Trata sobre as ligações da maçonaria com a mitologia....
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Por
“Pode-se dizer que o sonho é como a pedra desprezada pelos 1. 2 pedreiros e que depois se tornou a pedra angular.” Carl G. Jung
INTRODUÇÃO Este estudo tem por objetivo analisar as influências psicológicas que a Mitologia – Mitologia – e e neste caso, a Mitologia Maçônica em questão – – através da sua prática ritualística, suas falas, movimentos, símbolos, dramas e alegorias, pode ter sobre seus praticantes, acompanhando as similaridades da Mitologia Maçônica com as outras Mitologias da história. Malgrado muitos talvez possam julgar os rituais maçônicos como ingênuos, estranhos, primitivos e ultrapassados ou até mesmo supersticiosos. Serão apresentados neste estudo indícios de que, muito pelo contrário, tanto os rituais como a mitologia possuem as mesmas fontes de origem — o inconsciente 3, ponto fundamental para o progresso psicológico. Há, sem dúvida, inúmeras diferenças entre as religiões e mitologias da humanidade, e todas essas, de uma forma ou de outra, podem ser encontradas em alguma medida, representadas nas alegorias maçônicas 4. Esse sincretismo na Mitologia Maçônica nos leva a crer que nossos antepassados já tinham noção das similaridades existentes nas manifestações religiosas e mitológicas. Encontramos um direcionamento para um estudo comparativo nas palavras ad-referendum do erudito norte americano Joseph Campbell: “A esperança que acalento é a de que um esclarecimento
realizado em termos de comparação possa contribuir para a causa, talvez não tão perdida, das forças que atuam no mundo de hoje, em favor da unificação, não em nome de algum império político ou eclesiástico, mas com o objetivo de promover a mútua compreensão entre os seres humanos. Como nos dizem os Vedas: "A verdade é uma só, mas os sábios falam dela sob muitos nomes". 5
A definição mais comum de Maçonaria é a de que Maçonaria Maçonaria é “um belo sistema de moralidade velado em alegoria e ilustrado por símbolos” 6. Isso já diz muito sobre a instituição e seu modo de ensino e aprendizagem, que ocorre por meio de N.R.: ARTIGO ACADEMICO REGISTRADO NA BIBLIOTECA NACIONAL (RJ) JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1 (pag.32). Rio de Janeiro, Editora Vozes, 1978; 2 Apesar de não ter sido Maçom, Jung fala de uma das mais importantes lendas da Maçonaria Operativa, que é relembrada nos graus de Mestre de Marca e Mui Excelente Mestre do Rito de York. Os ritos anglo-saxões (Rito de York e as Ordens Inglesas de Aperfeiçoamento Maçônico) operam com um simbolismo voltado mais para o lado operativo da Maçonaria, razão de ser lembrado enfaticamente cerimônias como essas da “pedra desprezada”. 3 CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, Monomito - A aventura do herói. São Paulo, Pensamento, 2007; 4 MAXENCE, Jean-Luc. Jung é a aurora da Maçonaria. SP, Madras, 2010; 5 CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, Prefácio. São Paulo, Pensamento, 2007; 6 ZELDIS, L., Illustrated by Symbols. New York, NY: Philalethes, The Journal of Masonic Research & Letters, Vol. 64, No. 02, p. 72-73, 2011; 1
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rituais repletos de alegorias e expressões simbólicas. No entanto, entre o desdobramento do ritual e o comportamento moral de seus praticantes há um mecanismo psicológico que não pode ser ignorado e cuja compreensão pode colaborar para um melhor entendimento da razão pela qual a Maçonaria atraiu ao longo dos séculos o interesse de tantos distintos homens e a ira de tão perigosos inimigos, como os nazistas, papas e o Comintern – Comitê – Comitê Comunista Internacional 7. Foi em 1900 que Sigmund Freud apresentou a presentou ao mundo sua teoria teor ia do 8 Inconsciente, na obra “ A A interpretação dos sonhos” . O conceito de Inconsciente e Arquétipos já existiam de alguma forma desde a Grécia Antiga ao período medieval, contudo, foi somente com Carl Gustav Jung que tal teoria encontrou sua plenitude, alcançando um sentido mais amplo, quando o mesmo diferenciou a atuação do inconsciente de uma camada mais profunda, que chamou de Inconsciente Coletivo, que são formas ou imagens de natureza coletiva que se manifestam praticamente em todo o mundo como constituintes dos mitos e, ao mesmo tempo, como produtos individuais individuais de origem inconsciente, que influenciam toda nossa psique. 9 10 Ao contrário da escola escola freudiana, freudiana, que afirma que os os mitos estão profundamente profundamente 11 enraizados dentro de um complexo do inconsciente (Complexo de Édipo, por exemplo), para Jung, a origem atemporal dos mitos reside dentro de uma estrutura formal do inconsciente coletivo. Torna-se assim uma diferença considerável para Freud, que nunca reconheceu a autonomia congênita da mente e do inconsciente, enquanto que, para Jung havia uma dimensão coletiva inata, com autonomia energética. As ideias apresentadas por Jung foram o embasamento embasamento científico que o estudioso das Religiões e Mitologias Comparadas, Joseph Campbell, precisava para sustentar as similaridades existentes entre todas as religiões e mitologias da história. Tal conceito chamado anteriormente de “Monomito” por “Monomito” por Jaymes Joyce ,foi esmiuçado por Campbell, que mostrou o roteiro da manifestação arquetípica do herói (personagem universal) que se encontrava representado em todo o mundo como um arquétipo do Inconsciente Coletivo. 13 14 12
Com isso, inúmeras publicações de Joseph Campbell tomaram notoriedade, especialmente a série de entrevistas “O Poder do Mito” 15. Muitos autores escreveram estórias tendo por base tais teorias, em especial destacamos a saga “Star Wars” e “Indiana Jones”, Jones” , que tiveram a direção e roteiro de George Lucas, que publicamente assumiu ser Campbell seu mentor pessoal e daqueles trabalhos em particular. 16
Assim, será com base nas obras de Campbell e Jung o desenvolvimento desenvolvimento deste artigo, que visa comparar e reapresentar o simbolismo maçônico sob a ótica científica da Psicologia Junguiana (Parte I) e da Ciência das Religiões, com ênfase na Jornada do Herói (Parte II). O método comparativo – – apresentado neste artigo – – proporciona uma visão ampla entre duas matérias, transcendendo os limites impostos pela natureza de cada uma. Esse cruzamento de matérias resulta num denominador comum entre ambas, 7
ROBERTS, J. M.: Freemasonry: Possibilities of a Neglected Topic. The English Historical Review, Vol. 84, 331, 1969; FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. Obras Completas, vol. V. Rio de Janeiro, Imago, 1972; 9 Jung dizia que tomou o termo “Arquétipo “Arquétipo”” é de fontes clássicas como Cícero, Plínio, Platão, Santo Agostinho e principalmente na obra medieval “O Corpus “O Corpus Hermeticus”. Hermeticus”. Foi Foi nos escritos da tradição hermética – e – e posteriormente alquimista – alquimista – que que Jung encontrou inúmeras inúmeras referências antigas sobre os Arquétipos, Arquétipos, como o citado Corpo Hermético, Hermético, onde Deus (Kether) é denominado por “Luz Arquetípica” e em Dionísio Areopagita Areopagita onde encontramos diversas vezes o termo “Os Arquétipos Imateriais”; Imateriais” ; 10 FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos., Obras Completas, vol. V. Rio de Janeiro, Imago, 1972; 11 JUNG, Carl Gustav. Psicologia e religião, 11/1, A autonomia do inconsciente. Rio de Janeiro, Editora Vozes, 2011; 8
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O termo “Monomito” é de James Joyce, da obra “Finnegans Wake”; JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos, Chegando ao Inconsciente (pag.50).RJ, Nova Fronteira; 14 JUNG, C.G. Interpretação psicológica do Dogma da Trindade (pag.21) e (pag.45-46). RJ, Vozes; 15 CAMPBELL, Joseph. Coleção DVD, O Poder do mito com Bill com Bill Moyers (1987). LogON Editora Multimídia; 16 Idem (1987); 13
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como também, no crescimento investigativo, de natureza intelectual, para abeberar as fontes de conhecimento, neste caso em questão, dos conhecimentos dispostos na Sublime Instituição Maçônica.
PARTE I ESTUDO E ANÁLISE COMPARATIVA DA PSICOLOGIA JUNGUIANA COM O SIMBOLISMO MAÇÔNICO O q u e éu m Sím b o lo ? 18
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"Os símbolos são para a mente quais são os instrumentos as mãos. - Uma aplicação alargada dos seus poderes." Dion Fortune
Podemos definir os símbolos como metáforas e compêndios de um conhecimento sensivelmente elevado , que em outras palavras são manifestações exteriores dos arquétipos. Os arquétipos só podem se expressar através dos símbolos em razão de se encontrarem profundamente escondidos no inconsciente coletivo sem que o indivíduo os conheça ou possa vir a conhecer . Dessa forma, em nosso nível comum de existência, para compreendermos um elevado sentimento (como o Inconsciente Coletivo e suas manifestações), necessitamos dos símbolos, que por essa e outras causas são gestos existentes desde o início da humanidade. 19
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Essas afirmações precedentes necessitam de um exemplo hipotético: O amor da mãe para com seu filho jamais seria compreendido por palavras ou descrições objetivas (números e letras). Outrossim, podemos ao invés de escrever sobre tal amor, apenas lançar o “símbolo do coração”. Deste modo, mesmo que parcialmente, a noção que teremos a respeito do amor de uma mãe para com seu filho, será muito mais próxima do que as expressadas por meras palavras. A diferença crucial entre símbolo e arquétipo é que o primeiro pode ser visto e em alguns casos também tocado e sentido, ao passo que o segundo pode ser apenas sentido, e mesmo assim, somente por intermédio do primeiro. Portanto, para que haja símbolos, deve antes haver arquétipos, pois aqueles são a manifestação destes em menor escala 24. 23
Contrariamente a esta teoria junguiana ora apresentada, observamos na psicanálise de Freud outra visão dos arquétipos, que se encontra centrada nos três arquétipos relativos ao chamado “Complexo de Édipo”, que por suas características peculiares, possui proximidades com a antropologia e com a linguística, tendo sido ainda muito influenciado pelo renomado neurologista Jean-Martin Charcot, inobstante, de outro modo, a visão que apresentamos neste artigo é a visão Junguiana, que possui proximidades com os conceitos de Consciente Coletivo sustentados pelo sociólogo francês Émile Durkheim, um dos pais da Sociologia Moderna, onde em sua obra o define como o conjunto de crenças e sentimentos autônomos de uma sociedade . Suas teorias também influenciaram Freud, mas com devido efeito, acham-se proficuamente delineadas nas obras de Jung. 25
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Publicado em: Revista Ciência e Maçonaria, Vol.1, N.1, 2013. Brasília, DF, Loja Maçônica Flor de Lótus, 2013; O conceito de símbolo adotado nesta obra é o da Psicologia Junguiana, que difere do conceito semiótico de símbolo instituído pelo suíço Ferdinand de Saussure, pai da linguística, bem como também difere parcialmente de certas análises Psicanalíticas de Freud; 19 CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, Da Psicologia à metafísica. São Paulo, Pensamento, 2007; 20 JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo, 9/1. Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2011; 21 CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformação, Parte I, A necessidade de ritos. São Paulo, Editora Ágora, 2008; 22 JUNG, Carl Gustav. Interpretação psicológica do Dogma da Trindade (pag.21). Rio de Janeiro, Vozes; 23 JUNG, Carl Gustav. A vida simbólica, 18/1. Rio de Janeiro, Vozes, 2012; 24 JUNG, Carl Gustav. Psicologia e alquimia, 12, (144-336). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2012; 25 DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social, (pag.342). São Paulo, Martins Fontes, 2004; 18
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As mitologias e sentimentos se manifestam por meio de símbolos e gestos, e de modo semelhante, a Maçonaria atua através da ritualística das suas iniciações e instruções. Os símbolos e gestos – ou seja, a ritualística em si – atuam como um botão automático que libera energia e assim, libera e desenvolve o Inconsciente Pessoal de seus praticantes através do Mito trabalhado pelo grupo-cultura , funcionando como um fator equilibrante na mente humana, semelhante aos efeitos dos sonhos, a qual Jung define como: “são processos naturais que existem em paralelo ao sistema orgânico e psicológico, a fim de propiciar mecanismos de compensação em busca do equilíbrio físico e emocional do sujei to sonhador”. Isso também seria, de forma relativa, uma excelente definição para a Ritualística Maçônica. Destarte, o avanço instrutivo que a Maçonaria proporciona a seus adeptos é, além de consciente, moral e esotérico, também um reforço psicológico, nos mostrando claramente a magnitude e complexidade do processo iniciático desta Sublime Ordem. 26
O TEMPLO MAÇÔNICO E A PSIQUE HUMA NA
Uma nova análise do simbolismo do Templo Maçônico dos Ritos Latinos 27 “O homem é a medida de todas as coisas.” Protágoras
Os maçons são unanimes em dizer que o Templo 28 Maçônico é simbólico, e como já vimos, o símbolo é muito mais do que mera ornamentação artística para representar algo29. Importante aqui observar que o templo maçônico não é uma “réplica” do Templo de Salomão 30, como muitos maçons insistem em fazer crer, mas, em verdade tanto o templo como toda Mitologia Maçônica é simbolicamente inspirado no Templo de Salomão e em outras poucas passagens bíblicas 31, mas contendo muitas outras influências, de acordo com o Rito adotado 32. No caso do presente estudo, refere-se a um templo do Rito Escocês Antigo e Aceito. Portanto, toda a ornamentação e divisão do templo não é fruto do acaso e do achismo, a começar pela sala dos passos perdidos, mais adiante o átrio, a câmera ou caverna de reflexões, e finalmente o templo em si. Todos estes compartimentos são estágios de níveis de consciência há muito tempo utilizados para separar o Sagrado do profano33.34 Nesse contexto, o ritual representa a passagem de um estado de consciência para outro (do profano para o sagrado), e em última análise o templo com suas divisões demonstram o estado de consciência a qual nos encontramos, neste caso, o “Sagrado”. Desta forma, o templo em si representa um estado intransponível de pureza e santidade para seus membros. As funções-cargos expressas no ritual ou na mitologia e as disposições do templo são personificações simbólicas das leis psicológicas que atuam na psique 35 36, e isto é a base essencial da ritualística maçônica e toda a sua mitologia37. 26
CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformação, Parte I, A necessidade de ritos. São Paulo, Editora Ágora, 2008; Por Ritos Latinos entende-se: REAA - Rito Escocês Antigo e Aceito; RER – Rito Escocês Retificado; Rito Adonhiramita e Rito Moderno. 28 O termo “templo maçônico” é comumente usado nos ritos maçônicos de origem latina. Os de origem anglo-saxônica costumam chamar o local de reuniões de “Sala da Loja”. 29 JUNG, Carl Gustav. Psicologia e alquimia, 12, Símbolos oníricos do processo de individuação. RJ, Ed. Vozes, 2012; 30 Muitos encontram semelhanças com o Parlamento Inglês (Câmara dos Comuns), mas, neste caso seriam somente nos Ritos Anglo-saxões – Sala da Loja – e não nos Ritos Latinos que são o foco deste artigo. 31 Essa colocação é melhor observada na Parte II do presente artigo; 32 ISMAIL, Kennyo. Desmistificando a Maçonaria. São Paulo, Universo dos Livros, 2012; 33 A palavra vem do latim Profanum: Pro (diante de; fora do); Fanum (templo; lugar sagrado); 34 VAN Guennep, Arnold. Os Ritos de Passagem (pag.23-40). RJ, Editora Vozes, 2011; 35 MAXENCE, Jean-Luc. Jung é a aurora da Maçonaria. SP, Madras, 2010; 36 CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, O Ciclo Cosmogônico, O giro universal. São Paulo, Pensamento, 2007; 37 Por isso quando um maçom ocupa um cargo, o mesmo deve ser tratado (sempre) pelo título oficial que possui, sendo sempre abordado pelo cargo que desempenha, pois, como dito, ele personifica a essencial-ritual em questão, vindo a cumprir sua finalidade psicológica na dramatização mitológica e/ou ritualística; 27
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Rituais ou simples gestos simbólicos identificam nossa consciência com o campo essencial de ação 38. O soldado que retorna da guerra, ao passar pelo Arco do Triunfo – Rito de passagem39 – acaba deixando a guerra para trás. Da mesma forma, ao deixarmos para trás a sala dos passos perdidos e posteriormente o átrio, é sabido – consciente ou inconscientemente – de que estamos (ou estaremos) em um local “ dedicado à virtude e consagrado para a prática do bem ” , o Templo Maçônico. Assim, as salas que antecedem o templo, cumprem a função psicológica de devidamente introduzir o adepto em um local – estado de consciência, para que o ritual cumpra seu dever cognitivo de forma efetiva 40 41. Um excelente exemplo ritualístico disso, e infelizmente é muitas vezes ignorado sabe-se lá porque, é a entrada ritualística dos que chegaram após a cerimônia de abertura dos trabalhos ritualísticos. De acordo com muitos rituais, há neste momento uma saudação ritualística – e isso independente de formalidade ou sem formalidade: a regra é saudar! – pois, como vimos acima, tais gestos hão de identificar o consciente ou inconsciente com o campo de ação, haja vista que o mesmo não ter sido devidamente introduzido no ritual, pela ritualística de abertura dos trabalhos. Em se tratando de Maçonaria, sempre encontraremos um significado instrutivo de moral, esotérico e acrescento ainda, um significado também psicológico nos rituais. Com efeito, essa psicologia na ritualística e símbolos maçônicos, são perfeitamente sustentados, à medida que teorias e fundamentações como a Psicologia e a Ciência das Religiões conseguem justificar os efeitos psicológicos da mitologia e das alegorias primitivas e medievais. Saberiam nossos antepassados sobre psicologia para encontrarmos tantas questões científicas em nossos rituais? Evidente que tais noções já eram conhecidas desde a antiguidade, contudo sem a devida organização e proficiência que possuímos hoje. A Mitologia Maçônica foi analisada e estruturada quando pesquisadores e eruditos – supracitados – desenvolveram métodos e proposições psicológicas e sociológicas das mitologias e símbolos conhecidos desde antiguidade, que por sua vez, encontram sua parcela de participação e inspiração nos rituais maçônicos, mesmo que, em casos específicos utilizem um novo simbolismo. Um estudo comparativo da estrutura da Personalidade co rresp on dências sim bólicas c om o Temp lo Maçônic o
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De acordo com a psicologia analítica de Carl G. Jung, a psique divide-se em três níveis: A Consciência, o Inconsciente pessoal e o Inconsciente coletivo. 42 Conforme segue-se abaixo, tais divisões se conciliam em significados e funções com a parte exterior e interior do templo maçônico (sala dos passos perdidos, átrio e o templo), sendo que na parte interior, teremos uma correspondência particular com o ocidente e oriente. NÍVEL 1 – CONSCIÊNCIA43: Sala dos passos perdidos e o mundo profano Sobre Consciência, Persona e etc.;
A consciência é a única parte da psique a qual conhecemos direta e objetivamente44, e nela tudo ocorre de forma racional e lógica. Da mesma forma, isso também ocorre antes de adentrarmos ao templo, pois é na sala dos passos perdidos que tudo ainda ocorre de forma desprovida de questões oníricas, sem sinais ou gestos 38
Portanto, entendemos porque em passagens ritualísticas específicas é exigido certos sinais e gestos pelo ritual; O termo rito é empregado pelo autor da t eoria “Ritos de Passagem” com significado semelhante a “Ritual”; 40 VAN Guennep, Arnold. Os Ritos de Passagem (pag.23-40). RJ, Editora Vozes, 2011; 41 JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1 (pag.97-131). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 1978 42 Hall, Calvin S. & Nordby, Vernon J. Introdução à Psicologia Junguiana, A estrutura, dinâmica e desenvolvimento da Personalidade (pag.24-83). São Paulo. Editora Cultrix, 2005; 43 Muitos autores o chamam de Consciência objetiva; 42 Idem (2005); 39
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simbólicos, salvo detalhes excepcionais (não confundir com o Átrio que é uma específica sala que antecede o templo). O significado psicológico de Persona, para Jung, é aquela parte da personalidade desenvolvida e usada em nossas interações mundanas (profanas), nossa face externa consciente, nossa máscara social, como veículo não de nossa real vontade, mas da nossa necessária aceitação 45 46. Assim que, nas iniciações maçônicas, o gesto dos candidatos serem despidos de todos os metais, e iniciarem todos exatamente da mesma forma, significa que, naquele momento, o indivíduo despe-se de suas personas. Esse desprendimento se faz necessário visto que, conforme Jung, no nível do inconsciente pessoal – que citaremos logo adiante – não há persona, a qual se manifesta apenas no nível consciente. Se os irmãos observarem bem, o tratamento igualitário – tanto na iniciação como nas reuniões ritualísticas – fazem jus a presente comparação simbólica deste esquema, conforme corroborado abaixo, todavia não ignoramos os outros significados para com esse detalhe. O crescimento psicológico ocorre, de acordo com Jung, quando alguém tenta trazer o conteúdo-conhecimento do Inconsciente, para o nível Consciente, e estabelecer uma relação entre a vida consciente e o nível arquetípico da existência humana47 48, o homem que assim o fizer, haverá de reconhecer as origens dos problemas no próprio inconsciente (em si mesmo), pois a pessoa que não torna consciente suas limitações e defeitos, acaba por projetar nos outros tais percepções negativas49. Fazendo o devido paralelo, o crescimento na senda maçônica somente ocorre quando se aplica no chamado mundo profano o que se estuda e aprende no mundo maçônico, que é neste quadro comparativo o referido inconsciente pessoal, e assim tem-se a oportunidade de transformar o conhecimento adquirido em sabedoria. OBSERVAÇÃO - ESTADO INTERMEDIÁRIO: 50 O Pré-consciente e o Átrio Para Freud, a consciência humana também se subdividia em três níveis que ele chamava de Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente. O estado intermediário entre a Consciência (já abordado no nível 1 – supra delineado) e o Inconsciente, era o Pré-consciente, onde justamente por ser intermediário possuía a experiência de um material perceptível (consciente) e um material latente 51. Dessa forma, este plano – Pré-consciente de Freud – corresponde ao átrio do templo maçônico, que apesar de ser uma extensão do templo, é também um intermediário entre a sala dos passos perdidos e o templo. Nele ocorre o início da ritualística (caráter onírico) que virá a ser efetivada no interior do templo. O átrio se assemelha em correspondência com o pré-consciente, na medida em que ambos não possuem uma natureza específica, o que por sua vez, ocorre nos níveis anterior e posterior. Portanto, este estado intermediário (pré-consciente e átrio) contém uma natureza dupla, que tem por missão introduzir o personagem no recinto onírico e simbólico seguinte, bem como a desconexão com o mesmo no momento oportuno.
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JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1. Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 1978; HALL, Calvin S. & Nordby, Vernon J. Introdução à Psicologia Junguiana, A estrutura, dinâmica e desenvolvimento da Personalidade (pag.24-83). São Paulo. Editora Cultrix, 2005; 47 JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo, 9/1, O conceito de inconsciente coletivo, c) O método de comprovação. Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2011; 48 JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1 (pag.97-131). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 1978; 49 HALL, Calvin S. & NORDBY, Vernon J. Introdução à Psicologia Junguiana, A estrutura, dinâmica e desenvolvimento da Personalidade (pag.24-83). São Paulo. Editora Cultrix, 2005; 50 A Psicologia Analítica não trabalha com o conceito de Pré-consciente da Psicanálise. Todavia, visando um caráter mais amplo, não poderíamos deixar de apresentar tal conceito à comparação que estabelecemos neste artigo, para perpetrarmos o caráter investigativo, abrangente, didático e principalmente comparativo. 51 FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. Obras Completas, vol. V. Rio de Janeiro, Imago, 1972; 46
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NÍVEL 2 – O INCONSCIENTE PESSOAL 52: O Templo Maçônico53 Sobre Inconsciente Pessoal, Sonhos, Anima/Animus e etc.;
Todas as experiências que temos, sendo que algumas são esquecidas, mas que todavia não deixam de existir, são antes armazenadas e trabalhadas no inconsciente pessoal. É nesse nível que ocorrem os sonhos e toda a projeção quando estamos dormindo, e como sabemos, tais eventos oníricos são dotados de acontecimentos surreais e ilógicos perante a nossa realidade objetiva 54, visto que conceitos de “Tempo e Espaço” são fatores produzidos pelo nível Consciente. 55 56 Assim o Inconsciente Pessoal encontra correspondência simbólica com o interior ocidental do templo maçônico, onde a ritualística já alcança a totalidade dos trabalhos, e estes retratam bem o estado fictício e mítico da Mitologia Maçônica (drama maçônico), estado este que – paralelamente – também é encontrado nos sonhos dotados de sentidos simbólicos e abstratos, onde tanto no estado onírico como na ritualística, para-se ir do oriente ao ocidente, basta-nos dar alguns passos, e do amanhecer ao pôr do sol, bastam-se alguns minutos, o que ocorre semelhantemente aos nossos sonhos, onde no nível do Inconsciente Pessoal não há uma limitação objetiva, da mesma forma o simbolismo da ritualística não possui um senso lógico, pois, sua linguagem é figurada 57. Outra coincidência, não acha? Assim como o ritual maçônico não é literal os sonhos também não são, e ambos transmitem instruções morais através de seus simbolismos que, como observado por Jung, o crescimento e amadurecimento moral também é uma finalidade dos sonhos58. Destarte, em ambos os casos perde-se o efeito do lógico e racional 59, para com isso, trabalhar o simbólico e onírico 60. Sendo assim, interpretar o ritual maçônico somente de forma literal é um erro lastimável, ao passo que o sonho, inexoravelmente, também deve ser interpretado de forma não literal 61. Os conceitos de Anima e Animus foram talvez as duas mais importantes descobertas de Jung. Ambos são aspectos inconscientes de um indivíduo. O inconsciente do homem encontra ressonância com o arquétipo feminino, chamado de Anima, enquanto que a mulher associa-se com o arquétipo masculino, chamado de Animus62. Cabe notar que quando se fala de masculino e feminino, em se tratando de Animus e Anima, está se referindo às expressões e características, e não algo literal 63 64 , pois, como supramencionado, o inconsciente reside em um nível atemporal, inteiramente psicológico, portanto não material.
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Outras correntes chamam de “Consciência subjetiva” em contraponto à Consciência Objetiva citada no nível 1; Abordagem ocidental-oeste do Templo Maçônico; 54 JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos, Chegando ao Inconsciente. RJ, Editora Nova Fronteira; 55 Quando entramos numa crescente concentração decorrente de uma atividade consciente, a ordem natural das coisas é adentrarmos sutilmente no Pré-consciente ou Inconsciente pessoal, de modo não profundo, mas estabelecermos um estado intermediário diante da vigília. O que ocorre com isso é esquecermos as horas e dimensões sensoriais (passam-se minutos e horas, contudo não nos damos conta, ou supomos ter passado poucos minutos). Razão mor de necessariamente fazermos um relaxamento antes de adentrarmos ao Templo e dar início aos trabalhos. 56 JUNG, Carl Gustav. Sincronicidade 8/3 (pag.28,29 e 122, 123). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2013; 57 Idem (2013); 58 JUNG, Carl Gustav. A vida simbólica, 18/1. Rio de Janeiro, Vozes, 2012; 59 Ou seja: Consciente, Sala dos Passos Perdidos, Mundo Profano; 60 Ou seja: Inconsciente, Ritualística/Templo Maçônico, Mundo Real, Símbolos; 61 JUNG, Carl Gustav. Psicologia e alquimia, 12, Símbolos oníricos do processo de individuação – 2.Os sonhos iniciais (pag.58). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2012; 62 O casamento entre a parte Inconsciente (Anima ou Animus) com o Indivíduo, ou seja, no reconhecimento interior destas particularidades da Psique, ocorre o chamado “Casamento Alquímico” dos filósofos alquimistas. Jung sinaliza essa união nas diversas alegorias alquímicas e outros textos filosóficos. Segundo ele, o casamento ou paixão a primeira vista, e inúmeras ocorrências mundanas, seriam reflexões que estaríamos encontrando essa nossa contraparte Inconsciente (Anima ou Animus), podendo os “divórcios” trazerem graves consequências psicológicas. – Observação complementar na Parte II; 63 JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo, 9/1, Conceitos de anima (pag.63). RJ, Vozes, 2011; 64 JUNG, Carl Gustav. Psicologia e religião, 11/1, A autonomia do inconsciente. Rio de Janeiro, Editora Vozes, 2011; 53
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A Anima manifesta-se na psique de forma emocional, passiva e intuitiva, por outro lado, o Animus manifesta-se de forma racional, ativa e objetiva. Jung costuma relacionar Anima ao deus grego Eros, o deus do Amor, ao passo que Animus era relacionado com o termo Logos, que em grego significa verbo, razão 65. No templo maçônico tal equilíbrio dual é conhecido pelas duas colunas B e J. Sendo que na coluna B, tomam assento os Aprendizes Maçons, os quais são inteiramente instruídos sobre a educação moral, espiritualidade e ética maçônica, conceitos perfeitamente associados ao arquétipo de Anima. E na coluna J tomam assentos os Companheiros Maçons, que ao contrário dos aprendizes, possuem suas instruções voltadas para arte da ciência, também conhecida como artes liberais, bem como para o conhecimento esotérico, que são características de Animus. Ao oriente vemos o sol e a lua, que são símbolos do Animus e da Anima 66. Se não bastassem as discussões para o tão debatido tema se as colunas (Boaz e Jakin) são dentro ou fora do templo, este argumento acresce, aos outros mais 67, no sentido delas serem dentro do templo, por correspondências simbólicas e psicológicas descritas. Desta forma, neste contexto, Boaz e Jakin, representam Anima e Animus68, e a consecução entre ambas colunas representa o Casamento Alquímico, a totalidade do ser, ou seja, o Equilíbrio Perfeito, o Mestre 69. Aquele que caminha com tal união, anda pelo Caminho do meio (Mestre Maçom) 70. Por fim, vê-se que as duas colunas separam o ocidente em dois lados, e ambas norteiam para os respectivos estudos aqueles que estão sob o seu direcionamento, semelhantemente o que ocorre com nosso Inconsciente. NÍVEL 3 – INCONSCIENTE COLETIVO71: Sólio do Oriente Sobre Inconsciente Coletivo, Arquétipos e etc.;
Teoria proposta pela Psicologia Analítica, ele difere do Inconsciente Pessoal, visto que não se trata de experiências individuais, mas como o nome sugere, são experiências coletivas. Ele é um reservatório de imagens, chamadas de imagens arquetípicas, tais imagens e concepções são herdadas pelo homem de forma inconsciente através do Inconsciente pessoal. O Inconsciente coletivo estimula no homem/humanidade um comportamento padrão pré-formado, que este seguirá desde o nascimento72 73. Assim recebemos a forma do mundo em uma imagem virtual. Tal imagem transforma-se em realidade consciente quando durante a vida identificamos os objetos a ela correspondentes 74, da mesma forma recebemos do inconsciente a impressão da contraparte Anima (no caso dos homens), enquanto crianças a identificamos com nossas mães (ou pessoas que nos criaram que possuam características de Anima), mais adiante em nossas vidas, tal impressão se converte na companheira-mulher a qual nos casamos. Os conteúdos do Inconsciente coletivo são denominados de “arquétipos”. Tal termo significa um modelo original que conforma outras coisas do mesmo tipo, semelhante ao termo “protótipo”. Tanto o Inconsciente coletivo como o arquétipo se confundem com aquilo que chamamos nas ordens iniciáticas e meios espiritualistas de
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JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1. Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 1978; Na Parte II, Jornada do Herói e a Maçonaria, acresceremos um outro conceito de Anima; 67 ISMAIL, Kennyo. Desmistificando a Maçonaria. São Paulo, Universo dos Livros, 2012; 68 Muitas alegorias de “Dualidade”, nada mais são que representações de Anima/Animus; 69 Encontra-se um complemento na Parte II, em “Provação difícil ou traumática, O encontro com a Deusa.” 70 CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformação, Terceira parte, O Self como Herói. São Paulo, Editora Ágora, 2008; 71 JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo, 9/1. Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2011; 72 Informação substancial para a interpretação mitológica da Jornada do Herói - Conforme Parte II deste artigo; 73 Não podemos confundir esse direcionamento Psicológico com decisões conscientes, a qual necessitamos para uma vida consciente (cotidiana); 74 JUNG, Carl G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo, 9/1, O conceito de inconsciente coletivo. RJ, Vozes, 2011; 66
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“Egrégora”, e a principal base científica que sustenta este presente artigo, é sem sombra de dúvida o conceito de Inconsciente coletivo 75. Jung acreditava que tanto a experiência quanto a prática religiosa eram fenômenos que tinham sua fonte, interna e externa, no inconsciente coletivo 76 (conhecido esotericamente por “Egrégora”). O céu, o inferno, a era mitológica, o jardim do éden, o olimpo, bem como as outras moradas dos deuses, são interpretados pela psicanálise como símbolos do Inconsciente 77, e se enquadram ao simbolismo do dossel e do sólio no Oriente, localizado a sete degraus acima do nível onde se encontram os Aprendizes, Companheiros e Mestres, onde se encontra o chamado Trono de Salomão e que possui estampado o olho que tudo vê no Rito Escocês Antigo e Aceito. Assim como o Inconsciente coletivo dispõe da pré-formação psíquica da psique , o direcionamento ou pré-formação dos trabalhos vem do Oriente da Loja, além de que as informações históricas da Loja, presentes na carta constitutiva, também se localizam na região do sólio, bem como os registros de todas as reuniões ficam junto ao secretário (que normalmente toma assento no oriente). 78
OS EFEITOS E SINA IS INCO NSCIEN TES DA R ITUA LÍSTICA M A ÇÔNICA "O que é real? Como você define o "real"? Se você está falando sobre o que você pode sentir, o que você pode cheirar, o que você pode saborear e ver, o real são simplesmente sinais elétricos interpretados pelo seu cérebro." Morpheus - Matrix A ritualística se não estudada e compreendida, se torna pura fantasia e ilusão! Todo aparato do ritual é ilusão! Todas as roupagens simbólicas nos servem para nortear nossa Vontade, Inspiração e Imaginação.
Os rituais praticados e todas as suas repetições centram o indivíduo dentro dos propósitos do mito, pois o ritual é a simples representação do mito. Ao participar de um ritual, vivencia-se da sua mitologia. Assim, tais gestos e movimentos transcendem os adeptos79, razão maior, a título de exemplo, de se vivenciar a iniciação dos quatro elementos ou o mito de Hiram Abiff. Tornar-se Mestre Maçom é o mesmo que Jung chamava de processo de individuação para realização do Si-mesmo 80, conceito este que explanaremos melhor na Parte II deste estudo. Quanto à ritualística e seu potencial psicológico, transcrevo abaixo ad probationem uma citação da obra “Os arquétipos e o inconsciente coletivo”, de Carl Gustav Jung, onde o mesmo discorre sobre as formas de simbolicamente podermos atuar no Inconsciente pessoal do indivíduo: “ Outra forma de transformação é alcançada através de um ritual usado
para este fim. Em vez de se vivenciar a experiência de transformação mediante uma participação [vivência natural], o ritual é intencionalmente usado para produzir tal transformação. (...) Se recebe um novo nome e uma nova alma, ou ainda passa-se por uma morte figurada, transformando-se em um ser semidivino, com um novo caráter e um destino metafísico transformado” . (CARL GUSTAV JUNG, 2011, p. 231;) 81 [colchete nosso ] 75
Idem (2011); JUNG, Carl Gustav. Psicologia e religião, 11/1. Rio de Janeiro, Editora Vozes, 2011; 77 FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. Obras Completas, vol. V. Rio de Janeiro, Imago, 1972; 78 JUNG, Carl G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo, 9/1, O conceito de inconsciente coletivo. RJ, Vozes, 2011; 79 CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformação, Introdução. São Paulo, Editora Ágora, 2008; 80 MAXENCE, Jean-Luc. Jung é a aurora da Maçonaria. SP, Madras, 2010; 81 JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo, 9/1, Sobre o Renascimento, 2.f-g-h [231] (Procedimento e Transformações). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2011; 76
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Desta forma, o indivíduo que vivencia o ritual, as iniciações, elevações e exaltações, acaba por se transformar, seja pelas convicções conscientes, também ocasionadas pelo sistema mnemônico da ritualística, ou pela influência do inconsciente que recebe todos os sinais enviados pela mitologia através do ritual 82. Os maçons devem, portanto, realizar reflexões da simbologia maçônica. Ao executar um ritual de alto valor cultural, com gestos e passagens incomuns à sociedade, o qual, sob um olhar cético e profano, pode ser considerado como infantil e ingênuo, deve o maçom analisar tais movimentos a nível psicológico, onde reside sua maior força e resultado. Ademais, abordar o ritual maçônico ou qualquer outro ritual sem um entendimento psicológico e simbólico do seu significado, é de fato como ver animais nas nuvens, ou seja, um exercício de pura vontade e imaginação 83. Para o primitivo não bastava ver o Sol nascer e declinar. Esta observação exterior correspondia a um acontecimento anímico, isto é, o Sol representava em sua trajetória o destino de um Deus. Todos os acontecimentos mitologizados da natureza, tais como o verão, inverno, amanhecer, meio dia e por do sol, as fases da lua, as estações juntamente com norte, sul, leste e oeste, não são alegorias destas experiências objetivas, mas sim, expressões simbólicas do drama interno e inconsciente do homem que a consciência humana consegue apreender através da dramatização84, o que efetivamente encontramos nos rituais maçônicos. Conhecendo a antropologia das sociedades primitivas, Jung comparou a vida com a trajetória do sol em um dia. A primeira parte é para cima, do nascimento para a sociedade, semelhante ao amanhecer do sol. A segunda parte é para baixo, da participação no mundo e na sociedade para a morte, semelhante ao meio dia. E, enquanto o desafio da primeira metade da vida era a própria vida, o desafio da segunda metade é a morte, e todos os símbolos trocam de significado, semelhante ao anoitecer 85 86. Outro detalhe ritualístico curioso relativo ao sol é a circulação em sentido horário, também chamada de dextrocentrica. Uma prática tão antiga quanto a Maçonaria. Os gregos e romanos tinham o lado direito como favorável, visto que este, de forma geral, favorece mais seu dono do que o esquerdo. Relacionaram tal procedimento ao aparente movimento que o Sol faz diariamente em torno da Terra. Assim, essas civilizações, tendo sempre o aparente movimento do Sol como referência, adotavam a circulação em sentido horário, tendo altares, fogueiras, totens ou sacrifícios como eixo de seus templos87. Na obra “O símbolo de transformação da Missa 11/3”, Jung desmistifica os diversos rituais imbuídos de liturgias e simbolismos. A exemplo à própria circulação em sentido horário, que neste caso otimiza e direciona os trabalhos para o Consciente, enquanto que, a circulação no sentido anti-horário assim o faz direcionado para o Inconsciente.88 Como se sabe a circulação ritualística varia conforme o rito maçônico adotado, e em alguns casos, encontramos duas circulações diferentes dentro do próprio Templo Maçônico. Analisando as questões simbólicas e psicológicas destacadas acima, notamos a diferença crucial que existe nos movimentos ritualísticos e uma das razões – eu suponho – de se praticar esses detalhes ritualísticos que tornam do ritual algo incomum a outras práticas e cerimônias profanas, e que encontram uma sólida justificativa nesse argumento psicológico.
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JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1. Rio de Janeiro, Editora Vozes, 1978; Também podemos admirar os “animais nas nuvens” ou qualquer outro exercício de fantasia, e deles retirarmos parábolas instrutivas de moral e bons costumes, no caso dos nossos rituais queremos, justamente, dizer que eles transcendem tais questões morais e éticas, sendo imbuídos de outros valores além dos descritos nos próprios rituais; 84 JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo, 9/1, Sobre os arquétipos do Inconsciente Coletivo (pag.14). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2011; 85 JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1 (pag.86-91). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 1978; 86 JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos, Chegando ao Inconsciente. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira. 87 ISMAIL, Kennyo. Desmistificando a Maçonaria. São Paulo, Universo dos Livros, 2012; 88 JUNG, Carl Gustav. O símbolo da transformação na missa 11/3, (pag.22). Rio de Janeiro, Vozes, 2011; 83
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Os efeitos e significados psicológicos do “Sol” descritos por Jung, encontram ressonância, dentre outras coisas, quando comparamos o trajeto do sol com os graus simbólicos 89, bem como, com a ritualística de abertura e encerramento dos trabalhos ritualísticos. A função psicológica da ritualística é a de restaurar um equilíbrio psicológico, por meio do sistema moral e alegórico – bem como psicológico – proposto pela cultura em questão90, de modo a produzir um material onírico no inconsciente de seus membros, que terão um amadurecimento progressivo, tanto a nível objetivo e moral, como subjetivo e inconsciente. Desta forma o conhecimento da Maçonaria retrata um estudo do inconsciente, tanto do Inconsciente Pessoal através dos efeitos diretos da ritualística, como do Inconsciente Coletivo através do estudo da Mitologia Maçônica. Curioso notar a antropologia das sociedades, que nos mostra que os rituais tribais de iniciação (e outros por equiparação) dá-se ao candidato um novo nome 91, e o classifica dentro do grupo em seu grau correspondente, bem como ele ganha ainda uma idade fictícia, que desempenha um papel simbólico do seu posto, e recebe uma marca, que nos tempos atuais figura como simbólica, e no final, tudo isso distingue o iniciado dos não iniciados – qualquer semelhança com prática ritualística não é acaso! No Rito Escocês encontramos estes mesmos e outros atos ritualísticos. Seja física ou simbólica estas representações operam igualmente no inconsciente 92. Estudos antropológicos nos mostram até que ponto encontramos embasamento para tais práticas simbólicas encontradas na Maçonaria. A prática de diferentes termos linguísticos também é usada para separar o sagrado do profano 93. Este exemplo é um dos diferenciais da ritualística maçônica, onde uma linguagem própria e coloquial é adotada, inúmeros são os exemplos disso. Em resumo, conclui-se que a ritualística, assim como o sonho, é o mito personalizado, e o mito é a ritualística despersonalizada. A mitologia e a ritualística, em síntese, simbolizam e expressão a dinâmica da psique 94. O ritual possui inúmeros níveis de atuação simultaneamente. O que ocorre de simbólico no plano consciente – e erroneamente deduzido de teatro ou faz de conta – está ocorrendo real e efetivamente em outros níveis, como por exemplo, no inconsciente pessoal do praticante e/ou dos maçons.95 Estudar a ritualística a nível puramente moral, em nada difere de especial às práticas educativas e imaginativas do RPG – Role-playing game, ou como antes sugerido, imaginar animais nas nuvens, num exercício de vontade e imaginação, pois, em quaisquer destes exemplos conseguiremos um amadurecimento moral e educativo dentre outras coisas. A nossa proposta é uma análise além das fronteiras objetivas da ritualística, uma visão que permita entender o porquê da execução de certos gestos e passagens simbólicas. Por sua vez, esta é uma semelhante posição de estudiosos de Mitologia, Religiões e Culturas Comparadas que perceberam um valor peculiar e transcendental nos mitos e culturas existentes. Por derradeiro, podemos nos esforçar em saber todos os procedimentos ritualísticos, entretanto, se procedermos um ritual sem estudar seus símbolos e efeitos psicológicos, seremos como robôs que obedecem o comando de um computador.
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Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom; JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos, Chegando ao Inconsciente (pag.50). RJ, Editora Nova Fronteira; 91 Ne-varietur; 92 VAN Guennep, Arnold. Os Ritos de Passagem, Passagem material – Os ritos de iniciação. RJ, Editora Vozes, 2011; 85 Idem (2011); 94 CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, Prólogo (pag.27). São Paulo, Pensamento, 2007; 95 A Iniciação Maçônica contém elementos psicológicos imprescindíveis para introduzir o profano no contexto cultural [psicológico] maçônico. Caso contrário haveria uma dissidência de entendimento inconsciente. 90
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PARTE II A JORNADA ARQUETÍPICA DO HERÓI NA MITOLOGIA MAÇÔNICA Jornada do herói X Iniciação Maçônica 96
“Em muitos povos o sol representa a experiência de vida do homem” C.G. Jung
Havendo demonstrado a estrutura psicológica da Mitologia Maçônica na parte I – por associação e equiparação, veremos a seguir os princípios da jornada arquetípica do Herói, bem como projetaremos uma análise dos conceitos científicos da Ciência das Religiões e da matéria de Religiões, Mitologias e Culturas Comparadas. E com isso adaptaremos então, a Jornada à Iniciação Maçônica, de forma que o artigo não tire a interpretação pessoal do grau de Companheiro e Mestre Maçom que complementam o roteiro da Jornada do Herói. O intitulado “Herói” 97 na análise psicológica da sua manifestação, pode ser compreendido como um arquétipo dentro da psique coletiva 98. Para reforçar tal teoria, Jung indica sua representação nas mais conhecidas culturas e religiões ao redor da terra99, e nós também poderemos encontra-lo em filosofias como a Maçonaria. O encontramos essencialmente nas histórias de Atum, Osíris e Hórus do Antigo Egito; de Marduk, dos Mistérios Sumerianos; de Apolo, Febo, Héracles, Dionísio e Orfeu, da Mitologia Greco-Romana; de Krishna, da Religião Hinduísta; de Baldur, dos Mistérios Nórdicos; de Amaterasu, na religião Xintoísta; de Oxalá, Oxalufã, e Oxaguiã, das Religiões Afro-brasileiras; do Rei Arthur, Galahad e Persival, na história do Santo Graal; na verídica história de Jacques DeMolay, nos Medievais Cavaleiros Templários; em Cristian Rosenkreuz, nas Núpcias Alquímicas da Tradição Rosacruz (Manifestos); em outros contos como Branca de Neve e o Mágico de Oz; em vários heróis cinematográficos, como Luke Skywalker, Indiana Jones, James Bond, Superman, Harry Potter, Frodo Bolseiro, e além é claro, de Jesus o Cristo, da Religião Cristã100. Em todas estas histórias, encontram-se exatas e nítidas similaridades que podem ser compreendidas pelo conceito do Inconsciente Coletivo. Por fim, na Mitologia Maçônica tem-se a lenda de Hiram Abiff, mito esse exclusivo da Maçonaria 101. Embora a Mitologia Maçônica utilize do contexto contido no Antigo Testamento, pouco se tem no mito de conteúdo especificamente bíblico, haja vista que o enredo principal é composto por mitos elaborados. Malgrado, muitos são os maçons que insistem em fundamentar a maçonaria na bíblia, ou, pior ainda, fundamentar a história pela Maçonaria 102. O maior exemplo de elaboração mítica na Maçonaria é a de Hiram Abiff. Não há, logicamente, registros históricos de tais eventos, e interpretá-los no sentido literal é um erro crasso, pois mitos devem ser interpretados, como já dito, de forma simbólica e não literal . 103 104
Conforme descreve o célebre maçom, Arthur Edward Waite, em sua Enciclopédia Maçônica 105: “A lenda do mestre constru tor é a grande alegoria maçônica. Sucede
que essa história figurativa baseia-se num personagem mencionado NR.: Publicado em: Revista Fraternitas in Praxis, Vol.01, N.01, Rio de Janeiro, RJ, 2013; 96 JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira; 97 Quando empregarmos o termo “Herói” estaremos nos referindo ao Herói Mitológico; 98 JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1. Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 1978; 99 JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo, 9/1. Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2011; 100 DEL DEBBIO, Marcelo. Enciclopédia de Mitologia. São Paulo, Daemon Editora, 2008; 101 STAVISH, Mark. As origens ocultas da Maçonaria. SP, Pensamento, 2011; 102 ISMAIL, Kennyo. Desmistificando a Maçonaria. São Paulo: Universo dos Livros, 2012; 103
CAMPBELL, Joseph. Isto és Tu, Metáfora e mistério religioso (pag.15-25). SP, Landy Editora, 2002; CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformação, Segunda parte, O mito pessoal. SP, Ed. Ágora, 2008; 105 WAITE, A. E., A New Encyclopaedia of Freemasonry, 2 vols. (London: William Rider and Son Limited, 1921; 104
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nas sagradas escrituras, mas o pano de fundo histórico é acidental e não essencial, assim o importante é a alegoria e não um ponto histórico qualquer que esteja por trás dela” (WAITE, A. E., A New Encyclopedia of Freemasonry, 2 vols - pag.267. London: William Rider and Son Limited, 1921);
Mark Stavish corrobora sobre tal elaboração: 106 “A maior parte do ritual é composto por mitos elaborados, cuja
finalidade é um valor moral, ético e espiritual, mas não intelectual (..).”
O fato de interpretar os mitos como fatos, mesmo estes sendo ambientados num período de difícil documentação (como é período dito “bíblico”) é um evento normal em muitas sociedades, sendo inclusive atual. Passam a viver em nome do mito e não mais compreendem o recado da mitologia e com isso tudo passa a ser literal, semelhante às outras demonstrações sugeridas na parte I, ao passo que aqueles que vivem em nome da transcendência da alegoria, como por ora propomos, compreendem a verdade do mito e tornam-se verdadeiros Mestres 107. Mito não é o mesmo que história, pois, ele deve tão somente, fazer o indivíduo atravessar as etapas da vida, do nascimento à maturidade, depois a senilidade e a morte, a grande questão reside nessa chave de interpretação não literal, mas, simbólica e transcendente.108
O Monomito ou a Jornada do Herói Assim como a psique humana é dividida em três partes pela Psicologia Analítica 109, a Jornada do Herói também o é, podendo ser classificada como: a) Separação ou Partida; b) Iniciação ou Provas e Vitórias; e c) O retorno 110. Esse ternário constitui a base essencial do mito, bem como dos Rituais de Passagem . No que concerne a Iniciação Maçônica, essa pode perfeitamente ser enquadrada neste postulado ternário, como o estudo demonstrará abaixo, sendo a última fase – 3. O retorno – devidamente completada no grau de Mestre Maçom e Maçom do Real Arco. 111
Como já esclarecemos a teoria da Jornada do Herói teve por base a ideia do Monomito difundida por James Joyce, vindo a ser aperfeiçoada por Campbell pela associação com o conceito freudiano de forças do Inconsciente, e alcançando seu pleno embasamento científico com a psicologia analítica ou arquetípica de Carl Gustav Jung, que propõe o conceito psicológico de Arquétipos e Inconsciente Coletivo. A estruturação dos Ritos de Passagem pelo antropólogo Arnold Van Guennep possibilitou a análise das diferentes fases da aventura do herói, bem como as diversas manifestações do mesmo nas sociedades tribais 112. Para tanto, será apresentada a constituição básica da Jornada do Herói, seus significados psicológicos e antropológicos, que estão presentes em formas disfarçadas nos contos e mitos, além é claro, de exemplificar o contexto maçônico da mitologia, ideia central deste artigo. Os principais objetivos da missão do Herói são, atingir a liberdade plena, compaixão pela humanidade, ou ainda um casamento místico e espiritual. O processo que leva a tais consecuções, e que suscintamente, retrata a repetida Jornada Arquetípica, foi chamado por Jung de “processo de Individuação”. Quando há uma harmonia entre o consciente e o inconsciente, havendo uma contínua relação 106
STAVISH, Mark. As origens ocultas da Maçonaria. SP, Pensamento, 2011; CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformação, A necessidade de ritos. SP, Ed. Ágora, 2008; 108 CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, As chaves (pág.241-247). São Paulo, Pensamento, 2007; 109 Parte I - Análise comparativa da estrutura da Personalidade e suas correspondências simbólicas com o Templo; 110 Idem, Prólogo, (2007); 107
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VAN Guennep, Arnold. Os Ritos de Passagem. Classificação dos Ritos. Rio de Janeiro, Editora Vozes, 2011; Idem (2011);
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funcional – em outras palavras, quando deliberadamente a prática maçônica (Inconsciente) toma praticidade no mundo profano 113 (Consciente) –, há uma sucessão de experiências únicas, que levam a um alto estado de percepção, liberdade e amadurecimento, tornando-se, segundo Jung, “um consigo mesmo”114. Isto é, portanto encontrar sua própria individualidade, estar livre de influências exteriores, ou como outros o definem atingir a “Verdadeira Vontade”, vontade livre de influências exteriores (profanas, mundanas, dos outros), por isso vontade verdadeira.
1. Partida ou Separação O chamado da aventura “... Eu o proponho, na devida forma, um candidato apropriado para os
mistérios da Maçonaria. Eu o recomendo, como digno de compartilhar privilégios da Fraternidade, e, em consequência de uma declaração de suas intenções, feita de forma voluntária e devidamente atestada, eu acredito que ele seguirá estritamente em conformidade com as regras da Ordem.” Illustrations of Masonry, WILLIAM PRESTON, 1867, p.26.
A primeira tarefa do herói é retirar-se da cena mundana, do mundo profano nas alegorias e contos, e iniciar uma jornada – que desmistificada trata-se de uma imersão nas regiões causais da psique onde residem efetivamente as reais dificuldades 115 – a fim de transpor os obstáculos, tornar consciente as dificuldades, e por fim superá-los em benefício próprio ou coletivo 116. Normalmente um problema se apresenta diante do herói mitológico, a fim de convocá-lo a cumprir seu destino, mas também poderá ocorrer outros fatores para o seu próprio crescimento, como curiosidade, sonhos, desejos e etc. Deste modo, conforme o procedimento maçônico padrão 117, o candidato é geralmente convidado a iniciar na Sublime Ordem. O convite parte do chamado no meio maçônico de padrinho, o qual figura a função de arauto. 113
A palavra vem do latim Profanum: Pro (diante de; fora do); Fanum (templo; lugar sagrado); Tal afirmação de Jung é apenas uma adaptação da sentença grega: “Conheça-te a ti mesmo...”. 115 Como demonstrado na parte I, o único lugar onde de fato existem problemas e sofrimentos é no inconsciente, a qual devemos reconhecer e erradica-los em favor de nós mesmos. Eis a eterna e difícil tarefa que temos. 116 CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, O Monomito (pág.27). São Paulo, Pensamento, 2007; 117 PRESTON, William. Illustrations of Masonry. New York: Masonic Publishing and Manufacturing Co., 1867; 114
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Na aceitação do convite reside este estágio do “chamado da aventura” , que, em outras palavras, o padrinho figura como um sinal enviado pelo inconsciente (a qual já falamos é o Templo Maçônico – Reunião Ritualística). O candidato que recebe o convite-chamado é a consciência objetiva (simbolicamente o exterior do Templo Maçônico – Mundo Profano). Em termos reais, isso nada mais é que, um sonho, a qual como demonstramos, é um fator equilibrante do nosso Inconsciente, para, devidamente direcionar o Consciente, a fim de alcançarmos o equilíbrio. Com o devido paralelo que fizemos na parte I, acha-se dramatizado tal comunicação Inconsciente Pessoal X Consciente, nesta referida passagem na Mitologia Maçônica. 118
A associação dos estágios da Jornada do Herói para com os mitos não devem ser literais, pois, cada mito possuí um conotação cultural que lhe é peculiar, obtendo variações de um lugar para o outro. Desta forma, o que devemos observar é o simbolismo essencial e arquetípico de cada estágio da jornada, como forma de adaptação e posterior compreensão do contexto. Assim é evidente que a história de um Herói (Buda, Jesus e Hiram) são literalmente diferentes – apesar das coincidências significativas – mas o simbolismo arquetípico de suas manifestações no desenrolar da história são notoriamente semelhantes. A recusa do chamado “...Tente! E não diga que a vitória está perdida, Se é de batalhas que se vive a vida, Vá, Tente outra vez!” Raul Seixas
Sempre encontramos tanto na vida real como nos contos mitológicos, o dramático caso do chamado que não obtém resposta, havendo, pois, o desvio da atenção para outros vis interesses. A recusa à convocação acaba por aprisionar o herói mitológico, seja pelo tédio, pelo trabalho duro ou pela ignorância. A recusa é uma negação à atitude de renunciar àquilo que a pessoa – o inconsciente – considera interesse próprio 119, mesmo que sua mente consciente ainda não saiba, e tal recusa caracteriza-se, cumulativamente, pela identificação da persona 120 com seu ego121 o que acarretaria no conceito psicológico de Inflação 122. Por essa e outras razões sempre encontramos uma manifestação de egoísmo no estágio da “recusa do chamado”. Há casos onde não aceitam convites e iniciações por egoísmo, ou mesmo largam e abandonam a maçonaria também por egoísmo. A esposa de Ló, tornou-se uma estátua de sal por ter olhado para trás e desobedecido a instrução, e devido a forte emoção que caiu diretamente em Ló, tal evento tornar-se-ia uma “recusa do chamado”, pois poderia diretamente ter rompido com a jornada. 123 A recusa do chamado na maioria das vezes é representada pelo medo em suas várias manifestações, sendo que tal evento promove um olhar ou mesmo um voltar-se para trás de forma a não prosseguir. Ocorre de modo semelhante como “recusa do chamado” na jornada maçônica, qu ando por algumas vezes o medo do desconhecido ou oculto impede os candidatos de iniciarem, outras vezes a própria cultura de certas sociedades tratam de cumprir esta f unção. 118
CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, A Aventura do Herói (pág.66). São Paulo, Pensamento, 2007; Idem, Prólogo (pág.72). 2007; 120 Em grego significa “máscara”. A psicologia analítica define Persona como parte da personalidade desenvolvida e usada em nossas interações, ela é nossa face externa consciente, uma máscara social que usamos para dar forma ou força à imagem exterior que as pessoas tem ou a qual achamos que possuímos. Jung enxergava a Persona como um mediador entre o mundo externo e o eu, voltando-se para a materialidade da vida consciente, enquanto Anima-Animus também é um mediador, mas do eu para o inconsciente, voltado para a subjetividade da vida inconsciente; 121 Na visão de Jung, Ego é o nome dado à organização da mente consciente, constituindo-se de percepções conscientes, de recordações, pensamentos e sentimentos. A menos que o Ego reconheça tais percepções elas não chegariam a nossa consciência. Tais reconhecimentos do Ego são estabelecidos pela função dominante de cada pessoa (sensibilidade, objetividade e etc). Uma forte experiência pode forçar entrada pelo ego ocasionando graves consequências (traumas). O Ego passa a falsa ideia de que ele é, essencialmente, nossa inteira consciência, ou melhor, nossa Psique como um todo. (HALL; NORDBY, 2010) 122 HALL, Calvin S. & Nordby, Vernon J. Introdução à Psicologia Junguiana. São Paulo. Editora Cultrix, 2005; 123 AT. Gênesis 19:26: “E a mulher de Ló olhou para trás e ficou convertida numa estátua de sal.” 119
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Para muitos, talvez, esse estágio seja o mais difícil de todos, garantindo as devidas proporções. Todo início (na vida) é conturbado, é repleto de dúvidas e dificuldades. Dar o primeiro passo, eis à chave para o chamado! O auxilio sobrenatural “...Quando os tempos se tornarem tempestuosos, E os amigos
simplesmente não puderem ser encontrados, Como uma ponte sobre águas turbulentas, Eu surgirei...” – Bridge Over Troubled Water, by Elvis Presley.
Para aqueles que não recusaram o chamado – convite para iniciar –, o primeiro encontro da jornada do herói se dá com uma figura protetora, que fornece ao iniciando ajuda para lhe proteger na jornada que estará prestes a deparar-se. As mitologias desenvolvem o papel na figura do guia e do mestre. No mito grego esse guia é Hermes-Mercúrio, e no mito egípcio a sua contraparte egípcia, Thoth. Nas tradições judaicas, Noé contou com uma pomba. Na mitologia cristã encontramos como guia o Espírito Santo ou mesmo com a protetora, a Virgem Maria . 124
Na iniciação pelo Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria, fica evidente a figura de auxilio da jornada na função do oficial chamado de Experto/Guia, que conduz o iniciando durante a jornada, oferecendo-lhe a devida proteção: “Eu serei o vosso guia, tendes confiança em mim, e nada receeis” . A função do Experto durante a iniciação é conduzir o candidato, que estando privado de certas faculdades, necessita inexoravelmente do amparo do guia. A passagem p elo primeiro limiar
"Cedo ou tarde, você vai aprender, assim como eu aprendi, que existe uma diferença entre Conhecer o caminho e Trilhar o caminho." Morpheus - MATRIX
Tendo resistido ao medo, muitas das vezes personificado como medo de morte, simbolizado no Rito Escocês pela passagem da câmara de reflexões, o herói segue em sua aventura até chegar ao conhecido na Jornada do Herói por “guardião do limiar"125. Entende-se psicologicamente pelo limiar como a passagem do consciente para o inconsciente, onde se adentra a um mundo de fantasias e imagens, semelhantes aos sonhos. Ou seja, um mundo mítico e surreal – o inconsciente –, muitas vezes chamado de mundo da fantasia, variando conforme cada contexto cultural. Conforme explicamos na Parte I, o ponto simbólico intermediário que marca a passagem do consciente para o inconsciente é a passagem da sala dos passos perdidos para o – átrio e – templo. Joseph Campbell diz que no âmbito mitológico esse primeiro limiar é representado pela presença de um guardião, e o mesmo está associado, variavelmente, a um posto que pode ser uma “ porta” , ponte ou lago, simbolizando o limiar. Isto posto, na Iniciação pelo Rito Escocês a passagem pelo primeiro limiar ocorre, exatamente, no momento em que o candidato é levado à porta do templo e recebido pelo Guarda do Templo, sendo que nos ritos anglo-saxões já seria o Cobridor Externo. Após sua passagem, ou seja, após ser “franqueado seu ingresso”, o candidato passa a vivenciar uma nova e única experiência, sendo submetido a uma ritualística incomum a todas as outras, a simbólica e mística ritualística maçônica, que é regida com base no sentido figurado e subjetivo, igualmente aos contos e mitos, a qual já falamos são retratações do inconsciente. Muitos poderiam agora até mesmo dizer que Campbell baseou toda sua teoria no processo iniciático da maçonaria, para assim compor a “Jornada do Herói” (1949) 124
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CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, Prólogo (pág.80). São Paulo, Pensamento, 2007; Idem, pág.82-85, 2007;
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devido a tamanhas coincidências, até mesmo em detalhes, que foram por ora apresentados neste artigo. Todavia cabe uma observação que o trabalho de Joseph Campbell foi analisado cientificamente sobre a estrutura de todas as religiões até então conhecidas, principalmente as religiões de cunho ocidental. Como já salientado, a teoria da “Jornada do Herói” teve por base pesquisas antropológicas, históricas e sobretudo psicológicas, tendo foco no estudo de Religiões, Culturas e Mitologias comparadas. Em verdade, não teríamos dificuldade nenhuma em fazer este estudo, visto a herança cultural que a Sublime Ordem recebeu. Estas reflexões, que chegam ao vulgo cunho de “coincidências”, são a causa deste artigo se chamar Mitologia Maçônica. Pro vações, tes tes, a no va ex per iênc ia - O ven tre da b aleia
"Pois vontade pura, desembaraçada de propósito, livre da ânsia de resultado, é toda via perfeita." – Liber AL I:44
A ideia de que a passagem pelo limiar é uma passagem para uma esfera de renascimento é simbolizada na imagem mundial do útero, ou ventre da baleia. O herói, em lugar de conquistar ou aplacar a força do limiar, é jogado no desconhecido, dando a impressão de que morreu, ou em outros casos é submetido a t estes e provações, de forma que aprenda as regras – simbólicas – deste novo mundo. 126 127 Como exemplo pode-se citar alguns contos, como Chapeuzinho Vermelho (conto alemão) na qual ela é engolida pelo lobo. Da mesma forma todo o panteão grego, exceto Zeus, foi engolido pelo pai Cronos. Na bíblia e no Alcorão encontramos Jonas, que é engolido por um peixe, e passa “três dias e três noites” nas entranhas do peixe, e depois sai de lá vivo. 128 Arnold Van Guennep, salienta que “ A morte momentânea” é tema principal das iniciações tribais. 129 Na jornada maçônica o iniciando é colocado à prova por testes simbólicos, fazendo-o seguir por “caminhos escabrosos” , para que coloque a mostra sua coragem de forma a persistir na senda da virtude. 2. Iniciação ou Provas e Vitórias - A Descida O caminho sub sequente de prov as “... Se quisermos ir ao paraíso, devemos antes passar pelo inferno...”
Divina Comédia – Dante Alighieri
Vindo a ser vitorioso nos primeiros testes e provas, ao cruzar por completo o limiar, o herói caminha por uma paisagem onírica povoada por formas curiosamente fluidas e ambíguas, na qual deve sobreviver a uma sucessão de novas provas. Esta passagem marca o Herói que é definitivamente apresentado a um novo mundo. É notório o paralelo com a Mitologia Maçônica, sendo que a ritualística maçônica é algo jamais experimentado antes, eis aí o “novo mundo” que é apresentado ao iniciando maçom. O herói continua a ser auxiliado de forma indireta, por Guias e Mestres. Porém, aos poucos ele percebe que existe um poder benigno, presente em toda parte, que o sustenta em sua jornada. 130 Um mito interessante sobre esse estágio, e um dos mais antigos da história, é o conto sumeriano da descida ao mundo inferior, pela deusa Inana 131. Tal mito era 126
Idem, pág.92, 2007; Devido este estágio se encontrar logo após a “passagem do primeiro limiar ” não citamos a Câmera de Reflexões, mas, também seria possível a associarmos à este estágio, por possuir características ideais a este nível. Contudo haveria uma ambiguidade devido a ordem dos fatos. Ressalta-se, porém, que esta associação é verossímil de associação; 128 AT. Jonas 1:17: “O Senhor fez que ali se encontrasse um grande peixe para engolir Jonas, e este esteve três dias e três noites no ventre do peixe.” 129 VAN Guennep, Arnold. Os Ritos de Passagem. Os Ritos de Iniciação (pag.87). Rio de Janeiro, Editora Vozes, 2011; 130 CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, Aventura do Herói (pág.102). São Paulo, Pensamento, 2007; 131 DEL DEBBIO, Marcelo. Enciclopédia de Mitologia. São Paulo, Daemon Editora, 2008; 127
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ritualisticamente praticado na antiguidade pelas Prostitutas Sagradas 132 133, que foi profanado e hoje é conhecido como strip-tease em a “Dança dos Sete Véus” 134. Muitas mitologias retratam neste momento uma descida ao submundo, quando na verdade, tal descida retrata a imersão aos domínios da psique aos quais você não está dando a devida atenção 135, e disto viria à análise clínica da Psicologia Analítica 136. O auxílio indireto de Guias e Mestres é uma perfeita associação às opiniões dadas quando o Venerável Mestre faz sucessivas perguntas ao candidato. Estas novas provas, cada vez maiores em níveis, representam no processo iniciático maçônico, a passagem pelos quatro elementos, onde o iniciando vivencia e supera simbolicamente os elementos. No passado, relatos indicam que os candidatos de fato se colocavam à provas, seja de um incêndio, a nado, ou de tempestades, diferentemente de nossos tempos, antigamente os grupos – e tribos – realizavam literalmente tais testes 137. Pro vação di fíci l o u tr aum átic a, O en co nt ro co m a Deu sa
"Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta." Carl Gustav Jung
A provável última aventura, quando todas as barreiras foram vencidas, aparecerá como a experiência mais profunda e traumática do enredo mitológico. Normalmente é representado por uma morte efetiva e momentânea, ou mesmo por um renascimento miraculoso 138. Em diversos ritos maçônicos (e em diferentes graus) encontramos encenações de todo o tipo para representar este importante estágio, seja por mais provas iniciáticas ou por demonstrações fúnebres, funestas e sombrias, de forma que pela última vez é dada a chance ao candidato de desistir da senda da virtude, e render-se ao medo do desconhecido, mas como ele mesmo descobrirá no futuro isso seria utilizado para cumprir com as finalidades do processo iniciático. Sendo persistente, o iniciando compreende depois o sentido simbólico ou mesmo psicológico de suas provações e testes, e no ápice da aventura é apresentado diante da “Deusa”. Tal passagem é finalizada por um “Casamento Místico”, conhecido nos mitos por hierosgamos 139, o mesmo anunciado pelos manifestos rosacruzes 140.141 Em termos psicológicos tal casamento representa a união com a “Anima”, ou Animus em contos da heroína. Ocasião em que se toma pleno conhecimento da dualidade do Inconsciente. Esta união representa o chamado “Casamento Alquímico” dos Alquimistas, e retrata uma união indissolúvel entre o ouro e a prata, e, em outras palavras, o encontro do Cavaleiro com a Princesa, aquele momento dos contos onde se diz “E viveram felizes para sempre” (o que quer dizer: “viveram felizes além do tempo e do espaço – no Inconsciente”) ou descobre-se o elixir da longa vida dos alquimistas142.
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VAN Guennep, Arnold. Os Ritos de Passagem. Os Ritos de Iniciação (pag. 95). Rio de Janeiro, Ed. Vozes, 2011; Na antiga Suméria o nome “Prostituta” significava originalmente “Aquelas que se prostram” , neste caso em homenagem a Deusa, A Sacerdotisa Inanna ou Ishtar. Contudo com o advento das sociedades patriarcais o termo se profanou juntamente com os rituais desta antiga forma religiosa, passando a possuir outras significações na Roma Antiga; 134 O número 7 em questão se refere aos Sete Portais a qual a Deusa tinha que atravessar, onde a cada portal ela retirava um véu. A dança dos Sete Véus na verdade retrata um ritual iniciático; 135 CAMPBELL, Joseph. Isto és Tu, Metáfora e mistério religioso (pag.15-25). SP, Landy Editora, 2002; 136 JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1 (pag.126-132). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 1978; 137 LEVI, Eliphas. Dogma e Ritual da Alta Magia e História da Magia. Editora Pensamento; 138 CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, Aventura do Herói. São Paulo, Pensamento, 2007; 139 Significa “Casamento Sagrado", é a cópula de um deus ou homem com uma deusa ou mulher. Trata-se de um antigo ritual que proporcionava uma intensa experiência espiritual ou intercâmbio de conhecimentos através do sexo; 140 Manifestos Rosacruzes publicados na Alemanha em 1614, 1615 e 1616, versados em alquimia, magia e cabala. 141 O referido Casamento, conforme explicado, não encerra a Jornada, que ainda encontra-se na metade do caminho; 142 JUNG, Carl Gustav. Estudos alquímicos, 13,Anima e Animus (45-62). Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2012; 133
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Para desmistificarmos, a mulher representa na linguagem pictórica da mitologia, a totalidade do que pode ser conhecido, e o herói é aquele que a compreende. Segundo Jung, havendo o equilíbrio total na psique (o conhecimento de Anima e Animus), atinge-se em seguida o Si-mesmo, ou seja, a totalidade do ser, torna-se consciente todo o inconsciente 143, e assim completa o processo que Jung chamou de processo de individuação 144. Contudo, quando achamos que um processo encerrou, descobrimos que ele é o início de outro, e que em todo fim acha-se um novo início 145, e vemos que o herói (ou iniciando) apenas se capacitou para enfrentar desafios maiores. É neste estágio que chegamos ao fim desta breve apresentação, pois entraríamos no contexto do grau de companheiro e por fim, culminar no grau de mestre maçom. No grau de companheiro maçom recebe-se instruções pertinentes a Animus, quando então o processo é devidamente equilibrado – havendo passado por ambas colunas – e no grau do mestrado completa-se em todos os níveis a projeção arquetípica do herói na Mitologia Maçônica. Semelhante ao contexto da Mitologia Maçônica ocorre o mesmo no mito egípcio de Osíris, como sabemos um dos mais antigos que existem. Depois de se casar com Ísis (sua Anima), Osíris é traído por seu irmão Seth, que juntamente com outros conspiradores, induz Osíris a adentrar a um esquife, onde acaba morto – pelo próprio irmão. Achando-se próximo a uma planta (em algumas versões uma acácia) Osíris é encontrado por Ísis, e posteriormente passa pelos mistérios da ressureição, passando a ser chamado de Senhor dos Dois Mundos, pois superou a vida e a morte, sendo a coroação da sua jornada o nascimento do seu filho, o Deus Hórus, a qual também é conhecido como Filho da Viúva - a viúva em questão é Ísis 146. Da mesma forma ocorre os mistérios da ressureição com Jesus – Yeshuah – que traído por um discípulo, morre com a crucificação e após acontece os mistérios da Redenção, e o mesmo ascende ao “paraíso”147. O prosseguimento da jornada do herói na Mitologia Maçônica acha-se no grau de Mestre Maçom, todavia o “final feliz” d essa jornada se situa no grau de Maçom do Real Arco. Não é atoa que ele foi considerado como segunda parte dos mistérios do terceiro grau, onde a primeira parte é o próprio grau de mestre maçom. Por essas e outras razões que nos ritos anglo-saxões (Rito de York e Ritual de Emulação) o grau de Maçom do Real Arco é tratado como imprescindível ao conhecimento maçônico. O segundo artigo do Tratado de União das Grandes Lojas, dos Antigos e Modernos, de 1813, diz: “ Está declarado e pronunciado que a pura e antiga maçonaria consiste
de três graus e nenhum mais, isto é, os de Aprendiz, Companheiro de ofício, Mestre Maçom, incluindo a Suprema Ordem do Sagrado Arco 148
Real.”
Em síntese, poderíamos concluir que, nos graus de companheiro e mestre maçom – incluindo o Maçom do Real Arco – há a continuidade da jornada arquetípica do herói na Mitologia Maçônica, a qual pode ser “complementada” por outros inúmeros graus que encontramos nos ritos maçônicos. Ainda sobre o encontro com a Deusa ou “Encontro com a Anima psicológica”
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HALL, Calvin S. & Nordby, Vernon J. Introdução à Psicologia Junguiana, A estrutura, dinâmica e desenvolvimento da Personalidade (pag.24-83). São Paulo. Editora Cultrix, 2005; 144 JUNG, Carl Gustav. Psicologia e alquimia, 12, Simbolismo da mandala. Rio de Janeiro, Editora Vozes Ltda, 2012; 145 Na equação da Tétrada dos Pitagóricos: 10: 1+0 = 1. 10 = 1; 146 DEL DEBBIO, Marcelo. Enciclopédia de Mitologia. São Paulo, Daemon Editora, 2008; 147 Já falamos na parte I sobre os significados por trás deste e outros “lugares sagrados”; 148 RIBEIRO, João Guilherme C. O Nosso Lado da Escada. Rio de Janeiro, Ed., 2012;
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Fim d o pr im eiro cic lo da Jo rnad a Maçônica 14 9 – Ap ren diz Maçom “... Em cada um espera-vos um Companheiro, e aquele Companheiro é Vós Mesmos...” Liber Tzaddi, XC.
O casamento – o supracitado conhecimento da Anima –, representa o domínio total da vida pelo herói. Na Mitologia Maçônica (ou todas as mitologias em que se trata de herói, e não heroína) a mulher é o símbolo da Vida e o herói o seu conhecedor e mestre, em outras palavras a mulher é o Templo e o herói seu Sacerdote, daí que muitas representações de templo em culturas ocidentais 150 são em forma de uma mulher grávida dando a luz 151, bem como um dos motivos de sempre se ter sacerdotes – e não sacerdotisas – em algumas religiões. Poderia perguntar-se, onde reside o encontro com a Deusa em nossa Mitologia, se mulher não inicia na maçonaria? Desde o início do artigo frisamos que tudo apresentado nas mitologias são conceitos simbólicos, psicológicos e não literais152 (salvo raras exceções). Assumindo todo o Templo as características e conceitos de Anima, como exemplificado acima, o Templo Maçônico torna-se o objeto de conquista inicial da jornada maçônica. O iniciando tendo superado todos os testes e provações do processo iniciático, recebe como prêmio da jornada, o “Encontro com a Anima”, que nada mais é do que, a “Luz da Maçonaria” a qual é dada ao neófito, que estava privado de certas funçõeshabilidades durante a iniciação e agora passa a ter a “Visão e Conhecimento do Templo Maçônico” – Inconsciente – e então pode comungar de sua Egrégora, pois o referido “casamento” é firmado com o sagrado juramento . Ele ganha também a sua completa Liberdade, pois possui meios visuais para tal, desta forma ele fica liberto de influências contrárias 153 154, bem como poderá agora exercer por inteiro o seu livrearbítrio. O encontro ou união com a Anima 155 também pode ser chamado de “Encontro com a Verdade”, pois a totalidade do ser e o completo conhecimento do inconsciente, além de libertar, proporciona ao herói, um conhecimento único e inexplicável, por conta de sua magnitude e proporção 156, não havendo desembaraços e conflitos internos. Em outros contextos tal “Encontro com a Deusa” ocorre de forma diferente, na qual chamamos de “Sintonia com o Pai”, que nada mais é do que uma relação íntima entre Deus e o Herói, ou seja, do Eu inferior com o Eu Superior. 157 Os testes que o herói passou, preliminares de suas experiências e façanhas últimas, simbolizaram as crises de percepção por meio das quais sua consciência foi amplificada e capacitada a enfrentar. Com isso, ele aprendeu que ele e seu Supremo Pai-Mãe (ou ainda, Anima) são um só, pois se casaram, ele está no Pai-Mãe, e o PaiMãe está nele158. Por derradeiro, torna-se o Mestre ou Herói, que variando de uma 149
Devido a continuação da Jornada do Herói, dentro da Mitologia Maçônica, ir além do âmbito dos estudos do grau de Aprendiz Maçom, não vamos adentrar adiante na terceira fase da Jornada do Herói - 3.O Retorno”. Em anexo encontra-se um trabalho complementar contando o final “dessa aventura iniciática”; 150 Muitos religiões antigas possuem a crença da mulher como aspecto negativo da humanidade, sendo que suas maiores divindades são sempre Homens, ao passo que a Mulher é associada com a “Queda”; 151 MURPHY, Tim Wallace. O código secreto das catedrais. São Paulo, Pensamento, 2007; 152 Vide Parte I, “O que é um Símbolo?”; 153 Representa o medo profano sobre a Maçonaria, que no início da aventura tendia a impedir o início da jornada; 154 A Liberdade pregada em todas as mitologias só pode ser adquirida e consolidada com o Casamento Alquímico, também chamado de Consecução; 155 O casamento comum na vida cotidiana é apenas uma demonstração, em menor nível, do real casamento interior. Jung indica essa união inconsciente nas diversas obras alquímicas e filosóficos, e nos mostra que tal dedução psicológica já era compreendida desde a antiguidade. O amor e felicidade resultante s do casamento interior jamais poderia ser comparado com qualquer outro casamento, pois se trata de um “desejo da alma” (do inconsciente), e segundo o próprio Jung este é o nosso objetivo enquanto seres viventes. 156 NT. João 8:32: "E Jesus disse: E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." 157 Em termos iniciáticos: Na união do I niciando com a Egrégora. Este contexto de “Sintonia com o Pai” também encontra suas associações com tal estágio maçônico, por tratarem de conceitos específicos desta passagem, mas sua definição necessária dependeria de outras características; 158 NT. João 10:30: “Eu e o Pai somos apenas um.”
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cultura para outra, pode ser um filósofo, mestre pedreiro, líder político ou religioso e etc., mas a sua referência – como demonstramos – transcende a estes exemplos. As representações do esquema psicológico do mito acham-se representados em vários níveis e formas, seja nas diretrizes do Templo (do macrocosmo) ou na jornada e realização da ritualística (do microcosmo). Conceitos como arquétipos, símbolos, individuação, sincronicidade, sombra, anima-animus, herói e todos os outros objetos de estudo da Psicologia Analítica, acham-se representados, de uma forma ou de outra, nos enredos e contextos da mitologia 159. Razão de tantas vezes termos encontrado representações de Anima e Inconsciente Pessoal neste artigo, bem como de descoincidências e variações, mas abordamos essa temática de uma forma pioneira e geral dentro da Mitologia Maçônica. Desmistificando a mitologia, percebemos que o mistério do universo é retratado como Deus. Se para o religioso o infinito é Deus Onipotente, Onisciente e Onipresente, para o atéu ou agnóstico, o infinito é o Universo, e seus infinitos espaços siderais. O ego torna-se a figura do herói, por isso quando ele se encontra com a Deusa-Deus (Inconsciente 160 e infinito), toma-se conhecimento de todo o universo e a vida. Por isso o axioma: “Conhece -te a ti mesmo, e conhecerás todo o Universo” , em outras palavras, “Conheça o seu próprio ego, e sua mente se expandirá” 161. Em algumas passagens colocam o “Eu Inconsciente” como o Velho Sábio, que tudo sabe e ensina, pois conhece as fraquezas e desejos reprimidos pelo o herói 162 163 (ego). .
Depois deste primeiro ciclo da Aventura do Herói – ou Jornada Maçônica – o herói ainda é levado a cumprir outros deveres no universo, assim como o Maçom é instruído e posteriormente passado de grau, onde encontramos a continuidade da Jornada Maçônica. Entretanto, dificilmente encontra-se um final para a mitologia como um todo, pois em todo fim acha-se um (novo) início 164. Em outras palavras, tornar feliz a humanidade é um processo, relativamente, progressista e infinito. Segue um exemplo de roteiro mitológico, por Joseph Campbell: 165 “O herói mitológico, saindo de sua cabana ou castelo cotidianos, é
atraído/levado ou se dirige voluntariamente para o limiar da aventura. Ali, encontra uma presença sombria que guarda a passagem. O herói pode derrotar essa força, assim como pode fazer um acordo com ela e penetrar com vida no reino das trevas (batalha com o irmão, batalha com o dragão; oferenda, encantamento, etc.); pode, da mesma maneira, ser morto pelo oponente e descer morto (desmembramento). Além do limiar, então, o herói inicia uma jornada por um mundo de forças desconhecidas e, não obstante, estranhamente íntimas, algumas das quais o ameaçam fortemente (provas), ao passo que outras lhe oferecem uma ajuda. Quando chega ao nadir da jornada mitológica, o herói passa pela suprema provação e obtém sua recompensa. Seu triunfo pode ser representado pela união sexual com a deusa-mãe (casamento sagrado), pelo reconhecimento por parte do paicriador (sintonia com o pai), pela sua própria divinização (apoteose) ou, mais uma vez — se as forças se tiverem mantido hostis a ele -—, pelo roubo, por parte do herói, da bênção que ele foi buscar (rapto da noiva, roubo do fogo); intrinsecamente, trata-se de uma expansão da consciência e, por conseguinte, do ser (iluminação, transfiguração, libertação). O trabalho final é o do retorno. Se as forças abençoaram o herói, ele agora retorna sob sua proteção (emissário); se não for esse o caso, ele empreende uma fuga e é perseguido (fuga de transformação, fuga de 159
CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, As chaves (pág.241-247). São Paulo, Pensamento, 2007; O inconsciente é retratado como Infinito, pois no seu nível de manifestação não há uma dimensão de tempo e espaço, como de outro modo ocorre com o Consciente – já falamos sobre isso na parte I; 161 Jung deixou claro, como já citado neste trabalho, que o processo de elevação dar-se-á por tornar consciente as nossas limitações e fraquezas que são, também, ocasionadas pelo Ego em questão. 162 Idem, 2007; 163 JUNG, Carl Gustav. A vida simbólica, 18/1. Rio de Janeiro, Vozes, 2012; 164 CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, O ciclo cosmogônico (pág.249-268). São Paulo, Pensamento, 2007; 165 Idem, 2007; 160
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obstáculos). No limiar de retorno, as forças transcendentais devem ficar para trás; o herói reemerge do reino do terror (retorno, ressurreição). A bênção que ele traz consigo restaura o mundo (elixir).”
Depois de analisarmos a parte inicial da Jornada do Herói no contexto maçônico, podemos ver, claramente, os estágios desta jornada no roteiro acima mencionado. Trata-se de um exemplo sucinto das várias histórias do Herói, a qual Campbell reuniu em um único exemplo.
CONCLUSÕES A RESPEITO DE MITOLOGIA E AS RAZÕES DESTE ESTUDO “O sentido da vida não está de todo explicado pela nossa atividade
econômica, nem os anseios mais íntimos do coração humano 166 atendidos por uma conta bancária.” C. G. Jung “ Galadriel: – Mithrandir, porque o Pequeno? Gandalf: – Eu não sei.
Saruman acredita que é apenas com um grande poder que podemos manter o mal sob controle, mas não é isso o que eu descobri. Eu descobri que são nas pequenas ações de nosso cotidiano, de pessoas comuns, que mantemos a escuridão afastada. Simples atos de bondade e amor. Porque Bilbo Bolseiro? Talvez seja porque eu tenho medo, e ele me dá coragem.” O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
Em síntese, a mitologia pode ser entendida, sob a ótica da Psicologia Junguiana, como um sonho coletivo, sintomático dos impulsos arquetípicos existentes no interior das camadas profundas da psique humana , ou numa visão religiosa, como a revelação de Deus aos seus filhos. 167. 168
Tanto a mitologia, como os seus símbolos, são metáforas reveladoras do destino do homem, e, nas diversas culturas são retratadas de diferentes formas , nos contos a Princesa adormecida, significa, Inconsciente Pessoal adormecido, ou a supremacia do ego sobre o consciente, o que para Jung consistia o motivo de todos os males do homem, havendo, pois, a necessidade de despertar e estudar o Inconsciente através, também, do estudo dos sonhos , que simbolicamente acham-se representados na Mitologia, e no nosso caso no estudo e prática da ritualística maçônica. A ideia da mitologia é que a mesma seja uma ferramenta para promover e entender o crescimento psicológico do individuo, sendo esta a função principal do mito . 169
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As semelhanças entre sonhos e mitos – e como já dito a ritualística em si – são evidentes, conforme já demonstrado no parágrafo anterior. Os sonhos, segundo a Psicologia Arquetípica, podem também sugerir – dentre outros feitos principais – uma autorrepresentação da estrutura da psique, fazendo um teatro de operações face ao ego, como forma de adaptação, necessária, ao processo de Individuação, e com isso proceder num crescimento psicológico do sonhador. Nesse contexto, os sonhos criam enredos, do qual o sonhador pode enfrentar seus medos e complexos (ambientados no Consciente) de forma a amadurecer enquanto ser vivente por intermédio desse processo Inconsciente de compensação. Ou seja, basicamente, sonhos são – semelhantes a – tudo o que já apresentamos na Jornada do Herói na Iniciação Maçônica. Pode-se dizer, portanto, que de fato a iniciação maçônica, bem como as mitologias, são autorrepresentações da psique, a 166
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos (pag.102). Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira; CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, Epílogo, Mito e sociedade. São Paulo, Pensamento, 2007; 168 JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente, 7/1. Rio de Jan eiro, Editora Vozes Ltda, 1978; 169 CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, Ciclo cosmogônico. São Paulo, Pensamento, 2007; 167
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JUNG, Carl Gustav. A vida simbólica, 18/1. Rio de Janeiro, Vozes, 2012; CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformação, A função da mitologia (pag.31-37). São Paulo, Editora Ágora, 2008;
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qual com suas pertinentes alegorias e contextos culturais, todavia, seus princípios e mensagens são sempre os mesmos, que é o equilíbrio psicológico e a devida conexão entre o consciente (vida profana) com o inconsciente (vida maçônica), e desta relação, resultar no conhecimento do Si-mesmo, ou melhor, no transcendente e espiritual Mestre Maçom. Todas as mitologias retratam uma estória relativa à relação entre Consciente x Inconsciente, seja por “mundo profano e Maçonaria”, “mundo real e mundo da fantasia”, ou mesmo por “céu e inferno”, e etc. Em termos de interpretação psicológica da Mitologia, sempre vamos encontrar como chave essencial, a questão: Inconsciente = Reino metafísico, em outras palavras, ''Porque eis que o reino de Deus está dentro de vós" . Assim, a análise para toda questão mitológica, é o estudo da psique humana . 172
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Em várias sociedades e cultos primitivos, a prática religiosa consistia em vivenciar a Mitologia de forma direta, pois no decorrer das cerimônias o mito o estaria influenciando de forma indireta, por intermédio do inconsciente. Assim, o crescimento e finalidade da Mitologia, ocorreria de forma particular em cada um, como uma semente que aos poucos iria germinando . A tradição maçônica conserva esses costumes como forma de instrução aos seus membros, sendo portanto, herdeira histórica dessas antigas culturas . 174
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Compreende-se a validade e relevância de toda essa abordagem pelo fato da literatura maçônica publicada no Brasil privilegiar as interpretações ritualísticas que seguem um raciocínio estrito ao entendimento consciente de seus ensinamentos morais, bem como outras poucas questões esotéricas 176, desconsiderando os efeitos psicológicos produzidos pela prática ritualística e toda a sua mitologia. Considerando que toda a ritualística da Maçonaria (como de outras ordens) baseia-se fundamentalmente na prática simbólica, nada mais lógico do que a interpretarmos além da questão moral e cívica comuns às lojas, mas, de todo, adentrarmos nessa questão psicológica como fizemos neste estudo, e sobretudo, esclarecer que o estudo maçônico, bem como a ascensão de graus e postos na Ordem Maçônica, retratam claramente a autodescoberta do potencial humano, ou em outras palavras, o autoconhecimento em uma jornada introspectiva. Como vimos ao longo destas poucas páginas, nas diversas culturas, sociedades tribais, religiões e mitologias, encontramos semelhanças próximas ou distantes, dos seus templos e histórias para com o Templo Maçônico. Conforme os templos de algumas ordens rosacruzes como também as antigas catedrais cristãs – em Aparecida do Norte, por exemplo – tem-se o altar sagrado ao meio do templo, por outro lado, cultos antigos como a Umbanda e o Xamanismo faziam seus templos tendo sempre ao centro a fogueira ou o congá. E nesse contexto que também encontramos o altar dos juramentos da Maçonaria, que mesmo tendo algumas variações de um rito para o outro, sempre terá um lugar de destaque no templo. O templo representa em síntese um diagrama da Psique Humana como um todo. Sendo ele mesmo um arquétipo que será moldado conforme o contexto cultural, conforme exemplificado acima, onde desmistificado passa a ser uma autorrepresentação da psique humana, passando a ser conhecido pela mente de acordo com suas peculiaridades arquetípicas. Espero que ao final destas páginas uma reflexão possa ter sido estabelecida de que, a – “ julgável infantil, ingênua e supersticiosa” 177 – ritualística maçônica transcende toda crítica e limitação objetiva que possamos dar, e é nela que reside – se 172
NT. Lucas 17:21; CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces, As chaves. São Paulo, Pensamento, 2007; 174 JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos, (pag.104-157). Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira; 175 BLAVATSKY, HELENA P.; O ocultismo prático e as origens do ritual na Igreja e Maçonaria. SP, Pensamento, 2009; 176 ISMAIL, Kennyo. Desmistificando a Maçonaria. São Paulo: Universo dos Livros, 2012. 177 Se olharmos a ritualística a nível objetivo, talvez achamos de fato um forçoso exercício (de moralidade). Por outro lado numa visão subjetiva ela passa longe de ser algo incomum. Ritualística = Inconsciente; 173
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não em maior escala – uma boa parte do potencial transformador da Augusta, Respeitável e Sublime Ordem Maçônica.
BIBLIOGRAFIA E OBRAS RELACIONADAS:
CARL GUSTAV JUNG Sincronicidade 8/3. Rio de Janeiro, Vozes, 2013; Interpretação psicológica do Dogma da Trindade. 11/2. RJ: Vozes, 2011. O Homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2005. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. 9/1. Rio de Janeiro: Vozes, 2011. Psicologia do Inconsciente. 7/1. Rio de Janeiro: Vozes, 1978. O símbolo da transformação na missa. 11/3. Rio de Janeiro: Vozes, 2011; Psicologia e alquimia. 12. Rio de Janeiro: Vozes, 2012. Estudos alquímicos. 13. Rio de Janeiro: Vozes, 2012. Psicologia e religião. 11/1. Rio de Janeiro: Vozes, 2011. A vida simbólica. 18/1. Rio de Janeiro: Vozes, 2012. JOSEPH CAMPBELL
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16.
Herói de mil faces. São Paulo: Editora Pensamento, 2007. As máscaras de Deus, Mitologia Ocidental. São Paulo: Palas Athena, 1994. As máscaras de Deus, Mitologia Oriental. São Paulo: Palas Athena, 1994. Isto és Tu. São Paulo: Landy Editora, 2002. Mito e Transformação. São Paulo: Ed. Ágora, 2008. BLAVATSKY, HELENA P. O ocultismo prático e as origens do ritual da Igreja e da Maçonaria; SP: Pensamento, 2009. DEL DEBBIO, Marcelo. Enciclopédia de Mitologia. São Paulo: Daemon Editora, 2008. DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fontes, 2004. FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. Rio de Janeiro: Editora Imago, 1972. HALL, Calvin S.; NORDBY, V. J. Introdução à Psicologia Junguiana. SP: Cultrix, 2010. ISMAIL, Kennyo. Desmistificando a Maçonaria. São Paulo: Universo dos Livros, 2012. LEVI, Eliphas. Dogma e Ritual da Alta Magia. São Paulo: Pensamento-Cultrix, 2012. MAXENCE, Jean-Luc. Jung é a aurora da Maçonaria. São Paulo: Madras, 2010. MURPHY, Tim W. O código secreto das catedrais. São Paulo: Pensamento, 2007. PRESTON, William. Illustrations of Masonry. New York: Masonic Publishing and Manufacturing Co., 1867. RIBEIRO, João Guilherme C. O Nosso Lado da Escada. Rio de Janeiro, Ed., 2012; ROBERTS, J. M.: Freemasonry: Possibilities of a Neglected Topic. The English Historical Review, Vol. 84, No. 331, p. 323-335, 1969. STAVISH, Mark. As origens ocultas da Maçonaria. São Paulo: Pensamento, 2011. VAN Guennep, Arnold. Os Ritos de Passagem. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2011. WAITE, A. E., A New Encyclopaedia of Freemasonry, 2 vols. Londres: William Rider and Son Limited, 1:351-352, 1921. ZELDIS, L., Illustrated by Symbols. New York, NY: Philalethes, The Journal of Masonic Research & Letters, Vol. 64, No. 02, p. 72-73, 2011. O AUTOR
é Mestre Maçom da A.R.L.S. “Jacques DeMolay” nº33, jurisdicionada à Grande Loja Maçônica do Estado do Espírito Santo. No Rito de York é Cavaleiro Templário (KT), filiado ao Supremo Grande Capítulo de Maçons do Real Arco do Brasil. No Rito Escocês Antigo e Aceito possui o grau 14º - Grande Eleito ou Perfeito e Sublime Maçom, filiado ao Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria para a República Federativa do Brasil. Além de pertencer a outros Corpos Maçônicos, Ordens Iniciáticas, Rosacruzes, Martinistas e Grupos de Estudo. Rafhael Guimarães
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