Medresumos 2014 - Anatomia Humana Sistêmica 01 - Introdução

December 9, 2018 | Author: Gabriel Hans | Category: White Matter, Anatomy, Nerve, Human, Spinal Cord
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 Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2014 ● ANATOMIA HUMANA SISTÊMICA

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ANATOMIA HUMANA SISTÊMICA

2014

Arlindo Ugulino Netto; Prof. Roberto Guimarães Maia; Prof. Haroldo F. Diniz.  Em memória do Professor Roberto Guimarães Maia (1972 ✩  - 2012†  )

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA ANATOMIA HUMANA “A você que, incógnito em vida e isento de epígrafes em lápides, tornou - se  se ‘peça’ fundamental à nossa missão de evitar a morte. Como fonte inesgotável de conhecimento, representastes o papel de Mestre, emprestando-nos a geografia do seu corpo, agora inanimado, mas que já foi templo do dom da existência e protagonista de sua própria história; hoje, imortalizada. Embora insuficiente para demonstrar nosso respeito, rabiscamos aqui nossa gratidão camuflada em homenagem póstuma, pois o êxito da ciência da vida só se faz possível através do infortúnio de sua morte.” (Agradecimento ao Cadáver Desconhecido; Arlindo Ugulino Netto, 2013)

 Anatomia é a ciência que estuda macro e microscopicamente a constituição e o desenvolvimento dos seres organizados (Dângelo e Fattini). Em outras palavras, a Anatomia  (do grego antigo, anatémnein, ou "seccionar em partes"), ou Antroponatomia, é o ramo da biologia no qual se estudam a estrutura e organização dos seres vivos, tanto externa quanto internamente, de um modo macroscópico geral.

HISTÓRIA DA ANATOMIA Em termos mais restritos e clássicos, a anatomia confunde-se com a morfologia interna, isto é, com o estudo da organização interna dos seres vivos, o que implicava uma vertente predominantemente prática que se concretizava através de métodos precisos de corte e dissecação  (ou dissecção) de seres vivos (cadáveres, pelo menos no ser humano), com o intuito de revelar a sua organização estrutural.  A partir daí, a anatomia já tomava sua devida importância e origem no Egito antigo (3000 a 2500 a.C.), por meio de um ensino empírico no intuito de realizar o embalsamamento das múmias. Com isso, a anatomia era uma arte restrita aos sacerdotes dos grandiosos faraós. Na Grécia, porém, a anatomia foi vista como prioridade, no ponto de vista de Hipócrates de Cós (460 a 377 “ a natureza do corpo é o início de toda ciência médica” a.C.), considerado o “Pai da Medicina”, assumindo que “a médica” e afirmando que era de suma importância reconhecer e explorar cada estrutura do corpo humano para saber lidar com essa máquina perfeita. Foi um dos fundadores da ciência anatômica voltada à medicina: escreveu mais de 400 aforismos (máximas nas quais se baseiam a Medicina); preconizou, pela primeira vez, o tratamento de uma hérnia de disco, por exemplo. Hipócrates foi responsável, inclusive, por organizar os códigos moral e ético da prática profissional da medicina (o “Juramento de Hipócrates”).

Os conhecimentos da anatomia foram então passados para o filósofo Aristóteles (384 a 322 a.C.), que mesmo tomando conhecimento da importância que se tinha essa ciência, não se havia denominado de maneira específica o ato 1

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de dissecar, muito embora seja atribuído a ele o fato de ter usado, pela primeira vez, o termo “ anatémnein” (em grego, “anna temnein”= cortar em partes, seccionar).

Na realidade, o mais antigo relato conhecido de uma dissecação pertence ao grego Teofrasto, discípulo de  Aristóteles. Relatos também atribuem a ele o termo “anatomia”, que se generalizou, englobando todo o campo da biologia que estuda a forma e a estrutura dos seres vivos, existentes ou extintos.  Alcméon, na Grécia, lutando contra o tabu que envolvia o estudo do corpo humano, realizou pesquisas anatômicas já no século VI a.C. (por isso muitos o consideram o “pai” da anatomia). Entre 600 e 350 a.C.  , Empédocles,  Anaxágoras, Esculápio e Aristóteles também se dedicaram a dissecações. Foi, porém, no século IV a.C, com a escola  Alexandrina, que a anatomia prática começou a progredir. Na época, destacou-se Herófilo de Calcedônia (335 a 280 a.C.), que, observando cadáveres humanos, classificou os nervos como sensitivos e motores, reconhecendo no cérebro a sede da inteligência e o centro do sistema nervoso. É considerado o “Pai da Anatomia Antiga”, tendo dissecado inúmeros cadáveres. Escreveu três livros “ Sobre a  Anatomia”, que desapareceram . Seu contemporâneo Erasístrato descobriu que as veias e art érias convergem tanto para

o coração quanto para o fígado. Rufo de Éfeso (100 d.C.) é considerado o primeiro estudioso a tentar organizar e padronizar uma Nomenclatura  Anatômica: a denominação das partes do corpo. No século IX, o estudo do corpo humano voltou a interessar os sábios, graças à escola de médica de Salerno, na Itália, e à obra de Constantino, o Africano, que traduziu do árabe para o latim numerosos textos médicos gregos. Logo depois, Guglielmo de Saliceto, Rolando de Parma e outros médicos medievais enfatizaram a afirmação de Galeno (130 a 200 d.C.), segundo a qual o conhecimento anatômico era importante para o exercício da cirurgia: “Pela ignor ância da anatomia, pode-se ser tímido demais em operações seguras ou temerário e audaz em operações difíceis e incertas”.  Foi Galeno deu nomes aos ossos, indentificou as suturas do crânio, compreendeu a importância do atlas (1ª vértebra cervical) nos movimentos da cabeça, entre outros. Entretanto, por dissecar animais (macacos, bois), e não humanos, teve na sua obra equiívocos resultantes da transposição, para o homem, de seus achados. O médico Mondino de Liuzzi (1270 a 1360) foi o responsável por incluir no currículo médico a disciplina de  Anatomia. Por isso, ele foi considerado o Restaurador da Anatomia: as aulas práticas de anatomia aconteciam na casa do próprio professor. Em 1315, realizou a primeira dissecação pública em Bolonha, Itália. Escreveu uma obra de  Anatomia Sistemática (1316), com 20 volumes. Na Antiguidade, até então, os Anatomistas estudaram sempre as escondidas, e os cadáveres eram “roubados”

da catacumbas, pois era proibido o uso de dissecação, sob pena de morte na fogueira, por razões éticas e religiosas considerados prática de bruxaria. Utilizavam cadáveres de criminosos e ladrões. Os irlandeses William Burke e William Hare, assassinaram pelo menos 16 pessoas, para utilizar seus corpos em aulas de anatomia. O clima geral do Renascimento favoreceu o progresso dos estudos anatômicos. A descoberta de textos gregos sobre o assunto, e a influência dos pensadores humanistas, levou a Igreja a ser mais condescendente com a dissecação de cadáveres. Deve-se ao Papa Clemente VII  (1478 a 1534) a permissão para a prática da Anatomia em seres humanos, com fins de ensino, o que alargou os horizontes para esta ciência. Artistas como Michelangelo (1475 a 1564), Leonardo da Vinci (1452 a 1519) e Rafael mostraram grande interesse sobre a estrutura do corpo humano. Leonardo dissecou, talvez, meia dúzia de cadáveres, relatando seus achados em vários desenhos e obras; Michelangelo esculpiu seus conhecimentos anatômicos em obras como “David” e “Moisés”, além de fazer referências à neuranatomia na obra “A Criação de Adão” , no teto da Capela Sistina. O maior anatomista da época foi o médico flamengo Andreas Versalius (1514 a 1564), considerado o “Pai da  Anatomia Moderna”, sendo um dos maiores contestadores da obscurantista tradição de Galeno: ele corrigiu erros de outros anatomistas  – inclusive Galeno  – e expôs o esqueleto do corpo humano. Dissecou cadáveres humanos durante anos, em Pádua, e descreveu d etalhadamente suas descobertas no livro “De Humani Corporis Fabrica” (Dos Trabalhos do Corpo Humano”), em 1543. Es tabeleceu a postura do cadáver e sugeriu a Posição Anatômica, hoje padronizada,

para o ensino da anatomia humana em todo o mundo. Girolamo Fabricius (1537 a 1619) descreveu os fundamentos da traqueostomia, apesar de nunca tê-la utilizado. William Harvey (1578 a 1657), um médico britânico, descreveu a circulação do sangue: a “pequena e grande circulação”, além de ter postulado a existência dos capilares sanguíneos (apesar de nunca tê-los visto). Em 1832, foi decretada a Lei de Anatomia ( Anatomic Act ) pelo Parlamento, no Reino Unido, que deu licença mais livre para médicos, professores de anatomia e os estudantes de boa-fé para o estudo de cadáveres, como resposta ao comércio ilegal de cadáveres. Nos séculos XVIII e XIX, o estudo cada vez mais pormenorizado das técnicas operatórias levou à subdivisão da anatomia, dando-se muita importância à anatomia topográfica. O estudo anatômico-clínico do cadáver, como meio mais seguro de estudar as alterações provocadas pela doença, foi introduzido por Giovan Battista Morgani. Surgia a anatomia patológica, que permitiu grandes descobertas no campo da patologia celular, por Rudolf Virchow, e dos agentes responsáveis por doenças infecciosas, por Pasteur e Koch. Hoje em dia, a ciência anatômica é muito mais do que apenas “dissecar um cadáver”. Graças a ela,   há a possibilidade de estudar anatomia mesmo em pessoas vivas, através de técnicas de imagem como a radiografia, a endoscopia, a angiografia, a tomografia axial computadorizada, a tomografia por emissão de pósitrons, a imagem de ressonância magnética nuclear, a ecografia, a termografia e outras. 2

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O CADÁVER O cadáver é, sem dúvida, o “professor” mais importante da ciência da Anatomia. Embora o conceito da ciência

atualmente seja bem mais abrangente, o cadáver humano ainda é o principal instrumento de ensino e estudo da  Anatomia (Haroldo Diniz, 1972). Do latim, o termo cadáver, caro data vermibus, significa: “carne dada aos vermes”.

DIVISÃO DA ANATOMIA MACROSCÓPICA  A anatomia animal, por sua vez, divide-se em dois ramos fundamentais: sistêmica e topográfica (segmentar). A primeira ocupa-se da descrição dos diversos aparelhos (ósseo, muscular, nervoso, etc) e subdivide-se em macroscópica (estudo dos órgãos quanto a sua forma, seus caracteres morfológicos, seu relacionamento e sua constituição) e microscópica (estudo da estrutura íntima dos órgãos pela pesquisa microscópica dos tecidos e das células). A anatomia topográfica dedica-se ao estudo em conjunto de todos os sistemas contidos em cada região do corpo e das relações entre eles. ANATOMIA SISTÊMICA  A anatomia sistêmica compreende o estudo analítico e macroscópico dos sistemas orgânicos, considerados separadamente. Sistema ósseo: suporte estrutural e proteção através dos ossos. Sistema articular: conjunto de estruturas com função de unir os ossos e garantir o movimento entre eles. Sistema muscular: proporciona o movimento ao corpo. Sistema nervoso: coleta, transfere e processa informação com o cérebro e nervos. Sistema endócrino: comunicação interna do corpo através de hormônios. Sistema cardiovascular: circulação do sangue como coração e vasos sanguíneos. Sistema linfático: estruturas envolvidas na transferência de linfa entre tecidos e o fluxo sanguíneo. Sistema imunológico: defesa do corpo contra os agentes patogênicos. Sistema respiratório: órgãos usados para inspiração (vias aéreas) e hematose (pulmão). Sistema digestório: processamento do alimento com a boca, estômago e intestinos. Sistema excretor ou urinário: os rins e estruturas envolvidas na produção e excreção da urina. Sistema reprodutor: órgãos sexuais masculinos e femininos responsáveis diretos pela perpetuação da espécie.            

ANATOMIA TOPOGRÁFICA Os livros de anatomia humana geralmente dividem o corpo nos seguintes grupos regionais: Cabeça e Pescoço: inclui todas as estruturas acima da abertura torácica superior. Membro superior: inclui a mão, antebraço, braço, ombro, axila, região peitoral e região escapular. Tórax: é a região do peito compreendida entre a abertura torácica superior e o diafragma torácico. Abdome: região situada entre a abertura inferior do tórax e a abertura superior da pelve. Dorso: a coluna vertebral e seus componentes, as vértebras e os discos intervertebrais. Pelve e Períneo Membro inferior: estruturas localizadas abaixo do ligamento inguinal, incluindo a coxa, articulação do quadril, perna e pé.       

"Ao curvar-te com a lâmina rija de teu bisturi sobre o cadáver desconhecido, lembra-te que este corpo nasceu do amor de duas almas; cresceu embalado pela fé e esperança daquela que em seu seio o agasalhou, sorriu e sonhou os mesmos sonhos das crianças e dos jovens; por certo amou e foi amado e sentiu saudades dos outros que partiram, acalentou um amanhã feliz e agora jaz na fria lousa, sem que por ele tivesse derramado uma lágrima sequer, sem qu e tivesse uma só prece. Seu nome só Deus o sabe; mas o destino inexorável deu-lhe o poder e a grandeza de servir a hu manidade que por ele passou indiferente."

Karl Rokitansky (1876) Ao cadáver, respeito e agradecimento

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ANATOMIA HUMANA SISTÊMICA

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Arlindo Ugulino Netto; Fernando Felix; Prof. Haroldo F. Diniz.

FUNDAMENTOS DA ANTOMIA HUMANA: CONCEITOS E NOMENCLATURAS















 A Anatomia macroscópica humana estuda o corpo humano e conforme o enfoqu e recebe varias denominações: Anatomia sistemática ou descritiva: estuda de modo analítico (separação de um todo em seus elementos ou partes componentes) e separadamente as várias estruturas dos sistemas que constituem o corpo, o esquelético, o muscular, o circulatório, etc. Anatomia topográfica ou regional : estuda de uma maneira sintética (método, processo ou operação que consiste em reunir elementos diferentes e fundi-los num todo), as relações entre as estruturas de regiões delimitadas do corpo. Anatomia de superfície ou do vivo : estuda a projeção de órgãos e estruturas profundas na superfície do corpo, é de grande importância para a compreensão da semiologia clínica (estudo e interpretação do conjunto de sinais e sintomas observados no exame de um paciente). Anatomia funcional : estuda segmentos funcionais do corpo, estabelecendo relações recíprocas e funcionais das várias estruturas dos diferentes sistemas. Anatomia aplicada : salienta a importância dos conhecimentos anatômicos para as atividades médicas, clínica ou cirúrgica e mesmo para as artísticas. Anatomia radiológica : estuda o corpo usando as propriedades dos raios-X e constitui, com a anatomia de superfície, a base morfológica das técnicas de exploração clínica. Anatomia comparada : estuda a anatomia de diferentes espécies animais com particular enfoque ao desenvolvimento ontogenético  (desenvolvimento de um indivíduo desde a concepção até a idade adulta) e filogenético (história evolutiva de uma espécie ou qualquer outro grupo taxonômico) dos diferentes órgãos.

CONCEITO DE “NORMAL” E VARIAÇÃO ANATÔMICA Normal, para o anatomista, é o estatisticamente mais comum, ou seja, o que é encontrado na maioria dos casos. Vari ação anatômica  é qualquer fuga do padrão sem prejuízo da função. Quando ocorre prejuízo funcional trata-se de uma anomalia  e não de uma variação. Se a anomalia for tão acentuada que deforme profundamente a construção do corpo, sendo, em geral, incompatível com a vida, é uma monstruosidade . Existem algumas circunstâncias que determinam variações anatômicas normais e que devem ser descritas: Idade: os testículos no feto estão situados na cavidade abdominal, migrando para a bolsa escrotal e nela se localizando durante a vida adulta; Sexo: no homem a gordura subcutânea se deposita principalmente na região tricipital, enquanto na mulher o depósito se dá preferencialmente na região abdominal; Raça: nos brancos a medula espinhal termina entre a primeira e segunda vértebra lombar, enquanto que nos negros ela termina um pouco mais abaixo, entre a segunda e a terceira vértebra lombar; Tipo morfológico constitucional (Biótipo): é o principal fator das diferenças morfológicas. Os principais tipos são: Longilíneo (ectomorfo): indivíduo alto e esguio, com pescoço, tórax e membros longos. Nessas pessoas o o estômago geralmente é mais alongado e as vísceras dispostas mais verticalmente; Brevilíneo (endomorfo): indivíduo baixo com pescoço, tórax e membros curtos. Aqui as vísceras costumam o estar dispostas mais horizontalmente; Normolíneo (mesomorfo): características intermediárias. o 







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NOMENCLATURA ANATÔMICA É a linguagem própria da anatomia, ou seja, conjunto de termos empregados para designar e descrever o organismo ou suas partes. Com o acúmulo de conhecimentos no final do século passado, graças aos trabalhos de importantes “escolas anatômicas” (sobretudo na Itália, França, Inglaterra e Alemanha), as mesmas estruturas do corpo

humano recebiam denominações diferentes nestes centros de estudos e pesquisas. Em razão desta falta de metodologia e de inevitáveis arbitrariedades, mais de 20.000 termos anatômicos chegaram a ser consignados (hoje reduzidos a poucos mais de 5.000).  A primeira tentativa de uniformizar e criar uma nomenclatura anatômica internacional ocorreu em 1895. Em sucessivos congressos de Anatomia em 1933, 1936 e 1950 foram feitas revisões e finalmente em 1955, em Paris, foi aprovada oficialmente a Nomenclatura Anatômica, conhecida sob a sigla de P.N.A. (Paris Nomina Anatômica). Revisões subsequentes foram feitas em 1960, 1965 e 1970, visto que a nomenclatura anatômica tem caráter dinâmico, podendo ser sempre criticada e modificada, desde que haja razões suficientes para as modificações e que estas sejam aprovadas em Congressos Internacionais de Anatomia.  A língua oficialmente adotada é o latim (por ser “língua m orta”), porém cada país pode traduzi -la para seu próprio vernáculo. Ao designar uma estrutura do organismo, a nomenclatura procura utilizar termos que não sejam apenas sinais para a memória, mas tragam também alguma informação ou descrição sobre a referida estrutura. Dentro deste princípio, foram abolidos os epônimos (nome de pessoas para designar coisas) e os termos indicam: a forma (músculo trapézio); a sua posição ou situação (nervo mediano); o seu trajeto (artéria circunflexa da escápula); as suas conexões ou inter-relações (ligamento sacroilíaco); a sua relação com o esqueleto (artéria radial); sua função (M. levantador da escápula); critério misto (M. flexor superficial dos dedos  – função e situação). Entretanto, há nomes impróprios ou não muito lógicos que foram conservados, porque estão consagrados pelo uso.

POSIÇÃO ANATÔMICA Para evitar o uso de termos diferentes nas descrições anatômicas, considerando-se que a posição pode ser variável, optou-se por uma posição padrão, denominada posição de descrição anatômica (posição anatômica). Deste modo, os anatomistas, quando escrevem seus textos, referem-se ao objeto de descrição considerando o indivíduo como se estivesse sempre na posição padronizada. Padrão de Posição Anatômica: indivíduo de pé, com a face voltada para diante, o olhar dirigido ao horizonte, membros superiores estendidos ao lado do tronco e com as palmas das mãos voltadas para frente, os membros inferiores unidos com os dedos dos pés voltados para diante.

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PLANOS DE DELIMITAÇÃO E SECÇÃO DO CORPO HUMANO Na posição anatômica o corpo humano pode ser delimitado por planos tangentes a sua superfície ( planos de delimitação), pois delimitam o corpo humano por planos tangentes à sua superfície, os quais, com suas intersecções, determinam a formação de um sólido geométrico, um paralelepípedo. Logo, através dos planos anatômicos podemos dividir o corpo humano em 3 dimensões e assim podemos localizar e posicionar todas estruturas. Têm-se assim, para as faces desse sólido, os seguintes planos correspondentes: Planos Verticais Anterior, Ventral, ou Frontal: é o plano que tangencia a o superfície anterior do corpo, em posição anatômica, sendo paralelo a fronte e ao ventre. Posterior ou Dorsal: este plano tangencia a superfície o posterior do corpo em posição anatômica, sendo paralelo ao dorso. Planos Laterais: tangenciam cada um dos lados do corpo o humano. Planos Horizontais Superior, cefálico, ou cranial: plano que tangencia a cabeça. o Inferior, podálico, ou caudal: este plano tangencia a o superfície inferior do corpo, o qual corresponde à planta dos pés, podálico, ou se considerarmos apenas o tronco, ao cóccix, caudal. 



Os planos descritos são de delimitação. É possível traçar também  planos de secção, os quais serão abordados a seguir. 





Plano Sagital ou Mediano:  É o plano que corta o corpo no sentido ântero-posterior, possui esse nome porque passa exatamente na sutura sagital do crânio; quando passa bem no meio do corpo, sobre a linha sagital mediana, é chamado de sagital mediano e quando o corte é feito lateralmente a essa linha, chamamos parassagital. Determina uma porção direita e outra esquerda. Também nos permite dizer se uma estrutura é lateral ou medial. Dizemos que é lateral quando a estrutura se afasta da linha mediana e dizemos que é medial quando ela se aproxima da linha mediana. Plano Coronal ou Frontal:  É o plano que corta o corpo lateralmente, de uma orelha a outra. Possui esse nome porque passa exatamente na sutura coronal do crânio. Ele determina se uma estrutura é anterior ou posterior. Podemos dizer, tendo esse plano como referência, que o nariz é anterior e que a orelha é posterior. Plano Transversal ou Axial: É o plano que corta o corpo transversalmente. Através desse plano podemos dizer se uma estrutura é superior ou inferior.

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TERMOS ANATÔMICOS  A situação e a posição das estruturas anatômicas são indicadas em função dos planos de delimitação e secções. TERMOS DE POSIÇÃO E DIREÇÃO Os órgãos do corpo humano são divididos para estudo anatômico em faces, separadas através de margens, as quais algumas vezes se encontram para formar ângulos. Cada um dos órgãos, faces, ou margens estudadas recebe denominação específica, baseada nas relações entre si e com os planos de delimitação ou secção do corpo humano. Ao conjunto de denominações utilizadas para nomear as partes dos órgãos do corpo humano, damos a designação de Termos de Posição e Direção. Os termos de posição indicam proximidade aos planos de inscrição ou ao plano de secção mediano. São termos comparativos e indicam que uma estrutura é, por exemplo, mais cranial que outra. Nenhum órgão ou estrutura é simplesmente cranial ou ventral pois estes planos são tangentes e portanto estão fora do corpo e surgem apenas como referência. Termos de posição: Inferior ou caudal: mais próximo dos pés (ou do plano caudal); Superior ou cranial: mais próximo da cabeça; Anterior ou ventral: mais próximo do ventre (ou do plano anterior); Posterior ou dorsal: mais próximo do dorso (ou do plano posterior); Medial: mais próximo do plano sagital mediano; Lateral: mais afastado do plano sagital mediano;      

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 Acompanham os eixos ortogonais. Termos de direção: Longitudinal ou crânio-caudal; Ântero-posterior ou dorso-ventral; Látero-lateral: de um lado a outro;

SITUAÇÃO Mediano: situada exatamente ao longo do plano de secção mediano. Médio¹: quando as estruturas estão alinhadas na direção craniocaudal ou ântero-dorsal . Intermédio¹: quando as estruturas estão em alinhamento látero-lateral.   

COMPARAÇÃO Proximal²: mais próximo do ponto de origem; Distal²: mais afastado do ponto de origem; Palmar ou volar: face anterior da mão. A face posterior das mãos é chamada dorsal; Plantar : face inferior do pé. A face superior dos pés é chamada dorsal; Oral e aboral são termos restritos ao tubo digestivo e indicam estruturas mais próximas ou distantes da boca, respectivamente. Aferente³ significa que impulsos nervosos ou o sangue são conduzidos da periferia para o centro, e eferente³ se refere à condução do centro para a periferia. Ex.: A raiz dorsal do nervo espinhal é aferente por conduzir impulsos nervosos da periferia para a medula espinhal, já a raiz ventral é eferente. Superficial4: estrutura contida no tegumento (epiderme + derme + tecido subcutâneo); Profundo 4: estrutura abaixo do tegumento; Homolateral ou ipsilateral: do mesmo lado do corpo;     



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Contralateral: do lado oposto do corpo; Holotopia: localização geral de um órgão no organismo. Ex.: o fígado está localizado no abdômen; Sintopia: relação de vizinhança. Ex.: o estômago está abaixo do diafragma, a direita do baço e a esquerda do fígado; Esqueletopia: relação com esqueleto. Ex.: coração atrás do esterno e da terceira, quarta e quinta costelas; Idiotopia: relação entre as partes de um mesmo órgão. Ex.: ventrículo esquerdo adiante e abaixo do átrio esquerdo.

¹ Médio e Intermédio são termos que indicam situação de uma estrutura entre outras duas. ² Proximal e Distal são usados para comparar a distância de pelo menos duas estruturas em relação (1) a raiz do membro, (2) ao coração e (3) ao encéfalo e medula espinhal. ³ Aferente e eferente indicam direção e são usados em anatomia para vasos e nervos. 4 Os termos superficial e profundo indicam as distâncias relativas entre as estruturas e a superfície do corpo. São também termos de situação que indicam estar contido nos planos superficiais ou nos planos profundos. Nesse caso, o limite entre superficial e profundo é a fáscia muscular . Lesões limitadas ao tegumento são superficiais, e lesões que atingem a fáscia muscular já são consideradas profundas.

MOVIMENTAÇÃO Flexão: curvatura ou diminuição do ângulo entre os ossos ou partes do corpo; Extensão: endireitar ou aumentar o ângulo entre os ossos ou partes do corpo; Adução: movimento na direção do plano mediano em um plano coronal; Abdução: afastar-se do plano mediano no plano coronal; Rotação Medial: traz a face anterior de um membro para mais perto do plano mediano; Rotação Lateral: leva a face anterior para longe do plano mediano; Retrusão: movimento de retração (para trás) como ocorre na retrusão da mandíbula e no ombro; Protrusão: movimento dianteiro (para frente) como ocorre na protrusão da mandíbula e no ombro; Oclusão: movimento em que ocorre o contato da arcada dentário superior com a arcada dentária inferior; Abertura : movimento em que ocorre o afastamento dos dentes no sentido súpero-inferior; Elevação: elevar ou mover uma parte para cima, como elevar os ombros; Abaixamento: abaixar ou mover uma parte para baixo, como baixar os ombros; Retroversão: posição da pelve na qual o plano vertical através das espinhas ântero-superiores é posterior ao plano vertical através da sínfise púbica; Anteroversão: posição da pelve na qual o plano vertical através das espinhas ântero-superiores é anterior ao plano vertical através da sínfise púbica; Pronação: movimento do antebraço e mão que gira o rádio medialmente em torno de seu eixo longitudinal de modo que a palma da mão olha posteriormente; Supinação: movimento do antebraço e mão que gira o rádio lateralmente em torno de seu eixo longitudinal de modo que a palma da mão olha anteriormente; Inversão: movimento da sola do pé em direção ao plano mediano. Quando o pé está totalmente invertido, ele também está plantifletido; Eversão: movimento da sola do pé para longe do plano mediano. Quando o pé está totalmente evertido, ele também está dorsifletido; Dorsiflexão  (flexão dorsal): movimento de flexão na articulação do tornozelo, como acontece quando se caminha morro acima ou se levantam os dedos do solo; Plantiflexão (flexão plantar): dobra o pé ou dedos em direção à face plantar, quando se fica em pé na ponta dos dedos.             















PLANOS DE CONSTRUÇÃO DO CORPO: PRINCÍPIOS GERAIS DE CONSTRUÇÃO CORPÓREA Antimetria: o corpo humano seria construído segundo o princípio da simetria bilateral, sendo constituído por dois antímeros, direito e esquerdo, unidos entre si em nível do plano mediano, semelhantes na forma e função. Paquimeria: segundo este princípio, o segmento axial do corpo humano é constituído por dois tubos ou paquímeros: Paquímero Anterior ou Visceral: Contém a grande o maioria das vísceras do corpo humano. Paquímero Posterior ou Neural: contém os órgãos do o Sistema Nervoso Central (Encéfalo e Medula Espinal). Metameria: superposição longitudinal de segmentos semelhantes, na forma e função, denominados “metâmeros”. 





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Estratigrafia: o corpo humano é construído pela superposição de camadas (estratos). Ex: Pele; Tecido celular subcutâneo; Fáscia muscular; Músculos; Ossos.

MINI-GLOSSÁRIO ANATÔMICO Anastomose: em Medicina e Odontologia, chama-se anastomose à comunicação, natural ou resultante de processo cirúrgico, entre tubos, vasos sanguíneos ou nervos da mesma natureza. Comissura: região anatômica onde fibras cruzam de um lado para o outro paralelamente. Córtex / Cortical: é a camada externa, sendo a estrutura mais ou menos concêntrica e bem definida, de certos órgãos, como os rins, as glândulas suprarrenais, os ovários, o timo e o cérebro. Decussação: formação anatômica constituída por fibras nervosas que cruzam obliquamente o plano mediano e que têm aproximadamente a mesma direção. Estroma: refere-se ao tecido conectivo, não funcional de sustentação de uma célula, tecido ou órgão. O estroma é distinto do parênquima, que se consiste dos elementos funcionais de um órgão. É o tecido de sustentação de um órgão, ou seja, que serve para sustentar as células funcionais (parênquima) deste órgão. Forame: é o nome dado a uma abertura (geralmente em ossos ou entre ligamentos) para passagem de vasos e nervos. Hilo: é uma fissura ou canal numa víscera (especialmente no baço, pulmão, rim ou ovário), pela qual entram e saem os elementos vasculares, nervosos e linfáticos. Medula: etimologicamente, significa “miolo”, indicando “o que está dentro”. Ex: a medula óssea dentro dos ossos; medula suprarrenal, dentro da glândula do mesmo nome; medula espinhal dentro do canal vertebral. Núcleo: em neuroanatomia, representa uma massa de substância cinzenta imersa em substância branca, ou grupo delimitado de neurônios com aproximadamente a mesma estrutura e mesma função. Parênquima:  particularmente em histologia, é o tecido com a função principal de determinado órgão. O parênquima se contrapõe ao estroma, que serve de suporte ao parênquima. Substância branca: tecido nervoso formado por neuroglia e fibras (axônios) predominantemente mielínicas. Substância cinzenta: refere-se ao tecido nervoso que contém fibras do tipo amielínicas, corpos de neurônios, etc. Sua localização é mais interna em relação a substância branca na medula e, no telencéfalo e cerebelo, mais externamente. Trato / Tracto: seria um agrupamento de fibras nervosas, que tem a mesma origem, mesmo destino e mesma função. Na denominação de um trato, usam-se dois termos ligados por hífen: o primeiro indicando a origem e o segundo a terminação das fibras. Ex: Trato córtico-espinhal: se origina no córtex motor e se dirige aos neurônios da medula. 

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ABREVIATURAS PARA OS TERMOS GERAIS EM ANATOMIA A. – Artéria   Aa. – Artérias  Lig. – Ligamento  Ligg. – Ligamentos  M. – Músculo  Mm. – Músculos  N. – Nervo Nn. – Nervos  R. – Ramo  Rr. – Ramos  V. – Veia  Vv. – Veias 

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