Linguagem e Poder Simbólico

September 24, 2017 | Author: Carlos Orellana | Category: Power (Social And Political), Rhetoric, Philosophical Science, Science, Science (General)
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Linguagem e Poder Simbólico Pierre Bourdieu

Santa Maria, 06 de maio de 2011.

Neste capítulo Bourdieu confere, especialmente, à linguagem o modo mais eficaz da construção simbólica da realidade, isto é, o sujeito ao constituir o mundo social, ele faz através da linguagem, mais especificamente, ao ato de nomear. Esse ato de nomear seria a representação mais elevada de que o sujeito possui legitimidade e autoridade de constituir o mundo através da nomeação. Além da disposição de autoridade e de legitimidade de que esse agente possui ao nomear o mundo, a nomeação representa um ato performativo no sentido de atribuir um lugar socialmente localizado dentro do campo para esse agente. Nesse sentido, Bourdieu quer analisar as estratégias mais ou menos ritualizadas desse processo lingüístico, mais precisamente, do ato de nomear. Não apenas as estratégias, mas as lutas e os enfrentamentos simbólicos que se efetuam no sentido de recriar o mundo social. É importante frisar que a eficácia da linguagem não reside em si, mas no funcionamento dessa linguagem. De acordo com Bourdieu, o poder da palavra está no poder delegado que essa palavra representa. Entende-se o poder delegado como o processo de investimento que um indivíduo recebe de um determinado campo que autoriza ou delega para expressar a vontade do grupo. Desse modo, a retórica dos discursos institucionais do porta-voz autorizado dispõe de uma autoridade que corresponde à posição desse agente dentro do seu campo. E os efeitos estilísticos dessa retórica (rotinização, estereotipagem, neutralização) derivam dessa posição do agente dentro do processo de concorrência do campo. Bourdieu reflete que o acesso aos instrumentos legítimos de expressão está na diferença entre os discursos dentro do mesmo campo. Assim, pode-se entender que o porta-voz consegue agir em efeito duplo de agir sobre os agentes do mesmo campo e sobre as coisas na medida em que ele acumula o capital simbólico do grupo que representa. Acima de tudo, o autor identifica o processo de eficácia simbólica como a relação entre as propriedades do discurso, daquele que pronuncia e da instituição que autorizou o pronunciamento. Entretanto, é importante entender que a especificidade do discurso de autoridade não se dá apenas pela compreensão do mesmo, mas no seu reconhecimento. O reconhecimento do discurso é processo de adequação a certas condições prévias como a autoridade daquele que pronuncia, a situação legítima (receptores legítimos) devendo ser enunciado sob formas legítimas. Portanto, pode-se compreender que a linguagem de autoridade tem que contar com a colaboração daqueles governados sob esse discurso. Isso representa que essa cumplicidade dos receptores em relação ao discurso legítimo que constitui o princípio de qualquer autoridade. Desse modo, Bourdieu em sua vasta produção intelectual entende que autoridade da língua reside nas condições sociais de produção e de reprodução entre as classes do conhecimento da língua legítima. As análisesde Bourdieu sobre a eficácia da linguagem e poder residem no estudo do paralelismo entre a crise da instituição religiosa e a crise do discurso ritual que ela sustentava. Entretanto, o ritual não age por si, mas apenas na medida em que representa a delegação de um agente investido de determinado monopólio simbólico, o que acontece na crise é a quebra desse contratto que une fieis e padre por intermédio da Igreja. Segundo Bourdieu, a crise representa essa ruptura das condições capazes de conferir ao ritual sua eficácia que apenas podem ser obtida pelo controle dessas

condições. Desse modo, a crise da linguagem é uma quebra dos mecanismos que garantem produtores e receptores legítimos desse discurso. Portanto, essa crise da liturgia, na verdade, refere-se à crise do sacerdócio que por sua vez refere-se à crise geral das crenças. Assim, a eficácia das palavras só se exerce quando os receptores reconhecem quem pode exercer.

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