Monografia Morte e Morrer
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1.MORTE E MORRER A morte é um fenómeno nem sempre previsível mas certo… Desde o nascimento, a única certeza que nos acompanha a todos ao longo do ciclo de vida. Pacheco (2002) descreve-a como um fenómeno extremamente complexo, uma vez que está sempre presente ao longo da nossa vida, mas por outro, parece manter-se radicalmente ausente enquanto vivemos, pelo que, a morte é-nos simultaneamente próxima e distante. A morte surge nos dias de hoje como um acontecimento medonho, pavoroso, um medo universal, continuando a ser associada a um acontecimento negativo adjectivado como algo trágico, sinistro, e/ou terrível. Esta tragédia, espelha-se no habitual comentário que tantas e tantas vezes fazemos face à notícia de morte: morreu!?... de quê?... constituido-se como um verdadeiro tabu nos dias de hoje (KUBLER-ROSS, 1991). Procuramos quase sempre uma razão, uma explicação, um motivo, uma justificação, recusando desta forma o princípio de que a morte é parte integrante da vida (HENNEZEL e LELOUP, 1998). Ao encararmos a morte como um revés ou uma contrariedade, promovemos um comportamento tipo em que se a evita, a ignora, a oculta, ou a sonega de toda e quaisquer maneiras. De forma consciente ou inconsciente envolvemo-la num manto de mistério e misticismo conferindo-lhe uma “natureza metafísica” (ARIÈS, 1989, p.10), promovendo uma “conspiração silenciosa” em redor da morte (KUBLERROSS RO SS,, 1991 1991,, p.19 p.19). ). Ao redu reduzi zi-l -la a a um mero mero fact facto o bana banaliliza zamo mo-l -la, a, ao escamoteá-la insistentemente “esterilizamo-la”, e assim contribuímos directa e indirectam indirectamente ente para a sua desumani desumanização zação.. Paradoxalm Paradoxalmente, ente, “quanto “quanto mais avançamos na ciência, mais parece que tememos e negamos a realidade da morte” (KUBLER-ROSS, 1991, p.19). Torna-se então vital procurar entendê-la como algo natural, conhecer como reage o doente e família, indagar sobre como os profissionais de saúde reagem à morte, de forma a promover uma nova humanização do cuidar. Torna-se necessário reinventar uma nova ars moriendi, de forma a que o Homem enfrente a sua própria morte e a do outro, de um modo mais consciente e salutar. Este é um domínio em que o profissional de saúde deve cada vez mais cump cumprir rir o seu seu prop propós ósitito, o, proc procur uran ando do não não só se dese desenv nvol olve verr enqu enquan anto to
profissional e enquanto pessoa. Deste modo, permitirá aceitar o irracional, entender o óbvio e explanar com a clareza e a lucidez que lhe é permitida, os segr segred edos os que que a mort morte e envo envolv lve, e, pree preenc nche hend ndo o as lacu lacuna nass e os hiat hiatos os remanescentes, de de forma a cuidar de forma digna digna e humana. 1.1 A morte através dos tempos
Desde os primórdios dos tempos o Homem debateu-se com a morte e o mistério da sua finitude. Embora aparentemente imóvel, a morte e o morrer enfrentaram profundas alterações na sua natureza, provocando modificações lentas e graduais nas atitudes do Homem perante a mesma (ARIÈS, 1989). Na antiguidade, a morte era na sua maioria, excepto causas acidentais, algo de esperado e por isso algo anunciado pelo que “não se morria sem se ter tido tempo de saber que se vai morrer” (ARIÈS, 1989, p.19). Avisada através de “sinai “sinaiss natura naturais” is” e/ ou “convi “convicç cções ões íntima íntimas” s” que conduz conduziam iam o Homem Homem ao reconhecimento espontâneo da sua finitude, a morte surgia como um sinónimo de um acontecimento quer social quer comunitário. Sendo-lhe conferido o grau de cerimónia pública, o indivíduo aguardava pela sua morte no seu ambiente domé domést stic ico o e acol acolhe hedo dor, r, rode rodead ada a de famí família lia e amig amigos os , “fecha “fechava vamm-se se as persianas do quarto do agonizante, acendiam-se velas, usava-se água benta; a casa casa ench enchia ia-s -se e de vizi vizinh nhos os,, pare parent ntes es,, de amig amigos os séri sérios os e outr outros os que que cochichavam” (ARIÈS, 1988, p.309). Era uma morte acompanhada, onde a pessoa pessoa era “dona “dona e senho senhorr absol absoluto uto da sua morte e das circunst circunstân ância ciass do morrer”( ARIÈS, 1989, p.24). Os rituais cerimoniais que envolviam a morte eram caracterizados pela simplicidade, sendo isentos de dramatismos e/ou emoções excessivas, excessivas, em que “o “ o maior terror era morrer repentinamente sem as homenagens cabidas” (KOVÀCS, 1992, p.33). A morte era assim aceite e encarada com naturalidade, pelo que se morria em paz e de forma digna (KUBLER-ROSS, 1991). Em meados do século XIX, com o desenvolvimento industrial e o avanço técnico-científico da medicina, a visão da morte começa a modificar-se. De forma progressiva, o Homem começa a desenvolver uma crescente intolerância face aos mortos e a tudo o que à morte concerne, “sublinham-se mesmo os seus aspectos desgostantes” (ARIÈS, 1988, p.319), revela-se um “espectáculo
naus nausea eabu bund ndo” o” (ARI (ARIÈS ÈS,, 1988 1988,, p.32 p.320) 0).. A mort morte e perd perde e a sua sua cono conota taçã ção o domé domést stic ica a e torn tornaa-se se inve inverti rtida da (ARI (ARIÈS ÈS,1 ,198 988) 8).. O dese desenv nvol olvi vime ment nto o do capitalismo transforma o corpo humano num mero instrumento de produção, no qual qual adoece adoecerr signif significa ica necess necessari ariame amente nte inacti inactivid vidade ade – parar parar de produz produzir ir – sendo que neste contexto tanto a doença como a morte devem ser ocultadas do mundo social, dessocializadas (SAPETA e LOPES, 2007). Paralelamente emergem questões pioneiras de Saúde Pública, onde emanações pestilentas, odores infectos e multidões invadindo o quarto de moribundos se torna algo inconc inconcebí ebível vel,, e como como tal, um compo comporta rtamen mento to a erradi erradicar car.. A famíli família a e
a
comunidade, em tempos tão atenciosa face ao moribundo, sob o pretexto de o poup poupar ar a um maio maiorr sofr sofrim imen ento to,, inic inicia ia um proc proces esso so de sile silenc ncia iame ment nto o da verdade, escondendo a gravidade do seu estado de saúde, de modo a evitar o incómodo e a emoção (ao próprio e aos outros) causados pela notícia de morte (ARIÈS, 1988). Este culto da ignorância – hermetização do doente – privando o Homem dos seus mais básicos direitos, promoveu uma rápida e galopante desumanização da morte, morte, pelo que, que, não se ousa ousa pronun pronuncia ciarr o seu seu nome nome – “consp “conspira iração ção do silêncio” (KUBLER-ROSS, 1991, p.19), e falar sobre a mesma é mórbido, tornando-se “objecto de um interdito” (ARIÈS, 1989, p.55). Hoje em dia, a morte é sinónimo de tabu e basta nomeá-la para promover uma tensão emocional (KUBLER-ROSS, 1991). Este pudor emergente que a morte passou a inspirar, tornou-a não só inconveniente como também indecente, “algo vergonhoso” (ARIÈS, 1989, p.55). Torna-se assim impróprio e incómodo morrer em casa, pelo que se verifica um deslocar da morte para a instituição hospitalar. Inverte-se desta forma uma concepção milenar, uma vez que “a morte recuou e trocou a casa pelo hospital: está está ause ausent nte e do mund mundo o fami famililiar ar do diadia-aa-di dia. a. O Home Homem m de hoje hoje,, em cons conseq equê uênc ncia ia de não não a ver ver sufi sufici cien ente tess veze vezess e de pert perto, o, esqu esquec eceu eu-a -a”” (KUBLE (KUBLER-R R-ROSS OSS,, 1991, 1991, p.182) p.182).. Segund Segundo o Kubler Kubler-Ro -Ross ss (1991), (1991), trocou trocou-se -se a quietude e o sossego sossego do lar pela azáfama e o corrupio corrupio dos hospitais, e desta forma, a morte perde o seu carácter cerimonial, resumindo-se hoje apenas a um fenómeno meramente técnico…Institucionalizou-se a morte!
1.2 A institucionalização da morte
A negação da morte é hoje uma das verdades inconvenientes da nossa actual sociedade. A morte surge hoje sobre diferentes manifestações - na violência das grandes urbes, nas guerras entre nações, mediatizada na televisão e na impr impren ensa sa escr escritita a – inva invadi dind ndo o o noss nosso o quot quotid idia iano no diar diaria iame ment nte. e. Cont Contud udo, o, permanece ainda como um tabu, um enigma que nos persegue, uma realidade que desconhecemos (HENNEZEL, 1997) e agimos como se ela não existisse (KOVÀCS, 1992). O sent sentim imen ento to de repu repuls lsa a pela pela mort morte, e, legi legitim timiz izou ou a sua sua desl desloc ocaç ação ão (num (num passado recente) para as instituições de saúde, “a sociedade dessocializou a morte e encurralou-a nos hospitais ou noutras instituições” (SAPETA, 1999). Aos hospitais, imbuídos de um espírito por vezes de salvação, recorrem doentes e seus familiares em busca de um lugar que os atenda e solucione os seus problemas de saúde, em busca de uma tão desejada cura. No entanto, pelas mais variadas razões existem indivíduos que encontram no hospital a mort morte e como como resu resulta ltado do fina finall da sua sua doen doença ça,, o fim do seu seu cicl ciclo o de vida. vida. O hospital converte-se deste modo no lugar da morte moderna, submergindo o incómodo que a mesma produz na organização da vida vida diária, e banido-a do quotidiano (ARIÈS, 1989). Escobar (1990) citado por Moritz (2002), resume a morte modernizada no séc.XX séc.XX,, segund segundo o cinco cinco caract caracterí erísti sticas cas:: um acto acto prolon prolongad gado o gerado gerado pelo pelo desenvolvimento tecnológico, um facto científico produto do aperfeiçoamento da ciência e da técnica, um facto passivo em que as decisões pertencem aos médicos e aos familiares mas não aos doentes e um acto profano, não atendendo às crenças e valores do paciente e por fim a um acto de isolamento pois pois o ser ser huma humano no morre morre soci social alme ment nte e desa desaco comp mpan anha hado do,, em soli solidã dão. o. O ambiente hospitalar, tal como preconizado durante séculos, ao invés de ser mais hospitaleiro do que o lar, não o é (FOUCAULT, 2004). O doente e a sua famíli família a encont encontram ram nele nele um meio meio hermét hermético ico e esteri esteriliz lizado ado,, extrem extremam ament ente e técn técnic ico, o, inse insens nsív ível el e apát apátic ico, o, indi indife fere rent nte e e impe impert rtur urbá báve vel,l, muita muitass veze vezess medicalizado ao extremo. De acordo com Kubler-Ross (1991) o hospital é um centro médico por excelência, um centro da razão e da técnica, dominado por uma cultura biomédica, centra a sua actuação principalmente na preservação
e/ou recuperação da saúde, e assim, é fortemente orientada para a vida. Curar a doença e combater a morte tornou-se desta forma o seu legado, pelo que, consciente ou inconscientemente, “a sociedade prolonga os doentes o mais possív possível, el, mas não os ajuda ajuda a morrer morrer”” (ARIÈS (ARIÈS,, 1989, 1989, p.186) p.186).. Nesta Nesta etapa etapa singular da sua vida, enquanto caminha a passos largos para o terminus da sua sua exis existê tênc ncia ia físi física ca,, o doen doente te é conf confro ront ntad ado o com com real realid idad ades es até até entã então o desconhecidas, desconhecidas, muitas vezes só e alienado, desamparado e desacompanhado, “sem ninguém que compartilhe o medo, a angústia, o sofrimento ou quem sabe, a paz e a alegria de quem parte” (SAPETA, 1999). Envolvido por uma atmosfera adversa e estranha, não familiar, um ambiente solitário, mecânico e desumano como descreve Kubler-Ross (1991), o doente deixa de ter controlo sobre si, sobre a sua própria vida e concomitantemente sobre a sua morte. Desta forma, “começa a ser tratada como um objecto(…) deixa de ser pessoa” (KUBLER-ROSS, 1991, p.20), privada e/ou impossibilitada de expressar as suas vontades, desejos, sentimentos e emoções, enfim, inibido dos seus mais elementares direitos (Elias, 2001). 2001) . São então os profissionais de saúde os “senhores do momento” (KUBLERROSS, 1991, p.57), uma vez que são eles que decidem o quê, porquê, como, quando, quem, onde, enfim, são eles que definem o dia a dia do indivíduo, crendo incansavelmente, mesmo perante provas inequívocas, na imortalidade e perpetuidade do ser humano. Este paradoxo é materializado quando os profis profissio sionai naiss de saúde, saúde, alhea alheados dos da realid realidade ade,, manten mantendo do as suas suas rotina rotinass diárias, crêem sem dúvida alguma que a ciência e a técnica, em quem confiam cegamente, os irá, mais uma vez, ajudar a solucionar este problema (KublerRoss, 1991). No entanto, os progressos da medicina não conseguem suprimir a morte, e o saber nem sempre tem solução para tudo, pelo que é preciso reconhecer no dia a dia de que todo o conhecimento é limitado, tal como é limitada a existência do ser humano - “a falta de omnipotência, nossas limitações, nossas falhas, e por último mas não menos importante, nossa própria mortalidade” (KUBLER-ROSS,1991, p.21). Não obstante o tabu da morte, a grande utopia do séc. XXI, projecta-se no sonho da imortalidade, que nunca foi tão vivido e revivido pela medicina e acariciado pela sociedade, uma vez que, “o homem não aceita a morte, afirma-se diante da morte com a crença na imortalidade”
(MORIN, 1988, p.99). Paradoxalmente, quanto mais avançamos na ciência, mais mais pare parece ce que que regr regred edim imos os na assi assist stên ênci cia a ao próx próxim imo, o, desc descur uran ando do os cuidados mais simples e básicos ao ser humano, nomeadamente no que conc concer erne ne ao seu seu confo onfort rto o e bem bem esta estar, r, e na prom promoç oção ão de uma uma melh melhor or qual qualid idad ade e de vida. vida. A idei ideia a prop propal alad ada a de cari carida dade de,, assi assist stên ênci cia, a, bond bondad ade, e, generosidade, auxílio, apoio, amparo, ajuda, compaixão e humanidade como que esquecida algures no tempo. Com uma perspectiva redutora do binómio saúde-doença, os profissionais de saúde tentam a todo o custo adiar a morte, vivenciando-a como uma derrota, um fracasso, um insucesso, a morte não é mais considerada um fenómeno natural e inevitável, fatal e indeclinável, mas a incapa incapacid cidade ade técnic técnica a em vence vencerr o destin destino o espelh espelhan ando do a “impot “impotênc ência ia e a imperícia” (KOVÀCS, 1992, p.38) sob o Homem e o seu saber. É solicitado aos profissionais de saúde uma nova atitude, pois eles têm a responsab responsabilidad ilidade e na facilitação facilitação do processo processo de morte dos doentes doentes (K OVÀCS, OVÀCS, 1992). Com a morte, não é o fim que se aproxima mas o começo de uma fase ímpar na vida do doente/ família, para a qual a equipe de saúde deverá estar adequadamente preparada, preparada, pois muito ainda falta fazer quando se acredita que não há mais nada a fazer (Abiven, 2001). Nesta fase “o objectivo fundamental para o paciente muda da recuperação para o conforto” (GLASER e STRAUSS, 2005, p.177). É necessário entender a morte, de modo a que a mesma possa ser encarada com o verdadeiro significado que a própria encerra, porque aceitar a morte não é negar a vida , é tão só mais uma etapa das nossas vidas, e quiçá a mais simbólica (HENNEZEL, (H ENNEZEL, 1997).
1.3 O homem perante a morte
A morte é um dos fenómenos que mais dilemas gerou em toda a história do homem. Diferentes filósofos, antropólogos, sociólogos, e varios pensadores fizeram inúmeras elucubrações/ meditações/ cogitações sobre este fenómeno biopsicosocioespiritual e do mistério que o envolve. No entanto, e para a grande maioria das pessoas, a morte ainda é encarada como um acontecimento alheio, distante da nossa realidade, desconhecido do nosso quotidiano e consequentemente associado a “uma intervenção maligna fora do
nosso alcance” (KUBLER-ROSS, 1991, p.6). A morte enquanto grande fracasso da humanidade resulta do facto de lhe conf confer erir irmo moss essa essa bana banaliliza zaçã ção o / triv trivia ialiliza zaçã ção, o, quan quando do nem nem sequ sequer er nos nos indignamos (KOVÀCS, 1992), e desta forma esquecemo-nos de encará-la, de discuti-la, de conhecê-la, de entendê-la, de melhor trabalhar os conceitos e elaborar os meios mais salutares, adequados e apropriados para com ela lidar, agindo de forma eufemística quando nos referimos àqueles que morrem - “não podemos olhar directamente para a morte o tempo todo, mas também não podemos ignorá-la” (KOVÀCS, 1992, p.25). Estu Estud dos
rece recen ntes tes
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revalo revaloriz rizand ando-a o-a,, procur procurand ando o entend entender er os proces processos sos ineren inerentes tes à mesma mesma,, e assim desmistificar a ideia de que a morte é parte da vida (KUBLER-ROSS, 1991). 1991). Presen Presentem tement ente, e, o homem homem trata trata a doença doença com natura naturalid lidade ade mas o morr morrer er aind ainda a como como algu algum m fata fatalilism smo, o, como como algo algo selv selvag agem em ou antin antinat atur ura a, estando tais atitudes imbuídas no seu cerne de algum pessimismo existencial, negador da morte. Em suma, continuamos a temer e a negar a realidade da morte, quer na sua forma – fim de ciclo de vida, quer no seu conteúdo processo que a mesma encerra (KUBLER-ROSS, 1991). Impõe-se deste modo uma grande necessidade de compreender e li dar com os problemas da morte e do morrer, como defende Kubler-Ross (1991), sendo que a difi dificu culd ldad ade e não não resi reside de apen apenas as na form forma a como como lida lidamo moss com com a mort morte e propriamen propriamente te dita, mas sim sim com a pessoa pessoa que a vivencia, vivencia, e na forma como como aqueles que com ela “convivem” a encaram. Prese Presente ntemen mente, te, o verda verdadei deiro ro desafi desafio o está está em entend entender er este este proces processo, so, as variáveis que o medeiam e todas as dinâmicas que o envolvem. Para isso, “muito ajudaria se as pessoas conversassem sobre a morte e o morrer como parte integrante da vida” (KUBLER-ROSS, 1991, p.149) e criassem o hábito saudável e não mórbido, de o fazer, de quando em vez, “antes de nos defron defrontar tarmos mos com ela” ela” (KUBLER (KUBLER-RO -ROSS, SS, 1991, 1991, p.40), p.40), antes antes do “enco “encontr ntro o final”… Elias (2001, p.10) sintetiza a ideia ao referir que “a morte é um problema dos vivos. Os mortos não têm problemas”.
1.3.1 Modelos conceptuais
Vários modelos conceptuais do processo morte/ morrer foram propostos num passado recente, destacando-se entre os demais as abordagens teóricas de Kubler-Ross, Weisman, Glaser e Strauss.
1.3.1.1 Modelo Teórico de Kubler-Ross Elizabeth Kubler-Ross (1991) propôs um modelo teórico, com base em estudos realizados junto de doentes terminais, segundo o qual os doentes passam de form forma a prog progre ress ssiv iva a por por cinc cinco o está estádi dios os emoc emocio iona nais is:: a nega negaçã ção, o, a raiv raiva, a, a negociação, a depressão e a aceitação. A negação é caracterizada pela reacção inicial do doente face à notícia. Esta pode pode conf config igur urar ar um esta estado do temp tempor orár ário io de choq choque ue do qual qual se recu recupe pera ra gradua gradualme lmente nte,, como como que uma “anest “anestesi esia a psíqui psíquica” ca” (KUBLER (KUBLER-RO -ROSS, SS, 1991 1991 p.52). É um comportamento de defesa instintivo, varias vezes associado a um sentimento de desconfiança face à veracidade do diagnóstico - “não, não pode ser ser verd verdad ade” e” - daí daí pode poderr prol prolon onga garr-se se enqu enquan anto to são são requ requer erid idas as nova novass avaliações, opiniões e/ou exames, até se confirmarem as suspeitas inaugurais, inicia iniciando ndo-se -se então então um proces processo so de progre progressi ssiva va consc conscien iencia cializ lizaçã ação o da sua mortalidade. A negação/evitamento é a reacção mais sentida por aqueles que lidam com a situação de morte a prazo, permitindo aos mesmos continuar as suas actividades de vida diária e apreciar o tempo que lhes resta sem carregar continuamente o a ideia negativa que associada à morte. Quando o evitamento se torna exclusivo e por demais persistente, pode tornar-se inapropriado e problemático. Seguidamente, o doente substitui a negação por “sentimentos de raiva, de revo revoltlta, a, de inve inveja ja e de ress ressen entitime ment nto” o” (KUBL (KUBLER ER-R -ROS OSS, S, 1991 1991,, p.61 p.61), ), espelh espelhand ando o esta esta hosti hostilid lidade ade face face à injust injustiça iça// crueld crueldade ade do diagn diagnóst óstico ico – “porquê eu?...” – através de projecções que o rodeiam, de comportamentos de agressividade e intolerância. Mesmo que muitas vezes sem razão plausível, os sentimentos do doente devem ser respeitados e compreendidos como uma atitude racional, contudo não devem ser fomentados.
Quando a negação, o isolamento e a raiva deixam de ter suporte emocional para o indivíduo, este inicia um processo de negociação – numa tentativa de adiamento – através do estabelecimento de acordos – “mas se…e se…” - de modo a prolongar a sua vida e/ou diminuir o sofrimento por si vivenciado. Este estadio está frequentemente associado a questões metafísicas e/ou religiosas. Continuamente, “seu alheamento e estoicismo, sua revolta e raiva, cederão lugar a um sentimento de grande perda” (KUBLER-ROSS, 1991, p.95), o individuo é envolto por sentimentos de depressão, desilusão, vergonha e culpa, experienciando como que um luto pré preparatório. Kovàcs (1992) descreve este período pela autodescriminação, autodesvalorização e paralisação. Tratase de uma atitude evolutiva, na medida em que negar não adiantou, assim como agredir, revoltar-se e/ou mesmo negociar, pelo que emerge surge um sentimento de enorme privação, de tudo aquilo que não é mais possível, do seus limites físicos enquanto ser humano. É o sofrimento e a dor psíquica de quem percebe a realidade que caracteriza a finitude da existência humana , um quadro clínico associado ao desânimo, ao desinteresse, à apatia, à tristeza, ao choro e ao desespero. De acordo com Kubler-Ross (1991) a depressão tornase benéfica, pois é através dela que progressivamente o doente interioriza o seu verdadeiro estado de saúde, tomando plena consciência da sua debilidade física, e quando as perspectivas da morte são claramente sentidas. A aceitação é o estadio final, e é caracterizado pelo facto de o doente enfrentar e /ou encarar a morte como inevitável, aceitando o seu destino e preparandose conscientemente para morrer. Neste estadio, o doente reorganiza-se física e psic psicol olog ogic icam amen ente te,, inco incorp rpor oran ando do a idei ideia a de mort morte. e. No enta entant nto, o, algu alguns ns indivíduos, “lutam até ao fim, que se debatem e se agarram à esperança, tornando impossível atingir este estadio de aceitação” (KUBLER-ROSS, 1991, p.121). É de destacar que a autora não enuncia uma ordem cronológica sequencial inflexível para a ocorrência destas manifestações/estadios. No seu entender, “terão duração variável, um substituirá o outro ou se encontrarão, às vezes, lado a lado” (KUBLER-ROSS, 1991, p.145), alegando que o conhecimento/ reconhecimento precoce destes estadios permite a quem acompanha o doente terminal a sua melhor compreensão e a mobilização dos esforços/ apoios necessários para a sua superação.
1.3.1.2 Modelo Teórico de Weisman Weisman (1972), propôs uma abordagem teórica alternativa a de Kubler-Ross (1991), partindo do pressuposto de que o modelo de Kubler-Ross descreve reacções comuns à perda e não estadios da doença terminal. Weisman (1972) postula postula a existê existênci ncia a de quatro quatro estad estadios ios cognit cognitivo ivoss flexív flexíveis eis que que o doente doente experiencia na fase de fim de vida: a angústia/ aflição existencial, o alívio/ acomodação, o declínio/ deterioração e a preterminalidade/ terminalidade. Segundo o autor, a angústia/aflição existencial é o estadio primário em que o doente terminal experiencia um choque emocional ao tomar conhecimento da sua mortalidade. Seguidamente, o doente vivenciará um estadio em que tenta regressar à sua vida normal após o conhecimento da natureza terminal da sua doença, no entanto, e com o evoluir da mesma e do tratamento instituído, estes começam a exercer um domínio/ controlo absoluto sobre a sua vida. De forma progressiva a vida do indivíduo começa em declínio/ deterioração, os seus dese desejo joss e ambi ambiçõ ções es não são são mais mais poss possív ívei eiss e real realiz izáv ávei eis, s, e
a sua sua vida vida
progride para um estadio terminal no qual o tratamento não é mais eficaz e a morte se torna eminente. Weis Weisma man n (197 (1972) 2) cita citado do por por Kovà Kovàcs cs (199 (1992) 2) enun enunci cia a aind ainda a que que a acçã acção o terapêutica a instituir quando a cura do doente é impossível deve centrar-se fundam fundament entalm alment ente e no alívio alívio e bem estar do indivíduo indivíduo,, aposta apostando ndo na sua qual qualid idad ade e de vida vida.. Para Para Weis Weisma man n (197 (1972) 2),, o medo medo de morr morrer er é meno menoss angustiante do que o receio por parte do indivíduo de se sentir só, votado ao abandono e à solidão neste momento ímpar da sua vida.
1.3.1.3 Modelo Teórico de Glaser e Strauss Glaser e Strauss (2005) defendem nos seus pressupostos teóricos sobre a influência do conhecimento acerca da doença (consciencialização entre as pessoas pessoas envolvida envolvidas) s) no desenvol desenvolvimen vimento to de padrões padrões interaccio interaccionais nais com o doente terminal a existência de quatro padrões: consciencialização fechada, suspeição, decepção mútua e consciencialização consciencialização aberta. De acordo com estes autores, aquando a consciencialização fechada o doente não reconhece a sua morte eminente, mesmo quando toda a gente o faz. Na suspeição, o doente suspeita que os outros sabem e ocultam deliberadamente informação relevante, tentando confirmar ou invalidar as suas suspeitas. Na decepção mútua, tanto o doente como os demais envolvidos, têm consciência da gravidade do estado de saúde do mesmo e da sua morte, no entanto inte intera rage gem m entr entre e si no pres pressu supo post sto o que que a outr outra a part parte e desc descon onhe hece ce seu seu verdadeiro estado. Na consciencialização aberta, quer o paciente, quer todos os que o rodeiam, sabem em conformidade que a morte está eminente. A conclusão a que chegaram nos seus estudos, foi a de que o tipo de consciencialização entre as diferentes partes envolvidas no processo de morte/ morrer apresenta um impacto significativo nos padrões interaccionais sociais que o doente mantém com as demais partes envolvidas (amigos, família e profissionais de saúde). Os padrões de comunicação/ informação partilhada assumem um papel decisivo na forma como todos entendem o processo de morte e o encaram. Menezes (2004) defende que os estudos de Glaser e Strauss foram pioneiros na ideia de ocultamento da verdade ao doente terminal. No entanto, este ocultamento não visaria proteger o doente do seu destino, mas sim proteger a vida, a rotina e a cultura organizacional hospitalar da crise que representa a irrupção imprevista de manifestações emocionais decorrentes do conhecimento da proximidade da morte. Neste domínio, embora os modelos de Kubler-Ross e Weisman sejam válidos no campo emocional e cognitivo, Glaser e Strauss afirmam que a ideia de consistência destes campos deve ser constantemente avaliada considerando conc concom omititan ante teme ment nte e uma uma vari variáv ável el esse essenc ncia ial:l: o cont contex exto to das das rela relaçõ ções es interpessoais do doente.
1.3.1.4 Abordagem Integrativa proposta por Tomm, Williams e Matheson Tomm, Williams e Matheson (1976) enunciam que embora qualquer um dos modelos modelos anteriormen anteriormente te descritos descritos providenc providencie ie perspectiv perspectivas as valiosas valiosas sobre a natureza do processo de morte/ morrer, os mesmos, isoladamente, apresentam limitações de alcance, profundidade e aplicabilidade. É ao abor aborda darr inte integr grad adam amen ente te// conj conjun unta tame ment nte e todo todoss este estess mode modelo loss – componentes emocional, comportamental, cognitiva e interaccional – não só a nível individual mas também a todos aqueles que directa e/ou indirectamente lida lidam m com com este este dile dilema ma,, que que a comp compre reen ensã são/ o/ ente entend ndim imen ento to glob global al dest deste e processo se torna mais completa e abrangente, mais clara e precisa, mais efic eficaz az e efic eficie ient nte, e, cont contrib ribui uind ndo o deci decisi siva vame ment nte e para para um func funcio iona name ment nto o psicológico mais saudável e adequado de todos os envolvidos (KASTENBAUM e AISENBERG, 1983). Assim, Tomm, Williams e Matheson (1976), apresentam uma proposta inte integr grat ativ iva a dos dos mode modelo loss de Kubl Kubler er-R -Ros oss, s, Weis Weisma man n e Glas Glaser er e Stra Straus usss enun nunciand iando o três três parâ parâme metr tros os,, os quai quaiss no seu seu ente entend nde er, deve devem m ser considerados simultaneamente quando se pretende entender o processo de morte/ morte/ morrer morrer.. São eles, eles, a sequên sequência cia cronol cronológi ógica ca dos dos acont aconteci ecimen mentos tos,, a natureza das relações interpessoais e as reacções do indivíduo. Os mesmos autores preconizam que através do conhecimento prévio dos dois primeiros parâmetros, é possível predizer o terceiro. De acordo com os autores o primeiro parâmetro foca a progressão / evolução dos acontecimentos relevantes, incidindo mais no plano físico que no plano psicológico. Neste contexto, Weisman (1972) citado por Kovàcs (1992) enuncia três estadios de pré-morte referentes ao estado/ condição física do doente: o conhecime conhecimento/ nto/ conscien consciencializ cialização ação primária primária da doença doença (o qual manifesta-s manifesta-se e desde o início da sintomatologia até à formulação do diagnóstico), a doença esta estabe bele leci cida da (man (manififes esta tand ndoo-se se desd desde e a form formul ulaç ação ão do diag diagnó nóst stic ico o e englobando todos os tratamentos realizados com o intuito de combater a doen oença, ça, sendo endo a cura ain ainda uma uma poss ossibil ibilid ida ade), de), e o declí eclíni nio o fina finall (man (manififes esta tand ndoo-se se pela pela inef inefic icác ácia ia dos dos
trat tratam amen ento toss
inst institituí uído doss
e
pela pela
consci conscien encia cializ lizaçã ação o da imposs impossibi ibilid lidade ade de cura, cura, onde onde o tratam tratament ento o activo activo diminui, dando lugar/ ênfase à busca do alívio sintomático a aos cuidados de bem-estar e conforto). Os limites destes estadios não são lineares, sendo que o início da consciência primária pode revelar-se ambígua pela imprecisão e indefinição dos sinais e/ou sintom sintomas. as. Estes Estes último últimoss podem podem emerg emergir ir suspei suspeitos tos,, vagos vagos e interm intermite itente ntes, s, dificultando a enunciação clara e precisa do tempo que marca o início concreto da cons consci cien enci cial aliz izaç ação ão//
conh conhec ecim imen ento to..
Simi Simila larm rmen ente te,,
o
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e
confirmação da doença como terminal podem desenvolver-se de modo gradual e progressivo. No que concerne ao contexto das relações interpessoais emergem os modos como a informação é gerida / partilhada durante a sequência / evolução dos aconte acontecim ciment entos os anterio anteriorme rmente nte descri descritos tos.. Assim, Assim, Glase Glaserr e Straus Strausss (2005) (2005),, enunciam que as relações interpessoais diferenciam-se em quatro grandes grupos grupos:: não revela revelação ção,, revela revelação ção parcia parcial,l, comuni comunicaç cação ão aberta aberta unilat unilatera erall e partilha mútua de informação e afectos. A não revelação é o tipo de relação que se desdobra quando a comunidade médica não informa directamente o doente sobre a natureza e severidade da sua doença/ patologia. A revelação parcial desenvolve-se quando comunidade médica revela o diagnóstico técnico mas não elabora o prognóstico, omitindo a restante informação. A comunicação aberta unilateral desenvolve-se quando a comuni comunidad dade e médic médica a inclui inclui uma explic explicaçã ação o da extens extensão ão da doença doença e das das complicações que se perspectivam. A condição física e os sentimentos do doente são discutidos abertamente, no entanto a comunicação é unilateral não havendo lugar ao envolvimento emocional por parte do profissional de saúde. Por último, a partilha diferencia-se fundamentalmente da anterior pois ambos os intervenientes – doente e profissional – partilham e explicitam pensamentos e emoções estabelecendo-se uma verdadeira relação de ajuda, que segundo Henn Hennez ezel el (199 (1997 7) deve ser bas baseada eada na empati patia, a, na conf confia ianç nça a e na compreensão. Embora seja difícil de se desenvolver em meio clínico, este tipo de relação é frequente estabelecer-se entre familiares, sendo que durante o período terminal o doente é particularmente receptivo a este tipo de interacção, podendo através dela adaptar-se mais adequada e apropriadamente à situação que o próprio experiência (Melo, 2005).
De acordo com os trabalhos elaborados por Kubler-Ross (1991) destaca-se que a maioria dos doentes gosta de ser informado e de estar consciente do seu verdadeiro problema de saúde, ter pleno conhecimento da situação, sendo que ao providenciar a oportunidade de os enfrentar torna-se doravante não só mais receptivo à comunicação “total”/ partilha mútua, promovendo-a, como ainda através do suporte/ apoio emocional que a mesma “transmite”, mais capaz de lidar com sua própria doença. Confirma-se deste modo, que o elemento vital da partilha de informação não reside no conteúdo mas sim na forma como a mesma é revelada no contexto da relação de ajuda estabelecida (PHANEUF, 2005). 2005). Porém, Porém, as relaçõ relações es basea baseadas das na partil partilha ha requer requerem em por parte parte dos envolvidos, não só de tempo como de uma grande dose de energia emocional, de modo a mantê-las e desenvolvê-las de forma continua e gradual até ao mome moment nto o da mort morte. e. De acor acordo do com com Chal Chalifo ifour ur (198 (1989) 9) toda toda a info inform rmaç ação ão partilhada prevê um tempo adequado para o doente a assimilar, absorver, digerir e interiorizar. Esta Esta abor aborda dage gem m holí holíst stic ica, a, dev deve não não só foca focaliliza zarr os aspe aspect ctos os físi físico cos, s, psicológicos e sociais, como ainda os espirituais, sendo que é na satisfação destes últimos que o doente muitas vezes, encontra o sentido da vida (MORIN, 1988). Puchalsky e Romer (2000) citados por Pessini e Bertachini (2004) defe defend ndem em a inco incorp rpor oraç ação ão da hist histór ória ia espi espiri ritu tual al nos nos regi regist stos os clín clínic icos os,, partic particula ularme rmente nte em doente doentess termin terminais ais,, permiti permitindo ndo deste deste modo modo oferec oferecer er aos profis profissio sionai naiss elemen elementos tos contex contextua tuais is para para que não apenas apenas compre compreend endam am plenamente os doentes como atendam as suas necessidades espirituais. De acordo com a sequência cronológica dos acontecimentos (ciclo da doença terminal) e a forma como a natureza das suas relações interpessoais são plenam plenament ente e entend entendida idas, s, é possív possível el anteci antecipar par alguma algumass das reacçõ reacções es mais mais frequentes que o mesmo experiencia. Assim sendo, segundo Tomm, Williams e Matheson (1976) e em consonância com Kubler-Ross (1991), os comportamentos do doente terminal em qualquer altura reflectem um de três estadios: o evitamento, o tormento emocional e a actividade adaptativa. Evitamento é o termo que no geral engloba os comportamentos observáveis que que repr repres esen enta tam m tent tentat ativ ivas as de evas evasão ão face face ao assu assunt nto o que que o amea ameaça ça// atormenta/ amedronta. Todos os doentes terminais comportam-se desta forma,
tentan tentando do minimi minimizar zar com ele a doloro dolorosa sa e imedia imediata ta consc conscien iencia cializa lização ção das perdas iminentes que a morte encerra. O evit evitam amen ento to ajud ajuda a a prot proteg eger er o paci pacien ente te da inte intens nsa a e mome moment ntân ânea ea desorganização emocional que é gerada pelo significado que os mesmos atribuem ao acontecimento em questão. O profissional de saúde deve então intervir, pois a dificuldade em gerir o estadio intermédio caracterizado pela tempestade emocional é usualmente a causa bloqueadora do movimento livre da actividade adaptativa. Através da promoção de mais informação e mais partilha mútua, ele pode contribuir para dissolver este bloqueio e/ou barreira (MELO, 2005). Segu Seguee-se se o torm tormen ento to ou temp tempes esta tade de emoc emocio iona nal,l, o qual qual é gera geralm lmen ente te desenvolvido em resposta à informação vinculada sobre a sua condição de saúde e suas implicações. Muitos são os tipos de emoção experienciados pelo doente dependendo essencialmente da sua individualidade e singularidade. Esta atribuição de significado pode depender das suas experiências de vida pass passad adas as,, dos dos seus seus conh conhec ecim imen ento toss e das das suas suas cren crença ças, s, as quai quaiss são são altamente pessoais e idiossincráticas (WASS e NEIMEYER, 1995). Além do profundo medo da perda, a tempestade emocional experienciada pelo doente pode ser devida à consequente ruptura das suas actividades de vida diária, das suas rotinas, da sua autonomia e independência (KUBLER-ROSS, 1991). Cons Consid ider eraa-se se assi assim m de fulc fulcra rall util utilid idad ade e que que a medi mediaç ação ão dest deste e esta estadi dio o transitório se associe ao desenvolvimento de relações interpessoais, as quais promovam os recursos individuais mais adequados e/ ou o suporte emocional apropriado, de forma a contribuir para que o doente ultrapasse o estadio da tempe tempesta stade de emoci emociona onall de um modo modo mais mais efica eficazz e eficie eficiente nte,, ajusta ajustando ndo-se -se realisticamente à sua situação através do incentivo permanente à expressão dos seus pensamentos e emoções, ajudando-o a lidar e a ajustar-se com os mesmos (GLASER e STRAUSS, 2005). A actividade adaptativa pode ser entendida como o comportamento consid considera erado do adequ adequado ado numa numa determ determina inada da situaç situação. ão. Neste Neste estadi estadio o a “luta “luta contra a morte cessou” (KOVÀCS, 1992, p.201) e esta adaptação pressupõe algu algum m grau grau de acei aceita taçã ção o da real realid idad ade, e, send sendo o que que uma uma comu comuni nica caçã ção o idealmente total e a revelação da informação precocemente facilitam este
proc proces esso so de adap adapta taçã ção/ o/ acei aceita taçã ção. o. Quan Quanto to mais mais info inform rmaç ação ão reve revela lada da e partilh partilhada ada
mais mais forte e apropr apropriad iada a será será a respos resposta ta adaptati adaptativa va do doent doente e
(KUBLER-ROSS, 1991). Este Estess três três esta estadi dios os / compo omport rtam amen ento toss pode podem m ser ser cons consid ider erad ados os como como alternativas ao longo da processo dinâmico negação-aceitação. Idealmente, o movimento através deste binómio deve ser livre e flexível, possibilitando ao doente (quer individual quer através de suporte exterior), encontrar ele próprio as respostas mais mais adequadas/ adequadas/ apropriadas e interioriza-las. O profissional de saúde pode e deve auxiliar nesta gestão de sentimentos e emoç emoçõe ões, s, atra atravé véss de um meca mecani nism smo o de coaching clínico clínico interventiv interventivooconstrutivo, englobando e incorporando primariamente e sempre que possível a famí famílilia a e as pesso essoas as sign ignific ifica ativ tivas para para o doente ente neste este proce rocess sso o. Secundariamente, deve reconhecer de forma atempada as suas limitações e difi dificu culd ldad ades es,, pelo pelo que que deve deve prom promov over er e dina dinami mizzar
uma uma abor aborda dage gem m
multidisciplinar de modo a que todos em conjunto contribuíam (cooperando entr entre e si) si) para para um dese desenr nrol olar ar de resp respos osta tass o mais mais apro apropr pria iado do poss possív ível el à situação específica ( CHALIFOUR,1989).
1.4 O enfermeiro perante a morte
Numa época em que são desenvolvidos todos os esforços para que a vida seja vivida na sua plenitude, verificamos que a morte, é cada vez mais (ainda) um tabu. De forma forma cultural, cultural, não estamos estamos preparado preparadoss nem educados educados para lidar lidar com a morte e o confronto com a mesma origina uma período de introspecção caracterizado pela reflexão sobre o sentido da vida e sobre os nossos valores, quando afinal estamos num mundo em que quase sempre evitamos estas interrogações (HENNEZEL e LELOUP, 1998). Encarar a morte é hoje em dia uma missão primordial para quem trabalha na área da saúde, mais ainda devido ao avanço da ciência, das técnicas médicocirú irúrgic rgicas as,, e do surg surgim ime ento nto de novas ovas tec tecnolo nologi gias as que permi ermite tem m o prolongamento da vida ignorando tantas vezes a qualidade da mesma. A morte tornou-se hoje uma realidade omnipresente para quem com ela lida e cuida, mesmo aqueles que ainda a percebem como uma grande ameaça sombria em
que se aboliam o seu saber e as suas competências – o medo da morte é a mãe de todas as angústias e ao mesmo tempo o mote de toda a actividade humana (BECKER, 1975). Actualmente, verifica-se que um número crescente de indivíduos, ao contrário do que acontecia no passado, morrem em contexto hospitalar, dissimulada por biombos e cortinas, e privados da companhia daqueles que lhe são mais próximos. Forma Formados dos (em context contexto o académ académico ico e
em ensinos ensinos clínic clínicos) os) numa numa lógica lógica
biom bioméd édic ica a trad tradic icio iona nal,l, a qual qual proc procur ura a fund fundam amen enta talm lmen ente te qual qualifific icar ar os profissionais de saúde no geral, e o enfermeiro em particular, para tratar, curar e prolongar a vida numa perspectiva tecnicista (GLASER e STRAUSS, 2005), dando “pouca ênfase em questões ligadas à emoção” (KOVÀCS, 1992, p.228) origina a que a morte seja entendida como a imagem do fracasso da ciência e da técnica, pelo que “é frequente continuar a encarar a morte como um falh falhan anço ço,, como como uma uma derr derrot ota, a, como como algo algo que que nem nem sequ sequer er era era poss possív ível el acontecer” (NETO, AITKEN e PALDRON, 2004, p.41). Ao lidar com o doente em fim de vida, e consciente da sua impotência para travar esta espiral que culminará na sempre inevitável morte, é frequente que “para não ser tão afectado, o profissional de saúde tenta manter uma certa distância, diminuir as visitas, responder com frases feitas, conselhos fáceis e autoritários no sentido de tornar a relação o mais profissional possível para que a emoção não se sobreponha ao racional” (LOPES e PEREIRA, 2005, p.95). Perante o confronto com a morte e o morrer o enfermeiro percorre um roteiro em tudo semelha semelhante, nte, sempre sempre a convergir convergir para a tentação tentação de fuga e para a negação da morte, pois como nos relembra Morin (1988) o homem não está programado, nem preparado para enfrentar a morte, uma vez que a mesma é um fenómeno que contribuí para uma maior consciência de si mesmo e da sua finitude. De acordo com Pinto (1991), são quatro quatro as sensações sensações presentes presentes no percurso psicológico que o profissional de saúde percorre perante a morte e o morrer: - a sensação de fracasso onde o mesmo se questiona sobre aquilo que poderia e/ou deveria ter feito de forma a salvar o doente. Sentimentos de culpa podem advir, advir, podendo podendo o profissional profissional questiona questionarr as sua prática clínica, clínica, a equipa, equipa, a existência de outros hospitais ou outras técnicas. Neste âmbito, colocam-se
questões de dignidade no cuidar e o direito a não sofrer inutilmente: quantas vez vezes o doente ente não não é submet bmetid ido o a técn técnic ica as e exame xamess agre agresssiv sivos e despropositados que em nada contribuirão para o desenlace da sua doença, provocando apenas mais e mais dor e sofrimento; - a sensação sensação do espelho espelho imaginando-se imaginando-se ele próprio próprio numa situação situação idêntica. idêntica. Face à imagem que tem diante de si, experienciando medo e pânico, ele pref prefer ere e afas afasta tarr-se se e não não enca encara rarr e/ou e/ou enfre enfrent ntar ar o prob proble lema ma.. Enqu Enquan anto to o profissional continuar nesta cruzada de negação da morte, jamais a encarará de modo a procurar entendê-la e assim poder contribuir eficazmente para a sua dignidade e humanização; - a sens sensaç ação ão do pudo pudorr qual qual para parado doxo xo,, quan quando do o doen doente te// famí famílilia a mais mais necessitam de assistência, o profissional, pensando que o doente necessita sim de tempo e espaço afasta-se de modo a não o perturbar no momento mais importante da sua vida e não perturbar o seu silêncio. Ao contrário de respeito, de emp empatia atia,, de solid lidarie aried dade ade e de comp compre reen enssão, ão, con conscie scien nte e/ ou incons inconscie ciente ntemen mente, te, o profis profissio siona nall promo promove ve sim a alien alienaçã ação, o, a “solid “solidão ão do moribundo” (ELIAS, 2001); - a sens sensaç ação ão do mist mistér ério io na qual qual o prof profis issi sion onal al perc percor orre re uma uma fant fantas asia ia intelectual, procurando intrinsecamente desvendar o mistério da vida, e por conseguinte o sentido e significado significado da morte. Hennezel e Leloup Leloup (1998, p.46) afirma que “o tabu da morte é um tabu do íntimo. Quando começamos a contemplar a realidade da morte, é para as profundezas de nós próprios que o olhar se dirige”. Desta forma a “visão de uma pessoa moribunda abala as fantasias defensivas que as pessoas constroem como uma muralha contra a ideia de sua própria morte(…),ameaçando o sonho acalentado” (ELIAS, 2001, p.17) da imortalidade. Segundo Pinto (1991), ao ultrapassar estas sensações o profissional reafirma o seu valor valor profissional profissional e assume assume a sua responsabilid responsabilidade ade social, social, prestando prestando cuidados de qualidade na morte, conforme enunciado nos seus estatutos ético morais e deontológicos, contribuindo para a ressocialização da morte. Para Parale lela lame ment nte, e, Pitt Pitta a (199 (1999) 9) clas classsific ifica a os meca mecani nism smos os de defe defesa sa dos dos profissionais de saúde quando encaram a morte do seguinte modo: - fragmentação da relação técnico-paciente: porque a ideia de morte é uma idei ideia a traum traumát átic ica a por por exce excelê lênc ncia ia (MORI (MORIN, N, 1988 1988)) de modo modo a mini minimi miza zarr a
angú angúst stia ia,, o stre stress ss e a ansi ansied edad ade e sent sentid ida a face face á mort morte e e ao morr morrer er,, o profissional evita o contacto com o doente fugindo do mesmo e promovendo a sua morte social (MENEZES, 2004). Muito do medo que o doente experiencia face à morte ainda é fruto da “crença de que o processo de morte é sempre acompanh acompanhado ado de sofrimento sofrimento e dor insuportável” insuportável” (KOVÀC (K OVÀCS, S, 1992, 1992, p.196) p.196) e no “medo do abandono” ao qual pensa/ crê que será votado (KOVÀCS, 1992, p.24); - desp desper erso sona naliz lizaç ação ão e nega negaçã ção: o: ao invé invéss de cuid cuidar ar do doen doente te de form forma a pers person onal aliz izad ada a e tend tendo o em cont conta a as suas suas nece necess ssid idad ades es,, o prof profis issi sion onal al padroniza o seu trabalho, mantendo as suas tarefas e rotinas inalteradas, contrib contribuin uindo do não não só para para a desper desperso sonal naliza ização ção e solidã solidão o do doente doente como como também para a ideia de negação da morte. Numa perspectiva redutora os profis profissio sionai naiss de saúde saúde vivem vivem unica unicamen mente te preocu preocupa pados dos com a eficác eficácia ia da terapêutica e com a sua produtividade (resultados) e por isso, morrer tornou-se hoje um momento solitário e demasiado triste para ser lembrado (SAPETA, 1999). - distanciamento e negação de sentimentos: a morte em contexto hospitalar é hoje hoje em dia dia uma uma mort morte e esté estéri rill e herm hermét étic ica, a, “imp “impes esso soal al e assé assépt ptic ica” a” (MENEZES, 2004, p.32) uma vez que compete “aos doentes jamais despertar nos médicos e enfermeiros a insuportável emoção da morte (...) Deste modo, o papel do doente não pode deixar de ser negativo: o do moribundo que faz de conta que não vai morrer” (ARIÈS, 1988, p.188). Assim, como mecanismo de defesa defesa,, afasta afastamomo-nos nos e ignora ignoramo moss (MERCADI (MERCADIER, ER, 2004). 2004). Numa Numa tentat tentativa iva inconsciente de evitar ter de lidar com os dilemas emocionais que emergiriam, os profissionais de saúde optam por não ceder informações e racionalizar a situaç situação, ão, descu desculpa lpando ndo-se -se com a falta falta de tempo tempo e insufi insuficie ciente nte certez certeza a de diagnóstico (TOMM, WILLIAMS e MATHESON, 1976). A morte torna-se assim sile silenc ncio iosa sa,, e quas quase e invi invisí síve vel,l, pois pois que que “o trun trunfo fo da medi medica caliz lizaç ação ão está está justamente em manter a doença e a morte na ignorância e no silêncio.” (KOVÀCS, 1992, p.38); - eliminar decisões pelo ritual do desempenho de tarefas: a ritualização cumpre a função de reduzir a ansiedade e minimizar o discernimento individualizado de cada profissional em planear o seu trabalho. Quando todas as tarefas e rotinas pode podem m espe espera rarr face face à mort morte, e, quan quando do a técn técnic ica a e a ciên ciênci cia a se reve revela lam m
obsoletas, o profissional refugia-se em acções mecanizadas de modo a reduzir o stress que a morte provoca; - redução/ dissolução do peso da responsabilidade: a ansiedade gerada por uma decisão final feita por uma única pessoa é assim dissipada de inúmeras maneiras, de forma a reduzir seu impacto e responsabilidade. Deve-se então considerar que o processo de adaptação face ao processo de morte e morrer é promotor de dificuldades quer para o doente e família, quer para o próprio profissional de saúde. No entanto, cabe a estes últimos, tentar inverter esta tendência, encarando a morte como parte integrante da vida (BARROS-OLIVEIRA, 1998) e desenvolvendo capacidades para entender toda a sua complexidade, de modo a promover uma morte mais humana e mais digna (FRIAS, 2003). Kubler-Ross (1991) enfatiza que a meta não é dispor de especialistas em doentes terminais, mas sim treinar o pessoal hospitalar para enfrentar serenamente todo o processo de morte e morrer, e assim contrariar o facto de os doentes morrerem cada vezes mais sozinhos acompanhados por profissionais
excelentes
mas
com
pouco
tempo
para
fazer
um
acompanhamento digno quando quando o doente está a morrer. Urge deste modo ressocializar a morte (PINTO, 1991), redefinindo uma nova arte arte de morr morrer er (HENN (HENNEZ EZEL EL,, 2006 2006), ), fome foment ntan ando do estra estraté tégi gias as de coping (McINTYRE, 1994), de afectividade e de ajustamento emocional eficazes, que não só contribuam para um desenvolvimento pessoal e profissional adequado, promovendo a sua aprendizagem e interiorização, como também permitam prestar o apoio, acompanhamento e ajuda adequado e ajustado a cada doente e respectiva família.
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