MELO - A opinião no jornalismo brasileiro

March 20, 2019 | Author: Bruno Gurgel | Category: Editorial, Journalism, Newspapers, Política, Science (General)
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 A opinião no no jornalismo jornalismo brasileiro brasileiro MELO, José Marques de. Petrópolis: Vozes, 1994

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“A di d istinção en e ntre news e comment  que que se esbo esboça ça no  jornalismo britânico acabaria por se impor como uma  bipolarização do espaço ocupado pela informação de atualida atualidade de nos veículos veículos de difusão difusão coletiva. coletiva. O equilíbrio equilíbrio entre ambas as categorias ou a predominância de uma sobre AA outr outraa perm perman anec ecee como como uma uma pecu peculi liari arida dade de de cada cada  processo jornalístico.” jornalístico.” “Se his histori toriccament mentee pred redomin ominaam essa essass dua duas cate catego gori rias as no  jornalismo – o informativo e o opinativo –  contemporaneamente elas convivem com categorias novas que que corr corres espo pond ndem em às muta mutaçõ ções es expe experim rimen enta tada dass pelo peloss  processos jornalísticos. Pelo menos essa é a tendência corrente nos países capitalistas, onde o jornalismo torna-se cada cada dia dia mais mais um negó negóci cioo pode podero roso so e suas suas form formas as de expressão buscam adequar-se aos desejos dos consumidores ou equiparar-se aos padrões das mensagens não-jornlísticas que fluem através dos mass media. media. a) A instituição jornalística assume o papel de obse observ rvad ador oraa aten atenta ta da real realid idad ade, e, cabe cabend ndoo ao  jornalista proceder como “vigia”, registrando os fato fatoss, os aconte onteci cim mento ntos e info inform rman ando do-o -oss à sociedade. Essa função corresponde ao  jornalismo informativo. informativo.  b) Além disso, reage diante das notícias, difundindo opiniões, seja as opiniões próprias, seja as que lê, ouve ou vê. Nesse sentido assemelha-se à instituição do  Forum na Gré Grécia antiga tiga,, atua tuando como conselheira, como formadora de opinião. Essa função corresponde ao jornalismo ao jornalismo opinativo. opinativo. “A di distinção en entre a nota, nota, a notícia e a reportagem está exatamente na progressão dos acontecimentos, sua captação  pela instituição jornalística e a acessibilidade acessibilidade de que goza o  público. A nota corresponde ao relato de acontecimentos que estã estãoo em proc proces esso so de conf config igur uraç ação ão e por por isso isso é mais mais freq freque uent ntee no rádi rádioo e na tele televi visã são. o. A notícia é o relato integral de um fato que já eclodiu no organismo social. A reportagem é o relato ampliado de um acontecimento que já repercutiu no organismo social e produziu alterações que são  percebidas pela instituição jornalística. Por sua vez, a entrevista é um relato que privilegia um ou mais  protagonistas do acontecer, possibilitando-lhes possibilitando-lhes um contato direto com a coletividade.” “O comentário, comentário, o artigo e a resenha pressupõem autoria definida e explicitada, pois este é o indicador que orienta a sintonização do receptor. “A mani manife fest staç ação ão de opin opiniã iãoo no jorn jornal alis ismo mo cont contem empo porâ râne neoo

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não é um fenômeno monolítico. Por mais que a instituição  jornalística tenha uma orientação definida (posição ideológica ou linha política), em torno da qual pretende que as suas mensagens sejam estruturadas, subsiste sempre uma diferenciação opinativa (no sentido de atribuição de valor  aos acontecimentos). As condições de produção do  jornalismo atual exigem a participação de equipes numerosas, donde a impossibilidade de controle total do que se vai divulgar. O monolitismo opinativo caracterizou a vida dos primeiros  jornais e revistas, que eram obra de uma só pessoa.” “Desde o momento em que a imprensa deixou de ser  empreendimento individual e se tornou instituição, assumindo o caráter de organização complexa, que conta com equipes de assalariados e colaboradores, a expressão de opinião fragmentou-se seguindo tendências diversas e até mesmo conflitantes.” “A opinião da empresa, ademais de se manifestar no conjunto da orientação editorial (seleção, destaque, titulação), aparece oficialmente no editorial . A opinião do  jornalista, entendido como profissional regularmente assalariado e pertencente aos quadros da empresa, apresentase sob a forma de comentário, resenha, coluna, crônica, caricatura, e eventualmente artigo. A opinião do colaborador, geralmente personalidades representativas da sociedade civil que buscam os espaços jornalísticos para  participar da vida política e cultural, expressa-se sob a forma de artigos. A opinião do leitor encontra a expressão  permanente através da carta.” “O comentarista é geralmente um jornalista com grande experiência e tirocínio, que acompanha os fatos não apenas na sua aparência, mas possui dados sempre disponíveis ao cidadão comum. Trata-se de um observador privilegiado, que tem condições para descobrir certas tramas que envolvem os acontecimentos e oferecê-las à compreensão do  público.” “O comentarista não é um julgador partidário, alguém que faz proselitismo ou doutrinação. É um analista que aprecia os fatos, estabelece conexões, sugere desdobramentos, mas  procura manter, até onde é possível, um distanciamento das ocorrências. Isso não quer dizer que seja neutro. Ao contrário, trata-se de um profissional participante, que possui opinião própria, mas atua como agente da notícia e não  procura exercer sua função para extrair vantagens  posteriores (cargos públicos/ ascensão política). Em síntese, assume-se como juiz da coisa pública. Orienta sem impor. Opina sem paixão. Conduz sem se alinhar.” “O comentário surgiu como tentativa de quebrar o monopólio opinativo do editorial. Esse monopólio era consequência da unidade ideológica que possui o jornalismo

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 pré-industrial. Mas, quando as instituições jornalísticas tomam caráter mercantil, seus dirigentes deparam-se com a inevitabilidade das concessões sociais. (...) Por isso tornouse incômodo manter o monopólio opinativo que expressava, através do editorial, o ponto de vista das forças diretamente responsáveis pelo funcionamento da empresa jornalística.” “O surgimento do comentário no jornalismo brasileiro afigura-se como espaço propício para a expressão opinativa dos seus profissionais. As oportunidades para a manifestação de opinião em nossos veículos jornalísticos sempre estiveram acessíveis aos grandes intelectuais ou aos repórteres destacados. Nunca aos redatores que mostravam  potencialidade de análise e de previsão dos acontecimentos. “Na verdade o comentário tem sua própria especificidade enquanto estrutura narrativa do cotidiano. Trata-se de um gênero que mantém vinculação estreita com a atualidade, sendo produzido em cima dos fatos que estão ocorrendo. Vem junto com a própria notícia. Por isso é difícil de ser  realizado, exigindo muita argúcia no sentido de evitar   prognósticos não confirmáveis.” “O comentário explica as notícias, seu alcance, suas circunstâncias, suas consequências. Seu julgamento é  percebido pelo raciocínio que utiliza, pelos rumos da sua argumentação.” “Raramente o comentário é conclusivo, arriscar uma conclusão é perigoso, já que se torna exíguo o tempo que tem o comentarista entre a ocorrência e a apreciação. As conclusões vão emergindo naturalmente como consequência dos julgamentos anteriores. Por sua própria natureza, o comentário exige especialização.  Não há comentarista de assuntos gerais. Cada jornalista acumula experiência e conhecimento num setor (política, economia, esportes) e se dedica a discernir a evolução do que acontece. Comentar é uma tarefa que pressupõe ancoragem informativa e perspectiva histórica. Sem dispor  de dados concretos e de referencial analítico, o comentário corre o perigo de cair no vazio e fraudar o receptor. Afinal de contas, quem recorre ao comentário quer dispor de uma  bússola para entender a contemporaneidade.” “O comentário ainda não teve o seu diagnóstico feito com  precisão no jornalismo brasileiro. Historicamente ele surge na década de 50, principalmente com a expansão da televisão, e atinge um período de fulgor na primeira metade da década de 60. Mas como comentar é uma atividade  jornalística que não pode prescindir de liberdade, no duplo cenário os acontecimentos, observa-se um declínio após o golpe de 1964. Além da censura que se estabelece nos  processos de difusão, com maior ou menor intensidade, verifica-se também o fechamento das fontes de informação. Um dos traços dos governos militares foi a circunscrição das

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decisões políticas aos reservados gabinetes das figuras de  projeção e o certo ar de mistério que cercou o palco da notícia. Muitas medidas de grande repercussão no campo  político ou econômico passaram a ser anunciadas de surpresa, pegando a opinião pública desprevenida.” “É natural portanto que os comentaristas tenham encontrado inibição para o exercício do seu trabalho. Alguns importantes jornalistas, que se dedicaram ao comentário na cadeia Última Hora e também em outros jornais,  praticamente desapareceram da vida nacional, cassados, acuados ou amedrontados. Outros tiveram seu espaço de atuação restringido pelas próprias empresas jornalísticas, temerosas de desagradar os novos donos do poder.” “São os tempos da distensão ou da abertura que fazem renascer o comentário. (...) O campo que se afigura para o comentário é o dos esportes, não apenas pela coincidência da valorização do futebol como válvula de escape nacional, mas  pela liberdade de atuação de que gozam os jornalistas esportivos para emitir conceitos e sugerir julgamentos.” “É porém no rádio que o comentário está encontrando sua maior expressão no jornalismo brasileiro contemporâneo. Durante muito tempo, ele se fez por personagens como Vicente Leporace que realizam cotidianamente no programa O Trabuco (Rádio Bandeirantes) uma análise informal do noticiário publicado nos jornais da manhã. Era o comentário das ocorrências que ganhavam as manchetes, numa linguagem direta, coloquial, mas sem dúvida presa à construção verbal mais elaborada. As frases de Leporace,  por exemplo, fluíam no velho estilo discursivo, retórico, impostado, apesar da força emotiva que muitas vezes imprimia.” “O segredo do comentário radiofônico tem sido o de ampliar  o seu universo temático, não restringindo-se à política, economia e esportes, como ainda ocorre nos jornais, revistas e televisão, mas captando aquelas facetas da vida social que expressam as vicissitudes do cidadão comum: o custo de vida, os problemas de transporte e habitação, as questões ligadas à educação e à saúde, sem perder de perspectiva a sua inserção no conjunto da vida nacional. Observa-se porém que o comentário radiofônico ainda mantém uma dependência em relação ao jornal diário, que serve como fonte de referencia para a seleção do fatos a merecerem análise, elucidação e julgamento.”

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