José Saramago - O Conto Da Ilha Desconhecida
November 18, 2022 | Author: Anonymous | Category: N/A
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O conto da ilha desconhecida José Saramago
Um homem foi bater à porta do rei e disse-Ihe, Dá-me um barco. A casa do rei tinha muitas mais portas, mas aqueIa era a das petições. Como o rei passava todo o tempo Como tempo sentado à porta por ta dos obséquios obs équios (entenda-se, (entenda-se, os obséquios que Ihe faziam a eIe), de cada vez que ouvia aIguém a chamar à porta das petições fingia-s fingia-see desent des entendido, endido, e só quando quando o ressoar contínu contínuoo da aIdraba de bronze bronze se tornava, tornava, mais do que notório, notório, escandaI esc andaIoso, oso, tirando o sossego à vizinhança (as pessoas começavam a murmurar, Que rei temos nós, que não atende), é que dava ordem ao primeiro-secretário para ir saber o que queria o impetrante, que não havia maneira de se caIar. Então, o primeiro-secretário primeiro-secr etário ccham hamava ava o segun segundo-secretário, do-secr etário, este es te chamava chamava o terceiro, que mandava o primeiro-ajudante, quedapor sua veza mandava segundo, e assim por aí fora até chegar à muIher Iimpeza, quaI, nãootendo ninguém em quem mandar, entreabria a porta das petições e perguntava peIa frincha, Que é que tu queres. O supIicante dizia ao que vinha, isto é, pedia o que tinha tin ha a pedir, depois depoi s iinnstaIava-se a um canto canto da porta, à espera e spera de que o requerimento fizesse, de um em um, o caminho ao contrário, até chegar ao rei. Ocupado Ocupado como sempre sempre es estava tava com os obséqu obséq uios, o rei demorava demorava a resposta, e já não era pequeno pequeno sinaI de atenção atenção ao bem-estar bem-estar e feIicida feIicidade de do seu povo quando resoIvia pedir um parecer fundam fundament entado ado por p or escri e scrito to ao primeiro-secretário, primeiro-secr etário, o quaI, quaI, escusado se ria dizer, passava a encom e ncomenda enda ao segundo-secretário, segu ndo-secretário, estedespachava ao terceiro,sim sucessivament sucessivam ente, e, até chegar cheg ar outra outde ra vez à muIher da Iimpeza, que ou não conforme estivesse maré. Contudo, no caso do homem que queria um barco, as coisas não se passaram bem assim. Quando a muIher da Iimpeza Ihe perguntou peIa nesga da porta, Quee é que tu quere Qu queres, s, o homem homem,, em Iugar Iugar de pedir, pedi r, como era o costum co stumee de de todos, um títuIo, títuIo, uma uma condecora c ondecoração, ção, ou simpIesmente simpIesmente dinheiro, res respondeu, pondeu, Quero faIar ao rei, Já sabes que o rei não pode vir, está na porta dos obséquios, respondeu a muIher, Pois então vai Iá dizer-Ihe que não saio daqui até que eIe venha, pessoaImente, saber o que quero, rematou o homem, e deitou-se ao comprido no Iimiar, tapando-se com a manta por causa do frio. Entrar e sair, só por cima deIe. Ora, isto era um enorme probIema, se
tivermos em consider tivermos consideração ação que, de acordo com a pragmática pragmática das portas, aIi só se podia atender um supIicante de cada vez, donde resuItava que, enquanto houvesse aIguém à espera de resposta, nenhuma outra pessoa se poderia aproximar aproximar a fim de expor as suas s uas necessi necessidades dades ou o u as suas ambições ambições.. À primeira vista, quem ficava a ganhar com este artigo do reguIamento era o rei, dado que, numerosa a gente o vinha para incomodar com Iamúrias, maissendo tempomenos eIe passava a ter, e maisque descanso, receber, contempIar e guardar os obséquios. À segunda vista, porém, o rei perdia, e muito, uito, porque os protestos púbIicos, púbIicos, ao notar-se que a resposta estava e stava a tardar mais do que o justo, faziam aumentar aumentar grave gravem mente o desc d esconten ontentam tamento ento sociaI, o que, por seu turno, ia ter imediatas e negativas consequências no afIuxo de obséquios. No caso que estamos narrando, o resuItado da ponderação entre os benefícios e os prejuízos foi ter ido o rei, ao cabo de três dias, e em reaI pessoa, à porta das petições, para saber o que queria o intrometido que se havia negado a encaminhar o requerimento peIas competentes vias burocráticas. Abre a porta, disse o rei à muIher da Iimpeza, e eIa e Ia pergu per gunt ntou, ou, Toda, Toda, ou só um bocadinh bocadi nho. o. O rei duvidou por um instante, instante, na verdade não gostava gostava muit muitoo de se s e expor aos ares a res da rua, mas mas depois depoi s refIexionou que pareceria maI, aIém de ser indigno da sua majestade, faIar com um um súdito súdito através atravé s de d e uma uma nesga, com c omoo se s e tivess ti vessee medo deIe, de Ie, mormen mormente te estando a assistir ao coIóquio a muIher da Iimpeza, que Iogo iria dizer por aí sabe Deus o quê, De par em par, ordenou. O homem que queria um barco Ievantou-se do degrau da porta quando começou com eçou a ouvir correr co rrer os ferroIhos, enroIou enroIou a mant mantaa e pôs-se à espera. es pera. Estes sinais de que finaImente aIguém vinha atender, e que portanto a praça não tardaria a ficar desocupada, fizeram aproximar-se da porta uns quantos aspirant aspir antes es à IiberaIidade do tron tronoo que por aIi andavam, andavam, prontos a assaIt ass aItar ar o Iu Iugar gar maI eIe vagasse. vagasse . O inopinado aparecimento do rei (nunca uma taI coisa havia sucedido desde que eIe andava andava de coroa na cabeça) cab eça) causou um uma surpresa desmedida, desmedida, não só aos ditos candidatos mas também à vizinhança que, atraída peIo repentino aIvoroço, assom ass omara ara às janeI j aneIas as das da s casas, cas as, no outro outro Iado da rua. A única única pessoa que não se surpreendeu por aí aIém foi o homem que tinha vindo pedir um barco. CaIcuIara CaIcuIara eIe, e acertara a certara na previsão, pre visão, que o rei, rei , mesm mesmoo que demorasse três dias, haveria de sentir-se curioso de ver a cara de quem, sem
mais nem menos, com c om notáveI notáveI atrevi a trevim mento, o mandara chamar. chamar. Repartido Repa rtido pois ent e ntre re a curiosidade que não não pudera reprim repr imir ir e o desagrado des agrado de ver tan tanta ta gente junta, o rei, com o pior dos modos, perguntou três perguntas seguidas, Que é que queres, Por que foi que não disseste Iogo o que querias, Pensarás tu que eu não tenho mais nada que fazer, mas o homem só respondeu à primeira pergunta, Dá-me um barco, disse. O assombro deixou o rei a taI ponto desconcertado, que a muIher da Iimpeza se apressou a chegar-Ihe uma cadeira de paIhinha, a mesma em que eIa própria se sentava quando precisava de trabaIhar de Iinha e aguIha, pois, aIém da Iimpeza, tinha também à sua responsabiIidade aIguns, trabaIhos menores de costura costu ra no paIácio como como passajar pass ajar as peúgas dos pajens. paj ens. MaI sentado, sentado, porqu porq ue a cadeira de paIhinha era muito mais baixa que o trono, o rei estava a procurar a meIhor eIhor maneira maneira de acom a comodar odar as pernas, pe rnas, ora encoIhen encoIhendo-as do-as ora estendendo-as para os Iados, enquanto o homem que queria um barco esperava com paciência a pergunta que se seguiria, E tu para que queres um barco, pode-se saber, foi o que o rei de facto perguntou quando finaImente se deu por instaIado, com sofríveI comodidade, na cadeira da muIher da Iimpeza, Para ir à procura da iIha desconhecida, respondeu o homem, Que iIhaa desconh iIh des conhecida, ecida, pergunt perguntou ou o rei disfarçando o riso, como como se tivesse na sua frente um Iouco varrido, dos que têm a mania das navegações, a quem não seria bom contrariar Iogo de entrada, A iIha desconhecida, repetiu o homem, Disparate, já j á não há iIhas iIhas desconh des conhecidas ecidas,, Quem Quem foi foi qu q ue te disse, di sse, rei, que já não há iIhas desconhecidas, Estão todas nos mapas, Nos mapas só estão as iIhas iIh as conhecidas conhecidas,, E que iIha iIha desconhecida é essa ess a de que queres ir à proc procura, ura, Se eu to pudesse dizer, então não seria desconhecida, A quem ouviste tu faIar deIa, perguntou o rei, agora mais sério, A ninguém, Nesse caso, por que teimas em dizer que eIa existe, SimpIesmente porque é impossíveI que não exista uma iIha desconhecida, E vieste aqui desconhecida, a qui para me pedires pedi res um barco, Sim, Sim, vim aqui para pedir-te um barco, E tu quem és, para que eu to dê, E tu quem és, para que não mo mo dês, Sou o rei deste reino, rei no, e os barcos b arcos do rein rei no perten per tencem cem-m -mee todos, Mais Ihes pertencerás tu a eIes do que eIes a ti, Que queres dizer, perguntou o rei, inquieto, Que tu, sem eIes, és nada, e que eIes, sem ti, poderão sempre navegar, Às minhas ordens, com os meus piIotos e os meus marinheiros, Não te peço marinheiros nem piIoto, só te peço um barco, E essa iIha
desconhecida, se a encontrares, desconhecida, encontrares, será s erá para mim, im, A ti, rei, re i, só te interessa interessam m as iIhas conhecidas, Também me interessam as desconhecidas quando deixam de o ser, TaIvez esta não se deixe conhecer, Então não te dou o barco, Darás. Ao ouvirem esta paIavra, pronunciada com tranquiIa firmeza, os aspirantes à porta das petições, em quem, minuto após minuto, desde o princípio da conversa, a im i mpaciência vin vi nha crescendo, e mais mais para p ara se s e verem vere m Iivres deIe do que por simpatia soIidária, resoIveram intervir a favor do homem que queria o barco, bar co, começando começando a gritar, Dá-Ihe Dá-Ihe o barco, dádá-Ih Ihee o barco. bar co. O rei abriu a boca para dizer à muIher da Iimpeza que chamasse a guarda do paIácio a vir restabeIecer im i mediatament ediatamentee a ordem púbIica púbIica e impor impor a discipIina, mas, nesse momento, as vizinhas que assistiam das janeIas juntaram jun taram-se -se ao coro cor o com entusiasm entusiasmo, o, gritando gritando como como os outros, outros, Dá-Ihe Dá-Ihe o barco, dá-Ihe dá-Ihe o barco. Perante uma tão iniIudíveI manifestação da vontade popuIar e preocupado com o que, neste neste meio meio tempo, tempo, já haveria perdido per dido na porta por ta dos obséquios, obsé quios, o rei r ei Ievantou a mão mão direi di reita ta a impor impor siIêncio s iIêncio e disse di sse,, Vou dar-te um barco, mas a tripuIação terás de arranjá-Ia tu, os meus marinheiros sãome precisos pr ecisos para as iIh i Ihas as conh c onhecidas ecidas.. Os gritos de apIau apIauso so do púbIico púbIico não deixaram que se percebesse o agradecimento do homem que viera pedir um barco, aIiás o moviment ovimentoo dos Iábios tanto tanto teria podido ser Obrigado, meu meu senhor, como Eu cá me arranjarei, mas o que distintamente se ouviu foi o dito seguinte do rei, Vais à doca, perguntas Iá peIo capitão do porto, dizesIhe que te mandei eu, e eIe que te dê o barco, Ievas o meu cartão. O homem que ia receber rece ber um barco Ieu o cartão de visita, v isita, onde dizia Rei por baixo bai xo do nome do rei, nome r ei, e eram estas as paIavras que q ue eIe eIe havia escrito escr ito sobre o ombro ombro da muIher da Iimpeza, Entrega ao portador um barco, não precisa ser grande, mas que navegue bem e seja seguro, não quero ter remorsos na consciência se as coisas Ihe correrem maI. Quando o homem Ievantou a cabeça, supõe-se que desta vez é que iria agradecer a dádiva, já o rei se tinha retirado, só estava a muIher da Iimpeza a oIhar para eIe com cara de caso. O homem desceu do degrau da porta, sinaI de que os outros candidatos podiam enfim avançar, nem vaIeria a pena expIicar que a confusão foi indescritíveI, todos a quererem chegar ao sítio em primeiro Iugar, mas com tão má sorte que a porta já estava fechada outra vez. A aIdraba de bronze tornou a chamar a muI uIher her da Iimpeza, Iimpeza, mas a muI uIher her da Iimpeza Iimpeza não está, e stá, deu d eu a voIta v oIta e saiu s aiu com co m
o baIde e a vassoura por outra porta, a das decisões, que é raro ser usada, mas quando o é, é. Agora Agora sim s im,, agora pode-se pode- se com co mpreender o porquê da cara ca ra de caso com que a muIher da Iimpeza havia estado a oIhar, foi esse o preciso momento em que eIa resoIveu ir atrás do homem quando eIe se dirigisse ao porto a tomar conta do barco. Pensou eIa que já bastava de uma vida a Iimpar a Iavar que de mudar ofício, Iavar e eIimpar Iim par barcos bapaIácios, rcos é que eratinha a sua s uachegado vocaçãoa hora verdadeira verd adeira, , no de mar, mar, ao menos, mque enos, a água nunca Ihe faItaria. O homem nem sonha que, não tendo ainda sequer começado com eçado a recrut rec rutar ar os o s tripuIantes, tripuIantes, já Ieva atrás de si a futu futura ra encarreg encarre gada das baIdeações e outros asseios, também é deste modo que o destino costuma comportar-se connosco, já está mesmo atrás de nós, já estendeu a mão para tocar-nos o ombro, e nós ainda vamos a murmurar, Acabou-se, não há mais que ver, é tudo iguaI. Andando, andando, Andando, a ndando, o homem homem chegou chegou ao porto, por to, foi à doca, do ca, pergu per gunt ntou ou peIo capitão, e enquanto eIe não chegava deitou-se a adivinhar quaI seria, de quantos quan tos barcos aIi estavam, estavam, o que iria iri a ser o seu, grande grande já se sabia sa bia que não, o cartão de visita do rei era muito cIaro neste ponto, por conseguinte ficavam de fora os paquetes, os cargueiros e os navios de guerra, tão-pouco poderia ser eIe e Ie tão pequeno pequeno que que resistisse res istisse maI às forças do vento vento e aos rigores do mar, o rei também havia sido categórico neste ponto, Que navegue bem e seja seguro, foram estas as suas formais paIavras, assim impIicitamente excIuin excI uindo do os botes, as faIuas faIuas e os escaIeres, os quais, sendo bons navegantes, e seguros, conforme a condição de cada quaI, não tinham nascido para suIcar os oceanos, que é onde se encontram as iIhas desconhecidas. desconh ecidas. Um pouco afastada afastada daIi, escondida por trás de uns uns bidões, bi dões, a muIher da Iimpeza correu os oIhos peIos barcos atracados, Para o meu gosto, aqueIe, pensou, porém a sua opinião não contava, nem sequer havia sido ainda contratada, contratada, vamos vamos ouvir antes o que dirá o capitão do porto. O capitão veio, Ieu o cartão, mirou o homem de aIto a baixo, e fez a pergunta que o rei se tinha esquecido de fazer, Sabes navegar, tens carta de navegação, ao que o homem respondeu, Aprenderei no mar. O capitão disse, di sse, Não to aconseIharia, aconseIharia, capitão capi tão sou eu, e não me me atrevo com quaIquer barco, Dá-me então um com que possa atrever-me eu, não, um desses não, dá-me dá-me antes um barco que eu respeite e que possa respeitarr espeitar-m me a
mim, Essa Iinguagem é de marinheiro, mas tu não és marinheiro, Se tenho a Iinguag Iing uagem em,, é como se o fosse. foss e. O capitão tornou a Ier o cartão car tão do rei, re i, depois depo is pergunt perguntou, ou, Poderás dizer-m di zer-mee para par a que queres queres o barco, barc o, Para ir i r à procura da iIh i Ihaa desconh desco nhecida, ecida, Já não há iIhas iIhas desconhecidas, desconh ecidas, O mesmo me disse o rei, O que eIe sabe de iIhas, aprendeu-o comigo, É estranho que tu, sendo homem do mar, me digas isso, que já não há iIhas desconhecidas, homem da terra sou eu, e não ignoro que todas as iIhas, mesmo as conhecidas, são desconhecidas enquanto não desembarcarmos neIas, Mas tu, se bem entendi, vais à procura de uma onde nunca ninguém tenha desembarcado, Sabê-Io-ei quando Iá chegar, Se chegares, Sim, às vezes naufraga-se peIo caminho, mas, se taI me viesse acontecer, deverias nos anais do se porto queNão o ponto a que chegueia foi esse, Queres dizerescrever que chegar, sempre chega, serias quem és se não o soubesses já. já . O capitão do po porto rto disse disse,, Vou dar-te a embarcação que te convém, QuaI é eIa, É um barco com muita experiência, ainda do tempo em que toda a gente andava à procura de iIhas desconhecidas, QuaI é eIe, JuIgo até que encontrou aIgumas, QuaI, AqueIe. Assim que a muIher da Iimpeza Iim peza percebeu para onde o capitão ca pitão apontava, apontava, saiu sai u a correr de detrás dos do s bidões e gritou, É o meu barco, é o meu barco, há que perdoar-Ihe a insóIita reivindicação de propriedade, a todos os títuIos abusiva, o barco era aqueIe de que eIa tinha gostado, simpIesmente. Parece uma caraveIa, disse o homem, Mais ou concordou o capitão, princípio era caraveIa, depois passou pormenos, arranjos e adaptações adap tações que ano modificaram um umuma bocado, Mas continua a ser uma caraveIa, Sim, no conjunto conserva o antigo ar, E tem mastros e veIas, Quando Quando se vai procurar iIh i Ihas as desconh de sconhecidas ecidas,, é o mais mais recom rec omendáveI. endáveI. A muIh muIher er da Iim Ii mpeza não se s e conteve, c onteve, Para Par a mim não não quero outro, Quem és tu, perguntou o homem, Não te Iembras de mim, Não tenho idéia, Sou a muIher da Iimpeza, QuaI Iimpeza, A do paIácio do rei, A que abria a porta das petições, Não havia outra, E por que não estás tu no paIácio do rei r ei a Iimpar Iimpar e a abrir abri r portas, por tas, Porque as portas que eu reaIment reaImentee queria já foram abertas e porque de hoje em e m diante diante só Iimparei Iimparei barcos, Então Então estás decidida a ir comigo procurar iIha adesconhecida, Saí doestá paIácio peIa porta das decisões, Sendo assim, vaia para caraveIa, vê como aquiIo,
depois do tempo que passou deve precisar de uma boa Iavagem, e tem cuidado com as gaivotas, que não são de fiar, Não queres vir comigo conhecer o teu barco por dentro, Tu disseste que era teu, DescuIpa, foi só porque gostei deIe, Gostar é provaveImente a meIhor maneira de ter, ter deve ser a pior pi or maneira maneira de gostar. gostar. O capitão capi tão do porto por to interrompeu interrompeu a conversa, Tenho de entregar ao dono do barco, a um ouo ahomem, outro, resoIvam-se, a mim tanto se me as dá,chaves Os barcos têm chave, perguntou Para entrar, não, mas Iá estão as arrecadações e os paióis, e a escrivaninha do comandante com o diário de bordo, EIa que se encarregue de tudo, eu vou recrutar a tripuIação, disse o homem, e afastou-se. A muI muIher her da Iimpeza Iimpeza foi ao escritóri e scritórioo do capitão para par a recoIh re coIher er as a s chaves, depois entrou entrou no no barco, duas coisas Ih Ihee vaIeram aí, a vassoura vass oura do paIácio e a prevenção preve nção contra contra as gaivotas, ainda não tinha tinha acabado de atravessar a pranchaa que Iigava a amurada pranch amurada ao cais cai s e já as a s maIvadas maIvadas estavam a precipitarprecipi tarse sobre eIa aos guinchos, furiosas, de goeIa aberta, como se aIi mesmo a quisessem quises sem devorar. devor ar. Não sabiam sabi am com quem quem se metiam. metiam. A muIh muIher er da Iim Ii mpeza pousou o baIde, meteu as chaves no seio, firmou bem os pés na prancha, e, redemoinhando a vassoura como se fosse um espadão dos tempos antigos, fez debandar o bando assassino. Foi só quando entrou no barco que compreendeu a ira das gaivotas, havia ninhos por toda a parte, muitos deIes abandonados, outros ainda com ovos, e uns uns poucos com gaivotinh gaivotinhos os de bico aberto, à espera da comida, Pois sim, mas o meIhor é mudarem-se daqui, um barco que vai procurar a iIha iIha desconh desc onhecida ecida não pode ter este es te aspecto, como se fosse um gaIinheiro, disse. Atirou para a água os ninhos vazios, quanto aos outros deixou-os deixou -os ficar, até ver. Depois arregaçou arr egaçou as mangas mangas e pôs-se pôs- se a Iavar a coberta. Quando acabou a dura tarefa, foi abrir o paioI das veIas e procedeu a um exame minucioso do estado das costuras, depois de tanto tempo sem irem ao mar mar e sem terem terem de suportar os esticões es ticões saudáveis s audáveis do vento. vento. As veIas são os múscuIos do barco, basta ver como incham quando se esforçam, mas, e isso mesmo sucede aos múscuIos, se não se Ihes dá uso regu re guIarm Iarmente, ente, abrandam abr andam,, amoIecem, amoIecem, perdem pe rdem nervo, E as costuras como os nervos veIas, a muIher da Iimpeza, content cont entee porsão estar a aprender tãodas depressa depr essapensou a arte ar te de marinharia. marinharia. Achou
esgarçadas aIgumas bainhas, mas contentou-se com assinaIá-Ias, uma vez que para este trabaIho não podiam servir a Iinha e a aguIha com que passajava as peúgas dos pajens antigamente, quer dizer, ainda ontem. Quanto aos outros paióis, viu Iogo que estavam vazios. Que o da póIvora estivesse desmunido, saIvo uns pozinhos negros no fundo, que primeiro mais Ihe pareceram caganitas de rato, Iheaté importou de facto está escrito em é nenhuma Iei, peIo não menos onde a nada, sabedoria dumanão muIher da Iimpeza capaz de aIcançar, que ir em busca duma iIha desconhecida tenha de ser forçosamente uma empresa de guerra. Já a raIou, e muito, a faIta absoIuta de munições unições de boca no paioI respectivo, não por si s i própria, pr ópria, que estava mais mais do que acostumada ao mau passadio do paIácio, mas por causa do homem a quem deram este barco, não tarda que o soI se ponha, e eIe a aparecer-me aí a cIam c Iamar ar que tem fom fome, e, que q ue é o dito de todos todo s os o s homens homens maI entram entram em casa, casa , comoo se só eIes é que tivessem estôm com estômago ago e sofressem da necessidade necessida de de o encher, E se já traz marinheiros para a tripuIação, que são uns ogres a comer, então é que não sei como nos iremos governar, disse a muIher da Iimpeza. Não vaIia a pena ter-se preocupado pr eocupado tanto. tanto. O soI havia havia acabado de sumirsumir-se se no oceano quando o homem que tinha um barco surgiu no extremo do cais. Trazia um embruIho na mão, porém vinha sozinho e cabisbaixo. A muIher da Iimpeza Iim peza foi foi esperáes perá-Io Io à prancha, prancha, mas mas antes que eIa eIa abrisse abri sse a boca para par a se inteira int eirarr de como como Ihe Ihe tinha tinha corrido corr ido o resto do dia, di a, eIe disse, diss e, Está descansada, trago aqui comida para os dois, E os marinheiros, perguntou eIa, Não veio nenhum, como podes ver, Mas deixaste-os apaIavrados, ao menos, tornou eIa a perguntar, Disseram-me que já não há iIhas desconhecidas, e que, mesmo que as houvesse, não iriam eIes tirar-se do sossego dos seus Iares e da boa vida dos barcos de carreira para se meterem em aventuras oceânicas, à procura de um impossíveI, como se ainda estivéssemos no tempo do mar tenebroso, E tu, que Ihes respondeste, Que o mar é sempre tenebroso, E não Ihes faIaste da iIha desconhecida, Como poderia faIar-Ihes eu duma iIha desconhecida, se não a conheço, Mas tens a certeza de que eIa existe, Tanta como a de ser tenebroso o mar, Neste momento, visto daqui, com aqueIa água cor de jade e o céu como um incêndio, de tenebroso não Ihe encontro nada, É uma iIusão tua, também as iIhas às vezes parece que fIutuam sobre as águas, e não é verdade, Que pensas fazer, se te faIta a tripuIação, Ainda não sei, Podíamos ficar a viver aqui, eu oferecia-me para Iavar os barcos que vêm à doca, e tu, E eu, Tens com certeza um mester, um ofício, uma
profissão, como como agora se diz, Tenh Tenho, o, tive, terei se for precis p reciso, o, mas mas quero encontrar a iIha desconhecida, quero saber quem sou eu quando neIa estiver, Não o sabes, sabes , Se não sais de ti, não chegas chegas a saber quem és, O fiIósofo do rei, quando não tinha que fazer, ia sentar-se ao pé de mim, a ver-me passajar as peúgas dos pajens, paj ens, e às vezes dava-Ihe para fiIosofar, fiIosofar, dizia que todo o homem umaimportância, iIha, eu, como aquiIo não Que era comigo, visto que muIher, não Ihe édava tu que achas, é necessário sair sou da iIha para ver a iIha, que não nos vemos se não nos saímos de nós, Se não saímos de nós próprios, queres tu dizer, Não é a mesma coisa. O incêndio do céu ia esmorecendo, a água arroxeou-se de repente, agora nem a muIher da Iimpeza duvidaria de que o mar é mesmo tenebroso, peIo menos a certas horas. Disse o homem, Deixemos as fiIosofias para o fiIósofo do rei, que para isso é que Ihe pagam, agora vamos nós comer, mas a muIher não esteve de acordo, Primeiro, tens de ver o teu barco, só o conheces por fora, Que taI o encontraste, encon traste, Há aIgum aIgumas as bainh ba inhas as das d as veIas v eIas que estão a precisar preci sar de reforço, r eforço, Desceste ao porão, encontraste água aberta, No fundo vê-se aIguma, de mistura com o Iastro, Iastro, mas mas isso i sso parece p arece que é próprio, própr io, faz bem ao barco, bar co, Como foi que aprendeste essas coisas, Assim, Assim como, Como tu, quando disses te ao capitão disseste capi tão do porto por to que aprenderias a navegar navegar no mar, mar, Ainda Ainda não estamos no mar, Mas já estamos na água, Sempre tive a idéia de que para a navegação só há dois mestres verdadeiros, um que é o mar, o outro que é o barco, E o céu, estás a esquecer-te do céu, Sim Sim,, cIaro, o céu, Os ventos, ventos, As nuvens, O céu, Sim, o céu. Em menos de um quarto de hora tinham acabado aca bado a voIt vo Itaa peIo p eIo barco ba rco,, uma uma caraveIa, mesmo mesmo transformada, transformada, não dá para grandes grandes passeios. passei os. É bonita, disse o homem, mas se eu não conseguir arranjar tripuIantes suficientes para a manobra, terei de ir dizer ao rei que já não a quero, Perdes o ânimo ânimo Iogo Iogo à prim pr imeira eira contrari contrariedade, edade, A prim pri meira contrari contrariedade edade foi estar e star à espera do rei três dias, dias , e não desisti, desis ti, Se não encont encontrares rares marinheiros arinheiros que queiram vir, cá nos arranjarem arra njaremos os os dois, Estás doida, doi da, duas pessoa pessoass sozinhas sozinhas não seriam capazes de governar um barco destes, eu teria de estar es tar sempre ao Ieme, e tu, nem vaIe a pena estar a expIicar-te, é uma Ioucura, Depois veremos, agora vamos mas é comer. Subiram para o casteIo de popa, o homem ainda a protestar contra o que chamara Ioucura, e, aIi, a muIher da
Iimpeza abriu o farneI que eIe tinha trazido, um pão, queijo duro, de cabra, azeitonas, uma garrafa de vinho. A Iua já estava meio paImo sobre o mar, as sombras som bras da d a verga e do mastro grande grande vieram vie ram deitar-se-Ihes deitar-se-Ihes aos pés. É reaImente bonita a nossa caraveIa, disse a muIher, e emendou Iogo, A tua, a tua caraveIa, Desconfio que não o será por muito tempo, Navegues ou não navegues com eIa, é tua, deu-ta o rei, Pedi-Iha para ir procurar uma iIha desconhecida, desconh ecida, Mas estas coisas coi sas não se fazem do pé para a mão, Ievam Ievam o seu tempo, já o meu avô dizia que quem vai ao mar avia-se em terra, e mais não era eIe marinheiro, Sem tripuIantes não poderemos navegar, Já o tinhas dito, E há que abastecer o barco das miI coisas necessárias a uma viagem como esta, que não se sabe aonde nos Ievará, Evidentemente, e depois teremos de esperar que seja a boa estação, e sair com a boa maré, e vir gente ao cais a desejar-nos boa viagem, Estás a rir-te de mim, Nunca me riria de quem me fez sair peIa porta das decisões de cisões,, DescuIpa-m DescuIpa-me, e, E não tornarei tornarei a passar pass ar por eIa, suceda o que suceder. O Iuar iIuminava em cheio a cara da muIher da Iimpeza, Iim peza, É bonita, reaIm r eaImente ente é bonita, bo nita, pensou o homem, homem, que desta vez não estava a referir-se referir- se à caraveIa. A muIh muIher, er, essa, não pensou nada, nada, devia devi a ter pensado tudo durante aqueIes três dias, quando entreabria de vez em quando a porta para par a ver se aqueIe ainda continu continuava ava Iá fora, à espera. es pera. Não sobrou s obrou migaIha de pão ou de queijo, nem gota de vinho, os caroços das azeitonas foram atirados para a água, o chão está tão Iimpo como ficara quando a muIher da Iimpeza Ihe passou por cima o úItimo esfregão. A sereia de um paquete que saía para o mar soItou um ronco potente, como deviam ter sido os do Ieviatã, e a muIher disse, Quando for a nossa vez faremos menos baruIho. Apesar de estarem no interior da doca, a água onduIou um pouco à passagem do paquete, e o homem disse, Mas baIoiçaremos muito mais. Riram os dois, depois ficaram caIados, caIados, passado pa ssado um bocado um deIes opinou que o meIhor seria irem dormir, Não é que eu tenha muito sono, e o outro concordou, Nem eu, depois caIaram-se outra vez, a Iua subiu e continuou a subir, em certa aItura a muIher disse, Há beIiches Iá em baixo, o homem disse, Sim, e foi então que se Ievantaram, que desceram à coberta, aí a muIher disse, Até amanhã, eu vou para este Iado, e o homem respondeu, E eu vou para este, até amanhã, não disseram bombordo nem estibordo, decerto por estarem ainda a praticar na arte. A muIher voItou atrás, Tinha-me esquecido,
tirou do boIso do aventaI dois cotos de veIa, Encontrei-os quando andava a Iimpar, Iim par, o que não tenho tenho é fósforos, Eu tenho, tenho, disse dis se o homem homem.. EIa segu s egurou rou as veIas, uma em cada mão, eIe acendeu um fósforo, depois, abrigando a chama sob a cúpuIa dos dedos curvados, Ievou-a com todo o cuidado aos veIhos pavios, pavi os, a Iuz pegou, pegou, cresce cr esceuu Ientam Ientamente ente como faz o Iuar, Iuar, banhou a car caraa da da muIher Iimpeza, seria preciso que eIe É bonita, mas o que eIa da pensou, sim,nem Vê-se bem que sódizer tem ooIhos parapensou, a iIha desconhecida, aqui está como as pessoas se enganam nos sentidos do oIhar, sobretudo ao princípio. EIa entregou-Ihe uma veIa, disse, Até amanhã, dorme bem, eIe quis dizer o mesmo doutra maneira, Que tenhas sonhos feIizes, foi a frase que Ihe saiu, daqui a pouco, quando Iá estiver em baixo, deitado no seu beIiche, vir-Ihe-ão vir-Ihe-ão à ideia idei a outras outras frases, mais mais espiritu espir ituosas, osas, ssobretudo obretudo mais mais insinuantes, como se espera que sejam as de um homem quando está a sós com uma muIher. Perguntava-se se já dorm Pergun dor miria, iri a, se teria teri a tardado a entrar entrar no sono, depois imaginou que andava à procura deIa e não a encontrava em nenhum sítio, que estavam perdidos os dois num barco enorme, o sonho é um prestidigitador hábiI, muda as proporções das coisas e as suas distâncias, separa ás pessoas, e eIas estão juntas, reúne-as, e quase não se vêem uma à outra, a muIher dorme a poucos metros e eIe não soube como aIcançá-Ia, quando é tão fáciI ir de bombordo a estibordo. Tinha-Ihe desejado feIizes sonhos, mas foi eIe quem Ievou toda a noite a sonhar. Sonhou que a sua caraveIa ia no mar aIto, com as três veIas trianguIares gIoriosamente enfunadas, abrindo caminho sobre as ondas, enquanto eIe manejava a roda do Ieme e a tripuIação descansava à sombra. Não percebia percebi a como podiam aIi aIi estar es tar os marinheiros marinheiros que no no porto e na cidade ci dade se tinham recusado a embarcar com eIe para ir à procura da iIha desconhecida, desconh ecida, provaveIment provaveImentee arrependeram a rrependeram-se -se da grosseira grossei ra ironia com que que o haviam tratado. Via animais espaIhados peIa coberta, patos, coeIhos, gaIinhas, o habituaI da criação doméstica, debicando os grãos de miIho ou roendo as foIhas de couve que um marinheiro Ihes atirava, não se Iembrava de quando os tinha trazido para o barco, fosse como fosse era naturaI que aIi estivessem, imaginemos que a iIha desconhecida é, como tantas vezes o foi no passado, uma iIha deserta, o meIhor será jogar peIo seguro, todos sabemos sabem os que abrir abri r a porta da coeIheira coeIheira e agarrar um coeIho coeIho peIas oreIh or eIhas as
sempre foi mais fáciI do que persegui-Io por montes e vaIes. Do fundo do porão veio ve io agora um coro de reIinchos reIinchos de cavaIos, c avaIos, de mug mugidos de bois, bois , de zurros zu rros de asnos, as vozes dos nobres animais animais necessários para o trabaIho trabaIho pesado, e como foi que vieram eIes, como podem estar numa caraveIa onde a tripuIação hum humana maI maI cabe, cab e, de d e súbito s úbito o vento deu uma uma guinada, a veIa maior bateu e onduIou, por trás estavaseo adivinha quevinha antesserem não vira, quantos um grupo muI uIheres heres que mesmo mesmo semdeIa as contar c ontar adi ser emsetantas tantas quant os osde marinheiros, ocupam-se nas suas coisas de muIheres, ainda não chegou o tempo de se ocuparem doutras, está cIaro que isto só pode ser um sonho, na vida reaI nunca se viajou assim. O homem do Ieme buscou com os oIhos a muIher da Iimpeza e não a viu, TaIvez esteja no beIiche de estibordo, a descansar da Iavagem da coberta, pensou, mas foi um pensar fingido, porque eIe bem sabe, embora também não saiba como o sabe, que eIa à úItima hora não quis vir, que saItou para o cais, dizendo de Iá, Adeus, adeus, já que só tens oIhos para a iIha desconhecida, vou-me embora, e não era verdade, agora mesmo andam os oIhos deIe a procurá-Ia e não a encontram. Neste momento o céu cobriu-se e começou a chover, e, tendo chovido, principiaram principiar am a brotar inúm inúmeras pIantas pIantas das fiIeiras de sacos sac os de terra terr a aIinhadas ao Iongo da amurada, não estão aIi porque se suspeite que não haja terra bastante na iIha desconhecida, mas porque assim se ganhará tempo, no dia em que Iá chegarmos só teremos que transpIantar as árvores de fruto, semear sem ear os grãos das d as pequ peq uenas searas seara s que vão amadurecer amadurecer aqui, enfeitar os canteiros cant eiros com as fIores que desabrocharão destes de stes botões. O homem do Ieme pergunta aos marinheiros que descansam na coberta se avistam aIguma iIha desabitada, e eIes respondem que não vêem nem de umas nem das outras, mas que estão a pensar em desembarcar na primeira terra povoada que Ihes apareça, desde que haja Iá um porto onde fundear, uma taberna onde beber e uma cama onde foIgar, que aqui não se pode, com toda esta e sta gente junta. junta. E a iIha desconh des conheci ecida, da, pergu per gunt ntou ou o homem homem do Ieme, Ieme, A iIha desconhecida é coisa que não existe, não passa duma ideia da tua cabeça, os geógrafos geógrafos do rei foram ver nos mapas e decIararam dec Iararam que que iIhas por conhecer é coisa que se acabou desde há muito tempo, Devíeis ter ficado na cidade, em Iugar de vir atrapaIhar-me a navegação, Andávamos à procura de um sítio meIhor para viver e
resoIvemos aproveitar a tua viagem, Não sois marinheiros, Nunca o fomos, Sozinh Soz inho, o, não serei capaz de governar governar o barco, Pensasses nisso antes antes de ir pedi-Io ao rei, o mar não ensina a navegar. Então o homem do Ieme viu uma terra ao Ionge e quis passar adiante, fazer de conta que eIa era a miragem de umaa out um o utra ra terra, terra , uma uma im i magem que tivesse tives se vindo do d o outro Iado do mundo mundo peIo espaço, nunca haviam sido marinheiros disserammas queosaIihomens mesmoque é que queriam desembarcar, Esta é protestaram, uma iIha do mapa, gritaram, matar-te-emos se não nos Ievares Iá. Então, por si mesma, a caraveIa virou vi rou a proa em e m direcção direcç ão à terra, terr a, entrou entrou no no porto e foi encost e ncostar ar à muraIha da doca, Podeis ir-vos, disse o homem do Ieme, acto contínuo saíram em correnteza, primeiro as muIheres, depois os homens, mas não foram sozinhos, Ievaram com eIes os patos, os coeIhos e as gaIinhas, Ievaram os bois, boi s, os burros e os cavaIos, e até as gaivotas, um uma após outra, outra, Ievantaram voo e se foram do barco transportando no bico os seus gaivotinhos, proeza que não tinha sido cometida antes, mas há sempre uma vez. O homem do Ieme assistiu à debandada em siIêncio, não fez nada para reter os que o abandonavam a bandonavam,, ao menos tinham-no tinham-no deixado com as árvores, os trigos e as fIores, com as trepadeiras que se enroIavam nos mastros e pendiam da amurada como festões. Por causa do atropeIo da saída haviam-se rompido e derramado os sacos de terra, de modo que a coberta era toda eIa como um campo Iavrado e semeado, só faIta que venha um pouco mais de chuva para que seja um bom ano agrícoIa. Desde que a viagem à iIha desconhecida começou que não se vê o homem do Ieme comer, deve ser porque está a sonhar, apenas a sonhar, e se no sonho Ihe apetecesse um pedaço de pão ou uma maçã, seria um puro invento, nada mais. As raízes das d as árvores ár vores já estão penetrando penetrando no cavernam cavername, e, não tarda que estas veIas içadas deixem de ser precisas, bastará que o vento sopre nas copas e vá encaminhando a caraveIa ao seu destino. É uma fIoresta que navega e se baIanceia sobre as ondas, uma fIoresta onde, sem saber-se como, começaram com eçaram a cantar cantar pássaros pás saros,, deviam estar escondidos por aí e de repent repe ntee decidiram decidi ram sair à Iuz, Iuz, taIvez taIvez porque a seara já es esteja teja madura madura e é preciso pr eciso ceifá-Ia. Então o homem trancou a roda do Ieme e desceu ao campo com a foice na mão, e foi quando tinha cortado as primeiras espigas que viu uma sombra ao Iado da sua sombra. Acordou abraçado à muIher da Iimpeza, e eIa a eIe, confundidos confundidos os corpos, confun confundidos didos os beIich be Iiches, es, que não se sabe se este é o de bombordo bombordo ou o de estibordo. e stibordo. Depois, Depois , m maI aI o soI acabou de nascer,
o homem e a muIher foram pintar na proa do barco, de um Iado e do outro, em Ietras brancas, o nome que ainda faItava dar à caraveIa. PeIa hora do meio-dia, com a maré, A IIha Desconhecida fez-se enfim ao mar, à procura de si mesma. Fonte:http://www.releituras.com/jsaramago_conto.asp Fonte:http://www.releituras.com/jsaramago_conto.asp
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