Lambsprinck - Tratado Sobre A Pedra Filosofal

April 24, 2022 | Author: Anonymous | Category: N/A
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LAMBSPRINCK

TRATADO DA PEDRA FILOSOFAL

Prefácio Meu nome é Lambsprinck; sou de livre estirpe, E como honra e pleno direito, uso estas armas:

A Sabedoria entendi claramente E pela Arte alcancei o seu fundamento. Porque Deus me dispensou a sua Graça E me deu o saber com o entendimento. Assim me tornei o autor deste livro Onde reina uma ordem notável Para que pobres e ricos o possam compreender. Sobre a terra não há, certamente, nada semelhante, E por aí não faltei ao meu dever, Já que tinha avaliado as entranhas da verdade. Portanto, atentos e silenciosos, considere a minha obra, E não poupe seu esforço lendo-a por muitas vezes. Desta maneira haverá de conhecer a verdade E converterá o mais possível esse Dom divino. Ó Deus, Tu que és o fim, e o princípio, Podemos-te, por Jesus Cristo, Que ilumine o nosso sentido interior e os nossos pensamentos A fim de que possamos sempre celebrar os Teus louvores, E que, segundo o pleno poder da Tua vontade. Este livro possa tornar melhores todas as coisas. Conserva-nos na Tua misericórdia E que a Santíssima Trindade no-la conceda. Instruir-vos-ei com ajuda de Deus E sem dissimular nada do que é verdadeiro. Quando me tiver compreendido bem, Estarão então libertos de todo o erro. Pois tudo o que é secreto está contido Apenas numa só coisa.

Por isso não deverão perder o ânimo; E é preciso que na nossa balança estejam o tempo e a paciência Se quiserem gozar do nobre Fruto. Não lamentem nem o seu tempo nem o seu trabalho, Pois tem que cozer a semente dos Metais Dia após dia, durante semanas. Então encontrarão naquilo que é desprezado A Arte inteira e a perfeição, O que por todos foi julgado impossível, Se bem que fosse simples e fácil Também nos é interdito operar publicamente, Para que nenhum nos possa escarnecer. Permaneçam, pois, escondidos e silenciosos; Estarão, assim, em paz e livres de todo o cuidado. Deus que dá em particular a Arte a cada um, Quer também mantê-la secreta. E agora que fecho o meu prefácio Vou começar a descrever a Arte, Fazendo-a surgir tão clara como o dia Através de rimas e imagens justas e verdadeiras, Dando graças ao Criador de todas as criaturas. Eis a primeira figura.

Veja bem e entenda: Dois peixes nadam no nosso Mar.

O Mar é o Corpo. Os dois peixes são o Espírito e a Alma.

Dizem todos os filósofos Que há dois Peixes no nosso Mar, Ambos, na verdade, sem carne nem espinhas. São cozidos na água que lhes é própria. Então deles sairá o grande Mar Que homem algum pode descrever. Eis o que por isto entendem os Filósofos: Encontramos dois Peixes, mas há apenas um só, Dois, todavia, e contudo um somente, No qual três coisas estão: O Corpo, o Espírito, a Alma. Agora, também em verdade digo a vocês: Cozam todos três juntos. A fim de que seja feito o Grande Mar. Desta maneira em breve vos será mostrado Como podeis conseguir um grande aumento Para tal ferva o Enxofre com o Enxofre E poupe suas palavras sobre tal questão, Calem-se antes, para seus benefícios. Assim, serão libertos de toda a necessidade. Impondo-lhe um silêncio total, A sua empresa de ninguém será conhecida.

Acautele-se, Filho, cedo e depressa, Com o animal negro e feroz da Floresta.

O Sábio afirma que este combate Se assemelha ao enfrentamento com um animal selvagem na floresta, Com um dragão totalmente negro. Se, em verdade, se lhe cortar a cabeça, Perde então toda a sua cor negra E reveste-se de uma brancura de neve. Deseje ter uma justa compreensão deste ponto: A cor preta é chamada a "cabeça de corvo". Mal ela desaparece, Surge logo a cor branca. Que é propriamente chamada "Sem Cabeça", Quando já não houver Nuvem negra, podem crer! Agora os Filósofos em seu coração rejubilam com este Dom, E escondem-no cuidadosamente Para que nada disto algum louco saiba. No entanto, aos seus Filhos, com benevolência, Revelam algo, a tal respeito, escrevendo. Aos que recebem o favor divino, A esses somente eles o revelam. Por essa razão, a ninguém se fale disto, Pois Deus quer que seja mantido em segredo.

É agora necessário que saibam que existem na nossa Floresta um Veado e um Unicórnio.

Há, no Corpo, a Alma e o Espírito. Os Filósofos proclamam bem alto Que há dois animais selvagens nesta Floresta. O primeiro, alerta, belo e bem constituído: Um Veado forte, grande e robusto. O outro, um Unicórnio, amado pelo Sábio. Ambos se escondem entre os bosques, Mas, feliz o homem, dizemos nós, Que os apanhar numa armadilha e os capturar! Também os Mestres, por palavras obscuras, Nos mostram e fazem ver que em todos os lugares Estes dois animais erram na Floresta. Contudo, deve-se entender uma só coisa por esta Floresta, Pois se, em verdade, consideramos a base, É do Corpo que a Floresta recebe o seu nome. Então certa e justamente descobrir-se-á Que é do Espírito que provém o Unicórnio. O Veado não aspira, verdadeiramente, a outro nome Que o de Alma e não há quem lho retire. Mas é igualmente justo nomear o Mestre Que, pela Arte, os conduz e os doma, Dirigindo-os e fazendo-os descer à Floresta A fim de que, juntos, permaneçam unidos. E também lhe atribuiremos o quinhão De haver alcançado o Rio de Ouro E poder, agora, triunfar, Novo Augusto, no seu mágico Império.

É possível que seja um grande milagre De dois Leões, fazer-se apenas um.

Espírito e Alma devem ser Reunidos e devolvidos ao seu Corpo.

Os Sábios dão-nos a entender Que dois fortes leões vão e vêm, Macho e fêmea, no Vale das Trevas Onde se escondem e pela Arte podem ser capturados. Terríficos e cruéis, de feroz compleição, Rápidos, indomáveis, completamente selvagens. Aquele que, com sabedoria e manha, Os conseguir prender numa rede, e domar e reter E, de novo, os levar a seu gosto para a Floresta, Dele se escreverá, a justo título e de pleno direito, Que mais do que nenhum outro mereceu a Coroa E que então obteve a gloriosa recompensa de tudo isto.

Um Lobo e Um Cão lutam num lugar; Dos dois, por fim, ficará apenas um.

A Mortificação e a Albificação, imbibição Do Corpo, conjunto com a Alma e o Espírito.

Alexandre da Pérsia escreve livremente Que o Lobo e o Cão se encontram no Vale. Contudo, o Sábio nos revela Que cada um tem a sua própria origem, Pois é do Oriente que vem o Lobo É do Ocidente que sai o Cão. Ambos estão cheios de mútua inveja, Furiosos, enraivecidos, ferozes até a demência. Um, ao outro priva da sua vida, E do combate de ambos deriva o grande Veneno. Mas, se de novo voltam à vida, Então, na verdade, da sua ressurreição resulta A maior Medicina e a melhor Teriaga Que pode ser encontrada sobre a terra. Assim, ela alegra todos os Sábios Que dão graças a Deus Oferecendo-lhe honra e louvor.

É grande maravilha e estranha astúcia Fazer dum Dragão a Medicina suprema,

O Mercúrio, convenientemente E alquimicamente precipitado ou sublimado, Dissolvido em sua própria Água limpa e de novo coagulado.

Um dragão faz o seu refúgio na Floresta E nada escapa ao seu Veneno. Quando vê o Sol e o Fogo, Então a sua baba peçonhenta espalha-se e ele voa tão prodigiosamente Que nenhum animal vivo subsiste à sua passagem. O próprio Basilisco não lhe pode ser comparado. Mal se sabe atacado de morte por tal verme corrosivo, Combate, então, com todas as suas forças. As suas cores aumentam pela morte E do seu Veneno se faz a Medicina. Pois volta contra si toda a sua peçonha E devora a própria cauda venenosa Que deve em si mesmo achar a perfeição. O mais nobre Bálsamo vem deste Dragão E serão apontadas as suas admiráveis virtudes Com as quais todos os Sábios altamente se alegram.

Dois pássaro cantam na floresta E contudo, no justo sentido, apenas se encontra um só.

O Mercúrio muitas vezes sublimado é enfim fixado, de modo que não mais possa fugir ou evaporar-se pela força do fogo. Esta sublimação, na verdade, deve ser repetida tantas vezes quantas as precisas, até que ele tenha se tornado fixo.

Há de encontrar-se na Floresta um Ninho Onde o Pássaro de Hermes guarda os filhos. E se um quer sempre voar, O outro, silencioso, fica no Ninho. Mas um não abandona ao outro Antes o guarda em melhor estado, Como faz, em casa, um homem com sua mulher, Perfeitamente unidos pelos laços conjugais. E, em cada momento, rejubilamos com isso Pois que os fixamos juntos E sobre eles deixamos reinar Deus Pai.

As duas Aves, Corpo e Espírito Entredevoram-se, como é preciso

De novo o Corpo será posto no estrume de cavalo ou no banho para ser digerido pelo seu ar Esparso ou pelo Espírito previamente separado do Corpo. O Corpo torna-se branco pelo trabalho; o Espírito faz-se verdadeiramente rubro pela Arte. A obra tende à perfeição da sua natureza, e é assim que se prepara a Pedra dos Filósofos. Há nas Índias uma Floresta Onde, ligados juntos, estão dois Pássaros. Um é o Branco, o outro o Vermelho. E mordem-se, entre si, até a morte. E um, o outro devora por inteiro. E serão transformados numa branca Pomba E da Pomba há de nascer uma Fênix Que terá perdido a sua densa escuridão e a sua natureza mortal E alcançando assim uma vida nova. E Deus lhe deu tal força e poder Que doravante vive livre da Morte E sobre nós invoca a riqueza e a saúde A fim de, com ela fazermos surgir as grandes maravilhas Que nos descrevem, com profundidade, os Sábios.

O Senhor da Floresta recebeu o seu Império E elevou-se do mais baixo ao mais alto.

Se a Fortuna voa, de Reitor serás feito Cônsul, Se ela voa mais, de Cônsul será feito Reitor. Entenda a aparição do primeiro Grau da Tintura. Escute agora uma história maravilhosa. Eis que ensino a vocês uma grande coisa: De como o Rei se eleva acima de tudo. Ouvi o que proclama o nobre Senhor: Triunfei de todos os meus inimigos, Pousei o meu pé sobre o Dragão, Sou um Senhor e um Rei da Terra. Nenhuma altura prevalecerá sobre a minha Nem pela Arte, nem pela Natureza De alguma criatura viva. Porque tenho em meu poder tudo o que deseja, Dou a força, a saúde, os dias longos, O ouro, a prata, as pérolas, as pedras preciosas E toda a medicina, da menor à suprema. Eu era, a princípio, duma baixa extração Antes de ter sido erguido a esta posição elevada. Para que, deste modo, eu exaltado fosse Deu-me Deus uma natureza tal Que do pior provém o melhor Que ele atinge em alto grau E como que em real estado. É por isto que Hermes me chama o Senhor

A Salamandra sabe viver no Fogo Também ele lhe dá a melhor cor.

Reiteração, acrescentamento e melhoramento da Tintura ou da Pedra dos Filósofos: deve entender-se por tal a Aumentação. Dizem todos os viajantes Que a Salamandra provém do Fogo. No Fogo se encontram o seu alimento e a sua vida E tal lhe foi dado por sua própria natureza. Ela mora também numa profunda montanha Quando se acendem quatro Fogos plenos de virtudes O primeiro mais fraco que o seguinte Onde se banha primeiramente a Salamandra. O terceiro, em verdade, é mais forte que os outros. Aí, a Salamandra lava-se e purifica-se bem Depois apressa-se para o seu buraco Mas imediatamente é apanhada e crivada de golpes Porque deve morrer, esvaindo-se em sangue. Na verdade, procede-se assim para seu bem Porque ela deve adquirir a vida eterna A preço do seu sangue, e de agora em diante a morte já não a atingirá. Não há sobre a terra mais alta medicina que o seu sangue No mundo, não se pode encontrar melhor Nenhuma doença resiste a este sangue Que cura o corpo dos metais, dos animais e dos homens É daí que vem a inteligência dos Sábios E é daí que eles receberam de Deus o Dom Celeste Que se chama a Pedra dos Sapientes Na qual reside toda a virtude e poder Os Sábios no-la fazem presente por benevolência E por isso devemos honrar a sua memória.

Pai, Filho e Guia seguram-se pelas mãos Aqui compreender-se-á Corpo, Espírito e Alma

De Israel veio já um antigo Pai. Possui um Filho único Que ama de todo o coração. Com dor, o confia a um Guia Que deve conduzir o Filho A qualquer parte que deseje e queira. O Guia dirige ao Filho estas palavras: “Vem cá, vou conduzir-lo além, Ao mais alto do cimo duma montanha, Para que aprenda a conhecer o mundo inteiro E possa contemplar o universo e o mar imenso Porque te agradará tão vasto espetáculo. Assim te levarei para estes cimos Até que cheguemos às portas do Céu” O Filho acreditou nas palavras do Guia E seguiu-o na sua ascensão. Descobriu assim a magnitude celeste E seu esplendor para além de todos os limites E, como tivesse visto tais maravilhas, Voltou-lhe então a lembrança da dor do Pai E apiedou-se da sua grande desolação E de novo quis descer no seu seio.

No vaso dos Sapientes está situada a alta montanha das Índias donde abalam o Filho e seu Guia, o Espírito e a Alma.

Aqui diz o Filho ao seu Guia: “Quero desde agora voltar a meu Pai Pois sem mim já não pode viver nem prosperar. Incessantemente mo proclamou e gritou.” O Guia, de seguida, respondeu: “Não te deixo descer sozinho Trouxe-te do lar paterno É preciso que agora te leve aí A fim de devolver ao Pai a vida com a alegria. E deste modo lhe proporcionarmos a eficaz virtude.” Levantaram-se então e juntos se encaminharam Até alcançarem o Trono do Pai. E como o Pai visse chegar seu Filho, Com voz forte lhe falou nestes termos.

O Pai, no seu amor, vai engolir o Filho, Da Alma e do Espírito se satisfaz todo o Corpo

“Ó Filho, na tua ausência, eu estava morto, Em grande perigo se encontrava a minha existência. Que alegria me dá o teu regresso!” Assim que o Filho entrou na morada do Pai, O Pai fechou-o nos seus braços E ao mesmo tempo o devorou; Com sua própria boca, o Pai o engoliu.

Aqui, o Pai está coberto de um suor muito forte Donde escorre a verdadeira Tintura.

Eis que o Pai se cobre de suores por causa de seu Filho E, do fundo do coração, reza ao Senhor, Ao qual, em verdade, tudo é possível, Pois que criou todas as coisas, E lhe implora que de novo faça sair o Filho do seu Corpo A fim de que possa ressuscitar à sua primeira vida. O Senho não quer desdenhar da sua oração E ordena ao Pai que durma Então, logo que este repousa na paz do sono Faz Deus cair uma chuva do alto Através da clara abóbada constelada. Uma chuva fecunda de verdadeira e pura prata, Que rega e amolece o corpo paternal. Ó Deus, ajuda-nos também a obter a Tua Graça!

Agora estão reunidos o Pai, o Filho e o Guia. Juntos permanecerão, eternamente.

Eis que dorme o Pai, agora, Todo ele se mudando em água clara, E, por esta água poderosa, Se forma uma pura e boa terra. E nasce também um novo Pai, forte e belo, Que engendra igualmente um Filho novo, O qual doravante, permanece junto de seu Pai E o Pai, para sempre, junto de seu Filho. Assim, em todas as coisas, diferentemente Produzem inumeráveis frutos Que, em tempo algum, podem perecer, Nem morte alguma consegue matar. Permanecem, para sempre, pela Graça de Deus, Enquanto triunfam num reino magnífico, Sentados em seu trono, o Pai com o Filho. Entre eles aparece o antigo Mestre Que traz um longo manto semelhante ao sangue.

* A Deus toda a honra e toda a Glória Amém.

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