Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

January 23, 2019 | Author: gildett | Category: Vertebral Column, Muscle, Science, Science (General), Science And Technology
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GILDETE VIANA DA SILVA

MOVIMENTAÇÃO MANUAL DE CARGAS: SEGURANÇA E SAÚDE DOS CARREGADORES CARREGADORES AUTÔNOMOS AUTÔNOMOS DA CEAGESP

SALVADOR  2009

i

GILDETE VIANA DA SILVA

MOVIMENTAÇÃO MANUAL DE CARGAS: SEGURANÇA E SAÚDE DOS CARREGADORES CARREGADORES AUTÔNOMOS AUTÔNOMOS DA CEAGESP

Monografia apresentada ao Curso de Pós Graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho Trabalho da Universidade Universidade Estácio de Sá como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho

ORIENTADOR  Prof. Márcio Jorge Gomes Vicente Mestre em Sistema de Gestão Integrada / UFF - RJ Engenheiro de Segurança do Trabalho

SALVADOR  2009

GILDETE VIANA DA SILVA

MOVIMENTAÇÃO MANUAL DE CARGAS: SEGURANÇA E SAÚDE DOS CARREGADORES CARREGADORES AUTÔNOMOS AUTÔNOMOS DA CEAGESP

Monografia apresentada ao Curso de Pós Graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho Trabalho da Universidade Universidade Estácio de Sá como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho. Aprovada em: Orientador: Coordenador:

SALVADOR  2009

 ...e aprendi que se depende sempre, de tanta, muita, diferente gente. Toda pessoa sempre é as marcas, das lições diárias de outras tantas pessoas. (Caminhos do Coração – Gonzaguinha)

 Muitas pessoas, muitas lições aprendidas e neste momento a necessidade de compartilhar e agradecer:  Aos professores,  pelos conhecimentos conhecimentos passados com desprendimento desprendimento e em especial ao Orientador Prof. Márcio Vicente pelo reconhecimento que inconteste me incentiva a trilhar a difícil, mas  gratificante  gratificante missão de de zelar pela vida do trabalhador. trabalhador.  Aos colegas,  pelo constante constante espírito espírito de colaboração. colaboração.  A Francisco,  pela incondicional incondicional ajuda ajuda de todas as horas . horas .  Aos meus pais (in memorium), pela lembrança das suas presenças e dos seus ensinamentos.  À CEAGESP  , especificamente especificamente ao Engenheiro Orlando Fusaro, ao SINDCAR - Presidente Sr. José Pinheiro e aos carregadores pela atenção e pelos relatos, sem os quais o trabalho não lograria êxito.

SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

vi vi

LISTA DE IMAGENS

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

LISTA DE GRÁFICOS

vii vii

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

viii

LISTA DE TABELAS ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ ix LISTA DE ABREVIATURAS ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- x RESUMO ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- xi ABSTRACT -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- xii 1.

INTRODUÇÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 13

1.1

Justificativa ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 13

1.2

Objetivos ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 15

-

1.2.1 Objetivo Geral ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 15 1.2.2 Objetivos Específicos

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

15

1.2.3 Estrutura do Trabalho ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 15

2.

REFERENCIAL TEÓRICO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 17

2.1

Dados Históricos e Estatísticos ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 17

2.2

Legislação Mundial e Brasileira ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 19

2.3

Movimentação Manual de Cargas ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 23

2.3.1 Conceituação -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 23 2.3.2 A Coluna Vertebral ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 25 2.3.3 Análise de Posturas

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

28

2.4

A Organização do Trabalho ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 31

2.5

A Ergonomia ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 32

2.5.1 Definições -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 32 2.5.2 As gerações da Ergonomia ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 33 2.5.3 A Análise Ergonômica do Trabalho --------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 35

3.

DELIMITAÇÂO DO PROBLEMA ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- 37

3.1

A Segurança Alimentar

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

37

3.2

O Sistema CEASA --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 37

3.3

A CEAGESP ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 39

3.4

Os Carregadores Carregadores -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 44

3.4.1 Histórico ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 44 3.4.2 Perfil Sócio-econômico Sócio-econômico dos Carregadores da CEAGESP ------------------------------------------------------------ 44 3.4.3 Organização do Trabalho -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------50 3.4.4 Descrição da Atividade e os riscos à saúde 3.4.5 Legislação aplicável

-------------------------------------------------------------------------------------------------

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

55 60

4.

METODOLOGIA DA PESQUISA

4.1

Caracterização Caracterização do Problema ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 62

4.2

Estratégia da Pesquisa ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 62

5.

ESTUDO DE CASO -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------64

5.1

Amostragem

5.2

O Questionário --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------65

5.3

As Respostas--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------66

6.

MELHORES CONDIÇÕES DE TRABALHO: RECOMENDAÇÕES

6.1

Envolvimento

6.2

PROHORT - Gestão e Metas

6.3

PROSSC - Programa de Segurança e Saúde do Carrregador

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------

62

64 64

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

--------------------

83

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

83

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

6.3.1 Medidas Estruturais (física/ social/ educacional) 6.3.2 Medidas de Prevenção Prevenção

-------------------------------------------

87

---------------------------------------------------------------------------------

88

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

6.3.3 Medidas Organizacionais Organizacion ais e Administrativas Administrat ivas

84

--------------------------------------------------------------------------------------------

88 89

7.

CONCLUSÕES ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 91

8.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ---------------------------------------------------------------------------------------------------- 94

9.

ANEXOS --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 96

vi

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - A Coluna Vertebral Figura 2 - Vista Lateral Lateral da Coluna Lombar ( L1 a L5) vertebral normal e lesionado lesionado Figura 3 - Disco vertebral

Figura 4 - Técnica para levantamento de cargas da Equação de NIOSH Figura 5 - Variáveis da

Figura 6 - Diagrama de Áreas Dolorosas Figura 7 - Análise Ergonômica do Trabalho Figura 8 - Efeitos da Ação Ergonômica Figura 9 - A CEAGESP Figura 10 - Carteira do Carregador  Carregador  Figura 11 - Mapa de Risco Figura 12 - Classificação dos Riscos quanto à gravidade Figura 13 - Pirâmide de Bird Figura 14 - Triple Bottom Line Figura 15 - Ciclo do PDCA mais comuns no exercício da atividade de MMC Figura 16 - Danos à saúde mais

viii

LISTA DE IMAGENS

Imagem 1 - Caminhões de Carga nas Docas Docas Imagem 2 - Pavilhão denominado Mercado Livre do Produtor  Imagem 3 - Mercado de Peixe idoso no Mercado Mercado de Flores Imagem 4 - Carregador idoso Empilhadeira no setor de frutas da CEAGESP CEAGESP Imagem 5 - Empilhadeira para Transporte Transporte de Produtos Imagem 6 - Carrinho para caixas. Imagem 7 - Carregadores transportando sacos, caixas. intenso, Irregularidades no no piso e Rampa de acesso acesso Imagem 8 - Tráfego intenso,

Imagem 9 - Biótipo dos carregadores

viii

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Lesões devidas a MMC / lesões não letais Gráfico 2 - Faixa Etária dos Carregadores da CEAGESP escolaridade dos dos Carregadores da CEAGESP Gráfico 3 -  Nível de escolaridade

Gráfico 4 - Comercialização do ETSP - 2006 e 2007 de Escolaridade Escolaridade (2) Gráfico 5 - Nível de

Gráfico 6 - Atividade Anterior  Gráfico 7 - Faixa Etária (2) Gráfico 8 - Remuneração Gráfico 9 - Tempo na Atividade Gráfico 10 - Carga Transportada Gráfico 11 - Doenças Gráfico 12 - Dor e/ou e/ou Desconforto Gráfico 13 - Parte do Corpo Corpo com Dor Dor ou Desconforto Desconforto Coluna Gráfico 14 - Intensidade da Dor na Coluna

ix

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - AEPS: Quantidade Mensal de Acidentes do Trabalho 2006/2007 Tabela 2 - Pesos máximos em diferentes diferente s países para trabalhadores do sexo masculino Tabela 3 - Volume comercializado ETSP (1968 e 1970) Tabela 4 - Volume Comercializado no período de janeiro a setembro (2007 e 2008) Tabela 5 - Valor dos diversos tipos de carga manuseada pelos carregadores Tabela 6 - Horário de Funcionamento da CEAGESP

x

LISTA DE DE SIGLAS E ABREVIATURAS ABRACEN - Associação Brasileira das Centrais de Abastecimento AEPS - Anuário Estatístico Estatístico da Previdência Social AET - Análise Ergonômica do Trabalho CAT - Comunicação de Acidente do Trabalho CBO - Classificação Brasileira de Ocupações CEAGESP - Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo CEASA - Centrais de Abastecimento S.A. de Identificação Identificação e Registros Registros Diversos DIRD - Departamento de

CEE - Comunidade Econômica Européia CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes CLR - Carga Limite Recomendada CLT - Consolidação das Leis Trabalhistas DORT - Distúrbios Osteo-musculares Relacionadas ao Trabalho FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations FLV - Frutas, legumes e verduras IEA - Institute Ergonomics Associations INSS - Instituto Nacional do Seguro Social INSS - Instituto Nacional do Seguro Social LPR - Limite de Peso Recomendado NIOSH - National Institute for Occupational Safety and Health Regulamentadora NR - Norma Regulamentadora

NTEP - Nexo Técnico Epidemiológico Epidemiológico Previdenciário OIT - Organização Internacional do Trabalho OSHA - Occupational Safety & Health Administration OMS - Organização Mundial de Saúde Modernização do Mercado de Hortigranjeiros PROHORT - Programa Brasileiro de Modernização

SINAC - Sistema Nacional de Centrais de Abastecimento SINDCAR - Sindicato dos Carregadores Autônomos de Hortifrutigranjeiros, Pescados e das Centrais de Abastecimento do Estado de São Paulo

SISAN - Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional SUS - Sistema Único de Saúde SST - Saúde e Segurança no Trabalho

RESUMO

Inter-relacionar as visões física, cognitiva e organizacional da Ergonomia se configura na  principal motivação para o trabalho aqui apresentado. O objetivo geral é observar a organização do trabalho a que os carregadores da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo-CEAGESP Paulo-CEAG ESP estão submetidos

e os seus efeitos sobre a

segurança e saúde. A observação deve destacar os aspectos relativos à Movimentação Manual de Cargas que expõe os trabalhadores trabalhadores a lesões lesões do sistema sistema osteo-muscular. osteo-muscular. Recorrer a um inquérito semi-estruturado semi-estruturado foi a forma forma encontrada para para levantar dados dados sobre o cotidiano cotidiano e as  percepções acerca das condições de trabalho e sua influência na saúde e qualidade de vida de tais trabalhadores. trabalhador es.

As respostas às questões colocadas em pauta serviram para as

recomendações de um programa básico básico no intuito de de iniciar uma uma cultura voltada voltada para a segurança e saúde do trabalho e assim contribuir para o entendimento amplo do termo saúde definida pela OMS-Organização Mundial de Saúde como: “ Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ”.

Palavras chave: Carregadores, Trabalho, Ergonomia, Lesões.

ABSTRACT

The relationship among physics, cognitive and organizational organizationa l visions of the Ergonomic is configured here as main motivation for the presented work. The general objective is to observe the organization of work that the loaders of the horticultural market - CEAGESP in São Paulo - Brazil and their effects on the safety and health. The observation should detach the relative aspects to the Manual Movement of Loads that exposes the workers to musculoskeletal lesions. The form found to get data about the daily and the perceptions concerning the work conditions and her influence in the health and such workers' quality of  life was to go through a semi-structured inquiry. The answers to the subjects put on the agenda were the recommendations of a basic program with intention of beginning a culture returned for the safety and health of the work and like this to contribute for the wide understanding of the term defined health for the World Health Organization - WHO as: “Health is a state of complete well-being physical, mental and social, and not just the absence of disease.”

Key words: Loaders, Work, Ergonomics, Lesions.

1. INTRODUÇÃO 1.1 Justificativa  Na Classificação Classificação Brasileira de Ocupações - CBO, editada em 2002, encontramos a família ocupacional 7832 (Trabalhadores de cargas e descargas de mercadorias), onde se insere a ocupação 7832-15: carregador (veículos de transportes terrestres). Dentre as informações relativas à ocupação, estão as condições gerais de exercício e a formação e experiência, descritas na íntegra 1: •

Condições gerais de exercício

Os profissionais dessa família ocupacional exercem suas funções em empresas de transporte terrestre, aéreo e aquaviário e naquelas cujas atividades são consideradas anexas e auxiliares do ramo de transporte. Os trabalhadores das ocupações carregador (aeronaves) e carregador  (armazém) são contratados na condição de trabalhador assalariado, com carteira assinada, enquanto aqueles das ocupações ajudante de motorista, carregador (veículos de transportes terrestres) e estivador atuam como autônomos e, portanto, sem vínculos empregatícios. Trabalham, dependendo da ocupação e do tamanho do meio de transporte, em duplas ou em grupos, sob supervisão ocasional e também permanente, em ambientes fechados, a céu aberto e em veículos. Podem trabalhar no período diurno e em rodízio de turnos diurno e noturno. Por vezes podem estar expostos a ruído intenso e altas temperaturas. (CBO2002) 2 •

Formação e experiência

Para o exercício dessas ocupações não se requer nenhuma escolaridade e cursos de qualificação. O tempo de experiência exigido para o desempenho  pleno da função é de menos de um ano. Pode-se demandar aprendizagem  profissional para a(s) ocupação(ões) elencada(s) nesta família Ocupacional, exceto os casos previstos na Lei 10.097/2000. (CBO2002) 3 1

Fonte: http://www.mtecbo.gov.br (acesso em 05/11/2008)

2

A Classificação Brasileira de Ocupações - CBO atualmente atualmente utilizada no Brasil foi concluída em 2002 e é o documento normalizador do reconhecimento, da nomeação e da codificação dos títulos e conteúdos das ocupações do mercado de trabalho brasileiro. É ao mesmo tempo uma classificação enumerativa e uma classificação descritiva 3

Id.

14

Cabe destacar desta descrição duas características que no decorrer do trabalho serão facilmente constatadas: ...carregador (veículos de transportes terrestres) e estivador atuam como autônomos e, portanto, sem vínculos empregatícios. Para o exercício dessas ocupações não se requer nenhuma escolaridade e cursos de qualificação.

A Movimentação Manual de Carga – MMC atividade inerente à profissão do carregador é

de suma suma importância importância na economia economia mundial e em particular na economia economia

 brasileira, pois insere no mercado de trabalho pessoas pessoas que não se enquadrariam num mercado cada vez mais exigente e especializado. Vale salientar que em algum momento da cadeia  produtiva ou na logística de distribuição, a figura do carregador está presente e sua atividade requer técnicas corretas além de condições físicas para um melhor desempenho e prevenção de lesões. De uma maneira geral, a MMC é uma atividade que numa visão simplista não exige esforço intelectual de quem a exerce e decorre deste fato, a absorção de um grande número de trabalhadores trabalhado res com pouca ou nenhuma escolaridade.  No contexto estrutural das Ceasas a função do carregador é vital, pois pela suas mãos  passa cerca de 90% de toda mercadoria comercializada comercializada e destaca-se que na verdade, passa duas vezes. Uma na descarga, quando o produto chega dos grandes e pequenos produtores e outra quando segue para os inúmeros inúmeros pontos de venda do varejo varejo como: supermercados, feiras, distribuidores, distribuidores, etc. etc. Há que se considerar considerar que a tarefa do carregador carregador na maioria das vezes vai além da MMC, pois cabe a ele executar também o manuseio, o empilhamento e o acondicionamento das mercadorias e da boa prática destas tarefas, resulta a qualidade do  produto e consequentement consequentementee a redução do do desperdício de alimentos. alimentos. Em conformidade com a descrição oficial da CBO2002, encontramos uma mão de obra na maioria advinda de nordestinos de baixa escolaridade e perfil sócio econômico à margem do real conceito de cidadão. Os carregadores da CEAGESP –  Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo formam um contingente de cerca de 5.0004 trabalhadores, dos quais 70% na condição trabalhista de autônomos, que apesar de organizados sindicalmente, se configuram numa classe excluída dos direitos preconizados  pela CLT – Consolidação Consolidação das das Leis Trabalhistas. Trabalhistas.

4

Informação pessoal: Sr. Raimundo (CEAGESP) em 18/11/2008.

15

Pensar que 14 milhões de toneladas anuais são comercializados na CEAGESP deve ser justificativa suficiente para uma análise que leve os órgãos envolvidos com a saúde do trabalhador a planejar políticas públicas que contemplem categorias como a dos carregadores. È uma questão que pode diminuir o custo dos produtos agrícolas, pode auxiliar no combate à fome, pode diminuir a degradação do meio ambiente, dentre outros benefícios. Dar uma condição digna de trabalho a estes carregadores é só uma peculiaridade que pode colocar as centrais de abastecimento abastecimento no rumo da correta valorização do ser humano e do meio ambiente.

1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo Geral Esta pesquisa tem como objetivo abordar a multiplicidade de fatores que concorrem  para os riscos decorrentes da Movimentação Movimentação Manual de Carga – atividade principal dos carregadores da CEAGESP. 1.2.2 Objetivos Específicos Tendo como referência referência os carregadores carregadores autônomos que que trabalham na CEAGESP, o trabalho procura: •

Analisar as técnicas utilizadas para a MMC



Identificar as percepções dos trabalhadores quanto aos riscos e aos efeitos decorrentes da

MMC •

Refletir conjuntamente sobre a organização do trabalho e mostrar a importância da

atividade dentro do processo de abastecimento •

Apresentar sugestões que impliquem em melhores condições de segurança e saúde

1.2.3 Estrutura do Trabalho O presente trabalho está constituído constituído de sete capítulos capítulos conforme explicitado explicitado a seguir: •

Capítulo 1 - Introdução: descreve descreve a justificativa justificativa para o trabalho além além de definir definir o público

alvo e os objetivos

16



Capítulo 2 - Referencia a teoria e os argumentos argumentos acadêmicos acadêmicos que esteiam a proposta da

 pesquisa •

Capítulo 3 - Contextualiza o espaço físico e organizacional da CEAGESP e delimita o

 público alvo alvo posicionando-o posicionando-o sobre as relações de trabalho e as as características características da atividade atividade •

Capítulo 4 - Descreve a metodologia metodologia a ser utilizada utilizada na pesquisa e o tratamento tratamento que será

dado aos resultados obtidos •

Capítulo 5 - Apresenta o Estudo de Caso e fornece gráficos e tabelas que resumem as

informações obtidas a partir do questionário questionário •

Capítulo 6 -

Apresenta as recomendações recomendações para um programa básico básico que que possibilite possibilite a

iniciação de uma uma cultura voltada para para a segurança e saúde saúde •

Capítulo 7 – Conclui e incentiva a dinâmica da produção do conhecimento científico pela

apresentação de novos questionamentos

17

2.

REFERENCIAL TEÓRICO O transporte manual de cargas é uma das formas de trabalho mais antigas e comuns,

sendo responsável por um grande número de lesões e acidentes do trabalho. A medicina, a engenharia, a fisioterapia, a ergonomia e outras correntes do parecer científico estudam o assunto. O referencial teórico é extenso e instigante, levando à dificuldade de delimitação do  problema, já que tantas variáveis estão envolvidas, porém, o autor, na tentativa de alcançar o objetivo do trabalho, escolheu por referenciar quatro aspectos que tornam relevante o tema abordado: •

Dados estatísticos



A Legislação mundial e a brasileira



A MMC destacando a coluna vertebral e as posturas de trabalho



A Ergonomia e sua contribuição para o entendimento da questão em estudo

2.1 Dados Históricos e Estatísticos  No âmbito nacional, não existe uma verdadeira consciência dos sérios problemas que acarreta para a saúde dos trabalhadores o manuseio de cargas acima dos níveis máximos que o ser humano pode suportar. É consenso em todo o mundo, que um dos principais problemas que enfrentam os trabalhadores que manuseiam e movimentam cargas pesadas é a dor lombar, derivando-se em problemas crônicos e agudos e é segundo dados da European Agency for  Safety and Health at Work 5 responsável por cerca de 1/3 das lesões dos trabalhadores.

(Gráfico 1) O National Institute for Occupational Safety and Health-NIOSH Health-NI OSH elaborou em 1981 um relatório, onde se apresentaram as seguintes informações 6: •

a sobrecarga mostrou ser a causa das lombalgias em mais de 60% dos trabalhadores com

queixas de dores lombares

5

European Agency for Safety and Health at Work - Agência Européia para a Segurança e a Saúde no Trabalho é responsável por fornecer às instâncias comunitárias, aos Estados-Membros e aos meios interessados informações de carácter técnico, científico e econômico úteis no domínio da segurança e da saúde no trabalho

6

Estes dados se referem ao Estados Unidos da América

18

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

Gráfico 1 - Lesões devidas à movimentação,elevação ou transporte de carga/lesões não letais 7 •

menos de um terço dos trabalhadores afastados por acometimento de lombalgias em função

de lesões por sobrecarga, retornou ao posto de trabalho que as desencadeou desencadeou •

cerca de 25% de todas as lesões ocupacionais nos Estados Unidos, são decorrentes de

atividades com sobrecarga •

o levantamento de cargas estava envolvido com aproximadamente 70% das queixas de

lesões por sobrecarga •

as tarefas de MMC são responsáveis por 23% de todas as doenças ocupacionais, com um

custo estimado de U$ 5,2 bilhões por ano Como se vê este tema é abordado abordado em todo o mundo e devido devido a sua importância, importância, foi objeto de uma campanha realizada em 2007 entre todos os Estados-Membros Estados-Membros da Comunidade Européia com intenção de

melhorar os efeitos esperados da aplicação da Directiva

n.º90/269/CEE, do Conselho, de 29-05-90, na redução das lesões músculo-esqueléticas. músculo-esqueléticas.  No Brasil, não há dados específicos específicos sobre o assunto, mas o Anuário Estatístico Estatístico da Previdência Previdênci a Social relativo ao ano de 2007 aponta o registro de doenças ocupacionais e destaca que as notificações de doenças doença s do sistema osteo-muscular o steo-muscular aumentaram 512,3%. A impressionante variação é creditada ao Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário  NTEP, mecanismo que relaciona determinada doença às atividades atividades nas quais a moléstia ocorre com maior incidência. Em vigor desde abril de 2007, o nexo obriga a perícia do 7

Fonte : Comité Sénior da Inspecção do Trabalho - Projecto da União Européia sobre a Movimentação Manual de Cargas 2007. http://osha.europa.eu/pt/topics/msds/slic/mmc/chapter2.htm (acesso em 12/10/2008)

19

Instituto Nacional do Seguro Social - INSS a aplicar uma lista que relaciona cada uma das  profissões às doenças de maior incidência na atividade. Como resultado dessa co-relação, a doença é classificada automaticamente como ocupacional. Assim, o que aconteceu,  preponderantemente,  preponderantemente, não foi um maior número de casos de doenças, mas uma elevação no volume de moléstias classificadas como ocupacionais. O fato é numericamente representado  pelo Anuário Estatístico Estatístico da Previdência Previdência Social (Tabela 1)

Tabela 1 - AEPS: Quantidade Mensal de Acidentes do Trabalho 2006/2007 8 Dentro da estatística “Sem CAT Registrada” e sem representatividade, com certeza estão os casos de lesões dos carregadores carregadores autônomos . Trabalhadores Trabalhadores em situações instáveis instáveis e sem coberturas previdenciárias eles são mais frequentemente afetados que outros, porém essas afecções afecções não lhes afastam afastam das atividades, atividades, não lhes levam levam ao serviço médico médico e não geram registros.

2.2 Legislação MERINO (1996) afirma que até hoje não existe uma norma mundial que regulamente o transporte e manuseio de cargas. Existem convênios que fixam o peso limite, que varia de 20 até 100 quilos, ou mais. (Tabela 2) Em 1991, o NIOSH - National Institute for Occupational Occupational Safety criou uma ferramenta capaz de identificar os riscos de lombalgias associados à carga física a que se encontra submetido o trabalhador e propôs um Limite de Peso Recomendado (LPR) e um Índice de Levantamento Levantamento (IL). Foi estabelecida estabelecida uma fórmula para uma situação situação qualquer qualquer de trabalho trabalho de levantamento manual de carga e esta fórmula chegou ao peso limite ideal de 23 Kg, que representa o valor em que mais de 90% dos homens e mais mais de 75% das mulheres conseguem conseguem levantar sem sofrer efeitos nocivos. Vale a pena ressaltar que, muitos países já adotaram a 8

Fonte: http://www.previdenciasocial.gov.br/conteudoDinamico.php?id=572 ( acesso 28/11/2008)

20

equação NIOSH como base para as suas normas de movimentação manual de materiais e na comunidade européia há um consenso para definir 25 Kg como peso limite.

PESO MÁXIMO (kg) NORMALIZADOS EM DIFERENTES PAÍSES PAÍS

REF.

FREQ.

OCAS.

PAÍS

REF.

FREQ.

OCAS.

Alemanha

OIT9

30

55

Honduras

OIT

50

-

Brasil

CLT

60

-

Hungria

OIT

50

-

China

OIT

80

-

Moçambique

OIT

55

-

Colômbia

OIT

50

-

Paquistão

OIT

90

-

Equador

OIT

50

-

Polônia

OIT

50

-

Filipinas

OIT

50

-

R.D.Alemã

OIT

15

25 - 45

França

MILL.

55

-

Tunísia

JORT

100

-

Grécia

OIT

100

-

Tabela 2: Pesos máximos em diferentes países para trabalhadores do sexo masculino 10 PELLENZ (2005) relata que no Brasil a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, quanto à regulamentação das atividades de manuseio e movimentação de cargas manualmente, apresenta alguns problemas. A CLT não define as atividades que devem respeitar o peso máximo de 60kg 11, e é pouco clara e nada específica, ficando difícil a sua interpretação. A questão é também relatada por MERINO (1996), que diz: na inexistência de uma norma específica para MMC, a Legislação Legislação Brasileira Brasileira é falha e de difícil interpretação interpretação no que diz respeito à regulamentação regulamentaçã o da atividade. Os pesos limites estabelecidos são muito elevados em vista dos padrões ergonômicos recomendados, podendo causar lesões osteomusculares tanto por impacto (força súbita) como por esforço excessivo. (ANEXO I)  No sentido de preencher esta lacuna, vários projetos de lei estão a tramitar no Congresso para redução desta carga máxima máxima visando preservar a saúde do trabalhador. trabalhador. 12

9

A Organização Internacional do Trabalho - OIT recomenda que em atividades onde o peso exceda a 55 quilos devem ser tomadas medidas o mais rapidamente para reduzi-lo.

10

Referências: OIT - Organização Mundial do Trabalho (1988); (1988); MILL. Millanvoye, M. - França (1989); CLT - Consolidação das Leis do Trabalho Trabalho Brasil (1988); JORT - Journal Officiel de la Republique Tunisiènne Tunisiènne (1988)

11

CLT referente às atividades de levantamento levantamento e transporte de cargas (artigo 198 da Seção Seção XIV, da prevenção da fadiga, do Capítulo V da Consolidação das Leis do Trabalho)

12

PL 5746 (2005) - Marcelo Crivela PMR/RJ: estabelece 30 Kg como peso máximo PL 6130 (2005) - Selma Schons PT/PR: estabelece 25 kg como peso máximo PL 296 (2007) - Marcelo Melo PMDB/GO: estabelece 30 kg como peso máximo

21

As 28 Normas Regulamentadoras Regulamentadoras - NR’s criadas criadas a partir da Portaria Ministerial 3214/78, traçaram as diretrizes e Normas a serem observadas e seguidas por todas as organizações que admitam funcionários como empregados e cujos contratos sejam regidos  pela CLT – Consolidação Consolidação das Leis Trabalhistas. Trabalhistas. Ao longo desses 30 anos, essa Portaria foi sofrendo algumas alterações e hoje ela é constituída por 33 normas regulamentadoras e cada uma aborda e define as diretrizes mínimas que devem ser implantadas para se evitar acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. As normas que estão mais relacionadas com a questão em estudo são: •

Norma Regulamentadora Nº5 (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA):

tem por objetivo a prevenção de doenças e acidentes do trabalho, mediante o controle dos riscos presentes no ambiente de trabalho e na organização. De acordo com a classificação da  NR - 5, os principais principais pontos a serem analisados analisados nos riscos riscos ergonômicos ergonômicos são: 1. Esforço físico; deve-se avaliar o tipo de tarefa em função do desgaste físico requerido. Considerar o metabolismo, o consumo energético, o descanso, a alimentação, as posturas assumidas, o ambiente físico (calor, frio, etc.), dentre outros aspectos. 2. Levantamento de peso; os principais fatores que interferem no levantamento, carregamento e manuseio geral de cargas são: o gasto energético e as posturas. É importante avaliar se o  peso de carga é admissível, admissível, de acordo com o cálculo cálculo da Carga Limite Limite Recomendada Recomendada – CLR. 3. Existência de posturas inadequadas com sérias conseqüências para a saúde. Dentre elas se destacam: DORT (doença osteo-muscular relacionada ao trabalho), carregamento e manuseio de cargas, trabalho em pé, dentre outros. 4. Imposição de ritmos intensos; o ritmo de trabalho não deve interferir nas condições adequadas de trabalho, de forma a respeitar os limites fisiológicos e psicológicos dos trabalhadores. O aumento do ritmo do trabalho pode causar: desgaste físico rápido, stress, acidentes de trabalho, desprazer pelo trabalho, dentre outros fatores negativos. negativos. 5. Monotonia e repetitividade; o trabalho repetitivo dos membros superiores pode provocar  graves lesões. A repetitividade é uma característica da tarefa e a monotonia é a vivência subjetiva da repetitividade. A monotonia é a ausência da variedade de movimentos, ritmos, estímulos ambientais ou do conteúdo de trabalho na realização das tarefas. •

Norma Regulamentadora Nº9 (Programas de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA):

avalia os riscos ambientais como os agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes de trabalho, capazes de causar danos à saúde do trabalhador em função da sua

22

natureza, concentração concentraçã o ou intensidade de exposição e que constitui o PPRA. Dentro dos riscos ambientais, o grupo IV, que trata dos agentes ergonômicos, faz menção ao trabalho físico pesado, posturas incorretas, ritmo excessivo, dentre outras (não especifica valores máximos de carga). Esta norma também se articula com o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO previsto na NR-7 e com a NR -6 (Equipamentos de Proteção Individual) nos casos em que as proteções coletivas sejam inviáveis tecnicamente ou quando estas não forem suficientes. •

Norma Regulamentadora Nº11 (Transporte, Movimentação, Armazenamento e Manuseio

de Materiais): estabelece os requisitos de segurança a serem observados nos locais de trabalho referentes ao transporte, movimentação, armazenagem e manuseio de materiais, tanto na forma mecânica quanto manual, de modo a evitar acidentes no local de trabalho. Em seus itens, esta norma referencia apenas o trabalho com sacos e especifica situações mais vivenciadas pelos trabalhadores de portos. (ANEXO II) •

Norma Regulamentadora N º15 (Atividades e operações insalubres): considera atividades

e operações insalubres, as que afetem a saúde do trabalhador durante o tempo laboral. No caso das atividades de manuseio de cargas, deve-se considerar as taxas de metabolismo regulamentadas. Esta norma também não especifica valores máximos no manuseio de carga. •

Norma Regulamentadora Nº17 (Ergonomia)13: estabelece estabelece parâmetros que permitam a

adaptação das condições de trabalho às condições psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. Esta norma é uma das únicas normas regulamentadora brasileiras que atende tanto à preocupação com o manuseio, quanto com o peso da carga (ANEXO III). Os itens abaixo são relativos e específicos para a atividade: “... 17.2. Levantamento, Levantamento, transporte e descarga individual de materiais.{...} 17.2.1.1. Transporte manual de cargas designa todo transporte no qual o peso da carga é suportado inteiramente por um só trabalhador, compreendendo o levantamento e a disposição da carga.

13

 NR-17 é a norma aplicável nos processos periciais de afastamento do trabalho por lesões no n o manuseio de cargas e se utiliza o Método de NIOSH para aferição dos possíveis desvios (1994).

23

17.2.1.2. Transporte manual regular de cargas designa toda atividade realizada de maneira continua o que inclua, mesmo de forma descontínua, o transporte manual de cargas. {...} 17.2.2. Não deverá ser exigido nem admitido o transporte manual de cargas, por um trabalhador, cujo peso seja suscetível de comprometer sua saúde ou sua segurança. 17.2.3. Todo trabalhador designado para o transporte manual regular de cargas, que não as leves, deve receber treinamento ou instruções satisfatórias quanto aos métodos de trabalho que deverá utilizar com vistas a salvaguardar sua saúde e prevenir acidentes. 17.2.4. Com vistas a limitar ou facilitar o transporte manual de cargas deverão ser usados meios técnicos apropriados. a) 17.2.5. Quando mulheres e trabalhadores jovens forem designados para o transporte manual de cargas, o peso máximo destas cargas deverá ser nitidamente inferior àquele admitido para os homens, para não comprometer sua saúde e segurança....”. segurança....”.

2.3 Movimentação Manual de Cargas 2.3.1 Conceituação A MMC consiste nas operações de movimentação ou deslocamento de cargas, incluindo a elevação, o transporte e a descarga. Esta atividade, quando desenvolvida de uma forma continuada, sujeita o corpo humano a grandes esforços, pois envolvem a tensão de muitos músculos, ligamentos e articulações simultaneamente. O transporte manual de cargas cargas envolve partes ou todo todo o corpo e mesmo que a carga a movimentar não seja muito pesada ou volumosa, a baixa eficiência do sistema muscular  humano torna este trabalho pesado, provocando rapidamente fadiga com consequências gravosas, aumentando o risco de ocorrência ocorrênci a de acidentes de trabalho ou de incidência de doenças profissionais. Além das tensões musculares, alguns movimentos ou posturas incorrectos obrigam a um dispêndio energético muscular excessivo e a uma sobrecarga  pulmonar e cardíaca. Para se analisar e adotar posturas e movimentos adequados é necessário  buscar e entender entender a participação participação de outras áreas áreas do conhecimento, conhecimento, como: como: •

Anatomia (ana+tomia = cortar em partes, separar), estuda as estruturas e as relações entre

estas estruturas

24



Fisiologia (physis+logos), estuda as funções das diferentes partes do corpo e seu

funcionamento, portanto está intrinsecamente associada à anatomia •

Antropometria (antropos+metros) estuda as medidas do corpo humano e as diversas

 proporções de suas partes. Os dados referentes às dimensões variam de pessoa para pessoa e de país para país, por exemplo •

Ergonomia (ergon + nomos) estuda a interação do homem com os espaços, construções,

instrumentos de controle, utensílios e o meio envolvente ...o binômio ergonomia – antropometria estão relacionados com as medidas dos segmentos do corpo, forças musculares, posturas, movimentos e  padrões motores de manuseamento, uma vez que, interferem diretamente com o conforto, a segurança e a funcionalidade. (RIBEIRO, 2007) •

Biomecânica (bio+mecânica) estuda a aplicação dos vários princípios da mecânica aos

seres vivos – mais especificamente ao corpo humano. Analisa a interação do corpo ao realizar  uma determinada ação Os estudos biomecânicos assumem particular importância nas tarefas de transporte e levantamento de cargas, comuns a um grande número de atividades, responsáveis por várias lesões, por vezes irreversíveis ou de difícil tratamento. tratamento. ... os conceitos relacionados às técnicas de manuseio, levantamento e carregamento de cargas sofreram mudanças importantes, durante os últimos tempos, principalmente depois da introdução dos modelos biomecânicos, que demonstraram não haver muita vantagem na chamada técnica correta contra a técnica errada. É importante que todo treinamento relacionado a esse item, considere os novos conceitos ergonômicos relacionadas ao manuseio de cargas. (PELLENZ, 2005)

Em termos biomecânicos, no processo de movimentação de cargas, o peso dos segmentos corporais juntamente com a carga transportada corresponde à resistência e a força muscular exercida para realizar o trabalho corresponde à força de potência. Os vasos sanguíneos são comprimidos em consequência da contração dos músculos e o fluxo sanguíneo fica reduzido com a correspondente falta de oxigénio para a combustão. Acontece também, que a contração muscular repetida ou duradoura dificulta a evacuação de produtos ácidos do

25

metabolismo e esta dificuldade traduz-se posteriormente no aparecimento da sensação de fadiga. Esta, por sua vez, pode desencadear uma redução nos reflexos dos trabalhadores, o que pode estar na origem de alguns acidentes ou incidentes. (PELLENZ, 2005) 2.3.2 A Coluna Vertebral Várias partes partes do corpo podem podem ser afetadas como consequência consequência

da incorreta incorreta

movimentação de cargas. Citam-se, as articulações dos ombros, braços e pernas e com maior  incidência as dores e lesões na coluna. Destacar aspectos relacionados à coluna faz parte do trabalho, visto que estas são as afecções mais comuns à atividade dos carregadores. A coluna vertebral é o eixo ósseo do corpo, situada no dorso, na linha mediana, capaz de sustentar, amortecer e transmitir o peso corporal. Além disto, supre a flexibilidade necessária à movimentação, protege a medula espinhal e forma com as costelas e o esterno, o tórax ósseo. É constituída de 33 vértebras, que se classificam em cinco grupos: cervicais (7), torácicas ou dorsais (12), lombares (5) e sacrococcígeas sacrococcígeas (9). ( Figura 1)

Figura 1 - A Coluna Coluna Vertebral 14 PELLENZ (2005) mostra a grande região sustentadora de peso na coluna. É formada  pelas vértebras lombares e são largas, com corpos mais alargados lateralmente lateralmente que ântero posteriormente.  posteriormente. Elas também são mais largas verticalmente verticalmente na frente em comparação com a  parte de trás. Os discos na região lombar são espessos e mais espessos ventralmente que 14

Fonte: RIBEIRO, 2007

26

dorsalmente contribuindo para a curvatura lordótica na região. Entre as vértebras existe um disco que consiste de um anel fibroso e um núcleo pulposo. Fazem parte do complexo articular entre duas vértebras. O disco intervertebral lombar é abundantemente inervado, recebendo ramos nervosos comunicantes cinzas dos ramos ventrais e dos nervos sinuvertebrais. (Figura 2)

Figura 2 - Vista Lateral da Coluna Lombar (L1 a L5) 15 A estrutura em discos é pouco resistente a forças contrárias ao seu eixo . É importante que no decorrer das suas tarefas, os trabalhadores tentem manter os diferentes músculos, ligamentos e articulações em posições confortáveis. Adicionalmente, as curvaturas naturais da coluna devem ser “respeitadas” durante a execução do trabalho. Posturas anômalas ou movimentos bruscos podem lesar os discos intervertebrais, as articulações, os ligamentos e nervos, provocando dor ou outras perturbações. O resultado de movimentos incorretos somados ao excesso de peso e repetição são as lombalgias e os entorses. A lombalgia se dá a partir da evasão de parte do núcleo pulposo por meio do ânulo fibroso rompido (hérnia de disco). Esta lesão pode ser o resultado tanto de traumas, quanto do estresse constante sobre a região. Sua ocorrência é verificada, com maior prevalência, prevalência, entre as vértebras C6-C7 (6º e 7º vértebra cervical), L4-L5 (4º e 5º vértebra lombar) e a vértebra S1 (1º sacral). No entanto, os discos L4-L5 e L3-L4 apresentam maior grau de degeneração do que outros discos da região região lombar. (PANJABI et al., al., 2003 apud PELLENZ, 2003) 2003) 16. (Figura 3)

15

16

Fonte: PELLENZ, 2005.

PANJABI, M.M. Clinical Spinal instability and low back pain. Journal of Electromyography and Knesiology, v.13, p.371-379, 2003.REILLY.

27

Figura 3 - Disco vertebral normal e lesionado 17 As situações impostas à coluna vertebral que constituem as causas mais freqüentes de lombalgia, são descritas como, esforço em flexão, esforço excessivo e esforço inadequado, as quais isolada ou conjuntamente representam represen tam um importante fator de risco de lombalgia. Quando se levanta a carga na posição o mais ereto possível, o esforço de compressão distribui-se uniformemente sobre a superfície total de vértebras e discos. Nesta posição consegue-se reduzir reduzir em cerca de 20% a compressão nos discos, discos, em relação ao levantamento levantamento na posição curvada. (Figura 4)

Figura 4 - Técnica para levantamento de carga 18

17

Fonte: RIBEIRO, 2007

18

Fonte: http://www.geocities.com/Athens/Troy/8084/Erg_peso.html http://www.geocities.com/Athens/Troy/8084/Erg_peso.html (acesso em 02/12/2008)

28

2.3.3 Análise de Posturas Sabe-se que independente de esforços, a partir dos 30 anos de idade inicia-se um  processo de dessecação progressiva dos discos da coluna vertebral, que sofrem maiores risco de rompimento e arrancamento, por perda de elasticidade e resistência. Hérnia de disco e "bico de papagaio" são doenças comuns da coluna em toda a população. A postura no desenrolar de tarefas pesadas é a principal causa de  problemas de coluna, coluna , mais precisamente na hora de levantar, transportar e depositar cargas, ocasião em que os trabalhadores mantêm as pernas retas e “dobram” a coluna. Quanto maior o peso da carga, maior será a pressão sobre cada vértebra e cada disco. Quanto mais distante do corpo, maior será a pressão. Cargas que representam o equivalente a apenas 10% do peso do corpo, já causam problema à coluna. Seguir normas de movimentação movimentação no levantamento levantamento de cargas, com posturas corretas corretas é fator importante para a prevenção no aparecimento de lesões músculo-esqueléticas. FALCÃO(2003) FALCÃO(2 003) relata que a dificuldade de identificar e registrar as posturas assumidas por  um trabalhador trabalhador e os esforços esforços a ele exigidos pela tarefa, tarefa, fez com que que muitos autores  propusessem métodos métodos de registro registro e análise de postura, visto visto que a descrição descrição verbal e o registro fotográfico possuem suas falhas. Para tanto, apresenta vários métodos com enfoques específicos, atuando em variáveis múltiplas. Dentre eles: •

NIOSH: trata-se de um método desenvolvido pelo National Institute for Occupational

Safety and Health, dos EUA, que revela, por meio de uma equação de seis variáveis – A Equação de NIOSH, a carga máxima em condições desfavoráveis. As citadas variáveis são frutos da combinação de fatores epidemiológicos dos distúrbios músculos-esqueléticos, conceitos biomecânicos, princípios fisiológicos e limites psicofísicos. (CHAFFIN et al, 2001 apud FALCÃO, 2005) 19 A aplicação da equação de NIOSH para o LPR - Limite de Peso recomendado para MMC é o método oficial utilizado na legislação brasileira. Está no Manual de Aplicação da  Norma Regulamentadora Regulamentadora Nº 17, editada editada em 2002 pelo pelo Ministério do Trabalho e Emprego -

19

CHAFFIN, Don B.; ANDERSSON, Gunnar B.; MARTIN, Bernard J. Biomecânica Ocupacional. Traduzido  por Fernanda Saltiel Barbosa da Silva. Belo Horizonte: ERGO Editora, 2001. Tradução de: Occupational Biomechanics.

29

MTE20 e se aplica às perícias sempre que há questionamentos questionament os relativos ao tema . (ANEXO

IV)  Na equação estão relacionadas as seis variáveis: a distância horizontal (H) e a vertical (V) entre a carga e o corpo; a rotação do tronco (A); o deslocamento vertical da carga (D); a freqüência do levantamento levantamento (F) e a dificuldade de manuseio da carga (M). (Figura 5)

LPR = LC x HM x VM x DM x AM x FM x CM onde: LPR = Limite de Peso recomendado, calculado em kg; LC = Constante de carga (adotado o valor de 23 kg); HM = Função distância horizontal entre o indivíduo e a carga, em cm; VM = Função distância vertical na origem da carga, em cm; DM = Função deslocamento vertical entre a origem e o destino, em cm; AM = Função ângulo de assimetria, medido a partir do plano sagital, em graus; FM = Função freqüência média de levantamentos, em levantamentos/min; CM = Função qualidade da pega.

Figura 5 - Variáveis da Equação de NIOSH

20

Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora Nº 17- editado em 2002 pelo MTE com a finalidade de

facilitar a interpretação e aplicação da norma. Fonte: http://www.mte.gov.br/seg_sau/pub_cne_manual_nr17.p http://www.mte.gov.br/seg_sau/pub_cne_manual_nr17.pdf  df  (acesso em 2/12/2008)

30



Diagrama de áreas dolorosas : divide o corpo em vários segmentos e questiona os

trabalhadores sobre as áreas dolorosas, bem como, o grau de desconforto em cada um dos segmentos (De 0 a 7 e um nível acima de 3 merece atenção imediata ). (Figura 6)

Figura 6 - Diagrama de Áreas Dolorosas 21 Os métodos acima são de ampla utilização e poderiam servir de base para estudos mais  profundos e reveladores dos efeitos adversos da MMC. Destaca-se que o método de NIOSH não leva em conta o risco potencial associado aos efeitos cumulativos dos levantamentos repetitivos e não considera eventos imprevistos como deslizamentos, quedas, nem sobrecargas inesperadas. inesperada s. Também não assume a existência de outras atividades de manipulação de carga, à parte os levantamentos, tais como empurrar, arrastar, carregar, caminhar, subir ou abaixar. Vale referenciar outros métodos utilizados em maior ou menor escala com a finalidade de analisar a movimentação de carga, os esforços, a repetitividade, as lesões e tudo que se relaciona à atividade. A sensibilidade e o conhecimento científico devem conduzir na escolha do método a ser utilizado isolado ou em conjunto e só para efeito de citação temos: •

21

a eletromiografia eletromiografia Fonte: RIBEIRO (2007)

31



a cinemetria



o método REBAS (Rapid ( Rapid Entire Body Assessment)



o método LEST (Laboratoire d’Economie et Sociologie du Travail)



o método RULA (Rapid Upper Limb Acessment)



o método OCRA (Occupational Repetitive Action)



o método OWAS (Ovako Working Posture Analising System )

2.4 A Organização do Trabalho Do choque entre história individual, com projetos, esperanças e desejos, e uma organização do trabalho que os ignora, resulta um sofrimento, que se traduz em insatisfação, medo, angústia do trabalho, enfim. (DEJOURS, 1988).

Da leitura da abordagem acima, emerge a importância de uma análise ampla da atividade, partindo de um paradigma antropotecnológico, antropotec nológico, no qual a noção de contingência e de mediações cultural e histórica permita compreender comportamentos e sentidos a partir de uma perspectiva de processo de produção, como inserção de processos de trabalho em um quadro ampliado de referências histórica, social, cultural, econômica, econômica, geográfica, entre outras (VIDAL, 1995 apud OLIVEIRA, 2005) 22. Parece caber no trabalho em estudo, onde todos estes fatores vão desaguar na visível diferenciação entre a tarefa de levantamento de cargas e a atividade de levantamento de cargas. Entendendo melhor e de forma didática, temos: para o trabalhador, a tarefa é o que define o que tem que ser feito e como os meios para fazê-la estão dispostos. Já a atividade é a ação como essa tarefa é executada, fruto da integração da tarefa com o homem que a executa. É da análise e do entendimento real do que é a atividade do carregador, das suas dimensões físicas, mentais e pessoais que podemos podemos tentar elaborar elaborar as relações entre o trabalho e a saúde. Voltando à abordagem de Dejours, onde ele aponta a organização do trabalho como geradora de conflito conflito na medida em que se opõe ao desejo do trabalhador, trabalhador, temos a realidade limitada do trabalho, advinda muitas vezes do “taylorismo” e do “fordismo” e que acabam por  interferir no conteúdo das tarefas e nas relações humanas. Existem muitos críticos das teorias 22

VIDAL, M. C. R. Antropotecnologia. Rio de Janeiro, 1996. Notas de aula. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia, Doutorado do Programa de Engenharia de Produção.

32

que relacionam saúde mental (sofrimento) e trabalho, prevalecendo a teoria de que o trabalho é onipresente e por isso determina determina as relações com a saúde. De uma maneira geral, geral, resulta em manifestações individualizadas que podem trazer “sofrimento” ou “prazer”. Para uns, o trabalho traz consigo a construção da vida e é o fator de status que se estende para além do ambiente ambiente físico do trabalho. trabalho. Para outros, o trabalho é limitante limitante da sua liberdade e não traz ganhos, sendo diretamente responsável por danos à saúde.

2.5

Ergonomia

2.5.1 Definições De forma interdisciplinar, a Ergonomia aborda a atividade sobre os aspectos das condições de trabalho, desde o trabalho trabalho específico, a tarefa, tarefa, a jornada de trabalho, o horário de trabalho, salários, além de outros fatores cruciais relacionados com a qualidade de vida. Fazendo jus a sua amplitude, algumas definições para a Ergonomia: Ergonomia (ou Fatores Humanos) é a disciplina científica que trata da compreensão compreensão das interações interações entre os seres humanos e outros elementos de um sistema e profissão que aplica teorias, princípios, dados e métodos a projetos, a fim de otimizar o bem estar humano e a  performance global global dos sistemas. sistemas. (IEA, 2000) 2000) 23 Ergonomia é a aplicação das ciências biológicas conjuntamente com as ciências da engenharia para lograr o ótimo ajustamento do homem ao seu trabalho, e assegurar, simultaneamente, eficiência e bem-estar. (OIT, 1960) 24 A Ergonomia é uma ciência interdisciplinar. Ela compreende a fisiologia e a psicologia do trabalho, bem como a antropometria e a sociedade no trabalho. O objetivo prático da Ergonomia é a adaptação do posto de trabalho, dos instrumentos, das máquinas, dos horários, 23

Definição de Ergonomia adotada pela IEA - International Ergonomics Association

24

Definição de Ergonomia adotada pela OIT - Organização Internacional do Trabalho

33

do meio ambiente às exigências do homem. A realização de tais objetivos, ao nível industrial, propicia uma facilidade do trabalho e um rendimento do esforço humano (GRANDJEAN, 1998).  Na visão de serviços de Saúde Ocupacional, Ocupacional, verifica-se a presença do conceito de ergonomia como sendo a adaptação do trabalho ao homem e nesse sentido ocorreu a maior  evolução. Compreender o homem, a máquina, o ambiente, a informação, a organização e as conseqüências do trabalho conduziram a ergonomia para os diversos domínios de especialização: •

Ergonomia física: o foco está sobre os aspectos físicos da atividade de trabalho que

engloba as questões corpóreas (anatomia, antropometria, fisiologia fisiologia e biomecânica) biomecânica) e as questões de meio ambiente de trabalho (ruído, temperatura, iluminação, qualidade qualidade do ar, etc.). Os principais temas abordados pela ergonomia física são: posturas, aplicação de forças, fadiga física, movimentos movimentos repetitivos, repetitivos, ventilação e ruídos dentre outros, interferindo interferindo no contexto contexto físico para evitar posturas e esforços inadequados e garantir conforto ambiental •

Ergonomia cognitiva: refere-se aos processos mentais, tais como: percepção, memória,

raciocínio e resposta motora conforme afetem as interações entre seres humanos e outros elementos de um sistema. Sua função principal é auxiliar o trabalhador no entendimento das suas limitações e habilidades, aumentando quando necessário, a probabilidade do acerto na tomada de decisões •

Ergonomia organizacional: refere-se à otimização dos sistemas sócio técnicos, incluindo

suas estruturas organizacionais, políticas e de processos. Se baseia na premissa de que todo trabalho se desenvolve no contexto de uma organização, e este contexto, que é peculiar a cada empresa, obviamente, interfere significativamente no desenvolver do trabalho. Os tópicos relevantes incluem comunicações, organização temporal do trabalho, trabalho em grupo,  projeto participativo, participativo, novos novos paradigmas paradigmas do trabalho, trabalho, trabalho cooperativo, cooperativo, etc. etc. 2.5.2 As gerações da Ergonomia Inter-relacionar as diversas diversas nuances da Ergonomia não é tarefa fácil, pois sua natureza multidisciplinar cria inúmeras facetas e possibilidades de estudos e apreensões sobre as relações do homem com o seu trabalho.

34

A ergonomia evoluiu dos esforços do homem em adaptar ferramentas, armas e utensílios às suas necessidades e características. característ icas. Seria a Ergonomia física mas a partir da Revolução Industrial, Industrial , que propiciou o surgimento da fábrica e a intensificação do trabalho, a ergonomia vai necessitar e fazer uso de novos conceitos e novas abordagens, dando origem a múltiplos segmentos de aplicação e configurando os vários estágios. •

 Num primeiro estágio conhecido como Ergonomia Física, o foco foi o projeto das

interfaces HOMEM-MÁQUINA, que incluíam os comandos e controles, displays, arranjos do espaço de trabalho e o ambiente físico do trabalho. •

 No segundo estágio, o foco passa a ser as interfaces USUÁRIO-SISTEMA USUÁRIO-SISTEMA e ocorre uma

mudança na preocupação central do aspecto do homem. Deixa-se de ter como ponto principal os aspectos físicos e perceptuais do trabalho e passa-se para a sua natureza cognitiva. Esta alteração se reflete em decorrência de uma presença mais intensiva de sistemas computacionais no meio de trabalho e, consequentemente, o uso de processamento. •

A terceira geração também também conhecida como macro-ergonomia, macro-ergonomia, surge devido devido às constantes constantes

mudanças decorrentes da organização do trabalho e pelo desenvolvimento tecnológico, e se caracteriza pela aplicação de conhecimentos sobre pessoas e organizações ao projeto, implementação implementação e uso de tecnologia. tecnologia. É a interface interface HOMEM-SISTEMA e vem em resposta resposta a importantes mudanças que estão afetando o trabalho do homem, particularmente com relação a: tecnologias; mudanças demográficas; mudanças de valores e aumento da competitividade competitivida de mundial. •

O atual caminho da macro-ergonomia, a Ergonomia Participativa, segue para os enfoques

constituintes do sistema de gestão e inclui ferramentas semelhantes e bem conhecidas: declaração de objetivos, tomada de decisões, solução de problemas e planejamento e condução das mudanças organizacionais. É a GESTÃO ERGONÔMICA, onde o trabalhador   participa ativamente na tomada de decisão no trabalho. Esta evolução favorece mudanças de sentimentos, sentimentos, crenças, hábitos e costumes. GUÈRIN (2006) ajuda a compreender como a atividade real dos trabalhadores é capaz de reformular as condições materiais e organizacionais organizacion ais do trabalho. É essa atividade real que

35

contribui para produzir as riquezas da empresa, mas também permite dar o sentido que cada qual atribui, individualmente e coletivamente, ao trabalho. Permitir esta participação pode ser  o grande enfoque a ser dado à atividade dos carregadores. 2.5.3 A Análise Ergonômica do Trabalho A MMC pressupõe a utilização do corpo do trabalhador como próprio “instrumento” de trabalho e isto basta para sua inserção numa visão antropocêntrica que valorize o trabalhador e o homem pelo “saber fazer”. Uma ferramenta bastante utilizada e que pode resultar em grandes benefícios para o trabalhador é a AET - Análise Ergonômica Ergonômica do Trabalho, que que traça uma análise cuidadosa cuidadosa de fatores relacionados à segurança, saúde e produtividade do local de trabalho por meio de uma descrição sistemática da tarefa ou do local de trabalho, baseada em entrevistas e observações. Por ser uma abordagem ergonômica, se preocupa em visualizar diferentes aspectos, como: os movimentos corporais corporais do ser humano, necessários necessários para para executar uma tarefa tarefa e a medida do tempo gasto em cada um desses movimentos; a delimitação do objeto de estudo a um aspecto da situação de trabalho e a decomposição em um sistema humano-tarefa; o conhecimento sobre o comportamento do ser humano humano em atividade de trabalho e a conexão diferenciada diferenciada do que representa para o trabalhador a tarefa e a atividade . (Figura 7) A AET tem como foco a atividade de trabalho das pessoas, como objeto à situação onde esta ocorre e como finalidade finalidade a transformação transformação para melhor deste sistema. Tarefa Foco

Atividade de Trabalho

Execução

E Requisitos

R G O

Finalidade

N

Transformação Positiva

O M I A

Condições Objeto

Situação de Trabalho

Contexto Possibilidades

Figura 7 - Análise Ergonômica do Trabalho25 25

Fonte: http://www.abmbrasil.com.br/regionais/vale_do_aco.asp (acesso em 12/11/2008)

36

 Na análise do dualismo Trabalho x Saúde, não se pode deixar de reconhecer que a saúde está estreitamente relacionada com a maneira pela qual o homem produz seus meios de vida, o trabalho.  Na percepção ergonômica, todo e qualquer trabalho possui dois componentes:: o físico e o mental, que necessitam de equilíbrio para proporcionar bem-estar e componentes saúde. (Figura 8) Esta percepção quando bem aplicada inter-relaciona os fatores (o cupacionais, antropométricos, antropomét ricos, psicossociais e comportamentais) comportament ais) e pode resultar em ações visando: •

Melhor qualidade de vida



Saúde Física e Mental



Prevenção de Acidentes



Melhor Ambiente de Trabalho



Atendimento a legislação



Contribuir nas certificações certificações



Melhor organização do Trabalho

Ação Ergonômica

Conforto

Proativa

Desconforto

Doença

Reativa

Figura 8 - Efeitos da Ação Ergonômica 26 26

Fonte: http://www.abmbrasil.com.br/regionais/vale_do_aco.asp (acesso em 12/11/2008)

37

3. DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA 3.1

A Segurança Alimentar  No início do século XX se falava em Segurança Alimentar como sendo a

 preocupação com o fato de que as nações não ficassem enfraquecidas enfraquecidas por conta da sua incapacidade de alimentar a população em caso de guerras ou de possíveis cercos econômicos. Já na atualidade, a preocupação com a Segurança Alimentar tem tido uma ligação direta com as lutas contra a fome em todo o mundo e passou a ser entendida como uma estratégia para o desenvolvimento social. No Brasil, a Lei 11.346 de 15 de setembro de 2006, criou o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - SISAN com vistas a assegurar o direito humano à alimentação alimentação adequada e outras providências. providências. “O direito à alimentação adequada é direito fundamental do ser humano, inerente à dignidade e indispensável à realização dos direitos consagrados na Constituição Federal, devendo o poder público adotar as políticas e ações que se façam necessárias para promover e garantir a segurança alimentar e nutricional da população.” (Art. 2o – Lei 11.346 de 15 de setembro de 2006) 27

É sob esta visão que o governo e a sociedade organizada devem nortear suas ações  para o enfrentamento enfrentamento de problemas advindos da insegurança alimentar em qualquer um de seus aspectos. Segundo dados de 2007 da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação - FAO 28, cerca de 29% da população brasileira sofrem com a deficiência alimentar ou a fome. Destaca ainda que o país ocupa posição de destaque no mundo pelos avanços já conseguidos em termos de formulação e implementação de uma estrutura voltada  para essa ação. ação.

3.2 O Sistema CEASA È dentro do contexto de fortalecimento da segurança alimentar que se encontra o Sistema CEASA, uma rede comercial brasileira do agronegócio que atualmente movimenta 27

Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/Lei/L11346.htm (acesso em 15/11/2008)

28

FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations

38

cerca de 14 milhões de toneladas de produtos hortigranjeiros e cuja movimentação financeira  pode superar a casa dos U$ 15 bilhões anuais. É uma rede descentralizada, descentralizada, com cerca de 40 unidades administrativas, administrativas, 53 unidades comerciais principais e outras tantas de menor porte e é o principal responsável por parcela expressiva do abastecimento alimentar da população urbana brasileira. Gerida pelo Poder Público, mas operada pela iniciativa privada, o Sistema Ceasa conta com mais de dez mil empresas diretas envolvidas e constitui-se no principal veículo de comercialização da cadeia produtiva agro alimentar. 29 A criação deste sistema remonta à década de 70, concebido em uma perspectiva sistêmica, com a constituição do Sistema Nacional de Abastecimento - SINAC. ALTIVO (2008) relata que o SINAC similarmente ao modelo espanhol, tinha como proposta inicial o estabelecimento de uma rede de informações técnicas entre todas as unidades atacadistas regionais para servir como ponto de referência aos negócios entre produtores e distribuidores,  propiciando o melhor ponto de equilíbrio equilíbrio da oferta e preços. O SINAC, no entanto, foi implementado implementado sem dispor de uma visão estratégica estratégica definida, cujo ritmo de expansão acompanhava o período de grandes investimentos em infraestrutura que o Brasil experimentou na década de 70. Ainda assim, foi capaz de implantar  estruturas físicas de comercialização nos principais centros urbanos brasileiros. O programa gerou, sem dúvida, benefícios benefícios para o produtor e consumidor, impactando impactando qualitativamente qualitativamente os segmentos de produção e comercialização. Consoante com o processo de modernização da agricultura brasileira e com esquemas de incentivos baseado em vantagens e benefícios economicamente artificiais, o SINAC logrou uma transformação do sistema produtivo  brasileiro de FLV- Frutas, legumes legumes e verduras e fez com que que as Ceasas brasileiras brasileiras crescessem. crescessem.  No final de 1986, com a crise fiscal do Estado brasileiro, desmontou-se o Sistema  Nacional de Abastecimento Abastecimento brasileiro, com a transferência do controle acionário das Ceasas  para os Estados e Municípios. Como tal medida não foi precedida de qualquer regra de transição, institucional ou gerencial, rompeu-se a base central de todo o arcabouço metodológico que norteava a concepção sistêmica da intervenção governamental no setor. O  propósito do estabelecimento estabelecimento de uma rede nacional integrada de informações, ampliação dos avanços tecnológicos e de comercialização inter-agentes foi definitivamente prejudicado e as Ceasas assumiram individualmente suas próprias linhas operacionais. A partir desta desarticulação, boa parte das Ceasas brasileiras passou a apresentar uma série de deficiências estruturais e conceituais. Tais deficiências implicaram, em maior ou menor grau, na 29

Dados apresentados no artigo: Sistema Ceasa-uma rede complexa e assimétrica de logística (Altivo R.A. Almeida Cunha e José Bismarck Campos, 2008)

39

obsolescência das estruturas físicas de comercialização e apoio, bem como na precarização dos métodos de gestão empresarial. (ALTIVO, 2008)  No fim da década de 90, o processo de renegociação das dívidas dos Estados  brasileiros com a União federalizou federalizou para uma posterior privatização, privatização, duas das maiores empresas atacadistas, A CEAGESP (SP) e A CEASAMINAS (MG), que representam conjuntamente mais de 60% do comércio atacadista de FLV.

3.3 A CEAGESP A CEAGESP - Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo surgiu na década de 60, quando o crescimento da cidade exigia uma central atacadista de grande porte capaz de atender a população do Estado. (Tabela 3)

Volume Comercializado - ETSP Hortifrutigranjeiros e Pescados 30 ANO 1968 1969 1970

TONELADAS 1.107.185 1.099.818 1.257.378

Tabela 3 - Volume comercializado ETSP (1968 e 1970) Hoje, o ETSP - Entreposto Terminal de São Paulo está entre os maiores do mundo em volume de comercialização. Por seus portões passam todos os dias mais de 10 mil toneladas de frutas, legumes, verduras, pescados e flores vindos de todas as regiões do Brasil e do exterior, e abastece mais de 60% da Grande São Paulo. Em seus 700 mil metros quadrados, no entreposto da capital trafegam 1.000 veículos de grande porte, 7000 veículos menores e cerca de 50 mil pessoas/dia. (Imagem 1)

30

Fonte: Relatório da Diretoria – CEAGESP (1970).

40

Imagem 1 – Caminhões de carga nas docas (GOMES, 2007) Complementando, são 3.800 permissionários 31 que geram 18.000 empregos diretos e são responsáveis pela receita mensal de aproximadamente 250 milhões de reais provenientes da comercialização comerciali zação de 243.000 toneladas. O Terminal completou seus quarenta anos de existência com alguns problemas visíveis como a precariedade das instalações instalações físicas que necessitam necessitam de reformas emergenciais e a falta de segurança no espaço interno, exigindo maior controle na circulação de pessoas e veículos. Estes fatores resultaram no deslocamento de considerável volume comercializado  para as grandes redes de supermercado supermercado que montaram montaram plataformas plataformas próprias de compras. Embora várias correntes técnicas e políticas declinem para a construção de um novo terminal, moderno e bem estruturado, estruturado, a CEAGESP se impõe impõe e apoiado pelo Governo Governo Federal está buscando outras formas de modernização através da implementação de algumas políticas estruturais: geração de emprego e renda, incentivo à agricultura familiar e combate ao desperdício. E o resultado tem se mostrado na evolução do volume comercializado, conforme demonstrado. (Tabela 4)

31

Permissionário - pessoa física ou ou jurídica que obtém a permissão ou concessão de uso uso de área da CEASA.

41

Tabela 4 – Volume Comercializado no período de janeiro a setembro (2007 e 2008) 32 O espaço do CEAGESP foi projetado para ser dividido em setores, conforme as características características do produto-alimento produto-alimento e de sua comercialização: comercialização: - Os setores MFE (Mercado de Frutas Estacionais) e HF (Pavilhões de Hortifrutícolas) são responsáveis pela embalagem e comercialização de frutas; - O setor  MSC (Mercado de Secos e Cereais) é responsável pela embalagem e comercialização comercialização de verduras; - Os setores AM e BP são responsável pela embalagem e comercialização de batatas, cebola e alho; - O setor MLP que significa Mercado Livre do Produtor, é o pavilhão que vende no atacado e no varejo, flores, verduras e legumes ( Imagem 2); - Pavilhão PBC (Praça da Batata e Cebola) onde se realiza o varejão, a feira dos automóveis e a venda de flores no atacado; - Os pavilhões de AP’s (Armazéns de Produtores).

32

Jornal Entreposto: http://www.jornalentreposto.com.br (acesso em 13/11/2008)

42

Imagem 2 - Pavilhão denominado Mercado Livre do Produtor (GOMES, 2007)

Há outros espaços diferenciados desse conjunto padronizado de edificações de concreto, como a área destinada à comercialização do Pescado. ( Imagem 3)

( GOMES, 2007) Imagem 3 - Mercado do Peixe (GOMES, Como pode ser observado, as edificações são divididas em setores e podem ser  identificadas por um conjunto de letras. Estão subdivididas em pequenos estabelecimentos estabelecimento s

43

denominados de boxes e módulos e são alugados pela administração aos permissionários para a atividade. Outras atividades de apoio como restaurantes, bancos, correios, escolas, oficinas, estacionamentos, etc. têm espaços físicos delimitados caracterizando a área interna da CEAGESP num grande complexo. complexo. ( Figura 9) .

Figura 9 –  A CEAGESP (GOMES, 2007)

44

3.4

Os Carregadores Carregadores

3.4.1 Histórico MESSEDER (2005)33 relata em seu artigo: a atividade do carregador carregad or se constitui numa das mais importantes no desenvolvimento do mundo que conhecemos hoje. Basta imaginar que em Angola, nos finais do século XIX existiam ainda cerca de 200 mil carregadores. Só este dado diz alguma coisa acerca da tremenda saga dos negros que, como  bestas de carga, transportaram às costas, através através de montes e savanas, os desbravadores. Eles, na prática contribuíram contribuír am para assegurar a viabilidade das expedições, o estabelecimento de rotas, criar redes de contatos e firmar o império.  No Brasil não foi diferente e só no século XX, com o fim da escravidão e com o início de construção sistemática de estradas e estradas-de-ferro, é que os carregadores deixaram gradualmente gradualmente de ser necessários na forma que inicialmente se constituíam. constituíam. Mas sua atividade continuou agora sob a liderança dos comerciantes. Enquanto o fluxo comercial ia aumentando, com rotas fixas e periodicidade periodicidade certa, os carregadores carregadores

continuavam continuavam a

desempenhar seu papel: papel: carregar o mundo nas costas e parece parece que é assim que ainda acontece acontece nos dias atuais. 3.4.2 Perfil sócio-econômico sócio-econômico dos carregadores da CEAGESP “Entre as flores, as frutas e os pescados encontram-se um exército de homens vestidos com jaleco (ou guarda-pó) de coloração única, que pode  ser cinza, laranja e branco dependendo do setor; eles estão sentados, conversam, observam, sozinhos ou em grupos em seus carrinhos numerados  ficam aguardando a sua vez, esperando que sejam chamados para o trabalho. ... eles passam também ligeiros, carregando frutas, legumes, verduras, peixes, flores e plantas ornamentais; são responsáveis por  transportar ali os alimentos que abastecem boa parte das mesas da metrópole paulistana, assim como uma parcela do território nacional.Eles  são os carregadores da CEAGESP.”( GOMES, CEAGESP.”(  GOMES, 2007)

Considerando os carregadores autônomos, esta descrição é um retrato r etrato fiel do que pode 33

Messeder, Felipe. Carregadores – Os heróis esquecidos, http://www.alem-mar.org (acesso em 15/11/2008)

45

ser observado na CEAGESP. Reconhecidos e cadastrados pela administração do entreposto 34 estão cerca de 3.500 trabalhadores, exclusivamente do sexo masculino, com relações de trabalho definidas, embora, nem sempre observadas. De acordo com informações contidas na ficha cadastral, GOMES (2007) traçou o  perfil dos carregadores autônomos em detalhes, mas no presente trabalho o pesquisador  pesquisador   prefere apresentá-los sucintamente sucintamente em gráficos e tabelas e tecer alguns comentários como se segue. Faixa Etária dos Caregadores da C EAGESP EAGESP 600

497 500 453

  s   e   r   o 400    d   a    h    l   a    b   a 300   r    T   e    d   o   r 200   e   m    ú    N

400 369 334 294

192 160

94

100

65 27 3

20

0 Menos

20 a 25

26 a 30

31a 35

36 a 40

41a 45

4 6 a 50

51 a 55

56 a 6 0

6 1 a 65

6 6 a 70

71 a 75

de 20

mai s d e 75

Faixa de Idade

Gráfico 2 - Faixa Etária dos Carregadores da CEAGESP 35

Deste gráfico extraem-se três grupos: o primeiro se constitui de trabalhadores com idade entre 18 e 29 anos (14,2%); o segundo tem trabalhadores com idade entre 30 e 59 anos e representa o maior contingente (78,0%) e um terceiro com carregadores que têm mais de 60 anos de idade (7,8%). Apesar do esforço físico que a atividade exige, esses trabalhadores que  podem ser classificados classificados como idosos, ainda se mantêm ativos revelando a precarização precarização das condições de trabalho. A maioria está nesta atividade desde as décadas de 60 e 70 e poucos se aposentaram, já que a maioria não tem contribuições previdenciárias que lhe concedam o  benefício. Mesmo aqueles que conseguiram pagar regularmente continuam trabalhando, pois a aposentadoria resultou em valores nunca superiores a um salário mínimo. Para tornar o trabalho menos árduo, estas pessoas e as que apresentam enfermidades são direcionadas para

34

Número médio considerando a rotatividade mensal dos trabalhadores

35

Em 417 fichas das 3405 analisadas não foi possível definir a data de nascimento.

46

o Mercado de Flores, onde o carga laboral é mais leve. Parece ser a solução encontrada para diminuir as agruras da atividade e recompensá-los pelos serviços prestados. ( Imagem 4)

Imagem 4 - Carregador idoso no Mercado de Flores

Escolaridade dos Carregadores da CEAGESP   s   e   r 2500   o    d   a 2000    h    l   a    b 1500   a   r    T 1000   e    d   o   r 500   e   m 0    ú    N

2344

406 162

334 60

113

5

23

Nível de Escolaridade Gráfico 3 - Nível de Escolaridade dos Carregadores da CEAGESP 36 36

O entendimento do nível de escolaridade foi obtido a partir dos dados cadastrais cedidos pela Administração da Companhia. Dos 3405, apenas 23 deles não informaram. O vocabulário utilizado para expressar era diverso e o grupo de analfabetos equivale as seguintes categorias: não alfabetizada, nenhum, e analfabeto; o ciclo básico: tanto o completo quanto o incompleto, em que qu e apareceram todas as séries do ciclo e a expressão que corresponde ao antigo primário. O Ensino Fundamental corresponde ao antigo Primeiro Grau e o Ensino Médio corresponde ao antigo Segundo Grau ou o Colegial.

47

Como já era esperado, numa atividade onde o esforço físico é mais valorizado valorizad o do que o intelectual, a pesquisa revelou um baixo nível de escolaridade entre os carregadores. Os dados mostram um perfil de escolaridade no qual 12% deles são analfabetos, analfabetos, 5% completaram o ciclo básico ou apenas apenas iniciaram. Grupo predominante, predominante, 68% do total não completaram completaram o ensino fundamental fundamental

em concordância concordância com o descrito descrito na CBO2002. Observa-se Observa-se uma uma

 preocupação destes trabalhadores com relação à modernização modernização do mercado onde equipamentos, legislações, certificações estão na ordem do dia e não permitem a inserção de  pessoas menos menos qualificadas. qualificadas. ( Imagem 5)

Imagem 5 - Empilhadeira no setor de frutas da CEAGESP (GOMES, 2007) Os carregadores que se designam autônomos ganham pela quantidade de viagens 37ou carretos38 que fazem. Seu rendimento é claramente vinculado ao esforço físico despendido e muitas vezes é o fator que desencadeia o aparecimento de doenças ocupacionais. Há um acordo

entre os sindicatos sindicatos dos carregadores carregadores e dos permissionários, permissionários,

intermediado pela pela CEAGESP que determina determina o preço das “viagens”. “viagens”. A tabela 39 definida entre as partes deveria possibilitar um rendimento justo à atividade, mas, desde os anos 90 com o agravamento agravament o da crise econômica esse tabelamento perdeu a sua referência e as negociações 37

Viagens: definido com uma carga completa no carrinho e cuja quantidade de caixas e peso transportado depende do produto. Geralmente cada viagem equivale a 400kg.

38 39

Carreto: quando se contrata uma carga “fechada”, de um caminhão ou carreta.

Fonte: SINCAESP-Sindicato dos Permissionários em Centrais de Abastecimento de Alimentos do Estado de São Paulo.

48

quase sempre passaram a ser individuais, entre carregadores e comerciantes . (Tabela 5)

pelos carregadores Tabela 5 - Valor dos diversos tipos de carga manuseadas pelos

49

Tabela 5 - Valor dos diversos tipos de carga manuseada pelos pelos carregadores (continuação) (continuação)

50

Há informações divergentes sobre os rendimentos atuais dos carregadores embora haja unanimidade em afirmar que no passado se ganhava bem e muitos conseguiram casa própria, carro, chácaras e até se tornaram permissionários. Em conversa informal, carregadores contam que há dias em que não se faz nenhuma carga e se torna comum comum dividir uma marmita  para três carregadores. De modo geral, a sazonalidade sazonalidade e a irregularidade influenciam influenciam no ganho final final e estima-se que um carregador aufere aufere aproximadamente aproximadamente dois salários mínimos  por mês (R$ 800,00). O Gráfico 4 apresenta em números a variação do volume comercializado comercializado ao longo do ano.

Comercialização do ETSP - 2006 e 2007 (GOMES, (GOMES, 2007) Gráfico 4 - Comercialização 3.4.3 Organização do trabalho A organização inicial se deu sob a forma de cooperativa, evoluindo para uma associação e desde desde o ano de 1990 os carregadores estão estão organizados através através do SINDCAR –  Sindicato dos Carregadores Autônomos de Hortifrutigranjeiros, Pescados e das Centrais de Abastecimento do Estado de São Paulo, que possui sede própria e está localizado num grande galpão dentro da área do entreposto. Segundo informações de cadastro, cerca de 70% dos carregadores são filiados ao sindicato. Ao SINDCAR cumpre cumpre representar os os interesses interesses dos trabalhadores trabalhadores visando o seu bem estar, seja através de questionamentos e acordos políticos ou pela conquista de espaços físicos e sociais que tragam benefícios aos seus afiliados. Na prática, ao longo dos anos, de forma  pacífica (negociação) (negociação) ou através de greves, greves, várias conquistas conquistas aconteceram: aconteceram:

51



Melhores condições condições de trabalho trabalho (em 1978, o gerente gerente do entreposto entreposto mandava bater bater nos

carregadores); •

Revisão da tabela de preços dos serviços (greve por melhores rendimentos)



Combate à corrupção (demissão de diretoria diretoria do entreposto) entreposto)



Galpão (sede do sindicato, sindicato, onde também ficam ficam guardados guardados os carrinhos mediante mediante uma

contribuição mensal de R$ 12,00) •

Chuveiro e banheiros (precários)



Fundo de Amparo ao Carregador Carregador – FAC FAC (cesta (cesta básica, medicamentos medicamentos e eventual eventual

financeiro é dado ao

trabalhador

afastado por motivo de saúde. A

auxílio

contribuição

mensal para este fim é de R$ 2,00) •

Atendimento médico e odontológico (a partir de 2001, em alguns dias da semana e para

afiliados ao sindicato que contribuem com R$ 6,00/mês e também dá direito a fazer o exame médico anual gratuitamente. Para os trabalhadores com mais de 45 anos, é exigido a realização de exames complementares como hemograma, perfil lipídico, glicemia,  parasitológico  parasitológico de fezes, sumário de urina e dosagem de PSA. Por livre escolha, o exame  pode ser feito através de convênio com o sindicato a um custo médio de R$ 80,00 ou pode ser realizado no SUS)  No entanto, a maior luta do Sindicato está no campo da manutenção do trabalho do carregador autônomo diante da redução do volume de trabalho. Combater a entrada de clandestinos clandestinos em todos os setores do Entreposto é uma das reivindicações. reivindicações. Para se cadastrar e conseguir a permissão para trabalhar como carregador autônomo,  primeiro tem que haver disponibilidade disponibilidade de vagas, vagas, que é informada à Administração Administração através de de uma comunicação do SINDCAR. Em cumprimento ao acordo entre a CEAGESP e o SINDICAR, o número de vagas está mantido em 3405 trabalhadores. A indicação de um novo carregador se dá por ocasião de morte, afastamento afastamento definitivo definitivo ou desistência desistência do carregador, carregador, que pode “deixar como herança” ou indicar o seu substituto, desde que seja um parente direto (filho). Em todo caso, a vaga do carregador se configura como um bem e com valor  extremamente disputado. Este sistema parece não condizer com a necessidade de modernização, tanto das estruturas como das relações de trabalho que deveriam acontecer no Entreposto. A rotatividade mensal é de 0,5% não ultrapassando uma média de 20 trabalhadores e apenas estas vagas são preenchidas, pois há um excesso de carregadores apesar do aumento

52

do volume comercializado. O fato se deve provavelmente à implementação de sistemas mecanizados de carga carga e descarga além da presença indevida indevida de carregadores carregadores clandestinos clandestinos (não cadastrados). Para o cadastro, o candidato deve apresentar uma série de documentos conforme discriminado: discriminado: •

Atestado de Antecedente Criminal e Carteira do D.I.R.D 40



RG; CPF Título de Eleitor, Certificado Certificado de Reservista



3 fotos 3x4



Exame médico (realizado no SINDCAR ou através do SUS)



Comprovante de Residência do candidato (explicitar um ponto de referência) r eferência)



Referência Pessoal (nome, endereço, parentesco)



Comprovante de Registro no INSS



Comprovante de Inscrição de Autônomo (Prefeitura ou SINCDAR) Estes documentos são complementados por informações da Ficha de Cadastro, como:

município de origem, estado civil, número de filhos e escolaridade que podem eventualmente servir de base para traçar o perfil sócio-econômico sócio-econômico da categoria. Ressaltamos que a permissão é válida pelo período de um ano e tem um custo revertido para a CEAGESP de R$ 35,46. Por  ocasião da renovação, renovação, o carregador deve apresentar apresentar um novo Exame Médico e comprovar comprovar o  pagamento da contribuição contribuição ao INSS 41. Emitida uma uma carteira com com um Número Número de Registro, Registro, o carregador carregador está apto apto para realizar a movimentação manual de cargas (MMC) no setor para o qual lhe foi dada a  permissão, não importando se ele tem conhecimentos conhecimentos suficientes para desempenhar suas atividades. ( Figura 10) De posse da carteira, carteira, o carregador

deve ter um carrinho carrinho para transporte das

mercadorias. O modelo modelo adotado, salvo pequenas pequenas variações, variações, é padronizado na cor cinza cinza que o identifica como como pertencente a um autônomo autônomo e pode ser comprado novo (custa R$ 700,00) 700,00) ou usado (custa 400,00). Segundo informações pessoais, um carrinho quando “bem cuidado” que significa passar sempre por manutenções, pode ter uma vida útil de 15 anos. ( Imagem 6)

40 41

D.I.R.D. - Departamento de Identificação e Registros Diversos ( valor da carteira = R$ 25,21)

Geralmente o carregador apresenta um comprovante pago às vésperas da renovação, visando visando cumprir a exigência e desvirtuando a real finalidade de proteção ao trabalhador. Em Comunicado (DEPEN 38/2008), a CEAGESP informa que a partir de 02/02/2009 será exigido comprovação de regularidade de pagamentos pagamentos junto ao INSS.

53

Figura 10 - Carteira do Carregador 

Imagem 6 - Carrinho para transporte de produtos  Na seqüência, o carregador deve adquirir um uniforme que se constitui num jaleco 42 de cor variada conforme o setor para o qual foi concedida a permissão de trabalho, conforme explicitado a seguir: •

Uniforme de cor laranja - utilizado pelos carregadores do Mercado de Flores



Uniforme de cor branca - utilizado pelos pelos carregadores do Mercado Mercado de Peixe



Uniforme de cor cinza - utilizado pelos pelos carregadores dos demais demais setores

42

O uniforme custa R$ 20,00

54

Devidamente identificados, uniformizados e munidos do veículo de transporte, os carregadores podem trabalhar para quem lhe solicitar o serviço. Normalmente, o carregador   possui um ou alguns clientes e para estes presta serviço de forma regular, com dias, horários e mercadorias pré estabelecidos. É estabelecida uma relação de confiança que pode durar  anos e traz para o carregador algumas vantagens, inclusive orientar e intermediar operações de compra e venda. Resguardando as particularidades, o trabalho do carregador é o mesmo, independente do cliente. Transporta número variável de caixas ou sacos, mas o peso sempre excede o estabelecido. Estudos ergonômicos realizados realizad os em 1983 definiu um limite de 300 kg, mas é comum encontrar carregadores transportando 500 a 600 kg, transgredindo as normas43 que procuram preservar preservar a sua saúde, saúde, argumentando argumentando a necessidade de maior  maior  rendimento além de atender ao cliente que tem pressa na operação. A perecibilidade do  produto obriga à rápida circulação, circulação, sob pena de redução do lucro e esta forma de trabalho trabalho nos remete á observância das exigências da ampliação do capital, que faz o homem disponibilizar  o seu corpo a todo tipo de esforço, intensidade e ritmo. (GAUDEMAR, 1977 apud GOMES, 2007)44 O trabalho autônomo envolve uma gama de fatores que alguns consideram favoráveis, como a flexibilidade de horários. Ser carregador de alguns setores da CEAGESP como o Mercado do Peixe Peixe e o Mercado de Flores possibilita possibilita ao trabalhador trabalhador exercer uma outra outra atividade mesmo que para isso ele tenha que trabalhar muitas horas por dia. Para se ter uma idéia da logística do Entreposto, abaixo os horários de funcionamento dos diversos setores.

(Tabela 6) FUNCIONAMENTO

SETOR

Dias

Horário

Pescado

Terça à Sábado

2 às 5

Flores

Terça e Sexta

5 às 10

Frutas

Segunda à Sábado

6 às 21

Verduras

Segunda à Sábado

6 às 21

Funcionamento da CEAGESP Tabela 6 - Horário de Funcionamento

43

A penalidade para a transgressão é a apreensão do carrinho.

44

GAUDEMAR, Jean Paul de. A de. A mobilidade do trabalho e acumulação do capital . Lisboa: Estampa,1977.

55

Este horário é estabelecido para a entrada de caminhões e a comercialização. Antecipa-se a estes, o horário de chegada chegada dos carregadores carregadores que se deslocam deslocam das suas residências duas horas antes e passam muitas vezes 14 a 16 horas nas dependências do entreposto. Sem um refeitório próprio, eles comem sentados nos seus carrinhos a refeição trazida de casa ou comprada no ambiente de trabalho. Têm hábitos alimentares que não condizem com a atividade, geralmente ricos em gorduras e provavelmente causadores de dislipidemia. 45 A alteração é constatada nos exames médicos e aliada à hipertensão e ao fumo favorece o surgimento de problemas cardiovasculares. A estes fatores acrescentem-se as más condições de limpeza do Entreposto. Resíduos orgânicos em grande volume atraem ratos e baratas; mau-cheiro impregnado nas roupas dos carregadores do setor de pescados; uniformes molhados e sujos dos carregadores que transportam caixas de verduras (vêm com lama e nos dias de chuva, a situação se agrava). Apesar de tudo os carregadores são bem humorados e

gostam de conversar. conversar.

Provavelmente, a atividade física desenvolvida por eles estimula hormônios e endorfinas responsáveis pela sensação de bem estar e alivia o estresse a que eles estão continuamente submetidos. Outro fator é o pleno reconhecimento de que eles desenvolvem uma atividade que não requer nenhum estudo, apenas habilidades. 3.4.4 Descrição da Atividade e os riscos à saúde Ser carregador não é tarefa tão simples como se possa pensar. Tem a carga, a descarga, a distribuição no carrinho, a forma de segurar o carrinho, o cuidado com a carga, o saber escolher ou conferir a mercadoria e as relações com o “freguês” e com o “patrão” (é preciso conquistá-lo com um bom trabalho e criar confiança). Também não pode “empinar”, que é quando o carrinho alavanca para trás e nada consegue  segurá-lo. Nestas ocasiões, é freqüente perder ou estragar parte da mercadoria e pior, quebrar a grade do carrinho, este sim, um grande  prejuízo. Além do mais é preciso se cuidar, cuidar do corpo para não adoecer, e esta tarefa faz parte do trabalho do carregador. (IGUTI,2004) 46 

45

Dislipidemia é a presença de níveis elevados ou anormais de lípidios e/ou lipoproteínas no sangue. O exame médico constata a alteração além de grande ocorrência de hipertensão arterial.

46

Relato de um carregador autônomo sobre a atividade em artigo da RBSO - Revista Brasileira de Saúde Ocupacional

56

O ser humano possui grande capacidade para ajustar-se às condições de exposição que lhe são impostas, adaptando-se rapidamente às situações. Na MMC isto acontece regularmente e pesquisadores sugerem que a experiência na tarefa pode influenciar nas respostas do corpo e consequentemente nas lesões resultantes. Porém, é fato incontestável que o levantamento e transporte de cargas com pesos acima dos limites máximos permitidos, tanto esporádicos quanto continuamente, provocam dores, deformam as articulações e causam artrites, além da possibilidade de incapacitar o trabalhador. Os fatores ambientais são pontos de grande influência neste tipo de atividade, já que o esforço realizado realizado não depende depende só do peso, mas também também de outros fatores, fatores, como: forma, forma, tamanho, local, sistema de transporte, constituição física do trabalhador, idade, condições climáticas, etc. e no grupo estudado - os carregadores autônomos, estes fatores estão sempre associados potencializando o grau de risco da atividade. Vejamos alguns: •

O produto tem forma, peso e tamanhos variáveis - pode ser caixas, sacos, produtos a granel

como melancia, abacaxi, etc. ( Imagem 7)

Imagem 7 - Carregadores transportando caixas, sacos

57



O local apresenta várias configurações - piso irregular, piso molhado, buracos, rampas de

acesso, tráfego intenso de veículos, corredores de circulação estreitos, etc. ( Imagem 8)

Imagem 8 - Tráfego intenso, irregularidades no piso e rampa de acesso •

Constituição física dos carregadores - de todos os tipos: magros, obesos, jovens, idosos,

etc. (Imagem 9)

58

Imagem 9 - Biótipo dos carregadores Além dos riscos ergonômicos e de acidentes, acidentes, há que se considerar considerar a existência existência de outros

riscos ambientais: os agentes físicos, químicos e biológicos que também são

causadores de de danos à saúde saúde dos trabalhadores trabalhadores . (Figura 11 )

MAPA DE RISCOS - CARREGADORES DA CEAGESP GRUPO 1 VERDE

GRUPO 2 VERMELHO

GRUPO 3 MARROM

GRUPO 4 AMARELO

GRUPO 5 AZUL

Riscos Físicos

Riscos Químicos

Riscos Biológicos

Riscos Ergonômicos

Riscos de Acidentes

Ruído

Particulados (poluição)

Bactérias (coliformes)

Levantamento de Arranjo físico Peso inadequado

Frio

Gases (escapamentos dos veículos)

Parasitas (ácaros) (larva migrans)

Postura Inadequada

Iluminação inadequada

Calor 

Protozoários (amebíase) (leishmaniose)

Ritmo Excessivo de Trabalho

Ausência de sinalização

Umidade

Animais Peçonhentos

Esforço Físico Intenso

Piso irregular 

Início da Jornada em horário impróprio

Tráfego de veículos

Picadas (insetos)

Figura 11 - Mapa de Risco

59

Salvo pequenas particularidades, a estrutura física da CEAGESP apresenta uma semelhança entre os diversos galpões, portanto os riscos se apresentam também semelhantes  por todos os setores da atividade dos carregadores. Um Mapa de Risco pode ser elaborado em função da natureza, concentração, intensidade e tempo de exposição ao agente, caracterizando-os como: leve, médio e grave, facilitando o entendimento. ( Figura 12)

Figura 12 - Classificação dos Riscos quanto à gravidade

Da exposição a estes riscos, várias lesões e doenças podem ocorrer: •

Entorses



Quedas e atropelamentos



Varizes



Problemas musculares



Problemas na coluna



Hipertensão e estresse  No estudo em questão, vamos destacar as lesões osteomusculares, osteomusculares, embora esta não

seja reconhecida como grave pela maioria dos envolvidos. Para eles, a saúde está associada ao fato de poder trabalhar, de poder ganhar dinheiro para sustentar a família. Eles se recusam a reconhecer a doença por entender que ela trará implicações ao orçamento já “apertado” e também pela própria condição de autônomo que não lhes dá a cobertura previdenciária. A transcrição que se segue segue é uma afirmativa afirmativa desta realidade. realidade.  Homem ou mulher, todo estado anormal do corpo traz infalivelmente de volta a questão do trabalho ou do emprego... Doença e trabalho! Este par 

60

indissoluvelmente ligado guarda um conteúdo específico: a ideologia da vergonha erigida pelo sub-proletariado não visa a doença enquanto tal, mas a doença enquanto impedimento ao trabalho (DEJOURS, 1987)

3.4.5 Legislação Aplicável Resumindo e justificando a inexistência de uma legislação aplicável à segurança e saúde dos carregadores - trabalhadores trabalhadores autônomos, basta apresentar a NR 1.  NR 1 - Disposições Gerais (101.000-0) (101.000-0) 47  1.1 As Normas Regulamentadoras - NR, relativas à segurança e medicina do trabalho, são de observância obrigatória pelas empresas privadas e  públicas e pelos órgãos públicos da administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT.

As elevadas taxas de desemprego favorecem a flexibilização dos direitos e destaca oportunidades oportunidades para trabalhadores de alta qualificação qualificação com precarização precarização para aqueles que não se enquadram nas exigências exigências do mercado. Nessa conjuntura conjuntura adversa e de forma irreversível, irreversível, o trabalho autônomo autônomo surge como alternativa alternativa de renda, mas até o presente presente momento, sem o devido respaldo da sociedade e do Estado.  Numa situação diferente, onde estes 3.500 trabalhadores fizessem parte de uma empresa prestadora de serviços ou fazendo um exercício futurista 48, a legislação visualizasse o entreposto como um grande conglomerado comercial semelhante a um shopping center, teríamos obrigatoriedade obrigatoriedade de cumprimento a várias leis e normas, dentre as quais: •

 NR 4 - Serviços Especializado Especializadoss em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho



 NR 5 - Comissão Interna Interna de Prevenção Prevenção de Acidentes Acidentes - CIPA



 NR6 - Equipamentos Equipamentos de Proteção Individual - EPI EPI



 NR7 - Programas de Controle Controle Médico de de Saúde Ocupacional Ocupacional (PCMSO) (PCMSO)

47 48

http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulame ntadoras (acesso em 28/05/07)

Há vários estudos que pretendem definir conglomerados comerciais como uma única empresa para fins de cumprimento às NR’s. Situação semelhante já ocorre com os canteiros de obras.

61



 NR9 - Programas de Prevenção Prevenção de Riscos Riscos Ambientais Ambientais (PPRA)



 NR11 - Transporte, Movimentação, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais



 NR15 - Atividades Atividades e Operações Operações Insalubres



 NR17 - Ergonomia A realidade é bem diferente. Salvo poucos carregadores que contribuem para a

Previdência Oficial, a grande maioria só pode contar com a benevolência dos companheiros e/ou com o apoio do Sindcar 49 nos momentos de necessidade. Às vezes, o “patrão” para o qual se trabalha há anos, também lhes dá socorro. Independente da origem, o apoio não é uma obrigação e denota a precariedade das relações de trabalho a que estão submetidos os carregadores autônomos. autônomos.

49

Em casos de afastamento, pode receber uma cesta básica e medicamentos por tempo determinado.

62

4. METODOLOGIA DA PESQUISA 4.1 Caracterização Caracterização do Problema  A metodologia científica não deve funcionar como controle pré  sistematizado

das

estratégias de

pesquisa

empregadas pelo

investigador, o que significaria o aviltamento de sua liberdade de  pensamento e ação. A compreensão da importância do método para a  pesquisa merece, por isso, ultrapassar ultrapassar os limites formalmente rigorosos. rigorosos. (MEZZAROBA, 2004)

Devido a sua natureza interdisciplinar, a pesquisa se constituirá num estudo de caso, na tentativa de abranger as características características mais importantes do tema. LAKATOS (2003) destaca que: o estudo de caso caracteriza-se como uma metodologia de estudo que se volta à coleta de informações sobre um ou vários casos  particularizados.  particularizados. É também considerado como uma metodologia qualitativa de estudo, pois não está direcionado a se obter generalizações do estudo e nem há preocupações fundamentais com tratamento estatístico e de quantificação dos dados em termos de representação e/ou de índices. BEZERRA (1998) (1998) entende o estudo de caso como a categoria categoria de pesquisa pesquisa que tem  por objeto de estudo uma unidade (empresa), analisada em profundidade para que as circunstâncias específicas e as múltiplas dimensões que se apresentam nesta situação,  possam permitir permitir o entendimento entendimento do todo. todo. A escolha do método na visão do autor se deveu ao fato de que o estudo de caso, embora trate de uma situação situação particular, particular, traz a reboque outros questionamentos questionamentos acerca acerca do objeto em estudo, o que no caso dos carregadores da CEAGESP seria bastante proveitoso. proveitoso. 4.2 Estratégia da Pesquisa Diante do exposto, a falta de rigidez, a diversidade de métodos e técnicas e a sensibilidade do pesquisador nortearam os caminhos da pesquisa e numa abordagem qualitativa e em observação ao pressuposto, a presente pesquisa usou os seguintes  procedimentos:  procedimentos:

63



Levantamento documental - consultas a documentos, jornais, revistas, periódicos e livros,

que permitiram entender a macro-estrutura social e política da CEAGESP. A caracterização do ambiente de trabalho e o perfil sócio-econômico do

grupo em estudo foram

substancialmente substancialmen te facilitados pela leitura de trabalhos técnicos e científicos

realizados

anteriormente. •

Observação participante participante - procurou avaliar avaliar o cotidiano cotidiano dos carregadores carregadores em vários locais

e situações, situações, com o objetivo objetivo de verificar verificar o que é seu o trabalho trabalho e como fazem fazem para desempenhá-lo. desempenhá-lo. Também foram foram coletadas informações com alguns carregadores 50 sobre a atividade de uma maneira geral, suas técnicas, dificuldades e percepções. •

Elaboração do questionário - o questionário semi-estruturado elaborado a partir das

observações resultou em questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses que interessavam interessavam à pesquisa, e que que poderiam oferecer oferecer amplo campo de interrogativas, interrogativas, fruto de novas hipóteses. Esta etapa possibilitou uma apreensão dos problemas no mundo do trabalho, tanto no nível concreto das condições de trabalho como do ponto de vista psicossocial. Proposto ao sindicato, definiu-se a estratégia de abordagem como sendo no espaço físico do SINDCAR e à hora hora de saída da maioria

dos trabalhadores, trabalhadores,

que se dá no período

compreendido entre 10 e 15 horas. •

Aplicação do questionário questionári o - em abordagens individuais

foi apresentado apresentad o de forma

compreensível, o objetivo da pesquisa e apresentado o questionário cujas respostas foram registradas pelo pesquisador. 51 •

Análise dos questionários questionários - procurou compilar compilar as informações em dados que que representados

graficamente, facilitou a compreensão e auxiliou na reflexão e nos objetivos do trabalho. •

Análise dos dados - procurou fazer o somatório das percepções do pesquisador e do grupo

 pesquisado visando delinear delinear um programa básico de proteção aos carregadores que resultasse no início de uma cultura cultura voltada para a segurança e saúde. saúde. 50

As informações foram dadas por carregadores indicados pelo Sindcar, todos com mais de 15 anos de atividade e que na atualidade estão locados em diferentes setores do entreposto.

51

O fato deveu-se a recusa do entrevistado em responder o questionário de forma pessoal e isolada. Acredita-se que o fato da baixa escolaridade dos entrevistados e a sua dificuldade em interpretar as questões favoreceu este  posicionamento.

64

5.

ESTUDO DE CASO: Os Carregadores Carregadores Autônomos

5.1 A amostragem  Na realização de uma pesquisa, o ideal seria que todos os indivíduos dessa população fossem pesquisados. No caso, o número de pessoas envolvidas é alto e essa alternativa não é  possível, já que os custos e o tempo necessários tornariam o trabalho inviável. O processo de amostragem é o instrumento que viabiliza a realização de uma pesquisa de forma barata e rápida, e quando bem feita permite a generalização da informação da amostra para a  população total da qual foi tirada. Uma amostra de indivíduos de uma população deve conter  essencialmente a mesma variação existente na população, para permitir descrições úteis dela. Tendo como princípio básico a seleção aleatória, a amostragem probabilística garante a ausência de vieses conscientes e inconscientes dos pesquisadores e permite estimativas sobre parâmetros populacionais e de erro, se constituindo em um método eficiente para extrair  uma amostra que reflita corretamente a variação existente na população como um todo.  No caso dos carregadores autônomos como foi visto no Capítulo IV, o perfil  predominante é de pessoas com idade entre 26 e 55 anos e com grau de escolaridade escolaridade classificado como ensino fundamental completo. 52 Com estas semelhanças, a idéia seria obter  respostas a partir de indivíduos com variações de idade, compleição física, tempo na atividade, local de trabalho e características características da carga, carga,

para servir servir de parâmetros parâmetros em

subgrupos, porém a primeira dificuldade encontrada foi a indisponibilidade do carregador em responder ao questionário. Argumentando pressa ou falta de interesse 53 a maioria se recusou e aí, o critério de escolha passou a ser a aceitação da proposta em responder o questionário. Outra estratégia utilizada foi a de ir à busca dos carregadores no próprio ambiente de trabalho - o Entreposto. Entreposto. Parece que que o SINDCAR para a maioria representa representa um órgão regulador e taxador que impõe algumas normas e obrigações, como se fosse um “patrão”. Talvez eles não percebam a real missão de um sindicato atuante e representativo e na prática, o sindicato seja apenas o espaço físico onde se inicia e finda a jornada de trabalho.

52

Nas entrevistas realizadas percebeu-se um nível de escolaridade declarado como sendo inferior ao que existe na ficha cadastral e que deu origem ao perfil mencionado. Na maioria das vezes, os entrevistados informaram ter  apenas o antigo primário (4ª série) , completo ou incompleto.]

53

Sempre perguntavam “quanto iriam ganhar”, ou diziam “de outra vez eu respondo”. Foi criado como estímulo, um sorteio de uma cesta de natal entre os participantes da pesquisa e resultou numa pequena evolução

65

5.2 O questionário Elaborado a partir das observações e das percepções do pesquisador, o questionário

54

foi respondido por 38 trabalhadores, cerca de 1,1% do total do grupo em estudo. Este número, aquém do desejado resultou satisfatório quando foi feita a análise das respostas, pois houve uniformidade e assertividade que puderam enfatizar a idéia inicial do trabalho. Criado em grupos grupos de dados, dados, as questões questões apresentadas apresentadas aos carregadores foram foram as seguintes: •

Dados Pessoais

1.1 Escolaridade: 1.2 Estado civil:  1º Grau Incomp.  Casado/união estável  1º Grau Comp.  Solteiro 2º Grau Incomp.  Separado   2º Grau Comp.  Viúvo  Superior  •

1.3 Nº de Filhos ou Dependentes:

1.4 Remuneração(Ceagesp) até 500 500-750 750-1000 1000-1500 mais de 1500

1.5 Idade 1.5 Altura 1.6 Peso 1.7 Origem

Indicadores Gerais de Saúde

2.1 Quantos cigarros você fuma/dia 2.2.Você bebe? Quando: Quanto no período?  Nunca fumei sim fim de semana  menos de 2 doses Parei de fumar. Há Quanto tempo? ___   não 3-4 dias/sem  entre 3-4 doses Fumo menos de 10 cigarros por dia  5-6 dias/sem  entre 5-10 doses Fumo de 10 a 20 cigarros por dia   todos os dias  Mais que 10 doses  Fumo mais que 20 cigarros por dia Uma dose: ½ garrafa de cerveja, 1 copo de vinho ou 1 dose de  Fumo charuto ou cachimbo destilado 2.3. Atividade Física (futebol, caminhada..): Pratica atividade física regularmente?  Sim  Não Quantas vezes por semana? _______

2.4. Atividade de lazer (passeios, cinema, igreja...): Tem uma atividade de lazer freqüentemente?  Sim  Não Quantas vezes por semana? _______ 

2.5. No final da jornada de trabalho como você se sente, a. fisicamente b. mentalmente:  Bem  Bem  Pouco cansado  Pouco cansado  Cansado  Cansado •

Descrição da Atividade

3.1. Qual é o setor que você trabalha? 3.2. Há quanto tempo você trabalha nesta atividade? 54

O questionário na sua formatação original encontra-se no Anexo V

66

3.3. Qual foi a idade que você começou a trabalhar nesta atividade? 3.4 Qual era sua atividade anterior? 3.5 Você tem outra outra atividade fora do seu trabalho trabalho atual? Qual? Qual? ____________  3.6 Qual é o seu horário de trabalho mais comum? _____ Quantas horas/dia(em média)?_______  Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo 3.7 Você tem pausas regulares? Horas para almoço? ______  3.8 Qual é o tipo de carga que levanta com mais frequência? Sacos  Caixas  A granel 3.9 Qual é o peso individual que você costuma costuma carregar? Até 10kg 10-25kg  25-40kg  40-50 kg 3.10 Qual o peso que você costuma carregar no carrinho? Menos de 200Kg 200-400Kg Mais de 400Kg 3.11 Recebeu algum treinamento para manusear as cargas? Técnica?  Segurança? •

Indicadores de Saúde e Segurança no Trabalho

4.1 Você tem alguma doença? medicamentos medicamentos Sabe quantificar? Foi motivo para ir ao médico?  Diabetes sim não glicose ______  sim não  Hipertensão. sim não pressão ______  sim não  Colesterol alto sim não colesterol total _____  sim não 4.2 Você sente dor ou desconforto em alguma região do corpo durante ou depois do trabalho? Qual(s)? ______________  sim não 4.3 A dor nas costas é a mais frequente? frequente? Qual o grau desta desta dor? Você já foi ao médico por este este motivo? sim não fraca média forte sim não 4.4 Você já sofreu algum acidente no trabalho?(inclua os pequenos acidentes) Quantas vezes? sim não 1 2-3 4-5 mais de 5 4.5 Que tipo de acidente você sofreu?Qual foi a causa?Vc relaciona relaciona com a atividade?afastamento? Quantos dias?

4.6 Você acha a sua atividade importante? Como você vê a segurança do trabalho? Dê sugestões.

5.3 As Respostas Informado sobre o anonimato dado às respostas 55 e após a concordância em responder  ao questionário, questionário, o carregador convidado convidado a ficar mais à vontade e se sentar sentar se fosse o caso, ia respondendo as questões e no decorrer da entrevista nitidamente surgia uma descontração e fluíam mais facilmente as respostas, chegando a se tornar um bate papo de valor inestimável  para a pesquisa. pesquisa. Algumas falas e comentários foram

apreendidos pelo autor e

outras foram

transcritas56 de várias pesquisas. Encontram-se Encontram-se apresentadas apresentadas a seguir seguir de forma descritiva descritiva e 55

Procurou-se manter a idéia principal das falas, alterando às vezes as concordâncias no intuito de melhorar a leitura. 56

Manter-se-á o anonimato, apesar de estar nominado no trabalho referenciado.

67

gráfica no sentido de enriquecimento do trabalho apresentado e no intuito de facilitar a compreensão do “mundo” dos carregadores autônomos da CEAGESP. •

Escolaridade, Escolaridade, idade, origem e atividade anterior : ...eu vim da roça, nunca estudei. estudei. Só sei assinar meu nome, meus pais não me obrigavam a estudar. ...comecei a trabalhar aqui com 19 anos e deixei de estudar. Só fiz a 1ª   série do primário. ... estudo não tenho, profissão não tem também. To com 60 anos e vim do  Piauí ainda novo e não sei aonde vou mais não, porque com a idade que eu tenho ninguém quer mais não.

 Nas respostas obtidas, confirmou-se a baixa escolaridade dos carregadores. A maioria não chegou a terminar o antigo primário, sendo causa de incômodo e vergonha. Este deve ser  o principal motivo para a recusa em participar da pesquisa. Eles se sentem cidadãos de segunda classe e a meu ver, a falta de instrução e de informações colaboram para o desinteresse

quanto às às questões questões de segurança segurança e saúde que poderiam ser ser objeto de

reivindicações entre os órgãos envolvidos na atividade. ... às vezes a gente tem que trocar, a mercadoria vem errada, vem outra  fruta diferente. Ele (o patrão) manda devolver. È a hora mais chata de trabalhar porque você fica com medo de ser mandado embora ou o cara mandar a fruta errada de novo, e achar que você não serve pra trabalhar   para ele.

O carregador recebe uma lista do feirante com as quantidades e os produtos que deve  pegar. Ele na maioria das vezes não sabe ler e depende do correto atendimento ao pedido por   parte dos boxes. boxes. Se ele tem prática prática e conhecimento conhecimento 57, ele consegue desempenhar sua atividade a contento.

57

Ter “conhecimento” significa ter contato antigo com os donos e os empregados dos boxes.

68

Escolaridade 100,0% 80,0% 57,9% 60,0% 40,0%

23,7%

15,8%

20,0%

2,6%

0,0%

   )    )   u    i  e    i  e   r   r   r  a   é   é   g    s    ª    ª  s   d  o   4   8   n   à   u    ª    ª  à   1   e  g     5   (    (    S    i  o    i  o   á  r   á  s   m   n    i    i   G    P  r

  s    t  o   e    b    f  a    l   a   A  n

Gráfico 5 – Nível de Escolaridade(2) Escolaridade(2) ... eu vim de Picos no Piauí.. Meu irmão já tava aqui e eu vim aventurar   porque na roça não tem futuro. futuro.

Do grupo entrevistado há uma predominância visível de nordestinos que tinham a agricultura familiar como atividade principal. Os primeiros trabalhadores foram oriundos do Piauí e com o tempo formou-se uma rede, um complexo sistema de apoio aos conterrâneos que terminou por por gerar muitos empregos dentro do Entreposto. Entreposto. Ou seria de subempregos? subempregos?

Atividade Anterior  100,0%

89,5%

80,0% 60,0% 40,0% 20,0%

10,5%

0,0%

   i  a  r    l    i   m    F  a   r  a    t  u    l   u    i  c   r   g    A

  s    t  r  o   u   O

Gráfico 6 – Atividade anterior 

69

...eu vim lá da Cantareira, cheguei aqui com a CEASA, faz 42 anos. Já tô aposentado, mas continuo vindo trabalhar nas terças e sextas. Já carreguei muito peso, botava 600, 700 kg no carrinho. Hoje, to nas flores e lá o  serviço é mais levinho. Quando tem peso, peso, os companheiros ajudam..

A idade média dos entrevistados passa dos 50 anos. Há possibilidade de este dado estar  relacionado relacionad o à disponibilidade disponibilida de em responder as perguntas, pois os mais velhos parecem estar  mais “folgados”, têm menos obrigações e não possuem número considerável de pessoas dependentes da da sua remuneração. Mesmo assim, assim, se observa muitos carregadores carregadores com idade aparente58 entre 50, 60 até 70 anos. Idade 100,0% 80,0% 60,0% 39,5% 40,0% 20,0%

7,9%

10,5%

18,4%

23,7%

0,0%

  o  s   o  s   o  s   o  s   n   n   n   n   a   a   a   a   0   0   0   0   3   4   6       5    2  0   3  1    5  0   4  1

  o  s   n   a   6  0   +

Gráfico 7 – Faixa Etária (2) •

Remuneração e aposentadoria aposentadoria Olha só, vou te falar uma coisa. coisa. Tem gente que tira 2.000 de salário, mas digamos assim, dez por cento. ... se trabalha em uma firma, tem aqueles que tem os chefões, os encarregados. Eles têm um salário mais alto. Aqui é o  seguinte, depende muito da sorte, a pessoa tem um serviço que dá pra tirar  isso aí; Mas tem muitos que fica ali na faixa de 700 a 800. Essa é a média.59

58

Em conversas percebeu-se que a aparência dos carregadores indicava uma idade superior à cronológica, talvez seja consequência do tipo de atividade e da exposição aos raios solares.

59

Relato feito a GOMES (2007)

70

...fiz apenas dois carretos. Tô aqui desde 5:00 horas da manhã e o ganho não dá nem pro gasto. No passado, ganhava-se muito, há dez anos. O  serviço tá pouco, mas a gente sempre leva alguma coisa, devido o conhecimento que a gente tem, é difícil ficar sem fazer nada. ...a gente como autônomo tem uma liberdade, ganha em cima do trabalho. Se eu quiser, o patrão assina a carteira, mas não tem vantagem, a gente  fica preso, se limita a ele. Aí, a gente não pode fazer mais nada, nem um biquinho. Não Não é muito, mas ajuda. ...com o que a gente tem que pagar de taxa pra trabalhar, não sobra para o  INSS. Eu só pago quando tá perto de renovar a carteira carteira e peço a Deus para não adoecer.

A entrevista apontou rendimentos superiores aos existentes em outras pesquisas. Parece que a disponibilidade dos mais antigos em responder ao questionário pode ter  conduzido à inobservância de rendimentos inferiores. Os mais antigos trabalham para  permissionários  permissionários e feirantes certos, certos, como se empregados fossem fossem e assim têm rendimentos rendimentos mais elevados e estáveis. Outros são trabalhadores em situação precária, sem conhecimentos e muitas vezes são subcontratados por carregadores mais experientes e com maior poder de negociação com os “patrões”. Ganhando bem ou não, na percepção percepção dos carregadores trabalhar com carteira carteira assinada não lhes trará mais rendimentos e neste caso, não há porque considerar os benefícios advindos do trabalho formal. Para eles a “liberdade” vale mais e assim podem ter outras atividades que lhes complementará complementará a renda. Apesar Apesar das dificuldades, dificuldades, ser carregador é uma função bastante disputada e ninguém abre mão dela por motivos fúteis. Há quem mantenha o cadastro e pague todas as taxas, mesmo exercendo outras atividades com rendimentos de assalariado. È uma forma de manter o vínculo e garantir a vaga para uma eventual necessidade. A maioria também não contribui regularmente para a Previdência Oficial e como consequência tem-se um contingente de pessoas com idade avançada que continuam trabalhando, seja por não ter a condição de aposentado ou na melhor das hipóteses é aposentado, mas percebe apenas apenas um salário mínimo. mínimo.

71

Remuneração 100,0% 80,0% 60,0% 36,8%

40,0%

36,8%

13,2%

20,0%

5,3%

7,9% 0,0%

   i  s    i  s    i  s    i  s   a   a   a   a   r  e   r  e   r  e   r  e   0   0   0    5  0    5  0   0  0    5  0    7    1   1     0    t  é   a   0  0    5  0    5  0   0    7   1

   i  s   a   r  e   0    5  0   1   +

Gráfico 8 – Remuneração •

Fumo, bebida, cansaço físico e mental Quando questionados sobre os temas acima, os carregadores apresentaram respostas

indicativas de bom estado de saúde. O que causou surpresa foi o bem estar mental dos carregadores e apenas um dos entrevistados termina o seu dia de trabalho com fadiga mental (estresse). Eles colocam toda sua capacidade laboral na força física e na habilidade em desempenhar a atividade e isso para eles torna a tarefa fácil. Também não fumam, pelo menos no momento pois a maioria já deixou de fumar há mais de 10 anos. Quando perguntados sobre consumo de álcool, eles afirmam beber socialmente, apenas nos fins de semana. Informações pessoais 60 indicam um elevado

índice de alcoolismo com trabalhadores trabalhador es

 bebendo no ambiente de trabalho, nas inúmeras barracas que existem dentro do espaço físico da CEAGESP e que o fato é motivo de brigas, mortes e acidentes de trabalho. •

Tempo na atividade e carga horária ...é bem dizer 24 horas aqui dentro da Ceasa e às vezes durmo aqui mesmo em cima do carrinho.

60

Informações passadas pelo Sindcar e pelos próprios carregadores.

72

...passa o dia e o cara nem vê. Chego 4:00 da manhã e fico até 8, 9 horas da noite. Hoje eu só venho nos dias de mais movimento que é segunda, quarta e sexta feira, mas antigamente eu vinha todo dia. ..cheguei em 1980, no tempo das vacas gordas. Naquele tempo não dava  para parar, era 24 horas e não atendia o público que chegava a 75mil   pessoas. Não se andava nas sextas feiras, a marginal parava. Mas aí veio o  supermercado, a produção própria 61 e hoje tem mais carregadores do que  serviço.

 No grupo entrevistado, entrevistado, o tempo médio na atividade foi de 25,6 anos. A representação representação gráfica confirma a inserção inserção do maior maior número de carregadores carregadores no início início dos anos 80 e apresenta também a dificuldade em conseguir uma vaga nos dias atuais. Apesar das dificuldades poucos desistem, mudam de atividade ou retornam às suas origens pois a CEAGESP e o protecionismo do SINDCAR ainda é o caminho para a colocação destes trabalhadores no “precário” mercado de trabalho.

Tempo na Atividade Atividade 100,0% 80,0% 60,0% 36,8%

40,0%

28,9% 21,1%

20,0%

5,3%

7,9% 0,0%

  o  s   n   a   1  0    0

  o  s   n   a   2  0    1  1

  o  s   n   a   3  0    2  1

  o  s   n   a   4  0    3  1

  o  s   a  n   4  0   +

Gráfico 9 - Tempo na Atividade A precarização do trabalho aparece claramente nos depoimentos e na oposição à modernização do setor. 61

A produção própria designa os terminais de compra particulares muito utilizados hoje pelas grandes redes de

supermercados e que contribuiu para a redução da comercialização na CEAGESP.

73

... antes das empilhadeiras a gente tinha mais serviço. Também atrapalha a circulação e dificulta o trabalho da gente, pois os corredores são muito estreitos.

A falta de estrutura da CEAGESP e a mudança de hábitos da população contribuíram  para o deslocamento deslocamento da circulação de alimentos. As dificuldades da vida moderna tiraram do cotidiano as feiras livres e apresentaram as modernidades e as facilidades das compras em supermercados com seus horários ampliados e as facilidades de pagamento. •

Treinamento e carga transportada  Porque para subir essas plataformas com o carrinho tem que fazer uma  força muito grande. Se imagina nessa chuva, pra subir a força que a gente  faz é o dobro da força que você faz em linha reta, o dobro ou o triplo na  subida, tem que pedir ajuda.  No começo era meio difícil, porque não tinha treino, treino, não tinha experiência, aí depois fui aprendendo e peguei prática... os colegas davam umas dicas, davam uma ajuda, explicavam explicavam como é que é [...] aí eu não sabia, aí  quando batia a caixa e caía peixe pra todo lado e machucava a mão, aí foi aprendendo, aí quando fiquei prático....

Dentre os entrevistados, apenas dois carregadores afirmaram ter participado de treinamentos relacionados com a atividade. Quando perguntados sobre o conteúdo, constatouse que eles entenderam entenderam o treinamento treinamento como uma palestra ministrada ministrada pela CEAGESP CEAGESP com o objetivo de divulgar a limitação da carga máxima a ser transportada. Nesta palestra foi explanado os riscos que advêm do excesso de carga e as penalidades impostas para os carregadores desobedientes. Na sua percepção, os carregadores não absorvem as informações e procuram apenas “obedecer a lei” para não ser pego pelos fiscais e ficar sem o carrinho. O carregador iniciante não recebe nenhum treinamento e ainda sofre “booling” 62. Os colegas ficam observando e riem

quando o novato novato empina empina 63 o carrinho, derruba a

carga chegando a perder a mercadoria e tem que pagar para o dono do box. 62

A expressão que vem da língua inglesa é usada para designar atitudes de chacota, piadinhas e agressões entre os indivíduos. 63

É o movimento que o carrinho faz para trás quando é puxado numa rampa, semelhante a um cavalo.

74

Você só aprende com o tempo e no começo carrega menos caixas. Depois vai aumentando mas aí é mais difícil arrumar serviço pois o patrão tem  pressa em descarregar descarregar o caminhão, senão a fruta estraga. estraga. Só empinei uma vez e tava carregado de morango. Levei um prejuízo que  passei dois meses para pagar. Quando você é indicado já tem quem lhe conheça e aí diz com fazer. Primeiro você coloca uma caixa no pé do carrinho que é para apoiar, depois enche. No começo leva 10 caixas, depois de um dia já leva 15 e assim vai até conseguir levar o que a  fiscalização deixa.

De uma maneira geral os carregadores gostariam de colocar mais carga no carrinho  possibilitando  possibilitando um trabalho trabalho mais rápido rápido . (Gráfico 10)

Gráfico 10 - Carga Transportada Eles entendem entendem que ser um bom carregador é também ser honesto (não desviar  desviar  mercadorias) e inteligente inteligente ( entender entender de caixaria, caixaria, saber que fruta é sensível e saber corrigir 64 a mercadoria). O que é um bom carregador? É aquele que o comprador chega, chega, faz a lista e entrega pra ele e ele entrega o caminhão pronto. O freguês não precisa se  preocupar, ele paga as contas contas e vai embora. 65 64

Corrigir a mercadoria significa saber escolher e fazer a troca se necessário.

75

 Nesse sentido sentido há concordância concordância com a descrição descrição sobre o zelo: ingrediente ingrediente necessário necessário à eficácia de uma organização do trabalho. É a engenhosidade, é o exercício da inteligência eficiente no trabalho cujas características podem ser enumeradas como saber lidar com o imprevisto, com o inusitado, com o que não foi ainda assimilado ou rotinizado. (DEJOURS, 2000 apud IGUTI, 2004) 66 •

Doenças: diabetes, hipertensão e dislipidemia O serviço médico oferecido pelo sindicato visa cumprir a exigência do laudo médico a

ser apresentado pelos carregadores anualmente para renovação da sua licença. Para obtenção deste laudo, o carregador se submete a um exame clínico de auscultação e se tiver mais de 45 anos de idade, idade, deve fazer fazer exames complementares complementares (hemograma, dosagens de açúcares e gorduras, sumário de urina, urina, parasitológico parasitológico de fezes e o psa). Não há registros para para efeito de acompanhamento ao longo dos anos que evidenciem um controle ou prevenção das doenças ocupacionais. ocupacionais. Nada que se pareça com um PCMSO. (Gráfico 11)

Doenças 100,0% 80,0% 60,0%

60,5%

40,0% 21,1% 20,0%

10,5%

7,9%

Coleste olesterol rol alto alto

Diabet iabetes es

0,0% Não tem ou não sabe

Hiperte ipertensão nsão

Gráfico 11 - Doenças

65

Relato feito por um permissionário (IGUTI, 2004)

66

DEJOURS, Christophe. A banalização da injustiça social, Ed. FGV, Rio de Janeiro, 2000

76



Doenças Ocupacionais ou Profissionais ...dor? Tenho um pouquinho, mas no dia seguinte acordo novo e acho também que é por causa da idade. Quem não tem dor nas costas? ...antigamente os caixotes eram mais pesados e não tinha a fiscalização. A  gente carregava o que agüentava e cabia no carrinho. A gente era novo e aí  aí  agüentava bem, mas hoje a idade e a coluna coluna não permite mais exageros.

Doença Profissional é a doença contraída em consequência de uma exposição, durante um período de tempo a fatores de riscos decorrentes de uma atividade profissional. Depois de analisar a atividade atividade e os riscos a que estão submetidos submetidos os carregadores, é impossível impossível não relacionar o alto índice de lesões na coluna com a forma de execução da tarefa. O presente estudo e as respostas dos entrevistados confirmaram de forma indubitável a cronicidade das lesões osteo-musculares decorrentes da atividade. (Gráfico 12 )

Gráfico 12 - Dor e/ou Desconforto Ao grupo que afirmou sofrer dor em qualquer parte do corpo, foi questionado sobre qual parte do corpo incidia mais as dores e no caso da coluna gerou mais um questionamento sobre a intensidade da dor . (Gráfico 13 e Gráfico 14)

77

Parte do Corpo- dor durante ou após o trabalho 100,0% 80,0% 65,5% 60,0% 40,0% 20,7% 13,8%

20,0% 0,0% Cos tas

per nas

ombr os

Gráfico 13 - Parte do Corpo com Dor ou desconforto

Dor na Coluna - intensidade 100,0% 80,0% 60,0% 42,1% 40,0% 20,0%

36,8%

21,1%

0,0% Fr ac a

Média

For te

Gráfico 14 - Intensidade da Dor na Coluna •

Riscos, danos à saúde e acidentes de trabalho Entende-se cognição como a capacidade de processar informações, de reagir ao que

 percebemos no mundo e em nós mesmos. Parece que no caso dos carregadores, esta  percepção se limita à estreita relação do trabalho com a sobrevivência e de forma inequívoca, com a liberdade. A grande maioria nunca teve uma relação formal de trabalho e acredita que

78

suas limitações de escolaridade não lhes trariam melhores rendimentos numa atividade mais exigente no sentido do intelecto. Por este motivo, eles se consideram satisfeitos e não conseguem relacionar doenças e lesões à atividade da MMC. ...com o sol na cabeça fica mais difícil porque o pneu do carrinho gruda no asfalto e dificulta o carrego. Quando chove também não é fácil pois os buracos ficam alagados e quando a gente vê, já caiu e aí tem de fazer mais  força para tirar o carrinho carrinho do buraco. ... já vi muito colega cair e ir direto para o hospital. Acho que estava mal  alimentado e o sol na cabeça aumenta a agitação. O sangue ferve, mas a  gente não pode parar porque porque senão perde o emprego. ...o pior são os buracos. O sindicato vive pedindo para tapar, mas a Ceasa não tá nem aí. Ele não se importam com a gente. Se um adoece e se afasta, tem outro tanto de gente para fazer o serviço. ...e os caminhões correm muito, atropelam e matam. Quando você vê é mercadoria para um lado e carregador para o outro. Investigação de acidente? O que é isso? ...se não fosse o clandestino, a gente tinha mais trabalho e ganhava mais. Também não tem cumprimento à tabela e cada um cobra o que quer. A tabela só serve para o sindicato mostrar que está lutando por nós. Mas na  prática ela não existe. ...eles querem que a gente aprenda coisa nova, mas isso não dá dinheiro. Só perde tempo e no fim, outro toma o lugar. O patrão não quer saber se a  gente tem escola. Quer saber se a gente tem força pra fazer o carreto rápido e sem perder a mercadoria.

A Norma Brasileira de Ergonomia não admite o pagamento por produção quando existem riscos à saúde dos trabalhadores, trabalhador es, uma vez que este tipo de pagamento induz o trabalhador trabalhado r

a

ultrapassar

os limites fisiológicos em busca de um maior rendimento

financeiro. Os carregadores, à margem da legislação, estão continuamente expostos a um ritmo excessivo e descompassado de trabalho na busca de manutenção dos seus rendimentos.

79

Esta forma precária de trabalho atinge os carregadores de várias formas, desde os riscos e danos à saúde, às formas de pagamento, à organização do trabalho, à invisibilidade dentre outras. Eles precisam se submeter ao riscos da atividade e não se importarem com as consequências consequências sejam imediatas ou crônicas, pois mais urgente é obter o pão de hoje. ...eles têm que trabalhar com muita agitação, fazer muita coisa ao mesmo tempo. Fazer muita força e aí a pressão sobe. O estado constante de rigidez  muscular também eleva a pressão. 67  ...para quem trabalha com peso vai ter sempre problemas na coluna, nervo ciático, varizes. Se você olhar nas pernas dos carregadores, quase todos têm problemas de varizes. Problemas de joelho, de menisco, porque é muito  peso que se carrega.

A grande maioria dos entrevistados, 79% responderam nunca ter sofrido qualquer  acidente de trabalho mesmo quando explicado pelo autor que o acidente de trabalho não se relaciona necessariamente a afastamentos. Entre os que sofreram qualquer tipo de acidente, apenas 13,3% precisou se afastar das atividades, índices difíceis de encontrar em qualquer  empresa com sistemas de gestão de segurança no trabalho implantadas. È estranho mas compreensível que os carregadores não tenham a noção exata dos riscos a que estão submetidos. Para eles, perdas de produtos, tropeções, quedas, atropelamentos, infartos, derrames, mortes, dores nas costas, varizes e outras tantas lesões não estão relacionadas com a segurança e saúde do trabalhador. A Pirâmide de Bird para eles não deve fazer nenhum sentido. (Figura 13) •

Anseios e Expectativas Ao final dos questionamentos, foi solicitado ao carregador que explanasse abertamente

os anseios e as expectativas relacionados à sua atividade. De forma unânime, a principal reivindicação reivindicaç ão foi o fechamento dos incontáveis buracos existentes no espaço físico do

67

Relato feito A GOMES (2007) pela p ela médica do SINDCAR.

80

Figura 13 - Pirâmide de Bird 68 Entreposto e melhoria na iluminação para os que trabalham no período noturno. Na percepção dos carregadores, as condições físicas de conforto são as mais prementes e fáceis de resolver. Eles estão certos à medida que tais providências só requerem investimentos econômicos e são de fácil aplicação. Um outro anseio se refere ao combate do trabalho clandestino. Estas pessoas, muitos deles empregados de boxes fazendo um “bico”, sem permissão de trabalho, não têm as mesmas obrigações e portanto não cumprem a tabela de preços dos serviços de MMC, gerando uma concorrência concorrênc ia desleal.

Eles se queixam da ineficiência da fiscalização e

argumentam que só existe fiscal para os cadastrados, pois um acordo entre a companhia e o sindicato só permite a atividade por empregados dos boxes na área das docas descarregando as mercadorias que chegam do produtor. È proibida também a MMC para os chapas 69 de caminhão.  Nesta observação há uma enorme incoerência quando se observa que muitos deles já foram clandestinos e na situação de cadastrados trazem parentes e conterrâneos que desempregados encontram na atividade, mesmo irregular, o único meio de sobreviver. As 68

Estudos mais modernos acrescentam, à base da pirâmide de Bird, um outro nível de ocorrência, anterior e muitas vezes, causas potenciais dos incidentes. Seriam ações e procedimentos de pessoas, de tal forma relevantes, que poderiam causar incidentes, iniciando o processo de futuros acidentes. Estas ações foram denominadas comportamentos críticos.

69

Chapa é um carregador de mercadorias de caminhão (CBO).

81

contradições aparecem na passagem de clandestino a regular, pois como clandestino a meta é se tornar regular e depois de regularizado, a luta é contra o clandestino. Estes conflitos estão cada dia mais presente à medida que ocorre a redução da oferta de trabalho, mas coexistem na medida em que a solidariedade é a forma de combater uma situação já vivenciada por muitos dos carregadores. ...você trabalha aqui e aí vem um parente com 17, 18 anos. Serviço aí fora está muito difícil e então você dá uma mãozinha e ele vem ajudar o pessoal, tirar uns trocados. Fica esperando uma vaga que surge surge quando um cadastrado não aparece para renovar a licença e aí se você tem força 70 , você consegue colocar ele legal.

Outra questão abordada refere-se à obrigação em pagar taxas ao sindicato e estar  adimplente com a previdência social. Se não fosse a exigência da CEAGESP, muitos não contribuiriam contribuir iam para o INSS alegando que o rendimento não permite esta despesa que a seu ver, deveria ser paga pela Companhia. ...a gente paga hoje dois reais por mês para bancar remédios e cesta básica em caso de necessidade, mas na hora H quando a gente precisa é um  protocolo para receber. receber.

A modernização do mercado que inexoravelmente terá que vir é um outro questionamento dos carregadores. Eles reclamam das empilhadeiras, dos pallets e reagem muitas vezes de forma violenta na justificativa de defesa do seu ganha-pão. A substituição gradativa do sistema de carga e descarga mecanizada é necessária na política pública de abastecimento abastecimento e segurança alimentar e deve contemplar a capacitação dos carregadores para o exercício de outras atividades. ...é um processo lento, principalmente porque a gente precisa rever a infraestrutura. A infra-estrutura da CEAGESP é do final da década de 60 e está ultrapassada tanto para uso de empilhadeiras como para grandes veículos.

70

Força - neste caso é o conhecimento que se tem com pessoas que têm influência dentro do Sindcar.

82

 Então, enquanto isso não for revisto o processo vai ser lento, mas vai acontecer. Não tem como frear. 71 ...você tem que paletizar porque é loucura o cara ficar batendo caixa por  caixa [...]você leva quinze minutos para descarregar um caminhão enquanto o carregador leva duas horas; quando é embalado a granel, como vem o abacaxi, o carregador gasta seis horas. Isso é loucura, produto  perecível [...]o cara tem uma condição de vida pavorosa, carregam um  peso imenso e isso não é ser exigente. Tem que dar um outro caminho, tem de empurrar a modernização e empurrar a capacitação deles junto. É uma questão de sobrevivência. 72 ...porque os atacadistas têm medo dos carregadores. O carregador é autônomo, é visto como autônomo, ganha como autônomo e põe na justiça contra o atacadista. Ao mesmo tempo, o atacadista é obrigado a usar o carregador por causa do sindicato. Os caras sabem que têm que melhorar, eles não têm nada de burro. O que precisa é de uma decisão de modernizar   para mudar. 73

Diante desta realidade e deste conflito de interesses e necessidades, é que o autor se deparou com a maior dificuldade do trabalho. Como inserir neste caótico cenário, cheio de ambigüidades, qualquer conceito de SST que vise melhorar as condições de trabalho, se no momento a maior conquista dos carregadores seria a permanência na atividade. atividade.

71

Relato feito a GOMES (2007) por Flávio Luis Gedas, chefe da Seção de Economia e Desenvolvimento.

72

Relato feito a GOMES (2007) por Anita Dias Gutierrez, chefe do Centro de Qualidade em Horticultura

73

Id.

83

6. MELHORES CONDIÇÕES DE TRABALHO: RECOMENDAÇÕES Cultura é o conjunto de características humanas que não são são inatas, e que  se criam e se preservam ou aprimoram através da comunicação e cooperação entre indivíduos em sociedade 74

A cultura da segurança compreende comportamento, capacitação, investimentos, manutenção, fiscalização, participação, tecnologia, enfim, uma série de fatores que dependem de ações contínuas e do acúmulo de experiência. Construir uma cultura voltada para SST Saúde e Segurança no Trabalho Trabalho é a etapa mais complicada complicada na implantação implantação de um programa de gestão pois envolve mudanças de hábitos, quebra de paradigmas e requer acima de tudo  persistência pois o processo processo via de regra regra é extremamente extremamente demorado. Dar o primeiro passo passo é fundamental. fundamental. Melhorar Melhorar as condições condições do ambiente ambiente e do exercício do trabalho deve ter como objetivos principais diminuir o custo social com acidentes de trabalho e com as doenças ocupacionais, valorizar a auto estima e proporcionar a melhoria contínua da qualidade de vida dos carregadores. 6.1 Envolvimento O primeiro impasse impasse encontra-se encontra-se na dicotomia dicotomia dos principais principais envolvidos. envolvidos. De um lado, lado, a função pública pública de regulamentação regulamentação do comércio e das normas normas de uso do do espaço de comercialização, e, de outro, a função logística, de realização econômica do comércio atacadista de alimentos e bens complementares. Essas duas dimensões explicariam a  permanência de Centrais de Abastecimento Abastecimento sob a regulação e propriedade pública e as dinâmicas privadas de comércio atacadista, estabelecendo dois eixos de problematização, com dilemas e desafios próprios dessas dimensões, ainda que imbricados em suas conseqüências. Para entender esta dificuldade, algumas informações se fazem necessárias. •

A Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB 75 é a empresa oficial do Governo

Federal, encarregada de gerir as políticas agrícolas e de abastecimento, visando assegurar o

74 75

http://www.geocities.com/RainForest/Canopy/9555/glossario_ambiental.htm http://www.geocities.com/RainForest/C anopy/9555/glossario_ambiental.htm (acesso em 12/01/2009)

CONAB criada por Decreto Presidencial e autorizada pela Lei nº 8.029, de 12 de abril de 1990, tendo iniciado suas atividades em 1º de Janeiro de 1991.

84

atendimento das necessidades básicas da sociedade, preservando e estimulando os mecanismos de mercado. Missão da CONAB: "Contribuir para a regularidade do abastecimento e  garantia de renda ao produtor rural, participando da formulação e execução das políticas agrícola e de abastecimento".

O surgimento da CONAB representou um passo importante na racionalização da estrutura do Governo Federal, pois se originou da fusão de três empresas públicas, a Companhia Brasileira Brasileira de Alimentos, a Companhia de Financiamento Financiamento da Produção Produção e a Companhia Brasileira de Armazenamento que atuavam em áreas distintas e complementares, quais sejam, abastecimento, fomento à produção agrícola e armazenagem, respectivamente. •

A Associação Brasileira das Centrais de Abastecimento - ABRACEN 76 é uma sociedade

civil de direito privado, de âmbito nacional, de duração indeterminada, sem finalidade lucrativa e representa atualmente vinte e oito Centrais de Abastecimento de todo o Brasil. Tem dentre outra atribuições, atribuições, melhorar o desempenho da cadeia produtiva produtiva de abastecimento abastecimento e segurança alimentar, de forma a materializar o resgate da sistematização dos procedimentos operacionais, introduzidos pelo SINAC, nas Centrais de Abastecimento em nível nacional. •

O contexto atual impõe que as Centrais de Abastecimento circunscritas às áreas de locação

e administração do espaço, com ações centradas na cessão de espaço de comercialização, assumam posturas pluralistas e pró-ativas, permeando toda a cadeia produtiva do setor de  produtos hortigranjeiros. hortigranjeiros. Neste sentido foi criado pela Portaria 171 77 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento o PROHORT - Programa Brasileiro de Modernização do Mercado Hortigranjeiro 6.2 O PROHORT - Gestão e Metas  Propiciar o restabelecimento de um Sistema Nacional de Centrais de  Abastecimento com objetivo de remontar um sistema nacional de informações, 76

ABRACEN criada no dia 25 de maio de 1986. Fonte: http://www.abracen.org.br/Lnk01.htm (acesso em 12/01/2009) 77

Publicada no Diário Oficial da União em 28/03/2005

85

 possibilitar a modernização da gestão dos mercados e dos serviços de apoio, levar  tecnologia à produção, estreitar os contatos com as Universidades e ampliar as  funções das Centrais de Abastecimento. Abastecimento. 78

O PROHORT tem como objetivo coordenar ações com vistas à modernização do setor. Entre ao oito oito diretrizes básicas, básicas, três se destacam destacam como relacionadas relacionadas à atividade do do carregador: ...modernizar os processos de gestão técnico-operacional e administrativa das Centrais de Abastecimento; (III) ...Adequar e modernizar a infra-estrutura física, tecnológica e ambiental  das Centrais de Abastecimento; (V) ...ampliar as funções das Centrais de Abastecimento tornando-as áreas  privilegiadas para execução e difusão das Políticas Públicas, especialmente no âmbito da saúde, educação e da segurança alimentar.(VIII)

 Numa análise análise ampla, o PROHORT PROHORT visa colocar colocar as centrais centrais de abastecimento abastecimento dentro dentro do conceito de desenvolviment desenvolvimentoo sustentável e pressupõe interdisciplina interdisciplinaridade, ridade, na medida em que sua evolução nos leva a trabalhar com três macro-temas que compõem o chamado Triple Bottom Line, ou seja, os aspectos ambientais, sociais e econômicos. (Figura 14)

Figura 14 - Modelo de Sustentabilidade (Triple Bottom Line) 78

Política do PROHORT - Fonte: http://minas.ceasa.mg.gov.br/prohort/default.asp (acesso em 12/01/2009)

86

Capitaneado pela CONAB, o PROHORT teve como base uma série de diretrizes feitas à época do SINAC. O resgate de tudo que havia sido planejado entre 1972 e 1988, com algumas adaptações adaptações para a realidade atual deu origem aos princípios princípios do programa 79. Estudos, manuais e procedimentos foram colocados em pauta e lentamente vêm sendo implementados dentro dos princípios básicos de um sistema de gestão baseados no ciclo PDCA. (Figura 15)

Figura 15 - Ciclo do PCDA Com políticas e princípios estruturados de forma a possibilitar as etapas de  planejamento,  planejamento, operação e controle, o programa na sua complexidade complexidade carece de um corpo técnico profundamente conhecedor conhecedo r do assunto. Em janeiro de 2007, a ABRACEN enviou um documento à Presidência da República apresentando a estrutura e abrangência da Associação, se colocando como parceiro para execução do programa e como fruto desta parceria, o  programa passou por adequações e resultou uma nova redação que deve ser analisada e aprovada.80 Enquanto fóruns, discussões e definições estão sendo postas à mesa, algumas mudanças já são percebidas e vários procedimentos e normas estão gradualmente em fase de implantação. Embalagens, rotulagens, padrões de classificação fazem parte da rotina do Entreposto e podem representar o início de um novo modelo para as centrais. Medidas que 79 80

Material disponível em http://minas.ceasa.mg.gov.br/prohort/acervo_tecnico.as http://minas.ceasa.mg.gov.br/prohort/acervo_tecnico.aspp

Proposta apresentada na 17ª reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Hortaliças, realizada no dia 19 de novembro de 2008, na sede do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em Brasília. Fonte: http://www.abracen.org.br (acesso em 12/01/2009)

87

visem melhorar as condições de trabalho e preservar a saúde dos trabalhadores, acredito que ainda não foram foram detalhadas detalhadas e não devem estar nas prioridades do PROHORT. PROHORT. De forma genérica, a única referência diz respeito r espeito a treinamentos para os carregadores. 6.3

PROSSC - Programa de Segurança e Saúde do Carregador 81 A infra-estrutura física ultrapassada do Entreposto é o grande obstáculo para as

condições seguras de trabalho que deveriam ser ofertadas ao enorme contingente de trabalhadores. Atender este requisito está dentro das metas do programa e no caso da CEAGESP, houve estudos para a construção de um novo terminal, dentro de padrões modernos. Definições sobre o assunto são uma incógnita. Iniciar a cultura de SST, SST, capacitar os carregadores e lhes lhes dar a oportunidade oportunidade de exercício da atividade de forma digna está além da complexidade do sistema e pode começar  a partir de princípios básicos. Ignorar que a premissa de cumprimento às normas e leis relacionadas com a segurança e saúde dos trabalhadores não são válidas e inexplicavelmente inexistem dentro de um espaço gerido pelo poder público deve ser um desafio. O autor acredita que a competência do corpo técnico diretamente envolvido e se necessário, a participação de entidades especializadas em SST e Universidades, poderia em  paralelo às mudanças estruturais dar início um programa direcionado considerando que os carregadores registrados ou autônomos, estão submetidos a maiores riscos de danos à saúde e se constituem num num passivo social. A ABRACEN como parceira do PROHORT PROHORT em conjunto com o SESMT - Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho e no caso da CEAGESP, com o apoio e a representatividade do SINDCAR, podem dar o  primeiro passo em direção de uma verdadeira mudança nesta área. Destaca o autor a primeira e básica condição para o sucesso de qualquer programa - o envolvimento das altas direções e a alocação de recursos. Confesso que a observação não foi suficiente e o exíguo período de convivência com os carregadores não permitiram a elaboração de um programa, com todas as variáveis e aspectos relacionados à SST e por isso a seguir estão apenas algumas recomendações fruto da sensibilidade do autor. Algumas objetivam melhorar visivelmente as condições de trabalho, outras esperam nortear a criação de novas atividades que deslocariam os carregadores do  precário mercado de trabalho, onde se inserem atualmente. atualmente. Espera o autor, saber que elas 81

PROSSC é o nome do programa em SST criado pelo autor.

88

foram úteis na análise e reflexão e resultaram em medidas práticas no rigor humano do cumprimento das mais elementares regras de segurança e de responsabilidade social. 6.3.1 Medidas Estruturais (física/ social/ educacional) •

Manutenção adequada das vias de circulação (fechamento de buracos)



Criação de vias definidas definidas de circulação para os carregadores carregadores e veículos (penalidades) (penalidades)



Melhoria da Iluminação



Sinalização



Espaço disponibilizado para cursos de alfabetização e capacitação diversas (parcerias com

entidades especializadas). Programa de incentivos e criação de um banco de mão de obra (intercâmbio com SINE) •

Espaço disponibilizado para implantação de uma cooperativa para processamento de

alimentos (doces, conservas, legumes cortados, etc.) •

Espaço disponibilizado para implantação de uma cooperativa de reciclagem (madeira,

 papelão, plástico) plástico) •

Construção de um restaurante escola nos moldes do restaurante popular (refeições

subsidiadas), subsidiadas) , baseadas no conceito SESI de aproveitamento integral dos alimentos •

Construção de

ambulatório médico e odontológico para atendimento a todos os

trabalhadores (custos tripartites) tripartites) •

Construção de sanitários



Construção de pequenos pequenos núcleos arborizados arborizados com bancos

6.3.2 Medidas de Prevenção (cultura prevencionista) prevencionista) A Cultura de Segurança é o assumir natural de um conjunto de princípios e atitudes, que tem na prevenção um fator determinante e é este aspecto que deve ser evidenciado. Antecipar os acontecimentos previsíveis, e mesmo numa margem razoável, ponderar outros fatores de potencial risco (imprevisíveis) num exercício lógico de probabilidades requer  conhecimentos para a tomada de decisões planejadas. Neste sentido, órgãos institucionais como a FUNDACENTRO poderiam ser de grande valia com o seu conhecimento técnicocientífico para solução de várias questões relativas à atividade, como:

89



Elaborar PPRA



Definir riscos envolvidos na atividade ( elaborar matriz probabilidade probabilidade x gravidade)



Analisar os esforços e os danos à saúde decorrentes da atividade Método NIOSH - ANEXO IV Check List para identificação dos riscos da MMC - ANEXO VI Criar método próprio



Criar ferramentas e indicadores de controle das medidas prevencionistas prevencionistas



Criar fóruns de discussão (nos moldes de uma CIPA)



Elaborar treinamentos específicos para a atividade com linguagem acessível



Difusão visual da cultura prevencionista (placas, sinalização)



Projetar ergonomicamente ergonomicamente o carrinho utilizado na MMC ( materiais, formas)

6.3.3 Medidas Organizacionais Organizacion ais e Administrativas Administrat ivas A enorme capilaridade capilaridade de atividades atividades e empregos gerados direta e indiretamente indiretamente na cadeia de comercialização favorece uma série de deficiências estruturais e compromete a  premente necessidade necessidade de melhoria do sistema logístico e organizacional organizacional da CEAGESP. Medidas administrativas duras podem ser tomadas com o intuito de estabelecer, a médio e longo prazo, a fixação e permanência da atividade do carregador. Estas medidas carecem de uma fiscalização eficiente e de penalidades exeqüíveis. •

Em discordância com o papel protecionista protecionist a do SINDCAR e sem avaliar o impacto da

medida, os postos de trabalho dos carregadores deveriam ser redimensionados, reduzidos de forma gradual visando a utilização integral da força de trabalho dos carregadores. Para minimizar os efeitos negativos, a capacitação e o deslocamento para outras atividades  poderiam ser considerados considerados e estimulado estimulados. s. •

Combate ao trabalho clandestino (melhorar a fiscalização e criar mecanismos mecanismos de controle)



Para o recadastramento anual e continuidade da permissão de trabalho, os carregadores

obrigatoriamente passariam por uma reciclagem, com abordagens sistêmicas das suas funções, dos seus direitos e deveres.

90



De forma idêntica, outras atividades seriam excluídas e redirecionadas de uma forma mais

ordenada permitindo o uso mais racional do espaço físico do Entreposto. Cafezeiras e ambulantes poderiam atuar atuar nos diversos diversos núcleos núcleos de descanso descanso ( ver 6.3.1) 6.3.1) e diminuir o congestionamento de pessoas em circulação, facilitando o trânsito dos carregadores. •

Proibição da venda de bebida alcoólica dentro do espaço físico do Entreposto (potencializa

a ocorrência de acidentes) acidentes) •

Exigência de cumprimento às normas da ANVISA para comercialização de alimentos

(promover cursos para os envolvidos), melhorando a qualidade das refeições consumidas  pelos carregadores. carregadores. •

Combate ao trabalho infantil (já existem grupos ligados ao Ministério Público do Trabalho

elaborando medidas). Esta atividade é ilegal e concorre para a diminuição da oferta de trabalho aos carregadores. •

Combate à prostituição (foi assinado um termo de cooperação entre a Prefeitura de São

Paulo e a CEAGESP em outubro de 2008 e instalado uma base com agentes). Elencar algumas medidas e acreditar que sua aplicação, como num passe de mágica, solucionarão os problemas é uma utopia. A interdisciplinaridade, o enquadramento legislativo e a intervenção governamental são extremamente necessários. Mas a verdadeira mudança nesta área, tem de processar-se ao nível de mentalidades e comportamentos. O trabalhador é  peça-chave e a memória de todos que deram a vida ou ficaram incapacitados deve servir de referência para o empenhamento responsável na redução das sinistralidades, das lesões e doenças profissionais para níveis aceitáveis.

91

7. CONCLUSÕES A precariedade das relações relações de trabalho trabalho são comprovadas. comprovadas. Apenas não define se o carregador queira se estabilizar ou que ao contrário, escolheu a instabilidade. O fato é que esta situação concorre concorre para a inobservância de regras básicas de segurança segurança e daí decorre danos à saúde muitas vezes irreversíveis. irreversíveis. A doença doença ocupacional ocupacional - lombalgia é para os carregadores carregadores a lesão mais freqüente embora, na maioria das vezes, não os leve à incapacitação. Questionados, ficou evidente que 76% dos carregadores sentem dor ou desconforto durante sua atividade e deste grupo cerca de 65% sofrem de dores na região da coluna, caracterizada como média ou forte por 79% do grupo entrevistado . (Figura 16)

mais comuns no exercício exercício da atividade de de MMC Figura 16 - Danos à saúde mais

92

A cognição humana é a capacidade de adaptação a situações absolutamente diferentes em curto espaço de tempo e no caso dos carregadores parece ser o caminho mais curto para o  bem viver. As formas de pagamento, pagamento, a organização do trabalho, trabalho, os riscos à saúde, os danos danos às mercadorias que resultam em prejuízos, a invisibilidade social, enfim, a estreita relação da sobrevivência com o trabalho não lhes aflige e no intuito inconsciente do equilíbrio entre o físico e o mental eles “preferem” entender que à medida que a atividade lhes dá a vida, ela não pode ser responsabilizada pela doença ou pela morte. Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença (OMS). ...ampliar as funções das Centrais de Abastecimento tornando-as áreas  privilegiadas para execução e difusão das Políticas Públicas,especialmente no âmbito da saúde, educação e da segurança alimentar (Objetivo do  PROHORT)

O preceito da OMS e a iniciativa do MAPA descritos respectivamente acima, direcionaram o autor para o conceito mais amplo da Ergonomia, com todas as suas visões, física, cognitiva e organizacional e permitiram as recomendações descritas no capítulo anterior. Tendo em vista o estudo de caso ora apresentado, pode-se concluir concluir que a CEAGESP mesmo carente de estruturas físicas que facilitem facilitem a aplicação de um programa de SST, pode a  partir de discussões discussões entre as partes interessadas, interessadas, iniciar iniciar de forma coordenada coordenada a implantação implantação de Sistema de Gerenciamento de Segurança e Saúde Ocupacional. Este programa deve deve obrigatoriamente obrigatoriamente envolver envolver a atividade dos dos carregadores e lhes apresentar de forma objetiva os benefícios auferidos pela sua implantação. Neste aspecto, sugere-se o envolvimento da alta direção e a designação de responsabilidades no gerenciamento gerenciamen to e acompanhamento do desempenho das ações estabelecidas. Iniciar com metas factíveis, de aplicabilidade fácil e de resultados quase imediatos

é essencial pois a

visibilidade visibilidade pode retornar retornar positivamente positivamente na adoção adoção de novas novas medidas. Investir recursos econômicos em SST é acima de tudo um ato de inteligência racional à medida que diminui o  passivo social social e preserva o bem mais precioso precioso que é a saúde e a vida.

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O trabalho apresentado era no início a busca de um exercício de aplicação dos conhecimentos adquiridos ao longo do curso de Engenharia de Segurança. No intuito de cumprir a exigência acadêmica, o autor procurava ver nos mundo dos carregadores os conceitos básicos, as normas, as técnicas de MMC e tudo que teoricamente se relacionava com a atividade. Surpreendentemente, Surpree ndentemente, o tema é instigante e na sua magnitude trouxe um aprendizado que não se adquire nos bancos de escola ou nos livros. Trouxe lições de vida e de solidariedade, solidarieda de, de resistência e de felicidade. Aí está um bom exemplo.

Trabalhar deve ser um ato normal de realização de cada um, exercitado em  plena segurança e não deve ser, um permanente risco, um desafio ao  perigo, um andar na corda bamba, entre a queda e o abismo, uma entrega ao acaso e ao incerto, como se o perigo e os riscos fossem necessariamente  fatalidades insuperáveis e parceiros inevitáveis do Trabalho. De todo não. O trabalho deve exercer-se com racionalidade, com normalidade, com tudo o que a prevenção e a segurança podem salvaguardar e garantir.(Rui Gonçalves da Silva)82  ESTA É A MISSÃO DO ENGENHEIRO DE SEGURANÇA!

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A Prevenção em Segurança e Saúde no Trabalho: ideias essenciais. Rui Gonçalves da Silva. Fonte: http://www-ilo-mirror.cornell.edu/public/portugue/region/eurpro/lisbon/download/ruisilva.pdf (acesso em 16/01/2009)

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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9. ANEXOS Anexo I - Convenção Nº 127 : PESO MÁXIMO A Conferência Geral da Organização Internacional do Trabalho convocada em Genebra pelo Conselho de Administração do Departamento Internacional do Trabalho, e congregada na dita dit a cidade no dia 7 de  junho de 1967, em sua qüinquagésima primeira reunião; Depois de ter decidido adotar diversas  propostas relativas ao peso máximo da carga que pode ser transportada por um trabalhador, questão que constitui o sexto ponto da ordem do dia da reunião, e depois de ter decidido que ditas propostas revisam a forma de um convênio internacional, adota, com data de vinte e oito de junho de mil novecentos e sessenta e sete, o seguinte Convênio, que poderá ser citado como o Convênio sobre o  peso máximo, 1967. Artigo 1 Para os fins do presente Convênio: a) a expressão transporte manual de carga significa todo transporte onde o peso da carga é totalmente suportado por um trabalhador, incluídos o levantamento e a colocação da carga;  b) a expressão transporte manual e habitual de carga significa toda atividade dedicada de maneira contínua ou essencial ao transporte manual de carga ou toda atividade que normalmente inclua, embora seja de não contínua, o transporte transporte manual de carga; carga; c) a expressão jovem trabalhador significa todo trabalhador menor de 18 anos de idade. Artigo 2 1. O presente Convênio se aplica ao transporte manual e habitual de carga. 2. O presente Convênio se aplica a todos os setores de atividade econômica para os quais o Estado Membro interessado mantenha um sistema de inspeção do trabalho. Artigo 3  Não se deverá exigir nem permitir a um trabalhador o transporte manual de carga cujo peso peso possa comprometer sua saúde ou sua segurança. Artigo 4 Para a aplicação do princípio enunciado no Artigo 3, os Membros levarão em consideração todas as condições em que deva ser executado o trabalho. Artigo 5 Cada Membro tomará as medidas necessárias para que todo trabalhador empregado no transporte manual de carga que não seja seja ligeira receba, antes de iniciar essa tarefa, uma formação satisfatória a respeito dos métodos de trabalho que deva utilizar, a fim de proteger sua saúde e evitar acidentes. Artigo 6 Para limitar ou facilitar o transporte manual de carga deverão utilizar-se na máxima medida em que

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seja possível, meios técnicos apropriados. Artigo 7 1. O emprego de mulheres e jovens trabalhadores no transporte manual de carga que não seja ligeira será limitado. 2. Quando se empregarem mulheres e jovens trabalhadores no transporte manual de carga, o peso máximo desta carga deverá ser consideravelmente inferior ao que se admite para trabalhadores adultos de sexo masculino. Artigo 8 Cada Membro, em consulta com as organizações mais representativas representativas de empregadores empregadores e de trabalhadores interessadas, tomará as medidas necessárias para tornar efetivas as disposições do  presente Convênio, seja por via legislativa ou por qualquer outro método conforme a prática e as condições nacionais. Artigo 9 As ratificações formais do presente Convênio Convênio serão comunicadas, para para seu registro, ao Diretor Geral do Departamento Internacional do Trabalho. Artigo 10 1. Este Convênio obrigará unicamente àqueles Membros da Organização Internacional do Trabalho cujas ratificações tenha registrado o Diretor Geral. 2. Entrará em vigor doze meses meses depois da data em que as ratificações de dois Membros tenham sido registradas pelo Diretor Geral. 3. A partir desse momento, este Convênio entrará em vigor, para cada Membro, doze meses depois da data em que sua ratificação tenha sido registrada. Artigo 11 1. Todo Membro que tenha ratificado este Convênio poderá denunciá-lo à expiração de um período de dez anos, a partir da data em que se tenha posto inicialmente em e m vigor, mediante uma ata comunicada,  para seu registro, ao Diretor Geral do Departamento Internacional Internacional do Trabalho. A denúncia não surtirá surtirá efeito até um ano depois da data em que se tenha registrado. 2. Todo Membro que tenha ratificado este Convênio e que, no prazo de um ano depois da expiração do  período de dez anos mencionado no parágrafo parágrafo precedente, não faça uso do direito de denúncia previsto neste artigo ficará obrigado obrigado durante um novo período período de dez anos, e daí por diante poderá denunciar  denunciar  este Convênio quando da expiração de cada período de dez anos, nas condições previstas neste artigo. Artigo 12 1. O Diretor Geral do Departamento Internacional do Trabalho notificará a todos os Membros da Organização Internacional do Trabalho o registro de quantas ratificações, declarações e denúncias lhe forem comunicadas pelos Membros da Organização. 2. Ao notificar aos Membros da Organização o registro da segunda ratificação que lhe tenha sido comunicada, o Diretor Geral chamará a atenção dos Membros da Organização sobre a data em que

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entrará em vigor o presente Convênio. Artigo 13 O Diretor Geral do Departamento Internacional do Trabalho comunicará ao Secretário Geral das  Nações Unidas, para os efeitos do registro e de conformidade conformidade com o Artigo 102 da Carta das Nações Unidas, uma informação completa sobre todas as ratificações, declarações e atas de denúncia que tenha registrado de acordo com os artigos precedentes. Artigo 14 Cada vez que o considerar necessário, o Conselho de Administração do Departamento Internacional do Trabalho apresentará à Conferência um relatório sobre a aplicação do Convênio e considerará a conveniência de incluir na ordem do dia da Conferência a questão de sua revisão total ou parcial. Artigo 15 1. No caso que a Conferência adote um novo convênio que implique numa revisão total ou parcial do  presente, e a menos que o novo convênio convênio contenha disposições em contrário: contrário: a) a ratificação, por um Membro, do novo convênio revisor implicará, ipso jure, na denúncia imediata deste Convênio, independente das disposições contidas no Artigo 11, sempre que o novo convênio revisor tenha entrado em vigor;  b) a partir da data em que entre em vigor o novo convênio revisor, revisor, o presente Convênio cessará cessará de estar aberto à ratificação pelos Membros. 2. Este Convênio continuará em vigor em todo caso em sua forma e conteúdo atuais, para os Membros que o tenham ratificado e não ratifiquem o convênio revisor. Artigo 16 As versões inglesa e francesa do texto deste Convênio são igualmente autênticas Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego - MTE http://www.mte.gov.br/legislacao/convencoes (acesso em 24/11/2008)

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Anexo II - NR 11 (Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais) Publicação D.O.U. Portaria GM n.º 3.214, de 08 de junho de 1978 06/07/78 Alterações/Atualizações D.O.U. Portaria SIT n.º 56, de 17 de julho de 2003 06/07/03 Portaria SIT n.º 82, de 01 de junho de 2004 02/06/04 11.1 Normas de segurança para operação de elevadores, guindastes, transportadores industriais e máquinas transportadoras. 11.1.1 Os poços de elevadores e monta-cargas deverão ser cercados, solidamente, em toda sua altura, exceto as portas ou cancelas necessárias nos pavimentos. 11.1.2 Quando a cabina do elevador não estiver ao nível do pavimento, a abertura deverá estar   protegida por corrimão ou outros dispositivos dispositivos convenientes. 11.1.3 Os equipamentos utilizados na movimentação de materiais, tais como ascensores, elevadores de carga, guindastes, monta-carga, pontes-rolantes, talhas, empilhadeiras, guinchos, esteiras-rolantes, transportadores de diferentes tipos, serão calculados e construídos demaneira que ofereçam as necessárias garantias de resistência e segurança e conservados em perfeitas condições de trabalho. 11.1.3.1 Especial atenção será dada aos cabos de aço, cordas, correntes, roldanas e ganchos que deverão ser inspecionados, permanentemente, substituindo-se as suas partes defeituosas. 11.1.3.2 Em todo o equipamento será indicado, em lugar visível, a carga máxima de trabalho  permitida. 11.1.3.3 Para os equipamentos destinados à movimentação do pessoal serão exigidas condições especiais de segurança. 11.1.4 Os carros manuais para transporte devem possuir protetores das mãos. 11.1.5 Nos equipamentos de transporte, com força motriz própria, o operador deverá receber  treinamento específico, dado pela empresa, que o habilitará nessa função. 11.1.6 Os operadores de equipamentos de transporte motorizado deverão ser habilitados e só poderão dirigir se durante o horário de trabalho portarem um cartão de identificação, com o nome e fotografia, em lugar visível. 11.1.6.1 O cartão terá a validade de 1 (um) ano, salvo imprevisto, e, para a revalidação, o empregado deverá passar por exame de saúde completo, por conta do empregador. 11.1.7 Os equipamentos de transporte motorizados deverão possuir sinal de advertência sonora (buzina). 11.1.8 Todos os transportadores industriais serão permanentemente inspecionados e as peças defeituosas, ou que apresentem deficiências, deverão ser imediatamente i mediatamente substituídas.

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11.1.9 Nos locais fechados ou pouco ventilados, a emissão de gases tóxicos, por máquinas transportadoras, deverá ser controlada para evitar concentrações, no ambiente de trabalho, acima dos limites permissíveis. 11.1.10 Em locais fechados e sem ventilação, é proibida a utilização de máquinas transportadoras, movidas a motores de combustão interna, salvo se providas de dispositivos neutralizadores adequados. 11.2 Normas de segurança do trabalho em atividades de transporte de sacas. 11.2.1 Denomina-se, para fins de aplicação da presente regulamentação a expressão "Transporte manual de sacos" toda atividade realizada de maneira contínua ou descontínua, essencial ao transporte manual de sacos, na qual o peso da carga é suportado, integralmente, por um só trabalhador, compreendendo também o levantamento e sua deposição. 11.2.2 Fica estabelecida a distância máxima de 60,00m (sessenta metros) para o transporte manual de um saco. 11.2.2.1 Além do limite previsto nesta norma, o transporte de carga deverá ser realizado mediante impulsão de vagonetes, carros, carretas, carros de mão apropriados, ou qualquer tipo de tração mecanizada. 11.2.3 É vedado o transporte manual de sacos, através de pranchas, sobre vãos superiores a 1,00m (um metro) ou mais de extensão. 11.2.3.1 As pranchas de que trata o item 11.2.3 deverão ter a largura mínima de 0,50m (cinqüenta centímetros). 11.2.4 Na operação manual de carga e descarga de sacos, em caminhão ou vagão, o trabalhador terá o auxílio de ajudante. 11.2.5 As pilhas de sacos, nos armazéns, devem ter altura máxima limitada ao nível de resistência do  piso, à forma e resistência dos materiais de embalagem e mbalagem e à estabilidade, baseada na geometria, tipo de amarração e inclinação das pilhas. (Alterado pela Portaria SIT n.º 82, de 01 de junho de 2004) 11.2.6 (Revogado pela Portaria SIT n.º 82, de 01 de junho de 2004) 11.2.7 No processo mecanizado de empilhamento, aconselha-se o uso de esteiras-rolantes, dadas ou empilhadeiras. 11.2.8 Quando não for possível o emprego de processo mecanizado, admite-se o processo manual, mediante a utilização de escada removível de madeira, com as seguintes características: a) lance único de degraus com acesso a um patamar final;  b) a largura mínima de 1,00m (um metro), apresentando o patamar as dimensões mínimas de 1,00m x 1,00m (um metro x um metro) e a altura máxima, em relação ao solo, de 2,25m (dois metros e vinte e cinco centímetros); c) deverá ser guardada proporção conveniente entre o piso e o espelho dos degraus, não podendo o espelho ter altura superior a 0,15m (quinze centímetros), nem o piso largura inferior a 0,25m (vinte e cinco centímetros);

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d) deverá ser reforçada, lateral e verticalmente, por meio de estrutura metálica ou de madeira que assegure sua estabilidade; e) deverá possuir, lateralmente, um corrimão ou guarda-corpo na altura de 1,00m (um metro) em toda a extensão; f) perfeitas condições de estabilidade e segurança, sendo substituída imediatamente a que apresente qualquer defeito. 11.2.9 O piso do armazém deverá ser constituído de material não escorregadio, sem aspereza, utilizando-se, de preferência, o mastique asfáltico, e mantido em perfeito estado de conservação. 11.2.10 Deve ser evitado o transporte manual de sacos em pisos escorregadios ou molhados. 11.2.11 A empresa deverá providenciar cobertura apropriada dos locais de carga e descarga da sacaria. 11.3 Armazenamento de materiais. 11.3.1 O peso do material armazenado não poderá exceder a capacidade de carga calculada para o  piso. 11.3.2 O material armazenado deverá ser disposto de forma a evitar a obstrução de portas, equipamentos contra incêndio, saídas de emergências, etc. 11.3.3. Material empilhado deverá ficar afastado das estruturas laterais do prédio a uma distância de  pelo menos 0,50m (cinqüenta centímetros). centímetros). 11.3.4 A disposição da carga não deverá dificultar o trânsito, a iluminação, e o acesso às saídas de emergência. 11.3.5 O armazenamento deverá obedecer aos requisitos de segurança especiais a cada tipo de material. 11.4 Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Chapas de Mármore, Granito e outras rochas. (Acrescentado pela Portaria SIT n.º 56, de 17 de setembro de 2003) 11.4.1 A movimentação, armazenagem e manuseio de chapas de mármore, granito e outras rochas deve obedecer ao disposto no Regulamento Técnico de Procedimentos constante no Anexo I desta NR. (Acrescentado pela Portaria SIT n.º 56, de 17 de setembro de 2003) Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego - MTE http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras (acesso em 24/11/2008)

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Anexo III - NR 17 ( Ergonomia / 117.000-7 ) 17.1. Esta Norma Regulamentadora visa a estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar  um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. 17.1.1. As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho, e à própria organização do trabalho. 17.1.2. Para avaliar a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, cabe ao empregador realizar a análise ergonômica do trabalho, devendo a mesma abordar, no mínimo, as condições de trabalho, conforme estabelecido nesta Norma Regulamentadora. 17.2. Levantamento, transporte e descarga individual de materiais. 17.2.1. Para efeito desta Norma Regulamentadora: 17.2.1.1. Transporte manual de cargas designa todo transporte no qual o peso da carga é suportado inteiramente por um só trabalhador, compreendendo o levantamento e a deposição da carga. 17.2.1.2. Transporte manual regular de cargas designa toda atividade realizada de maneira contínua ou que inclua, mesmo de forma descontínua, o transporte manual de cargas. 17.2.1.3. Trabalhador jovem designa todo trabalhador com idade inferior a 18 (dezoito) anos e maior  de 14 (quatorze) anos. 17.2.2. Não deverá ser exigido nem admitido o transporte manual de cargas, por um trabalhador cujo  peso seja suscetível de comprometer sua saúde ou sua segurança. (117.001-5 (117.001-5  / I1)  / I1) 17.2.3. Todo trabalhador designado para o transporte manual regular de cargas, que não as leves, deve receber treinamento ou instruções satisfatórias quanto aos métodos de trabalho que deverá utilizar, com vistas a salvaguardar sua saúde e prevenir acidentes. (117.002-3 / I2) 17.2.4. Com vistas a limitar ou facilitar o transporte manual de cargas, deverão ser usados meios técnicos apropriados. 17.2.5. Quando mulheres e trabalhadores jovens forem designados para o transporte manual de cargas, o peso máximo destas cargas deverá ser nitidamente inferior àquele admitido para os homens, para não comprometer a sua saúde ou a sua segurança. (117.003-1 / I1) 17.2.6. O transporte e a descarga de materiais feitos por impulsâo ou tração de vagonetes sobre trilhos, carros de mão ou qualquer outro aparelho mecânico deverão ser executados de forma que o esforço físico realizado pelo trabalhador seja compatível com sua capacidade de força e não comprometa a sua saúde ou a sua segurança. (117.004-0 / 11) 17.2.7. O trabalho de levantamento de material feito com equipamento mecânico de ação manual deverá ser executado de forma que o esforço físico realizado pelo trabalhador seja compatível com sua capacidade de força e não comprometa a sua saúde ou a sua segurança. (117.005-8 / 11)

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17.3. Mobiliário dos postos de trabalho. 17.3.1. Sempre que o trabalho puder ser executado na posição sentada, o posto de trabalho deve ser   planejado ou adaptado para esta posição. (117.006-6 (117.006-6 / I1) 17.3.2. Para trabalho manual sentado ou que tenha de ser feito em pé, as bancadas, mesas, escrivaninhas e os painéis devem proporcionar ao trabalhador condições de boa postura, visualização e operação e devem atender aos seguintes requisitos mínimos: a) ter altura e características da superfície de trabalho compatíveis com o tipo de atividade, com a distância requerida dos olhos ao campo de trabalho e com a altura do assento; (117.007-4 / I2)  b) ter área de trabalho de fácil alcance e visualização pelo trabalhador; (117.008-2 (117.008-2 / I2) c) ter características dimensionais que possibilitem posicionamento e movimentação adequados dos segmentos corporais. (117.009-0 / I2) 17.3.2.1. Para trabalho que necessite também da utilização dos pés, além dos requisitos estabelecidos no subitem 17.3.2, os pedais e demais comandos para acionamento pelos pés devem ter   posicionamento e dimensões que possibilitem fácil alcance, bem como ângulos adequados entre as diversas partes do corpo do trabalhador, em função das características e peculiaridades do trabalho a ser executado. (117.010-4 / I2) / I2) 17.3.3. Os assentos utilizados nos postos de trabalho devem atender aos seguintes requisitos mínimos de conforto: a) altura ajustável à estatura do trabalhador e à natureza da função exercida; (117.011-2  / I1)  / I1)  b) características de pouca ou nenhuma conformação conformação na base do assento; (117.012-0 (117.012-0 / I1) c) borda frontal arredondada; (117.013-9 / I1) / I1) d) encosto com forma levemente adaptada ao corpo para proteção da região lombar. (117.014-7 / Il) 17.3.4. Para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados sentados, a partir da análise ergonômica do trabalho, poderá ser exigido suporte para os pés, que se adapte ao comprimento da  perna do trabalhador. (117.015-5 / I1) 17.3.5. Para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados de pé, devem ser colocados assentos para descanso em locais em que possam ser utilizados por todos os trabalhadores durante as  pausas. (117.016-3 / I2) / I2) 17.4. Equipamentos dos postos de trabalho. 17.4.1. Todos os equipamentos que compõem um posto de trabalho devem estar adequados às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado. 17.4.2. Nas atividades que envolvam leitura de documentos para digitação, datilografia ou mecanografia deve: a) ser fornecido suporte adequado para documentos que possa ser ajustado proporcionando boa  postura, visualização e operação, evitando movimentação freqüente do pescoço e fadiga visual; (117.017-1 / I1)

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 b) ser utilizado documento de fácil legibilidade sempre que possível, sendo vedada a utilização do  papel brilhante, ou de qualquer outro tipo que provoque provoque ofuscamento. (117.018-0 / I1) / I1) 17.4.3. Os equipamentos utilizados no processamento eletrônico de dados com terminais de vídeo devem observar o seguinte: a) condições de mobilidade suficientes para permitir o ajuste da tela do equipamento à iluminação do ambiente, protegendo-a contra reflexos, e proporcionar corretos ângulos de visibilidade ao trabalhador; (117.019-8 / I2)  b) o teclado deve ser independente e ter mobilidade, permitindo ao trabalhador ajustá-lo de acordo com as tarefas a serem executadas; (117.020-1 / I2) c) a tela, o teclado e o suporte para documentos devem ser colocados de maneira que as distâncias olho-tela, olhoteclado e olho-documento sejam aproximadamente iguais; (117.021-0 / I2) d) serem posicionados em superfícies de trabalho com altura ajustável. (117.022-8 / I2) 17.4.3.1. Quando os equipamentos de processamento eletrônico de dados com terminais de vídeo forem utilizados eventualmente poderão ser dispensadas as exigências previstas no subitem 17.4.3, observada a natureza das tarefas executadas e levando-se em conta a análise ergonômica do trabalho. 17.5. Condições ambientais de trabalho. 17.5.1. As condições ambientais de trabalho devem estar adequadas às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado. 17.5.2. Nos locais de trabalho onde são executadas atividades que exijam solicitação intelectual e atenção constantes, tais como: salas de controle, laboratórios, escritórios, salas de desenvolvimento ou análise de projetos, dentre outros, são recomendadas as seguintes condiçôes de conforto: a) níveis de ruído de acordo com o estabelecido na NBR 10152, norma brasileira registrada no INMETRO; (117.023-6 / I2)  b) índice de temperatura efetiva entre 20oC (vinte) e 23oC (vinte e três graus centígrados); (117.024-4 / I2) c) velocidade do ar não superior a 0,75m/s; (117.025-2 / I2) d) umidade relativa do ar não inferior a 40 (quarenta) por cento. (117.026-0 / I2) 17.5.2.1. Para as atividades que possuam as características definidas no subitem 17.5.2, mas não apresentam equivalência ou correlação com aquelas relacionadas na NBR 10152, o nível de ruído aceitável para efeito de conforto será de até 65 dB (A) e a curva de avaliação de ruído (NC) de valor  não superior a 60 dB. 17.5.2.2. Os parâmetros previstos no subitem 17.5.2 devem ser medidos nos postos de trabalho, sendo os níveis de ruído determinados próximos à zona auditiva e as demais variáveis na altura do tórax do trabalhador. 17.5.3. Em todos os locais de trabalho deve haver iluminação adequada, natural ou artificial, geral ou suplementar, apropriada à natureza da atividade.

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17.5.3.1. A iluminaçâo geral deve ser uniformemente distribuída e difusa. 17.5.3.2. A iluminação geral ou suplementar deve ser projetada e instalada de forma a evitar  ofuscamento, reflexos incômodos, sombras e contrastes excessivos. 17.5.3.3. Os níveis mínimos de iluminamento a serem observados nos locais de trabalho são os valores de iluminâncias estabelecidos na NBR 5413, norma brasileira registrada no INMETRO. (117.027-9 / I2) 17.5.3.4. A medição dos níveis de iluminamento previstos no subitem 17.5.3.3 deve ser feita no campo de trabalho onde se realiza a tarefa visual, utilizando-se de luxímetro com fotocélula corrigida para a sensibilidade do olho humano e em função do ângulo de incidência. (117.028-7 / I2) 17.5.3.5. Quando não puder ser definido o campo de trabalho previsto no subitem 17.5.3.4, este será um plano horizontal a 0,75m (setenta e cinco centímetros) do piso. 17.6. Organização do trabalho. 17.6.1. A organização do trabalho deve ser adequada às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado. 17.6.2. A organização do trabalho, para efeito desta NR, deve levar em consideração, no mínimo: a) as normas de produção;  b) o modo operatório; c) a exigência de tempo; d) a determinação do conteúdo de tempo; e) o ritmo de trabalho; f) o conteúdo das tarefas. 17.6.3. Nas atividades que exijam sobrecarga muscular estática ou dinâmica do pescoço, ombros, dorso e membros superiores e inferiores, e a partir da análise ergonômica do trabalho, deve ser  observado o seguinte:  para efeito de remuneração e vantagens de qualquer  qualquer  espécie deve levar em consideração as repercussões sobre a saúde dos trabalhadores; (117.029-5 / I3)  b) devem ser incluídas pausas para para descanso; (117.030-9 / I3) / I3) c) quando do retorno do trabalho, após qualquer tipo de afastamento igual ou superior a 15 (quinze) dias, a exigência de produção deverá permitir um retorno gradativo aos níveis de produção vigentes na época anterior ao afastamento. (117.031-7  / I3)  / I3) 17.6.4. Nas atividades de processamento eletrônico de dados, deve-se, salvo o disposto em convenções e acordos coletivos de trabalho, observar o seguinte: a) o empregador não deve promover qualquer sistema de avaliação dos trabalhadores envolvidos nas atividades de digitação, baseado no número individual de toques sobre o teclado, inclusive o automatizado, para efeito de remuneração e vantagens de qualquer espécie; (117.032-5)

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 b) o número máximo de toques reais exigidos pelo empregador não deve ser superior superior a 8 (oito) mil por  hora trabalhada, sendo considerado toque real, para efeito desta NR, cada movimento de pressão sobre o teclado; (117.033-3 / I3) / I3) c) o tempo efetivo de trabalho de entrada de dados não deve exceder o limite máximo de 5 (cinco) horas, sendo que, no período de tempo restante da jornada, o trabalhador poderá exercer outras atividades, observado o disposto no art. 468 da Consolidação das Leis do Trabalho, desde que não exijam movimentos repetitivos, nem esforço visual; (117.034-1 / I3) / I3) d) nas atividades de entrada de dados deve haver, no mínimo, uma pausa de 10 (dez) minutos para cada 50 (cinqüenta) minutos trabalhados, não deduzidos da jornada normal de trabalho; (117.035-0 / I3) e) quando do retorno ao trabalho, após qualquer tipo de afastamento igual ou superior a 15 (quinze) dias, a exigência de produção em relação ao número de tóques deverá ser iniciado em níveis inferiores do máximo estabelecido na alínea "b" e ser ampliada progressivamente. (117.036-8 / I3) / I3) Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego - MTE http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras (acesso em 24/11/2008)

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ANEXO IV - EQUAÇÃO DO NIOSH PARA LEVANTAMENTO MANUAL DE CARGAS O objetivo desta Nota Técnica é a difusão da equação do NIOSH (National Institute for Occupational Safety and Health, USA) para sua aplicação prática e para o cálculo do peso máximo recomendado na manipulação manual de cargas, podendo-se, assim, redesenhar o posto de trabalho e evitar o risco de sofrer de lombalgia devido à manipulação de cargas.

INTRODUÇÃO A manipulação e o levantamento de cargas são as principais causas de lombalgia. Estas podem aparecer por sobreesforço ou como resultado de esforços repetitivos. Outros fatores como empurrar ou  puxar cargas, as posturas inadequadas e forçadas ou as vibrações estão diretamente relacionados com o aparecimento deste distúrbio. O National Institute for Occupational Safety and Health – NIOSH desenvolveu em 1981 (NIOSH, 1981) uma equação para avaliar a manipulação de cargas no trabalho. Sua intenção era criar uma ferramenta para poder identificar os riscos de lombalgia associados à carga física a que estava submetido o trabalhador e recomendar um limite de peso adequado para cada tarefa em questão, de maneira que uma determinada percentagem da população – a ser fixada pelo usuário da equação – pudesse realizar a tarefa sem risco elevado de desenvolver lombalgia. Em 1991, a equação foi revista e novos fatores foram introduzidos: a manipulação assimétrica de cargas, a duração da tarefa, a freqüência dos levantamentos e a qualidade da pega. Além disso, discutiram-se as limitações da equação e o uso de um índice para a identificação de riscos. Tanto a equação de 1981 como a sua versão modificada em 1991 foram elaboradas levando-se em conta três critérios: o biomecânico, que limita o estresse na região lombo-sacra, que é o mais importante em levantamentos pouco freqüentes que, porém, requerem um sobreesforço; o critério fisiológico, que limita o estresse metabólico e a fadiga associada a tarefas de caráter repetitivo; e o critério psicofísico, que limita a carga baseando-se na percepção que o trabalhador tem da sua própria capacidade, aplicável a todo tipo de tarefa, exceto àquelas em que a freqüência de levantamento é elevada (mais de seis levantamentos por minuto). A revisão da equação, realizada pelo comitê do  NIOSH no ano de 1994, ( WATERS, T. PUTZANDERSON, V.; GARG, A.; FINE, L. 1993 e 1994) completa a descrição do método e as limitações de sua aplicação (ver tabela 1). De acordo com esta última revisão, a equação NIOSH para o levantamento de cargas determina o limite de peso recomendado (LPR), a partir do quociente de sete fatores, que serão explicados mais adiante, sendo o índice de risco associado ao levantamento, o quociente entre o peso da carga levantada e o limite de  peso recomendado para essas condições condições concretas de levantamento.

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CRITÉRIOS: os critérios para estabelecer os limites de carga são de caráter biomecânico, fisiológico e psicofísico.

CRITÉRIO BIOMECÂNICO Ao manejar uma carga pesada ou ao fazê-lo incorretamente, aparecem uns momentos mecânicos na zona da coluna vertebral – concretamente na união dos segmentos vertebrais L5/S1 – que causam um considerável estresse na região lombar. Das forças de compressão, torção e cisalhamento que aparecem, considera-se a compressão do disco L5/S1 como a principal causa de risco de lombalgia. Através de modelos biomecânicos, e usando dados recolhidos em estudos sobre a resistência de tais vértebras, chegou-se a considerar uma força de 3,4kN como força-limite de compressão para o aparecimento do risco de lombalgia.

CRITÉRIO FISIOLÓGICO Ainda que se disponha de poucos dados empíricos que demonstrem que a fadiga aumenta o risco de danos músculo-esqueléticos, é reconhecido que as tarefas com levantamentos repetitivos podem facilmente exceder as capacidades normais de energia do trabalhador, provocando uma diminuição  prematura de sua resistência e um aumento da probabilidade de lesão. O comitê do NIOSH em 1991 compilou alguns limites da capacidade aeróbica máxima para o cálculo do gasto energético, que são os seguintes: •

Em levantamentos repetitivos, 9,5Kcal/min será a capacidade aeróbica máxima de levantamento.



Em levantamentos que requeiram erguer os braços acima de 75cm, não se superarão os 70% da

capacidade aeróbica máxima. •

 Não se superarão os 50%, 40% e 30% da capacidade aeróbica máxima ao calcular o gasto

energético das tarefas de duração de 1 hora, de 1 a 2 horas e de 2 a 8 horas, respectivamente.

CRITÉRIO PSICOFÍSICO O critério psicofísico se baseia em dado sobre a resistência e a capacidade dos trabalhadores que manipulam cargas com diferentes freqüências e durações. durações. Baseia-se no limite de peso aceitável para

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uma pessoa trabalhando em condições determinadas e integra o critério biomecânico e o fisiológico,  porém tende a sobreestimar a capacidade dos trabalhadores para tarefas repetitivas de duração  prolongada.

COMPONENTES DA EQUAÇÃO : Antes de começar a definir os fatores da equação, deve-se definir o que se entende por localização-padrão de levantamento. Trata-se de uma u ma referência no espaço tridimensional para avaliar a postura de levantamento. A distância vertical da pega da carga ao solo é de 75cm e a distância horizontal da pega ao ponto médio entre os tornozelos é de 25cm. Qualquer  desvio em relação a esta referência implica um afastamento das condições ideais de levantamento (ver  Figura 1).

ESTABELECIMENTO DA CONSTANTE DE CARGA: a constante de carga (LC, load constant ) é o peso máximo recomendado recomendado para um levantamento desde desde que a localização-padrão e em condições ótimas, quer dizer, em posição sagital (sem torções do dorso nem posturas assimétricas), fazendo um levantamento ocasional, com uma boa pega da carga e levantando a carga a menos de 25cm. O valor  da constante foi fixado em 23kg. O estabelecimento do valor desta constante levou em conta critérios  biomecânicos e fisiológicos. O levantamento de uma carga igual ao valor da constante de carga em condições ideais seria realizado por 75% da população feminina feminina e por 90% da masculina, de maneira maneira tal que a força de compressão no disco L5/S1, produzida pelo levantamento, não supere os 3,4kN.

OBTENÇÃO DOS COEFICIENTES DA EQUAÇÃO: A equação emprega seis coeficientes que  podem variar entre 0 e 1, segundo as condições em que se dá o levantamento. O caráter multiplicativo da equação faz com que o valorlimite de peso recomendado vá diminuindo à medida que nos afastamos das condições ótimas de levantamento.

FATOR DE DISTÂNCIA HORIZONTE, HM (HORIZONTAL MULTIPLIER) Estudos biomecânicos e psicofísicos indicam que a força de compressão no disco aumenta  proporcionalmente à distância entre a carga e a coluna. coluna. O estresse por compressão (axial) que aparece

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na zona lombar está, portanto, diretamente relacionado a esta distância horizontal (H em cm) que se define como a distância horizontal entre a projeção sobre o solo do ponto médio entre as pegas da carga e a projeção do ponto médio entre os tornozelos. Caso H não possa ser medido, pode-se obter  um valor aproximado mediante a equação: H = 20 + w/2 se V > 25cm H = 25 + w/2 se V < 25cm onde: W é a extensão da carga no plano sagital V a altura das mãos em relação ao solo. O fator de distância horizontal (HM) (HM) determinadetermina- se como se segue:

HM = 25/H

São mais penalizados os levantamentos nos quais o centro de gravidade da carga está separado do corpo. Se a carga é levantada junto ao corpo ou a menos de 25cm do mesmo, o fator toma o valor 1. Considera-se que H > 63cm dará lugar a um levantamento com perda de equilíbrio, pelo que se fixará HM = 0 (o limite de peso recomendado será igual a zero).

FATOR DE ALTURA, VM (VERTICAL MULTIPLIER) São penalizados os levantamentos nos quais as cargas devem ser apanhadas em posição muito baixa ou demasiadamente elevada. O comitê do NIOSH estabeleceu em 22,5% a diminuição do  peso em relação à constante de carga para o levantamento até o nível dos ombros e para o levantamento a partir do nível do solo. Este fator valerá 1 quando a carga estiver situada a 75cm do solo e diminuirá à medida que nos distanciemos desse valor. Determina- se: VM = (1 – 0,003 0,003 [V – 75]) onde: V é a distância vertical entre o ponto de pega e o solo. Se V > 175cm, tomaremos VM = 0.

FATOR DE DESLOCAMENTO VERTICAL, DM (DISTANCE MULTIPLIER) Refere-se à diferença entre a altura inicial e final da carga. O comitê estabeleceu em 15% a diminuição na carga quando o deslocamento se der desde o solo até além da altura dos ombros. Determina- se: DM = (0,82 + 4,5/D) D = V1 – V2

onde: V1 é a altura da carga em relação ao solo na origem do movimento V2 a altura ao final do mesmo.

Quando D < 25cm, manteremos DM = 1, valor que irá diminuindo à medida que aumenta a distância de deslocamento cujo valor máximo aceitável se considera 175cm.

FATOR DE ASSIMETRIA, AM (ASYMETRIC MULTIPLIER) Considera-se como assimétrico um movimento que começa ou termina fora do plano médio-sagital, como mostra a Figura 2. Este movimento deverá ser evitado sempre que possível. O ângulo de giro

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(A) deverá ser medido na origem do movimento e se a tarefa requerer um controle significativo da carga, isto é, se o trabalhador tiver de colocar a carga de uma forma determinada em seu ponto de destino, também deverá ser medido o ângulo de giro ao final do movimento.

FOI ESTABELECIDO QUE: AM = 1 – (0,0032A) O comitê estabeleceu em 30% a diminuição para levantamentos que impliquem torções no tronco de 90o. Se o ângulo de torção for superior a 135o, tomaremos AM = 0. Podemos encontrar levantamentos assimétricos em várias situações de trabalho: • quando existe um ângulo entre a origem e o destino do levantamento; • quando se utiliza o corpo como trajeto do levantamento, como ocorre ao se levantarem sacos ou caixas; • em espaços reduzidos ou solos instáveis; • quando, por motivos de produtividade, se força a redução do tempo de levantamento.

FATOR DE FREQÜÊNCIA, FM (FREQUENCY MULTIPLIER) Este fator é definido pelo número de levantamentos por minuto, pela duração da tarefa de levantamento e pela altura dos mesmos. A tabela de freqüência foi elaborada baseando-se em dois grupos de dados. Os levantamentos com freqüências superiores a quatro levantamentos por minuto foram estudados segundo um critério psicofísico; os casos de freqüências inferiores foram determinados por meio das equações de gasto energético (ver Tabela 2). O númeromédio de levantamentos por minuto deve ser calculado em um período de 15 minutos e naqueles trabalhos em que a freqüência de levantamento varia de uma tarefa a outra, ou de uma sessão a outra, deve ser estudado cada caso independentemente.

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FOI ESTABELECIDO QUE: AM = 1 – (0,0032A) O comitê estabeleceu em 30% a diminuição para levantamentos que impliquem torções no tronco de 90o. Se o ângulo de torção for superior a 135o, tomaremos AM = 0. Podemos encontrar levantamentos assimétricos em várias situações de trabalho: • quando existe um ângulo entre a origem e o destino dolevantamento; • quando se utiliza o corpo como trajeto do levantamento,como ocorre ao se levantarem sacos ou caixas; • em espaços reduzidos ou solos instáveis; • quando, por motivos de produtividade, se força a reduçãodo tempo de levantamento. l evantamento.

FATOR DE FREQÜÊNCIA, FM (FREQUENCY MULTIPLIER) Este fator é definido pelo número de levantamentos por minuto, pela duração da tarefa de levantamento e pela altura dos mesmos. A tabela de freqüência foi elaborada baseando-se em dois grupos de dados. Os levantamentos com freqüências superiores a quatro levantamentos por minuto foram estudados segundo um critério psicofísico; os casos de freqüências inferiores foram determinados por meio das equações de gasto energético (ver Tabela 2). O número médio de levantamentos por minuto deve ser calculado em um período de 15 minutos e naqueles trabalhos em que a freqüência de levantamento varia de uma tarefa a outra, ou de uma sessão a outra, deve ser  estudado cada caso independentemente.

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Quanto à duração da tarefa, considera-se de curta duração quando se tratar de uma hora ou menos de trabalho (seguida de um tempo de recuperação de 1,2 vezes o tempo de trabalho), de duração moderada quando é de uma a duas horas (seguida de um tempo de recuperação de 0,3 vezes o tempo de trabalho), e de grande duração quando é de mais de duas horas. Se, por exemplo, uma tarefa dura 45 minutos, deveria estar seguida de um período de recuperação de 45 * 1,2 = 54 minutos. Se não for assim, será considerada de duração moderada. Se outra tarefa dura 90 minutos, se não for assim, será considerada de grande duração.

FATOR DE PEGA, CM (COUPLING MULTIPLIER) É obtido segundo a facilidade da pega e a altura vertical de manipulação da carga. Estudos psicofísicos demonstraram que a capacidade de levantamento seria diminuída por uma má pega da carga e que isso implicava a redução do peso entre 7% a 11% (ver Tabelas 3 e 4).

DEFINIÇÕES: 1. Alça de desenho ótimo: é aquela de longitude maior que 11,5cm, de diâmetro entre 2 e 4cm, com um espaço de 5cm para colocar a mão, de forma cilíndrica e de superfície suave, porém nãoescorregadia.

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2. Apoio perfurado de desenho ótimo: é aquele de longitude maior que 11,5cm, largura maior que 4cm, espaço superior a 5cm, com uma espessura maior que 0,6cm na zona de pega e de superfície nãorugosa. 3. Recipiente de desenho ótimo: é aquele cuja longitude frontal não supera os 40cm, sua altura não é superior a 30cm e é macio e não-escorregadio ao tato. 4. A pega da carga deve ser tal que a palma da mão fique flexionada em 90o, no caso de uma caixa deve ser possível colocar os dedos na base da mesma. 5. Recipiente de desenho subótimo: é aquele cujas dimensões não se ajustam às descritas no ponto 3, ou sua superfície é rugosa ou escorregadia, seu centro de gravidade é assimétrico, possui bordas afiladas, seu manejo implica o uso de luvas ou seu conteúdo é instável. 6. Peça solta de fácil pega: é aquela que permite ser comodamente abarcada com a mão sem provocar  desvios do punho e sem precisar de uma força de pega excessiva.

IDENTIFICAÇÃO DO RISCO PELO ÍNDICE DE LEVANTAMENTO A equação NIOSH é baseada no conceito de que o risco de lombalgia aumenta com a demanda de levantamentos da tarefa. O índice de levantamento que se propõe é o quociente entre o peso da carga levantada e o peso da carga recomendada segundo a equação NIOSH. A função risco não está definida, razão pela qual não é possível quantificar de maneira precisa o grau de risco associado aos incrementos do índice de levantamento. No entanto, podem ser consideradas três zonas de risco segundo os valores do índice de levantamento obtidos para a tarefa: 1. Risco limitado (índice de levantamento < 1). A maioria dos trabalhadores que realizam este tipo de tarefa não deveria ter problemas. 2. Aumento moderado do risco (1 < índice de levantamento 3). Este tipo de tarefa é inaceitável do ponto de vista ergonômico e deve ser modificada.

PRINCIPAIS LIMITAÇÕES DA EQUAÇÃO A equação NIOSH foi concebida para avaliar o risco associado ao levantamento de cargas em determinadas condições, por isso torna-se importante mencionar suas limitações li mitações para que não se faça mau uso da mesma: • não leva em conta o risco potencial associado aos efeitos cumulativos dos levantamentos repetitivos; • não considera eventos imprevistos como deslizamentos, quedas nem sobrecargas inesperadas; • também não foi concebida para avaliar tarefas nas quais se levanta a carga com apenas uma mão, sentado ou agachado ou quando se trate de carregar pessoas, objetos frios, quentes ou sujos, nem nas tarefas nas quais o levantamento se faça de forma rápida e brusca;

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• pressupõe um atrito razoável entre o calçado e o solo ( m> 0,4); • se a temperatura ou a umidade estiverem fora da faixa – (19oC, 26oC) e (35%, 50%) respectivamente, seria necessário acrescentar ao estudo avaliações do metabolismo para que fosse acrescentado o efeito de tais variáveis ao consumo energético e na freqüência cardíaca; • torna-se impossível aplicar a equação quando a carga levantada seja instável, situação em que a localização do centro de massas varia significativamente durante o levantamento. Este é o caso dos recipientes que contêm líquidos ou dos sacos semivazios.

CÁLCULO DO ÍNDICE COMPOSTO PARA TAREFAS MÚLTIPLAS Quando o trabalhador realiza várias tarefas nas quais ocorrem levantamentos de cargas, torna-se necessário o cálculo de um índice composto de levantamento para estimar o risco associado a seu trabalho. Uma simples média dos distintos índices índices daria lugar a uma compensação compensação de efeitos que não estimaria o risco real. A seleção do maior índice não levaria em conta o aumento do risco acarretado  pelas outras tarefas. O NIOSH recomenda o cálculo de um índice de levantamento composto (ILC), cuja fórmula é a seguinte: SILC = ILT1 + SDILTi SDILTi = (ILT2(F1 +F2 ) - ILT2(F1)) + (ILT3(F1 +F2 +F3 ) - ILT3(F1 +F2 )) +...+ (ILTn(F1 +F2 +F3 +...+Fn )- (ILTn(F1 +F2 +F3 +...+F(n-1) )) onde: ILT1 é o maior índice de levantamento obtido entre entre todas as tarefas simples; ILTi (Fi) é o índice de levantamento da tarefa i, calculado na freqüência da tarefa j; ILTi (Fi + Fk) é o índice de levantamento da tarefa i, calculado na freqüência da tarefa j, mais a freqüência da tarefa k. O PROCESSO DE CÁLCULO É O SEGUINTE 1. Cálculo dos índices de levantamento das tarefas simples (ILTi). 2. Ordenamento do maior ao menor dos índices simples (ILT1, ILT2, ILT3 ..., ILTn). 3. Cálculo do acumulado de aumentos de riscos associados às diferentes tarefas simples. Este incremento é a diferença entre o risco da tarefa simples na freqüência de todas as tarefas simples consideradas até o momento incluída a atual, e o risco da tarefa simples na freqüência de todas as tarefas consideradas até o momento, menos a atual: (ILTi(F1+F2+F3 +...+Fi)- ILTi(F1+F2+F3+...+F(i-1)).

EXEMPLO Um trabalhador tem como atividade habitual, durante a maior parte de sua jornada de trabalho, a descarga de sacos e caixas que chegam em seu posto de trabalho em paletes os quais devem ser  colocados em uma cinta transportadora de 75cm de altura (V). Os sacos são de dois tipos, alguns

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 pesam 20kg e podem ser considerados como tendo boa pega e os outros pesam 25kg e sua pega é considerada má. O ritmo de produção e as necessidades de matéria-prima exigem que se descarreguem em freqüências diferentes. Os sacos de 20kg a 1 por minuto (F1), os de 25kg a 2 por minuto (F2) e as caixas também a 2 levantamentos por minuto (F3). A altura inicial do palete é de 80cm e, evidentemente, vai diminuindo à medida que se realiza a descarga. Deparamos, portanto, com dois casos extremos: quando o palete está cheio – e o trabalhador  deve elevar os braços – e quando o palete está quase vazio – e deve agachar-se. Esse exemplo centralizar-se-á no início da descarga, quando ambos os paletes estão cheios, ocasião em que a distância de descarga até a correia transportadora é de 80 – 75 = 5cm (D). Chamaremos de tarefa 1 à descarga de sacos de 20kg, de tarefa 2 à descarga de sacos de 25kg e tarefa 3 à descarga de caixas. As três tarefas são consideradas de duração moderada. A distância horizontal de pega (H) é de 25cm na tarefa 1 e de 30cm nas tarefas 2 e 3. Quanto à assimetria do movimento, observa-se que o trabalhador realiza uma torção de 45° (A) quando descarrega as caixas, e não se observa torção na manipulação de sacos. As Tabelas 5 e 6 contêm as variáveis e o cálculo dos coeficientes, os limites de peso recomendados e os índices de risco das tarefas consideradas independentemente.

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Se se quiser calcular o risco total associado à atividade completa deste trabalhador, deve-se calcular o índice de levantamento composto. Calculados os índices de levantamento das tarefas simples, eles devem ser ordenados do maior ao menor índice. Nesse caso, a ordem é: Tarefa 2 (ILT2 = 1,73); Tarefa 3 (ILT3 = 1,1) eTarefa 1 (ILT1 = 0,988). A FÓRMULA TOMA A SEGUINTE FORMA: ILC = ILT2(F2)+(ILT3(F2+F3)-ILT3 ILT2(F2)+(ILT3(F2+F3)-ILT3(F2))+(ILT1(F2+F3+F1) (F2))+(ILT1(F2+F3+F1)-ILT1(F2+F3)) -ILT1(F2+F3)) sendo ILT3(F2+F3) o índice de levantamento da tarefa 3 calculado na freqüência soma da freqüência da tarefa 2 e a tarefa 3 e assim sucessivamente, obtendo-se os seguintes valores: FM(F2 +F3 ) = FM(2+2) = FM(4) = 0,72 LPR(T3) = 23 ž HM ž VM ž DM ž AM ž FM ž CM = 11,74 ILT3(F2+F3) = carga/LPR(T3) =1,3 FM(F2) = FM(2) = 0,84 LPR(T3) = 23 ž HM ž VM ž DM ž AM ž FMž CM = 13,7 ILT3(F2 ) = carga/LPR(T3) = 1,1 FM(F2+F3+F1) = FM(2+2+1) = FM(5) = 0,6 LPR(T1) = 23 ž HM ž VM ž DM ž AM ž FM ž CM = 13,8 ILT1(F2 +F3 +F1) = carga/LPR(T1) = 1,45 FM(F2+F3) = FM(2+2) = FM(4) = 0,72 LPR(T1 ) = 23 ž HM ž VM ž DM ž AM ž FM ž CM = 16,56 ILT1 (F2 +F3) = carga/LPR(T1) = 1,2 ILC = 1,73 + (1,31,1) + (1,451,2) = 2,17 Conclui-se, portanto, que o índice de levantamento associado à atividade composta das três tarefas é 2,17, o que implica um risco importante do ponto de vista ergonômico. As condições de levantamento deveriam ser modificadas. Nesse caso, poder-se-ia recomendar: • colocar a carga mais próxima ao corpo nos levantamentos dos sacos de 25kg e das caixas; • evitar a torção no levantamento das caixas; • melhorar a pega dos sacos de 25kg; • e, evidentemente – ainda que de difícil implantação na maioria das situações, uma vez que implica uma diminuição do ritmo de produção – reduzir a freqüência de levantamentos.

CONCLUSÕES O levantamento de cargas é uma das causas de lombalgia e outras patologias musculoesqueléticas freqüentes no mundo do trabalho atualmente e necessita intervenção urgente.

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Apesar de suas limitações, pode-se considerar a equação NIOSH para o levantamento de cargas como uma ferramenta útil e sensível que constitui um esforço a mais para prevenir as alterações na saúde  provocadas pela manipulação de carga. O caráter multiplicativo da equação permite ver como a situação estudada se afasta da situação ideal de levantamento e saber quais fatores são mais influentes nesse desvio, o que possibilita atuar sobre eles em um redesenho do posto. A equação não assume a existência de outras atividades de manipulação de carga, à parte os levantamentos, tais como empurrar, arrastar, carregar, caminhar, subir ou abaixar. Para a equação do NIOSH, considera-se toda atividade de gasto energético insignificante frente ao levantamento. Será necessária uma avaliação adicional quando a carga é transportada por mais de dois ou três passos ou quando é sustentada por mais de alguns segundos. Quanto às posturas forçadas e estáticas, as vibrações, a temperatura, a umidade, etc. são outros tantos fatores influentes no aparecimento de doenças e que deverão ser avaliados com outros métodos disponíveis e complementar, assim, a avaliação do posto de trabalho.

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Anexo V - QUESTIONÁRIO APLICADO AOS CARREGADORES

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Anexo VI Movimentação Manual de Cargas - Lista de Controle de Identificação de Riscos

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