Manhanelli - Estrategias eleitorais

August 23, 2017 | Author: Carlos Pereira | Category: Elections, Infantry, Communication, Philosophical Science, Science
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Manhanelli - Estrategias eleitorais...

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Carlos Augusto Manhanelli

ESTRATÉGIAS ELEITORAIS M a rk e tin g P o l ític o

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s u m m u s e tü io r ia i

Dados de Catalogação na Publicação (CIP) Internacional (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

M244e

Manhanelli, Carlos Augusto. Estratégias eleitorais : marketing político / Carlos Augusto Manhanelli. — São Paulo : Summus, 1988. (Coleção novas buscas em comunicação : v. 25) 1. Campanhas eleitorais 2. Campanhas eleitorais — Brasil 3. Propaganda política I. Título. II. Série : Novas buscas em comunicação, v. 25.

88-0032

CDD-324.7 -324.70981 índices para catálogo sistemático: 1. Brasil : Campanhas eleitorais : Ciência política 324.70981 2. Brasil : Marketing político : Ciência política 324.7 3. Campanhas eleitorais : Técnicas : Ciência política 324.7 4. Marketing : Campanhas políticas : Ciência política 324.7 5. Propaganda política : Ciência política 324.7

ESTRATÉGIAS ELEITORAIS — Marketing Político Copyright © 1988 by Carlos Augusto Manhanelli Capa de: Roberto Strauss Ilustrações de: Camila C. Costa Conselho Editorial da Coleção: Adisia Sá Francisco Gaudêncio Torquato do Rego José Marques de Melo Luis Fernando Santoro M uniz Sodré Sérgio Caparelli Tereza Lucia Halliday Levy

Proibida a reprodução total ou parcial deste livro, por qualquer meio e sistema, sem o prévio consentimento da Editora.

Direitos desta ediçíio reservados por SUMMUS EDITORIAL LTDA. Rua Cardoso de Almeida, 1287 05013-001 - São Paulo, SP Telefone (011) 3872-3322 Caixa Postal 62.505 - CEP 01214-970 http://www.summus.com.br e-mail: [email protected] Impresso no Brasil

NOVAS BUSCAS EM COMUNICAÇÃO

O extraordinário progresso experimentado pelas técnicas de co­ municação de 1970 para cá representa para a Hum anidade um a con­ quista e um desafio. Conquista, na medida em que propicia possibi­ lidades de difusão de conhecimentos e de informações num a escala antes inimaginável. Desafio, na medida em que o avanço tecnológi­ co impõe um a séria revisão e reestruturação dos pressupostos teóri­ cos de tudo que se entende por comunicação. Em outras palavras, não basta o progresso das telecomunica­ ções, o emprego de métodos ultra-sofisticados de armazenagem e re­ produção de conhecimentos. É preciso repensar cada setor, cada mo­ dalidade, mas analisando e potencializando a comunicação como um processo total. E, em tudo, a dicotomia teórica e prática está pre­ sente. Impossível analisar, avançar, aproveitar as tecnologias, os re­ cursos, sem levar em conta sua ética, sua operacionalidade, o bene­ fício para todas as pessoas em todos os setores profissionais. E, tam ­ bém, o benefício na própria vida doméstica e no lazer. O jornalism o, o rádio, a televisão, as relações públicas, o cine­ m a, a edição — enfim, todas e cada um a das modalidades de comu­ nicação — , estão a exigir instrumentos teóricos e práticos, consoli­ dados neste velho e sempre novo recurso que é o livro, para que se possa chegar a um consenso, ou, pelo menos, para se ter um a base sobre a qual discutir, firm ar ou rever conceitos. N ovas Buscas em Comunicação visa trazer para o público — que já se habituou a ver na Summus um a editora de renovação, de form ação e de debate — textos sobre todos os campos da Comunicação, para que o leitor ainda no curso universitário, o profissional que já passou pela Faculdade e o público em geral possam ter balizas para debate, aprim oram ento profissional e, sobretudo, inform ação.

Dedico este livro a meus pais, irmãos, esposa e filh o s e, principalmente, a meu irmão M arcos A ntonio Manhanelli, pelo apoio e incentivo.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a: Antonio de Pádua Prado Jr., Carlos Estevam M ar­ tins, Neysa Furgler, Prof. M ário Sérgio de Cam argo e W aldir Vecchio pelo incentivo; aos senhores: Amauri Parreira e José Costa (Es­ pírito Santo), W anda Torres (M aranhão), M aninho (Ceará), Ronei Orsini e Dr. Leopoldo Justino Girardi (Rio Grande do Sul), Tadeu Com erlato (Santa Catarina e Curitiba), Sr. Francisco M aia e Tom Eisenlohr (Brasília), Prof. Cid Pacheco (Rio de Janeiro), Dra. Gláucia (Amazonas), Prof. Francisco Gracioso e Emmanuel Publio Dias (Es­ cola Superior de Propaganda e Marketing), que não deixaram m or­ rer um bom projeto, e ao amigo e companheiro Ronald Kuntz. Na 3? Edição, a Paulo Guimarães (Teresina-PI), por ter-me pro­ porcionado a oportunidade de se desenvolver um bom trabalho no Nordeste; aos companheiros de luta: Elias Azulay (S. Luis-MA), Genival Ribeiro (J. Pessoa-Paraíba), M auro Bonna (Belém-PA), Montalvão (Aracaju-SE)r Públio O. Souza (Natal-RN), Proff Maria Nilza (Belo Horizonte-M G), Lauro Letzow (Curitiba-PR), Ailso B. Cor­ rêa (Goiânia-GO), Tales A. Lima (Recife-PE), Zilmar Silveira (Salvador-BA) c a orientação para m inha form ação acadêmica efe­ tuada pelo amigo Prof. José Roberto W hitaker Penteado Filho (Es­ cola Superior de Propaganda e M arketing-RJ).

ÍNDICE

Prefácio à 3? ed içã o ...................................................................... P re fá c io ................................ ............................................................. 1. E stratégia................................................................................. 2. Definição Estratégica.................................................. .......... 3. Eleição é G uerra.................................................................... 4. Estratégia Inicial..................................................................... 5. Avaliação da C am p an h a..................................................... 6. Previsão e Planejam ento..................................................... 7. Orçamento da C am panha.................................................... 8. Cronograma de A tividades............................ .................... 9. Recursos Hum anos nas Cam panhas E leitorais......... 10. Plataform a e Program a de Ação P arlam en tar............ 11. O C andidato............................................................................ 12. A Mídia em Cam panhas E leitorais................................... 13. O Palanque Eletrônico ou a Televisão E leitoral............ 14. Outdoor or not o u td o o r? .................................................... 15. Práticas para um Cabo Eleitoral......................................... 16. Cam panha Eleitoral no N ordeste.................................. 17. P esq u isas........................ ........................................................ 18. O M arketing Político P ó s-E leitoral.................................. 19. Modelo de Instruções para Fiscais de “ Boca de Urmi" e Mesa A p u rad o ra................................................................. 20. Histórias que a Política Escreveu...................................... Bibliografia....................................................................................... O A u to r ............................................................................................

11 13 15 17 21 33 37 41 45 51 53 59 63 69 73 79 81 85 ‘>7 11' 129 1" 1 '7 1,19

PREFÁCIO À 3? EDIÇÃO

Após 14 anos de militância em campanhas eleitorais no sul do país, resolvi acom panhar de perto campanhas eleitorais no nordes­ te, pois muito se fala destas campanhas e sobre as diferenças exis­ tentes nas técnicas e táticas empregadas no Sul e no Nordeste. Aproveitando um convite que me foi feito para assumir a supe­ rintendência com ercial/M arketing de uma emissora de televisão no Nordeste (em Teresina/PI), começei a pesquisar e a participar de cam­ panhas eleitorais nesta região. Nesta terceira edição, procuro descrever o processo eletivo que vem sendo empregado no nordeste do país e posso garantir aos lei­ tores que as diferenças são m uito poucas a nível estratégico. Respei­ tando-se a regionalidade, somos levados a acreditar que as ações e estratégias empregadas no sul do país são as mesmas usadas no nor­ deste do país. Quanto à m udança de paginação, ouvi muitos leitores e críticos sobre a dificuldade de se acom panhar o raciocínio exposto nos capí­ tulos do livro quando começávamos a explanar sobre pesquisas elei torais, que é um a m atéria mais técnica. Isto posto, aloquei este capí­ tulo (“ Pesquisas” ) no final do livro. Espero que esta ampliação e nova paginação sejam de seu ugin do. Boa lcitimi

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PREFÁCIO

O em pirism o e a desorganização, que norm alm ente têm carac­ terizado as cam panhas políticas, tan to p ara cargo m ajo ritário com o p ara d ep u tad o e vereador, encontram nesse livro de C arlos A ugusto M anhanelli o seu extertor. C om m aestria, o au to r indica o clim a e a atm osfera que devem presidir um a cam panha: trata-se de um a guerra. E, assim sendo, são necessárias estratégias e organização. O receituário vem lúcido, ao m ostrar que h á técnicas próprias para a venda do produto: o candidato. O m arketing político desponta, p o rtanto, como um setor específico, com características próprias, que exigem análise do p ro d u to dentro do quadro político, abrangendo o desejo dos eleitores, os concorrentes, os segm entos a serem atingi­ dos, os m ateriais de p ropaganda,, as condições financeiras, a cola­ bo ração da fam ília do candidato etc. O au to r revela, por exem plo, a necessidade de um trab alh o em uníssono de assessores e cabos eleitorais em to rn o d a plataform a, devendo, m orm ente os candidatos a cargos proporcionais, atuar so­ bre determ inados segm entos nos quais tenham respaldo. M as a prim eira grande m eta do au to r diante da consagraçao da privação na cam panha política é a de vender o p róprio markctiny, político, ou seja, m ostrar sua im portância e seus resullados, puni o que lança m ão de interessante relato de experiências passadas, com o a cam p an h a do P T em V itória, no Espírito Sanlo. Im po rtan tes são tam bém as indicações sobre o 01 p.anogi ama ilr um com itê de cam panha eleitoral e sobre os recursos humanos ¡1 sc

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rem arregim entados; políticos, sim patizantes, cabos eleitorais, bem com o o trein am en to a que devem ser subm etidos. P o r fim , resta produzir o p ro d u to — o candidato — , tendo em vista sua p o stu ra, seu m odo de ser, suas qualidades e suas dificulda­ des. A idéia-força, o slogan, o m ote da cam panha são outro desafio. A cam p an h a eleitoral exige, p o rta n to , saber e arte, e o m arke­ ting político é essencial à prática dem ocrática da persuasão, com o técnica que se vale de idéias e de sensações, d a organização e da ava­ liação acerca do p ró p rio candidato, do eleitorado em geral, dos seg­ m entos a serem atingidos, dos concorrentes e das pesquisas de opi­ nião pública. H á um a relação entre a elevação do nível de civism o, consciên­ cia política do eleitorado e a exigência de que as cam panhas eleito­ rais se estribem nos conhecim entos e técnicas do m arketing político. N a m edida em que o coronelism o, os-currais eleitorais, o clientelism o perdem fo rça, o eleitorado, liberto das am arras do obscu­ rantism o e da subserviência, requer a prática do m arketing político com o técnica de cooptação e de persuasão. G an h a a dem ocracia, que significa, antes de tu d o , exercício ati­ vo de cidadania. A cam panha eleitoral é um a guerra, m as que fortalece a dem o­ cracia e deve ser en fren tad a com arm as e estratégia dem ocráticas. É isso que nos ensina C arlos A ugusto M anhanelli. M iguel Reale Júnior

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1. ESTRATÉGIA

D efinição de A urélio B uarque de H o lan d a F erreira, em seu N o ­ vo D icionário da L íngua P ortuguesa : E stratégia: arte de aplicar os meios disponíveis com vistas à con­ secução de objetivos. A rte de explorar condições favoráveis com o fim de alcançar objetivos específicos. D efinim os as estratégias utilizadas em m arketing político com o sendo a arlc de im petrar ações com o intuito de destacar um nom e e suas qualidades ju n to aos eleitores da fo rm a m ais clara e definitiva possível, levando, nestas ações, inform ações de conteúdo que façam o eleitorado assimilá-las com o objetivo de, no prim eiro instante, eleger o dono do nom e a um cargo eletivo, e posteriorm ente alim entar este conceito e defendê-lo. No tópico eleições, d a m atéria m arketing político, à qual passa­ rem os a nos dedicar, as estratégias dividiram -se em: inicial, avalia­ ção da cam p an h a, previsão, planejam ento, finanças, p latafo rm a e program a de ação parlam entar, recursos hum anos, am enizar ataques sofridos, atacar e prever contra-ataques, destacar-se nos órgãos in form ativos, posicionar-se perante problem as atuais, alianças, im a­ gem pós-eleitoral, com posições pós-eleitorais e todas as ações que dem andem um reto rn o esperado. C om param os a estratégia com a natureza no ciclo botânico, onde todas as ações têm o tem po certo p ara serem acionadas, ou seja, se m ear, regar, rarear, ad u b ar, p o d ar, e, se tu d o for efeluado no seu tem po, colherem os bons frutos; caso contrário, cnconlnirom os ilifi culdades em fazer vingar o que foi plantado.

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] E ntre o plantio e a colheita, algum as correções en tram em ação p ara resolver problem as que não foram previstos e, se aplicadas cri­ teriosam ente, colocam em segurança as plantas. Assim é um a cam panha eleitoral. Sem eam os um a idéia, rega­ mos com discussões e conversas com am igos e assessores, raream os e deixam os os bons conselhos, adubam os com ações no sentido de direcionarm os a estratégia co rreta, podam os as arestas do que possa estar fugindo ao controle, e, se tu d o for feito corretam ente, tem os u m a cam p an h a a ser lançada. 1 E ntre o lançam ento da cam panha e a apuração dos votos, algu­ m as correções entram em ação p a ra resolver problem as que não fo ­ ram previstos e, se aplicadas criteriosam ente, colocam em segurança e no m esm o cam inho a cam panha. Nas estratégias aplicadas em cam panhas eleitorais, o mais im p o rtan te são as inform ações, às quais tecerem os m aiores com entá­ rios no capitulo “ P esquisas” . A tran sfo rm ação das inform ações adquiridas em ação efetiva é a fam osa estratégia. C oncluindo, quanto mais precisas forem as inform ações usadas p ara se m o n tar um a estratégia, m enor chance de erro na estratégia de ação pro p o sta. N ão pretendo com este livro esgotar a m atéria, m as iniciar um raciocínio logico e técnico sobre tem a tão subjetivo com o as estraté­ gias utilizadas em cam panhas eleitorais.

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2. DEFINIÇÃO ESTRATÉGICA

Em política, a estratégia deve ser utilizada como se utilizam os generais em tempo de guerra, pois a única ação vergonhosa em cam­ panha eleitoral é perdê-la. Faremos pois, nesta fase, a definição estratégica da campanha, que nada mais é do que decidir a form a de combate a ser considera­ da na batalha pelos votos.

O processo eleitoral O processo eleitoral é regido por três leis básicas: a lei da indife­ rença, a da procrastinação e a da efemeridade. O “ estrategista elei­ to ral” tem que ter em mente o tempo todo estas regras que terá que combater. Na lei da indiferença, estão inseridos os indecidos e indiferentes que não notam , ou fazem força para não notar, o que se passa ao seu redor. O que aconteceria se no Brasil o voto fosse facultativo? Nos EUA apenas 30% da população votam , o resto é indiferente. Lei da procrastinação: dizem que o brasileiro costuma deixar tudo para a última hora (entrega da declaração do Imposto de Rcn da, com pra de ingressos para eventos etc.). Nas eleições, ele não lo ge à regra. A grande m aioria dos eleitores deixa para decidir eni quem votar no último momento. Lei da efemeridade: durante as campanhas eleitorais, as pesquisas demonstram as oscilações que existem na opinião do eleitorado. Is to m ostra o quanto m uda a intenção de voto. Qualquer acontcci17

m ento, fala ou ação do candidato pode influir na decisão final. Cito como exemplo o ocorrido na zona Leste de São Paulo, na cam pa­ nha para prefeito. No dia 15 de novembro, em um a das avenidas que dá acesso aos maiores conglomerados habitacionais da cidade, apa­ receu durante a m adrugada, próxim o a um sem áforo de passagem de pedestres, um corpo coberto por um lençol com duas velas acesas a seu lado e um policial tomando conta. Rapidamente formou-se uma “ roda” de curiosos para saber o que havia acontecido. Os carros que transitavam pela avenida andavam lentamente ou paravam para saber o ocorrido. O guarda não deixava ninguém se aproxim ar do corpo e explicava que o m orto era um a senhora que atravessava a rua com seu filho e fora atropelada, m orrendo imediatamente, e a criança estava no hospital entre a vida e a m orte. Isto durou até às 17 horas, e as pessoas que estavam ao lado comentavam o “ tipo de cidade que vivemos” , “ onde está o rabecão para levar o corpo” e “ a adm inistração da cidade está abandona­ da” . Conclusão: ao final do dia, verificou-se que o “ corpo” não pas­ sava de um manequim (boneco), que estava embaixo do lençol. Só para lem brar, existiu tam bém o Plano Cruzado em 1986, nas cam­ panhas governamentais.

O eleitor Conforme veremos nos capítulos seguintes, devemos identificar o eleitor e procurar suas necessidades, anseios, desejos e pautar o candidato dentro destas expectativas. As formas para se fazer isto devem seguir os exemplos mencionados e através das pesquisas efe­ tuadas junto a estes eleitores-alvo (target).

O concorrente Devemos orientar nossa cam panha, fazendo um minucioso es­ tudo dos concorrentes, averiguando suas possibilidades de sucesso, segmentos que penetra, tipo de ação que é levado em sua campanha e a estratégia de abordagem utilizada. Um bom planejam ento de marketing eleitoral sempre leva em consideração um tópico sobre concorrentes. Normalmente, no final do plano, incluímos o tópico “ avaliação competitiva” , onde, de posse de dados sobre todos os concorrentes e sobre a nossa própria cam­ panha, analisaremos e concluiremos qual a estratégia de combate a ser utilizada em nossa campanha. A principal parte do planejamento de marketing eleitoral diz qual o eleitor-alvo, seus segmentos e dados estatísticos retirados das pes18

quisas, reuniões de assessores e lideranças, painéis de testes e testes de conceito.

Plano estratégico a ser utilizado Neste tópico estudaremos muito mais a concorrência. Este plano acentuará em cada concorrente uma lista de pontos competitivos fortes e fracos, bem como um plano de ação para explorá-los ou defender-se deles. Começaremos estudando os principais assessores do candidato concorrente e o próprio candidato, no que diz respeito às suas táti­ cas favoritas e estilo de operação. Isto é o início do planejam ento estratégico para o combate, tão utilizado nas guerras por militares especializados na área. O planejamento estratégico tornar-se-á cada vez mais importante para delinear a espinha dorsal da cam panha e a form a como acio­ ná-la. Os candidatos e assessores terão que aprender como atacar pela frente e pelos flancos, defender suas posições, quando e onde usar a sua artilharia (publicidade massificante através de veículos de co­ municação) e sua infantaria (militantes que vão às ruas para o corpoa-corpo), como e quando fazer guerrilha. É um jogo de inteligência, astúcia e audácia, onde precisarão prever os movimentos competiti­ vos e, ao nível pessoal, equiparar-se a um general com coragem, leal­ dade e perseverança nas ações impetradas na luta pelos votos.

O profissional de marketing político eleitoral Entre as profissões mais ingratas que se pode abraçar, uma é a de técnico de time de futebol, outra a de profissional de m arketing político eleitoral. Se não, vejamos: o que interessa eni um a partida de futebol são os gois que levam o time à vitória. Em marketing político, interessa apenas vencer as eleições. No futebol, o bom técnico sabe que não deve fazer um confronto direto com o time adversário. Ganha-se a partida enganando, flan queando e jogando m elhor que o outro adversário. Quando se perde um a partida ou cam peonato, a culpa recai sempre sobre o lòenieo, que não soube aplicar corretam ente a estratégia e a tálicn ne,sic ou naquele período da partida. Ninguém questiona se o time c i iiím ou se os jogadores acom panharam a tática preestabeleciiln pelo Iccuico Igualmente em marketing político, só interessa a vilói ia, c qiiaiulo isto não ocorre, o prim eiro culpado é aquele que Iraçou a eslra 19

tégia de ação durante a cam panha, não questionando se o candidato comportou-se como orientado, os assessores e cabos eleitorais “ jo ­ garam ” conform e a tática preestabelecida, ou se realmente o “ can­ didato é ruim ” . Nas ações de marketing político, devemos levar o conceito de guerra quando sairmos à batalha para angariar votos, ou seja, lo­ grar, flanquear e dominar os concorrentes, pois a natureza das ações de marketing envolve conflitos entre partidos e candidatos, tentan­ do, através destes conflitos, orientar a cam panha no sentido de sa­ tisfazer as necessidades e desejos dos eleitores.

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3. ELEIÇÃO É GUERRA

Tudo o que foi mencionado alocando ações de guerra no pro­ cesso eleitoral pode parecer demasiado, mas, em todas as eleições que já vivenciei, foram aplicados estes conceitos, cientes ou não de que se estava aplicando. O puritanism o não tem lugar nem hora em um a guerra e nem em um a eleição, pois o que está em jogo é muito im portante para quem se dispõe a enfrentá-las. Alguns candidatos podem até dizer que nunca aplicaram estes conceitos em suas vitoriosas campanhas, mas estarão enganando a si mesmos e ao povo, que já não é mais o mesmo. Por isso, se você se dispuser a se candidatar a um cargo eletivo, leve em consideração que na guerra, no amor e nas eleições vale tudo para se alcançar o objetivo final.

Se eleição é guerra, então...

Já que colocamos o processo eleitoral em pé de igualdade com as guerras, nada melhor do que estudá-las e aprender com elas o que nos for útil. Vamos procurar as manobras efetuadas por grandes y.cnei ais nos campos de batalha que, com astúcia, venceram com movimentos pie cisos e no tempo certo. Destas batalhas, tirarem os os seguintes conceito,s: 21

Trabalhar em uníssono e manter as forças concentradas Quando temos uma eleição a ser vencida, este princípio nos alerta a m anter todos os assessores e cabos eleitorais cientes da plataform a e dos projetos do candidato, para que possam trabalhar em unísso­ no, assim como conhecer todas as ações externas que serão levadas à efetivação, para que m antenham as forças concentradas no intuito de conseguir levar a term o a ação estratégica.

Flanquear Um dos conceitos mais usados cm política, do qual o sr. Jânio Quadros c mestre: evite sempre que possível o ataque frontal, pois mesmo que vença, as seqüelas serão maiores. O flanqueamcnlo consiste na teoria da “ aproximação indireta” . Exemplificando: na cam panha à Prefeitura de São Paulo de 1985, o sr. Jânio Quadros evitou ao máximo o ataque frontal com o sr. Fernando Henrique Cardoso, preferindo atacar o sr. Franco Montoro, que representava uma linha de menor resistência, ou um dos flancos da cam panha Fernando Henrique Cardoso com certa vulne­ rabilidade. Este conceito é utilizado para m inar as bases do concorrente e consolidar as posições conquistadas. 22

AT AQUE F RO N TA L

Trincheiras Se o candidato consegue se fixar era um a posição, deve perm a­ necer quieto e esperar os ataques, fazendo apenas o trabalho de m a­ nutenção desta posição e prevendo sua defesa em caso de ataque. Exemplificamos: o sr. Erasm o Dias lançou em sua cam panha

T R IN CH E IR A S

eleitoral o conceito de campos de concentração para presos de alta periculosidade. Automaticamente ele se entrincheirou por detrás desta posição, que tem forte segmento de acordo, e aguardou os ataques para se defender. Até o m om ento tem dado certo.

Artilharia e infantaria Na guerra, como nas eleições, o problema prim ário é conquis­ tar e ocupar o m aior número de espaços possíveis, tanto geografica­ mente como nos meios de comunicação. No caso das eleições, o uso da artilharia é o uso das mídias, out­ doors, cartazes, espaços na imprensa etc. A infantaria é o trabalho

A R T I L H A R IA

dos militantes no corpo-a-corpo eleitoral. Como diz Carlos Figuei­ redo em seu livro Técnicas de Campanhas Eleitorais, compal ibilizálos em doses certas evita o risco do desperdício de artilhai ia, onde não temos infantes. Ou, por outro lado, tentar ocupar espaço sem qualquer propaganda.

O princípio da força “ Antecipe-se a todos o quanto puder e concentre o m aior nú­ mero possível de soldados nos pontos decisivos” (Claurewits). Conceitua-se que o candidato que está no topo das intenções de voto tem vulnerabilidade m aior que os outros. Não acredito neste conceito, pois, a partir do momento em que o candidato tenha força de intenção de votos a seu favor (o topo da m ontanha), o seu trabalho consiste apenas em se defender, visto que seria absurdo lançar ataques nesta posição (só atirem quando virem o branco dos olhos dele). Pode-se então “ concentrar forças” para prever contra-ataques e defesas. Q uanto mais concentrarmos as forças existentes na campanha e quanto maior for o número de elementos trabalhando nestd con­ centração, mais facilmente aplicaremos nossa estratégia.

P R IN C IP IO DA FORÇA

O que os candidatos a cargos proporcionais devem fazer é dei­ xar que sua equipe trabalhe com m aior ênfase dentro do segmento que lhe dá respaldo, e não colocando-a na frente de batalha em seg­ mentos que ainda não têm penetração, deixando a base desguarneda. Deve-se expandir a campanha, mas deixando sempre o maior tra­ balho na base.

Bater em retirada Os senadores da antiga Rom a já sabiam que política é a arte de negociar. Quando você não puder com seu inimigo, negocie o que tem, da melhor m aneira possível. Isto quer dizer que tanto o candidato como os assessores devem ter sensibilidade para vislumbrar a realidade em tempo hábil na cam­ panha, para sentir que não vai conseguir passar pela “ boca de ur­ n a” e, a partir disto, procurar os mais cotados para negociar seu eleitorado.

A retirada estratégica deve ser efetuada com o tempo certo, não muito depressa para não parecer fuga ou covardia, e nem m uito de­ vagar para não parecer provocação. Só existe vantagem para quem se retira de um a cam panha elei­ toral sabidamente perdida: melhor um pouco do que nada. É dentro destes conceitos que devemos pautar nossa campanha eleitoral, tentando aplicá-los e adequá-los às nossas necessidades eleitorais. Exemplifico aqui uma estratégia usada pelo Partido dos T raba­ lhadores de Vitória, no Espírito Santo, em que ficará fácil perceber que tipo de ação estratégica foi e ainda será usada por este partido. 26

Avaliação política — Estratégia da campanha do Partido dos Tra­ balhadores — P refeitura de Vitória “ Companheiros: Nossa campanha à Prefeitura de Vitória vem crescendo de for­ ma anim adora e constante até aqui. A estratégia adotada por nós de refazer a imagem distorcida que a opinião pública tinha de nosso partido já é vitoriosa. Conseguimos m udar a impressão do ‘partido do não’, do ‘partido do futuro’, do ‘partido dos derrotados’ etc. So­ mos o partido de propostas, o partido da afirm ação, o partido da m udança. Conseguimos adquirir a imagem do partido viável e con­ seqüente. Privilegiamos até aqui a tática de concentrar esforços nas ca­ madas médias da população, onde éramos temidos e menospreza­ dos. As pesquisas de opinião pública, as reações dos populares, as manifestações espontâneas de simpatizantes antes hostis, os comen­ tários e análises da imprensa local e nacional dão-nos a certeza de que-nossa tática foi eficaz e vitoriosa. Aparecemos já em muitas pes­ quisas em segundo lugar, e, naquelas em que aparecemos em tercei­ ro, estamos muito próximos do segundo colocado. Se considerarmos o dinheiro, a estrutura partidária e a agressividade de cam panha de nossos adversários eleitorais, só podemos estar satisfeitos com nos­ so desempenho. Dentro da estratégia de cam panha adotada, estamos agora ini­ ciando a segunda etapa tática de nossa ação. Passamos esta semana a "apresentar e a trabalhar mais concretamente nossas propostas político-administrativas, dando destaque às nossas lideranças e à ação efetivamente popular. Em termos ideais, esta etapa deveria estender-se até o final des­ te mês, quando iniciaríamos a etapa final onde o corpo-a-corpo ga­ nharia peso e destaque. Uma cam panha eleitoral, no entanto, não é definida apenas pe­ la avaliação e pelo. ritmo de um único partido. Ela tem ritmo pró­ prio, determinado pela relação interpartidária e pelas respostas e rea ções da população. A conjuntura, o ‘clima’, a pressão e a reação po pular, além das táticas e estratégias adotadas pelos diversos partidos e candidaturas, são determinantes das ações a serem adotadas, mm tas vezes sobrepondo-se às análises ideais. Assim, considerando este quadro geral, nossa avaliaçao pn· .m ir é de que as duas últimas etapas da campanha têm qnr sei levada·,
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