o Cinema Da Retomada - Lucia Nagib

September 8, 2017 | Author: Txai Ferraz | Category: Brazil, Books, Science (General), Science, Philosophical Science
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Universidade Federal de Pernambuco Centro de Artes e Comunicação Bacharelado em Cinema

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Disciplina: Cinema Brasileiro

Prof.: Paulo Cunha

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Estágio de docência: Raquel de Holanda

Aluno: Txai Ferraz

Para um cinema plural, a diversidade de relatos NAGIB, Lúcia. O Cinema da Retomada: Depoimentos de 90 Cineastas dos Anos 90. São Paulo: Editora 34, 2002. Lúcia Nagib nasceu em São Paulo no ano de 1956. Possui mestrado e doutorado em Artes pela USP. Em 1997, concluiu seu pós-doutorado na Cinémathèque Africaine, órgão integrante do Ministério da Cooperação e do Desenvolvimento do governo francês. Atualmente, leciona na UNICAMP e é pesquisadora de cinema, sua história e teorias. É crítica e autora de vários livros sobre o assunto, incluindo O Cinema da Retomada: Depoimentos de 90 Cineastas dos Anos 90, livro que analisaremos a seguir. ** Como sugere o subtítulo, O Cinema da Retomada é um livro de entrevistas. De forma faraônica, foram coletados depoimentos de noventa realizadores do cinema nacional que produziram filmes entre 1994 e 1998, anos comumente entendidos pela crítica especializada como “o cinema da retomada”. Duas preocupações nortearam a realização das entrevistas e a posterior publicação. A primeira, a de que o livro não fosse, como evidencia a própria autora na apresentação, “um ‘panteão’ do cinema brasileiro”. Abolindo o gosto como critério, foram entrevistados realizadores das mais diversas correntes e experiências, deixando de

lado também por parte da equipe a teoria de um cinema autoral focado na figura do diretor-gênio. Cinema, aqui, é entendido como uma atividade de natureza coletiva, realizada por muitos e para muitos. A segunda preocupação foi a de que o tratamento fosse igual a todos os realizadores, assim os questionamentos foram os mesmos: formação, influências, opções políticas, histórico dos filmes lançados e como avaliam a política de incentivo ao cinema nacional, este último questionamento-chave do livro. Assim, plano a plano, O Cinema da Retomada constroi um rico mosaico da forma de produção e por consequência das características da atividade cinematográfica no Brasil nos anos 1990. Por tratar-se de uma época em que o cinema nacional vivenciou a falência dos ideais de certo e errado, resultando numa produção heterogênea por excelência, nada mais justo que um panorama imparcial e amoral sobre todas as facetas da nossa produção. Aliás, o surgimento de um cinema plural no Brasil é tema recorrente em boa parte das entrevistas. Para alguns, sobretudo a partir de 1995, o cinema nacional ganha uma noção de coletividade nunca vista antes. Cacá Diegues, em sua entrevista (p. 183) apresenta uma análise positiva da questão: “Não existe mais o cinema brasileiro como gênero, mas uma cinematografia nacional com toda a sua diversidade interior, e isso é fundamental e extraordinário”. Outros cineastas, no entanto, não são tão otimistas. Walter Hugo Khouri (p. 245) é categórico: “Falta unidade. Eu estava pensando nisso outro dia: na Suécia, na França, há um denominador comum, uma unidade que mais ou menos agrupa, mesmo quando há diversidade. Aqui não”. Quando interrogados sobre a experiência da Lei do Audiovisual, os realizadores apresentam discursos mais encontrados. A maioria mostra-se contente com a criação da lei, mas, em contrapartida, as entrevistas mostram que é senso comum que ela deveria ser aprimorada. Uma minoria, como Bruno Barreto (p. 96) é completamente contrária à lei: “Sou totalmente contra essa Lei de Incentivo Fiscal, acho que tudo deveria ser subsidiado diretamente pelo governo e deveríamos produzir menos filmes, e melhores”.

Outros preferem criticar apenas alguns aspectos, ora a credibilidade de quem capta recursos com a Lei do Audiovisual, ora a de quem seleciona os projetos, ora uma contradição no sistema como denuncia a realizadora Daniela Thomas (p. 484): “É uma lei que supõe a legitimidade das empresas. É praticamente impossível conseguir que as empresas saiam do caixa 2 e trabalhem com o caixa 1, o que parece ser contrário à natureza da economia brasileira”. É consenso geral que o cinema nacional é órfão de uma distribuição como ocorria nos tempos da Embrafilme. Sobre a questão, o melhor raciocínio parece ser o do argentino Hector Babenco (p. 81): “O cinema brasileiro atual está nesse tripé: um roteiro para aprovar na Lei, um captador e o Adhemar de Oliveira para exibir no Espaço Unibanco de Cinema”. Para um amante do cinema nacional nos anos 1990, é icomensurável o prazer sentido ao deparar-se nas páginas de O Cinema da Retomada com detalhes sobre a biografia e influências de cada realizador, além de relatos sobre cada uma de suas produções, ou no caso dos que possuem filmografia extensa, das mais recentes. O grande pioneirismo de Lúcia é, ainda durante a retomada (o projeto do livro se iniciou em 1998), historiografar o momento então vivido pelo cinema nacional da forma mais ampla possível. O Cinema da Retomda é um livro que, sem dúvida, lança caminhos para o estudo do período, ainda muito recente, e também para a compreensão do momento atual, afinal, as políticas atuais de incentivo ao cinema brotaram nos anos 1990. Ainda que cada entrevista apresente um valor específico, o mais importante ao percorrer o universo de tantos cineastas brasileiros é perceber o porquê das entrevistas estarem reunidas em uma mesma publicação. E nesse aspecto não nos resta opção a não ser reconhecer o trabalho profundamente árduo da autora em perceber linhas em comum nos traçados formados pelas produções na década. O Cinema da Retomada é voltado para toda classe de entusiastas de cinema no Brasil, sejam interessados na pesquisa, na prática, ou na cinefilia. Fala-se nesse livro de cinema de brasileiro para brasileiro, sem preciosismos linguísticos ou vícios do meio acadêmico. A amálgama que é o cinema nacional está concentrada em um mesmo objeto. Oportunidade única de deleite.

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