Língua e Cultura Inglesa
February 11, 2017 | Author: Ana Carolina Marciano Silva | Category: N/A
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Curso de Lingua Inglesa...
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Língua e Cultura Inglesa
Língua e ultura nglesa
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I
Língua e
Cultura Inglesa orlando vian junior
Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-2992-1
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Orlando Vian Junior
Língua e Cultura Inglesa
Edição revisada
IESDE Brasil S.A. Curitiba 2012 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ __________________________________________________________________________________ V666L Vian Junior, Orlando Língua e cultura inglesa / Orlando Vian Jr. - 1.ed., rev. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2012. 112p. : 28 cm Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-2992-1 1. Língua inglesa - Aspectos sociais. 2. Linguagem e cultura. I. Título. 12-5119.
CDD: 306.44 CDU: 316.74:821.111(73)
19.07.12 01.08.12 037559 __________________________________________________________________________________
Capa: IESDE Brasil S.A. Imagem da capa: Shutterstock
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Sumário Língua e cultura | 7 Língua, cultura e identidade | 8 Contexto | 10 Crenças e estereótipos | 12 Conclusão | 13
O inglês antigo e o inglês médio | 19 O inglês antigo | 20 O inglês médio | 23
O inglês moderno | 29 Primeira fase do inglês moderno | 29 O inglês moderno | 31 Conclusão | 32
O inglês como língua nativa | 37 Inglaterra e Estados Unidos | 37 O inglês na América, na África e na Oceania | 39 Conclusão | 42
O inglês como segunda língua | 47 Caribe | 48 África | 48 Ásia | 50 Pacífico Sul e Sudeste Asiático | 51 Conclusão | 52
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O inglês como língua global | 57 As influências do inglês | 57 Os “novos ingleses” | 59 Conclusão | 60
A língua inglesa e a internet | 65 Globalização e internet | 65 O inglês na internet | 68 Conclusão | 70
A língua inglesa no Brasil e os meios de comunicação | 75 A língua inglesa no Brasil | 76 O contato do inglês com o português e os meios de comunicação | 78 Conclusão | 80
A língua inglesa e o campo profissional e de ensino | 85 O inglês nos diversos campos profissionais | 85 O ensino de inglês no Brasil e a relação língua versus cultura | 87 Conclusão | 90
O inglês como língua global e o futuro | 97 Uma visão crítica do inglês como língua global | 97 O futuro do inglês | 99 Conclusão | 101
Referências | 107
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Apresentação O ponto de partida para os aspectos apresentados neste material é a relação entre língua, linguagem e cultura e como os elementos contextuais e situacionais determinam o uso da linguagem e das escolhas linguísticas realizadas pelos usuários da língua no dia a dia em detrimento do contexto em que está inserido. O foco central da discussão é a língua inglesa: sua história, sua evolução, seu estado atual. Serão abordados aspectos desde a origem do idioma, sua formação, suas transformações e as fases pelas quais passou até configurarse como o conhecemos hoje, bem como os aspectos sociais, históricos, políticos, geográficos, econômicos, culturais, entre outros, que alçaram o inglês à condição de língua global. Será discutido, ainda, o papel da internet na disseminação do inglês, além dos reflexos e dos impactos no Brasil da utilização do inglês como língua global e seu papel no ensino de línguas estrangeiras. O objetivo primordial deste trabalho é incitar o futuro profissional do campo de Letras a refletir criticamente sobre os aspectos do idioma e seus impactos no ensino do inglês como língua estrangeira no Brasil, levando-se em consideração que ensinar inglês não se restringe apenas aos elementos da gramática, da pronúncia ou do vocabulário da língua, mas que todos esses elementos são influenciados pela cultura, tanto do inglês, como língua-alvo, nos diversos países onde é falado, quanto do português como língua materna e as variáveis culturais e linguísticas intervenientes no processo de ensino e de aprendizagem do idioma. Que a jornada pela história do inglês e pelos aspectos socioculturais da língua seja proveitosa e que dela possam emergir aspectos que possam contribuir para a sua prática social, como cidadão em um mundo globalizado onde o inglês é a língua internacional para comunicação e, futuramente, para sua prática pedagógica e profissional! Bom trabalho! Orlando Vian Junior
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Língua e cultura Orlando Vian Junior* A trilha que alçou o inglês à condição de língua global apresenta um percurso de ascensão vertiginosa, que envolve questões geopolíticas, econômicas, culturais, sociais e diversas outras que devem ser consideradas para a compreensão da relação entre uma língua e sua cultura. É significativo considerar o fato de que o inglês não existia há pouco mais de dois mil anos, quando Júlio César chegou à Bretanha. Em quinhentos anos já era falado por um grupo pequeno de pessoas e, ao final do século XVI, já era falado por sete milhões. O que se observou foi uma expansão acentuada a partir de 1600, quando o inglês começou a ser levado por todo o mundo. Para compreender tal desenvolvimento, é necessário fazer um retrospecto. Essa viagem servirá aos seguintes propósitos: ::: compreender a relação entre língua, cultura e identidade e como a linguagem está relacionada ao contexto; ::: estabelecer as relações entre a língua inglesa e sua disseminação pelo mundo e os diferentes elementos que determinam seu uso como língua oficial, segunda língua ou como língua estrangeira em diferentes países; ::: empreender uma viagem panorâmica sobre a história da língua inglesa e como foi alçada à condição de língua global; ::: discutir aspectos relacionados ao inglês como língua global utilizada nos meios de comunicação, na internet, na economia, na política, entre outros; ::: transpor esses elementos sócio-históricos ao contexto da área de Letras para levantarmos subsídios para uma compreensão mais ampla do idioma a fim de que nos posicionemos política e criticamente em relação ao papel da língua inglesa no mundo, no Brasil e, principalmente, nos currículos escolares; ::: compreender os fatores socioculturais na relação língua-cultura que influenciam o ensino e a aprendizagem do inglês como língua estrangeira. * Doutor em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem e Mestre em Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas. Bacharel em Letras Português-Inglês pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araçatuba-SP. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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Língua e cultura
Língua, cultura e identidade Aprender uma língua estrangeira não significa simplesmente aprender o vocabulário ou a gramática da língua. Existe um aspecto crucial envolvido no processo comunicativo, relacionando tanto aspectos individuais como aspectos transacionais. Trata-se do aprendizado de uma outra cultura, que emerge a partir do momento em que se engaja na tarefa de aprender o novo idioma, ou seja, aprender uma língua significa também assimilar aspectos do contexto cultural em que essa língua circula e a forma como é utilizada por seus falantes. Aprender inglês significa aprender a cultura dos países onde o inglês é falado. No momento sócio-histórico-cultural atual, entretanto, o inglês passou a ser a língua utilizada para a comunicação internacional e esse fato merece atenção, pois exige uma postura bastante ampla, uma vez que o inglês não é apenas a língua falada na Inglaterra, nos Estados Unidos, na África do Sul, na Austrália ou em outros países, mas também é a língua usada por cidadãos do mundo todo para comunicação nos mais diversos contextos culturais, econômicos, políticos, financeiros, administrativos, de mídia, de publicidade e de relações internacionais. Para uma compreensão mais ampla desse fato, é necessário entender quatro conceitos e a inter-relação entre eles: língua, linguagem, cultura e identidade.
Língua e linguagem Os termos língua e linguagem em língua portuguesa muitas vezes são usados intercambiadamente, embora se refiram a elementos diferentes. Algumas línguas neolatinas possuem termos diferenciados para cada uma, como o espanhol (lengua/lenguaje), o italiano (lingua/linguaggio) e o francês (langue/ langage), ao passo que no inglês o vocábulo language refere-se tanto à língua como à linguagem. Utiliza-se o termo língua para se referir ao sistema linguístico ou a uma língua em específico: a língua francesa, a língua japonesa, a língua russa, a língua portuguesa ou a língua inglesa, ou seja, o sistema linguístico estruturado e à disposição dos falantes daquela língua para sua comunicação diária. O termo linguagem, por sua vez, é usado para fazer referência à capacidade humana de utilizar o sistema linguístico, indissociável do pensamento, diferentemente dos animais irracionais, que possuem uma linguagem, mas não uma linguagem verbal, articulada, usada para expressão de seu pensamento. Um elemento determinante da linguagem é o contexto, o ambiente social em que ela é utilizada. Daí a importância de considerarmos outro conceito relacionado à língua e à linguagem: a cultura.
Cultura O termo cultura pode ter várias acepções. Pode-se entendê-lo em seu sentido mais amplo: quando se diz que uma pessoa é culta, significa que ela possui cultura. Nesse sentido, cultura é sinônimo de conhecimento adquirido. No entanto, cultura também pode ser entendida como os hábitos e costumes de determinado povo, uma vez que diversos elementos influenciam o aspecto cultural que, embora diversos, conforme preceitua Robinson (1985), podem ser agrupados em três grandes áreas: produtos culturais (literatura, folclore, arte, música, artesanato etc.), ideias (crenças, valores, representações, instituições etc.) e comportamentos (costumes, hábitos, alimentação, vestuário, lazer etc.). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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Todos esses elementos interferem, de forma direta ou indireta, na utilização do idioma estrangeiro que se aprende, pois é necessária a conscientização sobre a adequação do uso da linguagem ao contexto. O texto complementar trará outras informações sobre a origem da palavra cultura. No campo dos estudos interculturais, Bennett (1993) caracteriza dois tipos de cultura: a objetiva e a subjetiva. A cultura objetiva consiste em todas as manifestações que são produzidas pela sociedade: literatura, música, ciência, arte, língua etc., ou seja, é o produto concreto criado pela sociedade, enquanto a cultura subjetiva está nas manifestações abstratas, tais como os valores, as crenças, as normas, o uso da língua, o que sugere, assim, uma competência intercultural que os indivíduos imersos em cada cultura possuem. Linguagem e cultura, portanto, são indissociáveis. Uma cultura pode ser manifestada de várias formas e a linguagem é uma das mais comuns, pois é utilizada diariamente para interação social. A linguagem é, também, a maneira como se expressa a identidade social, a etnia, pois é através dos processos comunicativos que se estabelecem todas as interações verbais cotidianas. Pela cultura subjetiva manifestam-se valores e seguem-se determinadas normas estabelecidas tacitamente para o meio social em que se interage. A cultura subjetiva está presente na utilização da língua estrangeira, pois, como aprendizes daquela língua e de sua cultura, é necessário compreender as diferenças culturais em eventos sociais, comportamento, estilos e forma de ação. Dessa maneira, aprender um novo idioma significa travar contato com uma variada gama de elementos culturais que influenciam as escolhas linguísticas, pois essas escolhas são feitas com base no contexto sócio-histórico em que se interage.
Identidade Quando se aprende uma língua estrangeira, certamente se cria uma nova realidade e, consequentemente, constrói-se uma nova identidade: a de usuário daquela língua estrangeira. Revuz (1998) afirma que aprender uma língua estrangeira é “fazer a experiência de seu próprio estranhamento no momento em que nos familiarizamos com o estranho da língua e da comunidade que a faz viver”. Dessa forma, esse estranhamento vai agregando elementos de forma a construir a identidade de aprendizes de uma língua estrangeira. Pode-se dizer que a construção da identidade linguística do aprendiz de uma língua estrangeira ocorre nesse processo de identificação e de estranhamento com a língua estrangeira, pois haverá, juntamente com esse aprendizado, o desejo de vivenciar a língua que, necessariamente, é utilizada em uma outra cultura e esse mecanismo contribui para a formação da identidade linguística do aprendiz. Todo sujeito que aprende uma língua estrangeira constrói representações e possui diferentes crenças sobre a língua estrangeira, assim como sobre sua língua materna, pois, no dizer de Grigoleto (2003, p. 232), “são a consequência de suas identidades com determinados saberes sobre as línguas”. Pode-se depreender, portanto, que cada indivíduo constrói sua identidade na língua e por meio da língua, ou seja, não existe uma identidade fixa e fora da língua (RAJAGOPALAN, 1998, p. 41). O indivíduo aprendendo uma língua estrangeira está, desse modo, construindo sua identidade por meio dos novos elementos linguísticos e culturais inerentes àquele idioma. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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Língua e cultura
Contexto A linguagem é manifestada por meio de textos. Isso significa que em toda interação verbal realizada diariamente são produzidos textos, tanto orais quanto escritos. De acordo com a perspectiva de linguagem preceituada por Halliday (1989), o sucesso da comunicação na produção de textos pode ter sua explicação pela previsão inconsciente que cada usuário da linguagem faz a partir do contexto de uso. A noção de contexto, dessa forma, é essencial para compreender a relação entre linguagem e cultura, uma vez que todas as escolhas linguísticas que cada falante ou escritor faz ao produzir um texto estão associadas aos contextos sociais em que os textos são produzidos. O contexto seria um texto que perpassa outro texto: um con-texto. Isso equivale dizer que tudo que é dito ou escrito está associado ao contexto. Esse contexto de produção do texto nomeia-se contexto de situação, ou seja, o ambiente em que o texto está sendo produzido e veiculado. No entanto, além dos aspectos mais imediatos associados ao texto, estão presentes, ainda, outros elementos culturais, no âmbito mais amplo da cultura, isto é, um contexto de cultura. As interações, dessa forma, serão determinadas tanto pelo contexto cultural mais amplo quanto pelo contexto situacional mais restrito, e as escolhas linguísticas que cada usuário fará estarão associadas a esses contextos. Para compreensão dos contextos em que os textos são produzidos, Halliday (1989) define três elementos do contexto que determinam as escolhas linguísticas: ::: Campo – O que está acontecendo? Para que a linguagem está sendo usada? ::: Relações – Quem são os participantes da interação? Que papéis eles exercem? Quais as relações de poder entre eles? ::: Modo – Como esse texto é veiculado? O estudo desses três elementos auxilia em uma compreensão mais ampla da relação entre linguagem e contexto e tem sido utilizado pelos estudos em linguística sistêmico-funcional, principalmente a partir do trabalho de Michael Halliday (1978, 1989) e de estudiosos como Martin (1984), Poynton (1984) e Eggins (1994), conforme veremos a seguir.
Campo O campo pode ser entendido como o foco da atividade social em que os interactantes estão engajados. Ao considerar, por exemplo, um engenheiro explicando o mecanismo de um equipamento para um grupo de técnicos em uma fábrica ou fazendo uma palestra para seus pares em um congresso, ele utilizará um linguajar especializado típico de sua área. Se esse engenheiro for explicar a um familiar como o mesmo equipamento funciona, supostamente vai utilizar uma linguagem menos especializada e mais cotidiana. O campo do discurso, dessa forma, varia de acordo com o seguinte contínuo: técnico
cotidiano
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Esse contínuo indica que a linguagem é adaptada em função da atividade social em que se está engajado: será utilizado um linguajar mais técnico ou uma linguagem mais simples e corriqueira dependendo da situação.
Relações As relações entre os participantes da interação também variam de acordo com o poder entre eles, com a frequência de seus contatos e com o seu envolvimento afetivo: pessoas mais próximas mantêm contatos mais íntimos e mais informais, ao passo que pessoas em posições sociais ou hierárquicas diferentes usam um nível de formalidade maior. Se as relações de poder entre as pessoas são desiguais, a linguagem provavelmente será mais formal, com elementos linguísticos que marquem esse distanciamento, ao passo que, em uma relação em que há igualdade de poder, a linguagem tenderá a ser menos formal, de acordo com o seguinte contínuo: igual
desigual
Em relação à frequência de contato entre os usuários, a linguagem também irá variar, afinal de contas com pessoas com quem mantemos relações cotidianas usamos uma linguagem mais informal e, com pessoas que não conhecemos ou com quem não temos contato frequente, tendemos a usar uma linguagem que marque esse distanciamento. frequente
ocasional
A linguagem utilizada nas interações sociais também é determinada pelo envolvimento afetivo existente entre os usuários da linguagem. Relações familiares são informais, enquanto relações profissionais com pessoas com quem se tem menor contato ou que são desconhecidas são mais formais, ou seja, a linguagem sofre alterações em seu uso em função do envolvimento afetivo, se este for alto ou baixo, de acordo com o seguinte contínuo: alto
baixo
Todas essas variações irão depender das relações estabelecidas entre os participantes a partir dos contextos em que interagem.
Modo O modo do discurso auxilia a determinar, a partir do contexto e da experiência, como a interação ocorrerá. Age-se de modo diferenciado em cada situação comunicativa a partir de determinações sociais, culturais e linguísticas.
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Em uma conversa corriqueira com um amigo, em uma conversa telefônica, ao escrever um e-mail, ao ouvir o rádio ou assistir à televisão ou ao ler um romance fica estabelecida uma distância social de maior ou menor proximidade entre os interactantes em cada situação. A partir desses exemplos, podem ser situados em um contínuo (EGGINS, 1994): bate-papo
telefone
+ Informal + Contato visual + Reação
e-mail
rádio
TV
romance
– Formal – Contato visual – Retorno
Esses elementos revelam por que, em determinadas situações, são utilizadas determinadas formas de tratamento, ou usa-se um tratamento mais direto, mais distante, envia-se uma carta, vai-se pessoalmente ao local, ou seja, optam-se pelas escolhas mais adequadas para interação naquela situação a partir da experiência como atores sociais que é recorrente na cultura; isso quer dizer que a experiência social de cada indivíduo indica qual é o tipo de texto a ser utilizado em determinada interação, qual o papel a ser desempenhado e como organizar o texto. Em suma, como falantes de um idioma, cada um tem a habilidade de predizer a linguagem que deve utilizar em determinados contextos e com determinadas pessoas, o que significa que o contexto influencia as escolhas linguísticas para a produção das interações diárias.
Crenças e estereótipos Toda a comunicação intercultural possibilitada pelo inglês como uma língua global traz consigo alguns elementos que podem influenciar o aprendizado da língua estrangeira ou a forma como se vê a língua inglesa, principalmente pelas crenças e estereótipos. Crenças são as imagens que se constroem sobre aquela língua específica ou sobre o que significa aprender aquele idioma. De acordo com a pesquisadora brasileira Barcelos, crença é [...] uma forma de pensamento, como construções de realidade, maneiras de ver e perceber o mundo e seus fenômenos, coconstruídas em nossas experiências e resultantes de um processo interativo de interpretação e (re)significação. Como tal, crenças são sociais (mas também individuais), dinâmicas, contextuais e paradoxais. (BARCELOS, 2006, p. 18)
Todo aprendiz possui crenças sobre o que seja aprender inglês e que variam de acordo com o ambiente sócio-histórico em que os sujeitos estão inseridos e com diversos outros elementos, determinados pelas relações entre aquele ambiente e a língua estrangeira. Os estereótipos, por seu turno, são as imagens e representações que se constroem em relação a determinado povo ou a determinada cultura.
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Ao pensar em determinado país, vários estereótipos emergem sobre as impressões que se tem sobre aquele povo, sua cultura, seu modo de vida, sua alimentação, vestuário e diversos outros aspectos dos artefatos culturais que cada cultura produz. Quando se inicia o aprendizado de uma língua estrangeira, cada um é influenciado, mesmo que inconscientemente, pelas crenças e pelos estereótipos daquele povo ou daquela cultura. É comum dizer, por exemplo, que um idioma estrangeiro é difícil, que outro é sonoro, agressivo, romântico e assim por diante. São as crenças influenciando o aprendizado da língua ou a imagem que se tem daquela língua ou de determinado povo ou de sua cultura. Consequentemente, é comum usar esses elementos como subterfúgios para as dificuldades ou para justificar determinados aspectos em relação ao aprendizado do idioma. Por isso é importante a consciência tanto da influência dos estereótipos quanto das crenças no aprendizado. Aprender um novo idioma exige, portanto, uma atitude de abertura perante a nova cultura da língua que se está prestes a aprender.
Conclusão Foram abordados nesta unidade os seguintes itens para a determinação da relação entre língua inglesa e cultura inglesa: Língua
Linguagem
Cultura
Identidade
Crenças
Estereótipos
Contexto de cultura
Contexto de situação
Variáveis do contexto: campo, relações e modo
Posicionando os elementos do quadro acima conjuntamente, tem-se um rico caleidoscópio de elementos que se imiscuem ao tratar do ensino e da aprendizagem de uma língua estrangeira e da relação dessa língua com sua cultura, pois dá a dimensão de que todo sujeito, inserido em um determinado contexto de cultura e, mais especificamente, em um dado contexto situacional e institucional, utiliza a linguagem constantemente para construir sua identidade. Esse mesmo sujeito, ao expressar seus pensamentos, desejos, opiniões, crenças, posições, recorre a elementos da cultura em que está inserido e também em função das relações de poder, afetividade, laços familiares, hierárquicos, dentro dessa cultura. Ao relacionar esses elementos ao aprendizado de um idioma estrangeiro, deve-se considerar que o aluno do idioma estrangeiro traz consigo suas crenças e estereótipos, que também contribuirão para a construção de sua identidade. Ao abordar a inter-relação entre esses elementos, volta-se ao ponto apresentado no início deste capítulo: aprender uma língua estrangeira é também aprender a cultura dessa língua.
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Língua e cultura
Texto complementar Cultura e cidadania na formação do professor de línguas (VIAN JR., 2006)
As transformações na sociedade pós-moderna direcionaram a política a uma vinculação a mecanismos econômicos, o que nos levou, por conseguinte, a renomear a forma contemporânea do capitalismo como neoliberalismo. Esse estado de coisas, permeado e perpassado ainda por questões hegemônicas e ideológicas, sugere a assunção de uma postura crítica frente ao mundo em que vivemos e com o qual interagimos. Torna-se necessária, da mesma forma, a adoção de uma postura crítica frente ao que nos impõe a hegemonia política, linguística, cultural e econômica. Para tanto, é preciso que reflitamos sobre nosso papel no mundo e, ao invés de formar os cidadãos que as empresas e os grupos econômicos esperam, devemos pensar em formar o cidadão que esteja apto a criticá-los. Estou argumentando, portanto, em favor de uma linguística crítica, através da qual, como bem propõe Rajagopalan (2003, p. 12), seja “possível mudar as coisas, ao invés de nos contentar em simplesmente descrevê-las e fazer teorias engenhosas a respeito delas”. [...] No ensino de inglês como língua estrangeira, o que temos observado é que a maior parte do que é ensinado em relação à cultura, principalmente pela grande quantidade de materiais didáticos publicados, está relacionado à cultura britânica ou à americana. Em alguns casos, não só pela menor quantidade de material publicado, mas também por questões hegemônicas, algumas referências são feitas a outras culturas de países que têm o inglês como língua oficial, como é o caso das culturas canadense, sul-africana, australiana, neozelandesa, entre outras. Embora, como assinalaram Tomalin e Stempleski (1993) na década de 1990, a transculturalidade fosse uma área em franco crescimento, o estudo sistemático da interação intercultural poderia ser novo para muitos professores. Dessa forma, uma vez que existem argumentos de que cultura e cidadania não se ensinam, mas se vivenciam, o que se pode fazer é incitar a reflexão sobre questões culturais e de cidadania, com vistas a uma formação crítica do futuro professor. Duas são as concepções de cultura, conforme Santos (1983): uma relacionada aos aspectos da realidade social, caracterizando, dessa forma, a existência de um povo ou de uma nação. É nessa acepção que nos referimos, por exemplo, à cultura brasileira, japonesa, espanhola, alemã etc., ou seja, atribuímos a esse grupo referido um conjunto de costumes, vestuário, alimentação, arquitetura, música, dança, arte, entre várias outras manifestações; a segunda acepção refere-se ao conhecimento, relacionando-se, assim, a apenas uma esfera da vida social de determinado grupo. É importante ressaltar, no entanto, que, mesmo nessa segunda acepção, a noção de um todo social maior está implícito.
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Laraia (1986), por sua vez, ao abordar o conceito do ponto de vista antropológico, após discutir o determinismo biológico e geográfico ligado ao conceito de cultura, discute seus antecedentes históricos, ensinando-nos que o termo de origem germânica kultur era usado no final do século XVIII para “simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade”, ao passo que o termo francês civilization referia-se “às realizações materiais de um povo”. Tanto um termo quanto o outro foram sintetizados na palavra inglesa culture, por Edward Tylor, abrangendo, assim, todo o espectro de aspectos espirituais e materiais de um povo, chegando à acepção que usamos correntemente. Ao tratarmos do ensino de línguas, portanto, é necessário que se reflita sobre o porquê de uma preocupação com a cultura nesse contexto. É óbvio que língua e cultura são termos indissociáveis, numa relação dialética, já que um é a manifestação do outro, sendo que é através da linguagem – e de outros sistemas semióticos – que manifestamos a nossa cultura e somente num dado meio cultural que utilizamos a linguagem. Nos PCNs, além de ética, saúde, meio ambiente e orientação sexual, complementa os temas transversais o item pluralidade cultural, cujo objetivo, segundo estabelecido na apresentação dos temas transversais, volume 8, página 32, está relacionado ao investimento na superação da discriminação e reconhecimento da riqueza etnocultural do país, além do fato de considerar a escola um espaço para diálogo, onde se vivencia e expressa a cultura. No caso de línguas estrangeiras, o tema transversal de pluralidade cultural deve receber um tratamento significativo, pois é inerente ao estudo da língua o estudo de sua cultura, seu processo de formação e demais fatores culturais e sociopolíticos relacionados à língua em questão. É aqui, portanto, que reside a necessidade de se abordar a relevância de conscientizar o professor de línguas da importância de se discutir a pluralidade cultural na sala de aula, principalmente numa época em que a língua inglesa é utilizada hegemonicamente. [...] Em texto de Moita Lopes de 1996, que já havia sido publicado em 1982 na revista Educação e Sociedade da Unicamp, encontramos o resultado de uma pesquisa em que o autor levanta a atitude dos professores de inglês como língua estrangeira no Brasil em relação à cultura inglesa e também a ênfase que o ensino de cultura vinha recebendo nas aulas de língua naquela época. O que o autor constatou foi uma atitude de colonizado e colonizador, e, com base nos resultados, faz uma proposta de reformulação dos conteúdos programáticos das disciplinas na formação do professor de inglês, entre as quais sinaliza a necessidade de se ressaltar aspectos de cunho político, histórico e social. Posteriormente (LOPES, 2003), o autor retoma a questão, dessa vez, situando o professor de inglês na nova ordem mundial e estabelecendo relações com os PCNs, enfatizando, agora, a importância do posicionamento do sujeito em seu meio sociopolítico. A inserção da cultura no currículo dos cursos de formação de professores de línguas, como podemos verificar, fornece subsídios para que o futuro professor possa ter consciência do contexto em que atua ou pretende atuar, reconhecendo o seu lugar e seu papel social e político, desempenhado através da linguagem.
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Atividades 1.
Estabeleça as diferenças e as relações entre língua e linguagem.
2.
De que forma cultura e linguagem estão relacionadas?
3.
Diferencie cultura subjetiva de cultura objetiva.
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4.
Como as crenças podem interferir no aprendizado de uma língua estrangeira?
5.
Como são construídos os estereótipos?
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Gabarito 1.
A diferença entre língua e linguagem está no fato de que a língua compreende o sistema linguístico organizado utilizado para comunicação. A linguagem pode ser compreendida como uma capacidade humana. Língua e linguagem se relacionam pelo fato de a linguagem ser a língua posta em funcionamento por um usuário.
2.
Cultura e linguagem relacionam-se porque a linguagem é utilizada para a manifestação da cultura. Cada cultura tem a sua linguagem específica.
3.
A cultura subjetiva está relacionada aos elementos produzidos pela sociedade, tais como literatura, música e arte; já a cultura objetiva está relacionada aos elementos de valores abstratos, como crenças.
4.
As crenças podem interferir na forma como concebemos a língua estrangeira, seu povo, sua cultura e a maneira como a língua deve ser aprendida, e isso, muitas vezes, pode criar obstáculos ao nosso aprendizado.
5.
Os estereótipos são construídos geralmente a partir das imagens que uma cultura tem da outra, com base na observação de seus costumes, sua alimentação, suas vestimentas e todos os demais elementos que permitem fazer generalizações sobre aquele povo.
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O inglês antigo e o inglês médio A língua inglesa utilizada no mundo hoje, língua oficial de vários países e língua global utilizada para a comunicação internacional, passou por várias transformações históricas até atingir as características que tem atualmente. Olhar a língua pela perspectiva histórica permite compreender como essas mudanças ocorreram em uma viagem fascinante que remonta ao século V, além do fato de satisfazer a grande curiosidade que temos em relação à origem das línguas e de suas raízes. Entre as diversas famílias em que são agrupadas as várias línguas existentes no mundo, o inglês pertence ao ramo das línguas anglo-germânicas, que compreende três ramos: as línguas nórdicas, que incluem o sueco, o dinamarquês, o islandês e o norueguês; o ramo oriental, que inclui o gótico; e o ramo ocidental, ao qual pertencem o inglês e línguas como o frísio, o flamengo, o holandês, o alemão e o iídiche, como ilustra-se a seguir: Islandês
Sueco
Norueguês
Dinamarquês
Românicas
Nórdicas
Bálticas Gregas
Anglo-germânicas
Anatólicas Indo-iranianas
Oriental
Ocidentais
Armênias etc. Inglês
Flamengo
Alemão
Frísio
Holandês
Iídiche
material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., Figura 1 – RamosEste das línguas anglo-germânicas. mais informações www.iesde.com.br
Gótico
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O inglês antigo e o inglês médio
As transformações ocorridas no inglês, dessa forma, compreendem períodos distintos que imprimiram ao idioma características peculiares, de acordo com os contextos sócio-históricos de cada época, e que foram sofrendo alterações de acordo com os contatos entre o inglês e outras línguas usadas pelos povos que invadiram a Grã-Bretanha. Considerando essas mudanças, a história do inglês é geralmente organizada em três períodos: inglês antigo, inglês médio e inglês moderno. O inglês antigo tem início na metade do século V, a partir das invasões anglo-saxônicas, e vai até o século XI, com a conquista normanda. A partir daí, inicia-se o inglês médio, que vai até 1500, quando tem início o período moderno, até os dias de hoje. O termo inglês, que utilizamos para nomear a língua, tem sua origem nos textos em inglês antigo, sendo referido como Englisc e, mais tarde, em textos latinos do século VI, utilizava-se angli, para se referir aos anglos. No século VII, as palavras latinas angli e anglia eram usadas para se referir ao idioma. As referências ao nome do país como Englaland, a terra dos anglos, do qual se originou England, não haviam aparecidos até o ano 1000, como informa David Crystal (2003) em sua enciclopédia da língua inglesa.
O inglês antigo Anglo-saxão foi um termo utilizado por muito tempo para se fazer referência aos aspectos culturais, linguísticos e históricos do que hoje chamamos inglês antigo (Old English). As línguas faladas nas ilhas britânicas antes das invasões anglo-saxãs pertenciam à família das línguas celtas, disseminadas pelos povos que habitaram as ilhas por volta da metade do primeiro milênio antes de Cristo (CRYSTAL, 2003). Mais tarde, foram invadidos por povos vindos do norte da Europa, entre eles os saxões, os anglos e os jutos e, posteriormente, os latinos, os vikings e os normandos, que deixaram suas marcas na língua e na cultura.
A invasão latina É grande a influência da língua latina na história do inglês, cujo início é marcado pela inserção do cristianismo entre os anglo-saxões a partir do ano 597. É de Gregório, mais tarde papa, a iniciativa de enviar para a Bretanha, por volta do ano 50, Agostinho, monge beneditino, juntamente com outros monges com a intenção de converter as tribos conhecidas como selvagens da Bretanha. Aportam em Kent, onde já havia, segundo relatos históricos, uma pequena comunidade cristã, que os acolhem e que são recebidos pelo rei Aethelbert, conforme relato de Bedan, o Venerável, historiador e uma das fontes sobre os aspectos históricos desse período. A partir daí, começa a conversão gradual ao cristianismo e essa relação através da religião deixará várias marcas da língua latina na língua inglesa, pois muitas palavras latinas ligadas ao cristianismo serão incorporadas ao inglês. Essa influência é ainda importante do ponto de vista cultural, uma vez que marca uma revolução cultural e um enriquecimento do inglês antigo com a inserção das palavras latinas, além do fato de ampliar os horizontes linguísticos para a expressão das ideias e conceitos abstratos trazidos pela religião introduzida por Agostinho. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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A conversão da Inglaterra ao cristianismo trará três formas de alterações na língua (MCCRUM; MACNEIL; CRAN, 1992): ::: a ampliação do vocabulário relativo a palavras religiosas; ::: a introdução de palavras vindas de outros locais distantes, como China e Índia; ::: o estímulo aos anglo-saxões para aplicar as palavras que já existiam em sua língua aos novos conceitos. Dessa forma, os missionários cristãos trouxeram seu vocabulário eclesiástico, introduzindo um léxico significativo relativo à religião, mas também diversas outras palavras no vocabulário geral, como mostram os exemplos no quadro 1, com base em Crystal (2003): Quadro 1 – Palavras latinas no inglês
Eclesiástico
Cotidiano
Latim
Inglês
Latim
Inglês
altar
altar
organum
organ
apostolus
apostle
planta
plant
missa
mass
rosa
rose
A invasão viking Após a forte influência latina na Inglaterra, ocorreram várias invasões de povos escandinavos entre os anos de 750 e 1050, principalmente da região em que hoje se localizam a Suécia, a Finlândia e a Dinamarca. Esses povos, conhecidos como vikings, invadiram diversas regiões da Europa, entre elas, a região em que hoje se situa a Grã-Bretanha. Dos povos vikings, os dinamarqueses exerceram maior influência na Grã-Bretanha. Muitos são os nomes de cidades britânicas com essa origem e observam-se no inglês moderno várias palavras atribuídas à influência dos colonizadores desse país, entre as quais both, same, get, give. Mais de 600 localidades receberam nomes de origem escandinava, por palavras com sufixos que indicam cidade, vila, local, como mostra o quadro 2. Quadro 2 – Topônimos ingleses de origem escandinava
-by = cidade
-thorp = vila
-thwaite = clareira
-toft = área
Derby
Althorp
Applethwaite
Lowestoft
Grimsby
Astonthorpe
Storthwaite
Eastoft
Rugby
Linthorpe
Naseby
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Sandtoft
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A invasão normanda A terceira influência linguística marcante no inglês ocorreu em 1066, com a invasão de Hastings, ao sul da Inglaterra, pelos normandos, povo medieval estabelecido no norte da França. Como a família real inglesa e toda a corte do rei Harold haviam sido destruídas na batalha, os normandos assumiram o controle de todo o território de modo rigoroso, construindo seus castelos utilizando mão de obra dos ingleses. O conde William, vindo da Normandia, assumiu o poder e também bispos e abades normandos assumiram o controle das igrejas. William foi coroado rei na Abadia de Westminster em 1066. Conforme relatos históricos, a cerimônia de coroação foi celebrada em inglês e em latim e, embora William tivesse tentado aprender o inglês, não conseguiu mantê-lo em função de suas diversas tarefas (MCCRUM; MACNEIL; CRAN, 1992, p. 73). Nesse período, outras línguas que não o inglês eram usadas na Inglaterra; as línguas utilizadas para a religião, a lei, a ciência e outras atividades eram o francês e o latim. O inglês sofria uma espécie de exclusão pelos dominadores, mas, sem dúvida, o idioma era usado em contextos familiares. Um exemplo disso é o fato de que os reis normandos, que controlaram a Inglaterra nesse período, falavam francês, com exceção do rei Henry I, casado com uma inglesa. Entretanto, ainda nos círculos de nobreza, a língua falada era o inglês. Essa situação perdura por um longo período e apenas a partir de 1356 o inglês volta a ser utilizado de forma oficial em Londres. Em 1362, a sessão do parlamento foi aberta em inglês e, em 1381, Ricardo II dirige-se em discurso aos camponeses em inglês. Henrique IV assume o trono e o aceita em inglês, o que mostra a sobrevivência da língua que, embora sofrendo seguidas invasões, manteve-se em uso e se sobrepôs às invasões. Esse contexto social efervescente enriquece o idioma com muitas palavras de origem francesa trazidas com o domínio normando. Confira alguns exemplos no quadro 3. Quadro 3 – Palavras de origem francesa no inglês
Francês
Inglês
capun
capon
servian
serve
bacun
bacon
prisun
prison
castel
castle
cancelere
chancellor
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O inglês médio O termo “inglês médio” (Middle English) é usado por estudiosos para a descrição da língua inglesa aproximadamente entre os períodos de 1150 a 1500. É impossível datar com precisão a passagem do inglês antigo para o inglês médio, mas o ano de 1066 é tido por alguns como o marco de uma nova era social e linguística para as transformações ocorridas no idioma. Além disso, alguns estudiosos consideram essa divisão artificial e simplificadora, pois é baseada somente nos registros escritos existentes sobre a linguagem dessa época, uma vez que pouco se sabe sobre o uso oral da língua. Para ilustrar a transição do inglês antigo para o inglês médio, McCrum, MacNeil e Cran (1992, p. 79) apresentam a história da letra y. Segundo os autores, no inglês antigo o y representava o som com o qual os escribas escreviam a letra u no francês, uma vogal curta. Dessa forma, a palavra mycel do inglês antigo transformou-se em muchel no inglês médio e, mais tarde, em much no inglês moderno. Em casos em que o y correspondia a uma vogal longa, era escrito como ui: fyr no inglês antigo transformou-se em fuir no inglês médio e em fire no inglês moderno. Outro fato que marca essa transição está relacionado a documentos históricos sobre o século XII que sugerem que as crianças da nobreza da época falavam inglês como língua materna e aprendiam o francês na escola. Segundo Crystal (2003), o francês continuou a ser usado no parlamento, nas cortes e em eventos públicos, mas as traduções para o inglês aumentaram com bastante frequência no final do século XII. A partir de 1204, inicia-se o conflito entre o rei John da Inglaterra e o rei Philip da França e instala-se um crescente antagonismo entre as duas nações que vai culminar com a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), uma série de conflitos armados de forma contínua entre a Inglaterra e a França, nos séculos XIV e XV, que ultrapassou as questões feudais e perdurou, sendo marcada pelo poderio dos ingleses e pela resistência dos franceses, assim como pelos países que apoiaram a Inglaterra ou a França. Essa guerra causou profundas modificações na Europa. Dessa época, são marcantes as influências linguísticas, tanto do francês quanto do latim. A correspondência de itens lexicais presentes em ambos os idiomas para um mesmo item é bastante comum. O quadro 4 ilustra as palavras francesas com seus correspondentes no inglês: Quadro 4 – Correspondência entre itens lexicais ingleses e franceses
Inglês
Francês
begin
commence
child
infant
freedom
liberty
help
aid
wedding
marriage
wish
desire
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Algumas das mais representativas produções dessa época são as imagens descritas por Geoffrey Chaucer sobre a vida da Londres medieval. Sua obra mais conhecida, The Canterbury Tales (Os Contos da Cantuária), fornece subsídios muito importantes para a compreensão da linguagem utilizada na época, a partir dos personagens criados pelo autor. É também a partir do século XV que começam a se configurar as origens do que hoje conhecemos como inglês padrão (Standard English), resultante das diferentes influências sofridas pelo idioma e da época em que o centro político do país é transferido de Winchester para Londres e a cidade passa a se desenvolver como o centro social, político e comercial do país.
Conclusão Nesta unidade, abordamos a história da língua inglesa em duas de suas fases: o inglês antigo (Old English) e o inglês médio (Middle English). A região habitada pelos celtas sofre invasões e os povos invasores impõem sua língua, o que resulta na convivência de idiomas distintos em diferentes épocas, marcadamente o latim, o alemão e o francês. Da convivência desses idiomas em diferentes áreas, surgem novos vocábulos e a língua é constantemente alterada, convergindo, ao final do século XV, para o início de um inglês que se tornará padrão, que também marca o fim do inglês médio e da entrada em uma nova fase do idioma: o inglês moderno. Podemos estabelecer como principais etapas do desenvolvimento desses dois períodos os fatos do quadro 5 (STÖRIG, 1993): Quadro 5 – Etapas do desenvolvimento do inglês antigo e médio
Século
Etapa
V e VI
Conquista e colonização pelos anglos, saxões e jutos.
VII
Cristianização influenciada pelo latim.
IX
Invasões e colonização dos vikings.
XI
Domínio normando.
XIV
O inglês se torna a língua dos tribunais.
XV
Começo da impressão na Inglaterra.
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Texto complementar O inglês, nova língua universal (STÖRIG, 1990, p. 164-165)
Antes da chegada dos anglos e dos saxões, a ilha hoje chamada de “Grã-Bretanha” foi habitada por mais de um milênio por tribos celtas, que emigraram da Europa continental no século VIII a.C. Essas tribos se espalharam por toda a ilha até a Irlanda, mas nunca formaram um Estado único. O nome atual da ilha deriva do nome do agrupamento celta dos “bretões”. Os povos mediterrâneos da Antiguidade conheciam a ilha e faziam negócios com ela, principalmente os fenícios. No ano de 55 a.C., com a intenção de assegurar a total conquista da Gália, Júlio César atravessou o canal da Mancha; em uma segunda expedição de conquista ele chegou até o Tamisa, impondo ali o reconhecimento da soberania romana. A partir de 43 a.C. a Britannia tornou-se, com esse nome, província romana. Os romanos estenderam seu domínio até Firth of Forth, atingindo a ponta extrema setentrional da ilha por volta de 210 a.C. Fundaram inúmeras cidades e propriedades senhoriais. Entretanto, quando seu domínio terminou, depois de 450 anos, os romanos deixaram poucos traços na língua da população local – de modo bem diverso do que ocorreu na Gália. Assim, as tribos germânicas que aportaram na Bretanha encontraram uma população de língua celta. Os anglos, os saxões e os jutos vieram principalmente do que é hoje o Schleswig-Holstein e da Jutlândia. Segundo a tradição, seus chefes Hengist e Horsa devem ter aportado em Ebbsfleet no ano de 449 d.C., na região chamada de ilha de Thanet, uma faixa de terra que avança no mar do Norte (hoje Ramsgate e Margate). Na verdade, essa informação advém da Historia Ecclesiastica Gentis Anglorum, do monge Beda, o Venerável, composta em latim em 730, ou seja, quase três séculos depois do evento. Os jutos se estabeleceram na parte meridional da Inglaterra, expandindo-se sempre para o norte. A população de língua celta foi sendo impelida gradativamente em direção à Escócia setentrional e ocidental e à Inglaterra ocidental, em direção a Gales e à Cornualha – regiões onde até hoje se mantiveram as língua celtas (com exceção da Cornualha). Dessa divisão que acabamos de relatar, resultaram os dialetos do antigo inglês. Em 596 o papa Gregório I enviou o monge beneditino Agostinho (não confundir com o grande padre da Igreja, que viveu de 354 a 430) como missionário para a Inglaterra. Ele aportou ali com quarenta confrades e tornou-se bispo e primaz com sede em Canterbury. Esses monges e seus sucessores transformaram a Inglaterra em um país cristão e ao mesmo tempo fizeram da região setentrional da colonização dos anglos (que ficava ao norte do rio Humber, e por esse motivo foi chamada de Northumbria) a região cultural condutora de toda a Inglaterra, um centro de onde se irradiavam os efeitos benéficos até o continente. E nessa região trabalhou Benedito Biscop, fundador de um mosteiro; discípulo dele foi o já citado Beda, o Venerável, mestre de Ecgbeorth de York, mestre de Alcuíno de Tours, mestre de Hrabanus Maurus, abade do mosteiro de fulda, Praeceptor Germaniae, o “mestre da Alemanha”, por sua vez mestre de Strabo, abade do mosteiro de Reichenau, no lago de Constança.
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As invasões dos vikings escandinavos, que saquearam Lindisfarne em 793, ao sul de Edimburgo, na costa do mar do Norte, centro de formação dessa doutrina, deram um fim a essa época de florescimento. A partir do século IX o polo cultural se transferiu para o sul, para Winchester, em Wessex, que o rei Alfredo, o Grande (871-899), transformou em capital. O dialeto Wessex tornou-se, aos poucos, a língua culta do período do inglês antigo. Desse período se conservaram testemunhos escritos não apenas em latim, mas também em inglês antigo. Quem conhece o inglês atual e dá uma olhada nesses venerandos documentos constata com surpresa que a língua sofreu fortes transformações no decorrer de um milênio e o quanto o inglês da época se encontra mais próximo do alemão (mesmo do atual) que do inglês falado hoje em dia. [...] Os já citados vikings, que vieram primeiramente da Dinamarca e depois da Noruega – ou também da Irlanda, das Hébridas, da ilha de Man (onde eles já haviam fundado colônias) –, aqueles vikings que abalaram o mundo de então com expedições conquistadoras que os conduziram para o sul até o Mediterrâneo, para o leste até Constantinopla, para o oeste até a América, não entraram na Inglaterra apenas como guerreiros e piratas, mas aí se estabeleceram, fundaram inúmeras cidades e povoados, dos quais os topônimos terminados em – by (“povoado”) – Derby – ou – toft – Lowestoft – são testemunhos, e contribuíram com um grande número de palavras para o desenvolvimento da língua inglesa. Nos topônimos podem-se reconhecer também raízes celtas.
Atividades 1.
Qual a origem do nome Inglaterra?
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2.
Qual o impacto da invasão latina na Inglaterra?
3.
Quais dos povos vikings exerceram maior influência no inglês?
4.
Como se caracteriza a influência dos normandos?
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5.
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Quais eram as línguas faladas na Inglaterra no século XV?
Gabarito 1.
O nome Inglaterra, England, em inglês, tem origem na palavra latina Englaland, ou terra dos anglos.
2.
O impacto mais significativo da invasão latina na Inglaterra está na implantação do cristianismo e na grande influência no idioma com as palavras ligadas à religião.
3.
A Inglaterra sofreu várias invasões pelos vikings, mas as mais significativas que causaram mudanças no país e na língua são as invasões pelos vikings dinamarqueses, que deixaram sua influência em muitos nomes de cidades inglesas.
4.
A influência dos normandos deixou marcas significativas na língua e na aristocracia, impondo o francês como a língua da nobreza. Muitas palavras do inglês atual têm origem nessa influência normanda durante o inglês médio.
5.
No século XV havia uma confluência das três línguas que mais exerceram influência sobre o inglês: o latim, o alemão e o francês. Além das línguas celtas que já eram faladas pelos habitantes das Ilhas Britânicas. A confluência desses idiomas dá origem ao inglês moderno, que possui palavras de cada uma dessas línguas. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
O inglês moderno O que se convencionou chamar de inglês moderno (Modern English) estende-se desde o século XVI até a atualidade. Em sua enciclopédia sobre a língua inglesa, David Crystal (2003) argumenta que as transformações ocorridas na língua entre a fase do inglês médio e a fase do inglês moderno, grosso modo entre 1400 e 1800, estariam incompletas se não houvesse uma fase de transição, inserida entre os dois períodos, a qual chamaremos de primeira fase do inglês moderno. Essa primeira fase é marcada por uma transformação complexa da fonologia do idioma: ao passo que o inglês médio tinha por característica uma quantidade diversificada de dialetos, o inglês moderno representa um período em que a língua torna-se unificada e padronizada, sem haver, no entanto, uma pronúncia que fosse única ou uniforme para os diversos locais em que era falada e para os diferentes grupos sociais. Outro ponto significativo é o uso da acentuação com o advento da imprensa com influência direta do latim e grego. Não há um consenso entre os estudiosos do idioma em relação a uma data precisa para o início desse período, embora o período entre 1400 e 1450 seja sugerido, logo após Chaucer, autor da importante obra Contos da Cantuária (The Canterbury Tales), seguindo-se as grandes transformações de pronúncia pelas quais a língua passa. A justificativa para essa fase inicial do inglês moderno também está no fato de, segundo Crystal, haver uma diferença significativa entre a leitura de um texto de Jane Austen (1775-1817), que não exige grandes esforços, e a leitura de Shakespeare (1564-1616), ou seja, embora ambos os autores estejam temporalmente localizados no inglês moderno, há uma diferença no uso da linguagem que deve ser considerada. Daí o fato de tratarmos do inglês moderno em duas fases distintas, uma primeira fase de padronização e assimilação, denominada por Crystal (2003) de Early Modern English, que será referida aqui como a primeira fase do inglês moderno.
Primeira fase do inglês moderno A primeira fase do inglês moderno, embora controversa quanto à data em que foi iniciada, começa a partir das primeiras impressões em língua inglesa. O primeiro livro impresso em inglês é The Recuyel of Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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the Historyes of Troy, impresso por Caxton entre 1473 e 1474, um mercador que traduziu diversos textos para a língua inglesa e também os imprimia. Diversos são os textos que ilustram a fase transitória do inglês médio para a primeira fase do inglês moderno. Entre eles estão livros traduzidos, peças de teatro e outros manuscritos do século XV – como o romance Morte Darthur, traduzido por Sir Thomas Malory e publicado por Caxton, em 1485 – e a ativa produção de peças de mistério. A maior influência dessa fase, no entanto, é a publicação, em 1611, da tradução da famosa versão autorizada da bíblia para o inglês, que ficou conhecida como a bíblia do rei James. O período que vai das primeiras impressões realizadas por Caxton até por volta de 1650 ficou sendo conhecido como Renascença, época em que grandes transformações ocorreram no mundo, como as descobertas de Copérnico e a exploração das Américas e da África pelos europeus, como indica Crystal (2003). O que marca a língua inglesa dessa época é que, pela falta de palavras na língua que pudessem expressar todas as transformações ocorridas naquele período, foi necessário buscar em outros idiomas palavras que pudessem traduzi-las, utilizando-as no inglês. Esse período, assim, é marcado pela presença de um léxico bastante diversificado, com palavras de várias línguas, como ilustra o quadro 1, com exemplos retirados da Encyclopedia of the English Language, de David Crystal (2003, p. 60). Quadro 1 – Empréstimos de outras línguas durante a Renascença
Latim e grego
Francês
Italiano
Espanhol e português
Outras línguas
adapt
anatomy
carnival
armada
bamboo (malaio)
anonymous
bizarre
concerto
banana
bazaar (persa)
autograph
chocolate
giraffe
mosquito
coffee (turco)
habitual
grotesque
macaroni
negro
guru (hindi)
lexicon
tomato
soprano
sombrero
yacht (holandês)
vírus
vase
volcano
tobacco
yoghurt (turco)
Como se pode observar pelo quadro, o inglês incorpora palavras de diversos idiomas, mas, em termos quantitativos, na língua como um todo, a maior parte dos empréstimos vem do grego e do latim. Outra influência marcante dessa época, juntamente com a bíblia do rei James, são as produções de Shakespeare. Até hoje, diversas frases presentes nas peças de Shakespeare são utilizadas em nosso dia a dia, como a famosa “To be or not to be” (Ser ou não ser), embora o grande impacto de sua obra na língua inglesa seja no léxico, por meio de expressões idiomáticas, utilizadas pelos personagens nas peças, além da utilização de palavras compostas; sem mencionar os aspectos sociais e os relacionados à pronúncia da língua da época que as obras suscitam. Essa primeira fase do inglês moderno é bastante significativa no que diz respeito a questões relacionadas não só ao léxico, mas também à pontuação e à gramática da língua, quando começam a tomar as formas mais próximas do inglês que conhecemos hoje. Em 1755, o léxico recebe um tratamento sério, com a produção do primeiro dicionário escrito por Samuel Johnson: A Dictionary of the English Language. Johnson trabalhou durante um período de sete anos para escrever a definição de aproximadamente 40 000 palavras. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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A necessidade de uma estabilidade para o idioma, para que houvesse um acordo entre as variadas diferenças existentes no uso das palavras, culmina na preocupação da produção de uma abordagem científica para o tratamento da língua. Assim, em 1660, um comitê é formado para dar à língua um caráter científico, proposto pela Royal Society for the Promotion of Natural Knowledge. Essa primeira fase, portanto, tem como principal característica o interesse em estabelecer um padrão para a língua, tanto em relação ao seu vocabulário quanto à sua gramática e pronúncia.
O inglês moderno Durante a primeira fase do inglês moderno, a língua passa por diversas transformações e, ao final do século XVIII, vai assumindo características bastante semelhantes àquelas que a língua possui hoje. Se considerarmos um romance dessa época, como aqueles escritos por Jane Austen (1775-1817), percebemos a semelhança, embora possamos parar em vários pontos em que encontramos diferenças linguísticas significativas. As transformações sofridas no idioma podem ser percebidas, como nos informa Crystal (2003), na preocupação de Jane Austen com a gramática ao corrigir trechos de suas obras em edições posteriores, fazendo as alterações pelas quais o idioma havia passado. Comparemos dois exemplos, entre diversos outros apresentados por Crystal, que apresentam diferenças se comparados ao inglês moderno. No texto de Austen, percebemos a ausência dos auxiliares, em frases como: What say you to the day? She doubted not...
Se esses dois exemplos fossem escritos em inglês moderno, teríamos a inclusão dos auxiliares na interrogativa e na negativa, da seguinte maneira: What do you say to the day? She didn’t doubt...
Esses exemplos apresentam características bem distintas entre o inglês da primeira fase e o inglês moderno, no início do século XIX, se comparado ao inglês atual, no qual os auxiliares do presente (do) e do passado (did) são utilizados. A preocupação com o estabelecimento de uma gramática normativa para o idioma é outro aspecto marcante nessa época. Embora tenham sido publicadas outras gramáticas em séculos anteriores, como a de Ben Johnson, publicada postumamente em 1640, ou a de John Wallis, publicada em 1653, autores como Robert Lowth e Lindley Murray preocupam-se com questões controversas do idioma. É nesse período que Robert Lowth escreve a sua A Short Introduction to English Grammar, em que aponta fatos que julga corromper a gramática. Os exemplos utilizados pelo autor são retirados de autores consagrados, como Shakespeare, Milton e Pope. O procedimento adotado por Lowth, como indica Crystal (2003), foi imitado por mais de 200 anos e consistia em estabelecer regras e ilustrá-las com exemplos. Os mesmos procedimentos são adotados por Murray, que também aponta fatos linguísticos que “corrompem” o idioma, como o uso de negativas duplas, fato, inclusive, até hoje abordado em muitas gramáticas. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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A preocupação dos escritores ingleses com questões linguísticas na primeira metade do século XVIII foi foco da investigação de estudiosos nos Estados Unidos na segunda metade do século. Assim, anos após a publicação do dicionário de Johnson ou da gramática de Lowth na Inglaterra, surge nos Estados Unidos a preocupação de Noah Webster, autor das Dissertations on the English Language, em 1789, em estabelecer uma língua padrão. Podemos afirmar, a partir desse panorama, que a mais importante característica da língua inglesa do período moderno é a preocupação com o aumento da consciência linguística sobre a natureza da língua, ao passo que, na primeira fase, a preocupação foi com a compilação de dicionários, gramáticas, manuais de pronúncia e de ortografia. Nesse período, portanto, a língua assume características muito próximas daquelas que conhecemos hoje, com mudanças que são típicas a todo e qualquer idioma à medida que a sociedade se transforma, já que a linguagem acompanha as mudanças sociais, culturais, tecnológicas e científicas. A linguagem das ciências é um fato deveras significativo, pois o século XIX é um período de diversas descobertas científicas, tais como a teoria da evolução de Charles Darwin. Ao final do século XIX, como consequência disso, temos a vasta inclusão da nomenclatura científica ao vocabulário do inglês. É significativo, nessa fase, o impacto exercido pela experiência colonial inglesa nos Estados Unidos. Mais de 200 anos após o estabelecimento das colônias de peregrinos nos Estados Unidos, houve um grande desenvolvimento da linguagem, pois muitas são as novas experiências no novo mundo e grande o desenvolvimento científico. Para ilustrar essa realidade, McCrum, Macneil e Cran (1992, p. 123) apresentam a citação de Thomas Jefferson, sinalizando que “novas circunstâncias exigem novas palavras, novas frases e a transferência de velhas palavras para novos objetos”. Esse panorama indica, assim, o percurso pelo qual passa a língua inglesa até adquirir os aspectos que hoje apresenta.
Conclusão Foi abordado nesta unidade o período da evolução da língua inglesa conhecido como inglês moderno (Modern English). A língua falada pelos celtas que habitavam a região que sofre invasões e os povos invasores impõem sua língua, o que resulta na convivência de idiomas distintos em diferentes épocas, marcadamente o latim, o alemão e o francês. Da convivência desses idiomas em diferentes áreas surgem novos vocábulos e a língua é constantemente alterada, convergindo, ao final do século XV, para o início de um inglês que se tornará padrão, o inglês moderno, e marcando também o fim do inglês médio. Os principais fatos que marcam essa fase compreendem as transformações principalmente no léxico da língua, rico em empréstimos. É também nessa fase que ocorrem as maiores transformações na pronúncia, na pontuação e na gramática, imprimindo à língua algumas características que até hoje permanecem. Como há diferenças significativas, costuma-se dividir o inglês moderno em duas fases. A primeira fase é rica em transformações e há uma preocupação bastante significativa com a produção de dicionários e de gramáticas para o estabelecimento de um inglês considerado padrão. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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Dois fatos principais marcam a primeira fase do inglês moderno: a tradução da bíblia para o inglês, conhecida como a bíblia do rei James, e as obras de William Shakespeare. É na segunda fase que se estabelecem padrões para a língua em seus diversos aspectos: léxico, sintaxe, pronúncia e ortografia e, a partir disso, inicia-se a preocupação com o papel da língua na sociedade.
Texto complementar Peculiaridades do inglês atual: formação de palavras (STÖRIG, 1990. p. 171-173)
O rápido crescimento do léxico inglês é facilitado pelas várias maneiras de formação de neologismos. De modo semelhante ao grego, ao latim e ao alemão, podem ser formados compostos de termos pertencentes a várias categorias gramaticais: gentleman, aircraft, shipbuilding bastam como exemplos. Há um grande sortimento de sufixos e afixos à disposição. Na linguagem técnica são utilizados atualmente – tal como em outros idiomas – prefixos gregos como poly-, macro-, para-, ao lado de prefixos latinos como maxi-, mini-; os sufixos tradicionais frequentemente não têm função inequívoca. Assim, a desinência -er na palavra worker designa o homem que trabalha, em diner o vagão-restaurante, em fiver o montante de uma nota de dinheiro (cinco libras esterlinas). Características da formação de palavras em inglês são: a) Aglutinação, como em brunch, formado de breakfast + lunch, e smog, de smoke + fog. b) Regressões, isto é, derivações impróprias, como no caso de fisher, derivado de to fish. Haveria, portanto, um verbo to bulldoze antes de surgir a palavra bulldozer? Não, mas to bulldoze foi formado pelo uso, como to televise, de television. c) Justaposições de duas palavras: de cable telegram vem cablegram; de biology (ou biological) eletronics vem bionics. d) Abreviações: de advertisement (“anúncio”) vem ad, de examination, exam. Também em alemão ocorrem abreviações desse gênero, principalmente entre os estudantes – Wir haben Mathe (= Mathematik) – “Temos aula de matemática”. e) São frequentes palavras formadas de iniciais (acrossemia), como NASA, de National Aeronautics and Space Administration. [...] O inglês falado sofreu transformações decisivas (mutações consonânticas) durante sua evolução. [...] A ortografia ora vigente remonta basicamente ao século XV e as mudanças na pronúncia que ocorreram posteriormente não foram adaptadas a ela. Este é o motivo pelo qual sound (“som”, “pronúncia”) e spelling (“escrita da palavra”, “soletração”) divergem tanto atualmente. [...] Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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O inglês moderno
É digno de reflexão, e até mesmo de espanto, o fato de que uma língua com uma ortografia tão complicada e arcaica tenha atingido a posição de idioma universal. Na Inglaterra e na Escócia há uma multiplicidade de dialetos bastante diferentes entre si. Por esse motivo, a pronúncia inglesa “correta” é considerada tradicionalmente como sendo a British Received Pronunciation (RP), ou seja, a fundamentada nos hábitos linguísticos da classe culta de Londres e do Sudoeste da Inglaterra. Também nos EUA existem diferenças dialetais. O inglês americano mais semelhante ao europeu (e portanto à RP) é o da Nova Inglaterra, com centro em Boston. No Sul, mesmo que se fale um bom inglês aprendido em escolas, ele é por vezes unintelligible. No Canadá, o inglês é (ao lado do francês) língua oficial; na Austrália e Nova Zelândia não há concorrentes. Na Índia e no Paquistão ele é largamente usado como língua veicular. Na África do Sul é língua oficial ao lado do africâner. Uma língua falada por tantos seres humanos em tantos países (entre os quais várias ilhas do Caribe) pode conservar a própria unidade? Até agora, as diferenças entre o inglês britânico e o americano têm sido poucas na escrita, mas, atualmente, a Received Pronunciation é considerada, menos ainda que no passado, como a pronúncia ideal pela América independente. Sob a influência dos meios de comunicação de massa e da alta mobilidade da população, seguramente surgirá uma norma americana própria. Desse modo, a futura evolução do inglês tem algo de duvidoso. Parece certo que a importância do inglês no mundo atual tende a aumentar e que o léxico dessa língua, já atualmente incomensurável, imenso, não cessará de ampliar-se. Para isso concorrerão não só a rápida evolução tecnocientífica, como também o gosto americano pelos neologismos; os lexicógrafos esforçam-se por coletar e classificar o ininterrupto surgimento de novas palavras, neologismos que, ano após ano, juntam volumes complementares novos aos já gigantescos dicionários ingleses.
Atividades 1.
Por que o inglês moderno é dividido em duas fases?
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O inglês moderno
2.
O que caracteriza a primeira fase do inglês moderno?
3.
Qual o papel de Samuel Johnson na língua inglesa?
4.
Quais obras marcam a primeira fase do inglês moderno?
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5.
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O inglês moderno
Qual a característica mais importante do inglês moderno?
Gabarito 1.
A divisão do inglês moderno em duas fases está associada ao fato de que, na primeira fase, a língua ainda passa por transformações remanescentes do inglês médio e começa a assumir algumas das características presentes até hoje, embora haja diferenças significativas. É no início da fase do inglês moderno que surge a preocupação em estabelecer uma língua padrão, o que ocorre, principalmente, pela publicação de dicionários e de gramáticas, tanto na Inglaterra quanto nos Estados Unidos.
2.
A primeira fase do inglês moderno é caracterizada pelas grandes transformações no idioma, principalmente no vocabulário e na pronúncia. Ao passo que no inglês médio a língua era caracterizada por diferentes dialetos, essa primeira fase é marcada por uma preocupação em uniformizar o idioma.
3.
Samuel Johnson foi o responsável pelo primeiro dicionário da língua inglesa, para o qual escreveu em torno de 40 000 verbetes. O chamado A Dictionary of the English Language foi publicado em 1755.
4.
As principais obras que marcam a primeira fase do inglês moderno são: a tradução da bíblia para o inglês, conhecida como bíblia do rei James, e as obras de William Shakespeare.
5.
A fase conhecida como inglês moderno desenvolveu-se a partir dos dicionários, gramáticas e manuais de ortografia e pronúncia surgidos na primeira fase. O que marca a segunda fase, no entanto, é a preocupação com uma consciência sobre a língua e seu papel na sociedade. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
O inglês como língua nativa A ideia de uma língua nativa, língua mãe ou língua pátria está associada à língua oficial falada em um determinado país utilizada pelos cidadãos para comunicação, além de ser a língua utilizada oficialmente no governo, nas instâncias oficiais, nas escolas e em todas as demais atividades em que a língua é utilizada diariamente. Passando pelas fases conhecidas por inglês antigo, inglês médio e inglês moderno, sendo que o inglês moderno apresenta uma fase inicial até se configurar como a língua conforme a conhecemos hoje, a língua inglesa utilizada primeiramente na Grã-Bretanha como língua nativa espalhou-se pelos demais continentes. Sua evolução e seu uso foram ampliados com a colonização inglesa nos demais continentes, o que fez com que a língua se espalhasse pela América, pela África, pela Ásia e pela Oceania, nos locais então considerados colônias inglesas. As antigas colônias inglesas tornaram-se independentes da Inglaterra, mas a língua utilizada oficialmente pelos países continuou sendo o inglês. A partir desse contexto, a língua inglesa passa a ser a língua oficial dos seguintes países: Estados Unidos, Canadá, Grã-Bretanha, Irlanda, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul e países do Caribe, como a Jamaica, e locais onde o inglês tem status oficial, como Porto Rico. Primeiramente pela primazia econômica dos Estados Unidos e também com o desenvolvimento científico e tecnológico liderado pelo país, o inglês passa a ser a língua da ciência e da tecnologia e, também por questões políticas e econômicas, passa a ser a língua utilizada para a comunicação internacional.
Inglaterra e Estados Unidos Por uma questão histórica, abordaremos primeiramente o inglês como língua nativa da Inglaterra e dos Estados Unidos. Isso se deve ao fato de a Inglaterra ser o berço do idioma e tê-lo difundido por todo o mundo, chegando aos Estados Unidos por meio dos primeiros colonizadores. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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O inglês como língua nativa
Os Estados Unidos, por seu turno, foram os responsáveis por imprimir ao inglês o status de língua mundial, utilizada principalmente na ciência e na tecnologia, mas também em diversas outras áreas.
Inglaterra A partir do século V, o inglês começa a se espalhar pelas Ilhas Britânicas, no País de Gales, Corwall, Cumbria e sul da Escócia, locais em que predominavam línguas celtas. No século XI, a partir de 1066, após a invasão dos normandos, os nobres da Inglaterra migraram para o norte da Escócia e a língua, em sua variante escocesa, difundiu-se pela região. A partir do século XII, o inglês vai gradualmente espalhando-se pela Irlanda, levado pelos cavaleiros anglo-normandos. De acordo com Crystal (1997), o número de falantes de inglês, ao final do século XVI, era em torno de 5 a 7 milhões, em sua maioria habitantes das Ilhas Britânicas. É importante considerar, do ponto de vista geográfico, as denominações Reino Unido, Grã-Bretanha, Ilhas Britânicas e Inglaterra. É bastante comum nos referirmos ao Reino Unido e à Grã-Bretanha como Inglaterra. Grã-Bretanha, no entanto, é uma expressão geográfica e Reino Unido é uma expressão política. A Grã-Bretanha compreende o grupo de ilhas entre o Mar do Norte e o Oceano Atlântico, o que não inclui a Irlanda, que forma outro grupo de ilhas. Juntos, os dois grupos de ilhas formam o que se denomina Ilhas Britânicas, ou seja, essa expressão descreve as ilhas e não as divisões políticas ou as divisões entre os países (HARVEY; JONES, 1992). Politicamente, as Ilhas Britânicas compreendem dois estados independentes: a República da Irlanda, cuja capital é Dublin, e o Reino Unido, cuja capital é Londres. A abreviatura UK, de United Kingdom (Reino Unido), refere-se à denominação United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland (Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte). A ilha da Grã-Bretanha é composta pela Inglaterra, Escócia e País de Gales. Dessa forma, Britain e British têm dois significados, pois podem se referir tanto à Grã-Bretanha quanto ao Reino Unido, incluindo a Irlanda do Norte. As palavras England e English são usadas inapropriadamente para se referir a Grã-Bretanha como um todo (HARVEY; JONES, 1992). O inglês configura-se, portanto, como o idioma oficial da Ilhas Britânicas e, daí, é espalhado pelo mundo. Crystal (1997) indica que, entre o reinado de Elizabeth I, em 1603, e o início do reinado de Elizabeth II, em 1962, o número de falantes de inglês saltou para 250 milhões, em sua grande maioria, fora das Ilhas Britânicas, principalmente nos Estados Unidos, para onde o idioma é levado no século XVI e cuja história é alterada.
Estados Unidos A primeira expedição aos Estados Unidos chega à Ilha Roanoke em 1584, na região hoje conhecida como Carolina do Norte; mas, em função de conflitos com os povos nativos, um navio teve que voltar à Inglaterra para busca de auxílio e suprimentos (CRYSTAL, 1997). A segunda expedição ocorre em 1607, que chega a Chesapeake Bay, na região hoje correspondente ao estado da Virgínia, e fundam a primeira colônia, chamada Jamestown, em homenagem ao rei James I.
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Apesar dessas duas primeiras expedições, uma data marcante na colonização dos Estados Unidos é o ano de 1620, com a chegada do navio Mayflower, com o primeiro grupo dos chamados puritanos, composto por membros da English Separatist Church (Igreja Separatista Inglesa) e de outros colonizadores. Como não conseguiram atingir o estado da Virgínia, desviados por uma tempestade, chegam ao Cape Cod, onde hoje se localiza o estado da Nova Inglaterra (MCCRUM; MACNEIL; CRAN, 1992). Esses colonizadores ficaram conhecidos como os pilgrim fathers (pais peregrinos) e, embora fosse um grupo bastante heterogêneo, com diferentes bagagens regionais, sociais e ocupacionais, tinham como objetivo a busca por uma terra onde pudessem encontrar um novo reino religioso, livre de perseguições (CRYSTAL, 1997). Em relação ao idioma, as duas colônias, Virgínia ao Sul e Nova Inglaterra ao Norte, tinham marcas linguísticas específicas, trazidas das regiões da Inglaterra das quais provinham os colonizadores, uma vez que os habitantes do Sul eram da região do Oeste da Inglaterra e os habitantes do Norte eram provenientes de condados do Leste inglês e essas diferenças refletiram nos sotaques desses locais. No século XVIII, há uma onda de imigrantes advindos da Irlanda. Em 1790, no primeiro censo realizado, a população era de 4 milhões de habitantes, em sua maioria vivendo na costa atlântica. Essa população cresce enormemente e, um século depois, gira em torno de mais de 50 milhões (CRYSTAL, 1997, 2003). Como resultado de revoluções, pobreza e fome na Europa, uma grande leva imigra para os Estados Unidos: irlandeses, alemães, italianos, judeus da Europa oriental. Em 1900, a população dos Estados Unidos atinge 75 milhões de habitantes e esse número é praticamente dobrado em 1950. Esse contexto histórico faz com que o inglês cresça como língua materna, aumentando o número de falantes nos Estados Unidos e, a partir daí, os desenvolvimentos sociais, científicos e tecnológicos e, principalmente a partir das duas grandes guerras, o inglês espalha-se pelo mundo e passa a ser o idioma usado para a comunicação internacional no pós-guerra.
O inglês na América, na África e na Oceania O elemento de maior difusão do inglês pelo mundo são as colonizações empreendidas pela Inglaterra por todo o mundo, levando a língua inglesa aos quatro continentes. Vejamos como a língua se difundiu em cada um deles.
América A partir da colonização dos Estados Unidos, o inglês começa a ser difundido na região da América do Norte e também da América Central, passando a ser a língua oficial do Canadá e de alguns países nas ilhas do Caribe, com variações características de acordo com os processos históricos pelos quais passou cada região.
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Canadá Embora os primeiros contatos da língua inglesa no Canadá datem de 1497, quando John Cabot chega a Newfoundland (CRYSTAL, 2003), não se estenderam por muito tempo, ao passo que os contatos com a língua francesa começaram a se intensificar a partir das explorações de Jacques Cartier nos anos 1520. Por volta de 1750, uma grande leva de colonizadores vindos da Inglaterra, Irlanda e Escócia chega para substituir os franceses, que foram deportados. Com a declaração da independência dos Estados Unidos em 1776, muitos colonizadores imigraram para o Canadá e, em seguida, muitos outros imigraram, atraídos principalmente pelos preços baixos das terras. Dessa forma, em 50 anos a população da província conhecida como Upper Canada, na região acima de Montreal e ao norte dos Grandes Lagos, atingiu 100 000 habitantes. Em função da proximidade e das origens, o inglês canadense tem muita semelhança com o inglês dos Estados Unidos. Existem características, no entanto, que marcam o sotaque e os próprios canadenses recusam as atribuições de que o inglês é parecido com o inglês dos Estados Unidos, como alegam os britânicos, ou semelhante ao da Inglaterra, como identificam os cidadãos dos Estados Unidos (CRYSTAL, 2003. MCCRUM; MACNEIL; CRAN, 1992).
Caribe Como resultado da colonização dos Estados Unidos, o inglês começou a se espalhar pela região Sul do país, associado ao processo de importação de escravos africanos para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar. Os primeiros escravos chegaram à Virgínia em 1619. Com o objetivo de não incitar rebeliões entre os escravos trazidos nos navios, a norma era que se trouxessem escravos de diferentes tribos com diferentes línguas. Esse fato vai gerar o contato do inglês com diferentes línguas africanas, fazendo surgir o que chamamos de pidgin, uma língua intermediária que assimila características tanto do inglês quanto das línguas africanas com as quais tinha contato. Dessa forma, esse pidgin era usado como meio de comunicação, fazendo surgir, inclusive, outras variações, como a linguagem utilizada entre os escravos e a tripulação dos navios, que também falavam inglês. As diferentes variedades de pidgin utilizadas nessas regiões, portanto, vão sendo utilizadas pelos novos cidadãos nascidos nessas regiões e tornam-se a língua materna dessas populações, produzindo assim nessas regiões o que se denomina crioulo ou língua crioula (creole). Diversas formas de crioulo inglês, francês e português também se desenvolveram nessa região, embora o inglês padrão da Inglaterra tenha se tornado bastante influente, pela forte presença inglesa na política. O inglês falado nas ilhas do Caribe, portanto, é repleto de variedades, que refletem as diferenças políticas, históricas e culturais da região. No Caribe, dessa forma, a influência do inglês configura-se de três maneiras: como língua oficial, em locais como Jamaica, Belize e Bahamas, Ilhas Virgens, Ilhas Caimãs, entre outros; como crioulos de base inglesa, como em Honduras; com status especial, como em Porto Rico.
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África A presença inglesa de maior impacto na África é na África do Sul, país que adota o inglês como língua oficial, embora o país tenha sofrido também influência holandesa. A colonização inglesa na África do Sul inicia-se em 1795, mas colonizadores holandeses haviam chegado à Cidade do Cabo por volta de 1652. Os primeiros lotes recebidos pelos colonizadores ingleses na África do Sul na região da Cidade do Cabo datam de 1822. O inglês foi instituído como a língua oficial daquela região e um dos objetivos era impor essa língua sobre a população falante do africâner. O inglês passou, assim, a ser a segunda língua dos falantes de africâner, mas sempre foi uma língua minoritária na África do Sul e, segundo dados apresentados por Crystal (1997), em 1996, cerca 3,6 milhões de pessoas, de uma população de 42 milhões, falavam o inglês como primeira língua. O africâner era a primeira língua da maior parte branca da população. O inglês é a língua de comunicação internacional e uma parte da população é bilíngue, pois também fala o africâner. A constituição da África do Sul, no entanto, considera 11 o número de línguas oficiais do país, entre as quais o inglês e o africâner. O inglês é utilizado em 87% dos discursos feitos no parlamento sul-africano. A herança cultural e social da África do Sul, porém, imprime ao inglês falado no país a influência do africâner, fator que também está relacionado à identidade nacional e étnica.
Oceania Com a chegada das correntes colonizatórias ao oriente, diversos países já haviam tido contato com os navegantes portugueses, que chegaram à Índia e ao Japão. Ao final do século XVIII, a colonização inglesa atinge a Oceania e chega ao que hoje conhecemos como Austrália e Nova Zelândia.
Austrália Com a constante colonização britânica no final do século XVIII, o inglês é levado para o Sul do Equador e para o hemisfério oriental e, assim, em 1770, James Cook visita a Austrália, que será utilizada como colônia penal, uma maneira de aliviar as prisões superlotadas na Inglaterra. Após a chegada dos componentes da primeira frota à Austrália, foram transportados ao país cerca de 130 000 prisioneiros. A partir daí, a população aumenta gradativamente e, por volta de 1850, a Austrália conta com uma população de 400 000, atingindo 4 milhões em 1900, como nos informa Crystal (1997).
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O inglês como língua nativa
Nova Zelândia Na Nova Zelândia, o processo de colonização começa mais tarde e é mais lento se comparado ao da Austrália, embora o capitão Cook também tenha chegado às ilhas que formam a Nova Zelândia por volta de 1769-1770 e negociantes e caçadores de baleias tenham começado a se estabelecer a partir de 1790. Os imigrantes ingleses também começaram um processo de colonização dos habitantes nativos da Nova Zelândia: os maoris. A partir de então, inicia-se um grande fluxo imigratório para a nova colônia e, dos aproximadamente 2 000 em 1840, esse número salta para algo em torno de 25 000 em 1850. A população da Nova Zelândia cresce significativamente e, em 1996, registra algo em torno de 3,5 milhões de habitantes. Crystal (1997) afirma que a história social da Nova Zelândia difere-se sensivelmente da história da Austrália em três aspectos: primeiramente no que diz respeito às consequências linguísticas, pois, segundo o autor, os neozelandeses apresentaram uma maior simpatia pelos costumes ingleses, além de outros valores e instituições, e apresentam, em seu sotaque, uma clara influência britânica. Em segundo lugar, há uma marcante diferença no que diz respeito à identidade nacional da Austrália e da Nova Zelândia, o que marca bastante as diferenças entre o sotaque nos dois países. Por fim, há uma preocupação pelos direitos do povo maori na Nova Zelândia, que compreende 10% da população do país, e isso resultou em um grande número de palavras maoris no inglês neozelandês.
Conclusão A partir de sua origem na Inglaterra, o inglês espalhou-se pelo mundo, processo iniciado pela colonização britânica nos diferentes continentes. Pela colonização dos Estados Unidos, o inglês também chega ao Canadá e às ilhas do Caribe. No continente africano, o inglês passa a ser a língua oficial da África do Sul. Na Oceania, a partir das explorações do capitão James Cook, o inglês torna-se a língua oficial da Austrália e da Nova Zelândia. Na Nova Zelândia há um grande contato do inglês com a língua nativa: o maori. Em suma, o inglês é atualmente o idioma oficial em países nos quatro continentes: no continente europeu, na Grã-Bretanha e na Irlanda; na América do Norte, nos Estados Unidos e no Canadá; na América Central, no Caribe, como a Jamaica, e em locais onde o idioma tem status oficial, como Porto Rico, além de diferentes línguas crioulas; no continente africano, é oficial na África do Sul; e na Oceania é a língua oficial da Austrália e Nova Zelândia.
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Texto complementar O futuro dos “ingleses” (CRYSTAL, 2004. p. 19-21)
O surgimento do inglês como verdadeira língua mundial foi a primeira das três tendências que obtiveram destaque especial durante a década de 1990. A palavra “verdadeira” é de importância crucial. A possibilidade de que o inglês pudesse desempenhar um papel global tinha sido reconhecida desde o século XVIII. Em 1780, o futuro presidente dos Estados Unidos John Adams disse: “O inglês está destinado a ser, no próximo século e nos seguintes, uma língua mundial em sentido mais amplo do que o latim foi na era passada ou o francês é na presente”. Mas foram necessários quase 200 anos para ficar provado que ele estava certo. Até relativamente há pouco tempo, a perspectiva de o inglês se tornar uma língua global era incerta. Foi apenas na década de 1990 que a questão veio realmente à tona, com pesquisas, livros e conferências tentando explicar como uma língua pode se tornar verdadeiramente global, que consequências isso acarreta, e por que o inglês veio a ser a primeira língua candidata. Mas a fim de especular sobre o futuro do inglês – ou, como explicarei abaixo, dos “ingleses” – devemos primeiro entender onde nos encontramos agora e como a situação atual surgiu.
O presente Uma caracterização para começar; depois algumas estatísticas. Uma língua não obtém um status genuinamente global até desempenhar um papel importante que seja reconhecido em todos os países. Esse papel será mais óbvio em países onde um grande número de pessoas a fala como primeira língua – no caso do inglês, isso significa os Estados Unidos, o Canadá, a Grã-Bretanha, a Irlanda, a Austrália, a Nova Zelândia, a África do Sul, alguns países do Caribe e uma variedade de outros territórios. Entretanto, nenhuma língua foi jamais falada como língua materna pela maioria da população em mais de uma dúzia de países, de modo que o uso como língua materna em si não pode dar status global a uma língua. Para obter semelhante status, ela tem de ser usada por vários países do mundo. Estes devem decidir dar a ela um lugar especial dentro de suas comunidades, mesmo que tenham poucos (ou nenhum) falantes nativos. Há dois modos principais de se fazer isso. Primeiro, a língua pode se tornar oficial (ou semioficial) e ser usada como meio de comunicação em áreas como governo, tribunais de justiça, mídia e sistema educacional. Para se ter sucesso nessas sociedades, é essencial dominar a língua oficial o mais cedo possível na vida. Esse papel é bem ilustrado pelo inglês, que, como resultado da história britânica ou americana, tem algum tipo de status administrativo especial em mais de 70 países – como Gana, Nigéria, Índia, Cingapura e Vanuatu. Isso é muito mais do que o status obtido por qualquer outra língua (o francês sendo a mais próxima). Segundo, uma língua pode se tornar prioridade no ensino de língua estrangeira em um país. Ela se torna o idioma que as crianças têm mais possibilidade de aprender quando chegam à escola, e o mais disponível para os adultos que – por qualquer razão – nunca o aprenderam, ou o aprenderam mal, em seus primeiros anos de estudo. Mais de 100 países tratam o inglês como esse tipo de língua estrangeira; e na maioria desses países ele é reconhecido como principal língua estrangeira a ser ensinada nas escolas. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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O inglês como língua nativa
Por causa desse desdobramento tríplice – de falantes como primeira língua, segunda língua e língua estrangeira –, é inevitável que uma língua do mundo acabe sendo usada por mais pessoas do que outra qualquer. O inglês alcançou agora esse status. Cerca de 400 milhões o aprenderam como primeira língua – embora as estimativas variem muito, porque poucos países mantêm estatísticas sobre número de falantes. É difícil avaliar o número daqueles que aprenderam o inglês como segunda língua, pois os níveis de fluência adquiridos devem ser levados em conta. Se tomarmos um nível básico de habilidade para conversação como critério – o suficiente para se fazer compreender, embora de forma alguma livre de erros, e com pouco domínio de vocabulário especializado –, o número também gira em torno dos 400 milhões de falantes. O significado desses dois números não deve ser desconsiderado: o número de pessoas que usa o inglês como segunda língua é idêntico ao que o tem como língua materna. E como o crescimento populacional nas áreas onde o inglês é considerado como segunda língua é cerca de três vezes maior do que nas áreas onde é tido como primeira, os falantes de inglês como segunda língua irão em breve exceder em número os falantes nativos – uma situação sem precedentes para uma língua internacional [...].
Atividades 1.
Em quais países o inglês é língua nativa?
2.
Explique as diferenças entre Reino Unido e Grã-Bretanha.
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O inglês como língua nativa
3.
Como o inglês chega aos Estados Unidos?
4.
Com que objetivo os pilgrim fathers chegam aos Estados Unidos?
5.
Como se dá o início da colonização da Austrália?
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O inglês como língua nativa
Gabarito 1.
O inglês é a língua nativa da Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, África do Sul, Austrália, Nova Zelândia, Jamaica, Porto Rico e algumas ilhas do Caribe.
2.
A Grã-Bretanha compreende a Inglaterra, o País de Gales, a Escócia e a Irlanda do Norte. O Reino Unido inclui esses quatro países mais a Irlanda.
3.
O inglês chega aos Estados Unidos a partir de três correntes de colonizadores vindos da Inglaterra; uma em 1584, no atual Estado da Carolina do Norte; a segunda em 1607, que chega ao atual Estado da Virgínia; e a terceira, com o navio Mayflower em 1620, onde hoje se localiza o Estado da Nova Inglaterra.
4.
Os chamados pilgrim fathers chegam aos Estados Unidos fugindo da perseguição religiosa e sonham em encontrar na nova terra um local livre.
5.
A colonização da Austrália se dá, principalmente, pelo envio de presos que superlotavam as prisões inglesas, uma vez que a Austrália era uma colônia penal.
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O inglês como segunda língua A expansão do poderio colonial inglês no mundo até o fim do século XIX, assim como a emergência dos Estados Unidos como potência econômica mundial no século XX, deu ao inglês o status (cada vez mais crescente) que o idioma tem no mundo. Além de ser a língua oficial de países como Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia, o inglês passou a ser adotado como segunda língua ou como língua para a comunicação oficial em diferentes países. Essa situação é verídica não só para países como a Índia – ex-colônia inglesa que, pela diversidade das línguas faladas no país, adota o inglês como língua oficial associada –, mas também para países que passaram a adotar o inglês como segunda língua para a comunicação internacional. Assim, o inglês passou a ser utilizado como língua para a comunicação internacional em países ao sul da Ásia, como Índia, Paquistão, Myanmar, Bangladesh. As ex-colônias africanas também desenvolveram variedades do inglês nas quais foi dado status oficial ao idioma, como é o caso de Serra Leoa, Gana, Gâmbia, Nigéria, Camarões e Libéria, no oeste africano. Outros países, no leste africano, também deram ao inglês status oficial, incluindo: Quênia, Tanzânia, Uganda, Malawi, Zâmbia e Zimbábue. No sudoeste asiático e no Pacífico Sul, também devido à influência britânica, o inglês adquiriu status em Cingapura, Malásia, Hong Kong e Papua Nova Guiné. Como se vê, a expansão do inglês apresenta um crescimento marcante a partir do século XIX, passando a ser uma língua de caráter internacional pelo modo como a sociedade moderna passou a usá-la e, de certa forma, dela passou a depender.
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Caribe Como segunda língua, o inglês tem um papel limitado na região do Caribe e é adotado como tal apenas em Porto Rico. No entanto, é importante compreender a situação das diversas variedades de inglês no Caribe. Crystal (2003, p. 344) afirma que há pelo menos seis categorias linguísticas que merecem ser destacadas quando se fala na variedade caribenha do inglês. ::: Variedade do inglês padrão britânico ou americano: existe como meio de comunicação internacional formal e, de acordo com Crystal (2003), é usada na área do Caribe por uma minoria educada da população, e com uma variedade de pronúncias. ::: Variedades das línguas oficiais usadas na região: como diversas são as línguas oficiais usadas na região caribenha, diversas variedades de inglês foram desenvolvidas a partir do contato com as línguas oficiais locais, como o francês, o espanhol, e o holandês. ::: Variedade padrão do inglês das Índias Ocidentais: como os povos partilham uma herança linguística e histórica, surge a noção de um padrão do inglês falado na região, usado pela parcela educada da população, que se distingue tanto do inglês britânico como do americano. ::: Variedades de crioulos: a independência de muitos países caribenhos e a maior consciência linguística advinda dessa condição, como sinaliza Crystal (2003), fez também surgir a preocupação em adotar a perspectiva de considerar esses crioulos como línguas em sua própria natureza e também para evitar o termo Creole English. O autor sinaliza, inclusive, que alguns defensores da autonomia das línguas crioulas sugerem que são variedades de uma única língua falada na região, o Creole ou Caribbean Creole ou West Indian Creole. ::: Variedade multidialetais: Crystal (2003) advoga a existência de um “contínuo de línguas crioulas”, uma vez que é possível detectar, nas diversas ilhas, um contínuo entre o inglês padrão em um extremo do contínuo e uma língua crioula em outro. ::: Variedade porto-riquenha: de acordo com Crystal (2003), essa variedade deve ser considerada por ter um papel limitado, pois Porto Rico é o único país na região do Caribe em que o inglês é usado como segunda língua. A rica variedade do inglês encontrada na região do Caribe passou a ser encontrada em comunidades de imigrantes no Canadá, nos Estados Unidos e na Inglaterra (CRYSTAL, 1997, 2003).
África Durante a colonização da África, os países europeus colonizadores – entre os quais Inglaterra, França, Alemanha, Portugal, Itália e Bélgica – optaram pela divisão do continente em territórios coloniais (CRYSTAL, 1997). Assim, a divisão da África gerou diversos conflitos e a maioria dos países criados a partir da divisão tornou-se independente a partir dos anos 1960. O contato da língua inglesa com os países africanos das diferentes regiões colonizadas ocorre principalmente na África Ocidental e na África Oriental e, em função do contato do inglês com as Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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diversas línguas dessas regiões, surgem pidgins e crioulos com base no inglês, que eram utilizados pelos missionários, comerciantes e oficiais a serviço britânico, como o Krio, crioulo de base inglesa que se espalhou rapidamente pela Costa Oeste africana.
África Ocidental Os contatos da língua inglesa com o continente africano ocidental iniciaram-se no século XV e há referências ao uso do inglês como lingua franca em diferentes locais da costa africana (CRYSTAL, 2003). Com a intensificação do comércio e também com as atividades antiescravagistas no início do século XIX, o inglês passou a ser utilizado em toda a Costa Ocidental africana e, consequentemente, vários pidgins, resultantes do contato do inglês com as línguas desses países, surgem nessa região. A influência do inglês britânico na África Ocidental, onde também houve, mais tarde, influência americana, ocorre principalmente em seis países: ::: Camarões; ::: Gana (ex-Costa do Ouro); ::: Gâmbia; ::: Libéria; ::: Nigéria; ::: Serra Leoa. Esses seis países, atualmente, dão ao inglês status oficial, além da existência de diversas variedades linguísticas.
África Oriental O inglês também exerceu grande influência na África Oriental por meio de exploradores britânicos e, em 1888, foi fundada a Imperial British East Africa Company (Companhia Imperial Britânica da África Oriental), que desenvolveu um sistema de protetorados, rapidamente disputados por outros países, como Alemanha, França e Itália, para controle do território. Embora o contato da língua inglesa com essa região tenha tido início no século XVI, a partir da fundação da Imperial British East Africa Company esses contatos são intensificados, principalmente a partir de expedições de exploradores britânicos como Richard Burton, David Livingstone e John Speke ao interior dessa região. A partir da influência do inglês na África Oriental, alguns países dão ao idioma o caráter de idioma oficial, entre os quais: ::: Malawi (ex-Niassalândia); ::: Quênia; ::: Tanzânia (ex-Zanzibar e Tanganica); ::: Uganda; Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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::: Zâmbia (ex-Rodésia do Norte); ::: Zimbábue (ex-Rodésia do Sul). A África Oriental mostrou-se bem mais hospitaleira que a África Ocidental e, por isso, um grande número de imigrantes britânicos estabeleceu-se na região, resultando em uma classe de expatriados brancos nascidos na África. O inglês dessa região, por essa razão, é bem mais semelhante àquele ouvido na África do Sul ou na Austrália do que o inglês da Nigéria ou de Gana (CRYSTAL, 1997). Os efeitos do inglês britânico falado pelos imigrantes ingleses nessa região da África resulta, segundo Crystal (2003), em dois importantes efeitos: os ingleses presentes na região funcionaram como modelo e como incentivo ao aprendizado do inglês como segunda língua, além de o inglês ter tido um grande incentivo para ser usado como lingua franca, o que reduziu o surgimento de novas variedades de pidgins derivados do inglês nessa região.
Ásia A partir da British East India Company (Companhia das Índias Orientais), formada em 1600 por mercadores ingleses, aos quais foi dado o monopólio de comércio no sul asiático pela rainha Elizabeth I, o inglês chega à região do Sul da Ásia. A companhia estabelece-se na cidade indiana de Surat, em 1612, e, logo em seguida, também em outras cidades do país, como Madras, Bombay e Calcutá. O domínio britânico na Índia durou até a independência do país, ocorrida em 1947, e o inglês foi se tornando, gradativamente, o meio de comunicação utilizado na educação e na administração. Em função da diversidade de línguas e dialetos existentes na Índia, onde 18 são as línguas oficialmente reconhecidas, e também em função de conflitos entre aqueles que defendiam o inglês e aqueles que defendiam o híndi e outras línguas regionais, o híndi é o idioma oficial e o inglês tem o status de língua oficial associada. De acordo com Crystal (1997), o inglês é a lingua franca preferida em detrimento do híndi nas áreas onde predominam as línguas dravídicas, ou seja, línguas que compreendem a família linguística das línguas faladas na região peninsular do Sul da Ásia, conhecida como Subcontinente Indiano, que também já foi conhecida como Industão e onde estão situados Índia, Paquistão, Bangladesh, Nepal e Butão. Há, ainda, um considerável número de falantes de inglês em outros países da região que foram colônias britânicas, como Paquistão, onde o inglês tem o status de língua oficial associada, e Myanmar (ex-Burma), ex-colônia inglesa, independente em 1948. Também em países que estiveram sob o domínio da Índia, como Butão, que se tornou independente em 1949, e Bangladesh, independente do Paquistão em 1971. Há também falantes de inglês em outros países do Sudeste Asiático, como Sri Lanka e Nepal (CRYSTAL, 1997, 2003).
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Pacífico Sul e Sudeste Asiático A região do Pacífico Sul apresenta influências tanto dos Estados Unidos quanto da Inglaterra, o que resulta em um grande número de falantes de inglês na região. Embora o contato dos Estados Unidos com a região date do século XIX, o começo da influência do país no Pacífico Sul é marcado historicamente em 1940 com a invasão da base japonesa nas ilhas do Pacífico pelos norte-americanos, seguida pela Segunda Grande Guerra. As Filipinas tornaram-se independentes em 1946, embora a influência americana tenha permanecido marcante no local. A influência inglesa, por seu turno, inicia-se com as viagens de marinheiros ingleses no final do século XVIII, principalmente com as viagens do capitão Cook nos anos 1770, que culminam com a colonização da Austrália e da Nova Zelândia. Cinquenta anos mais tarde, a London Missionary Society (Sociedade Missionária de Londres) enviou missionários para trabalhar nas ilhas do Pacífico Sul. Com o fim da Guerra do Ópio e com a assinatura do Tratado de Nanquim, em 1842, o território de Hong Kong foi cedido à Inglaterra e voltou a ser administrado pela República Popular da China. Atualmente, é considerada uma república administrativa especial e, dessa forma, o inglês torna-se a língua do poder no Sudeste Asiático, juntamente com o chinês. As diferenças linguísticas em relação ao inglês, embora a colonização tenha sido marcadamente britânica, são notáveis. Não há uma simples variedade de um inglês típico do Sudeste Asiático, mas diferenças de acordo com os desenvolvimentos políticos e históricos de cada país. No entanto, destaca-se a presença do inglês nos seguintes locais: ::: Cingapura; ::: Hong Kong; ::: Malásia; ::: Papua Nova Guiné. Em Cingapura, o inglês foi introduzido nos anos 1950 na educação bilíngue, juntamente com o chinês, o malaio e o tamil, e, além de ser restrito à educação, passou a ser a língua utilizada pelos órgãos governamentais, para o sistema legal e pela mídia. Hong Kong tem uma história de uso limitado do inglês, geralmente relacionado às instituições governamentais ou militares. O chinês é a língua materna de 98% da população e, segundo Crystal (1997), o inglês e o chinês têm status conjunto, com predomínio do chinês. A Malásia é um caso típico, pois, com sua independência em 1957, a língua indonésia (bahasa indonesia), da família das línguas malaio-polinésias, foi adotada como língua oficial e o papel do inglês restringiu-se. Na educação, o inglês foi adotado como disciplina obrigatória, principalmente pela importância internacional do idioma. Em Papua Nova Guiné houve influências coloniais da Alemanha e da Inglaterra e a parte britânica foi transferida para a Austrália em 1904, como o território de Papua. A parte alemã da Nova Guiné
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também foi determinada para a Austrália em 1921. Metade da população, segundo dados de Crystal (1997), falam o tok pisin, um pidgin de base inglesa como segunda língua. O contato do inglês com as línguas locais desses países faz surgir uma variedade de pidgins com base no inglês, como sempre ocorre em regiões de línguas em contato. Vejamos um exemplo de diferenças entre dois pidgins: o tok pisin, utilizado em Papua Nova Guiné, e o kamtok, utilizado em Camarões, em suas utilizações dos meses do ano. Como aponta Crystal (2003, p. 348), é importante sinalizar que a pronúncia dessas palavras é muito semelhante em ambas as línguas:
Inglês
Tok pisin
Kamtok
January
Janueri
Janyauri
February
Februeri
Fehrbuari
March
Mas
Mach
April
Epril
Epril
May
Me
Mei
June
Jun
Jun
July
Julai
Julai
August
Ogas
Ohgohs
September
Septembra
Sehptehmba
October
Oktoba
Ohktoba
November
Novemba
Novehmba
December
Desemba
Disehmba
Conclusão Além de ser a língua oficial de países em todo o mundo, o inglês também ocupa o status de língua oficial em diferentes outros países, convivendo com uma diversidade de dialetos e de outras línguas oficiais, como na Índia, em que 18 são as línguas oficiais, ou na África do Sul, onde 11 são as línguas oficiais. Essa característica se deve não só a razões históricas e políticas, mas também à necessidade de comunicação internacional, como fator de inserção no mundo globalizado, cuja língua internacional utilizada para comunicação é o inglês. Tal fenômeno fez com que diversos países auferissem ao inglês o status de língua oficial ou de língua oficial associada a línguas locais, o que ocorreu em diversos países da África, da Ásia e do Sudeste Asiático.
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Na África, o inglês tem status de língua oficial em Serra Leoa, Nigéria, Uganda, Quênia, entre outros países. A Índia, que já foi uma colônia britânica, adota o inglês como língua oficial associada e o idioma convive com uma grande diversidade de dialetos locais. Países do Sudeste Asiático, como Cingapura e Hong Kong, também adotaram o inglês como segunda língua. Esse panorama fez com que o número de falantes de inglês no mundo aumentasse significativamente, fazendo crescer também o contato do inglês com outros idiomas.
Texto complementar O inglês na Índia e o lugar da elite no projeto nacional (MONTAUT, 2005, p. 65-70) Na Índia, o inglês é a língua falada pela classe dominante. Ele é falado pelos indígenas de classe superior que trabalham nos centros do governo. É provável que ele venha a se tornar a língua do comércio e das trocas através dos mares do Oriente.
Essa é a conclusão do celebérrimo relatório de Macaulay, em 1835, texto que está na origem da decisão de instruir a futura elite indiana na língua inglesa, de modo a “formar uma classe de pessoas indianas no sangue e na cor, mas inglesa na educação, na opinião, na ética e no intelecto”. 170 anos depois, a maioria dos relatórios dedicados ao uso do inglês na Índia estabelece uma constatação análoga: a baixa porcentagem da população que utiliza o inglês corresponde à [...] classe social estreitamente interligada à economia e às tecnoestruturas mundiais, especialmente quando pensamos nos milhões de expatriados da diáspora indiana; que são ao menos tão próximos dos potentados tecnoeconômicos estrangeiros quanto de seu país e de seu povo; cujo “sentimento de pertença ao mundo” criado pela língua inglesa é demonstrado pelas novas tecnologias. (BHATTACHARYA, 1998, p. 45)
Língua introduzida na Índia pela colonização britânica, o inglês é hoje língua oficial associada (ao híndi, que é a língua oficial) do Estado indiano, depois de ter mantido essa posição durante 15 anos a título provisório – na expectativa de que o híndi pudesse ser suficientemente “modernizado” e sobretudo difundido em todos os estados da União para substituí-lo, o que foi impedido pela oposição das regiões dravidófonas. Apesar de não estar relacionada na lista original das 14 línguas chamadas constitucionais (major regional languages) enumeradas no artigo 8.º da Constituição, nem em nenhuma outra de suas emendas posteriores, o inglês é a língua oficial de quatro estados, todos do nordeste, e de oito territórios da União. A ocasião de dar uma voz à Índia, em compensação por séculos de dominação, para que ela possa entrar em condição de igualdade no diálogo das culturas do mundo atual, ou, ao contrário, negação paradoxal dessa ocasião, mascarada pela alteridade da língua? [...].
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O inglês como segunda língua
O pluralismo indiano e o inglês Se podemos afirmar que em muitas das antigas colônias a ideia (homogeneizante) de nação recobre ali uma realidade heterogênea e marcada por contradições étnicas, religiosas, linguísticas, isso cai como uma luva quando aplicado à Índia, cuja existência enquanto entidade concreta é frequentemente posta em dúvida [...]. A extrema diversidade linguística constitui, portanto, um dos extremos, entre outros, de um subcontinente eminentemente pluricultural, como geralmente se diz. Suas 18 línguas principais e suas centenas de dialetos, divididos em quatro famílias geneticamente distintas, se cruzam e se entrecruzam no desenho complexo de um plurilinguismo generalizado. Não apenas nenhum de seus estados é unilíngue, mas mais da metade dos distritos são plurilíngues, sem falar das variantes regionais e da importante diglossia entre falar e escrever. Não existe comunidade falante que não tenha à sua disposição, no mínimo, três códigos linguísticos distintos, não existe língua cujos falantes não tenham outras duas línguas de contato, não existe língua regional sem uma considerável porcentagem de falantes residindo em outro estado [...]. No total, podemos considerar que entre 3 e 11% dos indianos têm um domínio do inglês que lhes permite encaixar-se com vantagem no mercado de trabalho nacional e internacional, mas um diploma de inglês nem sempre é suficiente para ser admitido em alguma das lucrativas centrais de telemarketing, que florescem hoje em todas as grandes cidades (e que, inversamente, podem recrutar não portadores de diploma que tenham adquirido sua competência linguística fora do sistema universitário).
Atividades 1.
Em quais continentes o inglês está presente como segunda língua? Dê exemplos de países, nesses continentes, onde o inglês tem status de língua oficial.
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O inglês como segunda língua
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2.
Além da Índia, em quais outros países do Sudeste Asiático o inglês tem status de língua oficial.
3.
Por que a presença do inglês é mais marcante na África Oriental do que na África Ocidental?
4.
Como o inglês chega à região Sudeste da Ásia?
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5.
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O inglês como segunda língua
Em quais países do Pacífico Sul e do Sudeste Asiático o inglês tem status de língua oficial?
Gabarito 1.
O inglês está presente como segunda língua em todos os continentes. Após a colonização britânica, muitos países adotaram o inglês como segunda língua, como: na América Central, Porto Rico; na África, Zimbábue e Uganda; na Ásia, Índia e Paquistão; na Oceania, Malásia e Hong Kong.
2.
Além da Índia, o inglês também tem status de idioma oficial em países que foram colônias britânicas, como o Paquistão e Myanmar.
3.
A presença do inglês é mais marcante na África Oriental pelo fato de os habitantes desses países terem se mostrado mais hospitaleiros, fazendo com que um grande número de britânicos se estabelecessem em países da região.
4.
O inglês chega à região Sul da Ásia a partir da criação da Companhia das Índias Orientais, formada por mercadores ingleses que têm o monopólio sobre o comércio na região.
5.
O inglês tem status de língua oficial nos seguintes países: Cingapura, Malásia, Hong Kong e Papua Nova Guiné. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
O inglês como língua global Língua global. Língua internacional. Língua universal. Lingua franca. Língua mundial. Embora cada uma dessas expressões tenha significados distintos, muitas delas têm sido usadas para se referir ao inglês, utilizado atualmente como língua para comunicação internacional. Basta observarmos a história da humanidade antiga e recente para percebermos que a tentativa de globalizar o mundo tem sido um traço comum. Pode-se pensar, apenas como exemplo, em Alexandre, o Grande, passando por Júlio César, até chegar a líderes como Napoleão ou Hitler, que intentavam impor sua língua às regiões que conquistaram ou dominaram. A disseminação do inglês, no entanto, não se deu necessariamente nas mesmas condições em que ocorreram outros fatos históricos, principalmente nas condições sócio-históricas, bastante diferentes das condições que levaram o inglês à condição de língua global, mais relacionadas a fatores econômicos, políticos, científicos, culturais e tecnológicos. A rede mundial de computadores é um dos fatores mais marcantes na disseminação do idioma, associado ao desenvolvimento tecnológico e ao científico advindos da utilização dos computadores nos mais diversos campos do saber. E, sem dúvida, os meios de comunicação exercem um papel bastante significativo nesse cenário.
As influências do inglês Diversas são as causas que levam uma língua a assumir o papel de língua global, mas a mais importante delas está relacionada ao poder das pessoas que utilizam essa língua para comunicação. E poder deve ser entendido a partir de diversas perspectivas: poder político, poder militar, poder tecnológico, poder econômico, poder cultural, entre outros. Cada um desses tipos de poder colabora de alguma forma para alçar o inglês à condição de língua global e essas diferentes manifestações de poder, de acordo com Crystal (2004), estão presentes em diferentes domínios, entre os quais o autor classifica: Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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O inglês como língua global
::: política; ::: economia; ::: imprensa; ::: propaganda; ::: radiodifusão; ::: cinema; ::: música popular; ::: viagens internacionais e segurança; ::: educação; ::: comunicações. Todos esses elementos, em conjunto, fornecem-nos uma perspectiva da influência do inglês como língua global e sua utilização em todo o mundo. Na política, o crescimento do Império Britânico é um fator importante na disseminação do inglês pelo mundo, além do fato de ser a língua de trabalho de várias assembleias políticas no mundo e de a própria Organização das Nações Unidas (ONU) utilizá-la em seus trabalhos. Na área econômica, notamos a grande influência da Inglaterra como uma das primeiras potências industriais e comerciais do mundo e, no século XIX, o rápido crescimento do sistema bancário internacional. Crystal (2004) salienta que “o dinheiro fala” e acrescenta que a língua em que ele mais falava era o inglês. Giblin (2005) aponta que tanto a música como o estilo de vida dos jovens americanos são divulgados pelo mundo pelo cinema hollywoodiano e que na França, por exemplo, o jazz surge como alternativa à música francesa e os jovens europeus veem na América o ideal de vida. Afirma Giblin (2005, p. 128): [Marlon] Brando e [James] Dean são jovens, talentosos, magníficos, tanto na tela como na vida. Seus personagens amam carros e velocidade, rejeitam a autoridade, são simultaneamente hedonistas e desesperados e querem algo de diferente. Eles não sabem necessariamente o que querem, mas sabem exatamente o que não querem: viver com seus pais, conhecer a guerra ou o holocausto, ter de se submeter a patrulhas políticas, sociais, econômicas.
E, assim, o rock’n’roll representa essa ruptura e, com ele, a língua inglesa é divulgada pelo mundo, sendo esse gênero dominado tanto pelos britânicos, como os Beatles, como pelos americanos, como Elvis Presley. O rock, como nos informa Giblin (2005), situa-se no entrecruzamento de três gêneros musicais americanos: a música country, o blues e o jazz. A difusão das culturas inglesa e norte-americana pelos meios de comunicação em todo o mundo por meio do cinema, da música, da radiodifusão e da propaganda é marcante, pois as maiores corporações dessas áreas têm origem inglesa ou norte-americana. Em relação à educação, pelo fato de a língua inglesa ser usada em vários países do mundo como segunda língua ou como língua de status oficial, parte da educação é realizada nesse idioma. Além das escolas de idiomas que ensinam o inglês e do grande número de estrangeiros que buscaram formação tecnológica e científica na Inglaterra ou nos Estados Unidos e receberam tal formação nessa língua. A língua inglesa, como nos mostra esse breve cenário – primeiramente pelo poder e em seguida por estar presente em todas as áreas do conhecimento, que, de uma forma ou de outra, também se relacionam ao poder –, assumiu a posição de língua global. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
O inglês como língua global
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Os “novos ingleses” O contato do inglês com os diferentes idiomas em todos os continentes do globo levou ao surgimento do que David Crystal (2004) chama de “novos ingleses”, fazendo aparecer diversas influências do inglês nas mais diversas línguas e a influência dessas línguas no inglês, como mostram os diversos exemplos apontados por McCrum, MacNeil e Cran (1992). A partir desse contato entre línguas, é comum observarmos as mudanças de códigos linguísticos de uma língua para o inglês e vice-versa. O conceito de mudança de código (code switching) está associado ao fato de que, quando os usuários de uma língua dispõem simultaneamente de outra para a comunicação, alteram o código linguístico, utilizando palavras de uma língua quando falam a outra. São comuns, também, os empréstimos linguísticos (borrowings), pois, em muitos casos, determinada língua não possui uma palavra para designar um conceito ou objeto e utiliza para isso a língua estrangeira de origem, como é o caso, por exemplo, das palavras em italiano utilizadas na ópera, como tenor, contralto, soprano, mezzo-soprano, utilizadas em várias línguas em sua forma original. No caso do contato linguístico do inglês com outras línguas, em todos os países em que o inglês é aprendido como segunda língua, as pessoas passam a utilizar palavras inglesas em diferentes contextos e, em algumas áreas, mais técnicas, utilizam-se palavras do idioma para especificar determinados conceitos ou nomes próprios que não existem na língua materna. Esse contato do inglês com as diversas línguas do mundo faz surgir o que Crystal (2004) chama de línguas “mistas”, entre elas, o autor apresenta: Taglês
tagalo (língua falada nas Filipinas) e inglês
Texmex
espanhol mexicano e inglês do Texas
Japlês
japonês e inglês
Chinglês
chinês e inglês
Espanglês
espanhol e inglês
Franglês
francês e inglês
Denglish
alemão (Deustch, em alemão original) e inglês
É comum, em casos de bilinguismo, o uso de palavras inglesas ao se falar português, como os exemplos abaixo em português, retirados de Kato (1994): Vou para casa comer porque estou starving. A cafeteria é horrível e a comida disgusting.
Nesses casos, as palavras starving e disgusting estão sendo usadas como empréstimo, para servir como ‘mot juste’ (do francês: palavra precisa, exata) por serem mais econômicas, ou mais precisas. Os exemplos em espanhol a seguir, retirados do dicionário de espanglês (CASAÑAS, 2007), mostram o caso do contato do espanhol com o inglês: Maria tiene que babysit a su hermanita en la noche. Estoy muy canzado de trabajar, hay que tomar un break ¿no? Maria recientemente tuvo un baby y ¡está bien cute! Mi boss me pagó con cash por haber trabajado overtime. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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O inglês como língua global
O contato do inglês com o português do Brasil é bastante significativo. Existem várias palavras utilizadas em nosso vocabulário que são inglesas, mas foram criadas pelos brasileiros. A palavra outdoor, por exemplo, não é utilizada no Brasil com o mesmo sentido em que é utilizado nos Estados Unidos ou na Inglaterra. Outdoor é um adjetivo para se referir a algo externo. O painel utilizado nas ruas para propaganda, em inglês, chama-se billboard. Também é comum usarmos a palavra shopping, em frases do tipo “Vamos ao shopping” ou “Moro perto do shopping”, ou seja, a palavra foi deslocada de seu sentido original e é usada como substantivo, sendo que no inglês, originalmente, ela tem a função de adjetivo: shopping center, ou shopping mall. Existem diversas palavras em inglês para as quais não temos uma palavra em português, como marketing ou software. Há aquelas palavras que foram adaptadas do inglês, para as quais utilizamos o verbo originalmente em inglês e a ele acrescentamos o sufixo do infinitivo em português, como deletar, ao qual foi acrescentado ao verbo inglês (to delete) a terminação do infinitivo (-ar) em português. Existem, por fim, palavras que fazem parte do nosso dia a dia, embora sejam usadas comumente em determinadas áreas em substituição a palavras em português, como coffee break, em lugar de intervalo, ou hot dog em lugar de cachorro-quente, ou aquelas em que simplesmente usamos a palavra em inglês, como happy hour, self-service, check-in, milk shake, workshop. Em algumas áreas, como na Economia, é comum vermos em jornais brasileiros ou em revistas especializadas o uso de palavras em inglês para fazer referências a operações financeiras. E, na área tecnológica, são inúmeras as palavras em inglês utilizadas pelos usuários, como aquelas utilizadas na área da informática ou utilizadas na internet como e-mail, download, blog, webcam, site, mouse, entre várias outras.
Conclusão Nesta unidade, foi discutida a questão do inglês como língua global e como a língua espalhou-se pelo mundo e passou a ter contato com várias outras, fazendo surgir diversas palavras do contato entre as línguas. Em muitos casos, as palavras são utilizadas originalmente em inglês, sendo muito comum a prática da mudança de código em casos em que não existe palavra correspondente na língua materna ou quando já se tornou uso corrente a palavra em inglês. Torna-se algo corriqueiro, dessa forma, o fato de encontrarmos palavras inglesas em diversas línguas, assim como palavras de outras línguas no inglês, pois o contato entre as línguas promove o surgimento de uma nova realidade linguística. Isso equivale dizer que, por questões de poder e aspectos relacionados à política, à economia, à imprensa, à propaganda, à radiodifusão, ao cinema, à música popular, a viagens internacionais, à segurança, à educação e a comunicações, o inglês tornou-se a língua global utilizada para a comunicação internacional.
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Texto complementar As características da geopolítica do inglês (LE BRETON, 2005, p. 16-17)
A primeira característica do inglês é a sua difusão planetária. Diferentemente do russo, por exemplo, restrito ao antigo império de Stalin, o inglês está um pouco presente em todos os lugares do mundo. Os principais núcleos estão na Europa (Reino Unido), na América do Norte (Estados Unidos e Canadá), na Austrália, na Nova Zelândia, na África do Sul. Esses núcleos agrupam populações para as quais o inglês é a língua materna. Para outros – ex-colônias em sua grande maioria –, o inglês não é a língua materna; seguramente não a língua materna da grande maioria da população. Em compensação, ele é, de facto, a língua do poder – nas instituições políticas, mas também nos negócios, no comércio, na indústria e na cultura. Esse é o caso de grandes Estados como Paquistão, Bangladesh e, especialmente, a Índia – nos quais o inglês desempenha um papel tanto mais importante à medida que serve de elemento unificador. É nessa mesma categoria que se encaixam outros grandes países da África que, no momento de sua independência, mantiveram uma herança do período colonial, inclusive naturalmente a língua inglesa. Seu uso não cessou de se expandir notavelmente. As estruturas governamentais, judiciárias, universitárias permanecem marcadas pelo inglês, particularmente nos países que não possuem uma língua nacional: é o que se passa na África, pelas mesmas razões que na Índia. E mais: a influência da língua inglesa não para de avançar. Uma terceira categoria é constituída por países que não foram expressamente colonizados pela Inglaterra, mas que entraram em sua órbita de influência. É o caso da China, que tende a escolher o inglês como língua internacional. Podemos citar inúmeros países que sentiram algum tipo de influência da língua inglesa, como o Egito, os Emirados do Golfo Pérsico e outros, quase sempre, na prática, protetorados da Grã-Bretanha. Por fim, uma quarta categoria é constituída por Estados completamente independentes, ao menos na acepção formal do termo, e que, por terem uma língua pouco difundida, escolheram o inglês para suas relações com o exterior. Um bom exemplo dessa categoria de Estados que recorrem ao inglês pode ser visto nos países escandinavos e nos Países Baixos. As línguas escandinavas e o holandês são línguas vigorosas, em nada ameaçadas de extinção, mas cuja difusão não atingiu o volume que poderia fazer delas línguas internacionais. Essa categoria está em plena expansão. Pense-se, por exemplo, no pré-guerra, período durante o qual a relação com o exterior podia ser feita em outra língua ou até mesmo em várias. Podiam-se utilizar o francês ou o alemão, tanto quanto o inglês. Se ainda restam posições importantes para o francês e para o alemão, devemos constatar que se trata de resquícios que dependem de gerações mais idosas. Essas posições – na Europa do leste em particular – estão ameaçadas. E mais: há outros povos que possuem uma língua de grande difusão – podemos pensar no árabe, mas também no português, no espanhol. Até bem pouco tempo, eles escolhiam o francês como segunda língua, ao menos para a pesquisa e para a expressão literária. Hoje, cada vez mais, eles se
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O inglês como língua global
voltam para o inglês. Essa evolução leva-nos a duvidar da perenidade das posições linguísticas do francês nesses países. No dia em que for necessário, a opção pelo inglês ameaça impor-se. Essa expansão, perceptível de alguns anos para cá, é tanto mais grave porque afeta, nos países em questão, categorias sociais em risco. Podemos ousar dizer que, definitivamente, não há nenhuma categoria da população de um Estado que não se sinta atraída pelo inglês. Para alguns, o fenômeno se explica pelo fato de ser uma língua materna: para outros, pela perenidade da influência colonial e mais frequentemente ainda pelo peso político do mundo de língua inglesa e por seu sucesso insolente em todos os âmbitos da vida científica, econômica e industrial, que a torna atraente, qualquer que seja o peso das tradições com as quais ela se enfrente. Não há nenhuma categoria humana que não se veja afetada pela universalidade da difusão da língua inglesa, nem mesmo as organizações terroristas. Nesse caso, a instalação de redes é facilitada pela difusão do inglês. Não há como permanecer insensível ao inglês, exceto em países subdesenvolvidos. Falar de língua inglesa a homens e mulheres que não têm nenhuma relação com a economia de mercado não tem, claramente, sentido algum. Por isso destacamos que a Albânia pré-1990, por exemplo, reagia com uma total alergia à difusão do inglês. Para além dessa margem limitada do extremo subdesenvolvimento ou do fechamento ideológico, devemos constatar que o universalismo da língua inglesa é justamente a sua primeira característica. O sucesso do inglês pode ser parcialmente atribuído, durante os séculos em que a língua foi fixada, a seu não conformismo. Essa é a sua segunda característica. Não há dúvida de que a evolução “liberal” encontrou um terreno particularmente fértil nas instituições representativas que faziam oposição ao rei. O fim da dinastia dos Stuarts corresponde a um novo equilíbrio de forças em favor dos representantes eleitos pela nação.
Atividades 1.
A que está relacionado o fato de uma língua tornar-se global?
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O inglês como língua global
2.
Quais fatores levaram o inglês a se tornar uma língua global?
3.
O que são línguas “mistas”? Dê exemplos.
4.
O que significa mudança de código?
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5.
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O inglês como língua global
O que são empréstimos linguísticos?
Gabarito 1.
O fator determinante de elevação de uma língua à condição de língua global é o poder. No caso do inglês, está associado ao poder militar, político, econômico, tecnológico e cultural da Inglaterra e dos Estados Unidos no mundo.
2.
O inglês se tornou uma língua global pelo fato de ser a língua utilizada nos mais diferentes campos na divulgação da política, da economia, da imprensa, da propaganda, da radiodifusão, do cinema, da música popular, das viagens internacionais, da segurança, da educação e das comunicações.
3.
O conceito de línguas mistas está associado ao fato de o inglês ser usado como língua estrangeira em vários países e, desse contato, surgir uma nova realidade linguística, com empréstimos em ambos os sentidos: tanto do inglês para as línguas estrangeiras como das línguas estrangeiras para o inglês. Podemos citar como exemplos: japlês, mistura de inglês e japonês; espanglês, mistura de inglês e espanhol; franglês, mistura de francês e inglês.
4.
Mudança de código é o mecanismo utilizado pelo falante de mais de uma língua que, quando não possui palavra correspondente na língua materna, utiliza a palavra da segunda língua.
5.
Empréstimo linguístico é o mecanismo de uso, na língua materna, de palavras estrangeiras ou vice-versa, quando não possuímos uma palavra correspondente. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
A língua inglesa e a internet A língua inglesa é, sem dúvida, a língua mais utilizada na internet. Embora não haja estatísticas precisas sobre o número de computadores conectados à rede mundial de computadores, ou sobre a quantidade de usuários que utilizam o inglês em suas comunicações, é fato que pessoas e empresas dos mais diversos países utilizam o inglês como idioma para veiculação, por exemplo, de mensagens eletrônicas e de websites, entre os vários outros tipos de textos em inglês que circulam na rede. Diversos fatores convergem para a utilização do inglês como língua mais veiculada na internet que estão relacionados a eventos políticos, a inovações tecnológicas e a empresas que contribuíram para a globalização da comunicação em língua inglesa que se presencia no século XXI. Uma pesquisa simples em diferentes idiomas permite-nos verificar que diversas palavras do inglês foram incorporadas a idiomas diversos para fazer referência a termos relacionados à comunicação via rede, que vai desde a configuração dos endereços de websites, iniciados por www, referindo-se às palavras inglesas World Wide Web, até os diversos meios possibilitados pela internet, incorporando, inclusive no português, palavras como chat, blogs, sites, webcam, entre uma gama de outras. Essa nova realidade tem um impacto radical na linguagem, pois é por meio dela que a comunicação será realizada e pessoas do mundo todo, falantes de idiomas distintos, utilizarão o inglês para sua comunicação, causando assim transformações na própria língua. Dois aspectos, nesse cenário, são necessários para compreender a relação entre a língua inglesa e a internet. Primeiramente, é necessário compreender como o mundo conectou-se a partir da rede mundial de computadores, que elementos levaram a essa globalização da comunicação e, nesse cenário, o papel da língua inglesa e como ela é utilizada.
Globalização e internet No dizer de Castells (2000), a rede mundial de computadores, também conhecida como internet, ou simplesmente net, é utilizada como a espinha dorsal da comunicação global mediada por computaEste material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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A língua inglesa e a internet
dores (CMC) dos anos 1990. A história da internet vem desde 1969, quando a Defense Advanced Research Projects Agency (Agência de Projetos de Pesquisa Avançados de Defesa) tentou implementar a primeira rede de computadores, que mais tarde foi aberta a outros centros de pesquisa que cooperavam com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos. A ideia de uma rede para se trocar ideias e informações tornou-se um meio comum entre cientistas e pesquisadores e, em 1984, a National Science Foundation iniciou a rede NSFNET, conectando cinco centros com supercomputadores e, dessa forma, as universidades iniciaram a conexão a essa rede por meio do acesso a um dos cinco centros (SPERLING, 1997) e, conforme o número de computadores que se interconectavam à rede NSFNET aumentava, ela ficou conhecida como Inter-Net-Network, forma depois abreviada para internet. Estudiosos como Castells (1990) e Friedman (2005a) discutem o papel da globalização e da sociedade em rede, mas sem uma preocupação específica com a língua inglesa, ficando, no entanto, implícito nas obras desses autores, ao tratarem das transformações no mundo globalizado, que a língua inglesa contribui para esse fenômeno. Não há estatísticas precisas sobre a utilização da linguagem na internet, tampouco números exatos sobre a quantidade de usuários conectados à rede, principalmente pelo crescimento ininterrupto e de novas tecnologias emergentes surgidas com uma frequência acentuada. Com base nesse contexto, Castells (2000, p. 369-370) afirma: Em meados de 1990, a internet conectava 44 mil redes de computadores e cerca de 3,2 milhões de computadores principais em todo o mundo, com mais ou menos 2,5 milhões de usuários, e estava se expandindo de forma acelerada. De acordo com uma pesquisa dos Estados Unidos conduzida em agosto de 1995 pela empresa especializada Nielsen Media Research, 24 milhões de pessoas eram usuárias da internet, e 36 milhões tinham acesso a ela. Contudo, um levantamento diferente conduzido pelo Emerging Technologies Research Group em novembro-dezembro de 1995 avaliou o total de americanos que usavam a internet regularmente em 9,5 milhões, dois terços dos quais entravam no sistema uma vez por semana. Mas as projeções indicam que o número de usuários dobraria em um ano.
Deve-se considerar que os dados apresentados por Castells são defasados, pois sua pesquisa foi divulgada no final do século XX e, atualmente, os dados disponíveis sobre esses mesmos aspectos aumentaram significativamente, mas as informações relatadas pelo autor permitem-nos perceber a amplitude com que a internet espalhou-se pelo mundo. E esses números crescem ano a ano. Em 2003, por exemplo, a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (United Nations Conference on Trade and Development – UNCTAD1) divulgou que o número de internautas nos Estados Unidos era de 155 milhões. A partir de uma perspectiva diferente, Friedman (2005a) apresenta as dez forças que fizeram com que o mundo ficasse plano; os elementos levantados pelo autor estão diretamente ligados ao papel da língua inglesa e de empresas de comunicação dos Estados Unidos espalhadas pelo globo. Ao ser entrevistado pela revista Veja, em 14 de dezembro de 2005, e questionado sobre o que é “mundo plano”, o autor responde: É uma nova fase da globalização, iniciada por volta de 2000, em que não apenas as empresas mas também os indivíduos podem atuar em âmbito mundial. Isso se tornou possível graças a algumas tecnologias revolucionárias – a internet, a telefonia celular a rede de fibra óptica mundial. Elas criaram uma plataforma que permite múltiplas formas de comunicação, colaboração e inovação. Toda a economia mundial se apoia nessa plataforma, que está achatando e transformando todos nós em vizinhos.
A internet, como se vê, é citada como uma das tecnologias revolucionárias que colaboraram para que o mundo se tornasse “plano”, no sentido de que todo o globo esteja conectado pela rede de 1 . Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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computadores, ou seja, como uma nova fase da globalização. Os fatores que, para o autor (FRIEDMAN, 2005a, p. 62-200), tornaram o mundo plano, denominados “dez forças que achataram o mundo”, compreendem: Força n.º 1: A queda do muro de Berlim Força n.º 2: Navegador comercial/Netscape Força n.º 3: Softwares de fluxo de trabalho Força n.º 4: Código Aberto Força n.º 5: Terceirização Força n.º 6: Offshoring Força n.º 7: Cadeia de fornecimento Força n.º 8: Internalização Força n.º 9: Informação Força n.º 10: Esteroides
Se observarmos o que o autor chama de “forças”, perceberemos tanto aspectos históricos, como a força 1, mas, principalmente, aspectos relacionados à tecnologia, à informática, e à comunicação, nas forças 2, 3, 4 e 9; ao comércio internacional, tratando de empresas, principalmente dos Estados Unidos, que se instalaram em diversas partes do mundo, trazendo, como consequência, as forças 5, 6 e 7. A força 8 trata do aspecto de que pequenas empresas puderam começar a pensar no mercado externo a partir do fortalecimento de sua estrutura, adquirindo uma visão global para seu negócio. A força 9 está relacionada à “possibilidade de construir e estruturar a sua cadeia de fornecimento pessoal, de informação, conhecimento e entretenimento” (FRIEDMAN, 2005, p. 179). Finalmente, a força 10, embora seja um item relacionado à bioquímica, é utilizada pelo autor como metáfora para o crescente desenvolvimento tecnológico, que faz com que as peças componentes de equipamentos eletrônicos como computadores e telefones celulares possam armazenar cada vez mais dados, possibilitando, ainda, o uso de novas tecnologias, como o VoIP (Voice over Internet Protocol), que permite a transmissão de voz por protocolo de internet, entre muitas outras possibilidades. Os estudos de Castells e de Friedman tratam da questão da globalização a partir de diferentes perspectivas. O trabalho de Castells (2000) fornece elementos para que se compreenda a dinâmica social e econômica na chamada era da informação, para a qual o autor busca a formulação de uma teoria que explique aspectos dos efeitos das tecnologias da informação no mundo contemporâneo. O trabalho desenvolvido por Friedman (2005a), a partir de uma perspectiva relacionada à economia e à política, procura fornecer elementos para que se compreenda como se deu o que o autor chama de o “achatamento” do mundo. Dessa forma, é essencial podermos olhar esse cenário a partir de uma perspectiva linguística e, assim, levantar a seguinte questão: o que aconteceu com a linguagem nesse cenário globalizado, nesse mundo achatado, em que as tecnologias da informação são utilizadas como meios de troca e em que o inglês é usado como língua global? Mais especificamente: o que aconteceu com o inglês nesse cenário? Estudos como os de Androutsopoulos (2000), Jaffe (2000), Crystal (2001) e Thurlow e Brown (2003), entre outros, tentam fornecer pistas para que se compreenda, pelo menos em parte, a extensão da linguagem utilizada na internet, o que se convencionou chamar netspeak, ou, em português, internetês2 e seu impacto na prática. Sabe-se, a partir desses estudos, por exemplo, que há perda de vogais, substituições de letras por símbolos, ou de uma letra por outra, perda ou substituição de consoantes, entre várias outras características e recursos utilizados em textos veiculados na rede (ver o item a seguir e o texto da leitura complementar para alguns exemplos em inglês). 2 É corrente em português o uso do termo “internetês” em estudos e discussões sobre a linguagem utilizada na internet. Confira, por exemplo, Marconato (2006).
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A língua inglesa e a internet
O inglês na internet Por que o inglês? Segundo Crystal (1997, p. 110), porque o inglês estava “no lugar certo na hora certa”: no século XVI era a língua de uma das nações colonizadoras: a Inglaterra. No século XVII, era a língua dos líderes da Revolução Industrial: também a Inglaterra. No fim do século XIX e início do século XX, era a língua do líder econômico: os Estados Unidos. Dessa forma, quando as novas tecnologias trouxeram novas oportunidades linguísticas, como adverte o autor, o inglês emergiu como língua nas indústrias que afetaram todos os aspectos da sociedade: imprensa, propaganda, transmissões, filmes, música, transporte e comunicações. Logo, infere-se, é a língua utilizada na internet. Como meio eletrônico de comunicação, a internet revolucionou a forma como as mensagens são veiculadas entre os usuários e vários são os elementos que contribuíram para essa transformação. Primeiramente, as mensagens passaram a assumir uma nova característica, uma vez que o meio utilizado para a comunicação é a linguagem escrita, mas, como ela pode ocorrer de forma simultânea, passaram a incorporar elementos simbólicos de forma a retratar na escrita elementos típicos da linguagem oral. É por isso que Crystal (2004) fala em “revolução” na linguagem, principalmente porque três são as características básicas da internet: ::: é um veículo eletrônico; ::: é global; ::: é interativa. Essas três características trouxeram mudanças significativas na linguagem utilizada nas interações na comunicação mediada por computador em que o teclado e a tela substituem a interação face a face. Embora a interação ocorra por meio da escrita, esse fator fez surgir uma linguagem híbrida, que incorpora características que tentam de uma forma ou de outra substituir elementos da linguagem oral, o que causou alterações na forma como se escreve, fazendo surgir o que chamamos de netspeak, ou internetês, isto é, um modo de comunicação típico pela internet, que incorpora tanto aspectos da linguagem oral como da linguagem escrita. Assim, a comunicação pela internet é diferente da escrita tradicional, pois vários elementos caracterizam essa diferença. O primeiro deles é a limitação de espaço a uma página e a estática do texto na linguagem escrita tradicional, ao passo que uma página na web pode variar consideravelmente e, mais que isso, o usuário pode “interferir” no texto. Outra característica marcante do texto na internet é o hipertexto, que permite ao usuário “saltar” de um texto a outro. Crystal (2004, p. 89) considera o netspeak mais como “uma linguagem escrita que foi empurrada em direção à fala do que uma linguagem falada que foi escrita”. A consideração feita pro Crystal pode ser embasada se analisarmos alguns mecanismos usados em salas de bate-papo e e-mails que, por uma questão de economia de espaço e também de rapidez, fazem com que os usuários encurtem palavras, simplifiquem formas de escrever e usem diversos símbolos e abreviaturas.
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Entre as diversas possibilidades de alterações na linguagem típicas do netspeak, o quadro a seguir apresenta, apenas para ilustração, alguns exemplos retirados do glossário de netspeak apresentado por Sperling (1997, p. 121-122), aqui reagrupados de acordo com as alterações nas palavras:
Uso de iniciais de expressões e locuções
Alternância de letras e números
Alterações ortográficas
Simplificações
btw = by the way
b4 = before
fone = phone
wif = with
ttul = talk to you later
some1 = someone
skool = school
sri = sorry
pov = point of view
w8 = wait
laff = laugh
tks = thanks
Outro recurso muito utilizado para substituir reações típicas da interação face a face são os smileys ou emoticons, cuja combinação de caracteres do teclado permite criar supostas expressões faciais de emoções. :–)
emoção positiva, alegria, algo engraçado
:–(
emoção negativa, tristeza, algo triste
;–)
piscada
[]
abraço
Os aspectos característicos do netspeak/internetês podem ser mais bem compreendidos se considerarmos a distância na relação entre a linguagem e a situação em que ela é utilizada, conforme preceituada por Martin (1984). Existem dois tipos de distância: uma espacial ou interpessoal, que vai de uma conversa cotidiana, na qual temos acesso imediato às reações de nosso interlocutor e, consequentemente, temos também feedback imediato; ao passo que, na linguagem escrita, em um romance ou jornal, por exemplo, temos um feedback posterior, pois não é possível, para o autor do texto escrito, ter acesso imediato às reações do leitor; temos, ainda, uma distância experiencial, que varia de acordo com a distância entre a linguagem e o processo social em que estamos envolvidos. Se nos referimos ao e-mail, por exemplo, na comunicação pela internet, a partir dessa perspectiva, veremos que está situado, se considerarmos um contínuo entre a linguagem escrita e a linguagem oral, entre ambas, pois assimila elementos tanto de uma quanto de outra, como a figura a seguir: Linguagem oral + Informal + Contato visual
Linguagem escrita e-mail
– Informal – Contato visual
+ Reação
– Retorno
A comunicação pela internet, dessa forma, incorpora elementos tanto da linguagem oral como da linguagem escrita, assumindo novas características com as possibilidades multimodais viabilizadas pela rede. Essas transformações tiveram um impacto bastante significativo na língua inglesa, pois a linguagem vai se adaptando às necessidades dos usuários e, por se tratar de uma língua global utilizada
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A língua inglesa e a internet
em contato com várias outras línguas, vários são os impactos advindos dessas línguas em contato na internet, ao que McCrum, MacNeil e Cran (1992, p. 387) denominam offshore English. Os autores acrescentam que executivos ingleses e norte-americanos são aconselhados a aceitar essa nova forma de comunicação. Há a discussão corrente entre linguistas, e toda a comunidade acadêmica ligada à linguagem, questionando até que ponto o uso do internetês interfere na produção textual do dia a dia. Os estudos de Crystal (1997, 2001) advertem-nos para o fato de que essa linguagem é usada exclusivamente no momento em que o usuário está diante do teclado e precisa elaborar mensagens. Ou seja, é o contexto que define a necessidade do uso do internetês, mas, sem a menor dúvida, diversos são os efeitos linguís ticos causados com a chegada da internet e cabe ao professor estar atento a essas transformações.
Conclusão Foi apresentada, nesta unidade, a forma como as sociedades modernas puderam reagrupar-se a partir do uso dos computadores conectados em rede: a internet. A internet permite a interação de indivíduos nas mais diferentes partes do planeta pela comunicação via rede. Esses usuários têm à sua disposição uma gama significativa de meios, tais como e-mail, sites, blogs e muitos outros recursos. Essa nova forma eletrônica de comunicação causou mudanças na forma de comunicação escrita, pois, na escrita, passaram a ser incorporados elementos da linguagem oral, o que fez surgir o netspeak (ou internetês), uma maneira de “falar” que incorpora elementos tanto da linguagem oral quanto da linguagem escrita. Desde o surgimento da internet, o número de usuários aumenta significativamente dia a dia e a língua mais utilizada para a comunicação na rede mundial de computadores é o inglês, o que faz com que a diversas línguas sejam incorporadas palavras relacionadas à internet, o que contribui para o caráter global da língua inglesa.
Texto complementar O papel da internet (CRYSTAL, 2004, p. 75-100)
Embora a internet como tecnologia tenha estado presente desde a década de 1960, para e-mails e bate-papo, as pessoas só começaram a explorá-la 30 anos mais tarde. A rede mundial só passou a existir propriamente em 1991. Mas, em um tempo extraordinariamente curto, as pessoas adotaram e dominaram a tecnologia e, enquanto o faziam, conheceram, adaptaram e expandiram sua linguagem tão diferente. Para começar, elas descobriram que a novidade linguística estava Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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principalmente na gíria e no jargão de seus entusiasmados adeptos, assim como na tendência para brincar com a língua e infringir regras linguísticas convencionais de ortografia e pontuação. Os linguistas ficaram bastante impressionados pela velocidade com que as inovações linguísticas conseguiram circular mundialmente. Mas aos poucos tornou-se patente que a internet revelava mais do que uma nova variedade estilística de linguagem. Ela nos proporcionava uma alternativa nova para as modalidades em que a comunicação humana pode ocorrer. Essa alternativa é tão nova que não possui ainda um nome com o qual todos estejam de acordo – comunicação mediada por computador (CMC) e comunicação eletrônica foram sugeridos – e também não existe um termo aceito para o tipo de língua revelado por ela (o termo que uso é netspeak). Mas há boas razões para vermos a chegada da internet como um acontecimento que é revolucionário não só em termos linguísticos como também em seus aspectos tecnológicos e sociais. [...]
As consequências de um novo veículo: dentro de uma língua Os efeitos linguísticos da chegada de um novo meio de comunicação são duplos: ele inicia uma mudança no caráter formal das línguas que o utilizam e oferece novas oportunidades para que as línguas o utilizem. Dos dois, o primeiro é o que tem atraído mais publicidade, por causa do tipo de linguagem encontrado na internet e nas tecnologias relacionadas a ela, como a telefonia móvel (telefones celulares). A aparente falta de respeito pelas regras tradicionais da língua escrita horrorizando alguns observadores, que veem nesse fenômeno um sinal de deterioração dos padrões. As mensagens de texto são muitas vezes citadas como um problema particular. As crianças do futuro não terão mais a capacidade de escrever corretamente, diz-se. Contudo, o fato de que os mais jovens abreviam palavras nas suas mensagens usando técnicas de rébus (b4 “before” [antes], CUl8er “see you later” [te vejo mais tarde]), abreviações (afaik “as far I know” [até onde sei], imho “in my humble opinion” [na minha humilde opinião]) ou indicações fonéticas (thx “thanks” [obrigado]) não é novo ou fundamental1. As pessoas vêm usando abreviações há gerações (ttfn, asap, fyi [respectivamente “ta-ta for now”, por ora, adeus; “as soon as possible”, assim que puder; e “for your information”, para sua informação]), e os jogos de rébus há muito são encontrados em revistas de palavras cruzadas. Até as listas mais completas de abreviações usadas nas mensagens de texto contêm não mais do que uma centena de formas e poucas delas são comumente usadas. E pelo fato de terem sido planejadas para satisfazer as necessidades de se escrever uma mensagem economicamente em uma tela que tem um limite de 160 caracteres, há pouca motivação para se usar essas formas em outras situações. Elas perdem sua função “bacana”, de identificação de grupo, quando são retiradas da tecnologia, seja o telefone celular ou o computador. O fato de que alguns garotos possam começar a usar suas abreviações em lugares onde elas não têm qualquer propósito – como em redações escolares – deve ser vigiado, naturalmente. Mas é isso que a escola precisa fazer. Tem sido um princípio do ensino moderno de língua – seja estrangeira ou língua materna – inculcar nas crianças um senso de responsabilidade e propriedade linguísticas. E as crianças precisam ser ensinadas – se não desenvolverem essa intuição espontaneamente – que as abreviações nas mensagens de texto desempenham uma função útil, onde o espaço é pequeno e a rapidez um fator crítico, mas não em outros lugares. [...] 1 O mesmo se dá em português, em casos como d+ (demais), fds (final de semana) e qro (quero), mas optamos por manter os exemplos originais, seguidos de sua tradução. (N. T.)
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A língua inglesa e a internet
Até muito recentemente havia problemas reais em se usar os caracteres do teclado para lidar com a diversidade de alfabetos das línguas do mundo. Porque foi o alfabeto inglês que se tornou o padrão, apenas uns poucos símbolos não ingleses puderam ser usados. Se fosse uma palavra estrangeira com alguns acentos de aparência estranha, o aplicativo de internet iria simplesmente ignorá-los e concluir que não eram importantes. Primeira: o conjunto básico de caracteres do teclado, o chamado ASCII [American Standard Code for Information Interchange], foi estendido de forma que os acentos não ingleses mais comuns pudessem ser inclusos. Mesmo assim, ele só permite a inclusão de até 256 caracteres – e existem muito mais formas de letras ou palavras no mundo do que isso. Basta pensar na quantidade de formas encontráveis no árabe, híndi, chinês, coreano e nas muitas outras línguas que não usam o alfabeto romano. Hoje há um novo código, o sistema Unicode, que é muito mais sofisticado: em sua última versão, ele permitiu a representação na tela de mais de 94 mil caracteres – embora esse número seja ainda bem menor que a soma total de caracteres em todas as línguas do mundo, que foram estimados em cerca de 175 mil.
Atividades 1.
Onde e quando começou a internet?
2.
Qual a relação entre a língua inglesa e a internet?
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A língua inglesa e a internet
3.
O que significa netspeak/internetês?
4.
O que são smileys ou emoticons?
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5.
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A língua inglesa e a internet
Por que se pode afirmar que a internet causou uma revolução na linguagem?
Gabarito 1.
A internet, embora seu uso tenha se intensificado na década de 1990, teve início na década de 1960, nos Estados Unidos, como uma tentativa do Ministério de Defesa de ligar computadores em rede.
2.
A relação da língua inglesa com a internet está no fato de que, por ter começado nos Estados Unidos e por divulgar rapidamente a tecnologia por todo o mundo, o inglês passou a ser a língua global de comunicação na internet.
3.
Netspeak (ou internetês) é o nome que se dá à forma característica pela qual ocorre a comunica ção na internet, que, embora seja realizada de forma escrita por meio do teclado e da tela, incorpora elementos da linguagem falada a partir da utilização de símbolos produzidos com elementos do teclado.
4.
Os emoticons ou smileys são símbolos do teclado configurados de forma a transmitir emoções típicas da interação face a face na linguagem escrita na tela do computador.
5.
A internet causou uma revolução na linguagem porque é um veículo eletrônico, é global e é interativa, e essas três características em conjunto causaram mudanças significativas na forma como acontece a comunicação mediada por computador. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
A língua inglesa no Brasil e os meios de comunicação A realidade de línguas em contato permite que idiomas de diferentes partes do globo convivam de acordo com fatores geográficos, históricos, militares, políticos e culturais. No Brasil, como a imigração de diferentes povos foi bastante acentuada, temos como reflexo em nosso idioma um grande número de palavras estrangeiras das diversas línguas dos povos que participaram de nossa formação étnica: elementos europeus do português, elementos africanos e dos índios que aqui habitavam por época do descobrimento. Além disso, outros povos imigraram mais tarde para o país, por ocasião das grandes guerras mundiais, o que também contribuiu para a formação da identidade brasileira e trouxe diversos empréstimos de suas línguas para o português. A presença da língua inglesa e de imigrantes falantes de inglês no Brasil não é tão grande como a imigração portuguesa ou italiana, por exemplo. No entanto, a presença britânica e norte-americana se faz presente no país e, a partir da segunda metade do século XX e início do século XXI, principalmente por fatores advindos da globalização dos meios de comunicação e das tecnologias da informação, o contato com a língua inglesa intensificou-se e muitas palavras inglesas passaram a fazer parte do cotidiano brasileiro. A influência do inglês na língua portuguesa é motivo de preocupação para alguns, que veem no contato linguístico um problema para o português e não um fator positivo, como é o caso do deputado federal Aldo Rebelo e seu Projeto de Lei 1676/99 que dispunha, entre outras coisas, “sobre a promoção, a proteção, a defesa e o uso da língua portuguesa”. É fato que, em muitos segmentos, há um uso exagerado de palavras inglesas, mesmo havendo palavras em português que sejam correspondentes, mas, em alguns casos, o contato linguístico existe como forma de designar itens não existentes na língua materna. Esse contato sempre houve e sempre haverá entre as línguas, assim como o português já sofreu, em outra época, grande influência francesa e palavras como abajur, boné, maquiagem, tricô, crochê, carnê, garçom, sutiã e tantas outras palavras de origem francesa que foram incorporadas à língua portuguesa. O inglês, da mesma forma, foi uma língua formada pelo contato das línguas celtas faladas na Grã-Bretanha, do latim, do alemão e do francês, ou seja, uma língua surgida do contato linguístico. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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A língua inglesa no Brasil e os meios de comunicação
Como vivemos um momento histórico de globalização dos meios de comunicação e a tecnologia é divulgada de forma instantânea, muitas palavras inglesas passam a fazer parte de nosso dia a dia, principalmente pelos meios de comunicação. Torna-se importante, assim, compreender a presença da língua inglesa no Brasil para que se possa, em seguida, entender a existência de palavras inglesas na língua portuguesa.
A língua inglesa no Brasil Pouco tempo após o seu descobrimento, em 1500, iniciou-se a imigração no Brasil, uma vez que em 1530 passou a vigorar no país um sistema com o objetivo de ocupar e explorar a terra, principalmente com a vinda de portugueses. As maiores correntes imigratórias vêm de Portugal, por serem o povo colonizador (veja tabela a seguir). Mais tarde, com o ciclo escravocrata, é grande a entrada de africanos em todo o território brasileiro nos engenhos de açúcar, em fazendas de café, na mineração e também em áreas urbanas, como no Rio de Janeiro, onde se estabelecera a corte e a família real. A partir do século XIX, outras correntes imigratórias vêm ao Brasil, principalmente de italianos, espanhóis e japoneses. O fluxo de falantes da língua inglesa ao Brasil não é tão grande como o de outros países. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apresenta em seu site1 estatísticas sobre a imigração no Brasil para as maiores correntes imigratórias, por nacionalidade, para os quinquênios de 1945-1949 a 1955-1959, como podemos ver no quadro abaixo:
Períodos
Alemães
Espanhóis
Italianos
Portugueses
Japoneses
Outros
1945-1949
5 188
4 092
15 312
26 268
12
29 552
1950-1954
12 204
53 357
59 785
123 082
5 447
84 851
1955-1959
4 633
38 819
31 263
96 811
28 819
47 599
Como podemos perceber, os falantes de língua inglesa, ingleses ou americanos, principalmente, estão inclusos na categoria de “outros” imigrantes, sendo bem maior o número de portugueses e italianos, por exemplo. Segundo estatísticas apresentadas por Jones (1967), dos 10 mil sulistas dos Estados Unidos que imigraram para diversos países até 1867, 2 070 vieram para o Brasil e estabeleceram-se em diversas partes do país, conforme quadro a seguir:
1 . Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
A língua inglesa no Brasil e os meios de comunicação
Estado
Número de americanos
Paraná
200
São Paulo
800
Rio de Janeiro
200
Minas Gerais
100
Espírito Santo
400
Bahia e Pernambuco
170
Pará
200
Total
| 77
2 070
Desses norte-americanos presentes no Brasil, desenvolveu-se o núcleo de Santa Bárbara D’Oeste, no interior do Estado de São Paulo, que teve avanço com a chegada, em 1866, do coronel William Hutchinson Norris, que havia sido combatente na Guerra Civil e senador no estado do Alabama e que implementou no núcleo cursos práticos de agricultura àqueles interessados no cultivo do algodão, como informa o site2 oficial da cidade de Americana. Em 1875, a Companhia Paulista de Estrada de Ferro instala a estação de Santa Bárbara e, em suas imediações, com o fluxo mais constante de imigrantes, formou-se a Villa dos Americanos, mais tarde Villa Americana, dando origem, finalmente, ao que hoje é a cidade de Americana. A influência norte-americana na região é bastante grande, tanto em Santa Bárbara D’Oeste quanto em Americana, e é relatada por Jones em O Soldado Descansa: uma epopeia norte-americana sob os céus do Brasil. Outro local de contato com o inglês americano no Brasil foi no estado do Rio Grande do Norte, onde foi instalada, durante a Segunda Guerra Mundial, uma base americana. A imigração de ingleses ao Brasil é bem menos significativa, com um menor número de imigrantes vindo ao país. A cidade de Londrina, no estado do Paraná, por exemplo, é uma homenagem dos imigrantes ingleses à cidade de Londres, embora o número de imigrantes ingleses seja pequeno na região. A língua inglesa passa a ter um contato maior com o português brasileiro a partir da tecnologia, da educação e do desenvolvimento dos meios de comunicação, pois passamos a ter acesso aos elementos da cultura norte-americana tanto por meio da música, televisão, cinema e costumes quanto por meio da identificação com os costumes tidos como avançados em relação aos brasileiros, o que incita o consumo e o desejo de consumir os mesmos produtos, como afirmam Garcez e Zilles (2001, p. 16): [...] diferentes grupos em uma comunidade podem atribuir valores diversos às identidades ligadas aos falantes de outras línguas. Então, os valores associados a um estrangeirismo podem muitas vezes ser conflitantes dentro da comunidade que faz o empréstimo. Por exemplo, os falantes de português brasileiro, tendo em mente a representação que fazem de certos falantes do inglês, associam a eles e, por extensão, à língua inglesa, valores que vão desde dinamismo progressista, consumo e comodidade, avanço tecnológico e poder vigoroso, valores aos quais desejam se associar, até conservadorismo retrógrado, grosseria, artificialidade insensível e poder nocivo, valores que desejam combater.
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A língua inglesa no Brasil e os meios de comunicação
Como se vê, a relação entre língua e cultura se faz presente também nas situações de estrangeirismos e de empréstimos linguísticos, pois é a relação entre a língua e o povo que fala essa língua que determina, principalmente por meio de estereótipos, a imagem que se faz do idioma. É o que ocorreu, por exemplo, no Brasil durante a Segunda Guerra, quando foram proibidos os idiomas italiano e alemão em comunidades do sul do Brasil por estarem associados ao fascismo e ao nazismo, respectivamente.
O contato do inglês com o português e os meios de comunicação Estrangeirismos são palavras de outros idiomas presentes no português. Temos, em nossa língua, palavras de diversos outros idiomas, como os exemplos a seguir:
Língua de origem
Exemplos
Japonês
quimono, samurai, gueixa
Árabe
almofada, alface, alfafa, alfinete
Línguas indígenas
abacaxi, cipó, arara, cuia
Línguas africanas
axé, dendê, dengo, samba, cafuné
Italiano
lasanha, nhoque, espaguete
Alemão
kitsch, blitz, diesel
Além de diversas outras línguas, também é muito comum no português estrangeirismos de origem francesa, os chamados galicismos, assim como palavras de origem inglesa, denominados anglicismos. Pelo fato de o inglês ser a língua global utilizada para a comunicação, muitas são as palavras inglesas que passaram a fazer parte de nosso cotidiano, causando a revolta em algumas pessoas que passam a ver nisso um problema ou uma ameaça à língua, como tem acontecido com alguns políticos que, através de um projeto de lei, querem proibir o uso de palavras estrangeiras, principalmente do inglês, embora não percebam que não é a lei que aprova ou reprova o uso de determinada palavra, mas sim a comunidade que usa a língua. Durante o Estado Novo no Brasil, também houve a tentativa de recusar palavras estrangeiras para valorizar a língua materna e palavras em português foram sugeridas para evitar os estrangeirismos: ludopédio em lugar do futebol, bufarinheiro no lugar de camelô, lucivelo no lugar de abajur e casa de pasto no lugar de restaurante. Nenhuma dessas palavras, entretanto, foi incorporada ao uso diário do idioma, simplesmente porque os falantes não as utilizaram e as palavras estrangeiras tiveram sua pronúncia e ortografia adaptadas e permaneceram no idioma.
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Hoje em dia, percebe-se uma grande quantidade de palavras inglesas na língua portuguesa, mas nada alarmante a ponto de causar uma celeuma e proibir o seu uso, pois essas palavras são típicas de algumas áreas e estão apenas no nível do léxico e não alteram de forma alguma a sintaxe da língua. O campo das comunicações é um dos mais ricos, pois é por meio dele que mantemos o contato com o mundo e, também por meio dele, que as notícias nos chegam. Ouvimos músicas em inglês, vemos filmes em inglês, assistimos a seriados e programas em inglês, vemos propagandas em inglês e consumimos uma grande quantidade de produtos com nomes ingleses, assim como vamos a vários lugares com nomes estrangeiros. Segundo Fiorin (2001, p. 120), usamos palavras estrangeiras porque nos identificamos com o estilo de vida ou com os elementos trazidos pela cultura da qual a língua é falada. Segundo o autor: [...] o uso de determinadas expressões estrangeiras conota “modernidade”, “requinte” etc., conotações que as correspondentes vernáculas não possuem. Observem-se os nomes das revistas em bancas de jornais. As revistas femininas tem, em geral, nomes franceses (p. ex.: Marie Claire), as revistas dedicadas aos jovens têm, geralmente, nomes em inglês (p. ex.: Trip); as revistas de informação têm nomes em português (p. ex.: Veja, Época). Os nomes em francês conotam elegância, refinamento; os nomes em inglês modernidade, aventura, juventude; os nomes em português, objetividade e neutralidade da informação.
Os estrangeirismos, isto é, as palavras de outros idiomas no português, são resultado do contato linguístico, assim como existem, em outras línguas, palavras que vieram do português. A grande influência do inglês ocorre principalmente, como afirmam Garcez e Zilles (2001, p. 22-23), por dois motivos: Por um lado, há os termos da tecnologia e da pesquisa avançada, desenvolvida e registrada quase hegemonicamente nessa língua. De outro lado, há o universo do consumo e dos negócios. O apelo da máquina capitalista globalizante é forte demais para que a mídia da informação, do entretenimento e, principalmente, da publicidade possa ou queira deixar de explorar as associações semióticas entre a língua inglesa e o enorme repositório de recursos simbólicos, econômicos e sociais por ela mediados.
O contato do inglês com o português, como percebemos, não é algo que pode prejudicar o idioma nacional ou algo que precise ser defendido, pois não há o que ser defendido, e quem define a língua em uso são os cidadãos que a utilizam diariamente e, se usam palavras em inglês, é porque tais palavras são aceitas pela comunidade dos falantes. Do contato do inglês com o português, várias palavras já foram assimiladas e muitos dos usuários do idioma nem percebem que são anglicismos, como bife (beef), blecaute (black out), caubói (cowboy), clube (club), coquetel (cocktail), estresse (stress), tíquete (ticket), uísque (whisky), rosbife (roast beef), xampu (shampoo), ou seja, todas são usadas correntemente, embora algumas delas sejam preferidas em sua forma original, para demonstrar status ou requinte, como shampoo, ou pelo fato de as pessoas não estarem familiarizadas ou não gostarem do aportuguesamento, como no caso de estresse ou tíquete. A consolidação do inglês como língua global e, em nosso caso, o contato do inglês com o português estão relacionados principalmente a questões econômicas e políticas, mas, como afirma Crystal (1997, p. 82), “qualquer consideração sobre política leva inevitavelmente a uma consideração sobre
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o papel da mídia” e a difusão do inglês pela mídia é muito grande no Brasil, uma vez que estamos expostos a todo tipo de contato, principalmente na imprensa, publicidade, transmissões de rádio e televisão, cinema e música. ::: Imprensa: pelos meios de comunicação impressos ou virtuais, temos acesso a jornais ingleses e americanos e, em sites, a qualquer jornal no mundo que seja escrito em inglês. ::: Publicidade: somos assediados o tempo todo por produtos veiculados internacionalmente por agências de publicidade americanas e inglesas com subsidiárias em todo o mundo e recebemos uma grande avalanche de anúncios de produtos veiculados em inglês. ::: Transmissões de rádio e TV: inúmeras são as transmissões televisivas em língua inglesa, principalmente por meio de cabos de fibra óptica, os quais nos permitem o acesso a programas transmitidos por redes de televisão em todo o mundo e, como é grande o número de empresas americanas, temos uma chance maior de assistirmos a programas em inglês do que em outras línguas e, mesmo em canais nacionais, é comum assistirmos a reality shows, game shows e talk shows. ::: Cinema: por causa da indústria cinematográfica, recebemos uma grande quantidade de filmes norte-americanos para atingir grandes públicos e os filmes mais vistos no mundo são geralmente produzidos em Hollywood. ::: Música: muito recebemos de músicas em inglês, principalmente pelo fato de alguns ritmos terem sido criados nos Estados Unidos, como o blues, o rock, o jazz, o rap, o gospel, o funk, e grandes nomes da música falantes de inglês, como John Lennon ou Madonna, e mesmo grupos e cantores de outros países que cantam em inglês, como foi o caso, nos anos 1970, do famoso grupo sueco ABBA ou, atualmente, da cantora islandesa Björk ou do grupo brasileiro Sepultura, que canta heavy metal em inglês. Esse panorama nos dá indicações de como a mídia tem um papel bastante significativo na disseminação da língua inglesa não só no Brasil, mas em todo o mundo.
Conclusão Nesta unidade, foi abordada a questão do contato do inglês com o português, assim como os meios de comunicação que veiculam mensagens em inglês. Vários são os anglicismos, ou seja, palavras em inglês presentes no português, principalmente em áreas relacionadas à mídia e à tecnologia da informação que, em função da disseminação rápida, são utilizadas em inglês em sua forma original. Existem diversas palavras que já foram aportuguesadas, tais como copidesque (copy desk) ou leiaute (layout), assim como outras que são usadas no inglês original, por não termos um correspondente em português, como é o caso de marketing. Os meios de comunicação são grandes responsáveis pela disseminação do idioma, pois recebemos uma grande quantidade de produções em inglês diariamente, tanto em termos de publicações, filmes, músicas, novelas, propagandas, bem como produções de países que não possuem o inglês como língua nativa, mas, para ter divulgação internacional, utilizam o idioma para reconhecimento internacional. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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Texto complementar A geopolítica da língua inglesa e seus reflexos no Brasil (RAJAGOPALAN, 2005, p. 135-159)
O projeto de Lei 1.676, de 1999, da autoria de então deputado Aldo Rebelo (posteriormente arquivado, em favor do substitutivo proposto pelo senador Amir Lando), que propunha ação legislativa enérgica contra a enxurrada de estrangeirismos no português do Brasil, notadamente aqueles originários da língua inglesa, teve o grande mérito de pôr em discussão algo que vinha preocupando cada vez mais povos das mais diversas partes: trata-se da invasão da língua inglesa na vida de todos os seis bilhões – sem exceção – de seres humanos que habitam o planeta e do que isso pode representar para a saúde e a sobrevivência das demais línguas do mundo, hoje estimadas em cerca de 6 500. Segundo a revista britânica The Economist (21 de dezembro, 1996, p. 39 – citada por Graddol, 1997), a língua inglesa se encontra “profundamente estabelecida como a língua-padrão do mundo, como parte intrínseca da revolução global das comunicações”. Que essa situação está preocupando um número crescente de pesquisadores ao redor do mundo fica evidenciado nos trabalhos recentes de [diversos] autores. [...] Em seu livro A Geopolitics of Academic Writing, Canagarajah (2002) mostra como os próprios pesquisadores dos países não anglófonos, em especial países “periféricos” do chamado terceiro mundo, são vítimas das políticas discriminatórias impostas pelas revistas científicas – publicadas, em sua grande maioria, em inglês –, que sumariamente rejeitam trabalhos submetidos pelo simples motivo de não terem sido escritos em inglês digno de um “nativo”. Até mesmo no mundo de ensino de inglês, verificam-se práticas escancaradamente discriminatórias no que tange à contratação e remuneração de professores não nativos (BRAINE, 1999, RAJAGOPALAN, 2005a). [...] É preciso usar muito bom senso ao formular políticas linguísticas num mundo como o de hoje, onde, queiramos ou não, a globalização está em marcha acelerada e, ao que parece, irreversível, ao menos a curto prazo. Ao mesmo tempo em que discutimos os efeitos nocivos dessa nova onda, que até o momento só tem acentuado as desigualdades Norte-Sul, como também (sem exceção) as desigualdades dentro de cada um dos países que aderiram à nova ordem mundial, não devemos perder de vista o fato de que é preciso adotar estratégias de contenção de danos e pensar em formas de enfrentamento que sejam: (a) realistas e exequíveis; (b) capazes de assegurar uma fatia do bolo sem que isso implique perda do patrimônio linguístico e cultural dos povos com menor poder de fogo (RAJAGOPALAN, 2005b). É preciso, em outras palavras, assumir uma atitude crítica (RAJAGOPALAN, 2003: 65-70). [...] [A] questão de como nos posicionar diante da ameaça representada pelo inglês deve ser abordada com toda a prudência e cautela que as questões políticas exigem. É preciso haver uma ampla discussão, incorporando todas as vozes da sociedade. Um país como o Brasil, pronto para ocupar seu merecido lugar de destaque no mundo emergente, não pode se dar ao luxo de tomar decisões precipitadas, sobretudo quando se trata de assuntos com repercussões duradouras.
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Atividades 1.
Como se deu a imigração de norte-americanos para o Brasil?
2.
O que são estrangeirismos?
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A língua inglesa no Brasil e os meios de comunicação
3.
O que são anglicismos? Dê exemplos.
4.
Por que o inglês influencia o português por meio da música?
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5.
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A língua inglesa no Brasil e os meios de comunicação
Explique a influência do inglês no Brasil por meio da mídia.
Gabarito 1.
A imigração de norte-americanos no Brasil teve início em 1866, com a vinda de imigrantes que foram distribuídos em vários estados brasileiros. Um núcleo de imigrantes norte-americanos que cresceu bastante foi o da cidade de Santa Bárbara D’Oeste, no Estado de São Paulo, e também na cidade de Americana, que tem este nome em função dos imigrantes vindos dos Estados Unidos no início da colonização da cidade.
2.
Estrangeirismos são palavras de outros idiomas presentes no português. Em nossa língua, encontramos palavras originárias de diversas línguas, como o tupi, línguas africanas, o francês, o inglês, o árabe, o japonês, entre outras.
3.
Anglicismos são palavras de língua inglesa presentes no português, tais como líder (leader), bife (beef), ou aquelas que não foram aportuguesadas, como marketing ou software.
4.
A influência do inglês no português pela música ocorre principalmente pelo fato de que muitos ritmos tiveram origem nos Estados Unidos, tais como o rap, o rock, o funk, o gospel, o blues, o jazz, entre outros.
5.
A influência do inglês na mídia brasileira se dá pelo contato diário que temos com a língua inglesa pelos meios de comunicação, em novelas, seriados, filmes e propagandas que veiculam diversos produtos em língua inglesa. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
A língua inglesa e o campo profissional e de ensino Tem-se presenciado, nos últimos 50 anos, uma influência cada vez maior do inglês em outras línguas, a ponto de levantarem-se discussões sobre a ameaça sofrida pelas outras línguas. No Brasil, por exemplo, existe o Movimento Nacional em Defesa da Língua Portuguesa. Em função disso, questiona-se: o inglês “ameaça” realmente a língua portuguesa? Ou as influências, os empréstimos de palavras inglesas e sua incorporação ao português se dão pura e simplesmente em função dos avanços científico-tecnológicos, da tecnologia da informação e refletem, de certo modo, alterações de ambos os lados, tanto no inglês com o impacto que sofre de outras línguas, como, em nosso caso, no português com a assimilação de palavras inglesas em diversas áreas? Em sua obra A Revolução da Linguagem, David Crystal (2004) afirma: Nenhuma língua existe de forma isolada. Todas as línguas em contato se influenciam mutuamente. Aquelas cujo alcance é maior – as principais línguas internacionais, como francês, espanhol, chinês e swahili – exercem mais influência sobre as línguas de contato. E uma língua global, por natureza, exerce mais influência que todas.
A afirmação de Crystal dá pistas da relação da língua inglesa e sua influência no português: pelo fato de ser uma língua global, o desenvolvimento tecnológico associado a fatores econômicos e polí ticos promove uma maior influência do inglês sobre as diversas línguas no mundo e, consequentemente, sobre o português. Torna-se necessário, dessa forma, posicionarmo-nos de forma crítica em relação a isso e levantar elementos que nos possibilitem a compreensão dessa influência e seu impacto nos vários campos profissionais e, mais especificamente, no papel do ensino da língua inglesa no Brasil.
O inglês nos diversos campos profissionais Em função do caráter global da língua inglesa, a existência de palavras advindas desse idioma tem aumentado na língua portuguesa. O papel da mídia é muito significativo nesse contexto, pois veicula a Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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A língua inglesa e o campo profissional e de ensino
língua pelos mais diversos meios: rádio, TV, sites, CDs, DVDs, programas de computador, jogos, provedores de internet, cinema, seriados, nomes de locais, ritmos musicais como jazz, swing, reggae, rock, twist, rap, funk, rhythm and blues, blues, country, drum and bass, heavy metal que nasceram ou foram muito veiculados pela mídia dos Estados Unidos, e uma infinidade de outros índices desse contato linguístico. No campo dos esportes, por exemplo, muitas das modalidades envolvendo bola trazem como sufixo a palavra inglesa ball, aportuguesada para bol: futebol (football), handebol (handball), basquetebol (basketball), voleibol (voleyball), entre outros. A partir daí, alguns esportes criados no Brasil também incorporam esse sufixo, como o biribol, esporte criado na cidade de Birigui, no interior do Estado de São Paulo, uma espécie de vôlei dentro de uma piscina. Além de outros esportes com nomes de origem inglesa: tênis (tennis), golfe (golf), surfe (surf) e seus derivados, como windsurf. O campo da alimentação e bebidas também apresenta a mesma riqueza: cheeseburger, hot dog, whisky, coke, diet coke, light coke, ice tea e uma infinidade de outros. São vários os nomes de estabelecimentos em língua inglesa, a começar pela própria natureza do estabelecimento: restaurant, bar, grill, steak house, snack, wraps, self service, drive through, delivery. Muitas vezes, ocorre apenas o acréscimo do apóstrofo e do s (‘s) indicativo do caso genitivo do inglês para sugerir o aspecto “internacional” do estabelecimento. Assim temos locais como Raimundo’s, Maria’s ou Fernando’s. Constrói-se a representação de algo internacional, requintado, emergente, de maior relevância e status elevado. Um reforço à velha crença de que “o que é de fora é melhor”. A economia é uma área que também incorporou muitos termos em inglês. A razão, aqui, está relacionada à hegemonia econômica representada pelos Estados Unidos, pelo Banco Mundial, pelo Fundo Monetário Internacional e pelo G8+51, o grupo dos oito países mais ricos do mundo e os cinco emergentes, que, embora agregue membros falantes de várias línguas, a língua de trabalho é o inglês. Dessa forma, a linguagem das bolsas de valores, de taxas e serviços bancários possui muitos termos em inglês. Observa-se em extratos bancários cobrança de “Taxas de uso de ATM”, abreviatura em inglês para Automatic Telling Machine, ou, simplesmente, caixa automático, além de serviços de home banking e diversos outros banking services que incluem termos como cash, card, money, além dos diversos termos da área econômica, como royalties, franchising, holding, joint venture, co-branding, e-business, e-commerce, management etc. Talvez a área mais influenciada seja a informática, em que a grande maioria dos termos figura em inglês: mouse, software, site, download, CD-ROM (Compact Disc-Read Only Memory), bits, bytes, home page, e-mail, blog, online, chat, apenas para ficar nos mais óbvios. Em muitos casos, o uso do inglês sugere a indicação de certo requinte ou pretensa sofisticação ao que se pretende vender, como é o caso, por exemplo, do campo imobiliário, pois muitos são os nomes de edifícios residenciais e comerciais em inglês. Em uma rápida olhada no caderno de imóveis do jornal de domingo de maior circulação no país – Folha de S.Paulo, veiculado em 8 de dezembro de 2007 – verificam-se lançamentos imobiliários com nomes como: Liberty, Move!, Guaratuba Residence Resort, Brascan Century Plaza, Varanda Expressions ou Green Village. É significativo o fato de que a ideia de village é retomada em vários lançamentos, com correspondentes em italiano, francês ou espanhol, remetendo também à ideia de vilas, condomínios fechados, que sugerem um ambiente mais seguro, reservado, mesmo que essas palavras não tenham a mesma ideia na língua de origem e mesmo com inadequações na grafia dos nomes em exemplos como: Villagio dell’Armonia, Vida Bella, Spazio Fellicitá, Ville D’France, Villagio de Itália, Villa Dolce, Plaza San Pablo. 1 O G8+5 reúne países do Grupo dos 8 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia) mais os 5 países emergentes: África do Sul, Brasil, China, Índia e México. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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Além disso, esses edifícios dispõem de ambientes e recursos com nomes em inglês, entre os quais: lobby, hall, lounge, WCs, playground, deck, fitness center, closet, living, penthouse, pay-per-use, motoboys, lan house, home cinema, street ball. Em muitos casos, temos o correspondente em português. Por que, então, o uso de termos em inglês? Supõe-se que o objetivo ao usar as palavras inglesas esteja relacionado ao status proporcionado pela língua, restringindo o público e imprimindo certa inovação e modernidade ao que se vende. Se olharmos por uma perspectiva crítica, inferimos que o uso do inglês promove, ao mesmo tempo, a exclusão social, pois aqueles que não conhecem o idioma estão excluídos dos eventos ou assuntos em pauta. Nesse sentido, Garces e Zilles (2001, p. 30-31) argumentam: Se, por um lado, associamos o preconceito ao conservadorismo, a ideia de que o uso de estrangeirismos significaria uma estratégia deliberada de exclusão faz com que seu combate se justifique como parte de uma militância política crítica, progressista, de inclusão democrática. O raciocínio é o de que o cidadão que usa estrangeirismos – ao convidar para uma happy hour, por exemplo – estaria excluindo quem não entende inglês, sendo que aqueles que não tiverem a oportunidade de aprender inglês, como a vastíssima maioria da população brasileira, estariam assim excluídos do convite. Expandindo o processo, por analogia, para outras tantas situações de maior consequência, o uso de estrangeirismos seria um meio linguístico de exclusão social. A instituição financeira banco que oferece home banking estaria excluindo quem não sabe inglês, e a loja que oferece seus produtos numa sale com 25% off estaria fazendo o mesmo.
Trate-se ou não de exclusão social, de índice de status, de requinte, de sofisticação, de esnobismo, de empréstimos linguísticos ou qualquer outro fenômeno ou mecanismo, o fato é que somos assediados por uma invasão de palavras inglesas. Em algumas áreas mais do que em outras, em função da internacionalização do idioma ou da projeção que se quer obter, como é o caso do campo acadêmico-científico, em que é necessária a publicação em inglês para a veiculação global dos conhecimentos produzidos localmente. Ao abordar o assunto dessa “invasão”, Paiva (2005, p. 24) afirma: Esse comportamento tem suas raízes na história de nossa dependência cultural. Pinto (1986, p. 41) afirma que a Primeira Guerra Mundial foi essencial para a mudança do eixo Brasil-Europa para Brasil-Estados Unidos. A partir de 1921, a dependência para com os norte-americanos aumentou com a crise do café, tendo o Brasil que recorrer a constantes empréstimos. A dependência econômica gerou uma dependência cultural.
Em meio a essa profusão de termos em inglês, ao contato diário que alguns segmentos da população têm com o idioma, a seguinte questão emerge: qual deve ser nossa postura em relação ao ensino de inglês no Brasil?
O ensino de inglês no Brasil e a relação língua versus cultura O ensino da língua inglesa tem sido priorizado pelo sistema educacional brasileiro. No entanto, ao resgatarmos a história do ensino de língua no Brasil, percebemos um cenário em constante transformação que reflete, de certo modo, a relação entre língua e cultura e, como consequência, as transformações mundiais e o papel das línguas estrangeiras no país. O que se verifica na prática, entretanto, é uma cópia de modelos estrangeiros, sem muito criticismo, como bem apontado por Leffa (1999, p. 13) em seu texto sobre o ensino de línguas estrangeiras no contexto nacional:
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Os brasileiros somos muitas vezes criticados por copiar aqui dentro o que acontece lá fora, numa imitação servil de outras culturas e violação da nossa identidade. É óbvio que um país não pode viver fechado dentro de si mesmo, mas parece que ao invés de incorporar aspectos de outras culturas à nossa, o que fazemos muitas vezes é submeter nossa cultura às outras. Isso fica mais evidente no caso da língua estrangeira, uma questão extremamente delicada, onde nem sempre fica claro se estudamos uma língua para servir ao nosso país ou servir aos interesses dos outros.
Daí a necessidade de uma visão crítica em relação ao ensino de línguas estrangeiras no Brasil. O texto de Leffa faz um percurso histórico, apontando aspectos de antes e depois do Império, na Primeira República, a Reforma de 1931, a Reforma Capanema, a LDB de 1961, a LDB de 1971, a LDB de 1996 e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), completando a LDB. Se juntarmos as três tabelas apresentada pelo autor, observamos que, de 1855 a 1996, ocorrem as seguintes alterações em relação ao número de horas em que as línguas têm sido inclusas nos currículos da escola pública:
Espanhol
Total em horas
Ano
Latim
Grego
Francês
Inglês
Alemão
Italiano
1855
18
9
9
8
6
3(F)
50
1857
18
6
9
10
4
3(F)
47
1862
18
6
9
10
4
6F
47
1870
14
6
12
10
-
-
42
1876
12
6
8
6
6F
-
32
1878
12
6
8
6
4
-
36
1881
12
6
8
6
4
3F
36
1890
12
8
12
11 ou
11
-
-
43
1892
15
14
16
16
15
-
-
76
1900
10
8
12
10
10
-
-
50
1911
10
3
9
10 ou
10
-
-
32
1915
10
-
10
10 ou
10
-
-
30
1925
12
-
9
8 ou
8
2F
-
29
1931
6
-
9
8
6F
-
-
23
1942
8
-
13
12
-
-
2
35
1961
-
-
8
12
-
-
2
22
1971
-
-
-
9
-
-
9
9
1996
-
-
6 e/ou
12 e/ou
-
-
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O que se verifica no quadro acima é que houve, gradativamente, um abandono das chamadas “línguas clássicas”, o grego e o latim, um decréscimo gradativo do francês, um aumento e nova diminuição do inglês, a inserção do espanhol. Leffa (1999, p. 15) afirma que “foi também durante o império que se iniciou a decadência do ensino de línguas”. Ao observar o total de horas dedicadas ao ensino de línguas, percebe-se a forma drástica como foi sendo reduzida e, a partir dessa perspectiva, pode-se também localizar o crescimento do número de escolas de idiomas nos últimos anos, que coincide tanto com o momento político-econômico global da necessidade do inglês, como com a diferença entre o ensino na escola pública e em escolas de línguas, Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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uma vez que o ensino da escola pública geralmente se foca em apenas uma das quatro macro-habilidades: produção oral (speaking), produção escrita (writing), compreensão oral (listening) e compreensão escrita (reading). No mais das vezes, o foco é na leitura, já que é a habilidade de maior necessidade ao aluno no ensino médio, principalmente tendo em vista a iminência do vestibular, o que leva um estudante interessado em desenvolver as outras habilidades a buscar complemento nas escolas de idiomas. Mas esse é um assunto complexo que envolve diversos outros fatores que não cabem ser discutidos aqui; funciona apenas como sinalizador de uma situação que merece ser revista. Essa situação, portanto, requer uma visão da língua estrangeira como um elemento que une o local ao global, que não funcione como fator de exclusão social, mas como uma forma de libertar indivíduos pela linguagem (veja texto retirado dos PCNs de Língua Estrangeira no texto complementar). Em relação ao futuro, Leffa (1999, p. 24) é categórico ao reforçar a importância do professor no processo: Durante o Império e República, como na história geral do ensino de línguas com a ênfase no método, o grande problema foi sempre o professor, que, em qualquer época e lugar, parece ter sempre atrapalhado a implementação da metodologia proposta – levando até à procura de um método à prova de professor. Uma máquina que seguisse à risca as instruções de uma determinada metodologia proposta seria, portanto, um excelente substituto. Com a chegada das máquinas ditas inteligentes, descobriu-se, no entanto, que uma metodologia que possa ser implementada por uma máquina não merece confiança, e que o verdadeiro professor é insubstituível. Estamos descobrindo agora, às portas de um novo milênio, que o professor não é o problema, mas a solução e que há um retorno maior investindo no professor e no seu aperfeiçoamento do que na metodologia. As novas tecnologias não substituem o professor, mas ampliam seu papel, tornando-o mais importante.
Esse posicionamento mostra-nos a importância de se pensar o ensino centrado no ser humano, no professor como um dos participantes do processo de ensino e aprendizagem da língua estrangeira em que, como outro participante, está o aluno, outro ser humano em vias de aprender o idioma. O que os une é a linguagem e seu papel simbólico na mediação e, portanto, há que se pensar no discurso como prática social desses sujeitos e sua relação com a língua e com a cultura em que estão inseridos. Os aspectos relacionados ao ensino de inglês no Brasil estão intrinsecamente relacionados às representações que se constroem sobre o idioma e sobre a cultura em que é falado, tanto pelos cidadãos usuários do idioma quanto, mais especificamente, pelos professores de inglês. A pesquisa realizada por Moita Lopes (1996), em que o autor buscou verificar a atitude dos professores e alunos brasileiros de inglês em relação à cultura de língua inglesa, revela uma visão bastante colonizada. A análise dos dados apresentados pelo autor (Moita LOPES, 1996, p. 52-57), a partir de 102 questionários respondidos por professores de inglês, revela: ::: um grande interesse pelo ensino de cultura, feito de maneira assistemática, mas que tende a respeitar o objetivo do curso; ::: uma atitude altamente positiva dos alunos brasileiros em relação à cultura estrangeira; ::: um predomínio de referências aos Estados Unidos para ilustrar as aulas, além do predomínio da modalidade do inglês americano no ensino; ::: a perfeição do inglês nativo apontada como objetivo principal numa porcentagem bastante alta; ::: uma atitude altamente positiva por parte dos professores em relação à cultura de língua estrangeira e negativa em relação à sua própria cultura; Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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::: uma porcentagem considerável no que se refere à preferência por expressar-se em inglês; ::: a importância da máquina da indústria cultural imperialista na formação do professor e sua consequente atitude em relação à cultura da língua estrangeira; ::: uma visão de língua muito impressionista que pode levantar dúvidas sobre o tratamento que o ensino de linguística vem recebendo nos currículos de formação de professores de inglês; ::: uma atitude racista e etnocêntrica, por parte dos professores, em relação à sua própria cultura, o que corresponde claramente à visão imposta pelo imperialista. Como conclusão de seu trabalho, o autor aponta que uma “nova atitude seria necessária para a reformulação do trabalho que está sendo feito na formação de professores de inglês nas universidades brasileiras” (MOITA LOPES, 1996, p. 59). O ensino de inglês no Brasil, como se vê por esse sucinto panorama, requer um redimensionamento da postura do professor, que vai desde a sua formação até o seu posicionamento político em relação ao contexto sócio-histórico em que atua. Moita Lopes revê esse seu estudo de 1996 quase uma década depois, dessa vez a partir da perspectiva da nova ordem mundial, relacionando também os PCNs e a necessidade de uma ação política para o ensino de inglês no Brasil (MOITA LOPES, 2003). O autor afirma ser crucial o ensino-aprendizagem de inglês na nova ordem mundial e que se deve “viabilizar a compreensão do mundo em que se vive por meio do ensino de inglês”, pois, segundo Moita Lopes (2003, p. 53), “não se pode transformar o que não se entende”. Dessa forma, uma educação linguística possibilita a interrogação das contingências sociais. É desejável, assim, a adoção de uma postura crítico-reflexiva em relação ao contexto sócio-histórico em que se atua, para que se possa compreender o papel do inglês no país, como fator de desenvolvimento tecnológico, mas também como forma de dominação hegemônica; daí a necessidade de uma postura política, para que se possa atuar de forma mais constante nos contextos dos quais participamos e desempenhamos nosso papel de cidadão de forma mais consciente. Como afirma Vian Jr. (2007, p. 114): Há ainda que se considerar a necessidade da formação de um profissional crítico, que possa posicionar-se em relação à sua realidade e que esteja apto a agir de forma a suprir as necessidades de seu contexto, suas próprias necessidades pessoais, as necessidades de seus alunos, as necessidades do contexto mais amplo, o papel da língua estrangeira nos contextos em que os alunos atuam ou pretendem atuar e, acima de tudo, seu posicionamento político, para que possa posicionar-se frente à sua realidade.
Conclusão O foco central desta unidade foi o papel do inglês e sua influência na língua portuguesa, principalmente em áreas em que o uso de termos técnicos é muito frequente, como as áreas de informática, esportes, economia, alimentos e bebidas, ou em casos em que a língua represente apenas um aspecto de status social ou de colonizado, como o ramo imobiliário. Foram apresentadas, também, algumas referências ao ensino de inglês no Brasil em uma breve perspectiva histórica, mostrando a adoção do inglês como uma das únicas línguas estrangeiras do currículo, sem se levar outras necessidades em consideração, como o papel do espanhol em relação ao inglês em estados fronteiriços com países falantes de espanhol. Como indica Bastos (2005), há o desejo de Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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acesso a outras línguas estrangeiras e essa postura requer uma visão política, que questione e critique o papel hegemônico do inglês no sistema educacional brasileiro. Esses aspectos também devem ser levados em consideração na formação do professor, para que ele possa abordar o papel político do profissional pré-serviço, ainda no curso de Letras, que irá atuar em diversos contextos.
Texto complementar Língua estrangeira e exclusão social (BRASIL, 2007)
A linguagem é o meio pelo qual uma vasta gama de relações são expressas, e é indiscutível o papel que ela desempenha na compreensão mútua, na promoção de relações políticas e comerciais, no desenvolvimento de recursos humanos. O reverso da medalha, no entanto, é que, ao mesmo tempo em que pode desempenhar esse papel de promotor de progresso e desenvolvimento, a linguagem pode afetar as relações entre grupos diferentes em um país, valorizando as habilidades de alguns grupos e desvalorizando as de outros. Internamente, pode servir como fonte poderosa e símbolo tanto de coesão, como de divisão. Externamente, pode servir como instrumento de elitização que capacita algumas pessoas a ter acesso ao mundo exterior, ao mesmo tempo em que nega esse acesso a outras. No plano internacional, situação semelhante se configura. O que diz respeito à situação de indivíduos dentro de um país aplica-se à situação de países dentro da comunidade internacional. Se a tendência do mundo de hoje para o futuro é a dependência cada vez maior na troca de informação, a linguagem e as línguas estão no cerne da questão: quem controla a informação?
Língua estrangeira como libertação Cabe aqui recorrer ao conceito freireano de educação como força libertadora, aplicando-o ao ensino de língua estrangeira. Uma ou mais línguas estrangeiras que concorram para o desenvolvimento individual e nacional podem ser também entendidas como força libertadora tanto em termos culturais quanto profissionais. Essa força faz as pessoas aprenderem a escolher entre possibilidades que se apresentam. Mas, para isso, é necessário ter olhos esclarecidos para ver. Isso significa também despojar-se de qualquer tipo de falso nacionalismo, que pode ser um empecilho para o desenvolvimento pleno do cidadão no seu espaço social imediato e no mundo. A aprendizagem de Língua Estrangeira aguça a percepção e, ao abrir a porta para o mundo, não só propicia acesso à informação, mas também torna os indivíduos, e, consequentemente, os países, mais bem conhecidos pelo mundo. Essa é uma visão de ensino de Língua Estrangeira como força libertadora de indivíduos e de países. Esse conceito tem sido bastante discutido também no âmbito de ensino da língua materna.
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Pode-se considerar o desenvolvimento de uma consciência crítica sobre a linguagem como parte dessa visão linguística como libertação.
O inglês como língua estrangeira hegemônica Questões como poder e desigualdade são centrais no ensino e aprendizagem de línguas, particularmente no contexto de língua estrangeira. Tem sido preocupação frequente de estudiosos da linguagem, notadamente no que se refere à situação de dominação do inglês como segunda língua e mesmo como língua estrangeira. A posição do inglês nos campos dos negócios, da cultura popular e das relações acadêmicas internacionais coloca-o como a língua do poder econômico e dos interesses de classes, constituindo-se em possível ameaça para outras línguas e em guardião de posições de prestígio na sociedade. Por outro lado, há a posição dos que olham a cultura como um processo em constante negociação, neste momento realizado em condições político-culturais de inter-relacionamento global. Isso se torna particularmente importante agora, quando as fronteiras tradicionais do mundo estão se abrindo. Há de se evitar teorias totalizantes e reprodução social e cultural (por exemplo, visões de uma sociedade consumista global veiculadas por uma língua hegemônica como o inglês) para se chegar a um paradigma crítico que reconheça o papel do ser humano na transformação da vida social. Isso fará com que se atente não só para como as vidas das pessoas são reguladas pelo discurso, mas também para como as pessoas resistem a essas visões totalizantes ao produzirem seus próprios discursos. Nesse sentido, a aprendizagem do inglês, tendo em vista o seu papel hegemônico nas trocas internacionais, desde que haja consciência crítica desse fato, pode colaborar na formulação de contradiscursos em relação às desigualdades entre países e entre grupos sociais (homens e mulheres, brancos e negros, falantes de línguas hegemônicas e não hegemônicas etc.). Assim, os indivíduos passam de meros consumidores passivos de cultura e de conhecimento a criadores ativos: o uso de uma Língua Estrangeira é uma forma de agir no mundo para transformá-lo. A ausência dessa consciência crítica no processo de ensino e aprendizagem de inglês, no entanto, influi na manutenção do status quo ao invés de cooperar para sua transformação.
Atividades 1.
Justifique a existência de palavras inglesas na língua portuguesa.
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2.
Por que é possível afirmar que o uso do inglês em determinadas áreas promove a exclusão social?
3.
O inglês sempre teve o mesmo status no sistema educacional brasileiro? Que outras línguas já fizeram parte do currículo de línguas estrangeiras?
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4.
Qual o papel da formação do professor no ensino de inglês no Brasil?
5.
O que significa uma posição política para o professor de inglês?
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Gabarito 1. A existência de palavras inglesas na língua portuguesa pode ser vista por vários aspectos, um deles é o fato de o inglês ser uma língua global e, por isso, exercer mais influência do que outras línguas. Outros fatores podem estar associados ao status da língua em alguns contextos, entre várias outras razões políticas, econômicas, culturais, linguísticas etc. 2. A visão de que o uso do inglês pode promover a exclusão está associada ao fato de que a grande maioria dos cidadãos brasileiros não conhece ou não aprendeu inglês, e o fato de usá-lo em alguns contextos pode excluir aqueles que não compreendem o conteúdo do que é veiculado. 3. O inglês teve seu número de horas alterado em diversos momentos históricos no sistema educacional brasileiro. Outros idiomas como o latim, o grego e o francês já foram priorizados em detrimento do inglês. 4. O papel da formação do professor no ensino de inglês é muito importante, pois dessa formação depende o andamento do ensino mais eficiente em relação às novas realidades tecnológicas e mundiais. 5. Uma posição política do professor de inglês está associada a uma visão do papel do inglês na nova ordem mundial, à visão da língua como hegemônica e imperialista e seu posicionamento no mundo hoje e, do ponto de vista local, o papel do inglês no contexto sócio-histórico em que cada professor atua e sua relação com o global.
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O inglês como língua global e o futuro Outras línguas já exerceram o papel de língua global, como o grego, de Felipe II ou de Alexandre, o Grande; o latim, de Júlio César; ou o francês de Luís XIV e de Napoleão. Essa premissa leva muitas pessoas a afirmar que os impérios sempre decaem e, consequentemente, a língua desses impérios. Isso faz com que se coloque a seguinte questão: qual é o futuro do inglês como língua global? Como língua do imperialismo norte-americano ele também decairá? Haverá, como sutilmente sugerido por Denys Arcand, no título de seu filme de 1986, O Declínio do Império Americano? Segundo a fala de um dos personagens do filme – que está centrado em longas discussões sobre relacionamentos, e não em questões políticas, que fique bem claro –, a libertinagem seria a mola propulsora do declínio de um império, como ocorreu com o império romano. Óbvio está que as invasões gregas, latinas e francesas deram-se em condições absolutamente díspares daquelas que caracterizaram o inglês como língua global, que tal caracterização ocorre principalmente pelo imperialismo financeiro e político que gera uma dependência cultural, diferentemente das outras invasões mencionadas, basicamente centradas nas forças dos exércitos. Para compreender o papel global do inglês hoje, bem como o seu futuro como língua mundial, é necessário enveredar por dois caminhos: primeiramente, compreender o que significa uma visão crítica em relação a essa realidade para, em seguida, levantar hipóteses sobre o futuro do inglês, bem como dos estudos linguísticos, uma vez que se trata de uma questão de política linguística bastante ampla.
Uma visão crítica do inglês como língua global O fenômeno da propagação do inglês pelo mundo acentuou-se sobretudo depois da Segunda Guerra Mundial e a influência política e cultural dos Estados Unidos espalhou-se pelo mundo e, com ela, obviamente, a língua. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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É dos Estados Unidos que procede a maioria de falantes de inglês no mundo, e a internacionalização da língua ocorre, segundo Lacoste (2005, p. 11), de forma indireta: A mundialização do inglês americano se faz também indiretamente por meio de uma série de fenômenos mais ou menos associados uns aos outros: pelo cinema americano, apesar de a maior parte dos filmes exportados pelos EUA serem dublados na língua do país de importação, e especialmente pela enorme massa de produções musicais que são, dia e noite, difundidas por emissoras de rádio e de televisão do mundo inteiro. A língua do rock é o inglês, seja ele cantado por franceses, japoneses ou russos, e pouco importa que o sentido das palavras não seja compreendido. Ele contribui para manter na moda tudo o que é americano. E tudo isso tem consequências geopolíticas e participa das rivalidades de poderes e de influências em nível mundial e no quadro de todos os países.
Essa dominação é vista por muitos como um fator negativo e, embora fatos históricos como o atentado de 11 de setembro de 2001 tenham causado um impacto mundial e mostrado como o antiamericanismo está espalhado pelo mundo, o uso da língua e a dominação econômica permanecem os mesmos, como também sinaliza Lacoste (2005, p. 11): O paradoxo – que é sobretudo geopolítico – é que o papel e a influência dos Estados Unidos nunca foram tão grandes e nunca o antiamericanismo se exprimiu tão claramente na opinião pública de todos os países. Se os atentados de 11 de setembro escandalizaram os meios intelectuais, por outro lado, suscitaram uma certa satisfação (“bem feito pra eles”) nos meios populares de numerosos países, da Ásia e da América Latina especialmente, e mais ainda no mundo muçulmano. A guerra do Iraque, evidentemente, em nada diminuiu esse antiamericanismo, assim como não conseguiu frear minimamente a moda de seguir tudo o que seja americano.
Em seu estudo sobre a geopolítica do inglês, Le Breton (2005, p. 26) questiona se os Estados Unidos conseguirão demonstrar a mesma moderação que o Reino Unido teve no momento em que a Grã-Bretanha era uma potência que, mesmo sendo uma potência imperial, não tentou impor uma ordem internacional para o idioma, particularmente na Europa, como fizeram, por exemplo, Luís XIV e Napoleão em períodos anteriores. Outro questionamento que emerge dessa situação é se o bilinguismo seria uma solução para o império americano, como foi para o império romano (LE BRETON, 2005). São vários, nos Estados Unidos, os movimentos pela implementação do espanhol como língua oficial, principalmente nos estados do Sul, onde há um grande número de latinos, com publicações e veiculação na mídia em espanhol. Até o presidente norte-americano George W. Bush já proferiu discurso bilíngue, em inglês e em espanhol, como informa Deborah Sharp, na edição de 19 de junho de 2001, do jornal USA Today, na qual a repórter afirma que o espanhol é, em alguns locais dos EUA, uma necessidade e, segundo a reportagem, o espanhol domina todas as outras línguas estrangeiras nas escolas públicas norte-americanas. Em relação ao Brasil e à influência do inglês, Rajagopalan (2005) sugere que a questão não é apenas linguística, mas, acima de tudo, política. O autor apresenta algumas opções para o enfrentamento da hegemonia do inglês, discutindo e tecendo considerações sobre elas, entre as quais: ::: a rejeição sumária do inglês; ::: a aceitação resignada do avanço do inglês; ::: a procura de um contrapeso, como o francês e o espanhol; ::: a adoção do esperanto; ::: o multilinguismo. A rejeição dar-se-ia em função da forma autoritária das intromissões do grande irmão do norte (RAJAGOPALAN, 2005) nos assuntos internos dos países da América Latina. A aceitação resignada Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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seria uma forma pelo fato de não haver outra alternativa. A procura do contrapeso estaria em outras línguas: o francês, que já ocupou essa posição anteriormente, e o espanhol, atualmente a língua de maior difusão no mundo depois do inglês. A adoção do esperanto resolveria o problema da vantagem que os falantes de inglês possuem e seria uma verdadeira lingua franca. Vale lembrar que o esperanto, idealizado pelo polonês Zamenhof, que incorpora aspectos de diferentes línguas, foi projetado como lingua franca, mas é considerado uma semilíngua, já que é falado para apenas alguns tipos de interação social e não existe nenhuma comunidade de fala que o tenha como língua oficial. Por último, temos o multilinguismo, ou diversidade linguística, que é uma sugestão no contexto da União Europeia como solução para a hegemonia do inglês. Essas sugestões apresentam limitações de várias naturezas para servir como meio de enfrentar a hegemonia do inglês, mas, segundo o autor, deve-se adotar uma atitude realista e, como sinaliza o próprio autor (RAJAGOPALAN, 2005, p. 149), essa mesma atitude “deve reconhecer não só a realidade dos fatos, mas também do nosso limitado poder em fazer frente a algo que está acontecendo em escala mundial”. A questão do inglês como língua global deve, portanto, ser tratada de forma crítica, a partir de um posicionamento político e, como reforça Rajagopalan (2005, p. 156), “é preciso haver uma ampla discussão, incorporando todas as vozes da sociedade”.
O futuro do inglês Um conceito amplamente divulgado no mundo hoje é a noção de “World English” como preceituada por Rajagopalan (1999), embora alguns autores considerem essa proposta relativista e sugiram o conceito de “World Englishes”, no plural, sinalizando os vários idiomas ingleses existentes, e não apenas um inglês internacional. Muitos livros didáticos, principalmente aqueles voltados para a área de negócios, estampam em suas capas, como subtítulo, a característica de International English. Essa realidade passou a existir a partir do momento em que o inglês passou a ser falado em diversos países e a preocupação com inglês britânico ou inglês americano, que vigorava até então, ficou em segundo plano. Muitos livros didáticos possuem edições em inglês norte-americano e em inglês britânico, como é o caso das séries Headway (SOARS; SOARS, 1998), cuja edição americana intitula-se American Headway (SOARS; SOARS, 2001), e Interchange (RICHARDS, 1997), cuja edição inglesa intitula-se Changes (RICHARDS, 1994), e traz como subtítulo: English for international communication. Além de casos como materiais de inglês australiano, como o material Australian English Course (NUNAN, 1992). No campo de ensino de inglês para negócios, os materiais mais recentes preceituam a utilização do inglês internacional, ou seja, não é a língua falada nos Estados Unidos, Inglaterra, Austrália ou qualquer outro país que tenha o inglês como primeira língua, mas o inglês utilizado no mundo dos negócios. Na verdade, o que se verifica nesses materiais é que não há nenhuma preocupação de natureza linguística, mas o simples fato de os materiais audiovisuais conterem passagens narradas por falantes de outras línguas, evidenciando o sotaque italiano, francês ou japonês, apenas para sinalizar que, no mundo dos negócios, o inglês é a “língua internacional” utilizada. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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A alternativa sugerida por McCrum, MacNeil e Cran (1992, p. 373) é que emergirão dois níveis distintos: um padrão internacional (International Standard) para ser usado de forma funcional internacionalmente, e um padrão local alternativo (Local Alternative). Segundo os autores, o padrão internacional emergirá de forma mais ou menos uniforme nos países falantes de inglês no mundo, enquanto o segundo tornar-se-á mais e mais distintivo e dele emergirão produções literárias. David Crystal (1997), por sua vez, ao discutir a questão do futuro do inglês global, agrega a essas questões os argumentos políticos e socioeconômicos, tanto aqueles a favor quanto aqueles contra as propostas em relação à aceitação ou à rejeição do inglês como língua global. O autor (CRYSTAL, 1997, p. 126) acrescenta, ainda, a discussão das questões educacionais envolvidas, que devem levar em consideração tanto questões práticas quanto teóricas, tais como o baixo nível de proficiência de muitos profissionais do ensino de língua inglesa no mundo que, segundo o autor, pode criar um dialeto de gueto (ghetto dialect), que marcaria os falantes como socialmente inferiores, além de várias outras questões relacionadas ao ensino de inglês em uma perspectiva global. Por fim, a discussão em torno do inglês chega ao ponto em que se questiona se o inglês irá se fragmentar. Crystal (1997, p. 134) faz a comparação do que aconteceu com o latim, que deu origem a várias línguas românicas, como o português, o espanhol, o italiano e o francês. Haveria uma dissolução do inglês em diferentes variedades de outras línguas incompreensíveis entre si, como é o caso do português, do francês, do italiano e do espanhol em relação ao latim? O fato é que nenhuma das outras línguas que já exerceram o papel de língua global teve uma difusão tão ampla em campos tão diversos. É impossível prever o futuro, mas pode-se especular sobre ele, como sugere Crystal (1997, p. 140), e é assim que o autor conclui sua obra sobre o inglês como língua global de forma ufanista: “Se há massa crítica, não quer dizer que a emergência de uma língua global seja um evento único, em termos revolucionários? Pode ser que o inglês, de qualquer modo, estará a serviço da comunidade mundial para sempre”. As preocupações com o inglês como língua global trazem à tona a discussão de questões linguís ticas, essencialmente de ensino de línguas e de políticas linguísticas, que não podem ser deixadas de lado, principalmente ao se considerar o campo de Letras, que forma profissionais para o ensino de línguas maternas e estrangeiras. Deve estar no bojo da discussão para esses profissionais tanto as questões relativas ao inglês como aquelas relativas à sua língua materna e outras línguas de contato. Deve-se pensar, dessa forma, nos temas linguísticos que estarão em discussão em curto, médio e longo prazos. Ao discutir os temas linguísticos para o século XXI, Crystal (2004, p. 137-140) apresenta os seguintes temas como aqueles que devem caracterizar a postura linguística do novo milênio: ::: interesse maior pelas línguas ameaçadas; ::: preocupação maior com as línguas minoritárias; ::: estímulo ao interesse maior por todas as pronúncias e dialetos de uma língua; ::: promoção de um interesse maior pelo alcance expressivo das línguas; ::: incentivo ao multilinguismo no pensar e nas habilidades; ::: aceitação das mudanças nas línguas como um processo normal; ::: preocupação com quem encontra dificuldades em aprender a língua materna; ::: preocupação com aqueles que perderam a capacidade de usar a língua materna; ::: aproximação do estudo da língua com o estudo da literatura; ::: apreciação do valor da língua no desenvolvimento humano e na sociedade. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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Ao se pensar no futuro do inglês e sua influência no Brasil, bem como no ensino de inglês no país, o quinto, o sexto e o décimo temas merecem um destaque, uma vez que muitos ainda veem o contato linguístico entre inglês e português como uma ameaça, adotando uma visão etnocêntrica que não incentiva o multilinguismo nem a influência da língua no desenvolvimento da sociedade. É importante reforçar que a língua se desenvolve paralelamente aos fenômenos sociais e é a mediação simbólica para todas as interações humanas, independentemente da área, pois todos os processos envolvem, como condição sine qua non, a linguagem, objeto de ensino e de pesquisa do profissional da área de Letras.
Conclusão Abordou-se, nesta unidade, a questão de uma visão crítica em relação ao papel hegemônico da língua inglesa e o futuro dessa língua. Apontou-se o fato de que é necessária uma visão crítica em relação ao inglês como língua global, de forma a posicionarmo-nos criticamente em relação a seu uso, em relação ao imperialismo norte-americano e várias outras questões de cunho político-ideológico. Discutiu-se, ainda, o futuro do inglês. O idioma irá se transformar de acordo com as variedades em que é falado nas diversas partes do mundo? Derivarão outras línguas do contato linguístico do inglês com diversos idiomas, como já surgiram pidgins e crioulos a partir do contato do inglês no período de colonização britânico? Há, em diversos países, movimentos para a defesa do idioma nacional contra o inglês, assim como medidas que tentam propor alternativas ao seu uso. Mesmo apesar do antiamericanismo, a prática tem revelado pouca ou nenhuma alteração em relação ao uso do inglês, pois a língua segue sendo cada vez mais disseminada e mais utilizada nas mais diversas comunidades. Existem, ainda, questões neoliberais envolvidas e o capital continua a circular e a língua utilizada continua sendo o inglês. Em suma, a dependência financeira gera uma dependência cultural. No campo de ensino de línguas, dessa forma, o que se torna patente é a adoção de uma postura crítica e reflexiva, associada a uma postura política em relação ao idioma e seu uso no cenário local e global.
Texto complementar O futuro (CRYSTAL, 2004, p. 33-35)
Quando uma língua se torna mundial, o que acontece a ela e às outras em consequência disso? Não há precedentes, porque nenhuma língua jamais foi falada por tantas pessoas em tantos países antes. Mas algumas tendências importantes podem já ser vistas, e cada uma delas vai representar um papel significativo na formação de um novo clima linguístico para o século XXI. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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Contudo, antes de se considerar o papel do inglês em maiores detalhes, deveríamos perguntar: o inglês vai continuar na sua posição atual, ou é provável que seu status global seja desafiado por outra língua? A história nos ensina uma coisa: jamais há lugar para complacência em se tratando da posição de uma língua. Mil anos atrás, a situação do latim parecia inatacável. Quem sabe qual será a posição de qualquer língua daqui a mil anos? O status de uma língua, como já vimos, está intimamente ligado ao poder militar, econômico e cultural, e como essas variáveis mudam, as línguas ascendem e descaem. Os futurologistas não encontram dificuldades em prever cenários nos quais, por exemplo, o árabe, o chinês ou o espanhol se tornam a próxima língua mundial. O espanhol é de fato uma língua materna que cresce com mais rapidez no mundo atualmente. Mas para o futuro previsível não é provável que outra língua vá substituir o inglês em papel global. Os fatores que levaram o inglês à sua posição atual ainda estão muito presentes. O idioma alcançou uma presença e importância que será extremamente difícil de apagar. As pessoas continuam a aprender inglês em números crescentes no mundo todo. Qualquer que seja a atitude em relação às culturas que o utilizam, o valor dessa língua como ferramenta funcional é de grande aceitação. Até os que se opõem a ela se veem tendo de usá-la mesmo que seja para atingir um público universal, a fim de expressar sua oposição. Não há qualquer sinal verdadeiro de que essa posição se enfraqueça ao longo da primeira década do novo milênio. O inglês pode estar relativamente estável em seu status mundial, mas por certo não o está em seu caráter linguístico. Na verdade, a língua está se transformando atualmente com mais rapidez do que em qualquer outra época desde o Renascimento. Alguns fatores estão envolvidos, mas o principal é sem dúvida a mudança do centro da gravidade da língua. Esse é um ponto muitas vezes esquecido, em especial pelos falantes nativos: que uma língua falada por tantas pessoas parou de pertencer a qualquer uma de suas comunidades constituintes – nem aos britânicos, com quem a língua começou 1 500 anos atrás, tampouco aos norte-americanos, que representam agora sua maior comunidade nativa. O número total de falantes nativos de inglês no mundo, cerca de 400 milhões, como visto acima, está atualmente caindo, como referência de usuários de inglês, por causa do diferencial no crescimento da população nos países onde ele é primeira língua e naqueles onde é segunda língua ou língua estrangeira. Três entre quatro falantes de inglês no mundo são nativos hoje. Todos esses usuários têm uma parcela de responsabilidade no futuro do inglês. A língua é uma instituição imensamente democrática. Aprender uma é ter imediatamente direito a ela. É possível se fazer acréscimos, modificações, brincar com ela, criar, ignorar partículas, o que se desejar. É muito provável que o destino do inglês vá ser influenciado tanto pelos que o utilizam como segunda língua ou língua estrangeira como por aqueles que o falam como língua materna. [...] E à medida que os números crescem, e falantes de segunda língua/língua estrangeira ganham em prestígio nacional e internacional, usos que eram previamente criticados por serem “estrangeirismos” – como three person [três pessoa], he be running [ele estar correndo], many informations [muita informações] – podem se tornar parte do discurso culto padrão de uma localidade e eventualmente aparecer na escrita. Um exemplo é Welcome in Egypt [Bem-vindo no Egito], que veio a ser amplamente usado naquele país e aparece agora nos livros didáticos egípcios de inglês. [...] O que acontece quando um grande número de pessoas adota o inglês em um país? Elas desenvolvem um inglês próprio. Existem agora muitas diversidades novas de inglês falado se desenvolvendo ao redor do mundo, em países como Índia, Cingapura e Gana. Eles têm sido chamados de “novos ingleses”. Por que surgiram? Por causa da necessidade de expressar uma identidade nacional. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
O inglês como língua global e o futuro
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Atividades 1.
Yves Lacoste afirma que “A mundialização do inglês ocorre de forma indireta”. Justifique.
2.
Como deve ser tratada a questão do inglês como língua global?
3.
Quais opções são oferecidas por estudiosos sobre a globalização do inglês como rejeição ao idioma?
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O inglês como língua global e o futuro
4.
Aponte elementos sobre o futuro do inglês.
5.
Qual deve ser a postura do profissional de Letras em relação ao ensino do inglês e seu papel global?
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O inglês como língua global e o futuro
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Gabarito 1.
A afirmação de Yves Lacoste refere-se ao fato de a língua inglesa fazer parte da vida de cidadãos de várias partes do mundo por meio da música, que é cantada em inglês por falantes de diversos idiomas, por meio de filmes que, mesmo com legendas nas línguas nacionais, são falados em inglês, e muitos outros elementos que trazem o inglês como parte do cotidiano de forma indireta, sem a necessária preocupação com a “invasão” da língua no dia a dia.
2.
A questão do inglês como língua global deve ser tratada de forma crítica e a partir de um posicionamento político, com o envolvimento de toda a sociedade e sua relação com a questão da influência do inglês nos diversos idiomas.
3.
Como opções à rejeição do inglês como língua global, são oferecidas: a rejeição sumária do inglês, a aceitação resignada do avanço do inglês, a procura de um contrapeso, entre eles, o francês e o espanhol, a adoção do esperanto ou do multilinguismo.
4.
Em relação ao futuro do inglês, diferentes estudiosos propõem diferentes alternativas, entre elas o fato de que surgirão novos ingleses, que surgirão diferentes variedades de inglês, a partir do contato com outras línguas, ou a possibilidade de um inglês internacional, que é diferente do inglês falado nos países que têm o inglês como língua nativa, como EUA ou Inglaterra.
5.
A postura do profissional de Letras deve levar em conta uma visão política e de criticismo, que deve ser considerada a partir do contexto em que cada um atua e do papel do inglês nesse contexto.
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O inglês como língua global e o futuro
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Anotações
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Língua e Cultura Inglesa
Língua e ultura nglesa
C
I
Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-2992-1
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Língua e
Cultura Inglesa orlando vian junior
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