Monografia de MARCOS CLOVIS DA COSTA

March 15, 2018 | Author: Glaucia Rozza | Category: Recycling, Waste, Concrete, Economics, Quality (Business)
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ENTULHO DA CONSTRUÇÃO CIVIL UMA PROPOSTA PARA FOZ DO IGUAÇU...

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UNIÃO DINÂMICA DE FACULDADES CATARATAS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

ENTULHO DA CONSTRUÇÃO CIVIL UMA PROPOSTA PARA FOZ DO IGUAÇU

MARCOS CLOVIS DA COSTA

FOZ DO IGUAÇU 2006

MARCOS CLOVIS DA COSTA

ENTULHO DA CONSTRUÇÃO CIVIL UMA PROPOSTA PARA FOZ DO IGUAÇU

Trabalho Final de Graduação, apresentado à banca examinadora do Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas da União Dinâmica de Faculdades Cataratas - UDC, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Engenharia Civil, sob orientação do Professor Floriano Zart.

FOZ DO IGUAÇU 2006

TERMO DE APROVAÇÃO

UNIÃO DINÂMICA DE FACULDADES CATARATAS

ENTULHO DA CONSTRUÇÃO CIVIL UMA PROPOSTA PARA FOZ DO IGUAÇU

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE BACHAREL EM ENGENHARIA CIVIL _________________________________________________ Marcos Clovis da Costa _________________________________________________ Orientador: Prof.º Floriano Zart _________________________________________________ Nota Final BANCA EXAMINADORA: _________________________________________________ Prof.º Jackson Archarde Gonçalves _________________________________________________ Prof.º Jorge Oscar Darif

Foz do Iguaçu, 03 de julho de 2006.

Dedico o presente trabalho a Deus, minha família e amigos.

AGRADECIMENTOS

É inegável que a cada conquista que fazemos, há também o esforço de outros para que possamos alcançar nossos objetivos; no desenvolver deste trabalho conheci muitas pessoas que, por grandes ou pequenos gestos, contribuíram para que este fosse concretizado. A elas, deixo o meu agradecimento: -Ao Professor e Orientador Floriano Zart, que durante todo o processo do trabalho foi incansável em colaborar; -Ao professor Azenir Pacheco, pela colaboração com os cálculos financeiros; -A todos os Coordenadores e Professores do curso de Engenharia Civil, pela colaboração e apoio dados durante o transcorrer do curso; -Aos funcionários e amigos da UDC que sempre me trataram muito bem; -Aos meus amigos do curso, em especial ao Pedro H. Vivarelli, pela amizade, parceria e estímulo; -A Itaipu Binacional onde realizei o meu estágio; -Aos meus familiares, que foram os maiores incentivadores para que este curso tornasse possível, em especial meus filhos Caroline e Eduardo, que souberam entender a minha ausência durante o curso.

“Prefiro morrer pelos meus sonhos a não tê-los” Prof.º Floriano Zart.

RESUMO

COSTA, Marcos Clóvis da. Entulho da Construção Civil - Uma proposta para Foz do Iguaçu. Foz do Iguaçu, 2006. Resumo: O enorme volume de entulho produzido pela Indústria da Construção Civil, que representa um problema no gerenciamento dos grandes centros urbanos brasileiros, vem se agravando cada vez mais com o crescimento das cidades e a falta de espaço para destinação final desses resíduos. Diversos municípios adotam como solução ambiental para os resíduos da construção, disponibilizar áreas para a deposição controlada. Como solução, tal política é limitada, em função da rápida saturação das áreas disponíveis, pelos elevados custos envolvidos e por promover a contaminação do solo e das águas subterrâneas, por receber resíduos perigosos incorporados aos restos de materiais inertes, nos canteiros de obra. Como resposta a este problema, o presente estudo visou dois tipos de análise: da situação ambiental dos resíduos de construção e demolição na cidade de Foz do Iguaçu – Pr, e outra quanto ao custo/beneficio para implantar uma usina de reciclagem de entulhos que atendesse a cidade. Os dados apresentados, sobre a utilização dos resíduos após a reciclagem, são revisões bibliográficas extraídas de publicações técnicas já realizadas. Palavras – chave: Construção civil, entulhos, usina de reciclagem.

ABSTRACT

COSTA, Marcos Clóvis de. Rubbish of the civil construction - a proposal for estuary of the iguaçu. Foz do Iguaçu, 2006. Abstract: The enormous volume of rubbish produced for the industry of the civil construction, that represents a problem in the management of the great brazilian urban centers, comes more if aggravating each time with the growth of the cities and the lack of space for final destination of these residues. diverse cities adopt as ambient solution for the residues of the construction, to disponibilizar areas for the controlled deposition. as solution, such politics is limited, in function of the fast saturation of the available areas, for the raised involved costs and promoting the contamination of the ground and underground waters, for receiving incorporated dangerous residues to the remaining portions from inert materials, in the workmanship seedbeds. as reply to this problem, the present study it aimed at two types of analysis: of the ambient situation of the residues of construction and demolition in the city of estuary of the iguaçu - pr, and another one how much to the cost/i benefit to implant a plant of recycling of entulhos that took care of the city. the data presented, on the use of the residues after the recycling, are bibliographical publication revisions extracted carried through techniques already. Words - key: civil construction, entulhos, plant of recycling.

SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO ......................................................................................... 13 2. O ENTULHO............................................................................................ 17 2.1 CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS ................................................... 17 2.2 LEGISLAÇÃO ........................................................................................ 22 2.3 SITUAÇÃO BRASILEIRA E MUNDIAL ................................................. 24 2.4 POSSIBILIDADES DE MINIMIZAÇÃO DO PROBLEMA ...................... 28 3. RECICLAGEM, UMA NECESSIDADE NOS TEMPOS MODERNOS .... 29 3.1 O PROCESSO DE RECICLAGEM........................................................ 32 3.1.1 Vantagens e desvantagens da reciclagem de entulho....................... 33 3.1.2 Condições básicas para a reciclagem municipal................................ 36 3.2 MODELO ANALISADO PARA REALIZAÇÃO DE PROPOSTA PARA FOZ DO IGUAÇU ........................................................................................ 37 3.2.1 Utilização do entulho como agregado para o concreto ...................... 37 3.3 PROPOSTAS ........................................................................................ 42 3.3.1 Um modelo para Foz do Iguaçu ......................................................... 43 3.3.2 Utilização do entulho reciclado e as vantagens específicas .............. 50 3.3.3 O papel da legislação ambiental no modelo proposto........................ 53 3.3.4 A usina de reciclagem de entulho ...................................................... 55 3.3.5 Pesquisa e levantamento de custos................................................... 57

3.3.6 Custos de implantação e operacionais da usina de reciclagem de entulho .................................................................................................... 58 3.3.7 Métodos de avaliação de investimento .............................................. 62 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................... 64 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 65

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Porcentagem média dos constituintes do entulho........................ 17 Figura 2: Entulho ......................................................................................... 18 Figura 3: Entulho ......................................................................................... 25 Figura 4: Entulho da construção civil........................................................... 26 Figura 5:Sequência do processo de reciclagem ......................................... 32 Figura 6: Usina de reciclagem de entulho .................................................. 33 Figura 7: Parte graúda................................................................................. 39 Figura 8: Resistência ao desgaste .............................................................. 41 Figura 9: Resistência à compressão ........................................................... 42 Figura 10: Usina de reciclagem de Estoril ................................................... 56

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Tipologia de resíduos ................................................................ 21 Quadro 2: Quantidade de entulho em relação ao total de resíduos em aterros sanitários ......................................................................................... 25 Quadro 3: Perda de materiais em % ........................................................... 26 Quadro 4: Desperdício de resíduos encontrados na construção civil em alguns países............................................................................................... 27 Quadro 5:Redução de impacto ambiental ................................................... 30 Quadro 6: Requisitos básicos da instalação de reciclagem municipal....... 37 Quadro 7: Amostras..................................................................................... 39 Quadro 8: Características das amostras ..................................................... 40 Quadro 9: Amostras utilizadas..................................................................... 41 Quadro10: Destino recomendado ............................................................... 49 Quadro 11: Estimativa populacional e de entulho gerado na cidade de Foz do Iguaçu .............................................................................................. 58 Quadro 12: Custo de implantação da usina de reciclagem (abril/2006) ..... 59 Quadro 13: Despesa mensal com colaboradores ....................................... 59 Quadro 14: Receita anual............................................................................ 61 Quadro 15: Demonstrativo dos métodos PAYBACK e VLP ........................ 63

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1. INTRODUÇÃO

Comparando com os demais setores da economia, o setor da Construção Civil atua com grande intensidade sobre o meio ambiente, visto que trabalha com a transformação em todas as suas etapas; o setor emprega uma grande diversidade de matérias primas, o que provoca impactos no ato da extração e posteriormente na geração de resíduos. A construção civil é certamente o maior gerador de resíduos de toda a sociedade. O volume de entulho de construção e demolição gerado é até duas vezes maiores que o volume de lixo sólido urbano. Nota-se que a questão do tratamento dos resíduos apresenta grandes problemas, um deles é o crescente despejo destes resíduos em aterros sanitários que é um dos principais problemas, já que estes são materiais não degradáveis e seu acúmulo diminui a vida útil dos aterros, forçando a administração pública a procurar e investir em novas áreas e dando continuidade ao ciclo de agressões ao meio ambiente, outra é a deposição irregular dos resíduos em ruas, avenidas e demais logradouros das cidades, que pode provocar alem da proliferação de vetores de doenças, nocivas à saúde pública, a agressão visual ao aspecto urbanístico da cidade e o carregamento pelas águas das chuvas destes materiais para galerias de águas pluviais e córregos, provocando alagamentos e enchentes. O ponto crítico desta questão não está apenas na fase de produção deste entulho, ou seja, no ato de consumir e desperdiçar materiais, mas

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também na sua destinação final. Com base nestes fatos, a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), Nº. 307, de 05 de julho de 2002, (alterada pela resolução Nº. 348, de 16 de agosto de 2004), estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil, que devem ser respeitados e seguidos criteriosamente. Esta norma obriga as construtoras a prestarem contas do entulho gerado nos canteiros de obras. Para construir, a partir de agora, além de aprovar a planta da edificação, as construtoras têm que submeter aos órgãos de licenciamento municipais um plano de gerenciamento de resíduos sólidos. Na prática, são obrigadas a explicar quanto lixo a obra vai gerar, comprometendo-se a reciclar uma parte e a indicar o destino das sobras, sob o risco de não conseguirem o alvará. Assim, a alteração desse cenário é responsabilidade não só da administração pública, mas também dos profissionais da área da construção civil. Mesmo causando tantos problemas, o entulho deve ser encarado como fonte de matéria prima, de grande utilidade para a construção civil. Seu uso mais tradicional - em aterros - nem sempre é o mais viável, pois ele serve também para substituir materiais normalmente extraídos de jazidas ou pode se transformar em matéria-prima para componentes de construção. É possível produzir agregados, areia, brita e bica corrida para uso em pavimentação, contenção de encostas, canalização de córregos, e uso em argamassas e concreto. Da mesma maneira, podem-se fabricar componentes de construção - blocos, tubos para drenagem, placas. Para todas estas aplicações, é

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possível obter similaridade de desempenho em relação a produtos convencionais, com custos muito competitivos. Dada à importância do assunto, este trabalho objetivou efetuar uma análise da situação ambiental dos resíduos de construção e demolição na cidade de Foz do Iguaçu e desenvolveu estudo de viabilidade econômica de uma usina de reciclagem de entulho, em que procura dar solução a dois grandes problemas da geração do entulho, o desperdício de materiais na construção civil com o seu reaproveitamento, e as agressões ao meio ambiente. Com a solução destes problemas este estudo contribuirá economicamente com setor da construção civil, ambientalmente com a população e em menor escala com a geração de empregos. A metodologia empregada para a realização do trabalho consiste na realização de revisão bibliográfica de publicações técnicas já existentes sobre o assunto, além de um levantamento estatístico na cidade de Foz do Iguaçu, onde será analisada a situação ambiental dos resíduos de construção e demolição, o crescimento populacional, a quantidade de entulho gerado, a disposição atual do entulho e levantamento de custos imobiliários. Também foi efetuada pesquisa de preços de equipamentos da usina e mão de obra dos trabalhadores. Nota-se, portanto que o presente trabalho enfocará principalmente uma análise custo/benefício para implantação de uma Usina de Reciclagem de Entulhos, que atenda a cidade de Foz do Iguaçu-Pr, promovendo a conscientização de que o entulho pode ser utilizado como agregado na

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confecção de concreto não estrutural destinado à infra-estrutura urbana e que é possível produzir agregados - areia, brita e bica corrida para uso em pavimentação, contenção de encostas, canalização de córregos e uso em argamassas e concreto.

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2. O ENTULHO

2.1 CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS

Wells et al (2000) afirma que entulho é o conjunto de fragmentos ou restos de tijolo, concreto, argamassa, aço, madeira, etc., provenientes do desperdício na construção, reforma e/ou demolição de estruturas como prédios, residências e pontes. Segundo o autor, pode-se identificar no entulho formado durante uma construção a existência de dois tipos de resíduo: Resíduos (fragmentos) – de elementos pré-moldados, como materiais cerâmicos, blocos de concretos, demolições localizadas, etc; Resíduos (restos) – de materiais elaborados em obra, como concretos e argamassas, que contêm cimento, cal, areia e brita.

Figura 1 – Porcentagem média dos constituintes do entulho

Fonte: Zordan (1997)

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O entulho de construção compõe-se, segundo Pinto (1989) de restos e fragmentos de materiais, enquanto o de demolição é formado apenas por fragmentos, tendo por isso maior potencial qualitativo, comparativamente ao entulho de construção.

Figura 2 – Entulho

Fonte: http://www.engepara.com.br/artigos/art20031006/art20031006.asp

Quando descartado das construções, como material praticamente inerte, o entulho causa ônus e problemas associados ao seu volume, que geralmente é bastante significativo, chegando a ocupar em torno de 50% do volume total dos aterros públicos de algumas cidades brasileiras. (WELLS et al, 2000, p. 186). As diversas destinações clandestinas do entulho causam problemas quanto à saúde pública, pela proliferação de insetos e roedores. Mas outros transtornos, citados por Pinto (1989), podem ser citados: a) lançamento em encostas ou em terrenos problemáticos, gerando depósitos instáveis que podem causar deslizamentos;

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b) lançamento em terras baixas, junto a drenagens ou mesmo diretamente no leito de canais, levando à obstrução do escoamento e provocando inundação. Normalmente, os municípios não coletam o entulho gerado, sendo comum os despejos clandestinos de entulho em vias públicas, terrenos baldios, margens de rios, etc., e ainda em bota-foras irregulares, que se transformam muitas vezes em imensos lixões. Segundo Soibelman (1993) a quantidade de entulho gerado nas construções que são realizadas nas cidades brasileiras demonstra um enorme desperdício de material. Os custos deste desperdício são distribuídos por toda a sociedade, não só pelo aumento do custo final das construções, como também pelos custos de remoção e tratamento do entulho. A quantidade de resíduos sólidos gerada no país é muito significativa e pode servir como um indicador do desperdício de materiais. O resíduo de construção e demolição (resíduo de C&D) ou simplesmente entulho, possui características bastante peculiares. Por ser produzido num setor onde há uma gama muito grande de diferentes técnicas e metodologias de produção e cujo controle da qualidade do processo produtivo é recente, características como composição e quantidade produzida dependem diretamente do estágio de desenvolvimento da indústria de construção local (qualidade da mão de obra, técnicas construtivas empregadas, adoção de programas de qualidade, etc.). Dessa forma, a caracterização média deste resíduo está condicionada a parâmetros específicos da região geradora do resíduo analisado.

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Segundo Zordan e Paulon (1997) o entulho é, talvez, o mais heterogêneo dentre os resíduos industriais. Ele é constituído de restos de praticamente todos os materiais de construção (argamassa, areia, cerâmicas, concretos, madeira, metais, papéis, plásticos, pedras, tijolos, tintas, etc.) e sua composição química está vinculada à composição de cada um de seus constituintes. No entanto, a maior fração de sua massa é formada por material não mineral (madeira, papel, plásticos, metais e matéria orgânica). Reconhecido como um setor de grande desperdício, o setor da construção civil começa a se preocupar com o resíduo que sai de sua produção. Em agosto de 2004, entrou em vigor a Resolução do CONAMA 307 de 05 de julho de 2002, que estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. O não cumprimento dos novos padrões remete os infratores à chamada lei dos Crimes Ambientais (Lei Federal n. 9605/98). Segundo Zordan e Paulon (1997) as construções estão divididas pela Resolução 307 do CONAMA em pequenos e grandes geradores, ou seja, praticamente toda a construção regular, executada por empresas do setor pode ser considerada como grande geradora. As reformas, as obras irregulares, estariam incluídas nas pequenas geradoras. Estudos demonstram que 70% de todos os resíduos são gerados nas pequenas obras, 30% pelas obras maiores. De acordo com a Revista “Conselho CREA” (2004) os

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resíduos classe A (ver quadro 1) estariam entre 90% a 95% dos resíduos de uma obra. Quadro 1 – Tipologias de resíduos Classe A – Resíduos Resto de cimento, concreto, britas, areia (limpa), recicláveis como reboco, tijolos, telhas, piso cerâmico, cal, argila, solo agregados limpo, solo orgânico, materiais de escavação, massa corrida, massa de vidro, mantas asfálticas, materiais de impermeabilizações, restos de divisórias, madeira maciça, MDF, compensado, aglomerado. Classe B - Resíduos Plásticos (PVC, PEAD, PEBD), papéis recicláveis para outras (embalagens), papelão (saco de cimento), vidros, destinações madeiras, metais, isopor e frascos alvenarite. Classe C – Resíduos Produtos oriundos do gesso e outros que para quais não recicláveis não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitem a sua reciclagem / recuperação. Classe D – Resíduos Tintas, solventes, óleos, sacos contaminados com perigosos colas, aditivos, latas de cola, fibrocimento, tubos de PU vazios, estopa e pincéis. Fonte: Revista Conselho CREA (2004, p. 16).

No entanto, uma situação preocupante está abalando os municípios: 58% da quantidade diária de resíduos dispostos recebem destino inadequado. Mas quando a intenção das empresas e indústrias é dar um encaminhamento correto para esses resíduos, muitas esbarram na falta de uma tecnologia que possibilite o processo. Segundo Agopyan (1998) quando o assunto é destinação final dos resíduos sólidos, o mercado brasileiro é deficiente. Segundo dados da última pesquisa Nacional de Saneamento Básico, realizado pelo IBGE, são produzidas diariamente mais de 157 mil toneladas de resíduos sólidos que têm os mais variados destinos, como lixões, aterros controlados e aterros

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sanitários. Entretanto, 20% da população brasileira ainda não contam com serviços regulares de coleta. O custo social total é praticamente impossível de ser determinado, pois suas conseqüências geram a degradação da qualidade de vida urbana em aspectos como transportes, enchentes, poluição visual, proliferação de vetores de doenças, entre outros. De um jeito ou de outro, toda a sociedade sofre com a deposição irregular destes entulhos e paga por isso. O ideal seria reduzir o volume e reciclar a maior quantidade possível do que for produzido. A proteção do meio ambiente constitui preocupação prioritária das sociedades modernas. Preocupação que nasce da necessidade vital de construir um futuro social, baseado em um meio social sadio, que permita a harmonização entre o legítimo interesse de se melhorar os níveis de qualidade de vida de todos os cidadãos e a ação dos agentes econômicos.

2.2 LEGISLAÇÃO

Preocupado com esta realidade, o governo providenciou medidas na tentativa de amenizar a situação. Construtores estão sendo obrigados a apresentar Projetos de Gerenciamento de Resíduos para cada uma de suas obras, quer se trate de uma reforma residencial ou da construção de grande porte. Desde janeiro deste ano, esta exigência vem da Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama n. 307 de 05 de julho de 2002, que estabelece critérios, diretrizes e procedimentos para a Gestão dos

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Resíduos da Construção Civil, criando uma cadeia de responsabilidades que inicia no gerador, passa pelo transportador e chega aos municípios. Degani (2003) aponta os seguintes impactos ambientais causados pelas atividades de construção: • Ao meio físico: indução de processos erosivos; esgotamento de jazidas minerais; deterioração da qualidade do ar; poluição sonora; alteração da qualidade das águas superficiais; aumento da quantidade de sólidos; poluição de águas subterrâneas; alteração de regimes de escoamento; escassez de água; entre outros; • Ao meio biótico: interferências na fauna; interferências na flora; e alteração na dinâmica dos ecossistemas; • Ao meio socioeconômico: alteração da qualidade paisagística; alteração das condições de saúde; incômodo para a comunidade; alteração do tráfego nas vias locais; alteração nas condições de segurança; danos em bens edificados; aumento do volume de aterros de resíduos; interferência na drenagem urbana; entre outros. Diante desses problemas, o Conama exige que as prefeituras criem políticas públicas de gerenciamento dos resíduos urbanos. A idéia é que os gestores municipais se mobilizem para que as construtoras apresentem um plano de ação que evite o despejo de entulho de forma irregular no meio ambiente. Esta resolução federal torna obrigatórios os Planos Integrados de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil em todos os municípios

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brasileiros, que ficam com a responsabilidade de requerer dos construtores a apresentação dos projetos. O que fundamenta tal exigência é a necessidade de reconhecer a origem dos resíduos gerados atribuindo responsabilidade ao gerador por sua destinação. A indicação prévia do tipo de resíduo gerado, de sua quantidade estimada, dos transportadores qualificados e dos destinatários escolhidos permitirá ao poder público municipal identificar previamente qual será o fluxo dos resíduos, desde sua geração até sua destinação.

2.3 SITUAÇÃO BRASILEIRA E MUNDIAL

De acordo com Brito Filho (1999) no município de São Paulo, conforme dados do sistema de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos da Prefeitura, são gerados diariamente aproximadamente 4.000 toneladas de entulho de construção civil (90.000 m3/mês). Este valor pode ser muito maior, pois só estão contabilizados os entulhos destinados aos aterros oficiais. No total, estima-se que os entulhos clandestinos totalizam 60% dos registrados, o que permite o cálculo aproximado de 144.000 m3 por mês de entulho total gerado.

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Figura 3 – Entulho

Fonte: www.metsominerals.com/inetMinerals/Brazil/ mmBrazilnews.nsf/WebWID/WTB-

060214-2256D-4420C?OpenDocument - 23k

O autor afirma ainda que, para a cidade de Belo Horizonte, estimou-se em 1993, a geração de 1200t/dia de entulho e mais 1,8 mil t/dia de terra, com um custo anual de remoção superior a um milhão de dólares. Um estudo realizado por Pinto (1997) mostra um levantamento realizado em oito cidades brasileiras, indicando que a quantidade de entulho (apenas para aterros públicos) no total dos resíduos sólidos urbanos tem sido alta.

Quadro 2 – Quantidade de entulho em relação ao total de resíduos em aterros públicos CIDADE São José dos Campos Ribeirão Preto Belo Horizonte Brasília Campinas Jundiaí São José do Rio Preto Santo André Fonte: Pinto (1997)

QUANTIDADE (% em massa) 68 67 51 66 64 64 60 62

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Os dados disponíveis para avaliar o desperdício nas construções brasileiras, tomando como base pesquisas realizadas em 1989 e 1993, indicaram que o desperdício na construção corresponde a 20% em massa, no mínimo, de todos os materiais utilizados em uma obra.

Figura 4 – Entulho da construção civil

Fonte:http://images.google.com.br/images?q=entulho+da+constru%C3%A7%C3%A3o+civil&hl=ptBR&btnG=Pesquisar+imagens.

Segundo Pinto (1989) geralmente todas as obras da construção civil possuem perdas.

Quadro 3 – Perda de materiais em % MATERIAIS Agopyan et al Pinto Soilbelman Areia 76 39 46 Cimento 95 33 84 Pedra 75 Cal 97 Concreto 9 1 13 Aço 10 26 19 Blocos/tijolos 17 27 13 Argamassa 18 91 87 Fonte: Adaptado de Agopyan et al (1998) e Pinto (1989)

Skoyles 12 12 6 4 13 12

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Quadro 4 – Desperdício de resíduos encontrados na construção civil em alguns países

MATERIAIS

Pinto Norie (Brasil/SP) (Brasil/RS) Aço 26,19 19,07 Cimento 33,11 84,13 Concreto 1,34 13,18 Areia 29,02 45,76 Argamassa 91,25 86,68 Tijolo/blocos 26,94 12,73 Fonte: Pinto apud ZORDAN (1997)

Skoyles Reino Unido 3,60 12,00 6,00 12,00 12,00 13,00

Hong Kong 11,00 15,00 11,00

Usual em orçamento 20,00 15,00 5,00 15,00 15,00 10,00

Nota-se, portanto que a quantidade de entulho gerado nas construções realizadas nas cidades brasileiras demonstra um enorme desperdício de material. Os custos deste desperdício são distribuídos por toda a sociedade, não só pelo aumento do custo final das construções, como também pelos custos de remoção e tratamento do entulho. Na maioria das vezes, os resíduos da construção são retirados da obra e dispostos clandestinamente em diversos locais, conforme citado anteriormente. A quantidade de resíduos sólidos gerada no país é muito significativa e pode servir como um indicador do desperdício de materiais. Os resíduos de construção e demolição consistem em concreto, estuque, telhas, metais, madeira, gesso, aglomerados, pedras, carpetes, etc. Muitos desses materiais, e a maior parte do asfalto e do concreto utilizado em obras, podem ser reciclados. Esta reciclagem pode tornar o custo de uma obra mais baixo e diminuir também o custo de sua disposição.

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2.4 POSSIBILIDADES DE MINIMIZAÇÃO DO PROBLEMA

Considera-se que para a resolução de tal problema, relacionado à construção civil, setor que cresce diariamente, se faz necessária a adoção de paradigmas e parâmetros novos que possam levar em consideração o uso eficiente de materiais e energias renováveis, não nocivos e mantendo acima de tudo a biodiversidade. Nesse contexto, Brito Filho (1999) propõe os seguintes princípios para a resolução do problema do entulho: - maximizar a reutilização de recursos; - minimizar o consumo de recursos; - proteger o meio ambiente; - usar recursos renováveis ou recicláveis; - criar um ambiente saudável e não tóxico; - buscar a qualidade na criação do ambiente construído. Assim, pode-se perceber que esses princípios viabilizarão a satisfação das necessidades de uma nova relação da produção com o meio ambiente, promovendo bens duráveis, recicláveis e reutilizáveis. Juntamente a isso, pode-se agregar a visão de Dimson (apud BRITO FILHO, 1999) que resumindo os múltiplos impactos das políticas ambientais na construção civil, afirma que ela requer um aumento da produtividade de todos os recursos através de: - implantação do edifício;

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- seleção de materiais; - planejamento energético; - gerenciamento de resíduos; - qualidade do ar; - projetar para a flexibilidade. Assim, (...) “a vida útil do edifício e de suas partes é governada não apenas pela taxa de degradação física dos seus componentes, mas também deve ser controlada pela possibilidade de readequação às mudanças nas necessidades dos usuários.” (JOHN et al, 1996, p. 124). Nota-se então que no canteiro de obras deve-se priorizar a minimização das perdas geradoras de entulhos. E isso só será conseguido mediante uma escolha de materiais adequada, levando em conta as embalagens que facilitam o manuseio sem o risco de perdas. É claro que toda construção gera perdas, mas como essa perda acontece em momentos e em locais diferentes, a mera separação prévia dos materiais evitaria a contaminação dos rejeitos que ocorre nos containeres destinados a sua remoção do canteiro de obras.

3. RECICLAGEM, UMA NECESSIDADE NOS TEMPOS MODERNOS

A importância da conservação ambiental no mundo globalizado alcança patamares cada dia mais elevados nas empresas. A não geração de resíduos e a transparência das ações têm sido exigências de mercado. Uma indústria, hoje, precisa investir em melhoria de tecnologia de produção para minimizar a

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geração de resíduos, e além disso, deve ser transparente em suas ações relativas ao destino desses materiais. Segundo Soibelman (1993) a reciclagem de resíduos da construção civil, pode proporcionar às cidades muitos benefícios, principalmente em relação ao meio ambiente. A reciclagem pode eliminar quase que totalmente com os despejos clandestinos, melhorando a paisagem urbana, e conseqüentemente, melhorando a vida das pessoas. Visto pelo lado financeiro, a reciclagem pode reduzir os gastos com a remoção desses resíduos, que atualmente, chega a US$ 10 por metro cúbico de entulho clandestinamente depositado. Além de todos esses benefícios, a reciclagem pode ainda reduzir gastos com epidemias, aumentar o tempo de vida útil dos aterros e preservar recursos naturais. Quadro 5 – Redução de impacto ambiental IMPACTO AMBIENTAL Consumo de energia Consumo de matéria-prima Consumo de água Poluentes atmosféricos Poluição aquática Resíduos em geral Resíduos minerais Fonte: Kanayama (1997)

AÇO 74 90 40 86 76 105 97

VIDRO 6 54 50 22 54 79

CIMENTO 40 50
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