Ldia11 Ficha Ed Literaria Frei Luis Sousa

March 21, 2023 | Author: Anonymous | Category: N/A
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Educação Literária

Almeida Garrett, Lê o excerto de

Frei Luís de Sousa

Frei Luís de Sousa que

se segue. Se necessário, consulta as notas. ATO SEGUNDO

É no palácio que fora de D. João de Portugal, em Almada; salão antigo, de gosto melancólico e  pesado, com grandes retratos de família, muitos de corpo inteiro, bispos, donas, cavaleiros, monges;

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estão em lugar mais conspícuo 1, no fundo, o del-rei D. Sebastião, o de Camões e o de D. João de Portugal. Portas do lado direito para o exterior, do esquerdo para o interior, cobertas de reposteiros com as armas dos condes de Vimioso. São as antigas da casa de Bragança, uma aspa vermelha sobre campo de prata com cinco escudos do reino, um no meio e os quatro nos quatro extremos da aspa; em cada braço e entre os dois escudos uma cruz floreteada 2, tudo do modo que trazem atualmente os duques de Cadaval; sobre o escudo, coroa de conde. No fundo um reposteiro muito maior e com as mesmas armas sobre as portadas da tribuna, que deita sobre a capela da Senhora da Piedade, na lgreja de S. Paulo dos domínicos de Almada. CENA I Maria e Telmo

Maria  – (saindo pela porta da esquerda e trazendo pela mão a Telmo, que parece vir de pouca vontade )

Vinde, não façais bulha, que minha mãe ainda dorme. Aqui, aqui nesta casa é que quero conversar. E não teimes, Telmo, que fiz tenção, e acabou-se!

Telmo  – Menina… 15 Maria  – «Menin – é o princípio daquele livro tão bonito que «Menina a e moça me levaram de casa de meu pai» 3  –

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minha mãe diz que não entende; entendo-o eu. Mas aqui não há menina nem moça; e vós, senhor Telmo Pais, meu fiel escudeiro, «faredes4  o que mandado vos é». E não me repliques, que então altercamos, faz-se bulha, e acorda minha mãe, que é o que eu não quero. Coitada! Há oito dias que aqui estamos nesta casa, e é a primeira noite que dorme com sossego. Aquele palácio a arder, aquele povo a gritar, o rebate dos sinos, aquela cena toda… oh! tão grandiosa e sublime, que a mim me encheu de maravilha, que foi um espetáculo como nunca vi outro de igual majestade!… À minha pobre mãe aterrou-a, não se lhe tira dos olhos; vai a fechá-los para dormir  e diz que vê aquelas chamas enoveladas em fumo a rodear-lhe a casa, a crescer para o ar e a devorar tudo com fúria infernal… o retrato de meu pai, aquele do quarto de lavor 5, tão seu favorito, em que ele estava tão gentil homem, vestido de cavaleiro de Malta com a sua cruz branca no peito, aquele retrato não se pode consolar de que lho não salvassem, que se queimasse ali. Vês tu? Ela, que não cria em agouros, que sempre me estava a repreender pelas minhas cismas, agora não lhe sai da cabeça que a perda do retrato é prognóstico 6  fatal de outra perda maior, que está perto, de alguma desgraça inesperada, mas certa, que a tem de separar  de meu pai. E eu agora é que faço de forte e assisada 7, que zombo de agouros 8  e de sinas9… para a animar, coitada!… que aqui entre nós, Telmo, nunca tive tanta fé neles. Creio, oh, se creio! que são avisos que Deus nos manda para nos preparar. E há… oh! há grande desgraça a cair sobre meu pai… decerto! e sobre minha mãe também, que é o mesmo. Telmo  – (disfarçando o terror de que está tomado) tomado ) Não digais isso… Deus há de fazê-lo por melhor, que lho merecem ambos (cobrando (cobrando ânimo e exaltando-se). exaltando-se). Vosso pai, D. Maria, é um português às direitas. GARRETT, Almeida, 2013. Frei Luís de Sousa. Porto: Porto Editora (pp. 51-53) 1. conspícuo:  destacado; 2. floreteada:  floreada; 3. «Menina e moça me levaram de casa de meu pai»: frase de abertura da obra Menina e conspícuo: destacado; floreteada: floreada;   «É o antiquado de fareis 4. fareis, , que Maria emprega com graciosa Moça Moça, , de para Bernardim Ribeiro, autor português do século XVI; afetação, falar em estilo de donzela romanesca, dando ordensfaredes: ao seu escudeiro. Ponho isto aqui, porque seiaqui que me notaram o arcaísmo como impróprio do tempo; era-o com efeito no século XVII em que aí estamos, se não fora trazido assim.» ( A. Garrett ). 5. quarto de lavor : sensata, ata, discret discreta; a; 8. agouros quarto destinado a trabalhos femininos; 6.  prognóstico  prognóstico:: prenúncio; 7. assisada assisada:: sens agouros:: presságios; 9. sinas sinas:: sortes, destinos. 1 |

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Educação Literária

 Apresenta  Apresen ta as tuas respo respostas stas aos itens qu que e se seguem d de e forma bem estruturada estruturada.. 1. Localiza o excerto na globalidade da obra. 2. Explica a função da longa didascália inicial, referindo o significado dos elementos cénicos de maior

destaque. 3.  Apresenta uma uma explicaçã explicação o para as pa palavras lavras de Ma Maria: ria: «Aqui «Aqui,, aqui nesta casa é que que quero ro

conversar.» (l. 12)

4. Maria tem uma perspetiva diferente da de Madalena, relativamente ao incêndio.

Comprova a afirmação. 5. Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando da tabela a opção adequada a cada

espaço. Regista apenas as letras e o número que corresponde à opção selecionada em cada um dos casos. Neste excerto, Telmo mostra

(a) 

.

 Ao dizer «Mas «Mas aqui não h há á menina n nem em moça» (l (l.. 16), Maria

(b) 

.

 A destruição do quad quadro ro de Manue Manuell de Sousa Co Coutinho utinho é vista co como mo mau pre presságio sságio (a)

1. não querer estar naquela casa 2. não querer dar explicações a

Maria 3. ter admiração por D. João de Portugal 4. a sua preocupação pelo destino de Maria

(b)

(c) 

.

( c)

1. revela as suas

1. pelo próprio

preferências literárias 2. revela os seus medos 3. sugere que já tem idade para saber a verdade 4. pretende mostrar que é diferente da sua mãe

2. por Maria, Madalena e Telmo 3. por Madalena e Telmo 4. por Maria, Madalena e Manuel

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Letras em dia,

Português, 11.º ano

Educação Literária Sugestões de resolução

Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa 1. O excerto situa-se no início do segundo ato (cena I). Integra o conflito da peça e corresponde a um

primeiro momento do ato, no qual se apresentam informações sobre os acontecimentos ocorridos desde o incêndio (na cena anterior, no final do primeiro ato) até ao presente da ação. 2. A didascália inicial descreve o espaço em que se desenvolve a ação durante o segundo ato, um salão do

palácio de D. João de Portugal. Este salão é descrito como «antigo, de gosto melancólico e pesado» (l. 1) e está decorado com retratos, que o enchem com uma multidão de gente do passado, «bispos, donas, cavaleiros, monges» (l. 2). Há, desde logo, a sensação de que este espaço é escuro e triste, oprime e cerca as personagens, tal como o seu destino. E, além disso, desenha-se um regresso ao passado. Os elementos cénicos de maior destaque, «em lugar mais conspícuo» (ll. 2-3), são os retratos de D. Sebastião, de Camões e de D. João de Portugal. O retrato de Camões, no contexto da obra, é a imagem de um autor  presente desde a primeira cena, ideologicamente associado ao espírito cavaleiresco e patriótico dos outros dois retratados. Os quadros de D. Sebastião e de D. João de Portugal representam e relembram a tragédia de Alcácer Quibir. O retrato de D. João corresponde à presença do antigo marido de Madalena no espírito das personagens, constituindo um indício físico do desfecho trágico. Assim, o regresso de Madalena à casa do antigo marido parece anunciar, mais do que um regresso ao passado, o regresso do passado. perspicaz. rspicaz. Assim, ficou muito intrigada porque 3. Maria revela, desde o início, ser muito inteligente, curiosa e pe a mãe, no dia em que chegaram àquela casa, se mostrou apavorada ao ver um retrato em particular, naquela sala. É por essa razão que chama Telmo ali para lhe perguntar quem é o homem no retrato. As suas palavras, na linha 12, comprovam a sua intuição. Maria percebe que aquele lugar pode ser a chave para a compreensão de palavras e comportamentos dos seus pais e de Telmo que até aí não compreendeu. 4. Relativamente ao incêndio, Maria tem uma perspetiva de espetáculo grandioso e sublime (l. 20), mas

Madalena ficou aterrada e não consegue libertar-se das imagens dessa noite, particularmente a destruição do retrato de Manuel de Sousa Coutinho, crendo que é agouro de um destino fatal (ll. 21-33). 5. a. 2.; b. 3.; c. 2.

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