Nietzsche A Filosofia (Gilles Deleuze)
December 18, 2022 | Author: Anonymous | Category: N/A
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NIETZSCHE E A FILOSOFIA DELEUZE, G., Ed RÉS, PORTO, PORTUGAL, ????? INDICE: (numeração do arquivo) Capitulo I O trágico 1. O conceito de genealogia 2. O sentido 3. Filosofia da Vontade 4. Contra a dialética 5. O problema da tragédia 6. A evolução de Nietzsche 7. Dionísio e Cristo 8. A essência do Trágico 9. O problema da existência 10. Existência e inocência 11. O lan lance ce de dad dados os 12. Conseqüên Conseqüências cias para o eterno retorno 13. Simbolismo de Nietzsche
3 4 4 5 6 7 8 8 9 9 11 11 12
14. e Mallarmé 15. Nietzsche O pensamento trágico 16. A pedra pedra-de-to -de-toque que
13 14
Capítulo II Ativo e reativo 1. 2. 3. 4. 5.
O corpo A di dist stin inçã çãoo da dass forç forças as Qu Quan antid tidad adee e qual qualid idad adee Niet Nietzs zsch chee e a ciên ciênci ciaa Pri Prime meiro iro as aspec pecto to do ete eterno rno ret retorn orno: o: como doutrina cosmológica e física 6. O que é a von vontad tadee de pod poder? er? 7. A ter termin minolo ologia gia de Nie Nietzs tzsche che 8. Ori Orige gem m e ima imagem gem inv invert ertida ida 9. Pro Proble blema ma da med medida ida das for forças ças 10. A hiera hierarquia rquia 11. Vontade de poder e sentimento de poder 12. O devir-reativo das forças 13. Ambivalência do sentido e dos valores 14. O segundo aspecto do eterno retorno: como pensamento ético e seletivo 15. O problema do eterno retorno
14 15 16 17 18 19 20 21 22 22 23 23 23 24 25
Capítulo III A crítica 1. Tran Transf sfor orma maçã çãoo das das ciên ciênci cias as do home homem m 2. A fór fórmul mulaa da quest questão ão em Nie Nietzs tzsche che
25 26
3. O método de Nietzsche 4. Con Contra tra os seus seus predec predecess essore oress 5. Cont Contra ra o pess pessimism imismoo e cont contra ra Scho Schopenh penhauer auer 6. Pri Princ ncípi ípios os para para a filo filosof sofia ia da von vontad tadee 7. Pla Plano no de “A geneal genealogi ogiaa da Mo Moral ral”” 8. Nietz Nietzsche sche e Kant do pont pontoo de vista dos princ princípios ípios 9. Re Real aliz izaç ação ão da crít crític icaa 10. Nietzsche e Kant Kant do ponto de vista das co conseqüências nseqüências
26 27 28 28 29 30 30 31
11. conc conceito eito de verd verdade 12. O Con Conhec hecime imento nto, , moral morade al e rel religi igião ão 13. O pens pensamen amento to e a vida 14. A art artee 15. Nova imagem do pensamento
31 32 33 33 34
Capítulo IV Do ressentimento à má-consciênc má-consciência ia 1. Re Reaç ação ão e ress ressen entim timen ento to 36 2. Pri Princ ncípi ípioo do res ressen sentim timent entoo 36 3. Tip Tipolo ologia gia do res ressen sentime timento nto 38 4. Ca Carac racter teríst ística icass do res ressen sentime timento nto 38 5. É bom? bom? É mau? au? 39 6. O pa para ralo logi gism smoo 40 7. Dese Desenvolv nvolviment imentoo do ress ressentim entimento ento:: o sace sacerdote rdote judaico judaico 41 8. Má con consc sciên iência cia e int interi eriori oridad dadee 42 9. O pr prob oble lema ma da do dorr 42 10. Desenvolvimento Desenvolvimento da má consciênc consciência: ia: o sacerdote cristão 43 11. A cultura encarada do ponto de vista pré-histórico 44 12. A cultura encarada do ponto de vista pós-histórico 45 13. A cultura encarada sob o ponto de vista histórico 46 14. Má consciência, consciência, responsabilidade, culp culpabilidade_____ abilidade___________ ______ 46 15. O ideal ascético e a essência da religião_ 47 16. Triun Triunfo fo das força forçass reati reativas vas 48
Capítulo V O super-homem: contra a dialética 1. O niilismo 2. An Anal alis isee da pied piedad adee 3. Deus eus mo morr rreeu 4. Co Cont ntra ra o he hege geli lian anis ismo mo 5. As tra transf nsform ormaç ações ões da dia dialét lética ica 6. Niet Nietzs zsch chee e a dial dialét étic icaa 7. Te Teori oriaa do hom homem em sup superi erior or 8. Será o homem homem esse essencia ncialment lmentee “rea “reativo” tivo”?? 9. Nii Niilis lismo mo e tra transm nsmuta utaçã ção: o: o pon ponto to foc focal al 10. A afirmação e a negação 11. O sent sentido ido da afirm afirmaçã açãoo 12. A dupla afirma afirmação: ção: Ariad Ariadne ne 13. Dion Dionísio ísio e Zaratustra Zaratustra Conclusão
48 49 50 51 52 52 53 53 54 55 56 58 58 59
CAPÍTULO I
O TRÁGICO (051) 1. O CONCEITO DE GENEALOGIA 01. O projeto mais geral de NIETZSCHE é introduzir na filosofia os conceitos de sentido e valor, fazendo com isso da filosofia uma crítica. Modernamente, a teoria dos valores engendrou enge ndrou um novo conform conformismo ismo e nova novass subm submissõe issões. s. Para NIETZSCH NIETZSCHE, E, entretanto entretanto,, a filosofia dos valores é a única maneira de realizar a crítica total. t otal. A noção de valor implica uma inversão crítica crítica:: por um lado, as avaliações supõem valores anteriores; por outro lado e mais profundamente, são os valores que supõe avaliações, donde deriva seu próprio valor. O problema crítico é esse: o valor dos valores e, portanto, o problema da sua criação criação.. A avaliação, elemento diferencial, é simultaneamente crítica e criadora. As avaliações não são valores, mas maneiras de ser que servem de princípio aos valores em relação aos quais julgam. Eis o essencial: o elev elevado ado e o bai baixo, xo, o nobr nobree e o vil não são valores, mas representam o elemento diferencial donde deriva o próprio valor dos valores. 02. A filosofia crítica tem dois movimentos inseparáveis: referir as coisas à valores e referir esses valores a algo que seja como a sua origem e decida sobre o seu valor. NIETZSCHE coloca-se portanto tanto contra os que subtraem os valores à crítica (ou fazem a crítica em nome de valores estabelecidos e ‘intocáveis’) quanto contra os que fazem a crítica derivar de pretensos fatos objetivos (utilitaristas), ambos nadando no elemento indiferente indiferente do do que vale em si ou do que vale para todos. NIETZSCHE insurge-se contra a elevada idéia de fundamento que deixa os valores indiferentes à sua origem e contra a idéia de uma simples derivação causal, indiferente, dos valores a partir de sua origem. Daí o conceito novo de genealogia, que aposta no sentimento de diferença ou distância, diferentemente do princípio da universalidade kantiana (ou do útil). 03. Genealogia quer dizer simultaneamente valor de origem e origem dos valores. Sua crítica é ao mesmo tempo o elemento positivo de uma criação. Por isso a crítica não é REAÇÃO, mas AÇÃO; a crítica opõe-se à vingança, ao ressentimento. É a expressão ativa de um modo de existência ativo, a maldade que pertence à perfeição. Essa maneira de ser é a do filósofo. Dessa genealogia NIETZSCHE espera muitas coisas: uma nova organização das ciências, da filosofia, dos valores. 1
Numeração original. O numero no inicio do parágrafo corresponde a paragrafação do original.
2. O SENTIDO (08) 01. Encontrar o sentido de algo é conhecer a força que desse algo se apropria, ou explora, ou exprime-se nele. Um fenômeno é um sintoma que encontra seu sentido numa força atua atual, l, não não um umaa apar aparên ênci ciaa ou apar apariç ição ão.. Da Daíí a fi filo loso sofi fiaa se serr uma uma si sint ntom omat atol olog ogia ia e uma uma semiologia. Á dualidade aparência-essência e também à relação causa-efeito NIETZSCHE substitui a correlação do fenômeno e do sentido. Qualquer força é apropriação de uma quantidade de realidade (mesmo a percepção). Por isso a história de algo é a sucessão das forças que dela se apoderaram, e a coexistência das forças que lutam para dela se apoderar. O sentid sen tidoo é, por portan tanto, to, uma noç noção ão comple complexa xa.. Exi Existe ste se sempr mpree uma plu plural ralida idade de de sentid sentidos, os, sucessivos e também coexistentes, o que faz da interpretação uma arte. “Qualquer subjugação, qualquer dominação equivale a uma interpretação nova”. 02. Não se compreende NIETZSCHE sem levar em conta seu pluralismo essencial (pluralismo, aliás, próprio da filosofia, única garantidor de liberdade no espírito concreto, único princípio de um violento ateísmo). É por isso que NIETZSCHE não acredita em “grand “gr andes es ac acont onteci ecime mento ntos” s” rui ruidos dosos os,, mas na plural pluralida idade de sil silen encio ciosa sa de sen sentid tidos os de cada cada acontecimento. Vemos nessa pluralidade de sentidos a conquista mais elevada da filosofia, sua maturidade (ao contrário de HEGEL, que via nela uma certa ingenuidade). A noção de essência não se perde aí, mas toma uma nova significação: se a coisa tem tantos sentidos quanto forças dela se apoderarem, por outro lado ela não é neutra, e guarda afinidade com as forças com que se relaciona. Chamar-se-á essência pelo contrário aquele sentido que dá à coisa a força que apresenta maiores afinidades com ela, a ponto de quase confundirem-se ambas (não se sabe quem é a força quem é o objeto dominado). 03. A interpretação revela sua complexidade se se considerar que uma nova força só pode aparecer se usar, desde o início, as mascaras das forças precedentes que já a ocupavam. A máscara ou a astúcia são as leis da natureza, A vida, em seus inícios, deve mimar a matéria para ser apenas possível2. A arte de interpretar deve ser uma arte de penetrar nas máscaras, descobrindo quem se mascara e porque, assim como porque se conserva uma máscara remodelando-a. A genealogia não aparece no princípio; “em qualquer coisa, só os graus superiores importam”. A diferença na origem não aparece desde a origem, e pode mesmo ter interesse em confundir-se com outra coisa.
3. A FILOSOFIA DA VONTADE (12)
2
BÉRGSON, “A Evolução Criadora”.
01. Todo objeto já é a expressão de uma força; na relação de um objeto com uma força, são forças que se relacionam. Há relações de afinidade do objeto com a força que dele se apodera. O ser da força é o plural: seria absurdo pensar a força no singular. Uma força é dominação, mas é também o objeto sobre o qual essa dominação se exerce. Uma pluralidade de forças interagindo, sendo a DISTÂNCIA o elemento diferencial compreendido em cada força e pela qual cada uma se refere a outras: é esse o princípio da filosofia da natureza em NIETZSCHE.. A crítica do atomismo deve ser compreendida a partir daí – o atomismo sendo uma tentativa de emprestar à matéria uma pluralidade e uma distância essenciais que só podem pertencer à força (os átomos são são o indiviso, são seu único objeto objeto,, eles só se relacionam consigo mesmos). O atomismo seria uma máscara para o dinamismo crescente. 02. O conceito de força é o de uma força que se relaciona com uma outra força; sob esse aspe aspect cto, o, a fo forç rçaa cham chamaa-se se uma uma vont vontad ade. e. A vo vont ntad adee (v (von onta tade de de po pode der) r) é o el elem emen ento to diferencial da força. A vontade exerce-se necessariamente sobre uma outra vontade; ela é complexa,, porque é ela quem manda e é também ela quem obedece; o verdadeiro problema complexa não está na relação do querer com o involuntário, mas na relação de uma vontade que ordena com uma vontade que obedece. Assim o pluralismo encontra sua confirmação imediata e seu terreno de eleição na filosofia da vontade. Esse o ponto preciso da ruptura entre NIETZSCHE. e SCHO SCHOPENH PENHAUER: AUER:trata-s trata-see de saber se a vonta vontade de é uma ou múltipla. múltipla. Para NIETZSCHE. NIETZSCHE.,, conceber a vontade como una leva à sua negação. 03. NIETZSCHE. denuncia a alma, o eu, o egoísmo, como os últimos refúgios do atomismo. Em qualquer querer, trata-se simplesmente de mandar e obedecer, sob a base de uma estrutura social de muitas almas. Quando NIETZSCHE. canta o egoísmo, quer com isso cr crit itic icar ar a “virt “virtud ude” e” do desi desint nter eres esse se.. Ma Mass o eg egoí oísm smo, o, co como mo o at atom omis ismo mo,, é uma uma má interp int erpret retaç ação ão da vontad vontade, e, poi poiss ainda ainda sup supõe õe um ego ego.. E não há um ego na origem, mas a difere dif erença nça ent entre re for forças ças.. A dif difere erença nça na origem origem é a HIERAR HIERARQUI QUIA A (que (que está, está, portan portanto, to, inseparável da genealogia, como valor de origem e origem dos valores – a hierarquia é o “nosso problema”, diz NIETZSCHE.). A hierarquia é o fato originário, a identidade da diferença e da origem. Assim, o sentido de qualquer coisa é a relação dessa coisa com a força que dela se apodera, e o valor de qualquer coisa está na hierarquia das forças que se exprimem na coisa enquanto fenômeno complexo.
4. CONTRA A DIALÉTICA (15) 01. A relação nietzschiana de uma força com outras outras não não é nunca dialética, pois o que caracteriza esta á o papel do negativo na relação, não simplesmente uma relação entre o uno e o outro, e em NIETZSCHE. a relação é de afirmação, não de negação. A dialética é o mais
feroz inimigo do pluralismo. O conjunto da filosofia de NIETZSCHE. dirige-se, entre outros, contra a dialética, é anti-hegeliana por princípio (o super-homem, por exemplo, é dirigido contra a concepção dialética de homem, e a transvaloração contra a dialética da apropriação ou da supressão da alienação). 02. Em NIETZSCHE. o negativo não está presente na essência, como aquilo de que a força extrai sua atividade; pelo contrário, ele é produto da existência ativa, é parte necessária da agressividade de uma afirmação. O que a força quer é afirmar-se em sua diferença. Não se trata de negar a força que obedece ou que difere da que manda. A negação é apenas um conceito secundário, um pálido contraste nascido da própria afirmação. É nesse sentido que existe um empirismo em NIETZSCHE., baseado no prazer de afirmar a própria diferença (em oposição ao ‘trabalho do negativo’ na dialética). Quando NIETZSCHE. pergunta o que quer uma vontade, não se trata de encontrar com isso motivos para ela; o que uma vontade quer é afirmar sua diferença (nascido de sua relação essencial com o outro). A diferença constitui o objeto de uma afirmação prática inseparável da essência e constitutiva da existência. 03. A dialética remete à um modo de existência de forças esgotadas, que não tem a força de afirmar sua diferença, perdendo a atividade e apenas reagindo às forças que a dominam; daí fazer passar ao primeiro plano a negação em sua relação com o outro. A própria relação do senhor e do escravo não é, em si mesma, dialética: é o escravo quem a enxerga assim. Para o senhor, o escravo é uma força entre outras, e faz parte de sua própria afirmação de si; para o escravo, ao contrário, é o senhor quem deve ser negado para que o escravo possa afirmar-se. A relação hegeliana entre senhor e escravo é dialética porque sob o senhor hegeliano sempre aparece apenas o escravo. O poder, para o escravo, à diferença de NIETZSCHE, é sempre objeto de uma recognição, matéria de uma representação, o prêmio de uma competição, e portanto algo que está está na dependência dependência de uma simp simples les atribuição de vvalores alores estabelecidos. estabelecidos.
5. O PROBLEMA DA TRAGÉDIA (19) 01. Deve Deve-se -se evita evitarr “dia “dialetiz letizar” ar” o pens pensamen amento to nietzschi nietzschiano, ano, mesmo mesmo quan quando do pare parecer cer propício, como no caso da tragédia. NIETZSCHE opõe a visão de mundo trágica t rágica às visões de mundo dialéticas, cristãs e românticas. 02. Para a dialética, o trágico vincula-se à oposição (contradição fundamental entre sofrimento e vida, do finito e do infinito na própria vida, etc). Já em “O NASCIMENTO DA TRA TR AGÉ GÉD DIA IA”” (NT) (NT),, emb mbor oraa aind inda so sobbre mane maneir iraas mui uito to pró róxi xima mass à HEGE HEGEL L e SCHOPENHAUER, NIETZSCHE não se filia somente à essa visão dialética da tragédia. (embora ainda estivesse um tanto preso à ela, atribuindo à contradição e a sua solução o papel
de princípios). Devemos seguir o movimento desse livro para compreender a nova concepção de trágico que NIETZSCHE instaurará posteriormente: 03.
1º A contradição, no NT, é a da unidade primitiva e da individuação, do querer
e da aparência e da vida e do sofrimento. Aqui a vida ainda necessita ser justificada. 04.. 04
2º A cont contra radi diçã çãoo ref refle lete te-s -see na op opos osiç ição ão DION DIONÍS ÍSIO IO-A -APO POLO LO.. APO APOLO LO di divi vini nisa sa
o princípio de individuação, constrói a bela aparência e liberta-se assim do sofrimento. DIONÍSIO, ao contrário, regressa à unidade primitiva, absorve o indivíduo no ser original, resolvendo a dor da individuação num prazer superior de participar da superabundância do ser único. DIONÍSIO e APOLO não se opõe como os termos de uma contradição, portanto, mas como dois modos antitéticos de a resolver. DIONÍSIO é como o fundo sobre o qual APOLO borda a bela aparência. Sob APOLO é DIONÌSIO que brama. Mas essa própria antítese tem necessidade de ser resolvida. 05.
3º A tragédia é esta reconcilia liação. DIONÍSIO é o fundo trá rággico (o único
personagem trágico é DIONÌSIO; entram em cena suas dores), que se resolve sob uma forma e num mundo apolíneos (e daí o drama).
6. A EVOLUÇÃO DE NIETZSCHE (21) 01. O trágico, no NT, é definido como a contradição original, sua solução dionisíaca e a expressão dramática (apolínea) dessa solução. Resolver a contradição reproduzindo-a constitui o caráter da cultura trágica e dos seus representantes modernos (KANT, SHOPENHAUER, WAGNER). Mas há vários indícios da aproximação de uma concepção nova, que não cabe na acima exposta. Em primeiro lugar, dionísio está presente como deus afirmativo afirmativo e afirmador , não se contentando em “resolver” a dor num prazer supra-pessoal, mas afirmando a dor e constituindo o prazer de alguém. Afirma as dores da crença crença,, afirma a vida (não tendo que justificá-la ou resgatá-la). O que impede esse segundo dionísio de sobrepô-lo ao pri primeiro meiro é o fato de o elemento supra-pessoal sempre acompanhar o elemento afirmador. Existe aí um pressentimento do eterno-retorno. 02. NIETZSCHE, ao fazer sua auto-crítica, reconhece duas inovações no NT: o caráter afirmador de dionísio, e a descoberta da oposição dionísio-sócrates, para além da primeira apro aproxi xima maçã çãoo di dion onís ísio io-a -apo polo lo;; dion dionís ísio io é a af afirm irmaç ação ão da vi vida da in inde depe pend nden ente teme ment ntee de justificação, Sócrates Sócrates é a oposiçã oposiçãoo entre idéia e vida, o julgamento da vida vida pela idéia. 03. Mesmo aí, qualquer coisa impede esse segundo tema de se desenvolver livremente. Para que a oposição ganhasse todo o seu valor, era necessário libertar o elemento afirmador de qualquer subordinação. Isso acontece substituindo-se a pura antítese pela complementariedade complementariedade dionísio-Ariadne, do lado afirmativo, e focalizando o “crucificado” como verdadeira oposição
à dionísio (Sócrates é demasiado grego, meio apolíneo, meio dionisíaco, para representar a oposição).
7. DIONÍSIO E CRISTO 01. Tanto em dionísio quanto em Cristo, o mártir é o mesmo, a paixão é a mesma, é o mesmo fenômeno, mas os sentidos são opostos: por um lado, a vida que justifica o sofrimento, que o afirma; por outro lado, o sofrimento que acusa a vida, que faz dela algo que deve ser justificado. O fato de haver sofrimento na vida significa, para o cristão, que a vida não é justa, que é culpada, que deve pagar pelo sofrimento – como?: com o próprio sofrimento (o que forma a “má-consciência”). Tal define o niilismo cristão, isto é, sua maneira própria de negar a vida. Mesmo o amor cristão não se opõe à esse ódio, como quer o dialético: a alegria cristã é a alegria de “resolver” a dor, interiorizando-a e assim oferecendo-a à Deus. 02. Para dionísio a vida não tem de ser justificada: é ela quem se encarrega de justificar. A vida é essencialmente justa. Ela afirma mesmo o mais amargo sofrimento, sem “resolver” a dor ao interioriza-la, mas afirmando-a no elemento de sua exterioridade. A oposição dionísioCristo é a oposição da afirmação da vida e da negação da vida. O sofrimento dionisíaco (por supe supera rabu bund ndân ânci ciaa de vi vida da)) é um umaa afir afirma maçã ção, o, su suaa embr embria iagu guez ez é uma uma at ativ ivid idad ade, e, se seuu dilaceram dilac eramento ento é a própr própria ia afirma afirmação ção múltipla; o sofrim sofrimento ento cristão (por empobrec empobrecimen imento to de vida) é uma acusação à vida, sua embriaguez é um torpor ou convulsão, sua morte é a imagem da contradição e sua solução. A oposição de dionísio à Cristo não é uma oposição dialética, mas oposição à própria dialética: a afirmação diferencial contra a negação dialética.
8. A ESSÊNCIA DO TRÁGICO 01. A afirma afirmação ção múltipla ou plura pluralista lista é a essê essência ncia do trágico. trágico. É nece necessár ssário io encontrar, encontrar, para cada coisa, os meios particulares pela qual ela é afirmada. A tristeza e a angústia sempre surgem em NIETZSCHE com relação à esse ponto: pode-se tornar tudo objeto de afirmação, de alegria? O trágico não reside nesta angústia ou tristeza, nem na nostalgia da unidade perdida. O trágico consiste na multiplicidade, na diversidade da afirmação como tal . O que define o trágico é a alegria do múltiplo (nada de alegria como sublimação, compensação, resignaçã resig nação, o, recon reconcilia ciliação) ção).. Trágico Trágico designa a forma estética da alegria, não uma forma medicinal. Uma lógica de afirmação múltipla, da pura afirmação, e uma ética da alegria que lhe corresponde, é esse o sonho anti-dialético e anti-religioso que perpassa toda a filosofia de NIETZSCHE. A tragédia, tragédia, franca alegria dinâmica. dinâmica. 02. A tarefa de dionísio é nos tornar leves, nos ensinar a dançar, nos dar o instinto do jogo. Dionísio conduz ao ao céu Ariadne; as pedraria pedrariass da coroa de Ariadne são estrelas. estrelas. Será esse
o segredo de Ariadne? A constelação nascerá do famoso lance de dados. É dionísio quem lança os dados. É ele quem dança e quem se metamorfoseia, que se chama “Poligeto”, o deus das mil alegrias. (30) 03. A dialética em geral não é uma visão trágica do mundo. Todavia, entre a ideologia cristã (que HEGEL quis utilizar como substituto à tragédia) e o pensamento trágico existe um problema comum: o do sentido sentido da existência. Esta é, pa para ra NIETZSCHE, a questão suprema suprema da filosofia, a mais empírica e “experimental”, porque coloca simultaneamente o problema da interpretação e da avaliação. Bem compreendida, a questão significa “o que é justiça é justiça?” ?” Mas desde sempre procurou-se o sentido da existência postulando-a como algo faltoso ou culpado.
9. O PROBLEMA DA EXISTÊNCIA 01. Os gregos já se perguntavam pelo sentido da existência, considerando-a como desmesura, hybris ou crime (ANAXIMANDRO), enfim algo que merecia uma compensação (com isso, explicavam o devir). SCHOPENHAUER é uma espécie de ANAXIMANDRO moderno. 02. O que os faz atrativos para NIETZSCHE é sua diferença em relação ao cristianismo. Se os gregos fazem da existência algo de criminoso, que em geral inicia inicia já já com um crime (que deve ser expiado – o roubo do fogo por Prometeu, etc), nem por isso a existência é culpável e responsável por isso. Esse passo só será dado com o cristianismo, o mestre do ressentimento. Ressentimento, culpa e responsabilidade não são simples acontecimentos psicológicos, mas categorias fundamentais do pensamento cristão, a nossa maneira de interpretar a existência. Um novo ideal, uma outra maneira de pensar, é a tarefa que NIETZSCHE se propõe: “dar à irres irrespo pons nsab abili ilida dade de um se sent ntid idoo po posi siti tivo vo”. ”. Es Este te,, o mais mais no nobr bree e mais mais be belo lo se segr gred edoo de NIETZSCHE. 03. Os gregos são crianças perto dos cristãos, em matéria de negar a vida. Entretanto, para ambos a vida é culpada. Em acréscimo, o cristão dirá que ela é responsável por isso. A questão, para NIETZSCHE, não é saber se a vida é responsáv responsável el ou não pela culpa (admitindoa, de antemão, portanto), mas saber se a existência é culpada culpada ou ou inocente inocente.. Dionísio encontrou então a sua verdade múltipla: a inocência,, a inocência da pluralidade, a inocência do devir e de tudo o que é.
10. EXISTÊNCIA E INOCÊNCIA 01. A crítica à nossas acusações e buscas de responsáveis funda-se, em NIETZSCHE, em cinco razões, sendo a primeira que “nada existe fora do todo”. A última, mais profunda, é que “não existe o todo”. A inocência é a verdade do múltiplo. Dimana diretamente dos
princípios da filosofia da força e da vontade: toda força força se refere aquilo que pode, de que ela é inseparável; essa maneira de se relacionar, de afirmar e ser afirmado, é que é particularmente inocente. Aquilo que não se deixa avaliar por uma vontade reclama uma outra outra vontade, vontade, uma outra força, outra força, capaz de o fazer. Mas nós preferimos salvar a interpretação que corresponde à nossas forças, e negar a coisa que não corresponde à nossa interpretação. Separamos a força daquilo que ela pode, postulando-a como “merecedora” quando se abstém daquilo que não pode, e como “culpada” quando ela manifesta a força que possui. Desdobramos a vontade, inventamos um sujeito neutro, capaz de agir e se conter. Substituímos a interpretação pela Somos péssim péssimos os depr deprec ecia iaçã ção, o, in inve vent ntam amos os a depr deprec ecia iaçã çãoo como como ma mane neir iraa de in inte terp rpre reta tar. r. Somos jogadores!! A inocência é o jogo da existência, da força e da vontade. A existência afirmada e jogadores apreciada, a força não separada, a vontade não desdobrada, eis a primeira aproximação à inocência. 02. HERÁCLITO é o pensador trágico. Para ele, a vida é radicalmente inocente e justa. Compre Com preend endee a ex exist istênc ência ia a par partir tir de um instinto de jogo, jogo, fa fazz da exist existên ênci ciaa um fenômeno estético (não estético (não mo mora rall nem nem reli religi gios oso) o).. Ne Nega ga a du dual alid idad adee do doss mund mundos os e faz do devir uma afirmação.. Isso quer dizer, em primeiro lugar: só existe o devir. Sem dúvida, equivale a afirmação afirmar o devir. Mas afirma-se também o ser do devir, diz-se que o devir afirma o ser ou que o ser se afirma no devir. Não existe um ser para além do devir, um uno para além do múltiplo, que ária destes ilusões ou, em outro extremo, essências. O múltiplo é a afirmação do uno, o devir, a afirmação do ser. “O único deve afirmar-se na geração e na destruição’. Para HERÁCLITO, não há qualquer castigo no múltiplo ou expiação no devir, somente a dupla afirmação do ser e do devir, isto é, a justificação do ser. Qual é o ser do devir? Qual é o ser inseparável do que é no devir? RETORNAR É O SER DO QUE DEVÉM. Regressar é o ser do devir, o ser que se afirma no devir. O eterno retorno como lei do devir, Justiça e ser. 03. Segue-se que a existência nada tem de responsável, nem mesmo de culpável. HERÁCLITO chegou a exclamar: “a luta dos inumeráveis seres é apenas pura justiça”. A correlação do múltiplo e do uno, do devir e do ser, forma um jogo um jogo.. Afirmar o devir e o ser do devir são os dois tempos de um jogo, que se compõe com um terceiro termo, o jogador, o artista ou a criança, Zeus-criança: dionísio.O jogador abandona-se temporariamente à vida, o artista coloca-se temporariamente na obra, a criança brinca, retira-se e regressa. Esse jogo do devir é também o ser do devir que brinca consigo próprio. O ser do devir, o eterno retorno, é o segundo tempo do jogo, mas também o terceiro termo idêntico aos dois tempos [anteriores] e que é válido para o conjunto. Porque o eterno retorno é o regresso distinto do ir, mas também o regresso do próprio ir: simultaneamente momento e ciclo do tempo.
11. O LANCE DE DADOS (40) 01. O jogo tem dois momentos, que constituem um lance de dados: os dados que se lança e os dados que caem. NIETZSCHE por vezes apresenta o lance de dados como se estes se jogassem em dois tabuleiros distintos, a terra e o céu. Mas não se trata de dois mundos, e sim dois momentos de um mesmo mundo, a hora em que os dados são lançados [terra], a hora em que caem os dados [céu]. O lance de dados afirma o devir e o ser do devir. 02. Não se trata de vários lances de dados que, devido ao seu número, chegariam a reproduzir a mesma combinação [eterno retorno]. Pelo contrário: trata-se de um só lance de dados que, devido ao número da combinação produzida, chega a reproduzir-se como tal. Os dados que são lançados uma vez são a afirmação do acaso acaso,, a combinação que formam ao cair é a afirmação da necessidade necessidade.. A necessidade afirma-se do acaso, no sentido exato em que o ser se afirma do devir e o uno do múltiplo. A necessidade não suprime o acaso. A necessidade, necessidade, o destino, são uma combinação do próprio acaso; afirma-se a necessidade do acaso, assim como o acaso ele próprio. Porque só existe uma combinação do acaso enquanto tal, uma maneira de combinar todos os membros do acaso (necessidade). É por isso que basta ao jogador afirmar uma vez vez o acaso, para para produzir a nece necessidade ssidade que reconduz reconduz o lance lance de dados. 03. Saber afirmar o acaso é saber jogar. O mau jogador conta com vários lances de dados, dispondo da causalidade e da probabilidade para alcançar uma combinação que declara aceitável, e que é pensada como um fim um fim;; com isso abole-se o acaso. Isso tem suas raízes na razão, que por sua vez tem suas raízes no que NIETZSCHE chama de espírito de vingança. O ressentimento na repetição dos lances, a má-consciência na crença num fim. Uma certeza que convém ter para bem jogar é a de que o universo não possui qualquer fim ou objetivo ou causa. Falha-se o lance de dados porque não se afirmou suficientemente afirmou suficientemente o o acaso numa vez, para que se produzisse o número fatal que reúne necessariam necessariamente ente todos os fragmentos e que, necess nec essari ariame amente nte,, con conduz duz o lan lance ce de dad dados os.. NIETZS NIETZSCHE CHE sub substi stitui tui a oposiç oposição/ ão/sín síntes tesee causalidade-finalidade causalidade-finalid ade pela correlação dionisíaca acaso-necessidade acaso-necessidade..
12. CONSEQUÊNCIAS PARA O ETERNO RETORNO 01. Quando os dados lançados afirmam de uma vez o acaso, os dados que caem afirmam a necessidade que conduz o lance de dados. É nesse sentido que o segundo tempo do jogo é, além disso, o conjunto dos dois tempos. O eterno retorno é o segundo tempo, a afirmação da necessidade, mas também o retorno do primeiro tempo, a repetição do lance de dados, a reafirmação do acaso. Existem fragmentos do acaso que pretendem valor por si; reclamam-se de sua probabilidade, solicitam vários lances ao jogador. Mas não é assim que se deve jogar:
deve-se, pelo contrário, afirmar todo o acaso de uma vez, para lhe reunir todos os fragmentos e afirmar não o provável, mas o fatal e necessário (mesmo que seja preciso esperar e “ferver o acaso na panela” para alimentar-se dele somente quanto estiver “convenientemente “convenientemente cozido” 3). 02. Combinou-se frequentemente o caos e o ciclo, o devir e o eterno retorno, como se eles pusessem em jogo termos opostos. Em verdade, basta afirmar o caos (acaso, e não causalidade) para afirmar no mesmo lance a necessidade que o conduz (necessidade irracional, e não finalidade). As antigas idéias do eterno retorno não viam nele o ser do devir enquanto tal, o uno do múltiplo, isto é, a necessidade procedente procedente de todo acaso. Ao contrário, viam nele a submissão do devir ao ciclo. Diante disso salienta-se a originalidade de NIETZSCHE.
13. SIMBOLISMO DE NIETZSCHE (47) 01. O lance de dados é a afirmação do múltiplo. Todos os fragmentos, todo o acaso é lançado de uma vez. Esse poder de afirmar o múltiplo de uma vez é como o fogo: o fogo é o elemento que joga. “Cozinhar” o acaso não é aboli-lo, nem encontrar o uno por traz do múltiplo: a ebulição na panela é o único meio de fazer do acaso e do múltiplo uma afirmação. Os dados lançados formam um número, que é o ser que se afirma do devir enquanto tal, o uno que se afirma do múltiplo enquanto tal, o ser que se afirma do devir enquanto tal, o destino que se afirma do acaso enquanto tal. A fórmula do jogo é: conceber uma estrela dançante com o caos que traz consigo. A própria escolha de Zaratustra como personagem se apóia em três razões, uma das quais é o belo acaso (Zaratustra significa estrela em outro; os outros dois motivos são 1) Zaratustra como profeta do eterno retorno, e 2) Zaratustra como o primeiro a levar a sério a moral, devendo ser, portanto, o primeiro a desmistifica-la). 02. Esse jogo de imagens caos-fogo-constelação reúne, forma todos os elementos do mito dionisíaco. Os brinquedos de dionísio criança, a afirmação múltipla ou fragmentos de dionísio dilacerado; a cozedura de dionísio ou o uno afirmando-se do múltiplo; a constelação Ariadne no céu como estrela dançante.; o retorno de dionísio como eterno retorno. 03. Mas jamais um jogo de imagens substitui, para NIETZSCHE, um jogo mais profundo, o dos conceitos e do pensamento filosófico. O aforismo, como forma, é um fragmento, que pretendo dizer e formular um sentido, sendo a forma do pensamento pluralista. O aforismo é a interpretação e a arte de interpretar (deve, ele também, ser interpretado). Todo sentido reenvia ao elemento diferencial de onde deriva o seu valor. Tal elemento é como uma segunda dimensão do sentido e dos valores. Desenvolvendo Desenvolvendo esse elemento é que se constitui a interpretação e avaliação completas, a arte de pensar a ruminação. Ruminação e eterno
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Zaratustra, III, “Da virtude que ameniza”
retorno: dois estômagos não são demais para pensar. A segunda dimensão do aforismo (o valor) é o retorno da primeira.
14. NIETZSCHE E MALLARMÉ 01. Para MALLARMÉ, como para NIETZSCHE, 1) Pensar é fazer um lance de dados; 2) O homem não sabe jogar; 3) O lance de dados é irracional e trágico por excelência; 4) o número obtido é a obra de arte como justificação do mundo. 02. Mas essa essass seme semelhan lhanças ças são sup superfici erficiais, ais, porque MALLARMÉ sempre concebeu a necessidade como a abolição do acaso. acaso. Há um dualismo em MALLARMÈ, entre o mundo do acaso e o da necessidade, isso podendo ser fruto tanto de uma depreciação da vida ou da exaltação do inteligível; ambos, entretanto, numa perspectiva nietzschiana, são inseparáveis e constituintes do niilismo, isto é, da maneira pela qual a vida vem a ser acusada, julgada e condenada. Ora, o lance de dados nada é quando separado de seu contexto afirmativo e apreciativo, separado da inocência e da afirmação do acaso.
15. O PENSAMENTO TRÁGICO 01. Tal diferença não se deve à uma diferença psicológica. Um princípio do qual depende a filosofia nietzschiana em geral é o de que o ressentimento, a má-consciência, o ideal ascético, os principais tipos de niilismo (ditos, em conjunto, espírito de vingança), não se re redu duze zem m a dete determ rmin inaç açõe õess ps psic icol ológ ógic icas as,, a ac acon onte teci cime ment ntos os hi hist stór óric icos os ou a es estru trutu tura rass metafísicas: pelo contrário, elas é que determinam nossa psicologia, história e metafísica. Sem dúvida o espírito de vingança exprime-se biológica, psicológica, histórica e metafisicamente, permitindo a constituição de uma tipologia tipologia.. Mas o espírito de vingança não é um traço psicológico, mas o princípio do qual nossa psicologia depende; toda nossa psicologia é a do ressentimento, ele não está nela, ela é que está nele. O niilismo não é um acontecimento histórico, mas o elemento da história, seu motor, a causa do “sentido histórico”. O instinto de vingança é a força que constitui a essência daquilo que chamamos psicologia, história, metafísica e moral, o elemento genealógico do nosso nosso pensamento. pensamento. Em verdade não sabemos bem o que é que seria um homem destituído de ressentimento, que não acusass acusassee e depreciasse a existência; seria ainda um homem? Ou talvez um além-do-homem? Possuir ressentimento ou não: não existe maior diferença, para além da psicologia, história ou metafísica. É a verdadeira diferença ou tipologia transcendental – a diferença genealógica e hierárquica. 02. O obje objetivo tivo da filoso filosofia fia nietzschiana nietzschiana é liber libertar tar o pensamen pensamento to do niilismo. Há muito tempo que não cessamos de pensar em termos de ressentimento e má-consciência. Não possuímos outro ideal além do ideal ascético. Opusemos conhecimento e vida, para julgar e condenar a vida. Uma nova maneira de pensar significa um pensamento afirmativo, que
afirma a vida e a vontade na vida, que expulsa todo negativo, que acredita na inocência do futuro e do passado, no eterno retorno. A alegre mensagem nietzschiana é o pensamento trágico: porque o trágico não reside nas recriminações do ressentimento, nos conflitos da máconsciência ou nas contradições de uma vontade que se sente culpada; tampouco o trágico é a luta contra ressentimento, má-consciência e niilismo. Trágico = alegre. Ou, de outro modo: querer = criar. O trágico é positividade pura e múltipla, alegria dinâmica. Trágica é a afirmação: porque afirma o acaso, e do acaso, a necessidade; porque afirma o devir, e do devir, o ser; porque afirma o múltiplo, e do múltiplo, o uno.
16. A PEDRA-DE-TOQUE 01. 01. Não Não ba bast staa a pala palavr vraa “trá “trági gico co”” pa para ra id iden entif tific icar ar NI NIET ETZS ZSCH CHE E co com m PA PASC SCAL AL,, KIERKGAARD, CHESTOV, por exemplo. Devemos ver quanto de ressentimento e máconsciência perdura em seu pensamento. Se eles, por um lado, souberam, com gênio, levar a crítica o mais longe possível, suspendendo a moral, invertendo a razão, foram, por outro lado, apanhados pelo ressentimento, extraindo ainda as suas forças do ideal ascético. O que eles opõe à moral e a razão é ainda um ideal, a INTERIORIDADE, este corpo místico em que a razão se enraíza – a aranha. Falta-lhes o sentido da afirmação, o sentido da exterioridade, a inocência e o jogo. Não se deve procurar apoio na infelicidade; é na felicidade que é preciso começar. 02. A aposta de PASCAL não tem nada a ver com o lance de dados nietzschiano. Nela, não se afirma o acaso, mas, a o contrário, se o fragmenta em probabilidades; a existência ou não de Deus não é posta em jogo; é apenas dividida em dois modos de existência do homem (com e sem Deus), para daí decidir [ já já baseado em valores ascéticos ascéticos]. ]. A Hybris, o espírito de vingança, o ressentimento, a má-consciência, o ideal ascético, o niilismo, são a pedra-de-toque de qualquer nietzschiano. É aí que ele pode mostrar se compreendeu ou se desconhece o verdadeiro sentido do trágico. CAPÍTULO II
ATIVO E REATIVO (61) 01. O CORPO
01. ESPINOSA abriu nova via às ciências e à filosofia, ao dizer que não sabemos “o que pode um corpo”. Ainda confundimos o corpo com o espírito. NIETZSCHE sabe que é chegada a hora da modéstia [a [ a hora de avançar nesse conhecimento-criação da TERRA]. TERRA]. Para ele, a consciência é um sintoma de uma transformação mais profunda e da atividade de forças de uma ordem completamente diferente da espiritual. Como FREUD, NIETZSCHE pensa que a consciência é a região do “eu” afetada pelo mundo exterior. Todavia, a consciência é defin definid idaa me meno noss em rela relaçã çãoo à exte exteri rior orid idad ade, e, em te term rmos os de re real al,, do qu quee em re rela laçã çãoo à SUPERIORIDADE, em termos de valor. Essa diferença é essencial numa concepção geral do consciente e do inconsciente. Em NIETZSCHE, consciência é sempre consciência de um inferior em relação ao superior ao qual se subordina ou “se incorpora”. A consciência nunca é consciência de si, mas consciência de um “eu” em relação ao “eu” que não é consciente. Não é um senhor, mas um escravo. É consciência do escravo em relação a um senhor que não tem de ser consciente. “A consciência habitualmente só aparece quando um todo quer subordinar-se a um todo superior... A consciência nasce em relação a um ser de que nós poderíamos ser função4”. É assim o servilismo da consciência: testemunha apenas “a formação de um corpo superior”. 02. Não definimos um corpo ao dizer que é um campo de forças, um meio nutritivo que se disputa uma pluralidade de forças. De fato, não existe “meio”, campo de forças, quantidade de realidade. Só há quantidades de força em relação de tensão umas com as outras. Qualquer força está em relação com outras, mandando ou obedecendo. O que define um corpo é essa relação entre forças dominantes e forças dominadas. Duas forças desiguais constituem um corpo a partir do momento em que entrem em relação: é por isso que o corpo é sempre fruto do acaso (em sentido nietzschiano). O acaso, relação de força com força, é além do mais a essência da força; não nos interroguemos, portanto, como nasce um corpo vivo, já que qualquer corpo vive como produto “arbitrário” das forças que o compõe 5. O corpo é fenômeno múltiplo, sendo composto por uma pluralidade de forças irredutíveis. A sua unidade é a de um fenômeno múltiplo, “unidade de dominação”. Num corpo, as forças superiores ou dominantes são ditas ATIVAS, as inferiores ou dominadas são dotas REATIVAS. Essas são as qualidades originais, que exprimem a relação da força com a força. Porque, ao haver diferença de quantidade entre as forças em relação, há também, ao mesmo tempo, diferença de qualidade, que corresponde à sua diferença de quantidade como tal. Chamar-se-á HIERARQUIA a esta diferença das forças qualificadas consoante a sua quantidade: forças ativas e reativas.
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VP, II, 227 Sobre o falso problema de um começo da vida: VP, II, 66 e 68; sobre o papel do acaso: VP, II, 25 e 334
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02. A DESTINAÇÃO DAS FORÇAS 01. Ao obedecer, as forças inferiores não deixam de ser forças. Obedecer é uma qualidade da força, tal como ordenar. Obedecer e ordenar constituem as duas formas de um torneio. As forças inferiores (reativas) exercem sua quantidade de força assegurando os mecanismos e as finalidades, as funções, as tarefas de conservação, adaptação, utilidade. O pensamento moderno detém-se apenas apenas neste aspecto reativo da força, crê ter feito o suficiente quando as compreende. Mas só podemos alcançar as forças reativas como forças (e não mecanism meca nismos os ou finalidade finalidades, s, duas macro-interpr macro-interpretaç etações ões que valem valem apenas apenas para as forças forças reativas) se as referirmos às forças que as dominam, e que não são reativas. As forças de ordem espo espontâne ntânea, a, agre agressiva ssiva,, conq conquista uistadora, dora, trans transforma formadora dora,, criadora, criadora, têm proem proeminên inência cia fundamental sobre as forças reativas6. 02. 02. É difí difíci cill ca cara ract cter eriz izar ar es essa sass forç forças as at ativ ivas as.. Por Por su suaa na natu ture reza za,, el elas as es esca capa pam m à consciência (“a grande atividade principal é inconsciente” 7). A consciência exprime apenas a relação de certas forças reativas com as forças ativas que as dominam. A consciência é essen essencia cialme lmente nte reativ reativa, a, co como mo tam també bém m o hábit hábito, o, a memória memória,, a nutriç nutrição ão,, a adapta adaptação ção,, a reprodução, todas funções reativas, especializações, expressões de tal ou tal força reativa. É inevitável que a consciência veja o organismo de seu ponto de vista reativo. O problema do corpo não se dá entre mecanicismo e vitalismo (ambos apoiados apenas nas forças reativas), mas na descoberta das forças ativas, sem as quais as próprias reações não seriam forças. A atividade necessariamente inconsciente das forças é o que faz do corpo algo superior à toda reação. As forças ativas são o que faz do corpo um “eu”. A verdadeira ciência é a da atividade, mas a ciência da atividade é também a do inconsciente necessário. É absurdo a ciência seguir os caminhos da consciência; tal idéia nos remete antes de mais nada à moral. 03. “O que é ativo? Tender para o poder 8”. Apropriar-se, dominar, isto é, impor formas, criar cri ar for formas mas exp explor lorand andoo as cir circun cunstâ stânci ncias. as. NIE NIETZS TZSCHE CHE critic criticaa DARWIN DARWIN porque porque este este interpreta a evolução, e mesmo o acaso na evolução, de maneira reativa. LAMARCK, ao considera cons iderarr a exis existênc tência ia de uma uma força força plástica plástica ativa, ativa, primeira em relação à adaptação, estava mais próximo de NIETZSCHE. O poder dionisíaco de transformação é a primeira definição de atividade. Não esqueçamos, porém, que a reação também designa um tipo de forças; elas, entretanto, não podem ser concebidas como forças se não às referirmos às forças ativas, superiores, que são precisamente de um outro modo.
03.QUANTIDADE E QUALIDADE 6
GM, I, §12 VP, II, 227 8 VP, II, 43 7
01. NIETZSCHE sempre acreditou que as forças deviam definir-se quantitativamente. Entret Ent retant anto, o, acr acredi editav tavaa tam també bém m que uma def defini inição ção pu puram rament entee quanti quantitat tativa iva perman permaneci eciaa incomp inc omplet leta, a, abs abstra trata, ta, amb ambígu ígua. a. Ao mes mesmo mo tem tempo po que insist insistee na defini definição ção quanti quantitat tativa iva,, NIETZSCHE apresenta apresenta outras definiçõe definições, s, como “A força reside reside na qualidade”. qualidade”. 02. Não há contradição entre estes dois posicionamentos: se uma força não é separável de sua quantidade, também não é separável das outras forças com as quais está em relação. A PRÓPRI PRÓ PRIA A QUANTI QUANTIDAD DADE E NÃO É POR PORTAN TANTO TO SEP SEPARÁ ARÁVEL VEL DA DIFERE DIFERENÇA NÇA DE qualidade]. A diferença de quantidade é a essência da força. QUANTIDADE [isto [isto é, d a qualidade]. Quando NIETZSCHE critica o conceito de quantidade, é a anulação das diferenças de quantidade que ele critica aí [quando [ quando o conceito refere à uma quantificação abstrata e genérica, por exemplo, a uma diferença puramente quantitativa9] . O que interessa à NIETZSCHE, do ponto de vista da própria qualidade, é a irredutibilidade da diferença de quantidade à igualdade. A QUALIDADE distingue-se da QUANTIDADE como aquilo que, na quantidade, na quantidade, não não pode pode ser igualizado, igualizado, isto é, é a diferen diferença ça de quantidad quantidadee que é impossível impossível de anular . 03. Com o acaso, afirmamos a relação de todas todas as as forças; afirmarmos todo o acaso de uma vez no pensamento do eterno retorno. Mas o acaso é o contrário de um continuum; o poder das forças é preenchido na relação com um pequeno número número de forças. Os encontros de forças de tal e tal quantidade são portanto partes concretas do acaso, as partes afirmativas do acaso, como tal estranhas a qualquer lei. Nesse encontro, cada força recebe a qualidade correspondente à sua quantidade, isto é, a afecção que preenche efetivamente seu poder. Não se pode, portanto, calcular abstratamente as forças. Deve-se avaliar concretamente, em cada caso, a sua quantidade respectiva e o matizado desta qualidade.
04. NIETZSCHE E A CIÊNCIA (69) 01. Entendeu-se a relação e o interesse de NIETZSCHE pela ciência apenas a partir da confirmação que esta traria (ou não) da teoria do eterno retorno, o que é errado. A relação dáse mais em torno da afirmação da diferença, e esta, por sua vez, nos esclarecerá acerca do eterno retorno. NIETZSCHE critica a ciência em seu manejo da quantidade, seu utilitarismo e igualitarismo próprios; para ele, a ciência tende a igualizar as quantidades, a compensar as desigualdades. É por isso que toda a sua crítica se joga em três planos: contra a identidade lógica, contra a igualdade matemática, contra o equilíbrio físico – CONTRA AS TRÊS FORMAS DO INDIFERENCIADO. INDIFERENCIADO.
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Comparar com o “Bergsonismo” de Deleuze.
02. Essa tendência a reduzir as diferenças de quantidade exprime a maneira pela qual a ciência ciênc ia participa do niilismo niilismo do do pensamento moderno, o qual, em ciência apresenta-se como depreciação da existência, promessa de morte indiferenciada (calorífica ou outra) – como “adiaforia”. A ciência, por vocação, compreende os fenômenos a partir das forças reativas; o triunfo das forças reativas é o instrumento do pensamento niilista. 03. Tanto a afirmação mecanicista do eterno retorno quanto sua negação termodinâmica [as duas apreensões “científicas” do eterno retorno] retorno ] tratam da conservação da energia, interpretada de tal maneira que se anulam as diferenças de quantidade de energia [ o que é fundamental para a hipótese nietzschiana do eterno retorno]. retorno]. Ambas as hipóteses culminam num estado final ou terminal terminal,, indif indiferenc erenciado iado,, idênt idêntico ico a si mesmo – o que é completam completamente ente diferente do eterno retorno. 04. O eterno retorno não é um pensamento do idêntico, mas um pensamento do absolutamente diverso, que reclama para si, fora da ciência, um princípio novo, que explique a repetição da diferença enquanto tal. No eterno retorno não é o mesmo ou o uno que regressam, mas o eterno retorno é ele próprio o uno que se diz apenas do diverso e do que difere.
05. PRIMEIRO ASPECTO DO ETERNO RETORNO: COMO DOUTRINA COSMOLÓGICA E FÍSICA 01. O enunciado do eterno retorno supõe a crítica do estado final ou de equilíbrio. Afinal, se o devir fosse um processo para chegar a algo, tal objetivo já teria sido alcançado, uma vez que o passado não deve ter um começo, isto é, deve ser infinito, pois não poderia ter começado a devir se antes disso houvesse um ser ou estado inicial. [o [ o devir não poder ser o devir DE algo - um ser ou princípio- , ou um devir PARA algo – um ser ou fim -, porque: 1) se houvesse um estado inicial (um ser ou equilíbrio anterior ao devir ou passagem), ficar-seia nesse estado; porque esse ser (equilíbrio) começaria a devir? Não havendo estado inicial, o tempo daqui para traz deve ser infinito (sem começo); como o devir ainda não alcançou nenh nenhum um eq equi uilí líbr brio io ou ser (pro (prova va-o -o o inst instan ante te que que passa passa agor agora) a) ch cheg egaa-se se a segun segunda da conseqüência: 2) o devir não tem um objetivo, não tende a um final, não é um processo para um ser, pois se fosse já teria alcançado seu objetivo, uma vez que o tempo passado é infinito]. infinito] . Se o universo fosse capaz de permanência, se tivesse em todo seu curso um só instante de ser no sentido estrito, não poderia haver devir [o [ o universo permaneceria para sempre no estado de ser ou equilíbrio total; o ser, como tal, exclui a possibilidade da passagem]. passagem ]. 02. O pensamento do puro devir funda o eterno retorno, ao fazer cessar o pensamento do ser como diverso do devir e fazendo pensar no ser do próprio devir. Qual é o ser do devir, isto é, o que permanece naquilo que passa e não para de passar, qual é o ser do devir incessante?
RETORNAR É O SER DO DEVIR. Dizer que tudo retorna r etorna é estender ao máximo o mundo do devir e do ser. E mais: para que o instante passe, em proveito de outros instantes, é necessário que ele seja ao mesmo tempo presente e passado, presente e futuro, é necessário que ele coexista consigo mesmo como passado e futuro 10 [ senão senão o presente seria como o ser absoluto, e deixaria de devir]. devir]. O eterno retorno responde portanto ao problema da passagem da passagem.. Nesse sentido, não deve ser interpretado como o retorno do mesmo, do ser, do uno. Não é o ser que retorna, mas o próprio retornar constitui o ser enquanto se afirma do devir. Não é o uno que retorna, mas retornar e o uno que se afirma do múltiplo. A identidade do eterno retorno não designa a natureza daquilo que retorna, mas, pelo contrário, o fato de retornar para o que difere [o [o “mesmo” a que se retorna é o puro devir ou a pura diferença]. diferença] . O eterno retorno deve ser pensado como síntese do tempo e suas dimensões, da diferença e sua repetição, do devir e do ser que se afirma do devir, síntese da dupla afirmação [ do ser e do devir]. devir] . O eterno retorno depende de um outro principio que não o da identidade. 03. O mecanicismo é uma á interpretação do eterno retorno porque implica a falsa conseqüência de um estado final, idêntico ao inicial, no entremeio dos quais passa-se pelas mesmas diferenças. Eis a hipótese cíclica, tão criticada por NIETZSCHE. Mas essa hipótese não dá conta 1) da diversidade dos ciclos coexistentes e, sobretudo 2) da existência do diverso retorno ]. É por isso no ciclo [o [o que é o próprio cerne da concepção nietzschiana de eterno retorno]. que só podemos compreender o eterno retorno como expressão de um princípio que constitui a razão da diferença e de sua repetição; tal princípio, NIETZSCHE chama de VONTADE DE PODER, entendendo-a como o “caráter que não se pode eliminar da ordem mecânica sem eliminar essa própria ordem”11.
6. O QUE É A VONTADE DE PODER? 01. NIETZSCHE acredita que era necessário complementar o conceito d força com um querer interno, que ele chamou de VP. A VP, assim, é atribuída a força ao mesmo tempo como complemento e como algo de interno. Entretanto, não é um predicado: não é a força que é sujeito, não é a força “quem quer”, mas a VP. Ela é ao mesmo tempo genética com relação à força – por ela brotam as diferenças de quantidade das forças em relação – e diferencial, ainda com rel relaç ação ão à força força – es essa sass dif difere erença nçass de qu quant antida idade de ex expre pressa ssam-s m-se, e, na relaçã relação, o, como como qualidades. A VP é o princípio para a síntese das forças; nessa síntese as forças tornam a passar pelas mesmas mesmas diferenças, e o diverso se reproduz. reproduz. A síntese é, portanto, a das forças, da sua diferença e da sua reprodução – isto é, o eterno retorno; o eterno retorno é a síntese de que 10
Comparar com “Bergsonismo” VP, II, 374
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a VP é o princípio. Note-se que a VP é um princípio essencialmente plástico essencialmente plástico,, que não é maior do que aquilo que condiciona; ele se metamorfoseia com o condicionado, ele se determina em cada caso com o condicionado; a VP não é separável de tais e tais forças. 02. Inseparável, entretanto, não quer dizer idêntico. Separar a VP da força é cair na abstração metafísica; confundi-las é recair no mecanicismo [esquecer [esquecer que a diferença e a relação é que são essenciais na força]. força ]. As relações da força com a força são relações de dominação; mas essas relações permanecem indeterminadas enquanto não se acrescenta à força um elemento que as determine sob o duplo aspecto da gênese recíproca das diferenças de qu quan anti tida dade de e da gêne gênese se abso absolu luta ta de su suaa qu qual alid idad adee re resp spec ectiv tiva. a. A VP é o el elem emen ento to genealógico da força da força e das das forças. forças. É pela VP que uma força se abate sobre outra, que uma força comanda outra, e é ainda por ela que uma força obedece outra. 03. O conceito de síntese está no centro do kantismo. Os pós-kantianos censuravam a KANT por 1) não ter apresentado um princípio que regesse a síntese sem ser apenas condicionante em relação aos objetos, mas verdadeiramente genético e produtor (princípio de diferença ou determinação interna), e 2) do ponto de vista da reprodução dos objetos na própria síntese, pedia-se ao princípio uma razão não só para a síntese, mas para a reprodução do diverso na síntese enquanto tal. NIETZSCHE parece ter levado a crítica kantiana adiante, em novas base e direção, com os conceitos de eterno retorno e VP.
7. A TERMINOLOGIA DE NIETZSCHE (81) 01. NIETZSCHE emprega novos termos muito precisos para novos conceitos muito precisos: 1) NIETZSCHE chama VP ao elemento genealógico, isto é, diferencial e genético, da força, a VP é o elemento de produção das diferenças de quantidade (el. diferencial) e da produção da qualidade que conduz cada força (el. genético). A VP não suprime o acaso; ela apenas reúne forças postas em relação pelo acaso; somente a VP afirma integralmente o acaso. 2) Co Cons nsoa oant ntee su suaa dife difere renç nçaa de qu quan anti tida dade de,, as fo forç rças as sã sãoo di dita tass dominantes ou dominadas; conforma sua qualidade, as forças são ditas ativas ou reativas. Há VP em todas. 3) As qualidades (como as quantidades) têm seus princípios na VP. Mas esta também também têm quali qualidade dades: s: ativo ativo e rea reativo tivo designam as qualidades originais da força, e afirmativo e negativo afirmativo negativo as as qualidades primordiais da VP. Assim como a reação é também uma qualidade da força, a negação é uma qualidade da VP. Há relações complexas entre estas qualidades. As qualidades da força podem ser instrumentos ou meios da VP que afirma ou
nega; por outro lado, a ação e a reação necessitam das qualidades da VP para alcançar seus objetivos. Por fim, afirmação e negação são as QUALIDADES IMEDIATAS DO DEVIR: a afirmação não é ação, mas o poder de se tornar ativo, o DEVIR ATIVO, assim como a negação, não sendo simplesmente reação, constitui um DEVIR REATIVO. Tudo se passa como se afirmação e negação fossem simultaneamente simultaneamente imanentes e transcendentes transcendentes em relação à ação e à reação. 4) Por tudo isso NIETZSCHE pode dizer: a VP não é apenas o que interpreta, mas também o que avalia. Interpretar é determinar a força que dá um sentido à coisa. Avaliar é determinar a VP que dá à coisa um valor. Nem os valores nem os sentidos se deixam abstrair, portanto, absolutamente. A arte da filosofia, como interpretação e avaliação, é tanto mais complicada quanto ambos se remetem e se prolongam, mutuamente. Falar da nobreza dos valores em geral testemunha um pensamento interessado em esconder sua própria baixeza. Não se deve esq esquecer uecer nunca qu quee avaliar = criar.
8. ORIGEM E IMAGEM INVERTIDA 01. Na origem existe a diferença das forças ativas e reativas, que não se sucedem, mas coexistem; da mesma forma, a cumplicidade entre as forças ativas e a afirmação, das forças reativas e a negação, se revela já no princípio. O negativo, de saída, já está do lado da reação, assim como apenas a força ativa se afirma, afirma a sua diferença, faz da diferença um objeto de alegria e afirmação. A força reativa, mesmo quando obedece, limita a força ativa, lhe impõ im põee re rest striç riçõe ões. s. Po Porr is isso so a próp própria ria orig origem em co comp mpor orta ta uma uma imag imagem em in inve verti rtida da de si si,, acompanhando-a; acompanhan do-a; o que é “sim” do ponto de vista das forças ativas torna-se “não” do ponto de vista das reativas. Assim, a genealogia encontra sua caricatura na imagem que dela dá o “evolu “ev olucio cionis nismo” mo”,, es esse senci ncialm almen ente te rea reativ tivo. o. O ca carac racter teríst ístico ico da dass forças forças reativ reativas as é negar negar a diferença que as constitui na origem, dando dela uma imagem deformada. Por isso não se comp compre reen ende dem m a si mesm mesmas as como como forç forças as,, pr pref efer erin indo do vo volt ltar ar-s -see co cont ntra ra si mesm mesmas as à compreender-se como tal. A mania de interpretar ou avaliar os fenômenos a partir de forças reativas têm sua origem nessa imagem invertida. 02. No caso de as forças reativas apoderarem-se e neutralizarem as forças ativas, invertendo os valores de fato, não mais apenas na origem, elas tornam-se, por isso, ativas e dominadoras? Não. Elas não formam no seu todo uma força maior e ativa, pois triunfam pela vontade negativa, vontade de nada. Sua dominância sobre as forças ativas não é ela mesma ativa; o que acontece é que as forças reativas dominam transformando as forças ativas em reativas, e não tornando-se elas mesmas ativas. A transformação das forças ativas em um tipo de forças reativas dá-se SEPARANDO AS FORÇAS ATIVAS DAQUILO QUE ELAS
PODE PO DEM. M. As figu figura rass do triun triunfo fo reat reativ ivoo no mu mund ndoo hu huma mano no – o re ress ssen entim timen ento to,, a mámáconsciência, o ideal ascético – mostram-no: as forças reativas não triunfam pela composição de uma força superior às forças ativas, mas pela subtração/separação/despotencialização das forças ativas. Em cada caso, essa separação repousa sobre uma ficção ou falsificação, através da qual a força ativa é separada daquilo que ela pode.
9. O PROBLEMA DA MEDIDA DAS FORÇAS 01. É por isso que não se pode medir as forças com uma unidade abstrata, nem determina-las tomando por critério apenas o estado real, factual [atual? [atual?], ], de um sistema. As forças inferiores podem apoderar-se das forças fortes sem deixar de ser reativas, escravas. Contra DARWIN e o evolucionismo, NIETZSCHE nota que a efetividade favorece os fracos. No domínio da interpretação interpretação não há fa fatos, tos, somente interpreta interpretações. ções. 02. É reativo tudo o que separa uma força; é reativo o estado de uma força separada daquilo que pode. É ativa qualquer força que vá até o limite de seu poder. [ Por [ Por isso, mesmo quando quan do dominam dominam,, as forças reativas reativas não deixar de ser reativ reativas, as, pois “se comportam” comportam” como reativas, a saber, não indo até o limite de sua potência, separando as forças ativas de sua potência]. potência ].
10. A HIERARQUIA (91) 01. Os livre-pensadores, o positivismo moderno, continuam a posição socrática segundo a qual, se as forças reativas triunfam, é porque são mais fortes que as forças ativas; assim é que o moderno se inclina perante o “fato consumado” [abdicando [abdicando de uma crença absoluta e transcendente para cair num absolutismo do “efetivo”]. “efetivo”]. O positivismo pretende abdicar dos valores transcendentais apenas para reencontra-los como os “fatos mais fortes” que conduzem o mundo atual. O livre-pensador faz a crítica dos valores sem criticar sua qualidade. Mas o fato é sempre o dos fracos contra os fortes; o fato é sempre estúpido. Ao livre-pensador NIETZSCHE opõe o espírito-livre espírito-livre,, o próprio espírito da interpretação. 02. A palavra hierarquia hierarquia vincula-se, vincula-se, em NIETZSCHE, à duas idéias: em primeiro lugar à diferença entre as forças ativas (superiores) e as forças reativas (inferiores), e em segundo lugar ao triunfo das forças reativas sobre as ativas e a organização complexa que daí resulta. 03. FRACO NÃO É O MENOS FORTE, mas o que está separado daquilo que pode; o menos forte é tão forte quanto o forte se for até o limite do que pode. A medida das forças e sua qualificação NÃO dependem da quantidade absoluta, mas da EFETUAÇÃO RELATIVA das forças. Não se mede a partir do sucesso ou fracasso. Apenas se julga acerca das forças levando em conta em primeiro lugar sua qualidade (ativa ou reativa), em segundo lugar a
afinidade desta qualidade com o pólo correspondente da VP (afirmativo/negativo), e em terceiro lugar a diferença de qualidade que a força apresenta em seu desenvolvimento, em relação à sua afinidade com a VP.
11. VONTADE DE PODER E SENTIMENTO DE PODER 01. A VP se manifesta na força como um poder de ser afetado, poder não abstrato, mas efetuado a cada instante pelas forças com as quais se relaciona. Assim é que a VP determina a relação das forças entre elas, do ponto de vista de sua gênese, mas é determinada por elas do ponto de vista da sua manifestação (isto é, da manifestação da VP). Por isso o determinante não é maior ou absoluto ou indiferenciado frente aos determinados. 02. O poder de ser afetado não significa necessariamente passividade, mas afetividade, sensibilidade, sensação. Um corpo tem tanto mais força quanto mais pode ser afetado [ entrar em relação de diversas maneiras]. maneiras ]. O elemento diferencial da força manifesta-se como sua sensibilidade diferencial. Agregar, desagregar, dominar ou obedecer exprimem sempre a VP. Esse poder de ser afetado não é comprido sem que a força correspondente entre num devir sensível. 03. Toda a sensibilidade é apenas um devir das forças. Existem vários devires da força, A VP manifesta-se, em primeiro lugar, como sensibilidade das forças; em segundo lugar, como devir sensível das forças. Um estudo concreto das forças implica necessariamente uma dinâmica.
12. O DEVIR-REATIVO DAS FORÇAS 01. A dinâmica das forças conduz a uma conclusão desoladora: as forças ativas devêm reativas [devieram [devieram até agora?]. agora?]. De fato, não conhecemos outros devires. Podemos mesmo perguntar se existirão outros devires. Seria, talvez, necessária uma outra sensibilidade para poder sentir estes outros devires. O devir reativo, o niilismo, niili smo, é constitutivo da humanidade no homem. 02. Essa condição do homem é da maior importância para o eterno retorno; parece contamina-lo tão gravemente que o eterno retorno se torna objeto de angústia, repulsão e mágoa. Mesmo que as forças ativas retornem, retornarão reativas, eternamente. “O eterno retorno do homem pequeno” – eis o que angustiava ZARATUSTRA, [o [ o que fazia o próprio retorno das forças ativas tornar-se algo como um “em vão”, e com isso, tenderem à reatividade, tender a querer o fim]. fim] . Mas existe um outro devir, existe uma outra sensibilidade, que NIETZSCHE nomeia como super-homem.
13. A AMBIVALÊNCIA DO SENTIDO E DOS VALORES (100) 01. As forças ativas tornam-se reativas ao serem separadas daquilo que podem pelas forças reativas. Inversamente, as forças reativas, sendo reativas até o limite de sua reação, não se tornarão ativas, dado que ir ao limite do que pode é o que define a força ativa? As forças reativas apenas triunfam indo até o limite das suas conseqüências, e portanto formando uma força ativa. 02. Esta é uma ambivalência cara à NIETZSCHE A doença, por exemplo, se por um lado separa-me daquilo que posso, por outro lado empresta-me perspectivas inusitadas e interessantes (sobre a saúde, sobre a relação do pensamento com o corpo, da mais frieza e crueldade ao pensamento, etc). Há qualquer coisa de admirável no devir-reativo das forças. 03. Há, cer certam tament ente, e, dif difere erente ntess formas formas de reativ reativida idade, de, co confo nforme rme se des desenv envolv olvaa a afinidade com a vontade de nada; a doença pode servir à saúde, mas pode também ser um instrumento de escravidão. Do mesmo modo, o genealogista deve saber interpretar o grau de desenvolvimento da relação entre ação e afirmação. Há forças reativas que se tornam grandes e fascinantes à força de seguir a vontade de nada, assim como há forças ativas que caem, por não saber seguir os poderes da afirmação. 04. Não basta, assim, ir até o limite do que pode para tornar-se ativo; é preciso ver se há afirmação da própria diferença, ou se há negação do que difere. Além de ir até o limite do que pode, uma força deve fazer daquilo daquilo que pode ob objeto jeto de afirmação, pa para ra então tornar-se aativa. tiva.
14. O SEGUNDO ASPECTO DO ETERNO RETORNO: COMO PENSAMENTO ÉTICO E SELETIVO 01. Nem sentido nem conhecido, um devir-ativo só pode ser pensado como o produto de uma seleção dupla e simultânea – da atividade da força e da afirmação na vontade – seleção cujo cujo pr prin incí cípi pioo é o eter eterno no reto retorn rno. o. O eter eterno no re reto torn rno, o, co como mo do dout utri rina na fí físi sica ca,, er eraa a no nova va formulação da síntese especulativa kantiana. Como pensamento ético, o eterno retorno é a nova formulação da síntese prática, e eis aí a sua primeira seleção: “seja lá o que quiseres, queira que ira-o -o de tal man maneir eiraa a tam també bém m qu quere ererr o seu eter eterno no retorno” retorno”.. O pensamento do eterno retorno seleciona, fazendo do querer qualquer coisa de inteiro, fazendo do querer uma criação, e eliminando do querer o que não pode ser querido eternamente, isto é, o que não entra no eterno retorno. Com isso afasta-se o pensamento mesquinho e as pequenas compensações, que permitem um ato apenas apenas porque ele é feito “somente uuma ma vez”. 02. Essa primeira seleção vale para as forças reativas menores. As maiores, que não se deixam abdicar e entram no eterno retorno, precisam de uma segunda seleção, na qual, no e pelo eterno retorno, as forças reativas serão separadas da vontade de negação, fazendo a
negaç neg ação ão negar as próprias forças reativas. É o eterno retorno que torna esse niilismo das forças completo, ao operar essa auto-destruição auto-destruição.. Essa auto-destruição é uma destruição ativa de si; é ela que exprime o devir-ativo das forças: as forças tornam-se ativas na medida em que as forças reativas se negam, perecendo pelo mesmo princípio que antes assegurava sua conservação (a negação). A negação torna-se devir-ativo, afirmação afir mação [ao [ao ir até o limite do que que pode, afirmando-se como negação, mas NESSA afirmação destruindo-se destruindo-se]] A segunda seleção do eterno retorno produz o devir-ativo. As forças reativas não retornam. No eterno retorno, a negação torna-se afirmação, ao tornar-se afirmação da própria negação. A segunda seleção faz entrar no ser aquilo que aí não pode entrar sem mudar de natureza12.
15. O PROBLEMA DO ETERNO RETORNO 01. Tudo isso deve ser clarificado mais adiante. Por hora retenhamos que o eterno retorno transforma a negação em poder supremo da afirmação. 02. O eterno retorno é o ser do devir, na visão cosmológica, mas afirma somente o devirativo desse ser, na visão da ontologia seletiva. Afinal, seria contraditório que a vontade de negação e de nada quisesse seu eterno retorno; como o eterno retorno é o ser do devir, a vontade de negação não tem ser, e não retorna.
CAPÍTULO III
A CRÍTICA 01. TRANSFORMAÇÃO DAS CIÊNCIAS DO HOMEM (111) 01. Nas ciências predominam os conceitos passivos, reativos, negativos. Nas ciências do homem não é diferente: a “utilidade”, a “adaptação”, a “regulação”, o “esquecimento”, são outros tantos ‘conceitos’ que servem de explicação, mas que tomam as coisas somente pelo lado reativo. Ama-se o “verdadeiro” e o “fato”. Nunca a ciência foi tão longe numa direção, mas também nunca o homem se submeteu tanto ao ideal e à ordem estabelecida. 02. O utilitarismo não é uma doutrina ultrapassada, ou só o é com a condição de ter inseri ins erido do seus seus po postu stulad lados os nas dou doutrin trinas as que a ult ultrap rapass assam. am. NIETZS NIETZSCHE CHE pergun pergunta: ta: quem considera uma ação do ponto de vista de sua utilidade? Não aquele que age; este não 12
Comparar, mais uma vez, com Bergson, no Bergsonismo, de Deleuze, quanto à definição de duração.
“considera” a ação, mas age. É um terceiro, que não age, quem “considera” a ação, e considera exatamente porque não age. O utilitarismo, como todos os conceitos passivos, brota do ressentimento. Essa abstração, que substitui as relações reais, as atividades concretas, por abstrações tomadas do ponto de vista de um terceiro que não age, pertence ao gosto da ciência e da filosofia. Confunde-se a essência da atividade com o benefício de um terceiro (Deus, o espírito objetivo, a humanidade, a cultura, o proletariado, etc). 03. Mas o segredo da palavra não está do lado de quem escuta, nem o segredo da vontade do lado de quem obedece, nem o segredo da força do lado de quem reage. A lingüística ativa, por exemplo, deve procurar descobrir aquele que fala e aquele que nomeia. Quem é que se serve de tal palavra, a que é que a a aplica, com que intenção, o que quer dizer ao dizer. A transformação do sentido de uma palavra significa que outra força e vontade dela se apoderaram. 04. Uma ciência verdadeiramente ativa, à exemplo dessa lingüística, uma ciência das forças, seria uma sintomatologia uma sintomatologia (porque interpreta os fenômenos tratando-os como sintomas, cujo sentido é dado pelas forças que o produzem), uma tipologia tipologia (porque (porque interpreta as próprias forças em sua qualidade) e uma genealogia uma genealogia (porque (porque avalia a origem das forças em sua nobreza ou baixeza). Tal concepção dá unidade às ciências e mesmo à relação desta com a filosofia. O filósofo é tal sintomatogista – tipologista – genealogista; filósofo médico, artista e legislador.
02. A FÓRMULA DA QUESTÃO EM NIETZSCHE 01. A metafísica formula a questão da essência sob a forma: “o que é...?”, forma intimamente vinculada à oposição entre essência e aparência, ser e devir, que tem seus começos em SÓCRATES e PLATÃO. 02. Não “o que é”, mas “quem”, dever-se-ia perguntar. Essa questão significa: dado algo, quais são as forças que dele se apoderam, qual a vontade que a possui? Quem se exprime, se manifesta, se esconde nele? Somos conduzidos à essência pela questão “quem”, pois A ESSÊNCIA É APENAS O SENTIDO E O VALOR DAS COISAS. A essência, o ser, é uma realidade perspectivada e supõe uma pluralidade. No fundo, a questão “o que é” também significa “quem?”, pois quer dizer sempre “o que é para mim?”; é a mesma questão, mas mal-formulada. A arte pluralista não nega a essência, apenas a faz depender em cada caso de uma afinidade de fenômenos e de forças. Em última instância é sempre a VP quem quer.
03. O MÉTODO DE NIETZSCHE 01. Dessa forma de questão deriva um método: dado um conceito, sentimento ou crença, deve-se trata-los como sintomas de uma vontade que quer alguma coisa; trata-se de mostrar
que não se poderia dizê-lo, senti-lo ou pensá-lo se não tivesse tal vontade, tais forças. – Querer não é um ato como qualquer outro: ele é a instância simultaneamente genética e crítica de todas as nossas ações, sentimentos e pensamentos. pensamentos. 02. Não nos iludamos: o que a que a vontade quer não é um objeto, um fim ou um motivo; tudo isso são ainda sintomas. O que uma vontade quer, conforme a sua qualidade, é afirmar a sua diferença ou negar aquilo que difere; o que uma vontade quer é sempre a sua própria qualidade, e a qualidade das forças correspondentes. correspondentes. Assim, perguntar “o que quer aquele que pensa isso?” é apenas apenas o desenvolvimen desenvolvimento to metódico da questão “que “quem?”, m?”, pois sua resposta não é tanto uma COISA quanto a constituição de um TIPO. E um tipo se constitui pela qualidade da vontade de poder. Só se define um tipo ao determinar o que quer a vontade nos exemplares desse tipo. Eis, assim constituído, o método de dramatização, o método trágico nietzschiano. 03. Esse método ultrapassa seu caráter antropológico apontando para outros tipos e outras relações de força que não a do homem e suas forças reativos [isto [ isto é, o homem atéagora]. agora ]. O inumano e o sobre-humano também são dramatizáveis, também expressam um tipo; por isso o método método ultrapassa o hom homem, em, encontrando nele coisas qu quee vão além dele.
04. CONTRA SEUS PREDECESSORES (120) 01. O conceito de VP existia e existiu antes e depois de NIETZSCHE, mas sempre querendo dizer que a vontade quer o poder, como um fim, ou que o poder é seu móbil. Se NIETZSCHE pôde entender que a VP é, em sua teoria, um conceito original, é justamente porque ela NÃO é algo que quer o poder. Tal concepção implica pelo menos três contrasensos: 02. 1º: interpreta-se o poder como objeto de uma representação representação;; qualquer poder é tido como representado, e qualquer representação representação é a rrepresentaçã epresentaçãoo do poder; o fim da vontade é o objeto da representação, e vice-versa. Em HOBBES o homem quer ver sua superioridade representada, e HEGEL a consciência quer ser reconhecida por outrem, etc; o poder é sempre objeto de uma representação e uma recognição (comparação). Mas nos adverte NIETZSCHE: é o escravo quem quer aparecer sempre como superior. O que nos é apresentado como o poder ou o senhor é apenas a representação que o escravo se faz do poder e do senhor. Essa necessidade de atingir a aristocracia é o sintoma mais eloqüente justamente de sua ausência. A noção de representação envenena envenena a filosofia; ela é produto direto do escravo e da relação entre os escravos; 03.
2º: A noção do poder como re reppre ressentação depende
fundamentalmente do reconhecimento ou não dessa representação, e assim submete-se a VP, como vontade de se fazer reconhecer, aos valores em curso numa dada sociedade. Toda a
concepção de VP, de HOBBES a HEGEL, pressupõe a existência de valores estabelecidos que as vontades apenas procuram atribuir-se. Mas essa filosofia desconhece absolutamente a VP como CRIAÇÃO de novos valores. 04.
3º. De HO HOBBE BBES S a HEGEL HEGEL,, os val valore oress estabe estabelec lecido idoss o são
apenas ao final de uma luta, assim como toda luta trava-se em torno de valores estabelecidos: luta pelo poder, pelo reconhecimento ou pela vida, o esquema é sempre o mesmo. Mas as noções de luta, guerra, rivalidade e mesmo comparação são estranhas à NIETZSCHE e à sua conc co ncep epçã çãoo de vo vont ntad adee de pode poder. r. Ele não nega a existência da luta, mas ela parece-lhe destituída de criação de valores, ou cria apenas valores do escravo que triunfa. A luta não é o princípio ou o motor da hierarquia, mas o meio através do qual o escravo inverte a hierarquia; não é a expressão ativa das forças, nem expressão da VP que afirma.
05. CONTRA O PESSIMISMO E CONTRA SCHOPENHAUER 01. Esses três contra-sensos davam à vontade um tom lamentável; todo aquele que dela se aproximava gemia. Ela parecia insustentável e enganadora, e isso se explica facilmente: ao fazer da VP um “desejo de dominar”, via-se o infinito e o sem fim nesse desejo; fazendo do poder o objeto de uma representação via-se o caráter irreal do poder; comprometendo a VP num com comba bate, te, via-se via-se a co contr ntradi adição ção na pró própri priaa vontad vontade. e. Para Para todos todos os pon pontos tos de vista vista anteriores, somente uma LIMITAÇÃO racional ou contratual da vontade poderia torná-la suportável e resolver suas contradições. 02. SCHOPENHAUER leva essa concepção de vontade às ultimas conseqüências. Não se contenta com uma essência da vontade, mas faz da vontade essência das coisas. Então sua objetivação, o que ela quer, é a representação, a aparência, e daí vêm a fórmula do quererviver: o mundo como vontade e representação, a contradição entre ambas sendo a contradição original13. Leva-se adiante a mistificação kantiana, que negou a distinção entre dois mundos (o sensível e o supra-sensível), ao fazer da vontade a essência das coisas, mas manteve a distin dis tinção ção en entre tre es essê sênci nciaa e apa aparên rência cia,, dis distin tinção ção essa essa que funcio funcionav navaa exatam exatament entee como como funcionava a anterior dualidade. Fazendo dessa vontade a essência do mundo, faz-se dele também pura ilusão. Por isso não basta a SCHOPENHAUER uma limitação da vontade: é preciso que ela se negue a ssii própria, integralmente.
06. PRINCÍPIOS PARA A FILOSOFIA DA VONTADE 01. A filosofia da vontade segundo NIETZSCHE deve substituir a antiga metafísica. Essa filosofia possui dois princípios, que constituem a “alegre mensagem”: QUERER = 13
Ver capítulo sobre o Nascimento da Tragédia, no início deste resumo
CRIA CR IAR, R, e VO VONT NTAD ADE E = ALEG ALEGRI RIA. A. Es Esse sess do dois is pr prin incí cípi pios os,, a pr prim imei eira ra vi vist staa va vago goss e indete ind etermi rmina nados dos,, tor tornam nam-se -se pre precis cisos os quand quandoo se co compr mpree eende nde se seuu caráte caráterr crític crítico, o, ist istoo é, a maneira como eles se relacionam com as anteriores concepções de vontade (como VP que quer a representação e a atribuição dos valores correntes através de uma disputa, o que resulta numaa noç num noção ão nec necess essari ariam ament entee ap apris rision ionant ante, e, ilu ilusór sória ia e so sofrid fridaa do que querer rer). ). Contra Contra es esse se aprisionamento da vontade, aprisionamento vontade, NIET NIETZSC ZSCHE HE anu anunci nciaa que o querer querer libe liberta rta;; contra a dor da contradição da vontade, NIETZSCHE anuncia que a vontade é alegre. alegre. Contra Contra a imagem de uma vontade que aspira a fazer-se atribuir valores estabelecidos, NIETZSCHE anuncia que querer é criar novos novos valores. 02. VP não quer dizer vontade que quer o poder; significa, ao contrário, que o poder é aquilo que quer na vontade. O poder é na vontade o elemento genético e diferencial. É por isso que a VP é essencialmente criadora. O que o poder quer é a relação de forças, as qualidades das forças. forças. Ele não pode ser representado, representado, interpretado oouu avaliado porque é “o que” interpreta, avalia e quer. A VP é essencialmente criadora e doadora: não aspira, procura ou deseja, mas DÁ. O elemento criador de sentido e dos valores é também necessariamente um elemento crítico crítico.. Assim como o nobre “vale mais “ que o vil apenas porque passa pela prova do ER, pelo qual o vil retorna como nobre, a crítica é a negação sobre uma forma nova>: destruição tornada ativa, agressividade agressividade profundamente ligada à afirmação. A crítica é a destruição como alegria, a agressividade do criador. O criador de valores não é separável de um destruidor, de um criminoso e de um crítico.
07. PLANO DE “A GENEALOGIA DA MORAL” (131) 01. A Genealogia da Moral tem um duplo interesse: é uma chave para a interpretação dos aforismos e analisa em pormenor o tipo reativo. Esse duplo aspecto não é casual: afinal, são as forças reativas que se opõe à arte de interpretar, à genealogia, à hierarquia. Os dois aspectos da Genealogia da Moral constituem, portanto, a crítica. 02. Na 1.ª dissertação, NIETZSCHE apresenta o ressentimento como um paralogismo um paralogismo da da força separada daquilo que ela pode; na 2ª dissertação, NIETZSCHE sublinha que a máantinômica por consc con sciên iência cia é antinômica por natureza, exprimindo uma força que se vira contra si; a 3.ª dissertação, sobre o ideal ascético, reenvia para a mais profunda mistificação, a do ideal que compreende todos os outros, todas as ficções da moral e do conhecimento. 03. Eis a estrutura formal da Genealogia da Moral; se se renunciar a acreditar que seja fortuita, é necessário concluir que NIETZSCHE, nela, pretendia refazer a Critica da razão pura. Paralogismo pura. Paralogismo da alma, antonímia do mundo, mistificação do ideal: para NIETZSCHE, a idéia crítica e a filosofia são uma unidade; KANT, embora indo nessa direção, não realizou a
idéia até o fim. A crítica em KANT esgota-se no compromisso – é a crítica mais conciliadora que já se viu, nunca nos faz superar as forças reativas que se exprimem no homem, na consciência de si, na razão, na moral.
08. NIETZSCHE E KANT DO PONTO DE VISTA DOS PRINCÍPIOS 01. KANT é o primeiro filósofo que compreendeu a crítica como devendo ser total (nada lhe deve escapar) e positiva (não restringe o poder de conhecer sem libertar outros poderes até aí negligenciados). Mas ele não efetua isso; parece ter confundido a positividade da crítica com o humilde reconhecimento dos direitos do criticado. No fim, acabou somente levando adiante uma velha concepção da crítica, que postula a critica de todas as pretensões ao conhecimento,, à verdade e à moralidade, mas não critica o conhecimento, nem a verdade, nem conhecimento a moralidade. Os três ideais kantianos permanecem incriticáveis: o verdadeiro conhecimento (o que é que posso saber?), a verdadeira moral (o que é que devo fazer?), a verdadeira religião (o que é que devo esperar?). 02. A crítica não fez nada enquanto não se aplica à própria verdade, sobre o verdadeiro conhecimento,, a verdadeira moral, a verdadeira religião. Para NIETZSCHE, o único princípio conhecimento possível de uma crítica total é seu “perspectivismo”. O fato de não existir fato nem fenômeno moral, mas sim uma interpretação moral dos fenômenos; o fato de não haver ilusão no conhecimento, mas de o conhecimento ser uma ilusão. O conhecimento é um erro, uma falsificação.
09. REALIZAÇÃO DA CRÍTICA 01. O gênio de KANT foi ter concebido uma crítica imanente. A crítica não deveria ser da razão pelo sentimento, pela experiência ou algo exterior a ela mesma. E o criticado não deveria igualmente ser exterior à razão: não deveria procurar na razão os erros provenientes de outros lugares, corpo, sentidos ou paixões. KANT concluiu assim que a crítica deveria ser da razão pela razão. Colocando-a, entretanto, como ré e juiz de si mesma, não conseguir realizar a crítica: faltava-lhe um método que lhe permitisse julgar a razão desde dentro, sem lhe confiar seu próprio julgamento. E NIETZSCHE tem esse método na VP, princípio de uma gênese interna. 02. 02. O filós filósof ofo-l o-leg egis isla lado dor, r, em NIET NIETZS ZSCH CHE, E, ap apar arec ecee co como mo o fil filós ósof ofoo do fu futu turo ro;; legislação significa criação de valores. Não que o filósofo deva comandar porque é o melhor colocado para submeter-se a sabedoria, e assim encontrar as melhores leis – o filósofo NÃO é um sábio, o filósofo é aquele que deixa de obedecer, que arrasa todos os velhos valores e cria novos. Para ele, o conhecimento é criação, a sua obra consiste em legislar, sua vontade é VP.
A idéia de filosofia legisladora enquanto filosofia completa a de crítica interna enquanto crítica, constituindo ambas a contribuição principal do kantismo. 03. Para KANT, entrementes, o que é legislador (num domínio) é sempre uma de nossas fa facu culd ldad ades es:: a razã razão, o, o ente entend ndim imen ento to.. Nó Nóss pr próp óprio rioss so somo moss le legi gisl slad ador ores es à medi medida da qu quee observamos o bom uso desta faculdade, na medida em que obedecemos a ela como a nós próprios. Mas o entendimento, a razão, tem uma história: o que é que obedecemos neles? A razão representa nossas submissões como outras tantas superioridades que nos fazem seres razoáveis. A famosa unidade kantiana de legislador e sujeito é apenas uma vitória de teólogo, é um carregar-nos com a dupla tarefa do sacerdote e do fiel, do legislador e do sujeito. Este legislador e este sacerdote apenas interiorizam os valores em curso.
10. NIETZSCHE E KANT DO PONTO DE VISTA DAS CONSEQUÊNCIAS 01. A oposição entre a concepção nietzschiana de crítica e a concepção kantiana resumeresumese a cin cinco co pon pontos tos::
1° nada nada de pri princ ncípi ípios os transc transcend enden entai tais, s, mas pri princí ncípio pioss gen genéti éticos cos e
plásticos, que dêem conta do sentido e do valor das crenças, interpretações e avaliações; 2º nada de um pensamento que se creia legislador enquanto obediência à razão, mas um pensamento que pense CONTRA a razão. É um erro achar que o irracionalismo opõe à razão outra coisa que não o pensamento (como sejam a emoção, a experiência, a paixão, etc); o que se opõe à razão é o próprio pensamento; o que se opõe ao ser razoável é o próprio pensador; 3° não não o legislador à moda kantiana, mas o genealogista: este é o verdadeiro verdadeiro legislador; legislador;
4°
nada de ser razoável, funcionário dos valores em curso, simultaneamente simultaneamente sacerdote e fiel. Mas então quem quem co condu nduzz a crí crític tica? a? Ne Nenhu nhuma ma for forma ma sub sublima limada da do homem homem,, raz razão ão , espírit espírito, o, consciência de si, nenhum “homem realizado”, nenhum Deus, mas a VP, que se expressa nesse homem relativamente sobre-humano, o homem enquanto quer ser ultrapassado (sendo ultrapassado (sendo o super-hom super-homem em o prod produto uto pos positivo itivo ddaa crític crítica); a); 5° o objetivo objetivo da crítica crítica não não são os fins fins do homem ou da razão, mas o super-homem, o homem superado, ultrapassado. Na crítica não se trata de justificar, mas de sentir diferentemente: uma outra sensibilidade.
11. O CONCEITO DE VERDADE 01. KANT é o último dos filósofos clássicos, pois nunca põe em questão o valor da verdade, nem as razões para nossa submissão ao verdadeiro. Sabe-se que o homem raramente procura a verdade: nossos interesses assim como nossa estupidez separam-nos do verdadeiro ainda mais do que nossos erros. Mas os filósofos pretendem que o pensamento enquanto tal procura o verdadeiro (evitando assim relacionar a verdade com uma vontade concreta, com
um tipo de forças, com uma qualidade da VP). NIETZSCHE não critica as falsas pretensões à verdade, mas a própria verdade como ideal. 02. O conceito de verdade qualifica um mundo como verídico, este mundo supondo um homem verídico que é como seu centro. Entretanto, é claro que a vida quer o engano, que visa iludir, seduzir, cegar. Querer o verdadeiro é querer antes de mais nada depreciar esse poder do falso, ao fazer da vida um “erro”, uma “aparência”. Opõe-se vida e conhecimento, opõe-se o “mundo verídico” ao mundo real. O mundo verídico não é separável dessa vontade de tratar este mundo como aparência. O homem verídico, que não quer enganar, quer um mundo melhor ; com isso ele denu Não é denuncia ncia,, moral moralment mente, e, as apar aparênci ências. as. Não é a utilidade que o leva a tanto: num mundo radicalmente falso, querer ser verdadeiro é que seria perigoso. Assim, a oposição entre o “mundo verdadeiro” e o “mundo aparente” é uma oposição de origem moral . Essa oposição moral é sintoma de uma vontade que quer voltar a vida contra a vida. Uma vontade religiosa, ascética, portanto. 03. Essa vontade ascética quer o triunfo das forças reativas. Aqui [[em em sua relação relação com a verdade], verdade ], elas descobrem seu aliado: o niilismo, a vontade de nada. O niilismo anima todos os valores que se dizem “superiores” à vida. Sob a égide de tais valores, a vida fica separada daquilo que ela pode (isto é, fica reativa). 04. O conhecimento, a moral e a religião; o verdadeiro, o bem e o divino; o ideal ascético, outro nome deste terceiro elemento, constitui o valor e o sentido dos outros dois. Está claro que o conhecimento, a ciência, a “verdade a todo preço” não comprometem seriamente o ideal ascético, que é o que lhes dá sentido e valor. “A partir do momento que o espírito está em ação com seriedade, energia e probidade, torna-se absolutamente absolutamente ideal... é por essa altura que quer a verdade”14.
12. CONHECIMENTO, MORAL E RELIGIÃO 01. A moral substituiu a religião como dogma, e a ciência tende cada vez mais a substituir a moral. A moral é a continuação da religião por outros meios; o conhecimento é a continuação da moral e da religião, mas por outros meios. É sempre o ideal ascético por outros meios, outras forças reativas. Por isso se confunde a crítica com um ajuste entre forças reativas diversas. 02. Quando NIETZSCHE diz que o cristianismo, enquanto dogma, foi destruído por sua própria moral (que se proíbe a mentira de crer em Deus), e que o cristianismo, enquanto moral, deve sucumbir à vontade de verdade, não se trata de uma evolução, evolução, no sentido de que a vontade de verdade deve dar um fim ao cristianismo, pois em todos esses âmbitos trata-se 14
Genealogia da Moral, III, §27
ainda do ideal ascético. Pelo contrário, a vontade de verdade, expressando-se como a pergunta pelo significado e pelo valor da própria vontade de verdade, quebra a série do ideal ascético, quebra seu último esconderijo, quebra a si própria. Essa quebra, esse questionamento, é o instante que antecede e preside a elevação. [o [o niilismo como conseqüência extrema do ideal ascético, mas também como começo de uma outra maneira de sentir ]
13. O PENSAMENTO E A VIDA (150) 01. NIETZSCHE censura frequentemente a pretensão do conhecimento de se opor à vida, de medi-la e julga-la; ele, simples meio, quer erigir-se em fim. Tal é sintoma de uma vida que quer se opor à vida; o conhecimento, ao restringir a vida ao observável, por exemplo, separa-a do que ela pode, tornando-a reativa; esse mesmo conhecimento é constituído já sob um modelo de uma vida reativa. NIETZSCHE censura também o pensamento quando se coloca apenas a serviço dessa vida reativa reativa.. 02. O conhecimento legislador (kantiano) significa a dupla e simultânea submissão do pensamento á vida razoável razoável e da vida à razã razão. o. A crítica, como crítica do conhec conhecimento, imento, deverá ser capaz de dar outro sentido ao pensamento: um pensamento que iria até o limite daquilo que a vida pode, que conduziria a vida até o limite do que ela pode. Um pensamento que afirmaria a vida. A vida seria a força ativa do pensamento e o pensamento o poder afirmador da vida. Pensar seria descobrir, inventar novas possibilidades de vida, a vida ultrapassando os limites que o conhecimento lhe fixa, o pensamento ultrapassando os limites que a vida lhe fixa. O pensador como uma bela afinidade entre pensamento e vida, instintos assentados em solos contrários que, relacionados, se impulsionam mutuamente para adiante. Essa afinidade entre pensamento e vida é também a essência da arte.
14. A ARTE 01. A concepção nietzschiana de arte, concepção trágica, repousa sobre dois princípios: o primeiro diz que a arte é um estimulante da VP, um excitante do querer, e não algo desinteressado, que sublima, suspende o desejo; tal princípio denuncia qualquer concepção reativa da arte. 02. O segundo princípio diz que a arte é o mais alto poder do falso; ela santifica a mentira, magnifica o mundo enquanto erro, faz da vontade de enganar um ideal superior, único capaz de rivalizar com o ideal ascético e de se opor a ele com sucesso. A arte inventa precisamente mentiras que elevam o falso ao mais alto poder afirmativo. Aparência, Aparência, para para o artista, não significa a negação do real, mas uma seleção, uma correção, um desdobramento, uma afirmação. Verdade significa então efetivação do poder, [ grau de intensidade intensidade]. ]. Em
NIETZSCHE, o artista = aquele que procura a verdade = inventor de novas possibilidades de vida.
15. NOVA IMAGEM DO PENSAMENTO 01. A imagem dogmática do pensamento aparece em três teses essenciais: 1) que o pensador quer e ama o verdadeiro; que o pensamento contém formalmente o verdadeiro; que pensar é o exercício natural de uma faculdade reta (natureza reta do pensamento); 2) somos desviados do verdadeiro por forças estranhas ao pensamento (corpo, paixões, sentidos, etc); por não sermos puro pensamento, caímos no ERRO, tido como único efeito, no pensamento, da intromissão de forças exteriores è ele; 3) basta um método para bem pensar, esconjurando o efeito efe ito de for força çass est estran ranhas has ao pen pensa samen mento; to; emb embora ora seja seja um art artifíc ifício, io, ele permit permite-n e-nos, os, independentemente de tempo e lugar, penetrar nos domínios do que é eterno,na essência, no verdadeiro. 02. O mais curioso aí é a maneira como o verdadeiro é concebido como um universal abstrato, sem nenhuma referência às forças que constituem o pensamento ou à genealogia de uma verdade verdade (que semp sempre re é a efetuação efetuação de um sentido ou a realização realização de um valor antes de aparecer como uma “verdade”). A verdade como conceito é absolutamente indeterminada. É claro que o pensamento nunca pensa por si próprio, assim como não encontra o verdadeiro por si próprio. A verda verdade de de um pensame pensamento nto deve ser interpretad interpretadaa e avaliada avaliada a partir das forças que a determinam a pensar. Detalhe: a verdade, como ciência pura, nunca fez mal a ninguém... os valores em curs cursoo cons constante tantement mentee enco encontram ntram aí seu melhor apoio. Tal é o que se esconde esconde sob a imagem dogmática do pensamento: pensamento: o trabalho das forças estabelecidas, que determinam o pensamento e o verdadeiro em si. 03. Uma nova imagem do pensamento significa em primeiro lugar que o verdadeiro não é mais o elemento do pensamento, mas o sentido e o valor. As categorias do pensamento não são mais o verdadeiro e o falso, mas o elevado e o baixo. Do verdadeiro e do falso, temos sempre sem pre a par parte te que mer merece ecemos mos:: exi existe stem m ver verdad dades es da ba baixe ixeza; za; nossos nossos pe pensa nsamen mento to mais mais elevados, pelo contrário, constituem a parte do falso, não renunciam nunca a fazer do falso um elevado poder. Daí resulta que o estado negativo do pensamento não é o erro. A inflação do conceito de erro em filosofia testemunha a persistência da imagem dogmática. Na verdade como no erro, o pensamento baixo só descobre aquilo que traduz o triunfo do escravo; o disp dispar arat atee é sint sintom omaa de uma uma mane maneira ira ba baix ixaa de pe pens nsar ar,, qu quee em tu tudo do fa fazz re rein inar ar va valo lore ress mesquinhos ou a ordem estabelecida, não é um erro; ele tem uma estrutura própria de funcionamento.
04. O conceito de verdade determina-se apenas em função de uma tipologia pluralista, sendo que esta inicia numa topologia. Deve-se submeter o verdadeiro a prova do baixo, e o falso a prova do elevado; eis a tarefa realmente crítica. A filosofia, como crítica, não serve a ningué nin guém; m; ser serve ve par paraa afl afligi igir. r. Ela ata ataca ca o dis dispar parate ate,, de denun nuncia cia a baixez baixezaa do pensa pensamen mento, to, denuncia as mistificações sob as quais triunfam as forças reativas. É certo que existe uma mistificação propriamente filosófica: a imagem dogmática do pensamento e a caricatura da crít crític icaa test testem emun unha ham m-no. -no. Mas Mas tal tal oc ocor orre re apen apenas as qu quan ando do el elaa re renu nunc ncia ia ao se seuu pa pape pell desmistificador. 05. A tarefa crítica de filoso filosofia fia deve ser constant constanteme emente nte retomada retomada,, a cada época, pois, difere dif erente nteme mente nte do con conce ceito ito int intemp empora orall de err erro, o, a ba baixe ixeza za não se separa separa do tem tempo, po, da atualidade; cada época tem a sua. É por isso que a filosofia tem com o tempo uma relação essencial: sempre contra contra seu seu tempo, crítica do mundo atual, sempre intempestiva. 06. Pensar não é o exercício natural de uma faculdade: pensar depende de forças que se apoderem do pensamento. Enquanto nosso pensamento estiver ocupado e somente encontrar seu sentido nas forças reativas, ainda não pensamos. As ficções pelas quais as forças reativas triunfam formam o mais baixo baixo do do pensamento. Pensar, como atividade, é um acontecimento extraordinário no próprio pensamento, significa uma elevação, é necessário que o pensamento seja elevado até o pensar por uma força que dele se apodere violentamente 15 –– e esse é, para NIETZSCHE, o papel da cultura, em oposição oposição ao método. A cultura é adestram adestramento ento e seleção, formação do pensamento por uma seleção de forças, adestramento que põe em jogo todo o inconsciente do pensador. Os gregos não falavam em método, mas em paidéia em paidéia;; sabiam que o pensamento não não pensa a pa partir rtir da boa vontade vontade,, como no método, método, mas em virtude de forças que o obrigam a pensar. Tudo o que existe de liberdade e dança sobre a terra floriu sempre sobre a tirania de certas leis, sobre esse adestramento e seleção; inclusive o pensamento. 07. A atividade genérica da cultura visa formar o artista, o filósofo. Mas as forças reativas, a igreja ou o estado podem utilizar essa violência necessária da cultura para seus próprios fins, embrutecendo o pensamento ao invés i nvés de formá-lo (degenerescência da cultura). Há uma certa ambivalência na cultura, para NIETZSCHE 08. A nova imagem de pensamento implica relações de força complexas. Pensar depende de certas coordenadas. É falso dizer que a verdade sai de um poço: só encontramos verdades onde elas estão, à sua hora e no seu elemento. O método em geral nos afasta de tais lugares, 15
Comparar com a intuição bergsoniana, essa também elevação do pensamento.
ou evita que deles saiamos. Cabe a nós ir até os lugares extremos, às horas extremas onde vivem e se erguem as verdades mais elevadas, mais profundas.
CAPÍTULO IV
DO RESSENTIMENTO À MÁ-CONSCIÊNCIA
01. REAÇÃO E RESSENTIMENTO (167) 01. Na saúde as forças reativas têm por função limitar, total ou parcialmente, a ação, em função de outra ação da qual sofremos o efeito. Inversamente, as forças ativas fazem explodir a criação, precipitado-a para uma tarefa de adaptação rápida e precisa – uma resposta resposta.. Daí NIETZSCHE dizer que “a verdadeira reação é a da ação”. O tipo ativo designa portanto uma forma de relação entre forças ativas e reativas, esta retardando a ação, aquela precipitando a reação. 02. Logo, não basta uma reação para constituir um ressentimento. “Ressentimento” designa um tipo em que as forças reativas imperam sobre as forças ativas, deixado de ser agidas pelas forças ativas [desobedecendo}. O homem do ressentimento é aquele que NÃO reage. No re-sentimento a reação deixa de ser agida para se tornar qualquer coisa de sentido. sentido .
02. PRINCÍPIO DO RESSENTIMENTO 01. A “hipótese tópica” Freudiana concebe que o mesmo aparelho psíquico não pode receber a excitação e guarda-la permanentemente. Distingue então um aparelho voltado para o exteri ext erior or (co (consc nsciên iência cia)) e um des destin tinado ado a con conser servar var a excita excitação ção ca capta ptada da pelo pelo primei primeiro ro (inconsciente). 02. Todos os elementos dessa hipótese estão em NIETZSCHE Ele concebe dois sistemas do aparelho reativo – consciente e inconsciente. O inconsciente reativo é definido pelas marcas mnêmicas, sendo um sistema digestivo, ruminante, que exprime “a impossibilidade puramente passiva de se subtrair à iimpressão mpressão uma vez recebida”. Mesmo nessa digestão sem fim, as forças reativas executam uma tarefa (obedecem, são agidas). Mas é claro que esse sistema, sozinho, seria insuficiente. Para tornar a adaptação possível há um outro sistema de
forças reativas que reage não às marcas, mas a excitação presente ou imagem direta do objeto, sendo que esse sistema não se separa da consciência. Essa segunda espécie de forças mostra sob que forma e condições a reação torna-se agida. 03. Separando os dois sistemas, impedindo que as marcas invadam a consciência, deixando à consciência terreno limpo para o novo, está a faculdade ativa supra-consciente do esquecimento. É ao mesmo tempo, portanto, que a reação, tomando por objeto a excitação na consciência, se torna agida (o que é permitido pelo esquecimento) e que a reação às marcas permanece não sentida, sentida, no inconsciente (o que também também é permitido pelo esquecimento). Notese a situação particular do esquecimento - força ativa, age junto às forças reativas, separandoas, funcio funciona nalme lmente nte.. E pa para ra ren renova ovarr a con consci sciênc ência ia deve deve consta constante nteme mente nte pedir pedir energi energiaa à cons consci ciên ênci ciaa me mesm sma, a, faze fazerr su suaa es essa sa ener energi giaa pa para ra re reca calc lcar ar o in inco cons nsci cien ente te16, impe impedi dirr a emergência das marcas. 04. É por isso que o esquecimento está sujeito à várias perturbações, elas próprias funcionais. Com sua deficiência, é como se a cera da consciência endurecesse, a excitação tendendo então a confundir-se com sua marca no inconsciente, e a reação às marcas, normalmente situada no inconsciente, tendendo agora a invadir a consciência. Assim é ao mesmo tempo que a reação às marcas se torna sensível (sai do inconsciente, invadindo a consciência) e que a reação à excitação deixa de ser agida (pois a excitação confunde-se com sua marca, e é portanto apropriada pelas forças reativas das marcas, não pelas forças reativas da ação), o que tem imensas conseqüências. Não podendo mais agir uma reação, as forças ativas são privadas de suas condições materiais de exercício, estão SEPARADAS DAQUILO QUE POD PODEM. EM. As for força çass rea reativ tivas as impera imperam m sob sobre re as forças forças ati ativas vas.. Qua Quando ndo as marca marcass mnêmicas tomam o lugar da excitação na consciência, a reação (às marcas, inconsciente) toma o lugar da ação (isto é, da reação à excitação, que era a forma ativa de reação, ligada à consciência). As forças reativas não triunfam por formar uma força maior que a das forças ativas. A deficiência da força do esquecimento se dá porque essa não encontra na consciência a energia necessária para recalcar o inconsciente, renovando a consciência. Tudo se passa entre forças reativas - umas impedem outras de ser agidas, umas destroem as outras. Assim, o ressentimento, e em última analise qualquer doença17, é uma reação que, simultaneamente, se torna sensível e deixa de ser agida.
16
Notar a semelhança dessa estrutura psíquica com a sugerida por Bergson em “Matéria e Memória”. Em Ecce Homo, 1, 6, NIETZSCHE diz que estar doente é já uma forma de ressentimento.
17
03. TIPOLOGIA DO RESSENTIMENTO. (Nota sobre NIETZSCHE e FREUD - NIETZSCHE não estava em confluência com FREUD. As coincidências entre ambos se explicam por suas preocupações “energéticas”. NIETZSCHE teria denunciado em FREUD a sua concepção concepção reativa de vida psíquica, seu desconhecimento desconhecim ento das forças ativas, como jjáá o fez, à seu modo, OTTO RANK) 01. O primeiro aspecto do ressentimento é, portanto, topológico: é a mudança de meio, o deslocamento das forças reativas que constitui o ressentimento, sendo a invasão das marcas na consciên cons ciência cia o que identific identificaa o homem do ressent ressentiment imento. o. Em N., como em FREUD, FREUD, há duas memórias (a memória das marcas, reativa, e a memória da vontade, ativa, expressa na faculdade de prometer; em FREUD haveria, distintamente da memória das marcas, uma memória das “marcas verbais”). A primeira memória é a da reação às marcas, que jcomo tipologia,, forma o sintoma principal do tipo ressentido: sua prodigiosa tipologia sua prodigiosa memória. memória. 02. 02. O re ress ssen entim timen ento to é o es espí pírit ritoo de ving vingan ança ça po porq rque ue to toda da su suaa re reaç ação ão se ef efet etua ua imagin ima ginari ariame amente nte;; não é que que,, por um ex exces cesso so de excita excitaçã çãoo (FREUD (FREUD)) ele queira queira reagir reagir represent repre sentando ando (para cont conter er o excessos excessos,, o que ultrapassa ultrapassa a capacidade capacidade de ser agido) agido) pensar pensar assim assim seri seriaa de desc scon onsi side dera rarr as qual qualid idad ades es das das fo forç rças as,, le leva vand ndoo em co cont ntaa so some ment ntee su suas as quantidades. Qualquer excitação, grande, pequena, boa ou má, é sentida como culpada pelo ressentido na medida em que remete à sua impotência para reagir frente à excitação – ele somente reage às marcas da excitação. O homem do ressentimento experimenta qualquer objeto como uma ofensa na medida em que lhe sofre o efeito (e não poder reagir) 18. A memória das marcas é odiosa em si mesma e por si mesma. É venenosa e depreciativa, depreciativa, porque se liga ao objeto para compensar a sua impotência para se subtrair às marcas da excitação correspondente. O que NIETZSCHE quer é fazer uma psicologia que seja uma tipologia, fundar a psicologia “no plano do sujeito” (expressão familiar à Jung).
4. CARACTERÍSTICAS DO RESSENTIMENTO 01. “Espírito de vingança” não quer dizer que o espírito quer a vingança, mas que a vingança usa o espírito como meio. O ressentimento fornece à vingança um meio (invertendo a relação normal de forças ativas e reativas ). Por isso o próprio ressentimento ressentimento é já o triunfo de uma revolta. O tipo do senhor (ativo) será definido pela faculdade de esquecer, como pelo poder de agir as reações; reações; o tipo escravo (reativo) será definido pela pela prodigiosa memória e pelo poder do ressentimento. ressentimento. 02. A 02. A impotência para admirar, para respeitar, para amar: o mais espantoso no homem do ressentimento não é sua maldade, mas a sua deprimente malquerença, a sua capacidade 18
Veja-se “Memórias do Subterrâneo”, de Dostoiévski
depreciativa. Ele odeia tudo, não respeita amigos (menos ainda inimigos), a felicidade ou a infelicidade. Faz da própria infelicidade algo medíocre, que recrimina e distribui danos; não respei res peita ta a pró própri priaa infeli infelicid cidade ade.. Pel Peloo co contr ntrári ário, o, o respei respeito to aristo aristocrá crátic ticoo pelas pelas cau causas sas da infelicidade e a incapacidade de tomar a serio as próprias infelicidades constituem uma unidad uni dade. e. A serie seriedad dadee com que o esc escrav ravoo enc encara ara as suas suas infelicidades testemunham uma digestão difícil. 03. A 03. A passividade: passividade: No ressentimento, a felicidade aparece como torpor, embriaguez, paz – sob forma passiva. Essa passividade (que não é o oposto de atividade, já que o oposto de ação é reação) designa a não-ação, o momento em que a reação, deixando de ser agida, se torna ressentimento. O homem do ressentimento não sabe e não quer amar, mas quer ser amado. É o homem do benefício e do lucro. O ressentimento só se impôs fazendo do lucro um sistema econômico, social, teológico. É nesse sentido que os escravos possuem uma moral da utilidade. Todas as qualidades morais escondem as exigências de um terceiro passivo, que reclama o interessa de ações que não executa, gabando-se entretanto de seu desinteresse (fazer tal coisa “pelo bem da sociedade”, por exemplo. Mas o próximo louva o desinteresse porque delee se ben del benefi eficia cia;; se rac racioc iocina inasse sse,, ele pró própri prio, o, de modo modo desint desintere eressa ssado, do, nã nãoo querer quereria ia o desinteresse do outro...) A imputação dos danos, a distribuição das responsabilidades, a acusação perpétua: 04. A 04. Tudo isso toma o lugar da agressividade. Considerando o benefício um direito, considerando um direito lucrar com ações que não executa, o homem do ressentimento enche-se de censuras quando seu anseio não se realiza; mas a não-ação é ´re-condição de seu tipo...como poderia realizar-se? Então ele distribui culpas e responsabilidades, tem necessidade de que os outros sejam maus para que ele próprio sinta-se “bom”. Tu és mau, portanto eu sou bom: bom : essa é a fórmula fundamental do escravo, a fórmula que o resume.
05. É BOM? É MAU (179) 01. “Eu sou bom, portanto tu és mau”, e “tu és mau, portanto eu sou bom” são duas fórmulas diferentes, que expressam posições diferentes. Aquele que começa começa por por dizer eu sou bom não pode ser aquele que de saída precisa se comparar aos outros, aquele que tira seu valor da comparação com os demais valores – o primeiro não espera ser dito bom. Nomeia0se assim na medida em que age, afirma e frui. Não há qualquer comparação em princípio; o fato de os outros serem maus porque não afirmar, não agem, não fruem, é apenas uma constatação secundária. 02. Este que afirma afirma,, o senh senhor, or, tem o posi positivo tivo inteiramente inteiramente nas premissas premissas.. Prime Primeiro iro ele age, afirma e frui, para depois poder concluir qualquer coisa de negativo, que não é essencial,
mas acessória, e que apenas aumenta a fruição de sua positividade. Esse é o estatuto da agressividade: o negativo como produto de premissas positivas, da atividade, da afirmação de si o senho senhorr só proc procura ura o seu antíp antípoda oda pa para ra se afi afirma rmarr a si mes mesmo mo com mais ale alegri gria. a. Na perspectiva do escravo, o negativo passa para as premissas, é o começo, a verdadeira ação fundante, sendo o positivo uma conclusão, e uma conclusão aparente. Por isso NIETZSCHE distingue ressentimento de agressividade: elas diferem por natureza. O escravo necessita de uma dupla negação para fazer uma aparência de afirmação; a dialética é a ideologia do ressentimento. 03. Na formulação escrava também se criam valores. É dito mau aquele que age sem considerar as conseqüências sobre um terceiro abstrato, sendo o bom aquele que refere toda ação ao ponto de vista de quem não age, um terceiro divino desinteressado mas com interesse em aparecer justamente assim, um terceiro que perscruta as intenções intenções.. Nasce assim o bem e mal. A determinação ética dá lugar ao juízo moral: o bom da ética tornou- se o mau da moral. Assim, a criação escrava não passa de uma inversão de valores. Não é uma criação por ação, mas por impedimento da ação. Não é uma afirmação, mas começa por negar.
6. O P PAR ARAL ALOG OGIISM SMO O 01. Há um paralogismo na formulação escrava. Supõe-se ao mesmo tempo que o “mau “ age,, e por isso mesmo é é uma força ativa, que não se separa daquilo que pode (isto é, que age mau) e é também uma força reativa(ou deveria ser), que não não age age (separada, portanto, daquilo que pode, de sua agressividade). Porque o forte poderia impedir-se de agir, o fraco poderia agir se não o impedissem. 02. Assim, o paralogismo do ressentimento repousa na ficção de uma força sepa separad radaa daquilo que pode, pode, o que permite o triunfo das forças reativas 19. 1° desdobra-se a força (é o momento da causalidade). Separa-se a força da manifestação da força (como o raio e o trovão); 2º projeta-se a força assim desdobrada num substrato, um sujeito que seria livre de a manifestar ou não (momento da substância). Faz-se da força o ato de um sujeito que poderia do mesmo modo não agir. NIETZSCHE não cessa de denunciar no “sujeito” uma ficção gramatical. 3º moraliza-se a força assim neutralizada (momento da determinação recíproca). Porque se supõe que uma força poderia não manifestar a força que “possui”, supõe-se que uma força poderia manifestar a força que “não possui”. Porque se projeta a força num sujeito, se supõe esse sujeito culpado ou meritório, culpado se a força exerça a ação que possui, meritório se não exerce a ação que... não possui. 19
Antes que eu me esqueça: não parece que este Deleuze, se disse antes que a reatividade é tbém uma qualidade da força, que as coisas só funcionam com as duas forças, etc, agora está moralizando demais a força reativa? Ele está esculachadno a pobre coitada
07. O DESENVOLVIMENTO DESENVOLVIMENTO DO RESSENTIMENTO O SACERDOTE JUDAICO 01. NIETZSCHE distingue dois aspectos da má-consciência: um em que ela está no “estado bruto”, pura matéria, “questão de psicologia animal”, e outro em que ela está desenvolv desenv olvida ida,, tom tomaa for forma, ma, tal co como mo nós a co conhe nhece cemos mos.. Essa Essa dis distin tinção ção corres correspon ponde de à topologia topol ogia e à tipolo tipologia. gia. Tudo ind indica ica que vale também par paraa o ressentim ressentimento. ento. Num primeiro primeiro deslocamento das caso, topológico, há o deslocamento das forças reativas, com a invasão da consciência pelas marcas; num segundo momento, tipológico, a memória das marcas torna-se um caráter típico, encarnando o espírito de vingança, e conduzindo à acusação perpétua, separando as forças de sua ação por uma mistificação, pela projeção pela projeção de de uma imagem reativa20. 02. As forças não são separáveis do elemento diferencial de onde deriva sua qualidade. Mas as forças reativas dão deste elemento uma imagem invertida. Projetando essas imagens elas conseguem inverter as relações de forças e os valores correspondentes. A ocasião dessa projeção dá-se ao mesmo tempo em que elas encontram o meio para se furtar à atividade. Deixando de ser agidas, as forças reativas projetam reativas projetam a imagem invertida. É a essa projeção reativa que NIETZSCHE chama ficção (‘mundo supra-sensível’ ou “Deus”). 03.. A pa 03 pass ssag agem em de um mo mome ment ntoo a ou outr troo do re ress ssen enti time ment ntoo nã nãoo é um si simp mple less encadeamento mecânico. É necessária a intervenção de um genial artista do ressentimento, capaz de aproveitar a ocasião e dirigir a projeção, a acusação, a inversão: o sacerdote. Sem ele jamais o escravo teria podido elevar-se acima do estado bruto do ressentimento. O sacerdote é cúmplice das forças reativas, mas não se confunde com elas; persegue outro fim que não o delas. Sua vontade é VP, e sua VP é niilismo. O niilismo necessita das forças reativas, mas estas necessitam do niilismo para triunfar. 04. O sacerdote, especialmente o sacerdote judeu – o tipo do sacerdote, eis o que interessa à NIETZSCHE(para além de considerações rasteiras sobre raça, pureza da raça, etc). O povo judeu, de onde brotou o sacerdote, é hoje o mais apto a salvar a Europa de si mesma, ao inventar novas condições de vida. 20
Como é essa relação entre a imagem que a força “tem” – um conhecimento? – e o seu desempenho? Em Nietzsche parece que nunca temos, enquanto consciência, um conhecimento que não PODEMOS ter, tendo em vista nossa hierarquia de forças, etc; e inconscientemente, isto é, no nível das forças? Um conhecimento, uma “imagem”, é sempre uma perspectiva da força, tomada de seu ponto de vista; essas perspectivas lutam entre si, e se apresentam, apresentam, como resultado, resultado, na consciênc consciência; ia; o erro, o engano, engano, são aí outras forças que se apresentam apresentam na consciência, outras perspectivas, que parecem “erradas” somente do ponto de vista majoritário – não há erro em si, ilusão verdade em si;(ou, masantes, entredeixando as forças,depoderia umimagem “engano”invertida desse gênero, forçasreativas perdendo seu pontoem de si, vista e atuando atuar) haver por uma que asasforças lhe emprestam??? Talvez considerando o corpo como organização complexa, em que algumas forças já não “vêem” diretamente sua perspectiva, mas devem toma-la a partir do que outras forças apresentam, numa cadeia de visões parciais que resultaria numa perspectiva perspectiva geral...
08. MÁ-CONSCIÊNCIA E INTERIORIDADE (192) 01. Eis o objetivo do ressentimento: privar as forças ativas de suas condições materiais de exercício; separa-las formalmente daquilo que podem. Isso se dá através de uma ficção (projeção da imagem invertida), mas tem como resultado qualquer coisa de real. O que acontece à força ativa quando se separa do que pode? VIRA-SE CONTRA SI MESMO. Interiorizar-se, virar-se contra si, é este o modo pelo qual uma força ativa se torna realmente reativa21. É aí que reside a origem da má-consciência. O ressentimento triunfa quando o forte passa a acusar-se, a “reconhecer seus danos” contra o fraco, a virar-se para o interior. A introjeção da força ativa é a conseqüência da projeção reativa, não seu contrário. A máintrojeção consciência leva adiante o ressentimento. 02. A força ativa, ao virar-se contra si, PRODUZ DOR. Não mais o fruir de si, mas a produção da dor, antes regulada pela força reativa. Resulta daí um curioso fenômeno, insondável: uma multiplicação, uma auto-fecundação, uma hiper-produção de dor. A máconsciência é uma CONSCIÊNCIA QUE MULTIPLICA SUA DOR INTERIORIZAÇÃO DA FORÇA: é esta a primeira definição da má-consciência.
PELA
09. O PROBLEMA DA DOR 01. Esta é a definição do primeiro aspecto, topológico ou bruto, da má-consciência. Tipologicamente, com a moralização dessa primeira má-consciência, dessa produção de do, produz-se uma segunda má-consciência, uma segunda interiorização e uma nova produção de dor: a dor é interiorizada, sensualizada, espiritualizada, como conseqüência do pecado e também tam bém co como mo mec mecan anism ismoo int interi erior or de sal salvaç vação ão – es essa sa se segun gunda da má-con má-consci sciênc ência ia é a dor transformada em sentimento de culpa, de temor, de castigo. 02. Para compreender a invenção dessa segunda má-consciência, é necessário estimar a importância do problema do sentido da dor. A dor é uma reação, Seu sentido ativo está em agir essa reação, localizar-lhe para evitar sua propagação até que se possa novamente re-agir. É, portanto, portanto, um um sentido sentido externo ex terno.. A dor, para os senhores, tem um único sentido: dar prazer a alguém, que a aflige ou observa22. Nesse sentido a dor é uma festa, uma manifestação ativa da vida. 21
ATENÇÃO – Nietzsche diz que o pensador, a crueldade do pensador, ao querer ver tudo “verdadeiramente”, isto é, desconsiderando seu próprio proveito (por isso crueldade) é essa mesma má-consciência, essa mesma vontade de maltratar-se – o conhecedor é um artista da má-consciência, ele transforma essa vontade de fazer-se mal numpreservar... meio de ultrapassar-se, isto é, num meio de inventar mais vida. Zaratustra diz: amo os que não se querem 22 Os deuses deuses gregos gregos jus justif tifica icavam vam toda dor como uma festa... festa... nós, hoje, hoje, olhand olhandoo com os olhos olhos da vida, vida, externamente a nós, portanto, entendendo a dor como ultrapassamento de si, talvez também possamos justifica-la com alegria...
03. Mas quando não se age a dor nem se a contempla ativamente, o que se faz? Essa é a invenção da segunda má-consciência: dar um SENTIDO INTERNO à dor [uma [ uma lembrança qualquer, no passado, um ato, um querer ], ], procurando assim livrar-se de uma dor presente através da produção de outra dor (a culpa) interiorizando a dor ainda mais 23. Já na ORIGEM DA TRAGÉDIA NIETZSCHE indicava que a tragédia morre ao mesmo tempo em que o drama se torna um conflito interno.
10. O DESENVOLVIMENTO DESENVOLVIMENTO DA MÁ-CONSCIÊNCIA: O SACERDOTE CRISTÃO 01. Entre a interiorização da força, que causa a dor, e a interiorização da própria dor, há uma passagem que não é automática, mas que foi feita pelo sacerdote em sua encarnação cristã. O sacerdote MUDA A DIREÇÃO DO RESSENTIMENTO. Faz o homem reativo encont enc ontrar rar em si pr próp óprio rio a causa de seu sofrer, que ele deve interpretar côo castigo (e, ao mesmo tempo, remissão pelo castigo). 02. 02. Po Porr um lado lado,, o cris cristi tian anis ismo mo é cons conseq eqüê üênc ncia ia do ju juda daís ísmo mo.. Todo Todo o po pode derr do ressentimento desemboca no Deus dos pobres, dos doentes, dos pecadores, num amor que se apresenta como antítese do ódio. Mas ele também acrescenta ao judaísmo essa segunda máconsciência, que, obviamente, não se opõe (dialeticamente) à primeira, mas lhe acrescenta um poder de sedução, com vistas à abarcar abarcar o mundo. O que o ressentimento quer, com esse refrão (é por minha culpa) é que tudo que é ativo se sinta culpado, se torne reativo. 03. A definição do segundo aspecto da má-consciência é, portanto: INTERIORIZAÇÃO DA DOR POR MUDANÇA DE DIREÇÃO DO RESSENTIMENTO. Há um paralelismo entre ent re mámá-con consci sciênc ência ia e res ressen sentime timento nto.. Amb Ambas as as var varian iantes tes possu possuem em doi doiss moment momentos, os, topológico e tipológico, em ambas a passagem entre os momentos faz intervir o personagem do sacerdote, e em ambas o sacerdote age por ficção.Já vimos a ficção que faz inverter os valores no ressentimento [imagem [imagem invertida, desdobramento da força]; força] ; sob que ficção repousa a interiorização da dor? Problema complexo, que põe em jogo o conjunto do fenômeno da cultura.
11. A CULTURA ENCARADA DO PONTO DE VISTA PRÉ-HISTÓRICO (199) 23
Há uma dor presente, que não é significada, nem agida; como fazer para apazigua-la? Dando-lhe um sentido, vinculando-a às marcas; essa é exatamente a definição do sentimento de culpa: atribuir-SE como causa de um sofrimento; cria-se assim uma segunda interioridade, a da culpa, e uma segunda moralização de nossos atos, moralização interna, que vincula nosso sofrer à à nosso passado, entendendo nossa dor como conseqüência de nosso “erro” ou desvio ou pecado, ou poder natureza demoníaca do ou querer, etc dela Claroumque, aqui, não há possibilidade de dar um de fimconduta, à dor, muito menos de conviver com ela de fazer estímulo à vida, de justifica-la, de afirma-la; sua única afirmação, indireta, é como entorpecimento: uma nova dor, com dupla camada de interiorização, entorpece uma dor presente, fruto de uma primeira cada de interiorização (máconsciência).
01. Cultura significa adestramento e seleção. Mas há aí dois elementos: um referente aquilo à que se obedece, que é sempre histórico (um estado, uma igreja, etc); outro, referente ao fato de se obedecer, ao fato de a espécie humana exercer uma atividade genérica [ porque [ porque não tem forma específica] específica] sobr sobree o indivídu indivíduoo mesmo mesmo,, o que é anterior à história, história, prec precede ede a história. Toda lei histórica é arbitrária, mas o que não é arbitrário é o fato de se obedecer às leis.
02. Pré-histórico significa genérico. A cultura, atividade genérica do homem sobre o
homem, trata de fornecer ao homem hábitos, de o fazer obedecer, adestra-lo, o que significa formá-lo de tal maneira que ele possa agir suas forças reativas: a cultura torna as forças reativas aptas a serem agidas. Mas seu objetivo principal é dar à consciência uma consistência e firmeza que ela não possui, ela, que se apóia no esquecimento. A cultura dota a consciência de uma memória – não mais a MEMÓRIA DAS MARCAS, função do passado, mas a MEMÓRIA DA VONTADE, função do futuro [que [ que se expressa na promessa, fruto maduro do adestramento das forças reativas pelas forças ativas]. ativas]. Esse o objetivo seletivo da cultura: 24
formar um homem capaz de prometer, de dispor do futuro [de [ de si mesmo como futuro ], livre e poderoso, ativo, capaz capaz de agir suas suas reações reações.. 03. Para alcançar alcançar tal obje objetivo, tivo, a cultu cultura ra utilizou-s utilizou-see da dor como moeda de troca 25. A equação desse processo de formação de uma memória da vontade poderia ser expressa assim: justiça,, que dano causado = dor sofrida, isto é, esquecimento da promessa = castigo : eis aa justiça torna o homem responsável por uma dívida, torna o homem, como força ativa, responsável por suas forças reativas. Tal relação credor-devedor é, para N., anterior mesmo às organização sociais, servindo de modelo para tais organizações. No crédito 26, não na troca, estaria portanto o arquétipo da organização social. 24
Nietzsche, Genealogia da Moral, 2ª dissertação Existe a dor como introjeção da força ativa (dor reativa) e a dor como precaução, aviso (dor ativa); parece-me que a cultura se utiliza das duas espécies de dores, e que Deleuze privilegia uma só? Pois a cultura dá uma forma ao homem, organiza suas forças, hierarquiza as forças ativas e reativas; mas não posso dizer também que as forças só podem ser ditas ativas ou reativas em relação, isto é, nunca a priori? Se é verdade que nossa cultura privilegia certas forças reativas, ela por outro lado mantém o trabalho de hierarquização das forças, e se as forças não são nunca, em si mesmas, aprioristicamente, determináveis em sua qualidade, não há em que se basear para fazer uma crítica das forças a partir da hierarquia; a não ser que as for forças ças sejam determináveis a priori, a partir do “elemento diferencial de onde emanam”, seja lá o que isso quer dizer – mas não há aí um cheiro metafísico? Eu não veria problema em nossa cultura quanto ao adestramento, isto é, à organização das forças (há, me parece, nesse ponto e em outros de Deleuze, um certo romance “romântico” demais). Diria antes que tal organização DEU CERTO DEMAIS, isto é, que nós demos certo demais como organ organizaç ização ão – a questão é que não sabemos sabemos ainda utilizar esse resultado; somos já, ou podemos ser, do ponto de vista do adestramento (da hierarquia das forças), o homem livre, o homem que pode prometer; nossa cultura é que não sabe (não quer) utilizar esse potencial – seus valores são outros. Aí reside o problema (se é que se pode falar assim). Mas ao seria desse 25
conflito a auto-finalização justiça? Seria esperar demais, e aliás DE reativamente, queFORÇAS os juízes saíssem que todossurgiria a dizer: sim, é verdade, da NÓS SOMOS INJUSTOS DO PONTO VISTA DAS ATIVAS... esse é o jogo do escravo, que quer que coisas melhorem lá fora para depois começar a agir... 26 Crédito de quê? Seria o da responsabilidade como BEM que se pressupõe alcançado antes de se o ter adquirido de fato - pois só o que se tem, no início do processo, processo, é o seu equivalente, a sabe saber, r, a DOR ????
12. A CULTURA ENCARADA DO PONTO DE VISTA PÓS-HISTÓRICO 01. Conclui-se que nem a má-consciência nem o ressentimento intervém no processo da cultura e da justiça: nem a cultura nem a justiça são vingança ou reação 27, mas atividade atividade.. A dor, o equivalente da responsabilidade, causa prazer à força ativa que comanda esse processo; falta a maior parte das teorias explicar porque explicar porque a dor causa prazer: ora, é porque as forças ativas se dão como tarefa adestrar as forças reativas, sendo a justiça e a cultura os meios para tanto28. 02. O ressentimento é, na verdade, o último terreno conquistado pela justiça: conseguir ser justo até mesmo com o que se odeia é uma conclusão, não um princípio. Assim, também, o castigo não têm como produto a culpa – pelo contrário, por muito tempo ele retardou o aparecimento desse sentimento, ao igualar no plano dos fatos o acusado e os juízes, pois com o castigo os juízes praticavam o mesmo ato que culpavam no réu. Opõe-se ponto por ponto o estado da cultura em que o homem, ao preço da sua dor, se sente responsável por suas forças reativas, e o estado da má-consciência em que o homem se sente culpado pelas suas forças ativas. 03. A cultura é o elemento pré-histórico do homem, mas seu produto é o elemento póshistórico do homem. Não se deve confundir o produto da cultura com seu meio: o meio é a responsabilidade-dívida, meio de adestramento e seleção para tornar as forças reativas agidas; o fim é o homem autônomo, senhor de suas forças reativas [de [de suas forças] forças] responsável somente perante si mesmo [ pois se tem sob domínio, independentemente do que aconteça] aconteça],, nesse sentido um irresponsável [ pois pois está livre diante de qualquer lei que não a sua]. sua]. A responsabilidade-dívida desaparece no movimento pelo qual o homem se liberta; na cultura, o meio des meio desapa aparec recee no pro produt duto. o. A mor morali alidad dadee do doss cos costum tumes es pro produz duz o homem homem lib libert ertoo da moralidade dos costumes, a atividade genérica produz como objeto final um indivíduo no qual o elemento genérico é ele mesmo suprimido.
13. A CULTURA ENCARADA SOB O PONTO DE VISTA HISTÓRICO 01. A passagem da pré-história à pós-história, sob o domínio das forças ativas, é essencialmente assim. Esquecemos, entretanto, da história história,, o triunfo das forças reativas. De fato, da cultura devemos dizer que desapareceu e que ainda não começou; na história, a cult cultur uraa apar aparec ecee com com ou outr troo se sent ntid ido, o, de desn snat atur urad adaa – a hi hist stór ória ia co conf nfun unde de-s -see co com m a 27
Aqui se está no extremo oposto de FREUD. Nietzsche comenta que o homem aristocrático sente prazer na educação, na compostura, no mandar em si mesmo, porque identifica-se com as forças que aí comandam, não com o que em si obedece. Ver também o aforismo 19 do Além do Bem e do Mal, sobre o querer como hierarquia de forças e a questão da identificação. 28
“degenerescência da cultura”. Em vez de atividade genérica, a história nos apresenta raças, povos, igrejas, estados rebanhos, no lugar da justiça e sua auto-destruição final aparecem sociedades que não querem perecer 29, no lugar do indivíduo soberano produz-se o indivíduo domesticado. Toda a violência da cultura é-nos apresentada como a propriedade legítima dos povos, estados e igrejas. Obedece-se ainda, seleciona-se ainda, mas de que forma? Para fazer do homem um animal gregário, para destruir os fortes. A seleção e a hierarquia são postos do avesso.
14. MÁ-CONSCÊNCIA, RESPONSABILIDADE, CULPABILIDADE 01. As forças reativas enxertam-se na atividade genérica novamente por uma projeção: é a dívida que é projetada, mudando de natureza nessa projeção. As forças reativas associam-se, não mais respondendo às forças ativas, mas às forças reativas: assim a dívida torna0se dívida para com a “divindade”, a “sociedade” ou o “estado”, todos instâncias reativas. A dívida não mais liberta o homem; ao contrário, torna-se impagável. A “remissão” cristã é apenas uma dor pela qual nos vinculamos à dívida, não um pagamento. A dor é interiorizada, a responsabilidade-dívida torna-se responsabilidade-culpabilidade. responsabilidade-culpabilidade. O homem já não pode pagar a dívida, e o golpe de gênio do cristianismo foi ter feito o próprio credor pagar a si mesmo para libertar o homem, Deus matando o seu filho por amor... ao seu devedor (o homem). 02. Há uma diferença de natureza entre as duas responsabilidades: a responsabilidadedívi dívida da tem tem por por orig origem em a ativ ativid idad adee da cult cultur ura, a, tr tran ansf sfor orma ma a do dorr em be bele leza za.,., medi medida da e irresponsabilidade; tudo na outra é reativo, ressentido, faz interiorizar a dor do devedor impagável, sentindo a dívida como culpa, a qual, segundo o sacerdote, teria sua origem em “nós mesmos” – “você é o responsável por sua dor”; assim é mudada a direção do ressentimento; um pedaço qualquer de passado é colocado como causa da dor, que já não se projeta para fora, mas para dentro, interiorizando-se. Tal mudança não anula, entretanto, o ódio do ressentimento contra os outros: outros: apenas lhe dá uma aparência sedutora. “É por minha culpa” - canto de sereia pelo qual qual seduzimos e des desviamos viamos os outros de sseu eu caminho. Ass Assim, im, a má-con máconsc sciên iência cia rep repous ousaa so sobre bre o des desvio vio da ati ativid vidade ade genéri genérica, ca, sobre sobre a us usurp urpaç ação ão dessa dessa atividade, sobre a projeção a projeção da da dívida.
29
“Só pra incomodar”: nenhuma organização quer perecer; se há uma morte afirmativa, que significa um canto à
vida, issoafirmação não querdadizer se deve sempre querer se morrer deve-se morrer por amor aà consciência vida, comoéuma suprema vida.que De qualquer forma, sempre morre–por suicídio, diz Nietzsche, que não sabe disso... Mesmo ao procurar se manter, algo que já não “se sustenta” vai invariavelmente escolher os meios de sua auto-destruição... nada há de criticável, portanto, em que uma organização queira se manter: é justamente querendo se manter e crescer crescer que ela vai morrer, se for o caso.
15. O IDEAL ASCÉTICO E A ESSÊNCIA DA RELIGIÃO 01. NIETZSCHE procede como se lhe fosse possível distinguir vários tipos de religiões, conforme as diversas forças que podem imperar, não estando a religião essencialmente ligada ao resse ressentim ntimen ento. to. Exi Existi stiria riam m rel religi igiões ões afi afirma rmativ tivas, as, de se senti ntido do profun profunda damen mente te se selet letivo ivo e educativo. Toda seleção implica uma religião. 02. Mas com essa tipologia das forças podemos perder o essencial: a afinidade entre as forças e sua expressão (“só os graus superiores importam”). Ora, sempre que NIETZSCHE fala de uma religião ativa, trata-se de uma religião subjugada por forças de outra natureza diferente da sua30, como por exemplo “religião como processo de seleção e educação nas mãos dos filósofos”. Mas quando a religião impera por si mesma, e cabe a outras forças pedir emprestado uma máscara para sobreviver, a religião encontra sua própria essência, e aí vê-se a vinculação necessária entre ela e o ressentimento: ressentimento e má-consciência são os graus superiores da religião [é a religião que interioriza o ressentimento ainda mais, etc]. 03 A religião é animada por uma vontade, o ideal ascético, que faz triunfar as forças reativas e uma forma da Vontade de Poder. A ficção de um outro-mundo no ideal ascético, a vontade de nada, isso é ao mesmo tempo o que preside a ascensão do ressentimento e o que, a partir do ressentimento, cresce e domina. O sentido do ideal ascético é exprimir a afinidade das forças reativas com o niilismo, exprimir o niilismo como “motor” das forças reativas.
16. TRIUNFO DAS FORÇAS REATIVAS 01. A tipologia nietzschiana põe em jogo toda uma psicologia das “profundidades” ou das “cavernas”; os mecanismos que correspondem a cada momento do triunfo das forças reativas formam uma teoria do inconsciente que deveria ser confrontada como conjunto do freudi fre udismo smo.. Ma Mass os con conce ceito itoss nietzs nietzschi chian anos os nã nãoo tem uma signif significa icação ção exclus exclusiva ivamen mente te psicológica: um tipo constitui realidade biológica, sociológica, histórica e política; a metafísica e a teoria do conhecimento dependem da tipologia, e ela fundamente a filosofia genealógica, nova base, segundo NIETZSCHE, das ciências do homem. CAPÍTULO V 30
O problema é definir a priori uma afinidade (a priori de forças) sem, com isso, pressupor um a priori de expressão expre ssão (a priori de formas); formas); afinal, as forças são só fortes e fracas fracas (na vida real há apenas apenas vontades fortes e fracas – ABM, §21), ativas e reativas conforme conforme uma medida sempre por fazer e que se define a cada caso, no confronto confro nto atual das forças em relação. Pressupor Pressupor que a religião, religião, por ser SEMPRE, supostamente, supostamente, animada por uma vontade – o ideal ascético – é fazer mais ou menos o que fez FREUD com suas pulsões de vida e de morte: haveria uma Vontade de Poder niilista inserindo em eternoessa confronto; uma das grandes contribuições de Nietzsche não foi pensar parae uma alémVontade das oposições, vontademas ascética numa vontade de poder e colocando a vontade ascética como patamar de estabilização-realização da vontade de poder (o estado de direito, por exemplo, como um estado de exceção, uma restrição parcial da VP como um meio para criação de maiores unidades de poder)?
O SUPER-HOMEM CONTRA A DIALÉTICA
01. O NIILISMO 01. “Nihil” significa valor da nada; não é o “não-ser”. A vida toma um valor de nada na medida em que é negada, depreciada, e isso supõe sempre uma ficção, pela qual se opõe algo à vida31. A idéia de um outro mundo, de valores superiores à vida, é o elemento constitutivo de qualquer ficção. Tais valores referem sempre a uma vontade de negar – que é ainda uma Nihil no niilismo significa a negação como qualidade da Vontade de Poder. No Poder. No seu vontade, Nihil vontade, primeiro sentido, niilismo significa, portanto, vontade de nada que se exprime em valores superiores. 02. O niilismo possui um segundo sentido, significando reação, e não mais vontade, quando reage-se conta os valores superiores que denigrem a vida, mantendo, entretanto, essa vida denegrida. Há um nada de vontade, que não é sintoma de uma vontade de nada, mas, no limite, uma negação de qualquer vontade. Esse segundo sentido deva do primeiro: se no primeiro se negava a vida em prol de valores superiores, agora se nega também também os valores superiores, mas sem afirmar a vida; se no primeiro se opunha essência (val. Superiores) e aparência (vida), nega-se agora a essência mas mantém-se a aparência. O segundo sentido é o “pessimismo da fraqueza”. O primeiro sentido é o niilismo negativo; o segundo, um niilismo reativo.
02. ANALISE DA PIEDADE 01. A cumplicidade fundamental entre a vontade de nada e as forças reativas consiste no fato de ser a vontade de nada que faz triunfar as forças reativas, são as forças reativas que levam a vida a negar-se. Quando, sob a vontade de nada, a vida universal se torna irreal, ao mesmo tempo a vida particular torna-se reativa. Ora, as forças reativas querem triunfar sozinhas, e rompem sua aliança com a vontade de nada, projetando mais uma vez sua imagem para escaparem da vontade. Nessa direção elas vão até a extinção passiva, o máximo do nada de vontade. Se o niilismo reativo prolonga o niilismo negativo, este niilismo passivo é o 31
Ver “O Anti-cristo”, §15 – oposição do sonho e da ficção)
result res ultado ado ext extrem remoo do niilis niilismo mo rea reativ tivo: o: ex extin tingui guir-s r-see passiv passivame amente nte de prefer preferênc ência ia a ser conduzido do exterior, pela vontade de nada. 02. ZARATUSTRA diz que Deus morreu sufocado por sua piedade pelo homem. – O que é piedade? É essa tolerância para com os estados da vida vizinhos do zero. Aquele que tem nec necess essida idade de dessa dessa vida rea reativ tivaa é que se será rá piedos piedoso. o. A piedad piedade, e, no sim simbol bolism ismoo de NIETZSCHE, designa sempre esse complexo da vontade de nada e das forças reativas, “a piedade constitui constitui a prática do niilismo.. niilismo.... a piedade con convence vence do nada”. nada”. 03. O homem condena Deus à morte, porque não suporta já sua piedade. O homem põe-se no lugar de Deus Deus,, volta o ressentimento, a má-consciência, contra Deus, e dizreativo põe-se reativo se ateísta: é o ateísmo do ressentimento. O homem reage reage contra contra a piedade de Deus, contra os valores superiores e contra a vida, até que não exista mais nada, não tendo nem sequer, diante desse nada,a a vontade de desaparecer. O último dos homens é homens é o descendente do assassino de Deus. Nenhum Deus. Nenhum pastor e um só rebanho... rebanho... 04. De Deus ao último dos homens, quantas transformações do niilismo; durante muito tempo a vida reativa esforçou-se por segregar seus próprios valores, o homem reativo toma o lugar de Deus: adaptação, evolução, progresso, felicidade para todos, o bem da comunidade, o homem-Deus, o homem-moral, o homem-verídico, o homem-social, são estes os valores novos propostos no lugar dos valores superiores. Em toda essa mudança, entretanto, é sempre a vida reativa, a perspectiva niilista que preside esta história. Por isso NIETZSCHE diz que o niilismo não é um acontecimento na história, mas o motor da história do homem como história universal.
03. DEUS MORREU (228) 01. A fórmula “Deus morreu” não é uma proposição especulativa, mas uma proposição dramática, que opera a síntese da idéia de Deus como tempo, o devir, a história, o homem. Existir ou não-existir deixam de ser determinações absolutas que derivam da idéia de Deus, mas a vida e a morte tornam-se determinações relativas que correspondem às forças que entram em jogo. Deus morre de múltiplas maneiras: 1° Do ponto de vista do niilismo negativo: momento da consciência judaica e cristã: A idéia de Deus exprime a vontade de nada. O ódio à vida em seu conjunto implica uma glorificação da vida reativa. A Consciência judaica apresenta esses dois aspectos: o universal é o ódio à vida, o particular é o amor à vida doente (premissa e conclusão, esse amor como conseqüência daquele ódio). Ao matar Deus, na pessoa de cristo, inventa um Deus do amor “separado” de suas premissas judaicas (que produziam um Deus do ódio).
- Morre um Deus na cruz e nasce outro, que refaz seu pai à sua imagem (ainda o amor à vida reativa); é esse o segundo sentido da morte de Deus: o Pai morre, o Filho refaz um Deus. Aparentemente destacado de suas premissas odiosas, torna-se necessário somente um pouco de fé, sendo com isso necessário que o amor da vida reativa se torne universal. - O terceiro sentido da morte de Deus é a apropriação de São Paulo da morte de cristo; essa interpretação torna a dívida impagável (cristo morre para pagar os nossos nossos pecados); pecados); Deus paga a si mesmo, sacrifica seu filho, por amor (... ao devedor, à nós). Responderemos a este amor nos sentindo culpados (por esse pagamento), repararemos esta dívida acusando-nos. A vida morre, mas renasce como reativa. A consciência cristã é a consciência judaica invertida: o amor tornou-se princípio, o ódio conseqüência, o meio contra o que resiste a este amor; Jesus belicoso, rancoroso, mas por amor. 2° Do ponto de vista do niilismo reativo: momento da consciência européia: Até esse momento a morte de Deus significa a síntese, na idéia de Deus, da vontade de nada e da vida reativa. Mas a vida reativa cresce, e abdica da própria vontade de nada, que era, afinal, ainda uma vontade. O homem reativo mata Deus, segrega assim seu próprio ateísmo feito de um aprofundamento das forças reativas. Esse o quarto sentido da morte de Deus: Deus sufoca por amor à vida reativa. 3° Do ponto de vist vistaa do niilism niilismoo passiv passivo: o: moment momentoo da consciênc consciência ia búd búdica ica:: o Cristo verdadeiro, descontando descontando São Paulo, era uma espécie de Buda, um niilista já no estágio passivo num meio em que a vida reativa ainda debatia-se com a Vontade de Poder. Para além da máconsciência e do ressentimento, Jesus ensinava o homem reativo a morrer passivamente. O budismo é a religião do niilismo passivo; o próprio da história cristão européia é criar esse niilismo, um fim que, no oriente, já está dado. “O budismo progride em silencio em toda a 32
Europa” 4. CONTRA O HEGELIANISMO (235) 01. Essa filosofia da história e da religião não é uma retomada ou caricatura de HEGEL. A morte de Deus, a deificação do homem, não tem sentido em si: tem tantos sentidos quanto forças se apoderam dessa morte. Esperamos ainda as forças que conduzirão essa morte ao seu grau superior. Contra o romantismo e a dialética, NIETZSCHE desconfia da morte de Deus. Se para HEGEL ela significa a superação da oposição finito/infinito, Deus e indivíduo – e basta tempo para que esse sentido “em si” se torne também “para si” – para NIETZSCHE o tempo é necessário para a formação das forças que darão a essa morte um sentido que ela não 32
Vontade de Poder, III, 87
tem em si, que lhes fornecem uma essência determinada com o esplêndido presente da exterioridade. 02. A dialética não aflora sequer à interpretação, confunde-a com o desenvolvimento do sint sintom oma; a; ali ali onde onde ela ela vê op opos osiç içõe ões, s, há apen apenas as si sint ntom omas as.. Co Cons nsid ider eran ando do os si sint ntom omas as abstratamente, fazendo do movimento aparente (tese > antítese > síntese) a lei genética das coisas (e assim não vendo que a diferença é o único princípio de gênese, que produz ela própria a oposição como simples aparência), retendo do princípio apenas uma imagem ficção.. Para NIETZSCHE 1) a dialética invert inv ertida ida,, toda toda dialét dialética ica se mov movee no ele eleme mento nto da ficção desconhece o sentido porque ignora a natureza das forças que se apropriam concretamente dos fenômenos; 2) desconhece a essência, porque ignora o elemento real de onde derivam as forças; 3) desconhece a mudança, porque se contenta em operar permutações abstratas entre termos abstratos. 03. Todas essas insuficiência possuem uma mesma origem: a ignorância da questão “quem?”. O homem que se reconcilia com Deus em HEGEL, o homem que toma o lugar de Deus em FEUERBACH, - quem são esse homem e esse Deus? Seguem sendo, antes como depois da “síntese”, o homem escravo, o Deus supremo; apenas “invertem” posições; há aí apenas uma mudança abstrata, uma aparência de mudança. 04. A oposição apenas é o elemento genético das forças do ponto de vista das forças reativas; elas é que projetam uma ficção (Deus) como oposição ao mundo, como gênese das forças. A dialética é a ideologia natural do ressentimento, o pensamento na perspectiva do niilismo.
05. AS TRANSFORMAÇÕES DA DIALÉTICA (240) 01. [ segue-se segue-se uma cr ítica ítica envolvendo HEGEL, FEUERBACH e STIRNER, cont ra ra a dialética, da qual t ransponho dialética, da ransponho apenas o esqueleto do argumento; fls. 240-243] STIRNER foi um dialético que fez da questão “quem” o essencial, conduzindo assim a dialética ao seu verdadeiro resultado: saltus resultado: saltus mortalis. 02. 02. ST STIR IRNE NER R mo most stra ra qu quee a idéi idéiaa (H (HEG EGEL EL), ), a co cons nsci ciên ênci ciaa (B (BAU AUER ER), ), a es espé péci ciee (FEUERBACH) são alienações, como a teologia. Mas para STIRNER, superar a alienação significa então puro e frio f rio aniquilamento. 03. O hegelianismo encontrava seu desfecho num niilismo triunfante. Assim, STIRNER é o dialético que revela o niilismo como verdade da dialética.
6. NIETZSCHE E A DIALÉTICA
01. Os temas hegelianos estão presentes em NIETZSCHE como o inimigo que ele combate. comb ate. Ele não cessa de denu denuncia nciarr o caráter teológico da filosofia alemã, a impotência dessa filosofia para sair da perspectiva niilista, a incapacidade dessa filosofia para alcançar outra coisa que não o eu, o homem ou os fantasmas do humano, o caráter mistificador das ditas transformações dialéticas. STIRNER não é diferente: se revelou a verdade da dialética, não escapou a essa verdade; foi incapaz de por a questão “quem” noutra perspectiva que não a do humano. 02. A tarefa positiva de NIETZSCHE é dupla: o super-homem e a transvaloração. Não a questão “quem é o homem?”, mas “quem é que supera o homem?”. O super-homem não tem nada em comum com o ser genérico dos dialéticos, a espécie ou o “eu”, não é uma oferta maior: difere em natureza do homem. O super-homem define-se por uma nova maneira de sentir (outro (outro sujeito que não o homem), uma nova maneira de pensar (outros predicados que não o divino), outra maneira de avaliar (mudança (mudança no elemento do qual deriva o valor dos valores). 03. Do ponto de vista desta tarefa positiv positivaa todas todas as intenções intenções críticas críticas de NIETZSCHE NIETZSCHE encontram a sua unidade; numa mesma polêmica ele engloba o cristianismo, o humanismo, o egoísmo, o socialismo, o niilismo, as teorias da história e da cultura, a dialética. Tudo isso forma a teoria do homem superior , objeto da crítica de N..
7. TEORIA DO HOMEM-SUPERIOR 01. A teoria do homem superior, o essencial de Z., está no livro IV desse texto. O homem superior tem sua ambivalência constituída pelo ser reativo do homem e pela atividade genérica do homem. O homem superior é a imagem pela qual o homem reativo se apresenta como “superior”; ao mesmo tempo, é a imagem na qual aparece o produto da cultura. 02. Os dois reis são os guardas da atividade genérica, o homem das sanguessugas é o produto dessa atividade como ciência, o último para é o produto dessa atividade como religião, o mendigo voluntário quer saber qual o produto adequado dessa atividade (e o descobre na ruminação), a sombra é esta própria atividade enquanto perde seu objetivo e procura seu princípio. princípio. 03. Todos esses personagens representam simultaneamente as forças reativas e seu triunfo, a atividade genérica e seu produto. Por isso Z. os trata de duas maneiras: ora como inimigo infame, ora como hóspede, quase companheiro de empresa.
8. SERÁ O HOMEM ESSENCIALMENTE “REATIVO”? (250)
01. Essa ambivalência pode ser interpretada com exatidão perguntando em que medida o homem é essencialmente reativo. NIETZSCHE apresenta a vitória das forças reativas como algo essencial no homem, mas ao mesmo tempo t empo mostra períodos ativos no homem. 02. Mas o que constitui o homem e seu mundo não é apenas um tipo particular de força, mas, mais profundamente, um devir de forças em geral, o devir-reativo de todas as forças. Ora, um tal devir exige sempre como seu termin terminus us a quo a quo a presença da atividade, que passa para o seu contrário ao devir. Existe de fato essa atividade humana, mas estas forças são apenas o alimento de um devir reativo, o qual define o homem. O verdadeiro genérico não é a [cultura],, mas seu devir reativo. atividade do homem [cultura] 03. No homem, o próprio objetivo é falhado, não em virtude de meios insuficientes, mas em virtude de sua natureza. É nesse sentido que os dois aspectos do homem superior são conciliados: o homem reativo como expressão sublimada das forças reativas, o homem ativo como produto essencialmente errado. Não é verdade, portanto, que o super-homem é vitorioso onde o homem superior foi derrotado. O super homem não é um homem que se que se supera. 04. A ativid atividade ade ge genér nérica ica é es essen sencia cialme lmente nte falhad falhadaa porque porque quer quer ad adest estras ras as força forçass reativas, tornando-as aptas a serem agidas, sem o poder de afirmar que constitui o devir-ativo. Falta-l Fal ta-lhe he uma von vontad tadee que a ultrap ultrapass asse, e, que vei veicul culee su suaa su super perior iorida idade de (uma (uma vontad vontadee afirmativa). 05. O homem superior nunca se eleva até o elemento da afirmação; ele quer converter a reação em ação; mas Z. quer converter a negação em afirmação, e nunca se conseguirá aquela sem esta. O elemento da afirmação é o que falta ao homem. O homem superior não sabe rir, jogar, dançar; adoram adoram o burro com seu “I-A”33, mas de uma maneira teológica.
9. NIILISMO E TRANSMUTAÇÃO: O PONTO FOCAL 01. O reino do niilismo é poderoso; exprime-se nos valores superiores a vida, nos valores reativos e ainda no mundo sem valores; em tudo isso, sempre o mesmo princípio: uma vontade de nada. Sob o império do negativo, a atividade nada pode. 02. NIETZSCHE chama transvaloração não à mudança dos valores, mas a mudança no elemento do qual deriva o valor dos valores. A apreciação em vez da depreciação, a afirmação como VP, a vontade como vontade afirmativa. Permanecendo no elemento do negativo, não faz diferença mudar os valores: somente mudando o elemento se vence o niilismo. 03. Para N., todas as formas de niilismos analisadas anteriormente constituem um niilismo [não] acabado, incompleto. incompleto. Ao mesmo tempo, NIETZSCHE diz que o niilismo é venc vencid idoo por si mesmo. Não será o mesmo que dizer que a transvaloração, transvaloração, que vence o 33
Algo como “SIM” em alemão; ver Zaratustra, livro IV.
niilismo, é a forma acabada de niilismo? Uma primeira razão para isso é que, mudando o eleme ele mento nto dos dos val valore ores, s, des destró trói-s i-see todo todoss os valores que dependem do velho elemento; a transvaloração é um niilismo acabado porque dá à crítica uma forma acabada, “totalizante”. 04. Os valores que dependem desse velho elemento ao todos os valores conhecidos até o momento da transvaloração. Porquê? Porque a Vontade de Poder aparece no homem e dá-se a conhecer como vontade de nada. A vontade de nada não é apenas uma qualidade da VP, mas a RATIO COGNOSCENDI 34 da VP em geral. “Pensamos” a VP sob uma forma distinta daquela pela qual a conhecemos35. Longínqua sobrevivência de KANT e SCHOPENHAUER: o que nós conhecemos da VP e dor e suplício, mas a VP é ainda a alegria desconhecida, sendo que essa face desconhecida, desconhecida, essa outra qualidade da VP é a afirmação. E a afirmação não é apenas uma outra qualidade da VP, é a RATIO a RATIO ESSENDI 36 da VP em geral. Da afirmação derivam os valores novos, pois trata-se de criar o próprio conhecimento, afirmação de todas as negações conhecidas. Assim, o niilismo não se completa sem se transmutar na afirmação. 05. O último dos homens, o do niilismo passivo, é um resultado das forças reativas, não da Vontade de Nada; é fruto da separação destes últimos. Mas a VN prossegue o seu trabalho, para além do homem reativo, reativo, criando o “homem que quer quer perecer”. Este homem da ddestruição estruição ativa é cantado por NIETZSCHE quer ser superado, ir para além do homem, já a caminho do super-homem. “Amo aquele que vive para conhecer e que quer conhecer, para que um dia o super-homem exista. Do mesmo modo, quer seu próprio declínio”37. Isso quer dizer: amo aquele que se serve do niilismo como da ratio cognoscendi cognoscendi da VP, mas que encontra na VP uma ratio essendi na essendi na qual o niilismo é vencido. 06. A destruição ativa significa o momento de transvaloração na vontade de nada. A destruição torna-se ativa, na medida em que o negativo (a vontade de nada, separada das forças reativas) é transvalorado, convertido em poder afirmativo [de [de destruição] destruição] É este o ponto “decisivo” da filosofia filosofia dionisíaca: o ponto em que a negação eexprime xprime uma afirmação da vida. Esse ponto, a meia-noite, é a conversão da ratio cognoscendi cognoscendi na ratio essendi da essendi da VP. Passando pelo último dos homem, mas indo além, o niilismo encontra sua realização: o homem que quer perecer.
10. A AFIRMAÇÃO E A NEGAÇÃO (262) 01. Transvaloração significa: 1)mudança 1)mudança na qualidade da VP – os valores derivam agora da afirmação; o elemento dos valores muda de lugar e de natureza; 2) passagem 2) passagem da ratio 34
Algo como “razão éque pode serpor conhecida” - ??; filósofos,Criadora” por favor... Estrutura parecida apontada Bergson na “Evolução para explicar nossa maneira de pensar mecanicamente o mundo, embora estejamos necessariamente inseridos na duração. 36 Algo como “razão essencial” - ?? 37 Zaratustra, prólogo, 4. 35
cognoscendi à ratio essendi na VP: somente pensamos a VP tal como ela é na medida em que a razão de conhecer é uma qualidade que passa para o seu contrário , encontrando nesse contrá con trário rio a raz razão ão de se serr des descon conhec hecida ida;; 3) conversão do elemento na VP – conversão do negativo em poder de afirmar. Negação não como conversão do reativo mas como sacrifício do reativo (destruição ativa) 4) reino da afirmação na VP – somente a afirmação subsiste; mesmoo o nega mesm negativ tivoo se inco incorp rpor oraa ne nela la;; 5) 5) crí críti tica ca dos dos valo valores res conh conheci ecido doss – os valores conhecidos até o momento perdem seu valor; mas a afirmação faz dessa destruição uma destruição total; 6) inversão da relação de forças - as forças reativas são negadas, todas as forças se tornam ativas; a afirmação constitui um devir-ativo como o devir universal das forças. 02. A afirmação e a negação opõe-se como duas qualidades da VP, duas razões na VP, duas totalidades que se excluem, sendo que a negação é constitutiva do homem. Com o homem, é o mundo inteiro que se torna doente. Inversamente, a afirmação só se manifesta acima do homem, fora do homem, no desconhecido que traz consigo. O super-homem é a “espécie superior de tudo o que é”. 03. Como então a afirmação teria uma condição preliminar negativa? 1) a destruição como destruição ativa constitui a marca do criador .38 A afirmação e seguida por uma negação tão enorme e ilimitada quanto ela. 2) a afirmação é precedida de uma negação imensa imensa – o “sim sagrado” da criança é precedido pelo “não sagrado” do leão; a destruição ativa do homem que quer perecer é prenúncio do criador. Separada dessas duas negações, a afirmação é impotente para se afirmar 39. 04. Por isso o burro não é o animal dionisíaco; sua aparência é dionisíaca, mas sua realidade é cristã. Diz sim, mas não sabe dizer não. não . O sim do burro é um falso sim, afirmação separada das duas negações que deveriam rodeá-la. 05. 05. Nã Nãoo há cont contra radi diçã çãoo aí; aí; a afirm afirmaç ação ão di dion onis isía íaca ca nã nãoo co comp mpor orta ta ne nega gaçã çãoo co como mo qualidade primeira, poder autônomo; autônomo; por outro lado, a afirmação só é real e completa se cercad cer cadaa de ne negaç gação ão como como poder de afirmar ; a afirmação não afirmaria a si própria se a negação não rompesse a aliança com as forças reativas e se tornasse, no homem que quer perecer, poder de afirmação. Daí a importância da distinção entre ressentimento, poder de negar que se exprime nas forças reativas, e agressividade, maneira de ser ativa de um poder de afirmar 40. O negativo, em seu grau superior, torna-se positivo, sendo então apenas modo de ser daquele que é poderoso, agressividade agressividade..
38
“Conheço a alegria do destruir num grau conforme a minha força de destruição”, diz Nietzsche – EH, IV, 2. Ver EH, III, “Além do Bem e do Mal”, e Zaratustra, 8, e IV, 2, 4 40 Não seria “maneira de ser ativa de um poder de NEGAR?” O resumo segue o original. 39
06. NIETZSCHE se opõe a toda forma de pensamento que se mova no elemento do negati neg ativo. vo. A um tal pen pensam sament entoo ne negat gativo ivo são necessárias duas negações para fazer uma (aparência) de afirmação; a afirmação; a atividade é aí apenas uma reação. Z. opõe-lhe a afirmação pura, para a qual é necessária e suficiente a afirmação para fazer duas negações, negações, que são as maneiras de ser da afirmação como tal. Á famosa positividade do negativo, NIETZSCHE opõe sua negatividade do positivo.
11. O SENTIDO DA AFIRMAÇÃO (269) 01. A afirmação nietzschiana comporta duas negações; porquê? Porquê a afirmação do burro é uma falsa afirmação? afirmação? 02. Para o burro, assim como para o camelo, no início do Zaratustra, os fardos que carrega em seu largo lombo tem o peso o peso do real . Para eles, afirmar quer dizer apenas carregar, assumir, aquiescer ao real tal qual é. 03. O burro experimenta como a positividade do real o peso dos fardos com que foi carregado (pelo espírito de gravidade; bem e mal são alguns desses pesados fardos, com que somos carregados na infância...) infância...) O burro é em primeiro lugar Cristo, em segundo lugar o livre pensador. Ambos, seres etéreos, que vêem na carga que carregam a realidade do real, e por isso – pelo “peso” que sentem - chamam-se a si mesmos de “realistas”, acreditando haver realidade realid ade onde há peso peso.. Mas essa realida realidade de é niilis niilismo. mo. O grito que Z ouve é uma afirmação afirmação como adesão ou aquiescência ao real – uma afirmação como conseqüência de premissas negativas. 04. Nessa crítica da afirmação como assunção, NIETZSCHE critica toda concepção que faça da afirmação uma simples função do ser (seja este o verdadeiro, o real, o número ou o fenômeno). Enquanto a afirmação é pensada como função do ser (HEGEL) o próprio homem aparec apa recee com comoo fun funcio cionár nário io da afi afirma rmaçã çãoo [e, assim, funcionário do ser; ao contrário, a afirmação está a serviço da diferença, ou do ser como diferença, conforme se verá mais adiante]. 05. NIETZSCHE quer dizer três coisas: 1) o ser, o verdadeiro, o real, são transformações carrega gand ndoo-aa com com os ma mais is pesa pesado doss fard fardos os.. do niil niilis ismo mo,, ma mane neir iras as de nega egar a vid vida carre NIETZSCHE não acredita na auto-suficiência do real. 2) A afirmação como afirmação “daquilo que é” é uma falsa afirmação. O burro diz “sim” a tudo que é “não”, não faz ainda, como o leão, da negação um poder de afirmar, fazendo a afirmação estar a serviço do negativo. 3) essa falsa afirmação constitui uma maneira de conservar o homem, atrelando-o ao ser, ao verdadeiro, ao real. Mas o mundo não é real nem verdadeiro, mas vivo, é VP, vontade do falso, Efetuar a vontade de falso é avaliar, viver é avaliar; o sensível e o real são avaliação,
ilusões. “A vontade de parecer, de iludir, de enganar, a vontade de devir e de mudar (ou a ilusão objetivada) é mais profunda, mais metafísica do que a vontade de ver o verdadeiro, a realidade, realid ade, o ser, sendo este último ainda apena apenass uma forma de tendência tendência para a ilusão” ilusão”41. O que agora reina é a negação como qualidade da VP. Pelo contrário, um poder de afirmar, um mais alto poder do falso, falso, um devir afirma afirmativo, tivo, consti constituem tuem a outra qualidade qualidade da VP. Afirmar VP. Afirmar não é carregar-se, mas libertar, descarregar aquilo que vive. Afirmar é tornar leve e ligeiro. ligeiro . Só existe criação na medida em que, longe de separar a vida daquilo que ela pode, nos servimos do excedente para inventar novas formas de vida. É necessário criar o mundo. Mas o homem não realiza essa tarefa, o homem apenas eleva a negação até o poder de afirmar, mas afirmar o todo, afirmar a afirmação, ultrapassa o poder do homem. Assim, afirmar não é o real, mas a avaliação42; não é a assunção, mas a criação; não o homem, mas o super-homem. Daí a afirmação nietzschiana da arte, pois a arte realiza todo esse programa: o mais alto poder do falso, a afirmação afir mação dionisíaca.
12. A DUPLA AFIRMAÇÃO: ARIADNE 01. A afirmação é ser; o ser não é o objeto da afirmação, não é o poder de afirmar; o ser é afirmação em toda sua potência. O ser e o nada são a expressão abstrata da afirmação e da negação. 02. A afirmação é o ser enquanto é, para si mesmo, seu próprio objeto43. A afirmação em sí mesma, como afirmação primeira, é o devir; como afirmação de si mesma, isto é, afirmação da afirmação, segunda afirmação, é o ser 44. Dionísio é a primeira afirmação; Ariadne a segunda. 03. O labirinto, outra imagem freqüente, designa o inconsciente, o devir, a afirmação do devir; o verdadeiro labirinto é Dionísio. 04. A afirmação e a negação como qualidades da VP, não possuem uma relação unívoca: a negação opõe-se opõe-se à à afirmação, mas a afirmação difere da negação e essas são suas essências. A afirmação é primeiramente o múltiplo (diferença de um e de outro), o devir (diferença com relação à si mesmo) e o acaso (diferença “entre todos”, ou distributiva); como afirmação 41
VP, IV, 8 “Afirmar não é o real, mas a avaliação”; mais adiante ele dirá que afirmar é o ser como diferença (isto é, não o real, mas a diferença, o retorno da diferença; posso dizer então que diferença e avaliação (isto é, ilusão), estão próximas, participam do mesmo jogo – isto é, o SER verdadeiro verdadeiro é a criação... 43 Espinosa e sua “causa sui”? 44 Uma tentativa – leiga, é claro - de desenlear essa parte, um tanto complicada, e a seguinte, seria fazer notar que 42
ouma ser conseqüência “em si” é a diferença pura; de o devir é apenas umacomo expressão do ser, diríamos: uma formaodeserapreensão dessado diferença, necessária sua constituição diferença; (ou um lado ser) da diferença é o devir; a VP “cria” a diferença, afirmando-se a si mesma; assim, é próprio da diferença reproduzirse, como afirmação e devir, e vice-versa; o ser ou a essência da afirmação é, portanto, ao mesmo tempo a diferença, o devir e a afirmação de ambos (o que podemos condensar na idéia do eterno retorno). Enfim, acho.
afirmada, eleva-se a diferença à sua mais alta potencia, e diz-se do devir o ser, do múltiplo o uno, do acaso a necessidade. Assim, é próprio da afirmação o retornar [isto é, o ser do devir, devir, o uno do múltiplo, a necessidade do acaso], acaso] , o que é o mesmo que dizer que é próprio da diferença reproduzir-se; tudo isso é o eterno retorno. São dois, portanto, os poderes de afirmar> o devir e o ser são uma mesma afirmação, duplicada no segundo caso (Ariadne); mas a afir afirma maçã çãoo pr prim imei eira ra (D (Dio ioní nísi sio) o) é o eter eterno no re reto torn rno. o. É A VP CO COMO MO EL ELEM EMEN ENTO TO DIFERENCIAL QUE PRODUZ E DESENVOLVE A DIFERENÇA NA AFIRMAÇÃO.
13. DIONÍSIO E ZARATUSTRA (282) 01. A lição do Eterno Retorno é que não há retorno do negativo; o ser [como diferença] é seleção. O devir, o múltiplo, o acaso, não contém qualquer negação; a diferença é a afirmação pura. A lição prática de NIETZSCHE é a seguinte: a diferença é feliz, só a alegria retorna. Nunca, depois de LUCRÉCIO (exceção feita à ESPINOSA) se tinha levado tão longe a empresa crítica que caracteriza a filosofia. 02. O negativo expira às portas do ser. A oposição cessa seu trabalho, a diferença começ com eçaa os seus seus jog jogos os.. NIETZS NIETZSCHE CHE chama transmutação transmutação o ponto em que o negativo é convertido em poder de afirmar. 03. Toda a historia de Z. se confina às suas relações com o niilismo. É com Z. que a negação nega ção perde seu poder e sua quali qualidade dade:: para além do homem reativo reativo,, o destruidor dos valoress conhe valore conhecidos; cidos; para além do ultimo dos homens, o homem que quer perecer ou ser superado. 04. Z. é uma condição para o Eterno Retorno, é pai do super homem, mas é uma condição submetida à um incondicionado. O Eterno Retorno e o super-homem estão no cruzamento de duas linhas genéticas desiguais. 05. Por um lado, remetem para Z. como o princípio condicionante que os “postula”; por outro lado, remetem para DIONÍSIO como o princípio incondicionado que funda seu caráter apodítico e absoluto. 06. Z. refere o negativo à afirmação; Dionísio faz da afirmação a razão de ser da VP. Tudo Tu do qu quee é afir afirma mati tivo vo enco encont ntra ra em Z. su suaa co cond ndiç ição ão e em Di Dion onís ísio io se seuu pr prin incí cípi pioo incondicionado. Referidos à Z. o riso, o jogo, a dança, constituem os poderes afirmativos da trans tra nsmu muta taçã ção; o; refe referi rido doss à DI DION ONÍS ÍSIO IO,, cons consti titu tuem em po pode dere ress af afir irma mati tivo voss de re refle flexã xãoo e desenvolvimento desenvolvime nto [da diferença, isto é, do ser].
CONCLUSÃO (289)
01. A filosofia moderna apresenta amalgamas que testemunham sua vitalidade, mas comportam também perigos para o espírito. Um pouco de ontologia e antropologia, ateísmo e teologia, teolo gia, espir espiritual itualismo ismo crist cristão, ão, dialé dialética tica hege hegeliana liana,, fenomenol fenomenologia ogia (escolásti (escolástica ca moderna), moderna), fulgurações nietzschianas – estranhas combinações. Mistura que celebra a ultrapassagem da metafísica e mesmo a morte da filosofia. Tentamos, neste livro, romper alianças perigosas. Imaginamos NIETZSCHE retirando as fichas de um jogo que não é o seu.
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