​Metodologia de pesquisa - Sampieri

May 2, 2019 | Author: Lorena Meira | Category: Reality, Ciência, Experiment, Sociology, Interview
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metodologia cientifica...

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Pesquisa científica

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Síntese O capítulo define os enfoques quantitativo e qualitativo da pesquisa. Apresenta as etapas do processo processo de pesquisa de maneira genérica e as as aplica aplica às duas perspectivas. Além A lém disso, disso, propõe um ponto de vista em relação à pesquisa que envolve a possibilidade de mesclar as duas duas modalidades modalidades de produção de conhecimento conhecimento em um mesmo estudo, o qual se denomin denomina a

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METODOLOGIA DEPESQUiSA 

Neste capítulo são mencionados conceitos com os quais alguns alunos não estão fami liarizados, tais como hipótese, teoria, análise estatística, entrevistas etc. Tais conceitos são definidos e explicados no decorrer do livro, por isso, os leitores não devem sepreocuparagora em entendê-los por completo, o importante é que fiquem claras as mensagens essenciais a respeito dos enfoques quantitativo e qualitativo, bem como seu procedimento geral.

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QUE ENFOQUES FORAM APRESENTADOS PARA A PESQUISA? •  Ao longo da História da Ciência, surgiram diversas correntes de pensamento, tais como o empirismo, o materialismo dialético, o positivismo, a fenomenologia e o estruturalismo, os quais deram origem a diferentes caminhos na busca pelo conhecimento. Agora não vamos' nos aprofundar nessas correntes, já que são abordadas extensamente em antologias e textos sobre Sociologia.1Contudo, e devido às diferentes premissas que as sustentam,2 desde a segunda metade do século XX essas correntes forampolarizadas em dois enfoques principais: o enfoquequantitativo e o enfoque qualitativo da pesquisa.  A seguir, comentaremos brevemente cada um e depois proporemos esquemas para compreensão de sua inserção no processo de pesquisa, como também para visualizar que podem fazer parte de um mesmo estudo ou de uma mesmaaplicação de tal processo, o qual se denomina os enfoque integrado “multimodal”. Sabemos que esse enfoque enfrentará o ceticismo de alguns colegas, em especial aqueles que se mostram radicais diante das posturas estudadas. No entanto, há muitos anos acreditamos firmemente que ambos os enfoques, quando utilizados em conjunto, enriquecem apesquisa. Não se excluem, nem sesubstituem. Nossa posição é de inclusão, e em toda a América Latina, aqueles que compartilharam experiências conosco foram testemunhas disso. Em termos gerais, os dois enfoques (quantitativo equalitativo) utilizam cinco etapas similares e relacionadas entre si (Grinnell, 1997): a) Realizam observação eavaliação de fenômenos. b) Estabelecem pressupostos ou idéias como conseqüência da observação e avaliação realizadas. c) Testam e demonstram o grau em que as suposições ou idéias têm fundamento. HORTON, Paul B.; HUNT, Chester L. Sociology , Nova York: McGraw-Hill, 1985; e COSER, Lewis A.; ROSENBERG, Bernard, Sociological Theory: A Book of Readings, NovaYork: Waveland Press, 1994. O enfoquequantitativo nasciências sociais temorigem naobra deAugusteComte (1798-1857) eÉmile Durkheim (1858-1917). Eles propõemqueo estudo dos fenômenos sociais deve ser “científico”, ou seja, suscetíveis àaplicação do mesmo método científico que se utilizava com considerável êxito nas ciências naturais. Sustentavam eles que todas as coisas ou fenômenos podem ser medidos. Essacorrente levou o nome depositivismo. O enfoque qualitativo temsua origem em outro pioneiro das ciênciassociais, Max Weber (1864-1920), que introduz o termo versteben ou “entendimento”, “compreensão”, reconhecendo que além da descrição e da medição devariáveis sociais, devemserconsiderados ossignificados subjetivos e oentendimento do contexto no qual ocorre um fenômeno. Weber propõe um método híbrido, com ferramentas como os tipos ideais, em que os estudos não devem ser compostos unicamente de variáveis macrossociais, e sim de instâncias individuais.

O PROCESSO DE PESQUISA E OS ENFOQUES QUANTITATIVO EQUAL ITATIVO: RUMO A U M MODELO INTEv

d) Revisam tais suposições ou idéias sobre a base dos testes ou da análise. e) Propõem novas observações e avaliações para esclarecer, modificar e/ ou fundamentar as suposições e idéias; ou mesmo gerar outras.  Assim, o pesquisador de organizações buscará observar eavaliar aspectos das empresas ou instituições, como o grau de satisfação dos funcionários. O pesquisador de direito tributário fará o mesmo com os fenômenos tributários e tentará explicar aretenção de impostos em épocas de crise. O pesquisador de engenharia civil, por exemplo, observará e/ ou avaliará os novos materiais para as estruturas. O pesquisador de ciências da comunicação aplicará tais etapas para conhecer melhor os fenômenos comunicativos, como o surgimento de boatos quando uma fonte emite mensagens contraditórias. Mesmo que os dois enfoques compartilhem das mesmas etapas gerais, cada um terá, contudo, suas próprias características. O enfoque quantitativo utiliza a coleta e a análise de dados para E nfoque quantitativo: usa coleta responder às questões de pesquisa e testar as hipóteses estabelecidas pre de dados para testar hipóteses com  viamente, e confia na medição numérica, na contagem e freqüentemen base na medição numérica e na ' te no uso de estatística para estabelecer com exatidão os padrões de análise estatística para estabelecer comportamento de uma população. padrões de comportamento. O enfoque qualitativo, emgeral, é utilizado sobretudo paradescobrir e refinaras questões depesquisa. As vezes, mas não necessariamente, hipóteses são comprovadas (Grinnell, 1997). Com freqüência esseenfoque está baseado emmétodos de coleta de dados sem medição numérica, como as descrições e as observações. Regularmente, questões e hipóteses surgem como parte do processo de pesquisa, que é fle xível e se move entre os eventos e sua interpretação, entre as respostas e o desenvolvimento da teoria. Seu propósito consiste em “reconstruir” a realidade, tal como é observada pelos atores de um sistema social Dredefinido. Muitas vezes E nfoque qualitativo: utiliza coleta é chamado de “holístico”, porque considera o “todo”,3sem reduzi-lo ao de dados sem medição numérica estudo de suas partes. para descobrir ou aperfeiçoar Do nosso ponto de vista, ambos os enfoques são bastante valiosos e questões de pesquisa e pode ou não  já realizaram contribuições notáveis ao avanço do conhecimento. Nenhum provar hipóteses em seu processo de é intrinsecamente melhor que o outro, são apenas diferentes em relação interpretação. ao estudo de um fenômeno. Pensamos que a controvérsia entre as duas  visões tem sido desnecessária e não está isenta de dogmatismo. A posição assumida nesta obra é que os enfoques são complementares, ou seja, cada um exerce uma função específica paraconhecermos um fenômeno, e para nos conduzir à solução dos diversos problemas e questionamentos. O pesquisador deve ser metodologicamente plural e guiar-se pelo contexto, asituação, os recursos de que dispõe, seus objetivos e o problemado estudo em questão. De fato, trata-se de uma postura pragmática.  A seguir, oferecemos exemplos de pesquisas que, utilizando um ou outro enfoque, se dirigiram ao mesmo objeto-indivíduo de estudo. Fundamentalmente, quais características se destacam no enfoque quantitativo da pesquisa? Em linhas gerais, um estudo quantitativo regularmente seleciona uma idéia,

3 Aqui, o “todo” éo fenômeno queinteressa. Por exemplo, emseulivro PoliceWork, PeterManning (1997) mergulha por semanas no estudo, na informação e na análise do trabalho policial. O que interessa é estudar as relações e a lealdade que surgem entre indivíduos que se dedicam a estetrabalho. O objetivo é alcançado sem a “medição” de atitudes: apenas captando o próprio fenômeno da vida neste trabalho.

METODOLOGIA DE PESQUISA 

que transforma em uma ou várias questões relevantes de pesquisa (Capítulo 3); logo, hipóteses evariáveis são derivadas dessas questões; um plano é desenvolvido para testá-las; as variáveis são medidas em um determinado contexto; as medições obtidas são analisadas (freqüentemente utilizando métodos estatísticos), e éestabelecida uma série de conclusões a respeito da(s) hipótese(s). Se observarmos o Quadro 1.1, os estudos quantitativos propõem relações entre variáveis com a finalidade de chegar a proporções precisas e fazer recomendações. Por exemplo, a investigação de comunicação em que Rogers eWaisanen (1969) propõem que a comunicação interpessoal é mais eficaz que a comunicação damídia nas sociedades rurais. Espera-se que, nos estudos quantitativos, os pesquisadores elaborem um relatório com seus resultados e ofereçam recomendações que servirão para asolução de problemas ou na tomada de decisões. Exemples de esfudos quantitativos e quaíftaiiyos sobre o mesmo tema

ESTUDOS 2 QUALITATIVOS

A família

Gabriel Careag a (1977): Mitos y fantasias de la clase media en México.

Qysdro Î.1 Tipo de estudo

O livro é uma abordagem crítica e teórica do. surgi mento da classe média em um país pouco desen volvido. O autor combina as análises documental, política, dialética e psicanalitica.com a pesquisa social e biográfica para reconstruir tipologias ou família-tipo.

 A c om un id ad e Luis Gonzalez y González (1995): Pueblo en vilo.

ESTUDOS QUANTITATIVOS

O autor descreve com detalhe a micro-história de San José de la Gracia, onde são examinadas e entrelaçadas as vidas de seus residentes com seu passado e outras aspectos da vida cotidiana.

As profis sõe s Howard Becker (1951): The professional dance . musician and his au dience.

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Ma. Elena Oto Mishima (1994): Las migraciones a México y la conformación paulatina de la familia mexicana.

Descrição da procedên cia dos imigrantes ao México; sua integração econômica e social às diferentes esferas da sociedade.

Everett Rogers e Frederick B. Waisanen (1969); The impact of  communication on rural development.

Tipo de estudo \

{ESTUDOS

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DoraTognoli Guglielme (1988):

Viviarie.Mendonça Pereira (2001):

Famílias modernas: um estu do da d inâmica familiar.

O recente processo migratório intemo brasileiro e seus deter minantes.-

Estudo de famílias de classe média paulistana consideradas a partir da aliança marido-mulher. Foram realizadas oito en trevistas com pares que compunham ésses grupos contatados individualmente. A partir dos dados obtidos; pode-se ter acesso à dinâmica grupai, conflitos de papéis e expectativas não atendidas.

Utilizando microdados fornecidos ' peia PNÁD — Pesquisa Nacional por Amostra e Domicílios (IBGE), este estudo, por meio de uma análise gráfica e tabular, procurou primeiramente abordar as principais caractensticas, composição e estru tura do atuai processo migratório brasileiro. Posteriormente, por meio de um modelo econométrico, o atual trabalho procurou observar o comportamento das migrações internas brasileiras atuais e seus determinantes.

Rafael Victorino Devos (2 004): Uma “ilha assombrada" na ci dade: estudo etnográfico sobre , cotidiano e memória coletiva a partir das narrativas de antigos moradores da Ilha Grande dos Marinheiros, Porto Alegre.

Maria José Carneiro (2002): O ideal urbano: campo e cidade no imaginário de jovens rurais.

E determinado ©m o se dá o processo de comu nicação de inovaçõe s . em comunidades rurais, e são identificados os motivos para aceitar ou recusar a mudança social. Ademais, fica estabelecido qual método de comunicação é mais proveitoso.

Tomando o Arquipélago en quanto um “território-mito” dá cidade, realiza-se a análise da “arte de dizer” desses narradores antigos e das constelações de imagens presentes ao repertório de narrativas míticas, contos fantásticos e lendários o trajeto antropoiógico de assimilação e acomodação da figura de um “Homem da Tradição” às margens da cidade.

A pesquisa foi realizada em duas áreas essencialmente rurais e agrícolas: no Estado do Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. A pesquisa-teve a preocupação dé levantar informações sobre filhos dé não-agricuitores. Ao todo foram aplicados 105 questionários e entrevisías com 23 jovens entre 15 e 26 anos.

Linda D. Hammond (2000): Teacher quality

Marcelo AlmeidaGadelha (2004): Organização Brown: identidade cultural e lideranças em um complexo de organizações baianas.

Marta de Campos Maia (2005):

and student achievement.

Metodologia de ensino e avaliação de aprendizagem.

O PROCESSO DE PESQUISA E OS ENFOQUES QUANTiTATTvO E QÜAÜTA71VO: RUMO A UM MODELO 1K

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{ESTUDOS - £ QUANTITATIVOS)

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Tipo de ■■■,..■■'•. Narração detalhada de • ; estudo ' processos de identifica ção e outras condutas de músicos de jazz com base em suas competências e conhecimento de música.

O objetivo da pesquisa Estabelece coirelações entre estilos de ensino, de foi analisar como se dão as complicadas relações sempenho da ocupação docente e êxito d o s ; . entre a cultura baiana, a Comunidade Candeal e alunos. Carlinhos Brown (artista baiano, percussionista) nas gestões das organizações. V Foram realizadas entrevistas e observação participante. :

Organizações WilEam D. Bygiave e Dan de trabalho D’Heilly (Eds.) (1997):

P. Marcus, P. Baptista e P. Brandt (1979): Rural

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Gabriela R. B. de Andrade;. Jeni Vaitsman (2002): Apoio social e redes: conectan do solidariedade e saúde.

Ana Lúcia Mendonça (2004):

Delivery Systems.

Tipo de'estudo •;

Compêndio de estudos de caso que apóiam a análise da viabilidade de novas empresas e os desafios que enfrentam nos merca dos emergentes.

Pesquisa que demonstra a pouca coordenação que existe em uma rede de serviços.sociais. Estabelece as políticas a serem segu idas , V.% pára conseguir que os serviços cheguem aos • destinatários.

Baseado em pesquisa quali tativa, com entrevistas semiestruturadas e observação participante, o trabalho anàüss o de uma associação, na visão de profissionais do hospital e pacientes, a partir dos conceitos de rede social, apoio social e empowerment.

O objetivo desta pesquisa quan titativa (exploratória) é analisar os : resultados dè uma avaliação aplicada aos alunos do curso GVnext,curso de especialização Isto sensu a distância para executivos do GVnet sobre a m etodologia de ensino-aprendizagem e de avaliação.

O fenômeno urbano

ManuelCastells (1979):

E. Wirth (1964): ^Cuáles son las variables que afectan la vida social en la ciudad?

Wencesláo Machado de Oli veira Jr. (1994): A C idade

Raquel Rolnik (1999):

The Urban Question.

O autor critica aqueles que tradicionalmente estudam o urbanismo, e argumenta que a cidade não é mais que um espaço onde se ex pressam e se manifestam as relações de exploração.

A densidade populacional e a escassez de habita ção se estabelecem «so mo influências no desen volvimento político.

(tele) percebida.

Quadro 1.1 continuação

Metodologia de ensino e avaliação de aprendizagem.

The Portable MBA Entrepreneurship Case Studies.

Tipo de estudo

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Neste trabalho será apresentada uma síntese da visão teórica que embasou este enfoque, onde se evidencia a importância da : metodologia para a efetividade do ensino-aprendizado e para a avaliação de um curso. A seguir apresentaremos os resultados da pesquisa quantitativa sobre meto dologia de ensino utilizada e de avaliação de um curso a distância, que orientaram este trabalho.

Exemplos de estudos quantitativos e qualitativos sobre o mesmo tema

Exclusão t erritorial e violência.

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Focaliza algumas das principais relativizações impostas ao conceito de espaço na área do media. Busca a imagem atual da cidade, a partir da interpretação de desenhos : rèálizados por jovens das cidades de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo.

Explora o nexo entre urbanização de risco e violência urbana, utili zando a experiência concreta de diferentes cidades no Estado de São Paulo. A base empírica deste estudo é uma pesquisa estruturada para avaliar o impacto de regulação urbanística no funcionamento de mercados residenciais nas cidades do Estado de São Paulo com mais dé 20 mil habitantes.

Essencialmente, quais características se destacam no enfoque qualitativo da pes quisa? As pesquisas qualitativas também são guiadas por áreas ou temas significativos da pesquisa. Contudo, em vez da clareza sobre as questões ehipóteses preceder à coleta eanálise dos dados (como na maioria dos estudos quantitativos, pelo menos em intenção), os estudos qualitativos podem desenvolver questões e hipóteses antes, durante ou depois da coleta e da análise. Com freqüência, essas atividades servem, primeiramente, para descobrir quais são as questões mais importantes na pesquisa; e, depois, para refiná-las e respondê-las (ou testar hipóteses). O processo se move dinamicamente entre os “fatos” Modelo multimodal (triangulação): e sua interpretação em ambos os sentidos. Como se observa no Quadro convergência ou fusão dos enfoques 1.1, seu tipo final muitas vezes consiste em compreender um fenômeno de pesquisa quantitativo e social complexo. A ênfase não está em medir as variáveis envolvidas no qualitativo; fenômeno, mas ementendê-lo.

METODOLOGIA DEPESQUISA 

Tomando como exemplo o estudo das profissões e seus efeitos na conduta individual, no Quadro 1.1 notamos a divergência a que nos referimos. No estudo clássico de Howard Becker (1951) sobre o músico de jazz, o autor consegue fazer que compreendamos as regras e os costumes no desempenho dessa profissão. E a utilidade disso?, perguntarão algumas pessoas. Ela não está apenas em compreender esse contexto, mas sim entender que as normasqueo regempodemextrapolarparaoutrassituações de trabalho. O estudo quantitativo de Hammond (2000), por sua vez, estabelece com clareza as variáveis pessoais e ■do desempenho da profissão de docente, que sirvam para formular políticas de contratação e de capacitação para os docentes. Para quê? Com a finalidade de desenvolver o sucesso acadêmico dos estudantes.  Até agora, o principal é que o leitor se abstenha de avaliar se um enfoque é melhor que o outro. E preciso compreender, por enquanto, que tradicionalmente abordamos as diversas questões relativas a este. Partimos das diferenças emrelação ao epistemológico (ou teoriado conhecimento), que em poucas palavras diz respeito à postura que o pesquisador ou qualquer outra pessoa deve assumir perante arealidade. O conhecimento do social éameta das ciências sociais emgeral, mas no particular interessam as divergências que estão sintetizadas no Quadro 1.2 (p. 9).

 Emuma pesquisa qualitativa, o importanteé compreender o  fenômeno, como as normas econdições Que m m § características possuem esses eníoqmsr  próprias queregema e como se diferenciam? profissão de ummúsicodejazz. O enfoque qualitativo buscaprincipalmente “dispersão ou expansão” dos dados ou dain formação; enquanto o quantitativo pretende intencionalmente “delimitar” a informação (medir com precisão as variáveis do estudo, ter “foco”).4 De acordo com M. A. Rodiery (apud Grinnell, 1997), para gerar conhecimento o enfoque quantitativo se fundamenta no método hipotético-dedutivo, considerando às seguintes premissas: 1. Delineamos teorias e delas derivamos hipóteses. 2. As hipóteses são submetidas à prova utilizando os modelos de pesquisa apropriados. 3. Se os resultados sustentam as hipóteses ou forem condizentes com elas, é obtida evidência em seu favor. Se os resultados as refutarem, são descartadas em busca de melhores explicações e hipóteses. Quando os resultados de diversas pesquisas trazem evidência em favor das hipóteses, geram confiança na teoria que as sustenta ou apóia. Se esse não for o caso, as hipóteses são descartadas e, eventualmente, também a teoria.

4 Usemos o exemplo de umacâmerafotográfica: no estudo quantitativo é definido o que sevai fotografar erira-se a foto. No estudo qualitativo é como se a função zoomin (aproximação) ou zoomout (distanciamento) fossem acionadas constantemente para capturar em umaáreaqualquer figura de interesse.

O PROCESSO DE PESQüiSA ê 0 5 ENFOQUES QUÃNTÍ TAÍÍVO E QÜAUTATIVO: RUMO A UM MODELO INT Et

Quadro 1.2

Ponto de partida

Ha uma realidade a conhecer.

Premissa5

A realidade do fenómeno social pode ser conhecida com a mente.

A realidade do fenômeno social é a mente. A realidade é construída pelo(s) indivíduo(s) que dá (dão) significados ao fenômeno social.

Dados

Uso de medição e quantificação. .

Uso da linguagem natural.

Finalidade

Busca relatar o que acontece: Fatos que dêem informação específica da realidade que podemos explicar e prever.

Busca entender o contexto ê/ou o ponto de vista do ator social.

 Alémdessaspremissas, são levadas emcontaoutras consideraçõesnapesquisa quantitativa. Grinneil (1997) e Cresweil (1997) apontam que não descartam a realidade subjetiva nem as experiências individuais. Assim: 1. Existem duas realidades: “a primeira” consiste em crenças, pressupostos e experiências subjetivas das pessoas. Essas chegam a variar: de muito vagas ou gerais (intuiçoes) até crenças bem organizadas e desenvolvidas logicamente por meio de teorias formais. A “segunda realidade5’é objetiva e independente das crenças que tenhamos em relação a ela (o O 1ltY V p Ç f tm a

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realidades em forma independente de nosso pensamento sobre elas). 2. Essa “realidade objetiva” (ou realidades) pode ser conhecida. Sob essa premissa, torna-se possível conhecer uma realidade externa e independente do indivíduo. 3. E preciso conhecer eobter a maior quantidade de informação sobre a “realidade objetiva”. A realidade do fenômeno existe eé certo que conhecemos os eventos ànossa volta por meio de suas manifestações. Para entender nossa realidade, o porquê das coisas, é preciso registrar e analisar tais eventos (Lesser, 1935). Portanto, paraesseenfoque, o indivíduo existe epossui um  valor paraos pesquisadores, mas deformaalgumaestáperto dedemonstrar quão bemse ajusta à realidade objetiva. Documentar essacoincidência é o objetivo central de muitos estudos quantitativos (que os efeitos que consideramos apresentar uma doença sejam verdadeiros, que captamos a relação “real” entre as modvações de um indivíduo e sua conduta, que o material que sesupõe ter uma determinada resistência realmente a tenha etc.). 5 Becker (1993) diz: “a ‘realidade’ é o ponto mais estressante das ciências sociais. As diferenças entre os dois enfoques temum tom eminentemente ideológico. O grande filósofo alemão Karl Popper (1965) nos faz entender quea origem das visões conflitivas, sobre o que éou devesero estudo do fenômeno social, encontram-se nas premissas de diferentes definições sobreo que éa realidade. O realismo desdeAristóteles estabelece que o mundo chega aser conhecido pela mente. Kant introduz a idéia de que o mundo pode ser conhecido porque a realidade se assemelha às formas que a mente tem. Já Hegel vai rumo a um idealismo puro epropõe que: ‘O mundo éminha mente’. Esseúltimo é certamente confuso, e assim o consideraPopper, adverdndo que o grande perigo dessaposição é que ela permite o dogmatismo (como provou, por exemplo, o materialismo dialético). O avanço no conhecimento, diz Popper, necessita deconceitos quepossamos refutar ou provar. Essacaracterística delimita o que éou não ciência.”

4. Quando as investigações estabelecem que a '‘realidade objetiva” é diferente de nossas crenças, essas devem ser modificadas ou adaptadas em torno da realidade. Para esse enfoque, a forma confiável para conhecer a realidade é por meio da cole ta e análise de dados, de acordo com certas regras lógicas. Se essas regras são seguidas cuidadosamente eos dados gerados possuem ospadrões devalidade econfiabilidade (Capítulo 10), as conclusões obtidas serão válidas, ou seja, a possibilidade de serem contestadas ou replicadas com a finalidade de construir conhecimento. Em geral, nos estudos quantitativos uma ou várias hipóteses são estabelecidas (su posições sobre uma realidade), um plano é desenvolvido para submetê-las à prova, os conceitos incluídos nas hipóteses (variáveis) são medidos e se transformam as medições em valores numéricos (dados quantificáveis), para serem analisados posteriormente com técnicas estatísticas e estender os resultados a um universo mais amplo, ou para consolidar as crenças (formuladas de modo lógico em uma teoria ou em um esquema teórico).6 Tais estudos levam aessência em seu título: quantificar e dar evidência a umateoria que setem para explicar algo; a teoria semantém até que seja refutada ou que se encontre uma explicação melhor. Um estudo se baseia em outro. Os estudos quantitativos se associam aos experimentos, as pesquisas a questões fechadas ou aos estudos em que se empregam instrumentos demedição padronizados. Além disso, na interpretação aos estudos existe uma humildade que deixa tudo sem conclusão e convida a seguir pesquisando para melhorar o conhecimento, colocando à disposição de outros pesquisadores todos os métodos e os procedimentos. Por sua vez, o enfoque qualitativo, às vezes citado como investigação naturalista, fenomenológica, interpretativa ou etnográfica, é uma espécie de “guarda-chuva”, no qual seinclui umavariedade de técnicas de estudos não-quantitativos (Grinnell, 1997). Dentro davariedade de enfoques qualitativos existe um denominador comum que po deríamos situar no conceito de padrão cultural (Colby, 1996), que parte da premissa que toda cultura ou sistema social tem um modo único para entender coisas e eventos. Essa cosmovisão afeta a conduta humana. O estudo dos modelos culturais —que são pontos de referência para o ator social e que são construídos pelo inconsciente, aquilo que é trans mitido pelos outros e pela experiência pessoal - são entidades flexíveis e maleáveis que se transformamno objeto de estudo do qualitativo. Em termos gerais, os estudos qualitativos envolvem a coleta de dados utilizando técnicas que não pretendem medir nem associar as medições a números, tais como obser  vação não-estruturada, entrevistas abertas, revisão de documentos, discussão em grupo, avaliação de experiências pessoais, inspeção de histórias de vida, análise semântica e de discursos cotidianos, interação com grupos ou comunidades e introspecção. M. A. Rotheiy e R. Grinnell (Grinnell, 1997) e Creswell (1997) descrevem essas pesquisas como estudos: ® Que são conduzidos basicamente em ambientes naturais, em que os participantes se comportam como de costume em sua vida cotidiana.

6 Os pesquisadores quese guiaram por esseenfoquemetodológico pretendiam expandir o tipo de estudos sociais, além do que seconsideravam abordagens meramente especulativas.

O PROCESSO DE PESQUISA EOS ENFOQUES QUANTITATIVO E QUALITATIVO: RUMO A UM MODELO IN TK

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• Nos quais as variáveis não se definem com o propósito de serem manipuladas nem con troladas experimentalmente (portanto, mudanças são observadas em diferentes variáveis e suas relações). • Em que as questões de pesquisanemsempre foram conceituadas ou definidas por completo, ou seja, na forma como serão medidas ou avaliadas (ainda que às vezes isso seja possível). • Em que a coleta de dados é influenciada fortemente pelas experiências e as prioridades dos participantes da pesquisa, mais do que pela aplicação de um instrumento de medição padronizado, estruturado epredeterminado. • Em que os significados são extraídos dos dados e apresentados a outros, e não precisam ser reduzidos a números nem necessariamente analisados estatisticamente (ainda que a contagem, a análise do conteúdo e o tratamento da informação utilizem expressões nu méricas para serem analisadas depois). Patton (1980, 1990) define os dados qualificativos como descrições detalhadas de situa ções, eventos, pessoas, interações, condutas observadas e suas manifestações. Um estudo qualitativo buscacompreender seufenômeno de estudo em seu ambiente usual (como aspessoasvivem, se comportame atuam; o que pensam; quais são suas adtudes etc.). Neuman (1994) sintetiza as principais atividades do pesquisador qualitativo com os seguintes comentários: • Ele observaeventos ordinários e atividades cotidianas tais como ocorrememseus ambientes naturais, além de qualquer acontecimento incomum. a Está diretamente envolvido com as pessoas que são estudadas e com suas experiências pessoais. 9 Adquire um ponto de vista “interno” (de dentro do fenômeno), ainda que mantenha uma \r. • tn i* • i t • Utiliza diversas técnicas de pesquisa e habilidades sociais de maneira flexível, de acordo com as necessidades da situação. 9 Produz dados em forma de notas extensas, esquemas, mapas ou “quadros humanos” para gerar descrições bastante detalhadas. • Segue uma perspectiva holística (os fenômenos são concebidos como um “todo” e não como partes) e individual. • Entendeos membros estudados e desenvolve empatia em relação a eles; não apenas registra fatos objetivos e “frios”. 9 Mantém uma perspectiva dupla: analisa os aspectos explícitos, conscientes e manifestos, bem como aqueles implícitos, inconscientes e subjacentes. Nesse sentido, a realidade subjetiva em si mesma é objeto de estudo. • Observaos processos sem alterar ou impor um ponto devista externo, e sim tais como são percebidos pelos atores do sistema social. • E capaz de lidar com paradoxos, incertezas, dilemas éticos e ambigüidade. .......................

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Os estudos qualitativos não pretendem generalizar de maneira intrínseca os resultados para populações mais amplas, nem necessariamente obter amostras representativas (sob a lei da probabilidade); não pretendem nem mesmo que seus estudos sejam replicados. Assim, se fundamentammais emumprocessoindutivo (exploramedescrevem, elogogeramperspectivas teóricas). Vão do particular para o geral. Durante várias décadas considerou-se que os enfoques quantitativo e qualitativo são perspectivas opostas, inconciliáveis e que não devem se misturar. Os críticos do enfoque

quantitativo acusam-no de ser "impessoal, frio, limitado, fechado e rígido”. Por sua vez, os críticos do enfoque qualitativo o consideram “vago, subjetivo, inválido, meramente especulativo, sem possibilidade de réplica e sem dados sólidos que apoiem as conclusões”.  A base da separação entre os dois enfoques centra-se na idéia de que um estudo com um enfoque pode neutralizar o outro. Trata-se de uma noção que tem impossibilitado a reunião dos enfoques quantitativo equalitativo. Superar uma conceituaçao, em nosso ver “fundamentalista”, chegaa conceber a união dos dois enfoques, que Denzin (1978) chama de “triangulação”. Serevisarmos osestudos científicos realizados nosúltimos anos (buscando nas publicações produzidas em distintas disciplinas e campos), observaremos uma tendência crescente nesse sentido: a fusão, o casamento quanti-quali. Isso se deve talvez ao fato de termos percebido que, mais que beneficiar, as lutas ideológicas e as posições dogmáticas impediram o avanço do conhecimento, por isso, é preciso buscar a convergência ou atriangulação.  A triangulação é complementar no sentido de sobrepor enfoques e em uma mesma pesquisa mesclar diferentes facetas do fenômeno de estudo. Tal união ou integração agrega profundidade a um estudo e, ainda que cheguem asurgir contradições entre os resultados de ambos os enfoques, agrega-se uma perspectiva mais completa do que estamos investigando. Diante da oportunidade de fundir ambos os enfoques, Grinnell (1997) considera uma série de questionamentos: os paradigmas intuitivo e dedutivo devem estar vinculados a enfoques específicos? Por exemplo, se empregamos um esquema indutivo, baseados em uma postura qualitativa para um estudo, isso significa que também devamos utilizar procedimentos de coleta de dados usualmente associados às investigações qualitativas? Por sua vez, um estudo baseado em um esquema dedutivo e guiado por uma teoria que seja produto da pesquisa quantitativa sempre terá que se vincular a procedimentos de coleta de dados e esquemas ligados a tal tipo de investigação, como os experimentos e as pesquisas? As respostas não são simples. Os “puristas” exigem a separação entre os enfoques quantitativo e qualitativo, como se um velho inimigo do positivismo tivesse atacado de novo, alegando que aquilo que chamamos de objetividade não existe. De seu lado, os “situacionistas” asseguramque cada enfoque éapropriado parasituações específicas; os “pragmáticos” integram ambos os enfoques, sobretudo quando é apropriado em situações concretas. Este livro adere àúltima posição.  Acreditamos que é preciso dar mais ênfase aos pontos positivos que às limitações de cada enfoque, em todo caso, uma situação de pesquisa particular nos dirá se devemos utilizar um enfoque ou outro, ou ambos. É preciso esclarecer, contudo, que o enfoque selecionado (quantitativo, qualita tivo ou algum tipo de mistura entre ambos) não tem necessariamente relação direta com os métodos de coleta de dados. Por exemplo, um experimento clássico (definido como quantitativo) pode utilizar métodos de coleta de dados tanto qualitativos como quantitativos (aplicar como prova testes e questionário fechado, estruturado, e entrevistas abertas). Ou uma pesquisa qualitativa (um estudo que procure entender os sentimentos de doentes terminais de Aids) pode coletar dados por meio de entrevistas abertas e aplicar uma prova estruturada do sentido da vida. Nossa sugestão aos estudantes seria que conhecessem a fundo ambos os métodos, refletissem sobre suas vantagens e limitações, para assim decidir qual enfoque ou mescla será mais útil para cada caso.

O PROCESSO DE PESQUISA EOS ENFOQUES QUANTITA TIVO E QUALITATIVO: RUMO A U M MODELO I N k

e

Para que o leitor iniciante tenha uma idéia da diferença entre ambos os enfoques, utili zaremos um exemplo muito simples e cotidiano relativo à atração física, explicado de forma a facilitar o entendimento, ainda que para alguns professores isso possaparecer simples demais. No exemplo não são consideradas, portanto, as implicações paradigmáticas que se en contrampor trás de cada enfoque, mas éenfatizado que, em termos práticos, ambos os estudos contribuem para o conhecimento de um fenômeno.

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; . Um exemplo i Suponhamos que um estudante esteia interessado em saber quais fatores influem ~ . r que uma pessoa•seja . deiinida * r •i e percebida ■ 1 - 1 como «conquistadora - i „ (que , cativa para ajudar a \T* : para X indivíduos do sèxó oposto e faz que sé sintam atraídos por ele e se apaixonem) . compreender ;í Então, decide realizar um estudo (sua idéia para pesquisar) em sua escola. os enfoques Sob o enfoque quantitativo-dedutivo,. o aluno estabeleceria seu problemade 7«rtânri#atfyn':i»l | | | | estudo definindo seü objetivo e uma questão de pesquisa, (o que quer fazer e o qualitativo sa I que quer saber). | Por exemplo, o objetivo poderia ser “conhecer os fatores que determinam pesquisa. ■ j o fato de uma pessoa ser vista como atraente e conquistadora”; e a questão de | pesquisa, quais fatores determinam o fato de uma pessoa ser vista como atraente e “conquistadora”?; § 1 Posteriormente,/ revisariaestudos sobre a atração física nas relações heterossexuais, os elementos § que interferem no início da convivência amorosa, a percepção dos jovens em torno de tais relações, I as diferenças por sexo de acordo com os atributos dos outros que os atraem etc. I Delimitaria seu problema de pesquisa; selecionaria uma teoria que explique satisfatoriamente 3 —com base em estudos prévios —a atração física e a paixão nas relações entre jovens; e, se possível, estabeleceria uma ou várias hipóteses (por exemplo: “os rapazes ou garotas que conseguem mais |  j conquistas amorosas são aqueles que têm maior prestígio social na escola, que são mais seguros de si 1 mesmos e mais extrovertidos”). | Depois, poderia entrevistar colegas de sua escola e os interrogaria sobre o grau em que o pres- •' f | tígio social, a segurança em si mesmo e a extroversão influem na conquista de pessoas de outro sexo. 1 mciusive, chegaria a uuiizar questionários ja estabelecidos, bem projetados e confiáveis, Talvez g 2 entrevistasse somente uma amostra de alunos. Também seria possível perguntar às pessoas que têm | ? fama de conquistadoras sobre o que pensam a respeito. § E analisaria os dados e informações provenientes das entrevistas para chegar a conclusões sobre f | suas hipóteses. Talvez tambémrealizasse experiências ao escolher pessoas com o perfil “conquistador”, |  j dirigindo-ás para a conquista de outras colegas. | . Seuinteresseseriá, aomenos, generalizarós resultados do queocorreem^uaComunidadeestudantil. . 1 O pesquisador procura testar suas crenças e consegüir demonstrar que o prestígio, a segurança em si | mesmo e a extroversão são fatores relacionados com a conquista, tentaria outras explicações; talvez agregando outros fatores como dimensões da atração física, a maneira de se vestir etc. No processo, vai dediizindo da teoria o que encontra em seu estudo. Desse modo, se a teoria ^ , selecionada for inadequada, seus resultados serão fracos. . | Sob o enfoque qualitativo-indutivo, o estudante, mais que definir o problema de pesquisa, | sentaria na cantina da escola para observar as pessoas que têm fama de conquistadoras, levando em 1 conta suas características, a maneira como se comportam, seus atributos e a forma de se relacionar | | com os demais (em especial, com pessoas do sexo oposto). Daí, poderia obter algum esquema que | I explicasse as razões pelas quais essas pessoas conquistam outras. Depois entrevistaria com questões abertas algumas dessas pessoas e também aquelas que foram | | conquistadas por elas. Disso chegaria a conclusões e contrastaria seus achados com outros estudos, § Não seria indispensável obter uma amostra representativa nem generalizar seus resultados. 1 | Seu procedimento seria indutivo; de cada caso de conquistador estudado se obteria, talvez, p | perfil procurado. :V ' . 1 !'• O pesquisador também poderia mesclar ambos os enfoques e proceder simultaneamente das | duas maneiras (encarregar um grupo de amigos de realizar o primeiro estudo, baseado na teoria | I produto de investigações anteriores; e encarregar outro -grupo de. iniciar a pesquisa observando os 1 conquistadores na cantina [enfoque misto quantitativo-qualitativo]). S

METODOLOGIA D£ PESQUISA

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0 PROCESSO Dl PESQUISA  Desde a primeira edição deste livro, insistimos na premissa de conceber a pesquisa como um processo constituído por diversas etapas, passos ou fases, organizados de uma maneira lógica, seqüencial e dinâmica. Isso não quer dizer que não seja possível retornar a uma etapa anterior ou visualizar as etapas subseqüentes. Em termos gerais, esseprocesso se aplica tanto ao enfoque quantitativo quanto ao qua litativo, portanto, com suas diferenças, que serão analisadas em cada etapa dentro do livro. Por enquanto, comentaremos que, no caso da maioria dos estudos quantitativos, o processo se aplica de forma seqüencial: começa com uma idéia que vai sendo refinada e, uma vez delimitada, os objetivos e questões da pesquisa são estabelecidos, a literatura é revisada e um marco ou perspectiva teórica é construído. Depois, os objetivos e questões, cujas tentativas derespostas são traduzidas em hipóteses, são analisados; um plano paratestar as hipóteses (projeto de pesquisa) é elaborado ou selecionado, e uma amostra édeterminada. Por último, os dados são coletados utilizando um ou mais instrumentos de medição, os quais são estudados (a maioria das vezes pela análise estatística) e os resultados relatados. Cabe apontar que, na coleta dedados, poderiahavero envolvimento de uminstrumento de natureza qualitativa como a aplicação de uma entrevista aberta. Por sua vez, nas pesquisas qualitativas, o processo não é aplicado necessariamente de maneira seqüencial (ainda que possa ser aplicado dessa forma). Na maior parte desses estudos, a seqüência seria como mostra a Figura 1.1.  A diferenciação do problema (objetivos do estudo, as questões depesquisa eajustificativa) e as hipóteses conseqüentes surgem em qualquer parte do processo em um estudo qualitativo: Os métodos desde que aidéia foi desenvolvida até, inclusive, a elaboração do relatório de pesquisa. quantitativos têm E, do mesmo modo que na pesquisa quantitativa, tal definição é suscetível a sido mais utilizados mudanças, como se menciona ao longo do livro. O trabalho de campo significa sensibüizar-se com o ambiente ou lugar, identificar pelospesquisadores informantes que tragam dados adicionais, entrar e concentrar-se na situação de pesquisa, das chamadas “ciências exatas”. além de verificar aviabilidade do estudo.  Aqui as técnicas decoletade dados, do mesmo modo que na pesquisa quantitativa, podem ser múltiplas (entrevistas, provas, questionários abertos, sessões de grupos, análise de episódios, biografias, casos, gravações em áudio ou vídeo, registros, revisão de arquivos, observação etc.). Na fase da coleta de informações devemos levar um caderno de notas ou diário pessoal —ou outras tecnologias, como um laptop —,para registrarmos os fatos, as interpreta ções, as crenças e reflexões sobre o trabalho de campo e a obtenção dos dados. Portanto, são anexados documentos e discussões da equipe de trabalho. Qyols vonfagens tem coda um dos enfoques quantitativo e qualitativo?

Como insistimos anteriormente, ambos os enfoques são proveitosos. A investigação quantitativa nos oferece a

O PROCESSO DE PESQUISA E OS ENFOQUES QUANTITA TIVO E QUALITATIVO: RUMO A UM MODELO ! N\„

possibilidade de generalizar os resultados de maneira mais ampla, concede-nos controle sobre os fenômenos e um ponto de vista de contagememagnitude em relação a eles. Assim, oferece uma grande possibilidade de réplica e um enfoque sobre pontos específicos de tais fenômenos, além de facilitar acomparação en tre estudos similares. Por sua vez, a pesquisa qualitativa dá profundidade aos dados, a dispersão, a riqueza interpretativa, acontextuaüzaçãodo ambiente,os detalheseasexperiênciasúnicas.Tambémoferece um ponto devista “recente, natural e holístico” dosfenômenos, assimcomo flexibilidade. Por isso, a mistura dos dois modelos po tencializao desenvolvimento do conhecimento, aconstruçãodeteoriasearesoluçãodeproblemas.  Ambos são empíricos, porquecoletam dados do fenômeno que estudam. Tanto um como outro requer seriedade, profissionalismo e dedicação. Empregam procedimentos distintos e possíveis deutilizar com acerto. Desse modo, os métodos quantitativos têmsido mais usados por ciências como a física, CL

V X J L J L A A J L S » * C t .W C lW

11 J L U lL C U iL U )J U U  A O J . Ü U U . V

Desenvolvimento de uma idéia, tema ou área a investigar 

Esquema do processo de pesquisa

Seleção do ambiente ou lugar de estudo

J Figura 1.1 Escolha de participantes ou indivíduos do estudo

Inspeção do ambiente ou lugar de estudo Trabalho de campo Seleção de um projeto de pesquisa (ou estratégia a ser desenvolvida no ambiente ou lugar e para coletar os dados necessários)

Seleção ou elaboração de um instrumento para coletar os dados (ou vários instrumentos)

Coleta de dados (obter as informações pertinentes) e registro dos acontecimentos do ambiente ou lugar 

Preparação dos dados para análise

-..........  I  Análise dos dados

Elaboração do relatório de pesquisa j

. . . . . . . . . . -

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quados para as ciências chamadas “exatas”. Os qualitativos têm sido empregados em disciplinas humanísticas como a antropologia, a etnografia e a psicologia social. Não obstante, ambos os tipos de estudo são úteis para todos os campos, como demonstraremos ao longo da presente obra. Por exemplo, um engenheiro civil pode realizar um estudo para construir um grande edifício. Ele empregaria estudos quantitativos e cálculos matemáticos para erguer a edificação, e analisaria dados estatísticos sobre resistência de materiais e sobre estruturas similares construídas em subsolos iguais sob as mesmas condições. Porém, também poderia enriquecer o estudo realizando entrevistas com engenheiros muito experientes. Umestudioso dosimpactosdeumadesvalorizaçãonaeconomiadeumpaíscomplementaria suas análises quantitativas com sessões de discussões profundas com especialistas e realizaria uma análise histórica (tanto quantitativa como qualitativa) dos fatos. Um analista da opinião pública, ao investigar os fatores que mais incidem na votação para uma próxima eleição, utilizaria grupos de enfoque com discussão aberta (qualitativos), além depesquisas por amostragem (quantitativos). Um médico que indagassesobre quais elementos devem ser levados em conta no momento detratar os pacientes com doenças emfaseterminal, econseguir que enfrentemessasituação crítica damelhor maneira, revisariaa teoria disponível, consultariapesquisas quantitativas equalitativas a esserespeito para conduzir uma série de observações estruturadas na relação médico-paciente em casos terminais (realizando amostras de atos de comunicação e quantificando-os), e entrevistaria

pacientes e médicos por meio de técnicas qualitativas, organizaria grupos de pacientes para que conversassem abertamente sobre tal relação e o tratamento que desejam. Ao terminar seria possível estabelecer suas conclusões e chegar a questões de pesquisa, hipóteses ou novas áreas de estudo. E sempre melhor ter o melhor dos dois mundos.

coto m  UTiiiZÀQQSos oois mmmrn m  UMA MESMA PESQUISA OU ESTUDO?

 Antes de responder à pergunta, cabe mencionar que os autores vêm trabalhando com os dois enfoques. O Quadro 1.3 mostra exemplos disso. Nau (1995) e Grinnell (1997) desenvolveram modalidades diferentes em que é possível mesclar os dois enfoques:

0 modelo de duas etapas  Aqui, em primeiro lugar se aplica um enfoque e em seguida o outro, de maneira relativamente independente, dentro do mesmo estudo. Um precede o outro e os resultados são apresentados de maneira independente ou em um relatório apenas. Em cada etapa os métodos inerentes de cada enfoque são respeitados. Por exemplo, o caso de um estudo na área de direito tributário realizado por Modelo de duas etapas: dentro  Acero (2001) para avaliar a “cultura tributária no México”. Primeiramente, de uma mesmapesquisa, 0 pesquisador realizou um estudo quantitativo, no qual analisou estatísticas aplica-se primeiro um enfoque

a

e depois o outro, de forma quase independente, e a cada :, : v . etapa seguem-se as tecmcas correspondentes a cada enfoque.



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referentes ao pagamento de impostos eà evasão tributária, ^ i •i /■ i t i / •

Partiu-se da ideia de que as cirras disponíveis nessa materia senam ^ r um indicador confiável do nível de cultura tributária entre os cidadãos. Ao mesmo tempo, revisou outros estudos anteriores sobre o conhecimento

Exemplos de estudos. de autores com enfoque infeqrado

FASE QUANTITATIVA

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Qiadr© 1.3

Hernández Sampieri, Roberto: “E! sentido de vida de los afectados por um siniestro” (2002)

Entrevistas abrangentes e não-estruturadas com feridos e mutilados de explosões de bombas.

Aplicação de uma escala de sentido de vida estruturada (Prueba en. Celaya.de Camnen • Núnez, 2000) :

Fernández Collado, Carlos: “Autoinversión en el irabajo" (1982)

Em um estudo-piloto são codificadas as expressões e frases dos funcionários e empregados, quando se referem às suas experiências de trabalho.

Resultado de entrevistas, foi a matéria-prima para construir um questionário aplicado a 800 indivíduos com a finalidade de estabelecer o grau de envolvimento com seus trabalhos.

Baptista Lucio, Pilar. “Percepciones del director de empresa en México” (1986).

Entrevistas abrangentes e não-estruturadas com diretores de empresas de médio porte para estabelecer suas percepções em reíação ao ambiente político e empresarial. .

Com base na pesquisa, qualitativa, foram estabelecidos o tipo e a freqüência de condutas de comunicação que buscavam conhecer o meio am biente para. tomar decisões bem informadas:

O PROCESSO DE PESQUISA EOS ENFOQUES QUANTITATIVO E QUALITA TIVO: RUMO A UM MODELO I N7 t

e

da questão tributária por parte dos contribuintes, atitudes em relação a essa, problemas na arrecadação e áreas que lhe permitiram deduzir o nível de desenvolvimento da cultura tributária mexicana. Uma vez concluído seu estudo quantitativo, o entrevistador passou a realizar entre  vistas com informantes-chave sobre a cultura tributária (realizou entrevistas dirigidas entre magistrados, funcionários governamentais, especialistas em direito tributário, assessores sobre o assunto econtribuintes), mas com questões gerais e abertas como: qual é a cultura tributária? Quais elementos a integram? Existe uma cultura tributária no país? As entrevistas seguiram o método qualitativo básico (observação e registro das respostas, assim como o contexto em que foramrealizadas; interpretação; busca de resultados etc.). Os resultados foram relatados e as conclusões foram obtidas. Em primeiro lugar, o estudo foi abordado quantitativamente e, a seguir, qualitati  vamente; em seu relatório final, ambas as fases do processo de pesquisa foram incluídas.

Neste modelo, o estudo sedesenvolve da perspectiva de um dos dois enfoques, o qual prevalece, e a pesquisa mantém um componente do outro enfoque. Por exemplo, um estudo sociológico paraconhecer as seqüelas do terrível ato de violência sexual contrajovens de ambos os sexos, realizado em uma cidade da Colômbia, Valiedupar.  A pesquisa poderia ser enfocada qualitativamente, utilizando três ferramentas: a) entrevistas com vítimas de violência sexual; b) sessões de grupo com discussão aberta sobre o tema, também com jovens que sofreram uma agressão desse tipo; c) revisão .He reo-isrrns nnc iiiicríjmpnfnç

__ : V i' "V'".; -V’ •' _ érealizado da perspectiva de um dós dois enfoques, o qual prevalece, e o estudo conserva componentes do outro enfoque,

i u O Ü C Í Ü U tÇ I L L U ^ Ü C U U i Ü X i i à l i L C .

O pesquisador seaprofunda nas experiências dasvítimas, seus traumas, o impacto nasuapercepção de mundo edavida cotidiana, enfim, emoutros temas que pudessem surgir. Seu estudo começa sem questões de pesquisa, muito menos com hipóteses. Apenas são estabelecidos tópicos gerais a ser tratados nas entrevistas e nas sessões, assim como pontos a revisar nos documentos jurídicos. Ou, se preferir, um método completamente aberto com uma questão geral em entrevistas ou sessões relacionadas com o significado geral da experiência, como gatilho para respostas e comentários. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, mas à qual poderia ser agregado um componente quantitativo: administrar um teste padronizado para medir a ansiedade dos jovens após o difícil evento. Outro caso seria o de um experimento para avaliar o nível em que um novo método de ensino de computação favorece a aprendizagem e a auto-estima das crianças entre 10 e 12 anos emValência, Venezuela, estabelecendo hipóteses que afirmem que o método aumentará essas duas variáveis. É um estudo quantitativo, ao qual poderia ser agregado um componente qualitativo: sessões com as crianças para elaborar mapas cognitivos daquilo que aprenderam e registrar suas experiências.  A vantagem desse modelo, segundo Grinnell (1997), consiste em apresentar um enfoque que de modo algum é considerado incoerente eque enriquece tanto a coleta dedados como sua análise. A desvantagem que os “fundamentalistas”, de uma ou outra corrente, encontrariam é queseu enfoque estaria sendo subutilizado.

ME70D0L0 GÍA Dt PESQUISA

Esse modelo representa o mais alto grau de integração ou combinação entre os enfoques qualitativo e qualitativo.  Ambos secombinam duran:e todo o processo depesquisa, ou pelo menos, namaioriade suas etapas. Esse modelo exige um domínio completo dos dois enfoques e uma mentalidade aberta. Agregacomplexidade ao projeto de estudo, mas contempla todas as vantagens de cada um dos enfoques.  A pesquisa oscila entre os esquemas de pensamento indutivo e dedutivo, além de exigir um enorme dinamismo por parte do pesquisador durante o processo. Chega a um ponto de vinculação entre o qualitativo e o quantitativo que parece inaceitável para os puristas \ Um exemplo seria o estudo mercadológico realizado pelos autores Modelo misto: constitui o maior para uma cadeia de centros comerciais no México e outros localizados na nível de integração entre os enfoques qualitativo e quantitativo, no qual  América Central (Comunicometría, S. C., 2000). A pesquisa tinha como ambos se combinam durante todo objetivo geral conhecer aquilo que os clientes regulares achavam de cada o processo dé pesquisa. centro comercial, se alocalização erafuncional, seos agradava esatisfazia as suas expectativas. Além disso, os diretores tinham um interesse em relação à necessidade de efetuar mudanças na decoração, ou mudança das lojas, ou seerapreciso sanar alsuma debilidade. O Essa idéia de pesquisa se transformou em uma série de objetivos de pesquisa de mercados e em questões que orientariam a pesquisa. Alguns exemplos dos objetivos foram: a) conhecer eanalisar as percepções e condutas que têm os clientes que freqüentam regularmente os centros comerciais, em relação à funcionalidade do local, seus atributos e características; b) considerar as sugestões de mudanças nos centros comerciais propostos pelos clientes para aumentar suas idas ao local e seu tempo de permanência; c) realizar uma análise dos pontos fortes efracos de cada centro comercial da óptica dos clientes e, d) obter informações que ajudem a definir a estratégia de mudança para cada centro comercial. Esses não foram todos os objetivos, ainda que sirvam para ilustrar o exemplo. Os pesquisadores não estabeleceram hipóteses e iniciaram com um estudo quevisava descobrir as opiniões dos clientes. O estudocompreendeuduasvertentes:umatipicamentequantitativaeoutraqualitativa. Foramrealizadas oito pesquisas, uma paracadacentro comercial. O quantitativo consistiu em uma pesquisa realizada com uma amostrarepresentativa dos clientes que freqüentava o centro comercial. O tamanho da amostra foi obtido da estatísticareferente ao registro de freqüência (contagem) dentro de uma semana típica (não em épocas de grande movimento como o Natal), chegando ao número de 420 pessoas (60 pessoas a cada dia da semana). Aplicou-se um questionário com questões fechadas ealgumas abertas. Ao mesmo tempo, foraminiciadas sessões de grupo em profundidade (com uma lista de tópicos que abordavam a forma como definiam o centro comercial, o que lhes agradava ou não, a avaliação da variedade de lojas, o tempo de permanência, as mudanças que deveriam ser efetuadas na localização, a avaliação dos serviços que eram oferecidos e outras dimensões). Cada sessão foi realizada com um grupo de oito indivíduos de diferentes segmentos entre 18 e 60 anos (agrupados por idade e foram incluídos grupos de homens, mulheres, egrupos mistos, em um total de dez sessões por centro). Todas as sessões foram gravadas em vídeo, posteriormente transcritas e duas equipes de pesquisa independentes analisaram os dados (uma a partir dos vídeos e aoutra a partir das transcrições). CC

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0 PROCESSO DE PESQUISA E OS ENFOQUES QUANTITATI VO E QUALITATIVO: RUMO A U M MODELO 1NTEU

Foi utilizadauma técnica qualitativa para analisar os dados, além do fato de o condutor das sessões e um observador que estava por trás da câmara de Gesell (com vidro polarizado) terem tomado nota dos acontecimentos que se apresentaram durante as sessões, assim como toda a interpretação que é própria no enfoque qualitativo. Depois, realizou-se a análise estatísticacom os dados da pesquisa eaplicou-se uma análise interpretativa dos dados resultantes das sessões.  Ao finalizar o estudo do primeiro centro comercial, surgirão novas questões de pesquisa. Uma delas foi: os centros comerciais devem buscar ser, além de lugares de compra, espaços de diversão? Isso porque o primeiro estudo trouxe informações suficientes para pensar que os centros comerciais, pelo menos nos países estudados, se converteram no que eram as grandes praças públicas, e as pessoas vão tanto para comprar como para se divertir. Nesse sentido, cada vez encontraremos espaços maiores de diversão nesses centros.  Assim, o estudo para o segundo centro comercial refinou o questionário da pesquisa e a lista de tópicos das sessões. O resultado foi um estudo enriquecido pelos dois enfoques, os quais conviveram dentro do mesmo processo de pesquisa.  Ao longo deste texto serámencionado outro exemplo mercadológico que combinaambos os enfoques.

Nos últimos anossurgiu umacontrovérsia entre dois enfoques paraapesquisa: o quantitativo e o qualitativo. Os defensores de cada um argumentam que o seu é o mais apropriado e produtivo para a pesquisa. O enfoquequantitativo sefundamenta em um esquemadedutivo e lógico, buscaformular questões de pesquisa e hipóteses para posteriormente testá-las, confia na medição pa dronizada e numérica, utiliza a análise estatística, é reducionista e pretende generalizar os resultados de seus estudos mediante amostras representativas. Além disso, parte da concepção de que existem duas realidades: aquela em torno do pesquisador e aquela constituída pelas crenças dele; portanto, fixa como objetivo provar que as crenças do pes quisador estão próximas da realidade do ambiente. Os experimentos e as pesquisas baseados em questionários estruturados são exemplos de pesquisa centrada nesse enfoque. O enfoque qualitativo, por sua vez, é baseado em um esquema indutivo, é expansivo e em geral não busca criar questões de pesquisa anteriormente nem provar hipóteses preconcebidas, e sim deixar que essas surjam durante o desenvolvimento do estudo. £ individual, não mede numericamente os fenômenos estudados nem tampouco tem como finalidade generalizar os resultados de sua pesquisa; não realiza análise estatística; seu método de análise é interpretativo, contextuai e etnográfico. Assim, preocupa-se em captar experiências na linguagem dos próprios indivíduos e estuda ambientes naturais.

® As entrevistasabertaseaobservação não-estruturadasão exemplos associados ao enfoque qualitativo. ® Esses dois enfoques são formas que se demonstraram muito úteis parao desenvolvimento do conhecimento científico e nenhum é intrinsecamente melhor que o outro. 9 Ambos podem ser mesclados eincluídos no mesmo estudo, o que, longe de empobrecer a investigação, a enriquece; são visões complementares. ® Tanto o enfoque de pesquisa qualitativo como o quantitativo, com suas diferenças, têm espaço no processo de pesquisa científica. 9 É possível seguir, pelo menos, três modelos para mesclá-los: 1. o modelo de duas etapas, 2. o modelo de enfoque dominante e 3. o modelo misto. ® No modelo de duas etapas primeiro é aplicado um enfoque e em seguida o outro, de maneira independente, em um mesmo estudo; no modelo de enfoque dominante, uma das modalidades prevalece sobre a outra e um componente do segundo enfoque é incluído; no modelo misto ambos os enfoques estão interligados durante todo o processo de pesquisa.

Coleta de dados Enfoque ou modelo multimodal Enfoque qualitativo Enfoque quantitativo

Esquema dedutivo Esquema indutivo Modelo de duas etapas Modelo de enfoque dominante

Modelo misto Processo de pesquisa Triangulação

CRESWELL, J. W. Qualitativeinquiry and research design: Choosing harmony among traditions. California: Sage Publications, 1997. DENZIN, N. K. Theresearch act:  a theoretical introduction to sociological methods. 2. ed. Nova York: McGraw-Hill, 1978. GRINNELL, R. M. Social work research & evaluation: quantitative and qualitative approaches. 5. ed. Itasca, Illinois: E. E. Peacock Publishers, 1997. NEUMAN, W. L. Social research methods: qualitative and quantitative approaches. 2. ed. Needham Heights, MA: Allyn and Bacon, 1994. PATTON, M. Q. Qualitativeevaluation methods. Londres: Sage Publications, 1980. SCHWARTZ, H.; JACOBS, O. Sociologia cualitativa: método para la reconstrucción de la realidad. México: Trillas, 1999.

0 PROCESSO DE PESQUISA E OS ENFOQUES QUANTITATIVO EQUAL ITATIVO: RUMO A U M MODELO INTEGRAL  C A  P   t  l    b  L   O 1 

Os estudantes ouvem tanto sobre como é difícil e enfadonha a pesquisa, que chegam nessa etapa da escolaridade com a mente cheia de preconceitos e agem sob pressão, medo e, aliás, ódio em relação a ela.  Antes que se ocupem das tarefas rotineiras da elaboração de um projeto, é necessário fazê-los refletirsobresuaatitudediante detal empreitada, paraquevalorizemapesquisaemsuajustadimensão,  já que não se trata de levá-los a crer que todos os problemas serão resolvidos como em um passe de mágica, ou que apenas nos países deprimeiro mundo existe a capacidade para realizar tal feito.  A pesquisa representa mais uma das fontes de conhecimento pelas quais, se decidirmos ampliar suas fronteiras, será indispensável realizá-la com responsabilidade ética.,  Ainda que a pesquisa quantitativa esteja consolidada como o método predominante no horizonte científico internacional, nos últimos cinco anos a pesquisa qualitativa teve maior aceitação; entretanto, começa-se a superar o desgastado debate de oposição entre ambos os tipos. Outro avanço na pesquisa é representado pela internet; no passado, a revisão da literatura tornava-se longa e tediosa, agora ocorre o contrário, já que o pesquisador pode dedicar-se mais à análise da informação em vez de escrever dados em centenas de cartões.  Ainda restam, contudo, pesquisadores e docentes que preferem adotar posições radicais. Eles se comportam como uma criança que descobriu o martelo e agora martela tudo o que.; encontra em seu caminho, sem a possibilidade de perguntar a si mesmo se o que precisa é um serrote ou urriâ chave de fenda Carlos G. Alonzo Blanqueto

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 Professor-pesquisadortitulardaFaculdadedeEducação UniversidadAutónoma deYucatán  Mérida, México  Faculdadede Odontologia UniversidadAutónomadeNayarit

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Os estudantes que se iniciam na pesquisa começam elaborando um problema em um contexto geral, em seguida localizam a situação no contexto nacional e regional para, por último, projetá-la em âmbito local, ou seja, onde se encontram academicamente localizados (campo, laboratório, sala de aula etc.). Na Universidad de Oriente, ha Venezuela, a pesquisa adquiriu relevância nos últimos anos por duas razões: o crescimento do quadro de professores e a diversificação de cursos de Engenharia, área na qual, em geral, as pesquisas são quantitativas-positivas, com resultados muito satisfatórios. . Da mesma forma, no estudo de fenômenos sociais e em ciências da saúde, O: enfoque qualitativo, visto como uma teoria da pesquisa, apresenta grandes avanços. É uma ferramenta . metodológica utilizada com freqüência nos estudos de doutorado de Filosofia, Epistemologia, Educação e Lingüística, entre outras disciplinas. As contribuições de tais estudos se caracterizam por sua riqueza de descrição e análise. Os enfoques qualitativo e quantitativo, vistos como teorias filosóficas, são completamente diferentes; no entanto, como técnicas para o desenvolvimento de uma pesquisa, podem ser mesclados, sobretudo em relação à análise e à discussão de resultados. ÍVÍARIANELLISSAL^iZARDEGóMEZ

 Professora titular   FaculdadedeHumanidades Universidadde Oriente  Anzoátegui, V enezuela ■ ^

OS PESQUISADORES

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