Carlos Augusto Manhanelli
ESTRATÉGIAS ELEITORAIS M a rk e tin g P o l ític o
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Dados de Catalogação na Publicação (CIP) Internacional (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
M244e
Manhanelli, Carlos Augusto. Estratégias eleitorais : marketing político / Carlos Augusto Manhanelli. — São Paulo : Summus, 1988. (Coleção novas buscas em comunicação : v. 25) 1. Campanhas eleitorais 2. Campanhas eleitorais — Brasil 3. Propaganda política I. Título. II. Série : Novas buscas em comunicação, v. 25.
88-0032
CDD-324.7 -324.70981 índices para catálogo sistemático: 1. Brasil : Campanhas eleitorais : Ciência política 324.70981 2. Brasil : Marketing político : Ciência política 324.7 3. Campanhas eleitorais : Técnicas : Ciência política 324.7 4. Marketing : Campanhas políticas : Ciência política 324.7 5. Propaganda política : Ciência política 324.7
ESTRATÉGIAS ELEITORAIS — Marketing Político Copyright © 1988 by Carlos Augusto Manhanelli Capa de: Roberto Strauss Ilustrações de: Camila C. Costa Conselho Editorial da Coleção: Adisia Sá Francisco Gaudêncio Torquato do Rego José Marques de Melo Luis Fernando Santoro M uniz Sodré Sérgio Caparelli Tereza Lucia Halliday Levy
Proibida a reprodução total ou parcial deste livro, por qualquer meio e sistema, sem o prévio consentimento da Editora.
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NOVAS BUSCAS EM COMUNICAÇÃO
O extraordinário progresso experimentado pelas técnicas de co municação de 1970 para cá representa para a Hum anidade um a con quista e um desafio. Conquista, na medida em que propicia possibi lidades de difusão de conhecimentos e de informações num a escala antes inimaginável. Desafio, na medida em que o avanço tecnológi co impõe um a séria revisão e reestruturação dos pressupostos teóri cos de tudo que se entende por comunicação. Em outras palavras, não basta o progresso das telecomunica ções, o emprego de métodos ultra-sofisticados de armazenagem e re produção de conhecimentos. É preciso repensar cada setor, cada mo dalidade, mas analisando e potencializando a comunicação como um processo total. E, em tudo, a dicotomia teórica e prática está pre sente. Impossível analisar, avançar, aproveitar as tecnologias, os re cursos, sem levar em conta sua ética, sua operacionalidade, o bene fício para todas as pessoas em todos os setores profissionais. E, tam bém, o benefício na própria vida doméstica e no lazer. O jornalism o, o rádio, a televisão, as relações públicas, o cine m a, a edição — enfim, todas e cada um a das modalidades de comu nicação — , estão a exigir instrumentos teóricos e práticos, consoli dados neste velho e sempre novo recurso que é o livro, para que se possa chegar a um consenso, ou, pelo menos, para se ter um a base sobre a qual discutir, firm ar ou rever conceitos. N ovas Buscas em Comunicação visa trazer para o público — que já se habituou a ver na Summus um a editora de renovação, de form ação e de debate — textos sobre todos os campos da Comunicação, para que o leitor ainda no curso universitário, o profissional que já passou pela Faculdade e o público em geral possam ter balizas para debate, aprim oram ento profissional e, sobretudo, inform ação.
Dedico este livro a meus pais, irmãos, esposa e filh o s e, principalmente, a meu irmão M arcos A ntonio Manhanelli, pelo apoio e incentivo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a: Antonio de Pádua Prado Jr., Carlos Estevam M ar tins, Neysa Furgler, Prof. M ário Sérgio de Cam argo e W aldir Vecchio pelo incentivo; aos senhores: Amauri Parreira e José Costa (Es pírito Santo), W anda Torres (M aranhão), M aninho (Ceará), Ronei Orsini e Dr. Leopoldo Justino Girardi (Rio Grande do Sul), Tadeu Com erlato (Santa Catarina e Curitiba), Sr. Francisco M aia e Tom Eisenlohr (Brasília), Prof. Cid Pacheco (Rio de Janeiro), Dra. Gláucia (Amazonas), Prof. Francisco Gracioso e Emmanuel Publio Dias (Es cola Superior de Propaganda e Marketing), que não deixaram m or rer um bom projeto, e ao amigo e companheiro Ronald Kuntz. Na 3? Edição, a Paulo Guimarães (Teresina-PI), por ter-me pro porcionado a oportunidade de se desenvolver um bom trabalho no Nordeste; aos companheiros de luta: Elias Azulay (S. Luis-MA), Genival Ribeiro (J. Pessoa-Paraíba), M auro Bonna (Belém-PA), Montalvão (Aracaju-SE)r Públio O. Souza (Natal-RN), Proff Maria Nilza (Belo Horizonte-M G), Lauro Letzow (Curitiba-PR), Ailso B. Cor rêa (Goiânia-GO), Tales A. Lima (Recife-PE), Zilmar Silveira (Salvador-BA) c a orientação para m inha form ação acadêmica efe tuada pelo amigo Prof. José Roberto W hitaker Penteado Filho (Es cola Superior de Propaganda e M arketing-RJ).
ÍNDICE
Prefácio à 3? ed içã o ...................................................................... P re fá c io ................................ ............................................................. 1. E stratégia................................................................................. 2. Definição Estratégica.................................................. .......... 3. Eleição é G uerra.................................................................... 4. Estratégia Inicial..................................................................... 5. Avaliação da C am p an h a..................................................... 6. Previsão e Planejam ento..................................................... 7. Orçamento da C am panha.................................................... 8. Cronograma de A tividades............................ .................... 9. Recursos Hum anos nas Cam panhas E leitorais......... 10. Plataform a e Program a de Ação P arlam en tar............ 11. O C andidato............................................................................ 12. A Mídia em Cam panhas E leitorais................................... 13. O Palanque Eletrônico ou a Televisão E leitoral............ 14. Outdoor or not o u td o o r? .................................................... 15. Práticas para um Cabo Eleitoral......................................... 16. Cam panha Eleitoral no N ordeste.................................. 17. P esq u isas........................ ........................................................ 18. O M arketing Político P ó s-E leitoral.................................. 19. Modelo de Instruções para Fiscais de “ Boca de Urmi" e Mesa A p u rad o ra................................................................. 20. Histórias que a Política Escreveu...................................... Bibliografia....................................................................................... O A u to r ............................................................................................
11 13 15 17 21 33 37 41 45 51 53 59 63 69 73 79 81 85 ‘>7 11' 129 1" 1 '7 1,19
PREFÁCIO À 3? EDIÇÃO
Após 14 anos de militância em campanhas eleitorais no sul do país, resolvi acom panhar de perto campanhas eleitorais no nordes te, pois muito se fala destas campanhas e sobre as diferenças exis tentes nas técnicas e táticas empregadas no Sul e no Nordeste. Aproveitando um convite que me foi feito para assumir a supe rintendência com ercial/M arketing de uma emissora de televisão no Nordeste (em Teresina/PI), começei a pesquisar e a participar de cam panhas eleitorais nesta região. Nesta terceira edição, procuro descrever o processo eletivo que vem sendo empregado no nordeste do país e posso garantir aos lei tores que as diferenças são m uito poucas a nível estratégico. Respei tando-se a regionalidade, somos levados a acreditar que as ações e estratégias empregadas no sul do país são as mesmas usadas no nor deste do país. Quanto à m udança de paginação, ouvi muitos leitores e críticos sobre a dificuldade de se acom panhar o raciocínio exposto nos capí tulos do livro quando começávamos a explanar sobre pesquisas elei torais, que é um a m atéria mais técnica. Isto posto, aloquei este capí tulo (“ Pesquisas” ) no final do livro. Espero que esta ampliação e nova paginação sejam de seu ugin do. Boa lcitimi
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PREFÁCIO
O em pirism o e a desorganização, que norm alm ente têm carac terizado as cam panhas políticas, tan to p ara cargo m ajo ritário com o p ara d ep u tad o e vereador, encontram nesse livro de C arlos A ugusto M anhanelli o seu extertor. C om m aestria, o au to r indica o clim a e a atm osfera que devem presidir um a cam panha: trata-se de um a guerra. E, assim sendo, são necessárias estratégias e organização. O receituário vem lúcido, ao m ostrar que h á técnicas próprias para a venda do produto: o candidato. O m arketing político desponta, p o rtanto, como um setor específico, com características próprias, que exigem análise do p ro d u to dentro do quadro político, abrangendo o desejo dos eleitores, os concorrentes, os segm entos a serem atingi dos, os m ateriais de p ropaganda,, as condições financeiras, a cola bo ração da fam ília do candidato etc. O au to r revela, por exem plo, a necessidade de um trab alh o em uníssono de assessores e cabos eleitorais em to rn o d a plataform a, devendo, m orm ente os candidatos a cargos proporcionais, atuar so bre determ inados segm entos nos quais tenham respaldo. M as a prim eira grande m eta do au to r diante da consagraçao da privação na cam panha política é a de vender o p róprio markctiny, político, ou seja, m ostrar sua im portância e seus resullados, puni o que lança m ão de interessante relato de experiências passadas, com o a cam p an h a do P T em V itória, no Espírito Sanlo. Im po rtan tes são tam bém as indicações sobre o 01 p.anogi ama ilr um com itê de cam panha eleitoral e sobre os recursos humanos ¡1 sc
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rem arregim entados; políticos, sim patizantes, cabos eleitorais, bem com o o trein am en to a que devem ser subm etidos. P o r fim , resta produzir o p ro d u to — o candidato — , tendo em vista sua p o stu ra, seu m odo de ser, suas qualidades e suas dificulda des. A idéia-força, o slogan, o m ote da cam panha são outro desafio. A cam p an h a eleitoral exige, p o rta n to , saber e arte, e o m arke ting político é essencial à prática dem ocrática da persuasão, com o técnica que se vale de idéias e de sensações, d a organização e da ava liação acerca do p ró p rio candidato, do eleitorado em geral, dos seg m entos a serem atingidos, dos concorrentes e das pesquisas de opi nião pública. H á um a relação entre a elevação do nível de civism o, consciên cia política do eleitorado e a exigência de que as cam panhas eleito rais se estribem nos conhecim entos e técnicas do m arketing político. N a m edida em que o coronelism o, os-currais eleitorais, o clientelism o perdem fo rça, o eleitorado, liberto das am arras do obscu rantism o e da subserviência, requer a prática do m arketing político com o técnica de cooptação e de persuasão. G an h a a dem ocracia, que significa, antes de tu d o , exercício ati vo de cidadania. A cam panha eleitoral é um a guerra, m as que fortalece a dem o cracia e deve ser en fren tad a com arm as e estratégia dem ocráticas. É isso que nos ensina C arlos A ugusto M anhanelli. M iguel Reale Júnior
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1. ESTRATÉGIA
D efinição de A urélio B uarque de H o lan d a F erreira, em seu N o vo D icionário da L íngua P ortuguesa : E stratégia: arte de aplicar os meios disponíveis com vistas à con secução de objetivos. A rte de explorar condições favoráveis com o fim de alcançar objetivos específicos. D efinim os as estratégias utilizadas em m arketing político com o sendo a arlc de im petrar ações com o intuito de destacar um nom e e suas qualidades ju n to aos eleitores da fo rm a m ais clara e definitiva possível, levando, nestas ações, inform ações de conteúdo que façam o eleitorado assimilá-las com o objetivo de, no prim eiro instante, eleger o dono do nom e a um cargo eletivo, e posteriorm ente alim entar este conceito e defendê-lo. No tópico eleições, d a m atéria m arketing político, à qual passa rem os a nos dedicar, as estratégias dividiram -se em: inicial, avalia ção da cam p an h a, previsão, planejam ento, finanças, p latafo rm a e program a de ação parlam entar, recursos hum anos, am enizar ataques sofridos, atacar e prever contra-ataques, destacar-se nos órgãos in form ativos, posicionar-se perante problem as atuais, alianças, im a gem pós-eleitoral, com posições pós-eleitorais e todas as ações que dem andem um reto rn o esperado. C om param os a estratégia com a natureza no ciclo botânico, onde todas as ações têm o tem po certo p ara serem acionadas, ou seja, se m ear, regar, rarear, ad u b ar, p o d ar, e, se tu d o for efeluado no seu tem po, colherem os bons frutos; caso contrário, cnconlnirom os ilifi culdades em fazer vingar o que foi plantado.
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] E ntre o plantio e a colheita, algum as correções en tram em ação p ara resolver problem as que não foram previstos e, se aplicadas cri teriosam ente, colocam em segurança as plantas. Assim é um a cam panha eleitoral. Sem eam os um a idéia, rega mos com discussões e conversas com am igos e assessores, raream os e deixam os os bons conselhos, adubam os com ações no sentido de direcionarm os a estratégia co rreta, podam os as arestas do que possa estar fugindo ao controle, e, se tu d o for feito corretam ente, tem os u m a cam p an h a a ser lançada. 1 E ntre o lançam ento da cam panha e a apuração dos votos, algu m as correções entram em ação p a ra resolver problem as que não fo ram previstos e, se aplicadas criteriosam ente, colocam em segurança e no m esm o cam inho a cam panha. Nas estratégias aplicadas em cam panhas eleitorais, o mais im p o rtan te são as inform ações, às quais tecerem os m aiores com entá rios no capitulo “ P esquisas” . A tran sfo rm ação das inform ações adquiridas em ação efetiva é a fam osa estratégia. C oncluindo, quanto mais precisas forem as inform ações usadas p ara se m o n tar um a estratégia, m enor chance de erro na estratégia de ação pro p o sta. N ão pretendo com este livro esgotar a m atéria, m as iniciar um raciocínio logico e técnico sobre tem a tão subjetivo com o as estraté gias utilizadas em cam panhas eleitorais.
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2. DEFINIÇÃO ESTRATÉGICA
Em política, a estratégia deve ser utilizada como se utilizam os generais em tempo de guerra, pois a única ação vergonhosa em cam panha eleitoral é perdê-la. Faremos pois, nesta fase, a definição estratégica da campanha, que nada mais é do que decidir a form a de combate a ser considera da na batalha pelos votos.
O processo eleitoral O processo eleitoral é regido por três leis básicas: a lei da indife rença, a da procrastinação e a da efemeridade. O “ estrategista elei to ral” tem que ter em mente o tempo todo estas regras que terá que combater. Na lei da indiferença, estão inseridos os indecidos e indiferentes que não notam , ou fazem força para não notar, o que se passa ao seu redor. O que aconteceria se no Brasil o voto fosse facultativo? Nos EUA apenas 30% da população votam , o resto é indiferente. Lei da procrastinação: dizem que o brasileiro costuma deixar tudo para a última hora (entrega da declaração do Imposto de Rcn da, com pra de ingressos para eventos etc.). Nas eleições, ele não lo ge à regra. A grande m aioria dos eleitores deixa para decidir eni quem votar no último momento. Lei da efemeridade: durante as campanhas eleitorais, as pesquisas demonstram as oscilações que existem na opinião do eleitorado. Is to m ostra o quanto m uda a intenção de voto. Qualquer acontcci17
m ento, fala ou ação do candidato pode influir na decisão final. Cito como exemplo o ocorrido na zona Leste de São Paulo, na cam pa nha para prefeito. No dia 15 de novembro, em um a das avenidas que dá acesso aos maiores conglomerados habitacionais da cidade, apa receu durante a m adrugada, próxim o a um sem áforo de passagem de pedestres, um corpo coberto por um lençol com duas velas acesas a seu lado e um policial tomando conta. Rapidamente formou-se uma “ roda” de curiosos para saber o que havia acontecido. Os carros que transitavam pela avenida andavam lentamente ou paravam para saber o ocorrido. O guarda não deixava ninguém se aproxim ar do corpo e explicava que o m orto era um a senhora que atravessava a rua com seu filho e fora atropelada, m orrendo imediatamente, e a criança estava no hospital entre a vida e a m orte. Isto durou até às 17 horas, e as pessoas que estavam ao lado comentavam o “ tipo de cidade que vivemos” , “ onde está o rabecão para levar o corpo” e “ a adm inistração da cidade está abandona da” . Conclusão: ao final do dia, verificou-se que o “ corpo” não pas sava de um manequim (boneco), que estava embaixo do lençol. Só para lem brar, existiu tam bém o Plano Cruzado em 1986, nas cam panhas governamentais.
O eleitor Conforme veremos nos capítulos seguintes, devemos identificar o eleitor e procurar suas necessidades, anseios, desejos e pautar o candidato dentro destas expectativas. As formas para se fazer isto devem seguir os exemplos mencionados e através das pesquisas efe tuadas junto a estes eleitores-alvo (target).
O concorrente Devemos orientar nossa cam panha, fazendo um minucioso es tudo dos concorrentes, averiguando suas possibilidades de sucesso, segmentos que penetra, tipo de ação que é levado em sua campanha e a estratégia de abordagem utilizada. Um bom planejam ento de marketing eleitoral sempre leva em consideração um tópico sobre concorrentes. Normalmente, no final do plano, incluímos o tópico “ avaliação competitiva” , onde, de posse de dados sobre todos os concorrentes e sobre a nossa própria cam panha, analisaremos e concluiremos qual a estratégia de combate a ser utilizada em nossa campanha. A principal parte do planejamento de marketing eleitoral diz qual o eleitor-alvo, seus segmentos e dados estatísticos retirados das pes18
quisas, reuniões de assessores e lideranças, painéis de testes e testes de conceito.
Plano estratégico a ser utilizado Neste tópico estudaremos muito mais a concorrência. Este plano acentuará em cada concorrente uma lista de pontos competitivos fortes e fracos, bem como um plano de ação para explorá-los ou defender-se deles. Começaremos estudando os principais assessores do candidato concorrente e o próprio candidato, no que diz respeito às suas táti cas favoritas e estilo de operação. Isto é o início do planejam ento estratégico para o combate, tão utilizado nas guerras por militares especializados na área. O planejamento estratégico tornar-se-á cada vez mais importante para delinear a espinha dorsal da cam panha e a form a como acio ná-la. Os candidatos e assessores terão que aprender como atacar pela frente e pelos flancos, defender suas posições, quando e onde usar a sua artilharia (publicidade massificante através de veículos de co municação) e sua infantaria (militantes que vão às ruas para o corpoa-corpo), como e quando fazer guerrilha. É um jogo de inteligência, astúcia e audácia, onde precisarão prever os movimentos competiti vos e, ao nível pessoal, equiparar-se a um general com coragem, leal dade e perseverança nas ações impetradas na luta pelos votos.
O profissional de marketing político eleitoral Entre as profissões mais ingratas que se pode abraçar, uma é a de técnico de time de futebol, outra a de profissional de m arketing político eleitoral. Se não, vejamos: o que interessa eni um a partida de futebol são os gois que levam o time à vitória. Em marketing político, interessa apenas vencer as eleições. No futebol, o bom técnico sabe que não deve fazer um confronto direto com o time adversário. Ganha-se a partida enganando, flan queando e jogando m elhor que o outro adversário. Quando se perde um a partida ou cam peonato, a culpa recai sempre sobre o lòenieo, que não soube aplicar corretam ente a estratégia e a tálicn ne,sic ou naquele período da partida. Ninguém questiona se o time c i iiím ou se os jogadores acom panharam a tática preestabeleciiln pelo Iccuico Igualmente em marketing político, só interessa a vilói ia, c qiiaiulo isto não ocorre, o prim eiro culpado é aquele que Iraçou a eslra 19
tégia de ação durante a cam panha, não questionando se o candidato comportou-se como orientado, os assessores e cabos eleitorais “ jo garam ” conform e a tática preestabelecida, ou se realmente o “ can didato é ruim ” . Nas ações de marketing político, devemos levar o conceito de guerra quando sairmos à batalha para angariar votos, ou seja, lo grar, flanquear e dominar os concorrentes, pois a natureza das ações de marketing envolve conflitos entre partidos e candidatos, tentan do, através destes conflitos, orientar a cam panha no sentido de sa tisfazer as necessidades e desejos dos eleitores.
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3. ELEIÇÃO É GUERRA
Tudo o que foi mencionado alocando ações de guerra no pro cesso eleitoral pode parecer demasiado, mas, em todas as eleições que já vivenciei, foram aplicados estes conceitos, cientes ou não de que se estava aplicando. O puritanism o não tem lugar nem hora em um a guerra e nem em um a eleição, pois o que está em jogo é muito im portante para quem se dispõe a enfrentá-las. Alguns candidatos podem até dizer que nunca aplicaram estes conceitos em suas vitoriosas campanhas, mas estarão enganando a si mesmos e ao povo, que já não é mais o mesmo. Por isso, se você se dispuser a se candidatar a um cargo eletivo, leve em consideração que na guerra, no amor e nas eleições vale tudo para se alcançar o objetivo final.
Se eleição é guerra, então...
Já que colocamos o processo eleitoral em pé de igualdade com as guerras, nada melhor do que estudá-las e aprender com elas o que nos for útil. Vamos procurar as manobras efetuadas por grandes y.cnei ais nos campos de batalha que, com astúcia, venceram com movimentos pie cisos e no tempo certo. Destas batalhas, tirarem os os seguintes conceito,s: 21
Trabalhar em uníssono e manter as forças concentradas Quando temos uma eleição a ser vencida, este princípio nos alerta a m anter todos os assessores e cabos eleitorais cientes da plataform a e dos projetos do candidato, para que possam trabalhar em unísso no, assim como conhecer todas as ações externas que serão levadas à efetivação, para que m antenham as forças concentradas no intuito de conseguir levar a term o a ação estratégica.
Flanquear Um dos conceitos mais usados cm política, do qual o sr. Jânio Quadros c mestre: evite sempre que possível o ataque frontal, pois mesmo que vença, as seqüelas serão maiores. O flanqueamcnlo consiste na teoria da “ aproximação indireta” . Exemplificando: na cam panha à Prefeitura de São Paulo de 1985, o sr. Jânio Quadros evitou ao máximo o ataque frontal com o sr. Fernando Henrique Cardoso, preferindo atacar o sr. Franco Montoro, que representava uma linha de menor resistência, ou um dos flancos da cam panha Fernando Henrique Cardoso com certa vulne rabilidade. Este conceito é utilizado para m inar as bases do concorrente e consolidar as posições conquistadas. 22
AT AQUE F RO N TA L
Trincheiras Se o candidato consegue se fixar era um a posição, deve perm a necer quieto e esperar os ataques, fazendo apenas o trabalho de m a nutenção desta posição e prevendo sua defesa em caso de ataque. Exemplificamos: o sr. Erasm o Dias lançou em sua cam panha
T R IN CH E IR A S
eleitoral o conceito de campos de concentração para presos de alta periculosidade. Automaticamente ele se entrincheirou por detrás desta posição, que tem forte segmento de acordo, e aguardou os ataques para se defender. Até o m om ento tem dado certo.
Artilharia e infantaria Na guerra, como nas eleições, o problema prim ário é conquis tar e ocupar o m aior número de espaços possíveis, tanto geografica mente como nos meios de comunicação. No caso das eleições, o uso da artilharia é o uso das mídias, out doors, cartazes, espaços na imprensa etc. A infantaria é o trabalho
A R T I L H A R IA
dos militantes no corpo-a-corpo eleitoral. Como diz Carlos Figuei redo em seu livro Técnicas de Campanhas Eleitorais, compal ibilizálos em doses certas evita o risco do desperdício de artilhai ia, onde não temos infantes. Ou, por outro lado, tentar ocupar espaço sem qualquer propaganda.
O princípio da força “ Antecipe-se a todos o quanto puder e concentre o m aior nú mero possível de soldados nos pontos decisivos” (Claurewits). Conceitua-se que o candidato que está no topo das intenções de voto tem vulnerabilidade m aior que os outros. Não acredito neste conceito, pois, a partir do momento em que o candidato tenha força de intenção de votos a seu favor (o topo da m ontanha), o seu trabalho consiste apenas em se defender, visto que seria absurdo lançar ataques nesta posição (só atirem quando virem o branco dos olhos dele). Pode-se então “ concentrar forças” para prever contra-ataques e defesas. Q uanto mais concentrarmos as forças existentes na campanha e quanto maior for o número de elementos trabalhando nestd con centração, mais facilmente aplicaremos nossa estratégia.
P R IN C IP IO DA FORÇA
O que os candidatos a cargos proporcionais devem fazer é dei xar que sua equipe trabalhe com m aior ênfase dentro do segmento que lhe dá respaldo, e não colocando-a na frente de batalha em seg mentos que ainda não têm penetração, deixando a base desguarneda. Deve-se expandir a campanha, mas deixando sempre o maior tra balho na base.
Bater em retirada Os senadores da antiga Rom a já sabiam que política é a arte de negociar. Quando você não puder com seu inimigo, negocie o que tem, da melhor m aneira possível. Isto quer dizer que tanto o candidato como os assessores devem ter sensibilidade para vislumbrar a realidade em tempo hábil na cam panha, para sentir que não vai conseguir passar pela “ boca de ur n a” e, a partir disto, procurar os mais cotados para negociar seu eleitorado.
A retirada estratégica deve ser efetuada com o tempo certo, não muito depressa para não parecer fuga ou covardia, e nem m uito de vagar para não parecer provocação. Só existe vantagem para quem se retira de um a cam panha elei toral sabidamente perdida: melhor um pouco do que nada. É dentro destes conceitos que devemos pautar nossa campanha eleitoral, tentando aplicá-los e adequá-los às nossas necessidades eleitorais. Exemplifico aqui uma estratégia usada pelo Partido dos T raba lhadores de Vitória, no Espírito Santo, em que ficará fácil perceber que tipo de ação estratégica foi e ainda será usada por este partido. 26
Avaliação política — Estratégia da campanha do Partido dos Tra balhadores — P refeitura de Vitória “ Companheiros: Nossa campanha à Prefeitura de Vitória vem crescendo de for ma anim adora e constante até aqui. A estratégia adotada por nós de refazer a imagem distorcida que a opinião pública tinha de nosso partido já é vitoriosa. Conseguimos m udar a impressão do ‘partido do não’, do ‘partido do futuro’, do ‘partido dos derrotados’ etc. So mos o partido de propostas, o partido da afirm ação, o partido da m udança. Conseguimos adquirir a imagem do partido viável e con seqüente. Privilegiamos até aqui a tática de concentrar esforços nas ca madas médias da população, onde éramos temidos e menospreza dos. As pesquisas de opinião pública, as reações dos populares, as manifestações espontâneas de simpatizantes antes hostis, os comen tários e análises da imprensa local e nacional dão-nos a certeza de que-nossa tática foi eficaz e vitoriosa. Aparecemos já em muitas pes quisas em segundo lugar, e, naquelas em que aparecemos em tercei ro, estamos muito próximos do segundo colocado. Se considerarmos o dinheiro, a estrutura partidária e a agressividade de cam panha de nossos adversários eleitorais, só podemos estar satisfeitos com nos so desempenho. Dentro da estratégia de cam panha adotada, estamos agora ini ciando a segunda etapa tática de nossa ação. Passamos esta semana a "apresentar e a trabalhar mais concretamente nossas propostas político-administrativas, dando destaque às nossas lideranças e à ação efetivamente popular. Em termos ideais, esta etapa deveria estender-se até o final des te mês, quando iniciaríamos a etapa final onde o corpo-a-corpo ga nharia peso e destaque. Uma cam panha eleitoral, no entanto, não é definida apenas pe la avaliação e pelo. ritmo de um único partido. Ela tem ritmo pró prio, determinado pela relação interpartidária e pelas respostas e rea ções da população. A conjuntura, o ‘clima’, a pressão e a reação po pular, além das táticas e estratégias adotadas pelos diversos partidos e candidaturas, são determinantes das ações a serem adotadas, mm tas vezes sobrepondo-se às análises ideais. Assim, considerando este quadro geral, nossa avaliaçao pn· .m ir é de que as duas últimas etapas da campanha têm qnr sei levada·,