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O C Â N O N BÍ BLI CO +
A O ri gem da List a do s Livros S agr ado s Prof. Alessandro Lima
Prof. Alessandro Lima
O CÂNON BÍBLICO A O ri gem da List a do s L ivro s Sag rado s
Brasília, 2007
© Copyright by Alessandro Ricardo Lima, 2007 Contato com o autor: arlima® gmail . com
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ou
Revisão: Carlos Martins Nabeto e Solange Maria Corrêa Brant de Sá.
LIMA, Alessandro Ricardo. 1975 O Cânon Bíbli co: A Origem da Lista dos Livros Sagr Brasília, DF: 2007.
ados.
(Ia. edição, 125 páginas) Bibliografia. Registrado na Fu ndação Biblioteca Nacional sob o n 392.227, Livro 729, íls. 387.
o.
1. Cristia nism o; 2.Bíblia; 3.H istória da Igreja; 4. Patrística . I. Título. CDD - 220.95
índices pa ra Catálogo Sist emáti co: 1. Bíblia: Eventos, História 220.95 2. Antiguida de B íbli ca 220.93 3. Bíblia: Introdução 220.07 4. Histó ria da Igreja 281. 1 5. Patrística 281.1
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(ai I igos 102. 103 parágrafo único, 104. 105, 106 e 107 itens 1. 2 e 3. da Lei n” 9.610. de 10.00 .1998 (Lei dos Dir eitos Autorais]).
“M uit os em preenderam
com por uma hist óri a dos aconteci
m en-
tos que se reali zaram e ntre nó s, com o nol os tr ansm it ir am aq uele s que for a m desde o princí pio test em unhas ocul ares e qu e se tor naram m ini st ro s da pal avr a. Tam bém a m im me pa receu bem, d epois de hav er dili gen temen te i nves ti gad o tudo de sd e o p rin cíp io , es cre vê lo s p a ra ti se g u n d o a o rd e m ” (Lc 1,1-3).
S UM ÁR I O
Sobre o autor .............................................................................................. 7 Apresentação.............................................................................................. 9 Introdução................................................................................................. 11 Capítulo 1. Qual é o conjunto do s Livros Canô nicos? .....................................13 Capítulo 2. A Septuaginta ou Versão dos Setenta (LXX)...................................17 Capítulo 3, As Escrit uras Sagradas tuilizadas n o tempo de Jesus ....................21 Capítulo 4. O Cânon de Jâmnia..................................................................27 Capitulo 5. Quais foramos livros considerados canônicos pelos primeiros cristãos?.................................................................................................. .'39 Capítulo 6. Cânon das Escrituras Sagradas começa a se estabel ecer na Igreja. .. 79 Capítulo 7. A Reforma, o Concilio de Trento e as Igrejas Or todoxas ..................91 Capítulo 8. Por que um Cânon Bíblico paraos cristãos? .................................97 Capítulo 9. Uma Análise Sobre os Deuterocanônicos doAT ............................101 Conclusão............................................................................................... 107 APÊNDICE I - Infl uências dos livros Deu terocanônicos do AT no NT ...............111
Referências Bibliográficas ..........................................................................119
S obre
A
o
A utor
lessandro R. Lima, casado e pai, nasceu em Brasília/DF. Vindo de uma família de classe média de quatro filhos, o pai
(falecido) funcionário público e mãe dona de casa. Formado em Tecnologia em Processamento de Dados pela União Educacional de Brasília (UNEB/DF) e pós-graduado em Ge rência de Projetos em Engenharia de Software pela Universidade Estácio de Sá/RJ. Trabalha como Professor Universitário e Consul tor de Engenharia de Software. Desde 1999 dedica-se ao estudo da Fé Cristã dos primeiros séculos; pelo qual foi levado a deixar o protestantismo e ingressar na Igreja Católica, no final de 2000. Em 2002, juntamente com Carlos Martins Nabeto fundou o apostolado católico
Veritat is Splendo r (http: / /www.veritatis.com.br
- considerado um dos maiores sítios católicos em língua portugue sa - onde desde então, além das suas atribuições familiares e secu lares, dedica-se à publicação de artigos referentes
ao Cristianismo
primitivo e à defesa da Fé Católica nas questões mais difíceis.
)
7
I ntrodução
A
palavra “cãnon” vem do grego kanóni e significa “régua” ou “cana [de m edir]”. A cana era usada pelo s antigos como ins trumen to de medição. D esta forma, os cânones em sentido religioso são as réguas que devem ser usadas para medir a vida, isto é, guiar o fiel em sua vida religiosa.
O Cãnon Bíblico é a lista dos livros sagrados que compõe a Bíblia Cristã. Esta lista também é chamada de lista canônica ou lista dos livros canônicos (=livros autorizados). A Palavra “Bíblia” vem do grego “biblos" que significa bibliote ca. Assim, a Bíbli a é uma “bibliote ca” , porque é compo sta por um conjunto de livros que os cristãos crêem serem inspirados por Deus. A redação dos livros sagrados começou por volta do séc. XV a.C. e somente se encerrou no final do séc. I d.C. Ao contrário do que muitos pensam, a Bíblia Cristã organiza da como um único livro, não foi assim entregue pelos Apóstolos. Antes que fosse possível reunir os livros sagrados em um úni co volume, foi necessário saber quais eram esses livros. A Sagrada Escritura em nenhum lugar define a sua lista de livros sagrados; o índice por si mesmo também não é um “rol” ins pirado, mas uma criação humana visando facilitar a localização dos diversos livros sagrados existentes nessa “biblioteca” chamada Bíblia. Embora, alguns pesquisadores defendam a existência de um cãnon bíblico judeu , já fixado depois do tempo do profeta Esdra s, não havia nos primeiros séculos da Era cristã um consenso sobre quais livros de tradição hebraica deveriam ser considerados canônicos (A T1) . A m esm a dú vida pairou sobre alguns livros da lite ratura cristã (NT2). Desta forma, nos primeiros séculos, alguns livros eram acei tos por toda a Igreja, enquanto outros tinham sua inspiração con-
11
(estada ou posta em dúvida. Por esta razão, alguns livros que hoje se encontram na Bíblia, só foram considerados canônicos mais tar de. Considerando tudo isto, os livros canônicos que compõe a Sa grada Escritura Cristã são classificados quanto ao reconhecimento de sua canonicidade como: protocanônicos e deuterocanônicos. Os protocanônicos (proto=primeiro, canônicos=autorizados) são aqueles que jamais tiveram sua canonicidade contestada, isto é, são aqueles que sem pre foram con siderados inspirados por De us. Os deuterocanônicos (deut.ero=depois, canônicos=autorizados) são aqueles que foram considerados canônicos mais tarde, pelo fato de ter havido inicialmente alguma dúvida quanto à sua inspiração e conseqüente canonicidade. Há ainda aqueles que inicialmente fo ram considerados canônicos e posteriormente não, incrementando assim o conjunto dos livros “apócrifos”3. Existem livros protocanônicos e deuterocanônicos tanto para o AT quanto para o NT. Normalmente são relacionados como deuterocanônicos do AT: Tobias, Judite, Sabedoria, Sabedoria de Sirac (ou Sirácida) ou Ecles iástic o, B aruc (ou Ba ruq ue ), 1 e 2 Macabeu s. Como veremos mais adi ante, a i nclusão do livro d e Baruc neste conjunto parece ser equivocada, da mesma como é também equivocada a não inclusão do livro de Ester. Tam bém são deu terocanônicos do A T os acréscim os no livro de Ester (10,4 a 16,24) e no livro de Daniel (“O Cântico dos três jo ven s” correspondendo aos versículos 24 a 90 do cap ítulo 3; “H is tória de Susana” e "Bel e o Dragão” correspondendo respectiva mente os capítulos 13 e 14). Do NT são de uterocan ônicos: 2 Pedro , 2 e 3 João, Tiago, Judas, Hebreus e o Apocalipse. Não é escopo deste trabalho um estudo detalhado acerca das traduções e manuscritos bíblicos. No entanto este assunto será abordado na devida proporção no que concerne ao estabelecimento do Cânon Bíblico Cristão. 1 AT =A nti goT estam ento. Conjunt odosli vroscanôni cosquef oram escri tosantesde Cri sto. 2
NT=NovoT estame nto.C onju ntodos liv ros canôni cosquefor am escri tosdepois de Cri sto.
3 São os livros cuja ins pir açãodivi na não foiconfirmada confiável.
oucujocon teúdo doutrinári onão é
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CAPÍTULO 1
Qual é o conjunto dos Livros Canônicos?
A
lgumas pessoas acreditam que é possível saber o conjunto dos livros canônicos, simplesmente porque a sua inspiração divi na é evidente. Este conceito além de ser bastante subjetivo, depen de também de concei tos e cri térios de verificação aind a mais su bje tivos. Por exemplo: quais atributos definem se um livro é inspirado ou não? Quais são os critérios de avaliação e verificação destes mesmos atributos? As opiniões seriam tão múltiplas quanto são as
estrelas do céu. De fato, nenhum autor dos livros do NT diz ter escrito sob o impulso do Espírito Santo, exceto São João, ao escrever o Apoca lipse. Ademais, ainda que cada livro da Bíblia começasse com a fra se: “Este livro é inspira do por Deu s” , seme lhante frase não prov aria nada. Ora, o Alco rão diz ser inspirado , assim co mo o Livro do Mór mo n e vários livros de religiões orientais. Ainda, os livros de Mary Baker Eddy (a fundadora da Ciência CristãJ e de Ellen G. White (fundado ra do Adventismo do Sétimo Dia) se proclamam inspirados e muilos cristãos os rejeitam como tal. Pode-se concluir então, que o fato de um escrito atribuir a si qualidades de inspiração divina não quer dizer que assim o seja na realidade. Diante destes argumentos, alguns recuam e afirmam que “o Espíri to Santo nos d iz claramente que a Bíblia é ins pira da ”, uma noção bastan te subjetiv a, que também p ode ser usa da po r um hindu, mulçumano ou espírita, para afirmar que os Deuses, Alah ou os Espíritos, respectivamente lhes convencem que sua escritura é di vina. Este mesmo exemplo se aplica ainda àqueles que afirmam que a inspiração divina de um livro pode ser veri ficada pela insp ira
ção que causa no crente. Argumento conhecido como “É inspirado 13
porq ue in spir a” . Ora, note que há muitos escritos religiosos antigos que certamente são muito mais “inspirativos” ou “emotivos” do que muitos textos e até livros inteiros do AT. Veja, por exemplo, o livro de Números no AT. Será que com este critério é possível afirmar que o livro de Números é inspirado? No entanto, ele está presente em todas as Bíblias Cristãs. Portanto, a fixação de um cânon bíblico, não está sujeita às opiniões alheias, fundamentadas em conceitos e métodos de verifi cação totalmente subjetivos e duvidosos. Alguns ainda acreditam que através dos livros consensualmente considerados canônicos (protocanônicos) é pos sível identificar dos demai s. Esta proposta pod e nos fornecer pistas importantes, mas infelizmente não é suficiente. Por exemplo, em Lucas 24,27.47 e João 10,34, aparecem as expressões “Moisés e os Profetas”, “Lei e os Profetas”, “Lei, Profetas e Salmos”, todas elas relacionadas ao conceito de Escritura Sagrada. A expressão “Profetas” abrangeria quais livros? Datados da mesma época dos profetas existe uma infinidade de outros livros cuja autoria é atribuída aos antigos profetas do AT, no entanto, hoje não são considerados canônicos. Assim como existem outros cuja autoria profética ainda é duvidosa e são considerados canônicos por todos os cristãos. O mesmo se aplica aos Salmos. Existe um escrito chamado Salm o 151, considerad o canônico apenas p ela Igreja Ortodoxa. O que dizer de livros como Provérbios, Eclesiastes, Ester, Rute, 1 e 2 Sam uel, 1 e 2 Reis e Jo su é? Fa riam p art e de qual gru po? Lei, Profetas ou Salmos? Ou estariam em um outro grupo cuja men ção não se encontra em qualquer um dos li vros protocan ônicos? Ainda, o A T faz r eferência a pelo menos 21 livros que hoje são considerados apócrifos (HAMMER, 2006). O mesmo acontece com o NT que menciona o “Ascensão de Moisés" (cf. Jd 1,9) e "O Livro de Henoc” (cf. Jd 1,14). Pelas questões já aqui apresentadas e pelo fato da Bíblia não definir o seu conjunto de livr os sagrados, o discernim ento do Cânon Bíblico depende de algo que é exterior aos livros sagrados. Isto sig nifica que a B íblia não se forma por si mesm a e nem se autor iza por si própria. A sua legitimidade depende de algo que lhe é exterior.
Por exemplo, o Pentateuco4 sempre foi considerado canônico pelos 14
judeus, não por si mesmos, mas porque tinham origem na Tradi ção5 ju da ica e em M oisés que tinha au toridade de se u legítim o M a gistério (cf. Ex 18,13-14; Mt 19,7-8). Um outro exemplo são os es critos dos profetas. A autoridade destes livros não tinha srcem em si mesmos, mas no anúncio dos profetas (Tradição), ou porque sua autoria é atribuída a homens que eram legitimamente autorizados por Deus (Magistério). Desta forma, atribuição de autoridade divina a um livro, isto é, a definição de sua canonicidade sempre dependeu da autoridade de algo que é exterior ao livro: a Tradição que lhe deu srcem (e que por tanto lhe é anterior) e o Magistério legitimamente estabelecido por Deus, reconhecido como seu legítimo guardião e difusor. Esta antiga e divina relação não se aplica somente ao Cãnon Bíblico. Alguns dos livros bíblicos não trazem o nome do autor (por exem plo, o Pentateuco e os 4 Evangelhos). A atribuição da autoria de muit os livr os canônicos também dependeu da Tradição e do Ma gis tério divinos. Vejamos como o Senhor se utilizou destes dois instrumentos para nos comunicar o que hoje conhecemos como a Bíblia.
4 OsCincoprimeiros
livrosd a Bíblia cujaautori a éatribuí daa Moisés: Gênesi s, Êxodo ,
Levítico,NúmeroseDeuteronômio. 4 Tradição com "T " maiúsc ulo, nãosig nif icaoco njuntode costumesdesenvolvi deumconceitoreligiosoouconjuntodoutrinário,masaprópriaRevelaçãoDivina
dosa par tir
transmitidaeconservadadeformaoralouescrita.
15
CAPÍTULO 2
A Septuaginta ou Versão dos Setenta (L X X ) urante o reinado de Nabucodonosor6, as Escrituras Sagradas hebraica s foram perdidas, por ocasião do cativeiro i mp osto ao povo judeu, que em aproximadamente 587 a.C. foi deportado de Jeru salém para a Babilônia. As Escrituras foram novam ente cons tituídas no tempo do Profeta Esdras, durante o r einado de Artaxe rxes (cf. Esd 9,38-41). O conjunto de manuscritos hebraicos mais antigos que che garam até nosso tempo , é conhecido como Texto Massorético. Nes ta compilação das Escrituras, o texto foi transcrito com a omissão das vogais. C om srcem no séc. VI, o Tex to Ma ssoré tico possui este nom e por ter sid o desenvolvido por um grupo de jud eu s conhecidos como Massoretas; que deste então se tornaram os responsáveis em con servar e transmitir o texto bíblico hebraico. Bem anterior ao Texto Massorético, se conservou até nosso tempo, a versão Grega das Escrituras Hebraicas conhecida como Septu aginta ou Versão dos Setenta (LX X). Vertid a, aproximad amente no séc. III a.C. para grego a partir dos mais antigos manuscritos hebraicos (hoje não mais disponíveis), o valor histórico da Septu aginta é i nestimável e de profunda importância para a identi ficação do Cânon Bíblico Cristão.
Origem da Septuaginta Ptolomeu II Filadelfo (287-247 a.C.), rei do Egito, encomen dou espec ialmen te para sua Biblioteca em Ale xan dria 7, um a tradu 6 Foi Rei daBabil ôni anoséc. VI a.C.
7
FundadaporAl exan dre ,oGran de tor nou- seogran decentrocul tural ecomercial doi mpério helênico. 17
ção grega das escrituras sagradas dos judeus. Esta foi a primeira tradução fei ta do s livro s h ebrai cos para u ma outra lí ngua. A tradu ção do hebraico para o grego, segundo a tradição, foi feita por 72 escribas durante 72 dias, por isso possui o nome Septuaginta que significa “Tradução dos Setenta”. A primeira menção ã ver são da Septuaginta encontra-se em um escrito cham ado “C arta d e A risté ias ” . Segu nd o esta car ta, Ptolomeu II Filadelfo tinha estabelecido recentemente uma valiosa biblioteca em Alexand ria. Ele foi persuadido por Demétrio de Fálaro (responsável pela biblioteca) a enriquecê-la com uma cópia dos li vros sagrados dos judeus. Para conquistar as boas graças deste povo, Ptolomeu, por conselho de Aristéias (oficial da guarda real, egípcio de nascimento e pa gão por rel igi ão) emancipou 100 mil es cravos, de diversas regiões de seu reino. Então, enviou represen tantes (entre os quais Aristéias) a Jerusalém e pediu a Eliazar (o Sum o Sa cerdote do s judeu s) para que fornecesse uma cópia da Le i e judeus capazes de traduzi-la para o grego. A embaixada obteve sucesso: um a cópia da Lei r icamente ornam entada foi enviada para o Egito, acompanhada por 72 peritos no hebraico e no grego (seis de cad a Tr ibo 8) para atend er o desejo do re i. Estes foram recebidos com grande honra e durante sete dias surpreenderam a todos pela sabedoria que possuíam, demonstrada em respostas que deram a 72 questões: então, eles foram levados para a isolada ilha de Faros e ali iniciaram os seus trabalhos, traduzindo a Lei, ajudando uns aos outros e comparando as traduções conforme iam terminando. Ao final de 72 dias, a taref a estava concluída. A tradu ção foi li da na presença de sacerdotes judeus, príncipes e povo, reunidos em Alexandria; a tradução foi reconhecida por todos e declarada em perfeita conformidade com o srcinal hebraico. O rei ficou profun dam ente satisfei to com a obra e a deposit ou n a sua biblio teca. Comumente se acredita, que a Carta de Aristéias foi escrita por volta de 200 a.C., 50 anos após a morte do Rei Filadelfo. Não há ainda entre os estudiosos um consenso sobre a ori gem e autenticidade desta carta. Embora a grande maioria consi8- Porordem div inaopovo de Israel foiclas sificadoem 12Tr ibos ,ca da umatendo srcem em
dosfilhosdoPatriarcaJacó(cf.Gn49). 18
dere seu conteúdo fantasioso e lendário, questiona-se se não há algum fundamento histórico disfarçado sob os detalhes lendários. Por exemplo, hoje se sabe com certeza que o Pentateuco foi mesmo traduzido em Alexandria.
Difusão e revisões Pelo fato de serem pouquíssimos os Judeus que ainda possu íam conhecimento da língua hebraica, principalmente após o domí koiné (grego popu nio helenista (entre os séculos IV e I a.C.) onde o lar) era o idioma falado, a Septuaginta foi bem acolhida, principal mente pelos judeus alexandrinos que foram os seus principais difusores, pelas nações onde o grego era falado. A Septuaginta foi usada por diferentes escritores e suplantou os manuscritos hebra icos na vid a religios a (JAEGER, 1991). Em razão de sua grande difusão no mundo helênico (tanto entre judeus, filósofos gregos e cristãos), as cópias da Septuaginta passaram a se multiplicar, dando srcem a variações contextuais. Orígen es9, mo tivado pela necessid ade de restaurar o texto à sua condição srcinal, dá srcem à sua revisão que ficou registrada em sua famosa obra, conhecida como Hexápla10. Luciano, sacerdote de Antioquia e mártir, no início tal do séc. IV publicou uma edição corrigida de acordo com o hebraico; edição reteve o nome de koiné, edição vulgar, e, às vezes, é chamada de Loukianos, após o nome de seu autor. Finalmente, Hesíquio, um bispo egípcio, publicou, quase que ao mesmo tempo, uma nova revisão, difundida principalmente no Egito.
Os Manuscritos Os três manuscritos mais conhecidos da Septuaginta são: o Vaticano (Codex Vaticanus ), do séc. IV; o Alexandrino (Codex Alexandrínus), do séc. V, atualmente no Museu Britânico de Lon ''
Há umabre vebio grafia nocap itulo 5.
111 Receb e estenom e pordisp ordotexto do ATem 6colunasdisti
ntas, cada uma conforme
uma tradução (hebrai co,a LXX, versão deÁquila, versãode Símaco, versão deTeodocião, eoutra dem enui import ância) . Foi perd ida restandoem nossos dias som ente alguns
fragmentos. 19
dres; e o do Monte Sinai (Codex Sinaiti cus), do séc. IV, descoberto por Tis ch en do rf no convento de Santa Catari na, no M onte Sinai , em 1844 e 1849, sendo que parte se encontra em Leipzig e parte em São Petersburgo. Todos foram escritos em u ncia is 11. O Codex Vatícanus
é con
siderado o mais fiel dos três; é geralmente tido como o texto mais antigo, embora o Codex Alex andrinus carregue consigo o texto da Hexa pla e tenha sido alt erado segun do o Texto Massorético. O Codex Vatícanus é referido pela letra B; o Codex Alexandrinus, pela letra A; e o Codex Sinaiticus, pela primeira letra do alfabeto hebraico [Aleph] ou S.
Os livros que estão presentes na Septuaginta Os livros presentes na Septuaginta, conforme a ordem srci nal: Gênesis, Êxodo, Levitico, Números, Deuteronômio, Josué, Juizes, Rute, 1 Samuel (1 Reis), 2 Samuel (2 Reis), 1 Reis (3 Reis), 2 Re is ( 4 Re is), 1 C rôn icas (1 P ar alip ôm en os ), 2 C rôn ica s (2 Pa ralip ôm eno s), 1 Esdra s, 2 Esd ras (Esdras e Ne em ias), Ester , Judite, Tobias, 1 Macabeus, 2 Macabeus, 3 M acabeu s, 4 M acabeus, Salmos, Odes, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Job, Sabedoria, Eclesiástico (Sirac), Salmos de Salomão, Oséias, Amós, Miquéias, Joel, Obadias, Jo nas, Naum, Hab acuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias, Isaí as, Jeremias, Lamentações, Baruque, E pís tola de Jerem ias, E zequiel, Suza na12, Daniel, B el e o Dra gão (SO CI EDADE BÍBLICA DO BRASIL, 2003, Xii-Xiii). É importante notar que o conjunto de livros da Septuaginta é bem maior do que qualquer versão do AT disponível nas Bíblias Católica, Ortodoxa e Protestante. O que isto necessariamente signi fica? Será que o catálogo da LXX corresponderia a um cânon bíbli co conhecido e utilizado pelos antigos Judeus? Jesus e os Apósto los utilizaram este catálogo mais amplo de Escrituras Sagradas?
11 Let ras maiúscul as. 12 "História de Suzana " queconsta cornoapêndi cenolivr ode Dan iel nas Bíb liasCatóli case
Ortodoxas. 20
CAPÍTULO 3
As Escrituras Sagradas utilizadas no tempo de Jesus omum ente é veiculada a informação (principal mente em síti os na Internet e livros, ambos de srcem protestante) de que desus e os Ap óstolos não utilizaram a versão grega da Septuaginta, mas que manusearam as Escrituras do AT em manuscritos dispo níveis em h e b ra ic o 13. Isto se dev e bas ica m en te, ao f ato da Septuaginta possuir livros que são considerados apócrifos pelas confissões protestantes. Desta forma, a tese propõe que Jesus e os Apóstolos não manusearam esta versão grega das Escrituras. Os cristãos crêem que Jesus foi concebido pelo Esp írito Santo 11 0 ventre da Virgem Mari a. A refer ência mais conh ecida à doutrina
C
da concepção virginal de Maria Mateus concebeu 1,18-23. por obra Mateus, após relatar que a está Mãe em do Senhor do Esp írito Santo, an tes de coabita r com José, e que então, um anjo do Senhor apareceu a José em sonhos para informar que este não deveria recusá-la como sua esposa, pois o filho que ela concebeu era obra do Espírito Santo (cf. versículos 18 a 21), nos versículos 2/2 e 23, escreve:
“Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou p elo profeta. Eis que a Virgem co nceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel, que significa: Deus conosco". Mateus transcreve aqui Isaías 7,14. Conforme podemos ob servar, a tradução em língua portuguesa apresenta a expressão “eis que uma virgem conceberá".
0Protestantismodeformageraicrêqueocânonhebreujáestavadefinidoantesde
Cristoe q ueco rresponde àatua l BíbliaHebrai ca. Est eassun toseráabordado 21
noCapítul o4.
Alguns cristãos defendem a tese de que Mateus citava Isaías 7,14 conforme a versã o da Septuaginta. Como defes a, af irmam que na versão em hebraico, o adjetivo aplicado àquela que conceberá é almah, que significa jovem, pois o adjetivo mais apropriado para virgem seri a b’tulah; enquan to que na Septuaginta, o versicu lo ap re senta o adjetivo grego parthenos, que significa virgem. Embora seja possível, o adjetivo almah significar “virg em ” , enquanto que b’tulah também pode significar "mulher casada” (cf. Joel 1:8). Por exemplo, “alm ah” aparece pelo menos sete vezes no AT: Gn 24,43; Ex 2,8; SI 68,25; Pv 30,19; Ct 1,3; 6,8 e Is 7:14. Em todas as primeiras seis referências tem o sentido de virgem ou mulher solteira (que era virgem). Aliás, em Ct 6,8, o sentido de virgem é bastante claro: fala sobre 3 classes de mulheres: as rai nhas, as concub inas e as donzelas (“alm ot” , plural de “ alm ah ”). A me sm a Rebe ca, que é c hamada “b ’tulah [ virgem em hebraico ] a quem varão não havia conh ecido” em Gênesis 24, 16, é chamad a no mes mo capítulo de almah.
Há citações da Septuaginta no NT? Vários estudos atestam que os Apóstolos e Evangelistas
“pois, como se sabe, muitas citações (e alusões) do Antigo Testamento no Novo Testamento procedem diretamente da clássica versão grega" (SOCIEDADE BÍBLICA DO
usaram a Septuaginta,
BRASIL, 2003, i). Das 350 citações que o NT faz do AT, pelo m enos 300 provêm da vers ão grega (BÍB LIA, 197 4, i ii; BIBLEREARCH, 2006). Tem os provas de que o Senhor Jesus usou a Septuagin ta. Em Sua resposta ao diabo em Mt 4,4 Ele disse:
“Es tá escrito: Nã o só de pã o vive o h omem, mas de toda p a lavra que procede da boca de Deus". O Senhor referiu-se a Deuteronômio 8,3, onde na versão hebraica a expressão usada é “da boca do Senhor" enquanto a Septuaginta traz “da boca de Deus". Nos capítulos 6 e 7 do Livro dos Atos dos Apóstolos, lemos que Es tevão foi levad o ao Sin éd rio14 pela m ultidão (cf. A t 6,12). Dirigindo-se a seus acusadores, conta-lhes como Jacó trouxe
seus 75 descendentes para o Egito (cf. At 7,14-15). 22
Porém os textos hebraicos dizem que Jacó trouxe 70 descen dentes para o Egito (cf. Gn 46,26-27; Dt 10,22 e Ex 1,5). O Sinédrio conhecia bem a proibição divina de acrescentar ou retirar algo dos livros sagrados (cf. Dt 4,2; 12,32; SI 12,6-7 e Prov 30,6), mas não ousou acusar Estevão de estar pervertendo as Escrituras, orde nando matá-lo porque foi contraditado na defesa de Cristo. A s olução deste caso é muito simpl es. Es tevão citava Gn 46,2627 a partir da Septuaginta, que possui cinco nomes a mais que o Texto Massorético hebraico. Os cinco nomes que faltam na versão hebraica foram preservados na Septuaginta em Gn 46, 20, onde Makir, filho de Manasses, e Makir, filho de Galaad (=Gilead, no hebraico), são apontados, posteriormente, como os dois filhos de Kfraim, Taam (=Tahan, no hebraico) e Sufalaam (=Shufhelah, no hebraico) e seu filho Edon (=Eran, no hebraico). Outro e xemp lo é o nome de um deus pagão citado por Estevão cm At 7,43. Estevão citou-o como Renlão. Esta citação é de Aniõs 3,26. No texto hebraico o nome do deus é Quijum. Estevão citou a versã o da Septu aginta que traz Renfã e não Quijum do texto hebrai co. Isto significa que o uso da versão da Septuaginta era também comum entre o s Judeu s da Pal estina, contrariando aqueles que afir mam que somente os judeus de Alexandria aceitavam esta versão. Pelo fato da Septuaginta ter sido amplamente usada pelos Apóstolos e presbíteros da primitiva Igre ja, a Trad ição Cristã con fe riu-lhe lugar especial (SOCIEDADE BÍBLICA DO BRASIL, 2003, v).
A s descobertas do M a r M or to Partes da Septuaginta foram encontradas na Judéia, entre os manuscritos do Mar Morto, descobertos em Qumran, sendo anteri ores ao ano 70 d.C. Alguns exemplares foram encontrados na ca verna 4 ( 1 19 L X X L ev .; 1 2 0 p ap L X X L ev .; 121 LX XN um .; 122LXX Deu t.), um texto não i dentificado da Septua ginta grega en contrado na caverna 9 (Q9), e existe um fragmento de papiro, escri to em grego, encontrad o na caverna 7 (LXXExod.). A cav erna 7 produ 11 Conselho naci onal que notem po deJesus tinha autoridadee ntreosjude us parajul gar cas osreli giososou civis .Jesus condenadoprimeiram
ente pel oSinédri oe depoi s levado a
PôncioPilatos. 23
ziu ainda muitos pequenos fragmentos em grego (da Septuaginta), cujas identifi cações pe rmane cem e m discussão ou sem classi ficação. O Dr. Emanuel Tov sugere as seguintes identificações para al guns destes fragmentos gregos do primeiro século antes de Cristo: 7Q4. Números 14,23-24; 7Q5. Êxodo 36,10-11; Números 22,38; 7Q6. 1 Salm o 34,28; Prové rbios 7,12-13; 7Q6. 2 Isaías 18,2 7Q8. Zacarias 8,8; Isaias 1,29-30; Salmo 18,14-15; Daniel 2,43; Eclesiastes 6,3. Entre estes fragmentos constam ainda trechos dos livros deuterocanônicos do AT: ■ Em grego foram encontrados fragm entos d e: 4Q 478 [Tobi as], 4Q383, 7QLXXEpJer. [Epístola de Jeremias]; ■ Em hebraico foram encontrados: uma cópia do livro do Ec le siástico [manuscrito 2QSir.], “A História de Suzana” (corres pon dente ao capítu lo 13 do livro de Daniel ) [man uscrito 4Q551] e fragmentos do livro de Tobias [manuscrito 4Q200]. ■ Em aramaico f oi encontrado um fragm ento do livro de Tobias [manuscrito 4Q196-9], Uma cópia do livro do Eclesiástico, em hebraico, foi encontra da nas ruínas de Mas ada e é datada como do início do século I a.C. Estas evidências mostram que o s livr os d euterocanônicos eram conhecidos e manuseados pelos Judeus da Palestina. Alguém poderia objetar afirmando que tais descobertas correspon dem à literatura usada pel os Ebionitas (sei ta de Q um ran ), um grupo estranho ao ramo principal do Judaísmo. Não é desta forma que pensam os especialistas:
“Tanto no jud aís m o m oderno quanto no cris tianismo, uma 'seita ’ é, geralmente, um ramo de um tronco religioso maior e é freqüente mente vista como excêntrica ou desviada nas suas crenças. Ma s os pesqu isadores e leigos deveriam reco rdar que durante todo o período de existência de Qumran, os faris eus e os saduceus eram ‘seitas’, assim como eram os essênios! Foi apenas a partir do século II d. C. que pass ou a se fo rm a r um tipo de jud aís m o ‘ aquele dos fariseus, dos rabis ‘ que veio a se tornar padrão para o povo ju d eu
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como um todo. Tais matérias são de menor importância se comparadas com os manuscritos bíblicos. Primeiro, porque toclos os pesquisadores concordam que nenhum dos textos bíblicos (tais como Gênese ou Isaías ) Joi com posto e m Qum ran; ao contr ário, todos eles se srcinaram antes do período de Qumran. Também é aceito que muitos ou a maioria desses m anuscritos f oram traz idos de for a pa ra Q umra n e. depois, aí reproduzidos. Isto significa que o valor da maioria dos man uscrit os bíblic os enganam, não em estabelecer prec isam ente onde foram escritos ou copiados, mas especifica men te quanto ao estudo das formas textuais que encerram ” 15 (ABEG G, 1999). Não é possível afirmar que todo conjunto de livros da Septuaginta foi considerado sagrado pelos judeus alexandrinos, judeus palestinen ses ou por Jesus e seus Apóstolos. Só podem os afirmar que era conhecido por todos eles por constar na versão bíblica por eles usada. O tempo levará a sinagoga e a Igreja a escolherem alguns li vros da Septuaginta como canônicos e a rejeitarem outros. Nesta decisão a sinagoga saiu na frente. Vejamos no próximo capítulo como isto aconteceu.
ir’ FragmentotraduzidoporCarl
os Martins Nabeto .
25
CAPÍTULO 4
O Cânon de Jâmnia
N
o tempo do Imperador Romano Nero, desencadeou-se a primei ra revolta aberta dos jud eus da Palestina contra Roma (66-70). Tilo, na prim avera de 70, sitiou Jerusa lém, a cidade in teira foi saqueada, arrasada e o Templo foi destruído no dia 10 do mês de acosto do mesmo ano. Os fariseus de Je rus além 16 se transferiram para a cidade de Jâmnia, onde formaram próspera escola rabíni ca. Aproximadamente no ano 90, este grupo de rabinos define uma lista dos livros que deveriam ser considerados sagrados pelos Judeus. O Cân on de Jâmnia (como ficou conhecida esta lista) deu srcem à atual Bíblia Hebraica. O Cânon de Jâmnia excluiu os sete livros deuterocanônicos [do AT] e os acréscimos de Daniel e Ester.
U m cânon sagrado p ré-existente? Alguns afirmam que o Cânon dc Jâmnia foi a confirmação ilc um Cãnon Sagrado anterior e definido pela autêntica Tradi ção judaica. Segundo esta tese, o fato de Jesus e os Apóstolos se referirem as Escrituras Sagradas disponíveis em seu tempo de forma geral ("Escrituras”), mostra que eles tinham em mente uma quantidade precisa de livros que estavam incluídos sob aqueles títulos gerais. Apresenta-se como prova o registro do Evangelista Lucas ao
11 Alguns autoresidentifi
cam a Escola Rab ínicaem Jâmnia como oanti go Sinédr io
(BERARDI NO, 2002, ver b. Jerusal ém, p, 750 ). Entretant o hácontrovérsi as entreos especial ist as,já queo Sinédr ioer apred om inantem ente formad oporSaduceus , que neste
tempoforamdesimados. 27
diálogo entre Jesus e os discípulos na estrada de Emaús: ‘E come çando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras.”(Lc 24,27). A expressão “todas as Escr ituras” dem onstraria que já no temp o de Cri sto, um a lis ta de livros canônicos já estava fixada. Cita-se ainda João 5,39, quando Jesus manda os Fariseus, que eram os legítimos intérpretes da Lei (cf. Mt 23,1), verificarem que Nele se cumpriram todas as profecias messiânicas. Jesus ao utilizar a expressão “Escritu ras” est aria se referindo a um conjunto de livros bem conhecido, tanto por Ele quanto pelos Fariseus. Chama-se ainda a atenção à expressão “Moisés e os Profetas” (cf. Lc 24,27). “Moisés e os Profetas” ou “A Lei e os Profetas” seria a estrutura de como este cânon judeu estaria organizado, sendo que na seção “L ei”, estariam contidos tam bém os Salmos (cf. Jo ão 10:34). Assim, se quer defender a existência de um cânon bíblico, organi zado em uma tríplice estrutura: a Lei, os Profetas e os Salmos. Tam bém se costuma fazer referencia a Lc 24,44, onde Jesus ao apare “(...) era necessário que se cer aos apóstolos e discípulos lhes disse:
cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos proje ta s e nos Salm os”. Estes argum entos são bastante frágei s, pois em todas as refe rências apresentadas, Jesus está tentando demonstrar que Nele se cumprem todas as profecias messiânicas. E onde estão estas profe cias? Estão justamente nos livros de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Desta forma, dentro do contexto em questão, é bem mais certo que Jesus esteja referenciando esta triplica estrutura, porque nela se encontram as profecias messiânicas, do que Ele esteja fa zendo referência a um cânon sagrado existente em seu tempo. Há também quem apresente como prova do suposto cânon, então confirmado pelo Cânon de Jâmnia, os testemunhos históri cos de Flãvio Josefo e Áquila (o qual criou uma nova versão grega das Escrituras hebraicas, que leva o seu nome). O testemunho de Áquila é reconhecidamente posterior ao Cânon de Jâmnia, e por isso, também não pode ser aceito como prova: muito pelo contrário...
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Por outro lado, reproduziremos abaixo o texto de Josefo, conlorme consta em sua obra “Contra Apion’’:
“38. É, pois natural ou melhor dizendo, necessário, que não i xis ta en tre nós u ma m ultiplicidade de livros em contradiçã o en tre si, senão somente vinte e dois17 que contém os registros de toda história e que com toda ju stiça são dignos de conf iança . 39. Dele s, existem cinco de Moisés, os quais con têm as leis e a tradição desd e a criação tio homem até a morte de Moisés. Compreende, inais ou menos, um geríodo de três m il anos. 40. De sde a morte de Moisés até Ar ta xe rx es 18, ■.ncessor de X erx es19 como rei dos persas, aos pro feta s poste rior es a Moisés fo ra m deixados os feito s do seu tempo em treze livr os, os i/iiatro restantes contém hinos a Deus e conselhos morais aos homens. 41. Também desde Artaxerxes [tempo do Profeta Esdras] até nossos dias cada acontecimento tem sido registrado; embora estes nr to seja m dign os da mesm a con fiança dos a nterio res, p orqu e não havi a uma sucessão rigor osa de profet as. 42. Os fei tos prov am com claridade como nós nos acercamos das nossas próprias escrituras: have ndo j á transcor rido tanto temp o, ninguém se atreveu a adicionar. tirar ou trocar nada nelas “ (JOSEFO, 2006, p. 21-22). Não é possível precisar se o testemunho de Josefo é anterior ou posterior ao Cânon de Jâmnia, devido à incerteza entre as datas do Cânon e seu testemunho. Costuma-se dizer que “Contra Apion” foi terminada pelo ano 'i |; e o Cânon de Jâm nia, norm alm ente é referido pelos espec ialistas i oi no send o do ano 90. Entretanto, ne nhu ma destas datas é conc lu siva; sabemos apenas que ambos são os últimos anos do séc I d.C. Com efeito, não é possível precisar se o testemu nho de Josefo i .mterior ou não ao Cânon de Jâm nia, devid o à inc ertez a entre a s il.itas do Cânon e seu testemunho. Esta incerteza compromete por i iimpleto o testem un ho de Josefo, pois nã o se sabe com certeza se o mesmo foi influenciado ou não pelo Cânon de Jâmnia. Porém, há indícios que sim. ( is judeusorg ani zava m suas Escr ituras conforme onúm erodeletr as de se u alfabeto. Il.itiaduçãoori ginal est áArtajerj es ("j" no lugar do" x "),oquedifer edousoc om um em ,, 1111astraduções.Pormotivodeunidadetextualmantiveconformeousocomum. Mesmarazãodanotaanterior.
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Josefo era fariseu e os rabinos de Jâm nia também, assim pos sivelmente ele esteja simplesmente defendendo a posição de sua facção religiosa. O prólogo da tradução Grega do Eclesiástico (ou Sabe doria de Sirac), livro escrito por vo lta de 130 a.C., po rtanto an terio r ao teste munho de Josefo, parece contradizê-lo. Nele lemos:
“Pela Lei , pe los Profetas e p or outros escritores que os s deram, recebemos inúmeros ensinamentos importantes (...) Foi assim que após entregarse particularmente ao estudo atento da Lei, dos Profetas e dos outros Escritos, transmitidos por nossos antepassados [...]".
uce -
Enquanto o test emun ho de Josefo procu ra restri ngir o Cânon Sagrado ao tempo de Esdras, “ porq ue [d epois de Esdras] não houve uma sucessão precisa de profetas", o Eclesiástico parece ser mais “por outros escritores que os amplo e fiel à História ao afirmar que
sucederam [os profetas], recebemos inúmeros ensinamentos importantes". O testemunho do Eclesiástico refere-se a livros posteriores ao tempo dos Profetas. Veja o que estudioso protestante Leonard Rost tem a dizer sobre isso:
“Vê se, pelo prólogo de Sirac [Eclesiástico ou Sab edoria de Sira c], que, além dos escritos assumidos no Cãnon hebraico, traduziramse também out ros que parecem ter gozado de bast ente est ima como obras religiosas de edificação, em círculos mais ou menos amplos, até o fin a l do século I d.C" (ROST, 1980, p. 19). Há ainda em Josefo um trecho bem polêmico, vejamos:
“havendo já transcor rido tanto t empo , ninguém se atreveu a adicionar, tirar ou trocar nada nelas [nas Escrituras/’. Alguns entendem que neste trecho Josefo confirma que os livros escritos depois do tempo de Esdras não estavam dispostos num mesmo volume com os livros que foram escritos antes deste mesmo período (protocanônicos), pois isto configuraria um acrésci mo nos primeiros. Ora, ele está dizendo que nada f oi alterado nos textos pre sen tes nestes liv ros, nenh um a sílaba a mai s, nen hum a a menos. Jos efo não está se referindo à adição ou retirada de livros a um conjunto pré-estabelecido de outros livros. 30
A tese do Cânon pré-existente apresenta sérios problemas. Primeiro , se este suposto câ non corres pondia ao Câno n de Jâm nia, por que er a com umente usada a S eptuagint a com um catálogo bem maior, conforme é comprovado pel o testemun ho do NT e as desco bertas do Mar Morto e Massada? Segundo, se este suposto cânon correspondesse aos livros da Septuaginta, logo não seria perm itida a def inição de qua lquer outro cânon bíblico; então por que foi estabelecido o Cânon de Jâmnia? Terceiro, os judeus alexandrinos e etíopes recusaram o C ânon de Jâmnia e até hoje guardam como sagrados os livros da «Septuaginta. Se realmente este suposto cânon bíblico existisse, não haveria disputas entre os judeus sobre este tema; todos adotariam o mesmo conjunto de livros sagrados definidos pela Tradição Ju daica. Fílon de Alexandria, historiador e filósofo judeu, viveu entre OS ano s d e 20 a 50 d.C. Em su a ob ra “Expos ições sobre a Lei", onde íaz comentários sobre a doutrina da Torah20, as referências ao Pentateuco são todas da Septuaginta, que possuía os livros deuterocanônicos e as partes deuterocanônicas de Daniel e Ester, não aceitas posteriormente pelos Judeus de Jâmnia. Um dos especialistas sobre a vida de Fílon de Alexandria, o Prof. Ritter, quanto ao uso da Septuaginta pelo filósofo escreve:
“A princípio o texto que ele [Fílon] comenta é o da tradução gre i/a dos Setenta; algumas diferenças que se assinalou com razão entre seu texto e aquele que possuímos atualmente dos Setenta se explicam de uma maneira satisfatória não pela leitura do texto hebraico, mas pelo fa to de que nossa rece nsão é d e srcem posterior à da que ele usava!’ (RITTER, 1979). Antes que al guém objet e afirmando que a Tradição dos ju deus palestinenses era diferente da Tradição dos judeus alexandrinos, devo lembrá-los que ambos os grupos manuseavam a versão grega da Septuaginta, portanto, possuíam a mesma Tradi ção Judaica. A correspondência entre a Tradição Judaica Alexandrina e a Palestina é atestada pelo estudioso Wolfson: ÉcomoosJudeuschamamaLeideMoisés
31
“O jud aís m o alexandr ino, no tempo d e Fílon, era do mesmo tronco do jud aís m o farisaico, que então prosperava na Pal estina, ambos tendo brotad o daquele juda ísm o macabeu [ c. 165 a .C j que fo ra mol(WOLFSON, 1982). dado pelas atividades dos escribas" Ainda segundo o estudioso Werner Jaeger: “O greg o era fa la do nas syna gogai21 po r todo o Mediterrâneo,
como se torna evidente pelo exemplo de Fílon de Alexandria, que não escreveu o seu grego literário para um público de gentios, mas para os seus compatriotas jud eu s altamente educados" (JAEGER, 1991). Fílon de Alexandria, falava grego como era costume em seu tempo e utilizava as escrituras hebraicas através da Septuaginta. Isto era muito comum até entre os judeus da Palestina. Josefo de fende os jude us de Alexa nd ria de di versas calúni as, m ostrando ha ver identidade entre eles e os judeus da palestina (JOSEFO, 2006, p. 96-102). Se o cânon das Escrituras Hebraicas já estivesse fechado no tempo de Jesus, todos os judeus hoje (palestinos ou alexandrinos) observariam o mesmo conjunto de livros sagrados, e os fariseus de Jâmnia não precisariam se preocupar com isto no final do séc. I d.C. Interessante é a constatação do estudioso Fedeli Pasquero:
"N a real idad e, seguram ente os ju d eu s alexa ndrino n o séc. I d.C. reconheciam como sagrados os livros deuterocanônicos [do AT]; não obst ante a isso, eles estavam em plena comunhão de f é com os j u deus da Palestina, coisa que não teria sido possível se houvesse divergências em relação aos livros sagrados. Com efeito, os doutores hebreus fa zia m uso de pelo menos alguns dos livr os deuteroc anônicos [do AT ]; de m odo espe cial , encontramos frequ en tem en te citados Baru c, o Sirácida [Sabedoria de Siarc ou Ec
lesi ástico ], To bia s ” (PASQUERO, 1986). Sobre a possibilidade de um cânon de Escrituras hebraicas pré-definido, assim se manifesta Rost: “[...] não havia u m cãnon ofic ial, ou, como diz a Mixn á Y addyim IV 6, não ha via Ktby qd s’, Escrituras sagradas, como grupo fecha do. 21 Sinagog as, onde osj udeus se reuniam para o estudo dasSagr adas Escr itura s.
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Mesmo na épo ca em que se fix o u a Mixná, po r volta de 100 d.C., ina va am pla discussão entre os erudit os a respeit o de sabe r se o ( 'ãntico dos C ânti co ou o Eclesi astes de Salomão (Qoh elet ) fa zia m ou não pa rte d o grupo , discussão esta que Joi a plainada p or uma sen tença arbitrai em fa v o r da incl usão destes livros entre os escrit os 11
•■agrados (Mixná Yadvim III5 cd). A s descobertas dos manuscritos do Mar Morto, provenientes do período que vai de 150 antes de Cristo até 70 da era cri stã, em pa rticular o s que fo ra m encontrados nas cavernas de Qumran, mostramnos claramente que naquela época ainda não havia uma distinção rigorosa entre Escritura sagrada e men os sagrada Mas o fa lo d e um fragm ento bast ante ext enso do Cirac hebraico, copiad o em escrita esti cométrica, vale dizer , execu ta , 13]. E o terceiro é o Eva nge lho segun do Lucas, elogiad o p or Pau lo :/ Namaioriada slistascanôni cas, Isaíasera m encionado logodepoisdos Nas Bib liasCatól ica e Ortodoxa , a Epís toladeJeremias
12 Prof etas .
é apêndi ce de Bar uc, man tendo
assimaorganizaçãosrcinalconformeconstanaSeptuaginta. 111 Fra gm ent o trad uzid o pelo autor. 111 Escritorcristão
doséc. III. Nascido em Jerusalém ,viveu em Romaee m Alexandri a,
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[cf. 2C or 8,1819; 2Tm 2,8; Cl 4,14] e composto pa ra os fié is p roven ientes da gentilídade. Enfim, o Evangelho segundo João" (Ibid., p. 313). Pelo testemunho de Orígenes os 4 Evangelhos são reconheci dos como canônicos em toda Igreja (“os únicos também indiscutíveis Estas palavras testemu na Igreja de Deus que há sob os céus"). nham haver ainda outros evangelhos, no entanto não consensualmente aceitos. Ainda sob a estreita de Eusébio:
“No quinto livro dos Comentários ao Evangelho segundo João, o mesm o Orígenes declara o segui nte acerca das Epístolas dos a póstolos: ‘Paulo, digno ministro do Novo Testamento, não segundo a letra, mas segundo o espírito, depois de ter anunciado o evangelho desde Jerusalém e suas cercanias até o Ilírico [cf. Rm 15,19], não escreveu a todas as Igrejas que ele havia instruído; mesmo àquelas (Ibid. p. 313). que escreveu, enviou apenas poucas linhas" Aqui Orígenes reconhece como canônicas as cartas paulinas, em bora não cite quais são. Quan to à controversa carta aos Hebreus, registrou Eusébio:
“Fina lment e, extem ase da seguinte m aneira sobre a Carta aos Hebreus, nas Homilias proferidas a respeito desta última; ‘O estilo da epístola intitulada Aos Hebreus carece da marca de simplicidade de composição do Apóstolo, que confessa ele próprio ser imperito no fa la r, isto é, no fraseado [cf. 2Cor 11,6]; no entanto, a carta é grego do melhor estilo, e qualquer perito em diferenças de redação o reconheceria. Efetivamente, os conceitos da Epístola são admiráveis e em nada inferiores aos das genuínas cartas apostólicas. Há de concorda r quem ouvir at entamente a leitu ra das cartas do Ap ós tolo ’. Mas adiante [diz Eusébio], [Orígenes] adita essas afirmações: ‘Mas, para exprimir meu próprio ponto de vista, diria que os pensamentos são do Apóstolo, enquanto o esti lo e a composição srcinamse de alguém que tem presente a doutrina do Apóstolo, e por assim dizer, de um redator que escreve as preleções de um mestre. Se, portanto, uma Igreja tem po r certo que a carta prov ém do Após tolo [Paul o], felicitoa, pois não será sem fu ndam ento que os antigos a transm itiram como sendo da autoria de Paulo . Entretant o, quem escreveu a c arta? Deus o sabe. A tradição nos transmitiu o parecer de alguns de ter sido
redigi da po r Clem ente, bispo de Rom a [e discípulo de Pedro e Paulo ], outr os o pinam ter sido Lucas, o autor do Evangelho e dos A tos ”' (Ibid., p. 314). Como p odemos ver , embora seja controversa a autori a da Carta aos Hebreus, Orígenes não só a. considerava canônica, como afirma que este é o mesmo parecer dos presbíteros que o antecederam. Observem que quanto ao livro dos Atos dos Apóstolos, Orígenes apenas mostra que o conhece, mas não emitiu seu parecer quanto ã canonicidade do livro. Ainda sob a pena de Eusébio, sobre os outros livros afirma Orígenes:
“Pedro, sobre quem está edijicada a Igreja de Cristo, contra a qual não prevalecerão as portas do inferno [cf. Mt 16,18], deixou apenas uma carta incontestada, e talvez ainda outra, porém controvertida” (Ibid., p. 313). Orígenes não só reconhece a canonicidade da primeira epís tola de São Pedro, como declara que o mesmo é o parecer comum da Igreja em seu tempo. E quanto à segunda Epístola que hoje se encontra em nosso cânon, ele afirma que não é aceita por todos. Identificamos então o terceiro livro deuterocanônico do NT. Orígenes continua:
“Que dizer de João, que reclinou sobre o peito de Jesus [cf Jo 13,2 5; 21,20 ], d eixou um evangelho, as segurou serlhe po ssív el com por mais livros do que poderia o mundo con ter [cf. 21,25], e escreveu o Apocalipse, mas recebeu a ordem de se calar e não escrever as mensagens das vozes das sete trombetas [cf. Ap 10,4]?’ (Ibid., p. 313-314). Aparece aqui afirmar a canonicidade do Apocalipse de João. Ainda: “Legounos também uma Carta de muito poucas linhas e talvez
outra e ainda terceira, pois nem todos admitem que estas sejam autênt icas; al iás, as duas ju nta s não abrang em cem linha s" (Ibid., p. 314). Qua nto às cartas de Sã o João Apóstolo e Evangeli sta, O rígenes diz que comumente era reconhecida como canônica som ente a pri meira carta. Ainda não havia na Igreja antiga um parecer comum quanto à canonicidade das outras duas. Identificamos aqui mais
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dois l ivros deu terocan ônicos do NT: a segund a e tercei ra epístola de São João.
3. D ion ísio de Alexandri a Antes de sua eleição como Bispo de Alexandria em 248, sua vida é um mistério. No início de seu Ministério, o Império Romano empreendeu uma grande perseguição aos cristãos, e em 249 sob o Im pera dor Décio foi obrigado a fugir par a do deserto da Líbi a. M or reu enfermo e com idade avançada em 265. Segund o Eusébio, Dionísio reconhecia como canônicos o Evan gelho de João e a primeira carta (Ibid., p. 373-374). Dionísio dá testemunho que alguns de seus predecessores não recebiam como canônico o livro do Apocalipse:
“Alguns dos nossos predecessores rejeitaram e repeliram inteiramente este livro. Criticaramno capítulo por capítulo, declarandoo inint eligível , ilóg ico e fals am en te inti tulado. Afirmam , de fa to, não provir de João, nem ser uma revelação, porque completamente oculta sob o véu espesso do incognoscível" (Ibid.). Os antigos presbíteros de Alexandria duvidavam até que o livro fosse de autoria de São João, atribuindo-lhe ao hereg e Cerinto a autoria do livro:
“[...] o autor não seria um dos apóstolos, nem mesmo um dos santos ou mem bros da Igr eja, e sim Ceri nto, o fun d ad or da heresia cer int ian a, nome d eri vado do se u, o qual procurou d ar sua produção um nom e d igno de crédi to" (Ibid., p. 374). No entanto, Dionísio prefere não duvidar da canonicidade do livro:
“No entanto, não ouso rejeitar este livro que muitos irmãos aprec iam, mas julga n do que suas conce pções ultrapassam meu entendimento, suponho ter cada passagem, de certo modo, signific a d o ocu lto e m aravilhoso. D e fa to , se n ão o com preendo, ao menos suspeito existir sob as palavras um sentido mais profundo. Não meço, nem aprecio segundo meus próprios raciocínios; mas, a tri buind o prioridad e à fé, pen so tratarse de reali dad es elevadas demais para serem aprendidas por mim e não rejeito o que não compreendo, mas admiroo tanto mais quanto não o contemplei" (Ibid.).
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Dionísio duvidava apenas que o Apocalipse fosse de autoria do Santo Apóstolo João:
"P or conseguinte, que ele [o autor do l ivro1se cha me João e este escrito se ori gine de João, não direi o contrário e concedo que se trata de hom em santo e inspirado po r Deus. Mas, não concordo fa cilm en te que seja o após tolo, filh o de Zebedeu, irmão de Ti ago, de qu em são o Evangelho intitulado Segundo João e a carta católica [a primeira cartaI' (Ibid., p. 375). Não conseguimos colher outros testemunhos relacionados ao período do sé c. III . De qu alquer forma, é claro notar que aind a ne s te período o cânon bíblico cristão não estava definido, e a dúvida acerca da canonicidade de alguns livros ainda permanecia.
Testemunhos do séc. IV 1. Eusébio de Cesaréia Eusébio nasceu entre 260 e 264, provavelmente em Cesaréia na Palestina. Dedicou-se em cuidar da biblioteca de Cesaréia, fun dada por Orígenes, bem como aos estudos bíblicos, motivo pelo qual empreendeu várias viagens a Antioquia, Cesaréia de Filipe e Jeru sa lém. Sofreu a perseguição do Im perador Diocleciano, ob ri gando-se a fugir para Tiro e Tebaída no Egito. Depois do Edito do Im pera dor Teod ós io41 em 314, voltou ã igreja de Cesaré ia on de foi nomeado Bispo. Participou do Concilio de Nicéia e foi um dos Pa dres da Igreja que muito lutou para que a fé de Nicéia fosse aceita em toda a Igreja contra a heresia ari ana. Foi também conselh eiro e confidente do Imperador Constantino durante todo seu mandato, e após a morte d este escrev eu a sua biogr afia. Além de grande d efen sor da legítima Fé Cristã, também se destacou como historiador da Igreja, cuja obra “História Eclesiástica” até hoje é usada como refe rência para se colher dados sobre os acontecim entos dos primeiros séculos da Igreja. Morreu não muito depois de Constantino, por volta de 340 (DROBNER, 2003, p.231-233). Em sua “ História Eclesiástica", o Bispo Eusébio de Cesaréia, além de colher informações dos presbíteros que lhe foram contem porâneos, reproduz fragmentos de obras mais antigas. Obras estas 11 Que deu liberdad e decult oaosCrist ãoseproi biua sua perseguiç ão
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que na grande maioria não chegaram até o nosso tempo, e as que chegaram, só existem hoje em fragmentos. Eus ébio cita t rechos do historiador jud eu Filón de Alexandria, em que este por admirar o modo de vida cristão, começa a relatar como os cristãos viviam e como eram suas assembléias. Depois “De fato, Eusébio comenta que todas as coisas de que escreveu Filón relatam os Ato s dos Apóstolos, liuro tido por autêntico “ (Ibid., p. 94). Segundo Eusébio, Fílon, em sua obra “A Vida contemplativa' ou “Os orantes", sobre as Escrituras Cristãs, escreve:
“Possuem também escritos dos antigos, primeiros guias de sua seita, que deixaram numerosos monumentos de sua doutrina sob fo rm a alegórica. Utilizam n as co mo modelos de com portam ento a imitar” (Ibid., p. 95). E conti nua:
“Talvez os livros que ele aponta como sendo entre eles [os cristãos] os livros dos antigos sejam os evangelhos, e os escritos dos apóstolos e provavelmente algumas interpretações dos antigos profeta s, tais os contidos na carta aos Hebreus e numerosas cartas de Paulo” (Ibid.). Uma importante contribuição no registro de Eusébio são as cartas dos apóstolos, então con hecidas como “cartas cat ólica s” . Vejamos quais delas que no séc. IV eram reconhecidas canônicas pela Igreja e quais tinham sua canonicidade posta em dúvida. Sobre os escritos de São Pedro
Sobre os escritos de São Pedro ele registrou:
“Com efeito, de Pedro, apenas uma carta, classificada como prim eira, é reconhecida p or autêntica e os próprios antigos presbíteros utilizaramna, citandoa em seus escrit os como genuína. Qu anto àq uele enumerad a como segunda, tivemos notíci a de que não é testamen tária, todavia muit os a con sideram útil e fo i tomada em consideração com as demais Escrituras" (Ibid., p. 114). Ainda sobre São Pedro: "... as palavras de Pedro indicam também em que províncias
ele próprio anunciou Cristo e transmitiu a doutrina do Novo Testamento aos circuncisos. Esclareceo igualmente a carta que afirmamos s er tida p or au têntica [ a pri meira carta], diri gida aos hebreus da
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Dispersão do Ponto, da Galácia, da Capadócia, da Ásia e da Bilínia [cf. IPd 1,1!'. (Ibid., p. 115). “Relativamente aos Atos que trazem seu nome [portanto, Atos de Pedro1, ao Eva nge lho d ito segund o Pedro, ao Ke ryg ma e ao sup osto Ap ocalipse de Pedro , sabemos que não fo ra m de modo algum transmitidos entre os escritos católicos e que nenhum escritor eclesiástico, nem dentre os antigos, nem dos atuais, utilizou testemunhos tirados destas ob ras ” (Ibid., p. 114). P or fim , Eusébio dá seu pa rec er fin a l quanto aos escritos de Pedro: “Dos escritos atríbuídos a Pedro, conheç o apenas um a carta reconhecida pelos antigos presbíteros como autêntica. E é só” (Ibid.). Sobre os escritos de São Paulo
“No tocante a Paulo evidentemente dele provêm as catorze carieis. Não seria ju s to deixa r de recon hecer que alguns, no enta nto, rejeitam a carta aos Hebreus, assegurando não ser recebida pela Igre ja de Ro ma, po r não se r da autoria de Paulo . [.. j De outro lad o, os Atos que trazem seu nome [portanto. Atos de Paulo], não os aceito entre os livros autênticos” (Ibid., p. 114-115). Eusébio testemunha que muitos dos antigos não recebiam como canônica a Carta aos Hebreus:
“Caio de Roma, homem muito eloqüente, que vivia em Roma no tempo de Zeferino [bispo de Roma], num Diálogo contra Proclo, que ilisputava em fa vor da heresi a cat afrigía. Nesta obr a, Caio refr eia a temeridade e audácia dos adversários de comporem novas Escritu ms: menciona somente treze cartas do santo Apóstolo [Paulo], não i ■numerando entre as demais a carta aos Hebreus, visto que, ainda hoje, em Ro ma pensa m a lgun s não ser da autoria do Apó stolo" (Ibid., 1>. 308).
Sobre os escritos de João
“E agora, assinalemos os escritos provindos incontestavelmen 1