Morcegos em áreas urbanas e rurais - manual de manejo e controle

December 25, 2016 | Author: Marcos Vinícius | Category: N/A
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BRASÍLIA -1998

@1996. Ministério da Saúde.FundaçãoNacionalde Saúde. 13edição 1996 23 edição 1998

É permitida a reproduçãoparcial ou total destaobra,desdeque citadaa fonte. Coordenaçãode Comunicação,Educaçãoe DocumentaçãoCOMEDIASPLAN/FNS GerênciaTécnicade Editoração. Setorde AutarquiasSul, Quadra4 -Bloco N -sala 514 70058-902-Brasília/DF Distribuição e Informação: Coordenaçãode Controlede Zoonosese Animais Peçonhentos -CCZAP. CentroNacionalde Epidemiologia-CENEPI. FundaçãoNacionalde Saúde. SAS -Setor de AutarquiasSul- Quadra4 -Bloco N -60 andar-sala 629. 70058 -902 -Brasília/DF Tiragem: 5.000exemplares. Impressono Brasil / Printed in Brazil. ISBN:

85 -7346 -003 -2

Sumário I -Introdução

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11-Noções Gerais sobre Morcegos

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11.1.Diversidade de Espécies 11.2.Ecolocalização 11.3.Reprodução 11.4.Hábitos Alimentares 11.5.Abrigos

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III -Os Morcegos e o Homem

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111.1.Mitos e Lendas 111.2.Morcegose SaúdePública 111.2.1. Histoplasmose 111.2.2.Raiva 111.2.2.1. Distribuição 111.2.2.2. Animais Hospedeiros 111.2.2.3. Patogenia 111.2.2.4. Sintomatologia 111.2.2.5. Transmissãopor MorcegosHematófagos 111.2.2.6. Transmissãopor Morcegosnão Hematófagos 111.2.2.7. Sintomatologiada Raiva emMorcegos 111.2.2.7.1. Em MorcegosHematófagos 111.2.2.7.2. Em Morcegosnão Hematófagos 111.2.3.MordedurasProvocadaspor MorcegosHematófagose nãoHematófagos 111.2.3.1. MordedurasDefensivas 111.2.3.2. MordedurasAlimentares 111.3. LeiturasAdicionais Recomendadas IV -Principais Grupos Brasileiros (Famílias)

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IV.1. Introdução IV.2. FamíliaPhyllostomidae IV.3. Família Molossidae IV.4. FamíliaVespertilionidae IV.5. FamíliaEmballonuridae IV.6. FamíliaNoctilionidae IV.7. Família Mormoopidae IV.8. Família Natalidae IV.9. FamíliaFuripteridae IV.10. FamíliaThyropteridae IV.11. Leituras Adicionais Recomendadas

09 10 ,... 10 12 15

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v -MorcegosemÁreasUrbanas V.l. Introdução V.2. FichaTécnicadasPrincipaisEspéciesde OcorrênciaemÁreasUrbanasno Brasil V.2.1. Morcego-comedor-de-frutas Artibeusjamaicensis V.2.2. Morcego-das-listras-brancas-na-cabeça Artibeus lituratus V.2.3. Morcego-das-listras-brancas-na-cabeça-e-nas costasPlatyrrhinus lineatus V.2.4. Morcego-de-cauda-curta-e-comedor-de-frutas Carollia perspicillata

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V.2.5. Morcego-beija-florGlossophagasoricina V.2.6. Morcego-de-nariz-em-forma-de-lança Phyllostomushastatus V.2.7. Morcego-de-nariz-em-forma-de-lança Phyllostomusdiscolor V.2.8. Morcego-da-cauda-livre Molossusspp V.2.9. Morcego-de-cauda-livre Nyctinomopssppe Tadaridabrasiliensis"".., V .2.10.Morcego-de-cauda-livreEumopsspp V.2.11. Morcegos-de-cauda-peluda Lasiurus spp V.2.12. Morcego-pequeno-marrom Eptesicusbrasiliensis V.2.13. Morcego-cara-de-bulldog Noctilio albiventris V.2.14. Morcego-narigudoPeropteryxmacrotis V.2.15. Leiturasadicionaisrecomendadas V.3. MorcegosemEdificações V.3.1. Casas V.3.1.1. Cobertura V.3.1.1.1. Cumeeira V.3.1.1.2.Beirais V.3.1.2. Porão V .3.1.3.Chaminés V.3.2. Edifícios V.3.2.1. Juntasde Dilatação V.3.2.2. Dutos de Ventilação V.3.2.3. Esquadrias V.3.3. ElementosDecorativos V.3.4. Caixasde Persiana V.3.5. Procedimentospara DesalojarMorcegosdasEdificações V.3.6. LeiturasAdicionais Recomendadas V.4. MorcegosemPlantas V.4.1. Plantascomo Fontede Alimento V.4.2. PlantascomoAbrigo V.4.3. LeiturasAdicionais Recomendadas VI -Morcegos Hematófagos

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VI.1. Introdução VI.2. FichaTécnicados MorcegosHematófagos VI.2.1. Desmodusrotundus VI.2.2. Diaemusyoungi VI.2.3. Diphylla ecaudata VI.3. Biologia, Ecologiae Etologia dosMorcegosHematófagos VI.3.1. Atividade Alimentar VI.3.1.1. Períodode Atividade Alimentar VI.3.1.2. Procurae LocalizaçãodasPresas VI.3.1.3. Acessibilidadee EscolhadasPresas VI.3.1.4. AproximaçãodasPresas VI.3.1.5. Escolhade Locaispara Morder as Presas VI.3.1.6. Ato de TomarSangue VI.3.1.7. Abrigos NoturnosTemporários VI.3.2. InteraçõesSociais VI.4. ImportânciaSociale Econômica VI.4.1. ImportânciaSocial VI.4.2. ImportânciaEconômica VI.5. Controlede MorcegosHematófagos VI.5.1. Métodosde Controle VI.5.1.1. MétodosRestritivos VI.5.1.2. MétodosSeletivos 4

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VI.5.1.2.1.Indiretos VI.5.1.2.1.1.-AnticoagulanteIntrarruminal VI.5.1.2.1.2.-Anticoagulante Intramuscular VI.5.1.2.1.3.-AnticoagulanteTópico emMordeduras VI.5.1.2.1.4.-AnticoagulanteTópico "Pour-on" VI.5.1.2.2.Direto VI.5.1.2.2.1.AnticoagulanteTópico emMorcegos VI.6. LeiturasAdicionais Recomendadas

VII.l. Introdução VII.2. Materiaise Equipamentos VII.2.1. Equipamentosde ProteçãoIndividual .(EPIS) VII.2.2. Equipamentosde Uso Técnico VII.2.3. Equipamentosde Apoio VII.3. Métodosde Captura VII.3.1. CapturaManual VII.3.2. CapturacomPuçáou Coador VII.3.3. CapturaComRedes-de-Espera VII.3.3.1. Utilização de RedesemÁreasUrbanas VII.3.3.2. Utilizaçãode RedesemÁreasRurais VII.3.4. Alguns Cuidadosno ManuseiodosMorcegos...,..""""""""".""".""".."", VII.3.5. LeiturasAdicionais Recomendadas VII.4. Preservaçãode MorcegosparaColeçõesDidáticase Zoológicas VII.4.1. Objetivos VII.4.2. Métodosde Preparaçãode Coleções VII.4.2.1. PorVia Seca VII.4.2.2. PorVia Úmida VII.4.3. LeiturasAdicionais Recomendadas ,.""""""""""""".."""."""""",

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VIII -Educação em Saúde

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IX -Anexos

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IX.l. InformaçõesAdiconais IX.2. Modelo de Ficha de Atendimentoà População IX.3. Modelo de Ofício paraNotificaçãode Raiva

x -Bibliografia Consultada

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Introdução Desdeque os morcegosse tomaramo segundomaior transmissorda raiva aossereshumanos no Brasil, a Coordenaçãode Controle de Zoonosese Animais Peçonhentos(CCZAP), Fundação Nacional de Saúde,Ministério da Saúde,sentiu a necessidadede um texto abrangente,em língua portuguesa,que pudessefornecersubsídiosà atuaçãodos técnicos ligados à saúdepública. A idéia básica para a produção do texto visava dar conhecimentoteórico e prático 'a esses técnicos, capacitando-osa orientar pessoasleigas sobrea importânciados morcegospara a saúdepública, a economiae, também,paraa natureza. Com esseobjetivo, a CCZAP reuniu, no início de 1994, um grupo de técnicos dispostosa discutir a elaboraçãodessetexto, que culminou na ediçãodo presentetrabalho,chamadode Manual. Desdeo início, o Departamentode DefesaAnimal, Ministério da Agricultura, do Abastecimentoe da Reforma Agrária, apoiou e colaborouna elaboraçãodo Manual. Por essemotivo, seu conteúdofoi ampliado para atendertambémàs atividadesdos técnicosda Agricultura em relação ao controle da raiva dos herbívoros. o Manualestábaseadoem informaçõesde literaturae na experiênciados profissionaisque se propuserama participar da sua redação.Procurou-seutilizar linguagemo menos técnica possível, tornando-oacessívelaostécnicosde campo.Cabeesclarecerque não se deve distribuir esteManual à populaçãoleiga, pois as atividadesmencionadasdevemserorientadase/ouexecutadaspelos técnicos da Saúdee Agricultura. Apesarde referir-sea manejoe controlede morcegosem áreasurbanase rurais, vale ressaltar que este Manual não pretende incentivar o extermínio e nem a exaltação pura e simples dos morcegos.Deve-seconsiderarque há formas de convivênciapacífica com essesanimais, semdeixar de atentarparaa suaparticipaçãona cadeiaepidemiológicade diversaszoonoses. Assim, o termo manejo está sendo aqui utilizado para designaro convívio pacífico das populaçõesde diferentesespéciesde morcegoscom o homem, que deve ser marcado,sempreque necessário,por ações que objetivem afastar os morcegosdas habitaçõeshumanase dos animais domésticos. Por controle, entendem-se as ações executadas em ocasiões determinadas e não aleatoriamente,amparadaspor lei (parágrafo2°, artigo 3° da lei 5.197de 03 dejaneiro de 1967). o presenteManual sobremorcegosem áreasurbanase rurais procura preencheruma lacuna, em âmbito nacional, nas publicaçõesdidáticas sobre morcegos,principalmente com referência às áreasurbanas.Por ser material inédito e inovador, imprecisõese ausênciade informaçõespoderão aparecernestaedição. Assim, críticas e sugestõesserãobem-vindas,para o aperfeiçoamentodeste trabalho.

Diversidade de Espécies Os morcegossão os únicos mamíferos com capacidadede vôo, devido à transformaçãode seusbraçosem asas.Pertencemà OrdemChiroptera,palavraque significa MÃO (chiro) transformada em ASA (ptera). Na foto (Fig.II.l.) é possívelidentificar, na asaaberta,o braço,o antebraçoe a mão.Na mão, podem-se observartodos os dedos: o polegar (único dedo com unha nos morcegos dasAméricas), os metacarpose as falangesdos dedos.

Fig.lI.l. Morfologia geralexternade um morcego(Molossusmolossus),mostrando:An: antebraço;Po: polegarda asa; Or: orelha; Pe: pé; CI: calcâneo;UR: uropatágio ou membranainterfemural; PL: plagiopatágio;PP: propatágio ou membranaantebraquial;DLA: dactilopatágiolargo; DLO: dactilopatágiolongo; DM: dactilopatágiomenor; l"Fa: Ia falange do 30dedo;2"Fa:2" falangedo 30dedo; 3"Fa: 3" falangedo 30dedo.(Foto: W. Uieda)

A ordemChiropteracontématualmentequase1.000espéciese representacercade um quarto de toda a fauna de mamíferos do mundo. Os morcegosestão distribuídos em duas subordensMegachiropterae Microchiroptera -, 18 famílias e 168 gêneros.A subordemMegachiropteracontém apenasa família Pteropodidae,que está restrita ao Velho Mundo (África, Ásia e Oceania). Nesta subordem encontram-seos morcegos de maior porte, conhecidos popularmente como raposas voadoras,que podem alcançaraté 1,10m de envergadurae dois quilogramasde peso.Alimentam-se de partesflorais e de frutos (fitofagia) e dependemde seusgrandesolhos paraos vôos crepuscularese noturnos. A subordemMicrochiroptera é de ampla dlstnbulção geogratlca e inclUI I" famílIas, das quais três são cosmopolitas,isto é, possuemrepresentantesem diversas partes do mundo. Nove famílias destasubordemocorremno Novo Mundo (as Américas),todas com representantesno Brasil. Aproximadamente140espéciesde morcegostêm suaocorrênciaregistradano território brasileiro. Os microquirópterossãogeralmenteanimaispequenos,podendovariar de algunspoucosgramasde peso até 150 a 200 gramas e de 10 a 80cm de envergadura.Seusvôos podem ser crepuscularese/ou

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noturnose dependemde um sistemade orientaçãonoturnamuito mais eficiente do que a visão dos megaquirópteros.

Ecolocalização De modo geral, os morcegossaemde seusabrigosao entardecerou no início da noite. Apesar de voaremno escuro,seusolhos sãofuncionais,havendomuitasespéciesque localizam seualimento com o auxílio da visão, além do olfato. Como os golfinhos e as baleias, os microquirópterosse comunicame voam orientadospor meio de sons de alta-freqüência.O sistemaé conhecidocomo "ecolocalização"(popularmentechamadode "sonardos morcegos")ou localizaçãopelos ecos.Esses mamíferos voadores emitem ultra-sonsque, ao encontraremum obstáculo,retomam em forma de ecoscaptadospelos seusouvidos muito sensíveis,possibilitandoa sua orientação.Algumas espécies conseguem,em vôo, detectarobstáculosda espessurade um fio de cabelo. Com essemecanismo,os morcegosconseguemvoar em locais completamenteescuros,desviando-sede obstáculose caçando insetosduranteo vôo. o sistemade ecolocalizaçãoé característicodos morcegosda subordemMicrochiroptera, e um dos principais responsáveispela maior diversidadede espéciesdessegrupo.Essesistemapermitiu que os microquirópterosexplorassemdiversostipos de abrigo e de alimento.Os megaquirópteros,por se orientarem,basicamente,pelavisão, utilizam poucostipos de abrigo(abrigosexternos,como copas e troncosde árvores)e de alimento (origemvegetal).Isto explicariasuamenordiversidadede formas.

Reprodução Como todo mamífero, os filhotes dos morcegos"s~ogeradosdentro do útero de suasmães. Proporcionalmenteao seutamanho,os morcegossãoos mamíferosque se reproduzemde modo mais lento. Apresentamuma gestaçãode dois a sete meses,dependendoda espécie,e, geralmente,um filhote por gestação(um pequenogrupode morcegosinsetívoros,gêneroLasiurus,pode gerarde dois a três filhotes/gestação).Os morcegosinsetívorostêm um períodode gestaçãode dois a três meses, enquantoque os fitófagos, emtorno de três a cinco meses.O mais longo períodode gestaçãopertence aos morcegoshematófagos,com pelo menosduasdastrês espéciestendo gestaçãode setemeses.O parto ocorre no abrigo,tanto no períododiurno como no noturno,e os filhotes nascemsempêlos, em algumasespécies,oujá com uma pelagemtênue,em outras. Logo após nascer,algumas mães costumamcarregarseus filhotes em vôos de atividade noturna; porém, à medida que cresceme aumentamde peso, toma-se indesejávelseu transporte. Carregandofilhotes, as mãesperdemparte de sua mobilidadee agilidade para as caçadasnoturnas. Por essemotivo, os filhotes podem serdeixadosnos abrigosdiurnos ou transportadosaté um abrigo noturno mais próximo da áreade caçade suasmães.Nos primeirosmeses,os filhotes sãoalimentados com leite materno e, gradativamente,começama ingerir o mesmo alimento dos adultos. O leite, branco, é produzido por um par de mamas,habitualme,,-te situado nas regiões axilares e peitorais (apenas duas espécies apresentammamas abdominais funcionais). Mamas peitorais são uma característicaque somenteo homem, macacos,sirênios,elefantese morcegospossuem(nos outros grupos as mamassão abdominais,como nos bovinos e eqüinos).Geralmente,as mães ensinamaos seusfilhotes o que comer,como conseguire onde encontraro alimento.

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Fig.II.2. Uma fêmeado morcegohematófago,Diaemusyoungi, pouco antesde dar à luz a um único filhote, após setemesesde gestação.É o mais longo periodode gestaçãoconhecidonos morcegos.(Foto: W. Uieda)

Fig.II.3. Uma fêmea do morcego hematófago, Diaemus youngi, logo após dar à luz a um filhote, que imediatamentese agarrouao ventre da mãe,com os polegarese os pés,para se alimentardo leite por ela produzido. (Foto: W. Uieda)

Os morcegos insetívoros, habitualmente,possuemum pico de reproduçãoque ocorre no períodomais quentedo ano (primaverae verão), quandoos insetossão mais abundantes.Assim, há mais alimento disponível e, conseqüentemente, podem produzir mais leite para alimentar seus filhotes. A reproduçãodos morcegosfitófagos estádiretamenteligada à floração e/oufrutificação das plantasque fornecemseualimento; por isso,pode ocorrer em épocasdiferentese, também, mais de 11

uma vez por ano. Os morcegoshematófagosnão têm uma épocadefinida para se reproduzir, pois a quantidadede seualimento na naturezaé constante,isto é, não sofrevariaçãosazonal.Eventualmente, podemter mais de uma cria ao longo do ano. A estrutura social dos agrupamentosde morcegosé complexae varia de uma espéciepara outra, podendo, também, variar de uma região para outra. Um número relativamente grande de espéciespossuiuma estrutura social baseadana formaçãode haréns(um machodominantecom um grupo de fêmeas).O tamanhodo harémpode serde algumasfêmeasa até dezenasdelas para cada machodominante.Algumas poucasespéciesparecemsermonogâmicas. Ao contrário dos roedores,que possuemuma longevidadebaixa, os morcegos têm uma expectativade vida alta. Algumas espéciesde insetívoros podem chegar a 30 anos; os morcegos hematófagospodemchegara quase20 anosna natureza.

Hábitos Alimentares Entre os mamíferos, os morcegos representamo grupo mais versátil na exploração de alimentos,podendoexploraruma grandevariedadede tipos, como frutos, néctar,pólen, partesflorais, folhas, insetos(mariposas,besouros,pernilongose percevejos),outros artrópodos(como escorpiões), pequenospeixes, anfíbios (rãs e pererecas),lagartos, pássaros,pequenosmamíferos (roedores e morcegos)e sangue.Algumas espécies,como as dos vampiros, têm um regime alimentar bastante restrito (consomemsomentesangue),masuma boa partedasespéciespode incluir em suadieta vários tipos de alimentos. Os morcegosinsetívorosocorremem quasetodo o mundo e compreendema maior parte das espécies(cerca de 70%) dessesmamíferosvoadores.Na natureza,apresentamuma função ecológica importante, uma vez que auxiliam no controle de populaçõesde diversos tipos de insetos como besouros,mariposas,percevejose pernilongos.

Fig.II.4. Estômagosdo morcego insetivoro Nocti/io a/biventris, em estadosdiferentesde repleção:totalmente vazio, ao sairdo abrigo parase alimentar,e ao retomar,apóscercade 30 minutosde refeição(os outros 5 estômagos).(Foto: W. Uieda)

Os morcegos fitófagos (nectarívorose frugívoros) são encontradossomente nas regiões tropicais e subtropicaisdo mundo,onde existemplantasproduzindonéctare/oufrutos, praticamente, o ano todo. Nos ecossistemas naturais,essesmorcegossãoimportantes,pois promovema polinização das flores e a dispersãode sementesde diversasplantas,podendoserconsideradasespéciesúteis. Na 12

região amazônica,os morcegosfrugívoros são os principais agentesde recuperaçãodas florestas, espalhandosementesem áreasdesmatadas,naturale artificialmente.Pode-sedizer que a regeneração da mata amazônica depende,diretamente, das atividades dos morcegos fitófagos neotropicais, recuperandoáreasdegradadaspelo homem. Poucasespéciessãocarnívoras.Estesmorcegossaempara caçarpequenosvertebradoscomo peixes, rãs, camundongos,aves e outros morcegos.Podem, ainda, completar a dieta consumindo insetose, eventualmente,frutos. Os morcegoshematófagoscompreendemapenastrês espécies,que estãorestritas à América Latina (região neotropical): Desmodusrotundus,Diaemusyoungi e Diphylla ecaudata.Exploram, basicamente,sanguede vertebradosendotérmicos(aves e mamíferos).Na natureza, devem atacar jacús,jacutingas, garças,jaburus, outras avesde porte semelhanteou um pouco menores,capivaras, leõesmarinhos,antas,macacos,veadose outrosmamíferos.Nos ambientesrurais, tendema explorar qualquertipo de animais de criação.No ParqueZoológico do Rio de Janeiro, os D. rotundus têm atacadoanimaissilvestresexóticoscomo avestruz,rinocerontee elefante.Diversaspessoassalientam, apenas,os aspectosnegativos dessesmorcegos e questionama sua importância ecológica. Nos ecossistemas naturais,os morcegoshematófagosauxiliam no controle daspopulaçõesde vertebrados herbívoros,evitandoque superpopulações dessaspresasdestruama vegetaçãoe, conseqüentemente, o ecossistema.Essecontrole populacionalé feito não somentepor sangriasdos animais, mas também portransmissãode doenças,como a raiva.

fig.1I.5. o pequeno morcego beija-flor, G/ossophagasoricina, visitando uma flor de dedaleiro (Lafoensiapaccari)1l procurade néctar.Estaespéciede morcegoé um dos agentesresponsáveis pela suapolinizaçãona natureza.O uso de plantasnativas,como esta,no processode arborizaçãode cidadesatraemseuspolinizadoresparaas áreasurbanas.(Foto: I. Sazima)

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Fig.II.6. o grande morcego de nariz em fonna de lança (Phy//ostomusdisco/ar) é também freqUentemente observadovisitando flores à procurade néctare pólen,como nesteembiruçu(Pseudobombax grandiflorum). Ele é um dos responsáveispela sua polinizaçãona naturezae tambémem áreaurbana,ondeestaplanta tem sido utilizada na arborização. (Foto: I. Sazima)

Fig.". 7. As papilasna ponta da lingua, a longa extensãoda língua do morcego beija-flor e seu focinho, também alongado, permitem que o animal possa retirar o néctar do fundo do tubo floral. Estas estruturassão especializações morfológicas que permitemque este morcegopossa sereficiente em sua função ecológicade polinizar as plantas. Porém, nemtodos os morcegosque visitam as flores possuemessascaracterísticas, como estábemexemplificadona figura anterior. (Foto: W. Uieda)

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Fig.II.8. Após pegar um fruto na amendoeira(Terminalia catappa),o morcegoArtibeus lituratus carrega-opara um pouso noturno (aqui representadopela copa de uma sibipiruna, Caesalpinia peltophoroides),onde irá consumi-lo vagarosamente. (Foto: W. Uieda)

Abrigos Os abrigos diurnos representamos locais onde os morcegos repousamdurante o dia. Por passarcercade metadedo seutempodiário nesseslocais,os abrigosdevemoferecercondiçõesfísicas mínimas que permitam a sobrevivênciados morcegos.Geralmente,fatores como estabilidade da temperaturaambiente,a umidaderelativa do ar e a luminosidadedeterminama ocupação,ou não, de um dadoabrigo por essesmamíferosvoadoresnoturnos. Os abrigos devem oferecercondiçõesque permitamo acasalamento,o parto e a criação de filhotes, as interaçõessociaise a digestãodo alimento consumidodurantea noite, e, ainda, proteção contraintempériesambientais(chuvas,vento e insolação)e contrapossíveispredadores. A evolução do sistema de ecolocalização foi, sem dúvida, o fator determinante na diversificação dos tipos de abrigos utilizados pelos morcegos. Por causa disso, os morcegos da subordemMicrochiroptera obtiveram sucessoem ocuparo interior de cavernase fendasde rocha, ondea ausênciade luz é total. De modo geral, podemosclassificar os abrigosde internos(cavernas,fendasde rocha, ocosde-árvore,edificações)e externos(folhagem,superfíciede tronco dasárvores). Os morcegos podem fazer uso de abrigos também durante o período noturno, que são denominadosde abrigos noturnos, abrigos noturnos temporários,pouso noturno ou digestório. Os abrigosnoturnos são locais para onde os morcegoslevamo alimento (frutos, artrópodose pequenos vertebrados)para seremconsumidos.No chão dessesabrigos,podem-seencontrarrestosalimentares e fezes.

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Fig.II.9. A caverna representaum bom abrigo diurno para morcegos,pois fornece condições estâveis detemperatura, umidade do ar e luminosidade,além da proteçãocontra intempériesambientaise predadoreseventuais. Por causadisso,vârias espéciesde morcegosutilizam estetipo de abrigo, inclusive a do morcegovampiro comum, Desmodus rotundus.Na cavernada foto, a colônia devia ter, aproximadamente, 200 morcegos.(Foto: W. Uieda)

Fig.II.l0. Acúmulo de fezesdo morcegohematófago,Desmodusrotundus,no interior de uma caverna.Um modo prático de identificar seusabrigosé procurar por essesacúmulos.As fezes possuemaspectode alcatrão(pastosoe negro) e forte odor de amônia.O tamanhodessaspoçasdepenpedo tempode uso do local e do tamanhoda colônia. (Foto: W. Uieda)

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Fig.".I'. Casa abandonada.cujo porão era usadocomo abrigo diurno pelo morcego hematófago,Desmodusrotundus. Essa situaçãoé comum no meio rural e deveria ser evitada, pois diminuiria a disponibilidade de abrigos ao morcego, um dos fatores que contribuíramparao aumentode suaspopulações.(Foto: W. Uieda)

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i;'-'

Fig.II.12. Diversasespéciesde morcegosutilizam bueiros de águafluvial ou pluvial como abrigo diurno. Com o aumentoda malharodoviária,o númerode bueirosaumentoumuito e isto favoreceuasespéciesqueos utilizam, como a espéciehematófagaDesmodus rotundus. Em várias regiõesbrasileiras,quasea metadedos abrigosusadospor estaespécieé artificial, isto é, foi produzida pelo homem. Dessemodo,o homemtem oferecido"casa"e "comida", contribuindoparao aumentodaspopulaçõesdessesmorcegos.(Foto: W. Uieda)

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Fig.II.13. Nas áreasurbanas,algumas casaspossuemporões subutilizadosque podem representarbons abrigos para morcegos, como os pequenosmorcegos beija-flor, Glossophagasoricina. A ocupação não demora muito para acontecer,pois os morcegosestãosempreexaminandoos recursospotenciais(abrigo e alimento)de sua áreade vida. (Foto: M. Yoshizawa)

Fig.II.14. Oco-de-árvoreé um tipo de abrigo diurno interno nemsempredisponívelno ambiente.Por causadisso, as espéciestendem a explorar mais de um tipo de abrigo. Além disso, o tamanho do oco-de-árvoreacaba, também, delimitando o tamanhoda colônia que irá viver nesseambiente.O morcegohematófagoDiaemusyoungi vive, quaseque exclusivamente,em ocos-de-árvore, como o destapaineira,e suascolôniassão,geralmente,pequenas.(Foto: W. Uieda)

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Fig.II.15.Uma palmeira apresenta um tipo de folhagem que pode muito bem ser explorada por diversas espécies de morcegos. I:nquanto verdes, as folhas abertas podem abrigar, em sua face inferior, pequenos grupos de morcegos frugivoros (por ex. Platyrrhinus lineatus, Artibeus lituratus); entre as bainhas e o tronco, pode-se encontrar colônia de morcegos insetivoros (Eumops, Promops, ,'vIolossops),e na folhagem seca pendurada junto ao tronco, podem-se encontrar pequenos morcegos insetivoros de hábitos quase solitários, como espécies do gênero Lasiurus. (Foto: W. Uieda)

Fig.II.16. Palha seca de palmeira sendo utilizada como abrigo diurno pelo morcego insetivoro, Lasiurus ega. Esta árvore encontrava-seno jardim de umacasada árearural; masesta situaçãoocorretambémem áreaurbana.No centro da foto é possívelobservar um único morcego abrigando-senestafolhagem.(Foto: W. Uieda)

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Fig.II.17. o morcegoinsetívoroLasiurus egaé um habitantecomumde folhas secasde palmeiras.A coloraçãode seuspêlose o hábito de permanecerem imóveis por longo tempo permitemque as pessoas, que andemperto da palmeira,não os encontrem.(Foto:W. Uieda)

Fig.II.18. Apesar da coloraçãoevidente de seus pêlos,este grupo de morcegosinsetívoros (Lasiurus borealis) permaneceu nessaplantade folhagemverde por vários dias,numaárearesidencialurbana.(Foto: W. Uieda)

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Fig.II.19. Um grupo (harém)de Artibeus lituratus usandoa copa de um jambolão (Syzigiumjambolanum)como abrigo diurno em área urbana.A copa é, relativamente,bem fechada,protegendoos morcegosdos raios solares.(Foto: W. Uieda)

Fig.II.20. Pousonoturno do morcegofrugívoro Artibeus /ituratus em áreaurbana.Notem-seos restosalimentares existentesno chão sob essepouso: sementesde jambo, de oiti, de amendoeirae bagaços.Os frutos são raspadoscom os dentes,mastigadose sugados.Os bagaçossãoeliminadose caemao chão(Foto: A. Bredt)

11.6.Leituras Adicionais Recomendadas ffiLL, J.E.; SMITH, J.D. Bals: a naturalhistory. London: British MuseumofNatural History, 1984.

243p. YALDEN, B.W.; MORRIS, P.A. The lives o/hals. NewtonAbbot: David & Charles,1975. 247p. FENTON, M.B. Bals. New York: Factson File, 1992. 207p.

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111-Os Morcegos e o Homem 111.1.Mitos e Lendas Os morcegos são, geralmente,lembrados como criaturas sinistras, demoníacase, quase sempre,indesejáveis.Nenhumoutro grupo de mamíferospareceestar tão envolvido em mistérios, mitos, folclore e desinformação:freqüentementeassociadosao diabo (Lúcifer),. bruxas, vampiros e "lado-escuro"da experiênciahumana,são tambémresponsabilizadospela origem da noite. Outras vezes, são retratadoscomo animais inteligentes,cômicos, de boa sorte e de naturezadupla, sendo meio pássaroe meio besta.Na crençapopular, todos os morcegossão "chupadoresde sangue"que atacamsuasvítimas durantea noite. Esta crençatoma-semais interessantena medida em que é um elementocomumdo folclore de muitasculturashumanas(Japão,Filipinas, Austrália,Mrica, Europae Américas). Com exceçãoda América Latina, não há basebiológica para explicar a associaçãoentre morcegose o espírito vampiresco,a eles associado,a não ser pelos seushábitos noturnos.O nome vampiro tem origemhúngarae significa uma pessoaque retomada morte parase alimentardo sangue de um servivo. Na Europa, há poucos dados registradossobre a associaçãoentre morcegos,vampiros e bruxas,antesda publicaçãodo livro "Orácula",de Bram Stoker, em 1897. Stokerbaseouseulivro no personagemreal Vlad, "The Impaler", que viveu entre 1431 e 1467, e pertencia à aristrocracia romena.Ele era consideradoum tirano que, embora conhecidopor suas muitas maldades,não foi lembradocomo vampiro. Acredita-seque Stokerpossater sido influenciadopelos relatosfantasiosos dos viajanteseuropeusao Novo Mundo, segundoos quais havia um tipo de morcegoque atacavae sugavao sanguedos animais e das pessoas,até que morressem.O cinema acaboupopularizando mundialmentea figura do "Orácula", como chupadorde sanguede sereshumanos,e criando outros seresnoturnosfictícios com algumascaracterísticasdos morcegos(geralmenteo formato das asase o vôo). Atualmente,é comum que uma pessoaleiga, ao ver um morcegovoando nas proximidades, rapidamenteproteja seupescoço(localpreferidopelo Oráculaparasangrarsuasvítimas). Na América Latina, os povosMaias associavammorcegostanto aosaspectosnegativosquanto aos positivos, sendo, freqüentemente,representadosnos monumentos,nos manuscritos e nos vasilhames."Zotz" é a palavra maia para designarmorcego e "Zotziha", a sua casa,habitadapelo "Deus Morcego Vampiro", chamadode Camazotz,que decapitavasuasvítimas. Podia ser, também, associadocom o "Deus da Boa Sorte", trazendofelicidade às pessoas.Nos manuscritosdos povos Aztecas,morcegossão consideradoscomo deusese estão associadoscom a cultura do milho e os rituais de fertilidade. Ainda hoje, em algumasregiõesdo México, essesanimaiscontinuama ser cultuadospelas populaçõeslocais.Como exemplo,pode-secitar o culto ao Deusde uma grandecavernano Estadode Vera Cruz, ondemulheresgrávidasoferecempresentesaosmorcegosvampirose rezampelo sucesso do parto de seusbebês.Pessoaspodem, também, pedir auxílio aos morcegospara protegê-Iasdos inimigos e da má sorte, ou para obter ótima colheita agrícola.Oferendassão feitas sob a forma de alimento, de flores e, até mesmo, de dinheiro. Nos manuscritose monumentosMaias, a imagem dessasdivindades assemelha-sea um morcego com uma folha nasallanceolada,estruturaque no Novo Mundo é característicados membrosda família Phyl1ostomidae. Em Trinidad, os nativos conhecemos morcegoshematófagosque atacame sugamo sangue dos animais,porém,os ataquesàspessoassão feitos por "Soucouyant",uma bruxa que voa pelo céu noturno à procura de sanguehumanopara se alimentar. Por outro lado, sua figura quasesempreé cultuada nos carnavais, quando pessoas desfilam com fantasias bem elaboradasde morcegos filostomídeos.

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111.2.Morcegos e SaúdePública De modo geral, a maioria dos morcegosé considerada,pela população,como vampiros sedentosde sangue,animais sujos e que carregamescondidasdoençasprejudiciais à saúdehumana. De fato, alguns morcegosestãoenvolvidos na epidemiologia(incidência e distribuição) de doenças importantes,tais como a raiva e a histoplasmose.Estas doençaspodem ser transmitidas aos seres humanos,direta ou indiretamente,assim como a outros animais de sanguequente. No entanto, a crença popular de que todos os morcegos são portadoresde muitas doenças(transmissíveis ao homem)é simplesmenteerrônea.Apesarde sabermosquejá foram encontradosmorcegosalbergando uma variedadede organismosnocivos, ou potencialmentenocivos,a transmissãode doençasaos seres humanos é rara. Porém, relatos sensacionalistas,sem cuidados ou inverídicos sobre os morcegos podemestimular a antipatiapública, a tal ponto que muitos sãodestruídosdesnecessariamente. Geralmente, a biologia dos agentes patogênicos não é diferente da biologia de seus hospedeiros.Controlando e regulando as populaçõesde hospedeiros,mantendo-asnum equilíbrio dinâmico e natural, automaticamente,está-sefazendo o mesmo com as populaçõesdos agentes microbianos. O surgimentode uma doençanuma dada populaçãoé conseqüênciaauto-limitante da quebra desseequilíbrio dinâmico. Tais quebrasocorrem quando as populaçõesde hospedeiros,do vetor ou do agente patogênico aumentam, ultrapassando seus limites naturais. Isto causa, conseqüentemente, um incrementona taxa de infecção ou de re-infecção,devido a uma elevaçãoda probabilidadede exposiçãoà doença.Além dos efeitos óbvios da superpopulaçãoe do "stress", uma grandepopulaçãopode tambémexplorar, excessivamente, os recursosalimentaresda região e causar uma falha que, por suavez, pode dispararuma manifestaçãoepidêmicada doença.As populaçõesde animais silvestres, incluindo morcegos,existem dentro desseslimites dinâmicos. O fato de várias espéciesde morcegosviverem em colôniasde cetltenas,milharesou, em algunscasos,de milhões de indivíduos, sem seremdestruídospor doençasinfecciosas,é uma prova do equilíbrio existenteentre os hospedeirose suacomunidademicrobiana. Seres humanos e seus animais domésticos estão em equilíbrio com certos agentes microbianos, mas freqüentemente tornam-se susceptíveisa outros agentes,para os quais não são hospedeirosnaturais. Isto pode acontecer,também, com morcegos,pois são elementosda fauna nativa, freqüentemente encontradosjunto ao homem e/ou aos animais domésticos.Os morcegos e algunstipos de roedoressãode particular interesseporqueestãoemtodo lugar, sãoaltamentemóveis e podem abrigar-se em ambientesdomiciliares, aumentandoassima probabilidadede contato. Um outro fator de interesse está no fato de que morcegos, por serem mamíferos, possuemcertas semelhançascom o homeme, portanto, podem sersusceptíveisa algumasdoençashumanas.Assim, os morcegospodemtornar-seum transmissornão-intencionalde algumasdoençashumanas. Os agentespatogênicos(vários tipos de bactérias,fungos e vírus) já foram encontradosem morcegos ou em depósitos de suas fezes (guano) nos abrigos diurnos. Além dessesagentes,os morcegospodem abrigar tambémuma diversidadede organismosendo e ectoparasitasque, por sua vez, podem causardoençasou carregar um ou mais agentespatogênicos.Estes, incluem parasitas protozoários,helmintos (platelmintose nematóides)e artrópodosparasitas.As tabelasabaixo contêm alguns dessesagentesjá encontradosou suspeitosde ocorrer em morcegos.Diversos casos foram estudados,apenasexperimentalmente,em laboratório, sem a contrapartidade sua ocorrência em condições naturais. Alguns casos foram mencionados apenas como especulaçõesfeitas por especialistase publicadascomotal.

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QUADRO1 -Doenças por Vírus Associadasa Morcegos

-Tipos de vírusjá registradosemmorcegos -Anticorpos de outras32 virosesdescobertasemsoro sangüíneode morcegos -Principais DoençasVirais: Encefalite VenezuelanaEqüina (VEE) Causadapor Alfavirus, membrode arbovirusdo grupo A. Doençaepidêmicacaracterizada por febre ou encefalite em eqüinos e homens. Um a 3% dos casoshumanos com problemasno SistemaNervoso Central(SNC), com seqüelasmarcantesou mortes;38 a 83% dos eqüinosmorrem. Morcegoshematófagosencontradosinfectadosnaturalmentepodemtransmitiro vírus da VEE a outro hospedeiro,via ingestãode sangue,por um curto espaçode tempo(1 a 5 dias). Febre Amarela (YFV) Causadapor um Flavivirus, membro de arbovirus do grupo B. Doença comum a vários grupos de mamíferos,incluindo morcegos.Transmissãovia mosquito transmissor;mas, morcegos hematófagosinfectadospoderiamtransmitirpela saliva, duranterefeição.Ainda não encontradoYFV em glândulassalivaresde morcegos.Pela mobilidade,morcegospodem ter papel no deslocamento geográficodo vírus.

Raiva Causadapor vírus do gêneroLyssavirus(Rhabdoviridae).Doençacaracterísticade mamíferos do mundo todo, com exceçãode áreasinsulares(Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia, Japão e Havaí). Geralmentetransmitido por mordedur!iS;vírus rábico afeta SNC, causandoalteraçõesde comportamento,paralisia e quase sempre morte. Cerca de 50.000 pessoase milhões de animais morrem anualmente.Já isolado de várias espéciesde morcegos,incluindo as de hematófagos(ver texto destecapítulo). -Doenças Virais Potenciais: váriashepatitesvirais, citomegalovírus,vírus de Epstein-Barr, dengue,adenoviroses.

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QUADRO 2 -Doenças BacterianasAssociadasa Morcegos

Bactérias

dados

BactériasPatogênicas Humanas (perigosasa moderadamente perigosas) Salmonella Shigella Yersinia (=Pasteurella)

Leptospira

Brucella

Borrelia recurrentis

-Febre tifóide e outrasdoençassemelhantes. -Disenterias. -Peste bubônica: infecção experimental em laboratório. -Leptospirose: várias espécies já isoladas de morcegosdo Velho Mundo. Não se conhece o papel dos morcegos, possivelmente sãohospedeirosacidentais. -Brucelose: doença cosmopolita, afetando principalmente gado bovino. Pode ser adquirida pelo homem,por contato com dejetose alimentos contaminados.Morcegos hematófagospodemse contaminar ao sangrar animais doentes e transmitira outrosanimaisou ao homem. -Febre recorrente: morcegos podem ser reservatóriosnaturais.Várias espéciesjá isoladas de morcegos,com relaçõesdesconhecidascom a doençaI:tu_mana. -

Parasitas Intracelulares (Rickettsias) Bartonella bacilliformis

Bartonella rochalimai Grahamella

Coxiellaburneti

Rickettsiarickettsi

-Febre Oroya: comum na região Andina. Ainda I não encontradaem morcegos,mas é possível que estejamenvolvidos na manutençãoda doençana região. -Conhecida do morcego frugívoro, Carollia i

perspicillata -Semelhantea Bartonellae comumem mamíferos não humanosinclusivemorcegos. -Febre Q: doençaperigosa,mas raramentefatal' ao homem,isoladade morcegos,que podem atuar como reservatórios.Transmissãogeralmente por contato com dejetos (fezes, urina e outros) de animaiscontaminados. -"Rocky Mountain Spotted Fever": matou morcegos frugívoros e insetívoros testados experimentalmente, mas falhou emmorcegos hematófagos. Transmissão ao homem por carrapatos. I

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QUADRO 3 -Doenças por ProtozoáriosAssociadasa Morcegos

Protozoários

Trypanosoma cruz;

Trypanosomaevansi

Doenças que provocam e outros dados

I

-Doença de Chagas: várias espécies de morcegosjá foram registradascom tripanosomas semelhantesà forma cruz;. Patogenicidadenão está bem entendida.Essestripanosomasparecem não provocar infecção humana. 19 espéciesde tripanosomasjá encontradasem 52 espéciesde morcegos. -(=T. hippicum, T. equinum e T.venezuelense), causaMurrina e Mal das cadeiras: encontrada em morcegohematófago,podendosertransmitida mecanicamente de um hospedeiro(principalmente eqüinos) a outro por morcegos,durante repasto

sangüíneo. Leishmaniadonovani Plasmodiumspp

-Leishmaniose visceral ou Calazar, encontradona raposavoadora do Velho Mundo (Pteropus) -Malária: de uma a 4 espéciesjá isoladas de morcegos. Nenhum destes parasitas parece envolvido com a maláriahumana.

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QUADRO 4 -Doenças por FungosAssociadasa Morcegos

Fu

ênicosHumanos

Histoplasmacapsu/atum

Paracoccidioidesbrasiliensis

Scopu/ariopsis

Cryptococcus neoformans Sporot-i::hum schenckii Candida albicans

Candida chiropterorum

Candidaparapsilosis Torulopsisglabrata Microsporum gypseum Allescheria boydii

Doen

rovocam e outros dados

-Histoplasmose: doença cosmopolita mais importante, causada por fungos. Aparece na forma de levedura florescida em tecidos infectados e como hifas e esporos no solo (Saprófitas). Contágio por inalação de esporos contidos na matéria orgânicado solo de abrigos quentes e úmidos dos morcegos e aves. Esta infecção respiratória pode ser fatal ao homem, mas é rara. (Mais informações no texto deste capítulo). -Blastomicose sul-americana: doença granulomatosa das membranas das mucosas (gastrointestinal, nódulos linfáticos, pele e pulmões),altamenteperigosae comumnas zonas tropicais e subtropicais da América Latina. Esporosviáveis emfezesde morcegos. -Esporotricose: semelhante a blastomicose, encontradoemfezesde morcegosda Colômbia. I -Meningite crônica: geralmentefatal, em esporosI encontradosemfezesde morcegos. i -Esporotricose humana: isolada de fezes de morcegoscolombianos. -Candidíase ou Monilíase: doençade homense animais.Isoladade fezesde morcegosfrugívoros (Pteropus)do Velho Mundo, que foram criados em cativeiro. Morcegosdoentesnão encontrados na natureza. -Isolada de morcegos da Colômbia. Experimentos indicam que há certa patogenicidadeao homem. -Fungo não patogênico,encontradoem fígado de morcegoLeptonycterissanborni americano. -Fungo comum da pele e de membranasdas mucosasdo homem,encontradoemmorcego -Fungoencontradoemfezesde morcegos. -Fungo que produz micose do pé e infecções I pulmonares ou sistêmicos no homem e nos I

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QUADRO 5 .Problemas com outros ParasitasAssociadosa Morcegos

-Diversos vermesparasitas(trematóides, cestóidese nematóides)já registradosem várias espéciesde morcegos.Muitos sãoespecíficosdesseshospedeiros.Alguns helmintosde humanose de animaisdomésticosjá foram encontradosemmorcegos.Essasocorrênciaspodemseracidentais. -Ocasionalmente ácaros de morcegos podem ser encontradosem seres humanos. Pode ocorrer quandomorcegosse abrigamem casasou quandopessoasentramem abrigos de morcegos. Podemprovocardermatites leves,raramentesérias. -Três espéciesde percevejos(família Cimicidae)compartilhadaspor morcegose homens:a espécie cosmopolita Cimex lectularius; a tropicosmopolitaC. hemipteruse a espécie do OesteMricaI:c Leptocimexboueti. Especula-seque C. lectularius tomou-se adaptadaao homem, quando este passoua usar cavernase abrigos similares como habitaçõeshumanas.Sem evidência de sua importânciacomo vetor de doençasentremorcegose homens. -Duas famílias de moscas (Nycteribiidaee Streblidae)estão especialmenteadaptadasaosmorcegos. Ambas são hematófagase podem, potencialmente, ser vetores de vários agentespatogênicos. Porém, sem evidênciasda participaçãodessasmoscasna transmissãode doençasaohomem.

-Mordeduras de morcegoshematófagosfreqüentementeinvadidos por larvas da mosca Callitroga e da bicheira Cochliomyiahominivorax. Mamíferos domésticose aves infestados com larvas podem morrer. Em algumasáreas da América Latina, mortalidadedevido às larvas dessas moscaspode sertão sériaquantoaquelaprovocadapela raiva.

111.2.1. Histoplasmose A Histoplasmose é uma enfermidade causada pela inalação de esporos do fungo Histoplasma capsulatum, comumente encontrado em solos enriquecidos por matéria orgânica, especialmente em locais !,Totegidos, como abrigos de aves e de morcegos. Produz uma infecção respiratória que, eventualmente, pode ser fatal para o homem, embora os casos graves sejam raros, já tendo sido encontrado em diversos países do Novo Mundo (inclusive no Brasil), da Europa e da África. De modo geral, o fungo não sobrevive em sótãos quentes e secos, e a infecção humana, oriunda de morcegos, ocorre mais freqüentemente em cavernas quentes, úmidas, sem ventilação e com acúmulo de fezes desses animais. Apesar de as pessoas associarem a histoplasmose aos ambientes freqüentados pelos morcegos, as mais importantes fontes desta infecção parecem ser os abrigos de aves, como galinheiros e pombais. A histoplasmose tem um diagnóstico impreciso e é facilmente confundida com outras doenças respiratórias, como a pneumonia e a tuberculose. Sua gravidade é diretamente proporcional à quantidade de esporos inalados. Assim, os ambientes que abrigam morcegos devem ser explorados ou perturbados com muito cuidado e precaução. O uso de uma máscara (com filtro de carvão ativado) ou outro respirador eficiente que possa remover partículas muito pequenas (cerca de 2 microns de diâmetro), em tais locais, reduzem o risco de infecção. Por isso as visitas às cavernas e grutas habitadas por morcegos devem ser evitadas ou feitas somente em casos de extrema necessidade.

Por ser pouco conhecida (até mesmo para a medicina), não existe estatística sobre afreqüência de ocorrênciadestaenfermidade.

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1.2.2.2.

Raiva 111.2.2.1. Distribuição A enfermidademais comumenteassociadaaosmorcegosé a raiva, uma doençaviral, agudae

letal. o vírus rábico tem uma distribuiçãocosmopolita,excetuadosa Austrália, o Uruguai, algumas ilhas do Caribe,o Japãoe algunsPaísesEuropeus. Animais Hospedeiros A doença (transmitida pela saliva de um animal infectado, geralmente,através de uma mordedura)é freqüentementeobservadaem carnívorossilvestrese domésticos(cãese gatos),embora qualqueranimalde sanguequentesejasusceptívelà raiva, em menorou maiorgrau. Patogenia

o vírus da raiva penetrano organismodo hospedeiro,geralmente,atravésda mordedurade um animal infectado. No momento da mordedura, o vírus presente na saliva é inoculado, permanecendodurante algum tempo no local da lesão. Uma vez alcançadaa inervaçãoperiférica, caminha em direção ao sistemanervosocentral, chegandoao cérebro.Daí, dirige-se novamenteaos nervosperiféricos,atravésdos quaisatinge,entreoutrosórgãos,asglândulassalivares. Sintomatologia Classicamente,a raiva apresentatrês fasesdistintas:a fase prodrômica,a fase excitativa e a faseparalítica. A fase prodrômica é a fase de mais curta duração(2 a 3 dias), caracterizadapelos sinais iniciais da doença, quando o animal apresenta pequenas alterações comportamentaiscomo: hiperexcitabilidadeaosestímulosexternos,como luz, ruídos,deslocamentos de ar, etc. Na fase excitativa os sintomas observadossão os mais facilmente associadosà doença, principalmente quando a espécieenvolvida é o cão ou o gato. Durante esta fase, encontram-se exacerbadosos sinais de hiperexcitabilidadeobservadosdurante a fase prodrômica. Além disso, o animal pode tomar-se muito agressivo, investindo contra outros cães, gatos, animais de outras espécies,contra o homem,e até contraobjetosinanimados.Paraos animaisque apresentamevidente agressividadediz-se estaremacometidospela raiva na suaforma furiosa. A fase excitativapode durar de 3 a 7 dias,duranteos quaisa transmissãodo vírus rábico se faz maisfreqüente. A fase paralítica ocorre, geralmente,após a fase excitativa, caracterizando-sepor paralisia progressivaque parte dos membrosposterioresem direção à cabeça.A morte, por asfixia, ocorre quandoa paralisiachegaà musculaturarespiratória. Em herbívorosé comumnão se observara faseexcitativa:o animalpassada faseprodrômica à faseparalítica("raiva paralítica"). Como a proposta deste Manual é tratar, especificamente,sobre os morcegos,será aqui abordadasomentea transmissãoda raiva por essesanimais,hematófagose não hematófagos.

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.5. .6. 31

Transmissãopor MorcegosHematófagos o vírus rábico pareceter, nos morcegoshematófagos,o melhore o mais eficiente veículo de propagação,uma vez que estesagridemdiariamenteoutros animais(suaspresas,para se alimentar, e/ou seus próprios companheiros,nas interaçõessociais agressivas).Essas agressõesenvolvem, principalmente,aplicação de mordedurase outros tipos de comportamentointerativo. Assim, um morcego hematófagoinfectado tem chancesdiárias e freqüentesde transmissão,sendo, por isso, responsávelpela infecçãodireta de animaisdomésticose, eventualmente,de sereshumanos.Quando transmitida,atravésde mordeduras,a doença,geralmente,segueum cursoparalítico. o vírus da raiva já foi encontradoem diversaspartesdo corpo dos morcegoshematófagos,porém, é mais freqüentementeisolado em tecidos do cérebro, das glândulassalivares,da gordura castanhae dospulmões. Emborahouvesseinicialmentea crençade que os morcegos,especialmenteos hematófagos, fossem imunes e, portanto, portadoresmais perigosos da raiva, evidências atuais sugerem que morcegosmouem da doença,assimcomo ocoue a outros animais de sanguequente,não atuando como reservatóriosimunesdo vírus. Nenhumoutro grupo de morcegos,a não sero dos hematófagos, pareceestarseriamenteimplicadona transmissãoda raiva a outrosanimaissilvestrese decriação. No século XVI, colonizadoreseuropeus atribuíram as mortes de seres humanos e de mamíferos domésticos no Novo Mundo às "mordidas venenosas"dos morcegos hematófagos. Entretanto,somenteno início do Século XX o papel dessesmorcegosna epidemiologiada raiva foi plenamenteconhecido.Desde então, a incidência da raiva desmodinafoi demonstradaem várias regiões dos neotrópicos,desdea Argentina até o México. O morcego vampiro comum (Desmodus rotundus)é uma sériaameaçaaosmamíferosdomésticos,especialmenteao gadobovino, mantido em grandesrebanhose acessívelaosmorcegos.Antes da colonizaçãoeuropéia,os morcegoshematófagos eram espéciesde populaçõesrelativamentepequenas,que exploravammamíferose avessilvestres. Essesmorcegosforam especialmente favorecidospela introduçãodos animaisdomésticosna América Latina, o que permitiu um crescimentoexcessivode suaspopulaçõesemváriasregiões. Transmissãopor Morcegosnão Hematófagos A transmissãodo vírus da raiva nos morcegosnão hematófagos,está geralmenterestrita aos mesmos,pois o contato com outrosmamíferosé ocasional.Assim, muito raram~nte,a raiva pode ser contraída diretamente (por mordeduras)ou indiretamente(via aerossol) de outras espéciesde morcegos. Nos EstadosUnidos, o vírus rábico já foi detectadoem 26 das 40 espéciesde morcegos insetívorosdaquelepaís. Além disso, morcegoscom raiva já foram registradosem todos os EstadosAmericanos, com exceçãodo Havaí e do Alaska. Seria,portanto,verdadeirodizer que a incidênciade raiva naspopulaçõesde morcegosda América não é mais alta do que a incidênciaentreo restantedas suaspopulaçõesde mamíferos.Por exemplo,uma estimativasugereque um em cadamil morcegosda Califómia temraiva. Em outrasregiões,essataxapode sermaiselevada(0,5%). o vírus da raivajá foi encontradoemmuitasespéciesnão hematófagasna América Latina. No Brasil, 27 das cerca de 140 espéciesde morcegosjá foram diagnosticadascom raiva. Estasespécies pertencemàs três famílias de maior diversidade e abundância(Phyllostomidae,Molossidae e

V espertilionidae)e, também,mais freqüentementeassociadasàs atividadeshumanas,tanto em áreas urbanascomo rurais. Em relação aos hábitos alimentares,quase a metade(48,1%) das espéciesde morcegos infectadas no Brasil é insetívora e, em menor proporção, aparecemas frugívoras (18,5%), as nectarívorase sanguívoras(11,1%cada),as carnívoras(7,4% cada)e a onívora (3,7%). Essesdados mostramque os morcegospodemser portadoresde vírus rábico, independentemente de seushábitos alimentares.Contudo,seupapelcomo transmissorda raiva humanapareceseracidental,com exceção da espéciehematófagaD. rotundus. Na maior parte dos casos de raiva humana transmitida por morcegosnão hematófagos,o contatofoi ocasionale a agressãoocorreupor manipulaçãoindevida de morcegosmoribundos. Segundodados da FundaçãoNacional de Saúde (Ministério da Saúde), o morcego é, atualmente,o segundo transmissorda raiva humana no Brasil. Apesar dessesdados oficiais não especificaremos tipos de morcegosenvolvidos na transmissão,acredita-seque a maior parte seria representadapelos hematófagos(mais precisamenteD. rotundus). O restantedos casos deve envolver morcegosinsetívorose frugívoros, por sua presençafreqüenteem áreasurbanasde pequenase grandescidadesbrasileiras.

QUADRO6 Espéciesde Morcegosjá Diagnosticadoscom Raiva no Brasil. Hábito alimentar

Espécie

MORCEGOSINSETÍVOROS

Tonatia brasiliense Micronycteris megalotis Lonchorhina aurita Histiotus velatus Lasiurus borealis Lasiurus ega Myotis nigricans Eumops auripendulus Molossusater Molossusmolossus Nyctinomopsmacrotis Nyctinomopslaticaudatus Tadarida brasiliensis

MORCEGOSFRUGÍVOROS

Artibeus lituratus Artibeusjamaicensis Artibeus planirostris Platyrrhinus lineatus Carollia perspicillata

MORCEGOSNECf ARÍVOROS

Glossophagasoricina Anoura geoffroyi Anoura caudifer

MORCEGOONÍVORO

Phyllostomus hastatus

MORCEGOSCARNívoROS

Chrotopterus auritus Trachopscirrhosus

MORCEGOSHEMATÓFAGOS

Desmodusrotundus Diaemusyoungi Diphylla ecaudata

32

111.2.2.7.

Em outras regiõesdo planeta,vírus rábicos ou semelhantesjá foram registradosem várias espéciesde morcegos insetívoros (Alemanha, Polônia, Rússia, Iugoslávia, Turquia, Dinamarca e Holanda). Porém, a infecção rábica parece não ser amplamentedistribuída nas populaçõesde morcegosdo Velho Mundo, ondenão sãoconsideradostransmissores importantesda doença. Nos últimos trinta anos, dez mortes de seres humanos foram atribuídas, diretamente,a morcegosinsetívorosna América do Norte (EstadosUnidos e Canadá).Vários destesc~os resultaram de mordedurasocorridasdurantea manipulaçãode um morcegomoribundo. Um segundomodo de transmissãoda raiva, resultandoem duasmortesde sereshumanosno Texas (EstadosUnidos), foi a exposição aos vírus suspensosno ar de uma caverna habitada por morcegos,pouco ventilada e densamentepovoada.A baixa incidênciaregistradade transmissãohumanapor aerossóissugereque o risco envolvido neste modo de transmissãoé tambémbaixo. Certamente,este último não parece representarum sério risco à saúdepública, excetoquandouma enormepopulaçãode morcegosestá concentradanuma área relativamentepequena.Situaçõesde grandes concentrações(milhões) de morcegosparecemnão ocorrerno Brasil e, por isso, não se acreditaque a transmissãoda raiva por aerossóispossa acontecerno território nacional. Desse modo, a transmissãode raiva aos seres humanos,por morcegosnão hematófagos,dependeprincipalmentedo contatodireto, via mordedura, comos animaisinfectados. Sintomatologiada Raiva em Morcegos Em MorcegosHematófagos A sintomatologiada raiva em morcegoshematófagos,especificamenteem D. rotundus, é relativamente bem conhecida. O comportamentoe os sintomas mais freqüentes são: atividade alimentardiurna, hiperexcitabilidade,agressividade,tremores,falta de coordenaçãodos movimentos, contraçõesmuscularese paralisia. No começoda enfermidade,os indivíduos doentesafastam-seda colônia, deixamde realizar asseiocorporal(seuspêlostomam-sedesalinhadose sujos). Tremorgeneralizadopode serobservado em vários deles. Feridasfrescassão freqüentese provocadaspor agressõesde seus companheiros sadios a cada tentativa de reintegraçãoao agrupamento,de onde são expulsos violentamente.O morcegoenfermoperdea capacidadede voar e pode cair ao chão.A incapacidadede vôo é o primeiro sintoma motriz observadonos morcegosraivosos(isto não os impedede caminharpelo chão ou pelas paredes). De modo geral, a hiperexcitabilidadeà luz e aossonsagudosé comumnestafase da doença. Podemmordercomforça qualquerobjeto ao seuredor. As brigasentreos indivíduossãofreqüentese envolvem agressõesmútuas com mordeduras.Esse comportamentoagressivoé diferente daquele observadonosDesmodussadios,ondepredominamatitudesintimidatóriase combatesritualizados. Num estágio mais avançado da doença, os morcegos enfermos começam a ter mais dificuldades de caminhar e de sustentarseu corpo sobre os pés e polegaresdas asas.Sinais de desidrataçãosão percebidos. Há um aumento gradativo dos sintomas paralíticos, com maior intensidadenas asas do que nas extremidadesposteriores.A paralisia mandibular não tem sido observada,possibilitandoaosmorcegosa manutençãoda suacapacidadede morder. A morte dos indivíduos raivosos pode ocorrer cerca de 48 horas após o aparecimentodos primeirossintomas. Período de incubação: Em morcegosinfectados experimentalmente,o período médio de incubaçãoobservadotem sido de 17,5 dias. Naquelesinfectadosnaturalmente,esseperíodo é mais longo: em média,30 dias.

33

~

Em Morcegosnão Hematófagos A sintomatologiada raiva em morcegosnão hematófagosfoi estudadaquaseque somentena América do Norte. Assim, aindapouco se conhecea respeito.Os morcegosnão hematófagosnão são portadoresassintomáticos,como se acreditavainicialmente. Nestesmorcegos,a raiva manifesta-se, principalmente,sob a forma paralítica, sem a visualizaçãoda fase excitável. Há alguns relatos de casosde morcegosinsetívorosamericanosvoando e perseguindooutros morcegos.Essescasossão atribuídos a indivíduos raivosos em fase agressiva.Em outras regiões,não há relatos semelhantes. Relatosde paralisiadas asase retençãourinária foram descritospara a espécieTadarida brasiliensis, no Estadodo Texas(EstadosUnidos). A paralisiaprogressivadasasasdificulta seusvôos e, numafasemais adiantadada doençaos morcegosdeixamde voar. Nessassituaçõesos morcegospodemdeixar de sair para se alimentarou, quando fora do abrigo, enfrentamdificuldadespara retomar. Morcegos encontradosem locais não habituais (por ex.: no chão, sobre a cama,penduradosem cortinas,paredes,janelas e muros) devem serconsideradosaltamentesuspeitosde estaremacometidospela raiva, assimcomo aquelesque estão voando durante o dia. Estes,quando encontradospela população,são freqüentementemolestados pelas pessoas,principalmentepelas crianças. Por essemotivo, parte dos acidenteshumanos com morcegosadvémda manipulaçãoindevidade animaisdoentes.Há relatosde choquesacidentaisentre pessoas(paradasou andando)e morcegos(emvôo), comocorrênciade mordeduradefensivapor parte do animal. Outrosrelatosenvolvempessoasque se deitaramsobreo morcegocaído emsuacama.

Fig.III.l. Um morcegoencontradoduranteo dia em situaçãonão habitual,como o morcegoinsetívoro (Molossus molossus)aqui penduradona janela de uma casa,deve ser consideradoaltamentesuspeitode estar doente,possivelmente com raiva. Numa situaçãocomo esta,o animal deve ser coletadocom o máximo cuidado e, de preferência,ainda vivo e encaminnadoparao diagnósticolaboratorial.Em hipótesealgumasolicita-sea uma pessoaleiga para manipularesseanimal. (Foto: W. Uieda)

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3. ~

MordedurasProvocadaspor MorcegosHematófagose não Hematófagos Podem-seclassificar, grosseiramente,as mordedurasprovocadaspelos morcegosnos seres humanos, dependendoda finalidade com que são praticadas, em: Mordeduras Defensivas e MordedurasAlimentares. 111.2.3.1.Mordeduras Defensivas

A mordedura defensiva pode ser praticada por qualquer espécie de morcego, independentemente de seuhábito alimentar,e visa à sua própria defesa.Um morcegQ;aprisionado na palmada mão pode quererse libertar e, paratanto, mordero dedoda pessoa.Nas situ~es em que os morcegosse sintamameaçados, aschancesde ocorrermordedurasdefensivasnão sãopequenas. A mordedura defensiva é feita, principalmente, com os dentes caninos (superiores e/ou inferiores)e deixam,geralmente,de duasa quatroperfuraçõesna pele. Em algunscasos,marcasdos incisivos superiorese inferiores são tambémvisíveis na pele lesada.Nos casosconhecidossobre mordedurasdefensivas,provocadaspor morcegoshematófagos,as perfuraçõesenvolvemsomenteos incisivos superiorese os caninos. As mordedurasdefensivascostumamserprofundase muito dolorosas.A reaçãoimediatadas pessoasmordidas,em todos os casosrelatados,é a soltura do morcego(que, assim,atinge o objetivo de libertar-se).

Fig.III.2. Uma pessoaleiga e despreparada pode sofreruma agressão,como uma mordeduradefensivaprovocada pelo morcegofrugívoro Artibeus lituratus no dedo da mão de uma senhora.Na ocasiãoem que foi mordida, esta senhora seguravao animal com a mão desprotegida.Percebem-senitidamente as perfuraçõesprofundas feitas com os caninos superiore inferior de um dos ladosda mandíbulado morcego,que mordeupara selibertar. (Foto: W. Uieda)

Mordeduras Alimentares A mordedura alimentar é praticada somente pelos morcegos hematófagos e caracteriza-se por um único ferimento superficial, de formato elíptico, provocado pelos dois incisivos superiores, bem desenvolvidos. Em alguns casos, aparentemente raros, mordeduras múltiplas foram observadas e o ferimento resultante adquire um formato irregular.

35

111.3.

o aspectodas mordedurasnas pessoaspode auxiliar na identificação do tipo de agressão (alimentarou defensiva)e de seumais provávelagressor(morcegohematófagoou não).

Fig.III.3. Numa mordida alimentarnão há perfuraçõesprofundas de pele. O morcego hematófago (Desmodus rotundus)provoca um ferimento superficial(paranão despertarsua vítima) com auxílio dos dois dentesincisivos superiores. Na aplicaçãodesta mordida, o morcegosemprearrancaum pedaçoda pele, como pode ser percebidona foto, em que a mulher foi mordida na testae só despertouquandoo sangueescorreuem direçãoao olho. Este ferimento foi feito há duas noitese já sofria um processode cicatrização,quandofoi fotografado.(Foto: W. Uieda)

Leituras Adicionais Recomendadas ACHA, P.N.; SZYFRES, B. Zoonosisy enfermedadestransmisiblescomunesai hombre y aios animales.2.ed.Washington: OPAS,1986. 989p. ALLEN, G.M. Bats. New York: Dover, 1939.368p. CONSTANTINE, D.G. Transmission of pathogenic microorganisms by vampire bats. In: GREENHALL, A.M.; SCHMIDT, U. (Ed.) Natural history ofvampire bats.Florida: CRC Press,

1988.246p.p.167-189. HILL, J.F.; SMITH, J.D. Bats: a naturalhistory. London: British Museumof NaturalHistory, 1984.

243p.

TAMSITT, J.R.; PARADISO, D. Los murciélagose Ia saludpública. Boletin de Ia Oficina Sanitaria Panamericana,Washington,v.69, n.2, p.122-140,1970. ADENDA: Recentementefoi publicado o primeiro livro inteiramentededicadoà problemática da raiva em morcegos,emnível mundial.O autorabordatemassobremorcegoshematófagose a raiva na América Latina, sobre raiva em morcegosinsetívoros na América do Norte e sobre a raiva nos megaquirópterosdo Velho Mundo. Sãomais de 300 páginasde texto escritonuma linguagemsimples, com desenhos,esquemas,tabelase fotos ilustrativas,que tomamo livro bastanteacessívelaté mesmo para pessoasleigas. O livro é de consultaobrigatória a todos aquelesque pretendemtrabalharnas áreasde pesquisae de atendimentoemsaúdepública. Lamentavelmente não estavadisponíveldurante a redaçãodo presentemanual:teria facilitado enormementeestetrabalho. BRASS, D.A. Rabies in bats: natural history and public health implications. Connecticut : Livia Press,1994. 335p.

36

Introdução Os morcegossão mamíferosvoadoresnoturnosda OrdemChiropterae estãoagrupadosem 18famílias e 986 espécies.Essadiversidadede formasé superadaapenaspela OrdemRodentia,com cerca de 1.800 espécies.No Brasil, ocorrem nove famílias e aproximadamente140 espéciesde morcegos. Apresentam-se,abaixo,algumasinformaçõesmorfológicase bioecológicasdasnove famílias de morcegos que ocorrem no território brasileiro. São as mesmasfamílias de todo o continente americano.

IV.2. Família Phyllostomidae É uma das maiores famílias de morcegosneotropicais, com 148 espécies,sendo 75 de ocorrênciano Brasil. Apresentagrandeversatilidadeem termos de hábitos alimentarese de abrigos. Explora insetos, partes florais, folhas, frutos, artrópodos,pequenosvertebrados(peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos)e sanguede vertebradosendotérmicos.Algumas espéciessão solitárias, poréma maioria vive emcolôniaspequenas,médiase, atémesmo,grandes(100 a 1.000indivíduos). A característicamais evidente destafamília é a presençade uma folha nasal situada no focinho dos morcegos.O formato e o tamanhodessafolha variam de acordo com a espécie(veja algunstipos no Capítulo V). De modo geral, podemosdizer que a folha nasaltem a forma triangular ou lanceolada.O formato em "ferradura" é característicodos filostomídeos hematófagos,o que facilita sua-identificação. A coloração da pelagem é bastante variada, indo do castanho claro, alaranjado até inteiramente negro ou castanhoescuro. Apenas a espécieEctophy//a a/ba, da região amazônica, apresenta pelagem inteiramente branca. Nesta família encontramosespécies de vários portes. Algumas espéciesde nectarívorossão pequenas(8 a 15g de peso); porém, a maior espécieé um carnívoro (Vampyrumspectrum)de 90 a I10g, que ocorredo norte da América do Sul até a América Central.No Brasil, estaespécieé conhecidaapenasna regiãoamazônica. Os filostomídeos fitófagos estão entre os principais responsáveispela regeneraçãodas florestasneotropicais,destruídaspela açãoda própria naturezaou pelasatividadeshumanas.Diversas espéciespodemocorrer em áreasrurais e urbanas,onde exploramfruteiras nos pomarese as árvores de arborizaçãode ruas e praçaspúblicas. Podemviver em sótãos,edificaçõesabandonadase nas plantas. Nesta família está incluído o principal transmissorda raiva aos animais de criação daAmérica Latina e cujascaracterísticasserãocomentadasno CapítuloVI.

IV.3. Família Molossidae É uma família cosmopolita,de hábito insetívoroe constituídade 86 espécies,sendo 19 de ocorrênciano território brasileiro. De modo geral, os molossídeospossuemhábitos gregários,formando colônias pequenas, médias ou grandes (com até milhares ou milhões de indivíduos). Na América do Norte, algumas colônias da espécie Tadarida brasiliensis chegam a conter vários milhões de indivíduos. Não conhecemoscolônias com dimensõessemelhantesocorrendo no Brasil. Os molossídeos podem abrigar-seem cavernas,fendasde rocha, sobpedrasno chão,túneis, edificaçõese ocos-de-árvore.A coloraçãoda pelagemvaria, basicamente,de castanhoacinzentadoa negro. 37

38

Esta família caracteriza-sepor apresentarasasestreitas,vôos rápidos e caudaestendendo-se além da membranainterfemural(caudalivre). É possívelque a crençade que "rato quandofica velho vira morcego" pode estarrelacionadacom espéciesdestafamília. A caudalivre, a cor quasenegra,o fato de poder ser encontradonos mesmosambientesdos ratos (supostamentecamundongos)e o hábito de caminhar em superfícieshorizontais,apoiadosobreos pés e polegaresdas asas(dobradas junto ao corpo), podemter contribuídoparao aparecimentodestacrença. A urbanizaçãotrouxe muitos benefíciosparaos molossídeos,fornecendoabrigos e alimentosna forma de insetos atraídos pela iluminação noturna. Por esse motivo, são os morcegos mais numerosose freqüentesnasáreasurbanas.No Brasil, a maioria dasreclamaçõesfeitas pela população provémda presençade membrosdestafamília emedifícações.

IV.4. Família Vespertilionidae É uma família de ampla distribuição geográficae que apresentao maior número de espécies (355) na Ordem Chiroptera. Somente 18 espéciesjá foram registradasem território brasileiro. Os vespertilionídeos são, essencialmente,insetívoros, podendo algumas espéciescomplementar seu cardápiocom pequenospeixes,crustáceose escorpiões. Podem ser solitários, formar pequenasou grandescolônias, que se abrigam em cavernas, fendas de rochas, túneis, ocos e cascassoltas de árvores, folhas secasde palmeiras, folhagem de árvorese edificações. Uma característicamarcante desse grupo é a cauda inteiramente contida na membrana interfemural,a qual é pilosa na maioria dasespécies. No Brasil, a freqüênciade vespertilionídeosem áreasurbanasé relativamentebaixa e seus agrupamentossão pequenos.São encontrados,principalmente,em folhagem verdes ou secas das árvores das casas,ruas e praças.Na árearural, algumascasastêm seuforro habitado por morcegos destafamília.

IV.5. Família Emballonuridae É uma família constituídade 48 espéciesinsetívoras,das quais 14 estão representadasnoBrasil. De modo geral, os embalonurídeosabrigam-seem cavernas,fendas de rocha, sob pontes e edificações. Porém, algumas espéciespodem repousardurante o dia sobre o tronco das árvores existentesjunto aos corpos d'água,onde permanecemcamufladosdevido à coloraçãodos seuspêlos dorsais, semelhanteà da cascadas árvores. Podemformar pequenasa médias colônias, onde seus membros se distribuem no abrigo sem manter contato corporal. A coloração varia de castanho acinzentadoa quasenegro.Várias espéciesapresentamlistras de pêlosbrancosnas costas'e somente uma espécie(Diclidurus albus),da regiãoamazônica,possuipelageminteiramentebranca. Todasas espéciesdestegrupo apresentama caudacurtae inseridana membranainterfemurál, cuja ponta perfura-a dorsalmente.Algumas espéciessão providas de uma bolsa glandular no propatágio,que é mais desenvolvidanos machos,cuja função está relacionadacom demarcaçãode

território. Ocorre, principalmente, em áreas naturais e rurais. No Brasil, apenasuma espécie (Peropteryx macrotis) já foi registrada em áreas urbanas, onde se abrigam em telhados e porões de casase prédios.

Família Noctilionidae É uma família constituídapor apenasduasespéciesinsetívoras,que complementamsua dieta com pequenospeixes e crustáceos.Os noctilionídeos podem abrigar-se em cavernas,fendas de

rochas, ocos-de-árvoree edificações,onde formam de pequenasa grandes colônias (500 a 800 indivíduos). Sãoencontrados,geralmente,próximosa cursosd'água,lagose represas.A coloraçãode seuspêlosvaria de castanhoamareladoa alaranjado. Possuemcomo característicasmarcantesas bochechasgrandesque lhes conferemo aspecto de um cão "bulldog" e o odor nauseantede almíscar.Esseodor forte pode facilitar a localizaçãodos abrigosdessesmorcegos. A espécieNoctilio leporinus (60 a 80g de peso)apresentapernase artelhos muito longos, munidos de unhasfortes e curvas utilizadas na apreensãode pequenospeixes, crustáceose insetos caídos na superfície d'água.Em algumasregiõesdo Estadode São Paulo, há registros da presença dessesmorcegoscapturandoalevinos emtanquesde piscicultura.Dependendodo graude ataques,os prejuízos podem não ser pequenos.Tanquestelados podem ser uma alternativa para este tipo de predaçãoe, com certeza,evitaria tambémoutrosdanospor avese mamíferossilvestres. A presençade cidad~se outrostipos de edificaçãopróximosaoscorposd'águatem favorecido as espéciesdestafamília, principalmenteN. albiventris (20 a 40g de peso),permitindo o aumentode suas populações. Esta espécie tem provocado problemas em algumas edificações de usinas hidrelétricase cidadesribeirinhas,principalmentenasregiõescentro-oeste,norte e nordestedo Brasil. Precisaser melhor conhecidaa interaçãodestafamília de morcegoscom os sereshumanos,para que se possamtomar medidaseficientesde manejodos problemasprovocadospelas espéciesdo gênero Noctilio.

7. Família Mormoopidae É uma família constituída por oito espéciesinsetívoras,das quais cinco ocorrem no Brasil. Possuemporte medianoe peso variando entre 10 e 20g. A coloraçãodos pêlos varia de castanho escuroao castanhoavermelhado.Numa mesmacolônia podemosencontrarindivíduos de coloração diferente e parecenão haverrelaçãode coresda pelagemcom o sexo.Os mormopídeosabrigam-se, geralmente,em cavernas,túneis, minas, ocos-de-árvoree edificações,onde formam de médias a grandescolônias.Em boa partedo ano,os morcegosmachoscostumamviver em locais separadosdas fêmeas, agrupando-sena época do acasalamento.É relativamentefreqüente capturarmos apenas morcegosde um dos sexos.Porém,coletassistemáticasao longo do ano num dado local permitem obter indivíduosde ambosos sexos. A característicamais marcantedos mormopídeossão os lábios inferiores providos de uma placa com numerosasverrugas. No Brasil, os mormopídeostêm sido encontradosapenasnas áreasnaturaise, aparentemente, não representamum problemaparaa saúdepública.

IV.8. Família Natalidae É uma família constituída de cinco espéciesinsetívoras,das quais apenasuma ocorre no Brasil. Abriga-se ~m cavernas,minas e ocos-de-árvores,podendo formar colônias relativamente grandes(mais de 100 indivíduos). Apesardisso,é um grupopoucofreqüentena natureza.A coloração dos pêlosvaria de castanhoamareladoa avermelhado. Possuemcomo característicasmarcantes,olhos diminutos, orelhas em forma de funil, membranainterfemurallonga e envolvendoa caudaem toda a suaextensão,aparênciafrágil e porte pequeno(4 a IOg de peso). No Brasil, sãoconhecidosregistrosdestafamília apenasemambientesnaturais. 39

Chicago:

IV.9. Família Furipteridae É uma família constituídade apenasduasespéciesinsetívoras,de porte pequeno(3g de peso), que se abrigam, principalmente,em cavernase, eventualmente,em ocos-de-árvore.Os furipterídeos podem formar de pequenas(3 indivíduos) a grandescolônias (250 indivíduos). No Brasil ocorre apenasuma espécie,que pode ser encontradana região litorâneado Cearáa São Paulo e na região

centro-oeste. Característicasmarcantesdesta família são os polegarescurtos, as unhas vestigiais dos polegarese um par de mamasfuncionais na região abdominal.Pareceque apenasos furipterídeos possuemmamasabdominaisfuncionais. Por causadisso, os filhotes, quandoagarradosao corpo da mãe, ficam de cabeçapara cima enquantoa mãe, de cabeçapara baixo. Os pêlos são longos e de coloraçãocastanhoacinzentado,comtons levementeazulados. Os furipterídeos são conhecidosapenaspor viverem em ambientesnaturais, provavelmente emregiõesmontanhosascobertaspor matas.

IV.I0. Família Thyropteridae É uma família constituídapor apenasduasespéciesinsetívoras,ambasde porte pequeno(4 a Sgde peso)e de ocorrênciaem território brasileiro. Essesmorcegosusam,caracteristicamente,dois tipos de abrigos: a) folhas novas, ainda enroladas,de plantas do grupo das bananeiras(Família Musacea)-nos tubos formadospelasfolhas novasenroladas,os tiropterídeosrepousamcom a cabeça voltada para cima; b) folhas cortadasde bananeira(o corte é feito transversalmente,de modo que a parte distal possasombreara parte proximal da bainha). Os agrupamentoscontêm, em média, seis indivíduos, variando de um a nove. Saem ao entardecerà procura de insetos,dos quais se alimentam. Vivem em regiões de matas que contêm musácease, possivelmente,emáreasde plantaçõesde bananas. A característicamais marcantedestegrupo é a presençade um disco adesivonos polegarese nos pés, que funciona como ventosapara fixar-se às folhas lisas da bananeira.Possuemum ventre castanhoesbranquiçadoe dorsocastanhoavermelhadoou escuro. Não se conhecemregistrosde suapresençaem áreasurbanas.Pelo fato de utilizar um tipo de abrigo muito específico,suadistribuiçãogeográficafica limitada às regiõesde ocorrênciado abrigo.

IV.ll. Leituras Adicionais Recomendadas BARQUEZ, R.M.; GIANNINI, N.P.; MARES, M.A. Guide to the Bats of Argentina. Norman: OklahomaMuseumofNatural History, 1993. 119p. EISENBERG, J.F. Mammals 0/ lhe neotropics: the northern neotropics. ChicagoPress,1989. 449p.

University

ffiLL, J.E.; SMITH, J.D. Bats: a naturalhistory. London: British MuseumofNatural History, 1984.

243p. NOWAK, R.M., 1991. Walker'sMammals o/lhe world. 5ed.Baltimore: JohnsHopkins University Press,1991. 2v.

40

V.1. Introdução o homem tem provocadodiversasmodificaçõesno ambiente natural adaptando-oàs suas necessidades básicasde moradiae de bem-estarsocial.Essasmodificaçõespodemtornar-sepropícias paraurnasériede animais(exóticose nativos)cornobaratas,formigas,cupins,pardais,pombos,ratos e morcegos. Com relação aos morcegos,dois grupos foram especialmentebeneficiadospelo homem ao construircidades:morcegosinsetívorose fitófagos (frugívorose nectarívoros). As edificações urbanas representamverdadeiras cavernas artificiais para abrigar essesanimais, apresentandosótãos,porões,juntas de dilataçãoe outrosespaçosconstrutivos. Além disso, a iluminação noturnadas vias públicas e das residênciasé atrativa aos insetos, favorecendoos morcegos insetívoros.O plantio de árvores que produzemfrutos e flores podem constituir fontesde alimento,favorecendoos morcegosfitófagos. Os tipos de morcegos mais encontradosnas cidades são os insetívoros, seguidos pelos frugívoros, nectarívoros e onívoros. Morcegos sanguívoros podem ser encontrados com certa freqüêncianas áreasperiurbanas,havendopoucascitaçõesnas urbanas.Numa cidade grande como São Paulo,conhecemosapenaso caso de um exemplarde morcegohematófago,Desmodusrotundus (macho adulto), encontradono centro da cidadede SãoPaulo,alimentando-seem cavalosda Polícia Militar. As investigaçõesrealizadasnão trouxeramesclarecimentosde seuaparecimentonesselocal. Na cidade do Rio de Janeiro,a FundaçãoParqueZoológico registroucasosde D. rotundusatacando cãese tambémo homem na áreaurbana,além de algunsanimais do próprio Zoológico. A presença dessesmorcegosnas cidadesé ainda um fenômenomal compreendidoe necessitade estudosmais detalhados.Pelo conhecimentoatual e para o presenteManual, não serão consideradoscomo um problemasério e freqüenteemáreasurbanasbrasileiras.

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V.2. Ficha Técnica das Principais Espéciesde Ocorrência em Áreas Urbanas no Brasil V.2.1. Nome Popular: Morcego-comedor-de-frutas

Fig. V .1. Artibeusjamaicensis.(Foto: W. Uieda)

Nome Científico: Artibeusjamaicensis Família: Pbyllostomidae Morfologia: Envergadura: 30,Ocm Comprimento da cabeça-corpo: 8,Ocm Peso: 40 a 43g Cor da pelagem: Castanho claro, acinzentado ou escuro Biologia: Alimentação: Frutos, pólen, néctar, partes de flores e insetos Abrigos: Cavernas, ocos-de-árvore Agrupamentos: Colônias pequenas de 4 a 11 indivíduos Época de parturição: Junho a julho e fevereiro a março Período de gestação: 3 a 4 meses e 1 filhote por parto Filhotes: 2 por ano Longevidade: 10 anos, em condições de cativeiro

Enfermidades: Raiva,Histoplasmose Particularidades: Presençade quatro listras brancasfaciais, pouco evidentes. Comum em áreas urbanasdas regiões norte e nordestedo Brasil, onde podem ser observadosvoando em pequenos bandosao redor das árvoresfruteiras como sapotizeiros,oitizeiros, mangueirase amendoeiras.Nas áreas urbanas das regiões sudestee sul do Brasil, esta espécieé aparentementesubstituída por

Artibeuslituratus.

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.eBiologia: ologia:

Nome Popular: Morcego-das-listras-brancas-na-cabeça

V.2. Artibeus lituratus. (Foto: W. Uieda)

Científico: Artibeus lituratus Família: PhylIostomidae

Envergadura: 32,0 a 33,Ocm Comprimento da cabeça-corpo: 8,7 a 10,Ocrn Peso: 44 a 87g Cor da pelagem: Castanho escuro, castanho acinzentado Alimentação: Frutos, pólen, néctar, partes de flores, folhas e insetos Abrigos: Folhagem de árvores. Agrupamentos: Solitários ou pequenascolônias de geralmente 5 a 16 indivíduos Época de parturição: Fevereiro a Março e Outubro a Novembro. Período de gestação: 3 a 4 meses e 1 filhote por parto Filhotes: 2 por ano Longevidade: DesconhecidaEnfermidades: Raiva, Salmonelose, Febre Tifóide, Blastomicose, "Rocky Mountain Spotted fever' Particularidades: Presença de quatro listras faciais brancas, bem evidentes. Recentemente, duas outras espécies de grandes Artibeus foram redescritas para a região sudeste do Brasil (A. fimbriatus liA. obscurus) e sua distribuição e freqüência precisam ser melhor estudadas. Recomendamos a consulta de especialistas para a identificação correta destas espécies. Por causa de seu porte avantajado e do seu comportamento de voar em pequenos grupos ao redor das fruteiras, esta espécie tem causado um medo injustificado às pessoas que se encontram nas proximidades dessas plantas. Não atacam as pessoase nem se emaranhamnos cabelos das pessoas.

43

V.2.3. Nome Popular: Morcego-das-listras-brancas-na-cabeça-e-nas costas

Fig.V.3. Platyrrhinus lineatus.(Foto:W. Uieda)

Nome Científico: Platyrrhinus lineatus Família: Phyllostomidae

Morfologia: Envergadura: 30cm Comprimento

da cabeça-corpo:

6,4 a 6,7cm

Peso: 20,0 a 26,5g Cor da pelagem: Castanho acinzentado a castanho escuro

Biologia: Alimentação: Abrigos:

Frutos, néctar, folhas e insetos

Folhagem de palmeiras, bananeiras, telhados de casas

sem forro e cavernas Agrupamentos:

Pequenas colônias (6 a 20 indivíduos)

Época de parturição: Pode se reproduzir em qualquer época do ano, com dois picos de parturição em algumas regiões Período de gestação: Desconhecido e 1 filhote por parto Filhotes: 2 por ano Longevidade:

10 anos em cativeiro

Enfermidades: Raiva Particularidades: Quatro listras brancasna cabeçae uma ao longo do dorso. Os indivíduos de uma colônia mantêm-seem contatocorporal,formandouma penca.No início da noite, é comum observar pequenosbandosdestaespécievoando ao redor das fruteiras, em grupos mistos com uma das duas espéciesdeArtibeus. É encontradonasáreasurbanasde praticamentetodasascidadesbrasileiras.

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V.2.4. Nome Popular: Morcego-de-cauda-curta-e-comedor-de-frutas

Fig.V.4. Carollia perspicillata. (Foto:W. Uieda)

Nome Científico: Carollia perspicillata Phyllostomidae

Envergadura:28 a 32cm Comprimentodacabeça-corpo:4,8 a 6,5cm Peso:16 a 17g Cor da pelagem:Castanhoacinzentadoa escuro Biologia: Alimentação:Frutos,néctar,pólene insetosAbrigos: Cavernas,minas,coberturasde casassemforro e bueirosAgrupamentos: Colôniaspequenasou atéde centenasde indivíduos Épocade parturição:Julho a outubroe outubroa janeiro. Períodode gestação:2,5 a 3 mesese 1 filhote por parto Filhotes:2 por ano Longevidade:Desconhecida Raiva,Histoplasmose,"Rocky MountainSpottedFever" Particularidades:

Presençade uma verruga centro marginal no lábio inferior rodeada por numerosas

papilas. Esta espécie é mais comum nas áreas rurais brasileiras e na periferia das cidades. É uma das espécies mais estudadase um dos principais agentesda regeneraçãode nossasmatas.

45

ome

V.2.5. Nome Popular: Morcego-beija-flor

Fig.V.5. Glossophagasoricina. (Foto:W. Uieda)

Científico: Glossophagasoricina Família: Phyl1ostomidae

Morfologia: Envergadura:18cm Comprimentoda cabeça-corpo:4,8 a 6,5cm Peso:10g Cor dapelagem:Castanhoacinzentadoa escuro Biologia: Alimentação:Néctar,pólen, insetos,frutos e partesflorais Abrigos: Cavernas,bueiros,sótãose porõesde edificações Agrupamentos:Colôniasde seisa centenasde indivíduos Épocadeparturição:Podese reproduzirem qualquerépocado ano Períodode gestação:2 a 3 mesese 1 filhote por parto Filhotes: 2 por ano Longevidade:10 anos,emcondiçõesde cativeiro Enfermidades: Raiva,Histoplasmose,Salmonelose Particularidades: Morcego com focinho alongado,língua comprida e muitas papilas filiformes na ponta da língua, usadaspara retirar o néctardas flores. Quando em repouso,permanecede cabeça para baixo, agarradoao substratopor um ou pelos dois pés. Mantémsempreuma certa distânciados outros indivíduos, nunca tendo contato corporal. Esta espécie é comum em áreas urbanas e, freqüentemente,pode serobservadaempequenosbandosvisitandoflores de árvorescomo: mirindiba, pacari, pequizeiro,maracujásilvestre,etc. Ocorre em todo território brasileiro, sendomuito comum emáreasurbanase rurais.

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V.2.6. Nome Popular: Morcego-de-nariz-em-forma-de-lança

Fig.V.6. Phyllostomushastatus.(Foto: W. Uieda)

Nome Científico: Phyllostomushastatus Família: Phyllostomidae Morfologia: Envergadura:45cm Comprimentocabeça-corpo:10 a 13cm Peso:50 a 100g Cor de pelagem:Castanhoacinzentado,alaranjadoa quasenegro Biologia: Pequenosvertebrados,frutos, partesflorais e insetos Tipos de abrigo: Cavernas,ocos-de-árvores, folhagemde palmeiras,sótãose edificaçães Agrupamentos:Colôniascom 100 indivíduosou mais (harénsde 20 a 100 fêmeas) 2poca departurição: abril a maio Períododegestação:desconhecido Filhotes: lfilhote por gestação Longevidade:desconhecida Enfermidades: Raiva,Histoplasmose Particularidades: Os machos possuem uma glândula situada no lado ventral do pescoço que é, provavelmente, utilizada na atração sexual. Num dado abrigo, é possível encontrar mais de um agrupamento desta espécie, podendo representar um harém e vários grupos de machos solteiros. Em uma mesma colônia podemos encontrar indivíduos com diferentes cores de pelagem: aqueles quase negros e outros castanho-alaranjados.

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V.2.7. Nome Popular: Morcego-de-nariz-em-forma-de-lança

Nome Científico: Phyllostomusdiscolor Família: Phyllostomidae

Morfologia: Envergadura:45cm Comprimentoda cabeça-corpo:7,5cm Peso:20 a 40g Cor da pelagem:Castanhoacinzentadoa avermelhado

Biologia: Alimentação: Partes florais, frutos, insetos e pequenos vertebrados Abrigos: Cavernas, ocos-de-árvore, folhagem de árvores e edificações Agrupamentos: Pequenas colônias (10 a 20 indivíduos). Época de parturição: Qualquer mês do ano. Período de gestação: 2 a 3 meses e 1 filhote por parto Filhotes: 2 por ano Longevidade: desconhecida

Enfermidades: Raiva,Histoplasmose Particularidades: Assim comoP. hastatus,os machosdestaespécietambémpossuemuma glândula no pescoço.Por ser um animal de porte relativamentegrande,essesmorcegosnecessitampousarnas flores para retirar seu alimento. As visitas às flores podem ser solitárias ou em pequenosbandos e existe a possibilidade de realizaremmigraçõesregionais à procura de novas fontes de alimento. Normalmente,visitam flores de árvoresaltas.No Brasil, três outrasespéciesdestegêneropodem ser encontradas:P. hastatus,P. elongatuse P.latifolius.

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V.2.8. Família: Biologia: Enfermidades:

NomePopular: Morcego-da-cauda-livre

Fig.V.8. Molossusmolossus.(Foto: W. Uieda)

Nome Científico: M%ssus spp. Molossidae Morfologia: Envergadura: 22cm Comprimento da cabeça-corpo: 5,7 a 8,Ocm Peso: 10 a 30g Cor da pelagem: coloração predominantemente castanho-escuro,quase preto

Alimentação: Insetos Abrigos: Forro de casas,caixas de persiana, vãos em edificações, ocos-de-árvore e bainha de folhagens Agrupamentos: Colônias de dezenasa centenasde morcegos Época de parturição: Outubro a Dezembro Período de gestação: 2 a 3 mesese 1 filhote por parto rilhotes: 1 por ano wngevidade: Desconhecida

Raiva,Histoplasmose,Salmonelose Particularidades: Duas espécies podem ser encontradas e~ nossasáreas urbanas: Molossus molossus e M. ater, sendo a primeira de porte menor e a mais comum. Sua atividade noturna inicia-se ao entardecer quando freqüentemente observa-se revoadas dessasespécies saindo do telhado das casas e dos prédios. Seu vôo pode ser alto ou chegar próximo ao chão, dependendo do tipo de inseto perseguido. Ocorrem em todo o território nacional e, dificilmente, são encontradas nas áreas naturais brasileiras. A cauda livre, cor negra, hábito de caminhar apoiado nos polegares das asas e nos pés e a ocorrência em forros das casas, acredita-se que sejam responsáveis pela crença popular de que "reta quando fica velho vira morcego".

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50 Fig. Biologia:

V.2.9. Nome Popular: Morcego-de-cauda-livre

V.9. Nyctinomopslaticaudatus.(Foto: W. Uieda)

Nome Científico: Nyctinomopsspp.e Tadaridabrasiliensis Família: Molossidae

Morfologia: Envergadura:20 a 21cm Comprimentodacabeça-corpo:5,4 a 12,6cm Peso:25 a 30g Cor dapelagem:Castanhoou avermelhado

Alimentação:Insetos Abrigos: Grandescavernas,fendasemrochas,vãos emedificaçõese forros de casas Agrupamentos:Colôniaspodemcontercentenase, àsvezes,milharesde indivíduos Épocadeparturição:Outubroa Dezembro Períododegestação:2 a 3 meses,com1 filhote por parto Filhotes: 1 por ano Longevidade:até35 anos(T. brasiliensis) Enfermidades: Raiva,Histoplasmose,Criptococose,Tuberculose,Lepra,Blastomicose. Particularidades: A diferençabásicaentreessesdois gênerosestáno númerode incisivos inferiores: três pares em Tadarida e dois em Nyctinomops.Ambos possuemdobras profundase evidentesno lábio superior. As três espéciesdesteúltimo têm sido encontradasem áreasurbanas:N. laticaudatus,N. macrotise N. aurispinosus,sendoa primeira de porte menor,mais freqüentee de colôniasmaiores. Habitualmente,saememrevoadasao entardecerou um poucomais tarde.Colôniasencontradasacima do sexto andar dos prédios geralmente pertencemà espécieN. laticaudatus ou T. brasiliensis. Tadarida brasiliensis é de ampla distribuição geográfica,ocorrendodesdeos EstadosUnidos até a Argentina. As grandescavernasdo Texas,EstadosUnidos, abrigamcolôniasde milhõesde indivíduos destaespécie.

amília: articularidades: ome ologia: orfologia: 51

V.2.10. Nome Popular: Morcego-de-cauda-livre

Fig.V.I0. Eumopsauripendulus.(Foto:W. Uieda)

l::ientítico: Eumopsspp. Molossidae

Envergadura:36 a 40cm Comprimentodacabeça-corpo:4,0 a 13,Ocm Peso:40 a 65g Cor dapelagem:castanhoescuro,castanhoacinzentadoou preto

Alimentação:Insetos' Abrigos: Fendasemrochas,juntas de dilataçãoem edificações,coberturasde residências (principalmentecumeeiras),torresde igrejas,bainhasdasfolhas de palmeiras Agrupamentos:Colôniasgeralmentepequenas(lOa 20 indivíduos) Épocade parturição:Outubroa Dezembro Períododegestação:2 a 3 mesese 1 filhote por parto. Filhotes:1 por ano Longevidade:Desconhecida EnferI!1~dades:Raiva emEumopsauripenduluse E. perotis Como na maioria dos molossídeos,uma glândulaencontra-sepresenteno pescoço, sendo mais desenvolvidanos machosdo que nas fêmeas.Produzuma substânciausadana atração sexual. Em áreasurbanas,três espéciessãohabitualmenteencontradas:Eumopsglaucinus,E. perotis e E. auripendulus.Uma característicamarcantedas espéciesdestegênerosão suasorelhasgrandese projetadaspara frente, como mostradasna foto. Ocorremem todo o território brasileiro, porém não sãomuito comuns.

Enfermidades:

V.2.11. Nome Popular: Morcego-de-cauda-peluda

Fig.V.11. Lasiurusega.(Foto: W. Uieda)

Nome Científico: Lasiurus spp. Família: Vespertilionidae

Morfologia: Envergadura:18cm Comprimentodacabeça-corpo:5,0 a 6,Ocm Peso:6 a 20g Cor dapelagem:Avermelhado,alaranjadoou amarelado

Biologia: HábitosAlimentares:Insetos Tipos deAbrigos: Folhassecasde palmeiras,folhagensverdese ocasionalmenteem ocos-deárvoree edificações Agrupamentos:Solitáriosou empequenosgrupos Épocade parturição:Outubroa Janeiro Períododegestação:80 a 90 diase 2 a 3 filhotes por parto Filhotes:2 a 3 por ano Longevidade:Desconhecida Raiva Particularidades: Lasiurus é o único gênerode morcegosque, comumentedá à luz a mais de dois filhotes por gestação(até 4 filhotes). Isto ocoue porque as fêmeaspossuemdois paresde tetas.Por, geralmente,seremsolitários,essesmorcegosdificilmente sãoobservadospela populaçãohumananas áreas urbanas. Quando são encontrados,os morcegos devem ser consideradoscomo altamente suspeitosde estaremcom algum problemade saúde,possivelmenteraiva. No Brasil ocouem quatroespécies: L. ega,L. borealis,L. cinereuse L. egregius.

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Morfologia: Alimentação: amília: nfermidades:

V.2.12. Nome Popular: Morcego-pequeno-marrom

Fig.V.12. Eptesicusbrasiliensis.(Foto: W. Uieda)

Nome Científico: Eptesicusbrasiliensis Vespertilionidae .

Envergadura:20cm Comprimentoda cabeça-corpo:5,3 a 5,4cm Peso:7 a lOg Cor dapelagem:Castanhoescuro Biologia:

InsetosAbrigos: Ocos-de-árvoree forro de casasAgrupamentos: Pequenascolôniasde 5 a 10 indivíduos Épocade Parturição:Outubroa Janeiro Períododegestação:3 mesese 1filhote por parto Filhotes:2 por ano Longevidade:Alta, maisde 10 anos Raiva,Histoplasmose. Particularidades: Apesar de sua ampla distribuição geográfica (sul do México a nordeste daArgentina), é uma espéciepraticamentepouco abundante.Facilmenteconfundidacom as duasoutras espécie"que aqui ocorrem (E. diminutuse E. furinalis), das quais se diferencia por seu tamanho maior. Em áreasurbanas,pode ser observadavoando ao redor dos postesde iluminação das ruas e praças, à caça dos pequenosinsetos atraídos pela iluminação. Em Brasília, E. brasiliensis foi encontradocoabitandocom Molossusmolossusemforro de uma casahabitada.

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Morfologia: V.2.13.

Nome Popular: Morcego-cara-de-bulldog

Fig.V.13. Noctilio albiventris.(Foto: W. Uieda)

Nome Científico: Noctilio albiventris Família: Noctilionidae

Envergadura:25cm Comprimentodacabeça-corpo:5,7 a 8,5cm Peso:18 a 44g Cor dapelagem:Castanhoacinzentado,amareladoa alaranjado Biologia: Alimentação:Insetoscapturadosna superfícied'águae pequenospeixes Abrigos: Ocos-de-árvore,fenda emrochas,sobpontesde concreto,juntasde dilataçãoem edificações,telhadosde casase próximosa corposd'água Agrupamentos:Pequenasa grandescolônias,commais de 500 indivíduos Épocadeparturição:Outubroa Janeiro. Períodode gestação:3 mesese 1 filhote por parto Filhotes: 1porano Longevidade:11 anos(N. leporinus) Enfermidades: Raiva (N. leporinus),Histoplasmose(N. albiventris) Particularidades: O gêneroNoctilio contémduasespécies:N. albiventris e N. leporinus,estaúltima conhecidacomo "morcegopescador".Ambas utilizam abrigos semelhantes,facilmente identificados devido ao forte odor de almíscar,principalmenteno período em que antecedea saídados morcegos para ~ atividadesnoturnas.Cidadessituadaspróximas a rios, lagoase represastêm tido problemas com a presençade N. albiventris em suasedificaçõesem alvenaria.Essetipo de problema tem sido freqüentena regiãodo pantanalmato-grossense e da Amazônia.

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55 Biologia:

Nome Popular: Morcego-narigudo

Fig. V.14. Peropteryxmacrotis.(Foto:W. Uieda)

Científico: Peropteryxmacrotis Emballonuridae

Envergadura: 16 a 18cm r:omprimento da cabeça-corpo: 4,5 a 5,5cm Peso: 4 a 7g Cor da pelagem: Castanho escuro

InsetosAbrigos: Cavernas, fendas em rochas, sótãos e porões de casas e prédios Agrupamentos: Colônias de mais de 10 indivíduos (formam haréns) Época de parturição: Maio a outubro Período de gestação: 50 a 60 dias e 1 filhote por parto Filhotes: 1 por ano

Desconhecida Desconhecid( Particularidades: Espéciesdo gênero Peropteryxpossuemsacosalares(glandulares)localizadosna membranaantibraquial,junto ao antebraço.Essessacos glandularessão mais desenvolvidosnos machose secretamuma substânciade odor forte, provavelmente,para atraçãosexual.Nos abrigos,os indivíduos repousamem locais iluminados,geralmenteno teto ou na paredevertical, onde mantêm uma certa distânciaentreeles.No Brasil, ocorremas duasoutrasespéciesdestegênero:P. kappleri eP. leucopterus.

V.2.IS. LeiturasAdicionais Recomendadas BARQUEZ, R.M.; GIANNINI, N.P.; MARES, M.A. Guide to lhe bats of Argentina. Norrnan: OklahomaMuseumof NaturalHistory, 1993. 119p. EISENBERG, J.F. Mammals of lhe neotropics: the northem neotropics. Chicago: University ChicagoPress,1989. 449p. NOWAK, R.M. Walker's mammalsofthe world. 5ed. Baltimore : JohnsHopkins University Press,

1991.2v. REDFORD, K.H.; EISENBERG, J.F. Mammals of lhe neotropics: the southem cone. Chicago: University ChicagoPress,1992. 43Op.

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Morcegos em Edificações As edificaçõesrepresentamos principais abrigosdiurnos dos morcegosinsetívoros,alojando desde pequenascolônias até centenase milhares de indivíduos. Ao entardecer,a saída desses morcegos,de modo simultâneoe seqüencial,proporcionaimagensde revoadassemelhantesàs de algunstipos de aves,como andorinhas.Revoadasde milhõesde morcegos,comumentemostradasem filmes e documentáriosexibidos na televisão, não representama nossa realidade, uma vez que ocorremnasregiõesdasgrandescavernasnorte-americanas. Em menorescala,outrostipos de morcegospodemtambémse alojar nasedificações,como os frugívoros,nectarívorose onívoros. Os morcegosinsetívorosalojam-se,maisfreqüentemente, nascumeeiras,nos espaçosestreitos entreo telhadoe o madeiramento,entreo telhadoe asparedes,nasjuntas de dilataçãodos prédios,nas caixas de persianas,em chaminés,nos dutos de ventilaçãoe outros tipos de espaçoexistentesnas edificações.Nessesabrigos,os morcegospodemrepousarapoiadossobreos polegaresdas asase os pés em superfícieshorizontais ou verticais, e caminhamcom freqüência. Em casas com forro, é possívelouvir os ruídosprovocadospelo deslocamentodessesmorcegos.O movimentode entradae saídadessesabrigos,habitualmente,ocorre por frestasestreitas,que sãofacilmenteidentificáveispela presençade manchasmais escurasao seuredor. Essasmanchassãoocasionadaspela oleosidadedos pêlos durante o pouso de entrada.Quando as entradasestão localizadaspróximas às janelas das edifica~ões,é comumo adentramentodos morcegos. Os morcegosnectarívorosabrigam-seem espaçosmais amploscomo sótãos,porõese outros compartimentospouco freqüentados,que acessamvoando.Dessaforma, a sua entradapode ocorrer por entre espaçosnos beirais, em locais destelhados,em portas e alçapõesabertos e vidraças quebradas.Nessesabrigos,os morcegosrepousampenduradosde cabeçaparabaixo, agarrando-seao teto com auxílio das unhas de um ou dos dois pés, mantendouma certa distância entre eles. Por entrarem em vôo nos abrigos, os morcegosnectarívorosnão deixam manchassemelhantesàs dos insetívoros,o que dificulta a visualizaçãodos locais de entradae saídadessesmorcegos.Algumas espéciesde morcegosinsetívoros,menos freqüentes,também necessitamentrar em vôo em seus abrigos,como os nectarívoros. Os morcegosfrugívoros e onívoros abrigam-se,eventualmente,nos telhadosde residências, necessitando,como os nectarívoros,de espaçosamplos para entrar e pousar, formando pequenos agrupamentos. A presençade morcegos em edificações,principalmente de insetívoros, pode ocasionar acúmulo de fezes, causandoodoresdesagradáveise característicos.Em grandesquantidades,esses excrementos podem provocar rachadurase apodrecimentodas madeiras do forro, ocasionando derramamentode fezesno chão, manchasem tetos e paredes.Essesacúmulospodemtambématrair insetoscoprófagos.A conseqüência dessesestragosleva, geralmente,à desvalorizaçãodo imóvel. A seguir, serão apresentadasalgumas situaçõesde alojamentosde morcegos comumente encontradosem edificaçõese suaspossíveissoluções

V.3.1.Casas Cobertura Nas construçõestipicamentebrasileiras,as coberturassãocompostasde estruturasde madeira e telhas,sendoque estaspodemsercerâmicasou de fibrocimentoe, em algunscasosraros,de outros tipos de material.

.3.1.3.

Genericamente,será apresentadaa coberturacom telhascerâmicasonde há a predominância de problemasde presençade morcegos. Na cobertura,sãodois os locais mais freqüentesde ocorrênciade acessopara se abrigarem:a cumeeirae o beiral.

V.3.1.1.1.Cumeeira A cumeeiraé o ponto mais alto da coberturae servede divisor de águas,sendonecessáriaa colocação de uma peça do mesmo material da telha, com inclinação para ambos os lados. É justamentena aberturaentre a peçae as telhas ou a estruturade madeira (por falha na execuçãodos serviços)que os morcegosusamcomo acesso. Solução Para impedir o acessode morcegospela cumeeiradas casas,é necessárioque se executeuma vedaçãodesselocal com argamassade cimento e areia em suas extremidades.Antes da vedação, deve-seobedeceraosprocedimentosde comodesalojarmorcegos.

".3.1.1.2.l3eirais Os beirais são extremidadesda coberturaque ultrapassamo limite das paredesmais externas de uma edificação,como objetivo de protegê-Iasdaschuvas. o ponto de contato entre a estruturade madeirada coberturae as paredessão passíveisde falhas ou má execuçãode vedação,deixandoespaçosque possamservir de acessopara morcegosao forro dascasas.

Solução Para impedir o acessodos morcegospelos beirais, deve-seprocederà vedaçãodas aberturas com argamassade cimento e areia ou telas. Antes da vedação, deverão ser obedecidos os procedimentosde como desalojarmorcegos. V.3.1.2. Porão

É comum, em casas construídasem terrenos com desnível, a existência de porões, que, geralmente,servemcomo depósitosde objetose entulhos.Assim, normalmente,essesambientessão pouco usadose têm poucaventilação,proporcionandoum bom local para abrigar morcegos.Nesses casos,normalmente,os acessosse fazem por meio de janelas e portas abertas ou quebradas,ou aberturasparaventilação.

Solução Os acessosdeverão ser vedadostrocando-seos vidros quebrados,consertando-seportas e telandoas outrasaberturas. Chaminés Num país tropical como o nosso,o inverno é poucorigorosoe nascasasque têm lareiraso seu uso não é freqüente,ficando grandepartedo ano emdesuso. Devido à suasconcepçõesarquitetônicasfavoráveis(grandesalturas,difícil acessoparaoutros animais,etc.),tomam-selocaisprópriosparaabrigode morcegos. Solução Vedar as aberturasexternas existentesnas chaminés por meio de telas metálicas, após desalojaros morcegos. 58

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Fig. V .16. Sótãode uma casaresidencial,com laje e forro presoao madeiramentodo telhado,da região de Belém, Pará, mostrando a situação problemática provocada pela presençade morcegos. Os morcegos insetivoros (,\10/ossus m%ssus e M. ater) e o onívoro (Phyllostomushastatus)abrigavam-seno espaçoentre o forro e o madeiramentoe, no horário mais quentedo dia, desciamemdireçãoà laje. Note-seque partedo forro já cedeu,devido à corrosãoprovocadapela urina e umidade e pelo pesodasfezes,que agoratambémseacumulasobrea laje. (Foto: W. Uieda)

Fig.V.17. Casaresidencial,em alvenariae telhado em fibro-cimento,mostrandouma falha de construçãoutilizada pelos morcegosinsetivoros (Molossusmolossus)como local de entradaao seuabrigo diurno. Note-sea manchagordurosa (oleosidadede seus pêlos)deixadapelosmorcegosao pousarno local,antesde adentrar.(Foto: W. Uieda)

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Edifícios V.3.2.1.Juntasde Dilata
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