Marcus Prado - Redação Discursiva - Ano 2012

August 30, 2018 | Author: juan_portela27 | Category: Morality, Political Corruption, Science, Sociology, Reality
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Marcus Prado

EDITORA Sin t a g m a

Ed i t o r a

SINTAGMA B ra sília l2 0 1 2

© 04/2012 - Editora Sintagma

Ed it o r a

Sin t a g m a

P896 Prado, Marcus. Redação discursiva / Marcus Prado. - Brasília : Sintagma, 2012. 116 p . ; 23 cm. 1. Redação - Língua portuguesa -Brasil. 2. Redação - Língua portuguesa - Problemas, questões, exercícios - Brasil. I. Título.

CDU: 808.1(079.1)(81) CDD: 808.06634

Editor

Capa

Marcos Pacco

Guilherme Alcântara

Conselho Editorial

Revisão

Liv Chamma Renata Ribeiro Ricardo Araújo Lucas Ribeiro

Liv Chamma

Ficha catalográfica Kassandra Trindade - CRB - 1/1979

Designer de livros Raquel Simon

Editora Sintagma - SIG, Q uadra 01, Lote 495, Brasília/DF Ed. Barão do Rio Branco - Sala 110 - CEP: 70610-410 - Tel.: (61) 3033 8475 TO DO S OS DIREITOS RESERVADOS - De acordo com a Lei n° 9.610, de 19.02.1998, nenhuma parte deste livro pode ser fotocopiada, gravada, reproduzida ou armazenada em um sistema de recuperação de informações ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico ou mecânico sem o prévio consentimento do detentor dos direitos autorais e do editor.

com m uito carinho e adm iração que dedico este livro à m inha com panheira, am ante e am ada esposa, A driana do Prado, que sempre fo i uma pessoa que acreditou em rneu potencial de trabalho e na m inha capacidade de querer mais conhecim ento, e aprimorá-lo cada vez mais, além de ter sido ju n to a m ini a idealizadora da teoria e de todo o m aterial deste livro. N ão posso deixar também de dedi­ cá-lo ao meu filh o amado, M arcus Levi, o m eu “m enininho garotão”: um filh o abençoado de D eus em m inha vida e de m inha esposa; filh o este que é o meu grande estímulo ao trabalho, que rejuvenesceu meu coração, deixando-m e como aquele hom em que vive o prim eiro amor. D edico ainda aos m eus estimados alunos que admiram m eu trabalho e poderão, através deste livro, ter sucesso nas provas de redação que forem prestar. Antes de tudo e de todos, esta obra é um a dedicatória ao m eu Deus, que m eperm itiu e me deu como presente e responsabilidade a m inha bela fam ília. Toda a honra e toda a glória a Deus!

elato inicialm ente que antes de começar, em cada dia de trabalho, a confecção desta obra, prostrava-m e em oração a D eus, dizendo: “Eis-m e aqui, toma-me, pois estou rendido à tua vontade. Faça com que eu seja instrumento em tuas mãos e que m inhas mãos sejam instrumentos de bênçãos na vida daquele que precisar do con­ hecim ento contido nesta obra para conseguir o tão almejado sonho: fa z e r um ótimo texto em um a prova de c o n c u r s o R e la to isso, pois é a D eu s a quem agradeço o conhecim ento dado a m im, os professores -

“ i n s t r u m e n t o s q u e Ele usou para que eu soubesse o que sei hoje,

as várias horas e dias de estudo que m e Ele m e perm itiu ter para que pudesse aprimorar m eu conhecim ento. Agradeço a E le as pessoas tão im portantes que contribuíram para que eu chegasse até aqui, como m eus pais - Valdir Coelho e M aria A uxiliadora

minha tia Beth,

m eus amigos insubstituíveis, com o o Fagner Ribeiro, que está hoje na Austrália. Em especial, agradeço a D eu s a fa m ília que Ele me perm itiu form ar, a minha avó Rosa Am élia, os m eus sogros - M arques D ia s e A lzira - e um grande cunhado e sua fa m ília , que ajudaram a m im e a m inha fa m ília em momentos de grande importância e de dificuldades: Cristovam do Espírito Santo. Agradeço aos m eus queridos alunos de G oiâ n ia -G O e Palm as-TO, que sempre me receberam tão bem., além dos alunos de outros estados, como os do Rio Grande do Sul. Agradeço a D eu s a vida de todos.

Sumário A presentação, 11 Prefácio, 13

CAPÍTULOS 1. O que é necessário p a ra dissertar de forma argum entativa?, 15 2. A e s tr u tu r a te x tu a l d issertativ a, 23 3. O estudo dos parágrafos, 31 4. O que é necessário p a ra dissertar de forma argum entativa?, 39 5. A diferença en tre fato e tese (opinião), 45 6. E studo da tese, 51 7. Como posso enriquecer o m eu texto dissertativo, 57 8. D iferentes form as de se com eçar u m a redação, 69 9. Como desenvolver parágrafos, 73 10. As falácias, 91 11. Propostas de redação com texto elaborado pelo professor, 97 12. E xercitando a redação, 105

Apresentação Por que devo aprender o básico para depois aperfeiçoar a minha escrita? Estimado concursando, tudo tem um início e nada se constrói sem termos uma boa base para nos apoiar. Assim é com a escrita, principalmente dos textos mais cobrados nos concursos. O que propomos é oferecer-lhe o necessário para que você crie seu estilo próprio, mas consciente de que sua criação foi feita com base em outras criações. É preciso ler outros textos para encontrarmos o caminho, por isso, neste material, há vários textos de diversas fontes para serem estudados e pesqui­ sados. Há também fontes do seu orientador, eu, como exemplos didáticos, visto que na fonte midiática têm-se muitos equívocos quanto à estrutura discursiva.

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Além de textos, teremos modalidades de exercícios e parte teóricas para entendermos o porquê de tudo. Em nenhum momento tem-se a pretensão da perfeição, mas, sim, a busca do suficiente para sermos concorrentes nessa briga por um vaga pública.

O que é preciso entender primeiro? a) Que tipo de texto é cobrado nos concursos? b) Como reconhecer essa estrutura e saber conduzi-la (identificar real­ mente uma introdução dissertativa-argumentativa, desenvolvimento compa­ tível com a introdução e conclusão compatível com o desenvolvimento, que está automaticamente amarrado à introdução, como se fosse algo cíclico.)

c) Como enriquecer seus textos? d) E como reconhecer outros textos dentro do seu texto? e) Como utilizar as técnicas das aulas expositivas, correção de redação as do professor?

Prefácio ntes de falar sobre os objetivos desta obra, gostaria de comparti­ lhar parte de minha vida para que entendam o que me levou a criar este livro. Comecei minha vida acadêmica cursando Odontologia e paralelamente lecionava, na rede Anglo de Ensino, aulas de Língua Portu­ guesa, matéria esta que sempre amei e que tive prazer em ensinar. À medida que dava mais aulas, adentrava outras redes particulares de ensino e ia me embrenhando na vida em sala de aula, tal amor foi aumentando e a neces­ sidade de buscar mais conhecimento tomava conta de meus pensamentos. Deixei a Odontologia, depois de dois anos de curso, e fui cursar Letras Portu­ guês/Inglês, que concluí. Tal mudança não foi bem aceita pelos meus pais e parentes, pois a ideia de que um curso de Letras não poderia trazer muito sucesso e prosperidade financeira era o maior preconceito que enfrentava todos os dias. Entretanto, eu acreditava que dar aulas com dedicação, com a busca cada vez maior pelo aperfeiçoamento de conteúdo e pela didática, poderia me dar o que me completaria plenamente: a satisfação profissional e a prosperidade financeira. E foi o que trilhei em minha vida acadêmica e profis­ sional. Os anos foram se passando. Frustrações e alegrias ocorreram simulta­ neamente. A alegria e o sofrimento foram caminhos justapostos que percorri durante anos: lidar com educação não é fácil no Brasil devido a fatores ligados ao governo , à estrutura da escola, à família do aluno e ao próprio aluno. Mas continuei minha busca e as alegrias se tornaram mais freqüentes que as decepções e as frustrações. Depois de anos no ensino médio e em pré-vestibular lecionando gramática, interpretação, literatura e redação, surgiu a oportunidade inesperada de dar aulas de gramática em um preparatório para concursos públicos em um mês em que eu estava em férias. Era algo novo e bem diferente de tudo o que eu havia trabalhado - inclusive de aulas

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que havia dado também na universidade

mas estimulante e desafiador, pois

eu me deparei com um público diversificado quanto a cultura e a necessidades. A vontade de ensinar passou rapidamente em meu espírito, levando-me a um rejuvenescimento; o Português, para muitos, era uma barreira intrans­ ponível, que poderia afastá-los de um cargo público. Sempre gostei do que era desafio e me prontifiquei a estudar provas de concursos e a própria língua quanto norma, interpretação e escrita como nunca havia feito antes. Queria criar uma metodologia que fizesse meu aluno alcançar os objetivos tão alme­ jados: cargos públicos. Foi então que durante meses de dedicação e com a experiência adquirida no ensino médio criei uma metodologia muito fácil e inovadora de ensinar gramática, interpretação e redação, Esta obra —que trata da Redação Discursiva especificamente —é fruto de vários anos de estudo de autores renomados na área de análise de texto e produção textual e de ministração de cursos específicos de redação para concursos. É um conteúdo projetado por mim e pela minha esposa - também formada em minha área que visa levar o aluno a criar um texto a partir de um projeto textual bem direcionado, controlado, criativo e com caracterís­ ticas distintas de tudo o que há no mercado de preparatório em Redação para concursos. Isso levará você, meu estimado concursando, a criar um texto diferenciado de seu concorrente, um texto inovador, de tamanha dimensão, que o examinador do concurso que você irá prestar será satisfatoriamente obrigado a dar a você a pontuação tão buscada depois de semanas de estudo. Tenha ciência de que a arte da escrita não é fácil, mas nada melhor do que um bom livro e um professor dedicado para levá-lo àquilo a que aspira tanto: ter o governo como patrão. Siga todos os caminhos programados e explicados a você neste livro, não se desviando hora alguma do que foi determinado e ensinado a você, mesmo nos momentos em que as dificuldades parecerem intransponíveis. Aliás, nesses momentos é que deverá se lembrar das dificuldades que enfrentei, e que cada uma delas serviu para que eu quisesse mais. E foi na busca do “mais” que hoje consegui chegar à minha realização pessoal em todos os âmbitos. Você também será capaz! Tenho fé em Cristo que aquele que busca passa a ser merecedor daquilo que almeja para a sua vida. Vamos trabalhar!

O que é necessário para dissertar de forma argumentativa? A dissertação é o texto mais exigido, pois nela pòde-se perceber se o ' t ' r candidato tem autonomia no que pensa e no que escreve. E preciso conteúdo e uma boa base. Mas o que é a dissertação como tipo de texto? Dissertação é um texto que se caracteriza pela exposição, defesa de uma ideia que será analisada e discutida a partir de um ponto de vista. Para tal defesa, o autor do texto dissertativo trabalha com argumentos, com fatos, com dados, os quais utiliza para reforçar ou justificar o desenvolvimento de suas ideias. Organiza-se, geralmente, em três partes: • Introdução - Onde você apresentará uma tese em que irá defendê-la até o fim de seu texto. E no parágrafo introdutório que você criará o caminho dos argumentos, direcionando-os para que não percam o r

foco.

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Desenvolvimento ou argumentação - Parágrafo em que irá desen­ volver seu ponto de vista. Para isso, deve argumentar, fornecer dados, trabalhar exemplos, se necessário, ou seja, devem-se apre­ sentar as técnicas para enriquecer os argumentos.



Conclusão - Parágrafo em que dará um fecho coerente com o desen­ volvimento e com os argumentos apresentados. Em geral, a conclusão é uma retomada da ideia apresentada na introdução, agora com mais ênfase, de forma mais conclusiva, onde não deve aparecer nenhuma ideia nova, uma vez que você está fechando o texto.

O texto dissertativo argumentativo destina-se ao chamado "leitor universal" ou seja, a qualquer pessoa que tenha acesso a ele. Por Isso recomenda-se o uso da terceira pessoa, a não ser que a proposta deixe claro que deva-se usar a primeira pessoa, como é o caso de um artigo de opinião.

E o gênero argumentativo? No texto dissertativo, o autor discorre sobre determinado tema explicando cada parte. Geralmente, a dissertação está relacionada com a transmissão de conhecimento, e não com a persuasão sobre um ponto de vista. De outro lado, encontram-se os textos argumentativos que, como veremos, visam primordialmente à defesa de uma opinião. O texto dissertativo-argumentativo é aquele que, além de trazer informações e explica­ ções sobre determinado assunto, traz também o posicionamento do autor no sentido de persuadir o interlocutor. Para isso, têm-se as técnicas para a persuasão. Assim como os textos argumentativos, convencionalmente, dividem-se em três partes (introdução, desenvolvimento e conclusão). Há o predomínio da linguagem clara, objetiva e impessoal apresentada com o uso do padrão culto e formal. O texto dissertativo faz parte da tipologia textual e possui caracterís­ ticas próprias que o torna um gênero opinativo. Mas antes mesmo de enten-

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dermos o todo, é preciso conceituar o básico. Nossos compêndios e manuais da língua portuguesa não costumam distinguir a dissertação da argumen­ tação, considerando esta apenas momentos daquela. No entanto, uma e outra têm características próprias. Se a primeira tem como propósito principal expor ou explanar, explicar ou interpretar ideias, a segunda visa sobretudo a convencer, a persuadir ou a influenciar o leitor ou o ouvinte. Tentamos fazer com que o outro acredite em nós, para isso usamos do recurso da argumen­ tação. Na dissertação podemos expor, sem combater ideias de que discor­ damos ou que nos são indiferentes. Podemos explanar sobre as questões do trânsito brasileiro sem contudo analisar verdades ou falsidades, sem pensarmos em convencer alguém de alguma coisa dentro do tema analisado.O caminho então ficaria aberto ao leitor para decidir. Já na argumentação, apresentam-se as razões, as vantagens ou as desvanta­ gens, as evidências das provas, tudo à luz de um raciocínio coerente e consistente. Agora vejamos as palavras-chave dentro de um texto dissertativo: O Trem Pequi A recente notícia sobre a implantação de uma linha ferroviária de média velocidade entre Goiânia e Brasília, (tema do texto) bucolicamente denominada Trem Pequi, merece aplauso em sua intenção, mas reco­ mendações aos gestos que doravante serão necessários à materiali­ zação da ideia (tese do autor).

COMENTÁRIO

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A primeira questão que se apresenta para ser superada é de ordem econômica, pois qualquer proposta de infraestrutura ferroviária atrai automática resistência do poderoso setor industrial automobilístico e de seus derivados (autopeças, borracha, vidros, lubrificantes, combustíveis, betumes, minérios etc.). Basta recorrermos à história , especialmente a partir de 1950, e verificar que foi este o setor que mereceu incentivos prioritários no pós-guerra para que fosse consolidado como base do novo modelo econômico brasileiro, até hoje predominante como opção nas políticas de transportes brasileiras, (veja que é ainda dissertativo, cons­ trói a defesa de sua tese) t

Este molde de gestão, desde então adotado como indutor do desen­ volvimento econômico brasileiro, resultou em dois vetores diametral­ mente opostos, hoje consolidados e em contínua progressão. De um lado incrementou magnificamente o sistema rodoviário brasileiro, que passou de aproximadamente 38 mil (1950) para 1,6 milhão de quilômetros de extensão (2000). Na outra ponta> a mesma política desestimulou o sistema ferroviário, que regrediu de 35 mil (1945) para 29,7 mil quilômetros de extensão em rede (2000), conforme anota Juciara Rodrigues em seu 500 Anos de Trânsito no Brasil - praticamente a mesma quilometragem ferro­ viária do Japão que, além de ser 23 vezes menor que o Brasil, possui topo­ grafia adversa, montanhosa em 71% de seu território. A segunda questão que se nos apresenta tem nuança cultural. No Brasil, transporte sobre trilhos é pouco aceitável porque remete à ideia de veloci­ dade moderada, custos vultosos, estética proletária, ambiente rural, filmes western e cheiro de carvão, tipo coisa ultrapassada. Trata-se de “inculcação” ideológica competentemente construída pelo marketing da indústria sobre rodas, cuja ação inicial se notabilizou com a deliberada destruição {EjgÍÍÍk f

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dos sistemas de bondes urbanos de São Paulo e Rio de Janeiro, culminando com o sucateamento da indústria de vagões e locomotivas e a privatização de seus setores estatais, (veja que o parágrafo apresenta argumentação, pois diferencia seu pensamento para que o leitor pense na situação, logo podemos refutar com facilidade) Essa aparente obsolescência muda um pouco na medida em que se popularizam as novas tecnologias de transportes sobre trilhos, sobretudo os europeus e asiáticos - o “trem-bala”, o “shinkansen” japonês e outros sofisticados de altas velocidades e designers arrojados, (ainda disserta­ tivo). De fato, esses modernos modais nos permitem retomar a simpatia pelo sistema , cuja eficiência já é experimentada nos ambientes urbanos metroviários existentes nas grandes cidades brasileiras, (finalizou como dissertativo) Portanto, a proposta do Trem Pequi surge nesse contexto fático , num país que continua priorizando o transporte rodoviário, sobretudo o individual, com sucessivas isenções tributárias e fiscais, e com menos trilhos hoje que há 50 anos. A isso se agregam as demandas acumuladas dos transportes sobre rodas, espelhadas nas rodovias mal conservadas, nos altos custos sociais traduzidos na expressiva acidentalidade viária, mas também na capital do Estado, cujas políticas de mobilidade ainda tangem a improvisa­

ção .' (texto dissertativo com suaves pinceladas de argumentação)

Como te ría m o s u m p a r á g r a f o i n t r o d u t ó r i o d is s e r ta tiv o -a rg u m e n ta tiv o ? O Trem Pequi (título sugestivo à argumentação)

A recente notícia sobre a implantação de uma linha ferroviária de média velocidade entre Goiânia e Brasília, antigo projeto de empresários italianos, mostra que a ideia de ligar as duas cidades em alta velocidade é uma utopia realizável - assim como a solução do problema de saneamento básico em Águas Lindas. Bucolicamente denominada Trem Pequi, merece '

Antenor Pinheiro é jornalista e presidente do Conselho Estadual deTrânsito!Cetran-GO

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aplauso em sua intenção, mas recomendações aos gestos que doravante serão necessários à materialização da ideia. Não bastam discursos politi­ queiros e motivos de campanhas, é preciso o espírito do “bom selvagem” de Rousseau para pensar no coletivo sem paixões e interesses unívocos.

COM ENTÁRIO

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: É interessante notar que, no último período, optou-se por não usar uma :

Outra: FOLHETIM POLÍTICO O fantasm a É provável que a maioria dos jovens, hoje, nem tenha ouvido falar da comunicação por telex. Pois bem: ela era grande novidade no início da década de 1960. Um dos primeiros aparelhos de telex instalados em Goiânia

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destinou-se a servir à secretaria do Governo, que funcionava em sala anexa ao gabinete do então governador Mauro Borges, no Palácio das Esmeraldas. Numa das primeiras madrugadas após a instalação do aparelho, um policial que estava de guarda no Palácio percebeu um barulho e foi ver de que se tratava. O barulho originava-se da sala em que estava o telex, que ele não conhecia ainda. Entrou na sala e viu a máquina escrevendo sozinha. Saiu correndo, esbaforido, supondo que acabara de presenciar a invasão, do Palácio, por um fantasma.

COM ENTÁRIO V•• ••• ■



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(Trecho de texto que também utiliza tais recursos) Artigo da Veja: "O agito na rua do Senhor", (o título do artigo já nos mostra o tom implícito do posicionamento do autor diante do comércio de artigos evangélicos). Durante a semana, o maior movimento na rua é de lojistas de todo o país em busca de mercadorias. No sábado é a vez do comprador individual. "Vim com a família comprar peças de vestuário para o novo grupo de jovens da igreja", diz o paulistano Valteci Figueiredo dos Santos, que não resistiu à pechincha de três gravatas por 10 reais. O burburinho na Conde de Sarzedas é similar ao das vias de comércio popular das proximidades. A peculiaridade é que nela os camelôs e as barraquinhas de comida dividem as calçadas com pregadores e cantores gospel. Naturalmente, os ambulantes vendem produtos pirateados, só que autenticamente evangélicos. Por enquanto, o negócio é próspero para todos. "A pirataria ainda não conseguiu nos incomodar" d iz Renato Fleischner, editor-chefe da Editora Mundo Cristão, com estimativa de venda de 1,5 milhão de livros neste ano.

(Introdução dissertativa sobre o assunto beleza) Elas não passam em branco. Cabelo grisalho é bacana-p ara as mulheres fortes, bonitas, interessantes, bem cuidadas, elegantes e psicologica­ mente preparadas para serem chamadas de senhoras o tempo todo.

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P r i m e i r o p a r á g r a f o d e d e s e n v o lv im e n to d o p a r á ­ g ra fo a c im a Cabelo branco pode ser chique, autêntico e libertador, mas na maior parte do planeta continua vetado, sinônimo de desleixo, preguiça 011, anátema supremo, velhice. As mulheres pintam os cabelos porque querem se ver e ser vistas como detentoras de pelo menos alguns traços de juventude. E também porque culturalmente isso é aceitável e desejável - ao contrário dos homens, nos quais a artificialidade capilar evoca comparações com Silvio Berlusconi, Josc Sarney ou Manuel Zelava. (interferências com citações) Em compensação, a explicação evolutiva, que virou o manual universal de respostas fáceis para questões complexas, estabelece que as mulheres grisa­ lhas evidenciam a perda dos atributos reprodutivos, enquanto os homens nas mesmas condições emanam poder e distinção, características evidentemente desejáveis. O que nos leva de volta às personagens iniciais: será que só mulheres muito poderosas se sentem livres para assuinir a brancura dos cabelos? COM ENTÁRIO

Outro recurso interessante e que além de demonstrar criatividade na feitura do parágrafo ainda serve como “autoridade textual”(característica obrigatória em um texto argumentativo) daquilo que se discute no desen­ volvimento da tese, é a “comparação de realidades” diferentes da que está 61 S IN TA G M A

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sendo discutida. Em um contexto bem trabalhado, confirmam não só a nossa discussão (autoridade textual), como também será mostrado ao seu analisador de prova que você possui uma leitura atualizada e de boa qualidade. Vejamos um exemplo de introdução que tem por objetivo discutir a “regulamentação do diploma de jornalismo para o exercícios da profissão”. Logo após a introdução, teremos um parágrafo de desenvovimento com o recurso de autoridade textual por comparação de realidades diferentes da discutida em questão.

In tro d u çã o /

O decreto-lei n° 972/69, que estabelece que o diploma é necessário para o exercício da profissão de jornalista, não atende aos critérios da Consti­ tuição de 1988 para a regulamentação de profissões. Tal lei é apenas mais um entulho do autoritarismo da ditadura militar a controlar as informações e afastar da redação dos veículos os intelectuais e pensadores isentos de qualquer manipulação.

S egundo parágrafo Ao se ler uma notícia não verídica, percebe-se que ela não será evitada pela exigência de que os jornalistas freqüentem um curso de formação. Diferentimente de um motorista que coloca em risco a coletividade. A profissão dê jornalista não oferece perigo de dano à coletividade tais como medicina, engenharia, advocacia. Nesse sentido, por não implicar tais riscosTnão poderia exigir um diploma para exercer a profissão, (fato constatado, real e aceitável na sociedade, sem refutação) Não há razão para se acreditar que a exigência do diploma seja a fonna mais adequada para evitar o exercício abusivo da profissão. (No restante do parágrafo, tivemos a opinião.) COMENTÁRIO

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Recapitulando o que já foi trabalhado em todos os capítulos anteriores Vamos agora observar uma proposta de redação, fazendo parte a parte toda a produção de um texto dissertativo argumentativo, seguindo o conteúdo dos capítulos já trabalhados Devemos observar a coletânea, o texto ou apenas um fragmento a partir deles, organizar as ideias para que, ao construir sua introdução, não tenhamos a decepção de perceber que caímos apenas em redundân­ cias e fatos/acontecimentos apenas constatados e a tese com certeza não existirá. Coletânea:

Maioria dos ministros do STF vota contra a exigência de diploma de jornalista MÁRCIO FALCÃO da Folha Online, em Brasília Atualizado às 18h43. Sete ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) votaram contra a exigência do diploma de jornalista para exercício da profissão. Dois dos 11 ministros - Joaquim Barbosa e Carlos Alberto Menezeis Direito não estão na sessão. Histórico O Ministério Público Federal entrou com ação em outubro 2001 para que não seja exigido o diploma de jornalista para exercer a profissão. Uma liminar editada ainda em outubro de 2001 suspendeu a exigência do diploma de jornalismo. A Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e a União entraram com um recurso. Em outubro de 2005, a 4 a Turma do Tribunal Regional Federal da 3 a Região entendeu que o dioloma é necessário para o exercício do jornalismo. A decisão provocou um novo

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recurso do Ministério Público Federal no STF e, em seguida, com a ação para garantir o exercício da profissão por quem não tem diploma até que o tema seja definido pelo Supremo. Em novembro de 2006, o STF decidiu liminarmente pela garantia do exercício da atividade jornalística aos que já atuavam na profissão independentemente de registro no Ministério do Trabalho ou de diploma de curso superior na área.

C om o m o tiv a ç ã o d e s u a r e d a ç ã o f a ç a u m a d is s e r ­ t a ç ã o em p r o s a s o b re o a s s u n t o e x p o s to Vamos analisar ponto a ponto: •

Raciocínio: Percebemos que se trata do seguinte assunto: Regula­ mentação do jornalismo. «



Direcionamento do tema: A obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. (Não temos a tendenciosa, pois o pensamento é abrangido na coletânea), ua 4a Turma do Tribunal Reviortal Federal da 3aRcziãw entendeu que o diploma é necessário para o exercício do jornalismo. ” (Nada sugeriu como uma espécie de voz a opinar e me direcionar na problemática. Ela é, então, abrangente e explanada a todos.)



Recordando os modos infalíveis de garantir uina boa tese: A tese pode ser construída de dois tipos, que vão lhe dar êxito quanto à ' construção de uma introdução dissertativa.



Primeiro modo: EU + EU = TESE Apenas um lado é avaliado; não interessa ao construtor da tese a exposição de outro lado da situação, ou seja, o recurso de persuasão de mostrar o outro não é utilizado. Com isso teremos um gênero chamado Artigo de Opinião.

O decreto-lei 972/69, que estabelece que o diploma é necessário para o exercício da profissão de jo rn alista, não atende aos critérios da Constituição de 1988 para a regulamentação de profissões. Tal lei 64

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é apenas mais um entulho do autoritarism o da ditadura m ilitar a controlar as informações e afastar da redação dos veículos os intelec­ tuais e pensadores isentos de qualquer m anipulação. (EU - em nenhum momento analisei o outro lado)

* Segundo modo: Como analisar então o outro lado: EU + OUTRO + EU = TESE O decreto-lei 972/69, que estabelece que o diploma é necessário para o exercício da profissão de jornalista, não atende aos critérios da Constituição de 1988 para a regulamentação de profissões. Mesmo sabendo que a regulamentação ajudará em vários aspectos positivos quanto ao que se refere ao interesse à busca do conhe­ cimento através de uma formação universitária, (manifestação do OUTRO) tal lei é apenas mais um entulho do autoritarismo da ditadura militar a controlar as informações e afastar da redação dos veículos os intelectuais e pensadores isentos de qualquer manipu­ lação.(EU) * Tese sugerida: O decreto-lei 972/69, que estabelece que o diploma é necessário para o exercício da profissão de jornalista, não atende aos critérios da Constituição de 1988 para a regulamentação de profissões (veja que temos a exposição de uma opinião sem interesse por enquanto de argumentar-persuadir: sem interesse de busca pelas estratégias para que o texto se torne hiais apelativo e interessante.) Ào colocarmos a persuasão, automaticamente construiremos nossa introdução de forma dissertativo-argumentativa. Observe: O decreto-lei 972/69, que estabelece que o diploma é necessário para o exercício da profissão de jornalista, não atende aos critérios da Consti­ tuição de 1988 para a regulamentação de profissões. Tal lei é apenas mais um entulho do autoritarismo da ditadura militar a controlar as informa­ ções e afastar da redação dos veículos os intelectuais e pensadores isentos de qualquer manipulação. (Aqui está algo a mais que ao todo complementa nossa ideia em torno da tese. Fiz então minha introdução quase sem esforço em pensar como preencher o parágrafo!!!) 65 SlKTAÜ.OA

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E como desenvolver essa introdução?

Pense em qual posicionamento você quer assumir e fique firme; busque levar o leitor a pensar em tal situação: "Tal lei é apenas mais um entulho do autoritarismo da ditadura militar a controlar as informa­ ções e afastar da redação dos veículos os intelectuais e pensadores isentos de qualquer manipulação". Vejamos:

S egundo parágrafo Ao se ler um a notícia não v erídica, percebe-se que ela não será e v ita d a pela exigência de que os jornalistas freqüentem um curso de formação. Diferentemente de um motorista, que coloca em risco a coleti­ vidade. A profissão de jornalista não oferece perigo de dano à coletividade tais como medicina, engenharia, advocacia. Nesse sentido, por não implicar tais riscos, não se poderia exigir um diploma para exercer a profissão (fato constatado, real e aceitável na sociedade, sem refutação). Não há razão para se acreditar que a exigência do diploma seja a forma mais adequada para evitar o exercício abusivo da profissão, (o restante do parágrafo tivemos a opinião).

T e r c e ir o p a r á g r a f o Um excelente chefe de cozinha poderá ser formado numa faculdade de culinária (comparação do que é tratado com outra realidade distinta), o que não legitima estarmos a exigir que toda e qualquer refeição seja feita por profissional registrado mediante diploma de curso superior nessa área. O Poder Público não pode restringir, dessa forma, a liberdade profissional no âmbito da culinária. Disso ninguém tem dúvida, o que não afasta a possibilidade do exercício abusivo e antiético dessa profissão, com riscos eventualmente até à saúde e à vida dos consumidores. (Parágrafo dedi­ cado a explanação de exemplos: comparação de um cliefe de cozinha (real) ao ato de praticar o jornalismo).

Redação Discursiva

Q u a r to p a r á g r a f o A “queda” do diploma de jornalista não fechará as faculdades de comu­ nicação. Tais cursos são importantes e exizem preparo técnico e ético dos pro fissionais para atuarem. Os jornalistas se dedicam ao exercício pleno da liberdade de expressão.(fato constatado, real, ninguém duvida) O jorna­ lismo e a liberdade de expressão, portanto, são atividades imbricadas por sua própria natureza e não podem ser pensados e tratados de forma separada, (fora o fato constatado, temos a opinião individual e persuasiva, estrate­ gicamente a convencer o leitor).

Q u in to p a rá g ra fo : c o n c lu s ã o A Constituição é bem clara quanto ao exercício da liberdade: querer destituir o direito do cidadão é crime e viola todo um principio ético. Regu­ lamentar algo que já está explicitamente regulamentado é como revogar direitos já adquiridos, pois, além de absurdo, é retrógado à ideia do autori­ tarismo. Uma experiência amarga e nada salutar na prática da democracia. (Observe que na conclusão temos apenas uni retorno às minhas ideias expostas na introdução. A conclusão serviria ate mesmo de introdução e vice-versa).

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O parágrafo, na sua construção, pede um fato/acontecimento + ooiníão. I • ■ • : ■• •'. • ■ ■ ■[ Dessa forma, não desperdiçaremos a chance de tentar convencer a banca a acreditar que sou politizado e conhecedor do que é dito. ■ .-1

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Diferentes formas de se começar uma redação

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Divisão (tema: exclusão social) Predominam ainda no Brasil duas convicções errôneas sobre o problema da exclusão social: a de que ela deve ser enfrentada apenas pelo poder público e a de que sua superação envolve muitos recursos e esforços extraordinários. Experiências relatadas em diversos jornais renomados como New York Times mostram que o combate à marginalidade social em Nova York vem contando com intensivos esforços do poder público e ampla participação da iniciativa privada. COMENTÁRIO

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SINTAGMA

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Marcus Prado

A lu s ã o H is tó r ic a (alusão a fatos históricos, lendas, tradições cren­

dices, anedotas ou a acontecimentos de que o autor tenha participado ou que testemunhado) Conta uma tradição, cara ao povo americano, que o Sino da Liberdade, cujos sons anunciaram, Filadélfia, o nascimento dos Estados Unidos, inopinadamente se fendeu, estalando, pelo pensamento de Marshall. Era uma dessas casualidades eloqüentes, em que a alma ignota das coisas parece lembrar misteriosamente aos homens grandes verdades esquecidas. COM ENTÁRIO

Outro tema: Desinteresse pela condição das crianças Às crianças nunca foi dada a importância devida. Em Canudos e em Palmares não foram poupadas. Na Candelária ou na praça da Sé continuam não sendo. COM ENTÁRIO

Outro tema: Globalização Após a queda do muro de Berlim, acabaram-se os antagonismos leste/ oeste e o mundo parece ter aberto de vez as portas para a globalização. As fronteiras foram derrubadas e a economia entrou em rota acelerada de competição. COM ENTÁRIO

5 lNTAüViA

Redação Discursiva

A introdução tem o dever de criar uma perspectiva textual no leitor; deve levá-lo a imaginar o contexto da discussão, mas é claro que será o escritor do texto que irá surpreender o leitor com ideias criativas e inusitadas daquilo que ele esperava como discussão.

C o m p a r a ç ã o - p o r s e m e l h a n ç a ou o p o s iç ã o Tema: Reforma agrária

O tema da reforma agrária está presente há bastante tempo nas discussões sobre os problemas mais graves que afetam o Brasil. N um a comparação entre o movimento pela abolição da escravidão no Brasil no final do século passado e, atualmente, o movimento pela reforma agrária, podemos perceber algumas semelhanças. Da mesma forma que na época da abolição da escra­ vidão existiam elementos favoráveis e contrários a ela, também hoje há os que são a favor e os que são contra a implantação da reforma agrária. COM ENTÁRIO

O p o s iç ã o Tema: A educação no Brasil De um lado, professores mal pagos, desestimnlados, esquecidos pelo governo. De outro, gastos excessivos com computadores, antenas parabólicas, / aparelhos de videocassete. E este o paradoxo que vive hoje a educação no Brasil.

COM ENTÁRIO

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Marcus Prado

N arração Tem a: Maltrato aos animais

Foi numa tarde dessas que Preta, a velha cadela do bairro, gestante de dez filhotes, teve sua pequenina vida de marginalizada ceifada por bandidos quase diplomados, universitários que a arrastaram pela ruas da Moca, na grande São Paulo. A mídia pouco noticiou uma narrativa de uma cadela apenas. Da mesma forma, esqueceram-se dos “Joões Hélios”, também arrastados pelas grandes cidades. Por não diplomados, mas formados na necessidade de sofrimento absurdamente angustiante e ponto final.

CO M ENTÁRIO *w *

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Como desenvolver parágrafos Recordando o que é um parágrafo O parágrafo-padrão é uma unidade de composição constituída por um ou mais de um período, em que se desenvolve determinada ideia central ou nuclear, a que se agregam outras, secundárias, intimamente relacionadas pelo sentido e logicamente decorrentes dela.

O parágrafo é indicado por um afastamento da margem esquerda da folha. Ele facilita ao escritor a tarefa de isolar e depois ajustar conveniente­ mente as ideias principais de sua composição, permitindo ao leitor acompanhar-lhes o desenvolvimento nos seus diferentes estágios. 73

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SINTAGMA

Marcus Prado

Mas por que parágrafo-padrão? É muito comum nos textos de natureza dissertativa, que trabalham com ideias e exigem maior rigor e objetividade na composição, a estrutura do parágrafo-padrão.Observem que o parágrafo pode ser dividido na seguinte estrutura: •

introdução - também denominada tópico frasal, é constituída de uma ou duas frases curtas, que expressam, de maneira sintética, a ideia principal do parágrafo, definindo seu objetivo;



desenvolvim ento —corresponde a um a am pliação do tópico frasal, com apresentação de ideias secundárias que o fundam entam ou esclarecem ;



conclusão - nem sempre presente, especialmente nos parágrafos mais curtos e simples, a conclusão retoma a ideia central, levando em consideração os diversos aspectos selecionados no desenvolvi­ mento.

A i m p o r t â n c i a d e u m tó p ic o f r a s a l n o p a r á g r a f o A ideia central do parágrafo é enunciada através do período denomi­ nado tópico frasal. Esse período orienta ou governa o resto do parágrafo; dele nascem outros períodos secundários ou periféricos; ele será o roteiro do

Redação Discursiva

escritor na construção do parágrafo; é o período mestre, que contém a frase-chave. Como o enunciado da tese, que dirige a atenção do leitor diretamente para o tema central, o tópico frasal ajuda o leitor a agarrar “o fio da meada” do raciocínio do escritor. Como a tese, o tópico frasal introduz o assunto e o aspecto desse assunto, ou a ideia central com o potencial de gerar” ideias-filhote”; ainda como a tese, o tópico frasal é enunciação argumentável, afirmação ou negação que leva o leitor a esperar mais do escritor (explicação, prova, detalhes, exemplos) para completar o parágrafo ou apresentar um raciocínio completo. Assim, o tópico frasal é enunciação, supõe desdobramento ou explicação. A ideia central - ou tópico frasal - geralm ente vem no começo do parágrafo, seguida de outros períodos que a explicam ou detalham.

Teremos uma redação cujos parágrafos analisaremos. • Tem a: A Energia Nuclear e o Brasil 0 Tese: A energia nuclear não é a melhor opção ou solução para o

problema energético brasileiro. •

Introdução: Deve por obrigação apresentar uma tese para ser desen­ volvida nos parágrafos seguintes.

O parágrafo-padrão foi res

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Marcus Prado

A pesar de muitos cientistas defenderem a energia nuclear como se ela fosse a solução para o aquecimento global, ela não é a melhor solução para o problem a energético brasileiro, (tópico-frasai constituído p o r uma tese que abre o parágrafo e logo depois vem o raciocínio em torno dela p a ra enriquecimento e fecham ento do parágrafo) Ambientalistas, como o criador da teoria de Gaya, James Lovelook, defendem a energia nuclear, porém, parecem esquecer-se de dois aspectos negativos, extremamente relevantes: o risco de acidentes em usinas nucleares e o acúmulo de lixos tóxicos altamente perigosos. Com certeza, o uso desse tipo de energia não trará soluções seguras para o Brasil. O risco não vale a pena! (fechamento do parágafo com reforço da ideia - problema).

S egundo p arág rafo É necessário explanar sua opinião. Para não se perder, siga a ordem de suas ideias expostas na introdução.

Até hoie nenhum cientista ou equipe do mundo preparada para previnir acidentes nucleares conseguiram simular a extensão de uma catástrofe que um vazamento radioativo poderia causar no globo terrestre (Racio­ cínio chave que abre o parágrafo e que desenvolve a ideia inicial da introdução: o perigo que a energia nuclear pode gerar). Mesmo assim, produzem em grande escala energia nuclear e, como tudo que é produzido gera restos, os resíduos nucleares são colocados em minas de sal ou em grandes piscinas com água pesada; parece ser simples assim, sem pensar num retom o previsível. “Mas são seguros!”, discursam os que deveriam ser preventivos. Seguros podem estar de que uma “bomba-problema” teremos. (.Fecham ento e reforço da ideia fra sa l que iniciou o parágrafo)

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Redação Discursiva

N a p o ssív e l c o n c lu s ã o

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Possível conclusão

Não é preciso um “boom ” para aprenderm os a lidar decentem ente com o meio ambiente e respeitar as limitações que temos quanto ao conheci­ mento de manipulação de uma energia tão perigosa para ser tratada por um “simplesmente assim ”. Se perguntássemos a um antigo m orador de Chernobyl, será que ele apoiaria á construção de novas usinas nucleares? A resposta seria óbvia. Infelizm ente, talvez sejam necessários outros desastres como o de Chernobyl para que nosso país veja, finalmente, que esta não é uma boa saída para a produção de energia.

Esqueminha:

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Marcus Prado

Exemplo 2 com o mesmo tema: •

Tema: A energia nuclear e o Brasil



Tese: Goiânia. Chermobyl. Hiroshima.Passagens da história que demonstram que a energia nuclear desde o começo da sua utilização causa destruição no mundo.

Introdução Goiânia. Chermobyl. Hiroshima. Passagens da história que demonstram que a energia nuclear desde o começo da sua utilização causa destruição no mundo. E, de fato, até mesmo a cultura popular, como os gibis americanos, reproduziram este medo da sociedade contemporânea em heróis e vilões poderosos. Mas, será que a energia é realmente uma vilã? E em aspectos econômicos é viável para o Brasil?

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Redação Discursiva

Como organizar esse parágrafo para que ele seja padrão? Vamos aplicar o esqueminha:

Goiânia. ChermobvI. I-Iiroshima. Passagens da história que demonstram que a energia nuclear desde o começo da sua utilização causa destruição no mundo ( ideia inicial = tópico-frasal). E, de fato, até mesmo a cultura popular como os gibis americanos reproduziram este medo da sociedade contempo­ rânea de uma catástrofe sem precedentes com relação a radiotividade exposta. Mas nas estórias em quadrinhos o heroi salva a nação, o que na realidade isso não ocorrerá, a sociedade perecerá, (finaliza e feclia o raciocínio não esque­ cendo o reforço de seu posicionamento)

S egundo parágrafo Os estudiosos, a princípio, dizem que a energia atômica pode vir a se tom ar uma das grandes aliadas no combate ao aquecimento global. Porém essa luta é irrisória (tópico-frasal que “p u x a ” o desenvolvimento do parágrafo), pois além de ser dependente do urânio — minério o qual \ não se encontra abundante no território tupiniquim —produz o famoso lixo radioativo - o plutônio - ainda sem destino apropriado e correto cuidado. Consequentemente, a poluição atmosférica é trocada pelo câncer e por danos ambientais aqui mesmo na terra. Levando-se em conta, ainda, que os desastres provocados por um acidente nuclear são gigantescos e irrever­ síveis (desenvolvimento da ideia inicial), pergunta-se agora: vale a pena a energia nuclear? (pergunta retórica acrescida p o r mim para fech a r a ideia e ao mesmo tempo reforçar a tese. A pergunta não precisa ser respondida, pois o próprio contexto já criou a resposta.)

Marcus Prado

T e rc e iro p a rá g ra fo j

O Brasil não necessita desta fonte energética (tópico-frasal em forma de retomada^ - pois, naturalmente, possui em seu território um imenso potencial hidrelétrico. Ademais, com os investimentos governamentais em prol do álcool extraído da cana-de-açúcar e, do biodiesel advindo da mamona, da soja e do oléo-de-dendê e das futuras aplicações em energias limpas e renováveis; como a eólica - já utilizada no nordeste - a solar e a biomassa, (desenvolvimento, explanação) o país não enfrentará uma crise energética nem contribuirá com o aquecimento global, (fechamento do parágrafo com uma conclusão do tópico —frasal: “assim o Brasil não necessita dessa fonte de energia”)

Q u a rto p a rá g ra fo Em termos sociais, seria muito prejudicial. Algumas produções fami­ liares usam da extração e da agricultura de certos recursos - como o caso da mamona no Norte do país - como venda de matéria-prima para as indústrias para que estas possam transformá-los em combustível, garantindo, assim, o seu sustento. Como deveria ser usando o esqueminha:

SINTAGMA

Redação Discursiva

Haveria sim uma crise na vida de pequenos agricultores (ideia inicial = tópico-frasal em forma de retomada, sem necessidade de retomar toda a ideia do parágrafo anterior) que usam da agricultira de certos recursos - óleo de momona no Norte do país —como venda de matéria prima para as indústrias de combustíveis, garantindo assim seu sustento/desenvolvim ento ) Ou seja, o que é natural, alternativa viável e sem prejuízo ao meio ambiente cederia lugar a uma produção altamente lesiva à população, (conclusão da ideia com reforço na tese, pois todo parágrafo deve se justificar nela)

Q u in to p a r á g r a f o - c o n c lu s ã o

tese - justifica-a.

A energia nuclear é desnecessária para a nação (ideia que retoma e dá início à explanação). E, na verdade, os gastos feitos a favor das usinas de Angra poderiam ter sido para inúmeras outras áreas, seja de manutenção ou criação de fontes energéticas, configurando um investimento mais lucrativo, além de mais seguro ambiental e socialmente. O mito da energia atôm ica e de heróis super-poderosos sobreviventes de acidentes nucleares permanece no gibi. (desenvolve a ideia a ainda justifica a relação

quando usa o

intertexto das histórias em quadrinhos —feita na introdução) N a reali­ dade. ainda temos melhores opeões. (conclui, retomando e justificando a tese, posicionamento projetado desde o início)

Já foi citada a questão da conclusão; esta deve sempre, no texto dissertativo-argum entativo, ser uma retom ada direta ou indireta da introdução. Vejamos o texto da renomada escritora Lya Luft. Peço-lhes que tentem localizar as ideias da introdução na conclusão do texto, pois estão todas bem trabalhadas e explícitas, tanto na introdução como na conclusão.

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Marcus Prado

Artigo

Ponto de vista: Lya Luft Dedo no gatiiho Da primeira vez em que estive nos Estados Unidos, a trabalho, no começo da década de 80, hospedada com minha tradutora e amiga, comentei com ela e suas filhas adolescentes que estranhava que lá, bairro residencial bastante isolado em Athens, na Geórgia, praticamente no meio de um bosque, nem ao menos trancavam a porta a chave. Minha casa no Brasil tinha grades nas janelas. Uma das meninas me olhou, espantada: “Nossa! Eu teria medo de ficar numa casa gradeada. Ia pensar: de que tenho de me proteger dessa maneira?”. (Introdução feita por narração.

porém sua tese não ficou perdida em meios narrativos, houve claros traços objetivos com o uso desse tipo de texto) Não sei como andam as coisas por lá. Aqui, estão inimagináveis, Não existe segurança nas ruas, não há bairros tranqüilos nem condomínios ou edifícios à prova de assalto. Quem pode investe em proteção particular, cara, melancólica e também duvidosa. Antigamente, narcotráfico e bandidagem era coisa remota, aconteciam em outros estados, em grandes cidades. Meus filhos, há trinta e poucos anos, no bairro onde ainda moro aqui no Sul, jogavam bola com a meninada da vila próxima até o escurecer, e ninguém se preocu­ pava. Eram amigos: pobres e remediados, brancos, pretos e pardos, os filhos do verdureiro ou do professor, como os meus. Era apenas “a turma”. Entre outras razões, os movimentos contra a discriminação racial ainda não tinham começado a promover o ódio racial, e a politicagem ainda não fomentava o rancor de classes como se faz agora - pelos piores motivos. Bandos de jovens desempregados, drogados e bandidos não vagavam por nossas ruas, crianças pedintes não rolavam em nossas esquinas, nossa meninada brincava na calçada e as casas não tinham cerca. Os primeiros que botaram cerca ou muro em torno de sua casa, no meu bairro, foram considerados antipáticos. Compramos a nossa já com janelas gradeadas. Plantamos uma sebe florida anos depois, por razões de privacidade. Hoje, eu possivelmente teria cerca, e eletrificada. Com mais grana, até um guarda no portão. Que tristeza.

Redação Discursiva

Vivemos numa Idade Média higienizada e cibernética: os feudos são os edifícios e condomínios fechados, guardas nas cabines, bandidagem rondando. Cada dia mais gente com carros blindados, crianças com motorista que tem curso de direção defensiva, gente armada sempre por perto. Nós que não temos dinheiro para esses recursos andamos mais do que inquietos. Outro dia, o neto de uma amiga foi assaltado. Seu carrinho foi fechado por um carrão (roubado, claro): três homens armados saltaram revólver na cabeça dele e de seus dois amigos. As vítimas eram estudantes tranqüilos, saudáveis, tipo “família”. Os bandidos levaram carro, celulares, carteiras. (A vida, ah, essa lhes deixaram. A gente ainda tem de agradecer?) No almoço do dia seguinte, na casa deles, tensos e tristes comentaram o assunto, e alguém disse: “Bastava um deles ter dobrado um pouco o dedo, apertado o gatilho, e em lugar de almoço em família estaríamos num velório”. É verdade. Teria bastado um pequeno movi­ mento de um dedo indicador na noite para que tudo fosse destroçado. Alguma coisa mudou nessa família, e mais uma vez se acendeu em mim o doloroso alerta: não podemos colocar filhos e netos debaixo de nossa asa protetora. Não há como erguer uma cerca, nem metafórica, de amor e cuidados. Não podemos - nem devemos - tentar impedir que vivam, cresçam, saiam pelo mundo, batalhem suas batalhas, construam sua família. E bom que façam isso. Mas, ao mesmo tempo, ficamos mais vulneráveis diante deste mundo nosso. Mundo besta: por um lado produz esses jovens que fazem a vida valer mais a pena, por outro lado cria uma sociedade na qual não valemos nada. Quer dizer: às vezes temos um preço. No cenário (e no Senado) brasileiro, neste momento em que escrevo, um homem pode valer 40 bilhões, pode valer a CPMF (que só para os muito bobos é imposto de rico). Entre nós, cidadãos que usamos a canga, puxamos a carroça e pagamos as contas, o valor da vida pode ser uma bala, o mínimo movimento de um dedo 110 gatilho. E a total banalização da morte, que se tornou um mero incidente cotidiano. E ninguém faz nada? r

Depois de tudo que foi apresentado até agora neste livro, é importante analisarmos a redação elaborada por um aluno com base em um tema solici­ tado pela banca de concursos para uma nova prova da PRF, em um concurso realizado em 2008, cuja proposta levou vários candidatos à desclassificação. Um aluno gentilmente permitir-me colocar a sua redação neste material para total análise e recontrução feita passo a passo.

Marcus Prado

P ro p o sta PROVA DISCURSIVA Observe o cartum a seguir reproduzido e atenda o que, sobre ele, se pede:

“O único lugar em que essa história fica engraçada é aqui mesmo. Se beber, não dirija”. (Uma campanha da segurança do trânsito. (Globo, 05.02.08) '

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Com base nas informações depreendidas do cartum acima, formule a sua opinão sobre a campanha de restringir o uso de bebida alcoólica para moto­ ristas, considerando as teses que contemplam a liberdade dos indivíduos para decidirem as suas preferências. Redija seu texto DíSSERATIVO-ARGUMENTATIVO, a tinta, vazado no padrão escrito formal do idioma brasileiro. Comentário sobre o que pede a proposta: A proposta de redação nos deu um tema composto de três partes: a primeira refere-se à parte “Com base nas informações depreendidas do cartoon acima”; a segunda refere-se

Redação Discursiva

a “fonnule a sua opinião sobre a campanha de restringir o uso de bebida alcoólica para motoristas”; e a terceira refere-se a “considerando as teses que contemplam a liberdade dos indivíduos para decidirem as suas preferências”. Resumindo, a banca quer que nos posicionemos quanto às campanhas de restrição ao uso de bebidas para motoristas; campanhas que tratam aquele que bebe e quer dirigir de forma vexatória, expondo-o ao ridículo, fazendo um paralelo em nossa discussão com as várias opiniões das pessoas da socie­ dade sobre a liberdade de escolha.

O grande problema deste tema foi a primeira parte, pois temos que observar na imagem que a personagem foi colocada com uma roupagem que nos remete à ideia de um "bobo da corte", ponto que justifica a ideia temática de "campanhas de restrição ao uso de bebidas alcoólicas para motoristas que tratam de foma vexatória aquele que bebe e quer dirigir".

R edação a ser c o m en tad a O livre arbítrio é um dos maiores mandamentos postulados pelo homem em pró de sua existência, do seu direito de ser e de escolher o que deseja ser. Porém nunca foi uma garantia pacífica de proteção à existência de seü próximo.Nenhum homem está só rio mundo, e mesmo se estivesse teria que se valer de suas próprias regras para sobreviver. Como bem escreveii Freud em “Um mal estar na civilização”, o homem, para sobreviver, precisa viver em comunidade para protejer-sé de sua natureza. E viver em comunidade implica se submeter a regras, normas e restrições. O homem é um ser essencialmente social e cultural, necessariamente precisa conviver com o outro para ser e aprender a ser. É nas interações que o homem irá se desenvolver e moldar sua natureza, podendo, então, compre­ ender que liberdade não é sinônimo de fazer o que se deseja e da forma que se deseja. Liberdade é, de forma recíproca, respeito a si e ao próximo. Um apelo do governo e da sociedade, através da mídia, que cerceia o uso de bebidas nocivas para quem dirige não está propriamente preocupada com o alcoolizado, mas com as possíveis vítimas da irresponsabilidade daqueles

SINTAGMA

Marcus Prado

que levantam a bandeira absoluta dos direitos e garantias individuais, que diga-se de passagem, de nada tem de absolutas. Conclamando, novamente Freud, este constatou que “a cultura protege o homem de sua natureza e regula suas relações sociais” . Deste modo, todos estarão a salvos. O “mal-estar” causado ao homem pela sociedade, ao seja, pela cultura é explicável, esta em nome da incolumidade coletiva cerceia a felicidade indi­ vidual. Nada mais justo, uma vez que conviver é viver com e não separado. O livre arbítrio não deve ser interpretado pelo homem como algo abso­ luto no sentido de que “tudo pode”. À medida que se vive em sociedade, as liberdades devem ser repensadas, são paulatinamente reconstruídas, reconceituadas e remodeladas, pois não se vive só e se só não se vive as normatizações / e restrições são necessárias.

P rim eiro p arág rafo COM ENTÁRIO

Veja uma sugestão de mudança dessa introdução para que envolva totalm ente o que foi pedido. Com a mudança, toda a redação, por conse­ guinte, também sofrerá muitas modificações: O livre arbítrio é um dos maiores mandamentos postulados pelo homem em prol de sua existência, do seu direito de ser e de escolher o caminlio a seguir, mas quase nunca a alternativa marcada traz, mesmo que nas entre­ linhas, o respeito também ao direito do outro. Campanhas feitas para tentar coibir os abusos ao volante não surtem mais o efeito esperado; a agressividade, ao colocar aquele que bebe e insiste em dirigir como personagem desvairado, ■!*

86 Si n t a g m a

Redação Discursiva

toma-se mais literatura de quadrinhos. Pelo visto, confunde-se livre arbítrio com permissividade. E liberdade demais para um povo que reconhece apenas direitos e nada de deveres.

Segundo parágrafo CO M EN TÁRIO

P a rá g ra fo re c o n stru íd o O homem, como um ser sociável, deve saber interagir com o outro de maneira a respeitar os espaços dispostos a cada indivíduo; isso num ambiente completo por vários motoristas, que torna o tal convívio quase impossível, mesmo que culturalmente preparados para dividirem as faixas de sinalização. Ser livre e poder escolher cada momento nunca foi tão bom e, entre um gole e outro, o senso de liberdade na escolha se transforma na absoluta falta de regras e cidadania. O espírito de coletividade abre trelas à permissividade daqueles que acham que se não são de ferro, outros o são.

T e r c e ir o p a r á g r a f o CO M ENTÁRIO .* ♦ * » ; • » . » • * *

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i A tentativa de explanar a citação freudiana também foi em vão: "A cultura : , , , i ~ • • ,/ Ki | . protege o homem de sua natureza e regula suas relações sociais". Nao combina i com a ideia do governo e mídia. Dois temas que deveriam estar relacionados na 5 * introdução para também serem desenvolvidos, com motivação, nesse terceiro j; parágrafo. A citação pede abrangência, algo que não temos nesse espaço tão : limitado que a banca nos oferece. Em todos estarao salvos, tem-se raciocínio : perdido, deslocado, sem propósito, pois não foi relacionado e nem explanado, ; f apenas se citou. Precisamos agora, então, falar do abusos e campanhas. *

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Marcus Prado

P a rá g ra fo re c o n stru íd o N esse momento, entra o governo com suas campanhas educativas para tentar coibir a mortal combinação de álcool e volante. A motivação é boa, mas tão eficiente quanto às campanhas contra o tabagismo. Ao invés de m edo como efeito, graças das bizarrices e temas de salas de aula apenas. A literatura se enriquece com tantos discursos produzidos pela publicidade a serem desvendados. E o que se esperava não acontece. Beber ainda é m ais divertido e gera encontros no final da noite.

Q u a rto p ará g ra fo CO M ENTÁRIO

P a rá g ra fo re c o n stru íd o Se não se tem o poder estatal como fator punitivo aos abusos, com certeza isso se deve a hermenêutica em torno de uma constituição que garante muitos direitos e enfatiza pouquíssimos deveres. Difícil atrelarmos um a legislação que produza o respeito, a cidadania e o caminho para um trânsito sem zigues-zagues. O problema, então, não são muitas restrições “tolhedoras” de livre-arbítrios alheios, mas o condutor no seu mundinho de homens de ferro.

Q u in to p a rá g ra fo CO M EN TÁRIO

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\ S IN T A G M A

88

Redação Discursiva

P arág rafo re c o n stru íd o Livre arbítrio, liberdade de escolha, respeito ao próximo, trânsito em paz, campanhas ofensivas ou não, nada muda uma cultura enraizada na impuni­ dade e falta de fiscalização para uma melhora ao bem coletivo. Maldição? Macumba em encruzilhada? Não! Só um motorista que prefere uns goles à vida, mesmo que a do outro.

Si n t a g m a

As falácias

As falácias são ideias colocadas como verdades, mas que são incoerentes com a realidade ou são reflexões imaturas daquele que escreve e que acabam por atrapalhar o autor da redação a convencer o seu leitor de algo, perdendo, então, a credibilidade como autor.

Tipos de falácias A p elo à fo rç a (argum entam ad baculum ) Definição: Consiste em ameaçar alguém se não for aceita ou acatada a

proposição apresentada, 91

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Marcus Prado

É melhor exterminar os bandidos: você poderá ser a próxim a vítima. Ou nós, ou a desgraça, o caos.

Contra-argumentação: argumente que apelar para a força não é racional; que não é argumento válido, que a emoção não tem relação com a verdade ou a falsidade da proposição.

A pelo à m is e r ic ó r d ia , à p ie d a d e (argum entum ad misericordiam , ig n o r â n c ia d e q u estão , fu g a d o assu n to ) Definição: Consiste em apelar à piedade, à misericórdia, ao estado ou virtudes do autor.

Ele não pode ser co n d e n a d o : é bom pai de fam ília, contribuiu com a escola, com a igreja...

C ontra-argum entação: argumente que se trata de questões diferentes, que o que é invocado nada tem a. ver com a proposição. Quem argumenta assim ignora a questão, foge do assunto.

A p e lo à a u t o r i d a d e Definição: consiste em citar uma autoridade (muitas vezes não-qualificada) para sustentar uma opinião.

Se g u n d o A rthur Sch op enh auer, filósofo alem ão do séc. XIX ,"to d a verdade passa por três estágios: prim eiro, ela é ridicu larizad a; segundo, sofre violenta oposição; terceiro, ela é aceita com o autoevidente".

SlMTAÜ.VA

Redação Discursiva

Contra-argumentação: De fato, riram-se de Copérnico, Galileu e outros. Mas nem todas as verdades passam por esses três estágios: muitas são aceitas sem o ridículo e a oposição. Por exemplo: Einstein. Mostre que a pessoa citada não é autoridade qualificada. Ou que, muitas vezes, é perigoso aceitar uma opinião porque simplesmente é defendida por uma autoridade. Isso pode nos levar a erro.

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F also d ile m a Definição: Consiste em apresentar apenas duas opções, quando, na verdade, existem mais.

Brasil: am e-o ou deixe-o. Quem não está a favor de m im está contra m im .

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Contra-argumentação: Simples. Mostre que há outras opções.

F also a x io m a Definição: Um axioma é uma verdade autoevidente sobre a qual outros conhecimentos devem se apoiar. Por exemplo: duas quantidades iguais a uma terceira são iguais entre si. Outro exemplo: a educação é a base do progresso. Muitas vezes atribuímos, no entanto, “status’’de axioma a muitas sentenças ou máximas que são, na realidade,verdades relativas,verdades aparentes.

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Quem cedo m adruga Deus ajuda.

Contra-argumentação: Mostre que muitas frases de efeito - impactantes, bombásticas, retóricas, muito respeitadas - podem ser meras estraté­ gias mediantes as quais alguém tenta convencer, persuadir o ouvinte/leitor em direção a um argumento. No caso dos provérbios, mostre que se contradizem:

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93 \ S IN TA G M A

1

Marcus Prado_________ _____________________ _________ ____________________________________________



Ruim com ele, pior sem ele versus Antes só do que mal acompanhado.



Depois da tempestade vem a bonança versus Uma desgraça nunca vem sozinha.



Longe dos olhos, perto do coração versus O que os olhos não veem o coração não sente.

G e n e r a l i z a ç ã o n ã o q u a lif ic a d a (dicto simpliciter) Definição: É uma afirmação ou proposição de caráter geral, radical e que, por isso, encerra um juízo falso em face da experiência.

A prática de esportes é prejudicial à saúde.

Contra-argumentação: Mostre que é necessário especificar os enun­ ciados. Othon Garcia (Comunicação em Prosa Moderna, FGV, 1986, p. 169) ilustra como se pode especificar a falácia acima, dada como exemplo: A prática indiscriminada de certos esportes violentos é prejudicial à saíide dos jovens subnutridos.

G e n e r a l iz a ç ã o a p r e s s a d a ( e r r o d e a c id e n te ) Definição: Trata-se de tirar uma conclusão com base em dados ou em evidências insuficientes. Dito de outro modo, trata-se de julgar todo um universo com base numa amostragem reduzida.

• Todo político é corrupto. • Os padres são pedófilos. • Os mulçumanos são todos uns fanáticos.

Contra-argumentação: Argumente que dois professores ruins não significam uma escola ruim; que em ciência é preciso o maior número de dados antes de tirar uma conclusão; que não se pode usar alguns membros

Redação Discursiva

do grupo para julgar todo o grupo. Faça ver que se trata, na maioria das vezes, de estereótipo: imagem preconcebida de alguém ou de um grupo. Faça ver também que são fonte de inspiração de muitas piadas racistas, como as piadas de judeus (vistos como avarentos), de negro (visto como malandro ou pertencente a uma classe inferior), de português (visto no Brasil como sem inteligência) etc. É por isso que essa falácia está intimamente relacionada ao preconceito.

A ta q u e à p e s s o a (argum entam ad hom im em ) Definição: Consiste em atacar, em desmoralizar a pessoa e não seus argu­ mentos. Pensa-se que, ao se atacar a pessoa, pode-se enfraquecer ou anular sua argumentação.

Não deem ouvidos ao que ele diz: ele é um beberrão, bate na mulher e tem

amantes.

Contra-argumentação: Mostre que o caráter da pessoa não tem relação com a proposição defendida por ela. Chamar alguém de corrupto, nazista, comunista, ateu, pedófilo etc. não prova que suas ideias estejam erradas.

Propostas de redação com texto elaborado pelo professor PROPOSTA 1

Leia os textos a seguir» T e x to 1 A extraordinária capacitação brasileira de incorporar, de deglutir, de ruminar as mais diversas culturas —a meu ver, de resto, a contribuição mais original do Brasil para a história das civilizações, neste milênio - vai encon­ trar, justamente 110 nosso cancioneiro, seu espelho mais veemente, provocador e estimulante. Devo observar que as músicas populares de outros países, como Alemanha, França, Portugal, Espanha, Rússia, Itália, toda a Escandinávia

Marcus Prado

e tantos outros (à exceção dos Estados Unidos da América, onde o jazz se desenvolveu com vigor diferenciado) são muitíssimo mais discretas e - aí sim —avaliadas em modesto patamar cultural. Por quê? Porque a elas faltam as labaredas rejuvenescedoras, tanto as da miscigenação, quanto as que são próprias de um país jovem. Ricardo Cravo Albin. M PB - A provocação da integração. In: Textos do Brasil, n.° 11 - Música P op ular Brasileira.

Brasília - MRE: Direção Geral Cultural, 2004, p. 22 (com adaptações).

T e x to 2 O lundu—basicamente negro no seu ritmo cadenciado —ostentava a simpli­ cidade do povo nos seus versos quando cantado, comentando, na maioria das vezes, a vida cotidiana das ruas. Já a modinha - basicamente branca na sua forma de canção europeia - exibia versos empolados para cantar o amor derra­ mado às marmóreas musas, quase sempre inatingíveis. Dentro dessa configu­ ração, começam a aparecer os primeiros que assumiram a chamada música popular com prioridade. Ou seja, com a exclusividade de abraçar uma qualifi­ cação musical capaz de ser cantada, ou tocada, ou até dançada, fora dos salões da aristocracia. Nas ruas, nas praças, nos coretos ou nos guetos mais pobres. Ide in9ibidem.

T e x to 3 Xica da Silva Xica da, Xica da, Xica da Xica da Silva A negra Xica da Silva, a negra, a negra De escrava, amante, mulher, mulher Do fidalgo tratador João Fernandes (...)

A imperatriz do Tijuco A dona de Diamantina Morava com sua corte cercada de belas mucamas Num castelo, na chácara da palha De arquitetura sólida e requintada Onde tinha até um lago artificial

Redação Discursiva

E uma luxuosa galera Que o seu amor João Fernandes, o tratador Mandou fazer só para ela Xica da, Xica da, Xica da Xica da Silva A negra Muito rica e invejada Temida e odiada Pois, com suas perucas, cada uma de uma cor Jóias, roupas exóticas Das índias, Lisboa e Paris A negra era obrigada a ser recebida Como uma grande senhora Da corte do rei Luiz Jorge Ben (Musisom)

T e x to 4 A m úsica brasileira em sua essência Gênero básico da MPB, o samba tem origem afro-baiana de tempero carioca. Ele nasceu nas casas das “tias” baianas da Praça Onze, no centro do Rio (com extensão à chamada pequena Africa, da Pedra do Sal à Cidade Nova), descendente do lundu, nas festas dos terreiros entre umbigadas (semba) e pemadas de capoeira, marcado no pandeiro, prato-e-faca e na palma da mão. Embora, antes de Pelo Telefone, assinada por Ernesto dos Santos, o Donga, com Mauro de Almeida, em 1917, outras gravações tenham sido registradas como samba, foi esta que fundou o gênero - apesar da autoria discutida e da proximidade com o aparentado maxixe. r

Árik de Souza, Internet: (com adaptações).

T e x to 5 O samba ganha status de identidade nacional através do reconheci­ mento de intelectuais, como Villa-Lobos, que organizou uma histórica gravação com o maestro erudito norte-americano Leopold Stokowski no navio Uruguai, em 1940. Idem .

S lN T A ü W A

Marcus Prado

T e x to 6 Cada cultura ou religião tem seus mitos e fundamentos. Faço parte de um a confraria quase religiosa que cultua um Santo de pele negra, que tinha por hábito —e talvez missão - enternecer e melhorar a vida dos homens com sua arte divinal. Falo de Alfredo da Rocha Vianna Junior, mais conhecido por Pixinguinha. Para mim, seu devoto, será sempre São Pixinguinha. Hermínio Bello de Carvalho. In: Textos do Brasil, n.° 11 —M úsica P o p u lar Brasileira. Brasília-M RE: Direção Geral Cultural, 2004, p. 50 (com adaptações).

Considerando que as ideias apresentadas nos textos precedentes têm caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo em prosa, posicionando-se acerca do seguinte tema:

O sucesso e a riqueza de nossa música popular, em oposição à música de outros países, são fruto direto e indissociável do encontro inter-racial que culminou no país mulato que somos nós. Ricardo Cravo Albin.

COM ENTÁRIO

T e x to p r o d u z i d o c o m b a s e n a p r o p o s t a A cara da música verde-amarela

Dizer que a música brasileira é rica seria também imaginar pleonasmo de “subir pra cima, descer pra baixo” . Todo o hibridismo ocorrido para a formação da musicalidade no Brasil contribuiu para que hoje ela fosse chamada de lírica da gente, da terra, da cultura mulata, índia, afrodescendente, estrangeira e tantas outras acrescidas com mais uma pitada de habi.% I

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Sin t a g m a

100

Redação Discursiva

lidades que só a terra do “seja bem-vindo” consegue oferecer. Mas pelo visto, tanta competência não parece ser valorizada ou reconhecida fora do r próprio território. E como não ser visto também como fonte de talentos que ajudaram a montar a história de um povo bravio e obstinado a expressar as vozes do passado e as de hoje. Por que essa manifestação não invadiu as prateleiras dos países vizinhos? Não há dúvidas de que a música popular, ao lado do futebol e do Carnaval, constitui-se num dos mais importantes e conhecidos cartões-postais do Brasil. Mas com uma diferença: enquanto o futebol (criado pelos ingleses e jogado com maestria pelos brasileiros) e o carnaval (comum em diversos países e, que aqui no Brasil, assumiu um importante papel na cultura popular), a Música Popular Brasileira é única, apesar das inúmeras influências que ela recebeu em toda sua história. Tanta qualidade assim deveria ser mais reconhecida e incentivada tanto pelos brasileiros quanto pelos estrangeiros, o que ocorre somente com alguns artistas que, mesmo divulgando a cara verde-amarela, ela não se torna expressiva em terras de outrem. Artistas como Roberto Carlos, Tom Jobim, Vinícius já cumpriram seus papéis de representantes, mas existem vários outros que continuam no anonimato. Sabe-se que faltam verbas ministeriais para que projetos saiam do papel, porém nada impede de a música ser levada aos quatros cantos, pois ela se mostra viva e capaz de conquistar grandes públicos através de sua grandiosa mistura de letras e melodias. A linguagem mais conhecida no mundo deixa claro que não existem barreiras para a comunicação, seja a língua francesa, espanhola ou inglesa: tudo eln todo momento se faz compreender. Vozes do passado se fazem presentes, a arte estilosa se harmoniza com essa nova arte e tudo parece tão novo e diferente, mesmo sabendo que se trata de uma velha novidade. A música brasileira nunca parou no tempo e nem foi preconceituosa em não aceitar as diferenças. Pelo contrário, é graças a toda essa desordem/ordem que temos uma verdadeira cara do Brasil.

Marcus Prado

PROPOSTA 2

Leia os textos a seguir. T ex to l

Se nos iludimos com uma pintura que mosta a mulher feliz com um parceiro ao seu lado e nos esquecemos do que é a verdadeira realidade da mulher, o que pensar quando olhamos para o Universo? Tendo apenas como motivadores os textos acima, disserte de forma argumentativa e opinativa em prosa sobre o tema: “A ilusão d a v erd ad e” .

COM ENTÁRIO

pertence a ela e não somente ao sexo oposto, quais argumentos posso usar que : i consigam refletir uma situação mascarada por falácias e violência de todas as : ; formas contra a costela de "Adão"? Não se esquecer de envolver as possibili- • *. '

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Veja que esse é o raciocínio inicial para que eu possa pensar na confecção da tese e consequentemente nas estratégias para enriquecê-la. E, então, a completa introdução.

SINTAGMA

Redação Discursiva

COM ENTÁRIO

Primeiro texto produzido com base na proposta: texto desenvolvido com mais subjetividade, mas com críticas ácidas e reflexivas Como imaginar um quadro em que a mulher nunca será o artista, mas, sim um modelo exposto apenas para que muitos digam que a mulher hoje está mais delatora de atrocidades que ela sofre? Que argumentos objetivar para justificar que o mundo só pertence a um artista necrófilo fascinado, admirado e obsessivo por esse modelo de natureza morta ou quase morta em sua identidade física ou moral? Que estratégias pode-se pensar a colorir situações tão bizarras contornadas por discursos falaciosos que vão de encontro a inexistência da mulher como portadora de direitos humanos também? Balbuciar palavras é muito fácil quando não sabemos muito o que falar diante de pequenos assassinatos diários, difíceis de superar e praticamente impossíveis de prevenir, fazendo com que as mulheres percam a referência de cidadania. A violência contra elas está em todos os lugares, e as justifica­ tivas mirabolantes para tais agressões também. Uma pintura nada bonita que a transformou em uma costela adâmica. “Nascida para ser a companheira, foi desenhada pois o homem precisaria de rascunhos” ou quem imagina que um argumento de aparente defesa não traz alívio à ré: “Você já parou de bater na sua mulher? Se à resposta for não, é porque ainda bate. E se a resposta for sim, é porque já bateu” . Em nenhum dos casos se considera o caso de nunca ter batido, mas quem sabe essa personagem foi massacrada e anulada moralmente então. Coloca-se uma questão em que não importa a resposta: tudo colabora para atos falaciosos que justifiquem as agressões. Assim é quando se depara com uma situação familiar de opressão. “O que uma mulher poderia fazer num cargo de chefia?” Mas em todo caso é bom mostrar que ela está ganhando seu espaço. Usam-se máscaras para camufiar uma realidade nada compatível com a

Marcus Prado

maioria. Os argumentos falaciosos insistem: “mas ela conquistou o mercado de trabalho” . Sim, até contra-argumentarem que elas devam fazer três papéis em casa. Falas e discursos que na verdade não a colocam em cena, mas justificam com suscinta destreza que não há o que argumentar diante de uma sociedade que já aceitou um destino de silêncio em situações tão humilhantes quanto essa. Enquanto a mulher não conseguir ser “o eu lírico”, o artista da tela, a pintura nunca mudará. Seu assinante sempre rubricará a continuidade da opressão e a existência de tantas vozes femininas vendadas por verdadeiras falácias aceitas e reproduzidas pelo social. Segundo texto produzido com base na proposta: o texto foi desenvol­ vido com mais concreticidade e com menos subjetividade Que argumentos existem diante de um homem que não consegue perceber que sua companheira é também portadora de direitos, principalmente o de manter a sua integridade física e moral a salvo de pancadas e humilhações? Infelizmente, as justificativas para tais atitudes obsessivas e destrutivas se pautam em argumentos falaciosos que só reforçam um contexto social indife­ rente à existência da mulher como voz ativa. Silenciam vozes femininas na busca por espaço em casa, na rua ou até mesmo na loja de ferramentas da esquina: “ lugar de mulher é na cozinha”, “olha que pedaço de carne”, “senhora, peça ao seu marido que venha conversar comigo para que eu possa te ajudar com os parafusos”. Como tentar convencer alguém se todos acreditam que falácias como “ mulher ao volante um perigo constante” são uma verdade, mesmo que em forma de, piadinhas? Risadas à parte, isso tudo é uma agressão verbalizada por um social que prefere “tampar o sol com peneira” a ir de encontro a uma situação nada fácil de resolver. Realmente navegar contra a maré é bobagem; violentar seu opressor como revanche, perde-se a razão; acreditar que se alcança a tranqüilidade convencendo essas demandas sociais é como carregar pouquissíma água para apagar um fogaréu e ainda por cima acreditar que “uma andorinha faz verão” . Pelo visto, é mais fácil deixar tudo ser consumido e subjugar-se ao emblema de rascunho da perfeição masculina e anular-se por completo a ter de ultrapassar barreiras sociais na busca por aceitação ou respeito moral. A obsessão em destruir um oponente em potencial sempre fará parte da criação do macho dominante.

S IN TA G M A .

E xercitan do a Redação

Daremos aqui algumas propostas de redação para que você possa treinar o que aprendeu:

Proposta de Redação 1 T ex to 1 Dentro de uma acepção ampla do vocábulo legislador, havemos de inserir as manifestações singulares e plurais emanadas do Poder Judici­ ário, ao exarar suas sentenças e acórdãos, veículos introdutórios de normas individuais e concretas no sistema do direito positivo. O termo abriga também, na sua amplitude semântica, os atos administrativos expedidos pelos funcionários do Poder Executivo e até os praticados por particulares, ao realizarem as figuras tipificadas nos ordenação jurídica. Paulo de Barros Carvalho. C urso de direito trib u tário (com adaptações).

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( Marcus Prado

T e x to 2

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Mas, enquanto é lícito afirmar-se que o legislador se exprime numa linguagem livre, natural, pontilhada, aqui e ali, de símbolos técnicos, 0 mesmo já não se passa com o discurso do cientista do Direito. Sua linguagem, sobre ser técnica, é científica, na medida em que as proposições descritivas que emite vêm carregadas da harmonia dos sistemas presididos pela lógica clás­ sica, com as unidades do conjunto airumadas e escalonadas segundo critérios que observam, estritamente, os princípios da identidade, da não-contradição e do meio excluído, que são três imposições formais do pensamento no que concerne às proposições apofânticas. Jdem, Ibidem (com adaptações).

T e x to 3 fíabeas corpus /

r No tribunal da minha consciência, O teu crime não tem apelação. Debalde tu alegas inocência, E não terás minha absolvição. Os autos do processo da agonia, Que me causaste em troca ao bem que eu fiz, Chegaram lá daquela pretoria

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Na qual o coração foi o juiz. Tu tens as agravantes da surpresa E também as da premeditação Mas na minh’alma tu não ficas presa Porque o teu caso é caso de expulsão. Tu vais ser deportada do meu peito

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Porque teu crime encheu-me de pavor. Talvez o habeas corpus da saudade Consinta o teu regresso ao meu amor. (Orestes Barbosa e Noel Rosa)

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Redação Discursiva

T e x to 4 O direito é uma disciplina cultural, cuja prática se resolve em palavras. Direito e linguagem se entrelaçam e se confundem. A lgum as vezes - infe­ lizmente, mais do que o necessário - os profissionais da área jurídica ficam tão empolgados com os fogos de artifício da linguagem que se esquecem do justo e, outras vezes, até da lei. Nas acrobacias da escrita jurídica, chega-se a encontrar formas brilhantes nas quais a substância pode ser medida em conta-gotas. O defeito - também com desafortunada frequência - surge mesmo em decisões judiciais que atingem a liberdade e o patrimônio das pessoas. Ceneviva. In: Folha de S. Paulo, 2/5/1993.

107 S lM A U M A

Marcus Prado

Considerando que as ideias apresentadas nos textos anteriores têm caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo em prosa, de 110 máximo 30 linhas, posicionando-se acerca do seguinte tema:

A LINGUAGEM É UM PODEROSO INSTRUMENTO DO DIREITO.

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Redação Discursiva

Proposta de redação 2 T e x to 1 A ditadura da beleza numa perspectiva histórica A beleza se relaciona com a sociedade e, ao longo da história, tem sido considerada como ponto primordial das relações humanas. Ela está associada àquilo que é bom, em que o bom é agradável e princípio ideal para aquilo que é belo. O cabelo, por exemplo, tem sido espaço importante de jogos de poder e beleza entre homens e mulheres. Os homens impunham, no decorrer da história, modelos de beleza feminina a ponto de serem considerados sinônimos de beleza divina. Alexandre, o Grande, na Grécia-Macedônia, Assuero (Xerxes), na Pérsia, Ramissés, faraó do Egito, e outros “encarnaram o espírito do belo e da força” em suas respectivas épocas, deixando claro que o poder da beleza também é poder político. Nos séculos 19 e 20, o cabelo loiro e longo passou a representar símbolo de beleza. Por causa da força do discurso dominante, a história das mulheres negras tem sido a mais angustiante. Seus cabelos têm sido marginali­ zados durante os tempos. Em 1850, as feministas de Nova York convocaram as mulheres para vestir-se com mais liberdade e usarem penteados mais simples, não se importando com a “ditadura branca” para o que era belo. Na Antiguidade Clássica, a cultura grega, nossa maior referência no ocidente de beleza, devido a conceitos como os de Platão e Aristóteles, por exemplo, nos dá embasamento para isso. Platão defende que o belo é o bem, a verdade e a perfeição, que existem em si mesmo, apartado do mundo sensível, residindo, portanto, no mundo das ideias. Aristóteles, diferentemente de Platão, acreditava que o belo seria inerente ao homem, afinal, a arte é uma criação particularmente humana e, como tal, não pode estar em um mundo apartado daquilo que é sensível ao homem. Na Idade Média, a beleza era debatida no seio dos mosteiros como um instrumento do diabo; foi confundida com pecado de luxúria, vaidade, sensu­ alidade etc. Contudo, a autoridade eclesiástica da Idade Média introduziu na concepção do belo a identificação direta com Deus, como ser únieo de suprema beleza a serviço do bem e da verdade. Temos na história, então, os cânones do belo que sempre variaram, por exemplo, as transformações que ocorreram a partir do século 16 nas ciên­ cias, nas artes, na religião e que também afetaram o belo, que em razão de -li1r a

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\ SlNTAÜMA

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ganhar consistência e instantaneidade nos relevos que vinham revelando uma “invenção do corpo”, desde o século 15, traz uma maneira nova de repre­ sentar a presença carnal, o jogo com as massas físicas, a cor, a luz das obras de arte, a espessura das formas e os arredondamentos dos corpos, típicos dos moldes clássicos, em que a beleza profana, da modernidade renascentista, que tem o belo feminino exaltado, substitui o belo religioso de santos e santas do sagrado medieval. Isso, porém, seria a beleza revelada que vem contrastar o sacro medieval com o profano moderno inspirado nas artes clássicas, que tem Vênus em substituição à Virgem. Para os dias atuais, a beleza trilha por novos caminhos conceituais em que há até paradoxos. Na beleza feminina, é uma mudança de silhueta que inaugura o período, não é possível que qualquer conceito ou definição de beleza física garanta os tratados de hoje, muito sensíveis à ascendência de preferência e gostos individuais. A beleza física se limita menos ao arranjo dos traços individuais para participar das maneiras globais das quais o indivíduo hoje afirma sua identidade. Então, problematizo se, a partir do século 20, a beleza é democratizada. Vale dizer que as magrezas sempre mais dinâmicas correspondem a expectativas sociais, os que visam a eficácia e adaptabilidade destinadas a dar ao corpo feminino uma “nova liberdade”. E isso seria o mesmo que uma “ditadura da beleza”. Por último, a beleza a partir do século 20 está condicionada àquilo que se pode comprar, ou seja, o belo nem sempre está inerente ao ser, no sentido interno ou externo. Mas pode ser adquirido, basta poder comprá-lo nas clínicas de estética, nos salões e centros de beleza ou nas mais variadas lojas especia­ lizadas. Porém alguém poderá dizer que o belo não se condiciona ao que se pode comprar. Pois se alguém compra a condição de ser belo, este alguém é de artificial beleza física; no entanto, poderá estar elegante e bem adornado. Contudo, aquele que traz consigo, desde o ventre materno, as medidas e as proporções do belo, do conceito atual, esse, sim, será sinônimo de beleza. Em suma, a “ditadura da beleza” reina nos veículos de comunicação e na mídia em geral, ditando e manipulando as regras para o “que” e “quem” é belo; no entanto, aquele que tem mais poder aquisitivo poderá usufruir mais do belo e se aproximar do conceito dominante de beleza da contemporaneidade, que de um lado defende que quem é belo é aquele que tem os moldes, as medidas e as proporções para tal, independentemente de sua condição financeira. Se, porém, esse alguém for acima das medidas e proporções, é obeso; se for abaixo, ele tem anorexia. De um outro lado, defende que quem tem condições financeiras de se adornar bem, esse sujeito, então, é belo, não importando se é obeso ou ancrexo. No entanto, o belo é como o “espírito de um povo” ou “de uma época”, essencial ao entendimento do fenômeno histórico pela superação

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do belo artístico —entenda-se aqui belo artificial —pelo belo natural, que só existirá se a beleza se mostrar ideal, ou seja, como idealização do sensível pelo espírito, em que a beleza artística é superior à beleza natural porque é feita pelo e para o homem. Eis, aí, os paradigmas da beleza nos dias hodiernos. Professor Nilton Carvalho é cabeleireiro, teólogo, historiador e pós-graduando em Docência Universitária pela Universidade Católica de Goiás.

T ex to 2 “Cada mulher, evidentemente, envelhece à sua maneira, mas de forma geral existe um protocolo seguido pelos cirurgiões responsáveis. Se uma paciente na faixa dos 45 anos pedir para “entrar na faca”, será confrontada com propostas alternativas. “Eu colocaria preenchimento no chamado bigode chinês e Botox no vinco entre as sobrancelhas, dois procedimentos que deixam o rosto natural e fazem uma grande diferença”, diz Carramaschi. “No máximo, faria a cirurgia de pálpebra, a blefaroplastia, que dá um ar descan­ sado.” Aos 50, continua o médico, o preenchimento pode se estender à região das bochechas, para dar mais volume ao rosto. Também é nessa faixa que se pode considerar um primeiro lifting parcial, a cirurgia plástica feita para reju­ venescer o pescoço e remover a pele flácida na linha da mandíbula. “O lifting aos 50 não precisa ser total e dá ótimos resultados para a mulher que pensa 24 horas nas suas rugas”, diz Ricardo Marujo. Quem chega aos 55 sem mexer em nada precisa pensar grande: os cirurgiões recomendam aí o lifting facial completo, em que o rosto todo é reposicionado, na linguagem elegante dos plásticos. “Se já tiver sido feito embaixo, é hora de mexer na parte superior”, recomenda Carramaschi. Como a música, que é feita de sons e silêncio, os médicos precisam se preocupar tanto com o que fazem quanto com o que deixam de fazer. O exagero estraga rostos naturalmente bonitos e acaba com os que nunca foram muito privilegiados. Verônica, a ex de Berlusconi, é considerada um catálogo ambu­ lante de excessos. “Ela é o cúmulo da mal operada: encheu demais os lábios, fez os olhos, mas não retirou direito as bolsas, pode até ter feito um lifting, mas já caiu tudo. O rosto está murcho e há preenchimento em excesso”, analisa o cinirgião Farid Hakme, do Hospital da Plástica, no Rio de Janeiro. Mexer na boca e adjacências é um dos procedimentos em princípio mais fáceis - e, portanto, passível de absurdos. Muitas vezes, as pacientes querem contornos que não condizem com o resto das feições. Até a magnífica Elle Mac-Pherson diz que inflou e se arrependeu. “Fiquei ridícula. Mas todo mundo estava fazendo”, justifica. “Já atendi uma senhora de 73 anos que chegou com uma

SINTAGMA

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foto da Angelina Jolie e pediu lábios iguais”, espanta-se Marujo. “Cirurgia plástica nâo é supermercado, em que se pede 1 quilo disso ou daquilo”, diz Almeida. “O cirurgião tem de ter bom senso estético e saber o que fica bom ou não naquele rosto. Pode ter certeza: se não ficou bom, a culpa é do médico.” Fragmentos da revista Veja

T e x to 3 Mulheres e mídia: a banalização do preconceito 28/3/2005 Elda Alvarenga Quando paramos frente à televisão é comum observarmos em sua grade de programação uma série de posturas, linguagens e atitudes preconceitu­ osas. O que destoa do pensamento único, capitalista, masculino e branco é tratado como desvio de comportamento. A mídia é um excelente instrumento de manutenção da ideologia dominante, às vezes de modo sutil, quase que imperceptível, e outras de forma explícita. Minha intenção neste texto é fazer um recorte e discutir como as mulheres aparecem ou são representadas na mídia, mais especificamente na televisão. Como é comum, mas não aceitável, as mulheres aparecem nos programas de televisão como o sexo frágil, emocional e financeiramente dependente da figura masculina, seja do pai, irmão, namorado, marido ou colegas de trabalho. E representada também como fútil, aquela que, por não saber o que é trabalho (quando se referem às mulheres que não trabalham fora de casa), gasta mais do que o necessário, é consumista e exageradamente vaidosa. As contradições aparecem quando ao mesmo tempo em que a mulher ideal é a dona de casa, pacata, que atende a todas as necessidades da família, também é responsável para atender aos apetites sexuais do marido. Assim ela deve, depois de um dia de trabalho fora de casa, dar conta de realizar as tarefas domésticas já que estas são a toda hora postas como tarefas da mulher dentro das famílias, satisfazer os desejos sexuais do marido. As mulheres que fogem a essa regra, apesar de desejadas fisicamente, aparecem como as que fogem do papel sagrado da mulher na família: o de educar os filhos e cuidar da casa e do marido. e

No que se refere às tarefas de manutenção da vida, ou seja, as tarefas domésticas, são as mulheres que aparecem na televisão como as únicas responsáveis pela sua execução. E comum ouvirmos, tanto na mídia como no dia a dia das relações familiares, mulheres e homens referindo-se aos homens que fazem as tarefas domésticas como os bons maridos/namorados/compa-

S in t a g m a

Redação Discursiva

nheiros, porque “ajudam” as mulheres nas tarefas domésticas. Como as ativi­ dades domésticas são tidas como naturalmente femininas, os homens que as executam “ajudam” as mulheres na labuta do dia a dia. Além disso, são requeridos das mulheres todos os esforços possíveis para se tomarem e se manterem sempre sorridentes e belas. Não para a sua própria autoestima, mas para a satisfação dos maridos/namorados/companheiros. Nesse sentido ressalta-se ainda que, atualmente, o ideário de beleza que a mídia produz e reproduz é a mulher branca, magra, alta, bem provida de seios. O exagero com que se ressalta isso na televisão tem levado milhares de mulheres cada vez mais jovens a realizarem intervenções cirúrgicas, muitas vezes desnecessárias e pior, que colocam a sua saúde em perigo. É a ditadura da beleza levando mulheres e meninas à busca enlouquecida pelo padrão de beleza divulgado na mídia. Como as relações de gênero na sociedade capitalista é algo que há muito me inquieta, é, para mim, impossível não prestar atenção no modo como as mulheres são representadas na mídia. E, mais importante, não dá para não nos indignarmos diante da banalização e inferiorização do sexo feminino na mídia. O lado mais perverso, para mim, da reprodução na mídia das rela­ ções machistas na sociedade são os desenhos e programas infantis. Nestes as meninas aparecem, assim como as estrelas do cinema, como aquelas que sempre precisam ser salvas pelo herói, masculino, sensato, fisicamente forte. Além do constante incentivo à violência nos desenhos infantis, estes reforçam nos meninos e meninas, os papéis esteriotipados, preconceituosos e desiguais das mulheres na nossa sociedade. Assim vemos um menino sofrendo com a dor de um machucado, mas prendendo o choro porque aprendeu que meninos não choram. Desmistificar essas concepções machistas, preconceituosas e deséducadoras é uraa tarefa de todos/as. Precisamos criar o hábito de questionar os programas a que assistimos na TV, manifestar nossa crítica e fazer ações afir­ mativas para que esses programas busquem refletir mais adequadamente o papel da mulher na sociedade, e configurar esta como um ser humano, diferente sim dos homens, mas em nada inferior a estes. Há quem diga que “a arte imita a vida”, mas é preciso (e possível) que filmes, novelas, músicas, assumam um papel de resistência ao machismo, constituindo-se assim como um instrumento educativo para a emancipação das mulheres. Para isso a postura crítica, de manifestação e de boicote contra esses programas é um importante passo na luta pela democratização da mídia. 113

Marcus Prado

Com propósito apenas motivador da coletânea anterior, faça uma dissertação-argumentativa em prosa de no máximo 30 linhas posicionando-se sobre o seguinte tema: A exigência do b elo pela sociedade e p ela m íd ia leva a m ulher à con cep ção de “m ulher objeto”?

Si n t a g m a

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