Não+sei+s..
Short Description
Download Não+sei+s.....
Description
Escola Salesiana de Manique Português 2011 – 2012 Análise do Poema “Não sei se é sonho se realidade” Tema: Sonho, evasão, fuga da realidade, frustração da procura de uma felicidade terrena que o sujeito lírico sabe que é impossível o que lhe provoca um sentimento de impotência e frustração. Desprezo/desejo pelo passado. Contextualização: Pessoa é frustrado devido à sua infância. Na sua opinião o passado foi inútil porque ele não viveu a sua infância devido às mortes que presenciou (pai e irmão). Por este motivo a sua infância foi curta pelo que se tornou uma criança precoce. Assim, Pessoa sente que a infância foi absurda porque a desperdiçou o único tempo em que poderia ser verdadeiramente feliz, pois é quando se é inconsciente. Se não viveu a sua infância, então a sua salvação são os sonhos já que tudo é efémero e a vida é demasiado curta para se conseguir ser feliz. Ideias gerais (interpretação do texto introdutório): Pessoa retrata o sonho de duas formas distintas:
O sonho traz-lhe conforto, é uma recompensa por ser obrigado
a viver na realidade onde é impossível ser feliz. Pessoa é consciente de que a realidade é má, daí ser impossível ser feliz e ter que recorrer ao sonho que se torna o seu refúgio
Ao sonhar, o sonho torna-se cada vez mais real pelo que
começa a fazer parte da realidade da vida do sujeito poético e como na realidade é impossível existir felicidade por existir mal, este sonho torna-se também fonte de frustração Ainda acerca da conotação negativa do sonho, o poeta apercebesse da felicidade alcançada somente no sonho pelo que se sente impotente e frustrado por esta felicidade só ser possível quando não está consciente. A felicidade é momentânea, de nada lhe serve pois ele sabe que vive na realidade e não no sonho Assim, Pessoa escreve então acerca deste binómio sonho/realidade; interseccionismo destes dois aspectos.
Análise de Conteúdo 1ªParte (1ªEstrofe): Enaltecimento do sonho, retratado como o paraíso, como um sítio em que tudo é bom e que qualquer pessoa se sente verdadeiramente feliz e amada 2ªParte (2ªEstrofe): Surge a incerteza e o sonho começa a parecer algo inalcançável, começa a tornar-se algo simplesmente teórico e mais abstracto. Conclui que os sonhos são momentâneos e que não deve ser solução ser feliz numa fantasia; não é possível sentirmo-nos realizados se a felicidade só é vivida durante a noite no campo do irreal 3ªPate (3ª e 4ª Estrofes): Contradição do que enunciou na 1ª estrofe; negação do sonho. Conclui que o sonho só é bom se for irreal, mas é na realidade que vivemos, por isso a felicidade que devemos procurar é terrena e não uma felicidade idealizada, imaginária. Conclusão de que há alternativas ao sonho e que nos permitirão ser felizes a mesma, mas não ao sujeito lírico, ele sente que para ele é impossível esta felicidade e sente-se ainda mais frustrado
Titulo: Ideia principal do poema – Qual a solução para a felicidade, onde é possível afinal atingir o paraíso, a plenitude? 1ª Estrofe: “Não sei se é sonho, se realidade, /Se uma mistura de sonho e vida, /Aquela terra de suavidade /Que na ilha extrema do sul de olvida.” A ilha extrema do sul é a ilha dos Amores que já Camões havia descrito em Os Lusíadas (Melhor é experimentá-lo que julgá-lo, /Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo). Esta ilha é o paraíso, o lugar de recompensa dos homens passado muito sofrimento e, como tal, lá tudo é perfeito, não há mal e a felicidade é possível. Como a perfeição é utópica, esta ilha é longínqua (extrema), como uma terra que se olvida, que é esquecida. Apesar de longínqua, esta terra é o desejo de qualquer pessoa, é suave, amacia a vida, torna-a mais fácil.
O sujeito lírico não distingue se esta ilha é sonho ou realidade pois por ser algo tão bom e por pensar tanto nela, torna-se nítida e concreta, assemelhando-se à realidade. Ele sente a perfeição da ilha extrema do sul. Mas o sujeito lírico sabe também que algo tão bom e tanta perfeição não podem ser reais, pois a realidade é má e fonte de sofrimento, não de alento como a ilha o é. “É a que ansiamos.” Pois todos nós desejamos alcançar uma felicidade terrena. EU NÓS “Ali, ali/A vida é jovem e o amor sorri” Ali pois está longe, não está presente ou à vista do sujeito lírico, este não a sente, mas acredita que existe ali, algures. E é ali que a vida é jovem e o amor sorri, ou seja, é nessa ilha que vivemos o sonho, que nos sentimos verdadeiramente amados, onde não existe solidão humana, que Pessoa sempre sentiu, e é também aí que existe juventude, uma das coisas que o Homem procura, a vida eterna, a imortalidade, a negação da morte – com esta juventude eterna talvez se torne então possível alcançar a felicidade. No fundo é na ilha que o Homem encontra os seus dois maiores desejos: amor (negação da solidão humana) e juventude (negação da morte). “Talvez palmares inexistentes, /Áleas longínquas sem poder ser, /Sombra ou sossego dêem aos crentes /De que essa terra se pode ter.” Palmares inexistentes pois esta terra de suavidade não pode ser real, e é aqui que começa a incerteza, com o talvez. O sujeito poético começa a duvidar da existência desta terra de suavidade. Palmares – zonas de palmeiras, como um oásis, áleas – zonas que arvoredos. Sem poder ser – esta terra não pode existir na realidade. Sombra ou sossego, ou seja, esta terra tem que dar provas de ser real (sossego) ou assombrar os crentes pela sua inexistência. Os crentes são as pessoas que acreditam que a felicidade terrena é possível e que acreditam que é possível alcançar esta terra, e só eles têm algo alento, uma sensação temporária de calma.NÓS ELES “Felizes, nós?” Se será então possível ser feliz nesta terra do sonho. Há uma reflexão acompanhada de dúvida. Se fomos verdadeiramente felizes e se é realmente possível ser feliz.
“Ah” Desalento. “talvez, talvez,/Naquela terra, daquela vez.” O sujeito lírico começa então a pensar se o sonho é a melhor opção, pois promove apenas felicidade momentânea para além de não ser real. Ou seja, só somos felizes naquela terra, na terra do sonho e daquela vez, da vez que sonhamos, não na nossa vida. É uma felicidade fútil e temporária. “Felizes nós” Pode ter dois significados – nós seres humanos, ou todos os nós que existem dentro de Fernando Pessoa. “Mas já sonhada de desvirtua, /Só de pensá-la cansou pensar, /Sob os palmares, á luz da lua, /Sente-se o frio de haver luar.” O mas vem destruir o poder do sonho. Já sonhada se desvirtua – todo o encanto do sonho se desvanece quando se sonha e pensa nele, pois de tanto se querer algo e de se pensar no assunto, acaba por se tornar real e até o que é perfeito deixa de o ser na realidade. Assim, à luz da lua, da realidade, sente-se a realidade fria. O sonho perde a sua essência na realidade esta terra ao luar é tão semelhante à realidade que se torna tão má, fria e triste como ela. Sonhar o impossível provoca frustração e angústia ao sujeito poético – Só de pensá-la cansou pensar “Ah, nesta terra também, também /O mal não cessa, não dura o bem” Na minha opinião pode ter duas interpretações – nesta terra em que vivemos, ou na terra dita perfeita, também existe mal, ou seja, não é perfeita como em teoria Não é com ilhas do fim do mundo, /Nem com palmares de sonho ou não, /Que cura a alma seu mal profundo, /Que o bem nos entra no coração. O sujeito poético conclui então que a felicidade no sonho não é solução pois não é com esta felicidade efémera, com um paraíso imaginado que podemos dar alento à nossa alma, que podemos curar a tristeza inevitável ou sentir calor no coração. As fantasias não são solução para a nossa vida pois não as podemos viver. “É em nós que é tudo. /É ali, ali,” É dentro de cada um de nós que está a solução. Numa realidade que só nós conhecemos pelo que não pode ser má “Que a vida é jovem e o amor sorri.” É dentro de nós que conseguimos alcançar a verdadeira felicidade e o amor que tanto precisamos e que
pensamos que só é possível em sonhos. O sujeito poético conclui assim que dentro de cada um de nós está a ilha dos amores que tanto desejamos, no entanto, o que para muitos poetas seria uma enorme felicidade (concluir que é possível ser feliz, já que só é preciso procurar dentro de cada um de nós), para Pessoa só lhe provoca mais desalento pois não acredita ter força para a procurar, daí não existir pontuação. Pessoa está apenas a constatar um facto que não se aplica a ele, daí não ser perceptível um sentimento. Análise Formal 4 sextilhas de esquema rimático: ababcc / dedeff / ghghii / jkjkll Rima cruzada e emparelhada, maioritariamente rica e aguda Versos eneassilábicos e decassilábicos Não/ sei/ se é/ so/nho/, se/ rea/li/da/de, - 9 A/ vi/da é/ jo/vem/ e o/ a/mor/ so/rri – 10 Figuras de Estilo Antítese – “Não sei se é sonho, se realidade, /Se uma mistura de sonho e vida,” Pleonasmo - “Não sei se é sonho, se realidade, /Se uma mistura de sonho e vida,” Metáfora – “Aquela terra de suavidade” Sinédoque – “Que na ilha extrema do sul de olvida.”, “Não é com ilhas do fim do mundo,” Personificação – “A vida é jovem e o amor sorri”, “Que o bem nos entra no coração.” Interrogação retórica – “Felizes, nós?” Repetição – “É em nós que é tudo. É ali, ali,”, “Felizes, nós? Ah, talvez, talvez,”, “Ah, nesta terra também, também”, “É a que ansiamos. Ali, ali”
View more...
Comments