M Delly Os Shesbury I Coracoes Inimigos

December 30, 2022 | Author: Anonymous | Category: N/A
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Renoir – Rosa e Azul 

CORAÇÕES INIMIGOS

Título: Corações Inimigos – Volume I.  Autor: Delly. Delly. Dados da edição: Livraria Progredior, Porto. Gênero: romance. Estado da obra: corrigida. Numeração de página: rodapé. Nota: esta obra é composta por três volumes: 1. Corações Inimigos. 2. Orieta. 3. A Marquesa de Shesbury. She sbury. Corações Inimigos Delly Livraria Progredior, Porto, 2ª EDIÇÃO

 

PRIMEIRA PARTE I Shirley avançou até ao limiar do vestíbulo e deitou um olhar inquiridor em volta do vasto pátio de honra, cercado à direita por uma arcana do tempo de Henrique V e à esquerda por uma galeria do mais puro estilo da renascença italiana. Nada se podia dizer da disposição impecável desta entrada senhorial, nada havia que despertasse a censura do exigente mordomo. E já se dispunha a voltar, quando a sua atenção foi desviada para o apareci mento de três pessoas que entravam pelo belo portão de grades, forjado há cinco séculos e decorado com os brazões dos marqueses de Shesbury.  À frente caminhava um velho mal vestido, cujo rosto pálido e enrugado era enquadrado por uma barba grisalha e desalinhada. Seguiam-no duas pequenas de sete a oito anos. Uma delas apertava carinhosamente ao peito um cãozito de pêlo branco e castanho.  Quem Quem será será? ?  mu murm rmur urou ou Shir Shirle leyy, fr fran anzi zind ndo o com com ar au auto tori ritá tári rio o as sobrancelhas. E elevando a voz com severidade, continuou:  O senhor não sabe que não é essa a porta de entrada para pessoas da sua igualha? Volte para trás e mais adiante encontrará a porta de d e serviço. O homem, porém, não parou e continuou a avançar, arrastando as pernas um pouco entorpecidas. Trazia na mão direita um grande saco feito de bocados de pano, enquanto à esquerda se apoiara numa sólida bengala nodosa. As duas pequenas, atemorizadas com a voz áspera e a grande estatura do mordomo, atrasaram-se alguns passos.  Isto é demais! demais !  exclamou Shirley. E, voltando-se para o interior do vestíbulo, chamou:  Jonas? Um dos criados de libré, que estava no vestíbulo, acorreu com presteza.  Faça dar meia volta àquele indivíduo, imediatamente!

 

Jonas desceu os degraus da larga escadaria e dirigiu-se para o forasteiro:  Vamos Vamos embora daqu daqui!i! E, rápido, estendeu estendeu a mão para segurar o velho pela gola do casaco. Este, porém, recuou e disse num péssimo inglês, com acento estrangeiro:  Trago uma carta para Lord Shesbury.  Enquanto falava, tirou dum dos bolsos do seu sobretudo encardido um envelope fechado, que entregou ao criado. Jonas pegou-lhe nas pontas dos dedos e percorreu com um olhar de desco de sconf nfia iança nça o env envel elop ope, e, on onde de se via via es escri crito to,, nu numa ma ca caliligra grafifia a mi minú núsc scul ula, a, o seguinte: “A sua Ex.cia o Marquês de Shesbury Falsdone-Hall”

O vel velho, ho, se sem m ma mais is pa pala lavra vra,, pouso pousou u o sa saco co no chão chão,, e vol volta tand ndo-s o-se, e, caminhou em direção à saída, depois de ter dito numa língua estrangeira, algumas palavras às duas pequenas. Estas ficaram imóveis, com os olhos inquietos e fitos no enorme criado, de fisionomia desdenhosa. A mais pequena, como mais tímida, tremia de medo, ao passo que a outra, mais viva e decidida, segurava o cãozito despreocupadamente.  No fim de contas o que é que estão aí a fazer ?  interpelou Jonas. Não se moveram, nem responderam ao criado; pelos seus modos percebiase, porém, que não haviam compreendido uma palavra sequer.  Não falam inglês?  A mais alta, des desta ta vez vez,, disse algumas palavras na mesma língua de que o estrangeiro se servira, ao deixá-las.  O quê ?... Que queres dizer com essa e ssa algaraviada ?...  retorquiu Jon Jonas. as. Do alto da escadaria Shirley gritou:  Que ficam aí a fazer essas pequenas, Jonas? Por que não vão com aquele indivíduo?  Não sei, senhor Shirley, Parece-me que não compreendem nada de inglês.

 

 Vamos! Vamos! vamos! Ponha-as na rua sem mais discussões! E Shirley, visivelmente irritado, desceu apressado a escadaria. Neste instante dois rapazes entraram, cruzando-se com o velho que saía. Um deles, mais impertinente e arrogante, mediu de alto a baixo a estranha personagem que saía, com ar de surpresa desdenhosa.  Oh!... que homem e que pequenas o senhor Walter vem encontrar aqui, no vestíbulo de entrada!.... e logo no vestíbulo de honra!... Expulse-os já, seu estúpido, depressa! Junt Juntan ando do o ge gest sto o à pa pala lavr vra, a, Sh Shir irle leyy ia agar agarra rarr pe pelo lo br braç aço o um uma a da dass pequenas, para a desviar da passagem dos recém-vindos, quando o cãozito, defendendo a dona, se atirou resoluto à mão do mordomo, enterrando-lhe na pele, com raiva, os dentes agudos.  Abominável animal! Maldita pequena!.. Esta, com ligeiro grito de susto, puxou para junto de si o animal. Uma voz harmoniosa e imperativa se fez ouvir atrás dela:  Que é isso, Shirley?... Que fazem aqui estas pequenas? E quem é esse homem que acaba de sair sem ao menos nos saudar?  Ign Ignorooro-o, o, senhor senhor... ... Estou Estou des desespe esperado rado!. !... .. Aqu Aquele ele homem homem ent entrego regou u a Jonas uma carta... Onde está a carta, Jonas? O criado entregou a missiva ao mordomo, que a deu por sua vez muito respeitosamente ao seu jovem patrão. Walter leu o sobrescrito e depois olhou para as duas pequenas, que se mostravam assustadas.  Isto nada me explica por que estas pequenas estão aqui!  Vieram com aquele homem que acaba de sair. Jonas tentou fazer com que o acompanhassem, mas elas não o compreenderam, pois não entendem inglês. Walter franziu as finas sobrancelhas castanhas, que formavam um arco bem delineado sobre os seus olhos escuros, singularmente bonitos e que refletiam nesse momento dura impaciência.  Que significa isto?... Compreendam ou não o inglês, é preciso pô-las fora daqui.

 

 A pequena pequena dona do cão falou nesse instante, numa voz meiga e musical:  Lastimo que o Nino tenha mordido aquele senhor... Julgou que me queria bater...  Ah!... és italiana?... Muito bem, então vais-me dizer o que fazes aqui?... Quem é o homem que te trouxe? Wal alte terr di diri rigi giuu-se se à pe pequ quena ena no ma mais is pu puro ro itital alia iano no.. El Ela a re resp spon ondeu deu-l -lhe he imediatamente, erguendo os grandes olhos escuros, franjados dumas pestanas quase pretas:  É o senhor Pravi. Recomendou-nos que ficássemos aqui, pois, disse-nos ele, é aqui onde devemos viver.  Como?... onde devem viver!... Que quer isso dizer?  Não sei, senhor  murmurou a pequena, baixando timidamente os olhos ante o olhar imperioso imper ioso de Walter.  Mas afinal quem sois?... Donde vindes?  De Faletti.  O que é isso?  Uma cidade.  E os vossos pais?  Só temos pai.  E onde está ele?  Partiu em viagem.  Foi ele quem vos mandou para aqui?  Sim, senhor. Disse-nos: “Vão para a Inglaterra com o senhor Pravi, que vai também para lá”. Ele voltou-se para o seu companheiro, um rapaz de ombros largos e rosto corado e vivo:  Que achas disto, Nortley?.. Compreendeste alguma coisa?  Na Nada da,, abso absolu luta tame ment nte! e! A expl explic icaç ação ão de deve ve esta estarr aí, aí, sem sem dú dúvi vida da!!  respondeu Nortley, apontando para a carta.  Tens Tens razão. Leva-a a lord Shesbury, Jonas. Neste instante o cãozito rosnou inquieto, ao ver um outro cão que se

 

aproximava de Walter. Antes que a pequena o pudesse segurar, atirou-se sobre ele mordendo-o numa orelha. O animal ganiu de dor, tentando fugir àqueles dentes agudos que o perseguiam, Nino porém não o largava.  Nino, aqui!. Nino!  gritou a pequena.  Adiantou-se para segurar o cão. Antes porém que o alcançasse, uma mão nervosa agarrou-o pelo pescoço e apertou-o com violência. A boca do pobre animal abriu-se numa crispação.  Não mo mate!  gritou a pequena. Foii ta Fo tard rde e de dema mais is.. Ab Abri rind ndo o a mã mão, o, de deix ixou ou ca cair ir o co corp rpo o do an anim imal al aind ainda a ofegante. com um olhar de cólera e de desprezo, Walter olhou para a pequena estrangeira e disse friamente:  Esta lição ensinar-te-á a ter mais respeito pelos animais dos outros. Depois, voltando as costas, encaminhou-se para a escadaria, seguido do seu companheiro.  Malvado !... Malvado !...  increpou a pequena, com a voz entrecortada de soluços. E caindo de joelh joelhos os junto do cãozit cãozito o morto, ergueu comovida o seu corpito corpito ainda quente e murmurou, soluçando:  Nino !... Nino !... Eras o meu amigo...  A outra pequena, que ficara um pouco atrás e presenciara toda esta cena tomada dum vivo terror, aproximou-se devagar e disse à companheira, baixinho:  Orieta, que irão fazer de nós agora?  com os olhos brilhantes de dor e de raiva, respondeu-lhe:  É-me indiferente! Matou-me o Nino!... Matá-lo-ei também, Faustina!... Dum salto, pôs-se de pé. Os olhos brilharam-lhe como duas chispas de fogo, e era tão intenso o clarão trágico que os circundava e tão estranho, numa pequena daquela idade, que Shirley ficou surpreso.  Que pequena geniosa!  murmurou ele. Chamando um outro criado que estava no vestíbulo, Shirley ordenou-lhe que tomasse conta das pequenas, até que o senhor Shesbury dissesse o que queria que se lhes fizesse.

 

Orieta apertou entre os bracitos o corpo inerte do Nino, enquanto dos olhos as lá lágr grim imas as lh lhe e ca caía íam m co copi piosa osas. s. Fa Faust ustin ina, a, pá pálilida da e in inqu quie ieta ta,, olhav olhava a pa para ra a companheira, companh eira, enquant enquanto o o criado de libré vermelha, do alto da escadaria, as fitava com olhar desconfiado. Passaram-se alguns minutos, até que à entrada do vestíbulo surgiu o criado de quarto do senhor Shesbury, um italiano, de nome Mário, o homem da sua confiança com um olhar rápido e inteligente admirou as duas crianças.  Vinde cá, pequenas  disse Mário. Faustina obedeceu logo; Orieta, porém, ficou imóvel, erguendo os olhos para Mário, com raiva.  Tu também... Vamos, Vamos, depressa depressa!! Orie Or ieta ta ca cami minh nhou ou desc desconf onfia iada da.. Qu Quan ando do se ap aprox roxim imou ou do criad criado, o, este este perguntou:  O que trazes aí?... Um cão morto?... Que significa isso?  Ele matou-mo  disse a pequena, pesarosa.  Ele quem?  Um jovem senhor.... muito mau!. muito mau!... De novo os olhos de Orieta brilharam com aquela mesma expressão que tinha surpreendido Shirley Shirley..  Que queres dizer?... Que senhor?  Mário repetiu a sua interrogação em inglês, dirigindo-se a Jonas, que acabava de entrar, vindo do vestíbulo. O criado contou o que se havia passado. Depois que o ouviu, Mário voltouse para Orieta e ordenou-lhe:  De Deix ixa a fica ficarr aí o an anim imal al.. Nã Não o po pode dess apre aprese sent ntar ar-t -te e dian diante te de Sua Sua Excelência com isso. Orieta apertou mais o pequeno cadáver de encontro ao peito, e respondeulhe:  Quero ficar com ele!  O que queres?!... Que pequena esquisita!... esquisita !... Jonas, tira-lhe o cão. Quis resistir resistir,, mas o criado tiroutirou-lhe lhe o animal do colo e atirou-o para o lado. Depois disso Mário segurou Orieta pelo braço e fê-la subir dum pulo até ao vesstíbulo ve

decor ora ado

de

vel elh has tape peççari ria as

flamengas e

de

armadura rass

 

adamascadas, enquanto Faustina os ia acompanhando um pouco à distância, trêmula de medo.

 

II Depois Dep ois de atr atraves avessare sarem m vários vários com compart partime imento ntoss dum duma a sum sumptu ptuosi osidade dade grandiosa, pararam. Mário abriu uma porta e, afastando com a mão o reposteiro de velho brocado, anunciou:  Aqui estão as pequenas, senhor. Fê-las entrar, entrar, deixando cair em seguida o reposte reposteiro, iro, ... mas conserv conservandoandose atrás dele. Era ali a biblioteca de Falsdone-Hall. Ocupava uma parte duma das alas que davam sobre os jardins. Uma galeria de retratos punha-a em comunicação com a ala renascenç renascença a do salão de honra. O teto, muito muito alto, em forma de cúpula, era decorado com cenas representando os sete misteres de Hércules. Entre os armários marchetados, decorados com bronzes cinzelados, dum lavor precioso, outrora encomendados por um marquês de Shesbury a um dos mais célebres ebanis eba nistas tas do séc século ulo XVHI. XVHI. havia, havia, cobrin cobrindo do as par paredes edes,, mag magníf nífico icoss ret retábu ábulos los antigos. antig os. Mármor Mármores es ital italianos, ianos, velhos esmaltes, marfins marfins delic delicadament adamente e esculp esculpidos, idos, concorriam para mais realçar a sumptuosidade do ambiente, iluminado por quatro  janelas, em puro estilo francês, que se abriam sobre balaústres de mármore rosado. Junto duma delas estava um homem de pé. Ao ouvir o criado, estremeceu, estremeceu, e voltando-se lentamente, fitou as pequenas com um olhar que denunciara uma febricitante curiosidade. Cecil Falsdone, marquês de Shesbury, tinha trinta e oito anos. Apresentava todavia maior idade, em consequência da vida de orgia doutros tempos e da doença que aos poucos ia dobrando, com persistência fatal, a figura direita, fina e elegante do cavalheiro de outrora. Contudo os olhos, a despeito dos sofrimentos físicos ou morais que lhes mudaram a expressão, conservavam ainda uma parte daquele encanto sedutor, do qual muitas mulheres, por sua infelicidade, tinham sofrido o fascinante domínio.  Vinde cá, pequenas - disse Shesbury Shesbur y, com a voz um pouco trêmula. Logo que as viu perto dele, iluminadas pela forte claridade que penetrava

 

pelas janelas, pôs-se a observá-las com viva atenção. Os lábios crisparam-se-lhe. Um vinco doloroso lhe apareceu no rosto. Contemplou alternadamente Orieta e Faustina, parecendo comparar um a um, cada um dos seus traços. Eram Eram am ambas bas ig igual ualme ment nte e bo boni nita tass e de delilicad cadas as:: a me mesm sma a te tezz ma mate te,, os mesmos traços, os olhos dum mesmo azul escuro, sombreados por pestanas castanhas em Faustina, mas mais carregadas em Orieta. Faustina, porém, parecia uma cópia não perfeita da sua companheira, a pequena de olhar ardente, mas duma inocente desconfiança, que não deixou de fitar um instante sequer o olhar investigador de Shesbury Shesbur y.  Qual é a Orieta ?  perguntou com certa hesitação.  Sou eu.  Tu?.. És um pouco parecida... Mas como te assemelhas tanto com... E interrompendo a frase, com a garganta apertada e o semblante crispado, murmurou baixinho:  Qual delas ?... Qual delas?... Dum dos bolsos do casaco tirou uma carta, que percorreu com os olhos, detendo-se detend o-se na leitu leitura ra de certa passag passagem. em. Depois, suspirando suspirando,, voltou a guardáguardá-la, la, enquanto agitava uma campainha. Ao Mário, que apareceu em seguida, ordenoulhe:  Diga à senhora Barker que venha falar comigo. Logo que o criado se retirou, Shesbury voltou-se para as pequenas e disselhes com benevolência:  Vão ficar aqui, visto seu pai, segundo me diz na sua carta, ter partido em viagem. Devem ser ajuizadas, obedecendo à senhora Barker, a quem as vou confiar...  Sim, se não for tão má como o jovem senhor que matou o meu Nino interrompeu Orieta, numa voz trêmula.  Que jovem senhor? Quem é o Nino? Na mesma voz entrecortada de lágrimas, contou-lhe o incidente. Shesbury, enrugando a testa, murmurou:  Fo Foii Wal alte terr, sem sem dú dúvi vida da.. .... É du dum m gê gêni nio o ar arreb rebat atado ado.. O sa sangu ngue e do doss

 

Shesburys ferve-lhe nas veias... Um véu de angústia pareceu cobrir por um instante os olhos do fidalgo. Depois, contemplando a pequena, cujas faces estavam úmidas das lágrimas, disse com doçura, estendendo a mão para acariciar o rosto que parecia queimar:  Minha pobre pequena, lastimo que tenhas sofrido este desgosto logo à tua chegada. Não te aflijas, que eu dar-te-ei dar-te- ei um outro cão...  Um outro!... Não quero!... Todo seu corp corpo o vibrou de indignação, e continuou:  Julga talvez que um outro seria igual ao Nino ? Ele era meu amigo... Mordia a toda a gente e só gostava de mim... Shesbury Shesbu ry crispou as mãos pousadas sobre o espald espaldar ar duma cadeira, perto dele. Uma comoção violenta lhe transtornou o olhar. Disse a meia voz:  Beatriz... Beatriz!... Era assim também! Neste momento, ao fundo da biblioteca, abriram uma porta e Walter entrou, acompanhado do galgo. Orieta, vendo-o, recuou uns passos. O horror e a cólera transformaram num instante o rosto da pequena, fazendo-lhe estremecer todo o corpo, sob a velha roupa cinzenta. Walter, ao ver as duas pequenas, parou. Depois continuou a avançar, olhando-as com desdém.  Ah! estás aí, Walter!  disse Shesbury, Uma sombra de indecisão lhe passou pelos olhos, ao vê-lo. vê- lo.  ...Deste um bom passeio esta manhã?  Comprido e excelente... E o pai passou melhor m elhor esta noite? Walter,, falando, apertou a mão que Shesbur Walter Shesburyy lhe estendeu.  Quase na mesma, meu filho. Mas já estou habituado... Apresento-te duas nova no vass hó hósp sped edas as de Fals Falsdo done ne-H -Hal all.l. Um am amig igo o ital italia iano no dout doutro ross temp tempos os,, encontrando-se na miséria e tendo sido obrigado a expatriar-se, pede-me para lhe receber as filhas, para lhe prestar o meu auxílio... Shesbury, ao falar, desviou os olhos do filho. Uma comoção reprimida se lhe ref reflet letiu iu no rosto rosto pál pálido ido,, cuj cujos os tra traços ços del delica icados dos se via viam m mais mais nitida nitidamen mente te acentuados em Walter Walter..

 

 Esse amigo devia ter pedido o seu consentimento, antes de lhe mandar as filhas!... É um modo muito estranho de proceder, não é assim?  É de fato.... mas foi sempre assim.... um original... Como outrora me prestou um grande serviço, não posso recusar-lhe o que me pede agora.  Então são de boa família essas pequenas estrangeiras? Um olhar de desdenhosa indiferença caiu sobre Orieta e Faustina.  De muito boa família.... dum velho tronco fidalgo... Chamam-se Orieta e Faustina Farnela... Este último último nome passou com algum esforço por entre os lábios pálidos de Shesbury.  Se na verdade deve alguma obrigação ao pai dessas pequenas, é difícil recusar.... se bem que o procedimento dele seja um pouco esquisito. O que vai fazer delas?  Entreg Entregá-las-ei á-las-ei ao cuidad cuidado o da senhora Barker Barker,, que tratará delas. delas... .. Mas.... parece-me, Walter, Walter, que causaste um grande desgo desgosto sto a essa pobre pequena.  A censura contida na voz de Shesb Shesbury ury era suavizada pela carícia do olhar. Um rito de desdém contraiu os lábios de Walter Walter..  Tratei como merecia um horrível animal impertinente que se atirou ao Fady.  És muito arrebatado, meu filho, e severo demais... nos teus castigos. É um defeito que herdaste dos teus antepassados, que eram espíritos violentos e sem piedade. Desejava contudo, Walter, que empregasses um pouco da tua grande energia em dominares essa tendência. Um clarão de inc incont ontido ido orgul orgulho ho bri brilhou lhou nos olh olhos os do filho filho - ess esses es olh olhos os cintilantes como os de Shesbury, mas que possuíam uma vida mais intensa, mais profunda, e denunciavam uma vontade ditatorial.  Suponho, infelizmente, que é impossível fazer-lhe a vontade nesse ponto, meu pai  disse Walter friamente. O ga galg lgo o ne nest ste e mo mome ment nto o aprox aproxim imou ou-se -se de Orie Orieta ta.. A pequ pequena ena fe fech chou ou o punho e descarregou-o com toda a força sobre a cabeça do animal, que recuou ganindo.

 

 Que má criatura... Eu vou-te ensinar a bater no meu cão. E erguendo a mão, Walter avançou para Orieta, que o fitava com raiva. Shesbury, porém, interpôs-se com energia entre os dois.  Tenhamos, Walter, um pouco de indulgência. Está ainda ressentida da morte do seu cão... E tu, Orieta, não devias dev ias ter feito isso!...  Quero matá-lo também!... Hei-de matá-lo!...  disse a pequena com veemência.  Orieta!  Hei-de matar o cão.... e a ele também!...  E indicava Walter, que ao ouvir a ameaça deixou escapar um riso desdenhoso.  Aí estão, meu pai, as amáveis disposições da sua protegida!... Que figurinha do demônio, bem!... Diga à Barker para a castigar, pois pode ser que assim lhe modifique o gênio.  Detesto-o!... É a criatura mais perversa deste mundo!... Orieta Oriet a tremia de cólera cólera.. O chapéu, de velha palha amarela, tinha-lhe tinha-lhe caído para a nuca, deixando a descoberto os seus lindos cachos dum louro suave. No rosto ros to cor corad ado, o, os ol olho hoss titinh nham am um br brililho ho viol violen ento to,, qu que e im impre press ssio ionou nou mu muitito o Shesbury.  Basta, pequena!  disse o marquês com a voz perturbada.  É preciso ser mais dócil, mais... Barker, venha aqui, que eu lhe explico... Já uns momentos antes uma mulher aparecera à entrada da biblioteca. Liase no seu semblante uma viva impressão de surpresa, sem dúvida provocada pela inconcebível audácia dessa pequena, que se atrevia a erguer com arrogância a sua voz para Walter. Compreendeu logo que precisava usar de toda a sua energia.  Aproximou-se do marquês, toda formalizada dentro do seu uniforme preto, e ouviu silenciosamente, com ar imperturbável, as instruções que lhe transmitiu com respeito às duas pequenas estrangeiras. Logo que o marquês acabou de falar, inclinou-se, dizendo:  Todas as ordens de vossa senhoria serão cumpridas. Shesbury voltou-se depois para as suas protegidas e disse-lhas:

 

 Vão com a senhora Barker, minhas pequenas. Podem pedir tudo o que precisarem ; ela fala e compreende muito bem o italiano. Quero que sejam muito felizes na minha casa... Deu alguns passos, acariciou o rosto de Faustina e passou por um instante os dedos pelos cachos dourados de Orieta. Esta, cujo rosto se conservava ainda ruborizado, lançou um olhar rancoroso a Walter, que, voltando-lhe as costas, se foi colocar diante duma das janelas abertas.  Vamos, sê dócil, minha filha.... acalma o teu gênio  disse a meia voz Shesbury. O olhar de Orieta ergueu-se para o marquês e modificou-se de súbito. Uma meiguice acariciadora e um encanto, o mais terno possível, brilharam nos seus lindos olhos, dum azul profundo.  É muito bondoso, senhor. Estimá-lo-ei muito por isso. Shesbury baixou por instantes as pálpebras, como se o olhar terno de Orieta lhe despertasse uma vaga de remorsos. Em seguida procurou dissimular, com um movimento de cabeça, a viva comoção que o dominava. Sem baixar os olhos, disse numa voz indecisa:  Pode levá-las, Barker.  A governanta, segurando as duas pequenas pelas mãos, inclinou-se reverente, encaminhando-se para a porta. Orieta teve mais um olhar comovido para o fidalgo, e Faustina, absorta, deixou-se levar, ainda cheia de medo. Walter, logo que as pequenas saíram, voltou para junto do pai. Depois de lhe contemplar a fisionomia alterada, observou observ ou com um acento delicado:  Não me parece bem disposto, esta manhã! A visita dessas pequenas fatigou-o bastante...  Não, meu filho... Sinto-me pelo contrário satisfeito em poder fazer-lhes algum bem... Walter, se eu por acaso faltar, é preciso que continues a cuidar delas...  Não devemos pensar em tão triste eventualidade, meu pai!...  Est Está á bem.... bem.... voltare voltaremos mos a falar falar sobre o ass assunt unto. o. Esta Estamos mos na hora do chá, não?...

 

 Quase.  Então vamos para a sala de jantar. E com um gesto afetuoso, Shesbury tomou o filho pelo braço e levou-o com ele. O seu porte esbelto e flexível fazia destacar o do pai, curvado pela doença...

 

III Dezesseis anos antes; Shesbury havia desposado uma senhora russa, pertencente à mais alta aristocracia. Desse matrimônio nasceram três filhos, dos quais só sobreviveu Walter. O último custara a vida à mãe, uma jovem senhora delicada, que sofreu muitíssimo com as inúmeras infidelidades do marido. Durant Dur ante e vári vários os ano anoss She Shesbury sbury via viajou jou mui muito, to, passand passando o pri princi ncipal palmen mente te grandes temporadas temporadas em França e na Itália. A su sua a fama de sedutor irresistível era quase européia. européia. Não volta voltara ra a casar casar,, receoso de perder de novo a sua liberd liberdade. ade. Porém um dia uma viúva ainda nova, bastante bonita, a senhora Pamela, mais hábi há bill do qu que e as outr outras as,, qu que e te tent ntar aram am em vã vão o essa essa co conq nqui uist sta a ma matr trim imon onia ial,l, conseguiu que Shesbury, já então marquês, em virtude da morte do pai, a pedisse em casamento. Isto foi da parte dele apenas um passageiro capricho, tão efêmero como os anteriores. Mas a senhora Pamela estava de fato apaixonada por ele. Houve nos dois primeiros anos desta união numerosos conflitos entre eles. Após um deles, Shesbury partiu para a Índia, donde voltou seis meses depois, adotando então uma vida quase por completo separada da da esposa. Nessa época a sua saúde começara a ressentir-se, essa saúde que até aí fora de ferro... No entanto a senhora Shesbury tinha toda a liberdade para levar a vida de relações, de que ta tant nto o go gost stava ava.. Tod odavi avia a mo most stro rouu-se se mo moder derad ada a e po pouc uco o sa saía ía da dass res resid idênc ência iass preferidas pelo marido: estava em Falsdone-Hall uma grande parte do ano, pois passava apenas os três meses de inverno numa vivenda perto de Nice. No dia seguinte ao da chegada das duas pequenas, passeava ela no parque, em companhia dum primo de Shesbury, Humfrey Barford. Este, de alta estatura, inclinava-se para ouvir a loura fidalga, que lhe falava num tom um pouco nervoso:  Parece não ser, a tal respeito, da minha opinião; porém no fundo, estou certa, pensa, como eu, que essas pequenas lhe pertencem de perto. Além disso nunca me falou nesse amigo, nesse conde Alberto Farnela, que provavelmente não existe. Também Também não conhece esse nome?...

 

 Não.... não conheço, como não conheço todas as passagens da vida aventurosa de Cecil, pois sabe bem quanto o seu gênio é pouco comunicativo. Por outr ou tro o lado lado tamb também ém não não tenh tenho o nenh nenhum um moti motivo vo pa para ra deix deixar ar de acre acredi dita tarr na explicação que nos deu sobre a hospitalidade dada a essas pequenas. Um sorriso sardônico entreabriu os vermelhos lábios da senhora Shesbury.  Não o julgava tão crédulo, Humfrey!... O passado de Cecil torna muito verosímil a minha suposição.... e o embaraço que notei nele, ontem, quando nos falou sobre essas estrangeiras, dá-me a certeza de que não estou em erro.  Sinto muito, mas não sou da sua opinião, Pamela. Esta parou, levantando os olhos azuis, claros e vivos, onde passou uma chama de irritação:  Sei muito bem que nunca deixa ficar mal Shesbury, seja qual for o seu  juízo íntimo. Ele exerce sobre si uma grande influência e acata todas as suas opiniões. Humfrey sorriu quase duma forma imperceptível - um sorriso de ironia. Esta ironia passou-lhe rápida pelos olhos, duma cativante meiguice, cuja expressão lhe era habitual.  Faz mal em pensar assim, Pamela. Há um ponto, pelo menos, em que não concordo com o meu primo.... bem o sabe.  Sim, eu sei, condena a sua conduta para comigo e já lho fez sentir!... Mas aqui para nós, ele não mudou em nada!...  com um gesto nervoso, Pamela abriu a sombrinha de seda branca que trazia, pois o sol era bastante forte nos jardins de Falsdone-Hall.  Não tenho muita influência sobre ele!  disse Humfrey. Pamela encolheu ligeiramente os ombros.  Julgo que nenhuma criatura o conseguirá!... É um homem que não se pode prender nunca... Oh! que natureza enganadora!... O rosto encres encrespou-se-l pou-se-lhe, he, tomando a fisio fisionomia nomia uma expressão de cólera. cólera. Duran Du rante te al algu guns ns seg segun undo doss Hu Humf mfrey rey e a pri prima ma ca cami minh nhara aram m ca cala lados dos.. Pa Pame mela la conservava os olhos fitos no chão, e Humfrey admirava, com uma chama velada no fundo dos olhos, a perspectiva do castelo, estilo francês do século dezessete,

 

que dominava os jardins com os seus terraços, dos quais desciam magníficas escadas de mármore.  Vou prevenir Barker para que me traga logo essas pequenas... Quero conhecê-las... Nelly contou-me que Walter matou o cãozito duma delas, por lhe ter mordido o galgo. Isto, da sua parte, não me admira. Tem um feitio arrebatado, difícil de dominar... Humfrey abanou a cabeça num sinal afirmativo.  .. .... E qu quan ando do fo forr maio maiorr, Hu Humf mfrey rey,, co cont ntin inuar uará á a go gost star ar mu muitito o da su sua a independência!  A inquietação transpareceu no tom de voz de Pamela e no olhar com que fitou o seu companheiro.  Volto a dizer-lhe, minha querida prima, que procurarei ser-lhe o mais útil possível, junto do meu primo, e se tenho limitado essas possibilidades é devido ao seu espírito reservado.  Sim, mas terá a nossa simpatia e a nossa confiança... Enfim, meu caro amigo, deixo ao seu cuidado o evitar que Cecil nos deixe, a mim e à Rosa, na dependência do filho. Estendeu a sua mãozita cheia de jóias e pegando na de Humfrey, apertou-a demoradamente. Este curvou-se, pousando os lábios naqueles dedos delicados...  Mostrar-me-ei digno da sua amizade, não oduvide, Pamela. Ela sorriu com meiguice:  Já lhe chamam o meu protetor.  É um título de que me sinto muito ufano.  Falando assim, Humfrey acariciou com o olhar o lindo rosto enquadrado numa massa ondulada de finos cabelos louros. Pamela abanou a cabeça e de súbito a cólera reapareceu-lhe no olhar:  É preciso que lhe seja muito indiferente para que não veja com suspeitas a nossa amizade!  Que a prima tem procurado que a tomem por outro sentimento, a fim de lh lhe e de desp spert ertar ar ci ciúm úmes es.. Supo Suponh nho o por is isso so que que nu nunc nca, a, re real alme ment nte, e, a am amou ou.. E pergunto a mim mesmo algumas vezes se não terá por si até alguma aversão.

 

 Aversão ?  perguntou Pamela numa voz sibilante.  Oh! sim, talvez!... talvez!... mas porquê? Humf Hu mfrey rey teve teve um ge gest sto o qu que e sign signifific icav ava: a: “n “não ão sei” sei”.. Ne Ness sse e mo mome ment nto, o, contornando um dos canteiros, onde os jardineiros de Falsdone-Hall dispunham as flores mais exóticas, apareceu uma criada, a ama, que empurrava um carrinho, no qual se encontrava uma débil criança vestida de branco. Tinha lindos cabelos casta cas tanh nhos, os, qu que e em emol oldu durav ravam am um ro rost sto o an angu gust stia iado, do, co com m um uma a expres expressã são o de cansaço e de sofrimento.  Aí vem a minha pequena Rosa  disse Pamela. O seu olhar iluminou-se com um clarão de ternura; dirigiu-se para a criança e be beijijou ou-a -a no ro rost sto. o. Ro Rosa sa,, po poré rém, m, pr proc ocur urou ou furt furtar ar-s -se e à cari carici cia a com com ar de impaciência.  Não quero que me abracem, hoje.  Sentes-te mal, minha querida? Rosa abanou negativamente a cabeça e com a mão magra e amarelada agarrou a faixa de seda, cor-de-rosa, que enfeitava o vestido branco de Pamela, e puxou-a para si com violência.  Então, meu amor!  disse Pamela num tom de meiga me iga reprimenda. E procurou desprender a faixa dos dedos da criança, mas esta não a largou, antes a faixa rangeu, sinal de que os pontos que a uniam ao vestido estavam cedendo.  Rosita, meu amor!... Não forces assim, que me dás cabo c abo da faixa! Rosa, porém, puxou desta vez com as duas mãos; a faixa desprendeu-se e caiu.  Minha má!... Podes guardá-la agora.... pois porei outra... Nuttie, leve a menina para o castelo.  A ama, uma mulher alentada, de rosto impassível, mudou a direção do carr carro. o. Rosa Rosa pr proc ocur urou ou ra rasg sgar ar a seda seda da faix faixa a com com as unha unhas. s. Hu Humf mfrey rey,, qu que e caminhava atrás com Pamela, disse a meia-voz:  Causar-vos-á muitos desgostos, essa pequena. ... habituada como está a ver todos os seus caprichos satisfeitos.

 

Pamela interrompeu-o com impaciência:  Que posso eu fazer, senão animá-la? É tão doente!... De fato, tem um feitio muito esquisito!... Só lhe inspiram confiança o pai e o irmão, e em especial este. Perto de Walter é duma docilidade única. Quanto ao pai, concordo que o amaria muito mais, se não a tratasse com tanta indiferença!...  A voz de Pamela tremia de irritação ao pronunciar estas últimas palavras. Humfrey nada disse. Chegavam Chegav am nesse momento ao primeiro terr terraço. aço. A ama pegou na criança nos braços e subiu a escada. Um e outro continuaram calados até ao terceiro lanço, lajeado de mármore cor-de-rosa e que se estendia em frente do castelo. Nessa altura já o sol desaparecia. Diante das portas, com vitrais, dum dos salões, os criados dispunham a mesa para o chá. A fidalga disse a um deles:  Vá dizer à senhora Barker que me traga as pequenas. Sentou-se numa das elegantes poltronas que ali se encontravam, e em seguida, voltando-se para Humfrey Humfrey,, disse:  Seria muito amável se fosse buscar o leque que deixei no salão. E ajeitou-se confortávelmente na fofa poltrona.  A senhora Shesbury era ainda uma linda mulher, muito elegante, mas de aspecto felino, e cujos olhos sabiam exprimir todas as variações da sua sábia arte de conquistar. Humfrey, ao trazer o leque, recebeu em recompensa o mais terno dos sorrisos. Sentando-se perto dela acendeu um cigarro, depois de lhe ter pedido a devida autorização. Pouco depois apareceu Nuttie, trazendo a pequena Rosa. Sentou-se numa cadeira ao pé de Pamela.  Dás-me os bombons de que eu gosto, mãezinha  disse a pequena, muito secamente.  Naturalmente, meu lindo tesouro. Escolherás a teu prazer. Pamela inclinou-se para lhe acariciar os cabelos.  Nuttie vai tos trazer, tra zer, para escolheres... Ouviste, Nuttie?  Aí estão as pequenas que mandou chamar  anunciou Humfrey. Duma das portas latera raiis do cast ste elo sairm Ori rie eta e Faust stiina,

 

acompanhadas pela criada. As pequenas estavam com os seus vestidos velhos, pois a senhora Barker não tivera ainda tempo de lhe comprar outros. Faustina avançou um pouco a medo. Orieta, de longe, alongou o seu altivo olhar, pelo grupo que se encontrava no terraço. Quando chegaram a poucos passos de Pamela a senhora Barker inclinou-se, dizendo:  Aqui estão as pequenas que vossa senhoria deseja conhecer.  As duas cumprimentaram delicadamente; Faustina com uma graça tímida e Orieta tendo um ar de altivez, um pouco selvagem. Pamela examinou-as dos pés à cabeça. O seu olhar nesse momento era bastante duro. Murmurou por fim:  Elas parecem-se...  Sim.... e no entanto, quanto são diferentes!  respondeu Humfrey. Ele também admirou as duas pequenas. Faustina, intimidada, baixou um pouco os olhos, mas Orieta encarou os estranhos com desconfiança.  Não falam inglês?  perguntou Humfrey, dirigindo-se à senhora Barker.  Nem uma palavra, palavr a, senhor.  Qual é o teu nome pequena?  A pergunta foi feita a Orieta num italiano quase puro. A pequena respondeu claramente, sem o menor constrangimento.  Esta pequena já é bonita; mas daqui a dez anos será extremamente bonita  disse a senhora Barker. Pamela respondeu, mostrando impaciência:  Talvez!... Talvez!... Os olhos são belos, sim...  E serão eles apenas porque se tentará mais tarde?...  Para agora tem o aspecto duma pequena muito senhora de si  disse secamente Pamela.  Que vai fazer destas pequenas, Barker? Não terá tempo para se ocupar com elas.  Preciso arranjá-lo, porque são ordens do senhor marquês. Pegy ajudarme-á e as pequenas aprenderão com ela, pouco a pouco, o inglês. Rosa, apertando entre os dedos a franja da faixa de sua mãe, fixou sobre

 

as es estr tran ange geir iras as un unss olhos lhos es espa pant ntad ados os - aque aquele less olho olhoss escu escuro ross que se asse asseme melh lhav avam am mu muitito o ao aoss de Sh Shes esbu bury ry.. Pe Pert rto o de dela la,, de pé pé,, esta estava va Nutt Nuttie ie,, segurando em cada mão um prato coberto de guloseimas. A voz imperativa da pequena ouviu-se de repente:  Quero brincar com elas  e indicava a Orieta e a Faustina. Pamela teve um rápido franzir de sobrancelhas.  É imposs impossível, ível, minha querida. Estas pequena pequenass são-nos desconhec desconhecidas.. idas.... .. e podem ser mal educadas... Não são companhia para ti, Rosa!  Eu quero !... Eu quero!  Vamos, Rosinha!... Não sejas assim, minha pequena!... Olha como elas estão mal vestidas, entretanto que tu és a menina me nina Rosa Falsdone...  Quero brincar com elas...  Não falam inglês... Olha, pergunta-lhes qualquer coisa para ver se elas te respondem.  Venham brincar comigo!  gritou Rosa com voz aguda. Orieta e Faustina olharam para ela, mas não se moveram.  Vês o que eu te dizia ?... Barker, leve essas pequenas e faça porque eu as não veja, porque não me agradam nada...  A governanta saudou-a, as pequenas imitaram-na, e as três deixaram o terraço seguidas seguidas pelo olhar deveras hostil de Pamel Pamela. a. Humfrey disse a meia-v meia-voz, oz, com um sorriso de ironia:  Ciumenta!... Ciumenta!.... Por detrás destas crianças vê ainda a mãe, que talvez tenha sido amada por Cecil. Julgo que se lhe fosse possível fazer-lhe algum mal, encontraria nisso um grande prazer, não é verdade? Pamela não respondeu. Os lábios comprimidos, o olhar sombrio, ficou longo tempo calada. Rosa decidira-se a meter as duas mãos no prato que a ama lh lhe e apre apresen sento tou. u. O olha olharr de Hu Humf mfrey rey,, ch chei eio o du duma ma ir iron onia ia ve vela lada da,, fifixou xou-s -se e na peque pe quena na,, ju just stam amen ente te quan quando do ap apar arece eceram ram Wal alte terr e He Herb rbert ert No Nort rtley ley,, o se seu u companheiro favorito. Pamela retomou o seu habitual sorriso para receber o ente en tead ado o e Hu Humf mfrey rey ap aper erto tou-l u-lhe he a mã mão o co com m co cord rdia ialilida dade de,, qu que e nã não o fo foii mu muitito o correspondida.

 

IV  As pequenas foram instaladas num grande quarto, claro e alegre, perto do da senhora Barker. Poucos dias depois, foi-lhes dado um enxoval simples, mas confortável. Pegy, uma das ajudantas da dispenseira, levava-lhes as refeições e dava dav a co com m el elas, as, to todos dos os dias dias,, um pas passe seio io.. A se senh nhora ora Ba Bark rker er ar arran ranja jarara-lh lhes es também duas bonecas e mais alguns brinquedos, cuidando muito bem delas. Faustina parecia feliz. Orieta, porém, tinha um ar de cansaço e dizia:  Gostava muito mais de Faletti do que desta bela casa! No oita oitavo vo dia, dia, ap após ós a sua ch chega egada da,, Sh Shes esbu bury ry ma mand ndou ou-as -as cha chama marr. A senho se nhora ra Ba Bark rker er ac acom ompa panho nhouu-as as à bibl biblio iote teca ca.. Se Sent ntad ado o nu num m so sofá fá,, Sh Shes esbur buryy folheava um grosso volume que tinha sobre os joelhos. Disse à governanta:  Dei Deixe-a xe-as, s, Bar Barker ker.. Depois Depois man mandardar-lhas lhas-ei -ei..  com um ges gesto to amigáv amigável el convidou as pequenas a aproximarem-se. Acariciou o rosto duma e da outra, e depois perguntou:  Estão contentes, minhas pequenas?  Faustina respondeu “sim”, mas Orieta abanou negativamente a cabeça. Shesbury pegou-lhe na mão e fixou um olhar perscrutador sobre o seu rosto encantador, iluminado por uns olhos magníficos e tão expressivos, que tinham logo chamado a atenção de Humfrey Humfre y.  Mas porquê, Orieta?  Gosto mais de Falleti.  Aqui no entanto é mais bonito do que em Faletti! Vivias com a tua ama, que não deve ser muito rica!...  Sim, é pobre  disse gravemente gra vemente a pequena.  Porém amava-me muito. Duas lágrimas brilharam-lhe nos olhos. Shesbury pousou a mão sobre o ombro da pequena para a puxar para mais perto dele.  Amar-te-ei também, querida pequena. Habituar-te-ás pouco a pouco a esta nova existência e aos que te rodeiam... A senhora Barker não é boa?  É muito boa!... Shesbury acariciou os cabelos curtos, que formavam caracóis em volta da cabeça da pequena, e murmurou:

 

 Os meus cabelos... Beatriz... Bianca... Qual delas, meu Deus?... Qual, para reparar? O seu olhar pousou sobre Faustina, que estava ao lado da irmã. Os seus cachos escuros não tinham o vivo reflexo da cabeleira de Orieta. Faustina era uma pequena bonitinha, de semblante suave e banal. Shesbury teve um suspiro de dolorosa doloros a impac impaciência iência.. E volta voltando ndo os olhos para Orieta, viu o olhar invest investigador igador da pequena, e por isso perguntou:  Porque me olhas assim, pequena Orieta?  Pensava que é muito bondoso e que lhe quero muito.  Ao mesmo tempo pegou-lhe na mão, que ele pousara sobre a sua cabeça, e bei beijou jou-a. -a. Uma viva com comoção oção alter alterou ou por alg alguns uns segundo segundoss a fision fisionomi omia a de Shesbury, “Assim me fitava a Bianca!” - disse ele, falando consigo mesmo. E passou pelo rosto a mão trêmula. “... E ‘a outra’ também, às vezes... Não o sei!... não o posso saber!...” Endireitou um pouco o seu busto curvado e disse com bondade:  Aí nessa mesa há bombons para vós. Pegai neles e levai-os. E seguiu-as com os olhos, enquanto se dirigiam para a mesa indicada. Com um gesto cansado apoiou os cotovelos sobre a mesa colocada perto e deixou pender a cabeça entre as mãos. Orieta pegou num bombom, que desembrulhou com cuidado, e estendeu-o com graça infantil ao fidalgo. Obrigado, querida; o meu médico proibiu-me todas essas coisas boas.  Porquê?... Está doente, senhor? O interesse e a compaixão refletiram-se nos seus olhos expressivos.  Sim, minha pequena! Um suspiro agitou o peito de Shesbury.  ... Podes guardar os bombons para ti. Gostas muito deles?  Sim, muito, mas vou dá-los à Faustina, que gosta muito mu ito mais do que eu.  Tens Tens bom coração, pelo que vejo. E tu, Faustina, darias também os teus bombons à Orieta? Faustina hesitou, antes de responder:  Se mos pedisse, dava-lhos.  Shesbury teve um sorriso fugitivo.

 

 Só se ela tos pedisse?... Que diferença de generosidade! E pensou: “A. alma de Orieta deve ter sobre a de Faustina a mesma superioridade que fisicamente tem sobre ela”. Pouco depois Shesbury tocou a campainha e entregou as pequenas ao criado que apareceu, para que as acompanhasse junto da senhora Barker. Uma vez só, ergueu-s ergueu-se e e caminh caminhou ou um pouco pela grande sala refrescada pela aragem dessa tarde de Agosto. Ao fundo, a porta que dava para a galeria dos retratos estava aberta. Depois dalguns momentos de recordações angustiosas, Shesbury dirigiu-se maquinalmente para esse lado, transpôs a entrada e deu alguns passos pela comprida galeria iluminada por vitrais do século dezesseis, nesse momento faiscantes, aos últimos raios de sol. so l. Em caixilhos de carvalho, cheios de ornatos, alinhavam-se os retratos dos antepassados de Lord Cecil. A forte raça dos Falsdones era tradicional na história; tinha, dizem, uma origem eslava e apresentava esta particularidade: quase em cada geração havia entrelaçamentos com ramos estrangeiros. Sangue francês, espanhol e principalmente italiano corria nas veias desses grandes senhores ingleses. Um Shesbury tinha desposado a filha dum emir da Arábia; outro, uma síria de grande beleza, que mais tarde sucumbiu, víti vítima ma dos ciúmes do marido. A mulher de Roberto Shesbury, que viveu no reinado de Eduardo VI, era uma princes pri ncesa a mos moscovi covita, ta, cuj cuja a eni enigmát gmática ica per persona sonalid lidade ade ficou ficou sempre sempre env envolt olta a num mistério inquietante. A mãe do atual marquês de Shesbury era napolitana, e ele mesmo tinha desposado uma eslava.  Atribuia-se a essa mistura de raças o temperamento ardente, o gosto origin ori ginal, al, o caráte caráterr imp impetu etuoso, oso, vio violen lento, to, arr arrebat ebatado, ado, que através através dos tem tempos pos distinguiu grande número de Falsdones. Fisicamente, e sobretudo moralmente, eram muito pouco anglo-saxões. No reinado de Isabel, e em outras épocas ainda, viveram afastados, no estrangeiro, fugindo à perseguição religiosa, visto se terem conservado conservad o irredut irredutivelm ivelmente ente católicos. Assim Assim - podiapodia-se se dizer, dizer, e a observaç observação ão foi feita pela rainha Vitória Vitória a respeito do atual marquês de Shesbury - estes grandes senhores eram mais estrangeiros do que propriamente ingleses. Muititos Mu os fora foram m escr escrititor ores es e ou outr tros os ar artitist stas as.. Ma Mas, s, essa essass disp dispos osiç içõe õess

 

intelectuais não impediram que fossem, em geral, amantes de violentos exercícios físicos. físic os. Nessa galeri galeria a de retratos retratos as fisi fisionomia onomiass mascul masculinas, inas, quase todas, tinham um aspecto de enérgicas. As mulheres eram verdadeiramente belas, porém duma bele be leza za arro arroga gant nte. e. Di Dirr-se se-i -iam am ma mais is or orgu gulh lhos osas as do qu que e os seus seus pa pare rent ntes es masculinos, os quais, no entanto, foram todos grandes cultores do orgulho. Havia, como é natural, exceções; no número destas contava-se a irmã gêmea de Lord Cecil. Cecília, falecida há vinte e cinco anos, vivendo no cumprimento da mais fervorosa piedade, deixou de si a recordação duma alma extremamente boa, delica del icada da e car carido idosa. sa. Essa nat nature ureza za enca encanta ntadora dora tra transp nsparec arecia ia do seu retrat retrato, o, diante do qual se quedara Shesbury, arrebatado pelas suas recordações. Cecília fora a grande afeição da sua infância e da sua adolescência; não tinha, então, nenhum segredo para ela. Contudo as paixões tinham sufocado essa ternura fraternal, sem no entanto a aniquilarem. Cecília sofrera em silêncio e Cecil perguntara muitas vezes se não teria morrido de desgosto por esse abandono e em consequência da vida escandalosa de seu irmão! Inq nqui uiri ria a ainda inda ago gora ra isso, sso, de si pr próp ópri rio, o, co com m an angú gúst stia ia,, en enqu quan anto to cont contem empl plav ava a aq aque uele le semb sembla lant nte e pá pálilido do,, cujo cujo olha olharr pe pens nsat ativ ivo o e pr prof ofun undo do acompanhava tão bem o efêmero e discreto sorrir dos lábios. “Cecília, minha pobre Cecília, o quanto eu te fiz sofrer! Creio-o bem!. E tu não és a minha única vítima, pobre irmãzinha! Outras pesam gravemente na minha consciência e as suas lembranças, às vezes, obsecam-me até à tortura”. O seu olhar, deixando por instantes o retrato de Cecília, fitou o do pai, altiva figura de sorriso mordaz, e depois o da mãe, a bela condessa napolitana Flaminta Ertelo, uma das mais sedutoras mulheres do seu tempo. Em seguida voltou a contemplar contem plar ainda o retrato de Cecília. A senhora Flaminta, pessoa culta, e que mantivera em Roma um salão literário, pouco cuidara da filha, quase como se ela não existisse. Só a afeição de Cecil acalentara esse jovem coração amoroso e abandonado. Shesbury só compreendeu depois o que fora e o que poderia ter sido para a irmã, na altura em que, com a doença, a lembrança do passado penetrara mais profundamente na sua alma culpada.  Cecília, reza por mim!  murmuraram os seus lábios trêmulos.

 

 Ao aperceber que abriam uma porta, encaminhou-se de novo para a biblioteca. Alguém, de fato, entrara: era Humfrey que se adiantava, discretamente apressado.  Não venho incomodá-lo, Cecil?...  Por quem é, meu amigo... Shesbury apertou a mão do primo com cordialidade. Junto do robusto Humfrey, então no vigor dos seus trinta anos, o marquês parecia mais pálido e mais abatido ainda. Amigavelm Amigavelmente ente tomou o braço do visit visitante ante e conduzi conduziu-o u-o para uma das janelas abertas, junto da qual se sentaram.  Que há de novo, Humfrey?  perguntou, estendendo ao amigo uma cigarreira aberta. Humfrey, que acabava de chegar de Londres, contou com espírito algumas novas da corte e do mundo aristocrático. Possuía a arte de ser agradável, de se tornar útil e de lisonjear discreta discretamente, mente, sem nunca se tornar importuno. importuno. Shesbury considerava-o um homem de muito senso e prudente. A sua natureza reservada não nã o lh lhe e pe perm rmititia ia admi admititirr um confi confide dent nte, e, ma mass se is isso so lh lhe e fo foss sse e ne neces cessá sári rio, o, escolheria provavelmente prova velmente Humfrey. Enquanto os dois homens conversavam, Walter passou a pouca distância da biblioteca, acompanhado de Nortley. Vendo que Shesbury o seguiu com os olhos, disse, mantendo um ligeiro sorriso:  Está orgulhoso com o seu filho, meu caro Cecil!... E tem razão para isso, porque, de qualquer modo, está destinado a distinguir-se.  Orgulhoso, sim, estou... Walter é dotado duma inteligência superior.... mas será um sedutor. ... infelizmente! Estas últimas palavras amargaram nos lábios trêmulos de Shesbury.  Porquê, infelizmente ?... Não vejo porquê ?...  Porque fará sofrer... e sofrerá. Sobre a mão trêmula, Cecil apoiou o rosto macilento e magro, repetindo surdamente:  E sofrerá... ele também, mais que os outros, porque a sua alma é imperiosa, imperi osa, violenta e inflexível inflexível... ... Quando ele porém quise quiserr seduzir. seduzir.... ... prevejo que

 

ninguém lhe resistirá...  Abanou a cabeça.  Nã Não o po poss sso o ju julg lgar ar tã tão o be bem, m, qu quan anto to lh lhe e pa parec rece, e, porq porque ue so sou u semp sempre re recebido por meu primo com uma indiferença cortês.  Sim, eu sei... Dificilmente simpatiza com alguém. No entanto, Humfrey, é o escolhido para seu tutor, caso eu venha a falecer antes da sua maioridade. Falando assim, Shesbury pousou a mão um tanto febril sobre a do primo.  Essa prova de confiança cativa-me muito, Cecil  disse Humfrey com uma voz terna e acariciadora para todos os ouvidos, o que era habitual nele.  Se - que tal não aconteça! - nos for arrebatado prematuramente, procurarei ser digno dessa confiança.  É-o já, meu caro amigo. Creia que o aprecio sinceramente, que louvo a sua conduta tão nobre e tão leal diante dos manejos duma galanteadora que tenta obrigá-lo a trair o seu primo doente!...  É preciso perdoar-lhe!...  Perdoar-lhe?... Oh! parece-lhe fácil!...  Um sorriso mordaz crispou os lábios de Shesbury.  De mais a mais não foi a mim que coube atirar a primeira pedra. A indiferença, que é pior que o rancor e pior que o ódio, é o que me inspira essa mulher, que soube por um instante seduzir-me; e um pouco de desprezo também, porque finge ter por mim uma paixão que é em absoluto mentirosa.  Talvez Talvez não, Cecil.... talvez h haja aja nela alguma sinceridade... Shesbury encolheu com impaciência os ombros.  Deixemos isso  disse ele num tom cansado.  É preciso que lhe fale agora duma coisa que me preocupa.... e que é um dever de amizade...  Apoiou os dedos nervosamente sobre a mão delicada e quente de Humfrey.  ...E ...Essas ssas pequenas... pequenas..... as filhas do conde Alb Alberto erto Farnela... Farnela..... quero que, se eu morrer, recebam uma boa educação, de acordo com a sua origem. É a si que eu confio isto, Humfrey, até que o meu filho possa encarregar-se delas.  Cumprirei fielmente a sua vontade, meu caro Cecil.  O conde Farnela, provavelmente, não as reclamará mais... É preciso que Walter providencie sobre o seu futuro, e ele conhecerá mais tarde a minha

 

vontade a esse respeito. Shes Sh esbu bury ry inte interr rrom ompe peuu-se se um inst instan ante te,, com com o ro rost sto o caíd caído o e o olha olharr entrecortado de trmulos reflexos. Depois continuou com um tom de lassidão na voz:  Creio ter previst previsto o tudo, já que é humanam humanamente ente impossí impossível vel que eu o faça. Como vê, meu caro Humfrey, tenho procurado demonstrar-lhe a minha gratidão pela sua dedicação discreta e a minha estima pelo seu caráter... Agora falemos doutra coisa, ou então joguemos uma partida de xadrez. Sem ser tão forte como o Walter,, está ficando um jogador apreciável. Walter  E tenho tudo a ganhar junto dum mestre como o meu amigo  concluiu Humfrey, sublinhando a frase com um sorriso amável. Passara o verão, e o outono destacava então das grandes árvores dos  jardins de Falsdone-Hall as folhas secas, douradas ou purpureadas, depois varridas pelos jardineiros. jardineiros. O castel castelo o abriga abrigava va nesse momento um grande número de convidados que vinham para tomar parte nas caçadas. Shesbury aparecia às vezes alguns instantes, entre eles, deixando contu contudo do a Wal Walter ter,, já um apaixonado caçador,, e a Humfrey caçador Humfrey,, a incumbê incumbência ncia de fazere fazerem m as honras dos seus bosques. bosques. À noitite, no e, Pame Pamela la,, ves vestitida da co com m gra grand nde e lux luxo, o, em qu que e re real alçav çavam am como como ad adorn orno o magnífico as jóias da família, oferecia aos castelões, nobres e mais pessoas notáveis da região, o prazer dum espectáculo de amadores ou dum chá dançante, Era bas bastan tante te apr apreci eciada ada nas rod rodas as ari aristo stocrát crática icass pel pelo o seu por porte te e pel pelo o gost gosto o esmerado com que sabia organizar festas. Criticava-se com indulgência a sua galantaria e perdoavam-se-lhe certas liberdades, atendendo ao abandono a que a votara Shesbury há longos anos. Pelas grandes salas iluminadas, cujas janelas davam para os jardins, Orieta e Faustina ouviam às vezes alguns ecos dessas reuniões reuniões.. Continuavam Continuavam a viver à parte, sem contato com Pamela e os seus hóspede hóspedes. s. O marquês marquês havia-lhes dado uma governanta, governanta, que cuidava delas com dedica dedicação ção e as instruía. Am Ambas bas falavam  já o inglês: Faustina ainda com alguma dificuldade, mas Orieta tão bem como a sua língua materna. Esta última revelava em tudo uma inteligência precoce e uma vivacidade de espírito que desconcertava a paciente senhora Nancy, tal como o

 

seu ardoroso temperamento. Era boa, generosa, duma grande sinceridade, mas o seu caráter parecia orgulhoso e propenso à cólera e ao rancor. A governanta  julgou que lhe daria mais trabalho que a doce e meiga Faustina; contudo experimentou uma atração irresistível por essa pequena e geniosa criatura, que tinha expressões de fisionomia cheias de encanto e impulsos de coração capazes de fazer perdoar todos os seus defeitos.  Assim, também, o julgou She Shesbury sbury,, junto de quem, duas ou três vezes por semana Nancy levava as pequenas. Mostrava-se bondoso com Faustina, mas a sua atenção voltava-se quase que exclusivamente para Orieta, a qual, enquanto a irmã se entretinha com as ricas bonecas que lhes tinha dado o seu protetor, ficava sentada nos joelhos de Cecil, fazendo-lhe mil perguntas, ou ouvindo episódios das suas viagens, ou o contar de lendas inglesas e estrangeiras. Às vezes interrogavaa sobre Faletti.  Sentias-te feliz por lá?.... a tua ama era boa para ti e para a Faustina?  Muito... Queria-nos tanto!... Mas a nossa pobre Angiola era surda!  Ah! isso devia ser bem penoso para ela.  Oh! Oh! mu muitito. o. Po Porr isso isso não não fala falava va com com ning ningué uém, m, na cida cidade de.. Qu Quan ando do precisávamos dizer-lhe qualquer coisa, era preciso escrever; mas como lia mal, pouco compreendia do que se lhe queria dizer. Habituou-nos a fazer-lhe sinais; então compreendia bem. Um dia, Shesbury perguntou-lhe com certa hesitação:  Vias sempre teu pai? Orieta abanou a cabeça e com ela os cachos de tom dourado que lhe chegavam já aos ombros.  Sempre, não. Tinha um ar triste e nunca nos agradava. Às vezes, depois de nos fixar às duas ao mesmo tempo, dirigia-se a Angiola por meio de sinais. Ela respondia sempre, chorando: “Não sei, meu senhor!... Não o posso saber!...” Então ia-se embora, deixando sobre a mesa algum dinheiro. Depois dum pequeno silêncio, Orieta acrescentou, num tom de inquieta interrogação:  Os pais amam sempre as suas filhinhas, não é assim?

 

 Quase sempre, minha querida... O contrário é pouco vulgar... Tremeu um pouco ao pronunciar estas palavras... Estaria pensando na pequena Rosa, a sua filha, raquítica e doente, pela qual sentia uma espécie de indiferença? Nancy, segundo as instruções da senhora Barker, fazia sempre de maneira que qu e as pe pequ quen enas as nu nunc nca a se en enco cont ntra rava vam m com com Walte alterr, Pame Pamela la ou os seus seus hóspedes. Shesbury, aliás, tinha-lhes organizado uma existência à parte, sem contato nenhum com a esposa e os filhos. Não falava também nunca com eles sobre as suas protegidas, e Pamela teria ignorado também as suas entrevistas com as pequenas, se não tivesse um serviço de espionagem, graças ao qual sabia de todos os atos de Shesbury. Orieta não se encontrava portanto com Walter, contra o qual tinha no coração um feroz ressentime ressentimento. nto. Havia compre compreendido endido desde o primeiro primeiro encontro encontro que era desviada com cuidado do seu caminho. Ora aconteceu que um dia, em Novembro, andando a brincar com a irmã, correram uma atrás da outra como duas loucas e foram ter a uma clareira do parque, onde o herdeiro de Shesbury jogava o croquet com os jovens hóspedes do castelo, Orieta caiu, tropeçando numa bola, que rolou para longe.  Que vens fazer aqui?... Uma bola perdida por tua culpa, minha pequena estúpida! Wal alte terr ava avanç nçou ou co com m o se semb mbla lant nte e ir irri rita tado. do. Or Orie ieta ta,, qu que e se le levan vanta tara ra imediatamente, tornou-se vermelha, lançando-lhe um olhar de cólera.  Não tinha visto a sua bola. Foi ela que me fez cair.... e o senhor é que é um estúpido!... Exclamações escandalizadas se ouviram entre os jogadores, Quem seria essa pequena que ousava falar assim ao futuro marquês de Shesbury?  Pequena malcriada!... Já te vou ensinar a ser educada!... Walter deu alguns passos com a mão erguida. Depois, parou, dizendo com um sorriso sarcástico:  Tenho outra punição melhor... Nortley, segura essa atrevida... Nuttie, dáme a tua tesoura...

 

 A alguns passos à direita do sítio onde Orieta tinha tropeçado na bola, estava parado o carrinho de Rosa, que viera assistir ao jogo, e a ama, sentada perto, fazia um trabalho de agulha. Nuttie obedeceu à ordem de Walter, com o rosto inquieto, a despeito de toda a sua impassibilidade. Herbert Nortley, de ordinário impassível aos caprichos do amigo, teve uma hesitação e, adiantando-se para Orieta, perguntou:  Mas... que vais fazer?...  Nem matá-la.... nem feri-la... Vamos, segura-a.  A pequena nesse momento tentou afastar-se um pouco. Walter porém segurou-a pelos ombros, repetindo imperativamente:  Segura-a, Nortley. Nortley.  E enchendo as mãos com os magníf magníficos icos cachos do cabelo, cortou-os rapidamente, junto da nuca.  Altas exclamações e estrondosos risos se fizeram ouvir entre os jogadores.  Já perguntava a mim mesmo o que iria fazer!... Foi com efeito um ótimo castigo para uma malcriada como ela!  gritou a menina Violeta Porroby. Era uma pequena de doze anos, parenta de Pamela. Os seus brilhantes cabelos negros circundavam um rosto branco, de olhos risonhos. Muito galante já, não perdia ocasião de lisonjear Walter. Orieta tinha-se debatido sem um grito e sem um protesto entre as mãos de Nortley. Quando a deixou, endireitou-se, lançando a Walter um olhar selvagem de desafio. Depois, baixando-se, pegou às mãos cheias dos dourados cachos e atirou-os ao rosto do jovem fidalgo.  Eles voltarão a crescer.... voltarão a crescer!  disse com voz colérica. Uma fina mão nervosa bateu-lhe no rosto. Ela recuou, fixando em Walter um olhar cheio de ódio. Depois virou-lhe as costas, fazendo cair com um gesto desdenhoso um pequeno cacho que lhe ficara preso no vestido de flanela branca. Porroby bateu as mãos de contente.  Foi punida como merecia, Walter!... Que atrevida!... Mas quem são essas pequenas?...  Umas estrangeiras que estão cá em casa por caridade  respondeu secamente Walter.

 

 Que pena!... Tão lindos cabelos!  murmurou o jovem William Finley, seguindo com os olhos Orieta, que se afastava com a irmã.  Voltarão a crescer, como ela diz  replicou Porroby, rindo.  Para outra vez pensará duas vezes, antes de falar a Walter.  Oh! não se atreverá mais!  disse Walter com desdém.  E agora recomecemos a nossa partida. Rosa observara a cena entre o irmão e Orieta com um interesse cada vez maior e sem o seu ar habitual de indiferença. Quando Walter e os hóspedes voltaram para o jogo, disse à ama:  Dá-me aqueles bonitos cachos, Nuttie. Obedecendo a esse capricho, Nuttie reuniu os cachos espalhados pelo chão e entregou-os à pequena, Rosa passou-os entre os dedos, murmurando:  Parecem de seda... de seda... Depois reuniu-os com cuidado e guardou-os no cestinho onde costumava pôr os seus brinquedos favoritos.  Que vai fazer disso, menina Rosa?  perguntou a ama.  É para me lembrar dessa pequena... Depois desta vaga resposta, voltou a cabeça, mostrando assim que não queria dar outra explicação.

 

SEGUNDA PARTE I  A algumas léguas de Falsdone-Hall ficava vilazinha de Aberly Aberly,, que desde te temp mpos os im imem emori oriai aiss pe pert rtenc encia ia ao aoss marqu marquese esess de Sh Shes esbu bury ry.. Co Cons nserv ervav ava a do passado pas sado duas tor torres, res, algumas algumas ruí ruínas nas de muralh muralhas, as, uma bel bela a igreja igreja rom romana, ana, veneráveis retiros e antigas ruas tortuosas, das quais algumas, nas ladeiras, pareciam uma sucessão de degraus. Pouco Po uco mais mais ou meno menoss na época época do ca casa same ment nto o de Lo Lord rd Ce Ceci cill titinh nham am descoberto, a uma pequena distância, em volta das antigas muralhas, diversas fontes, que analisadas, revelaram características próprias para o tratamento de doenças do estôm estômago. ago. Shesbury mandou então ali constru construir ir um estabelecim estabelecimento ento termal. Hospedarias e casas de habitação se ergueram pelos arredores, formando logo uma vila nova, alegre e buliçosa durante alguns meses do ano, o que trouxe um pouco de vida v ida à velha Aberly. Numa das mais antigas vivendas da vila funcionava, há cinquenta anos, um colégio frequentado pelas filhas dos pequenos comerciantes e dos caseiros das cerca cer cani nias as.. Na altu altura ra de dest ste e re rela lato to era di diri rigi gido do pela pelass sen senho horas ras Bu Burl rley ey,, duas duas amareladas e altas criaturas, aduladoras e hábeis em economizar, tudo com prej pr ejuí uízo zo do doss se seus us co cola labo borad radore oress e me mesm smo o da dass su suas as alun alunas as,, Porém Porém,, co como mo possuíssem uma reputação de austeras criaturas, o seu colégio era preferido, pela maior parte dos pais, ao outro, mais moderno, estabelecido na nova vila. Numa tarde de Março - pouco mais de oito anos após a chegada das pequenas italianas a Falsdone-Hall - um elegante carro parou diante da velha porta da antiga casa. Um criado saltou da boléia e correu a abrir a portinhola. Uma linda mulher loura, ainda nova, pelo menos na aparência, envolta numa rica capa de veludo verde bronzeado, guarnecido de magníficas peles claras, desceu e dirigiu-se para a entrada, onde já a esperava a senhora Fanny Burley, a mais nova das duas irmãs.  Ah! senhor senhora a Shesbu Shesbury!... ry!... Vossa Vossa Excelê Excelência ncia dá-nos uma grande honra! honra!... ...

 

Entre, minha senhora!  e começou uma série de reverências.  Tenho que falar consigo, minha senhora  disse Pamela, sorrindo-lhe benevolamente.  Estou às suas ordens. Se lhe agrada entrar para aqui... Mas o fogão do locutório está apagado... Que esquecimento... Na realidade poucas vezes acendiam o fogão; só o faziam no dia em que havia visitas... E até mesmo nesses dias nem sempre estava aceso, pelo que chamavam a criada e repreendiam-na pela sua falta diante de quem estivesse.  Oh Oh!! pouc pouco o me im impo port rta. a. Esto Estou u muito uito bem aga gasa salh lhad ada a  diss disse e graciosamente Pamela. E entrou na grande sala fria, mobilada com simplicid simplicidade. ade. A senho senhora ra Fanny indicou-lhe um sofá e sentou-se em frente dela.  Permita-me perguntar a vossa senhoria como passa a menina Rosa?  disse muito docemente a professora. Uma sombra cobria o olhar de Pamela.  Um pouco melhor, relativamente... Dá alguns passos já, em se lhe dando o braço... Os médicos esperam maiores melhoras... Porém não passa duma vã esperança!  Não, minha senhora, há-de ver ainda um dia a menina Rosa forte e a andar bem.  Forte e a andar bem!...  repetiu Pamela, com amargura,  Não creio!... Nunca verei isso, nunca chegará esse dia!... Mas falemos do fim da minha visita, Venho pedir-lhe informações sobre as pequenas que há perto de nove anos lhes confiei. Que pensa delas?  Faustina é a melhor criança deste mundo. É amável e dócil... Orieta!... E a senhora Burley levantou para o teto um eloquente olhar...  ... Orieta é duma natureza orgulhosa e concentrada, que nos tem dado muitito mu o qu que e fa faze zerr. Tem um gên gênio io ir irreq requi uiet eto. o. De ma mais is a ma mais is tem tem aspi aspiraç raçõe õess artísticas, que temos combatido, forçando-a a dedicar-se a trabalhos modestos, como é o seu desejo, minha senhora.  E fisicamente?

 

 Oh! fisicamente são duas belezas.... principalmente a Orieta. Quando passamos pelas ruas com as nossas alunas, nos dias de saída, garanto-lhe que é admirada por toda a gente... E é preciso dizer, em seu louvor, que nem parece perceber isso, pois não é nada vaidosa. De resto, temos o maior cuidado com essas coisas, minha senhora. Pamela ficou um segundo calada, com olhar vago. A senhora Burley fitou com discreta curiosidade o seu lindo rosto, sempre branco e rosado, graças aos artifícios de que se servia.  Quero vê-las  disse Pamela, depois dum momento de silêncio.  Vou buscá-las. Devem estar agora no recreio.  Vou consigo... Assim surpreendê-las-ei e poderei julgar melhor o que elas são.  Atrás da casa estendia-se um jardim, cujos altos muros estavam cobertos de hera; o jardim era triste, úmido e mal cuidado. Umas vinte alunas brincavam sob a guarda duma professora francesa, que além da sua língua, lhes ensinava, por um diminuto ordenado, desenho e literatura. Um pouco afastada, afastada, uma das alunas, a mais alta, andava dum lado para o outro, apertando um velho xale que trazia nos ombros. Era uma jovem, esbelta e flexível. A cabeça, finamente modelada, estava coberta com uma touca, que lhe prendia os cabelos, dos quais apenas se lhe viam, na nuca, uns pequenos cachos dourado dou rados. s. Os láb lábios ios enr enrugav ugavamam-se-l se-lhe, he, exp exprim rimindo indo ama amargur rgura. a. Os olh olhos os azu azuis is escuro esc uros, s, ar arden dente tes, s, ma marav ravililhos hosam amen ente te bo boni nito toss e so somb mbrea reado doss po porr pest pestana anass escuras, refletiam um pensamento doloroso.  Entra, se estás com frio, Orieta  disse-lhe a senhora Sauvelier, a professora, quando a pequena, num dos seus vaivéns, passou junto dela.  Lá dentro faz mais frio ainda, minha senhora. senho ra.  É verdade!  murmurou esta com um suspiro, que bem mostrava a sua resignação. Neste Nes te moment momento o apar aparecer eceram am as senh senhoras oras Pam Pamela ela e Bur Burley ley.. As alunas alunas interromperam as suas brincadeiras para olharem com curiosidade a elegante visita. Orieta, que estava de costas, só a viu quando chegou junto dela. Parou

 

logo, com o rosto numa atitude meia agressiva agress iva e os olhos altivos fixos na visitante. v isitante.  Esta é a Orieta e aquela é a Faustina.  Designou uma outra pequena, que era a cópia de Orieta; se bem que menos bela, era no entanto muito bonita.  Vinde cumprimentar a senhora Shesbury acrescentou a professora. Faustina obedeceu logo, com o gracioso e sempre igual sorriso que já tinha em criança. Orieta hesitou um pouco e depois inclinou-se ligeiramente! Mas com bast ba stan ante te deli delica cadez deza, a, o qu que e po porr ce cert rto o nã não o ag agrad radou ou mu muitito o a Pa Pamel mela, a, porq porque, ue, voltando-se para a senhora Burley, disse-lhe:  Parece-me que esta pequena ainda precisava de mais algum tempo de colégio, mas como precisam ganhar a vida, vou tomá-las ao meu serviço. Dentro de dois dias mandá-las-ei buscar.  Às suas ordens, minha senhora  disse a professora, com delicada reverência.  Ao rosto um tanto rosado de Orieta subiu um vivo rubor. Pamela encontrou um olhar estupefato e interrogador, que lhe fez aparecer nos lábios um maldoso sorriso. Depois, tendo um gesto de cortesia para as duas, voltou-se para a senhora Burley:  Felicito-a pela boa aparência das pequenas. Estão com bom aspecto e saúde para o trabalho. Era isto que eu desejava ver, antes de as fazer voltar para o castelo.

 

II Há um ano que Orieta e Faustina não ficavam no dormitório geral: estavam num nu m quart quarto o estrei estreito to,, que que ma mall dav dava a pa para ra el elas as se me mexer xerem em.. Em tr troca oca de dest ste e privilégio, tinham que remendar parte da roupa branca da casa. Estavam no entanto sós, o que era uma satisfação para Orieta. Na noite que se seguiu à visita de Pamela, quando se encontraram no quarto, a primeira palavra de Orieta foi:  Que quererá ela?... Que pensas tu que ela quis dizer, ao comunicar que nos vai tomar ao seu serviço?  Não sei, minha irmã... Isso pergunto eu também a mim mesma... Será que pensa fazer de nós suas criadas, Orieta? Faus Fa ustitina na,, sent sentad ada a na be beir ira a da cama cama,, olho olhou, u, perp perple lexa xa,, pa para ra o ro rost sto o assombrado da irmã.  Suas criadas?  e um clarão lhe brilhou nos olhos.  As filhas do conde Farnela!... Não, não será possível!... Mas o que quererá ela dizer?  Talvez tenha a intenção de nos dar um emprego, como governanta, como professora...  sugeriu Faustina...  Sim, pode ser!... Talvez da filha, que deve ter agora catorze ou quinze anos. Mas para isso não precisava de nós as duas.  Pode ser que Walter tenha casado... porque nesse caso deve haver alguma criança.  Não. Se tivesse casado, sabê-lo-íamos  replicou Orieta.  Ao pensar em Walter Walter,, o olhar tornou-se-lhe sombrio e o velho ódio transfigurou-lhe o rosto.  É bem bonita a senhora Shesbury  comentou Faustina, depois dum pequeno silêncio.  Não tinha um aspecto aspec to muito agradável, quando nos olhava... olhava ...  Diz antes antes que tinha um asp aspect ecto o de má. Al Aliás iás sempre nos olhou olhou assi assim, m, nas poucas vezes que a temos visto.  Enfim, queria saber o que irá fazer de nós!... Sempre é já alguma coisa o sairmos desta triste casa  disse Faustina.

 

 Sempre o desejei muito, mas agora faço-o com a alma cheia de angústia, Faustina.... porque sinto que essa mulher nos detesta. Essa noite Orieta não pôde dormir. Reviu todo o seu passado: o dia da chegada a Falsdone-Hall, o bom acolhimento de Lord Cecil, a sua solicitude afetuosa, o tratamento altivo de Walter.... e depois, um ano após a sua chegada, o incidente e a morte quase súbita de Cecil. Que grande pena sentia ao perdê-lo, ele que fora tão bom!... Logo em seguida dispensar dispensaram am a senhora Nancy e alguns meses depois a senhora Barker levou-as para o colégio Burley, de onde não tinham saído até então. Durante nove anos não tinham saído dessa triste casa, nem ao menos durante as férias. Orieta, que gostava tanto de correr no parque do castelo, conhe co nhece ceu u os to torm rmen ento toss du dum m pá pássa ssaro ro en enga gaio iola lado. do. Po Porr is isso, so, du duran rante te os dois dois primeiros anos, foi um verdadeiro demônio; depois, a influência religiosa e a força de vontade modificaram-lhe o caráter. Tornou-se concentrada. Nessa casa não encon en contr trou ou ne nenhu nhuma ma pe pesso ssoa a a qu quem em se af afei eiço çoar ar.. As su suas as co cole legas gas er eram am,, ou vulgares, ou fúteis, e tinham-lhe inveja, devido à sua inteligência e beleza; quanto às senhoras Burley, sempre existiu entre elas e Orieta uma surda antipatia.  São umas almas hipócritas  dissera muitas vezes Orieta à irmã. Faustina não foi tão longe. Continuou a ser a mesma pessoa passiva e agradável, amando sempre muito a irmã e limitando-se a ouvi-la comentar, quando pensavam no futuro que as esperava:  “Que “Que fa farã rão o de nó nós?. s?... .. Sh Shes esbu bury ry titinha nha-no -noss dito dito:: - ‘E ‘Edu duca car-v r-vos os-ei -ei e prepararei o vosso futuro, pequenas’. Estou certa de que ele não nos meteria aqui... Foi a senhora Shesbury que decidiu isto.... e talvez também Walter. Se nos tivessem tivess em dado outros estudos, poderí poderíamos amos lecionar ou fazer qualquer outra coisa parecida. Assim, aqui, o que poderemos aprender?” De fato os estudos no colégio Burley eram muito rudimentares. Alguns anos foram o suficiente para que Orieta, dotada duma grande inteligência, soubesse tanto ou mais do que as professoras. Viveu depois a pensar se sairia dali algum dia, porque, desde pequena, percebeu que Pamela as detestava... Qual seria o motivo?

 

 Agora que iam voltar para o castelo, continuaria a procurar o motivo... “Porquê?” - pensava ela, nessa noite. - “Porquê?... Talvez porque sendo má, não gostava que o marido fosse bom... Pergunto a mim mesma: Terá ela o direito de fazer de nós o que lhe aprouver? O nosso pai viverá ainda?... Sempre queria saber se somos obrigadas a obedecer-lhe! Mas saber, como?”  A este pensamento veio-lhe à lembrança O senhor Humfrey. Humfrey. Vira-o duas vezes depois da morte de Cecil e soubera por Nancy que era ele o tutor de Walter. Não se mostrara nem mau, nem bom, para com as pequenas, mas sim apenas indiferente. Poderia pois dirigir-se a ele para conhecer os direitos da senhora Shesbury? “Estudarei isso lá no castelo, nessa morada onde fomos tão bem acolhidas por Cecil!” - pensou Orieta. - “E já não o encontrarei mais, ao meu querido protetor.... pois no seu lugar está o filho!... Ter-se-á mudado esse Walter, tão cruelmente orgulhoso?... Pior ainda, sem duvida!... Ah! espero não ter que o encontrar, porque guardo dele a mais horrível lembrança!” Três anos antes, durante um passeio, as alunas das senhoras Burley enco en cont ntra rara ram m um gr gru upo de ca cava valleiro eiros, s, nu num ma da dass es esttre reit itas as ru ruas as da vil vila. Precipitadamente, a senhora que as acompanhava, fê-las encostar à parede, dizendo:  Vem aí o senhor Walter Walter Shesbury e os seus amigos!... Fez em seguida uma profunda reverência à passagem dum dos cavaleiros, que respondendo com um breve cumprimento, relanceou o olhar pelas alunas. Orieta reconheceu reconheceu logo o jovem doutro doutross tempos no cavaleiro que passava passava,, altivo, elegante e aristocrático, montado num alazão. Depois desse encontro as alunas mais velhas começaram a falar do bonito Shesbury, com muito entusiasmo. Orieta afastou-se um pouco, pois não queria ouvir os louvores ao homem que ela tanto detestara.  Agora tinha que ir viver na casa que lhe pertencia... Tinham-lhe dito que andava viajando... e isso consolou-a um pouco. Por enquanto, o que mais a afligia era a incerteza do destino que lhe iria dar a senhora Shesbury.... o que essa senhora iria fazer das filhas do conde Alberto Farnela...

 

III Dois dias depois, as duas pequenas foram levadas para Falsdone-Hall. Faustina verteu algumas lágrimas ao despedir-se das senhoras Burley; Orieta limitouu-sse a abraça çarr Sau auvvelier er,, apert rto ou a mão às col colegas gas e sa sau udou cerimoniosam cerimo niosamente ente as senhora senhorass Burley quando saiu. Ao chegare chegarem m ao caste castelo, lo, um criado veio ao seu encontro, dizendo-lhes:  A senhora Barker espera-as. eguiram-no até ao quarto da governanta, que não estava instalada na parte do castelo reservada aos criados. A senhora Barker recebeu-as confortavelmente sentada num sofá.  Então chegaram bem, minhas meninas?... Muito contentes por terem deixado o colégio, não é assim?  perguntou ela com condescendência.  Oh! muito contentes!  respondeu Orieta. O seu tom de voz foi frio, porque percebeu que a governanta as tratou com altivez, o que feria o seu orgulho.  Na verdade, muito contentes  acrescentou Faustina.  Muito bem... Agora vão ficar aqui.... mas a sua vida vai ser diferente da que levaram outrora. A senhora Shesbury resolveu continuar a protegê-las, e como nada possuem, resolveu dar-lhes trabalho.  Não pedimos outra coisa  disse Orieta.  Mas que espécie de trabalho nos reservou ela? Barker cruzou as mãos sobre a blusa e respondeu calmamente:  A senhora decidiu que a Faustina vá trabalhar para a rouparia e que a Orieta ajude a criada particular da menina Rosa. Orieta estremeceu violentamente.  Nós!... Então pretende fazer de nós, criadas!...  E porque não?... Não se sabe ao certo a que família pertencem. O falecido marquês não deixou nenhuma explicação... No lugar da senhora, outros não se incomodariam mais com duas desconhecidas.  Era melhor que assim procedesse!  disse Orieta com veemência.  Senhora Barker, preciso falar com ela, preciso vê-la!

 

 Sua senhoria declarou-me expressamente que só quer vê-las quando estejam integradas nas suas novas funções.  Nunca me prestarei a isso! Pode dizer-lho, senhora Barker!  Dir-lhe-ei  respondeu esta, tocando majestosamente uma campainha. A uma criada que apareceu, disse:  Poly, acompanhe as meninas Farnelas ao seu quarto e mande trazer as bagagens. Orieta e Faustina acompanharam a criada, que as levou para um quarto claro e convenientemente mobilado; abrindo um armário, mostrou-lhes o uniforme que deviam usar: uma pequena touca de mousseline branca, avental branco de fustão e uns vestidos de percal claro. “Para Orieta há mais um vestido de linho branco, que deve vestir todas todas as tardes tardes,, pois a menina Rosa não gosta que usem perto dela cores escuras” - explicou ainda a criada. Orieta não fez observações; comprimiu os lábios e nos seus olhos passou um clarão de cólera. Quando Polly saiu, disse a Faustina, que a olhava com perplexidade:  Não vestiremos isto.... pelo menos enquanto não falar com a senhora Shesbury e quando tivermos a certeza de que tem o direito de nos impor a sua vontade.  Mas vê-la, como?... Não ouviste a senhora Barker...  Consegui-lo-ei de qualquer maneira  respondeu Orieta, resolutamente. Poucos momentos depois um criado trazia a mala que continha o enxoval mais que modesto das duas irmãs. Ao mesmo tempo preveniu de que a senhora Haggard, a dama de companhia da menina Rosa, esperava por Orieta na sala dos criados.  A senhora Haggard era uma mulher duns trinta anos, bastante bonita e com muitas pretensões... A aparição de Orieta, bonita e altiva, com o seu velho vestido cinzento, pareceu desconcertá-la um pouco... Por fim perguntou:  É a menina que deve ser a segunda criada da menina Rosa?  Pelo menos a senhora Shesbury tem essa idéia, segundo me parece  replicou friamente Orieta.

 

 Ah!. Ah!... .. be bem!. m!... .. a me meni nina na Rosa Rosa qu quer er vê vê-l -la a im imed edia iata tame ment nte. e... .. É mu muitito o caprichosa. caprich osa. Previno-a. Previno-a... .. de que ninguém pára ao seu serviço.... nem governanta, nem dama de companhia, nem professora, ninguém... Estou ao seu serviço há três meses e já acho muito. Prepare portanto a sua paciência.  Já que me quer ver, acompanhe-me à sua presença  disse Orieta secamente.  A menina Rosa ocupava uns aposentos, na ala direita, sobre o jardim. O seu salão, um lindo compartimento do século dezoito, comunicava com o salão chinês, um dos mais belos de Falsdone-Hall, e com a grande sala de recepções, que ocupavam quase toda uma fachada do castelo.  A filha da senhora Shesbury tinha já os seus quinze anos. Era a frágil cria criatu turi rinh nha a de semp sempre re.. Os seus seus lind lindos os cabe cabelo loss cast castan anho hoss caía caíam, m, como como antitiga an game ment nte, e, sobr sobre e o eleg elegan ante te vest vestid ido o de seda seda br bran anca ca,, e esta estava va deit deitad ada a languidamente numa poltrona.  À entrada de Orieta, um cãozito, deitado numa almofada, levantou a cabeça e rosnou.  Quieto, Fifi!  disse Rosa, numa voz imperativa.  Ao mesmo tempo levantou a cabeça para ver Orieta. Estremeceu um pouco. Como os seus olhos se pareciam com os de Lord Cecil!...  Ch Cheg egue ue-s -se e até até aq aqui ui!!  diss disse e nu num m tom tom auto autori ritá tári rio. o.  Mi Minh nha a mã mãe e assegurou-me que continua a ser a mesma Orieta doutros tempos, e eu quero certificar-me disso. Orie Or ieta ta ap apro roxi ximo mouu-se se de dela la e du dura rant nte e um segu segund ndo o os seus seus olha olhare ress encontraram-se. Depois Rosa perguntou:  Então aceita o cargo de minha criada particular?  Não, não aceito, e vou protestar junto da senhora Shesbury!  Mas a minha mãe disse-me que o seu pai não deu mais sinal de vida; que a tomava e à sua irmã, por caridade, ao seu serviço, poi poiss precisavam ganhar a vida, já que os seus as tinham abandonado. O coraçã coração o de Ori Orieta eta pulsou pulsou dol doloros orosamen amente. te. “Era uma aban abandon donada, ada, na verdade!... Mas o senhor Shesbury Shesbur y não a teria tratado assim!...”

 

 A senhora senhora Shesbury com certeza agiu de boa intenção. Porém creio que eu e a minha irmã nunca nos adaptaremos à situação que nos proporciona.  Também não o creio. E Rosa Rosa co cont ntin inuou uou a ad admi mirar rar Or Orie ieta ta co com m fo fort rte e aten atençã ção. o. De Depo pois is disse disse bruscamente:  Sente-se e conte-me a sua vida no colégio Burley. Tod odos os os qu que e se ap apro roxi xima mava vam m de Ro Rosa sa expr exprim imia iam m de dela la um uma a ún únic ica a apreciação: “que era a mais desagradável e insuportável criatura que se podia imaginar”. No entanto Orieta sentiu por ela um sentimento de simpatia e de confiança, enquanto lhe ia contando a sua triste vida em casa das irmãs Burley. Escutou-a com bem visível interesse.  Sim, não tem sido feliz  disse ela pensativamente.  A sua irmã sofreu tanto como a menina?  Não. Tem um gênio muito diferente do meu.  Durante um momento Rosa ficou calada. Por fim disse:  Tenho sempre pensado em si, apesar das poucas vezes que a vi... Causou-me boa impressão. ... e conservo ainda os seus cabelos.  Os meus cabelos?  Sim, os belos cachos que Walter lhe cortou!  Um vivo rubor surgiu no rosto de Orieta.  Tem-nos Tem-nos gu guardados? ardados?  Eram tão bonitos!... Admirava-a por ter ousado responder-lhe, sem medo pela sua cólera.... e essa lembrança ficou-me gravada. Por isso, quando minha mãe me perguntou: “Queres, para ajudar a Haggard, essa pequena Orieta que viste muito poucas vezes?. vezes?...” ..” Aceit Aceitei ei logo, porque sabia que me agradava agradava.. Agora porém percebi que não foi feita para essa situação. Pouco importa. Ficará junto de mim.... e ler-me-á vários livros... Lê bem em voz alta, não é verdade?  Nunca o fiz.  Vere eremo moss de depoi pois.. s.... Di Disse ssera ramm-lhe lhe já já,, se sem m dú dúvi vida da,, qu que e so sou u difí difíci cill de contentar.... que ninguém consegue ficar comigo!... É verdade. Não sou boa, sei-o bem.... mas talvez o seja para si. Parece-me que nos havemos de entender.

 

 Também o espero  replicou Orieta, comovida com o tom de amargura daquela confissão.  Então vou falar com a minha mãe... e dar-lhe-ei um quarto nos meus aposentos.  E a Faustina?  Ah, a Faustina!... É verdade!... Verei também isso com a minha mãe.  Agora pode ir, minha querida; amanhã começará a sua nova tarefa.... e eu procurarei torná-la infeliz o menos possível.  Não creio que seja infeliz junto de si.  Quem sabe?... Sou muito má.... já lhe disse... Mas consigo, talvez!... Até amanhã Orieta!... E estendeu-lhe a mão magra e amarela.

 

IV  A senhora Shesbury amava em excesso a filha cedendo a todas as suas fantasias; por isso ficou surpreendida, desta vez, com a forte resistência que encontrou, quando exprimiu à mãe os seus desejos com respeito A Orieta:  Que singular idéia, minha querida!... Se essa pequena te agrada, pouco te deve importar que esteja ao pé de ti na qualidade de criada. Além disso acho melhor que se faça desaparecer o orgulho duma pessoa a quem está destinado um futuro bem modesto.  Não, minha mãe, não pode ser assim!... Orieta e Faustina pertencem decerto a uma boa família. O paizinho recolheu-as, segundo me disse... e não deixou a seu respeito nenhuma informação?...  Nada, querida. E por isso é que tenho o direito de as considerar como quaisquer pequenas abandonadas.  Não, não pode dem m ser

trat ata adas como

quaisquer pequen ena as....

principalmente a Orieta!... Em todo o caso não quero que elas sejam tratadas como criadas.  Vamos, Vamos, Rosinha, sê razoável! Mas Rosa herdara o gênio violento e comum aos Falsdones. As suas arrelias assustavam muito a mãe, que sabia os efeitos que elas produziam sobre a saúde da filha. Pamela teve de ceder, pois a pequena, tomada duma forte febre, durante a noite, só chamou por Orieta; foi preciso ir buscá-la, ficando a partir desse momento junto da doente. Não houve nenhuma explicação entre ela e Pamela. A nobre senhora adotou uma atitude de indiferença e frieza, que manteve sempre. Orieta mostrou uma delicadeza digna, e afastava-se discretamente sempre que a mãe vinha passar uns momentos junto da filha. Rosa não queria, porém, vê-la longe dela; durante os dias que teve de estar de cama, quis que a pequena comesse junto dela, e quando se levantou, fez também com que servissem Orieta na sua mesa.  Oxalá que com o seu feitio caprichoso este forte entusiasmo passe breve!  disse Pamela a Humfrey, alguns dias depois da chegada das duas italianas.

 

Humfrey acabava de passar uma temporada de três meses em Paris e Londres. De volta, após dois dias da sua chegada a Rockden-Manor, a sua propriedade, que ficava muito próxima de Falsdone-Hall, foi almoçar ao castelo, na sala de jantar dos aposentos ocupados por Pamela.  Pelo menos assim o espero  continuou esta, ao levantar-se para passar, com o seu hóspede, para a sala vizinha.  Porque  continuou Pamela  pensa em sentar essa Orieta à minha mesa, quando vier comer comigo.  Essa jovem não ficará muito deslocada, bem o sabe, minha querida amiga  disse com calma Humfrey. Pamela teve um movimento de impaciência.  Não ignora que não posso tolerá-las, nem a ela, nem à irmã, pela idéia que me recordam!...  Que Que capa capaci cida dade de de ciúm ciúme e e de ving vingan ança ça comp compor orta ta um uma a alma alma de mulher!... Humfrey disse estas palavras com uma ligeira ironia, tomando lugar num fofo sofá, perto do fogão de sala, onde flamejava uma boa fogueira de lenha. ... Essa idéia de se vingar numa criança do amor que Cecil teve por aquela que conheceu antes da senhora, só poderia sair dum cérebro feminino!  Se Cecil me tivesse amado, suportaria mais facilmente o pensamento de que também outras foram amadas por ele. Porém, desdenhada como fui, odeio essas outras, e não podendo atingi-las com o meu ódio, quero ao menos vingarme nessa criança, fazendo-a sofrer, humilhando-a.... ela que é filha dele e dessa Bianca, de quem conservou piedosamente a lembrança, visto que o seu retrato foi encontrado junto dele, depois de morto. Pamela Pamel a falava numa voz breve e um pouco áspera. O rosto agitou-se-lh agitou-se-lhe ee no seu olhar passou um clarão que avivou o azul dos olhos. Um sorriso ambíguo entreabriu os grossos lábios de Humfrey.  Muito bem, minha amiga! Mas será preciso então que as duas pequenas sofram, visto que não sabe qual delas é a filha de Cecil.  Muito bem, farei sofrer as duas!... O instinto porém leva-me a crer que é a Orieta. Tem o gênio violento dos Falsdones... e depois sinto com a sua presença

 

um sentimento de antipatia muito especial. Humfrey, tirando duma velha cigarreira um cigarro, que acendeu, falou com ironia calma, enquanto Pamela se sentou perto dele:  Por infelicidade para si, Pamela, a sua filha parece estar disposta a proteger essas pequenas... amaldiçoadas. Contudo, segundo diz, isso não durará muito!... E a irmã, que fez dela?  A Rosa não quis que ela continuasse no meio da criadagem. Enquanto durar esse capricho, empregá-la-ei a fazer-me uns certos bordados, para o que parece ter uma certa habilidade. Humfrey abanou a cabeça.  Infelizmente satisfez demais os caprichos da Rosa, e agora faz de si sua escrava... Por mim dou-lhe toda a liberdade de proceder com essas crianças como quiser... Aliás tenho procedido sempre assim... Evidentemente o desejo de Cecil era era qu que e re rece cebe bess ssem em um uma a ed educ ucaç ação ão dife difere rent nte e e que que o futu futuro ro de dela lass foss fosse e assegurado assegur ado por outra forma. No entanto isso não convém convém,, visto que as pequenas estrangeiras desagradam muito à minha muito amada Pamela. E Humfrey olhou com ternura para ela.... depois do que continuou:  Assim, proceda a seu gosto, e não será Walter que lhe virá transtornar os planos. Pamela não pôde conter um risinho sarcástico.  Sh Shes esbu bury! ry!.. .... Fi Fiqu que e ce cert rto, o, meu meu ca caro ro,, qu que e Walte alterr nem nem se le lemb mbra ra da existência dessas pequenas. E como, em qualquer caso, ignora aquilo que nós sabemos sab emos,, cons conside iderá-l rá-las-á as-á sem sempre pre com aquela aquela altiva altiva ind indife iferenç rença a que se pode esperar dum orgulhoso como ele.  Na Natu tura ralm lmen ente te.. .... A pr prop opósi ósito to.. .... Nã Não o anun anunci ciou ou a su sua a ch cheg egad ada a pa para ra o próximo mês?  Anunciou. Todo o Falsdone-Hall está em movimento. Uma parte das bagagenss já chegaram. bagagen chegaram. Prepara-se também, segundo as suas ordens, ordens, o pavil pavilhão hão índio.  Oh! esse é para a sua linda bailarina!  disse, rindo, Humfrey.  Pareceme que vamos ter a ocasião de a admirar. Em Paris, muitas pessoas, vindas de

 

Canes e de Nice, falaram-me de Shesbury, dizendo que a bailarina índia, trazida por ele da sua viage viagem m a Bengal Bengala, a, é o ídolo de todos os veranean veraneantes tes da alta roda. Essa jovem Apsara é muito bonita, segundo dizem os que a viram já. Vive num pavilhão, na vila de Walter, em Canes, com criados índios ao seu serviço, e dança nas recepções do fidalgo. Teremos Teremos pois o grande pr prazer azer de a aplaudirmos.  Tal procedimento é bem próprio de Walter!... Poucos homens, na sua posição, desprezam assim as conveniências sociais e a opinião pública. Se bem que tenha idéias muito avançadas, acho um pouco excessivo este modo de proceder: instalar essa favorita, aqui, em Falsdone-Hall, onde vive a irmã, onde recebe, sem dúvida, inúmeros hóspedes, muitos dos quais ficarão melindrados.  Tolera-se no marquês de Shesbury muita coisa que não se admitiria a um simples mortal, não sabe? Havia um tom significativo na voz de Hunfrey, misto de ironia e aspereza.  ... Em Walter, o prestígio da situação é aumentado da sedução pessoal; é um desses homens a quem se permitem todos os caprichos... Ora, consciente disso, de nada se priva... A presença da Apsara desagrada-lhe, Pamela, e eu não vejo nenhuma possibilidade de fazer qualquer observação ao seu filho, a esse respeito... Pamela teve um gesto de espanto.  Faze Fazerr uma uma observ observaç ação ão a Walte alter? r?.. .... Oh! Oh! me meu u Deus! Deus!.. .... Ning Ninguém uém se aventuraria a tal, e eu menos que qualquer outra pessoa!... Já o estou vendo a escutar-me com o ar glacial de quem não me atende!... Nunca!... Não tem já muita simpatia por mim, e se continua a prover às minhas necessidades é apenas porque sou a viúva do pai. Se tiver comigo comigo a mais pequena quest questão, ão, suprime-me tudo.... É um caráter muito capaz de tal!.. tudo.. tal!.... E isto é também um dos meus grandes motivos de rancor contra Cecil, como sabe, Humfrey!... Deixar a filha e a esposa sob a dependência de Walter, que pode, a seu belo prazer, atirar-nos para a miséria, foi odioso da sua parte, não acha? Humfrey passou com carinho a mão pelo ombro de Pamela.  Não se revolte, minha querida. ... Foi muito ruim, de fato!... Mas bendigo essa aberração, visto ela a ter desprendido desse amor que, apesar de tudo,

 

conservava por ele, e me permitiu a mim conquistar o seu coração.  Desprendeu-me, sim, por completo!... Hoje amo-o, quanto o amava a ele  disse apaixonadamente Pamela.  Pode crer, meu amigo, que lhe serei fiel e dedicada. O meu coração não é volúvel, caprichoso, incapaz de se fixar num único amor... Humfrey Humf rey teve um impercept imperceptível ível sorriso, antes de pegar de novo no cigarro. Enquanto admirava pensativamente a espiral do fumo. Pamela observou:  Walter parece ter, ter, em certos pontos, a mesma natureza do pai. Pelo que ouço dizer, segue o mesmo caminho de orgia e prazeres...  Nada disso, minha querida!  interrompeu Humfrey.  Walter tem um caráter muito diferente do do pai. Tive ocasião, durante a minha estada em Paris, de conversar com John Falster, que acabava de chegar de Canes. Convivendo bastante com Walter, transmitiu-me parte da sua opinião sobre o rapaz: “É um homem home m senh senhor or de si, si, po pouc uco o comu comuni nica catitivo vo,, de cará caráte terr en enér érgi gico co e mu muitito o voluntarioso volunt arioso para se entreg entregar ar às contín contínuas uas aventuras amorosas, que consti constituíram tuíram a existência do pai. Novo e encantador, adulado e incensado, brinca com as belezas femininas, que embriagam o seu orgulho, e declara abertamente que nenhuma mulher no mundo terá domínio sobre o seu coração”.  Hum!... Isso será talvez um pouco de presunção, Humfrey!  Sim, talvez!... Ninguém pode prever as surpresas duma paixão!... “Em todo o caso o coração de Walter não parece ser fraco e inflamável como o do pai. É aind ainda a ma mais is terr terriv ivel elme ment nte e or orgu gulh lhos oso o e du duma ma saga sagaci cida dade de espa espant ntos osa a “ acrescentou John, que é um seu grande admirador.  Talvez Talvez tenha sido se sempre mpre  murmurou Pamela. Depois, pegando na tenaz, começou a reunir, com gesto distraído, as brasas dispersas, Humfrey fumava, com os olhos semi-cerrados. Pamela pôs-se a pensar pen sar,, com o rost rosto o inc inclin linado ado par para a a fog foguei ueira. ra. De rep repent ente, e, vol voltan tando-s do-se e par para a Humfrey,, disse em voz trêmula: Humfrey  Se não tivesse sobrevivido ao acidente da carruagem, há cinco anos, seria o marquês de Shesbury, meu querido!  Sim, Pamela, seria eu de fato o marquês  disse com toda a calma

 

Humfrey.  Que desgraça, que...  murmurou ela, pousando a mão febril sobre o braço de Humfrey Humfrey.. Fitou-a com olhar desaprovador.  Não tenha tais desejos!  replicou ele severamente.  Não desejo, por nada deste mundo, suceder ao meu jovem primo, apesar da pouca simpatia que tem por mim. Porém Pamela abanou a cabeça e replicou com vivacidade:  Pois eu desejo-o com toda a minha vontade.  Humfrey teve um pequeno sorriso indulgente, e continuou fumando, enquanto admirava com interesse as pinturas que decoravam o teto da sala. Orieta viu Humfrey no dia seguinte, à hora do chá, na sala de estar de Rosa. Quando entrou na sala, em companhia de Pamela, encontrava-se ela de pé, diante da pequena biblioteca, ocupada a procurar um livro que Rosa lhe pedira. Hunfrey apertou a mão que a pequena lhe estendeu sem entusiasmo, dirigindo-lhe umas palavras amáveis. Orieta deixou-se ficar na biblioteca, um pouco embaraçada, embaraçada, se bem que Rosa já lhe tivesse recome recomendado: ndado: “Ficarás junto de mim, quando a minha mãe e Humfrey vierem aqui tomar o chá”. Contudo compreendia muito bem que Pamela suportava contra vontade a sua presença!... Rosa porém voltou-se para ela:  Venha Orieta... Lembra-se, Hunfrey, da pequena Orieta Farnela?  Muito bem, apesar das poucas ocasiões em que a vi  e fitou a pequena com um sorriso benévolo.  Estás contente com a nova companheira, Rosa?...  Muito satisfeita. Orieta, deixe esse livro aí e venha sentar-se aqui ao pé de mim.  Inglês? - perguntou Humfrey, estendendo a mão para pegar no livro que Orieta ia pousar sobre uma mesa próxima.  Francês  respondeu Rosa.  Um dos teus autores favoritos, creio eu!... A menina Orieta lê como tu gostas?

 

 Admiravelmente!... A sua voz é como uma música para o meu ouvido, e além disso sente o que lê.... sente até bem no íntimo.  Estou encantado contigo, Rosita, porque gostas muito da leitura.  A senhora Selby também lia muito bem  disse Pamela, com alguma frieza.

 Acabava de se sentar perto da filha e fitou Orieta, que nesse momento

compunha as almofadas por detrás da doente, com olhar hostil. Rosa moveu com desdém os ombros.  A senhora senhora Selby tinha uma voz desagradável desagradável e lia com pretensão, o que me causava horror... Orieta, peça o chá, minha querida, e depois venha sentar-se aqui. O senhor Humfrey vai-nos contar alguma coisa de Paris ou de Londres, donde acaba de chegar. Este obedeceu satisfeito ao convite da imperiosa pequena. Era em todas as ocasiões e para com todos o homem mais benévolo e mais amável que se possa ocasiões imaginar, tendo sempre um ar de sobriedade, que fazia com que dissessem dele: “H “Hum umfr frey ey é um pe perf rfei eito to ca caval valhe heir iro” o”.. As sua suass pa pala lavra vrass er eram am as du dum m home homem m inteligente intel igente e culto. Rosa replicou-lhe replicou-lhe nesse dia com o espíri espírito to mordaz que lhe era habitu hab itual. al. Orieta Orieta,, cal calada ada,, seg seguia uia com interes interesse se a con convers versa, a, trab trabalh alhando ando num bordado começado por Rosa. A pedido desta deitou o chá e, vendo-se a graça aristocrática com que o servia, não se acreditava que fosse a primeira vez que fazia aquilo. Pouco depois Pamela retirou-se com Humfrey. Este teve para com a jovem estrangeira uma pequena saudação amigável, como convinha a um homem da sua idade e posiç posição, ão, ao deparar com uma pequena de boa famíli família, a, mas colocada numa situação subalterna. Pouco lhe falara, mas quando o fizera, fora com voz amena, sem o tom de frieza altiva adoptado pela viúva. Minutos depois chegaram ao salão de Pamela, esta perguntou-lhe:  Que me diz dessa pequena Farnela, Humfrey?  Que é muito bonita e bastante aristocrática. Com aquele porte, aquela fisionomia e aqueles olhos - os olhos, principalmente! - terá a necessidade de a vigiar, quando Falsdone-hall tiver hóspedes!

 

 Rosa não se conformará com isso, bem o sabe. Esperemos que o seu capricho passe até lá!...  Eh! eh!... Essa pequena deve ser muito encantadora e a sua fisionomia faz supor que possui uma inteligência fora do que é vulgar... Enfim, veremos!... O mais desagradável será se Shesbury se interessar também por ela. Pamela sobressaltou-se.  Pensa que tal coisa possa acontecer?...  Humfrey sorriu.  E por que não?... Não é cego e observará que a pequena tem uma beleza fora do normal.  Mas, Humfrey, ela é talvez sua irmã!  De nada sabe.... e como suponho que não tem a intenção de lho dizer...  Certamente que não!... Porque, nesse caso, julgaria do seu dever tratar as duas como membros da família.... e eu não quero... Não quero que a filha dessa Bianca tenha a situação que Cecil lhe desejava!...  Pergunto sempre a mim mesmo porque é que Cecil não revelou, ao menos nas suas últimas vontades, o que essas pequenas representavam para ele.  Com certeza julgou ter tempo para tomar as necessárias disposições, antes de morrer.... e além disso talvez estivesse impossibilitado de distinguir qual era a sua filha... Foi com efeito uma situação bem singular!... singu lar!...  De fato muito estranha. O conde Farnela resolveu a questão mandando as duas pequenas a Cecil... Compreendo porquê!... Estava sem fortuna e, vendose obrigado a ter de ganhar a vida.... expatriou-se. Enfim, o principal, minha querida Pamela, é afastar a encantadora criança antes da chegada de Walter. T Tem em um mês para fazer isso, e, daqui até a té lá, vá manobrando habilmente junto de Rosa.  Oh! farei tudo quanto esteja ao meu alcance  disse Pamela, e continuou:  Que tolice ter trazido essa pequena para aqui! Nunca me passou pela cabeça que pudesse um dia encontrar-se encontrar- se frente a frente com Walter ou os seus amigos... Entretanto Rosa, logo que se viu só com Orieta, perguntou:  Que pensa do senhor Humfrey? Depois duma ligeira hesitação, respondeu:  Julgo-o amável e benévolo.

 

 E é-lhe simpático? Desta vez a reflexão foi mais longa. Por fim terminou por dizer, com uma espécie de perplexidade:  Não sei bem... Não posso definir bem a impressão que senti... Não foi bem simpatia, mas também não foi o contrário... Uma espécie de desconfiança, cujo motivo não descubro.  É curioso isso  murmurou Rosa, acariciando distraidamente o cão que estava estendido sobre os seus joelhos e apoiava a cabeça sobre as almofadas da poltrona. Depois dum momento de silêncio, continuou:  É justamente o sentimento que me inspira também, desde que atingi a idade de pensar. A minha mãe e todos os que o conhecem, fazem-lhe muita festa, como gozava também da simpatia de meu pai... Porém eu até hoje não sei se devo amá-lo, se devo detestá-lo. Sempre se mostrou bom e delicado para comigo; vejo-o com prazer e gosto da sua conversa.... mas há qualquer coisa que, por vezes, me afasta dele... Talvez cheguemos um dia a ter a razão desta nossa igual impressão. Agora, minha querida, se pode, leia-me um capítulo da Berenice. Depois dar-me-á a lição de italiano. Rosa resolvera retomar o estudo dessa língua, iniciado noutros tempos com uma das suas professoras. Orieta continuara a conversar sempre com a irmã nessa língua; mais tarde encontrara uma gramática e alguns livros velhos na biblioteca do colégio Burley e tinha estudado em segredo. Então tornou-se a professora de Rosa, que desejava ler no original as obras de Dante e doutros escritores. Esta pequena doente não era muito inteligent inteligente. e. Lia muit muito o e tinha o espíri espírito to repleto dos mais diversos conhecimentos, que por vezes se baralhavam no seu cérebro de adolescente. Ela própria reconhecia isto e já o tinha dito várias vezes a Orieta.  Tenho estudado diversas coisas, mas estão um pouco em desordem na minha cabeça. Preciso que me ajude a ordená-las, Orieta. Rosa testemunhava à jovem italiana uma simpatia e uma confiança que

 

não estava nos seus hábitos. Um dia disse-lhe francamente:  Imagine, minha querida, que nunca me afeiç afeiçoei oei a ninguém ninguém... ... At Até é hoje só tenho querido bem a si. Desde o primeiro dia que me inspirou amizade, e por isso procuro não lhe ser desagradável e má, como sempre fui para com os outros.  Não se calunie a si mesma, menina Rosa!  protestou Orieta.  Abanou a cabeça.  Não, não sou boa, bem o sei. Fui sempre uma pessoa doente e, não podendo viver como as outras crianças, vingo-me com o meu mau gênio. Não me vai detestar por lhe dizer isto? Fitou Orieta com um olhar sério, onde passou uma luz de sofrimento. Esta pegou-lhe na pequenina mão magra e apertou-a entre as suas.  Não, Rosinha, pelo contrário, gosto da sua franqueza e vou responder-lhe com co m a me mesm sma a si since nceri rida dade. de. T Tam ambé bém m eu nã não o so sou u boa boa;; a rev revol olta ta,, o org orgul ulho ho demasiado, o espírito de ressentimento, tudo isso eu não conhecia e conheço agora. Rosa sorriu satisfeita.  Ah Ori riet eta. a... .. Em tod odo o o ca caso so isso sso nã não o lhe lhe im impe pede de de se serr boa boa e encantadora, tal como é. Quero-lhe muito, Orieta. Vê!.... uma coisa que nunca até hoje disse a ninguém, porque ninguém me pareceu merecer a minha amizade.  O sentimento é recíproco  replicou Orieta, olhando com comoção para a delicada figura sempre abatida, apenas nesse momento um pouco mudada pelo sorriso. Com efeito sentia-se atraída para essa criança doente, que lhe mostrava os melhores lados do seu caráter, alterado pela má educação da mãe, senhora fraca e frívol frívola, a, e pelas pelas ama amargu rguras ras da sua doença doença.. Imp Impacie aciente nte,, gen genios iosa, a, fri friame amente nte egoí eg oíst sta a pa para ra com com todo todoss os qu que e a ro rode deav avam am,, Ro Rosa sa mo most stra rava va-s -se e am amáv ável el e compassiva para com Orieta, embora às vezes com algum despotismo. Não queria que a deixasse, nem mesmo para ir ver Faustina, que trabalhava no seu quarto, situado do outro lado do castelo.  Diga-lhe que venha vê-la aqui. Não pode comparar-se a si, por maneira nenhuma, mas é também uma boa pequena.

 

Faustina, Fausti na, que só tratava com a encarre encarregada gada da roupari rouparia, a, que lhe levava os bord bo rdad ados os,, mos ostr trou ou-s -se e co cont nten entte co com m es esse se co conv nvit ite. e. Po Porr dive divers rsas as ve veze zess acompanhou acompan hou Orieta e Rosa nos seus passeios através dos jardins e do parque. A fidalguinha dava esses passeios num carrinho, facilmente empurrado por Orieta. O seu estado há um ano que melhora melhorara ra sensivelm sensivelmente ente e por isso já podia andar um pouco, apoiada a alguém; apenas quando a distância a percorrer era grande, é que se servia dessa espécie de cadeira de rodas. Uma tarde Orieta levou-a à biblioteca, onde ela desejava escolher uns livros italianos. No caminho passaram pela grande galeria de mármore destinada às recep rec epçõ ções es e digna digna du duma ma mo morad radia ia re real al.. Ori Oriet eta a mo most stro rou-s u-se e ma marav ravililha hada, da, ao contemplá-la. Rosa disse-lhe por isso:  Pare, minha querida, e admire tudo o que lhe agradar.  Ao entrarem na biblioteca, Orieta foi tomada por uma súbita comoção. Ia voltar vol tar a ve verr pe pella pr prim imei eira ra ve vez, z, des esde de a su sua a sa saíída pa para ra o co collég égiio, esse esse compartimento onde Cecil as recebia sempre, e a lembrança do seu bondoso protetor impôs-se rápida ao seu coração reconhecido. Como parasse a cadeira, Rosa disse pensativamente:  Meu pai gostava muito de estar aqui!  e relanceou um longo olhar melancólico pelo aposento.  ... Mantinha-me sempre afastada dele... Creio que não me amava...  Por que diz isso, menina Rosa?  São coisas que se sentem... Não me amava... talvez porque também não amasse a minha mãe. Orieta olhou surpreendida para o pequeno rosto crispado, em cujos lábios havia um rito de amargura.  Isso são apenas suposições...  Não, não, tenho as minhas razões!... E no entanto tê-lo-ia amado muito, se ele quisesse.... mas tratava-me com indiferença. Pelo que me contou, Orieta, vejo que tomou mais interesse por si e pela sua irmã do que por mim, que era sua filha. Depois dum gesto nervoso, continuou:

 

 Vamos amos até até à ga galler eria ia do doss re rettra rato tos. s. Qu Quer ero o mo most stra rarr-llhe os me meus us antepassados. Empurrou a cadeira até à entrada da galeria, onde Rosa se quis levantar: pelo braço de Orieta caminhou sobre o mármore, mostrando à companheira os retratos dos antigos Falsdones.  Há velhas histórias, muito interessantes, sobre a maior parte deles. Soube-as pelo senhor Hunfrey, que folheou os arquivos de Falsdone-Hal e do velho castelo que os marqueses de Shesbury possuem em Sufolk. Vou contar-lhe algumas... Esta personagem, de semblante pouco simpático, é Gilberto Falsdone, que desposou a muito bela Sirieme, matando-a depois com desgostos. Esta linda mulher, em traje de gala, é uma princesa vinda da Rússia, no século treze. Decepou, segundo a tradição, o seu primeiro noivo, russo como ela, e fez morrer sob o knott uma espécie de grande chicote, grande número de vassalos.  Oh! que horrível criatura!  exclamou Orieta, fitando com olhar indignado a soberba princesa.  Edward Falsdone, marquês de Shesbury, tornou-se esposo dela. Um ano depois encontraram-no estrangulado numa das salas de Foxdale Castle. Nunca se descobriu o assassino.... ou a assassina. A bela Fedora continuou a existência de fa faus usto to e de fe fest stas as magní magnífificas cas que que titinh nha a le levad vado o du duran rante te a vi vida da de ca casa sada, da, abandonando abandon ando por completo o filho. No dia em que completava três anos da morte de Edward, desapareceu e nunca mais se soube nada dela; o diabo, diz a crônica da nossa casa, tomou posse da sua alma, que ela lhe vendera.  Há com efeito qualquer coisa de demoníaco ou de sinistro no seu olhar. Parece ter sido uma grande orgulhosa, pelo que se depreende da sua fisionomia...  E legou uma boa dose desse orgulho aos seus descendentes! Veja em todos esses rostos a marca hereditária... Ah! só este não tem. Tinham parado diante do retrato de Cecília, a irmã de Cecil. Enquanto Rosa lhe dava explicações a tal respeito, Orieta admirava, com um interesse cheio de comoção, a encantadora figura pensativa, que deixava transparecer uma alma nobre e pura. Depois dirigiu a sua atenção para outros retratos próximos, como os de Cecil e da sua primeira mulher, a princesa Sandra Elaquine. Vestida de branco,

 

com flores nos cabelos e pérolas no pescoço, era uma deliciosa visão de beleza mimosa e discreta. Um sorriso muito meigo lhe entreabria os lábios e lia-se uma espontânea alegria nos seus olhos.  Parece que não foi feliz!  disse Rosa.  Morreu muito nova, de pesar, segundo me contaram ... Walter parece-se muito com ela.... tem o mesmo rosto, os mesmos cabelos e a mesma graça eslava... Olhe para acolá... Numa moldura de carvalho, decorada a ouro, enquadrava-se a elegante figura dum homem novo, em traje de passeio, Orieta, voltando a cabeça para seguir a indicação da companheira, encontrou um olhar de estranha beleza, voluntarioso, altivo e singularmente profundo. Recuou um pouco e a fisionomia endureceu-se-lhe. Rosa riu-se.  Ah! é verdade que não tem dele boa recordação, segundo o que me disse outro dia!... No entanto, é bem fascinante, quando quer. Às vezes é um pouco agressivo, um pouco irônico, não se importando com os outros, como se só ele existisse!... É. na verdade este Walter que eu conheço... Um sofrimento sofrimento contraiu a sua fisionom fisionomia ia e apoio apoiou-se u-se um pouco mais sobre o braço de Orieta, acrescentando:  ... E a minha amiga também... Não me lembra de o ver. Tem um cérebro dotado de raras qualidades. É um artista, é um mimoso literato, é, no dizer de todos, um homem perfeito. Suponho que só não tem coração.... como é o orgulho personificado, e sempre fará sofrer os que viverem junto dele.  Abafou um suspiro, acrescentando:  Eu, também, quando era mais nova, de bom grado o amaria como irmão mais velho. Tratava-me porém com indiferença glacial. Como o vi várias vezes nos momentos em que se encolerizou, e que lhe eram habituais, passei a ter medo dele de le.. .... Nu Nunc nca a pu pude de en enfr fren entá tá-l -lo, o, co como mo o fe fezz ou outr trora ora a pe pequ quena ena Or Orie ieta ta,, tã tão o corajosa!... Mas também como foi castigada!... Orieta abanou a cabeça, lindamente composta com os cachos sedosos, agora livres da touca do colégio Burley.

 

 Ninguém mais se lembra disso!.... nem se percebe!... percebe !... Disse isto lançando um olhar de desafio para o retrato do jovem marquês de Sh Shes esbu bury ry.. Os lá lábi bios, os, um po pouc uco o sor sorri ride dent ntes es,, pa pare reci ciam am desd desden enhos hosos os e zombeteiros; zombet eiros; a linda cabeça delicad delicada a e altiva, os olhos profundo profundoss e imperi imperiosos, osos, o corpo esbelto, numa atitude elegante, tudo denotava o desmedido orgulho do grande senhor, que devia ter em muito pouca conta o desafio e o rancor de Orieta Farnela.  Os seus lindos cachos crescera cresceram m  disse Rosa.  Mas há outra coisa... coisa..... a bofetada que ele lhe deu!... Isso nunca o pode esquecer, pois não? Um leve rubor apareceu nas faces de Orieta.  Nunca!... E depois a morte do meu pobre cão!... Este, reconheço-o agora, merecia mereci a de fato um castigo. Porém foi odioso odioso e cruel agir daquele modo.. modo.... .. com o completo desprezo pela tristeza que causava...  Penso que Walter sempre procedeu assim  disse amargamente Rosa. Deu alguns passos e indicou a Orieta uma porta ornada com delicadas esculturas douradas.  Ali dentro fica a sala do século XVI. Encerra maravilhas. Não posso mostrar-lhas, porque são os aposentos particulares de Shesbury. Orieta teve um movimento de recuo, como se temesse ver aparecer, no vão dessa porta, o senhor dessa moradia.  Não, não está aqui, ainda!  disse Rosa com um misto de pesar e de ironia..  Quando estiver ironia estiver,, não terá, provavel provavelmente, mente, muitas ocasiões de encontrar encontrar,, porque não me honra com as suas visita visitas... s... Compr Compreendi eendi já que ver uma doente e um ser mal conformado como eu, não lhe é agradável.  Deveras!... Que feitio!...  exclamou Orieta indignada. Rosa encolheu os ombros, murmurando:  É um ser por demais adulado, é o que é!... Tornou-se terrivelmente egoísta. Eu mesma estive quase nesse perigo. Quero porém tentar vencer-me com o seu auxílio, Orieta.

 

VI Os preparativos feitos para receber Shesbury puseram em efervescência todo o pessoal da nobre moradia, ao qual veio juntar-se o que servia o fidalgo na sua residência de Canes. No castelo e nos arredores, esta próxima chegada constituía o assunto de todas as conversas. O senhor de Falsdone-Hall era uma personagem muito fora do comum, para não despertar um vivo interesse, nem uma curiosidade que acolhesse avidamente os menores boatos relativos aos seus feitos e gestos. Contava-se que durante a sua recente estada na Índia, uma rainha muito formosa e muito orgulhosa da sua raça, detestando por isso os ingleses, se tinha apaixonado por ele, tornando-se sua escrava submissa. Um dia, durante um passe pa sseio io pe pela la flflore orest sta a qu que e ce cerca rcava va o pa palá láci cio, o, um titigre gre feri feriu u mo mort rtal alme ment nte e os carregadores do palanquim e a bela princesa, Shesbury não estava em casa nesse momento; quando regressou ao palácio encontrou a rainha morta. Este acontecimento, segundo queriam fazer acreditar, pareceu não lhe causar uma pena excessiva. Já tinha adquirido a reputação de que não tinha um coração sensível com as mulheres e em especial com aquelas que o amavam. Como é natural, comentaram muito a idéia de instalar uma bailarina índia num pavilhão do parque, edificado pelo pai de Cecil e cópia dum pequeno palácio do maharadjah de Travancore. Muitos dos seus amigos irritaram-se, como Pamela previra. Ninguém ousava porém censurar um tão poderoso personagem que, diziam todos, todos, realizava as suas vontades vontades e as suas fantasias, passand passando o por cima de todos os obstáculos, desprezando quaisquer protestos, se alguém tivesse a coragem de os formular. Lenda ou verdade, tal reputação era aceita em Falsdone-Hall e em todos os domínios de Shesbury. Essa história chegou aos ouvidos de Faustina, quando conversava com a lavadeira, e foi contá-la à irmã. Confrontando com algumas das apreciações feitas por Rosa sobre o irmão, Orieta pôde concluir que o seu ressentimento pelo Walter doutros tempos tinha muita razão em subsistir ainda.  Felizmente nada temos que ver com ele  disse ela.  Não gosto da senhora Shesbury, mas prefiro mil vezes estar sob a sua dependência!

 

 Sobretudo, quando protegida por Rosa!  acrescentou Faustina.  Bo Boa a pe pequ quen ena! a!  mu murm rmuro urou u Or Orie ieta ta co como movi vida da..  Nu Nunc nca a lh lhe e po pode derei rei testemunhar toda a minha gratidão. Fazia por ela, na verdade, tudo quanto podia, procurando distraí-la, com delicadeza dizia-lhe, no momento oportuno, a palavra que levantava o moral por vezes abatido e não raro revoltado. Mais ou menos no meio do mês de Abril a temperatura durante alguns dias apresentou-se primaveril e Orieta pôde levar a sua companheira pelos jardins, que despertavam do torpor do inverno. Uma tarde, encontraram o senhor Humfrey a algu alguns ns pa pass ssos os do pavi pavilh lhão ão índi índio, o, Orie Orieta ta tinh tinhaa-o o vist visto o já vári várias as veze vezess no noss aposentos da menina Rosa. Mantinha a impressão experimentada no primeiro dia, apesar da deferência, sem afetação, que ele lhe testemunhava. Talvez mesmo, sem se m diss disso o te terr co cons nsci ciên ênci cia, a, esta esta im impre press ssão ão titinh nha-s a-se e acen acentu tuad ado o num num se sent ntid ido o desfavorável.  Humfrey, crê que possamos visitar o pavilhão?  perguntou Rosa.  Está aberto e os criados estão lá a trabalhar.  Penso que poderá satisfazer a sua pequena curiosidade, pois Shesbury nada terá que dizer, mesmo que o saiba. Humfrey ajudou Rosa a deixar o seu carrinho e ofereceu-lhe o braço. Dirigindo-se para o pavilhão, fez notar a Orieta os delicados pormenores das esculturas que ornavam o encantador aposento, todo de mármore branco, desde as próprias paredes interiores. O chão estava coberto por tapetes da Pérsia e do Kurdistan. Sofás forrados a brocado, almofadas de sedas preciosas, marfins de Delhi, queima-perfumes de bronze e prata, trabalhados por inimitáveis ourives, e suntuosas tapeçarias bordadas a ouro decoravam as salas, que muitos criados, sendo dois deles índios, chegados na véspera, acabavam de pôr em ordem. Parando diante duma das janelas, com grades de mármore, em estilo índio, Rosa perguntou:  É verdade o que me disse Haggard, que Walter vai receber aqui uma bailarina?  Parece que sim, minha querida.

 

 Espero que a fará dançar, quando tiver hóspedes, e eu assistirei!... Já viu bailar as índias, Humfrey?...  Não, Rosa, só as tenho contemplado nas gravuras.  Essa que Shesbury mandou vir é muito linda, dizem. Parece que essas mulheres andam cobertas de jóias... Oxalá que Walter me deixe vê-la dançar!... Entristecida pela perspectiva duma possível recusa, Rosa retomou o braço de Humfrey, que tinha deixado um instante, para sair do pavilhão, Orieta seguiu-a, ao acaso. Um mal estar se lhe insinuou no coração, no meio desses esplendores esplendores orientais, que admirava, e atraíam a sua vibrante natureza de artista. Sentiu um alívio quando se viu ao ar livre, entre os canteiros entrecortados de canais e tanques de mármore, que cercavam o pavilhão índio.  Vai tomar chá na nossa companhia, Humfrey?  perguntou Rosa.  Tenho muita pena, mas não posso, pois devo partir agora mesmo para Rockden Rock den-M -Man anor or,, on onde de te tenh nho o que me enco encont ntrar rar co com m um dos dos me meus us an antitigo goss companheiros de Universidade. Mas voltarei por estes dias. Regressarei a este querido Falsdone-Hall, que é para mim m im mais do que a minha casa.  Apertou a mão de Rosa e voltou-se para Orieta:  Aprecio muito o bem que fez a sua companhia à minha jovem prima. Sinto-me Sinto -me feliz, e fico-l fico-lhe he muit muito o obrigad obrigado o e muito reconhec reconhecido ido por estas melhoras melhoras.. Sentirei também imenso prazer em saber que me considera como um amigo. Falando, estendeu a mão a Orieta, que lha apertou, agradecendo com certa reserva graciosa.  Muito bem, Humfrey!  disse Rosa.  Mas procure manter-se sempre digno da sua amizade, porque quando qu ando não gosto de alguém, já sabe!... sabe !...  E de quem é que não gosta?  interrogou ele, olhando com um sorriso para o bonito rosto, que se coloriu levemente.  De sua excelência, o marquês de Shesbury!  respondeu Rosa, com uma gargalhada.  Foi mau para ela.... há anos.... e nunca mais o esqueceu.  Compreendo.... sim, compreendo-a muito bem, menina Orieta... Há a história dum cão...  E uma outra ainda. Mas não tinha medo dele, apesar de pequena....

 

enfrentando sem temor esse orgulhoso Walter!...  Para enfrentar Walter, é preciso de fato coragem! É preciso não se arriscar hoje, suponho eu!... Felizmente não terá ocasião para isso e está sob a proteção da senhora Shesbury e de Rosa. Esta encolheu levemente os ombros.  A nossa proteção?... Que pode poderemos remos fazer, se Walter quiser ser mau para com Orieta?... Sabe bem que somos uns zeros aos olhos dele... Não vejo porém que tenha razões para chegar a esse ponto!...  Nem eu também, minha querida Rosa.  com estas palavras, Humfrey disse-lhes adeus. Orieta começou a empurrar o carrinho da sua companheira, que queria continuar contin uar o passei passeio o inter interrompid rompido o com a visit visita a ao pavilhão. Rosa disse, pensativa, depois dum instante de silêncio:  Parece que Rockden-Manor é uma morada triste e solitária. Compreendo que goste de estar aqui. Depois lá, tem a pobre mulher!...  Que mulher?  perguntou Orieta.  A esposa dele, mas que está louca.  Louca?  Sim, ficou louca, logo um ano após o casamento. Humfrey não quis interná-la num manicômio; conservou-a em Rockden-Manor, sempre vigiada pelos velhos criados, porque quer fugir, atirar-se a um tanque que está perto de casa... Há quinze anos que está assim. Louvam muito a conduta de Humfrey para com ela, tanto mais que, segundo parece, lhe deu grandes desgostos.  Pobre infeliz, que existência desgraçada!  murmurou Orieta. Orieta. Rosa fitou-a com um olhar surpreendido.  Sempre ouvi lastimar o marido, cuja vida se tornou para sempre infeliz.  Certamente é uma grande infelicidade, que o senhor Humfrey parece suportar com coragem!  Nunca se queixa, T Todavia odavia sabemos que sofre muito com essa situação... Deve ser terrível, com efeito, estar ligado a uma pobre demente toda a vida.  Sim, é na verdade terrível  murmurou Orieta.

 

Mas ela, cujo coração ardente e delicado sentia logo pena por todos os sofri sof rime ment ntos os,, ap apen enas as experi experime ment ntou ou um uma a pied piedade ade va vaga ga a re resp spei eito to do am amáv ável el Humfrey. Uma manhã, em Falsdone-Hall, correu a seguinte notícia: um telegrama veio prevenir prevenir o mordom mordomo o para mandar um carro à estação de Pelbam, à chegada do co comb mboi oio o da tar arde de,, a fim de es espe pera rarr po porr Walt alter e o se seu u co comp mpan anhe heir iro o inseparável, Herbert Nortley Nortley.. Este telegrama adiantara-se doze dias à data anunciada. Felizmente tudo estava pronto, ou pouco faltava. O pessoal já estava muito habituado, para se deix de ixar ar apan apanha harr de im impr provi oviso, so, em esp espec ecia iall pe pelo lo amo, amo, qu que e sa sabi biam am difí difíci cill de contentar e cheio de fantasias!... Só houve algum espanto para Pamela, que pensava ter ainda certo tempo, a fim de tentar decidir a filha a separar-se de Orieta.. Para dizer a verdade desespe Orieta desesperava-se rava-se de tal conseg conseguir uir,, porque via crescer dia a dia, e com íntima cólera, o que chamava o enlevo de Rosa para com a jovem estrangeira. Todavia, sabendo do regresso tão próximo de Shesbury, quis fazer uma última tentativa. Encontrou porém uma surpresa indignada na filha, que lhe exprobou a sua injustiça a respeito de Orieta.  Sim, é muito injusta  replicou, a um protesto de Pamela.  Porque pensa dar às filhas do conde Farnela a posição de criadas?  São elas que se dizem de família nobre, mas não tenho provas em apoio do que elas pretendem .... e o pai nunca esclareceu esse assunto.  Nota-se-lhes a origem muito bem, principalmente em Orieta. Depois, porque procura separar-me duma pessoa encantadora, encantadora, sobre todos os pontos de vista, e cuja companhia me tem sido tão agradável?... Devia, pelo contrário, serlhe reconhecida...  Reconhecida, eu?  disse Pamela num sobressalto de cólera.  Brincas comigo, Rosa!... As razões que te dei, para afastar daqui a pequena, são sérias.  Acredita na tua mãe e não sejas caprichosa.  Não é um capricho. Gosto da Orieta e não quero separar-me dela.  Então por uma estrangeira estrangeira que conheces só há uma semana, desprez desprezas as os conselhos da tua mãe que te quer desde o nascimento?  perguntou, com

 

violência, Pamela, cedendo à exasperação.  Se esses desejos fossem justos, talvez obedecesse  respondeu Rosa.  Mas sinto que detesta a Orieta... Porquê?... Porquê?... Pamela riu-se com esforço.  Detesto-a!... Onde foste buscar essa idéa?... Julgo-a falsa, intrigante, vaidosa...  Pois não tem nada disso! É simples, leal e muito altiva... Digo-lhe que a detesta, detest a, mãezinha, e é por esse motiv motivo o que lhe aponta todos esses defeitos, que ela não tem. Pamela, intimamente furiosa, teve que deixar a filha sem nada ter obtido. Quando ficou só, Rosa conservo conservou-se u-se por muito tempo pensati pensativa. va. Perguntava a si mesma, perplexa, o porquê dessa animosidade que sentia na mãe, a respeito de Orieta. Como, apesar da sua idade, era uma pessoa muito perspicaz, juiz precoce do caráter materno, concluía assim as suas reflexões: “A minha mãe não pode tolerar a Orieta, porque é muito bonita e muito nova”. Isto constituía, de fato, uma boa parte da razão dos sentimentos que Orieta Farnela inspirava àquela que via apagar-se-lhe a frescura, e devia recorrer aos artifícios para parecer ainda a bonita mulher doutros tempos. Pamela tinha muitas razões para querer afastar a estrangeira de Falsdon-Hal, mas a mais poderosa parecia ser a adivinhada pela filha. Orieta, ignorando essa inveja, esse quase ódio que lhe tinham, estava nesse dia preocupada com a notícia que Rosa lhe tinha dado: a chegada, nessa tarde, de Shesbury. A atmosfera de Falsdone-Hall parecia-lhe agora mais pesada, mais carregada. Fez tudo quanto pôde para reagir contra essa impressão, para afas afasta tarr a lemb lembra ranç nça a do seu seu ód ódio io de outr outror ora. a. De Depo pois is,, qu que e lhe lhe inte intere ress ssav ava a Shesbury? Shesbury ? Nada tinha que ver com ela, o grande senhor, que sua irmã descrevia como co mo um el eleg egant ante e co conq nqui uist stad ador or,, um egoí egoíst sta a con consu suma mado do.. Porqu Porquê, ê, en entã tão, o, o preocupar-se com a sua presença nessa casa, de que era ele o dono? No segundo dia, após a sua chegada, Walter foi cumprimentar Pamela aos seus aposentos. aposentos. Rosa esteve present presente e a visit visita. a. Quando voltou para o seu quarto quarto,, onde Orieta a esperava, disse, estendendo-se com cansaço numa cadeira:

 

 Querida, venha aqui para perto de mim. Acho-a ainda mais amável, depois de ter suportado a frieza zombeteira de Shesbury!  suspirou, ao dizer isto, e apertou a mão da sua companheira, enquanto continuou:  No entanto, se quisesse!... quises se!... Como deve saber encant encantar!... ar!... T Tem em uns olhos incrivelm incrivelmente ente bonitos e fascinantes, uns olhos que não se podem esquecer, logo que os vimos uma vez!... Mas, fita-nos com um ar de desprezo irônico, insuportável!  Apertando os lábios, Rosa ficou um instante calada. Depois prosseguiu:  Disse-me, entretanto, que me achava com melhor aspecto. Disse-lhe que devia estas melhoras à sua presença...  Ora! não é nada disso!  exclamou Orieta, com uma vivacidade que fez sorrir Rosa.  Enfim, nada receie, minha querida. Não teremos a honra de sermos inco incomo moda dada dass pe pela lass am amab abililid idad ades es de Sh Shes esbu bury ry!!  conc conclu luiu iu ela, ela, nu num m tom tom motejador, ao qual se misturava um certo pesar. De fato, nos dias que se seguiram, Orieta não teve ocasião de avistar, mesmo de longe, o senhor de Falsdone-Hall. Os aposentos de Pamela e da filha encontravam-se numa ala oposta à parte do castelo que Walter ocupava, e com a qual esses aposentos comunicavam pelo salão chinês e a galeria de mármore. Nos seus passeios, Rosa e a amiga tinham tido o cuidado de seguir pelas alamedas pouco frequentadas. Além disso Rosa informara-se dos hábitos do irmão, e arranjava-se para sair nas horas em que sabia que ele estava fora do castelo. Foi por isso que uma manhã disse a Orieta para ir pedir flores a um dos  jardineiros encarregados das estufas.  Shesbury deve a esta hora andar passeando a cavalo. Não deve haver perigo de o encontrar  acrescentou ela. Entretanto Orieta tomou por um dos atalhos menos frequentados para ir até à estufa indicada por Rosa. A frescura dessa manhã clara era agradabilíssima, e no regresso afrouxou o passo para respirar a gosto a brisa embalsamada pelos aromas arom as silvest silvestres. res. Cac Cachos hos de cabelo cabeloss voav voavamam-lhe lhe pel pelo o rost rosto o adm admira iravel velment mente e modelado, pela nuca delicada, parte a descoberto, devido à gola baixa de linho

 

bordado. O vestido de seda branca caía em pregas leves, em volta do corpo, o mais harmonioso que se podia imaginar. imaginar. Absorta Absorta,, relemb relembrando rando os dias passados desde o seu regresso a Falsdone Hall, começou a subir a encosta, em rampa suave, que permitia, por um caminho mais comprido, chegar ao castelo sem subir os degraus do terraço. Magníficos e centenários castanheiros, que nessa época começavam a enfeitar-se de folhas, sombreavam esse caminho, ao longo do qual, nos cotovelos formados pelas voltas, se erguia um vaso de mármore trabalhado, uma estátua, ou algum pequeno quiosque em e m estilo oriental. Quando ia a passar diante dum deles, levantou os olhos e estremeceu, deix de ixan ando do cai cairr as flflore oress que que se segur gurav ava, a, há já al algu guns ns in inst stan ante tess co com m ba bast stan ante te distração. No limiar do pequeno quiosque japonês estavam dois rapazes, um de estatura acima do médio e o outro mais baixo. Este, rápido, adiantou-se, tirando o chapéu:  Com licença! Baixou-se para erguer as flores. Num instante as juntou e entregou a Orieta, com um sorriso no rosto, duma tez fresca. Agradeceu e continuou o caminho sem ter levantado os olhos para o quiosque. Estava à porta, guardando um si silê lênci ncio o al altitivo vo aq aquel uele e de quem quem co conse nserva rvava va tã tão o má re recor corda dação ção.. Walte alterr Falsdone, o marquês de Shesbury. Esta aparição surgira numa curva da alameda, onde entrara sonhando. Durante o espaço dalguns segundos encontrara o olhar dele, de que se desviara com impaciência, com uma espécie de cólera, como quando vira o retrato da galeria. “Um olhar que detesto!” - pensou, irritada, apressando o passo para chegar ao castelo. Rosa, boa observadora, disse, logo que a avistou:  Que aconteceu, querida?... Por acaso encontrou Shesbury?  Encontrei, Rosa. Esta riu-se, achando-lhe graça.  Pouca sorte... E disse-lhe alguma coisa?  Não... porque apenas o avistei...

 

E contou o incidente em poucas palavras.  Era Herber Herbertt Nortley Nortley,, que estava com ele disse Rosa.  Meu pai tornou-o comp co mpanh anhei eiro ro de Wal alte terr, de desde sde a su sua a in infâ fânc ncia ia.. O se senh nhor or No Nort rtley ley,, pai, pai, é um pequeno proprietário do condado, de boa casa; mas lutando com dificuldades, pois tem numerosa família. Aceitou a oferta de Shesbury e deu-lhe um dos seus filhos: recebeu a mesma educação de Walter e terá o seu futuro pecuniário garantido, porque meu irmão deve ser generoso, como todos os Shesburys. Herbert tem um coração bondoso e amável. Está acima do normal, mas é um pouco sem iniciativa, devido ao poder absorvente do marquês. Os lábios de Orieta encontraram um quê de desdém, replicando:  Penso que podia evitar isso, com um pouco de altivez.  É sempre a mesma... Rosa olhou para a companheira com um sorriso pensativo.  ... Talvez, Talvez, com efeito, não se sujeitasse.... talvez...  Oh! com certeza que não!  disse Orieta com orgulhosa segurança.

 

VII Na tarde desse mesmo dia, Shirley, o mordomo, informou Pamela que Walter tomaria chá no salão chinês. Este aviso era o mesmo que dizer-lhe que lhe concedia a amabilidade, muito rara, quando Falsdone-Hall não tinha hóspedes, de a prevenir, para aí se encontrar, a fim de o receber. Ter-se-ia mostrado encantada, se não temesse que Rosa, cujos aposentos eram vizinhos do salão, não quisesse aparecer também.  ... com a sua Orieta!  acrescentou, dirigindo-se a Humfrey, desde a véspera instalado no castelo, nos aposentos que ocupava sempre, durante as temporadas que ali passava.  Não, não penso que Rosa tenha tanta pressa em voltar a ver o irmão  replicou Humfrey Humfrey..  Teme-o bastante, para se atrever a trazer-lhe uma companheira, sem ser convidada.  Sim, é possív possível... el... Mas sempre quero ver o que vai dizer, ao anunciaranunciar-lhe lhe que Walter virá ao salão chinês, esta tarde. Pamela ficou satisfeitíssima, ao ouvir a filha responder espontaneamente:  Muito bem, Se não me chamar  o que estou certa não fará!  tomarei tomarei o meu chá aqui, com todo o prazer, em companhia da Orieta. Em absoluto descansada, Pamela, com um vestido de veludo preto, que lhe ficava admiravelmente à tez loura, chegou um pouco antes das cinco horas ao salão chinês, onde logo depois apareceu também Humfrey. Tinham apenas tido tempo de trocar algumas palavras, quando entrou Shesbury, seguido de Nortley, Dois soberbos cães-polícia entraram ao mesmo tempo - eram os favoritos do fidalgo, que possuía os mais belos exemplares dessa raça. Se existia no mundo alguém com o privilégio de ser tratado cordialmente por Walter, esse não era em todo o caso Humfrey ey.. Desde a infânci cia a testemunhava-lhe a mesma delicadeza fria, que contrastava com a afabilidade amável do falecido Lord Cecil. Nunca entre eles houvera a menor desavença, a mais melindrosa discussão, sempre afastada pela benevolência, pela igualdade de

 

humor e a inalterável paciência de Humfrey. A tutela deste tinha sido tão breve quanto possível, e durante esse período Walter gozara da liberdade que podia ter deseja des ejado. do. Apó Apóss ess essa a missão, missão, Hum Humfrey frey afa afasto stou-se u-se discret discretame amente nte.. Dura Durante nte as temporadas, aliás curtas, que o seu pupilo passava em Falsdone-Hall, desde a maioridade, ocupava o seu aposento no castelo apenas durante um período curto, e quando aí se encontrava, mantinha uma atitude de amável discrição, que não parecia entretanto atrair-lhe as boas graças do seu parente.  Após algumas palavras trocadas com Pamela e Humfrey Humfrey,, Walter disse, de repente, dirigindo-se à madrasta:  Esta manhã avistei uma pequena, que me lembrou uma das italianas recolhidas por meu pai, a que se chamava Orieta e que tinha o aspecto dum pequeno demônio... Um rubor vivo subiu ao rosto de Pamela. Walter continuou na sua voz de entoações ao mesmo tempo harmoniosas e imperativas:  Deve ter mais ou menos a minha idade, parece-me !... A irmã e ela vivem aqui? Uma negativa veio aos lábios de Pamela... Era uma loucura!... Ele sabê-loia logo... Por isso respondeu:  Sim, há pouco tempo retirei-as do colégio co légio onde as mandei educar.  Receberam uma educação, penso eu?  Uma educação conforme a sua posição.  Que pretende por isso? Pamela estremeceu um pouco, sob o olhar inquiridor do enteado.  Nunca soubemos ao certo donde vieram...  Meu pai apresentou-no-las como filhas dum conde Farnela. Não temos que procurar razões para acreditar ou não. Antes de morrer recomendou-me que olha olhass sse e po porr essas ssas cr cria ianç nças as,, até até qu que e ch cheg egas asse sem m à idad idade e de se ca casa sarr, acrescentando: “É preciso que sejam bem educadas: pertencem a uma família de fidalgos, pelo lado materno e paterno”, Humfrey disse-me depois que a senhora se encarregara dessa educação...  Foi o que fiz, Walter!

 

 Mas de que modo? Pamela Pamel a quase baixou os olhos, sob aquele olhar volunt voluntarioso. arioso. Balbuc Balbuciou iou a custo:  Du Dum m modo modo ex exce cele lent nte, e, asseg assegur uro-l o-lhe he.. .... .. mas mas de deii-lh lhe e uma uma ed educa ucaçã ção o simples, visto que não têm fortuna... Pensei que deviam ganhar a vida...  Que fazem aqui?  Faustina ocupa-se duns bordados.... e Orieta é a companheira da Rosa, que se dedicou a ela... Walter sorriu, com ar frio e zombeteiro.  A companheira da Rosa?... É o que se chama uma situação agradável, dado o caráter encantador que conheço da minha irmã!  Pois engana-se, Walter. Entendem-se maravilhosamente... Quanto ao caráter.... tive as piores informações a respeito da Orieta, dadas pelas professoras do colégio Burley Burle y... É orgulhosa, colérica, insuportável...  O pequeno demônio de outrora!  disse ironicamente Walter.  Foi essa a razão por que julguei preferível, para vencer essa natureza irrequieta, dar-lhe uma educação modesta...  E viver perto da Rosa para acabar a cura moral.... não? Qual tem sido o resultado dessas combinações?... A Rosa Rosa está a caminho de se tornar angélica?...  Não é bem assim! Todavia a Rosa entende-se bem com ela, e embora o seu caráter me desagrade, deixo-a estar perto dela... Um lampejo sarcástico perpassou pelo olhar de Shesbury.  A Rosa não se incomoda com o que possa acontecer, em resultado da comparação da sua beleza com a da companheira? Pelo tom da voz de Walter, Pamela compreendeu que a sua inveja feminina tinha sido adivinhada pelo impiedoso observador. Balbuciou a custo:  Não, a sua irmã é muito criança ainda, Walter. Depois, são caprichos que passam em geral depressa.  E a outra.... a Faustina, como é?  Bonita, mas outro caráter.  Tin inha ha uns uns olho olhoss extr extrao aordi rdiná nári rios, os, es essa sa pe pequ quena ena Or Orie ieta ta  ob obser servo vou u

 

Shes Sh esbur buryy, af afund undan andodo-se se co como moda damen mente te na polt poltro rona na to torne rnead ada, a, on onde de esta estava va sentado.  Era uma petulante, que tive de castigar como merecia.  Parece que nada esqueceu do acontecido, e não o estima muito!  disse Humfrey,, sor Humfrey sorrindo. rindo.  Ah! deveras!? Havia um quê de desdém motejador na voz de Shesbury.  No fu fund ndo, o, o se seu u car carát áter er mant mantev eve-s e-se. e... .. det detest estáv ável el  diss disse e Pa Pame mela la,, abanando a cabeça.  É preciso que essa pequena, devido à sua situação de dependência, contenha um pouco o seu orgulho e a sua violência.  Evidentemente. Depois de proferir esta palavra ficou calado durante um instante, batendo com a mão num dos braços da autêntica poltrona chinesa, proveniente dalgum suntuoso palácio do Extremo Oriente, como os maravilhosos vasos esmaltados, os móve móveis is de la laquê quê com in incr crust ustaç ações ões de pra prata ta e mad madre repé pérol rola, a, os quei queima ma-perfumes de bronze, o tapete de lã amarela, onde os dragões se perseguiam, a seda branca, semeada de lotus rosados, estendida pelas paredes. Este salão, devido a uma fantasia do bisavô de Lord Cecil, era uma das curiosidades de Falsdone-Hall e uma das salas que Walter preferia desde a sua infância.  Porque é que a Rosa, que pode agora andar, não veio tomar o chá na nossa companhia? Pame Pa mela la co cont nteve eve a cus custo to um es estr trem emec ecim imen ento to,, an ante te esta esta pergu pergunt nta a do enteado.  Não sabia se ficaria satisfeito...  Como?... O mais natural, pelo contrário, é que estives estivesse se aqui... Há nisso com certeza algum capricho seu!... Porém só desejo que eles acabem... Levantou-se, falando, e dirigiu-se para a porta que dava comunicação do salão chinês para os aposentos da Rosa. Num gesto brusco abriu a porta e entrou na sala sala,, clar clara a e aleg alegre re,, on onde de Or Orie ieta ta fala falava va,, lend lendo o qua qualq lque uerr cois coisa a à sua sua companheira.  Ambas se sobressaltaram a esta aparição. Rosa. erguendo-se um pouco na

 

poltrona, balbuciou:  Oh, Walter!  Sim, minha querida, venho convidar-te para te reunires a nós.... bem como a menina Farnela. Saudou Orieta com um gesto de orgulho, a qual se levantou, escondendo a sua desagradável comoção, sob um ar de altivez um pouco rude.  Se assim o queres...  murmurou Rosa.  Quero que tomes o chá na nossa companhia. A não ser que isso seja para ti um demasiado sacrifício!  disse zombeteiramente zombe teiramente Shesbury.  De modo nenhum... Se assim o queres... om estas palavras Rosa levantou-se, tomou o braço de Orieta e seguiu o irmão até à sala vizinha. Nortley apressou-se a oferecer-lhe uma poltrona, e Humfrey pôs-lhe uma almofada debaixo dos pés.  Quer dar-nos o prazer de servir o chá, menina Farnela  disse Shesbur Shesburyy. Pela porta de comunicação, que ficara aberta, entrou o cãozito de Rosa. Como se aproximasse de Walter, este, impaciente, afastou-o com o pé e virou-se para a irmã.  Já sabes, Rosa, que tenho horror a este gênero de animais. Toma cuidado com ele, para que nunca o encontre no meu caminho.  Peço-te desculpa. Não o tinha visto...  disse ela, toda receosa.  Orieta, quer levar o Fífi para o meu quarto? Orieta Orie ta ad adia iant ntou ou-se -se e ba baixo ixou-s u-se e para para aga agarra rrarr o an anim imal al,, co com m as mãos mãos bastante nervosas. Lembrou-se da penosa cena doutros tempos, entre ela e Walter. Endireitando-se, encontrou um olhar motejador, que lhe fez supor que Shesbury, nesse minuto, evocava a mesma idéia - com uma troça desprezível. Subiu-lhe um vivo rubor ao rosto, e um lampejo de altiva indignação lhe passou pelo escuro azul dos olhos. Depois, voltando-se voltando-se com uma vivacidad vivacidade e fora da boa etiqueta, dirigiu-se para o salão vizinho, do qual fechou a porta, depois de ter prendido o cão. Quando voltou à mesa de chá, Shesbury perguntou à irmã:  Que te estava lendo a menina Farnela?

 

 O Avaro, de Moliére.  Sabe francês?  Francês e italiano, sim... Aprendo com ela essa língua, e com todo o interesse.  Esperemos que não deixes esse estudo estudo,, como sempre tens feit feito, o, depois da partida da senhora Morton  disse Pamela, que dissimulava com esforço um grande nervosismo desde a entrada de Orieta.  Se não me tirarem Orieta, não deixo!... com ela aprenderei tudo o que quiserem.  Que boa disposição!  disse, irônico, Walter.  Que segredo possui a menina Farnela para obter tais resultados?  É boa e encantadora como ninguém, é o que é!  replicou Rosa com vivacidade.  Nunca se zangam? Não deve ser fácil, pois não, minha querida?... Suponho que só um caráter seráfico pode viver com minha irmã... Sob os dedos trêmulos de Orieta, as delicadas porcelanas da China, que compunham o serviço de chá, nesse dia, entrechocaram-se levemente, com que tom sarcástico e desdenhoso foi feita aquela desagradável reflexão!... Rosa tinha corado. Respondeu, contendo uma comoção penosa, que a companheira sentiu no leve tremor da voz:  Orieta não é nenhuma seráfica.... mas o seu encanto é muito maior do que isso... Enfim, tal como é, gosto dela, esta é que é verdade! v erdade!  Ficarei satisfeito, Rosa, se essa amizade for favorável à tua saúde. Depois, com grande alívio de Orieta, a conversa mudou de assunto, ante uma pergunta feita a Humfrey, por Shesbury. Ela serviu o chá, com a mesma graça reservada e a mesma aparente facilidade, como se estivesse no salão de Rosa Ro sa,, lo longe nge du duma ma pe pesso ssoa a cu cuja ja pr prese esenç nça a lh lhe e era de desa sagra gradáv dável el.. Sh Shesb esbury ury,, conve co nvers rsan ando do,, se segu guia ia co com m ar di dive vert rtid ido o as im impre pressõ ssões es qu que e a ma madra drast sta a nã não o conseguia consegu ia dissimular por completo. completo. Os mais sombrios olhares da fidal fidalga ga senhora dirigi dir igiamam-se se para para a jov jovem em est estrang rangeira eira,, muito muito simple simplesme smente nte vest vestida ida,, mas cuj cuja a admirável beleza podia sustentar todas as comparações.

 

 A tarefa terminada, Orieta sentou-se numa poltrona, que Shesbury Shesbur y, com um gesto cortês, lhe designou, entre Rosa e Herbert Nortley. A conversa sobre a viagem ao Turqaestão, a qual tinha precedido a temporada passada por Walter na Índia, tornou-se mais animada, nesse instante. O fidalgo, a pedido de Hunfrey, contou diversas peripécias pitorescas que lhe sucederam e descreveu os usos e costumes dos índios. As harmoniosas sonoridades da sua voz davam um encanto superior à narrativa, por si mesma singularmente viva, colorida e original. Apesar de todas as reservas de Orieta, a respeito do nobre narrador, escutou-o com o mais profundo interesse, esquecendo por momentos a sua antipatia. Enquanto o ouvia, pensou, como se estivesse sonhando: “É verdade o que disse a Rosa. Tem uns olhos admiráveis!...” Olhos escuros e brilhantes, onde fulguravam centelhas de ouro e que continham uma vida ardente, voluntariosa e dominadora.... que se iluminavam por vezes dum sorriso, entreabrindo-se nos lábios motejadores, e, mais raramente, dulcificavam dulcif icavam-se -se com uma luz acarici acariciadora adora e aveluda aveludada. da. Olhar duma sedução rara e irresistível, Orieta sentia que lhe prendia o seu, durante alguns segundos, e a deixava ansiosa, à espera do momento em que o encontraria de novo. Teve a impressão de sair dum sonho quando Shesbury, interrompendo a sua narrativa, disse a Nortley!  Muito bem, meu caro, não tínhamos combinado dar um passeio antes do  jantar... É tempo de pensar nisso, não? Quando se despediu da madrasta, da irmã e de Humfrey, Shesbury voltouse para Orieta:  Preciso ter uma conversa com a sua irmã e a senhora. Desejo Desejo que a sua situação seja fixada de acordo com os desejos de meu pai. Inclinou-se e afastou-se, sem esperar um agradecimento, que não ouviria, porque não podia sair dos lábios de Orieta.  Então, meu caro Nortley, Nortley, o que dizes dizes? ? Segui Se guind ndo o pe pela la ga gale leria ria de má mármo rmore re,, pa para ra ch cheg egar ar ao aoss se seus us ap apos osent entos os,, Shesbury dava palmadas amigas no ombro do companheiro.  A minha graciosa madrasta tem razões para invejar a pequena!

 

 Cem razões... A menina Farnela é decididamente uma maravilha.  Muito notável..., e muito da sua raça... Revi naqueles olhos alguma coisa que me lembra o pequeno demônio de outrora. Seria talvez divertido excitar aquele jovem orgulho! Tem Tem uns olhos duma beleza nata: e cuja expressão revela uma alma ardente, muito altiva e pronta para o combate... uma alma contra a qual se deve sentir prazer em lutar.

 

VIII No fim da manhã do dia seguinte, Walter, tendo mudado de roupa, após o seu passeio a cavalo com Nortley, entrou num dos salões que faziam parte dos seus aposentos particulares. Este ocupava a ala Renascença, que dava, dum lado, sobre a entrada dos dias de festa, e do outro para um jardim traçado conforme o gosto do século XVI. Os móveis e os adornos do aposento datavam da mesma época, e a sua suntuosidade requintada e o seu gosto delicado revelaram quão grande artista e faustoso senhor tinha sido o marquês de Shesbury que os havia encomendado.  A sala sala onde Walter entrara - a sala das Quimeras - dava para o vestíbulo de honra. O fidalgo preferia, por estar mais a seu gosto, uma outra sala que abria sobre o jardim, a chamada sala dos Cisnes. Essa manhã teve uma razão para ir para a outra: o cumprimento duma vontade do pai, que em consequência das suas constantes ausências, não pudera ainda ser executada. Ceci Ce cill titinh nha a mo morri rrido do qu quas ase e su subi bita tame ment nte. e. No ent entant anto o titive vera ra te temp mpo o para para recomendar ao filho! “Mais tarde trata dessas pequenas.... e nunca te esqueças do que te mostrei...”  Alguns meses antes da morte chamara Walter àquela mesma sala onde se encontrava encont rava então, e abrira, diante dele, uma secretária de madei madeira ra precios preciosa, a, com incrustações de prata e marfim, mar fim, obra prima dum artista florentino do século XVI.  Isto é um segredo, Walter. Coloquei aqui um envelope selado, que te peço para só abrires quando tiveres vinte e cinco anos, se eu morrer antes de teres chegado a essa idade.  A sua vontade será cumprida, meu pai  respondera Walter. Cecil entregara-lhe a chave do móvel, e desde então nunca mais dissera uma palavra a tal respeito. O filho apenas abrira o móvel italiano uma vez, dois dias depois da morte do pai, para guardar na parte secreta um pequeno retrato de mulher, encontrado na carteira que o falecido trazia com ele. Depois, durante muito tempo, não pensara nesse misterioso envelope, que ali aguardara os seus vinte e cinco anos. Já os tinha feit feito o durante a sua estada na Índia, e desde então

 

tinha passado um ano. O olhar de Orieta lembrara-lhe a dupla promessa feita ao pai. Até aí tinha pouco a pouco esquecido da lembrança as duas pequenas, que quase tinha a certeza eram nascidas dalguma união irregular do pai. Antes do seu casamento com Pamela. O nome de Farnela devia ser da mãe, e o pretenso D.  Alberto, provavelmente nunca existira. “vou sem dúvida sabê-lo deste envelope” -pensou Walter, ao abrir o segredo. Pegou no envelope e no retrato. Este mostrava uma jovem de quem Walter poderia dizer não conhecer igual em beleza, se não tivesse visto na véspera Orieta.  É parecida  murmurou ele.  Que coincidência!... Há porém no olhar de Orieta mais força de vontade, mais ardor, e uma vida mais profunda e mais intensa... Colocou o retrato no interior do móvel e, sentando-se a uma mesa próxima, rebentou o lacre com as largas armas dos Shesburys. O envelope continha umas folhas escritas pelo falecido Cecil e outras onde Walter viu uma letra estranha. Lançou um olhar para a assinatura: D. Alberto Farnela. “Existiu na verdade!”  pensou ele. “Será de fato o pai dessas crianças?” Pôss de la Pô lado do essa essa ca cart rta, a, es escr critita a em itital alia iano no,, e co começ meçou ou a le leititura ura da comunicação escrita pelo pai. “Quis, meu filho, que já tivesses a experiência da vida, antes de te fazer conhe co nhece cerr um pe perí ríod odo o da mi minh nha a exi exist stên ênci cia, a, qu que e pesa pesa atro atrozm zmen ente te na mi minh nha a consciência. Poderás conhecer, por ti próprio, o quanto o homem é fraco diante dass pa da paix ixõe õess de dest ste e mu mund ndo, o, e nã não o de deve verá ráss cond conden enar ar faci facilm lmen ente te qu quem em se reconhecer culpado perante Deus. “Tinha trinta anos e não era ainda marquês, quando, no decorrer duma viagem pela Itália, fui vítima duma agressão, ao regressar dum passeio, não longe duma pequena cidade umbriana, Peruzia, Peruzia, onde me instalara por alguns dias com dois criados. criados. Os bandid bandidos os deixaram-m deixaram-me e por morto junt junto o a um muro que cercava a pequena propriedade dum italiano, D. César Darieli. Algumas horas mais tarde, uma um a cria criada da,, ao ir às comp compra ras, s, en enco cont ntro rouu-me me e corr correu eu a pr proc ocur urar ar au auxí xílilio. o.

 

Transportaram-me para a vila Darieli, onde D. Beatriz, a neta do dono da casa, fez de minha enfermeira. “Tinha vinte anos e era admiravelmente bonita, duma beleza sedutora, altiva altiva e mag magníf nífica ica.. D. Cés César ar,, vel velho ho meio meio got gotoso oso,, ent entrega regara-l ra-lhe he a dir direção eção da propriedade, sua única fonte de receita. Unindo a energia a uma rara inteligênci propriedade, inteligência, a, tratava, juntamente com essa tarefa, dos cuidados da casa e da cultura do seu espírito. Desde os primeiros dias fiquei enamorado e ela também me amou. “Até aí todas as conquistas me tinham sido fáceis. Neste caso percebi logo que Beatriz Darieli seria intransigente quanto à questão de honra, e que tinha força de vontade bastante para morrer, antes de ceder a uma paixão culposa. “Então, quando chegaram os dias da minha convalescença, falei-lhe em casa casame ment nto o - esqu esquec ecen endo do-m -me e do qu que e diri diria a me meu u pa pai,i, qu que, e, acha achand ndo o qu que e os Falsdones abusavam das alianças estrangeiras, me tinha feito prometer de que não voltaria a casar se não com uma inglesa. “Esqueci tudo, perto de Beatriz. Tornámo-nos noivos - mas no dia seguinte vi pela primeira vez sua prima Bianca, ausente até então. “Bianca Darieli era prima de D. César, vivia em Peruzia, com a mãe, senhora viúva e com pouca fortuna. Parecia-se Parecia-se com Beatriz e era também bonita, mas muito diferente. O seu andar tinha menos majestade, mas tinha um quê de requintada elegância; a graça dos seus gestos e dos seus movimentos, e a infinita doçura ardente ardente do seu olhar fazia esquecer que os seus lindos olhos escuros não reflectiam a profunda inteligência. a alma ardente que se descobria nos de Beatriz, Numa Num a pal palavra avra,, Bea Beatri trizz subjug subjugava ava e cau causava sava adm admiraç iração; ão; Bia Bianca nca encant encantava ava e enfeitiçava. “De Desd sde e qu que e so sou u hom omem em,, fui fui se semp mpre re cita citado do co como mo um mod odel elo o de inconstância, em matéria de amor. E esse julgamento é verdadeiro. Eu, que sobre qualquer outro assunto não faltaria a uma promessa - não tinha escrúpulos em trair a confiança duma mulher. Assim que vi Bianca, fiquei louco, e só pensei em me desligar dos laços contraídos com a prima. “Quase por completo curado das minhas feridas, fui viver para o único hotel de Feruzia. Todos os dias fazia por me encontrar com Bianca, quando saía com a

 

criada, ou então ia visitar a mãe, senhora amável, boa e sem preconceitos. Por outr ou tro o la lado do co cont ntin inua uava va a fa fazer zer a co cort rte e a Be Beat atri riz, z, po porq rque ue as ru rutu turas ras br brus uscas cas desgostavam-me. Queria que, pouco a pouco, ela compreendesse a mudança que se produzira em mim. “Era um espírito pouco subtil e ao mesmo tempo bastante amorosa para não perceber depressa que não só me desligava dela, mas também que sua prima me amava. “Não houve entre nós nenhuma cena violenta. Um dia disse-me, fitando-me de tal forma, que os seus olhos me pareceram mais escuros, no rosto um pouco emagrecido: “ Shesbury, suponho que o seu coração já não é meu! “ Beatriz, perdoe-me  exclamei eu.  Mas conservarei a minha palavra, se assim o exigir. “ Exigir?... “Olhou-me com uma altivez cheia de desprezo. “ ...Não, não exigirei nada. Pode fazer o seu juramento a minha prima, pois está livre. “E deixou-me. No dia seguinte fui comunicar esta notícia a D. Paula Darieli e à filha, explicando-lhe os recíprocos sentimentos existentes. Depois, alguns dias mais tarde, pedi a mão de Bianca e ficamos noivos.  Até eu aparecer na sua vida, as duas primas tinham uma pela outra um grande afeto. Porém, logo que me conheceu, Bianca tornou-se deveras invejosa de Beatriz, e após o nosso noivado espaçou as suas relações com a prima, ajudada aliás pela própria Beatriz. Quanto a mim, não voltei a ver mais esta última. Pouco antes de celebrado o meu casamento com Bianca, soube que estava noiva dum primo, o conde Alberto Farnela, do qual recusara o pedido havia já um ano. Reflet Ref leti:i: “T “Tant anto o mel melhor hor,, con consol solou-s ou-se e depressa depressa”. ”. E não pen pensei sei mai maiss nela, nela, todo todo entregue à paixão inspirada por Bianca. “Fom “F omos os pa pass ssar ar à Si Sicí cílilia a a noss nossa a lua lua de me mel.l. Nã Não o pa part rtic icip ipei ei o meu meu casamento, nem a meu pai, nem a nenhum parente ou amigo. ‘Sempre será tempo” - repetia a mim mesmo – ‘para desafiar o descontentamento paterno. Que

 

ao me meno noss nenhu nenhuma ma nu nuve vem m venha venha pe pert rturb urbar ar a mi minh nha a fe felilici cidad dade e duran durante te uns uns meses... “Bianca “Bian ca amava-me amava-me louca loucamente. mente. Mostrava-se muito ciumen ciumenta, ta, e repeti repetia-me a-me que morreria no dia em que soubesse que o meu coração não lhe pertencia. Nos primeiros meses achei isso delicioso; mas logo o terrível desapego começou. Senti em mim que o amor fugia, para dar lugar ao desgosto, à indiferença e à infidelidade. “Perceb “Pe rcebend endo o iss isso, o, quei queixouxou-se se pri primei meiro ro mansam mansament ente, e, mas depois depois com vivacidade. Além disso a sua saúde, que se alterara um pouco há já algum tempo, tornara-a nervosa, quase violenta. Replicava-lhe dum modo irritante, por vezes causticante, conforme a minha disposição de espírito. Uma tarde, em que tinha estado a namorar longamente uma artista do teatro de Palermo, Palermo, houve uma cena tal que no dia seguinte Bianca deixou-me, para voltar para junto da mãe. “Fui miserável, pois senti com isso uma viva satisfação. Nesse momento outra paixão me preocupara. Quando me cansei, regressei a Inglaterra. Minha mulher não deu sinais de vida, e embora o remorso me viesse de vez em quando visitar, não procurei, por orgulho, saber o que lhe acontecera. “Meu pai continuou a ignorar este meu segundo casamento. Animava-me a contrair nova união, não desesperando de me convencer. Eu fugia porém aos seus pedidos. A lembrança de Bianca assaltava-me mais a miúdo - a lembrança do seu amor ciumento, mas ardente, pronto a todas as dedicações. Por fim recebi um dia uma carta de D. Paula Darieli. Por baixo do seu nome, numa escrita trêmula, vinha: “Bianca morreu. Foi o senhor que a matou!... Seja maldito!... “Senti então um sofrimento doloroso, e desde esse momento a dor do remorso tortura-me muitas vezes, ao mesmo tempo que a mágoa da felicidade, tão miseravelmente afastada por mim. “Cas “C asei ei-m -me e logo logo de depo pois is,, e os an anos os pa pass ssar aram am,, até até ao dia dia em qu que e me trouxeram essas pequenas, as quais me entregaram uma carta do conde Farnela. Encontrá-la-ás no mesmo envelope. Peço-te que a leias antes de continuares a ler o que tenho ainda a dizer-te.

 

IX Com o sobrecenho carregado e as feições um pouco alteradas, Walter mostrava o interesse que lhe despertara essa leitura e a comoção desagradável caus causad ada a pe pela la conf confis issã são o de Ce Ceci cil.l. Nã Não o qu que e nã não o conh conhec eces esse se a exis existê tênc ncia ia desordenada, levada pelo pai; porém, este abandono total duma jovem, culpada apenas pelo seu muito amor, e acontecendo após a rutura do noivado com a Beat Be atri riz, z, fe feri rira ram m algu alguma mass fifibr bras as da co cons nsci ciên ênci cia a de Walte alterr, sem dú dúvi vida da ma mais is sensível, sobre certos pontos, que o pai. Pegando na carta de Farnela, começou a ler: “Senhor  “Nunca se preocupou com a sua infeliz mulher. Soube pelo menos que morreu?... Nem isso, se calhar!... Não ignora como deixou o mundo?... Dando à luz uma menina.... a que deu o nome de Faustina Maria Falsdone, filha de Cecil Falsdone e de Bianca Darieli. “Quando voltou da Sicília a Feruzia, esgotada de corpo e alma, Beatriz perdoou-lhe e voltou a estimá-la, sabendo que o mais culpado era o senhor, o fatal sedutor. Tempos passados, quando viu a morte próxima, mandou logo a pequena Faustina para casa de minha mulher, que há dez dias era também mãe duma pequena; Beatriz estava atacada por uma perniciosa epidemia que reinava na região e matava adultos, velhos e crianças. Para tentar salvar as recém-nascidas, confiei-as à minha irmã colaça, Angiola, que vivia na aldeia de Faletti. Esta mulher abandonada ainda há pouco pelo marido, acabara de perder um menino dalgumas semanas. Era muito honesta, delicada, mas pouco inteligente e duma surdez comp co mple leta ta.. Co Como mo nã não o sa sabi bia a le lerr, titive ve qu que e lh lhe e da darr as exp explilicaç caçõe õess po porr gest gestos. os. Pareceu Par eceu-me -me ter com compree preendi ndido do e ass assegu egurourou-me me que as cri crianç anças as seri seriam am bem tratadas. Partiu, levando-as. “Beatriz morreu alguns dias depois. Deixei passar mais de dois meses antes de ir a Faletti, porque tinha numerosos assuntos a tratar. Entre outros, prec preciise seii me mete terr D. Paul Paula a nu numa ma casa casa de ali alien enad ados os.. A po pobr bre e se senh nhor ora, a, já desesperada, não vendo Bianca voltar, voltar, não pôde suportar a tristeza da sua morte.

 

“Quando entrei em casa de Angiola, encontrei-a com o rosto aflito, Explicoume logo o motivo. Não podia distinguir qual das duas crianças era minha filha, porque se pareciam muitíssimo. “Entregaram-mas com tanta pressa, senhor, que não prestei muita atenção, nesse momento. Depois, ao chegar aqui, tirei-lhes a roupinha para lhes dar banho.... e não soube mais quais dos vestidos eram duma ou doutra. “ Mas têm talvez alguma coisa de particular? ou sinal qualquer?... “ Uma delas tem, sob o braço esquerdo, um pequeno círculo vermelho. “Então alguém deve ter notado isso. Vou pedir informações em Feruzia. “Por “P orém ém a en enfe ferm rmei eira ra que que esta estava va junt junto o de Be Beat atri riz, z, por por ocas ocasiã ião o do nasci na scime ment nto o da cr cria ianç nça a e qu que e titinh nha a tr trat atado ado de dest sta, a, fo fora ra um uma a das das ví vítitima mass da epidemia. Quanto a Bianca, só a mãe tinha assistido, visto Faustina ter vindo ao mundo prematuramente prematuramente.. Depois a crianç criança a foi levada quase logo para minha casa e confiada a toda a pressa a Angiola. “D. Paula talvez tivesse podido notar um indício capaz de nos ilucidar, mas está louca. Às minhas perguntas, responde invariavelmente: ‘ Não tenho neta. Tinha uma filha que me mataram. “Deste modo, incapaz de reconhecer qual das duas crianças era a minha, a vida tornou-se-me um calvário, sentindo ódio pelo senhor e detestando a criança de quem era pai. “Porquê, este ódio?.... perguntará, sem dúvida!... Ter casado com a mulher que amava desde a adolescência, só porque o senhor teve a audácia de a despr de sprez ezar ar.. Volto oltou-s u-se e par para a mi mim m num num movi movime ment nto o de or orgu gulh lho, o, ap após ós te terr si sido do abandonada... Possuí de fato aquela por quem teria dado a minha vida; mas o seu coraç cor ação ão nu nunc nca a me pe pert rten enceu ceu.. Du Dura rant nte e a no noss ssa a cu curt rta a un uniã ião o foi foi um uma a esp espos osa a bondosa bon dosa,, ded dedica icada da e irr irrepre epreens ensível ível... ..... na apa aparên rência cia,, porque porque no mom moment ento o de morrer morr er,, dep depois ois de ter rece recebid bido o os sac sacrame ramento ntos, s, conf confesso essou-m u-me, e, pedind pedindo-m o-me e perdão, que nunca tinha deixado de o amar, que nunca tinha tido a coragem de afastar essa infidelidade do seu pensamento. Tinha adivinhado. Sofri com essa confissão confis são atrozmen atrozmente, te, eu que a tinha amado - estou certo disso! - como o senhor não é capaz de amar!... Perdoei-lhe a ela, mas ao senhor nunca deixei de o odiar.

 

Quando fui a casa de Angiola ver as pequenas, fiquei amargurado e triste. Fitei-as, procurando descobrir numa delas uma semelhança comigo ou com alguém da minha família!.... mas nada, nada... Têm hoje sete anos. Orieta tem alguma coisa da natureza ardente e voluntariosa voluntariosa de Beatr Beatriz iz e da graça encantadora encantadora de Bianca. Bianca. Faustina é apenas um seu reflexo. PareceFaustina Parece-se se com a mãe de Bianca, que também era uma Darieli. Não há pois nenhum indício ainda por esse lado. “Lutei durante anos contra esta pouca sorte, e hoje estou quase sem recursos e não posso sustentar as pequenas. Angiola acaba de morrer e não sei a quem confiá-las. D. Paula perdeu uma parte da sua pequena fortuna e o que lhe resta para viver é apenas o suficiente para pagar a pensão da modesta casa de saúde. Vou partir para a América do Sul em procura duma melhor situação. Mando-lhe as crianças, das quais uma é sua legítima filha. Quanto a mim, não procurei estimá-las, nem o quis, pela razão atrás explicada. Além disso o meu coração tornou-se duro e a minha alma empedernida. Orieta e Faustina são-me indiferentes, e é-me cada vez, mais penoso vê-las, principalmente a primeira, que me lembra tanto Beatriz, em certos momentos! “Bianca, como o seu advogado lhe deve ter dito, nunca quis aceitar a pensão que lhe foi oferecida, após a separação. “Nunca falou de si, salvo alguns momentos antes de morrer, em que me disse: ‘ Amei-o Amei-o muito. Que Deus me perdoe e a ele também. Porém matou-me. “Como não manifestasse o desejo de que o informasse do nascimento da criança, nada então lhe dissemos a tal respeito. “D, Paula .dizia: ‘ Esse homem não pode deixar de ser um mau pai... “A necessidade, no entanto, obriga-me a dizer-lhe que na igreja de Feruzia encont enc ontram ram-se -se doc documen umentos tos que est estabe abelec lecem em a sua patern paternida idade. de. Uma des dessas sas crianças é sua filha e a outra parenta, por parte de sua falecida esposa - ambas fílhas de vítimas suas. Se ainda lhe restar um tênue resquício de consciência, tomará

como

ponto

convenientemente.

de

honra

recebê-las

bem

e

mandá-las

educar

 

“Ao acaso recebeu uma o nome de Orieta e a outra foi chamada Faustina, uma vez que não lhes podia, atribuir, a cada uma, o seu verdadeiro nome. “Dentro de dois dias partirei para o meu exílio. Talvez, com o decorrer dos anos, possa encontrar algum sossego. Por agora não posso senão amaldiçoar aquele que me roubou o magnífico amor de Beatriz, para o espezinhar, e em seguida abandonar sem piedade. “Alberto Farnela.” Walter pousou as folhas que acabara de ler sobre um pequeno móvel, junto de si, e amparou o rosto na mão espalmada. Murmurou depois: “Será possível? Que estranha situação!... De modo que uma destas pequenas vem a ser minha irmã?... E não poss osso saber qual delas! s!.... Estou ante uma situaç açã ão verdade verd adeira iramen mente te extraor extraordin dinári ária! a! Das pes pessoas soas que cui cuidar daram am das criança crianças, s, ao nascer, uma está morta e a outra louca. Como poderei esclarecer este assunto?... É um problema insolúvel.” - concluiu Walter consigo mesmo, para em seguida retomar a leitura da confissão paterna. “Duvidas, meu caro Walter, das torturas por que passou a minha alma, já amargurada pelo remorso, com as merecidas censuras de D. Alberto? Bianca morreu devido à minha infidelidade e ao meu desprezo, e Beatriz também morreu com o coração deveras ferido, com a chaga torturante do seu grande amor abandonado, depois de ter sido ardentemente solicitado. Além disso, a mãe duma delas, que a dor enlouqueceu, amaldiçoa-me todos os dias; o marido da outra odeia-me, pelas dolorosas recordações que de mim guardava a esposa; e para meu maior desespero, diante diante das duas crianças mandadas pelo conde Farnela, é impossível reconhecer a minha filha! “Resolvi, para a ocasião, fazê-las passar como filhas do conde Farnela, até que, com o tempo, me fosse dado obter informes em Feruzia e em Faletti, o que fiz, com efeito, por intermédio dum homem hábil neste gênero de pesquisas. Os seus esforços foram baldados. D. Alberto tinha dito a verdade, quando afirmou não exist exi stir ir qu quem em pude pudess sse e id ident entifific icar ar as pe pequ quena enas. s. D. Pa Paul ula a co cont ntin inuav uava a semp sempre re mergulhada na sua loucura. A única esperança era o seu restabelecimento, aliás pouco provável, segundo o que diziam da casa de saúde. Mas mesmo verificada

 

esta hipótese e dado que a pobre senhora tivesse notado qualquer particularidade nas recém-nascidas, seria possível que ainda se lembrasse dela, depois de tão prolongada ausência de inteligência? “Ante tal situação resolvi nada revelar a respeito do laço que me ligava a uma dessas crianças, visto me achar na impossibilidade de a designar. Relato-te os fatos relativos ao meu primeiro casamento e à estranha posição de Orieta e de Faustina, para que mais tarde tomes conhecimento disso, caso eu venha a morrer antes de atingires a maioridade e para que cuides do futuro delas. Até lá, Humfrey, conforme o que já lhe pedi, tomará a si o encargo de ordenar que lhes seja dada uma educação em harmonia com a condição de filhas dum Farnela e dum Darieli, duas du as vel velha hass fa famí mílilias as flflor oren entitina nas, s, quas quase e tã tão o no nobre bress co como mo a no nossa ssa,, em embor bora a decaídas no que respeita a fortuna. “S “Se, e, to todav davia ia,, ju julg lgar ares es me melh lhor or e para para be bem m de dela las, s, rev revel elar areses-lh lhe e to toda da a verdad ver dade, e, pro proce cede derás rás co conf nfor orme me as circ circun unst stân ânci cias. as. Nã Não o te im impon ponho ho se segre gredo, do, sabendo que agirás do modo mais conveniente à memória do pai que confia em ti e que te entrega o futuro duma tua irmã. T Tira ira lições dos meus erros e das minha minhass faltas, meu caro Walter. Não cometas outras iguais, porque mais tarde pesarão duramente sobre a tua alma. Serás um dominador; toma porém cuidado em não semearess o sofrim semeare sofrimento ento e a dor à tua volta. Faz bom uso do teu poder; sê o amigo e o fiel protetor da mulher que elegeres para tua esposa. Não faças dela uma vítima dos teus caprichos. Em resumo, meu filho querido, quer ido, não me imites nunca. “Isto foi escrito em Falsdone-Hall, a 10 de Maio de 1869. “Cecil Falsdone, Marquês de Shesbury. “P.S.: “P.S.: Mais tarde talvez apareç apareça a algum traço de semelhança comigo ou com um dos nossos, e te possa indicar a boa pista. Às vezes parece-me ver em Faustina Fausti na qualquer expressão, um pequeno nada, que me faz lembrar minha mãe. Porém não será ilusão dum cérebro cansado com tantas pesquisas? Orieta lembra Beatri Bea trizz e Bia Bianca; nca; será uma pess pessoa oa ado adoráve rável,l, uma feitic feiticeir eira a - provavel provavelmen mente te orgulhosa como Beatriz e apaixonada como o foram as duas primas. Pobre criatura! Que Deus a proteja!” Passado algum tempo, Walter, depois de ter de novo guardado os papéis

 

no compartimento secreto, entrou na sala dos Cisnes. Este nome foi-lhe dado por causa das bonitas aves existentes, tecidas em ouro e seda, nas tapeçarias de Bruxelas que forravam as paredes. Tapetes da Pérsia, móveis da Renascença, baixelas de Celini, e outras mil maravilhas de arte faziam desta sala o recanto favorito de Shesbury. Nas jarras de prata lavrada e nass flor na florei eira rass de cr criistal stal - lila lilaze zes, s, cr crav avos os ve verm rmel elho hos, s, ro rosa sass ma magn gníf ífic icas as,, embalsamavam o ambiente. Os dois galgos amigos dormiam estendidos em frente do fo fogã gão o co com m em embu butitidos dos,, onde onde flflam amej ejava avam, m, crepi crepita tant ntes, es, gra grand ndes es acha achass de madeira aromática.  A passo largo, nervosamente, Walter percorria, dum lado para o outro, a vasta vas ta sa sala la.. O so sobre brece cenho nho ca carre rrega gado do e o olha olharr pr preoc eocup upad ado, o, de denu nunci nciava avam m o trabalho intenso do seu cérebro. Estacou de súbito, fez soar a campainha e ordenou ao criado que acudia ao seu chamamento:  Vá dizer à senhora Barker que me venha falar.  A majestosa governanta apresentou-se, numa atitude de deferência um pouco pou co rece receosa osa.. “T “Teri eria a She Shesbury sbury alg alguma uma adv advert ertênci ência a par partic ticula ularr a faz fazer-l er-lhe? he?”” perguntara ela a si própria, com certa inquietação. Era natural esta inquietação da senhora Barker, pois ordinariamente as instruções do fidalgo eram-lhe transmitidas por intermédio do mordomo ou dum dos seus criados de quarto. Ficou logo calma às primeiras palavras do seu patrão.  Foi aos seus cuidados que meu pai confiou essas pequenas estrangeiras, as meninas Farnela, ao chegarem aqui?  Foi sim, meu senhor. se nhor.  De que modo foram educadas?  Muito bem, como verdadeiras filhas da casa, segundo as ordens do senhor marquês. Tinham uma dama de companhia, e uma criada de quarto tratava dos seus serviços. Os seus vestidos eram simples, porém de bons tecidos e sempre na última moda.  E depois da morte de meu pai?  Depois tudo mudou, senhor. D. Pamela começou por despedir a dama de companhia companh ia ao fim de poucas semanas. Em seguida, um pouco mais tarde, meteu

 

as pequenas num colégio, em Alberty.  Que espécie de colégio é?  Muito modesto, senhor; uma casa para filhas de lavradores e pequenos comerciantes.  Com certeza aí a instrução deve ser muito elementar!  A instrução e... tudo o mais. Ouvi dizer que as senhoras Burley, que o dirigem, são senhoras muito poupadas...  As pequenas saíram de lá há pouco, disse disse-me -me D. Pamela... E agora aqui têm uma posição modesta?  Sim, meu senhor. D. Pamela tinha mesmo resolvido fazer delas criadas de quarto; porém a menin menina a Rosa não quis, porque simpati simpatizou zou logo com a menina Orieta.  Durante o tempo que estiveram no colégio vieram aqui alguma vez?  Nunca, meu senhor. Nunca saíram do colégio, um dia sequer.  O senhor Humfrey tratava delas, ou apenas a senhora?  Apenas a senhora.... pelo menos que eu saiba.  Está bem... Mande preparar dois aposentos confortáveis para as meninas e arranje uma dama de companhia para elas. Providencie sobre um enxoval de acordo com a sua condição social, que é a de jovens fidalgas. Meliom dar-lhe-á o dinheiro necessário e entender-se-á com as meninas Orieta e Faustina, cujos gostos e vontades devem ser consultadas... Agora pode retirar-se.  A senhora Barker fez a mais profunda das suas reverências e retirou-se, completamente aturdida, a despeito da sua fleuma habitual. O criado, chamado por um novo toque de campai campainha, nha, recebeu ordem para dizer ao senhor Humfrey que lhe desejava falar. Humfrey, sentado num sofá do elegante salão que fazia parte dos seus aposentos, acabava de ler a sua correspondência quando lhe transmitiram o convite de Walter, por intermédio de Mário, ex-criado de quarto de Cecil, que tomou ao seu serviço logo depois da morte deste. Uma ruga se formou na testa de Humfre Humfreyy.  Não gosto muito de conversas particulares com Walter  murmurou entre

 

dentes, ao levantar-se.  Como não é por simpatia que me quer ver, posso contar com alguma coisa desagradável...  É muito inteligente e perspicaz.  Sim, até demais!  Após estas palavras pronunciadas com uma irritação momentânea, deixou o salão e dirigiu-se para os aposentos do seu parente. Shesbury recebeu-o com a sua habitual frieza, porém com delicadeza, ofer oferec eceu eu-l -lhe he uma uma cade cadeir ira a e sent sentou ou-s -se e numa numa da dass po poltltro rona nass de carv carval alho ho,, maravilhosamente trabalhada. Em seguida, com a sua voz límpida e imperativa, começou:  Estive por muito tempo ausente da Inglaterra e por isso não me lembrei nem tive vagar para cumprir certas recomendações feitas por meu pai, e informarme sobre certos pontos referentes a essas recomendações. Meu pai pediu-me que cuidasse das pequenas Farnela, quando atingisse a idade de poder fazê-lo. Foi por ele encarregado desses cuidados, até que eu completasse a maioridade, não é assim?  A pergunta, diretamente formulada, pareceu não embaraçar em nada Humfrey,, que imediatamente respondeu: Humfrey  É verdade, meu caro Walter, Cecil, no decurso duma das suas conversas, pediu-me que, no caso de morrer antes do casamento delas, as mandasse educar convenientemente.  Convenientemente?... Que entende por isso?...  Colocá-las num bom colégio, por exemplo; o que aliás foi feito, sob os cuidados de Pamela.  Ah!... Então o colégio escolhido por Pamela pode classificar-se de tal categoria?... Humfrey suportou com firmeza o olhar de Walter Walter..  Suponho que sim  disse com calma.  Bem pode compreender, meu caro amigo, que me pareceu razoável confiar num juízo feminino, relativamente à escolha da casa onde deviam ser educadas essas pequenas. Tem razões para  julgar mal do semelhante escolha?

 

 Deveria sabê-lo melhor do que eu, se tivesse posto mais cuidado em cumprir a missão de que o encarregou meu pai  rrespondeu espondeu secamente Shesbur Shesburyy.  Mais cuidado?... Que quer dizer com isso?...  disse Humfrey, com um tom de voz e uma expressão de inocência acusada.  Essas pequenas foram-lhe confiadas e não a Pamela. Devia portanto fiscalizar a educação que lhes era dada.  Na verdade, meu caro ca ro Walter, Walter, não vejo motivo para conside considerar rar tão difícil o assunto da educação dessas jovens!... Quem são elas, afinal? Nada sabemos, uma vez que Cecil não deu - a mim, pelo menos! - nenhuma informação a seu respeito, salvo que eram filhas dum certo conde Farnela, que se encontrava em embaraços e lhe pedia para se encarregar delas. Disse-me apenas um dia: “Fazei com que sejam bem educadas”. Ora supus que não tendo elas fortuna, o seu desejo era que recebessem uma educação séria e prática. Assim também o julgou Pamela, e propôs-me colocá-las num colégio modesto e conveniente, para o caso.  Aquiesci, visto eu mesmo nenhuma idéia ter sobr sobre e o assunto. E além disso não vi, na recomendação feita por meu primo, nada que me levasse a pensar que desejava um futuro brilhante para essas pequenas estrangeiras, recolhidas por caridade.  Nada havia também que os autorizasse a fazer delas criadas de quarto!  disse Shesbury, num-tom seco e irônico.  Criadas de quarto?!... Humfrey abriu muito os olhos, numa expressão de espanto.  Sim.... era essa, parece, a intenção da senhora Pamela, antes da Rosa se dedicar a Orieta.  Isso eu ignorava-o! De fato, foi uma idéia muito extravagante!... Não o teria permitido, pode estar certo, Walter!... Teriam outros meios de ganh ganhar ar a vida.... como damas de companhia, por exemplo.  A intenção de meu pai não era que ganhassem a vida, conforme o que se deduz duma comunicação de que acabo de ter conhecimento. Tenho instruções a respeito da educação dessas pequenas e a partir deste momento serão tratadas aqui no mesmo pé de igualdade com Rosa. É seu dever informar de tudo isto

 

Pamela, visto que, até este momento, foi ela que teve o encargo de regularizar esse assunto. Tais palavras pronunciou-as num tom de frio sarcasmo.  ... Daqui por diante encarrego-me de cumprir as vontades de meu pai, tal como acabam de me ser reveladas.  Lamento muito, meu caro Walter, que Cecil não me tivesse manifestado clar claram amen ente te as suas suas inte intenç nçõe ões! s!.... Sa Sabe be que que nã não o sou sou ho home mem m para para tr trat atar ar levianamente um assunto. Supunha, porém, estar procedendo da melhor maneira possíve pos sível,l, nest neste e cas caso.. o.... Talvez alvez me faltas faltasse se um pouco pouco de psicol psicologia ogia... ... Pam Pamela ela pensou - e pensa sempre! - que essas pequenas são filhas de Cecil, e o ciúme incita-a a vingar-se nelas; vingança, aliás, mesquinha, mas bem feminina... É o que sou levado a pensar!  Assim é - disse friamente Walter.  E o que pensa a respeito dessas pequenas?  Que são filhas do conde Farnela, Farnela, pura e simplesmen simplesmente. te. Porque havia de pensar noutra coisa?  replicou r eplicou Humfrey, com sorridente bonomia.  De fato é muito mais prudente... Leu os jornais da manhã? Que dizem do último discurso de Disraeli? Por alg alguns uns ins instan tantes tes os dois dois hom homens ens ent entreti retivera veram-se m-se com as not notici icias as políticas. Alguns momentos depois Humfrey retirou-se com uma fisionomia afável, provando que as censuras que recebera não lhe deixaram nenhuma impressão de desagrado. Quando Qua ndo des desapa aparece receu, u, She Shesbu sbury ry pen pensou sou:: “A mim mes mesmo mo per pergunt gunto: o: est este e homem não será o mais completo hipócrita do mundo?”

 

XI

Na tarde desse mesmo dia um criado apresentou-se nos aposentos de Rosa, para dizer à menina Orieta que Shesbury desejava falarfalar-lhe, lhe, bem como à menin menina a Faustina, Faustina, e que para isso as esperava na biblioteca. Orieta, ao receber tal convite, enrubesceu de contrariedade, não obstante já estar mais ou menos prevenida por certas palavras que na véspera lhe dissera Walter. Walter.  ─ Vamos, não deve mostrar-se contrariada com Walter ─ disse Rosa. ─ É muito altiva, e capaz, como noutros tempos, de manifestar o seu ar de revolta!... No entanto, como se conclui das suas palavras, parece que Walter está disposto a dar-lhe um outro modo de vida, um futuro melhor Que... Interrompeu-se por momentos, antes de acrescentar:  ─ Meu pai com certeza lhe deixou algumas instruções acerca do seu futuro... Enfim, dentro em pouco o saberá. Vá depressa procurar a Faustina, pois é necessário que não o façam esperar, Walter é muito pouco paciente.  Alguns instantes depois as duas entravam no salão redondo, que servia de biblioteca. Perfilado à porta, estava um dos criados índios, trazidos por Walter. Era RamSal, um homem de mais ou menos trinta anos, tez morena, onde se destacavam dois olhos vivos e inteligentes. Inclinou-se, apanhando o reposteiro de brocado, com um gesto cortês, e convidando-as a entrar. Orieta Ori eta tinha tinha ref reflet letido ido mui muito, to, des desde de a vés vésper pera, a, nesta nesta entrev entrevist ista a que Shesbu Shesbury ry desejava ter, conforme dissera, com as duas. Acaso teria tomado conhecimento dos desejos de seu pai, relativamente às filhas de D. Alberto Farnela?... Porque não se preocupara em saber como tais desejos se tinham cumprido até então?... Indiferença, egoísmo egoísm o ou desdém por essas pequena pequenass estr estrangeira angeiras? s? Evidentemen Evidentemente te uma das coisas, ou todas! Mas porque se teria lembrado de repente de se preocupar com elas? Na verdade, nada esperava de agradável dessa alta intervenção. Aliás, Shesbury, mais do que nunca lhe parecia desagradável. Era uma verdadeira provação para ela o encontrar-se de novo em presença desse grande senhor, com cujas maneiras altivas se

 

misturava uma ironia irritante, e o enfrentar aquele olhar que, como bem tinha dito Rosa, não se podia esquecer nunca, embora visto uma só vez.  Assim assumiu instintivamente uma atitude de altivez, quase de superioridade, ao entrar na biblioteca. Walter, pousando o volume a cuja leitura se entregara, levantou-se, e com uma inclinação delicada, disse:  ─ Precisamos conversar os três. Devia tê-lo feito há mais tempo, se a minha prolongada ausência não me tivesse impedido de conhecer as vontades de meu pai. Ofereceu umas poltronas às duas e voltou a sentar-se. O seu olhar encontrou o de Orieta, sombrio e com uma expressão de desafio, Sorriu levemente e disse um tanto irônico:  ─ Tivemos Tivemos,, há tempos, uma pequena desinteligência, Orieta. Parece que guarda ainda algum ressentimento, não é assim?  ─ Sim senhor. senhor. Estas palavras foram proferidas com veemência, e as suas faces coloriram-se repentinamente, devido à cólera que lhe agitou o sangue. O sorriso acentuou-se nos lábios de Walter Walter..  ─ Aí está uma franqueza que me agrada!... Pois bem, pela minha parte também guardei uma impressão pouco favorável a respeito de certa jovem... No entanto espero que as mesmas impressões recíprocas desse tempo em breve desapareçam... Orieta não compartilhou dessa esperança. Baixou as pálpebras, com compridas pestanas escuras, para não ver a expressão de ironia que a fazia tremer de revolta, Shesbury observou por momentos as duas, parecendo comparar mentalmente a graciosa e delicada Faustina, que com tímida admiração contemplava o árbitro do seu destino, e Orieta, cuja alma vibrante ele acabava de entrever através dos seus olhos sombrios e da sua alma orgulhosa, que dificilmente a educação poderia dominar. Em seguida, numa voz suave, perguntou:  ─ Que espécie de educação e de instrução instrução receberam no colégio de Aberly?  A pergunta foi dirigida ao mesmo tempo às duas. Faustina olhou para Orieta e, vendo que se mantinha calada, respondeu, depois d’alguma hesitação:

 

 ─ Boa educação e instrução suficiente... suficiente... Desta vez Orieta olhou repreensivamente para a irmã:  ─ Que dizes?!.. Porque ocultar ao senhor Walter Walter,, se é que ele o ignora! que O colégio Burley é o que há de mais inferior no gênero?  ─ Ignorava-o por completo, pois nunca podia supor que assim desprezassem a vontade manifestada por meu pai. Tudo isso, porém pode ser reparado. São ainda muito novas, e com bons professores poderão preencher as faltas existentes na sua instrução. Vou informar-me d’alguém que possa fazer-lhes boa companhia e pô-las ao corrente dos hábitos da sociedade, porque passarão a viver aqui como minhas pupilas e minhas hóspedas, hósped as, comparec comparecendo endo às reuniõe reuniõess que aqui se derem e senta sentando-se ndo-se à minha mesa, quando presidida pela senhora Pamela. Desde esta noite ocuparão uns aposentos que lhes mandei arranjar. E a partir de hoje, Orieta, não terá mais o desagradável encargo de tratar da minha irmã Rosa.  À medida que Walter ia falando, ia crescendo o espanto de Orieta. Espanto, sim, e não alegria, como a que parecia transparecer do semblante de Faustina. Às suas últimas palavras teve um vivo movimento de protesto:  ─ Desagradável encargo, senhor? Puro engano... A menina Rosa é muito muito boa para mim e é com grande prazer que lhe faço companhia.  ─ Rosa é boa?... A Orieta ssurpreende-me. urpreende-me. Será preciso acreditar que possui algum segredo com que enfeitiça os caracteres irritáveis?  Arreliou-a o sarcasmo, embora leve, com que revestiu as suas palavras palavras..  ─ Todo o meu segredo consiste na grande compaixão por uma criança, cuja existência tem sido um contínuo sofrer ─ replicou rep licou ela num tom de vibrante impaciência. Sem afastar os olhos da expressiva fisionomia de Orieta, Walter acariciou a cabeça dum dos seus favoritos galgos, que se ergueram.  ─ Está portanto estabelecido o seu programa de vida ─ disse ele, depois dum ligeiro silêncio. ─ Peço-lhes o favor de mo comunicarem, caso tenham qualquer desejo particular...

 

 ─ Perdão, senhor! ─ interrompeu Orieta. Orieta.  ─ Nunca pensamos viver às suas expensas. Se lamentamos não ter recebido uma instrução melhor, é porque vemos assim limitadas as possibilidades de ganharmos a nossa nos sa vida vida,, sem sem te term rmos os que aban abando donar nar a no noss ssa a po posi siçã ção o so soci cial. al. So Somo moss nova novass e saudáveis, podemos e devemos trabalhar... Conserve-me como dama de companhia de Rosa... e procure para minha irmã uma situação análoga.  ─ Tenho a dizer-lhe, Orieta, que não estou habituado a ver discutidas as minhas decisões. Walter passou a falar com certa energia, alterando a voz.  ─ ... Não a proíbo de fazer algumas vezes companhia a Rosa, mas entenda-se, na qualidade de amiga. Quanto ao seu modo da vida, será o que já resolvi... pelo menos até chegar à maioridade.  ─ E se for nossa intenção recusar essa... essa esmola?... Que direito tem sobre nós? Ergueu-se rápida. O seu semblante refletia a violência dos protestos da sua alma altiva. Shesbury fitou-a alguns segundos, com o olhar flamejante, e respondeu:  ─ Aquela que a meu pai implicitamente transmitiu o conde Farnela, quando lhas confiou. Ignora se o conde ainda vive; porém, enquanto não as vier reclamar, estarão sob a minha tutela e serão obrigadas a obedecer-me.  ─ Escreverei a meu pai! ─ disse vivamente Orieta. ─ T Talvez alvez já tenha regressado a Itália... Escrever-lhe-ei, para lhe dizer que venha buscar as suas filhas, em lugar de as deixar estar sob a tutela dum estranho!  ─ Não a impedirei de o fazer─fazer─- replicou Walter ccom om irônica frieza. Ergueu-se, estendendo a mão a Faustina e depois a Orieta, que com hesitação lhe estendeu também os seus lindos dedos finos e rosados.  ─ Barker já recebeu as devidas instruções ─ acrescentou. ─ Devem conformar-se com elas. Não faço mais que cumprir os desejos de meu pai. Orieta quis insistir na recusa, mas refletia que não estava dentro da razão,

 

acolhendo duma forma tão brusca os benefícios dum homem que na verdade cumpria bem cavalheirescamente as vontades paternas. A honestidade que contra ele mantinha, tornava-a injusta... E como na sua alma a lealdade se sobrepunha ao orgulho, disse, um pouco corada:  ─ Peço-lhe desculpa, senhor, se porventura deixei escapar qualquer palavra que o pudesse pudess e ofender ofender.. Era um grande desejo meu mante manterr a minha exist existência ência à custa do meu trabalho... e é-me penoso, confesso-o, tudo dever a um estranho.  ─ Aprovo a sua altivez, Orieta, e pode ter a certeza que não a censuro por is isso. so. Que olhar encant encantador ador,, que olhar de meigui meiguice ce tinha Shesbu Shesbury!. ry!... .. Ness Nessa a altura um sorriso se lhe refletiu nos olhos, tão faiscantes, que Orieta voltou os seus com uma espécie de revolta. Shesbury acompanhou-as até à porta da biblioteca. Voltou pensativo, murmurando consigo mesmo:  ─ Uma delas é minha irmã e a outra uma estranha... Qual será a minha irmã?... Não deve ser Orieta... Não, não quero que seja ela!... Não se deteve a aprofu aprofundar ndar as razões dest deste e desejo. De rest resto, o, Nortley entrou por uma das portas envidraçadas, abertas sobre o terraço. Walter voltou-se para ele, dizendo:  ─ Chegaste a propósito, meu caro. Vamos sair, agora que terminei a conferência que tive com as minhas belas pupilas. ─ E em tom de fria censura, acrescentou, vendo sorrir o amigo: ─ Estás pensando que não tenho jeito, nem idade, para o cargo de tutor de gente tão nova, não?  ─ Pensava justamente nisso. nisso.  ─ Sei ser austero quando é preciso... Refletindo melhor, não saio hoje. T Tocaremos ocaremos um pouco de música, e depois irei tomar chá a casa de Apsara.

 

XII

Na galeria de mármore, onde passou em companhia da irmã, de regresso aos aposentos da Rosa, Faustina disse com voz velada:  ─ Ah! Que mudança na nossa vida, Orieta!... Como Shesbury é bom!... Que elegância e fidalguia ele tem!  ─ Não julgues nunca as coisas pelas primeiras aparências!... ─ respondeu, nervosa, Orieta.  ─ E tu, pelo contrário, sempre desconfiada, não?... Arriscas-te assim, com a tua franqueza, a originar-nos algum dissabor. Walter demonstrou uma paciência sem limites...  ─ Paciência? ─ replicou Orieta um pouco áspera. ─ Diz antes desdém... indiferença orgulhosa pela nossa dignidade, mas paciência... não! De novo uma onda de revolta e de orgulho ferido agitou o seu espírito. Na verdade, que haveria em Shesbury para despertar na sua alma uns sentimentos tão violentos.  ─ Posso ir contigo para junto da menina Rosa?... Que achas?... Somos livres, atualmente!... Não temos que pedir permissão a ninguém, além de Shesbury.  Assim disse Faustina, enquanto atravessava o salão chinês.  ─ Vem, se o desejas ─ respondeu Orieta. Rosa não estava só. A mãe chegara naquele instante, e posta ao corrente da entrevista das duas com Walter, aguardava ansiosa pelo resultado.  ─ E então? ─ perguntou Rosa, também ansiosa, ao vê-las entrar entrar.. Foi Faustina que contou, com a alegria estampada no rosto, o que se passou entre elas e Wa Walter lter.. Pamela ouviu, mordendo os lábios e com um olhar sombr sombrio, io, o que contou Faustina, Faust ina, a ela e à Rosa. Orieta manteve-s manteve-se e calad calada. a. Rosa, notando o silêncio silêncio de Oriet Orieta, a, perguntou:  ─ E então, não está contente, contente, querida Orieta?

 

 ─ Não estou. Sempre aspirei por ganhar a minha vida, a devê-la às liberalidades de Shesbury. Pamela encolheu os ombros e deixou escapar um sorriso de desprezo.  ─ Não me venha dizer isso isso a mim, pequena!...  ─ Entretanto é esse o meu meu pensamento!  ─ A Shesbury? ─ e Pamela riu francamente. ─ ... A Shesbury Shesbury,, um cético que pretende não haver nenhuma rapariga capaz de resistir às tentações do luxo e duma vida elegante e fácil?... Devia ter-se divertido muito ao ouvir os seus protestos! O sangue subiu ao rosto de Orieta, para de súbito lhe fugir, deixando-a duma palidez pal idez morta mortal.l. Ser Seria ia pos possív sível el que fosse fossem m ess essas as as con convic vicçõe çõess de Wa Walte lterr sob sobre re a digni dignida dade de femi femini nina na?. ?... .. En Entã tão o não te teri ria a acre acredit ditad ado o no que que el ela a lh lhe e titinh nha a dito? dito?.. .... E continuaria a pensar que ela e a irmã gozariam, como parasitas felizes, o conforto e o luxo devido à sua generosidade?... Julgaria - quem sabe?... - que todo o sentimento de revolta que mostrara, não passava duma atitude fingida, e que intimamente dava graças a Deus pela sua boa sorte? Não podia Orieta sofrer uma tal idéia. No entanto a orgulhosa pupila era levada a crer na veracidade das palavras de Pamela, ao recordar os sorrisos de ironia que a cada passo surgiam nos lábios de Walter... Lamentava as palavras de desculpa pronunciadas ao findar a conferência. Se, de fato, o ceticismo de Shesbury era tal como o apregoara Pamela, os seus anteriores protestos deviam ter-lhe parecido uma comédia.  ─ Não quer tomar chá conosco? conosco? ─ perguntou Rosa ao ver a mãe levantar-se. levantar-se.  ─ Hoje não... Até logo, à noite, querida. ─ Abraçou a filha, correspondeu com um leve aceno de cabeça à saudação de Orieta e retirou-se.  Ao deixar os aposentos de Rosa, em vez de seguir diretamente para os seus, Pamela deu uma volta e encaminhou-se para o salão chinês. Uma vez aí, ergueu a pesada seda bordada que cobria a parede, carregou num botão e apareceu uma abertura, onde ela entrou, fechando-se em seguida. Uma escada estreita levava ao primeiro andar, a um pequeno corredor aberto na espessura das grossas paredes do castelo e que ia dar a uma vasta sala decorada com o fausto habitual do aristocrático Falsdone-Hal. Pamela

 

atravessou o salão, abriu uma porta e entrou na elegante sala de estar de Humfrey. Este estava lendo com preguiça os jornais do dia.  ─ Tudo Tudo feito, Humfrey!  ─ Tudo o quê, minha querida? ─ indagou ele, pousando com calma os jornais sobre a mesa perto dele.  ─ A entrevista de Walter com Orieta e Faustina!... Onde está com a cabeça, Humfrey?... E todavia é um caso importante...  ─ Para si, minha amiga, para si. A mim, tanto se me dá que as pequenas Farnela sejam educadas dum modo ou doutro, e que sejam tratadas ou não de acordo com a sua posição social e os desejos de Cecil. Para lhe ser agradável desinteressei-me de cumprir a vont vontad ade e do velh velho o fida fidalg lgo, o, da dand ndoo-lh lhe e to toda da a lib liber erda dade de para para or orie ient ntar ar à vo vont ntad ade e a educação dessas pequenas, o que me colocou numa situação falsa perante Walter. Desejo pouco ter mais aborrecimentos com o meu primo; é melhor que daqui por diante não me meta mais nesse assunto. Pamela, vermelha de cólera, ficou calada por instantes.  ─ Muito bem!... Nunca pe pensei, nsei, Humfrey, que me abandonasse tão depressa, para se curvar, receoso como toda a gente, diante de Shesbury!... Shesbur y!... Humfrey olhou-a com ironia e encolheu os ombros.  ─ Não sei em que a abandonei!... Porque recuso servir as suas pequeninas vinganças, vingan ças, as suas animos animosidades idades femin femininas, inas, que dum momen momento to para o outro me podem trazer resultados desastrosos?... Ficaria satisfeita se, por exemplo, Walter me proibisse de permanecer em Falsdone-Hall?... Pamela, vencida, aproximou-se de Humfrey e pousou-lhe nos ombros as mãos trêmulas.  ─ Não, querido, não me faça faça pensar em semelhante coisa!  ─ No entanto é o que me espera, ao menor descontentamento do seu pouco tratável enteado. Vê, pois, Pamela, como é irrefletida.... como a prudência aconselha que dissimule essa hostilidade para com as duas pequenas!...

 

Os dedos de Pamela crisparam-se nos ombros de Humfrey.  ─ É difícil!... Detesto-as... ou melhor, detesto-a.... a ela, a Orieta! É uma criatura perigosa, perigos a, Humfrey! Humfrey!... ... Estou certa de que se se assemelhas assemelhasse se à Faust Faustina, ina, Shesbury não teria tanta pressa em cumprir as vontades do pai!  ─ Pode muito bem ser, ser, minha amiga.... pode muit muito o bem ser... ser... Enquanto falavam, Humfrey tirou um cigarro da cigarreira finamente esmaltada e continuou:  ─ ... A propósito de vontades paternais, suponho, depois da conversa que tive com Walter esta manhã, que o pai lhe deixou instruções acerca dessas pequenas. Se assim é, deve saber, tal como nós, que uma delas é sua irmã... ignorando porém qual seja.  ─ Sim, é possível! Talvez seja esse o motivo que o decidiu a mudar-lhes a situação. Humfrey abanou afirmativamente a cabeça, ao mesmo tempo que acendeu o cigarro num isqueiro de prata lavrada.  ─ Sim, mas não saberá também qual é a irmã!... Não poderá sabê-lo!... ─ disse ela, com ar de triunfo. ─ Isso impedi-lo-á de se apaixonar por Orieta... Imagine o que nos contou essa pequena, ainda há pouco!... Disse-nos que protestou contra a generosidade de Shesbury, Shesbury, declarando-lhe desassombradamente que queria viver do seu trabalho! Riu-se, mas Humfrey manteve-se sério, replicando:  ─ Isso não me surpreende. Deve ser muito altiva.  ─ Deixe-se disso!... Então pode acreditar que preferia uma vida trabalhosa à existê exi stênci ncia a sem pre preocu ocupaç pações ões que tem aqu aqui,i, num dos mai maiss sun suntuo tuosos sos pal paláci ácios os da Inglaterra?  ─ Penso que, por enquanto, está sendo sendo sincera... Por enquanto, Pamela! Porque a virtude e o desinteresse duma mulher não resistem indefinidamente às atrações do luxo, às homenagens... e ao amor.  ─ O amor. amor. Odiarei quem quer que seja que venha a amar essa essa Orieta!

 

 A este grito de paixão exaltada, Humfrey levantou a cabeça e fitou com rápido golpe de vista o rosto crispado de Pamela. Depois, baixando as pálpebras, pegou-lhe na mão e acariciou-a, murmurando com doce ironia:  ─ O seu ciúme vai até esse ponto?... Poderia acreditar, se não a conhecesse tão bem!... Que senti bem!... sentimento mentoss viole violentos ntos poderão existir num coraç coração ão de mulher toda ocupada com diversões, vestidos e prazeres!...  ─ Humfrey, bem sabe que sou, antes de mais nada, uma mulher que ama.... que sabe amar tanto, como sabe odiar! Pamela Pam ela dei deixou xou-se -se cair de joel joelhos hos,, apo apoian iando do as mão mãoss cru cruzad zadas as no braço braço de Humfrey.. O seu rosto refletia todo o íntimo amor que lhe dominava o ser. Humfrey  ─ Sim, eu sei, minha terna Pamela... Sei que sou amado como nenhum outro, desde o momento em que me concedeu a inesquecível felicidade de dar um pouco de alegria à minha existência há tanto sacrificada.  A mão delgada e comprida de Humfrey pousou com doçura nos cabelos dourados de Pamela, e por entre as pálpebras semi-cerradas o seu olhar baixou-se, indecifrável, sobre ela.  ─ Por si, Pamela, coloquei-me fora da lei divina. Pelo seu amor, amor, eu, cuja existência era irrepreensível, tornei-me culpado perante Deus e sê-lo-ia perante os homens se eles soubessem...  ─ Por mim, por mim!... Sim, Humfrey Humfrey,, eu sei!... Sacrificou, arriscou a sua reputação!... A minha gratidão por si e a minha adoração nunca serão suficientes. Ele sorriu com ternura e murmurou:  ─ Querida, minha querida! Com as mãos apertou levemente a cabeça loura, que se curvou. Um clarão lhe passou através das pálpebras e um sorriso sardônico lhe encrespou os lábios. Pamela, porém, nada percebeu... Parecia uma cega, humildemente submissa aos pés do seu senhor, e abençoando o autor da sua escravidão.

 

XIII

Falsdone-Hall, dias depois, recebeu alguns hóspedes, entre eles o conde Sansoíf, sua esposa e duas filhas. Constantino Sergnievich Sansoíf era primo de Shesbury. Conhecera-o durante a sua estada na Rússia, onde a morte do avô o tornara senhor de vastos bens. Mais recentemente tinham-se encontrado em Nice, e aí, Shesbury convidara o conde e a família a virem passar algumas semanas em Falsdone-Hall. O conde Sansoff, alto e gordo, de largas faces, tendo uma barba abundante e loura, ocultava sob essa pesada aparência um espírito original e culto, pelo que muito agradara a Shesbury. A esposa, sempre espaventosa, de nada mais se preocupava, a não ser com a sua beleza, em declínio, e a sua saúde, que desde há vinte anos era muito pouca. A filha mais velha, Xênia, era feia, porém inteligente, distinguindo-se por uma esplêndida voz de contralto. A mais nova, Natália, mais ou menos da mesma idade da Rosa, era uma bonita pequena, muito alegre e que montava a cavalo com a intrepidez da mais destemida amazona. Shesbury convidara mais o senhor Piers Melville e o conde Luís de Farneuil, o que, como notou Humfrey, representava um conjunto muito cosmopolita, se juntarmos a esses nomes os das duas italianas, Orieta e Faustina, que foram apresentadas aos hóspedes de Walter como pupilas do falecido Cecil. Tomaram lugar à mesa suntuosa, no vasto salão de jantar, todo ornamentado com couro de Córdova e com os móveis artística e maravilhosamente esculpidos. Receberam, além disso, convite para tomarem parte em todas as distrações organizadas em honra dos hóspedes do castelo. Orieta tentou fugir a esses convites feitos diretamente por Walter. Walter.  ─ Não estamos destinadas, Walter Walter,, a uma vida de relações, para a qual não recebemos a conveniente educação.  ─ Depressa se habituarão e em breve não desejarão outra vida. Esta última frase, acompanhada dum sorriso motejador, fez subir o sangue às faces de Orieta.

 

 ─ Acredita, pois, Walter Walter,, que uma mulher seja forçosamente frívola e incapaz de resistir às tentações do luxo e do prazer?  A sua voz vibrava de indignação mal contida.  ─ Forçosamente?... Há nessa palavra um pouco de exagero. Digamos, quase sempre, e assim ficaremos mais próximos da verdade.  ─ Então eu, segundo pensa?...  ─ Não penso nada, Orieta.... absolutamente nada. Pelo contrário, quero crer que estará entre as exceções... Oh !... que ar de sarcasmo o seu ao pronunciar estas palavras! O desejo de Orieta, tal como o fez outrora, era deixar transbordar toda a sua cólera, toda a sua revolta!  ─ Veremos mais tarde, quando tiver passado a exaltação. Não quer ceder então aos meus desejos, comparecendo perante os meus hóspedes?  ─ Diga duma vez, é uma uma ordem?  ─ Tome-a como tal, peço-lhe. ─ Pronunciadas estas palavras com imperativa frieza, Shesbury saiu da estufa, onde viera a fim de dar uma vista de olhos pelas plantas raras que trouxera da sua última viagem, tendo aí encontrado Orieta e Rosa, que as admiravam.  ─ Oh! minha querida, que ousadia a sua? ─ Rosa contemplou a amiga com um misto de admiração e censura. ─ ... Não deve ir tão longe!... Foi um milagre que ele suportasse tudo isto!... Por enquanto os seus protestos divertem-no, vi-lho no olhar!...  ─ Divertem-no? Orieta, toda trêmula, recuou alguns passos.  ─...Divertem-no? Ah! menina Rosa, tem a certeza que não está enganada?... Será possível que ele seja totalmente incapaz de compreender um sentimento um pouco mais elevado!  ─ Do que ele é capaz, não sei bem! ─ murmurou Rosa, pensativa. ─ Creio no entanto que não é bom provocá-lo. Um dia pode aborrecer-se!... É bom lembrar-se que

 

está na sua dependência, querida Orieta!  ─ Muito bem, que me mande mande embora, que vou trabalhar para qualquer parte!... Rosa agarrou-lhe o braço com as duas mãos, aquelas magras mãos que noutros tempos tinham destruído os enfeites do vestido de Pámela.  ─ O quê?... Nem pensa em mim?... Que seria de mim se se fosse embora? Só a Orieta é que me soube amar... e eu só a si amei até agora.  A angústia transtornara o magro rosto da doente, onde há já algumas semanas se viam umas cores rosadas, sinal de bom augúrio. Comovida por este apelo duma alma sofredora, que já se ligara tanto a ela, Orieta pegou nas mãos de Rosa e apertou-as com ternura.  ─ Tem Tem razão em me recordar o meu dever para consigo... a quem tanto devemos, eu e a Faustina... pois foi a única pessoa que nos acolheu bem! Por si serei paciente... ou farei pelo menos todo o possível. Porque na verdade há entre mim e Shesbury uma espécie de antipatia... um chocar de caracteres...  ─ É muito curioso isso.... visto que ouvi um dia uma amiga de minha mãe dizer, ao falar dele: “Todas as mulheres, onde ele aparece, só têm olhos para ele, e se lhe aprouvesse, a mais orgulhosa de entre elas tornar-se-ia sua escrava!”  ─ Escrava dele?... Era o que q ue me faltava!... ─ Orieta riu com nervosismo. ─ ... Não, Shesbury não me produz essa impressão!... Muito ao contrário, sinto sempre, ao vê-lo, um espírito de revolta... Esforçar-me-ei por vencer essa impressão, em atenção a si, minha querida!  ─ Quero que de hoje em diante me chame chame unicamente Rosa.  ─ Não me falta desejo de o fazer. É preciso, no entanto que sua mãe o autorize.  ─ Porquê? Já não é a minha dama de companhia, companhia, mas sim a pupila de Shesbury e a minha amiga. Orieta todavia não quis, com aquela firmeza com que dominava às vezes os caprichos absurdos de Rosa. A senhora Shesbury, ela bem o sentia, ainda não depusera as armas. Sob uma correta delicadeza, forçada a curvar-se ante as decisões do enteado,

 

ela adivinhava a má vontade sempre viva e sempr sempre e const constante. ante. Naquela altura altura,, contudo, contudo, não a temia, visto que as filhas do conde Farnela só dependiam de Shesbury. Quanto a Rosa, a mãe não tinha nenhuma influência sobre ela, como o tinham demonstrado as vãs tentativas que fizera para afastar Orieta. Em face disto não queria, por uma questão de dignidade, ceder ao desejo da doente, sem que a mãe tivesse conhecimento de tal. Rosa, depois de se mostrar um pouco admirada, decidiu-se a falar nessa mesma tarde com a mãe. Um breve “se isso te agrada” foi a resposta, acompanhada dum furtivo olhar de hostilidade, que Orieta não viu, mas que foi percebido pela doente. Shesbury Shesb ury não perder perdera a muito tempo em conseguir uma dama de companhia para as pupi pupila las. s. Logo Logo no dia dia segu seguin inte te ao da conv conver ersa sa co com m el elas as es escr crev ever era a à se senh nhor ora a Sheenfield, uma velha parenta sua, a pedir-lhe que procurasse uma pessoa honesta e de boa família para assumir esse cargo. A senhora Sheenfield respondeu-lhe que tinha mesmo à mão o que ele desejava: tratava-se da senhora Rockton, filha dum fidalgo de boa estirpe, viúva dum oficial, que por sua vez era o irmão mais novo dum tal RocktonCourt, de Sufolk. “Essas duas italianas presumo que devem ser católicas. Suponho, no entanto que a diferença de religião pouco importa. A senhora Rockton é muito discreta, muito bem educada educ ada,, ten tendo do fre freque quenta ntado do ant antes es e depo depois is do seu casament casamento o os mel melhor hores es mei meios os aristocráticos. Tem mais ou menos quarenta e seis anos, é distinta, veste com elegância, sabe música, fala corretamente o francês e o alemão, monta a cavalo e sabe fazer os seus seus vest vestid idos os.. Em re resu sumo mo,, é quas quase e um uma a pe perf rfei eiçã ção, o, pelo pelo me meno noss co como mo da dama ma de companhia. Um telegrama seu, e ela seguirá para aí, meu caro Walter Walter.” .” Uma Um a sema semana na depo depois is cheg chegou ou a Fa Fals lsdon donee-Ha Hallll um uma a se senho nhora ra,, ai aind nda a nova nova na aparência, vestida com discreta elegância. No dia seguinte Shesbury apresentou-a às suas pupilas, como sendo a sua companheira e mentora, tão necessária na sua idade. Faustina acolheu-a com satisfação, ao passo que Orieta o fez com uma delicadeza reservada. À primeira vista, a fisionomia da senhora Rockton, distinta e um tanto fria, não lhe agradou nem desagradou. “Veremos com o tempo” - pensou ela. Porém, na realidade, o que pensava, era conservar uma certa independência, em especial para passar mais tempo junto de Rosa. Esta tendo melhorado da sua saúde,

 

aparecia às refeições e descia um pouco até ao salão, à noite. No entanto não podia acompanhar as outras raparigas nos seus folguedos e diversões, e Orieta, quanto mais a via entristecer-se, mais fazia por se conservar junto dela.  ─ Será sempre uma amiga delicada, eu o sinto ─ dizia Rosa. ─ T Tem em um coração que não se dá por partes!... Ah! parece impossível que tenha por irmã uma cabeça tão oca como a Faustina! Orie Orieta ta prot protes esto tou u cont contra ra essa essa expr expres essã são o “c “cab abeç eça a oc oca” a”,, qu que e clas classi sififico cou u de exagerada. Contudo não podia deixar de reconhecer o feitio calmo de Faustina e as suas tend tendên ênci cias as par para a a fr friv ivol olid idad ade, e, de dese senv nvol olve vend ndoo-se se naque naquela la at atmo mosf sfer era a de lux luxo, o, de ostentação e de mundanismo. Já tinham tido uma discussão, quando a senhora Barker lhes perguntara o que cada uma queria a respeito do enxoval e dos vestidos que deviam mandar fazer. Orieta declarou que desejava tudo simples, e escolheu sem preocupação. Faustina, porém, fascinada fasci nada pelos elegantes modelos que a gover governanta nanta lhe aprese apresentou, ntou, quase se revoltou revoltou contra essa decisão.  ─ Porque não havemos de nos aproveitar das disposições generosas de Shesbury,, se age em n Shesbury nome ome de seu pai? ─ perguntou ela com irritação.  ─ Não terás vergonha em te cobrires de sedes, veludos e rendas pagas por um estranho? ─ replicou Orieta. Por fim foi a sua vontade que prevaleceu, não sem o descontentamento de Faustina. A senhora Barker, que julgava tudo sem importância, mandou trazer um enxoval conveniente, mas sem luxo, e os vestidos estritamente indispensáveis para um ambiente como o de Falsdone-Hall. As duas tiveram também um vestido de baile em seda branca, guarnecido com plissados de tule. Era um vestido o mais simples possível, mas o suficiente para pôr em relevo a beleza de Orieta. Quando Qua ndo res resolv olveu eu uma noi noite te apa aparec recer er,, pel pela a pri primeir meira a vez vez,, aos con convid vidado adoss de Shes Sh esbu bury ry,, à hor hora a da ceia ceia,, as conv conver ersa sass cess cessar aram am dura durant nte e al algu guns ns se segu gundo ndoss e no semblante de todos os presentes leu-se um certo ar de surpresa e de admiração. Orieta parou um instante, indecisa e confusa. Embora soubesse impôr-se com altivez, quando ferida no seu orgulho, e desse nesses momentos largas ao seu coração

 

impetuoso, ignorava ainda como comportar-se perante a sociedade. Shesbury levantouse e foi ao seu encontro. Disse-lhe algumas frases corteses e apresentou-a, bem como a Faustina, aos seus comensais, com o nome de condessas de Farnela, explicando com graça:  ─ São filhas dum velho amigo de meu pai, que em atenção aos laços de amizade que os uniam, aceitou a honra de as receber sob a sua tutela. Como Com o per perfei feitos tos cav cavalh alheir eiros, os, habi habitua tuados dos aos conven convencio cional nalism ismos os sociai sociais, s, os Sanzoíf, Melville e Farneuil souberam dissimular a surpresa que lhes causou aquela apariçã apar ição; o; no ent entant anto, o, quando quando se viram viram sós nos seu seuss apo aposen sentos tos,, não deixar deixaram am de comentar vivamente o fato. A condessa Sanzoff foi positiva ao declarar desde logo que não acreditava na existência do pretenso amigo de Cecil, e que, na sua opinião, essas pequenas eram filhas do falecido marquês de Shesbury. O conde, seu marido, abanou a cabeça, como quem está disposto a aceitar a hipótese sugerida, e exclamou:  ─ Hum!... Sim, pode ser!... Toda odavia via esq esquiv uivouou-se se dis discre cretam tament ente e a emi emitir tir qualqu qualquer er opiniã opinião o sobre sobre as duas duas estrangeiras, pois sabia que Anastásia Dimitrevna não gostava que se rendessem diante dela louvores a outra mulher mais nova e formosa. Por isso, logo que ficou só com as filh filhas as,, tece teceu u com com en entu tusi sias asmo mo rasg rasgad ados os elog elogio ioss à be bele leza za de Orie Orieta ta,, no qu que e es esta tass concordaram.  ─ Oh!... que jovem encantadora! ─ disse Natália. ─ Que lindos olhos expressivos!... O pai notou os seus cabelos?... Que louro lou ro incomparável!  ─ É na verdade uma criatura maravilhosa! ─ afirmou Xênia, que embora não possuísse nenhum requinte de beleza, sabia, todavia, reconhecer nos outros, sem inveja, o que lhe faltava.  ─ É a pequena mais bonita que já vi! ─ declarou Sanzoff, e sublinhou em voz baixa: ─ Tem Tem porém um tutor maquiavelicamente perigoso, coitada!... Não queria por nada ver uma filha minha em igual situação! Por seu lado os senhores Piers e Farneuil, quando acendiam um cigarro, antes de se deitarem trocaram as suas impressões a tal respeito.

 

 ─ Palavra que já me sinto apaixonado por ela, meu amigo! ─ disse o francês. francês.  ─ E eu, se não me engano, também também ─ respondeu o inglês. Depois, com um sorriso de descrente, Piers acrescentou:  ─ Mas, meu caro, não teremos o desprazer dessa rivalidade. A vitória está noutro lado. Bem sabe que ninguém pode lutar com Walter!  ─ Podemos tentar, no entanto! ─ exclamou Farneuil, aprumando-se todo, de modo a salientar o seu nariz adunco, característica que revelava logo a sua descendência judia. Piers encolheu os ombros e afirmou, sorrindo:  ─ Pois considere-se desde já vencido, vencido, meu caro Farneuil!

 

XIV

Muito depressa Xênia e Natália se tornaram amigas de Orieta e Faustina, mas em especial de Orieta. Natália - ou Natacha, como a tratavam na intimidade - testemunhavalhe a sua simpatia dum modo deveras expansivo; Xênia, apesar de mais retraída, sabia todavia mostrar à jovem estrangeira o quanto lhe queria. Orieta apreciava muito as conversas conver sas sérias que tinha com elas, quando se reuniam. reuniam. Xênia empre emprestou-l stou-lhe he diver diversos sos livros, falou-lhe das suas leituras, das peças de teatro que tinha visto nos diversos países da Europa - Alemanha, Itália, Suíça e França - visitados com seus pais, que gostavam muito mui to de via viajar jar.. Ori Orieta eta mostr mostrou ou à jov jovem em rus russa sa os des desenh enhos os que tinha fei feito, to, depois depois d’algumas lições dadas, às escondidas, por uma professora do colégio Burley, e que patenteavam as suas raras aptidões. Contou também a Xênia o seu grande desgosto por não ter podido aprender música, nem cultivar os dons intelectuais que sentia existirem nela.  ─ Porque não pede a Shesbury para lhe mandar dar as necessárias lições? ─ interrogou Xênia.  ─ Já devemos muito à sua generosidade, para me atrever a pedir mais isso ─ respondeu Orieta, cuja fisionomia se tornou logo sombria, o que acontecia sempre que as suas novas amigas falavam em Shesbury. Natacha, com ingenuidade, deixou transparecer a sua admiração pelo fidalgo; Xênia mostrou-se como sempre muito reservada; e Orieta logo notou, ao reparar na comoção que não pôde dissimular quando Walter apareceu, que a sisuda menina Sanzoff tinha escondido no coração um silencioso amor, que sabia sem esperança, pelo seu sedutor primo. Sentiu por isso uma secreta irritação. O quê?!... Uma natureza razoável como aquela cedia ao fascinante prestígio desse feiticeiro?... Era encantador, sim, e não se podia, podi a, infeli infelizme zmente nte,, dei deixar xar de o rec reconh onhece ecerr. Tinha Tinha tod todos os os bons bons dotes dotes fís físico icos, s, e empregava-os com a plena consciência do seu poder. Os seus hóspedes, fascinados, enfeitiçados, adulavam-no, lisonjeavam-no com toda a sinceridade. Só uma pequena audaciosa, que não tinha feito ainda dezoito anos, que dependia inteiramente dele, pretendia não ceder a esse avassalamento geral, ao qual a própria Rosa já não escapava.

 

Shesbury parecia não se incomodar em tentar mudar as idéias desta rebelde. Mostrou-se para com ela e Faustina cortês e indiferente, só lhes falando quando havia um motivo forte. Orieta alegrava-se com isso, visto que assim estavam diminuídos os motivos para novos contatos.  ─ Ele deve saber tudo a respeito dessas pequenas!... ─ disse um dia Pamela a Humfrey,, ao fazer-lhe notar essa atitude. Humfrey  ─ Sim.... deve saber. Mas por outro lado só prova que Orieta já produziu nele qualquer impressão, e quer por isso afastar o perigo de se apaixonar por uma pequena que não pode saber se é filha de seu pai ou de Alberto Farnela.  ─ Como fantasia depressa essas idéias romanescas, meu amigo! ─ respondeu com impaciência Pámela. ─ Essa Orieta parece-lhe então absolutamente irresistível, para se supor que Walter, que já conheceu as mais sedutoras mulheres, não possa vê-la, sem se apaixonar?... Humfrey Humf rey teve um sorri sorriso so indecifrá indecifrável vel e respon respondeu deu com uma ironia tão leve, que a sua interlocutora não a percebeu:  ─ Absolutamente irresistível?... Não, não é preciso exagerar exagerar,, Pamela!... Porém, colocando-nos sob o ponto de vista dum homem novo, como Shesbury... logo veremos nela uma grande sedução. Pamela encolheu os ombros, replicando com um sorrizinho irritante:  ─ Farneuil e Piers também andam apaixonados por ela. Esperemos que um dos dois nos desembarace dessa beleza o mais depressa possível.  ─ Hum!... Sim, com efeito!... Mas, a propósito de casamento, já pensou que nessa ocasião as certidões do registro civil revelarão que há apenas uma Farnela, filha de D.  Alberto Farnela e de D. Beatriz Darieli? Se Walter ainda o não sabe, fica-o sabendo nesse momento.  ─ E nada pode podemos mos fazer!... ─ disse raivosamente Pámela. ─ Pelo menos tentarei prejudicar o mais possível a sua “filha”... Não se saberá nunca qual das duas é a verdadeira Faustina!... Quando uma delas casar, será preciso tirar à sorte para se lhes atribuir um estado civil...

 

Esta idéia fê-la rir muito e fez surgir um sorriso, misto de indulgência e alegria, nos lábios de Humfrey. Depois disto foi dar uma vista de olhos pelos aposentos de sua prima, Violeta Porroby, que chegaria nessa tarde, para passar uns dias em Falsdone-Hall. Humfrey,, por sua vez, encaminhou-se para o jardim. Encontrou o conde Sanzoif, e os dois Humfrey entabularam uma discussão cortês sobre uma recente descoberta científica, continuando sempre a passear passear.. Num dado momento o conde disse, designando o pavilhão índio, que aparecia por entre os arbustos:  ─ Não viu ainda a bela Apsara?  ─ Não, ainda não a vi. E o senhor já a conhece?  ─ Conheço. Shesbury fê-la dançar na sua vila de Canes, nalgumas festas que ali deu e às quais só compareciam uns certos convidados privilegiados. É uma soberba criatura!... Traz Traz sobre ela mais de trinta mil libras de jóias!  ─ E essa história da rainha que o amou e morreu nos dentes dum tigre, acredita que seja verdadeira?  ─ Acredito, Acredito, sim. Pessoalmente Shesbury nunca me falou nisso. Não é pessoa para muitas confidências e Nortley é muito discreto. Mas um oficial que regressou da Índia e que encontrei em Nice, William Finley Finle y, conhece?... Um rapaz encantador e que foi um dos seus amigos de infância, ouviu falar nessa estranha aventura de Walter. Essa princesa índia era, segundo parece, tão bela quanto inteligente, tão orgulhosa quanto bela, mas deixou-se dominar por completo por Shesbury, ela que até então perseguia os ingleses com um ódio dissimulado sob um bom acolhimento. Os seus vassalos tinham os mesmos sentimentos a esse respeito. Por isso tentou impôr-lhe que a visse em segredo. Ele declarou-lhe que, se não o recebesse na frente de todos, não o veria mais. Então, por amor, afrontou o perigo. Ia abertamente ao palácio e por duas vezes esteve quase para ser assassinado. A sua destreza no manejo de todas as armas, o vigor espantoso que esconde sob a sua aparência de elegante negligência, salvaram-lhe a vida. Então os índios voltaram-se contra a rainha. Pelo menos é esta a versão ouvida pelo capitão Finley. Pretendem outros também que a rainha, no seu palanquim, foi levada de propósito para um ponto da floresta onde sabiam que, há alguns dias, andava rondando um tigre...

 

 ─ É horrível!...  ─ Também assim o achei!... Parece-me que se estivesse no lugar de Shesbury Shesbury,, nunca poderia afastar do meu espírito a lembrança dessa criatura, cujo amor levara a uma morte horrível!  ─ Mas pensa que ele já a esqueceu?  ─ Espero que não! ─ disse gravemente o conde Sanzoff. E depois dum pequeno silêncio, acrescentou:  ─ Penso que é por isso que nun nunca ca falou aos seus íntimos nesse episódio da sua estada na Índia.  ─ Outros pretendem ver nesse silêncio o sinal de completa indiferença, do mais desdenhoso esquecimento!  ─ Espero que não! ─ repetiu o conde. conde. Uns sons de vozes chegaram até aos seus ouvidos. Na sua frente surgiu um vasto campo, onde ficava o campo de tênis. Estavam a jogar duas partidas. Orieta era uma das  jogadoras. Há já alguns dias que Xênia, Natacha e Piers lhe davam lições sobre este desporto e a Faustina. Enquanto esta não mostrou muito gosto, Orieta revelou-se uma  jogadora notável. Humfrey e o companheiro pararam para ver o fim da partida. O conde Sanzoff disse a meia voz:  ─ Que elegância encantadora a de Orieta. Que graça, que harmonia de movimentos, o que nas outras tem um quê de brusco... O companheiro fez com a cabeça um sinal de aprovação. O seu olhar fixara-se longamente sobre Orieta, depois olhou para um grupo sentado a pouca distância do campo de jogo. Faziam parte dele Rosa, na sua cadeira de rodas, Xênia, que descansava da partida anterior, Faustina, a senhora Rockton, Farneuil e Shesbury. Só este último chamou a atenção de Humfrey. Sentado entre Faustina e Farneuil, fumava, seguindo com os olhos olhos a pa part rtid ida. a. Hu Humf mfrey rey nã não o de desc scob obri riu, u, se sem m dú dúvi vida da,, o qu que e pr proc ocur urav ava a na su sua a fisionomia, porque teve uma crispação de lábios, mostrando assim a sua impaciência ou

 

desapontamento.  ─ Ah!... fomos nós que ganham ganhamos, os, senhor Piers! ─ exclamou alegremente Orieta. Voltou para ele o seu rosto animado, e fitou-o com os olhos brilhantes do ardor resultante da luta contra os excelentes e xcelentes jogadores que eram Natacha e Herbert Nortley Nortley.. Em volta do rosto, sobre a nuca, caiam-lhe alguns cachos do cabelo, escapados da boina de pano branco que trazia.  ─ Faz espantosos progressos! progressos! ─ disse Piers, com entusiasmo.  ─ Será dentro em breve tão forte como Shesbury Shesbury,, o invencível ─ acrescentou, rindo, Natacha. E adiantando-se para Orieta, tomou-lhe o braço e levou-a para junto do grupo que estava sentado.  ─ Diga, Walter, Walter, então não teve belos lances?  ─ Teve, Teve, na verdade. Pronunciando esta lacônica resposta, fitou-a com um olhar de indiferença, quando todos os olhares a admiravam extasiados. Xênia Xê nia e Fa Farn rneui euill fe felilici cita tara ram m Or Oriet ieta a co com m entus entusia iasm smo. o. Ela Ela re resp spon ondeu deu-l -lhe hess alegremente, alegrem ente, sentan sentando-se do-se perto de Rosa, que olhava com uma espécie de encant encanto o para esse delicioso rosto um pouco colorido, para esses lábios entreabertos pelo mais fresco e o mais sedutor dos sorrisos, para esses olhos que pareciam iluminados por uma claridade enternecedora. O conde Sanzoff e Humfrey, por sua vez, também se adiantaram. A conversa tornou-se geral, até ao momento em que Shesbury se levantou, dizendo que a hora do chá se aproximava.  ─ Orieta, faz-me o favor de chamar o Augusto, para vir empurrar a minha cadeira  ─ pediu Rosa, a meia-voz.  ─ Então não estou eu aqui, minha minha querida?! ─ respondeu Orieta. Ela sabia que a doente não gostava de se ver empurrada por um criado e

 

procurava sempre uma maneira de ser ela a fazê-lo. No momento em que punha as mãos no espaldar da cadeira, Shesbury adiantou-se e inclinou-se um tanto para a irmã.  ─ Fazes-me o favor, favor, Rosa, de escolher qualquer outra pessoa para empurrar a tua cadeira, pois me parece que quase impões esta função a Orieta! ─ disse ele num tom baixo, mas friamente imperioso.  ─ Fui eu que me ofereci, senhor ─ replicou Orieta, vivamente.  ─ Nesse caso é para si si a observação. Enrubesceu e ia responder, mas conteve-se, porque nesse momento Humfrey Humfrey,, que se encontrava a pequena distância, aproximou-se e disse com um sorriso amável:  ─ Eu me encarrego de levar a Rosa, menina Orieta. Shesbury lançou-lhe um olhar onde se lia um altivo descontentamento.  ─ Os criados estão aqui para isso, isso, parece-me!... Augusto!... O criado, perfilado a alguns passos, aproximou-se, e a um sinal do patrão pôs-se a empurrar a cadeira, junto da qual Orieta começou a andar fremente de irritação mal contida, porque, pensava ela, Walter agira assim só para desgostar e aborrecer a irmã. Toda a sua alegria desaparecera, A muito custo sorria, ao ouvir Herbert Nottley e Farneuil, os dois de gênio alegre, que brincavam com Natacha por causa do gorro de veludo verde que ela trazia. No castelo os jogadores foram para os seus aposentos, a fim de se vestirem para o chá. Orieta, sem esperar pela criada, chamada por Faustina, penteou-se rapidamente, trocou a saia azul e a blusa de flanela branca por um vestido de lã cinzenta, apenas enfeitado com uma gola de renda. Depois desceu, na intenção de procurar, para Rosa, um livro, na sala que chamavam a pequena biblioteca. Esta sala, decorada ao estilo do século dezoito, tinha duas janelas que davam para o vestíbulo de honra, e comunicava com o lindo salão redondo, que precedia a grande biblioteca, biblioteca, onde os hóspedes de Falsdone-Ha Falsdone-Hallll não entrav entravam, am, a não ser quando convidados pelo dono da casa.  Ao entrar, Orieta viu Humfrey em pé, junto duma mesa, folheando umas revistas.

 

Voltou-se e saudou-a com um amigável sorriso:  ─ Já está pronta, menina Orieta?  ─ Queria procurar um livro para Rosa, um romance da senhora Lafayette, ”A Princesa de Clévês”, que ela deseja ler. Disse-me que o encontraria aqui.  ─ Sim, deve estar aqui.  Abrindo umas estantes cobertas com umas cortinas de seda verde-pálido, pegou num volume que lhe entregou.  ─ Aqui tem, querida Orieta, o que distrai essa pobre Rosa... Hoje deve estar muito aborrecida!... Pobre Rosinha! Estas reflexões foram feitas a meia-voz, com ar comovido, e Humfrey parecia mais falar consigo do que com Orieta. Um clarão passou pelos olhos dela.  ─ Sim, pobre Rosa! ─ disse ela, num tom vibrante de indignação. ─ Porque adivinho que sofre muito com a indiferença e com a frieza, talvez mais que frieza mesmo, que encontra no irmão.  ─ Sim!... Provavelmente... Shesbury não tem coração para os afetos familiares. A madrasta nunca lhe foi simpática e Rosa sofre as consequências dessa inimizade secreta.  ─ Pois não vê que só trata trata com desdém essa pobre pequena doente?  ─ Assim é, de fato.  ─ E ele é o único culpado! Orieta, toda trêmula, deu ao acaso alguns passos para conter a indignação, preste pre stess a tra transb nsborda ordarr. Hum Humfrey frey,, ava avança nçando ndo,, pôs pôs-lh -lhe e os ded dedos os sob sobre re uma das sua suass delicadas mãos, dizendo-lhe com doçura:  ─ Querida Orieta, procure ter mais calma.. Vi muito bem que Shesbury Shesbury,, pela maneira como fez aquela observação, a magoou muito, a ofendeu.  ─ Magoou-me por causa da Rosa, sim!... Por mim, pouco me importa o que ele

 

diz! Não, não quero importar-me com isso!... Levantou a cabeça num movimento altivo.  ─ ... Nunca me curvarei perante ele, como toda a gente parece fazer, fazer, Se não estiver satisfei estiver satisfeito, to, que me dê a minha liberda liberdade, de, que me livre desta dependência moral e pecuniária, que me pesa como ninguém pode calcular! O seu tom de voz, nestas últimas palavras, tornou-se tornou -se veemente, quase violento.  ─ Admiro o seu nobre caráter caráter,, Orieta.... e aplaudo-a pelas suas corajosas resoluções. Deixe-me dizer-lhe que, aconteça o que acontecer, a senhora encontrará sempre em mim um amigo dedicado, o mais dedicado amigo... um conselheiro. Continuava a prender - mas com a máxima delicadeza - a mão quente e palpitante de Orieta. A doçura do seu olhar acariciou-a, enquanto continuou numa voz ardente:  ─ Pode na verdade precisar de conselhos, minha querida!... Nova e inexperiente, talvez encontre na sua vida algumas al gumas ciladas...  Abriram uma porta do salão e uma voz, a de Pamela, pronunciou algumas palavras, a que respondeu uma outra pessoa. Os dedos de Humfrey largaram docemente a mão de Orieta, ao mesmo tempo que disse, sorrindo:  ─ Acabam de chegar a Pamela e a menina Porroby, Porroby, uma encantadora companheira, Orieta. E dirigiu-se para o salão redondo, onde o acolheu uma exclamação feita por uma voz fresca e de timbre cantante:  ─ Ah! Viva o querido senhor Hum Humfrey! frey!  ─ Muito feliz por ser o primeiro a cumprimentá-la, menina Porroby. Porroby. Orieta ficou imóvel, sem pressa de se ir encontrar com Pamela e a prima. Seria melhor esperar que as senhoras Rockton e Faustina descessem, pois que assim seriam apres apr esen enta tada dass toda todass ao me mesm smo o te temp mpo o à no nova va hós hóspe peda da.. Abri Abriu u o livr livro, o, um vo volu lume me encadernado em carneira verde e marcado com as armas de Shesbury. Ao acaso leu algumas passagens, quando abriram, perto dela, uma pequena porta, que dava para a galeria dos retratos. Voltou a cabeça e viu Shesbury Shesbury..

 

 ─ Só, aqui, Orieta?... Ninguém Ninguém está pronta ainda?  ─ Estão, sim.... o senhor Humfrey e D. Pamela. ─ Falando, afastou-se ligeiramente, para lhe dar passagem. Deitou um olhar sobre o livro que tinha aberto na sua frente e perguntou:  ─ Estava lendo.... o quê?  ─ É uma obra que a menina Rosa Rosa desejava! “A Princesa de Cléves”.  ─ “A Princesa de Cléves”?... Isso não é para a sua idade, nem para a de Rosa. Peço-lhe que escolha outra coisa. Pedindo antes a opinião duma pessoa conhecedora, como a senhora Rockton. O tom de Walter desta vez foi cortês e quase benevolente, Orieta estava ainda sob a impressão da fria observação feita à irmã e a ela. Enrubescendo, pela contrariedade, replicou com um acento irônico:  ─ O senhor Humfrey Humfrey,, que me ajudou a procurar este volume, não fez nenhuma observação a tal respeito. Não estará ele então no número das pessoas sérias a quem se possa pedir um conselho, uma opinião?  ─ Teria Teria suposto que... Dê-m Dê-me e esse livro. Mandar-lhe-ei outros, que com certeza lhe agradarão... Agora venha comigo, que a quero apresentar à menina Porroby. Violeta Porroby era a terceira filha do honrado Levis Porroby, que possuía sete filhos, uma mulher perdulária e uma fortuna muito abalada. ab alada. Desde a infância que lhe dizia: “É preciso que faças um bom casamento, Violeta. Bonita como és, não te faltará um bom partido”. E Violeta, desde a adolescência, tinha lançado os olhos para o melhor partido do Reino-Unido: ReinoUnido: o marquê marquêss de Shesbury Shesbury.. Além de apaixo apaixonada nada por ele, desejava também a posição magnífica e invejável que teria aquela que fosse a nova senhora de Shesbury. Tinha Tinha por isso recusa recusado, do, sempre desden desdenhosame hosamente, nte, os diversos diversos pedidos pedidos de casam casamento ento que tivera, na esperança de conquistar aquele rico partido. Com vinte e três anos, era já uma hábil galanteadora, muito mais hábil do que a prima Pámela. Os seus brilhantes cabelos pretos enquadravam um rosto de aspecto sem vida, que teria parecido frio, se não tivesse a vivacidade e o fulgor dos olhos, dum cinzento esverdeado. A boca, um pouco grande grande,, mostrava, ao entreabri-la, uns magn magníficos íficos

 

dentes. O corpo era realçado pela elegância dos vestidos, feitos numa grande costureira parisiense, em favor da qual Porroby fazia um discreto, mas proveitoso reclame, em troca do que não a forçava muito no pagamento - sempre dificultoso - das faturas. Rosa Ro sa ti tinh nha a re resu sumi mido do em po pouc ucas as pala palavr vras as,, ao fa fala larr co com m Or Orie ieta ta,, os se seus us sentimentos a respeito da prima.  ─ É uma galanteadora que se admira e idolatra a si própria, muito amável quando o quer ser, e sabendo também, quando lhe convém, ser altiva e fria!... Não tem coração, mas é muito ambiciosa. Não gosto nada dela.  À aparição de Shesbury Shesbury,, no salão, Violeta avançou uns passos, sorridente, e nos olhos brilhando uma intensa alegria.  ─ Há quanto tempo não nos encontramos, Shesbury!... Pelo menos há dois anos, não?  ─ Pouco mais ou menos, parece-me... ─ Inclinou-se, apertando-lhe a mão, ornada com duas pedras faiscantes, faiscantes, que ela lhe ttinha inha estendido. ─ Vem aumentar, com grande agrado para nós, o nosso pequeno círculo de hóspedes, Porroby!... Depois destas palavras voltou-se um pouco para Orieta, que o seguia.  ─ Orieta Farnela, uma pupila de meu pai, e minha agora, assim como sua irmã, que logo lhe apresentarei. Orieta, desde a curta e violenta cena que tivera noutros tempos com Walter, não tinha visto mais Porroby entre os jogadores que rodeavam o herdeiro do velho Shesbury. Porém esta lembr lembrava-se ava-se muito bem da pequena pequena,, tão descortes descortesmente mente castiga castigada da por ele.  Além disso, Pamela já tivera tempo de a prevenir contra a fantasia de Rosa, acrescentando, com prudência, que era preciso não tomar ares altivos para com as pupilas de Walter, sob pena de o desgostar, pois queria que as Farnelas fossem tratadas no mesmo pé de igualdade com a irmã. Prevenida ou não, Porroby não pôde deixar de sentir uma certa inquietação, de mistura com uma cólera invejosa, ao ver a jovem que aparecia por detrás de Shesbury. Todavia mostrou-se amável. Um grande hábito de dissimulação tornava-lhe fácil todos os papéis.

 

 ─ Humfrey Humfrey,, julgava-o um homem de bom senso, um homem sério e judicioso!... Pelo menos passa como tal... Estas palavras foram dirigidas a Humfrey, num tom sarcástico, por Shesbury, que viera sentar-se no canto do sofá, coberto por uma seda enramada.  ─ A que propósit propósito o vem isso, W Walter? alter?  ─ Conhece, suponho, “A Princesa de Clèves”?  ─ Conheço... ou pelo menos já li esse livro há alguns anos.  ─ Então devo pensar que o esqueceu, visto que não julgou necessário advertir a menina Farnela de que esse romance não foi feito para as meninas de quinze anos, nem para as meninas como ela.  ─ Esquecido? Sim, de fato, não o tenho muito presente na memória, confesso, meu caro Walter.  ─ E depois, além disso, talvez tenha a tal respeito idéias mais modernas do que as minhas?... O tom de voz tornara-se-lhe duma ironia quase mordaz. Orieta notara já mais duma vez que o espírito zombador de Shesbury se exercia muito em especial sobre Hunfrey. Nesse momento a atitude do fidalgo, encostado no sofá, de pernas cruzadas e um sorriso de zombaria entreabrindo-lhe a púrpura viva dos lábios, parecia sublinhar ainda mais a ironia da voz e das palavras. Hunfrey opunha-lhe sempre uma imperturbável, uma admirável paciência. Tal era pelo menos o qualificativo que Pamela e outras pessoas, compenetradas dos seus méritos, davam àquela impassibilidade, àquela calma com que ele recebia as ironias de Walter, Orieta no entanto achava que Hunfrey levava muito longe essa magnanimidade e perguntava pergunt ava muitas vezes a si própria, com perplex perplexidade, idade, se agiria assim assim,, ou por virtu virtude, de, ou por covardia. Nesse dia, à reflexão irônica do parente, sorriu, como se tivesse ouvido um gracejo.  ─ Não pense assim, meu caro!... Além de tudo, a minha idade, ida de, os meus princípios

 

bem conhecidos, devem ser uma garantia sobre os conselhos de leituras que eu possa dar às meninas novas. Assim volto a dizer-lhe que tenho apenas uma vaga lembrança do romance em questão. Hei de lê-lo outra vez... mas desde já não ponho dúvida em aprovar inteiramente as suas conclusões, com referência à Rosa e à sua pupila.  ─ Muito bem!... Seria bonito se fosse menos severo do que eu!... Hunfrey Barford, uma das colunas do templo, um homem citado como exemplo, o presidente duma sociedade cristã de salvação da infância, o presidente fundador dos socorros às mulheres perdidas, o presidente... de quê ainda?... Não é também diretor duma comissão de leituras para meninas  ─ Sim senhor, meu caro Walter Walter.. Estabeleci na freguesia de Rockden uma biblioteca, bem fornecida de livros, e que proporciona à juventude uma sã distração.  ─ Um exemplar castelão, que digo eu! É uma perfeição... um homem absolutamente perfeito!... Senhora Pamela, temos um primo que vai em caminho de santidade. Esta Est a ret reteve eve a cus custo to um est estrem remecim eciment ento, o, sob o olha olharr zombad zombador or do entead enteado. o. Humfrey,, porém continuou a sorrir e respondeu: Humfrey  ─ Não é tanto assim, meu amigo ... Procuro, na medida das minhas minh as forças, vencer a imperfeição humana... tarefa difícil, como deve saber por si mesmo.  ─ Eu?... Eu conservo a minha natureza tal tal como é... É muito mais simples! ─ disse ironicamente Shesbury Shesbury..  ─ E tem muita razão! ─ exclamou Violeta, com um olhar de eloquente adulação. Orieta surpreendeu de passagem esse olhar, pelo que desde logo sentiu desprezo e antipatia por ela. A condessa Sanzoff e as filhas entraram neste momento e os outros hóspedes apareceram pouco depois.  A conversa tornou-se animada, quer sobre uma coisa ou outra, enquanto as pequenas serviam o chá. Porroby aparentava uma certa cultura intelectual, um grande hábito de convívio da sociedade, uma apresentação que dificilmente se desconsertava. Sabia falar por isso um pouco sobre tudo, com bastante habilidade, para parecer mais entendida, pelo menos aos olhos dum vulgar observador. Durante os meses anteriores

 

lera um grande número de obras sobre os países percorridos por Walter, para que encontrasse nela uma interlocutora que o compreendesse com meias palavras. Era preciso que se interessasse por ela, custasse o que custasse. Nada no entanto era mais desorientador e por sua vez mais excitante, do que a ironia subtil que ele adotava contra os modernismos femininos. Violeta fazia a experiência; no entanto deixava-a cada vez ainda mais apaixonada e menos desencorajada, porque era vaidosa em excesso, e pensava que com muita habilidade e muita sedução chegaria por fim à meta sonhada.

 

XV

 A chegada de Porroby originou distrações mais numerosas e variadas. Com sua prima Pamela, sabia organizar com esmero as diversas festas diárias. Shesbury davalhes, neste assunto, assunto, a mais ampla liberdade, enquant enquanto o que reservava para ele completa completa independência, o que fazia com que os seus hóspedes só o vissem muitas vezes à hora do chá. Sabiam que estava a escrever uma narrativa sobre as suas viagens, como não ignoravam também que no pavilhão índio se encontrava a bela Apsara, sempre invisível. Fora disto não havia qualquer outro motivo para que os seus hóspedes dissessem coisa alguma, Achavam natural tudo quanto fazia, embora a um outro tudo censurassem. Porroby era uma apaixonada pela música e quase todas as tardes organizava um concerto, no qual tomavam parte Walter, Xênia, Natacha, a senhora Rockton e Farneuil, este último considerado um excelente -violinista. O violino de Shesbury contudo levava Orieta às regiões do sonho, fazendo-a vibrar num verdadeiro transporte. “Como é que um homem” pensava, com secreta cólera, contra uma impressão tão vivamente sentida, “de coração tão seco e uma alma cética e dura, pode fazer vibrar o violino em frases melódicas, por vezes com tanta ternura e tão ardentes, patéticas ou dolorosas, e que fazem estremecer e fremir as mais profundas fibras da nossa alma?” O encanto era tão intenso, tal como sucedia com Xênia, que apenas respirava, deixand deix ando-s o-se e ficar ficar num ver verdad dadeir eiro o enl enlevo evo a ouv ouvir ir toc tocar ar Shesbu Shesbury ry.. Mas log logo o Orieta Orieta cens censur urav ava a a si próp própri ria a o te terr cedi cedido do ao seu seu enc encan anto to,, e te tent ntav ava a ev evititar ar que que Wa Waltlter er percebesse a sua comoção. Não tinha ele já tantos admiradores e admiradoras?... Porroby, sobretudo, excedia-se num misto de adulação e galantaria, que lhe excitava a alma reta e altiva. “Aceita tudo isso com ar de quem está zombando dela” - pensava Orieta, não sem uma certa alegria íntima. “É bem feito”.  A sua antipatia sempre crescente por Porroby fazia-a afastar-se, tanto quanto podia, dos divertimentos de Falsdone. Além disso, se bem que fosse uma pessoa ativa e apesar de gostar do movimento e das distrações, sentia, por outro lado, uma grande apatia, pelo que se contentava, como Faustina, com os constantes passatempos daquele

 

meio. A corte discreta e a admiração dos hóspedes mais novos de Shesbury, embora não a deixassem insensível, tocando-lhe com o seu amor próprio feminino, incomodavam-na por vezes, porque nenhum deles lhe inspirava mais do que simpatia. Por outro lado, desejava também consagrar mais tempo à sua amiga Rosa, cujo estado de saúde a excluía da maior parte das distraçõ excluía distrações. es. E depois depois,, era este o único recurso que tinha para se encontrar o menos possível com Shesbury, embora, na verdade, a deixasse cada vez mais de lado, com a sua atitu atitude de fria e indife indiferente rente.. Parecia que só se lembrava dela para lhe enviar livros, os quais lia em voz alta à sua amiga. Devia sentir por ela - o que repetia com uma satisfação bizarra, misto de pesar e de azedume - que era tão franca e tão altiva, a mesma repulsa que ela sentia por ele. Estava paga. “Pelo menos não me pode patentear o seu desprezo.. como à Porroby” - pensou logo. Voltando uma tarde dos aposentos de Rosa, a fim de se vestir para o jantar, encontrou à porta do seu quarto Faustina, um pouco corada e bastante agitada.  ─ Orieta, eu b bem em disse que nos ias arranjar qualquer aborrecimento com as tuas idéias! E fazendo-a entrar, fechou a porta.  ─ Que foi que aconteceu?...  ─ Escuta! na volta do seu passeio, Shesbury chamou-me um instante de lado e perguntou-me porque trazíamos sempre vestidos iguais.... e sempre os mesmos para cada circunstância. Respondi-lhe que fora escolha tua... Começou a rir-se com o ar mais zombeteiro possível, dizendo: “Ah! eu bem supunha que a Orieta é que era a culpada!” Esta apertou nervosamente os lábios, enquanto Faustina continuou:  ─ Ficou um momento calado, e depois disse, num tom muito seco: “Quero, diga isto à sua irmã, que as minhas vontades sejam executadas. Se recusar, Barker será a respon res ponsáv sável. el. Des Desagr agradar adar-me -me-á -á bas bastan tante, te, com efe efeito ito,, se as minhas minhas pupila pupilass não se apresentarem condignamente aos meus hóspedes. Queira também advertir a menina Orieta que não quero vê-la fugir assim das nossas distrações e reuniões”.  ─ Ah! disse isso!?... Pois então pode estar certo que não lhe obedecerei.

 

 ─ Orieta.... tu estás louca! Shesbury obrigar-te-á a obedecer!... Não compreendo por que pensas em resistir! Por mim não passo duma pobre avezinha trêmula, quando ele toma aquele ar solene e autoritário. Orie Orieta ta enc encol olhe heu u os om ombr bros os,, lanç lançan ando do a Fa Faus ustitina na um ol olha harr de co comp mpai aixã xão o desdenhosa.  ─ Estás disposta a rastejar diante dele, como fazem todos! Se não me encontra vestida com elegância, que me deixe viver à minha vontade, longe dos seus hóspedes. Em todo o caso, repito, não lhe obedecerei. Desta vez Faustina revoltou-se.  ─ Nesse caso não serei então solidária contigo! É ridículo!... É loucura!.... repito... Porque, na verdade, estamos fazendo o papel da panela de barro contra o pote de ferro. Orieta teve um sorriso de amarga ironia.  ─ Bem sei que sou uma minúscula personalidade, em comparação com sua excelência o marquês de Shesbury. Mas nem por isso quero abdicar da minha dignidade e duma certa independência moral. Faz o que entenderes, visto que não to posso impedir. Shesbury só terá que ver comigo.  ─ É ridículo!.... e é loucura! ─ repetiu Faustina, saindo do quarto, não sem uma certa raiva. Uma vez só, Orieta pôs-se a refletir longamente. Ceder à vontade de Shesbury era coisa em que não pensava um instante sequer. O seu amor próprio revoltava-se contra essa vontade imperativamente expressa, e ante os favores desse homem indiferente e altivo, que fazia questão que as suas pupilas não destoassem do quadro suntuoso onde se dignara recebê-las. Voltara-lhe à idéia um alvitre que uma vez lhe ocorrera, e que enunciara diante de Shesbury, na entrevista em que lhe fizera conhecer as suas decisões, a respeito dela e de Faustina. Escreveria a D. Alberto Farnela comunicando-lhe a sua situação e pedindo-lhe que as libertasse do jugo e dos benefícios deste estranho. Oxalá que ele já tivesse voltado!... Mas para onde escrever-lhe?... O melhor era dirigir a carta para Faletti. Orieta lembrava-se ainda que o pai possuía, nos arredores dessa cidade, uma velha casa arruinada, que desde séculos pertencia à família. Por isso

 

ia tentar. “Q “Qua uand ndo o diss disse e a Sh Shes esbu bury ry que ia escr escrev ever er-lh -lhe, e, re resp spon onde deuu-me me qu que e nã não o mo impediria. Logo, não pode agora exprobar-me por isso” - pensou Orieta. “E se se zangar, pouco importa!...”  Abstrata e nervosa, começou a vestir-se para o jantar. O seu pensamento trabalhava, procurando os termos para a carta que escreveria nessa mesma tarde!... Sim, nessa tarde!... Porque esperar?... Se ainda pudesse pedir um conselho!... Mas a quem?... Rosa Ro sa era era mu muitito o no nova va e Xê Xêni nia a um uma a am amiz izad ade e mu muitito o re rece cent nte. e... .. O ca cape pelã lão o de Falsdone-Hall, excelente ancião, começava a ter a inteligência, pouco mais de medíocre, obscu obs cure reci cida da pe pela la idad idade. e. A senho senhora ra Ro Rock ckto ton, n, a ele elega gant nte e e circ circun unsp spet eta a da dama ma de companh com panhia, ia, des desgos gostav tava a bas bastan tante te Ori Orieta eta,, sob sobret retudo udo desde desde que lhe sur surpre preende endera ra uns certos olhares, fitando Shesbury... e Humfrey... Este é que parecia reunir todas as qualidades de perfeito conselheiro. Oferecerase mesmo, com discreta bondade, certa vez, para a ensinar, caso se encontrasse ante algum caso embaraçoso. Mais duma vez ouvira elogios a seu respeito sobre a dignidade da sua existência, sobre a sua caridade e o seu zelo pelo bem do próximo. Até o espírito crí crític tico o de Ros Rosa a se enc encont ontrav rava a ind indeci eciso, so, não des descob cobrin rindo do por ond onde e cen censur surá-l á-lo. o. Só Shesbu She sbury! ry!... ... Mas que rep repres resent entava avam m os sar sarcas casmos mos de Shesbury Shesbury e a sua mal maldos dosa a zombaria a respeito dum homem que, moralmente, devia ultrapassá-lo cem vezes?... Pelo contrário, Humfrey saía realçado aos olhos das pessoas sérias e dos espíritos refletidos. Orieta deduzia deste modo, mas, no entanto era bastante singular que experimentasse uma um a espé espéci cie e de re repu pugn gnân ânci cia a ante ante a idéi idéia a de se conf confia iarr a es esse se ho home mem, m, o ma mais is considerado, moralmente falando, de todos aqueles que a cercavam! Desta vez, pelo menos, agiria sem pedir conselhos a ninguém. Depois, era tão naturall que procurass natura procurasse e ter notícias do pai, que, reconhecia, se incomodava muito pouco com as filhas, pois as tinha entregado por completo a um estranho, sem nunca mais ouvir falar delas. Isto foi um pensamento doloroso para Orieta, desde a idade em que começou a refl reflet etir ir.. E ness nesse e dia dia aind ainda, a, pens pensan ando do na indi indife fere renç nça a pa pate terna rna,, na mã mãe e que nu nunc nca a conhecera, e da qual nem mesmo possuía um retrato, as lágrimas vieram-lhe aos olhos e

um soluço constrangeu lhe a garganta.

 

“Ah! receio, se existe ainda, que não queira incomodar-se conosco!” - pensou, com angústia. Estas preocupações entristeceram-na e mantiveram-na mal disposta durante o  jantar e a sessão musical, embora fizesse esforços por se reprimir, pois não queria que Shes Sh esbu bury ry a julg julgas asse se sent sentid ida a com com as expr exprob obaç açõe õess e a in intitima matitiva va qu que e Faus Faustitina na lh lhe e transmitira. Enquanto os hóspedes masculinos passavam à sala de fumo, o assunto entre as senhoras era o grande baile que Shesbury daria daí a quinze dias. Todos os hóspedes do castelo e notabilidades da região tinham sido convidados. Altas dignidades viriam de Londres assistir a essa festa, cuja atração principal seria Apsara, a bela índia, que nessa noite devia dançar, como já anunciara Pamela.  ─ Shesbury informou-me disso esta esta manhã. V Vamos amos ver enfim a misteriosa Apsara.  ─ Que felicidade! ─ exclamou Natacha. ─ Sempre verei dançar uma verdadeira bailarina!... Trate de ficar boa para esse dia, querida Rosinha!...  A condessa Sanzoff inclinou-se para Pam Pamela: ela:  ─ Não sei se podemos permitir permitir às pequenas que assistam.  ─ Walter Walter disse-me que as suas danças eram muito honestas.  ─ É que... não confio muito em Walter para julgar essas coisas. A presença dessa índia em Falsdone-Hall é já um grande desafio aos preconceitos sociais. Talvez seja mais prudente prudent e que a Natac Natacha, ha, a Rosa e as pequenas Farnelas fiquem nos seus quartos essa noite.  ─ Rosa ficaria doente, se tal se desse. Quanto às Farnelas.... não temos autoridade, querida condessa para lhes proibir qualquer coisa. Só o tutor o pode fazer... e esse duvido que o faça! ─ disse Pamela com um sorriso mau.  A condessa Sanzof abanou a cabeça e, baixando ainda mais o tom de voz, murmurou:  ─ Um tutor esquisito!... É uma infelicidade para essas pequenas, que são muito bonitas... sobre todos os pontos de vista!... Orieta é feita para fazer voltear todas as

 

cabeças! E ele!. É na verdade uma situação bem perigosa!... Pamela teve um leve encolher de ombros, replicando:  ─ Shesbury, Shesbury, até aqui, parece ter deixado de lado essa pequena Orieta, ante a qual se curvam os seus amigos, O seu orgulho e o seu espírito de independência devem desagradar, suponho... a um homem com aquele caráter, tão voluntarioso e tão altivo, e que além do mais tem o costume de ver as mulheres mendigar as suas atenções. Orieta não o esti estima ma,, porq porque ue a cast castig igou ou ou outr tror ora, a, qu quan ando do ai aind nda a cr cria ianç nça, a, po porr ca caus usa a do se seu u atrevimento. São dois feitios que parecem não poder nunca entender-se.  ─ Tanto Tanto melhor! ─ concluiu a senhora Sanzoff.

 

XVI

Dez dias depois, Orieta recebeu uma carta registrada, com o carimbo de Faletti.  As mãos tremeram-lhe ao abri-la, e só com dificuldade conseguiu decifrar a letra miúda que cobria duas páginas de papel vulgar. “Minha filha “Encontro-me aqui há um mês, de volta desse longínquo Brasil, onde contraí uma doença que pouco a pouco me levará à campa. Trouxe também uma modesta fortuna, o suficiente para me sustentar até ao fim da vida, e que por isso nem ao menos me permite manter uma só das minhas filhas. Isto equivale a dizer-te que não estou em condições de satisfazer o desejo que mostras na tua t ua carta. “Vejo com satisfação satisfação que tens um caráter nobre e a altivo. ltivo. Porém, quando vos deixei entregues aos cuidados de Shesbury, obedeci a motivos que ainda prevalecem. Crê, minha filha, que podes aceitar sem o menor escrúpulo tudo quanto o atual Shesbury quiser fazer por vós. Eu já nada posso... e não autorizo a emancipares-te duma tutela de que ainda necessitas, devido à tua pouca idade. Não me queiras mal por isso, minha filha; sou um homem que tenho sofrido muito e estou morrendo aos poucos na tristeza da solidão. Obrigado pelo afeto que me ofereces; talvez me fosse terno... ou então... O que te peço apenas são as tuas preces por mim, junto de Deus. Reza muito pelo teu pai e pela tua mãe, os quais muito sofreram neste mundo, pelo que devem ser merecedores duma melhor eternidade. “Como prova da minha estima pelo teu caráter caráter,, envio-te a quanti quantia a de mil liras, de que podes dispor como entenderes. É o mais que posso fazer, e crê que lamento não poder fazer mais. “Alberto de Farneul.” Orieta não confiava muito no êxito da sua iniciativa. Contudo o desapontamento que sentiu, deixou-lhe os olhos marejados de lágrimas. Depois releu a carta com certa comoção. comoç ão. Esse pai, moribundo e solitário, que parecia não ter o menor desejo de ver as filhas.... era uma coisa estranha! E porquê, também, após ter-lhe louvado o amor próprio,

a incitava a aceitar, sem o menor escrúpulo , as dádivas de Shesbury? E ainda mais, que

 

quereria ele dizer com aquela espécie de dúvida sobre a ternura que poderia sentir com o afeto da filha? “Oh! na verdade tudo isto é enigmático! - pensou tristemente Orieta. “Mas o que está bem patente, é que não posso contar com o meu pai, e que ele me obriga a continuar a suportar a tutela de Shesbury!” Como Co mo lhe lhe doía doía essa essa ob obri riga gaçã ção! o!.. .... e ca cada da ve vezz mais mais!. !... .. Ac Acha hava va tã tão o peno penoso so encontrar-se com Walter, que sentia o coração palpitar com mais violência só ao ouvir-lhe os passos ou o som da voz. Tinha porém de se resignar a essa necessidade. Talvez algum dia tivesse a idéia de as internar nalgum instituto, onde acabassem de se instruir. Há tempos falara em arranjar-lhes professores. Porém, desde então, nunca mais dissera uma palavra a tal respeito. Orieta amarrotou sem querer a carta mandada por D. Alberto. “Que iria fazer com esse dinheiro?... o único que podia esperar do pai, p ai, como ele o declarara na carta. Ah! sim! .. entregá-lo-ia entregá-lo-ia a Shesbury Shesbury,, como uma pequena compens compensação ação das despes despesas as feitas com ela e Faustina. Seria, em última análise, um simples gesto de dignidade, apenas para satisfação sua.... visto que Walter naturalmente não o compreenderia. Dar-lhe o dinheiro diretamente?... Não!, não!... Estremecia ao pensar no olhar e no sorriso com que seria acolhido o seu gesto. Sim, havia de sorrir, e com que ironia!... Decerto ia recusar, com um ar sutil de desdém, a quantia, ínfima aos seus olhos, que ela lhe queria entregar. Tal idéia fazia-lhe ferver o sangue nas veias. Mas existia um meio: meter a nota num envelope, com algumas palavras, e mandar-lho. Depois... Depoi s... depois talvez lhe viesse falar falar... ... ou então devolver devolver-lhe-i -lhe-ia a apenas a nota. nota. Orieta esperava-o pelo menos. Mas, em qualquer dos casos, o gesto ficaria... E se lho devolvesse, procuraria conseguir que a senhora Barker lhe permitisse pagar, com essa importância, o seu vestido para a grande festa de dois de Junho. Se bem que Orieta houvesse garantido que não o vestiria, a governanta mandara-o fazer, ao mesmo tempo que o de Faustina, pois tinha recebido novas e severas instruções de Walter, e não queria mais ouvir censuras a tal respeito. Redigiu logo um curto bilhete que meteu num envelope juntamente com a nota

 

mandada por D. Alberto e chamou a criada de quarto, pedindo -lhe que o levasse a Shesbury. Logo que a criada fechou a porta, pensou no sorriso de Walter, quando lesse aquilo... e estremeceu de cólera e desgosto.  ─ Que importa!, que importa!... ─ murmurou nervosamente. Voltou a pegar na carta do conde de Farnela! Farnela ! Releu-a uma vez mais. Estranho pai, que parecia não ter o menor desejo de ver as filhas antes de morrer!... Não, não era nele que encontraria o apoio moral, a forte afeição que o seu coração ambicionava, e Faustina, não passava dum frágil arbusto que se deixava vergar... Em Rosa poderia encontrar mais fidelidade e uma amizade mais sólida, mas era como que uma criança!... E Orieta sentia que, desde há um certo tempo, qualquer coisa desabrochava na sua alma e no seu espírito! De repente pensou: “Oh! Ia-me esquecendo da Rosinha!... Temos um passeio combinado para esta tarde.” Vestiu-se a toda a pressa e pôs uma boina bordada por suas próprias mãos, adestradas para qualquer mister. Em seguida dirigiu-se para os aposentos de Rosa, cuja fisionomia, cheia de tédio e cansaço, se iluminou ao vê-la.  ─ É como o sol para mim, Orieta. E já estava mesmo precisando da sua presença, pois hoje sinto-me pior.  ─ Quer sair, sair, apesar disso, querida?  ─ Quero. O ar decerto me fará bem. Leve um livro para ler, quando pararmos um pouco. Um criado empurrou a cadeira de rodas para o jardim, e Orieta foi andando ao lado da amiga. A temperatura estava muito agradável e o céu mostrava-se coberto por uma leve bruma. Os canteiros suntuosamente floridos, os tufos espessos de verdura, as estátuas de mármore, a água que caía em repuxo nas bacias de bronze, saindo da boca dos tritões e das sereias, ou das goelas dos dragões e outros animais fantásticos, todo este conjunto, duma harmoniosa magnificência, encantava e prendia o seu olhar, como se o visse pela primeira vez.

 

 Aliás, em Falsdone-Hall, admirava tudo, e neste ponto concordava com Rosa, que só se sentia bem nesta residência.  As duas passaram por uma alameda de tílias, ao fundo da qual se avistava o canteiro coberto de flores, que contornava o pavilhão índio, branco e misterioso no meio de todo aquele verde. À porta de entrada, toda em mármore, estava sentado um índio, acariciando um sagui que tinha no ombro.  ─ Queira Deus que não esteja doente no dia em que a bailarina dançar, Orieta! ─ disse Rosa.  ─ Mas porque será que nunca a vemos?... Na Índia saem de casa, vão e vêm por toda a parte. Já interroguei Nortiey a tal respeito e respondeu-me: “Obedece às ordens de Shesbary”. Mas porque não lhe permite que saia?... Só a deixa passear pelo jardim nas horas em que este fica deserto?  ─ Não sei, Rosa... Rosa... Onde quer que paremos?  ─ Um pouco mais adiante, próximo do lago. Pouco depois, as duas chegaram junto do lago, de paredes de mármore, onde se via um brilhante lençol de água, emoldurado por árvores seculares. O criado recebeu ordem para se ir embora e só volta voltarr uma hora depois depois.. Rosa manifest manifestou ou logo o desejo de andar um pouco.  ─ Penso que é melhor estar sossegada, se não se sente bem hoje! ─ observou Orieta.  ─ Pelo contrário, sinto que me fará bem. Parecia nervosa e febril. Quando se agarrou ao braço de Orieta, esta sentiu-a cambalear.  ─ Sente-se, querida, que eu a ajudo.  ─ Mas não !... !... Que idéia!... Andarei só. Juntando o gesto à palavra, deixou o braço da amiga e deu alguns passos. Logo em seguida, porém, cambaleou, caindo antes que Orieta a pudesse amparar. Bateu com

o rosto contra o soco duma velha estátua erguida à beira do lago. Orieta inclinou-se para

 

a ajudar a erguer-se, mas viu, com espanto, que estava desmaiada e que um fio de sangue lhe corria da testa. Gritou então com toda a força:  ─ Luke!... Luke! O criado estava já muito longe para a poder ouvir. Onde procurar socorro? Se corresse até ao castelo, Rosa perderia muito sangue. O pavilhão?... Sim, era o que estava mais perto!... Tentaria levá-la até lá e pediria ao criado índio, que tinham visto pouco antes, que a ajudasse a levá-la para o castelo.  Apesar da sua magreza, Orieta, quando chegou aos canteiros do pavilhão, já não podia mais. Fez um sinal ao índio, que se aproximou, visivelmente surpreendido, e explicou-lhe o que desejava. Ele, porém, num mau inglês, respondeu-lhe:  ─ Não o posso fazer sem autorização do meu senhor senhor..  ─ Mas esta senhora é irmã do marquês de Shesbury Shesbury... ... e tem de ser tratada imediatamente. O seu senhor não pode ficar zangado. O índio hesitou, olhando para o pavilhão, e respondeu:  ─ O meu senhor não permite que o incomodem.  ─ Ele está aí?... Está?... Então é muito simples... Previna-o de que a irmã está ferida.  ─ O meu senhor não o permite ─ respondeu impassivelmente o índio.  ─ Mas isso é odioso t... t... Não posso acreditar que o vvá á censurar por por... ... Nesse momento a porta de bronze, cujo desenho ela admirara na visita que fizera em companhia de Humfrey, rangeu, aberta por mão vigorosa, e no limiar apareceu Shesbury.  ─ Que houve ? ─ perguntou ele com altiva impaciência.  ─ A menina Rosa caiu e feriu-se. Trouxe-a para aqui e pedi a este homem para que me ajudasse a levá-la para o castelo. Porém ele não o queria fazer sem sua licença e recusava-se a ir pedir-lha...

 

Walter desceu rapidamente os degraus de mármore e aproximou-se dela, corada e exausta, sustendo a Rosa nos braços, já a desfalecer.  ─ Perdeu os sentidos!... Acho melhor tratar dela aqui... Voltando-se para o criado disse-lhe algumas palavras num dialeto índio. Este entrou imediatamente no pavilhão.  ─ Dê-ma, Orieta... Já não pode mais... ─ E pegou na irmã nos braços, com a mesma facilidade com que ergueria uma frágil avezinha. ─ Venha comigo - acrescentou ele. Orieta seguiu-o, com o espírito absorvido pela sua inquietação. Entrou numa sala com as parede paredess forradas a sândal sândalo, o, com incrus incrustações tações de prata, iluminada por um clarã clarão o misterioso, coado através das grades de mármore das janelas. Pairavam no ar perfumes os ma mais is comp comple lexo xos: s: um de delilica cado do arom aroma a a chá, chá, um ch chei eiro ro a ta taba baco co lou louro ro,, ef eflúv lúvio ioss capitosos de jasmim e doutras flores, que cobriam o tapete persa, os móveis de ébano, admiravelmente lavrados, e as ricas almofadas espalhadas pelo chão. O índio, tendo deixado cair o reposteiro bordado a ouro, veio ajudar o seu senhor a estender Rosa num divã, trazendo em seguida um jarro de cristal e uns finos lenços. Walter lavou a ferida, ligou-a convenientemente e entrou no aposento vizinho, donde voltou volto u trazendo um frasq frasquinho uinho de ouro cinzelad cinzelado, o, contendo um líquido que fez aspirar à irmã. Quase imediatamente reabriu os olhos e fitou com espanto Shesbury e Orieta, que se debruçavam ansiosos sobre ela.  ─ Que foi que eu tive ? ─ murmurou ela.  ─ Uma queda, minha querida. Não foi foi nada ─ respondeu Orieta. Rosa levou a mão ao rosto.  ─ Estou ferida?  ─ Quase nada. Dentro dalguns dias não terá nenhum sinal. Sente-se, Orieta, vou dar-lhe um cálice de cordial. Walter puxou uma cadeira para junto dela. Sentou-se maquinalmente, pegando na mão fria de Rosa. Os esplendores orientais dessa sala e os perfumes muito fortes,

 

atordoavam-na... Perto dela, sobre uma mesa de ébano, com incrustações de nácar e prata, o chá estava servido em esquisitas chávenas de porcelana transparente, decoradas por artistas da antiga índia. Sobre uma pele de tigre estava deitado um véu de musselina branc branca, a, bo borda rdado do a ou ouro ro,, du duma ma de delilica cade deza za idea ideal.l. Ao la lado do viam viam-s -se e un unss br brac acel elet etes es cravejados de pedras preciosas.  ─ Vai tomar chá, para se refazer do cansaço e da comoção ─ disse Shesbury a Orieta. E sem ouvir a sua recusa, encheu uma chávena, que por sua ordem o criado índio trouxera, juntamente com o copo e o frasco onde estava o cordial para a Rosa.  ─ Foi um velho brâmane que mo ofereceu ─ disse Walter, Walter, tirando a rolha lapidada.  ─ É um reconstituinte admirável, admirável, como vais ver ver,, Rosa. Nesse momento o sagui, que entrara atrás de Shesbury e de Orieta, saltou para o ombro desta, que soltou um grito de susto. Walter estendeu a mão e atirou-o para longe, dando uma breve ordem ao índio.  ─ Oh! não o magoe ─ exclamou exclamou Orieta.  ─ É ágil demais... Detesto este gênero de animais, e já os proibi de o deixarem entrar aqui, quando eu estiver.  ─ Eu também não gosto. Mas não queria que o magoasse.  Acompanhou com os olhos o criado que levara o animal, até o ver desaparecer por detrás dum reposteiro bordado. Shesbury, após ter servido o cordial à irmã, sentou-se perto de Orieta e pegou numa das taças que estavam sobre a mesa.  ─ Onde estavam, quando se deu o acidente? ─ perguntou ele. Orieta contou-lhe o ocorrido. Ele concluiu:  ─ Vou mandar o Rondra buscar a cadeira, e ele levará a Rosa até ao castelo. É preciso que vá já para a cama, enquanto se manda chamar o doutor Sheston. Rosa Ros a dirigia dirigia ao irm irmão ão um olha olharr de sur surpre presa sa rec reconhe onhecid cida. a. Estava Estava tão pouco pouco habituada às demonstrações de interesse da sua parte, que as mínimas coisas tomavam

a seus olhos um valor incalculável.

 

Walter deu as suas ordens ao índio, que saiu apressado, em direção ao lago, onde estava a cadeira. Rosa, cansada, fechou os olhos e apoiou a cabeça nas almofadas. Orieta bebeu o chá aos goles, devagar, ansiosa porque Rondra voltasse breve, pois estava na verdade sentindo um estranho mal estar. Shesbury acariciava com a ponta do sapato um dos cães, deitado a seus pés.  ─ Gosta ainda de cães, Orieta?... Orieta?... ─ disse ele, fixando-a.  ─ Ainda, senhor Walt Walter. er.  ─ Quer ficar com um dos filhos de Fady e Leda?... Mandá-lo-ei ccriar riar para si. Rosa abriu os olhos, dizendo rápida:  ─ Oh! sim, Walter Walter,, faça-lhe presente dum! Ela gosta m muito uito dos seus lebréus!  ─ Então, está dito. Poderá ir escolhê-lo quando quiser quiser..  ─ Sinto muito, mas não posso posso aceitar ─ disse Orieta. Tinha a voz um tanto surda e hesitante. O mal-estar aumentava. Nessa altura, na sua fre frente nte,, alg alguém uém af afast astou ou ligeir ligeirame amente nte o rep repost osteir eiro, o, e doi doiss gran grandes des olh olhos os neg negros ros brilharam num rosto cor-de-âmbar claro, dois olhos sombrios, cheios duma rancorosa curiosidade. Foi uma visão dalguns segundos. O reposteiro voltou a cair suavemente. Orieta, numa espécie de vertigem, ainda ouviu Shesbury responder:  ─ Mas porque não?... Faço empenho nisso... ─ E quase logo acrescentou: ─ Que é?... Está-se sentindo mal? Rosa, assustada, exclamou:  ─ Como está pálida!... pálida!... Que tem, querida?...  ─ Um pequeno mal-estar. mal-estar.... ... devido com certeza ao aroma destas flores... vou tomar um pouco de ar... Ergueu-se entontecida, atordoada. Walter ofereceu-lhe o braço.  ─ Apóie-se aqui.

Tentou recusar.... mas sentiu se sem forças para chegar sozinha até à porta... e

 

deixou-se levar, apoiada ao braço do marquês. O ar reanimou-a logo. Deixando-lhe o braço, disse:  ─ Agradeço-lhe, senhor senhor... ... Não se preocupe comigo. Ficarei Ficarei aqui até o criado voltar voltar.. Walter voltou a entrar no pavilhão e sentando-se junto da irmã, disse:  ─ Orieta já está melhor. Devem ter sido de fato estas flores que a perturbaram... Não te incomodam?  ─ Nada. Tenho um fraco pelo perfume das flores, como tu, e nunca me incomodam.  ─ O nosso pai também era assim. assim. Creio que isto é uma inclinação de família.  ─ Deve ser. Poucas pessoas tenho conhecido assim... Cá em casa temos apenas a Faustina.  ─ A F Faustina! austina! Um fulgor de interesse brilhou no olhar de Walter.  ─ Faustina tem a mesma mesma imunidade?  ─ Tem, Tem, pois é capaz de estar durante bastante tempo num quarto fechado, onde ond e haja flores com um perfume fortíssimo. A mãe, pelo contrário, fica logo indisposta, e a Orieta sente um certo mal-estar... porém nunca chegou ao ponto de hoje... Shesbury deixo Shesbury deixou-se u-se ficar um insta instante nte calado calado,, brinc brincando ando dist distraidame raidamente nte com uma colher de ouro cinzelado. Depois perguntou:  ─ Continuas a dar-te bem com com a Orieta?  ─ Admiravelmente! É muito encantadora!... Não podes calcular calcular,, Walter, a sedução do seu temperamento muito leal!... Oh!... creio que é a lealdade o que mais estimo nela! Meio erguida nas almofadas, Rosa fitava o irmão com um olhar iluminado pela comoção, a qual lhe transformava singularmente a expressão do rosto.  ─ Neste momento, Rosa, Rosa, os teus olhos são iguais aos do nosso pai.

 A sua voz tinha uma entoação suave. Um leve colorido tingiu um pouco o rosto de

 

Rosa, que murmurou com um tímido olhar enternecedor:  ─ Sinto-me feliz por te ouvir dizer isso, Walter Walter.. ─ Teve um rápido sorriso e fez-lhe uma carícia com os dedos, no rosto magro.  ─ Trata Trata de merecer que eu to repita, olhando-me sempre assim. Levantou-se e foi até à porta, perguntando.  ─ Então, Orieta?  ─ Sinto-me já melhor. melhor.  ─ Aí vem o Rondra ─ anunciou Shesbury Shesbury.. O índio vinha correndo com a cadeira de Rosa à frente. Walter pegou na irmã nos braços e sentou-a na cadeira de rodas.  ─ Até logo, Rosa. Irei à tarde ssaber aber como estás. Saudou Orieta e voltou ao pavilhão. O índio empurrou a cadeira e Orieta seguiu ao seu seu la lado do,, a cami caminh nho o do cast castel elo. o. Rond Rondra ra le levo vouu-a a at até é ao qu quar arto to,, re reti tira rand ndoo-se se imediatamente. Chamada a criada de quarto, ajudou Orieta a deitar a doente, e em seguida correu a prevenir Pamela, que não tardou a chegar. Ao ver Rosa na cama, dirigiuse para ela, exclamando:  ─ Que foi, meu amor?... amor?... Estás ferida? Como aconteceu isso? isso?  ─ Orieta vai-lhe contar, contar, minha mãe ─ respondeu a pequena, cansada. Quando Orieta acabou a narrativa, Pamela disse, num tom irritado:  ─ Julgava-a mais razoável. Na verdade não a supunha capaz de deixar a Rosa cometer tamanha imprudência... Rosa interrompeu-a, rápida:  ─ Com a senhora sucedia o mesmo! Orieta não queria que eu o fizesse, mas não teve tempo de o impedir... No fundo estou muito satisfeita com este acidente...  ─ Satisfeita! ─ repetiu repetiu a mãe, admirada.

 

 ─ Sim, porque Walter Walter foi bom para mim.... mim.... pela primeira vez.  ─ De verdade?... É de fato fato uma coisa rara da parte dele... Viste Viste a bailarina?  ─ Não ─ disse Rosa num tom de pesar. ─ Não me atrevi a pedir a Walter que ma apresentasse. Orieta sentiu um leve arrepio nervoso, ao recordar os grandes olhos sombrios que vira por detrás do reposteiro. Continuava, aliás, sob uma impressão penosa, e foi de bom grado que aquiesceu aquiesceu ao desejo de Rosa para se deixa deixarr ficar ao seu lado durante durante o resto do dia.  ─ Desculpe a falta de Orieta perante os nossos hóspedes, minha mãe!... mãe!...  ─ Está bem ─ respondeu Pamela, lançando um olhar malévolo para o sítio onde ela estava. Deixando os aposentos de Rosa, para ir ter com os convidados de Shesbury ao salão, onde estavam tomando o chá, encontrou encontrou-se -se com Humf Humfrey rey,, que voltava da pesca pesca,, com Farneul. Chamou-o à parte e contou-lhe o acidente.  ─ Espero que a ferida não tenha importância ─ acrescentou. ─ Rosa não parece muito abalada e a Orieta pareceu-me quase tão pálida como ela.  ─ É o efeito da comoção comoção que sentiu, pois tem uma grande afeição pela sua sua filha.  ─ Oh !... não creio nisso! ─ respondeu ela. ─ Essa pequena não passa duma intriguista.  ─ Intriguista? Não acredito!... A sua atitude para com os rapazes não dá provas disso, os quais no entanto não se esquivam em testemunhar-lhe abertamente a sua admiração.  ─ Pura comédia!... Visa sem dúvida a maiores alturas... quem sabe se até ao próprio Shesbury?  ─ Isso não.... pelo menos por enquanto. Noto que ela o evita... Ele por sua vez também não dá a impressão de se interessar por ela. el a. Observo-o com cuidado, quando ela está presente, e nada tenho discernido... nada, além duma grande indiferença. Apesar

disso ainda desconfio, pois sei que tem um poder extraordinário para dissimular as suas

 

impressões.  ─ Supõe que se ela lhe agradasse, teria acanhamento em deixar transparecer tal impressão? ─ perguntou Pamela com um sorriso de ironia.  ─ Sim, se, como penso, estiver ao fato da verdade da história. Só isso justificaria uma atitude, que, confesso, da parte dele me surpreende bastante. Pamela fitou-o com olhar irritado.  ─ De forma que acha essa Orieta irresistivelmente fascinadora?... Na verdade, meu caro, chego até a desconfiar que também está encantado por essa sereia!... Humfrey teve um risinho vaidoso e pousou a mão no ombro de Pamela.  ─ Há muito tempo já que estou encantado, querida... mas por outra sereia... E é por toda a vida, Pamela querida. Contem Con templou plou-a -a com uma car carinho inhosa sa ter ternur nura. a. Est Este e olh olhar ar deslum deslumbra brava va sem sempre pre Pamela, que apertando Humfrey entre os braços, murmurou apaixonadamente:  ─ Bem sei que é só meu!... meu!... Sei que de si nada tenho a temer, temer, meu amigo!

 

XVII

Dois dias depois, Rosa já se sentia quase restabelecida do acidente e teimou para que a sua boa amiga, que até então não se afastara um só instante de junto dela, retomasse o seu lugar no círculo dos hóspedes de Falsdone-Hall. Orieta não tinha nenhum desejo de tal fazer. Temia em especial que Shesbury lhe falasse a respeito da quantia que lhe mandara na véspera. Ele, porém não disse uma palavra a tal respeito e pareceu quase nem dar pela sua presença, descarregando o seu humor, um tanto dúbio, fantástico e irônico, sobre Humfrey e Porroby. Foram eles os alvos principais das suas diatribes.  A linda prima, sempre vestida no último figurino, ocultava a sua mortificação sob os mais ternos e meigos sorrisos. Contudo, ao encontrar-se só com Pamela, deixou transbordar todo o seu despeito e inquietação.  ─ Será bem difícil apanhá-lo, já lho disse, minha querida! ─ respondeu-lhe Pamela. ─ Posso garantir-lhe, todavia, que não será um marido muito tratável.  ─ Que me importa!... Por ele suportarei tudo!... Ah! não perco as esperanças, Pamela!... Quero... desejo com todas as forças da minha alma que ele me ame um dia!... Talvez não seja tão cedo... mas terei paciência... com força de vontade tudo se consegue, não, querida Pamela?  ─ Na maioria das vezes... vezes... minha filha.  ─ Porém o que me desgosta é a intromissão dessa tal Apsara!... Detesto essa índia!... Acha que Shesbury lhe dedique assim uma grande estima?  ─ O que eu acho, querida, é que não tem grande estima por ninguém, e que  Apsara não passa dum simples capricho da sua fantasia, e que dentro em breve se esquecerá até do nome dela. T Tal al é, pelo menos, a reputação de Walter Walter..  ─ Não há aqui, além dela, ninguém que me possa fazer sombra. Xênia é feia; Natacha é muito nova; Faustina Farnela é bonita, mas sem vida, quer moral como fisica fisicamen mente: te: só fica fica a Ori Orieta eta... ... She Shesbu sbury ry nem par parece ece per perceb ceber er que ela exi existe ste.. Est Está á

habituado habitu ado às homen homenagens, agens, às solici solicitudes tudes,, e essa pequena idiota mantém mantém-se -se orgulh orgulhosa, osa,

 

conserva-se de lado... Tanto melhor para mim!... Aqui para nós, Pamela, é o meio mais seguro que podia encontrar para perder um homem como este! Pamela Pamel a conco concordou, rdou, aduzindo consid consideraçõ erações es desagr desagradávei adáveiss sobre Orieta, que passou então a ter duas inimigas na pessoa dessas duas mulheres, igualmente invejosas da sua beleza e do seu encanto natural, que atraía e prendia as atenções, onde quer que aparecesse. E, no entanto nem uma nem outra suspeitavam que tinham nela uma rival. Numa das manhãs seguintes, Orieta experimentou uma viva comoção. Ram-Sal, o criado índio favorito favorito de Shesbu Shesbury ry,, veio preveni preveni-la -la de que ele lhe pedia para se encontrar encontrar dentro de meia hora, no vestíbulo, em traje de passeio. Esta recomendação deixou-a perplexa, pois talvez tivesse relação com a conversa que nada desejava. Encontrava-se um tanto perturbada ao dirigir-se para o lugar marcado. Xênia e Natacha entraram quase ao mesmo tempo que ela. Esta exclamou jovialmente:  ─ Também Também foi convidada para ver os cães de Walter? Creio que nos dará o prazer de no-los mostrar pessoalmente.  ─ Não sei a razão por que me me mandou chamar. chamar... .. com certeza. Nest Ne ste e mo mome ment nto o ap apar arec eceu eu Sh Shes esbu bury ry,, desc descen endo do a im impon ponen ente te es esca cadar daria ia do vestíbulo. Apertou-lhe a mão e explicou a Orieta:  ─ Pensei que lhe seria agradável acompanhar minhas primas na visita que vamos fazer ao canil. Orieta agradeceu com grande alivio. Não era, pois por causa do bilhete que a mandara chamar!... O canil ficava a mais duma milha do castelo. Soberbamente instalado, continha, além da matilha de caça, uma das mais famosas de Inglaterra, casais das mais belas raças existentes. Os lebréus ocupavam um alojamento à parte e Shesbury mostrou-lhe os filhotes de Fady e de Leda, os seus cães prediletos.  ─ Um é para vós, minhas primas.... e Orieta vai também escolher um... Nata Na tach cha a solt soltou ou um grit grito o de aleg alegri ria a e Xê Xêni nia a agra agradec deceu eu co com m um so sorr rris iso o de contentamento. Orieta, porém quis recusar.

 

 ─ Não, não posso aceitar. aceitar.  ─ Porquê?... Será pela lembrança daquele cão que maltratei maltratei há já tanto tempo?  ─ Talvez Talvez ─ insinuou ela, sem contemplar Walter Walter,, de cujo olhar irônico e sorridente  já sentia a repreensão.  ─ Que alma terrivelmente rancorosa!... Julguei que podia apaziguá-la com esta oferta dada com vontade... Porque

zombaria

ele

assim?...

Que

tempes esttade

desencadea deava! a!....

involuntariamente, sem dúvida, só pelo prazer de ver esse rosto palpitar de cólera mal contida, ou esses olhos, dum azul escuro e iluminados pelos fulgores da tormenta, voltarem-se contra ele:  ─ Muito dificilmente esqueço... esqueço... tanto o bem como o mal.  ─ Quer dizer que me condena irremediavelmente à sua in inimizade?... imizade?... Está bem!... Que havemos de fazer!... O sorriso tornou-se mais zombeteiro nos lábios lábi os e nos olhos de Shesbury. Shesbury.  ─ ... De qualquer maneira vou mandar criar um desses lebréus para si... Olhe este tão bonito, que a está fitando, como se a escolhesse para sua futura dona. Rosa dar-lhoá, caso julgue que não deve recebê-lo da mesma mão que em tempos lhe matou o seu.  ─ Não, é melhor não! ─ exclamou Orieta. E recuou, num movimento de protesto, lançando um olhar de indignação à mão de Walter,, delicada e elegante, que não deixava suspeitar a sua força extraordinária. Walter  ─ Quem sabe ?... ─ repisou ele com entoação ainda mais irônica. Saindo do canil, levou-as a visitar as coudelarias. Xênia e Natacha pararam extasiadas diante dos cavalos, que estavam devidamente separados, cada um na sua divisão, Orieta manteve-se porém calada, ainda sob a impressão da cena anterior, Walter Walter,, parando diante dum esplêndido cavalo, exclamou, com uma ironia maior na voz:  ─ Aqui está uma excelente montada para uma senhora. Quando tiver tomado

umas lições da equitação, Orieta, será o seu animal.

 

 ─ Não vejo necessidade em aprender equitação ─ respondeu secamente Orieta.  ─ Estou notando que as nossas opiniões se chocam sempre! Deci De cidi dida dame ment nte e anda andava va ne ness sse e dia dia no ar um uma a gu guer erra ra ab aber erta ta,, entr entre e a pupil pupila, a, excessiva excess ivamen mente te alt altiva iva,, e o tutor tutor,, abu abusiv sivame amente nte aut autori oritár tário, io, com como o Nat Natach acha a obs observ ervou, ou, quando, um pouco depois, ficou a sós com a irmã.  ─ Pela minha parte acho o marquês muito muito paciente ─ disse Xênia.  ─ Sim, na verdade, para um homem que não tem o hábito de se ver contrariado e a quem todo o mundo obedece!... Orieta mostrou-se talvez por demais sensível!  ─ Seja como for, é sempre um sinal de coragem, principalmente para uma peque peq uena na po pobr bre e e na depe depend ndên ênci cia a como como ela. ela. Tod odav avia ia ac acho ho-a -a às ve veze zess um po pouc uco o orgulhosa demais!... e além disso parece ter uma certa animosidade contra Shesbury Shesbur y.  ─ O que é a coisa mais extraordinária deste mundo!... Uma mulher que não se sente fascinada por ele!... Sim, é na verdade um fenômeno sensacional...  ─ E no fim que depreendes de tudo isso? ─ indagou Xênia com um sorriso melancólico.  ─ Que posso depreender?... Então não sei que sou bastante tola em o admirar como o admiro?... E pensas que ignoro, por outro lado, minha boa Xênia, que o amas com toda a força do teu coração? O sorriso desapareceu dos lábios de Xênia e no rosto apareceu-lhe uma leve crispação. Natacha lançou-lhe os braços em volta do pescoço e murmurou-lhe docemente ao ouvido:  ─ Pobre irmãzinha!... minha pobre irmã! irmã! Quando Orieta Orieta saia do seu quarto quarto,, na noite de dois de Junho, Natacha, Natacha, que foi a primeira a encontrá-la, soltou um grito de admiração:  ─ Parece um sonho!... um sonho, sim, Orieta!  As fortes lâmpadas que iluminavam os corredores faziam-na realçar à plena

claridade. Apresentou-se com um vestido de tule branco, enfeitado no ombro com um

 

ramo de cravos. No cabelo, contrastando com o seu tom ouro pálido, trazia um cravo vermelho forte. Desse vestido, duma simplicidade requintada e duma elegância vaporosa, a beleza de Orieta emergia, na verdade, em toda a sua plenitude magnífica. Sorrindo, Sorrin do, ante o entus entusiasmo iasmo de Natac Natacha, ha, teceu-lhe també também m por sua vez grandes elogios sobre o encantador vestido que exibia. Depois separou-se dela para ir buscar a Rosa, que desejava entrar no salão pelo seu braço.  Ao dirigir-se para os seus aposentos, no corredor, ouviu uns passos atrás dela...  Alguém se aproximava. Voltando-se, Voltando-se, reconheceu Humfrey Humfrey..  ─ Vai Vai buscar a Rosa? Está encantada por poder as assistir sistir a esta festa, não?  ─ Bastante encantada!... Mas o que é bom, na verdade, é ver que já se interessa por alguma coisa... quando tudo a entediava!  ─ Sim! E tudo se deve à Orieta. Com efeito, a senhora transformou-a, moralmente pelo menos. E como o moral age sobre o físico...  ─ Sinto-me na verdade feliz por ter podido fazer algu algum m bem a esta pobre Rosita, no fundo muito boa e muito afetuosa!...  ─ Fez-lhe um bem imenso.... e todos os que a estimam, estão-lhe eternamente reconhecidos, Orieta. Humf Hu mfrey rey pe pego gouu-lh lhe e na mã mão o e aper aperto touu-a a do doce ce me ment nte. e. A su sua a vo vozz tinha tinha um uma a melifluidade cariciosa. Repetiu, com as pálpebras semi-cerradas:  ─ Eternamente reconhecidos... infinitamente reconhecidos!... Estranha sensação!... Orieta não viu o seu olhar, velado pelas pálpebras semicerradas, mas pareceu-lhe que dele se desprendia um calor insuportável.  ─ ... Como vai a Orieta com o Shesbury? Já se mostra menos autoritário e mais acessível aos desejos que lhe sugere a sua altivez?  ─ Qual!... E não o creio propenso propenso a ceder nesse ponto.  ─ Sim!... Efetivamente!... É preciso encontrar um meio de a libertar!... Tenho

pensado nisso... e tenho pensado muito. Sou o mais dedicado dos seus amigos, minha

 

querida!... Real Re alme ment nte e aq aque uele le olha olharr qu quei eima mava va-a -a.. Co Com m de delilica cade deza za re retitiro rou u a mão mão e, agradecendo agradec endo discretam discretamente ente com um “muito obriga obrigada” da” cortês, dirigiu-s dirigiu-se e para a porta do salão de Rosa. Humfrey entrou depois dela. Rosa, trajando um vestido de seda azul-claro, vinha a sair nesse momento do quarto.  ─ Estou pronta, Orieta... Venha aqui perto, que quero admirá-la!... Está uma maravilha das maravilhas!... Não é verdade, Humfrey? Este sorriu e inclinou-se discretamente.  ─ Assim é, Rosa.  ─ Porroby vai morrer de ciúmes! ─ exclamou Rosa com alegria. ─ Ao seu lado, desaparecerá! Minha Orieta!  ─ Vamos, Vamos, Rosinha, nada de exageros! ─ protestou Orieta, um pouco impaciente. Sentiu um mal-estar inexplicável ao ouvir as apreciações elogiosas de Rosa na presença de Humfrey. Este adivinhá-lo-ia? Em todo o caso cortou cerce a admiração de sua prima, oferecendo-lhe o braço para a acompanhar aos salões de recepção.  ─ Não, Humfrey Humfrey.. Se não for do seu desagrado, prefiro o da Orieta ─ respondeu Rosa. ─ Sou uma pequena feia para um cavalheiro como o senhor. E com um sorriso, misto de amargura, passou a mão pelo braço de Orieta. O sal salão ão chi chinês nês e a gal galeri eria a de már mármor more e est estava avam m fee feeric ricame amente nte ilumin iluminada adass e magnificamente ornadas com flores, as mais raras. Na galeria fora armado o palco, onde deviam representar representar os atore atoress vindos de Londres e onde Apsar Apsara a dançar dançaria. ia. A maior maioria ia dos convidados já se encontravam na sala quando apareceram Rosa, Orieta e Humfrey Humfrey.. Desde a chegada dos Sanzoff e dos outros amigos de Shesbury, já tinha havido em Fal Falsdo sdonene-Hal Halll vár várias ias rec recepç epções ões,, por porém ém mui muito to restri restritas tas.. Orieta Orieta e Fausti Faustina na era eram, m, portanto pouco conhecidas das relações de Walter e da sua madrasta, a maior parte das quais ignoravam até a sua existência. Faustina, vestida tal como a irmã passara quase

desapercebida. Com Orieta, o caso foi diferente.

 

Da galeria aos salões, por toda a parte, as perguntas se cruzaram. Orieta, Oriet a, perturbada por tantos olhares olhares,, não perdeu no entanto a linha. Rosa e ela, sempre acompanhadas acompanhadas por Humfr Humfrey ey,, foram até ao ponto da galeri galeria a onde se encontrava encontrava Pamela, não longe do seu enteado, que a auxiliava a receber os convidados.  ─ Apresento-lhes minha filha, a minha querida Rosa! ─ disse Pamela às p pessoas essoas que a cercavam. Ofereceram-lhe uma cadeira, pois logo se viu cercada por alguns convidados, enquanto Orieta ficou sozinha, a alguns passos de distância. Humfrey, porém, adiantouse, e duma maneira afável apresentou-a a vários dos convidados, em especial a senhoras de idade, pertencentes às mais aristocráticas famílias.  ─ Orieta Farnela, que foi, com a sua irmã Faustina, pupila do falecido Sr. D Shesbury. Em seguida puxou uma poltrona poltrona para perto de Rosa e ofereceuofereceu-lha, lha, a fim de que fica ficass sse e ao lado lado da am amig iga. a. Sen Sentitiuu-se se reco reconh nhec ecid ida a po porr es este te auxíl auxílio io tã tão o di disc scre reto to,, e agradeceu com um olhar, enquanto pensou: “Shesbury está aqui tão perto, e não se incomodou a apresentar-me, ele que é tão cioso dos seus direitos de tutor!” Bem depressa Orieta se viu cercada por Xênia e Natacha, por Piers, Farneuil e Herbert Nortley, Nortley, que vieram cumprimentá-la.  Agradando-lhe ou não, Pamela teve de a apresentar a diversas pessoas que o desejaram. Depois as suas amigas levaram-na para um lugar diante do palco, visto o espetáculo ir começar. Shesbury Shesb ury fazia as honras dos salões, com uma cortesia natural natural.. Orieta perceb percebeu eu até que ponto ele estava já saturado das adulações de todos quantos o rodeavam. E nessa noite viu os homens da aristocracia e as senhoras mais encantadoras, da alta sociedade, cercarem-no de verdadeiras homenagens, oferecendo-lhe com mesuradas dobras de espinha o tributo da mais refinada lisonja. E pensou: “Ah! como o devo irritar, eu, uma pobre figurinha desbotada, que insiste em ficar

de rosto erguido diante dele!”

 

Porroby,, vest Porroby vestida ida de tule, no rigor do último figurino, mostrav mostrava-se a-se no esplendor esplendor da sua beleza. Ao ver Orieta parou e ficou um momento apreensiva, tranquilizando-se porém logo, ao perceber que Walter apenas tivera um olhar distraído para a sua formosíssima pupila. A admiração admiração dos outro outross pouco lhe import importava.. ava.... .. pelo menos até certo ponto, pois costumava detestar as mulheres que lhe pretendessem arrebatar o cetro da beleza. Ora, era incontestável que nessa noite só se falava na adorável, na deslumbrante Orieta. Terminada a peça, os convidados dispersaram-se pelos salões, dirigiram-se para a sala de bebidas, sala de fumo ou salão de jogos. Todos esperavam com impaciência a dança de Apsara. Alguns, a meia voz, com mil precauções, deploravam que Shesbury tivesse dado o escândalo de trazer a bailarina para Falsdone-Hall. Supunha-se que fosse, quanto ao moral, muito parecido com o pai... O palco estava decorado com plantas exóticas e sedas bordadas a ouro, iluminadas por uma luz mortiça. Nessa tênue claridade surgiu uma mulher, trazendo um corpete de veludo cor-de-púrpura e um saiote de seda preta, toda envolta num véu de tule preto, também bordado a fios de ouro. Duas placas de ouro cravejadas de rubis prendiam-lhe os cabelos pretos como ébano. Nos braços e nos tornozelos trazia, parecendo serpentes, braceletes faiscantes de pedras preciosas, e pendida sobre o peito uma placa de ouro e rubis, suspensa por um fio de pérolas. Deu uns passos ligeiros ligeiros e alcanç alcançou ou o meio da cena, começando então o rápido e complicado movimento dos seus passos. Era esbelta e flexível como um junco. Tinha uns grandes olhos negros e cheios de vida, alongados pela pintura, num rosto de linhas corr corret etas as,, corcor-de de-â -âmb mbar ar clar claro. o. A sua sua da danç nça a era era grave grave e no nobr bre. e. Repr Repres esen enta tava va,, no simbolismo dos gestos, a prece duma mulher ao ser amado que a abandonara. O seu rosto, a princípio quase hierático, animou-se, tornou-se ardente e doloroso. O corpo tomou tom ou uma ati atitud tude e des desesp espera erada da e os olh olhos os mer mergulh gulhara aram-s m-se e em trevas trevas dum negro negro profundo. Orieta Ori eta viu aquele aqueless olh olhos os fixare fixarem-s m-se e nel nela. a. Enquant Enquanto o durou durou a dança, dança, que lhe pareceu interminável, não deixaram de a fitar. Sentiu uma verdadeira vertigem e tentou des esvviar os seus. Poré orém voltav ava am-se de novo para a índia, deslumbrados momentaneamente pelo cintilar das jóias que lhe ornavam os braços, as pernas, o rosto, o peito, e até os dedos dos pés. Aquelas sombrias pupilas perseguiam-na, cheias de pensamentos ameaçadores. Só por um instante se desviaram, Apsara tinha-se ajoelhado,

dirigindo uma súplica a um ser invisível. O desespero crispou-lhe o rosto e curvou-lhe o corpo flexível, envolto nos véus pretos. Depois ergueu-se bruscamente, ofegante, com a

 

cabeça caída para trás e os braços erguidos, Orieta voltou a ver, pelo espaço dalguns intermináveis segundos, os olhos da bailarina fitos nela. Um estremecimento estranho lhe agitou todo o corpo, ao pressentir neles uma sombra de ódio mais intensa ainda.  Aplausos entusiásticos saudaram a bailarina, quando deixou o palco. Todos procuraram Shesbury para o felicitar pelo espetáculo que lhes oferecera. Durante a dança de Apsara, tinha permanecido de pé, ao lado do palco, por trás dum tufo de rosas, e, portanto sem ser visto pela índia. Distraidamente, respondeu: “Ora essa, com todo o praz prazer er”, ”, a todo todoss qu quan anto toss expri exprimi mira ram m o de dese sejo jo de cu cump mpri rime ment ntar ar Ap Apsa sara ra.. Pare Pareci cia a preocupado, pouco disposto a escutar os comentários elogiosos sobre a famosa bailarina, ou os lamentos dos que voltavam desapontados, declarando que ela tinha partido logo, escoltada pelo seu séquito de criados.  ─ Quando é que nos dará de novo o prazer dum espetáculo igual, meu caro Shesbury? ─ perguntou uma das mais importantes personagens da reunião.  ─ Para falar a verdade, creio que nunca mais ─ respondeu friamente Walter. Walter. Sem dar ouvidos aos murmúrios de pena que a sua frase provocara, encaminhouse para junto da irmã, que Orieta ajudava a levantar da cadeira.  ─ E então, Rosa, estás estás muito cansada?  ─ Não, não estou!... É tão interessante, que não fatiga... Como essa Apsara dança bem!... bem!. .. Que beleza singula singular!.. r!.... Porém não gosto nada de seu olhar! olhar!... ... Era quase sempr sempre e dirigido para o nosso lado, o que acabou por me causar um certo mal-estar... E também a ti, não, Orieta?  ─ Sim, um pouco... ─ murmurou esta. Nessa altura era um outro olhar que lhe causava vertigem, uns olhos móveis como as onda ondass sob sob um ra raio io de sol sol e ar arde dent ntes es como como um uma a ch cham ama! a!.. .... Baix Baixou ou os seus seus e estremeceu ao ouvir a sua voz zombeteira, dizendo:  ─ Impressionam-se muito facilmente!... Apsara estava representando um papel e representou-o divinamente!... É uma mulher igual às outras, nem melhor, nem pior. Rosa abanou a cabeça:

 

 ─ Não gosto daquela cara!  ─ É todavia muito interessante!... T Todos odos a admiramos! ─ d disse isse a voz cantante de Porroby.  Aproximara-se de Shesbury, Shesbury, fitando-o com o mais carinhoso dos seus olhares.  ─ Ficamos deveras encantadas! ─ acrescentou Pamela, que viera com a prima ─ Estás satisfeita, Rosa?... Penso que é melhor ires descansar descansar..  ─ Na verdade, depois de ver dançar Apsara, não é preciso mais nada. Estou satisfeita!... Orieta, quer ter a bondade de me acompanhar até ao meu quarto?... Depois voltará, para gozar ainda o resto da festa.  ─ Prefiro ficar a seu lado, Rosa, pois me sinto muito fatigada.  ─ Que idéia a sua sua!... !... Que diriam dep depois ois Piers e todos os que jjá á lhe pediram para dançar?  ─ Pouco importa. Não tenho vontade vontade de dançar esta noite.  ─ Vamos, Vamos, Orieta!  ─ Não insistas, Rosa Rosa ─ interrompeu Walt Walter er imperiosamente. Dito isto apertou a mão da irmã e a de Orieta, e foi-se embora, enquanto Porroby e Pamela trocaram um olhar de surpresa e de satisfação. Rosa, subitament subitamente e aborrec aborrecida, ida, despediu despediu-se -se da prima e da mãe, e saiu da galeria por uma porta lateral, apoiando-se ao braço de Orieta. Porroby segredou ao ouvido da prima:  ─ Nem uma palavra para que ficasse!... Não... ela, na verdade, não lhe caiu nas boas graças! Exultava. A sombra que lhe causara a beleza de Orieta desapareceu como por encanto. É verdade também que não viu realizada a sua esperança de ter Walter como cavalheiro; essa decepção todavia foi suavizada pelo fato dele não ter dançado com ninguém. Viram-no passear, fumando, pelos jardins, com alguns dos seus hóspedes, e

nenhuma senhora, nessa noite, mereceu as honras da sua atenção.

 

Rosa voltara aos seus aposentos muito mal humorada contra o irmão...  ─ Se tivesse manifestado manifestado o desejo da Orieta ficar ficar,, teria dançado ainda um bocado.  ─ Walter compreendeu que eu queria na verdade descansar ─ respondeu ela, não sem um pouco de nervosismo. ─ Mesmo que ele insistisse, não voltaria.  ─ Então está realmente cansada?... De faco está com o rosto um pouco abatido, querida!...  ─ Tenho sobretudo uma dor de cabeça, que ameaça tornar-se violenta. Se não precisa de mim, retiro-me.  ─ À vontade, querida!... E deite-se logo, sim? Na cama, Orieta não conseguia conciliar o sono. A dor martelou-lhe as têmporas e sentiu-se agitada por calafrios. No cérebro fatigado, a visão de Apsara, bailando, com os grandes olhos aveludados, cheios de ódio, era duma persistência torturante. Depois esses olhares foram-se substituindo por outros mais sombrios, até que um olhar, como um clarão abrasador, a fez estremecer. Toda trêmula de medo e de revolta, procurava desviar a rota dos seus pensamentos. Mas era impossível!... Havia, de repente, um novo olhar que se sobrepunha aos outros. Que signif significavam icavam esses olhos ardentes como uma chama, fascinantes como a água profunda, sob um raio de luz?... Foi um sonho resultante da estranha impressão que Apsara exerceu sobre ela.  Apsara!... E de novo a bonita baila bailarina rina surgiu ante os seus olhos. Não já nos seus véus pretos, mas envolta na musselina branca, bordada a ouro, que estava deitada sobre a enorme pele de tigre, ao pé do divã, onde, dias antes, Shesbury deitara a irmã ferida. Era no cenário da sala oriental, na atmosfera impregnada do perfume embriagador das flores raras, que Orieta a via agora. E sempre essa mulher a fitava com um sombrio rancor... Pela manhã, Orieta adormeceu, extenuada pelo cansaço da longa tortura do sonho, e dormiu um sono profundo e pesado... Só já dia alto é que despertou, com o corpo todo alquebrado. Depois de se vestir para o chá, foi aos aposentos de Rosa, que também dormira mal e sonhara com a diabólica Apsara.

 ─ A despeito do que diz Walter Walter,, essa mulher tem um olhar demoníaco... Mas é

 

bonita a valer, não acha?  ─ É mesmo muito bonita. bonita.  A voz de Orieta falseou um pouco.  ─ Vou ficar ainda deitada ─ disse Rosa. ─ Vá sozinha ao chá, querida, e depois venha fazer-me fazer-me um pouco de companhia, para em seguida dar um giro pelo jardim jardim,, pois não está com uma cara muito boa. Isto mesmo disseram as senhoras Sanzoff quando Orieta entrou na pequena biblioteca, onde se encontravam em palestra com Piers, Farneuil e Humfrey.  ─ Passou mal a noite, querida? ─ perguntou Natacha. ─ Eu dormi bem, mas sonhei que a bailarina tinha caído morta de repente!... Morta, a bela Apsara, hein!... Mas dançou muito bem e com muita expressão.  ─ Nada lhe falta à fisionomia... ─ acrescentou Piers. ─ E no seu gênero uma beleza invulgar. ... só um tanto felina, um tanto inquietante... Porém, no fim de contas, isso talvez não passe duma aparência necessária à representação.  ─ Não, Piers, Apsara tem bem o caráter da ssua ua fisionomia. Foi Herbert Nortley que, entrando, respondeu à apreciação de Piers.  ─ Então.... nem por nada me fiaria nessa criatura!... Quando sofrer qualquer desgosto, deve ser mesmo... de inquietar, como eu dizia há pouco. Herber Her bertt Nor Nortle tleyy tev teve e um sor sorris riso o dis discre creto. to. Mui Muito to expans expansivo ivo e conver conversad sador or,, mantinha-se impenetrável em tudo quanto se relacionava com a vida, os atos e os gestos de Shesbury. Nessa manhã o senhor do castelo não compareceu ao chá. Porroby surgia com a cara muito fresca, como se não tivesse passado grande parte da noite a dançar. Foi com dificuldade que Orieta reprimiu a sua impaciência, quando ela, com um sorriso protetor, de mistura com subtil ironia, se informou sobre se o seu cansaço já tinha passado.  ─ Não, Porroby Porroby,, ai ainda nda não... Não tenho, como a senhora, o hábito das distrações

noturnas.

 

 ─ Com certeza Shesbury compreendeu isso, pois lhe deu licença para se retirar com a Rosa, Ah !... é tão nova ainda!  ─ Eu não lhe pedi licença nenhuma ─ respondeu respondeu secamente Orieta.  ─ Sei disso.... mas ele deu-lha antecipadamente, proibindo a irmã de insistir ─ disse ela, acentuando a frase com um sorriso desdenhoso. Orieta absteve-se de responder. Já percebera que Porroby a tratava como uma criança, pondo-a ao mesmo nível de Rosa, e afetando uma doce indulgência compassiva, como se outorga a uma criança inexperiente. Orieta não se enganava. Percebia o jogo da comediante, e sem adivinhar a razão que a levava a agir de tal maneira, tinha por ela um desprezo enorme...

 

XIX

Cedendo às instâncias de Rosa, que a fora ver, logo depois do chá, Orieta dispôsse a dar uma volta pelo jardim. Deviam ser três horas, mais ou menos... Estava nervosa, como que acabrunhada por qualquer desgosto moral. Enquanto caminhava através das alamedas, à sombra das árvores seculares, a torturante visão de Apsara não lhe saía do espírito. Como explicar a estranha impressão que essa mulher lhe deixara? “Ah! nunca supus que o meu cérebro fosse tão fraco, nunca!” - pensou, irritada contra si mesma. Evitando passar pela alameda que levava ao pavilhão índio, foi até ao lago. Ali terminavam habitualmente os seus passeios com Rosa. Tinha um verdadeiro amor por essa essa sobe soberb rba a toal toalha ha de ág água ua,, onde onde se refl reflet etia iam m as co copas pas so somb mbri rias as das ár árvo vore ress circundantes. Na superfície espelhante, cujos tons glaucos eram dourados por um quente sol de Junho, vogavam, lentos, os cisnes, a flor-pássaro que se via no brasão dos marqueses de Shesbury Shesbury.. Sentou-se ao pé da estátua em cujo soco Rosa se ferira. Sentia um grande desejo de sol solidã idão o e sab sabia ia que nes nesse se lug lugar ar nin ningué guém m iria iria per pertur turbábá-la. la. Pam Pamela ela,, as San Sanzof zoffs, fs, Porroby, Piers e Farneuil tinham partido cedo para uma excursão bastante longe. Nortley fora a Aberly e Humfrey a sua casa. Quanto a Shesbury, com certeza estava nos seus aposentos - a menos que não estivesse no pavilhão índio. Os olhos fitos na água, que uma leve brisa enrugava, Orieta deixou-se ficar imóvel, absorta em fundo cismar. O barulho leve duns passos ligeiros, sobre a relva, por trás dela, fê-la voltar a cabeça. Vendo Apsara, que surgia da sombra das velhas árvores, não pôde conter uma exclamação de espanto.  A índia vinha envolta num véu branco, bordada a ouro, tal como O Orieta rieta a vira nos seus sonhos noturnos. Nos seus grandes e sombrios olhos brilhava um ódio selvagem, que explodiu nestas palavras, pronunciadas em inglês:  ─ Vais Vais morrer!

E atirou-se sobre Orieta. Esta, porém, teve tempo de se levantar, dando um salto

 

para trás. Como um relâmpago estendeu a mão e prendeu o braço de Apsara, que brandia um agudo e delicado punhal. E a luta desenrolou-se entre as duas mulheres, novas e ágeis, de corpo igual. Apsara, porém, mais velha, superava em força Orieta, que  já se sentia desfalecer na sua resistência, vendo, muito perto dela, o rosto crispado da índia, com os olhos flamejantes de ódio. “Estou perdida...” - pensou ela. Mas alguém surgiu de súbito junto delas, agarrou o punho crispado, que a mão de Orieta, sem força ia soltar, e quebrou-o... Apsara soltou um grito de desespero, deixando cair o punhal. Quem assim interveio, foi o índio Ram-Sal, o servo dedicado de Walter. Blasfemou algumas palavras, numa língua estranha a Orieta, ao mesmo tempo que soltou o braço com que lhe prendia a cinta... Estava lívida e os lábios trêmulos. Sem dizer palavra voltou-se na ponta dos pés e caminhou por entre as árvores, em direção ao pavilhão. Orieta sentiu-se sem forças, quase a desfalecer, Ram-Sal amparou-a, dizendo-lhe em surdina, num excelente inglês:  ─ Acompanhá-la-ei até ao castelo... mas acho melhor que descanse um pouco antes.  ─ Não, obrigada, prefiro ver se posso caminhar caminhar.. Ram-Sal apanhou o punhal e depois acompanhou docemente Orieta, que, a princípio, ainda atordoada pela agressão inopinada, mal tinha consciência do que se passara. Quando começou a subir os degraus do primeiro terraço é que começou a voltar a si. Deixou então o braço que a amparava, com a idéia, ainda vaga, de que seria um pretexto pretex to para desper despertar tar a curio curiosidade sidade e fazer fazerem-lhe em-lhe pergunt perguntas.. as.... O melhor era escon esconder der no seu coração a lembrança desse trágico incidente. Ram-Sal deixou-a subir lentamente os degraus, vigiando-a, porém com o olhar atento, a fim de poder intervir a tempo, num caso de desmaio. Chegaram desse modo ao terraço superior. Aí Orieta parou, trêmula de frio  ─ - Deixe-me aqui ─ disse com voz indecisa. ─ Não quero que a menina Rosa saiba sai ba o que se pas passa. sa.... ... poi poiss ficari ficaria a mui muito to ner nervos vosa.. a.... Peç Peço-l o-lhe, he, portan portanto, to, o máximo máximo

saiba sai ba o que se pas passa. sa.... ... pois pois ficari ficaria a mui muito to ner nervos vosa.. a.... Peço Peço llhe, he, portan portanto, to, o máx máximo imo segredo a este respeito... E obrigada, mil vezes obrigada, pois me salvou a vida!

 

O índio, sem dizer palavra, inclinou-se reverente. Nesse instante, a uma das portas envidraçadas da biblioteca surgiu Shesbury, o qual correu para Orieta, que recuou um pouco, ao vê-lo, sentindo que um terror cada vez mais violento a dominava. Ele também vinha pálido, e no olhar com que fitou Orieta havia uma angústia reprimida. Dirigiu a Ram-Sal uma pergunta em índio, a que este respondeu no mesmo dialeto. Em seguida pousou a mão no ombro de Orieta.  ─ Tome já um reconfortante e deite-se um pouco ─ disse com meiguice. ─ Vou mandar chamar imediatamente um médico...  ─ Não, não é preciso, senhor!  Afastou-se um pouco e Shesbury deixou-lhe o ombro. Muito pálida, sem o encarar, encarar, prosseguiu com voz angustiosa:  ─ Não... não queria... que soubessem desta agressão, por causa da menina Rosa. Deixe-me ir descansar um pouco para o meu quarto, antes de ir aos aposentos dela.  ─ É esse também o meu desejo. Contudo não queria que fizesse isso tudo com prejuízo da sua saúde. Já ultrapassou os limites a agressão dessa demente, dessa criminosa... Um fulgor estranho de cólera mal reprimida se lhe viu no olhar. Orieta não o percebeu, mas estremeceu de horror ao lembrar-se do olhar de ódio e do braço que se erguera contra ela, brandindo um punhal.  ─ Procure não pensar mais nisso, Orieta. ─ disse Walter Walter,, no mesmo tom de meiguice. ─ Daqui por diante garanto-lhe que nada mais terá que temer ... Vá quanto antes refazer-se de tão grande comoção. Estendeu-lhe a mão com ternura e apertou-lhe os dedos frios.  ─ Quer, Orieta, que Ram-Sal a acompanhe? ─ indagou, inclinando-se para lhe prescrutar os olhos, meios ocultos pelas pálpebras pálpe bras caídas.  ─ Obrigada... A menina Rosa poderia saber e interrogar-me ─ respondeu ela, apreensiva.

 Afastou-se, seguida pelo olhar de Shesbury Shesbury,, que, voltando-se para Ram-Sal,

 

curvado em atitude humilde, lhe perguntou com severidade:  ─ Então não foste capaz de evitar que chegasse perto da menina Farnela?  ─ Não me foi possível, senhor... Além de hábil, é astuciosa... Esgueirou-se como uma serpente... Foi Armâni que me veio dizer: “Apsara saiu do pavilhão”. Corri então... El Ela, a, po poré rém, m, le leva vava va-m -me e algu alguns ns pa pass ssos os de dian diante teir ira a e ca cami minh nhav ava a ráp rápid ida. a. Chegu Cheguei ei felizmente feliz mente a tempo tempo,, pois a senhora Farnela já perdia as forças.. forças.... Perdoe, Perdoe, meu senhor, senhor, a este humilde servo, pois fiz o que pude... E tremia, de cabeça baixa e as mãos erguidas, Walter respondeu secamente:  ─ Perdoo-te, porque salvaste a vida vida da senhora Farnela. Um sulco profundo se lhe vincou no rosto e nos olhos faiscou-lhe a chama do ódio. Num passo rápido dirigiu-se para o pavilhão.  Ao chegar, abriu com violência a porta de bronze e entrou na sala perfumada pelas rosas e jasmins, e pela fumarada aromática que se evolava dos queima-perfumes. Sobre a pele de tigre jazia um corpo envolto em brancos véus, filigranados a ouro. Shesbury aproximou-se, mas parou, soltando uma surda exclamação... Os grandes olhos pretos estavam insensíveis, na imobilidade da morte. Walter inclinou-se e viu um pequeno punhal, de cabo de ébano, enterrado no peito, no lugar do coração. Contem Con templou plou durant durante e algu alguns ns minu minutos tos o bon bonito ito ros rosto to já sem vid vida, a, ond onde e ficara ficara adejando uma expressão de indefinível desespero. O único sinal de comoção que o leve tremor dos lábios deixou transparecer, concentrou-se nestas palavras: pala vras:  ─ Duas mortes no meu caminho.... é demais demais!! ─ Depois, indo até à porta, chamou:  ─ Rondra! O servo índio entrou, e Shesbury, em poucas palavras, explicou-lhe que Apsara se suicidara, e que desejava que aquilo fosse ignorado pelos seus hóspedes, que deviam acre acredi dita tarr nu numa ma mo mort rte e na natu tura ral.l. As cr criad iadas as da bail bailar arin ina a pr pres esta tara ramm-lh lhe e as últ últim imas as homenagens, velando o seu corpo, até ser embalsamado para seguir para a índia.

Em seguida Shesbury saiu do pavilhão, onde tivera fim a exist existência ência de Apsara Apsara,, a

 

bailarina dos grandes olhos misteriosos e profundos como a própria morte...

 

XX

 A nova do dia seguinte, em Falsdome-Hall, foi a morte da bailarina. Os comentários ferviam...  ─ Foi sem dúvida um aneurisma ─ disse Shesbury, Shesbury, transmitindo a notícia aos seus hóspedes, sem a menor aparência de comoção. Exclamações, surpresas, elogios à beleza e ao talento coreográfico da morte... foi tudo! Porroby, Porroby, logo que pôd pôde, e, murmurou ao ouvido da prima:  ─ Detestava essa Apsara... Ao menos desapareceu do meu caminho!...  ─ Outras aparecerão, querida!... Já te avisei de que precisarás de muita paciência! paciência! Rosa fez questão em ir ao quarto de Orieta, para lhe transmitir a nova, já que tivera, ao levantar-se, um aviso de que não sairia do quarto, porque tinha piorado um pouco. Durante toda a noite teve febre, a qual só pela pe la manhã começou a ceder. Ao ouvir a notícia, Orieta teve um sobressalto e repetiu com uma espécie de espanto:  ─ Morta?... Morta?... Morta?... mas de quê?...  ─ Walter Walter supõe que foi um aneurisma.  ─ Ah!.. Shesbury?... Mas que disse o médico?  ─ Pois se já estava morta, para que chamar o médico?  ─ Para saber... saber...  ─ Que importa a causa, se se foi uma morte natural?  ─ Ah! é isso! Uma morte natural!... ─ disse Orieta com um ligeiro arrepio. Rosa contemplou a amiga com um ar de surpresa um tanto inquieta. Orieta percebeu e tentou dissimular dissimular..  ─ A cabeça pesa-me ainda, Rosinha. T Talvez alvez seja consequência da febre. Amanhã

espero ficar melhor.

 

 ─ Teimosinha, porque não quer que se chame o médico... Previno-a de que, se amanhã não estiver melhor, terá de se sujeitar a isso, ouviu?... Faustina disse-me que Walter a mandou também avisar. Procure, portanto melhorar de expressão até amanhã, minha Orieta. Em seguida deixou-a, para a não fatigar, e a seu pedido foi avisar as senhoras Rockton e Faustina de que queria ficar só, para ver se conseguia dormir um pouco.  As senhoras Sanzoffs vieram vê-la, assim como Pamela e a prima, pois julgaram que era seu dever aparecer, nem que fosse por uns rápidos momentos. Logo de manhã Ram-Sal veio, por mandado do seu senhor, saber como ela passara a noite. Faustina disse-lhe também que Piers, Farneuil e Nortley se tinham informado da sua saúde. Sinceras ou dissimuladas, as provas de solicitude foram aparecendo. Reconhecida por umas, indiferente a outras, o que mais desejou nesse momento foi a solidão e a tranquilidade do espírito. Como poderia conseguir essa tranquilidade?... O drama trágico da véspera, dominando as impressões da dança de Apsara, abalara-lhe profundamente a saúde. Ainda bem que soubera resistir com energia!... Depois a notícia de Rosa veio aumentar mais um pouco a agitação que já lhe ia no espírito. Morrera Apsara... E uma voz suave parecia dizer-lhe ao ouvido: “Daqui para o futuro nada mais terá a temer...” Que significavam estas palavras?... Como pôde ele afirmar que aquela mulher, viva, não reincidiria na tentativa criminosa? Agora morta... Orieta estremeceu e pensou para si, inquieta: “Dizem que é violento como os da sua raça!... Outrora tive uma prova disso... Não teria ele... morto Apsara.... num ímpeto de cólera?... Não teria arrogado a si os direitos dum juiz?...” Depois surgiu-lhe um outro pensamento.... depois de ter julgado inverossímil e estúpido o anterior... Walter, Walter, matá-la?... Porquê?... Porque tentara contra a vida de alguém alg uém que lhe era indiferente?... Essa suposição na verdade era inverossímil...

Não tinh tinha a que que esco escolh lher! er!.. .... Ent Entre re ela ela e eu, não não he hesi sita tari ria! a! pe pens nsou ou,, rind rindo o amargamente das idéias sem nexo que lhe brotaram do cérebro. então porque dissera :

 

“Nada mais receie dela?” Palavras do acaso... frases para a tranquilizar, por certo, no momento em que se sentia abalada, sob a impressão do drama violento. Mas... teria ele a intenção de mandar  Apsara embora?... “Sim, não descubro a verdade!... Sou uma doida em pensar nestas coisas. Como é que me vieram de repente ao cérebro, logo que Rosa me disse que essa mulher tinha partido, para o além?!...” Três dias depois, Orieta ocupava o seu lugar entre os hóspedes de Shesbury Shesbur y.  A fisionomia estava ainda um pouco alterada e o andar era um pouco lânguido. Porém reagiu energicamente, procurando afastar do seu espírito as idéias estranhas e as divagações que a tinham atormentado durante vários dias. Falou-se ainda da morte de Apsara, ignorada até então por Humfrey, que acabava de chegar de Rockden-Manor. Depois mudou-se de assunto, com íntima satisfação de Orieta. Procurou reprimir a sua penosa comoção, quando se encontrou com Walter. Ele, frio e cortês, perguntou-lhe como se encontrava, para em seguida se entreter a conversar com Porroby e Farneuil sobre um passeio a cavalo, que deviam dar essa tarde. Porroby notou com alegria esta nova prova da indiferença que a bela pupila inspirava ao tutor. Nessa Nes sa mes mesma ma sem semana, ana, Wal Walter ter dis disse se à mad madras rasta ta que, que, depois depois da par partid tida a dos hóspedes, isto é, passados uns doze dias, devia ir instalar-se em Londres, para ali passar a estação de inverno. Iria reunir-se a ela depois duma curta viagem pela Itália. Pamela mostrou certa estupefação, porque até aí não lhe tinha falado acerca desse des se proj projet eto. o. Nã Não o fe fezz por porém ém a me meno norr ob obje jeçã ção, o, porq porque ue tr troc ocav ava, a, muit muito o co cont nten ente te,, Falsdone-Hal, pelos prazeres mundanos da capital.  ─ Estarei pronta para a partida, querido Walter! Walter!... ... Vê algum inconveniente em deixar aqui a Rosa? O ar de Londres não lhe faz bem e além disso é capaz de fazer

cenas ao despedir-se da sua amiga Orieta.

 

 ─ Orieta e Faustina acompanhá-la-ão a Londres com a senhora Rockton.  ─ Ah !... Nesse caso é preciso levar a Rosa... Ela det detesta esta Londres...  ─ Não tenho que consultar os gostos e as conveniências da Rosa ─ respondeu ironicamente Shesbury. ─ Se quiser ficar, não me oporei que fique, porém será sem a Orieta e a Faustina, que aproveitarão esta estada em Londres para aprenderem diversas coisas, de que no tempo devido foram privadas. Pamela nada respondeu; evitava que o enteado lhe falasse na educação das duas pupilas, porque já sabia, por intermédio de Humfrey, qual era a opinião de Shesbury acerca da que ela lhe mandara dar. Walter, com um sorriso desdenhoso, deixou-a, e ela pôde encaminhar-se para os aposentos de Humfrey, a fim de lhe dar parte das novas decisões de Shesbury. Este comentou:  ─ Uma viagem à Itália!... Itália!... Não irá ele informar-se a respeito dessas pequenas?  ─ Não tinha pensado nisso!... No entanto podia dispensar-se de ir ele próprio. Qualquer homem da sua confiança poderia colher essas informações.  ─ É verdade; mas não confia em ninguém e quer decifrar o problema provocado pela loucura da ama.  ─ Acha isso possível?  ─ Duvido muito, D. Alberto tentou bem destrinçar esta meada!... Como esperar melhor resultado, agora que já se passaram dezesseis anos?  ─ E se ele procurar em Faletti e Peruzia, e souber que já se fizeram as mesmas investigações?  ─ E então, minha querida, que importa? Colhi-as por intermédio duma pessoa de confiança, a quem paguei muito bem, escondendo-lhe o meu nome. Walter não poderá supor nada. Pode estar tranquila a esse respeito. Quando faço uma coisa, tenho o hábito de tomar todas as precauções.

 ─ Sim, eu sei que é a prudência em pessoa. Irá viver para Londres durante a nossa estada lá?

 

 ─ Irei apenas de tempos a tempos, porque tenho serviços em Rockden-Manor Rockden-Manor... ... Tenho que voltar para lá, dentro de poucos dias. Valéria está muito agitada agora e já não quer obedecer a Ellen.  ─ Continua ainda muito excitada? excitada? Os olhos de Pamela brilharam de esperança, ao fazer esta pergunta.  ─ Sim!... É uma pobre criatura!...  ─ Não a deplore!... Não a deplore!... porque o ofendeu tanto, além de que por muito tempo tem amargurado a sua existência!  ─ Já lhe perdoei ─ disse Humfrey com um a acento cento grave na voz. ─ Trago o fardo que a vontade divina deitou sobre os meus ombros e tenho piedade dessa infeliz tão cruelmente castigada!  ─ Eu, porém, lamento-o mais do que a ela... porque é ela o único obstáculo à nossa completa felicidade!...  ─ Vamos, querida, deixemos esses pensamentos ─ disse ele num tom de suave censura. ─ Falemos da sua instalação em Londres. Leva a Rosa?  ─ Sou obrigada a isso. Imagine que o Walter manda também as Farnelas, para completarem a sua educação!... E a Rosa não ficará aqui sem a Orieta...  ─ As Farnelas vão para Londres?... Oh! de verdade?... ─ perguntou Humfrey, Humfrey, pensativo.  ─ De verdade!.... e eu que esperava ficar livre delas, ao menos durante esta estação!... ─ replicou Pamela, com mau humor. ─ Penso que o clima de Londres vai fazer mal à Rosa; porém essa consideração influía pouco sobre Shesbury, Shesbury, conforme deduzi das suas palavras e do seu sorriso irônico.  ─ Naturalmente... Só pensa nele!... Diga-me, Pamela, não acha singular a morte súbita da bailarina índia? Pamela ficou surpreendida com a pergunta.

 ─ Não. Morreu.

 

 ─Sim, à primeira vista, aceitei também a explicação, sem refletir, refletir, mas pensando depois, duvidei...  ─ Duvidou de quê?... Que julgou?... julgou?... Humfrey respondeu num murmúrio:  ─ Julgo que foi assassinada. Pamela sobressaltou-se.  ─ Assassinada?... Está louco. louco... .. E por quem?  ─ Por Walter.. Walter.... ou à sua ordem...  ─ Para quê?  ─ Talvez o seu capricho tivesse terminado e para se ver livre dela, que parecia estar muito apaixonada...  ─ Não, não ─ interrompeu ela com um gesto de horror. ─ T Tem em idéias espantosas, Humfrey!Walter Humfrey!Walt er não era capaz de semelhante coisa.  ─ Na verdade, minha querida, julgo menos cruel matar uma mulher com um punhal ou um revólver, do que fazê-la sofrer, morrendo aos poucos, de pesar, durante vários anos, como fazem os homens da espécie de Cecil...  ─ Isso é verdade!... ─ murmurou Pamela.  ─ A primeira mulher dele morreu de desgosto.... e eu não teria resistido, se não trocasse o meu amor pelo ódio.... e se não me a apoiasse poiasse em si, querido Humfrey. Um ligeiro sorriso aflorou os lábios láb ios deste... um sorriso de sarcasmo.  ─ Sim, esta suposição não tem muita base... Se Shesbury suprimia do seu caminho a linda Apsara, não foi maior criminoso do que o pai... E há mil maneiras da gente se desembaraçar duma mulher, Pamela!... mil maneiras!... e a maior parte delas escapando aos rigores da lei.

  Sim, é na verdade espantoso pensar que esses meios existem!... Por isso aprecio a felicidade de ser amada por um coração tão nobre e tão leal como o seu,

 

Humfrey!... Perto de si sinto a mais completa segurança e tenho em si a mais abseluta confiança!...  Apoiou a cabeça no ombro de Humfrey Humfrey,, que lhe beijou os louros cabelos... Contudo nos seus lábios havia o mesmo sorriso de crueldade sardônica...

FIM

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