo que êle é capaz e culpado quando quer criar p ara si um a religião própria, estran h a ao que D eus é, inim iga do que D eus diz, profana diante do q u e D eus faz. O hom em não pode servir a dois se n h o re s: não pode crer na revelação divina e obedecer às tradições hum anas. A s tradições h u m an as baseiam -se nos exem plos e nos escritos de certos pais. d a Ig reja, de “ sa n o ts” e dos que são tidos por grandes lum inaresd a cristandade! A revelação divina baseia-se n a P alav ra de D eu s. a R ocha im utável das S antas E s c r itu ra s : a palavra inspirada dosp ro fetas e dos apóstolos. M as a situação tom a feição, as posições se a f ir m a m ... “ C ada um foi para sua ca sa ”, v. 53, e o F ilho busca na solidão a presença de Seu Pai.

'

SÉTIM A SEÇÃO

Textos bíblicos e anotações

O ITA VA SEÇÂO Capítulo 8

Jesus, a Luz do Mundo Intro d u ção A presença do F ilho de D eus n a te rra — e tudo o que ela s ig ­ nificav a p ara Isra el e para o m undo —■ tin h a trazido esta “ divi­ sã o ” de que Êle m esm o falara, L ucas 12:49—53 (* ): 'divisão em S ua família, 7: 2—9, divisão en tre o clero, 9:13— 16, divisão e n tre o povo, 7:43; 10:19 divisão entre os discípulos, 6:60— 66. E sta divisão era o efeito de Stia presença e de Suas palavras, m as não era o alvo de Sua vinda. O nde Êle opera, não pode ,ser de outro* m o d o : as posições se fixam , cada um deve to m ar partido. Se os m ilagres haviam suscitado um a curiosidade superficial não com prom etedora, ag o ra que Jesus ensina, 7:15— 17; 8:2,20, a divisão se m anifesta ainda m ais, cresce, e o m aior núm ero de S eus seguidores abandonsi-O. A ssim se cum pre a E sc ritu ra : “ Q uem d eu crédito à nossa pregação? e a quem. se m anifestou o braço do Se­ n h o r? P o rq u e foi subindo com o renôvo perante Êle, e com o ra iz dum a te rra sêca; não tin h a parecer nem fo rm o su ra; e, olhando n ós p ara Êle, nenhum a beleza víam os, para que O desejássem os. E ra desprezado, e o m ais indigno entre os h o m e n s; H om em de do­ res, e experim entado nos tra b a lh o s; e, como um de quem os ho­ m ens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizem os dÊIe caso a lg u m ”, Isaías 53:1— 3. É assim que Êle aparece no m undo. T a is são os efeitos de Sua presença divina e de Sua d o u trin a infalível. Se os m ilagres de Jesu s traziam um alívio físico t um a v a n ­ tag em m aterial aos hom ens, Seu ensino estabelecia com n itid ez Q uem era, donde vinha, o que pedia e a graça que dava aos ho­ m ens. Sua autoridade não podia ser d isc u tid a ; ela não to lerav a riv alid ade algum a e apagava qualquer pretensão hum ana. O F ilh o de D eus descera do céu a fim de que a vida eterna; se to rn asse acessível ao m undo. V iera p ara salvar o hom em e (*)

Ver C. C. B.

N.° 4:

O Evangelho segundo Lucas, páginas 127-12^

Jesus, Luz do mundo

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dar-lh e um a posição desconhecida no tem po da lei, im possível e não m erecida por natureza. M as tal salvação só podia existir pela graça, fora dos quadros do judaísm o e dos in term ediários levíticos. O choque não podia d eixar de produzir-se e sèu fim era a cruz, a qual é ao m esm o tém po o sêlo do juízo dos que rejeitam a Jesu s C risto, e a salvação perfeita e etern a de todos os que crê­ em. E m nossos dias com o então, o F ilho de D eus está n a encru­ zilhada dos cam inhos de todos os hom ens, e a própria eternidade depende da atitu d e que cada um tom a a Seu respeito. ' O Capítulo 7 evidencia a tragédia dum a situação que am adu­ rece g radativam ente. Os judeus entregam -se a um a festa religio­ sa da qual Jesu s voluntàriam ente. Se abstém como foi dito do rei D avi rejeitad o : “ O seu lu g ar apareceu vazio “ aos festejos ofi­ ciais dos que D eus condenava, 1 Samuel 20:27. ' “ E cada um foi para sua casa. das oliveiras”, v. 7:53; 8:1.

Mas Jesus foi para o m onte

A som bra c re sc e ; o vazio se p ro d u z ; o cam inho torna-se cada vez m ais e s tr e ito ... O povo volta p ara casa sem sab er em q u e vácuo, em que noite se encontra por ter rejeitad o as p alav ras d a Senhor. E o m undo ainda perm anece nesse yácuo e nêle perm ane­ cerá por todo o tem po em que desprezar o F ilho de D eus e S ua obra. Suas festividades religiosas e outras não m udam em n a­ da sua posição peran te D e u s ; aum entam , sim, sua culpabilidade. O juízo dêste m undo já está feito, 12:31. Nessas circunstâncias, Jesus fo i para o M onte das Oliveiras, 8:1, “ segundo o Seu co stu m e” , Marcos 14:26; Lucas 21:37,38; 22:39, p ara g o zar dessa com unhão perfeita com o Pai, sabendo o que ia acontecer. A pós essas horas abençoadas, desce p ara um novo ser­ viço, p ara co n tinuar o ensino. Q ueria oferecer Sua g raça a um a alm a an g ustiada. E (êsse caso dá a chave do ensino que segue e term in a o capítulo. , ! ' . 1

1.

A mulher adúltera, v. 2-1 í.

Jesu s está sentado, cercado pelo povo, ensinando-o. Os escribas e os fariseus vêm interrom pê-10, com o in tu ito de arm ar-L h e um a cilada, su b m etendo-L he um caso difícil. E speram que esse caso. lhes d ará -também a oportunidade de aplicar im placàvelm ente a lei —• que êles próprios violam sem escrúpulos — a um a pobre cria tu ra prêsa em flagrante. M as, lá onde o ódio e a cruel­ dade dêss.es hom ens têm livre curso, o am or do Senhor é o m ais

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O Evangelho segundo João

poderoso. A loucura dos inim igos provoca a m anifestação de Sua sabedoria divina, tan to em atos como em palavras. Sem a m enor piedade e sem a decência m ais elem entar, êles expõem essa m ulher à v ista de to d o s: “ Disseram a Jesus: M es­ tre, esta mulher foi apanhada em flagrànte adultério. Ora, M oisés nos ordenou na lei que tais mulheres sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes? Isso diziam êles, tentando-O, para terem de que O acusar”, v. 4— 6. Ê les citam m al a E sc ritu ra que se refere a dois casos d istin ­ tos : O prim eiro caso concerne à jovem culpada dêsse pecado, e que devia ser lapidada junto com o culpado, Deuteronômio 22:23, 24. O segundo caso, citado em Números 5:11— 31, corresponde ao daquela m ulher. Ela era culpada, m as seu ju lg am en to dependia de D eus. Êles não se im portavam da exatidão de sua acusação, nem de sab er quem era o hom em igualm ente culpado, Q uanto ao Senhor, Êle conhecia as E scritu ra s e também o culpado, v. 9. “Jesus, porém, inclinando-Se, começou a escrever no chão com o dedo. Mas, como insistissem em perguntar-Lhe, endireitou-Se, e disse-lhes: Aquêle, dentre vós, que está sem pecado seja o pri­ meiro que lhe atire uma pedra. E , tornando a inclinar-Se, escre­ via na terra”, v. 6— 8. „ P o r que êsse g-esto feito duas yêzes pelo S enhor? T ra ta -se em prim eiro lugar, dum testem unho de verdade dirigido às suas consciências, Deuteronômio 19:15, e Seu testem unho sem pre é verdadeiro, sendo tam bém o do P ai, 8:18. E m segundo lugar, M oisés escrevera que o julgam ento dum tal caso devia ser escrito num. livro, Números 5:23, pelo sacerdote. M as em terceiro lugar, o profeta Jeremias tin h a d ito : “ Os ciue se ap artam de M im se­ rão escritos sôbre a terra; porque abandonam o Senhor, a fonte das águas v iv as” , 17 :13. P elo Seu ato silencioso, Jesus cum pria o que M oisés escreve­ ra e o que o profeta d is s e ra ; e êsse gesto, seguido de Sua p ala­ vra, convenceu os acusadores do próprio p e c a d o ; reconheceram o dedo de D e u s” Ê xo d o 8:15; Lucas 11:20. ' “ Quando ouviram isso foram saindo um a um, a começar pe­ los mais velhos, até os últim os; ficou só Jesus e a mulher ali em pé”, v. 9,10. ^ Q uando D eus fala de Sua revelação pela g'raça, Êle diz: “ T odos M e conhecerão desde o m enor até o m aior dêles”, Jeremias 31:34, quando, porém , se tra ta de convencer os hom ens do seu pecado, de sua au to -ju stiça e de sua hipocrisia, Êle inverte a o rdem : “ A com eçar pelos m ais velhos, até os ú ltim o s” . Sua consciência des-

A mulher adúltera

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p e rta ra ; não m ais podiam su p o rtar a presença dA quele que é a verdade, cyjo ensino, en tre tan to , rejeitavam . E s ta cena extrao rd in ária encerra-se m onstrando o S alvador só com esta pobre criatura, ovelha desgarrada, condenada pela lei, pelos hom ens, pela sociedade e pela própria consciência. M as a presença do S alvador afastara seus ac u sad o re s; Êle viera no m undo para salv ar um a alm a como esta, 3:17,18. . “ Então, endireitando-Se Jesus, e não vendo a ninguém, senãò a mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aquêles teus acusa­ dores? Ninguém te condenou? Respondendo ela: Ninguém, Se­ nhor. E disse-lhe Jesus: Nem Eu te condeno; vai-te, e não pe­ ques mais", v. 10,11. O F ilho de D eus agira. Sua verdade esclareceu tôda a si­ tuação. A 'verdadeira luz brilhou, 1 :5,9, e as trevas não a rece­ beram . Êle p aten teo u a falsa profissão dêsses hom ens e a a titu ­ de da m u lh er cujo coração era contrito e hum ilhado. S eus acusa­ dores, fortes pela sua lei m al citada e m al em pregada, não p u d e­ ram, su p o rtar a verdade do S e n h o r,.m a s a m ulher estava p ro n ta p ara receber Sua graça. E ssas duas categorias de pessoas são n itid am en te separadas e existem sem pre. E sta cena tão bela, pela im p o rtan te lição que nos ensina, p rep ara nossos corações à reve­ lação que dela decorre: “ Então Jesus tornou a falar-lhes, dizendo: Eu sou a Luz do mundo quem Me segue, de modo algum andará em trevas, m as terá a luz da vida" v. 12. “ A luz verdadeira que alumia a todo o homem” havia chegado ao m undo 1:9. A luz que os judeus não receberam , doravante bri­ lh ará n a noite do m undo e o p erará com poder de vida. T a l é o sen tid o dêsse novo títu lo que o Senhor Se deu. O resto do capítulo, tendo êsse incidente por ponto de par- • tida, é consagrado ao ensino que revela q u atro títulos divinos de J e su s: 1. A L uz do m undo, v. 12; cp. 9:5. 2. E u sou, v. 24,58. 3. O F ilh o do H om em , v. 28. 4. O F ilh o do Pai, v. 36. Ê le ensina no lu g ar onde estava o tesouro, e Suas P alav ras são am arg am en te criticadas e contestadas pelos fariseus e os ju ­ deus incrédulos que O cercam , Êsse ensino divide-se em trê s se­ ções : a) A ignorância e as trevas em que se encontram os inim i­ gos dA quele que é a L uz do m undo, v. 12— 20. b) O pecado e a origem decaída dos inim igos em co n traste com A quêle que é seu

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O Evangelho segundo João

D eus e nosso D eus, “ E u so u ”, o F ilho do H om em , v. 21—29. c) S ua escravidão m en tal e seu êrro m o rtal em face da P a la v ra dA ­ quele que é V erdade, o F ilho eterno, existindo antes dos p a tria r­ cas, v. 30— 59.

2.

O ensino dado no lugar onde estava o tesouro.

a) A Ignorância è a cegueira dos inim igos dAquele que é a Luz do mundo, v. 12—20. , E ssa m ulher vivia nas trev as do pecado; Jesus, não sòm ente lhe concedeu o arrependim ento e o perdão, m as ainda fêz com -que deixasse o pecado e andasse à luz de Sua face. T a l é a Sua o b ra de salvação e de santificação em todos os que L he confes­ s a m seu verdadeiro estado e nÊle crêem . ' “ O nde o pecado ab u n ­ dou, superabundou a graça”, Romanos 5:20. ' Êle veio p ara lib e rta i as alm as dos hom ens dos grilhões da ignorância, do poder das trevas, A tos 26:18; Colossenses 1:13. P o r Sua cruz, aniquilou o poder e a sedução dêsse poder, cp. 3:18,19; 1 João 3:8. Seu sangue precioso expia o pecado e absol­ ve o pecador que crê, E fésios 1:7. F az jo rra r a luz que esclare­ ce, que conduz e tran sfo rm a à Sua sem elhança, 2 Coríntios 3:18. Q uão grande tesouro é possuir essa luz, que privilégio poder es­ palhá-la, apesar do desafio das trev as a tu a is ! “ Disseram -Lhe, pois, os fariseus: T u dás testemunho de Ti m esm o; o T eu testem unho não é verdadeiro. Respondeu-lhes Je­ sus: Ainda que Eu dou testem unho de Mim mesmo, o Meu tes­ temunho é verdadeiro; porque sei donde vim, e para onde vou; mas vós não sabeis donde venho, nem para onde vou ”, v. 13.14. P era n te êsses m esm os hom ens, para fazer o que pedia a E s ­ critu ra, o S enhor citara Suas testem unhas, 5:31—40. A ssim fe­ chara-lhes a bôca. O que êles dizem aqui carece de lealdade e de sinceridade. N ão querem nem crer nÊle, nem cap itu lar diante da evidência do cum prim ento de suas próprias E scrittiras. D esta vez, o S enhor afirm a a veracidade de Seu próprio testem unho e a au to rid ade divina de Suas palavras. A ludindo à cena que acaba de se passar, v. 3—9, acrescen ta: “ Vós julgais segundo a carne;.E u a ninguém julgo. E* m es­ mo que Eu julgue, o Meu juízo é verdadeiro; porque não sou Eu só, mas E u e o Pai que Me enviou”, v. 15, 16.

O ensinò dado no lugar onde estava o tesouro

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' D e fato, n enhum a palavra de juízo saíra de Sua bôca. Sua divina presença fôra suficiente p ara desvendar-lhes a hipocrisia, condenar-lhes a consciência e tran q ü ilizar aquêle que reconhecia sua culpabilidade. M ais urna vez, Êle fizera o que a lei que acusa não pode fazer, Romanos 8:1— 3. A ntig am en te o S enhor abençoara Seu povo fazendo resplandecer o Seu ro sto sôbre êle e tendo m isericórdia dêle, Núm eros 6:25; ainda em nossos dias, sem essa g raça, a luz é insu sten táv el p ara o hom em . Que cena! êsses chefes religiosos recusando Sua graça, obrigados a fugir de Sua luz p ara en tran h ar-se nas tr e v a s ! Q ue co n traste com a m ulher ad ú ltera, que creu e recebeu o poder de ser feita filha de D eus! T a l é o E v angelho da g raça de D eus que tem os o privilégio de anunciar. “ N a vossa lei está escrito que o testem unho de dois homens é verdadeiro. Sou Eu q ue'd ou testem unho de Mim mesmo, e o Pai, que Me enviou, também dá testem unho de M im”, v. 17,18. A qui, o Senhor afirm a que Seu testem u n h o é o de Seu P ai. N a p rim eira E p ísto la de João,» fala-se do testem unho do P ai iden­ tificado ao do Filho, e segundo a lei, êsse duplo testem u n h o de­ via ser suficiente para convencer cada u m : “ Se recebem os o te s­ tem unho dos hom ens, o testem unho de D eus é m aio r; porque o testem u n h o de D eus é êste, que de Seu F ilho testificou — Q uem crê no F ilh o de D eus, em si m esm o tem o testem u n h o ; quem a D eus não crê, m entiro O fê z ; p o rquanto não creu no testem unho que D eus de Seü F ilho deu. — E o testem unho é êste: que D eus nos deu a vida e te r n a ; e esta vida está em Seu Filho. Q uem tem o F ilho tem a v id a ; quem não tem o F ilho de D eus não tem a vida. E sta s coisas vos escrevo, a vós que credes no N om e do F i­ lho de D eus, p ara que saibais que tendes a v id a 'e te rn a .”, 5:9— 13. “ Perguntavam -Lhe, pois: Onde está T eu Pai? Jesus respon­ deu: Não Me conheceis a Mim, nem a Meu Pai; se vós me conhecêsseis a Mim, também conheceríeis a Meu P ai”, v. 19. T a l é o verdadeiro estado dêsses hom ens: não conhecem a D eu s e vão crucificar a Seu F ilho após te r rejeitado Sua P a la ­ . vra. D e fato, com o Jesus C risto o d irá m ais ta rd e : “ N inguém vem ao P ai, senão por M im ” , Êle, que é o C am inho, a V erdade, e a V ida, 1 4 :6 (42.) _1 b) Seu pecado e sua origem decaída em contraste com Aquêle que é seu Deus e nosso Deus, “ Eu sou ”, O Filho do Homem , v. 21—29. ■ (42) O v. 20 indica o lugar onde o Senhor ensinava no templo, defronte do cofre das ofertas, Marcos 12:41, e não no lugar santo. Só os levitas ali penetravam, e nosso Senhor pertencia à tribo de Judá. Conforme 2 Reis 12:9, a arca das ofertas encontrava-se perto do altar dos holocaustos.

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O Evangelho segundo João

Êle anuncia a Seus assassinos o crim e que vão c o m e te r: “ E u Me retiro; buscar-Me-eis, e morrerreis no vosso pecado. Para onde Eu vou, vós não podeis ir", v. 21. É p o rtan to o fim de suas esperanças m essiânicas e a condena­ ção de sua religião hum ana aviltada e decaída. Cada palav ra de D eus au m enta o abism o que se abre entre Êle e Seus ouvintes. V eio a fim de oferecer Sua luz e graça, em prim eiro lu g ar p o r Seu ensino e doutrina, 6:60; 7:17, em seguida por Sua m orte e ressurreição, 8:24,28 e Suas P alav ras são cada vez m ais fortes e m ais solenes. “ Disse-lhes Ê le: V ós sois de baixo, Eu sou de cima; vós sois. dêste mundo, Eu não sou dêste mundo”, v. 23. N ada pode ser m ais claro! Êles são de baixo, nascidos no. p e c a d o ,'1 Coríntios 15:47; sua origem está no pecado, 3:6. São d êste m undo e êste/m u n d o não pode odiá-los, 7:7, com parai 15:18» 19; 17:14. Ê por isso que sua “ relig ião ” oferece aos hom ens ape­ nas um calm ante p ara a consciência e . . . ilusões fatais até q u e venhá a perdição eterna. M as essa “ relig ião ” é agradável ao. orgulho do hom em que não go sta que se chegue até à raiz de seu pecado e origem decaída. “ P orque tudo o que há no m undo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e. a sober­ b a de vidà, não vem do P ai, m as sim do m u n d o ”, 1 João 2:16. M as Jesu s não é dêste m undo, veio do Alto. Sendo êles d e baixo, do • m undo, são im próprios p ara o céu. O que o S en h o r tra z ao m undo vem inteiram ente do céu, com o fim de p ara ali lev ar os hom ens, m as isso por meio de Sua m orte, 1 Pedro 3:18. “ Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados; porque,, se não crerdes que Eu sou, morrereis em vossos pecados. Disseram Lhe pois: Quem és Tu? Jesus lhes .disse: Isso mesmo que já desde o princípio vos disse. A gora o Senhor usa o títu lo p articu larm en te sagrado em Is ra e l: “ E u so u ” (*). Êle o faz afirm ando que o hom em que nÊle não crê m o rrerá em seus pecados. Seus ouvintes, então co­ m o em nossos dias, têm de escolher entre a vida e a m orte. N ão é a h erança de nom es históricos, por m uito gloriosos que sejam , não são as fórm ulas por m uito exatas que sejam., que decidem oque devem ser nossas relações com D eus e a sorte etern a do ho­ m em ; só o N om e divino de nosso S alvador e S enhor é a pedra de toque nas relações de D eus com o hom em e do hom em com D eus, A tos 4:12; Romanos 10:13. T ra ta -se pois, p ara o hom em (*)

Ver nota 21, página 83.

O ensino dado no lugar onde estava o tesouro

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de ceder', crer em Sua divindade, em Sua redenção e viver e te r­ n am en te ou então não crer e m o rrer em seu pecado. D ian te dessa declaração única na E scritu ra , os judeus d iz e m : " Quem és T u ? ” exatam ente como o lem os em Êxodo 3:13,14: " Quando êles me disserem•: Qual é o Seu Nome? Que lhes direi? E disse Deus a Moisés: E u sou 0 que sou.” Moisés foi fiel em tôda a casa de Deus, como servo, Hebreus 3:5,6; m as aqui J e su s C risto revela ser Êle m esm o D eus e te r autoridade p ara pôr o hom em diante da decisão da qual depende a eternidade. “Respondeu-lhes Jesus: Isso mesmo que desde o princípio ve­ nho dizendo que sou”, v. 25. E sta p alav ra: “ princípio” é peculiar a João. Êle a usa p ara in tro d u zir seu E vangelho e sua prim eira E pístola, João 1:1; 1 João 1:1. É, de fato, apegando-nos “ ao q u e é desde o p rincípio” que tem os nossa salvação e segurança, n o ssa proteção e inspiração. “ P orque já m uitos enganadores sairam pelo m undo, os quais não confessam que Jesu s C risto veio em carne. T a l é o enganador e o an ticristo . .. T odo aquêle que vai além do ensino de C risto e não perm anece nêle, não tem a D e u s ; quem perm anece neste ensino, êsse tem tan to ao P ai co­ m o ao F ilh o ” , 2 João 7,9. _ ■ ' O princípio dêste capítulo m ostrou o ato de juízo de Jesu s rep etid o duas vêzes e seu efeito sôbre os hom ens, v. 6— 9. M as n ão era apenas isso que Jesus tin h a de dizer-lhes. Pois, sejam q u ais forem as ilusões dos hom ens e a boa opinião que têm, de si, su a s dúvidas e incredulidade aum enta-lhes o estado de culpa, to r­ n an d o m ais certa a sua condenação. Sim, “ H á cam inho que ao liom em parece direito, m as o fim dêle são os cam inhos da m o rte ”. Provérbios 14:12. C om pletando esta p arte de Seu ensino, o Senhor dá a conhe­ c e r três verdades que confirm am tu d o o que disse. 1. “ Muitas coisas tenho que dizer e julgar acêrca de v ós; m as Aquêle que Me enviou é verdadeiro; e o que dÊIe ouvi, isso falo ao mundo", v. 26. E m . prim eiro lu g ar Jesus anuncia que Se revelará ao m undo « lhe d ará a conhecer aquilo que os judeus desprezaram . O após­ tolo P au lo confirm a-o em sua E p ísto la aos Romanos, 10:20,21: “ E Isaías ousou d izer: F ui achado pelos que não Mç buscavam , m anifestei-M e aos que por M im não perguntavam . Q u an to a Israel, porém , d iz: T ôdo o dia estendi as M inhas m ã o s ,a um povo rebelde e co n tra d izen te.” É o que verem os nos capítulos 10 e 1Z.

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O Evangelho segundo João

“Ê les não perceberam que lhes falava do P ai”, v. 27. A onda de verdade que sai de Sua bôca encontra a escuridão crescente de incredulidade deliberada. Q uando assim é, a verda­ de abre p ara si outros cam inhos, deixando que os incrédulos si­ g am o seu com o o m o stram os capítulos 9 e 10. 2. “ Prosseguiu, pois, Jesus: Quando tiverdes levantado o Filho do Homem, então conhecereis que Eu o sou, e que nada fa­ ço de Mim m esm o; mas como o Pai Me ensinou, assim falo”, v. 28. E m pregando Seu títu lo de F ilho do H om em , o Senhor an u n ­ cia aos judeus que serão êles os au to res de Súa m orte, e que só então, quando o seu crim e terrív el fôr consum ado, conhecerão que crucificaram' o Filho de Deus. “Conhecereis que E u sou”, mas será tarde demais. A exatidão da Escritura está ali para condená-los, pois êste títu lo : Filho do H om em não é apenas o de Sua humilhação e de Sua obra de salvação, Lucas 19:10, m as ainda o de Sua segunda v inda como Ju iz quando já não revelará Sua graça ,mas “ o g ra n ­ d e dia de Sua ira ” , Apocalipse 6:17; ver tam bém Mateus 24:27, 30,37,44; 25:31; Marcos 13:26; Lucas 18:8; 21:27; A tos 7:56. 3. “Aquêle que Me enviou está com igo; não Me tem deixa­ do só; porque faço sempre o que é de Seu agrado”, v. 29. S erá então que virão a saber que tôdas as obras, tôdas as p a­ lav ras do F ilho eram de D eus, que Êle nunca estava só e que tô ­ das as blasfêm ias que 'proferiram , o fizeram co n tra D eus. A ssim tam bém é em nossos dias, no que respeita às dúvidas dos hom ens dian te de Sua P alav ra e a recusa de Sua obra redentora. c) Sua esctavidão mental e seu êrro mortal em face da Pa­ lavra dAquele que é a Verdade, o Filho existindo antes dos pa­ triarcas, v. 30^-59. Primeira manifestação da ação da Palavra do Senhor: muitos creram nÊle. . “ Falando Êle estas coisas, muitos creram nÊ le”, v. 30. E m meio à escuridão crescente da rejeição de Jesus, eis um raio de esp eran ça; um a sú b ita m as frágil a b e rtu ra de coração pro­ duz-se. C om parai 4:1,41; 7:31; 8:30; 10:42. E ra apenas um prim eiro passo, pois, a seguir, a n arraç ão m o stra, segundo a parábola do sem eador, Mateus 13:18— 23; Mar­ cos 4:14— 20; Lucas 8:11— 15, que /ouvir a Palavra é o princípio;

Q ensino dado no lugar onde estava o tesouro

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mas é preciso em seguida compreendê-la, e depois recebê-la, Lucas; 8:18— 21. A luz da P alav ra projeta-se nas trev as do coração, sei* poder ataca as fortalezas do espírito hum ano, sua autoridade im ­ pÕe-se à vontade do hom em e pede-lhe in teira subm issão, 2 Co­ ríntios 10:4,5. M as, aqui, a m ultidão devia ir m ais longe, na aceitação da verdade, e é por isso que os v. 30— 47 dêste capítulo m ostram a ação progressiva. ( . Segunda manifestação da ação da Palavra: a necessidade, para o discípulo, de permanecer na verdade para conhecê-la. “ Dizia, pois, Jesus aos judeus que nÊle creram: Se vós permaneçerdes na Minha Palavra, verdadeiramente sois Meus discí­ pulos, e conhecereis a verdade”, v. 31,32. Os hom ens que haviam crido no que o S enhor dizia deviam agora permanecer nessa verdade. A palavra permanecer significa conti­ nuar, estar firme. Exprim e um estado permanente. Em sua P rim eira Epístola, João fala daqueles que, depois de professarem crer na verdade, separaram -se dos fiéis, não tendo perm anecido na P alavra, 1 João* 2:19. A ndando fielm ente no cam inho que O Senhor lhe abriu, p e rseverando na obediência à Sua P alavra, o crente pro v ará aos ho­ mens que é verdadeiramente Seu discípulo. E o Senhor lhe fará conhecer Sua verdade. Essa verdade como Deus mesmo, uma trindade efetiva: a letra que, nos textos ori­ ginais, é integralmente inspirada por Deus; a verdade, que a letra co­ munica e que é um todo absoluto e completo; o Espírito que não sò­ m ente com unicou a revelação divina aos santos hom ens de D eus, 2 Tim óteo 3:16; 2 Pedro 1:19— 21, m as que enche o tex to no q u a l o crente resp ira e p ro v a a presença divina. “ C onhècer a v erd a­ d e ” . eis o que a P a la v ra divina produz em segundo lu g ar no co­ ração de quem a aceita. Terceira manifestação da ação da Palavra: ela liberta. “ Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, v. 32. O discípulo conhecerá então a verdade que liberta do pecado, do» mundo e do diabo — que êste capítulo menciona diversas vêzes. E n ­ quanto permanece em Sua Palavra e Sua Palavra permanece nêle». ela alumia todo o seu ser, operando assim Sua obra de libertação e de santificação. Sua autoridade o liberta dos liames e dos hábitos contraídos no mundo, e Seu poder de vida sgntifica-o e enche-o.

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“ Respond.eram-Lhe: Somos descendência de Abraão, e nunca ficam os escravos de ninguém ; como dizes T u: Sereis livres?’' •v. 33. ' ! i A ssim , em lu g ar de deixar que a P alav ra de D eus opere Sua o b ra de revelação em seus corações e to rn e livres as suas vidas, ■v, 12, êles opõem -lhe sua posição religiosa e h ered itária; afastan ­ do-se dêsse m odo da luz das palavras de Jesu s p ara se refugia­ rem atrás do nome bendito de Abraão. “Nunca escravos de ninguém ” ! T eriam verdadeiramente esquecido a servidão no Egito, o tempo dos Ju i­ zes, os cativeiros assírios, babilônicos, persas, e o dom ínio rom ano ao •qual se tinham acostumado? Não fôra assim que falaram Esdras, Ne.emias e D aniel! Lede Esdras 9, Neem ias 9, Daniel 9. A dem ais, A braão de que se gabavam de ser descendentes, ti­ n h a nascido da carne, nascido no pecado. E quanto m ais êles -próprios! R eclam avam p ara A braão aquilo que A braão nunca Tiavia reclam ado. A tradição sem pre desfigura a verdade dada a n tig am en te. Q uando quer fu g ir da verdade divina, o hom em ape­ n as consegue afundar-se na m entira. “ Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que tod o aquêle que com ete pecado é escravo do pecado. Ora, o es­ cravo não fica pára sempre na casa, o Filho fica para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres”, v. 34— 36. O contato com a verdade divina convence o hom em e o liber­ ta ou senão o endurece. É o que se produz aqui. A quêle que Tecusa ser libertado pela verdade entrega-se fatalm ente ao peca­ do. E aquêle que pratica o pecado, é escravo de pecado “porque de quem um homem é vencido, do mesmo é feito escravo”, 2 Pedro '2:19. Os judeus eram escravos do pecado, apesar de seu p assa­ do tão rico de nom es ilu stres e lem branças sagradas. E ra m es­ crav o s, perdidos eternam ente, e recusavam, a d m iti- lo ... O ho­ m em perm anece o mesm o, e a verdade tam bém ! N ão só o ho­ m e m que peca é escravo, apesar de suas pretensões à liberdade, m as se exclui assim da fam ília e da casa de D e u s ! A qui, nosso Senhor p r e c is a ... T ra ta -se dÊIe, o Filho, que veio a b rir ao hom em um cam inho novo e vivo oferecendo-lhe o •dom de ser feito filho de D eus, isto é de e n tra r na fam ília de Seu T a i. T u d o depende do F ilho e de nossa aceitação da verdade que Ê le anuncia. Como ao filho pródigo, Lucas 15:11— 32, a graça oferece ao hom em êsse lu g ar de honra “ em ca sa ”, Hebreus 3:6, m as sem o u tra condição senão a fé em Sua m isericórdia d iv in a ; Deu.s deve te r tôda a glória disso, e ao hom em não cabe m ere-cimento algum . A obra de C risto tudo m u d o u ; derribou os pen­ sam en to s dos hom ens e pôs em. relêvo a glória de Deus.

O ensino dado no lugar onde estava o tesouro

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. E m casa, o F ilho lib erta verdadeiram ente os Seus. N ão h á escravidão, nem grilhões, nem dúvida a respeito da salvação divi­ na. Seus resgatados são conscientes da posição que têm , do p ri­ vilégio de serem filhos, g ente de Sua casa, m esm o herdeiros d e D eus e coherdeiros de C risto. Romanos 8:15— 17; E fésios 2:19—22. “ E , porque sois filhos, D eus enviou aos nossos corações o Espíritode Seu F ilho, que c la m a : Aba, P ai. P o rta n to já não és maisservo, m as filho; e se és filho, és tam bém herdeiro por D e u s”Gálatas 4:6,7. Como escaparem os nós se desprezarm os tão g ra n ­ de sa lv a ç ã o ! Hebreus 2 :3. ' Quarta manifestação da ação da Palavra: ela penetra inteiramenteo discípulo. _ “ Bem sei que sois descendência de Abraão; contudo, procurais matar-Me porque a Minha Palavra não encontra lugar em vós. Eu falo do que vi junto de Meu Pai; e vós fazeis o que tam bém ouvistes de vosso P ai”, v. 37,38. A L u z fêz' jo rra r Seus raios divinos na escuridão. “ E u sou”' falou, pondo os homens em face da vida ou da morte. O Filho doH om em anunciou Seu sacrifício. O Filho revelou os privilégios doa Seus. Agora Êle coloca novamente os homens no ponto de partídadêste E vangelho: a Palavra que estava com Deus, o Filho Único que estava no seio do Pai. Mas Êle os faz voltar também à sua origem. Enuncia assim a verdade que põe em plena luz a natureza e o coração do homem, com todos os seus subterfúgios que não enganam o Filho de Deus. ' M as Sua P alav ra “ não p e n e tra ” nêles. O inim igo utiliza-sede seus erros e de pensam entos orgulhosos para im pedir que a P a ­ lav ra de D eus entre nêles, salvando-os, Lucas 8:12. A P a la v ra recebida leva o coração do crente a permanecer nela e ela nêle. P ode então começar sua obra de libertação e de santificação. Mas há m ais a in d a : é preciso que penetre nêle, literalmente que ocupe todo o .lugar.. Num a palavra, ela não tolera rival. “ Responderam-lhe: N osso pai é Abraão. D isse-lhes Jesusr Se é que sois filhos de Abraão, fazei as obras de Abraão”, v. 39, Q ue contradição entre o que os hom ens dizem e o que sã o f P odem gabar-se de sua descendência de A braão, m as não de te re m algum a sem elhança com êle. P rofanam o nom e do pai dos crentes, Romanos 4:11; Gálatas 3:7, para se oporem ao verdadeiro F ilh o da prom essa. . “ Mas agora procurais matar-Me, a Mim que vcs falei a verdade que de D eus ouvi; isso Abraão não fêz. V ós fazeis as obras de vosso»

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pai. Replicaram-lhe êles: N ós não somos nascidos de adultério; tem os um Pai, que é Deus. Respondeu-lhes Jesus: Se D eus fôsse o vosso Pai, vos Me amaríeis; porque Eu saí, e vim de D eus; pois sião vim de Mim mesmo, mas Ê le Me enviou”, v. 40— 42. N ão pode haver entendim ento algum entre a verdade divina e a tradição dos hom ens. Se os hom ens não aceitam a verdade, rejeitam -n a e rejeitá-la é entregar-se à escravidão do êrro e ao dom í­ n io dos hom ens. O apóstolo P au lo adverte os Còlossenses nesses tê r m o s : “Tende cuidado para que ninguém vos faça prêsa sua, por m eio de filosofias e vãs, sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo”, 2:8. O estado m oral e espiritual dos inim igos do F ilho de D eus, ta l como involuntàriam ente o confessam , é um a advertência e x tre­ m am en te solene p ara todos os hom ens. O deus dêsses hom ens invejosos e adversos à verdade não era o 'Pai de nosso Senhor Jesus C risto, m as sim “ o pai da m e n tira ” . N^> v. 43, Jesus d iz -lh e s: “ Por que não compreendeis a Minha linguagem ? É porque não podeis aceitar a Minha Palavra”. A p esar de suas E scritu ra s que dÊIe falam , e^stavam de tal m odo afastad os de seu D eus que não com preendiam nem a linguagem nem ■o sentido das palavras do Filho. Que advertência para todos os tem pos e para todos os h o m e n s! A P alav ra divina tem suas leis « seus princípios de interpretação. E la é com o a p lan ta sensitiva que se fecha ao toque profano do espírito crítico. E n tão não dá seu s tesouros e torna-se para o espírito entenebrecido do hom em , tim a fonte de pertu rb ação e perplexidade. E agora o Senhor revela o que há atrás da incredulidade, a -dúvida e tôda a resistência à Sua P essoa e à Sua P alavra. “ Vós tendes por pai o diabo, e quereis satisfazer os desejos -de vosso pai; êle é homicida desde o princípio e nunca se firmou na verdade, porque nêle não há verdade; quando êle profere men­ tira s, fala do que lhe é próprio; porque é mentiroso, e pai da men­ tir a ”, v. 44. • N ão sòm ente S atanás é o príncipe dêste m undo, 12:31, essa "fôrça que excita, que aciona, que liga, que cega os hom ens e as nações, m as tam bém é “ o deus dêste m undo” , 2 Coríntios 4:4, què seduz, que dá um a religião aos homens, que controla seus espí:ritos, que capta suas vontadas e suas alm as, 2 Coríntios 11:3. O Senhor dá-lhe êstes dois nom es: homicida e mentiroso. ' De fato, desde o princípio, em nom e da “ re lig ião ”, êle m entiu D e u s !. . . Q ue cism a com o m undo! Q ue condenação p ara o m undo religioso que p erp etu a os esforços próprios da lei e a rejeição do F ilho de D eus! O F ilh o do H om em glorificado e tôdas as riquezas de Sua glória são o direito de família de " todos os que 0 receberam”, 1:12. É o segrêdo dessa nova vida que a fé vai conhecer nÊle! Creiamos nÊle! M as ao m esm o tem po, o F ilho do H om em glorificado é o sêlo do juízo que golp eará o m undo responsável por te r crucificado o F ilho de Deus. U m S alvador ressuscitado e glorificado é, de agora em diante, a felicidade do crente, abençoado por tôda a sorte de bênçãos espirituais nas regiões celestes, E fésios 1 :3. Sua p re­ sença à d ireita de D eus é o penhor de Sua volta para to m ar os Seus com Ê le; é tam bém a g aran tia da m anifestação do juízo e da ira de D eus que há de revelar-se do céu contra tôda a im pie­ dade e tôda a in ju stiça dos hom ens, Romanos 1:18. Só os que nÊ le crêem possuem a graça dum coração não p er­ turbado. E é por isso que, em meio à tribulação, dá-lhes coragem , porque p articipam daquilo que Êle m esm o é na glória, 13:8. E m m eio à confusão presente, quão necessário é saber Q uem é o Senhor, onde está Êle e o que resu lta disso para Seus filhos. 1.

O anúncio de Sua segunda vinda, v. 2— 4

“ Na casa de Meu Pai há muitas moradas; se não fôsse assim, Eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar. E, depois que Eu fôr e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para Mim mesmo, para que onde eu estiver esteiais vós também. E para onde eu vou vós conheceis o cam inho”, v. 2—4. ( A p alav ra trad u z id a “ m o rad a s” é em pregada duas vêzes neste E v an g elh o : v. 2 e 23: “ . . . F arem os nêle m o rad a” . N o prim eiro caso o S enhor anuncia o fato glorioso ■ — m uito distinto de qual­ qu er esperança m essiânica te rre s tre —■ que Êle m esm o prepara no céu um lu g ar p ara os Seus rem idos. N o segundo caso, o P ai e o F ilh o p rep aram o coração do discípulo p a ra o céu, servindo-Se dos, ventos contrários, da hostilidade do m undo que o próprio F i­ lho conheceu, das lutas, das provações e das tentações vencidas. T o dos êsses m eios de santificação têm por fim tornar-nos sem e­ lh an tes a Êle em Sua segunda vinda, Romanos 8 :28, 29; 2 Coríntios

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4:16-—18; 1 João 2:1— 3. A ssim está preparado o céu para um povo prep arado p ara nêle m orar. P elas E scritu ra s, os discípulos sabiam que as m ultidões celes­ tes hab itam e cercam a glória de Deus. M as em meio a todo o Seu esplendor celestial, o Senhor p rep ara a m orada de Seus resgatados.. Êle in siste nesse fa to : “ Se não fôsse assim , E u vo-lo teria d ito ” Cp. 17:24. P o r tão m aravilhoso que nos pareça — pois esta de­ claração u ltrap a ssa tôda a concepção hum ana — Sua p ró p ria decla­ ração nos é suficiente e cremos nela. Mas, ainda há mais. Êle d iz : “E, depois que E u, fô r e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para M im mesmo, para que onde E u estiver estejais vós tam­ bém. E para onde JEu vou vós conheceis o caminho”, v. 3,4. N ada poderia ser m ais claro! O m undo pode fazer dÊIe o que fêz; pode desprezar, perseguir, m a rtiriza r Seus discípulos que testem u n h am em Seu Nom e, m as não pode im pedir a gloriosa re u ­ nião que seguirá à Sua volta triu n fal para os Seus. As E pístolas com pletam a revelação dessa verdade que é a esperança da fé, 1 Tessalonicenses 4:13— 18; m as era preciso, que o S enhor m esm o o anunciasse em prim eiro lugar ; porque a S ua d o u trin a é inseparàvelm ente ligada à Sua P essoa divina e à obra de santificação de Seus filhos. A ssim , com três versículos, o. Se­ n h o r faz b rilh a r a luz d esta “ esperança que não en g a n a” , que é a inspiração do serviço do discípulo e um dos segredos da san ti­ ficação. João escreve a êsse respeito em sua P rim e ira E p ísto la : “ V êde que g ran d e am or nos tem concedido o P a i q u e fôssem os cham ados filhos de D e u s; e nós o somos. P o r isso o m undo não noá conhe­ ceu a Êle. A m ados, agora som os filhos de D eus, e ainda não é m anifestado o que havem os de ser. M as sabem os que, quando Êle Se m anifestar, serem os sem elhantes a Ê le; porque assim com o é O verem os. E todo o que nÊle tem esta esperança, purifica-se a si mesm o, assim como Êle é p u ro .”, 1 João 3:1—3. N ão é verdade que o Senhor, dando essa revelação aos Seus, leva ao extrem o o Seu am or p ara com êles, êsse am or que não tem princípio. Jeremias 31:3; E fésios 1:4, e que não te m fim ? Efésios 2 :7. N ão sòm ente o Senhor q u er te r o Seu filho áo lado dÊIe —■e isso é apenas um a p arte de Seu plano de am or — m as q u er depois v o lta r aqui corri os Seus, na glória de Seu P ai, p ara estabelecer o Seu reino no' m undo que O rejeitou. Q ue glória será a daquele dia, que é o alvo suprem o de Seus sofrim entos assim com o é a perfeita recom pensa dos que com Êle sofreram e que tam bém com Êle reinarão, 2 Tim óteo 2:11— 13; Mateus 25:21; Lu­ cas 19:17; 2 T essalonicenses 1:3— 12.

O anúncio da Sua segunda vinda para os Seus

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“E para onde E u vou vós conheceis o caminho”, v. 4. Com essa palav ra o Senhor honra a pequena fé de" Seus discípulos. Êlés ain d a não eram, conscientes dos tesouros que o Senhor lhes apre­ sen tav a um após outro. M as, por m uito estreito que fôsse o cam i­ nho, era direito, fácil de conhecer e seguro p ara aquêle que andava após o bom P asto r. D e fato, no meio das aflições, que sem pre estão à espera de Seu filho fiel, “ essa vereda a ignora a ave de ra p in a ”, Jó 28:7. Êle p rom eteu g u ia r; disse que seriam pelas grandes águas as Suas veredas, Salmo 77:19,20. D isse que jam ais abandonaria os que nÊ le confiaram . “ E guiarei os cegos por um ca­ m inho que nunca conheceram , fa-los-eis cam inhar por veredas que não co nheceram ; to rn arei as trev as em luz peran te êles, e as coisas to rtas farei direitas. E sta s coisas lhes farei, e nunca os desam ­ p a ra re i” , Isaías 42:16. 2.

Jesus, o Caminho, e a Verdade e a Vida, v. 5,6.

T om é, m ais um a vez, intervém a fim de exprim ir seus pen­ sam entos próprios, como no cap. 11:16; 20:24; 21:2.. M as suas dúvidas dão ao Senhor a portu n id ad e de proclam ar o seguinte fato g lo rio so : ' “Eu sou o Caminho, e a Verdade, e a V ida; ninguém vem ao Pai, senão por M im ”, v. 6. É nova essa linguagem aos ouvidos acostum ados aos preceitos da lei que de antem ão delineava tudo e exigia que os hom ens se aproxim assem de D eus por meio do clero levítico. A gora, está tudo m udado. O fu tu ro é in có g n ito ; o P a sto r soberano, A quêle que anda diante do discípulo, pede a êste de seg u ir um cam inho ab erto aos poucos por Êle, 10:4; Hebreus 13:20. O S enhor tom a todo o lu g ar, e tu d o está concentrado nÊle. , , E u sou o Caminho, o único caminho. Estão, portanto, suprimidos todos os o u tros cam inhos, e os homens, se acham alertados quanto ao perigo dos cam inhos falsos. A té então o hom em seguira seu próprio cam inho ,o de Caim, Gênesis 4:1— 3; Judas 11; Isaías 53 :6; Provérbios 14:12. ' ' Agora um único caminho é aberto para c homem, no meio da confusão presente e apesar dos que vêm em Seu Nome, dizendo: "E u sou o Cristo” e que seduzem muitos homens, M ateus 24:5; Marcos 13:5,6. "N ão vadès após êles” diz nosso Senhor, Lucas 2 1 :8, " E u sou o Caminho”. Sòmente Êle. torna possível ao homem voltar para Deus. Pelo único caminho do arrependimento, no único terreno da obra cumprida na cruz pelo Seu Filho crucificado e ressuscitado, Deus recebe o homem. . 1 -

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O Evangelho segundo João

“E u sou a Verdade”. O contraste com aquilo que fôra antes estabelecido é total. “A lei foi dada por interm édio de M oisés, a g raça e a verdade vieram p o r Jesu s C risto ”, 1:17. A lei era a expressão do desígnio de D eus p ara com Isra el colocado assim , sob tu tela, a té o tem po m arcado p a ra a com unicação da verdade a todos os hom ens. E la era santa, ju s ta e boa, R om anos 7 :12, em bora sendo um m inistério de condenação e um a le tra que m ata, a fim de conduzir Israel a D eus, 2 C oríntios 3 :6, 9. Aos Gálatas» P au lo diz que a lei era um pedagogo p ara conduzi-los a C risto, 3:24. ( Mas Jesus Cristo fala aqui da verdade, não dum ensino transitório de acôrdo com uma dispensação divina limitada, tal como a lei ou o messianismo, mas do absoluto, da verdade eterna: Êle mesmo é a Verdade, a Palavra divina feita carne, 1:14. Em primeiro lugar, Êle o provou cumprindo tôdas as Escrituras, os oráculos de D eus do A ntigo T estam ento. “ N ão penseis que vim d e stru ir a lei ou os p ro fetas; não vim d estru ir, m as c u m p rir” , M ateus 5:17. (65) Em segundo lugar, Ê\e ê a Verdade mesma. Nenhum êrro, ne­ nhum dos defeitos próprios do hom em , nenhum a fraqueza estavam nÊle. V iveu n este m undo de pecado e de m en tira sem co n tra ir sua nódoa e sem nunca adaptar-S e aos erros de Seu tem po. T u d o o que dizia era o que o P ai O havia incum bido de dizer. ( 66) Em terceiro lugar, antes de Sua partida da terra, Jesus Cristo assegurou a continuidade de Sua revelação e a integridade do cânon sagrado, fazendo as duas promessas já citadas, 14:26 e 16:13. P o r­ ta n to os hom ens escolhidos p ara com pletarem a verdade revelada tin h am a g a ra n tia da inspiração do E sp írito Santo. Em quarto lugar, Êle concedeu aos Seus discípulos, pelo Espí­ rito Santo, o dom do espírito de revelação p a ra com preenderam as

(65) A palavra “cumprir” significa” encher até transbordar” . Assim o Velho Testamento é como um vaso maravilhoso, ' duma riqueza e duma variedade de matérias infinita, cheio da Pessoa de Jesus Cristo que os pa­ triarcas tinham pressentido, visto antecipadamente, João 8:58. Divino Sacer­ dote, Rei e Profeta, Êle é prefigurado no Velho Testamento por êsse três ofícios que resumem tôdo o cânon sagrado. ' (66) A blasfêmia que atribui ao Filho de Deus a ignorância e a possibi­ lidade de ter partilhado “dos erros de Seu tempo” prova a cegueira e a vileza espiritual em que pode o homem cair logo que se liberta da disciplina da Palavra escrita que “ julga os pensamentos e as intenções do coração”, Hebreus 4:12. Em seguida essa blasfêmia mostra até que ponto a Pessoa de Jesus Cristo, nosso Senhor, revelada pela Palavra escrita, provoca o que está em seu coração, Jeremias 17:9, e sua incapacidade de compreender a verdade sem a graça de Deus.

O anúncio da Sua seg u id a vinda para os Seus

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E sc ritu ra s Lucas 2 4 :44, 45. E essa g raça é p erm anente p a ra todos os que preencherem as condições, 1 Coríntios 2:9— 16. D eus, não sòm ente com unicou-lhes Seus pensam entos e Seus desígnios asseg u ran d o a exatidão divina aos seus escritos nos tex to s orig in ais e preservando-os de todo o êrro, m as prom eteu de a n te ­ mão, à m u ltid ão de Seus resgatados, a faculdade espiritual de com ­ p reenderem as E scritu ra s que são a verdade, tôda a verdade, e nada além da verdade. Êle q u er que o andam ento, o serviço e o o rganism o de Sua Ig re ja sejam em tôdas as coisas fiéis à regra do co n ju n to do testem unho das S antas E scritu ra s. (67) "E u sou a Vida". Notai a ordem da declaração do Senhor. Aquêle que aceita a Jesu s C risto com o único cam inho recebe Sua verdade su b m eten d o -L h e todo o se r; então descobre logo, isso pela fé, que Jesu s C risto é a V ida. T a l é o tem a dêste E vangelho. A P alav ra etern a é a V ida, e a V id a é a luz dos hom ens, 1 :4. A vinda do F ilh o de D eus, que é a V ida eterna, a própria V ida ds D eus, m anifestou im ediatam ente a m orte, essa m orte que, p o r causa do pecado, passou sôbre todos os hom ens, Romanos 5:12. “O que é nascido da carne é c a rn e ” e não pode v er o reino de D eus, nem nêle en tra r, 3 :3, 5, 6. Essa lição pode ser compreendida com a ajuda do contraste se­ guinte: um judeu nascia judeu; mas ninguém, absolutamente ninguém jamais nasceu cristão. É preciso “ nascer de novo” por intervenção e ação do Espírito Santo, agindo pela Palavra. E isso é apenas pos­ sível p o r A quêle que é a V ida. João term in a a sua P rim eira E p ís­ tola dizendo, que a escreveu a fim de aue saibamos, sem dúvida alguma, que "quem tem o Filho tem a vida”, e que, por conseguinte "quem não tem o Filho de Deus não tem a vida”, 1 João 5:12,13. ' F ora dêsse caminho, fora dessa verdade e sem essa vida, ninsruém pode vir ao Pai. De agora em diante, Jesus Cristo, só Êle, é o Salvador do homem e o Fiador de sua salvação eterna. É por isso que Jesus termina Sua declaração dizendo: "N inguém vem ao Pai, senão por M im ”, v. 6. ' ' f (67) A palavra “cânon” usada para designar as Escrituras, significa lite­ ralmente “norma”, Gálatas 6:16; é traduzida por “padrão” em Coríntios 10:15. Durante os primeiros séculos da Igreja cristã, o cânon atual do Velho e do Novo Testamento foi a única norma (ou regra) de conduta e a única autoridade reconhecida na Igreja até intervirem, pouco a pouco, em primeiro lugar a tradi­ ção, Marcos 13:5,6 — que substituiu a autoridade da Palavra de Deus pela sua própria, tôda humana — em seguida o racionalismo que substituiu a auto­ ridade da Palavra de Deus por suas filosofias e especulações. O privilégio do crente, qualquer que seja a sua confissão, é de nada pensar e nada receber que passe “além do que está escrito”, 1 Coríntios 4:6, e de crer “tudo o que está escrito”, Atos 24:14; Romanos 15:4, 2 Timóteo 3:16.

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O Evangelho , segundo João

3.

0 Pai revelado pelo Filho, v. 7— 11

“ Se vós Me conhecêsseis a Mim, também a Meu Pai conheceríeis; e já desde agora O conheceis, e O tendes v isto ”, v. 7. N osso S enhor fala novam ente ao Seus discípulos com êsse amo: e essa fidelidade que L he são peculiares. O entendim ento do: discípulos está ainda obscurecido, m as a luz começa, ainda qu< len ta e im perfeitam ente a penetrá-los. Êle os anim a, os conduz p ara a frente, não apaga o pavio que fum ega, não -quebra a cana trilhada. > Sua experiência pode ser ilu strad a pela cura do cego de B etsaida que se fêz gradualm ente. A ntes de receber a luz, “ êle v ê os hom ens com o árvores an d an d o ” ; percebe ainda de m odo con­ fuso a realidade próxim a, Marcos 8:24. O pleno conhecim ento das coisas divinas não podia ser dado aos discípulos antes da vinda do E sp írito Santo, segrêdo do espirito de revelação e direito de p rim o g en itu ra de todos os crentes, cp. Lucas 24:45; E fésios 1:17. P o r sua vez, F ilipe fala por to d o s : “ Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta”, v. 8. No princípio, no entanto, Filipe havia pronunciado estas p a­ lavras b e n d ita s : “ A cabam os de achar A quêle de Q uem escreve­ ram M oisés n a lei, e os p ro fetas: Jesus de N azaré, F ilho d< J o s é ”, 1 :45. Será pensando nisso que Jesus diz: “ Há tanto tempo que estou convosco, e ainda não Me conheces, Filipe? Quem Me viu a Mim, viu o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não “crês tu que Eu estou no Pai, e qUe o Pai está em Mim? A s palavras que Eu vos digo, não as digo de Mim m esm o; mas o Pai, que per­ manece em Mim, é Quem faz as Suas obras. C rede-M e que Eu estou no Pai, e que o Pai está em Mim; crede ao menos por causa das mesmas obras”, v. 9— 11. Filipe tin h a reconhecido o seu M e ssia s; agora o Senhor, o M essias rejeitado, faz-lhe reconhecer o P aiy Êle próprio, o que nos prepara para o dia em que o apóstolo Paulo poderá escrever aos Gá­ l a t a s : “ E , porque sois filhos, D eus enviou aos nossos corações o E sp írito de Seu F ilho que c la m a : Aba, Pai. P o rta n to já não és m ais servo, m as filho; e se és filho, és tam bém herdeiro p o r D e u s” , Gálatas 4:6,7. ~ . F ilipe tem , pois, sua re s p o s ta ; nossa incredulidade e a dureza de nossos corações não têm desculpa! iComo o Senhor no-lo vai ainda revelar, nós não som os m ais órfãos. C risto é no sso ; nÊ le possuím os tôdas as coisas. Seja louvado o Seu divino N o m et

SE G U N D A PA R T E — SE G U N D A SEÇÂO Textos bíblicos e anotações

V TER C EIR A SEÇÃO Capítulo 14:12-31

O que são as obras maiores. Introdução E ssa expressão “ as obras m aiores”, v. 12, só pode ser com ­ p reen d id a se com pararm os essas obras com aquelas que D eus tin h a pedido até então ao hom em. A s obras da lei / • Sob a lei, o hom em devia por si só achar seu sacrifício, levá-lo à p o rta do tabernáculo, obedecendo escrupulosam ente a essa " le tra que m a ta ” e confiando nesse m inistério que o condenava, 2 C orín­ tio s 3:6. E m seguida o sacerdote tom ava o sacrifício e oferecia-o ao Senhor segundo os preceitos especiais relativos a seu ofício. C ham ado a exercer as funções sacerdotais em v irtude de sua posição fam ilial e social, purificado em vista de seu serviço, o sacerd o te podia p en e trar no lu g ar santo p ara cum prir a segunda p a rte de seu ofício. Seu serviço era inteiram ente delineado por in stru çõ es das m ais m inuciosas. T ô d a a desobediência era p as­ sível de exclusão do sacerdócio ou de pena de m orte. U m a vez por ano, o sum o sacerdote en trav a sòzinho no lu g ar san tíssim o para fazer a expiação pelos pecados do povo. A pesar disso tudo, a lei não levava ninguém à salvação, nem à perfeição. A lei deixava o hom em peran te a verificação de sua falência, de su a culpabilidade, e de sua incapacidade, isto é, p ro n to a receber a C risto que é o fim da lei, de suas cerem ônias e de seus m an­ d am entos. A s obras do messianismo Nessas condições, veio Cristo, Messias de Seu povo, Ungido de Deus, apoiado pelos sinais e os milagres anunciados pelos profetas. Essas obras milagrosas designavam-nO como M essias; eram destinadas

O que são as obras maiores

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a convencer o povo, a provocar seu arrependimento nacional. Daí a importância dessas mesmas obras depois da ascenção do Senhor, en­ quanto 'os apóstolos se dirigiam a Israel como naçao, como o vemos em A tos 2:36; 28:17— 28. M as quando Isra el recusou definitivam ente a pregação do P en teco stes apoiada por essas obras, Hebreus 2:3, e que os após­ tolos foram levados a desviarem -se de Isra el para se dirigirem aos pagãos, essas obras pararam , dando lu g ar àquilo que o Se­ n h o r h av ia anunciado e que os apóstolos tin h am confirm ado: a fé exclusiva na P alav ra de D eus como fonte da salvação, da san ­ tificação e do serviço cristão. • A s obras da fé, Romanos 10:4— 11. Q uais são pois “ as obras m aiores?” São m aiores do que as obras da lei, m aiores do que as obras do m essianism o operadas na te rra pelo M essias e Seus apóstolos d u ra n te os prim eiros tem ­ pos da infância da Ig reja. O S en h o r devia deixar Seus discípulos e v o ltar p ara o céu, m as a obra que com eçara devia continuar. S ua ausência física, não fará p a ra r a obra, m as Sua presença na glória com o Senhor glo­ rificado vai enriquecer os Seus, Colossenses 2:9,10, Hébreus 2:9. As obras de Sua g raça que vão praticar, atacando as fortalezas e os en trin ch eiram en to s do inim igo, no m undo e nas alm as dos hom ens, vão m anifestar um poder espiritual pois não é contra a carne e o sangue que a Ig re ja h á de com bater, E fésios 6:12. E ssas obras m aiores devem cu rar os corações quebrantados, d ar aos cegos a v ista espi­ ritu al, p u rificar os hom ens da letra e da paralisia do pecado é re ssu sc ita r os que são m ortos em -suas faltas e em seus pecados. O S enhor m esm o g aran te “ essas obras m aio res” pelas Suas prom essas. P o r conseguinte, o cristão deve- e star cheio de es­ perança. A g ran d e onda do am or de D eus invade o coração dos hom ens e estende-se até às extrem idades da terra. E a Igreja, “ deixando o que diz . respeito à infância”, 1 Coríntios 13:11; H e­ breus 5:13, cresce à Sua im agem , a do hom em perfeito em Cristo, que lhe confiou essa divina e gloriosa tarefa. . A s obras m aiores são,- .pois, o fru to de.. Sua. glorificação, o fim do m essianism o. C o n trastan d o com êste últim o, as obras m aiores são a resp o sta divina às necessidades do m undo perdido. C um prem -se pela vida dos Seus que aceitam a disciplina e a purificação pela P alavra, como o explica o capítulo 13. C risto é,' pois, o fim das obras da lei. As obras m ilagrosas do M essias deixam* lu g ar às obras m aiores do Senhor/ glorificado

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O Evangelho segundo João

que a rra sta a Ig re ja a um o u tro círculo, não m ais terrestre, m as celeste, e "a um outro nível, não m ais físico, m as espiritual. Êle q u er "dêsse modo santificar perfeitam ente os nossos espíritos, as nossas alm as e os nossos corpos. D oravante, a fé o pera: contenta-se, do que D eus diz e Seu F ilho cum pre, do que Êle é p resentem ente na glória. Se essas obras são m aiores, m aiores tam bém são os nossos privilégios e a s nossas respónsabilidades. O S enhor m enciona aqui “ as obras m aio re s” seg u in tes: a) A oração em Seu Nom e, v. 13,14. b) A presença e a vida do E s ­ pírito Santo, v. 15— 18. c) A unidade efetiva e viva do Pai, do F ilho e dos Seus, v. 19— 31. /Êste últim o tem a é de novo tr a ta ­ do e desenvolvido nos capítulos 15 a 17. 1.

As obras maiores, v. 12

“ Em verdade, em verdade vos digo: Aquêle que crê em Mim, êsse também fará as obras que Eu faço, e as fará maiores do que estas; porque Eu vou para o P a i”, v. 12. A dupla afirm ação, o testem unho do P ai e do F ilho, m o stra a im p ortância da declaração feita aos discípulos. , O S enhor está, pois, tra ta n d o de fazer com que se separem do judaísm o, que gra,vita ao red o r do m essianism o, a fim de prepará-los para o cristia­ nism o. “ As obras que E u faço” são de fato Suas obras m ilagro­ sas, m essiânicas. Êle as tin h a anunciado a João na prisão. Lede M ateus 11:5,6; A tos 2:22 Hebreus 2:4; Isaías 35:5,6. O S enhor anuncia agora obras que D eus considera como “ m aio res” . L ucas conta o princípio do m inistério de nosso Sal­ vador, que tom a por m ensagem o ano de g raça do Senhor, an u n ­ ciado por Isaías, isso contrastan d o com o tem po da lei que o p re­ cedeu e o tem po de juízo que o segue, Lucas 4:18,19 cp. Isaías 61:1— 3; “ O E sp írito do S enhor Jeová está sôbre M im, porque o S en h o r Me ungiu p ara p re g ar boas novas aos m ansos : enviou-M e a re sta u rar, os contritos de coração, a proclam ar liberdade aos ca­ tivos, e a a b e rtu ra de prisão ao p re so s; a apregoar o ano aceitá­ vel do S en h o r” . Se o messianismo pedia a Israel o arrependim ento: uma mudança de atitude para reconhecer a seu Messias, o cristianism o. pede nada menos que uma, mudança de coração e de natureza. E essa mudança só pode operar-se por um ato criador: a intervenção direta do Filho dè Deus, pelo poder do Espírito Santo, na vida do pecador. '

Á s obras maiores anunciadas

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O judaísmo prendia os ouvintes à terra a quem pertenciam tôdas as promessas messiânicas; mas o cristianismo tem sua origem no céu, num Salvador glorificado. Prepara o homem para o céu e dá-lhe o poder do Espírito Santo para pregar a Palavra do Filho com a auto­ ridade que triu n fa das obras do diabo, atinge o coração do homem, desp erta a sua consciência, 16:7— 11, quebra seus grilhões, tran sfo rm a seu caracter e dá à Igreja cristã uma mensagem sobrenatural e um poder superior a qualquer outra autoridade. Pois “ Deus exaltou so­ beranamente Seu Filho, e Lhe deu o Nome que é sôbre todo nom e; para que ao Nome de Jesus se dobre tôdo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e tôda a lingua confesse que. Jesu s C risto é o Senhor, p ara glória de D eus P a i” , Filipenses 2:9— 11. Os C o rín tio s podiam falar em línguas desconhecidas m as não podiam im por silêncio ao diabo que sem pre obra sua confusão. P re ­ ten d iam te r revelações e êxtases, m as não podiam d errib ar as fo r­ talezas satânicas dos raciocínios e das filosofias hum anas que os en v o lv iam ! P ro lo ngavam as linhas da E scritu ra , m as não obe­ deciam ao que estava escrito. P erm aneciam crianças, carnais, p ro n to s a receber as piores seduções, 1 Coríntios 3:1— 3; 2 Corín­ tios 11:1— 15. ( A ssim “ as obras m aio res” provêm do céu, “ porque vou ao P a i” , v. 12. Se elas levam fora daquilo que pertence ao ju d aís­ mo, levam tam bém forja do que pertencia ao estado de infância da Ig reja. É falando dêsse assu n to que o apóstolo P aulo diz: “ Q uando eu era m enino, falava com o m enino, sentia como m eni­ no, pensava com o m en in o ; m as logo que cheguei a ser hom em , acabei com as coisas de m enino” , 1 Coríntios 13:1.1. 2.

A oração em Nome de Jesus, v. 13, 14.

“ E tudo quanto pedirdes em Meu Nome, Eu ò farei, para aue o Pai seja glorificado no Filho. O que Me pedirdes em Meu N o­ me, Eu o farei" v. 13,14. Jesu s revela agora qual é o prim eiro teso uro com o qual o P ai vai en riq u ecê-lo s: a oração em S eu Nome, assunto a que Êle vol­ ta rá nos Capítulos 15:7,16 e 16:23,24. Êles tinham conhecido as orações que João B atista ensinava aos seus discípulos. T am bém o Senhor lhes ensinara a oração dita dom inical, Mateus 6:9— 13. D issera-lhes orassem ao M estre da seara p ara m an d ar tra b a lh a ­ dores a Sua seara, Lucas 10:2. E depois ensinara-lhes a perseve­ rança e a lu ta na oração, Lucas 11:1— 13; 18:1— 14.

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O Evangelho segundo João

A g ora Êle vai ser glorificado, volta ao P ai depois de te r ad­ quirido sua salvação; e a posição dos discípulos de todos os tem ­ pos é, doravante, a de filhos e herdeiros, Hebreus 2:10— 13. O fe­ rece-nos o direito de pedir, segundo a qualidade de herdeiros, d an ­ do-nos a certeza de que o P ai resp o n d erá e ag irá no m undo. T ô ­ da a distância, todo o afastam ento são, desde agora, suprim idos, “ a fim de receberm os a adoção” Gálatas 4:5— 7. T rata-se, pois, de fato, de “ obras m aio res”. 3.

A presença e a vida do Espírito Santo, v. 15— 18.

O S enhor com pleta êsse ensino p o r 1um a verdade que lhe é in se p a rá v e l: , . “ Se Me amardes, guardareis os Meus mandamentos. E Eu rogarei ao Pai, e Êle vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre, a saber, o Espírito da verdade", v. 15,16. João em prega a palavra “ m an d am en to ” v in te e q u atro vêzes em suas E pístolas. E ssa palav ra significa, já o vim os no Cap. 13:34, um encargo, um a responsabilidade confiada a alguém . T r a ­ ta-se, pois, dum tesouro pelo qual são responsáveis os crentes "e que o S enhor lhés en tre g a agora.t E ss a p alav ra encontra-se seis vêzes nessa segunda seção: 13:34; 14:15,21; 15:10 (duas vêzes) e 15:12. O que Êle confia aos Seus, é a responsabilidade de am áÍO, de am arem -se entre si, e de serem cuidadosos na p rática do en­ sino tão precioso que lhes dá. É ,e n tã o que o S enhor anuncia que Êle m esm o ora a Seu Pai. O filho de D eus é, portan to , objeto dos cuidados do P ai e do F i­ lho que, juntos, em previsão dum serviço novo inaugurado no' P en tecostes, vão m andar outro Consolador. T a l profusão de cuida­ dos p atern ais nos confunde, m as a plenitude tôda de Seu am or rios é ad q u irid a; as reprêsas de Seu coração estão abertas sôbre todos os resgatados. A palavra trad u zid a " Consolador” acha-se aqui e no V e rsí­ culo 26, em seguida em 15:26; 16:7, e em 1 João 2:1, onde está trad u z id a p o r A dvogado. Sua significação literal u ltrap a ssa m uito o sentido da palavra C onsolador. É alguém que está cham ado a ficar ao nosso lado com o C onselheiro, A ssociado, em tu d o o que concerne à nossa vida e ao nosso serviço de discípulo n a terra. N o céu, ^ n d e -o -« ristã o -esèá-asseataéo Cpís4o-«íis -re-giêes celestes”, E fésios 2:6, o crente tem um “ A dvogado ju n to ao P a i”, Êle, Jesu s C risto o Justo, que intercede pelos Seus, protege-os di­ an te do “ acusador dos irm ã o s”, “ o que os acusa diante de D eus

A s obras maiores anunciadas

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dia e n o ite ” , Ajpocalipse 12:10, m as êsse m esm o A dvogado, êsse C onsolador, encontra-S e tam bém continuam ente com êles, nêles, pela presença do E spírito S anto de Q uem Jesu s vai especificar o m inistério. O segundo título que Êle dá ao Consolador é o Espírito de ver­ dade, lit. O Espírito da verdade. Jesus Cristo já Se revelou como sendo a V erdade encarnada, que revela a verdade escrita. A gora dá aos Seus o Espírito divino dessa verdade, Aquêle cujo sôpro penetra todo o texto sagrado, magnífica a Pessoa do Salvador e vem perm a­ necer eternamente nêles. 'Serem penetrados do Espírito da verdade morando em seus corações, é a sua proteção e o seu privilégio nêsse mundo que “ está inteiramente no maligno”, 1 João 5:19. M ais tarde, no Cap. 16:7, 13— 15, o S enhor diz aos discípulos que lhes convém que Êle vá, porque, quando o E sp írito da v er­ dade vier, to m ará tudo o que é dÊIe p ara m agnificá-lO aos seus olhos, e tu d o o que tiverem ouvido p ara ensiná-lo aos seus co­ rações. “ O Espírito da verdade, o Qual o mundo não pode receber; porque não O vê nem O conhece; mas vós O conheceis, porque Êle habita convosco e estará em vós. Não v o s deixarei órfãos; volta­ rei a v ó s ”, v. 17,18. N ão se tra ta m ais, portan to , de ser órfão, m uito ao c o n trá­ rio ; as riquezas de Sua graça e de Sua glória, E fésios 1:7; 3:16, pertencem d o ravante àquele que O recebe e recebe assim o direito de ser feito filho de D eus, 1 :12. A Ig re ja p rim itiva é, disso, o exem plo: pobre, desprezada e perseg u id a pelo m undo, m as rica em D eus e poderosa em sua ação m issionária. Infelizm ente, a Ig re ja oferece hoje um espetá­ culo m uito d ife re n te : m uitas vêzes rica, m undana, ativa, m as sem poder, nem sem elhança com o seu C h efe; am ada ou to lerad a pelo m undo, cuja m entalidade adotou. O divórcio entre ela e seu Che­ fe divino é um fato c o n s u m a d o ... Q ue D eus incline nossos co­ rações a exam inarm o-ríos diante dÊIe e a com preender an tes que seja tard e dem ais ! . 4. v. 19— 31.

A unidade viva e efetiva do Pai, do Filho e dos Seus,

N o v. 19, o Senhor anuncia novam ente a solene verdade de que o m undo não O verá m a is : “ Mas vós Me vereis, porque vi­ vo e vós vivereis”.

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. A lgum as horas depois, de fato, o S enhor foi crucificado e se­ p u lta d o ; e D eus não p erm itiu m ais que Seu F ilho fôsse visto p o r ninguém , exceto pelos discípulos escolhidos no meio dos quais' cum pre Seu m inistério de q u aren ta dias an tes da ascensão, com o duplo fim de prepará-los p ara anunciar ao m undo Sua obra de Salvador, m as tam bém de Ju iz daqueles que recusam S ua graça. L er A tos 10:42,43. “ Naquele dia conhecereis que estou em Meu Pai, e vós em Mim, e Eu em vós", v. 20. . Aos discípulos, o S enhor fala “ daquele d ia ” ; p ara nós, êsse dia chegou, não subsiste a m enor d im d a. C onhecem os que Êle m esm o está em Seu P ai com o o P ai estava nÊ le d u ran te os dias de Sua carne, 5:19— 30; 8:28,29, 10:30. Conhecem os que tal é a g lória presente do Senhor, dA quele que é o resplendor da glória de Dieus, e a expressa im agem do Seu Ser, Hebreus 1:3; 2:9. ' N osso insigne privilégio é de sabê-lo e de v iver dessa glória p re­ sente na proxim idade im ediata de Seu Pai. . “Estais em M im ”.. A identificação m ais p e rfe ita 1do crente com / seu S alvador re su lta de Sua glorificação. Êle a quis p a ra todos os Seus e a deu. T a l é o tem a da prim eira oração do apóstolo P au lo pelos Efésios, em que pede p ara êles a revelação das rique­ zas da glória da herança que Jesu s C risto reservou aos sa n to s: “ qúe D eus ilum ine os olhos do vosso coração, p ara que saibais qual seja a esperança da Sua vocação, e quais as riquezas da gló­ ria da Sua herança nos santos, e. qual a suprem a g ran d eza do Seu, poder p ara conosco, segundo a operação da fôrça do Seu poder, que operou em C risto, ressuscitando-O d entre os m ortos e fazen­ do-O sentar-S e à Sua d ireita nos •céus, m uito acim a de todo o principado, e autoridade, e poder, e domínio, e de todo o nom e que se nom eia, nãó só neste m undo, m as tam bém no v indouro,” E fé­ sios 1 :18—2Í. E stam o s de fato no lu g ar santo de S ua p resen ça; fruim os dessa posição adquirida ao preço de Seus sofrim entos redentores, pela Sua soberana graça p ara com os que O receberam . O Capítulo 15:1— 11 revela todo o significado d esta p a la v ra : “ V ós estais em M im e . . . E u em\ vó s”; descreve os efeitos de Sua presença permanente em nossas vidas. Porque a vinda do Espírito Santo torna, de fato, possível que “Cristo habite em nossos corações pela f é ”. L er Efésios 3:14— 19.

A s obras maiores anunciadas

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“ Aquêle que tem os Meus mandamentos e os guarda, êsse é o que Me ama; e aquêle que Me ama será amado de Meu Pai, e Eu o amarei, e Me manifestarei a êle”, v. 21. É a linguagem que achamos na carta à Igreja de Filadélfia, Apoca­ lipse 3:8— 11; ela pertence aos que perseveraram em meio à tentação e à p ro v a ç ã o : êles cum prem a vontade do Pai, dão ao m undo a p ro v a ' de que, acim a de tudo, am am seu Senhor. Ser guardado assim em meio às dificuldades presentes, ser preservado p ara Seu reino e glória é um a obra m aior que a procura de m anifestações esp ectaculares próprias à satisfação da curiosidade e dos sentidos. Conduzindo-os duma para outra riqueza, Jesus acrescenta: "Aquêle que M e ama será amado de M eu Pai, e E u o amarei, e E u M e manifes­ tarei a êle”, v. 21. E is o que Êle nos confia, eis o Seu m andam en­ to. Nosso am or, por pequeno que seja, encontra o am or dò P a i ; funde-se n essa plenitude infinita. É de adm irar que Jesus ten h a principiado dizendo aos Seus discípulos esta palavra cheia de g ra ­ ça: “ N ão se tu rb e o vosso coração” ? É êste*o seu alvo su p re­ m o : revelar-nos Seu am o r; com unicá-lo a nós e receber a plena resp o sta de nosso am or. N enhum a obra é m aior em nós do que e s ta capacidade divina de realizar o Seu am or, e de poder co rres­ ponder-lhe com tôda a realidade. “ Perguntou-lhe Judas (não o Isca rio tes): O que houve, Se­ nhor, que T e hás de manifestar a nós, e não ao mundo?” v. 22. Ju d as m o stra tam bém que seu espírito não saiu v erdadeira­ m ente das nuvens do judaísm o. A inda pensa em têrm os m essiâ­ nicos. M as a m anifestação de C risto n este m undo tin h a sido, por algum tem po, retardada. O S enhor tra ta dos Seus desde ago­ ra, de modo que sejam inspirados e equipados p ara seu serviço no m undo, após Sua partida. “ Respondeu-lhe Jesus: Se alguém Me amar, guardará a M i­ nha Palavra; e o Pai o amará, e viremos a êle, e faremos nêle mo­ rada. (68) Quem não Me ama não guarda as Minhas palavras; ora, a Palavra que estais ouvindo não é Minha, mas do Pai que Me enviou”, v. 23, 24. Somos chamados a identificar-nos Àquele que foi rejeitado e a nos en tre g ar in teiram ente a Êle. A vida cristã não é essa coisa fácil, (68) “ Viremos a êle, e faremos nêle morada”, v. 23. Notai a mesma linguagem no Velho Testamento. Exemplos: Gênesis 1:26; 3:22; 11:7; Isaías 0:8. A Santa Trindade está sempre em ação, seja na criação do homem e quando mantém as prerogativas da Divindade, seja em juízo, seja quando chama Seus servos e em tudo o que concerne à salvação e à santificação do homem.

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superficial e popular que m anifestam tão am iúde os que a professam . N ão que D eus tenha esquecido o m u ndo; “João 3:16” subsiste. O c a ráter distintivo da graça de D eus é de ser ela destinada a tô d a a criatu ra hum ana, Marcos 16:15; e os discípulos de Jesus C risto têm a responsabilidade de evangelizar o m undo e de adverti-lo daquilo que o espera. P ara êsse serviço nada é suficiente a não ser a presença do Pai e do Senhor mesmo morando nos Seus pelo Espírito Santo. Em tôda a parte onde é guardada a Sua Palavra, essa pre­ sença divina é efetiva no coração dos Seus. ' “ E ssas coisas vos tenho falado, estando ainda convosco. Mas o Consolador, o Espírito Santo, a Quem o Pai enviará em Meu Nome, Ê sse vos ensinará tôdas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto Eu vos disse", v. 25, 26. O S enhor vai deixar os Seus, e logo vai findar essa efusão das p alav ras de am or de Seu coração. T ais riquezas não podiam ser perdidas. P o r isso, asseg u ra a Seus filhos de todos os tem pos que as palavras que sairam de Sua bôca, assim com o certos acon­ tecim entos de Sua vida abençoada n a terra, não serão esquecidos — nem dim inuídos, nem deturpados, nem torcidos pela tradição. A infalibilidade de Sua vida e de Sua obra é igual à infalibilidade de Sua d o u trin a ; não será enfraquecida pelas lim itações do hom em que, êste, sim , é falível. N esses term os' Jesu s assegura o m ilagre e a g raça de Sua inspiração, cp. 16:13; Lucas 24:44,45. (69)

(69) A fim de assegurar a integridade das narrações de Sua vida e d ensino 'das Epístolas, em três ocasiões diferentes nosso Senhor tomou à parte com Êle três dos Seus discípulos: Pedro, Tiágò e João, para fazê-los presen­ ciar três acontecimentos dos mais sagrados de Seu ministério terrestre. Só Marcos relatou o fato de que apenas três entre os doze foram testemunhas do poder do Senhor ressuscitando a filha de Jairo.. Em seguida recomendou-lhes fortemente que ninguém viesse a saber disso, Marcos 5:35-43. Mateus, Mar­ cos e Lucas contam que êsses mesmos três discípulos assistiram à transfigu­ ração, onde Moisés e Elias apareceram na nuvem e falaram com Êle de Sua partida, que Êle cumpriria em Jerusalém. Assim êsses três apóstolos tiveram, pela presença dessas duas colunas da antiga aliança, a prova da associação íntima das Escrituras do Velho Testamento e da missão redentora do Senhor. Novamente, recomendou-lhes que não falassem disso antes do tempo, Mateus 17.9; Marcos 9:9; Lucas 9:36. Tomou também consigo no Getsêmane a Pedro, a Tiago e a João: assistiram à Sua luta contra aquêle que tem o impé­ rio da morte, à Sua obediência à vontade do Pai e à Sua vitória sôbre o inimigo que queria interpor-se entre Seu Pai e Êle, impedir a redenção e a salvação dos homens. Lendo as Epístolas, vemos como êsses três acontecimentos deixaram funda impressão sôbre os escritores sacros. Pedro, em sua segunda Epístola, afirma que não foi seguindo fábulas habilmente concebidas que lhes deu a conhecer o poder e a vinda do Senhor Jesus Cristo, mas foi como tendo visto Sua majestade com os próprios olhos, 2 Pedro 1:16-21. Seus discursos dos

 s obras maiores anunciadas

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A ssim , o que o F ilho de D eus cham a Sua “ d o u trin a ”, 7:17, cp. 18:19, foi objeto de Seus m aiores cuidados, a fim, que tenham os dela um a exposição exata e com pleta. A inspiração dos livros do Novo T estam e n to está p o rtan to g aran tid a. (*) P ela segunda vez, o S enhor tran q ü iliza o coração de Seus fi­ lhos, previne qualquer perturbação, qualquer inquietação. D eixalhes a paz, essa paz que nÊ le está, que nunca O deixou, v. 27. É p arte da h eran ça dos san to s; Êle no-la dá, e não como o m undo a d á: “ A quêle que nem m esm o a Seu próprio F ilho poupou, an ­ tes O1 entreg o u por todos nós, com o não nos dará tam bém com Êle tôdas as coisas?” Romanos 8:32. O m urído dedica seus fa­ vores aos que lhe parecem m erecê-los m as D eus não opera dêsse modo. Terminando o capítulo, o Senhor diz aos discípulos que uma das provas.da presença de Seu amor nêles será o fato dêles terem sempre gôzo por Sua presença ao lado- do Pai. O amor divino é-lhes garan­ tido, a paz divina é-lhes prometida, e agora ainda a alegria celeste é-lhes concedida, antes mesmo que possam ter a sua perfeita realização pela vinda do E sp írito Santo, v. 28— 29. A nuncia-lhes então que a hora da traição está p róxim a: “Já não falarei muito convosco, porque vem o príncipe dêste mundo; e êle nada tem em Mim; mas assim como o Pai M e'ordenou, assim mesmo faço, para que o mundo saiba que Eu amo o Pai. Levan­ tai-vos, vam o-nos daqui” v. 30,31. Êle to m a o cuidado de explicar que, se o príncipe dêste m undo vem , n ad a tem nÊle. Éle é o Único que poude falar assim , o Único que nunca apresentou em Si um ponto que o diabo pudesse aproveitar. N Êle não houve atração nenhum a p ara o .pecado, afi­ nidade alguma, com o m a l; o S anto de D eus nunca conheceu o pecado, 2 Coríntios 5:21; N unca com eteu pecado algum , 1 Pedro 2:22. (*) M as foi obediente até à m orte, e por S ua m orte, o príncipe da m orte encontrou seu V encedor. i " Levantai-vos, vamo-nos daqui”. O Senhor dispõe de Sua vida com o da vida de Seus discípulos. A inda tem que fa la r-lh e s ; em seguida entreg ar-S e-á a Seus inim igos, depois de te r sofrido no G etsêm ane um assalto m ortal do diabo que queria im pedir a expiação. A TOS têm também êsse cunho. Êle fala, associando a si mesmo os outros discípulos, como “testemunhas'dessas coisas” 5:32. (*) Ver Cad. Cultura Bíblica n.° 1. Introdução à leitura do Novo Testamento pág. 29-34. (*) Ver C. C. B. N.° 2 O Evangelho segundo Mateus pág. 24-27 e N.° 4 O Ev. segundo Lucas, páginas 34 a 37.

SEG U N D A P A R T E — T E R C E IR A SEÇÂO Textos bíblicos e anotações

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Q U A R TA SEÇÃO Capítulos 15-16:4

A revelação da Videira e das varas, 15:1-17 1.

Introdução

Lem os no E vangelho segundo Mateus, 26:29,30, que, term i­ nada a prim eira Ceia, o Senhor diz aos discípulos: “Desde agora nãomais beberei dêste fruto da videira até aquêle dia em que, juntam ente convosco, o beber novo, no reino de M eu P ai,.. . E , tendo cantado' um hino, saíram para o monte das Oliveiras”. P elo cam inho, o Senhor atra v essa um terreno plantado de videiras e de oliveiras para chegar ao jard im de G etsêm ane. E n ­ q u an to anda, revela ainda aos Sèus o u tra das “ m aiores o b ra s”' resu ltan d o de Sua glorificação. O Salmo 80:9— 20 descreve os resultados da desobediência e da rebelião de Israel, a videira que D eus havia plantado e cujas cêrcas estão arrancadas, de m odo que a despojam os que passam e que serve de pasto aos anim ais do campo. É o g rito su p lican te de Israel quando atrav essa a grande trib u lação : “ Ó D eus dos E xércitos, volta-T e, nós T e ro tô a g g í^ atende dos céus, e vê, e v isita esta vinha. E a videira que a T u a d ex tra p lan to u . .. D ê ste modo, não nos irem os de após T i ; guarda-nos em vida, e invoca­ rem os o T eu N o m e” , v. 14-—18. ' O p ro feta Isaías, 5:1— 7, can ta “ o cântico do m eu Q u erid o -a respeito da Sua v in h a ” . E ssa videira, p lan tad a nas m elhores con­ dições, a qual Êle cercou de Seus cuidados, n a espera dum a bela colheita, só produziu fru to m au. “ P orque a vinha do S enhor dos E x ército s é a casa de Israel, e os hom ens de Ju d á são a p lan ta das Suas delícias; e esperou que exercessem juízo, e eis aqui opres­ são ; justiça, e eis aqui clam o r” , v. 7. No capítulo 15 do E vangelho segundo João, o Senhor revela esta su rp reen d ente e solene v e rd a d e : um dos resultados de Sua rejeição e da de Israel é que Êle, o Senhor, de agxira em diante

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ocupa o seu lugar. P o r te r sido rejeitado com o M essias, todo o an tig o sistem a do judaísm o desm orona. R essuscitando a Seu F i­ lho d en tre os m ortos e glorificando-O à Sua direita, D eus introduz no m undo, pelo poder do E spírito Santo, algo inteiram ente novo a que se refere assim o apóstolo P a u lo : “ Se alguém está em C risto, nova c ria tu ra é; as coisas velhas já p assa ram ; eis que tu d o se fêz n o v o ” , 2 Coríntios 5:17. A parábola dos lavradores m aus, Lucas 20:9— 16, pode tam ­ bém servir de com entário às palavras que abrem êste capítulo. Ê sses hom ens m aus não sòm ente roubaram o fru to da vinha, m as m ataram prim eiro os servos encarregados de ir buscá-lo e depois m ataram m esm o o H erd eiro p a ra g u ardarem a herança. É dito expressam ente que esta parábola visava os condutores espirituais de Israel, v. 19. 2.

A Videira e as varas, v. 1— 3.

E is a revelação que o Senhor dá aos S e u s : “ Eu sou a V i­ deira verdadeira, e Meu Pai é o Viticultor. Tôda vara em Mim que não dá fruto, Êle a corta; e tôda vara que dá fruto, Êle a limpa, para que dê mais fruto. V ós já estais limpos, pela Pala­ vra que vos tenho falado", v. 1— 3. É de sum a im portância com preender que não se tra ta aqui da salvação dos inconvertidos, m as sim do serviço dos re sg ata­ dos em com unhão com o Seu salvador. N ão se tra ta tam pouco •da revelação reservada às E pístolas dizendo respeito ao corpo de C risto e à união celestial e m ística de sua Cabeça e dos seus m em bros, E fésios 4:11— 16; 1 Coríntios 12:12— 30. P o r meio dêsse m agnífico sím bolo da V ideira e das varas, o S enhor quer fazer com preender aos Seus a n atu re za e o escopo de S ua união com êles a fim de que dêem fru to no novo serviço resultando de Sua en trad a na glória. O S enhor é, portanto, a verdadeira V ideira. Seus filhos são unidos a Êle como as varas da videira p a ra m anifestarem Sua vida divina pelos frutos, pela oração efetiva e pela sua sem e­ lh an ça com Êle. , ' "Tôda a vara em M im que não dá fruto, Êle a corta”. Não sendo p rópria para o Seu serviço, D eus a tira, j'ulga-a inútil, em bora possam os hom ens pensar de m odo diferente. O que im ­ p o rta .para o discípulo, é o que seu M estre pensa dêle. “ Êle a c o rta ” , isto significa que D eus a tira de seu lugar, porque não dá senão fôlhas, folhas da profissão exterior, sem nenhum fru to esp iritu al. O discípulo assim não corresponde m ais ao in ten to V



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A revelação da Videira e das varas

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do S enhor ; seu caso é sem elhante ao de João M arcos, ver A tos 13:13; 15:37— 39. Em compensação, "Tôda vara que dá fru to , Êle a limpa, para que dê mais fr u to ", imagem duma dessas leis da natureza que todos conhe­ cem, O divino L av rad o r cuida da qualidade e cuida da m a tu ra ­ ção do fru to ; além disso, am biciona p a ra Seus filhos ' “ ainda m ais fru to ” . A disciplina da provação e da ação da P alav ra são' necessárias p ara que o am or do P ai seja plenam ente satisfeito, a £im de' que Seus filhos não perm aneçam estacionários e que evitem o laiço m ais perigoso p a ra a Ig re ja : a tibieza, o sono, a ju stiç a p ró p ria um a profissão sem vida e sem poder divinos. F elizes são os que, em nossos dias, ouvem o que o E sp í­ rito diz às Ig rejas, têm o zêlo do arrependim ento, A pocalipse 3:20, sabem obedecer à verdade e possuem “ o am or da verdade p ara serem salv o s” dos perigos presentes e das seduções, 2 T essalo ­ nicenses 2:10. O S enhor fala, portan to , da vida de serviço dos Seus, q u e dependem d iretam en te dÊIe e perm anecem unidos a Êle, a V ideira, vivendo de Sua vida, m as subm issos aos cuidados e à disciplina de Seu Pai, cp. H eb reu s 12:5— 13. Os que aceitaram ser identificados ao grão de trigo divino, e que p erd eram sua vida p ara e sta r “ lá onde Êle e s tá ” , segundo S uas palavras, 12:24—26; os que- g u ardam S ua P alav ra deixandose p or ela p u rificar capítulo 13, os que vivem das bênçãos a n u n ­ ciadas no capítulo 14, são doravante responsáveis pelas riquezas de seu S alvador e de Sua P alavra. U nidos à V ideira, dão m u itc fru to p ara D eus n este m undo. É essa a vocação a que são ch a­ m ados, vivendo no descanso que a fé dá, em c o n tra s te 'c o m a fadiga, que dá um trab alh o feito sob a léi e n a agitação e energia da carne. Que afirmação de Seu amor e de Sua esperança para os Seus!' Os quatro Evangelhos são unânimes em m ostrar as fraquezas, as falhas de caráter dêsses “ homens da Galiléia” . Q uanta paciência e quanta tristeza teve o M estre a seu respeito! Mas Êle sabe o que Sua graça poderá fazer em seus corações. Sabe qual é o poder divino de Sua Palavra, sabe o que ela vai cum prir em suas vidas, e proclama: " V ó s já estais limpos, pela Palavra que vos tenho falado”. H á, pois, uma esperança p ara cada um de nós, m as cada um deve ab rir seu coração a fim de receber a obediência à verdade que to rn a pos­ sível essa operação de Sua graça, 1 P ed ro 1 :22. Notai que a ação da Palavra se opera lenta e seguramente. No cap. 13:10, o Senhor diz aos discípulos: " V ó s estais limpos, mas não•

O Evangelho segundo João

250

dodos”, porque o traidor não tinha saido dentre êles. Agora que Judas p artiu , o S enhor en treg a o que tem em Seu coração, e essa onda de palavras de g raça e de verdade já está influindo na purifi­ cação de Seus discípulos e o m esm o h á de acontecer em todos os que m ais tard e as irão ler. . A té aqui o S enhor colocou os discípulos diante de seus p ri­ vilégios, conduzindo-os de um a p ara o u tras riquezas, m as agora fa la das responsabilidades dêles n este m undo, em prim eiro lu g ar p ara com Êle, pois se o P ai falou pelo Filho, Êle quer também, falar p or meio dos que são salvos pela graça. 3.

O segredo do fruto, v. 4,5.

O S enhor explica agora aos discípulos a intim idade da com u­ nhão com Êle, que lhes tem re se rv a d o : (é o segredo do f r u to : “ Permanecei em Mim, e Eu permanecerei em vós; como a vara •de si mesma não pode dar fruto, se não permanecer na videira, assim também vós não o podeis dar, se não permanecerdes em Mim. Eu sou a Videira; vós sois as varas. Quem permanece em Mim e Eu nêle, êsse dá muito fruto; porque sem Mim nada podeis fazer”. Uma passagem da Escritura ilumina outra passagem. Um a pala­ vra do profeta Ezequiel ressalta pelo contraste a beleza da ctímparação feita pelo S enhor: “ E veio a mim a P alav ra do Senhor, dizendo: Filho do homem, que mais éo pau da videira que qualquer outro, o sarmento que está entre as árvores do bosque? Toma-se dêle madeira p ara fazer algum a o b /à? ou tom a-se dêle algum a estaca, para se p en d u rar algum tra s te ? E is que é lançado no fogo, para ser co n su m id o ; am bas as suas extrem idades consom e o fogo e p ■meio dêle fica tam bém queim ado; serviria, pois, p ara algum a o b ra ? ” Ezequiel 15:1— 5. Estas duas passagens de João e de Ezequiel declaram, em têrmos •dos mais simples e convincentes o que o homem é por natureza', sem utilidade possível para Deus, e o que êle pode tornar-se pela .graça quando aceita as condições divinas. r N ão há, portanto, desculpa p ara os filhos que queiram fu r­ tar-se ao serviço de D e u s ; e ninguém pode glorificar-se por ser utilizado em Seu serviço. As possibilidades divinas relatadas Tieste capítulo são lim itadas pela m edida de obediência filial de Seus filhos e o grau de apêgo de seu coração ao P ai celeste e ao Seu m aravilhoso dom de am or. É assim que os privilégios de que somos cumulados pela Sua graça •comportam grandes responsabilidades, porque nossa condição diante dos

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hom ens deve co rresponder à nossa posição em C risto, e o S enhor tu d o fêz p ara nos to rn a r possível viverm os essas verdades glo­ riosas. São os hom ens que vêem o fru to ou constatam a su a ausência, e são tam bém os hom ens que julgam o cristão, rejei­ tan d o -o p o r causa de sua inconseqüência e esterilidade, 1 Coríntios 9:27. O ap óstolo usa a ilu stração do enxêrto, Romanos 11:16—24; a en x ertia é uma incisão no tronco p ara colocar o enxêrto. F oi n a cruz que isso se fêz nas feridas de C risto ; a fé apropria-se dêsse fato, e o cristão sabe que doravante perm anece em Cristoglorificado. É um a coisa realizada, é um a posição adquirida p o r g raça que to rn am o s nossa pela fé: som os unidos à V ideira por mãodivina, a fim de m an ifestar n este m undo a vida abu n d an te da V ideira. Ao m esm o tem po, o S enhor m ora em nós pelo Seu E sp í­ rito S an to que não recebem os p o r obras, Gálatas 3:14, m as pelafé no que D eus diz. Tal é o segrêdo das " obras m a i o r e s Porque haveríamos de preferir as menores em lugar das “ maiores” ? Não nos deixemos rou­ bar essas jóias da graça, esta vida de plenitude, para contentar-nos com os rudimentos do mundo, com as seduções do inimigo, as ilusões de nossos sentim entos e a escravidão do legalism o “ N Ê le (C risto) habita corporalmente tôda a plenitude da divindade, e nÊle é que estais cheios”, C olossenses 2:9, 10. 1 O S en h o r faz então um a verificação que q u alq u er de nós pode fazer. Onde as condições são preenchidas, as conseqüên­ cias são visíveis: hã muito fruto. ' Aquêle que dá muito fruto sabe que sem Jesu s C risto n ad a pode fa zer; tô d a a glória pertence a Seu Senhor. O cristão, cônscio de ser a v ara pela qual a seiva divina lhe p erm ite d ar fruto, sabe que está enxertado à V ideira, e a cruz é sem pre um a realidade em sua vida, Gálatas 2:20. N ão lim item os o nosso D eus! Não impeçartjtos que o livre curso de Sua vida se m anifeste em nosso serviço. Êle disse r " f r u to ” e depois: “ ainda m ais fru to ”, v. 2 e isso com certas con­ dições que Êle revela. E m seguida, quando pode exercer Sua plena au to rid ad e em nossas vidasi, onde se estabelecem enfim o repouso da fé e a com unhão perfeita com o Senhor, Êle fala de “ m uito fru to ” , v. 5,8. É o que Êle m esm o disse: “ se m or­ re, dá m uito fru to ”, 12:24. P o d erá nosso S enhor p ro m eter m ais, d ar m ais? P oderíam os agora contentar-nos com m enos? E n tre Isra el e seu M essias, o afastam ento perdura, m as um a união ín tim a e abençoada form a-se entre o S enhor glorificado-

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e nós, Seus filhos. n o ssa resposta. 4.

N ela nos intro d u z o S en h o r; Êle espera a

O perigo que ameaça a vara, v. 6.

“ Quem não permanece em Mim, é lançado fora, como a vara, e seca; tais varas são recolhidas e lançadas no fogo, e ardem", v. 6. Como o S enhor falou dos resultados positivos da união bendita e n tre Êle e os Seus, tam bém adverte do perigo de tudó o que am ea­ ça essa com unhão. P ois aquêle que não perm anece nÊle é “ lançado fora, com o a vara, e seca” . P o r tão sim ples e clara que seja essa advertência, com o é negligenciada!. Q u an tas vidas estéreis, o u tro ra ard en tes p a ra D e u s ! Q uan tos testem u n h o s coletivos dé­ beis m as que já foram um poder de D eus no m undo! T ais fatos vêm apoiar esta palav ra do Senhor, Apocalipse 3:1— 6; 14—22. Agora o Senhor salienta o testemunho do mundo. Diz: "Tais varas são recolhidas e lançadas no fogo e ardem1’. N a versão auto­ rizad a ingleza lem os que “ os hom ens recolhem as v a ra s ” . N ão se tra ta do juízo de D eus que virá m ais tarde, 2 C oríntios 5:10, m as do juízo dos hom ens que não deixam de fazer os seus repa­ ros. O estado dos cristãos tíbios, inconscientes de sua m orte esp iritu al, não passa desapercebido ao m u n d o .. . p ara êle, êles são “ q u eim ados” . (70) ' A grade-nos isso ou não, é um fato. U sando de o u tra im a­ gem , o apóstolo P au lo dá ao crente a m esm a advertência em 1 Coríntios 3:10— 15. A qualidade de seu serviço será dem ons­ tra d a em plena lu z ; sua alm a será salva m as sua obra, seu p res­ tígio, sua fam a — m adeira, feno, p alha — serão consum idos pelo f o g o .... • ■ ! i-HWÍflF!. 5:A s conseqüências da união da Videira com as

vàras, v.

7,8.

“ Se vós permanecerdes em Mim, e as Minhas palavras per­ manecerem em vós, pedi o que quiserdes, é vos será feito. N isto

(70) Encontramos o mesmo pensamento na advertência à Igreja d Laodicéia, Apocalipse 3:17. Ela é cega, inconsciente; pensa nada precisar Mas Para Deus e para o mundo que olha o seu testemunho, é infeliz, mise­ rável, pobre, cega e nua. Não vê o que o mundo vê, a vergonha de süa nudez escapa-lhe completamente ,v. 18. É o estado em que se afundam os que têm a aparência da piedade, negando todavia o que a torna eficaz, 2 Timóteo 3:5.

A revelação da Videira e das varas

25.3

é glorificado Meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis Meus discípulos’V v. 7,8. O S enhor fala £g]ora das conseqüências dessa vid,a aben­ çoada p ara a qual p rep ara os Seus e p ara a qual tôdas as Suas o velhas são cham adas. N ão veio Êle para que as ovelhas tenham a vida, e a teriham com. abundância? 10:10. O v. 7 com eça pelo terceiro dos sete “ se ” , v. 4 ,6 ,7 ,8 (su b ­ entendido) 10, 14, 18 que o S enhor em prega p ara d esp e rtar os Seus não sòm ente para o sentim ento de seus privilégios, m as ain d a de suas responsabilidades. E sta vez Êle explica — e com o1 essa ad v ertên cia é n e c e ssá ria ! — que perm anecer nÊ le significa que Suas palavras tam bém perm anecem em Seus discípulos. Êle ensinou o m esm o princípio no cap. 8:31,32, onde diz “ aos que nÊ le c re ra m ” em m eio à resistência crescente e ao opróbrio que dali resultava: " S e vós permanecerdes na M inha Palavra, ver­ d adeiram ente sois M eus d iscíp u lo s; e conhecereis a verdade, e a verdade vos lib e rta rá ”. E a narração m o stra em seguida que a provação e a oposição tendo chegado, essas pessoas, que não perm aneciam em Sua P alav ra, e que não eram verdadeiram ente discípulos Seus, deixaram -se convencer pelos raciocínios de Seus adversários, 8:30— 59; Lucas 8:13,14. M as aqui, trata -se de discípulos, dos que são salvos, re g e­ nerados e que aceitam em seguida a disciplina da P alav ra em suas vidas. Êle revela aos seus corações o alcance divino e p rá ­ tico de Suas p alavras e isso difere b astan te dum a sim ples adesão in telectu al a certas doutrinas, por m uito preciosas que sejam . A verdade d iv in a ' perm anece nessas vidas, anim a-as, penetpa o ser in teiro e vivifica-o; habitando nêle ricam ente, Colossenses 3:16. Stia P alav ra' form a a m entalidade e inspira os pensam entos dos discípulos; dirige Suas vidas. E m ana de seus corações pelo E s ­ pírito S anto que é a seiva divina exprim indo o que é a V ideira. E is os re s u lta d o s : a) "P edi o que quiser de s, e vos será feito ”. D eus estabelece assim a Sua com unhão com os S eu s; ela não se m an ifesta por coisas exteriores. S ua P alavra, perm ane­ cendo nêles, in sp ira as suas orações. Seu pedidos são a expres­ são da v o n ta d e 'd iv in a ; recebem resposta “ E esta é a confiança que tem os nÊle, que, se pedirm os algum a coisa segundo a Sua vontade, Êle nos ouve; e, se sabem os que nos ouve em tu d o o que pèdim os, sabem os que já alcançam os as coisas que L he tem os

O Evangelho segundo João

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ped id o ”, 1 João 5:14,15. São dêsse m odo gradualm ente libertados dos im pulsos e das sutilezas da vontade própria, que procura im iscuir-se em suas orações e confundir-se com a vontade do P ai. N esse terreno tam bém , as ovelhas ouvem a voz do P a sto r e não seguem nenhum a o u tra “ voz in te rio r” ou exterior. E m sua bondade, D eus re tira de Seu filho que deseja dar fru to tu do o que é incom patível ou estran h o à vontade divina. T o rn a-o aten to a essas coisas, e delas o liberta. Sua P alav ra re ­ nova e vivifica o espírito do crente, tra z o descanso a seu cora­ ção, que doravante não m ais é subm isso a duas a u to rid a d e s : a de C risto e a do m undo. L er Romanos 12:2 e Hebreus 4:10— 16. b)

" Nisto é glorificado M eu Pai, que deis muito fr u to ”.,

E ssa ação de Sua P alav ra perm ite ao S enhor em pregar m ais a vida dos S eus; êles deram em prim eiro lu g ar “ fru to ” , “ inda m ais fru to ”, v. 2 agora “ m uito fru to ” . A obra de purificação e de lim peza opera-se e os resultado s são visíveis. T oN d o o nosso fru to vem dÊIe, porque tôdas as nossas fontes estão nÊle, Salmo 8 7 :7. O s resultados de nossa obediência pertencem a D eus e dão-L he glória. Êle quer que, do trab alh o de Sua P alav ra em noSsos cora­ ções, resulte a glorificação de D eus por nossas vidas e nosso ser­ viço. T a l 'é Sua am bição divina! c)

"Seis M eus discípulos”.

E is a m arca do discípulo autêntico. Sua vida dá testem u n h o uo poder da P alav ra de D e u s ; êle dá fruto, ora, e D eus Se apraz em responder. Sua vida é fru tífera em tôda a estàção e em qualq u er circunstância, Salmo 1 :3. Seu serviço dá glória a D eus e alegria ao coração do Senhor. E is o verdadeiro discípulo dum M estre rejeitado, o discípulo que crê e obedece, num m undo p er­ verso e rebelde. E m M ateus 11:27,28, o Senhor m o stra que p ara tais discípulos Sua disciplina é essencial e tam bém suave e p ro ­ teto ra. . 6.'

A nova relação de amor do Senhor e de Seus discípulos, v. 9— 15.

Como já o fizera, o S enhor põe a relação que deve existir en tre Seus filhos e Êle próprio ao m esm o nível de am or que o P ai tem p ara com Seu próprio Filho. O m esm o acontece n a relação

A revelação da Videira e das varas

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d as ovelhas com o seu ,bom P asto r, 10:30, e na Sua declaração do cap. 14:21; essa intim idade gloriosa será um dos tem as p rin ­ cipais de Sua oração ao Pai, capítulo 17. a)

Permanecer em Seu amor, v. 9.

'

F o ra da atm osfera inim iga dêste m undo, longe da confusão d a sinagoga, do falso brilho do tem plo, do poder sed u to r das cerim ônias levíticas, Êle pode ainda dizer-lhes êste segrêdo de Seu coração de R ed en to r: “ Como o Pai Me amou, assim também E'u vos am ei”, v. 9. A ssim o discípulo está tão p erto do Senhor q u an to o F ilh o está p erto do P a i ; o P ai am a-o com o m esm o am or com que am ou Seu Filho. E m seguida a c re sc e n ta : “ Per­ manecei no Meu amor”, v. 9. Em 2 Tessalonicenses 3:5 o apóstolo diz: “ O Senhor enca­ minhe os vossos corações no amor de Deus e na paciência de C risto”. Mas aqui o Senhor exorta a permanecer em Seu amor. D ando seu clam or de alarm a da ú ltim a hora, após te r des­ crito a apo stasia do m undo e o abism o p ara o qual é levada a hum anidade, Judas d iz: “ M as vós, am ados, edificando-vos sôbre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo, conservai-vos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo p ara a vida e te rn a ”, v. 20,21. P a ra en fren tar tal situação, tais perigos, nada m enos que isso pode ser suficiente; m as com a certeza dum a ta l intim idade, o cristão pode ir ao encontro dos tem pos perigosos do fim sem que o seu coração se perturbe. ■ b)

Guardar os Seus mandamentos, v. 10.

Novamente, e pela terceira vez, o Senhor fala de Seus manda­ mentos que devemos guardar, v. 10 cp. 14:15,21; porque o am or verdadeiro in spira a obediência, a dependência, a subm issão p er­ feitas que o F ilho teve p ara com o Pai. É o que João diz ta m ­ bém em sua prim eira E p ísto la : “ N isto conhecem os que am am os os filhos de D eus, se am am os a D eus e guardam os os Seus m an­ dam entos. P o rque êste é o am or de D e u s; que guardem os os Seus m an d am en to s; e os Seus m andam entos não são penosos; porque todo o que é nascido de D eus vence o m undo; e esta é a vitó ria que vence o m undo: a nossa fé. Q uem é que vence 0 m undo, senão aquêle que crê que Jesu s é o F ilho de. D e u s? ” 1 João 5:2—5. Os “ m an d am en to s” de Jesus C risto são a ex­ pressão de Seu am or, em co n traste com pleto com a lei dada p ara

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O Evangelho segundo João

rev elar o pecado, enquanto que os m andam entos de Jesu s dêle nos libertam . P o r Seu E sp írito Santo, o E sp írito de verdade, to ­ dos os tesouros de Seu am or nos são com unicados e confiados, to rn ad o s reais e presentes, quando perm anecem os nÊle e Êle em nós. • c)

Possuir o gôzo completo, v. 11.

“ E s ta s coisas vos tenho dito, para que M eu gôzo perm aneça em vós, e o vosso gôzo seja com pleto", v. 11. O Senhor exultou no Espírito Santo quando anunciou aos discí­ pulos “ estas coisas” que vai precisamente revelar-lhes com pormenores n este últim o colóquio, L ucas 10:21,22. O salmista havia anunciado esta característica do S enho “ Amaste a justiça e odiaste a iniqüidade; por isso Deus, o Teu Deus, T e ungiu com óleo de alegria mais do que a Teus companheiros”, H eb reu s 1:9. L er H eb reu s 12:2. E ssa unção de alegria tôda celestial é o quinhão daqueles em quem perm anecem Suas palavras e que as guardam , com o fêz a Ig re ja de F iladélfia, A pocalipse 3:8— 12. Êles têm “ pouca fôr­ ç a ” , pòuca fam a, m uitas aflições, m as g u ardam a P alav ra, não renegam o N om e bendito de seu Senhor, perseveram em C risto, pois Êle só pode d ar esta g raça e conceder a Seu filho êste tes­ tem unho num m undo desequilibrado, rebelde e corrom pido. “ Êle vem sem d em o ra”, até lá êles perseveram e vencem e nenhum hom em lhes tira a coroa. No capítulo 16:19— 24, o Senhor ainda falará aos Seus discí­ pulos dessa alegriá inalterável, privilégio daqueles que O am am e L he obedecem. d)

A m ar aos discípulos.

“ O M eu m andam ento é êste: Q ue vos am eis uns aos outros, assim com o E u vos am ei. N inguém tem m aior am or do que êste de d a r alguém a sua vida pelos seus am igos. V ós sois M eus am igos se fizerde o que E u vos m an d o ”, v. 12— 14. Pela segunda vez, 13:34. Jesus fala de novo mandamento. É preciso lem brarm o-nos de que os discípulos tinham sofrido so rte igual à do próprio M estre, expulso do tem plo e da sinagoga, 10:3,4. A pesar de ?eus erros, levavam Seu opróprio e eram alvos do ódio terrív el dos co n stru to res que haviam rejeitad o a pedra an g u lar, L ucas 20:17.

A revelação da Videira e das varas

257

A su a separação do judaísm o era, pois, um fato p ara os discí­ p u lo s; e no que concerne à lei n a qual o judaísm o pretendia apoiar-se, Jesu s C risto é o seu fim, p ara todos os que crêem , Romanos 10:4. Separados do mandamento antigo, os discípulos estavam prontos para receberem o novo. O Senhor pede-lhes que m anifestem uns p ara com os outros o am or que o P ai tem p ara com o F ilh o e que o F ilho tem píara com os discípulosi. A p resença do E sp írito S anto no coração do crente to rn a rá possível a m anifestação dêste am or, Romanos 5:5. M ais um a vez é-lhes proposto o Seu exem plo. O S enhor conhecia os S eus: suas rivalidades, suas am bições carnais, Marcos 9 :3 3 ,3 4 ; 10:35— 37, tôdas as m anifestações da vida própria. O am or divino que levou nosso S enhor à cruz guiá-los-á, tam bém a êles, à crucificação com o Senhor. E n tã o Seu am or triu n fa rá nêles e em sua vida em com um , Gálatas 2:20, 5:24. O S enhor ia en tre g ar a vida pelo m undo, Êle, o verd adeiro P ão do céu, 6 :33; m as aqui tra ta -se de o u tro aspecto da cruz que concerne aos Seus, cham ados a d ar a vida pelos seus am igos, a v iver essa vida con­ sagrada, co n stan tem en te sôbre o altar, dada aos outros e p ara os outros. e)

Serm os os "am igos” do Senhor, v. 15.

N o cap. 13:33 Êle cham a Seus discípulos “ filhinhos” ; agora cham a-os “ am ig o s” o que faz subentender um a com unhão e con­ fiança com pletas e recíprocas, e tam bém um a associação real e viva no que diz respeito- às responsabilidades e ao alvo dessa am izade. Êle os cham ará “ M eus irm ão s” no cap. 20:17. “ Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu Senhor; mas chamei-vos am igos, porque tudo quanto ouvi de Meu Pai vos dei a conhecer”, v. 15. D essa m aneira cessa de ex istir tu d o o que pertence ao legalismo. No capítulo 10, Jesus já anunciou que as relações do P a s ­ to r com as ovelhas estavam am eaçadas pelos ladrões e salteado­ res, o m ercenário e o lôbo. A qui o Senhor, antes de p artir, p re­ vine os discípulos — e os de todos os tem pos — do perigo do espírito m ercenário. O espírito que os deve caracterizar é o que une dois am ig os: a confiança, o conhecim ento m útuo de seus, de­ sejos e cam inhos. Quem sondará a profundeza desta única palavra: "T udo quanto ouvi de M eu Pai vos dei a conhecer”? Êle ensina Seus amigos em

O Evangelho segundo João

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v ista de sua associação com Êle n a m anifestação de Seu am or ao m undo. . U m ta l am or deixa-nos adm irados e hum ilha-nos. U m ser­ viço tão sagrado, num a intim idade tão perfeita, u ltrap assa o nosso •entendim ento. É verdadeiram ente a plenitude de Seu am or que se m anifesta. , 7.

A escolha e o plano do Senhor para os Seus, v. 16— 17

Adivinhando os pensamentos dos Seüs, o Senhor acrescenta: “ V ós não Me escolhestes a Mim, mas Eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto perma­ neça v. 16. A êscolha de D eus é a escolha dum a g raça so b e ra n a : Êle o dem onstrou, quando operou a cura do cego de nascença. A con­ tecia em Israel que um escravo podia escolher a seu m estre, m as o Senhor co n traria la ordem recebida, Ê xodo 21:5,6. “ D eus vos escolheu desde o princípio para a salvação, mediante a .santificação do E sp írito e a fé na verdade, e para isso vos cham ou pelo nosso Evangelho, a fim de alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus C risto” . 2 Tessalonicenses 2:13,14. Sua escolha exclui tôda a precipitação; longe das vistas do mundo, no segredo dos conselhos do Pai celestial, Seus discípulos descobrem que Deus os escolheu, e mais ainda, que os estabeleceu. ■Sua posição depende da graça soberana de Deus. 0 Senhor emprega o mesmo verbo no v. 13 (traduzido por dar, ver 10:15,17,18), falando do dom de Sua vida; seu sentido literal é colo­ car. De fato, Êle colocou Sua vida na cruz em lugar da nossa. ' Paulo utiliza o mesmo verbo (no texto original) para designar o encargo que lhe foi confiado: “ Eu fui constituído (estabelecido) pregador e ap ó sto lo ” . 1 Tim óteo 2 :7. E m am bos os casos, trata -se dum a vida dada, da qual o Senhor faz o que quer e que coloca nas condições que per­ mitirão ao fruto amadurecer para Sua glória. Escolhe e estabelece1por pura graça. ;i P aulo diz a êsse respeito. “ Dott graças À quele que Me re­ v estiu de poder, a C risto Jesus nosso Senhor, porque me julgou fiel, pondo-m e no Seu m inistério, àinda que o u tro ra eu era blasfeniador, perseguidor, e in ju ria d o r”, 1 T im óteo 1 :12,13. M as essa g raça não é reservada ap e n a s,a o s apóstolos; o ensinam ento dado nesses capítulos é p ara todos os discípulos do Senhor, tôdas as

O discípulo no mundo

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ovelhas do bom P asto r. T odos são cham ados a serem, as varas da V id eira ; a sua união íntim a coin o M estre e a disciplina da P alav ra produzirão nêles a faculdade espiritual de dar fruto. “ P ara que vades”. Antes de Sua ascensão, o Senhor repetiu esta p alav ra de o rdem :' “ Ide por todo o m u n d o . . . ” Marcos 16:15. “Ide, fazei discípulos de tôdas as nações”, Mateus 28:19. Foi necessária a prim eira perseguição, seguindo o m artírio de E stevão, para que leiam os nos A tos: “ 0's que foram dispersos iam por tôda a p ar­ te, anunciando a p a la v ra ”, 8:4. A quêle que escolhe Seus discí­ pulos escolhe tam bém o lu g ar onde os estabelecerá, o lu g ar do fru to e da bênção, o lugar onde Êle precede Seu discípulo. ^ “Para que deis fruto, e o vosso fruto permaneça”. O fru to que re su lta da seiva da V ideira é um fru to que p er­ m anece; é eterno. M as essa palav ra é tam bém um a exortação; p ara vigiarm os p trab alh o que o M estre nos confia. U m fruto que perm aneça necessita de cuidados e de vigilância a fim de que aquêle que tiverm os conduzido no cam inho estreito persevere nêle. 1 E p ara que os Seus discípulos sejam verdadeiram ente pene­ trad o s do fato de que o fru to que O glorifica é antes de tudo o resu ltad o !da com unhão com Êle e da oração, volta sôbre êsse a ssu n to : 15:7; 16,:23. “A fim de que tudo quanto perdides ao Pai em Mêu Nome, Êle vo-lo conceda", v. 17. O P ai dará aos Seus filhos aquilo que L he pedirem de acôrdo ■com a Sua vontade, e Sua vontade p ara êlés é essa vida depen­ dente dÊIe mesm o, essa vida entregue, alegre e frutífera. A cabam os de v er como o S enhor conduz os Seus a êsse estado esp iritu al em que a oração não é m ais um a penosa obrigação, m as sim a expressão dum a com unhão e dum a associação viva com A quêle que é tudo e que tu d o possui para Seus filhos. Seu am or foi-lhes revelado e dado. E agora estão capacitados, p ara ouvi­ rem o u tras instruções, bem diferentes m as igualm ente necessárias. P arêntese: 15:18— 16:4.

O discípulo

no

mundo



o

ódio

religioso, ,

A gora, por am or, o Senhor adverte Seus discípulos do ódio, que os espera — fato inseparável do testem u n h o que L he darãó n este m undo. .

260

O Evangelho segundo João

Suas palavras form am um grande co n tra ste com aquilo que precede, m as são da m esm a 'form a o desenvolvim ento prático do assunto. É m uito im portante, quando lem os o E vangelho, lem brarm o-nos, não apenas que êsses capítulos 13— 17 form am um todo, m as ainda que o seu ensino é atu al e perm anente p a ra a v ida dos crentes de nossos dias. A quêle que quer seguir e servir a Jesu s C risto deve aprender o que significa p ertencer-L he. P o r­ que o m undo trata r-n o s-á com o O tra to u , e nosso testem u n h o .consiste em perm anecerm os fiéis a Êle, a viverm os e anunciar in teg ralm en te tôdas as palavras que o F ilho de D eus disse quando vivia na terra. É im possível am arm os a um tem po nosso Senhor e a nossa p rópria vida. Q uerer conciliar o que é inconciliável significa p erd er tudo um dia, sem falar do m al incalculável feito aos outros. O discípulo é cham ado a v iv er de acôrdo com João 12:25 em tôda a realidade. "Q uem ama a sua vida perdê-la-á; e quem neste mundo despreza a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna”. Como o S enhor revela aos Seus todos os tesouros de Sua g raça que lhes são livrem ente dados pelo E sp írito Santo, assim tam bém descobre o o u tro lado do quadro aos seus olhos: “ Se o mundo vos odeia" v. 18. “ O diar!” que co n traste ho rro ro so . . . no in stan te em que Jesus acaba de falar de Seu amor perfeito! Mais solenes ainda são os qua­ tro primeiros versículos do capítulo seguinte consagrados à form a que irá tomar êsse ódio. Trata-se do ódio mais pérfido, ou seja o ódio relig io so ' que, desde o tem po de Caim, foi sem pre a arm a favo­ rita de S atanás, a vergonha dos hom ens, m as tudo p ara honra dos que êle fêz sofrer! 1. v. 18.

Sabei que, primeiro do que a vós, Me odiou a M im ”, ,

Êsse ódio ê a continuação daquele que envolveu o Filho de Deus, e que acabou crucificando-O . N isso tam bém Êfe é o P rec u rso r de Seus filhos, Hebreus 6:20. Êle sofreu tôda a fôrça do “ sôpro dos o p resso res” , Isdías 25:4. É Êle que a tem pestade açoitou; dela p reservou os discípulos. M as, por sua vez, êles vão conhecer os v en to s e a tem pestade da oposição. O S enhor vai para o ju n to de Seu P a i; deixa os discípulos n este m undo p ara que continuem Sua obra, A tos 1:1— 8, cp. Lucas 1 :2. Se o ódio do m undo encontrou sua m anifestação suprem a n a cruz, lá não se e sg o to u ; nunca perm anece passivo, e dirigiuse im ediatam ente contra a Ig re ja prim itiva.

O discípulo no mundo

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2. “ Se fósseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque não sois do m u n d o ..." v. 19. A segunda causa dêsse ódio ê que os discípulos verdadeiros não são do mundo. O Senhor os escolheu para estabelecê-los fora do m un­ do. E stão no m undo, m as não são do m undo, 17:6. L ogo que, p o r obediência ao Senhor, o discípulo recusa agir com o o m undo e viver de acôrdo com o seu curso, E fésios 2:2, o ódio do m undo se m anifesta, 2 Corintios 6:14— 18. E m todos os tem pos D eus teve os Seus que recusaram b e ija r a B aal ou d o b rar os joelhos p eran te êle, 1 Reis 18:21; 19:18. Sem ­ pre teve os Seus fiéis que recusaram inclinar-se p eran te os ídolos d os hom ens, Daniel 3:12. M as o inim igo tam bém teve sem pre o s seus “ D e m a s” que abandonam ao S enhor por am or do p resen te século, 2 T im óteo 4:9,10. C p. cap. 6:66. A P alav ra de D eus anuncia que ao fim do tem po da g raça h av erá um a nova geração de m á rtire s ; êles terão recusado ceder um til da P alav ra de D eus, acom odar-se à corrupção, im itando o testem u n h o de Jesus, Apocalipse 6:9— 11. O Senhor p rep ara os Seus p ara serem fiéis em tô d a a realidade e a viverem com o varas da V ideira. 3. “ . . . A ntes Eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia”, v. 19. Em terceiro lugar, os discípulos foram escolhidos do meio do mundo pelo Senhor que foi crucificado. É a honra que Êle lhes dá; e por isso devem estar certos de sua chamada conforme o que acaba de ser dito no v. 16. M as essa honra mesma torna-se motivo de ciúmes da parte daqueles que recusaram a luz e a vida. Quando o cristão se separa do mundo, o mundo fica exasperado. M as quando o cristão serve a Deus e dá muito fruto fora do mundo, êste não o pode tolerar, pois que as obras de Deus são uma condenação das obras do mundo. Nisso o mundo prova que é inspirado pelo seu “ deus” , ( bastante astuto para passar desapercebido. ' 4.

“ Não é o servo maior do que o seu Senhor”, v. 20.

E s ta p alavra, o S enhor já a disse, v er 13:13— 17 e M ateus 10:24. . U m dos sinais da decadência da cristandade p resen te é o g ran d e n úm ero dos eme levam o N om e do Senhor, m as cuja vida em n ad a se assem elha à S ua e' que não têm experiência algum a dos sofrim entos que Êle suportou por p a rte dos inim igos. O Se-

O Evangelho segundo João

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n h o r fala sem equívoco: “ Se a Mim Me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a Minha Palavra, guardarão tam­ bém a vossa”, v. 20. O s discípulos não devem p ro c u rar a perseguição; devem aspi­ ra r a um a vida que seja inteiram ente dada ao Senhor, deixando-O re in a r em seu coração, sem .nenhum rival. D evem obedecer-Lhe sem reticência algum a, sendo Sua P alav ra a pedra de toque de sua com unhão com Êle e de seu testem unho no m undo. Q uando é assim , conhecem a continuação do ódio que envol­ veu seu M estre antes dêles. M as conhecerão tam bém um pêso de glória. “ P o r isso não desfalecem os; m as ainda que o nosso ho­ m em exterior se esteja consum indo, o interior, contudo, se renova de dia em dia, porque a nossa leve e m om entânea tribulação p ara nós produz, cada vez m ais abundantem ente, um etern o pêso de g ló ria ”, 2 Coríntios 4:16— 18. N ossa posição no m undo e nossa atitu d e em tôdas as coisas devem m an ifestar a honra que nos é feita de serm os servos de ta l M estre. A ssim Êle pode em pregar-nos p ara fazer conhecer o Seu am or aos o u tro s ; e, por nossa vez, conhecem os algo daquilo que Êle sofreu. L e r Filipenses 3:10. ' 5.

“ Mas tudo isso vos farão por causa de Meu N om e”, v. 21.

O N om e de nosso Senhor Jesus faz as delícias do P ai, é o centro de tôda a adoração do céu, Apocalipse 21:22. M as é tam ­ bém a T estem u n h a de D eus que faz trem e r o inferno vencido, que expõe e destrói as obras do diabo, Filipenses 2:9— 11; Atos 3:6; 4:10. P o r conseguinte é o N om e odiado, não sòm ente pelos ju ­ deus que crucificaram a C risto, m as ainda pelos gentios que se. aliaram aos judeus p a ra fazê-10 m orrer. É de se ad m irar que no princípio dos Atos, os chefes religiosos de Isra el quisessem p roibir aos apóstolos qiie ensinassem em N om e dÊIe? 4:18; 5:28, 40. . ' É de se ad m irar que S atanás ten h a operado um a das suas obras prim as im itando êsse Nom e, enviando seus agentes em N om e de C risto? Mateus 24:4,5. O que os exorcistas pagãos, que queriam em pregar o N om e de Jesu s fizeram , no tem po de -Paulo, faz-se hoje em larg a escala, de o utra m aneira, m as com o m esm o espírito profano. E isso fnultiplicar-se-á à m edida que as seduções espi­ ritu ais dos últim os tem pos aum entarem , A tos 19:13— 19. E m prevenção ao perigo do falso em prêgo do N om e do Se­ n h o r e à fam iliaridade m alsã dos que se perm item o uso constante

0

O discípulo no mundo

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de Seu Nom e hum ano, o apóstolo P aulo declara que “ ninguém pode d izer: Jesus é o Senhor, senão pelo E sp írito S an to ”, 1 Co­ ríntios 12:3, / 6. E m sexto lugar, o S enhor revela a causa dêsse ódio sec u la r: é que os hom ens “não conhecem Aquêle que Me enviou", v. 21. A responsabilidade dos condutores religiosos do tem po do Senhor Jesu s e de todos os tem pos é ta n to m ais grave qu an to os hom ens m al ensinados tom am o N om e de D eus em v ão ; não co­ nhecem A quêle cujo N om e está continuam en te em suas bôcas. Não guardam a P alav ra do Senhor J e s u s ; não ouvem tam pouco a p a­ lav ra de Seus discípulos fiéis, v. 20, que em tudo se inspiram na P alav ra escrita. Ao c o n trá rio ,. esta P alav ra escrita, inspirada por 1D eus, é d esacreditada e criticada p o r aqueles que tom am Seu N om e em vão, cujo ódio se excita co n tra todo aquêle que p ro ­ clam a a au to rid ade divina e vive os ensinos da P alavra. M as os que odeiam os verdadeiros discípulos de Jesu s C risto não têm desculpa por êstes dois m o tiv o s: a) “ Se Eu não viera e não lhes falara, não teriam pecado; agora, porém não têm desculpa do seu pecado”, v. 22. Jesus Cristo veio ao mundo, Deus falou ; seja o que fôr que os hom ens façam d e, Sua P alavra, ela e s tá 'a o seu alcance a ignorân­ cia m esm a dêles os condena. E la é a testem u n h a silenciosa que D eus deixou en tre os homens." M as o que fizeram da P alav ra en­ carnada, o estão fazendo da P alav ra escrita. O principal m inis­ tério da Ig re ja é fazer ouvir aos hom ens a p u ra e infalível P alav ra ■de D eus. O inim igo das alm as o sabe. M ovim enta tu d o p ara im pedir os hom ens de recebê-la. O u proíbe a sua leitura, ou di­ m inui a su a autoridade, ou então consegue adorm ecer os que a possuem no sono da própria justiça. Q ueira D eus despertar-nos p a ra êsse fato so le n e ; porque Êle nos pedirá um dia conta do que fizem os de Sua P alavra. b) “ Se Eu não tivesse feito entre êles tais obras, quais ne­ nhum outro fêz, não teriam pecado; mas agora, não sòm ente vi­ ram, mas também odiaram tanto a Mim como a Meu Pai. Mas isto é para que se cumpra a palavra que está escrita na sua lei: Odiaram-Me sem m otivo”, v. 24, 25. Essas obras de nosso divino Salvador eram, jã o vimos, as provas de Sua m essianidade. H oje, se fizem os abstração de tôdas as

264

O Evangelho segundo João

im itações e contrafações do inim igo, as obras de nosso S alvador divino e ressuscitado ainda são visíveis em todos os países do m undo. A m ultidão sem conta dos resgatados de tôda nação, de tô d a tribo, de todo povo, de tôda língua, o núm ero infinito de fato s gloriosos, de a to s ‘red en to res que reg en eraram a tran sfo rm a­ ram os hom ens, essas provas aí e n tão ; ninguém tem desculpa, tô d a a pessoa de boa fé pode reconhecê-lo! A p ro v a está feita, o P ai deu Seu F ilho m ui am ado, deu S ua revelação divina, enviou Seu E sp írito S anto. E p eran te êsse tríplicè testem unho, o m undo incrédulo está condenado. 7. M as há um sétim o m otivo ao ódio que envolve o v erd a­ deiro discípulo de Jesu s C risto : “ Quando, porém, vier o Conso­ lador que E u vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que do Pai procede, Ê sse dará testem unho de Mim; e também vós dareis testem unho, porque estais com igo desde o princípio”, v . 26,27. A qui está a terceira m enção da vinda do E sp írito Santo. A p rim eira se refere à S ua perm anência no coração de Seus filhos, 14:16; a segunda diz respeito ao acabam ento do cânon sacro, 14:26. A terceira m enção anuncia-O com o o dom do P ai destinado a ser a fonte do testem u n h o que os discípulos darão do F ilho de D eu s. O capítulo seguinte declara que S ua p rim eira m issão é reve­ la r e m ag n ificar a P essoa do S alvador glorificado que os hom ens o diaram e crucificaram . M as aqui o Senhor faz re ssa lta r a res­ p onsabilidade dos discípulos. V indo ao m undo, não sòm ente o E sp írito S anto testem u n h a de C risto n a glória, m as os que O rece­ bem , tam bém o fazem. N ão se tra ta únicam ente dos apóstolos que viveram n a presença do S enhor du ran te S ua vida te rre stre , m as de todos os que beberam à fonte m esm a de Sua obra reden­ to ra e de S eu m inistério presente, A tos 1:8. T a l testem unho, apoiado em tal autoridade, inspirado, p o r taistesouros, revestido de tal poder, só pode su scitar o ódio dos que o recusam , preferindo a com unhão de seu pai, o diabo, que é m en­ tiro so e hom icida desde o princípio, 8:44. M as se êsse te ste m u ­ nh o d esp erta o inferno, tam bém desperta as alm as p ara a p ró p ria salvação. O s A tos dos A póstolos dão-nos a prova disso, assim com o os inúm eros despertam entos que reavivaram a Ig re ja no de­ co rrer dos séculos. Com te rn u ra m as tam bém com firm eza, o Senhor ad v ertiu os Seus daquilo que sobrevirá a todos os que O seguem com o Ê le

O discípulo no inundo

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e n sin o u : êles serão alvo dêsse ódio cuja obra-prim a foi a cruci­ ficação do F ilh o de D eus. Capítulo 16

N os prim eiros versículos do C apítulo 16, que deveriam term i­ nem abalados pelas perseguições, pois "sabeis vós mesmos que para ção. O Senhor não quer que Seus discípulos estejam desprevenidos, nam abalados pelas perseguições, pois " sabeis vás mesmos que para isto fom os destinados”, 1 Tessalonicenses 3:3. 1.

A excomunhão

“Tenho-vos dito estas coisas para que não vos escandalizeis. Expulsar-vos-ão das sinagogas", 1„2. Ê sse ódio religioso m o stra ra a sua origem e p ro v ará o seu c a rá te r pela arm a bem conhecida: a excom unhão! O sistem a de excom unhão existia no tem po de nosso S enhor e o cego de n a s­ cença curado foi o prim eiro a ser atingido p o r êle, 9:34. F oi um ser­ viço que lhe p re sta ram involuntariam ente. A fastando-o, os fa ri­ seus provocaram o seu encontro com o Salvador, o F ilho de D eus, q ue Se revelou a êle com o o P a sto r das ovelhas. S atanás em prega essa arm a para sem ear o te rro r nas alm as que estão ligadas pela tradição e o sono e que, despertando p ara a realidade, pro cu ram a libertação. A excom unhão é um a h o n ra p ara aquêles que ela fere por causa da verd ad e; é um a v ergonha e um a condenação p ara os que se arro g am êsse poder ilusório. “ O S enhor conhece os S eu s”, 2 Tim óteo 2:19. Cp. João 10:3,28. ,

2 .0

martírio ...

“Ainda mais, vem a hora em que qualquer que vos matar, julgará prestar um serviço a Deus. E isso vos farão, porque não conheceram ao Pai nem a Mim. Mas tenho-vos dito estas coisas, a fim de que, quando chegar aquela hora, vos lembreis que E u volas disse. Não vo-las disse, porém, desde o princípio, porque es­ tava convosco”, v. 2— 4. O fim lógico dêsse ódio é a perseguição violenta que sofre­ ram os m ártires de todos os tem pos. O S enhor diz que o Seu sangue recairá sôbre os Seus 'perseguidores, M ateus 2 3 :29— 36. O hom em pode re je ita r a P a la v ra de D e u s;, pode pro ib ir aos seus sem elhantes lê-la e e n tra r d essa m aneira em contato com a fonte p u ra da infalível luz da v e rd ad e; essa form a de perseguição atin g e

266

O Evangelho segundo João

a liberdade de consciência.^ M as a história profana tam bém dá seu testem u n h o condenando os au to res de tôda a perseguição vio­ len ta dos que m antêm a integridade “ da fé que de um a vez para sem pre foi confiada aos san to s” , Judas 3, ou que escolhem “ obedécer a D eus antes do que aos hom ens”, A tos 4:19,20. U m gran d e núm ero de m ártires conhecidos e desconhecidos já teve a sua recom pensa: m uitas testem u n h as receberão ainda a coroa da vida, Apocalipse 2:10. O in stru m en to de S atanás, nêsse holocausto de vidas hum anas, tam bém é conhecido, seus dias são contados, seu fim é predito e não escapará, Apocalipse 17:7,13; 18:1— 3. N unca “ B abilônia” reconheceu seus crim es, não obstante D eus “ ter-lhe dado tem po p ara que se arrep en d esse” Apocalipse 2 :21.

Tudo o que se faz de semelhante, sob pretexto de dar culto a Deus, é um sinal precursor da religião do Anticristo que começou com Caim, Ju d as 11. O Senhor acrescenta que àssim procederão "porque não conheceram ao Pai nem a M im ". ■ 3.

A s intrigas

.

A terceira form a do ódio religioso consiste nessas in trigas, grandes ou pequenas, essas influências pérfidas e escondidas, obrasprim as de covardia e hipocrisia, cujo fim é p aralizar o testem u n h o dos verdadeiros discípulos. A excom unhão é um. meio violento; o inim igo dispõe de meios m ais sutis, m ais a s tu to s : as in trig as são a expressão m ais freqüente dos rancores religiosos. ' Os judeus agiram sôbre a autoridade rom ana já corrom pida p ara d ar êxito à sua conjuração. N ão é, pois, de ad m irar que o , apóstolo P aulo recom ende à- Igreja, acim a de tudo, que rogue pelas au to ridades “ para que sejam livre de tôda a influência” vinda daí, 1 Tim óteo 2:1— 8. 1 A s in trig as de todo o gênero, religiosas ou políticas, indivi­ duais ou coletivas, fazem p arte do plano do inim igo das alm as. São obras de trev as que tem em a luz, pois de fato “ T odo aquêle que faz o mal aborrece a luz, e não vem para a luz, p ara que obras não sejam rep ro v ad as” , 3:20. E las ,se fazem às escondidas e procederá bem o cristão que se acautelar. O Senhor term in a êsse assu n to m anifestando aos discípulos Seus cuidados e tern u ra, v. 4. N ão quer que sejam achados desprevenidos pelos aconte­ cim entos : quis poupá-los até aqui. N ão lhes falou dessas coisas desde 5 princípio, ainda que tudo tiv era previsto, porque estava com êles. M as agora que é próxim a a Sua partida, diz-lhes tudo o que os aju d ará a en fren tar a no.va situação.

O discípulo no mundo

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Q ue o Senhor “ dirija os nossos corações p ara o am or ,de D e u s” e a subm issão alegre à Sua verdade! L er M ateus 5:10— 12. E ssas advertências têm im portância especial p ara nós “ para quem já são chegados os fins dos séculos”, 1 Coríntios 10:11. P ois os tem pos dolorosos do fim assistirão a um a recrudescencia des­ sas condições até que a acum ulação de tais atos provoque o juízo divino que cairá de m odo irrem ediável sôbre todos os que se opõem a D eus, a Seu F ilho e a Seus discípulos, Apocalipse 6:9, 10; 16;17.

SEG U N D A PA RTE _

Q UARTA SEÇÃO

Textos bíblicos e anotações

Q U IN T A SEÇÃO Capítulo 16:5-15

Porque convém aos discípulos do Senhor a Sua partida: A missão do Espírito Santo. 1.

A tristeza dos discípulos

“ Agora, porém, vou para Aquêle que Me enviou; e nenhum de vós Me pergunta: Para onde vais? Antes, porque vos disse isto, o vosso coração se enchsu de tristeza”, v. 5, 6. P ela sétim a vez n esta segunda p arte do E vangelho segundo João, o S enhor anuncia Sua p artid a aos discípulos, 13:33,36; 14:3, 12,19,28. No cap. 13:36, P edro perguntou-lhe onde ia, e no cap. 14:5, T om é fêz-L he a m esm a p ergunta. A gora, o silêncio dos discípulos, notado pelo Senhor, vai p erm itir-L h e com unicar-lhes a revelação que segue: A tristeza tom ou conta de seus corações, um a triste z a com ­ preensível. A bênção de Sua presença física estava p ara fin d ar; algo de in teiram en te novo ia to m ar o seu lugar. Se tin h am conhe­ cido a C risto segundo a carne, iam agora p en e trar em espírito na Sua glória. Iàm ser beneficiados pelos frutos de Sua ascensão. “ P o r isso daqui por diante a ninguém conhecem os segundo a ca rn e; e, ainda que tenham os conhecido C risto segundo a carne, contudo ag ora n ão O conhecem os dêsse modo. P elo que, se alguém está em C risto, nova c ria tu ra é; as coisas velhas já p assa ram ; e eis que tu d o se fêz novo. M as tôdas as coisas provêm de D eus, que nos reconciliou consigo m esm o p o r Cristo, e nos confiou o m inistério da reconciliação; pois que D eus estava em C risto, reconciliando con­ sigo o m undo, não im putando aos hom ens as suas tra n s g re s s õ e s ; e nos en carregou da palavra da reconciliação” , 2 Coríntios 5:16— 19. M as a sua fé e a sua com preensão espiritual, nascida_s apenas, são com o que tran sb o rd ad as pelo que ouvem e pelo que se tra m a à sua volta. A té aqui o Senhor protegeu-os de tan to s g o lp e s : Éle

270

O Evangelho segundo João

m esm o carregou-os, Êle, o H om em de D or, acostum ado ao sofri­ m ento, desprezado pelos hom ens. N ão era n a tu ra l que se to rn as­ sem tristes os. seus corações? Sim, era um sentim ento natural,' m as não a atitu d e p ró p ria da fé. Podem os p erg u n tar-n o s tam bém em relação a nós m esm os —■o que faziam êles das grandes e p re­ ciosas prom essas que o S enhor lhes tin h a feito? A contece dem a­ siadas vêzes que nossa ignorância dos pensam entos de D eus p er­ m ite à dúvida e à tristeza encherem os nossos' corações. A realidade de Sua partida começa, pois, a impor-se a seus espíritos. M as se Êle vai deixá-los, não lhes disse an tes: "N ão vos deixarei órfãos f ” 14:18. A sua tristeza é a de hom ens cujas esperanças m essiânicas m orrem p ara dar lu g ar àquilo que sabem os ser um a realidade infi­ n itam en te gloriosa. E sta v a m ain d a do outro lado da cruz sem pre a p en sa r que, seguindo ao S enhor e abandonando a sinagoga, talvez tivessem perdido tudo. A inda não O com preendiam , 12:16; Lucas 18:34. N ão obstante, já lhes anunciara tôdas as m aravilhosas p a­ lavras dos capítulos 14 e 15! É por isso que o Senhor lhes faz ouvir p alav ras de im p o rtân ­ cia incalculável p ara êles, p ara nós e p ara o m undo. 2.

O ministério do Espírito Santo no mundo. I.

INTRODUÇÃO

A vinda do E spírito Santo à te rra p ara desem penhar um a m issão precisa, porém temporária, é um dos temas principais do Evangelho segundo João. E ra preciso em prim eiro lu g ar que a obra do M essias fôsse m an ifestad a e estabelecida pelos três prim eiros E v an g elh o s; e é p o r isso que, em bora falando do E sp írito Santo, êles não dão um a d o u trin a a respeito de Sua m issão de graça. O m essianism o devia ■em prim eiro lu g ar ser revelado, depois rejeitado, g. fim de chegar à crucificação do M essias. O m inistério do E sp írito S anto form a um co n traste to tal com o do M essias. D eus conduz p ara fora' do m essianism o, João 10:3, em Seu novo plano p ara o m undo perdido, ao qual é reservada a rem issão dos pecados e a eleição de graça pela fé, independente­ m ente dos sinais m essiânicos. L er Lucas 2 4 :45— 49; Atos 1 :8. A promessa da vinda do Espírito Santo ao mundo é um fato em volta do quál gravitam as palavras do Senhor aos Seus discípulos antes e durante Sua conferência com êles, nos capítulos 13 a 16. No capítulo 1 :16,51, Êle anuncia o dom dessa plenitude, a graça dum céu aberto, que o capítulo 17 revela como sendo uma coisa

A missão do Espírito Santo

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efetivada cm Cristo glorificado. Pois a glorificação do Senhor à di­ re ita de D eus significa o adiam ento do m essianism o e de tu d o o que lhe diz re s p e ito : os sinais e os m ilagres, assim como certas in stru çõ es e a autoridade divina apostólica, cp. Mateus 10:1— 15; João 20:23. N o capítulo 2, o sinal da m udança da água em vinho prefig u ra o dia da ressurreição de Israel, Romanos 11:15, e seu restabelecimento no país, Gênesis 15:18. Êsse gran d e acontecim ento para o qual 0 m undo se encam inha de modo inconsciente é o cum prim ento da profecia de Joel 2:28, 29, confirm ada pelo apóstolo P edro no dia de Pentecostes, A tos 2:17: “Derramarei do M eu Espirito sôbre tôda a carne”. Ao preço da grande tribulação, em primeiro lugar Israel, em seguida o m undo inteiro, serão beneficiados por êsse ato go­ v ern am en tal do Senhor, concedendo-lhes a plenitude do E sp írito Santo. A ssim te rá chegado o fim “ dos tem pos das nações” , Lucas 21:24, e, segundo as prom essas de D eus, Seu reino de glória e de ju stiç a será inaugurado sôbre a terra. No capítulo 3 é revelada a regeneração, tornada possível pela presença e a ação do Espírito Santo. • ' A fonte de água viva surgindo nos corações dos crentes e seus efeitos benditos no m undo dependem ig u alm en te de Sua presença bendita, capítulo 4. No capítulo 5, o S enhor anuncia a doutrina de Sua divindade e declara no v. 17: “M eu Pai trabalha até agora, e E u trabalho tam­ bém”. Nessa ocasião, o Espírito Santo propositalmente não é men­ cionado, p orque não havia chegado a hora de falar de Sua obra. E ra preciso em prim eiro lu g ar que os fundam entos da dou trin a da divindade de Jesus C risto fôssem assentados e que tivesse falado de Sua glorificação no céu. M as o E sp írito Santo é dado preci­ sam ente p ara mag-nificar a P essoa de Jesu s C risto e in te rp re ta r Sua d outrina, cp. 16:5— 11. 1 N o capítulo 6, o Senhor diz que -Suas palavras são Espírito e vida, o que o cristão experim enta isso pelo poder revelador do E sp írito Santo. Cp. E fésios 3:16— 19. Os rios de água viva do capítulo 7 correm duma vida identificada com C risto em Sua rejeição, isso se dando pela ação do E sp írito Santo. O capítulo 8 é tam bém consagrado à d o u trin a d a divindade de Jesu s C risto. O S enhor explica o que disse no capítulo 6:63: Suas palavras que são Espírito e vida exercem na vida do crente o seu poder salvador, libertador e santificador, 8:32. Essa ação bendita é parte do m inistério p resen te do E sp írito Santo.

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O Evangelho segundo João

Os capítulos 9 a 12 anunciam as obras que a graça de D eus cum prirá no mundo pelo poder do Espírito Santo, em ressurreição espiritual e em vida divina. O capítulo 13 fala da ação purificadora que a Palavra opera nos corações pelo Espírito Santo. O capítulo 14 fala da segunda vinda do Senhor, para a qual o Espírito Santo nos prepara; em seguida fala da morada do Espírito Santo no coração dos discípulos; o capítulo 15 fala da vida e do fruto do Espírito Santo, que resultam disso, levando à revelação do capítulo 16 a respeito da missão que o Espirito Santo cumpre durante um tempo limitado, o da graça, 2 Coríntios 6:1,2. A ssim , o E vangelho que tem por fim com unicar a vida a todo aquêle que crê no Filho de D eus está im pregnado d a presença e da o bra do E sp írito Santo. O s A tos e as Epístolas revelam depois* os efeitos abençoados dêsse ministério tem porário: em primeiro lugar na evangelização triun­ fante do mundo perdido; em segundo lugar na formação do organismo espiritual da Igreja de Deus, Seu templo espiritual, o corpo e a espôsa de C risto. D a m esm a form a que essa m issão de graça teve um princípio histórico preciso no P entecostes, ela findará num ab rir e fechar de olhos, com tudo o que a ela se prende, 2 Tessalonicenses 2 :7 ; 1 Tessalonicenses 4:14— 17, p ara d ar lu g ar Sua m issão de juízo, Isaías 11:2— 5; Apocalipse 1:4; 4 :5 ; 5:6. II.

O anuncio da missão do Espírito Santo, v. 7-11

“Todavia, digo-vos a verdade: Que vos convém que E u vá; pois se Eu não fôr, o Consolador não virá a vós; mas, se Eu fôr, vo-lO enviarei. E, quando Êle vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: Do pecado, porque não crêem em M im; da justiça, porque vou para M eu Pai, e não Me vereis m ais; e do juízo, porque já o príncipe dêste mundo está julgado", v. 7— 11. A palavra traduzida vos convêm significa: é-vos proveitoso, é-vos útil, m elhor. V e r Mateus 5:2 9 ,3 0 ; 1 Coríntios 6:12; 10:23 etc. N o cap. 11:50, Caifás a em prega aconselhando aos judeus que "convinha m o rrer um hom em pelo povo”, cap. 18:14. Convinha aos Seus que o Senhor fôsse para a glória ocupar o lu g ar que a Êle unicam ente pertence, Filipenses 2:9— 11; Hebreus 1 -12: 2 ,

& .jque-_daii

enviasse o JEspmte Santo .aos Seus.

Pois. como

o anunciou, 7:39; 14:16, um S enhor glorificado significa a vinda do C onsolador, do A ssociado divino, o E sp írito de C risto m esm o, tu d o o que Êle é, tudo o que adquiriu p ara os Seus, tudo o que

A missão do Espírito Santo

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vai o p erar n a v id a daqueles que O servem . E o Senhor não dá o Seu E sp írito p or m edida, 3:34. (71) P re te n d e r receber o E sp írito S anto de outro m odo que não pela fé em C risto, fundada sôbre Sua obra cum prida na cruz, ou c re r que sua recepção depende dum m erecim ento qualquer do cris­ tão, é an u lar a g ra ça e colocar-nos sob a m aldição da lei. A E p ís­ to la aos G álatas não deixa su b sistir dúvida a êsse respeito. L igar, n este tem po da graça, o dom do E spírito S anto à m anifestação de sin ais e m ilagres, é un ir aquilo que D eus separou, confundir o que pertence ao cristianism o com o que é próprio do m essianism o é se r “ destituído de sen so ” espiritual, Gálatas 3:1— 14. a)

Êle convence o mundo de pecado



O Senhor m enciona em prim eiro lu g ar o qüe significa para o m undo a vinda do E sp írito Santo. O que Êle diz é um a resposta in d ireta à p erg u n ta de J u d a s: “ D onde procede, Senhor, que estás p a ra m an ifestar-T e a nós e não ao m u n d o ?” 14:22. As palavras traduzidas por “ Ê L E C O N V E N C E R Á O M U N D O D E P E C A D O ” significam literalm ente: Êle acusará, Êle fornecerá a prova da culpabilidade do mundo, o que m anifestará a justiça de Seu juízo.A m esm a p alavra é em pregada no cap. 8:9, quando os fariseus foram acusados, convencidos, repreendidos em suas consciências pelo d ed o ,acu sad o r do Senhor. Êsse dedo de D eus, que é o E sp í­ rito Santo, cp. Êxodo 8:15; Lucas 11:20, m o stra o pecado ta l como é, põe o pecador diante de sua iniqüidade p ara o p ersu ad ir com o fim de salvá-lo. É vital com preender, em nossos tem pos de su ­ perficialidade, êsse aspecto e êsse c a ráter do E sp írito Santo, que tem por fim p ro d u zir o despertam ento da consciência diante do D eus san to que odeia o pecado, de pôr o m undo diante de sua iniqüidade e de fazer que pese sôbre o coração de todo o hom em o sen tim en to de sua culpabilidade, Romanos 3:10— 20; 1 Tim óteo 1:15. O Espírito Santo veio, pois, ao mundo para dar-lhe a prova de sua culpabilidade presente. Convence-o de seu pecado, de seu maior pecado, “porque não crêem em M im ”, v. 9. O' poder do Espírito San­ to grava na consciência dos homens êsse pecado de incredulidade, (71) É urgente lembrarmo-nos da palavra do apóstolo Paulo: “Se alguém não tem o Espírito de Cristo, êsse tal não é dÊIe”, Romanos 8:9. O Espírito Santo é o sêlo de nossa redenção eterna, o penhor de nossa herança eterna, a presença mesma de Cristo em nossos corações, Efésios 1:13,14.

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O Evangelho segundo João

12:39, causa da crucificação. A' culpabilidade dêsse crim e p erm a­ nece sôbre os hom ens, culpabilidade pessoal, m ortal. O cristianismo não consiste em converter o mundo, mas sim em convencê-lo dà presença à direita de Deus dAquele que foi crucificado, ressuscitado, glorificado. Mas Êle ali está como Salvador de todos Os que crêem, até que volte como Juiz. O Espírito Santo tem por missão convencer o mundo disso. O S enhor reveste de Seu poder Seus filhos que envia a um m undo hostil e torna-os responsáveis pelo cum prim ento dessa m is­ são, A tos 1 :8. . Q uando o E sp írito S anto tem a liberdade de ag ir p o r meio de testem u n h as ou, como no caso da Ig re ja prim itiva, de pregadores in teiram en te entre as m ãos de D eus, o m undo é convencido de pecado. N o dia de P entecostes, após te r ouvido a m ensagem de P edro, a m ultidão “ com pungiu-se em seu coração e p e rg u n to u : Que farem os, irm ão s?” A tos 2:37. T a l é o segredo do poder e da pregação da Ig re ja prim itiva. O apóstolo P au lo escreve aos C oríntios: C risto não me enviou p ara batizar, m as p ara p reg ar o E v an g e lh o ; não em sabedoria de palavras, p ara não se to rn a r vã a cruz de Cristo. Pois a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem ; m as p ara os que se salvam , que som os nós, é o poder de D eus. P orque está escrito : D estru irei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei o entendim ento dos en ten d id o s”, 1 C oríntios 1:17— 19. Se os hom ens, seduzidos pela sua própria sabedoria, não que­ rem deixar-se convencer, 1 C oríntios 1 :22— 24, não há, contudo p ara êles o u tra esperança fora- d esta p re g a ç ã o : a cruz de nosso Senhor Jesus C risto e su a m ensagem p ara um, m undo sôbre o cmal pesa o crim e da crucificação. (72) (72) Essa missão distintiva e precisa do Espírito Santo prova trêscoisas: Em primeiro lugar que Cristo está ressuscitado e glorificado. Em segundo lugar, que Deus concede graça a todo aquêle que recebe essa obra dé convicção do Espírito Santo, que magnifica Jesus Cristo. Em terceirolugar que, para aquêles que resistem, não há mais sacrifício para os pecados, mas uma terrível expetativa do juízo e o ardor dum fogo que devorará os' rebeldes, ATOS 17:30,31; Hebreus 10:26,27. • , Nunca os cristãos ' serão demasiadamente alertados contra o , êrro que consiste em crer que o mundo inteiro será salvo um dia, indo assim ao en­ contro duma “idade de ouro” . Nunca os cristão usarão demasiada energia em repelir essa teoria diabólica que pretende que todos os homens e todos os demônios serão salvos e também o diabo. Essa doutrina que se chama “ouniversalismo” atinge tanto a santidade de Deus quanto a Sua sabedoria, Sua justiça, Seu amor. Ela é refutada em grande número de passagens dasSantas Escrituras. A missão do Espírito Santo, cuja duração é limitada, é

A m issão do E sp írito Santo

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E is o que significa o “ vos convém que E u v á ” dum S enhor glorificado. O E sp írito S anto está pronto a d ar testem u n h o da pregação in teg ra l da cruz. A praz-se em fazê-lô, pois é essa a sua m issão especial. Coloca, sob a v ista do pecador, a culpabilidade in su p eráv el de não te r crido em C risto — que os hom ens tratam , nos dias de hoje, exatam ente com o o fizeram nos dias de S ua car­ n e ; êste E v angelho o dem onstra claram ente. D eus, dêsse modo, m an ifesta S ua g raça soberana p ro n ta a perdoar m esm o êsse pecado, ■durante o tem po da graça. b)

Êle convence o mundo de justiça

“ Da justiça porque vou para Meu Pai, e não Me vereis mais ”, v. 10. O único H om em ju sto e santo era Jesus C risto, 1 João 2:1. D a m esm a m aneira que as cortinas bfancas do T abernáculo afas­ tav am o hom em do san tu ário e criavam assim em seu coração o sen tim en to do pecado, Jesu s C risto, por Sua vida perfeita, expôs a hipocrisia da religião de Seu tem po e condenou êsse pecado. O m undo achava-se então colocado peran te um a a lte rn a tiv a : recebê10, 1:12 ou crucificá-lO , 19:15. M as A quêle que os hom ens crucificaram com o a um m alfeitor foi justificado pelo E spírito S anto, A tos 5:30,31; R om anos 1:4; 1 Tim óteo 3:16.G lorificando-O , Dajts pôs o Seu sêlo sôbre tôda a Sua vida, tô d a a Sua obra e tôdas as Suas P alavras. O E spírito S an to veio ao m undo p ara o convencer disso. O cristão recebe poder p a ra g ra v ar nas consciências êsse fato su rp reen d en te de que C risto, o único Justo, foi rejeitado pelos hom ens, em nom e de sua auto-justiça. Convencer o mundo dessa justiça significa colocá-lo diante da imensa afronta de sua auto-justiça q ue é, p eran te D eus, como o trap o m ais im undo, Isaías 6 4 :5 e que p reten d e ainda acrescen tar suas obras à plena suficiência da obra e x p iató ria do F ilho de D eus. E ssa ju stiç a própria atinge, p o rta n ­ to, a glória de D eus, a h o n ra de Seu F ilho e a P esso a do E sp írito Santo. P a ra D eus, a auto-justiça é, pois, pecado odioso entre todos. A quêle que confia nas próprias obras, o que crê no m erecim ento precisamente a derradeira oferta da graça de Deus e a última manifestação de Sua paciência, antes do dia terrível de Sua retribuição em que vingará e julgará •o pecado da crucificação que os homens acrescentaram a todos os que já pesàm em sua consciência. Esta heresia mortal do “universalismo” faz sempre murchar a vida e o poder espirituais, provoca uma energia dentro do êrro acompanhada de sentimentalismo sem o verdadeiro amor das almas.

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O Evangelho segundo João

de sua profissão religiosa, su b stitu i a salvação pela g raça por sua religião pessoal que é “ o cam inho de C aim ”, Judas 11.O E sp i­ rito S anto veio p ara convencer o m undo dêsse pecado. E quando enco n tra os in stru m en to s santificados, próprios p ara an unciar ao m undo essa m ensagem , acontece o que aconteceu nos A tos: o ho­ m em que confia em si m esm o, em sua honestidade, em suas boas ações e obras ou sua sabedoria própria, com ove-se ou revolta-se, segundo o que anuncia o princípio dêste capítulo. E is o que pregavam os discípulos em sua fraqueza, hum ana, A tos 2:14— 37, sem p rata, sem ouro, A tos 3:6— 26, sem apôio h u ­ m ano algum . O uvindo-os, os sacerdotes rangiam os dentes, Atos 4:16,17; 7:54 e o m undo era tran sto rn ad o , A tos 17:6. “ E m n e ­ nhum outro há salvação; porque debaixo do céu nenhum o u tro nom e há, dado entre os hom ens, em que devam os ser salv o s” , A tos 4:12. V am os pôr êsse fato à prova, antes que seja tard e d e m a is! c)

Êle convence o mundo de juízo

“ Do juízo, porque já o príncipe dêste mundo está julgado”y v. 11. A tática favorita do diabo é p assar desapercebido; a do E s­ pírito S anto é descobri-lo e dêle lib ertar os hom ens. (73) No Cap. 12:31, o Senhor anuncia que S atanás é lançado fora. N a cruz Jesu s C risto despojou os principados e potestades satân i­ ca s; Êle os “ exibiu publicam ente e dêles triu n fo u na m esm a cru z ” , Colossenses 2:15. A niquilou aquêle, que tem o poder da m orte, a fim de liv ra r todos os que, com mêdo da m orte, estavam d u ra n te a vida tôda sujeitos à escravidão, Hebreus 2:14,15. D e fato, o F ilh o de D eus veio p ara d e stru ir as obras do diabo, 1 João 3:8, e o E sp írito S anto veio p ara te stem u n h ar êsse fato inconcebivelm ente grande. D o rav an te as intenções do arqui-inim igo de D eus são desven­ d ad a s; é despojado de seu p o d er; seu reino é golpeado pelo P rín ­ cipe da vida. o H erd eiro de tôdas as coisas, o F ilho obediente até à m orte da cruz. S atanás o sabe e ruge. O inferno o sabe e es­ trem ece. Os dem ônios o sabem e trem em , T iago 2:19. (73) O príncipe dêste mundo. Tal é o título que o Senhor dá ao diabo. O mundo acha-se sob essa ditatura que sabe dissimular-se na vida das nações até ao dia em que irá encarnar-se no filho da perdição. A aparição dêsse último prepara-se pela atividade do (espírito de êrro e de mentira que opera já nòs filhos da rebelião, Efésios 2:2.

A missão do Espírito Santo

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A m issão do E sp írito S anto é convencer disso os hom ens. Tal é a mensagem da Igreja. Tal é a proclamação da cruz qüe deveria ser , a paixão da vida das verdadeiras testemunhas do Senhor. Êle encar­ regou-os de proclamar o juízo que pesa sôbre- o príncipe dêste mundo, na expetativa de que sua condenação final o precipite no lago de. fogo e de enxofre, onde o pai da mentira, o filho da perdição e o falso p ro feta serão atorm entados noite e dia pelos séculos dos séculos, Apocalipse 19:20; 20:10. E is porque veio o E sp írito S a n to ; eis porque é útil que o Se­ n h o r, deixe tem poràriam ente esta terra. E is a essência da m ensa­ gem da cruz — e não o u tra coisa. É dessa m ensagem , não de ou­ tra, que o E sp írito S anto dá testem unho. É essa m ensagem que Êle reveste de Seu poder, acom panhando-a daquilo que só Êle po­ de p ro d u z ir: o despertam ento da consciência e a ab e rtu ra do co­ ração p ara aceitar ao S alvador divino, S ua salvação e S ua vida. Q ue coisa solene é levar o N om e de C risto, ser servo de D eus e p re g a r o u tra coisa que não a m ensagem p ró p ria a fazer com ­ preen d er ao m undo o pecado m onstruoso da crucificação, a afro n ­ ta de sua p ró p ria justiça, e a im inência de seu julgam ento! O E sp írito S an to não põe o Seu sêlo sôbre um testem u n h o diferente, estejam os certos disso!! 3. v. 12,13.

O M inistério do Espírito Santo para com os discípulos, '

O S enhor previne agora os discípulos de que não são ainda ca­ pazes de com preenderem tudo o que teria de dizer-lhes. A p ro ­ fundeza das verdades que com eça a desvendar-lhes u ltrap a ssa o seu en tendim ento p orque “ aquêle d ia ” ainda não chegou, v. 12. “ Quando vier o Espírito da verdade, Ê le vos guiará a tôda a verdade; porque não falará de Si mesmo, mas dirá o que tiver ou­ vido, e v o s anunciará o que há de vir”, v. 13. Cp. 7:39; 1 Co­ ríntios 2:7— 16. Êle já os encam inhou p ara a verdade m as é preciso a Sua glorificação p ara que esta verdade lhes seja revelada em sua ple­ nitude. O Espírito da verdade terá por missão conduzi-los fora da trad ição e dos rudim entos do m undo, do legâlism o e do ju d aís­ mo. para a verdade, que não pode ser revelada, senão pôr um Senhor glorificado. D á aqui aos escritofes do N ovo T estam e n to a p ro ­ m essa que lhes asseg u ra a inspiração divina in teg ral dos escritos que lhes confiará depois de Sua ascensão, segundo as necessidades1 dos tem pos apostólicos e até que o cânon sagrado seja acabado.

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O Evangelho segundo João

" O Senhor, cioso, cuidou com a m aior atenção, do acabam ento ■do conjunto da revelação divina. Dêle afastou tudo o que a sabe­ doria divina não quis p ara a Ig re ja ; revestiu Seus instrum entos •de au toridade divina, a *fim de que Sua Ig re ja de todos os tem pos ítenha nesses escritos a re g ra de conduta perm anente e divina de sua m archa, de seu m inistério e de sua vida. (*) Como o F ilho mesm o, o E sp írito S anto dirá tudo o que ou­ v iu ; anunciará as coisas que estão para vir, fato p articu larm en te solene, porque desde o comêço, o S enhor declarou que “ As coisas encobertas são p ara o S enhor nosso D eus, porém as reveladas são p a ra nós e p ara nossos filhos para sem pre, p ara cum prirm os tô ­ das as palavras d esta lei “ Deuteronômio 29:29. E ssas coisas que hão de acontecer dependem de C risto e g rav itam em volta d Ê Ie ; e de Sua P alavra, tu d o o que, no m undo espiritual é escondido ao hom em é-lhe interdito. Se Êle to car nessas coisas, sofrerá os efei­ to s de sua desobediência: a luz da P a la v ra apagar-se-á para êle, laias 8:19,20. (74) A ssim como o F ilho sem pre tro u x e as alm as ao Pai, assim tam b ém ao E sp írito S anto apraz tra z e r as alm as a C risto. Êle não fala de Si m esm o m as abre os olhos e o coração do discípulo à Sua revelação. É assim que as varas são cada vez m ais in tim a­ m ente ligadas à V ideira. T en d o ligadg os Seus à verdade, de modo a não poderem 'ser separados dela, tendo-nos assegurado de um a vez p ara sem pre esta chave do conhecim ento divino, que é o E sp írito da verdade, o Se­ n h o r anuncia a. m issão suprem a do E spírito Santo que é de glorificá-10. ,4 .

O Ministério do Espírito Santo no que respeita ao Senhor

“Êle Me glorificará, porque tomará do que é Meu, e vo-lo anunciará. Tudo quanto o Pai tem é Meu; por isso Eu vos disse que Êle, tomando do que é Meu, vo-lo anunciará”, v. 14— 15. T ô d as essas coisas tão novas contrastam com o m essianism o, •e quão superiores lhe são! O S enhor quer p ara os Seus “ as rique­ (*) Ver C. Ç. B. n.° 1 Introkução à leitura do N. T., cap. 6. Por que e de que modo temos' as Epístolas, pág. 32. (74) O espiritismo significa que o homem pretende entrar num âmbito, que pertence a Deus unicamente e a respeito do qual Sua Palavra fala em têrmos •dos mais formais. Aquêle que peca dêsse modo atrai sôbre si o juízo de Deus e se entrega a uma energia de mentira que lhe dá sensações psíquicas e •espirituais provocadas pelo próprio Satanás, disfarçado em anjo de luz. E “de quem o homem é vencido, do mesmo é feito escravo”, 2 Pedro 2 :19: 1 Timóteo 4:1, 2.

A m issão do E sp írito Santo

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zas de Sua g ló ria ”, essas “ riquezas in escru tá v eis” das quais Êle to m a p ara dar-lhas e torná-las vivas e poderosas em sua vida. L er E fésios 3:8— 19. O capítulo 24 do Gênesis conta com o A braão enviou seu ser­ vo E liezer a bu scar um a espôsa para Isaque, o filho da prom essa. D epois de E liezer te r encontrado R ebecca e ter-se inteirado de sua identidade, tom ou as joias que seu S enhor lhe rem etera e deu-as à moça. A ssim , o E sp írito Santo tem por m issão p resen te cum u­ lar-nos da graça e da plenitude de C risto. P recisam os m ais do* que isso? P odem os h esitar um in stan te sequer em deixar-nos en­ riquecer p or Êle? O apóstolo diz em 1 C oríntios 2:12: “ O ra, nós não recebe­ m os o espírito do m undo, m as sim o E sp írito que provém de D e u s” . É im possível v iv er p ara o m undo e ao m esm o tem po p ara C risto e em Cristo. O E sp írito de D eus, o E xecutivo da T rin d ad e, tem p o r m issão glorificar A quêle que o m undo crucificou, m agnificar A quêle que o m undo desprezou e honrá-lO acim a de tucjlo o que om undo preza. N ão há conciliação algum a possível. “ C oxear en­ tre dois p en sam en to s” , 1 R eis 18:21, é tra ir A quêle a Q uem tudodevemos. L er 2 C oríntios 6:14— 7:1. A presença do E sp írito S anto em nossos corações asseguranos a bênção in estim á v el'd e receber “ graça sôbre g ra ç a ” vindo da plen itu d e do Senhor glorificado. Êle responde assim a tôdas as, nossas necessidades, João 1:16; Colossenses 2:9,10; Filipenses 4:19.

SEGUNDA PARTE — QUINTA SEÇÂO Textos bíblicos e anotações

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SEXTA SEÇAO Capítulo 16:16-33

O Senhor anuncia Sua ascensão. 1.

A ascensão anunciada, v. 16— 18.

O S enhor sabia que p a ra Êle era chegada a h o ra de p a ss a r dêste m undo p ara D eus, 13:1— 3. Di-lo claram ente cinco vêzes aos discípulos nesses cap ítu lo s: “ E u vou p ara ò P a i” , v. 14:12,28; 16:10,16,28. A ascensão é, p o rtan to , anunciada p o r um a declaração form al e não m ais de m odo disfarçado, 6:33,. ou in terro g ativ o , 6:62. Se a sombra da cruz cresce e se aproxima, se a dor do aban­ dono dos Seus ap e rta antecipadam ente Seu coração, v. 32, esta se­ ção se acha ilum inada por p alav ras triu n fa n te s: “ V ossa triste z a se co n v erterá em a le g ria ” . . . “ A legrar-se-á o vosso coração, e a vossa alegria ninguém vo-la tir a r á ” . . . . “ P edi, e recebereis, para que a vossa alegria seja co m p leta” . . , “ T ende boih ânim o, E u venci o m u n do.” “ U m pouco, e já n ão M e v ereis; e o u tra vez um pouco, e verM e-eis p o rq u an to vou p a ra o P a i”, v. 16. “ U m pouco de te m p o ” . . . E m breve, p ara Êle, o tem po da­ rá lu g ar à etern id ad e; já não pro v ará m ais nenhum a das lim ita­ ções às quais vo lu n tariam en te Se subm eteu. P e la q u a rta vez, Jesu s usa êsses têrm os p ara anunciar S ua p artida. V er 7:33,34; 13:33; 14:19. A gora os discípulos estão p ertu rb ad o s, e em lu g ar de dirigir-se a Seu M estre, interrogam se uns aos outros. Q uando decidem in terrogá-10, o Senhor p re­ vine-os e dá-lhes um a explicação cujo alcance é profético. 2. A visão celeste de aleg ria ultrap assan d o a tristeza , v. 19— 22. “ E m verdade, em v erd ad e vos digo que vós haveis de ch o rar a lam en tar e o m undo se a le g ra rá ; vós estareis triste s, po­ rém a vossa tris te z a se co nverterá em alegria. A m ulher, quando esta p ara d ar à luz, sen te tristeza, porque é chegada a sua hora;:

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O E vangelho segundo João

mas depois de ter dado à luz a criança já não se lembra da afli­ ção, pelo gôzo de haver um homem nascido ao m undo”, v. 20,21. J á o V elho T estam e n to nos m o stra o povo eleito com o em trab a lh o de parto, Isaías 66:7— 11; Miquéias 4:9,10; 5:2; Oséias 13:13. É o tem po de an g ú stia p ara Jacó, Jeremias 30:7; da g ra n ­ de trib ulação que o S enhor anuncia em Mateus 24:8— 28, e que o ■Apocalipse descreve no Cap. 12:9, 12— 17 sob a form a dum “ g ra n ­ de sin a l”. Êsse trab alh o de p arto é, pois, a im agem que D eus escolhe para descrever o modo pelo qual se cum prirão Seus .planos, a tra ­ vés de dificuldades e dores m ortais. D e fato, “ o servo não é m aior do que o seu senhor . . . ” 15:20. P aulo serve-se da m esm a im agem p ara exprim ir seus sofrim entos de p asto r de alm as, até que C risto seja form ado nelas, Gálatas 4:19. M as essas palavras têm igualm ente um sentido direto e atu al que abrange, p o r assim dizer, tôda a obra do Senhor, desde o in s­ ta n te de Sua hum ilhação na cruz até Sua volta ao m undo, onde m an ifestará o fulgor de Seu triunfo com pleto sôbre todos os ad ­ versários políticos e religiosos. “ T odavia, a o 'S e n h o r agradou - m oê-lO, fazen d o -0 enferm ar ; quando a Sua alm a se p user por expiação do pecado, v erá a Sua posteridade, prolongará os d ia s ; e o bom p razer do Senhor p ro s­ perará na Sua mão. 0 trabalho de Sua alma Êle verá, e ficará s a -. feito ; com o Seu conhecimento o Meu Servo, o Justo, justificará a m uitos, porque as iniqüidades dêles levará sôbre Si. Pelo que L he darei a p arte de m uitos, e com os poderosos re p a rtirá Êle o despojo; porquanto derramou a Sua alma na morte, e foi1contado com os trans­ gressores ; mas Êle leveu sôbre Si o pecado de muitos, e pelos trans­ gressores in terced e.” Isaías SSíIO-^-^. E n q u an to que n a prim eira seção dêste E vangelho, o. Senhor, m uitas vêzes anunciou Sua m orte, neste colóquio íntim o com óè Seus, não a m enciona a não ser por alusões, 16:25; quer que Seus discípulos olhem para além, p ara os frutos que resultam de Seus sofrim entos. M as quando o Senhor tiv er enviado o E spírito S anto da p arte do P ài, todos os efeitos da cruz lhes serão revelados ab e r­ tam en te, e o poder divino que em ana de Seu sacrifício será efioaz nêles e em redor dêles. T a l é o Seu am or p ara conosco. T al é nosso privilégio: conhecer a com unhão de Seus sofrim entos, “ to r­ nar-nos conform e a Êle em Sua m o rte ” , Filipenses 3:10. O arreb atam ento será o ponto de chegada dêsse “ p a rto ” . A partir do v. 20 o Senhor associa Seus discípulos à Sua própria do r e tristeza Mais tarde, o Espírito Santo ensinar-lhes-á que levar

O Senhor anuncia Sua ascensão

o opróbrio do Filho de Deus, é também estar carregado dum pêso ,de g lória e de alegria que ninguém, lhes pode tirar, V er 2 Coríntios. 4:7,18; Hebreus 12: 2,3. Mas Êle associa também Seus discípulos ao triunfo de Sua ressur­ reição e ascensão: “Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas Eu vos tornarei a ver, e alegrar-se-á o vósso coração, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará”, v. "22. A ssim , na dispensação presente, as testem u n h as dum S enhor rejeitado sabem que Êle está ressuscitado e coroado de glória e de h o n ra ; vivem à luz dessa visão celestial. Suas lu tas e seus sofrim entos por C risto e Sua P alav ra são Seu privilégio, seu direito de p rim ogenitura, a p ro ­ va da herança que lhes é livrem ente dada em C risto, da p arte do Pai, 1 Pedro 1:6—8; 2:20,21; 4:12— 14. M ais do que isso, a suagloriosa esperança é Sua volta p ara a terra, 14:2—4. 3.

A oração em Seu Nome, v. 23— 27.

“ Naquele dia nada Me perguntareis. Em verdade, em verda­ de vos digo que tudo quanto pedirdes ao Pai, êle vo-lo concederá em Meu Nom e. A té agora nada pedistes em Meu N om e; pedi, e recebereis, para que a vossa alegria seja completa. Disse-vps estas coisas por figuras; chega, porém a hora em que vos não falarei mais por figuras, mas abertamente vos falarei acêrca do P a i”, v. 23—24. No Cap. 14:13, o Senhor tin h a d ito : “ T udo quanto pedirdes em Meu Nome, Eu o farei.” Aqui é o Pai mesmo Quem dá. Tôdas as, barreiras estão levantadas, tôdas as distâncias suprim idas; todos os efeitos mentais e espirituais do legalismo estão destruídos, pois “ já não somos mais servos, mas filhos; e se somos filhos, somos também her­ deiros p o r D e u s” , Gálatas 4:7. “ Naquele dia pedireis em Meu Nome, e não vos digo que Eu rogarei por vós ao Pai; pois o Pai mesmo vos ama; visto como vós Me amastes e crestes que Eu saií de D eu s”, v. 26, 27. • ” O S enhor conduziu-os ao Pai. A unidade é tão com pleta e a o b ra tão perfeita que o P ai m esm o lhes dispensa Seu am or m a­ ravilhoso. S ua alegria é perfeita. A té aqui sua oração p e rm a n e­ cera ao nível de seu estado de infância e sp iritu a l; ag o ra vai a tin ­ g ir a m atu rid ad e pela revelação das verdades que são su a fonte e inspiração. E ssa visão da fé tom a inteiram ente o lu g ar da visão n atu ra l e dos sentidos que, até aqui, fôra a sua. T orna-se cada vez m ais

O Evangelho segundo João

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evidente que “ a v a n ta g e m ” e a utilidade de Sua p artid a não se lim itam aos discípulos, m as são destinadas aos resgatados de to ­ dos os tem pos a té Sua volta. (75) 4.

A vitória nas tribulações, v. 28— 33.

Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo, e vou para o Pai. Disseram os Seus discípulos: E is que agora falas abertamente, e não por figura alguma. Agora conhecemos que sa­ bes tôdas a coisas, e não necessitas de que alguém T e interrogue. Por isso cremos que saíste de D eu s”, v. 28—30. P a ra m u ita gente, as palavras da B íblia são parábolas, sím bo­ los e problem as insolúveis. Como o inim igo conseguiu a p a rta r os hom ens da sim plicidade que há em C risto, 2 Coríntios 11:3! Que p erd a p ara a Ig re ja e qnão gran de é a responsabilidade dos que com unicaram à cristandade ig norante a obscuridade e as noções falsas em que se com prazem . P o r ora, o diabo, aproveitando a confusão presente, busca ca­ d a vez m ais tira r a,o m undo o único meio que1 tem de conhecer o S en h o r: a revelação divina, as S antas E scritu ra s, segundo as quais aquêle que recebe a seu S alvador e n tra n a posse dos direitos de herdeiro, pode ab rir o T estam e n to escrito pela Sua m ão ferida, e g o zar de seu conteúdo divino, Romanos 8:15— 17; Gálatas 4:4—7; H ebreus 9:15—20.

(7S) No Novo Testametrto, a doutrina da oração recebe os cuidados d Espírito de Deus que quer conduzir os discípulos de Jesus Cristo numa luz que vai crescendo até ao dia perfeito. Nos três primeiros Evangelhos, Êle começa por conselhos e advertências Mateus 6:5-9; em seguida dá o exemplo da maravilhosa oração de Mateus 6:9-13. Respondendo à pergunta de um dos doze, o Senhor continua a ins­ truir, Lucas 11-1-13. Outros ensinamentos sôbre a perseverança na oração Lucas 18:1-8 e sôbre o espírito que convém à verdadeira oração. Lucas 18:9-14, sôbre a fé, Mateus 17:20, 21; Lucas 17:5, 6, completam o assunto até à revelação dada pela prece do Senhor em Lucas 22:31,32 e Mateus 26:36-46. No Evangelho segundo João 14:13; 15:7,16; 16:23-27, o Senhor anuncia a maturidade da oração, dependendo, do livre acesso junto ao Senhor glorifi­ cado, sendo isto a resposta à Sua oração sacerdotal, João 17, a qual prepara Seu ministério presente de Sumo Sacerdote a favor dos Seus. Hoje, unidos em espírito ao Senhor glorificado, os discípulos oram sabendo que têm acesso ao Pai e num mesmo Espírito, Efésios 2:18, Hebreus 10:19-22. Ver ainda Efésios 6:10-20; 1 Timóteo 2:1-8; Tiago 5:13-18. A vida de oração do Senhor durante os dias de Sua carne é um exemplo constante para todos os resgatados. Ver C. C. B. N.° 4, O Evangelho Segundo Lucas, nota 26, pag. 86.

O Senhor anuncia Sua ascensão

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E ag o ra Jesu s revelou aos Seus o P ai, e conduziu-os até Êle. As p a la v ra s ( que pronunciou a respeito da unidade entre Êle e as Suas ovelhas cum priram -se. A m a-nos o P a i com o m esm o am or com o qual am a ao Filho. N ada falta a êsse a m o r; nada absolu­ tam ente, Romanos 8:32, e assim como o P ai e Êle são U m , assim tam bém qu er que Êle e os Seus sejam um . N ão há n ad a p ara ac re sc e n ta r; e essas verdades serão o fardo de Sua oração sacer­ dotal no capítulo seguinte. S ua fé ao nascer foi n u trid a por essas palavras infinitam ente sagradas. M ostrou-lhes os seus privlégios, m as não esconde aos seus olhos o que vão lhes cu star suas responsabilidades. “ . . . Credes agora? E is que vem a hora, e já é chegada, em que vós sereis disperos cada um para o seu lado, e Me deixareis só ; mas não estou só, porque o Pai está comigo. Tenho-vos dito estas coisas, para que em Mim tenhais paz. N o mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, È u venci o m undo”, v. 31— 33. A dispersão vai ocorrer no G etsêm ane, e o Senhor m esm o in- ' tervirá, a fim de que nenhum dos discípulos seja atingido, 18:9,19. Êle faz aos onze Suas últim as advertências. Sua paz lhes p erten cerá a custo de trib u laçõ es; e a palav ra “ trib u laçã o ” é a m esm a que é em pregada para a an g ú stia do p arto no v. 21. M as o discípulo sabe que o inim igo é um vencido, v. 11. A paz de D eus não depende das circunstâncias exteriores, m as depende, sim, d iretam en te do S enhor que a dá. E is de que m aneira Seu am or por êles atin g e o auge. E ssa revelação da vida cristã en contrará sua expressão perfeita nas E pístolas.

SEG U N DA P A R T E — SE X T A SEÇAO Textos bíblicos e anotações

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SÉTIM A SEÇÃO Capítulo 17

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A oração sacerdotal Introdução

Ê ste capítulo é ligado à segunda p arte do E vangelho de João, pois em bora nunca houvesse véu algum de separação entre Jesus e Seu P ai, Jesu s dirigiu esta prece ao P ai quando o véu do tem plo ainda não estava rasgado, e quando o cam inho novo e vivo até a p resença de D eus ainda .não se achava aberto, H eb reu s 10:19,20. E stam o s no lugar santo : o incenso do a lta r de ouro sobe diante do véu. M as tu d o o que nosso S enhor diz aqui refere-se ao dia em que estará naq uela glória que tin h a ju n to do Pai, antes que o m u n ­ do fôsse. Nos capítulos 13 a 16 v erteu o am or de Seu coração sô­ b re os discípulos que vai deixar no m undo como testem u n h as da salvação de D eus p ara o pecador e das riquezas incom preensíveis reserv ad as aos que crêem . O prim eiro versículo do C apítulo 17 indica bem q ue. esta oração é o ponto culm inante do colóquio ín­ tim o que houve en tre Êle e os Seus. Se há um capítulo da B íblia que não necessite com entário hum ano algum , é certam ente o p re­ sente. Os onze tin h am sido preparados p ara ouvirem esta oração do F ilh o ao P ai pela “ lavagem de água de Sua P a la v ra ” e pelos te ­ souros de verdade que acabavam de receber. A m esm a coisa acontece conosco. P o rq u e a prom essa do P ai foi m antida. O E s ­ p írito de verdade foi enviado. E os verdadeiros discípulos de Jésus C risto deixam -se in stru ir com hum ildade enquanto o S enhor d irig e Seus olhares p ara o céu, tornado doravante o centro, a fonte, o alvo do cristianism o, o san tu ário donde essa plenitude v erte sô­ b re o cristão “ g raça sôbré g ra ç a ”, João 1:16; Colossenses 3: 1— 4.

(76)

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(76) Diante dum assunto tão sagrado, tão sublime, não convém perderm,os tempo, nem determo-nos a ouvir teorias dos incrédulos que uniram

O Evangelho segundo joão

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Q ue g raça divina o te r perm itido aos discípulos ouvirem esta oração! Q ue graça m aior ainda o te r D eus assegurado seu relato exato, a fim de que todos os crentes pudessem ouvi-la como os onze, e por ela, serem santificados. (77) Ê ste capítulo, único n a B íblia, é tam bém o ponto de p artid a do ministério presente do Senhor na glória. “Cristo Jesus ê Quem morreu, ou antes Quem ressurgiu dentre os mortos, o Qual está à direita de Deus, e também intercede por nós”, Romanos 8:34. O S enhor não m enciona tam pouco nessa oração os terríveis so­ frim entos e a ignom ínia do sacrifício que te rá de su p o rta r algum as horas m ais tarde. Êsse silêncio proposital deve in c ita r os nossos corações à adoração. N isso tam bém o F ilh o glorifica ao P a i até ao fim. í . Apresentação, v. 1— 5. 1)

Êle S e apresenta pessoalmente ao Pai:

“ Pai, é chegada a hora; glorifica a T eu bém o Filho T e glorifique", v. 1.

Filho, para queVtam-

A té ao fim, o Senhor g u ard a Sua posição de F ilh o diante do Pai. A pós te r cum prido o que o P ai L he deu a fazer, ver H e­ b reu s 10:5— 7, pede ao P ai p ara glorificá-lO . O que o E sp írito S anto diz em outro lu g ar revela o fundo de hum ilhação e de dor sôbre o qual brilhou essa g ló ria: “ A ssim tam bém C risto não Se glorificou a Si m esm o, p ara Se fazer Sum o Sacerdote, m as O glorificou A quêle que L he disse: T u és M eu Filho, hoje T e g erei; como tam bém em o u tro lu g ar d iz: T u és S acerdote p ara sem pre, segundo a ordem de M elquisedeque. O Q ual nos dias da Sua carne, tendo oferecido, com seus esforços a fim de desacreditar êste Evangelho para encobrir a revelação e atribuir-lhe uma fonte e um caráter que são o produto.de sua imaginação obscurecida. Aquilo que tais homens falam da Bíblia não tem importância, nem utilidade, a não ser para o inimigo que procura abalar a fé dos ignoran­ tes. É suficiente saber o que a Bíblia diz daBíblia para compreender que ela é a Palavra mesma de Deus. , Êste capítulo 17 dá-nos uma prova disto: qual é o homem que poderia jamais ter composto um conjunto de palavras e verdades semelhantes, transcendentes, umas mais maravilhosas que as outras? Além disso êle teria falado com fraude em Nome do Filho, o que é uma blasfêmia; teria pôsto a mão sôbre a arca santa, o que, debaixo da lei merecia a morte. (77) As Escrituras do Novo Testamento que devem ser lidas em relação com esta prece são as seguintes: Efésios 1:17-21; Hebreus 1:3-14; 2:5-18; s 4:14-16; 5:1-14; 7:1-3; 7:25, 10:10,16-22; 12:1-3. Essa leitura é necessária, ilumina essa oração com a claridade que reina do outro lado do “ véu”.

A oração sacerdotal

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g ran d e clam or e lágrim as, orações e súplicas A quêle que podia li­ vrá-lO da m orte, e tendo sido ouvido por causa da S ua reverência, ainda que era F ilho, aprendeu a obediência por meio daquilo que s o fre u ; e, tendo sido aperfeiçoado, veio a ser au to r de eterna sal­ vação p ara todos os que L he obedecem , sendo por D eus cham ado Sum o Sacerdote, segundo a ordem de M elquisedeque”, Hebreus 5:5— 10. Nunca Se despojou de Sua divindade, permaneceu Deus, embora sendo Hom em ; mas revestiu voluntàriamente a form a dum Servo, fêzSe semelhante aos homens, tendo-Se “ esvaziado” dessa form a de m a­ nifestação da divindade etern a que tin h a ju n to ao P ai, antes que o mundo fôsse. Tornou-Se voluntàriamente obediente até à morte, de cruz, Filipenses 2:6— 11. G lorificou ao P ai cum prindo in teira­ m ente a Sua vontade. D e sta m aneira assegura a todos aquêles que O receberão essa “ tão grande salvação” : o perdão dos pecados e a justificação do pecador, o direito d,e p rim ogenitura de filhos e herdeiros de Deus no tempo presente e, para o futuro, o privilégio de. p articip arem da glória de Seu reino aqui na terra, Romanos 8:15—21. Se o Filho pede ao Pai para glorificá-lO, é a fim de que o Pai seja glorificado pelo Filho. T u d o o que o F ilho cum pre desde en­ tão, no céu, na te rra e n a vida de Seus filhos fiéis, tem por fim glorificar a D eus num m undo inim igo e rebelde, 1 Coríntios 6:20. A obra que Êle fêz em Sua hum ilhação na te rra de^ia prece­ d er um a glória co nseqüentem ente m aior, pois sendo soberanam ente exaltado, recebeu “ o N om e que é sôbre todo nom e p ara que ao N om e de Jesu s se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e que tôda a língua confesse que J e ­ sus C risto é o Senhor, para glória de D eus P a i”, Filipenses 2:10,11. T a l é o objeto de nossa adoração. T a l é o tem a de nossa m ensa­ gem ao m undo. 2)

Êle apresenta os Seus ao Pai:

“ .. . Assim que dê a vida esta: Que T e Cristo, Aquêle

como Lhe deste autoridade sôbre tôda carne, para eterna aos que Lhe tens dado. E a vida eterna é conheçam, a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus qye T u enviaste”, v. 2— 3.

Nessa glória, Êle apresenta ao Pai os Seus que creram, os que o Pai Lhe deu, os que foram arrancados ao pecado e a quem deu-Se a conhecer como Redentor divino, os que Lhe deram o amor e a fé de seu coração, a livre disposição de sua v id a .. . “os que T u M e deste”

ao

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O Evangelho segundo João

— palavras características da oração sacerdotal, v. 2 ,6 ,1 1 ,1 2 ,2 4 ; Cjp. Hebreus 2:13. Êle apareceu neste m u n d o ; ofereceu-lhe Seu am or sem o u tra condição senão a fé nÊle e em Sua obra. M as o m undo re je ito u -O ; a “ co n trad ição ” , Hebreus 12:3, a hostilidade e a inveja O envol­ veram, chegando ao ato infam e da crucificação. C rucificando o F ilho de D eus, o m undo de todos os tem pos provou a própria culpabilidade. Se “ Jesu s C risto é o M esm o ontem , hoje e e tern a­ m en te” , o m undo, o pecado do m undo tornaram -se piores, e êste E v angelho o evidencia de m odo especial, João 15:18— 16:4. M as o P ai deu a Seu F ilho um a p osteridade fora dêste m undo, segundo Isaías 5 3 :10— 12 e a tôda a m ultidão dos resgatados, o Filho dá aquilo que L he pertence desde tôda a e te rn id a d e : a vida eterna, Sua própria Vida. De antem ão, e em previsão de Sua cruz, o P ai deu-L he “ a u to ­ ridade sôbre tôda a c a rn e ”, isso a fim de que crente algum seja excluído e que ninguém possa glorificar-se de sua salvação. D á essa vida etern a a todo o que nÊle crê, e eis/p o rq u e os Seus são os únicos que escapam à perdição eterna, que sobrevirá aos que O rejeitam . A lém disso, a posse presente dessa vida etern a terá seu pleno desabrochar na glória futura. Se a morte passou sôbre todos os homens, porque todos pecaram, essa v id a ,é também oferecida a todos os homens,' por meio da fé, Romanos 5:1,2. P a ra os dem ais, o que está escrito su b siste: “ O salário do pecado é a m o rte ” , Romanos 6:23. Sua doutrina divina obriga-os ou à obediência da fé, ou à revolta da incredulidade. Ei-los pois, êsses discípulos que Êle ap resen ta ao P ai com o os pães da proposição na m esa de ouro. C obertos pelo incenso de Sua oração, são aceitos em Seu F ilho am ado, Levítico 24:5—9; Efésios 1 :4— 14, como oferta de cheiro suave. 3)

Êle apresenta ao Pai Sua obra consumada:

“ Eu Te glorifiquei na terra, completando a obra que Me deste para fazer. Agora, pois, glorifica-Me Tu, ó Pai, junto de Ti mesmo, com aquela glória que E u tinha contigo antes que o mundo exis­ tisse", v. 4, 5. “ E u Te glorifiquei na terra, completando a obra que Me deste para fazer”. Que palavra admirável! Sua obra, que Lhe custa o Gólgota, todo o opróbrio, todo o horror, todos os sofrimentos da cruz, Êle a completou e o declara ao Pai.

A oração sacerdotal

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Em Gênesis, 2:2, lemos: “ E havendo Deus acabado no dia séti­ mo a Sua obra, que tin h a feito, descansou 110 sétim o dia de tôda a Sua obra, que tinha fe ito ” . Em Êxodo, 40:33—45: “ Moisés acabou a obra” do tabernáculo, e a g lória do S enhor encheu-o. No primeiro livro dos Reis, 7:51 e 8 :11, Salom ão "acabou tôda a o b ra ” da casa do Senhor, e a glória do Senhor preencheu-a.' A prova da perfeição da obra consumada é que no dia de P en­ tecostes, 0 Espírito Santo veio da glória para preencher a Igreja. A Ig re ja — “ os que T u M e d este” — é destinada a m anifestar essa ob ra acabada, a proclam ar o N om e que está acim a de todo o nom e, e a glorificar a D eus na terra, vivendo com o Jesus C risto, obrando e sofrendo como Êle. Tal é o plano de Deus e Seu desígnio para com os homens durante o tempo da graça, antes de retom ar Suas relações com Israel disperso entre as nações: “ Deus visitou os gentios, para tom ar dentre êles um povo para o Seu Nome” , ler A tos 15:14; E fésios 2:8—22. A con­ sumação de Sua obra será manifestada -no dia em que estabelecerá Seu reino de glória na terra, após ter praticado Seus juízos. Sua obra está acabada, e por conseguinte “ a hora, ch eg o u ” em que o F ilh o deve rein teg rar-S e à glória divina onde estava “ a P alav ra que estava com- D e u s” , “ antes que o m undo ex istisse” . L e r 1:1— 3, E m Provérbios 8:22— 31, o Senhor descreve essa glória e te rn a ; êsse trecho term ina por estas p a l a v r a s “ Quando compunha os fun­ damentos da terra, Eu estava com Êle e era cada dia as Suas delícias.. . achando as M inhas delícias com os filhos dos homens”, v. 31. E é êsse fato que O conduziu a Belém , de Belém ao G ólgota, e do Gólgota. à glória. M as, se a Sua felicidade era com os filhos dos hom ens, não acharam êstes a sua .felicidade nÊle. A m aram m ais as trevas que a Sua luz, porque suas obras eram. m ás, 3:19; não quiserem ir a Êle p ara terem a vida, 5:40; — como sucede nos dias de hojé — uniram -se p a ra crucificá-lO . E ssa m esm a oposição, Seus v er­ dadeiros discípulos vão sofrê-la, e é por isso que o S enhor estende ag o ra sôbre êles o poder p ro teto r e santificador de Sua intercessão. . T a l é o princípio dessa oração em que o S alvador do m undo abre Seu coração ao P ai a favor dos discípulos. Identifica-S e m es­ m o aos Seus, com o tam bém identifica os Seus à Sua obra. D iante de tal plenitude de am or, diante da revelação dum plano como ê s s e ... que fazem os nós? '

292

O Evangelho segundo João

2.

Revelação, v. 6—£

“ M anifestei o Teu Nom e aos homens que Eram Teus, e Tu Mos d este”, v. 6.

no

mundo Medeste.

O Senhor coloca em prim eiro lu g ar a im portância da revela­ ção do Nom e de Seu P a i. D isse aos discípulos: “ Q uem Me viu a M im, viu o P a i”, 14:9, e “ E u e o P ai som os U m ”, 10:30. M as aq u i diz que lhes m anifestou êsse Nom e tão glorioso, e de signi­ ficado m uito m ais poderoso do que tudo o que podia dar o m es­ sianism o, que fôra, até aqui, sua esperança. (7S) Manifestando-lhes êsse Nome, conduziu-os ao próprio coração do Pai, com duplo resultado: em primeiro lugar, êles foram atraídos para o Salvador, 12:32, fora da escravidão do pecado, do mundo e da sina­ goga,fora das ilusões e da confusão de seu próprio caminho e de sua própria vontade. Em segundo lugar, tendo recebido o perdão, a re­ missão dos pecados, tornaram-se posse do Pai e do Filho. Êsse direito de serem feitos filhos de D eus, 1:12, compreende essa semelhança de família, que é fruto da comunhão íntinia com o Pai e o Filho. . . É de se adm irar que tal salvado seja o tema dos louvores do céu ? E fésios 2 :7 ; Apocalipse 1 :5, 6. “ . . . Êles guardaram a Tua Palavra. Agora sabem que tudo quanto Me deste provém de T i; porque Eu lhes dei as palavras que T u Me deste; e êles as receberam, e verdadeiramente conheceram que saí de Ti, e cr eram que Tu Me enviaste”, v. 6— 8. A sem elhança de Si M esm o que o Senhor quer d ar aos Seus filhos é fru to da ação de Sua P alav ra divina e purificadora. O Senhor emprega aqui duas palavras diferentes: “ Êles guarda­ ram Tua Palavra”, quer dizer a expressão mesma do pensamento divino, como no cap. 1 :1, 2, “ a Palavra que estava com D eus”, e “ que era Deus” , e “ Eu lhes dei as palavras que Tu Me deste” . “ P alavras”, aqui no plural, significa uma frase, um conjunto, uma escolha de palavras exprimindo o que se quer dizer ou escrever: Lucas 24:8,11; João 6:68; 15:7, etc. Trata-se portanto do fundo e da form a da Palavra de verdade, de sua substância e de sua expressão verbal. O emprêgo dessas duas pa­ lavras diferentes representa em si só um fato notável que apoia a autori­ dade das E scritu ras; e êsses dois textos estabelecem duma vez para sem­ pre o lugar que há de ocupar a Palavra divina na vida dos discípulos : " A Palavra de Cristo habite em vós r ic a m e n te ...” Colossenses 3:16. (78) O verbo “ manifestar” significa revelar, mpstrar. É empregado pelo Senhor três vêzes neste capítulo e também no capítulo 21:1,14, quando Se manifestou aos discípulos sob Sua forma nova de Ressuscitado. Cp. Marcos 16:12. Exprime a revelação daquilo que é espiritual e divino.

A oração sacerdotal

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. A expressão “ guardar Sua Palavra”, ou' “ Suas p alav ras” , ou "“'S eu s m an d am e n to s” se encontra dez vêzes neste E v an g elh o : 8:51,52,55; 14:15,23 24; 15:10 (duas vêzes), 20; 17:6. A s E p ís­ tolas e o A pocalipse voltam constantem ente sôbre êsse tem a que rev ela o meio de resistir à tentação, de triu n fa r do m al e de p er­ m anecer fiel ao S enhor no meio da apostasia. Cp. Atos 20:28— 32; 2 Tim óteo 3:14; Judas 3; Apocalipse 3:10, 22:7,9. E ssas pala­ vras encerram um a advertência, do m esm o m odo que um enco­ rajam en to . São próprias do tem po da g raça que é o dá fé. Mas no fim dêsse tem po haverá abandono da fé e, portanto, da P a la ­ vra, 1 Tim óteo 4:1 ,2 . P ela Sua P alav ra, o Senhor possui nossas vidas de modo sem ­ pre m ais ativo e poderoso. É tam bém pela Sua P alav ra que rece­ bem os tudo o que o P ai deu ao F ilho, e tudo o que o Filho disse ao Pai. ' i

3.

Associação, v. 9,10



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