LITERATURA DE CORDEL
Material de pesquisa elaborado pela Associação Boqueirãoense de Escritores (ABES) a partir de material coletado do Projeto Cordel Campina.
ABES ASSOCIAÇÃO BOQUEIRÃOENSE DE ESCRITORES http://abespb.blogspot.com
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Diretoria Presidente Mirtes Waleska Sulpino
Vice-presidente Jane Luiz Gomes
Secretária Maria Aparecida de Farias
Tesoureira Cleide de Lima
Diretora de Biblioteca Lúcia F. Batista Chagas
Diretor de Patrimônio Paulo da Mata Monteiro
Diretor de Eventos Malcy Negreiros e Marlene Pereira
Conselho de Ética Shirley Vasconcelos Paula Francinete Leite Gelda Moura Max Dantas
Editoração e Diagramação Mirtes Waleska Sulpino
[email protected] Material extraído do Site Cordel Campina www.cordelcampina.com.br
CAMPINA, BOA DE RIMA Por Janaína Lira*
Campina Grande, situada na serra da Borborema, agreste paraibano com cerca de 372.366 habitantes, tem oferecido importante contribuição para a literatura de cordel. Aqui viveram no século passado poetas como Francisco das Chagas Batista, um dos primeiros poetas-editores de que temos notícias, Manuel Camilo dos Santos, que de acordo com SOBRINHO (2003) chegou a possuir a gráfica Estrela da Poesia de curta duração. A cidade tem estimulado a leitura e a produção de cordel, através de projetos desenvolvidos pela UFCG em parceria com a prefeitura. Além de projetos como o Cordel campinense realizado em novembro de 2004, e organizado pela Secretaria de Educação, Esporte e Cultura. O evento ocorreu em plena praça pública e teve como objetivo a publicação de dez títulos; desses autores cinco são mulheres, quebrando um pouco a tradição que tem sempre destacado apenas os homens nessa arte. A Casa do Poeta Popular fundada em 1988 é outra manifestação de incentivo à literatura popular. Situada no bairro do Catolé, conta hoje com cerca de 144 poetas, repentistas, cantadores e emboladores associados. Santino Hermenegildo da Silva (nome de batismo de Santino Luiz) é o atual presidente da Casa, já no terceiro mandato sendo que os dois últimos seqüências. Esse por sua vez, não soube precisar a quantidade de poetas cordelistas associados. Revelou-nos ainda, que para tornar-se membro da Casa do Poeta basta contribuir com uma mensalidade. Segundo Santino, a maioria dos sócios não cumprem com suas obrigações. Ele ainda declarou que a Casa sedia eventos de pequeno porte durante o ano inteiro (reuniões, recitais, cantorias, pelejas), mas é sem dúvida o “Congresso Nacional de Violeiros” o evento mais importante realizado há vinte e sete anos. Observamos que embora a literatura popular conquiste novos espaços é necessário um maior empenho das autoridades e a sociedade organizada como um todo para uma melhor divulgação dessa arte em nossos dias.
Lançando um olhar sobre o cordel verificamos que no passado ele era vendido nas feiras livres ou lidos apenas por grupos familiares. Hoje como afirma PINHEIRO e LÚCIO (2002:12) “o folheto vai para as ruas, praças e é vendido por homens e mulheres que declamam os versos, ora cantam em toadas semelhantes às tocadas pelos repentistas.” É o que podemos conferir nas ruas de nossa cidade onde os folhetos são vendidos nas bancas de revistas. Sobre os novos espaços de vendas e de leitura que o cordel vem conquistando Manoel Monteiro comenta: O que acontece com o poeta de hoje é que ele está preparado psicologicamente para vender seu peixe nas universidades, para mostrar o seu trabalho nas escolas de quaisquer nível, isso fez com que os alunos conheçam que [...] existe também o folheto que tem uma mensagem que tem uma cultura. Embora a nossa cidade tenha se mostrado “boa de rima” acolhendo as sextilhas é inegável que a cultura popular, mas precisamente o cordel pode ocupar maior destaque local, contribuindo para o incentivo à leitura, à produção de novos títulos, além de melhorar também a condição de produção de cordelistas e xilogravuristas que encontram entraves na hora de produzir sua arte. Sobre essas dificuldades Antônio Lucena declara: “Olha eu não reclamo da vida, mas tem vez que o dinheiro não dá para fazer tudo e falta madeira. Agora mesmo estou precisando empenhar umas coisinhas minhas para comprar madeira (...)”. “Campina Grande, cidade feita por forasteiros”, como afirma o poeta popular, Manoel Monteiro, oferece sem dúvida um bom número de poetas cordelistas que nos oferta a exemplo de Antônio Lucena, Antônio da Mulatinha, que escrevem há décadas em nossa cidade, ou ainda nomes mais recentes que surgem como Astier Basílio, Maria Godelivie, dentre outros. *Janaína Lira é Professora, graduada em Letras e especialista em Literatura. Bibliografia: PINHEIRO, Hélder; LÚCIO, Ana Cristina Marinho. Cordel na sala de aula. São Paulo: Duas Cidades, 2001 SOBRINHO, José Alves. Cantadores, repentistas e poetas populares. Campina GrandePB: Editora Bagagem: 2003
Paraíba: Berço do Cordel no Brasil Por Janaína Lira*
Para ALMEIDA (apud ABREU, 1999) “no princípio não foi o caos, foi Augustinho Nunes da Costa”. Esse poeta se destaca como sendo um dos iniciadores da Poesia Popular na Serra do Teixeira (pelo menos um dos primeiros de que temos notícias). No século XIX surgiram na região vários poetas cantadores que ficaram conhecidos como “o grupo de Teixeira”. Dentre eles destacamos: “Nicandro e Ugulino (...) Francisco Romano, Severino Pirauá” (p.74). Para MEYER (1980) o poeta Severino Pirauá se destacou no seu meio cultural por sua inventividade, sendo desse modo aclamado como um gênio da arte de versejar; a ele é atribuída várias inovações da cantoria, dentre elas as sextilhas tão utilizadas pelos poetas populares em nossos dias. A migração das sextilhas do universo poético oral para o papel se deu a partir do trabalho pioneiro de dois paraibanos: Leandro Gomes de Barros e Francisco das Chagas Batista. Esses paraibanos foram responsáveis pela primeira impressão dos folhetos que se tem notícia; também fizeram parte do “Grupo de Teixeira”, embora não fossem cantadores. Sobre Leandro Gomes de Barros comenta MEYER (1980:08): Autor, editor, proprietário, desenvolvia suas histórias em mais de um folheto ou publicava várias num só, inventando todos os meios para aumentar seus proventos. Ao mesmo tempo lançava as bases de uma nova forma literária: multiplicava muitos modos de contar. Com base nas considerações acima, podemos afirmar que Leandro Gomes de Barros é um marco para a Literatura de Cordel, pois como ressalta MEYER (1980), ele soube unir a experiência adquirida na Serra de Teixeira onde viveu a um fato muito importante: O surgimento das tipografias no Nordeste, que viabilizaram a publicação sistemática do cordel. Foi a partir dos passos dados por esse poeta que outros puderam trilhar no mesmo caminho, a exemplo de Francisco das Chagas Batista, João Martins de Athayde, dentre outros. Tornando-se responsáveis por uma nova manifestação literária: A Literatura de Cordel. Muitas são as cidades paraibanas que viram crescer em seus campos cantadores e poetas populares, dentre elas destacamos Guarabira que conforme SOBRINHO (2003:23) “tanto teve participação ativa como foi viga mestre nesse movimento de poesia popular escrita”. No seu seio nasceram poetas que possuem reconhecimento nacional, como Manuel Camilo dos Santos, poeta editor. Esse é, dentre outros, autor do folheto Viagem a São Saruê, que já se tornou um clássico na Literatura de Cordel. Sem contar os inúmeros poetas que lá viveram vindo de outros estados. Essa cidade sediou ainda inesquecíveis encontros de poetas-cantadores como: “Ugulino Sabugi” e “Manoel Cabeceira”, só para citar alguns.
Na Paraíba, como em todo o Nordeste, Os primeiros cordelistas são homens simples, ligados a origem humilde, envolvidos com a agricultura como nos informa ABREU (1999:93) “a maioria deles nasceu na zona rural, filhos de pequenos proprietários ou de trabalhadores assalariados”. E talvez seja a pouca instrução desses homens que em sua maioria aprenderam a ler sozinhos, ou com o auxílio de familiares e amigos, que tenha sido um entrave para a valorização do seu fazer poético, cuja visão facultada a partir do olhar de pesquisadores eruditos, o reduza sempre a pura imitação. *Janaína Lira é Professora, Graduada em Letras e Especialista em Literatura. Bibliografia: SOBRINHO, José Alves. Cantadores, repentistas e poetas populares. Campina GrandePB: Editora Bagagem: 2003
DICIONÁRIO POPULAR
A. ABRIR O CHAMBRE: FUGIR; ADONE: ONDE; AMANHECER COM A BRAGUILHA VIRADA PRA TRÁS: AMANHECER COM RAIVA, COM VONTADE DE AFRONTAR MUNDOS E FUNDOS; AMOCAMBADO: ESCONDIDO; ARREPARA: OLHA ISSO OU AQUILO! ARRETADO: UMA COISA OU PESSOA LEGAL-BOA GENTE; .......................................................... B. BACALHAO: DIZ-SE DE QUEM É 'INSIGNIFICANTE'; BAGARDO: ESPERTO; BAIXAR O BARRO: DEFECAR; BEIÇO DE GAMELA: LÁBIOS GROSSOS; BILORA, TURICA: MAL ESTAR, INDISPOSIÇÃO; BULIR: MEXER ......................................................... C. CABEÇA DE VENTO: QUEM NÃO PENSA; CABELO DE FUÁ: ASSANHADO; CAFUSU: BADERNEIRO; QUE GOSTA DE FESTAS; CANGUEIRO: DIRIGIR MAL; CASA DE FERREIRO ESPETO DE PAU: QUEM NÃO TEM O QUE SABE; CAFÉ DONZELO: CAFÉ RECÉM PASSADO; ......................................................... D. DAR DE CORPO: DEFECAR; DAR GÁS: DAR IMPORTÂNCIA; DAR O TERCEIRO TIRO NA MACACA: PASSOU DO TEMPO DE CASAR; DE DEZ: FACA DE DEZ POLEGADAS; ........................................................ E. ENGABELAR: ILUDIR; ESTROMPA:GROSSEIRO E ESTÚPIDO; ESBÓRNIA: FESTA, FARRA, ORGIA (PI); ESPAIAR O SANGUE: TOMAR UMA BICADA DE CACHAÇA ANTES DO ALMOÇO OU
DEPOIS DO BANHO; ESTROPIADO: CANSADO; .........................................................
F. FALAÇO: BOATO; FELPAR: APARÊNCIA; FILHO DE MOITA: FILHO FORA DO CASAMENTO; FIOTA: BORÇAL; EXIBIDO; FOGUETE: PESSOA VIVA; ......................................................... G. GABIRÚ: RATO GRANDE; GANHAR PAUS: FUGIR; GAZO, GAZEA, RUZAGÁ: PESSOA ALBINA OU MUITO BRANCA; ......................................................... I. INFLUÍDO: ANIMADO; IR NOS MATOS: DEFECAR; ......................................................... J. JERERÉ: PEÇA OU INSTRUMENTO USADO NA PESCA, PRINCIPALMENTE ARTESANAL E RIBEIRINHA; JURURU: TRISTONHO; ......................................................... L. LEGUELLÊ: PESSOA INSIGNIFICANTE; LÍNGUA DE TRAPO: QUEM FALA DEMAIS; ......................................................... M. MADORNA: DESCNASAR APÓS O ALMOÇO MALINAR: BULIR, MEXER (PI); MANDARETE: RECADO; MAIÁ: DESCANSAR APÓS O ALMOÇO; MÃO DE VACA: EGOÍSTA; MATAR O BICO: BEBER AGUARDENTE; MEFEBREQUE: COISA DE PÉSSIMA QUALIDADE; MELADO(A) DE GRAXA: MENINO(A) MATUTO(A); MISTURA: FARINHA;FUBÁ; MODRONGO: CAROÇO; MUCUFA: ORDINÁRIO; MUQUIFO: CASA POBRE; MURRINHA: COISA OU PESSOA QUE NÃO PRESTA; QUE DÁ TRABALHO; ......................................................... N. NÃO BATER O PASSARIM: NÃO TER MEDO; NAZARRO: TRISTONHO; NÃO COMER LAMBANÇA: NÃO ACREDITAR EM NADA; .........................................................
O. OXENTE: EXCLAMAÇÃO; ......................................................... P. PAJEÚ: FACA DE PONTA; PARECER UMA TACACA: FEDORENTO; PARNAÍBA: FACA DE PONTA; PASSAMENTO:MAL ESTAR MUITAS VEZES SEGUIDO DE ÓBITO; PÉ NO BARRICÃO: JÁ ESTÁ ESGOTANDO A IDADE IDEAL DE CASAR; PERNA DE PAU: JOGADOR RUIM; PULGA ATRÁS DA ORELHA: DESCONFIADO; ......................................................... Q. QUICÉ: RESTO DE FACA GASTO PELO TEMPO; QUILAR: DESCANSAR APÓS O ALMOÇO; ......................................................... R. REBARBA: RESTO; REAR: BATER; ......................................................... S. SAMBUDO: CRIANÇA RAQUÍTICA; SER FEITO COM GALA DESUNERADA: SER FRACO, INCOMPETENTE; SE AVIE : SE APRESSE; SEBOSO/NOJENTO: SUJO; SUVINA: EGOÍSTA; ......................................................... T. TACACA: ESPÉCIE DE GAMBÁ; TAGARELA: QUEM FALA MUITO; TER SANGUE NO OLHO: SER CORAJOSO, VALENTE; TOMAR TENÊNCIA: PRESTAR ATENÇÃO; TONHONHÕE: LESO, IDIOTA (PI); TRAACA: BEBEDEIRA; TROCHO: SENJEITO; DESEMBESTADO; SEMCABRESTO; TUNGÃO: LERDO; ......................................................... V. VAREI: ESPANTO; VÔTE: EXPRESSÃO QUE SIGNIFICA ESTRANHEZA, REPUGNÂNCIA, CONTRARIEDADE;
Cordel: A mulher que vendeu o marido por R$ 1,99 Autor: Janduhi Dantas contato:
[email protected] Hoje em dia, meus amigos os direitos são iguais tudo o que faz o marmanjo hoje a mulher também faz se o homem se abestalhar a mulher bota pra trás.
Entretanto ainda existe caso de exploração o salário da mulher é de chamar atenção bem menor que o do homem fazendo a mesma função. Também tem cabra safado que não muda o pensamento que não respeita a mulher que não honra o casamento que a vida de pleibói não esquece um só momento.
Era assim que Damião (o ex-marido de Côca) queria viver: na cana sem tirar copo da boca enquanto sua mulher em casa feito uma louca... ... cuidando de três meninos lavando roupa e varrendo feito uma negra-de-ferro de fome o corpo tremendo e o marido cachaceiro pelos botequins bebendo.
Mas diz o velho ditado que todo mal tem seu fim e o fim do mal de Côca um dia chegou enfim foi quando Côca de estalo pegou a pensar assim: "Nessa vida que eu levo eu não tô vendo futuro eu me sinto navegando em mar revolto e escuro vou remar no meu barquinho atrás de porto seguro."
"Na próxima raiva que eu tenha desse meu marido ruim qualquer mal que me fizer tomarei como estopim e a triste casamento eu vou decidir dar fim." De manhã Côca acordou com a braguilha pra trás deu cinco murros na mesa e gritou: "Ô Satanás eu vou te vender na feira vou já fazer um cartaz!
Pegou uma cartolina que ela havia escondido escreveu nervosamente com a raiva do bandido: "Por um e noventa e nove estou vendendo o marido". Pegou o marido bêbado de jeito, pela abertura da direção do mercado ela saiu à procura de vender o seu marido ia com muita secura!
Ficou na feira de Patos no mais horrendo lugar (na conhecida U.T.I.) e começou a gritar: "Tô vendendo o meu marido quem de vocês quer comprar?" Umas bêbadas que estavam estiradas pelo chão despertaram com os gritos e uma do cabelão perguntou a Dona Côca: "Qual o preço do gatão?"
"É um e noventa e nove não está vendo o cartaz?" Dona Côca respondeu e a bêbada disse: "O rapaz tem uma cara simpática acho até que vale mais". * Estas estrofes são recortes do cordel, para ler o texto na íntegra, entre em contato com o autor.