O Cuidado de Si Como Forma de Resistência Ao Biopoder

June 27, 2018 | Author: Anderson Nowogrodzki | Category: Michel Foucault, Discourse, Power (Social And Political), Beard, Time
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Descrição: Texto sobre Análise do Discurso, referente à questões da Nova História como é relida por Foucault e as mudanç...

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O CUIDADO DE SI COMO FORMA DE RESISTÊNCIA AO BIOPODER: A BARBA COMO AGENTE DESESTABILIZADOR DO DISPOSITIVO MIDIÁTICO 1 THE CARE YOURSELF AS RESISTANCE FORM AGAINST BIOPOWER: THE BEARD AS AGENT DESTABILIZING OF MEDIA DEVICE  Anderson Nowogrodzki Nowogrodzki da Silva2

Resu Resum m:: Este texto tem por esteira descrever, a partir da noção de dispositivo, práticas discursivas e não discursivas contemporâneas que, sendo difundidas pela mídia, trazem em si regras fundadas na higienização e na medicalização do corpo, instituídas por uma sociedade de controle (biopoder! "sso tende a gerar uma rede de regularidades que fazem ascender a um  patamar de normalidade o ato de #fazer a barba$, relacionando%o a quest&es est'ticas, de sade e afetividade! )escrevem%se, tamb'm, enunciados e práticas relacionados a uma parcela mínima do povo que, por outro lado, retoma o uso da barba como forma de resist*ncia, contrapondo%se ao que ' chamado de #normal$ na contemporaneidade, desestabilizando os olhares tranquilos num +ogo dial'tico de poder! usca%se, então, a partir de uma perspectiva foucaultiana, olhar para a hist-ria em sua descontinuidade e para as redes de relaç&es e observar que, no dispositivo midiático, instauram%se poderes, regulados pela atualidade do saber e materializados como como enunciados, que dão dão forma aos su+eitos! )essa maneira, faz%se uso das fases arqueol-gica e geneal-gica de .oucault, dando foco / questão do cuidado de si como forma de resist*ncia na sociedade de controle!

P!"!#$!s%C&!#e: arba! 0orpo! iopoder! 1esist*ncia! .oucault! A's($!)(: 2his paper aims to describe, from fr om the notion of device, practices and contemporar3 statements that 4ere found and diffused b3 the media, bring rules founded on h3giene and 1 5rtigo final da disciplina #5nálise de discursos6 ob+eto e m'todo de pesquisa em 7ichel .oucault$

do 8rograma de 8-s%9raduação em :etras e :inguística da .aculdade de :etras da ;niversidade .ederal de 9oiás! 2 7estrando do 8rograma de 8-s%9raduação em :etras e :inguística (i?@gmail!com!

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medicalization of the bod3, instituted b3 a control societ3 (biopo4er! 2his tends to generate a net4or> regularities that ma>e ascend to a normal level the act of AshavingA, relating it to aesthetic issues, health and affectivit3! )escribes, too, statements and practices related to a small portion of the people, on the other hand, ta>es the use of beard as a form of resistance, in opposition to 4hat is called AnormalA in contemporar3 societ3, destabilizing the quiet glances in a dialectical po4er pla3! Bne aim, then, from a .oucaultian perspective, loo> at the histor3 in its discontinuit3 and net4or>s of relations and noted that the media device, are established po4ers, regulated b3 current >no4ledge and materialized as statements 4hich the3 form the sub+ect! 2hus, use is made of archaeological phases and famil3 to .oucault, giving focus to the issue of self%care as a form of resistance to control societ3!

*e+,$-s: eard! od3! iopo4er! 1esistance! .oucault! CONSIDERA./ES INICIAIS

2oma 2omando ndo por base base as con concep cepç&e ç&ess fouca foucault ultian ianas as sobre sobre o dispos dispositi itivo vo te-ric te-rico% o% metodo metodol-g l-gico ico,, prop&e prop&e%se %se,, neste neste artigo artigo,, estuda estudarr e descre descrever ver prátic práticas as discu discursi rsivas vas e não não%% discursivas relacionadas ao modo como a barba emerge, no s'culo CC", em um movimento de retomada, como um agente desestabilizador da sociedade de controle! 8autando%se em .oucault (?DDD, visualiza%se esse ob+eto a partir de um saber perspectivo, fala%se de um lugar  e um temp tempoo dete determ rmin inad ados os!! 8ara 8ara tant tanto, o, olha olha%s %see para para o disp dispos osit itiv ivoo midi midiát átic icoo e para para os enunciados que nele circulam, observando regularidades e resist*ncias, trazendo / luz um  +ogo de poder fundamentado nos saberes correntes na contemporaneidade! contemporaneidade! Entende%se #poder$, aqui, segundo .oucault (?DD, como o con+unto das práticas discursivas, dos mecanismos e dos procedimentos que atuam em função da manutenção do pr-prio poder! Fuando se pensa em uma sociedade, pensa%se, consequentemente, nas relaç&es interp interpess essoai oaiss que a fundam fundament entam am!! .az%se .az%se neces necessár sário, io, assim assim,, olhar olhar para para o su+ei su+eito to s-cio% s-cio% historicamente situado, atravessado pela diversidade dos enunciados, dos discursos, e inserido em uma trama trama movida movida pelas pelas relaç relaç&es &es de pod poder er,, sendo sendo,, dessa dessa forma, forma, con consti stituí tuído do pela pela  pluralidade dos saberes que o envolvem! G preciso observar a sociedade que se constitui na atuali atualidad dadee e perceb perceber er que sua base base está está fundam fundament entada ada na discip disciplin linari arizaç zação ão dos dos corpos corpos,, respaldando%se na emerg*ncia dos diferentes olhares (ci*ncia, religião, mídia, política, e constatar que a 'tica de si mesmo, em relação / est'tica, possibilita a resist*ncia!

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)escreve%se, aqui, a forma como o corpo tamb'm enuncia! 8or meio do cultivo da  barba, o homem resiste / medicalização e / higienização regulares em dado momento (contemporaneidade e toma decis&es sobre seu pr-prio corpo, foge ao que ' passível de sentido, segundo as regras que se inscrevem em seu pr-prio tempo! .ocalizam%se, então, os enunciados correntes no dispositivo midiático que corroboram para a construção de um ambiente em que disputam6 o biopoder, na regulamentação dos corpos= e a resist*ncia, no cuidado de si, na transformação do su+eito em razão de si mesmo! B dispositivo, citado acima, caracteriza%se, de acordo com Hargentini (no prelo, como um con+unto heterog*neo que se organiza em uma rede de rupturas, descontinuidades, dispers&es, regularidades, por meio de elementos discursivos e não%discursivos, podendo superpor outros dispositivos, tornando%os essencialmente m-veis, continuamente mutáveis nas conex&es entre elementos, produzindo diferentes efeitos! )eleuze (?DDIb considera os dispositivos como con+untos multilineares, ca-ticos, rizomáticos, entr-picos, em que os elementos que os comp&em funcionam como vetores! 2rata%se, o pesquisador, então, como um cart-grafo, que recorta determinadas relaç&es de um dispositivo e as traz / luz! B dispositivo possui uma tridimensionalidade, alicerçada nas formas de ver, nas possibilidades de dizer e nas relaç&es de poder! J*%se, assim, uma função estrat'gica, que ' refletida na transformação do discurso! Em relação ao dispositivo midiático, observa%se a regulamentação dos corpos a partir de práticas de ob+etivação! Bu se+a, aprecia%se, neste texto, a maneira como uma costura entre elementos heterog*neos, de forma estrat'gica, busca determinar o modo como o homem deve manter seu rosto e evidencia%se a possibilidade de contraposição pela transformação do pr-prio corpo! 5l'm disso, ob+etiva%se descrever as alteraç&es de efeitos de sentidos do discurso sobre a barba em detrimento de sua situação em diferentes condiç&es de exist*ncia! )emonstra%se, dessa forma, como as relaç&es entre poder e saber atuam em consonância com a hist-ria e constituem novos dispositivos! )e acordo com Housa (no prelo, para entender o dispositivo ' essencial que se olhe para a rede que o comp&em, recortada a partir do ob+eto de  pesquisa, pois ' do recorte que emerge o caminho do estudo! 5 partir do instante em que se adequa o estudo realizado a um m'todo hist-rico que descende de .oucault e de seus comentaristas, retoma%se Kietzsche (?DDL, no âmbito de uma

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 perspectiva crítica que visa, a partir da  Filosofia do Martelo3, fazer estremecer o que '  passível de sentido, refletir sobre o que ' chamado de universal, questionar! )essa forma, de acordo com 8rado .ilho (?DDL, utiliza%se a arqueologia foucaultiana como aporte para entender os regimes de produção dos discursos, as diversas formas de ver em dado momento hist-rico (diferentes verdades, as possibilidades de dizer, resultando nas práticas discursivas que se esgueiram na trama social, ou se+a, a arqueologia se centra nas relaç&es de saber! B trabalho arqueol-gico, segundo .oucault (?DDM, não ' criar uma análise que universalize, que totalize, ', antes de tudo, olhar para o discurso e suas relaç&es, para os regimes de verdade e os efeitos de realidade produzidos! 8or outro lado, ainda de acordo com 8rado .ilho (?DDL, os estudos geneal-gicos de .oucault t*m como centro as relaç&es microfísicas de poder! G  preciso lembrar, aqui, da converg*ncia entre os pensamentos de Kietzsche (?DDN e .oucault (NOOI, em relação ao conceito de  Eterno Retorno ( Ewige Wiederkunft , no sentido de olhar   para a hist-ria se pautando na noção de descontinuidade e na estrutura cosmogPnica nietzschiana de que não há  gene ou telos na exist*ncia, ou se+a, não há início ou fim, apenas um +ogo de relaç&es que produz o devir 4 contínuo! 5 genealogia, para .oucault (?DDD, estrutura%se na descoberta de marcas que não se evidenciam na hist-ria clássica, de singularidades, de regularidades e rupturas, que dão forma a uma colcha de retalhos heterog*nea, com diferentes formas e cores inscritas em dada dispersão! )essa maneira, .oucault (NOOI faz aparecer o conceito de  Nova História, pautado no olhar para os acontecimentos sociais mínimos que foram apagados pelas formalidades da ci*ncia hist-rica arcaica6

2rata%se, portanto, em suas análises, de fazer foco sobre as relaç&es de saber%poder, no sentido de compreender que efeitos de sub+etividade são produzidos em uma sociedade, num certo tempo, ou, melhor dizendo, que formas de vida coletiva, que modos de ser estão sendo historicamente produzidos numa certa sociedade, que formas de su+eição e assu+eitamento estão em +ogo nessa cultura! (815)B .":QB! ?DDL, p! MD!

3 Nietzsche usa a metáfora do martelo para demonstrar a necessidade de abrir os horizontes para novas perspectivas, questionar o mundo que rodeia o homem, deixar de erigir ídolos e fazer balanar o preconceito, a in!exibilidade, o dogmatismo cego" 4 )inâmica, transformação contínua!

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8ensa%se, assim, num sistema que não ' fixo, mas plural, rizomático, mutável, em que saber e poder se entrelaçam na formação de dispositivos, criando regularidades e  possibilitando resist*ncias, obtendo, como efeito, a sub+etivação constante do su+eito em uma trama de descontinuidades6

Hob as grandes continuidades do pensamento, sob as manifestaç&es maciças e homog*neas da razão, sob a evolução tenaz de uma ci*ncia obstinando%se para existir e se aperfeiçoar desde o seu começo, procura%se atualmente detectar a incid*ncia das interrupç&es! (.B;05;:2! ?DDD, p! R!

T$!0s$m!23 -s $e45mes -e #5s5'5"5-!-e: ! '!$'! e su!s $ess54055)!26es 0! &5s(7$5!

Hegundo ur>e (NOO?, #deve%se ler o passado para compreender o presente$! 0om  base nesse dizer, traz%se o conceito de  Nova História para esta descrição! 8ara entend*%lo, '  preciso que se caminhe pelas vias da renovação historiográfica, com base em .oucault (NOOI! 5 produção dos sentidos decorre dos fenPmenos hist-ricos! G ao olhar para essa afirmação que se encontra um norte no estudo, percorrendo, daqui, as ideias que constituem a  Kova Qist-ria! Hegundo .oucault (NOOI, essa nova maneira de ver as relaç&es se pauta na  preocupação com as mincias que permeiam os acontecimentos passados, na busca por   perscrutar os eventos microsc-picos apagados pela hist-ria arcaica e evidenciar como a  pluralidade e heterogeneidade de determinadas condiç&es de exist*ncia permitem que os discursos se+am retomados a todo tempo e, concomitantemente, renovados! 5 Qist-ria 0lássica se erige sobre a estruturação de eventos lineares e contínuos, que seguem um caminho de encadeamentos #perfeitos$ e que buscam abranger o mundo e seus acontecimentos! Hendo assim, não se tratam, aqui, os documentos (dizeres hist-ricos como elos de uma corrente unitária, mas, a partir da Kova Qist-ria, passa%se a tratá%los como resultados de uma exterioridade s-cio%historicamente localizada, baseada na descontinuidade!  Kão se faz necessário, neste artigo, falar da hist-ria dos grandes homens, ou sobre períodos de tempo antes recortados e estabelecidos como uma fatia de um contínuo, a não ser para entender a historicidade dos fatos! Qá uma preocupação molecular com o acontecimento, fazer surgir uma singularidade, como diz Hargentini (no prelo! Kão há cristal que não possa ser abalado pela dvida! Kão ' questão de dizer que a hist-ria está errada, mas, sem dvida,

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está incompleta! .azer aparecer as diferentes relaç&es entre enunciados permite uma nova visão sobre a pr-pria vida e o mundo que nos rodeia, uma reflexibilidade dinâmica! 8assa%se, então, a observar as relaç&es de poder em meio a esse novo modo de olhar para a hist-ria, de forma descentralizada, microfísica6

Hob as grandes continuidades do pensamento, sob as manifestaç&es maciças e homog*neas de um espírito ou de uma mentalidade coletiva, sob o devir obstinado de uma ci*ncia que luta apaixonadamente por existir e por se aperfeiçoar desde seu começo, sob a persist*ncia de um g*nero, de uma forma, de uma disciplina, de uma atividade te-rica, procura%se agora detectar a incid*ncia das interrupç&es, cu+a  posição e natureza são, aliás, bastante diversas! (.B;05;:2, ?DD, p! I!

)e acordo com .oucault (NOOI, a Kova Qist-ria possui algumas demandas, quais se+am6 a imersão nas mincias, re+eitando a superficialidade linear e estável, agregar ao estudo a busca pela descontinuidade, embasando%se na possibilidade da sistematização da análise das escans&es, pautada na autonomia do pesquisador, levando em consideração todos os limiares e oscilaç&es pelos quais o período se estruturou, suas regularidades, irregularidades e seus efeitos! 8or ltimo, evidenciar a não necessidade de uma hist-ria global e linear, dando vazão a uma ramificação contínua! 8ensando nesses conceitos, buscou%se uma pluralidade de ditos, enunciados que fazem refer*ncia ao lugar que a barba ocupou em diferentes momentos hist-ricos como um agente do poder! 1efere%se / barba como agente, pois, ao olhar para as condiç&es de exist*ncia de determinadas práticas, percebe%se os diferentes pap'is, funç&es sociais, que elas possibilitam existir, estando pautadas na atualidade do saber! 5 est'tica do su+eito provoca diferentes movimentaç&es nas relaç&es de poder, em razão, nesse caso, da estruturação dos pelos faciais frente / complexidade dos entrecruzamentos de enunciados s-cio%historicamente localizados! Bu se+a, a barba exerce determinadas aç&es, provoca determinados efeitos, possui uma atividade e mobilidade regulamentadas pelos regimes de produção discursiva, tornando%a um agente ativo!  Kum percurso hist-rico breve, percebe%se que trinta mil anos atrás, o homem do  período paleolítico descobria a possibilidade de se barbear, ou não, utilizando pedras! )esde o Egito antigo, a barba ocupava um lugar como agente na sociedade, definia o sistema de classes sociais, em que, os su+eitos que preenchiam os mais altos cargos, possuíam as mais

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longas barbas, como sinal de suas posses e nobreza I! 5pesar disso, a barba em seu estado de crescimento natural era vista como algo impuro e que deveria ser evitado (os sacerdotes depilavam todo o corpo em razão de se afastar ao máximo do estado animalesco e aproximar% se do sagrado, corroborando para a formulação de instrumentos que pudessem ser funcionais no escanhoamento L! Entre os romanos, a barba era cultivada at' a puberdade, sendo raspada +unto a todos os demais pelos do corpo no momento de passagem da infância para a +uventude, oferecendo% os, posteriormente, aos deuses! Bs políticos mantinham a barba, assim como os egípcios, para demonstrar poder! Bs primeiros cremes de barbear (feitos a partir do -leo de oliva e  barbearias aparecem em meio aos romanos, as práticas de higienização da barba parecem emergir aqui e são constantemente retomados em outras emerg*ncias hist-ricas S! )e acordo com 8eter>in (?DD?, motivadas por uma provável vontade de poder, as mulheres romanas  passavam unguento no rosto em razão de instigar os pelos faciais a crescerem, por'm, foram vetadas pelo senado, o que demonstra a exist*ncia de uma biopolítica que precede a contemporaneidade em muito! )iferente de 1oma, a 9r'cia ficou famosa por seus fil-sofos barbados! Bs homens, em geral, usavam barba de maneira regular! 0omo exceção, os aristocratas raspavam o rosto em razão de demonstrar o lugar social que ocupavam! ;ma vez mais, v*%se a influ*ncia das relaç&es de poder sobre o corpo! Bs vi>ings, por outro lado, tinham em sua barba um símbolo de força, bravura e  poder, relativo / sua ferocidade em batalha! Era, tamb'm, um artifício funcional nos territ-rios que habitavam, no norte da Europa, regi&es frias pr-ximas ao 8olo Korte! 5 barba era tamb'm um sinal de honra, a derrota em batalha era sinal de fraqueza e demandava que os

# )isponível em6 T http6UUblog!mensmar>et!com!brU?DNRUDNUhistoria%e%curiosidades%por%tras%da%

 barbaUV! 5cesso em6 ?O de +ulho de ?DNI! $ )isponível em6 T http6UU444!+4!orgUptUpublicacoesUrevistasUg?DNDNNUegito%na%historia%biblicaUV!

5cesso em6 ?S de +ulho de ?DNI! % )isponível em6 T http6UU444!historiadomundo!com!brUcuriosidadesUhistoria%da%barba!htmV! 5cesso

em6 ? de +ulho de ?DNI!

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homens se barbeassem! .ez%se visível como os pelos faciais simbolizavam o poder e sua  proporção, mesmo em uma sociedade m-vel e instável como a dos #bárbaros$ ! )urante o decorrer da "dade 7'dia, no momento conhecido como 0isma O, diferentes  povos se relacionaram na medida em que se diferenciavam uns dos outros por meio dos  pr-prios corpos! 5pesar de as escrituras bíblicas, no velho testamento, tratarem o cultivo da  barba como algo sagrado (WKão cortareis o cabelo, arredondando os cantos da vossa cabeça, nem danificareis as extremidades da tua barba! X Y :J! NO6 ?S, os cat-licos raspavam os rostos em função de não serem confundidos com os ortodoxos, muçulmanos ou +udeus, al'm de não alme+arem se parecer com os povos n-rdicos, os germânicos, que invadiram e pilharam naç&es cristãs de forma recorrente ND! 8eter>in (?DD? afirma que a hist-ria do bigode ' tamb'm controversa nesse período! 9regos e 1omanos não usavam bigode, ao contrário dos  povos n-rdicos, vistos como bárbaros, o que pode ter gerado o estere-tipo do demPnio com  pelos sobre os lábios em diversas pinturas da 'poca! Bbservam%se as relaç&es de poder que rodeiam o uso da barba ao olhar para as mincias apagadas da hist-ria arcaica! 5 9uerra da arba, como foi chamada, foi desencadeada por uma mulher, em meados do s'culo C"", quando decidiu deixar seu marido, rei da .rança, e casar%se com o rei da "nglaterra em razão de o primeiro ter raspado a barba ap-s voltar das cruzadas! NN Entre o fim do s'culo C"C e início do s'culo CC, potencializou%se o biopoder por  meio da revolução tecnol-gica (tecnocracia, momento em que Zing 0! 9illette criou a  primeira lâmina de barbear segura e descartável (NODN

N?

!  5s práticas de higienização e

& )isponível em6 T http6UUbarbadesauron!blogspot!com!brU?DN?UDNUbarbas%na%historia!htmlV! 5cesso

em6 ?S de +ulho de ?DNI! ' )ivisão entre "gre+a 0at-lica 5post-lica 1omana e "gre+a 0at-lica 5post-lica Brtodoxa! 1( )isponível em6 T http6UUtiposdebarba!com!brUuma%breve%historia%da%barba%saiba%tudo%sobre%este%

fenomenoUV! 5cesso em6 ?L de +ulho de ?DNI! 11 )isponível em6 T http6UU444!sitedecuriosidades!comUcuriosidadeUa%curiosa%guerra%da%

 barba!htmlV! 5cesso em6 ?L de +ulho de ?DNI! 12 )isponível em6 T http6UU444!gillette!comUptUbrUEntretenimientoU2ime:ine5pp!aspxV! 5cesso em6

? de +ulho de ?DNI!

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medicalização (pautadas nos avanços das ci*ncias biol-gicas foram catalizadoras de um  processo de transformação dos discursos em relação ao uso da barba! Bs pelos da face como agentes de status, posição social ou prática religiosa, foram substituídos por uma onda de envaidecimento do homem moderno, que passava a raspar sua barba em razão de parecer  civilizado, #limpo$, deixando a barba para os exc*ntricos, mendigos, loucos! Hubtraindo os  barbados de algumas instituiç&es pblicas e impedindo%os de ocuparem determinados cargos em empresas, a biopolítica passou a determinar um novo modo de cuidar do outro! B que para os gregos fora um símbolo de sabedoria, passou a ser visto como característica do terrorista, do vagabundo, dos criminosos! 5p-s o início do s'culo CC, a barba s- volta a tomar o seu lugar na sociedade, como forma de resist*ncia, durante os movimentos de contracultura desencadeados nos Estados ;nidos nas d'cadas de LD, SD e D, em que o movimento hippie emergiu +unto /s bandas de  Rok n Roll   e os movimentos em razão dos direitos humanos! 5 comunidade ga3 adotou para si os pelos no rosto como símbolo de resist*ncia NM! 5 disciplinarização do corpo em razão da exist*ncia de uma biopolítica ' recorrente em diversas con+unturas sociais, mesmo antes dos s'culos C"C e CC (apesar de estar pautada no discurso religioso e político, ao inv's do discurso científico! 0omo visto acima, essa disciplinarização atua de forma a construir um con+unto de regras sobre todos os aspectos da vida humana, está pautada nas relaç&es microfísicas de poder! .oucault (NOSO afirma que o  biopoder atinge a população (que ', tamb'm, o instrumento para sua produção, ou se+a, ' na regularidade das práticas discursivas que podemos ver sua exist*ncia! Jem / luz, dessa forma, a noção de governamentalidade, como um con+unto de práticas, instituiç&es, modos de ver e dizer que possibilitam a construção de uma biopolítica! G o espaço extrínseco, complementar  de que fala )eleuze (?DDIa, referindo%se a um movimento diagonal, em que se encontram o discursivo e o não discursivo, possibilitando a exist*ncia dos enunciados! Ko oriente 7'dio,  por exemplo, ' recorrente que, como forma de respeito, os homens toquem as barbas uns dos outros, sendo uma prática pautada numa relação de poder entre su+eitos, que ' fundamentada em um saber corrente e possibilitada por um con+unto de elementos heterog*neos que se entrecruzam e dão forma a um dispositivo! 8ensando nisso, como o su+eito barbado contemporâneo está inserido na sociedade p-s%moderna e em que medida se diferencia do su+eito sem barba[

13 )isponível em6 T http6UUtiposdebarba!com!brUuma%breve%historia%da%barba%saiba%tudo%sobre%este%

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O su8e5( -e '!$'!: um !'!" 0! s)5e-!-e -e )0($"e )0(em9$0e!

)e acordo com 5gambem (?DDO, existe uma relação intrínseca entre as substâncias que comp&em os seres vivos e os dispositivos! 8or meio dessa conexão, funda%se um su+eito de mltiplas sub+etivaç&es, um aglomerado de posiç&es e funç&es que torna o indivíduo heterog*neo, complexo, resultado de uma rede de entrecruzamentos! usca%se descrever, aqui, como as relaç&es de poder entre enunciados acontecem dentro do dispositivo midiático, dando *nfase ao uso da barba como forma de resist*ncia ao biopoder! B su+eito ao qual se faz refer*ncia não ' adâmico, não ' origem ou dono do seu  pr-prio dizer, pensa%se em um su+eito constituído, que tem, em sua sub+etividade, um efeito do atravessamento de diferentes saberes inseridos em relaç&es de poder! )e acordo com 8rado .ilho (?DDL, esse indivíduo está submetido /s condiç&es de exist*ncia do discurso, ' resultado de um processo de sub+etivação contínuo, está inserido numa trama de relaç&es heterog*neas, sendo ob+etivado pela máquina da governamentalidade! 8roduzem%se, assim, su+eitos que, apesar de se encontrarem em uma rede de regularidades, podem resistir! 5gambem (?DDO corrobora para essa afirmação na medida em que diz que os su+eitos estão  presos aos dispositivos, mas são livres em sua heterogeneidade, na possibilidade do devir! 5 busca pelo poder sobre o pr-prio corpo, por se #libertar$ das regularidades da moda, da medicalização, da higienização, ' assunto recorrente na contemporaneidade e está  pautado na exist*ncia de formas de resist*ncia /s regras disseminadas em dados dispositivos! 8or'm, não há maneira de se libertar totalmente das regularidades, os su+eitos estão inseridos na trama discursiva! 7over%se contra a corrente, gera a sensação de liberdade! Essa sensação  parece ser uma abertura para alcançar o status de individualidade, que ' ilus-rio! 5  possibilidade de deixar a barba crescer, em meio a uma sociedade de caras lisas, ' um modo de resistir ao que está naturalizado desde o fim do s'culo C"C! .az%se emergir o anormal em meio / normalidade! 0omo diria 0ourtine (?DNM, a figura do monstro, do estranho, do agente agressor, vem / luz e traz, em si, a crise, abala estruturas, martela (como diria Kietzsche um ídolo estabelecido pelos ditos correntes! 5 simplicidade do rosto abarrotado de pelos, na atualidade, faz aparecer uma con+untura historicamente complexa! )e que maneira o rosto barbado, antes sinal de poder, honra, virilidade, força, quiçá  beleza (em razão de sua função biol-gica, tornou%se uma monstruosidade, uma representação

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de su+eira, perigo (terrorismo[ 8ara responder a essas quest&es, olha%se para a noção de discurso baseada em .oucault (NOOI! 2rata%se de um espaço extenso e diverso, constituído  por uma pluralidade de enunciados que estão pautados em uma mesma formação discursiva! 8ossuem, por'm, sua raridade (em razão de suas condiç&es de exist*ncia e estão dispersos nos acontecimentos! 5 partir destes conceitos, empreende%se um pro+eto de descrição de acontecimentos discursivos, fundamentado na busca por unidades que carreguem, em si, valores de verdade definidos a partir das regularidades constatadas em enunciados (que são historicamente constituídos! .oucault (NOOI define o enunciado da seguinte maneira6

\ primeira vista, o enunciado aparece como um elemento ltimo, indecomponível, suscetível de ser isolado em si mesmo e capaz de entrar em um +ogo de relaç&es com outros elementos semelhantes a ele= como um ponto sem superfície! mas que pode ser demarcado em planos de repartição e em formas específicas de grupamentos= como um grão que aparece na superfície de um tecido de que ' o elemento constituinte= como um átomo do discurso! (.B;05;:2, NOOI, p! OD

B enunciado está pautado no +á dito, não busca evid*ncias subentendidas ou relaç&es que não são materiais! Hegundo )eleuze (?DDIa, o enunciado não ' visível, mas não está oculto, ele ' hist-rico, relaciona%se / regularidade, está posto! G em sua produção efetiva, como unidade do discurso, nas práticas discursivas e em seus efeitos, que se alme+a compreender o modo como se dá uma formulação, uma emerg*ncia! Kão se olha para o enunciado como um agente individual, mas, de acordo com .oucault (NOOI, p! N?M, deve%se observá%lo como #]!!!^ um elemento em um campo de coexist*ncia$! )e acordo com Brlandi (NOS, o enunciado ' uma rede de entrecruzamentos discursivos que coexiste ao lado de outros enunciados em dado momento hist-rico e deles se difere para que possa existir! 5 arqueologia foucaultiana tem, como esteira, a busca por vestígios que constituem um con+unto de monumentos que possuam traços das regularidades de uma formação discursiva! 8rocura%se entender o motivo de algo ter sido dito em dado momento! 0ourtine (?DNM reforça essa afirmação ao dizer que a arqueologia ' um modo de reconstruir um entrelaçamento de enunciados, criar uma rede de discursos, recortar dispositivos6 #5nalisar os discursos em tal perspectiva ' efetivamente tentar reconstruir, para al'm das palavras, o regime dos olhares e a economia dos gestos pr-prios aos dispositivos ]!!!^$! (0ourtine, ?DNM,  p! IS!

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8ensando com 0ourtine (?DNM, vemos que a hist-ria da barba ', tamb'm, uma hist-ria dos corpos e dos regimes de visibilidade nos quais está inserida, dos modos de relação que constroem diferentes verdades em diferentes 'pocas, sobre o belo e o feio, o normal e o anormal! B aparecimento da resist*ncia s- ' possível em razão das condiç&es de exist*ncia dos discursos6

;m certo regime de verdade e certas práticas formam assim um dispositivo de saber%  poder que inscreve no real o que não existe, submetendo%o ainda / divisão do verdadeiro e do falso! ]!!!^ uma vez constituído pelo onatenatio ausaru! , pela causalidade do devir hist-rico, o discurso se imp&e como a  "riori hist-rico= ]!!!^ sserão aceitos #no +ogo do verdadeiro e do falso$ aqueles que falarem em conformidade com o discurso do momento= (JE_KE, ?DNR, p! NLI!

8elo pro+eto aqui empreendido, considera%se relevante discutir a noção de sub+etividade no discurso! )e acordo com .ernandes (?DD, o su+eito discursivo se caracteriza como um ser social, apreendido em um espaço discursivo! Esse su+eito ' constituído em meio a atravessamentos diversos, sendo heterog*neo, plural! G o efeito de uma exterioridade social! Em outras palavras, ' fruto de um con+unto de discursos exteriores a si, que o atravessam e causam o devir contínuo! 7ltiplas identidades podem ser produzidas e transformadas a todo tempo, sendo fragmentadas, diversas e não fixas! 0ada su+eito ' constituído por meio das diferentes relaç&es que, historicamente, estabelece com a sociedade! B su+eito ' marcado por posiç&es e estas se referem tamb'm /s diversas posturas discursivas que o indivíduo mobiliza socialmente! "sso pode ser observado em diferentes ocorr*ncias materiais linguístico%discursivas! 8or'm, ' preciso enfatizar que, a formulação dos su+eitos, dos enunciados e dos discursos não se baseia em um con+unto de relaç&es sem sentido, soltas no ar e aglomeradas em uma massa sem coer*ncia! Existem regras de formação que determinam a ordem do discurso! Hegundo .oucault (NOOI, essa noção se associa a diferentes condiç&es que possibilitam práticas, enunciados e mudanças! Blhando para o s'culo CC e CC", mais especificamente os anos que sucederam a tomada de espaço das mulheres na sociedade e os protestos feministas, antirracistas e em  proteção aos homossexuais, desencadeados na d'cada de NOLD, constatam%se, na dispersão dos enunciados, práticas discursivas relacionadas ao uso do corpo como forma de resist*ncia, opondo%se ao controle sobre o outro! B feminismo, mais recentemente, tomou para si práticas  baseadas na nudez, em razão de demonstrar a busca pelo controle sobre si (.igura N! B

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7ovimento Kegro potencializou a prática de se assumir, o cabelo, a pele, o corpo, desvencilhando%se da busca por um estere-tipo do colonizador (.igura ?! Bs movimentos sociais em defesa da liberdade em relação / sexualidade tamb'm fazem uso do corpo para  protestar, para manifestar uma demanda por liberdade (.igura M! Enquanto os movimentos de contracultura geraram novas formas de vestir, deram visibilidade ao uso de drogas e ao sexo, negando os padr&es naturalizados de medicalização dos corpos, da moda! 2odas essas movimentaç&es e práticas, adicionadas ao uso da barba em uma sociedade higienizada,  promovem um abalo nas regularidades de dado momento, criam rea+ustes nas relaç&es de  poder e dão forma a novos regimes de visibilidade, inscrevendo%se num +ogo de conex&es, de mutaç&es contínuas, de ordenação em meio ao caos NR!

.igura N6 8rotesto contra uma marcha anti%aborto em 7adri (?DNM

)isponível em6 T http6UUnoticias!bol!uol!com!brUultimas%noticiasUbrasilU?DNMUN?UDIUuso%do%corpo%nu% em%protestos%e%uma%forma%de%comunicar%diz%especialista!htmV! 5cesso em6 ?O de +ulho de ?DNI!

.igura ?6 8rodução do pro+eto de filme #Zbela$ de _asmin 2ha3ná (o pro+eto, de ?DNI, tem por  ob+etivo levar os negros a assumirem seu corpo numa sociedade regulamentada pela imagem do  branco

14 )isponível em6 T http6UUanosLD!4eebl3!comUgrupos%sociais!htmlV! 5cesso em6 MD de +ulho de

?DNI!

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)isponível em6 T http6UU444!geledes!org!brU3asmin%tha3na>bela%o%negro%e%o%unico%individuo%no%  brasil%que%precisa%se%assumir%enquanto%sua%propria%racaetniaU`gs!MLOfRODObbdDRfIObDRLb?NbaLOcadeV! 5cesso em6 MD de +ulho de ?DNI!

.igura M6 2ransexual (na parada ga3 % ?DNI manifestando o dese+o de cuidar de seu pr-prio corpo sem ser crucificada (retoma a hist-ria bíblica do sacrifício messiânico

)isponível em6 T http6UUgN!globo!comUsao%pauloUnoticiaU?DNIUDLUve+a%transexual%crucificada%e%outras%  polemicas%com%simbolos%cristaos!htmlV! 5cesso em6 MD de +ulho de ?DNI!

Bs corpos parecem ser chamados, na contemporaneidade, a se assumir, a resistir ao controle pelo dispositivo midiático NI, a transformar%se como cuidado de si! )almonte (?DD assegura que o dispositivo midiático cria um con+unto de regras para uma trama de relaç&es, 1# ) termo *midiático+, aqui utilizado, faz referncia aos meios de comunica-o modernos de forma geral, os veiculadores de informa-o, pois potencializam a dissemina-o dos ditos e sua repeti-o, o que cria uma regularidade e controle da popula-o cada vez mais e.caz"

1#

sua função ' estrat'gica na medida em que regulamenta as conex&es e possibilita +ogos de  poderU saber! Esse dispositivo se torna, num mundo globalizado, preenchido pela tecnologia, um aporte para a sociedade de controle, abrangendo as propagandas televisivas, outdoors, spams, redes sociais, etc!, que estão disseminados e assumem um papel fundamental na  biopolítica! G importante salientar que não há aqui maniqueísmo! Evidencia%se uma vez mais que a resist*ncia tamb'm se faz ver em meio a esses suportes, pois está inserida no mesmo dispositivo e, como diz 5lbuquerque nior (no prelo, .oucault fala de resist*ncia como parte da trama do poder, o lugar onde se produz a liberdade sem que se extinga a ordem, ', na verdade, uma reestruturação! Entende%se sociedade de controle, segundo .oucault (?DD, como um processo de vigilância constante dos corpos, ob+etivando%os, tratando%os como dados que corroboram para a prevenção de possíveis práticas que desviem das regras correntes em dado lugar  historicamente situado! .unda%se, assim, com mais força na contemporaneidade, o dispositivo de segurança, suportado pelo sistema disciplinar e mecanismos +urídico%legais, como um elemento de prevenção contra o aleat-rio, operando a partir de probabilidades! 2al qual o pan-ptico NL, citado por .oucault (NOS, a sociedade de controle se fundamenta na busca por assegurar que a vida do outro se+a gerenciada por meio da vigilância constante! Bs olhares sobre os corpos os levam a modificar%se e sucumbir /s regularidades, negando o cuidado de si! B que se busca neste artigo ' uma descrição dos olhares, dos modos de ver o corpo, de sua ob+etivação pelo dispositivo e sub+etivação nas possibilidades do devir ! Blhando para diferentes enunciados, ' possível constatar a exist*ncia de determinadas regras que fundamentam a prática de fazer a barba! 5s propagandas +á consagradas da marca 9illette dão forma a uma rede de enunciados possíveis em que o fato de raspar os pelos do corpo ' associado / atração sexual (figura R, / realização profissional (figura I e / possibilidade de se tornar um grande ídolo (figura L!

.igura R6 0artaz da campanha `queroverraspar da 9illette (?DNM

1$ 7odelo de prisão baseado na sensação de vigilância constante!

1$

)isponível em6 T http6UUf!i!uol!com!brUfolhaUmercadoUimagesUNMDI?IO!+pegV! 5cesso em6 MD de +ulho de ?DNI!

.igura I6 0artaz da promoção 7ach M aposta em voc* (?DND

)isponível em6 T http6UU444!pontoxp!comU4p%contentUuploadsU?DNDUNDU81B7B05B%9"::E22E% 750QM!+pgV! 5cesso em6 MD de +ulho de ?DNI!

.igura L6 9illette 7ach M 2urbo 53rton Henna (?DNM

1%

)isponível em6 T http6UU444!propaganda!blog!brU4p%contentUuploadsU?DNMUN?U9illette%7ach%M% 2urbo%53rton%Henna!pngV! 5cesso em6 MD de +ulho de ?DNI!

Evidenciam%se, nesses enunciados, os discursos do prazer (no contato entre os corpos, da felicidade (no sorriso, da realização (na nostalgia do ídolo! B su+eito busca, constantemente, nas relaç&es de poder, a felicidade, a ascensão social, alcançar o tesão, a excitação de viver! Esses anseios são resultado de uma trama de enunciados regulares que geram um valor de verdade existencial, atuando diretamente sobre a vida, controlando%a! 5 repetição destes enunciados tende a reforçar essa necessidade, a demanda por ser feliz e bem sucedido passa a se associar, tamb'm, a um rosto barbeado, o que resulta em diversas práticas, como a não contratação de indivíduos barbados por parte de algumas empresas! B su+eito da atualidade se agarra ao discurso higienizador e da medicalização, em que se sente seguro por meio da possibilidade de ser controlado por uma governamentalidade  pautada na razão instrumental que, em relação / barba, afirma de forma recorrente que os  pelos faciais possuem mais bact'rias do que um vaso sanitário NS! )izeres, esses, que levaran a  primeira%ministra britânica 7argaret 2hatcher, na d'cada de D, a proibir que homens de  barba frequentassem seu gabinete N! 5 medicalização dos corpos cria sistemas de correção, formas de transformar o indivíduo, alterar o comportamento, atuar sobre a vida! 8assa%se a diferenciar o que ' normal do que ' anormal! 2rata%se como doente aquele que ' estranho! 5

1% )isponível em6 T http6UUpheeno!com!brU?DNIUDIUcientistas%descobrem%que%barbas%possuem%mais%

su+eira%que%vaso%sanitarioUV! 5cesso em6 MD de +ulho de ?DNI! 1& )isponível em6T http6UUguiadoestudante!abril!com!brUaventuras%historiaUpelos%barba%bigode%

debaixo%caracois%RML?OM!shtmlV! 5cesso em6 MD de +ulho de ?DNI!

1&

normalização de determinados comportamentos implica no estranhamento de outros! "sso ' o  biopoder, ' o controle da vida! 2er um rosto liso torna%se, aos poucos, uma obrigação, em razão de se adequar a determinadas regras que acabam, por meio de práticas de ob+etivação, gerando práticas de sub+etivação! 8or'm, a possibilidade de deixar que os pelos cresçam, resulta numa prática de  poder que contrap&e a sociedade de controle por meio do controle de si! J*%se, assim, uma mobilização na hist-ria, uma movimentação nos sentidos, de tempos em que as barbas eram sinal de regularidade para um momento em que a barba se torna uma forma de resist*ncia!

.igura S6 8ostagem da página do .aceboo> #arbudo da )epressão$

)isponível em6 https6UU444!faceboo>!comUbarbudodadepressao[freftsV! 5cesso em6 MD de +ulho de ?DNI!

.igura 6 8ostagem da página do .aceboo> #arbudo da )epressão$

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)isponível em6 T https6UU444!faceboo>!comUbarbudodadepressao[freftsV! 5cesso em6 MD de +ulho de ?DNI!

9anhando espaço, principalmente nas redes sociais, os su+eitos barbados começam a se mostrar e a retomar discursos que possam gerar um valor de verdade sobre a importância do uso da barba! Ka figura S, usa%se o discurso científico evolucionista (dar4inismo para  +ustificar o uso da barba, evidenciando características do homem como animal e tratando%as como vantagens para as relaç&es sociais! Bs dizeres v*m acompanhados da imagem de um homem de apar*ncia austera, olhar fixo, boa apar*ncia e rosto duro, s'rio! 8or outro lado, a figura , traz a retomada do discurso religioso, transportando, por meio de paráfrase, o  primeiro mandamento mosaico cristão para a atualidade e atribuindo / barba um patamar  espiritual, catalisado pela natureza (ao fundo da imagem e a sensação de liberdade! 0omo resultado desses enunciados, recorrentes nas redes sociais, criaram%se campanhas como a #  No S#ave Nove!$er $, existente desde ?DDM nos Estados ;nidos! 5 movimentação começa com a chegada do frio, em que os homens param de se barbear para manter o calor do corpo e todo o dinheiro que seria gasto com produtos para raspar a barba ' revertido para fundos de pesquisa e tratamento contra o câncer NO! Bu se+a, percebe%se que, mesmo na resist*ncia, há uma movimentação em favor dos corpos saudáveis pautada em saberes que estão ditos e dispersos na sociedade (Wo rosto e o pescoço são áreas do corpo muito vascularizadas! 5 barba protege esses vasos sanguíneos dos raios solares evitando que a temperatura do sangue que circula por  eles se eleve demaisX, Wa barba cria uma sensação de superioridade e ' um agente produtivo na evolução do homemX! B cuidado de si possui liames intrínsecos com o corpo e sua inscrição num espaço s-cio%historicamente situado! )eixar que os pelos cresçam no rosto, em uma sociedade de caras limpas, vai contra o que ' regular, implica em governar a si, sendo ob+etivado pelos discursos que atravessam o su+eito e sub+etivado por sua vontade de poder, vontade de pot*ncia (no sentido nietzschiano! 1' )isponível em6 Thttp6UUbarbavi>ing!comUno%shave%novemberUV! 5cesso em6 MD de +ulho de ?DNI!

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 Kos ltimos anos (ap-s ?DND, parece emergir um processo de normalização dos homens de barba na sociedade! 5 higienização do s'culo CC parece não ter sido o suficiente  para impedir que as barbas retomassem um lugar de valor, uma função como agente de sub+etivação do homem contemporâneo! 8arece ser mais regular que intelectuais, religiosos, atores e trabalhadores comuns usem a barba, um processo que começa a desvinculá%los da figura do mendigo, do terrorista, do homem su+o, do louco! Jemos essa prática se disseminando no dispositivo midiático, criando um novo con+unto de regras e de saberes para os +ogos de poder, mas de maneira incipiente, ao que parece! ;m exemplo para essa afirmação seria a propaganda da empresa de busca de hot'is #2rivago$ (.igura O, que surgiu no ano de ?DNN e se mant*m at' o presente momento (?DNI!

.igura O6 8ropaganda

)isponível em6 T https/00"outube"com0atchv56v2zx27eq8 V! 5cesso em6 MD de +ulho de ?DNI!

C0s5-e$!26es 50!5s

 Kas descontinuidades da hist-ria, em diferentes espaços, em diferentes tempos, a  barba tem sido ressignificada! 5 atualidade do discurso e das práticas se fundamenta na  possiblidade de exist*ncia, impressa na organização da hist-ria! 5s diversas formaç&es discursivas e suas relaç&es fazem aparecer diferentes regimes de verdade, diferentes modos de sentir o mundo! \ barba +á foi atribuído6 poder de atração sexual, sabedoria, status social, falta de higiene, excentricidade, religiosidade, etc! 5pesar da normalização incipiente, 8eter>in (?DD? afirma que, a imagem dos barbados ainda se associa / do terrorista, do comunista, do hippie! B seu lugar na sociedade se ressignifica a todo o tempo nas relaç&es de poder e na diversidade dos saberes! Bs anncios da 9illette, que ainda se mant*m, e as páginas da rede social #.aceboo>$ como #.aça amor, não faça a barba$, comprovam a exist*ncia dessa trama!

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5 emerg*ncia dos enunciados ' possibilitada, atualmente, por um sincretismo entre imagem e texto, o dispositivo midiático se constr-i fundamentado nesses suportes, possibilitando a inscrição da imagem do pr-prio corpo na materialidade do enunciado, catalisando o poder de controle do outro, na medida em que insere o su+eito imageticamente no que ' dito, na circulação do enunciado! B dispositivo midiático ob+etiva o su+eito, que, ao ser atravessado  pelos discursos e inserido em relaç&es de poder, se sub+etiva! B su+eito barbado parece buscar  a felicidade, deixar a barba crescer se tornou, tamb'm, um sinal de estar bem consigo mesmo, uma busca pela liberdade derivada da resist*ncia a uma sociedade de controle! 5 ruptura na hist-ria da barba ap-s a d'cada de NOLD pode estar relacionada /  potencialização dos discursos em razão dos direitos humanos, discursos feministas em prol do controle sobre o pr-prio corpo, discursos da liberdade! Essa possibilidade de mudar o corpo acaba afetando a con+untura social! 5s barbearias, agora, parecem ser cada vez mais raras, integram%se aos sal&es de beleza, não são mais um espaço exclusivo de homens, em razão da  possibilidade de o pr-prio su+eito cuidar dos pelos, a tecnologia permite que o homem se  barbeie segundo sua vontade, na comodidade do lar! B corpo e a barba são formas de sub+etivação do su+eito, o homem de barba vem deixando de ser #monstro$ e se normaliza aos  poucos na sociedade, ocupando novas funç&es, assumindo um novo lugar na rede de saberes e  poderes que dá forma ao dispositivo midiático e / sociedade!

REFERÊNCIAS

5957E7, 9! B que ' um dispositivo[ "n6 ! O ;ue < )0(em9$0e= E outros ensaios! 0hapec-, H06 5rgos, ?DDO! 8! ?N%IN! 5:;F;E1F;E K"B1, )!7! Edifício em construção ou em ruínas6 dos usos e abusos do  pensamento de 7ichel .oucault na contemporaneidade! "n6 HB;H5, Z!7!= 85"CB, Q!8!

D5s9s5(5#s -e 9-e$>s!'e$ em M5)&e" Fu)!u"(: '59"?(5)!@ )$9 e su'8e(5#5-!-e ! (no  prelo! :"5! 8ortugu*s! B?'"5! s!4$!-! 2radução de 8adre 5ntPnio 8ereira de .igueredo! 1io de aneiro6 Enc3clopaedia ritannica, NOD! Edição Ecum*nica!

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;1ZE, 8! A Re#"u23 $!0)es! -! &5s($54$!5!: a escola dos 5nalles (NO?O Y NOO! ?! ed! Hão 8aulo6 Editora ;KEH8, NOO?! 0B;12"KE, ! ! De)5$!$  )$9 6 pensar com .oucault! 8etr-polis, 16 Jozes, ?DNM! )5:7BK2E, E! .!! D5s9s5(5#s m5-5(5)s  Y modos de mostrar, modos de olhar! "n6 CCC" 0ongresso rasileiro de 0i*ncias da 0omunicação, ?DD, Katal! "ntercom Y Hociedade rasileira

de

Estudos

"nterdisciplinares

da

0omunicação !

)isponível

em6

T

http6UU444!intercom!org!brUpapersUnacionaisU?DDUresumosU1M%DM?R%N!pdfV! 5cesso em ND  +ulho de ?DNI! )E:E;E, 9! Fu)!u"(! Hão 8aulo6 rasiliense, ?DDIa!  ! B que ' um dispositivo[ "n6 ! O m5s( s!'e$ em M5)&e" Fu)!u"(:

'59"?(5)!@ )$9 e su'8e(5#5-!-e ! (no prelo! HB;H5! Z! 7! "novar em 5) com .oucault6 a tecnologia dos enunciados no funcionamento dos dispositivos de poder! "n6 HB;H5! Z! 7!= 85"CB! Q! 8! D5s9s5(5#s -e 9-e$> s!'e$

em M5)&e" Fu)!u"(: '59"?(5)!@ )$9 e su'8e(5#5-!-e ! (no prelo! JE_KE, 8! Fu)!u"(6 seu pensamento, sua pessoa! 1io de aneiro6 0ivilização rasileira, ?DNR! (pp! NM%LI!

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