Manual HGP 6º

January 21, 2018 | Author: Cristina Fonseca | Category: Portugal, Slavery, Monarchy, Brazil
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APRESENTAÇÃO DO MANUAL Vais continuar a tua viagem pela nossa Terra e pela nossa História.

TEMA

Para que uma viagem seja agradável e proveitosa, é necessário saber utilizar um guia ou um roteiro. Neste caso, é necessário saber utilizar os dois volumes do Manual de História e Geografia de Portugal. Antes de partir de novo, vamos dar-te algumas informações: De acordo com o Programa, o Manual está dividido em dois grandes temas, um por volume, apresentados em página dupla.

Do Portugal do século XVIII à consolidação da sociedade liberal

C

1 2 3 4

Império e Monarquia Absoluta no século XVIII

Lisboa Pombalina

1820 e o Liberalismo

Portugal na segunda metade do século XIX

Cada um desses temas está dividido em subtemas que incluem:

1

Império e Monarquia Absoluta no século XVIII

1.1 1.2

1. Império e Monarquia Absoluta no século XVIII

O Império Português no século XVIII A Monarquia Absoluta no tempo de D. João V

a página de GRAVURA MOTIVADORA cuja observação te despertará o interesse e a curiosidade por aquilo que vais estudar.

a página de ABERTURA, contendo: • a gravura globalizante; • os conteúdos programáticos; • a barra cronológica.

Coche de gala de D. João V (Museu Nacional dos Coches).

Séc. XVII

Séc. XVIII

Séc. XIX 1800

1700

1697 • Descoberta de ouro no Brasil.

1706 • Início do reinado de D. João V.

1731 1717 • Início da construção do • Início da construção do Palácio e Convento Aqueduto das de Mafra e da Águas Livres. Biblioteca 1747 da Universidade • Início da construção de Coimbra. do Palácio de Queluz.

1749 • Início da construção da Igreja da Misericórdia, no Porto.

1750 • Início do reinado de D. José I.

as páginas de DESENVOLVIMENTO onde poderás encontrar:

9

Tema C 1. Império e Monarquia Absoluta no século XVIII

• texto informativo; • documentos; • mapas e gráficos; • fotos e ilustrações; • questões de exploração dos documentos e/ou das figuras

1.1 O Império Português no século XVIII

• «Sou capaz de…», actividades que deverás realizar depois de estudares os conteúdos de cada página dupla; esta rubrica inclui ainda o «Construir o meu glossário» e o «Situar no tempo», exercícios para realizar no Caderno de Actividades.

Exploração económica O território e os recursos naturais Como já estudaste, durante a União Ibérica os países inimigos da Espanha (como a Holanda, a Grã-Bretanha e a França) ocuparam parte do Império Português. Após a restauração da independência, Portugal, apesar de ter recuperado alguns dos territórios que antes possuía, acabou por perder, definitivamente, outros, sobretudo no Oriente. Embora o comércio com esta região se continuasse a fazer, foi diminuindo bastante nos séculos XVII e XVIII, devido à concorrência estrangeira. Os principais domínios e interesses comerciais portugueses concentravam-se agora em volta do oceano Atlântico. Navios fig. 3 Engenho de açúcar brasileiro. A cana-de-açúcar era esmagada e dela extraído portugueses cruzavam este oceano, navegando entre os três contio caldo que depois era cozido em grandes caldeirões de cobre. Era depois passado nentes – Europa, África e América – e tendo os arquipélagos como para formas onde cristalizava. A propriedade do senhor do engenho compreendia os campos de plantação (canaviais), o local onde se fazia o fabrico do açúcar, a casa pontos de apoio à navegação (fig. 1). grande, onde morava o senhor e a sua família, e a sanzala, onde viviam os escravos.

Nos finais do século XVII e durante o século XVIII, ocorreu ainda no Brasil um facto de grande importância económica: a descoberta e exploração de minas de ouro e diamantes. Foram descobertas pelos bandeirantes, grupos de colonos que organizavam expedições para o interior do território brasileiro com o objectivo de conhecer os seus recursos naturais e aprisionar indígenas para trabalharem nos engenhos (fig. 5). A coroa portuguesa beneficiou largamente dessa descoberta, cobrando aos particulares que exploravam o ouro e os diamantes o «quinto», ou seja, a quinta parte do metal extraído.

fig. 1 O Império Português no século XVIII e os produtos comercializados (adaptado de A. H. de Oliveira Marques e J. J. Alves Dias, Atlas Histórico de Portugal e do Ultramar Português).

• Indica: a) as regiões que faziam parte do império colonial português no século XVIII: – em África; – na América; – no Oriente; b) três produtos brasileiros e três produtos africanos que eram enviados para o Reino.

fig. 4 Cofre de transporte. O ouro era fundido em barras e nelas gravados o seu peso, o ano da sua fundição e as armas reais. As barras seguiam depois para Lisboa em cofres de ferro com fechaduras bem fortes e escondidas, de modo a ser quase impossível abri-los.

• Com base na figura 5, indica as zonas onde foram descobertos metais preciosos. • Com base na figura 6, indica os períodos em que chegou mais e menos ouro a Portugal.

O Brasil, principal fonte de riqueza do Reino

fig. 2 Produção de açúcar.

10

No século XVII, o açúcar brasileiro ocupou o lugar dos produtos orientais na economia portuguesa. S. Salvador da Baía, então capital do Brasil, tornou-se uma das mais importantes cidades dofig. Rei-5 Os bandeirantes fundaram cidades e povoações e contribuíram para alargar a no. Foram os lucros do comércio do açúcar que permitiram a D. fronteira João do Brasil muito para além do que fiIV não só fazer face às despesas da Guerra da Restauração, como cara estabelecido no Tratado de Tordesilhas. comprar ao estrangeiro os produtos de primeira necessidade, como os cereais, que escasseavam em Portugal. No entanto, foi no século XVIII que os engenhos produziram maior quantidade de açúcar (fig. 2). Sou capaz de...

fig. 6 Remessas de ouro brasileiro chegado a Portugal.

1. Escrever um texto sobre a vida num engenho do Brasil, durante o século XVIII. 2. Dar a minha opinião sobre o papel desempenhado pelos bandeirantes.

2

11

APRESENTAÇÃO DO MANUAL Esquema-Síntese PORTUGAL NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX

• «Esquema-Síntese», um resumo da matéria que estudaste; aqui encontras também a indicação para os endereços da Internet que podes consultar. • «Agora já sei…» onde, a partir da observação da gravura motivadora, te são propostos exercícios e actividades para avaliares as tuas competências.

Agora Já Sei... Invasões Francesas

Indepêndencia do Brasil

Guerra Civil

1. Depois de observar a o mapa: 1.1 Identificar: a) as principais zonas industriais; b) as principais minas exploradas.

PORTUGAL, um país atrasado tecnologicamente e empobrecido

Medidas tomadas pelos governos liberais

Indústria

• Introdução da máquina a vapor

Agricultura

• Mecanização

Transportes e comunicações

• Fim do pousio e introdução de novas culturas

• Mala-posta

• Adubos químicos

• Telefone

• Comboio

2. Depois de observar a imagem ao lado, indicar: 2.1 os dois produtos que estão a ser transportados no comboio;

• Correios • Telégrafo

2.2 a respectiva importância nesta época. 3. Explicar a inovação introduzida no processo de transformação das matérias-primas.

Melhor e mais variada alimentação Redução da mão-de-obra necessária para a produção

Aumento da produção

4. Referir: • Mobilidade das pessoas • Mobilidade das mercadorias 4.1 dois melhoramentos introduzidos nas cidades, na segunda metade do • Troca de ideias e informação século XIX;

Aumento populacional

4.2 duas medidas tomadas que contribuíram para a defesa dos direitos humanos; 4.3 três medidas tomadas a nível do ensino.

Desemprego

5. Copiar para o meu caderno diário o quadro seguinte e, depois, completá-lo. MOVIMENTOS DA POPULAÇÃO Nome dado à saída das pessoas do campo para a cidade

Emigração

Razões dessa saída

Nome dado à saída de pessoas para outro país

Razões dessa saída

Principal destino dessas pessoas

Razões dessa escolha

Encontras, em cada volume, um «Projecto» com sugestões de actividades que podes realizar em articulação com outras disciplinas.

www.projectos.TE.pt/links para saber mais sobre...

• Portugal na segunda metade do século XIX

6. Redigir um pequeno texto comparando a vida de um camponês com a de um operário no século XIX.

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PROJECTO Profissões, pregões e provérbios do século XIX • Será que todas as profissões de antigamente ainda hoje se mantêm? • E se algumas já desapareceram, por que terá isso acontecido?

Possíveis contributos das disciplinas e de outras áreas curriculares não disciplinares

• O que eram os pregões? Será que ainda hoje se mantêm alguns desses pregões? • O que são provérbios? Alguns deles estarão relacionados com algumas profissões?

Disciplinas e áreas curriculares não disciplinares

• Por que é importante conhecermos as profissões que já não existem ou estão em vias de extinção, os provérbios e os pregões? • Se eu pudesse, optaria por escolher uma dessas profissões, em vias de extinção, ou outra Língua Portuguesa mais moderna?

ACTIVIDADES

• Investigação sobre pregões antigos e criação de novos para algumas profissões actuais. • Leitura de textos sobre profissões de antigamente (O Sol e o Menino dos Pés Frios, de Matilde Rosa Araújo, Portugal Em Selos, edição dos CTT). • Elaboração de guiões de entrevistas.

Para dares resposta a todas estas questões, propomos-te que, individualmente ou em grupo: Inglês

• Legendar peças de vestuário, por exemplo, dos vendedores ambulantes do século XIX.

História e Geografia de Portugal

• Visionamento de filmes como, por exemplo, O Pátio das Cantigas, onde podes ver como certas profissões continuaram a existir no século XX. • Exploração de documentos escritos e iconográficos. • Visitas de estudo.

• visiones filmes antigos, leias livros, faças entrevistas a pessoas idosas da tua região sobre as profissões de antigamente, os pregões e os provérbios; • faças visitas de estudo a oficinas de artesãos e a fábricas;

Como o Programa se refere apenas aos episódios e figuras mais significativos da História de Portugal, muito ficará por dizer. Para saberes um pouco mais, encontrarás, no final de cada volume, a rubrica «A Minha Região nos Séculos…», que inclui acontecimentos que ocorreram em diversas localidades do País durante os períodos em estudo. Não te esqueças de ler a parte que diz respeito à tua Região.

• pesquises pregões e provérbios na Internet; Com base na informação recolhida e nos trabalhos realizados, poderás:

• elaborar um calendário sobre «Os provérbios e a agricultura», como já fizeram os teus colegas da Escola Básica 2, 3 da Ribeira do Neiva. Podes também incluir no teu calendário alguns pregões Ciências da Natureza (por exemplo, no mês de Novembro um pregão sobre as castanhas); • prepares um espectáculo a ser apresentado no final do ano lectivo à comunidade escolar e não escolar em que sejam apresentados os pregões e os provérbios, se possível, com os alunos vestidos à época. • organizar uma exposição com os materiais elaborados, como entrevistas, textos, vídeos…

Matemática

Ed. Visual e Tecnológica

Ed. Musical

• Analisar a roda dos alimentos e relacioná-la com a alimentação do século XIX.

• Elaboração e resolução de problemas com base em pregões ou provérbios.

• Planificação e construção de um calendário.

• Ensaio vocal dos pregões e dos provérbios. Se possível, acompanhá-los com música.

Estudo Acompanhado

• Organização de uma Biblioteca de Turma em articulação com a Língua Portuguesa.

Formação Cívica

• Organização de debates sobre as profissões, pregões e provérbios, com a presença de artesãos (oleiros, ferreiros, costureiras...) e historiadores da história local.

fig. 1 Capa e página do calendário «Os Provérbios e a Agricultura», elaborado pelos alunos da EB 2, 3 da Ribeira do Neiva.

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A Madeira O vinho

CRONOLOGIA

1744 -1801 A exportação de vinho da Madeira atinge a quantidade máxima. 1748 -1756 Mais de 6000 madeirenses e açoreanos emigram para o Brasil. 1807 A imposição do Bloqueio Continental pela França leva os Ingleses a ocuparem a Madeira. 1821 Em Janeiro é proclamado o liberalismo na Madeira. 1822 Os arquipélagos da Madeira e dos Açores passam a ser designados por «ilhas adjacentes» na Constituição liberal. 1834 -1852 Uma média anual de 300 a 400 doentes, nomeadamente ingleses, procuram a Madeira.

A vertente sul, dominada na quase totalidade pelo espaço da primitiva ou aldeia dos países civilizados deixa de possuir, todos aqui desconhececapitania do Funchal, foi onde se produziu o melhor vinho, enquanto a do mos por falta de meios ou antes por falta de os saber procurar (…). norte, quase exclusiva da capitania de Machico, produzia vinho de inferior Registo Geral da Camâra da Funchal, 1836, qualidade que raramente saía da Ilha, sendo usado para consumo correncitado por Alberto Vieira (coord.), História da Madeira te ou então utilizado no fabrico de aguardente. Alguns dados soltos permitem fazer uma ideia da geografia da produção. construção das estradas De acordo com os dados de 1787, o Arquipélago produziu 22 053 pipas,A sendo apenas 179 do Porto Santo. São Vicente era o principal produtor, com Na segunda metade do século XIX, a política de transportes e comu3898 pipas, logo seguido do Porto da Cruz, com 1245. No Sul, a maior e menicações desenvolve-se na Madeira, tal como no Continente. lhor produção foi sempre a das freguesias limítrofes do Funchal. Saía daqui Em 1837, perante a urgente necessidade de melhorar as estradas e o melhor vinho de exportação. Foi o produto que mais tempo activou as troconstruir novas vias de comunicação, formou-se uma comissão – a cas externas da Ilha. A partir de meados do século XVII, a produção entrou «Comissão das Estradas». em curva ascendente, iniciando-se a queda na década de vinte do século Segundo a carta régia de 19 de Agosto de 1824, cada habitante era XIX. O golpe mortal foi dado na segunda metade da centúria e teve origem obrigado a contribuir com cinco dias de trabalho ou mil réis por ano, nas diversas doenças que assolaram a vinha. para a reparação ou abertura de estradas. A esta comissão cabia o direito in Alberto Vieira (coord.), História da Madeira (adaptado) de arrecadar e aplicar os fundos obtidos para esse fim. Das actas das sessões, dos ofícios e das cartas recebidas e enviadas Proclamação dos liberais pela Comissão, sabemos que: se abriram novos caminhos; se repararam os que estavam degradados; construíram-se pontes; procedeu-se ao calMadeirenses! É já notório que uma facção sanguinária e ambiciosa, cetamento de novas estradas; fizeram-se muros de suporte, desaterros, rodeando um príncipe jovem, o senhor infante D. Miguel, o tem seduzilimpeza de caminhos, de ribeiras e de canos de esgoto. do e arrastado a ponto de usurpar a coroa do seu próprio irmão e rei lein Abel Fernandes (dir.), História da Madeira (adaptado) gítimo. Pelo direito da natureza e pelo direito público nacional a coroa lusitana pertence ao filho primogénito de nossos monarcas. O primogéOde «comboio» do Monte nito é o senhor D. Pedro IV; as nações o reconheceram legítimo rei Portugal; os portugueses lhe juraram fidelidade. O comboio aparece em 1893, fazendo a ligação do Funchal ao Monte Proclamação de Travassos Valdez de 22 de Junho de 1828, e depois do Funchal ao Terreiro da Luta. Este novo meio de transporte in Documentos para a História das Cortes Geraes da Nação Portugueza, Lisboa, 1888, foi importantíssimo para o progresso do Funchal, pois que, pela primeira citado por Alberto Vieira (coord.), História da Madeira vez, na Ilha, aparece a viação acelerada. «A cidade do Funchal, pelas excepcionais condições em que se enProclamação dos miguelistas contra, como estação de inverno e sanitária, visitada anualmente por considerável número de estrangeiros tem absoluta necessidade de proHabitantes da ilha da Madeira! Preciosa porção da nação Portuguesa! mover os progressos materiais que melhor contribuírem para o seu aforQuando a imoralidade de alguns indivíduos procurou insinuar-se entre vós moseamento, decência e confortabilidade. como virtude, presenciastes com mágoa o roubo e profanação dos temA maior distracção dos nossos hóspedes estrangeiros consiste nas explos: a rebelião de um chefe traidor contra o nosso legítimo soberano cursões às majestosas montanhas, e a visita predilecta dos turistas é à D. Miguel I (hoje como tal reconhecido pelos três estados do reino) pretenSenhora do Monte. dia separar-vos involuntariamente de vossos irmãos; ameaçou-nos o puA Empresa do Caminho de Ferro do Monte veio obviar a essas dificulnhal dos assassinos, e por comiseração muitos de vós fostes deportados. dades, oferecendo a nacionais e estrangeiros meio fácil, seguro, cómodo Proclamação de José Maria Monteiro, governador da Madeira, 22 de Agosto de 1828, e económico de transporte de pessoas e mercadorias para a deliciosa esin Documentos para a História das Cortes Geraes da Nação Portugueza, Lisboa, 1888, tância do Monte».

CRONOLOGIA

1841-1889 Cerca de 37 000 madeirenses emigram para o Continente americano. 1852 Praga de oídio ataca as vinhas madeirenses. 1858 Fica concluída a levada para regadio na Calheta. 1862 Existem 1029 bordadeiras no Funchal e Câmara de Lobos e 559 teares em toda a ilha. 1863 Existem 365 moinhos de água para moer cereais em toda a ilha. 1865 Lei que liberta todos os escravos que desembarquem na Madeira. 1870 Ligação de Portugal Continental à Madeira por cabo submarino. 1871 A Madeira exporta 527 883 kg de açúcar. 1872 A filoxera ataca as vinhas madeirenses. 1876 Fundação do Diário de Notícias do Funchal. 1888 É eleito um deputado republicano às Cortes.

citado por Alberto Vieira (coord.), História da Madeira

Diário de Notícias, 26 de Janeiro de 1904, citado por Abel Fernandes (dir.), História da Madeira (adaptado)

O Funchal em 1836 fig. 1 Rótulo de garrafa de vinho da Madeira divulgando as «capacidades medicinais» do vinho e a paisagem madeirense. Os bons ares da ilha, que ajudavam à cura de algumas doenças, como a tuberculose, atraíram milhares de visitantes no século XIX, quer portugueses, quer estrangeiros.

(…) Todavia, tudo falta nesta terceira cidade do Reino: não há molhe; não há um só cais onde saltem os estrangeiros a pé enxuto; não há iluminação na cidade; não há cemitério; não há teatro (…); não há caminhos transitáveis; estão completamente arruinadas as calçadas das ruas e nem dinheiro temos para tapar os buracos mais perigosos; não há depósitos de mendigos que andam em bando pelas ruas, comovendo compaixão, desgostos e repugnância; não há uma polícia municipal eficiente; enfim, todas as coisas, e todos os belos estabelecimentos, que nenhuma cidade,

106

fig. 2 Comboio, ou elevador, e carro de cestos no Monte, Funchal.

Quadro I A população do Funchal 1864

fig. 3 Pormenor da cidade do Funchal nos finais do século XIX.

1878

1890

1900

17 677 19 752 18 778 20 844

107

E não te esqueças do Caderno de Apoio e do Caderno de Actividades, auxiliares e companheiros que, além de te ajudarem na viagem que vais realizar, te propõem actividades com as quais te irás divertir. BOA VIAGEM! 3

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TEMA

N

D

I

E

Do Portugal do século XVIII à consolidação da sociedade liberal

1. IMPÉRIO E MONARQUIA ABSOLUTA NO SÉCULO XVIII

. . . . . . . . . .

3. 1820 E O LIBERALISMO 8

1.1 O Império Português no século XVIII . 10 Exploração económica . . . . . . . . . 10 O território e os recursos naturais

. . . . . 10

O Brasil, principal fonte de riqueza do Reino Sou capaz de…

C

. 10

. . . . . . . . . . . . . . . 11

Os movimentos da população

. . . . . 12

. . . . . . 32

3.1 As invasões napoleónicas . . . . . . 34 A Revolução Francesa . . . . . . . . . . . 34 O Bloqueio Continental . . . . . . . . . . 34

A saída da corte para o Brasil Sou capaz de…

. . . . . 35

. . . . . . . . . . . . . . . 35

O tráfico de escravos . . . . . . . . . . . 12

A resistência aos invasores e a intervenção inglesa . . . . . . . . 36

. . . . . . . . . . . . . . . 13

A primeira invasão francesa . . . . . . . . 36

Sou capaz de…

A segunda invasão francesa . . . . . . . . 37

1.2 A Monarquia Absoluta no tempo de D. João V . . . . . . . . . . . . . 14 A vida na corte Sou capaz de…

. . . . . . . . . . . . . 14

A terceira invasão francesa Sou capaz de…

. . . . . . . . 37

. . . . . . . . . . . . . . . 37

. . . . . . . . . . . . . . . 15 . . 16

3.2 A Revolução Liberal de 1820 . . . . . 38

A nobreza . . . . . . . . . . . . . . . . 16

O descontentamento dos Portugueses . 38

O clero . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

Sou capaz de…

O povo . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

O movimento revolucionário

A sociedade no tempo de D. João V

Sou capaz de…

. . . . . . . . . . . . . . . 17

A cultura e a arte . . . . . . . . . . . . . 18 Sou capaz de…

Esquema-síntese

. . . . . . . . . . . . . . . 19 . . . . . . . . . . . . . . . . 20

. . . . . . . . . . . . . . . 39 . . . . . 40

Os antecedentes da revolução . . . . . . . 40

A revolução de 1820 . . . . . . . . . . 40 Sou capaz de…

. . . . . . . . . . . . . . . 41

Agora Já Sei… . . . . . . . . . . . . . . . . 21

3.3 As Cortes Constituintes . . . . . . . 42 A Constituição de 1822 . . . . . . . . . . 42

2. LISBOA POMBALINA

. . . . . . . . . 22

A situação do Reino . . . . . . . . . . 24 O terramoto de 1755 . . . . . . . . . 24 Sou capaz de…

. . . . . . . . . . . . . . . 25

A reconstrução de Lisboa Sou capaz de…

Esquema-síntese

. . . . . . . . . . . . . . . 27 . . . . . . . . . . . . . . . 29 . . . . . . . . . . . . . . . . 30

Agora Já Sei… . . . . . . . . . . . . . . . . 31

4

. . . . . . . . . . . . . . . 43

3.4 A Independência do Brasil . . . . . . 44 Sou capaz de…

. . . . . . . . . . . . . . . 45

. . . . . . . 26

A acção do Marquês de Pombal . . . . . 28 Sou capaz de…

Sou capaz de…

3.5 As lutas entre liberais e absolutistas . 46 Sou capaz de…

Esquema-síntese

. . . . . . . . . . . . . . . 47 . . . . . . . . . . . . . . . . 48

Agora Já Sei… . . . . . . . . . . . . . . . . 49

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4. PORTUGAL NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX

. . . . . . . . . . . 50

4.1 O espaço português . . . . . . . . . 52 A situação do Reino

. . . . . . . . . . 52

Os recursos naturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . e as inovações tecnológicas . . . . . . 53 A agricultura Sou capaz de…

. . . . . . . . . . . . . . 53 . . . . . . . . . . . . . . . 53

Os novos proprietários As novas técnicas

. . . . . . . . . . 54

. . . . . . . . . . . . 54

I

C

E

4.2 A vida quotidiana . . . . . . . . . . 70 A vida nos campos

. . . . . . . . . .

70

As actividades

. . . . . . . . . . . . .

70

A alimentação

. . . . . . . . . . . . .

70

O vestuário . . . . . . . . . . . . . . .

71

A habitação

. . . . . . . . . . . . . .

71

. . . . . . . . . . . . . . .

71

Os divertimentos . . . . . . . . . . . .

72

. . . . . . . . . . . . . . .

73

Sou capaz de…

Sou capaz de…

A vida nas grandes cidades

. . . . . .

74

As culturas

. . . . . . . . . . . . . . . 55

A população e as actividades

. . . . . . .

74

Sou capaz de…

. . . . . . . . . . . . . . . 55

Os vendedores ambulantes . . . . . . . .

75

A indústria

. . . . . . . . . . . . . . . 56

A alimentação

. . . . . . . . . . . . .

75

. . . . . . . . . . . . . . .

75

Os divertimentos . . . . . . . . . . . .

76

O vestuário e a moda

. . . . . . . . . .

77

. . . . . . . . . . . . . . .

77

A mudança e a modernização . . . . . . .

78

A habitação e as condições de vida

79

A máquina a vapor . . . . . . . . . . . . 56 As regiões mais industrializadas Sou capaz de…

. . . . . . 57

. . . . . . . . . . . . . . . 57

O nascimento do operariado . . . . . . . . 58 A extracção mineira

. . . . . . . . . . . 59

A alteração da paisagem Sou capaz de…

. . . . . . . . . 59

. . . . . . . . . . . . . . . 59

Transportes e comunicações . . . . . . 60

Sou capaz de…

Sou capaz de…

. . . .

O comboio

. . . . . . . . . . . . . . . 60

A sociedade portuguesa na segunda metade do século XIX . . . 79

Sou capaz de…

. . . . . . . . . . . . . . . 61

Sou capaz de…

As estradas e as vias marítimas

. . . . . . 62

Os outros meios de comunicação . . . . . . 63

. . . . . . . . . . . . . . .

A demografia . . . . . . . . . . . . . 80 A contagem da população

. . . . . . . .

80

. . . . . . .

80

. . . . . . . . . . . . . . .

81

O êxodo rural . . . . . . . . . . . . . .

82

A emigração

. . . . . . . . . . . . . .

82

. . . . . . . . . . . . . . .

83

Esquema-Síntese

. . . . . . . . . . . . . . .

84

Agora Já Sei…

. . . . . . . . . . . . . . .

85

. . . . . . . . . . . . . . . .

86

Sou capaz de…

. . . . . . . . . . . . . . . 63

O crescimento populacional

A cultura

. . . . . . . . . . . . . . . 64

Sou capaz de…

Sou capaz de…

. . . . . . . . . . . . . . . 65

A arte

. . . . . . . . . . . . . . . . 66

A arquitectura . . . . . . . . . . . . . . 66 A pintura e a escultura

. . . . . . . . . . 66

A cerâmica

. . . . . . . . . . . . . . . 67

Sou capaz de…

. . . . . . . . . . . . . . . 67

O ensino . . . . . . . . . . . . . . . . 68 A defesa dos direitos humanos . . . . . 69 Sou capaz de…

. . . . . . . . . . . . . . . 69

79

Sou capaz de…

Projecto

A Minha Região nos Séculos XVIII e XIX

. . .

88

Cronologia e Reis de Portugal . . . . . . . . 110

5

TEMA

C

Do Portugal do século XVIII à consolidação da sociedade liberal

1 2 3 4

Império e Monarquia Absoluta no século XVIII

Lisboa Pombalina

1820 e o Liberalismo

Portugal na segunda metade do século XIX

1

Império e Monarquia Absoluta no século XVIII

1.1 1.2

O Império Português no século XVIII A Monarquia Absoluta no tempo de D. João V

Coche de gala de D. João V, Museu Nacional dos Coches (foto António Ventura / DDF-IPM).

Séc. XVII

Séc. XVIII

Séc. XIX 1800

1700

1697 • Descoberta de ouro no Brasil.

1706 • Início do reinado de D. João V.

1731 1717 • Início da construção do • Início da construção do Palácio e Convento Aqueduto das de Mafra e daÁguas Livres. Biblioteca 1747 da Universidade • Início da construção de Coimbra. do Palácio de Queluz.

1749 • Início da construção da Igreja da Misericórdia, no Porto.

1750 • Início do reinado de D. José I.

1. Império e Monarquia Absoluta no século XVIII

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Tema C 1. Império e Monarquia Absoluta no século XVIII

1.1 O Império Português no século XVIII Exploração económica O território e os recursos naturais Como já estudaste, durante a União Ibérica os países inimigos da Espanha (como a Holanda, a Grã-Bretanha e a França) ocuparam parte do Império Português. Após a restauração da independência, Portugal, apesar de ter recuperado alguns dos territórios que antes possuía, acabou por perder, definitivamente, outros, sobretudo no Oriente. Embora o comércio com esta região se continuasse a fazer, foi diminuindo bastante nos séculos XVII e XVIII, devido à concorrência estrangeira. Os principais domínios e interesses comerciais portugueses concentravam-se agora em volta do oceano Atlântico. Navios portugueses cruzavam este oceano, navegando entre os três continentes – Europa, África e América – e tendo os arquipélagos como pontos de apoio à navegação (fig. 1). Territórios do Império Português no séc. XVIII

N

Rotas Comerciais AÇORES

Café

OCEANO ATLÂNTICO

Marfim Açúcar

CABO VERDE

Malagueta

Lisboa

MADEIRA

Tabaco

Macau Diu Damão Goa

GUINÉ

OCEANO PACÍFICO Equador

S. TOMÉ E PRÍNCIPE

Algodão Ouro

ANGOLA

Cacau

BRASIL

MOÇAMBIQUE

OCEANO ÍNDICO

Timor

Escravos Diamantes Especiarias

0

5000 km

Porcelanas

fig. 1 O Império Português no século XVIII e os produtos comercializados (adaptado de A. H. de Oliveira Marques e J. J. Alves Dias, Atlas Histórico de Portugal e do Ultramar Português).

• Indica: a) as regiões que faziam parte do império colonial português no século XVIII: – em África; – na América; – no Oriente; b) três produtos brasileiros e três produtos africanos que eram enviados para o Reino.

O Brasil, principal fonte de riqueza do Reino

fig. 2 Produção de açúcar.

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No século XVII, o açúcar brasileiro ocupou o lugar dos produtos orientais na economia portuguesa. S. Salvador da Baía, então capital do Brasil, tornou-se uma das mais importantes cidades do Reino. Foram os lucros do comércio do açúcar que permitiram a D. João IV não só fazer face às despesas da Guerra da Restauração, como comprar ao estrangeiro os produtos de primeira necessidade, como os cereais, que escasseavam em Portugal. No entanto, foi no século XVIII que os engenhos produziram maior quantidade de açúcar (fig. 2).

fig. 3 Engenho de açúcar brasileiro. A cana-de-açúcar era esmagada e dela extraído o caldo que depois era cozido em grandes caldeirões de cobre. Era depois passado para formas onde cristalizava. A propriedade do senhor do engenho compreendia os campos de plantação (canaviais), o local onde se fazia o fabrico do açúcar, a casa grande, onde morava o senhor e a sua família, e a sanzala, onde viviam os escravos.

Nos finais do século XVII e durante o século XVIII, ocorreu ainda no Brasil um facto de grande importância económica: a descoberta e exploração de minas de ouro e diamantes. Foram descobertas pelos bandeirantes, grupos de colonos que organizavam expedições para o interior do território brasileiro com o objectivo de conhecer os seus recursos naturais e aprisionar indígenas para trabalharem nos engenhos (fig. 5). A coroa portuguesa beneficiou largamente dessa descoberta, cobrando aos particulares que exploravam o ouro e os diamantes o «quinto», ou seja, a quinta parte do metal extraído.

fig. 5 Os bandeirantes fundaram cidades e povoações e contribuíram para alargar a fronteira do Brasil muito para além do que ficara estabelecido no Tratado de Tordesi-

fig. 4 Cofre de transporte. O ouro era fundido em barras e nelas gravados o seu peso, o ano da sua fundição e as armas reais. As barras seguiam depois para Lisboa em cofres de ferro com fechaduras bem fortes e escondidas, de modo a ser quase impossível abri-los.

• Com base na figura 5, indica as zonas onde foram descobertos metais preciosos. • Com base na figura 6, indica os períodos em que chegou mais e menos ouro a Portugal.

fig. 6 Remessas de ouro brasileiro chegado a Portugal.

Sou capaz de... 1. Escrever um texto sobre a vida num engenho do Brasil, durante o século XVIII. 2. Dar a minha opinião sobre o papel desempenhado pelos bandeirantes. 11

Tema C 1. Império e Monarquia Absoluta no século XVIII

Os movimentos da população Nos séculos XVII e XVIII, primeiro com a produção e comercialização do açúcar e depois com a descoberta do ouro no Brasil, ocorreram grandes movimentações da população: • do Reino, partiram milhares de emigrantes para o Brasil, levados pelo desejo de enriquecer ou, pelo menos, de conseguir uma vida melhor. Esta emigração aumentou tanto que, no século XVIII, foram publicadas leis que proibiam a saída de colonos do Reino para o Brasil; fig. 1 Padre António Vieira (1608-1697). Missionário jesuíta que defendeu a libertação dos índios, pregando contra o comportamento dos colonos. A sua obra literária (sermões, cartas, etc.) faz dele um dos maiores escritores da língua portuguesa.

• Indica as principais zonas de origem dos escravos e o território a que se destinavam.

• no Brasil, as populações avançaram do litoral para o interior: os missionários partiam ao encontro dos índios para os evangelizar e proteger; os bandeirantes procuravam, no interior, ouro e pedras preciosas; • da costa africana, partiram milhares de escravos. Alguns destinavam-se ao Reino, mas a maior parte foi para o Brasil para trabalhar, primeiro nos engenhos de açúcar e depois na exploração do ouro (fig. 2). A população brasileira formou-se, assim, do resultado da união de europeus, índios e negros. Ainda hoje são evidentes as influências destes três povos na linguagem, na música, na dança e na culinária do Brasil.

O tráfico de escravos fig. 2 Locais de origem e destino da maioria dos escravos africanos (adaptado de A. H. de Oliveira Marques e J. J. Alves Dias, Atlas Histórico de Portugal e do Ultramar Português).

Os índios brasileiros, de fraca constituição física e habituados a viverem da caça e da recolecção, não se adaptaram aos trabalhos duros das plantações de açúcar. Foi então necessário recorrer à mãode-obra escrava africana, o que provocou o transporte de milhares de escravos em direcção ao Brasil (fig. 2).

fig. 3 Um escravo fugitivo.

fig. 4 Escravos africanos a caminho do cativeiro. Os escravos podiam ser prisioneiros de guerra, capturados pelos traficantes ou comprados a chefes locais.

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Nos navios que os transportavam – os navios negreiros – as condições eram desumanas. Lê o documento seguinte. 5

O transporte de escravos

Os homens eram empilhados no fundo do porão do navio, acorrentados, com receio de que se revoltassem e matassem todos os brancos que iam a bordo. Às mulheres reservavam a segunda entrecoberta. As crianças eram amontoadas na primeira entrecoberta. Se quisessem dormir caíam uns sobre os outros. Havia sentinas, mas como muitos tinham medo de perder o lugar, faziam aí mesmo as suas necessidades, princi- Plano das duas entrecobertas de um navio negreiro. palmente os homens, de modo que o calor e o cheiro eram insuportáveis. Pior do que tudo era o sofrimento dos cativos, de tal forma que muitos não resistiam, morrendo asfixiados, exaustos ou doentes. Frédéric Mauro, Portugal, o Brasil e o Atlântico

• Transcreve três expressões que comprovem as más condições em que os escravos viajavam. • Dá outro título ao documento.

Ao chegarem ao Brasil, os escravos eram separados e vendidos. Forçados às mais duras tarefas e aos constantes maus tratos, tentavam muitas vezes fugir para o interior e esconderem-se para começar uma nova vida em liberdade. Por isso, os colonos ricos tinham vigilantes encarregues de capturar os fugitivos (fig. 3). A libertação dos escravos era difícil. Podia, no entanto, ser feita através de uma carta de alforria dada pelo dono como recompensa de qualquer serviço excepcional.

QUADRO I Preço de venda dos escravos capturados em Angola Custo Custo N.o de médio dos médio das crianças adultos crianças

Períodos

N.o de adultos

1760-1764

10 364

151

51 réis

2 réis

1765-1769

14 506

137

48 réis

3 réis

1770-1774

1 8371

108

48 réis

2 réis

1775-1778

1 6864

111

51 réis

1 real

1779-1787

1 6005

173

58 réis

1 real

Fonte: António Carreira, As Companhias Pombalinas (adaptado)

Sou capaz de... 1. Comparar a evolução do número de escravos, no quadro 1, com a evolução da produção de açúcar, no gráfico da página 10, e retirar uma conclusão.

2. Explicar por que motivo foram os escravos africanos muito importantes para a economia brasileira.

3. Propor ao meu / à minha professor(a) um debate sobre a escravatura nos séculos XVII e XVIII. A turma seria dividida em dois grupos: um tomaria a defesa dos senhores dos engenhos e o outro a defesa dos escravos. Cada grupo teria de argumentar de forma a justificar a sua posição.

4. Realizar a Ficha n.° 1 do meu Caderno de Actividades. 13

Tema C 1. Império e Monarquia Absoluta no século XVIII

Foto DDF-IPM

1.2 A Monarquia Absoluta no tempo de D. João V O comércio do açúcar, do ouro e dos diamantes trouxe, como sabes, grandes rendimentos à Coroa portuguesa. Graças a esta riqueza, D. João V tornou-se um monarca muito poderoso. Passou a governar o Reino sem convocar Cortes (quadro I), concentrando em si todos os poderes, e nomeando apenas alguns secretários para porem em prática as suas decisões. O rei detinha o poder QUADRO I legislativo (fazer as leis), o poder exeReuniões de Cortes cutivo (mandar executá-las) e ainda 7 o poder judicial (poder de julgar D. João IV 3 quem não cumpria as leis). Governou D. Afonso VI fig. 1 D. João V (pintura de Leoni, como rei absoluto, à semelhança do D. Pedro II 2 Museu Nacional dos Coches, Lisboa). Este rei governou durante 44 anos, que acontecia noutros reinos euroD. João V 0 peus. de 1706 a 1750.

A vida na corte As riquezas chegadas ao Reino permitiram a D. João V, tal como anteriormente tinha acontecido com D. Manuel I, tornar a sua corte numa das mais ricas da Europa. Observa a figura 2 e lê o documento 3. 3

Os luxos do rei

Foto Henrique Ruas / DDF-IPM

D. João V usa grande cabeleira negra, empoada, e veste habitualmente com grande magnificência. Tive ensejo de o ver na capela real. Nessa ocasião cobria-lhe as vestes um longo manto de seda preta semeada de estrelas bordadas a ouro (...) Ama excessivamente a magnificência e a ostentação. Presentemente está a construir, numa alta e árida montanha chamada Mafra, um palácio, uma igreja e um convento que custarão quantias fabulosas (...). Todos os anos chegam de Paris e doutras cidades os fatos mais ricos que ali se fazem (...). De trajes tem uma tão grande quantidade que não poderia usá-los todos, embora não vista cada um deles mais de três vezes. Em Londres vi uma peça de sua encomenda que bem revela o seu gosto pela magnificência. Era uma banheira de prata maciça dourada por dentro. César Sausurre, Lettres de Lisbonne (adaptado)

fig. 2 Pormenor do Coche dos Oceanos, que fez parte da imponente embaixada enviada por D. João V ao Papa em 1716 (Museu Nacional dos Coches, Lisboa). As embaixadas enviadas a outros países eram sempre muito grandes e luxuosas, para demonstrar a riqueza do Reino.

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• Com base na cronologia da página 8, refere o século em que este documento terá sido escrito. • Indica os luxos do rei referidos no documento: a) no vestuário; b) no mobiliário; c) na construção.

CRONOLOGIA

1699 Primeiras remessas de ouro de Minas Gerais. 1727 Introdução da cultura de café no Brasil. 1729 Descoberta de diamantes no Brasil. 1734 Descoberta de jazidas de ouro em Mato Grosso.

Foto Luís Pavão / DDF-IPM

Como podes concluir da leitura do documento 3, a corte de D. João V era luxuosa. O paço real foi mobilado com grande requinte e decorado com painéis de azulejo, tapeçarias e tapetes (fig. 4). O mobiliário era rico e variado. Dos tectos pendiam grandes lustres (candeeiros com velas). Davam-se banquetes com variadíssimas iguarias, que podiam ir de sete a oito pratos, nos banquetes mais simples, a sessenta, nos mais importantes. As novidades da época eram o café e o chocolate, bem como o rapé (tabaco moído), que se inalava suavemente no final da refeição. Dançava-se o minuete ou a pavana ao som do violino ou do cravo e jogava-se às cartas, às damas e aos dados. Para além de banquetes e de bailes, assistia-se também na corte a sessões de poesia, de música e a representações teatrais, muitas vezes feitas por artistas estrangeiros que D. João V contratava. Os espectáculos públicos, como as touradas, no Terreiro do Paço, e a ida à ópera, eram também muito do agrado do rei, que aí se deslocava num coche revestido a ouro e acompanhado por uma comitiva de nobres ricamente vestidos.

fig. 4 Tapete de Arraiolos, do século XVIII, proveniente do Convento de Santa Clara, em Vila do Conde (Museu Nacional de Arte Antiga).

fig. 5 Painel de azulejos representando uma festa. O jardim da casa é o local utilizado por damas e cavalheiros para tomarem uma chávena de chocolate. fig. 6 Chocolateira de prata.

Sou capaz de... 1. Identificar o tipo de governo de D. João V. 2. Relacionar este tipo de governo com a informação do quadro I. 3. Escrever uma frase utilizando três adjectivos que caracterizem a corte de D. João V. 4. Seleccionar da cronologia dois acontecimentos que possibilitaram o luxo da corte deste rei. 5. Dar a minha opinião sobre o tipo de governo de D. João V e a forma como foram gastas as riquezas do Brasil. Realizar a Ficha n.o 1 do meu Caderno de Apoio (Estudo Acompanhado).

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Tema C 1. Império e Monarquia Absoluta no século XVIII

A sociedade no tempo de D. João V A sociedade portuguesa, no início do século XVIII, continuava dividida nos três principais grupos que já conheces: nobreza, clero e povo.

A nobreza

fig. 1 Solar de Mateus, em Vila Real. Os nobres, à semelhança do rei, mandavam construir palácios – solares – de muitas divisões e ricamente mobilados e decorados.

A nobreza, influenciada pelo modo de viver da corte, tentou imitá-la na habitação (fig. 1), nas festas e nos grandes banquetes onde se exibiam riquíssimos serviços de prata ou de louça da melhor qualidade. No que respeitava ao vestuário, começou a usar trajes muito complicados (fig. 2). Damas e cavalheiros usavam cabeleiras postiças, os dentes da frente envernizados, para brilharem, e a cara empoada de branco e enfeitada com sinais postiços de cetim preto.

3

Um elegante do século XVIII Tenho o prazer de lhes apresentar o elegante português de 1720. (...) Está sentado ao toucador, pintando-se, polvilhando-se, fazendo caretas diante de um espelhinho e cantando os versos que ouvira na última comédia do teatro do Bairro Alto. (...) Calça sapatos de salto com grandes fivelas de prata. Já tomou o seu bochecho de água de rosas; tocou os dentes com verniz; arrepiou os cabelos mais eriçados que se visse um lobo, para encaixar a cabeleira postiça (...). Ata a sua gravatinha; ajusta sobre a camisa a véstia de cetim e veste a sua casaquinha verde. Tira do cabide o seu chapéu de três cantos; pega no «quito» (espada muito pequenina que mais parece uma jóia) e no lenço muito branco e fino que perfumou com umas gotas de vinho de Madeira. Está pronto. É gritar pelo negrinho da casa que lhe abra a porta e abalar escada abaixo, em pé de dança. Júlio Dantas, O Amor em Portugal no Século XVIII, 1917 (adaptado)

fig. 2 Caricatura ridicularizando os penteados da época (Biblioteca Nacional de Paris). Os toucados eram tão complicados, com tranças, rolos, carrapitos, postiços e poupas, que muitas damas, para não estragarem o engenhoso penteado, passavam a noite sentadas numa cadeira, acompanhadas de duas criadas prontas a ampará-las se adormecessem ou cabeceassem.

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• Identifica: a) três características do vestuário masculino e três do feminino diferentes da actualidade; b) o costume que mais te impressionou e justifica. • Dá outro título ao documento.

O clero O clero, para além do serviço religioso e de continuar a ser o principal responsável pelo ensino, tinha também a seu cargo o Tribunal da Inquisição. Este tribunal, surgido no reinado de D. João III (século XVI) para defender a fé católica, era apoiado por D. João V. Continuava a perseguir os cristãos-novos (judeus que se tinham convertido ao catolicismo) acusando-os de manterem práticas judaicas. Perseguia também os suspeitos de bruxaria, os que cometiam actos considerados imorais e todos aqueles que, pelas suas ideias inovadoras, pudessem constituir um perigo para a Igreja e para o poder absoluto do rei.

fig. 4 Auto-de-fé em Lisboa. Os condenados pelo Tribunal da Inquisição eram torturados e podiam ser queimados na praça pública, em cerimónias que se chamavam autos-de-fé e que atraíam muitos espectadores. Alguns destes condenados eram pessoas ricas e os seus bens revertiam para a Coroa e para a Igreja.

O povo O povo era um grupo social que abrangia desde a alta burguesia – que continuava a enriquecer com o comércio e tentava imitar o modo de viver da nobreza –, até aos de mais baixa condição – pequenos comerciantes, artífices e camponeses. Estes continuavam a viver com grandes dificuldades, devido aos b a i x o s salários e aos muitos impostos que tinham de pagar. Nas cidades, as pessoas mais pobres do povo ocupavam-se como trabalhadores domésticos ou em outras actividades como, por exemplo, vendedores fig. 5 Festa popular em barcos, século XVIII. ambulantes, aguadeiros ou carregadores. Apesar de já se cultivar o milho grosso, trazido da América, o povo continuava a alimentar-se sobretudo de pão, peixe e legumes. Entre as principais diversões preferidas do povo contavam-se os espectáculos de fantoches e saltimbancos, as touradas, as procissões e as romarias.

Sou capaz de... 1. Seleccionar das palavras e expressões seguintes as que dizem respeito à Inquisição: • Tribunal da nobreza • Apoiada por D. João V

• Autos-de-fé • Protegia o povo

• Tribunal da Igreja • Cristãos-novos

2. Comparar a vida da nobreza com a do povo em relação ao vestuário e à alimentação. Construir o meu glossário Registar, no meu Caderno de Actividades, o significado de monarquia absoluta, inquisição e cristão-novo Realizar a Ficha n.o 2 do meu Caderno de Apoio (Estudo Acompanhado).

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Tema C 1. Império e Monarquia Absoluta no século XVIII

A cultura e a arte O reinado de D. João V ficou marcado pela construção de obras monumentais, só possíveis graças à riqueza vinda do Brasil. Este rei deu importância à cultura, fundando, por exemplo, a Academia Real de História, em Lisboa, e a Biblioteca da Universidade de Coimbra (fig. 5). Também o teatro e a ópera foram actividades protegidas e desenvolvidas por este rei e pelo seu sucessor, D. José I, que, para elas, mandaram construir edifícios próprios. D. João V mandou construir monumentos grandiosos, como o Palácio e Convento de Mafra (fig. 4) e o Aqueduto das Águas Livres (fig. 3). O estilo da época era o Barroco, caracterizado pela abundância da decoração e pelo uso de linhas curvas. No interior das igrejas e dos palácios era frequente o revestimento a talha dourada – madeira coberta com uma folha de ouro (fig. 2) –, azulejo e mármore. O grande gosto pela decoração levou ao desenvolvimento da ourivesafig. 1 Igreja e Torre dos Clérigos ria, da cerâmica, da pintura, da azulejaria e também do mobiliário (Porto), da autoria de Nicolau Nasoni. (fig. 6).

fig. 2 Talha dourada no interior da Igreja de S. Francisco (Porto).

fig. 3 O Aqueduto das Águas Livres veio resolver o problema de abastecimento de água a Lisboa. As obras iniciaram-se em 1731 e a água começou a correr em Outubro de 1744.

fig. 4 Palácio e Convento de Mafra. Este conjunto, constituído por 1300 divisões, incluía o palácio real, um convento para trezentos religiosos, uma igreja e uma vasta biblioteca. A sua construção demorou 13 anos e nela trabalharam cerca de 45 000 homens. Muitos materiais vieram do estrangeiro.

18

fig. 5 Tecto da Biblioteca da Universidade de Coimbra (pormenor).

fig. 6 Casa de jantar do século XVIII.

CRONOLOGIA

fig. 7 Como foi gasto o ouro Brasileiro.

1717 Início da construção do Palácio e Convento de Mafra e da Biblioteca da Universidade de Coimbra. 1731 Início da construção do Aqueduto das Águas Livres. 1732 Início da construção da Igreja dos Clérigos, junto à qual se ergueria, mais tarde, a Torre. 1747 Início da construção do Palácio de Queluz. 1749 Início da construção da Igreja da Misericórdia, no Porto.

Sou capaz de... 1. Transcrever da cronologia o nome de três monumentos onde as riquezas do Brasil terão sido utilizadas.

2. Referir uma característica do estilo Barroco visível, respectivamente, em cada uma das figuras 2, 4 e 5.

3. Construir uma frase caracterizando o estilo Barroco. 4. Realizar a Ficha n.° 2 do meu Caderno de Actividades. 5. Procurar informar-me se existe algum monumento de estilo barroco na minha localidade. Em caso afirmativo, fazer um pequeno trabalho, indicando: o nome do monumento; a data em que foi construído; a sua localização; quem o mandou construir; qual o fim a que se destinava. Posso ilustrar o meu trabalho com fotografias que tenha tirado. Caso não exista nenhum destes monumentos na minha localidade, posso seleccionar um outro, dessa época, e recolher informações sobre ele na biblioteca da minha escola. 19

Esquema-Síntese IMPÉRIO E MONARQUIA ABSOLUTA NO SÉCULO XVIII

Franceses, Ingleses e Holandeses acabaram com o monopólio do comércio português no Oriente

Os Portugueses interessaram-se pela exploração económica do Brasil

Movimentos da população

Do Reino

Da costa africana

No Brasil

• Para o Brasil partiram mi-

• Partiram milhares de escravos:

• Do litoral para o interior par-

lhares de emigrantes à procura de uma vida melhor.

– para Portugal; – para o Brasil.

tiram: – missionários; – bandeirantes.

Portugal enriqueceu com o comércio dos produtos brasileiros Cana-de-açúcar

Fortalecimento do poder real D. João V – rei absoluto

Ouro

Diamantes

Construção de monumentos

Gastos excessivos

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• Império e Monarquia Absoluta no século XVIII

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Luxo da corte

Agora Já Sei... 1. Depois de observar o mapa:

N

AÇORES

Lisboa

MADEIRA

Equador

0

5000 km

Territórios do Império Português no séc. XVIII Açúcar

Malagueta

Tabaco

Diamantes

Especiarias

Porcelanas

Rotas Comerciais Algodão

Ouro

Café

Marfim

Cacau

Escravos

1.1 Identificar os territórios que Portugal mantinha: a) na Ásia; b) em África; c) na América 1.2 Escrever o nome do território de maior extensão. 1.3 Referir o nome do oceano que banha o território referido na pergunta anterior. 2. Copiar o quadro seguinte para o meu caderno diário e, depois, completá-lo. O IMPÉRIO PORTUGUÊS NO SÉCULO XVIII Território que se tornou a principal fonte de riqueza do Reino

Produtos chegados ao Reino

Movimentos da Duas alterações população provocados provocadas no modo pela descoberta de vida da… de ouro no Brasil

• de África:

• do litoral brasileiro:

• corte:

• do Brasil:

• de Portugal:

• nobreza:

• de África:

• alta burguesia:

3. Sobre o reinado de D. João V: 3.1 identificar três monumentos construídos no seu reinado; 3.2 referir o estilo artístico desta época e indicar duas características desse estilo; 3.3 explicar o significado da seguinte frase: «D. João V foi um rei absoluto.»

21

2

Lisboa Pombalina

Marquês de Pombal (Museu da Cidade, Lisboa).

Plano de casa pombalina (Arquivo Histórico Municipal de Lisboa).

Séc. XVIII

Séc. XVII

Séc. XIX

1700

1800 1750 • Início do reinado de D. José I. • Nomeação de Sebastião José de Carvalho e Melo como Ministro do Reino.

1755 • Terramoto em Lisboa. 1759 • O Marquês de Pombal expulsa os Jesuítas. • Processo dos Távoras.

1761 • Abolição da escravatura no Reino. • Fundação do Real Colégio dos Nobres.

1777 • Morte de D. José I. • D. Maria I demite e desterra o Marquês de Pombal.

2. Lisboa Pombalina

Real Senhor, tratarei da reconstrução de Lisboa. Ficará, Senhor, mais bela e organizada do que antes!

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Tema C 2. Lisboa Pombalina

A situação do Reino D. José I, que sucedeu a D. João V, foi aclamado rei em 1750. Nesta altura, o País enfrentava vários problemas económicos: • começava a chegar menos ouro do Brasil; • a indústria estava pouco desenvolvida e os produtos eram mais caros e de pior qualidade do que os produtos estrangeiros; • a agricultura não produzia o suficiente para alimentar a população; • as exportações de açúcar, tabaco e vinho começavam a diminuir e as importações a aumentar, principalmente de produtos manufacturados de luxo, como sedas, chapéus, louças, relógios e tapeçarias; • o comércio colonial português era, em grande parte, controlado por mercadores estrangeiros, especialmente ingleses. Para o ajudar na resolução dos problemas do País, D. José I escolheu para ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, a quem, gradualmente, foi confiando o governo do Reino. Veio a atribuir-lhe, em 1759, o título de Conde de Oeiras e, dez anos depois, o de Marquês de Pombal (fig. 1).

O terramoto de 1755

fig. 1 Marquês de Pombal, 1699-1782 (Museu da Cidade, Lisboa). Extinguiu a escravatura no Reino e decretou a liberdade dos índios do Brasil.

As dificuldades económicas que o Reino atravessava foram agravadas por uma das mais trágicas calamidades que atingiram o País. No dia 1 de Novembro de 1755, parte do território português foi abalado por um grande terramoto, seguido de um maremoto, que se fizeram sentir mais intensamente na cidade de Lisboa, e também em Setúbal e no Algarve (fig 2).

fig. 2 A destruição provocada pelo terramoto, no Sul de Portugal e na cidade de Lisboa (adaptado de A. H. de Oliveira Marques e J. J. Alves Dias, Atlas Histórico de Portugal e do Ultramar Português).

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Como era o Dia de Todos os Santos, as pessoas preparavam-se para ir à missa ou passear pelos arredores. Nada permitia adivinhar o que se aproximava quando, pouco depois das 9 horas e 30 minutos... 3

O terramoto

(...) Ao olhar para a cidade, vi que os prédios mais altos rachavam e desmoronavam-se com grande ruído, arrasados com três abalos seguidos, intermitentes e violentos. Quase todos os palácios e igrejas grandes foram então rachados ou abateram em parte e poucas casas ficaram em estado de continuarem a ser habitadas. Todas as pessoas que não foram esmagadas mortalmente pela queda dos edifícios correram para os largos e para as maiores praças e aquelas que estavam mais perto do rio procuravam salvar-se em botes ou qualquer coisa em que fosse possível flutuar. (...) Enquanto a multidão se juntava à beira do rio, a água elevou-se a uma tal altura que invadiu e inundou a parte mais baixa da cidade, aterrorizando tanto os já horrorizados habitantes que mesmo aqui de bordo podíamos ouvir os seus gritos terríveis e via-se a multidão correndo de um lado para o outro completamente desorientada, convencida de que tinha chegado o fim do mundo (...) e gritando: « O que será de nós! Nem a água nem a terra nos protegem, e o fogo parece agora ameaçar a nossa total destruição!» como, com efeito, aconteceu. Excerto do relato de um inglês de passagem por Portugal, Lisboa, 19 de Novembro de 1755

• Refere o que provocou a destruição da cidade de Lisboa. • Explica por que razão as pessoas correram para os largos e praças. • Dá outro título ao documento.

Morreram cerca de 10 000 pessoas e muitos edifícios ficaram em ruínas, entre os quais, o Paço da Ribeira e a Casa da Índia. Perderam-se muitos tesouros, como livros e manuscritos, quadros e objectos em ouro e prata. Após o terramoto, o rei e a família real viveram durante alguns anos numa grande construção de madeira – a «Real Barraca» – com receio que o tremor de terra se repetisse e a queda do edifício os es-

Sou capaz de... 1. Dizer qual das formas verbais – diminuíram ou aumentaram – devo aplicar às seguintes situações na altura em que D. José I foi aclamado rei: a) remessas de ouro do Brasil; b) exportações;

c) importações.

2. Referir três adjectivos que caracterizem o que aconteceu no dia 1 de Novembro de 1755. Situar no tempo Realizar a actividade n.º 1 do meu Friso Cronológico. 25

Tema C 2. Lisboa Pombalina

A reconstrução de Lisboa Perante a catástrofe, o futuro Marquês de Pombal tomou várias medidas. Mandou: • enterrar os mortos e socorrer os feridos; • policiar as ruas e os edifícios mais importantes para evitar os roubos; • elaborar um plano de reconstrução, da zona de Lisboa que ficou destruída, a cargo do arquitecto Eugénio dos Santos e do engenheiro Manuel da Maia. A reconstrução da cidade, após o terramoto, ficou como uma das grandes obras do Marquês de Pombal. Nesta nova Lisboa: • as ruas passaram a ser largas, com um traçado geométrico e com passeios calcetados; • as casas foram construídas todas da mesma altura (4 ou 5 pisos), com fachadas iguais e com uma estrutura que resistia melhor a possíveis novos sismos (fig. 1); para tentar evitar novos incêndios, as casas assentavam em estacas de madeira que mergulhavam nas águas do subsolo e, entre os edifícios, fizeram-se muros (os corta-fogos) para evitar a propagação das chamas; • construiu-se uma rede geral de esgotos, tentando acabar-se com o velho hábito dos despejos atirados das janelas e acompanhados do grito de «água vai»; fig. 1 Maqueta da gaiola pombalina existente no Museu do Bombeiro de Lisboa. A estrutura interna dos prédios era, agora, constituída por uma «gaiola» em madeira que permitiria resistir a futuros eventuais terramotos. Esta estrutura é hoje feita em betão armado.

• o Terreiro do Paço deu lugar à actual Praça do Comércio, homenagem que o Marquês de Pombal quis fazer aos comerciantes que, com o seu dinheiro, ajudaram a reconstruir Lisboa.

fig. 2 Fachada de casa pombalina. As fachadas iguais simbolizavam a igualdade de todas as pessoas perante o rei.

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fig. 3 Prédios com fachada pombalina na Praça da Figueira, em Lisboa.

fig. 4 Planta da Baixa de Lisboa. Hoje é conhecida por «baixa pombalina» por ter sido mandada reconstruir pelo Marquês de Pombal.

fig. 5 A Baixa Pombalina na actualidade. Na Praça do Comércio ergueu-se, em 1775, a estátua equestre de D. José I. O projecto inicial da reconstrução desta praça só foi con-cluído em 1875, com a colocação do arco da Rua Au-

fig. 6 Praça Marquês de Pombal, em Vila Real de Santo António, uma das poucas cidades do mundo, e a única em Portugal, que foi mandada construir de raiz. Os engenheiros tinham aprendido, na reconstrução de Lisboa, a secar e a firmar terras movediças. Foi mandada construir em 1774, pelo Marquês de Pombal, no local onde existira a pequena aldeia de Santo António, destruída pelo maremoto. Procurou-se, assim, ocupar e desenvolver uma zona praticamente desabitada. Apresenta características urbanísticas semelhantes às da baixa lisboeta.

Sou capaz de... 1. Escrever três adjectivos que caracterizem a Lisboa pombalina. 2. Dar a minha opinião sobre esta nova Lisboa e justificá-la. Realizar a Ficha n.o 3 do meu Caderno de Apoio (Estudo Acompanhado).

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Tema C 2. Lisboa Pombalina

A acção do Marquês de Pombal A grande capacidade para resolver os problemas demonstrada por Sebastião José, após o terramoto, contribuiu para reforçar a confiança de D. José no seu ministro. Este pôde então realizar uma série de reformas. – Reformas económicas: • promoveu o desenvolvimento da indústria (fig. 1); • apoiou a formação de várias companhias monopolistas, às quais entregou a produção e o comércio de certos produtos ou de determinadas zonas geográficas. Destas companhias destacou-se a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, para desenvolver a produção e o comércio do vinho do Porto (figs. 2 e 3); • proibiu a exportação de ouro. – Reformas sociais:

fig. 1 Principais indústrias criadas ou desenvolvidas no tempo do Marquês de Pombal (adaptado de A. H. de Oliveira Marques e J. J. Alves Dias, Atlas Histórico de Portugal e do Ultramar Português).

• retirou bens e cargos hereditários à nobreza, reprimiu e até mesmo mandou executar os que se opunham à sua política (fig. 4); • expulsou do País os Jesuítas, acusados de cumplicidade no ataque ao rei; proibiu os autos-de-fé e o Tribunal da Inquisição passou a depender do rei; • protegeu a burguesia, atribuindo-lhe cargos de grande confiança. As medidas tomadas pelo Marquês de Pombal favoreceram, assim, a burguesia que se dedicava ao comércio e à indústria, enquanto o clero e a nobreza perderam privilégios e importância.

fig. 2 Exportações do vinho do Porto para a Grã-Bretanha. fig. 3 Vinhedos no vale do Douro. O vinho produzido nesta região, mais tarde conhecido como vinho do Porto, tornou-se, desde o século XVIII, um produto muito apreciado pelos Ingleses.

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fig. 4 Execução da família Távora. Acusada de possível cumplicidade num atentado contra D. José I, a maior parte dos seus membros foi condenada à morte. Os seus bens passaram para o Estado e para a Coroa e foi proibido que mais alguém usasse esse nome. Depois da morte de D. José I, foram-lhes restituídas as honras e o direito de usarem o nome, tendo sido considerado como principal culpado o duque de Aveiro.

– Reformas no ensino: • criou por todo o País novas escolas de instrução primária; • fundou o Real Colégio dos Nobres para a instrução dos filhos da nobreza que exerceriam cargos de altos funcionários do Estado; • proibiu a utilização dos manuais e dos métodos de ensino dos Jesuítas, considerados antiquados, e extinguiu a Universidade de Évora, controlada por esta ordem religiosa; • reformou a Universidade de Coimbra, introduzindo o ensino de novas matérias, com novos métodos e frequente recurso à experiência laboratorial. 6

O ensino na universidade

(...) Para que as lições [das Ciências] se façam com aproveitamento devem os estudantes ver executar as experiências e adquirir o hábito de as executar (...). Haverá, para isso, uma colecção de máquinas, aparelhos e instrumentos necessários para o dito fim e uma sala para nela se fazerem todas as experiências com a assistência dos estudantes.

fig. 5 Luís António Verney, (1713-1792), um dos mais ilustres es-trangeirados (portugueses que viviam no estrangeiro ou lá tinham estudado e que, em Portugal, divulgavam as novas ideias europeias).

Estatutos da Universidade de Coimbra, 1772

• Indica as medidas tomadas que demonstram a importância conferida às ciências experimentais.

Como podes concluir, as reformas pombalinas contribuíram para a modernização do País. Após a morte de D. José I, sua filha, a rainha D. Maria I, demitiu-o, acusando-o de ter cometido muitas injustiças. Passou o resto da vida na sua quinta em Pombal.

fig. 7 Café Martinho da Arcada, em Lisboa (fundado no século XVIII). Nos cafés e botequins (casas de bebidas) comentavam-se as novas ideias que chegavam a Portugal através da imprensa e dos estrangeirados.

Sou capaz de... 1. Com base na figura 1, indicar três indústrias apoiadas pelo Marquês de Pombal e a respectiva localização.

2. Elaborar uma biografia do Marquês de Pombal e dar a minha opinião sobre a acção deste governante.

3. Realizar a Ficha n.º 3 do meu Caderno de Actividades. 29

Esquema-Síntese LISBOA POMBALINA

Terramoto de 1755

Crise económica • Menos ouro do Brasil. • Agricultura e indústria pouco desenvolvidas. • Menos exportações. • Mais importações.

+ ACÇÃO DO MARQUÊS DE POMBAL

Praça do Comércio, em Lisboa

Expulsão dos Jesuítas

Reconstrução de Lisboa

Reformas

Políticas • Reforço do poder real.

Sociais • Expulsão dos Jesuítas. • Diminuição dos bens e cargos da nobreza. • Protecção da burguesia.

Económicas

No ensino

• Desenvolvimento da indústria.

• Criação de escolas de instrução primária. • Criação do Real Colégio dos Nobres. • Reforma da Universidade de Coimbra. • Extinção da Universidade de Évora.

• Formação de companhias de comércio.

• Ruas largas e geométricas, com passeios calcetados. • Casas com fachadas iguais, da mesma altura e com estrutura anti-sismos. • Rede geral de esgotos. • Reconstrução do Terreiro do Paço, que passou a chamar-se Praça do Comércio.

www.projectos.TE.pt/links para saber mais sobre...

• A Lisboa Pombalina

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Agora Já Sei... 1. Dizer em que data D. José I subiu ao trono. 2. Explicar a situação da agricultura e da indústria portuguesas quando D. José I foi aclamado rei. 3. Copiar para o meu caderno diário o quadro seguinte e, depois, completá-lo. LISBOA POMBALINA Acontecimento que destruiu a cidade de Lisboa

Reinado em que se verificou esse acontecimento

Principal responsável pela reconstrução da cidade

Características da nova Lisboa

• • • • • • •

4. Construir, no meu caderno diário, um quadro com o título «A acção do Marquês de Pombal», utilizando as expressões seguintes: • Desenvolvimento da indústria • Ensino • Criação de escolas de instrução primária • Expulsão dos Jesuítas • Sociedade • Protecção da burguesia • Fundação do Real Colégio dos Nobres • Apoio à formação de companhias de comércio • Economia • Extinção da Universidade de Évora • Reforma da Universidade de Coimbra • Perseguição de elementos da nobreza 5. Escrever, no meu caderno diário, um pequeno texto dando a minha opinião sobre a acção do Marquês de Pombal e justificá-la.

31

3

1820 e o Liberalismo

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5

As invasões napoleónicas A Revolução Liberal de 1820 As Cortes Constituintes A independência do Brasil As lutas entre liberais e absolutistas

D. João VI

Cortes Constituintes de 1821 (pintura de Veloso Salgado, Assembleia da República).

Séc. XVIII

Séc. XIX

Séc. XX

1800 1806 • Bloqueio Continental.

1900 1807-1811 • Três invasões francesas. 1820 • Revolução Liberal.

1822 • Aprovação da Constituição. • Independência do Brasil.

1832-1834 • Guerra civil entre liberais e absolutistas.

1834 • Concessão de Évora-Monte.

3. 1820 e o Liberalismo Vou partir para o Brasil para garantir a independência de Portugal.

Apressai-vos, Senhor! Os Franceses estão cada vez mais perto de Lisboa!

Malditos liberais. Querem acabar com os nossos privilégios. Viva o Absolutismo! Viva a Constituição, a separação dos poderes, a liberdade e a igualdade!

Viva os valorosos do Porto!

Viva el-rei D. João VI! Viva el-rei nosso Senhor!

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Tema C 3. 1820 e o Liberalismo

3.1 As invasões napoleónicas A Revolução Francesa Nos finais do século XVIII, uma revolução pôs fim à monarquia absoluta em França. Os revolucionários, na sua maioria burgueses e homens do povo, defendiam novas ideias, como a igualdade de todos os cidadãos perante a lei (todos teriam os mesmos direitos e deveres), e a liberdade, que consideravam ser um direito de todo o ser humano. Defendiam ainda a separação dos poderes que, como já sabes, na monarquia absoluta estavam concentrados numa só pessoa, o rei.

fig. 1 Tomada da Bastilha, pelos revolucionários, em 14 de Julho de 1789. O povo assaltou esta prisão, onde, ao longo dos séculos, estiveram detidos muitos dos que se opunham ao poder absoluto dos reis franceses.

fig. 2 Execução, na guilhotina, de Luís XVI, rei de França, em 21 de Janeiro de 1793. O mesmo aconteceu a sua mulher, a rainha Maria Antonieta, e a muitos nobres e elementos do clero. A guilhotina consistia numa estrutura de madeira com uma lâmina afiada no topo que, ao cair, cortava a cabeça das vítimas.

O Bloqueio Continental

fig. 3 Napoleão Bonaparte. General francês que chegou ao poder através de um golpe militar e, em 1804, assumiu o título de Imperador.

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Após a vitória dos revolucionários franceses, os reis absolutos da Europa sentiram o seu poder ameaçado. Alguns deles uniram-se e declararam guerra à França. Depois de vários anos de luta, foram derrotados, em grande parte, devido à acção do general Napoleão Bonaparte, comandante das tropas francesas, que se coroou Imperador, na presença do Papa. A França passou, então, a dominar quase toda a Europa Continental. Só a Grã-Bretanha continuava a oferecer resistência. Para a isolar e destruir o seu comércio, Napoleão ordenou aos países europeus que fechassem os seus portos aos navios ingleses. Esta medida, tomada em 1806, ficou conhecida por Bloqueio Continental.

Portugal hesitou em obedecer às ordens de Napoleão, não só porque existia uma velha aliança entre Portugal e a Grã-Bretanha, mas também porque o encerramento dos seus portos aos navios ingleses prejudicaria a economia portuguesa, visto que o nosso comércio externo se fazia principalmente com aquele país. O príncipe regente D. João (fig. 6) acabou, contudo, em Setembro de 1807, por ordenar a saída dos navios ingleses dos portos portugueses. Era tarde. A França e a Espanha, sua aliada, tinham terminado as negociações para invadir e conquistar Portugal. fig. 4 O Bloqueio Continental. A linha preta delimita as zonas da Europa que aderiram a este bloqueio.

A saída da corte para o Brasil Quando os exércitos de Napoleão já entravam em Portugal, o príncipe regente, D. João, decidiu refugiar-se no Brasil, sendo acompanhado por toda a família real. Partiram também muitos nobres, comerciantes, funcionários do Reino e juízes. O governo do País ficou entregue a uma regência, constituída por cinco governantes. Lê o seguinte texto: 5

Manifesto do príncipe regente D. João aos Portugueses

Tendo por todos os meios procurado conservar a neutralidade e tendo chegado ao excesso de fechar os portos do meu Reino ao meu antigo e leal aliado, o rei da Grã-Bretanha, vejo que pelo interior do meu reino marcham as tropas do Imperador dos Franceses (...) e que as mesmas tropas se dirigem a esta capital. Sabendo eu que elas se dirigem muito particularmente contra a minha real pessoa e que o meu reino será menos inquietado se eu me ausentar dele, tenho resolvido, em seu benefício, estabelecer-me com toda a real família na cidade do Rio de Janeiro até à paz geral. 26 Novembro de 1807 (adaptado)

• A que imposição se refere D. João com a expressão «fechar os portos»? • Qual a justificação apresentada para deixar o País?

fig. 6 D. João, filho de D. Maria I, tomou conta do governo do Reino, a partir de 1792, devido à doença de sua mãe. Em 1799, assumiu formalmente a regência do Reino, por os médicos terem concluído que a doença desta era incurável. Em 1816, por morte de D. Maria I, foi aclamado rei, com o nome de D. João VI.

• Identifica a colónia portuguesa para onde se dirige o príncipe regente e a família. • Se fosses D. João, terias tomado a mesma atitude? Justifica.

Sou capaz de... 1. Indicar duas ideias defendidas pelos revolucionários franceses. 2. Dar a minha opinião sobre a importância dessas ideias e justificá-la. 3. Sobre o Bloqueio Continental, indicar: 3.1 quem o decretou; 3.2 em que consistia; 3.3 os motivos que levaram Portugal a hesitar na adesão ao Bloqueio. 35

Tema C 3. 1820 e o Liberalismo

A resistência aos invasores e a intervenção inglesa A primeira invasão francesa

fig. 1 Junot, general francês, comandante da primeira invasão. A escassez de mantimentos, a chuva e a inexistência de caminhos apropriados às grandes marchas foram enfraquecendo o seu exército e reduzindo-o a um conjunto de homens famintos e desorganizados.

Junot, comandante das tropas invasoras, instalou-se em Lisboa sem encontrar qualquer resistência, o que, aliás, fora recomendado pelo próprio D. João, a fim de não hostilizar os Franceses. Tomou, então, medidas que muito desagradaram à maioria dos Portugueses: • mandou substituir a bandeira nacional pela francesa, no Castelo de S. Jorge; • demitiu a «Regência» nomeada pelo príncipe regente D. João e começou a governar Portugal como terra conquistada. Além disto, os soldados franceses, juntamente com os aliados espanhóis, cometiam roubos e violências por todo o país, provocando a revolta da população, que não tardou a organizar-se para combater o invasor. A retirada das tropas espanholas trouxe novo ânimo à revolta popular, que alastrou por todo o País. Portugal pediu auxílio aos Ingleses, que desembarcaram próximo da Figueira da Foz. As suas tropas, reforçadas pelas portuguesas, derrotaram os Franceses nas batalhas de Roliça (Bombarral) e Vimeiro (Torres Vedras). Junot assinou a paz, na Convenção de Sintra, e abandonou o País, 3 O patife do Junot Vinha para nos proteger! Veio mas foi para nos roubar, E p’rás pratas recolher. O Junot mais o Maneta* Dizem que Portugal é seu, É o diabo para eles E mais para quem lho deu. Já o mar anda de luto, Também as embarcações. Anda a guerra contra a França, Ajuntam-se as mais nações. Cancioneiro Popular Político Soldados franceses.

fig. 2 As invasões francesas. As fortificações de Torres Vedras, construídas, em três linhas, à volta de Lisboa e na região de Torres Vedras, foram muito importantes na defesa da capital (adaptado de A. H. de Oliveira Marques e J. J. Alves Dias, Atlas Histórico de Portugal e do Ultramar Português).

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* «Maneta» era a alcunha dada pelo povo ao general francês Loison, que não tinha uma das mãos. Este general ficou conhecido pela grande violência das suas acções, sobretudo durante a 1.ª invasão. Terá assim nascido a expressão popular «ir para o maneta», que significa morrer ou desaparecer.

• Que sentimento, em relação aos Franceses, revelam as quadras? • Que outras nações se «ajuntam» contra a França?

A segunda invasão francesa Napoleão, porém, não desistiu. Em 1809, os Franceses, comandados pelo general Soult, entraram em Portugal por Trás-os-Montes e conquistaram o Norte até ao rio Douro. Ocuparam a cidade do Porto durante algum tempo. A vitória pouco durou. Os soldados ingleses e portugueses, com o apoio dos populares, obrigaram os Franceses a refugiar-se na Galiza (Espanha).

A terceira invasão francesa Em 1810, os Franceses, comandados pelo general Masséna, invadiram de novo Portugal, agora pela Beira Alta. Apesar de derrotados no Buçaco, continuaram a marcha em direcção a Lisboa. Foram detidos nas linhas defensivas de Torres Vedras, conjunto de fortificações que os Ingleses tinham feito construir, a norte de Lisboa (fig. 2). Em 1811, cansados de esperar reforços, os Franceses iniciaram a marcha d e fig. 4 Vista parcial da cidade do Porto, no século XIX. Pode observar-se a Ponte das Barcas, que está ligada a um dos episódios mais sangrentos das invasões francesas. A população em pânico fugia da cidade, perseguida pelos Franceses. Centenas de pessoas caíram às águas do rio Douro, morrendo afogadas. Em cima, podes observar a placa que, no cais da Ribeira do Porto, lembra as vítimas deste desastre.

Sou capaz de... 1. Explicar por que razão os Franceses invadiram Portugal. 2. Referir: 2.1 os nomes dos generais que comandaram cada uma das três invasões; 2.2 o país que nos ajudou militarmente na luta contra os Franceses; 2.3 a táctica utilizada para derrotar definitivamente os Franceses.

3. Indicar três adjectivos que caracterizem as invasões francesas. 4. Realizar a Ficha n.º 4 do meu Caderno de Actividades. Situar no tempo Realizar a actividade n.º 2 do meu Friso Cronológico.

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Tema C 3. 1820 e o Liberalismo

3.2 A Revolução Liberal de 1820 O descontentamento dos Portugueses As invasões tinham terminado, mas o País ficara numa situação muito difícil: enorme perda de vidas humanas, comércio e indústria paralisados, pontes cortadas, casas e monumentos destruídos e saqueados. Além disso, e apesar do fim das guerras com os Franceses, os Ingleses continuavam em Portugal contra a vontade de muitos portugueses e com muito poder, com o pretexto de garantir a defesa e a reorganização do exército. O marechal inglês Beresford era, de facto, a principal autoridade do Reino (fig. 1). Lê o documento 2.

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2

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fig. 1 William Beresford (gravura de Bartolozzi, Museu Nacional de Arte Antiga). General inglês, nomeado Marechal do exército português pelo regente D. João. Foram-lhe concedidos amplos poderes para manter a ordem e reprimir conspirações contra o regime absolutista.

Portugal dominado pelos Ingleses

(…) Portugal, esse velho conquistador, tornara-se por sua vez uma colónia (…). Politicamente éramos colonos dos Ingleses. O nosso exército era um exército inglês, cujos soldados e unicamente os soldados haviam nascido neste país. Governava-nos um general inglês (…). Um tratado infeliz colocara o nosso comércio a reboque do comércio inglês e a nossa indústria tinha sido absolutamente sacrificada à indústria inglesa. (…) Era necessário sair dessa situação ou morrer. Alexandre Herculano, Opúsculos, 1856 (adaptado)

fig. 3 Importações e exportações portuguesas em 1819.

• Identifica as razões que explicam o descontentamento dos Portugueses a nível: a) político; b) económico; c) militar. • Com base na figura 3, indica o país que, em 1819, vendeu mais produtos a Portugal. • Transcreve uma frase do documento 2 que possa legendar o gráfico da figura 3. • Justifica a afirmação «éramos colonos dos Ingleses». fig. 4 Soldados ingleses.

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Para além desta situação de dependência em relação à Grã-Bretanha, outros problemas provocavam o descontentamento dos Portugueses: • D. João e a corte continuavam no Brasil, sem mostrarem grande preocupação com o que se passava em Portugal; • o general inglês Beresford continuava não só a controlar o exército português, mas também a influenciar as decisões dos governantes; • em 1808, D. João abrira os portos brasileiros ao comércio estrangeiro, o que prejudicava muito os comerciantes e os interesses portugueses (fig. 5). Na verdade, o comércio externo português dependia em grande parte da venda dos produtos portugueses (agrícolas e industriais) ao Brasil e da exportação dos produtos brasileiros.

fig. 5 Rotas comerciais dos produtos brasileiros. Com a abertura do comércio brasileiro aos outros países, Portugal deixou de ser o único a vender os seus produtos ao Brasil. Além disso, os produtos brasileiros, que até então eram trazidos por comerciantes portugueses, sendo depois vendidos aos países europeus, passaram a ser comprados directamente ao Brasil por comerciantes estrangeiros.

CRONOLOGIA

1807 • O exército francês, comandado por Junot, invade Portugal. • Saída da corte para o Brasil. 1808 • Abertura dos portos brasileiros ao comércio com outros países. Esta decisão do príncipe regente D. João foi tomada sob pressão inglesa. • Inicia-se uma vaga de revoltas populares contra o domínio francês que rapidamente alastra por todo o País. • Desembarque de tropas inglesas na praia de Lavos, próximo da Figueira da Foz. 1809 Segunda invasão francesa, comandada pelo general Soult. 1810 • Assinatura de tratados de comércio e amizade entre Portugal e a Grã-Bretanha, o que p r e j u dicou o comércio e a indústria portuguesas. • Terceira invasão francesa, co-

• Explica o descontentamento dos comerciantes portugueses em relação a esta alteração do circuito comercial. fig. 6 Postal comemorativo do centenário da abertura dos portos do Brasil.

Sou capaz de... 1. Indicar a medida tomada por D. João VI relativamente ao comércio do Brasil. 2. Seleccionar da cronologia acontecimentos que provocaram o descontentamento dos Portugueses em relação: 2.1 à família real;

2.2 aos Franceses;

2.3 aos Ingleses.

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Tema C 3. 1820 e o Liberalismo

O movimento revolucionário Como já estudaste, era grande o descontentamento e a desmoralização dos Portugueses, pois a família real continuava no Brasil, contribuindo para o desenvolvimento deste território, e pouco se preocupando com a situação vivida em Portugal. As ideias liberais de igualdade e liberdade tinham cada vez mais adeptos entre os Portugueses.

Os antecedentes da revolução A primeira conspiração liberal, para fazer regressar a Portugal a família real e acabar com o domínio inglês, verificou-se em 1817. Este movimento foi descoberto por espiões ao serviço de Beresford e o general Gomes Freire de Andrade (fig. 1), acusado de o chefiar, foi enforcado, juntamente com outros conspiradores, no Forte de S. Julião da Barra (em Oeiras) e o seu corpo queimado e deitado ao mar. Em 1818, um grupo de liberais, onde predominavam comerciantes, militares, proprietários e juízes, formou, no Porto, uma organização secreta, o Sinédrio. Esta organização, dirigida por Manuel Fernandes Tomás (fig. 2), preparou uma revolução para pôr fim à monarquia absoluta. fig. 1 General Gomes Freire de Andrade. Defensor dos princípios da Revolução Francesa, combateu na Europa no exército de Napoleão.

A revolução de 1820 A 24 de Agosto de 1820, aproveitando a ausência de Beresford no Brasil, a guarnição militar do Porto, chefiada pelo seu comandante, que também fazia parte do Sinédrio, revoltou-se contra o regime absoluto e a situação do Reino.

fig. 2 Manuel Fernandes Tomás. Natural da Figueira da Foz, era juiz no Porto quando fundou o Sinédrio.

fig. 3 A revolução liberal na toponímia da cidade do Porto.

A revolta alastrou primeiramente pelo Norte e Centro do País. Lê o documento 4. 40

4

A Revolta Militar de 1820

Em 24 de Agosto de 1820, no Campo de Santo Ovídio, no Porto, um dos comandantes das tropas revoltadas, o coronel Sepúlveda, leu a seguinte proclamação: «Soldados! Acabou-se o sofrimento (…). Camaradas, vinde comigo. Vamos com os nossos irmãos de armas organizar um governo provisório que chame as Cortes a fazerem uma Constituição, cuja falta é a origem dos nossos males. É desnecessário descrever esses males porque cada um de nós os sente. É em nome do nosso augusto soberano, o Senhor D. João VI, que há-de governar-se (…). Viva o nosso rei! Vivam as cortes e por elas a Constituição!» Diário Nacional, 26 de Agosto de 1820

• Quais eram os males a que o documento se refere? • Qual foi o objectivo desta revolta? • Em nome de quem se iria governar o Reino?

A 1 de Outubro, os revolucionários do Porto uniram-se aos de Lisboa. Era o triunfo da Revolução Liberal. Os Ingleses foram afastados das suas funções militares e políticas e foi criado um governo provisório – a Junta Provisional do Governo do Reino – que incluía revolucionários de Lisboa e do Porto.

CRONOLOGIA

1816 Morre D. Maria I. D. João VI torna-se rei de Portugal. 1817 Tentativa de revolta contra o domínio inglês chefiada pelo general Gomes Freire de Andrade. 1818 • D. João VI promove, no Rio de Janeiro, a cerimónia da sua aclamação. O novo monarca demonstrava assim a vontade de se manter no Brasil. • Fundação do Sinédrio, no Porto. 1820 • Segunda viagem de Beresford ao Brasil para obter de D. João VI poderes mais alargados, com o objectivo de combater os revolucionários. • Revolta liberal no Porto. • Beresford é impedido de desembarcar em Portugal, quando regressa do Brasil. • Criação da Junta Provisional do Governo do Reino.

fig. 5 O Rossio, em Lisboa, no dia 1 de Outubro de 1820 (Museu da Cidade, Lisboa). Pode observar-se a população em festa, a parada militar e as carruagens em desfile.

Sou capaz de... 1. Seleccionar da cronologia um acontecimento que demonstre que: 1.1 Beresford era contra os revolucionários; 1.2 os revolucionários tiveram êxito; 1.3 os Ingleses foram expulsos. 2. Descrever o que aconteceu em Agosto de 1820. 3. Fazer uma pequena biografia de Gomes Freire de Andrade ou de Manuel Fernandes Tomás.

41

Tema C 3. 1820 e o Liberalismo

3.3 As Cortes Constituintes A Constituição de 1822 A Junta Provisional do Governo do Reino teve o encargo de governar o País e organizar as primeiras eleições para deputados às Cortes Constituintes. Esta assembleia tinha como principal função elaborar uma Constituição que estivesse de acordo com as ideias liberais. Uma das primeiras medidas destas Cortes foi exigir o regresso de D. João VI do Brasil. Os deputados tomaram ainda outras decisões importantes, como a abolição dos privilégios do clero e da nobreza, a extinção da Inquisição e a nacionalização dos bens da Coroa, ou seja, estes bens passaram a pertencer ao Estado.

fig. 1 As Cortes de 1821, numa pintura de Veloso Salgado, no Palácio de S. Bento (actual Assembleia da República). Os deputados às Cortes foram eleitos por dois anos, pelos cidadãos com mais de vinte e cinco anos, à excepção dos analfabetos, das mulheres e dos frades. Os deputados eleitos representavam a Nação, e portanto o rei, sem poder absoluto, não podia interferir no funcionamento das Cortes nem dissolvê-las.

Em Setembro de 1822, as Cortes Constituintes aprovaram a 1.ª Constituição Portuguesa, elaborada com base nas ideias liberais defendidas pelos revolucionários franceses de 1789. Esta Constituição estabelecia como princípios fundamentais: • a soberania da Nação, ou seja, o rei submetia--se à vontade dos cidadãos que, pelo voto, escolhiam os seus representantes; • a separação dos poderes (legislativo, executivo e judicial); • a igualdade e a liberdade dos cidadãos perante a lei. fig. 2 A Constituição estabelece as leis fundamentais de um país. Faz lembrar uma árvore porque, tal como os ramos nascem do tronco, todas as outras leis nascem da Constituição.

42

D. João VI, entretanto regressado do Brasil, assinou a Constituição e comprometeu-se a respeitá-la. A monarquia absoluta deu, assim, lugar à monarquia constitucional.

3

Dom João (…) Faço saber a todos os meus súbditos que as Cortes decretaram (…) e jurei a Constituição Política da Monarquia Portuguesa (…). Art.º 7.º – (...) Todo o português pode manifestar as suas opiniões (...). Art.º 9.º – A lei é igual para todos (...). Art.º 26.º – A soberania reside na Nação. Não pode ser exercida senão pelos seus representantes legalmente eleitos (...). Art.º 29.º – O governo da Nação Portuguesa é a Monarquia Constitucional hereditária (...). Art.º 30.º – [Os três] poderes [políticos] são: legislativo, executivo e judicial. O primeiro reside nas Cortes (…). O segundo está no Rei e nos Secretários de Estado (…). O terceiro está nos Juízes (…). Excerto da Constituição de 1822

• Identifica: a) o artigo que pôs fim à existência de grupos sociais privilegiados; b) o artigo que garante a continuação da Monarquia; c) a forma de governo garantida pela Constituição; d) os três poderes referidos.

fig. 4 Encadernação da 1.ª Constituição Portuguesa (forrada a veludo e decorada com fio de ouro e prata), guardada na Torre do Tombo, em Lisboa.

Com a monarquia constitucional deixaram de existir grupos sociais privilegiados, já que todos os indivíduos passaram a ser iguais perante a lei. O poder estava repartido: os deputados (nas Cortes) faziam e votavam as leis – poder legislativo; o rei e os secretários de Estado ou ministros (no Governo) punham as leis em prática – poder executivo; e os juízes (nos Tribunais) julgavam os que não cumpriam a lei – poder judicial. Observa o esquema: Monarquia absoluta

Monarquia constitucional

O rei faz as leis

PODER LEGISLATIVO

As leis são feitas pelos deputados, nas Cortes.

O rei governa

PODER EXECUTIVO

O rei e os ministros governam aplicando as leis.

PODER JUDICIAL

Os juízes julgam quem não cumpre a lei.

O rei é o juiz supremo

Sou capaz de... 1. Explicar por que razão se chamaram Constituintes às Cortes que se reuniram após a Revolução. 2. Seleccionar o princípio liberal consagrado na Constituição de 1822 que considero mais importante e justificar.

3. Realizar a Ficha n.º 5 do meu Caderno de Actividades. Construir o meu glossário Registar, no meu Caderno de Actividades, o significado de cortes constituintes, constituição e monarquia constitucional. 43

Tema C 3. 1820 e o Liberalismo

3.4 A independência do Brasil Durante os treze anos de permanência de D. João VI no Brasil, este território registara grandes progressos: • a criação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve (1815) libertara o Brasil da sua condição de colónia e a cidade do Rio de Janeiro tornara-se a sede provisória do governo; • a abertura dos seus portos ao comércio estrangeiro fizera aumentar o movimento comercial e enriquecera a burguesia brasileira, cada vez mais desligada da metrópole; • a construção de escolas, hospitais, estradas e bibliotecas; • a criação do primeiro Banco do Brasil.

fig. 1 Um aspecto da cidade do Rio de Janeiro no início do século XIX (gravura de Johann Rugendas). O progresso que o Brasil atingiu nos anos em que D. João VI aí permaneceu foi muito importante para a independência deste território.

D. Carlota Joaquina (1775 -1830)

D. João VI (1816-1826)

D. Pedro IV (1826)

D. Leopoldina (1797-1826)

D. Maria II (1826-1853)

D. Fernando (1816-1885)

D. Miguel (1828-1834)

D. Adelaide (1831-1909)

fig. 2 Descendência de D. João VI. As datas referentes aos reis correspondem aos respectivos períodos de reinado. As outras datas correspondem ao nascimento e morte.

44

Quando, em 1821, D. João VI regressou a Portugal, deixou como regente daquele território o seu filho primogénito, D. Pedro. Após a Revolução de 1820, as Cortes Constituintes (constituídas em grande parte por burgueses ligados à actividade comercial com o Brasil e que ambicionavam reconquistar os privilégios perdidos) legislaram no sentido de recuperar o domínio económico e político do Brasil; decretaram, assim, o regresso do Brasil à condição de colónia, devendo o seu comércio voltar a fazer-se apenas com Portugal; ordenaram, além disso, que D. Pedro, herdeiro do trono, viesse para a Europa a fim de completar a sua educação.

3

A reacção de D. Pedro

Como Príncipe Regente do Reino do Brasil e seu defensor perpétuo, não mandei ainda executar nenhum dos decretos* dessas facciosas, horrorosas e desorganizadas Cortes. Antes declaro esses decretos, bem como todos os mais que fizeram para o Brasil, nulos e, como tal, oponho-me a eles, o que é sustentado por todos os brasileiros, que, unidos a mim, me ajudam a dizer: «De Portugal nada; não queremos nada» (...) Triunfa e triunfará a independência brasileira, ou a morte nos há-de custar. Carta de D. Pedro a D. João VI, 1822

* Leis elaboradas pelas Cortes.

D. Pedro, aderindo à vontade da maioria da população brasileira, decidiu não aceitar as pretensões das Cortes portuguesas. A 7 de Setembro de 1822, quando se encontrava junto ao rio Ipiranga (perto de S. Paulo), foi-lhe entregue um decreto das Cortes exigindo o seu regresso imediato a Portugal. Decidiu então romper definitivamente com o governo português, proferindo a célebre frase «Independência ou morte». Este episódio, conhecido pelo «grito do Ipiranga», é considerado a declaração oficial da independência do Brasil. Foi, mais tarde, aclamado Imperador do Brasil. Foi também eleita uma Assembleia Constituinte para elaborar a Constituição brasileira.

Retrato de D. Pedro IV, Museu Nacional dos Coches, foto José Pessoa / / DDF-IPM.)

• Qual a opinião que o Príncipe tinha das Cortes? • A que decretos se refere o documento? • Qual a atitude tomada por D. Pedro? • Quem o apoiava nessa decisão?

fig. 4 Coroação de D. Pedro como Imperador do Brasil.

Sou capaz de... 1. Indicar duas vantagens, para a população do Brasil, resultantes da permanência de D. João VI neste território.

2. Imaginar que era um jornalista português em serviço no Brasil, na altura da independência, e redigir uma notícia para o meu jornal, relatando os principais acontecimentos que ocorreram nesse território. Situar no tempo Realizar a actividade n.º 3 do meu Friso Cronológico. 45

Tema C 3. 1820 e o Liberalismo

3.5 As lutas entre liberais e absolutistas

1823 – O regime liberal não agradava a todos os portugueses. D. Miguel, defensor da monarquia absoluta, organizou algumas conspirações e rebeliões contra a monarquia liberal.

D. Miguel conta com o apoio do clero e da nobreza.

Claro, não lhes agradou perderem os privilégios. Sim, e ainda tem o apoio de alguns burgueses descontentes com a perda dos lucros do comércio do Brasil.

1824-26 – A Grã-Bretanha e a França apoiaram D. João VI e D. Miguel teve de partir para o exílio. Quando, em 1826, o rei morreu, D. Pedro, herdeiro da Coroa portuguesa, defensor da monarquia liberal e apoiado por grande parte da burguesia, decidiu... Ide a Portugal e dizei que eu, D. Pedro, Imperador do Brasil, abdico da Coroa Portuguesa na minha filha D. Maria, que casará com o tio, meu irmão D. Miguel.

Mas D. Miguel é um absolutista, Senhor!

Sim, mas proponho a meu irmão que assuma o cargo de regente e governe de acordo com as ideias liberais.

D. Miguel aceitou as condições propostas por D. Pedro. Porém, ao regressar a Portugal, perante o apoio do clero, da nobreza e até de populares, reuniu Cortes à maneira antiga e, em 1828, foi aclamado rei absoluto. Iniciou-se logo a perseguição aos liberais.

46

MORTE AOS LIBERAIS!

1832 – D. Pedro, que abdicara da coroa brasileira no seu filho D. Pedro II, regressou do Brasil e assumiu o comando do exército liberal nos Açores (local de refúgio de muitos liberais). Com esse exército, desembarcou na Praia do Mindelo e ocupou o Porto.

Mas os absolutistas, chefiados por D. Miguel, cercaram a cidade.

Irei por mar até ao Algarve e daí o nosso exército partirá a caminho da capital. Assim, derrotaremos os absolutistas.

Os liberais procuraram, então, abrir novas frentes de combate. O Duque da Terceira preparou um plano...

Asseiceira Almoster

1834 – Na concessão de Évora-Monte reuniram-se os representantes dos liberais e dos absolutistas, que decidiram pôr fim à guerra civil. Sua Alteza o Senhor D. Pedro concederá a liberdade a todos os presos absolutistas e manterá os militares apoiantes de seu irmão nos seus postos.

Contudo, D. Miguel partirá para o exílio e não poderá voltar a Portugal.

Ainda em 1834 dá-se a morte de D. Pedro IV, sendo o governo do País entregue a sua filha, D. Maria.

Sou capaz de... 1. Realizar a Ficha n.o 6 do meu Caderno de Actividades. Situar no tempo Realizar a actividade n.o 4 do meu Friso Cronológico. Construir o meu glossário Registar, no meu Caderno de Actividades, o significado de guerra civil.

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Esquema-Síntese 1820 E O LIBERALISMO

Revolução Francesa

O rei deixou de ter todos os poderes.

A liberdade passou a ser um direito dos cidadãos.

A lei passou a ser igual para todos.

Alguns reis absolutos da Europa uniram-se e lutaram contra a França. Esta decretou o Bloqueio Continental para derrotar a Grã-Bretanha.

Portugal demorou a fechar os seus portos à Grã-Bretanha.

A França invadiu Portugal.

A família real partiu para o Brasil, onde permaneceu mesmo após a expulsão dos Franceses.

Portugal foi parcialmente destruído e saqueado.

O exército anglo-português derrotou os Franceses. Os Ingleses passaram a dominar o exército e o comércio de Portugal.

Grande descontentamento dos Portugueses.

• Regresso de D. João VI do Brasil.

REVOLUÇÃO LIBERAL DE 1820

• Abolição dos privilégios do clero e da nobreza.

APROVAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO

• Nacionalização dos bens da Coroa. Monarquia Constitucional

• A liberdade passou a ser um direito dos cidadãos.

Guerra Civil entre liberais e absolutistas

• O rei deixou de ter todos os poderes.

Vitória dos liberais

• A lei passou a ser igual para todos.

www.projectos.TE.pt/links para saber mais sobre...

• 1820 e o Liberalismo

48

Agora Já Sei... 1. Depois de observar o mapa: 1.1 Identificar: a) o que representa a linha que cerca grande parte da Europa; b) o país do continente europeu que não é abrangido por essa linha; c) a nacionalidade do barco que se dirige para Portugal; d) o país que se opõe à entrada desse barco em Portugal e o motivo. 2. Copiar para o meu caderno diário o quadro seguinte e, depois, completá-lo. AS INVASÕES FRANCESAS Causa da invasão de Portugal

Solução encontrada para garantir a independência

Apoio recebido

Comandantes de cada uma das invasões

Como terminaram as invasões

3. Indicar três motivos que provocaram a Revolução Liberal de 1820. 4. Identificar o regime que vigorou em Portugal: 4.1 antes da Revolução de 1820; 4.2 depois da Revolução de 1820. 5. Transcrever, com base no documento 3 da pág. 43, os artigos da Constituição de 1822 que correspondem a cada um dos seguintes princípios do Liberalismo: a) liberdade de expressão; b) igualdade perante a Lei; c) separação dos poderes; d) participação dos cidadãos no governo da Nação. 6. Escrever um pequeno texto explicando o que foi, e como acabou, o conflito entre os liberais e os absolutistas.

49

4

Portugal na segunda metade do século XIX

4.1 4.2

O espaço português A vida quotidiana

Inauguração do Túnel do Rossio, 1889 (Revista Ocidente, 21/04/1889).

Séc. XVIII

Séc. XIX

Séc. XX

1800

1900

1821 • A máquina a vapor começa a ser utilizada na navegação no Tejo. 1823 • Um barco a vapor faz a carreira Lisboa-Porto.

50

1835 • Introdução da máquina a vapor, na indústria, em Portugal. 1856 • Inauguração da linha férrea Lisboa-Carregado.

1869 • Abolição da escravatura em todos os territórios portugueses. 1864 • Fundação do jornal Diário de Notícias.

1895 • 1.o espectáculo público de cinema no Porto.

4. Portugal na segunda metade do século XIX Antigamente esta terra estava em pousio. Agora dá batatas.

E para o ano vamos aqui semear trigo.

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Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

4.1 O espaço português A situação do Reino No início da segunda metade do século XIX, vivia-se em Portugal um período de crise originada pelos vários acontecimentos que tens vindo a estudar. Assim: • as invasões francesas e a guerra civil entre liberais e absolutistas destruíram casas, campos e culturas, para além de terem provocado a morte de muitas pessoas; • o Brasil tinha-se tornado independente, pelo que Portugal perdeu a vantagem que tinha em relação ao comércio brasileiro. Para além destes problemas, também as principais actividades económicas do País (agricultura, criação de gado, indústria e extracção mineira) pouco tinham evoluído, continuando a utilizar-se técnicas e instrumentos antiquados. A produtividade era baixa e não satisfazia as necessidades da população. Portugal era, assim, obrigado a importar muitos produtos de outros países mais desenvolvidos, gastando muito dinheiro, em grande parte pedido ao estrangeiro. Durante o reinado de D. Maria II, os governos liberais tomaram uma série de medidas com vista à modernização do reino, introduzindo novas técnicas (já conhecidas, e utilizadas noutros países da Europa) nas principais actividades económicas. Foi, no entanto, só a partir de 1851 que esta preocupação mais se acentuou, tendo esse fig. 1 As técnicas tradicionais de cultivo continuavam a persistir período ficado conhecido como Regeneração, ou seja, o «renascer» em algumas zonas do nosso País. de um novo Portugal, mais industrializado e moderno.

D. Maria II (1826-1853)

D. Estefânia (1837-1859) Princesa alemã.

D. Pedro V (1853-1861)

D. Fernando II (1816-1885) Príncipe alemão, 2.o marido de D. Maria II.

D. Luís I (1861-1889) Sucedeu a seu irmão, visto este ter morrido sem descendentes.

D. Amélia (1865-1951) Filha dos condes de Paris

D. Maria Pia (1847-1911) Princesa italiana.

D. Carlos I (1889-1908)

fig. 2 Esquema genealógico dos reis portugueses da segunda metade do século XIX (as datas dos reis correspondem à duração dos seus reinados). (Retratos: D. Pedro V, Museu Nacional dos Coches, foto José Pessoa; D. Luís I, Museu Nacional dos Coches, foto Henrique Ruas – DDF -IPM.)

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Os recursos naturais e as inovações tecnológicas A agricultura Em meados do século XIX a maioria dos Portugueses trabalhava na agricultura. Apesar disso, como muitas terras não eram cultivadas e os conhecimentos técnicos eram reduzidos, a produção era fraca e os camponeses continuavam a ter baixíssimos rendimentos. A falta de meios de transporte, dificultando a distribuição dos produtos, contribuía igualmente para o atraso da agricultura em Portugal. Sobre a situação em que a agricultura portuguesa se encontrava, lê o seguinte documento: 3

O estado da agricultura

• Indica as razões que contribuíam para o baixo rendimento da agricultura portuguesa.

Não se dão às terras os tratamentos prescritos pela ciência; os adubos são maus e empregados em menor quantida- • Refere as consequências para os camponeses desse baixo rendimento. de do que requer uma cultura intensiva; o afolhamento* é ao acaso (...); os adubos químicos são desconhecidos (...). Cruel ignorância que consome vidas e vidas a cavar a terra ingrata e que deixa os cultivadores a mendigar, no fim da vida, o pão de cada dia. Ramalho Ortigão, As Farpas, vol. I (adaptado)

* Divisão de um terreno em parcelas.

fig. 4 Trabalhando na eira, em Vizela (Fotog. S. Villarinho Pereira, da obra Um Médico no Chiado, Luísa Villarinho, 2003).

O desenvolvimento e a modernização da agricultura foram, por isso, prioridades fundamentais dos governos liberais. Portugal possuía bons terrenos agrícolas mas, na sua maior parte, mal aproveitados; foi, assim, necessário alterar as antigas leis e elaborar novas.

fig. 5 Mouzinho da Silveira (1780-1849). Ministro de D. João VI, D. Pedro IV e de D. Maria II, foi responsável por grande parte das medidas tomadas para a modernização da agricultura.

Sou capaz de... 1. Explicar a necessidade sentida pelos governos liberais de «regenerar o País». 2. Referir duas razões que contribuíam para a baixa produtividade agrícola. 53

Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

Os novos proprietários Para que mais terras fossem cultivadas e assim aumentar a produção, dividiu-se a terra por um maior número de proprietários: • vendeu-se, principalmente a burgueses, parte das propriedades da Coroa e das ordens religiosas que tinham sido, entretanto, extintas;

fig. 1 Ceifeira mecânica movida por cavalos. Na segunda metade do século XIX surgiram também algumas ceifeiras e debulhadoras movidas a vapor.

• acabou-se com o direito de morgadio (o direito que o filho mais velho tinha de herdar a totalidade dos bens paternos), passando as propriedades a ser divididas por todos os filhos; • dividiram-se muitos baldios (terrenos incultos que podiam ser utilizados por toda a comunidade para pasto do gado) em parcelas entregues aos camponeses, que os desbravaram e cultivaram.

As novas técnicas A modernização da agricultura obrigou também à introdução de novas técnicas. Assim: • incentivou-se a alternância das culturas, para evitar que as terras tivessem de ficar em pousio – período em que não se semeava a terra para que ela ficasse a descansar (fig. 2); • introduziram-se os adubos químicos e a selecção de sementes (figs. 3 e 4); • iniciou-se a mecanização da agricultura com a introdução das primeiras máquinas agrícolas, feitas em ferro, como a ceifeira e a debulhadora, utilizadas apenas nas grandes propriedades do Sul (fig. 1).

fig. 2 Novas técnicas de cultivo. No terreno que anteriormente se deixava em pousio, agora cultivam-se batatas. Alternando as culturas não se verifica o esgotamento do solo e a terra continua a produzir.

fig. 3 Folheto publicitário de uma fábrica de adubos químicos.

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fig. 4 Folheto publicitário de uma casa de comércio de sementes.

As culturas Foram também introduzidas ou desenvolvidas novas culturas, em Portugal, durante a segunda metade do século XIX. Lê o documento 5. 5

Os produtos agrícolas

Entre as novas culturas introduzidas ou expandidas durante este período, destacaram-se a batata e o arroz. A batata substituiu o consumo de nabos e castanhas na alimentação popular, sobretudo nos distritos do Norte e de Nordeste. Vastas áreas de castanheiros foram gradualmente cedendo o lugar a plantações de batata. Em muitas regiões, o pousio pôde ser parcialmente suprimido e substituído por batatais. O arroz difundiu-se nos meados do século com o propósito declarado de fazer baixar as respectivas importações. (…) Também a cortiça se espalhou, tendo a sua exportação duplicado a partir de 1870. A produção de azeite cresceu. Plantou-se vinha em larga escala. No Algarve, aumentaram as zonas de amendoeira e alfarrobeira. A. H. de Oliveira Marques, História de Portugal, vol. III (adaptado)

• Indica as duas culturas que mais cresceram neste período. • Refere a importância de cada uma delas. • Identifica as outras culturas referidas. • Retira uma conclusão.

fig. 6 Áreas de maior produção dos principais produtos agrícolas na segunda metade do século XIX (adaptado de A. do Carmo Reis, Atlas de História de Portugal).

As medidas aplicadas pelos governos liberais e a introdução de novas técnicas originaram não só uma maior distribuição da terra e um maior número de proprietários, como também um aumento das áreas cultivadas. A produção foi gradualmente aumentando, e tornando-se mais variada. Por todo o lado, surgiram novos pomares, hortas e campos de cereais, dando a Portugal um aspecto mais verde e fértil. fig. 7 A cultura da vinha foi introduzida, sobretudo, nas terras onde o clima ou o solo não eram bons para a cultura de cereais. A produção de vinho chegou a ocupar cerca de 30% da produção agrícola. A partir de 1872, as vinhas das regiões do Norte foram atingidas por uma praga – a filoxera – que originou uma considerável queda na produção do vinho.

Sou capaz de... 1. Indicar duas medidas tomadas pelos governos liberais em benefício da agricultura. 2. Com base na figura 6 construir um quadro indicando os produtos agrícolas cultivados em Portugal e as respectivas áreas geográficas.

3. Realizar a Ficha n.o 7 do meu Caderno de Actividades. Construir o meu glossário Registar, no meu Caderno de Actividades, o significado de baldio e pousio.

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Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

A indústria Durante muitos séculos, os produtos foram produzidos manualmente ou com instrumentos muito simples. Os artesãos trabalhavam na sua própria casa ou em pequenas oficinas, executando todas as tarefas, desde a transformação da matéria-prima até ao produto final. A partir dos meados do século XVII, surgiram as manufacturas, onde trabalhavam muitos artesãos, com instrumentos mecânicos movidos pela força humana, animal, do vento ou da água. fig. 1 Máquinas a vapor utilizadas Estas formas de produção artesanal e manufactureira predomina indústria portuguesa (adaptado navam ainda em Portugal, durante grande parte do século XIX. de Joel Serrão, Temas Oitocentistas).

A máquina a vapor Alguns inventos técnicos já utilizados no estrangeiro (especialmente na Grã-Bretanha) começaram, entretanto, a chegar a Portugal. A máquina a vapor, inventada pelo inglês James Watt, foi introduzida na indústria em 1835 e veio revolucionar todo o processo de transformação das matérias-primas (fig. 2).

fig. 2 Sistema de funcionamento de uma máquina a vapor. A força do vapor da água, aquecida numa caldeira, faz mover uma roda que, através de um conjunto de correias, põe em movimento várias máquinas ao mesmo tempo.

fig. 3 Fábrica de vidros da Marinha Grande (Revista Ocidente, 1890).

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Para que um grande número de máquinas pudesse trabalhar ao mesmo tempo surgiram grandes espaços – as fábricas –, onde passaram a trabalhar muitos operários. Estes já não participavam em todas as fases da produção, como os artesãos, mas especializavam-se apenas numa determinada fase. O produto final passou, assim, a ser feito por várias pessoas, trabalhando ao ritmo imposto pela máquina, o que não permitia qualquer paragem ou distracção. A partir daqui, passaram a fazer-se mais produtos, todos iguais, em menos tempo, e com menor esforço por parte dos trabalhadores.

As regiões mais industrializadas Até 1852, a industrialização desenvolveu-se de uma forma lenta, tendo, a partir dessa data, aumentado significativamente o número de novas fábricas. Como podes observar no mapa da figura 5, na segunda metade do século XIX, em Portugal, o maior número de indústrias localizava--se nas zonas Porto / Guimarães (têxteis e confecções) e Lisboa / / Setúbal (química e metalurgia). Esta localização devia-se ao facto de aquelas zonas serem muito populosas (forneciam não só mão-de-obra barata mas também um maior número de consumidores) e disporem de portos marítimos que permitiam um mais fácil abastecimento de matérias-primas e

fig. 4 Principais indústrias na segunda metade do século XIX.

fig. 5 Principais zonas industriais na segunda metade do século XIX. Para além das principais zonas industrializadas, no Litoral, as regiões de Covilhã, Castelo Branco, Leiria e Portalegre eram importantes centros produtores da indústria têxtil.

Sou capaz de... 1. Com base na figura 1, retirar uma conclusão sobre a introdução deste tipo de máquinas em Portugal.

2. Seleccionar das palavras e expressões seguintes as que estão relacionadas com o desenvolvimento da indústria no século XIX e escrevê-las no meu caderno diário: • roda de oleiro • operários • oficinas • litoral • máquina a vapor • artesãos • concentrações populacionais • aldeias • fábricas

3. Dar a minha opinião sobre a importância da invenção da máquina a vapor.

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Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

O nascimento do operariado O desenvolvimento da indústria, que se verificou na segunda metade do século XIX, levou ao aparecimento de um novo grupo social: o operariado. Homens, mulheres e, por vezes, crianças trabalhavam nas fábricas em muito más condições. Sujeitos a um horário muito longo (que podia ir até às 16 horas diárias) e recebendo baixos salários, estes operários viviam pobremente, mesmo recorrendo ao trabalho da mulher e dos filhos. Sobre este assunto, lê os documentos seguintes: 1 • Com base no documento 1, indica uma consequência da entrada da mulher no trabalho das fábricas; • Com base no documento 2, refere como eram as condições de vida destes pequenos trabalhadores. • Explica agora por que razão os patrões preferiam muitas vezes a mão-de-obra feminina e infantil. • Dá um título único aos dois documentos.

A mão-de-obra feminina

Com a entrada da mulher na fábrica, baixaram os salários e hoje em dia trabalham os dois para ganhar tanto quanto antes ganhava o homem. (…) Em muitos casos, os homens ficam em casa por falta de trabalho e a mulher vai trabalhar, porque o que o patrão deseja é a mão-de-obra mais barata. Jornal O Eco Metalúgico, 1897

2

O trabalho infantil

De Inverno, ao romper da manhã, já os pequenitos esperavam, às escuras, debaixo de chuva, ou enregelados pelo frio, que se lhes abrisse o portão da fábrica (…) Tinham de levantar-se às 2 h da noite para chegarem ao toque da sineta (...) E de seis e sete anos de idade! Era uma fábrica de estamparia e tinturaria pelos processos manuais. (...) Lavavam fazendas nos tanques, metidos na água à temperatura de 4 graus. À hora das refeições nunca vi nenhum deles tomar um caldo. Pão e uma sardinha frita: era o inevitável menu. Silva Pinto (1848-1911), jornalista e escritor, Noites de Vigília, 1896 (adaptado)

Nem o governo, nem a grande maioria dos patrões dava aos operários qualquer espécie de protecção ou de assistência contra acidentes. Com vidas e problemas semelhantes, as pessoas que compunham o operariado começaram, a pouco e pouco, a unir-se, fundando as primeiras associações. Para lutar pelos seus direitos e melhores condições de trabalho, os operários saíram à rua em manifestações e fizeram as primeiras greves. fig. 3 Primeira comemoração do 1.° de Maio, Dia do Trabalhador (Lisboa, 1890).

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A extracção mineira A mecanização da indústria deu-se com a utilização de uma nova energia – o vapor. Para a conseguir, utilizou-se, como combustível, o carvão mineral. Este passou a ser a principal fonte de energia, sendo utilizado para fins domésticos (aquecimento de fogões de sala ou de cozinha), industriais (caldeiras das máquinas a vapor ou altos fornos das fundições) e ainda para produzir o gás com que se fazia a iluminação pública. O carvão mineral tornou-se, assim, muito valioso. Também o cobre passou a ser extraído em maior quantidade, bem como o ferro, aplicado agora no fabrico de máquinas, carris e construções públicas. Contudo, dada a escassa produção portuguesa, a maior parte do carvão e do ferro continuou a ser importada.

fig. 4 Principais minas exploradas no século XIX.

A alteração da paisagem Em busca de minério, perfurou-se o solo e escavaram-se os montes (fig. 5). Alguns campos começaram a ser atravessados por estradas e caminhos-de-ferro e construíram-se instalações para apoiar esta actividade. Novas povoações foram, assim, surgindo. A extracção mineira e a nova energia utilizada transformaram a paisagem. Esta, sobretudo nas zonas industriais, passou a ser dominada por fábricas com chaminés muito altas para evitar que os fumos e os maus cheiros afectassem a saúde da população.

fig. 5 Gravura representando o interior de uma mina.

Sou capaz de... 1. Fazer uma recolha de dados e redigir um texto sobre: • exemplos de trabalho infantil e respectivos horários de trabalho, no passado e no presente;

2.

• actividades económicas da minha região, indicando a actividade predominante, as principais produções e os instrumentos de trabalho utilizados; • influência da indústria no meio ambiente.

Construir o meu glossário Registar, no meu Caderno de Actividades, o significado de indústria e operariado.

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Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

Transportes e comunicações Todo o progresso agrícola e industrial que acabaste de estudar só foi possível graças ao desenvolvimento das vias de comunicação e dos meios de transporte, condições indispensáveis à circulação de matérias-primas e produtos. De facto, no início do século XIX, as estradas eram poucas e más e os transportes eram tão antiquados que, por exemplo, uma viagem de Lisboa ao Porto, que hoje se faz em cerca de 3 h de carro ou de comboio, demorava, na época, em transportes puxados por cavalos, cerca de sete dias. Na segunda metade do século, o governo português iniciou, então, uma política de desenvolvimento das comunicações, construindo estradas, pontes, caminhos-de-ferro e túneis e modernizando os próprios transportes. Um dos principais responsáveis por esta política foi Fontes Pereira fig. 1 Viajando em Portugal nos de Melo (1819-1887), ministro de D. Maria II, de D. Pedro V e de princípios do século XIX. D. Luís I, que aplicou em Portugal inovações já utilizadas noutros países europeus. A introdução da máquina a vapor nos transportes foi uma delas.

O comboio A primeira viagem de comboio realizou-se entre Lisboa e o Carregado, no dia 28 de Outubro de 1856. Lê o documento seguinte que te fala sobre esta inauguração. 2

A inauguração do comboio Vou contar o que me lembro do solene dia da inauguração que, enfim, chegou. (...) minha mãe (...) foi comigo para um monte fronteiro à estação de Alhandra ver a passagem do comboio em que meu pai devia tomar lugar (…). Finalmente avistámos ao longe um fumozinho branco, na frente de uma fita escura que lembrava uma serpente a avançar devagarinho. Era o comboio! Quando se aproximou vimos que trazia menos carruagens do que supúnhamos. Vinha festivamente embandeirado o vagão em que viajava el-rei D. Pedro V (…). Só no dia seguinte ouvimos o meu pai contar várias peripécias dessa jornada de inauguração. A máquina (…) não tinha força para puxar todas as carruagens que lhe atrelaram e fora-as largando pelo caminho. Algumas, de convidados, nos Olivais. O vagão do cardeal patriarca ficou em Sacavém; mais um (…) ficou ao desamparo na Póvoa. Creio que se o Carregado fosse mais longe e a manter-se uma tal proporção, chegava lá a máquina ou parte dela. Livro de Memórias da Marquesa de Rio Maior (adaptado)

fig. 3 Cerimónia de inauguração do caminho-de-ferro em Portugal e carruagem real.

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• Refere por que razão esta viagem despertou tanto interesse. • Explica por que foram algumas carruagens ficando pelo caminho.

N

Póvoa Lisboa

Alhandra Sacavém Olivais

Aveiro Figueira da Foz

0

50 km

Viseu

Leiria Entroncamento

Lisboa Évora

fig. 4 Ponte D. Maria, no Porto. Em 1877, concluiu-se a ligação ferroviária directa Lisboa-Porto graças à construção desta ponte.

Guarda

Coimbra

Elvas

ESPANHA

Carregado

Valença Caminha Viana do Castelo Braga Mirandela Póvoa Guimarães de Tua Varzim Porto Régua

Setúbal Beja

Em 1868 inaugurou-se a ligação Lisboa-Madrid e, em 1887, iniFaro 0 50 km ciou-se a ligação directa Lisboa-Madrid-Paris, feita através do Sud-Express, um comboio mais luxuoso, com várias carruagens e 1856-1869 1870-1883 1884-1897 restaurante. Portugal ficou, assim, mais perto do centro da Europa. fig. 5 Evolução da linha ferroviária em Portugal (adapatdo de A. H. de Oliveira Marques, História de Portugal, vol. III). A via férrea foi progressivamente alastrando pelo País, existindo já no final do século cerca de 2000 km de caminhos-de-ferro.

fig. 6 Inauguração do caminho-de-ferro directo de Madrid à fronteira de Portugal (Revista Ocidente, 1881). O comboio era puxado por uma locomotiva a vapor. A esta seguia-se um vagão que transportava carvão para alimentar a máquina. Vinham depois as carruagens de passageiros e de mercadorias. fig. 7 Cartaz publicitário do Sud-Express.

Sou capaz de... 1. Redigir um texto utilizando as seguintes palavras: comboio, máquina a vapor, Fontes Pereira de Melo, Lisboa, D. Pedro V, Carregado, 1856, carvão.

2. Dar a minha opinião sobre a importância, para a Humanidade, da invenção do comboio. 3. Elaborar uma pequena biografia de Fontes Pereira de Melo. Realizar a Ficha n.o 4 do meu Caderno de Apoio (Estudo Acompanhado).

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Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

As estradas e as vias marítimas Ao mesmo tempo que se desenvolvia a rede de caminho-de-ferro, iniciou-se uma fase de renovação e de construção de estradas. Quando Fontes Pereira de Melo assumiu o cargo de ministro, em 1852, o País possuía apenas 218 km de estradas macadamizadas, isto é, estradas construídas segundo a técnica inglesa de Mac Adam – terra batida sobre pequenas pedras e areia grossa. Quando deixou este cargo, em 1887, Portugal já tinha cerca de 9000 km de estradas. fig. 1 Quilómetros de estrada Observa a figura 1. existentes (adaptado de A. H. de A partir de 1855, e após anteriores tentativas fracassadas, comeOliveira Marques, História de Portuçou a circular, na estrada Lisboa-Porto a «mala-posta», diligência gal, vol. III). que transportava o correio e alguns passageiros (fig. 2). No final do século, o automóvel começou a circular em Portugal, utilizando o petróleo como fonte de energia.

fig. 2 Carruagem da mala-posta (gravura do Museu dos CTT). O percurso entre Lisboa e Porto era feito em 34 h, incluindo o tempo gasto nas refeições que os passageiros tomavam pelo caminho. Os cavalos eram substituídos diversas vezes durante a viagem.

5

fig. 3 Ponte D. Luís I, no Porto. Construída em ferro e inaugurada em 1886, completava a ligação rodoviária entre Lisboa e o Porto. Hoje, o seu tabuleiro superior está a ser adaptado para servir o metropolitano de superfície, continuando o tabuleiro inferior destinado à circulação rodoviária.

O transporte preferido

Do Porto a Braga levava-se seis horas de mala-posta e pagava-se 1500 [réis]; de comboio, passava a levar-se 2 horas e 22 minutos, por um preço de 810 réis. Villaverde Cabral, O Desenvolvimento do Capitalismo em Portugal no Século XIX (adaptado)

• Refere duas vantagens do comboio. • Explica por que razão o comboio podia praticar um preço diferente. fig. 4 Porto artificial de Leixões. Construído entre 1884 e 1892 veio permitir um mais fácil carregamento de mercadorias relativamente a toda a zona industrial situada entre o Porto e Guimarães.

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Os transportes marítimos beneficiaram igualmente de melhoramentos, não só com a aplicação da máquina a vapor aos barcos, a partir de 1820, mas também com a construção de portos e de faróis ao longo da costa para orientar a navegação. Até aí, a costa portuguesa era conhecida pela navegação estrangeira como a «costa negra», devido à falta de sinalização.

Os outros meios de comunicação Além dos meios de transporte, desenvolveram-se outras formas de comunicação. Os correios foram remodelados, surgindo o primeiro selo adesivo e o bilhete postal, os primeiros marcos postais, os primeiros telégrafos e, em 1882, a rede de telefones de Lisboa. Telégrafo

Telefone de parede

Marcos do correio

Selo

fig. 6 Meios de comunicação. Para que fosse possível a distribuição do correio, as casas passaram a ter números e as ruas nomes, como acontece nos nossos dias. Os primeiros selos postais portugueses entraram em circulação em 1853, tendo a imagem de D. Maria II.

Os novos meios de transporte e de comunicação trouxeram muitas alterações na forma de viver, pensar e comunicar: • facilitaram a mobilidade de pessoas. Viajar tornou-se mais fácil, rápido e cómodo; • possibilitaram a circulação de novas ideias, hábitos e informações; • permitiram a deslocação de maior quantidade de mercadorias em menos tempo. Graças ao comboio, muitas regiões puderam escoar os seus produtos para outras zonas, favorecendo o desenvolvimento da agricultura, da indústria e do comércio. A economia do País ia-se progressivamente modernizando.

CRONOLOGIA

1852 Estabelecimento da mala-posta entre Porto, Braga e Guimarães. 1853 Início da utilização dos selos postais. 1854 Primeiras linhas telefónicas. 1856 • Inauguração do primeiro troço de caminho-de-ferro: Lisboa-Carregado. • Inauguração da rede do telégrafo eléctrico. 1858 Primeira carreira a vapor entre Portugal e Angola. 1864 Ligação de Portugal à Europa por caminho-de-ferro. 1882 • Inauguração da rede de telefones de Lisboa. • Inauguração das linhas férreas da Beira Alta e do Minho. 1887 Inauguração da linha férrea do Douro. 1889 Inauguração da linha férrea do Sul.

Sou capaz de... 1. Indicar duas medidas tomadas, durante este período, para melhorar cada um dos transportes: a) ferroviários;

b) rodoviários;

c) marítimos.

2. Dar a minha opinião sobre qual dos acontecimentos referidos na cronologia considero mais importante e justificar.

3. Realizar a Ficha n.o 9 do meu Caderno de Actividades.

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Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

A cultura Apesar da elevada quantidade de analfabetos existente em Portugal, na segunda metade do século XIX, um número cada vez maior de pessoas, sobretudo das cidades, começou a interessar-se pelos acontecimentos políticos e sociais do mundo em que vivia. Para isso contribuiu o desenvolvimento dos meios de comunicação com a Europa, facilitando a importação de livros e revistas. O número de publicações aumentou rapidamente. A imprensa tornou-se não só um meio de difusão de ideias e notícias, tanto nacionais como estrangeiras, mas também uma forma de publicitar novos inventos e produtos (fig. 1). O gosto pela leitura de jornais foi progressivamente aumentando. 2

fig. 1 Publicações da segunda metade do século XIX: o jornal O Século e página de anúncios d’ O Comércio do Porto Ilustrado.

A leitura do jornal

Recordo uma noite em que uma senhora lia, à luz do candeeiro, um jornal da tarde. Em torno da mesa outras senhoras costuravam. Espalhados pelas cadeiras, três ou quatro homens fumavam. Ela lia as catástrofes. «Na ilha de Java um terramoto destruíra vinte aldeias e matara duas mil fig. 3 Eça de Queirós pessoas...» e ninguém se interessou. Na Bélgica, (1845-1900). numa greve de operários que as tropas tinham atacado, houvera entre os mortos quatro mulheres, duas criancinhas... Então, na aconchegada sala, vozes já mais interessadas exclamaram: «Que horror!... Pobre gente!...» (...) No sul da França, «um trem descarrilando, causara três mortos, onze ferimentos...» Uma curta emoção passou através de nós com aquela desgraça quase próxima, num comboio que desce a Portugal, onde viajam portugueses... Todos lamentámos, estendidos nas poltronas, gozando a nossa segurança. A leitora virou a página do jornal... (...) E, de repente, solta um grito, leva as mãos à cabeça: – Santo Deus!... Todos nos erguemos num sobressalto. E ela, no seu espanto e terror, balbuciando: – Foi a Luísa Carneiro, da Bela-Vista... Esta manhã! Desmanchou um pé! Então a sala inteira se alvoroçou. As senhoras arremessaram a costura; os homens esqueceram os charutos; e todos se debruçavam e reliam a notícia (...). A Luisinha Carneiro! Desmanchara um pé! Já um criado correra, ansiosamente, para a Bela-Vista, buscar notícias por que ansiávamos (...). Eça de Queirós, Cartas Familiares e Bilhetes de Paris, século XIX (adaptado)

fig. 4 O Sorvete, jornal satírico editado no Porto entre 1878 e 1885. Comentava a vida do País, utilizando a caricatura como forma de crítica social.

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• Identifica as desgraças noticiadas no jornal. • Explica as diferentes atitudes dos ouvintes ao tomarem conhecimento das várias notícias. • E tu? Reagirias do mesmo modo? Justifica.

Desenvolveu-se também o gosto pelo teatro e pelo romance, que conquistou um grande número de leitores. Em Lisboa, Almeida Garrett promoveu a construção de um Teatro Nacional e em todo o País inauguraram-se teatros e salas de espectáculos, frequentadas principalmente pela nobreza e pela burguesia.

fig. 5 Teatro Nacional de D. Maria II, no Rossio, em Lisboa (gravura da época). Construído entre 1842 e 1846 sobre as ruínas do antigo Palácio da Inquisição, foi inspirado nas arquitecturas grega e romana.

CRONOLOGIA

1860 Publicação dos primeiros romances de Júlio Dinis. 1864 Fundação do jornal Diário de Notícias. 1868 Fundação do jornal O Primeiro de Janeiro. 1878 Início da publicação do semanário A Voz do Operário. 1881 Fundação do jornal O Século. 1890 Inauguração do Coliseu dos Recreios, em Lisboa. 1895 Primeiro espectáculo público de cinema no Porto. 1896 Primeiro espectáculo público de cinema, no Real Coliseu de Lisboa.

Interior do teatro.

O romance, desenvolvido neste século, teve como principais escritores Júlio Dinis, Almeida Garrett, Ramalho Ortigão, Camilo Castelo Branco e Eça de Queirós. As suas obras retratavam a sociedade da época, muitas vezes de uma forma irónica e caricatural. O romance histórico teve como principal representante Alexandre Herculano (fig. 6), que também desempenhou um papel muito importante na reorganização dos arquivos do Estado. Começou a esfig. 6 Alexandre Herculano crever uma História de Portugal, obra que não chegou a concluir. (1810-1877).

Sou capaz de... 1. Indicar uma razão que contribuiu para o grande desenvolvimento cultural da segunda metade do século XIX.

2. Seleccionar, da cronologia, uma publicação que esteja relacionada com a luta por melhores condições de vida dos trabalhadores das fábricas.

3. Elaborar a biografia de um escritor deste período.

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Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

A arte A segunda metade do século XIX foi uma época muito rica e variada no aspecto artístico. Muitas das imagens deste período que encontras no teu manual pertencem a estes artistas. Observa-as com atenção.

A arquitectura A arquitectura dos finais do século XIX está relacionada com o crescimento das cidades e com a necessidade de construção de grandes espaços – pavilhões de exposições, estações de caminho-de-ferro, fábricas, teatros… Os novos materiais utilizados foram o ferro e o vidro, característicos da industrialização. O ferro permitia construir estruturas sólidas mas leves, delimitando espaços amplos. O vidro, usado como revestimento dessas estruturas, permitia a entrada de luz natural. O gosto pelo reviver de períodos importantes do passado, como o dos Descobrimentos, é visível na arquitectura de muitos edifícios.

fig. 1 Palácio da Pena, em Sintra. Mandado construir por D. Fernando II (marido da rainha D. Maria II) entre 1838 e 1885, sobre as ruínas de um convento do século XVI, integra na sua decoração elementos de vários estilos.

fig. 2 Hotel do Buçaco, perto de Coimbra. A sua construção, inspirada no estilo manuelino, iniciou-se em 1888.

fig. 3 Palácio de Cristal, no Porto. Foi inaugurado com a «Exposição Internacional» de 1865. Este grande espaço, que utilizou na sua construção os novos materiais da época (ferro e vidro), foi demolido em 1951, dando lugar ao actual Pavilhão Rosa Mota, dedicado ao desporto e à cultura.

Foto Manuel Palma / DDF-IPM

A pintura e a escultura

fig. 4 Retrato da viscondessa de Menezes (pintura de Luís de Menezes, Museu do Chiado).

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Os artistas deste período pintaram, sobretudo: • paisagens rurais e marítimas; • cenas da vida quotidiana; • retratos. O retrato pintado fazia parte dos gostos das famílias ricas. Era moda encomendar retratos dos donos da casa a pintores famosos para expôr nas paredes dos salões. Nos meados do século (1840), a invenção da fotografia veio tornar mais acessível o retrato, diminuindo este tipo de encomendas.

Foto José Pessoa / DDF-IPM

Foto Carlos Monteiro / DDF-IPM

Na pintura de paisagens e quotidiano, são de referir os nomes de Silva Porto (1850-1893), José Malhoa (1855-1933) e Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1927); na escultura, destacaram-se Soares dos Reis (1847-1889) e Teixeira Lopes (1866-1942).

fig. 5 À Beira-Mar, de José Malhoa (Museu do Chiado).

fig. 6 O Desterrado, de Soares dos Reis (Museu Nacional Soares dos Reis).

A cerâmica Como caricaturista e ceramista salientou-se Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905), conhecido pela criação da popular figura do Zé Povinho (fig. 8). A maioria das suas obras criticava a acção dos governantes e os usos e costumes da sociedade do seu tempo. O azulejo foi também utilizado como decoração de edifícios, por vezes até com uma função publicitária (fig. 7). fig. 7 Painel de azulejo da Cerâmica Viúva de Lamego, realizado em 1865.

fig. 8 Zé Povinho, de Rafael Bordalo Pinheiro.

Sou capaz de... 1. Referir os novos materiais utilizados na arquitectura deste período. 2. Explicar por que razão a arquitectura teve de se adaptar às novas exigências da época. 3. Identificar nas figuras 4 e 5 temas comuns na pintura deste período. 67

Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

O ensino Como te deves recordar, no tempo do Marquês de Pombal foram reformadas algumas escolas e criadas outras. Também os governos liberais pretenderam garantir a instrução a todos os cidadãos. Para isso: • no ensino primário, aumentou-se o número de escolas primárias (algumas delas do sexo feminino), tornando este ensino de frequência obrigatória nos três primeiros anos e um ano mais de voluntariado; • no ensino liceal, criaram-se liceus (escolas secundárias) em todas as capitais de distrito e dois em Lisboa. Fundaram-se escolas industriais, comerciais e agrícolas, pois o País necessitava de formar técnicos competentes em todos os sectores; fig. 1 Passos Manuel (1801-1860). Natural dos arredores do Porto, foi ministro de D. Maria II e um dos grandes responsáveis pelas medidas tomadas na educação.

• no ensino universitário, criaram-se novas escolas ligadas à marinha, às artes, às técnicas e ao teatro. No entanto, a única universidade portuguesa continuava a ser a de Coimbra. Apesar destas medidas, nos finais do século XIX, grande parte da população continuava analfabeta, sobretudo as mulheres, as pessoas do campo e muitas crianças das cidades que, como te lembras, começavam a trabalhar desde tenra idade. Observa a figura 2 e o quadro I. QUADRO I % de analfabetos Anos População Na pop. Na população Na população masculina feminina total

fig. 2 Criação de escolas primárias entre 1850 e 1900 (A. H. de Oliveira Marques, História de Portugal, vol. III).

3

1878

4 550 699

82,4





1890

5 049 729

79,2

72,5

85,4

1900

5 423 132

78,6

71,6

84,9

Fonte: Joel Serrão, «Analfabetismo», in Dicionário da História de Portugal

Nem todos iam à escola

A criança de sete a dez anos já conduz os bois, guarda o gado, apanha a lenha, acarreta, sacha, colabora na lavoura. Tem a altura de uma enxada e a utilidade de um homem. Sai de madrugada e volta à noite. Eça de Queirós (1845-1900)

• Explica o significado da frase destacada. • Transcreve a frase do texto que indica que estas crianças não podiam ir à escola.

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A defesa dos direitos humanos De acordo com os princípios liberais, que prevaleceram durante este século, o governo português tomou duas importantes medidas relacionadas com os direitos do Homem: • promulgação do Código Civil de 1867, onde a pena de morte era abolida para crimes civis; • extinção da escravatura em todos os territórios portugueses (1869). Portugal foi o primeiro país da Europa a acabar com a pena de morte que, como sabes, ainda hoje existe em muitos países, como, por exemplo, em alguns estados dos Estados Unidos da América e na China. Lê o documento seguinte:

5

fig. 4 Sá da Bandeira (1795-1876). Natural de Santarém, foi ministro de D. Maria II e de D. Luís I, tendo sido o responsável pelo fim da escravatura em todos os territórios portugueses.

Quadro II

O exemplo português

Portugal acaba de abolir a pena de morte. Acompanhar este progresso é dar o grande passo da civilização. Desde hoje Portugal é a cabeça da Europa. Vós, Portugueses, não deixastes de ser navegadores destemidos. Antes vós íeis à frente no Oceano; hoje vós ides à frente na Verdade. A Europa imitará Portugal. Eu grito: Glória a Portugal. Carta de Victor Hugo (escritor francês do século XIX) ao jornal Diário de Notícias, em 10/07/1867

• Explica a comparação feita entre este período português e o dos Descobrimentos. • Comenta a frase destacada. • Que sentimento tenta o autor transmitir aos seus leitores? • Dá outro título ao documento. • Concordas com a abolição desta pena? Justifica.

Data

Países

1920

Áustria

1921

Suécia

1924

Itália

1928

Islândia

1978

Dinamarca

1979

Luxemburgo, Nicarágua e Cabo-Verde

1981

França

1982

Holanda

fig. 6 Algumas datas de abolição da pena de morte.

Sou capaz de... 1. Comparar os dados da figura 2 com os do quadro I e retirar uma conclusão. 2. Realizar a Ficha n.° 10 do meu Caderno de Actividades. 3. Sugerir ao meu / à minha professor(a) que organize um debate sobre as medidas de defesa dos direitos humanos. Elaborar um painel com as conclusões do debate e ilustrá-lo com desenhos ou recortes de jornais e de revistas. Situar no tempo Realizar a actividade n.o 5 do meu Friso Cronológico.

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Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

4.2 A vida quotidiana A vida nos campos As actividades

fig. 1 Na eira, malhando o milho.

Na segunda metade do século XIX, as principais actividades das pessoas que viviam no campo continuavam a ser a agricultura e a criação de gado. Esta constituía não só um rendimento complementar mas também um recurso auxiliar das actividades agrícolas (fornecia estrume para as culturas e força para puxar os arados). Muitos camponeses trabalhavam em terras que não lhes pertenciam, na condição de rendeiros, jornaleiros (trabalhavam à jorna, ou seja, ao dia), criados ou assalariados. Havia também numerosos pequenos proprietários cujas terras mal chegavam para os sustentar. Os grandes proprietários podiam ser nobres que tinham conseguido manter as suas propriedades ou burgueses que as tinham herdado ou comprado ao Estado. Apesar dos progressos registados na agricultura, que já estudaste, a vida dos camponeses continuava a ser muito difícil. Trabalhavam desde o nascer até ao pôr do Sol nas múltiplas tarefas que se sucediam ao longo do ano: a sementeira, a ceifa, a vindima, a extracção da cortiça e a apanha da azeitona.

fig. 2 Guardando o rebanho (painel de azulejo no Mercado Municipal de Montemor-o-Novo).

fig. 3 A apanha da azeitona (painel de azulejo no Mercado Municipal de Montemor-o-Novo).

A alimentação A alimentação das pessoas do campo era muito simples e feita à base dos produtos que cultivavam ou podiam adquirir com mais facilidade. Compunha-se, normalmente, de pão, azeitonas, sardinha, carne de porco e sopa de legumes frescos ou secos. O arroz e a batata, produzidos então em maior quantidade, passaram também a fazer parte da alimentação diária. Doces e carne, de vaca ou de aves, só em dias festivos. Ao longo do ano, por ocasião das festas religiosas, confeccionavam-se manjares com receitas próprias de cada região. 70

O vestuário O vestuário dos camponeses variava conforme a região, o respectivo clima e ainda os trabalhos que realizavam. Observa a figura 4.

A

B

C

D F E fig. 4 Trajes típicos: A – homem e mulher dos arredores do Porto com trajo de romaria; B – homem e mulher de Ovar; C – ceifeira do Minho; D – pescadores de Ílhavo; E – camponesa do Alentejo; F – campino da Estremadura (imagens E e F: aguarelas de Alberto Souza).

fig. 5 Trajes regionais de Viana do Castelo. Muitos trajes regionais ainda perduram, por terem passado a ser utilizados como trajes dos grupos e ranchos folclóricos (imagem cedida pelo Centro Cultural Português de Mississanga Inc., Ontário, Canadá).

A habitação O tipo de casas também variava conforme a sua localização, o clima e os materiais de construção existentes na zona. De um modo geral, os interiores eram simples e modestos. 6

A mesa do camponês

Na mesa de pinho, recoberta com uma toalha de mão, encostada ao muro enegrecido pelo fumo das candeias, uma vela de sebo meio derretida num castiçal de latão alumiava dois pratos de louça amarela, ladeados por colheres de pau e garfos de ferro. Os copos, de vidro grosso e baço, conservavam o tom roxo do vinho. (…) A malga de barro atestada de azeitonas pretas. (…) Na larga broa estava cravado um facalhão. Eça de Queirós, Contos

• Com base no documento 6 e na figura 7, descreve o interior de uma casa de camponeses.

fig. 7 Interior da casa de um lavrador do Minho. Por vezes, a família camponesa vivia num único compartimento. Aí se preparavam as refeições, se comia e se dormia.

Sou capaz de... 1. Explicar se a alimentação dos camponeses era equilibrada ou desequilibrada e justificar. 2. Identificar a quem pertencia a maior parte das terras. 3. Referir duas razões para que o vestuário fosse diferente de região para região. 71

Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

Os divertimentos Os divertimentos estavam muito relacionados com as festas religiosas e com os trabalhos agrícolas (vindimas, ceifas, desfolhadas), que eram, muitas vezes, acompanhados por cantares ao desafio. Durante as festas do santo padroeiro de cada povoação faziam-se procissões, romarias, feiras e o povo divertia-se com bailes e jogos típicos da sua região. As crianças divertiam-se com brinquedos que elas próprias construíam. 2

As festas religiosas

As Janeiras à porta do ano, e os Santos Reis logo ao pé (...); o Entrudo com a festa do galo; a Quaresma com as suas devoções; pelo S. João as grandes fogueiras; os magustos em «Todos-os-Santos»; no Natal as consoadas – e uma vez por outra, ao ar livre (na eira), esses autos* que têm tanta fama. Trindade Coelho, Os Meus Amores, século XIX (adaptado)

* Representações teatrais.

• Indica as festas religiosas a que o documento se refere.

Foto Carlos Monteiro / DDF-IPM

fig. 1 Romaria do Senhor da Serra, em Belas (foto da época).

fig. 4 Procissão, pintura de Augusto Roquemont, meados do século XIX (Museu Nacional Soares dos Reis), representando uma romaria no Minho.

fig. 5 Armando aos Pássaros, óleo de Henrique Pinto, datado de 1893 (col. particular).

fig. 6 Baile na Aldeia, pintura de Leonel Pereira (1828-1892), Museu Nacional Soares dos Reis, Porto.

Foto Carlos Monteiro / DDF-IPM

fig. 3 Jogo do Chinquilho (Portugal Pittoresco e Ilustrado, I, 1903).

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A taberna, onde os homens se encontravam ao fim da tarde, e a fonte ou o rio, onde as mulheres, em conjunto, lavavam a roupa, eram locais onde se trocavam as novidades do dia-a-dia da terra. A tenda, ou loja, da aldeia, além de ser um lugar de abastecimento de produtos, era também outro local onde se podiam saber notícias.

fig. 7 Mulheres lavando a roupa no rio (foto da época).

fig. 8 Os Bêbedos, pintura de José Malhoa, 1907.

O correio e o almocreve faziam a ligação entre as diversas regiões. Em muitas terras organizavam-se serões para a leitura da correspondência recebida e para a escrita da respectiva resposta. Lê o documento 9. 9

A leitura das cartas

Aquela mulher parava ali para ler a essa gente, pobre e ignorante, as cartas que haviam recebido do correio. – … E, por isso, minha mãe – lia ela – se Deus me ajudar, espero dentro em pouco ir a essa terra e darei remédio a tudo (…). E continuou a ler a carta, no meio das lágrimas e das expansões de alegria da ouvinte (…). Após esta, ainda outra e outra; uma de marido para mulher; outra de filho para mãe; outra de noivo para noiva. Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais (romance do século XIX – adaptado)

• Por que motivo aquela mulher lia as cartas das outras pessoas?

fig. 10 Uma Carta do Brasil (Ilustração Portuguesa, 1884). A chegada de notícias era sempre um momento de grande entusiasmo.

Sou capaz de... 1. Referir duas manifestações populares ligadas às festas religiosas. 2. Explicar como tinham as pessoas do campo acesso às notícias de outras regiões. 3. Imaginar que vivia nessa época e que era um trabalhador rural. Com base nos textos que li e nas imagens que observei, elaborar uma pequena composição sobre o meu quotidiano.

4. Realizar a Ficha n.o 11 do meu Caderno de Actividades. 73

Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

A vida nas grandes cidades A população e as actividades Na segunda metade do século XIX, a população portuguesa cresceu muito (mais de 1 milhão de habitantes), contando-se, no final do século, em quase 5 milhões. Lisboa e Porto eram as cidades mais populosas. A sua área, durante este período, aumentou consideravelmente.

fig. 1 O crescimento da cidade de Lisboa (adaptado de A. H. de Oliveira Marques e J. J. Alves Dias, Atlas Histórico de Portugal e do Ultramar Português).

fig. 2 Rua Mouzinho da Silveira, no Porto (postal da época).

Era nestas duas cidades que se localizava grande parte das fábricas, para as quais se dirigiam pessoas de todas as partes do País à procura de emprego e de melhores condições de vida. A burguesia predominava também nestas duas cidades – comerciantes, industriais, banqueiros, médicos, advogados, professores e funcionários públicos. Lisboa e Porto dominavam a actividade bancária, o comércio e a indústria do resto do País. A pouco e pouco, alguns burgueses, cada vez mais enriquecidos, começaram também a ocupar cargos no governo, ou seja, a ter poder político. Mas a maioria da população das cidades, durante o século XIX, pertencia às classes populares e trabalhava em muitas actividades fig. 3 Número de habitantes de – operários da indústria e construção civil, empregados de balcão, Lisboa e do Porto (adaptado de criados nas casas de pessoas ricas e da classe média. A. H. de Oliveira Marques, História de Portugal, vol. III).

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Os vendedores ambulantes Para abastecer as cidades chegavam, logo de manhã cedo, os vendedores ambulantes apregoando os seus produtos (fig. 5). Tornaram-se figuras típicas das cidades, pela sua maneira de vestir e pelo anúncio cantado (o pregão) do produto que traziam para vender, tentando, assim, conquistar a freguesia. 4

Pregões do século XIX – Que-em compra os ovos? – Ó-ó fa-va ri-ca! – Que-em merca o leiti-e-e? – Azeiti… i… i – Que-em quer figos? Que-em quer almoçar? – Oh! – Que rico safio go-o-ordo! – Sabão a vintém! Quem merca o sabão? A

B

C

D

E

fig. 5 Vendedores ambulantes: A – varina de Lisboa; B – aguadeiro de Lisboa; C – galinheira do Porto; D – vendedor de cestos de Lisboa; E – vendedora de roupas de Lisboa.

A alimentação A burguesia e a nobreza tinham uma alimentação abundante e variada. Faziam normalmente quatro refeições diárias: o pequeno-almoço, o almoço, o jantar e a ceia. Apreciavam muito pratos de carne e deliciavam-se com as sobremesas. Multiplicaram-se, nesta época, os restaurantes e os cozinheiros famosos que inventavam novas receitas ou confeccionavam outras de origem estrangeira. São, por exemplo, os casos do pudim, do puré, da omelete, do suflê ou do bife. O povo das cidades, que não tinha dinheiro para estes luxos, alimentava-se de pão, legumes, toucinho e sardinhas.

fig. 6 Livro de cozinha do final do século XIX.

Sou capaz de... 1. Indicar duas razões para o crescimento de Lisboa e Porto. 2. Redigir um pequeno texto comparando o comércio desta época com o que se pratica actualmente. 75

Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

Os divertimentos As pessoas das cidades tinham divertimentos próprios. Reuniam-se em cafés e clubes, jantares, festas e bailes e iam à ópera, ao teatro, ao circo e às touradas, espectáculos também muito apreciados pela família real. No final do século, surgiu o cinema.

fig. 1 Andar de bicicleta era apreciado tanto por homens como por mulheres. Desportos como o ténis, o futebol, a ginástica ou o atletismo começaram a ter muitos adeptos.

fig. 2 Uma festa num palacete da burguesia (foto da época).

Frequentavam os grandes jardins – como o Passeio Público ou o Jardim Zoológico em Lisboa e o Jardim de S. Lázaro, no Porto – onde, além de conviverem e comentarem as últimas novidades, ouviam música tocada pelas bandas no coreto, assistiam a representações teatrais e ao lançamento de fogo de artifício.

fig. 3 O Passeio Público. O local da actual Avenida da Liberdade foi, durante muitas décadas, o principal espaço público da cidade de Lisboa. Durante este período, tornou-se o ponto de encontro da nobreza e da alta burguesia da capital. Fechava às 18 h, reabrindo às 20 h, com música e entradas pagas.

5

fig. 4 Os banhos em Algés. De Julho a Outubro, as praias da linha de Cascais enchiam-se de banhistas lisboetas. Como a maior parte das pessoas não sabia nadar, o banheiro estava sempre presente, mesmo que fosse só para ajudar a dar um mergulho. Os mais ricos frequentavam também as termas.

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Comportamento de uma senhora

(…) Na praia não sai da sua barraca para o mar nem deste para aquela, molhada, apenas com um simples fato de banho. Lança sempre uma capa sobre os ombros (…) No teatro o bom gosto exige que uma senhora fique no seu lugar durante toda a representação. (…) Não deve, sob pretexto algum, binocular para a sala. Maria de Lurdes Lima dos Santos, Para uma Sociologia da Cultura Burguesa em Portugal no Século XIX

• Que podes concluir sobre o comportamento que as senhoras deveriam ter, mesmo nos divertimentos?

O vestuário e a moda O vestuário usado pelas classes mais ricas foi variando ao longo do século XIX, conforme as modas que vinham de França (a pátria da moda) e da Grã-Bretanha. Mas apesar das variações da moda, podemos reconhecer algumas características gerais. No que respeita ao traje feminino, usaram-se sempre saias até ao chão com muito volume e roda, chegando a usar-se por baixo uma armação de lâminas de aço e barbatanas – a crinolina – ou ainda várias saias interiores de tecidos duros. Esta moda atingiu o auge entre 1845 e 1866. Depois passou a usar-se a tournure, uma espécie de almofada sobre os rins que levantava a saia atrás. O traje masculino sofreu menos alterações; a casaca, o colete e as calças eram as peças principais. A sobrecasaca, que descia até aos joelhos, era também utilizada. Por baixo, vestia-se uma camisa e punha-se sempre uma gravata cuja forma variou muito. Na cabeça usava-se sempre chapéu, sendo o chapéu alto e o de coco os preferidos. O boné era utilizado em situações de passeio ou desporto.

fig. 6 Os cabelos usavam-se sempre compridos na forma de tranças apanhadas, de bandós, de carrapitos no alto da cabeça. Por cima punha-se um chapéu, de que havia vários modelos.

tournure

fig. 7 Caricatura à moda publicada no jornal O Sorvete de 16/11/1884. O conceito de beleza desta época impunha as formas do corpo arredondadas e cheias. Era o caso da tournure, exagerada na gravura. A sombrinha era um acessório indispensável nos passeios.

fig. 8 Anúncio aos Grandes Armazéns do Chiado, em Lisboa, um dos mais conhecidos armazéns de roupa das classes endinheiradas. O povo não frequentava, normalmente, este tipo de armazéns, pois o seu vestuário não obedecia à moda. A sua roupa era adaptada aos trabalhos que cada um desempenhava.

Sou capaz de... 1. Imaginar que vivia nesta época, que pertencia à burguesia e escrever um texto sobre a minha maneira de vestir, alimentar e sobre os meus divertimentos preferidos. Realizar as Fichas n.° 5 e n.° 6 do meu Caderno de Apoio (Estudo Acompanhado).

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Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

A mudança e a modernização

fig. 1 A iluminação pública criou novas figuras características da cidade de Lisboa. Foi o caso dos «homens-pirilampos», que se encarregavam da limpeza e manutenção dos candeeiros.

Durante a segunda metade do século XIX, as principais cidades do País – Lisboa e Porto – modernizaram-se, à semelhança das grandes capitais europeias: • a higiene nas ruas e nas casas evitou a propagação de doenças, melhorando a saúde pública: a água passou a ser, em grande parte, canalizada; ampliaram-se as redes de esgotos; passaram a existir serviços próprios para recolha de lixo (fig. 3); • a iluminação das ruas (primeiro a gás e, no fim do século, a electricidade) contribuiu para diminuir os roubos e os assaltos, e para as pessoas se sentirem mais seguras (fig. 1); • abriram-se ruas e avenidas pavimentadas, fizeram-se passeios e praças calcetadas (fig. 4), arranjaram-se jardins públicos. • desenvolveram-se os transportes públicos: – o «americano» e o «chora», transportes puxados por cavalos que podiam transportar várias pessoas. O «americano» tinha a particularidade de andar sobre carris. O «chora», para se deslocar com mais facilidade, aproveitava, por vezes, os carris do «americano» (fig. 5); – o carro eléctrico, que começou a circular no Porto, no final do século. 2

Eu [Zé Fernandes] murmurei nas profundidades do meu assombrado ser: – Eis a Civilização! Jacinto empurrou uma porta, penetramos numa sala cheia de majestade e sombra, onde reconheci a biblioteca por tropeçar numa pilha monstruosa de livros novos. O meu amigo roçou de leve o dedo na parede: e uma coroa de lumes eléctricos, refulgindo no tecto, alumiou as estantes monumentais, todas de ébano. Eça de Queirós, A Cidade e as Serras (adaptado)

• Refere a descoberta a que o autor se refere. • Explica a expressão destacada.

fig. 3 Carro de limpeza das ruas.

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fig. 4 A Praça de D. Pedro, no Porto, antes da abertura da Avenida dos Aliados.

Arquivo Marina Tavares Dias

fig. 5 «Chora» circulando no Terreiro do Paço, em Lisboa. O «chora» era mais pequeno do que o «americano» e de qualidade inferior. O preço dos bilhetes era, por isso, mais barato.

A habitação e as condições de vida Nas cidades de Lisboa e Porto, durante o século XIX, apareceram novos bairros e os prédios cresceram em altura e em número. Os mais ricos construíam luxuosas residências, tendo especial cuidado na sua decoração. A classe média vivia em andares mais ou menos espaçosos. Os mais pobres habitavam em bairros miseráveis e superlotados, sem esgotos nem água potável, sem higiene nem segurança. Eram as chamadas «ilhas», no Porto, e os «pátios», ou «vilas», em Lisboa (fig. 6).

A sociedade portuguesa na segunda metade do século XIX Como estudaste, ao longo do século XIX a sociedade portuguesa foi sofrendo profundas alterações. Observa o esquema seguinte: Nobreza – Perdeu cargos a favor da burguesia – Perdeu rendimentos concedidos pelo rei – Foram abolidos alguns impostos pagos pelos camponeses

Clero – Perdeu terras, conventos e mosteiros

Perderam importância social, política e económica

Camponeses

fig. 6 Bairros pobres em Lisboa (em cima) e no Porto (em baixo). Aqui viviam muitos operários que trabalhavam nas unidades fabris. Alguns industriais mandavam construir bairros próprios para os seus trabalhadores, junto às fábricas, chamados «vilas operárias».

Operariado

Mantêm as difíceis condições de vida

Burguesia – Aumentou os seus investimentos na agricultura – Passou a ocupar cargos no Governo

Ganhou poder político, económico e social

Sou capaz de... 1. Elaborar um texto sobre a vida nas grandes cidades, referindo tanto aspectos como a comodidade, higiene, rapidez, segurança, como as diferentes condições de vida.

2. Realizar a Ficha n.o 12 do meu Caderno de Actividades. 79

Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

A demografia A contagem da população Para que os governantes pudessem dar resposta às necessidades da população (como, por exemplo, a construção de estradas, escolas ou hospitais), era necessário saber o número de habitantes do País. Já em séculos anteriores se tinham efectuado contagens, em algumas zonas do País, com estes objectivos – os numeramentos. Estes, porém, eram pouco rigorosos, visto que só se contava o número de fogos (casas) e não de pessoas. Cada fogo era multiplicado, geralmente, por cinco habitantes. A partir dos finais do século XVIII substituiu-se a contagem de fogos pela de pessoas. O primeiro recenseamento (ou censo) da população portuguesa, com forma semelhante à que hoje conhecemos, foi feito em 1864. A partir de 1890, os recenseamentos passaram a fazer-se de 10 em 10 anos.

O crescimento populacional Se até ao século XVIII o crescimento da população portuguesa foi lento, devido à grande taxa de mortalidade infantil e juvenil, bem como às guerras, fomes e doenças, a partir de meados do século XIX a população aumentou mais rapidamente (fig. 3), devido, sobretudo: fig. 1 Duque de Loulé. Foi durante o Governo do duque de Loulé, no reinado de D. Luís I, que decorreu o primeiro recenseamento da população segundo métodos rigorosos (contagem do número de habitantes do País, análise das suas condições de vida e profissões). Os habitantes do País eram, então, cerca de 3 800 000.

• a uma melhoria na alimentação (não te esqueças do que aprendeste sobre as alterações na agricultura); • ao desenvolvimento da Medicina (vacinas e novos medicamentos) e da puericultura (ensinar a cuidar de crianças); • à não ocorrência de guerras em território português; • às melhores condições de higiene nas cidades (água canalizada, esgotos e ruas calcetadas).

fig. 2 A vacinação, no século XIX, contribuiu para a diminuição da mortalidade infantil.

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O crescimento da população portuguesa não se deu, no entanto, de forma igual por todo o território. O Litoral a norte do Tejo continuava a ser a zona mais povoada do País e as zonas à volta das cidades de Lisboa e do Porto continuavam a ter maior concentração de população. Esta desigual distribuição da população devia-se ao facto de o Litoral Norte ter:

Milhões de habitantes 6

5,5

5

4,5 4

• solos mais férteis e maior quantidade de portos marítimos; • maior número de indústrias (onde era sempre necessária mão-de-obra); • maior facilidade de comunicações.

3,5 3 1821

1840

Continente

1860

1880

1900 Anos

Continente e Ilhas

fig. 3 Aumento da população entre 1821 e 1900 (adaptado de A. H. de Oliveira Marques, História de Portugal, vol. III).

CRONOLOGIA

1831 Descoberta do clorofórmio (anestesiante). 1882 Descoberta do bacilo da tuberculose. 1885 • Descoberta do bacilo da cólera. • Vacina contra a raiva. 1893 Criação da aspirina. 1895 Realização do primeiro RX. fig. 4 Distribuição da população em 1864 e 1900 (adaptado de A. H. de Oliveira Marques e J. J. Alves Dias, Atlas Histórico de Portugal e do Ultramar Português).

• Refere três distritos que se tornaram mais povoados e justifica.

Sou capaz de... 1. Indicar duas causas do crescimento populacional durante a segunda metade do século XIX que considero mais importantes e justificar.

2. Referir a zona do País em que havia maior concentração de pessoas e justificar. Construir o meu glossário Registar, no meu Caderno de Actividades, o significado de numeramento, recenseamento e crescimento da população.

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Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

O êxodo rural Apesar do desenvolvimento que se ia verificando na agricultura, a produtividade continuava a ser fraca. Várias razões contribuíam para a difícil situação em que grande parte da população rural vivia: • a compra de terras, aos pequenos proprietários, pela burguesia; • o aumento das rendas que pagavam os rendeiros, pelas terras que cultivavam; • o aumento da mecanização, sobretudo nas grandes propriedades do Sul do País, o que originou despedimentos. Sobre estes problemas, lê o seguinte documento: 2

O abandono dos campos

A febre de civilização que as estradas e os caminhos-de-ferro levaram à província encontraram as populações numa crise de miséria derivada da decadência agrícola. (...) Vendo as suas pobres vinhas com a filoxera, os seus castanheiros murchos, os seus olivais doentes, as indústrias locais sem procura, a aldeia em ruínas, lá tiveram de debandar. Os mais tímidos vieram trabalhar, como serventes e carpinteiros, nas obras da cidade. Os mais ousados venderam a casa paterna para desertarem da Pátria, a caminho do Brasil. Fialho de Almeida, Os Gatos, III, 1890

fig. 1 Trabalhador da Beira. Muitos camponeses abandonavam os campos partindo para as cidades.

• Refere as razões que levaram os camponeses a abandonar as suas terras. • Indica os dois locais para onde os camponeses se deslocavam.

Estas dificuldades originaram a saída de muitas pessoas do campo, especialmente para as cidades mais industrializadas, procurando emprego nas fábricas que iam sendo criadas ou, simplesmente, atraídos pelo sonho de uma vida mais fácil. A este movimento da população rural em direcção às cidades dá-se o nome de êxodo rural.

A emigração Muitos portugueses procuraram, no entanto, melhores condições de vida no estrangeiro, ao longo da segunda metade do século XIX. A este movimento de saída da população dá-se o nome de emigração (fig. 3). • Indica dois distritos: a) com maior emigração; b) com menor emigração. fig. 3 Número de emigrantes por distrito, de 1870 a 1874 (Miriam Halpern Pereira, Livre Câmbio e Desenvolvimento Económico – Portugal na Segunda Metade do Século XIX, Lisboa, 1983).

82

fig. 4 Principais destinos da emigração portuguesa e evolução do número de emigrantes para o Brasil, na segunda metade do século XIX.

• Refere os dois principais destinos da emigração portuguesa. • Procura explicar a razão da forte emigração para o Brasil.

fig. 5 Caricatura do «brasileiro» rico, da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro.

A maior parte destes emigrantes preferiam o Brasil, por dois motivos principais: • o fim da escravatura no Brasil, que teve como consequência um aumento na procura de trabalhadores; • a utilização da mesma língua, o português. Muitos dos emigrantes não encontravam, todavia, as condições de vida esperadas, acabando alguns por morrer na pobreza sem conseguir regressar. Outros, no entanto, tiveram mais sorte; conseguiram tornar-se proprietários e regressarem à terra natal muito ricos. Eram os chamados «brasileiros», que construíam casas apalaçadas (fig. 6), viviam e vestiam luxuosamente, tornando-se muitas vezes pessoas influentes na região. O dinheiro que estes emigrantes mandavam contribuiu, de certa forma, para atenuar as dificuldades financeiras que Portugal continuava a enfrentar devido à sua dependência do estran- fig. 6 Casa de «brasileiro», em geiro, tanto a nível de importações como de empréstimos. Fafe.

Sou capaz de... 1. Referir duas causas do êxodo rural. 2. Imaginar que vivia no século XIX e que emigrava para o Brasil. Elaborar um texto descrevendo a minha viagem, a chegada e o trabalho que encontrei. Posso também fazê-lo em banda desenhada.

3. Realizar a Ficha n.o 13 do meu Caderno de Actividades. Construir o meu glossário Registar, no meu Caderno de Actividades, o significado de êxodo rural.

83

Esquema-Síntese PORTUGAL NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX

Invasões Francesas

Indepêndencia do Brasil

Guerra Civil

PORTUGAL, um país atrasado tecnologicamente e empobrecido

Medidas tomadas pelos governos liberais

Indústria

• Introdução da máquina a vapor

Agricultura

• Mecanização

Transportes e comunicações

• Fim do pousio e introdução de novas culturas

• Mala-posta

• Adubos químicos

• Telefone

• Comboio

• Correios • Telégrafo

Melhor e mais variada alimentação Redução da mão-de-obra necessária para a produção

Aumento da produção

• Mobilidade das pessoas • Mobilidade das mercadorias • Troca de ideias e informação

Aumento populacional

Desemprego

Emigração www.projectos.TE.pt/links para saber mais sobre...

• Portugal na segunda metade do século XIX

84

Agora Já Sei... 1. Depois de observar a o mapa: 1.1 Identificar: a) as principais zonas industriais; b) as principais minas exploradas.

2. Depois de observar a imagem ao lado, indicar: 2.1 os dois produtos que estão a ser transportados no comboio; 2.2 a respectiva importância nesta época. 3. Explicar a inovação introduzida no processo de transformação das matérias-primas. 4. Referir: 4.1 dois melhoramentos introduzidos nas cidades, na segunda metade do século XIX; 4.2 duas medidas tomadas que contribuíram para a defesa dos direitos humanos; 4.3 três medidas tomadas a nível do ensino. 5. Copiar para o meu caderno diário o quadro seguinte e, depois, completá-lo. MOVIMENTOS DA POPULAÇÃO Nome dado à saída das pessoas do campo para a cidade

Razões dessa saída

Nome dado à saída de pessoas para outro país

Razões dessa saída

Principal destino dessas pessoas

Razões dessa escolha

6. Redigir um pequeno texto comparando a vida de um camponês com a de um operário no século XIX.

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PROJECTO Profissões, pregões e provérbios do século XIX • Será que todas as profissões de antigamente ainda hoje se mantêm? • E se algumas já desapareceram, por que terá isso acontecido? • O que eram os pregões? Será que ainda hoje se mantêm alguns desses pregões? • O que são provérbios? Alguns deles estarão relacionados com algumas profissões? • Por que é importante conhecermos as profissões que já não existem ou estão em vias de extinção, os provérbios e os pregões? • Se eu pudesse, optaria por escolher uma dessas profissões, em vias de extinção, ou outra mais moderna? Para dares resposta a todas estas questões, propomos-te que, individualmente ou em grupo: • visiones filmes antigos, leias livros, faças entrevistas a pessoas idosas da tua região sobre as profissões de antigamente, os pregões e os provérbios; • faças visitas de estudo a oficinas de artesãos e a fábricas; • pesquises pregões e provérbios na Internet; Com base na informação recolhida e nos trabalhos realizados, poderás: • elaborar um calendário sobre «Os provérbios e a agricultura», como já fizeram os teus colegas da Escola Básica 2, 3 da Ribeira do Neiva. Podes também incluir no teu calendário alguns pregões (por exemplo, no mês de Novembro, um pregão sobre as castanhas); • preparar um espectáculo a ser apresentado no final do ano lectivo à comunidade escolar e não escolar em que sejam apresentados os pregões e os provérbios, se possível, com os alunos vestidos à época. • organizar uma exposição com os materiais elaborados, como entrevistas, textos, vídeos…

fig. 1 Capa e página do calendário «Os Provérbios e a Agricultura», elaborado pelos alunos da EB 2, 3 da Ribeira do Neiva.

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Possíveis contributos das disciplinas e das outras áreas curriculares não disciplinares

Disciplinas e áreas curriculares não disciplinares

ACTIVIDADES

Língua Portuguesa

• Investigação sobre pregões antigos e criação de novos para algumas profissões actuais. • Leitura de textos sobre profissões de antigamente (O Sol e o Menino dos Pés Frios, de Matilde Rosa Araújo, Portugal Em Selos, edição dos CTT). • Elaboração de guiões de entrevistas.

Inglês

• Legendar peças de vestuário, por exemplo, dos vendedores ambulantes do século XIX.

História e Geografia de Portugal

• Visionamento de filmes como, por exemplo, O Pátio das Cantigas, onde podes ver como certas profissões continuaram a existir no século XX. • Exploração de documentos escritos e iconográficos. • Visitas de estudo.

Ciências da Natureza

• Analisar a roda dos alimentos e relacioná-la com a alimentação do século XIX.

Matemática

Ed. Visual e Tecnológica

• Elaboração e resolução de problemas com base em pregões ou provérbios.

• Planificação e construção de um calendário.

Ed. Musical

• Ensaio vocal dos pregões e dos provérbios. Se possível, acompanhá-los com música.

Estudo Acompanhado

• Organização de uma Biblioteca de Turma em articulação com a Língua Portuguesa.

Formação Cívica

• Organização de debates sobre as profissões, pregões e provérbios, com a presença de artesãos (oleiros, ferreiros, costureiras...) e historiadores da história local.

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A Minha Região nos Séculos XVIII e XIX Alentejo Um palácio para alguns dias em Vendas Novas

CRONOLOGIA

1719 Caçada em Serpa com membros da família real. 1748 Construção da Coudelaria Real de Alter do Chão, no reinado de D. João V, por ordem do príncipe D. José, futuro rei. Uma das éguas da coudelaria serviu de modelo à estátua equestre de D. José na Praça do Comércio, em Lisboa. 1759 Extinção da Universidade de Évora por ordem do Marquês de Pombal. 1769 Fundação da fábrica de chapéus de Elvas. 1771 Início da construção da Real Fábrica de Lanifícios de Portalegre. 1789 Criação de uma aula de Anatomia no Hospital de Elvas. 1833 A população de Estremoz, apoiante dos absolutistas, massacrou os presos liberais que aí estavam detidos. 1834 O estado-maior do exército liberal, chefiado pelo duque de Saldanha, reúne em Montemor-o-Novo. 1861 Conclusão da linha férrea do Barreiro a Vendas Novas, primeira linha ferroviária ao sul do Tejo. 1863 • Conclusão da linha férrea do Sul, até Évora. • A linha férrea atinge Caia, próximo de Elvas. 1864 Conclusão da linha férrea do Sul, até Beja. 1873 Conclusão da linha férrea de Évora a Estremoz.

88

Em 1728, D. João V decidiu fazer uma viagem até à fronteira com a Espanha para se fazer uma troca de princesas: a filha do rei, D. Bárbara, ia para Espanha para casar com D. Fernando VI, e a princesa espanhola D. Mariana Vitória vinha para Portugal para casar com D. José, futuro rei de Portugal. Como a comitiva real tinha de viajar, em carruagens puxadas por cavalos, por estradas de terra, precisava de descansar com frequência. Assim, el-rei mandou construir, em apenas nove meses, um palácio em Vendas Novas. Lá ficou instalada a comitiva real durante dois dias. Em 1860, o palácio passou a ser ocupado pela Escola Prática de Artilharia.

fig. 1 O Palácio Real que passou a Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas.

Viagem de Mértola a Beja Com a ajuda da maré, chegámos a Mértola, lugar tão pobre à primeira vista, que montámos imediatamente a cavalo e continuámos a nossa viagem por uma estrada recentemente construída, quase sempre excelente, mas tão atravancada de silvas e plantas selvagens que tínhamos dificuldades em passar nalguns sítios. Chegámos de noite, e muito cansados, a Beja. A situação da cidade, no meio de uma grande planície, poderia facilmente transformá-la numa região fértil, mas não passa de um horroroso e inculto deserto por falta de habitantes. Foi-nos aqui de grande utilidade o padre João Carlos, pelas suas conversas com os camponeses, que achávamos muito atenciosos e sempre prontos a dar-nos todas as informações de que precisávamos. Soubemos dos camponeses que a nova estrada, que percorríamos desde Mértola, tinha sido construída por ordem do Marquês de Pombal, quando mandou edificar a sua Vila Nova [Vila Real de Santo António], no Algarve, para facilitar o transporte de mercadorias para o interior, e que tinha sido executada gratuitamente, obrigando os camponeses que habitavam dentro de uma área de oito a dez léguas a virem trabalhar para a estrada, à sua própria custa, e sem nenhuma espécie de gratificação do Governo, soubemos também que os tísicos vêm de Lisboa para respirar o ar puro destes sítios. in Arthur William Costigan, Cartas de Portugal, 1778-1779 (adaptado)

fig. 2 Palácio dos Duques de Bragança, em Vila Viçosa. O rico recheio deste Palácio foi levado, em grande parte, para o Paço da Ribeira, em Lisboa, tendo muito dele sido destruído pelo terramoto de 1755. O que sobrou foi levado por D. João VI para o Brasil e nunca mais voltou a Portugal.

Revolta e ocupação de Évora A cidade de Évora aceitou a proposta do general português Francisco de Paula Leite para um levantamento contra os Franceses. No dia 13 de Julho estalou a revolta. Como resposta, Junot fez seguir para o Alentejo um corpo de 10 000 homens, sob o comando de Loison, que, depois de saquear Montemor-o-Novo, levou de vencida a resistência e apoderou-se de Évora, onde cometeu roubos, destruições e morte.

O cerco de Campo Maior No dia 8 de Março de 1811 apareceu junto de Campo Maior uma parte do exército francês que vinha impor a rendição da vila. Comandava esta o major de engenharia José Joaquim Talaia. Uma brecha que tornava impossível a defesa levou o major a render-se, no dia 21 de Março, em condições dignas. O comandante francês permitiu aos defensores sair com honras militares, antes de os conduzir à prisão, e livrou os habitantes do inevitável saque. Beresford chegou quatro dias depois e pôde, sem custo, reconquistar a vila. Campo Maior recebeu o título de «Leal e Valorosa».

A agricultura

fig. 3 Nascimento de S. João Baptista. Azulejos do século XVIII, que se encontram no Convento de Nossa Senhora da Conceição, em Beja. Quadro I Deputados eleitos às Cortes Constituintes de 1821 N.◊o◊ de deputados

Localidade Avis

1

Beja

2

Crato

1

Elvas

1

Évora

2

José Maria dos Santos mandou plantar, no concelho de Moura, Ourique setenta mil oliveiras e levou o arroz para Alcácer do Sal. Foi um de- Portalegre fensor da utilização de novos métodos de cultivo, da utilização de Vila Viçosa máquinas, de adubos e também de experimentar novas culturas. TorFonte: ver página 90. nou-se num dos homens mais ricos de Portugal.

Feira em Évora, no século XIX Évora nestes dias tem estado com aquela jovial animação que as feiras têm o privilégio de dar às localidades. A feira tem sempre um cortejo ruidoso de divertimentos, de teatros, de bailes, de galanterias, de touros e também um pouco de lucros de comércio (...). in Eça de Queirós, Textos do Distrito de Évora (adaptado)

1 1 1

Quadro II A população 1864

1878

1890

1900

6874

7843

8394

8885

Elvas

10 271

10 471

13 291

13 981

Évora

11 518

13 046

15 134

16 020

6433

7039

10 534

11 820

Beja

Portalegre

Fonte: ver página 91.

89

Algarve 1755: A destruição do Algarve O terramoto e o maremoto de 1755 atingiram com grande violência praticamente todo o Algarve. Por exemplo, Lagos foi, em grande parte, destruída. Os edifícios principais da localidade são construções posteriores a esta data. Em Albufeira, apenas foram poupadas cerca de 27 casas e sob os escombros da igreja ficaram 127 dos seus habitantes. Na reconstrução do Algarve destacou-se o bispo D. Francisco Gomes. CRONOLOGIA

1774 Fundação de Vila Real de Santo António. 1776 Lei que autoriza a criação de uma fábrica de tapeçarias em Tavira. 1828 • Revoltas em Lagos, Tavira e Olhão contra os miguelistas. • Revolta miguelista em Faro. 1833 • Derrota da esquadra miguelista junto ao Cabo de S. Vicente. • Ocupação de Faro pelas forças liberais. • Bando de malfeitores, chefiado por «Trovoada», pratica roubos e violência em Portimão. O «Remexido» ocupa a vila e fuzila os delinquentes. 1853 Surgimento da praga de oídio que atingiu as vinhas. 1877 Publicação do jornal O Académico Farense. 1889 A linha férrea do Sul chega a Faro. Quadro I Deputados eleitos às Cortes Constituintes de 1821 Localidade Faro Lagos Tavira

N.◊o◊ de deputados 1 1 1

Portugal Continental elegeu 100 deputados às Cortes Constituintes. Cada deputado representava cerca de 30 000 habitantes (os quadros dos deputados eleitos foram adaptados de Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal, vol. VII).

90

Os pescadores de Monte Gordo Foi o Marquês de Pombal quem mandou construir Vila Real de Santo António. Quando o Marquês ordenou aos pescadores de Monte Gordo que se mudassem para a nova localidade, estes recusaram, argumentando que ali o mar era mais rico. Como represália, o Marquês de Pombal mandou incendiar Monte Gordo. As casas, feitas de palha, arderam rapidamente, mas depois foram reconstruídas e, no século XIX, a localidade tinha crescido e tornara-se num dos maiores centros de pesca de todo o Algarve.

fig. 1 Pescadores de Monte Gordo, na actualidade.

A revolta contra Junot A reacção contra Junot fez-se sentir de norte a sul do País. A primeira terra do Sul a revoltar-se foi Olhão, com a ajuda de Faro. No dia seguinte [à revolta], um grupo de 17 pescadores embarcava no frágil caíque Bom Sucesso, para levar ao Rio de Janeiro a boa nova, cometendo uma audaciosa proeza que fez com que o príncipe regente, em sinal de apreço, viesse a conceder a Olhão o título de vila. Dia 19 de Junho foi a vez de Faro. Enquanto os habitantes de Olhão procuravam entreter os Franceses com falsos pretextos, puderam os Farenses operar a revolta. Em Tavira concentrou-se a resistência dos Portugueses, na fortaleza de S. João Baptista da Conceição, cujo capitão, Martim Mestre, acorrera em defesa de Olhão. A esposa e a filha sofreram vexames sem conta dos soldados franceses. Mas no dia 21 a cidade ficou liberta do inimigo. A Câmara de Faro fizera saber a todas as outras que a luta era sem quartel: «Amigos, nós não estamos defendidos enquanto em nosso Reino houver Cidade, Vila ou Aldeia que viva dominada da tirania Franceza.»

E assim foram proclamando a sua adesão as cidades de Silves e de Lagos e as vilas de Loulé, Albufeira, Portimão e outras, sendo Alcoutim, São Brás de Alportel e Silves focos de penetração da revolta para o interior. in Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal, vol. VII (adaptado)

«O Remexido» em Albufeira O «Remexido», nascido em Estômbar, foi um dos últimos resistentes miguelistas. Chegou a dominar toda a serra algarvia e nas cidades temia-se a sua chegada. Em 27 de Julho de 1833, os guerrilheiros miguelistas chefiados pelo «Remexido» cercaram Albufeira. Como conta Silva Lopes, autor da Corografia do Algarve: «Cruel e bárbara matança de 74 pessoas de todas as idades; ferocidade que faz bramir de horror!!!».

fig. 2 Tavira. O rio pode ser atravessado através de uma ponte de pedra, que foi reconstruída em 1870. A ponte de ferro já foi construída no século XX.

A indústria de conservas Em 1773, o Marquês de Pombal criou a Companhia Geral das Pescarias do Reino dos Algarves. Na segunda metade do século XIX, um italiano instalou a primeira fábrica de atum – a Santa Maria – em Vila Real de Santo António, que conservava atum em azeite. O atum abundava nas águas algarvias e o azeite era transportado do Baixo Alentejo, através do rio Guadiana. Rapidamente surgiram fábricas de conservas noutras localidades algarvias e noutras regiões do País. Contudo, Portimão tornou-se o maior centro de conservas de Portugal.

fig. 3 Mantas de fabrico artesanal em Monchique. Desde há muito que os artesãos fazem mantas, alforges de lã e trabalhos de vime.

O «pai dos pobres» de Silves Salvador Gomes Villarinho (1825-1893) nasceu em Monção, mas em 1870 foi viver para Silves, onde fundou uma fábrica de rolhas, que em 1897 empregava mais de quinhentos trabalhadores. Era conhecido por «o pai dos pobres». Fundou o jornal A Defesa do Povo. Tornou-se o maior corticeiro do País e um grande benemérito do Hospital da Misericórdia de Silves. Quadro II A população 1864 Faro

8014

1878 8561

1890

1900

9338

11 789

Lagos

7744

7279

8259

8291

Tavira

10 529

11 459

11 558

12 175

Os quadros sobre a população das regiões (com excepção dos casos indicados) foram adaptados de A. H. de Oliveira Marques, História de Portugal, vol. III.

fig. 4 Hospital da Misericórdia, em Silves (Fotog. BPI / Ed. Lopes & Irmão, in Um Médico No Chiado, Luísa Villarinho, 2003.)

91

Beiras Soure: uma lenda do século XVIII

CRONOLOGIA

1717 Abertura da manufactura de papel da Lousã. 1765 Mandadas arrancar, pelo Marquês de Pombal, as vinhas do Mondego e Vouga. 1769 Decreto que cria em Pombal uma fábrica de chapéus finos. 1788 Lei que entrega a particulares a exploração das fábricas do Fundão e da Covilhã. 1798 Estabelecimento de um serviço de diligências entre Lisboa e Coimbra. 1808 • Revolta na Covilhã contra as tropas francesas. • Milhares de pessoas assistem à entrada das águas do rio Vouga no Oceano Atlântico, o que não acontecia há mais de 100 anos. 1810 Terceira invasão francesa. O exército de Masséna entra pela Beira Alta e conquista Almeida e Viseu.

O campo da velha, depois de vendido, deu dinheiro suficiente para construir o edíficio dos Paços do Concelho [de Soure]. Mas o campo da velha, segundo a tradição, foi doado à Câmara por uma senhora de idade madura e daí o nome. O campo da velha, tem uma «estória». O rei, passando um dia na freguesia de Alfarelos, foi dormir a casa duma linda rapariga que deu, também, alojamento à comitiva [certamente sua majestade sonhou com o ouro do Brasil]. No dia seguinte, o rei quis compensar a hospitalidade e perguntou-lhe o que queria que lhe oferecesse. A rapariga não hesitou e solicitou ao rei que lhe desse uma terra que ela pudesse apanhar com um coiro de boi. O rei acedeu, achando o pedido fácil de cumprir. A rapariga, contudo, esperta, pegou no coiro e cortou-o em tiras tão finas e tantas, que permitiram circundar um vasto terreno de algumas centenas de hectares. Uma lenda que perdura na memória das pessoas e, por isso, ligada, intimamente, ao imóvel da Camâra, aos Paços do Concelho de Soure. in Mário Nunes, Nos Caminhos do Património (adaptado)

As indústrias de lanifícios na Covilhã e no Fundão Um dos mais importantes edifícios da Covilhã é a antiga Real Fábrica dos Panos, construída durante o reinado de D. José I. Parte dela é hoje ocupada pelo Museu de Lanifícios. A criação da Escola Industrial, em 1864, na Covilhã, confirmou a importância das indústrias de lanifícios na região. fig. 1 Câmara Municipal e Pelourinho, no Fundão. No tempo do Marquês de Pombal foi criada, no Fundão, a Fábrica Real de Lanifícios. Foi encerrada após as invasões francesas, mas o edifício foi recuperado e transformado em Paços do Concelho.

As invasões francesas A ocupação de Castelo Branco (1.a invasão) As tropas francesas passaram a fronteira portuguesa em Novembro de 1807 (...) e entraram em Castelo Branco. Esta cidade não lhes pôde dar alimentos de que precisavam (...). Os invasores lançaram-se pelas diferentes casas, roubando tudo quanto encontravam (...). in Luz Soriano, História da Guerra Civil (adaptado)

fig. 2 Dr. Lopo de Carvalho no seu consultório – Sanatório Sousa Martins, na Guarda (Fotog. BPI / Ed. Manuel Vinhas, in Um Médico no Chiado, Luísa Villarinho, 2003).

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Em 1807, enquanto o exército francês comandado por Junot saqueava Idanha e Castelo Branco, outro general francês, Loison, entrava pelo Norte até Lamego. Desceu pela Cova da Beira até Abrantes. As atrocidades cometidas pelos Franceses provocaram a revolta das populações.

O avanço dos Franceses na 3.a invasão Três dias durou a ocupação francesa em Coimbra, que, como já sucedera nas outras povoações desde Almeida, se traduziu em roubos, incêndios e morticínios. [Na Figueira da Foz] os Franceses não tiraram grande lucro, por a vila ter sido evacuada e os armazéns da terra estarem vazios. Em Condeixa acharam os Franceses trigo, cevada e aveia bastante, de que logo se apoderaram. No dia 6, entraram numa Leiria deserta, onde saquearam o Paço Episcopal. in Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal, vol. VII (adaptado)

A fuga dos Franceses Uma ordem de um comandante do exército anglo-português, de Março de 1811, era peremptória: quem passasse em Coimbra com géneros e víveres para as terras ocupadas pelo inimigo seria preso como «espia» dos Franceses e açoitado publicamente. Durante três dias fecharam-se as fábricas de Condeixa, Cernache, São Martinho do Bispo e de outras terras do Mondego (Tentúgal, Montemor, Figueira e Lavos) para impedir os Franceses de se abastecerem. Em sua perseguição ia o exército de Wellesley. Já quando deixaram Miranda do Corvo, o seu exército viu-se derrotado em Foz do Arouce, com a morte por afogamento de muitos dos seus homens no rio Ceira. Restava a Massena aproximar-se com rapidez da fronteira, com os restos do exército em perfeita desordem. Os Franceses tinham perdido as bagagens e muitos só levavam as mochilas. Deixavam atrás de si uma parte dos roubos cometidos: espingardas, móveis, alfaias e vestuário. E os que mais se atrasavam na retirada, sofriam os efeitos trágicos da vingança popular. No dia 20 de Março de 1811, o exército francês atingia Oliveira do Hospital, de onde prosseguiu em direcção a Celorico da Beira e Gouveia. Ia-lhe no encalce Wellesley, que a 27 de Março colocou o quartel general em Gouveia. Massena passou da Guarda para o Sabugal, para beneficiar da passagem do Côa, e ali se fortificou, sendo porém derrotado naquela vila. Desde 9 de Abril que o marechal inglês estava em Vilar Formoso, a fim de garantir a saída do inimigo que, no dia 17, já deixara o território português.

Quadro I Deputados eleitos às Cortes Constituintes de 1821 Localidade Arganil Aveiro Castelo Branco Coimbra Feira Guarda Lamego Leiria Linhares Pinhel Trancoso Viseu

N.◊o◊ de deputados 1 3 2 6 2 4 2 2 1 1 2 5

fig. 3 Lavadeiras no Mondego (Fotog. S. Villarinho Pereira, da obra Um Médico no Chiado, Luísa Villarinho, 2003).

in Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal (adaptado)

Liberais ocupam a Guarda Na véspera do dia de Natal ocupámos a Guarda, que estava coberta de neve (…) O frio e a falta de lenha fizeram com que nos conduzíssemos um pouco como em país conquistado, sendo necessário, para nos aquecermos, queimar uma parte das portas das casas onde habitamos. Os reverendos cónegos, apesar da posição delicada em que a cidade estava, entenderam que, à hora do costume, os sinos da catedral deviam repicar, anunciando a missa do Galo. Pegámos em armas, porque julgámos que os sinos tocavam a rebate (…) mas em lugar dum combate, tivemos uma solene missa do Galo, a que assistimos em grande número. Marquês de Fronteira, oficial liberal que participou na conquista da Guarda aos absolutistas em 1826, citado em Portugal Passo a Passo – Beira Alta e Beira Baixa (adaptado)

fig. 4 Carro de bois no Mondego (Fotog. S. Villarinho Pereira, da obra Um Médico no Chiado, Luísa Villarinho, 2003).

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CRONOLOGIA

1826 Revolta absolutista na Guarda, Trancoso, Arganil e Almeida, que foram ocupadas. Os revoltosos foram detidos na sua marcha para Coimbra pelas forças liberais. 1828 Um grupo de estudantes liberais assassina, perto de Condeixa, ilustres representantes da Universidade de Coimbra que se dirigiam a Lisboa para felicitar D. Miguel. 1834 Os liberais conquistam as Beiras. 1859 A mala-posta chega pela 1.ª vez à Anadia. 1864 Fundação do Jornal de Viseu. 1866 Início da exploração das minas de cobre de Telhadela, em Albergaria-a-Velha. 1882 Conclusão da linha férrea da Beira Alta. 1891 Castelo Branco passa a ter energia eléctrica e linha férrea. 1893 O comboio chega à Guarda. 1894 Criação do 1.º sindicato agrícola português em Montemor-o-Velho.

A fábrica da Vista Alegre em Ílhavo Em 1824, José Ferreira Pinto Basto mandou instalar uma fábrica na Quinta da Vista Alegre, em Ílhavo. Começou por fabricar belas peças de vidro, nomeadamente cristais: copos, garrafas, jarras, frascos e depois faianças (loiças finas de barro) como pratos, chávenas, açucareiros... Tudo da mais bela feitura artística. Hoje a fábrica exporta para várias partes do Mundo. Para a localização da fábrica nesta região contribuíram a abundância de matas que forneciam lenha para aquecer os fornos e a existência de caulino, material argiloso utilizado no fabrico de faianças.

O medo das máquinas Era no ano de 1845 e 1846, quando a Covilhã importava as primeiras máquinas com aplicação à indústria de lanifícios O povo murmurou da inovação que, dizia ele, lhe vinha tirar o pão. Do murmúrio passou a ajuntamento, do ajuntamento à revolta; e operários em número de 700 levantaram o grito de revolta. As vozes de «Morram os engenhos! Fogo aos engenhos!» alvoroçaram a povoação inteira. in Manuel Nunes Giraldes, Catecismo do Trabalho Nacional (adaptado)

A produção de vinho na região da Bairrada A região da Bairrada abrange os concelhos de Oliveira do Bairro, Anadia e Mealhada e também parte dos de Coimbra, Cantanhede e Águeda. Desde há muito que a produção mais conhecida da Bairrada é o vinho. Contudo, o Marquês de Pombal mandou arrancar todas as vinhas desta região, argumentando que as terras seriam melhor aproveitadas com produção de trigo. Há quem defenda que o Marquês estava mais preocupado em defender a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, que ele tinha criado em 1756. Apesar dos protestos dos populares, a ordem dada por Pombal foi cumprida. D. Maria I levantou a proibição e os vinhedos voltaram às terras da Bairrada. Graças à construção de estradas e à chegada do comboio, no século XIX, a produção de vinho aumentou consideravelmente, apesar da praga de oídio que atingiu muitas vinhas, a partir de 1853. Ofício do Administrador do Concelho de Pombal para o Governador Civil (30 de Agosto de 1858)

fig. 5 Porta do Soar, Viseu, inícios do século XX. No século XIX construíram-se várias estradas que convergiam para a cidade de Viseu e a linha férrea, partindo de Santa Comba Dão (Fotog. S. Villarinho Pereira, da obra Um Médico no Chiado Luísa Villarinho, 2003).

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(...) As necessidades urgentes deste concelho são muitas, porém classificadas como secundárias em relação a uma que considero urgentíssima, e de grande transcendência para o comércio destes Povos: é a comunicação. Uma boa estrada entre estes e os moradores dos concelhos do Norte. Parece que a natureza lhe opôs uma barreira quase inacessível entre uns e outros: transpô-la é difícil e enfadonho no tempo de Verão e quase sempre perigoso no tempo de Inverno. Estas muitas dificuldades obstam ao comércio pois que muitas pessoas dos referidos Concelhos que poderiam vir abastecer-se aos mercados de Pombal dos géneros que precisam deixam de fazê-lo pelos obstáculos que encontram para o transporte e vão comprá-los a outras partes mais distantes (...) in Joaquim Eusébio, Pombal – Oito Séculos de História

João Brandão no distrito de Viseu Antigamente era muito perigoso viajar. Não havia praticamente estradas, os caminhos eram de terra, alguns cobertos de lama. Existiam ladrões que assaltavam os viajantes, e mesmo casas e lojas. Um famoso salteador, João Brandão, natural de Midões andou, no século XIX, por terras da Beira Alta, como Oliveira do Hospital, Tondela, Tábua, Arganil... Aos doze anos cometeu o primeiro homicídio, assassinando um pastor de Gouveia, como exercício de pontaria. Foi fig. 6 Enfermaria para mulheres, considerado herói por alguns e denunciado por outros. Estávamos nós todos juntos uma tarde na loja, por sinal chovia a potes, quando chega um homem todo embuçado. Apeia-se, amarra o cavalo à argola, e entra pela porta dentro a sacudir-se da chuva: «Está por cá o senhor Colmeal?» Minha mãe foi chamar o nosso avô e o homem, com uma cara que metia medo, deu-lhe um recado em voz baixa: que tivesse a ceia pronta para quinze bocas, lá pela meia-noite, que o senhor Brandão estava a caminho para Midões (...) Alta noite acordo a ouvir grande rebuliço: parecia cavalaria a descer a rua! Meu pai abriu a porta e eles entraram em bicha: eram bem dezoito, todos embuçados, barbudos de chapéu, e a escorrerem água da chuva. Armados como se fossem para alguma guerra! Minha mãe tinha-se ido esconder ao pé do forno do pão. E eu, atrás das pipas, a espreitar, tremia que nem varas verdes. Foi então que um deles tirou o chapéu, depois a barba postiça: era o João Brandão! Comeram e beberam, a conversar e a rir, meus pais a servi-los, muito calados. Quando eram horas de abalar, atirou com uma bolsa cheia de moedas para cima do balcão: «Pague-se, e depois falaremos.» – Tornaram a montar o cavalo, e lá se foram à chuva, numa grande tropeada (...)

Manteigas (Fotog. Illust. Port., 19/09/1910, in Um Médico no Chiado, Luísa Villarinho, 2003).

fig. 7 Canal da Ria, em Aveiro.

in José Rodrigues Miguéis, A Escola do Paraíso (adaptado)

Para «ir a banhos» na Figueira O viajante que passar próximo da Figueira em tempo de banhos deve ir ali, porque voltará satisfeito. Para isso deixa o caminho-de-ferro na estação de Formoselha, aonde se mete numa bateira (pequena embarcação), que o conduz a Montemor-o-Velho, e aí freta um barco, que o leva à Figueira depois de uma agradável viagem.

fig. 8 Praça Rodrigues Lobo, em Leiria (Fotog. S. Villarinho Pereira, da obra Um Médico no Chiado, Luísa Villarinho, 2003).

in «Roteiro do Viajante no Continente» (século XIX), citado por José Mattoso, História de Portugal

Quadro II A população Aveiro Castelo Branco

1864

1878

6395

6852

1890 8860

1900 9979

6136

6928

6728

7288

12 727

13 369

16 985

18 144

Guarda

3761

4613

5990

6124

Lamego

7844

8124

8685

9471

Coimbra

Leiria

2922

3570

3932

4459

Viseu

6399

6956

7996

8057

fig. 9 Transporte de passageiros entre Coimbra e Seia (Fotog. Illust. Port., 29/04/1912, in Um Médico no Chiado, Luísa Villarinho, 2003).

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Douro O vinho do Porto

CRONOLOGIA

1756 Criação da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro. 1775 Lei que autoriza a criação de uma fábrica de tecidos de lã, em Penafiel, e uma fábrica de linho, no Porto. 1797 Inauguração do teatro de São João, no Porto. 1823 Primeira ligação Lisboa-Porto, em barco a vapor. 1828 Revolta no Porto contra D. Miguel. 1832 • Entrada do exército liberal, comandado por D. Pedro IV, no Porto. • Cerco do Porto pelas forças miguelistas. 1854 Tumultos populares, com saque de armazéns de cereais. 1864 A linha férrea chega a Gaia. 1877 A linha férrea chega ao Porto. 1884 -1892 Construção do porto artificial de Matosinhos, que permitiu uma melhor ligação da cidade do Porto, e cidades próximas, ao resto do Mundo. 1895 Primeiro espectáculo público de cinema no Porto. Quadro I Deputados eleitos às Cortes Constituintes de 1821 N.◊o◊ de Localidades deputados Penafiel Porto

96

2 6

Em 1756, o Marquês de Pombal criou a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, que passou a ter o monopólio da produção e comercialização do vinho do Porto. Esta designação deve-se ao facto de a sua comercialização ter tido início na cidade do Porto, apesar de ser produzido no Alto Douro. Desde o século XVIII que esta bebida é muito apreciada no estrangeiro, especialmente em Inglaterra. Muitos ingleses fixaram-se no Porto para se dedicarem à sua comercialização. Daí a razão de algumas marcas de vinho do Porto terem, ainda, o nome de famílias inglesas. As pipas de vinho eram transportadas das diversas adegas até à Régua e daqui, através do rio Douro, para Vila Nova de Gaia, onde foram instaladas as caves onde o vinho envelhece. O transporte era feito nos barcos rabelos. Cada barco podia transportar até 60 pipas. O percurso demorava dois dias ou mais, dependendo das correntes do rio e do vento. fig. 1 Barco rabelo no Douro.

Invasões francesas: a ocupação do Porto A cidade do Porto foi ocupada por tropas espanholas e francesas, em 1807. Após ter sido derrotado pelas tropas anglo-lusas, Junot assinou um acordo em Sintra que lhe permitia levar grande quantidade de objectos roubados durante a ocupação. Ignorando o acordo, os portuenses revistaram as bagagens dos Franceses, impedindo assim a saída de grande parte desses objectos. Em 1809, os Franceses voltaram. Entrando por Trás-os-Montes, conquistaram o Norte até ao Douro. Apesar da resistência dos populares, voltaram a ocupar a cidade do Porto. Deu-se então a «tragédia da ponte das barcas». Perante a ameaça francesa, o povo tentou atravessar o rio em direcção a Gaia. Como as autoridades portuguesas tinham mandado abrir os alçapões existentes na ponte, procurando travar o avanço dos Franceses, milhares de pessoas caíram à água, morrendo afogadas. Na freguesia de Arrifana, Santa Maria da Feira, existe um obelisco em memória das mais de 100 pessoas que ali foram fuziladas, em 1809, por ordem do general francês Soult. Mesmo as crianças e os idosos que se tinham refugiado na igreja da localidade não foram poupados. Soult pretendeu, assim, vingar a morte de um coronel francês.

Desembarque dos liberais Em 8 de Julho de 1832, as tropas liberais, comandadas por D. Pedro IV, tentaram desembarcar na fortaleza do Castelo de S. João Baptista,

em Vila do Conde. Contudo, as tropas que defendiam o forte recusaram-se a aderir aos liberais. O exército de D. Pedro IV acabou por desembarcar na praia de Arenosa de Pampelido, Mindelo. Os 1500 homens que compunham a esquadra liberal ocuparam a cidade do Porto, no dia seguinte. Estes soldados ficaram conhecidos por os «Bravos do Mindelo».

O cerco do Porto A 7 de Julho de 1832, ao cair do dia, os miguelistas avistaram a esquadra de D. Pedro, que ancorou no dia 8 na praia do Mindelo. Eram menos de nove mil homens. Os miguelistas deixaram desembarcar o exército e apressaram-se a sair da cidade, vindo a estabelecer-se a norte e a sul do Douro, tornando-se assim evidente que queriam cercar o Porto. Entre os liberais começaram a faltar muitas coisas, dentro da cidade não havia moinhos e a quantidade de gado era diminuta para tanta gente (…) Por sua vez, o inimigo estabeleceu-se nas aldeias vizinhas e começou um rigoroso cerco, impedindo a passagem de mantimentos para o Porto. No mês de Fevereiro, a força absolutista à volta da cidade excedia os 39 000 homens. Os mantimentos arranjavam-se sem grande custo (…) No dia 5 de Julho, D. Pedro embarcou para Lisboa; o Porto continuava a ser bombardeado. No dia 18 de Agosto, Saldanha, sabendo que os miguelistas da margem norte tinham retirado, saiu com as suas forças em plena retirada pela estrada de Valongo. Levantou-se o bloqueio; o Porto estava livre.

fig. 2 Obelisco em memória da chegada das tropas liberais à praia de Arenosa de Pampelido, Mindelo, em Vila do Conde.

in Hugh Owen, O Cerco do Porto (adaptado)

Valongo sede de concelho Em 1836, D. Maria II atribuiu a categoria de sede de concelho a Valongo devido «à gloriosa recordação que o seu nome oferece, por ser daquele ponto que sua Majestade Imperial, meu Augusto Pai de Saudosa Memória, dirigiu a batalha de Ponte Ferreira, uma das muitas que vencera para restituir-me o trono e libertar a Nação».

Mulheres e homens do Porto As soirées da Foz portuense são animadíssimas. As senhoras têm alegria e vivacidade. Conversam afectuosamente, com uma certa ingenuidade cativante. A entoação e o compasso da sua maneira especial de declamar dá-lhes na conversação um ar simpático (…) Os homens têm o tom, o ar e a moda inglesa, cultivam esmeradamente a suíça, a gravata aparatosa, o fraque curto, a bota grossa e o chapéu de chuva. Andam depressa e a largas passadas, jantam sempre em família. Os restaurantes e as mesas redondas são apenas frequentados pelos viajantes e pelos estrangeiros. in Ramalho Ortigão, As Farpas (adaptado)

fig. 3 Cartaz de uma fábrica de conservas em Espinho. A chegada do comboio, em 1867, contribuiu para o desenvolvimento da indústria de conservas. No século XIX, o hábito de «ir a banhos» e as «curas de mar» levaram muitas pessoas a Espinho, que se converteu num dos principais pontos turísticos do País.

Quadro II A população da cidade do Porto 1864

1878

1890

1900

86 000

105 000

138 000

168 000

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Estremadura A Aldeia Galega Em 1709, Aldeia Galega [Montijo] é assim descrita pelo padre Carvalho da Costa: «...Tem nove estalagens comuns, as melhores do reino, (...) Tem açougue todos os dias, até domingo às 9 horas, com carne muito acomodada conforme o tempo.» Diz ainda a notícia que a Aldeia Galega tem oito barcos de carreira com um perfeito cais de cantaria, dos melhores do Ribatejo, e que todos os dias vai e vem barco de carreira de Lisboa, sendo os moradores isentos de pagarem passagem. in Joaquim Tapadinhas, Aldeia Galega no Tempo dos Descobrimentos (adaptado) CRONOLOGIA

1729 Inauguração da fábrica da Pólvora de Barcarena. 1742 D. João V permanece um mês nas Caldas da Rainha. São arranjados os caminhos entre Aveiras e Óbidos. 1748 Transferência da manufactura do vidro de Coina para a Marinha Grande. 1773 • Lei que cria uma fábrica de tecidos em Cascais. • Lei que cria uma fábrica régia de tecidos de linho em Alcobaça. 1861 Conclusão da linha férrea do Pinhal Novo a Setúbal. 1868 Construção do Farol de Santa Marta, em Cascais. 1884 Fundação em Portugal da 1.ª fábrica de adubos químicos, na Póvoa de Santa Iria. 1894 Criação da 1.ª fábrica de cimento de Portugal, em Alhandra.

As Linhas de Torres Vedras Compunham-se de três linhas de fortificação. A primeira ia de Alhandra ao Sobral de Monte Agraço, atingindo depois Torres Vedras e a foz do rio Sisandro. Ainda hoje, o Forte de São João naquela vila mostra a grandeza de uma construção que defendia palmo a palmo um perímetro de 10 léguas ao norte de Lisboa. A segunda linha ficava entre Alverca e a ponte de Santa Iria, dominando Montachique e Mafra e acabando a norte da Ericeira. Finalmente, a terceira linha, em Lisboa, situando-se ao redor de Oeiras para, em caso de necessidade, permitir o reembarque das tropas inglesas.

As Caldas da Rainha D. Leonor, mulher de D. João II, mandou construir um hospital nas Caldas da Rainha, para que todos pudessem beneficiar das qualidades medicinais das suas águas. Ia gente de todo o Reino, ricos e pobres, que só pagavam se pudessem. D. João V tomou lá banho por treze vezes e mandou ampliar as instalações. Nas margens da Lagoa de Óbidos, faziam-se caçadas e nos locais mais pitorescos, piqueniques. Por lá passaram D. João V, D. José I e D. Carlos I.

A loiça das Caldas Quadro I Deputados eleitos às Cortes Constituintes de 1821 Localidades Alcobaça Alenquer Lisboa Setúbal Torres Vedras

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N.◊o◊ de deputados 1 1 9 2 2

Em 1886, Rafael Bordalo Pinheiro fundou uma fábrica de cerâmica nas Caldas da Rainha. É a partir de então que a louça das Caldas tem êxito comercial e artístico. Em 1889, na Exposição Universal de Paris, a fábrica recebeu uma medalha de ouro e duas de bronze e Bordalo Pinheiro foi condecorado pelo governo francês.

fig. 1 Largo do Mercado, nas Caldas da Rainha (Fotog. S. Villarinho Pereira, da obra Um Médico no Chiado, Luísa Villarinho, 2003).

A Nazaré Foi no século XVIII que a Nazaré cresceu consideravelmente, graças à actividade piscatória. Contudo, durante as invasões francesas e no período de guerra entre os liberais e absolutistas, os pescadores tiveram de se refugiar na Pederneira, pois os ataques dos piratas eram constantes a um reino envolvido em guerras. No final do século XIX, estabeleceu-se a fama dos pescadores da Nazaré, altura em que os veraneantes a passaram a procurar.

A praia de Cascais Quando, em meados do século XIX, começou a moda de ir à praia, a praia de luxo dos nobres lisboetas foi a de Pedrouços. No final do século, já era Cascais a praia da moda, como o comprovam algumas casas senhoriais junto à praia e o palacete real dentro do forte da Cidadela. Aí morreu D. Luís I, em 1889. D. Carlos I gostava de ir para lá descansar.

fig. 2 Praia da Nazaré (Fotog. BPI / anónimo, in Um Médico no Chiado, Luísa Villarinho, 2003).

O Mosteiro de Alcobaça Em 1794, William Beresford fez a seguinte descrição do mosteiro: «...Os tectos eram dourados e pintados, o pavimento coberto com tapetes da Pérsia, as mesas, com rodapés de veludo, estavam guarnecidas de soberbos gomis, bacias e jarros de prata...». O Marquês de Pombal mandou lá fazer obras, tendo os edifícios sido restaurados e a biblioteca ampliada. Durante as invasões francesas e as guerras entre liberais e absolutistas, o mosteiro foi saqueado.

fig. 3 Termas de Santo António do Estoril, 1880 (Fotog. Rev. Occidente, 21/11/1888, in Um Médico no Chiado, Luísa Villarinho, 2003).

Acontecimentos em Setúbal e Palmela De Setúbal a Almada os terrenos estavam cobertos de pinhais e mato. No século XIX, limparam-se as terras, que passaram a ser aproveitadas para a agricultura, especialmente para a produção de vinho. O primeiro atropelamento por um automóvel deu-se em 20 de Outubro de 1895. O carro do conde de Avilez, movido a petróleo, fez a viagem do Barreiro a Setúbal por Palmela, em uma hora. Em Palmela, enganou-se no percurso, tendo de descer a calçada que era muito íngreme. O carro, no fim da calçada, atropelou um burro. Quadro II A população 1864

1878

1890

1900

Lisboa

210 000

227 674

301 206

356 009

Setúbal

12 747

14 798

17 581

22 074

fig. 4 Estrada Lisboa-Cascais (Fotog. BPI / Ed. J. P. Barros & CA, in Um Médico no Chiado, Luísa Villarinho, 2003).

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Minho A primeira invasão francesa: de Chaves a Braga A nossa marcha de Chaves sobre Braga foi um combate contínuo. Tinha de lutar contra uma nação inteira: todos os habitantes, homens, mulheres, crianças, velhos e padres estavam em armas, as aldeias abandonadas, as passagens guardadas (...) A minha vanguarda era dia e noite perseguida (...); nuvens de camponeses armados renovavam os seus ataques. Toda esta gente parecia realmente tomada por uma fúria desesperada. Memória do General Soult, século XIX (adaptado) CRONOLOGIA

1784 Início da construção da Igreja do Bom Jesus do Monte, em Braga. 1802 Instalação da fábrica de papel de Vizela. 1834 Os liberais conquistam o Minho. 1846 Rebelião da Maria da Fonte: motins populares em Vieira do Minho, desencadeados por camponeses contra os impostos e as leis da saúde, que obrigavam a enterrar os mortos em cemitérios. Maria da Fonte, uma jovem de Fonte Arcada, no concelho de Póvoa do Lanhoso, teria chefiado um grupo de mulheres que iniciou a revolta. 1853 Começa a alastrar a praga de oídio que atingiu as vinhas. 1864 Inauguração do Banco do Minho, em Braga. 1882 • Conclusão da linha férrea do Minho até Valença. • Construção, em Braga, do 1.º elevador de Portugal, permitindo o acesso ao Bom Jesus do Monte. 1886 Inauguração da Ponte Internacional de Valença. Quadro I Deputados eleitos às Cortes Constituintes de 1821 Localidades Barcelos Braga Guimarães Valença Viana

100

N.◊o◊ de deputados 5 2 5 1 4

Bens enterrados na areia em Darque Diz-se que, durante as invasões francesas, os habitantes de Darque (Viana do Castelo), sabendo que os invasores se apoderavam de tudo o que podiam, encaixotaram os seus bens, assim como os da sua igreja, e enterraram-nos na areia, salvando-os do saque dos Franceses.

Frei Francisco de São Luís, de Ponte de Lima Frei Francisco de São Luís nasceu em Ponte de Lima. Em 1808, lutou contra os Franceses. Em 1820, fez parte do primeiro Governo Liberal. Como procurou que o passado fosse respeitado, os liberais acusaram-no de medroso; os absolutistas chamaram-lhe traidor por ser liberal. Acabou por passar seis anos na prisão. Mais tarde, foi cardeal e também patriarca de Lisboa.

As primeiras fábricas de Braga Na Rua Nova de Santa Cruz fica a Fábrica Social Bracarense. É aqui que se vai realizar o nosso inquérito. – Quando se fundou a fábrica? – Em 1866, responde o Senhor Martins Cerqueira. Foi a primeira que se montou para o fabrico a vapor de chapéus de feltro de pêlo. – Então até aí não se faziam chapéus em Braga? – Faziam, sim, mas em pequenas e numerosas oficinas de chapéus de lã. – Numerosas? – Muito numerosas, mesmo. Desde o largo da Senhora-a-Branca até aos Peões, e rua de S. Victor-o-Velho, e desde a rua de S. Domingos até à Tamanca as oficinas sucediam-se, multiplicavam-se. Havia dezenas delas, muitas dezenas delas. – De fabrico manual, não é verdade? – Todas de fabrico manual. – Destacavam-se... – ... a da Taxa, a dos Bahias, a do Mananeu, a do Zé Caneca, etc. in Manuel Araújo, Indústrias de Braga

Desenvolvimento industrial em Guimarães Em 1884, por proposta do historiador Alberto Sampaio, realizou-se uma exposição industrial em Guimarães. Foi também nesta altura que o comboio chegou a esta localidade.

Estes dois acontecimentos contribuíram para o desenvolvimento industrial de Guimarães: mandaram-se vir máquinas de fiação e fardos de algodão da Grã-Bretanha, construíram-se fábricas que passaram a vender o seu vestuário para todo o País. O regulamento da fábrica a vapor de Manuel Bernardes Alves demonstra-nos algumas regras a que estavam sujeitos os operários: • eram multados quaisquer operários ou operárias em sessenta réis pelos motivos seguintes: – se lavassem a cara na fonte da fábrica; – se fossem encontrados às portas das retretes esperando a saída dos que estivessem lá dentro; • eram multados em 100 réis os que fossem encontrados a cantar ou fig. 1 Pormenor da romaria da a fazer barulho. Senhora da Agonia, em Viana do

As terras do Minho A propriedade minhota não está somente dividida por numerosos possuidores, está ainda retalhada. Os bens de cada proprietário constam de uma porção mais ou menos numerosa de parcelas dispersas: uma leira separada das leiras vizinhas pelos pequenos carvalhos encavalados pelas videiras (…); mais longe outra leira; aqui a terra seca; além o lameiro; (…) Esta circunstância característica de toda a lavoura do Minho (…) encarece e dificulta consideravelmente o amanho das terras.

Castelo. Já em 1873, Pinho Leal considerava esta romaria como «a mais concorrida» do Alto Minho.

in Ramalho Ortigão, As Farpas (adaptado)

Do Minho para o Brasil A partida dos emigrantes «Eu vi muitas vezes, na Foz do Douro, saírem iates e barcas que levavam a bordo centenas de rapazes do Minho. Os emigrantes eram tão numerosos que toda a gente tinha pelo menos um brasileiro na família e as heranças eram tão importantes, que frequentemente chegavam para enriquecer os herdeiros (…). Os emigrados portugueses atraíram ao Brasil os pais, os tios, os irmãos, que tinham ficado na terra (…).» in Alberto Pimentel, Espelho de Portugueses, século XIX (adaptado)

fig. 2 Praça do Toural e estátua de D. Afonso Henriques, obra de Soares dos Reis, em Guimarães. À inauguração desta estátua assistiu o rei D. Luís I. Seria mudada para a zona do castelo, em 1940 (Fotog. S. Villarinho Pereira, da obra Um Médico no Chiado, Luísa Villarinho, 2003).

Os emigrantes no Brasil Comiam, dormiam e trabalhavam como escravos. Tinham a sua tamina (ração) de carne seca, feijão e farinha que eram obrigados a cozinhar para comer na hora do almoço e do jantar. Sanzalas eram as habitações que constavam de um pequeno quarto, não soalhado, com porta e janela, tendo por cama uma esteira e por mobília uma pedra para se sentarem. in Primeiro Inquérito Parlamentar sobre Emigração, 1873

Quadro II A população 1864

1878

1890

1900

18 831

19 755

23 089

24 202

Guimarães

7568

7980

8611

9104

Viana do Castelo

9263

8816

9682

9990

Braga

fig. 3 Venda de porcos, em Vizela (Fotog. S. Villarinho Pereira, da obra Um Médico no Chiado, Luísa Villarinho, 2003).

101

Ribatejo Indústrias de Tomar Tomar, que não teve prejuízo com o terramoto de 1755, recebeu benefício industrial no período pombalino e no seguinte, fundindo, em 1771, a antiga fábrica de meias de seda com uma fábrica de chapéus, numa unidade só e, em 1788, Jácome Ratton aqui implantaria uma fábrica de fiação de algodão (...) Sabe-se da existência, em 1840, de sete fábricas de fiação, papel, curtumes, destilação e chapéus, empregando cerca de 650 operários. Foi ela [Tomar] a terceira do País a ter electricidade, em 1901. in José Augusto França, Tomar (adaptado) CRONOLOGIA

1759 Fundação da Real Fábrica de chapéus de Tomar. 1789 D. Maria I autoriza, em todo o Ribatejo, nova plantação de vinha, que havia sido arrancada por ordem do Marquês de Pombal. 1794 Fundação da 1.ª fábrica de fiação de Tomar. 1807 Novembro: dia 26, Junot chega a Tancos; dia 27, à Golegã; dia 28, ao Cartaxo. 1833 Fixação em Santarém do quartel-general de D. Miguel, com o objectivo de preparar a ocupação de Lisboa. 1834 Conquista de Rio Maior e Torres Novas pelas forças liberais, que também derrotam as forças miguelistas em Pernes e Almoster. Derrota dos miguelistas em Asseiceira, perto de Tomar. 1851 Trabalhadores de Santarém reagem à introdução de máquinas agrícolas, espetando paus e lançando pedras nos campos. 1861 O comboio chega a Santarém.

Quadro I Deputados eleitos às Cortes Constituintes de 1821 Localidade Ourém Santarém Tomar

102

N.◊o◊ de deputados 1 3 3

Os Franceses em Abrantes O general Junot chegou na manhã do dia 24 a Abrantes. Contava assegurar-se da passagem do Zêzere pela tomada de Punhete, pequena aldeia situada na margem esquerda deste rio, na confluência com o Tejo, que devia ser, sob o ponto de vista militar, o complemento da ocupação de Abrantes. O capitão de engenharia, os sapadores-mineiros catalães e um destacamento da infantaria francesa foram a Punhete para estabelecer, com a ajuda dos habitantes, uma ponte constituída por barcos que, depois de terem sido usados em 1801, tinham ficado abandonados em vários locais no rio. Abrantes é uma vila considerável. Está edificada sobre a parte meridional de uma elevação, aos pés da qual corre o Tejo. Chega-se aí por caminhos estreitos e difíceis. O lugar de Abrantes pode exercer a maior influência nas operações de guerra, apenas lhe faltando ser melhor fortificada para ser considerada a chave de entrada em Portugal. O exército encontrou em Abrantes o fim dos seus sofrimentos. Distribuiu-se aos soldados víveres e calçado. A incerteza e o receio que tínhamos de um desembarque inglês na embocadura do Tejo, desapareceram (…). O general francês [Junot] anunciou ele mesmo ao Primeiro-Ministro de Portugal a sua chegada a Abrantes. «Eu estarei dentro de quatro dias em Lisboa», disse-lhe. «Os meus soldados estão desolados por não terem ainda usado o fusil. Não os force a isso, creio que procederia mal.» in Le Général Foy, Histoire de la Guerre de la Péninsule, 1827 (adaptado)

A retirada dos Franceses No princípio de 1811 era cada vez mais difícil a posição de Massena, no eixo de Torres Novas a Santarém. Wellesley colocara Beresford na Chamusca e tinha o domínio da margem esquerda até Vila Franca de Xira, ao mesmo tempo que apertava o cerco a Santarém. Para obter gado e cereais, era cada vez mais extensa a área do Tejo que os Franceses tornavam objecto das suas pilhagens. Quanto ao marechal inglês, mantinha-se no quartel-general do Cartaxo à espera de perseguir, na retirada iminente, o invasor. No início de Março anunciava-se, enfim, a saída de Massena de Santarém, depois de as tropas lançarem fogo às principais moradias e de semearem por toda a vila a miséria e o pavor. Os dois hospitais de Santarém ficavam cheios de militares doentes, que os Franceses abandonavam à sua triste sorte. O mesmo espectáculo a caminho de Tomar, com os feridos e mortos a juncar as estradas, onde Massena chegou no dia 8 de Março. Entretanto, sem perder tempo na perseguição, Beresford atingiu Abrantes. in Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal, vol. VII

Campinos e toureiros Reaparece-nos a estação do caminho-de-ferro português, em Santa Apolónia, aos sábados de Verão. Os ruídos da multidão apressada e alegre; a população pitoresca do Ribatejo com os barretes, os cajados, os alforges de lã preta com riscas brancas e azuis; os toureiros que vão para Vila Franca ou para Alhandra, com as suas cintas de seda e o chapéu castelhano caído sobre o olho. in Ramalho Ortigão, Banhos de Caldas e Águas Minerais, século XIX

fig. 1 Azulejos no mercado de Vila Franca de Xira.

A população Quadro II A evolução da população 1864 Concelhos

Abrantes Almeirim Barquinha Benavente Cartaxo Chamusca Constância Coruche Ferreira do Zêzere Golegã Mação Ourém Rio Maior Salvaterra Santarém Sardoal Tomar Torres Novas Total

Nascimentos

869 328 132 210 357 266 100 319 300 86 319 606 238 176 1283 138 793 931 7451

1878 Óbitos

762 183 68 155 192 194 69 217 331 89 336 358 173 117 757 187 512 419 5119

Nascimentos

722 324 105 187 344 231 48 261 326 110 350 545 242 202 992 129 749 901 6768

1878 Óbitos

427 177 58 132 199 147 43 153 184 94 209 331 166 114 592 72 468 424 3990

Total de habitantes

24 706 9029 3675 5326 11 163 8350 2912 8053 12 157 3706 11 447 19 983 9226 4889 36 329 4939 25 226 27 246 228 362

fig. 2 Atelier fotográfico de Carlos Relvas, na Golegã, 1885. Carlos Relvas foi um dos pioneiros da fotografia em Portugal (Fotog. Illust. Port. 16/11/1885, in Um Médico no Chiado, Luísa Villarinho, 2003).

fig. 3 Solar da Quinta de Alorna, em Almeirim (século XIX).

in Frederico Augusto Pimentel, Propostas Apresentadas à Junta Geral do Districto de Santarém, 1884 (adaptado)

A grande propriedade sem os aperfeiçoamentos agrícolas, que lhes são inerentes e indispensáveis, ainda influi largamente no atraso da região sul do país. Os concelhos ao norte do Tejo, onde a propriedade se acha mais dividida e onde a cultura é mais intensa, são os que acusam uma maior densidade de população. (…) milhões de seres enxameiam nos pântanos, nos charcos e arrozais, conservados e tolerados numa não pequena superfície da região sul do distrito; as ribeiras, cujos [cursos de água] estão à mercê do acaso; as valas sem corrente nem limpeza; os numerosos charcos infartados pelas águas (…), sem escoante, sem drenagem, são uma das principais causas que mais influenciam a mortalidade. in Frederico Augusto Pimentel, Propostas Apresentadas à Junta Geral do Districto de Santarém, 1884 (adaptado)

fig. 4 Aspecto do Museu Ferroviário no Entroncamento. Esta localidade nasceu, num local quase deserto, no cruzamento da linha do Norte com a de Leste, em 1864. Nos seus jardins e praças podem hoje ver-se antigos «cavalos de ferro».

103

Trás-os-Montes

CRONOLOGIA

1778 Criação da Escola de Fiação de Trás-os-Montes. 1789 Criação da «Aula de Anatomia e Cirurgia» no Hospital Real de Chaves. 1809 Segunda invasão francesa. O exército de Soult entra por Trás-os-Montes e dirige-se ao Porto. 1834 Os liberais conquistam Trás-os-Montes. 1853 Começa a alastrar a praga de oídio que atingiu as vinhas. 1870 A seda, que se produzia em Alfândega da Fé desde o século XVIII, atinge uma produção de 17 toneladas.

Quadro I Revoltas contra os Franceses em 1808 Data

Revolta contra Junot (...) A província de Trás-os-Montes foi a primeira a manifestar a sua oposição aos Franceses. A partir de Chaves, o grito alastrou pelo Nordeste Transmontano. O povo de Vila Real reuniu-se junto do Regimento de Milícias, tendo o respectivo coronel dado inteiro aplauso às manifestações em curso. Estando à frente da guarnição de Almeida, Loison recebeu ordem para seguir de imediato com destino ao Porto, a fim de pôr termo à insubordinação das províncias de Trás-os-Montes e do Minho. Loison chegou a Lamego, onde enfrentou o problema do local mais aconselhável para a travessia do Douro. O general francês preferiu o caminho da Régua, onde deixou uma guarnição enquanto se instalava em Mesão Frio. Mas aí foi detido: com a notícia de que os seus homens tinham sido atacados na Régua, o tristemente célebre general retrocedeu para aquela vila, que impiedosamente bombardeou. Mas viu-se impedido de prosseguir o seu avanço, pelo que resolveu regressar à Beira Alta para tentar outro percurso para o Porto. Incendiando as casas e as searas que foi encontrando, seguiu Loison o caminho de Lamego, sempre perseguido por grupos armados que não lhe poupavam a retaguarda. Foram eles que impediram o fugitivo de pôr Lamego a saque, como era sua intenção. in Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal, vol. VII (adaptado)

Localidade

6 de Junho

Chaves

8 de Junho

Vila Pouca de Aguiar

11 de Junho Bragança 13 de Junho Miranda do Douro 16 de Junho Vila Real 17 de Junho Moncorvo, Mirandela, Alfândega da Fé

104

A região mais produtiva e habitada de Trás-os-Montes inclui Barqueiros, Mesão Frio, Régua, Vila Real e Santa Marta de Penaguião. É uma região com terras férteis e acessível, primeiro por via fluvial e depois também por estrada. Foi na Régua que se estabeleceu, à beira-rio, a sede duriense da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, com os armazéns e os cais de embarque. Esta companhia contribuiu decididamente para o crescimento da Régua. O Peso, a vila de cima, foi crescendo pela vertente abaixo, enquanto a Régua, fluvial e comercial, fica junto ao rio. Perto da Régua ficam as termas de Caldas de Moledo. Dona Antónia Ferreira, conhecida como a «Ferreirinha», mulher ligada à produção de vinho do Porto e amiga de ajudar os pobres, contribuiu para o seu desenvolvimento.

A derrota de Amarante (...) em Fevereiro de 1823, eclodiu a revolta de Vila Real, sob o comando do conde de Amarante. Era uma figura de prestígio na província de Trás-os-Montes. Tal como seu pai, recusou-se a abraçar o liberalismo, pensando ser ainda possível restaurar o regime absoluto. O seu movimento estendeu-se a Braga, Chaves, Bragança e a outras terras do Nordeste Transmontano, mas a derrota de Amarante, que lhe foi imposta pelo exército fiel ao Governo liberal, obrigou o conde a exilar-se em Espanha. in Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal, vol. VII (adaptado)

A vida quotidiana do camponês Levanta-se geralmente ao romper do dia, pelas 5 horas, durante o Verão, pelas 4 horas no Inverno. Nos meses de Inverno, logo que se levanta, come o seu almoço, ainda em casa, e dirige-se ao campo. Durante o Verão vai para o campo, logo que se levanta, e aí toma o seu almoço, quando, pelas 8 horas e meia, lho levam de casa. Volta à faina até ao meio-dia. Nesta altura vai jantar, refeição que também lhe levam de casa. No Verão, a hora para jantar é seguida de outra para dormir ou descansar. É a sesta, que finda às 2 horas. Durante o Inverno, trabalha desde a 1 hora até ao anoitecer. Durante o Verão, entre as duas horas e o anoitecer, ainda volta a interromper os seus afazeres para merendar, por volta das 5 horas. Ao anoitecer, recolhe a casa e, na companhia de toda a família, come a sua ceia. É chegada a hora do recolhimento da alma. À volta da mesa onde se ceou, ou sentados todos à lareira, reza-se o terço.

Quadro II Deputados eleitos às Cortes Constituintes de 1821 Localidade Bragança Miranda Moncorvo Vila Real

N.◊o◊ de deputados 3 1 2 3

Quadro III As refeições do camponês Almoço • Prato: batatas e azeite

Jantar

Merenda

• Prato: batatas, carne gorda de porco

• Um caldo: couves, feijão, arroz

• Um caldo: couves, feijão

• Pão

• Pão

Ceia

• Azeitonas, pão

• Caldo: batatas, couves • Pão

fig. 1 Chafariz em Vila Real, princípios do século XX (Fotog. S. Villarinho Pereira, da obra Um Médico no Chiado, Luísa Villarinho, 2003).

in J. T. Montalvão Machado, Aspecto Médico-Sanitário do Districto de Vila Real, 1950

A emigração Quadro IV A emigração Anos

Emigrantes do Continente

Emigrantes do distrito de Vila Real

1886

13 998

1074

1890

29 427

3070

1900

21 235

1129

fig. 2 Carro de bois em Lamas de Olo, no Parque Natural do Alvão.

in J. T. Montalvão Machado, Aspecto Médico-Sanitário do Districto de Vila Real, 1950

Quadro V A população 1864

1878

1890

1900

Bragança

4754

5071

5840

5535

Vila Real

4836

5296

5920

6716

fig . 3 Câmara Municipal de Mirandela, no antigo Palácio dos Távoras. Esta família foi acusada de estar envolvida no atentado a D. José I, tendo os seus membros sido condenados à morte.

105

Madeira O vinho

CRONOLOGIA

1744 -1801 A exportação de vinho da Madeira atinge a quantidade máxima. 1748 -1756 Mais de 6000 madeirenses e açoreanos emigram para o Brasil. 1807 A imposição do Bloqueio Continental pela França leva os Ingleses a ocuparem a Madeira. 1821 Em Janeiro é proclamado o liberalismo na Madeira. 1822 Os arquipélagos da Madeira e dos Açores passam a ser designados por «ilhas adjacentes» na Constituição liberal. 1834 -1852 Uma média anual de 300 a 400 doentes, nomeadamente ingleses, procuram a Madeira.

A vertente sul, dominada na quase totalidade pelo espaço da primitiva capitania do Funchal, foi onde se produziu o melhor vinho, enquanto a do norte, quase exclusiva da capitania de Machico, produzia vinho de inferior qualidade que raramente saía da Ilha, sendo usado para consumo corrente ou então utilizado no fabrico de aguardente. Alguns dados soltos permitem fazer uma ideia da geografia da produção. De acordo com os dados de 1787, o Arquipélago produziu 22 053 pipas, sendo apenas 179 do Porto Santo. São Vicente era o principal produtor, com 3898 pipas, logo seguido do Porto da Cruz, com 1245. No Sul, a maior e melhor produção foi sempre a das freguesias limítrofes do Funchal. Saía daqui o melhor vinho de exportação. Foi o produto que mais tempo activou as trocas externas da Ilha. A partir de meados do século XVII, a produção entrou em curva ascendente, iniciando-se a queda na década de vinte do século XIX. O golpe mortal foi dado na segunda metade da centúria e teve origem nas diversas doenças que assolaram a vinha. in Alberto Vieira (coord.), História da Madeira (adaptado)

Proclamação dos liberais Madeirenses! É já notório que uma facção sanguinária e ambiciosa, rodeando um príncipe jovem, o senhor infante D. Miguel, o tem seduzido e arrastado a ponto de usurpar a coroa do seu próprio irmão e rei legítimo. Pelo direito da natureza e pelo direito público nacional a coroa lusitana pertence ao filho primogénito de nossos monarcas. O primogénito é o senhor D. Pedro IV; as nações o reconheceram legítimo rei de Portugal; os portugueses lhe juraram fidelidade. Proclamação de Travassos Valdez de 22 de Junho de 1828, in Documentos para a História das Cortes Geraes da Nação Portugueza, Lisboa, 1888, citado por Alberto Vieira (coord.), História da Madeira

Proclamação dos miguelistas Habitantes da ilha da Madeira! Preciosa porção da nação Portuguesa! Quando a imoralidade de alguns indivíduos procurou insinuar-se entre vós como virtude, presenciastes com mágoa o roubo e profanação dos templos: a rebelião de um chefe traidor contra o nosso legítimo soberano D. Miguel I (hoje como tal reconhecido pelos três estados do reino) pretendia separar-vos involuntariamente de vossos irmãos; ameaçou-nos o punhal dos assassinos, e por comiseração muitos de vós fostes deportados. Proclamação de José Maria Monteiro, governador da Madeira, 22 de Agosto de 1828, in Documentos para a História das Cortes Geraes da Nação Portugueza, Lisboa, 1888, citado por Alberto Vieira (coord.), História da Madeira

O Funchal em 1836 fig. 1 Rótulo de garrafa de vinho da Madeira divulgando as «capacidades medicinais» do vinho e a paisagem madeirense. Os bons ares da ilha, que ajudavam à cura de algumas doenças, como a tuberculose, atraíram milhares de visitantes no século XIX, quer portugueses, quer estrangeiros.

106

(…) Todavia, tudo falta nesta terceira cidade do Reino: não há molhe; não há um só cais onde saltem os estrangeiros a pé enxuto; não há iluminação na cidade; não há cemitério; não há teatro (…); não há caminhos transitáveis; estão completamente arruinadas as calçadas das ruas e nem dinheiro temos para tapar os buracos mais perigosos; não há depósitos de mendigos que andam em bando pelas ruas, comovendo compaixão, desgostos e repugnância; não há uma polícia municipal eficiente; enfim, todas as coisas, e todos os belos estabelecimentos, que nenhuma cidade,

ou aldeia dos países civilizados deixa de possuir, todos aqui desconhecemos por falta de meios ou antes por falta de os saber procurar (…). Registo Geral da Camâra da Funchal, 1836, citado por Alberto Vieira (coord.), História da Madeira

A construção das estradas Na segunda metade do século XIX, a política de transportes e comunicações desenvolve-se na Madeira, tal como no Continente. Em 1837, perante a urgente necessidade de melhorar as estradas e construir novas vias de comunicação, formou-se uma comissão – a «Comissão das Estradas». Segundo a carta régia de 19 de Agosto de 1824, cada habitante era obrigado a contribuir com cinco dias de trabalho ou mil réis por ano, para a reparação ou abertura de estradas. A esta comissão cabia o direito de arrecadar e aplicar os fundos obtidos para esse fim. Das actas das sessões, dos ofícios e das cartas recebidas e enviadas pela Comissão, sabemos que: se abriram novos caminhos; se repararam os que estavam degradados; construíram-se pontes; procedeu-se ao calcetamento de novas estradas; fizeram-se muros de suporte, desaterros, limpeza de caminhos, de ribeiras e de canos de esgoto. in Abel Fernandes (dir.), História da Madeira (adaptado)

O «comboio» do Monte O comboio aparece em 1893, fazendo a ligação do Funchal ao Monte e depois do Funchal ao Terreiro da Luta. Este novo meio de transporte foi importantíssimo para o progresso do Funchal, pois que, pela primeira vez, na Ilha, aparece a viação acelerada. «A cidade do Funchal, pelas excepcionais condições em que se encontra, como estação de inverno e sanitária, visitada anualmente por considerável número de estrangeiros tem absoluta necessidade de promover os progressos materiais que melhor contribuírem para o seu aformoseamento, decência e confortabilidade. A maior distracção dos nossos hóspedes estrangeiros consiste nas excursões às majestosas montanhas, e a visita predilecta dos turistas é à Senhora do Monte. A Empresa do Caminho de Ferro do Monte veio obviar a essas dificuldades, oferecendo a nacionais e estrangeiros meio fácil, seguro, cómodo e económico de transporte de pessoas e mercadorias para a deliciosa estância do Monte».

CRONOLOGIA

1841-1889 Cerca de 37 000 madeirenses emigram para o Continente americano. 1852 Praga de oídio ataca as vinhas madeirenses. 1858 Fica concluída a levada para regadio na Calheta. 1862 Existem 1029 bordadeiras no Funchal e Câmara de Lobos e 559 teares em toda a ilha. 1863 Existem 365 moinhos de água para moer cereais em toda a ilha. 1865 Lei que liberta todos os escravos que desembarquem na Madeira. 1870 Ligação de Portugal Continental à Madeira por cabo submarino. 1871 A Madeira exporta 527 883 kg de açúcar. 1872 A filoxera ataca as vinhas madeirenses. 1876 Fundação do Diário de Notícias do Funchal. 1888 É eleito um deputado republicano às Cortes.

Diário de Notícias, 26 de Janeiro de 1904, citado por Abel Fernandes (dir.), História da Madeira (adaptado)

fig. 2 Comboio, ou elevador, e carro de cestos no Monte, Funchal.

Quadro I A população do Funchal 1864 fig. 3 Pormenor da cidade do Funchal nos finais do século XIX.

1878

1890

1900

17 677 19 752 18 778 20 844

107

Açores A agricultura

CRONOLOGIA

1748-1756 Mais de 6000 açoreanos e madeirenses emigram para o Brasil. 1771 Lei que reconhece os Açores como província de Portugal. 1798 Lei que incentiva o cultivo de batata nos Açores. 1822 Os arquipélagos da Madeira e dos Açores passam a ser designados na Constituição liberal por «ilhas adjacentes». 1831 Desembarque de militares liberais comandados pelo futuro duque da Terceira, organizando-se em S. Miguel o exército de D. Pedro IV. 1832 • Angra passa a capital do Reino durante a estadia de D. Pedro IV. • A Horta recebe a visita de D. Pedro IV e passa a cidade, por mercê real, uma vez que aderiu à causa liberal. • O exército liberal parte dos Açores com destino ao Porto.

fig. 1 Angra do Heroísmo, na ilha Terceira. Esta ilha constituiu um importante local de apoio aos liberais. Em 1828, foi criada em Angra uma Junta Provisória «para suster os direitos do senhor D. Pedro e da senhora D. Maria». Angra passou a chamar-se Angra do Heroísmo pela lealdade, dedicação e coragem demonstrados na defesa do liberalismo. Em 1829, a vila da Praia foi atacada por uma poderosa frota miguelista, que tentou desembarcar nesta vila, sem sucesso. Como recompensa pela resistência, a vila passou a chamar-se Praia da Vitória.

108

As técnicas agrícolas são consideradas muito rudimentares pela generalidade dos observadores. Francisco Borges da Silva afirma, em 1813, que «os conhecimentos que temos desta ciência são do tempo dos Romanos». Os instrumentos mais comuns são o grande e largo sacho e o arado radial de madeira, só com a relha guarnecida de ferro. O trigo é normalmente debulhado na eira com pesados trilhos puxados por bois. As juntas de bois, jungidas por uma canga de madeira, ajudam o camponês na lavoura. As debulhadoras mecânicas foram introduzidas em S. Miguel nos fins da primeira metade do século XIX: havia uma no lugar da Maia e Porto Formoso, importada da Inglaterra, movida por quatro bois, de elevado custo, e umas pequenas máquinas de debulhar, portáteis, movidas por dois homens. A primeira máquina a vapor, instalada na mesma ilha, em 1848, moía trigo, milho e serrava madeiras. Trata-se, contudo, de experiências isoladas, porque a generalidade da agricultura permanece rudimentar. Maria Isabel João, Os Açores no Século XIX – Economia, Sociedade e Movimentos Autonomistas, Cosmos Editora (adaptado)

A indústria Na primeira metade do século XIX, a maioria das indústrias que existem são caseiras ou pequenas oficinas com o mestre, normalmente proprietário, e muito poucos operários ou aprendizes. Manufactura-se o linho e a lã, fazem-se cestos de vimes, chapéus de palha, louças de fabrico grosseiro, moagem de cereais com atafonas, força hidráulica ou do vento, destila-se a aguardente. Em 1852, registam-se, somente, 28 operários nas ilhas, dos quais 10 sabem ler e escrever. Dos 5025 assalariados referidos no inquérito de 1890, 3500 são do sexo masculino e 1525 do sexo feminino. A fiação e a tecelagem empregam exclusivamente mulheres e na indústria do tabaco 96% do pessoal é feminino. A maioria esmagadora dos operários é analfabeta: só 11,8% do total sabe ler – 467 homens e 126 mulheres. Maria Isabel João, Os Açores no Século XIX – Economia, Sociedade e Movimentos Autonomistas, Cosmos Editora (adaptado)

A sociedade

CRONOLOGIA

Diversos relatos de estrangeiros do século XIX permitem-nos traçar um retrato sumário dos maiores proprietários micaelenses. J. W. Webster faz [deles] um retrato muito negativo: «a maior parte deles passa a vida num estado de grande indolência e ignorância, parecendo consistir quase toda a sua felicidade em comer, dormir e amontoar dinheiro.» Contudo, refere-se também que existem outros, abastados, que vivem nas cidades e mandam os filhos estudar no estrangeiro. De tal modo, que alguns dos jovens herdeiros «falam o francês e o inglês e lêem O Panorama», a bem redigida revista lisbonense. As classes baixas são compostas, essencialmente, por pequenos proprietários rurais e urbanos, rendeiros, artífices, pescadores e jornaleiros. O grupo social mais desfavorecido é formado pelos jornaleiros, que só encontram trabalho sazonal nos campos, podendo ainda empregar-se na pesca e nas obras públicas. A construção das docas de Ponta Delgada e do Faial [foram], grandes obras que exigiram muita mão-de-obra, referindo em 1862-1863 o Governador Civil de Ponta Delgada que «a emigração para o Brasil cessou inteiramente neste distrito. Mais trabalho nas obras públicas, as obras do porto artificial e o aumento de salários influíram neste resultado». Maria Isabel João, Os Açores no Século XIX – Economia, Sociedade e Movimentos Autonomistas, Cosmos Editora (adaptado)

1839 Criação do novo concelho da Povoação, verificando-se um rápido desenvolvimento agrícola, de tal forma que ficou conhecido por «Celeiro da Ilha». 1856 Construção do palácio de Sant‘Ana por Jácome Correia, onde recebeu D. Carlos I quando o rei visitou Ponta Delgada, em 1901. 1861 Início de obras no porto de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel. 1865 Lei que liberta todos os escravos que desembarquem nos Açores. 1876 Início de obras na doca da Horta, na ilha do Faial. 1893 Ligação de Portugal Continental aos Açores por cabo submarino.

A habitação No último quartel do século XIX, as casas são, geralmente, só de um piso, construídas de pedra basáltica, nem sempre rebocadas, com tecto de colmo, divididas interiormente por um ou dois tabiques caiados, que separam o quarto de entrada e o dormitório. O chão é térreo, sendo por vezes assoalhado na zona das camas. Algumas casas já dispõem de vidraças nas janelas. A mobília é escassa e os apetrechos de cozinha toscos. Todo o luxo destes interiores reside na bela colcha de tear caseiro que cobre a cama dos donos da casa, nas imagens dos santos e no oratório de pinho, pintado a óleo. Maria Isabel João, Os Açores no Século XIX – Economia, Sociedade e Movimentos Autonomistas, Cosmos Editora (adaptado)

A alimentação [No último quartel do século XIX] os pobres, sobretudo as mulheres, ainda preferem sentar-se no chão, «à turca», apesar de já possuírem uma ou duas cadeiras; comem com as mãos em grosseiras louças de barro, fabricadas nas ilhas. Andam descalços ou calçam grosseiras sandálias de tiras de couro. Nos dias santos vestem roupa lavada e os homens calçam sapatos. A alimentação é constituída por pão de milho, batatas, inhames, legumes, peixe seco ou fresco e pouca carne, do porco ou das galinhas que debicam no quintal. Em maus anos agrícolas, a fome aperta e dão-se, então, alguns motins no cais contra o embarque de cereais.

fig. 2 Terreno agrícola na Maia, Santa Maria. Por vezes, foi necessário construir muros de pedra para que se pudesse praticar a agricultura. Nos séculos XVIII e XIX, a laranja era uma importante fonte de riqueza da ilha de S. Miguel, sendo exportada principalmente para Grã-Bretanha. Tal como a vinha, os laranjais foram atingidos por uma praga, surgindo então novas culturas, como o ananás e o chá.

Maria Isabel João, Os Açores no Século XIX – Economia, Sociedade e Movimentos Autonomistas, Cosmos Editora (adaptado)

Quadro I A população Angra do Heroísmo Horta Ponta Delgada

1864

1878

1890

1900

11 568

11 070

11 012

10 788

8278

7446

6879

6575

15 733

17 635

16 767

17 620

fig. 3 Tecendo uma colcha.

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Cronologia e reis de Portugal 1654 • Expulsão dos Holandeses do Brasil. 1697 • Descoberta de ouro no Brasil. • Últimas Cortes. 1699 • Chegada da primeira remessa de ouro brasileiro. 1703 • Tratado de Methuen (tratado comercial entre Portugal e Grã-Bretanha). 1708 • Casamento de D. João V com D. Maria Ana de Áustria. 1717 • Início da construção do Convento de Mafra. • Início da construção da Biblioteca da Universidade de Coimbra. 1720 • Fundação, em Lisboa, da Academia Real da História Portuguesa. 1727 • Introdução da cultura do café no Brasil. 1729 • Descoberta de diamantes no Brasil. • Casamento de D. José com D. Mariana Vitória. 1731 • Início da construção do Aqueduto das Águas Livres. 1747 • Início da construção do Palácio de Queluz. 1748 • Conclusão das obras do Aqueduto das Águas Livres. 1749 • Início da construção da Igreja da Misericórdia, no Porto. 1750 • Nomeação de Sebastião José de Carvalho e Melo como Ministro do Reino. 1755 • Inauguração da ópera do Tejo em Lisboa. • Terramoto em Lisboa. 1757 • Início da construção da Torre dos Clérigos no Porto. 1759 • O Marquês de Pombal expulsa os Jesuítas. • Processo dos Távoras. 1761 • Abolição da escravatura no Reino. 1770 • O comércio é declarado «profissão nobre, necessária e proveitosa». 1777 • D. Maria I demite e desterra o Marquês de Pombal.

1779 • Início da construção da Basílica da Estrela, em Lisboa. 1792 • O príncipe D. João assume o governo do País devido a sua mãe (D. Maria I) ter enlouquecido. 1799 • O príncipe D. João assume a regência do Reino. 1807 • Primeira invasão francesa (Junot). 1808 • Abertura do comércio brasileiro ao comércio internacional. • Criação da Gazeta do Rio de Janeiro. • Criação do Banco do Brasil. 1809 • Segunda invasão francesa (Soult). 1810 • Terceira invasão francesa (Masséna). • Tratado de comércio com a Grã-Bretanha. • Inauguração da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. 1811 • Retirada dos Franceses. 1815 • O Brasil é elevado a Reino. 1816 • D. João VI é aclamado rei. 1817 • Gomes Freire de Andrade é enforcado. • Primeira tentativa de introdução da máquina a vapor. 1818 • É fundado o Sinédrio (Porto). 1820 • Revolução Liberal. 1821 • D. João VI regressa do Brasil. • Regência do Brasil entregue ao príncipe D. Pedro. 1822 • Independência do Brasil. • 1.a Constituição Portuguesa. 1823 • «Vilafrancada» – revolta absolutista. 1823 • Um barco a vapor faz a carreira Lisboa → Porto. 1824 • «Abrilada» – revolta absolutista. 1825 • Reconhecimento, por parte de Portugal, da Independência do Brasil. 1826 • Regência da Infanta D. Maria em nome de D. Pedro IV.

Séc. XVIII

Séc. XVII 1700 1683 D. Pedro II

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1706 D. João V

1750 D. José I

1777 D. Maria I

• D. Pedro abdica do trono a favor de sua filha D. Maria II. • Carta Constitucional. 1828 • D. Miguel é aclamado rei absoluto. 1831 • D. Pedro abdica do trono brasileiro e regressa a Portugal. 1832 • Os liberais desembarcam perto do Porto. • Os miguelistas cercam o Porto. 1833 • As forças liberais vindas do Algarve ocupam Lisboa. 1834 • Batalhas de Almoster e Asseiceira. • Concessão de Évora-Monte. • Morte de D. Pedro IV. 1835 • Início da utilização da máquina a vapor na indústria. 1838 • Primeira Exposição Industrial Portuguesa. 1848 • Utilização do gás para iluminação do Chiado, em Lisboa. 1852 • Início da mala-posta entre Porto, Braga e Guimarães. 1853 • Início da utilização dos selos postais. 1854 • Inauguração das primeiras linhas telefónicas. 1855 • Exposição Industrial do Porto. 1856 • Inauguração do primeiro troço dos caminhos-de-ferro – Lisboa → Carregado. 1858 • Primeira carreira a vapor entre Portugal e Angola. 1859 • Generalização do sistema métrico a todo o território nacional. 1860 • Publicados os primeiros romances de Júlio Dinis. 1861 • Início das aulas no Curso Superior de Letras. 1863 • Decreto abolindo os morgadios. 1864 • Primeiro recenseamento simultâneo de toda a população. • Portugal fica ligado à Europa por caminho-de-ferro. • Fundação do Diário de Notícias.

1867 • Abolição da pena de morte para todos os crimes civis. 1868 • Fundação da Companhia das Águas de Lisboa. 1869 • Extinção da escravatura em todos os territórios portugueses. 1872 • Primeiros movimentos grevistas. 1877 • É terminada a construção da ponte D. Maria Pia, sobre o rio Douro. 1878 • Utilização da electricidade para iluminação do Chiado, em Lisboa. • Início da publicação do semanário A Voz do Operário. 1880 • A Companhia das Águas de Lisboa inaugura uma central que garante o abastecimento de água a toda a cidade. • Criação da figura do «Zé Povinho», por Rafael Bordalo Pinheiro. 1881 • Greves no sector de vestuário e tecelagem. • Fundação, em Lisboa, do jornal O Século. 1882 • Utilização do telefone, em Lisboa. 1884 • Fundação da primeira fábrica de adubos químicos. 1886 • Greve dos metalúrgicos. 1889 • Criação do Batalhão de Sapadores Bombeiros de Lisboa. 1891 • Fundação da Companhia de Gás e Electricidade do Porto. 1894 • Fundação da primeira fábrica de cimento. 1895 • Utilização em Portugal dos primeiros automóveis. 1896 • Primeiro espectáculo público de cinema no Real Coliseu de Lisboa.

Séc. XIX

Séc. XX

1800

1900 1816 D. João VI

1826 D. Pedro IV

1828 D. Miguel

1853 D. Pedro V

1861 D. Luís I

1889 D. Carlos I

1826 D. Maria II

111

Referências iconográficas • A Monarquia Portuguesa – Reis e Rainhas na História de um Povo, Selecções do Reader’s Digest • Cidade, Hernâni e Ribeiro, Ângelo (coord. J. H. Saraiva), História de Portugal, vol. VI, Quidnovi • Cidade, Hernâni (coord. J. H. Saraiva), História de Portugal, vol. VII, Quidnovi • Figueiredo, Sousa (coord.), A Moda através do Postal Ilustrado – 1900-1950, Ecosoluções, Consultores Associados, Lda. • História da Arte em Portugal, vol. IX, Publicações Alfa • História da Arte em Portugal, vol. X, Publicações Alfa • História da Arte em Portugal, vol. XI, Publicações Alfa • Madureira, Nuno Luís, Lisboa – Luxo e Distinção, Fragmentos • Marques, A. H. de Oliveira, História de Portugal, vol. III, Editorial Presença • Marques, A. H. de Oliveira e Serrão, Joel (dir.), Portugal – da Monarquia para a República, Editorial Presença • Mattoso, José (dir.), História de Portugal, vol. IV, Círculo de Leitores • Mattoso, José (dir.), História de Portugal, vol. V, Círculo de Leitores • Meco, José, O Azulejo em Portugal, Publicações Alfa • Monteiro, Florival Baiôa, A Azulejaria do Convento de Nossa Senhora da Conceição de Beja, Região de Turismo Planície Dourada, Beja • Pereira, José Costa (coord.), Dicionário Enciclopédico de História de Portugal, Selecções do Reader’s Digest • Ponte, Miguel Nunes da e Ponte, Luís Nunes da, Memórias de Gaia através do Postal Ilustrado, Miguel Nunes da Ponte, Lda. – Edições e Publicações • Portugal Passo a Passo – Algarve, Clube Internacional do Livro • Portugal Passo a Passo – Alto Alentejo e Baixo Alentejo, Clube Internacional do Livro • Portugal Passo a Passo – Beira Alta e Beira Baixa, Clube Internacional do Livro • Portugal Passo a Passo – Beira Litoral, Clube Internacional do Livro • Portugal Passo a Passo – Minho, Clube Internacional do Livro • Portugal Passo a Passo – Trás-os-Montes e Alto Douro, Clube Internacional do Livro • Portugal Passo a Passo – Açores e Madeira, Clube Internacional do Livro • Ramalho, Margarida Magalhães, Comboios com Histórias, Instituto Nacional do Transporte Ferroviário / Assírio & Alvim • Reis, António (dir.), Portugal Contemporâneo, vol. I, Publicações Alfa • Reis, António (dir.), Portugal Contemporâneo, vol. II, Publicações Alfa • Revista Nossa História, n.º 9, Julho de 2004 • Saraiva, José Hermano (dir.), História de Portugal, vol. III, Selecções do Reader’s Digest • Vieira, Alberto (coord.), História da Madeira, Secretaria Regional de Educação • Vieira, Joaquim, Portugal Século XX, vol. I, Círculo de Leitores • Vieira, Joaquim, Portugal Século XX, vol. II, Círculo de Leitores • Vieira, Joaquim, Portugal Século XX, vol. III, Círculo de Leitores • Villarinho, Luísa, Um Médico no Chiado, edição da autora

História e Geografia de Portugal 6 • volume 1 • HGP 6. o ano • 972-47-2728-9-1

• Portugal Passo a Passo – Ribatejo, Clube Internacional do Livro

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