Mosaico Smithiano: Um Rascunho de Uma Releitura

July 3, 2019 | Author: Luiz Paulo Tavares Gonçalves | Category: Preços, Produtos, Mercado (Economia), Economia, Demanda
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Mosaico Smithiano: rascunho de uma releitura Luiz Paulo Paulo Tavares Tavares Gonçalves Gonçalves1

o objetivo deste trabalho é fazer a exposição dos esboços da teoria do valor  empreendidos por Adam Smith e, por outro lado, uma leitura da teoria dos preços: deli delimi mita tand ndoo a teor teoria ia dos dos preç preços os de merc mercad ados os e dos dos preç preços os natu natura rais is.. O trab trabal alho ho empr empree eend ndid idoo aqui aqui,, de cert certaa form forma, a, busc buscaa uma uma rele releit itur uraa da teor teoria ia dos dos preç preços os,, pois pois circ circun unsc scre reve ve,, atra atravé véss do respaldo bibliográfico e matemático, a teoria dos preços além da exposição de Smith.

Resumo:

Palavras-chave: Teoria do valor,

preços naturais, naturais, preços de mercado mercado

I - Prolegômeno: teoria do valor

Ao reco recons nstru truir ir sobr sobree nova nova base base a form formul ulaç ação ão teór teóric icaa da prod produt utiv ivid idad ade, e, Ad Adam am Smit Smithh (172 (17233-17 1790 90)) vai vai além além da teor teoriz izaç ação ão econ econôm ômic icaa da Esco Escola la Fisi Fisioc ocra rata ta,, não não obst obstan ante te,, não não nega nega que a terr terra, a, ou seja seja,, que a ren renda fund fundiá iári riaa ten tenha pape apel impo import rtaante nte no proc proceesso sso pro produti dutivvo e na determinação do valor lor, mas, sim, desloca o ponto axial ial para o tra trabalho, o tra trabalho como  produtividade originária, como fonte de riqueza; sendo assim, a atividade produtiva e o excedente não é, como no esquema fisiocrata, monopólio lio dos proprie rietários de terra e da agri agricu cult ltur ura, a, mas mas o efei efeito to de todo todo trab trabal alho ho que, que, com com a divi divisã sãoo soci social al do trab trabal alho ho,, ultr ultrap apas assa sa a manut anuteençã nção e a remu remune nera raçção. ão. Há um red reducio ucionnismo ismo no arca rcabouço ouço teór teóric icoo dos dos  Économistes em não não cons consid ider erar ar a poss possib ibil ilid idad adee de exce excede dent ntee nos nos seus seus dive divers rsos os seto setore res: s: o prod produt utoo líqui líquido do como um fenômeno geral (NAPOLEONI, geral  (NAPOLEONI, 1978, p. 55). É importante res ressaltar, antes tes de dar continuidade ao mosaico Smithiano, que há uma divisão com relação a tão famigerada teoria do valor: nas civilizações primitivas,  pré-capitalistas,  pré-capitalistas, a medida de valor deriva-se somente do trabalho, ou seja, do trabalho incorporado,  pois até tal época não havia apropriação da terra que gerasse renda e, muitos menos, capital antecipado que gerasse lucro, isto é, nas sociedades primitivas, nas  sociedades de produtores independentes, independentes, o valor de troca das mercadorias é proporci rcional à quantidade de trabalho incorporado, ou seja, o valor do trabalho era igual ao valor do  produto do trabalho: trabalho:

 Nessa situação [da socied sociedade ade primit primitiva iva]] , , todo o produto do trabalho pertence ao trab trabal alha hado dor; r; e a quan quanti tida dade de de trab trabal alho ho norm normal alme ment ntee empr empreg egad adaa em adqu adquir irir  ir  ou produzir uma mercadoria é a única circunstância capaz de regular ou determinar a quantidade de trabalho que ela normalmente deve comprar, comandar ou pela qual deve ser trocada (SMITH, 1996, p. 101). Graduando em Economia pela Universidade Estadual de Goiás (Câmpus de Ciências Sócio-Econômicas e Humanas). Gmail: luizpaulolocke@gmail

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Para Para ilus ilustr trar ar a prob proble lemá máti tica ca da cons consti titu tuiç ição ão do valo valorr nas nas  sociedades primitivas, é só imaginar o clássico exemplo da caça: dado o valor de dois cervo rvos, aquele que incorporou maior tempo de caça, ou seja, maior trabalho, necessariamente terá maior valor. Analiticamente, então, podemos expressar os preços relativos:

 P m  P μ  P μ

= lm l μ

(1)

Onde, como bem lembra Enrico Bellino, em  Appunti delle lezioni di Analisi economica2,  P m/ P μ  P μ indicam o preço relativo da mercadoria m expresso em termos da mercadoria μ , enquanto l m e l μ indicam as quantidades de trabalho incorporado, respectivamente, nos bens m e μ . Lembrando que, nas  sociedades primitivas e rudes, rudes, os  preços relativos são expressos sem a determinação das taxas de lucro e renda, pois são inexistentes.  No entanto, após o advento do modo de produção capitalista e, consequentemente, consequentemente, da divisã isão social do trab rabalho , cria-se -se um novo panorama sobre os componente do valor lor, labour comman commanded  ded ; form tríade escolás escolástica tica3:  passando para labour formaando ndo a distr istrib ibuuiçã ição clás lássic sica da tríade lucro, salário e renda:

Deriva Deri vand ndoo tamb também ém a dist distri ribu buiç ição ão de rend rendaa em: em: lucr lucros os para para aplic aplicaç ação ão de capi capita tall que, que, no long longoo pra prazo, zo, é equali ualizzado pela ela conco oncorr rrêência cia intr intraa-ccapit apitaalist listaas em luc lucros ros unif unifor orme mes, s, a

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rend rendaa fund fundiá iári riaa para ara os prop roprie rietári tários os de terr terraas e o salári lárioo para para os tra trabalh alhador adorees; sen sendo que, ue,  para Smith, assim como para boa parte dos teóricos da economia política clássica, o salário dos dos trab trabal alha hado dore ress é o salá salári rioo de subs subsis istê tênc ncia ia:: Sm Smit ithh saw saw such such subs subsis iste tenc ncee not not as a biol biolog ogic ical  al  minim inimuum but but as a soci social al one vary varyin ingg am amon ongg natio ationns (BR (BREMS EMS, 1991 1991,, p. 16). 16). Isto Isto é, dada às varia ariaçõ ções es soc sociais iais de níve ível de subsi ubsisstên tência cia entre tre as nações ções,, a poupa oupannça do tra trabalh alhador ador (Ws (Ws) será será semp sempre re igua iguall ao salá salári rioo rece recebi bido do (W) (W) subt subtra raíd ídoo do cons consum umoo do trab trabal alha hado dorr (Wc) (Wc),, que que é 4 igua iguall a zero zero : W  s = W  − W c = 0

(2)

É importante notar que essa divisão histórico-temporal, da passagem das  sociedades primitivas  para o modo de produção capitalista, coloca uma envergadura hercúlea no trabalho Smithiano; que, sem exagero, é um dos aportes analíticos mais subli ublim mes e cont contro rovverso rsos da econom onomia ia polí políti ticca clás lássica ica. Da mesm mesmaa form formaa, o duali ualissmo com relaç lação à categoria ria de riqueza que, de um lado, ipsis ipsis litter litteris is,, é o contro ntrole le de trab trabaalho lho alhei lheioo e, por outro lado, um mero acúmulo de bens úteis (valor-de-uso) proporcionados pela  produção  — sendo que a acumulação de capital antecede a divisão do trabalho, isto é, a  produção5. Portanto, neste novo contexto, to, não há mais uma estri trita corres respondência entre o valor do trabalho e o valor do produto do trabalho, aliás, a soma dos três fatores distr istrib ibuutiv tivos, os, pagos gos em nív níveis eis natu natura rais is,, form formaam os pre preços ços natu natura rais is.. Trat Trataa-se -se, pois, is, como omo salie lienta nta Carc Carcaanhol nholoo (CAR (CARC CAN ANH HOLO, OLO, 199 1991, p. 197), 7), de uma teoria dos preços pelos com compone ponenntes tes e não um umaa teor teoria ia do valo valorr-tr traabalho alho como como norma ormalm lmen ente te é ente entenndid dida6 . Sendo, não não muit muitoo raro raro,, colo coloca cado do pelo peloss crít crític icos os como como uma uma mera mera teor teoria ia dos dos preç preços os cont contáb ábei eiss atra atravé véss dos custos de produção. Porém, deixa ixando esse debate para um momento mais oportun tuno; como foi mencionado até aqui, todos os preços são redutíveis ao somatório da tríade distribu ibutiv tiva: os três fat fatores ou remunerações são, portanto, componentes tanto do preço natural quanto do preço de mercado. De forma simplificada temos, então,  P  os preços de  K m,  Rm,  Rm, respectivamente, são os níveis naturais unidades m de mercadorias no qual W m,  Km de Salário ( W ), Lucro ( K ) e Renda ( R) :

 P m = W m + K m + Rm,   m = 1, ...,  M 

(3)

A simp simpli lifi ficcada ada equ quaç ação ão,, apen apenaas para para melh melhor or visu visuaaliza lizaçã ção, o, não não está está leva levand ndoo em cons consid ideeraçã raçãoo as açõe açõess do governo (G), ou seja, é um modelo fechado sem intervenção do governo. Sendo os salário ante factum .

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Há um long longoo deba debate te sobr sobree o tema tema entr entree os come coment ntad ador ores es da ob obra ra de Smit Smith, h, pelo pelo curt curtoo espa espaço ço de temp tempoo e para para

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II- Conclusão: Preço Natural e Preço de Mercado

Simplificando o mosaico de peças que foi exposto até aqui: os componentes do triân iângulo dist istrib ributivos são derivados e medidos pelo  Labour commanded , aliás, assim formando os preços:  Importa observar que o valor real dos diversos componentes do preço é medido  pela quantidade de trabalho que cada um deles pode comprar ou comandar. O trab trabaalho lho med mede o valo valorr não não som somente ente daq daquela uela parte rte do preço reço que que se desd esdobra obra em trabalho efetivo, mas também daquela representada pela renda da terra, e daqu daquel elaa que se desd desdoobra bra no lucr lucroo devid evidoo ao empr empres esáário rio. Em tod toda soci socied edad ade, e, o  preço de qualquer mercadoria, em última análise, se desdobra em um ou outro dess desses es três três fato fatore res, s, ou entã entãoo nos três três conj conjuunta ntament mente; e; e em tod toda soci socied edad adee ma mais is evol evoluí uída da,, os três três comp compon onen ente tess inte integr gram am,, em medi medida da ma maio iorr ou meno menor, r, o preç preçoo da  grande maioria das mercadorias (SMITH, 1996, p. 103)

Do triângulo7 distributivo Smithiano demonstrado na equação (3), deriva-se,  portanto, duas das peças fundamentais do mosaico Smithiano: preços naturais e os preços de merc ercado. ado. A prim rimeira eira peça eça, os preç reços natu natura rais is,, é dete etermin rminaada por uma taxa taxa natu atural ral ou média édia que circunscreve os fatores do triângulo distributivo, ou seja, nada mais são que a dete etermin rminaação da remu remune nera raçção dos dos fato fatore ress às taxa taxass natura turais is;; tax taxa comum omum ou médi médiaa que, em nesse caso caso,, a merca mercado doria ria cada cada mome moment nto, o, dete determ rmin inam am níve níveis is natu natura rais is das das três três remu remune nera raçõ ções es:: nesse é vendida exatamente pelo elo que val vale, ou pelo que ela custa sta rea realmen lmentte à pesso ssoa que a coloc loca no merc mercad adoo (SMITH ITH, 1996, p. 109); enquanto, a segunda peça, os preços de merca rcado, é o  preço pelo qual dada mercadoria ou bens e serviços, em interação com a demanda e oferta, é efetivamente vendida ida; sendo que a int interseção entre tre demanda e oferta podem formar um  preço de mercado em equilíbrio, isto é, equalizado com o preço natural ou, dependendo da interação entre demanda e oferta, podem ficar acima ou abaixo do preço natural. Graficamente8, então, podemos expressar a interação entre preços naturais e preços de mercado: 7

Pref Prefer erim imos os util utiliz izar ar uma uma no nova va no nome menc ncla latu tura ra e deix deixar ar de lado lado o típi típico co sent sentid idoo pejo pejora rati tivo vo atri atribu buíd ídoo pela pela ‘’me ‘’mera ra

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Portanto, dado que os preços de mercado  gravitam em torno dos preços naturais: naturais: um aumento da demanda efetiva  D e acima da quantidade Q 1 ofertada, em concorrência, os preços de mercado  P  m seriam superiores aos preços naturais  P  n (como expresso no II quadrante: Q 1 <  D e ⇒  P  m >  P  n ). E, em sentido contrário, um aumento da quantidade Q 2 ofertada acima da demanda efetiva  D e , em concorrência, os preços de mercado  P  m seriam inferiores aos preços naturais  P  n ( como expresso no IV quadrante: Q 2 >  D e ⇒  P  m <  P  n ). E, como foi exposto anteriormente, o ponto de interseção entre preços naturais e preços de mercado ( Q 2 =  D e ⇒  P  m =  P  n ), se s eria o ponto em em qu q ue o preço do d o pr produto, reais, remu os preços os  preços naturais reais, remune nera rand ndoo os comp compon onen ente tess dist distri ribu buti tivo voss às taxa taxa natu natura rais is,, seri seriam am iguais aos custos de produção:

Quando a quantidade colocada no mercado coincide exatamente com o  suficiente e necessário para atender à demanda efetiva, muito naturalmente o  preço de mercado coincidirá com o preço natural, exatamente ou muito apro aproxi xim madam adamen ente te.. Poder oder-s -see-áá vend vender er toda toda a quant uantid idaade disp isponív onível el ao preço reço natu natura ral, l, e não se con conseg seguirá uirá ven vendê-l dê-las as a preço reço mais ais alto lto. A conc concor orrê rênncia cia entr entree os diver iverso soss com comerci erciaantes ntes os obri obrigga tod todos a acei aceita tarr este este preço reço natur aturaal, ma mass não não os obriga a aceitar menos (SMITH, p. 111).

Consequentemente:

(...) o preç preçoo natu atural ral é como como que o preço reço cent centra rall ao red redor do qual qual con continu tinuam amen ente te estã estãoo gra gravita vitanndo os preç preçoos de tod todas as merc mercaadori doriaas. Co Cont ntin ingê gênc ncia iass dive divers rsas as

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de fixa fixarr-se se ness nessee cen centro tro de repo repous usoo e cont contin inuuida idade, de, con consta stantem ntemen ente te ten tenderã derãoo  para ele (SMITH, ele (SMITH, p. 111-112).

Referência bibliográfica:

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