Miguel Torga- Poema Sísifo
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Análise poema sísifo de Fernando Pessoa...
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Sísifo Recomeça… Se puderes, Sem angústia e sem pressa. E os passos que deres, Nesse caminho duro Do futuro, Dá-os em liberdade. Enquanto não alcances Não descanses. De nenhum fruto queiras só metade. E, nunca saciado, Vai colhendo Ilusões sucessivas no pomar. Sempre a sonhar, E vendo, Acordado, O logro da aventura. És homem, não te esqueças! Só é tua a loucura Onde, com lucidez, te reconheças. O título - “Sísifo”: Sísifo diz respeito à personagem principal de um mito grego. Neste mito, Sísifo, que era considerado o mais habilidoso e perspicaz de todos os homens, dizia-se “pai de Ulisses”. Sísifo despertou a ira de Zeus quando contou ao deus dos rios, Asopo, que Zeus tinha sequestrado a sua filha Egina e este mandou que fosse perseguido até à morte. Ao aperceber-se de que o seu fim estava perto pediu à mulher que não lhe fizesse qualquer tipo de honras fúnebres. Quando chegou ao mundo dos mortos, queixou-se a Hades da “negligência da mulher que nenhuma honra lhe tinha concedido” e pediu para voltar ao mundo dos vivos, por um curto período, para a castigar; mas quando cá chegou, não quis mais voltar ao mundo dos mortos. Por esse motivo, Hermes (o deus mensageiro) aplicou-lhe um castigo mais pesado que a própria morte: Sísifo foi condenado, para todo o sempre, a empurrar uma pedra desde o sopé da montanha até ao seu cume, caindo a pedra pela montanha cada vez que atingia o seu cume. Este processo seria repetido por toda a eternidade. Estrutura Interna: A nível da estrutura interna o poema tem duas partes distintas. A primeira parte, que corresponde à primeira estrofe, diz respeito ao momento em que o sujeito poético nos incentiva a sermos ambiciosos e a nunca desistirmos de nada, sugerindo o exemplo de uma caminhada: “ E os passos que deres/Nesse caminho duro”. Na segunda parte, que corresponde à segunda estrofe, é nos sugerido pelo eu lírico que nunca deixemos de satisfazer as nossas vontades, os nossos sonhos, apesar de eles serem meras ilusões causadas pela vida, pela maneira de ser de cada ser humano em geral: “E, nunca saciado,/ Vai colhendo/ Ilusões sucessivas no pomar”.
Estrutura Externa: Recomeça… A Se puderes, B Sem angústia e sem pressa. a rima cruzada E os passos que deres, B Nesse caminho duro C Rima emparelhada Do futuro, C Dá-os em liberdade. D Enquanto não alcances E Rima interpolada Não descanses. E De nenhum fruto queiras só metade.D E, nunca saciado, F Rima Interpolada Vai colhendo G Ilusões sucessivas no pomar. H Sempre a sonhar, H Rima emparelhada E vendo, G Acordado, F O logro da aventura. I És homem, não te esqueças! J Rima cruzada Só é tua a loucura I Onde, com lucidez, te reconheças. J A primeira e a segunda estrofe do poema são uma décima (10 versos); o seus versos vão de octossilábicos a decassilábicos e com uma acentuação Grave. Tem também uma correspondência entre sons de Consoante. Por exemplo: I/lu/sões/ su/ce/ssi/vas/ no/ po/ma/r Recursos Estilísticos: Ao longo do poema vamos encontrando diversos recursos estilísticos, tais como a metáfora - “Vai colhendo,/ Ilusões sucessivas no pomar” em que “pomar” é uma metáfora para Vida-; a antítese - “Sempre a sonhar/ E vendo,/Acordado”, uma vez que procura aproximar duas realidades totalmente opostas-; e um oxímoro - “Só é tua a loucura,/ Onde, com lucidez, te reconheças.”, em que através de duas palavras que são opostas se constrói uma realidade impossível para formar uma nova interpretação. O sujeito da enunciação aconselha-nos a nunca desistir dos nossos sonhos e a sermos sempre ambiciosos. O próprio título prepara-nos para os momentos em que as coisas possam ser mais complicadas e não corram tão bem, sendo Sísifo o símbolo do recomeço e da persistência - só podia parar quando a pedra permanece-se no topo da montanha.
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