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PARTE I – A A CONFISSÃO QUE ACENDEU A CHAMA De acordo com alguns estudiosos, o avivamento no País de Gales, um minúsculo principado da Grã-Bretanha, Grã-Bretanha, que ocorreu de 1904 a 1905, foi um dos maiores avivamentos na história, hi stória, dado o curto tempo de duração e o impacto que causou, causou , não só nas regiões circunvizinhas, mas através do mundo inteiro. Sem dúvida alguma, foi um dos grandes acontecimentos que viriam a marcar significativamente o início do século XX. Nesta série de artigos, o foco principal será como Deus usou instrumentos comuns para trazer acontecimentos extraordinários.
O País de Gales é um principado do Reino Unido, menor ainda que o estado brasileiro do Sergipe. No início do século XX, tinha uma população de pouco mais de um milhão de pessoas. A maioria trabalhava nas minas de carvão ou em metalúrgicas. Era uma região cheia de igrejas e capelas. Quase todos frequentavam uma igreja regularmente. Havia grandes pregadores que viajavam, anunciando o evangelho. Numa época em que não havia rádio nem televisão, os cultos eram um acontecimento importante na sociedade. Admiravam-se as boas pregações que atraíam grandes audiências. Entretanto, algo estava faltando nessas pregações. A mensagem havia-se perdido no meio da preocupação com sua forma de transmissão. transmissão. O culto era bem preparado, as pregações eram aperfeiçoadas, como uma obra de arte, e havia entoação de hinos no final. Porém, algo estava errado. Faltava um elemento importante – a paixão pela mensagem. Aos poucos, algumas pessoas começaram a notar isso. Uma dessas pessoas era um homem chamado Dean Howell. Em 1903, ele escreveu um artigo conclamando o povo galês a buscar Deus por algo novo. “A maior necessidade da nação galesa hoje”, ele escreveu, “é avivamento espiritual; não apenas transformação social, mas avivamento av ivamento espiritual, algo que alcance as profundezas do coração. ” “Se fosse a última coisa que eu pudesse dizer a esta nação”, na ção”, ele concluiu, “eu gostaria de dizer que precisamos de avivamento”. Três semanas depois, Dean Howell morreu. De repente, as pessoas começaram a clamar por Deus. Era algo realmente notável. Muitas pessoas estavam orando por avivamento, reconhecendo que o estado espiritual em que estavam não era o que deveria ser.
Enfrentando o Senhorio de Jesus Um outro líder que sentiu a carga de buscar o avivamento era Joseph Jenkins. Em uma pequena vila de Cardinganshire chamada New Quay, esse pastor estava profundamente preocupado com a falta de unção na sua própria pregação, o que o compeliu a buscar intensamente uma vida mais profunda em Cristo. Ele sentiu cada vez mais o fardo por causa da indiferença entre os cristãos ao seu redor e a apatia dos jovens na sua própria igreja. Exortou-os seriamente a obedecer ao Espírito. Na passagem de ano, de 1903 para 1904, ele organizou uma conferência sobre a vida espiritual, em que testemunhou como o Espírito Santo havia inflamado sua vida como que através de uma chama de fogo. Depois de um culto de domingo à noite, em fevereiro de 1904, uma adolescente chamada Florrie Evans veio pedir conselho ao pastor. Ela estava profundamente incomodada, com falta de paz interior. O pastor lhe fez uma pergunta sábia: “Como você está em relação ao senhorio de Jesus Cristo? ” “Não estou muito bem”, ela respondeu. “Tenho medo de que, se eu me entregar totalmente, ele me peça algo muito difícil. ” Naquela noite, porém, ela enfrentou seus temores e entregou sua vida inteiramente a Jesus como Senhor. Que coisa maravilhosa poder resolver essa questão tão cedo na vida – ela tinha apenas uns dezesseis anos – e não ter de esperar até a fase adulta, com tantas complicações a mais!
O Que Jesus Significa Para Você? Uma semana depois, Joseph Jenkins estava numa reunião com os jovens da sua igreja. Era um domingo de manhã. Os jovens, embora não muito dinâmicos, eram moralmente decentes e bem-comportados. “O que Jesus significa para vocês? ”, Jenkins perguntou. Houve um longo e pesado silêncio. Finalmente, um garoto se manifestou: “Jesus é a Luz do Mundo”, ele disse. “Não”, respondeu Jenkins, “não é isso que quero. Quero saber o que Jesus significa para vocês. ” Outro silêncio pesado. Foi aí que Florrie Evans se pôs de pé. “Eu não sei exatamente o que posso dizer esta manhã”, ela disse com voz trêmula e hesitante, “mas eu amo o Senhor Jesus com todo meu coração. Ele morreu por mim. ”
Palavras simples, sem nada de muito especial. Muitos de nós poderíamos ficar em pé e dizer as mesmas palavras, com sinceridade, e nada aconteceria. Mas não foi apenas o que ela disse, mas como o disse. Deus estava preparando combustível espiritual há algum tempo, através de várias vidas. Só estava faltando a faísca, que chegou com essa confissão feita por uma adolescente tímida que tivera uma experiência genuína com Deus uma semana antes e que agora estava obedecendo a um toque interior do Espírito Santo. Algo foi iniciado ali mesmo, naquela reunião. Houve um silêncio diferente, um senso da presença de Deus. Os jovens sentiram o impacto do toque do Espírito Santo, sentiram que suas vidas não estavam em ordem diante de Deus. Houve a profundidade do verdadeiro arrependimento e, depois, a alegria de conhecer o perdão dos pecados. À medida que a bênção em New Quay foi divulgada em outros lugares, as portas começaram a se abrir. Levado pelo seu pastor, este grupo de jovens, a maioria entre dezesseis e dezoito anos de idade, conduziu reuniões por todo o sul do país. Oravam pelas pregações e cantavam no final. Convenções e conferências brotaram em todo o País de Gales, enfatizando a santidade de coração e a vida no Espírito.
Transformando Fé Mental em Experiência Viva Nos outros artigos desta série, queremos descrever um pouco mais como essa faísca se transformou em explosão. Mas é importante observar como Deus iniciou aquele mover, o ambiente em que nasceu. Muitos sabiam a respeito de Deus, eram religiosos, frequentavam os cultos, mas não conheciam a Deus. Isso lhe parece familiar? Estamos vivendo dias em que milhares dizem que creem em Deus, no entanto lhes falta a realidade prática de andar no dia-a-dia com Jesus, de ter um relacionamento vivo com Deus. No avivamento do País de Gales, uma das coisas que mais aconteceu foi o toque de Deus em pessoas que já criam nele, mas que só tinham uma fé mental, cultural. E uma das palavras chaves do avivamento era segurança, certeza. As pessoas descobriam que Deus as amava, que havia feito algo permanente em suas vidas. Algo de que podiam ter certeza. Deus transforma! Ele ama – não somente o mundo, mas ama a mim! É claro que ele ama o mundo, mas ele também me ama e me transforma. E posso saber que ele me ama. É a passagem da religião à realidade espiritual. É possível ouvir pregações fantásticas, pregações profundas e bem elaboradas, pregações que cativam e conquistam os ouvidos, como havia
naquela época – e não ter o coração tocado. Por outro lado, não é necessário nem estar numa reunião especial para entregar sua vida totalmente ao controle de Jesus. Florrie Evans, que era uma adolescente comum, fez essa entrega e foi usada como uma pequena faísca para detonar uma grande explosão no seu país e no mundo. Anos mais tarde, foi como missionária para o interior da Índia.
PARTE II – DEUS PREPARA UM INSTRUMENTO Antes de Deus acender a chama, ele precisava preparar um instrumento para guiar e cuidar do avivamento. Por isso, no nosso relato, precisamos voltar um pouco no tempo e falar a respeito de um homem que Deus começou a preparar vários anos antes dos acontecimentos descritos na Parte I. Quando Deus começa um avivamento, ele não trabalha primeiro com a igreja como um todo. Ele escolhe uma ou duas pessoas com paixão, com encargo, que geralmente estão “fora do arraial”, num certo sentido. Estão fora dos programas normais da igreja. Estão carregando um fardo que os outros não conseguem compreender. Volte às Escrituras e veja os exemplos. Deus escolhe um simples pastor, longe dos centros de atividade, e faz dele um rei. Ou toma homens comuns (como Amós, um homem do campo - Am 7.14) e os chama para serem profetas. Deus não escolhe os fortes, os capacitados. Ele procura os simples, os disponíveis. Imagine o que Jesus faria se estivesse iniciando o cristianismo agora, no século XXI. Se ele tivesse de escolher doze homens e dizer: “Estou confiando a estes homens o futuro da Igreja Cristã, a mensagem do Reino de Deus”, imaginaríamos que procuraria nos melhores seminários, que escolheria as mentes mais brilhantes, os comunicadores mais dinâmicos. Mas não foi isso que fez no início da era cristã. Sabe o que ele faria hoje? Iria a uma obra de construção, a uma fábrica qualquer ou aos trabalhadores rurais e chamaria seus discípulos. Porque foi isso que fez quando escolheu pescadores e outros homens comuns nos evangelhos.
A Preparação de Evan Roberts Quando se fala do avivamento de Gales, o nome mais conhecido hoje é o de
Evan Roberts. Mas, quando foi chamado por Deus, ele era desconhecido, um trabalhador comum, sem cursos ou títulos. Evan nasceu em 1878, perto do rio Loughor. Sua família era metodista e, desde cedo, levava as coisas espirituais a sério. Converteu-se com treze anos de idade. Seu pai, como a maioria dos homens naquela região, era um mineiro de carvão e trabalhava nos túneis escuros embaixo da terra. Com apenas nove anos de idade, Evan precisou começar a trabalhar, porque seu pai quebrara a perna na mina. Com doze anos, ele saiu da escola para assumir o trabalho definitivo nas minas de carvão. Era um trabalho muito perigoso e, mais de uma vez, escapou por pouco da morte. Em uma das ocasiões, houve uma explosão na mina, mas, como não era o seu turno, ele não estava no local. Sua Bíblia, porém, havia ficado lá e ficou queimada exatamente na página de 2 Crônicas 6, na oração do rei Salomão. Evan guardou essa Bíblia como memorial por muitos anos. Ao contrário da maioria dos cristãos em Gales, que eram indiferentes e acomodados, Evan estava sempre insatisfeito com o nível de vida espiritual que tinha, sempre buscando ansiosamente por algo maior. Ao ver a sede do jovem, um diácono de sua igreja o aconselhou a não perder uma reunião de oração sequer, pois poderia acontecer de o Espírito Santo chegar quando ele não estivesse presente. Por isso, todas as noites da semana, Evan estava em uma reunião de oração ou estudo bíblico nas redondezas. Durante treze anos (da idade de 13 até os 26 anos), ele fez isso, orando com perseverança por um avivamento. Com a idade de dezenove anos, Evan estava numa montanha em Gales, contemplando o vale embaixo e recitando a oração do Pai-Nosso em voz alta. Quando chegou às palavras: “Venha o teu reino”, ele ficou tão comovido que não conseguiu mais falar. Ficou parado ali, enquanto as palavras martelavam no seu interior: “Venha o teu reino, venha o teu reino”. Seu coração era assim sensível ao toque de Deus. Durante os treze anos em que manteve o compromisso de buscar ao Senhor, havia dois temas principais nas suas orações. O primeiro era por um enchimento pessoal do Espírito Santo. Ele clamava a Deus para enchê-lo com sua presença. Em segundo lugar, ele pedia por um avivamento nacional. “Aviva Gales! ”, ele suplicava. Na Bíblia da família, a passagem de 2 Crônicas 7.14 estava marcada como a base de seu clamor a Deus. Uma noite em 1903, Evan ajoelhou-se para orar antes de dormir. De repente, a presença de Deus o envolveu de tal forma que começou a sacudir-se fortemente, balançando até a cama. Sentiu-se totalmente inundado pela
presença de Deus. Seu irmão, na cama ao lado, achou que ele estava doente e, levantando-se, abraçou-o e tentou ajudá-lo. Depois da oração, Evan foi dormir. Porém, pouco tempo depois, à uma da manhã, Deus o acordou. Até às cinco da manhã, ele permaneceu em oração. Durante os três ou quatro meses seguintes, Deus o acordava nesse mesmo horário, todas as madrugadas, e ele ficava em intercessão até às cinco. Em muitas ocasiões, sentia fortes visitações do Senhor, com tremores incontroláveis. Quando seus familiares perguntavam o que estava acontecendo, ele só respondia que era algo indescritível. Já fazia algum tempo que Evan sentia que Deus o queria no ministério. Alguns meses antes desses encontros de madrugada com o Senhor, ele havia se matriculado numa escola preparatória a fim de ter condições de passar no exame de admissão do seminário. Essa escola era localizada na região oeste de Gales, próxima a New Quay, onde Deus estava se movendo entre os jovens, como vimos na Parte I desta série.
Uma Oração Incomum Uma outra pessoa que teve uma parte importante no início do avivamento foi um evangelista presbiteriano, chamado Seth Joshua. Preocupado com a ênfase que era dada ao conhecimento acadêmico e com a falta de vida espiritual, ele começou a orar para que Deus mandasse um avivamento a Gales. Muitos anos depois, seu filho Peter contou como teve oportunidade de ouvir a oração do pai. Um dia, resolvi matar aula e fui para um parque para brincar. Chegando lá, vi meu pai andando no parque e escondi-me por trás dos arbustos. Quando ele se aproximou, fiquei assustado por ver que estava chorando (algo que achei que ele jamais faria). Ele estava dizendo: “Por favor, Deus, dá-me Gales”, e continuou repetindo essa súplica enquanto eu podia ouvi-lo. Porém, além de pedir um avivamento para Gales, Seth Joshua estava fazendo uma outra oração a Deus por algo bastante incomum. Ele estava pedindo para que Deus levantasse um moço das minas de carvão ou dos campos de lavoura, não de Cambridge ou Oxford (assim como chamara a Eliseu enquanto lavrava a terra), para despertar o povo de Deus e levá-lo de volta à sua presença. Nem imaginava que ele mesmo teria um papel neste chamado. Em 1904, quando Evan Roberts estava estudando na escola preparatória,
Seth Joshua foi pregar na igreja de Joseph Jenkins, em New Quay, onde Florrie Evans havia feito sua confissão e onde havia agora um grupo de jovens avivados. O ambiente espiritual estava muito favorável, e Deus estava operando poderosamente em muitas vidas. As reuniões se prolongavam até mais de meia-noite. Numa das reuniões, depois de meia-noite, Seth tentou encerrar o culto com uma oração. Mas, durante a oração, o Espírito começou a agir novamente, e o povo não quis ir embora. Isso se repetiu por diversas vezes. Seth Joshua testemunhou depois que nunca antes vira tamanha manifestação do poder do Espírito.
Depois disso, Seth foi para Newcastle Emlyn, para a escola preparatória, onde Evan Roberts estava. Eram todos jovens preparando-se para o ministério, mas o ambiente era frio e indiferente. Nas primeiras reuniões, Evan não estava presente porque estava doente. No terceiro dia, porém, um grupo de jovens de New Quay veio. Não houve pregação, somente cânticos, testemunhos e exortações. O fogo começou a arder, corações se derreteram e muitos começaram a pedir misericórdia de Deus por suas próprias vidas.
A Grande Reunião de Blaenanerch Ao ouvir e ver o que Deus estava fazendo em New Quay, Evan Roberts sentiu que chegara o momento para a resposta às suas orações. Quando Seth Joshua seguiu para uma outra cidade próxima, Blaenanerch, para pregar, Evan pediu permissão do diretor da escola para ir para lá com mais alguns colegas e participar das reuniões. Era uma quinta-feira, 29 de setembro de 1904. Evan Roberts saiu de Newcastle com um grupo de dezenove colegas da escola, às seis horas da manhã, para estar na primeira reunião que começaria às sete. Já pelo caminho, o grupo sentia a forte presença do Espírito ao cantar: “Está vindo, está vindo o poder do Espírito Santo; eu o recebo, eu o recebo, o poder do Espírito Santo”. Ao chegarem lá, participaram da primeira reunião. No final da pregação, antes de dar um intervalo para tomar o café da manhã, Seth Joshua fez uma oração em que usou as palavras: “O Arglwydd, plyg ni” , palavras em galês que significam: “Senhor, dobra-nos”. Estas palavras atingiram Evan como se fossem uma flecha no seu íntimo. Ele sentiu uma profunda agonia como
uma dor de parto e testificou mais tarde que o Senhor lhe sussurrou nos ouvidos: “É disso que você precisa”. Esta palavra em galês, plyg (dobrar), tem um sentido muito mais profundo do que nossa palavra em português. Significa derreter, moldar, dar forma (como barro nas mãos do oleiro) – além de dobrar ou quebrantar. Evan não quis tomar café. Quando voltaram para a reunião às nove horas, ele sabia que precisava fazer essa mesma oração em público. Enquanto esperava que outros terminassem de orar, ele disse: Senti uma força ou energia viva entrando no meu peito. Perdi o fôlego, minhas pernas ficaram trêmulas. Caí de joelhos, suava muito, e as lágrimas jorravam – achei que estava até sangrando. Era terrível por uns dois minutos. Então clamei: “Dobra-me, dobra-me, dobra-me! Oh! Oh! Oh! ” Senti que era Deus enviando o seu amor para me dobrar e eu não compreendia o que havia em mim para ser amado. Depois que fui “dobrado” (quebrantado), uma onda de paz encheu meu interior. Ao mesmo tempo, a congregação cantava com entusiasmo: “Estou chegando, estou chegando, Senhor, a ti”. O que veio à minha mente depois disso era o dia do juízo final quando as pessoas serão dobradas contra sua vontade. Senti meu coração cheio de compaixão pelas pessoas que serão obrigadas a se dobrarem diante de Deus no dia do juízo. Desse dia em diante, a salvação das pessoas pesava muito sobre mim. Essa foi a experiência crítica na vida de Evan Roberts. Ele sempre se lembraria da grande reunião de Blaenanerch. Como os caminhos de Deus são insondáveis! Seth Joshua pedira Gales a Deus, mas Deus não lhe deu Gales – ele lhe deu Evan Roberts. E depois deu Gales a Evan Roberts!
Um Novo Homem Quando Evan levantou-se daquela oração, ele era um homem transformado. Sentiu-se inflamado com o desejo de ir por toda a extensão de Gales para falar do Salvador. Ao voltar para Newcastle, para a escola, não conseguiu mais concentrar-se nos estudos. Passou muito tempo orando e conversando com o colega de quarto sobre o desejo de ver Deus mover-se em todo o seu país. Começaram a conversar com outros jovens para formar equipes de evangelização.
Certa noite, depois da meia-noite, Evan voltou para o quarto depois de um período de oração. Seu colega de quarto, Sydney Evans (que depois casouse com a irmã de Evan Roberts e foi para a Índia como missionário), viu que seu rosto estava brilhando e perguntou o que havia acontecido. “Oh, Sydney”, ele respondeu, “acabei de ter uma visão de todo o País de Gales sendo elevado ao céu. Estamos para ver o maior avivamento que este país já experimentou, e o Espírito Santo está chegando. Precisamos estar prontos! ” Em seguida, Evan Roberts olhou para ele com um olhar penetrante nos seus olhos, do qual Sydney nunca mais pôde esquecer, e perguntou-lhe: “Você acredita que Deus possa nos dar CEM MIL ALMAS?” É preciso lembrar que, nessa época, Evan Roberts era uma pessoa totalmente desconhecida. Ninguém tinha ouvido falar dele. Mal começara a se preparar para entrar num seminário (que nunca chegou a fazer). Mas, a partir desse dia, passou a acreditar firmemente no avivamento e na grande colheita de cem mil almas que Deus daria. E os relatórios confirmam: nos primeiros seis meses do avivamento, cem mil pessoas foram alcançadas por Jesus no País de Gales!
PARTE III – QUANDO O FOGO CAIU Depois da “grande reunião de Blaenanerch”, em 29 de setembro de 1904, que foi descrita na Parte II desta série, Evan Roberts tentou voltar para os seus estudos em Newcastle. Mas o fogo que Deus acendera no seu coração, quando o “dobrou” aquele dia, continuou a arder, e tanto ele como seu colega de quarto, Sydney Evans, tiveram dificuldades para se concentrar nas suas lições de grego. Um desejo ardente de ganhar almas os consumia. O diretor da escola preparatória (para o exame de admissão para o seminário), Evan Phillips, era veterano de um outro avivamento, muitos anos antes, em 1859. Descrevendo os acontecimentos daqueles dias, ele disse: “Evan Roberts era como uma pedra radioativa no nosso meio. Havia um fogo que emanava dele e que consumia, tirava o sono, desentupia os canais de lágrimas e impelia as pessoas à oração”.
Deus Fala em Visão
Num certo domingo à noite, no mês de outubro, durante o culto na capela, Evan teve uma visão insistente. Vi, claro como se estivesse diante dos meus olhos, a sala de aula da minha antiga escola na vila onde fui criado. Lá, sentados em fileiras, estavam alguns ex-colegas junto com muitos outros jovens, e eu estava discursando para eles. Impaciente, tentei apagar a visão, sacudir minha cabeça e voltar à realidade, mas ela insistia em voltar vez após vez. Ouvi, então, uma voz no meu ouvido interior, tão clara como qualquer voz que já ouvira, dizendo: “Vá falar com essas pessoas”. Durante muito tempo, eu não quis aceitar. Contudo, a pressão foi aumentando e aumentando. Não consegui ouvir uma palavra do sermão daquele culto. Finalmente, não consegui mais resistir e respondi a Deus: “Bem, Senhor, se for a tua vontade, irei”. No mesmo instante, a visão desapareceu, e toda a capela ficou cheia de uma luz tão ofuscante que mal conseguia distinguir o pastor no púlpito. Entre mim e ele havia uma glória como a luz do sol no céu. Logo depois, Evan foi conversar com o diretor da escola, Evan Phillips. “Estou ouvindo continuamente uma voz, dizendo que devo voltar para casa e falar com os jovens de lá sobre Cristo. Será que é a voz do Espírito ou a voz do diabo? ”“O diabo não traz tais pensamentos para nós”, aconselhou-o sabiamente o diretor. “Você ouviu a voz do Espírito. ”
Uma Recepção Fria Evan Roberts chegou em casa numa segunda-feira, dia 31 de outubro de 1904. Ninguém o estava esperando. “O que você está fazendo aqui? ”, os pais lhe perguntaram. “Você não deveria estar na escola? Está doente? ” “Eu vim aqui para fazer umas reuniões especiais com os jovens”, ele respondeu. “Mas estivemos no culto ontem à noite, e o pastor não disse nada a respeito”, contestaram. “Ele ainda não sabe”, foi a resposta de Evan. Em seguida, foi conversar com o pastor. Contou-lhe que viera trazer uma palavra de Deus para os jovens. O pastor foi um pouco relutante. Disse que o solo era cheio de pedras e que não seria uma tarefa fácil. Se ele quisesse, porém, poderia conversar com aqueles que se dispusessem a permanecer depois da reunião de oração, naquela mesma noite.
Era uma reunião de oração.
Assim que o pastor despediu as pessoas, Evan se levantou. Apenas dezessete pessoas ficaram, talvez em parte por sentirem pena do moço que estava em pé, desajeitado, lá na frente. A reunião não foi muito fácil. Evan contou sobre a visão que tivera, sobre as suas experiências e sobre sua convicção de que logo Deus enviaria um poderoso avivamento. As pessoas não correspondiam muito, e Evan parou para orar três vezes durante seu longo apelo. Apesar da relutância que os ouvintes tinham em confessar publicamente a sua fé, quando a reunião foi encerrada às dez horas da noite, todos haviam levantado e confessado a Cristo, inclusive um irmão e três irmãs da sua própria família. O resultado foi uma grande mudança no ambiente em sua casa. Começaram a fazer o culto doméstico e, uma semana depois, durante uma reunião de oração, o pai de Evan orou em voz alta pela primeira vez. Um dos maiores avivamentos da história estava alcançando, logo no começo, a própria família daquele que seria o seu maior líder. O pastor ficou tão impressionado com a primeira reunião que convidou Evan para falar novamente na terça. E assim continuou durante toda aquela semana, com um número de participantes cada vez maior.
Uma Palavra de Deus Que Virou Fundamento Na quarta-feira, depois do culto, um grupo ainda continuou com ele até mais tarde. “Eu tenho uma palavra de Deus para vocês”, Evan lhes declarou. A palavra tinha quatro pontos. Naquela noite, com certeza, ele não imaginava que esses quatro pontos passariam a ser o fundamento e a linha mestra de todo o avivamento que estava prestes a irromper em Gales. Os quatro pontos eram estes: 1. Arrependa-se de todo pecado conhecido e abandone qualquer hábito duvidoso. É preciso haver confissão e arrependimento. Se houver alguma coisa em sua vida que cause dúvida, se não tem certeza se está certa ou errada – então, elimine-a imediatamente! 2. Reconcilie-se, se houver alguma barreira com qualquer pessoa. Restitua, se tiver causado prejuízo a alguém. Acerte qualquer mal, não deixe
nenhuma sombra. Não podemos ser perdoados por Deus, se não perdoarmos nosso irmão. 3. Obedeça ao Espírito imediatamente. Faça o que o Espírito o inste a fazer. Se quisermos a presença dele, devemos oferecer-lhe obediência pronta, implícita, inquestionável. 4. Confesse a Jesus publicamente. Não é um ato único, após a conversão. É um estilo de vida.
Eram pontos simples e objetivos. Ele estava descrevendo a essência do cristianismo. Você pode ser livre dos seus pecados. Você pode ter certeza de que seus pecados foram perdoados. Depois, comece a andar com Deus. Ouça o que ele vai lhe dizer. Obedeça-lhe. E, finalmente, fale com os outros a respeito do que ele fez em sua vida.
A Vinda do Espírito Na sexta-feira daquela primeira semana, o culto estava cheio. Havia jovens e velhos, pessoas de várias igrejas e denominações. Evan descreveu o que aconteceu nessas primeiras reuniões da seguinte forma: A grande marca desta obra de Deus é que as pessoas estão sendo despertadas e estão aprendendo a obedecer. Aquelas que já eram religiosas tiveram uma experiência nova e muito abençoada. Nunca imaginaram a alegria que vem quando se confessa Jesus abertamente. Solicitei essas reuniões para falar com jovens, mas os adultos e velhos estão correndo para participar também. No domingo, o pastor pediu a Evan para continuar por mais uma semana. À noite, ele falou com o povo sobre a importância da obediência. Ele enfatizou: Estou entregando esta reunião nas mãos do Espírito Santo. Lembre-se: o Espírito Santo não é “alguma coisa”, é uma pessoa. Quando entrego a reunião nas suas mãos, estou entregando nas mãos de uma pessoa. Durante a reunião, que durou seis horas, Evan circulou entre as pessoas, instando com elas para confessarem a Jesus. No final, ele pediu que apenas as sessenta e tantas pessoas que haviam confessado a Jesus ficassem mais um pouco. Por volta da meia-noite, ele lhes pediu que orassem, uma após outra: “Envie o Espírito Santo agora, por amor a Jesus”. Cada pessoa fazia essa oração em voz alta. Depois que todos oraram, começaram outra vez,
orando assim: “Envie o Espírito Santo agora, com mais poder, por amor a Jesus”. Enquanto oravam assim, duas mulheres foram batizadas no Espírito Santo e gritavam de alegria. Em seguida, houve um derramamento geral. Alguns clamavam por misericórdia. Outros ficavam prostrados em agonia de convicção, ou até desmaiavam. O barulho era uma mistura de choro, clamor, cânticos e louvor; jamais se ouvira algo semelhante naquele lugar. Eram mais de três horas da manhã quando Evan finalmente chegou em casa. E assim terminou a primeira semana do grande Avivamento de Gales.
Reuniões de Poder e Reuniões de Batalha Segunda-feira, dia 7 de novembro, era o dia da reunião de oração. Como em tantas outras igrejas, era uma das reuniões menos frequentadas da semana. Mas, naquele dia, a capela estava superlotada pela primeira vez na sua história. Evan Roberts pregou sobre o último capítulo de Malaquias. Mas para vós outros que temeis o meu nome nascerá o sol da justiça, trazendo salvação nas suas asas... (Ml 4.2) Evan espantou os ouvintes ao declarar com ousadia que essa Escritura seria cumprida imediatamente no País de Gales. Era como Jesus, quando leu Isaías 61.1-3 na sinagoga no início do seu ministério (Lc 4.21) e declarou que aquela profecia havia se cumprido diante dos olhos deles. Evan Roberts também era um jovem, conhecido por todos em sua cidade como simples trabalhador nas minas de carvão. Como o povo acreditaria em suas palavras? Deus, entretanto, tratou de confirmar sua presença. Novamente, Evan levou as pessoas a orar, uma após outra, para “Deus enviar o Espírito Santo agora, por amor a Jesus”. Depois de completar uma rodada completa, começaram de novo. Antes de completar a segunda vez, a congregação inteira sentiu uma “influência irresistível”. Alguns ouviram um forte estrondo, “o lugar ficou temível”. Muitos clamavam e choravam em agonia. O senso da presença do Espírito estava muito forte. Porém, na noite seguinte, terça-feira, o ambiente ficou pesado na reunião. Dispuseram-se a orar, mesmo assim, e perseveraram até às quatro da manhã. A mãe de Evan foi embora antes do final, reclamando que estava muito tarde e que todos teriam de trabalhar logo de manhã. No outro dia, porém, Evan e seu irmão encontraram a mãe em agonia, chorando em desespero, por ter perdido uma oportunidade de vigiar junto com seu Senhor. Ela sentiu a dor
e a solidão de Jesus no Getsêmani, pouco antes da cruz, quando seus discípulos não conseguiram permanecer com ele. Era como se ela tivesse abandonado o Senhor num momento crítico semelhante àquele. Deus estava ensinando ao povo que nem todas as reuniões são de gozo e poder, como na noite anterior. Às vezes, ele precisa trabalhar no silêncio, na batalha, na aprendizagem da perseverança. Ao mesmo tempo que isso estava acontecendo em Loughor, a cidade de Evan, Deus estava operando simultaneamente em vários outros lugares em Gales. De forma totalmente independente, sem um instrumento humano para levar de um lugar para outro, o Espírito estava agindo soberanamente, visitando vidas, trazendo arrependimento e profundas conversões. As chamas realmente estavam espalhando-se rapidamente.
Um “Caos Organizado”
De acordo com um dos historiadores do avivamento, as reuniões deste ponto em diante poderiam ser descritas como um “caos organizado”, controlado pelo Espírito. Não havia ordem humana, nem tentavam mais dar abertura à reunião ou fazer um planejamento. Eram caóticas, em termos da lógica humana, mas havia uma perfeita ordem do Espírito. Uma pessoa se levantava para citar uma passagem bíblica, enquanto outras sentiam-se tocadas pelo Espírito e clamavam por misericórdia, em arrependimento. Depois, como se alguém tivesse dado um sinal, todos começavam a cantar. Evan não pregava no sentido convencional. Talvez sentisse uma certa repulsa pela retórica humana da maioria dos pregadores da época, que era muito popular nas igrejas. Ele se comunicava com o povo em sua própria linguagem. “Este é o caminho”, ele dizia. “O que eu experimentei, você também pode receber. É possível, você poder receber o que eu tenho. É excelente, é maravilhoso, é brilhante. Transformará sua vida”. Ele era muito real e prático. Suas palavras geravam uma ressonância no coração deles; o calor, a simplicidade, a intensidade os cativava. Era impressionante como as pessoas correspondiam, como gente de todas as idades e de todas as denominações vinha e era tocada por Deus.
Ao ver alguns confessando os pecados, outros percebiam que Deus podia perdoar-lhes também e transformar suas vidas. Enquanto clamavam a Deus, as emoções cresciam. Tudo isso era mesclado com a trilha sonora dos hinos galeses. Quando os galeses cantavam seus grandes hinos, agora com o entusiasmo e o fogo do Espírito Santo, não havia nada igual. Eram composições e letras, em grande parte, dos metodistas do século dezoito. Faziam parte, podemos dizer, do próprio DNA do povo galês. Agora, porém, incendiadas pelo Espírito Santo, as pessoas estavam percebendo, pela primeira vez, o verdadeiro significado da letra que haviam cantado por décadas. Um grande mover de Deus estava nascendo. Como Evan Roberts e os outros líderes enfrentariam o enorme poder contido nesse mover e os perigos que o acompanhariam? Continuaremos a seguir a sua trajetória no próximo capítulo.
PARTE IV – DIAS DE GRANDE PODER Em novembro de 1904, depois de meses (e anos) de preparação, o fogo do avivamento caiu em Loughor, a cidade de Evan Roberts, no País de Gales, como vimos na Parte III desta série. Ao mesmo tempo, o Espírito estava agindo em outras cidades próximas. Às vezes, de forma espontânea, sem qualquer elo de ligação com um “centro” ou “líder” do avivamento; outras vezes, por meio de Evan Roberts ou de outros pregadores e jovens cheios do fogo recém-derramado, cidade após cidade foi alcançada e contagiada com o poderoso impacto da presença de Deus que conhecemos como avivamento.
Reuniões Ininterruptas O que você acharia de uma reunião que não tivesse hora para terminar, que talvez nem tivesse alguém à frente para coordenar, sem cultinho para cuidar de seus filhos pequenos, sem hinário ou retroprojetor, sem roteiro, totalmente imprevisível? Assim eram, geralmente, as reuniões que brotavam por toda parte no País de Gales durante o avivamento – com um detalhe importante: Deus estava presente! Veja esta descrição de uma das reuniões, relatada por J. Edwin Orr, um dos historiadores desse avivamento, que conversou diretamente com pessoas que estiveram presentes:
Merathan Lewis era um garoto de sete anos em 1904. O pai dele trabalhava nas minas de carvão. Num dia normal de trabalho, o Sr. Lewis chegou em casa às três da tarde, quando terminava o seu turno, tomou um banho para tirar o pó preto e chamou a esposa: “Vamos à reunião”. Pegaram as três crianças pequenas e foram a uma igreja que tinha um grande templo, chegando lá às quatro da tarde. O local já estava abarrotado, mas, para uma mãe com três crianças, sempre se dá um jeito. Ninguém sabia se Evan Roberts viria ou não, pois havia centenas de reuniões em toda parte, e ele nunca avisava em que lugar pretendia estar. Nesta ocasião, porém, ele apareceu, inesperadamente, às 19 horas. Todos estavam contentes em vê-lo, mas o auditório estava tão cheio que não tinha como chegar à frente. Foi preciso subir nos ombros dos homens que estavam em pé nos corredores e depois passar por cima do púlpito. Finalmente, depois de chegar lá, Evan disse apenas duas palavras: “Vamos orar”. Foram as únicas palavras que conseguiu pronunciar, porque, em seguida, as 1800 pessoas presentes começaram a orar, todas ao mesmo tempo. Um homem começou a suplicar: “Deus, dá-me uma outra chance, e acertarei tudo o que está errado em minha vida”. Uma mãe clamava pelo filho que saíra de casa e nunca mais mandara notícias. Outra pessoa estava-se dedicando para servir a Deus no campo missionário. Um homem perto do Sr. Lewis deu-lhe uma cotovelada e disse: “Você pode parar de orar um pouco e me dizer como faço para ser um cristão? ” Por volta das 22 horas, Evan Roberts foi embora, mas passou a noite em oração na casa onde estava hospedado. Às duas da manhã, o Sr. Lewis chamou a esposa para levar as crianças para casa. Foi preciso ir andando sob a garoa que caía, carregando as duas que já estavam dormindo. Às três da manhã, estavam todas na cama, mas, como já estava próxima a sua hora de trabalhar, o Sr. Lewis sentou-se numa cadeira na sala para cochilar um pouco. No outro dia, ao chegar do trabalho às três da tarde, tomou banho e chamou a esposa novamente: “Vamos à reunião”. Pegaram as três crianças e voltaram para o templo, onde a reunião continuava ininterruptamente, desde o dia anterior... Era isso que estava acontecendo por toda aquela região. Não se falava de outra coisa. Havia reuniões nas casas, grupos conversando, reuniões ao ar livre, multidões que chegavam aos templos das igrejas horas antes do início das reuniões. Pessoas que vinham para criticar, jornalistas, políticos e
curiosos também eram tocados por Deus e se convertiam. Quem vinha de cidades vizinhas pegava o fogo e o levava de volta para sua região, espalhando-o ainda mais. De acordo com estimativas conservadoras, mais de trinta mil pessoas se converteram, só nos primeiros dois meses do avivamento.
Lidando com a Popularidade Tente imaginar algo assim acontecendo hoje, com o poder da mídia, a força das organizações, o culto à personalidade. Quanto tempo o homem levaria para domesticar e controlar um mover de Deus? Embora naquele tempo a organização e a força humanas fossem mais primitivas do que hoje, a tendência da sua natureza era a mesma. E Evan Roberts, ainda que jovem e inexperiente, preocupava-se muito com essas coisas. Seu temor era de que o homem se tornasse o centro das atenções, e ele advertia constantemente que o Espírito Santo se retiraria se o povo fixasse a atenção nos líderes. Por essa razão, Evan fugia o quanto possível de toda espécie de publicidade. Não permitia que se tirassem fotos e recusava-se seguidamente a dar entrevistas a jornalistas que vinham de várias partes do mundo. Mesmo naquela época, as notícias corriam rapidamente, e Evan Roberts já se tornara, sem querer, um dos pregadores mais famosos do mundo. Evan fazia todo empenho para que as reuniões e o movimento em geral não dependessem dele. Muitas vezes, entrava numa reunião e ficava totalmente em silêncio, só orando e cantando com a congregação, e saindo depois sem ter dirigido uma palavra em público. Ele não avisava onde iria pregar e, várias vezes, cancelou compromissos quando percebia que as pessoas vinham só para ouvi-lo. Em uma ocasião, para impressionar o povo com a necessidade de olhar somente para Jesus, Evan perguntou para a congregação reunida: “Quantos aqui creem nas promessas de Deus? ” Um coro de vozes respondeu afirmativamente.
“Vocês concordam que uma promessa dada pelo próprio Senhor Jesus seria especialmente preciosa? ” “Sim”, responderam. “Vocês se lembram de que ele prometeu que, onde dois ou três estivessem reunidos, ele estaria no meio deles? ” “Sim”, responderam novamente. “Vocês acreditam nisso? ” “Sim! ” “Acreditam mesmo? ” “Sim, acreditamos”, bradaram mais alto. “Temos dois ou três aqui? ”, ele perguntou à multidão de mais de duas mil pessoas. A congregação riu-se da pergunta. “Então, Jesus está aqui? ” “Sim! ” “Eu quero saber”, ele insistiu, “Jesus realmente está aqui? ” “Sim, ele está”, bradaram mais alto. “Muito bem, então vocês não precisam de mim. ” Pegando o chapéu e o casaco, Evan saiu e foi para outra reunião! Alguém foi embora por causa disso? Não! Reconheceram que Jesus de fato estava presente e continuaram por várias horas, orando, cantando e buscando a Deus.
O Poder dos Cânticos Outra coisa que facilmente acontece durante um mover de Deus é o foco ser
desviado para fenômenos, emoções ou bênçãos. Uma das marcas do avivamento de Gales eram os cânticos. Os galeses já eram um povo muito aficionado à música, acostumado a cantar grandes hinos da Igreja. Agora, com o avivamento, os cânticos ganharam uma dimensão totalmente nova. Era comum, durante as reuniões, uma parte da congregação estar cantando um hino em glorioso e reverente estado de arrebatamento, enquanto outra estava prostrada no chão, clamando a Deus em agonia por misericórdia. “Cantar de forma tão impressionante e maravilhosa”, relatou uma testemunha, “sem qualquer ensaio ou preparo musical, só poderia ser algo gerado pelo próprio Espírito Santo. Não havia coral, nem diretor de louvor, nem órgão ou outro instrumento musical. Eram vozes, cantando espontaneamente, com unção incrível, do mais profundo do coração. Cantavam, soluçavam, intercediam numa mistura inacreditavelmente poderosa. ” Cantar era um dos frutos do avivamento. Inúmeras pessoas relatavam como estremeciam, riam e cantavam por horas depois de serem poderosamente batizadas no Espírito Santo. A música era um dos principais meios de liberar a presença de Deus nas reuniões e nas vidas individuais. Mas, com todo esse tremendo ambiente da presença de Deus e poderosa liberação do Espírito através dos cânticos, muitos vinham às reuniões só para “curtir” o ambiente. Isso sempre acontece. Evan Roberts, porém, não o aceitava. A reunião, para ele, era o lugar onde se buscava estar face a face com Deus. Não era um momento para se deliciar com a música, satisfazerse com os gloriosos efeitos. A verdadeira experiência com Deus em um avivamento era muito mais profunda do que algo tão “superficial”, dizia Evan. Por isso, muitas vezes, ele mandava a congregação parar no meio de um cântico. “Parem”, ele dizia, “vocês não estão cantando do coração. Não podemos agir assim! ”
A Igreja Que Tem uma Canção O País de Gales tem uma topografia de vales estreitos e compridos separados por montanhas. Diziam na época que era possível atravessar o país inteiro e nunca perder o som da igreja cantando. Enquanto você subia a montanha de um lado do vale, ainda conseguia ouvir os cânticos da igreja lá embaixo. Perto do topo da montanha, quando o som dos cânticos estava quase
sumindo, já começava a ouvir, no vale vizinho, o som da igreja, que ia aumentando à medida que você descia do outro lado. Num certo sentido, um avivamento é a igreja cantando, o que acontecia mesmo no País de Gales. Porém, não é a igreja meramente cantando – é a igreja que achou sua canção. Existe uma grande diferença entre as duas coisas. A igreja atual, por exemplo, canta muito, mas não tem uma canção (veja Sl 137.1-4). Temos muita técnica, muitos cantores, muitas músicas, muito barulho, mas não se ouve aquele som diferente que é a canção que realmente vem do Espírito, da outra dimensão. Quando ficarmos tão exaustos que não nos restarem mais forças para lutar, quando estivermos cansados dos programas, cansados das tentativas de sermos aceitos e reconhecidos, cansados da religiosidade que se reduz e se adapta para sobreviver numa cultura que nunca será transformada por nada aquém de um avivamento, quando chegarmos ao ponto de clamarmos em desespero a Deus – é nesse ponto que Deus nos devolverá nossa canção. Vivemos na esperança de que em breve Deus nos visitará outra vez e nos dará essa nova canção. Quando isso acontecer, todos saberão! No próximo capítulo, veremos alguns dos efeitos do avivamento na sociedade do País de Gales.
PARTE V – EFEITOS DO AVIVAMENTO Nem sempre é possível colocar uma data precisa para o início de um avivamento. Geralmente o associamos a uma reunião especial ou a uma ocasião em que Deus começou a agir de modo especial. Contudo, se pesquisarmos, sempre encontraremos uma série de acontecimentos anteriores, como preparação de instrumentos e oração individual ou coletiva, que estavam em andamento muito antes da explosão maior vir à tona.
Mais difícil ainda é identificar o final de um mover divino. Afinal, um avivamento não é uma mera campanha ou série de reuniões especiais, como às vezes o termo é usado, e não pode ser programado, iniciado e encerrado de acordo com planos humanos. Um mover de Deus geralmente não acaba instantaneamente; vai perdendo
fôlego pouco a pouco, até que as pessoas concluam: “Parece que agora tudo está voltando ao normal”. E, quando se procura descobrir o que aconteceu, vários motivos podem ser apontados: tentativas humanas para organizar a obra do Espírito, orgulho, falta de sabedoria e discernimento no uso de dons, ênfase exagerada na busca por experiências, divisões.
O Avivamento de Gales Acabou Muito Rápido? De acordo com a maioria dos historiadores, o avivamento em Gales durou aproximadamente dezoito meses, de novembro de 1904 a abril de 1906. Embora tentasse não ocupar uma posição de liderança ou centralidade no avivamento (como vimos no capítulo anterior), Evan Roberts foi o instrumento que Deus usou para acender as chamas e para mantê-las acesas durante o período em que se alastraram pelo país. Ele não foi o único instrumento, mas era o principal e mais conhecido. Alguns meses depois do início do avivamento, a intensidade das viagens e reuniões começou a desgastar a saúde física de Evan Roberts. Já em março de 1905, havia sintomas problemáticos. Mesmo assim, ele continuou ativo até abril de 1906, quando, próximo de uma crise nervosa, retirou-se do ministério público para recuperar-se na casa da família Jesse Penn-Lewis. Nunca mais voltou ao cenário público, mas dedicou-se a uma vida de intercessão. Na verdade, o avivamento ainda continuou por mais algum tempo sob a liderança de vários outros evangelistas e homens de Deus, tais como Seth Joshua (que vimos na Parte II), mas não com o mesmo ímpeto de antes. Quando se pergunta por que o avivamento de Gales acabou em tão pouco tempo, há pelo menos duas respostas. A primeira, mais óbvia aos observadores humanos, foi realmente o fato de Evan Roberts ter-se retirado da cena de ação. Mesmo em moveres sobrenaturais, como avivamentos, Deus usa instrumentos humanos. Limitações humanas podem afetar um mover de Deus. A segunda, menos evidente, mas não menos importante, é a seguinte: Avivamentos não são a vida normal da igreja. São intervenções divinas que podem afetar poderosamente um país ou época na história. Entretanto, nunca foram planejados por Deus para continuarem indefinidamente. Nas palavras de Kevin Adams, historiador do Avivamento de Gales, “um avivamento vem para vivificar e despertar a igreja; depois, ela precisa continuar cumprindo sua missão divina”.
O aspecto mais importante de um avivamento não é a duração do fenômeno ou visitação em si – é o impacto que gera na igreja e na sociedade e a permanência dessas mudanças.
Efeitos Imediatos do Avivamento Nos primeiros seis meses do avivamento, estima-se que mais de 100.000 pessoas foram convertidas. Algumas já eram membros de igreja, mas nunca tiveram uma verdadeira experiência viva com Deus. Outras eram mais facilmente identificadas como “pecadoras”, gente que antes não queria saber de Deus ou da igreja. O efeito nas vilas, aldeias e locais de trabalho em todo o País de Gales era muito marcante. O ambiente nas minas de carvão, onde grande parte dos homens da região trabalhava, mudou completamente. Os mineiros, que já tinham de se levantar muito cedo para começar o trabalho, chegavam meiahora antes para a reunião de oração. Às vezes, havia 200 pessoas ou mais, lá embaixo na mina, participando de uma reunião de avivamento. Os chefes e supervisores estavam lá também. Havia alegria e entusiasmo no ar. Os homens cantavam durante o trabalho e conversavam com colegas sobre arrependimento e conversão. Há várias histórias registradas sobre a mudança de clima nas minas. Um empregado estava com medo de perder o emprego, porque sua tarefa era cuidar dos cavalos e, agora, todos os mineiros convertidos estavam cuidando com muito mais responsabilidade, cada um do seu próprio cavalo. Mas isso não era o “pior”: os cavalos também estranharam a mudança. Acostumados a serem tratados com aspereza, palavrões e agressões, de repente ninguém mais gritava ou dava chicotadas. Os homens haviam sido “amansados” pela operação do Espírito, e os cavalos não lhes obedeciam mais – não estavam acostumados a serem tratados com mansidão! O grande vício do povo na época era a bebida alcoólica. Os bares foram esvaziados. Muitos faliram e foram obrigados a fechar as portas. Com a queda na bebida, houve queda marcante nos índices de criminalidade. A vida nas famílias foi transformada, porque os homens ficavam em casa e davam mais atenção para esposas e filhos. No Avivamento de Gales, pelo que sabemos, não houve curas ou milagres.
Não aconteceu nenhuma transformação de água em vinho, mas houve uma outra transformação, mais sutil, porém tremendamente sobrenatural: a transformação de cerveja em roupas e alimentos para as famílias carentes que antes passavam necessidade por causa do vício da bebida.
Um médico foi entrevistado por um jornalista durante o avivamento. “O que o senhor está achando do avivamento? ” “Estou achando maravilhoso”, respondeu o médico. “As pessoas estão acertando todas as suas dívidas antigas. Contas que achei que nunca mais receberia estão sendo pagas. ” Um batismo de honestidade, um batismo de perdão, um batismo de reconciliação. Nos tribunais de justiça, às vezes não havia casos para serem julgados. A polícia ficava ociosa e, em um lugar, passou a formar quartetos para cantar nas igrejas, para ocupar seu tempo.
Efeitos Duradouros Embora o avivamento tenha acabado em menos de dois anos, seus efeitos continuaram por muito tempo. Mesmo os críticos admitiram que, depois de cinco anos, 80% dos convertidos ainda se encontravam firmes nas igrejas. Não foi um “fogo de palha”, como tantas vezes se tem visto, em que os números desaparecem logo após o fim dos fenômenos sobrenaturais. Outro ponto importante a notar é que os efeitos do avivamento não foram limitados à região imediata de Gales. As chamas foram se espalhando, transportadas por pessoas que viajavam ou se mudavam para outras partes da Grã-Bretanha ou do mundo. Muitos missionários saíram de lá, alcançando lugares distantes, como a Índia ou a África. Avivamentos começaram em vários outros países, diretamente influenciados pelas chamas que saíram de Gales, entre os quais o Avivamento Azusa nos EUA (1906) e o Avivamento na Coréia (1907). Muitos efeitos nunca poderão ser avaliados ou conhecidos. Como exemplo da transformação permanente que resultou do avivamento, podemos citar Jessie Davis, que foi entrevistada pelo historiador Kevin Adams quando já estava com mais de 80 anos, muito tempo depois do avivamento. “Muitas pessoas dizem que o avivamento acabou em pouco tempo. Como a senhora,
que se converteu nesse avivamento, responde a essa crítica? ” “Quero dizer isto”, ela respondeu, “a chama que foi acesa no meu coração em 1906, quando eu era jovem, nunca mais se apagou. Está acesa ainda hoje! ”. E estava mesmo, pois ela ainda mantinha uma reunião regular de oração na sua casa. Sem dúvida alguma, milhares e milhares de pessoas conheceram e se apaixonaram por Jesus na lua-de-mel de 1904, mas continuaram amandoo até o fim de suas vidas.
Isso não aumenta sua fome e sede por uma genuína visitação de Deus nos nossos dias?
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