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April 2, 2019 | Author: Joncilei Mendes Silva Mendes | Category: Sexual Intercourse, Jesus, God, Human Nature, Love
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FACULDADE TEOLÓGICA SUL AMERICANA JONCILEI MENDES DA SILVA

CAMINHOS PARA UMA ESPIRITUALIDADE TRANSFORMADORA HOJE

Londrina 2017

JONCILEI MENDES DA SILVA

CAMINHOS PARA UMA ESPIRITUALIDADE TRANSFORMADORA HOJE

Monografia apresentada em cumprimentos às exigências da disciplina de Espiritualidade Transformadora do curso de Pós-Graduação em Missão Integral no Contexto Urbano da Faculdade Teológica Sul Americana, ministrada pelo Prof. Ms. Jonathan Menezes.

Londrina 2017

APRESENTAÇÃO

Espiritualidade é uma palavra muito em voga hoje em dia, tanto em círculos cristãos, religiosos de maneira geral, e até seculares. Mesmo com certa popularidade a Espiritualidade nem sempre tem sido bem compreendida e adequadamente praticada. Por isso, o objetivo deste presente ensaio monográfico é apresentar alguns caminhos  para uma espiritualidade transformadora nos dias atuais que nos auxiliem num entendimento saudável e pratico de espiritualidade pessoal e comunitária. Os caminhos propostos incluirão a dimensão humana, integral e missional da espiritualidade que tem o objetivo e poder de ser transformadora para o indivíduo e para sociedade ao seu redor.

1 UMA ESPIRITUALIDADE HUMANA

Espiritualidade geralmente é associada ao “fazer”  e poucas vezes consideram-se o “ser” como parte integrante dela. A ideia parece ser

a de que quanto mais fazemos atividades

consideradas “espirituais”  mais espirituais nos tornamos e menos humanos ficamos. Esta concepção parece ignorar a complexidade da vida e da nossa humanidade repleta de conflitos, dúvidas, lutas, medos e ansiedades. Nossa humanidade é parte integrante de nossa espiritualidade.  Nossa tendência tem sido de mascarar ou tentar suprimir a realidade da nossa humanidade, com todas as suas fraquezas, limitações e imperfeições, e projetar um ideal narcísico de ser que não reflete a nossa realidade e nem a nossa identidade como humanos e filhos de Deus. Imaginamos que Deus ama apenas a nossa versão futura e aprimorada e que enquanto não a atingirmos teremos pouco de Deus e da vida cristã para desfrutar. Uma Espiritualidade transformadora não ignora a nossa condição humana pecadora, falha e limitada e nem encoraja a resignação negligente que encobre pecados e paixões carnais que nos afastam da vontade d e Deus, mas promove “uma jubilosa aceitação de si 3

mesmo”, nas palavras de Rosset, e uma “coragem de ser a despeito de não ser” segundo

Tillich. (Menezes, 2013, p.34) Este tipo de espiritualidade mais humana faz com que o cristão reconheça não apenas sua carência e dependência de Cristo e da Graça de Deus para completar a sua incompletude, mas se abre e se sensibiliza para a condição de todas as pessoas e as trata com empatia e graça e não com intolerância e juízo condenatório. Entende-se: somos todos humanos, pecadores e necessitados de Deus e seu amor e que  Nele encontramos o caminho para uma nova humanidade, a humanidade transformada imagem de Seu Filho Jesus (Rm 8:29). Segundo Paulo, a nossa humanidade e fragilidade é considerada como força e eficácia na tarefa de ser recipiente e proclamadores dos tesouros da Graça de Deus e do Seu reino (2Co 4:7). Como? O próprio Paulo responde afirmando para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós. Como alguém afirmou certa vez, o brilho de uma bela joia e mais realçada  pelo fundo preto de uma caixinha de veludo.  Nossa imperfeição destaca a perfeição de Deus. Nossa fraqueza destaca o poder de Deus. Deus pode, quer e vai agir através de uma humanidade quebrada e imperfeita para alcançar uma humanidade quebrada e imperfeita. Uma espiritualidade humana é uma espiritualidade encarnada. Assume a sua condição e anseia por sua redenção. Uma espiritualidade que segue os passos do Filho de Deus: que assumiu a humanidade para edificar para Deus uma nova humanidade (Ef 2:15). Um tipo de espiritualidade em constante estado de transformação para promover constante transformação.

2 UMA ESPIRITUALIDADE INTEGRAL

A visão tradicional de Espiritualidade tende a definir e restringir espiritualidade a dimensão mística, individual e interior do relacionamento com Deus. A manifestação prática deste tipo de espiritualidade é percebida pela ênfase e pratica das disciplinas espirituais e nos momentos comunitários de culto e atividades da igreja. 4

Esta visão cria uma dicotomia entre o que é considerado “espiritual” ( culto, jejum, estudo bíblico) e o que é considerado “secular” ( trabalho, escola, diversão). Assim

geralmente

 pensamos que o que fazemos para Deus é apenas aquilo que fazemos no Templo, no Domingo e no culto. Esta visão fragmentária e dualista da vida e da espiritualidade não corresponde à visão  bíblica de uma vida integral (toda a nossa vida pertence Deus) e a uma espiritualidade integral (fazer tudo para glorificar a Deus) (1Co 10:31). Uma espiritualidade integral não fica confinada “dentro da igreja”   somente no “Domingo de culto” ,

mas ela reverbera durantes os demais dias da semana e com todas as

 pessoas com que nos relacionamos fora da igreja. Espiritualidade integral também cobre não apenas as atividades consideradas espirituais ou religiosas, como alguns chamam, mas cada aspecto integrante de nossas vidas. Deus quer fazer parte não apenas de um fragmento de nossa vida, mas de todo o nosso ser e toda a nossa vivência. 2.1 ESPIRITUALIDADE INTEGRAL NA SEXUALIDADE

Dentre as atividades humanas alvo da dicotomia da vida entre secular e espiritual está a questão da sexualidade. Muitos resistem em encarar a sexualidade, mesmo dentro do casamento, como algo espiritual e agradável a Deus e legitimamente aprazível ao casal. Jonathan Menezes (2015) afirma que separar, fragmentar e arrancar de nossas vidas o que Deus manteve unido talvez seja o maior pecado. Esta postura fragmentária costumeiramente gera extremos de comportamentos sexuais  problemáticos e escravizadores, seja de um lado do extremo o puritanismo hipócrita ou do outro lado a libertinagem pornográfica. A falta de entendimento de que sexo é algo espiritual também pode nos levar a um destes extremos. A Espiritualidade afeta e transforma a nossa sexualidade em algo abençoado e abençoador quando resgatamos o ideal de Deus para uma relação sexual onde impera amor, compromisso, cuidado e unidade do casamento. Sexualidade que trata os parceiros como objetos descartáveis ou com o objetivo de satisfação egoísta do próprio prazer não tem nada de espiritualidade.

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2.2 ESPIRITUALIDADE INTEGRAL NA CULTURA

Outra área alvo da dicotomia da vida que muitas pessoas programam é a cultura. Antes considerada como divulgadora e promotora da espiritualidade e da fé através de expressões culturais e artísticas religiosas diversas (Pinturas, esculturas, livros, música, etc), hoje a arte e a cultura têm sido demonizadas e rejeitadas se elas não recebem o rótulo de “gospel” e ou “evangélico”. Ainda é muito comum ouvirmos cristãos afirmando e  exigindo

que apenas se

ouça “música cristã”, se assista apenas filmes “evangélicos” e leia-se apenas livros “Cristãos”.

Recentemente bem percebido na controvérsia em torno do livro e agora do filme “A Cabana”. Será que a arte e a cultura são tão nocivas a nossa espiritualidade se ela não vem acompanhada de linguajar bíblico e teológico? Que se não houver uma clara identificação com a fé cristã é algo perigoso e nocivo a nossa saúde espiritual? Uma espiritualidade integral, encarnada, não pode existir num vácuo cultural! Não se expressa ou se pratica espiritualidade, desconectado de nossa cultura. Jesus é o grande exemplo desta verdade. Ele encarnou e abraçou a cultura hebraica, ele usou a linguagem por eles conhecida, contou histórias conectadas a cultura agrícola e pastoril de seu contexto local e participou de festas e manifestações culturais que o identificavam como parte daquela cultura. Jesus foi um aprendiz de sua cultura e ao mesmo tempo um redentor dela. Existem coisas nocivas em nossa cultura brasileira, mas existem coisas boas e belas. Coisas para rejeitar e outras para preservar. Nosso papel não deve ser apenas de críticos e opositores, mas de promover a transformação da cultura. Eu não posso transformar algo que eu rejeito.

3 UMA ESPIRITUALIDADE MISSIONAL

A Espiritualidade dos dias de hoje é muito antropocêntrica (centrada no homem), onde a vida espiritual é tudo sobre a pessoa e as suas necessidades, desejos e crenças. Focada no crescimento pessoal da fé e espiritualidade da pessoa no seu relacionamento com Deus. Este tipo de espiritualidade centrada na própria pessoa encara o mundo como uma ameaça para sua 6

espiritualidade e consequentemente se isola dele e foge ao invés de se envolver com ele e servi-lo no objetivo de transformá-lo. O missiólogo Antônio Carlos Barro comenta este aspecto não isolacionista da espiritualidade missional nestes termos:

“A espiritualidade da missão integral não é alienada e nem alienante.  Enquanto

olha

 para este mundo, prega uma mensagem não apenas humanista, mas que transcende este universo e aponta para uma realidade maior: o Reino de Deus”

1

A espiritualidade bíblica em contra partida é centrada em Deus e no próximo. Focada em amar a Deus e amar o nosso próximo (Mc 12:30-31); em servir a Deus e servir o próximo (1Jo 4:20-21). Esta espiritualidade é transformadora porque nos chama para abraçar a  Missio  Dei e nos juntar a Deus em sua Missão de redimir,

restaurar e transformar este mundo.

Um tipo de Espiritualidade que enxerga todos os nossos atos de serviço a Deus e ao  próximo, como ações de devoção, adoração e intimidade com Deus. Consertar um telhado de uma família carente glorifica tanto a Deus quanto os cânticos que cantamos no Domingo ou as orações que fazemos em nossos lares. Estes atos devem ser feitos com amor para que sejam aceitáveis a Deus e impactantes e transformadores para o próximo (1Co 13:1-3).

3.1 UMA ESPIRITUALIDADE MISSIONAL É CRISTOCÊNTRICA

A verdadeira espiritualidade cristã se resume em buscar identificar-se com Cristo em todos os sentidos. Devemos refletir o caráter de Cristo numa vida repleta do fruto do Espírito (Gl 5:22-23);devemos servir de forma dedicada, abnegada e humilde como Cristo serviu (Fp 2:5-11).  Nas palavras de Paulo é “Cristo ser formado em nós” (Gl 4:19) e “até que cheguemos

à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo. ”  (Ef 4:13). Este é o verdadeiro objetivo e resultado de uma espiritualidade cristocêntrica.

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 BARRO, Antônio Carlos . “A Espiritualidade e a Missão Integral”. In. : BOMILCAR,  Nelson (Org.). O melhor da espiritualidade brasileira.  São Paulo: Mundo Cristão, 2005, p.285. 7

3.2 UMA ESPIRITUALIDADE MISSIONAL É CRUCIFORME

Esta espiritualidade cruciforme compreende e interpreta o evangelho, a vida e missão cristã pela ótica da Cruz. O “Cristo crucificado” é o

 prisma pelo qual enxergamos e

entendemos as Escrituras e a vida em comunidade. Carregar a Cruz (Lc 14:27) e pregar a Cruz de Cristo (1Co 2:2) identificam e definem um verdadeiro cristão espiritual. Esta espiritualidade cruciforme tem duas marcas distintas:  Auto-E svaziamento

Filipenses 2:7 afirma que Cristo: “antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana”.  Paulo cita

este exemplo de Jesus para ensinar sobre a humildade como elemento essencial para a unidade cristã. Muitos conflitos na igreja e fora dela podem ser evitados se praticamos esta espiritualidade cruciforme. Muita transformação e amadurecimento podem acontecer em nossas vidas quando nos esvaziamos e reconhecemos que temos muito que aprender, temos muito para crescer e mantermos um coração e mente aberta para receber a plenitude do Espírito e de Deus (EF 3:19;5:18). Alguém disse que “o valor de um copo está no seu vazio”.

 Sofrimento

Filipenses 2:8 continua dizendo: “tornando- se obediente até à morte e morte de cruz”. Sofrimento é resultado do esvaziamento. Esta espiritualidade questiona e confronta as nossas ambições e objetivos de vida. Aqueles que priorizam segurança, bem estar e prosperidade certamente não serão atraído pela espiritualidade da cruz que conduz ao sofrimento, humilhação e morte. O êxito da missão exemplificado em Jesus não está na vitória contra seus inimigos, o sucesso de seus projetos ou a sua popularidade, mas pela submissão em obedecer à vontade de Deus em sofrer e morrer por aqueles que o odiaram e o crucificaram. Esta espiritualidade cruciforme é transformadora porque se sacrifica para servir, abençoar e alcançar o seu próximo para Cristo e o Seu reino.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os caminhos para uma espiritualidade transformadora passam pelo autoexame e autoaceitação de nossa humanidade, pela ruptura com a dicotomia entre sagrado e secular e abraça uma espiritualidade integral e pelo caminho do Cristo crucificado que nos conduz a uma espiritualidade missional serva e sofredora. Espiritualidade transformadora objetiva primeiramente a transformação das nossas vidas pessoalmente na imagem de Cristo, através da obra do Espírito Santo, para depois operar a transformação da sociedade através de nossas vidas e do exemplo e atuação de nossa comunidade de Fé. Um cristão verdadeiramente espiritual é transformado para transformar.

REFERÊNCIAS BÍBLIOGRÁFICAS

MENEZES, Jonathan.  Humanos, graças a Deus.  Rio de Janeiro: Novos Diálogos, 2013.  __________. Espiritualidade em transformação: sentido, humanidade e vida . Rio de Janeiro:  Novos Diálogos, 2015. BARRO, Antônio Carlos. “A Espiritualidade e a Missão Integral”. In. : BOMILCAR, Nelson (Org.). O melhor da espiritualidade brasileira.  São Paulo: Mundo Cristão, 2005.

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