noites nomades

May 11, 2018 | Author: Angélica Tesla | Category: Time, Sociology, Geography, Anthropology, Michel Foucault
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 N O I T E S N Ô M A D E S

mos conscientes das dificuldades e das vicissitudes inerentes a tal tarefa. Em segund segundoo lugar, lugar, acreditam acreditamos os que este este estudo estudo tambm tambm !ossa !ossa contribuir contribuir !ara o am!lo debate em torno dos im!asses recentes da cl"nica  !sicanal"tica contem!or#nea no que di$ res!eito res !eito %s formas de abordagem % a!reens&o do su'eito. Ou se'a, !rocuramos demonstrar, no #mbito das culturas 'ovens urbanas, as agudas transforma()es que v*m se o!erando nas modalidades de comunica(&o, distanciadas da valori$a(&o da dimens&o discursiva da linguagem. Neste sentido, a!resentamos ao leitor um vasto con'unto de e+em!los de abordagens da sub'etividade, cu'o ei+o central de e+!ress&o ancora se na !erformance cor!oral, na *nfase sobre o ttil, o situacional situacional e, !rinci!almen !rinci!almente, te, sobre a interativida interatividade. de. O con'unto con'unto dessas dessas transforma()es a!resenta, sem d-vida, im!actos significativos sobre como tratar e curar su'eitos que cada ve$ mais se encontram afastados dos recursos tradicionais com que a cl"nica !sit anal"tu a ale o'e contou/ refle+ refle+ivi ividad dade, e, interi interiori oridad dade, e, autoco autoconli nlirt rt iinento iinento I ste estudo estudo,, !ortant !ortanto, o,  !rocura contribuir !ara o desafio e 0 1 im!asse 23ue assolam os modos de sub'e sub'eti tiva va(& (&oo cont contem em!oi !oi%iu %iu 41s 41s Nessa Nessa !ers !ers!ec !ecti tiva va,, a dime dimens& ns&oo da e+teriori$a(&o 2l.i e+istem u vem delineando novas configura()es da vida sub'etiva qu0 a!ontam !ara a necessidade de se re!ensar a !r)!ria est mi ma d0 1 . i 56ua 56uali li lame lament ntee a esta esta nece necess ssid idad ade, e, redes redesen enam am se tcm3 tcm3 101ialulad0 07 es!ecialidades que colocam em +eque o tra(ado 849:;4 Ildiai1 4las dimens)es internas e e+ternas nos su'eitos

Acima de tudo, acreditamos que >> llmiai • I< significativas transformações da subjetividade > in< ni|".i nu i . ,ia em curso, rodu!indo efeitos e >.,eiando imass< < eil< s uI.#l< . ara todos n$s. %ste livro resulta em uma t< num i .&. ma< amento dessas transformações, transformações, assim < omo > m um i n I nu i toda tirania de seus imasses



N OIT E S NÔM ADES

. Capítulo I

oucault, !orm, n&o est interessado a!enas em a!ontar !ara a centralidade do es!a(o, mas !ara sua fle+ibiliF $a(&o, !ois a contem!oraneidade estaria e+!erimentando uma 8dessacrali$a(&o !rtica do es!a(o8 , assim como ocorreu com o tem!o durante a modernidade. A !artir desse interesse, >oucault dedicaFse a !ensar os lugares 8que t*m a curiosa !ro!riedade de estar em rela(&o com todos os outros, mas sob um modo tal que eles sus!endem, neutrali$am ou invertem o con'unto das rela()es que se encontram, !ara eles, !reviamente designadas8 . Esses es!a(os seriam 8diferentes8 dos es!a(os culturais ordinrios nos quais vivemos, e >oucault !ro!)e camFlos de 8eterot!icos8 !ara diferenciF los dos es!a(os 8ut!icos8. Embora ambos se refiram a uma contesta(&o a um s tem!o m"tica e real da ordem es!acial concreta em que vivemos, as eteroto!ias s&o lugares efetivamente reali$ados, enquanto as uto!ias n&o t*m e+ist*ncia concreta. As eteroto!ias seriam, assim, 8lugares outros em rela(&o aos es!a(os culturais ordinrios8 . Hara viabili$ar uma 8eteroto!ologia8, ou se'a, uma descri(&o sistemtica dos es!a(os eterot!icos,  !reciso levar em conta alguns as!ectos/ n&o  sociedade sem eteroto!ias o funF i loilamento destas  !ode variar istoricamente as eteroto!ias i26mi a ca!acidade de 'usta!or  vrios es!a(os, em si mesmos nu om!at"veis as eteroto!ias est&o associadas freqPentemente 55 u!turas com o tem!o tradicional 28eterocronias8Q as eteroto!ias su!)em um sistema de abertura e fecamento es!acial que as isola e as torna !enetrveis simultaneamente. O que constitui o carter singular desses es!a(os, sua 8alteF i idade8,  a rela(&o de diferen(a que estabelecem com outros es!a(os, de modo a  !rodu$ir uma desestabili$a(&o das rela()es es!aciais em torno de !rticas sociais e discursivas. Desde que >oucault o introdu$iu, o conceito de 8eteroto!ia8 tem sido utili$ado, !or diferentes autores, es!ecialmente no #mbito das culturas 'ovens, sem!re referidos a forma()es identitrias e atos de resist*ncia vinculados a lugares 8alternativos8. Revin eterF nigton  um dos autores que melor inter!retam a dimens&o relacional dos es!a(os eterot!icos. Segundo ele, nenum es!a(o !ode ser descrito de modo fi+o

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como eterot!ico, !ois estes t*m significados m-lti!los e variveis !ara os agentes sociais, de!endendo de sua situa(&o es!ec"fica. Alm do mais, n&o di$em res!eito, a !riori, % resist*ncia ou % ordem, mas !odem estar  relacionados a um ou a outro, ' que envolvem o estabelecimento de modos alternativos de organi$a(&o. Goncordamos com a formula(&o desse autor, segundo a qual 8 essa combina(&o eterog*nea entre materialidade, !rticas sociais e eventos situados e o que eles re!resentam em o!osi(&o a outros es!a(os, que nos  !ermite camFlos de eterot!icos8. E tambm que as eteroto!ias envolvem novos modos es!aciais de intera(&o social e discurso, em uma  !alavra, sociabilidade. Todavia, discordamos que os es!a(os eterot!icos  !ossam ser definidos meramente !or uma diferen(a de re!resenta(&o em torno de formas alternativas de organi$a(&o es!acial. As eteroto!ias definemFse fundamentalmente !or !rticas es!aF ciali$antes, a um s tem!o concretas e simblicas, que n&o se encontram, necessariamente, locali$adas e n&o est&o sem!re condicionadas !or variveis ideolgicas ou movimentos de resist*ncia. Do !onto de vista conceituai, a conecida diferencia(&o entre 8es!a(o8 e 8lugar8 !ro!osta !or Micel De Gerteau, bem como sua defini(&o do es!a(o como 8lugar !raticado8, revelaFse estratgica !ara nossa argumenta(&o. Segundo esse autor, o lugar  a ordem segundo a qual os diferentes elementos 2tanto volumes quanto su!erf"ciesQ que com!)em materialmente a realidade organi$amFse uns em rela(&o aos outros, segundo ei+os !recisos 2ordenadas e coordenadasQ. A !ossibilidade, !ara duas coisas, de ocu!arem o mesmo lugar est, !ortanto, e+clu"da. Assim definido, o lugar abarca 8uma configura(&o instant#nea de !osi()es8 e 8im!lica uma indica(&o de estabilidade8, ' que os elementos considerados 8se acam uns ao lado dos outros, cada um situado num lugar 6!r!rio6 e distinto85U. Diferentemente do lugar, o es!a(o n&o !ossui a unicidade e a estabilidade a!ontadas anteriormente. Ao contrrio, 8e+iste es!a(o sem!re que se tomam em conta vetores de dire(&o, quantidades de velocidade e a varivel tem!o8. Nesse sentido, o es!a(o  constitu"do !elo cru$amento de mveis, se'am eles cor!os ou fragmentos, e 8animado !elo con'unto dos movimentos que a" se desdobram8. O es!a(o, !ortanto, 8 o efeito  !rodu$ido !elas o!era()es que o orientam, o circunstanciam, o tem!oraliF $am e o levam a funcionar em torno da unidade !olivalente de !rogramas conflituosos855.

NI GHT oucault e De Gerteau, nosso argumento est voltado !ara os movimentos contem!or#neos de reescritura do 8es!a(o8, considerado como resultante de !rticas istricas e contingentes, !ara alm das coordenadas estticas que definem a ordem dos lugares. TrataFse, !ortanto, de !ensar o tem!o e o es!a(o con'untamente, e a ambos como !rodutos de interFrela()es, !ois 8uma ve$ su!erada a i!tese de que es!a(o e tem!o s&o categorias mutuamente e+clusivas, uma ve$ admitido que o es!a(o  com!osto !or uma multi!licidade de istrias, !ercebeFse que nada !oderia ser a um s tem!o mais ordenado e mais catico que o es!a(o, com todas as  suas  'usta!osi()es inusitadas e efeitos emergentes involuntrios85. O tra(o !ol"ticoFcultural mais caracter"stico da contem!oraneidade  !arece ser, 'ustamente, as m-lti!las transforma()es !elas quais vem  !assando a metr!ole como modelo de organi$a(&o social e es!acial. Segundo o antro!logo italiano Massimo Ganevacci, 8estamos transitando de uma formaFcidade como cora(&o da modernidade, com !recisos contornos es!aciais, !ers!ectivas geomtricas e divis)es em classes  !recisas, cidade !ara ser constru"da no !ro'eto e atravs do !ro'eto, a uma formaFmetr!ole que dissolve tudo isso/ uma metr!ole comunicativa8 5J. A identidade da nova formaFmetr!ole n&o seria determinada !or seus limites materiais !recisos, mas !or flu+os comunicacionais que instauram um du!lo !rocesso de fragmenta(&o e recombina(&o, em todos os n"veis. Desse modo, a metr!ole contem!or#nea  !olic*ntrica, !ois 8difundeFse e  !roliferaFse em m-lti!las dire()es8, e !olifVnica, !ois nela 8novos ti!os de culturas fortemente !lurali$ados e fragmentados es!alamFse e transitam85K. Isso introdu$ um elemento criativo nas e+!eri*ncias sub'etivas e sociais que desestabili$a as identidades estveis, em suas dimens)es filosficas, antro!olgicas e 'ur"dicas, !rodu$indo identidades m-lti!las e nomadismos !s"quicos centrados fundamentalmente na esteti$a(&o do cor!o. Desse modo, 8uma !luralidade de culturas 2e subculturas, com estilos de vida e identidade aFtem!oWraisX, vidas esteti$adas, modas descartveisQ fragmenta a metr!ole e a dilata sem mais fronteiras definidas/ as fronteiras s&o mveis como as identidades, fronteiras !lurais e  !olifVnicas85L. A muta(&o da formaFmetr!ole a!ontada !or Ganevacci, na verdade,   !arte de um con'unto mais am!lo de transforma()es que tem camado a aten(&o de diferentes autores. O arquiteto e filsofo franc*s Haul Yirilio,



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 !or e+em!lo, considera que os meios de comunica(&o de massa, tal como redefinidos !elas tecnologias virtuais, e+ercem um forte im!acto sobre a arquitetura das cidades e as formas de e+!eri*ncia urbana. Sua anlise da sociedade tecnolgica atual a!onta !ara o surgimento de uma nova configura(&o de es!a(o e tem!o que !rodu$ fenVmenos socioculturais com!le+os, !rovocando a altera(&o das nossas refer*ncias !erce!tivas, cognitivas e !ol"ticas. A cave da leitura que Yirilio !ro!)e a res!eito da contem!oraneidade reside na idia de que os meios de comunica(&o de massa organi$am o 8mundo8 em fun(&o da !rodu(&o e difus&o de informa()es e imagens, cu'o  !rinc"!io  o binVmio dist#nciaF velocidade mais !recisamente, a dissolu(&o das dist#ncias em fun(&o dos !rocessos de acelera(&o. A originalidade dessa abordagem reside na considera(&o do tem!o como vetor !rivilegiado da nova configura(&o es!acial, res!onsvel !ela desestabili$a(&o das a!ar*ncias sens"veis e dos modos de e+!eri*ncia. Segundo ele, uma das conseqP*ncias culturais das tecnologias virtuais  a dissolu(&o da vis&o de mundo dominada !ela geometria euclidiana das su!erf"cies regradas, baseada na armonia e na !ro!or(&o das formas. Essa vis&o cede a um novo ti!o de !erce!(&o, na qual a !resen(a f"sica !erde  !rogressivamente seu valor anal"tico !ara a a!reens&o da realidade, 8em  benef"cio de outras fontes de avalia(&o eletrVnica do es!a(o e do tem!o que nada t*m em comum com as do !assado8 5. A !artir dessa nova rela(&o de for(as entre a dist#ncia e a velocidade, a era virtual marca a !assagem do es!a(o 8substancial8 2cont"nuo e omog*neoQ !ara o es!a(o 8acidental8 2descont"nuo e eterog*neoQ, no qual a intercambialidade !assa a  !re!onderar sobre a locali$a(&o. Assim como todos os outros as!ectos da realidade ob'etiva, o es!a(o urbano tambm  com!osto e decom!osto !or sistemas de tr#nsito e transmiss&o de informa()es e imagens, o que tlissolve os !rinci!ais ei+os de refer*ncia que !autavam a e+!eF i l*ncia da cidade, tanto em termos simblicos e istricos 2com ' decl"nio da centralidade e da a+ialidadeQ, quanto em termos geomtricos

2com a desvalori$a(&o da antiga re!arti(&o das dimens)es f"sicasQ. Isso significa que a teleto!ologia dissolve a lorma urbana/ 8unidade de lugar  sem unidade de tem!o, a cidaF 2le desa!arece ent&o na eterogeneidade do regime tem!oral das 2470 nologias avan(adas85. Na cidade 8su!ere+!osta8 contem!oF

NI GHT reud, cu'os mecanismos centrais de funcionamento est&o a!oiados nas modalidades de autoconecimento vertical, refle+ivo, 8invernal8, e !ara o qual a idia de 8mundo interno8 !ossui inegvel legitimidade e im!ort#ncia. A !rtica cl"nica a!licvel a este modelo de su'eito conta com  !ouca margem de recurso e manobra tcnica !ara alm do !er"metro metodolgico da escuta_inter!reta(&o sobre o qual ela se alicer(a.  N&o cabe, aqui, tratar dos infinitos desdobramentos deste debate, que tra$ em seu cerne o questionamento de um modelo de su'eito que !arece

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encontrar, na contem!oraneidade, evidentes sinais de esgotamento enquanto instrumento conceituai cave !ara a a!reens&o de novas e recentes manifesta()es da sub'etividade. N&o estaria este 8indiv"duo8  !erdendo es!a(o significativo na 8tribuna de quest)es8 que atualmente a!ontam !ara novas gramticas sub'etivas que v*m colocando em quest&o o !r!rio sentido do autoconecimentoZ E a no(&o de mundo internoZ Teria este, o'e, a mesma !rofundidade, im!ort#ncia e legitimidade !ara su'eitos cu'a escala de urg*ncia e !rioridades revela uma dimens&o de  !ragmatismo e necessidade de 8com!et*ncia8 e efici*ncia cada dia mais distantes do #mbito do cultivo esttico_refle+ivo de siZ Neste sentido, a quase que oni!resen(a atual da categoria da 8com!et*ncia8 no novo cenrio cultural da !sFmodernidade 2sobretudo, entre os contingentes  'ovens da !o!ula(&oQ, !arece !rivilegiar e atribuir maci(a *nfase %s idias de a(&o, viv*ncia, ato e fato em suas m-lti!las modalidades de articula(&o com a !r!ria categoria do mercado. Este -ltimo !arece inscreverFse na e+ata 8contram&o8 do !adr&o cr"tico em que costumava ser re!resentado no conte+to do alto modernismo . Gom esta formula(&o, n&o !retendemos afirmar que novas gramticas sub'etivas este'am necessariamente se tornando mais !rodutivas no sentido de uma lgica inesca!avelmente racionalista e instrumental. Gabe a!enas assinalar o fato de que, no inter'ogo das novas rela()es tem!o_es!a(o com o !lano da sub'etividade,   !oss"vel atribuir certa disfuncionalidade ao reino das atitudes umanas que se destacam !ela valori$a(&o e+cessiva da esfera do mundo interno dos indiv"duos, e do indiscut"vel valor da dimens&o do autoconecimento 2e+istencial, vertical e refle+ivoQ. Este su'eito da modernidade, cu'a crucial e+ig*ncia de rediF mensionamento e revis&o acabamos de !roblemati$ar, assentaF se sobre um  !ar#metro de funcionamento e organi$a(&o regido, fundamentalmente, !ela lgica da identidade. Ye'amos, ent&o, como se tradu$em diversos diagnsticos contem!or#neos que se !ro!)em a !ensar as novas forma()es sub'etivas atravessadas !or este desli$amento do !lano da identidade !ara o da identifica(&o.

IDENTIFICAÇÃO E PLURALISMOS DO EU

Hodemos creditar aos estudos de Micel MaffesoliJ  um tratamento  !ioneiro atribu"do % im!eriosa significa(&o deste desli$amento identidade_identifica(&o !ara a com!reens&o das novas forma()es sub'etivas que emergem na contem!oraneidade. 8>are'ando8 o novo es!"rito do tem!o e suas sensibilidades alternativas, atravs de um leque de

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